Revista Sophia nº 70

www.revistasophia.com.br ANO 15 • Nº 70 R$ 14,00

O Paraíso na Terra está preparando um ano novo repleto da sabedoria e cultura indianas. Será um pedacinho da Índia durante quatro dias na fazenda. Música, práticas de yoga, ecologia, culinária, estudos da literatura clássica indiana e muito mais. A terra da sabedoria – Índia, como berço da teosofia, se fará presente no cerrado para um ano novo inspirador. Informações detalhadas em nosso website e pelo telefone (61) 9-9966-5532

Cartas Sophia 70 UNSPLASH PIXABAY Fraternidade no dia a dia Ao leitor SHUTTERSTOCK Uma vida mais plena FREE IMAGES A revista SOPHIA para mim é um meio PIXABAY de acesso para o desenvolvimento da cons- 4 ciência humana, seja na espiritualidade, fi- losofia ou ciência, com artigos para reflexão Além dos sentidos e conscientização. Anoop Jaiswal Entre tantos meios usados para propagar 5 ódio , intolerância e separatividade, encon- tro na SOPHIA conteúdos que realmente Compaixão para elevam minha vibração e que, de fato, con- uma vida melhor tribuem para a prática do amor e da frater- Khandro Rinpoche nidade no meu dia a dia. 8 Denise Lopes – Praia Grande (SP) O poder da Leitura que eleva plena atenção V. V. Chalam Conhecida e apreciada há tempos, tanto entre teosófos como nos meios e espaços 14 espiritualistas (o professor Wagner Borges indica de modo constante a SOPHIA), trata- Consciência: uma -se de uma excelente oportunidade, uma re- distinção especial vista com temas universalistas, espirituais, Laudimiro Almeida Filho filosóficos, com profundidade de conteúdos redigidos e elaborados de maneira clara e 16 acessível. Sabedoria. Leitura agradável que eleva. Recomendo! Novas ideias, novos valores Silvia Regina Oliveira – São Paulo (SP) Preadeep Talwalker Boa para a alma 22 Leitura enriquecedora! Boa para a alma e Física quântica e coração. Perfeita para quem busca apoio no sabedoria antiga conhecimento interior! Matérias interessan- Emily Sellon tes e profundas, simplicidade e clareza na de- monstração de realidades intensas. Parabéns! 28 Danilo Freitas – Salvador (BA) A chegada da Nova Era Experiências elevadas Radha Burnier Os conteúdos da revista SOPHIA tocam a 36 alma e proporcionam experiências elevadas e enriquecedoras. Uma revista linda, com qua- Jesus: a crença lidade incontestável de imagens e material. e a prática Raul Branco Cleonice Costa – Brasília (DF) 38 Autoconhecimento Gosto da revista SOPHIA, pois ela nos presenteia com matérias de ótima qualida- de, que tratam desde assuntos da sabedoria antiga, como também de temas de relevância atual. Se tornou uma ótima companheira na minha busca pelo autoconhecimento. Ana Paula Cichelero – Caxias do Sul (RS) Para adquirir edições anteriores, fale com a Editora Teosófica pelo telefone (61) 3322- 7843 ou ligue grátis para 0800-610020.

[ AO LEITOR ] Uma vida mais plena A revista SOPHIA, nesta edição nº Mas o que é preciso fazer para que is- Então, qual é o segredo para con- 70, comemora 15 anos desde que foi so aconteça? Precisamos abrir mão de quistarmos uma vida mais plena e feliz? lançada, e tem trazido grandes desafios, ideias fixas, posições rígidas e opiniões É aceitar as pessoas como elas são, sem mas também muitas alegrias. Aqui bus- arraigadas sobre as coisas para poder querer mudá-las. Desta forma, o nos- camos nos aproximar do leitor, com o ver os problemas e as situações a partir so grande desafio é mudarmos a nós maior carinho, trazendo o suprassumo de uma perspectiva mais ampla. mesmos. Quando um muda, a relação dos ensinamentos espirituais, nos mais também muda. diversos enfoques das religiões, da filo- Muitas vezes estamos certos, mas sofia e da ciência, sempre com o intuito vencer uma discussão não necessaria- Faço menção ao pensamento que de promover uma amplitude na cons- mente fará diferença no resultado final muitos conhecem: “Senhor, dai-me co- ciência, para que cada um, como um de determinada situação. Vale a pena ragem para mudar as coisas que posso beija-flor apagando um incêndio, possa o questionamento: que diferença fará mudar, serenidade para aceitar as coi- fazer a sua parte nesse mundo caótico, isso daqui a cem anos? sas que não posso mudar, e sabedoria buscando a transformação pessoal e para distinguir umas das outras.” Este oferecendo, com suas atitudes, a todos Outro dia, uma viúva recente con- pensamento, se bem refletido e vivido, que lhe acompanham na jornada da vi- tou-me que tinha muitas queixas em pode nos trazer momentos de muita da, uma melhor qualidade existencial. relação ao falecido esposo. Ela conti- harmonia e paz. Nós queremos sempre nuava pensando nos problemas por que tudo seja maravilhoso, exatamente Vamos refletir um pouco sobre a uni- ele criados, e contra-argumentava com como o nosso desejo quer que aconte- dade de todas as coisas. H. P. Blavatsky, os pensamentos, buscando respostas e ça. Não entendemos que a vida toda é uma das fundadoras da Sociedade Teo- soluções. Depois de vários dias, caiu feita de momentos. Quando acontecem sófica, em seu livro Fundamentos da em si, e se perguntou: para que isso? situações que contrariam o nosso ego, Filosofia Esotérica, escreve: “A unidade Acabou! Ele se foi e nada mais vai mu- ficamos frustrados ou raivosos, mas radical da essência última de cada par- dar. Só então conseguiu deixar todas somente pelo desapaixonamento e te dos elementos da Natureza, desde a aquelas más lembranças se afastarem desapego em relação às coisas que nos estrela ao átomo mineral (...), que se de sua mente. são caras podemos, com determinação, aplica ao mundo espiritual, intelectual realizar a tarefa de aquietar a nossa ou físico, é a Lei Una fundamental na Veja como os nossos hábitos men- mente, serenar os nossos pensamentos Ciência Oculta.” Em outras palavras, tais insistem em continuar nos apri- e experimentar a plenitude, a calma e somos todos um e, pouco a pouco, ao sionando até depois do afastamento de a paz de espírito. tomarmos consciência disso, ficamos pessoas com quem nos relacionávamos. cada vez mais estimulados em trans- Pior ainda é que fazemos isso também O universo e a natureza têm uma formar nossas próprias vidas. enquanto estamos em plena relação, sabedoria intrínseca para oferecer, continuando com hábitos mentais re- desde que estejamos disponíveis para Buscando essa mudança transfor- petitivos, querendo mudar certas situ- aprender e para abandonar a fixação madora, a cada novo desafio ou proble- ações ou que o outro mude de opinião em desejos pessoais. Podemos fazer um ma, podemos nos perguntar: eu quero ou de atitude. Só que, como se sabe, exercício de não desejar coisas, pesso- ter razão ou ser feliz? É certo que todos ninguém muda ninguém. Nós mesmos as, poder, e, aos poucos, constatamos vão responder que querem ser felizes. temos muita dificuldade para mudar a que a nossa mente vai se aquietando nós mesmos. e, ficando mais tranquilos, a vida flui FOTO: SHUTTERSTOCK muito melhor. TIM BOGDANOV/UNSPLASH Ano 15, nº 70 – Nov/Dez de 2017 – Publicação da Ed. Teosófica É com este espírito de uma vida mais plena e feliz que SOPHIA, nes- SIG Q.6, Lt. 1.235, Brasília-DF Solimeire Oliveira Schilling e te bimestre, apresenta temas como: CEP 70.610-460 Zeneida Cereja da Silva Compaixão para uma vida melhor, O Fone: (61) 3322-7843 Edição: poder da plena atenção, Física quântica E-mail: editorateosofica@ Usha Velasco e sabedoria antiga, Consciência: uma editorateosofica.com.br Revisão: distinção especial, entre outros, dese- Site: www.editorateosofica.com.br Zeneida Cereja da Silva jando-lhe uma leitura aprazível que Tradução: lhe fale à alma e toque o seu coração! Editor-chefe: Edvaldo Batista de Souza Marcos Luis Borges de Resende Projeto gráfico e arte: Zeneida Cereja da Silva Coordenadora editorial: Usha Velasco Presidente da Editora Teosófica Zeneida Cereja da Silva Impressão: Conselho Editorial: Gráfika Papel e Cores Marcos Luis Borges de Resende, Distribuição nacional: Pedro Oliveira, Valéria Marques de Total Express Publicações Oliveira, * As imagens utilizadas são de responsabilidade do editor-chefe 4 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

[ REFLEXÃO ] ‘ Além dos sentidos Não somos mais peças de uma engrenagem isolada e impotente numa máquina sem mente. ‘Somos, com nossa consciência, protagonistas da criação do universo TIM BOGDANOV/UNSPLASH Anoop Jaiswal* Nos últimos quatro séculos houve enormes reviravoltas em nossa com- preensão do universo. A primeira mu- dança paradigmática iniciou-se com Galileu, Kepler, Descartes e Newton, e foi completada no início do século XX por Albert Einstein. Mas, apesar do impacto que a ciência teve ao ex- pandir nosso poder sobre a natureza, ela reduziu o aspecto espiritual da humanidade a nada. SOPHIA • NOV/DEZ 2017 5

Enquanto buscava lógica e racio- cada por John von Neumann: a mente GREG RAKOZY/UNSPLASH nalidade, inconscientemente a ciên- e a consciência passaram a ter exis- cia criou uma superstição que colo- tência independente. Suas precisas “A ciência criou uma riu cada aspecto do comportamento formulações matemáticas levaram à superstição que colo- humano. Segundo ela, a natureza era conclusão de que “a consciência cria riu cada aspecto do puramente material; isso incluía não a realidade”. Sua lógica, apoiada por comportamento hu- apenas as estrelas e os planetas, mas experimentos, levou à conclusão de mano. Segundo ela, a também nossos corpos e cérebros. que o mundo físico em si não é ple- natureza era puramen- As ações, os pensamentos e os sen- namente real, e só assume uma forma te material; isso incluía timentos estariam fixados por pro- como resultado da observação por não apenas as estre- cessos mecânicos que ocorrem em centros de consciência. Ironicamen- las e os planetas, mas níveis atômicos. te, essa conclusão não veio de um também nossos cor- místico em meditação, mas de um dos pos e cérebros.” A noção de escolha consciente foi cientistas mais práticos do mundo, chamada de ilusão. A consciência foi ao deduzir as consequências lógicas SOPHIA • NOV/DEZ 2017 banida, sendo considerada uma pro- da base teórica da indústria da com- priedade da atividade cerebral. Nós, putação. Essa teoria diz que o mun- humanos, fomos convertidos de cen- do físico deve ser compreendido em telhas de divino poder criativo em termos de informação interpretada robôs mecânicos que se movem em pela consciência coletiva, não apenas um caminho predefinido. da humanidade, mas da própria vida. Isso deu solidez à consciência, que Porém, esse quadro científico era nós intuitivamente sentíamos, mas deficiente. Fornecia informação, pu- que foi negada pela ciência. nha nossa experiência numa ordem consistente, mas silenciava sobre O que é radicalmente novo é que tudo o que estava próximo do nosso as propriedades do sistema quântico coração e que era realmente impor- não estão limitadas ao que é acessível tante para nós. Não conseguia dizer pelos sentidos, mas podem ir além de- uma única palavra a respeito de azul les. No entanto, não se pode esperar e vermelho, amargo e doce, dor e pra- que o que ela encontra aí esteja estru- zer; a respeito de beleza e feiura, bem turado da mesma maneira que aquilo e mal, Deus e eternidade. que é acessível aos sentidos. Não há razão para esperar que aquilo que não Para construir um quadro do é acessível pelos sentidos esteja sujei- mundo, a ciência usou o artifício to às condições espaço-temporais da simplista de remover nossa perso- experiência sensorial. Não há razões nalidade. Esse quadro material cor- para crer que o que não está sujeito a roeu não apenas a raiz religiosa dos essas condições esteja em conformi- valores morais, mas também toda a dade com as descrições que envolvem noção de responsabilidade pessoal, conceitos espaço-temporais, como minando, assim, a fundação de qual- posição e momentum, tempo e ener- quer filosofia moral e de qualquer gia, causalidade e interação. visão que pudesse ser a base de um conjunto de valores elevados. Lenta- Uma vez que essas coisas são es- mente essa crença perpassou todos sencialmente o conjunto dos concei- os estratos sociais e orientou deci- tos descritivos à nossa disposição, não sões de governos, escolas, tribunais deveria ser surpresa para nós que o e nossas próprias escolhas. Tudo que que não é diretamente acessível aos a vida tinha a oferecer eram ganhos nossos sentidos só possa ser descrito e perdas materiais. em termos de correlações entre even- tos que são diretamente acessíveis aos No entanto, outra mudança para- nossos sentidos. digmática ocorreu, com o surgimento da teoria quântica nos anos 1920-30. Junto com essa enorme mudança O primeiro sinal de uma revolução em nossa compreensão surge uma drástica no modo de pensar foi indi- 6

outra definição da natureza: enre- meça a compreender que pelo menos lugar da consciência humana no uni- damento quântico. Segundo essa vi- alguns elementos desse saber antigo são, objetos e mentes não estão tão são significativos. verso quântico é totalmente diferente separados quanto parecem. Quando se vai até o âmago, a separatividade Aquilo que a pessoa preza de- da mesma consciência no universo desaparece. Não é nova a ideia de pende do que ela acredita ser. Se ela que o universo está interconectado acredita que é um organismo físico clássico. Não somos mais peças de de maneiras que vão além do óbvio. que objetiva apenas promover a pró- Durante milênios esta tem sido uma pria sobrevivência, seus valores serão uma engrenagem isolada e impotente das principais suposições das filoso- diferentes dos valores de alguém que fias indianas. O que é novo é que a se considera um ser que faz escolhas numa máquina sem mente. Somos, ciência moderna, por meio de experi- conscientes e que controla seu pró- ências de laboratório, lentamente co- prio futuro, desempenhando um com nossa consciência, protagonistas papel no desabrochar do universo. O da criação do universo. S * Anoop Jaiswal é físico e secretário honorário do Theosophy-Science Group na Sociedade Teosófica, em Adyar, na Índia. SOPHIA • NOV/DEZ 2017 7

[ HARMONIA ] Compaixão para uma vida melhor 8 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

