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Plurale 78_Web

Published by Amaro Prado Teixeira Junior, 2022-06-23 20:52:09

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FOTO DE LUCIANA TANCREDO – PLURALE – 'ANFITEATRO' , NA QUEBRADA DE LAS CONCHAS, NO CAMINHO ENTRE SALTA E CAFAYATE, ARGENTINAano quinze | nº 78 | junho / julho 2022 R$ 10,00AÇÃO|CIDADANIA|AMBIENTE 6708www.plurale.com.br E S GSOCIAL ENVIRONMENTAL GOVERNANCE ESPECIAL ESG, ESTUDOS DE CASOS ARTIGOS INÉDITOS VIAGENS INCRÍVEIS: SALTA, NA ARGENTINA E ALCATRAZ, EM SÃO FRANCISCO (EUA), SANTUÁRIO DOS PÁSSAROS ENTREVISTA COM EDU LYRA, DO GERANDO FALCÕES





Contexto FOTOS DE DIVULGAÇÃO FOTO DE LUCIANA TANCREDO – SALTA/ ARGENTINA 52. SALTA, DESTINO A 21. ESPECIAL ESG: ESTUDOS DE CASOS AJUDAM A SER EXPLORADO INSPIRAR A TRANSIÇÃO PARA ECONOMIA DE NA ARGENTINA, BAIXO CARBONO por Luciana FOTO DE FLÁVIO SAMPAIO / DIVULGAÇÃO - GERANDO FALCÕES Tancredo 8. ENTREVISTA COM D. Ivone Lara, EDU LYRA, a dama do samba, DO GERANDO por Nícia Ribas FALCÕES, por Sônia Araripe 42 14. Ecoturismo, por Isabella Araripe ARTIGOS INÉDITOS, por Christian Travassos, 50 Fábio Rocha e Helen Pedroso Cinema Verde, por Isabel Capaverde FOTO DE VIVIAN FAVER – SÃO FRANCISCO/ EUA 60 46. Pelas empresas, ALCATRAZ, ANTIGA PRISÃO por Felipe Araripe É HOJE UM SANTUÁRIO DE PÁSSAROS, 62 por Vivian Faver

Editorial FOTOS DO ARQUIVO PESSOAL Plurale em ação – Nossa Luciana Tancredo esteve com o marido, José Luiz Farani, conhecendo Salta, Cafayate e San Salvador de Jujuy, no Noroeste da Argentina. Ela nos conta – em texto e fotos fantásticas – o magnetismo desses destinos, ainda pouco explorados por brasileiros. De São Francisco, no Oeste dos Estados Unidos, a correspondente Viviane Faver visitou com o marido John Carroll, os “novos habitantes” da famosa Ilha de Alcatraz, onde no passado havia prisioneiros. Hoje voam por lá albatrozes e outros pássaros, protegidos e livres. Especial ESG com estudos de casos, E S G SOCIAL ENVIRONMENTAL GOVERNANCE artigos inéditos, entrevista com Edu Lyra, viagens a Salta e ao santuário de pássaros em Alcatraz, São Francisco e muito mais POR SÔNIA ARARIPE, EDITORA DE Brasileira de Alumínio – CBA; fantásticas – o magnetismo desses da Gerdau; do Instituto Claro; da destinos, ainda pouco explorados JPLURALE Neoenergia; da Prefeitura de Ita- por brasileiros. Em São Francisco, unho é marcado no calen- guaí e do Sesc Pantanal. no Oeste dos Estados Unidos, a dário como o mês que atrai correspondente Viviane Faver vi- as atenções para o Dia do Esta edição também é marcada sitou, com o marido John Carroll, Meio Ambiente. Esta é por entrevista exclusiva por um os “novos habitantes” da famosa uma efeméride que me- dos protagonistas nesta jornada Ilha de Alcatraz. Onde no passa- rece reflexão, ainda mais ESG: o jovem Edu Lyra, fundador do havia prisioneiros, hoje voam em tempos de mudanças tão ex- do Gerando Falcões, que nos fala albatrozes e outros pássaros pro- tremas como as recentes. Plane- sobre a importância e a potência tegidos e livres. jamos uma Edição Especial, que das favelas e quebradas - e da for- apresentasse Estudos de Casos ça em negócios de sua gente. Não A sempre alerta Nícia Ribas ESG, não só com o viés Ambien- é só. Também temos artigos exclu- preparou um perfil reforçado da tal, mas também com Social e o sivos que ajudam a refletir ainda diva do samba D. Ivone Lara, fe- de Governança. mais sobre esta transformação em minista que abriu tantas portas curso, por Christian Travassos, para outras mulheres sambistas, Se esta é uma jornada ainda em Fábio Rocha e Helen Pedroso. que teve seu centenário foi come- curso, por ser escrita e preparada morado em 2021 - e a quem deve- para as gerações atuais e as próxi- Vacinados, e ainda seguindo mos render todas as homenagens. mas, nada mais relevante do que todo o protocolo, nossos repórte- Outros destaques são as colunas compartilhar experiências reais res estão – aos poucos - voltando “Cinema verde”, por Isabel Capa- desta migração pelo baixo carbo- a viajar. Nossa Editora de Foto- verde; “Ecoturismo”, por Isabella no. Trazemos relevantes estudos grafia, Luciana Tancredo, esteve Araripe; e “Pelas empresas”, por de casos da Anglo American; da em Salta, Cafayate e San Salvador Felipe Araripe. Tudo isso e muito Ball; do Bradesco; da Companhia de Jujuy, no Noroeste da Argenti- mais. Boa leitura! na. E descreve – em texto e fotos 5

Quem faz Cartas [email protected] Diretora e Editora-Chefe Ética e qualidade “Plurale, Sônia Araripe “Quero parabenizar a edição 77 da número 77, me [email protected] Plurale, em especial por abordar temas encantou com tão relevantes para a atualidade, como o seus diver- Fundadores crescimento dos investimentos em energia sos artigos e Sônia Araripe e Carlos Franco eólica no Brasil e a adoção de medidas reportagens que visem a diminuição de resíduos na interessantes. Plurale em site: natureza. Para todos nós, que há anos Sempre tive www.plurale.com.br temos trabalhado em projetos que unam vontade de co- Plurale em site no twitter, facebook desenvolvimento econômico e práticas nhecer o Egito e instragram: verdes, e esperamos ter, em breve, no – gosto muito Brasil, um mercado de ativos sustentáveis de viajar – e http://twitter.com/pluraleemsite que se torne referência mundial, a publi- lendo a reporta- https://www.facebook.com/plurale cação é leitura obrigatória. A equipe está gem de Adriana @revistaplurale de parabéns por sempre manter o elevado Boscov, pude Comercial padrão técnico e ético em suas pioneiras me realizar. [email protected] abordagens.” Parabéns para Arte Nelson Rocha, secretário de Estado Sônia Araripe e equipe” Amaro Prado e Amaro Junior de Planejamento e Gestão do Rio de Yone Leandro, de Porto Alegre (RS), Fotografia Janeiro e coordenador do projeto por e-mail Fotografia Luciana Tancredo (Cia da Foto); Economia Verde - Nova Fronteira Agência Brasil e Divulgação “Parabenizo Colaboradores nacionais Sônia Araripe Felipe Araripe, Hélio Rocha, e equipe Isabel Capaverde, Isabella Araripe, João Victor envolvidos na Araripe, Lília Gianotti, Maurette Brandt e Nícia Ribas. construção Colaboradores internacionais de Plurale, Elisabeth Cattapan Reuter (Hamburgo/Alema- que traz nha), Vivian Simonato (Dublin) e temas tão Viviane Faver (Nova Iorque). relevantes à Colaboraram nesta edição: sociedade. Christian Travassos, Gustavo Pedro (Foto de Adorei a ma- Cachoeira Serra Azul/MT), Fábio Rocha, Flávio téria sobre o Sampaio, Gabriela Sant`Ana (Sesc Pantanal), Helen centenário de Pedroso (Pacto Global), Hérica Machado (Instituto Paulo Freire, Claro), Jeferson Prado (Sesc Pantanal), Leandro Faria escrita por (CBA), Maíra Motta (Fotos de D. Ivone Lara), Maurette Felipe Arari- Brandt, Nícia Ribas, Talita Bernardo, Ulisses Barros pe, na Edição (Sesc Pantanal) e Viviane Faver (De Nova Iorque). 76. Sou Os artigos são de inteira responsabilidade dos autores professora e não refletem necessariamente a opinião da revista. aposentada e trabalhei durante muitos anos na Impressa com tinta à base de soja EJA (Educação a Jovens e Adultos). Plurale é uma publicação Nosso referencial para a constru- da SA Comunicação Ltda ção de um projeto pedagógico era CNPJ 04980792/0001-69 pautado na referência deste grande Impressão: Imprimindo Conhecimento Mestre: Paulo Freire. Bela home- Editora e Gráfica nagem, Plurale! Parabéns, Felipe Araripe! Tuas palavras ressaltaram a Plurale em Revista foi impressa em papel certifica- importância de Paulo Freire para a do, proveniente de reflorestamentos e outras fon- Educação brasileira!” tes controladas certificados pelo FSC® de acordo Soraya Gomes Leandro, pro- com rigorosos padrões sociais e ambientais. fessora aposentada, de Porto Rio de Janeiro | Rua Etelvino dos Santos 216/202 Alegre (RS), pelo WhatsApp CEP 21940-500 | Tel.: 0xx21-3904 0932 A ex-senadora Marina Silva “Parabéns pela publicação do relevante Os artigos só poderão ser reproduzidos recebeu, em maio, exemplar artigo de Luiz Fernando de Almeida Bello com autorização dos editores 77 de Plurale em revista no na Edição 77 de Plurale sobre ESG e Me- © Copyright Plurale em Revista evento sobre os três anos da taverso. Bello, como sempre, iluminando tragédia de Brumadinho, orga- as mentes.” nizado pela Avabrum. A edição Paulo César Vieira Helayel, admi- traz matéria do repórter Hélio nistrador, do Rio de Janeiro (RJ), Rocha entrevistando famílias pelo site de atingidos. \"Abacate é vida!!! Eu já usei o azeite de “Boa pauta, equipe Plurale. Vou ex- abacate e amei!” perimentar o azeite de abacate, com Soraia Zonta, empreendedora de certeza. Excelente reportagem de biocosméticos, de Florianópolis Maria Augusta de Carvalho.” (SC), pelo site Paulo Gramado, jornalista, do Rio de Janeiro (RJ), pelo site

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Entrevista “É POSSÍVEL DESARMAR A BOMBA-RELÓGIO DA POBREZA” EDU LYRA, fundador da ONG Gerando Falcões Jovem de periferia cria ONG que é referência em gestão compartilhada de favelas é considerado um dos maiores empreendedores sociais do país, com apenas 34 anos. Escritor e palestrante, Edu Lyra já falou para plateias em Harvard, conquista adesões do setor privado e foi apontado como um dos 15 jovens capazes de mudar o mundo, pelo Fórum Econômico Social. ONG trabalha para transformar favelas em lugares dignos para se morar. FOTO DE FLÁVIO SAMPAIO/ DIVULGAÇÃO GERANDO FALCÕES POR SÔNIA ARARIPE, EDITORA que cresceu em Guarulhos, filho de A seguir, a entrevista para Plurale. DE PLURALE ex-presidiário, vizinho de traficantes e Plurale – Nós já acompanhamos FOTOS DE FLÁVIO SAMPAIO, assaltantes, sabe que a solução precisa há alguns anos a sua história e tam- YAN E DIVULGAÇÃO GERANDO envolver os moradores das favelas, de bém a ONG Gerando Falcões. Mas baixo para cima e de dentro para fora. gostaríamos, por favor, que você PFALCÕES E que a Educação fará toda a diferen- contasse para o nosso leitor de Plu- reparem-se para o otimis- ça. A Gerando Falcões já formou mais rale um pouco mais sobre a sua tra- mo de Edu Lyra, baseado de 700 líderes em comunidades. Edu jetória e como surgiu esta ideia da em práticas e linguajar que Lyra assegura que não pretende seguir ONG Gerando Falcões. Lembrando se assemelha aos CEOs o caminho oficial da Política partidária que você é periférico, filho de um ex- de empresas. Ele conquis- e alerta ser preciso revermos nossos he- -presidiário, viveu na favela desde o tou a confiança e amizade de grandes róis, dando mais valor para quem está nascimento e tinha como vizinhos nomes no setor privado, como Jorge fazendo a transformação social. “Estes traficantes e assaltantes. O que foi o Paulo Lemann (empresário e investi- são os verdadeiros heróis do Século 21”. dor), Guilherme Benchimol (fundador da XP Investimentos) e outros tantos. Foi aplaudido em Harvard e aponta- do como um dos 15 jovens capazes de mudar o mundo pelo Fórum Econô- mico Social, de Davos. Sincero, conta que “viveu a pobreza extrema na pele viva.” E que todos os dias sonha com a esperança “de decretar o shut down desta prisão da pobreza extrema. Te- mos que absolver estas gerações deste modelo no Brasil. É difícil? É super difícil. Mas a gente tem que fazer isso antes que seja tarde demais.” O fundador da Gerando Falcões ex- plica que o projeto da Favela 3D está sendo testado em quatro comunida- des em diferentes regiões, passando por métricas. O plano é “prototipar”, como ele fala, para depois entregar esta tecnologia social pronta para os gestores que quiserem seguir. O jovem 8 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

grande diferencial, na sua opinião, ordenada, para uma direção comum, Precisamos ter planos para tornar-se um dos maiores em- para fazer a superação da pobreza e para esta década, para preendedores sociais do país? salvar o planeta. Isso é mais do que 2050... e engajar todas urgente. Ou a gente faz ou a gente faz. as forças do País: a Edu Lyra – Eu vivi a pobreza extre- Ou seremos lembrados como a gera- academia, os governos, ma na pele viva. Eu superei a pobreza ção que sentenciou as próximas. a iniciativa privada, a extrema. Quando eu nasci é como se o sociedade civil, as ONGs - sistema tivesse pendurado uma bom- Plurale – Pois é... mas isso já foi e trabalhar de uma forma ba-relógio no meu pescoço - e a certe- tentado tantas vezes... e não avança. coordenada: em uma za que eu tinha que, um dia, a bomba Para falar, é algo que, relativamente, direção comum para fazer iria explodir. A minha meta, a minha parece simples. Mas para executar é a superação da pobreza obsessão de vida era desarmá-la. Con- tão difícil, em um um cenário tão po- e salvar o planeta. Isso é segui. A partir daí, entendi que pode- larizado, tão dividido, com tanta de- mais do que urgente. Ou ria criar um programa para desarmar sunião. É como se cada um estivesse a gente faz ou a gente faz. bombas-relógio da pobreza em escala. indo em uma direção... sem saber que Ou seremos lembrados A Gerando Falcões nasce assim– caminho tomar. No fundo, é como se como a geração que primeiro de uma indignação: de cada um tentasse a sua sobrevivên- sentenciou as próximas. ” que toda pobreza é um massacre cia, seguindo em frente, “tocando o humano. E depois da certeza de que barco”. Você realmente acredita que é EDU LYRA era possível desarmar outras bom- possível chegar a este consenso? Não bas-relógio em escala. te passa esta sensação de desânimo, FOTO DE YAN/ DIVULGAÇÃO GERANDO FALCÕES já que um pouco de tudo foi tentado? Plurale - Você tem dito que quer terminar as favelas antes do bilio- Edu Lyra – Foi tentado por quem? nário Elon Musk, considerado o ho- As grandes mudanças, em geral, não mem mais rico do mundo, conseguir vêm de governos. As grandes mu- colonizar Marte. Acredita que isso é danças vêm da sociedade civil. Qual a realmente possível? grande oportunidade que eu enxergo? Edu Lyra – Acredito. O mundo está É a nossa capacidade de inovar. A em uma grande encruzilhada, tanto sociedade civil pode inovar e os go- do ponto-de-vista ambiental quanto do social. Precisamos fazer um esfor- ço e construir algo que nunca foi feito antes, em uma velocidade de tempo jamais imaginada, para salvar o futu- ro das próximas gerações. Precisamos dar uma resposta para os temas am- biental e da pobreza gigante. Ou sere- mos engolidos por isso. Um exemplo: o número de favelas no Brasil, na últi- ma década, era de 7 mil; e hoje já são mais de 14 mil. Tem o crescimento da pobreza, a ampliação da desigualdade. E não podemos chegar a um estágio em que isso não seja reversível. Pre- cisamos ter planos para esta década, para 2050… e engajar todas as forças do País: a academia, os governos, a iniciativa privada, a sociedade civil, as ONGs - e trabalhar de uma forma co- 9

