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Revista Montepio 28

Published by Plot Content - SA, 2018-10-23 11:12:27

Description: AMM 28

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montepioOutono'18 // #28 Trimestral €1 SAÚDE CULTURA Homo perfectus: a A idade de ouro nova fronteira dos podcasts da ciênciaDiretor António Tomás Correia SOCIEDADE OS ROBÔS VÃO TIRAR-NOS OS EMPREGOS? Da massificação dos robôs ao aumento dos freelancers, o mundo laboral está a mudar todos os dias. Saiba o que nos reserva o futuro.



6 Glocal 36 SUMÁRIOOUTONO2018 Perfil Montepio #28 Uma década Rita Cabaço de crescimento 50 AS NOSSAS OS NOSSOS A ventura EXPERIÊNCIAS VALORES Portugal radical 55 Bem-estar 17 Sociedade Pela estrada fora com Multitasking: é possível ler a casa às costas este artigo enquanto vê televisão? 60 Desporto 20 Saúde 10 pistas para começar a pedalar Homo perfectus: a nova fronteira da ciência 62  Associada 24 Entrevista Reviver o passado na Lisboa dos Espiões João Lázaro 64 Crónica 28 T ecnologia Francisco Moita Flores A idade de ouro dos podcasts 39 A NOSSA Finanças ASSOCIAÇÃO 32 Comportamento pessoais Vem aí uma nova 66 Solidariedade Vidas partilhadas Euribor. O que Douro da boa 38 Crónica muda para si? esperança Adriano Moreira A MINHA 68 Benefícios ECONOMIA 8 A sua saúde à 43 Orçamento distância de um Futuro do trabalho voucher Os robôs vão O seu dinheiro tirar-nos os empregos? numa pen drive 71 Associado 47 Finanças António Magalhães pessoais 72 Associada Poupe dinheiro sem sair de casa Inês Homem de Melo 73 Descontos Para associados O U T O N O 2 0 1 8 montepio

04 NESTAEDIÇÃO Montepio Leonel Moura Associação Mutualista Artista #28 série iii O antigo embaixador europeu para a inovação acredita OUTONO 2018 que a Inteligência Artificial só começará a ter interesse propriedade quando as máquinas evoluírem por si próprias e criarem uma Montepio Geral – Associação Mutualista nova dimensão de arte e Rua do Ouro, 219-241 criatividade, o que julgávamos 1100-062 Lisboa ser o último reduto do Tel. 213 249 540 individualismo humano. NIPC: 500 766 681João Lázaro Portugal Radical diretorPresidente da APAV Experiências António Tomás Correia Os portugueses Os associados diretor-adjunto estão a tolerar menos Montepio adeptos Rita Pinho Branco a violência doméstica de emoções fortes e, nesta luta diária, têm à sua disposição coordenaçãoas redes sociais têm tido um papel uma grande variedade de experiênciasfundamental para que mais mulheres, nas quais a adrenalina sobe ao Direção de Comunicação,sobretudo, contem a sua história. Saiba máximo. Seja no céu, em terra ou sobre Marketing e Canaispor que razão a APAV é uma das mais o mar, estas Experiências Montepioimportantes e influentes instituições radicais proporcionaram momentos editor e sede de redaçãoda sociedade portuguesa e por que lhe inesquecíveis para associados de todasdevemos tanto. as idades. Plot - Content Agency Av. Conselheiro Fernando de Sousa,Participe na próximaedição desta revista 19, 6.º, 1070-072 Lisboa Tel. 213 804 010Sociedade Economia Lazer diretora de projetoMOBILIDADEO carro sem FUTURO N unca BEM-ESTAR  O Gerês écondutor saiu dos livros de viveram sem Internet ou um dos locais mais belos Ana Duarteficção científica e prepara- smartphones e cresceram de Portugal, mas é fácil-se para entrar nas nossas num mundo com opções perdermo-nos na imensidão diretor editorialvidas. Saiba de que forma infindáveis. Agora que dos seus recantos.esta inovação mudará o os jovens da Geração Z Descubra, pelas palavras Nuno Alexandre Silvatrânsito das cidades e, de atingiram a maioridade, de quem lá vive, o que deum modo mais profundo, que decisões financeiras melhor existe nesta serra editor chefeo nosso ritmo diário. privilegiam? minhota. Carlos MartinhoAceite o desafio, participe A capana próxima edição editora executivae envie-nos as suas As conquistas robóticas no redutosugestões e comentários humano são cada vez mais visíveis Sara Batistapara revistamontepio@ e estão a mudar o mercado de emprego.montepio.pt ou, se preferir, A arte, o bastião intelectual, será diretora de artepara Revista Montepio, a próxima grande luta? Leonel Moura,Direção de Comunicação, o artista que já foi embaixador europeu Inês ReisMarketing e Canais para a criatividade e inovação,Rua do Carmo, 42, 9.°, juntou o melhor dos dois mundos. design1200 - 094 Lisboa Sérgio Veterano, Sónia Garcia produção e arte final Ana Miranda, Pedro Pinguinha, Nuno Marques colaborações Adriano Moreira, Ana Catarina André, Ana Sofia Calaça, Francisco Moita Flores, Mafalda Aguilar, Maria Pereira, Marisa Vitorino Figueiredo, Rute Gonçalves Marques (texto), Artur, Bruno Barata, Fernando Veludo, Jorge Pinto (fotografia), Vera Mota (ilustração) publicidade Isabel Costa (918 708 613) Tel. 213 804 010 | Fax 213 804 011 impressão LiderGraf Sustainable Printing Rua do Galhano, 15 (E N 13), Árvore 4480-089 Vila do Conde Revista trimestral Depósito Legal nº 5673/84 Publicação periódica registada sob o nº 120133 tiragem 469 000 exemplares O MGAM é alheio ao conteúdo da publicidade externa. A sua exatidão e/ou veracidade é da responsabilidade exclusiva dos anunciantes e empresas publicitárias. Leonel Moura, Certificado PEFC Artista Este produto temestatuto editorial origem em florestas com gestão florestalA Revista Montepio é a publicação que faz a ligação entre o Montepio Geral - Associação Mutualista e os seus sustentável e fontesassociados. Conheça o seu estatuto editorial em montepio.org/vantagens-montepio/publicacoes/revista-montepio/ controladas www.pefc.org PEFC/13-31-011montepio O U T O N O 2 0 1 8

EDITORIAL 05Duas revoluçõesnuma sóE m setembro, o pensador norte-americano Adam como a destreza manual e precisão estão condenadas e Grant entrou de um modo original na discussão até mesmo os profissionais mais procurados dos nossos sobre o equilíbrio entre a vida familiar e profis- tempos, como os médicos ou os gestores, têm o seu em- sional. “Deveríamos tornar os nossos dias de prego ameaçado pela evolução da tecnologia.trabalho mais curtos. Sair do escritório às 15h.” Grant, omais jovem professor de sempre da conceituada Whar- Em 2025, mais de metade dos empregos do planetaton School, argumentou que a ideia não prejudicaria os estará nas mãos de máquinas. Serão tempos difíceis paraempregadores: “Conseguimos ser tão produtivos e cria- milhões de cidadãos e suas famílias, mas também parativos em seis horas, se estivermos focados, como em oito as sociedades que os acolhem. No pico desta revolução,horas, se não estivermos.” os projetos centrados nos valores da solidariedade, da entreajuda e da igualdade, nos quais o mutualismo da O mundo do trabalho está a mudar e a visão de Grant sua Associação se inclui, ganham uma nova pertinência,é apenas uma gota no oceano da revolução que nos es- ligando as pontas soltas de uma sociedade onde tudo mu-pera. Há cada vez mais profissionais, sobretudo jovens, dará. Josef Capek, o dramaturgo que primeiro utilizou aque não aceitam uma rotina desgastante entre a casa e palavra robô – que significa “trabalhador forçado” na lín-o trabalho e os horários rígidos criados por uma econo- gua eslava –, ficaria sem palavras. Cem anos depois, osmia do passado. robôs por si caricaturados podem escrever uma sequela de R.U.R., a peça de ficção científica onde tudo começou. Mas a liberdade que a tecnologia nos concede tem uma Se tal acontecer, desta vez serão os humanos, e não oscontrapartida. Dezenas de profissões, sobretudo as que robôs, os caricaturados.implicam força física, vão desaparecer. Competências O U T O N O 2 0 1 8 montepio

GLOCAL06 Associação Mutualista Uma década de crescimentoMais associados, um maior leque de NOVIDADESopções de proteção social, mais benefíciose vantagens e os mesmos valores de 1.Lazer 2.Desportosolidariedade, humanidade e transparênciaque nos guiam desde 1840. Nos últimos 10 Experiências Montepio Corrida Montepioanos, a Associação Mutualista Montepio Lançado em setembro Mais de 260 000 eurosampliou a sua visibilidade nacional, reforçou de 2017, o Programa de reunidos, em cincoa transparência e ligação digital, modernizou Experiências revolucionou a edições, para instituiçõesa oferta integrada e renovou a estratégia forma como os associados de solidariedade social, ode responsabilidade social. Neste longo passaram a viver a sua resultado da participaçãocaminho, a Associação Mutualista Montepio Associação, garantindo de mais de 50 000 atletas.transformou o seu leque de modalidades e milhares de horas decolocou os associados no centro de uma visão lazer, cultura, aventura, Corrida Pelicascada vez mais holística. Estas são as principais educação, conhecimento Mais de 23 600 eurosmudanças de uma década de crescimento. e adrenalina nos 365 dias angariados, em do ano. quatro edições, que 2007 VS 2017 apoiaram instituições1. A2s.sSo3uc.biP4ase.dcnA5orsis.tçiiRMo6õvneoe.oicsEnls7íuntd.tqearteCupsisdmiilooduasoobddp*eearslóPidpeparladiicorecases(fi(rusanósdciooss)próprios, rApoio à cultura de solidariedade social. Nos últimos 10 anos, a Associação Mutualista 3.Educação Montepio apoiou centenas de concertos, peças de Residências para teatro e exposições em Estudantes Portugal, permitindo aos São cerca de 200 quartos associados o acesso disponibilizados em à cultura e garantindo a residências universitárias, muitas dezenas de artistas com descontos para a continuidade da sua arte. associados Montepio. Atmosfera m Em Lisboa e no Porto, estes espaços de cidadania são a porta de entrada para centenas de horas de lazer, educação, cultura e diversão. s mutualistas eservas e resultados)* • 6 482 • 30 000 • 61 000 • 8 434 2007 +103% +30,1% 2017 • 505Fonte: Relatório e Contas da AssociaçãoMutualista Montepio (2007 vs 2017)*em milhares de eurosmontepio O U T O N O 2 0 1 8

• 1 004 655 • 3 947 127 +74,5% +149,5%4.Comunicação +47,3% • 1 260 +51,8% +218,7%Universo digital • 625 419O lançamento da app e donovo site, em março de 2017, • 774 736reforçou a comunicaçãoda Associação MutualistaMontepio e ofereceuaos associados novasferramentas para entraremno universo mutualista semsair de casa. Com apenasum clique, os associadosMontepio podem hojesubscrever soluções depoupança, reservar lugaresem concertos ou peças deteatro ou inscrever-se emExperiências Montepio.11 960 • 681 830•4 • 2 261 933 5.Saúde 6.Solidariedade• 354 191 Plano Montepio Saúde Frota Solidária O Cartão Montepio Saúde 4 milhões de euros garante aos associados devolvidos pela Fundação Montepio o acesso a um Montepio, através da extenso leque de descontos consignação fiscal, em mais de 6 500 unidades à sociedade. de saúde por todo o país. É um dos mais abrangentes Fundação Montepio planos de saúde de A Fundação Montepio Portugal e é gratuito. coopera com mais de 30 organizações e apoia, todos os anos, cerca de 100 projetos de impacto social. O U T O N O 2 0 1 8 montepio

08 Os robôs vão tirar-nos Os nossos os empregos? valores Entre o céu e o inferno. O desenvolvimento da tecnologia e a massificação dos robôs vai revolucionar o mundo do trabalho. Se, por um lado, isso significa um aumento da qualidade de vida e da produtividade, o reverso da medalha pode abalar a sociedade tal como a conhecemos: menos empregos e maior desigualdade social. Em 2025, mais de metade dos empregos do globo estará nas mãos de máquinas. E nem a arte escapa à voragem da Inteligência Artificial. Texto ANA CATARINA ANDRÉ | fotografia ARTUR e BRUNO BARATA

AOs nossos valores 09 Futuro do trabalho SDos trabalhos São robôs artistas. Fazemde resistência física composições abstratas, normalmente a caneta, aos mais criativos, sem necessitar da cria-os robôs competirão tividade humana. Deslo- cam-se ao longo da tela, com as suas pelos nossos rodas, e decidem como e quando que- empregos rem desenhar. “Não os condiciono de modo a que façam este ou aquele tra- ço. São eles que elaboram a pintura. Alguns conseguem escolher as cores. Dois têm capacidade para assinar a te- la no momento em que decidem que está concluída”, explica o criador Leo- nel Moura que, desde o final da déca- da de 1990, se dedica à robótica apli- cada à arte. Os seus autómatos – com cerca de 25 centímetros de compri- mento por 10 de altura – têm uma in- teligência semelhante à das formigas. “Possuem um conjunto de sensores que lhes permitem reagir ao que veem.” Se ainda estamos na infância da robotização, a ligação das máquinas à arte ainda nem gatinha. No entanto, criadores como Leonel Moura estão a ultrapassar os limites daquilo que, hoje, pensamos que é uma obra de arte. É tudo uma questão de perspe- tiva, admite Leonel Moura. “É um er- ro pensar que a inteligência artificial tem de ser parecida com a inteligência Na sombra também se trabalha Pôr gasolina, montar os móveis acabados de adquirir, pagar as compras numa caixa automática ou embrulhar um presente numa loja. O shadow work (trabalho sombra), que leva os consumidores a realizarem tarefas anteriormente executadas por funcionários, tem tendência para aumentar, diz o psiquiatra Pedro Afonso, autor do livro Quando a Mente Adoece. “As empresas reduzem os custos associados aos salários e aumentam os lucros. Por sua vez, do lado dos consumidores cria-se a ideia, muitas vezes errada, de que se ganha tempo e se obtém um produto mais económico.” Mas há mais: “O shadow work tem um efeito perverso imediato: aumenta-nos o cansaço pois estamos a desempenhar um trabalho sem sermos remunerados.”

