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sítio paraíso

Published by fabriciogpacheco, 2020-09-14 09:06:30

Description: sítio paraíso

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Capítulo 1 (A morte do pai - Cleyton cita Janaina) Mais uma manhã normal de um início de ano, por volta das oito horas. O sol cascando nas costas dos trabalhadores e os animais daquela fazenda. O céu limpo e azul tingia os rios e lagos da região, não muito longe de Belo Horizonte. Diversos mugidos e latidos ao redor do grande terreno produtivo. As ovelhas mansas caminham pelo pasto, todas unidas num grande aglomerado branco e fofinho, saltitando. As vacas também andavam por aí, mas em outro cercado, pastando, inocentes e indiferentes sobre a grande bênção que foi derramado sobre aqueles animais, premiados tanto pela carne suculenta e o leite saboroso e abundante. Este lugar era chamado Sítio Paraíso. Grande, poderoso e famoso. Seu proprietário

era um senhor de idade, chamado Sérgio Armando. Tinha filhos, empregados, animais, dinheiro e história. O sítio foi passado de geração em geração, e se orgulhava do grande império agropecuário montado desde o nascimento de Minas Gerais. Sabia que um dia teria que passar a bola para algum filho, o que não o preocupava, pois tinha Cleyton, seu mais novo filho, nascido e crescido na roça. Alma de pobre, coração de ouro, cabeça bagunçada. O jovem tinha problemas, sempre que ficasse sob pressão, ele perdia a cabeça e começava a alucinar e mudar de personalidade. Isso o atrapalhou quando tentou entrar na escola, por isso a abandonou quando era bem jovem. Tinha muitos problemas para ler e não conhece palavras difíceis. Assim como seu pai, tinha hábitos matinais. Acordavam e tomavam café juntos a alguns funcionários. Neste dia não era muito diferente. Lá estava Cleyton, sentado dentro da

cozinha do casarão, junto ao Chico, um dos funcionários mais antigos da fazenda. Ambos balançavam a xícara de metal com café, observando os animais pastando naquela paisagem que ficava cada vez mais incomum com a urbanização crescente, consumindo os campos e o restinho de ar limpo no mundo. ー São tudo calminho, né? Despreocupado… Às vezes eu queria ser um deles. Passar o dia inteiro tomando banho de sol, sem se preocupar com as coisa em volta. Chico foi interrompido pela fala do jovem. Foi uma frase bem repentina, não aguardava por algo tão melancólico vindo de Cleyton. ー Por que cê falou isso? Tá tudo bem com cê? Cleyton suspirou. ー Tive uns problema com a Jana… Agora tudo estava claro para Chico. Entendeu o motivo da descontentação de seu

companheiro. Sempre esteve ao seu lado, como se fosse seu pai. Era uma das maiores inspirações de Cleyton, sempre o apoiou e o aconselhou. Sérgio sempre foi grato a Chico, já que estava muito velho e doente, parou de passar tanto tempo com seu caçula, e isso doía no fundo do coração de ambos. rolou? ー Mas o que ー Eu acho que ela tá escondendo algo de mim, sabe? Ai eu fui e perguntei pra ela, e ficou toda nervosinha. E ela nunca toca em outro assunto além dos meus irmão. Sempre quer saber se eles vem pra cá. E a resposta é a mesma, toda vez. Estava muito para baixo. Largou a xícara sobre a mesa de madeira e apoiou sua testa em seus braços cruzados. Escondia seu rosto de forma quase instintiva já que estava envergonhado. Chico não tinha bem uma reação. Deu uma golada no café e tornou a olhar para a paisagem. O silêncio reinou por

longos 10 segundos, quando foi interrompido por um trator rastejando pela terra, que passou de forma lenta e desengonçada, furando a concentração de Chico, que admirava os cães brincando na distância. Isso o despertou novamente para a situação. ー Mas… Que que cê suspeita que a Janaína tá fazendo? ー Eu num sei dizer ao certo, mas eu acho que vi ela falando com alguém ontem a noite, ali no cercadinho. Eu tava muito cansado, e tava um breu, então eu talvez teja vendo coisa, só. A expressão no rosto de Chico se tornou ainda mais apreensiva e fechada. ー É amigo… É uma coisa procê investigar. ー O pior de tudo é que eu num teria coragem pra terminar com ela, Chico… Aqueles zoinho claro, o rosto dela… Ela me enfeitiçou… E num vejo a hora de dar um

beijão nela… Chico trocou seu rosto, agora estava confuso. Virou um pouco o pescoço para o lado e fez um gesto como se não tivesse entendido. ー Uai? Ceis num se beijaram ainda não? Cleyton escondeu o rosto novamente, estava envergonhado novamente. ー Num entendi… Ocês passam um tempão falando ali e nunca deram um selinho? Agora Cleyton apoiou sua cabeça na mesa e cobriu a nuca com as mãos. Enquanto abria os ombros, esbarrou na xícara de café, que tombou para o outro lado girando e começou a escorrer, não muito tempo depois, a xícara cai no chão. Quando o barulho de lata caindo assustou Cleyton, que se levantou na hora que o recipiente acertou o chão. O café não respingou uma gota no garoto, que ficou sem graça.

