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Livro de contos 9B

Published by evandrosilva, 2017-10-09 13:38:23

Description: Livro de contos 9B

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A vida me ensinou assim 02 Invisibilidade no trabalho 05Aparência não mede capacidade 08 Um pedaço de papelão 12 Uma jarra vazia 14 O mundo dá voltas 18 Um novo dia 20 Dias de respeito e gratidão 23 O reencontro 25 O guerreiro Juriscleide 28 O homem e a desigualdade 30 Era quase meia-noite 32 Minha vida invisível 35 Sem saída 37 Faltam forças para mudar 39 Bom dia 41 Dando a volta por cima 47 Quarto escuro 49

A vida me ensinou assim Eu pensei que iria encontrar melhores condições em umacidade grande. Encontraria um emprego fixo, uma boa casa econstituiria uma boa família. Agora desejo voltar no tempo enunca ter vindo para cá. Meu nome é José. Eu nasci em Capixaba, Acre. Nunca tive apossibilidade de estudar, pois comecei a trabalhar ainda criançapara ajudar os meus pais. Meu pai era alcoólatra, e por isso,vivia batendo em minha mãe. Ela, por consequência, acabavapor descontar toda a sua raiva em mim. Minha vida nunca foifácil, preciso admitir. Ao fazer 18 anos, decidi mudar o meu jeito de viver. Penseicomigo mesmo: “vou para uma cidade grande, lá eu vouencontrar ótimas oportunidades e terei uma vida melhor”... euestava errado. Juntei um pouco de dinheiro, tomei coragem, e vim morarem São Paulo. Acomodei-me em um hotel simples, que era paraser provisório, e fui procurar um emprego. Para minha surpresa,não haviam muitas oportunidades de trabalho, e quandohaviam, eu não estava apto para preenchê-las. O hotel estava começando a ficar caro, e eu não vi outrasolução: tive que ir para as ruas. Pensei que tudo seriaprovisório, mas aqui estou desde então. Eu moro na rua há 5anos. Os meus dias aqui não são nada fáceis. Eu não me alimentocom a frequência que gostaria, e parece que eu não existo nasociedade. Eu me tornei invisível. - Moça, será que você poderia me dar alguma coisa paracomer? Eu não como há dias! 2

- Ficar pedindo na rua é fácil, agora trabalhar você não quer,né? Uma mulher me disse isso ontem. Fiquei com vontade dedizer o contrário, mas ela não me escutaria. Fico todos os diaspensando o que eu fiz para merecer isso. Era uma segunda, quando eu fiz a pior escolha da minhavida. Eu estava com muita fome, e ninguém me ofereciacomida, então eu decidi roubar uma loja. Para minha tristeza,eu fui pego pelo dono e fui expulso da mesma. Ele contou oocorrido para todos os moradores da redondeza. A história seespalhou rápido, e agora todos que passam por mim, têm medode serem roubados ou violentados. Com essa situação, eu percebi que você só é notado quandofaz algo de errado. Não são as coisas boas que prevalecem, esim, as más. Não queria que fosse desse jeito, mas a vida meensinou assim. Eu vim para São Paulo em busca de melhorescondições, e tudo que encontrei foi sofrimento. Agora, eu sódesejo nunca ter existido, pois sei que eu não faria diferença nomundo. Eu sou invisível. Invisível para a minha família. Invisívelpara a sociedade. Invisível para todos. Claudia – 9ºB 3