A Os nossos valores10 Futuro do trabalho As tarefas mais simples, muitas vezes mal pagas, serão as primeiras a extinguir-se. Mas todas vão sofrer com a automaçãohumana. Há outros modelos distintos P tigador do ITAS-Karlsruhe Institutena natureza.” Bastaram dois estágios para of Technology, na Alemanha. Krystel Leal perceber que era Para o artista português, que já mais produtiva à noite. Hoje, Com a crescente automação, aexpôs quadros com criatividade ro- tendência é para que algumas pro-bótica no Museu Americano de His- trabalha em qualquer lado fissões desapareçam. Um estudo dotória Natural, em Nova Iorque, e no Fórum Económico Mundial, publica-Grand Palais, em Paris, estas ino- nais foram substituídos por máqui- do em setembro, prevê que em 2025vações não são uma ameaça à arte. nas, permitindo produzir têxteis em mais de metade dos empregos este-“São outras formas de criatividade”, grande quantidade. Hoje falamos de ja nas mãos de máquinas, uma per-revela. “É secundário se os quadros equipamentos mais complexos, com centagem quase duas vezes superiorsão bonitos ou feios. O papel da arte capacidades cognitivas, que ainda as- à que se verifica em 2018 (29%). “Asé questionar a cultura da sua época. sim são limitadas”, explica o autor do tarefas mais simples, muitas vezesInteressa-me o impacto social des- livro Robótica e Trabalho. “Temos ro- mal pagas, serão as primeiras a ex-tes trabalhos num tempo em que a bôs que conseguem colocar rodas em tinguir-se”, considera António Moniz.robótica levanta cada vez mais in- automóveis e o fazem mais depres-terrogações.” Uma delas – talvez a sa do que os humanos, e algoritmosmais premente – tem como pano de que avaliam o perfil de clientes parafundo o futuro do mundo laboral. que os bancos percebam se é seguroSerá que os robôs vão substituir os atribuir-lhes um crédito bancário”,homens em todas as áreas? Leonel diz o docente, que é também inves-Moura observa que o processo já co-meçou. “Temos robôs a fazerem ci-rurgias, outros a trabalhar em callcenters. Chegará um momento – nãosabemos quando – em que evoluirãosozinhos.” E nem a arte, essa expres-são coletiva e subjetiva que pensáva-mos ser o último reduto do Homem,escapa à voragem da robótica.O seu emprego tem os diascontados?A inovação tecnológica sempre pôsem causa o status quo. António Moniz,professor da Faculdade de Ciênciase Tecnologia, da Universidade Novade Lisboa, recorda que a automaçãocomeçou na Revolução Industrial,no século xviii . “Os teares tradicio-montepio O U T O N O 2 0 1 8

De acordo com uma das pesquisas Os nossos valores A 11mais conhecidas sobre o futuro dotrabalho, feita por Carl Frey e Michael Futuro do trabalhoOsborne, os profissionais em maiorrisco de desaparecer serão os ope- R Leonel Moura,radores de telemarketing (99%), os Além de Artistaoperadores de caixa (97%), os cozi- criarem obrasnheiros (96%), os funcionários dos de arte, os Esqueça tudo o quecorreios (95%), os empregados de robôs assinam sabe sobre artemesa (94%) e os contabilistas (94%). as peças Pintura e literatura feita por robôs há muito que deixou “Poderemos vir a assistir a grandes de ser um cenário de ficção científica. Leonel Moura,aumentos na produtividade e na qua- o português que foi embaixador europeu para alidade de produção, acompanhados criatividade e inovação em 2009, usa as máquinas parapor um aumento da desigualdade de entrar naquele que julgávamos ser o último redutodistribuição de rendimento”, afirma do Homem: a criatividade e a arte. O robô ISU, queSérgio Rebelo, codiretor do Centro deve o seu nome a Isidore Isou, criador do movimentode Macroeconomia Internacional da Letrismo, utiliza processos aleatórios e as condiçõesNorthwestern University, nos Estados ambientais para pintar quadros. Muitos dos quadrosUnidos. E explica: “A primeira revo- remetem para autores humanos, como Jackson Pollock.lução industrial permitiu que os tra- Mas a arte robótica nada deve à humana. “Tendemos abalhadores com níveis de educação achar que os robôs têm de ser parecidos connosco.relativamente baixos trabalhassem Mas porquê? Há outras formas de inteligência naem linhas de montagem, receben- natureza”, explica. O criativo, que esteve presentedo salários que, apesar de modestos, na conferência \"O Trabalho dá muito que Pensar\",excediam o que se ganhava na agri- organizada pela Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS), acredita que a robótica e a inteligência artificial estão a cometer um “erro ao seguir o modelo humano de inteligência e comportamento” e que, no futuro, já não serão os humanos a desenvolverem os robôs. “A inteligência artificial só vai começar a sério quando as máquinas começarem a evoluir por si próprias. A partir desse dia é que as coisas se tornam interessantes”, conclui. A Inteligência Artifical só vai arrancar a sério quando os robôs começarem a evoluir por si próprios, defende Leonel Moura O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A Os nossos valores12 Futuro do trabalhoA visão cultura. Na quarta revolução indus- haverá um grupo menos qualificadodos génios trial temos uma dinâmica diferente. que sairá beneficiado. “São as pes- Os novos modos de produção empre- soas que têm poucas competências“A Inteligência Artificial pode ser a gam cada vez mais engenheiros infor- mas que desempenham tarefas difí-melhor ou a pior coisa que aconteceu máticos e outros trabalhadores com ceis de serem executadas por máqui-à Humanidade. Ainda não sabemos um grau de especialização elevado. nas”, afirma o professor de Economiaqual.” A frase de Stephen Hawking, Ao mesmo tempo, os salários reais no Instituto Universitário Europeu,o físico britânico que nos deixou em dos trabalhadores de rotina têm vin- em Florença, Itália. “Serão procura-março, ainda ecoa nos corredores do a cair, reduzindo a procura de bens dos pelos mais qualificados, que terãoda Universidade de Cambridge, onde de consumo.” Perante este cenário, que lhes confiar atividades como lim-ensinava. Hawking acreditava que Portugal poderá ser um dos países peza, catering e cuidados pessoais.”os robôs iriam provocar um aumento mais afetados da Europa. Segundoda desigualdade social e que a estimativas do think tank indepen- Ainda que muitas funções possamcombinação entre a Inteligência dente Bruegel, 58,9% dos empregos do desaparecer, o número de novas pro-Artificial e redução do emprego nosso país apresentam elevado risco fissões não será proporcional, afir-disponível poderia levar a uma de automação nos próximos 20 anos ma o académico Sérgio Rebelo. “Issomudança drástica na sociedade. – apenas a Roménia tem uma proba- não aconteceu antes. A maior parte“Se as máquinas produzem tudo o bilidade superior (61,9%). das pessoas que saíram da indústriaque necessitamos, tudo dependerá para os serviços foram empreguesda forma como as coisas serão Para o académico espanhol Juan em profissões que já existiam (pro-distribuídas. Se a distribuição for Dolado que, tal como Sérgio Rebe- fessores, enfermeiros, cozinheiros).”igualitária, todos podemos viver uma lo, esteve em Portugal a participar De acordo com o relatório O Futurovida luxuosa; se os detentores das na conferência \"O Trabalho dá que do Trabalho 2018, do Fórum Econó-máquinas quiserem a redistribuição Pensar\", organizada pela Fundação mico Mundial, em 2022 o trabalha-da riqueza, muitos acabarão na Francisco Manuel dos Santos (FFMS), dor ideal terá de ter um conjuntopobreza. Até agora, a tendência vaipara a segunda opção”, explicou o Em Portugal, 58,9% dosfísico. Segundo Hawking, o aumento trabalhos apresentamda Inteligência Artificial vai levar àdestruição de empregos na classe um elevado risco demédia, sobrando apenas os cargos automação nosmais criativos e de supervisão.A inevitabilidade do crescimento próximos 20 anostecnológico, por outro lado, levouo futurista Jacques Fresco a criar,na década de 1990, o The VenusProject, uma sociedade na quala automação e a tecnologia sãointegradas numa visão holística.Nesta sociedade, a prioridadeé maximizar a qualidade de vidae não os lucros, ao mesmo tempoque se protege o ambiente ecria diversidade sustentável.Fresco, que morreu em 2017,aos 101 anos, acreditavaque os robôs iriam, um dia,gerir quase tudo.O The Venus Project foi aresposta a esta ameaça. P Jacques Fresco e Stephen Hawking alertaram para os perigos da integração dos robôs na sociedade montepio O U T O N O 2 0 1 8

Os nossos valores A 1310 Futuro do trabalhocompetênciasa ter em contaem 2022 + - Em alta Em baixa Pensamento analítico e inovação Destreza manual, resistência e precisão Aprendizagem ativa Capacidade de memória, oratória e audiçãoCriatividade, originalidade e iniciativa Gestão de recursos financeiros e logísticos Design tecnológico e programação Instalação e manutenção de tecnologias Pensamento crítico e análise Solução de problemas complexos Leitura, escrita e matemática Liderança e influência social Gestão de pessoas Inteligência emocional Raciocínio e formulação de ideias Controlo de qualidade e segurança Análise e avaliação de sistemas Coordenação e gestão do tempo Capacidades visuais e de discurso Uso, monitorização e controlo de tecnologia Homem vs Máquina (% em 2022)72 Tomada de decisão 2871 Coordenação, desenvolvimento, gestão e aconselhamento 2969 Comunicação e interação 3156 Administração 4456 Trabalhos físicos e manuais 4454 Avaliação de informação relevante para o trabalho 4654 Atividades técnicas e complexas 4645 Recebimento de informações relevantes para o trabalho 5538 Processamento de dados e informação 62Homem Máquina O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A Os nossos valores P Um computador com wi-fi.14 São estas as ferramentas de trabalho da nova geração de profissionais Futuro do trabalho S de competências que incluem a re- A rede Remote Year permite aos solução de problemas complexos, participantes passarem um ano a pensamento crítico, criatividade e capacidade de iniciativa. “É possível viajar e trabalhar que, em muitos casos, os empregos atuais passem a ser desempenhados de forma combinada entre humanos e dispositivos tecnológicos. Tal como vemos hoje os pilotos a utilizarem software para conduzir aviões, po- deremos ver médicos a recorrerem a métodos de Inteligência Artificial para diagnosticarem doenças”, diz Sérgio Rebelo. Analistas de dados, especialistas em machine learning e Inteligência Artificial e gestores se- rão os profissionais mais requisita- dos em 2022, afirma o relatório do Fórum Económico Mundial.Trabalharcomo formade vidaA liberdade que muitas profissões engenheiros, artistas, coordenadores “Talvez o melhor seja tornarmo-nosproporcionam de poder trabalhar de marketing e designers, pessoas eternos aprendizes. Isso significa que,em qualquer lado – basta um que não são ricas nem abdicaram com frequência, teremos de saber no-computador e rede wi-fi – está a dos seus trabalhos para viajar”, vas coisas em pouco tempo e aplicá-transformar o mundo laboral de comenta. -las em novos cenários e ambientes”,muitos profissionais numa experiência “O programa custa cerca de 1 700 recomenda o norte-americano Jacobitinerante. E há quem aproveite. euros mensais e inclui alojamento, Morgan, autor do bestseller The Fu-Desde 2015 que a empresa norte- acesso a um espaço de cowork e ture of Work. “Temos de aprender a-americana Remote Year permite viagens”, conta Lígia Gomes, uma aprender, sem depender de escolasque freelancers, trabalhadores das responsáveis pelos escritórios ou empresas.”remotos e empreendedores trabalhem da Remote Year em Lisboa.enquanto viajam por todo o mundo. Os participantes são inseridos num Menos horas no escritórioLaura Cunha, de 25 anos, está grupo, constituído por cerca de 40 e mais freelancersneste momento no México, no último a 50 pessoas, e ficam três a quatro Uma das consequências do aumentomês de um programa anual. Desde semanas numa cidade – há pacotes da automação é, ironicamente, a re-outubro de 2017 já passou por 12 de 4 e 12 meses. “Um deles gostou dução da carga horária dos trabalha-cidades mundiais, entre as quais tanto de Lisboa que, depois da dores. A este propósito, Sérgio RebeloSplit (Croácia), Praga (República viagem, mudou-se para cá”, revela recorda uma previsão feita pelo eco-Checa), Quioto (Japão), Chian Mai a coordenadora de 32 anos. Além nomista John Maynard Keynes em(Tailândia), Kuala Lumpur (Malásia), de tratar da parte logística, Lígia 1928. “Ele dizia que, passadas duasBuenos Aires (Argentina), Lima (Peru) organiza eventos culturais para ose Bogotá (Colômbia). Nunca deixou viajantes. “No sábado demos uma vida profissional, tal como os passeio de bicicleta e almoçámos emrestantes elementos do grupo que casa de uns pescadores na Trafaria,a acompanham. “São escritores, na margem sul.”montepio O U T O N O 2 0 1 8

Os nossos valores A 15 Futuro do trabalhoR que os próximos 50 anos vão introdu- freelancers que agreguem diferentesSiemens (em cima) e Deloitte (em zir mais alterações na rotina do que os saberes e competências”, considerabaixo) são empresas que já se últimos 50. Num dia comum, “a pes- Marta Maia, diretora de recursos hu-adaptaram às novas tendências do soa levanta-se e entra num sistema manos da empresa portuguesa Jeró-trabalho: escritórios móveis e holísticos automatizado para ir para o trabalho. nimo Martins, que tem cerca de 105 Chega e interage com uma série de mil colaboradores em três países.gerações, a produtividade seria tão sistemas mais ou menos inteligenteselevada que trabalharíamos 15 horas que lhe dão coisas para fazer. Traba- De acordo com um estudo publi-por semana.” Não foi bem o que acon- lha umas horas, toma algumas de- cado o ano passado, nos Estados Uni-teceu. “A produtividade aumentou, cisões de alto nível e depois vai para dos, pelo Sindicato de Freelancers emas o ser humano revelou-se insa- casa”. Na mesma publicação, Miranda pela plataforma online Upwork, emciável na procura de novos bens e ser- Schreurs, professora na Universidade 2027 mais de 50% dos trabalhadoresviços. Por isso, ainda hoje o america- Técnica de Munique, na Alemanha, do país serão freelancers. A hipótese éno médio trabalha cerca de 40 horas diz que teremos mais tempos de lazer. já hoje atrativa. Uma pesquisa global,por semana.” Isso não significa que “Passaremos mais tempo a apreciar realizada este ano pela consultora De-Keynes se tenha enganado comple- a natureza e a estar com os amigos.” loitte, revela que 62% dos profissionaistamente, diz Sérgio Rebelo. “Talvez encara a hipótese de se tornar free-a automação venha a tornar as suas Ao mesmo tempo, cada vez mais lancer, como alternativa ao empregoprevisões uma realidade.” pessoas optarão por um regime de tra- a tempo inteiro. balho livre. A chamada Gig Economy, No livro de entrevistas Pensar o Tra- economia flexível que procura freelan- Krystel Leal, de 27 anos, percebeubalho do Futuro, editado pela FFMS, o cers para funções altamente qualifi- desde cedo que não se revia nos mol-investigador Arlindo Oliveira defende cadas e bem pagas, ganhará terreno. des tradicionais de trabalho. Depois “Trabalharemos cada vez mais por de terminar o curso de Comunicação, projetos, juntando colaboradores e em Paris, fez dois estágios. “O horá- rio era uma das coisas que mais me incomodava. Sou mais produtiva à noite e não fazia sentido estar no es- critório das 9h às 18h.” Depois de al- gumas pesquisas online, decidiu criar o próprio site dirigido a pessoas que, como ela, preferiam um regime labo- ral mais flexível. Em janeiro de 2016 nascia o Nomadismo Digital Portugal. “Escrevo sobre temas associados ao trabalho remoto. Lancei um e-book sobre freelance e criei alguns produtos associados – workshops e parcerias com marcas.” Trabalha entre Lisboa e Silicon Valley, nos Estados Unidos, onde vive com o marido. É ela que “Trabalharemos cada vez mais por projetos, juntando colaboradores e freelancers que agreguem diferentes saberes e competências” Marta Maia Diretora de Recursos Humanos da Jerónimo Martins O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A Os nossos valores Empresas adaptam-se ao ritmo16 dos funcionários Futuro do trabalho Não são só os também já se faz sentir facilmente. “Não se pode trabalhadores que em Portugal. A plataforma dizer que o open space R mudaram a forma como online de luxo Farfetch seja a solução ideal para Leonel Moura já expôs no Museu vivem o seu dia a dia. tem um escorrega, no todas as situações. Cada Americano de História Natural (Nova Muitas empresas ajustam- escritório do Porto, para os empresa deve procurar Iorque) e no Grand Palais (Paris). -se já a um futuro cada funcionários se divertirem. adaptar o espaço à sua A arte robótica chegou para ficar vez mais presente e Em Lisboa, a empresa visão estratégica”, explica adaptam o seu escritório apostou numa piscina de Miguel Paiva Couceiro, decide quando quer ser produtiva e à nova geração de bolas, num piano e numa partner da empresa. “Nos quando precisa de descansar. “Mas profissionais, mas também sala de jogos com mesa escritórios da Deloitte nem toda a gente gosta de trabalhar de robôs. No escritório de snooker e máquina de Noruega existe uma silent assim. Algumas pessoas preferem a da Konica Minolta, uma flippers. room (sala de silêncio), rotina diária de ir para o escritório e rececionista virtual Há casos em que a onde ninguém ousa dizer ter um horário.” consegue identificar aposta na inovação uma palavra”, revela. “É o visitante e pô-lo se centra na própria uma opção interessante, Por ser uma opção solitária, mui- em contacto com um decoração. “Nalgumas mas sabemos que em tos freelancers recorrem a espaços funcionário. Muitas empresas, sobretudo Portugal não resultaria.” de cowork que juntam pessoas que, empresas, por outro lado, norte-americanas, existem Algumas das tendências não tendo um escritório fixo, preferem transformaram o seu salas cujo layout visa do futuro do trabalho trabalhar em comunidade. A maioria espaço num santuário de proporcionar momentos já chegaram também à das empresas de cowork disponibili- bem-estar. “Os escritórios de concentração e Siemens Portugal. Além za uma secretária e acesso à Internet terão menos barreiras a tranquilidade, com o de terem a possibilidade mediante preço fixo. Apesar de exis- separar os colaboradores objetivo de estimular a de ficar em casa até tirem dezenas de salas deste género e mais espaços informais criatividade e originar dois dias por semana, em Portugal, por enquanto só uma é de convívio”, antecipa novas soluções”, adianta os funcionários da gratuita. Fica em Lisboa e é gerida pe- Marta Maia, da Jerónimo Marta Maia. Outras multinacional alemã la cadeia de supermercados Auchan. Martins. empresas, como a podem trabalhar a “Tínhamos um piso vazio, por cima da A sede da Google, nos Deloitte, concentraram partir do escritório que loja da Avenida da República, e consi- Estados Unidos, já se energias na remodelação a empresa possui em derámos que esta opção daria projeção está a preparar. Ao longo estrutural do espaço de Corroios. “Esta iniciativa à marca”, diz Hugo Molha, responsável do dia, os empregados trabalho. Desde 2015 que é particularmente pela loja. “Todos os dias temos casa têm acesso a jardins, os 2 200 trabalhadores relevante para quem mora cheia (20 lugares ocupados). E há duas campos de jogos, serviços da sede de Lisboa na margem sul. Evita gratuitos de massagem e deixaram de ter lugar fixo deslocações à sede [em montepio O U T O N O 2 0 1 8 cabeleireiro. A tendência para se sentar. Foram Alfragide], poupa tempo criados gabinetes onde no trânsito e combustível”, é possível estar isolado e diz Lídia Gama, salas que permitem que responsável pela Siemens as equipas se reúnam Real Estate. “O melhor é empresas da área do turismo que só tornarmo-nos trabalham aqui.” eternos aprendizes. Temos de aprender Sem horários, sem local fixo de tra- a aprender, sem balho e em permanente mutação de depender de competências. É nesta dança constan- escolas” te entre a inovação tecnológica, o bem- -estar dos cidadãos e a necessidade Jacob Morgan das empresas captarem e recrutarem Autor e futurista talentos que está o futuro do emprego. É um futuro complexo e sem manual de instruções mas que, como tudo na vida, se ajustará à vontade dos Ho- mens. Depois, têm a palavra os robôs.