ー Desculpa, Cleytinho. Vamos mudar de assunto… Foi aí que reparou uma coisa incomum. A poça, que agora também estava no chão, apontava para o outro lado da fazenda, onde Sérgio costumava caminhar e jogar a bolinha para seu cão favorito. Não estava lá. Somente o pequeno cãozinho preto e branco estava presente, segurando a bola de tênis velha, sentado e balançando o rabinho para os lados, como se aguardasse o seu velho amigo. Cleyton não havia reparado ainda, se levantou e procurou um pano para limpar a sujeira que fez. ー Cleyton, cê viu seu pai hoje? No mesmo instante, quando agarrou o pano, olhou para o cachorro que os encarava. Largou o pano e andou na direção do cão, que reagia de forma alegre a aproximação de Cleyton. Fez um carinho em sua cabeça, mas não o olhava. Procurava seu pai, olhava para

todas as direções, mas seus olhos não o encontraram. Isso não era normal. Tirou a bolinha da boca do cachorro, que entrou na brincadeira e tentou a tomar de volta. Sem mirar muito, lançou a bola para longe, e o animalzinho inocente correu loucamente, seguindo a trajetória da bola, que depois foi acompanhada por outros cães. Estava muito preocupado, e lançou seu olhar medroso para Chico, que também não parecia feliz. Os dois entraram para dentro da casa, andando velozmente e olhando dentro de cada um dos cômodos da casa. Não estava na sala, não estava no escritório, não estava em nenhum dos banheiros, não estava andando pela casa, não estava no primeiro andar. Subiram as escadas, onde ficam os quartos. Foram checando quarto por quarto. A maioria estava ou vazia ou ocupada por aranhas e poeira, por algum motivo, mobiliados também. Mais uma sala. Mais quartos. Mais corredores. Mais

banheiros. Estavam exaustos, restava somente mais uma porta, que ficava no final de todos os corredores. Era o quarto do próprio Sérgio. A porta estava fechada, e ele era o que mais cedo acordava, mais que os funcionários, mais que Cleyton, mais que os bois, mais que as ovelhas, mais que o cacarejo dos galos. Já que era o último cômodo da casa, não havia muita iluminação, que deixava aquela situação ainda mais assustadora. Cleyton não queria abrir aquela porta. Não queria saber o que o aguardava do outro lado. Não estava pronto para encarar a realidade. Ele olhava, quase chorando para Chico, que também estava alterado pelo cansaço e pelo medo. Fez um gesto com a cabeça, indicando que Cleyton devesse abrir a porta. Aterrorizado e tremendo, Cleyton pegou na maçaneta fria da porta de madeira. Começou a torcê-la, e um barulho indicou que já era o suficiente. Começou a empurrar a

porta para dentro do quarto, e começou a ranger bem alto. O chão de madeira se chocava com a porta do mesmo material, causando um berro desconfortável e medonho. Cleyton largou a maçaneta, e adentrou o quarto. Lá havia uma janela, com as cortinas fechadas, uma mesa com folhas, canetas, lápis, anotações, ferramentas, brinquedos antigos, fotos e um espelho velho, e oposta a essa mesa, a cama de Sérgio, que era coberta por uma mosquiteira. A silhueta de seu pai era visível, e estava deitado, quietinho. Antes de abrir a mosquiteira, deu uma olhada na mesa. O que lhe chamou a atenção foram as fotos. A maioria eram de uma senhora, que em fotos mais amareladas monocromáticas, era jovem e nas coloridas, idosa. Esta era a mãe de Cleyton, esposa falecida de Sérgio. Era tão bela quanto Janaína, e isso o entristecia. Queria tanto poder conhecê-la de verdade que não conseguia expressar com palavras. Chico permanecia em

silêncio, encostado na parede e aguardando. Logo ao lado desta mesma mesa, havia um violão, meio empoeirado, com marcas de mãos e dedos nas laterais. Seu pai tinha muita experiência com violão, e até tentava ensinar seu filho a tocar, mas Cleyton nunca seria tão habilidoso quanto ele. Mesmo que velho, às vezes se ouvia na casa uma melodia de cordas flutuando pelo som do vento. Cleyton segurava suas lágrimas, e mesmo que não estivesse emocionalmente pronto, se aproximou da cama de seu pai. Antes que chegasse lá, desistiu e recuou para perto do instrumento e deslizou o dedo nas cordas, tocando um acorde plano, sem graça. Olhou para o lado, e a silhueta ainda se encontrava na mesma posição, e isso não o alegrava de forma alguma. Pegou o violão com os braços, e tentou tocar alguma coisa. Sons acidentados e desengonçados emanaram pelo quarto. Sem resposta.