PIXABAY Khandro Rinpoche* Uma sociedade baseada na paz, na harmonia, na sabedoria e na compai- “Compaixão signi- Nós fazemos o melhor possível xão não vai surgir a não ser que cada fica parar de tentar para viver num mundo baseado em pessoa comece consigo mesma. Com provar sua identi- gentileza e compaixão. No entanto, nosso fracasso em usar a sabedoria dade o tempo todo. às vezes, o que eu pessoalmente gos- inata, damos desculpas para não co- Significa que você taria torna-se mais importante do que meçar com nós mesmos. A maior des- trabalha da maneira aquilo que é bom para a comunidade. culpa é que precisamos que a outra como o vento tra- pessoa mude primeiro. Se as coisas balha, como o Na religião, na filosofia, na ci- não acontecem da maneira como eu sol trabalha, como ência ou na política, onde quer que quero, a culpa é do outro. o ar trabalha.” haja uma sociedade humana, ela manifesta sabedoria e compaixão. As percepções do mundo externo SOPHIA • NOV/DEZ 2017 Porém, devido à nossa tendência ao têm muito a ver com nossa atitude egoísmo, a valorizar nossos gostos e interior. A mente cria desculpas que aversões, nós nos isolamos dos ou- refletem o que sentimos. Quando tros. Não permitimos que a abertura vemos uma pessoa e ela faz algo de entre seres humanos se expresse por que gostamos, então ela é uma boa causa de duas coisas fundamentais: pessoa. Mas se a mesma pessoa faz esperança e medo. Todos nós quere- algo de que não gostamos, ela é uma mos a felicidade e ninguém deseja pessoa ruim. Portanto, a transforma- sofrer. Assim, cada ação é motivada ção do mundo externo deve começar pela esperança de ser feliz e de evitar com a transformação interior. So- a dor; desenvolvemos uma atitude mente quando o eu é subjugado, e muito egoísta. quando uma boa percepção surge, é que temos força para nos relacionar Todas as filosofias e religiões do de maneira apropriada com os outros. mundo almejam pôr abaixo a mura- lha do autoisolamento, para que pos- O coração é basicamente bom, samos trabalhar uns com os outros generoso e compassivo, mas não ne- com verdadeiro cuidado e compaixão. cessariamente atua com sabedoria. Do ponto de vista budista, examina- Temos muitas pessoas prontas para mos a nós mesmos cuidadosamente agir em prol de um mundo melhor, – não para nos culpar por criar divi- mas que ainda veem a filosofia, a re- são, mas como um modo de trabalhar ligião e a política segundo o que elas a principal causa do problema. gostam e querem. O problema não está no mundo, A realização da sabedoria interior ou nos outros, mas em nós. A sabedo- em cada ser humano deve começar ria é inata em nós, mas nosso envolvi- com o treinamento do eu. A igno- mento com o ambiente e a distração rância não é algo que vem dos ou- de nossas emoções causa um obscure- tros; ela vem da projeção do eu. Na cimento que impede a auto-observa- filosofia budista falamos muito a res- ção. Não nos damos tempo e espaço peito de ilusão – como a mente cria suficientes para usar nossa sabedoria fenômenos externos que passamos a e nos observarmos antes de agir. ver como sólidos e permanentes. Na meditação nós avaliamos a natureza No entanto, por meio da medi- onírica dos fenômenos externos. O tação ou da autoanálise, a sabedoria primeiro passo é entender como sur- pode surgir no nosso interior. Me- ge a ilusão – como a mente atua para ditação é um processo de olhar para criar e solidificar o mundo. Se puder- dentro, de refrear a tendência dualis- mos abrir mão do apego à ilusão, esta- ta de prestar mais atenção às questões remos livres da dor, das expectativas, externas do que às internas, com as das esperanças e dos medos. quais não queremos lidar. 9

Altruísmo livre de apego Porém, até que esse nível de per- mais espaço dentro de você para tra- BROOKE LARK/UNSPLASH cepção seja atingido, cada momento balhar com os outros. Você descobrirá de sua vida surge da dependência de mais espaço, tempo e energia dentro outros. Você usa roupas e se senta em de si. Imagine, por exemplo, que vo- cadeiras feitas por outras pessoas. Co- cê consiga trabalhar como voluntário me alimentos cultivados e cozidos por num hospital, mas descubra que há outras pessoas. Por mais que queira restrições e que você não pode fazer acreditar que alcançou realizações com as coisas da maneira como quer. Você seus próprios esforços, você está unido luta contra o sistema, fica exausto e a todos os outros seres. conclui que sua compaixão não está sendo usada da melhor maneira. Mas Essa percepção de nossa interde- o que precisa ser compreendido, ao pendência leva diretamente a um senso aplicar a sabedoria à sua compaixão, é de responsabilidade e à necessidade de o quanto de solidez você está trazendo abrir mão do desejo de aquisição. Até para a situação. Ao insistir em como que tenhamos atingido o verdadeiro as coisas deveriam ser, você cria uma altruísmo, livre da ignorância, pode- frustração que prejudica a criatividade mos começar devolvendo aquilo que que poderia aplicar à situação. recebemos para beneficiar os outros da melhor maneira possível. Quando queremos gerar compaixão, terminamos trabalhando com nossas Podemos chamar isso de compai- próprias emoções. Descobrimos que xão, amor, cuidado. O significado é o uma situação que nos oprime na mes- mesmo: em suas ações, palavras e pen- ma medida em que nós a solidificamos. samentos, você considera os outros Portanto, sem sabedoria, a compaixão antes de você mesmo. Alguns de nós não atuará. A sabedoria é o que nos praticamos a meditação para alcançar permite ser imparciais em nossas ações. essa compreensão; outros são capazes Com sabedoria, não estamos limitados de entender isso por si sós. Mas não im- a uma causa ou propósito; fazemos o porta falar a respeito da compaixão – o melhor que podemos numa determi- importante é praticá-la. nada situação e seguimos em frente. Você precisa de sabedoria para se Sem sabedoria, frequentemente fo- olhar internamente e ver que tipo de camos um único problema ou questão pessoa você é. Compaixão significa que pensamos ser mais importante. abrir mão da autoidentidade, parar de Mas vivemos num mundo que é habi- tentar provar sua identidade o tempo tado por seres humanos, e enquanto todo. Significa que você trabalha da houver bilhões de humanos não have- maneira como o vento trabalha, como rá uma única coisa que todos aceitem. o sol trabalha, como o ar trabalha. O Muitas coisas não são feitas da maneira ar assume a forma de um aposento. como você gostaria. Ele não diz “vou lhe dar este espaço para respirar, desde que você respire Diferentes filosofias surgiram da da maneira que eu quero”. O mesmo compaixão – Cristianismo, Budismo, Is- se dá com o sol; ele não para de brilhar lamismo, Hinduísmo. Mas eu acredito quando há nuvens no céu. que esta é a correta, você acredita que aquela é a correta, e uma terceira pessoa Dessa mesma maneira, o altruísmo acredita em outra. Mesmo um concei- livre do apego – a compaixão usada to tão universal quanto a compaixão, com sabedoria – significa ir além do os budistas chamam de bodhicitta, os modo como você quer fazer as coi- hindus chamam de karuna, os cristãos sas. Se você consegue abrir mão de chamam de amor. Nós nos aferramos a se tornar a pessoa mais importante nossos próprios termos. do mundo, haverá mais capacidade e 10 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

“Você senta em ca- deiras feitas por ou- tras pessoas, come alimentos cultivados por outras pessoas. Por mais que queira acreditar que alcançou realizações com seus próprios esforços, vo- cê está unido a todos os outros seres.” SOPHIA • NOV/DEZ 2017 11

Tolerância e paciência As diferenças não devem fazer PIXABAY com que recuemos. Elas não devem nos impedir de exercer nossa compai- vida, compreendida e aguçada. Cada Podemos aprender juntos até um xão com força e motivação cada vez pessoa deve desenvolver o destemor determinado ponto, mas a transfor- maior. Quando Buda nos deu os ensi- para que a sabedoria possa extirpar mação do mundo deve começar den- namentos pela primeira vez, quantas sua ignorância. A melhor sabedoria tro de nós. Compaixão e sabedoria pessoas os compreenderam? Nenhu- é aquela que você tem a coragem de precisam trabalhar juntas, combina- ma. Por causa disso, ele se recusou a aplicar a si próprio. Somente então das com habilidade, tolerância e paci- dar os ensinamentos por um período você pode realmente compreender os ência. Se nos dermos tempo e espaço de sete semanas, mas depois começou seres humanos como eles são. Depois para verdadeiramente observar nos- a ensinar novamente. você pode dar a si próprio e aos outros sos próprios pensamentos e ações, o a oportunidade de crescer individu- bem surgirá. Devemos dar a nós e aos Se Buda tivesse se recusado a en- almente, pensar como eles querem. outros espaço onde possamos funcio- sinar porque ninguém lhe dava ouvi- Todos nós precisamos de espaço para nar de maneira apropriada, e passar dos, não teríamos a religião budista nos desenvolver. a agir de maneira altruísta. hoje. Da mesma forma, se eu insisto que minhas palavras e minha com- paixão têm que ser aceitas por todos, essa seria uma sabedoria decadente; seria sabedoria para mim e para mais ninguém. A verdadeira sabedoria é abrir mão daquilo que eu acho ser correto para ver com maior clareza o que é verdadeiramente útil. Sabe- doria é a abertura que nos permite ver o que é essencial e mais eficaz, o que verdadeiramente precisa ser praticado por toda a humanidade. Isso é muito necessário. Isso é algo que precisamos praticar. A sabedoria exige que trabalhe- mos de acordo com a bondade que to- dos temos. Quando nos defrontamos com obstáculos ou dificuldades, po- demos usá-los para desenvolver mais inspiração, pois se verdadeiramente estimamos a gentileza e o cuidado, essa crença nos dará a coragem para superar todos os obstáculos. Sabedo- ria é ser capaz de usar os obstáculos dessa maneira. Caso contrário, a sabe- doria se torna uma peça de museu e terminamos colecionando filosofias, lógicas e ensinamentos exatamente como as pessoas colecionam selos. A sabedoria de todas as tradi- ções do mundo precisa ser nutrida e cuidada, não colecionada. Nossa sabedoria inata precisa ser desenvol- 12 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

“Se Buda tivesse se É muito fácil dizer essas coisas. A nidades em cada momento. A frivo- recusado a ensinar prática começa definitivamente com porque ninguém lhe nós mesmos. Quando olhamos para lidade fere somente a nós próprios. dava ouvidos, não te- um espelho, geralmente sabemos o ríamos a religião bu- que queremos ver, e assim vemos Porém, se em nossas curtas vidas dista hoje. Da mesma somente o que queremos. Ver o que forma, se eu insisto realmente está no espelho, bom ou formos capazes de ser úteis a alguém que minhas palavras e ruim, e trabalhar com o que vemos, minha compaixão têm é muito importante e necessário. É mais, então teremos agido como um que ser aceitas por preciso alguma coragem. todos, essa seria uma ser iluminado. S sabedoria decadente.” Pensemos cuidadosamente, por- que os tempos mudam. O tempo não * Venerável Khandro Rimpoche é uma das mais SOPHIA • NOV/DEZ 2017 espera por ninguém, mas há oportu- proeminentes instrutoras de Budismo Tibetano, da linhagem do Kagyu e Nyingma do Budismo Vajrayama. Teve como instrutores XVI Karmapa e Dilgo Khyentse Rinpoche. 13

[ APRENDIZADO ] pleO‘ npaoadteerndçaão A felicidade não está em coisas externas, mas no nosso próprio eu. Todos os problemas humanos têm origem na ‘mente. A purificação da mente leva a uma mudança radical na qualidade de vida 14 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

V. V. Chalam* percepção constante, uma condição Como resultado de inovações mental “que considera tudo com a tecnológicas, o homem moderno desfruta de muitos confortos. No mais completa atenção”. Ele diz que entanto, faltam-lhe paz e harmonia. Há muito estresse e tensão, ganân- “a chama da atenção” calcina todas cia e luxúria, ódio e crueldade, e tu- do isso traz ansiedade, desarmonia e as impurezas. Buda chama isso de “o sofrimento. Cada vez mais pessoas são afetadas por neuroses, psicoses e fogo da plena atenção”. outras doenças. O Dhammapada devota um capí- A felicidade não está em coisas externas, mas no nosso próprio eu. tulo à plena atenção, que significa Todos os problemas humanos têm origem na mente. A purificação da estar desperto, em guarda, jamais mente leva a uma mudança radical na qualidade de vida. Isso não pode ser pego de surpresa. Se a pessoa ti- ser obtido por nenhuma ginástica intelectual, estímulos emocionais, ver plena atenção, consegue mudar dramas religiosos ou drogas. É difícil educar a mente de maneira a perce- cada circunstância, palavra, pensa- ber o novo. É preciso muita paciên- cia; é preciso estar vigilante e alerta. mento e ação. A plena atenção avisa É urgente aprendermos a geren- se estamos para fazer uma escolha ciar nossa mente de maneira apro- priada. A mente fica desorientada errada. Com a mente protegida pela porque é constantemente atraída por muitas forças. A pessoa deve analisar plena atenção, os sentidos externos suas próprias condições de maneira objetiva e desapaixonada, com o au- não perturbam nossa tranquilidade. xílio da meditação, uma ferramenta que abre o caminho para a solução Buda disse que a única maneira dos mais complexos problemas. de vencer as impurezas da mente é Estamos sempre buscando fora, até mesmo a nossa alegria, e não pro- continuar examinando seu conteúdo curamos internamente. Raramente examinamos nossos próprios pensa- repetidamente, para que as tendên- mentos, palavras e ações. Permanece- mos desconhecidos por nós mesmos. cias más sejam arrancadas e apenas as Mas, por meio da auto-observação, podemos obter insights sobre a nossa boas tendências floresçam. Por meio própria natureza. Isso exige um es- forço contínuo. da percepção constante, sabemos que Com a mente purificada e equi- a mente prega peças devastadoras. A librada, podemos perscrutar as pro- fundezas de nós mesmos. Se a mente plena atenção, portanto, é essencial. estiver cheia de pensamentos maus, Patañjali propõe preenchê-la com A purificação deve ocorrer em pensamentos opostos. Krishnamurti afirma que devemos desenvolver a toda a mente, nos níveis consciente e inconsciente. Nosso esforço deve ser alcançar as profundezas da mente inconsciente. Devemos adotar uma técnica de meditação que nos leve aos níveis profundos onde estão as camadas de impurezas. Alguns méto- dos de meditação funcionam apenas no nível superficial; embora possam trazer paz e calma, a real purificação da mente não ocorre. Aqueles que conquistaram o do- mínio sobre a mente “consciente” e “inconsciente” conseguem alcançar o estado “superconsciente”, o estado mais puro, que é comunhão com o Atman (Espírito universal). Tudo o que precisamos é um desejo arden- te e um esforço incansável para nos transformar. S SHUTTERSTOCK * V. V. Chalam foi Diretor do Instituto de Tecnolo- gia da Universidade Hindu de Benares e é mem- bro da Seção Indiana da Sociedade Teosófica. SOPHIA • NOV/DEZ 2017 15

[ FILOSOFIA ] Consciência: uma distinção especial 16 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

