A Voz de HOMENAGEM A JORNAL DEFENSOR DOS INTERESSES DA VILA DE PAÇO DE ARCOS E DAS LOCALIDADES CIRCUNDANTES FUNDADO EM 1979 POR ARMANDO GARCIA, JOAQUIM COUTINHO E VÍTOR FARIA Diretor: José Manuel Marreiro | Bimestral | N.º 38, Dezembro de 2021 DISTRIBUIÇÃO GRATUÍTA
ESTATUTO EDITORIAL FICHA TÉCNICA 1 – A VPA é um jornal bimestral de “PAroVporzieddeaPdaeç:oAdsesoAcricaoçãs”o Cultural informação geral na área da cultura e da língua portuguesa, em particular na 2S7e7d0e-:16R7uPaaTçhoodme aAzrdcoesMello nº4 B defesa dos interesses dos habitantes da vila de Paço de Arcos e das localidades TDeisroeuçãreoi:rPor-eAsindteónnteio-AJolsbéerMto. R. Marreiro; circundantes. Lopes; Secretário - Francisco Rita Santos 2 – A VPA pretende valorizar todas as formas de criação e os próprios R27e7d0a-1ç6ã7oP: RaçuoadTehAormcoasz de Mello nº4 B criadores, divulgando as suas obras. E-mail: [email protected] 3 – A VPA defende todas as liberdades, em particular as de informação, N.I.F.- 513600493 | E.R.C. nº 126726 expressão e criação. Ao mesmo tempo, afirma-se independente de quaisquer Depósito Legal: 61244/92 forças económicas e políticas, grupos, lóbis, orientações, e pretende contribuir Diretor: José M. R. Marreiro para uma visão humanista do mundo, para a capacidade de diálogo e o espírito Diretor-Adjunto: José Maria Santos Zoio crítico dos seus leitores. Editor: Rui Veiga 4 – A VPA recusa quaisquer formas de elitismo e visa compatibilizar a email: [email protected] qualidade com a divulgação, para levar a informação e a cultura ao maior número Sneº4deBdo 2E7d70it-o16r7: Rua Thomaz de Mello possível de pessoas. Paço de Arcos Impressão: www.artipol.net Sede do impressor: Rua da Barrosinha, n.º 160 | Barrosinha Apartado 3051 | 3750-742 Segadães, Águeda Portugal Colaboradores: Alexandra Antunes; Ana Camilo; Ana Gaspar; Antonieta Barata; António M. Santos; Carlos Aguiar; Carlos André; Eduardo Barata; Filipa Brízida; Graça Patrão; Isabel Barata; João Branco; João Pinto; José Marreiro; José Lança-Coelho; Luís Àlvares; Mafalda Ascenção; Maria Aguiar; Mário Matta e Silva; Marta Ramirez; Paulo Mascarenhas; Rui Veiga; Santos Zoio; Sara Carvalho; Tiago Gonçalves e Virginia Branco Fotografia: Carlos Ricardo, Paulo Mascarenhas , Rui Veiga, Santos Zoio e Vítor Martinez Capa: Fotografia Luiz Freitas Branco Paginação: Andreia Pereira Tiragem: 2000 exemplares Jornal Online: avozdepacodearcos.org E-mail: [email protected] Publicidade: [email protected] Tel.: 919 071 841 (José Marreiro) Diretor Honorário: José Serrão de Faria Subdiretora Honorária: Maria Aguiar 2 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
EDITORIAL Neste início o isolamento de muitos dos nossos leito- de um res e o encerramento de alguns pontos novo ano, de distribuição do jornal em papel, jun- saudamos todos tamente com a vontade, já existente, da nossos habituais e parte da associação, tanto de criar esta novos leitores, de- nova plataforma como de juntar a si mais sejando-lhes um jovens colaboradores ligados à vivência 2022 cheio de boas Paçodearquence. novas, e a primeira novidade, em relação a este vosso jornal é que, pela primei- É com uma pequena, mas voluntariosa, ra vez, este texto estará tanto na edição equipa que, juntamente com a direção da em papel, distribuída como sempre nos associação, que nasce o trabalho que hoje locais habituais e de mão em mão, como pode ser visto em avozdepacodearcos.org agora também em formato digital em onde as vertentes, cultural e social, pode- avozdepacodearcos.org. rão, para já, ter primazia em relação à área Mantendo uma postura jornalística ri- desportiva apenas por não termos ainda gorosa mas também personalizada e in- colaboradores dedicados a todas as áreas dependente, A Voz de Paço de Arcos será que queremos abranger com regularida- agora “ouvida”, em todo o mundo digital, de. seguindo as orientações dos seus propósi- tos originais. O projeto de informação está a ser de- O Jornal “A Voz de Paço de Arcos”, senvolvido em sintonia com o processo agora online, fornecerá, além da informa- de mudanças tecnológicas e de civilização ção da sua vertente em papel, relatos dos no espaço público contemporâneo que acontecimentos julgados significativos e agora abrange a internet onde poderá vir interessantes através de uma nova cultura a ser criado um canal online de video. de comunicação menos monolítica, mais pertinente e mais viva e tentará propor- Com uma vertente de comunicação cionar ao leitor temas de cultura geral re- mais aberta e agora recíproca, conse- lativos aos mais variados aspetos da vida guimos assim, mais facilmente, receber comercial, industrial, histórica, cultural novas propostas que possam enriquecer e desportiva da região, porque entende- social e culturalmente a vila de Paço de mos que as novas possibilidades técnicas Arcos e a sua zona envolvente. de informação implicam um jornalismo eficaz, atrativo e imaginativo na sua per- Como até aqui as opiniões expressas em manente comunicação com os leitores. artigos assinados “de opinião” serão da A iniciativa de alavancar o volume da inteira responsabilidade dos seus autores, Voz e consequente aumento de abran- não refletindo necessariamente a opinião gência do seu público deveu-se a alguns do jornal e da associação. fatores intrínsecos dos tempos recentes, Para que o leitor, mais do que nunca, “ouça” A Voz, quando a lê e a sinta sua, e que tenha na Voz a sua voz, poderá, agora também via mail, propor artigos de autor para: [email protected] Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 3
ARTIGO CAPA Homenagem a Luiz Freitas Branco AAssociação Cultural “A Voz de Paço de Arcos” acompanhou as cerimónias de homenagem a Luís de Freitas Branco, no passado dia 27 de novembro de 2021, com a presença de um representante da direção. Igualmente presentes, elementos afetos ao jornal A Voz de Paço de Arcos, que dedica o presente texto, assim como a capa do seu nº. 38, a esta grande figura Descerramento da cultura portuguesa. A obra de Luís de Freitas Branco colo- cou Portugal em sintonia com a produ- ção de mais alto nivel feita na Europa, estabelecendo um novo patamar de ex- celência, tornando-se pedra de toque tanto no domínio da composição, como na escolha de temáticas, e na melhoria na execução de peças por si analisadas criticamente nas suas crónicas jornalís- ticas e radiofónicas. Escrever sobre o fe- Lápide de homenagem nómeno Luís de Freitas Branco é falar de muitos compositores dentro de um acumula os pelouros da Educação, Des- só, unidos por uma personalidade fasci- porto, Juventude, Bibliotecas, Ciência e nante e aglutinadora. Sugere-se a leitu- Inovação, Pedro Patacho, que, em repre- ra do ensaio de autoria do seu neto, João sentação do Presidente da Câmara Mu- Maria de Freitas Branco, intitulado, Luís nicipal de Oeiras, Isaltino Morais, que se de Freitas Branco – O Inte- lectual em Paço de Arcos. Contributo para a biografia adiada e valor actual da pes- soa-referência (Mazu Press). A evocação teve início às 14h30, com o descerramento de lápide de homenagem, na casa onde viveu, entre 1942 e 1955, na Avenida Voluntários da República, n.º 14, em Paço de Arcos, pelo vereador que Familiares de Luís de Freitas Branco 4 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
encontrava em isolamento, infetado com Tendo usado da palavra, também: Covid-19, de que felizmente já recuperou, - Pedro Patacho, em representação do e pelo neto do homenageado, o Professor Presidente da Autarquia. João Maria de Freitas Branco, acompa- - João Nunes, como Presidente da Direção nhado de muitos familiares, amigos e de do Agrupamento de Escolas de Paço de demais paçodearquenses que não quise- Arcos. ram deixar de participar na homenagem a tão ilustre personalidade da cultura. Quarteto mpmp Seguiu-se uma caminhada até à escola com o seu nome, a Escola Secundária Houve espaço também para alguns mo- Luís de Freitas Branco, na Rua Carlos mentos musicais pelo Quarteto de Arcos Vieira Ramos, não muito longe, onde no mpmp (Movimento Patrimonial pela Música seu moderno auditório decorreu o pro- Portuguesa) que interpretaram os 1.º e 4.º gramado ciclo de palestras, coordenadas andamentos do ‘Quarteto de cordas’ de e moderadas por Bernardo Mariano e Luís de Freitas Branco, seguido de leitura com os intervenientes que abordaram os de poemas musicados por Luís de Freitas respetivos temas: Branco, por alunos da Escola Secundária. - João Maria de Freitas Branco, referin- O evento foi muito apreciado e considerado do momentos da vida do seu avô, a sua li- muito digno numa homenagem merecida, gação a Paço de Arcos e a esta sua casa. e há muito esperada por quem teve o privi- - Nuno Fernandes - ‘A edição das partitu- légio de conhecer esta grande figura de in- ras de Luís de Freitas Branco e a sua cir- telectual que honrou Paço de Arcos com a culação’. sua escolha para aqui viver a última fase da - Alexandre Delgado, via áudio - ‘Algu- sua extraordinária vida e onde fez, e deixou, mas palavras sobre a vida e obra de Luís muitos amigos que o veneram. de Freitas Branco’. - João Mendes Rosa, Divisão de Cultura e Texto: Rui Veiga Artes da CMO – Aspetos da obra do home- Fotografia: Paulo Mascarenhas e Rui Veiga nageado. Bernardo Mariano, Pedro Manuel Patacho Nuno Fernandes e João Mendes Rosa Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 5
MEMÓRIA O Efeito Lápide Colocar uma lápide na fachada de valor, em função uma casa, assinalando que esse do volume de local foi habitado por alguém que destinatários: se distinguiu por obra feita com notável toda e qualquer engenho e arte será acto relevante? Terá pessoa, cidadão verdadeira utilidade? Em meu juízo, sim; ou cidadã, que aí é importante e útil muito para além do detenha o olhar, vulgarmente suposto, mesmo por quem lendo a inscrição. acolhe, com agrado e sem reservas, essas iniciativas. Mas o “sim” convoca outras in- Mentes que não estejam reféns de pessi- terrogativas: qual é então o teor e a dimen- mismo derrotista, admitirão a possibilida- são dessa proficuidade? Em que consiste a de de a inscrição lapidar despertar curio- importância da lápide? Qual o seu funda- sidade motivadora de posterior busca de mento? mais informação sobre a vida e obra da figura homenageada e/ou sobre o aconte- A resposta a estas questões passa, a cimento evocado. No caso vertente, talvez meu ver, pela compreensão daquilo a que conduza alguns à audição do Vathek ou dos chamo efeito lápide. Paraísos Artificiais, numa sala de concertos, num CD ou no mais moderno e acessível Há, no justificar do “sim”, uma evidência YouTube. Adiciona-se novo proveito. imediata: o carácter informativo. Por defi- nição, uma lápide contém uma inscrição Mas a importância de uma lápide (do portadora de informação sobre um facto género aqui considerado) situa-se a nível ou relativa a uma pessoa cuja memória bem mais profundo: o da estruturação se celebra. Havendo amplo consenso no dos elementos necessários ao ser humano; considerar a informação (o estar informa- aquilo a que o psicólogo americano do) coisa preferível à ausência de informa- Abraham Maslow chamou “hierarquia de ção (o estar desinformado), fica demons- necessidades”. trada uma primeira utilidade: a de dar conhecimento. E tratando-se de objecto No momento em que foi descerrada a público, esse dar logo adquire acrescido lápide junto da porta da casa onde Luís de Freitas Branco viveu, em Paço de Arcos, ini- 6 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