Os nossos valores A 17 SociedadeMultitasking: é possíveller este artigo enquantovê televisão?Fazemos cada vez mais coisas aomesmo tempo, respondemos aemails e a notificações em poucosminutos, num corre-corre queparece não ter fim. Mas estaremosmesmo mais produtivos?Texto ANA CATARINA ANDRÉMaria Rodrigues tra- utilizado pela primeira vez em 1966, sociation, o conceito não se aplica ape- balha há 12 anos na revista Datamation, para definir a nas às situações em que alguém tenta numa empresa realização em simultâneo de mais fazer duas coisas em simultâneo, mas de comunicação. de uma ação por um CPU (processa- também quando muda rapidamente No início fazia ape- dor de computador), é hoje transver- de atividade.nas trabalho de secretariado, mas sal a todos os domínios profissionais. Para o psiquiatra e professor universi-em 2013 foi convidada para integrar Segundo a American Psychological As- tário Pedro Afonso, esta exigência como departamento financeiro. “Era umaárea de que gostava bastante e, em-bora tivesse de continuar a assegu-rar algumas tarefas antigas, pareceu--me desafiante a mudança.” Hoje, asemana de Maria, de 44 anos, é divi-dida entre pagamentos a fornecedo-res, cobranças a clientes, faturação,mas também assessoria ao CEO daorganização. “Muitas vezes tenhode interromper o que estou a fazerna tesouraria para marcar reuniões,almoços e viagens.” Apesar de este ti-po de trabalho lhe ocupar apenas 20%do tempo, admite que a sua produti-vidade diminuiu. “Sei que o dia rendemais se fizer sempre a mesma coisa.E confesso que às vezes as interrup-ções incomodam-me.”O multitasking – execução de váriastarefas ao mesmo tempo – é uma exi-gência de muitas empresas. O termo, O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A Os nossos valores que os trabalhadores são confrontados, media multitaskers, mais atentos ao e que os leva a tentarem responder a meio ambiente e, assim, menos con-18 Sociedade um sem-fim de solicitações ao longo centrados numa só tarefa. O que o gru- do dia, tem um impacto negativo. “Fa- po de cientistas descobriu foi que, ao 3 apps que zer várias tarefas ao mesmo tempo não contrário do que poderia pensar-se, combatem o só aumenta o desgaste (consome mais os heavy multitaskers tinham um de- multitasking energia), como o risco de se cometer sempenho inferior ao dos low media erros. Existe um claro abuso do mul- multitaskers quando confrontados Num mundo cada vez titasking, sem grande proveito ou be- com mais do que um desafio. Demo- mais multitasker, estas nefício ao nível da qualidade e da pro- ravam mais tempo a organizar-se e três apps ajudam dutividade”, considera o autor do livro eram mais desatentos. a manter o foco. Quando a Mente Adoece, que aborda o “endeusamento do trabalho”. “Existe um 1. Pomodoro Vários estudos corroboram esta tese. claro abuso do Timer Pro Um deles, realizado pela Universida- multitasking, Utiliza um método que de de Stanford, nos Estados Unidos, divide o tempo em concluiu que os multitaskers podem sem grande períodos ser menos produtivos do que aque- proveito ou de 25 minutos, les que fazem uma coisa de cada vez. benefício separados por Como explica Eyal Ophir, um dos in- ao nível da pequenos intervalos. vestigadores, a pesquisa tentou per- qualidade e Além de nos ajudar a ceber como é que o nosso cérebro li- da produtividade” manter o foco, a app da com mais do que uma informação evita que trabalhemos ao mesmo tempo e deparou-se com Pedro Afonso em excesso. Está dois tipos de utilizadores: os low me- Psiquiatra disponível para dia multitaskers – que, para otimiza- sistemas iOS e Android rem o tempo, controlam a atenção e focam-se numa atividade; e os heavy 2. Pocket Guarda os artigos 5 personagens multitaskers do cinema e sites que descobre enquanto está a trabalhar, o que lhe permite manter-se focado e produtivo e aceder, mais tarde, a estes conteúdos. Está disponível para sistemas iOS e Android3. Self Control 1. Daniel Hillard/Euphegenia 2. José Ribeiro 3. Frank Abagnale Jr.A sua concentração Doubtfire (Robin Williams) (Joaquim de Almeida) (Leonardo DiCaprio) emestá garantida em Mrs. Doubtfire em A Gaiola Dourada Apanha-me se Puderescom esta app, Neste clássico da comédia, Emigrante em Paris, José Médico, advogado, falsificadorque bloqueia a Robin Williams interpreta um Ribeiro divide-se entre o e piloto de aviões são algumasnavegação a sites que ator divorciado que se disfarça trabalho na construção civil e das profissões de Frankpossam afetar a sua de governanta para passar as pequenas reparações em Abagnale Jr. O filme, inspiradoconcentração. Nada tempo com os filhos. Quantas casa dos condóminos do prédio em factos verídicos, foié mais importante horas teria o seu dia se vivesse onde mora. Está sempre pronto realizado por Steven Spielberg,que o assunto que duas vidas ao mesmo tempo? para ajudar os vizinhos. ele próprio um multitasker.está a tratar – enem o fantasma domultitasking podeassustá-lo. Disponívelpara Mac, Windowse Linux.montepio O U T O N O 2 0 1 8

Outra pesquisa da Universidade da Os nossos valores A 19Califórnia Irvine, nos EUA, revelou queum trabalhador demora, pelo menos, Sociedade20 minutos a concentrar-se, depois dese ter distraído com emails e chama- Homens utilização simultânea de dispositivosdas telefónicas. Os custos associados vs Mulheres: há eletrónicos pode perturbar algumassão gigantescos. Em 2007, segundo diferenças no funções cerebrais. Com base em res-o analista de negócios Jonathan B. multitasking? sonâncias magnéticas realizadas a 75Spira, a economia norte-americana adultos que usavam dois ou mais dis-perdeu em produtividade cerca de Maquilham-se ao volante, positivos eletrónicos ao mesmo tempo,650 mil milhões de dólares devido ao cozinham enquanto falam ao os especialistas perceberam que essesmultitasking e ao excesso de informa- telefone e trabalham enquanto indivíduos tinham menor densidadeção disponível. pensam num programa de fim de massa cinzenta numa zona do cére- de semana. Mas será que as bro (o córtex cingulado anterior).Como reage o nosso cérebro? mulheres são mais eficazesEyal Ophir diz que não podemos afir- do que os homens a fazerem Ainda que nos últimos anos algunsmar taxativamente que o trabalho de várias tarefas em simultâneo? neurocientistas, como o norte-ameri-quem faz uma coisa de cada vez rende Eyal Ophir diz que ainda não cano Earl Miller, investigador do Massa-mais. “Cabe às empresas decidirem existem provas científicas. chusetts Institute of Technology (MIT),se querem funcionários focados na “É preciso mais investigação. tenham apontado o multitasking co-mesma tarefa ou se preferem pes- Ainda não compreendemos mo uma “ilusão”, dados mais recentessoas que respondam de imediato a totalmente os processos contradizem esta tese. Segundo Mil-solicitações, sejam telefonemas ou associados ao multitasking.” ler, os humanos não têm aptidão pa-emails”, diz Eyal. “É mais fácil passar ra executar várias tarefas ao mesmoo dia a responder a pequenos estí- E fala da sua experiência: “No meu dia tempo. O que fazem “é mudar de tarefamulos do que terminar um relatório, a dia sou eu que decido quando quero em tarefa”, pensando que estão atentospor exemplo. E se o fizermos sempre consultar emails e quando quero co- a tudo, quando na verdade não estão.estamos constantemente a dizer ao locar os headphones e terminar um Em 2014, porém, um estudo de umanosso cérebro que é mais emocio- trabalho.” equipa do Laboratório Cold Spring Har-nante estar atento às notificações no Algumas pesquisas referem que este bor, em Nova Iorque, da qual fez partetelemóvel e à caixa de email em vez tipo de comportamento pode alterar a o português David Raposo, descobriude estar inteiramente focado.” Tem matéria cinzenta do cérebro. De acordo que afinal um neurónio pode desem-de haver um equilíbrio, sublinha. com uma investigação de 2014 da Uni- penhar mais do que uma função con- versidade de Sussex, no Reino Unido, a soante a informação que recebe, mos- trando que o multitasking é possível.4. Kate Reddy 5. Erin Brockovich (Julia Lidar com o excesso de informação(Sarah Jessica Parker) em Perante o excesso de solicitações, deNão Sei como Ela Consegue Roberts) em Erin Brockovich notificações no telemóvel e emails porA protagonista concilia um Baseado em factos verídicos, consultar, é fundamental saber filtrarcargo de topo numa das o filme conta a história de uma a informação, defende Pedro Afonso.mais prestigiadas empresas super-mãe desempregada que Até porque a sobreposição de tarefasfinanceiras de Londres com o ganha uma batalha jurídica e a pressão para as executar acaba porseu dia a dia de mãe e gestora que todos consideravam ter um impacto na saúde. “O stress de-da casa. Uma super-heroína perdida. E quando não está corrente da pressão profissional po-dos tempos modernos. no tribunal, Erin centra-se na de ser útil desde que moderado. Mas educação dos seus três filhos. não é possível submeter uma pessoa a pressão psicológica e desgaste físico a partir de um certo limite sem lhe cau- sar danos.” Não é benéfico estar per- manentemente ligado, afirma o médi- co, que garante: “Se não houver uma inversão dessa tendência, as doenças psiquiátricas vão aumentar.” O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A Os nossos valores20 Saúde Homo perfectus: a nova fronteira da ciência E se, com recurso a uma simples injeção, fôssemos capazes de curar doenças genéticas ou corrigir uma predisposição para um cancro? Esta é a promessa da edição genética, uma tecnologia com potencial para se tornar a maior revolução da medicina desde a descoberta dos antibióticos. Texto MARISA VITORINO FIGUEIREDOR Andamos O ADN tem um lugar organismo: doenças graves ou predis-a brincar central no nosso or- posição para certas patologias.aos deuses? ganismo. É o nosso código biológico, uma É aqui que entra a proposta, cadaA edição genética espécie de manual de vez mais real, da edição genética. Comlevanta questões que instruções do nosso corpo, presen- novas técnicas, mais simples e efica-superam a ciência, te em cada uma das células de todos zes, esta “terapia na origem” permiteentre as quais alterar os seres vivos. Cada segmento da se- trocar ADN danificado por ADN sau-características quência de ADN é um gene herdado do dável. No centro desta revolução es-genéticas não pai e da mãe. E são os genes que ditam, tá a CRISPR/Cas9. Desenvolvida emrelacionadas com por exemplo, a cor dos olhos, o peso ou 2012, esta técnica de edição genéticadoenças, como a cor o tipo de cabelo. Nem tudo é perfeito. é vista com entusiasmo por quem tra-dos olhos. É nesta ténue Frequentemente, estas instruções têm balha de perto com o código da vida.linha entre inovação erros (genes defeituosos) que podem “É uma técnica que, a confirmar-se,científica e terrorismo resultar em problemas sérios para o poderá trazer a maior revolução pa-biológico caminhamos. ra a medicina desde os antibióticos”,Quais os custos?Estamos longe de saber.montepio O U T O N O 2 0 1 8

