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Plurale 76 Web

Published by Amaro Prado Teixeira Junior, 2021-11-29 01:05:31

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ano quatorze | nº 76 | novembro / dezembro 2021 R$ 10,00 AÇÃO|CIDADANIA|AMBIENTE 67068 www.plurale.com.br FOTO DE LUCIANA TANCREDO, PLURALE, PICA-PAU-DOURADO (PICULUS AURULENTUS), NO CAMINHO DO BREJAL (POSSE-PETRÓPOLIS / RJ) ARTIGOS INÉDITOS: O 'NOVO NOVO' E ESTUDOS DE CASOS A POBREZA MENSTRUAL E A BUSCA PELO ESOTÉRICO MEDALHA CHIQUINHA GONZAGA PARA EDITORA DE PLURALE





Contexto FOTO DE FELIPE ARARIPE DIVULGAÇÃO – INSTITUTO CLARO 36. ONGs enfrentam a pobreza menstrual no Brasil e na África, por Esther Obriem e Virgínia Queiroz 54. FOTO: INSTAGRAM DA @SEWPOWERFUL 22. Editora de Plurale recebe FOTO DE LUCIANA TANCREDO Medalha Chiquinha Gonzaga Estudos de casos ESG – DIVULGAÇÃO Anglo American, Claro, ESPECIAL Prefeitura de Mangaratiba, ‘NOVO NOVO’ 32. McDonald's e Neoenergia 14. O esoterismo está A força das frutas em alta, amazônicas, Artigos inéditos – por Nícia Ribas por Luciana Bezerra Crystina barros, marcelo neri, melissa 42 pereira e nádia rebouças Entrevista com a bailarina Ana Botafogo, por 56. Maurette Brandt Ensaio de fotos de 48 Luciana Tancredo – o olhar poético no ‘novo novo’ Centenário de Paulo Freire, por Felipe Araripe 52 Ecoturismo, por Isabella Araripe 62 Cinema Verde, por Isabel Capaverde 63

Editorial FOTOS DO ARQUIVO PESSOAL Plurale em ação (da esq. para a dir.) – Sônia Araripe recebeu a Medalha Chiquinha Gonzaga do Vereador Alexandre Arraes; Luciana Tancredo preparou ensaio inédito sobre o ‘novo novo”; Maurette Brandt entrevistou a bailarina Ana Botafogo e Luciana Bezerra, de Manaus, fala sobre a diversidade das frutas amazônicas. Medalha Chiquinha Gonzaga reconhece o propósito de Plurale; estudos de casos, Ana Botafogo, frutas da Amazônia, artigos inéditos e ensaio sobre o ‘novo novo’ POR SÔNIA ARARIPE, sensível ensaio sobre o que estamos escreveu: “Ao lhe atribuir essa hon- chamando de ‘novo novo’: dos clás- raria por minha iniciativa, a Câmara EEDITORA DE PLURALE sicos amanhecer e pôr-do-sol até de- Municipal nada mais fez do que pra- m cenário de tantas in- talhes de cogumelos, insetos e folhas ticar Justiça, através do nome de Chi- certezas e tristezas, uma caídas. Como se não bastasse tanta quinha Gonzaga, símbolo de mulher certeza já pode ser escri- gratidão da natureza, ainda somos ousada e insubmissa, e das lutas que ta: nada será como antes presenteados com a ‘visita’ do pica- travou pela igualdade socioeconô- após a pandemia. Quase -pau-dourado (Piculus aurulentus) no mica das mulheres.” Uma honra, Ve- dois anos após o começo dos primei- sítio de Brejal, distrito de Petrópolis. O reador! Conheça um pouco mais da ros casos da doença, nem mesmo es- amável bichinho conquistou a todos história da compositora Chiquinha pecialistas sabem como será a vida da- nós e virou destaque na capa desta Gonzaga. qui pra frente. Teremos novas cepas? edição tão especial. É possível reabrir e continuar como Mais uma sensível mulher das artes se não houvesse amanhã? O pior já Estudos de casos passaram a ser é retratada: a bailarina Ana Botafogo, ficou para trás? Como será o trabalho uma marca na trajetória de Plurale. em lindo perfil assinado por nossa re- presencial? E como ficam as relações Se a sustentabilidade é um proces- pórter Maurette Brandt. De Manaus, familiares? so ainda em curso – a depender de a também jornalista Luciana Bezerra boas práticas a serem replicadas –, relata as propriedades das frutas da Muitas dúvidas. Nesta edição pro- estas reportagens e artigos ajudam Amazônia. Nícia Ribas conta como curamos reunir artigos inéditos de re- a fortalecer e solidificar as bases das cresceu a busca por ciências ocultas, levantes especialistas, que nos ajudas- práticas ESG. Neste número temos os esoterismo e autoconhecimento, que sem a refletir sobre este momento de casos da Anglo American, da Claro, nos ajudam a desvendar mistérios que tantas inflexões e paradigmas: Chrys- do McDonald´s, da Neoenergia e da nem sempre as ciências exatas esclare- tina Barros, Marcelo Néri, Melissa Prefeitura de Mangaratiba (na Costa cem. Trazemos ainda as tradicionais de Oliveira Pereira e Nádia Rebou- Verde fluminense). colunas de Isabella Araripe, Isabel ças. Temas como o impacto da pan- Capaverde e Felipe Araripe, que ain- demia no aumento da fome e da po- Não é só. Temos ótimas notícias da nos reserva uma entrevista com a breza, assim como na saúde mental, nestes 14 anos de Plurale! Acabamos filha do educador Paulo Freire, em seu na educação e nas relações pessoais e de receber a Medalha Chiquinha centenário. corporativas, são abordados com ex- Gonzaga, do Vereador Alexandre clusividade para os leitores de Plurale. Arraes (PSDB-RJ), pelo nosso tra- E nesta virada para 2022, deseja- balho em defesa do meio-ambiente e mos que o ‘novo novo’ ano revigore as Nossa Editora de Fotografia, Lu- de mulheres no município do Rio de nossas esperanças por dias novamen- ciana Tancredo, nos brinda com um Janeiro. Na moção, o Vereador Arraes te energizados e amorosos! Namastê! 5

Quem faz Cartas [email protected] Diretora e Editora-Chefe “Belíssima toda Malta. Sensacional! Plurale é revis- Sônia Araripe a Edição 75 de ta fundamental para disseminar o [email protected] Plurale em revista. conceito e aprofundar as importantes Especial desta- – e mais do que nunca necessárias Fundadores que para o artigo – discussões sobre sustentabilidade Carlos Franco e Sônia Araripe de Maria Elena em nosso País.” Johannpeter – “O Jaíra Reis, jornalista e especia- Plurale em site: Q que faz toda a lista em Comunicação Corpora- www.plurale.com.br diferença”. Este tiva, do Rio de Janeiro (RJ), pelo Plurale em site no twitter, facebook assunto do quo- instagram e instragram: ciente espiritual “Eu e Jonas sempre foi uma adoramos ler http://twitter.com/pluraleemsite indagação minha cada nova https://www.facebook.com/plurale desde os 18 anos edição de @revistaplurale como o contato Plurale. Jo- Comercial sobre a sua existência. Esta busca pela nas adorou [email protected] tentativa de descobrir quem somos, para saber sobre Arte onde vamos é que nos leva a abraçar o cachorro Amaro Prado e Amaro Junior crenças, e nos dá sentido a emoções... Camarada, Fotografia sempre este questionamento e busca do do cineasta Fotografia Luciana Tancredo (Cia da Foto); homem. Muito oportuno este artigo em Silvio Tend- Agência Brasil e Divulgação Plurale, nos trazendo para este ques- ler. Matéria Colaboradores nacionais tionamento espiritual. Plurale está nos incrível de Felipe Araripe (Estagiário), Hélio Rocha, conectando como um fio de ouro, nos Maria Helena Isabel Capaverde, Isabella Araripe, João Victor conectando a verdades e informações Malta. Jonas Araripe, Lília Gianotti e Nícia Ribas. que nos completam, nos esclarecem e sabe da Colaboradores internacionais nos unem. Parabéns a todos do time! importância Aline Gatto Boueri (Buenos Aires), Elisabeth Que venham outros tantos anos de reali- de Plurale desde que morava ainda na Cattapan Reuter (Hamburgo/Alemanha), zações e sucesso para Plurale.” região de Labrador, no Canadá, com Vivian Simonato (Dublin), Leda Maria Pontual, psicóloga, seus pais.” Wilberto Lima Jr.(Boston) por e-mail, do Rio de Janeiro (RJ) André Burger e Jonas, jornalista Colaboraram nesta edição: e seu cão, do Rio de Janeiro (RJ), Alexandra Isnard, Chrystina Barros, Custodio “Parabéns pelo Instagram Coimbra, Pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz para Sônia “Sônia Araripe recebe essa justa (Fiocruz) e do Instituto Nacional de Pesquisas Araripe e homenagem da Medalha Chiquinha Espaciais (Inpe), Luciana Bezerra, Marcelo Néri, Plurale pela Gonzaga em reconhecimento aos Maurette Brandt, Melissa de Oliveira Pereira, Nádia incrível Edi- serviços prestados à sociedade Rebouças e Ricardo Machado (IHU On-Line). ção 75 e pe- pelo trabalho na área do jornalismo. Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores los 14 anos A criação da Revista Plurale é um e não refletem necessariamente a opinião da revista. da revista. marco para a produção de conteúdo Minha neta informativo na área de sustentabili- Impressa com tinta à base de soja Sofia gostou dade e meio ambiente. São 14 anos Plurale é uma publicação muito da de um trabalho consistente e bem da SA Comunicação Ltda matéria desenvolvido, sem viés politiqueiro, CNPJ 04980792/0001-69 sobre Perth, o que é um acerto e, provavelmente, Impressão: Imprimindo Conhecimento na Austrália, justifica a respeitabilidade e longe- Editora e Gráfica escrita por Marianna Vicente. Toda a vidade da publicação. Vida longa à edição está incrível.” Plurale. Parabéns, caríssima Sônia Plurale em Revista foi impressa em papel certifica- Glória Faria, Advogada, pelo insta- Araripe. A revista está cada vez do, proveniente de reflorestamentos e outras fon- gram, do Rio de Janeiro (RJ) melhor. Mantenha este padrão de tes controladas certificados pelo FSC® de acordo “Incrível o especial ESG –Estudos de qualidade e a isenção do noticiário, com rigorosos padrões sociais e ambientais. Casos publicado na Edição 75 – 14 anos focado na relevância dos fatos. Que Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 de Plurale em revista. Material relevante venham muitas outras boas notícias CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 que comprova a força dos princípios para a Plurale!!” ESG para as empresas brasileiras. Inspira Paulo Gramado, Jornalista, por e- Os artigos só poderão ser reproduzidos outras corporações. Bravíssimo!” -mail, do Rio de Janeiro (RJ) com autorização dos editores Marcelo Oliveira, professor de “Encantado com Plurale! Parabéns © Copyright Plurale em Revista Administração, de São Paulo (SP), para toda a equipe pelos 14 anos de pelo site incrível dedicação à sustentabilidade. “Amei a Edição Sou um baiano que mora em Per- 75, Especial 14 nambuco desde 2015, e que, por não anos de Plurale querer deixar as suas raízes baianas em revista. muito distantes de si, escolheu viver Especialmente no limite entre os dois estados, na o perfil sobre região do Vale do São Francisco, o admirável entre as cidades de Juazeiro-BA e documentarista Petrolina-PE. “ Silvio Tendler, Thales Leal Gomes, de Petrolina escrito pela (PE), pelo site colega jornalis- ta Maria Helena



Estante POR FELIPE ARARIPE Livro sobre a Geração 50+ : Obra Corpos-sentidos (poesias), destaca importância de políticas por Helena Arruda, Editora públicas, legislação e práticas Patuá, R$ 40,00 de gestão nas organizações que pretendem priorizar e valorizar O novo livro de poesias Corpos- profissionais acima de 50 anos, por -sentidos começa com uma afirma- Fábio Rocha e Maiza Neville, Press ção política, que diz, como preâmbu- Color Editora, 288 págs, R$ 65,00. A pré- lo o seguinte: ‘sou minhas outras que venda do exemplar autografado pode ser feita em mim habitam’. Não há como ne- diretamente no site da livraria LDM, pelo link gar que aí se trata de uma espécie de https://bit.ly/3t7vrM5 slogan combativo, no sentido do que poderíamos chamar de ‘as vozes da resistência’, até porque o li- Alguns fatores incentivaram os autores do livro “Diversida- vro é dedicado a todos aqueles que continuam resis- de Geracional: Mutações, Transformações e Impactos dos tindo. Entre os resistentes, aparece a voz da mulher. 50+ nas Organizações e Sociedade”, Maíza Neville, 74 anos, Entre as mulheres, não de qualquer uma, mas daque- e Fábio César Rocha, 49 anos, ambos professores, especia- la que busca a poesia: a voz de Helena Arruda, auto- listas em carreira, consultores e sócios fundadores da Dami- ra do livro, professora e autora de outros livros. Se ela cos Consultoria, empresa com 29 anos de experiência no verdadeiramente procura pelo poema que precisa ser mercado local e nacional, a escreverem sobre a relevância escrito, o dito slogan apresenta ainda um sentido do tema com apoio da Fundação Maria Emília (FME) e do mais elevado; se ela se entrega completamente ao Sebrae-BA. “Os números de mudança geracional em escala poema, a palavra ‘resistência’ traz-nos outras signifi- mundial e nacional alertam para a importância de ações es- cações. Helena Arruda não apenas lança seu novo truturantes com foco na criação de estratégias, espaços e livro de poesias, mas com ele também nos convida a meios que suportem essa transição de conceito na socieda- lê-lo como iniciantes nessa arte que se admira com a de, pois ainda são tímidos os movimentos em torno de políti- realidade, por mais terrível que ela seja. Pois nela, cas públicas, legislação e práticas de gestão nas organiza- bem no meio de toda desesperança, como uma pe- ções, que demonstram priorizar e valorizar a geração 50+”, quena centelha, reside ainda o poema a ser escrito, o afirma Maíza Neville. De acordo com o autor Fábio Rocha, a poema que salva, o poema que conduz o humano a principal missão é disponibilizar aos leitores, sobretudo aos assumir-se enquanto finito, mortal, em que no interior profissionais acima de 50 anos, uma publicação que contri- de tal assunção ele vai se constituindo como aquele bua na ampliação da visão sobre as perspectivas do merca- que ele mesmo é, sendo. do de trabalho, visando subsidiar a tomada de decisões para uma vida longeva e produtiva na carreira, seja com emprego, \"Alguns verbos para o jardim de J.\" empreendendo ou profissional autônomo. (E-book), por Keli Vasconcelos, 53 páginas, independente, Vendido na Relações Governamentais Sob a Amazon por R$: 7,99 Ótica Feminina, Beatriz Gagliardo (Organizadora), do IRelgov, com A trama se passa na cidade de São Pau- a participação de Suelma Rosa, lo, com nuances na Nigéria. E os leitores Grazielli Parenti, Angela Rehem e conhecerão a trajetória de Jéssica e Joia. outras integrantes do IRelgov, R$ 104,50 (desconto de lançamento), Jéssica é uma jovem fisioterapeuta, preta, moradora frete grátis para todo o Brasil, encomendas pelo de Vila Curuçá, no extremo da zona leste de SP. Teve um site www.irelgov.com.br passado de abusos e traumas, porém superou tudo isso com apoio da mãe, tias e avós adotivas e com o amor de Organização de Beatriz Gagliardo, com textos de Suelma Guto, um premiado tatuador, que tem estúdio em São Mi- Rosa, Grazielli Parenti, Angela Rehem e outras integrantes guel Paulista, e foi adotado pelo tio, Júnior, e o compa- do IRelgov. nheiro, Maurício, além da companhia do cachorrinho Bob. Um livro para marcar uma história e muitas trajetórias sobre Já Joia é uma experiente bióloga, descendente de mulheres fortes, que enfrentaram de peito aberto as adversida- húngaros, e vive numa confortável residência no Alto de des e preconceitos de um universo de trabalho masculinizado, Pinheiros. Aos 90 anos, as companhias, porém, se resu- como o de Relações Governamentais. Elas estão, principal- mem a visita semanal do irmão mais novo, Paulo, que é mente, mostrando-nos que é possível, sim, a mulher ser mãe, produtor de compotas na cidade de Arco-Íris, interior de trabalhar, e ascender em suas carreiras e ainda discutir sobre SP, e dos funcionários da casa, Carla e Lúcia, Zé, Márcio política, equidade de gênero, representatividade e diversidade, e Ricardo, este o jardineiro que a acompanha da estufa, não só com outras mulheres, como também, com os homens. e, óbvio, Jéssica, que a atende três vezes por semana. É um livro que estende a mão para todos que se sintam toca- dos pela temática. É um sopro de sororidade. Sim, por que re- O destino das duas se une quando Jéssica aceita um presentatividade importa. singelo pedido: a compra de um caderno para \"conjugar os verbos ainda não conjugados\" por Joia. Missões hu- manitárias na África Subsaariana (Nigéria e Níger mais especificamente) e muitas memórias serão descortinadas no romance. 8 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

*Foto feita antes da pandemia. Respeitar a ébivoadloivriezarrsiadvaiddae! Há 30 anos, a Veracel atua para conservar o meio ambiente que nos cerca. Somos agentes de transformação engajados em cuidar do nosso território. www.veracel.com.br @veracelcelulose /company/veracelcelulose 9