“Aprendiz da verda- FREE IMAGES Laudimiro Almeida Filho* no impacto com a realidade ou desfa- de, o ser humano zer-se no atrito com as ondas ou par- se localiza evoluti- Vivemos em mundos possíveis, re- tículas da luz. vamente entre as lativos e fragmentados, não em mun- árvores e as estre- dos perfeitos, absolutos e íntegros. A ciência, à luz do pensamento las, sem saber ao Isso, porém, não exclui a possibilidade socrático, deixa de ter como objeto certo – ainda! – a da perfeição, do absoluto e do integral, o sensível, o particular, o indivíduo que distância se en- dimensões que se manifestam sobre- que passa; assume a descoberta do contra de cada um tudo na natureza, velha escola perante inteligível, dos conceitos que se ex- desses dois magní- a qual religiões, ciências e filosofias primem pela definição. Ainda que ficos extremos.” se inclinam. com as ferramentas rudimentares das quais dispomos, como a indução, SOPHIA • NOV/DEZ 2017 Aprendiz da verdade, que muito esse conceito ou ideia geral passa a aos poucos é percebida no campo de ser possível a partir da comparação evolução em que está imerso, o ser hu- de vários indivíduos da mesma espé- mano se localiza evolutivamente entre cie, da eliminação de suas diferenças as árvores e as estrelas, sem saber ao individuais, das distinções mutáveis certo – ainda! – a que distância se en- e do alcance dos elementos que todos contra de cada um desses dois magní- temos em comum, de maneira estável, ficos extremos. Tem a nítida sensação permanente: a natureza, a essência de ser assistido pela força da criação e das coisas. Dentre nós, por exemplo, pela luz da sabedoria, acalentando – quem não gosta de carinho? consciente ou inconscientemente – o desejo de ser Deus, razão pela qual, na Assim, Sócrates se destaca entre maioria das vezes, somente a partir da os pensadores, auxiliando-nos a com- fase adulta vislumbra a real dimensão preender que existem duas coisas: as da eternidade e da infinitude. lógicas, passíveis do caráter demons- trativo que percorre o longo circuito Essa reflexão pode remeter à ale- entre o fenômeno e a lei, sujeitas aos goria da caverna, relatada no livro VII riscos próprios dos determinismos e da República de Platão, que descreve das generalizações, e as “psico-lógi- um lugar subterrâneo, habitado por cas”, perceptíveis no curto circuito homens que — em maior ou menor entre o indivíduo e a noção univer- grau—se mantêm presos à ignorância sal, fragmentos que somos da mesma ou se libertam por meio da instrução, matéria galáctica. Sócrates teria pro- a qual se poderia designar consciên- fessado a espiritualidade, a imortali- cia. Mais uma vez, os contemporâneos dade da alma, em contraposição aos do Século XXI podem se identificar a existencialistas, distinguindo ainda meio caminho entre a ilusão das som- o conhecimento em sensitivo e inte- bras projetadas na caverna de Platão, lectual, quando antecipa, em alguns no limite do que seus olhos humanos milênios, a descoberta das múltiplas conseguem enxergar, e a realidade inteligências do gênero humano. da luz que possam vir a suportar sem maiores traumas. Sábio instrutor da humanidade, Sócrates – não por acaso – adotava O lema socrático “conhece-te a ti o diálogo como ferramenta de traba- mesmo e conhecerás o universo” in- lho. Diante dos que lhe refutavam as terrompe o dilema sofista que insistia ideias, assumia a atitude humilde de no perpétuo fluxo das coisas e na va- eterno aprendiz e aplicava recomen- riabilidade das impressões sensitivas, dada bateria de perguntas, até levar o fruto das distinções individuais que, opositor (muitas vezes presunçoso) em favor da evolução, não param de se ao limite da contradição, constran- transformar. Sócrates sinaliza a possi- gendo-o por vezes até a confissão da bilidade do absoluto e objetiva o saber, própria ignorância. Perante os discí- determinando o verdadeiro objeto da pulos (entre os quais, eventualmente, ciência: eu. Não o ego, máscara escul- opositores declarados), multiplicava pida na argila da relatividade, que por ainda mais as perguntas, dirigindo-as mais vitrificada acaba por quebrar-se agora ao fim de obter, por indução dos 17

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“Computadores traba- casos particulares e concretos, con- mos recursos dos opositores às suas lham sempre de acor- ceitos e definições. Em memória da ideias, como recomenda a boa técnica do com programas, profissão de sua mãe Fenáreta, que era da arte milenar do tai chi chuan. dentro de limites. Eles parteira, houve por bem denominar fazem o que denomi- maiêutica, ou obstetrícia do espírito, Assim como o processamento de namos de um jogo fi- o processo dialético e pedagógico que dados leva ao conhecimento e a sínte- nito. Seres humanos, desenvolveu, em que se multiplicam se do conhecimento é convertida em porém, podem ser jo- as perguntas a fim da obtenção, por inteligência, a sabedoria se revela no gadores infinitos. Pode- indução, dos casos particulares e con- homem no alcance da consciência, mos mudar a posição cretos, de conceito geral do objeto em superando os limites da relativida- das balizas – podemos questão: é o parto das ideias! de, da fragmentação e da imperfei- jogar com os limites.” ção humanas, que — de acordo com O conhecimento, portanto, a par- o pensamento socrático — começa SOPHIA • NOV/DEZ 2017 tir do lema em que Sócrates pauta sua com a consciência racional da própria reconhecida sabedoria, alinha a agu- ignorância inicial e da necessidade lha magnética que somos ao campo da de superá-la, como orienta a célebre consciência, sem prejuízo da reflexão frase inscrita no portal do templo de livre e da convicção racional praticada Delfos, na antiga Grécia: “conhece-te pelos sofistas, utilizando assim os mes- a ti mesmo.” A origem dos pensamentos SHUTTERSTOCK A maioria de nós não consegue co- enveredar pelos meandros da neurolo- nhecer, e muito menos compreender, gia, torna-se oportuno acrescer-lhe um a origem dos pensamentos, a matéria- pequeno excerto do estudo produzido -prima das imagens mentais, a natu- pela física e filósofa Danah Zohar e pe- reza de seus sentimentos, emoções e lo psiquiatra e terapeuta Ian Marshal, reações. Indagações nesse sentido, no constante do livro QS – Inteligência Es- entanto, tornam-se mais importantes piritual, o “Q” que faz a diferença: do que as próprias respostas que ve- nham a ser alcançadas nesse campo “Neurologicamente falando, po- de evolução em que estamos imersos, rém, tudo que influencia a inteli- onde a subjetividade reinante nos im- gência passa pelo cérebro e por seus pede de ver a verdade face a face. prolongamentos neurais através do corpo, sendo por eles controlado. Um Conta a lenda que Deus cristalizou tipo de organização neural permite a verdade em um espelho gigante e, ao homem realizar um pensamento lançando-o sobre a Terra, deixou-o racional, lógico, pautado por regras. fragmentar-se em miríades de peda- Dá ao homem seu QI, ou inteligência ços ao se chocar com o planeta. Cada intelectual. Outro tipo permite-lhe re- um de nós lançou mão de um ou mais alizar pensamento associativo, afetado pedaços, de tamanhos e formas varia- por hábitos, reconhecedor de padrões, das, restando-nos assumir a condição emotivo. É o responsável pelo QE, ou de espécie privilegiada entre os terrá- inteligência emocional. Um terceiro queos, sendo capazes de organizarmo- tipo permite o pensamento criativo, -nos para a restauração desse mosaico. capaz de insights, formulador e revo- Isso até alcançarmos o pleno conheci- gador de regras. É o pensamento com mento de nossa natureza e origem, de que reformula e transforma os tipos como viver a plenitude do que somos, anteriores de pensamento. É esse tipo de saber, afinal, quem somos nós, de que lhe dá o QS (do inglês: spiritual), onde viemos, para onde estamos indo. inteligência espiritual. Se queremos entender realmente a inteligência É impossível tratar o mistério da intelectual, a inteligência emocional mente consciente sem inserir o con- e a inteligência espiritual, uma parte ceito de inteligência. Embora essa muito importante da história consiste abordagem não tenha a pretensão de 19

em compreender os diferentes siste- Uma coisa que todas essas habili- FREE IMAGES “Constituímos um mas de pensamento. (...) Ao contrá- dades humanas adicionais têm em co- princípio espiritual in- rio de máquinas, seres humanos são mum é um senso de unidade em nossa dividualizado, frag- conscientes. Temos consciência de compreensão de situações e em nossa mentos da mesma nossa experiência e consciência de reação a elas. Compreender, em essên- verdade, portadores que somos conscientes. Reagimos a cia, é uma característica holística—a de experiências viven- essa experiência com sofrimento ou capacidade de apreender o contexto ciadas, ao longo de riso, com senso de mágoa ou senso global que liga as partes componen- milênios, desde ‘quan- de humor. Rimos com piadas e senti- tes. E é essa compreensão contextual do a vida era apenas mos dor de dente. Embora tenhamos que falta aos esquizofrênicos, que não vaga esperança bai- sido programados pelas regras que conseguem unificar suas experiências lando no ar, quase à aprendemos e pelos hábitos profun- e, por isso, não podem reagir apro- flor dos mares’.” dos formados por associações de toda priadamente a elas. Chamamos a es- a vida, conservamos o livre-arbítrio. sa faculdade de ‘pensamento unitivo’. nos da natureza, facultando-nos reco- Se estivermos dispostos a investir Essa capacidade unitiva constitui um nhecer, de uma vez por todas, que a determinação e energia, poderemos aspecto essencial da consciência e é noção do “eu” e do “nós” é peculiar ao mudar as regras e romper os hábitos. fundamental para compreendermos mundo possível, relativo e fragmenta- Computadores trabalham sempre de a base neurológica do QS.” do que estamos fazendo por merecer, acordo com programas, dentro de li- sendo possível evoluir para a cons- mites. Eles fazem o que denominamos Saliente-se que a consciência de cientização de que a energia cósmica de um jogo finito. Seres humanos, po- que trata essa abordagem extrapo- que move toda a ação, independente- rém, podem ser jogadores infinitos. la os limites do sentido denotativo mente do agente, é sempre a mesma, Podemos mudar a posição das balizas vinculado aos aspectos cognitivos sendo então o sentido em que fazemos — podemos jogar com os limites. (capacidade de aprendizagem) das fluir a energia que nos é dado mover inteligências humanas. Faz-se essa que deve ser reorientado, em favor da Podemos fazer tudo isso porque distinção principalmente porque, evolução da espécie humana e, por somos capazes de um tipo de pensa- nesse sentido, conforme orienta a conseguinte, do mundo que temos mento criativo, intuitivo e capaz de neurolinguística, o auge da aprendi- passado, por herança, de geração em insights. Aprendemos a linguagem zagem pressupõe a perda da consci- geração. Esse sentido apenas começa com os sistemas serial e associativo ência, ou seja, efetivamente aprende- com a identificação do que seja falso de pensamento e a inventamos com mos quando não sabemos que sabe- um terceiro sistema de pensamento. mos. Ao passo que, na trilha da moral Compreendemos situações, padrões e da ética, que estamos a perseguir, e regras de comportamento comuns importa-nos o sentido conotativo da ou dadas situações com os nossos consciência, essa que é de todos nós, dois primeiros tipos de pensamento e mas de nenhum de nós. criamos novos com esse terceiro tipo. Constituímos, portanto, um prin- E, como seres humanos, somos cípio espiritual individualizado, frag- criaturas de sentido. Quando recebe mentos da mesma verdade, portadores um comando programado, o compu- de experiências vivenciadas, individu- tador jamais pergunta ‘Por que devo al e coletivamente, ao longo de milê- fazer isso?’ ou ‘O que é que isso sig- nios, desde “quando a vida era apenas nifica?’. Ele simplesmente obedece vaga esperança bailando no ar, quase à à ordem. Seres humanos, por outro flor dos mares” (Rubens C. Romanelli lado, fazem frequentemente essas – Palavras à Fonte), e nos revelamos perguntas e funcionam de modo mais por pensamentos, palavras e obras, eficaz quando recebem boas respostas. materializações do fluído cósmico Computadores podem manipular a universal, energia cósmica da qual sintaxe da linguagem—podem desco- somos feitos e que nos torna irmãos brir e pôr ordem no arranjo gramatical das estrelas e das árvores. correto das palavras (isto é, pautado por regras). Mas só seres humanos Que conclusões práticas tais afir- compreendem semântica, o sentido mações podem oferecer ao autoco- do arranjo de palavras e, portanto, a nhecimento? Talvez possamos evocar capacidade de decodificar algo como a teoria do campo unificado, preconi- uma metáfora. zada por A. Einstein, segundo a qual uma só lei poderia explicar os fenôme- 20 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

ou verdadeiro, negativo ou positivo, assegurar, entendida não como a cons- nidade, por longos períodos, valores mas deve haurir a verdade, que não ciência do ego, mas a consciência do equivocados, como o ideal ariano de se alcança negando, reprimindo ou eu. A mesma encontrada na harmo- uma raça pura ou a prática do regime rejeitando tendências inatas em si ou nia das esferas celestiais, cuja réplica escravagista, mantidos por décadas em outrem, mas nos tornando obser- perfeita podemos encontrar dentro como instituições de governo. Cícero vadores pacíficos e distintos. Em resu- de nós. Sem a consciência, ainda que asseverava ter a sua consciência mais mo: a chave da consciência absoluta seja alcançada a máxima coerência peso que a opinião do mundo inteiro. é a união dos seres, o alinhamento de entre a teoria esposada e a teoria em todos os vetores, imantados de acordo uso, se ambas se afastarem da verdade Unamo-nos, portanto, especial- com a orientação da natureza. absoluta, o observador ficará sujeito mente neste momento em que todos à perversão, à corrupção e à deprava- estamos mergulhados em cenário de A partir dessas reflexões, importa ção. Sem ela, o direito de indignar-se múltiplas crises, buscando, juntos, co- saber que a distinção da confiança, o e o exercício das intervenções do ob- nhecer aquilo que, uma vez conhecido, compromisso com a veracidade das servador sobre a realidade, por mais torna conhecido tudo o mais: eu. S afirmações e com a validação das bem estruturados que venham a ser, declarações ao longo do tempo reve- ensejarão o risco de causar dano. As- * Laudimiro Almeida Filho é engenheiro lam-se insuficientes para garantir a sim prosperaram na história da huma- civil e coach ontológico. harmonia que só a consciência pode SOPHIA • NOV/DEZ 2017 21

“Ao perder nossa dualidade – não re- almente uma per- da, mas um ganho –, a devoção brota do amor pelo Cria- dor, levando pos- teriormente à grati- dão, à humildade, à autoentrega.” 22 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

[ TRANSFORMAÇÃO ] Novas ideias, ‘novos valores Somente quando os níveis de nossa observação e de nosso conhecimento se elevam, somente quando notamos ‘as anomalias em nossas crenças, é que começamos a ver a necessidade de corrigir nossa perspectiva SHUTTERSTOCK Preadeep Talwalker* dículo – ou pior, a ira. Esse é o poder da “aparência” e de uma perspectiva Perspectiva é a arte de representar defeituosa, ilusória. objetos tridimensionais em super- fícies bidimencionais, como tela ou Por definição, o que é apenas uma papel. Os objetos mais próximos pa- ilusão não pode ser a realidade. No recem maiores e os distantes meno- entanto, pode parecer tão real que res, na proporção de sua distância do nós não duvidamos. Somente quan- observador, e assim são desenhados; do os níveis de nossa observação e de se nos movemos, a perspectiva muda nosso conhecimento se elevam, so- – e assim é desenhada. A tela plana mente quando notamos as anomalias deve parecer real e tridimensional. em nossas crenças, é que começamos No céu noturno, a lua parece muito a ver a necessidade de corrigir nossa maior do que as estrelas, e é como é perspectiva. desenhada. Mas sabemos que cada estrela é verdadeiramente um sol, e Isso nos leva ao uso figurativo da a lua teria um tamanho insignificante linguagem: o modo como vemos a diante delas. O que vemos é apenas a realidade a partir do nosso ponto de realidade aparente, que muitas vezes vista pessoal é a nossa perspectiva. está longe da realidade. No entanto, o Nascidos com uma mente egocêntri- provérbio popular diz “ver para crer”. ca, cada um de nós vê a realidade de maneira diferente – e as diferenças Quando éramos crianças e brincá- podem ser enormes. Devido a essa vamos na rua, o chão parecia plano, diversidade, o uso figurativo da pala- e acreditávamos que realmente era vra adquiriu muito maior aceitação assim; depois aprendemos na esco- e importância do que seu uso literal. la que a Terra é redonda como uma Na atual discussão também estamos bola – posteriormente vimos isso considerando perspectivas “individu- também na vida. Contudo, sabemos ais” – o ângulo figurativo. que durante séculos as pessoas acre- ditaram que a Terra era plana. Gali- Mesmo no nível pessoal, nos- leu foi declarado herege e mantido sa perspectiva continua mudando. sob prisão domiciliar durante a vida Quando criança nossa percepção é por defender o modelo de Copérnico. diferente. Ao crescer, entendemos Aqueles que veem a realidade antes algumas infantilidades e redefini- de seus pares sempre enfrentam o ri- mos nossa percepção. Compreende- mos que estávamos errados quando crianças. Contudo, isso não significa SOPHIA • NOV/DEZ 2017 23