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Invisibilidade no trabalho Robson morava no Piauí, Sertão do Nordeste. Trabalhava como gari, suas condições de vida eram precárias e então decidiu vir para São Paulo com sua família,em busca de melhores condições. O caminho para chegar à cidade grande foi muito complicado e doloroso. Ao chegar à cidade, morou um mês nas ruas e começou a vender bala nos semáforos e depois de muito esforço, com a ajuda de sua família, conseguiu alugar um apartamento muito simples, com 52m² no Ipiranga. Robson procurou trabalho na região e logo chegou umaoportunidade de trabalhar numa construção de um prédio naVila Mariana e então, ele foi trabalhar como pedreiro. Ocaminho para chegar ao trabalho era complicado e desgastante,quando chegou na construção, tentou fazer amizades para seenturmar com os pedreiros. -Olá! Vim do Piauí e você?-Disse Robson. -Ah! Oi, sou aqui de São Pulo mesmo, trabalho aqui faztempo. - Respondeu Jeferson. Robson falou: -Comecei a trabalhar faz pouco tempo, estava complicadominha situação lá no Piauí. -Como você já trabalha aqui faz tempo e pelo fato desermos pedreiros, você se sente uma pessoa invisível? 5

-Sim, é muito complicado não ter uma certa importâncianeste trabalho. Já passei por muitas situações desagradáveis,como xingamentos e humilhação em meu trabalho. -Respondeu Jeferson. -Pois é, mas... não sei porque não somos valorizados.-Disse Robson -A vida é muito complicada, não é? Agora...vamos voltarao trabalho.-Falou Jeferson. Após um longo dia de trabalho, Robson volta para suacasa. Robson tem uma esposa e duas filhas,precisa sustentarsua família mesmo ganhando pouco. Agora é hora de pensar nos próximos dias duros ecomplicados de trabalho. Felipe Castro – 9ºB 6

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Aparência não mede capacidade Armando é um pós-graduado em ciência da computaçãoavançada, muito inteligente. Mas ainda assim encontrouproblemas, ele passou um ano procurando emprego, mas nãoconseguia encontrar trabalho em lugar nenhum, só porque ele énegro, e com o tempo percebeu que a cor de sua pele faziatodos desprezarem seu potencial. No final não lhe sobrou opção, havia uma vaga de lixeiro,para o bairro em que morava, teria que aceitá-la, pois precisavaajudar a sustentar sua mãe e irmã, Cataryna. A mãe, já bemcansada, sempre continuava a trabalhar, firme e forte comocostureira. Ele devia muito a ela, pois foi com todo esse esforçoque ela o mantivera na faculdade, embora com desconto. Airmã era em pouco mais nova que ele, mesmo assim ela erapersistente com seu trabalho, um de garçonete e outro de babá. Depois de algum tempo trabalhando como lixeiro, todas asnoites de Natal, passava de rua em rua, de casa em casa, paraque as pessoas lhe dessem uma caixinha de Natal. Mesmo notrabalho de lixeiro, onde todos eram “iguais”, mesma condiçãosocial, mesmo tipo de trabalho, até o mesmo tipo de roupa,sapatos, calça, camisa e boné, amarelos e verdes, sem esqueceras luvas, Armando sentia certo desconforto, certa exclusão porconta de sua cor. Percebia que quando ele pedia às pessoas dascasas, todos hesitavam um pouco, e faziam uma cara dedesconforto, já com os outros lixeiros, brancos, alguns até 8

loiros, as pessoas das casas nem sequer pensavam duas vezesantes de lhes dar algum dinheiro. Certo dia chegando em casa às 5:00, que seu tempo detrabalho era das 20:30 às 4:30 da manhã, 8 horas de trabalho,já cansado, com o corpo todo doendo, todo sujo, cheirando alixo, a única coisa que queria era chegar em casa e tomar umbanho, mas de qualquer jeito ele teria de esperar, porque emsua casa só tinha água das 9:00 às 22:00. Então seu plano erachegar e dormir em um pequeno sofá de palha e elástico, queera sua cama, e depois tomar banho. Mas foi surpreendido, ao chegar em casa, viu sua mãesentada em sua pequena cadeira de madeira quebrada, com osolhos arregalados, um sorriso no rosto de orelha a orelha, comuma xícara de café no colo, e uma carta, com a voz tensa detanta ansiedade, ela lhe disse: -Filho,acho que Deus finalmente ouviu minhas preces,finalmente, o milagre pelo qual todos nós sonhávamos juntos! -Mas do que você está falando?- Armando disse sementender nada. - Dá para explicar direito? -Olhe isso! - ela rapidamente pegou a carta no envelope docolo e lhe deu- Você não vai acreditar! -Oque é isso?- de pouco em pouco ele foi abrindo. - Estáescrito... Não pode ser! -Exatamente oque você leu, essa é a sua segunda chance demostrar que é capaz. - a mãe quase gritava de alegria. - Você se 9