Entrevista “DESMATAMENTO E QUEIMADAS TORNAM A AMAZÔNIA PREVALENTE NA EMISSÃO DE CO2” RICARDO MACHADO, DA IHU LUCIANA GATTI, pesquisadora titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/Centro de Ciên- ON-LINE cias do Sistema Terrestre e professora de pós- graduação do curso Tecnologia Nuclear do Ipen FOTOS DA UNIVESP TV, DE VICTOR FOTO DA UNIVESP TV MONYAMA, DO GREENPEACE E DBANCO DE IMAGENS urante décadas, pos- sivelmente séculos, a Amazônia foi uma re- gião em que os níveis de asubspoerrçioãoresdeaoCsOd2e da at- mosfera  eram emis- são. Apesar da floresta, em condições normais, equilibrar seus próprios níveis dpreo ecmesissosãsoinedaubsstroiraçisãodedemCoOde2r,nciozmaçãoos e a prevalência da queima de combus- atívseeirsmfóasisseriisc, oo nvaoalutmmoesdfeeraC.OC2o pmasisssoou, a  Amazônia  passou a absorver parte deste “excesso” de gases, retirando também calor da biosfera. Contudo, o que estudos recentes mostram é que, agora, o bioma também contribui para o aquecimento global. “Observamos que, no saldo en- tre  absorções e emissões, a Amazô- nia emite para a atmosfera 290 milhões Apesar do desinteresse do gover- Realizou doutorado em Ciência pela de toneladas de carbono por ano. Isso é no federal em proteger a Amazônia, Universidade Federal de São Carlos - composto pela diferença entre a emis- quando não age em contrário, no UFSCar, no Departamento de Quími- são de 410 milhões de toneladas para sentido de aprofundar suas fragilida- ca. É especialista em medidas de alta a atmosfera - devido, justamente, às des, é fundamental que a sociedade precisão de Gases de Efeito Estufa e queimadas - e a absorção, pela floresta, civil organizada se articule em defesa estudos em escala regional, utilizando de 130 milhões de toneladas de car- da preservação do bioma. “A Amazô- aviões de pequeno porte. É pesquisa- bono por ano”, aponta a professora e nia  poderia ser uma grande proteção dora titular do Instituto Nacional de pesquisadora Luciana Gatti, em entre- para as mudanças climáticas, pois ela Pesquisas Espaciais/Centro de Ciên- vista por telefone ao Instituto Huma- absorve gás carbônico, forma muita cias do Sistema Terrestre e professora nitas Unisinos – IHU. chuva com a evapotranspiração e, com de pós-graduação do curso Tecnologia isso, reduz a temperatura, servindo de Nuclear do Ipen, na Universidade de Toda esta devastação traz ain- proteção contra as  mudanças climá- São Paulo. Coordena o Laboratório de da  impactos no regime de chuvas, ticas. Contudo, ao desmatar, estamos Gases de Efeito Estufa - LaGEE, parte o que altera as condições climáticas transformando a Amazônia em um fa- integrante do LaPBio/CCST/Inpe. de boa parte do país. “Um primeiro tor de contribuição para as mudanças Confira a entrevista: impacto, grosso modo, é que 20% da climáticas”, complementa. Amazônia desmatada são 20% a me- IHU – Quais são as principais nos de contribuição da formação de Luciana Gatti é graduada em Quí- conclusões do estudo “Amazônia nuvens de chuva com vapor de água, mica e mestra em Química Analítica como fonte de carbono ligada o que causa, como consequência dire- pela Universidade de São Paulo - USP. ta, menos precipitação”, pontua. 10 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

ao desmatamento e mudanças FOTO DE VICTOR MONYAMA, DO GREENPEACE BRASIL climáticas” ? Artistas sobrevoaram a Amazônia e constataram a destruição causada pelo Luciana Gatti –  As principais fogo e desmatamento. Na foto, o cantor e compositor Vitão. conclusões do nosso estudo são, basicamente, duas. A  primeira  é o 36% do gado brasileiro estava no bio- emissão de carbono,  principalmente balanço total de carbono da Amazônia. ma. Como a floresta está extremamen- por culpa do  desmatamento  e Observamos que, no saldo entre ab- te seca, o fogo acaba entrando nas par- das queimadas. Não dá para dizer que sorções e emissões, a Amazônia emite tes em que não foi desmatada – o que chegamos a um ponto de não retorno. para a atmosfera 290 milhões de tone- representa, também, emissões. Se pararmos hoje de queimar e desma- ladas de carbono por ano. Isso é com- tar e passarmos a reflorestar as áreas posto pela diferença entre a emissão As emissões não ocorrem somente que estão com desmatamento acima de 410 milhões de toneladas para a at- na hora das queimadas, mas também de 30%, seria possível reverter o ce- mosfera - devido, justamente, às quei- depois, por ocasião da  decomposição nário que estamos observando hoje? madas - e a absorção, pela floresta, de das regiões queimadas da floresta. Isso Talvez sim. É muito difícil, apenas 130 milhões de toneladas de carbono acontece seja com folhas, com galhos, observando as emissões de carbono, por ano. Essa é uma primeira conclu- seja com árvores inteiras que morre- responder isso com certeza. Seria ne- são importante. ram ao longo dos anos. Uma segunda cessário fazer um estudo com pessoas emissão adicional é o que está aconte- de muitas áreas diferentes, para chegar A segunda, e ainda mais importan- cendo com a floresta que não foi nem a uma conclusão mais precisa. te, foi a possibilidade de entendermos queimada, nem desmatada, mas que o que está acontecendo com a  Ama- tem relação com a condição de estres- IHU – No geral, considerando zônia. Esse fenômeno ocorre em ra- se associada à pouca disponibilidade o bioma da floresta amazônica em zão de a região leste [da Amazônia] já de água, somada à temperatura alta. sentido mais amplo, qual a relação estar muito desmatada - esse  desma- Nós temos de lembrar que a  Ama- entre absorção e emissão de gases do tamento está alterando as condições zônia  é uma floresta tropical úmida, efeito estufa? Ela (hoje) emite mais climáticas, principalmente a estação onde as árvores estão habituadas a gases ou absorve mais gases? seca. Essa condição muito estressante e uma condição de abundância de água adversa faz com que essa região tenha e temperaturas amenas, o que não Luciana Gatti –  Essa questão é uma emissão de carbono muito maior está acontecendo por três, quatro, às bastante genérica. Nós não podemos que a oeste. vezes, cinco meses ao longo do ano, falar disso de maneira tão ampla. Cada dependendo da região. Isso tudo faz ciclo, cada espécie de gás, tem particu- Observamos que a redução de chu- com que as árvores vão perdendo laridades. O estudo que fizemos foi so- vas  é, praticamente, proporcional à as folhas, cujo material se junta à bre CO2. E é sobre CO2 que a planta faz área desmatada - e que houve um au- decomposição no solo e leva, até fotossíntese durante o dia, absorven- mento muito grande de temperatura, mesmo, à morte das árvores. Alguns do-o e eliminando oxigênio, e à noite o principalmente nos meses de agosto, estudos apontam que a  mortalidade oposto. Uma floresta madura mantém setembro e outubro. Esses são os me- das árvores é muito maior. um equilíbrio entre o que absorve e o ses em que o pessoal, depois de desma- que emite. Considerando, porém, que tar, coloca fogo nas áreas, pois esperam IHU – Nessas regiões, pode-se o ar está mais enriquecido de CO2, mais ou menos três meses para a vege- afirmar que chegamos a um ponto de porque usa-se muito  petróleo,  com- tação ficar bem seca. Em função disso, não retorno (tipping point)? Por quê? bustíveis fósseis e se derrubam muitas a floresta que não foi desmatada fica florestas, estamos enriquecendo a at- tremendamente seca, pois os volumes Luciana Gatti –  Quando mosfera de CO2 em mais de 100% - e de chuva são reduzidos. Por exemplo, começamos a fazer o nosso estudo, em isso estimula as árvores a absorverem a região  nordeste da Amazônia, que 2010, a Amazônia já era uma fonte de estudamos, está 37% desmatada e per- deu 34% de chuvas; a região sudeste está 28% desmatada e perdeu 24% de chuvas. O aumento de temperatura na região nordeste da Amazônia foi de 1,9ºC - e na região sudeste foi de 2,5ºC. Essa variação ocorreu em um cenário de 40 anos. Isso tudo é favorecido por esses fatores que mencionei, somados à queima de pastagens para gado, cuja produção está enorme na Amazônia, pois, considerando dados até 2019, 11

Entrevista FOTO DO GREENPEACE BRASIL mais carbono do que na condição de equilíbrio. O problema é que a  Amazô- nia está com o clima muito adverso, muito estressante - e isso está pro- movendo um desgaste maior. Está ocorrendo mais mortalidade do que crescimento de floresta no  sudeste da Amazônia. No nordeste da Ama- zônia, que também está muito des- matado, essa condição está fazendo com que a floresta compense apenas 20% do total das emissões de desma- tamento e queimadas. IHU – Qual a importância da efeito das mudanças climáticas aqui no adotar medidas urgentes para  salvar floresta amazônica para o clima no Brasil; a Amazônia. Em primeiro lugar, de- Brasil? Como impacta no regime vemos fazer um grande acordo na- de chuvas e de estiagem de outras 3) essas transformações estão tra- cional, uma  moratória de dez anos regiões? zendo o  aumento de temperatura. sobre a Amazônia  e a proibição de Tudo isso forma um clima extrema- quaisquer tipos de  queimadas  entre Luciana Gatti – As árvores evapo- mente estressante para a  Amazônia, julho e novembro, período de transpiram. As raízes pegam a água no que produz um aumento na mortali- estiagem e maior seca, com incêndios solo e jogam na atmosfera em forma de dade das árvores de forma ampliada e incontroláveis. Esse problema pode vapor. Um primeiro impacto, grosso exponencial. ser observado não somente na região modo, é que 20% da Amazônia desma- Norte do Brasil, mas no país inteiro. tada são 20% a menos de contribuição O  desmatamento da Amazônia  é, Não à toa, toda hora vemos  incên- na formação de nuvens de chuva com em várias ordens de grandeza, prejudi- dios que foram provocados numa área vapor de água, o que causa, como con- cial a toda a América do Sul, ao Brasil pequena - em que a vegetação está tão sequência direta,  menos precipitação. - e ao agronegócio, que será o primei- seca que o fogo acaba saindo de con- A segunda consequência é que, quan- ro setor a sentir a redução da produti- trole -, produzindo ainda mais emissão do a água vai do estado líquido para o vidade devido ao desmatamento. Isso de gases do efeito estufa e contribuindo estado de vapor, ela precisa “roubar” traz consequências para a sociedade para as mudanças climáticas. energia - e esta energia é apropriada do de maneira geral, uma vez que essas ambiente em forma de calor, causando mudanças climáticas estão causando Isso é uma espécie de “bola de neve” um resfriamento. Se menos árvores es- vários danos ao volume de chuvas - e, que vai se retroalimentando e pioran- tão evapotranspirando (afinal, as árvo- com isso, impactos na produção de do cada vez mais. Precisamos de me- res não existem mais), há o aumento de energia, eventos extremos com muitos didas urgentes para minimizar as al- temperatura. Esse é um processo que prejuízos e mortes. Isso não será sen- terações que a mudança climática está poderia estar minimizando o aumento tido somente no Brasil ou na América trazendo na vida em sociedade - e das temperaturas devido às mudanças do Sul, mas no mundo todo, pois se administrar um futuro que, podemos climáticas. trata de uma área gigantesca, que faz prever, será uma catástrofe. Até agora, a diferença no planeta. Estamos fa- estamos contribuindo com a catás- A Amazônia poderia ser uma grande zendo com que a Amazônia, que é um trofe, fazendo o oposto do que deve- proteção para as mudanças climáticas, benefício gigantesco para o brasileiro, ríamos estar fazendo, ao incentivar o pois ela absorve gás carbônico, forma acabe se transformando numa contri- desmatamento e uma série de destrui- muita chuva com a evapotranspiração buição para a aceleração das mudan- ções das leis de proteção ambiental. e, com isso, reduz a temperatura, ser- ças climáticas. Ou seja, estamos trabalhando contra vindo de proteção contra as mudan- nós mesmos. Estamos “plantando ças climáticas. Contudo, ao desmatar, IHU – Que políticas públicas e que seca”. Ah, e devo acrescentar, estamos estamos transformando a  Amazô- ações devem ser tomadas no sentido plantando incêndio e um futuro muito nia em um fator de contribuição para de preservar o bioma amazônico? tenebroso para o Brasil. as mudanças climáticas, pois estamos: Luciana Gatti –  Temos que 1) jogando mais gás carbônico para a atmosfera; 2)  reduzindo as chuvas, o que já é 12 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

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Artigo Marcelo Neri A PANDEMIA E A MÁQUINA DE GERAÇÃO DE DESIGUALDADESndicadores objetivos de perfor- mance trabalhista, como desigual- dade e média baseadas em renda per capita do trabalho, apresen- Itam piora inédita na pandemia, medida do último trimestre de 2019 ao segundo trimestre de 2020. A média das rendas individuais do trabalho na população, incluindo os informais e os sem trabalho, caiu 9.34% na pandemia; a queda de renda da metade mais pobre foi de 21.5%, duas vezes maior que a da média. Confira no endereço https://cps. fgv.br/DesigualdadePandemia Indicadores subjetivos de curto prazo, como satisfação com a vida, apresenta- ram queda maior na base da distribuição de renda. A diferença de satisfação com a vida entre os extremos de renda, que era de 7,9% em 2019, sobe para 25,5%. Ou 2020, os resultados demonstram piora os resultados colhidos durante a pande- seja, há aumento da desigualdade de feli- sistemática do universo tupiniquim vis- mia com os observados logo antes do cidade na pandemia. Confira em https:// -à-vis a esfera mundial. seu início. Comparamos mudanças da cps.fgv.br/FelicidadeNaPandemia Esta nova pesquisa - https://cps.fgv. média dos países e da desigualdade den- Mas quais serão os efeitos de longo br/PoliticasPandemia - lança mão de tro dos países. prazo da pandemia na prosperidade e dados internacionais do Gallup World Como a pandemia do Covid-19 im- na desigualdade? A pandemia acentuou Poll para aferir o impacto relativo da pacta todo o mundo, a avaliação da a desigualdade de políticas relacionadas pandemia sobre a percepção da popu- eficácia de políticas sociais brasileiras a ativos ambientais e a acumulação de lação em relação a políticas públicas de- adotadas pode se beneficiar do contraste capital humano? Segundo as percepções terminantes de perspectivas futuras, tais com a performance social de outros paí- dos cidadãos na ponta, a resposta é afir- como saúde, educação e meio ambiente. ses, antes e durante a pandemia. Tudo se mativa no Brasil e negativa numa escala Comparamos a performance brasileira passa como uma corrida em que a dife- de 40 países representativos da escala nestas dimensões com a média simples rença da distância percorrida é a métrica global. Na evolução média entre 2019 e de um grupo de 40 países, contrastando de medição de desempenho relativa afe- 14 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

rida. Usamos, como quase experimento, GRÁFICOS DO PROFESSOR MARCELO NÉRI – FGV a comparação do Brasil com a média 40 outros países pesquisados, que cobrem 15 desde países como a Áustria, passando pela China e chegando a Zimbawe. O Brasil teve queda na proporção de avaliações satisfatórias da população so- bre políticas de saúde e ambientais, em torno de 5 pontos de porcentagem cada, durante a pandemia - enquanto as mes- mas percepções melhoraram de 1 pon- to percentual na média de 40 países do mundo analisados. Agora, quando com- paramos os 40% mais pobres brasileiros com os globais, a queda relativa destes dois itens foi duas vezes maior aqui. Isto sem falar na queda da avaliação de educação, que cai 22 pontos percentuais entre os pobres brasileiros, maior que a das médias brasileiras e internacionais, de 15 e 3.75 pontos percentuais, respec- tivamente. Tendências Invertidas - A compara- ção de mudanças em trechos da distri- buição de renda entre os universos geo- gráficos permite contrastar efeitos distri- butivos dentro dos países. As imagens a seguir valem mais que mil palavras. Enquanto as desigualdades de todas as dimensões analisadas caem no mundo durante a pandemia, todas aumentam no Brasil, no mesmo período. O Brasil, nos tempos da pandemia, ampliou uma série de desigualdades presentes, com consequências futuras. Lição: Além da piora maior para a média brasileira de políticas ligadas a ati- vos como um todo, ela piora mais para os mais pobres aqui, mas não alhures. No mundo, as desigualdades de políti- cas de saúde, educação e meio ambiente percebidas pelo cidadão na ponta caem. Somos a imagem invertida no espelho. O Brasil, na pandemia, virou uma má- quina ímpar de gerar desigualdades. (*) Marcelo Néri é Diretor da FGV Social, Professor da EPGE/FGV, ex- -presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), ex-Mi- nistro de Assuntos Estratégicos do Go- verno Dilma Rousseff e ex-Secretário do CDES (Conselhão).

Colunista Chrystina Barros Um mundo normal pós-covid. É POSSÍVEL?enhoohábito“domeuque- rido diário”. Na verdade, são páginas matinais que conheci no livro O Cami- Tnho do Artista, de Julia Ca- mos tensionados por todo este tempo de ecossistema nunca fizeram tanto sen- de pandemia? Mas como resposta, o tido. E talvez agora possamos aproveitar quanto também nos reajustamos para para nos reequilibrar na preservação do buscar de volta a retidão do jeito nor- que ainda temos e se renova, se ao me- mal, o tal ângulo reto, para manter o nos começarmos a cuidar da Terra. meron. Nele, a autora nos desafia a nos equilíbrio que nos sustenta de pé? E a partir das origens, se o vírus nos liberarmos de nossos censores, através Não tem jeito. Não somos os mes- mostrou que fronteiras não existem, de alguns exercícios. E um deles é o re- mos a cada segundo, a cada dia, mas a em muito as nossas mazelas do mo- gistro do que nos vem à cabeça logo pela adaptação precisa ser saudável, dar con- delo de produção capitalista manhã, assim que acordamos e ainda ta de preservar o respeito a nós mesmos se acenderam como não nos colocamos nas nossas rotinas e à vida, porque existem riscos de que grandes amea- diárias. Estas rotinas evoluem dia após o normal seja cortante como Hannah ças à nossa dia e nunca são exatamente as mesmas, Arendt nos mostrou nos conceitos de mas muitas vezes não nos damos conta banalização do mal. Aqui, este risco destas mudanças. E quantas mudanças é o da chamada normose, da filosofia, vivemos pela COVID e para onde va- que nos faz absorver com naturalidade mos, em que tempo? aquilo que faz mal. Revisitando o “meu querido diário”, Se não deixarmos as oportunidades me vejo angustiada em 23 de março de aprendizagem da pandemia pas- de 2020. Naquela época o comércio sarem em branco, temos uma grande fechara, as pessoas amedrontadas se oportunidade de uma história melhor. trancavam em casa para se proteger Então por que não colocarmos as de um inimigo invisível e, exatamente lentes do otimismo e pôr mãos à por isso, poderoso. Ruas desertas lem- obra para começar a mudança bravam filmes de cidades-fantasma e por nós mesmos? ninguém sabia o que iria acontecer na Comecemos com as origens. próxima semana. Se este vírus veio de um mer- E assim passaram-se dias, sema- cado animal, qual o sentido em nas, até meses - e agora, mais de um termos animais em mercados? ano depois, vivemos um dia-a-dia Quantos outros vírus e ameaças em que a COVID já se incorporou à biológicas não estão guardados nossa presença - e se foi , há 16 meses em nossas florestas e grutas? atrás, que tínhamos chegado a 1.000 Aliás, lá, eles não são ameaças. mortes, hoje passamos por até 3.000 Estima-se que existam trilhões de mortes/dia, mas sem a cidade-fantas- vírus diferentes no mundo - e que ma se apresentar às nossas vistas. Isto nossa ciência conheça 1% deles. Mais porque o normal mudou. ainda: se todos os vírus fossem retira- O conceito de normalidade, a partir dos do nosso Planeta, nossa vida, tal da palavra, nos remete ao que é reto. Do como a conhecemos hoje, seria inviável. latim “normalis”, esquadro, o que mede Nossa consciência pela preservação o ângulo reto – 90 graus. O quanto fo- do mundo e o entendimento do conceito 16 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

coexistência. Ou vamos esquecer que alucinante, com literalmente milhares nossas casas mais tempo do que estáva- o mundo disputou, a tapas, máscaras de novos artigos colocados a serviço da mos habituados. Descobrimos e repa- produzidas na China, onde a manufatu- vida todos os meses, todos os dias. Da ginamos cantos, ressignificando nossas ra é mais barata ainda que se somem os mesma forma, este volume de trabalho relações com coisas, pessoas e rotinas. A custos de transportes aéreos para levar árduo foi consumido como nunca, por busca pela saúde nunca fez tanto senti- de um lado a outro do mundo, o que se todos que estavam cuidando ao lado de do em seu conceito mais amplo, desde fabrica no Oriente? um leito, informando e se expondo em que a Conferência Internacional sobre redes sociais e mídia, continuando com Cuidados Primários de Saúde, realiza- Quanta criatividade nos salvou, atra- suas aulas pelos diferentes aplicativos da pela Organização Mundial da Saú- vés da ciência, para desenvolvermos que uniram pessoas. O trabalho nunca de em 1978, nos deixou a Declaração respiradores, equipamentos de produ- parou; aliás, nos foi exigida muita cora- de Alma-Ata como presente: “Saúde é ção individual e as próprias vacinas, que gem para contornar medos e enfrentar o completo bem-estar físico, mental e surgiram em tempo recorde, com base ataques dos que negam a vida. social, e não simplesmente a ausência de em uma estrada de desenvolvimento doenças ou enfermidades.” que vem de longa data? A humanidade clamou por certezas, quando se esquece que a vida é feita de E nesta busca que parece utópica, A sociedade acompanhou, quase que probabilidades, mas o cuidado pode e vejo um mundo onde a tendência ESG - em tempo real, os avanços das pesquisas. deve estar presente, através daquilo que Environmental, Social and Governance Revistas científicas ganharam destaque, se sabe, que decantou, que se apresenta (Ambiental, Social e Governança, em metodologias foram apresentadas ao pú- com transparência para o mundo. tradução), surge no mínimo como in- blico e, graças a pesquisadores, sobrevi- centivo ao capital, para aumentar o va- vemos. Muito se cobrou destes profissio- Não podemos deixar de lado o mais lor das suas ações, mas, na sua essência, nais que dedicaram sua vida à formação importante – aquilo que é humano. E pode salvar-nos de uma próxima epide- – e, de uma hora para a outra, muitos se destaco a solidariedade. Há tempos nes- mia ou de uma hecatombe. E que bom apossaram de conclusões que lhe parece- ta estrada, não precisamos tanto uns dos que esta é a tendência, porque dá chan- outros como uma fraternidade. Se todos ce para nos colocarmos de novo como ram mais convenientes e até agredi- vão se sensibilizar? Provavelmente não, protagonistas da vida, mais do que o ram a própria ciência. mas a chance de mudança é grande, dinheiro e o poder têm se colocado ao A produção científica porque redes e conexões, mais do que longo da história. ganhou um ritmo nunca, fizeram sentido - e nunca foram tão reais. Não teremos um dia com data mar- cada para um novo normal. Já estamos Realidade aumentada, vivemos em vivendo a transitoriedade de nossas vidas a cada linha que lemos, a cada Não podemos deixar de conversa que temos, a cada passo que lado o mais importante – damos. E que as reflexões sejam as mais aquilo que é humano. E profundas e ligadas ao nosso ser, à nossa destaco a solidariedade. origem, ao lugar mais sagrado de onde Há tempos nesta estrada, nos colocamos como observadores da não precisamos tanto vida. Se formos observadores de nós uns dos outros como mesmos e nos permitirmos aprender uma fraternidade. Se como Sócrates disse – só sei que nada todos vão se sensibilizar? sei -, já teremos dado um grande pas- Provavelmente não, so para um dia mais feliz, nessa imensa mas a chance de mudança jornada da vida, tão curta em nossas é grande, porque redes janelas de existência neste plano, en- e conexões, mais do que quanto indivíduos. Que fiquem legados nunca, fizeram sentido - e inspirando vida, integridade, solidarie- nunca foram tão reais.” dade, respeito e amor. Que as regras, que parecem tão duras, sejam incorpo- radas na medida certa, como hábitos e cuidado... no mais, que vivamos só por hoje, normalmente. (*) Chrystina Barros é Pesquisado- ra do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde (CESS) da UFRJ e integrante do Grupo Técnico (GT) de enfrentamento à COVID-19 da UFRJ. 17

