especial construção T eIcnnoovlaoçgãioa Sustentabilidade
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EDITORIAL Saúde! dentro do escopo Qualidade de Vida, perpassam agora não somente por temas como conforto Recentemente divulgado pelo IBGE - Instituto acústico e térmico, enquanto eficiência energética, Brasileiro de Geografia e Estatística, o indicador mas também, e acima de tudo, por conforto relativo ao PIB da construção civil do País elevou- emocional e mental: Saúde é (e sempre foi) a bola se em 0,8% no primeiro trimestre 2022, em da vez. Ou deveria ser! comparação com o trimestre anterior. Mesmo em Como o setor pode corresponder a essa face da elevação de insumos, o setor ainda teve demanda? Resposta: planejamento, gestão de fôlego para crescer, com elevação da produção qualidade, atendimento às normas, racionalidade, e venda de materiais, inclusive. Comparado com industrialização, inovação. Tecnologias várias, o primeiro trimestre de 2021, o PIB da construção mecânicas e digitais, estão disponíveis. Ideias estão cresceu 9%, quinta alta consecutiva, consolidando disponíveis. Com princípios e práticas que garantam crescimento em relação a 2021. responsabilidades ambiental e social e Governança. Com princípios e práticas que garantam Inclusão. A considerar esse cenário promissor, ainda em Estaediçãomaisumavezcontoucomoapoio,sempre momento pandêmico e de conflitos políticos, imprescindível, do CTE – Centro de Tecnologia econômicos e militares, importante sempre ressaltar de Edificações. Aos seus profissionais envolvidos a importância de uma visão consciente e sensível neste projeto, meus sinceros agradecimentos. do setor que estabeleça vínculos necessários e sinérgicos com todos os agentes que incorporam Renato Marin de Oliveira evolução tecnológica ao Homem, promovendo, no Casa e Mercado entanto, o essencial: Qualidade de Vida e Bem Estar Social a todos. As exigências da sociedade relativas ao macrotema Sustentabilidade, enfatizadas a partir do Covid-19, EQUIPE EDITORIAL Lucas Bongogo Luciana Gibaille Edição Márcia Menezes dos Santos Renato Marin de Oliveira Marina Ferreira [email protected] Melissa Cacciatori Náiade Nunes Patricia Falcão Bauer [email protected] Renato Salgado Roberto Decker Reportagens Sérgio Finger Victor Hugo Felix Sérgio Marin de Oliveira Thais Ruiz Diagramação Vitor Dossa Roney Dionizio Wagner Geraldo Bifulco Neto Colaboradores APOIO EDITORIAL Artigos: CTE – Centro de Tecnologia de Edificações Alessandro Azzoni www.cte.com.br Andressa Gama Benedito Abbud Casa e Mercado é uma publicação da Ras Publicações ( Rua Viena, 36, Bruno Hallack Parque Arco Iris, Atibaia-SP, CEP 12.947-793) Bruno Watanabe www.casaemercado.com.br Carolina Luca É permita a reprodução total ou parcial das matérias editorias desta Constantino Bueno Frollini edição, desde que previamente autorizada pela Ras Publicações. Eduardo Pacheco Eduardo Seiji Yamada Ewerton Bonetti Fabiana Villegas Gabriela Vilarrubia Gláucia Correia Guilherme Kobaski 4
H32á anos Jul/2021 - Jul/2022 desenvolvendo soluções inovadoras e sustentáveis para as empresas da cadeia produtiva da construção O CTE - Centro de Tecnologia de Edificações é uma empresa de consultoria e gerenciamento especializada em qualidade, tecnologia, gestão, sustentabilidade e inovação. Impulsionando transformações positivas, somos líderes em sustentabilidade e em ESG (Environmental, Social and Governance). Já apoiamos a certificação de mais de 320 empreendimentos de diferentes tipologias e portes, de residenciais a empreendimentos de escala urbana. NOSSOS NÚMEROS +310 Projetos certificados LEED de um total +20 Empreendimentos urbanos com de 730 projetos certificados no Brasil consultoria em Smart Cities +1700 Empresas CERTIFICADAS ISO +800 Due Diligences realizadas 9001 e PBQP-H +50 Incorporadoras, construtoras 110 Empresas conectadas na Rede Construção e fabricantes com consultoria ESG Digital, Industrializada e Sustentável +18 Fundos de investimentos +500 Obras gerenciadas com consultoria ESG 5
SUMÁRIO 8 Eficiência energética Artigo por Eduardo Seiji Yamada 14 Água: produtividade sem desperdício Reportagem por Victor Hugo Felix 18 Manejo de resíduos Reportagem por Victor Hugo Felix 22 Os desafios para prolongar o ciclo de vida dos materiais Reportagem por Victor Hugo Felix 26 Para entrar e querer ficar Reportagem por Victor Hugo Felix 32 Centralidades e paisagens urbanas Artigo por Sérgio Marin de Oliveira 36 Como garantir um futuro mais inteligente e seguro para a sociedade? Artigo por Marina Ferreira 40 Evolução em sustentabilidade e aplicação do ESG no setor da construção Artigo por Márcia Menezes dos Santos 6
Escolha inteligente para o meio ambiente e seu negócio A Fujitsu General acaba de lançar os novos condicionadores de ar em fluido R-32: Teto Adoção do novo e Cassete, que tem como diferencial a sustentabilidade, a tecnologia e uma melhor refrigerante R32 eficiência energética. Com o fluido R-32 os equipamentos reduzem em 75% o efeito sobre Elevada economia o aquecimento global (GWP - Potencial de Aquecimento Global), além de proporcionar de energia economia de energia devido à menor exigência de uso da eletricidade. Instalação simplificada Priorizamos a responsabilidade social e ambiental, contribuindo para Novo design uma vida melhor e o bem-estar de todas as pessoas. leve e elegante Facilidade de GARANTIA 2anos Para ter direito à manutenção garantia contratual, peças e a instalação deve 7 componentes ser realizada por uma assistência 5anos credenciada Fujtisu. compressor www.fujitsu-general.com.br
ARTIGO Eficiência energética A evolução das tecnologias e eficiência energética na era da sustentabilidade. * Engenheiro Civil Por Eduardo Seiji Yamada * não somente à eficiência energética, mas também formado pela Escola eficiência hídrica, conforto térmico, qualidade do Politécnica da USP Há quase 15 anos atrás o Brasil conquistou o reco- ambiente interno e outros requisitos de sustenta- (1997) e Mestre nhecimento internacional no mercado de constru- bilidade, que fizeram com que o mercado brasileiro em Engenharia de ção sustentável com a primeira certificação LEED adotasse essa metodologia e se destacasse em rela- Sistemas Prediais em 2007 e, hoje, nosso País se tornou o quinto do ção aos outros países no decorrer dos anos. (2000) pela mesma planeta, ou quarto, desconsiderando os Estados Nesse contexto, este artigo tem o objetivo de instituição. Gerente Unidos (onde a metodologia foi criada), que pos- mostrar a evolução e as principais tecnologias dos Técnico de Sistemas sui o maior número de projetos que adotaram essa empreendimentos da construção civil sustentável Prediais e Associado metodologia como referencial de sustentabilidade brasileira, através de informações técnicas obtidas do CTE - Centro e eficiência energética em empreendimentos do em 310 projetos que foram entregues e certificados de Tecnologia de mercado imobiliário. LEED, sob a consultoria do CTE - Centro de Tecnolo- Edificações. LEED® Podemos dizer que antes da “Era LEED”, ou seja, an- gia de Edificações. Dentre esse número, existem di- AP (Accredited tes de 2007, muitas tecnologias de sistemas prediais versas tipologias de construção, destacando-se tor- Professional) BD+C. e estratégias de eficiência energética eram muito res corporativas, escritórios de interiores e galpões Integrante do Comitê pouco exploradas e implementadas nos projetos, de locação como as mais representativas, além de Executivo da ASHRAE ou mesmo raramente impostas ou recomendadas outras tipologias, como edifícios públicos, hospitais, BRASIL Chapter como através de alguma legislação, norma técnica ou estádios, shopping centers, indústrias etc., confor- Chair do Chapter metodologia de eficiência energética ou sustenta- me apresentado no Gráfico 1, a seguir. Technology Transfer bilidade. Após o ingresso da certificação LEED, os Committee (CTTC) projetos começaram a ter uma referência e me- e do Comitê Diretor todologia que abrange as questões relacionadas do BCA (Building Commissioning Gráfico 1 – Quantidade e tipologias – Amostra de 310 empreendimentos certificados LEED pelo CTE Association) BRASIL Chapter. Coordenador e professor do curso de especialização e pós-graduação do PECE-USP “Energias Renováveis, Geração Distribuída e Eficiência Energética” do módulo ERG-004; professor convidado da FAAP no curso de pós-graduação “Real Estate & Construction Management” e do MACKENZIE no curso de pós-graduação “Sustentabilidade em Arquitetura e Urbanismo”. Especialista na área de consultoria, desenvolvimento, análise técnica de projetos e serviços de comissionamento das instalações, com enfoque na sustentabilidade, eficiência energética e processo integrativo dos projetos de Sistemas Prediais Elétricos, Ar Condicionado e Ventilação Mecânica, Automação Predial, Iluminação e Sistemas Hidráulicos. 8
ÁGUA: PRODUTIVIDADE SEM DESPERDÍCIO Fotos: Eduardo F. Leal e divulgação O lago artificial da sede da Fecomercia-RS, A iniciativa do Grupo VG de irrigar jardins A construção desta residência foi feita além de irrigar a área externa do projeto, verticais com água tratada de esgoto com sistema a seco da Quick House, que abriga cerca de 1200 karpas. A solução apontada como solução possível para lidar torna necessário apenas o uso de água no contribui para manter a natureza local com os problemas de saneamento básico concreto da fundação. A indústria fabricante preservada. no Brasil. de painéis modulares conta com reuso de água na linha de produção. com placas de energia solar (que suprem 50% da também no âmbito social. “Não só é economi- demanda) e geradores de energia a gás natural. A camente viável como é uma questão de sanea- água não é utilizada para consumo, apenas para mento básico no Brasil. E muita gente acha que é irrigação de jardins. uma super tecnologia, mas não. As Wetlands são Os tetos verdes aumentam o potencial de econo- conhecidas fora do Brasil”, diz. Bruno Watanabe mia de água. “Eles têm uma camada filtrante pe- defende que a solução seja transformada numa quena e uma camada de terra, substrato e grama. infraestrutura de saneamento capaz de prevenir A água se deposita, escorre e cai sobre umas for- poluição de rios e alagamentos. mas de colmeia, escorrendo para um captador que Para o CEO do grupo VG, o Brasil ainda engatinha canaliza e manda para nossa cisterna”, explica Vitor no que tange ao uso racional de água, por mais que Dossa. São 8 mil m² de tetos verdes, captando 600 