que agora estejamos certos. Mesmo de vista, Krishna pediu a Duryodhana adultos, nossas visões sobre a mesma que escolhesse um sacerdote digno de questão variam de vez em quando. uma honraria especial entre as cente- Então, mais uma vez, temos nossas nas de sacerdotes presentes. Duryo- tendências, pois ninguém está livre dhana considerou todos eles e disse delas: todos nós vemos o mundo atra- a Sri Krishna que todos os sacerdotes vés de nossos “óculos coloridos”. Isso eram pecadores, e nenhum merecia é uma complicação, uma vez que se- honraria. Então Krishna pediu a Yu- quer estamos conscientes do fato de dhishthira (o mais velho dos Panda- que nossos óculos são coloridos. Na vas) para apontar um sacerdote que verdade, todos negam resolutamente não merecesse ser honrado. Yudish- tal possibilidade. thira olhou todos eles e disse que cada sacerdote era tão glorioso quanto o sol Uma história do Mahabharata ex- e que cada um merecia a honraria. põe a questão. Duryodhana (o mais Os pontos de vista diametralmente velho dos “perversos” Kauravas) fi- opostos expressos por Duryodhana cou com muita inveja dos Pandavas, e Yudishthira sublinham eviden- e acusou Sri Krishna de ser parcial temente a questão das tendências. para com eles. Krishna protestou e Nossas tendências fazem uma grande disse que para ele todos eram iguais diferença em nossa perspectiva – em – que a perspectiva de Duryodhana nossa “visão de mundo” individual. estava errada. Para ilustrar seu ponto Circunstâncias de vida Uma pessoa que vê a maioria das de ser política, religiosa, econômi- FREE PIXELS outras pessoas como ruins adota co- ca. Ambos os lados insistem em que mo lema “olho por olho” e passa a estão lutando por uma causa justa. “A lua parece muito vida “endireitando” outros, sem ver Aquilo que um lado considera como maior do que as es- que, com isso, causa um grande da- terrorismo, o outro considera luta por trelas, e é como é de- no a si mesmo. Todos lhe pagam na uma ideologia. Ambos estão prontos senhada. Mas sabe- mesma moeda, que ele pensa ser a para morrer pela causa. Quem pode mos que cada estrela confirmação e a justificativa de sua dizer que lado está certo? A Europa é verdadeiramente atitude. Ele simplesmente não com- também viveu a perseguição religio- um sol, e a lua teria preende que ele mesmo cometeu um sa, a Inquisição e a queima de “he- um tamanho insignifi- grande equívoco. Dissimulação, trai- reges”. As religiões ensinam amor, cante diante delas. O ção e oportunismo tornam-se suas mas nossas perspectivas egocêntricas que vemos é apenas ferramentas para a sobrevivência. aprendem apenas ódio. a realidade aparente.” Semelhante atrai semelhante, e as- sim um bando surge. Até as crianças Se há um Deus em cada um de SOPHIA • NOV/DEZ 2017 de tais famílias estão naturalmente nós, Ele deve estar em igual propor- enraizadas na mesma filosofia, per- ção no Mestre, no político corrupto, petuando essa tendência infeliz. no criminoso ou no “inimigo”. Se tu- Certamente tudo isso é para ser mais do é resultado do karma do passado, lamentado que censurado – um jogo isso também poderia ser karma sen- de perspectivas. Não se pode sim- do resgatado de alguma vida passada plesmente tachar essa pessoa de má, – não, certamente, que a explicação retirando de nós parte da culpa. Ela seja algum consolo para as vítimas é uma criatura das circunstâncias dessas pessoas. É compreensível que criadas por todos nós. elas se expressem em termos de preto no branco, e não cinza. Muitas partes do mundo estão divididas pela discórdia. A causa po- Certa manhã Jesus estava ensi- nando às pessoas, quando escribas 24

e fariseus tentaram provocá-lo e lhe próprias consciências. Jesus advertiu: dolorosamente essa necessidade, as trouxeram uma mulher pega em adul- “Não julgueis, para não serdes julga- mudanças automaticamente se esta- tério. Disseram que o mandamento dos.” É um excelente conselho, par- belecem. Nossa visão se aperfeiçoa e de Moisés ordenava, em casos assim, ticularmente para aqueles que estão lentamente começamos a ver as coi- o apedrejamento, e perguntavam a no caminho espiritual. sas com mais clareza, como elas real- Jesus o que ele tinha a dizer. A prin- mente são – não mais com óculos tão cípio Jesus continuou a escrever no Passamos pelas vicissitudes da escuros. Deixamos nossos mal-orien- chão com o dedo, como se não lhes evolução tropeçando pelo caminho. tados caminhos e nos voltamos para tivesse ouvido. Mas como eles conti- Quando a sabedoria começa a bro- o caminho espiritual propriamente nuassem a perguntar insistentemen- tar em nossa mente, iniciamos o dito. Fazemos crescer nossa positivi- te, ele respondeu: “Quem dentre vós verdadeiro progresso – um peque- dade de modo duradouro, esclarece- não tiver pecado, atire a primeira pe- no e trabalhoso passo de cada vez. mos muitas situações experimentais dra.” Então continuou escrevendo; e Então começamos a compreender a ao longo de centenas de encarnações; todos se foram, condenados por suas necessidade da mudança em nossas assim, nos tornamos úteis ao Mestre. perspectivas fixas. Quando sentimos SOPHIA • NOV/DEZ 2017 25

Estágios do caminho Não há escassez de “pessoas Em função do estágio de cada FREE IMAGES boas” no mundo. Porém, somente um no caminho, vemos as virtudes após ser testada na pedra de toque como várias e distintas entre si. Pos- “Ao crescer, enten- da mudança da sorte é que se po- sivelmente essa é uma ramificação demos algumas de dizer que a pessoa resistiu ao da ilusão da separatividade. Como infantilidades e re- teste do tempo, se ela continuar a pessoa evolui cada vez mais, ela definimos nossa firmemente virtuosa, não afetada começa a perceber as profundas se- percepção. Com- pelas experiências dolorosas e pe- melhanças entre todas as virtudes. preendemos que la negatividade do mundo – tendo O serviço comunitário é uma ex- estávamos errados ainda abandonado suas próprias celente maneira de voltar a mente quando crianças. negatividades. Sua perspectiva es- egocêntrica para fora e avançar com Contudo, isso não tará, agora, infinitamente refinada; passos largos no caminho. À medida significa que agora ela amará a todos livremente. Mas, que as perspectivas mudam, vemos estejamos certos.” mesmo então, terá que passar por os valores convergirem, e há uma mais algumas vidas terrenas para o gradual remoção da ilusão. SOPHIA • NOV/DEZ 2017 amadurecimento final, antes de al- cançar a perfeição da vida na Terra. À medida que nos aproxima- mos da permanência, nossa pers- As qualidades necessárias para pectiva torna-se firme como um a perfeição foram enunciadas pelos diamante – uma visão verdadeira santos: amor, devoção, humildade, da realidade última. Não mais será honestidade, não violência, serviço ilusão. À medida que nos livramos aos necessitados, etc. Os valores da dualidade ilusória, à medida são eternos, e nós os sabemos de que evoluímos, temos a experiên- cor. O problema é praticá-los. Os cia de que todas as virtudes são a bons pensamentos que lemos nos mesma, no nível básico. Todas são livros parecem bons nos livros. Não apenas corolários do amor incon- temos certeza a respeito de sua real dicional com o qual estamos agora utilidade na turbulência da vida. É impressionados. duvidoso se sequer sabemos o que eles realmente significam. Amor Ao perder nossa dualidade – pode significar afeto pelo cônjuge não realmente uma perda, mas ou por um de nossos filhos, mas um ganho – os valores não apenas compreendemos que também in- convergem, mas são vistos como clui compaixão, estendida incon- ramos e galhos da mesma árvore: dicionalmente a todos os seres? a devoção brota do amor pelo Cria- dor, levando posteriormente à gra- Para alguns, devoção significa tidão, à humildade, à autoentrega. visitas ao templo ou a execução de Se eu vejo a mim mesmo em todas rituais. Mas na verdade significa as pessoas, a quem considerarei ini- total entrega à vontade de Deus, migo, a quem causarei dano, com aceitando como graça divina até os quem serei violento? A violência é eventos desagradáveis, com grati- destruída no nascedouro. A quem dão e alegria plena. Nós concorda- enganarei, senão a mim mesmo? A mos com isso na prática? veracidade é automática. Não ape- nas verdade e não violência, mas Não violência não é apenas evi- todo o yoga óctuplo emerge aqui – tar se envolver em lutas; no momen- e tudo são facetas do amor. S to em que um pensamento grossei- ro surge, a violência já ocorreu. Da * Preadeep Talwalker é membro da Loja Poona mesma forma, achamos que hones- da Sociedade Teosófica na Índia. tidade e humildade são coisas que todos devem praticar, menos nós. 26

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[ DESCOBERTAS ] e‘Fsísaibceadqouriaânatnitcigaa Os princípios fundamentais das antigas tradições místicas ocultas, no Oriente e no Ocidente, encontram nova expressão na moderna teoria ‘científica. Como esses dois caminhos de conhecimento se relacionam no mundo atual? 28 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

SHUTTERSTOCK Emily Sellon* é que a Física quântica só pode ser entendida com referências num ní- Uma questão em evidência atual- vel de experiência muito mais sutil, mente é a relação da Física contem- onde consciência e matéria parecem porânea e da teoria cosmológica com ser aspectos do mesmo domínio, não a visão de mundo teosófica. Inúmeros entidades separadas. Isso também livros e artigos sugerem que os princí- está de acordo com a visão teosófica. pios fundamentais das antigas tradi- ções místicas ocultas, no Oriente e no Bohm concebe o espaço como Ocidente, encontram nova expressão aquilo que nos une ou abraça; dentro na moderna teoria científica. Como dele todos os fenômenos, inclusive o esses dois caminhos de conhecimen- ser humano, ocorrem como pequenas to se inter-relacionam, e quão ampla ondulações de energia dentro de um é a influência da tradição antiga no campo de energia muito maior – uma pensamento contemporâneo? energia de surpreendente magnitu- de. Essas pequenas ondulações são É óbvio que a maioria dos cien- equivocadamente percebidas como tistas não têm interesse nas questões singularidades separadas umas das do significado das teorias físicas con- outras, quando na realidade são uma temporâneas em termos do que pode manifestação fenomenal de uma or- ser chamado de iluminação humana. dem mais profunda e abrangente. A interpretação de David Bohm dos Numa visão assim, em vez de separar, fenômenos quânticos, por exemplo, o espaço une todas as entidades. Es- sugere que, como cada função con- ta interconexão radical se estende à tém informação sobre todo o univer- mente e à matéria, à consciência e ao so, deve haver uma ordem implícita. mundo físico – mas não se revela na Essa ordem pode ser equivalente à ordem explícita, onde opera a maior consciência (ou uma versão diferente parte da ciência. dela), o que implica que o universo físico e o reino da mente são de algu- Quando perguntaram a Bohm ma maneira análogos. se havia consenso na comunidade de físicos, ele respondeu que havia Segundo Bohm, os reinos físico concordância a respeito de fatos, e mental têm raízes em algo além de mas não a respeito de interpretações ambos, que desaparece no infinito. de fatos. Muitas interpretações são Essa é uma posição fundamentalmen- rejeitadas porque não há retorno fi- te teosófica. Certamente a maioria nanceiro previsto. Ele considera es- dos cientistas trabalha no reino da sa falta de interesse o maior perigo ordem explícita – no mundo feno- para o progresso da Física. Todos os menal onde os dados podem ser en- grandes teóricos do passado, como contrados. Porém, o questionamento Bohr, Heisenberg e Einstein, de- senvolveram modelos imaginários “Bohm concebe o es- e fizeram perguntas aparentemente paço como aquilo que impossíveis. Mas hoje, a busca de nos une ou abraça; ideias com pouca relação imediata dentro dele todos os com problemas específicos não é fenômenos, inclusive o vista com bons olhos; por isso Bohm ser humano, ocorrem acredita que a atual geração de físi- como pequenas ondu- cos vem se tornando cada vez mais lações de energia den- medíocre, contente em pegar as ro- tro de um campo de tas mais seguras e deixar as questões energia muito maior.” difíceis sem resposta. Isso, segundo ele, suprimiu a dimensão filosófica da Física e pôs de lado questões de grande significado e importância. SOPHIA • NOV/DEZ 2017 29

Impulso para a síntese A noção de um universo partici- essa afirmação é absoluta e inaba- UNSPLASH pativo e a convergência de substân- lavelmente verdadeira, e pode ser cias físicas através do cosmo aponta compartilhada com qualquer pessoa a um estado superior de consciência para o que a tradição antiga chamou que tenha atingido o mesmo estado somente quando há espaço para a in- de doutrina do microcosmo e do ma- de consciência. tenção ou esforço moral. Em outras crocosmo e para a teoria hermética palavras, o conhecimento não nos de “como é em cima, é embaixo”. Na O efeito pode ser o mesmo quan- pode mudar a não ser que façamos ciência há um impulso para a síntese, do um físico afirma que cada minús- um esforço além do puro intelectu- uma tentativa orquestrada de simpli- cula partícula é um holograma que alismo. A questão aqui é: as ciências ficar modelos teóricos na esperança contém a totalidade do universo. Sua podem oferecer uma nova abordagem de se chegar a uma grande teoria afirmação não terá significado para a para levar as pessoas a mudarem suas unificadora. Elegância e simplicida- maioria das pessoas, seja porque elas atitudes em direção a uma vida mais de sempre foram a meta dos físicos não apreendem a teoria ou porque altruísta, mais abrangente? teóricos, não menos do que de filó- não conseguem dar o salto intuitivo sofos. Atualmente prossegue a busca que as colocará no nível de consciên- Vamos recuar um pouco e consi- por uma maneira de expressar a ideia cia onde o significado reside. derar as realizações da ciência como de todos e de tudo em um princípio um todo. Uma das mais surpreen- único – seja uma equação ou num Obviamente é mais fácil apreciar dentes é a generalidade das leis físi- nome para Deus – que possa servir a tendência à unidade, mesmo que cas desenvolvidas nos últimos qua- como uma explicação e um alicerce a pessoa não compreenda os termos trocentos anos. Elas estabeleceram, para o mundo. matemáticos da teoria, do que jus- tificar a afirmação de que “Deus é Bohm não é o único nessa busca amor”, em face de tantas evidências da totalidade última. A totalidade da em contrário. Com a multiplicidade natureza, incluindo o ser humano, que a natureza exibe, cada ser intui parece revelar um impulso teleoló- um grau de interconexão. Perceber gico rumo à realização de totalida- Deus como amor requer uma ordem des cada vez maiores. É como se o diferente de consciência – talvez uma universo tendesse à unidade. Essa ordem que possa compartilhar desse tendência da natureza tem um valor amor. Se a pessoa nunca experimen- que transcende o estético e permite a tou o amor, a afirmação não tem qual- intuição de uma realidade mais pro- quer significado. Para um significado funda. A conexão entre essa apreen- nos transmitir um grau de verdade, são e a tradição antiga é aparente: os precisa ressoar com alguma experi- antigos sempre afirmaram que tudo ência interior da qual participamos. é fundamentalmente um. As verdades religiosas exercem As antigas tradições dizem que a força moral ou ética no grau em que verdade só pode ser compreendida respondemos a elas, e essa resposta com o acesso a certos estados supe- não é mera aceitação intelectual. As riores de consciência. Estaremos aqui verdades que elas corporificam não dizendo que aqueles que entendem as estão confinadas à racionalidade das implicações filosóficas da teoria quân- afirmações, e sim ao que implicam tica estão num estado de consciência – aquilo para que apontam. Quando superior? As grandes tradições têm chegamos às afirmações científicas, afirmações como “eu e meu Pai so- a questão é se elas conseguem ofere- mos um”, “Deus é amor”, ou “Atman é cer o tipo de insight de que estamos Brahman”. Repetir essa afirmação não falando sem corporificar um esforço a torna mais convincente para nós. que transcende o intelectual. Certa- Porém, para uma pessoa, num certo mente pode-se dizer que isso se aplica estado de consciência, que compre- a todo o conhecimento, não apenas endeu plenamente o seu significado, às realizações da ciência. O conheci- mento se torna transformador e leva 30 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