Artigo Melissa de Oliveira Pereira SAÚDE MENTAL PANDÊMICA E m um serviço de saúde outras mulheres e homens: reali- bem neste contexto? mental, a mulher se- dades distintas, condições de tra- Já em meio à chamada quarta gura receitas e exames, balho múltiplas, idades diferentes, enquanto equilibra um mas uma experiência compartilha- onda pandêmica, os impactos em copo de água na mão. da: a certeza de que, na pandemia, saúde mental da pandemia não Através da máscara, afirma para a saúde mental não vai bem. Seja tardaram, especialmente quando a entrevistadora: “Tem que achar através da insônia, da irritabilida- falamos do Brasil - considerado o uma solução para ela, nem que seja de, do choro frequente, da falta de país mais estressado do mundo em um calmante. Ela precisa dormir. vontade para afazeres antes praze- 2020, segundo uma pesquisa preli- É ansiedade, fica tremendo, ficam rosos, do ganho de peso excessi- minar realizada pela Universidade geladas as mãos”. A cena se encerra vo, do emagrecimento sorrateiro, do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). com a testa franzida e o olhar preo- entre outras histórias, os entrevis- Os desdobramentos em vivências cupado da acompanhante. tados revelam aquilo que muitos profundas de mal-estar parecem brasileiros vêm vivenciando desde inevitáveis. Foi o que revelou a A câmera entra na casa de pa- o início do ano anterior. pesquisa realizada pelo Instituto redes descascadas, a cozinha com IPSOS e pelo Fórum Econômico as tigelas sobrepostas e a louça na O medo da morte, o receio com Mundial, através da qual acompa- pia, enquanto o vapor sai da pane- a contaminação, o perigo da falta nhamos que 53% dos brasileiros la areada: “Tem dia que eu levan- de leitos e de respiradores não se consideram que seu bem-estar to animada, quero fazer tudo, mas deram sem os riscos do desempre- piorou “um pouco ou muito” após tem dia, minha filha, que se eu pu- go que começou a crescer, das con- a chegada do vírus no país. Em ou- desse… eu largava tudo e ia deitar”, tas que não pararam de aumentar, tra pesquisa, realizada pelo IPEC conta a mulher de cabelos grisa- das problemáticas que envolvem em grandes centros urbanos, são lhos, enquanto prepara a refeição. as convivências forçadas e que se apresentados outros sinais preocu- conjugam aos distanciamentos pantes: 38% das pessoas entrevis- A reportagem do Programa Pro- compulsórios. Para muitos, o lock- tadas relataram insônia, 53% irri- fissão Repórter, exibida na Rede down que nunca veio! Como ficar tabilidade e 48% tristeza. Globo em 28/4/2021, segue com 18 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

As urgências materiais e subje- Lançar luz sobre as relações cariedades sociais e afetivas, que tivas trazidas pelo novo cenário de classe, gênero e raça passam a ser diretamente deter- não deixaram ninguém de fora. nos parece, assim, ponto de minantes nas demandas em saúde Longe de afirmarmos uma rota partida para nos voltarmos mental e nos próprios caminhos da comum, porém, vale ponderar que aos impactos do COVID-19 crise, fazendo-se necessárias res- há marcações diferenciadas nas na saúde mental da postas múltiplas e singulares aos relações entre saúde mental e as população brasileira e às sujeitos em questão. diferentes condições de vida dos respostas condizentes para sujeitos. É o caso das mulheres, esta problemática. Neste sentido, as ações e inicia- que já preocupavam a OMS e da tivas construídas pelos sujeitos, em ONU Mulheres desde o início das mais expostas às desigualdades contexto pandêmico, merecem des- contaminações, e que vivenciaram sociais. Foram estas, também, as taque. Online e presencialmente, or- maiores dificuldades na manuten- principais vítimas do vírus e as ganizadas por entidades ou coletivos ção da subsistência, no aumento que mais tiveram dificuldade no de profissionais, apresentaram-se da exposição à violência domés- acesso à vacinação, o que faz com ofertas de atendimentos psicoterápi- tica e na sobrecarga de trabalho que a promoção da saúde men- cos por psicólogas e psicólogos, ou familiar, além das dificuldades tal se torne um tema ainda mais mesmo cuidados terapêuticos am- vinculadas ao próprio exercício complexo, quando consideramos pliados, seja pelo caminho das Prá- profissional (lembrando que são as especificidades que permeiam ticas Integrativas e Complementares estas a maioria de profissionais de este público. (PICS) ou por outras especialidades, saúde, professoras e profissionais que se voltaram para estratégias de serviços fundamentais). Nes- Lançar luz sobre as relações de conjuntas. Neste contexto, a Rede te contexto, não é surpreendente classe, gênero e raça nos parece, as- de Atenção Psicossocial foi um dos que, em pesquisas nacionais e in- sim, ponto de partida para nos vol- pontos de apoio à continuidade dos ternacionais, as mulheres apare- tarmos aos impactos do COVID-19 tratamentos da grande maioria da çam como aquelas que se desta- na saúde mental da população bra- população. Tanto as Unidades Bá- cam nas queixas e no sofrimento sileira e às respostas condizentes sicas de Saúde quanto os Centros psíquico durante este período. para esta problemática. Marcados de Atenção Psicossocial precisaram Aquelas que abrem este artigo re- por diferentes condições de vida, reorganizar seus atendimentos - e presentam milhares de outras que, de acesso a bens materiais e mes- reformularam os atendimentos in- submersas nas durezas do cotidia- mo de garantia de isolamento so- dividuais e grupais, as Visitas Domi- no pandêmico, passaram a viven- cial e proteção frente ao vírus, os ciliares, a oferta medicamentosa e o ciar processos intensos de insônia, sujeitos continuam a se deparar acolhimento, tanto àquelas pessoas ansiedade, tristeza e dificuldades com distintas condições de promo- já atendidas anteriormente quanto de manutenção da vida. ção de saúde mental, assim como àquelas que se tornaram usuárias de de tratamento adequado. saúde mental neste novo cenário. Ao tomarmos o gênero como um marcador estrutural para Sabemos pelo psicanalista René Parece-nos que, apenas a partir qualquer análise pandêmica, vale Kaës que a crise psicossocial trans- de um desenvolvimento das po- entender, no entanto, que as mu- cende um quadro clínico específi- líticas públicas gerais, podemos lheres não são um grupo homogê- co - e se apresenta tanto a partir de falar de uma assistência em saúde neo. As dificuldades - e, logo, suas sintomas e queixas quanto de vi- mental integral, que fuja dos mo- repercussões na saúde mental - se vências insuportáveis, que colocam delos prontos e formatados, mas aprofundam quando unimos ao em xeque a organização psíquica e que considere os sujeitos, suas gênero outras relações sociais, social dos sujeitos. O sofrimento, territorialidades, histórias de vida como classe, renda, raça, orienta- que passa a ganhar a cena, atualiza e relações sociais a partir de seus ção sexual e identidade de gêne- as histórias de vida e a produção de sofrimentos, ainda mais marcados ro, entre outras. Por isso, quan- subjetividade no contexto das pre- pelo COVID-19, mas caminhando do nos voltamos para as mulhe- para respostas que transcendam res negras, vamos falar daquelas este momento. que, em nosso país, sobrevivem com as menores rendas e estão (*) Melissa de Oliveira Pereira é Psicóloga, Doutora em Saúde Pú- blica e Professora Universitária 19

Colunista Nádia Rebouças O NOVO NORMALinda me lembro da ani- mação no começo da pandemia, por volta de É ANORMALabril ou maio de 2020. AA surpresa, o susto e o medo ativaram um pouco a Poliana FOTO DE ANDRÉ SIMÕES, DO PROJETO SEM FOME. de todes nós! Comemoramos as ruas A morte arrasaria, como arrasou... vazias, a maior quantidade de pássaros morreram mais negros, mais mulhe- cantando, os animais voltando a ocu- res, mais pobres. Quem podia, ganhou par espaços que lhes foram roubados um tempo na casa da praia ou da serra. há décadas! Nas redes sociais, mul- Perto dali, a pergunta era: como lavar tiplicavam-se imagens lindas que se as mãos se a água não chega, como misturavam com cantores na varanda, ter dinheiro para comprar álcool gel e especialmente na Itália, que tentavam máscara? Como fazer isolamento dor- nos salvar do tédio, da solidão e da sur- mindo cinco pessoas, talvez crianças, presa com o que acontecia. O mundo, num colchonete na sala? apesar de tudo, ficou mais próximo. A ação imediata foi das mulheres: Algo invisível podia nos matar, e ainda sempre elas, tanto nas favelas, perife- pode, depois de tanto tempo. rias, nas populações indígenas, qui- Parecíamos mais solidários; ima- lombolas. As máquinas de costura ginava-se que; por compartilhar a começaram a produzir máscaras de mesma restrita realidade; poderíamos pano loucamente, algumas ganha- rever nossos valores - e que sairíamos, vam alguns trocados para o feijão e a alguns meses depois, por um portal de farinha, mas espera lá... por que estou luz onde nos encontraríamos no “novo falando no passado? Não, não passou. normal”. O nosso novo normal salva- Os coletivos de mulheres continuam ria o planeta, nos protegeria da crise putador, o celular, começaram a mos- na luta para proteger as suas famílias climática e nos tornaria mais solidá- trar sua falta para uma grande parcela e comunidades. Mulheres e crianças rios, explodindo os bons valores e nos- da nossa população. Crianças e jovens colhendo violência de seus pais ou ma- sa humanidade. Durou pouco. foram excluídos da possibilidade de ridos, companheiros desempregados Percebemos, pouco a pouco, que acompanhar as atividades educacio- e tristemente enlouquecidos pelas be- o escandaloso número de mortes no nais das suas escolas. bidas alcoólicas, que venderam como Brasil, as mentiras, os mandos e des- Cenas inusitadas aconteceram em nunca. As mulheres com mais recur- mandos, estariam aí para atormentar todas as casas. Crianças, gatos e ca- sos também se sensibilizaram e saíram nossa consciência. Logo percebemos a chorros em cima de teclados, partici- distribuindo o essencial para um pra- chegada da fome, como se ela não esti- pando das reuniões do zoom. Fecha to de comida. Fazendo quentinhas e vesse sempre nos rondando muito an- o som, abre a imagem! Seu microfone montando cestas básicas. As mulheres, tes. Intuímos a necessidade de apren- está fechado! Caí! Sim, acabamos to- quase sempre, nas empresas, também der tudo sobre tecnologia; o mundo des caindo nas lives que aliviavam um correram para não ficar ausentes des- estava mudando e, pelo menos por um pouco nossas angústias. Santa Teresa se movimento de salvamento dos hu- tempo (quanto?), teríamos que falar Cristina! Pouco a pouco, o anormal manos que excluímos, sem pensar, ao nas janelas, nos abraçar fingindo um foi virando o normal. Muitos, da nossa longo de décadas. Doaram cestas bási- abraço, e aprender a limpar maçanetas elite tacanha, se deram conta da triste cas, álcool gel e máscaras. Aqui o verbo de portas e compras que chegavam do realidade da falta de proteção às nossas pode ficar no passado.... ser solidário supermercado. Nesses tempos anor- favelas, à nossa população na miséria. foi cansando... A miséria deixou de ser mais e estranhos, o alimento, o com- Um enorme desafio! olhada, já que a máxima é verdadeira: 20 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

“quando os olhos não veem, o coração geração. As empresas cresceram o olho mentiras? Como será sair do normal não sente....” E fomos nos fechando à com ESG, os 17 ODS – Objetivos do das Fake News e tentar viver um pouco realidade como podíamos. Desenvolvimento Sustentável – que de verdade? Onde fica, ou ficou, o que estão nas caixinhas. São muito faladas, chamávamos loucamente de normal? A miséria foi consequência da falta mas suas metas já estão ameaçadas de de empregos, da precarização dos em- só serem atingidas em 2080... longe, Não temos nada normal. Não tínha- pregos, mas também do fim do “corre”. muito longe de 2030, ano para o qual mos nada normal, se considerarmos o Já fazia tempo que os bicos pagavam o foram estabelecidas pela ONU. que podia dar continuidade à vida no que ia para o prato no dia-a-dia: ven- planeta. A corrida para o consumo, o dendo bala, encontrando algo para fa- Futuro? Que novo normal, anor- egoísmo, o etnocentrismo, nada era zer por um ou dois dias. Tudo isso foi mal, será o futuro na emergência cli- normal. Tudo completamente anor- minguando... o “corre” também correu mática? Nossas chuvas literalmente mal, da pandemia ao pandemônio. menos. O governo se associou ao vírus estão virando poeira. Nossa floresta, Acho melhor esquecermos o que foi numa estrada para a morte. Resultado: deserto... e estamos tristes. Estamos to- normal (ele nos trouxe até aqui), e o a fome - e nem vamos falar da insegu- des um pouco doentes! Mesmo os que que sonhamos como “novo normal”, rança alimentar, que há muito está afe- têm pouca consciência de tudo isso es- fantasiando um mundo bom. tada no Brasil. Aliás, um dos primei- tão tristes.... Não sabemos como será o ros atos desse governo que aí está foi que será. Não sabemos o que fazer com Vamos arregaçar as mangas! Co- a destituição do CONSEA, Conselho a fome, a exclusão, a inflação, a falta de meçar tudo de novo... num singelo de Segurança Alimentar, lançado no habitação, esgoto, com florestas quei- ponto de partida: somos uma espé- governo Itamar por estímulo do soció- mando e com a ameaça de apagões. cie animal no planeta que precisa logo Betinho e de Dom Mauro Morelli. Não teremos chuva? Nem energia? entender que não é dona do mundo, O que nos diria Betinho, agora que as que precisa respeitar o que tem vida: pesquisas apontam 29 milhões de pes- Saberemos o que fazer com o online outros animais, rios, florestas, ma- soas passando fome, um número tão que já virou rotina, depois, no tal novo res, pessoas... e construir uma forma próximo dos 32 milhões que eram a normal? Onde ficará o presencial? de viver que não exclua. Respeitar o realidade quando a campanha da Ação Como vamos dormir nas aulas e nas ar, a água e a terra. Que as lives com da Cidadania começou? E pensar que reuniões? As janelas fechadas, a voz tantos, especialmente com Aílton saímos do mapa da fome! Muitos hoje bloqueada... como ficarão na hora que Krenak, não tenham sido em vão! não sabem quem foi Betinho (procura nossos corpos forem exigidos a estar Que tenhamos desenvolvido outros no Google, por favor), mas se houve presentes? E quando tivermos que nos medos e que eles sejam a força mo- alguém, por essas terras do Brasil, mãe vestir da cintura para baixo e colocar tora para mudarmos tudo! Para que gentil de triste lembrança, que escan- sapatos? Como será gastar duas, três as empresas reajam. Para que tenha- carou a indignidade da fome, foi esse horas no trânsito, de novo, para chegar mos governo de verdade. Que a ci- sociólogo. Foi contaminado numa ao escritório? Como sair do home offi- dadania lute como uma criança pelo transfusão de sangue pelo estado, jun- ce? Como vamos driblar os miseráveis que gostaria que fosse. A criança gri- to com seus dois irmãos, e todos mor- pelas calçadas e ruas? Vamos esquecer ta pelo que deseja, teima, se joga no reram em consequência da Aids. Um esse período de mortes? chão! E nós???? deles, o Henfil, cartunista que criou a Graúna, um dos seus mais conhecidos Como vamos reconstruir os nossos Bem-vindas as mulheres, bem-vin- personagens, nos leva a pensar: como direitos, que já eram poucos, e foram do o movimento negro, bem-vindos os estaria a Graúna hoje? Estrebuchando fuzilados na liberação das armas e das indígenas que estão na luta para cons- com nossa conjuntura? Até nosso ver- truir um novo tempo – porque, para de e amarelo foi roubado para cobrir a O que nos diria Betinho, eles, nada, nunca, foi normal. Vou terra plana. agora que as pesquisas concentrar minha atenção naqueles apontam 29 milhões de que não pararam de fazer. Nos piores A imagem da Idade Média nunca pessoas passando fome, momentos, foram capazes de sonhar, ficou tão nítida na modernidade; bas- um número tão próximo esperançar, como poderia nos dizer ta um olhar para as calçadas do centro dos 32 milhões que eram Paulo Freire. E que se abram portas das cidades! Enquanto isso, amplian- a realidade quando a para sairmos do anormal e do normal, do o olhar da câmera, nos deparamos campanha da Ação da pois nenhum deles nos fez feliz, nem com o maior desmonte pelo qual pas- Cidadania começou?” garantiu um planeta para morarmos sou o estado brasileiro. O objetivo é todos juntos, com respeito e conforto. excluir mais, muito mais! O normal Caso vá existir um ‘novo normal” para diário do nosso anormal. Pessoas, ins- todes, ele dependerá de nós. Só de nós. tituições, a cultura, a educação, o nosso Na remoção e na reconstrução! meio ambiente. As florestas queiman- do junto com as realizações da minha (*) Nadia Rebouças, Colunista Plurale, é Consultora de Comunica- ção para Transformação. 21