ciou-se, para o receptor da informação, um tente), mostrando, por exemplo, como em processo de alteração qualitativa daquele certas espécies de macacos o “prestígio” local. A porta, o 1º direito, o edifício, a rua alcançado por um dos membros do grupo diferenciam-se do resto do meio urbano. influi no comportamento, individual e co- Opera-se uma ruptura, uma descontinui- lectivo, dos outros. Um babuíno estabelece dade. A porta vulgar devém porta singular, formas de interacção distintas em função adquire dimensão diferenciadora. Passa a do distanciamento hierárquico em relação ser algo que sobressaí, distinguindo-se na a outros membros do grupo, sendo que a paisagem urbana, porque “foi ali que…”, ritualização de desigualdades através da “ali esteve…”, “ali aconteceu…”, “ali foi cristalização de hierarquias concorre para criada a obra…”. O local deixa de ser “um a inauguração e consolidação de uma nor- lugar como qualquer outro”. Misteriosa malidade estável no existir do corpo social metamorfose imaterial tendente a uma sa- – instauração de um status quo. Isto satisfaz cralização do espaço. as necessidades de segurança e confiança antes referidas. Nenhum sujeito cultivado e sensí- vel transpõe com indiferença a porta do Também nós somos primatas, e quando prédio e do andar em que Sigmund Freud o ser humano, como o macaco, identifica/ viveu em Viena, nem a do apartamento de reconhece na paisagem societal a presen- Victor Hugo na Place des Voges, nem a do, ça (física ou imaterial) de um sujeito com também parisiense, laboratório onde o prestígio, esse outro confere-lhe segu- casal Curie trabalhou, nem a das casas de rança, confiança, tranquilidade, bem-es- Goethe e Schiller em Weimar. O enigmá- tar. Satisfaz necessidades essenciais. Isso tico impacto psicológico manifesta-se até mesmo se pode atestar empiricamente em moradas imaginárias, “habitadas” por junto dos paçodearquences em quem a indivíduos criados pela pura ficção literá- figura do músico homenageado, autor do ria, como é exemplo a londrina residência Vathek, influiu. do detective Sherlock Holmes, no nº221B da Baker Street. A lápide é um factor desse processo com- plexo. Aí reside a mais profunda razão da A lápide satisfaz necessidades inscritas sua importância. no topo da pirâmide de Maslow – o pa- tamar da self-actualization, assim como Não estará a sociedade contemporânea também o da esteem (estima) – self-esteem, carenciada da presença activa daquilo a confidence, etc. Mas não se esgota aí. A as- que gosto de chamar pessoa-referência, sociação do espaço a uma prestigiada pessoa com prestígio? O efeito lápide, na figura histórica confere segurança; ou seja, sua imaterialidade, parece poder contra- acode a outra necessidade essencial do ser riar de algum modo esse sintoma de deca- humano, mais basilar, correspondendo ao dência. 2º patamar da classificação de Maslow. João Maria de Freitas Branco A primatologia desenvolveu a noção de Filósofo, autor do livro Luís de Freitas “prestígio” (com a sua nebulosidade la- Branco – O intelectual em Paço de Arcos, editado pela MAZU PRESS, em 2019 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 7
RECONHECIMENTO Obrigado José Lança-Coelho e Maria Inês Bastos Ano novo, vida nova, expressão O nosso muito obrigado pelo que deste, muito usada quando o novo ano e pelo que vais continuar a dar, à Asso- ciação, às suas publicações, assim como a se nos apresenta com novidades outras iniciativas culturais que pretende- mos levar a cabo no futuro. na nossa vida pessoal, ou social. A vida nova do jornal A Voz de Paço de Ficamos a aguardar os teus artigos, sempre de grande interesse cultural, que Arcos passa pela mudança do seu res- muito enriquecem as nossas publicações. ponsável Editorial. O nosso igual muito obrigado a Maria O “fundador” da Associação, José Lan- Inês Bastos, pelo muito que contribuiu ça-Coelho, que assumiu essa função na para o êxito das nossas publicações, en- 3ª. série do jornal então iniciada, solicitou quanto subdiretora e colunista, e a quem a descontinuidade da mesma alegando igualmente desejamos os melhores suces- razões da sua vida pessoal. Novo projeto sos na sua vida pessoal e cultural. de vida, nova residência longe de nós, e novos e exigentes desafios que tem de en- Um grande abraço a ambos. frentar. José Marreiro Sendo razões de tão grande efeito, e im- portância na sua vida, nada nos resta se não aceitar, compreender, agradecer e de- sejar os maiores sucessos na sua vida pes- soal e na sua intensa atividade cultural. Assim, anunciamos o substituto, o nosso novo Editor, Rui Veiga, a quem, desde já, agradecemos ter aceitado o nosso convite para tão difícil, e exigente responsabilida- de. Nunca é fácil substituir alguém que durante tantos anos desempenhou com todo o mérito, zelo e dedicação, como foi o caso do nosso José Lança-Coelho. 8 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
CAMINHOS Da sede do CDPA ao Quartel Militar Os Caminhos de hoje, que são mais rante alguns anos, a curtos que o habitual, por força da Tarantela. limitação do espaço disponível, de- rivado a outros assuntos, igualmente, im- Foi nesta casa que nasceu José portantes para a vida da Vila, e cuja oportu- Manuel Pinhan- ços, o ator José nidade tem de ser respeitada. de Castro, haven- do mesmo na sua Assim, vamos começar na porta principal parede uma lápide alusiva, que espe- da Sede do CDPA, ramos seja mantida após as obras em curso. Este ilustre, e muito Rua do Forte de querido, paçodearquense, que sempre ficou ligado à sua terra, está igualmente homena- S. Pedro, e come- geado na toponímia local e com um monu- mento alusivo à sua brilhante carreira tea- çamos da melhor tral. maneira à janela, Taipais de obra de reconstrução com alguns dos Previsto há já três décadas, continua por construir um auditório com o seu nome, seus presépios, es- cujo início estava marcado para o 3.º trimes- tre de 2021, mas que, por razões orçamen- távamos no Natal, tais, como julgamos saber, ainda não acon- teceu. Aguardamos, ansiosamente, pelo dia encontramos a em que finalmente apareça a notícia da ad- judicação da obra e, claro, o seu início. Nini Pinhanços nossa amiga NINI, sim só NINI, que Paço de Arcos, terra de grandes atores e atrizes, não tem um espaço onde possam é como todos os amigos, que são muitos, a trabalhar, e desenvolver a sua arte em prol da comunidade, e que assim possam surgir tratam. Figura muito conhecida, e estima- novos valores, para trazer mais prestígio a da, pelos paçodearquenses, sempre muito atenta à vida social e cultural, especialmen- te teatro de que é apaixonada, da Vila do seu coração, ou não pertencesse a uma das famílias mais conhecidas, e marcantes, de Paço de Arcos, a família Pinhanços. Ao nosso lado esquerdo temos os Fornos da Cal, memória histórica do tempo em que a cal era o maior protetor das paredes dos edifícios, e aplicada na sua construção. Viramos à direita, Rua dos Fornos, e à es- querda temos a saboaria da Sofia, simpáti- ca loja de produtos sabonarios artesanais, e à direita deparamo-nos com os taipais da obra de reconstrução do edifício icónico do Centro Histórico, a Casa Bonvalot no seu início, mas que depois foi a famosa Casa dos Cacetes, propriedade da, já referida, família Pinhanços, tendo depois sido, também, du- Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 9
CAMINHOS Paço de Arcos, como acontece há muitas Seguindo o nosso caminho para lá do décadas, com os casos de José de Castro, mercado temos uma bonita loja de costura, Eunice Muñoz, Ruy de Carvalho, Isabel a Alfinete de Dama, e no lado direito avista- Carvalho (Bebé), Manuela Maria, o já fale- mos o bonito, e bem conservado edifício do cido Armando Cortêz, Fernando Mendes, NIB, centenária Instituição, que tem dedi- João de Carvalho, e tantos outros, mais ou cado a sua ação à importantíssima tarefa de menos, jovens que brilham em projetos instruir e educar várias gerações de crianças noutras freguesias, e noutros concelhos, em condições adequadas às possibilidades como no caso do TEC, em Cascais, grande financeiras dos seus associados. escola de atores . Quartel Militar Viramos à esquerda, na Rua Costa Pinto, onde o Instituto de beleza Sara Paiva e a la- Voltando ao lado esquerdo temos a porta vandaria self-service Lavadeira do Paço nos principal do Quartel Militar, e o muro que o esperam, continuamos, e já em frente ao ladeia, no seu enorme perímetro. Este quar- Mercado Municipal, temos a padaria Spica, tel teve um papel muito importante na vida a loja de Gestão de Condomínios, a loja a da Vila, pois, sendo Escola para a prepara- que todos gostaríamos de não ter de recor- ção de técnicos de mecânica e electrónica, rer mas que, mais tarde ou mais cedo, tere- para os três ramos das Forças Armadas, mos de o fazer, a funerária e a seguir a loja da aqui prestavam serviço, muitos militares de imobiliária ERA. Esta loja muito tem con- todas as patentes, para além dos milhares de tribuído para a dinamização e recuperação formandos que o frequentavam. Hoje é um do mercado imobiliário, nomeadamente Departamento de Logística Militar, o que no Centro Histórico da Vila, para onde tem carece de um número reduzido de efetivos. atraído investidores que são fundamentais para a revitalização desta importante zona Muitos destes militares por cá ficaram histórica e turística. Recentemente foi con- para o resto das suas vidas, e muitos ainda cá siderada a loja n.º 1, da organização a que estão com as suas famílias que aqui criaram pertence, ERA, nos concelhos de Oeiras e e desenvolveram e que continuarão através de Cascais, os nossos parabéns. dos seus descendentes aqui nascidos. Loja Era Imobiliária Ficamos por aqui, desejamos um Bom Ano aos nossos leitores e que nos seja per- mitido regressar às nossas atividades habi- tuais, nas condições adequadas de seguran- ça e tranquilidade. Texto: José Marreiro Fotografia: Santos Zoio 10 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
