Por Victor Hugo Félix Imagens Ana Ottoni, Acervo Paulo Mendes da Rocha e Divulgação 51
MEMÓRIA Humanista Nascido em 25 de outubro de 1928, em Vitória (ES), Paulo Mendes da Rocha formou-se arquiteto e urbanista em 1954, na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. E desde o início de sua carreira, obteve grande destaque, vencendo em 1958 o concurso para projetar o Ginásio do Clube Atlético Pau- listano. Com esse trabalho, a visão humanista da arquitetura já estava bem desenhada. “Imaginei que as construções fechadas que se usam para os ginásios cobertos não cabiam ali. Tinha que ser algo festivo, que pudesse conviver com a alegria da rua Au- gusta. [...] Daí o surgimento daquela frente inesperada, que pare- ce um teatro”, disse para o portal ArchDaily. Com o projeto do Paulistano, Paulo Mendes da Rocha re- cebeu o Grande Prêmio Presidência da República na 6ª Bienal Internacional de São Paulo, em 1961. Nesse período, passou a integrar o grupo chamado “escola paulista” na arquitetura, lide- rado por Vilanova Artigas. Os arquitetos desse movimento apos- tavam no concreto armado aparente, valorizavam a estrutura e davam ênfase às técnicas construtivas. Para a escola paulista, a arquitetura trazia também um viés político, tanto na elaboração do conceito de cada projeto como na busca por melhores con- dições para os trabalhadores das obras. O viés humanista e político de Paulo Mendes da Rocha era expresso tanto em seus trabalhos de arquiteto quanto de pro- fessor. Ele começou a lecionar em 1961 na Faculdade de Arqui- tetura e Urbanismo na Universidade de São Paulo (FAU/USP). Entretanto, com a ascensão da ditadura militar, em 1969 ele foi cassado de suas funções em decorrência do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Na década de 1970, ele manteve seus posicionamentos como representante da classe presidindo o departamento pau- lista do Instituto dos Arquitetos do Brasil. Após anistia em 1980, Paulo voltou a lecionar, dando conti- nuidade ao seu trabalho de formar arquitetos com foco no hu- manismo. “É impossível ensinar arquitetura, mas é possível edu- car um arquiteto. Uma escola de arquitetura não ensina coisa alguma, mas faz cogitar. Recebe inconscientes e ignorantes, de- volvendo para a sociedade ignorantes, entretanto agora cons- cientes”, afirmou à América. Ao longo dos anos 1980 e 1990, Paulo seguiu criando pro- jetos icônicos, como o Museu Brasileiro da Escultura (MuBE), o pórtico da Praça do Patriarca, em São Paulo, e a reforma da Pina- coteca do Estado de São Paulo. No campo do urbanismo, proje- tou a Cidade do Tietê e a reurbanização das baías de Vitória (ES) e Montevidéu (Uruguai). Em cada trabalho se reafirmava a busca por uma sociedade mais integrada, que valorizasse a natureza e oferecesse uma verdadeira qualidade de vida para os usuários, não apenas no âmbito das funcionalidades, mas também nos afetos e na imaginação. 52
AeroMax A exclusiva e revolucionária cobertura retrátil da Zetaflex. Desde 1959, a Zetaflex é líder no segmento de Coberturas, Toldos, Brises e Revestimentos metálicos. Sempre à frente do tempo, a empresa já executou quase meio milhão de projetos e coleciona mais de 160 patentes reconhecidas. Entre elas, destacam-se os primeiros sistemas de coberturas móveis do mundo, como o AeroMax com exclusivo sistema “retrátil” e o original sistema “abre e fecha” do AeroTeto. PATROCINADOR OFICIAL RIO OPEN DE TÊNIS zetaflex.com.br
MEMÓRIA Segundo Guilherme Wisnik, arquiteto e ensaísta que foi cura- dor da exposição Ocupação Paulo Mendes da Rocha, no Itaú Cultural, há uma forma diferente de humanismo nos projetos do capixaba. O concreto aparente, apesar de trazer fixidez nas estru- turas, ainda cria espaços muito fluidos, com rampas, meio níveis, integrações que permitem poder ativo do usuário em relação à arquitetura. “Não é como Lina Bo Bardi, com desenhos com pessoas usando os espaços. Ele pensava nos usos imaginando a imprevisibilidade. Isso era a tentativa de deixar os espaços mais indeterminados, para que o uso pudesse mudá-los”, disse. Exemplo é a casa que Paulo Mendes da Rocha projetou para a própria família em 1964. Feita com construção modular, a obra privilegia a integração dos ambientes, com o tamanho dos quar- tos e espaços mais privados reduzidos de modo a ampliar as áre- as de convívio. E nos pequenos detalhes Paulo propiciou novas formas de uso. Nos banheiros, por exemplo, os canos que levam