Desistiu e largou o violão ao lado. Andou alguns passos a frente, e lá estava novamente, ao lado da cama do patriarca. Havia um zíper na parte inferior da cama, e Cleyton o pinçou com o polegar e seu indicador da mão direita. Com a outra mão, agarrou a base do zíper, e começou a erguer a mão direita. O som era satisfatório, cada dente do fecho ia se soltando e revelando um pouco da cama. Podia só ver os pés manchados de seu pai, que estavam para fora do único lençol esticado sobre a cama. Quando terminou de abrir, evitava olhar para cima, não queria ver o rosto do pai. Estava desesperado e apavorado, mas sua curiosidade falou mais alto. Se aproximou e viu o rosto de seu pai. Era tão simples, tão sereno, tão tranquilo… Aproximou seu dedo ao nariz do pai, não sentia nada. ー Pa… Pai? Sem resposta.

ー Pai? Tá me ouvindo? Acorda, vamos? Não aguentava mais. Desabou. Caiu de joelhos e começou a chorar loucamente. Seus braços ainda estavam largados sobre a cama. ー Vamos pai… Levanta… Vamo ir brincar… Com o… Com o Chocolate, vamos… Levanta, por favor pai… Não é possível… Eu… Algumas faxineiras entraram no quarto e se depararam com a cena. Chico também chorava, em silêncio, com a mão no rosto. Assim que se depararam com a cena, uma correu na direção de Cleyton para acalmá-lo, e a outra correu para a sala e discou o número da ambulância. ー Acorda pai… Acorda logo, eu quero ir tomar café com você pai… Não me deixa sozinho não, senhor. Meu Deus do céu, por que agora? Minutos depois, as sirenes da

ambulância gritavam na entrada do sítio, e pouco depois, homens com roupas pálidas entraram no quarto, correndo e sem falar muito. Cleyton estava muito estressado, estava hiperventilando. Todas aquelas emoções, aqueles sentimentos, aquela incerteza… Todas se concentraram naquele momento, formando uma singularidade de tristeza e ansiedade. Estava caindo lentamente dentro de um abismo, um abismo invisível. Tomou um choque, e isso o abalaria para sempre. Ele caiu no chão, e apagou. Capítulo 2: Alucinação (A que mãe morreu no passado e a saída dos irmãos) Cena 1:

Cleyton acordou deitado de bruços no chão, sentindo uma intensa dor no rosto, já que tinha acabado de cair com força. Não se importou muito com a dor pois estava em um lugar muito estranho, olhava para os lados, pra cima e pra baixo e a única coisa que enxergava era a escuridão, estava bem assustado. O lugar era tão escuro que ele não conseguia ver nem a próprio formato do corpo. Não entendia nada do que estava acontecendo. O que Cleyton mais queria naquele momento era acordar em sua cama e encontrar seu pai tomando seu tradicional café com leite de todas as manhãs, e perceber que tudo isso foi apenas um grande pesadelo. Ele já estava quase entrando em desespero, não sabia se aquilo estava acontecendo, se era um sonho ou estava delirando. Até que escutou uma voz feminina bem suave vindo de trás: — Quem é você? — Mamãe! Sou eu,Cleyton, seu filho!

— Como assim? O único filho que eu tenho é Alexandre. Antes que Cleyton pudesse falar, chega uma figura mascarada, não muito magra, não muito gorda, vestida de preto da cabeça aos pés. Ela rapidamente se aproxima de Dona Maria e a sufoca de maneira covarde. Ele tenta ir correndo até ela, mas não consegue sair do lugar. Era como se o chão se transformasse em um tipo de areia movediça. A imagem da mãe vai ficando cada vez mais distante e distorcida. Até que acorda em uma cama com três socorristas: — Como você está se sentido? — pergunta um dos socorristas. — O que aconteceu aqui? — disse Cleyton, visivelmente atordoado. — Enquanto nós entrávamos, você desmaiou e bateu a cabeça. Enquanto Cleyton continua deitado com a cabeça a milhão e muito aflito, chico

explica aos socorristas os problemas psicológicos do jovem. Os mesmos socorristas retiraram o corpo de Sérgio. Chico, como sempre muito cuidadoso, pediu para que uma das faxineiras trouxesse um copo do suco favorito de Cleyton, para que o acalmasse e assim impedisse de ver a cena dos socorristas. Cleyton se senta na cama junto a Chico apoiando suas costas na parede. A medida em que vai tomando seu suco e conversando com Chico vai se acalmando e aos poucos recuperando os sentidos, mas longe de estar bem mentalmente. Logo depois, os dois foram para a mata, onde Cleyton costuma se divertir jogando frutas podres nas árvores. Mesmo mais calmo, o jovem continua inconsolável. Mal consegue arremessar uma Gabiroba na floresta. — Chico, o que vai ser de nós sem o papai? O que vai acontecê com esse paraíso? — Disse Cleyton.