Entrevista FOTO DE FLÁVIO SAMPAIO/ DIVULGAÇÃO GERANDO FALCÕES A sociedade civil pode inovar e os governos seguirem. Não é o governo que puxa a fila. É a sociedade civil que puxa a fila e os governos, de uma forma geral, seguem. EDU LYRA vernos seguirem. Não é o governo São Paulo, sendo um na Favela Marte, tware e isso gera uma explosão, aquilo que puxa a fila. É a sociedade civil que em São José Ribeirão Preto, e outro na que a gente chama do milagre da in- puxa a fila e os governos, de uma for- Favela dos Sonhos, em Ferraz de Vas- clusão, da transformação. Quando a ma geral, seguem. Então, qual é o meu concellos; também na Favela Vergel gente olha para a pobreza, as pessoas grande empenho na Gerando Falcões? do Lago, em Maceió, e no Morro da acham que é só falta de dinheiro no É entregar a favelas 3D, transformando Providência, no Rio de Janeiro. O que bolso. Mas a falta de dinheiro no bolso territórios antes negligenciados em ter- a gente faz nesses territórios é com- é só um dos vários níveis de pobreza. ritórios dignos, digitais e desenvolvi- binar políticas públicas e tecnologias Há vários tipos de pobreza: a pobre- dos. Prototipar esta solução como uma sociais na favela, para destravar valor za econômica, a pobreza menstrual, a tecnologia social para o Brasil e depois e quebrar o ciclo da pobreza. Come- pobreza mental, a pobreza energética, entregar para os governos, para o Bra- çamos com um grande diagnóstico a pobreza de oportunidades... Nós en- sil. Isso funciona – e está funcionando. social da favela, sempre envolvendo tendemos a pobreza como um fenô- Contratamos uma agência israelense os moradores, para entender a geogra- meno multidimensional, portanto, a para provar isso com evidências. O fia física, humana e social do local. E, solução tem que ser multisetorial. Por próximo caminho é entregar isso para portanto, entender o nível de pobreza. isso criamos ecossistemas de mudan- o Brasil e aí, os governos e a sociedade Depois a gente entra em uma segunda ça, onde trabalhamos com a sociedade, devem tomar uma decisão. E esta de- fase daquilo que chamamos de imagi- governos, academia, iniciativa privada, cisão não cabe a mim. Vai querer con- nação cívica, onde juntamos a favela com startups... para conseguir dar um tinuar atolada, sentenciando gerações para reimaginar a própria favela e criar salto quântico, não um salto incremen- e gerações? Quem nasce pobre neste um grande Plano de Desenvolvimen- tal. Porque é isso que precisamos dar país nasce sentenciado. Um ou outro to Social, a partir da favela. E, por fim, no Brasil, um salto quântico. consegue escapar. A minha história é vai para a fase de execução, que com- uma tremenda exceção, de alguém que preende construir acordos sociais da Plurale - Educação no Brasil é um conseguiu escapar da prisão de segu- favela com governos, da favela com a gargalo gigantesco também, sem dú- rança máxima, que é a pobreza. Mas iniciativa privada e da favela com a so- vida. Você mesmo diz que a Educa- precisamos decretar o shut down nesta ciedade civil, para mobilizar recursos ção fez a diferença no seu caso, que prisão, temos que destruir esta prisão. para executar o Plano. É um projeto você é resultado desta base. E é uma Temos que absolver estas gerações des- que nasce de dentro para fora, de baixo base forte no Gerando Falcões, atra- te modelo no Brasil. É difícil? É super para cima, porque ninguém entende vés da Falcons University, que tem difícil. É algo quase contra-lógico? É. mais da favela do que quem mora lá. formado lideranças jovens. Como é Mas a gente tem que fazer isso antes Este morador precisa ser o principal que este modelo funciona? que seja tarde demais. agente transformador do processo. Cidadãos compactuados com a so- Edu Lyra – Nós criamos a Falcons Plurale - Fale mais, por favor, so- ciedade. No Favela 3D, fazemos uma University – uma universidade de lide- bre o projeto Favela 3D, digno, digi- intervenção física no território, no rança social, de ensino da favela para a tal e desenvolvido. que chamamos de urbanismo social, e favela; formamos dois públicos. O pri- uma intervenção humana, nas pessoas. meiro é formar lideranças de favelas. Edu Lyra – Estamos fazendo qua- Combinamos o hardware com o sof- Buscamos outros Edus e outras Dudas, tro laboratórios do Favela 3D: dois em digamos assim, no sentido figurado, líderes de favela que estão causando impacto. Uma vez que a gente encon- 10 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

FOTOS DE DIVULGAÇÃO GERANDO FALCÕES tra, “embarcamos” estas lideranças em estas evidências. Acreditamos que, nos que deveríamos ficar atentos? um grande processo de formação, que próximos três a quatro anos, iremos Edu Lyra - O Brasil deveria come- tem uma fase inicial de seis meses, com entregar – ano a ano – uma grande tec- 12 módulos, envolvendo Captação de nologia social de superação da pobre- çar a olhar para os grandes inventores Recursos, Gestão, RH, Dados, Inova- za a partir do Favela 3D, lastreada por sociais, que estão tentando transfor- ção Social, Políticas Públicas, Transpa- evidências científicas. E isso será um mar o país. Valorizam demais a pro- rência, Comunicação... para acelerar as grande documento, ou plataforma, de dução de riqueza econômica. Isso capacidades destas lideranças. E depois advocacy, para a gente influenciar de- é importante. Mas devemos olhar isso vai para uma fase de trabalhar em cisores e consultores de políticas públi- quem está pensando a economia ver- colaboração, para a execução de proje- cas para implementar a tecnologia nas de, transformar recicláveis em ener- tos na ponta, na última milha. Temos suas cidades, estados e no País. Este é o gia etc. Olharia para Amanda Olivei- hoje 707 líderes no nosso ecossistema e meu sonho. Sonho todos os dias. ra, do Instituto As Valquírias, para temos presença, através deles, em qua- o Celso Athayde (fundador da Cufa se 4 mil favelas. E assim, através destas Plurale – Você já foi sondado por – Central Única das Favelas), o Sau- lideranças, entregamos serviço de edu- políticos? Pretende se engajar for- lo Ricci, criador do Coletando. Para cação, desenvolvimento econômico e malmente na política? Qual a co- estas pessoas, que são agentes de mu- cidadania. Temos em andamento um nexão deste cenário com a política? danças sociais no Brasil. Empresários grande projeto de formação de pessoas Lembramos também que, no Brasil, também, tem que olhar para o Elon para a evolução de papel de superação os planos e gestões políticas costu- Musk, para a corrida espacial que da pobreza nas favelas. Educação ci- mam ter datas... e muitas vezes são ele está protagonizando. No Brasil, dadã, educação econômica, educação interrompidos pelo resultado das ur- olharia muito para o que o Elie Horn cultural, educação para a vida, educa- nas. Este é um ano eleitoral. (fundador do grupo Cyrela e um dos ção empreendedora. maiores filantropos do Brasil e do Edu Lyra - Sou como um atleta mundo) está falando e produzindo, Plurale – Como isso ganha escala? olímpico no campo social, atrás da no campo da filantropia. E também Formou 700 e atinge umas 4 mil fave- medalha de ouro. E a minha meda- para a Escola de líderes, do Jorge Pau- las. Ou a ideia não é ganhar escala e lha de ouro é a superação da pobreza. lo Lemann. No campo da política, da sim prototipar e virar uma referência A minha roupa, a minha vestimenta, Ciência, da Inovação...que estão fa- como possível política pública. Qual é a do empreendedor social. Acredi- zendo a diferença. São os heróis do é o caminho? to que você pode influenciar a vida Século 21. Temos que repensar nos- social do País de diferentes formas. E sos heróis. Nada contra jogador de Edu Lyra - Queremos, sobretudo, a ferramenta que eu uso é através do futebol. Mas o que é mais importante: com o Favela 3D, comprovar a tese. O empreendedorismo social, criando o hexa ou quem está revolucionando Brasil faz muitas políticas públicas, mas um grande ecossistema de líderes que o país com solução para as questões sem evidências de que aquilo funciona. sejam capazes de liderar processos de sociais? É isso o que eu penso. Desde o começo, quando começamos mudança social em escala na favela, a pensar o Favela 3D, entendemos que trabalhando em colaboração com a deveríamos ter uma grande agência academia, governos, iniciativa privada, de avaliação de impacto, de economia ONGs e sociedade civil. A minha mu- comportamental, para fazer o processo lher certamente não me deixaria entrar de avaliação. Entender o que deu cer- para a política. to e errado. Qual foi o resultado eco- nômico e social? Fez com que a gente Plurale - Quem são os nomes que pudesse entender a mudança de pro- te inspiram hoje, além do empresá- cessos nas favelas... estamos coletando rio/ investidor Jorge Paulo Lemann? Quais seriam os nomes de líderes a 11

Estante POR FELIPE ARARIPE Tempo de discutir as cidades, Biodiversidade em pauta: Um por Vicente Loureiro, Editora guia para comunicadores, Outras Letras, 250 págs, R$ 40,00 por Elizabeth Oliveira / Coordenação: Daniele Com lançamento realizado em abril, Bragança, Duda Menegassi e pela Editora Outras Letras, o livro Tem- Marcio Isensee e Sá, Editora po de Cidade, do arquiteto e urbanista ((O )) Eco, Download gratuito Vicente Loureiro, traz lições de urbanismo e a emoção dos tempos da infância vivida em Paracambi, no Esta- Comunicar a biodiversidade não é algo óbvio, do do Rio. Loureiro, que hoje reside em Nova Iguaçu, mas fundamental, especialmente em um país sempre teve olhos voltados para a melhoria das condi- megadiverso como o Brasil e diante de uma crise ções de vida nas cidades. “Sempre será o tempo das de extinção em massa como a que enfrentamos cidades, pois algo nelas frequentemente ocorre a bulir hoje no planeta. Dar voz e destaque a estes te- com o cotidiano e a percepção dos seus habitantes. mas é a razão de ser de ((o))eco, veículo inde- Seja ela um pequeno ajuntamento de casas cortadas pendente de jornalismo ambiental, mas precisa- por ruas a acabar logo ali, ou então um aglomerado de mos multiplicar estas vozes e estes espaços na cidades ao redor de uma metrópole, onde não se sabe mídia, de forma geral. ao certo onde começa uma e termina outra, parecendo muitas das vezes um lugar sem fim. É esta convicção Esta publicação, produzida por ((o))eco com que empresta síntese a coletânea de crônicas escritas apoio do Instituto Serrapilheira, tem como objeti- por mim nos últimos três anos e reunidas agora em um vo fomentar a cobertura dos temas ambientais livro sobre este título reverencial: Tempo de Cidade”. em todos os biomas brasileiros e ajudar comuni- cadores a ter um olhar mais qualificado, crítico e Sempre foi sobre nós, aprofundado sobre o assunto. O guia é também por Manuela d’Ávila (coordenação), um convite para ampliarmos essa cobertura, ain- Editora Rosa dos ventos - Grupo da tão pouco explorada no Brasil. Download gra- Record, 220 págs, R$ 24 tuito no link https://oeco.org.br/noticias/biodiver- sidade-em-pauta-um-guia-para-comunicadores/ Depois de enfrentar graves episódios de violência política, Manuela d’Ávila, uma AquarELAS, das feministas mais ativas e relevantes do país, decidiu por Bebeti do Amaral buscar histórias similares às suas. Assim nasceu Sempre Gurgel e Sérgio Póvoa foi sobre nós, livro que reúne relatos de mulheres com Pires, Editora InVerso, importante atuação na política brasileira e que sofreram R$ 96,00 violência durante a campanha eleitoral e o exercício do mandato. Em março, no Mês da Mulher e com o objetivo de \"abraçar as mulheres de todas as cores\", a Figuras como Dilma Rousseff, Marina Silva e Tabata escritora e feminista Bebeti do Amaral Gurgel e o Amaral – que, à primeira vista, se distanciam ideologica- arquiteto e aquarelista Sérgio Póvoa Pires lança- mente – unem forças contra a violência política misógina ram, pela Editora InVerso, o livro Aquar ELAS, um que as conecta. As vivências aqui apresentadas são cho- livro conceito que mistura texto e aquarelas. cantes não apenas pela agressividade das disputas políti- cas, mas por sua motivação intrínseca: todas as autoras São dez autoras e dez personagens femini- foram e são atacadas quase diariamente apenas por se- nos da literatura universal homenageadas com rem o que são, mulheres. As agressões relatadas vão palavras e pinceladas. \"Todas as mulheres esco- desde notícias mentirosas e distorcidas da grande mídia, lhidas são ousadas, transgressoras e contribuí- como as perpetradas contra Dilma e Jandira Feghali, aos ram, de um jeito ou de outro, para um mundo di- e-mails anônimos com ameaças de morte e estupro rece- verso, progressista, onde mulheres e homens bidos por Duda Salabert e Talíria Petrone. Chegam até continuem diferentes, mas não desiguais\" explica mesmo ao marco da violência política, racista e de gênero Bebeti do Amaral Gurgel. Mais que um livro Aquar brasileira, o assassinato da vereadora Marielle Franco e ELAS é um projeto literário que surgiu da urgên- seu motorista Anderson, em 14 de março de 2018. cia de ressignificar a literatura escrita por mulhe- res e mostrar fortes personagens femininas. 12 PLURALE EM REVISTA | JMuanrhço / JAublhriol 22002222

5 de junho Foto Gavião Macaco: Nitro Imagens. Dia Mundial do Meio Ambiente. É o que fazemos hoje que fará toda a diferença amanhã. Quando a Anglo American fala em reimaginar a mineração, é muito mais do que só investir em tecnologia e novos processos. É mostrar que, com determinação e iniciativas inovadoras, mineração e meio ambiente podem e devem caminhar juntos. É com isso em mente que a Anglo American desenvolve sua estratégia de gestão ambiental, com diversas iniciativas de preservação da flora e da fauna, recuperação de áreas degradadas e reúso de insumos. Tudo para que, no futuro, possamos olhar para trás e ter a certeza de que deixamos um legado positivo, contribuindo com a sustentabilidade para as gerações futuras. Projeto Juntos Pelo Araguaia vai impulsionar atividades para conter a erosão e melhorar o fluxo d’água do rio. A iniciativa visa aumentar a produção e a disponibilidade de água na região. Parceria Anglo American e Ecovias Araguaia Utiliza de escória de ferroníquel nas obras de ampliação das rodovias BR-153/GO/TO, BR-414/GO e BR-080/GO. Programa Vamos Reflorestar Por meio dos Viveiros de Mudas, já garantiu o replantio de mais de 885 mil espécies nativas. Projeto Juntos pelo Araguaia.

Colunista Fábio Rocha ESG:Mitos e Verdades A Damicos Consultoria, O mais importante é a clareza do sustentabilidade, tendo sido uma das empresa que sou um conceito e não o nome, é a visão sistê- primeiras empresas de consultoria a dos Diretores-Execu- mica sobre o conceito e não o nome, inserir de forma obrigatória na nos- tivos e tem mais de é saber trazer toda a fundamentação sa metodologia de trabalho a etapa de 30 anos de mercado, teórica para algo prático e conectado ao “sensibilização”, atualmente chamada atua na área de “ESG”, termo mais core-business da sua organização. de etapa de aculturamento, na qual rea- atual, desde 1998 e já pode atender lizamos palestras, reuniões e workshops através de palestras, treinamentos, O próprio termo ESG, apesar de com o objetivo primeiro de esclarecer o consultorias e mentorias mais de muitas vezes ser tratado como algo que é ESG do ponto de vista de gestão, 100 organizações em todo o Brasil. novo no nosso país, foi criado entre que apesar de toda evolução do tema, Além disto, temos uma caminhada 2004 e 2005 e a única novidade em ter- peso do tema e das formações fantás- acadêmica neste tema, ensinando mos de Brasil é que pela primeira vez ticas deste lideres, que eles ainda têm em diversas pós-graduações Brasil um termo da área de sustentabilidade muito, a saber, para entender de forma afora e já idealizamos, coordena- traz à luz, a ideia de que governança clara, efetiva e pragmática o tema ESG, mos um MBA em Sustentabilidade corporativa está totalmente relacionada do ponto de vista de modelo de gestão, Corporativa durante 9 (nove) anos. ao contexto de uma empresa realmente gestão multistakeholder e muito mais. sustentável. Com base nesta experiência e em Um segundo mito, inclusive dos novos projetos de consultoria na área Apenas vale destacar que quando mais tradicionais e fortes, é o mito de ESG destes 2 (dois) últimos anos, tratamos do Desenvolvimento Susten- que “Existe uma Agenda Única e somado a grande onda do ESG no Bra- tável, aí sim, este termo tem outra di- Padrão na Área de Sustentabilida- sil, nos sentimos provocados a escrever mensão e impacto. de”. Muitos países ou organizações este artigo, “ESG: Mitos e Verdades”. tentam aderir ou adotar temas corre- Um primeiro mito e talvez o mais latos a sustentabilidade que nada ou Entendendo os mitos como idéias importante para os primeiros passos pouco tem haver com a sua realidade falsas, sem correspondente na realida- de uma organização na tentativa de ou a sua atividade-fim. Será que toda de, imaginem que estrago eles podem colocar no seu radar o tema ESG de organização tem grandes impactos na fazer na temática da sustentabilidade forma adequada, é que “Nossos Con- questão das mudanças climáticas ou em termos de políticas públicas e no selheiros, Líderes e Gestores já sabem nas comunidades circunvizinhas? Por contexto organizacional. E as verdades, o que é ESG”. Podemos dizer a partir que não começar por elementos no aqui não são únicas, mas, leituras, em de décadas de experiência na área de campo da gestão de pessoas, focando nossa opinião, mais adequadas do con- em seus colaboradores e/ou até as fa- texto de ESG no mundo corporativo. mílias destes colaboradores? Um primeiro aspecto deste artigo é Portanto, fundamental que cada or- esclarecer um pouco sobre terminolo- ganização identifique e construa a sua gias nesta temática. Sustentabilidade Agenda de ESG, identificando os temas Corporativa, Gestão Sustentável, Res- prioritários nas suas práticas de gestão ponsabilidade Socioambiental, Negó- e relações com os stakeholders (partes cios Sustentáveis e Socialmente Res- interessadas) prioritários, alguns talvez ponsáveis, ESG (environmental, social e entendam isto como o que chamamos governance) ou ASG (ambiental, social de “materialidade”. A não construção e governança corporativa) são nomes desta agenda customizada e personali- diferentes para um mesmo assunto. 14 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