seja abundante em recursos hídricos. “O ponto não mil litros de água. é o volume de água em períodos de chuvas, mas os Todo o conjunto de soluções empregadas geram armazenamentos e o sistemas inteligentes duran- benefícios, desde economia até contenção da te as estiagens”, opina. Em ambientes corporativos água, que alagaria a região durante as chuvas. Se- com projetos de paisagismo, o uso de vasos e siste- gundo o gerente, a Fecomercio-RS investiu R$ 230 mas drenantes inteligentes seria mais em conta que milhões no projeto. “Se gastou bastante, mas não a rega manual. em mármore, madeira nobre, nada disso. Se gastou O Grupo VG, em razão disso, tem desenvolvido os em tecnologia”, afirma. próprios vasos auto irrigáveis para plantas de gran- de porte, com um sistema que retém água na parte Jardins inferior e faz com que as raízes se aprofundem no No que diz respeito a projetos paisagísticos, o reuso solo. A técnica substitui a tradicional rega de cima de água é uma das soluções mais viáveis. Exemplo para baixo e faz com que o vaso seja regado apenas é o que o Grupo VG, aceleradora de greentechs de quatro vezes ao ano. “Cada vez mais as áreas verdes paisagismo, realizou ao desenvolver as chamadas valorizam o imóvel e retornam como payback para Wetlands nas estações de transporte sobre trilhos o empreendimento”, pontua Bruno Watanabe. Cidade Jardim e Vila Olímpia, em São Paulo (SP). O professor Benedito Abbud, arquiteto paisagista, Custeadas pela iniciativa privada (bancos Santander concorda. Segundo o arquiteto, edifícios que in- e Bradesco), as Wetlands são jardins verticais que cluem jardins com soluções sustentáveis têm valor utilizam água tratada dos esgotos. agregado. “Hoje é muito valioso morar em espaços “Tratamos toda a água de vaso sanitário, mictórios biofílicos, lugares gostosos, abraçados pela vege- e pias, filtramos e redirecionamos para 1000 m² de tação. Antes era decoração, hoje é mais que isso, é jardins verticais. Não devolvemos água sem trata- uma tendência morar em locais vegetados”, expli- mento para a Sabesp (Companhia de Saneamento ca. Assim, soluções de economia de água ganham Básico do Estado de São Paulo)”, relata Bruno Wata- maior relevância para o mercado imobiliário. nabe, CEO do Grupo VG. Benedito Abbud desenvolveu um sistema espe- A iniciativa, segundo o profissional, contribui cial, chamado Tec Garden, para reaproveitar água 16
ÁGUA: PRODUTIVIDADE SEM DESPERDÍCIO de chuvas em tetos verdes. “Como trabalho muito Construção a seco é uma aposta também da em- sobre laje, bolei o sistema que faz um lençol freáti- presa Quick House, evitando o uso de água nas co artificial”, explica o professor. A tecnologia conta obras, com exceção das fundações de concreto. com placas sobre pedestais e pavios que vão até o “Para o operário é mais saudável, sem umidade e fundo da laje, sustentando o jardim e mantendo um poeira de uma obra convencional”, diz Roberto De- vazio de 10 cm, onde a água fica armazenada. Os cker, arquiteto e responsável técnico da instituição. pavios fazem a água subir por capilaridade, sendo Numa obra de alvenaria, cada metro quadrado assim ideal para que forrações e arbustos cresçam pode consumir de 200 a 250l de água. Nas constru- sem manutenção de bombas de energia. “É muito ções modulares, não há consumo, pois os operários mais eficiente que irrigação feita por jardineiros. E o apenas parafusam os painéis prontos de fábrica, de sistema permite a utilização de água cinza ou água forma mais limpa. “Criamos tantos painéis quanto de reuso, que pode ser introduzida diretamente no forem necessários para a obra, e já vão prontos para lençol freático”, afirma. montagem. Uma construção de 100 m² pode ser Os tetos verdes trazem inúmeros benefícios, como montada em três horas”, conta Roberto Decker. melhor impermeabilização e menor impacto pela A iniciativa da Quick House surgiu mais como uma dilatação e contração da laje diante das mudan- visão de mercado do que uma demanda específica ças de temperatura. Há ainda ganhos ambientais, do público, observando que a construção conven- mantendo o clima mais saudável em centros urba- cional desperdiça muito material e perde contro- nos. “As pessoas estão descobrindo que vegetação le do orçamento. Mas hoje há maior interesse do ameniza ilhas de calor nas cidades”, menciona Be- consumidor final. “Sem dúvida, de três ou dois anos nedito Abbud. para cá a demanda aumentou muito por sistemas construtivos alternativos. Hoje, já representa de 2% Métodos construtivos a 2,5% do mercado, e a tendência é crescer”, diz Ro- Lucas Bongogo, gerente técnico da construtora De- berto Decker. corlit, informa que as técnicas de reuso de água de Para que essas tecnologias se difundam mais inten- chuva e de efluentes, assim como outras tecnolo- samente na construção civil, demandará tempo, até gias de redução de consumo de recursos hídricos, para adequação de mão de obra e para uma me- são reguladas pelas NBR 16782 e NBR 16783. Contu- lhor regulamentação. “A cultura é muito arraigada do, para a construção civil é importante ainda que na construção convencional”, finaliza. as obras sejam realizadas com menor consumo de água, buscando inovações que sejam economica- mente viáveis e interessantes do ponto de vista ar- quitetônico. A Decorlit, assim, aposta em construções a seco, com sistemas como Light Steel Frame, Steel Fra- me, Wood Frame e outros sistemas modulares pré-fabricados. “Os efluentes são controlados na indústria com maior rigor, mais fiscalização, do que num canteiro de obra. Cada estado tem uma legislação específica, então daria para ter uma so- lução única”, pondera. Com os sistemas modulares, as chapas de madeira ou aço saem prontas de fábrica para serem fixadas, sem a necessidade de se utilizar água para argamas- sa como na alvenaria tradicional, por isso são cha- madas de construções a seco. “Na fabricação, todas as indústrias têm tratamento de efluentes e circui- tos fechados de água”, diz Lucas Bongogo. A vantagem é que os sistemas podem ser utilizados para qualquer tipo de edificação e arquitetura. Para o gerente, a adesão às construções a seco depende do fator financeiro, sendo necessário que o arquite- to apresente cálculos que comprovem que o valor investido é retornado pela economia no consumo de água. 17
REPORTAGEM Manejo de resíduos Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS: critérios para gestão de resíduos na construção civil. * Jornalista freelancer Por Victor Hugo Felix * “Os aterros se tornaram inviáveis, seja pelo rigor Casa e Mercado da lei ou pelo fato de que nenhuma cidade quer A legislação brasileira, nos últimos anos, tornou- esse tipo de passivo ambiental, porque desquali- 18 -e ainda mais rígida para garantir que os resíduos fica a região mesmo se seguir as normas”, afirma. da construção civil (RCC) sejam descartados sem Assim, os aterros estão cada vez mais distantes causar prejuízos ambientais. Não basta contratar dos grandes centros urbanos, o que encarece o um caçambeiro para remover o entulho de uma transporte. O que o PNRS faz é justamente criar construção, sem saber qual será a destinação dos meios de reduzir o volume de rejeitos e assegu- resíduos. É necessário um planejamento comple- rar que os resíduos tenham o reaproveitamento to para que haja, de um lado, menor geração de adequado. resíduos e, de outro, a destinação correta de todo o material descartado. Plano Nacional de Resíduos Sólidos O que rege esse tema no Brasil é a Política Na- A Lei Nº 12.305/2010 frisa a necessidade de se criar cional de Resíduos Sólidos -PNRS, instituída pela planos de gestão de resíduos sólidos em diferen- Lei Nº 12.305/2010. Segundo Alessandro Azzo- tes âmbitos, seja nacional, estadual ou municipal, ni, advogado especialista em direito ambiental além de estimular a criação de planos intermu- e econômico, a lei trouxe profundas mudanças nicipais, para uma gestão integrada dos resíduos. nesse tema, seguindo os direcionamentos da Lei Atualmente, está em vigor o Plano Nacional de Nº 11.445/2007 de saneamento básico. Resíduos Sólidos- PNRS estabelecido em 2018, Um dos principais pontos do PNRS diz respeito que deve ser renovado a cada quatro anos. Entre- à responsabilidade compartilhada, que torna os tanto, segundo o Perfil dos Municípios Brasileiros geradores de resíduos responsáveis pela destina- (Munic 2017), do Instituto Brasileiro de Geografia ção do material descartado. “Antes, se o caçam- e Estatística (IBGE), cerca de 50% dos municípios beiro jogasse o entulho da obra na rua, de forma não têm um plano de gestão de resíduos sólidos. irregular, era responsabilidade apenas do caçam- O PNRS decreta que empresas e profissionais beiro. Com a Lei, o dono do resíduo também será responsáveis por obras de construção e refor- responsabilizado, seja criminalmente, adminis- ma criem Planos de Gerenciamento de Resíduos trativamente ou em termos de responsabilidade Sólidos da Construção Civil (PGRCC), que devem ambiental”, explica Alessandro Azzoni. seguir as diretrizes do Plano Municipal e Estadual Outro ponto de destaque no PNRS é a determina- e ser apresentados às autoridades competentes ção da logística reversa, na qual se torna necessá- da região. Em linhas gerais, o PGRCC deve contar rio o setor produtivo fabricar produtos que pos- com as seguintes informações: sam ser reciclados após seu uso. “Desse modo, o 1. Caracterização: o gerador deve identificar, produtor vai calcular qual o custo da reciclagem e classificar e quantificar os resíduos gerados nas investir em produzir o que seja economicamente obras; viável ser reciclado”, diz o especialista. Dessa for- 2. Segregação: deve-se, ainda, separar os resíduos ma, é possível aumentar o volume de materiais a partir de sua classificação, o que pode ser feito no reciclados no mercado e reduzir o descarte de próprio canteiro de obras ou em locais licenciados rejeitos. para esse tipo de atividade; O PNRS é bastante claro ao distinguir resíduos de 3. Acondicionamento: o armazenamento adequado rejeitos. Resíduo é o que pode ser reaproveitado, dos materiais, a fim de que possam ser reciclados, seja por meio de reciclagem ou de reutilização. reutilizados ou descartados corretamente. O rejeito é o que não pode ser reaproveitado; 4. Transporte: empresas devidamente licenciadas portanto, deve seguir para aterros. Entretanto, devem prestar esse serviço; portanto, é importante destinar materiais para aterros está cada vez mais custoso, segundo Alessandro Azzoni.