“Todos os grandes teóricos do passado, como Bohr, Heisenberg e Einstein, de- senvolveram modelos imagi- nários e fizeram perguntas aparentemente impossíveis.” além de qualquer dúvida, a esmaga- cia atual é tão metafórica quanto as Dados experimentais produziram os dora regularidade da natureza, que tradições religiosas. Capra enfatizou “fatos” da Mecânica quântica, e eles sugere a tendência do cosmo rumo que a linguagem e as articulações do revelam que a realidade vai além das à ordem. Essa ordem prevalece imu- senso comum do mundo são muito fronteiras da lógica comum. No final tável frente à confusão imprevisível limitadas para transmitir certas re- das contas, somos forçados a escolher do “mundo do senso comum”. Por- alidades que a Matemática e outras entre a lógica e os dados, e a lógica é tanto, jamais devemos imaginar que linguagens simbólicas conseguem a perdedora. Naturalmente todo es- o ponto de vista comum represente descrever com bastante exatidão. O forço é feito para reunir linguagem, alguma finalidade com respeito à na- Misticismo, portanto, não pode ser lógica e dados, mas se isso não pu- tureza ou à nossa própria experiência. posto de lado simplesmente porque der ser feito, a linguagem e a lógica A aceitação disso ajuda a conciliar o seus termos de referência diferem da devem dar lugar aos fatos. O mesmo cientista com o uso que o místico faz linguagem comum. privilégio pode ser alegado no caso do do paradoxo ao descrever sua visão Misticismo, que é baseado em dados de mundo – especialmente agora A Mecânica quântica leva a uma experimentais – os “fatos” da experi- que a física quântica e a relatividade visão lógica diferente, uma situação ência mística – e pouco se preocupa têm seus próprios paradoxos com os que está associada às limitações da com as alegações da lógica comum, quais lidar, pois a linguagem da ciên- linguagem, já que a linguagem se embora tenha uma lógica própria. alicerça sobre certo tipo de lógica. SOPHIA • NOV/DEZ 2017 31

Limitações sutis Pode-se dizer que a Mecânica quão precisas as equações matemáti- SHUTTERSTOCK quântica não abandona nem contra- cas se tornem, elas são incapazes de diz a lógica comum, mas recorre a ou- transmitir o significado e as implica- “Não importa o quão tro nível de realidade com um tipo de ções filosóficas do que representam. precisas as equações linguagem diferente e uma outra for- É atraente criar modelos explicativos, matemáticas se tornem, ma de lógica – a lógica quântica, ou mas há o perigo de escolher o modelo elas são incapazes de de valor livre. Quem pode ser o juiz como substituto da realidade. A na- transmitir o significado do que é “certo” ou “verdadeiro”? A tureza em si é sempre experimental, e as implicações filosó- questão é análoga à abertura do Tao te e todos os nossos modelos podem ficas do que represen- King, onde se diz que o Tao que pode ser anulados à medida que o conhe- tam. É atraente criar mo- ser nomeado não é o Tao verdadeiro: cimento os torne obsoletos. Nosso delos explicativos, mas nem a realidade que pode ser expres- quadro da realidade deve sempre há o perigo de escolher sa em equações nem a realidade que deixar espaço para o crescimento e o modelo como substi- pode ser descrita em palavras é a ver- a mudança – para o caráter fluido da tuto da realidade.” dadeira realidade. existência. Essa fluidez, segundo a tradição antiga, só pode ser compre- SOPHIA • NOV/DEZ 2017 Diferentes níveis ou ordens de endida com referência à realidade de realidade têm seus próprios tipos base que permite emergir o caráter de linguagem e lógica, e nenhuma dinâmico e essencialmente criativo delas exaure a realidade. A física do universo. contemporânea e especialmente a Mecânica quântica são muito úteis, Esse dinamismo fundamental há visto que elas nos libertam dos gri- muito atraiu a atenção com relação lhões da lógica linear corporificada ao desenvolvimento das teorias cos- na linguagem comum, que não nos mológicas. Einstein, em 1921, propôs permite apreciar a ambiguidade e o uma solução para uma dessas equa- caráter paradoxal da vida. O tipo de ções que mostrava que o universo é pensamento linear foi a herança da dinâmico. Mas ele sentia que essa ciência do século XIX, que sustentava solução era revolucionária demais que nada que não pudesse ser medido e deveria estar incorreta; por isso, era real; segundo Lord Calvin, se não introduziu a chamada constante se pudesse demonstrar que uma teo- cosmológica (a velocidade da luz) ria funcionava em termos mecânicos, na equação. Na época sua teoria era ela não poderia ser verdadeira. O ex- totalmente especulativa, e somente tremo oposto foi alcançado quando o por volta de 1929 foi obtida a primei- Hertz expurgou a matéria totalmente ra prova experimental do universo e disse que as equações eletromagné- em expansão, com a observação da ticas não representavam nada senão recessão de uma galáxia. Sabemos elas mesmas. Pode-se criticar sua ob- agora que o universo está evoluindo. servação e ainda assim apreciar seu efeito libertador, pois ele estava con- Essa conclusão da ciência combi- testando a visão excessivamente me- na com a visão de mundo teosófica. canicista. Ele converteu um tipo de Contudo, quando falamos sobre a lógica mais simples em um tipo mais coincidência das teorias científica e sutil – por sua vez tem suas próprias tradicional, devemos ser cuidadosos limitações a serem superadas. em distinguir as tradições às quais nos referimos. A ideia de um universo O esforço que David Bohm e ou- em evolução é difícil de encaixar no tros fizeram entre as décadas de 1960 quadro de mundo cristão. Um evolu- e 1980 diz respeito à luta para nos cionista poderia argumentar que o libertar dessas limitações mais sutis. processo de criação descrito no Gê- Bohm assinalou que não importa o nese é uma metáfora para milênios de 32

crescimento e mudança. No entanto, cos). Quando falamos de sabedoria que primeiro romperam os elos da o tradicionalista provavelmente não antiga não estamos falando de religi- ignorância científica. Eles podem não se sentiria confortável com uma in- ões institucionalizadas, e sim da com- ter falado a respeito de um universo terpretação assim, e poderia dizer preensão atingida por aquelas almas em expansão, mas apontaram para que, embora a criação em si fosse um iluminadas dentro de cada religião, um mundo que é sempre novo – um ato, e portanto dinâmica, o trabalho que parecem ter sido capazes de expe- presente que abarca tudo que foi e de Deus estava terminado no que di- rimentar verdades que transcendem que é, e mantém a possibilidade de zia respeito ao mundo. as barreiras de credos e costumes. tudo que pode ser. O conceito cien- São os verdadeiros gnósticos de cada tífico de um universo em evolução O que parece ser importante, em tradição – os buscadores da sabedo- onde um longo período de expansão nossos esforços para perceber a coin- ria que transcende o conhecimento. pode ser seguido por um período de cidência entre ciência e sabedoria Para eles a questão não era crença, contração também se encaixa com a antiga, é fazer a distinção entre as mas experiência; eram os equivalen- concepção hindu de ciclos universais crenças das tradições religiosas e seus tes místicos dos experimentalistas de criação e destruição. ensinamentos esotéricos (ou teosófi- SOPHIA • NOV/DEZ 2017 33

Os enigmas do espaço Obviamente as teorias científicas tisfazem o impulso rumo à unificação SHUTTERSTOCK não têm um correspondente perfeito que motiva cientistas desde que os nas teorias cosmológicas da sabedoria gregos buscaram identificar o arché, “Uma das especula- antiga. Há analogias em áreas de inte- a origem de todas as multiplicidades ções atuais tem a ver resse mútuo e perspectivas similares. que compõem a existência. com a possibilidade Uma delas é o interesse contemporâ- de que qualquer coi- neo em simetria, fundamental para a Por outro lado, a maioria dos fí- sa que caia num bu- física de partículas. Filosoficamente, sicos não quer especular sobre para raco negro apareça a questão está relacionada ao ideal onde os paradoxos podem levar. Eles em outro universo. grego de um universo alicerçado em admitiram que muito da Mecânica Isso remete à ideia harmonia, ordem e beleza – o con- quântica é estranho e incrível, mas de que há inúmeros ceito de que há uma perfeição subja- sentem que especular sobre esses níveis de existência cente impermeável a toda mudança. mistérios é perda de tempo. Como no espaço.” O princípio da invariabilidade cor- na velha questão de decidir se alguma porificado pela simetria pressupõe coisa existe quando não há observa- SOPHIA • NOV/DEZ 2017 uma condição completamente está- dor para certificar sua presença. Esse vel que jamais é encontrada na natu- tipo de questão é importante porque reza; portanto, é ideal e não real. É reverte ao papel do ser humano no interessante, no entanto, que hoje a mundo, um problema que ganha ca- simetria esteja na base da física mo- da vez mais atenção dos cientistas, derna. Quando teorias competem, a evidenciado em livros como Taking que vence é aquela que possui qua- the Quantum Leap, de Fred Wolf, que lidades de simplicidade, elegância, postula que a ordem do universo é a beleza e simetria. mesma que a ordem de nossas pró- prias mentes – no sentido de que a Nós nos perguntamos se a teo- ordem oculta no universo ressoa na ria que vence o faz porque descre- consciência humana. Essa certamen- ve o modo como a natureza opera, te é uma visão teosófica. que sempre abarca uma dimensão estética, ou por causa de seu apelo Outro elo entre ciência e sabedo- estético a nós. Essa qualidade esté- ria antiga está no problema do tem- tica que a simetria corporifica sem- po. As evidências dos místicos mos- pre foi importante para as mentes tram que o tempo está intimamente inovadoras na ciência, de Kepler e relacionado a diferentes estados de Newton a Einstein. Para eles e seus consciência. Mesmo os cientistas seguidores, as leis que codificam o mais rígidos admitiram que Einstein progresso do conhecimento científi- provou que considerações de tempo co também estão progressivamente não podem ignorar espaço, matéria expressas nas equações matemáticas e energia. O tempo está ligado ao mais simples, mais elegantes, mais que poderíamos chamar de substân- belas. Nesse sentido, a Teoria da Re- cia, significando extensão no espaço. latividade de Einstein é mais simples Tempo e energia estão relacionados que a teoria de Newton. Mais simples na relatividade geral, e também, em- não quer dizer mais fácil de enten- bora de maneira diferente, na Mecâ- der; frequentemente as afirmações nica quântica. Esses relacionamentos mais simples, como “Deus é amor”, nos afastam da tradicional visão de são as mais difíceis. Elas são sim- tempo como conexão linear, sequen- ples no sentido filosófico de conter cial, determinada entre eventos. menos suposições, funções, axiomas independentes. Além disso, as quali- A relatividade do tempo também dades de elegância e simplicidade sa- aponta para o tipo de experiência que William James reuniu no livro Varieties of Religious Experience, onde 34

místicos atestam a compreensão do parece estar relacionado à famosa passar de um ao outro, como Alice que lhes pareceu eons de experiência afirmação de Ângelus Silésius de que num momento de relógio. Isso está Deus é um círculo cujo centro está através do espelho. Os buracos ne- de acordo com a evidência científi- em toda parte e cuja circunferência ca de que o tempo é diferente para está em lugar algum. Lama Govinda gros são chamados de singularidade diferentes observadores. A doutrina fala de uma transcendência seme- teosófica afirma que a consciência é lhante de limitações do espaço no no espaço, no sentido de que ali as análoga ao espaço; assim, diferentes livro Foundations of Tibetan Mysticism. estados de consciência teriam dife- funções ou processos matemáticos rentes percepções do que acontece Outro elo possível é a potenciali- no espaço – do qual o tempo é uma dade do espaço. Uma das especula- não mais funcionam. dimensão? Há pouca literatura sobre ções atuais tem a ver com a possibi- a análise de estados do tempo na ex- lidade de que qualquer coisa que caia A ciência atual está começando periência mística, um tema que vale num buraco negro apareça em outro a pena ser pesquisado. universo. Isso remete à ideia de que a considerar o espaço como a ma- há inúmeros níveis de existência no O espaço é, em si mesmo, inde- espaço – não há margem para o es- triz criativa a partir da qual nasce o pendente do tempo. Isso sugere um paço, e sim caixas dentro de caixas, tipo de unidade espacial e de imedia- todas existindo simultaneamente. Es- cosmo. Essa matriz, como o registro tismo temporal. Embora apareça na tes universos são contínuos, de modo literatura mística muito raramente, que uma pessoa, em teoria, poderia akashico, nomenclatura encontrada na Teosofia, contém todos os eventos possíveis – tudo que podia ser, que podia ter sido ou que alguma vez foi. E este é fundamentalmente o ensina- mento da sabedoria antiga. S * Emily Sellon é escritora e foi Presidente do Co- mitê Nacional de Educação da Sociedade Teosó- fica nos EUA. SOPHIA • NOV/DEZ 2017 35

[ RESPONSABILIDADE ] A‘NchoevgaadEarada Todos nós compartilhamos a mesma natureza, mas apenas em alguns ela floresceu. ‘Essas pessoas têm uma tarefa especial, o papel peculiar de expulsar a ignorância 36 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

Radha Burnier* uma. Inúmeros males são aparentes Todos nós temos um papel valioso na sociedade moderna; “em vez de a representar no progresso da humani- dade. Precisamos alcançar um estágio arrancar as sementes daninhas su- onde os desejos e as atrações que têm predominado até o presente momento perficialmente, deixando as raízes não mais atuem. Esta pode ser a Nova Era. Atualmente poucas pessoas falam para perpetuamente crescerem novos sobre isso, e muitas que o fazem estão cheias de tormentos, não da profunda brotos”, a Teosofia deve nos ajudar a transformação pela qual a humanida- de passará quando um número sufi- destruir as próprias raízes. Devemos cientemente grande de pessoas tiver deixado o passado para trás. fazer parte do grupo de pessoas que se Precisamos buscar uma nova vi- posicionam para libertar o mundo de da, atuando como verdadeiros seres humanos. Consideremos que caracte- seus problemas. As ações más têm raí- rísticas devemos adquirir. Como es- creveu H. P. Blavatsky, as pessoas que zes em pensamentos maus; a Teosofia aspiram à vida superior não devem ser caracterizadas por incompetência lida com esse problema fortalecendo e irresponsabilidade. Infelizmente, a maioria dos seres humanos ainda nossa sabedoria e compreensão. estão nesse estágio. Aqueles que não compreendem entregam-se à igno- Annie Besant disse: “A Teosofia, à rância, apelam para as paixões, para a exaltação do fanatismo como devoção medida que ilumina as mentes daque- e da credulidade como fé. les que são atentos, desvelando-lhes Para usar as palavras de Annie Be- sant: “Temos de ser diferentes e não as causas ocultas da dor, à medida que nos deixarmos levar pelo que aconte- ce no mundo, porque nossa tarefa é prega a todos as doutrinas simples e diferente; nosso modo de vida deve ser puro, altruísta e desinteressado.” sublimes da fraternidade, do renas- Assim como em outras socieda- cimento e da causação, está fazendo des espiritualistas, na Sociedade Te- osófica há membros que agem como o trabalho mais difícil e mais ingrato se estivessem apenas em um clube social. Sentem-se satisfeitos quando de remover as causas da fome e da dão parte de seu tempo para o servi- ço aos outros. Isso certamente é lou- aflição, interrompendo assim a fonte vável, e é certo para aqueles que não sabem o que mais podem fazer. Mas de onde jorra a corrente de males que os que assumem a responsabilidade são aqueles que realmente seguem afligem a sociedade.” adiante – rumo a uma nova era. O trabalho da Sociedade Teosó- Todos nós compartilhamos a mesma natureza, mas apenas em al- fica, mais que aliviar a aflição pouco guns ela floresceu. Essas pessoas têm uma tarefa especial, o papel peculiar a pouco, é lançar a luz da verdade e de expulsar a ignorância, em vez de tentar destruir suas formas uma a do conhecimento. Ela mostra bases científicas, bases lógicas e princípios morais, e responde a muitas questões. Essa lógica para iluminar os impulsos inferiores e fortalecer as aspirações superiores dentro de nós continua até que o inferior seja completamente eliminado. Isso é difícil, mas pode- mos começar ajudando os outros a obter maior compreensão. E, enquan- to estamos ajudando as pessoas, de- vemos nos tornar mais conscientes e mais capazes de ver a verdade. Blavatsky doou o pouco dinheiro que tinha para ajudar uma mulher an- gustiada. Essa ação foi maravilhosa, mas isso não foi, de maneira alguma, o verdadeiro presente que ela doou ao mundo. O presente foi a sabedo- ria, a compreensão do que temos de deixar para trás e de como temos de tocar adiante. S UNSPLASH * Radha Burnier (1923-2013) foi escritora e presi- dente internacional da Sociedade Teosófica. SOPHIA • NOV/DEZ 2017 37

