www.revistasophia.com.br ANO 8 • Nº 31 R$ 10,90
4 5 Ao leitor Ciência e religião: Momento de uma visão holística transição Roberto Crema 12 16 Da mente Entrevista: Robert Walter condicionada A poderosa influência para a luz dos mitos Eduardo Weaver Liane Alves 20 24 Matemática, física e a Amar é conhecer unificação do universo Radha Burnier Guilherme Santos Silva 26 30 O despertar para a vida A renovação da sociedade Linda Oliveira Dulce Magalhães 36 40 Os tesouros Mandela e a perdidos de fraternidade no Alexandria país da Copa Jack Patterson Ricardo Lindemann 45 46 Educação Gaya Dicas de livros Consolacion Udry
Momento de transição Conforme afirma Roberto Crema em seu artigo torrealização simbolizada pelo mito é vivenciada sobre religião e ciência, nossa civilização está atra- quando se segue a sua bem-aventurança, o cami- vessando uma fase muito especial de transição. O nho da felicidade. paradigma da modernidade, calcado no reducionis- mo e numa visão de mundo onde o homem é visto Em seu artigo sobre o amor, Radha Burnier apro- como separado da natureza e dos demais seres hu- funda ainda mais o tema autorrealização, escreven- manos, está esgotado. Esse paradigma é responsá- do que tanto a liberdade como a escravidão são vel por nossa atual crise ambiental e social, levando percepções interiores. Citando Krishnamurti, Radha à exclusão de uma parcela substancial da popula- comenta que somente quando cessa o pensamento ção do planeta, à destruição acelerada de florestas há amor. A consciência que opera de forma inte- e outros ecossistemas, ao abuso da infância e a ou- grada, que está livre dos grilhões impostos pelos desejos e apegos emocionais, é capaz de desenvol- tras mazelas sociais. Cre- ver uma nova forma de conhecer, através da comu- ma nos fala do novo pa- nhão e da percepção da unidade de todas as coi- radigma holístico e trans- sas. Segundo ela, conhecer a unidade é abrir os disciplinar que começa a olhos para a luz. emergir e que está promo- vendo a união dos dife- Em sintonia com todas essas questões, Dulce rentes. Ele aponta para o Magalhães, em seu artigo O despertar para a vida, nascimento de uma virtu- lança uma importante indagação: estaremos nós tão de integrativa, de um tipo absortos com as questões de nossa manutenção no de saber que é também dia a dia, com as contas a pagar, com a busca do inteligência, unindo razão sucesso, que esquecemos os objetivos maiores da com coração, unindo o vida? Até que ponto tornamo-nos prisioneiros de efetivo com o afetivo. nossos hábitos, relacionamentos e padrões de com- portamento? Ela lembra a importância de estarmos Na entrevista de Lia- abertos para o novo, de não nos acomodarmos e de ne Alves com Robert termos uma postura investigativa, sempre formulan- Walter, presidente da Fundação Joseph Campbell, do perguntas e buscando caminhos alternativos. Walter comenta que os mitos são um poderoso instrumento de transformação interior. Nos tem- Que cada um de nós esteja desperto para usu- pos atuais, quando prevalece ainda o paradigma fruir desse momento de transição, para assumir sua cartesiano nas ciências e o fundamentalismo nas verdadeira identidade e realizar seus objetivos mais tradições religiosas, quando as pessoas se sentem profundos nesta existência. Boa leitura! perdidas no meio de uma sociedade globalizada e impessoal, há uma busca crescente por um signifi- Eduardo Weaver cado na vida. Os mitos podem nos levar ao encon- Diretor-Presidente da Editora Teosófica tro de realidades interiores que estavam esquecidas e obscurecidas, propiciando ao mesmo tempo a re- SOPHIA - Ano 8, nº 31 - jul/set 2010 - Publicação da Ed. Teosófica descoberta do sentido do sagrado. O enorme sucesso do filme Avatar deve-se à SGAS Q. 603, s/nº - Brasília-DF Edição: identificação da população com o ambiente mágico CEP 70.200-630 Usha Velasco - DRT-DF 954/99 e belo de Pandora e seu povo Na’vi. O estilo de Fone: (61) 3322-7843 Revisão: vida desse povo nos remete ao mito do paraíso per- Fax: (61) 3226-3703 Zeneida Cereja da Silva dido, a um estado de consciência holístico onde E-mail: editorateosofica@ Tradução: todos os seres vivos são vistos como integrantes de editorateosofica.com.br Edvaldo Batista de Souza uma vida maior. O público identificou nesse filme Site: www.editorateosofica.com.br Projeto gráfico e diagramação: seu sonho de autorrealização, de libertação de um Usha Velasco estilo de vida mecânico e violento, e de superação Editor-chefe: dos obstáculos que nos impedem de sermos nós Eduardo Weaver Tiragem: 9.000 exemplares mesmos. Conforme afirma Joseph Campbell, a au- Coordenadora editorial: Impressão: Gráfika Papel e Cores Zeneida Cereja da Silva Distribuição nacional: Conselho Editorial: Fernando Chinaglia Marcos Luis Borges de Resende, Eduardo Weaver, Pedro Oliveira e * As imagens utilizadas são de exclusiva Zeneida Cereja da Silva. responsabilidade do editor-chefe. 4 SOPHIA • JUL-SET/2010
Ciência e religião: uma visão holística ‘‘Eis uma metáfora do nosso momento de transição: a lagarta já morreu e a ‘‘borboleta ainda não nasceu VALENTINA R. Roberto Crema* Eis uma metáfora que aprecio Naquela ocasião, estávamos muito, para indicar nosso momen- transcendendo um paradigma es- O mundo contemporâneo vive to de transição, caracterizado pela clerosado, da mesma forma que uma crise que denomino de de- aceleração dos processos mutaci- atualmente. Recordo que, no sen- molição, lição do demo. Lição da onais: a lagarta já morreu e a bor- tido mais amplo, como foi con- fragmentação, da dissociação e da boleta ainda não nasceu. cebido por Thomas Kuhn, no seu desvinculação. Por certo, neces- livro sobre as revoluções cientí- sitamos nos aprofundar no con- Numa brevíssima e precária re- ficas, um paradigma não é sim- texto crítico planetário para com- senha histórica de contextualiza- plesmente uma filosofia, nem preender o sentido do que está ção, voltemos nossos olhos para uma religião, nem uma ciência, desabando, mas também para o momento histórico, na inquieta nem uma arte; é uma estrutura entrever e acolher o milagre do pensamentosfera europeia, que que gera pensamentos e, portan- que está desabrochando, do que deu início à Idade Moderna, no to, gera ideologias, filosofias, ci- está surgindo dos escombros. século XVII, e que depois se des- ências, artes e místicas. dobrou na revolução científica. SOPHIA • JUL-SET/2010 5
O paradigma medieval, que esta- Precisamos levar em consideração va decadente no século XVII, era o aristotélico-tomista, uma síntese de aqueles seres humanos traumatizados Aristóteles com Tomás de Aquino, que prevaleceu durante séculos e teve por esse obscurantismo, que conspi- momentos maravilhosos, como o da Patrística, o dos monastérios e o da raram por uma nova cosmovisão. Creio construção das catedrais. Entretanto, naquela ocasião, essa visão do mun- ser justo um elogio aos traumatizados do estava esgotada e desabando – como no momento está desabando o de todos os tempos, esses seres hu- paradigma da modernidade – pelo peso de suas próprias contradições. manos que sentem na própria pele a Podemos sintetizar afirmando que, dor de uma hu- nos seus momentos mais obscuros, em função do dogmatismo e de uma manidade dila- tirania do divino, o paradigma medi- eval reprimia o fator objetivo e a cerada, insensí- “O paradigma medi- mente analítica crítica, em nome de vel e esquecida eval, síntese de Aris- alguma coisa que, confusamente, era de si mesma. Os tóteles com Tomás de chamada de Deus. A “santa” inquisi- mentores da ida- Aquino, teve mo- ção matou mais seres humanos, pro- de moderna fo- mentos maravilho- porcionalmente, do que a II Guerra ram seres feridos sos, como o da cons- Mundial, tendo se prolongado cruel- por esse trauma, mente durante séculos, sob o jugo despótico de uma religião desconec- que levantaram trução das cate- tada do espírito, que acabou se per- vertendo num terrorismo conscienci- suas vozes cla- drais. Mas, no século al, que silenciava e assassinava os se- res humanos dotados das mentes mais mando por um XVII, essa visão do ilustres e brilhantes, como a de Gali- mundo mais mundo estava esgo- leu. Basta lembrar de Giordano Bru- saudável e justo. tada – como no mo- no, torturado e lançado numa foguei- Surge Galileu, mento está desaban- ra apenas por ousar pensar de forma que vai nos in- do o paradigma da lúcida e independente. troduzir no mun- modernidade.” do da quantida- de, de uma me- todologia cientí- fica, hipotético-dedutiva. Atualmente fala-se muito em qualidade, mas du- rante séculos ficamos fascinados com a leitura da realidade como sendo ape- nas aquela dos números, como denun- MIGUEL SAAVEDRA ciou tão bem René Guénon, em seu livro O Reino da Quantidade e os Si- nais dos Tempos. A revolução do empirismo Bacon, numa época em que tudo método sistemático, tão traumatizado canicista, portanto, foi introduzida tam- era visto e julgado através de um livro que estava pelos dogmas da época. bém no coração do novo paradigma. que está na raiz da palavra biblioteca, Através do exercício de um raciocínio a Bíblia (a que apenas uma ínfima elite extraordinário, em algum momento Finalmente, o gênio raro de Isaac tinha acesso, diga-se de passagem), fez concluiu que precisava pensar para Newton fez a magistral síntese da ma- a revolução do empirismo, nos intro- duvidar: penso, logo existo. O pensa- tematização de Galileu, do empirismo duzindo aos cinco sentidos como es- mento, então, passou a adquirir o es- baconiano e do racionalismo analíti- tratégia natural de investigação e ex- tatuto de um fundamento ontológico. co cartesiano, num edifício portento- perimentação na realidade. Bacon en- Surgiu, triunfante, a análise que é um so, que ele denominou de física me- fatizava o controle da natureza, com o método de decomposição sistemática, cânica. Newton extrapolou a metáfo- seu famoso lema: saber é poder. Esse que busca compreender o todo por ra da máquina para o universo, que princípio de dominação foi introduzi- suas partes. Por outro lado, Descartes passou a ser visto como um grande do no cerne do pensamento moderno. era um admirador das máquinas. Ele engenho, movido por leis eternas. Esse dizia que os filósofos apenas compre- modelo de Newton foi identificado Depois, bradou sua voz aquele que enderiam o ser humano se compreen- com a própria ciência, durante os sé- é considerado o pai da razão analítica, dessem as máquinas. A dimensão me- culos seguintes. Descartes, que partia da dúvida como Todo o movimento liberal da mo- 6 SOPHIA • JUL-SET/2010
dernidade surgiu, de uma certa forma, podemos denominar de racionalismo consciência de discriminação, no sé- para combater aquela imagem domi- científico, inerentemente analítico, que culo XIX se transformou em dissoci- nante de um Deus tirano, que reprimia inventou a disciplina que, por sua vez, ação e desvinculação. a liberdade de pensar e de analisar. engendrou o especialista como o vi- Voltaire bradava: “Lembrem-se das cru- dente do mínimo, o profeta do mi- Enfim, o espírito científico, funda- eldades!” Assim, o racionalismo mate- núsculo. Saímos da fascinação pelo mentado numa indagação aberta e per- rialista científico pode ser compreen- todo para a veneração das partes. manente, degenerou em cientificismo, dido como um movimento compensa- uma religião sem Deus. A universida- tório iluminista, de resgate da razão Num movimento dialético, houve de passou a ser um novo templo, com crítica, que culminou, no século XIX, uma mudança de polaridade, que de- seu reitor denominado de “Magnífi- na religião positivista de Comte, pre- terminou um outro extremismo. A ex- co” e seus sacerdotes travestidos de gando o sermão do progresso, com periência da subjetividade, da interi- pensadores e técnicos. Naturalmente, uma pretensa física social. oridade e do sagrado, de onde jor- houve uma hipertrofia da dimensão ram os valores de uma ética essenci- do conhecimento, sobretudo com a re- Para compreender a crise que es- al, passou a ser reprimida em nome volução informacional, e a correlata tamos vivendo, não podemos deixar de algo que, de forma confusa, cha- atrofia do universo interior, o empo- de visualizar esse surgimento do im- mamos de ciência. O que foi um gri- brecimento lastimável do domínio sub- pério da razão, com a magistral obra- to de inteligência no século XVII, que jetivo, o naufrágio do sujeito, que se prima desses grandes mentores, que conquistou a lucidez lógica e uma degenerou em objeto. SOPHIA • JUL-SET/2010 7
A ditadura da razão o direito, do coração e da intuição feminina –, foram considerados na Em linhas muito vastas e precári- dissociadas das raízes, passamos para ordem do antagonismo e da incom- as, eis como ocorreu a mudança de o obscurantismo das raízes, desconec- patibilidade. Isso levou a uma situa- um polo onde predominava uma vi- tadas das asas... ção esquizofrênica de ruptura entre são sintética mística para uma visão o mundo interior e o exterior. Ou seja, dominantemente analítica e objetiva, Os dois caminhos clássicos de perdemos de vista o que é a consci- uma demência racional excludente, apreensão da realidade, a religião e a ência da inteireza e o que é o fenô- que Chesterton denunciou afirmando: ciência, funções que se inscrevem, meno humano integral. “Louco é quem perdeu tudo, exceto metaforicamente, nos nossos hemis- a razão!” Do obscurantismo das asas, férios cerebrais – o esquerdo, da ló- Como produto dessa contradição, gica masculina racional e empírica, e estamos presenciando uma síndrome global, com sintomas que indicam um 8 SOPHIA • JUL-SET/2010
esgotamento criativo do paradigma da sintomas, pois a criança é a guardiã loso. Eis um símbolo formidável de modernidade, que modelou uma ati- do templo da dignidade e de um fu- aliança entre o Ocidente e o Orien- tude básica, dissociada e polarizada, turo viável – e essa falência escanda- te, o masculino e o feminino, a ra- perante a humanidade e o mundo. Os losa da ética. Enfim, um quadro de zão e o coração, a sensação e a in- sinais trágicos dessa falência paradig- declínio e de quase fenecimento de tuição, o profano e o sagrado, a ma- mática são bastante visíveis nos noti- nossa civilização. téria e a luz. Consciente dessa solu- ciários de cada dia: a destruição dos ção criativa, Carl Sagan afirmava que ecossistemas, a exclusão de bilhões Muito dessa discussão pode ser o futuro da humanidade depende do de seres humanos miseráveis, uma es- traduzida nas concepções de Ocidente corpo caloso. calada de violência, terrorismos e e Oriente, compreendidas de forma guerras infindáveis, o abuso contra a transgeográfica, como estados de Na abordagem holística há um infância – um dos mais dilacerantes consciência, distintos e complemen- princípio que é muito valioso: não tares. O Ocidente interior pode ser mesclar, não separar; nem fusão nem “O espírito cientí- representado pelo hemisfério esquer- divisão, nem “um” nem “dois”. A fico, fundamen- do, da tecnociência e da ação no mescla da ciência com a religião é tado numa inda- mundo exterior. O Oriente interior um equívoco alienante, um pseu- gação aberta, de- pode ser simbolizado como o hemis- dossincretismo degradante. Por ou- generou em cien- fério direito, da mística, da musicali- tro lado, considerá-las na ordem do tificismo, uma dade e da contemplação. antagonismo e da exclusão conduz religião sem a outra cilada, a do sectarismo e da Deus. A universi- Nesse sentido, há uma bela sincro- desconexão. A ciência tem um ca- dade passou a ser nicidade em português: “Oriente-se!” minho próprio, que é o analítico. A um novo templo.” Precisamos orientar nossa ciência e tec- religião tem um caminho próprio, nologia, nosso saber, por essa inteli- que é o sintético. Um não precisa do DANI LIMA gência sintética, pelo Oriente interior, outro. Mas, como afirmou Fritjof Ca- pelo hemisfério do amor. Essa integra- pra, o ser humano necessita de am- ção precisa ter início dentro de cada bos! São as duas pernas que um ser um de nós, na ecologia individual, para humano inteiro e íntegro necessita que naturalmente transpire para a eco- para empreender uma jornada com logia social e a ambiental. sentido e orientação. Gosto de confiar que estamos des- Assim como a Idade Média enal- pertando para essa premente neces- teceu o um, da união indiferenciada sidade através do paradigma emer- do misticismo, a Idade Moderna se gente, que é transdisciplinar, holísti- fundamentou no dois, da diferencia- co, postulando o diálogo aberto e si- ção dual, da separatividade analíti- nérgico entre a ciência, a filosofia, a ca. Encontra-se em jogo, aqui, uma arte e a tradição espiritual. outra polaridade, que podemos de- nominar, metodologicamente, de Quando uma espécie encontra-se symbolos e de diabolos. Symbolos é ameaçada na sua perpetuação, me- o fator que religa, da religiosidade e canismos intrínsecos, biológicos, da do método sintético, o um. O seu sua inteligência são acionados e um oposto é diabolos, o que divide e es- novo paradigma é concebido e de- tabelece fronteiras, característica do senvolvido, num processo orgânico e método analítico, o dois. Num movi- vital. É o que está acontecendo, na mento dialético natural, o excesso de minha percepção, em meio à agonia symbolos medieval nos levou a um de um modelo racionalista e objeti- excesso de diabolos, na modernida- vista, esgotado e decadente. Trata-se de. Necessitamos da virtude integra- de conservar o positivo da razão crí- tiva do três. Assim, um novo cosmo tica e da ciência contemporânea, ou- brotará do caos. Trata-se de um mo- sando abrir novos horizontes, rumo à vimento natural da fusão para a dife- integração dos aspectos reprimidos e renciação e desta para a aliança, me- negligenciados, para que transcorra taforizada no mencionado corpo ca- uma sinergia de renovação. loso, que os antigos denominavam de “chifre do unicórnio”. Entre os dois hemisférios cere- brais há uma ponte de milhões de neurônios, denominada de corpo ca- SOPHIA • JUL-SET/2010 9