HISTÓRIA Voo à vela e o céu nos Agudinhos Na última década do século XIX, aproveitamento do declive proporciona- várias figuras-chave refinaram e do pela topografia, conseguiram resulta- definiram o avião moderno. Na dos homologados como máximos nacio- falta de um motor adequado, o trabalho nais. em aeronaves concentrava-se na estabi- lidade e no controle do voo livre. O texto Artur Morais, Raúl Marques Caldeira, que aborda as origens, conhecidas, do Alberto Cortês, Gabriel Cisneiros de Fa- desejo de voar por parte do ser humano ria e Ezequiel Garcia, os primeiros, alu- e relata algumas das mais importantes nos do Instituto Industrial e o último, jor- experiências e evoluções tecnológicas nalista, despertam do marasmo em que nesta área, está publicado na íntegra, ainda se encontrava Portugal nesta área com o mesmo título, na edição online e os seus dois planadores do tipo Chanu- deste jornal, em avozdepacodearcos.org te, batizadas pelos próprios de Avante I e como complemento a este. Avante II, foram as primeiras aeronaves mais pesadas do que o ar construídas por S´Alto dos Agudinhos amadores no nosso país, a conseguir voar, feitas em madeira e tela, cada uma com o Muitos foram os pioneiros que se dedi- peso total de 43,5 kg. caram com mais ou menos sucesso ao voo controlado, com ou sem propulsão Artur Morais, Raúl Marques Caldeira, Alberto a motor e fica para a história que o ano Cortês, Gabriel Cisneiros de Faria e Ezequiel Garcia de 1909 foi o culminar de muitas dessas no Alto dos Agudinhos, Registo dos próprios, 1909 experiencias e investigações e pode mes- mo ser considerado o ano em que a era Efetuaram com várias experiências da aviação teve início, também em Por- de voo pairado com os seus aeródinos, tugal, nomeadamente em Oeiras, pois os resultados homologados, como má- baseados em publicações recentes da ximos nacionais, resultados credíveis, época, um grupo de alunos do Institu- embora modestos obtidos naqueles dias to Industrial de Lisboa, entusiastas da por Raúl Caldeira, que se deslocou no aeronáutica, em finais de 1909 construí- espaço numa extensão de 30m, e por ram e testaram, com sucesso, dois plana- Cisneiros de Faria, que se elevou a 5m dores baseados nos projetos de Octave Chanute e Otto Lilienthal, que seriam uma evolução melhorada, dos mesmos, sobretudo em termos de estabilidade. Entre os dias 14 e 22 de novembro, do topo do cabeço do Alto dos Agudinhos, no concelho de Oeiras, e dos seus 98m de altitude, realizaram sucessivos voos pairados, ou saltos para o ar, que com o Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 11
HISTÓRIA de altura. A propósito e pouco tempo Estádio de Honra do Jamor e Alto dos Agudinhos, depois, Raúl Caldeira publicou um in- Estúdio Horácio Novais, 1944 teressante estudo denominado: «Apon- tamentos, impressões e relatório de um deveriam ter honras de heróis, pois sabiam amador de Aviação». do perigo a que se estavam a expor em prol de um futuro mais evoluído e tecnológico Sendo o Alto dos Agudinhos à épo- para a humanidade e entraram na histó- ca uma protuberância geologia dentro ria do voo e em particular do voo à vela e da área protegia pelas construções do da aeronáutica portuguesa. No entanto, a Campo Entrincheirado de Lisboa, será sua paixão e a sua sede de conhecimento possivel concluir que os voos seriam efe- eram maiores do que o medo, e poucos ou tuados em direção à área ocupada atual- nenhuns são relatos existem sobre novos mente pelo estádio de honra do Jamor, voos e outras aventuras com planadores num declive com aproximadamente 50m em Portugal nas décadas seguintes. Ape- de diferença de cota, podemos hoje dizer sar disso, em Oeiras não existe uma única que não começaram nada mal os plana- referência a este feito histórico e o Alto dos dores em Portugal; como Lilienthal, são Agudinhos, em Caxias, agora limpo das os primeiros a fabricar e a voar em arte- construções clandestinas que o ocuparam factos com asas no seu país, e deixaram desde a década de 1960 até este século, é disso relato escrito, fotografado e ampla- agora considerado área verde do concelho, mente divulgado, juntando convenien- sendo frequentado por aves de diversas temente ciência, desporto e até algum espécies, incluindo falcões, pois tornou-se marketing. uma “ilha verde” isolada dentro de emara- nhados nós das novas vias de alcatrão. Descendo o Alto dos Agudinhos, Museu do Ar, 1909 Todas estas experiências com planado- Fontes: Boletim da A.P.S.I.A. res serviram de base para naves mais pe- Revista do Ar sadas que o ar e, no início do século 20, os vooavela.net avanços na tecnologia de motores e na ae- museudoar.pt rodinâmica possibilitaram o voo controla- Subsídios para a história da aeronáutica do e motorizado pela primeira vez. portuguesa / Edgar Cardoso Pioneiros como estes jovens portugueses Rui Veiga 12 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
HOMENAGEM Homenagem a José de Castro D ecorreu no dia 20 de novem- Da esq. para a dir., a Vereadora da C. Municipal de bro, sábado, mais uma home- Oeiras, Teresa Bacelar, o representante da UFOPAC nagem ao ator José de Castro. Engº. João Marques Freire e José Marreiro. Pelas 16 horas houve romagem ao mo- numento com deposição de coroa de após o que será a entidade, que o vier flores por parte da Câmara Municipal a dirigir, a dar continuidade, ou não, de Oeiras e uma hora depois aconte- ao compromisso assumido aquando ceu o Espetáculo de teatro, no Salão da inauguração do monumento em Nobre da Sede do CDPA, com o mo- sua honra. nólogo “A 20 de novembro”, pelo ator de Paço de Arcos, Francisco Monteiro José Marreiro Lopes, e com encenação de Rodrigo Aleixo. (TEC). O grande ator paçodearquense JOSÉ DE CASTRO, merece que o recorde- mos para que não se apague a memó- ria. A Associação Cultural A Voz de Paço de Arcos, continuará a promover a homenagem anual a José de Castro, até que seja inaugurado o auditório há muito esperado, com o seu nome, Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 13
HOMENAGEM (A José de Castro) Da tua voz – que o Ruído-do-Tempo Não abafa E que nem o Silêncio da tua ausência Me apaga da Memória – vêm sinais, Amálgamas de gestos, Por assim dizer, Que são salpicos de Vida Nas galerias ávidas de Arte Que resguardo no sótão da Imaginação. Onde quer que estejas, José de Castro, Estás aqui. É uma Prova de Vida que te entrego, Neste poema cujo manuscrito Não sobreviverá ao salto do seu conteúdo Para um suporte eletrónico. São os sinais dos tempos que correm Nos discos rígidos em que guardamos emoções, Como quem esconde a Liberdade Depois de amarrotar e deitar no lixo o Pensamento. São sinais de que não foste só tu A não fazer tudo o que podias ter feito. (E que mais querias fazer, se ainda assim o traçado Indelével do teu caminho se impõe entre nós?) Lisboa, 25 de abril de 2021 António Manuel dos Santos 14 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
ASSOCIATIVÍSMO Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos Entre os dias 9 e 26 de Setembro, reali- Voz de Paço de zaram-se no Forte de São Bruno duas Arcos e ao Gru- exposições de Artes Plásticas. A pri- po Helicayen- meira, com obras de Luís Lima, teve como ne, que contri- título “O reflexo do caminho das emoções”; buíram para a e cada tela era o reflexo de um momento, de divulgação e uma emoção ou de sentimento. A segunda, sucesso desta teve com o tema os “Pássaros” e contou com iniciativa. obras da autoria de Mário Delgado, que se caracterizam por um hiper-realismo, em Como forma que o rigor das minuciosas pinceladas que de dinamizar o Mercadinho de Natal, rece- apelam à ilusão de uma objetiva fotográfica. bemos no Forte de São Bruno a Exposição de Fotografia itineran- De 20 de Novembro e 4 de Dezembro, or- te OEIRAS 21. Esta ex- ganizou-se, pelo terceiro ano consecutivo, o posição teve origem no Mercadinho de Natal também no Forte de concurso de fotografia São Bruno – Caxias, que teve como objetivo promovido pela Asso- divulgar os artistas e artesãos do concelho ciação Cultural “A Voz de Oeiras. Agradecemos a colaboração dos de Paço de Arcos” (jor- que estiveram presentes com os seus traba- nal A Voz de Paço de lhos: Ana Oliveira, Catarina Amaro, Carla Arcos), com o apoio Guerra, Fernanda Tomás, Joana Rebelo, técnico da Helicayen- Isabel Rodrigues, Maria Freitas, e Steve Es- ne e do NFO – Núcleo pírito Santo. Gostaríamos também de ex- de Fotografia de Oei- pressar o nosso reconhecimento à Câmara ras), e irá estar patente Municipal de Oeiras, União de Juntas de até ao dia 31 de Dezem- Caxias-Paço de Arcos e Oeiras, Associação bro em vários locais do concelho. No término demais um ano, agradecemos á Cooperação de Bom- beiros do Dafundo, e especialmente ao Senhor Comandante Carlos Jaime, e aos nossos voluntários, Cla- ra e Fernando Piçarra, Catulina Soares, José Marreiro e Paulo Mascarenhas, pelo apoio às nossas iniciativas ao longo do ano. Isabel Barata Associação dos amigos dos Castelos Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 15
TERTÚLIAS Os Bardinos AAssembleia Geral ao cumprimento do ponto 2 que se desti- do Grupo Tertúli- nava a distribuir uma prenda às esposas co “Os Bardinos” dos Bardinos, adequada à Tradição das reuniu em Sessão Ordiná- Festas Natalícias que se avizinham. ria no dia 25 Novembro pe- las 13 horas, nas fantásticas Não havendo outros pontos à discus- instalações da “Casa Gale- são, encerrou-se a Assembleia com os ga” dos Amigos Marina e melhores Votos de Festas Felizes para Fernando, em última Con- Todos os presentes e também para os au- vocatória do ano de 2021. sentes e respectivos Familiares. Como é Tradição, no mês anterior ao Natal, a Bardinagem fez-se acompanhar pelas respectivas consortes. Este ano não fu- giu à regra, apesar de se terem registado algumas ausências perfeitamente justifi- cadas. Texto: Carlos André Fotografia: Vitor Martinez Da Ordem de Trabalhos constavam umas entradas diversas, muito elogiadas, a “Paella de Marisco”, acompanhada de sangria de champanhe e/ou vinhos de cor diversas, conforme a disposição e hábito dos convivas e para remate uma sobremesa requintada como só a Marina nos sabe presentear. Com os cafés e digestivos procedeu-se 16 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