Estudo de Caso - Gestão Pública Mudamos a forma de cuidar O prefeito de Mangaratiba, Alan Campos da do meio ambiente. Entendemos Costa, e o secretário municipal de meio ambiente, que preservar recursos naturais é o melhor caminho para o futuro. Essa Antonio Marcos Barreto, começaram a gestão prática vai nos ajudar a movimentar modernizando as leis ambientais do município. de forma sustentável a economia, a preservar a biodiversidade e até o nosso território. Acredito que esse novo olhar nos fez avançar em menos de 3 anos, mais de três décadas” PREFEITO ALAN CAMPOS DA COSTA MANGARATIBA No caminho para o desenvolvimento sustentável POR PLURALE, DE MANGARATIBA (RJ) nho para o futuro. na escolha de uma equipe técnica mul- FOTOS DA PREFEITURA MUNICIPAL  O primeiro passo tomado pelo Pre- tidisciplinar e especializada, que tem total autonomia para gerir qualquer PDE MANGARATIBA (RJ) /DIVULGAÇÃO feito Alan Campos da Costa e pelo Se- assunto vinculado à questão ambiental. orta de entrada da Costa cretário de Meio Ambiente, Antonio Verde do Estado do Rio Marcos Barreto, foi modernizar as leis Além disso, a Secretaria Munici- de Janeiro, o município de ambientais do município. Com apenas pal de Meio Ambiente também fez Mangaratiba está situado seis meses de mandato, o Prefeito san- questão de desburocratizar proces- entre o mar e a monta- cionou o novo código ambiental da sos, investir no uso de tecnologias nha. A cidade possui mais de 356km² cidade, o que foi essencial para uma e aprimorar seus serviços. Em 2020, de extensão e tem quase 80% de seu mudança de paradigma. A gestão mu- Mangaratiba se tornou o segundo território composto por áreas verdes nicipal passou a realizar um controle município de todo o Estado apto a preservadas. Entretanto, em seus 190 efetivo sobre a utilização de recursos realizar Licenciamento Ambiental anos de história, a gestão dos recur- naturais, intensificou as ações de fisca- Pleno de Alto Impacto. Até então, sos naturais só veio ganhar a devida lização em espaços públicos, privados, apenas o INEA e a Prefeitura da Ca- atenção há pouco mais de dois anos, empresas e empreendimentos, lançou a pital ofereciam o serviço. quando a Prefeitura de cidade enten- Linha Verde - um canal exclusivo para deu que a sustentabilidade é o cami- denúncias de crimes ambientais -, in- Em paralelo, a Prefeitura levou a vestiu na aquisição de equipamentos e Educação Ambiental para as escolas, ampliou ações de conscientização, 22 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

FOTOS DA PREFEITURA DE MANGARATIBA (RJ) - DIVULGAÇÃO Educação Ambiental nas escolas, ações de conscientização, plantio e reflorestamento, plantio e reflorestamento, viabilizou nicipal planejar e executar a utilização mais investimentos na coleta seletiva e no investimentos na coleta seletiva e no sustentável da área do parque para o fo- aproveitamento de resíduos recicláveis aproveitamento de resíduos recicláveis. mento de atividades turísticas e espor- estão entre os avanços aplicados na tivas, entre diversos outros segmentos. cidade. “A maior riqueza de Mangaratiba “Mudamos a forma de cuidar do são seus recursos naturais. Então nosso meio ambiente. Entendemos que pre-  Vale lembrar que nos últimos me- trabalho é sempre voltado a encontrar servar recursos naturais é o melhor ses a Prefeitura também executou o soluções viáveis que permitam ao poder caminho para o futuro. Essa prática Plano de Manejo específico para a público, privado e as comunida- vai nos ajudar a movimentar de forma Área de Proteção Ambiental (APA) do des fazerem o uso sustentável e consciente sustentável a economia, a preservar a Boto Cinza e investiu na legalização de desses recursos” - Secretário de Meio biodiversidade e até o nosso território. diversas Reservas Particulares de Patri- Ambiente, Antonio Marcos Barreto. Acredito que esse novo olhar nos fez mônio Natural. As chamadas RPPNs avançar, em menos de três anos, mais representam uma estratégia eficaz para cativo Conect Mar, que auxiliará na de três décadas” comentou o Prefeito promover a criação e a manutenção de proteção da biodiversidade marinha, Alan Campos da Costa. áreas de conservação através da inicia- e avançar no plano de Saneamento Avanços da gestão ambiental  tiva de proprietários particulares. Elas Rural, através de um acordo técnico geram economia para os cofres públi- com o Comitê Guandu. Não foram só as práticas de con- cos, mas impulsionam a proteção am- trole e de fiscalização dos recursos biental de territórios. “A maior riqueza de Mangarati- naturais que mudaram em Manga- ba são seus recursos naturais. Então ratiba. A adoção de novas políticas   nosso trabalho é sempre voltado a públicas que visam à proteção da bio- Trabalhando pelo futuro sustentável encontrar soluções viáveis que per- diversidade já tem auxiliado o muni- mitam ao poder público, privado cípio até na captação de recursos.   Sem contar as atividades do dia a e às comunidades fazerem o uso dia, a Secretaria de Meio Ambiente de sustentável e consciente desses re- Um exemplo disso vem do salto do Mangaratiba também vem trabalhan- cursos. Sem dúvida, estamos que- município no Ranking do ICMS Eco- do para deixar um legado de preserva- brando paradigmas e caminhando lógico Estadual. Desde que os inves- ção ambiental para as próximas gera- em favor da preservação ambien- timentos ambientais aumentaram, a ções. São ações de médio e longo prazo tal, da valorização da natureza e da cidade passou da 15° posição em 2019, planejadas no hoje, mas que trarão be- eco-responsabilidade”, pontuou o para a 11° em 2020 e a 7° em 2021. A nefícios ao longo dos próximos anos.  Secretário de Meio Ambiente, An- progressão de resultados no ranking, tonio Marcos Barreto. além de um indicativo das melhorias Dentre os projetos que vêm sendo na gestão dos recursos ambientais, elaborados pela pasta estão a implan- garantiu para Mangaratiba um maior tação de duas novas unidades de con- repasse de recursos.  servação - a APA Guaíba-Guaibinha e o Parque Sahy -, a criação da primeira  Outra prática executada em favor do Escola Ecológica e do Plano Municipal meio ambiente que vai ajudar a movi- da Mata Atlântica. As iniciativas envol- mentar a economia da cidade é o Plano verão o poder público e as comunida- de Manejo do Parque Natural Munici- des na preservação efetiva e no manejo pal da Pedra do Urubu. O plano - que adequado das áreas verdes do territó- consiste num documento técnico que rio municipal.  norteia o uso e o zoneamento de áreas de preservação - permite a gestão mu- A Secretaria também pretende lan- çar, em parceria com a Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o apli- 23

Estudo de Caso - Resgate Cultural ADE BELO HORIZONTE (MG) TESOUROS mineração tem um papel ESCONDIDOS de destaque na história do Brasil, sobretudo do Restauração de igrejas centenárias da região de estado de Minas Gerais. Conceição do Mato Dentro (MG) revelam preciosidades É tão antiga quanto a inéditas do barroco mineiro religiosidade que permeia a identifi- cação do povo mineiro, suas crenças e FOTO DE DIVULGAÇÃO/ ANGLO AMERICAN cultura. Presente em Minas Gerais des- de 2014 e ciente do seu papel social, a Igreja Matriz de mineradora Anglo American vem de- Nossa Senhora da senvolvendo uma série de iniciativas no Conceição, em sentido de resgatar essa rica história. Em Conceição do Mato parceria com o Instituto do Patrimônio Dentro (MG) Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a empresa vem investindo consistente- O templo é um ponto de convergência cípio de Alvorada de Minas, pertencia ao mente em obras de recuperação de con- de um forte sentimento de pertencimen- antigo distrito do Serro do Frio. Foi parte juntos sacros e históricos, resgatando to dos moradores locais, mas está fecha- do Caminho dos Diamantes e da Estra- joias do barroco mineiro em Concei- do para celebrações há mais ou menos 10 da Real, que ligava o Serro a Ouro Preto, ção do Mato Dentro e Alvorada de Mi- anos. “Restaurar este templo é reafirmar também em Minas Gerais. nas, municípios localizados na região a identidade de Itapanhoacanga. As pes- central do estado. soas sentem falta das celebrações na Igre- “Buscamos ativamente trazer ganhos ja e até moradores que não seguem o ca- para as populações das comunidades Ao todo, já são mais de R$ 45 milhões tolicismo nutrem vínculos afetivos com que nos recebem. Esse investimento, que investidos no resgate dessas histórias, dos o espaço”, comenta o padre Dário Vieira se soma a uma série de restaurações do quais R$ 20 milhões aplicados na preser- dos Santos, pároco da comunidade. patrimônio histórico regional realizadas vação do patrimônio histórico e cultural, pela empresa nos últimos anos, está to- e outros R$ 25 milhões em ações como Construída em 1785 como capela fi- talmente alinhado ao nosso propósito de educação ambiental e pesquisas científi- lial da Matriz da Vila do Príncipe (atual reimaginar a mineração para melhorar a cas. Em 2018, a empresa entregou à co- município do Serro), a Igreja ostenta be- vida das pessoas”, ressalta Aldo Souza, munidade de Conceição do Mato Den- las pinturas decorativas de Manuel Antô- diretor técnico de Projetos e Sustentabi- tro o restauro da Igreja Matriz de Nossa nio da Fonseca, em doze painéis que re- lidade da Anglo American. Senhora da Conceição, datada do século presentam cenas da vida de São José e da 18, com investimentos de R$ 8,5 milhões. infância de Jesus. Tombada pelo Iphan Matriz de Nossa Senhora da Con- Outros R$ 3,5 milhões foram direciona- em 1972, a última restauração no local ceição - No caso da restauração da Ma- dos à restauração do núcleo histórico de ocorreu há mais de 20 anos. O povoado triz de Nossa Senhora da Conceição, em Córregos, distrito de Conceição do Mato de Itapanhoacanga, hoje parte do muni- Conceição do Mato Dentro (MG), que Dentro. Além disso, a empresa inicia, foi concluída em 2018 e esteve interdi- ainda em outubro de 2021, a restauração da Matriz de São José, em Itapanhoacan- ga, distrito do município de Alvorada de Minas, que também recebe as operações da empresa. A Matriz de São José, um patrimônio de 236 anos, está recebendo R$ 4 mi- lhões em investimentos nos trabalhos de recuperação, entre ações de engenharia civil e serviços de restauração artística, além de sistema de proteção de des- cargas atmosféricas, alarme e proteção contra incêndio. As obras devem durar aproximadamente um ano e meio. Todo o processo de restauração está sob ges- tão do Instituto Flávio Gutierrez, com acompanhamento do Iphan. 24 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

Matriz de São José, de FOTO DE HENRIQUE CUNHA Itapanhoacanga, distrito do município de Alvorada de Minas. tada por 13 anos, descobriu-se um ines- novas páginas de sua história”, celebra Detalhes dos interior das duas igrejas perado tesouro artístico e pictórico do Ivan Simões, diretor de Assuntos Cor- mineiras: retiradas de camadas de tintas e barroco brasileiro, repleto de artes sacras porativos da Anglo American. a recuperação das pinturas originais com 300 anos, em média. O delicado revelaram relíquias do barroco. trabalho de restauro, realizado ao longo Resgate de acervo artístico - As pri- de seis anos, revelou elementos artísticos meiras pesquisas sugerem que as pintu- no. Inspeções permanentes permitem inéditos, escondidos sob camadas de tin- ras reveladas foram encobertas por tintas detectar a tempo qualquer infestação de ta – um importante e inesperado patri- em dois momentos ao longo da história insetos, para evitar contágio com outros mônio artístico e sacro em Minas. da igreja – a primeira vez em 1816 e a se- elementos. gunda em 1933. Não há registros oficiais Pouca gente sabe, mas a cidade de sobre as pinturas reveladas no processo A Anglo American investiu, ainda, Conceição do Mato Dentro é mais an- de restauração, mas estudos sugerem R$ 3,5 milhões na restauração do núcleo tiga que o próprio estado de Minas Ge- que a retratação da vida de Cristo, em histórico de Córregos, um dos conjuntos rais. Em 2020, o estado comemorou 300 estilo azulejaria, foi inspirada nas obras patrimoniais mais importantes e antigos anos. O município é, hoje, reconhecido de Bartolomeo Ricci, de 1607. do Caminho dos Diamantes, na Estrada pelo seu rico patrimônio histórico, dig- Real, com referências da virada do sécu- no das mais importantes cidades históri- Tombada em 1948 pelo Iphan e inter- lo XVIII. Córregos é o mais antigo distri- cas de Minas, além de ser considerado a ditada desde 2005, a matriz apresentava to de Conceição do Mato Dentro. Foram capital mineira do ecoturismo. uma série de problemas estruturais e concluídas a recuperação da Capela de nos elementos artísticos. A restauração, Nosso Senhor dos Passos e as revitali- A retirada das camadas de tinta e a iniciada em 2012, permitiu que estes ele- zações das fachadas da Casa Paroquial e recuperação da pintura original revela- mentos fossem revisados e reforçados de 37 casas particulares que compõem o ram, na capela-mor, uma reprodução com juntas metálicas e, em vários casos, complexo histórico. ilusionista de elementos arquitetônicos, substituídos. Já os elementos artísticos emoldurando as cenas da vida de Nossa foram desmontados e receberam todo A Igreja Matriz de Nossa Senho- Senhora. Também trouxeram à tona pai- o tratamento necessário ao suporte e à ra Aparecida também será restaurada, néis no estilo de uma recriação de azule- camada pictórica. Os sistemas elétrico e mas o processo de licitação ainda não jaria, com passagens da vida de Cristo e de iluminação também foram comple- foi concluído pelo Instituto Estadual do ainda pinturas que adornam a Assunção tamente substituídos. A igreja foi dotada Patrimônio Histórico e Artístico de Mi- de Nossa Senhora, no forro do altar-mor. de segurança eletrônica, conectada por nas Gerais (Iepha). A Anglo American aplicativos, em seu interior e no entor- se prepara ainda para colocar em prática O trabalho, fruto de um Termo de um projeto de cabeamento elétrico sub- Ajustamento de Conduta (TAC) assi- terrâneo em Conceição do Mato Dentro, nado pela empresa com o Ministério com a intenção de deixar o centro histó- Público de Minas Gerais (MPMG), foi rico da cidade ainda mais bonito, inicia- realizado pela Cantaria Conservação tiva prevista também em acordo com o e Restauro, também com supervisão Ministério Público de Minas Gerais. do Iphan. “Mais do que uma obrigação, fazer parte desta história é um orgulho “É fundamental manter uma conexão para nós. Ficamos maravilhados com a relevante com as comunidades vizinhas descoberta artística propiciada pela res- aos empreendimentos da empresa e va- tauração da Matriz de Nossa Senhora da lorizar suas tradições sociais e culturais. Conceição. Deixar esse legado para a co- Assim, todos saem ganhando. Com a munidade é muito importante para nós. restauração da matriz e do núcleo histó- É uma emoção ver o brilho nos olhos de rico, o município de Conceição do Mato quem frequentou o templo no passado Dentro foi definitivamente inserido na e hoje pode vê-lo vivo e reaberto para as rota das principais cidades históricas mi- neiras”, comemora Simões. 25

Estudo de Caso - Igualdade de Gênero Há ainda uma desafiadora jornada para reduzir a desigualdade de gênero no Brasil POR RENATA CHAGAS, educação, como ação de enfrentamento Renata DIRETORA-PRESIDENTE DO para a redução da desigualdade de gêne- Chagas INSTITUTO NEOENERGIA, ro - meta para o alcance da Agenda 2030, estabelecida no Objetivo de Desenvolvi- trar nosso compromisso e empenho no EMÃE DO THEO E DA NINA mento Sustentável (ODS 5) -,no qual o alcance do ODS 5, inspirando outras m 2020, entre os inúme- Instituto Neoenergia, o qual lidero, e a companhias e nossa cadeia de valor a ros desafios impostos pela Neoenergia, um dos maiores grupos do empreender iniciativas para a redução pandemia da COVID-19, setor elétrico brasileiro, vêm trabalhan- da desigualdade de gênero. o Instituto Neoenergia defi- do intensamente em 2021. niu concentrar suas ações e Atualmente, a Neoenergia tem investimentos no fortalecimento de seus Para nós, “lugar de mulher é onde 43% de mulheres nas suas equipes projetos em comunidades periféricas de ela quiser’’, e a independência financei- corporativas, e a proporção de pre- alta vulnerabilidade social. O Programa ra é uma das principais formas para seu sença feminina na sua Diretoria Exe- de Aceleração Social Impactô, de capa- fortalecimento e via essencial para seu cutiva é de 44%, mas estamos traba- citação de ONGs e Negócios Sociais, ga- acesso ao mercado de trabalho e à gera- lhando intensamente para aumentar nhou mais uma edição; e a troca de ex- ção de renda. Por isso, achei importante essa representatividade e o intraem- periências e conhecimento em rede com compartilhar nesse artigo a nossa jorna- preendedorismo na companhia. Em outras iniciativas nossas nos municiou da em torno do ODS 5. 2017, fomos pioneiros na criação da de indicadores mais relevantes sobre a primeira Escola de Eletricistas Mu- realidade dessas comunidades. Entre Em maio, lançamos a 1ª edição do lheres do país, iniciativa reconhecida dados assustadores, como os de alto ín- Programa de Aceleração Social Im- internacionalmente em um estudo dice de exclusão escolar, alargamento da pactô Mulheres, em parceria com o de caso publicado pelo WeEmpower linha de pobreza e de violência domésti- Instituto Ekloos, exclusivo a lideran- - programa da ONU Mulheres junto ca, nos chamou a atenção um bem posi- ças femininas de organizações da so- à Organização Internacional do Tra- tivo: o empreendedorismo de gênero. A ciedade civil e negócios de impacto. balho (OIT) e à União Europeia. maior parte das iniciativas de projetos Definimos que o Impactô chegaria a e negócios sociais nessas comunida- 20 novos municípios do interior e se des são lideradas por mulheres. Mui- expandiria por quatro novos estados: tas delas são as principais provedoras Paraná, Minas Gerais, Goiás e Piauí, de suas casas, mas, mesmo diante de além da Bahia - onde já havíamos todas as dificuldades, investem gran- realizado duas edições do programa, de parte de sua energia em iniciativas incluindo novas áreas de atuação para inspiradoras de transformação social alcançar iniciativas em meio ambien- nas suas comunidades. te, energias renováveis, desenvolvi- mento territorial e tecnologia, além O empreendedorismo feminino como das de educação e cultura. via essencial Da Escola de Eletricistas Mulheres ao patrocínio da Seleção Brasileira de No próximo 19 de novembro, teremos Futebol Feminino mais um Dia Global do Empreendedo- rismo Feminino. A data, criada em 2014, Em junho, num contrato histórico pela Organização das Nações Unidas com a Confederação Brasileira de Fute- (ONU), é comemorada simultaneamen- bol (CBF), a Neoenergia se tornou a pri- te em 153 países, entre eles o Brasil, com o meira empresa no país a patrocinar com objetivo de ampliar as oportunidades e a exclusividade a Seleção Brasileira de fu- representação das mulheres no mercado tebol feminino. Foi mais um passo im- de trabalho, na política, na economia, na portante e responsável para nós, como grande grupo brasileiro, para demons- 26 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

Vencedoras do Prêmio Inspirar, de Um prêmio inspirador às mulheres Solange reconhecimento a mulheres que promo- que transformam realidades Ribeiro vem transformação social com arte e cultura em comunidades periféricas nos Seguimos o ano pensando em proje- profissão que escolhi permite, especial- municípios do Rio de Janeiro, da Baixada tos cada vez mais inspiradores para o al- mente com as organizações da socieda- Fluminense e do estado de Pernambuco. cance do ODS 5. E nos deparamos com de civil, que nos ensinam, todos os dias, dados surpreendentes de iniciativas im- o real significado de propósito - termo pulsionadas por elas. Em 2020, mesmo tão utilizado pela comunicação empre- diante da pandemia, segundo o Global sarial hoje - mas, do lugar genuíno de Entrepreneurship Monitor - principal fala delas, que começam do estado zero, pesquisa sobre empreendedorismo do sem investimentos, sem planos estraté- mundo - o Brasil atingia 30 milhões gicos, mas com muitos ideais para unir, de mulheres brasileiras empreendedo- engajar e transformar suas realidades em ras, número equivalente a quase meta- torno de uma causa. de do mercado empreendedor no país (48,7%), e que, em 2020, cresceu 40%. Sou também testemunha da evolu- ção da Neoenergia em sua jornada do Não tínhamos dúvidas de quanto o desenvolvimento sustentável. Essa tra- empreendedorismo social da mulher é jetória tem sido de muitas surpresas e fundamental para as comunidades pe- reconhecimentos, como o de ter Solange riféricas do Brasil e pensamos como: Ribeiro, nossa diretora-presidente ad- poderíamos valorizar ainda mais essas junta na Neoenergia, nomeada como mulheres, tornando suas iniciativas mais a primeira vice-presidente mulher do visíveis à sociedade em um contexto tão Global Compact no Brasil. Como mãe complexo? Assim lançamos, em maio, a e mulher, me dá um sentimento de feli- 1a Edição do Prêmio Inspirar - idealiza- cidade por fazer parte de tudo isso, mas do pelo Instituto Neoenergia, realizado sabemos que há ainda uma desafiadora em parceria com a Neoenergia Pernam- jornada para reduzir a desigualdade de buco, a Neoenergia e a Baluarte Cultura gênero no Brasil. Contem comigo!!! -, de reconhecimento a mulheres que promovem transformação social com Leia mais sobre as arte e cultura em comunidades perifé- ações do Instituto ricas, nos municípios do Rio de Janeiro, Neoenergia da Baixada Fluminense (RJ) e do estado de Pernambuco (PE). Recebemos mais de 120 inscrições de mulheres em qua- tro categorias: Pessoa Física, Microem- preendedoras Individuais), Grupos e Coletivos Femininos e Produtoras Cul- turais e Instituições do 3º Setor. Cria- mos um conselho curador do Prêmio Inspirar para a seleção das iniciativas e abrimos para votação popular, pois que- ríamos muito dar voz à sociedade na es- colha das finalistas. Recebemos mais de 150 mil votos populares para a escolha das vencedoras. Descobrimos inicia- tivas incríveis lideradas por mulheres, que atuam em contextos tão distintos, muitos deles bem vulneráveis, com tanta capacidade de inovação, transformação, inspiração e criatividade. Posso dizer que, em mais de 15 anos de atuação na área de Sustentabilidade, tenho mais aprendido do que ensinado com a interação entre os diferentes ato- res do tecido social que o exercício da 27