— Calma Cleytinho, não podemos largar tudo que seu pai fez. Temos que redobrar o trabalho com o sítio. As horas passam, a mesa de almoço que geralmente ficava cheia de comida e doces, estava vazia. Ninguém naquele sítio queria comer. Cleyton, agora no curral, pensava o que seria da sua vida e da fazenda sem seu pai. Até que lembrou de seu irmão mais velho, que havia visto uma vez na vida, quando ele foi ao sítio resolver pendências financeiras com Sérgio. Cleyton tinha calafrios ao lembrar de Alexandre, um homem frio que mal conseguia olhar nos olhos do próprio pai. O sol dá lugar a lua, ao contrário das demais noites, o céu não tem estrelas. A escuridão toma conta do Sítio. Como era de costume depois do jantar todos iam para a frente de uma velha televisão com um sinal bem fraco para ver o telejornal local. Naquela noite apenas Chico e Cleyton foram assistir, no

meio do programa foi divulgada a morte de Sérgio: — Acaba de ser confirmada a morte de um dos mais conhecidos proprietários de terra da região, Sérgio Armando Pereira. Ele era dono do sítio paraíso, uma fazenda famosa por produzir leite, suínos e bovinos. Uma das maiores e mais bem sucedidas fazendas da região. Cleyton, ainda muito abalado, saiu rapidamente da sala. Entrou no corredor indo em direção ao seu quarto. Até que escuta bem de longe outra fala do repórter: — Sua herança será dividida entre os quatro filhos, ainda não se sabe o dia da leitura do testamento. Cleyton toma um susto, não sabia que tinha mais irmãos além do Alexandre. — Chico, como isso é possível? Papai nunca me falou de nenhum irmão. — Seu pai só queria te poupar de mais sofrimento. — respondeu Chico.

— Como até a mulé da televisão sabe e eu não sei. — Seu pai já sabia que seu fim estava próximo, então pediu pra assim que morrer, eu te contasse sobre seus irmãos. Mas pelo visto não deu tempo. Deitado na cama, Cleyton não tirava da cabeça a cena que havia visto mais cedo do seu pai. E misturada com as alucinações que teve envolvendo a sua mãe, eram suficientes para tirar as noites de bom sono por bastante tempo. Capítulo 3: O Testamento Mais um dia amanhece ensolarado no Sítio Paraíso, tudo acontecia como de costume. O nevoeiro se desfazendo com os primeiros raios de sol do dia, os pássaros cantando como uma orquestra em harmonia... o cheiro do café

fresco no ar ia longe... O galo cacarejando no alto do telhado... Mas, de repente, algo diferente aconteceu. Em frente à entrada da fazenda um luxuoso carro estava parado. De dentro do mesmo desce um homem baixinho e forte, de rosto amarrado, nada contente. Após adentrar no sítio, ele hesita, pois não aparentava estar disposto a sujar os seus sapatos de camurça amassando a lama da entrada do sítio. Avelino era o nome dele. O primogênito do Sr. Sérgio Armando. Mudou- se para a metrópole de Belo Horizonte logo que completou o ensino fundamental , e morou com seus colegas ricos até completar 18 anos. Viveu até os 30 anos como neurocirurgião, e logo depois comprou diversas empresas alimentícias, sendo o dono do Grupo Avelã Alimentos. Hoje tendo apenas 35 anos, Avelino já passou por 2 divórcios e 3 tentativas de suicídio, e não é muito emotivo.

Principal suspeito da morte de sua mãe, e com possível envolvimento em lavagem de dinheiro. Após sujar os sapatos de lama, chega até a porta da casa de seu falecido pai. Bate na porta, mas ninguém atende. Então, bate mais forte e ninguém responde. Irritado, passa a esmurrar a porta, quando em pouco instante chega Cleyton com um largo sorriso no rosto dizendo. - Carma omi, que tava ocupado lá dentro, colocando água no feijão. Surpreso, pois não esperava ver o irmão que desconhecia. Aflito, já foi logo se apresentando... Avelino, por outro lado, não demonstrou nenhum gesto de carinho, pelo contrário, simplesmente deu um sorriso de canto de boca, demonstrando sua insatisfação e antipatia. Mal-humorado, Avelino se irrita mais ainda quando Cleyton ainda, por

descuido, pisa no sapato de seu pé direito, deixando ele todo sujo de barro vermelho. Ao entrar da tarde, logo após o almoço, que almoço! Foi servida, aquela galinhada caipira, com torresmo e chouriço... Tinha couve, tinha aquele arroz branquinho e aquele feijão com miúdos de porco. Um segundo carro apareceu na porteira do sítio. Esse também era muito grande e bonito.Dois homens desceram do carro,agora eram Alexandre e José, também filhos do falecido Sérgio Armando. Alexandre era um homem bem sucedido, formado em economia e trabalha com investimentos da bolsa de valores. Seu trabalho lhe dava uma vida boa e de qualidade, parecia até um mauricinho, mas infelizmente tinha um defeito, era dependente químico. José era o irmão do meio da família, atualmente com 29 anos, tinha uma relação