considera Clévio Nóbrega, responsá- Os nossos valores A 21 vel pelo laboratório de Neurociência “É uma Molecular e Terapia Genética do Cen- Saúde técnica que, tro de Investigação em Biomedicina da a confirmar- Universidade do Algarve. Mundial da Saúde, existem mais de 10 -se, poderá mil doenças humanas monogénicas. Com o CRISPR/Cas9 a edição do Com a edição genética, bastaria cortar trazer genoma tornou-se mais simples, aces- essa mutação e substituí-la por um pe- a maior sível, barata e eficaz, avança Daniel daço saudável. revolução Osório, investigador do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde O impacto pode ser ainda maior. para a da Universidade do Porto/Instituto de “Todas as doenças causadas por uma medicina Biologia Molecular e Celular (IBMC). alteração no ADN dos doentes podem, desde os “Esta técnica possibilita ir diretamen- de facto, ser alvo de edição do genoma”, antibióticos” te ao texto do manual e apagar o erro, explica Clévio Nóbrega, exemplifican-A resposta substituindo-o pela palavra certa. Em do com a doença de Machado-Josephà dor lombar termos científicos é extremamente útil ou as formas familiares de Alzheimer evem de e simples”, reforça. Parkinson. É também possível editar oPortugal? genoma para corrigir as mutações que Em vez de acrescentar informação, resultam em cancros. Ou, ainda, alterarO CRISPR tornou-se passa a ser possível cortar, com pre- genes para que se comportem de umpopular pela capacidade cisão, pedaços de ADN, substituindo modo diferente, algo que pode ser cru-de cortar mutações em um gene defeituoso por um saudável. cial para reforçar o sistema imunitário egenes, substituindo-os por Numa primeira fase, o componente criar terapias genéticas personalizadas.uma sequência saudável. CRISPR aponta o local preciso na se-No entanto, é possível quência de ADN. Depois, uma enzi- Os primeiros resultados de estudosaproveitar a ferramenta ma chamada Cas9 faz o trabalho de são muito promissores. O primeiro se-para outras aplicações. corte. Caso o objetivo seja substituir a não? “Ainda não se conhecem os efeitosQue o diga Joana Caldeira, sequência cortada, basta introduzir o a longo prazo de estar a mexer no ADN”,líder de um projeto de modelo “saudável” em simultâneo com adianta o investigador. E mesmo queaplicação do CRISPR em a enzima. Tudo isto pode ser feito dire- tudo corra bem em laboratório, serãoterapias de regeneração do tamente no organismo (através de uma necessárias várias décadas para que es-disco intervertebral, contra injeção, por exemplo) ou fora dele, com ses procedimentos sejam uma práticaa dor lombar, do Instituto células extraídas do paciente, editadas clínica. A eficácia do corte de ADN estáde Investigação e Inovação em laboratório e depois reintroduzidas. confirmada, falta garantir a segurança.em Saúde da Universidadedo Porto. A expectativa é conseguir curar Em julho, a Nature Biotechnology di-A proposta prevê que doenças sem bisturi ou medicamen- vulgou um estudo que alerta para o ris-a enzima usada ative tos. O potencial é grande, sobretudo co de danos perigosos com esta técnicaproteínas que estão muito na terapia genética para doenças mo- de edição. “Os genes funcionam comopresentes em feto e que se nogénicas, causadas pela mutação de uma orquestra e não como simples so-vão perdendo à medida que um único gene, como a hemofilia ou a listas”, avisa a presidente da Comissãoos anos passam – daí a dor fibrose cística. Segundo a Organização de Bioética da Sociedade Portuguesalombar ser associada ao de Genética Humana, Heloísa Santos,envelhecimento. lembrando que “a história da terapia gé-E, com isso, que se consiga nica já nos alertou, na década de 1990,regenerar o disco. “Também para graves riscos” na saúde humana.se trata de uma edição dogenoma, mas enquanto R Com a técnica CRISPR/ Da cura de doenças aos “bebésna terapia tradicional o Cas9 passa a ser possível perfeitos” por encomendaefeito é como um corretor substituir ADN danificado “O CRISPR/Cas9 é uma técnica mui-ortográfico, aqui é como por ADN saudável to dirigida, mais barata que outras tec-se estivéssemos a sublinhar nologias de edição e simples de utili-algo”, esclarece zar. E, por isso, é uma ferramenta maisa investigadora. acessível a qualquer pessoa”, explicaO projeto pioneiro recebeu, Daniel Osório. Além dos riscos, para oeste ano, um financiamentode 25 mil euros daSociedade Europeiada Coluna. O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A Os nossos valores Da promessa à realidade22 Saúde “Todos os resultados“É importante que não se ponha um apontam para que,travão absoluto à aplicação da tecnologia de facto, se consigamsó porque esta pode ser mal aplicada, corrigir mutaçõespelo que o importante é desenvolver a no ADN. Mas serãodiscussão sobre o que é desejável” necessários anos até que seja umaAnna Olsson prática corrente.Investigadora no IBMC Até por uma questão de segurança”, explicaorganismo, de cortar o ADN doutoramento incide, preci- cer que legislação e investi- Clévio Nóbrega. 20,no sítio errado, inserir tem- samente, nas implicações gação andam a velocidades 50 ou 100 anos?plates de reparação desade- éticas do CRISPR/Cas9. muito diferentes. “Se tivés- É difícil prever.quados ou criar novas muta- semos legislação ao ritmo A aplicação doções imprevisíveis, a edição Por um lado, a linha ger- da investigação, correría- CRISPR/Cas9 é vistado genoma abre a porta de minal é uma forma de erra- mos um grande risco de a também com interesseum novo capítulo da histó- dicar doenças da linha he- regulação ser mal pensada”, em plantas e animais.ria humana: a manipulação reditária. Por outro, abre a explica Anna Olsson. Na agricultura,personalizada do nosso có- porta à reprogramação total poderá ser possíveldigo biológico. das gerações futuras sem o “É importante que não criar culturas mais seu consentimento prévio. se ponha um travão abso- nutritivas e resistentes. Com o avanço da técnica, Ou a novos erros no geno- luto à aplicação da tecno- Em animais,poderá ser possível alterar ma, que começarão a ser logia só porque esta pode avança-se paracaracterísticas inscritas nos incluídos na linha hereditá- ser mal aplicada, pelo que a cura de doençasgenes que não sejam doen- ria. O risco é tão grande que o importante é desenvolver específicas ouças, como a cor dos olhos. a edição da linha germinal a discussão sobre o que é de- alterações queTodo este poder faz aumen- não deve sair do laborató- sejável” na edição do geno- protejam a saúdetar o receio de que, no futuro, rio. O seu uso é apenas au- ma, avalia Anna Olsson. Já humana (já existemse multipliquem encomen- torizado em investigação e Heloísa Santos defende que estudos, por exemplo,das de bebés perfeitos, prá- não para desenvolver bebés. “é fundamental atualizar a para alterar mosquitosticas de eugenia, biohacking legislação” e aguardar que de modo a que nãoem modo DIY (em que indi- As questões éticas asso- a fase experimental decorra sejam transmissoresvíduos alteram as suas pró- ciadas à edição genética não sem precipitações e salva- de malária).prias características) e terro- são novas, lembra Anna Ols- guardando o “princípio da Para um maior rigor,rismo biológico. son, também investigadora preocupação”, para que os o Tribunal de Justiça no IBMC. Há princípios in- riscos sejam devidamente da União EuropeiaComo traçar os limites? ternacionais seguidos por avaliados antes de “conse- determinou, este ano,A edição genética da linha todo o mundo, mas também quências desastrosas em que a edição genéticagerminal é a que levan- é verdade que, na prática, a pacientes”. O potencial pode deve estar sujeitata mais questões éticas, já abordagem dos países di- encadear, mas as pessoas ao mesmo controloque as alterações são feitas fere muito. A China avança “não podem, simplesmente, que os organismosno ovo, no espermatozoide com ensaios em embriões, fechar os olhos aos riscos”, geneticamenteou em fases iniciais do em- enquanto a Alemanha tem conclui. modificadosbrião. E, por isso, “não afe- reservas sérias. Sem esque- convencionais.tam só o indivíduo onde foi A corrida nafeita a edição do genoma Resumindo investigação émas podem passar a des- Netflix liderada, sobretudo,cendências futuras”, expli- Saiba mais sobre a edição pelos Estados Unidosca Pedro Dias Ramos, inves- de ADN nesta série que e China, onde játigador do IBMC cuja tese de aborda temas fulcrais em foram feitos testes episódios de 20 minutos. com embriões humanos (sem implantação) e há ensaios clínicos a decorrer com pacientes humanos. A pressa é evidente, até pelo apelo comercial de uma terapia bem-sucedida nesta área.montepio O U T O N O 2 0 1 8

AAceitaria a edição dos genes de um filho, ainda em fase embrionária, como terapia para uma doença genética? Os nossos valores 23\"Os defeitos Debateno nosso ADNestão na base de Heloísa Santosmuitas doenças, Geneticista Médica, Pediatra einclusive presidente da Comissão de Bioética da Sociedade Portuguesacancros\" de Genética HumanaSEM DÚVIDA. E eu \"Devemos aguardar o fim desta fasepróprio me sujeitaria a experimental, ainda cheia de incertezasuma terapia com essas e riscos desconhecidos\"técnicas caso esse cenáriose verificasse. Tendo A tualmente, teria grande interesses financeiros envolvidos,em conta o potencial relutância em aceitar ou deve ser considerada um grave errodestas ferramentas mais recomendar este método. e pode vir a anular as potenciaisrecentes de edição do Não porque considere a terapia vantagens. Devemos aguardar o fimgenoma e os cuidados genética, incluindo a realizada por desta fase experimental, ainda cheiaéticos que se impõem via germinal, eticamente reprovável, de incertezas e riscos desconhecidos.aos investigadores, ou porque não acredite que, no futuro A ausência dos genes de uma previstaacredito realmente que a próximo, este método de alteração doença genética não é, por si só,edição do genoma será sistematizada do genoma será uma a garantia de que uma criançauma vantagem para a boa solução para a cura de algumas nascerá saudável.Humanidade no seu todo. doenças genéticas. É importante sublinhar queOs defeitos no nosso Mas pelo princípio da precaução. existem alternativas. Por exemplo,ADN estão na base de Nos últimos tempos, a artificialmente o método de Diagnóstico Genéticomuitas doenças, inclusive acelerada passagem da investigação Pré-Implantação, que permite acancros. A possibilidade científica à aplicação prática das introdução de um embrião no úterode, com estas técnicas, novas técnicas de biotecnologia, materno sem a patologia genética quecorrigir o ADN e erradicar principalmente devido aos grandes se pretende evitar.essas doenças será, comcerteza, uma das maioresrevoluções na medicina.Confio no sistema, façoinvestigação nesta área eacredito que, muitas vezes,é necessário dar estespassos mais arriscadospara que a ciência possaavançar. \"A saúde de um filho seria a prioridade, acima das minhas próprias reservas em relação ao procedimento\"Clévio Nóbrega Filipa Mota Há um significativo historial essa angústia e “destino”, nãoInvestigador e Consultora de cancro na minha família. hesitaria. Sobretudo se essaresponsável pelo Imobiliária Temos a sensação, pelo lado “reprogramação” genética fosselaboratório de materno, que a doença é um a única alternativa para quebrarNeurociência dado adquirido. Já na família esta transmissão hereditária eMolecular e Terapia paterna, os acidentes vasculares corrigir a mutação nos genes.Genética (Centro cerebrais são comuns perto A saúde de um filho seria ade Investigação dos 60 anos – o que nos deixa prioridade, acima das minhasem Biomedicina da alerta para um certo risco de próprias reservas em relação aoUniversidade do hereditariedade da doença. procedimento. Desde que, claro,Algarve) Nas últimas duas décadas, existam avanços científicos assistimos todos os anos em comprovados que possam média, a uma morte na família, minimizar parte dos riscos de resultado de cancro ou AVC. uma intervenção desta natureza. Se pudesse poupar um filho a O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A Os nossos valores24 EntrevistaF undada em 1990, a As- João Lázaro sociação Portuguesa de Presidente da APAV Apoio à Vítima (APAV) tem contribuído, ano A violência após ano, para desmis- e o crimetificar o tabu da violência em Portu- não têm de sergal, ajudando milhares de pessoas, para sempresobretudo mulheres, a mudarem asua vida. João Lázaro, presidente da João Lázaro estudava Direito na UniversidadeAPAV, explica como a associação está de Lisboa quando chegou à APAV comoa empurrar a sociedade portuguesa voluntário. Vinte e seis anos depois, presidepara um “salto civilizacional” impen- a uma das instituições mais importantessável até há poucos anos. e nucleares da sociedade portuguesa.Em 2017 a APAV disponibilizou Texto CARLOS MARTINHO | fotografia BRUNO BARATA40 928 atendimentos ao público, um maquilhagem NICOLE LOURENÇOaumento de 19,2% em relação a 2015.O que motivou este crescimento tão cessidades da sociedade portuguesa. APAV e Associaçãoexpressivo? A cibercriminalidade traz crimes MutualistaEm primeiro lugar, o facto de a APAV novos – roubo de identidade, esque- Montepio: umase empenhar em promover uma abor- mas fraudulentos ligados ao roman- ligação estreitadagem de proximidade. Em segundo, ce – e dá novos instrumentos crimino-o trabalho que se tem desenvolvido sos a crimes que já existiam: bullying, Em dezembro de 2017,através dos novos meios de chegar às stalking, perseguição ou calúnia. A par- a APAV foi uma daspessoas, o apoio à distância. Falo do tilha de imagens de cenas íntimas já três instituições daapoio à vítima mas também da for- está a ser incluída na violência domés- sociedade civil apoiadasma como chegamos às comunidades tica. Por outro lado, através da Internet pela AMM através damais jovens através das redes sociais. conseguimos mais facilmente chegar campanha PoupamosNo ano passado apoiámos pessoas de às pessoas – no Facebook, no Skype, juntos, ajudamos juntos.264 concelhos do país. Isto significa, no Messenger ou através da nossa app. A campanha fortaleceutambém, uma crescente complexida- Os desafios digitais têm de ser vistos a ligação entre as duasde dos processos de apoio, na área da nesta dupla perspetiva. entidades. “A AMM deu-violência contra as pessoas mas tam- O facto de o mundo ser hoje diferente -nos a honra de ser nossabém dos fenómenos ligados à ciber- do que era há cinco, 10 ou 20 anos tem parceira, ajudou-nos acriminalidade, crimes patrimoniais, levado a algum reajuste na estrutura consolidar e forneceu-nosapoio aos familiares e amigos das da APAV? ferramentas essenciaisvítimas de homicídio e às crianças e A APAV tem tido essa capacidade. para a mudança dajovens vítimas de abuso sexual. O nosso plano estratégico faz uma realidade prática dasA massificação digital colocou novos análise do que está a acontecer, ain- vítimas”, esclareceu Joãodesafios à APAV? da que alguns dos novos desafios se- Lázaro. Uma parceria queClaramente. A APAV tem feito um es- jam imprevistos. A cibercriminalidade, continuará no futuro.forço para se adaptar às novas ne- a grande chegada a Portugal de mi- grantes, há uns anos, ou o tráfico demontepio O U T O N O 2 0 1 8

“Os portugueses estão a tolerar menos a violência doméstica, estão menos tempo nas relações e avançam depressa para uma queixa formal junto das autoridades”seres humanos são bons exemplos. os homens, entre o mesmo sexo, ho-Os crimes sexuais estiveram em des- mens ou mulheres.taque no último ano através do movi- Existe uma grande democracia namento Me Too. Este movimento pas- violência.sou ao lado de Portugal? Gosto de utilizar a palavra democra-Não teve grande repercussão. Se ca- cia para efeitos mais positivos que alhar tem a ver com a forma como, cul- violência. Mas existem múltiplos des-turalmente, encaramos a questão da tinatários da violência e fenómenosviolência sexual. A APAV tem vindo a muito transversais a esta. Na violên-fazer um grande trabalho com as ví- cia doméstica conhece-se 40 a 50%timas de violência sexual adultas, ao da realidade.mesmo tempo que dá uma resposta Não serão números otimistas?cada vez mais especializada a crian- Sim, parecem otimistas. Mas a verda-ças e jovens que são vítimas deste de é que os portugueses estão a tolerarcrime. Queremos que a comunidade menos a violência doméstica, estãosaia do silêncio, que é cúmplice des- menos tempo nas relações e avançamtas situações. Na violência exercida mais depressa para uma queixa for-contra as pessoas mais velhas, mas mal junto das autoridades judiciais.também na violência doméstica, que Isso é positivo.é sobretudo contra as mulheres mas Se a APAV tivesse o dobro dos recur-não unicamente. Há violência contra sos conseguiria chegar ao dobro das pessoas? A APAV tem condições para chegar a mais gente. A estrutura existe, assim como o conhecimento e a experiência. É uma questão de dimensão de escala, de organização, de controlo de quali- dade e de acompanhamento. 80% das vítimas que chegam à APAV são do sexo feminino. O que tem sido feito pelos órgãos de soberania, em Portugal, para retirar peso à mulher como vítima? Portugal fez um grande salto civiliza- cional, nos últimos 28 anos, no que to- ca aos crimes de violência doméstica e à mulher vítima de violência domés- tica. Em Portugal, a sociedade civil é por vezes apontada como pouco in- terveniente, mas a questão da violên- cia doméstica foi colocada na agenda pública e política pelas organizações da sociedade civil. A violência domés- tica não é o principal fenómeno crimi- nal em Portugal – está em quarto ou O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A Os nossos valores “Há graus afeta o alto dirigente, o técnico de lim- diferentes peza, quem mora no interior, nas ilhas,26 Entrevista de violência nas principais cidades. mas todos Como será a APAV dentro de 10 anos Como fomos, e como idealiza esta evolução? contactar durante a A APAV aposta na consolidação da cul- a APAV? vida, alvo de tura institucional e na existência para violência” além das pessoas. A APAV nasce com Basta uma chamada dois grandes desígnios: tornar-se na- para o 116 006, entre quinto lugar –, mas conseguiu captar cional e incorporar uma rede de volun- as 9h e as 19h dos dias um consenso ao longo dos vários go- tariado social que ajude as vítimas de úteis, para ser atendido vernos constitucionais. crime. Se fosse remunerada, a nossa por um técnico da APAV. O país é homogéneo em relação aos rede de voluntários contribuiria com A chamada é gratuita. casos de violência? um milhão de euros por ano para a co- Por Skype, pode Vou dizer um jargão, mas a violência munidade. A grande aposta é a conso- contactar a APAV através atravessa horizontal, vertical e geo- lidação do papel da APAV na sociedade do perfil apav_lav ou, graficamente a sociedade portuguesa. portuguesa, para contribuir para que se preferir um contacto Podem existir epifenómenos, mas haja mais respeito por quem é vítima presencial, aceda a de crime e que estas pessoas tenham apav.pt para conhecer o direito a um apoio essencial. os 18 gabinetes de apoio Alguma vez foi vítima de violência? à vítima espalhados pelo Há graus diferentes de violência mas país. Todos os serviços todos fomos, durante a vida, alvo de prestados à vítima são de violência. gratuitos e confidenciais. E alguma vez interveio diretamen- montepio O U T O N O 2 0 1 8 te num caso que a APAV estivesse a tratar? As metodologias da APAV estão bem definidas, mas em alguns casos mais complexos, de grande dimensão, mui- tas vezes sou chamado. É provável que exista um cidadão que esteja a ler esta entrevista, seja víti- ma mas não tenha dado o primeiro passo. Que mensagem gostaria de lhe deixar? As pessoas têm direito a ultrapassar e menorizar os efeitos da violência, o direito a serem felizes. E falar ajuda. A violência e o crime não têm de ser para sempre. É o início de uma vida nova. Pode ser. Não é um percurso fácil se estivermos a falar de violência do- méstica. As pessoas vêm com níveis de confiança e autoestima muito bai- xos, mas este caminho tem de ser tri- lhado para se ter um projeto de vida sem violência.