Um novo horizonte transdiciplinar Por meio do paradigma trans- terminismo biológico. Marx postu- ria ocidental, enalteceu três valo- disciplinar holístico, confio que lava a competição entre as classes res fundamentais: a liberdade, a inauguraremos a Idade do Três, no seu determinismo econômico. igualdade e a fraternidade. O blo- com a emergência de um horizon- Freud indicava a competição en- co liberal-capitalista centrou-se na te do saber e do ser que transcen- tre as potências psicológicas no seu liberdade, e o bloco social-comu- derá o que conhecemos convenci- determinismo psíquico... A Revo- nista na igualdade. Ambos menos- onalmente como ciência e como lução Francesa, que representou prezaram a fraternidade, frutos que religião. Creio que o futuro das um momento redefinidor da histó- eram do mesmo paradigma mate- novas gerações dependerá do de- senvolvimento dessa inteligência “A ciência tem um SOPHIA • JUL-SET/2010 integral do potencial da nossa es- caminho próprio, o pécie. Manter o positivo do um, a analítico. A religião união, e o positivo do dois, a dife- tem um caminho pró- renciação, numa metanoia de uma prio, o sintético. Um consciência de inteireza, onde não precisa do outro, aprenderemos a nos unir e nos di- mas o ser humano ferenciar, no milagre do encontro necessita de ambos inclusivo, onde dançam o amante, para empreender a amada e o amor. uma jornada com sentido e orientação.” Há um denominador comum na crise contemporânea, que é o ego. LARS SUNDSTRÖM O egocentrismo está na fonte de todas as nossas contradições. Do ponto de vista psíquico, o ego re- presenta o elemento básico e pes- soal da separatividade. A crise de fragmentação tem o ego como seu suporte e agente fundamental. E não será pela lógica que inventou o problema que iremos resolvê-lo, naturalmente. Foi Carl Gustav Jung que postulou, no Ocidente, um processo de iniciação ao mistério da totalidade, denominado de in- dividuação: uma trilha no mundo interior que conduz a pessoa da superficialidade egóica à centrali- dade do self. Precisamos de uma visão transcendente que não é con- tra o ego e nem significa sua des- truição, mas que poderá abri-lo para uma dimensão de solidarie- dade, de fraternidade e de comu- nhão, virtudes que emanam do he- misfério sintético. No século XIX emergiram vári- os tipos de determinismos, com uma ênfase na competição e con- flito. Darwin afirmava a competi- ção entre as espécies no seu de- 10
rialista, racionalista, atomístico e cie por meio de um salto qualitati- ao feminino, precisamos seguir nos mecanicista. vo de consciência sem o resgate exercitando na estratégia da trans- dessa consciência holística, capaz disciplinaridade, pois encontra-se Portanto, como lograr fraterni- de solidariedade, através da expe- em jogo o futuro da humanidade e dade num mundo dilacerado por riência da comunhão, sem perder da própria biosfera. conflitos egocêntricos? Postulando o valor do discernimento analítico. um paradigma novo, da integração, * Roberto Crema é psicólogo, escritor e antropó- do três. Essa virtude emana da men- Para que possamos aliar, através logo. Este texto é parte de um capítulo do livro te sintética, que é o apanágio das do três, o efetivo ao afetivo, a ra- Ciência, Religião e Desenvolvimento – Perspec- religiões. Isso significa que é im- zão ao coração, a análise à síntese, tivas para o Brasil, IRADJ, Roberto Eghrari (org.). possível a sobrevivência da espé- o intelecto ao espírito, o masculino SOPHIA • JUL-SET/2010 11
YULIA POPKOVA Da mente condicionada para a luz ‘‘Quando nos abrimos para a luz, ela chega até nós e ilumina nossa mente. Será que estamos preparados para recebê-la? Sem essa luz a vida fica obscura, sem beleza, sem brilho. Sem ela não conseguimos ‘‘distinguir o falso do verdadeiro 1 2 SOPHIA • JUL-SET/2010
Eduardo Weaver* recebemos estímulos o tempo todo. Quan- do reagimos a esses estímulos com base no Consumimos muito tempo e energia com nosso conteúdo mental, executando rotinas relacionamentos conflituosos, com pequenos automaticamente como se fôssemos um com- problemas familiares, conflitos no trabalho, putador, não somos capazes de criar. Con- discussões desnecessárias e tarefas supérflu- seguimos apenas repetir aquilo que já esta- as e mecânicas. Nossa mente está condicio- va armazenado em nossa memória. nada a atuar dentro da atmosfera competiti- va da vida pessoal e profissional. Uma pessoa realizada, uma pessoa espi- ritualizada, está atenta à realidade à sua vol- Nas empresas cada vez se exige mais dos ta. Ela está integrada a todo o complexo da profissionais. De uma maneira geral, nossa vida, atenta a todos os estímulos, a tudo o sociedade impõe a todos os cidadãos um que está acontecendo ao seu redor naquele ritmo cada vez mais competitivo, estressan- momento. Ao invés de reagir, ela age. A di- te e acelerado. No lugar de trabalharem oito ferença entre ação e reação é que a reação horas por dia, conforme previsto na maioria é condicionada e automática, enquanto a dos contratos de trabalho, as pessoas são ação consciente é pura, espontânea e está induzidas a permanecerem no ambiente de em sintonia com a realidade presente. trabalho oito, doze, quatorze horas por dia, e acabam não tendo tempo para si próprias Quando a mente está alerta e receptiva é nem para suas famílias. possível aprender muito de nossos relaciona- mentos. Na medida em que começamos a ob- É comum a sensação de que não conse- servar a nós próprios, começamos a enten- guimos fazer tudo que se espera de nós e der os mecanismos psicológicos da mente. nos sentimos insatisfeitos, desanimados, com um sentimento de impotência. Percebemos Por exemplo: uma pessoa nos agride ver- que o tempo se esvai, escorrega pelas mãos, balmente, fala alguma coisa que não nos fora de nosso controle. agrada. Se deixarmos que a mente atue au- tomaticamente, a tendência é devolvermos Quando, depois de um dia exaustivo de a agressão. Essa é a maneira como a maio- trabalho, chegamos em casa à noite, esta- ria das pessoas reage. Deixam-se contami- mos tão cansados que não temos disposição nar pela emoção negativa e reagem de for- para meditar, ler um bom livro ou refletir ma condicionada e não inteligente. sobre questões essenciais. Sentamos diante da TV, numa condição passiva, absorvendo A maioria dos homens foi educada para conteúdos inexpressivos e mensagens pu- não levar desaforo para a casa. Quando são blicitárias, que acabam contaminando e con- alvo de alguma agressão, dão o troco sem dicionando nossa mente. pestanejar. Pessoas que normalmente são tran- quilas não conseguem se controlar quando Muitas pessoas chegam ao final da vida, alguém lhes barra o caminho no trânsito, atra- olham para trás e sentem que não fizeram o vessando o carro na frente do seu; elas par- que almejavam; que sua vida foi gasta com tem para a agressão verbal. Se alguém bate coisas de menor importância. Se pararmos em seu carro, a situação se agrava. A pessoa para avaliar o nosso dia a dia de uma forma é capaz até de se envolver em uma briga. honesta, veremos que poucas coisas que Mais tarde ela para, reflete e chega à conclu- fazemos podem ser consideradas realmente são de que não precisava ter agido daquela essenciais e importantes. Desperdiçamos um forma, mas aí já é tarde, o mal já foi feito. tempo enorme com atividades que poderi- am ser deixadas de lado. Mas como nossa Atitudes impensadas podem gerar pro- vida é muito condicionada, muito repetitiva, blemas de relacionamento, problemas com como nosso cérebro atua de forma mecâni- a família, com os amigos ou com os vizi- ca, como se fosse um computador, não per- nhos. Palavras ásperas são às vezes proferi- cebemos esse processo. das gratuitamente. Comumente quem age de forma agressiva está com algum problema. Os sábios da antiguidade afirmavam que Pode estar mal de saúde, ter tido algum de- existe uma grande diferença entre levar a sentendimento no trabalho, estar insatisfei- vida conscientemente, agindo de forma ple- to, e por isso ele se expressa de forma in- na, objetiva e inteligente, e levar a vida de tempestiva. Ao perceber que o outro está forma repetitiva e condicionada. Todos nós sendo agressivo em razão de algum proble- SOPHIA • JUL-SET/2010 13
ma pessoal, não precisamos vibrar eu me senti agredido e reagi. Se no mesmo diapasão, respondendo nos permitirmos esse instante de a agressão com agressão. Se esti- reflexão e auto-observação, evita- vermos atentos, podemos observar remos muitos problemas. e não reagir automaticamente. Às vezes pessoas que se dão É sábio dar um tempo, respirar muito bem agem de forma impen- fundo (respirar fundo acalma as sada, brigam e ficam por muito tem- emoções) e não se deixar conta- po, até por toda uma vida, sem se minar pela negatividade do outro. falar. Por causa de um momento in- Porque a pessoa que atravessou feliz em que a pessoa falou o que seu carro na frente do meu precisa não devia e o outro reagiu agressi- ser agredida? Ela podia estar com vamente, um relacionamento impor- muita pressa, ter algum problema tante pode se tornar insustentável. urgente para resolver; podia estar Sociedades e casamentos acabam se desatenta, podia ser “barbeira”. São rompendo por causa de uma pala- muitas as razões que poderiam ter vra mal colocada ou de uma atitude feito com que ela desse a “fecha- egoísta. A atenção e o cuidado po- da”. Ela não queria me agredir, mas dem evitar muitos dissabores. O poder do amor Annie Besant, a segunda presi- po a agressividade do homem foi ASIF AKBAR dente da Sociedade Teosófica inter- se dissipando e seu comportamen- nacional, era uma grande escritora to mudou completamente. Ele pas- e conferencista. Ela era uma pes- sou a admirá-la, tornando-se em soa muito dinâmica, com uma mar- seguida um amigo. A força do cante presença pública, tendo inclu- amor foi capaz de reverter com- sive trabalhado junto com Gandhi pletamente a atitude negativa. na campanha de libertação da Ín- dia. Besant defendia causas que não Por meio da vigilância, da per- eram muito populares, como o con- cepção correta da realidade, somos trole da natalidade, os direitos das capazes de substituir o sentimen- operárias, os direitos dos intocáveis to de ódio pelo sentimento de e outras causas sociais. Durante uma amor. Ninguém resiste à força do fase de sua vida ela sofreu uma per- amor. O amor é muito mais forte seguição implacável de um jorna- que o ódio, que o egoísmo ou qual- lista. Por alguma razão incompre- quer emoção negativa. Temos um ensível, esse escritor realizou uma poder fantástico, um poder divi- persistente campanha de difamação no, que é o poder de influenciar o contra ela. Ele a criticava de forma mundo através da nossa mente. Te- virulenta em jornais e periódicos. Ela mos a capacidade de exercer a tentava rebater, tentava se defender, função divina de criar e transfor- mas não conseguia. mar o mundo. Um dia Besant percebeu a inu- Existe uma imagem muito bo- tilidade de tentar responder crítica nita de Nicholas Roerich, pintor rus- com crítica, rancor com rancor. so que considero um dos maiores Quando percebeu o que estava de todos os tempos. É um quadro acontecendo, pegou um retrato de grande beleza que me impac- desse jornalista, colocou-o em sua tou desde a primeira vez que o vi. mesa de cabeceira e todo dia, em Nele há um iogue sentado nas mon- sua meditação matinal, ela mirava tanhas dos Himalaias, com neve em o retrato e enviava pensamentos toda à sua volta. Mas onde ele está de paz ao jornalista. Em pouco tem- meditando existe uma árvore, um riozinho fluindo e uma vegetação 14 SOPHIA • JUL-SET/2010
de grande beleza. Esse quadro mos- beleza interior aflore, que a divinda- de interior se manifeste dentro de tra que o iogue, o buscador da ver- nós. E como é possível fazê-lo? Os grandes instrutores da humanidade dade, o ser espiritual, é capaz de nos ensinaram que a autorrealização é um processo de abertura. O divi- transformar a realidade à sua volta. no já está no nosso interior, o dia- mante já está presente em nosso ser. Isso é algo muito significativo. Po- A nossa natureza é uma natureza de felicidade. Por que não somos feli- demos mudar o mundo em função zes? Porque não deixamos que essa luz chegue até nós? do que sentimos e pensamos e da Buda dizia de forma muito inspi- maneira como agimos. Quando radora que a vida espiritual é muito simples: é só se abrir para a luz. As percebemos que somos seres divinos, pessoas vivem como se estivessem numa casa com as portas trancadas e que temos um poder infinito, e pas- janelas fechadas, imersas nas trevas, com medo do mundo, encerradas em samos a usar esse poder, somos ca- seu próprio universo, sem deixar qual- quer frestinha de luz entrar. O medo pazes de movimentar de se abrir para o mundo é tanto que elas se trancam em si próprias. Elas montanhas. criam uma casca em torno de si e se relacionam com a vida através dessa “Buda dizia Que poder fantásti- casca, dessa carapaça, impedindo o livre fluxo de energia entre elas e o de forma mui- co de transformação ti- universo. Buda dizia que basta abrir to inspiradora veram Buda, Krishna, a porta e a janela que a luz entra. É que a vida Cristo e tantos outros muito simples mesmo. Estamos numa espiritual é instrutores da humani- casa com tudo fechado, envoltos pela muito simples: dade. Eles foram canais escuridão. Não é necessário desco- é só se abrir do divino. Conseguiram brir nada sobrenatural, basta ter a co- superar suas limitações, ragem de se abrir. para a luz.” dominar seu egoísmo, Quando nos abrimos para a luz, ela chega até nós e ilumina nossa a sua natureza inferior, mente. Será que estamos preparados para recebê-la? Sem essa luz a vida e se abriram para a re- fica obscura, sem beleza, sem brilho. Sem ela não conseguimos distinguir alidade superior, oferecendo-se como o falso do verdadeiro, vivemos na obs- curidade. Essa luz divina chega até canais de regeneração da humanida- nós vinda de dentro. É uma luz que está sempre esperando que nós nos de. Cristo falava “eu e o meu Pai so- abramos para ela. Todos nós pode- mos ter acesso a essa luz interior, que mos um”, porque ele estava aberto é uma luz maravilhosa, que é a única fonte real de felicidade. Só depende para o Pai, que é a natureza divina de estarmos determinados a viver a vida divina aqui na Terra. que habita cada um de nós. * Eduardo Weaver é engenheiro, teósofo, Somos divinos por natureza e um conferencista e diretor-presidente da Editora Teosófica. dia chegaremos à estatura de um Buda, de um Cristo. A semente da divindade já está presente no nosso interior. Apesar de sermos divinos, vivemos envoltos nesse mundo de ilusão, esquecidos de nossa real na- tureza. Há um diamante no fundo do nosso ser, mas seu brilho está obs- curecido. O brilho do diamante não consegue chegar à tona, não conse- gue chegar à nossa mente. Mas o diamante nunca deixa de ser diaman- te, mesmo quando está debaixo da terra. Se cavarmos e removermos tudo aquilo que está obscurecendo o seu brilho, sua luz se fará presen- te iluminando a nossa consciência, tornando a nossa vida mais clara, nítida e bela. Essa vida de sonho que levamos é uma vida irreal, condici- onada, sem criatividade; é uma vida que não conduz à autorrealização. Temos apenas que deixar que a SOPHIA • JUL-SET/2010 15