horrível com o pai depois de uma briga entre os dois, por ser extremamente inteligente, se formou no ensino médio com 2 anos de antecedência. Hoje é dono de uma importante estação de rádio na região na região de Belo Horizonte, com milhões de ouvintes semanalmente. Seu hobby predileto, é viajar todo final do mês para Fernando de Noronha onde se hospeda em seu resort privativo. Mesmo desconfortável com a presença dos seus irmãos com um padrão de vida mais elevado, Cleyton, se sentiu melhor, pois a presença deles aliviou as alucinações e pesadelos que tinha. Enquanto Cleyton cuidava dos afazeres do sítio, Alexandre, Avelino e José estavam relaxando dentro da casa, num instante antes do sol se pôr atrás da montanha, tudo aconteceu... A chegada inesperada de um homem de excelente aparência, barba e cabelos bem feitos, um terno de linho fino

preto e gravata borboleta vermelha chamaram a atenção de todos ao bater na porta da casa grande. Estupefatos todos se dirigiram até o homem, o qual se apresentou como advogado do senhor Sérgio Armando. Trazia além de sua educação e conhecimento, notícias que iriam abalar e surpreender a toda a família. Em seu poder estava o futuro de Cleyton, Alexandre, José e Avelino. O advogado trazia em sua preta pasta o último desejo do senhor Sérgio Armando. Lá estava o testamento final do falecido. O advogado informou aos presentes que o testamento seria lido às 20h, imprescindivelmente na presença de todos. Quando chegou a hora, Avelino, Alexandre, José, Cleyton e o advogado estavam reunidos na mesa da sala da casa grande. Quando o advogado tomou as palavras, ao mesmo tempo, os olhos do primogênito de José e Alexandre brilharam, pois a única coisa que

pesavam era o quanto iriam ganhar com a venda do sítio, uma vez, que eram os herdeiros diretos do falecido. Mas, o inesperado aconteceu quando o advogado pronunciou, visto o testamento, que tanto Alexandre, como Avelino e José, não tinham nada a receber do pai falecido e que tudo que tinha foi herdado na sua totalidade para Cleyton. Pasmos, os três irmãos contestaram a legitimidade do testamento, mas tudo havia sido feito quando o pai ainda era vivo e registrado em cartório na cidade da capital. Avelino,José e Alexandre mudaram suas feições, ficando com sangue nos olhos de tanta ira e raiva. Capítulo 4 Como de costume, Janaína acordou de mau humor. Nem o melhor café da manhã do mundo a deixaria feliz, no entanto sempre que visitava, pela manhã, o terreno ao lado, se

sentia melhor, onde se encontrava com Cleyton, Chico e Ignácio que era outro funcionário de Sérgio. Mas nesse dia as coisas foram diferentes. Janaína sabendo do importante evento que ocorreria logo mais, não foi visitar a fazenda vizinha, onde encontraria Cleyton. Enquanto Janaína se arrumava para a chegada dos irmãos do seu vizinho de terreno, alguém bate o sino de sua casa. Era um fiel funcionário do pai de Cleyton, Ignácio: – Por que cê tá aqui? – Perguntou Janaína. – Queria sabe se tá tudo bem com a senhora. – Disse Ignácio. – Hoje eu não posso ser vista conversando com um sujeito como você, uai! – Disse aflita. – Oxi? Mas por que disso? – Retrucou Ignácio, um pouco assustado. – Vê só, hoje é o dia que os irmãos do Cleyton vem para a cidade, pra lê aquele diabo de testamento e você é o único que sabe o que eu quero! – Disse Janaína.

Ignácio, embora acostumado, saiu triste pela forma de tratamento de Janaína. Ela fecha a porta rápido. Está muito apreensiva, sabe que se não casar com um homem rico, terá que trabalhar na fazenda. Janaína morre de medo de ter que trabalhar na fazenda e como só estudou até o 7º ano, não conseguiria um bom emprego. Então seu plano era se casar com um homem bem rico, de preferência qualquer irmão de Cleyton. Chegou a hora da leitura do testamento, que seria feita no centro da cidade. Janaína uma moça esperta, se arrumou toda, colocou seu melhor vestido; Branco com traços dourados. Penteou seus cabelos longos e cheios de mechas e abusou do seu melhor perfume, tudo isso para ver os homens ricos. Chegando ao centro da cidade, a primeira pessoa com quem Janaína se encontra é Cleyton que tenta falar com ela, e sem nem disfarçar o ignora completamente, logo indo em direção aos seus irmãos para se apresentar,

sem sucesso já que eles entraram no local da leitura. O sino da igreja bate, chegou a hora. Janaína até tentou entrar na sala, mas somente os irmãos puderam entrar. A moça ficou apreensiva no lado de fora do cartório, andando pela rua e observando os belíssimos carros dos filhos ricos de Sérgio. Mas Aquele que mais chamou a atenção dela foi o carro de Alexandre, era a o mais moderno carro do mundo, existiam pouquíssimos iguais a ele no Brasil. Janaína se distraí tanto pensando nos planos pro futuro e como os realizaria que nem se dá conta do tempo, logo, sentada no banco da praça ao lado, vê as pessoas saindo do cartório. Se ajeita toda para tentar falar com um dos ricos e quando está indo em direção de um deles ela é interrompida por Cleyton: — Janaína, Janaína! — Disse Cleyton, muito eufórico. — Vê só Cleyton, eu tô ocupada. — Falou Janaína, aflita.