lembra da empresa que quase te admitiu, mas depois te largou,ela está pedindo para que você vá lá e faça outro teste em doisdias. -Isso é incrível mãe, mas há algo de errado aqui. -O que houve?- em uma questão de segundos, a mãe ficoupálida. -Está escrito apenas o nome Armando, não tem sobrenome. -Isso deve ser um erro, talvez só esqueceram de por - a mãedisse, tentando animá-lo. Os outros dois dias, a partir daquela noite, Armando passoutodo o tempo livre estudando as matérias que ainda tinha emlivros guardados. Também procurou, revirou todos os armáriosda casa para achar sua roupa social. Lavá-la e deixá-la prontapara o grande dia. Até que então, dois dias depois, toda a matéria recordada,roupa limpa e muita confiança. Chegou às 5:00 da manhã emcasa, dormiu até às 10:00 e pegou o ônibus, e foi direto para lá,a empresa ficava a 1:30 do ponto até lá. Chegando lá, entrou noprédio, muito chique, mas o que mais lhe chamou a atenção foique não havia nenhum negro. Mas isso não abalou suaautoestima, continuou confiante. Chegou ao décimo sexto, oandar que poderia mudar sua vida para sempre. Ficou na sala de espera por um tempo, quase duas horas atéser chamado. Quando finalmente o chamaram, ele entrou nasala, com um pequeno sorriso no rosto, com uma expressão 10

confiante. Havia dois entrevistadores. Um deles o olhou de cimaa baixo, com uma expressão de desgosto e disse: - Desculpe-me, mas qual é o seu nome? - Armando...- ele nem conseguiu terminar e o outro disse: - Com certeza não é você que estávamos esperando. - Estamos procurando por ele, esse Armando. - o homemmostrou o currículo de um garoto loiro, branco e olhos claros.Com o nome Armando, mas o sobrenome estava apagado, meioborrado, e termina com “eira”. - Meu nome é Armando Pereira – disse Armando. - Pode ir, você não é quem procuramos – ele faz um sinal aporta, pedindo para que Armando saísse. - Não!!! – De repente uma onda de calor e adrenalinacomeçou a possuir seu corpo – Eu vim até aqui, eu não aguentomais, sou um pós-graduado sem ter nenhuma DP (dependência)em nenhum ano da faculdade, eu mereço uma chance. Nenhuma palavra saiu da boca dos entrevistadores, um deleslevantou e pegou o currículo de “Armando Ferreira”. Ele ficouesperando do lado de fora, quando o chamaram, ele entrou e sesentou. Estava tão nervoso que só conseguiu distinguir quatropalavras: “comparamos”, “currículo”, “seu” e “APROVADO”! Fernanda Mansano – 9ºB 11

Um pedaço de papelão Tudo começou quando me casei, ele parecia ser perfeito,tudo parecia estar perfeito. Morava no interior de são Paulo. Ao longo do casamento tivemos problemas financeiros etudo começou a mudar de repente. Ele começou a beberdemais, quase todas as noites, chegava tarde em casa,acabando com o meu psicológico, dizia coisas que eu não dirianem para o pior inimigo. Estava pensando seriamente em fugir e começar umavida na cidade grande, quando descobri que estava grávida degêmeos e isso era a única razão pela qual ainda estava naquelacasa, aguentando tudo aquilo que passava todos os dias. O tempo passava e nada mudava, cada vez ele abusavamais de bebidas, mas eu já tinha me acostumado. Até o dia emque ele me deu um soco na cara, por eu não ter lavado a louçasimplesmente por isso. E disso foi para chutes, empurrões eespancamentos, e não tinha maquiagem que cobrisse aquelasmarcas enormes que ficavam. Assim foi por uns quatro anos,espancamentos todos os dias, eu não queria mais ver meusamigos e familiares e nem podia, pois aquelas marcas eramenormes e eles iriam desconfiar de algo. Chegou o dia em que eu não aguentava mais, então deixeitudo para traz, nem meus filhos me faziam mudar de ideia, eusó conseguia pensar na dor por todo o meu corpo, eu não iriaaguentar mais uma noite de agressões, então fui procurar umavida nova na cidade grande, em São Paulo. Chegando lá 12