[ ESPIRITUALIDADE ] Jesus: a crença e a prática ‘ O exemplo vivo da amorosidade de Jesus e de sua sabedoria em lidar com os casos práticos, que lhe eram apresentados a todo instante, eram fatores de grande ‘importância em sua pregação 38 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

SHUTTERSTOCK Raul Branco* ensinamentos básicos eram minis- trados de forma sintética e, quando O distanciamento no tempo difi- necessário, por meio de exemplos culta nossa compreensão do sentido com alegorias da vida cotidiana e de de alguns dos ensinamentos básicos parábolas, que estimulavam o uso da de Jesus. Parte dessa dificuldade de- mente de seus ouvintes para enten- ve-se às diferenças de terminologia dê-las devidamente. usadas por Jesus e pela literatura moderna. Jesus costumava se referir Mas Jesus também convidava seus aos homens justos, ao “reino” e ao ouvintes a segui-lo. A expressão: “se- “caminho” que leva a essa meta, nas guir o Mestre” tinha duas conotações. alusões que atualmente referimos A primeira era para dar mais oportu- como características da vida espiri- nidades aos que tinham sido verda- tual. Paulo, porém, referia-se com deiramente tocados em seus corações frequência às atitudes e aos dons para consolidarem os ensinamentos espirituais que deviam caracterizar ministrados pela sua repetição e es- os seguidores de Jesus. Como Jesus tenderem progressivamente a abran- falava em particular para os judeus, e gência das lições que estavam sendo Paulo principalmente para os gregos, apresentadas. a terminologia de cada um refletia os valores e as imagens culturais dessas A segunda conotação é de que ao duas tradições. seguirem fisicamente o Mestre se- riam induzidos a seguir também a sua Os leitores modernos provavel- atitude para com a vida e o seu com- mente pensarão que o fundamento portamento para com as pessoas ao da vida espiritual ensinado por Jesus seu redor. O exemplo vivo da amoro- é perfeitamente conhecido, ou seja, o sidade de Jesus e de sua sabedoria em amor. Sem dúvida, o amor é um dos lidar com os casos práticos, que lhe principais ensinamentos de Jesus. No eram apresentados a todo instante, entanto, precisamos entrar em sinto- eram fatores de grande importância nia com a lógica e a harmonia da “boa em sua pregação. Seu exemplo práti- nova”, com seu poder transformador, co dos ensinamentos ministrados le- que é a essência da vida espiritual. vava um número crescente de pessoas Por oportuno, a “boa nova” é a cole- a procurar imitar o Mestre. tânea do que Jesus disse, e não o que foi dito a respeito de Jesus. O segundo fundamento, apesar de óbvio, enfrentava considerável re- Por conseguinte, o primeiro fun- sistência por parte dos seguidores no damento, ainda que nem sempre seja tempo de Jesus, como ainda enfrenta levado em conta pelos seguidores do nos dias de hoje. Era simplesmente Mestre, é o conhecimento de seus dar o passo seguinte: fazer o que tinha ensinamentos, a verdadeira “boa no- sido aprendido, colocar em prática o va”. Duas palavras eram empregadas conhecimento adquirido. Vida espi- com frequência por Jesus: “ouvir” e ritual é mudança e a mudança sofre “seguir”. Na Palestina de dois mil e sofrerá sempre a resistência do pe- anos atrás, a quase totalidade da quenino ego. As artimanhas de nossa população não sabia ler e escrever; personalidade para a manutenção do portanto, a transmissão dos ensina- status quo são bem conhecidas. Isso mentos era feita quase que exclusi- era assim na Palestina há dois mil vamente pelas pregações de Jesus anos e ainda é hoje em nossa socieda- e, mais tarde, pelos seus discípulos. de. Por essa razão encontramos várias Vem daí a importância de ouvir. menções de Jesus recomendando a Para facilitar sua memorização, os seus seguidores que colocassem em prática seus ensinamentos. SOPHIA • NOV/DEZ 2017 39

Orientação elevada O Sermão da Montanha (vide ca- os ensinamentos do Mestre estarão PIXABAY pítulos 5, 6 e 7 do Evangelho segundo devidamente orientados e fortaleci- Mateus) é conhecido como o grande dos para enfrentar as provações da “Jesus deixava claro repositório dos ensinamentos básicos vida. São esses os homens sensatos. que seus ensinamen- de Jesus. No século passado, um gran- Muitas pessoas ouvem os ensinamen- tos deviam ser prati- de ser, Mahatma Gandhi, que não era tos e até podem achar que são belos cados. Indicava que cristão, chegou a dizer que se todas e verdadeiros, mas ainda não amadu- seus discípulos de- as sagradas escrituras do mundo fos- receram suficientemente para decidir viam tornar-se a luz do sem destruídas, mas se um exemplar passar pela porta estreita e seguir pelo mundo, ou seja, de- do Sermão da Montanha fosse salvo, caminho apertado da autodisciplina. viam ser exemplos de a humanidade teria condições para que a vivência de seus restabelecer uma orientação elevada Outras referências sobre a impor- ensinamentos faria para seguir a vida espiritual. tância da prática dos ensinamentos aflorar a luz interior do são encontradas no Novo Testamen- praticante dedicado.” Ao término do Sermão Jesus aler- to. Numa delas Jesus é particularmen- ta: “Todo aquele que ouve essas mi- te incisivo, comparando aqueles que SOPHIA • NOV/DEZ 2017 nhas palavras e as põe em prática será praticam suas palavras com aqueles comparado a um homem sensato que que lhe eram mais próximos, ou se- construiu a sua casa sobre a rocha. ja, sua mãe e seus irmãos. “Sua mãe Caiu a chuva, vieram as enxurradas, e seus irmãos chegaram até ele, mas sopraram os ventos e deram contra não podiam abordá-lo por causa da aquela casa, mas ela não caiu, porque multidão. Avisaram-no então: ‘Tua estava alicerçada na rocha. Por outro mãe e teus irmãos estão lá fora, que- lado, todo aquele que ouve essas mi- rendo te ver’. Mas ele respondeu: nhas palavras, mas não as pratica, se- Minha mãe e meus irmãos são aque- rá comparado a um homem insensato les que ouvem a palavra de Deus e a que construiu a sua casa sobre a areia. põem em prática.” (Lc 8:21) Caiu a chuva, vieram as enxurradas, sopraram os ventos e deram contra O apóstolo Paulo faz um paralelo aquela casa, e ela caiu. E foi grande com a tradição judaica que se referia sua ruína!” (Mt 7:24-27) às pessoas espiritualizadas como “ho- mens justos”: “Porque não são os que Na passagem anterior Jesus está ouvem a Lei que são justos perante comparando dois grupos de pessoas. Deus, mas os que cumprem a Lei é Ambos tinham ouvido suas palavras, que serão justificados” (Rm 2:13). Tia- ou seja, seus ensinamentos. A dife- go, um discípulo avançado de Paulo, rença é que um grupo decidiu colo- chama a atenção para esse mesmo cá-las em prática. Essas pessoas eram ponto: “Tornai-vos praticantes da sensatas. Mas o outro grupo optava Palavra e não simples ouvintes, enga- por desconsiderá-las. Jesus refere-se nando-vos a vós mesmos!” (Tg 1:22) a esse grupo como pessoas insensatas. Na simbologia da linguagem sagra- Portanto, não são aqueles que da, a água é usada para simbolizar as ouvem as pregações dos sacerdotes e emoções. Nesse caso, as chuvas e as pastores que são os verdadeiros cris- enxurradas simbolizam as grandes tãos, mas sim aqueles que seguem os tentações dos sentidos e dos desejos. ensinamentos e o exemplo do Mestre. O vento simboliza a mente. Portanto, Certos cristãos acreditam que a par- os ventos que sopram simbolizam as ticipação na missa dominical, ou nos dúvidas que sempre assolam as pes- serviços do sábado nas igrejas evangé- soas na sua vida diária. Todas as pes- licas, com uma atitude de devoção e soas estão sujeitas às tentações e às respeito aos rituais, é suficiente para dúvidas. Porém, aqueles que seguem a salvação. Jesus, conhecendo a natu- reza humana que acha ser suficiente 40

dar atenção à aparência exterior em com um recipiente, nem para colo- gica de que devemos responder aos vez de vivenciar a realidade interior, cá-la debaixo da cama; ao contrário, ensinamentos “ouvidos” com nossa foi enfático: “Nem todo aquele que coloca-a num candelabro, para que determinação de colocá-los em prá- me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no aqueles que entram vejam a luz. Pois tica. E o Mestre conclui que “ao que Reino dos Céus, mas sim aquele que nada há de oculto que não se torne tem, será dado”, ou seja, aquele que pratica a vontade de meu Pai que está manifesto, e nada em segredo que realmente tem uma postura amorosa, nos céus.” (Mt 7:21) não seja conhecido e venha à luz do desenvolvida por meio da prática dos dia. Cuidai, portanto, do modo como ensinamentos guardados em seu co- Jesus deixava claro que seus en- ouvis! Pois ao que tem, será dado; e ao ração, receberá a orientação interior sinamentos deviam ser praticados. que não tem, mesmo o que pensa ter, para prosseguir no “caminho”. Mas, Indicava que seus discípulos deviam lhe será tirado.” (Lc 8:16-18) ao que enfatiza a vida das aparências tornar-se a luz do mundo, ou seja, de- e realmente não tem em seu interior viam ser exemplos de que a vivência O cristão sincero deve lembrar-se as virtudes “que pensa ter”, mesmo o de seus ensinamentos faria aflorar a de que não há segredo para Deus. Tu- que pensa ter lhe será tirado, pois as luz interior do praticante dedicado. do será conhecido e virá à luz do dia, tentações do mundo, mais cedo ou Essa verdade foi apresentada cla- no seu devido tempo. A frase: “Cui- mais tarde, fazem fraquejar aquele ramente na passagem: “Ninguém dai, portanto, do modo como ouvis!” que não alcançou o autocontrole. acende uma lâmpada para cobri-la é um alerta para a consequência ló- SOPHIA • NOV/DEZ 2017 41

Discípulos verdadeiros Esse tema é reiterado, sob um ân- discípulo busca sintonizar-se com UNSPLASH gulo positivo, no Evangelho segundo João, com a linguagem amorosa e po- o Mestre interior (Cristo) ao seguir ética que lhe é peculiar: “Se observais meus mandamentos, permanecereis o Mestre exterior (Jesus). Para isso no meu amor, como eu guardei os mandamentos de meu Pai e perma- deve seguir os ensinamentos mi- neço no seu amor.” (Jo 15:10) Como o amor é a expressão fundamental do nistrados com tanta dedicação por divino, a permanência no amor do Mestre é a garantia de que as portas Jesus. Quando isso é feito, o discípu- do Reino dos Céus serão abertas para o discípulo dedicado. lo já não vive mais para a gratificação O conhecimento da verdade, a dos desejos de sua personalidade. Ele gnosis, tão decantada pelos discípu- los do círculo interno e, mais tarde, se tornou um instrumento a serviço pelos membros dos grupos gnósti- cos, era tido como a culminação do da família humana, sob a direção do caminho interior. Jesus afirma: “Se permanecerdes na minha palavra, Mestre. Por isso, tudo aquilo que sereis verdadeiramente meus dis- cípulos e conhecereis a verdade e a pedir a Deus será para a realização verdade vos libertará” (Jo 8:31-32). Os verdadeiros discípulos eram aqueles da grande obra e, naturalmente, lhe que viviam fielmente de acordo com os ensinamentos do Mestre. Esses re- será concedido. cebiam as instruções reservadas que promoviam a expansão de consciên- Tendo em vista a ênfase dada por cia, que levava ao conhecimento da verdade e assim libertava o praticante Jesus e seus discípulos avançados à do mundo das ilusões. prática dos ensinamentos, talvez não O sonho de todo ser humano, especialmente daqueles que bus- seja apropriado o contraste que é co- cam a libertação, é receber a graça de contemplar a realidade divina. mumente feito entre budistas, que Esse anseio parece estar ao alcance de todos, de acordo com a passagem se autodenominam “praticantes” do em Mateus que diz: “Pedi e vos será dado” (Mt 7:7). O verdadeiro discípu- dharma (ensinamentos de Buda), e os lo, porém, sabe que todo ser humano deve galgar o monte da realização por cristãos, que são referidos como fiéis seus próprios méritos. Por essa razão, sente em seu coração que esse tema ou crentes. Essas denominações cer- é abordado de forma coerente e in- tegral no Evangelho mais profundo tamente não seriam escolhidas por de João, em que é dito: “Se perma- necerdes em mim e minhas palavras Jesus. Na verdade, elas derivam da permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vós o tereis” (Jo 15:7). O ênfase na crença, dada pelas igrejas cristãs, a partir do século IV, com a promulgação do credo de Niceia, sob as ordens do Imperador Constantino, visando unificar a religião cristã. De- ve ser lembrado que o termo “cristão” só passou a ser usado no final do pri- meiro século e no início do século II. Por quase um século os seguidores da Boa Nova eram conhecidos como os seguidores do Caminho, o caminho que levava ao Reino dos Céus. Para concluir, ainda que as igrejas cristãs insistam que seus membros devam ser vistos como fiéis ou cren- tes, em virtude da crença que devem ter nas doutrinas e nos dogmas da igreja, Jesus certamente considera- va seus verdadeiros discípulos como sendo aqueles que procuravam prati- car seus ensinamentos. S * Raul Branco é escritor, teosófo e membro da So- ciedade Teosófica em Brasília. 42 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