A Os nossos valores28 TecnologiaA idadede ourodos podcastsQuinze anos depois de terem entrado, de formaenvergonhada, nas nossas vidas, os podcastsencontraram o seu espaço como meio privilegiadode informação e entretenimento. Era uma questãode tempo, como lhe contamos neste artigo.Texto CARLOS MARTINHO | fotografia ARTURD onaldTrump aindanãoti- Now, o The Intercept, The Correspon- nha sido eleito presidente dent ou a Agência Pública, do Brasil. dos Estados Unidos quan- E não existia um projeto de jornalismo do Ricardo Ribeiro teve a desses em Portugal”, refere.ideia de lançar um podcast de jorna-lismo independente. Mas o magnata Com o esboço do projeto na cabeçanorte-americano terá estado, indire- – um podcast de entrevistas que fizessetamente, na génese do projeto Fuma- as perguntas que os media tradicionaisça. A história conta-se num parágra- não faziam – Ricardo correu a contarfo. Enquanto passeava o cão, Ricardo a ideia aos amigos. Um deles, Tomásouviu um podcast sobre as eleições Pereira, sugeriu-lhe enviar um email anorte-americanas e ficou surpreen- três personalidades da sociedade por-dido pela qualidade do conteúdo e tuguesa: o eurodeputado Rui Tavares,pertinência das questões colocadas o jornalista Daniel Oliveira e o cronistapelos jornalistas. e investigador Pacheco Pereira. Destes, apenas o último não respondeu. A 22 “Cheguei a casa e disse à minha de junho de 2016, ainda sem nome, ocompanheira que alguém deveria fa- podcast lançava o primeiro episódio:zer as perguntas que tinha acabado uma entrevista de mais de uma horade ouvir. Ela disse-me: ‘porque não a Rui Tavares sobre o projeto europeu.fazes tu isso?’”. Ricardo não se lem-bra do nome do podcast que lhe pro- “A maioria dos meios de comuni-vocou uma ânsia tão grande de criar, cação não aprofunda os temas. Quan-ele próprio, um projeto que pudes- do o fazem, é uma coisa diluída emse espevitar a sociedade, mas deixa relação a tudo o que existe no meio.algumas pistas. “Ouvíamos muitos Não existiam meios que dessem vozprojetos de jornalismo independen- a uma série de pessoas que tambémte de todo o mundo. O Democracy são parte da sociedade. Era preciso ir ouvir os moradores de um bairromontepio O U T O N O 2 0 1 8

29O podcastque se tornounum meio decomunicaçãoRicardo RibeiroCofundador do podcastFumaçaFundado em 2016 por umgrupo de jovens que nãose revia na forma comoos media portuguesestratavam temas como osdireitos humanos, o racismo,o feminismo, a educação,a religião ou o ambiente, oFumaça ganhou rapidamenteum espaço importanteno cenário português depodcasts. Com um estilode entrevista e reportagemincisivo e refrescante, oFumaça granjeou notoriedadeentre os mais jovens e nacomunidade emigranteportuguesa, reunindo apoiosfinanceiros que permitiram odesenvolvimento do projeto.“A maioria das pessoas queinterage connosco nas redessociais e nos envia emailsestão descontentes com ojornalismo em Portugal”,explica Ricardo Ribeiro.Em abril, o Fumaça recebeu anotícia mais importante desdea sua fundação: a atribuiçãode uma bolsa de 80 mileuros por parte da OpenSociety Foundations, redede fundações liderada pelofilantropo George Soros.Adeptos da transparência,os membros do podcastdisponibilizam aos ouvintes,em fumaca.pt, informaçãovariada sobre receitas edespesas, salários e factosfinanceiros relevantes. Maisrecentemente, o Fumaçaregistou-se como órgãode comunicação social epassou a disponibilizar osvídeos das entrevistas que,até agora, eram partilhadasunicamente no podcast. “Masnão vai mudar nada. Vamosfazer exatamente o mesmo”,garante Ricardo Ribeiro. O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A TecnologiaOs nossos valores periférico de Lisboa ou os duz – decide e que pode ser 20 podcasts para começar30 cidadãos que estão sofrer escutado online ou offline. a ouvir hoje bullying imobiliário”, expli- É, na verdade, o melhor de Humor, informação, cultura e cou. Hoje, o Fumaça é um dois mundos, entre a intimi- ficção. Estes 20 projetos vão despertar-lhe a paixão pelos dos podcasts mais ouvidos dade da rádio e a facilidade podcasts. InternacionaisComo de Portugal, influenciando de distribuição digital. This American Lifecomeçar uma geração de portugue- O fenómeno cresceu ra- Reply Alla ouvir um ses que não se revê em ne- Heavyweightpodcast? nhum meio de informação. pidamente, talvez rápido de- Reveal mais. Em Portugal, muitos SerialNo seu computador, O que é um podcast? ainda se recordavam do pe- Pop Culture Happy Hoursmartphone ou tablet Em 2004, num artigo pu- ríodo áureo das rádios piratas Culture Gab Festpode aceder a apps blicado no jornal britânico e os seus programas de autor. Criminalgratuitas que lhe The Guardian, o jornalista No podcast, porém, foi o al- Joe Roganpermitem não só ouvir Ben Hammersley constatou cance da Internet – e não o Fareed Zakaria GPSos podcasts favoritos uma revolução na forma co- éter radiofónico –, o meio pa-como o avisam de mo se ouvia rádio, fruto de ra a expansão. Portuguesesnovos episódios. Fumaça “Em 2006 já existiam Governo Sombra Pessoal e Transmissível três fatores: a massificação cerca de 50 podcasts em Bloco Central Prova Oral dos leitores de MP3 – entre Portugal”, afirma Luís Bo- Ar Livre Extremamente Desagradável os quais o iPod, da Apple –; nixe, professor de jorna- Quem Nunca Macaquinhos no SótãoNo computador oaparecimentodesoftwares lismo no Instituto Politéc- Traz Cerveja deproduçãoáudiogratuitos nico de Portalegre e autor Jovem Conservador de DireitaVários sites de e a popularidade dos blogs. do primeiro – e provavel-informação, cultura “Estes são os ingredientes mente único – estudo so-e até blogs possuem para um novo boom de rádios bre podcasts em Portugal.dispositivos que lhe amadoras”, escreveu. O au- “Há doze anos, os podcas-permitem ouvir o tor sugeriu três nomes para ters sentiam-se insatisfei-podcast de forma o fenómeno: audioblogging, tos com o panorama dosimediata. guerrillamedia ou podcasting. media em Portugal e viamSoundcloud.com O último singrou. nos podcasts uma fórmulaou podcasts.com, de oferecer conteúdos dife-especializados na O podcast começou por rentes”, relembra.distribuição de surpreender pela simplici-ficheiros áudio, dade. Tratava-se de um fi- Nos primeiros anos, ossão duas boasalternativas. cheiro áudio que podia fa- podcasts portugueses vive- cilmente ser descarregado ram do entusiasmo de cria- para um computador, leitor tivosedosadeptosdetecno-No smartphone de MP3 ou, mais recente- logia, muitos deles ligados aou tablet mente, para um smartpho- blogs e outras plataformasOs dois dispositivos ne ou tablet. Um conteúdo de partilha de informaçãotêm apps de podcasts que pode ter a duração que na Internet. Os media man-incorporadas o podcaster – quem o pro- tiveram-se afastados do fe-(Podcasts para iOSe Google Podcasts “O panorama atual nadapara Android). Através tem a ver com 2006.destas pode procurar Hoje, muitos humoristas,os seus podcasts atores, músicosfavoritos. ou escritores já têmEm alternativa, um podcast”existem várias outrasapps disponíveis na Luís BonixeApp Store e Google Professor de Jornalismo noPlay, algumas Instituto Politécnico de Portalegregratuitas (Podbean,Stitcher, Overcast,Speaker PodcastRadio), e outras pagas(Pocket Casts).montepio O U T O N O 2 0 1 8

Amor à primeira vista? Romana ou Joana Marques. 31Nem por isso. Qualquerpessoa podecolo- car um podcast no ar. Mas é oFrancisco Neves talento que decide os preferi- dos dos portugueses.Consultor de softwareOs podcasts alteraram a determinado contexto. “O que mais O regresso à vozforma como consumimos E também descobres valorizo no Na ausência da imagem, aa informação e o interesse em temas que podcast é o voz e os sons de fundo ga-entretenimento. Segundo não te dizem muito, como facto de o poder nham preponderância naso estudo The Infinite aconteceu comigo com consumir histórias reveladas pelosDial, 48 milhões de o 30 for 30, um podcast em qualquer podcasters. “A voz é podero-norte-americanos ouvem sobre os episódios momento do sa e há muitas coisas que nãoum podcast por semana, caricatos do mundo meu dia” podem ser transcritas: as he-um crescimento de 10% do desporto. Não tens sitações, as repetições. E issoem relação a 2013. de gostar de desporto Mafalda Maia sempre foi muito forte paraPara Francisco Neves, para gostares daquelas Designer nós”, revela Ricardo Ribei-consultor de software de histórias”, conclui. ro. O cofundador do Fuma-32 anos, o podcast é um Ainda assim, o podcast nómeno até há pouco tem- ça acredita que existe umameio privilegiado para está longe de ser uma po, o que pode ajudar a per- “barreira empática” que dánavegar na encruzilhada paixão imediata. “Precisei ceber algum arrefecimento genuinidade às reportagensdo entretenimento. \"Sou de algumas audições e do interesse pelo novo meio. áudio. “Podemos não concor-um ávido consumidor só me apaixonei depois “A apropriação que as pes- dar com o que a pessoa diz,de cultura pop. Ouvir de descobrir uma boa soas fazem da tecnologia é mas percebemos porque opodcasts é mais uma app para ouvir podcasts mais lenta do que pensa- faz”, garante.forma de conhecer longe do computador”, mos”, explica Luís Bonixe. Nas reportagens, este ima-histórias e saber mais relembra Mafalda Maia, ginário ganha uma prepon-sobre temas que nem designer de comunicação Desde 2012, porém, que derância extra. Em setem-sempre têm espaço que não passa sem os podcasts têm vindo a ga- bro, Ricardo Ribeiro e Ma-nos outros media uma longa lista de nhar um novo fôlego. Não só ria Almeida viajaram pelaportugueses\", conta. podcasts portugueses em Portugal mas também no Palestina, uma vivência queFrancisco começou por e internacionais. “O que resto do mundo. Rádios, tele- resultou numa reportagemouvir programas de mais valorizo no podcast visões, jornais e sites têm dis- de seis episódios sobre orádio que não conseguia é o facto de o poder ponibilizado mais conteúdos conflito israelo-palestiniano.acompanhar em direto, consumir em qualquer neste formato, mas são os Em breve, porém, os apoian-como o Prova Oral, da momento do meu dia. Não entertainers que melhor sa- tes do Fumaça poderão ouvirAntena 3. Mas foi com preciso de me sentar para bem utilizar a sua visibilida- a versão integral dessa via-The American Life, um ouvir um podcast, como de. “O panorama atual nada gem – 60 horas. “Faz parte daprograma de rádio teria que fazer para ler tem a ver com 2006”, revela visão de jornalismo integralque se transformou em ou ver um filme. Consigo ir Luís Bonixe. “Hoje, muitos que temos, que dá ao ouvintepodcast, que “a coisa da sala para a rua, para humoristas, atores, músicos tudo para que ele tome a suaficou mais séria”. o trabalho e para ou escritores já têm um pod- decisão”, garante Ricardo Ri-A diversidade de temas o supermercado cast. Muitos migraram re- beiro. No verão, o projeto re-abordados nesta sem interromper. centemente para este meio”, cebeu uma bolsa de 80 milplataforma é outros dos Ou interromper quando recorda. A lista dos podcasts euros da Open Society Foun-chamativos. “Descobres dá jeito, para retomar a mais ouvidos em Portugal dations e construiu um estú-coisas que nem sabias audição depois”, explica a confirma-o. Nomes como dio, comprou novos equipa-serem relevantes num designer de comunicação. Nuno Markl, Ricardo Araújo mentos e investiu nos vídeos. Pereira, Bruno Nogueira ou Uma traição ao podcast? P Francisco Rui Unas, já conhecidos do “A certa altura investimos Neves vê nos público, competem com Pe- no vídeo, mas o áudio conti- podcasts uma dro Teixeira da Mota, Susana nuará a ser a nossa priorida- oportunidade de”, garante Ricardo Ribeiro. para conhecer Até quando? O futuro dirá.histórias que não são partilhadas pelos media portugueses O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A Os nossos valores32 ComportamentoVidaspartilhadasO boom do mercado imobiliárioe as transformações urbanísticasestão a alterar o modo como se vivee se partilha a habitação.Conheça o co-living, a nova formade vida em comunidade que jáchegou a Lisboa.Texto SARA BATISTAL auren Smith* tem 36 anos Havai, na Califórnia e agora em Lisboa. e uma mente aberta a no- “É incrível. A oportunidade de uma vi- vas experiências. Com uma da.” É assim que descreve a experiên- filosofia de vida que a leva cia de partilhar a casa com pessoasa viajar pelo mundo, encontrou no que não conhece mas que têm a mes-co-living uma solução à sua medida. ma ambição: morar em zonas nobres“Dá-me a oportunidade de sociabili- da cidade a um preço competitivo, azar com pessoas que viajam e traba- possibilidade de dividir as despesaslham como eu.” comuns e a liberdade de não ter um contrato de arrendamento às costas. O entusiasmo à volta do co-living,um dos conceitos habitacionais emcrescimento nas grandes cidadesmundiais, é partilhado por milha-res de jovens como Lauren, traba-lhadores expatriados, investigado-res ou apenas profissionais em iníciode carreira e que procuram um es-paço onde possam viver sem custoselevados e obrigações contratuais. Amaioria destas empresas disponibi-lizam quartos com várias camas oubeliches, cozinhas equipadas e In-ternet de alta velocidade, garantemum espaço mobilado e bem deco-rado, onde o design é levado ao por-menor. Consultora na indústria daaviação, Lauren já experimentou es-te ambiente criativo na Indonésia, nomontepio O U T O N O 2 0 1 8