CONTO O Homem a quem mataram o filho (uma espécie de conto de Natal) Andava eu, como toda a gente, com do há muito tempo, os olhos tapados, os ouvidos tapa- fizeram-me pensar. dos e a boca tapada. Assim como Imaginei o desgraça- aqueles três chimpazés que se vendem nas do com fome e ima- feiras de artesanato. Tinha acontecido a ginei-me a mim com todos nós, sem que soubéssemos porquê. fome, e os meus filhos com fome... Eu não Parecia uma espécie de punição colectiva, sabia o que era fome. A mim, bastava-me por algo que fizemos, ou deixámos de fazer. tirar o braço que me tapava a boca e, com o Mas não nos importávamos, já estávamos sexto braço livre, meter todas as belas igua- habituados. O único inconveniente era que rias... Um pouco mais á frente encontrei agora nos tinham crescido mais braços e, uma velhinha que me pediu - sem pedir - obviamente, mais mãos: dois para tapar os apenas estendendo uma mão - curiosamen- ouvidos, dois para tapar os olhos, e apenas te a senhora só tinha duas mãos, e sem tapa um para tapar a boca. Ainda ficámos com ouvidos, tapa olhos e tapa bocas - apressei- outro livre! Também os insectos têm três -me a tirar com a mão do sexto braço, uns pares da patas e lá se governam... Um dia, miseráveis trocos que encontrei no fundo julgo que foi ontem, uma das mãos de um do bolso. E dei-lhos. Ela agradeceu-me sem dos braços que tapavam os ouvidos, repen- falar, apenas me tocando com a mão numa tinamente deixou de tapar o ouvido esquer- das minhas livre. Senti um arrepio, pela do- do e, nesse momento, ainda a ouvir pouco, çura daquela mão que me fez lembrar a da escutei, por entre todos os sons, uma lamú- minha mãe a acariciar-me, quando eu era ria de um senhor negro. Sei que era um menino, na altura em que todos tínhamos senhor e negro porque um dos braços que só duas mãos, ouvíamos e víamos. A tal ve- me tapavam os olhos também, repentina- lhinha guardou os miseráveis trocos. Eu se- mente, deixou de o fazer. Essa lamúria era gui o meu caminho e, ainda não tinha dado um pedido de ajuda, pois tinha fome e lá três passos, voltei atrás, e dei-lhe mais algu- em casa havia também crianças com fome. mas moedas. E agora fui eu que lhe acari- Eu sabia lá o que era fome! Sempre comi e ciei aquela mão tão doce; olhei-a nos olhos bem! Com o braço livre, o sexto, destapei e afaguei-lhe os cabelos brancos. Ficámos a com algum esforço o braço que me tapava olhar-nos ainda um bocado. Vieram-me lá- a boca e, balbuciei a custo: - Não tenho di- grimas aos olhos. A ela também! Depois da nheiro comigo! sua voz clara saíram estas palavras: - Obri- Mas tinha, e segui o meu caminho. Sem gado! Nossa Senhora vai-te acompanhar! olhar para trás. Mas logo me arrependi e quando quis dar alguma coisa ao desgraça- Sei lá quem é Nossa Senhora! Pensei eu. do, ele tinha desaparecido. Mas, esta nova Nisto, uma outra voz, igualmente cristalina, situação, a de poder ouvir, poder ver e po- vinda não sei de onde, diz-me: - Nossa Se- der falar, coisas a que não estava habitua- nhora sou Eu! Vem comigo, vou-te mostrar o meu filho! Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 17
CONTO E, sem me tocar fisicamente, fez-me lho de Deus, chama-se Jesus. E este senhor acompanhá-la. Parou junto de uma espécie é o meu marido José. O destino deste meu de cabana, onde se encontrava um senhor filho é ser morto! Vai durar apenas 33 anos. alto e barbudo, encostado a um cajado, es- tava lá também um burro e uma vitelinha, AÍ eu perguntei se o menino tinha algu- e, ao centro da cabana, num berço de palha, ma doença. Algo que lhe pusesse a vida a estava deitado um menino recém,-nascido, prazo. Sem qualquer resposta, de repente, abanava a cabecinha, palrava, ria e fazia bo- a cabana os animais e as pessoas desapare- linhas de cuspo. A tal voz que me conduziu ceram. Fiquei atónito, sem saber o que me até lá - e me disseram ser Nossa Senhora - tinha acontecido. Segui o meu caminho. materializou-se como por magia, na forma Mas nunca esqueci este episódio. Passaram de uma linda e jovem senhora. Que me dis- exactamente 33 anos. Continuo com um se: dos olhos destapado, um ouvido destapa- do e a boca destapada. Fiquei com braços a - O menino é o meu filho! mais. E, porque era Dezembro, voltei, a pas- Achei estranho que tivessem de viver na- sar no mesmo sítio onde tinha visto a velhi- quela reles cabana, um senhor, uma bela nha, a Nossa Senhora e o menino Jesus. Por senhora e um tão lindo menino. E nenhum lá passavam muitas pessoas cheias de sacos deles tinha os olhos tapados, nem os ouvi- com prendas porque, dizia-se, era Natal. E dos, nem sequer a boca. E, andei eu, como as ruas, e as casas e as lojas, estavam esta- toda a gente, com os olhos tapados, os ouvi- vam enfeitadas com muitas luzes coloridas. dos tapados e a boca tapada e agora já vejo, As pessoas mesmo sem ver, sem ouvir e ouço e falo, pese embora mantenha todos sem falar, emanavam um ar de felicidade. os seis apêndices, como os insectos... Mas agora, passando na mesma esquina Que coisa estranha! Quem serão estes onde eu vira a cabana, estava um senhor priveligiados, diferentes de nós? E porque que chorava convulsivamente e, depois de é que eu de repente consigo ouvir, ver e fa- alguns minutos de choro, gritou a plenos lar? E, já que falo, vou saber quem são eles. pulmões: E perguntei: - Quem é a senhora, quem é esse senhor - Mataram o Meu filho! Ele veio à Terra que está aí consigo e porque é que o menino para ensinar que devia haver paz! E que to- está nu? dos os homens eram iguais! E o que mais - Eu sou a Mãe de Deus. O menino é o Fi- me faz doer, é que, depois de O terem mor- to, O usam agora para vender perfumes, 18 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
chocolates, televisores e todas as tralhas tralhas que trocam uns com os outros, por que trocam uns com os outros, por ser Na- ser Natal; e acrescentava que os homens tal! Eles comemoram levemente o nasci- continuavam como se nada tivesse aconte- mento Dele, sem nunca terem feito o que cido. Que pensavam apenas em si mesmos Ele lhes ensinou. Eu choro a sua morte, e nas pessoas do seu pequeno círculo, co- porque foi em vão! mo se não existísse mais ninguém. Depois, olhou para mim, surpreendido por não es- Fiquei ali mais um bocado em silêncio e tar cego, surdo e mudo e disse-me: depois perguntei ao senhor que chorava: - Você é o tal! Ainda há pouco me per- - Então meu caro senhor, o seu filho co- guntou quem era eu, Eu sou Deus! E, teve meteu a imprudência de dizer que somos sorte, pois foi Nossa Senhora que o achou, todos iguais. E que devia haver paz. Cla- cheio de dúvidas, mas ainda com alguma ro que só poderia ter sido morto! Era um ternura, e me pediu para lhe libertar parte agitador, subversivo e perigoso. Veja só, se dos seus sentidos. Enviei-lhe uma velhinha houvesse paz o que iria acontecer a quem - era a sua mãe - espero que, pelo menos, trabalha na indústria de armamentos! Ve- o senhor celebre o Natal em honra do Meu ja o desemprego! E acha que os magnatas filho e não use o seu nome só para vender dessa indústria iam ficar sem os milhões- chocolates e outras bugigangas! Fale-lhes zitos do costume. O senhor devia era ter que ainda podem vir a ser totalmente des- impedido o rapaz de falar dessas coisas! E tapados, basta que se lembrem do que o dizer que todos somos iguais, que descara- meu filho lhes ensinou. E, desapareceu! mento! O seu filho devia ter pouco juízo! Quem é o senhor? Foi então que percebi porque é que an- dávamos todos com os ouvidos tapados, E o senhor, sem me responder, continua- os olhos tapados e a boca tapada. Foi por va: - Mataram o meu filho! Eu enviei-O pa- termos morto o filho de Deus. E agora ven- ra lhes ensinar o caminho que leva á paz! dermos coisas em seu nome. E que todos os homens eram iguais! Ele ensinou-lhes como, eles não fizeram caso! É por isso, que continua a não haver paz. E mataram-no! E, se somos todos iguais é porque temos os ouvidos tapados, os olhos tapados e a boca E voltou a repetir que o que mais o fazia tapada! Mas se quisermos, ainda estamos sofrer, era que, depois de O terem morto, a tempo... usavam agora o Seu nome para vender perfumes, chocolates, televisores e todas as Carlos A. S. Aguiar Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 19
ARTE Blues #2, exposição de Ana Camilo Blues #2 junta alguns dos meus Linkedin: diários de viagens e a cianotipia www.linkedin.com/in/ana-camilo (processo de impressão fotográ- Instagram: anacamilo.studio fica) e esteve patente ao público entre www.facebook.com/AnaCamilo.studio 12 de Novembro e 30 de Dezembro na Biblioteca de São Domingos de Rana. Ana Camilo Nos trabalhos apresentados os de- talhes a óleo e cianotipia quebram a crueza do desenho a tinta-da-china, chamando a atenção para pequenos mundos que nos remetem para signifi- cados ocultos e pormenorizados. O azul simboliza o infinito, o fim e o começo, a dualidade humana em sen- tido abstracto, mas que se materializa através do contraste do preto no bran- co e dos elementos mais detalhados e coloridos. Na exposição, composta por cerca de três dezenas de obras, estiveram também acessíveis algumas das publicações em que participei, bem como pe- ças da minha marca “Blue me away”. Esta colecção harmoni- za a cianotipia e tecidos como a seda ou linho. Visite o site: http://www.anacamilo.com 20 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
HISTÓRIA SOCIAL DO CONCELHO DE OEIRAS Elisa Baptista de Souza Pedrozo (1876-1958) – a notável pianista de Carnaxide, no ano de 1910 «A senhora D. Elisa Baptista proficiência de grande mestre que é, de Souza Pedrozo é um dos mais transmitiu à insigne pianista alguns fulgurantes talentos que ornam o dos mais difíceis segredos da técnica nosso meio musical, tornando-se do piano. imensamente querida de todos pela fina bondade da sua alma e pela É necessário reconhecer porém, carinhosa gentileza do seu trato. a bem da verdade crítica que nos cumpre guardar religiosamente, que Está ainda bem impressa no espírito é a Rey Collaço, o exímio professor de quantos tiveram a felicidade de a e vigoroso pianista que esta ilustre ouvir, a ovação espontânea, veemente senhora deve em grande parte a e calorosa que o público do Sarau dos gloriosa carreira artística que a torna Jornalistas, realizado há pouco em S. uma das mais prestigiosas figuras do Carlos, tributou aos seus prodigiosos nosso meio. dotes de artista consumada. Foi sob a direção sábia, carinhosa Possuidora duma sensibilidade ex- e amiga de Rey Collaço que o tremamente vibrátil, duma inteligên- cia superior, sabe, como raros eleitos, sentir, compreender e interpretar du- ma forma encantadora, os grandes mestres do mundo clássico, pondo na maravilhosa execução das suas obras imortais, toda a sua vibrante e como- vida alma de artista e de mulher. A senhora D. Elisa Baptista de Souza Pedrozo começou muito cedo os seus estudos, revelando-se logo uma artista de complexas e vibrantes faculdades. Recebeu algumas lições de Vianna da Motta, que com a sua extraordinária Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 21