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MANEJO DE RESÍDUOS identificar quem serão os responsáveis por essa feita por profissional da saúde e da segurança do atividade; e trabalho habilitado para esse serviço. Assim, exige- 5. Destinação: além de identificar qual fim será -se a criação do Programa de Prevenção de Riscos dado a cada tipo de resíduo, é fundamental apontar Ambientais (PPRA), o Programa de Controle Médi- quais empresas serão responsáveis pelos processos co e Saúde Ocupacional (PCMSO) e Laudo Técnico de reciclagem, reutilização e descarte, a fim de das Condições do Ambiente de Trabalho (LTCAT), compartilhamento das responsabilidades. constatando os procedimentos que serão adota- A Lei 12.305/2010 pede, ainda, que se apresente dos para manejo adequado dos resíduos. metas e procedimentos para a redução da quan- O responsável pela obra deve contratar empre- tidade de resíduos e a periodicidade da revisão sas especializadas para o transporte do material. do PGRCC. Mesmo que o município não tenha Contudo, cada unidade da federação tem legisla- um plano estabelecido, ainda é necessário que a ção própria definindo os critérios para a atuação empresa crie o próprio. Os planos devem estar de regular das empresas que fazem o transporte e a acordo com as orientações do Conselho Nacional destinação final dos resíduos perigosos. Os mate- do Meio Ambiente (Conama), órgão do Sistema riais precisam receber tratamento especial antes Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), descre- de serem despejados em aterros, como copro- vendo cada tipo de resíduo gerado e como esses cessamento, que usa a combustão dos resíduos materiais serão manejados. para gerar o clínquer, matéria-prima na fabrica- ção de cimento. Conama A resolução nº 307/2002 do Conama trata dire- *Texto parcialmente publicado em Gestão de Resíduos, Sustentabi- tamente sobre resíduos da construção civil. Nela, lidade, Circularidade, especial de Casa e Mercado (2021). os RCC são separados em quatro classes e para cada uma é apresentada uma forma de tratamen- to adequada. Não detalha, contudo, quais desti- nações exatas cada tipo de resíduo deve receber. Cabe aos demais planos municipais ou intermu- nicipais, com trabalho realizado pelos órgãos competentes, direcionarem o tratamento para cada descarte. Por exemplo, a Autoridade Municipal de Limpeza Urbana da cidade de São Paulo (Amlurb), órgão responsável pela gestão de resíduos na capital paulista, indica dois guias para os geradores de RCC: um para pequenos geradores, responsáveis por cerca de 70% dos resíduos da cidade, outro para grandes geradores. Do pequeno ao grande gerador, é necessária máxima atenção às determinações das leis e das orientações dos órgãos responsáveis para garan- tir máxima qualidade na gestão dos resíduos em canteiros de obras. Segundo a Lei 12.305/2010, resíduos perigosos são aqueles que apresentam riscos à saúde pública e ao meio ambiente em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade, toxicidade, pato- genicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e mutagenicidade. Na construção civil, isso inclui também materiais oriundos de demolições em clí- nicas radiológicas, instalações industriais, lâmpadas fluorescentes, pilhas, baterias, dentre outros. Além, é claro, de equipamentos de proteção individual (EPIs) contaminados. Os cuidados com resíduos perigosos são mais rigo- rosos e demandam triagem específica, que deve ser 20
cte SOLUÇÕES INOVADORAS E SUSTENTÁVEIS PARA AS EMPRESAS DA CADEIA PRODUTIVA DA CONSTRUÇÃO UNIDADE SUSTENTABILIDADE Consultoria para o desenvolvimento de empreendimentos sustentáveis de alta performance, com proposição das melhores soluções técnicas e introdução de inovações tecnológicas em projetos de pequeno, médio e grande porte. UNIDADE SMART CITIES Consultoria para o desenvolvimento sustentável, ESG e Smart Cities para empreendimentos de escala urbana e projetos de infraestrutura. UNIDADE INOVAÇÃO E TECNOLOGIA Consultoria para implantação de sistema ESG em empresas, empreendimentos, projetos e obras. Consultoria para gestão da inovação e implementação de tecnologias construtivas inovadoras. UNIDADE OPERAÇÃO SUSTENTÁVEL Consultoria ESG para fundos de investimento e consultoria para portfolios de empreendimentos prontos, visando a melhoria da performance e a redução de custos de operação ao longo da vida útil. ACESSE 21 o nosso site para saber mais sobre os nossos serviços e soluções: cte.com.br
REPORTAGEM Os desafios para prolongar o ciclo de vida dos materiais Processos de economia circular e logística reversa crescem na construção civil, mas gargalos impedem maior difusão. * Jornalista freelancer Por Victor Hugo Felix * Casa e Mercado A construção civil atualmente dispõe de diferentes ferramentas para evitar o descarte desnecessário de construção civil ainda estão tomando forma, sen- materiais. O ciclo de vida dos produtos utilizados em do impulsionados por instituições europeias, nor- obras, de argamassas a tubulações e revestimentos, te-americanas e asiáticas. No Brasil, a discussão tem sido analisado para que se possa encontrar for- ainda engatinha. “Eu atuo diretamente em mais mas de reduzir a geração de resíduos. No entanto, de 30 projetos de construção e posso afirmar que construtoras e fabricantes ainda encontram dificul- esse assunto é novidade até para obras que bus- dades para ampliar essas práticas, ainda que sejam cam alcançar selos de sustentabilidade para edi- mais sustentáveis e gerem economia. ficações”, analisa. Uma das estratégias utilizadas pelo setor é a eco- Segundo Renato Salgado, debates sobre o assun- nomia circular, que leva as indústrias a reutilizarem to têm sido encabeçadas por instituições como a materiais descartados da própria linha de produção Rede Empresarial Brasileira de Avaliação de Ciclo ou de outras indústrias. Renato Salgado, consultor de Vida e a fundação Ellen MacArthur. “Já é possí- de sustentabilidade do CTE - Centro de Tecnologia vel observar um crescimento da pesquisa sobre o de Edificações, afirma que o método é mais que tema, envolvendo empresas de vários segmentos uma mera reciclagem. “Ela poderia ser traduzida da construção civil, como fabricantes de materiais, como uma estrutura de soluções baseada em siste- consultorias, escritórios de arquitetura e até mesmo mas que buscam eliminar a trágica lógica da nossa construtoras”, pontua. economia baseada na extração, uso e descarte de Segundo Patricia Falcão Bauer, diretora da em- produtos, em um processo linear”, diz. presa de engenharia consultiva Falcão Bauer, A logística reversa, por outro lado, é um processo estima-se que o Brasil desperdice mais de 50% no qual o produto descartado retorna para a indús- dos resíduos produzidos em suas obras, um nú- tria, onde será reaproveitado por meio de reuso, re- mero que representa mais de 850 mil toneladas ciclagem ou reprocessamento. O tema é regulado de materiais de construção a cada mês no País. pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº “Enquanto isso, países que apostam em políticas 12.305/2010), que define a logística reversa como de reaproveitamento de resíduos da construção um conjunto de ações que visam a coleta e resti- civil — como é o caso do Reino Unido e Japão tuição de resíduos sólidos ao setor produtivo, para — desperdiçam 53 mil e 6 mil toneladas ao ano, reaproveitamento, ou destinação final ambiental- respectivamente”. mente adequada. “É justamente este ‘ou’ que en- As possibilidades de reaproveitamento de ma- fraquece a busca por destinações que agreguem teriais na construção civil são diversas, desde os maior valor ao material, uma vez que, por ‘destina- materiais recicláveis tradicionais, como plástico, ção ambientalmente adequada’, pode se entender vidro e estruturas metálicas, a chapiscos e rebo- o envio de resíduos para aterros sanitários regulari- cos que podem ser reprocessados para produção zados, por exemplo”, opina Renato Salgado. de massa de obra. “Muitos materiais de constru- O consultor afirma que, mundialmente, os de- ção podem ser utilizados para a confecção de bates em torno do ciclo de vida dos materiais na móveis. Sobras de madeira, por exemplo, podem dar ótimos bancos ou decks. O material também 22
Novo Silestone com Tecnologia HybriQ+ Mudando o Mundo a partir da Cozinha Mais Sustentável. Mais Silestone. 99% de Água reciclada 100% de Energia Elétrica Renovável MIN 20% de materiais reciclados Cosentino.com @cosentino_brasil 23
OS DESAFIOS PARA PROLONGAR O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS Fotos: Anicer e divulgação A produção de cerâmicas tem fácil adesão às práticas de economia A distribuição de pontos de coleta da Trashin ajuda na adoção circular, reaproveitando descartes da própria linha de produção. A medidas para reciclar e reaproveitar materiais descartado em canteiros dificuldade é integrar o consumidor final na logística reversa. de obras. pode ser utilizado como um aparador para arma- cado. “Isso traz controle de custo. Se 5% da peça é zenar livros e itens de decoração”, explica Patricia chamote, uma cerâmica que já foi queimada, então Falcão Bauer. é 5% de argila que não precisa ser extraída”, aponta. A reutilização de produtos para fins decorativos é As cerâmicas também podem ser reaproveitadas uma solução bastante recomendada pela diretora. após o uso pelo consumidor final, mas para isso é Canos de PVC, por exemplo, podem se tornar lu- necessária uma segregação dos materiais, o que minárias e até mesmo vasos, enquanto o porcela- nem sempre acontece. “Acho que a maior dificul- nato pode ser reaproveitado em tampos de mesas, dade vem do cliente. Tem que haver separação no armários e prateleiras. “Grande parte dos materiais canteiro e isso demanda espaço e pessoas para exe- de construção rejeitados pode ser reutilizada para cutar”, diz Constantino Bueno Frollini. a mesma função. Mas se você não quiser, pode re- Outros setores, como a produção de cimento, en- vendê-los ao mercado por um valor mais acessível. contram o mesmo problema. Bruno