zada pode fazer sua organização inves- uma nova “caixinha” no organograma. descrevemos no mito anterior e até em tir, perder tempo com temas não tão Além disto, a localização da área outros mitos abordados neste artigo relevantes para o seu core-business, seu fica claro que a agenda de ESG pode e segmento ou sua cadeia de valor. (linha ou staff), o nível hierárquico e o deve ter indicadores de gestão, metas, quanto a nível tático-operacional o líder principalmente de curto prazo. Se se- Um terceiro mito é “O Ressur- domina o negócio em si e não é apenas rão indicadores ou metas qualitativas gimento da Sustentabilidade no um especialista em ESG, fará muita di- ou quantitativas, se utilizaremos indi- Contexto Atual se justifica por uma ferença do ponto de vista simbólico e cadores diretos ou indiretos, a depen- maior exigência da sociedade do Po- prático. der da temática, prática de gestão ou sicionamento da Empresa em relação o stakeholder impactado, se o quanto ao contexto social pós-pandemia”. Um quinto mito é que a “O verda- existem ferramentas de mercado que A verdade é que pela primeira vez de deiro ESG passa obrigatoriamente possam nos ajudar nesta construção, forma intensa ESG se torna um tema por uma reinvenção do meu negócio”. aí são outros elementos inerentes a este estratégico, conectado com o mundo A partir do conceito que criamos e utili- mito ou a esta verdade. dos investidores e investimentos, os zamos na Damicos Consultoria de que Conselhos das empresas acordam para “a essência da sustentabilidade de qual- Destacamos inclusive que muitas ve- o quanto o tema sustentabilidade tem quer organização é minimizar os im- zes questões como as ODS, Pacto Glo- haver com a sobrevivência, futuro e pactos negativos da sua atividade-fim e bal e uma cultura mais recente no Brasil perpetuidade do negócio. maximizar os impactos positivos desta das empresas estabelecerem metas e mesma atividade”, fica claro que muitas compromissos públicos de longo prazo, Outro mito é o que “Criar uma vezes os primeiros passos da organiza- tipo até 2030, até 2050, não podem estar Área de Sustentabilidade na Organi- ção é entender esta equação, conhecer descolados de um modelo de gestão do zação é o Único Caminho de avançar estes impactos, melhorar a gestão dos ESG estruturado e que dê dinâmica as neste tema.” Entendendo ESG como mesmos, potencializando os impactos ações cotidianas, operacionais, táticas um tema transversal a gestão e a to- positivos e minimizando ou até elimi- ou estratégicas que vão levar realmente dos os relacionamentos da empresa, a nando estes impactos. Apenas com este ao atingimento destes compromissos depender da forma e de quando a área primeiro mapeamento será possível de- de longo prazo e até conectados a uma seja criada, pode até transmitir uma fal- finir ajustes de práticas de gestão, ajus- agenda global. sa ilusão de que as outras áreas não pre- tes em produtos e serviços, ajustes em cisam entender ou atuar nesta temática. posicionamento de mercado e muito Após ler estes mitos, imagine cons- Claro que o tema ESG como qualquer mais, podendo paralelamente perceber truir, planejar e/ou gerenciar sua jorna- tema estratégico precisa de uma lide- o quanto isto pode significar a inserção da de sustentabilidade como organiza- rança estratégica, tática e operacional, do ESG na estratégia do negócio já esta- ção em uma base tão equivocada. Que contudo a inserção do tema na agenda belecido ou uma real reinvenção da sua chances você terá de alcançar algum su- dos C-Level da empresa e a criação de atividade-fim. cesso na agenda de ESG? Que chances um Comitê de ESG, envolvendo diver- você terá de fazer as escolhas corretas? sas áreas, podem ser um primeiro passo E um último e sexto mito é que “Os E além de tudo, como serão sua postu- mais consistente e efetivo, do que criar resultados do ESG sempre serão sub- ra, suas reações em relação aos enor- jetivos e intangíveis”. Com base no que mes desafios desta temática? E aos altos e baixos da sua organização como um todo ou do próprio tema ESG na sua empresa? Portanto, o primeiro passo, é plane- jar e gerenciar a inserção do ESG na cultura da sua organização, a própria estruturação e/ou reestruturação do Programa de ESG em cima de verdades e não mitos, de práticas de referência no que tange a gestão do ESG. E após todas estas reflexões, que es- pero ter gerado em você com este ar- tigo, que tipo de jornada em ESG sua empresa irá fazer? (*) Fábio Rocha é Colunista Plu- rale, Consultor, Professor e Diretor- -Executivo da Damicos Consultoria. [email protected] 15

Artigo AMBIÇÃO 2030 X EXPO 2020 Uma experiência incrível e desafiadora EPOR HELEN PEDROSO (*) estabelecidas nas iniciativas. FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL ncontros mundiais sobre Fui a Dubai em março deste ano, par- sustentabilidade, diver- brilhasse aos olhos do mundo. sidade e seus impactos ticipar da Expo 2020; e lá, imediatamen- Pensando no Movimento Salário socioeconômicos já estão te, percebi um mundo que busca ficar acontecendo ao longo dos cada vez mais inovador em tecnologia Digno, volto à cidade e percebo que os anos, com o objetivo de devolver à e criatividade. Eram muitos países par- prestadores de serviços de categorias natureza o respiro essencial para re- ticipantes, mostrando temas relevantes de base, como porteiros, taxistas, pes- novação do ecossistema, com o me- e atitudes que validam a preocupação soal de limpeza dos grandes hotéis e nor índice de interferência possível com o planeta em um futuro que já bate escritórios, entre outros de categorias pela mão do homem. à nossa porta. semelhantes, e que em sua maioria são imigrantes em busca de um mundo me- Partindo daí e acreditando na cau- Impossível não linkar o que vi e lhor, recebem remuneração baixa para sa à qual sempre estou atenta, e como percebi com alguns dos Movimentos bancar as despesas necessárias para seu Diretora de Relações Institucionais do estipulados pela Ambição 2030. Du- sustento e o de sua família. Pacto Global da ONU Brasil, mergulhei bai é uma cidade nascida há poucos na demanda da Agenda 2030 com o in- anos, gigante em riqueza e moder- Não foi difícil imaginar quantos so- tuito de contribuir para a sustentabilida- nidade, que deixa qualquer pessoa, nhos cada pessoa trouxe de seu país de de empresarial, com foco desde os seus de qualquer classe social, encantada origem. E acredito que, com o passar dos stakeholders até o consumidor final, sem e maravilhada. Tudo por lá é mega e anos, a realidade vai tomar, pouco a pou- que isso afete os objetivos e a missão da funciona. Construções enormes que co, o lugar do encantamento da chegada. organização. contemplam tecnologia de ponta me fizeram entender o tamanho do in- O capital humano tem importância É nítida a percepção de que o mun- vestimento feito para que a cidade fundamental em empresas que prezam do tem pressa. Conscientizar as em- por manter seus colaboradores com presas e as pessoas da necessidade de grau de satisfação laboral em bom ní- agir, que a hora é agora. Ou, se pen- vel. Por não haver tributação, a cidade sarmos mais atentamente, será que estamos perdendo o ponto exato do envolvimento necessário em atitudes e ações que irão beneficiar a todos? Não podemos esperar mais! Ambição 2030 é um programa da Rede Brasil do Pacto Global, que veio com objetivos específicos para agilizar os pontos que são de urgência para o nosso Brasil. Dentre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, sete ge- raram os seguintes Movimentos: Elas Lideram 2030 (ODS 5), + Água (ODS 6), Salário Digno (ODS 8), Raça é Prio- ridade (ODS 10), Ambição Net Zero (ODS 13), Transparência 100% (ODS 16) e Mente em Foco (ODS 3). O Pacto Global da ONU Brasil se envolve dire- tamente nessa ação junto às empresas comprometidas em cumprir as metas 16 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

é um chamariz para empresas que que- finalidade clara de tratar da igualdade Net Zero. O Pavilhão Terra – O Pavi- rem investir e manter contratos com de gênero, com ênfase na conscienti- lhão da Sustentabilidade - evidenciou a os Emirados Árabes; essa circunstân- zação para o empoderamento femini- necessidade de encontrarmos soluções cia acaba sendo também favorável aos no, derrubando assim conceitos equi- rápidas para o respiro do planeta. Hou- funcionários, porque recebem seus sa- vocados sobre o papel delas. ve um planejamento muito bem traça- lários livres de impostos. do para cuidar do que é importante ser A apresentação desse tema mos- cuidado de fato. É fácil encontrar relatos de pesso- trou a importância de todas as mu- as que foram transferidas para alguma lheres como parte integrante do mun- Ficou evidente que toda a Expo foi cidade dos Emirados por conta de tra- do, pois fez referência à trajetória de embasada em sustentabilidade, traba- balho, e que retornaram ao Brasil em mulheres conhecidas e desconheci- lhando com responsabilidade e pensan- situação financeira bastante confortável. das, em várias frentes de trabalho so- do nas gerações futuras. É importante O Movimento Salário Digno precisa ser cioeconômico. que se use a tecnologia para ajudar na trabalhado por lá. recuperação do ar que respiramos e da É interessante notar que desde que terra que nos alimenta. Ao olharmos para o Movimento surgiu a Expo, em 1851, esta foi a pri- Elas Lideram 2030 dentro do mun- meira vez em que as mulheres ganha- A Praça de Água, no Pavilhão do Bra- do de Dubai, notei que há muito a ram um Pavilhão dedicado a elas e com sil, evidenciou o Movimento+Água e a ser feito, pois nos Emirados Árabes foco na igualdade de gênero. A ideia foi preocupação com a biodiversidade, pois Unidos o gênero feminino não tem incentivar as pessoas de qualquer idade levou a Bacia Amazônica para a Expo voz ativa. A mulher não costuma e gênero a multiplicar essa conscienti- com a intenção de divulgar projetos de ter posição de destaque por ques- zação em seus territórios. Não há dú- melhorias na utilização dos recursos tões culturais. vida nenhuma de que a Cartier é uma naturais, proporcionando experiências empresa consciente e que abraçou com fantásticas aos visitantes. Chamou a atenção na Expo 2020 o seriedade a causa. Pavilhão das Mulheres, com a expo- O Pavilhão estava posicionado no sição ‘Novas Perspectivas’, uma con- Observei também a preocupação da Distrito da Sustentabilidade e foi possí- tribuição da empresa Cartier, com a Expo 2020 em relação ao Movimento vel entender que o Movimento Net Zero também estava presente, quando pude explorar o espaço e atentar para os de- talhes que mostravam essa preocupação até mesmo na construção e na monta- gem do Pavilhão. Não pude identificar o Movimen- to Raça é Prioridade na Expo 2020. Fiquei surpresa, pois é de funda- mental importância que as oportu- nidades sejam iguais para todas as pessoas, independentemente de et- nias e de grupos socialmente vulne- ráveis. As empresas precisam enten- der e agir de forma a diminuir essas desigualdades, que já contemplam um longo caminho na história. Aqui no Brasil já trabalhamos com essa conscientização e com a adesão de empresas engajadas na Ambição 2030. Isso nos mostra que estamos no cami- nho certo, mas é preciso muito ainda para atingirmos nossa meta. Por fim, fiquei feliz em poder par- ticipar da Expo 2020 e observar que somos muitos para trabalhar com a di- versidade de forma construtiva, a fim de encontrar um equilíbrio voltado para o bem comum das pessoas e do planeta. (*) Helen Pedroso é Diretora de Re- lações Institucionais da Rede Brasil do Pacto Global da ONU. 17

Colunista Christian Travassos FOTOS DE DIVULGAÇÃO DE VOLTA AO JOGO POR CHRISTIAN TRAVASSOS, seus epicentros. Em paralelo, inflação criatividade apesar das circunstân- COLUNISTA DE PLURALE, e desemprego mais altos passaram a cias. Ou instigada por estas. ECONOMISTA (PUC-RIO) E impactar consumidores e empresas, MESTRE EM CIÊNCIAS SOCIAIS num marasmo que coincidiu com a O Rio é a principal marca do Brasil, queda dos preços do petróleo no mer- já disse uma vez o publicitário Nizan A(CPDA/UFRRJ) cado internacional, com reflexos so- Guanaes. O mundo da tecnologia fez ressaca foi forte. “Mais bre a economia de cidades produtoras essa mesma descoberta. Não por aca- alto o coqueiro, maior é e o repasse de royalties. Em março de so, o Riocentro vai receber, em maio o tombo do coco.” Afi- 2020, veio a Covid-19. Deu ruim. de 2023, o maior evento global de nal, as expectativas ge- tecnologia, até então realizado anual- radas pela realização de Mas se o carioca é conhecido por mente em Lisboa. Pela primeira vez, o megaeventos internacionais ao longo sua capacidade de improviso, a Ci- Web Summit acontecerá na América da década de 2010 colocaram o Rio de dade Maravilha Mutante não pode- Latina, com expectativa de reunir 10 Janeiro na crista da onda. A despeito, ria refletir melhor outra qualidade. mil pessoas e empresas que estão “re- porém, do otimismo à época, deu-se, Plasmada na dança do rochedo com definindo a indústria de tecnologia”. na prática, uma sucessão de reveses ao o mar, na biodiversidade da Mata ansiado renascimento da cidade. Atlântica, entre a melodia da Bossa Em abril deste ano, a cidade foi sede Nova e a batida do funk, na misci- do Rio2C, “o maior encontro de criativi- Na esteira da Operação Lava-Jato, genação consentida por séculos de dade e inovação da América Latina”, de intempéries políticas e jurídicas váli- protagonismo político, econômico e acordo com os organizadores. Realizado das para o país tiveram no Rio um de cultural, a capital do Carnaval emana na Cidade das Artes, abrigou mais de 200 mesas de discussão e 1,6 mil palestras. 18 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

Iniciativas como as do Chapter da mit já transformou Portugal e tem digitais já não têm raízes e vínculos SingularityU Brazil e o Hacking Rio, da tudo para fazer o mesmo com o Rio profundos, ainda mais depois da pan- CEO Lindalia Junqueira, já chamavam – uma oportunidade única para que a demia. Podem voar para o Rio, encan- atenção na cidade. Mas a realização do cidade demonstre sua capacidade de tados por seu soft power, e não ir mais Rio Innovation Week, em janeiro de ser mais que um destino bonito para embora, conclui o economista. 2022, foi um ponto de inflexão. O even- turistas descolados interessados em to reuniu 200 expositores no Jockey praia e Carnaval. Ele participou do Luiz Mandarino, sócio da empresa Club Brasileiro, numa imersão em no- grupo de trabalho por trás do Porto- Sai do Papel, plataforma de empreen- vas tecnologias e tendências. Além da maravalley, área do Porto Maravilha dedorismo e inovação, e idealizador oportunidade de estabelecer contatos e que conta com isenção fiscal para em- do Energy Hub Ventures, de constru- parcerias, o público teve acesso a men- presas de tecnologia. ção e investimento em startups do torias e a 760 horas de conteúdo nos mercado de energia, concorda que diversos palcos montados. No balanço A seu ver, o incentivo fiscal é um os megaeventos são o primeiro pas- da organização, o potencial de negó- passo importante, mas, para ir além de so, “uma pedra no lago” – “dão um cios girou em torno de R$ 300 milhões. um projeto imobiliário, a cidade pre- impulso, mas, isolados, têm alcance cisa de uma “injeção de anabolizante”, limitado. É preciso encontrar formas Claudio Tangari, da Célula de Ino- só viabilizada pelo conhecimento. As de perenizar”. A receita de sucesso de vação do Senac RJ, acredita que o Rio universidades seriam as impulsiona- um “ecossistema de inovação” passa tenha os principais pré-requisitos de doras de um movimento capaz de tor- por i) conectar boas universidades, ii) que Lisboa dispunha na transforma- nar o Rio um “centro gravitacional” de apoio governamental, iii) atrair capi- ção gerada pelo Web Summit – sendo empresas e profissionais de tecnologia. tal de risco com interesse em investir Segurança Pública uma lacuna a ser Para isso, devem romper com a lógica aqui, iv) estimular empresas e v) em- preenchida. A cidade se beneficiou de “formar empregados para as em- preendedores a gerar negócios no lon- historicamente da “presença de gran- presas” e incorporar uma visão mais go prazo. des empresas estatais, como Petrob- ampla de negócio, como programas rás e Eletrobrás, o que serviu de mola transversais de empreendedorismo. O processo de desindustrialização propulsora à criação e ao mercado de por que passou o Rio ao longo de dé- softwares e processamento de dados.” Diálogo mais franco entre institu- cadas deu lugar ao protagonismo na tos de pesquisa e empreendedores e economia criativa, no turismo e no Infraestrutura e serviços de tele- maior segurança jurídica para quem setor de energia, pelo debate em torno comunicações para a Web 3.0 já esta- pretende investir e empreender for- da transição energética. Não à toa, a riam garantidos no horizonte, dado mam as bases de um ambiente propí- cidade passou a exercer liderança na “um conjunto de licitações realizadas”. cio à inovação. Como segunda econo- pauta da sustentabilidade, a começar O que se apresenta como fronteira é mia do país, o estado possui relativa- pela Eco-92, passando pela Rio+20, “a formação profissional, a oferta de mente poucas startups – e muitas que e, agora, pelo Rio 2030, plataforma de mão-de-obra capacitada” para ocupar aqui surgem saem em busca de praças soluções -criadas na “capital mundial os postos requeridos para – e gerados mais favoráveis. O Instituto de Mate- do meio ambiente”. com – a transição econômica, foco mática Pura e Aplicada – IMPA, por atual do Senac RJ, que participou das exemplo, agora oferece graduação em “Eventos como Copa do Mundo e negociações para a vinda do megae- tecnologia. Falta romper com algumas Olimpíadas ampliaram a visibilidade vento para o Rio. barreiras e fazer as pontes certas. do Rio para o mundo e geraram con- fiança em sua capacidade de entrega”, Para o economista Gabriel Pinto, Empresas e profissionais já que- acredita Mandarino, membro ainda especialista em inovação, o Web Sum- rem visitar o Rio. Os novos nômades do conselho de um projeto com o MIT (MIT REAP -Rio), que escolheu o Rio como primeira capital brasileira a receber uma “metodologia de ace- leração do empreendedorismo regio- nal” – presente em 52 países. “Temos a visão de transformar o Rio no Vale do Silício da energia e da sustentabili- dade”, conclui o executivo. Para Liliana Pinelli, da Impact Hub Rio, a cidade está voltando a ser vista como um polo de cultura e de inova- ção, por sua vocação em aliar criativi- dade e negócios de impacto social, em meio à valorização dos referenciais ODS e ESG: “o que existe por trás de 19