HISTÓRIA SOCIAL DO CONCELHO DE OEIRAS espírito naturalmente inteligente, concurso não seja solicitado e obtido delicado e sensitivo da talentosa imediatamente, com toda a generosi- pianista desabrochou e fecundou dade duma alma que vibra na com- gradualmente até atingir as preensão das grandes dores humanas. culminâncias luminosas do ideal da arte. Em notáveis concertos promovidos pelo Orfeão do Porto, pelos estudan- E para que todo o ambiente do es- tes de Coimbra, nos esplendidos sa- tudo em que o seu talento artístico raus realizados na Covilhã e em tan- se desenvolveu, lhe sorrisse e a bafe- tas outras terras, a figura da senhora jasse, aí está depois, Pedro Blanch, o D. Elisa Baptista de Souza Pedrozo ilustre violinista e notável chefe de destaca-se como figura lendária, que orquestra, que tanto em Madrid como consegue converter o oiro faiscante em Lisboa tem regido vários concer- do seu talento nas rosas da sua imen- tos, sempre com grande êxito, a intro- sa bondade. duzi-la na vasta e complicada ciência da harmonia e composição. É imperioso e justo se nos afigura acrescentar que Rey Collaço, nes- Mas se todos estes grandes e pre- ta senda em que a Arte e a Caridade ciosos elementos contribuem para a têm um dos seus documentos de vi- valorizar no mundo intelectual, não da mais gloriosos, tem sido sempre o lograram contudo o poder de a des- mais fiel e dedicado amigo da sua dis- lumbrarem e desvanecerem, rouban- cípula querida.» do-lhe a encantadora modéstia, a gra- ciosa feminilidade que aureola a sua (In O Jornal da Mulher, n.º 1, 5 Junho dulcíssima figura. O seu talento, os 1910, p.1) sucessos colhidos no seu estudo fo- ram postos absolutamente ao serviço Alexandra de Carvalho Antunes da caridade. (Pesquisa, transcrição Não tem havido festas que mar- e atualização da grafia) quem uma nota memorável no campo do desvelo e do amor pelos que so- frem e choram, que o seu gentilíssimo 22 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
LIVROS Apresentação do Livro “Béu Memórias do fogo” Realizou-se no dia 9 de De- zembro, na Associação Ca- boverdeana de Lisboa (ACV) a apresentação pública do livro Béu Memórias do Fogo, de Raúl Barbosa. A apresentação do livro esteve a cargo do publicitário/escritor Pedro Canais, e Hans-Peter Heilmair (Professor Lo- nha), com a presença do editor Jaime Cancella de Abreu. Sala cheia, nomeadamente, com amigos da juventude das vilas onde residiu, Caxias e Paço de Arcos. José Marreiro Biografia de Raúl Barbosa Nasce em Cabo Verde em 1955. Com- Nos finais de 1997, é pletou a 3ª classe na Escola Central convidado para de- Luís de Camões em S. Filipe, Ilha sempenhar o cargo do Fogo, Cabo Verde. de Diretor de Pro- Aos 9 anos vai para Lisboa onde estudou dução nos Estúdios até completar o liceu nos colégios Infante da Matinha. Desta Sangres e Valsassina. vez era o mundo Em 1976 frequentou o curso de Fotografia das dobragens dos filmes de animação, no A.RC.O. que tinha começado a crescer em Portugal, Entre 1976 e 1977, como fotógrafo, teve a logo a seguir ao sucesso da dobragem do própria loja e laboratório, a Foto Aries, em Rei Leão em Língua Portuguesa. Paço D´Arcos – sociedade com o irmão Em 2001, é convidado para abrir um estú- Roberto Barbosa, José Maria Rosa e José dio, a On Air, da qual é sócio atualmente, Octávio. com a missão de captar clientes e inte- Trabalhou em Cinema nas Produções grar o estúdio no mundo das dobragens, Francisco de Castro, Coopercine e Imagem objetivo esse que foi conseguido, sendo a Real , entre 1978 e 1996, desempenhando On Air um estúdio que lidera nesta área, funções de assistente de imagem, operador trabalhando com as maiores produtoras de câmara, chefe de produção e diretor de americanas - Dreamworks, Paramount, produção. Durante esse tempo, trabalhou Universal, Fox e a Sony, conquistando, jun- em publicidade, documentários, séries de tamente com a sua equipa, a maior empre- televisão e filmes. sa de streaming do mundo, a Netflix. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 23
PSICOLOGIA Assertividade S e quer introduzir a assertividade questões. no seu dia-a-dia, esforce-se para A comunicação inclui também a lin- ser um solucionador de pro- guagem corporal. A sua postura, con- blemas. Lembre-se, que nem sempre tato visual ou certo tipo de movimen- consegue facilmente o que quer, mas tos, transmitem uma mensagem muito iniciar este compromisso, é uma ação especifica e significativa aos seus ou- decisiva para que tal aconteça. Deverá vintes. começar por atender às necessidades Uma postura assertiva é uma postura de todos os envolvidos, sem se tornar descontraída, confortável e confiante. agressivo ou passivo. O contato visual é uma parte relevante da postura assertiva. Aqui estão algumas formas eficazes de Assertividade significa que afirma os aplicar assertividade no dia-a-dia. Es- seus princípios respeitosamente den- tas são algumas das características que tro dos seus limites. uma pessoa assertiva deve apresentar: • Seja empática(o); • Não interromper os outros; • Caminhe com confiança; • Confirmar se entendeu a questão • Mostre respeito pelos outros com que foi colocada; uma atitude de autoconfiança. • Entender o ponto de vista da ou- tra pessoa; • Permitir diferenças de pensa- mento; • Ouvir respeitosamente o outro; • Não se sentir insultado se alguém não concordar consigo. Ser uma pessoa assertiva, é ser aten- cioso com os outros. Mostrar a vali- dação pela compreensão das suas 24 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
Se está propenso a dizer sim continua- • Demonstre honestidade; mente, significa que precisa melhorar • Aja com naturalidade. o seu nível de assertividade. Utilize algumas frases que poderão ser úteis Fique calma(o) quando a situação é quando as pessoas lhe pedem para fa- difícil. Expresse-se de uma forma con- zer algo. fiante e honesta sem perder o contro- lo, isso transmite confiança aos outros. Exemplo: • Preciso verificar a minha disponi- • Expresse abertamente os seus bilidade nesse dia; sentimentos e pensamentos; • Eu já tenho planos para esse dia; • Compartilhe as suas ideias; • Não vou conseguir estar presente • Fale sobre as suas necessidades e nesse dia. necessidades dos outros. Se for assertivo, as pessoas vão respei- tá-lo pela sua franqueza, especialmen- te se for honesto, na maneira como ex- põe as suas necessidades. • Seja sincera(o); Texto elaborado por: • Utilize uma voz firme e respeito- Mafalda Ascensão sa; • Estabeleça contato visual; Psicóloga de formação • Mostre humildade; [email protected] Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 25
A VELHICE E A SUA DIGNIDADE Comunicar de forma assertiva * Na primeira pessoa Comunicar é a forma mais impor- passagem que não é nada fácil, tenho tante dos entendimentos e de- procurado fazer uma comunicação as- sentendimentos, entre o emissor sertiva baseada no equilíbrio, pelo que e o recetor. Quanto aos entendimen- me tem “obrigado” a ser leal e transpa- tos, podemos concluir que “estamos rente com os meus desejos e necessi- conversados”. Interessa agora dirigir o dades. Procuro levar sempre em conta, nosso foco para perceber a razão dos com a maior respeitabilidade possível, desentendimentos, e a tentativa de os os interesses do meu interlocutor. De- atenuar. monstrar uma comunicação segura, positiva e confiante. Tenho sempre pre- A palavra “ASSERTIVIDADE” é, sem sente, para provar o meu ponto de vista dúvida, o suporte de uma comunicação perante o meu recetor, que tenho natu- eficiente, serena, partilhada, pelo que, ralmente de ser firme, justo e empático. penso, devemos “investir” em sermos um emissor assertivo e esforçarmos É verdade, embora ao princípio me por ser um recetor tolerante e pacien- custasse por força da mudança de mé- te. Bem sei que teoricamente tudo isso todos da minha rotina. No entanto, pas- parece fácil, mas na prática, sabemo-lo, sei a trabalhar a minha melhor versão não é bem assim. algures “escondida”, e,“forçosamente”, fui obrigado a sair da minha zona de Faço parte, provavelmente, derivado conforto. Temos, como contrapartida à minha emotividade e entusiasmo, do diga-se desse novo “estilo”, o aumento grupo daqueles que não praticam os da minha autoestima e, para manter comportamentos atrás citados. este patamar, necessito de constante atualização, que servirá, entre outros No entanto, para meu bem e com a benefícios, para aproveitar o melhor intenção de absorver mais e melhor que há da minha/nossa plasticidade ce- qualidade de vida, comecei paulatina- rebral. mente a integrá-las, procurando pô-los em prática, evitando assim, muitos con- Embora ainda seja cedo para tirar flitos quotidianos. conclusões, posso enunciar que, pelo Reconheço, e tenho como prova, que nem sempre é fácil identificar um comportamento realmente assertivo. Constato, nos meus relacionamentos, que, por vezes, as pessoas confundem assertividade com agressividade, já que a linha que divide estes dois comporta- mentos quase se sobrepõem. Por experiência própria, diga-se de 26 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
menos até agora, melhorei em quatro soas. Não devemos, igualmente, estar à M’s, que criei como “chave”, e procuro se- espera que reajam sempre de forma po- gui-los, a saber: sitiva à nossa eventual assertividade. -Melhor forma de ser líder dos meus ob- • Não tenha medo de enfrentar situa- jetivos ções difíceis. Encaremos as situações -Melhor negociador de soluções benéfi- literalmente de frente, olhos nos olhos, cas para todos de forma positiva, e controlando sempre -Melhor forma com solidez nas soluções as emoções. Não queiramos resolvê-los, dos problemas passando, como e diz vulgarmente, por -Menos ansioso, stressado e angustiado entre os “pingos de chuva”. Sejamos con- cretos e decisivos. Como se conclui, a prática de mudança comportamental e ser assertivo não resulta • Seja aberto às críticas e elogios com um de um dia para outro, e, como se diz vul- gracioso “fair-play”. garmente, não é “pera doce”. Será neces- sário, muito treino e motivação num pro- • Saber dizer “Não”, de modo a não criar cesso que vai crescendo, só se obtendo os expetativas falsas ao seu interlocutor, frutos a médio ou longo prazo. prevenindo que saibam o que é que po- dem contar. Dito isto, e perdoem-me o meu altruís- mo, gostaria, em jeito de resumo, deixar • Prevenindo que saiba do que pode con- algumas dicas para a comunicação asserti- tar. va, das quais algumas já estou a seguir com algum afinco, enquanto outras nem tanto, •Na comunicação presencial, deve-se le- contudo tudo farei para ter êxito. Ei-las: var em conta a expressão corporal, por- que uma boa comunicação exige uma • Aumente a sua autoestima, valorizan- justa linguagem corporal. Tente manter do-a sem complexos, de modo a transmi- um tom de voz com volume adequado e tir ao seu interlocutor uma forte crença. muito importante, como atrás citei, olhar sempre nos olhos da outra pessoa, man- • Traçar metas. Não espere que os outros tendo uma expressão relaxada. o façam por si. Nas sociedades competi- tivas em que vivemos, cada um procura Estimados leitores, muitos de vós pode- o seu rumo sem se preocupar com o pró- rão dizer que vem aí mais um blá-blá-blá. ximo. Tome a iniciativa, de modo a supe- Certo… estão no vosso direito. Mas finalizo rar as injustiças que se proliferam por aí, dizendo que para mim tem sido muito útil criando defesas para suportar esses em- a aplicabilidade destes simples e básicos bates. conselhos. Melhorei bastante, e espero melhorar ainda mais. • Ter que se mentalizar, por muito que façamos e queiramos, não podemos con- *Luís Álvares trolar o comportamento das outras pes- Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 27