Hallack, gerente Essa é uma forma de agir com responsabilidade, de meio-ambiente da LafargeHolcim, pondera que sustentabilidade, e ainda gerar receita”, diz. é fundamental que uma construção seja bem pla- nejada e executada para que, após sua construção, A indústria ela tenha uma vida útil prolongada. “Quando chega A economia circular tem sido apontada como uma no limite, a nossa assistência técnica tem ações para ferramenta importante para os fabricantes de ma- recuperar, estudando a patologia e encontrando so- teriais de construção. É o que afirma Constantino luções para não ter que demolir”, diz. Se a demolição Bueno Frollini, diretor de marketing da Associação for inevitável, algumas cidades obrigam recircular o Nacional da Indústria Cerâmica (Anicer). “A reuti- resíduo, separando o concreto do aço que está nos lização não é uma questão secundária. Não se faz vergalhões. O concreto pode ser britado e moído porque é bonitinho, mas porque é uma necessida- para utilização em: 1) fabricação de cimento; 2) fabri- de”. Segundo o profissional, as práticas incluem o cação de concreto, substituindo areia e agregados. consumo de resíduos de outras indústrias, como A economia circular faz parte da estratégia da em- materiais de moveleiras que geram biomassa para presa para reduzir a emissão de CO2 na atmosfera. os fornos com energia térmica. Além de também utilizar biomassa oriunda de re- A linha de produção de cerâmicas conta com três síduos industriais e urbanos, a LafargeHolcim rea- etapas de avaliação de qualidade: pós-secagem; proveita descartes que seriam destinados a aterros pós-extrusão e pós-queima. “Se o produto não está ou lixões. “Na fabricação do cimento, usamos duas de acordo, ele volta para o início do processo. E matérias primas, calcário (cálcio) e argila (mistura de todo material extrusado e seco já pode voltar sem sílica, alumínio e ferro). Se a argila tem pouca sílica, fazer reprocessamento”, diz o diretor. A economia pode-se corrigir com resíduo industrial que tenha circular ajuda a manter os preços das cerâmicas essa característica”, afirma. mais baixo, garantindo competitividade no mer- 24
OS DESAFIOS PARA PROLONGAR O CICLO DE VIDA DOS MATERIAIS Processo semelhante é realizado pela Saint Gobain, da Cyrela tem preocupação com sustentabilidade”, de acordo com o engenheiro de produção Wagner pontua. Geraldo Bifulco Neto. Para o profissional, reutilizar minérios na linha produtiva é, ainda, mais vantajosa Métodos construtivos para as empresas que a logística reversa. Isso por- É válido lembrar que o debate sobre ciclo de vida que é difícil para a indústria estabelecer pontos de dos materiais inclui também o uso racional das ma- coleta dos resíduos de obras, por exemplo, o que térias primas. Com diferentes métodos construtivos demandaria uma conscientização por parte do é possível evitar desperdícios, não sendo necessá- cliente e um esforço para destinar em local específi- rio o consumo de recursos naturais nem o repro- co. “É difícil conscientizar porque o cliente final não cessamento nas linhas produtivas. A construtora vê ganho nisso. Numa linha de produção é mais fá- Alphaville Urbanismo segue esses procedimentos, cil, tem maior controle”, opina. segundo o superintendente técnico Ewerton Bo- Há ainda questões como custos de frete que impe- netti. “A construção civil gasta torno de 30% dos diriam as empresas de investir mais pesadamente materiais em resíduos. O nosso método construtivo em logística reversa. “A solução seria cada vez mais reduz 97% dos resíduos”, afirma. o mercado agir como engrenagem, com indústrias, A empresa trabalha com sistemas modulares, light clientes e concorrentes alinhados”, afirma Wagner steel frames, wood frames, entre outras soluções Bifulco Neto. Nessa perspectiva, um produtor dei- que têm baixo consumo de água e de materiais. E xaria um ponto de coleta em determinado local e mesmo quando há resíduos, eles são devolvidos à uma outra empresa atuaria em conjunto para con- indústria. Para produtos como embalagens e PVC, tribuir com custos de frete, tendo ainda a participa- a empresa realiza parcerias com as coletas seletivas ção dos clientes se comprometendo a entregar os locais, por meio da Fundação Alphaville, entidade resíduos de forma adequada. “É uma oportunidade dedicada a projetos sociais. E o que é considerado para todo mundo”, pontua. resíduo cinza, ou seja, que contém minerais, inor- gânicos, é reaproveitado nas pavimentações dos Gestão de resíduos condomínios e das regiões próximas. Os profissionais do setor concordam que há pou- Para Ewerton Bonetti, se o custo das soluções sus- cas empresas no mercado realizando serviços de tentáveis for igual ao das demais soluções, o merca- coleta e destinação adequada dos materiais de do irá absorver. “As pessoas sentem os efeitos climá- construção, de forma a reintegrar os resíduos na ticas, mas se não entenderem que precisam de uma cadeia produtiva. Um exemplo de instituição nesse parcela de colaboração, não tem como resolver. O segmento seria a Trashin, startup focada em gestão ciclo vicioso vai levar o planeta à ruína”, finaliza. de resíduos. “A grande maioria tem registro para coleta na construção civil, mas a monetização vem pelo uso das caçambas”, afirma Sergio Finger, CEO da Trashin. A startup atende a diferentes empresas, como Dura- tex, Tigre e a construtora Cyrela, realizando a gestão de resíduos desde a produção até o descarte final. Os processos incluem treinamento de colaborado- res para reduzir a geração de descartes, sinalização nos espaços para segregar os materiais de forma correta e a destinação dos resíduos, seja revenda para cooperativas, reprocessamento ou descarte em aterros sanitários. Segundo Sergio Finger, os serviços oferecidos pela Trashin foram uma novidade no mercado, uma vez que na sua fundação, em 2018, não havia procura pelas soluções que a empresa oferta. “O problema existia, mas a demanda talvez não”, afirma. As solu- ções da Trashin se mostraram muito vantajosas para a construção civil. “Quando uma Cyrela nos procura, tem dois pilares: redução de custos, porque deixa de pagar o aterro mais caro de construção civil e re- síduo perigoso, além de ganhar com receita da reci- clagem; alcançar valor agregado, porque o público 25
REPORTAGEM Para entrar e querer ficar Profissionais têm utilizado métodos tradicionais e inovações tecnológicas para oferecer conforto ambiental aos clientes. * Jornalista freelancer Por Victor Hugo Felix * Norma de Desempenho de Edificações NBR 15575, Casa e Mercado um guia nacional de conforto ambiental, com pre- Espaços de convivência não devem ser apenas missas de acessibilidade, temperatura, iluminação e 26 belos ou funcionais. Precisam propiciar uma expe- ruídos. Segundo a profissional, tais normas são im- riência confortável, com temperaturas razoáveis, portantes para construções de baixo padrão, consi- boa iluminação e poucos ruídos. Com base nisso, derando que são utilizadas pelas famílias por muitos arquitetos e especialistas da construção civil têm anos, e por isso são mais fiscalizadas. “Já obras co- lançado mão de diferentes recursos para que os merciais não têm esse tipo de exigência, porque o clientes tenham mais conforto ambiental, um con- uso é mais sazonal”, afirma. junto de aspectos térmicos, lumínicos, acústicos e Diversos elementos construtivos alteram a tempe- ergonômicos que garantam uma melhor vivência ratura, a insolação e o isolamento acústicos de am- nos ambientes. bientes, desde a posição das janelas até a altura do Melissa Cacciatori, consultora em conforto am- pé-direito (se muito elevado, o ar quente permane- biental e eficiência energética do CTE - Centro de ce no alto, mantendo o piso mais frio). “Mas quando Tecnologia de Edificações, explica que o tópico é o imóvel está construído sem esses recursos, não dividido em diferentes áreas para que se possa es- precisa ir tão longe, basta mudanças como a troca tudar separadamente as relações entre o compor- de piso e até o espaçamento de imobiliário”, explica tamento físico dos edifícios e as reações fisiológicas Andressa Gama. do corpo humano, “que é uma das condições que A arquiteta Thais Ruiz detalha o planejamento das compõe a experiência de habitar”. melhores estratégias de conforto ambiental. “O pri- Dessa forma, componentes como pisos, aberturas, meiro passo é ver as faces do terreno, face norte e paredes e janelas formam um sistema mediador face sul, para definir a posição da casa no lote, fazen- nos espaços, atuando na relação entre estímulos do análise de insolação. Depois ver área de implan- externos e internos. “Um dormitório tem frequente- tação a partir disso”, explica. A profissional aponta mente a ocupação noturna, na qual não se pressu- ainda que é importante identificar área do vento põe uso prolongado de equipamentos que cedam dominante para ter ventilação cruzada, evitando calor. Diferente de uma cozinha, com ocupação assim o consumo de energia em equipamentos de mais diurna, com equipamentos como fogão, for- ar-condicionado. no e geladeira, que cedem elevada carga térmica”, “O ideal é tentar escolher materiais de construção exemplifica a consultora. com inércia térmica eficiente”, diz a arquiteta. A es- Desse modo, projetar espaços com conforto tér- colha dos materiais dependerá das necessidades mico demanda um amplo planejamento para que do espaço. Há softwares disponíveis no mercado cada ambiente seja composto por elementos que que auxiliam no estudo das necessidades do proje- tornem a experiência de habitar mais agradável. to. O diferencial será quais decisões serão tomadas “Classificamos as tecnologias para promoção de a partir das informações coletadas. conforto ambiental entre ativas e passivas”, explica Melissa Cacciatori. As ativas são aquelas que conso- Soluções mem energia tais como ar-condicionado, ventila- A incidência de luz natural é um dos pontos princi- dores, aquecedores. As passivas, por sua vez, são os pais a ser analisados, uma vez que pode influenciar elementos estruturais definidos a partir dos estudos tanto na temperatura quanto na iluminação dos sobre o entorno da edificação. “Idealmente, recorre- ambientes. Na etapa de posicionamento de janelas mos às estratégias ou tecnologias ativas, quando as e aberturas, o profissional deve levar em considera- estratégias passivas já foram esgotadas”, diz. ção como a incidência do sol irá afetar a rotina dos A arquiteta Andressa Gama, atuante na coordena- moradores. “Uma fachada sul, por exemplo, tem ção de projetos da Construtora RVE, pontua que menor disponibilidade de luz natural do que uma atualmente no Brasil as construções devem seguir a