Entrevista • Robert Walter A poderosa influência dos mitos Liane Alves* se encontram e percebem que um tem o pão, o outro o vinho e um pedaço de quei- De terno, gravata borboleta e uma jo, e que podem fazer boas coisas juntos”, aura de dignidade quase impossível de en- conta Robert Walter. contrar em nossos dias, Joseph Campbell, um dos maiores mitólogos de todos os tem- Hoje, aos 65 anos, Walter é presidente pos, já era um professor de quase oitenta da Fundação Joseph Campbell. Ele esteve anos quando resolveu editar os seus livros no Brasil em abril a convite da Associa- com Robert Walter. Autor, diretor teatral e ção Palas Athena, e acaba de lançar no produtor da Royal Shakespeare Company, país o último exemplar da série de obras Walter, na época, tinha quase a metade de Campbell sobre Mitologia Criativa, in- da idade de Campbell. Mas ambos tinham titulada As Máscaras de Deus. Nesta en- o coração aventureiro e corajoso dos me- trevista Walter fala sobre a força das mito- ninos, e, de certa forma, eram novatos – logias antigas e modernas em nossas vi- Joe como autor, Bob como editor. “Éramos das e explica como a estrutura do mito tra- como dois companheiros de estrada que dicional está presente no filme Avatar, re- cente sucesso de bilheteria. O que é um mito? revelam muito mais sentidos do que DIVULGAÇÃO PALAS ATHENA Normalmente considera-se a mitologia, ou um história comum. Mas também um conjunto de mitos, como sendo a religião existem mitos modernos, seculares, Robert Walter: de alguém quando não é a minha (risos). Os como o comunismo, que convocam sucesso de outros, como os gregos da Grécia Antiga, acre- nossas crenças, mas que não são tão filmes como ditavam em mitologias, mas eu acredito na simbólicos assim. Avatar mostra a minha religião, no que propõe a minha fé. força dos mitos Como se todas as religiões não fossem mito- As ideologias podem ser con- em nossa vida logias ou estruturas de pensamento com um sideradas mitos modernos? conteúdo fortemente mitológico... SOPHIA • JUL-SET/2010 Qual a diferença, então, entre o mito Sim. Não pertencem à esfera do e uma história comum? sagrado mas têm o poder de capturar Os mitos dão um sentido de pertenci- e catalizar nossas crenças. São siste- mento e de propósito para a vida de uma mas complexos de pensamento que pessoa. Os símbolos, a linguagem sagrada orientam a vida de uma pessoa e dão a ela dos mitos antigos, têm um sentido múltiplo uma noção de pertecimento e de propósito. e diverso, não são unilaterais. São metáfo- Mas os mitos modernos não são tão abran- ras que nos atingem profundamente e que gentes. O mito do cristianismo, por exemplo, dominou por dois mil anos; até o Renasci- mento praticamente não havia pensamento fi- 16
losófico ou conversas fora desse siste- estados teocráticos, como, por exem- ografia natural de onde pertencem. Há ma. Hoje, os mitos não são tão abar- plo, os países do Islã. Nos países oci- os mitos dos povos do deserto, como cantes assim, porque nós também não dentais, tudo é mais fragmentado. Te- há mitos dos povos das florestas ou estamos mais tão unificados. Há uma mos que aprender a olhar para esses os das ilhas e oceanos. Hoje vivemos multiciplidade maior de mitos, cultu- pedaços de mitologia que nos chegam numa sociedade móvel; as pessoas ras e experiências. Vivemos uma épo- e resignificá-los, comprender o que eles nascem num lugar, vivem em outro ca de mosaicos vindos de diferentes querem dizer para nós mais profunda- ou se movem por vários pontos do origens e essa tendência se multipli- mente e entender o que eles nos falam mundo. Conhecemos mitos das mais cou com a globalização. Nossos mitos hoje, pois já estão deslocados do seu variadas origens e épocas. Portanto, hoje são formados por pedacinhos de tempo, espaço e culturas originais. Há temos que aprender a considerar essa diferentes mitologias, assim como a cor toda uma resignificação necessária para base original do mito procurando ver de um vitral é dada por diversos tons encontrar seu sentido essencial. o seu sentido mais profundo. As len- de cacos de vidro. Atualmente, os mi- das ou histórias de fadas são metáfo- tos sagrados que abrangem toda uma Como podemos atualizar a an- ras que falam de uma realidade mais sociedade estão mais localizados nos tiga mitologia? essencial e é esse sentido que temos Os mitos estão muito ligados à ge- SOPHIA • JUL-SET/2010 17
que buscar. Mas também temos mitos cisar até de internação. Uma mitolo- meu sonho, a minha bem-aventuran- modernos que podem nos dar esse gia ensina a interagir com outras pes- ça, ou me empenhando de corpo e significado. soas, a trocar ideias com elas, a en- alma para realizá-la.” xergar seu lugar na sociedade. Sem Você poderia dar um exemplo? considerar essa função, alguém pode É possível viver a vida como um Vou falar de uma história que po- se tornar muito aberto mas louco, des- mito? deria ser contada por uma tribo da tituído de uma realidade social e des- Amazônia ou por beduínos do de- conectado de qualquer tipo de comu- Essa é a ideia: viver a própria jor- serto. Ela conta que somos do pla- nidade. A mitologia tem que ressoar nada como um herói da mitologia que neta Terra, que está sendo ameaça- no nível pessoal, coletivo, cosmológi- busca sua verdade última, o seu Graal. do de destruição, mas que temos uma co e metafísico. Ela nos dá as pistas E as histórias e lendas de todos os po- cerimônia mágica que pode salvar a de quem somos nesse universo, mas vos podem ajudá-lo a ser criativo nes- todos. Essa é a história do filme Ava- também de quem somos em nossa sa aventura, a apontar novos caminhos, tar, de James Cameron, um mito tra- coletividade e no planeta. Isto é, a pois dão instrumentos para isso. Os tado com tecnologia de última gera- mitologia nos fala do nosso papel no mitos falam do chamado à aventura, ção, assim como Guerra na Estrelas, cosmo mas também da vida comum, das dúvidas do herói, das armadilhas que Joseph Campbel ajudou a con- com seus obstáculos e dificuldades. que podem surgir no caminho, dos ceber. Uma pessoa que se sente to- Ela é integrativa, não dissolutiva. obstáculos internos e externos, da aju- cada pela história de Cameron vai da que surge de forma mágica por querer participar dessa cerimônia má- Qual é o propósito social da mi- meio de um animal falante, um mes- gica para salvar o planeta, vai querer tologia? tre ou um presente encantado que au- integrá-la à sua vida. Ele vai procu- xilia a superar os impedimentos. Re- rar as correspondências do mito em Assim como um pessoa que só se ferem-se também aos seus companhei- sua realidade. alimenta de pão sentirá carência de ros de jornada, isto é, àqueles que E esse é um caminho pessoal, frutas, verduras e legumes, uma so- estarão ao seu lado para que você não é? ciedade também precisa de diferen- possa empreendê-la, e a dádiva que Sim. O perigo é que ele se torne tes tipos de pessoas fazendo diver- você irá trazer de volta ao seu lugar individual demais, um viagem unica- sas coisas. Os mitos nos falam da de origem, para ser compartilhada mente pessoal. Algumas pessoas es- ação correta para diferentes tipos de com todos. Um mito é um mapa da tão tão imersas em sua própria com- pessoas e papéis; eles integram o jornada da alma nesse mundo. preensão que se afastam do mundo e social ao individual. Eles nos fazem “piram”. É onde a mitologia para de acordar de manhã cedo e dizer para Como posso reconhecer o mito ser mitologia e se torna uma psicose. nós mesmos: “Que maravilha, achei da minha vida? Nesse estado, uma pessoa pode pre- o meu lugar, a minha tribo, sei o que vou fazer na vida, estou realizando o Todo mito fala ao seu coração. Mas alguns ressoarão mais fortemente, pois Funções dos mitos segundo Campbell estarão ligados à sua consciência e de- safios nesse mundo. Quanto mais você Metafísica – Nos coloca em con- Sociológica – Estimula o reconhe- ler ou ouvir essas histórais, contos de tato com a fonte transcendente mis- cimento das relações humanas e o fadas ou lendas, mais saberá reconhe- teriosa que está por detrás de todos sentido maior de compartilhar uma cer e identificar seus símbolos e o os fenômenos aparentes. Reconci- jornada. Pode desafiar ou questio- que querem dizer. Mas também exis- lia a consciência com o universo nar padrões aceitos pelos grupos so- tem especialistas e apaixonados pelo que, então, se torna sagrado. ciais, como dar um sentido mais pro- assunto, como o próprio Campbell, fundo às leis e a ética (ou o bem). que podem ajudá-lo nessa aprendi- Cosmológica – Está ligada a for- zagem. E a existência começará a ma física dos cosmos, com seus bi- Psicológica – Ao relacionar os mi- oferecer respostas a partir de suas no- lhões de estrelas e o nosso peque- tos com nossa psique, Campbell deu vas e criativas escolhas. Eu, por no planeta Terra, “um ovo de preci- um enorme passo no estudo mais exemplo, posso olhar para trás e ver oso mármore azul flutando no es- aprofundado da mitologia. De ma- que as decisões que tomei, que pa- paço”, como dizia poeticamente neira geral, para antropólogos e so- reciam absurdas e sem sentido aos Campbell. Traz um sentimento de ciólogos, os mitos são vistos ape- meus pais ou amigos, mas que se- integração e interdependência com nas como expressão social e cultu- guiam meu coração, eram realmente relação ao universo e a natureza. ral de um povo. as escolhas acertadas. Se você vai atrás de sua bem-aventurança, daqui- 18 lo que enche seu coração de júbilo, estará realizando o mito da sua vida. Essa é a melhor indicação que esta- mos no bom caminho. SOPHIA • JUL-SET/2010
Avatar: a jornada do herói em um mito moderno O diretor James Cameron tinha ções e o chamado à aventura. manos pelos nativos, os azulados duas histórias na cabeça quando pen- Avatar preenche os itens que Na’vi. Mo’at, a matriarca Na’vi, cum- sou em escrever o roteiro de Avatar: pre o papel de mestre que auxilia na 2001, Uma Odisseia no Espaço, de compõem o monomito, estrutura que vitória do seu povo. Como todo mito, Stanley Kubrick, e O Mágico de Oz, alicerça os mitos de todos os tem- Avatar também tem os seus animais de Frank Baum. Cameron queria um pos, segundo Joseph Campbell. O encantados, tanto do bem, como os filme que marcasse uma geração e fa- herói, o ex-fuzileiro naval Jake Sully, banshee (reptéis alados) e os direhor- lasse do nosso futuro, como 2001, que é chamado à aventura no planeta ses (cavalos com seis pernas capazes chegou a ficar anos em cartaz em To- Pandora, uma colônia onde os hu- de correr pelo acidentado terreno de ronto (Cameron é canadense). O Má- manos planejam explorar o unobta- Pandora), como do mal, como o te- gico de Oz o encantava pela emoção nium, mineral raro que pode resol- mível tanathor e os agressivos vi- trazida pela personagem principal, a ver a extrema crise energética da Ter- pewolves. O amor de Jake Sully por pequena Dorothy, e seus três amigos, ra. Grace Augustine, bióloga que vive Naytiri, a linda caçadora Na’vi, sela o o leão, o espantalho e o homem de há quinze anos em Pandora, e Max destino da Terra e de Pandora. lata, além da delirante fantasia da his- Patel, um cientista do programa Ava- tória. Ao contar a aventura de Jake tar, são os amigos/escudeiros que o * Liane Alves é jornalista com doctorat de Sully num longínquo futuro, queria ajudam na empreitada. especialité do Institut Français de Presse que o enredo se desenrolasse como (Sorbonne IV) e escreve sobre um mito moderno, despertando emo- Nessa jornada o herói enfrenta o espiritualidade e comportamento nas mal, simbolizado por Lyle Wainfleet, revistas Vida Simples e Bons Fluidos que personifica o desprezo dos hu- SOPHIA • JUL-SET/2010 19
Matemática, física e a unificação do universo 2 0 SOPHIA • JUL-SET/2010
“Os programas de THOMAS BOULVIN/THERIAA Guilherme Santos Silva* o véu sobre a ignorância e aprender unificação, na físi- sobre a natureza – o método científi- ca ou na matemáti- O estudo comparado da religião e co. A ciência progride de modo diver- ca, ainda não estão da mitologia antiga revela, como parte so da religião, sem depender da expe- completos. A mente essencial da explicação sobre o surgi- riência pessoal. O conhecimento e a aglutina a infor- mento dos seres e do universo, que a descrição do mundo obtidos dessa for- mação, processa e, multiplicidade das coisas existentes é ma são uma conquista gradual, coleti- gradualmente, aparente ou ilusória. Segundo a tradi- va, reformada a cada instante e passí- constrói uma ima- ção, durante o processo de manifesta- vel de verificação. Além do confronto gem cada vez mais ção universal os seres humanos perde- entre o modelo teórico e o resultado completa e coerente ram a capacidade de ver a unidade sub- obtido experimentalmente, o proces- do universo.” jacente, a fonte de onde tudo emana. so mental e o raciocínio lógico estão Esse é um processo pouco compreendi- na base desse método. SOPHIA • JUL-SET/2010 do, mas há indicações de que não po- demos perceber a unidade devido à in- Supondo que seja a mente a des- suficiência dos órgãos sensoriais e a li- truidora do real, poderíamos acreditar mitações do nosso intelecto. que o acesso à unidade está definiti- vamente vedado à iniciativa científi- Segundo a ioga e de acordo com ca. Curiosamente não é isso o que se diversos textos antigos, a mente é o observa; inúmeras ilustrações interes- principal fator desagregador da unida- santes desse fato podem ser encontra- de, a “assassina do real”. O mecanismo das na física. Enxergamos muitas cores de ruptura com a unidade é complexo, e sabemos que todas elas são proprie- mas não é difícil perceber que essa rup- dades da luz, uma forma de radiação tura é parte inerente da existência. Afi- eletromagnética. O eletromagnetismo nal, o que haveria para se observar se explica a luz e as cores, além de ser o observador e o objeto observado se aplicado a outros fenômenos aparen- tornassem uma só coisa? temente distintos, como ondas de rá- dio, microondas e raios X. A própria A sabedoria antiga é constituída pelo teoria eletromagnética surgiu de uma acúmulo de informações obtidas dire- unificação alcançada por Maxwell, que tamente por homens e mulheres que mostrou que efeitos elétricos e magné- trilharam o caminho do autoconheci- ticos, antes considerados disjuntos, são mento e entraram em contato com uma manifestações do mesmo campo. Uni- realidade superior à cotidiana. A trans- ficação similar foi revelada por Newton, missão dessas informações se dá sob a ao explicar que a força sobre uma maçã forma da instrução direta a discípulos, na superfície da Terra e aquela que atua por meio da mitologia, textos sagrados entre os corpos celestes é, na verdade, ou rituais recheados de conteúdo. No a mesma gravitação universal. entanto, a transmissão da sabedoria en- volve perda de informação. Com o tem- Apesar de observarmos a ação de po, o conhecimento obtido de segunda diversas forças no cotidiano, existem mão passa a ser interpretado e modifi- apenas quatro tipos de interações, re- cado, transforma-se em dogmas; com ferentes aos campos nucleares fracos e frequência torna-se a sustentação de re- fortes, gravitacional e eletromagnético. ligiões institucionalizadas. Os campos nucleares são responsáveis apenas por efeitos de altíssimas ener- Podemos dizer que as escolas de gias que ocorrem em núcleos atômicos, sabedoria e a religião, em seu signifi- reatores nucleares ou no interior das cado mais amplo de força restauradora estrelas. Todos os demais efeitos de da unidade, são baseadas em conheci- forças observados no cotidiano são mento revelado e que sua correção e devidos aos campos gravitacional e ele- autenticidade só podem ser verificadas tromagnético. No entanto, insatisfeitos pela experiência subjetiva daqueles que com essa economia de explicações, os se dispõem a trilhar aquele caminho. A físicos continuam buscando a unifica- realização de um indivíduo é pessoal e ção dessas quatro forças. intransferível, por mais que esse indi- víduo procure propagar sua descober- Grandes sucessos foram obtidos na ta e o caminho que o levou a ela. teoria eletrofraca, que unifica os cam- pos eletromagnético e nucleares fracos Mas existe outra forma de levantar 21