Colunista um emprego gerado, por exemplo, desenvolver novos negócios”. da em frente ao Morro Dona Marta, está passando a ser um conceito es- Anne-Catherine Wambersie, pre- onde os participantes contam com trutural nas empresas, não periférico.” computador, Wi-Fi, impressora e um A “mensuração de impacto” casa bem sidente do Projeto Hub Santa Marta, ambiente propício a mentorias indi- com o empreendedorismo que emer- vive esses desafios na prática. A inicia- viduais e reuniões. “Uma vez por mês ge nas comunidades cariocas, como tiva oferece treinamento e orientação acontece nosso Pizza-Hub, para criar um “veículo de transformação social”. a jovens adultos na comunidade do uma rede entre empreendedores”, de bairro de Botafogo, Zona Sul cario- forma a compartilhar desafios e solu- Uma das dificuldades seria conseguir ca. São selecionados para participar ções. Já na Clínica-Hub, “empreende- “colocar todo mundo para conversar”, moradores com algum negócio – em dores da turma em andamento ou que “pensar um projeto único” num tecido curso ou em mente -, “de preferência já deixaram o projeto podem acessar social onde o individualismo predomi- aqueles com potencial de gerar renda conteúdos ministrados por profissio- na historicamente – “os megaeventos e impacto social no entorno.” nais voluntários, focados na solução funcionam como vitrine, o que você faz de um problema específico do negó- entre os eventos é o que mantém.” Para Os primeiros 11 meses são de- cio”, explica Wambersie. Pinelli, a desigualdade social no Rio, dicados à formação voltada ao em- ao mesmo tempo que atrai iniciativas, preendedorismo, valorizado sob suas “Onde se trabalha junto, os resul- precisa ser considerada na construção diferentes dimensões sociais: “o res- tados são melhores. Mas são poucos de um ecossistema de inovação, “para ponsável por um centro esportivo, por os casos em que os atores trabalham não excluir os já excluídos. Não dá mais exemplo, tem condições de beneficiar juntos. Para isso, precisamos preparar para a educação não estar dentro.” dezenas de famílias ao atender crian- as pessoas lá na base.” É o que pensa ças da comunidade em suas turmas.” José Alberto Aranha, assessor de Ino- Luiz Coelho é consultor de ino- vação no Senac RJ. O carioca é hospi- vação em empresas, Setor Público e A sala de co-working do projeto taleiro para receber amigos e turistas, instituições de ensino. Ele lembra que, funciona na Igreja Metodista localiza- por exemplo, mas “não tão receptivo num ambiente de crise como o atual, para trabalhar junto”. Diante das no- com inflação e juros elevados, “mui- vas oportunidades em jogo, “como o tas empresas evitam colocar seu capi- Rio vai se posicionar?”, questiona. tal em risco” e o mercado financeiro passa a atrair ainda mais recursos em As cidades que conseguiram os me- comparação a novos empreendedores. lhores resultados em termos de am- biente de negócios e tecnologia preci- O especialista elenca algumas ini- saram ir além da inovação. Na opinião ciativas em curso no Rio, como in- do especialista, tão importante quanto centivos fiscais localizados, Desafios oferecer infraestrutura de ponta ou a startups promovidos pelo Centro de financiamento é incentivar um com- Operações Rio da Prefeitura, o pro- portamento social mais colaborati- grama Startup Rio, do Governo do vo, uma cultura amparada em mais Estado, e os laboratórios do Projeto “consciência, respeito e cooperação”. E Manancial, da Cedae. Mas alerta que, isso se faz na escola, no Ensino Fun- em geral, os incentivos não alcançam damental. “As cidades mais desenvol- quem mais precisa. “O carioca do vidas do mundo já têm 5G, mas avan- subúrbio é quem cria, o improviso a çaram também no comportamento.” gente vê na periferia” e “esse empreen- dedor raiz não tem acesso aos meios que empresas já consolidadas têm. O espaço da inovação no Rio, além de estreito e abaixo de seu potencial quando comparado ao de outras capi- tais brasileiras, é elitizado”, define. O consultor acredita que em torno de 90% dos empreendimentos popula- res cariocas não conseguirão se susten- tar por mais de dois anos. “O empreen- dedor não consegue conectar a solução dele a uma dor de mercado, não tem como montar um planejamento estra- tégico”, porque “não tem ferramenta, formação ou acesso a informações para 20 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

E S GSOCIAL Estudo de Caso ENVIRONMENTAL GOVERNANCE FOTOS DE DIVULGAÇÃO ESG:uma jornada sem volta POR SÔNIA ARARIPE, EDITORA sociedade civil estão, cada vez mais, Governança. E também artigos iné- cobrando resultados. ditos de nossos Colunistas – Chris- ODE PLURALE tian Travassos, Fábio Rocha e Helen que antes parecia Como costumamos dizer, nesta Pedroso - para ajudar na reflexão. apenas assunto para jornada, a História ainda está sendo os “iniciados”, agora escrita e praticada. Portanto, deixan- A seguir, trazemos relevantes es- parece ganhar corpo do de lado o que for segredo indus- tudos de casos da Anglo American; e alma: a migração trial, todas as práticas e experiências da Ball; do Bradesco; da Compa- para a economia de baixo carbono, podem – e devem – ser compartilha- nhia Brasileira de Alumínio – CBA; baseada no tripé ESG, é uma jorna- das. Plurale, sempre firme no propó- da Gerdau; do Instituto Claro; da da sem volta. Empresas, governos e sito de democratizar conhecimento e Neoenergia; da Prefeitura de Ita- entidades do Terceiro Setor se de- informação, criou há dois anos a se- guaí e do Sesc Pantanal. ram conta da urgência destas ações e ção ESG, no site e na revista. Nesta estão procurando fazer sua parte. O Edição trazemos o Especial Estudos Cada um com a sua realidade e o mercado financeiro, os acionistas e a de Casos ESG, não só com o viés seu recorte, mas todos, em comum, Ambiental, mas também Social e de com muito a ensinar. Boa leitura! Boa jornada! 21





Estudo de Caso E S GSOCIAL ENVIRONMENTAL GOVERNANCE DIÁLOGOS TRANSFORMADORES: JOVENS PARTICIPAM DE PROJETO DO INSTITUTO CLARO COM FOCO EM EDUCAÇÃO DE QUALIDADE E TRABALHO DIGNO FOTOS E ARTE DO INSTITUTO CLARO/ DIVULGAÇÃO J ovens protagonistas de 14 cente e Crescimento Econômico. Daniely Gomiero, diretora de Responsabilida- a 24 anos estão participan- O Diálogos Transformadores, de Social e Comunicação da Claro e do da 4ª edição do projeto vice-presidente de projetos do Instituto Claro. Diálogos Transformadores, nesta 4ª edição, contou com a ins- do Instituto Claro, respon- crição de centenas de jovens, re- novo hoje. É isso que queremos sável por articular as ações presentando as cinco regiões do estimular nestes jovens transfor- de responsabilidade social corpo- país. Do total de inscritos, 48% madores: que direcionem toda a rativa da Claro. O objetivo do pro- eram mulheres e 30% jovens ne- força de suas potências para um jeto é dar voz e protagonismo aos gros. Com avaliação baseada em futuro mais igualitário e justo para jovens, capacitando-os para serem critérios como motivação pessoal todos”, conclui Daniely Gomie- agentes de transformação social e engajamento com as temáticas ro, diretora de Responsabilidade em suas comunidades, debaten- relacionadas ao evento, foram sele- Social e Comunicação da Claro e do temas de alta relevância para cionados 40 estudantes, sendo que vice-presidente de projetos do Ins- a sociedade e que impactam dire- a participação feminina foi de 51% tituto Claro. tamente suas vidas. Nesta edição, entre os aprovados. um diferencial são os vídeos que Minidocumentários serão exibi- Live com o rapper Thaide - Em estão sendo produzidos, com um dos nos canais da Claro março deste ano, uma live marcou pouco de suas visões em relação aos temas abordados: “Educação Agora o projeto segue na fase de Qualidade” e “Trabalho Decente de produção e edição dos minido- e Crescimento Econômico”. cumentários. Ao todo, 40 jovens foram capacitados em produção Pela primeira vez o projeto foi audiovisual mobile, dos quais 10 dividido em três fases, que terão foram selecionados para fazer até como resultado uma série produ- 10 minidocumentários que farão zida pelos participantes, composta parte da série “E se...”. por até 10 minidocumentários, para exibição on-line e nos canais Claro “Os Diálogos Transformadores e Instituto Claro já a partir do mês nasceram com o objetivo de esti- de junho. Nesta edição serão discu- mular a participação do jovem bra- tidos dois dos 17 Objetivos de De- sileiro na pauta da transformação senvolvimento Sustentável (ODS), social. Em todas as edições, eles definidos pela ONU (Organização foram os protagonistas e ganha- das Nações Unidas) para a concre- ram um papel ampliado em 2022: tização da Agenda 2030: o ODS 4, Aprender, refletir, compreender que trata da Educação de Qualida- seu papel de protagonismo e ter a de, e o ODS 8, sobre Trabalho De- oportunidade de amplificar suas vozes para construir um mundo 24 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

Karim Elwasiaa, artista, participante da Edição 2019, que destaca o compartilhamento de ideias do Diálogos Transformadores. trajetória de sucesso de muitos dos jo- vens selecionados. Como Karim Elwa- siaa, artista, participante da Edição 2019, que destaca o compartilhamen- to de ideias do Diálogos Transforma- dores. “A experiência me trouxe para perto de questões sociais fundamen- tais como as dificuldades da educação brasileira e também foi incrível ver as discussões sendo compartilhadas nas redes sociais e na ONU.” Live transmitida pelo YouTube em março contou com a apresentação de Thaíde e muita música. Sobre o Instituto Claro A área de Responsabilidade So- o lançamento desta 4ª edição do Reconhecimento de quem já par- projeto Diálogos Transformadores, ticipou cial da Claro investe continuamente com a participação do rapper Thai- em ações relacionadas à Educação e de – que reforçou a importância do Nem mesmo a pandemia interferiu à Cidadania, por meio do Instituto diálogo entre jovens - e especialis- na continuidade do projeto. A última Claro, com o objetivo de atuar em tas no tema “Educação, Trabalho e versão presencial foi a do começo de frentes sociais que integram a tec- Crescimento Econômico.” O coor- 2020, em fevereiro, com a participação nologia e a informação como fonte denador do programa de Cidada- dos jovens protagonistas, moderado de desenvolvimento e de conheci- nia do UNICEF, Mário Volpi, des- pelo ator Lázaro Ramos. Naquele ano, mento. Desta forma, realiza e apoia tacou na live que “É preciso que as o tema foi segurança online e saúde projetos como o Campus Mobile, políticas públicas ganhem escala. mental. A cada rodada, o evento traz o Educonex@o e o Programa Du- E que empresas privadas também novos temas a serem debatidos pelos pla Escola, entre outros. O Instituto participem deste processo, como o jovens, com a ajuda de especialistas Claro é qualificado como Organiza- Instituto Claro tem feito.” e facilitadores. Plurale acompanha ção da Sociedade Civil de Interesse o projeto desde o seu lançamento e a Público (OSCIP) pelo Ministério da Justiça, e é reconhecido pelo Depar- tamento Global de Comunicação das Nações Unidas (DGC/ONU) como uma organização não governamental corporativa que promove os ideais e princípios sustentados pela Carta das Nações Unidas. Conheça outras rea- lizações no site do Instituto: https:// www.institutoclaro.org.br/ 25

Estudo de Caso E S GSOCIAL ENVIRONMENTAL GOVERNANCE FOTOS DE DIVULGAÇÃO Instituto Neoenergia e WWF-Brasil apoiam restauração de corais no Nordeste Diante do impacto das mudanças climáticas Documentário sobre o Projeto Coralizar mostra como é aos oceanos, as inicia- realizada a preservação de recifes tivas para preservar os recifes de corais na cos- ta brasileira tornam-se cada vez mais contrarmos soluções que melhorem as Rudã Fernandes, CEO da Biofábrica necessárias. Afinal, o país tem uma das condições ambientais dos recifes”, afir- de Corais, explica que a iniciativa está maiores riquezas do planeta em termos ma Renata Chagas, diretora do Instituto amparada em estudos científicos para de biodiversidade marinha. O Instituto Neoenergia. “Desde o início do projeto, aumentar a sobrevivência dos corais Neoenergia, em conjunto com o WW- em Porto de Galinhas (PE), em 2019, te- frente às mudanças climáticas. “Con- F-Brasil, criou o Projeto Coralizar, uma mos motivos para comemorar. Há corais tribuímos positivamente para tornar a ação pioneira que promove pesquisas e que dobraram de tamanho no prazo de transplantação de corais ou de manejo ações de educação ambiental na Área três a cinco meses, dependendo da espé- ativo dos ambientes dos recifes uma de Proteção Ambiental Costa dos Co- cie e do manejo realizado”, completa. agenda prioritária no país”, afirma. A rais (APACC), em Pernambuco, e na instituição é parceira do projeto ao lado Reserva Biológica do Atol das Rocas, no Para mostrar a importância da pre- do Instituto Nautilus, a Universidade servação desses seres aquáticos, classifi- Rio Grande do Norte. O resultado ve- cados como cnidários, o Instituto Neoe- Federal de Pernambuco (UFPE) e a rificado nessas duas importantes áreas nergia e o WWF-Brasil produziram Universidade Federal Rural de Pernam- ecológicas no Nordeste do Brasil revela um minidocumentário sobre o Projeto buco (UFRPE). que algumas espécies estão conseguin- Coralizar, disponível no canal do You- do sobreviver. tube do WWF-Brasil. São imagens que O documentário apresenta todas mostram como é feita a restauração de as etapas do processo de restauração. “O país possuiu uma das reservas bio- A fase inicial é a identificação e coleta lógicas mais ricas do mundo e a proteção corais em Porto de Galinhas, onde está de fragmentos de corais sedimentados da vida marinha é fundamental para en- localizada a sede do programa. no fundo marinho. Aqueles com mais 26 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

Mergulho no Atol das Rocas Entender como os corais de grandes profundidades resistem às mudanças climáticas também ajuda na recupera- ção daqueles que vivem em águas rasas, mais sensíveis à ação humana e a inter- ferências naturais. Esse trabalho está sendo conduzido por pesquisadores na Reserva Biológica do Atol das Rocas, unidade de conservação ambiental lo- calizada a cerca de 150 quilômetros de Fernando de Noronha, onde o Coralizar realizou expedição no ano passado. Na ocasião, foram mapeados 34 qui- lômetros de fundo marinho e desco- bertas espécies ainda não catalogadas pela literatura científica. As pesquisas podem identificar se a exportação de larvas dos recifes profundos para recifes rasos pode contribuir na preservação dos corais. chances de sobreviver são transfor- no que ocorre quando algas, que vivem Educação ambiental mados em “mudas”, e, em seguida, nos tecidos desses cnidários, perdem a O Instituto Neoenergia e o WWF- instalados em áreas de cultivo, chama- pigmentação e se desprendem. Os co- das de “berçários”. “A ideia é criar um rais deixam de ter fonte de alimentação -Brasil também lançaram um podcast ambiente favorável para a reprodução e, assim, morrem, provocando um dese- sobre o Projeto Coralizar com seis episó- das espécies pré-selecionadas com po- quilíbrio na biodiversidade local. dios disponíveis no Spotify e no Sound- tencial de crescimento até serem rein- cloud do WWF-Brasil. O conteúdo tem troduzidas nas colônias”, explica Paula Segundo o Coral Reef Watch, saté- o mesmo objetivo do minidocumentá- Gomes, professora do Departamento lite do National Oceanic and Atmos- rio: mostrar à sociedade a importância de Biologia da UFRPE. pheric Administration (NOAA) que dos corais para a manutenção da biodi- monitora os ecossistemas de recifes, o versidade marinha e da vida humana. O projeto conta com 12 “berçários” branqueamento de corais ocorrido em Sobre o Instituto Neoenergia instalados no mar de Porto de Galinhas. 2020 no litoral de Pernambuco foi o Cada um deles tem capacidade de com- maior dos últimos 35 anos. A situação O Instituto Neoenergia, braço de portar até 720 fragmentos. Os pesqui- torna-se ainda mais preocupante pelas atuação social da Neoenergia, desenvol- sadores do Coralizar dedicam atenção informações do Intergovernmental Pa- ve atividades que promovem a conexão especial a duas espécies muito peculia- nel on Climate Change (IPCC), divul- entre pessoas, fortalecimento das redes res: Mussismilia harttii e Millepora al- gadas em 2019: mesmo que o aumento da sociedade civil, redução da desigual- cicornis. A primeira só existe no Brasil, da temperatura do planeta seja limita- dade social e combate às mudanças está em extinção e sua presença contri- do a 1,5°, cerca de 90% destes animais climáticas. Seus projetos e programas bui para a conservação dos recifes. Já a podem desaparecer. estão distribuídos em cinco pilares de segunda apresenta crescimento rápido e atuação: Formação e Pesquisa, Biodi- facilidade de cultivo. João Feitosa, professor do Departa- versidade e Mudanças Climáticas, Arte Branqueamento de corais mento de Zoologia da UFPE, chama a e Cultura, Ação Social e Colaboração atenção para a importância do Coralizar Institucional. Consequência do aquecimento glo- diante desse cenário. “É uma iniciativa bal, a elevação da temperatura dos fundamental para evitar que os corais Por meio de parcerias com a socie- oceanos é uma realidade que impacta continuem ameaçados. Quanto maior dade civil, organizações do terceiro se- diretamente esses animais marinhos. O for o período de temperaturas elevadas tor, empresas privadas e poder público, branqueamento de corais é um fenôme- dos oceanos, mais rápido será o desapa- o Instituto encara o desafio de contri- recimento das colônias”. buir para o alcance das metas dos Ob- jetivos de Desenvolvimento Sustentá- vel (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), criando soluções para as questões ambientais, sociais e eco- nômicas do Brasil. 27