procurei por empregos, amigos, familiares.... e não achei nada,nem ninguém, estava totalmente sozinha naquela cidadeenorme, com 35 reais, que foi o que eu consegui pegar nacarteira dele antes que todos acordassem. Passaram-se duas semanas e, nesses dias eu conseguisentir o que era passar frio, fome, angustia, medo, saudade. Aspessoas passavam por mim e nem percebiam a minha situação,se percebiam, ignoravam, não faziam nada, eu era e soutotalmente invisível para sociedade. Passou mais tempo e eu viacomo minha vida tinha mudado, as únicas coisas que eu podiachamar de minhas era um papelão e a roupa do corpo. E a dorde ter deixado os meus filhos para traz me partia o coração deuma forma inexplicável, passava por tantas necessidades todosos dias que não tinha o que eu não fizesse por um prato decomida ou um cobertor. Gabriela Rigolino – 9ºB 13

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Uma Jarra Vazia Acordo, a mão de meu marido ainda cruzada a minha. Tenhode levantar, o despertador não para de tocar e as crianças sóacordam às 06h00min. Visto-me e tomo meu café, só elemesmo para me dar energia para mais um dia. Abro a porta esinto o frio da madrugada em meu rosto. Minha coluna volta aatacar e meus pés doem. O balanço do ônibus me incomoda e a viagem de metrô me dátontura. Após duas viagens de ônibus, uma de trem e uma de metrô,chego ao condomínio, onde trabalho e sou recebida por Zé, oporteiro que cobriu o turno da noite com um semblantecansado, sonolento e com o corpo visivelmente dolorido porconta do longo tempo na mesma posição. Ele me cumprimentacom um simples sorriso de canto de boca e vai embora. Entro em minha cabine e me sento em minha cadeira – oassento ainda quente por conta de seu antigo proprietário. Passo grande parte do meu tempo observando os carros ir evir e penso: “Como seria bom morar em um condomínio comoeste e ter um carro para ir trabalhar.’’ Em meu momento dereflexão, não percebo a chegada de um carro, que estábuzinando feito louco. Mesmo após sua saída ainda posso ouviros gritos. Quando a dor em minha bexiga torna-se insuportável, resolvoir ao banheiro. No caminho de volta à minha guarita sou 15

recebida por Dona Lídia, uma mulher pomposa que usa saltoalto e seu cabelo está sempre bem penteado. Sou obrigada aouvir um longo discurso de como meu trabalho está sendoinsatisfatório. Dou uma passada na copa, onde tecnicamente deveria havercafé, porém, só encontro uma jarra vazia. Após algumas horas, pego minha bolsa e encontro minhamarmita – queria tanto ter um micro-ondas - como um pedaçode carne e uma quantidade razoável de arroz. Quando o relógio atinge 18h00min horas, dou entrada para opróximo porteiro e vou rumo à minha casa, as costas doemnovamente, porém, ainda consigo me mover para ir ao meu lar,onde sei que terei de dormir, apenas para refazer minha rotinano dia seguinte. João Vitor – 9ºB 16