EVENTOS Helicayenne - by paulmask.com AHelicayenne Magazine faz este Paula Batista ano, um ano de existência, e assim, Ana Mendes quisemos lançar um livro especial Carla Pimenta sobre o concelho de Oeiras. Um livro com Jacqueline Teles a parceria da Associação, A Voz de Paço de Nicoleta Peceli Arcos, apoiada pela Associação Paço de Ar- Lucy Galhardo tes e Associação Portuguesa os Amigos dos Alice Coelho Castelos. Neste livro que já está concluído, Tania de Melo tirou-se fotos deste magnífico Concelho de Ana Marta Oeiras. O Carismático Nelson Pires deu- Cristina Pinheiro -nos o prazer de ser o Júri e escolher as 22 Ruth Collaço fotos que melhor se adaptaram ao conceito Anabela Bastos do livro. Posteriormente essas fotos foram Maria Rodrigues entregues a 22 poetisas, que com as suas Cláudia Monteiro meditações, pensamentos e criatividade Paulo Mascarenhas absorveram as fotos e transformaram em Bom ano e sejam felizes! poemas emotivos. Mais informações em: Site: paulmask.com | Facebook: Heli O resultado foi o livro “F’oemas” – Fotos e cayenne Poemas. Ano 2022, 22 fotos, 22 poetisas. Paulo Mascarenhas A ZeroP - Organização de conservação do ambiente irá construir placas ecológicas para expormos as fotos/poemas. Um apoio crucial para expormos o nosso trabalho na sala de exposição da sede da Associação Paço de Artes (Paço de Arcos), no Forte de São Bruno (Caxias), e noutros locais a de- signar. Um agradecimento muito especial a todos que nos apoiaram e nos inspiraram. São eles: Luis Barroca Monteiro Nelson Pires Lina Roque Sara Carvalho Sandra Ramos Mafalda Ascensão Ana Acto Cidália Pinto Adriana Mayrinck Rosa Pereira 28 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
CRÓNICA Vida normal nho tem que comer! Esses desgraçados Oi rapaz. Por onde tens andado? do abastecimento - Sempre por aqui. Depois de ter da população nunca apanhado Covid em Maio, nada souberam o que foi mais me apoquentou. o confinamento. - Não sabia. Mas estás bom, isso é que inte- - Tens razão. Isto não é para todos. Tenho um ressa agora. primo que passou o verão todo na piscina - Sim. E até me tenho divertido. Ainda ontem a trabalhar. Era assim: mergulho, trabalho, fui ao teatro ver uma peça giríssima. O úni- mergulho, trabalho. O computador é que co problema foi que, como não tinha levado não aguentou tanta água. Teve de comprar telemóvel não pude mostrar o certificado outro. de vacinação. Também não tinha comigo o Ontem fui com a família àquele restauran- comprovativo em papel. E eles não perdoam. te de que me falavas tanto: o Mira- Rio. A - E então? comida era excelente. Após mostrarmos o - Hesitei entre voltar a casa para trazer o te- certificado da vacinação fomos obrigados a lemóvel ou fazer o teste. Resolvi fazer o teste. passar um cartão para a medição de tempe- - E foi fácil? ratura. Parecia que estávamos no aeroporto. - Facílimo. Havia uma farmácia de serviço ali Graças a Deus não precisámos de fazer teste próximo e fiz o teste na maior. Mas obriga- nenhum. Valeu a pena. E as sobremesas! ram-me a pagar, isso é que foi chato. Quase Ainda olharam para a minha filha de 11 que ia ficando sem dinheiro para pagar o tea- anos, a Angélica com o ar desconfiado de tro. Também, por causa disso, cheguei tarde e quem já devia ter o certificado. Sabes, ela é já não me queriam deixar entrar. Mas a peça alta, parece uma mulherzinha. Mostrei o car- foi ótima. Mas conta-me coisas tuas, já não tão de cidadão dela e tudo acabou bem. nos víamos há tanto tempo! - Mas olha que não é por muito tempo. A - Pois pá, eu agora arranjei um novo emprego. DGS está a estudar o assunto e para a sema- Estou contentíssimo. Era mesmo o género de na devem decidir pelo sim à vacina às crian- trabalho de que eu estava à espera. ças. A tua Angélica não escapa. E que idade - Ora ainda bem. Gostas dos teus colegas, do tem a outra? 5 anos? Essa vai logo a seguir. patrão? E onde é que fica, em Lisboa? - Temos que fazer pela vida. Temos que obe- - Não sei. Desde que entrei há 2 meses que decer a tudo o que nos mandam fazer. Eles estou a trabalhar on-line. Não conheço nin- é que sabem, não somos nós. Acho até que guém, portanto. Nem o Boss. Não, não fica estou a fazer uma vida normal se não fosse o em Lisboa, acho que fica perto de Alcobaça, raio da máscara. Porque o resto, mais vacina, a terra da boa fruta. Qualquer dia tenho que menos vacina, mais teste, menos teste, já não lá ir. me está a afetar nada. E não é todos os dias - Boa, assim é que é! Empregos desses não se que se fazem esses procedimentos. arranjam do pé para a mão. Pois eu quando Mas a máscara!... Sufoca-me. estive de baixa três meses por causa do Covid, despediram-me e agora sou caixa de um hi- Antonieta Barata permercado. Tenho uma pena de não puder estar em teletrabalho como tu! Mas o povi- Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 29
SAÚDE Considerações sobre a vida, a morte e o Covid-19 Passou-se um Natal, vamos a ca- área clínica e far- minho do segundo e a situação macêutica tudo viral continua uma incógnita, se veio alterar e agravada com a nova variante, ómicron. as condições de encarar a dor e a doen- Como encarar a esperança de vida para ça são atualmente totalmente diferen- os idosos, especialmente quando ultra- tes. No entanto, no íntimo das pessoas passada a barreira dos 80, 90 anos? continua a existir esse medo atávico da dor e da morte. Somos fruto de uma geração privile- giada em termos de esperança de vida. A pandemia viral trouxe consigo uma Um século atrás, seria apenas até aos nova forma de encarar a situação dos 65, o máximo até aos 70 anos! Mas se re- mais vulneráveis, os idosos. Verificou- cuarmos mais no tempo ela era bastan- -se uma mudança no enquadramento te menor, não só pelos perigos físicos familiar. Os idosos deixaram de ter o devidos ao meio ambiente e à agres- carinho e apoio familiar, antes são co- sividade da sociedade, mas também locados em casas de repouso, lares ou pela falta de condições higiénicas. Essa enviados para os hospitais. Esta nova realidade transferia-se para a forma de situação veio agravar a questão psicoló- encarar a vida e a morte. Certamente gica e social dessa faixa etária, tendo-se o estado de espírito da altura permitia verificado em certas ocasiões, cenas de encarar com mais frieza essa inevitabi- autêntica tortura devido ao isolamento. lidade! A própria capacidade de resistir à dor tinha contornos completamen- Como sempre, existem diferenças nas te diferentes. Não havia condições de classes sociais, mas neste caso a situa- atuar nessa área e tudo dependia da ção da crise devido à pandemia unifor- forma como o indivíduo conseguia re- mizou as situações e tanto os mais bem sistir, com mais sangrias ou mais ora- instalados como os menos favorecidos ções…felizmente com o progresso na acabam por ficar enclausurados, longe dos familiares, durante longos perío- 30 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
dos de tempo. Esta situação levou a que dor”, que são normalmente acompa- a falta de atenção e carinho que procu- nhadas de rigidez muscular. Vestir e rava suavizar este condicionamento do despir torna-se um verdadeiro tormen- envelhecimento e a sua dependência to, não esquecendo ainda os preceitos foi exacerbado pelas medidas de con- de higiene que complementam esta finamento e acabou por tornar o fim verdadeira tortura diária. Ficamos can- de vida um autêntico drama. Existem sados logo de manhã quando fazemos várias formas de encarar a vida quan- um esforço adicional para sair à rua e do se chega ao fim da linha. Ou se de- dar um pequeno passeio trôpego. Ou- seja acabar rapidamente com ela, por- tra particularidade extremamente can- que se reconhece haver incapacidade, sativa é aquela que tem a ver com a lo- com maior dependência no dia a dia, calização das coisas domésticas. Não ou pelo contrário, procura-se refúgio estamos a falar de procurar os óculos no medo, com exigências e intolerân- que estão na ponta do nariz, mas todo cia para quem pretende dar uma ajuda. o encadeamento relativo à distração na São masoquistas na sua infelicidade localização de objetos ou execução de chegando mesmo a desejar deixar a prossupostos movimentos dos quais vida! Esta pandemia, veio evidenciar perdemos o rumo ou a razão da sua essas situações, obrigando a um olhar realização. O dia a dia torna-se uma mais atento para este fenómeno trans- autêntica canseira. Se adicionarmos a versal a toda a população e em todos os estes fatores problemas de ordem fisio- locais. lógica das quais são mais relevantes as de origem cardíaca, respiratória, etc., já Mas retomando um olhar sobre a não resta realmente muito mais a fazer. forma de encarar a velhice pela gene- Os nossos amigos ou próximos acon- ralidade da população idosa, especial- selham-nos, “é preciso viver um dia de mente aquela que ainda tem capacida- cada vez”, mas o dia passa depressa e de de discernimento, como é que ela vê como será realmente o dia de amanhã? e sente este estado de fim de vida? A A verdade é que por muitos avanços primeira queixa refere-se às dores, elas tecnológicos que haja não conseguimos distribuem-se um pouco por todo cor- evitar a morte, realmente, só estamos a po. Situação tão vulgar que criou uma adiá-la. Mas será que os benefícios des- expressão própria, a idade do “com Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 31
SAÚDE se prolongamento de vida apresenta pessoais, obtidas nas publicações cien- razões para continuar nessa luta de so- tíficas internacionais. brevivência com estes constrangimen- tos quando o fim é inevitável? Dificilmente as informações difundi- das pela comunicação social vão con- O nosso apego à vida é que nos torna tra aquilo que politicamente parece humanos. Somos animais, mas somos ser mais correto, só que por vezes, o as- acima de tudo racionais. Somos mes- sunto é empolado e repetido de forma mo capazes de acreditar numa reen- massacrante. carnação, numa continuidade num mundo desconhecido para além da Perante esta situação difundida por nossa existência terrena. Temos uma todos esses meios, a população sente- alma para além do corpo. Logo com -se desconsertada e o medo generaliza- esse espírito definido por Pascal como do instala-se. Já não há encontros entre o élan vital, recusamos a morte, espe- as famílias ou entre amigos. Procura-se cialmente quando o seu espetro está evitar tanto quanto possível as aglo- espalhado, o que cria uma atmosfera merações, saídas para espetáculos ou mais aterradora. divertimentos coletivos. O medo está cada vez mais instalado na cabeça das Uma nova situação se veio instalar pessoas pois, elas não querem morrer! no nosso modo de vida, pois os tempos A solução será de continuar a acatar mudaram. Se ainda há relativamente essas diretrizes ou procedimentos de pouco tempo, quando a ciência não es- conduta impostos no contexto de saú- tava tão avançada, o nosso fim aconte- de pública. No entanto para alguns, cia em casa, normalmente rodeado dos essa forma de aceitar essas determi- nossos entes próximos. Hoje o pano- nações coletivas tem um conteúdo de rama é outro e somos encaminhados conduta semelhante ao de um rebanho para os serviços de saúde. Teremos um de carneiros que segue cegamente o da tratamento médico, mas vamos ficar frente, e este, nem sabe bem o destino solitários na cama do hospital e o nos- para onde caminha. so fim, embora mais alongado no tem- po, será longe do aconchego familiar. Este medo de morrer é que nos mata! Dentro deste quadro outra realidade se faz constar, pois quem toma conta Eduardo Barata de nós é o médico e nele está o poder de determinar esse prolongamento de vida. As medidas sanitárias veiculadas pelos média são por vezes um pouco contraditórias ou pelo menos de difícil entendimento pela população e são em geral, adicionadas de comentários de especialistas que manifestam opiniões 32 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