Estudo de Caso E S GSOCIAL ENVIRONMENTAL GOVERNANCE CBA: INVESTIMENTO CONTÍNUO PARA COMBATER AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS POR LEANDRO FARIA, GERENTE No processo de eletrólise, que re- derando toda a cadeia de produção de GERAL DE SUSTENTABILIDADE presenta aproximadamente 70% das alumínio primário, ou seja, da minera- DA COMPANHIA BRASILEIRA DE emissões na produção de alumínio ção até a fundição. No ano de 2021, o primário, a taxa é de 2,56 tCO2e (to- índice já foi reduzido em 25,4%. AALUMÍNIO (CBA) neladas de dióxido de carbono equiva- Companhia Brasileira lente) para cada tonelada de alumínio No que se refere a compromissos de Alumínio (CBA) líquido produzida, enquanto a média globais, a CBA é a primeira produtora avança em sua estra- mundial é de 12,8 toneladas de CO2e de alumínio primário no mundo a ter tégia ESG para gerar para cada tonelada de alumínio líqui- suas metas de redução de emissões de contribuições positivas do produzida, segundo o International carbono aprovadas pelo Science Based para a sociedade e para o meio am- Aluminium Institute (IAI). Targets- SBTi, provando que as proje- biente. Dentre as principais alavancas, ções estão fundamentadas pela ciência. está o combate às mudanças climáti- Mesmo sendo uma referência glo- A Companhia também acaba de ade- cas: a CBA tem uma das menores ta- bal na indústria do alumínio, a CBA rir ao Movimento Net Zero do Pacto xas de emissão de gases de efeito es- tem a meta de continuar reduzindo Global, um programa de aceleração tufa (GEE) da indústria do alumínio. suas emissões. A Companhia pretende que visa a desafiar e apoiar empresas reduzir em 40% a sua emissão, consi- integrantes do Pacto Global da ONU para que estabeleçam metas climáticas FOTOS DA CBA/ DIVULGAÇÃO ambiciosas, alinhadas à ciência, e que integrem o Objetivo de Desenvolvi- Legado Verdes do Cerrado, mento Sustentável 13 (Ação Climática) área preservada pela CBA em e os objetivos do Acordo de Paris em suas estratégias de negócio. Niquelândia – GO Além disso, a Companhia foi re- conhecida como uma das melhores empresas avaliadas no Programa de Mudanças Climáticas em 2020 e em 2021, na avaliação do Carbon Disclo- sure Project (CDP), recebendo nota A-, referente à categoria de Liderança do programa. O CDP é um dos princi- pais ratings de sustentabilidade mun- dial, em especial para avaliação da gestão climática, com foco em prover informações de qualidade para que

Fábrica da CBA em Alumínio, no interior de São Paulo. Área reabilitada após mineração na Zona da Mata, em Minas Gerais. investidores, empresas, cidades, esta- to estufa (GEE). A CBA foi a primeira AUTOR dos e regiões gerenciem seus impactos empresa brasileira a certificar etapas Leandro Faria, gerente geral de ambientais. de todo o processo produtivo em am- bos os Padrões da ASI e está entre os sustentabilidade da Companhia No que tange à indústria de alu- primeiros produtores de alumínio Brasileira de Alumínio (CBA). É for- mínio, a CBA também possui a cer- nas Américas a obter as duas certifi- mado em Engenharia de Alimentos tificação da Aluminium Stewardship cações ao mesmo tempo. pela Uni BH e pós-graduado em En- Initiative (ASI), nos Padrões de Per- genharia de Segurança do Trabalho formance e de Cadeia de Custódia A jornada da CBA pelo combate às pela FEAMIG, em Engenharia Eco- (CoC), em três unidades de minera- mudanças climáticas também inclui a nômica e Financeira pela CIESA e em ção de bauxita no estado de Minas reestruturação dos seus riscos climá- Responsabilidade Social Empresarial Gerais; em uma planta de laminação ticos, seguindo a metodologia da Task e Sustentabilidade pelo SENAC-SP. em Itapissuma; e em uma planta in- Force on Climate-related Financial Dis- Representa a CBA como Coordena- dustrial totalmente integrada – da closures (TCFD) e o mapeamento de dor do Comitê de Sustentabilidade alumina até o produto final – no medidas de controle, para aumentar da Associação Brasileira do Alumí- município de Alumínio (SP); em seu sua resiliência. nio, a ABAL. Participa, ainda, do Co- escritório corporativo em São Paulo mitê da Indústria de Baixo Carbono e também em todos os tipos de pro- A Companhia também desenvol- – CTIBC, junto ao governo Federal. dutos de seu portifólio. A unidade veu um estudo para avaliar os cami- E-mail: [email protected] Metalex de reciclagem de alumínio, nhos para neutralidade de carbono até localizada em Araçariguama (SP), 2050 e participa de fóruns que avaliam também possui a certificação ASI no boas práticas e metodologias pelo cli- Padrão de Performance. Este Padrão ma, tais como Acordo Ambiental de define princípios e critérios ambien- SP, CT Clima do CEBDS, Plataforma tais, sociais e de governança, com Ação pelo Clima do Pacto Global e foco na sustentabilidade, enquanto o Programa Benchmark Club do CDP. Padrão de Cadeia de Custódia avalia a rastreabilidade desse desempenho A CBA reconhece que, quando o em todas as etapas da cadeia de va- assunto é sustentabilidade, não há uma lor do alumínio produzido. No total, linha de chegada; e por isso está empe- a certificação avalia 59 critérios, entre nhada em subir a barra e comprometi- os quais questões-chave como biodi- da com seu papel de referência setorial, versidade e emissões de gases de efei- para que as mudanças propostas se es- tendam para toda a cadeia, mercado e sociedade em geral. 29

Estudo de Caso E S GSOCIAL ENVIRONMENTAL GOVERNANCE ITAGUAÍ: EM BUSCA DA SUSTENTABILIDADE PLENA DDE ITAGUAÍ (RJ) Próximo a completar 204 anos, Itaguaí, município que fica a 75 Km otada de uma área de 275 do centro da capital, tem se firmado como um importante player km², Itaguaí hoje é um municipal quando o assunto é Meio Ambiente município em grande crescimento econômi- FOTOS DA PREFEITURA DE ITAGUAÍ/ DIVULGAÇÃO co. Seu produto interno bruto é o primeiro maior de sua micror- Além das ações de fiscalização, o prefeito, Dr. Rubem Vieira, conhecido como Rubão, região e o 18º do estado. Parte disso se também investiu na oferta gratuita do curso de jardinagem “Plantando o Amanhã”, deve à ascensão do Porto de Itaguaí, já incentivando o reflorestamento da cidade e a geração de emprego e renda. que está totalmente inserido na Bacia da Baía de Sepetiba. des, entre elas o lançamento de efluentes gráfica e, consequentemente, perda de de minério de ferro e sanitário, de for- biodiversidade e desequilíbrio ecológi- O patrimônio ambiental da cidade ma indireta, no corpo receptor da Baía co. Assim, como todas as ações que rea- é considerável; a região hidrográfi- de Sepetiba - e contaminação do solo lizamos em Itaguaí, o objetivo principal ca compreende duas bacias, a do Rio com resíduo de minério aquoso. Nosso é a proteção do nosso meio ambiente”, Mazomba e a do Rio da Guarda; e o maior objetivo é a proteção ambiental, destaca a Secretária Shayene Barreto. município está inserido no Parque mas sempre pautada nas leis ambientais. Estadual Cunhambebe, que abrange A população só tem a ganhar”, explicou. Somente nesta ação foram lavrados parte do seu território.  Outro exemplo foi a Operação Ilha Le- oito autos de embargo de obras irregu- gal – Cuidando da Nossa Natureza, que lares e mais de 10 notificações para re- Apesar disso, foi somente em 2021 teve como objetivo o controle ambiental alização de adequações ambientais de que começou a seguir o conceito de das praias e das ilhas do município. construções já concluídas. cidade sustentável - quando, por ini- ciativa do atual prefeito, Dr. Rubem A operação, que foi idealizada pelo Economia Circular – O conceito Vieira, conhecido como Rubão, um setor de fiscalização ambiental da Secre- de Economia Circular associa desen- “choque” de gestão foi implementa- taria de Meio Ambiente e teve início na volvimento econômico a um melhor do, para diminuir e impedir a ocor- Praia do Boi, localizada na Ilha de Itacu- uso de recursos naturais, por meio de rência de ilícitos ambientais, como ruçá, contou com o apoio da Secretaria novos modelos de negócios e da otimi- desmatamento, obras irregulares, de Obras e Urbanismo. zação nos processos de fabricação com despejo de esgoto sem tratamento, menor dependência de matéria-prima uso indevido dos recursos naturais e “Todas estas ações irregulares origi- virgem, priorizando insumos mais du- movimentação de terras. nam o aumento da densidade demo- ráveis, recicláveis e renováveis. Desta Grandes empresas, responsáveis pelas maiores atividades econômicas da cida- de, como a Porto Sudeste e a CSN, pas- saram pela vistoria minuciosa da equipe técnica da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Planejamento, sempre pau- tada nas leis ambientais vigentes, como gosta de frisar o atual prefeito. “Temos no município empresas de minério de ferro e de carvão, entre ou- tras atividades sensíveis, que podem causar grande impacto ambiental; por isso, a necessidade de vigilância cons- tante. Infelizmente, com frequência, identificamos inúmeras inconformida- 30 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

forma, Itaguaí criou o Cadastro Técnico Grandes empresas, Meio Ambiente Municipal, um banco de dados de for- responsáveis pelas maiores de casa nova necedores para prestação de serviços na área ambiental. O objetivo é garantir atividades econômicas da A Secretaria Municipal de maior qualidade, agilidade e transparên- cidade, como a Porto Meio Ambiente e Planeja- cia no processo de escolha de empresas mento – SMMAP  está de casa que podem ser prestadoras de serviços Sudeste e a CSN, passaram nova. A atual sede, que será de poda, supressão, reflorestamento ou pela vistoria minuciosa da inaugurada em breve, é um es- outros serviços afins que sejam neces- paço independente, localizado sários, para que as empresas ou pessoas equipe técnica da Secretaria próximo à Prefeitura, e prome- físicas que tenham que cumprir medidas Municipal de Meio Ambien- te revolucionar a forma de tra- compensatórias possam contratar com te e Planejamento, liderada tar a questão ambiental no mu- mais facilidade. nicípio. A ideia é implementar pela Secretária Shayene diversos projetos, como uma Outra forma de fomentar a econo- Barreto, sempre pautada horta orgânica, em parceria mia local a partir do Meio Ambiente com a Secretaria Municipal de foi a oferta gratuita do curso de jardi- nas leis ambientais Agricultura, para treinamento nagem “Plantando o Amanhã”. A Pre- vigentes. de pessoas que tenham interes- feitura disponibilizou 60 vagas para se em agricultura familiar; uma pessoas interessadas na área de jardi- feitos, o documento prevê a colaboração área especial para capacitação nagem e também para profissionais do entre as secretarias municipais de Meio de servidores na área ambien- segmento que desejam aprender a de- Ambiente, com base no SISNAMA – tal; espaço para palestras e o senvolver técnicas básicas de implanta- Sistema Nacional do Meio Ambiente, primeiro Centro de Educação ção e manutenção de jardins. criado pela Lei Nº 6398/1981, que orien- Ambiental da cidade. ta a cooperação de órgãos ambientais. Conservação dos Mananciais – Para Outra novidade é que seu diminuir a poluição nos mananciais e Mas a cereja do bolo certamente, funcionamento será carbono recursos hídricos que passam pela cida- foi a confirmação pelo INEA, de que zero e à base de energia lim- de, a Prefeitura também lançou o Proje- o município passou a ter competên- pa, que é qualquer energia re- to Sanear Mazomba. O objetivo é dimi- cia para realizar licenciamento de alto novável gerada sem a emissão nuir a carga orgânica que chega nos rios, impacto. Além de Itaguaí, apenas a ci- de poluentes e com o mínimo cachoeiras, praias e córregos da cidade, dade do Rio de Janeiro, Macaé e Man- de prejuízo à natureza, como a através da instalação de biodigestores garatiba podem realizar este tipo de energia solar, por exemplo. A em casas sem esgotamento sanitário. licenciamento. iniciativa visionária do prefeito A iniciativa tem custo baixo, eficiência Rubão tem como objetivo mos- de até 86% e ainda ajuda a proteger os Para conseguir a nova habilitação, trar que é possível pensar na recursos naturais, preservando o meio a Secretaria Municipal de Meio Am- proteção de recursos naturais ambiente e garantindo mais qualidade biente precisou comprovar que tem e, ao mesmo tempo, incentivar de vida para a população. uma equipe técnica qualificada, além o desenvolvimento econômico de cumprir todos os outros requisitos da cidade, com tecnologia e in- Preparada para o futuro – Todo o do Conema nº 42/2012, uma resolu- fraestrutura.   trabalho que vem sendo feito na área ção do Conselho Estadual do Meio ambiental busca preparar a cidade para Ambiente do Rio de Janeiro que dá 31 enfrentar os desafios ambientais que autonomia aos municípios, descen- vêm se desenhando em um futuro mui- tralizando o licenciamento ambiental to próximo. As mudanças na gestão am- dos estados. biental comprovam isso. Em pouco mais de um ano, mui- A Prefeitura, na gestão do Prefeito tas mudanças já aconteceram, mas o Rubão, passou a contar com o licen- prefeito Rubão não pretende parar ciamento ambiental online – SISLON, por aí. Segundo ele, Sustentabilidade que tem como objetivo desburocratizar é a chave para o desenvolvimento e e agilizar o fluxo de licenciamento am- para um futuro melhor. “Hoje, quan- biental sem deixar de lado a avaliação do do penso em futuro, penso em sus- impacto ambiental. tentabilidade. Já vimos que é possível se desenvolver economicamente pre- Outra ação importante foi firmar par- servando nossos recursos naturais; ceria com municípios vizinhos, como essa é a linha que eu sigo, e as ações Mangaratiba, em prol do meio ambiente, que temos realizado são uma peque- por meio de um Termo de Cooperação na mostra disso. O objetivo é trazer Técnica. Assinado pelos respectivos pre- qualidade de vida para a população de modo que as futuras gerações te- nham orgulho da Itaguaí que estamos construindo”, finalizou o prefeito.

Estudo de Caso E S GSOCIAL ENVIRONMENTAL GOVERNANCE PALCO MUNDO DO ROCK IN RIO BRASIL 2022 TERÁ AÇO GERDAUcantora que mais ve- zes subiuaoPalcoMun- do na história do Rock in Rio Brasil, o furacão A baiano, Ivete Sangalo, apresentará no Palco Mundo no dia soluções de mobilidade e construção 11/9, no último dia da edição deste ano. dará palco para alguns dos maiores ar- tistas do mundo, levando esperança e A escolha da Gerdau, como o aço alegria para as milhares de pessoas que oficial do Rock in Rio e fornecedo- acompanham o festival. Essa parceria ra de aço para o Palco Mundo, levou foi a porta-voz de uma parceria inédita em conta aspectos de sustentabilidade com o Rock in Rio, que vai muito além na história do festival. Em evento na ci- e inovação. A Gerdau é a maior reci- do aço, unindo tecnologia e conheci- dade do Rio de Janeiro (RJ), na manhã cladora de sucata metálica da América mentos, reforça o processo de moder- do dia 6 de maio, a Gerdau e o Rock Latina, o que torna o aço da empresa nização e inovação pelo qual a Gerdau in Rio anunciaram detalhes do novo um produto com intensidade carbôni- tem passado”, afirma Gustavo Werne- Palco Mundo para a edição de 2022. A ca menor que a média do setor. Além ck, CEO da Gerdau. estrutura criada para a Cidade do Rock do aspecto ambiental, o processo de O aço é um material 100% reciclável, terá um visual mais imponente e ainda reciclagem inclui milhares de coopera- que pode ser reciclado infinitas vezes mais moderno com quase 200 tonela- tivas e pessoas em sua cadeia de gera- sem perder suas propriedades. A reci- das de aço, equivalentes a fabricação de ção de renda. Do ponto de vista de ino- clagem tem efeitos positivos na miti- 200 carros, que serão utilizadas na ce- vação, o aço da Gerdau é um produto gação das mudanças climáticas: poupa nografia de um dos maiores ícones do versátil, flexível e com características recursos naturais, reduz o consumo de evento. Com estrutura modular e com perfeitas para uma construção rápida, energia e a emissão de gases de efeito mais de 100 metros lineares de largura ágil, segura e com estética futurista. estufa. Atualmente, a Gerdau, que tem e uma altura proporcional a um edifí- A parceria com o festival vai ao en- 73% de sua produção oriunda da reci- cio de 10 andares, o palco será o maior contro da grande transformação que clagem de sucata metálica, possui uma do festival. Para que o público não per- a Gerdau vem passando nos últimos das menores médias de emissão de gases ca nenhum detalhe dos shows, o palco anos, buscando ser parte das soluções de efeito estufa, de 0,90 t de CO2e por terá 30 metros de altura e 104 metros aos dilemas e desafios da sociedade. tonelada de aço, o que representa apro- de largura — a maior estrutura já feita “Estamos muito orgulhosos de levar ximadamente a metade da média global desde a primeira edição, em 1985. o aço da Gerdau ao maior festival de de seu setor, de 1,89 t de CO2e por tone- Além de reunir jornalistas, influen- música e entretenimento do planeta. lada de aço, segundo os dados de 2020 ciadores e convidados, Ivete Sangalo O mesmo aço que gera milhares de divulgados pela World Steel Association esteve ao lado do diretor-presidente empregos, recicla mais de 11 milhões (worldsteel). Em 2031, as emissões de (CEO) da Gerdau, Gustavo Werneck, de toneladas de sucata e proporciona carbono da companhia vão diminuir da vice-presidente executiva do festival, para 0,83 t de CO2e por tonelada de aço. Roberta Medina, e do CEO do Rock FOTO DE DIVULGAÇÃO A empresa também assumiu a ambição in Rio, Luis Justo. A cantora baiana se de ser carbono neutro em 2050.