água para os misturadores formam uma espécie de serpentina para aguçar a criatividade dos filhos, que poderiam criar os usos que quisessem para aquele utensílio. “Não que tivesse funciona- lidade, mas que fosse pretexto pra [dizer] ʻVocê vai ver o que eu vou fazerʼ”, afirmou A cidade contemporânea Paulo Mendes da Rocha expressou por diversas vezes que o objeto central da arquitetura na atualidade é a cidade con- temporânea. Segundo ele, até mesmo a casa projetada para si mesmo contraria o que ele considera ideal para cidades com mais de 100 mil habitantes. Os edifícios, na sua visão, são muito mais interessantes que um terreno separado para a construção de uma única residência. “A casa contemporânea tem que estar num prédio [...] para poder ir para escola a pé, pra ter acesso ao metro...”, afirmou no documentário “Tudo é projeto”. Em “Tudo é projeto”, ele citou o edifício Copan como exemplo, onde há residências nos andares superiores, mas no nível da cidade é bar, comércio, etc. O Sesc 24 de Maio, em São Paulo, uma de suas últimas obras, evidencia percepção de ter as cidades como espaços demo- cráticos de convívio. Construído no que era o antigo prédio da Mesbla, o centro cultural traz no topo do edifício uma piscina pública, com amplas vistas para a cidade de São Paulo. Cada am- biente no edifício é pensado de forma a integrar os espaços, tra- zendo ainda a cidade para dentro. Mesmo os vestiários, que em geral são meramente funcionais, tem vistas panorâmicas para o entorno, permitindo que os usuários se mantenham conectados a São Paulo. Um segundo prédio foi anexado à obra e ali foram instaladas as maquinarias e áreas de serviços, de acesso exclusivo para fun- 54
MEMÓRIA cionários. Foi uma solução encontrada por Paulo Mendes da Rocha para dar novos usos a velhas construções. “Transformar a antiga Mesbla em Sesc é uma política de ocupação, novas ocupações. Numa cidade como São Paulo, é difícil imaginar demolição. Muita transformação ocorrerá por dentro”, defen- deu. Idealista, acreditava que as pessoas não deviam ter medo dos centros das cidades. “O medo é ferramenta do fascismo”, dizia. Ao contrário, defendia que as pessoas vivessem em li- berdade, convivendo com as diferenças, tendo a arquitetura como promotora desse estilo de vida, evitando condomínios fechados e outras habitações excludentes. “Nós temos que ter uma sociedade que se entenda, senão não é sociedade”. Paulo Mendes da Rocha recebeu diversos prêmios ao lon- go da carreira, como os célebres Pritzker (2006), o Leão de Ouro na Bienal de Veneza (2016) e a Medalha de Ouro da União Internacional dos Arquitetos (2021). Foi um arquiteto de renome internacional, mas que teve mais obras em terri- tório brasileiro. Faleceu em 23 de maio de 2021 aos 92 anos, deixando um legado incontestável. O arquiteto acreditava na importância de perpetuar o co- nhecimento, passando o saber de geração em geração para que a humanidade pudesse sempre encontrar as soluções que precisa para viver. E é assim que Paulo Mendes da Rocha será lembrado. Recordemos o que ele disse para a filha no documentário “Tudo é Projeto”: “Todos nós sabemos que va- mos morrer, mas também sabemos que não nascemos para morrer. Nascemos para continuar”. “Toda novidade é estímulo para o avanço da nossa existência no planeta, que não é nada configurada, é um projeto em andamento.” Paulo Mendes da Rocha 56
URBANISMO Outdoor shower Vencedor do iF Design Word 2021, The Clean Zone pretende reforçar combate à vírus e bactérias. Desde o início da pandemia Covid-19 estamos todos mais da pelo iF Design Word 2021 na categoria Professional Concept, sintonizados com a percepção da presença de vírus e bactérias projetada pela Wonnts e desenvolvida pela Hyundai Engineering em nossos ambientes coletivos. The Clean Zone é uma instalação & Construction, ambas na Coreia do Sul, inclui uma pia onde as pública que pode bloquear poluentes e higienizar o corpo antes mãos podem ser lavadas fisicamente, uma névoa de resfriamen- que adentremos espaços internos. Dado que muitos produtos sa- to para reduzir a poeira fina no ar e uma “caixa” para esterilizar o nitários são limitados a usos individuais e residenciais, a The Clean corpo usando vento e luz UV. O sistema é bem vindo em qualquer Zone é voltada para o público e para a cidade. A proposta premia- espaço público onde há grande interação de pessoas, viva! 58
4823-3033 Foto: Shend vendas 6 de 6 de•co6r•adr e•cor•ar