— Só um minutin Janaína! Ela tentava ir para frente, Cleyton entrava no caminho. — O Deus... Cleyton, depois cê me fala. Ela consegue se livrar de Cleyton e vai em direção a José, mas ela não chega a tempo e ele vai embora. Ela olha em volta e os outros irmãos também já foram só restou Cleyton. — Agora posso te falar? — Pergunta Cleyton. — Tá, pode. — Eu fiquei com todas as coisas do meu pai! — Revela Cleyton. Janaína fica muito surpresa pelo fato de Cleyton ter herdado todos os bens do Pai. E o sentimento de raiva por não ter conseguido falar com nenhum dos homens ricos a deixa furiosa. Ela tenta fingir que está feliz para Cleyton, mas na verdade está possessa. Janaína vai pra casa, mas não para de pensar em como vai arranjar um dos irmãos de Cleyton para se casar.

Capítulo 5 Capítulo 6 Quando a Janaína foi fazer o plano acontecer o Cleyton foi para casa falar com os irmãos que ajudasse a ele arrumar um dos comandos da casa que estava empoeirado, cheio de teias e algumas tralhas e caixas por lá. O Cleyton foi retirar as teias, um dos irmãos foi retirar a poeira e os outros retiram as tralhas e caixas, depois de 30 minutos o Alexandre achou algo que era dos pais deles e chamou Cleyton e disse: ー Parece que isso era dos nossos pais. Cleyton pegou a caixa misteriosa e levou-a para o quarto, quando abriu a caixa viu que existia vários objetos dentro da mesma,então parou e ficou vendo cada foto e várias coisas que tinha do pai e da mãe, nem perceberá que anoiteceu, ele ficou tão entusiasmado e passando na memória tantos

momentos vividos com seus pais, quando viu no fundo da caixa algo que era igual uma Certidão de Nascimento, mas quando vai pegar ele visualiza que era um envelope, de repente alguém bate na porta e fala: ー Posso entrar? - era a voz da Janaína - ele pede para aguardar que já abriria a porta, com isso rapidamente ele guardou tudo que estava vendo dentro da caixa e escondeu embaixo da cama, e a deixou entrar, Janaína entra no quarto e diz: ー O seu irmão Alexandre quer falar com você, ele está te esperando na sala. Então, o Cleyton sai do quarto vai falar com seu irmão. Enquanto isso a Janaína ficou no quarto, virou e sentou na cama, quando sentou percebeu que estava meio desconfortável, então, curiosamente olhou embaixo da cama e viu que tem uma caixa misteriosa. Janaína muito curiosa achou estranho ter caixa debaixo

da cama com isso resolve com sua tamanha astúcia, pegar e ver o que tem lá dentro. Toda preocupada ficou olhando para a porta com intuito de abri-la, de repente abre e vê algo que nem pensou que teria tamanha importância, um envelope, pegou e abriu o envelope no qual continha uma carta falando dos pais verdadeiro do Cleyton. Na sala Alexandre e Cleyton conversavam, quando a Janaína chega com as mãos escondidas para trás…(Vou ainda completar) Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Era uma madrugada silenciosa.

ー Me lembro como se fosse hoje. Foi na terceira quinta-feira do mês de julho. Naquele dia, ouvi barulho no porão da casa grande. ー Tek, tek, tek, tek. Esse foi o barulho que escutara naquela noite. Parecia que tinha alguma coisa andando na calada daquela madrugada naquele porão. ー Logo pulei da cama, peguei a espingarda, que ficava debaixo da cama. Espantado e tremeluzo, tomei coragem e desci até lá. Os degraus estalavam, conforme descia cautelosamente. Quando cheguei à frente da porta. Falei baixinho gaguejando – Qui quiem ta taá aíí? – Empurrei a porta e as dobradiças rangeram. Então, entrei pisando de mansinho, como se estivesse pisando em ovos.

As mãos tremiam tanto que dava para bater um bolo. Ressabiado, acendi as luzes do porão. Aparentemente, tudo estava em seu lugar. Mas, do nada, pula um bicho grandão. Não consegui ver nitidamente na hora. Inacreditavelmente apareceu uma onça pintada. Minhas pernas tremiam muito, que fiquei estupefato. Perplexo, puxei o gatilho por instinto. - Boom! – O tiro passou perto, a onça, por sua vez, saiu correndo e derrubando tudo que estava a sua frente. – Eita onça danaaada... Não deu tempo de engatilhar a espingarda para dar o segundo tiro. A bicha era rápida demais! Escapou pela janela estreita do porão. Respirei fundo, agora, mais calmo do susto. Coloquei a espingarda encostada no canto da porta e comecei a arrumar a bagunça. Quando olho para parede e vejo um enorme buraco. – Viixi! Vô te que arruma isso amanhã. Faze massa e pinta. Vai dá um trabaio daqueles…