Estudo de caso - ESG AArcos Dorados, franquia FOTO DE DIVULGAÇÃO responsável pela opera- ção do McDonald’s em Arcos Dorados reforça 20 mercados da Amé- seu compromisso de rica Latina e do Caribe, reduzir em 36% as reforça seu compromisso em atingir a emissões de gases de meta de redução de 36% de emissões efeito estufa de sua dos restaurantes e escritórios da rede operação direta até 2030 até 2030, além de 31% das emissões de toda sua cadeia. Companhia passou a divulgar a medição de emissões em seu Relatório de Impacto Social e Como um importante passo para Desenvolvimento Sustentável, publicado anualmente alcançar esse objetivo, a companhia passou a divulgar a medição de emis- seis anos consecutivos. Em 2021, o Dentre as 25 iniciativas básicas sões diretas e indiretas de gases de efei- programa atingiu 100% de engaja- obrigatórias estão: uso do ar condi- to estufa geradas por sua operação. O mento entre mais de 200 fornecedo- cionado de baixo consumo de ener- monitoramento de emissões teve início res indicados pela Arcos Dorados. gia, uso de gases refrigerantes não em 2019, mesmo ano em que a empresa Ações sustentáveis em restaurantes poluentes, aquecedor solar de água, assumiu o compromisso frente aos de- iluminação LED, recuperação da safios globais em torno das mudanças Este compromisso da Arcos Dorados água de chuva e da água de condensa- climáticas. Em 2020, os resultados me- com o meio ambiente foi reforçado ao ção dos aparelhos de ar condicionado didos em toneladas de CO2 equivalente definir 25 iniciativas que reduzem o im- para tarefas como lavagem das facha- passaram a ser publicados no Relatório pacto de suas unidades e que passam a das, limpeza dos banheiros, irrigação de Impacto Social e Desenvolvimento ser obrigatórias para as inaugurações e dos jardins etc, separação de resíduos Sustentável da Arcos Dorados. remodelações da rede em toda a região. no salão e do óleo vegetal utilizado “Entendemos que priorizar e re- portar as emissões de gases de efeito estufa de nossas operações é o pas- so inicial, para que possamos seguir com nosso planejamento de ações de redução e mitigação de nossa pe- gada de carbono”, comenta Gabriel Serber, Diretor de Impacto Social e Desenvolvimento Sustentável da Arcos Dorados. “Monitorar nossas emissões reitera o nosso compro- misso com as metas corporativas de redução que assumimos como parte da nossa estratégia de atuação ESG, Receita do Futuro”, complementa. Desde 2018, a companhia con- ta com um programa para redução de plástico de um único uso, que já realiza ações como a substituição das embalagens de plástico de saladas por outras fabricadas com papel cartonado certificado, redução do uso de tampas de plástico para bebidas e sobremesas, fim da entrega proativa de canudos, entre outras - que já ge- raram a redução de 40% no uso do material nas operações da rede. Além disso, a rede promove o engajamento de sua cadeia de valor por meio do programa Supply Chain Carbon Disclosure Project (CDP), há 28 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

para ser transformado em biodie- como parte dos nossos negócios. clientes e funcionários sobre conceitos sel, uso de madeiras certificadas nos Portanto, os avanços que estamos fundamentais, como o cuidado dos re- móveis, ventilação mecânica, solo implementando nos restaurantes cursos naturais, o consumo consciente absorvente, vidros com filtro infra- não só nos permitem nos aproximar da energia e a correta separação de re- vermelho, inclusão de painéis solares dos nossos objetivos ambientais, síduos”, afirma Gabriel Serber, Diretor e de telhados com isolamento, para mas também conscientizar os nossos de Compromisso Social e Desenvolvi- promover a economia energética. mento Sustentável da Arcos Dorados. Confira mais sobre as A implementação do checklist sim- iniciativas que fazem Com as modificações realizadas em boliza uma nova fase para a expansão parte dos Restaurantes cada caso, os restaurantes poderão ob- da companhia - ao determinar, como Sustentáveis da Arcos ter uma economia de luz de até 10.000 obrigatórias, iniciativas que têm sido Dorados. Acessando o kwh/mês, diminuição do consumo de utilizadas em inaugurações e reformu- QR code, é possível navegar pelas novas até 16.000 litros de água e a reutilização lações de restaurantes brasileiros há instalações e saber como a companhia de até 1.200 quilos em materiais e ou- mais de cinco anos. Somente em 2021 está trabalhando para promover o tros recursos. já foram inauguradas 30 unidades no cuidado do planeta. país que contam com todos os itens. Para saber mais sobre a Arcos Do- “Na Arcos Dorados, procuramos apli- rados e sua estratégia ESG, Receita car, no dia a dia, ações sustentáveis do Futuro, acesse www.receitadofu- turo.com.br. Brinquedos do McLanche Feliz serão 100% sustentáveis até 2025 A Arcos Dorados oferta de produtos, como também avan- que nos permitam assumir também anunciou em çar na redução do uso de materiais que compromissos como esse. Em setembro a sua meta prejudicam o planeta, com ações efetivas 2011, por exemplo, iniciamos de concluir, até 2025, a jornada de evolução do a transição dos brin- McLanche Feliz, com a refor- quedos do McLanche mulação de ingredientes do Feliz para uma ver- cardápio, e seguimos até hoje são 100% sustentável. com grandes marcos que nos Feita com materiais aproximam do cumprimento renováveis, reciclados dos objetivos que estabelece- e certificados, a nova mos em nossa Receita do Fu- proposta da empre- turo”, afirma Gabriel Serber, sa, que já se encontra Diretor de Impacto Social e em fase de imple- Desenvolvimento Sustentá- mentação, permite vel da Arcos Dorados. continuar avançando no compromisso de O anúncio feito pela Ar- reduzir o impacto de cos Dorados considera uma sua operação. mudança gradual, que será aplicada nos 20 mercados “Na Arcos Dorados, em que está presente. Des- temos dois compro- de mudanças na embala- missos que norteiam gem dos brinquedos até grande parte das nos- a sua composição total. A sas ações: cuidar do empresa traçou o caminho meio ambiente e ofe- que levará o McLanche Fe- recer alimentos com liz a encontrar alternativas altos padrões de qualidade aos nossos sustentáveis, até 2025, ​q​ ue continuem clientes. Pensando nisso, ano após ano estimulando a criatividade e a diversão trabalhamos para evoluir não só na das famílias. 29

Estudo de caso - Responsabilidade Social POR PLURALE Instituto Claro: FOTOS DO INSTITUTO CLARO/ 20 anos conectando pessoas por um NDIVULGAÇÃO futuro melhor em mesmo a pandemia freou o ritmo das ações Educação e cidadania são os principais eixos de atuação da do Instituto Claro em organização, que, na pandemia, ampliou ações para minimizar 2021. Justamente neste os impactos sociais do coronavírus em comunidades vulneráveis ano de tantos desafios, a área de Responsabilidade Social da Claro ilimitada, sem qualquer custo ou des- juntos, fomos ouvir de quem mais preci- - líder em Telecomunicações na Améri- conto, nos aplicativos Coronavírus|SUS, sava para saber como poderíamos con- ca Latina e uma das maiores operadoras desenvolvido pelo Ministério da Saúde – tribuir. Com a CUFA, ouvimos que as de multisserviços do Brasil, presente em que oferece informações de utilidade pú- Mães da Favela precisavam de suporte e todas as regiões do país - completou 20 blica, dicas de prevenção e um mapa dos de autonomia. Com os nossos voluntá- anos atuando nos eixos da educação e postos públicos de saúde mais próximos rios, ouvimos das Instituições parceiras da cidadania. Ao longo de sua história, – e Caixa Auxílio Emergencial, da Caixa que o que as pessoas mais precisavam o Instituto Claro impactou 54 mil alunos Econômica Federal – para pagamento era de comida no prato. Ouvimos as em projetos educacionais, teve mais de 30 do bolsa emergencial. Juntos, os apps já necessidades dos alunos e professores e mil participações voluntárias em ações foram acessados mais de 208,5 milhões desenvolvemos planos de aula para ensi- que apoiou e enviou para reciclagem 126 de vezes. Todos os esforços foram con- no remoto, roteiros de estudo e disponi- toneladas de resíduos eletrônicos. centrados para que as ações funcionas- bilizamos o Descomplica gratuitamente sem como uma espécie de catalisador para clientes pré-pago”, explica Daniely Em modelo remoto e seguindo as em iniciativas para minimizar os impac- Gomiero, diretora de responsabilida- recomendações dos cientistas e espe- tos causados pela pandemia em comuni- de social e comunicação corporativa da cialistas no combate à pandemia, os dades em situação de vulnerabilidade. Claro e vice-presidente de projetos do programas foram mantidos – e até in- Instituto Claro. tensificados. A partir da escuta e com a “Nos unimos a grandes parceiros e, ajuda de parceiros – como fornecedores Ela destaca a força que a organiza- da operadora – uma grande rede foi logo Daniely Gomiero, diretora de ção – em rede – pôde demonstrar nes- criada para ações imediatas, ainda em responsabilidade social e te exercício de cidadania ao completar março, quando o país assistia, perplexo, comunicação corporativa da 20 anos. Era preciso agir e rápido. “Ce- aos primeiros sinais da Covid-19. Como Claro e vice-presidente de lebrar os 20 anos em meio à pandemia por exemplo, no decisivo apoio de dar projetos do Instituto Claro é bastante significativo. Nossa história acesso gratuito à banda larga para que é marcada pelo trabalho focado na co- 17 milhões de jovens de regiões mais nexão entre as pessoas e na transfor- vulneráveis pudessem estudar, ainda mação social e, no último ano, tivemos disponibilizou, para clientes pré-pago, a oportunidade de levar essa união a o Descomplica, com planos de aula para outro nível”, reforça Daniely. ensino remoto, para que pudessem se preparar para o Enem. Outra frente de ESG - A pauta ESG faz parte do com- ação foi no combate à fome, fazendo promisso da Claro e tem sido trabalha- chegar comida à mesa principalmente da, de forma consistente, em iniciativas de famílias lideradas por mães solo – o voltadas para esses pilares há muitos programa Mães da Favela, coordenado anos, acreditando na colaboração para pela CUFA – Central Única das Favelas, uma sociedade mais equilibrada. A di- distribuiu, entre abril e agosto de 2020, retora de responsabilidade social da em- vales de R$ 120 reais que beneficiaram presa destaca que “estamos envolvidos 5.384 famílias. em inúmeras iniciativas em prol dos Colaboradores voluntários da Claro se uniram para minimizar o sofrimento dos que mais precisavam, ajudando a distribuir comida. Entre agosto e dezem- bro de 2020, a campanha conseguiu dis- tribuir cestas básicas para 32.872 pessoas em situação de vulnerabilidade. A Claro também liberou a navegação, de forma 30 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

Semana presencial da 8 FOTOS DE DIVULGAÇÃO – INSTITUTO CLARO edição do Campus Mobile (foto tirada em fevereiro de 2020, ANTES DA PANDEMIA) Montagem e entregas de cestas básicas feitas pelos voluntários para o Conexão Voluntária em São Paulo. pilares da Sustentabilidade, que para nós centivo, os clientes têm mais informações integração social. é um valor, e temos um forte compro- para aderir ao atendimento digital. Houve Alguns destes jovens foram convida- metimento com a governança, refletido diminuição de 67,4% das emissões de fa- em aspectos como compliance, LGPD turas impressas, só em 2019. dos pela organização para participar no e ética, que são essenciais para a Claro. Relatório Social de 2020, não só como Mais que um discurso, acreditamos e Educação e transformação - No iní- personagens, mas como protagonis- trabalhamos, há muitos anos, para uma cio do ano passado, em fevereiro de 2020, tas que são: entrevistaram parceiros de sociedade mais equilibrada, com consis- ainda foi possível fazer um grande even- ações, como Celso Athayde, fundador tência e recorrência.” to presencial – antes da pandemia – a 8ª da CUFA, e Mário Volpi, do Unicef. Os Edição do Campus Mobile, em São Paulo. resultados e reflexões são apresentados Dentre muitas destas ações, algumas Jovens de todo o Brasil participaram des- de forma lúdica e acessível, para que são lembradas, como o programa Ener- ta edição, a maior desde que o programa executivos e jovens apoiados pudessem gia da Claro, considerado, segundo dados surgiu. Ao todo foram registradas 304 também ler e se interessar. A abertura é da ANEEL, o maior programa de geração inscrições – 40% a mais do que no ano do Presidente da Claro Brasil e presiden- de energia distribuída no Brasil, com 53 anterior -, com 685 participantes de 25 te do Instituto Claro, José Felix. usinas em operação atualmente, espalha- estados do país. Os 94 projetos seleciona- das por praticamente todos os estados e dos foram todos inscritos por estudantes “Nesse movimento de mudanças grande presença em Minas Gerais e na universitários e recém-formados. O ob- constantes, foram nossos valores que região Nordeste. Estas usinas abastecem jetivo é incentivar a formação de talentos seguimos como base. Fomos rápidos, 20 mil unidades consumidoras da Claro e para atuar no segmento de conteúdo e mas não perdemos de vista nosso norte: geram energia limpa equivalente ao con- serviços mobile. Neste ano, a 9ª edição Pessoas, Clientes, Honestidade, Inova- sumo de 240 mil residências, o suficiente do concurso foi adaptada e aconteceu de ção e Sustentabilidade. Com esse lema para atender a cidades como Araras (SP) forma 100% virtual. em vista, reforçamos nosso código de ou Valinhos (SP). Atualmente, 19 novas ética, treinando 100% dos colabora- usinas estão em construção, a maioria em Educação está no DNA do Instituto dores para que todos compreendam São Paulo e na região Sul. Claro e outros dois projetos, que promo- e sigam o que de nós é esperado. Nos vem a capacitação de jovens, avançaram adequamos à Lei Geral de Proteção de Outra ação consistente é o Claro Reci- – mesmo de forma remota: o Dupla Es- Dados e também lançamos e capacita- cla, projeto que proporciona logística re- cola, que já formou mais de 600 alunos mos todos dentro do nosso sistema de versa e contribui para o descarte correto como técnicos em telecomunicações, Compliance”, observa o líder. de lixo eletrônico como baterias, celula- em conjunto com o estado do Rio de Ja- res, tablets e acessórios. A Claro dispo- neiro, e o Educonx@o, que, desde 2011, Conheça outras nibiliza urnas do Claro Recicla em lojas, já capacitou mais de 2,9 mil professores realizações no site agentes autorizados e prédios adminis- para usar a tecnologia em sala de aula e do Instituto Claro trativos, para a coleta de resíduos eletrô- disponibilizou conexão para 1,8 mil es- nicos. Assim, o programa traz soluções colas em 19 estados brasileiros, desem- Ação Social pela Música que cumprem os objetivos da Política penhando um papel fundamental para a na live realizada em 2020. Nacional de Resíduos Sólidos. Em 2019, o projeto recolheu 10.055 itens e enviou 956 quilos de lixo eletrônico para reci- clagem. São 150 toneladas de resíduos eletrônicos reciclados desde a criação. A Claro também incentiva a adoção da Fatura Digital, desenvolvendo processos seguros e eficientes para a emissão de suas faturas pelo meio digital, evitando custos, processos e impactos da impressão e dis- tribuição. Através de campanhas de in- 31

Bons fluidos ESOTERISMO Muito além do mundo real POR NÍCIA RIBAS, DE PLURALE natos, incluindo astrologia voca- mistura do que eles me recomen- cional; dois cursos, um deles para dam, assim como meu gut feeling QFOTOS DE DIVULGAÇÃO terapeutas; e um podcast semanal (intuição) e conhecimento do pro- uem para e pensa no no spotify e outras plataformas. blema. Os astros me dão uma visão momento atual da mais ampla, levando em conside- vida humana, des- “Acredito que toda vez que a ração o meu futuro, dependendo confia que algo não sociedade sofre um rompimento, do caminho escolhido.” deu certo na evolu- as pessoas se voltam para as artes ção e parte em busca que podem lhes dar um sentido de Dos astros aos números de outros caminhos. Nem a ciên- continuidade, de segurança. A as- A numeróloga Tássia Martins cia, nem a tecnologia estão dando trologia, desde a metade da década trabalha com a “arte divinatória conta de garantir o bem-estar das de 2000 já vinha numa crescente milenar, que utiliza os números pessoas. Seria hora de pedir ajuda de popularidade, coisa que aconte- como base do seu sistema arque- às feiticeiras, gnomos, astrólogos, ceu nos anos 70 também. E na pan- típico”. Ela também viu crescer o bruxos, numerólogos, que há mi- demia definitivamente estourou. número de consultas e o ganho de lênios estudam os aspectos da na- Bons astrólogos não têm mais ho- clientes durante a pandemia. Para tureza da vida que estão sutilmen- rários vagos, por exemplo”, diz ela. Tássia, a diferença entre a astrolo- te ocultos? gia e a numerologia é que uma lida Seu cliente, o empreendedor com uma linguagem numérica e a Com a pandemia, o esoterismo executivo de informática senior, outra com planetas e signos: “Eu está em alta. Todo o conhecimento em Vancouver (CA), Fred Rego, trabalho com a Numerologia Pita- e todas as práticas ligadas ao de- afirma: “Os astros me ajudam a górica, um ramo da numerologia senvolvimento individual das pes- tomar decisões importantes. Uma soas levam ao crescimento interior e ao aumento da satisfação dos que vem se popularizando bastan- seus anseios. Foi o que Plurale te em todo o mundo nas últimas constatou conversando com décadas.” quem entende do assunto. O matemático Pitágoras Só não se pode confundir definiu que cada letra do esoterismo com religião. nome de uma pessoa Nada a ver. corresponde a um nú- Astrologia bombando! mero. E esse número vibra em uma de- A astróloga Bárbara terminada frequên- Burgos está com tantos Tássia cia energética. As clientes e tantas novas Martins letras do nome do frentes de trabalho que teve que dar um tempo indivíduo somadas na sua coluna na Veja resultam em núme- Rio. Ela faz consultoria ros que traduzem a astrológica individual, o personalidade, as as- mapa que ajuda a reconhe- pirações, os medos, os cer oportunidades presentes e talentos, os desafios, o evitar percalços; consultoria in- propósito, o número da dividual, o mapa natal para apren- sorte, dentre outros aspec- der a desenvolver seus potenciais tos. Assim, através do nome e da data de nascimento de uma pessoa é possível fazer uma análise 32 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

bastante completa a respeito FOTOS DE DIVULGAÇÃO produção do meu livro. Tássia da vida dela, desde a in- nos pega pela mão e é gene- fância até a velhice. Bárbara rosa em sua transmissão.” Burgos E Tássia conclui: “A “Além de ser uma crise humanitária que o ferramenta de autoco- mundo vive acaba pro- nhecimento, pode ser vocando uma reavalia- empregada para me- ção de tudo o que está dir o nível de com- posto há milênios: Essa patibilidade entre pausa forçada pode se pessoas, como casais, tornar uma oportuni- pais e filhos, e para dade para as pessoas fins empresariais, olharem suas vidas de tanto na constituição uma outra forma”. de uma empresa quan- to para traçar o perfil mente: “Eu já conhecia a numero- Mistério e segredos nas ru- dos sócios, por exemplo”, logia, mas a sensação que tive foi nas explica Tássia. de que há muito mais a fazer por Paula Slyrim, uma jovem nós mesmos de modo a facilitar jornalista que descobriu o senti- A maioria dos seus clien- a nossa travessia, se cuidarmos do da vida na leitura das runas - tes busca no mapa nume- daquilo que os números que nos letras características, usadas para rológico obter respostas para regem indicam. Eles têm uma re- escrever nas línguas germânicas questões existenciais profundas, lação concreta com elementos do da Europa do Norte, sobretudo como o sentido de suas vidas. “É mundo material e nos apresentam Escandinávia, ilhas Britânicas e mais comum do que se pensa as aspectos significativos sobre nos- Alemanha desde o século II ao XI, pessoas se sentirem perdidas e sas habilidades e precariedades. fala com paixão sobre elas: “A lei- sem motivação para seguir em um Posso dizer que a riqueza de deta- tura das runas nada mais é do que trabalho ou em um relacionamento lhes ampliou minhas pers- uma conversa com o seu coração no qual elas deixaram de acreditar. pectivas tanto no cam- em paz, um momento para escu- Em momentos como esses, a po pessoal como tar seus guias, suas mentoras, para numerologia é um importante ins- no profissional, acessar a sabedoria que habita seu trumento para que se possa com- sobretudo na ser. Permite identificar como seu preender melhor a situação e a partir daí tomar decisões mais em- basadas”, garante a numeróloga. Sua cliente, a psicóloga Claudia Regina Oliveira, que acaba de lan- çar o livro Cure a menina para a mulher aparecer, fez análise nume- rológica e se surpreendeu positiva- Paula Slyrim 33