Verde Selva Formiwall Goiaba Formipiso Azul Nevada Móvel 27
PARA ENTRAR E QUERER FICAR fachada norte, mas tem menor potencial de ofusca- Para isolamento acústico, a consultora aconselha mento ao longo do ano em relação à fachada norte. pisos flutuantes que reduzem o ruído de impacto Assim, aberturas maiores orientadas ao sul ajudam entre unidades separadas pelo piso. Com caixilhos e no maior aproveitamento de luz, com menor carga portas acústicas, e um sistemas de molas que amor- térmica”, explica Melissa Cacciatori. tece a transmissão de vibrações entre estruturas e Para Andressa Gama, em regiões quentes pode se vedações, é possível que os ambientes sejam mais ter blocos com enchimento para obter bloqueio do privativos e silenciosos. calor. “Em regiões frias é interessante usar madeira, Andressa Gama afirma que é necessário cuidado que tende a manter o ambiente confortável”. E as com a estrutura da edificação, uma vez que o oco escolhas dos revestimentos têm grande interferên- dos blocos favorece a passagem de barulho, assim cia, sendo aconselhável o uso de pedras em regiões como de calor. “Trabalhei muito tempo com drywall. de muito calor e pisos de madeira e vinílicos em re- Dependendo do tipo de enchimento entre a placa giões de temperaturas baixas. de acartonado e a estrutura metálica (lã de rocha, lã É possível colocar mantas aquecidas com regula- de vidro e lã de PET), é uma boa solução se estiver dores termostatos que ajudam a controlar a tem- bem vedado”, afirma. Os têxteis são também úteis peratura dos pisos. Thais Ruiz sugere a instalação de para reduzir os ruídos, segundo Thais Ruiz. Numa uma serpentina elétrica por baixo do piso cerâmico, superfície refratária, o som bate e retorna, o que não permitindo climatização. “Com o boom dos painéis ocorre em superfícies porosas. Assim, carpetes, cor- solares, é um recurso interessante, com fonte pró- tinas, tapeçaria e mobiliário ajudam a oferecer con- pria para suprir o consumo energético”, opina. forto acústico. “Quando a casa está vestida, não tem O uso de tecidos é solução para trazer mais calor retorno das ondas sonoras”, diz. em regiões frias. Tapetes, cortinas, sofás, poltronas, dentre outras peças, ajudam a reter o calor, ao pas- Cases so que a falta delas torna os espaços mais frios. “Se Em Curitiba, a arquiteta Luciana Gibaille projetou uma casa tem muitos móveis, o ar não circula. Então um escritório de advocacia, construído em 2012, e você pode mudar a mobília dependendo da época atualizado no último ano com novas obras de arte. do ano”, esclarece Andressa Gama. Todos os espaços foram pensados com conforto Detalhes como plantas nos interiores, que trazem ambiental, uma vez que a profissional trabalha com frescor e alteram a umidade do ar, também podem neuroarquitetura e baseia-se em aspectos senso- ser empregados. E as cores devem ser incluídas no riais. “O projeto tem 10 anos e atende perfeitamen- planejamento do conforto térmico. “Não se costu- te às necessidades até hoje, porque o foco está na ma ver prédios com fachadas escuras porque tem pessoa”, diz Gibaille. um grau de refletância que absorve muito calor”, Para que se tenha transparência, muitos panos de diz. Nos interiores, paredes claras ajudam a difundir vidro foram empregados, valorizando iluminação a incidência de luz. solar e as vistas para os jardins. A distribuição do Estando a iluminação natural resolvida, é necessá- mobiliário também favorece a iluminação. “Prati- rio pensar nas soluções de iluminação artificial. “O camente não ligam a luz interna”, afirma Gibaille. layout é um ponto de partida, é preciso respeitar o O projeto apostou também em ventilação natural, uso do espaço”, afirma Thais Ruiz. A coloração de com grandes janelas, para evitar riscos de contami- luz é um dos pontos que deve ser levado em conta, nação, alergia e ácaros. variando se o ambiente é de descompressão ou de As salas de reunião contam com paredes de drywall trabalho, assim como o posicionamento. “É impor- com isolamento acústico, mas não se preocupou tante entender as superfícies e o quanto de luz elas em utilizar pisos antirruído, pois consideraram dis- refletem ou absorvem. Cores escuras precisam de pensável para o escritório. Por outro lado, o conta- mais fontes de compensação”, completa. to com a natureza foi uma grande aposta. “Todas Quando o assunto é a livre circulação de ar, Melis- as salas têm comunicação com lado externo, com sa Cacciatori recomenda que as aberturas sejam vista para algo verde, porque traz descanso visual”, feitas para as direções predominantes dos ventos pontua a arquiteta. e posicionar aberturas em paredes opostas, para Em obras populares, o conforto ambiental também promover ventilação cruzada. “Também podemos tem sido aplicado, como evidencia a construto- explorar o efeito chaminé, que demanda aberturas ra Lyx Engenharia nas construções para o progra- de entrada baixas e aberturas de saída altas. Perce- ma Minha Casa Minha Vida. “A partir da Norma de bo que nossos projetos pecam bastante neste as- Desempenho 15575, houve uma mudança muito pecto”, diz grande nesse parâmetro, melhorou muito”, diz Gui- lherme Kobaski, coordenador de produto da em- 28
Brise Eucalipto Citri @grupoindusparquet 29
PARA ENTRAR E QUERER FICAR Fotos: divulgação Os painéis de isolamento térmico e acústico A Casa Contêiner, da arquiteta Thais Ruiz, No escritório de advocacia projetado por são produzidos nas medidas necessárias utiliza diferentes soluções para conferir Luciana Gibaile, conforto ambiental tem para cada uso, com diferentes densidades conforto ambiental, mas tem como ponto um aspecto sensorial: vidros e obras de que podem aumentar ou reduzir o controle de partida a boa localização diante dos arte são utilizados para trazer transparência do calor nos ambientes. pontos de insolação e ventilação. e credibilidade, necessários para que os advogados fidelizem seus clientes. presa. A Lyx tem critérios estabelecidos para cada Segundo a profissional, as placas ajudam a conservar zona climática e realiza ensaios por meio de softwa- as temperaturas, evitando a troca de calor com res. A empresa busca, por exemplo, oferecer tem- materiais tradicionais que tornam necessário o peraturas de -3°no verão ou +3°no inverno, com consumo elevado de ar-condicionado. Isso gera espessuras de laje de 12cm para evitar ruídos entre economia de cerca de 50% da energia. “A espessura as unidades. da chapa interfere no local que vai ser aplicado, Esquadrias maiores e mais espessas ajudam no con- então é tudo sob medida. Nada é indicado sem trole de luz e de climatização. “Quando a unidade estudo prévio”, afirma. Com a durabilidade de está muita próxima de outra torre e não tem luz su- cerca de 30 anos das placas de aço, a solução tem ficiente, aumentamos a esquadria, afastamos a torre ganhado mais adeptos. “Hoje a demanda cresce ou usamos paredes brancas”, explica. Os ensaios in- nesse conceito casa contêiner, essas construções cluem os tipos de materiais empregados e as cores estão tendo maios visibilidade no mercado”, diz das fachadas e do telhado, variando de obra para Gláucia Correia, supervisora técnica de vendas do obra, analisando custo-benefício. “O que a gente setor de refrigeração da Thermo-Iso. tende a fazer é trabalhar em cima do pior caso para que em qualquer lugar a gente consiga atender aos Automação critérios da norma”, pontua. As arquitetas Fabiana Villegas e Gabriela Vilarrubia, à frente do escritório Vila Ville Arquitetura, defendem Construção modular que a automação é um grande facilitador na pro- A arquiteta Thais Ruiz tem utilizado diferentes re- moção do conforto ambiental. “Nem todo cliente cursos para ampliar o conforto ambiental em uma tem consciência do quanto facilita a dinâmica da casa contêiner que está em construção. No projeto, vida da pessoa. Muitas vezes ele precisa, mas não foram utilizadas telhas termoacústicas, com manta sabe que é possível”, diz Gabriela. De acordo com térmica no forro entre a chapa do contêiner e o for- as profissionais, a automação da iluminação seria o ro de gesso. “Mas o ponto de partida foi a implanta- principal a ser feito, pois evita desperdícios e permi- ção inteligente dos módulos, pensando na insola- te regular a intensidade da luz de acordo com seus ção e ventilação”, explica. usos. A indústria tem oferecido variados recursos para Outras soluções possíveis incluem automação de que obras modulares ofereçam tanto melhores brises e persianas, para controle de insolação, re- condições de vivência quanto variadas opções gulagem inteligente do ar-condicionado, e isola- estéticas. É o caso da Thermo-Iso, que produz mento do som nos ambientes. “Muitos acham que placas e telhas isotérmicas. Segundo Carolina é luxo, mas é praticidade e conforto. É um investi- Luca, supervisora de vendas de coberturas da mento, a princípio, alto, mas que se paga, pois gera empresa, os painéis são como sanduíches, com economia”, concorda Fabiana. duas placas de aço galvalume e um manto isolante no meio, que pode ser feito de isopor (EPS), poliuretano (PUR) ou poliisocianurato (PIR), com diferentes espessuras e densidades. 30