e, posteriormente, inclui o campo nu- humano, por meio de um tomógrafo, ou clear forte nas chamadas Teorias de Grande Unificação. Permanece desco- explicar a evolução exponencial do ví- nhecida a unificação final que incluiria a gravitação e explicaria em um único rus da gripe até que a maioria das pes- quadro as quatro forças fundamentais. Há hoje uma busca vigorosa dessa teo- soas já esteja contaminada ou seus or- ria, incluindo os programas de super- gravidade, teoria de cordas e membra- ganismos comecem a reagir. Ela permi- nas. O simples fato de não ser possí- vel, até o momento, encontrar um cam- te saber que nosso pla- po unificado é considerado um defeito no estado da física atual. neta tem aproximada- Uma tendência similar existe na ma- mente 4,5 bilhões de “A construção de temática. Enquanto a física passou a ser anos e que o ser huma- templos que bus- uma ciência nos moldes modernos a no existe a mais de 4 mi- cavam exibir a partir de Galileu Galilei, podemos di- lhões de anos; que as harmonia e pro- zer que existe matemática de qualida- estrelas foram formadas de desde Tales e Pitágoras, na Grécia Antiga. A matemática é o estudo dos a partir de hidrogênio e porções universais, conjuntos, operações e relacionamen- tos entre elementos desses conjuntos. hélio e que têm um ciclo as práticas rituais Ela usa a lógica simbólica, a dedução e inferência lógica para a combinação de de vida finito, por isso para reproduzir a elementos primitivos em estruturas cada um dia irão se apagar. Sa- criação do mundo vez mais complexas e úteis. bemos que o universo e do homem, im- teve um início e que está pulsionaram forte- A matemática surgiu da necessida- se expandindo, embora de de descrever e controlar objetos do cotidiano, o comércio, as medidas de não saibamos ainda mente o estudo terras (geometria), a localização durante longas viagens, a elaboração de mapas, como ele terminará, ou matemático.” relógios, calendários e previsão das es- tações, a construção de máquinas e ar- se terminará um dia. mas. Apesar disso, a história mostra que uma atitude totalmente pragmática não Em seu esforço para é um terreno fértil para a evolução dessa ciência. Com que finalidade prática, por construir mapas e descrições cada vez exemplo, os matemáticos gregos explo- raram os números irracionais? mais elaborados, a matemática amplia O desenvolvimento dos aspectos mais seus conceitos e expande o objeto de formais da matemática foi fortemente im- pulsionado pela busca filosófica da ver- sua consideração. Um exemplo é a evo- dade e pelas tentativas de compreender o mito e a tradição. Por exemplo, a cons- lução do conceito de número. Os nú- trução de templos que buscavam exibir a harmonia e as proporções universais, meros naturais (1, 2, 3, ...) formam o as práticas rituais para reproduzir a cria- ção do mundo e do homem, como for- conjunto mais simples, sugerido pela mas de sustentação da vida e da ordem, impulsionaram fortemente o estudo ma- operação de contar objetos. Mas esse temático fundamental. conjunto é insuficiente para realizar Além disso, a matemática é uma lin- guagem de precisão usada para cons- operações de subtração ou divisão en- truir modelos que explicam a natureza e a sociedade. Com ela se pode calcular tre elementos. Essas operações levam, a posição de satélites, formar imagens tridimensionais do interior do corpo respectivamente, aos conjuntos dos in- teiros (-2, -1, 0, 1, 2,...) e dos racionais (m/n, onde m e n são inteiros). Apesar do apreço que os pitagóri- cos tinham pelos inteiros e racionais, eles descobriram que existem números fora dessas categorias, os chamados ir- racionais, entre eles o número pi e a raiz quadrada de 2. A união entre raci- onais e irracionais forma o conjunto dos números reais. Mais tarde, descobriu-se a necessi- dade de uma generalização para a solu- ção de equações quadráticas e cúbicas, que resultou na introdução dos núme- ros complexos, um conceito abstrato que teve difícil aceitação entre os matemáti- cos, mas que é hoje usado em diversas aplicações. Cada novo conjunto amplia TAKIS KOLOKOTRONIS o conjunto anterior e o incorpora. Por exemplo, todo natural é um inteiro, todo inteiro é um racional, e assim por dian- te. Os quatérnions, que generalizam os 2 2 SOPHIA • JUL-SET/2010
complexos, são uma espécie de super- Outro exemplo poderoso de econo- conjunto que contém todos os demais mia de princípios ocorre na definição números e permite todas as operações de espaços vetoriais, um conceito deri- que se pode fazer com eles. vado dos deslocamentos no espaço físi- co (geralmente representados como se- Muitas outras ampliações de con- tas na literatura básica) para conjuntos ceitos ocorreram na evolução da mate- que estão muito além dos vetores do es- mática. Números reais descrevem a paço tridimensional. O estudo das sime- posição de um ponto sobre uma reta; trias, formalmente representado pela os planos são bem descritos por uma teoria de grupos, é outro exemplo que composição desses números (denomi- abarca áreas diversas da matemática, nada R2). Outras descrições exigem aparentemente separadas. composições mais sofisticadas, por meio de espaços de dimensões mais al- A matemática amplia gradualmen- tas. Esses espaços podem obedecer à te os objetos sob sua consideração para geometria de Euclides ou podem ser manter a coerência interna de seus prin- curvos – onde a distância entre seus cípios ou explicar novos fenômenos. pontos não obedece ao teorema de Pi- Mais tarde percebe-se que existem prin- tágoras nem a soma dos ângulos inter- cípios ou categorias gerais que englo- nos de um triângulo é 180o. bam antigos e fragmentados conceitos. O pensamento unifica O pensamento científico moderno, nadas por completo. A filosofia, mate- especialmente na matemática e física, mática e física gregas levavam em seu tem raízes na antiguidade, particular- núcleo a ideia da unidade. E a ciência mente na Grécia Antiga. Existem outras moderna tem dado mostras de clara in- raízes importantes, mas a Grécia é cita- clinação para a busca da unificação. da aqui por fornecer exemplos diretos e claros. A filosofia grega estava enraiza- Os programas de unificação, na fí- da na mitologia arcaica, cujo fundamen- sica ou na matemática, ainda não es- to é a afirmação do princípio único. Na tão completos. Assim como mitologi- tentativa de explicar a unidade primá- camente busca-se reunir as partes do ria, os pensadores gregos se alternavam herói morto e fragmentado para recons- em debates acalorados sobre a natureza truir o ser unificado, a mente aglutina desse fundamento. Tales afirmava que a informação disponível, processa, ana- a água era esse princípio. Anaximandro lisa e, gradualmente, constrói uma ima- o descreveu como o indeterminado, uma gem cada vez mais completa, coerente substância infinita que a tudo preenche. e unificada do universo. Anaxímenes escolheu o ar, que se torna fogo e move todas as coisas. Heráclito Esse não é um conceito estranho ao afirmou que o essencial é a transforma- pensamento oriental, como podemos ção. E, segundo Pitágoras, o essencial é constatar nessas citações: “A mente é o número. apenas uma derivação e uma forma diferenciada da pura consciência cen- A contribuição pitagórica é impor- tralizada, portanto, essencialmente da tante para essa discussão. Junto com mesma natureza da consciência” (Shi- as relações numéricas, o número está va-Sutra, verso 3.1). “Mas a mente in- na base de toda a manifestação; essa dividual, penetrando em direção à sua permanece sendo uma das bases do fonte central pela contemplação, pode pensamento científico: convicção de ser forçada de volta ao estado da pura que sempre é possível construir um mo- consciência, e assim, adquirindo conhe- delo matemático que descreve de for- cimento dela, torna-se citi, ou realida- ma clara e não ambígua um fenômeno de mesma” (Pratyabhijña Hridayam, ou particularidade da natureza. aforismo 13). O pensamento é construído de for- * Guilherme Santos Silva é mestre em ma recorrente. Ideias antigas são refor- Física e doutor em Matemática. muladas e retificadas, mas não abando- Contatos: www.estudos.de/matemática SOPHIA • JUL-SET/2010 23
Amar é CLARENCE SOH conhecer ‘‘Quando existe amor verdadeiro, não há qualquer senso de separação. A pessoa pode se examinar e verificar se o senso de separação é compatível com o amor ou se ‘‘surge com o desejo de possuir. 2 4 SOPHIA • JUL-SET/2010
Radha Burnier* se que os sentidos de tempo, espaço, Desejo é pensamento. Não existe separação e dor nascem do pensar, e O Oriente preocupa-se profunda- que só quando cessa o pensamento desejo quando se experimenta algo que mente com a questão da liberdade do pode haver amor. ser humano. Diferentemente de muitos é agradável. O pensamento chega pou- povos modernos, os orientais não iden- Buda não explicou em detalhes o tificam a liberdade com dinheiro, com- que é o amor, mas explicou a causa da co depois, quando lembramos a sensa- pras, viagens etc. Eles se concentram ausência de amor na vida do ser hu- em libertar-se das compulsões que sur- mano. A abordagem de Krishnamurti é ção do sabor de um doce e dizemos gem do interior. O homem moderno diferente, mas tem por meta o mesmo está obcecado pela idéia de se libertar estado de bondade e amor. Ele nos ins- para nós mesmos: “Quero experimen- de coisas externas supostamente desa- tiga a descobrir que o que cria a servi- gradáveis, enquanto os Upanixades, os dão não é o amor verdadeiro, mas a tar novamente.” Esse processo prosse- venerados textos hindus, proclamam sentimentalidade, o apego às pessoas que tanto a liberdade quanto a escravi- num relacionamento emocional. Quan- gue indefinidamente. Segundo Krishna- dão são interiores. A mente cria grilhões do existe esse tipo de sentimentalismo e depois imagina que eles são exter- e de autopromoção por meio de outra murti, dizer “eu quero” é tempo. Tem- nos. Só quando compreende que os pessoa, a coisa pode facilmente mudar problemas que enfrenta são criados por e se tornar ira, frustração ou cruelda- po, pensamento, desejo: ficamos pre- ela mesma é que se torna livre. de. Podemos encontrar muitos casos se- melhantes na vida comum, quando o sos nisso, porque quando há uma sen- Não há sinônimos exatos para li- assim chamado amor transforma-se em berdade no Oriente, mas é fácil ver o animosidade e depois em ódio. sação agradável a mente se agarra à me- quanto os orientais pensam e falam a respeito desse assunto. Certas escolas Portanto, o que chamamos de amor mória da sensação. de pensamento orientais, que têm como traz consigo complicações e tumulto foco central algo que poderia ser des- interior. Krishnamurti disse: “O que va- Segundo Colin Tudge, os políticos crito como autoentrega, têm em mente mos fazer é descobrir o valor do co- a liberdade como seu maior objetivo. nhecido, olhar para o conhecido. falam que a competição é um coisa boa, Autoentrega pode significar, para algu- Quando se olha para ele com pureza, mas pessoas, uma devoção sentimen- sem condenação, a mente liberta-se do porque é natural. Isso está de acordo tal a alguma imagem, física ou criada conhecido. Somente então podemos pela mente. Mas na verdade autoentre- saber o que é o amor.” O teste talvez com o quadro men- ga é abrir mão de si próprio, libertar-se esteja na sensação de perda, de soli- dos grilhões interiores, como caminho dão, se essa posse não mais for possí- tal de Darwin. Mas para a realização espiritual. vel. E o teste maior está na morte, quando ela traz o sentimento de que Ida, a fóssil quase- “Quando se olha Segundo o pensamento budista, a tudo foi perdido. inteligência espiritual, que é inteligên- primata, sugere que com pureza, sem cia da mais elevada ordem, não existe Helena Blavatsky afirmou, num de sem compaixão. Os budistas acreditam seus escritos, que, “quando existe amor todas as criaturas condenação, a que compaixão e inteligência constitu- verdadeiro, não há absolutamente qual- surgem de uma ori- mente liberta-se em a sabedoria. Se não há compaixão, quer senso de separação”. A pessoa gem comum e são do conhecido. então a inteligência não é espiritual, pode se examinar e verificar se o senso aparentadas. Algu- Somente então mas apenas intelectual; às vezes nada de separação é realmente compatível mas pessoas acham mais é que um tipo de esperteza. com o amor, ou se ele surge junto com o desejo de possuir. Quando há o sen- essa ideia desagradá- podemos saber o Annie Besant disse, numa de suas timento de que algumas pessoas impor- palestras, que o amor é uma forma de tam tremendamente e outras não, será vel. Alguns religiosos que é o amor.” conhecer. Quando existe amor verda- isso realmente amor, ou alguma forma deiro, não um apego passageiro, existe de busca egoísta? consideram-na uma a possibilidade de se conhecer algo além do intelecto. O conhecimento está No Oriente diz-se, tradicionalmen- blasfêmia. Mas São unido ao amor. te, que os cinco principais inimigos in- ternos são o desejo, a ira (que inclui Francisco falou dos animais e das plan- Buda afirmou que os pensamentos irritação e frustração), a ganância, o de amor poluem a mente, enquanto o orgulho e o ciúme (ou inveja). Cada tas como sendo seus irmãos. Tudge afir- próprio amor limpa e purifica. Krish- uma dessas palavras pode incluir mui- namurti falou que quando a ação sur- tas outras similares. E, se olharmos para mou que todas as criaturas vivas são ge do pensamento não há amor. Nos elas, descobriremos que todas estão ba- seus Comentários sobre a vida, ele dis- seadas no pensamento. aparentadas. Se admitíssemos que os seres de que não fazemos caso são nos- sos parentes, nós os trataríamos de ma- neira diferente. Isso seria bom para to- dos. Mas os humanos gostam de pen- sar que são especiais. A ideia defendida por Tudge não é nova, porque do ponto de vista da mi- lenar filosofia Advaita, toda a vida que conhecemos deriva da mesma fonte, da verdade invisível, eternamente real. A Teosofia, ou sabedoria divina, baseia- se nesses valores e nos leva a compre- ender essa verdade em nossas vidas. Quanto mais pudermos seguir esse sá- bio caminho, menos dores sofreremos. Os sábios não conhecem a dor porque conhecem a verdade da unidade. A uni- dade é o que todos os instrutores espi- rituais ensinam. Isso é o que significa abrir os olhos à luz. * Radha Burnier é escritora e presidente internacional da Sociedade Teosófica. SOPHIA • JUL-SET/2010 25
O despertar para a vida ‘‘Nossos paradigmas são as lentes que utilizamos para olhar a realidade. Esses filtros nos permitem ver de uma forma determinada e bem Dulce Magalhães* delimitada. A lente Qual será a finalidade de cada vida humana? Haverá que usamos para ver a um propósito maior para a existência ou ela se basta em vida é a vida que si mesma? Essas são questões sobre as quais se debruça- ram sábios e filósofos de todos os tempos. Também é ao ‘‘somos capazes de ver redor dessas questões que diferentes culturas elaboraram seus códigos religiosos, éticos e morais. Essas não são perguntas de pouca importância, mesmo que, aparentemente, não afetem pragmaticamente a gestão do cotidiano, nem interfiram nas ações do dia a dia. Dá para levar a vida sem respondê-las; só não estou certa de que seja possível viver plenamente sem tê-las como guia. Uma antiga história indiana fala sobre um discípulo que é convocado por seu guru a se mudar para outra cidade e lá construir um ashram para que o mestre, quando for o tempo certo, chegue para ensinar àquela comunidade. O discípulo obedece, muda-se e, para se sustentar, começa a comercializar tapetes. O negócio prospera e o discípulo passa a ser empresário de uma rede de lojas. Um dia o guru chega e pergunta sobre o ashram; o discípulo leva um sus- to, pois havia esquecido a razão maior de estar ali. Essa é uma das histórias da sabedoria tradicional que nos faz refletir sobre o propósito de vida. Não estaremos distraídos com o desafio da manutenção diária, das contas a pagar, das demandas sociais, do consumo e da conquis- ta de maior sucesso, segurança, realização ou o que seja? Será que há outro propósito, um objetivo maior do que realizar a vida que conhecemos ou almejamos? Realmente não precisamos responder a essas perguntas para pagar nossas contas; porém, a forma como fazemos e gerimos essas contas tem tudo a ver com as respostas. Tal- vez seja o caso de nos questionarmos sobre o modelo de mundo em que estamos operando a vida e em que medida esse modelo atende às aspirações do nosso ser. LOSEVSKY PAVEL O que é uma vida verdadeiramente vivida? Acredito que tenha a ver com nos tornarmos tudo o que somos capazes elho de ser, de uma forma ecologicamente integrada, fazendo 2 6 SOPHIA • JUL-SET/2010
SOPHIA • JUL-SET/2010 27