Na manhã seguinte, antes do galo cantar, Cleyton já se encontrava fazendo a massa para tampar o buraco que fizera com o tiro que dera na parede. Enquanto fazia a massa, Chico se aproximou e perguntou: ー Creytim, ontem bem sonhei que tinha ouvido um tiro. Cleyton, respondeu: ー Que sonho nada... foi eu que larguei o dedo na onça. ー Quê? Onça? Aqui? Cê tá doido homi?! Disse Chico Cleyton disse: ー Isso miesmo... era uma onça muuuuuuito grandi! Um tantão de grande assim... Ele levanta a mão para demonstrar o tamanho da onça. Chico, por sua vez, fica de

boca aberta, quando Cleyton mostra o tamanho do animal. A água começava a ferver no fogão de lenha e Chico passa o café. O aroma sobe no ar! Cleyton e Chico tomam o café fresquinho e continuam de conversa sobre a onça por mais algumas horas. Após fazer algumas das atividades rotineiras do dia, Cleyton, desce até o porão e começa a arrumar a parede, quando de repente, encontra uma cavidade oca. Curioso, começa a romper com o martelo e acha uma caixinha entre as paredes e a parte oca. Sem entender nada, de como aquela pequena caixa fazia naquele lugar. Não resiste e abre a caixa. Para sua surpresa, ali tinha um envelope com uma carta… (Vou ainda completar)

Capítulo 11 Capítulo 12 Era manhã. Uma manhã meio estranha. Chovendo bem levemente, o sol estava completamente ofuscado pelas nuvens. E nas distâncias de Belo Horizonte, uma larga carga de fumaça sombria, emanando nos campos. As pessoas acordam e vão tomar o café, para iniciar a rotina matinal dos trabalhadores e estudantes. Alguns ligam os rádios, e outros as tevês de tubo. Aqueles que ligaram a rádio, sentiram falta de algo. O programa matinal da Rádio Belorizontina não estava ativo. Iniciava às oito da manhã, e os ouvintes podiam ligar para lá, conversar com os apresentadores e pedir músicas para a tarde. Dura duas horas, e

cativava a população pois os participantes sempre eram engraçados. Esse silêncio… Não foi avisado nem previsto por ninguém. E os que ligaram a televisão, foram bombardeados por uma notícia devastadora. A abertura das notícias do jornal local é bem animada, com uma esfera e diversos objetos diferentes orbitando este. ー “Breaking news”! Ontem de madrugada, às uma e meia da manhã, um terrível incêndio atingiu o famoso Sítio Paraíso, que abriga uma das maiores fazendas de Minas Gerais, premiado pela grande diversidade de queijos e carnes de altíssima qualidade. O motivo do incêndio ainda é desconhecido, vamos conversar com nossa repórter, Maria, como vai aí? Um momento de silêncio, depois, a tela se trocou para uma imagem ruim de uma mulher na frente de uma casa em chamas, com diversos bombeiros batalhando contra o fogo

no fundo. Ela balança a cabeça e começa a falar. ー Bom dia, Júlio! Bom, infelizmente, a casa inteira foi perdida, e foram confirmadas cinco mortes, uma jovem que estava tentando sair da casa, e junto dela, um funcionário da fazenda e também os três filhos do antigo dono, sendo um o famoso economista Alexandre Oliveira, o dono da emissora de rádio José Oliveira e o dono do grupo alimentício de cereais. O quarto filho, o mais novo, ainda está desaparecido, mas estimam que ele esteja entre os destroços do segundo andar, que ainda está inacessível… Ela foi interrompida por um estrondo vindo de trás, a casa desabou por completo. A câmera balançou e quase caiu de lado. A repórter agarrou a frente da câmera antes de cair, então os telespectadores puderam ter uma vista melhor da casa, que agora era só uma pilha de madeira queimada. Diversos funcionários se lamentavam ao redor da casa, e

outros eram socorridos por bombeiros. Ao fundo, era possível ver mais bombeiros extinguindo o fogo que queimava nas plantações, que foram devastadas pelas chamas. Depois que a câmera foi reposicionada, puderam ver o rosto da repórter. Estava desesperada e triste. O público compartilhava a mesma expressão. ー Hmmm… Olha, um pedaço da casa acabou de desabar… Tá tudo destruído… ー Ela virou de costas para a câmera e apontou para a casa em pedaços. A câmera deu um zoom para que fosse possível enxergar a casa melhor. Demorou alguns segundinhos para focar, e assim que a lente estabilizou, foi possível ver a fogueira gigante sendo apagada por uma equipe completa de bombeiros. ー Ainda não se sabe o motivo do incêndio… Ela foi interrompida por um som

crescente e volumoso, era um helicóptero que sobrevoava a área. A repórter ficou apontando para cima, e o som impedia que ela fosse ouvida. O microfone foi cortado e a câmera voltou para a sala do âncora, que olhava as imagens da repórter pela tela colada na parede. Uma pausa meio desconfortável ocorreu, e ele fez um leve gesto com a cabeça, como quando a repórter começou a falar. Estava surpreso, mas ainda mantinha a elegância. ー Hmm… Tivemos um problema de comunicação com a repórter… Vamos… Vamos dar uma olhada nas câmeras aéreas. A televisão troca para as imagens de cima da fazenda. Era possível ver todos os caminhões de bombeiros, e também uma vã branca, e ao lado, uma mulher balançando os braços com algo na mão, e junto a ela, um homem de boné segurando uma câmera. Era a repórter, que estava chateada com a interrupção.