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O Mundo dá Voltas -Saía de perto do meu carro, seu marginal folgado!-Renatodisse a um simples pedreiro que estava apenas fazendo o seutrabalho. Renato era um homem muito rico e esnobe, porém nãotrabalhava, pois era sustentado pela herança que seus paishaviam lhe deixado. Certo dia no clube, ele conheceu uma moça muito bonita,doce e gentil, foi amor a primeira vista. Os dois começaram anamorar, viajaram, compraram uma casa e eram muito felizes. Num sábado à noite, eles estavam jantando e comemorandoum ano juntos, quando Joana, linda jovem, que ele haviaconhecido a exatamente um ano atrás disse com a vozengasgada: -Amor, há algum tempo venho me sentindo mal e... -Mal?! Como assim? O que você tem? –Renato interrompeupreocupado. Joana estava com aparência caída,um rosto pálido, e contouseu diagnóstico ao namorado. -Leucemia? Não pode ser, não pode ser... -Me perdoe, eu não devia ter te contado. -O quê?! Claro que devia, eu quero lhe pagar o melhormédico do país, o melhor hospital. 18

Assim foi feito, Joana recebeu o melhor tratamento possível,porém ela não resistiu. Três meses de luta constante foi em vão. Já fazia quase um ano desde a morte de sua amada, e Renatoainda estava muito abalado e com uma grande tristeza em seucoração. A única mulher que ele amou de verdade se foi. Suador era inconsolável, a vida tinha perdido a graça. O único refúgio de Renato era o bar. Era lá que ele passavadias e noites, sete dias da semana. Estava empobrecendo... Seu dinheiro estava se esgotando, não havia mais nada nageladeira exceto uma garrafa de bebida. Se ele não trabalhasse,não teria mais como se sustentar. Renato foi buscar um emprego, porém suas habilidades nãoeram muitas, então ele se tornou pedreiro. O trabalho era pesado e o salário era baixo, trabalhava 9horas por dia e tinha poucos direitos trabalhistas. Um dia ele estava trabalhando em uma calçada, quandochegou um homem bem vestido e disse: -Saía de perto do meu carro, seu marginal folgado! A vida deu uma reviravolta. Ludmila – 9ºB 19

Um novo dia -Finalmente consegui, Marlene! Finalmente consegui umemprego, começo amanhã. -Que bom! Já estamos aqui há quase duas semanas, desdeque saímos de nossa cidade natal, estava preocupada que nãoarranjasse nenhum emprego. O nosso dinheiro está quaseacabando. -Eu sei, gastamos boa parte do dinheiro para comprar estacasa. É um lugar humilde, mas pelo menos é um teto para nossafamília. -Sim. Mas me conte, me conte sobre seu emprego. -É um emprego de gari, não ganho muito, mas é um trabalhodigno. Vou começar amanhã bem cedinho. -Ótimo, amanhã vou levar as crianças na escola e depois vouprocurar emprego. Já era tarde, então fomos dormir. Como já disse, minha casaera simples, era uma casa na zona leste de São Paulo com umquarto e um banheiro. Eu e minha esposa dormíamos no quartoe meus filhos em colchões na sala. Acordei cedo para o meu primeiro dia de trabalho, eram trêse vinte da manhã, tive que acordar esse horário para conseguirchegar às seis e meia no trabalho. Eu sei, parece que acordeimuito cedo, mas para chegar, preciso pegar um trem e doisônibus, e depois andar por mais uns quinze minutos. 20

Cheguei e logo comecei a varrer a rua. Estava bem, estavafeliz por ter conseguido um trabalho digno, mas conforme foipassando o tempo comecei a ficar cansado, com calor, já era osol do meio dia e eu comecei a suarmuito, e o suor não estavacom um cheiro muito agradável, mas não importa o queacontecesse continuaria trabalhando, não poderia perder esseemprego. Percebi que as pessoas que passavam me olhavam, meolhavam como se eu fosse algum tipo de alienígena, como seestivessem com nojo de mim. Teve uma mulher que jogou umpacote de bolacha no chão, bem na minha frente. Será que elajogou só para eu limpar? Ou será que ela tem costume de jogarlixo na rua? Fiquei pensando resto do dia em como as pessoas meolharam e nessa mulher que não teve a capacidade de jogar olixo no lixo. Meu expediente acabou e fui para casa. -Como foi seu dia no trabalho? -Foi tudo bem, algumas pessoas me olharam estranho, masnada que me impedisse de trabalhar. E o seu, como foi?Conseguiu algum trabalho? -Meu dia foi ótimo, consegui um emprego como vendedoraem uma loja de roupa. -Maravilha! Acho que agora nossa vida vai finalmentecomeçar a melhorar. 21