de nossa experiência uma plataforma para o HD”. Sugiro aos meus clientes e alunos tornar o mundo um lugar melhor – come- çando pelo nosso próprio mundo. um exercício que considero fundamental Por não nos darmos conta da dimen- para uma perspectiva ampliada. Como nem são transitória da existência, não aceita- mos a natureza inerente do mundo, que sempre e nem todos temos a oportunida- é a mudança, e assim buscamos pereni- zar e capturar o impalpável. Não segui- de de fazer um período sabático e nos afas- mos nosso coração e nos atemos aos ro- teiros predefinidos que nos ensinaram tarmos da realidade conhecida para explo- sobre o que é a realidade; assim nos ve- mos, por vezes, prisioneiros de compor- rar outras realidades possíveis, recomen- tamentos, hábitos, tarefas, empregos, re- lacionamentos, responsabilidades ou de- do uma espécie de “spa sabático domésti- mandas que não falam à nossa alma. co”, “uma semana de isenção”, sem assis- Muita gente expressa medo ou angús- tia frente ao tema da morte; entretanto, tir à televisão, sem ler jornal nem revistas, esse portal existencial é o destino para o qual nos deveríamos preparar e almejar. sem debates sobre os temas do cotidiano. Ao compreendermos a morte poderemos transcender o desafio da subexistência e Uma semana fora da mídia, longe das no- viver a vida de forma mais plena e pro- funda. Não compreendemos e não refle- tícias, esvaziada de informações timos sobre a transitoriedade por causa de uma ilusória percepção sobre o que é do trivial e do corrente. a morte e o que ela representa. Nesse tempo “sabático” de “As questões com Se pudermos internalizar a perspecti- va da impermanência de todas as coisas, uma semana é preciso eleger potencial de não nos liberamos apenas do medo da morte, mas, ainda mais importante, nos um tema e formular uma per- transformação liberamos do medo da vida, este sim o gunta. Duvidar é a forma pela são as que permi- maior portal a ser transposto. Não esta- qual nosso cérebro aprende; tem saber como mos prontos para viver a liberdade de quem só tem certezas não tem realizar um pro- escolher a melhor vida. Decidimos, ele- nada a aprender. O tema pode cesso de mudança gemos, escolhemos, renunciamos ou de- ser de qualquer área da vida, ou mostrar cami- sejamos dentro do cenário mais restrito mas deve ter profundidade su- dos paradigmas impostos pelo ambiente cultural em que crescemos. ficiente para nos conduzir a nhos novos para Por mais rebeldes que sejamos, ainda mudanças. Pode ser sobre a trilhar a vida.” pensamos a partir de uma referência pa- radigmática, ou seja, pensamos a partir qualidade de nossos relaciona- do que conhecemos como modelo e as- sim nos orientamos, definindo se gosta- mentos, pode ser sobre voca- mos e seguimos o modelo ou se não gos- tamos e o repudiamos. Porém, o modelo ção, sobre missão, sobre crenças e valo- não é o campo mais amplo da realidade; é apenas uma fatia das inúmeras possibi- res; enfim, um tema que transcenda os lidades existentes. Nós nos definimos den- tro ou ao redor do modelo de mundo co- espaços mais restritos do cotidiano. nhecido, pois dependendo do nível de consciência em que nos encontramos te- O que faz diferença na qualidade des- mos dificuldade em extrapolar o cenário conhecido e nos aventurarmos em um am- sa semana é a pergunta e a nossa intera- biente mais vasto de escolhas. ção com o universo ao redor, para nos Costumo dizer que precisamos “zerar abrirmos para novas respostas. Ao formu- 28 lar uma pergunta devemos levar em con- ta que os “porquês” de qualquer coisa apenas nos explicam como estamos vi- vendo, mas não são transformadores em si mesmos. As questões com potencial de nos conduzir pelo caminho da transfor- mação são aquelas que nos permitem compreender as prioridades, saber como realizar um processo de mudança ou mos- trar alternativas e caminhos novos para trilhar a vida. Assim, perguntar “por que isso está acontecendo?”, “por que comigo?” ou “por que logo agora?” oferecem respostas ex- plicativas, porém esvaziadas de energia para outras condutas. As questões impor- tantes são formuladas dentro de parâme- PETER HELLEBRAND tros mais mobilizadores, como “qual o pró- ximo passo?”, “quais são as prioridades nesse momento?”, “o que preciso apren- der agora para realizar determinado pro- SOPHIA • JUL-SET/2010
SOPHIA • JUL-SET/2010 pósito?” ou “como realizar tal coisa?”. Essas são perguntas carregadas de significados de mudança, e em sua própria formulação já estabelecem a necessidade de mudar. Contudo, formular a pergunta ainda não é suficiente. É preciso estar aberto às res- postas, ser obediente ao processo e sufici- entemente aventureiro para experimentar o novo e desafiador que virá disso. Teste essa proposta: elabore uma pergunta e olhe para as coisas ao seu redor, abra um livro e leia um trecho, leia o outdoor do caminho, abra seu email, veja os sinais da estrada, ouça a fala de um amigo, assista um filme, enfim, abra-se para encontrar a resposta. Segundo um princípio da neurociência, quando você sabe qual é a pergunta, tudo vira resposta. Dessa forma, estamos rodea- dos de respostas para quaisquer perguntas que tenhamos. Se não tivermos perguntas, estamos o tempo todo perdendo respostas. O tempo de aprender é sempre o agora. Nossos paradigmas são as lentes que uti- lizamos para olhar a realidade. Esses filtros nos permitem ver de uma forma determi- nada e bem delimitada. A lente que usa- mos para ver a vida é a vida que somos capazes de ver. Mudar de mundo é real- mente mudar de olhar. Não vemos as coisas como elas são, ve- mos as coisas como nós somos. O períme- tro que percorremos é aquele que identifi- camos e só reconhecemos o que já conhe- cemos; assim, ficamos restritos ao conheci- do. Essa é a natureza de nossa relação com a realidade. Portanto, nosso desafio é am- pliar o conhecimento sobre a realidade para que possamos reconhecer novos caminhos e identificar outras possibilidades. Por isso, o ato de nos afastarmos da mí- dia por uma semana, para olharmos com mais profundidade e sem distrações para uma questão de grande importância em nos- sa vida é parte de um exercício maior para a plena atenção. Todo o exercício da exis- tência talvez seja só para despertar, e então podermos nos encontrar. O paradoxo é que precisamos mudar para ser quem somos, para deixar de ser quem não somos. Des- pertemos, portanto. * Dulce Magalhães é PhD em filosofia pela Columbia University, tecelã da Rede UNIPAZ e foi eleita uma das 100 lideranças da paz no mundo pela Geneve for Peace Foundation. 29
A renovação da sociedade ‘‘Os seres humanos em todo o mundo tentaram criar uma sociedade justa, exterior. ‘‘Mas a sociedade é nosso relacionamento mútuo Linda Oliveira* de humana podemos reduzi-la da você floresce. O maior conflito na complexidade de muitas institui- década que passou, segundo ele, Viajamos à lua, descobrimos ções e elementos culturais aos seus foi entre você e suas expectativas. evidência de água em Marte, es- alicerces essenciais, isto é, os 6,8 Em outras palavras, ele vê esta dé- calamos o Monte Everest e, no bilhões de pessoas no planeta. O cada como de autointeresse, au- fundo dos oceanos, descobrimos filósofo J. Krishnamurti descreveu toexpressao e conflito nos relaci- formas de vida desconhecidas. a sociedade fundamentalmente onamentos – nesse caso, entre o Mas há uma outra busca que é a como relacionamento: “Os seres indivíduo e as instituições sociais. aventura última do ser humano. humanos em todo o mundo ten- Poderíamos acrescentar que o au- As questões que caracterizam essa taram criar uma sociedade justa, tointeresse parece ser uma carac- busca transcendem o mundo físi- exterior. Mas a sociedade é nosso terística mais ou menos perene da co, podem confundir a ciência mo- relacionamento mútuo.” humanidade. derna e não podem ser respondi- das por meio de medições físicas, Com relação a isso um jorna- Os relacionamentos assumem câmeras sofisticadas ou qualquer lista da BBC fez um resumo opor- várias formas. Não apenas nos mo- tecnologia moderna. tuno do século 21, escrevendo que vemos para o exterior rumo aos o maior impacto desta década, que outros, como a polaridade da vida O professor Kurt Dressler defi- estabeleceu o tom e definiu a era, também determina que, no tempo niu essa procura como “a busca veio de “você”. Segundo ele, a re- devido, devemos nos mover para fundamental do ser humano por vista Time acertou quando, em o interior, através dos campos da sua essência e o fim de nossa enig- 2006, transformou “você” na per- nossa consciência, rumo à transcen- mática existência num mundo mul- sonalidade do ano, colocando um dente fonte de seidade, que Helena tifacetado”. Ela pode nos levar à espelho na capa. “Você”, escreveu Blavatsky chamou de realidade úl- religião, à filosofia ou à ciência. o jornalista, lutou de maneira cres- tima. Durante milênios, usando Mas no fim é também uma busca cente contra as instituições que su- meios destrutivos, a humanidade de nossa natureza mais profunda, postamente lhe deveriam repre- perdeu a inocência; talvez agora se refletida cada vez mais em nossa sentar ou agir em seu interesse. tenha tornado sofisticada demais espiritualidade emergente. Você perdeu a fé nos bancos, nos para seu próprio benefício. Para políticos e nas companhias que co- muitos, no entanto, um relaciona- O que é uma sociedade? Fa- locaram alimento em sua mesa.” mento florescente com o espiritual lando simplesmente, é uma comu- E quando você pode fazer algo a ajuda a trazer uma perspectiva de nidade, um grupo de pessoas. respeito na internet, comentou ele, vida mais equilibrada. Quando consideramos a socieda- 3 0 SOPHIA • JUL-SET/2010
“Quando a vida é vista ‘de cima’, a visão muda. Olhando de um avião, por exemplo, as coisas na terra começam a surgir juntas, de modo que há cada vez mais conexão. Um quadro maior toma precedência sobre as coisas pequenas” GIMBOK SOPHIA • JUL-SET/2010 31
A autêntica AGATA URBANIAK espiritualidade SOPHIA • JUL-SET/2010 O que é espiritualidade? O termo ten- de a ser usado livremente e muitas vezes tem algo de vago. Aliás, poderia ser útil começar fazendo uma consideração so- bre o que a espiritualidade não é. Primei- ro, não é sinônimo de psiquismo. Hoje em dia são oferecidas muitas buscas aparen- temente espirituais, prometendo coisas ma- ravilhosas. Essas coisas podem puxar as pessoas em muitas direções ao mesmo tem- po, mas não satisfazem nossos anseios mais profundos. É provável que as fraquezas de um indivíduo que prematuramente ob- tém certos poderes psíquicos aumentem em tal situação, levando talvez a um sen- so inflado de autoimportância, à ilusão de que a pessoa é extraordinariamente especial, com mensagens de grande sig- nificação para o mundo. Um indivíduo assim pode – ou não – ser ético. Em muitos casos, sem verda- deira preparação moral, o desenvolvimen- to deliberado de poderes psíquicos pode ser inútil. É mais sábio deixar que tais habilidades desabrochem naturalmente no decorrer da evolução, em vez de serem artificialmente aceleradas. Em segundo lugar, espiritualidade não é algo que pode ser produzido rapida- mente, nem pode ser conferida por ou- tro. Em terceiro, a espiritualidade não sur- ge automaticamente só porque a pessoa torna-se culta em questões religiosas; não é algo superficial, resultado da busca ego- ísta do saber. Sendo assim, o que é espiritualidade? Primeiro, a espiritualidade autêntica trans- cende o reino psíquico. É um desejo pro- fundo, genuíno, de se conectar conscien- temente com o divino. Quando a espiri- tualidade é genuína há uma firme con- vicção da mais profunda sacralidade no interior de toda vida, que se expressa na- turalmente num viver ético. No livro The Nature of Nature, Klaus Klostermaier cita o famoso cientista Konrad Lorenz, que via o maior perigo para a humanidade “não na ameaça nuclear ou na crise ecológica, mas na progressiva decadência e desin- 32
“A espiritualidade tegração da ética e ces do amor. São qualidades essen- requer inteligência da moralidade”. cialmente abnegadas e altruístas. Não estão centradas no indivíduo, Essa é uma ques- e sim no outro. atenta, temperada tão séria. A crise eco- A espiritualidade torna-se cada vez mais proeminente quando des- com discernimento. lógica é real, mas cobrimos o significado da vida. Pois, sem significado, a vida permanece Em algum estágio precisamos pergun- medíocre e até mesmo árida. A energia está focada tão somente em durante nossa jorna- tar o que está na raiz coisas materiais e um falso grau de importância pode ser atribuído às da começamos a fa- de tudo isso. A hu- buscas do dia a dia. No livro The zer grandes questio- manidade está dei- Conquest of Illusion, J. J. van der namentos a respeito xando a desejar em Leeuw escreveu: “Quando compre- da vida, com tanta termos de moralida- endemos o eterno significado da certeza como a noite de. Até que haja um vida podemos ver quanta coisa exis- segue-se ao dia.” senso mais abran- te que é supérflua e até mesmo gente da santidade danosa; podemos ver quanta coisa existe que pode ser dispensada e da vida, essa crise deve ser eliminada, mas ao mesmo tempo podemos ver quanta coisa moral continuará. falta, o quanto precisamos.” O desabrochar da espiritualida- Quando existe uma perspectiva mais ampla e a vida é vista “de de requer atenção sustentada; ela cima”, a visão muda completamen- te. Num avião, as coisas na Terra não se manifesta rapidamente. É começam a surgir juntas, de modo que há cada vez mais conexão. Um um empreendimento do tipo “faça- quadro maior toma forma e prece- dência sobre as coisas pequenas. você-mesmo”, e não nos pode ser Um véu (uma visão limitada) é reti- rado e as coisas ficam às claras. conferido por outra pessoa. Quando a perspectiva de nossa Quando o conhecimento é acom- consciência é alterada, certas coisas que anteriormente pareciam neces- panhado por um sentimento da na- sárias tornam-se “pequenas”, porque são vistas em seu lugar próprio. Por tureza interna da vida e uma vonta- exemplo, a competição, a agressão ou o acúmulo de coisas materiais po- de genuína de se autoexaminar, a dem começar a diminuir. Ocorre um novo modo de ver que é ao mesmo espiritualidade emerge. O antigo afo- tempo simples e profundo. rismo grego “conhece-te a ti mes- J. J. van der Leeuw continua: “A simplicidade da vida real consegue mo”, inscrito no frontispício do Tem- verdadeiramente administrar apenas uma fração dos múltiplos estorvos plo de Apolo, em Delfos, é uma e complexidades da vida moderna. (...) Não conseguimos organizar mensagem perene de sabedoria para nossas vidas sabiamente a não ser que saibamos o significado da vida; a humanidade, e não algo específi- continuaremos apenas a buscar ri- quezas onde elas não existem, a co de uma era ou de uma cultura. 33 A espiritualidade requer inteligên- cia atenta, temperada com discerni- mento. Em algum estágio durante nossa jornada começamos a fazer grandes questionamentos a respeito da vida, com tanta certeza como a noite segue-se ao dia. Podemos co- meçar a questionar os ensinamentos que cruzam nosso caminho e até mesmo buscar as assim chamadas au- toridades espirituais para virem em nosso auxílio, ajudar a conhecer nos- so lugar no cosmo. Durante esse pro- cesso há um natural crescimento do caráter e da força interior. Espiritualidade significa a ativa- ção de nossas mais elevadas quali- dades, que emergem de dentro para fora. Entre essas qualidades estão a humildade e as mais nobres nuan- SOPHIA • JUL-SET/2010
despender nossas energias onde doxalmente, a vida interna da pes- “Não permiti que o presente em- elas só causam malefícios, esque- soa torna-se mais profunda e muito purre-vos para dentro de seu mol- cendo todo o tempo a sabedoria da mais rica. Uma vida de “ocupação” de. Em vez disso, transformai-vos expressão de Ruskin: ‘Não há rique- torna-se uma vida de plenitude. pela renovação de vossas mentes.” za senão a vida’.” Ele aludia àquela renovação men- Podemos também abordar o tema tal que nasce naturalmente quando Isso sugere que a “verdadeira da espiritualidade considerando a po- nosso condicionamento é posto de vida”, experienciada por uma cons- laridade fundamental da vida, que se lado. Uma renovação assim não ciência mais elevada, é em si mes- encontra nos ensinamentos da sabe- pode surgir quando a mente está ma animada pela simplicidade, o que doria e é Purusha-Prakriti, ou espíri- cheia de coisas terrenas; ocorre contrasta diretamente com a com- to–matéria. Não estamos divididos em quando entramos na quietude não plexa existência mundana de tanta espírito e matéria, mas somos espíri- terrena. Quando silenciamos, mes- gente. Será que esquecemos o que to–matéria unidos. O polo espiritual mo por um curto espaço de tempo, é simplicidade? Pode-se gastar mui- de nossa natureza revela-se gradual- os espaços dentro dos recessos mais ta energia com coisas que no final mente à medida que evoluímos, elevados de nossa mente revelam- das contas não são tão importantes. como uma flor que se abre. se inevitavelmente. Na genuína vida espiritual as ações tornam-se mais restritas. Mas, para- Entramos agora no reino da re- Associada a isso há a perda do novação. O apóstolo Paulo disse: 3 4 SOPHIA • JUL-SET/2010