ATITUDE Procrastinar Adiar resolve ? depois fosse melhor, porque não entende- Nunca resolve mos que: O tempo não pode ser parado; a vida é Depois, o café arrefece... uma tarefa a ser feita, que trazemos para Depois, a prioridade muda... casa. Depois, o encanto perde-se... Quando olhamos, já são 18 horas. Depois, o cedo transforma-se em tarde... Quando olhamos, já é sexta-feira. Depois, a melancolia passa... Quando olhamos, já terminou o mês. Depois, as coisas mudam... Quando olhamos, já terminou um ano. Depois, os filhos crescem... Quando olhamos, já passaram 50 ou 60 Depois, a gente envelhece... anos. Depois, as promessas são esquecidas... Quando olhamos, damos-nos conta de ter Depois, o dia fica noite... perdido um amigo. Depois, a vida acaba... Não pare, por falta de tempo, de fazer Não deixe nada para depois! alguma coisa que lhe dê prazer; Na espera do “depois” podem perder-se os não pare de ter alguém ao seu lado ou de melhores momentos, as melhores expe- ter prazer na solidão. riências, os melhores amigos, os melhores Porque os seus filhos subitamente não amores ... serão mais seus, deverá fazer Lembre-se que depois pode ser tarde. alguma coisa com o tempo que sobrar... O dia é hoje, não estamos mais em idade (muitos meses, alguns anos). de procrastinar. Tente eliminar o “depois” da sua lingua- Talvez tenha tempo de ler e partilhar esta gem... mensagem ou... deixar para ”depois”. Depois ligo... É melhor fazer isso agora. Depois faço... Depois falo... Eduardo Barata Depois mudo... Penso nisso depois... Deixamos tudo para depois, como se Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 33
POESIA As “Nossas Netas”… (do Bar da Praia) -estão sempre Bem Despertas (em atalaia !...) Quando chegamos UMA diz: -“Olá AVÓ ! Como está?” (e até o café sabe -a Rosa-de-Chá!...) e logo a OUTRA diz: -“Como está AVÔ ?!” (e até o café sabe a Pão-de-Ló!...) SantosZoio.1.Paço de Arcos21.11.2021 [email protected] 34 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
POESIA AMOR O amor não tem corpo e um cansaço que nos faz desejar não tem sexo simplesmente acontece adormecer outra vez! quando viras a esquina de uma ilusão! Quando eu contava os dias e os anos O amor tem olhos verdes para a liberdade transparentes como a água sem nome e superava toda a infelicidade quando já tarde adormeces sem saber que me coube na infância… muito bem E agora digo estou aqui sou livre onde estás onde acordarás quem ao teu sou feliz tenho-te a ti lado irá murmurar: tu és Agora o Amor! levanta-te querida está um dia bonito para viver! Graça Patrão - Nov.2021 O amor simplesmente nos diz sorrindo que o sol nos ilumina e os astros nos vestem e despem enquanto o nosso corpo envelhece no virar das estações. O amor está aqui é uma música que ouço um horizonte que não toco uma criança doente que finalmente adormece nos meus braços! Erros meus futuro e passado tudo se confunde quando perturbada estou por existir e um dia mais um dia mais um beijo teu nosso roubado à inexistência a uma juventude com cabe- los brancos Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 35
POESIA As Cores Cartão de Boas Festas Desde tempos remotos Flocos espalhados pelo vento. Mestres de pintura famosos O chão, é já um branco manto Tentam apanhar com amor de neve pura. As fazes da galáxia No céu cinzento E as suas mudanças de cor cintilam estrelas de candura. Tão velozes, tão velozes! Não houve até agora, No embaciado das vidraças Infelizmente… inventam-se dos anjos, hinos Nenhum pintor que captasse e brancas asas, Com sucesso as cores do desenhadas por uns deditos finos . Firmamento Os ocasos brilhantes por vezes A apoiá-los adivinha-se Fugidios e diluídos nos céus a ternura dos avós. Apaixonadamente Só pode ter um pintor – é Deus. Repleto de brinquedos MARIA AGUIAR (Poema Inédito) surge o trenó Paço de Arcos, 4 de Maio de 2015 puxado pelas renas e pelo Pai de todos os Natais. Saudade Vem vestido de vermelho Saudades da minha infância Olhando as portas Antes de uma espécie de morte De cujas frestas Cinzas do que outrora foi claridade Saem raios de luz. Saudades do desconhecimento Infante sabedoria do momento Lá longe uma estrela brilha mais, Todas as cores tinham luz Uma Virgem fará vigília. Saudade das ilusões Eis que nasceu Jesus! Jardins repletos de sombras Lagos translúcidos lunares Em letras douradas Saudade Saudades da minha fantasia De uma imagem iluminada lê-se Boas Festas Repartida por dezenas de sonhos Para toda a família Como um mergulho de silêncio Sobre a mais pura das noites Virgínia Branco Uma árvore derramando frutos como límpida chuva Água batismal das memórias Saudades Saudade Do tempo em que a semente foi probabilidade Saudade João Pedro Vieira Pinto 36 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
E depois do verso…o post-scriptum Acabou-se o verso, o que fazer depois Retomar a leitura interdita do passado Ou remover nas sombras outro brado Que trago como vibrante, como profundo? Que mais existe ainda entre a lua, os sóis Que venha preencher a escrita dos meus versos E traga de rompante o bem fecundo Febril, feroz, e agreste, deste mundo... Depois do verso rescrito, (sobra-lhe o rascunho) Fica-me o encanto de o saborear Rasgando o manto de um azul profundo Como se mergulhasse no azul do mar; Secas folhas de outono, rescrevendo a vida Escrevo sem descanso pelo meu punho Numa esperança vã de encontrar guarida E depois, emocionalmente, chamo-lhe de querida. Num post-scriptum breve, com frases de amor Concluo a obra de escrita a que me dediquei Nunca soube se de véspera, ou se sonhei Sentindo teu corpo leve e morno…e o seu odor; Flagelo de inspirações, meio taciturnas Estrelas no firmamento, poesias nocturnas Que preenchem o tempo do meu querer imenso No Mundo vertiginoso e agreste a que pretenso. Post-scriptum imergente das letras desenhadas No corpo de um caderno, a obra feita Tendo por paixão composição perfeita Onde viajo no tempo que então me resta; Obras dos meus ídolos, poesias mais amadas Que como frutos suculentos caem no meu colo Num solfejo cantante desfeito em harmonia Canto o Universo, bem dizendo o dia. 3 de Novembro de 2021 MÁRIO MATTA E SILVA Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 37
POESIA Cubismus philosophicus Vou queimar o calendário Os anciãos helenos com divina aptidão As horas, os dias e os meses passaram não arranjaram resposta para o alterco já São sempre de esperança, ou mesmo de antigo. agonia E já são muitos que não têm brilho no postigo Recordações de tempos idos, em nostalgia e como nunca se abre, traduz-se em escuridão. E entre realidades, os sonhos viajaram. Foi Éris a primeira a lançar a maçã dourada, Com enlevo, o amor é um fadário e altercaram, discordaram e reclamaram Que teima preencher de encantos esta vida tanto O percurso faz-se de alma destemida que a maçã formou um pomar rico e diferente Que faz, com raiva, queimar o calendário. enquanto os mortais se defendem com gritos e arma Vem aí um novo ano. O que trará empunhada. O fim de uma voraz pandemia Com a força da ciência e da razão? Seja dito e mesmo ideia, quer gesto ou natural, “Jamais chegaremos a um consenso!”. Tudo Ou a sombra que no raiar do sol virá depende Mostrando que entre nós a agonia do observador que analisa a informação e Possa manter, dia e noite, o bater do compreende coração. que a sua ideia pode não ser excecional. 26 de Dezembro de 2021 Sempre onde houver humanos, haverá anta- (nas vésperas da despedida de mais um gonismo, ano) mas isso faz o mundo ter cores, ser diferente! Podemos todos tirar uma conclusão somente, MÁRIO MATTA E SILVA que sofremos todos do mesmo mal: de dalto- nismo. Tiago Vieira Gonçalves 30/12/2021 38 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
CONTO O Universo devolve Aquela menina lançava sorrisos que ninguém saiba. Sem dúvida, rece- como quem lança sementes. bermos a recompensa. Em todo o lado elas caíam. Oferecia flores; era a mão que ampa- Sara Carvalho rava a idosa; os braços que carregavam os sacos da vizinha doente; gestos de Pura Alegria ternura numa criança que magoada chorava; dedos que limpavam lágri- Veste-te a rigor mas alheias; a palavra doce pronun- Mas vai descalço ciada com amor; o orgulho dos seus A música já toca no ar pais; o encanto dos seus professores. O chão pede que saltes Não discriminava, não criticava. Sen- Ri muito e alto tia por todos empatia e compreensão. Canta a plenos pulmões Era por tantos amada e agraciada. Deixa-te levar Brindar e inebriar Essa menina cresceu. Tudo na sua vida fluía de forma leve. Nas incons- Não sabes o que te espera tâncias e reveses da vida, ela tenta- A surpresa é constante va sempre ver o lado positivo. Tirava lições e desenvolvia-se. Continuava Mas todos querem estar ali bondosa como antes, mas sabia reco- Onde tudo é importante lher-se quando sentia que a energia não era pura. A beleza de um coração Cheio e puro de bondade Quando sabia que se podia magoar. Olhos que brilham no escuro Um dia ficou só, precisava de ajuda. Sorriso e corpo em liberdade A vida mostrou-lhe o seu lado mais ne- gro. Foi madrasta e virou-lhe o mundo do avesso. Nessa altura, ela percebeu que as se- mentes, que sempre plantara, tinham crescido tornando-se árvores frondo- sas que a protegiam e alimentavam. O sol que ela espalhara vinha agora visi- tá-la. A lua e as estrelas guardavam-na na noite escura. O canto dos pássaros embalava-lhe os pensamentos e um manto de luz e paz vindos do céu pro- tegia-lhe o corpo. Tudo quanto fizermos, façamo-lo de toda a alma, como para Deus… sem Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 39