“A graça de contem- plar a realidade divi- na parece ao alcance de todos, de acordo com a passagem em Mateus: ‘Pedi e vos será dado’. O verda- deiro discípulo, po- rém, sabe que deve galgar o monte da realização por seus próprios méritos.” SOPHIA • NOV/DEZ 2017 43

www.sEondecreçieos dda aSocdiedeadteeTeoosósficoa nfoiBcraasil .org.br CAPITAIS CEP 88.035-000. Tel: (48) 99960- •Loja Conde de S.Germain: Campina Grande-PB 0637 (Adolfo). Reuniões 3ª, 19h. reuniões 2ª, 14h. •Loja Sírius: R. Santa Cecília, 692, Aracaju-SE E-mail: teosofica.florianopolis@ •Loja Himalaia: Tel: (21) 2717-0982. Santo Antônio. Tel: (83) 3322- GET Virtudes: R. Alexsandro Oliveira sociedadeteosofica.org.br •Loja Jinarajadasa: reuniões 3ª, 8934/8847-5367. Reuniões: dom., Porto, 115, Sta Luzia. CEP: 49045- Fortaleza-CE 14h. Site: www.bloglojajinarajada- 16h30. E-mails: get.sirius@socie- 750. Tel: (79) 8802-1012/8875-2875. •Loja Unidade: R. Rocha Lima, 331- sa.wordpress.com dadeteosofica.org.br e bruno.san@ E-mail: teosofiaemaracaju@gmail. A, Centro. CEP: 60135-000. Tel: (85) •Loja Nirvana: reuniões 6ª, 17h. globo.com com. Reuniões: ter. 19h, sab. 15h. 99828-2714. Reuniões: sáb. 16h, •Loja Perseverança: reuniões 5ª, Campinas-SP Brasília-DF dom. 9h. 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CEP: 36770-000. ca.org.br 17h. E-mail: sociedadeteosofica. 3353-2191/9919-1065. E-mail: teo- Tel: (32) 3421-4448/(32) 3421-1567/ •Coordenadoria das lojas de [email protected]. bahia@sociedade teosofica.org.br. (32) 9982-1123 e (32) 9984-1164. Brasília – programação pública con- João Pessoa-PB Site: www.sociedadeteosofica.org. Reuniões: 3ª, 19h30, e 6ª, 18h30 junta: sáb., 14h30 a 21h30. •Loja Esperança: R. Arquiteto Her- br/teobahia. Reuniões: sáb., 16h. (membros). E-mail: nascimentos- Belo Horizonte-MG menegildo Di Lascio, 468, Tam- São Paulo-SP [email protected] •GET Belo Horizonte: Av. Afonso bauzinho, CEP 58042-140. Tel: (83) •Loja Liberdade: R. Mituto Mizu- Caxias do Sul-RS Pena, 748, 26º andar. CEP: 30130- 3246-1478, 9117-4488, 8866-5051. -moto, 301, Liberdade, CEP •Loja Jehoshua: GET Filaleteus: R. 300. Tel: (31) 3464-4310 / 9264-2005. Palestras públicas sáb. 17h. E- 01513-040. Tel: (11) 3271-3106. Itália Travi, 813 fundos, Rio Bran- E-mail: [email protected]. Reu- mail: lojaesperança@sociedade Reuniões: 6ª, 20h. Site: teosofia- co, CEP 95097-710. Tel: (54) 3538- niões: qui., 19h às 20h30. teosofica.org.br liberdade.org.br. E-mail: 2721/(54) 9194-8537. Whatsapp: Campo Grande-MT Maceió-AL [email protected]. (54) 991948537. Reuniões: sáb. •Loja Campo Grande: R. Pernambuco, •GET Maceió: R. Prof. Sandoval Facebook: www.facebook.com alternados, 10h. E-mail: teosofica. 824, São Francisco, CEP 79010-040. Arroxelas, 432, ap. 502, Ponta /lojateosoficaliberdade. eduardotononnarciso@hotmail. Tel.: (67) 3025-7251/9982-8106. Verde. CEP: 57035-230. Tel: (82) •Loja Raja Yoga: R. Mituto Mizu- com. Sites: filaleteus.blogspot.com Reuniões: sáb, 18h. E-mail: lojacam- 3377-0297/9997-8351. E-mail: moto, 301, Liberdade, CEP 01513- e facebook.com/filaleteus. [email protected] [email protected]. 040. Tel: (11) 3271-3106. Reuni- Criciúma-SC •GET Flor de Lótus: R. Tinhorão, 672, Reuniões: sáb., 16h. ões: 4ª, 20h. E-mail: samiracarnei- •GET Mabel Collins: Cx P. 263, Cidade Jardim, CEP 79040-630. Palmas-TO [email protected] CEP 88801-970. Tel: (48) 3433- Tel: (67) 3028-6548 / 9637-7525. • GET Palmas: Q. 101 Sul, cj. 1, •Loja São Paulo: R. Mituto Mizu- 0380/9904-2080. Reuniões: Reuniões: 3ª e 6ª, 19h. E-mail: lt. 6, s. 408, Ed. Office Center. moto, 301, Liberdade. Reuniões: 1º sáb. do mês, 15h, na R. Barão [email protected] CEP 77.015-002. Tel: (63) 3215- dom., 17h. E-mail: celiapetean@ do Rio Branco, 549 (perto do Sindi- Cuiabá-MT 0936/9951-0459/8139-3218/8415- uol.com.br cato dos Mineiros). • GET Annie Besant: R. Venezuela, 3122. Reuniões sab., 15h30. Vitória-ES Juazeiro do Norte-CE 231, Santa Rosa, CEP 78040-370. E-mails: [email protected], •Loja Blavatsky: Av. Princesa Isa- •GET Padre Cícero: R. Santo Tel: (65) 9.8115.8425 / 9.8107.1687 [email protected] e gui.nut@ bel, 35, CEP 29.010-361. Tel: (27) Agostinho, 300, Biblioteca Pública / 9.8128.3144. Reuniões quinzenais: hotmai.com 3235-1545/3314-5381/9608-5694. Municipal, CEP 63.010-167. Tel: (88) 6ª, 20h. E-mail: castilho.radiotera- Porto Alegre-RS Reuniões: 3ª, 6ª e sáb., 19h. E- 98808-4808. Reuniões sáb., 16h. [email protected] •Loja Dharma: R. Voluntários da mail: [email protected] e E-mail: [email protected] Curitiba-PR Pátria, 595, s. 1408. CEP: 90039- [email protected] Joinville-SC •Loja Libertação: R. República Ar- 900. Tel: (51) 3225-1801. E-mail: •Loja Shanti-OM: R. Waldemaro gentina, 2.056, 11º andar, s. 115, [email protected]. OUTRAS CIDADES Maia, 130, CEP 89202-260. Tel: (47) Água Verde, CEP 80.620-010. Tel: br. Site: www.lojadharma. org.br. 3433-3706. Reuniões: 4º dom. do (41) 3088-8140 / 9968-7625 / 9646- Reuniões: 4ª, 20h (membros); sáb., Águas de São Pedro-SP mês, 19h. E-mail: marilenawolf@ 5853. Cursos de Introdução: 2ª, 15h às 18h30 (público). •GET Águas de São Pedro: R. yahoo.com.br 19h30 às 21h. Palestras públicas: Recife-PE Pedro Boscariol Sobrinho, 95, SP. Juiz de Fora-MG sáb., 16h às 18h. Reuniões mem- •Loja Estrela do Norte: R. Diogo CEP: 13525-000. Tel: (19) 3482- • GET Juiz de Fora: R. Padre Ca- bros: 3ª, 19h30 às 20h. E-mail: liber- Álvares, 155, Torre, CEP 54420- 1009. Reuniões: 5ª, 20h. fé, 195, 4º andar, Salão de Festas, [email protected] 000. Tel: (81) 3459-1452. Reuniões: Balneário Camboriú-SC bairro São Mateus, esquina com •Loja Paraná: R. Dr. Zamenhof, 97, dom., 16h. E-mail: lojaestrelado- •GET Luz no Caminho: Centro Av. Itamar Franco, CEP 36.016-450. Alto da Glória. CEP: 80030-320. Tel: norte@sociedade teosofica.org.br de Treinamento Yoga Sadhana, Reuniões 2ª, de 19h a 20h30. (41) 9646-5853. Reuniões: 2ª, 19h Rio de Janeiro-RJ Av. Rui Barbosa, 30 (continuação Tel: (32) 99810-6667. E-mail: teoso- (membros); 3ª e sáb., 16h (público). •Loja Augusto Bracet: Av. Treze de da Estrada da Rainha, Praia dos [email protected] •GET Dario Vellozo: R. 13 de Maio, Maio, 13, sala 1520, Centro, CEP: Amores). CEP: 88330-468. Tel: •Loja Estrela D’Alva: Av. Barão do 538, Centro, CEP 80510-030. Reu- 20053-901. Tel: (21) 2569-9978. 9987-1797. Reuniões: quinzenal- Rio Branco, 2721, s. 1006, Centro. niões: 2º e 4º domingos, 15h30 às Reuniões: 6ª,15h. E-mail: fcarrei- mente, dom. 17h30. E-mail: mar- CEP: 36025-000. 17h30. Tel: (41) 3352-7175, 9979- [email protected] [email protected] Tel: (32) 3061-4293. Reuniões: 2ª, 7970, 9675-8126. E-mail: claturis- •Lojas Conde de Saint Germain, Ji- Bragança Paulista-SP 4ª, sáb., 18h15. E-mail: therezafcar- [email protected] narajadasa, Nirvana, Perseverança •Loja Alaya: Alameda Polônia, 9, [email protected] Florianópolis-SC e Rio de Janeiro: Av. 13 de Maio, nº Jardim Europa, CEP 12916-160. Londrina-PR •Loja Florianópolis: Av. Madre Ben- 13, s. 1.520, Centro, CEP 20053-901. Tel: 4032-5859. Reuniões: 6ª, 20h. •GET Lumen: R. Raja Gabaglia, 1020, venuta, 1295, s. 1, Santa Mônica, Tel: (21) 2220-1003. E-mail: [email protected] Jd. Quebec. CEP: 86060-190.Tel: 44 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

(43) 3027-2623/9121-3375/9916- FRED FOKKELMAN 0099/9911-8142. E-mail: tarsiladome- [email protected] e ivguerrini@ O que é a hotmail.com. Reuniões: 4ª, 19h. Niterói-RJ Sociedade Teosófica •Loja Himalaya: R. da Conceição. 99, s. 207, Centro. CEP 24020-090. A Sociedade Teosófica foi fundada em Nova Não há religião Tel: (21) 2710-3890/2611-6949. Reu- Iorque em 1875 por um grupo que inclui a russa niões: 2ª, 18h. Helena Blavatsky e o norte-americano Henry Ol- vsueperrdioraà de Palmas-TO cott, seu primeiro presidente. A sede internacional GET Palmas: Q. 102 Sul, rua NS foi transferida para Chennai, na Índia, onde se Esse é o lema da b, 105-231, Plano Diretor Sul, encontra hoje. A Sociedade tem sedes em mais de Sociedade Teosófica. CEP 77.001-360.Reuniões sáb., 60 países e divide-se em Seções Nacionais formadas Mas a Sociedade não 15h30. Tel: (63) 3215-0936/9951- por Lojas e Grupos de Estudos. se impõe como por- 0459/98139-3218/8415-3122. E-mail: tadora da verdade; o [email protected] A Sociedade Teosófica estrutura-se sobre o prin- laço que une os teó- Piracicaba-SP cípio da fraternidade universal e a livre investigação -sofos não é uma •Loja Piracicaba: R. Sta Cruz, 467, Al- da verdade. Seus objetivos são formar um núcleo da crença comum, mas to. CEP: 13416-763. Tel: (19) 3432-6540. fraternidade universal da humanidade; encorajar o a investigação da ver- Reuniões: 3ª e 5ª, 20h. E-mail: lojapi- estudo de religião comparada, filosofia e ciência; dade em relação às [email protected] investigar as leis da natureza e os poderes latentes diversas religiões, à Praia Grande-SP no homem. filosofia ou à ciência. •Get Thoth: R. Dep. Laércio Corte, 1090, Vila Caiçara. CEP: 11700-000. Membros de diversas religiões se filiaram à 45 Tel: (13) 3474-5180. Reuniões: 3ª, Sociedade, mantendo suas tradições. Considerando 19h30. E-mail: get.thoth@sociedade que ela não é uma religião nem uma seita, somente o teosofica.org.br respeito à liberdade de pensamento torna possível a Ribeirão Preto-SP convivência harmônica que favorece a investigação •Loja Paz Profunda: R. João Pentea- e o aprendizado. do, 38, Jardim Sumaré, CEP 14020- 180. Tel: (16) 3237-5109/98138-5148/ A origem da palavra theosophia é grega (“sabedo- 3916-4231. Reuniões: sáb. 16h. E- ria divina”). Quem primeiro utilizou esse termo foi mails: [email protected] e Amônio Saccas, em Alexandria, no século III d.C, [email protected] que, juntamente com seu discípulo Plotino, fundou São Caetano do Sul-SP a Escola Teosófica Eclética. Esses filósofos neoplatô- •GET do Grande ABC: R. Mare- nicos não buscavam a sabedoria apenas nos livros, chal Deodoro, 904, Sta. Paula. CEP: mas através de correspondências da alma com o 09541-300. Tel: (11) 4229-7846. Reu- mundo e a natureza. A Sociedade Teosófica moder- nião 3ª, 20h. E-mail: getdograndea- na, sucessora dessa antiga escola, almeja a busca da [email protected] sabedoria não pela crença, mas pela investigação da São José dos Campos-SP verdade que se manifesta na natureza e no homem. •GET Ishvara: R. Augusto Edson Ehlke, 150, Vila Ema. CEP: 12243- 110. Tel: (12) 3901-7424/3208- 6693/98877-8112/99163-1685/99137- 9085. Reuniões 3ª, 19h30. Endere- ço p/ correspondência: R. Ricardo Monteiro, 147, Jardim Renata, CEP 12245-110. Email: getishvara@gmail. com. FB: facebook.com/Loja Teosofica Vida Una •Loja Vida Una: R. Madre Paula de São José, 163, Vila Ema, CEP 12.243- 010. Fone: (12) 3941-7173/99712- 2349. Reuniões 2ª, 19h15. E-mail: [email protected] Sobral-CE •GET Sobral: R. das Dores, 105, Cen- tro. Tel: (88) 9483-8121/9913-2000. E-mail: [email protected]. Reuniões: 2ª 19h30, dom. 9h. Três Pontas-MG •GET Una Verdad: Rod. 167, km 11, entre Santana da Vargem e Três Pon- tas, CEP 37.190-000. Fone e whatsa- pp: (35) 99936-1396. Reuniões públi- cas 3ª, 20h. E-mail: getunaverdad@ gmail.com Timbó-SC • GET Timbó: R. Luxemburgo, 118, Das Nações. CEP: 89120-000. Tel: (47) 3382-2264/9957-1236/3385- 3068/9993-0797. Reuniões: 6ª, 19h. E-mail: g_muller85@yahoo. com.br SOPHIA • NOV/DEZ 2017