Bons fluidos passado interfere no seu presen- O poder FOTOS DE DIVULGAÇÃO te, para reconhecer como está sua das pedras energia agora e, principalmente, quentes qual direção seguir, aquela que mais lhe fará bem, que mais lhe Apelar para os astros, os núme- MARIA BONITA trará paz, amor, consciência e ros ou as runas tem ajudado muitos PEIXOTO DE MATOS prosperidade. Assim é a sabedoria humanos a melhorar sua qualidade é especialista no das runas, um dos mais antigos de vida. Tão antigo e eficaz quanto tratamento com oráculos existentes.” eles é a energia das pedras quentes. pedras quentes. Desde que não sejam pedras de ga- O nome runas está associado rimpos clandestinos, claro. Quem regiões corporais que serão massagea- às palavras mistério e segredo, e entende do assunto e trabalha com das com outras pedras. acessam preciosas informações pedras quentes há mais de 20 anos é para a vida das pessoas. Seja para a terapeuta corporal e acupunturista Após uma massagem em todo o saber sobre trabalho, relaciona- Maria Bonita Peixoto de Matos. En- corpo com bastante óleo, o terapeuta mentos, viagens, propósito, inves- tre seus clientes mais assíduos estão realiza também uma suave massagem timento ou saúde, as runas aju- globais como Bruno Garcia, Patrí- com a pedra aquecida, deixando-a pou- dam aqueles que buscam direcio- cia Pillar e Paula Burlamaqui, além sada durante alguns minutos em alguns namento e compreensão das suas do presidenciável Ciro Gomes. Ele pontos específicos do corpo, chamados tendências. gosta tanto da terapia que se tornou de pontos-chave de acupressão. amigo da terapeuta e já chegou a se Conhecidas e reverenciadas hospedar na casa dela, no Rio. O contato, o calor e a pressão da pelo povo pagão, que valoriza os massagem com as pedras são capazes ensinamentos da natureza, as ru- “Com as pedras posicionadas de gerar respostas físicas do organis- nas são um instrumento de ma- nos locais corretos do corpo, con- mo, o que causa relaxamento. O méto- gia, logo muitas vezes encontra- seguimos aumentar a irrigação san- do também é anti-inflamatório e auxi- das em diferentes objetos, como guínea e a vasodilatação, causando lia na liberação de neurotransmissores armas, amuletos, ferramentas, desintoxicação dos órgãos internos. que causam a sensação de bem-estar, anéis, broches, chifres para beber, Além disso elas equilibram os cha- tais como serotonina e endorfinas. medalhões. “Esses instrumentos cras e regulam o sistema neurológi- têm uma função mágica e atraem co e imunológico. É possível aliviar “Embora a terapia com pedras quen- sorte, afastam o mal, consagram dores menstruais e musculares, di- tes possa ser usada por diferentes tipos ambientes e facilitam o intercâm- minuir os problemas das vias respi- de pessoas, é recomendável que o in- bio com os espíritos ancestrais, ratórias, além de controlar a depres- divíduo procure um profissional e se pedindo ajuda e proteção das di- são, a ansiedade e o cansaço”, diz ela. informe mais sobre os procedimentos. vindades”, diz Paula. Explicar o histórico de sintomas, dar Os povos antigos, da civiliza- detalhes sobre os motivos que o fizeram Sua cliente, a empresária Ro- ção Maia, do Japão, China, Rússia, procurar essa terapia e considerar os berta Nahuz, declara: “a partir Tibete e populações indígenas já problemas de saúde que já existem são do primeiro atendimento com as se valiam das pedras, um recurso passos fundamentais para se conseguir runas e a intermediadora Paula, natural, para tratar das suas dores. um bom resultado com a terapia das pe- extremamente sensível e ilumi- Em geral são pedras plutônicas ou dras quentes”, recomenda Maria Bonita. nada, tive orientações precisas e vulcânicas e possuem elementos Ela está no instagram para quem quiser surpreendentes. Venho fazendo químicos, como silicato de ferro e mais informações nos perfis @terapias_ consultas semanais, com insights magnésio, em sua composição. mariabonita e @mariabonitam. que vem transformando a minha Método simples vida, trazendo conforto, paz e se- gurança em minhas escolhas. Sou Coloca-se as pedras em pontos grata pelo trabalho incrível que fixos do corpo (como pés, mãos, ab- ela desempenha.” dome e olhos) e espalha-se um óleo relaxante para evitar o atrito com “Entre tantas e tantas suposições, o significado das runas (mistério) faz jus ao que ela representa: um mergulho no mundo sobrenatural, místico, espiritual, repleto de magia e vigor”, conclui Paula Slyrim. 34 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

Arteterapia, por Lou Fernandes “Temos arte para que a realidade de expressão e de ressignificação uma maneira mais livre, fluente e não nos mate.” Esta frase, atribuí- do estigma na hanseníase. espontânea. Quando isso acontece, da ao filósofo Friedrich Nietzsche, crianças e jovens descobrem o pra- virou uma espécie de caminho de Foi uma pesquisa realizada den- zer em fazer arte. Sua relação com vida quando, aos 40 anos de idade, tro de uma enfermaria do Hospital a arte acontece em um espaço sutil, mudei minha carreira, deixando Universitário Clementino Fraga aonde são desenvolvidas as intui- de ser jornalista para ingressar no Filho da UFRJ. Além de causar sur- ções, sensações e emoções. mundo das terapias expressivas. A presas, por termos pincéis e tintas, motivação que me levou a mudar as oficinas de Arteterapia trouxe- O que mais me fascina na Ar- meu paradigma profissional acon- ram respostas e olhares de pessoas teterapia é o processo de envolvi- teceu durante um trabalho realiza- que, até então, não sabiam como mento de quem aceita o convite do no Hospital Federal da Lagoa, no lidar com o acometimento da han- para experimentar a linguagem Rio de Janeiro. Nessa época, ainda seníase. A partir dessa experiência dos materiais - e também a relação uma profissional de comunicação e de seus resultados positivos, unir na qual terapeuta e cliente cami- que assessorava a direção do Hospi- arte e cuidado tornou-se o meu nham de mãos dadas. Numa rela- tal e coordenava o Serviço Voluntá- propósito de vida e de realização ção terapêutica, a entrega e a con- rio, tive a oportunidade de conviver profissional. fiança no processo permitem que com experiências na atenção e no conteúdos inconscientes possam cuidado aos pacientes internados. Muitas vezes o conceito de arte ser alcançados. Havia na área pediátrica do Hospi- é reduzido ao desenho e à pintura tal uma sala de recreação, onde as em papel. A arte é muito mais que Durante a pesquisa, pude cons- crianças internadas e seus respon- isso. O arteterapeuta trabalha com tatar que muitas vezes é mais fácil sáveis participavam de experiências diversos recursos expressivos, tais desenhar uma dor do que falar com arte, como desenhar, colar, como: técnicas gráficas, pintura sobre ela. E a arte permite este pintar e ouvir histórias. com diferentes materiais, colagem, acesso quando um desenho “ines- modelagem em argila, massas ca- perado” sai no papel e, ao olhar Segundo a equipe médica, ao seiras, massa corrida e gesso, tece- o desenho, a resposta para uma retornarem às suas enfermarias, lagem, criação com sucatas, cons- questão é revelada. era visível a mudança no compor- trução e criação de objetos senso- tamento das crianças no convívio riais, artes cênicas, música, dança. Além de trazer benefícios - como com a equipe - que, entusiasmada, Uma pessoa que ainda não tem a liberação de traumas, a redução acreditou que possivelmente havia “intimidade” com a arte, que não do nível de stress e de ansiedade, a reflexos na melhora clínica, tendo tem conhecimento de seus concei- expressão de sentimentos - permite citado como exemplo o aumento do tos, pode usar sua criatividade de também descobrir potenciais inter- número de plaquetas. nos, estimulando a imaginação e a criatividade para todas as idades e Essa experiência lúdica e criati- situações sociais. E ainda, ao final va, envolvendo a arte, surtiu tanto do processo terapêutico, o fato de efeito positivo que acabou se trans- a pessoa poder levar consigo uma formando em um modelo de aten- linguagem da arte, como escultura, dimento. Tanto que, anos depois, pintura, desenho ou qualquer outra, no ano de 2010, a direção do Hos- que a acompanhará e servirá como pital criou o Aquário Carioca, que suporte em momentos de crise. consiste num centro de tratamento de quimioterapia infantil imitando (*) Lou Fernandes - Mestre em um aquário colorido, onde as crian- Ciências da Saúde pela Clínica ças fazem artes e brincam, antes do Médica da UFRJ. Pós-graduada procedimento quimioterápico. Isso em Comunicação em Saúde (Cic- me fez trilhar um longo caminho t-FioCruz); Arteterapeuta, Cons- de estudos, que incluiu um convite teladora Familiar, Bacharel em para realizar o mestrado na UFRJ, Comunicação Social pela UFF, Es- tendo a Arteterapia como um canal critora e Coordenadora do Ateliê Terapêutico de Estudos e Estraté- gias em Terapias Ancestrais. 35

Saúde ONGs distribuem absorventes para brasileiras em situação de vulnerabilidade socioeconômica Sem acesso a informação e a produtos de higiene básica, mulheres usam papel para conter o fluxo da menstruação FOTO DO INSTITUTO ELA/ DIVULGAÇÃO POR ESTHER OBRIEM, autoria da deputada Marília Arraes FOTO DA ONG ABSORVENDO AMOR/ DIVULGAÇÃO ESPECIAL PARA PLURALE (PT-PE) e 34 congressistas visa com- FOTOS DE DIVULGAÇÃO: INSTITUTO bater a pobreza menstrual e ajudar 5,6 milhões de brasileiras. O Presidente AELA E ABSORVENDO AMOR Jair Bolsonaro vetou, argumentando pobreza menstrual é rea- que a proposta “não indicava de onde lidade para pelo menos sairiam os recursos”. Após grande po- 215 mil meninas que fre- lêmica, com várias autoridades, artis- quentam a escola e não tas, influencers e ONGs protestando, o têm acesso a produtos presidente do Senado Federal, Rodrigo de higiene básicos, segundo o relatório Pacheco, afirmou que o veto é “candi- Livres Para Menstruar. O problema se datíssimo a ser derrubado”. agravou com a pandemia do novo coro- navírus, em função do impacto na renda A conscientização e o cuidado com das famílias e das medidas de isolamen- a higiene básica são essenciais para to social. Todos os meses, se considerar- adolescentes no período da puberda- mos um período de 37 anos, é preciso de, segundo a obstetra e ginecologista comprar pelo menos um pacote de ab- infanto-puberal Ana Lúcia Albuquer- sorvente e usar um banheiro com água que. Ela explica que existem casos em encanada para cuidar da saúde íntima. que as meninas têm acesso aos absor- O cenário é realidade para homens transgêneros, estudantes de escolas públicas, detentas e mulheres em si- tuação de vulnerabilidade socioeconô- mica. Sem acesso a saneamento básico, informação ou aos produtos, pessoas que menstruam encontram outras soluções para substituir os absorven- tes, como papel. O uso frequente de materiais não adequados pode causar alergias ou fungo na região íntima, que precisam de medicamentos específicos para o tratamento.  No dia 14 de setembro, o Sena- do Federal aprovou o Projeto de Lei 4.968/19, que prevê a distribuição de absorventes para estudantes de baixa renda da rede pública de ensino, pre- sidiárias e mulheres em situação de vulnerabilidade social. A proposta de 36 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

FOTO DO INSTITUTO ELA – ADOTE UM CICLO/ DIVULGAÇÃO. Absorvendo Amor está com o projeto de incluir calcinhas absorventes e ab- ventes, mas usam somente um por dia, O Absorvendo Amor também conse- sorventes de pano nas campanhas de pela falta de orientação. Com a criação guiu parcerias com a Carta Fabril, por arrecadação.  de Organizações Não Governamentais exemplo, para doação de dinheiro ou (ONGs) e idas regulares ao médico, itens de higiene básica. “A questão da sustentabilidade é cada vez mais famílias procuram aju- muito importante e a longevidade dar as filhas no período menstrual.  Cultura de doação - Diante do ce- dos produtos nos atrai como proje- nário de pobreza menstrual no país, to. Como a menstruação é mensal, as “Quando a menina coloca um pa- o Instituto Ela criou o projeto Adote meninas que ajudamos dependem de pel na região, por exemplo, ele pode um Ciclo, para ajudar estudantes em doações todos os meses. Com a incor- ter um perfume ou estar sujo e causar situação de vulnerabilidade social e poração dos produtos sustentáveis, elas uma infecção ginecológica. Se ela não garantir o aprendizado das jovens. não vão precisar de ajuda nos próxi- tiver condição de ir ao posto de saúde, Segundo pesquisa da Always, uma mos três anos, o que possibilita expan- o prejuízo para tratar dessa infecção a cada quatro meninas já faltou aula dir o alcance de meninas e mulheres”, é maior. A higiene básica vai desde o por não ter condições de comprar um analisa Paula.  acesso a água e sabonete até o absor- absorvente. A presidente da organiza- vente, no período menstrual, para evi- ção, Sonia Simões Colombo, explicou Para evitar alergias e manter a higie- tar complicações”, salienta Ana Lúcia.  que o objetivo é criar uma cultura de ne íntima, a ginecologista Ana Lúcia doação permanente e melhorar a qua- indica um passo a passo da limpeza Apoio de projetos sociais e ONGS lidade de vida delas. dos absorventes de pano. O ideal é evi- - Projetos sociais e ONGs ao redor do tar produtos perfumados e lavar o item país ajudam na democratização de itens Criado em 2020, o Adote um Ciclo com sabão de coco, uma das opções de higiene básica, por meio de coletas tem pontos de arrecadação em sete es- mais em conta no mercado. A médica ou vaquinhas virtuais. A partir do livro tados do país e no Distrito Federal. O também aconselha deixar de molho “Eleanor & Park”, um grupo de alunas e grupo recebeu uma doação da Procter em uma bacia com água quente por 25 alunos do Colégio Eleva se juntaram e & Gamble de 200 mil absorventes no minutos e, depois de seco, esterilizar criaram o Absorvendo Amor, em 2018. início de setembro, que foram distri- com um ferro de passar.  “A menstruação ainda é um tabu muito buídos para mais de 13 mil meninas. grande em todas as esferas sociais; e a “Nós doamos 15 absorventes para cada O Instituto Ela conta com uma equi- falta de produtos de higiene menstrual menina, considerando fluxo menstrual pe de especialistas em saúde que pro- não tem a visibilidade que deveria ter”, de cinco dias e três trocas por dia. Cada duz vídeos para o YouTube sobre, por destaca a integrante Paula Neves. pacote vai com orientações de uso e exemplo, menstruação e gravidez, para descarte adequado, visando à sustenta- conscientizar as meninas. De acordo Em três anos, o grupo distribuiu bilidade do planeta”, ressalta Sonia. com a vice-presidente da organização, mais de 100 mil absorventes para mu- Sandra Garcia, a mobilização nacional lheres em situação de vulnerabilidade Da puberdade até a menopausa, e as informações são maneiras de as socioeconômica. A rede de ações so- uma mulher acumula mais ou menos autoridades reconhecerem que os ab- ciais cresceu com a pandemia, depois 200 quilos de absorventes descartáveis. sorventes não são artigos de luxo.  que ONGs de comunidades cariocas, O material, à base de plástico, demora como Rocinha e Pavão-Pavãozinho, mais de 400 anos para se decompor, “Com o movimento nacional, es- entraram em contato para pedir itens segundo o Instituto Akatu. Para re- peramos despertar, na sociedade que de higiene básicos para as moradoras. duzir o impacto no meio ambiente, o não vive em situação de vulnerabili- dade social ou econômica, a vontade de fazer movimentos favoráveis à co- munidade. Queremos que as pessoas adotem ciclos de meninas e mulheres que vivem nas periferias, comunidades e ruas”, comenta Sandra. No perfil oficial do Instagram dos projetos, @ela_instituto e @absor- vendoamor, há uma lista com os pontos de coleta, vakinha virtual e PIX para contribuir financeiramen- te. O Absorvendo Amor atua em ci- dades do Rio de Janeiro e São Paulo; e o Adote um Ciclo, em São Paulo, Pernambuco, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Ama- zonas e Distrito Federal.  37

Pelo mundo BOLSA PODEROSA: UMA AÇÃO SOCIAL COM PROPÓSITO FOTO: INSTAGRAM DA @SEWPOWERFUL POR VIRGÍNIA QUEIROZ, O Sew Powerful - que em português quer dizer Costura Poderosa - capacita mulheres JORNALISTA DA REDE INFINITY de diferentes regiões do mundo para que tenham uma vida plena e condições de sair ESPECIAL PARA PLURALE da situação de pobreza extrema FOTOS DE DIVULGAÇÃO DA SEW POWERFUL E ARQUIVO e apoio de diversas empresas ligadas dições de frequentar a escola durante o PESSOAL DE SUE BANMAN SILECI E à indústria de trabalhos manuais e à período menstrual. costura profissional. MSUZANA RENAULT CALAZANS No Brasil, a educadora aposentada eninas chegando à Uma das iniciativas da Organiza- Suzana Renault Calazans é voluntária adolescência, em ção é o Bolsa Poderosa, ação social do projeto. situação de vulne- de apoio à educação e à permanência rabilidade social, de meninas na escola, que formou Pesquisando na internet, Suzana deixam de ir à esco- uma rede mundial de voluntárias co- conheceu o Pixie Faire, o maior mer- la no período menstrual por questões nectadas pela arte de costurar e fazer cado de padrões de roupas para bone- culturais e pela dificuldade de acesso trabalhos manuais. Juntas, elas são as cas da Internet, a revista Liberty Jane, aos absorventes higiênicos. Essa histó- costureiras da bolsa poderosa, um pre- que ensina conceitos básicos para cos- ria pode ser contada trocando nomes, sente para meninas de comunidades turar, e o Bolsa Poderosa, iniciativa cidades, países. Se encaixa na realidade nas imediações de Lusaka, a capital de com propósito social que dá acesso a do Brasil, de países da América Latina, Zâmbia. Mas não é uma bolsa qual- absorventes reutilizáveis para manter da Índia, da África. quer: é um kit que ajuda as meninas as jovens na escola durante o período sentirem apoiadas, seguras e em con- menstrual. A Sew Powerful - ou Costura Po- derosa - é uma Organização interna- Suzana se identificou com o propó- cional que formou uma rede mundial de voluntárias. Trabalha a autoestima das adolescentes e apoia a educação, dando acesso a absorventes laváveis e reutilizáveis, sabonetes artesanais - e presenteiam cada menina com uma bolsa poderosa, costurada especial- mente para cada uma delas. A ideia está transformando a reali- dade de estudantes de Zâmbia, antiga colônia inglesa na África, e conectan- do mulheres de diferentes etnias e paí- ses. Entre eles, o Brasil. O Sew Powerful - que em por- tuguês quer dizer Costura Podero- sa - capacita mulheres de diferentes regiões do mundo para que tenham uma vida plena e condições de sair da situação de pobreza extrema. A Or- ganização, que atua em vários países, surgiu nos Estados Unidos, tem sede em Washington, nos Estados Unidos, 38 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