P O co-living P&R valoriza o design e os pequenos Paulo Magalhães detalhes. Administrador da Os millennials que Montepio Residências a ele recorrem para Estudantes sentem-se em casa O projeto Montepio nossos princípiosAo preço mais acessível, quando com- zação dos apartamentos, com U Live nasceu em orientadores éparado com o mercado de arrenda- os preços por metro quadrado 2016. O que levou precisamente omento tradicional, soma-se a vanta- a baterem recordes, e a fraca a Associação equilíbrio entre ogem face a um contrato normal. Ao oferta de casas para arrendar, Mutualista bem de um e o bemoptar por este serviço, o inquilino têm empurrado os millennials Montepio a investir do todo.não precisa de assinar um contrato para soluções como o co-living. nesta área?por longos períodos de tempo, não A somar a isto, a interação entre A Associação O projeto não étem de fazer prova de rendimentos os diferentes residentes, favore- Mutualista está exclusivo parafixos, nomear um fiador ou, até, mo- cida pela existência de espaços sempre à procura associadosbiliar o apartamento. Características comuns que permitem a socia- de soluções que Montepio.interessantes para quem se mudou lização, é considerado um fator materializem as Equacionamrecentemente para uma cidade ou positivo e até crucial. Caracte- necessidades dos caminhar parapretende um alojamento temporá- rísticas que, aliadas à flexibilida- associados em essa realidade?rio. “O co-living é ideal para pessoas de de arrendamento, permitindo projetos reais. Este Não pretendemosque viajam sozinhas”, afirma Lauren. diferentes períodos de ocupação, projeto conjuga que esse seja um compõem a receita perfeita pa- a existência fator de exclusão.O boom do mercado imobiliário ra aliciar cada vez mais jovens de património Todavia, é nossaHá dois anos que o valor médio de ao co-living. imobiliário com a ambição que osarrendamento, tanto em Lisboa co- falta de oferta de estudantes semo no Porto, é cada vez menos atra- “As nossas cidades têm muito alojamento para identifiquem com ostivo para os jovens. A sobrevalori- boas condições para atrair resi- estudantes com valores e princípios dentes não habituais ou tempo- qualidade e a da Associação O co-living rários”, adianta Marta Costa, di- preços adequados. Mutualista, permite morar retora de research e consultoria sendo também em zonas nobres na Cushman & Wakefield. A segu- Qual o conceito nossa ambição da cidade a um rança, a elevada qualidade de vida das residências? desenvolver uma preço competitivo, e a boa oferta de ligações aéreas Proporcionar oferta de benefícios sem contrato de favorecem a opção por Portugal. a estudantes que agreguem arrendamento que optam por valor à experiência É também nisto que acredita desenvolver a residencial e com a Emmanuel Guisset. “Lisboa é um sua formação em e que não se possibilidade de grande centro para nómadas di- Portugal, além resumam aos dividir as despesas gitais, é um ótimo lugar para se de residência benefícios viver”, afirma o CEO da empresa ou alojamento, financeiros já comuns de co-living Outsite. Foram ra- as condições de existentes. zões suficientes, no seu ponto de estudo e bem-estar vista, para juntar a capital portu- necessárias para As residências guesa a uma lista de 14 cidades desenvolverem o seu aproximam-se nas quais o seu conceito já está percurso académico do conceito de implementado. com sucesso. co-living, cada vez mais procurado. Promove-se Ponderam alargar o espírito de esta oferta a comunidade entre outros perfis? os residentes Para já não temos ou valoriza-se a definida essa privacidade e as oferta, mas estamos áreas individuais? atentos à evolução Valoriza-se o espírito das necessidades de comunidade da sociedade, pelo entre os residentes, que a oferta de mas também alojamento a outros o respeito pela perfis em regime de privacidade co-living poderá vir e pelas áreas a ser uma realidade individuais. Um dos no futuro. O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A Os nossos valores34 Comportamento“As nossas cidades têm nunca abrangerá todo o mercado. Hotel, hostel,muito boas condições A ocupação tradicional do imobi- Airbnb oupara atrair residentes não liário continuará a existir e muito co-living?habituais ou temporários” provavelmente continuará a ser predominante”, refere Marta Costa. É perante esta questãoMarta Costa Contudo, é suficientemente signi- que se encontram muitosDiretora de research e consultoria ficativo para abanar o setor, sendo jovens profissionaisda Cushman & Wakefield que todo o mercado do imobiliário liberais. Trabalhadores está já de olhos postos neste novo expatriados, que O novo paradigma da habitação conceito. “O co-living e outros con- viajam e trabalham Outsite é uma das empresas que está ceitos de co-property são classifi- remotamente, ponderam a revolucionar o mercado imobiliário cados como setores alternativos frequentemente qual em Lisboa. Possui um empreendimen- no imobiliário, mas cada vez mais a melhor opção de to com 30 camas no Cais do Sodré e chamam a atenção dos investido- alojamento para o tem promovido uma nova forma de res, nacionais e internacionais”, seu estilo de vida. Foi vivência que nasce de um conceito adianta a responsável. exatamente o que mais abrangente chamado sharing aconteceu com Emmanuel economy – ou economia colaborativa. Embora esta tendência de eco- Guisset, o agora CEO Este movimento, em grande parte pro- nomizar custos já se tenha ma- da Outsite. Ainda antes vocado pelas alterações sociológicas nifestado sob outras formas – no de considerar o co-living que o avanço tecnológico tem incenti- surgimento da plataforma Airb- uma opção, este jovem vado, assenta no princípio de partilha nb ou na proliferação dos hos- empreendedor estava a de meios humanos e físicos, reduzin- tels –, a voz da experiência diz dar os primeiros passos do os custos de investimento e o valor que são coisas diferentes. “Já fi- numa start-up, em São final do produto para o consumidor. quei em hostels, mas há dema- Francisco, quando decidiu O co-living é um bom exemplo dessa siada diversão e não conseguia mudar-se e começar filosofia mas aplicado ao imobiliário. concentrar-me ou ser produtiva. a viajar e a trabalhar Também experimentei o Airbnb, remotamente. “Estava “Será certamente um dos caminhos mas senti-me isolada e aborreci- sempre a usar o Airbnb, futuros de evolução do imobiliário, mas da”, garante Lauren Smith. hostels ou hotéis e nenhum deles era bom Ao contrário, o co-living permi- para o meu estilo de vida”, te um estilo de vida menos stres- explica. Os primeiros sante, onde se promove a troca porque são inconsistentes de ideias e conhecimentos atra- e têm, muitas vezes, mau vés de eventos e encontros que sinal de wi-fi, os hostels resultam num ambiente de tra- porque “têm demasiadas balho mais produtivo. “É uma for- festas” e os hotéis “são ma premium de viajar e trabalhar”, demasiado caros para conclui Lauren. estadas prolongadas”. Perante este cenário, e * A pedido da entrevistada, e para inspirado pelo espírito de proteger a sua identidade, foi utilizado comunidade sentido nos um nome fictício. espaços de co-working – a sua única solução para conseguir trabalhar – ,Emannuel teve uma ideia brilhante: juntar esta filosofia ao alojamento. Santa Cruz, na Califórnia, foi a cobaia de um conceito que está a chegar a várias cidades de todo o mundo.montepio O U T O N O 2 0 1 8

Aceitaria partilhar a casa Os nossos valores A 35 com desconhecidos? Debate\"Sim. Já o fiz Gonçalo Martinsem diversos Produtor de cogumelosmomentos daminha vida\" \"Já o fiz. Mas neste momento não voltaria a fazê-lo\"NÃO SÓ ACEITARIA comojá o fiz em diversos J á tive de partilhar casa quando conseguisse suportar sozinho umamomentos da minha era mais novo. Sou de Bragança renda mensal. É o que acontece muitasvida. A primeira situação e, na altura, fui estudar para a vezes – é habitual vermos pessoas afoi quando fui estudarpara a Universidade de UTAD - Universidade de Trás-os-Montes recorrerem a esta opção como umaCoimbra. Não sendo deCoimbra, a entrada na e Alto Douro. Como não conseguia pagar ajuda para pagar o empréstimo que têmuniversidade levou a queos meus pais tivessem de sozinho a renda de um apartamento, tive ao banco. Aliás, tenho um amigo queencontrar um alojamento,compatível com o de dividir casa com outros estudantes comprou uma casa e, numa fase inicial,orçamento familiar, ondeeu pudesse permanecer como eu. Voltei a fazê-lo há quatro anos, teve de alugar um quarto a estudantesdurante o período letivo.Neste contexto, após tinha eu 38 anos, por outros motivos. para conseguir pagar todas as despesasvisitarmos várias ofertas,a opção radicou-se na No entanto, neste momento, não voltaria que tinha. Mas eu, neste momento,escolha entre quartos comcondições de conforto e a fazê-lo, não é sequer uma opção para definitivamente não o faria. Tambémhabitabilidade bastantemodestas, para não dizer mim. Isto quando se começa a ficar tenho a vantagem de viver numa cidadeinsuficientes, ou um quartocom melhores condições, mais velho... que ainda não sofreu com o boommas partilhado. A decisãoacabou por recair na Só ponderaria partilhar casa se fosse imobiliário, como Lisboa ou Porto.partilha de quarto.Assim, durante essa fase com uma pessoa amiga ou se tivesse Se vivesse numa cidade grande talvezda minha vida, não sópartilhei casa como até o dificuldades económicas e não tivesse uma opinião diferente.quarto de dormir.Uma segunda situação \"Só seria uma opção se não tivesseocorreu quando tive de meio de suportar uma renda sozinha\"mudar de casa, já queexistia um hiato de dois Célia Loureiro Há duas abordagens a pesar: a partilhado com outras trêsmeses entre a data de Técnica de do investidor, e do modo como ou quatro pessoas. Quem é osaída da primeira casa e Turismo e o seu investimento conduzirá principal beneficiado? O valora data em que a segunda escritora o rumo do arrendamento/ de 900 libras não é irrisório.estava disponível. Durante mercado imobiliário, e a dos Por outro lado, pode ser a únicaesses dois meses optei jovens profissionais, estudantes, opção para quem precisa de sepor arrendar um quarto expatriados com poucos recursos estabelecer numa cidade comnuma casa partilhada, para se manterem no centro de o custo de arrendamento demantendo, até hoje, cidades como Lisboa. Lisboa. Parece-me claro queamizades que fiz na altura. No primeiro caso, os lucros abrir o mercado e a sociedade poderão fazer desta tendência a esta opção significará rendasAna Pinto um novo Airbnb o que, na prática, mais caras e, a médio-longoSecretária de Estado continua a subir os valores das prazo, alterações no nossoda Habitação rendas e a impedir que estes modelo social/familiar; se boas “jovens profissionais” venham ou más ainda não consigo a ser “jovens independentes antever. Da minha parte, só com casa própria/alugada” e seria uma opção se, mesmo a expulsar a população para a considerando a periferia, não periferia. Em Londres já existe tivesse meio de suportar sozinha um paralelo a isto: paga-se um arrendamento. E nunca seria 800/900 libras por mês por encarado como uma escolha um quarto num apartamento trendy ou positiva. O U T O N O 2 0 1 8 montepio

ManifestoRita Cabaçopelo presente Carpe diem. Não existe aforismo que assente melhor a Rita Cabaço, a jovem de 25 anos que é uma das revelações do teatro português. Reconhecida em março como Melhor Atriz de 2018 pela Sociedade Portuguesa de Autores, Rita Cabaço não esconde que valoriza o presente e tudo o que o rodeia. É neste espaço temporal que pretende pensar, refletir e deixar a sua marca. Texto SARA BATISTA | fotografia ARTURmontepio O U T O N O 2 0 1 8

Os nossos valores A 37 PerfilU mencontrocomoacaso. do entra em cena, admite, é como se “É terrível não Foi assim, como quem entrasse numa espécie de metamor- poder fazer não sabe bem o que fose. “É pôr em prática aquilo que me planos, mas procura, que Rita Caba- rodeia num corpo que é o meu, juntar chega a ser um ço descobriu o teatro. momentos, gestos e sons que um dia paradoxo, porque“Quando se é novo não se pensa mui- vi ou ouvi.” Na descoberta de uma pro- o que mais gostoto no que se quer fazer... eu não sabia o fissão que se revelava cada vez mais nesta profissãoque era o teatro mas dava-me prazer.” complexa, Rita decide seguir para a é o risco”Rita tinha apenas 14 anos quando fre- Escola Superior de Cinema e Teatro.quentou o curso de Interpretação da “O Conservatório dá-nos uma grande va a fazê-lo. E, obviamente, não é peloEscola Profissional de Teatro de Cas- capacidade de criação, estimula-nos a dinheiro ou pela fama.” Receber porcais (EPTC). Uma idade muito precoce, fazer, a pensar e a criar.” espetáculo, não saber quantos mesesconfessa, para perceber no que estava por ano vai trabalhar ou sequer se vaia meter-se. “Foi na EPTC que me depa- Após a formação juntou-se à com- conseguir pagar a renda é “o normal”.rei com a complexidade, o sentido de panhia de teatro Cornucópia, local on- “É terrívelnãopoderfazerplanos,massacrifício e de disciplina da profissão.” de ganhou o sentido de honestidade e chega a ser um paradoxo porque o queO choque com a realidade viria, contu- seriedade para com os temas aborda- mais gosto nesta profissão é o risco.”do, a estimular ainda mais o fascínio de dos. Foi na Cornucópia que construiu A atração pelo erro, o fascínio pelo des-Rita. O teatro, diz, é uma espécie de ob- os alicerces que a levaram a fundar, conhecido é, então, o que move Rita.servação do exterior. “Vou-me deparan- com os seus companheiros de hoje, o Contudo, o desconforto não desapare-do com o que me rodeia mas também projeto Teatro na Cidade, estreado em ce. “Isto não é um hobby, é uma profis-com aquilo que sou, porque a minha 2016 com Os Justos, de Albert Camus. são, e eu não quero deixar de acreditarferramenta sou eu e a observação dos “Sentimos que já tínhamos capacida- que devo ser paga a fazer aquilo de queoutros.” Interpretar é uma tarefa sem de e responsabilidade de criar e de pôr gosto. Porque o que faço tem importân-fim, um estudo permanente de auto- em prática aquilo que nos interessava cia.” Uma importância que é constan-descoberta, de perceber quem é a Ri- falar.” Isto é, uma reflexão do presente, temente posta em causa pela falta deta de hoje e quem poderá ser a Rita de seja ele qual for. reconhecimento público da arte. “A cul-amanhã. Tudo isto é um trabalho esti- tura é de todos e os espetáculos servemmulante, admite a atriz. “É a racionali- O fascínio iminente para nos aproximar, para observarmoszação do mais ínfimo pormenor, tanto A paixão pela representação tem al- o que nos rodeia e para nos fazer pen-a nível político como social. É, no fundo, guns contrapontos. A instabilidade da sar. E a cultura é fulcral”, afirma. Tantosentir que somos úteis, que podemos profissão é um fantasma que não de- como a justiça, a saúde ou a educação.pensar e mudar alguma coisa juntos.” saparece. “Esta profissão só vale a pe-E, quando aí se chega, é difícil voltar na se nos lembrarmos do que nos le- Presença frequente nos teatros na-atrás, confessa. cionais, Rita Cabaço começa a desta- Mini Bio car-se pela sua entrega física em palco.Confronto de olhares Em 2018, a participação em A Estupi-Se observar comportamentos faz par- Idade: 25 anos dez, de Rafael Spregelburd, valeu-lhete do trabalho de Rita, o feitiço vira-se Profissão: Atriz, fundadora da o Prémio de Melhor Atriz de Teatro,contra o feiticeiro quando, em cima do companhia Teatro na Cidade da Sociedade Portuguesa de Autorespalco, também ela é alvo dessa obser- Prémios: Prémio da Associação (SPA). A sua entrega em palco viria avação. Foi nesta ambiguidade que se Portuguesa dos Críticos de Teatro repetir-se em Actores, de Marco Mar-estreou como profissional, em 2010, no (2017); Melhor Atriz em Teatro, pela tins, onde se mostrou incansável. É as-Teatro Experimental de Cascais (TEC), Sociedade Portuguesa de Autores sim que a queremos ver, seja no teatrocom As Bruxas de Salém, de Arthur Mi- (2018); Globo de Ouro de Melhor ou no cinema, onde, a convite do reali-ller. Com a estreia veio a inquietação: Atriz de Teatro, pela SIC (2018). zador Sérgio Tréfaut, já começou a dar“Como é que eu lido com o olhar do Autor preferido: Albert Camus os primeiros passos.outro?” A resposta é simples: o prazer Gostava de interpretar: A Casade subir ao palco fala mais alto. Quan- de Bonecas, de Henrik Ibsen. O U T O N O 2 0 1 8 montepio