Conheça as publicações da Editora Teosófica O Natal dos Anjos O Mundo Oculto A Sabedoria Pensamentos para Dora van Gelder Kunz Alfred P. Sinnet Antiga Aspirantes ao Caminho Os anjos são mencio- Na primeira metade da nados, em todas as gran- década de 1880, um conheci- Annie Besant Espiritual des religiões, como inter- do jornalista inglês manteve mediários de expressão da uma intensa correspondên- A sabedoria antiga é o N. Sri Ram lei de harmonia universal. cia com um dos grandes corpo que forma a base de No Natal eles vertem sua instrutores espirituais que todas as religiões. Ela ofere- Este livro é uma com- energia espiritual com mais inspiraram a criação do mo- ce uma filosofia que torna a pilação de pensamentos intensidade, aproveitando vimento teosófico. O Mundo vida inteligível, demonstra escolhidos de diversos textos o solstício e em resposta à Oculto é o resultado direto que a justiça e o amor guiam do autor, divididos em temas devoção dos homens. dessa cooperação entre mes- a evolução e coloca a morte como autorrealização, ver- tre e discípulo. como um incidente periódi- dade, sabedoria, liberdade, A escritora nasceu com co numa vida infinita. paz, fraternidade. Sua lin- o dom da clarividência, e, O autor relata, em pri- guagem simples e profunda desde os cinco anos de idade, meira mão, como alguns Este livro aborda temas o torna acessível e recomen- foi treinada pelo renomado iogues do Himalaia rompe- como o plano físico, astral, dável a todos. N. Sri Ram clarividente C. W. Leadbea- ram um silêncio de séculos mental, a reencarnação, o busca lembrar-nos do estado ter. Com anos de experiência para transmitir ao mundo karma, o destino e o livre- de felicidade e harmonia nas artes de curar, Dora uma sabedoria esquecida. -arbítrio, as possibilidades naturais que perdemos em Kunz desenvolveu a técnica O livro revela, entre outros da evolução humana e a nossas agitadas vidas diárias, do toque terapêutico com assuntos, como se davam a origem do cosmo, com es- mas que sempre aspiramos Dolores Krieger. É autora desmaterialização e a mate- clarecimentos úteis para a por reencontrar. Contudo, de A Aura Pessoal e coautora rialização de cartas e outros vida do leitor. Dessa forma, essa aspiração nem sempre de Os Chakras e os Campos de objetos, nos primeiros anos convida à busca da sabedoria é consciente e clara, tor- Energia Humanos. do movimento teosófico. não pela mera crença, mas nando-se, por isso, valiosa a pela investigação direta da meditação em pensamentos verdade. de natureza inspiradora. www.editorateosofica.com.br 46 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

Compre pelo cartão [ LANÇAMENTO ] de crédito (todas as bandeiras), ou peça pelo Conhecimento correio ou pelo e-mail: editorateosofica@ é poder editorateosofica.com.br Ligue grátis: O Lado Oculto das Coisas fundos ocultistas do século vinte. Este 0800-610020 C. W. Leadbeater (Ed. Teosófica) livro é produto de muitos anos de seus meticulosos estudos da face oculta Shiva Sutras “Devemos nos esforçar por com- da natureza, ou antes, segundo suas I.K. Taimni preender o máximo que pudermos próprias palavras, “de toda a nature- acerca do mundo em que vivemos. za, ao invés de apenas uma pequena A palavra sânscrita sutra Não devemos nos atrasar na marcha parte dela, que é o quanto alcançam significa “fio, linha, cordão”. da evolução. Não devemos nos tornar as investigações da ciência moderna”. Textos importantes nas tra- anacrônicos por desinteresse quanto dições filosófico-religiosas às novas descobertas, que são apenas O autor revela, sobretudo, uma da Índia são chamados de a apresentação de um novo aspecto infinidade de fatores visíveis e invi- sutras. Eles contêm afirma- da sabedoria arcaica. Conhecimento é síveis, favoráveis ou desfavoráveis, a ções muito concisas sobre poder – neste como em todos os casos; que todo ser humano está inconscien- a natureza da realidade su- aqui, como ali, para assegurar os me- temente sujeito, e, ao mesmo tempo, prema, da consciência hu- lhores resultados, a gloriosa trindade indica qual deve ser, segundo a cirs- mana e da relação entre am- de poder, sabedoria e amor tem que cunstância, a sua reação inteligente e bas. Este livro traz um dos andar de mãos dadas.” construtiva. Trata-se, sem dúvida, de mais profundos tratados uma obra altamente instrutiva e edu- da escola filosófica india- C.W. Leadbeater foi um clarivi- cativa, recomendável a todo educador na, Shaivismo de Kashmir: dente renomado e um dos mais pro- e pesquisador. os Shiva-Sutras. Ele pro- cura esclarecer a natureza 47 da realidade suprema, sua realização pelo indivíduo e a natureza e o trabalho daqueles que estão perma- nentemente estabelecidos nessa realidade, chamados de Mahatmas (Mestres). Setor de Indústrias Gráficas – SIG, Quadra 6, Lote 1.235 Brasília-DF – CEP 70.610-460 Fone: (61) 3322-7843 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

peça pelo número!Para comprar os livros da Editora Teosófica, L0i8g0u0e-6g1rá0t0is2:0 1. A Chave para a Proposta Prática ao Escritas pelos Mahatmas Cranston: 67,00 Teosofia - H. P. Blavatsky: Alcance de Todos - Shirley M. e K. H.: 53,00 57. H. P. Blavatsky e a 39,00 Nicholson: 16,00 39. Cartas dos Mestres Sociedade para Pesquisas 2. A Ciência da Astrologia 21. A Voz do Silêncio - H.P. de Sabedoria - C. Psíquicas - Vernon Harrison: e as Escolas de Blavatsky: 15,00 Jinarajadasa: 41,00 25,00 Mistérios - Ricardo 22. As Escolas de Mistérios 40. Chegando Aonde Você 58. Introdução à Teosofia - Lindemann: 53,00 – O Discipulado na Nova Está - A Vida de Meditação C.W. Leadbeater: 15,00 3. A Ciência da Meditação - Era - Clara Codd: 37,00 - Steven Harrison: 33,00 59. Investigando a Rohit Mehta: 35,00 23. As Leis do Caminho 41. Clarividência - C.W. Reencarnação - John 4. A Ciência do Yoga - I. K. Espiritual - Annie Besant: Leadbeater: 33,00 Algeo: 27,00 Taimni: 49,00 21,00 42. Conhece-te a Ti Mesmo 60. Karma e Dharma - 5. A Conquista da 24. Aos Pés do Mestre - J. - Valdir Peixoto: 16,00 Annie Besant: 26,00 Felicidade - Kodo Krishnamurti: 13,00 43. Contos Mágicos da 61. Luz e Sombra – Matsunami: 25,00 25. Advaita Bodha Deepika Índia - Marie Louise Burke: Elementos Básicos de 6. A Doutrina do Coração - – A Luz da Sabedoria não 24,00 Astrologia - Emma Costet Annie Besant: 21,00 Dualista - Adi Shankara 44. Consciência e Cosmos de Mascheville: 18,00 7. A Luz da Ásia - Edwin Swami: 31,00 - Menas Kafatos & Thalia 62. Luz no Caminho - Arnold: 26,00 26. Além do Despertar - Kafatou: 35,00 Mabel Collins: 13,00 8. A Potência do Nada - Textos do Mestre Hakuin 45. Dentro da Luz - Cherie 63. Meditação – Sua Marcelo Malheiros: 23,00 sobre Meditação Zen: 26,00 Sutherland: 33,00 Prática e Resultados - Clara 9. A Técnica da Vida 27. Aos que choram os 46. Desejo e Plenitude - M. Codd: 17,00 Espiritual - Clara Codd: Mortos - C. Jinarajadasa Hugh Shearman: 15,00 64. Meditação Taoísta 23,00 [livro de bolso]: 13,00 47. Deuses no Exílio - J. J. – Métodos para Cultivar 10. A Sabedoria Antiga - 28. Apolônio de Tiana – Van Der Leeuw: 18,00 a Saúde da Mente e do Annie Besant: 39,00 Sábio, Profeta e Renovador 48. Educação, Ciência e Corpo - Thomas Cleary 11. A Sabedoria Oculta na dos Mistérios - G. R. S. Espiritualidade - P. Krishna: (comp.): 24,00 Bíblia Sagrada - Geoffrey Mead: 25,00 35,00 65. Meditação – Um Estudo Hodson: 69,00 29. Aprendendo a Viver a 49. Em Busca da Prático - Adelaide Gardner: 12. A Senda Graduada Teosofia - Radha Burnier: Sabedoria - N. Sri Ram: 24,00 para a Libertação – 33,00 28,00 66. Meditações – Excertos Instruções Orais de um 30. Aspectos Espirituais 50. Escritos Esotéricos das Cartas dos Mestres de Lama Tibetano - Geshe das Artes de Curar - Dora - Subba Row - em Sabedoria - Katherine A. Rabten: 20,00 van Gelder Kunz: 45,00 lançamento: 58,00 Beechey (comp.) [livro de 13. A Senda para a 31. Através do Portal da 51. Estudos Seletos em bolso] - 15,00 Perfeição - Geoffrey Morte - Geoffrey Hodson: “A Doutrina Secreta” - 67. Momentos de Hodson: 20,00 23,00 Salomon Lancri: 24,00 Sabedoria - H. P. Blavastky 14. A Suprema Realização 32. Autobiografia de 52. Eu Prometo – Conversa [livro de bolso]: 15,00 Através do Yoga - Geoffrey Annie Besant - em com Jovens Discípulos - 68. Não há outro caminho Hodson: 31,00 lançamento C. Jinarajadasa [livro de a seguir - Radha Burnier: 15. A Tradição-Sabedoria 33. Autoconhecimento - bolso]: 13,00 28,00 - Pedro Oliveira e Ricardo Marcos Resende: 18,00 53. Fotos de Fadas – As 69. O Alvorecer da Vida Lindemann: 25,00 34. Autocultura à Luz do Fotografias de Cottingley Espiritual - Murillo Nunes de 16. A Vida Espiritual - Annie Ocultismo - I. K. Taimni: -Edward L. Gardner: 18,00 Azevedo: 26,00 Besant: 29,00 43,00 54. Fundamentos da 70. O Aperfeiçoamento do 17. A Vida de Cristo - Do 35. Autorrealização pelo Filosofia Esotérica - H. P. Homem - Annie Besant: Nascimento à Ascensão - Amor - I. K. Taimni: 22,00 Blavatsky: 16,00 25,00 Geoffrey Hodson: 69,00 36. Bhagavad-Gita - Trad. 55. Fundamentos de 71. O Caminho do 18. A Vida Interna - C.W. Annie Besant: 15,00 Teosofia - C. Jinarajadasa: Autoconhecimento - Radha Leadbeater: 41,00 37. Cartas dos Mahatmas 39,00 Burnier [livro de bolso]: 19. A Visão Espiritual da para A. P. Sinnett, vol. I. – 56. Helena Blavatsky 13,00 Relação Homem & Mulher - Escritas pelos Mahatmas - A Vida e a Influência 72. O Chamado dos Scott Miners (comp.): 35,00 M. e K. H.: 53,00 Extraordinária da Upanixades - Rohit Mehta: 20. A Vivência da 38. Cartas dos Mahatmas Fundadora do Movimento 37,00 Espiritualidade – Uma para A. P. Sinnett, vol. II. – Teosófico Moderno - Sylvia 73. O Despertar da Visão 48 SOPHIA • NOV/DEZ 2017

da Sabedoria - Tenzin 85. Ocultismo, Leadbeater: 20,00 111. Sussurros da Outra Gyatso, 14º Dalai Lama: Semiocultismo e Pseudo- 98. O Verdadeiro Trabalho Margem - Ravi Ravindra: 25,00 ocultismo - Annie Besant: da Sociedade Teosófica - 25,00 74. O Despertar de uma 16,00 Sri Ram: 16,00 112. Teosofia como os Nova Consciência – Ideias 86. O Plano Astral - C. W. 99. Pensamentos para Mestres a Veem - Clara Centrais de “A Doutrina Leadbeater: 25,00 Aspirantes ao Caminho Codd: 35,00 Secreta” - Joy Mills: 19,00 87. O Poder Criativo, Clara Espiritual - N. Sri Ram: 113. Teosofia Prática - C. 75. O Fim da Divindade Codd: 23,00 23,00 Jinarajadasa: 21,00 Mecânica – Conversas 88. O Poder da Sabedoria - 100. Pérolas de Sabedoria 114. Teosofia Simplificada - Sobre Ciência e Carlos Cardoso Aveline: 27,00 - Sri Ramana Maharshi: Irving Cooper: 23,00 Espiritualidade no Fim de 89. O Poder da Vontade 27,00 115. Três Caminhos para a Uma Era - John David Ebert e seu Desenvolvimento 101. Pistis-Sophia - Trad. Paz Interior - Carlos Cardoso (comp.): 35,00 -Swami Budhananda: Raul Branco: 49,00 Aveline: 27,00 76. O Hino de Jesus – Um 16,00 102. Preparação para o 116. Tudo Começa com Rito Gnóstico - G. R. S. 90. O Segredo da Yoga - I. K.Taimni: 25,00 a Prece - Madre Teresa de Mead: 13,00 Autorrealização - I. K. 103. Princípios de Calcutá: 23,00 77. O Homem, sua Origem Taimni: 20,00 Trabalhos da S. T. - I.K. 117. Um Estudo Sobre e Evolução - N. Sri Ram: 91. O Teatro da Mente – Taimni: 17,00 a Consciência – Uma 19,00 Uma Filosofia do Cosmo 104. Procura o Caminho - introdução à psicologia - 78. O Idílio do Lótus e da Vida - Henryk Rohit Mehta: 25,00 Annie Besant: 41,00 Branco - Mabel Collins: Skolimowski: 25,00 105. Regeneração Humana 118. Vegetarianismo e 23,00 92. Os Ensinamentos - Radha Burnier: 21,00 Ocultismo - C. W. 79. O Interesse Humano - de Jesus e a Tradição 106. Rumo ao Discipulado Leadbeater e Annie Besant: N. Sri Ram: 25,00 Esotérica Cristã - Raul - J. Krishnamurti: 19,00 21,00 80. O Lado Oculto das Branco: 57,00 107. Sabedoria Antiga e 119. Você Colhe o que Coisas - C.W. Leadbeater - 93. Os Ideais da Teosofia - Visão Moderna - Shirley Planta - Antonio Geraldo em lançamento Annie Besant: 25,00 Nicholson: 35,00 Buck: 17,00 81. O Milagre do 94. Os Mestres e a Senda - 108. Saúde e Espiritualida- 120. Vida e Morte de Nascimento - Geoffrey C.W. Leadbeater: 70,00 de – Uma Visão Oculta da Krishnamurti - Mary Lutyens: Hodson: 16,00 95. Os Mestres e suas Saúde e da Doença - 39,00 82. O Mundo Oculto - A. P. Mensagens - Raul Branco: Geoffrey Hodson: 20,00 121. Viveka-Chudamani – A Sinnett: 35,00 22,00 109. Sete Grandes Joia Suprema da Sabedoria - 83. O Natal dos Anjos - Dora 96. Os Sete Temperamen- Religiões - Annie Besant: Shankara: 31,00 van Gelder Kunz - 13,00 tos Humanos - Geoffrey 39,00 122. Yoga – A Arte da 84. Ocultismo Prático - Hodson: 20,00 110. Shiva-Sutras - I.K. Integração - Rohit Mehta: Helena Blavatsky: 15,00 97. Os Sonhos - C.W. Taimni: 37,00 45,00 Recorte ou tire cópia deste cupom e envie para Editora Teosófica SOPHIA 70 Setor de Indústrias Gráficas - SIG Q. 6, lote 1.235 - Brasília-DF - CEP 70.610-460 Nov/Dez 2017 Desejo adquirir as publicações nº Por meio deste cupom ou do site www.editorateosofica.com.br, na seguinte forma de pagamento: Cartão VISA nº ________________ Validade: ___________ Titular: ­____________________________________________________ Cheque nominal à Editora Teosófica Depósito bancário: Banco do Brasil, Ag. 3476-2, Conta 40355-5 FRETE – ATÉ 3 LIVROS = R$ 15,00 Desejo assinar SOPHIA por um ano (6 números) por R$ 79,00 ACIMA DE 3 LIVROS = R$ 18,00 Por dois anos (12 números) por R$ 155,00 Por três anos (18 números) por R$ 199,00 Nome: _____________________________________________________ Data de nasc.: _____________ CPF: ______________________ Endereço: __________________________________________________ CEP: ___________ Cidade: __________________ Estado: ___ Fone (com.): ___________________ Fone (res.): ___________________ E-mail: _______________________________________________ SOPHIA • NOV/DEZ 2017 49