ANGLO AMERICAN FORNECE ESCÓRIA DE FERRONÍQUEL COMO INSUMO PARA BASE DE PAVIMENTO ASFÁLTICO EDE BELO HORIZONTE buscando novas alternativas para o iniciativa comprova o quanto estamos m uma parceria inovado- aproveitamento de resíduos gerados em atentos em inovar continuamente os ra e sustentável, a Anglo nosso processo produtivo\", afirma Tia- nossos processos\", diz. American e a Ecovias do go Alves, gerente corporativo de Meio Araguaia estão testando Ambiente da companhia. Ainda segun- De 2018 até agora, os investimen- a utilização de escória de do ele, a empresa seguirá investindo em tos institucionais da Anglo American ferroníquel nas obras de ampliação pesquisas, buscando sempre o seu pro- no estado de Goiás já somam mais de das rodovias BR-153/GO/TO, BR- pósito de reimaginar a mineração para R$ 14,7 milhões. Esses recursos foram 414/GO e BR-080/GO. No total, melhorar a vida das pessoas. investidos em áreas como revitalização mais de 10 mil toneladas do resíduo de nascentes no rio Araguaia, mobilida- serão utilizadas como insumo na De acordo com Sidney Filho, gerente de urbana, saneamento, desenvolvimen- estrutura do pavimento próximo ao de Engenharia da Ecovias do Araguaia, to da capacidade institucional, desenvol- município de Barro Alto, em Goiás. a busca por produtos como ferroníquel vimento da comunidade, educação e trei- Os trabalhos foram iniciados em fe- em substituição aos que normalmente namento, além de esporte, lazer, cultura, vereiro deste ano. são extraídos da natureza possibilita im- artes, turismo e patrimônio, ações volta- pactar positivamente o meio ambiente. das para a proteção do meio ambiente, Nos últimos anos, a Anglo Ameri- \"Além de priorizar a sustentabilidade, a saúde, bem-estar e segurança pública. can, em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), reali- FOTO DE DIVULGAÇÃO zou testes que comprovaram que o ma- terial, obtido em larga escala ao final do processo de produção do ferroníquel, não possui elementos nocivos ao meio ambiente e às pessoas. A iniciativa, implementada no âm- bito do Plano de Mineração Sustentável da companhia, reduz os impactos am- bientais e também dá aplicação à escória, diminuindo a área necessária para esto- cagem dos resíduos gerados nas plantas industriais da empresa em Goiás. Além disso, gera impactos positivos, proporcio- nando uma alternativa às soluções tradi- cionais com ganhos ambientais e incenti- vo à economia circular, onde os resíduos de uma indústria servem de matéria-pri- ma reciclada para outra indústria. A pavimentação da rodovia faz par- te de uma série de investimentos em infraestrutura viária que têm o apoio da Anglo American. \"Continuaremos 33

Estudo de Caso E S GSOCIAL ENVIRONMENTAL GOVERNANCE FOTO DE DIVULGAÇÃO CASE DE BRADESCO CONTRA O ASSÉDIO É RECONHECIDO PELA FAST COMPANY Campanha que tornou as respostas da BIA mais contundentes frente a agressões ganhou Emenção honrosa no World Changing Ideas Awards 2022 m 2021, o Bradesco mu- 600 menções honrosas, incluindo o mensagens de ofensas e assédio sexual e dou o modo como a BIA, case de Bradesco. moral. Ainda que não seja uma mulher inteligência artificial do real, esse cenário revela os desafios en- banco, respondia as cons- Vale lembrar que no Dia Internacio- frentados pelas mulheres diariamente. tantes agressões que so- nal da Mulher, a UNESCO (Organiza- Desta forma, em 2021 o banco anun- fria. A mudança mostrou de forma ção das Nações Unidas para a Educação, ciou apoio à iniciativa “Hey Update My contundente o posicionamento da a Ciência e a Cultura) em conjunto com Voice”, da UNESCO, ao atualizar as res- BIA contra o assédio e virou exem- o BID (Banco Interamericano de Desen- postas da assistente virtual a fim de re- plo para muitas mulheres. Após ser volvimento) e a OCDE (Organização definir e evoluir nas visões sobre gênero. reconhecida em estudo da UNESCO para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) lançou um relatório sobre Em conjunto com a Organização pelo movimento no combate ao as- os efeitos da Inteligência Artificial (IA) das Nações Unidas, lançou um pro- sédio de gênero, a ideia agora ganha na vida profissional das mulheres. No jeto pioneiro no Brasil de combate a destaque em premiação da tradicio- documento, o Bradesco figurou como situações de violência e preconceito nal publicação Fast Company. referência no uso responsável da BIA, de gênero. A comunicação, assina- sua Inteligência Artificial, no combate da pela Publicis, tinha o objetivo de Novas respostas da BIA contra o as- ao assédio de gênero, incentivando que conscientizar o público e colaborar sédio ganhou uma menção honrosa mulheres se unam para fazer o mesmo. para a construção de uma sociedade entre os vencedores do World Chan- Histórico mais igualitária, de respeito e melho- ging Ideas Awards 2022 (ou \"Prêmio ria das condições de vida e trabalho Para Ideias Que Mudam o Mundo\", Assim como outras Inteligências Ar- das mulheres. Os resultados refletem em tradução livre) da revista norte- tificiais que foram personificadas como a legitimidade desse esforço, foram -americana. Entre as quase 3000 ins- crições, a premiação reconheceu 39 femininas, a BIA foi alvo de assédio. Só mais de 1,5 milhão de cliques e 115 vencedores, 350 finalistas e mais de em 2020, ela recebeu mais de 90 mil milhões de pessoas alcançadas. 34 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

UMA DECLARAÇÃO DE AMOR AOS OCEANOS: PAINEL FEITO COM 1.400 LATAS DE ALUMÍNIO É INAUGURADO NO METRÔ SUMARÉ Ball antecipa comemorações do Dia Mundial dos Oceanos e declara amor e cuidado com Aos mares em parceria com a Unibes Cultural té o dia 9 de junho, um FOTO DE DIVULGAÇÃO painel de 11,3 metros, produzido com apro- mos cada vez mais o impacto das mu- ximadamente 1.400 danças climáticas e da poluição ma- latas de alumínio, vai rinha, despertando a urgência pelo declarar seu amor pelos oceanos na cuidado do ser humano em relação ao passagem da Unibes Cultural para o planeta, a arte se une à necessidade de metrô Sumaré, em São Paulo. A ação responsabilização pelo meio ambien- é realizada pela Ball Corporation, lí- te e traduz neste painel o amor cons- der mundial em embalagens susten- ciente pelos mares. A Unibes Cultural táveis de alumínio, em parceria com a trabalha com exposições que causam Unibes Cultural, e traz um retrato do contemplação, e temos orgulho de re- fundo do mar de Fernando de Noro- ceber o painel gigante da Ball que traz nha (PE) para a cidade, em uma re- a ideia tão clara de como o consumo produção em alta qualidade de uma pode se reverter em carinho com oce- das obras do fotógrafo Marcelo Krau- anos”, diz Bruno Assami, Diretor Exe- se, mundialmente reconhecido pelos cutivo da Unibes Cultural. registros subaquáticos. Oceanos, no dia 8 de junho. Todos os A foto retrata uma tartaruga-de- que visitarem o local poderão escane- O painel que convida os visitantes -pente em seu habitat natural, acom- ar um QR code posicionado junto à a refletirem sobre a relação do consu- panhada da frase “Nosso amor pelo obra e, então, navegar por uma pági- mo consciente e o amor pelos mares oceano é infinito”. A instalação é um na online com conteúdo ambiental e ficará exposto até 9 de junho. Todas as convite às pessoas para repensarem dados sobre o painel. embalagens utilizadas na instalação escolhas de consumo e buscarem al- “No Brasil, um dos países que é refe- serão recicladas. ternativas mais sustentáveis para a rência mundial em reciclagem de alu- preservação dos ecossistemas. Ser- mínio, esse nosso amor cultural pelas vindo como uma experiência susten- praias deve se tornar consciente. Nós tável, a obra é composta por latas de precisamos cuidar dos oceanos. Esse alumínio, embalagem que, no Brasil, painel é emblemático por ser monta- é amplamente consumida, com cer- do com latas de alumínio, que têm um ca de 33 bilhões de latas produzidas índice de reciclagem de quase 99% no anualmente, e reciclada de maneira país, e tem um ciclo de vida real e cir- abundante, com taxa de 98,7%. Em cular, sem desperdícios em aterros ou, parceria com o centro cultural loca- pior, no meio ambiente”, conta Estevão lizado na Oscar Freire, a Ball tam- Braga, diretor de Sustentabilidade da bém instalou um painel de 5 metros Ball para América do Sul. dentro do museu e está preparando “Uma das funções da arte é trazer uma surpresa para o Dia Mundial dos reflexão. Em um 2022 em que senti- 35

PANTANAL: E S GEspecial ESG - Estudo de Caso SOCIAL ENVIRONMENTAL GOVERNANCE EXPERIÊNCIA VIVA DE COMO PRATICAR O ESG Incêndio de 2020 deixou lições de como ampliar rede e unir esforços pela proteção do bioma. Sesc Pantanal atua no fortalecimento desta rede há 25 anos: avança em prevenção, pesquisas, faz ações de plantio com moradores e de proteção, envolvendo pesquisadores e população local FOTO DE GABRIELA SANT'ANA/ DO SESC PANTANAL/DIVULGAÇÃO POR SÔNIA ARARIPE, EDITORA As mudas de espécies nativas, plantadas e cuidadas por mulheres pantaneiras, estão DE PLURALE agora começando a ser plantadas. FOTOS DE ALINE LIRA, GABRIELA MATTHIAS, GABRIELA buir com o processo de recuperação do Serviços e Turismo no desenvolvimento SANT`ANA, GUSTAVO PEDRO, Pantanal. sustentável. É possível fazer um trabalho HENRIQUE SVERZUT, JEFERSON de conservação com crescimento econô- PRADO, JHENIFER HEINRICH E Entre as ações desenvolvidas estão as mico e transformação social, envolvendo pesquisas dos grandes felinos, o Manejo os diversos parceiros e a comunidade ATEREZINHA ARRUDA Integrado do Fogo (MIF), os viveiros de local.”, afirma o diretor-geral interino do s cenas do histórico in- mudas do Aquarela Pantanal, a coleta de Sesc, José Carlos Cirilo. cêndio do Pantanal, em ossadas para estudo de impacto sobre a 2020, dificilmente serão fauna e as causas de mortandade (fogo, Como um verdadeiro “laboratório esquecidas. De acordo fumaça, sede ou falta de alimentação), e vivo”, o Pantanal está voltando, aos pou- com levantamento do que também servem para compor o novo cos, a mostrar toda a sua força. E qual a Laboratório de Aplicações de Satélites acervo do Museu Nacional, importante conexão de tudo isso com a jornada ESG? Ambientais da Universidade Federal fonte para pesquisadores do mundo todo. A nova narrativa está sendo construída a do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ), ba- cada dia, com a interação dos principais seado em dados de satélites, 28% do “O presidente do Sistema CNC Sesc interlocutores desta cadeia, em prol do bioma foram atingidos naquela épo- Senac, José Roberto Tadros, tem uma que é protegido como Patrimônio Natu- ca. Hoje, dois anos depois da tragédia, grande preocupação com o desenvol- ral da Humanidade. a natureza mostra sua força na regene- vimento de ações ambientais, sociais e 25 anos de ações ração, ajudada pelo trabalho intenso de de governança corporativa. O Polo So- moradores, pesquisadores e agentes que cioambiental Sesc Pantanal é uma prova Atuando há 25 anos em Mato Gros- atuam na região, para que este momento disto. Criado na década de 1990 como so, o Polo Socioambiental Sesc Panta- histórico nunca mais volte a acontecer. um compromisso com a causa ambien- nal realiza diversas ações voltadas para tal, hoje se mostra um caso real de ESG. a educação ambiental, conservação da Se antes já havia sinais de que o bioma O Sesc Pantanal é uma experiência de natureza, turismo responsável, pesquisa precisava de ajuda para ser conservado, sucesso que mostra o interesse dos em- científica e desenvolvimento social nos depois do ocorrido ficou ainda mais evi- presários do setor de Comércio de Bens, dente que, apenas em rede, com todos os atores trabalhando juntos, em prol do bem comum, será possível garantir a so- brevivência do bioma. Desde que o incêndio consumiu cer- ca de 93% da área da gigantesca Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN Sesc Pantanal), o Sesc Pantanal em par- ceria com pesquisadores, instituições e comunidades do entorno, deram início a diversas frentes de trabalho para enten- der o impacto do fogo na área e contri- 36 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

FOTO DE TEREZINHA ARRUDA e distribuídas para moradores situados FOTO DE JEFERSON PRADO em áreas impactadas pelos incêndios às A viveirista Miriam margens do rio Cuiabá. De acordo com a municípios de Poconé e Barão de Mel- Amorim se orgulha da superintendente do Polo Socioambiental gaço, no bioma Pantanal, e em Rosário atividade. “Muito Sesc Pantanal, Christiane Caetano, esta é Oeste, no bioma Cerrado. orgulho de poder apenas a primeira etapa da iniciativa, que participar deste projeto tem grande potencial de desenvolvimento. Em Barão de Melgaço fica a RPPN pioneiro. Meus filhos Sesc Pantanal, a maior do Brasil, com poderão conviver com “É possível manter muitas pessoas 108 mil hectares, e que equivale a 1% do o Pantanal verdinho e numa rede produtiva, multiplicando a bioma. No município de Poconé, prin- forte como nós participação das famílias. O projeto só cipal destino turístico do Pantanal, estão conhecemos. Estamos está no começo e é um trabalho para o o Hotel Sesc Porto Cercado, às margens fazendo a nossa parte.” futuro, feito coletivamente. Hoje, somos do Rio Cuiabá, que recebe mais de 30 facilitadores do projeto e a comunidade é mil turistas ao ano; o Parque Sesc Baía Viveiristas ajudam na recuperação a grande protagonista da sua própria tra- das Pedras, com 4.500 hectares; e o Sesc do Pantanal jetória”, diz a superintendente. Poconé, com oferta de cultura, lazer e ações sociais, além da Escola Sesc Pan- A força da natureza levará décadas Miriam Maria da Rosa Amorim, 31 tanal, com cerca de 600 alunos. para reestabelecer o Pantanal como é anos, mãe de um casal de filhos (menino conhecido; e esta missão conta com um de 11 e menina de oito anos), moradora Em Rosário Oeste, região turística importante aliado: o projeto Aquarela da área rural de São Pedro de Joselândia de Nobres, localizada no Cerrado, está Pantanal. (MT), região de confluência da RPPN o Parque Sesc Serra Azul. Com mais Sesc Pantanal, é uma das viveiristas en- de 5 mil hectares, o local de aventura A iniciativa de recuperação de áreas gajadas com o plantio e cuidado com as tem a importante missão de conser- úmidas do bioma uniu pesquisadores, mudas. var as nascentes do Rio Cuiabá, que instituições e pantaneiros para desen- deságuam no Pantanal, e acaba de dar volver um modelo próprio, um negócio “A gente é da região, conhece muitas início ao processo de criação da RPPN social, que contempla os três pilares da plantas pelos nomes populares, mas fo- Sesc Serra Azul, uma decisão definitiva sustentabilidade: social, ambiental e eco- mos treinados por especialistas a ter co- pela conservação do bioma. nômico. nhecimento dos nomes científicos e das técnicas”, conta à Plurale, por videoconfe- As unidades trabalham integradas e Com viveiros de mudas e rede de se- rência. Engajada na causa, Miriam reforça se complementam, cumprindo a mis- mentes, o Aquarela Pantanal acontece que aceitou o convite não só pelo retor- são da instituição, de ser reconhecida por meio das mãos de comunidades tra- no financeiro. “Muito orgulho de poder como a principal referência em conser- dicionais pantaneiras, que contribuem participar deste projeto pioneiro. Meus vação da natureza, por meio de ações para a recuperação do lugar onde vivem filhos poderão conviver com o Pantanal socioambientais inovadoras e transfor- e, ainda, são beneficiadas com o desen- verdinho e forte como nós conhecemos. madoras para todas as pessoas. O de- volvimento de negócios sustentáveis. Estamos fazendo a nossa parte”, destaca senvolvimento sustentável é a essência Miriam. deste trabalho. Assim, um grupo de 10 pessoas, das comunidades de São Pedro de Joselândia Outra viveirista é Natalice da Costa, 38 (município de Barão de Melgaço) e Ca- anos, da Comunidade Capão do Angico, pão do Angico (município de Poconé) área rural do município de Poconé. Ela é recebem bolsa-auxílio para dar vida aos mãe de cinco filhos, o mais velho especial viveiros. Elas receberam treinamento e e o mais novo com um ano. Natalice conta todo o suporte técnico para desempenhar que a bolsa-auxílio está ajudando com o a missão de produzir milhares de mudas, sustento da casa. Mas também destaca que que podem ser adquiridas por pessoas, sente orgulho de fazer parte desta história. empresas, instituições e fazendas. “Estou toda hora aprendendo muito, A primeira aquisição de 40 mil mudas, até a fazer biofertilizante natural. As mu- feita pelo próprio projeto, foi destinada das já cresceram e os técnicos estão vindo à recuperação da RPPN Sesc Pantanal pegar para plantar. Pensar que terá o nos- so trabalho e amor em tudo isso é muito emocionante”, relata. O viveiro fica a cer- ca de dois quilômetros de casa de Natali- ce e, dependendo do tempo, vai a pé ou de bicicleta. “As mudas são meus novos filhos”, brinca. O Aquarela Pantanal é uma realização do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, Mulheres em Ação no Pantanal (Mupan), 37