FOTO: ARQUIVO PESSOAL SUZANA RENAULT CALAZANS sito da rede. “A Sew Powerful fez uma te aqui no Brasil. Enquanto isso não pesquisa na Zâmbia e constatou uma acontece, vamos costurando as bol- realidade parecida com a do Brasil. As sas que são possíveis e enviando para meninas não vão à escola em pelo me- Zâmbia.\" nos 45 dias, no ano letivo, por questões ligadas ao período menstrual. E isso No Brasil, a educadora aposentada Suzana A rede da sustentabilidade prejudica o futuro delas, causa uma A Sew Powerful – a Costura Soli- defasagem de aprendizagem significa- tiva. Aqui no Brasil, fui professora de dária - é um projeto concebido den- escolas na periferia da cidade de São tro dos princípios da sustentabilida- Paulo e elas também faltam durante o Renault Calazans é voluntária do projeto e de. Reaproveita retalhos de tecidos, na período menstrual. Um dos motivos é costuma lindas bolsas com carinho para as maioria doados, produz absorventes que não podem comprar absorventes reutilizáveis que não poluem o meio higiênicos. Para evitar o risco de cons- meninas africanas ambiente e tem um propósito maior, trangimento social, ficam em casa. Em Zâmbia, a situação de extrema pobreza 1.400 professores e é referência entre as que é a permanência das meninas na é tão difícil como aqui. Os produtos melhores ONGs de educação do Bra- escola. Sue Banman Sileci explica as descartáveis não são viáveis pelo preço. sil. Com a pandemia, o atendimento diferenças da escola em Zâmbia: “ O E, avaliando a questão do ponto de vis- passou a ser virtual. Exame do 7º Ano é um teste acadê- ta ambiental, também não há coleta de Foi a paixão pela costura que tam- mico crucial na Zâmbia. Se um aluno lixo. Muito difícil mesmo.\" bém fez Sue se aproximar do Costura - menina ou menino- não passar nos Poderosa e começar a confeccionar as exames do 7º Ano, não pode ir para Primeiramente Suzana Renault bolsas poderosas. “ Há 19 anos eu cos- o Ensino Médio e sua carreira aca- Calazans pensou nas meninas do turo e fui aprendendo as técnicas, aos dêmica acabou. As meninas são as Brasil. “Procurei uma iniciativa se- poucos. Quando comecei a trabalhar mais prejudicadas e têm o desempe- melhante aqui e não encontrei. Então com a técnica do patchwork, percebi nho escolar comprometido, porque decidi contribuir com a educação e o que sobravam muitos tecidos. E o que faltam na escola durante o período futuro das meninas da África, costu- fazer com eles? Nos grupos de troca menstrual. Toda a rede de voluntá- rando as bolsas poderosas. A primei- de informações, conheci a Liberty rios trabalha para fechar essa lacuna, ra remessa eu enviei em 2019. Fiquei Jane Clothing, que oferece a opção num trabalho permanente. Segundo muito feliz quando vi minhas bolsas de você baixar moldes gratuitamente estudos da Sew Powerful, o programa sendo entregues na cerimônia trans- da internet. Como forma de retribuir, Bolsa Poderosa ajuda as beneficiadas mitida pela internet. No ano passa- você é convidada a participar dos pro- a recuperar até seis semanas de aula do, com a pandemia, me dediquei a jetos sociais e eu escolhi produzir as por ano, em média.” costurar mais de 250 máscaras para bolsas reaproveitando as sobras de re- Sue conta que o projeto também se doar aqui no Brasil. Esse ano voltei talhos e aviamentos. “ É uma troca jus- preocupa com as questões culturais e a costurar as bolsas poderosas. Nes- ta e solidária. As primeiras bolsas eu o relacionamento entre as mulheres sa leva, produzi 15 bolsas e entreguei produzi em 2015 e não parei mais. Em da família. “ Cada menina recebe duas para a coordenadora no Brasil”. 2019, em parceria com Núcleo em formação no Brasil a Escola de Moda e FOTO: SUZANA RENAULT CALAZANS Design da Faculdade A coordenadora do projeto no Bra- Anhembi Morumbi, sil é outra voluntária. Sue Banman de São Paulo, as alunas Sileci é americana e chegou ao país há do curso de Fashion mais de 30 anos, para ser professora de Design e Sustenta- inglês. Casou-se com um brasileiro e bilidade produziram aqui ficou. Hoje é gestora pedagógica 250 bolsas com sobras da ONG Cidadão Pro-Mundo– Ensi- de tecido. Mas aí veio nar inglês e transformar a sociedade a pandemia, as aulas (cidadaopromundo.org), projeto so- presenciais foram sus- cial que ensina inglês, gratuitamente, pensas. A parceria de- para 2.500 alunos em 12 unidades do verá ser retomada. O Rio, de São Paulo e de Campinas, tem meu sonho é montar Alguns dos lindos modelos criados e costurados por um projeto semelhan- Suzana Renault Calazans para doar para a ONG na África. 39

Pelo mundo FOTOS DO INSTAGRAM DA @SEWPOWERFUL As meninas recebem a bolsa com uma cartinha explicando o propósito do projeto e desejando sucesso em suas vidas. O projeto Sew Powerful também gera renda criando oportunidades de geração de ano que vem, está nos planos da coor- renda e empoderamento das mulheres em situação de vulnerabilidade na Zâmbia. denadora no Brasil lançar uma página em português. Por enquanto, é possível bolsinhas, dois kits completos. Uma é O trabalho de cada uma delas está baixar o material gratuitamente no site para elas e a segunda bolsa é para que impactando a comunidade para melhor. internacional https://www.sewpower- elas presenteiem outras mulheres: suas Costuram uniformes escolares, absor- ful.org/pages/where-to-send-your- mães, tias ou quem cuida delas. Muitas ventes higiênicos e reutilizáveis, fazem -sew-powerful-purses das jovens são órfãs. E, por uma ques- calcinhas, com uma abertura e um su- tão cultural, a jovem pode ter sua bol- porte que é preso no fundo das peças As bolsas costuradas e doadas pelas sinha confiscada e não atender ao ob- para fixar os absorventes. Fabricam voluntárias vão para a sede do pro- jetivo do projeto, que é dar segurança também sabonetes e sabão artesanal. jeto, nos Estados Unidos, e de lá vão para ela frequentar as aulas no período para Zâmbia. Os kits são entregues às menstrual. Na bolsa também vai uma A produção é destinada a montar os estudantes de escolas em Zâmbia duas mensagem, uma cartinha escrita pela kits para distribuir gratuitamente nas vezes ao ano, com transmissão da ceri- voluntária que confeccionou a bolsa e escolas. O kit vai dentro da pequena mônia pelas redes sociais. O próximo doou para aquela menina-mulher.” bolsa colorida, costurada em algum lu- evento será em outubro de 2021. Produto com propósito social gar do mundo. Além do trabalho com a costura, as funcionárias coordenam É um trabalho de formiguinha. A experiência da Sew Powerful com o treinamento de aulas de saúde e a De voluntária em voluntária, vão projetos sociais, empoderando mulhe- distribuição de bolsas com professores construindo uma nova realidade para res com a arte de costurar, começou em locais, para que as meninas recebam os as meninas-mulheres. Desde 2010, países como Honduras, África do Sul e itens necessários para gerenciar seu pe- mais de 55 mil bolsas foram produ- Romênia. O projeto chegou em Zâm- ríodo menstrual. zidas por voluntárias de núcleos na bia após um dos organizadores conhe- Como participar Austrália, no Reino Unido, em São cer uma líder social que mantinha uma Paulo, no Canadá e nos Estados Uni- Instituição para abrigar 480 órfãos. Ela No Facebook e no Instagram, a co- dos. A meta é fabricar, por ano, 24 mil pediu ajuda para ter uma oficina de munidade de voluntárias e apoiadores kits e expandir o projeto para outras costura e gerar renda para as mulheres. reúne mais de 4.000 pessoas. As posta- meninas ao redor do mundo. Em 2010, com doações, a Sew Power- gens são atualizadas e informam sobre ful construiu a sede e montou o núcleo as próximas ações e metas. Quem se Coordenação Brasil: Sue de apoio às mulheres em Lusaka, ca- interessar pode entrar na rede e come- Banman Sileci – + 55 11 9 9478 pital do país africano. Hoje o projeto çar a costurar as bolsas para doar. 7729. emprega 62 pessoas das comunidades que são remuneradas e fazem “produ- O modelo das bolsas segue um pa- SITE: www.sewpowerful.org tos com propósito”. As mães, tias e avós drão internacional, determinado pela FACEBOOK: Sew Powerful também são protagonistas da rede de Sew Powerful. As voluntárias, em INSTA: @sewpowerful solidariedade e apoio às crianças órfãs, suas casas ou oficinas, se encarregam Sewpowerful (@sewpo- às meninas e às mulheres. de baixar os moldes no site do projeto, werful) • Fotos e vídeos do cortar, costurar e enviar para as coor- Instagram denadoras regionais de seus países. No Fale conosco em: P.O. Box 2299 Auburn, WASHINGTON 9807 40 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

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Vida Saudável ESTRELAS DA AMAZÔNIA mente na fase laranja, com risco Conheça as frutas nativas da região que defendem a moderado de transmissão da co- imunidade e combatem infecções respiratórias vid, e o número de registros de ca- sos e de mortes vem diminuindo a TEXTO DE LUCIANA BEZERRA cialistas, alguns alimentos podem cada dia no Estado. Cenário bem ESPECIAL PARA A PLURALE, DE fortalecer o sistema imunológico e diferente após um janeiro caótico, melhorar, assim, a saúde física - e com a segunda onda da doença e NMANAUS (AM) ainda ajudar a evitar doenças respi- a falta de oxigênio no Amazonas, esse ‘novo novo’, op- ratórias.  onde 3.556 pessoas morreram, tar por uma alimen- segundo dados do departamento tação saudável faz Com o avanço da vacinação no epidemiológico da Fundação de toda diferença. Mas é país — mais de 35% da população Vigilância em Saúde (FVS-AM). importante salientar está completamente imunizada —, gora, amazonenses e manauaras que nenhum alimento ou vitami- os números de casos e de mortes podem respirar mais aliviados. na é capaz de combater a covid-19. provocadas pela covid-19 regis- No entanto, de acordo com espe- tram tendência de queda. Alguns alimentos possuem pro- priedades que ajudam na respira- O Amazonas se encontra atual- ção; Atuam como agentes de prote- @NACAOAMAZONAS ção e de defesa do corpo, apoiando o bom funcionamento do sistema respiratório. E, as frutas amazôni- cas (ou encontradas na Amazônia) que combatem infecções respirató- rias têm um alto teor de vitamina C, são anti-inflamatórias, antio- xidantes e auxiliam no aumento, proteção e manutenção da imuni- dade humana. Independentemente da estação ou da pandemia, o con- sumo de frutas é essencial para a saúde do corpo.  De acordo com a médica Isolda Prado - nutróloga e especialista pelo Hospital das Clínicas da Fa- culdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP-USP) - que atua na área, em Manaus há 22 anos, as frutas nativas da região, além de saborosas, devem fazer parte de uma dieta balanceada dos ma- nauaras e amazonenses. Segundo a especialista, as frutas são fontes de antioxidantes, vitaminas e mi- nerais, além de fornecerem fibras, carboidratos e gorduras saudáveis.   “A pandemia ainda não acabou e 42 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

JUCIMARA SANTOS o cuidado com a alimentação deve Baixe o livro sentam maior concentração dos ser redobrado. Optar por uma die- gratuitamente nutrientes biodisponíveis. É possí- ta balanceada traz menos transtor- do site do INPA vel, também, incluir as frutas nas nos para o organismo. A ingestão refeições intermediárias ou como correta e equilibrada de frutas, alimentação desequilibrada, que snacks. Por exemplo: duas colheres carboidratos, proteínas, lipídios, sobrecarrega o pulmão, já que re- de sopa de castanhas da Amazônia líquidos e sais minerais restaura o quer mais oxigênio para produção ou 150ml de açaí, três maracujás organismo, permitindo que ele se de energia. “Além disso, a muscu- do mato, um copo de suco de ta- recupere das agressões que sofreu”, latura das vias respiratórias pode perebá ou cupuaçu”, finaliza a es- alerta Isolda.   ficar enfraquecida devido ao acú- pecialista. mulo de gordura”. A médica nutróloga afirma ain- O Camu-camu tem alto teor de da que o consumo em excesso de “Apesar de serem saudáveis, o vitamina C, de 2,7g em 100g de alimentos industrializados pode consumo de frutas deve ser mo- polpa, o que equivale a quase 40 desencadear reações inflamatórias derado; o ideal é ingerir pequenas vezes o da polpa de laranja ou 60 no organismo - e, consequente- porções ao dia e escolher sempre vezes o suco de limão. mente, agravar quadros de doenças as frutas da estação, porque apre- respiratórias. Muita gente não sabe, mas as frutas nativas da região Amazô- Outro elemento destacado pela nica, algumas até desconhecidas, especialista é o ganho de peso e o vendidas nas feiras de Manaus, diabetes, que são consequências da podem trazer inúmeros bene- fícios. Pensando na oferta e no valor nutritivo dessas espécies, o pesquisador Afonso Rabelo,do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA, catalogou 38 variedades em seu primeiro livro “Frutos nativos da Amazô- nia: comercializados nas feiras de Manaus-AM”. O livro está dispo- nível para download gratuito no site do INPA. Das 300 frutas nativas da Ama- zônia, 38 são comercializadas e 30 são estudadas por Afonso. O pesquisador também desenvolve produtos à base de açaí, bacaba, patauá, umari, araçá boi e camu- -camu, entre outras. “Das frutas nativas da Amazônia catalogadas no livro, as que têm o poder antioxidante, antiinflamató- rio e antiviral são abiu, camu-ca- mu, cupuaçu, açaí, bacaba, patuá e buriti. Os quatro últimos são extre- mamente calóricos e fazem muito bem para a saúde”, destaca Rabelo.  O pesquisador explica ainda que essas frutas dificilmente são co- mercializadas em supermercados, como a banana e o mamão, entre outras. Mas são encontradas facil- mente em feiras de produtos regio- nais, em Manaus e em outros mu- nicípios do Amazonas. O cupuaçu e o açaí são frutas que se tornaram mais populares.  43

Vida Saudável ALESSANDRO CARMO Rabelo pretende lançar o segun- Criação do Chef Marcus Vinícius, do Tamba Restrôbar, em Manaus: lombo de pirarucu do livro no primeiro semestre de empanado com panko, acompanhado de arroz com aviú, geleia de cupuaçu levemente 2022, e desta vez vai ressaltar 103 picante e purê de batata doce. espécies de frutas nativas e exóti- cas cultivadas na Amazônia. Se- ascórbico. O objetivo da pesquisa sempre presentes no café da ma- gundo ele, as pessoas confundem foi produzir mudas e distribuí-las nhã, no almoço, no jantar ou no muito o significado de “exótica” e para os agricultores amazônidas, preparo de mousses, tortas, bo- de “nativa”. “Exóticas é quando a incentivando, desta forma, o plantio los, geleias, doces, cremes, licores, fruta não faz parte do bioma ama- dessa espécie, que é rica em vitami- bombons, molhos, fitoterápicos, zônico. Por exemplo, a acerola é na C. “Os valores de ácido ascórbi- cervejas artesanais, dindins e sor- oriunda da América Central, então co que encontramos no camu-camu vetes, dentre outros. é considerada uma fruta exótica. variaram entre 1.263,67 e 1.988,15 Nativas são cupuaçu, açaí, camu- mg/100g, respectivamente. Ou seja, Entre as mais apreciadas estão: -camu, bacaba, buriti, entre outras. o fruto tem alto teor de vitamina C, pitomba, cupuaçu, graviola, tu- Esse meu novo livro vai abordar, de 2,7 g em 100g de polpa, o que cumã, taperebá, pupunha, biribá, além da parte botânica, todo o po- equivale a quase 40 vezes o da pol- abiu, buriti, bacaba, açaí, patauá e tencial gastronómico, nutritivo e pa de laranja ou 60 vezes o suco de o conhecido guaraná da Amazô- funcional dessas frutas cultivadas limão”, explica.    nia. na Amazônia brasileira”.          Em geral, as concentrações nu- O chef Marcus Vinícius, do   tricionais encontradas nas frutas da Tamba Restrôbar, em Manaus, des- Estudos científicos    região Amazônica são amplamente taca que os peixes e as frutas da influenciadas por fatores genéticos, Amazônia podem ser grandes es- Jucimara Santos, professora de condições ambientais, forma de culti- trelas de um prato.  Agroecologia da Universidade Es- vo, grau de maturação e variedade da tadual do Amazonas (UEA) e tam- planta, entre outros. “Apesar do po- “Temos uma matéria-prima bém pesquisadora do Inpa, afir- tencial econômico desses frutos, pou- fantástica na nossa região e explo- ma que a Amazônia possui, numa cos desses recursos são explorados, o rar todas essas frutas na culinária área de 5,5 milhões de quilôme- que decorre, em parte, da ausência de local faz parte do nosso cotidia- tros, uma imensidão de floresta, políticas públicas que viabilizem tal no”, ressaltou. grande diversidade de espécies da exploração - o que impossibilita o fo- flora e da fauna - e também é rica mento da produção primária e do de- No dia desta entrevista para em frutos, alguns exóticos e outros senvolvimento tecnológico do setor”, Plurale, o chef recebeu essa repór- encontrados nessa vasta área, que finaliza Jucimara.  ter que vos escreve com um lombo perpassa nove países da América Sabores da terra de pirarucu empanado com panko, do Sul. acompanhado de arroz com aviú As frutas da Amazônia comple- (minicamarão e ingrediente ver- Segundo Jucimara, as frutas na- mentam o cardápio da culinária sátil da região Norte), geleia de tivas da Amazônia têm uma de- nortista e amazonense. E estão cupuaçu levemente picante e purê manda crescente no mercado gas- de batata doce. Foi realmente uma tronômico e, por conseguinte, de explosão de sabores ao experimen- consumidores que buscam produ- tar essa delícia. tos regionais, mais saudáveis, com identidade cultural, sabores e aro- mas que sejam produzidos de for- ma sustentável e socialmente justa. “A maioria dessas frutas são pro- curadas por serem antifúngicas, antibacterianas, porque aumentam a imunidade, são antivirais, cica- trizantes, rejuvenescem e previ- nem muitas doenças, dentre outros benefícios”. A pesquisadora revela ainda que participou recentemente de uma pesquisa desenvolvida pela Funda- ção de Amparo à Pesquisa do Esta- do do Amazonas (Fapeam) sobre o camu-camu, planta rica em ácido 44 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