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ARTIGO Centralidades e paisagens urbanas “Somente os espaços públicos acessíveis, polivalentes, com qualidades estética e simbólica, culturalmente significativos, podem de fato criar centralidades urbanas.” * Formado em Por Sérgio Marin de Oliveira * cessários (ou parte deles) a pé. arquitetura e A cidade é permanentemente reconstruída para urbanismo pela Em “Reflexões e Propostas para a Cidade Democráti- atender interesses diversos. David Harvey, em sua Faculdade de ca do Século XXI, Jordi Borja escreve, em “Urbaniza- obra “A Loucura da Razão Econômica”, escreve em “O Arquitetura de Santos. ção e Centralidade”, que o espaço público é objeto Espaço e o Tempo do Valor”: “Podemos dizer agora Superintendente de chave na construção da cidade metropolitana. As que, em um primeiro momento, o capital cria uma Paisagismo e Meio infraestruturas e os sistemas de transportes não ga- paisagem física e as relações espaciais adequadas às Ambiente da EMURB rantem mobilidade, mesmo sendo indispensáveis, suas necessidades e propósitos ( tanto na produção – Empresa Municipal e a criação de um conglomerado de atividades do quanto no consumo) e, em um segundo momento, de Urbanismo em São terciário qualificado não produz, automaticamen- no futuro, percebe que o que criou se tornou anta- Paulo (de 2001 a 2002) te, centralidade. Somente a existência de espaços gônico às suas necessidades. É parte da dinâmica e Diretor-Adjunto do e equipamentos públicos, acessíveis, seguros, poli- de acumulação capitalista a necessidade de “cons- Departamento de valentes, dotados de qualidade estética e de carga truir paisagens e relações espaciais inteiras para mais Parques e Áreas Verdes simbólica, quer dizer, culturalmente significativos, adiante tornar a destruí-las e reconstruí-las do zero na Prefeitura Municipal cria centralidade. A centralidade urbana, entendi- no futuro”. (2) de São André (1999 da como condensação da cidade, não é tanto o nó Efetivamente, os interesses do capital desenham pai- a 2001). Professor onde confluem os fluxos do espaço metropolitano, sagens, reorganizam o traçado urbano, criam novas de história de arte mas, sim, o lugar de encontros, de identidades. (1) demandas e expectativas. Por outro lado, a pressão na ETESG Carlos de A concepção de centralidades urbanas está afeita, so- social por melhorias nos bairros e a luta pela cidade- Campos em São Paulo bretudo, às grandes cidades e metrópoles, devido à -território também é motor de transformações. Os e no IADE –Instituto sua complexidade de relações e escalas, tanto quan- moradores se organizam e exigem a instalação de in- de Arte e Decoração to às variadas percepções de seus moradores em re- fraestrutura (água, esgoto, rede elétrica, iluminação, (entre 1986 a 1989). lação ao espaço urbano, ao seu desenho, aos equipa- drenagem etc.), construção de hospitais e escolas, Em Paisagismo, mentos públicos, a suas áreas verdes e à mobilidade. ampliação do sistema de transportes, áreas de lazer, responsável- Sabemos que a desigualdade social se reflete dire- áreas verdes. Aliás, estas são demandas da população coordenador por tamente nesta apreensão, que é imediata e factual, em todos os bairros, independentemente de seu ex- projetos vários, entre principalmente nos países pobres, embora existam trato social. eles: Faculdade de relações semelhantes, menos desiguais, em países As exigências por áreas verdes e jardins, praças e par- Medicina da USP desenvolvidos. Na cidade de São Paulo, há diferenças ques, com brinquedos criativos, áreas de vivências e (2006), Largo do consideráveis de longevidade entre os moradores para esportes (quadras, pistas de skate, por exemplo), Arouche (2004), Praça de bairros abastados e de bairros periféricos, assim propiciam lazer e encontros, o contato social enfim. da Sé (2004), Praça da como na oferta de escolas, hospitais, áreas de lazer São espaços urbanos inclusivos, que iluminados República (2004), São etc. A cidade avança em territórios sem infraestrutu- adequadamente auxiliam na diminuição da violên- Paulo. Em arquitetura, ra, em condições precárias, ampliando os problemas cia urbana. Há suficientes experiências que indicam responsável por sociais. O morador da periferia tem que se deslocar essa qualidade dos espaços agregadores. É preciso diversos projetos por longas distâncias, de casa para o trabalho e vice- instrumentalizar as áreas públicas para a construção e consultorias: -versa, perdendo horas de seu dia apenas com essa de cidades democráticas. Faculdade de tarefa. Na capital paulista, a construção de linhas de Em uma metrópole, essas demandas são urgentes. Odontologia da metrô adequadas a terminais de ônibus facilitaram Daí a necessidade de entender e construir centra- USP (2005 a 2022), essa mobilidade, apesar de lenta; porém, devido ao escolas de ensino preço das passagens ainda é corriqueiro que mora- fundamental, centros dores de bairros periféricos façam seus trajetos ne- poliesportivos. É diretor da APUI Arquitetura e Paisagismo (2005 a 2022). 32
CENTRALIDADES E PAISAGENS URBANAS Fotos: divulgação Em São Paulo, presença das águas a partir de nascentes difusas. Espaço de estar, com permeabilidade e jardins, São Paulo-SP. lidades urbanas e procurar, por meio de incentivos questão. Os novos moradores virão com dois a três públicos, criar condições para geração de emprego automóveis por família. e renda. É tarefa das prefeituras, cada qual com suas A relação de vizinhança que foi estabelecida por dé- realidades, considerar essa possibilidade. Esses inves- cadas de convívio desaparece imediatamente. Os timentos auxiliam o estabelecimento de centralida- bairros sofrerão alterações radicais, prejudicando a des que visam a permanência do morador em sua insolação das atuais moradias, as vistas amplas, a re- região, o qual poderá evitar atravessar a cidade para lação com o ambiente, a qualidade de vida. Prova- o trabalho, ganhando horas de descanso, de vida em velmente, a infraestrutura de esgoto e alimentação família e para o lazer. de água sofrerá impacto considerável. Uma possível A cidade é sempre reconstruída, como já foi dito, por boa intenção urbanística por parte do gestor público variadas razões. Há uma disputa permanente entre as gerou, assim, um redesenho tão-somente apropria- perspectivas do capital e as da “cidade para todos”; do ao capital e seus interesses. geralmente, elas não são coincidentes. Resta falar, neste curto texto, de demandas popula- A título de exemplificação, na cidade de São Paulo, res afeitas ao meio ambiente. Sabemos que deter- podemos verificar a distância, neste momento, entre minados assuntos ganham importância devido a possíveis intenções aparentemente interessantes e a problemas recorrentes como inundações e déficit realidade que se impõe, agressiva e determinante, na da capacidade de drenagem das águas (macro e mi- reconstrução da qual falamos anteriormente: o últi- cro) no meio urbano das cidades em geral, mesmo mo Plano Diretor Estratégico da Cidade de São Paulo nas médias e pequenas. São problemas de resolução procurou favorecer o adensamento populacional em complexa, principalmente em face do grau avança- torno de grandes vias de transporte, com abundância do de impermeabilização dos solos. A reversão desse de oferta de transporte publico, inclusas as estações fator deverá ser preocupação constante dos urbanis- de metrô. A ideia norteadora destas medidas seria fa- tas e ativistas. vorecer a mobilidade urbana. A realidade, entretanto, Essa reversão se dará por obras de engenharia qua- se impõe, com os interesses do capital se sobrepondo lificadas, mas também por soluções pontuais que aos interesses dos moradores. Bairros como Pinheiros, ampliem consideravelmente as áreas permeáveis Vila Madalena, Vila Mariana, Butantã e outros, com suas nos lotes construídos, nas praças, parques, jardins características próprias e especificidades culturais, públicos e mesmo em canteiros centrais de grandes estão sendo destruídos rapidamente, ocasionando vias. A ampliação das áreas permeáveis e arborizadas gentrificação acelerada. Nesta lógica, o gabarito dos deverá ser procedimento rotineiro e permanente nas edifícios foram majorados e sobrados, pequenos co- gestões das prefeituras em seus espaços públicos e mércios, equipamentos tradicionais de convivência também incentivadora dos mesmos procedimentos social, em quadras inteiras, foram demolidos para que nos espaços privados. sejam construídos edifícios e torres de 25 a 30 anda- Nesse sentido, a implantação de áreas densamente res, na sua quase totalidade de alto padrão, sem recuo arborizadas também constitui fator de inibição de frontal, independentemente das larguras das vias em 33
CENTRALIDADES E PAISAGENS URBANAS inundações relativas às águas pluviais. Importante NOTAS: considerar a urgência de uma relação mais harmô- nica entre o meio urbano e a natureza. As cidades (1) Ver BORJA, Jordi. Os Centros das Metropóles – Reflexões e Propos- atuais não podem dar as costas a essa necessidade. tas para a Cidade Democrática do Seculo XXI, Ed. Terceiro Nome / Im- As águas dos rios, córregos e ribeirões devem fazer prensa Oficial, 2001, pág. 71. parte dessa política. Os rios devem ser tratados, suas águas, limpas. O (2) Ver HARVEY, David. A Loucura da Razão Econômica , Ed. Boitempo, sistema de esgoto não pode utilizar rios e córregos 2017, pág. 76. para tal fim. Já os córregos devem ser destampona- dos e suas águas, limpas sempre que possível. Houve (3) Ver OLIVEIRA, Sérgio Marin e PERDIGÃO, José Carlos. Excerto de tex- época que os tamponamentos de córregos foram to de apresentação de projeto na Rua Corinto, 2020. considerados soluções. Hoje, sabemos que não foi resolvido o problema de limpeza de seus entornos, (4) Ver SPIRN, Anne Whiston. O Jardim de Granito / A Natureza no De- tampouco auxiliou-se a drenagem. As águas devem senho da Cidade, Edusp, 1995, pág.15. voltar a fazer parte da paisagem urbana. “Nos centros urbanos convivemos há tempos com uma proposta ultrapassada de soterramento de nas- centes, retificação de traçados e construção de ave- nidas em fundos de vale. O desafio atual é a recupe- ração e mitigação dos impactos gerados nas águas para que possamos entregar esses recursos às gera- ções futuras em um estado que possa lhes garantir condições dignas de sobrevivência. Foram registra- das varias experiências de destamponamento de córregos e mesmo de rios urbanos, com o objetivo de reinseri-los na paisagem urbana, de conectá-los a espaços públicos, na Coreia do Sul, Grã Bretanha, Austrália, Japão, México, Espanha, e se apresentam como referências para propostas em outros centros urbanos com problemas semelhantes e mesmo mais graves que possa lhes garantir condições dignas de sobrevivência.” (3) Na disputa pela cidade-território, o agente público deveria apoiar, incentivar, estabelecer programas e projetos que atendam à quase totalidade da popula- ção, na reconstrução de espaços urbanos, tendo em vista a cidade e a satisfação de seus moradores. Em “O Jardim de Granito”, Anne Whiston Spirn es- creve em seu prefácio: “a natureza permeia a cidade, forjando relações entre ela e o ar, o solo, a água e os organismos vivos em seu interior e a sua volta. Em si mesmas, as forças da natureza não são nem benig- nas nem hostis à humanidade. Reconhecidas e apro- veitadas, representam um poderoso recurso para a conformação de um habitat urbano benéfico; igno- radas ou subvertidas, ampliam os problemas que há séculos castigam as cidades. Infelizmente, as cidades tem geralmente negligenciado e raramente explora- do as forças naturais que existem dentro delas”. (4) 34