Era realmente parecida com uma fogueira com poucas chamas, uma grande quantidade de madeira queimada e escura esfarinhando em cima de mais cinzas e de lembranças perdidas. O helicóptero seguiu sobrevoando a área, e mostrou as plantações usando outro ângulo. Estava quase tudo queimado. Tanto alimento, tanta riqueza… Foi tudo destruído pelo fogo. Até mesmo aquela antiga mangueira. Era lentamente consumida. Os frutos despencavam dos galhos fatiados pelas línguas de fogo que se espalhavam e consumiam o mato ao redor. Mas não alcançavam o riacho ao lado. A terra úmida evitava a proliferação do fogo, que não tinha misericórdia de nada que fosse queimável. A voz do âncora interrompe a ausência fúnebre do som. ー Vamos retornar agora para a repórter.

E lá estava ela, agora sem uma jaqueta, possivelmente por causa do calor infernal daquele lugar. Também parecia levemente irritada. Não era mais possível ouvir o helicóptero. Ela começou a falar, mas ainda não dava para ouvi-la. ー … Aponta que o incêndio pode ter ocorrido por causa de um vazamento de gás junto ao início de uma combustão dentro do local, mas ainda não se entende ao certo o que iniciou. O capitão dos bombeiros diz que pode ter sido um lampião que foi derrubado, pois ainda eram utilizados na casa, depois de analisar onde começou o incêndio. A cidade inteira estava em silêncio. Sim, a rotina continuava, os carros buzinavam, as pessoas trabalhavam, os aviões voavam. Mas com algo por dentro. Um sentimento de falta. O povo, que não tinha ideia da maldita história por trás de tudo, já se sentiam tocados. Não conheciam Cleyton, nem Janaína. Pouco se ouvia dos dois irmãos. Mas não o mesmo

para Avelino. O Grupo Avelã Alimentos estava desnorteado pela falta do empresário, e acabou se extinguindo. Milhares de desempregados. Aqueles que trabalhavam e suavam nas indústrias chegavam em casa, irritados ao ver que a fábrica estava fechada. Os caminhoneiros, que faziam entregas demoradas, começavam a desviar a rota de volta para suas cidades, já pensando para quem trabalhar. Em meros dias, os produtos enlatados do Avelã sumiram de todos os mercados. Nunca mais viram a logo genérica de alimentos. Nunca mais saberão da história daquele cujo o buraco mais fundo do inferno aguardava. Mesmo que não conhecessem José, dono da Rádio Belorizontina, todos os pais que iam de carro até o trabalho sentiram falta do programa matinal da rádio, que estava inativa. Tiveram que se contentar com as rádios que tocavam músicas antigas. Mas, naquele mesmo dia, na hora da tarde, uma notícia

infeliz foi transmitida pela frequência que estava calada desde a manhã. ー Primeiramente… Boa tarde a todos os brasileiros… A todos os mineiros, nossos ouvintes… Era uma voz trêmula. Estava claramente triste. Quase gaguejava entre cada palavra que dizia, e deixava escapar algumas fungadas. Não era algo normal, ainda mais que o programa da tarde costumava ser bem animado. Os ouvintes, que não assistiram as notícias de manhã, não estavam entendendo nada. ー Bom… Essa é a última transmissão, provavelmente, daqui da Belorizontina… Como muitos já devem saber, o nosso querido José, o dono da rádio, morreu… Ontem de noite, num incêndio numa fazenda da região. Não era nem pra eu tá aqui… Deu um longo suspiro antes de continuar.

ー E por isso, vamos ter que fechar nossa estação. Depois de anos de tradição e entretenimento, toda a hora do dia… E eu amava meu emprego. Todo o dia, eu acordava mais cedo que a maioria da cidade, abria o estúdio e fazia a cidade inteira lembrar que existia, de tão cansados da rotina monótona… Eu amava meus colegas, mas nem sei mais se vou ver eles de novo. Não era pra eu ta fazendo esse drama todo, eu provavelmente vou trabalhar em outra rádio, se bobear, com as mesmas pessoas… Mas nunca vai ser igual a Belorizontina. Eu quero que essa história seja lembrada. A história do homem que fundou a maior rádio de todo Belo Horizonte, e morreu defendendo seus direitos de herdeiro. Mas o que ele não sabia era que seu patrão era um canalha, que tentou roubar a fazenda inteira para si mesmo, ainda que tivesse uma relação horrível com a família inteira. Não sabia o que fazia quando ia para

seu resort privado. Não sabia de seu complexo. Não conhecia José. Não conhecia Cleyton.


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