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Pelo Brasil Mudanças climáticas e savanização da Amazônia irão impactar populações pelo calor Da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espa- Ociais (Inpe) desmatamento em grande escala da Flo- resta Amazônica as- sociado às mudanças climáticas aumentará o risco de exposição ao calor extremo. Esses níveis de calor, que serão fisio- logicamente intoleráveis ao corpo hu- mano, afetarão profundamente regiões onde residem populações altamente vulneráveis, segundo estudo publica- Brasileira, existe um limite de desma- cessidade urgente de medidas coor- do hoje pelos pesquisadores Beatriz tamento da Amazônia que impactará denadas para evitar efeitos negativos Alves de Oliveira, da Fiocruz; Marcus a sobrevivência da espécie humana. sobre as populações vulneráveis. “Os Bottino e Paulo Nobre, ambos do Ins- Esse limite é acompanhado por um efeitos locais das mudanças no uso da tituto Nacional de Pesquisas Espaciais “efeito extremo na saúde” que deixará, terra estão diretamente ligados às po- (Inpe); e Carlos Nobre, do Instituto de até 2100, mais de 11 milhões de pesso- líticas e estratégias de sustentabilidade Estudos Avançados da Universidade as da região Norte do Brasil expostas das florestas, e as mudanças nessas de São Paulo (IEA/USP). Trata-se da ao risco extremo de estresse térmico, áreas estão ao alcance da sociedade. primeira análise dos impactos combi- quando teremos atingido os limites Nessas áreas, o setor de saúde poderia nados do desmatamento e das mudan- de adaptação fisiológica do corpo hu- ser um importante motivador na for- ças climáticas na saúde humana. mano devido ao desmatamento. Em mulação de políticas integrativas para Segundo os resultados do estu- outras palavras, não seremos capazes mitigar o risco de estresse térmico e do  Desmatamento e mudanças cli- de manter nossa temperatura corporal a redução da vulnerabilidade social”, máticas projetam aumento do risco sem adaptação. afirma Beatriz Oliveira, pesquisadora de estresse térmico na Amazônia da Fiocruz Piauí. Os pesquisadores enfatizam a ne- Helen Pedroso é a nova Diretora de Relações Institucionais da Rede Brasil do Pacto Global da ONU Do Rio de Janeiro Brasil. Para esse cargo, o processo se- anticorrupção sendo assim uma força letivo foi aberto apenas para mulheres poderosíssima para construir uma so- A Rede Brasil do Pacto Global da autodeclaradas negras. ciedade mais equânime\", afirmou He- ONU, maior iniciativa de sustentabi- len Pedroso. lidade do mundo, anuncia que Helen \"A Rede Brasil é a que mais cresce Pedroso é a nova Diretora de Relações no mundo, o que indica que o setor Institucionais da organização. Ela será privado brasileiro entendeu a impor- a responsável por desenvolver e imple- tância da sustentabilidade corporativa mentar a estratégia de Relações Insti- para o futuro, e para o presente, da tucionais do Pacto Global, garantir o sociedade. As empresas têm um papel relacionamento com o Sistema ONU, chave em criar processos, produtos, coordenar as áreas de Marketing & iniciativas, estratégias que além de ge- Comunicação, Adesão & Engajamento rar benefícios para os negócios podem e a Plataforma Ação para Comunicar contribuir para valorizar os princípios e Engajar, uma das sete ativas da Rede universais em áreas como, direitos humanos, trabalho, meio ambiente, e 46 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

Ball Corporation anuncia 1º Laboratório de Economia Circular do país em Fernando de Noronha De Fernando de Noronha (PE) ambiental, terá cerca de 400 m², poden- de local e reforça o conceito de que não do chegar a 800, a partir de outras expan- há fronteiras no oceano. Está tudo inter- Ocupando a liderança mundial de sões, e o laboratório servirá como refe- ligado e nossas ações refletem na socie- embalagens sustentáveis de alumínio, a rência para novos modelos de economia dade e, especialmente, no meio ambiente Ball Corporation anuncia a construção circular. Na prática, além de ser um local como um todo”, explica Fauze Villatoro, do laboratório VADELATA Pelo Plane- para pré-processamento das latas para Vice-Presidente Comercial e de Susten- ta em Fernando de Noronha, que será reciclagem, o laboratório será um espaço tabilidade da Ball para a América do o 1º Laboratório de Economia Circular multiuso, onde serão realizadas diferen- Sul. “Fernando de Noronha foi o pri- do país e centralizará a coleta das latas de tes atividades socioeducativas – como meiro território brasileiro a banir plás- alumínio da Ilha a partir de um modelo palestras, cursos, exposições, salas de ticos descartáveis e vem trabalhando na inovador e totalmente sustentável. Uma debate etc. – com foco em questões am- implementação do Programa Noronha cerimônia solene realizada na manhã bientais prioritárias para o planeta, como Carbono Neutro. A lata de alumínio é a desta quarta-feira marcou o início das a poluição dos oceanos, por exemplo. O embalagem mais reciclada do mundo e, obras do laboratório, cujo projeto é rea- laboratório servirá ainda como base para porque acreditamos em um mundo com lizado em parceria com a Administração demonstração de novas tecnologias que mais consciência, queremos colaborar de Fernando de Noronha e o Consórcio suportam a transição para uma econo- com o esforço da Ilha para construir um Noronha Pelo Planeta. mia sustentável e de baixo carbono. espaço de convivência sustentável e que “A entrada da Ball na Ilha tem como pode funcionar como uma experiência O Lab VADELATA Pelo Planeta está base o relacionamento com a comunida- de um modelo de vida mais amigo do sendo implantado em uma área de 18 mil IMAGEM DE CROQUI – DIVULGAÇÃO BALL. meio ambiente, não só para mora- m2, com a maior parte reservada dores, mas como para turistas que para preservação da biodiversida- o frequentam e que poderão espa- de nativa, localizada no entorno lhar aprendizado ao retornar para do aeroporto da Ilha e próximo à suas casas. Ao formar uma grande Praia do Bode e ao mirante Dois rede de consumo consciente, fo- Irmãos. O prédio, que conta com mentamos uma economia circu- projeto de arquitetura baseado lar, e podemos avançar como um nos conceitos mais atualizados do planeta cada vez mais saudável.” ponto de vista da sustentabilidade Movimento Circular promove ações e oferece conteúdos educativos gratuitos para incentivar novos comportamentos em prol de um futuro sem lixo De São Paulo população, por meio da educação e da atividades intera- cultura, a reduzir a produção, reutilizar tivas, que podem Debater soluções para a questão e reciclar resíduos. ser acessadas e bai- do lixo a curto, médio e longo prazos xadas gratuitamente é uma medida necessária. Segundo O movimento, que propõe a transição pelo site https://www. dados do Panorama dos Resíduos da economia linear para a circular, foi movimentocircular.io. São conteúdos Sólidos no Brasil 2020, da Associação idealizado pela Atina Educação em par- voltados para professores, estudantes, Brasileira de Empresas de Limpeza ceria com a Dow em meio à pandemia, é empresas, instituições, líderes comu- Pública e Resíduos Especiais (Abrel- coordenado por Vinicius Saraceni e tem nitários ou qualquer pessoa que esteja pe), cada brasileiro produz, em média, direção pedagógica de Edson Grandiso- interessada em estudar sobre o assunto. 379,2 kg de lixo por ano. No mundo li. Em um ano, o Movimento Circular todo, a quantidade de resíduos sólidos já impactou quase 500 mil pessoas em O Movimento Circular explora temas descartada anualmente pode passar a todo o mundo por meio de ações, par- como alimentação, indústria, geração de assustadora marca de 2 bilhões de to- cerias, cursos, palestras e outros eventos. valor e aproveitamento de recursos de neladas. De olho nisso, a iniciativa Mo- A plataforma leva a economia circular forma interdisciplinar. O material pode vimento Circular procura incentivar a para dentro da sala de aula e das empre- ser utilizado em aulas, palestras, treina- sas por meio de materiais educativos e mentos e outros eventos. 47

Cultura PágVinasiddaaFOTODE:BRUNOVEIGA-DIVULGAÇÃO POR MAURETTE BRANDT, DE PLURALE Dessa menina, FOTOS DE DIVULGAÇÃO – tão pequenina, que tanto quis ser NANTÔNIO CALINO E BRUNO VEIGA bailarina - e se tornou a tradicional feirinha da a queridinha do Brasil. Praça de República, que Ana Botafogo ganha, acontece todos os domin- agora, biografia gos em Belém do Pará, completa escrita a bailarina para numa barraca e escolhe uma roupinha para por seu pai, presentear a filha recém-nascida de seu Ernani Ernesto principal partner. Do outro lado, olhos admirados a observam. Escolhido o pre- Fonseca sente, a bailarina abre a bolsa para pagar. - Mas de modo nenhum eu vou deixar a senhora pagar aqui na minha barraca, Dona Ana Botafogo! – escan- daliza-se a dona. – Faço questão de lhe dar de presente! Muito sem jeito, Ana Botafogo per- cebe que não há como recusar, mas pensa rápido e contrapropõe: - Está cer- to, tudo bem. Muito obrigada. Mas só aceito se você me deixar escolher outra coisa e pagar por ela. Pode ser? A vendedora aquiesce, Ana paga o segundo item e segue em frente. Histórias como esta se repetem por toda parte – na rua, na chuva, na fazen- da, onde quer que ela vá. Porque todo mundo conhece, já viu ou já ouviu falar de Ana Botafogo. Num país continen- tal, onde a cultura não chega na mesma medida para todo mundo, convenha- mos, é fascinante observar a genuína popularidade dessa bailarina clássica em praticamente qualquer lugar. Assim como Bidú Sayão, a épica cantora lírica brasileira de sucesso in- ternacional que subia em carroça e ca- minhão para cantar em todos os cantos do Brasil, Ana Botafogo sempre soube ir aonde o povo está. Nos teatros mais famosos, na tevê, nas praças, em palcos armados em lugares inimagináveis, lá estava ela, sempre perto de todo mun- do. É incapaz de negar um sorriso, uma foto, com a gentileza de sempre. Pa- ciência, fina educação e uma habilidade natural para transitar nos mais variados ambientes explicam a unanimidade que é Ana Botafogo – de fato e de direito, a única bailarina clássica brasileira que todo mundo conhece. 48 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021

Pois agora todos podem percorrer as FOTO DE ANTÔNIO CALINO – DIVULGAÇÃO. Ana Botafogo e páginas de sua vida – e olha que são mui- Marcelo Misailidis, tas. Foi lançado em setembro último, o também primeiro do tem um primeiro namorado, só a bai- livro Ana Botafogo – Palco e Vida, escri- bailarino do larina é que não tem.” Ah, mas tem sim! to por seu pai, o médico Ernani Ernesto Theatro Municipal Ora se tem! E está lá no livro. A história Fonseca. Com suas 900 e tantas páginas, do Rio de Janeiro. do “moço da missa”, que veio a ser o pri- a obra é hoje a mais completa fonte de meiro namorado da artista, é uma das informação, pesquisa e conhecimento [...] ensaiei com ele apenas mais interessantes, sobretudo quando sobre a vida e a carreira da artista. duas vezes. Bujones regressou pensamos que está sendo contada pelo a Nova York e só voltamos próprio pai da moça em questão. Mas que ninguém meça o livro pelo a ensaiar juntos na véspera Palcos do mundo, férias em família tamanho: a leveza, o charme e a graça do espetáculo. Eu estava permeiam uma leitura viva e diverti- preocupada e meio tensa Muitos detalhes importantes da obra da, que contudo não abre mão do rigor antes de entrar em cena, mas têm a ver com os primeiros passos de biográfico, ao mesmo tempo que con- tudo correu bem. Bujones Ana Botafogo na carreira internacional, tagia o leitor. é um partner maravilhoso, que começou na França, onde traba- muito afável e atencioso. A lhou com Roland Petit e no Ballet de - O papai sempre guardou tudo – or- sua gentileza me ajudou. Eu Marseille, e na Inglaterra, onde dançou gulha-se Ana. – Ele tinha tanto material me senti apoiada e segura. com o tradicional Saddler’s Wells Ballet. que muita coisa teve que ser deixada Houve uma verdadeira Ao longo dos anos, a artista dançaria de lado, na hora de fazer o livro. Quan- comunicação entre nós, o que também com o primeiro-bailarino ar- do eu li, nem conseguia acreditar nas é tão importante para um bom gentino Fernando Bujones em diversos coisas que fiz... e nem me lembrava de desempenho no palco.’ países, como convidada especial, sem tudo! – conta. contar muitas outras apresentações. ANA BOTAFOGO, O livro foi lançado em parceria com em entrevista na época Ana trilhou o caminho da Europa o Instituto Bees of Love, com parte da para se aperfeiçoar, mas a profissio- renda revertida para uma importante nalização não tardou. Em audição, foi ação social: a reforma da maternidade aceita na companhia de Roland Petit e, do Hospital Miguel Couto, no Rio. – Foi mais tarde, integrou o Ballet de Marseil- uma ideia ótima associar o lançamento le. Aperfeiçoou-se também em Cannes, do livro a uma causa como esta – diz no estúdio Rosella Hightower. Por fim Ana Botafogo. – E é muito bonito ver seguiu para Londres, onde ingressou na o meu pai, aos 95 anos, realizar o sonho escola do Covent Garden e, mais tarde, de publicar uma obra que ele preparou dançou com o Saddler’s Wells. durante cinco anos, com muito carinho e rigor – comemora. Em meio a tudo isso, férias em fa- mília! Uma visita dos pais levou a um Além de documentar em detalhes a período de viagens e descobertas, retra- trajetória de Ana Botafogo, a obra refle- tado no livro com muita sensibilidade te, também, um período importantíssi- pelo autor. Um bom exemplo é uma mo da dança brasileira, no qual o ballet breve passagem, durante um cruzeiro clássico e a dança em geral se firmaram rumo a Oslo, na Noruega. cada vez mais no cenário cultural do país. Uma das mais importantes esco- Também o período em que Ana lhas do autor foi incluir grande parte do Botafogo foi contratada pelo Ballet material publicado na imprensa, como críticas, crônicas e reportagens que de- lineiam todo um cenário cultural em plena efervescência. – Eu gosto muito dessa parte, porque vivemos um pe- ríodo em que havia muitos jornalistas especializados em dança, que registra- vam suas impressões em suas colunas – lembra Ana Botafogo. – Sinto muita falta disso hoje em dia – diz. Chico Buarque diz, na letra de A bailarina, uma das canções da obra O Grande Circo Místico, que “todo mun- 49

Cultura FOTO DE ALICE BRAVO – DIVULGAÇÃO Guaíra e viveu em Curitiba é revelador Ana Botafogo in curso interno do Theatro, Ana Botafogo e muito bem documentado, recheado Concert - Teatro encarnaria pela primeira vez Swanilda, de descobertas para os leitores. Longe Rival, 2005. o papel principal do ballet Copélia, na de mim quebrar o encanto da leitura abertura da temporada. Suzana Braga, daquelas páginas! O escuro da noite custa a cair, que foi durante anos a principal cronis- e o clarear da madrugada ta da dança no país, publicou, em 9 de O percurso da artista revela sua te- chega logo. Ficamos quase que maio, um artigo triunfante sobre o su- nacidade e firmeza para fazer suas esco- todo o tempo no tombadilho, cesso do balé, a começar pelo título: Em lhas, enfrentar contratempos e se firmar apreciando a paisagem e nos Copélia, até os cenários foram aplaudi- pela arte, disciplina e dedicação. – Nada distraindo com o enorme dos. No texto, Suzana brinca: 'No final se consegue sem esforço – lembra. – A número de pássaros – gaivotas, do espetáculo, quando o público come- vida da bailarina é ensaiar, ensaiar, es- creio eu – que seguiram o navio çou a cantar em coro : \"Botafogo, Bota- tudar, se aperfeiçoar e se dedicar total- durante horas, até depois do fogo\", alguns ensaiaram \"Flamengo\". [...] mente à carreira – diz. escurecer. Voavam tão O Dr. Ernani Botafogo (que na verdade Entre terremotos e grandes sucessos baixo e tão próximas a nós que é Fonseca), pai de Ana (que leva o Bo- quase as tocávamos com as tafogo pelo lado materno), é o fã mais Vida de bailarina tem lá suas armadi- mãos, e podíamos aflito da bailarina brasileira, e mais uma lhas. Como pano de fundo constante da apreciar em todos os detalhes o vez fez a promessa de ir ao cartório tro- carreira de qualquer artista, o ambiente seu voo e a “expressão do seu car de sobrenome.\" da dança revela suas virtudes e também olhar”, se assim podemos dizer.’ seus perigos. Com Ana Botafogo não De nada adiantaria este artigo seguir foi diferente. Rosas e espinhos muitas ERNANI ERNESTO FONSECA, a cronologia e as infinitas apresentações vezes se alternam, e é preciso saber lidar página 61 do livro de Ana Botafogo por todo o país e no com eles. Uma série de intolerâncias exterior, pois o livro já faz isso com bri- e atitudes desencontradas levaram a com o programa “Ballet é Cultura”, pro- lhantismo. O que entusiasma, em sua episódios difíceis, envolvendo a dire- movido pela Secretaria de Cultura do leitura, é o vigor da escrita, o encanta- ção do Theatro Municipal, a bailarina Estado: espetáculos dominicais de livre mento em cada palavra, e também a e o primeiro convite que recebeu para acesso, com distribuição de ingressos fidelidade aos fatos – com detalhes que se apresentar com o célebre Fernando em escolas, indústrias, clubes, institui- ninguém imaginaria, se não lesse com Bujones, no ano de 1977. O episódio, ções de caridade e outras organizações. seus próprios olhos. Por exemplo: se revelado em detalhes por Ernani Ernes- O programa começou em Curitiba e se quiser, o leitor pode saber, com absoluta to Fonseca, lança luz sobre os bastido- estendeu a inúmeras cidades do inte- certeza, quantos e quais foram os part- res da dança e suas fragilidades, naquele rior do Paraná. Daí em diante, a vida ners com quem Ana Botafogo dançou tempo específico. O sucesso das duas foi levando a artista aos quatro cantos – assim como as cidades onde se apre- galas com Fernando Bujones no Teatro do país, o que a aproximaria cada vez sentou, os balés que dançou, e por aí vai. do Hotel Nacional, sobre o qual Ana mais de um público variado e, por que Botafogo falaria na época, foi estrondo- não dizer, apaixonado também. Como registro de uma carreira, te- so. Mas seus efeitos colaterais determi- mos em Ana Botafogo – Vida e Palco naram uma mudança de rumo na car- A carreira no Municipal do Rio só uma raridade: é difícil encontrar um reira da artista, que retornaria ao Ballet seria retomada mais tarde. Em 1981, já artista brasileiro cuja trajetória esteja Guaíra e aos palcos de Curitiba por dois primeira-bailarina aprovada em con- tão bem documentada, organizada anos, que se revelariam gloriosos. e detalhada como nesta obra. Não é pouco, em terras de curta memória. E Logo depois de voltar para o Teatro vai muito além do amor de pai, ainda Guaíra, Ana Botafogo participou, como que esteja expresso em cada linha. Vai convidada, do espetáculo de inaugura- no rigor do documentarista, na verve ção do Teatro Municipal de Goiânia, de contador de histórias e, por que não produzido por Dalal Achcar. Atuou dizer, no bom-humor tradicional do ao lado de verdadeiros mitos do ballet carioca. Que ninguém duvide: uma mundial: a grande estrela Margot Fon- vez iniciada a leitura, vai ser muito di- teyn e David Wall, primeiro-bailarino fícil largar o livro. É compreensível que do Royal Ballet de Londres, com quem seja necessário fazer pausas, pois de- Ana dançou o pas-de-deux Com amor, certo 900 páginas exigem fôlego. Mas de Dalal Achcar, incluído no programa posso garantir que o leitor vai contar da grande noite. as horas para retornar ao sabor dessa história, viva e real, da bailarina mais Com o Guaíra, Ana iria literalmen- amada do Brasil. te aonde o povo estava. Tudo começou 50 PLURALE EM REVISTA | Novembro / Dezembro 2021


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