DESABAFOS DE UMA SUB-30 É preciso ter paciência “É preciso ter paciência”, dizem eles. ram-nos que Decerto que já todos nós ouvimos este quando acha- comentário. Arrisco-me a dizer que, mos que já es- pelo menos mais do que 76 vezes na vida. tamos a salvo No mínimo, vá. E porquê? Porque viver de uma pande- implica isso mesmo, esta virtude de… ter mia mundial lá paciência. Ter paciência com os vizinhos vem mais uma ruidosos, ter paciência com os choros de nova vaga, uma bebés nos restaurantes, ter paciência com nova variante, aquela roupa que já vai com dois dias de uma nova investigação, novas medidas, estendal e que nunca mais seca. Já disse novas caras a dizer novas recomendações. muitas vezes a palavra “paciência” neste Que chatice! Mais do que sermos testados texto, não foi? Pois é, mas vamos continuar. à Covid-19 estamos a ser testados a nível É preciso ter paciência com o nosso com- de quê, adivinhem lá? Testados ao nível panheiro ou companheira porque às vezes da nossa paciência. Quem vai realmen- só nos apetece atirá-los da janela, de um 1º te sair vitorioso destes anos atípicos são andar, claro. Também não vamos ser ex- aqueles que continuaram a ser pacientes tremistas, que doidos varridos já andam aí e que ainda acrescentaram a esta virtude muitos. É preciso ter paciência para aque- uns pozinhos mágicos de resiliência. Esses las embalagens de abertura supostamen- são os fortes. Aqueles que apesar de tudo te fácil, mas que nos fazem perder 7 preciosos minutos continuaram a estar lá para de vida. “Abra aqui” e puf! Es- os outros mesmo quando se palha-se o esparguete todo no sentiam à beira de um limite. chão. De cansaço. De falta de es- perança. De saudades de um É preciso paciência para abraço. Os fortes são os que tudo e mais um par de botas. não desistem, que mesmo Mas vá, estamos habituados nos dias menos bons apren- porque todos fomos sendo dem a descansar e a… ter pa- educados para esta história de ciência. Por isto e por muito ter paciência. Só que nestes úl- mais, os meus votos para este timos dois anos já gastámos quase todas as novo ano são que não deixemos esgotar as nossas reservas desta grande virtude. Diria nossas reservas de paciência. Força, guer- que a maioria já só tem um ou dois traci- reiros. Que como diz o outro “não há bem nhos de reservas, no máximo. Se formos que sempre dure, nem mal que nunca se para os saldos do Colombo ficamos logo acabe.” Um Feliz 2022! sem nada por isso o melhor é nem arris- car situações limite. Estes últimos tempos Filipa Brízida foram um tanto desgastantes. Mostra- 40 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
HISTÓRIA As crianças e a família Pombal Até ao século XIX as crianças suía bastantes filhos (ao todo tiveram 11 eram muito pouco chamadas à vida pública das famílias. Rara- filhos, um dos quais foi o marechal Sal- mente apareciam nos retratos familiares e só quando cresciam lhes davam algu- danha), os passeios eram dados por gru- ma importância. pos consoante as idades, o que é verda- Ora, Sebastião José de Carvalho e Melo, o primeiro conde de Oeiras e mar- deiramente significativo da relevância quês de Pombal, como bem sabemos, vi- veu alguns anos em Londres e Viena, daí dada às crianças pelo casal: “Quanto a ser apelidado de “estrangeirado”, impul- nós a vida que se faz é a que tu nos ensinaste sionando costumes que, para a época no quando nos anos passados nos tinhas aqui nosso país, eram bastante avançados. de assento (…) Pouco depois [do almoço] va- mos ao passeio e este é dividido em três ran- A família Pombal no seu tempo era chos porque os tamanhos dos filhos assim diferente da restante aristocracia. Con- o pedem; na volta como as noites são com- vivia com estrangeiros, e no que diz res- peito às crianças é interessante verificar alguns aspectos inovadores, aqui prati- cados pelo casal constituído por Maria Amália Eva de Carvalho Daun, a filha mais nova dos primeiros marqueses de Pombal, e João de Saldanha, morgado de Oliveira e de Barcarena e futuro con- de de Rio Maior. A 12 de setembro de 1789, João de Sal- danha escreve ao seu cunhado, Henri- que José – o 2.º marquês de Pombal -, descrevendo o quotidiano familiar na Quinta da Granja, em Sintra, proprie- dade deste último. Como este casal pos- Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 41
HISTÓRIA pridas também se levam a ler” (Biblioteca É também Bombelles que, no seu diário, Nacional, Colecção Pombalina, PBA 707, refere ser a família Pombal das raras fa- fl. 30 e 30V). mílias da aristocracia portuguesa a con- viver com estrangeiros, frequentando as Passear as crianças, em vez de as dei- festas que estes davam, exemplificando xar ao cuidado das amas, já era bastante com uma festa dada pelo embaixador inovador, agora diversificar os passeios inglês, Walpole, em que a maioria dos de acordo com as idades, isso é, do nos- aristocratas portugueses recusou os so ponto de vista, completamente ex- convites, contando-se a família Pombal traordinário. entre as raras excepções (idem, p. 305). O embaixador francês Marc-Marie, Assim, podemos concluir que a família marquês de Bombelles, durante a sua Pombal foi verdadeiramente inovadora estada em Portugal, foi visita regular da e moderna no que diz respeito à forma família Pombal e, a dada altura, desloca- como as suas crianças eram tratadas. -se a casa dos morgados de Oliveira, para cumprimentar D. Maria Amália, ainda Ana Teixeira Gaspar convalescente de parto recente. É rece- bido pela filha mais velha da parturien- CURIOSIDADE te, de 11 ou 12 anos, que faz de anfitriã, substituindo a mãe que, de acordo com a prática de então, não podia ainda sair do quarto. A jovem vai cantar uma ária italiana, sendo acompanhada por um negro de Angola, que dança para diver- timento dos presentes (Marquis de Bom- belles, Journal d’un Ambassadeur de France au Portugal (1786-1788), p. 34), o que, ten- do em conta os costumes da época, em que as meninas só podiam sair de casa ou estar na presença do sexo masculino, se acompanhadas pelas mães, é verda- deiramente extraordinário e revelador de uma atitude de grande modernidade. 42 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
HOMENAGEM Eunice Muñoz Conheço a Eunice dos écrans da tele- Eunice Muñoz, aguarela de Serrão de Faria visão desde os meus dez anos, altura em que comecei a vê-la nas peças de Um dia, fomos interrompidos na nossa teatro que a RTP transmitia, uma vez por cavaqueira pela sua mulher, que era, nem semana. mais nem menos, que a Eunice Muñoz. A Admirava a sua presença em palco, mas o partir desse dia, comecei a conviver com a que mais me impressionava era a forte to- grande diva do teatro, e o que mais me im- nalidade da sua voz, que saberia reconhe- pressionou, foi o facto da sua voz ser igual, cer em qualquer lugar. tanto no relacionamento diário, como nas peças teatrais, pois eu julgava que aquela Talvez uma dezena de anos mais tarde, voz sublime era um «adereço» teatral. comecei a vê-la em Paço de Arcos, local para onde veio viver, e embora a encontrasse em Após muitos anos de convívio, quis a vida diversos sítios desta localidade, nunca tro- que, no lançamento de «A Voz de Paço de cámos qualquer olhar. Arcos» dedicada a si, fosse a mim que me calhasse entregar um ramo de flores a Euni- Quis a vida que, em 1972, depois de entrar ce e posar com ela para a fotografia. Perante para o curso de Filosofia da Faculdade de a minha atrapalhação e as palavras de em- Letras de Lisboa, começasse a ir estudar para baraço que disse na altura, que só a mim, o café do maior jardim desta localidade, que me poderia calhar aquela tarefa, a Eunice era conhecido entre os moradores da vila ria-se imenso. pela designação de «Café da Avenida». Escrevo este texto, no momento em que Por essa altura, este estabelecimento era se celebram 80 anos de carreira da grande frequentado por um colega meu da faculda- actriz, e depois de ter folheado o quinzenal de, de nome Marcial, que, por sua vez, tinha «JL», a ela todo dedicado. na sua mesa, muitas vezes, um amigo que dava pelo nome de António Barahona (da Parabéns Eunice! Fonseca), com que assinava os seus livros de poesia. José Aguiar Lança-Coelho (escreve de acordo com a antiga ortografia) De momento estudávamos os filósofos pré-socráticos, e fiquei impressionado com a cultura geral daquele poeta. De qualquer assunto, ele dissertava de um modo tão pro- fundo. Quando já tínhamos mais confiança, perguntei-lhe como adquirira tantos conhe- cimentos, - uma vez que sabia que ele não frequentara qualquer curso de Letras -, ao que ele me respondeu que, por volta do seu 4º ano do Liceu, faltava às aulas e ia para a Biblioteca Nacional, ler e estudar o que lhe interessava. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 43
BREVES À SOLTA Cinema - Curta de Graça Patrão R ealizou-se no dia 21 de Novem- bro a estreia da curta de Graça Patrão, “Orey e a Quinta dos Sete Castelos”, na sede da Associação Espaço e Memória, que contou com a presença de muito público. Associa- dos da associação promotora e muitos membros da familia Orey, quiseram visionar este trabalho muito interes- sante, que mostra algumas facetas da vida do fundador da casa Orey, Valde- mar D’Orey e que documenta a vida empresarial e familiar da época. Aguardamos novas apresentações para divulgação desta leitura da vida no inicio do Séc. XX e do trabalho dos actores Teresa Jerónimo e Eurico Lo- pes, nos principais papeis. José Marreiro 44 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
Informação sobre espectáculo com ante-estreia a 16 dezembro 2021 Em Dezembro, estreou a peça “A PRO- MESSA”, de Bernardo Santareno, que, devido à pandemia não ter permiti- do fazê-la em 2020 (Ano do Centenário do Dramaturgo), é levada a cena na temporada 2021/2022. Uma peça que retrata uma época e um local que nos transporta para uma realidade que a nossa memória ainda guarda. O Intervalo Grupo De Teatro aguarda pelos seus espectadores, às sextas e sábados, às 21h30, no Auditório Municipal Lourdes Nor- berto, em Linda-a-Velha, até Fevereiro 2022. Produção sob Direcção Geral de Fernando Tavares Marques, Encenação de Miguel de Almeida. Info. e reservas: 968 431 100 / M/12 Preço único 5€ Exposição ArtiSete (A arte no desporto) No passado dia 6/11 realizou-se na tugal e foi inspirado nos jogos olímpicos de sala do C. C. do Alto da Loba a ex- Tóquio. posição “A arte no desporto” ini- Para além dos representantes das activida- ciativa da “Paço D’Artes” integrada no seu des envolvidas e de artistas participantes plano de actividades. Este projecto de ini- esteve também presente, o vogal da cultura ciativa da C.M. Setúbal e da ArtiSete conta da UFOPAC, o Eng. João Marques Freire. com o apoio da academia Olímpica de Por- José Marreiro Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021 45
RECEITAS DA TIA CÁTIA 46 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
Livro: Os Segredos da Tia Cátia Editora: SBN978-989-741-576-0 Marta Ramires 1º Edição Setembro 2016 Direitos reservados CASA DAS LETRAS Deposito Legal DL 412863/16 (uma marca da Oficina do Livro) 47 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 38 Dezembro 2021
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