Especial ESG - Estudo de Caso E S GSOCIAL ENVIRONMENTAL GOVERNANCE FOTO: SESC José Carlos Cirilo, A viveirista Natalice da Diretor Geral interino Costa (em pé) trabalha com do SESC outras mulheres no projeto O Sesc Pantanal é uma experiência de sucesso “Aquarela Pantanal” que mostra o interesse dos empresários do Wetlands International, Centro de Pes- setor de Comércio de quisa do Pantanal (CPP), Instituto Na- Bens, Serviços e cional de Ciência e Tecnologia de Áreas Turismo no desenvolvi- Úmidas (INAU), com financiamento do mento sustentável. É Fundo Global para o Meio Ambiente possível fazer um trabalho de (GEF), por meio do Projeto Estratégias conservação com crescimento de Conservação, Recuperação e Manejo econômico e transformação para a Biodiversidade da Caatinga, Pam- social, envolvendo os diversos pa e Pantanal (GEF Terrestre). É coorde- parceiros e a comunidade local.” nado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), com duas agências: o Banco FOTO DE JHENIFER HEINRICH/SESC PANTANAL/ DIVULGAÇÃO Interamericano de Desenvolvimento (BID), como implementador, e o Fundo Brasileiro de Biodiversidade (FUNBIO) como executor, além de contemplar o tra- balho realizado pelo Programa Corredor Azul, da Wetlands International, com o financiamento da DOB Ecology. Christiane Caetano, superintendente do Sesc Pantanal Treinamento para prevenção aos “Por muito tempo acreditou-se que o Pantanal, pelo seu caráter regenerativo, sempre incêndios renasceria e estaria garantido, independente do que acontecesse. Não é bem assim. O incêndio deixou muitas lições para todos. Precisamos avançar nas ações em rede para Dentre as muitas lições que o incêndio proteger o nosso Pantanal.” deixou, uma delas foi a de que era preci- so ampliar a rede de treinamento e unir não só as instituições, mas também as comunidades locais, durante o ano todo, principalmente no ciclo da seca no Pan- tanal, de junho a setembro, considerado um período de alerta para os incêndios florestais. Para controlar os pequenos focos de incêndios, com potencial para tomar proporções como a de 2020, outro pro- jeto saiu do papel neste ano: a Rede de Agentes Voluntários Contra Incêndios no Pantanal. Com o objetivo de capacitar e equipar pantaneiros para o primeiro combate, foi realizada pelo Polo Socioambiental Sesc Pantanal e pela Fundação Pró-Na- tureza (Funatura), com apoio do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso e da SOS Pantanal, no mês de maio, em Poconé (MT), a formação que permiti- rá a rápida resposta aos pequenos focos. Para isso, os participantes receberam kits 38 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

FOTO DE ALINE LIRA Pesquisas em desenvolvimento de Equipamentos de Proteção Individual As pesquisas científicas fazem dos, na África e na Austrália. (EPI), contendo luva, balaclava, óculos, parte da trajetória do Sesc Pantanal, Ao todo, foram realizadas três fases, bota, perneira, bomba costal e abafado- que já realizou mais de 70 estudos res. Ao todo foram capacitados 60 mora- nacionais e internacionais sobre o com aplicação de uma das técnicas do dores no entorno da RPPN Sesc Pantanal. bioma. Nos últimos anos, o trabalho MIF, a queima controlada, em áreas de desenvolvido por pesquisadores, de um hectare cada. A partir delas, será fei- Entre os temas abordados na forma- diversas instituições, aliado aos sabe- ta a análise do comportamento do fogo ção estão: período proibitivo, triângulo res tradicionais locais, ganhou ainda em três diferentes momentos: em julho do fogo, métodos de extinção, triângu- mais força. (período que antecede a seca), em se- lo do incêndio florestal, propagação do tembro (período da seca) e em outubro fogo, métodos de combate, etapas do Conheça alguns dos mais impor- (fim da seca). Uma das áreas não será combate, segurança na área de incêndios tantes: queimada, para servir de comparativo. florestais, instruções sobre vento, fumaça, Manejo integrado do fogo na frente de fogo, rota de escape e zona de RPPN Sesc Pantanal De acordo com Christian Berlinck, segurança. Durante todas as instruções biólogo e analista ambiental do Insti- os voluntários puderam conhecer, ainda, A pesquisa para implantação do tuto Chico Mendes de Conservação da o uso de equipamentos para combate, Manejo Integrado do Fogo (MIF) no Biodiversidade (ICMBio), coordenador como mochilas costais, pás, enxadas, ma- Pantanal concluiu, em 2021, todas as geral do projeto, o que está sendo ava- chados e foices. etapas do trabalho - rodas de con- liado nessas comparações é a sequência versa, queima controlada e coleta de de retorno das funções ecológicas para “Nenhum incêndio florestal começa amostras - na RPPN Sesc Pantanal, a recuperação dessas áreas. “A pesqui- grande; sempre existe a primeira fagulha, única área de experimento em Mato sa envolve cinco frentes de trabalho: que pode ser extinta pelos moradores Grosso. Em Mato Grosso do Sul, Co- fauna, flora, solo, cinzas e o DNA am- pantaneiros”, ponderou o coordenador rumbá e a Terra Indígena Kadiwéu, biental. A finalidade é avaliar o efeito de projetos da Funatura, César Victor do foram as áreas definidas, com o obje- da queima controlada nas áreas. Para Espírito Santo. “Combater as chamas en- tivo de elaborar protocolos para im- isso, os pesquisadores foram a campo quanto o fogo ainda está pequeno pode plantação do MIF como prevenção em cada fase, para coletar materiais an- evitar que o incêndio se torne incontro- de grandes incêndios no bioma. tes e depois da queima das parcelas. Os lável. Por isso, o papel dos voluntários é dados serão comparados e a previsão é muito importante, pois, na maioria das O projeto piloto é inédito no Pan- que os primeiros resultados da pesquisa vezes, são eles que chegam primeiro ao tanal e foi realizado por meio de uma sejam conhecidos neste ano”, explica. local de combate”, disse. parceria entre 17 instituições. As três áreas foram escolhidas, consideran- Fazem parte do projeto de implan- A superintendente do Polo Socioam- do a prevalência da flora nativa e tação do MIF no Pantanal o Ministé- biental Sesc Pantanal, Christiane Caeta- os diferentes níveis de inundação: rio da Ciência, Tecnologia e Inovações, no, reiterou que a principal estratégia de Corumbá (MS), com maior nível Ibama/Prevfogo, ICMBio/Centro de prevenção aos incêndios é a união. “Por de inundação; RPPN Sesc Pantanal Educação Profissional, INPE, Centro muito tempo acreditou-se que o Panta- (MT), com inundação intermediá- Nacional de Monitoramento e Aler- nal, pelo seu caráter regenerativo, sempre ria; e Terra Indígena Kadiwéu (MS), tas de Desastres Naturais (Cemaden), renasceria e estaria garantido, indepen- com o menor nível de inundação. O Polo Socioambiental Sesc Pantanal, dente do que acontecesse. Como pode ser uso do fogo como aliado a incêndios Embrapa Pantanal, Mulheres em Ação visto, há um limite para isso. Após dois florestais já é praticado em todos os no Pantanal, (Mupan)/GEF Terres- anos de seca prolongada, vemos muitas outros biomas no Brasil e em unida- tre, Smithsonian Institution, UFMG, áreas verdes que inundaram e isso dá a des de conservação dos Estados Uni- UFRN, UFRJ, UnB, USP, UERJ e impressão equivocada de que está tudo UFRGS. bem. O incêndio deixou muitas lições para todos. Precisamos avançar nas ações FOTO DE GABRIELA SANT’ANA/ SESC PANTANAL/ DIVULGAÇÃO em rede para proteger a riqueza desse lu- gar”, destaca. 39

Especial ESG - Estudo de Caso E S GSOCIAL ENVIRONMENTAL GOVERNANCE Pesquisa com grandes felinos neira mais detalhada, como são as to- FOTO DE HENRIQUE SVERZUT Também no Pantanal, a pesquisa madas de decisões no uso do espaço, a permanência nos locais e o motivo das Azul, onde foram definidas quatro par- com grandes felinos capturou a pri- mudanças feitas com mais frequência, celas de tratamento: uma com a presen- meira onça-pintada na RPPN Sesc por exemplo”, explica. Em 25 anos de ça do gado bovino, outra apenas com Pantanal, em março deste ano, para existência, já foram registradas mais de tratamento químico com glifosato, uma monitoramento com colar de GPS por 15 espécies em extinção na área de 108 parcela com ambos e outra sem nenhu- aproximadamente um ano. O estudo do mil hectares. ma intervenção. As áreas foram estabe- maior felino das Américas, ameaçado lecidas com dois modelos de vegetação de extinção, é importante para a con- A pesquisa do animal, que ocupa o invasora: uma pastagem de capim-bra- servação da espécie e funciona como topo da cadeia alimentar, é realizada quiária e outra de capim-andropogon. um “guarda-chuva”, ao contemplar todo pelo Polo Socioambiental Sesc Panta- O experimento foi implantado em 2015 o ecossistema com informações de di- nal, em parceria com o Museu Nacio- e analisado após cinco anos de monito- versas espécies e paisagens. nal e a colaboração das seguintes insti- ramento. tuições: Instituto Reprocon e o Grupo O animal capturado na reserva tem de Estudo em Vida Silvestre (GEVS), O pesquisador Henrique Sverzut idade em torno de seis anos e 103 kg formado por integrantes da Fundação analisou o efeito da presença do gado de peso. O nome escolhido pelos guar- Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade bovino no estudo realizado em seu da-parques e auxiliares de parque da Federal do Rio Grande do Sul (UFR- mestrado pela Escola Superior de Agri- RPPN Sesc Pantanal foi Niti Cáre, que GS), Universidade do Estado do Rio de cultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, significa “menino bonito” em macro-jê, Janeiro (UERJ) e Universidade de Avei- em Piracicaba. Os resultados mostram tronco linguístico dos Bororos e Gua- ro (Portugal). que o animal pode atuar como uma tos, presentes na região. O macho esta- Técnica de semeadura direta no “biorroçadeira seletiva”, isto é, assim va em ótimo estado físico e passou por Cerrado como a roçadeira, ele apara a cobertura exames para checagem do estado de vegetal, mas seleciona apenas as gramí- saúde, identificação de parasitas, vírus e Do Pantanal para o Cerrado, outro neas invasoras, o que permite o desen- bactérias, coleta de material reproduti- trabalho envolvendo a regeneração volvimento das nativas.  vo e genético. acontece no Parque Sesc Serra Azul: a semeadura direta. Bastante difundida “Esta pesquisa abre novos horizontes Para esta etapa da pesquisa foram em outros países, a técnica na qual se- sobre a restauração de Reservas Legais escolhidos locais onde há presença re- mentes, e não mudas, são plantadas di- no Cerrado, pois demonstra a viabilida- corrente de onça-pintada, indicada pe- retamente na área a ser recuperada, tem de financeira e ecológica de se utilizar las câmeras trap instaladas há 12 meses. ganhado cada vez mais espaço, princi- o manejo do gado como ferramenta de A previsão é que, no total, cinco onças- palmente em Mato Grosso. Chamado recuperação de ecossistemas savânicos”, -pintadas recebam os colares. A próxi- de “muvuca”, o mix de sementes nativas afirma Pedro Henrique Brancalion, do- ma fase está prevista para acontecer em é lançado ao solo e faz crescer florestas cente e orientador da pesquisa. julho deste ano. semelhantes à vegetação original, nas áreas que precisam de proteção. Andrade adverte que o trabalho re- De acordo com o pesquisador do Biorroçadeira seletiva aumenta flete apenas a realidade do Cerrado e Museu Nacional e coordenador do biodiversidade e ajuda a prevenir não pode ser extrapolada a outros bio- Grupo de Estudo em Vida Silvestre incêndios no Cerrado mas. Outro ponto é que a pesquisa não (GEVS), Luiz Flamarion, o objetivo da pode ser usada como justificativa para pesquisa é identificar a quantidade e o O Parque Sesc Serra Azul também é se manter o gado em qualquer espaço comportamento das onças existentes área da pesquisa que analisou o efeito e sem controle. Aliás, bem ao contrário; na região. “Com o colar, será avaliado da presença do gado bovino para o con- a presença descontrolada e demasiada o movimento dos indivíduos de ma- trole das gramíneas, no Cerrado. Com o dos animais pode trazer mais prejuízos, objetivo de recuperar a biodiversidade como a erosão do solo, disse o pesqui- FOTO DE GABRIELA MATTHIAS/ SESC PANTANAL/ DIVULGAÇÃO do bioma, considerando a viabilidade sador em entrevista ao Jornal da USP. ecológica e financeira, o estudo, aplica- do de maneira controlada, mostra que o animal pode atuar como uma “bior- roçadeira seletiva”, contribuindo, ainda, para prevenir incêndios no bioma. O experimento foi baseado em uma área controlada no Parque Sesc Serra

Novela impulsiona turismo no Pantanal A demanda reprimida da pande- superar os 470 degraus, parte deles so no caminho da conservação: a mia e a novela “Pantanal” ajudaram numa subida íngreme. A tirolesa criação da Reserva Particular do a impulsionar o turismo local - es- tem 700 metros e facilita a descida Patrimônio Natural, a RPPN Sesc pecialmente o turismo responsável após a cachoeira. O parque oferece Serra Azul, com 850 hectares, no em lugares únicos, como o Panta- ainda arvorismo, cicloturismo, caia- próprio parque. A área é estratégica nal. “O perfil do nosso visitante se que e passeio de 4x4. por estar às margens das nascentes ampliou. Temos relatos incríveis de O Cerrado é considerado a “cai- que deságuam no Pantanal, o que turistas dizendo que levaram para xa d’água” do Brasil, por abrigar as amplia o trabalho de conservação casa experiências inesquecíveis”, nascentes de importantes rios bra- feito no bioma. conta Christiane Caetano, superin- sileiros, que abastecem um total de A vegetação da futura RPPN re- tendente do Polo Socioambiental oito bacias hidrográficas. É o segun- úne um mosaico de paisagens que Sesc Pantanal. do maior bioma do país, e uma das formam o Cerrado, com áreas mais O tradicional Hotel Sesc Porto regiões de maior biodiversidade do baixas e úmidas e também mais al- Cercado, localizado às margens do mundo, com 6 mil espécies de árvo- tas e secas. Quanto à fauna, há re- Rio Cuiabá, entre os municípios de res e 800 espécies de aves. gistros fotográficos de diversos ani- Poconé e Barão de Melgaço (MT), A presença da onça-pintada na mais, dois deles presentes na lista tem atraído cada vez mais visitantes terra e do gavião-real no ar do Par- de extinção: o cervo-do-pantanal e interessados em curtir natureza em que Sesc Serra Azul são os principais o cachorro-vinagre. Este último já um lugar com toda a infraestrutu- indicadores da importância da área foi visto em bando com até cinco ra. Além da oferta hoteleira e desta para a conservação da biodiversida- indivíduos. conexão com a natureza, o hóspede de no Cerrado mato-grossense. Des- “Após 25 anos de criação da também pode contar com momen- de a criação do parque, há 10 anos, RPPN no Pantanal, damos esse novo tos de bem-estar, por meio de diver- 15 espécies ameaçadas já foram re- passo no Cerrado. A área é de gran- sos serviços oferecidos pelo spa. gistradas na área. de importância, pois é onde estão as A regravação do clássico “Panta- Este ano, o Polo Socioambiental nascentes do Rio Cuiabá, que abas- nal” também atrai as atenções, embora Sesc Pantanal deu mais um pas- tecem o Pantanal. Com essa nova a novela se passe na região sul RPPN, o Sesc passará a ter cin- do bioma. Paisagens e biodi- FOTO DE GUSTAVO PEDRO/ SESC PANTANAL co áreas protegidas em todo o versidade exuberantes sempre Brasil, sendo esta a primeira despertam a curiosidade de Cachoeira do Parque no Cerrado. O título de RPPN possíveis novos hóspedes. é vitalício e, portanto, um mar- Sesc Serra Azul (MT), co, que demonstra o esforço e o Nova RPPN Serra Azul na Região de Nobres no Cerrado - Os dois biomas investimento do Sesc para cui- – Pantanal e Cerrado – es- dar de áreas naturais no Brasil”, tão intimamente ligados. E, ressaltou o diretor-geral interi- além das ações no Pantanal, no do Departamento Nacional o Sesc também administra, do Sesc, José Carlos Cirilo. na região de Rosário Oeste, o Quando homologado, o lo- Parque Sesc Serra Azul, que cal, que já é habitat de animais fica a cerca de cinco horas de em extinção, avistados com câ- distância do Hotel Sesc Por- mera trap, e tem dois sítios ar- to Cercado. Com mais de 5 queológicos em cavernas, será mil hectares, o parque está aberto para o desenvolvimento voltado para o turismo de de novas pesquisas científicas e atividades na natureza, com atividades de turismo. a famosa Cachoeira Serra Baseadas no tripé do ESG, Azul, uma queda de 50 me- todas as ações do Polo So- tros rodeada de paredões de cioambiental Sesc Pantanal arenito, que formam o lago o consolidam como um dos cristalino para flutuação. maiores projetos de conserva- Para chegar até lá é preciso ção do Brasil. 41

Cultura POR NÍCIA RIBAS, DE PLURALE FOTOS DE ANDRÉ LARA (ARQUIVO PESSOAL), MAÍRA MOTTA (DOCUMENTÁRIO AGONIZA, MAS NÃO MORRE) E MLETÍCIA RONDON erece destaque, nesse período pós Carnaval, a pri- meira mulher a assinar um sam- ba-enredo e a integrar a ala de com- positores de uma escola de samba: a Império Serrano, campeã da Sé- rie Ouro, que volta ano que vem ao Grupo Especial. Até parece um presente pelo centenário da Grande Dama do Samba, Dona Ivone Lara, comemorado dia 13 de abril último. Menina pobre, órfã de mãe aos 10 anos, foi criada pelo tio Dioní- sio, um chorão, numa casa alegre, onde se realizavam saraus com a presença de músicos amigos do chorinho, como Pixinguinha. No Internato Orsina da Fonseca, fez seus primeiros estudos; e quando terminou o ginásio, com 17 anos, fez concurso para enfermeira e passou num dos 10 primeiros lu- gares, o que lhe garantiu uma aju- da de custo de 60 mil réis.