senso de espaço físico, um tipo de O amor universal leveza. Os espaços internos de nos- sa consciência são desatravancados O amor é abordado pelas gran- vez não queiram dizer muita coisa. e demonstram grande vitalidade. des tradições religiosas do mundo. Até que o amor universal crie raí- Estando mais próximos do polo es- São sublimes os comentários de zes em nós e comece a crescer, se- piritual de nossa natureza, eles São Paulo sobre o amor, na Bíblia: remos incapazes de expressar nos- contêm uma energia que consegue “Ainda que eu falasse línguas, a sa humanidade mais plenamente. filtrar-se através de toda a nossa dos homens e a dos anjos, se eu consciência do dia a dia, ajudando não tivesse amor, seria como um Talvez seja interessante dizer a expressar o que há de melhor em bronze que soa ou como um cím- que geralmente só conhecemos nós, da latência à potência. Os mo- balo que tine (...). Ainda que eu uma versão limitada do amor. Po- mentos de silêncio mental podem tivesse toda a fé, a ponto de trans- demos sentir uma afeição profun- trazer clareza e liberação de ener- portar montanhas, se não tivesse da por outra pessoa, mas o que cha- gia, ajudando-nos a navegar mais o amor, eu nada seria.” mamos de amor pode ainda ter em facilmente através da vida, assim si uma mancha de egoísmo. como de súbito o relâmpago cla- Paulo comentou a fala, que é reia o céu escuro. um poder. As palavras são extra- O relacionamento encontra sua ordinariamente potentes e suas vi- mais elevada expressão quando MEE LIN WOON existe amor genuíno. Uma máxi- brações pos- ma encontrada em várias tradições suem efeito religiosas apresenta o princípio muito maior fundamental do correto relaciona- do que pode- mento: tratar os outros exatamen- mos imaginar. te como gostaríamos que nos tra- Muitas pala- tassem. Essa é conhecida como “a vras são ditas regra de ouro”. descuidada- mente porque É inevitável que a humanidade vêm de uma desenvolva um relacionamento au- consciência ca- têntico e significativo com o espíri- racterizada pelo to. Muitas pessoas sentem esse re- egoísmo. De lacionamento, quer pertençam ou nossa parte, não a uma tradição religiosa. Os sem uma cone- santos e sábios, ao longo da histó- xão fundamen- ria, e alguns indivíduos inspirados tal com toda a dessa era, dão testemunho quanto vida, elas tal- à nobreza do espírito humano. Den- tro de nós há renovação, se ousar- “Não estamos di- mos olhar para nós próprios inteli- vididos em espíri- gentemente, e se ousarmos aquie- to e matéria, mas tar-nos, o que muitas pessoas têm somos espírito– medo de fazer. Com a renovação matéria unidos. surge energia e bondade. Com a re- O polo espiritual novação surge uma ética natural de nossa nature- que se derrama em nossas ativida- za revela-se gra- des e relacionamentos. No relacio- dualmente à me- namento significativo há renovação. dida que evoluí- A renovação de uma massa crítica mos, como uma da humanidade, refletida no corre- flor que se abre” to relacionamento, pode agir como uma parteira que algum dia auxili- ará o parto de um renascimento es- piritual na sociedade. SOPHIA • JUL-SET/2010 * Linda Oliveira é vice-presidente internacional da Sociedade Teosófica na Índia 35
KHOZIA PAVLO Jack Patterson* Há dois mil anos, as viagens entre países e a intercomuni- SOPHIA • JUL-SET/2010 cação entre os eruditos era muito maior do que se imagina hoje. Os fenícios, na costa que agora é o Líbano, comerci- alizaram com todos os países do Mediterrâneo e alcançaram a Bretanha. Contatos comerciais eram feitos com a Arábia, a Índia e possivelmente a China. O comércio por terra chegou à China pela antiga “estrada da seda”, através do Tibet. O Budismo estava florescendo na Índia e começando a pene- trar na China por essa rota. Mesmo naquela época havia intercomunicação entre a maioria das áreas do mundo conhecido. A literatura do perí- odo indica claramente que um autor sabia o que outro, num país diferente, tinha escrito e com frequência respondia fir- memente; é o caso de Orígenes contra Celso. Eles se corres- pondiam e viajavam, apesar das dificuldades e desconfortos. Aos vinte anos, Alexandre, o Grande, tinha conquistado a maior parte do Oriente Próximo e ali disseminado a cultura grega. Os romanos também conquistaram toda essa área (com exceção da Índia) e estamparam seu governo e cultura na região, assim como em toda a Europa Ocidental. Uma religião importante que havia no Império Romano era o Mitraísmo, no qual a adoração era dirigida ao Deus Sol zoroastriano. O Mitraísmo partilhava da mesma fonte que os Mistérios de Mitra, que ensinavam muito da verda- deira tradição-sabedoria, mas, quando praticado pelos sol- dados romanos, tornou-se muito militar em caráter, pouco permanecendo de sua anterior qualidade filosófica. Isso im- pediu a união de qualquer pensamento religioso romano e judeu (ou grego). Os romanos referiam-se injuriosamente àqueles que con- quistavam como “bárbaros”. Essa é uma flagrante distorção da verdade. Nessa época, em algumas áreas da Bretanha e da França, havia sido alcançado um alto grau de civilização. Os bretões eram bem-educados, falavam e escreviam em latim e grego e possuíam centros de aprendizado que podiam ser chamados de universidades. Registros celtas e documentos do Museu Britânico e da Biblioteca do Vaticano são testemu- nho disso. Júlio César reconhecia que, pelo fato de os bretões acreditarem na imortalidade da alma, foram eles os mais fe- rozes lutadores com que os romanos já se tinham deparado. Os bretões mantiveram as legiões romanas fora do su- doeste da Inglaterra e de Gales. Eram soldados magníficos, mas os livros de história descrevem-nos como selvagens “pin- 36
‘‘Apesar dos esforços de romanos, assírios e cristãos fanáticos para destruí-la, a cidade egípcia de Alexandria permaneceu como centro cultural do mundo ocidental ‘‘por quase 500 anos SOPHIA • JUL-SET/2010 37
tados com corante de ísatis”. A rainha la, a cidade egípcia de Alexandria, no submundo quando a Igreja Católica or- Boadicea não tem o devido reconhe- Mediterrâneo, permaneceu como cen- ganizou-se; a história da Igreja não lhes cimento como o grande general que tro cultural do mundo ocidental por dá o crédito que merecem. foi. Ela derrotou os romanos repetida- quase 500 anos. Obteve esse status no mente e somente perdeu a batalha de primeiro século a.C. e o manteve até a Era o objetivo de um dos maiores 61 a.C. porque seus aliados deserta- última grande filósofa neoplatônica, neoplatônicos, Amônio Saccas, induzir ram e os cavalos que puxavam sua car- Hypatia, a mulher que dominava a ma- coptas e gregos, gentis e cristãos, ju- ruagem dispararam ao sentir o odor temática, ser morta por uma turba de deus e idólatras a porem de lado suas dos elefantes que os romanos trouxe- cristãos em 415 d.C. desavenças e compreender que as mes- ram pelo canal inglês. mas verdades fundamentais estavam em O nascimento do cristianismo ocor- todas as religiões, expressas de manei- Parece que os romanos trataram reu nesse período; os padres da Igreja ras diferentes. Ele fundou a Escola Neo- todos os povos conquistados com esse de Alexandria desempenharam papel Platônica de Filaleteus, ou “amantes da tipo de desdém, mas uma cidade que importante na fase pré-romana de seu verdade”. Ele chamava essas verdades eles jamais subjugaram completamen- desenvolvimento. Muitos permanece- básicas de Teosofia; Helena Blavatsky, te foi Alexandria, no Egito. ram fiéis à tradição-sabedoria de Pitá- que tinha esse mesmo objetivo, usou o goras e Platão. Porém, seus conceitos termo quando, em 1875, fundou a So- Apesar dos esforços de romanos, as- religiosos iluminados foram forçados ao ciedade Teosófica. sírios e cristãos fanáticos para destruí- 3 8 SOPHIA • JUL-SET/2010
Em Alexandria, provavelmente pela lo Judeaus como um círculo esotérico A biblioteca principal de Alexandria, primeira vez na história, as ideias reli- de judeus helênicos contemplativos, a Brucheum, teve início em 305 a.C., giosas contidas nas escrituras de mui- chamados por ele de “servos de Deus”. mas seu infortúnio começou em 47 a.C., tas religiões diferentes foram estuda- Os essênios, que eram estreitamente li- quando Júlio César queimou a frota das sem preconceitos. Isso foi possí- gados aos terapeutas, eram em sua egípcia no porto e um mastro caído vel porque os membros de muitos gru- maior parte palestinos, mas podem ter incendiou a biblioteca. Ela foi restau- pos religiosos conviveram ali ao mes- tido grupos em Alexandria. rada e os manuscritos copiados a mão, mo tempo. Os maiores grupos eram mas os livros foram novamente quei- os gregos, os coptas (egípcios) e os Nessa época ainda existiam as Es- mados por ordem do imperador Marco judeus. Dentro da comunidade religi- colas de Mistério gregas e caldeias e os Aurélio (121-180 d.C.) As obras foram osa havia budistas (eles tinham um Mistérios egípcios ainda eram ensina- refeitas, mas, por fim, a biblioteca foi mosteiro no Nilo), brâmanes da Índia dos nos templos de Ísis. Bibliotecas arrasada pelo imperador Diocleciano, e zoroastrianos da Pérsia. magníficas estavam à disposição, de por volta de 300 d.C. modo que Alexandria provia as condi- Os registros históricos mostram que ções perfeitas para a busca da Teoso- Dizem que essa biblioteca possuía existiu nas praias do Lago Mareotis, fia, ou sabedoria divina. um estoque de cerca de 700.000 volu- perto de Alexandria, uma comunidade mes – manuscritos em sua maioria sob de terapeutas descrita pelo escritor Phi- “Diz a lenda que a forma de papiros e papel pergami- muitos livros das nho. Todos estavam catalogados e or- bibliotecas de Ale- ganizados com sofisticada técnicas de xandria foram sal- biblioteconomia. vos e escondidos – talvez na Pirâmide A biblioteca menor, Serapheum, de Quéops. Mas, se com 40.000 volumes, estava ligada ao assim for, parece Templo de Ísis e sobreviveu mais al- que o mundo não guns anos além da Brucheum. Foi des- está pronto para a truída sucessivamente pelos imperado- sua descoberta.” res romanos, pelas turbas de cristãos e finalmente pelos sarracenos, que arra- saram tudo que restava. Diz a lenda que muitos livros des- sas bibliotecas foram salvos e escondi- dos em local seguro – talvez dentro da Grande Pirâmide de Quéops. Mas, se assim for, parece que o mundo não está pronto para a sua descoberta. A perda desses manuscritos torna muito mais difícil a tarefa de se encon- trar a verdadeira história do início do cristianismo. A tarefa torna-se ainda mais difícil pela perda dos registros ju- daicos, quando Jerusalém foi saquea- da pelos romanos em 70 d.C. Sabemos os nomes de alguns desses manuscritos perdidos e até mesmo te- mos indícios de seu conteúdo por meio de referências a eles feitas e citações de- les retiradas, em obras que sobrevive- ram. É irônico que muitas vezes a infor- mação a respeito das obras perdidas seja obtida nas invectivas dos bispos cristãos contra os escritos de gnósticos e outros “hereges”. Muito dessa informação está registrado na Enciclopédia Católica, e sem dúvida existe muito mais na pouco acessível Biblioteca do Vaticano. BRIAN K. * Jack Patterson é escritor e ex-presidente da Sociedade Teosófica na Nova Zelândia. SOPHIA • JUL-SET/2010 39
Ricardo Lindemann LEIGH-ANNE AUERSWALD é engenheiro civil e astrólogo, licencia- SOPHIA • JUL-SET/2010 do em Filosofia pela UFRGS, presi- dente dos Sindica- to dos Astrólogos de Brasília e membro do Conselho Mun- dial da Sociedade Teosófica Interna- cional. Lindemann escreve regularmen- te para SOPHIA. 40
Mandela e a fraternidade no país da Copa Ricardo Lindemann tos políticos, sociais e econômicos na gente da XII casa, indicando muitos África do Sul. Sua determinação em casamentos mas certo isolamento ou É difícil crer que no final do sécu- tal engajamento pelo ideal da liber- limitação na relação com o cônjuge. lo XX ainda houvesse uma política de dade e igualdade culminou mais tar- Num sentido coletivo ou social, o po- segregação racial (o apartheid) na de num total de 28 anos de prisão, der transformador de Plutão está em África do Sul, mas graças às transfor- mas em 11 de fevereiro de 1990 ele conjunção com Júpiter na VII casa, ca- mações ali ocorridas torna-se possí- foi libertado – quando o grande be- racterizando o ideal da justiça e igual- vel que agora esse país seja a sede néfico, o planeta Júpiter, regente do dade, em trígono com Urano domicili- da Copa do Mundo da FIFA (Federa- seu signo ascendente, retornou em ado em Aquário na III casa, símbolo ção Mundial de Futebol) em 2010. seu trânsito à exata posição que ocu- de uma mente revolucionária em bus- pava no seu nascimento. ca da liberdade. Mandela afirmou: “A Nelson Mandela foi um dos princi- luta é minha vida. Continuarei a lutar pais agentes dessa transformação. Ele O próprio ascendente em Sagitá- pela liberdade até o fim de meus dias.” tornou-se em 1994 o primeiro presiden- rio dá uma tendência muito determi- Disse também: “Sonho com o dia em te negro eleito democraticamente na nada na defesa de ideias e valores, que todos compreenderão que foram África do Sul e ganhou o prêmio Nobel sendo que seu regente Júpiter na VII feitos para viver como irmãos.” da Paz em 1993, juntamente com o ex- casa está na conjunção de Plutão, re- presidente Frederick de Klerk, por sua grande contribuição pela superação do apartheid abolido em 1990. Mandela nasceu em 18 de julho de 1918, em Umata, África do Sul, às 15h, e seu mapa astral natal apresenta uma conjunção exata de Mercúrio com Sa- turno em Leão na IX casa, o que, con- forme mencionamos na revista SOPHIA nº 28, deve ter dificultado suas condi- ções de estudo. O grau de tais dificul- dades não é fácil de se imaginar, mas sua condição racial não deve ter per- mitido muitas oportunidades educacio- nais naquela época, em seu país. Mesmo assim ele chegou a formar- se como advogado, o que é próprio do esforço perseverante de Saturno. Talvez também por isso ele teria afir- mado que a educação é a arma mais poderosa que se pode usar para mu- dar o mundo. O fato é que, ainda como jovem estudante de Direito, ele envolveu-se na oposição ao regime do apartheid, que pela lei negava aos negros (maioria da população) direi- SOPHIA • JUL-SET/2010 41
Uma enorme transformação acontecerá quan- do cessarem as guerras, pois gas- ta-se hoje um mi- lhão de dólares por minuto em armas, que poderiam “ser convertidas em arados” e eliminar a fome no planeta. KATHARINA WITTFELD Coragem e perseverança presa em sua intrépida defesa pela in- dependência da Índia, com a diferen- A Lua no signo de Escorpião em dominação negra. Eu tenho acalenta- ça de que, sendo suas atividades mais conjunção com a cúspide da XII casa, do o ideal de uma sociedade demo- pacíficas, o governador de Madras, e em quadratura com aquela conjun- crática e livre, na qual todas as pesso- durante a colonização britânica, ofe- ção de Saturno com Mercúrio, tam- as viverão juntas em harmonia e com receu-lhe uma escolha: salvo-conduto bém é indicativa de isolamento e per- oportunidades iguais. É um ideal pelo de volta à Inglaterra ou detenção. Ela da de comunicação com a família. qual eu espero viver. Mas, meu Se- indignadamente se recusou a voltar Mercúrio como regente do Meio do nhor, se necessário for, é um ideal pelo para a Inglaterra, preferindo a deten- Céu em conjunção com Saturno tam- qual eu estou preparado para morrer.” ção. Conforme Chandler relembra, bém indica um sentido de dever ou Essa declaração foi feita perante a Su- “uma imensa multidão reuniu-se quan- missão de vida que, na IX casa, assu- prema Corte de Pretória, em 20/04/ do ela partiu de Madras para o confi- me um caráter de defesa perseverante 1964. Mandela afirmou também: “Con- namento. Gandhi propôs que os sim- de ideais filosóficos pelos quais esta- forme nos libertamos do nosso medo, patizantes conduzissem uma peregri- ria disposto a lutar (sextil com Marte) nossa presença, automaticamente, li- nação, estendendo-se por milhas en- ou mesmo morrer sem medo (Sol na bera os outros.” Ele parece ter uma tre Bombaim e o Bangalô de Besant.” VIII casa), particularmente por ideais disposição especialmente preparada Devido a essas atividades, ela chegou de liberdade (Urano na III), como ele para resistir perseverantemente mes- a ser presidente do Partido do Con- afirmou: “Durante minha vida eu te- mo ao confinamento da prisão, em gresso na Índia, sendo que já era en- nho me dedicado a essa luta pelo povo favor dos seus valores e ideais de li- tão Presidente Internacional da Socie- africano. Tenho lutado contra a domi- berdade e igualdade. dade Teosófica, onde Gandhi também nação branca e tenho lutado contra a se filiou, graças às suas ideias afins. A inglesa Annie Besant também foi 4 2 SOPHIA • JUL-SET/2010