Manuella – 9ºB 22

Dias de respeito e gratidão Laura e Paola, duas irmãs bolivianas, que vieram ao Brasil embusca de melhores condições de vida, chegaram a São Paulo,sem nenhuma experiência, sem planos ou rumos, só tinham aelas mesmas, em meio de uma enorme cidade. Ao andar pela grande São Paulo, viram uma mulher, elaestava sentada sobre um colchão velho, com roupas levementerasgada e uma aparência abatida. Logo depois, perceberam quea tal mulher estava pedindo dinheiro, pois não comia por doisdias. As pessoas passavam pela pobre mulher, e nem se querdavam um copo d’água, era como se ela fosse invisível. Mas asirmãs comovidas com a situação, foram até a padaria maispróxima e compraram algo para a moça comer. - Olá, trouxemos um sanduíche e uma água para a senhora - Ah! Meu Deus, muito obrigada, eu não sei nem como agradecer! A moça abre um belo sorriso. As meninas ficaram um pouco com a moça, e logo voltarampara o hotel, pensando no dia lindo e gratificante que elastiveram. Precisamos mudar a nossa visão perante essaspessoas, precisamos nos respeitar e ter compaixão uns com osoutros. Independente das nossas “classes sociais”, somos todosseres humanos e merecemos os nossos direitos. 23

Maria Luiza – 9ºB 24

O REENCONTRO -Vamos, tragam os sacos de lixo! A vida de David era resumida em trabalho. Tinha quatrofilhos; entre eles, dois adolescentes e dois bebês gêmeos. Erao único trabalhador de casa. Então no período da manhã, erasegurança, à tarde e à noite era lixeiro, ficava até 01h30minda manhã trabalhando. Na sua troca de trabalho, levava as duas criançaspequenas na creche e os dois adolescentes para a escola. Àsvezes, sua prima buscava as crianças, mas como ela eramuito ocupada, no seu intervalo, David os levava de voltapara casa. David foi uma criança muito amada por seus pais, quefaleceram aos seus doze anos e a partir desse momento,David começou a dar mais valor ao que ele tinha. Duas semanas após o falecimento de seus pais, ele foipara um orfanato, onde permaneceu durante quatro meses.Indo completar cinco meses na sua entrada ao orfanato, umhomem solteiro e rico resolveu adotá-lo. Contudo, essehomem só decidiu tomar essa decisão, porque sabia que omenino tinha uma herança muito grande. E assim foi feito,pegou todo o dinheiro e foi embora para o exterior. O menino cresceu, e se tornou uma pessoa honesta esimples. Conheceu uma mulher jovem e bela e tiveram cincofilhos, mas um acabou morrendo aos três meses porpneumonia. Essa mulher acabou fugindo de casa, pois estavatraindo David e tinha medo que ele soubesse. 25

A vida desse homem era muito triste e depressiva, elefazia a mesma rotina todos os dias. Em um dia comum, pertodo Natal, estava pedindo caixinha de Natal e, quando elepediu uma mulher riu e disse: -Bem feito! Quem mandou não estudar? Agora terá quepedir esmola para se sustentar! Aquilo não era verdade, ela não conhecia sua história enem as dificuldades pelas quais passou. Foi a gota d´água, David tomou medidas trágicas:QUEIMOU a casa! Dois feridos e uma rescisão do contrato detrabalho vieram com três anos na cadeia, que se passaramdepressa. Quando David percebeu, já havia saído. Ele sabiaque tinha errado ao queimar a casa, só que o ódio e avingança o consumiram naquele momento. David não estava feliz com a vida que levava, só estavaesperando os dois filhos mais novos terem independênciaprópria para poder ir dormir em paz. E assim foi feito, ele queria que todos da famíliasoubessem e demorou mais de seis anos para todosaceitarem e entenderem que ele não queria viver daquelaforma, com uma vida miserável e sem sentido algum. David foi até a farmácia e comprou um remédio chamadoLexotan, e entrou em coma. Depois de três dias conseguiufinalmente ter um reencontro com seus pais. Natália Fontes Corrêa - 9°B 26