A Os nossos valores ADRIANO MOREIRA38 CrónicaA maioria deserdada Foi esta a expressão que utilizou Charles Derby governam supera uma atitude mais com o seu pequeno grupo de colaboradores, nobre pela condescendência. Como julgo evidenciar, agora, o problema estávamos em 2005, e alargando, como foi dito demográfico futuro dá mostras de e destacado na tradução para português, por estar presente, e não publicitado, Noam Chomsky, o alarme de Piketty sobre o porque logo os mitos raciais serão “novo debate global sobre dinheiro e moral recordados e proclamados por po- num mundo capitalista atribulado”. pulismos atentos, e inquietados com a vida habitual dos seus países. Não F oi um quadro de moldu- é sequer de sugerir como regra que ra negra sobre as “desi- as resistências ao recebimento dos gualdades de riqueza e refugiados é sempre inspirada pela poder no mundo atual”, falta de caridade, a qual, enquanto o reservando o agora pa- desastre subsistir, não pode ser uma ra a data da intervenção. Isto porque virtude recusada. Mas talvez fosse tempo de considerar que o princi- os deserdados mais atingidos pelo pal problema dos responsáveis pelos chamado “mundo capitalista atri- governos dos procurados destinos é que as suas reuniões não têm a pos- bulado” são hoje os mutilados da sibilidade de assumir o modelo dos esperança de ter futuro, porque históricos congressos do acidentado a situação mundial os priva passado dos ocidentais, mas sim o de um lugar para morrerem de se articularem no sentido de do- em paz, e os empurra para minar, extinguir, as causas que nos o calvário de uma expro- locais de origem tornam impossível priação violenta desse di- a vida pautada pelos critérios, ainda reito, que é o mínimo que que numerosos, da paz, da tolerância lhes oferece o “direito à das diferenças, e do empenhamen- vida” enumerado antes to no desenvolvimento sustentado. dos outros na Declaração Incluindo, no problema, as poupan- Universal da ONU. São ho- ças de vidas que, mais merecedoras je, com o nome de refugiados, de estadistas do que de aventurei- ros, que parecem mais vezes do que uma das parcelas mais vastas da o desejável utilizarem o talento de maioria deserdada. Não recebem que são dotados para ultrapassar as os palmos de sepultura na terra de decisões e dúvidas, o que não pare- origem de que a guerra terrorista ce sempre acompanhado de acerto, os expulsa, sendo que os que ultra- como no Iraque e no Afeganistão, em passam esse risco de morte na fuga procuram o que o erro excedeu em consequên-acolhimento de boa vontade e piedoso no lugar incerto onde che- cias desafiadoras e globais, ao me-garam, cada vez mais sem a certeza de estarem salvos. Aquilo que nos para o Ocidente, a inquietaçãoa “justiça social” nega nas suas terras à hoje também chamada legítima com “a agitação política da“maioria deserdada” são as dificuldades, a tender para insuperá- (agora) maioria deserdada”. Esta temveis, com que a mesma justiça consegue alterar o quadro de segu- que ver com a paz global e a proba-rança, que se agrava quando recorre aos mais poderosos titulares bilidade de lhe bastar uma levianda-dos múltiplos poderes políticos no destino. A estes também é de de de governantes mal dotados parareconhecer que o receio que o terrorismo secretamente envol- causar um desastre sem retorno.vido venha a infringir a integridade dos povos e coligações quemontepio O U T O N O 2 0 1 8

BA minha economia 39 Finanças pessoais Vem aí uma nova Euribor. O que muda para si?A minhaeconomia A Euribor é bem conhecida dos portugueses. Mas aquele que é o principal indexante do crédito à habitação em Portugal tem os dias contados. Ainda não se sabe que solução será adotada para substituir esta taxa, mas até 2020 o Banco Central Europeu quer que a mudança seja uma realidade. O que vai mudar para as pessoas com a nova taxa? Texto MARIA PEREIRA O U T O N O 2 0 1 8 montepio

B A minha economia40 Finanças pessoaisNos últimos três anos, A nova O que a Euribor tornou-se a taxa será é a Euribor? melhor amiga dos por- desenvolvida tugueses que possuem e calculada A Euribor é uma taxa um crédito à habita- internamente calculada com base nação. Depois da escalada dos juros re- pelo banco média dos juros transmitidosgistada no pico da crise financeira, a central. Terá por um conjunto de bancosdescida, para valores cada vez mais como base as para se financiarem entre si.negativos, do principal indexante do transações Ou seja, trata-se de umacrédito deu uma folga significativa às realizadas na taxa interbancária que éfamílias para enfrentarem a recessão. Zona Euro e fixada pelo Instituto EuropeuNo entanto, os escândalos de mani- reportadas de Mercados Monetáriospulação de mercado e o facto de esta pelos bancos (EMMI), entidade fundadataxa ser calculada com estimativas le- e tem como em 1999 precisamente comvou as autoridades a constituírem um objetivo o objetivo de agregar osgrupo de trabalho para preparar uma ser uma valores cobrados por umnova solução. alternativa painel de 20 bancos. Com à Eonia base nas cotações deste Até ao início de 2020 a transição conjunto de bancos o EMMIpara a nova Euribor terá que estar ma da Euribor. O Banco Central Euro- calcula a média aritmética,concluída, uma vez que esta não peu está a desenvolver a Ester (Euro excluindo as cotações quecumpre as regras sobre taxas de re- Short Term Rate). A nova taxa será de- ficarem 15% acima e abaixoferência. Para já, existem duas candi- senvolvida e calculada internamente da média global.datas à sucessão das taxas interban- pelo banco central, terá como base as No entanto, este cálculocárias de curto prazo. Por um lado, transações realizadas na Zona Euro e é feito com base emo Instituto Europeu de Mercados reportadas pelos bancos e tem como cotações ou propostasMonetários (EMMI, na sigla anglo- objetivo ser uma alternativa à Eonia – a e não em taxas aplicadas-saxónica), que gere a Euribor, tem taxa de juro de referência a um dia pa- em transações reais.estado a desenvolver uma fórmula ra o euro, calculada a partir de opera- Um facto que suscitoualternativa para o cálculo deste inde- ções reais no mercado interbancário. muitas críticas e quexante, tendo como objetivo aumentar acelerou os planos paraa transparência na definição da taxa. No ano passado, os a reforma da Euribor, bancos rejeitaram sobretudo depois da Depois de uma primeira tentati- a criação de uma divulgação de váriasva, no ano passado, para criar uma taxa baseada em tentativas de manipulaçãotaxa para a qual a metodologia de transações reais: do mercado.cálculo fosse realizada com transa- o indexante seriações reais – solução rejeitada pelos ainda mais baixobancos, uma vez que o indexante se- que o atualria ainda mais baixo que o atual –, oinstituto deu início à fase de testes danova taxa, que deve estar concluídano terceiro trimestre. Uma taxa hí-brida, calculada em simultâneo comestimativas e transações, parece sera solução que melhor se adapta. Mas não é apenas o EMMI que estáa trabalhar numa solução para a refor-montepio O U T O N O 2 0 1 8

O BCE funcionará como agente de cál- A minha economia PUBculo, designado pelo administrador.“Esta taxa [Ester], que será produzida Finanças pessoais B 41antes de 2020, vai complementar astaxas atuais e servir como um reforço 95%destas taxas”, adiantou o banco centralcitado pela Reuters. Cerca de 95% dos créditos à A entidade liderada por Mario Dra- habitação emghi espera que a Ester esteja em vi- Portugal utilizamgor em 2019 e publicará, em outubro a Euribor comodesse ano, esta nova taxa de juro dereferência do euro sem garantias a indexante.um dia. O BCE já está a publicar va- O prazo a seislores referentes à cotação da Ester meses continua apara facilitar a adoção da nova taxa dominar a maioriapor parte dos mercados. No entanto, dos créditoscomo a taxa ainda está em fase de existentes, masconsulta pública, a entidade liderada a maior partepor Mario Draghi não se compromete dos bancos jácom uma publicação regular. Ainda só dá Euriborque a Ester tenha como principal ob- a 12 meses nasjetivo substituir a Eonia, que serve de novas operações.referência a muitos derivados, esta Qualquer que sejasolução também pode ser aproveita- o prazo do seuda para reformular a Euribor. crédito, espera-se que a transição daO que muda no meu contrato? Euribor paraO objetivo das autoridades é que a uma nova taxatransição para a nova Euribor decor-ra sem sobressaltos, mas a fase de seja suave.implementação de uma nova taxadeverá criar alguma instabilidade.Quase todos os contratos de finan-ciamento que utilizam a Euribor co-mo indexante de referência contêmcláusulas que preveem que, caso aEuribor deixe de ser publicada, o in-dexante que vier a substituí-la passa-rá automaticamente a ser utilizadopara efeitos do cálculo da taxa de jurodesse mesmo contrato.O Banco CentralEuropeu espera quea Ester esteja emvigor em 2019. Parafacilitar a transição,a entidade já está apublicar os valoresda sua cotação V E R Ã O 2 0 1 8 montepio

B A minha economia para a exposição overnight, a taxa de curto prazo fixada para empréstimos42 durante a noite. Finanças pessoais No caso das famílias também terá de haver uma adaptação, uma vez que cerca de 95% dos créditos à habitação têm como indexante a Euribor. As ta- xas a seis e a três meses são as mais representativas embora, atualmente, as instituições praticamente só dis-Ainda não se sabe o ponibilizem o indexante a 12 meses.nome da nova taxa Se a Euribor faz parte da sua vida,interbancária doeuro. Ainda assim, não tem de se preocupar. As autori-as autoridades dades vão procurar que a transiçãovão procurar que seja a mais suave possível, algo quea transição seja o não teria acontecido o ano passadomais suave possível se o EMMI tivesse avançado com a Euribor Plus. “Nestas condições de mercado não será viável alterar a atual metodologia de cálculo da Eu- ribor para um sistema totalmente baseado em transações sem que haja sobressaltos”, adiantou o instituto noIndependentemente do nome a adaptar-se”. E “a disrupção pode ano passado.que a nova taxa interbancária do eu- ser ainda maior se os bancos pre- Ainda assim, as autoridades nãoro venha a assumir, as instituições cisarem de transitar o stock de 150 podem esperar muito mais pela re-precisam de começar a adaptar-se. mil milhões de contratos que usam forma da Euribor, tanto por uma“Ainda que os reguladores apoiem como referência a Euribor e Eonia questão de calendário como por umao processo de reforma da Euribor, para taxas alternativas”. questão de custos. De acordo como seu sucesso não está garantido”, Também numa análise à necessi- a consultora Oliver Wyman, quantoalerta um relatório publicado pela dade de adaptação a uma nova taxa, o mais a mudança se atrasar maior aOliver Wyman. Commerzbank adianta que os parti- fatura para as entidades. Ainda temA consultora nota que há cená- cipantes de mercado com exposição pelo menos um ano, mas o melhor érios “em que o volume de transações à Euribor “devem esperar pelo desfe- começar a interiorizar o nome Ester.no mercado que deve ser refletido cho dos testes do EMMI no terceiro Ela vai entrar na sua vida.pela Euribor se provou insuficien- trimestre”. E, no caso de a Euribor serte até para uma metodologia híbri- considerada em risco, deverá haverda”, o que poderá forçar a “indústria um “significativo desejo” de mudar QUESTÃO PARA DEBATE Como a Euribor afeta a sua vida?ENQUANTO O INSTITUTO site de literacia financeira da Digitalize esteEUROPEU DE MERCADOS Associação Mutualista Montepio, QR Code comMONETÁRIOS (EMMI) não e saiba como é formulada o seu telemóveloficializa uma alternativa a Euribor, como se calcula epara a Euribor, esta taxa quais os diferentes prazos que acontinuará a ter impacto compõem. Siga também o Ei nonas suas finanças pessoais. Facebook, em facebook.com/Siga este QR Code do Ei, o eieducacaoeinformacaoVisite montepio.org e dê-nos a sua opiniãomontepio O U T O N O 2 0 1 8

BA minha economia 43 OrçamentoO seu dinheironuma pen driveTrês anos. É este o tempo de vida deum Orçamento do Estado (OE), um dosdocumentos com maior impacto na vidada sua família. Conheça os momentos maisimportantes de um OE e recorde algumas dasperipécias que, nos últimos anos, marcarama apresentação do documento.Texto MAFALDA AGUILAR 1E.lªaFbaosera//ç9ãMo eses países do Euro, cabe ao Ministério das Finanças.E laboração, dis- Fevereiro a abril Este documento inclui o Quadro Plu- cussão e votação, “A elaboração do OE constitui uma rianual de Programação Orçamen- execução e ava- tarefa ciclópica, seja pelo número de tal (QPPO), mapa onde é fixado, pa- liação. Um OE de- pessoas que envolve, seja pela com- ra um período de quatro anos, o totalpende, essencialmente, des- plexidade de algumas operações que da despesa a financiar por receitastes quatro momentos que, requer, seja pelo melindre político das gerais e a sua repartição pelos pro-juntos, perfazem 35 meses opções que necessariamente exige”, gramas que integram as diferentesde trabalho. Quase três anos explica J. Albano Santos, economista, áreas da governação. Contém, ainda,que não só mexem com o di- antigo quadro do Ministério das Fi- o cenário macroeconómico, isto é, anheiro que tem disponível nanças e autor de várias obras sobre previsão do desempenho futuro dano final do mês como con- Finanças Públicas. economia portuguesa. Este estudotribuem para revitalizar, O ciclo orçamental inicia-se em feve- inclui estimativas para as diversasanos após ano, a nossa de- reiro de cada ano com a atualização componentes do PIB, a inflação e omocracia. do Programa de Estabilidade, uma emprego, mas também a envolvente espécie de OE a médio prazo. Esta externa (preço do petróleo, taxas de primeira tarefa, obrigatória para os juro, taxas de câmbio). É com base no cenário macroeconó- mico que são estimadas as receitas e as despesas do Estado. Por exemplo, um maior consumo das famílias sig- nifica mais receita de IVA, enquanto o crescimento do desemprego au- menta a despesa com os subsídios de desemprego. Apesar de não estar sujeito a votação na Assembleia da República (AR), o Programa de Estabilidade tem de ser apresentado aos deputados em abril, seguindo depois para Bruxelas. Maio a agosto Neste período, o processo orça- mental torna-se mais burocrático e técnico, com a DGO (Direção-Geral O U T O N O 2 0 1 8 montepio