Ideais vivos mundo, um milhão de dólares por mi- italianos falaram sobre a unidade da nuto em armas, que poderiam “ser Itália, os patriotas italianos sustentaram Em seu magnífico livro Os Ideais da convertidas em arados”, ou seja, es- firmemente o ideal de uma Itália uni- Teosofia (Ed. Teosófica), Besant afirma: ses recursos poderiam eliminar a fome da; e foi somente quando o ideal in- “Um ideal é, pois, uma ideia fixa, justa e a miséria do planeta. Enquanto isso flamou os corações que houve força ou verdadeira possuída pelo indivíduo, a UNESCO afirma que morrem 40 mil suficiente para o autossacrifício que se- a tal ponto viva que influencia o seu crianças por dia “por problemas deri- guiu a espada de Garibaldi e tornou caráter.” Ela prossegue: “Por que um vados da subnutrição no mundo em possível para a Itália transformar-se ideal é necessário? O Chandogyopa- desenvolvimento” – ou seja, de fome. num povo unido. Pois é a partir do nishad diz que o homem é uma criatu- ideal que o entusiasmo cresce, é a ra de reflexão. Naquilo que ele reflete, Nesta coluna já desenvolvemos, na partir do ideal e da aspiração de reali- ele se transforma. Então você deve ter SOPHIA nº 26, a previsão de que isso zá-lo que o poder de autossacrifício é um ideal para refletir dia após dia. Um se transformará com a passagem de gerado. O que nós precisamos fazer, ideal que não é vivido torna-se um ído- Plutão por Aquário, de 2023 a 2044, então, é sustentar firmemente grandes lo que frequentemente é mais um obs- com o surgimento da Federação das ideais perante os jovens de nosso tem- táculo do que uma ajuda.” Nações, que, conforme comentamos, po, e esses ideais inflamarão seus co- C.W. Leadbeater previa ainda para rações até o entusiasmo apaixonado, O ideal da fraternidade, geralmen- este século. O famoso escritor H. G. até que o autossacrifício seja uma ale- te representado pelo signo de Aquá- Wells também dizia que somente um gria e não um sacrifício em absoluto, rio, terá sua plena expansão durante governo responsável pelo mundo in- de modo que o ideal que eles vene- os próximos dois mil anos da Era de teiro, que abolisse a guerra, poderia ram possa realizar-se sobre a Terra. Ao Aquário, apesar de ser já hoje uma salvar a humanidade da extinção. A longo dessa direção a natureza huma- absoluta necessidade, uma vez que Comunidade Europeia é um maravi- na mudará; pois nunca devemos es- temos armamento nuclear suficiente lhoso prenúncio dessa tendência de quecer que a natureza humana é divi- para destruir o planeta Terra duzentas unificação na Nova Era; ela se con- na, não demoníaca; que um Deus está vezes. Ele se expressa com universali- cretizou em 1993, durante a conjun- no coração de cada homem, desen- dade no primeiro objetivo da Socieda- ção de Urano com Netuno, sendo his- volvendo os poderes da divindade.” de Teosófica, fundada em 1875: “For- toricamente sem precedentes por sur- mar um núcleo da fraternidade uni- gir de maneira pacífica, sem guerras Annie Besant: “O que precisamos versal da humanidade, sem distinção ou uso da força das armas. fazer é sustentar firmemente de raça, credo, sexo, casta ou cor.” grandes ideais perante os jovens” Outro exemplo relativamente re- A ST teve enormes dificuldades na cente é o longo processo de unifica- 43 África do Sul durante o apartheid, pois ção da Itália, realizado no reinado de quiseram obrigá-la a segregar seu tra- Vittorio Emanuele II, a partir de 1861, balho com grupos para brancos se- mas que só se consolidou plenamen- parados dos grupos para negros; no te depois do Tratado de Latrão, em entanto, conseguiu manter-se unida 1929, com a solução da “Questão Ro- e sobreviver fiel ao seu ideal de fra- mana” e a formação do Estado do ternidade universal sem distinções. Ela Vaticano. Conforme considera o pro- tem pagado o preço de trabalhar com fessor Rainer Sousa, “apesar de repre- certo pioneirismo nessa linha frater- sentar uma luta histórica ao longo do nal em mais de cinquenta países, sen- século XIX, a unificação não conse- do uma precursora da Era de Aquá- guiu prontamente criar uma identida- rio ou Nova Era, buscando também de cultural entre o povo italiano. Além “encorajar o estudo de religião com- da diversidade de cunho histórico, lin- parada, filosofia e ciência”, que é seu guístico e cultural, a diferença do de- segundo objetivo. Está, assim, em ple- senvolvimento econômico observado na sintonia com a Constituição da nas regiões norte e sul foi outro en- UNESCO, que diz: “Uma vez que a trave na criação da Itália.” guerra começa na mente dos homens, é na mente dos homens que as defe- Annie Besant também considera a sas de paz devem ser construídas.” questão da unificação da Itália como exemplo: “Por longo tempo antes que Obviamente, uma enorme trans- houvesse qualquer conversa sobre re- formação acontecerá quando cessa- volução ou guerra, por longo tempo rem as guerras, até mesmo no plano antes que houvesse qualquer ideia de econômico, pois gasta-se hoje, no apelar para a espada, os pensadores SOPHIA • JUL-SET/2010
O papel do esporte um canal extraordinário para se verter o ideal de paz e da fraternidade entre as O ideal da fraternidade universal e colocado no jogo. O teste do menino é nações. Na Copa de 2010 a África do união planetária manifestado pela cria- que ele faça bem o seu trabalho no lu- Sul tem a bela oportunidade de consoli- ção de uma Federação das Nações, e gar onde está, e que não queira estar dar suas conquistas sociais de igualda- consequentemente o fim das guerras, em algum outro lugar quando o seu ca- de e liberdade democráticas perante os pode ser impulsionado e inspirado pela pitão o colocou aí. Essa disciplina mo- olhos do mundo. atividade esportiva internacional. Os ral do pátio de recreio é mais valiosa antigos gregos também conseguiram uni- do que a disciplina da sala de aula, pois O Brasil será a sede da Copa do ficar sua pátria sublimando suas dispu- ela é voluntária, alegremente obedeci- Mundo de 2014, podendo mostrar sua tas internas e sede de conquista com o da, e é estimulada por um ideal puro, espontânea hospitalidade fraternal de esporte, por meio das Olimpíadas. Ao não mesclado pelo medo. Eis o valor Lua em conjunção com Júpiter na IV invés de guerras, organizaram jogos e do pátio de recreio e a importância de casa, de acordo com o mapa astral da competições esportivas. Hoje, os Jogos ensinar os jovens a jogar corretamente. Independência, justo num dos períodos Olímpicos de Verão, mais conhecidos Pois o maior perigo das assim chama- em que o mundo mais precisará do es- como Olimpíadas, representam o maior das nações democráticas é que elas não tímulo desses ideais. evento desportivo do mundo, seguido tenham senso de disciplina, não tenham imediatamente pela Copa do Mundo. senso de ordem, não tenham senso de Conforme consideramos na SOPHIA obediência; sem estes nenhuma nação nº 26, as transformações que Plutão em No livro Os Ideais da Teosofia, An- pode ser grande.” Capricórnio terá que produzir antes da nie Besant comenta a importância do criação da Federação das Nações exi- esporte: “Quando um menino é mem- Fica, pois, evidente a importância da girão sacrifícios e superação de difi- bro de um time, nunca será um sucesso, Copa do Mundo, que ocorre a cada qua- culdades que deverão atingir seu ponto a menos que aprenda a pensar no seu tro anos com a participação de 32 equi- culminante nas sete quadraturas exa- time em vez de em si mesmo, e esse é pes representantes de países seleciona- tas de Urano (regente do ascendente um eu mais amplo do que as suas pró- das em todo o planeta. A Copa do Mun- da Era de Aquário) com Plutão (regen- prias pretensões pessoais. É no pátio de do de 2002, que se realizou na Coreia te do Meio do Céu da Era de Aquá- recreio que meninos e meninas apren- do Sul e no Japão, quando o Brasil tor- rio), que ocorrerão de 2012 a 2015. De- dem muitas lições que os tornam me- nou-se pentacampeão, foi irradiada ao pois, o Brasil ainda terá a privilegiada lhores cidadãos na vida, mais tarde – o vivo pela TV e teve 2.800.000.000 teles- oportunidade de sediar as Olimpíadas sentido de ordem, o sentido de discipli- pectadores – a partida final foi assistida de 2016, irradiando entusiasmo frater- na, o executar uma tarefa, cumprindo o por 1.100.000.000 telespectadores. É um nal ao mundo, que dele tanto necessi- seu papel em qualquer posição que seja dos eventos mais populares do mundo, ta. Esse ideal de fraternidade universal levará a humanidade a um mundo me- lhor: a Era de Aquário. “A Copa do Mundo é um dos eventos mais populares do planeta, um canal extraordinário para se verter o ideal de paz e fraternidade entre as nações” DINKO VERZI 4 4 SOPHIA • JUL-SET/2010
BARUNPATRO Educação Gaia Desenhando a sustentabilidade Consolacion Udry* ção Gaia – Desenhando a Sustentabili- as transições necessárias em suas vidas dade é formar pessoas para o planeja- individuais e coletivas. Não existem As zonas de convergência entre as mento, a implantação e a manutenção receitas, mas existem caminhos já tri- diferentes disciplinas e âmbitos da exis- de comunidades sustentáveis, baseada lhados e ferramentas que podem ser tência representam um espaço rico e em experiências de ecovilas. O curso úteis no desenvolvimento de novos es- inexplorado que guarda respostas pre- explora temas relacionados com as tilos de vida sustentáveis em escala lo- ciosas. Nessas zonas de convergência, quatro dimensões da sustentabilidade cal e biorregional. As ecovilas, como diferentes visões e perspectivas sobre (social, econômica, ecológica e espiri- laboratórios de relações humanas in- a realidade na qual vivemos se colo- tual), realizando seminários sobre as di- terpessoais e com o planeta, servem cam em relação. Esses espaços de tro- ferentes visões de mundo. como elementos de referência metodo- ca promovem a formulação de pergun- lógica e filosófica neste processo. tas para as quais não existem respostas O eixo do curso é a pedagogia da prontas, bem como o compartilhamento práxis, ou seja, a pedagogia da ação * Analista ambiental na Embrapa e de experiências e vivências. transformadora, que descobre e elabo- coordenadora da ONG Oca do Sol. ra instrumentos de ação social. O ciclo A sustentabilidade é uma zona de ação–reflexão–ação estimula os parti- Como participar fronteira. A plena compreensão de seu cipantes a integrar seus conhecimen- significado requer uma visão integrati- tos e experiências pessoais às novas te- O curso Educação Gaia – Desenhando va que não separa a realidade em cam- máticas abordadas. A partir de suas a Sustentabilidade será realizado em Bra- pos distintos. Parafraseando Einstein, ações locais inicia-se uma reflexão so- sília no segundo semestre de 2010. São qua- não resolveremos os problemas que en- bre o processo, agregando novos valo- tro módulos de 44 horas cada e um está- frentamos com a mesma mentalidade res, ideias e práticas, que retornam à gio-prática de 40 horas. Cada módulo acon- que os criou. ação pessoal. Em paralelo, as reflexões tece na sexta à noite, sábado e domingo. e vivências do curso geram um novo A Educação Gaia se propõe a criar ciclo de ação que se realiza por meio Informações e inscrições: espaços ao redor do mundo onde pes- de projetos coletivos afinados com a UNIPAZ, telefone (61) 3880-1828 soas possam estabelecer contato de realidade de cada local. Referências: Gaia Education forma vivencial com uma cultura sus- (www.gaiaeducation.com) e Educação tentável, integral, de âmbito global, e O curso dá ênfase ao empodera- Gaia Brasil (www.gaiabrasil.net) que tem aplicação em nível local. mento pessoal, para que os indivíduos tornem-se proativos e possam efetuar O objetivo geral do curso Educa- SOPHIA • JUL-SET/2010 45
Conheça as publicações da LANÇAMENTO Autoconhecimento Marcos Resende Este livro vem trazer luz sobre A Doutrina do Coração A Sabedoria Antiga Gayatri – O Mantra o percebimento de nós mesmos Annie Besant Annie Besant Sagrado da Índia e a compreensão do vasto mo- I.K. Taimni vimento que é a vida. Não é No artigo A Doutrina A sabedoria antiga, um livro para ser apenas lido, do Coração, que dá título também chamada de teoso- Este livro do Dr. Taim- mas cuidadosamente considera- a este livro, Annie Besant fia pelos neoplatônicos de ni é uma joia rara. Seu va- do. Isso porque o autoconheci- aborda as etapas do des- Alexandria, a partir do sé- lor inestimável reside não mento não pode ser proporcio- pertar interior. “O desastre culo III, é o corpo de ver- tanto em oferecer, de forma nado pela mera leitura, reque- paira sobre aquele que faz dades que forma a base de bela e precisa, a filosofia, o rendo zelosa observação de depender a sua fé das todas as religiões, e não significado e a técnica do tudo o que se passa dentro e parafernálias externas e pode ser reivindicado como Mantra Yoga em geral e do fora de nós. A escola é a vida; não da paz da vida inter- posse exclusiva de nenhu- Mantra Gayatri em particu- o livro, uma importante ferra- na”, diz ela, na abertura ma. Ela oferece uma filoso- lar, mas, sobretudo, em menta para provocar a reflexão desta pequena obra clássi- fia que torna a vida inteligí- revelar, por meio de seus e a investigação. ca. O volume inclui dois vel, demonstra que a justi- lúcidos e didáticos comen- outros textos valiosos de ça e o amor guiam a evolu- tários, explanações e exem- Tudo Começa com a Prece Besant, “A Vida Teosófi- ção e coloca a morte em plos, o papel e a importân- Madre Teresa (compilado ca”, que estuda a reencar- seu legítimo lugar, como cia do estudo, da devoção por Anthony Stern) nação e o carma, e “Reve- um incidente periódico e da meditação nas primei- lação, Inspiração e Obser- numa vida infinita. ras etapas do caminho que Este livro pode transfor- vação”, que chama a aten- conduz à realização mar o seu coração e a sua ção dos estudantes para a Este livro aborda temas espiritual.A obra traz escla- vida com palavras amorosas e distinção que devem fazer como o plano físico, astral, recimentos a respeito dos profundas, ensinando como entre literatura revelada, mental, a reencarnação, o mantras e do genuíno pa- orar de maneira simples e literatura inspirada e litera- carma, o destino e o livre- pel da Mantra Yoga, auxili- eficaz. “Madre Teresa foi uma tura que registra observa- arbítrio, as possibilidades ando o leitor no entendi- das maiores servidoras espiri- ções clarividentes. da evolução humana e a mento desse tema. tuais de nossa era”. (Jimmy origem do cosmo. Carter, autor de Living Faith.) Teosofia Simplificada Irving Cooper Esta obra fala sobre o sentido da vida e da morte, o destino, o livre-arbítrio e as possibilidades da evolução do homem. Esse conjunto de ideias constitui a filosofia esotérica, ou Teosofia simplificada. A Teosofia significa, literalmente, “sabedoria divi- na”, e se caracteriza por um estado de consciência espiritual que transcende qualquer teoria criada pelo pensamento humano. 4 6 SOPHIA • JUL-SET/2010
Editora Teosófica Cartas dos Mahatmas Fundamentos da Teosofia como os Aprendendo a Viver para A. P. Sinnett Filosofia Esotérica Mestres a Veem a Teosofia Em dois volumes H. P. Blavatsky Clara M. Codd Radha Burnier Diversas religiões pos- Este livro é uma compila- Este livro traz uma Onde há vida há consci- suem a tradição de que ção dos escritos de Helena valiosa intrudução ao estu- ência. Dessa forma, a vida uma coletividade de sábios Petrovna Blavatsky, grande dos das cartas dos Mahat- pode evoluir para inúmeros inspira e conduz, silencio- ocultista russa que viveu no mas, com uma clara con- estágios de expansão da samente, a humanidade no século dezenove. Extraído de textualização histórica e consciência. Radha Burnier, caminho da paz e da sabe- suas principais obras (Ísis sem conceitual. A autora co- presidente internacional da doria. O Taoísmo os chama Véu e A Doutrina Secreta), o menta os ensinamentos Sociedade Teosófica, descre- de imortais; o Hinduísmo, livro apresenta as ideias cen- dos Mestres de Sabedoria, ve esses estágios do autoco- de rishis; o Budismo, de trais da filosofia esotérica e a partir do livro Cartas dos nhecimento a partir de sua arhats. Outros os chamam da sabedoria oculta. Mahatmas para A.P. Sin- própria vivência e do conví- de mahatmas, raja iogues, nett , escritas entre 1880 e vio com Sri Ram e Jiddu mestres ou iniciados. Qual a natureza do verda- 1886 pelos Mahatmas M. e Krishnamurti. deiro esoterismo? Qual o seu K., e que até hoje são uma Segundo a filosofia propósito? Quais as ideias das maiores evidências da “A própria palavra vida esotérica, eles se libertaram básicas da tradição esotérica? existência dos Mestres de não se refere a algo inanima- do estágio humano mas Essas e outras perguntas en- Sabedoria. As mais recen- do, mas nos sugere inteligên- permanecem ligados a nós contram resposta neste livro, tes pesquisas microscópi- cia; portanto, vida implica por solidariedade. Este de grande interesse para to- cas da tinta das cartas con- consciência ou inteligência... livro reúne a correspon- dos os que se sentem atraídos firmam que elas não foram Quando dizemos que a vida é dência entre dois desses pelo estudo da antiga tradição escritas de modo conven- expressão de uma poderosa instrutores espirituais e oculta, dos mistérios que en- cional, e constituem um energia criadora, estamos Alfred Sinnett, um dos volvem a origem, o desenvol- mistério para a ciência afirmando que na consciência principais líderes do início vimento e o destino do ho- contemporânea. está a energia criadora e o do movimento teosófico. mem e do cosmos. poder dessa energia criadora parece não ter limites.” Sete maneiras fáceis de Editora Teosófica comprar nossos livros: A Teosofia pode ser en- SGAS quadra 603, conj. E, s/nº contrada a partir do estudo de 1. Ligue grátis: 0800-610020 Brasília-DF - CEP 70.200-630 religião comparada, filosofia e 2. Peça por fax Fone: 61-3322-7843 ciência. Esta obra investiga os 3. Peça por correspondência Fax: 61-3226-3703 fundamentos da meditação, a 4. Cheque nominal consciência e seus poderes, e 5. Depósito bancário E-mail: [email protected] visa despertar a auto-observa- 6. Cartão Visa Home page: www.editorateosofica.com.br ção para expandir a percep- 7. Visite nosso site: ção da sabedoria da vida e www.editorateosofica.com.br encontrar a harmonia que nosso coração procura. SOPHIA • JUL-SET/2010 47