PATROCINADOR OFICIAL RIO OPEN DE TÊNIS 35
ARTIGO Como garantir um futuro mais inteligente e seguro para a sociedade? Educação ambiental é uma forma de sensibilizar as pessoas sobre o que está acontecendo, qual o papel delas, suas escolhas e ações no impacto na natureza. * Bióloga especializada Por Marina Ferreira * para garantir um futuro melhor. Explico. em Etnobotânica e mestre em Recursos No início de abril deste ano, saiu o relatório de cli- Ao cuidar do ambiente nós estamos cuidando de Genéticos Vegetais. ma da ONU no “Painel Intergovernamental sobre nós mesmos, do ar que respiramos, da água que be- Trabalha no Pé de Mudanças Climáticas” (IPCC, na sigla em inglês), no bemos, da qualidade e oferta dos alimentos e, inclu- Feijão onde lidera qual há a informação de que as ações humanas, sive, garantindo nossos meios econômicos e sociais projetos que para evitar um futuro catastrófico, precisam ser ur- de sobrevivência. envolvem implantação gentes, pois, ao que tudo indica, temos apenas três de hortas e sistemas anos para reverter um cenário de impactos climáti- Neste sentido, a educação ambiental é uma gran- de compostagem. cos extremos. de aliada para tirar as vendas dos olhos e apresen- Também atua como Para isso, é necessário reduzir emissão dos gases tar uma realidade que está à nossa volta, em nosso educadora ambiental, de efeito estufa (GEE), que acarretam um aumento cotidiano, mas que não nos dávamos conta por ministrando oficinas da temperatura global e, consequentemente, uma falta de vivenciá-la, ou simplesmente por não en- sobre agricultura maior frequência de tempestades, enchentes, es- tender alguns processos ecológicos vitais para um agroecológica, tiagem, incêndios e outros eventos climáticos que ambiente equilibrado. agrobiodiversidade e causam impactos, os quais já se podemos sentir na compostagem. cidade e no campo. Por meio da educação ambiental despertamos o Para a redução dos GEE, o relatório aposta em utiliza- respeito aos bens comuns, o qual surge muitas ve- ção de fontes alternativas de energia limpa, aumento zes em razão de uma referência pessoal carregada do plantio de floresta para captação de carbono, re- de emoções e afeto, e tem grande relevância num dução da emissão de gás metano, em políticas que contexto cada vez mais acentuado de uma socie- incentivem a eficiência energética, na redução das dade individualista. taxas de desmatamento e na aceleração do uso de tecnologias de energias limpas. Isto é o que vejo com minha experiência no Pé Entretanto, para que a mudança aconteça de fato, de Feijão, o qual é um negócio de impacto que antes de tudo, precisamos nos sensibilizar e querer tem como objetivo apoiar as pessoas para um que ela aconteça e, para isso, precisamos ter cida- estilo de vida cada vez mais saudável e sustentá- dãos conscientes do que devem exigir. vel, em uma jornada que percorre especialmen- A pergunta que surge é: para atingir este objeti- te o ciclo do alimento desde a produção, o con- vo, como sensibilizar pessoas que estão desco- sumo e descarte. E esse ciclo é poderoso para nectadas do tema ou que nem mesmo acredi- começar um grande despertar. tam que vão sofrer com o impacto ambiental? Como furar a bolha para que o tema em debate Nas oficinas de “Horta em pequenos espaços’’, por tenha um maior alcance? exemplo, incentivamos os participantes a cultivar seu Informação e educação são fundamentais para que próprio alimento, para colherem comida fresquinha todas as pessoas entendam melhor o que está acon- em casa. Isso, ainda, com aquele gosto de “fui eu que tecendo e qual o impacto de suas escolhas e ações fiz, que plantei e cuidei”. Este é um lado social da edu- cação ambiental, o de aproximar e sensibilizar pelo amor, valorizando as relações socioemocionais. 36
gocomunicacao.com Tégula Solar, a primeira telha de concreto A ENERGIA fotovoltaica do país. _EM SUA A BIG-F10 é um produto revolucionário em sua forma e na geração de energia limpa. MELHOR Tecnologia brasileira avançada e revolucionária, _FORMA. com beleza e praticidade em sua instalação. Afinal, Tégula Solar une toda a qualidade e tradição das marcas Eternit e Tégula – empresas de renome e Top of Mind – à sustentabilidade e inovação. 0800 021 1709 tegulasolar.com.br @tegulasolar /tegulasolar 37
COMO GARANTIR UM FUTURO MAIS INTELIGENTE E SEGURO PARA A SOCIEDADE? Fotos: divulgação Acompanhamento técnico em empresa Oficina de Horta em pequenos espaços para Formação com professores sobre como parceira do Pé de Feijão que transforma a comunidade. inserir temas sobre alimentação saudável e restos de comida do refeitório e de sustentável na abordagem pedagógica. manutenção de jardins em adubo por meio da compostagem. Formação com professores para criação Formação de grupo de jovens, agricultores e Conhecer opções viáveis para diminuir o de horta em caixote. Uma forma de levar o agricultoras para realização de compostagem nosso impacto e fazer escolhas conscientes cultivo de alimentos para dentro das escolas. termofílica, na Zona Leste de São Paulo. faz parte da oficina “Dia a dia mais sustentável”. Nessa atividade, apresentamos um repertório de duas plantas, para reproduzir a diversidade, em um plantas, temperos, ervas medicinais, e hortaliças. Mui- espelho da natureza, e, por fim, sempre cobrimos tas delas, como as aromáticas, podem por um sim- todo o solo, assim como é o chão das florestas. ples sentir de aroma levar essas pessoas à sua infân- Desta maneira, as ações de educação ambiental e cia no quintal de uma avó e suscitar a lembrança de alimentar focadas no ciclo do alimento são gatilhos práticas de autocuidado pelo chá, pela comida feita para transformações individuais. Neste vasinho, re- em casa com carinho. fletimos sobre sistema de produção e distribuição Além disso, quando plantamos um vasinho, traze- de alimentos: como foi plantada e qual caminho a mos, de forma sutil, o questionamento sobre como comida faz para chegar na mesa; e, também, sobre nossos alimentos estão sendo cultivados. Orienta- as necessidades da planta e a relação de uma plan- mos as pessoas a sempre fazerem um cultivo agro- ta saudável, com um ambiente saudável, com uma ecológico, ou seja, sem qualquer tipo de veneno ou pessoa saudável. agrotóxico, tampouco de adubos sintéticos. O que acontece no vaso é o microcosmo do que Para tanto, cultivamos com terra preta adubada, hú- acontece no campo. Assim, entendemos como a mus de minhoca e outros adubos orgânicos, como agricultura pode ser regenerativa ou destrutiva ao o bokashi. Num vaso sugerimos o plantio de uma a ambiente. No fim, todas as pessoas iniciam (muitas 38
COMO GARANTIR UM FUTURO MAIS INTELIGENTE E SEGURO PARA A SOCIEDADE? vezes pela primeira vez) a aventura de cultivar um ser, conscientizar e chamar para a ação a sociedade, com um pedacinho da natureza e acabam por compre- exemplos práticos e caminhos viáveis e cabíveis no ender e se abrir para esta experiência. nosso cotidiano. Com algumas empresas parceiras também temos Percebemos que a educação ambiental pode e trabalhado a questão dos resíduos e seus impactos. deve ser realizada com uma grande diversidade Queremos aumentar a visibilidade e a viabilidade da de públicos. Neste sentido, trabalhar com crian- compostagem in loco, seja comunitária, doméstica ças é garantir um futuro mais inteligente e seguro ou na própria empresa, levando educação para que a para a sociedade. Enquanto ensinar os adultos é compostagem seja vista como uma técnica promo- fundamental para lidarmos com o nosso presente tora de saúde e saneamento por meio do incentivo problemático, pois também precisamos gerar mu- à autonomia da população como agentes ativos na danças e impacto no agora. redução de resíduos orgânicos destinados aos ater- Ressalto, por fim, que a transformação individual ros sanitários. repercute no coletivo, pois indivíduos compõem Os materiais de naturezas diferentes devem ser en- empresas e governos, que são grandes tomadores caminhados para locais de tratamento diferentes: os de decisões. Neste sentido, a educação ambiental recicláveis são matérias-primas para novos produtos, propicia a compreensão de como nossas escolhas os restos de comida e de manutenção de jardins se individuais, coletivas e profissionais podem, ou não, transformam em adubo, e apenas uma pequena par- favorecer ciclos regenerativos que serão positivos te, chamada rejeito, é que não tem jeito e deve ir para para Terra e todos seus habitantes. aterros sanitários. Neste ponto, é importante destacar que a gestão local dos resíduos orgânicos por meio da compos- tagem aproxima as pessoas do trabalho de coleta, tratamento e do usufruto do produto gerado pelo processo, que é um adubo orgânico muito nutritivo que pode ser usado em todo tipo de planta e hortas. Assim, com técnica, mobilização social e vontade po- demos fazer compostagem em nossas casas, condo- mínios, escolas, bairros e empresas. Uma vivência sobre compostagem permite enten- dermos que temos um grande problema na nossa gestão de resíduos urbanos. Segundo o relatório “Análise das emissões brasileiras de Gases de Efeito Estufa e suas implicações para as metas climáticas do Brasil”, do SEEG Brasil de 2020, o setor de resíduos foi responsável pela emissão de 92 milhões de tone- ladas de CO2. Desse total, a maior parte (64%) está associada à disposição de resíduos sólidos em aterros controlados, lixões e aterros sanitários e, com menor contribuição (apenas 1%), está o tratamento biológi- co por meio de compostagem. Devido à sua importância, também realizamos ações que abordam o consumo consciente. Em nossa ofici- na “Dia a dia mais sustentável”, chamamos para uma reflexão: qual o impacto do nosso alto consumo de plásticos de uso único no planeta, na nossa saúde e no nosso futuro? Que tal inspirações de como dimi- nuir nosso consumo desses materiais tão poluentes? Dessa forma, a educação ambiental promove a saúde do ambiente e, consequentemente, a nossa saúde. Todas estas oficinas e ações que listei podem acon- tecer dentro de empresas, espaços públicos, cen- tros culturais, organizações e escolas, sempre com o objetivo de realizar a educação ambiental, informar, 39