TECNOLOGIA E INOVAÇÃO Caminhos para aumentar a produtividade da construção Por Roberto de Souza, CEO do CTE. O mercado imobiliário, em 2021, vem sinalizando para um endimentos imobiliários, deve, com certeza, permitir redução forte crescimento do volume de negócios e obras, e ao mesmo de desperdícios, integração de etapas e enormes ganhos de tempo vem sendo pressionado pelo significativo aumento dos produtividade no setor da construção. custos dos materiais de construção. Sustentabilidade - Os investidores, os fundos e os bancos, Os preços dos imóveis e dos custos de obras tendem a au- cada vez mais, vão priorizar as empresas que incorporem em mentar, as exigências dos clientes continuarão a se elevar e a sua gestão os princípios e práticas ESG de responsabilidade competição entre as empresas ficará mais acirrada. ambiental, social e governança. Todo o cenário futuro da cons- trução no Brasil estará marcado por essa tendência de valoriza- Nesse cenário, é muito importante para as empresas da ca- ção da sustentabilidade. deia produtiva, colocar energia e foco no aumento da produti- vidade da construção, para manter as margens de lucrativida- O aumento da produtividade no uso de recursos naturais de dos seus negócios. é também uma questão relevante para o setor da construção: gerar produtos e construir com menor consumo de energia, Quatro grandes ações podem ser elencadas que, se traba- água e geração de resíduos e menor emissão de gás efeito es- lhadas de forma integrada, irão contribuir de forma significati- tufa, são desafios fundamentais para o aumento da produtivi- va para o aumento da produtividade da construção. dade da cadeia produtiva da construção. Industrialização da construção - Sistemas construtivos Lean Construction - Uma das inovações urgentes no se- convencionais não serão capazes de atender aos índices de tor da construção para aumento da produtividade deve estar produtividade e eficiência exigidos por um mercado aquecido focada nos processos de planejamento e gestão de obras. e com escassez de insumos e aumento dos custos de materiais. A filosofia lean construction (construção enxuta) consiste A cadeia produtiva precisa investir na industrialização de em um conjunto de conhecimentos, cuja essência é elevar componentes e elementos construtivos e na construção mo- a capacidade da empresa de eliminar desperdícios visíveis dular off-site, adotando parâmetros industriais de inovação e ocultos continuamente e resolver problemas de maneira tecnológica, padronização, normalização e escala de produção, sistemática. visando repetitividade e ganhos elevados de produtividade. As tecnologias em pré-fabricados de concreto, a construção me- Perdas por ineficiência de produção e logística, atrasos tálica, as estruturas e painéis de madeira, os componentes com decorrentes de falhas de planejamento e baixa produtivida- uso do plástico e materiais orgânicos, já estão largamente dis- de são pontos atacados nesse método de gestão. poníveis no Brasil e podem ser mobilizados em prol da cons- trução industrializada e do aumento da produtividade. A aplicação da filosofia e das ferramentas do lean cons- truction (construção enxuta) pode proporcionar ganhos im- Transformação digital - O movimento de adoção de tec- portantes para empresas do setor. Estamos falando de redu- nologias digitais pelas empresas incorporadoras e construtoras ção de custos e de prazos, maior agilidade na resolução de foi intensificado e agilizado pela pandemia, em especial nos problemas e principalmente de aumento de produtividade. processos de marketing, vendas e contratos digitais, além da comunicação digital, gerando ganhos de eficiência e eficácia Pensando na competitividade da construção, as empre- nessa fase inicial do negócio de incorporação. sas da cadeia produtiva têm como desafio, combinar de forma articulada, os conceitos e práticas de industrialização, A transformação digital via adoção do BIM, das tecnologias transformação digital, sustentabilidade e lean construction, dos drones e da realidade virtual e aumentada, da tecnologia visando aumentar a produtividade da construção e garantir IOT, do bigdata e da inteligência artificial, além dos softwares, a sustentabilidade dos negócios. aplicativos e de outras soluções em todas as etapas do desen- volvimento, projeto, produção, entrega e operação dos empre- 60
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