PeçaPeça pelo número! Ligue grátis: 0800-610020 1. Além do Despertar - Textos do Mestre 32. Fotos de Fadas - Edward L. Gardner: 17,00 Hao Chin Jr.: 33,00 Hakuin sobre Meditação Zen: 23,00 33. Fundamentos da Filosofia Esotérica - H. P. 65. Princípios de Trabalho da Sociedade 2. Alvorecer da Vida Espiritual, O - Murillo Blavatsky: 15,00 Teosófica - I. K.Taimni: 12,00 Nunes de Azevedo: 25,00 34. Gayatri - O Mantra Sagrado da Índia - I. 66. Raja Yoga - Wallace Slater: 20,00 67. Regeneração Humana - Radha Burnier: 21,00 3. Apolônio de Tiana - G. R. S. Mead: 23,00 K. Taimni: 26,00 68. Rumo a uma Mente Sábia e uma Sociedade 4. Aprendendo a Viver a Teosofia, Radha 35. Gnose Cristã, A - C. W. Leadbeater: 32,00 36. Helena Blavatsky - Sylvia Cranston: 63,00 Nobre - Radha Burnier e outros: 18,00 Burnier, R$ 31,00 37. Hino de Jesus, O - G. R. S. Mead: 13,00 69. Sabedoria Antiga, A: 37,00 5. Aspectos Espirituais das Artes de Curar - 38. Histórias Zen - Paul Reps (comp.): 27,00 70. Sabedoria Antiga e Visão Moderna - 39. Homem: sua Origem e Evolução, O - N. Sri Dora van Gelder Kunz: 39,00 Shirley Nicholson: 32,00 6. Autocultura à Luz do Ocultismo - I. K. Ram: 17,00 71. Sabedoria Oculta na Bíblia Sagrada, A - 40. Ideais da Teosofia, Os - Annie Besant: Taimni: 37,00 Geoffrey Hodson: 67,00 7. Autoconhecimento - Marcos Resende: 18,00 23,00 72. Saúde e Espiritualidade - Geoffrey Hodson: 14,00 8. Caminho do Autoconhecimento, O - Radha 41. Idílio do Lótus Branco, O - Mabel Collins: 73. Segredo da Autorrealização, O - Burnier: 11,00 20,00 I. K. Taimni: 20,00 9. Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett, 42. Inteligência Emocional - As Três Faces da 74. Senda Graduada para a Libertação, A - Vol. 1 - Mahatmas K. H. e M.: 45,00 Mente - Elaine de Beauport & Aura Sofia Geshe Rabten: 14,00 10. Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett, Diaz: 47,00 75. Senda para a Perfeição, A - 43. Introdução à Teosofia - C.W. Leadbeater: Vol. 2 - Mahatmas K. H. e M.: 48,00 15,00 Geoffrey Hodson: 15,00 11. Cartas dos Mestres de Sabedoria - C. 44. Investigando a Reencarnação - John 76. Suprema Realização através da Ioga, A - Algeo: 24,00 Jinarajadasa: 38,00 45. Libertação do Sofrimento, A - Alberto Geoffrey Hodson: 29,00 12. Chamado dos Upanixades, O - Rohit Brum: 21,00 77. Sussurros da Outra Margem - 46. Luz e Sombra - Emma Costet de Mehta: R$ 37,00 Mascheville: 16,00 Ravi Ravindra: 23,00 13. Chave para a Teosofia, A - H. P. Blavatsky: 47. Luz no Caminho - Mabel Collins: 11,00 78. Teatro da Mente, O - 48. Meditação - Sua Prática e Resultados - 34,00 Clara M. Codd: 15,00 Henryk Skolimowski: 24,00 14. Chegando Aonde Você Está - A Vida de 49. Meditação - Um Estudo Prático - Adelaide 79. Teia de Maya, A - Atapoã Feliz: 17,00 Gardner: 22,00 80. Teosofia como os Mestres a Vêem - Meditação - Steven Harrison: 31,00 50. Meditações: Excertos das Cartas dos 15. A Ciência da Astrologia e as Escolas de Mestres de Sabedoria - Katherine A. Clara Codd: 33,00 Beechey (comp.) [livro de bolso] - 11,00 81. Teosofia Simplificada - Irving Cooper: 19,00 Mistérios - Ricardo Lindemann: 49,00 51. Meditação Taoísta - Thomas Cleary 82. Tradição-Sabedoria, A - Pedro Oliveira 16. A Ciência da Meditação - Rohit Mehta: (comp.): 20,00 52. Mundo Oculto, O - A. P. Sinnett: 30,00 e Ricardo Lindemann: 19,00 35,00 53. Natal dos Anjos, O - Dora van Gelder 83. Três Caminhos para a Paz Interior - 17. Ciência do Yoga - I. K. Taimni: 43,00 Kunz - 11,00 18. Conheça-te a Ti Mesmo - Valdir Peixoto: 15,00 54. Ocultismo Prático - Helena Blavatsky: 11,00 Carlos Cardoso Aveline: 25,00 19. Conquista da Felicidade, A - Kodo 55. Ocultismo, Semi-ocultismo e Pseudo- 84. Tudo Começa com a Prece - Madre Teresa de ocultismo - Annie Besant: 12,00 Matsunami: 23,00 56. Pensamentos para Aspirantes ao Caminho Calcutá: 23,00 20. Consciência e Cosmos - Menas Kafatos & Espiritual - N. Sri Ram: 20,00 85. Vegetarianismo e Ocultismo - C. W. 57. Pés do Mestre, Aos - J. Krishnamurti: 11,00 Thalia Kafatou: 34,00 58. Pistis Sophia - Trad. Raul Branco: 48,00 Leadbeater - Annie Besant: 18,00 21. Contos Mágicos da Índia - Marie Louise 59. Poder da Sabedoria, O - Carlos Cardoso 86. Vida de Cristo, A - Geoffrey Hodson: 43,00 Aveline: 25,00 87. Vida e Morte de Krishnamurti - Burke: 21,00 60. Poder da Vontade, O - Swami 22. Criança Encantada, A [livro de bolso] - C. Budhananda: 12,00 Mary Lutyens: 35,00 61. Poder Transformador do Cristianismo 88. Vida Espiritual, A - Annie Besant: 26,00 Jinarajadasa: 11,00 Primitivo, O - Raul Branco: R$ 20,00 89. Vida Interna, A - C. W. Leadbeater: 39,00 23. Dentro da Luz - Cherie Sutherland: 31,00 62. Potência do Nada, A - Marcelo Malheiros: 90. Visão Espiritual da Relação Homem & Mulher, 24. Desejo e Plenitude - Hugh Shearman: 23,00 63. Preparação para Yoga - I. K.Taimni: 22,00 A - Scott Miners (comp.): 31,00 15,00 64. O Processo de Autotransformação - Vicent 91. Viveka-Chudamani - A Jóia Suprema da 25. Despertar da Visão da Sabedoria, O - Sabedoria - Shankara: 27,00 Tenzin Gyatso, 14º Dalai Lama: 22,00 92. Vivência da Espiritualidade, A - Shirley 26. Despertar de Uma Nova Consciência, O - Nicholson: 13,00 Joy Mills: 17,00 93. Você Colhe o que Planta - 27. Doutrina do Coração, A - Annie Besant: Antonio Geraldo Buck: 15,00 18,00 94. Wen-tzu - A Compreensão dos Mistérios - 28. Em Busca da Sabedoria - N. Sri Ram: Ensinamentos de Lao-tzu: 29,00 26,00 95. Yoga - A Arte da Integração - 29. Escolas de Mistérios, As - Clara Codd: 33,00 30. Estudos Seletos em A Doutrina Secreta - Rohit Mehta: 41,00 96. Yoga do Cristo - No Evangelho de São Salomon Lancri: 21,00 31. Fim da Divindade Mecânica, O - John João, A - Ravi Ravindra: 33,00 David Ebert (comp.): 33,00 RECORTE OU TIRE CÓPIA DESTE CUPOM E ENVIE PARA: EDITORA TEOSÓFICA - SGAS Q. 603, CONJ. E, S/Nº - BRASÍLIA-DF - CEP 70.200-630 [SOPHIA 31] Desejo adquirir as publicações nº por meio deste cupom ou do site www.editorateosofica.com.br, na seguinte forma de pagamento: Cartão VISA nº Validade: Titular: Cheque nominal à Editora Teosófica PEDIDO DE LIVRO - ACRESCENTAR A TAXA FIXA DE Depósito bancário: Banco do Brasil, Ag. 3476-2, Conta 40355-5 R$ 14,00 PARA REMESSA POR ENCOMENDA NORMAL Desejo assinar SOPHIA por 1 ano (4 edições), ao preço de R$ 41,00 por 2 anos (8 edições), ao preço de R$ 79,00 por 3 anos (12 edições), ao preço de R$ 115,00 Nome: Data de nascimento: CPF: Estado: Endereço: CEP: Cidade: Fone (com.): E-mail: Fone (res.):
O que é a Sociedade Teosófica A Sociedade Teosófica foi fundada em Considerando que ela não é uma religião PAUL CAPUTO Nova Iorque em 1875 por um grupo que in- nem uma seita, somente o respeito à liber- clui a russa Helena Blavatsky e o norte-ame- dade de pensamento torna possível a con- ricano Henry Olcott, seu primeiro presiden- vivência harmônica que favorece a investi- te. A sede internacional foi transferida para gação e o aprendizado. Chennai, na Índia, onde se encontra hoje. A Sociedade tem sedes em mais de 60 pa- A origem da palavra theosophia é gre- íses e divide-se em Seções Nacionais for- ga (“sabedoria divina”). Quem primeiro uti- madas por Lojas e Grupos de Estudos. lizou esse termo foi Amônio Saccas, em Alexandria, no século III d.C, que, junta- A Sociedade Teosófica estrutura-se so- mente com seu discípulo Plotino, fundou bre o princípio da fraternidade universal e a a Escola Teosófica Eclética. Esses filóso- livre investigação da verdade. Seus objeti- fos neoplatônicos não buscavam a sabe- vos são formar um núcleo da fraternidade doria apenas nos livros, mas através de cor- universal da humanidade; encorajar o estu- respondências da alma com o mundo e a do de religião comparada, filosofia e ciên- natureza. A Sociedade Teosófica moderna, cia; investigar as leis da natureza e os po- sucessora dessa antiga escola, almeja a deres latentes no homem. busca da sabedoria não pela crença, mas pela investigação da verdade que se mani- Membros de diversas religiões se filia- festa na natureza e no homem. ram à Sociedade, mantendo suas tradições. www.sociedadeteosofica.org.br DIMITRI CASTRIQUE
Sociedade Teosófica no Brasil Capitais Rio de Janeiro-RJ Loja Liberdade: R. Anita Garibaldi, 29, 10º an- dar. CEP: 01018-020. Tel: (11) 3256-9747. Reuni- Brasília-DF - SGAS Q. 603, cj. E, s/nº. CEP: Loja Augusto Bracet: R. General Roca, 380/ ões: 6ª, 20h. E-mail: lojaliberdade@sociedadeteo- 70200-630. Tel: (61) 3226-0662. 102, bl. B, Tijuca. CEP: 20521-070. Tel: (21) 2569- sofica.org.br e [email protected] 9978. Reuniões: 4ª, 15h. Loja Alvorada: Reuniões 6ª, 19h30. Loja Raja Yoga: R. Mituto Mizumoto 301, Li- Loja Brasília: Reuniões 4ª, 19h. E-mail: Lojas Conde de Saint Germain, Jinarajadasa, berdade. CEP: 01513-040. Tel: (11) 3271-3106. [email protected] Nirvana, Perseverança e Rio de Janeiro: Av. 13 Reuniões: 6ª, 20h. E-mail: lojarajayoga@ Loja Fênix: Reuniões 3ª, 19h. E-mail: de Maio, nº 13, s. 1.520, Centro, Cep 20031-000. sociedadeteosofica.org.br [email protected] Tel: (21) 2220-1003. Coordenadoria das lojas de Brasília - progra- Loja São Paulo: R. Ezequiel Freire, 296, San- mação pública conjunta: sáb., 14h30 a 21h30. Loja Conde de S.Germain: Reuniões 2ª, 15h. tana (imediações metrô Santana). CEP: 02034- Belém-PA Loja Jinarajadasa: Reuniões 3ª, 17h. 000. Tel: (11) 5661-1383. Site: groups. Loja Nirvana: Reuniões 6ª, 17h30. yahoo.com/group/ltsp-sampa. E-mail: ltsp-sam- Loja Annie Besant: R. Tiradentes, 470, Redu- Loja Perseverança: Reuniões 5ª, 14h30. E-mail: [email protected]. Reuniões: to. CEP 66053-330. Fone: (91) 3242-6978. Reu- [email protected] dom., 17h30. niões: 5ª, 19h. Loja Rio de Janeiro: Reuniões sáb. 16h30. Vitória-ES Belo Horizonte-MG Salvador-BA Loja Sabedoria Universal: Tel: 3340-028 (Sr. Loja Bhagavad Gotama: Av. Afonso Pena, 748, Loja Kut-Humi: R. das Rosas, 646, Pq. N. S. da Luz, Alcione). E-mail: [email protected]. Reuni- 26º andar. CEP: 30130-300. Tel: (31)3222-5934. Pituba. CEP: 41810-070. Tel: (71) 3353-2191 / 9919- ões: 1ª terça do mês, 20h. E-mail: bhagavad@sociedadeteosofica. org.br. 1065. E-mail: [email protected]. Reuniões: domingos, 16h. Site: www.sociedadeteosofica.org.br/teobahia- Loja Sabedoria Universal: R. Coração de Maria, Campo Grande-MS Reuniões: sáb., 16h. 215, ap. 801, Praia do Canto, CEP 29.100-013. São Paulo-SP Loja Campo Grande: R. Pernambuco, 824, S. G.E.T. Blavatsky - Espaço Luz: R. Odete de Francisco. CEP: 79010-040. Tel: (67) 3025-7251 Loja Amizade: R. Mituto Mizumoto 301, Liber- Oliveira Lacourt, 610, Loja 1, Jardim da Penha. ou 9982-8106. E-mail: lojacampogrande@ dade. CEP: 01513-040. Tel: (11) 3271-3106. Reu- CEP 29060-050. Tel (27) 3227-8249. E-mail: sociedadeteosofica.org.br. Reuniões: 2ª, 19h30; niões: 3ª, 20h. [email protected]. Reuniões: 3ª, 19h30. sáb., 16h e 18h. Outras cidades Loja Kut Humi: E-mail - teobahia@sociedade teosofica.org.br Águas de São Pedro-SP 2721, s. 1006, Centro. CEP: 36025-000. Tel: (32) Curitiba-PR 3061-4293. Reuniões: 2ª, 4ª, sáb., 18h15. G.E.T. Águas de São Pedro: Rua Pedro Boscari- Jundiaí-SP Loja Libertação: R. XV de Nov., 1700, 2º andar, s. ol Sobrinho, nº 95, SP. CEP: 13525-000. Telefone: 5. CEP: 80050-000. Tel: (41) 3037-5586, 3363-8312. (19) 3482-1009. Reuniões: 5ª, 20h. G.E.T Jundiaí: R. Santa Lúcia, 25, Chácara Urba- Reuniões: 4ª, 19h45 (membros); 5ª 19h e sáb. 16h Bragança Paulista-SP na, CEP 13201-834. Fone: (11) 4586-5022 e 9700- (público). E-mail: [email protected] 2012. Reuniões: 5ª, 20h. E-mail: Luciano.Irlanda@ Loja Alaya: R. Teixeira, 505, Taboão. CEP 12900- yahoo.com.br. Site: www.rosemeiredealmeida.com Loja Paraná: R. Dr. Zamenhof, 97, Alto da 000. Tel: 4032-5859. Reuniões: 6ª, 20h. E-mail: Lavras-MG Glória. CEP: 80030-320. Tel: (41) 3254-3062. [email protected] Reuniões: 3ª, 20h. Campina Grande-PB G.E.T. Lavras: R. Barão do Rio Branco, 79. CEP: 37200-000. Tel: (35) 3821-2151. Reuniões: 5ª, 20h. G.E.T. Dario Vellozo: Rua 13 de Maio, 538, G.E.T. Sírius: R. Clementino Siqueira, 34, Jar- Mogi das Cruzes-SP Centro, CEP 80510-030. Reuniões: domingos, dim Tavares (lateral do restaurante Tábua de Car- 17h, fone: (41) 3029-4342, 9979-7970, 8438- ne). CEP: 58.402-070. Tel: (83) 3055-1770. Reuni- Loja Raimundo Pinto Seidl: Rua Bráz Cubas, 2796. E-mail: [email protected] ões: dom., 16h30. E-mail: get.sirius@sociedade- 251, sala 14, 1º andar, Centro. CEP: 08715-060. Florianópolis-SC teosofica.org.br ou [email protected] Tel: (11) 4799-0139. Reuniões: sábado, 15h30. Campinas-SP Niterói-RJ G.E.T. Florianópolis: R. José Francisco Dias Areias, 390, Trindade, CEP: 88036-120. Tel: (48) G.E.T Lótus Branco: Caixa Postal 3835, Av. João Loja Himalaya: R. da Conceição 99, s. 207, 3333-2311, 3333-2311, 9960-0637 (Adolfo). Erbalato, 48, ACF Castelo, CEP 13070-973. Reuni- Centro. CEP 24020-090. Tel: (21) 2710-3890, Fortaleza-CE ões: sábados, 15h, fones: (19) 3027-1224/8815- 2611-6949. Reuniões: 2ª, 19h. 2970. E-mail: [email protected] Piracicaba-SP Loja Unidade: Rua Sousa Girão, 725, José Cataguases-MG Bonifácio. CEP 60055-370. Tel: (85) 3214-2392. Loja Piracicaba: R. Sta Cruz, 467, Alto. CEP: 13416- Reuniões: 5ª, 19h20. E-mail: lojaunidade@ Loja Unicidade: R. Coronel João Duarte, 78, s. 763. Tel: (19) 3432-6540. Reuniões: 3ª e 5ª, 20h. E- sociedadeteosofica.org.br 204. CEP: 36770-000. Tel: (32) 3421-8601/(32) 3421- mail: [email protected]. Goiânia-GO 2600/(32) 9111-8181 e (32) 9984-1164. Reuniões: Praia Grande-SP 3ª, 20h, sáb., 19h. E-mail: lojaunicidade@socie- G.E.T. Sophia: Rua 2, nº 320 apto. 801, Uira- dadeteosofica.org.br Get Thoth: R.Maurício José Cardoso, 1086, Forte. CEP puru, Setor Central, CEP 74023-150. Reuniões: Criciúma-SC 11700-140. Tel: (13) 3474-5180. Reuniões: 2ª, 20h. E-mail: Sábados 17h. E-mail: [email protected] [email protected] João Pessoa-PB G.E.T. Mabel Collins: Cx P. 263, CEP 88801-970. Ribeirão Preto-SP Tel: (48) 3433-0380 / 9904-2080. Reuniões: 1º sába- Lj. Esperança: Av. Argemiro de Figueiredo, do do mês, 15h. G.E.T Ahimsa: R. João Penteado, 38, Jardim 2957, s. 203, Ed. Empresarial, Bessa. CEP 58035- Franca-SP Sumaré, CEP 14020-180. Fones: (16) 3024-1755 e 030. Tel: (83) 3246-1478, 9117-4488 ou 8866-5051. 9144-1780. Reuniões: Sáb., 16h. E-mail: getahim- E-mail: lojaesperanç[email protected] G.E.T. Consciência: R. Jardinópolis, 508. CEP 14405- sa @sociedadeteosofica.org.br Porto Alegre-RS 065. Tel: (16) 3723-5676. Reuniões: domingo, 15h. E- São Caetano do Sul-SP mail: [email protected] Loja Dharma: Rua Voluntários da Pátria, 595, Joinville-SC G.E.T. do Grande ABC: R. Marechal Deodo- s. 1408. CEP: 90039-900. Tel: (51) 3225-1801. ro, 904, Santa Paula. CEP 09541-300. Tel: (11) Site: www.lojadharma.org.br. Reuniões: 4ª, 20h Loja Shanti-OM: R. Eugênio Moreira, 114, Anita 4229-7846. Reuniões: 3ª, 20h. E-mail: (membros); sábado, 17h e 19h (público). Garibaldi. CEP: 89202-100. Tel: (47) 3433-3706. [email protected] Reuniões: 4º domingo do mês, 19h. São José dos Campos-SP Loja Jehoshua: Praça Osvaldo Cruz, 15, Ed. Juazeiro do Norte-CE Coliseu, s. 2108, Centro. CEP: 90030-160. Tel.: Loja Vida Una: R. General Osório, 48, Vila Ema. (51) 3328-4448. Reuniões: 3ª, 20h. E-mail: G.E.T. Ashrama: R. Santa Rosa, 835, Salesianos. CEP: 12216-590. Reunião: 3ª 19h. E-mail: [email protected] CEP: 63010-440. Tel: (88) 3511-2905. Reuniões: do- [email protected] Recife-PE mingo, 15h. E-mail: getashrama@sociedade- Uberlândia-MG teosofica.org.br Loja Estrela do Norte: R. Diogo Álvares, 155, Juiz de Fora-MG G.E.T. Uniconsciência: Av. Cesário Alvim, 619, Torre. CEP: 54420-000. Tel: (81) 3459-1452. Reu- (Espaço Samsara). CEP: 384000-098. Tel: (34) niões: domingo, 16h. E-mail: lojaestreladonorte Loja Estrela D’Alva: Av. Barão do Rio Branco, 3214-9522/8871-3383. Reunião: dom., 17h. @sociedadeteosofica.org.br
Search