Mais tarde fez uma prova para FOTOS DE ARQUIVO PESSOAL O neto André Lara é o Ministério da Saúde e conseguiu músico e compositor: leva uma vaga de enfermeira na Colô- adiante o legado da avó. nia Juliano Moreira, que atendia doentes mentais, onde trabalhou 43 durante oito anos. Fez parte da equipe da conhecida médica Nise da Silveira - participou, como en- fermeira, da reforma psiquiátrica no Brasil. Incansável e determi- nada, ainda fez o curso de Serviço Social e trabalhou como assistente social por mais 30 anos. “Depois, aposentei e fui cantar samba!”, disse, num programa do Canal Brasil. Era o que sempre gostou de fazer, desde os tempos em que o tio Dionísio queria que ela só cantasse chorinho e ela in- sistia no samba, compondo, to- cando cavaquinho, cantando e dançando. Precursora Dona Ivone Lara foi precursora dos atuais movimentos das mu- lheres negras, que lutam por seu lugar de fala na sociedade. Nem a cor, nem o gênero e nem a pobreza impediram a explosão de inteli- gência, sensibilidade e talento da menina que aos 12 anos compôs Tiê, seu primeiro samba - assina- do por um homem, o primo An- tônio dos Santos, cujo apelido era Fuleiro, para facilitar a entrada no mundo da música. Como aluna da mulher de Villa- -Lobos, Lucília Guimarães, Dona Ivone teve acesso ao canto or- feônico e à rádio - e passou a se apresentar em programas de audi- tório. Seu neto, André Lara, músi- co e professor de educação física, acompanhava a avó, tocando cava- quinho e cantando. Hoje ele conti- nua no mundo do samba e se apre- senta em festas e shows por todo o país. Sua lembrança da avó é de ternura e saudade: “Ela era muito generosa, ajudava todo mundo.” Em seus shows, as composições que mais arrancam aplausos são as dela, como Sonho meu, Acreditar e Alguém me avisou.

Cultura FOTO DE LETÍCIA RONDON O roteirista audiovisual Gabriel cantarolar “agoniza, mas não morre..”, O roteirista audiovi- Meyohas, que conviveu com dona E se emocionou. Era como se o povo sual Gabriel Ivone quando fez o documentário todo erguesse a taça e uma escola Meyohas fez Agoniza mas não morre, também se de samba desfilasse na frente de lembra dela com muito carinho. E fez quem estava ali. E eu senti que estava documentário questão de falar à Plurale, descrevendo vivendo um momento que para “Agoniza, mas não seu encontro com ela: sempre ficaria marcado em minha morre” com equipe vida. O dia em que encontrei Dona sobre a “dama do “Estava sentada numa cadeira de Ivone Lara, rainha máxima da nossa ferro adornada, almofada rosa como gente, e ela cantarolou, com seu laraiá samba” e guarda o vestido florido que usava. Detalhes lindas recordações. em branco no vestido, bastante brilho. No pescoço, dois colares de pérolas. inconfundível, que nos transporta Era uma presença que era todo canto para longe, a melodia de seu Nelson de África, e Brasil, toda madureira, Sargento. O samba agoniza, mas não resedás, impérios, quintais e carnavais. morre jamais. Em seu salão de memórias, eram quadros, prêmios, fotos das mais Quando nossa gente entender a diversas, recordações da mulher que força que brota dos nossos fundos reverenciou o samba de todo jeito. Ela de quintais, emanadas daqueles que se deparou com uma antiga foto em nascem pra sonhar, quebrar barreiras que se vestia de baiana em desfile do e cantar, só aí saberemos o que é a Império. Ficou em silêncio. A Serrinha revolução.” foi seu coração. Antes de me despedir, falamos sobre seu Nelson Sargento. A Dama então fechou os olhos e começou a FOTO DE MAÍRA MOTTA- DOCUMENTÁRIO AGONIZA, MAS NÃO MORRE ALGUÉM ME AVISOU Por Ivone Lara “Eu vim de lá, eu vim de lá pequenininho Mas eu vim de lá pequenininho Alguém me avisou Pra pisar nesse chão devagarinho Alguém me avisou Pra pisar nesse chão devagarinho Sempre fui obediente Mas não pude resistir Foi numa roda de samba Que eu juntei-me aos bambas Pra me distrair Quando eu voltar à Bahia Terei muito que contar Ó padrinho não se zangue Que eu nasci no samba Não posso parar Foram me chamar Eu estou aqui, o que é que há” 44 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho

Jornada ESG Talks! A gestão ESG é o novo mindset. Empresas, organizações e governos estão sob mais pressão da sociedade que apresenta novos propósitos e reivindicações, num mundo cada vez mais hipermidiático. Essa jornada evolutiva nos negócios traz inúmeros desafios às lideranças na transformação da gestão. Exige entender seus riscos e oportunidades, e como contar esse novo storytelling com transparência, autenticidade, integridade e afetividade, gerindo sua reputação. Apresentamos: Jornada ESG Talks: TAELSKGS! _ Araripe Um Novo Mindset _Borges _Gaulia Luiz Gaulia, Sônia Araripe e Anatricia Borges. Três reconhecidos especialistas em ESG/ Reputação, Sustentabilidade e Storytelling, se unem na apresentação do Talks Training - Jornada ESG: Um Novo Mindset. Um workshop/treinamento dirigido a lideranças executivas para ajudá-las a melhor trilhar essa jornada. Informações: [email protected]

Pelo mundo Alcatraz: O santuário de pássaros em São Francisco Símbolo de cativeiro, a Ilha de Alcatraz é agora um a fuga dos presos quase impossível santuário para aves marinhas que voam livremente e (com uma exceção engenhosa). Hoje, fazem seus ninhos por lá essas mesmas características fazem da ilha um refúgio para aves marinhas. TEXTO E FOTOS POR VIVIANE Uma ilha destinada aos pássaros FAVER, ESPECIAL PARA PLURALE ção à prisão, mais pássaros terrestres A ilha pertencia originalmente aos DE ALCATRAZ, SÃO FRANCISCO aparecem, como o pardal-de-coroa- pássaros. Exploradores espanhóis, em M(EUA) -branca, o beija-flor de Anna, o par- 1775, batizaram esta formação rocho- esmo antes de che- dal-canção e a Phoebe negra. Nos al- sa em homenagem à sua característica gar na ilha, já é pos- tos ciprestes, os corvos se agarram aos mais acentuada: chamaram-na de Al- sível ver várias gai- galhos; parecem avaliar a situação - catraces, ou “pássaros estranhos”. votas e biguás nas talvez à espera de que os pais gaivotas No entanto, essas criaturas gracio- águas que cercam o descuidados se distraiam por tempo sas e incomuns deixaram a ilha quan- lugar - e ouvi-los mergulhar em busca suficiente para que possam sequestrar do ela se tornou uma fortaleza, na de peixes. Ao desembarcar da balsa e com sucesso um filhote ou roubar um década de 1850. Os soldados usaram olhar para a parede coberta de vege- ovo. dinamite para transformar aquele pe- tação, acima do anfiteatro, já se pode avistar uma garça-da-noite-de-coroa- Há uns 50 anos a ilha de Alcatraz, daço irregular de rocha em uma base -preta sentada em silêncio, economi- em São Francisco, Estados Unidos,  adequada para a batalha de guerra. O zando energia para suas incursões era uma prisão de segurança máxi- anel de escombros que contornando noturnas. ma, que abrigava os criminosos mais o perímetro da ilha é um lembrete de Quando se sobe a estrada em dire- infames da América (por exemplo, Al seu legado militar. “Scarface” Capone e Robert “Birdman Em 1933, o Departamento de Justi- of Alcatraz” Stroud). A água gelada ao ça dos EUA precisava de um local para redor e as correntes fortes tornavam abrigar os presos que eram considera- 46 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

Ensaio FOTOS DE VIVIANE FAVER – ILHA DE ALCATRAZ, SÃO FRANCISCO (EUA) dos muito perigosos para serem conti- No entanto, os visitantes muitas vezes dos em outro lugar, o que resultou na não têm informações sobre a vida sel- transição de Alcatraz de uma base mi- vagem da ilha. litar para uma prisão federal, em 1934. Onde natureza e cultura interagem Segundo Tori Seher, bióloga e vo- luntária na conservação da ilha, a Após ser desativada como peniten- prisão é, obviamente, o principal atra- ciária em 1963, as colônias de pássaros tivo; no entanto, os turistas ficam en- começaram, aos poucos, a retornar. cantados e surpresos com os recursos Mas isso não aconteceu de imediato. naturais da ilha.  As aves marinhas são muito sensíveis a distúrbios ecológicos; por isso levou A cada primavera, as aves marinhas quase 10 anos, após o fechamento da migram para Alcatraz, para procriar e prisão, para que elas começassem a criar seus filhotes. É um processo. voltar de verdade. Hoje, os escombros da dinamitação da ilha resultaram em “As aves marinhas geralmente cons- poças de maré, que sustentam os pás- troem seus ninhos em ilhas desertas, saros e outros animais selvagens. que não têm muitas pessoas ou dis- túrbios”, diz Seher. “Por isso, é único Desde a década de 1990, os cien- poder vir aqui e ver de perto essas aves tistas vêm acompanhando de perto marinhas construindo seus ninhos. as populações de aves; inspecionam Não conheço nenhuma outra área cada ninho e contam o número de onde turistas possam presenciar isso.” adultos, filhotes e ovos. Alcatraz recebe algo em torno de Alcatraz é hoje um marco históri- cinco mil visitantes por dia. E, graças co nacional. Sua principal atração é a à boa organização do parque, há mui- prisão, onde os visitantes podem fazer to pouco conflito entre os turistas e os um tour de áudio, ouvindo guardas e pássaros. O conflito inesperado, mas presos falarem sobre a vida em “The muito real, é entre os pássaros e o uso Rock” – a Rocha, como foi apelidada. de drones recreativos. Como são ope- rados por controle remoto, a bióloga diz que é difícil rastrear o drone até a 47

Pelo mundo pessoa que o pilota.  rosamente pela natureza, Alcatraz é Dicas para a sua visita O zumbido do drone assusta as semelhante a um Éden acidental. O visitante deve chegar à aves marinhas mais sensíveis; com Outros exemplos de mesmo perfil ilha pela balsa da Alcatraz isso, muitas acabam não retornando. são o local de Chernobyl, na Ucrâ- Cruises, que parte do píer 33, Tori Seher avalia que os drones são nia, ou a DMZ, entre a Coreia do no cais de São Francisco, perto uma das razões pelas quais as popu- Norte e a Coreia do Sul. Ambas as da Bay Street. As balsas geral- lações de aves, no momento, apresen- áreas estão repletas de biodiversi- mente ficam cheias nos fins de tam uma ligeira queda. dade, em terras que os humanos te- semana e nos feriados; então mem pisar. reserve seus ingressos com Seher faz um apelo para que os vi- pelo menos três semanas de sitantes explorem mais a ilha e não Os cientistas agora estão pedindo antecedência. parem no tour de áudio. “Meu lugar à Administração Biden que transfor- favorito é a estrada do lado oeste. me a Baía de Guantánamo em uma Reserve duas ou três horas Não são muitas as pessoas que an- estação de pesquisa ecológica de úl- para toda a viagem. Use sapa- dam por esse caminho, mas ele ofe- tima geração. Propõem que, à seme- tos confortáveis para a cami- rece ótimas vistas da Ponte Golden lhança da Ilha de Alcatraz, a Baía de nhada íngreme do cais até a Gate e da cidade de São Francisco Guantánamo deixe de ser uma jaula prisão; e traga uma jaqueta ou também” – assinala. para humanos e se transforme num um casaco para se proteger do Édens Acidentais refúgio para a recuperação de espé- vento e do tempo instável de cies únicas da região, além de um São Francisco. Por ser um território abandonado centro de estudos sobre mudanças pelos humanos e recuperado vigo- climáticas. 48 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022

Ensaio FOTOS DE VIVIANE FAVER – ILHA DE ALCATRAZ, SÃO FRANCISCO (EUA)

Ecoturismo ISABELLA ARARIPE N W ANDRÉ DIB/DIVULGAÇÃO Um paraíso potiguar E Parque Nacional de Veadeiros abre SLocalizada no Rio Grande do Norte, Nísia Floresta é trilhas noturnas à visitação conhecida como a terra das águas. Possui mais de 20 la- Agora é possível explorar o Parque Nacional da Chapada goas, onde é possível desfrutar de banhos em águas cal- dos Veadeiros (GO) em novo horário. As trilhas do Saltos, mas e límpidas. Conhecida antigamente como Papary, o Carrossel, Corredeiras e Seriema estarão abertas das 20h às atual nome é uma homenagem a uma de suas ilustres 6h, de quinta-feira a sábado. O objetivo é diversificar as expe- moradoras, que foi uma das primeiras mulheres a ter ar- riências oferecidas aos visitantes e contribuir com o desenvol- tigos publicados em jornais no Brasil. vimento socioambiental da região. Localizado a 40 km da capital do Estado, o município A contratação de guia é obrigatória. Cada condutor poderá também é repleto de praias e de belezas naturais. A Praia guiar um grupo de, no máximo, seis pessoas e será proibido de Barreta, procurada por pescadores, tem suas águas re- acampar ou entrar com barracas nesse período. Os ingressos presadas pela barreira de recifes. Já Camurupim tem custam R$ 20,00 para brasileiros, R$ 40,00 para estrangeiros e águas calmas, e em alguns trechos os recifes formam pe- R$ 4,00 para moradores do entorno cadastrados no site da quenas cachoeiras, quando a maré começa a subir. Búzios concessionária do Parque, e devem ser adquiridos com ante- e Pirangi do Sul são as portas de entrada para quem vem cedência, no horário de funcionamento da bilheteria (até as da capital potiguar. E a Barra de Tabatinga é cercada por 16h), ou no dia anterior. Crianças e idosos são isentos. falésias, de onde é possível avistar golfinhos. Maragogi é uma das mais praias mais DIVULGAÇÃO procuradas para férias Cachoeira da Neblina faz sucesso Maragogi, em Alagoas, está entre as 10 cidades mais procu- em Presidente Figueiredo radas para as férias de julho, segundo levantamento da empresa de viagens Booking.com. No ranking, o município ocupa a oi- JANAILTON FALCÃO/ DIVULGAÇÃO tava posição, ficando à frente de Salvador (BA) e Fortaleza (CE). Localizada no Localizado na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa município de Pre- dos Corais, o destino turístico possui praias que são considera- sidente Figueiredo das cartões-postais e infraestrutura hoteleira de referência. O (a 117 quilômetros local é destaque também por abrigar a segunda maior barreira de Manaus), a Ca- de corais do mundo. choeira da Neblina possui 35 metros ASCOM/SEDETUR de queda d’água e leva esse nome em função do efeito que as gotículas de N água formam no local, fazendo uma verdadeira neblina W aos olhos dos visitantes. Para acessar a queda d’água, é preciso percorrer uma trilha de 6 quilômetros (12 quilômetros, ida e volta), o equivalente a duas horas de caminhada. Por se tratar de uma trilha em área isolada e com certo grau de dificuldade, é obrigatória a contratação de um guia credenciado, que pode ser contratado no Centro de Atendimento ao Turista (CAT), na entrada de Presidente Figueiredo. O acesso à Cachoeira da Neblina custa R$ 10 por pessoa. Para mais informações, o telefone do CAT é (92) 3324-2929. 50 PLURALE EM REVISTA | Junho / Julho 2022


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