B A minha economia do Orçamento) a exercer um papel despesas – elementos básicos que44 Orçamento central: estabelece as diretrizes que configuram o que se pode conside- Despesa total devem guiar cada entidade pública rar um primeiro draft da proposta de 88 758 na preparação do seu projeto de or- OE. Este esboço é, então, comunica- milhões de euros çamento e prepara o sistema infor- do à cúpula política do Ministério Decomposição da despesa mático que suporta o carregamento das Finanças para análise e decisão. Despesas com pessoal destes dados. “Deste estudo resulta a necessidade 21 480 Em simultâneo, ocorrem reuniões de introduzir alguns ajustamentos Consumo intermédio informais entre os membros do go- a fim de o conformar com a política 11 256 verno com vista a eventuais ajus- socioeconómica estabelecida para o Prestações sociais tamentos aos limites de despesa país (aqui, assume particular relevo 37 056 estabelecidos no QPPO. Natural- o valor definido para o défice orça- Subsídios mente, cada um mental). Cabe à 1 094 deles procura al- DGO promover Juros terar a seu favor O ciclo orçamental esses ajustes, esses plafonds. inicia-se em ainda que, por 7 126 “Em contraponto, fevereiro de vezes, o proces- perfila-se o mi- cada ano, com so possa exigir Outras despesas nistro das Finan- a atualização contactos entre correntes ças, porventura o ministro das o único guardião do Programa de Finanças e os 5 252 do défice orça- Estabilidade outros minis- mental”, escla- tros”, adianta J. Despesas de capital rece o também Albano Santos. 5 493 ex-docente uni- É também du- Receita total 86 725 versitário. “Mui- rante este perío- milhões de euros to dificilmente um ministro das Fi- do que são definidas as regras para Decomposição nanças conseguirá escapar à imagem a cativação: retenção de parte dos da receita de mau da fita, por maior que possa montantes orçamentados no lado da Receita fiscal (impostos) ser a sua competência para o cargo.” despesa, que se traduz numa redu- 49 747 Setembro ção do dinheiro disponível dos ser- viços. É utilizada pelo ministro das Contribuições sociais As entidades públicas elaboram os Finanças para manter, mês a mês, a 23 357 seus projetos de orçamento de acor- execução do OE sob controlo. Regra Vendas do com as regras estabelecidas pela geral, as verbas cativadas só podem 7 557 DGO e os envelopes financeiros atri- ser utilizadas com a autorização des- Outras receitas correntes buídos às respetivas tutelas. Para tal, te governante. 4 704 cada organismo identifica todas as São elaborados e compilados os ele- Receita de capital atividades que se propõe realizar no mentos que compõem o OE: articula- 1 361 próximo ano, quantifica os recursos do, relatório e mapas orçamentais. FONTES: INE E MINISTÉRIO DAS FINANÇAS que estas implicam e apura o respe- Esta é, porventura, a etapa mais exi- tivo custo. gente para o ministro das Finanças, Até ao final deste mês, os projetos de que anda num virote, desdobrando- orçamento das entidades públicas -se entre reuniões com os seus co- têm de ser carregados no sistema in- legas de governo e encontros com formático do OE. os partidos políticos para garan- Outubro tir a aprovação da proposta de OE pela AR. Chegam à DGO as primeiras ver- Finalmente, o OE é levado à mesa sões das previsões de receitas e de do Conselho de Ministros e é aqui

BA minha economia 45 Orçamentoque são feitas as últimas alterações aconteceu em 1994, quando uma Uma das entregase afinações ao documento. avaria numa fotocopiadora do Mi- de orçamento nistério das Finanças quase impe- mais caricatas15 de outubro diu o ministro das Finanças, Eduar- dos últimos anosDepois de assinado por todos os mi- do Catroga, de entregar a proposta aconteceu em 1994,nistros, o OE proposto pelo governo de OE dentro do prazo legal. Na altu- quando uma avariasegue para a AR (tem de lá chegar até ra este documento era entregue em numa fotocopiadora15 de outubro, em anos normais) e papel, em (várias e pesadas) pastas do Ministério daspara a Comissão Europeia. Por nor- de arquivo. Desde então, muito mu- Finanças quasema, é entregue na data-limite. Tei- dou no que toca ao formato de en- impediu o ministroxeira dos Santos foi o ministro das trega. De há uns anos para cá, a pro- das Finanças,Finanças que mais procrastinou. Em posta é entregue numa pen drive. Eduardo Catroga, de2008, entregou o OE três horas depois entregar a propostada hora marcada. No ano seguinte, o de OE dentro dodocumento voltou a chegar à AR tar- prazo legalde, às 22 horas; e, em 2010, às 23h30.Em 2017 o protagonista foi MárioCenteno, o atual ministro das Fi-nanças. O documento foi entregueàs 23h19.Uma das entregas de orçamentomais caricatas dos últimos anosAs dezenas depastas que, durantedécadas, foram aimagem de marca daentrega do OE, foramsubstituídas poruma pen drive Dinheiro do OE 2D.iªsFcausses/ã/ 2ome evsoetsação veio de um deputado do CDS. Contra as indicações do seu partido, o depu- DE ONDE VEM Novembro tado Daniel Campelo votou ao lado do As principais fontes de Uma vez na posse da proposta de governo socialista a troco de benefícios receitas públicas do OE lei do OE, a AR tem 45 dias para a para o seu concelho. são a receita fiscal e as votar e discutir. Primeiro na gene- ralidade e depois na especialidade. Dezembro contribuições para a Caso o Governo não tenha a maioria O OE, já sob a forma de decreto, temSegurança Social. (Fonte: dos deputados na AR, estes são dias ainda de passar pelas mãos do Presi- muito intensos. Que o diga António dente da República para promulgação, Ministério das Finanças) Guterres. Em 2001 e 2002, enquanto o que deve acontecer até 31 de dezem- primeiro-ministro, teve de negociar bro. Um passo essencial para se trans- E PARA ONDE VAI até à exaustão com as oposições pa- formar em lei. O grosso da despesa do ra passar os orçamentos (precisavaEstado está concentrado de levar pelo menos um deputado a em duas grandes áreas: abster-se). A solução (inesperada) prestações sociais e despesas com pessoal. (Fonte: Ministério das Finanças) O U T O N O 2 0 1 8 montepio

B A minha economia46 OrçamentoDos P José Onze meses terior – esta é uma solução utilizadaRothschild da Silva depois do início por vários governos para perceber oao “enorme Carvalho, da sua elaboração, sentimento da população em relaçãoaumento de ministro o Orçamento do a medidas menos populares.impostos” da Fazenda, Estado entra em Ao longo do ano, o Tribunal de Con- contraiu tas, a AR mas também o próprio go- vários vigor, no dia 1 verno fiscalizam o OE. Todos os me- empréstimos de janeiro ses, por outro lado, o governo tem de com o divulgar a síntese de execução orça- banqueiro mental que, como o próprio nome in- Rothschild dica, demonstra como está a correr este processo.“Senhores. Talvez quenenhuma Assembléa 4A.vªaFalisaeç/ã/ 1o2 mesespolitica se tenhajámais reunido em Janeiro a dezembrocircumstancias tão Até 30 de junho do ano seguinte aodifficeis para regular do OE, o governo deve apresentar naa Fazenda de uma AR a Conta Geral do Estado – o prin-Nação, ou para melhor cipal documento de prestação dedizer, para estatuir contas do governo – para ser discuti-sobre a sua sorte”. da e aprovada pelos deputados atéAssim começa a ao final desse mesmo ano, já com oColeção Geral das parecer do Tribunal de Contas. EsteContas, Orçamentos documento apresenta os valores dase Documentos de receitas e das despesas executadas,1836, que se encontra comparando-os com os montantesdigitalizada no site orçamentados, refletindo o que real-da Secretaria-Geral mente foi embolsado e despendido.do Ministério das Com esta diligência fica encerrado oFinanças. Nela pode ciclo orçamental.saber-se que o agentefinanceiro português 3E.xªeFcauseçã//o12 mesesem Londres contraiucom a N.M. Rothschild, Janeiro a dezembroem abril de 1835, três A 1 de janeiro entra em vigor o OE, onzeempréstimos no valor meses depois do início da sua elabora-total de oito milhões ção. Começa então a fase de execução,de libras. em que o governo procede à cobrançaTodos os Orçamentos das receitas e à realização das despe-do Estado dos últimos sas previstas. Esta é também a fase em184 estão disponíveis que as famílias sentem, na carteira, opara consulta pública impacto das medidas propostas noonline. Um dos OE ano anterior por vários atores políticos,mais debatidos dos entre governo e oposição.últimos anos, o de Muitas delas começaram a ser co-2013, também pode nhecidas, através da comunicaçãoser consultado. social, a partir de meados do ano an-Reconhece-o? Unsmeses antes dasua execução, VítorGaspar, então ministrodas Finanças, referiu-seao documento como“um enorme aumentode impostos”.Os portuguesessuspiravam ea austeridadecomeçava.montepio O U T O N O 2 0 1 8

BA minha economia 47 Finanças pessoaisPoupe A Internet faz parte do nosso dia adinheiro sem dia. Usamo-la para ver os filmes esair de casa as séries do momento, para trocar mensagens com amigos e família e paraRenegociar contratos, aproveitar os saldos nos mantermos a par do que se passa noou baixar a conta da eletricidade são algumas mundo. Mas as potencialidades do mundoestratégias de poupança para as quais não online vão muito além do lazer, podendo,precisa de sair de casa. Saiba como usar inclusive, garantir benefícios de poupan-a Internet para reduzir a sua fatura mensal. ça muito significativos para as famílias.A poupança pode ser significativa. O número de portugueses que realizaTexto MARIA PEREIRA operações financeiras através da Inter- net tem vindo a aumentar nos últimos anos. Ainda assim, segundo o relatório dos sistemas de pagamentos do Banco de Portugal, relativo a 2017, estas operações continuam a representar pouco mais de 5% do valor global das compras proces- sadas no último ano. Se se encontra nos 95% que ainda não fazem compras online, esta poderá ser uma boa oportunidade pa- ra alterar hábitos de consumo. A Internet é uma excelente ferramenta para aceder

B A minha economia a descontos e promoções exclusivas, os produtos nos quais está interes- mudar tarifários e descobrir condi- sado pode encontrar o que precisa a48 ções mais vantajosas na concorrência. preços convidativos. Finanças pessoais Através do seu computador pode A arte da renegociação aproveitar a última vaga de saldos e As compras online são um dos mui- 5 conselhos para até conseguir descontos adicionais. tos exemplos de como a Internet po- ser eficiente nas Os sites das lojas de roupa, tecnologia, de garantir-lhe a poupança de deze- compras online alimentação ou viagens são a porta de nas ou até centenas de euros. Mas as entrada para este mundo. Através de- potencialidades do mundo digital não 1 Pesquise, liste, les pode aceder a uma extensa rede de ficam por aqui. Se tem um crédito ao compare, compre. produtos, sendo que a maioria destes consumo e acha que está a pagar de- Pesquise o produto sites garante uma entrega sem custos. masiado, pode recorrer ao site da sua que quer comprar, faça instituição financeira para renegociar uma pequena lista das lojas Sentado no seu sofá ou a tomar um a prestação ou tentar alterar algumas que o vendem e compare café na mesa da cozinha pode ainda condições. Opções como alargar o pra- os preços. Escolha o mais recorrer à Amazon ou a outras marcas zo do empréstimo ou renegociar um barato. de comércio eletrónico para encomen- spread mais baixo são possibilida- dar todo o tipo de produtos: da tecnolo- des. Tudo pode ser tratado através do 2 Converta o preço gia à moda, dos brinquedos aos livros. computador. para euros. Se fizer Apesar de a Amazon ainda não possuir compras na Amazon, uma loja portuguesa, pode comprar Comprar online Aliexpress ou eBay não se os produtos que desejar por um custo pode garantir-lhe esqueça de converter a significativamente mais baixo do que descontos em todo fatura final de dólares e conseguiria numa loja tradicional. Para o tipo de produtos. libras para euros. Sites como tal, não se esqueça de fazer a conver- Mas tenha atenção o oanda.com ajudam-no são dos dólares ou libras para euros e às armadilhas que nesta conta. ter em conta os custos de envio. vai encontrar pelo caminho 3 “Esqueci-me dos Há ainda os sites de classificados e custos de envio.” produtos usados, como o OLX, o Cus- Os custos de envio toJusto.pt ou o marketplace da Fnac. de uma encomenda para Se dedicar algum tempo a pesquisar sua casa podem encarecer drasticamente um produto. São as “letrinhas pequeninas” das compras online. 4 Envie as encomendas para o seu local de trabalho. A data de receção das encomendas online é imprevisível. Se não costuma estar em casa, escolha outra morada para a entrega das encomendas. O seu local de trabalho, por exemplo. 5 Cuidado com as compras por impulso. Pense duas vezes antes de comprar um produto online e decida, em ambas, se ele é realmente necessário para si.

A tendência das instituições tem sido subscreve um tarifário através do si- BA minha economia 49no sentido de ir ao encontro dos avan- te. Há ainda campanhas exclusivasços das novas tecnologias e fornecer às adesões online. Basta estar aten- Finanças pessoaissoluções inovadoras aos seus clien- to e consultar a concorrência antestes. Ferramentas como simuladores, de subscrever o serviço para garantir POUPANÇAcaixas de mensagem que colocam o que não há ofertas melhores no mer- EXPRESSO NETcliente em contacto direto com um cado. Através das ofertas limitadas àoperador ou o acesso, no próprio si- Internet pode, em muitos casos, ob- Três minutos a subscrever,te, a produtos de poupança facilitam ter a mesma poupança, ou até uma três anos a render. A soluçãoa subscrição de produtos financeiros. maior, sem dores de cabeça. mutualista Poupança Expresso Net está disponível para todos A arte da renegociação não se limita Mais energia por menos os associados Montepio e é aaos créditos. Todos nós já passámos, Outra fatura pesada das famílias portu- forma mais simples, cómodaem algum momento, pela experiên- guesas é a conta da energia. As faturas e fácil de começar a poupar.cia de ter que renegociar um paco- da luz e do gás levam várias centenas Basta aceder a montepio.org,te de serviços de telecomunicações. de euros por ano. Antes de mais, con- definir o montante que pretendeSeja porque achamos que estamos a vém saber se paga demasiado e quan- poupar, preencher os dados epagar demasiado, porque queremos to estaria disposto a pagar com outro escolher entre os dois métodosmelhorar os nossos serviços ou por- fornecedor. Lançada no final do ano de pagamento disponíveis:que esse pacote já não se adapta às passado, a plataforma Poupa Energia, débito direto ou referêncianossas necessidades, vimo-nos con- desenvolvida pela Adene, tem mais de multibanco. Deixámos ofrontados com a necessidade de fazer 200 tarifários disponíveis para consul- melhor para o fim: o Poupançatelefonemas atrás de telefonemas pa- ta e comparação. Uma arma poderosa Expresso Net remunera as suasra, após horas de negociações e amea- para comparar as melhores ofertas. poupanças com uma TANBças de troca de operadora, finalmente Escolhido o novo fornecedor, a ade- média de 1,133%. Pronto paraconseguirmos poupar alguns euros são pode ser online. Basta preencher começar?por mês. Mas, muitas vezes, parti- os dados, o plano de energia e outrosmos para esta opção sem consultar pormenores, como a potência contra- O QUE PRECISA DE SABERas ofertas online. A maioria das ope- tada ou modo de pagamento. Vai aca- • Pode começar a poupar aradoras de telecomunicações oferece bar por despender muito menos ener-condições mais favoráveis para quem gia do que se tivesse que se deslocar a partir de 150€ um balcão e poupar no final do mês. • Entrega única por subscrição, Outros pormenores, como receber fatu- ra eletrónica ou fazer transferência ban- efetuada durante o período de cária, podem ajudá-lo ainda a poupar inscrição mais alguns euros. As possibilidades • Prazo de 3 anos são infinitas, basta que esteja atento. • Subscrição exclusiva online Digitalize este QR Code com o seu telemóvel montepio.org Os associados Montepio usufruem de descontos num vasto leque de parceiros. O montepio.org ajuda-o a navegar nesta lista de parcerias. QUESTÃO PARA DEBATE Compras online: Como deve proteger-se das fraudes informáticas?PHISHING E MALWARE são consumidores. O primeiro site de literacia financeiradois anglicismos aos quais passo para evitar ser Ei. Siga também o Ei notem que estar atento quando burlado é proteger o seu Facebook, em facebook.com/lê notícias ou conselhos computador, tablet ou eieducacaoeinformacao.sobre fraude online. Estes smartphone. Depois, hádois fenómenos aproveitam uma regra não escritaa vulnerabilidade dos que pode ajudar a pouparcomputadores, dos tablets muitas dores de cabeça:ou a menor apetência desconfie de todos os sitesdos utilizadores para a e de todas as perguntassegurança online para que estes lhe fazem. Se temaceder às passwords ou dúvidas sobre os perigos Digitalize estecódigos bancários dos das compras online leia o QR Code com o seu telemóvel Visite montepio.org e dê-nos a sua opinião O U T O N O 2 0 1 8 montepio

As nossasexperiências Portugal radical Coasteering na península de Setúbal, voo em balão de ar quente nos céus do Alqueva ou rafting no rio Minho são Experiências pensadas à medida dos mais aventureiros. O que leva os associados Montepio a viverem esta adrenalina e quais as recordações que ficam de um dia diferente? Texto ANA SOFIA CAL AÇA | fotografia CARLA PEREIRA


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