ARTIGO Evolução em sustentabilidade e aplicação do ESG no setor da construção * Mestre em Por Márcia Menezes dos Santos * são escassos e não estarão mais disponíveis muito Engenharia de em breve. Produção pela Escola A sustentabilidade no setor da construção tem ● As alterações climáticas causadas pela emissão Politécnica da USP. avançado positivamente ao longo dos últimos de gases e poluentes já têm causado impactos nas Arquiteta e Urbanista anos. Esse movimento está muito claro quando condições naturais de vida em nosso planeta com pela Faculdade olhamos a evolução das certificações “green buil- o aumento de temperatura. de Arquitetura ding”, que envolvem, em sua maioria, os empre- ● O desequilíbrio da natureza, além de provocar e Urbanismo da endimentos corporativos e institucionais. Com impactos importantes no meio ambiente também USP. Especialista isso, os temas ambientais presentes na maioria contribuem para o aumento de desigualdades em qualidade e dos referenciais utilizados no Brasil já são muito sociais em diversas partes do mundo. produtividade pela conhecidos no setor. Com esse cenário, não há como estruturar um FCAV/USP. MBA Já é possível observar em algumas empresas a pre- projeto sem incluir diretrizes socioambientais, in- Internacional em sença de uma consciência maior sobre a respon- dependentemente do seu tamanho. Empreende- Gestão Ambiental sabilidade de cada profissional em cada processo dores e investidores estão muito atentos aos riscos pela Proenco/Câmara para se contribuir com a construção de cidades relacionados aos processos e produtos da constru- Brasil Alemã. Com mais sustentáveis. Todos aqueles que participam ção e querem entender como esses aspectos estão atuação em projetos do desenvolvimento do empreendimento, desde a sendo considerados e tratados. de consultoria e sua concepção, passando por sua execução e até O mundo empresarial está ampliando sua perspec- capacitação em ESG, mesmo em sua operação, têm possibilidade de tiva quanto aos resultados de seus negócios. O con- estratégia, gestão, pensar em soluções mais eficientes e que causem ceito de que as empresas e seus negócios geram desempenho e menos problemas ambientais ou sociais. impactos positivos na sociedade está ganhando inovação, diretora Mesmo com um número bastante expressivo de força e sendo adotado pelos grandes líderes, que do CTE – Centro empreendimentos certificados, a adoção de so- além de garantir o lucro também inclui questões de Tecnologia de luções mais eficientes e que trazem benefícios ao socioambientais em seus compromissos e estraté- Edificações , Unidade planeta ainda são restritas a uma pequena parte gias. Não haverá espaço para organizações que não de Inovação e das construções brasileiras. Infelizmente, este tema assumirem a sua responsabilidade em relação ao Tecnologia. ainda não se transformou em um requisito crítico desenvolvimento sustentável. de escolha pelo consumidor aplicado no momen- Mesmo sem ter uma demanda clara e efetiva do to da compra ou da locação de um imóvel. Essa consumidor atual, o setor da construção precisa realidade, entretanto, está em processo acelerado avançar nesses assuntos. Além de potencializar a de transformação. As pessoas já estão mudando o questão ambiental, há necessidade de também seu comportamento e pensando em como podem pensar em questões sociais e ainda de governança contribuir com um futuro sustentável. das organizações do setor. É preciso ampliar o con- Atualmente, há uma grande facilidade ao acesso de ceito de sustentabilidade, trazendo-o para a estraté- dados científicos publicados por organismos inter- gia das corporações e dos negócios. É o momento nacionais sobre a mudança de clima que alertam de entender as responsabilidades e atuar de manei- toda a sociedade para alguns aspectos importantes: ra positiva no processo de transformação global. ● Muitos dos recursos naturais que foram naturalmente gerados durante milhões de anos já 40
Esquadrias únicas, para momentos únicos. Arquitetura: Indio da Costa - A.U.D.T. CONSTRUTORA: LAER Com perfis discretos, as esquadrias da Linha FEALSlim Glass 60 exibem como atrativo o visual minimalista, que favorece a integração dos ambientes - requisito importante sobretudo em projetos residenciais. Feitas sob medida de acordo com o vão, as portas e janelas podem ser compostas com diferentes tipos de vidros (insulados ou laminados) e acessórios (como persianas e blackouts entre vidros e telas plissês). Entre os componentes que garantem a resistência e a estética dos produtos, destacam-se o sistema de trilhos de aço inoxidável, o travamento automático ou manual embutidos nas laterais das paredes e os puxadores discretos. Além da FEALSlim Glass 60, com 30mm de vista, existe ainda a versão FEALSlim Glass 50, com 22mm de vista. Showroom: Al. Gabriel Monteiro da Silva, 2.118 – Jd. Paulistano - SP 11 3082-0322 – Agende sua visita conosco. [email protected]
EVOLUÇÃO EM SUSTENTABILIDADE E APLICAÇÃO DO ESG NO SETOR DA CONSTRUÇÃO Já é possível notar que várias empresas do setor da Os temas organizados nessa mandala podem ser construção estão se estruturando para aderir aos aplicados em todas as organizações e /ou negócios princípios ESG, sigla do inglês Environmental, So- do setor da construção. Entretanto, sua profundi- cial and Governance. Observa-se que já existe uma dade e complexidade irão depender dos impactos tendência desse assunto ser cada vez mais exigido, relacionados a cada parte interessada. tornando-se condição primária para acessar inves- Assim, recomenda-se seguir alguns passos para timentos, diminuir riscos nas operações e garantir priorização desses assuntos: resiliência aos negócios. ● Passo 1: Levantar quais são as partes interessadas As construções tem responsabilidades nos temas do (stakeholders) relacionados à organização e a cada ESG na medida em que os processos construtivos projeto e obra a ser desenvolvido e identificar convencionais têm, como base, materiais cuja pro- os impactos e preocupações sociais, ambientais dução contribue com as mudanças climáticas, por e de governança relacionados a esses agentes. serem considerados grandes emissores de carbono. Nesse momento, é importante listar o máximo de Além disso, o consumo de energia das edificações aspectos sem qualquer filtro. tem grande contribuição para a geração de GEE por ● Passo 2: Identificar quais são os TEMAS um longo período de tempo, considerando as ma- MATERIAIS, tomando como base a relação entre a trizes energéticas atuais. importância de cada tema para o negócio com a É fundamental pensar em como o setor da constru- relevância para cada parte interessada. ção pode participar ativamente da transformação das ● Passo 3: Estabelecer o compromisso da cidades por meio dos negócios, trazendo soluções organização, projeto ou obra em relação aos temas eficientes e com uso equilibrado recursos naturais. materiais identificados. Para organizar os temas em cada dimensão, pode- ● Passo 4: Estruturar um plano para alcançar mos usar a Mandala ESG – Setor da construção (ver os resultados esperados nas dimensões sociais, figura abaixo): ambientais e de governança. Esse plano poderá contemplar ações e iniciativas a serem aplicadas de Fonte: CTE – Centro de Tecnologia de Edificações. diferentes formas, tais como: 1. Incorporação de objetivos e metas ESG no planejamento da empresa 2. Ajustes de processos gerenciais e operacionais 3. Desenvolvimento de diretrizes de projetos com enfoque na incorporação de soluções eficientes 4. Desenvolvimento de diretrizes ESG a serem aplicadas nos canteiros de obras 5. Adoção de novos sistemas e tecnologias construtivas 6. Estruturação de novos modelos de negócio e/ ou atendimento 7. Criação de critérios para seleção de fornecedores e parceiros que contemplem requisitos relacionados ao ESG 8. Conexão e diálogo constante com as partes interessadas ● Passo 5: Monitorar a implementação do plano, tomando as ações corretivas necessárias. Esse processo inclui uma mudança cultural impor- tante dos profissionais do setor da construção, mas certamente o resultado será muito gratificante. Va- mos participar da construção de cidades cada vez mais sustentáveis! 42
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Eficiência energética e sustentabilidade Colaboramos para minimizar impactos negativos ao meio ambiente através de produtos que resultam em edificações eficientes energeticamente e ecologicamente sustentáveis, além de ter nossos processos produtivos sob constante monitoramento. Saibamaisem www.rinnai.com.br
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