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O guerreiro Juriscleide Há 12 anos, um homem chamado Juriscleide passou necessidadesextremas no nordeste, em João Pessoa, morava em uma simplescasa, conhecido como um “ velho barraco”. Numa certa noite, ele pensou em mudar para uma cidade grande aprocura de melhorias de vida. Com 51 anos de idade, ele nunca tinha saído de João Pessoa,onde recolhia latinhas para levar no ferro velho para pesar e ganharalgum dinheiro. Num dia de trabalho, ele ganhava no máximo 20reais. Juriscleide juntou esse dinheiro por mais quatro anos, onde já seencontrava com 55 anos. Ele conseguiu uma passagem de ônibuspara São Paulo e tinha 200 reais no bolso, mas só a passagem custou130 reais.Chegando a São Paulo, Juriscleide gastou seus últimos 70 reais emum motel, onde passou duas noites. Depois disso Juriscleide passou aficar na rua a procura de emprego não tinha conseguido nadaPassou um ano morando na rua e a procura de emprego, mas nada.Sem condições já estava morrendo na rua, onde pessoas omaltratavam, falavam mal e olhavam para ele como se fosse umanimal. Juriscleide passou mais 12 anos na rua onde passou frio e fome,do cansaço acabou falecendo no dia 14/05/2002. Juriscleide morreu como um guerreiro com 68 anos de idade. Pedro Lobo – 9ºB 28

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O Homem e a Desigualdade Era um dia nublado na cidade de São Paulo, Cléber haviaacordado seis horas da manhã e tomado um ônibus em direçãoà prefeitura. Chegando lá, ele cumprimentou o segurança, semobter resposta. Em seguida, um vereador tambémcumprimentou o segurança, e o segurança respondeu comalegria. Quando viu a resposta do segurança, Cléber percebeuque sua existência não era importante e se sentiu triste, maslembrou que era apenas um faxineiro, e se conteve. Foi então que o gari se dirigiu a um de seus supervisores, aprocura de uma tarefa. O supervisor mandou Cléber ir ao bairrodo Morumbi, onde existia um acúmulo de resíduos. Tomou um ônibus em direção ao nobre bairro. Quando Cléber chegou ao local ficou boquiaberto comtamanho luxo das residências construídas. Após um longo dia de trabalho, Cléber voltou para seu lar naperiferia. Abriu a porta de sua casa com muito cuidado para nãoacordar seu filho. Quando chegou em casa, deparou-se com umbilhete deixado em cima de sua cama, que dizia: “Querido pai,amanhã é meu aniversário e eu gostaria de ganhar uma caixa delápis de cor. Sei que o senhor ganha pouco, por isso, vouentender se o senhor não conseguir comprar o meu presente,mas ficaria muito feliz se você conseguisse.” Cléber tratou obilhete com muita seriedade, pois era o mínimo de felicidadeque ele podia dar à seu filho. Por isso, aumentou sua jornada de 30

trabalho para ganhar mais dinheiro e poder comprar o presentede seu filho. Na manhã seguinte, Cléber acordou mais cedo para compraro presente de seu filho. Após ter comprado a caixa de lápis decor que seu filho tanto queria, foi trabalhar. Quando Cléber chegou em casa, não encontrou seu filho emlugar algum. O único vestígio de seu desaparecimento era umbilhete escrito com os lápis de cor de seu filho, que dizia: “Pai,homens que diziam ser do crime me pegaram.” Rodrigo – 9ºB 31

Era quase meia – noite Era quase meia-noite, quando cheguei no morro, um lugarbem distante do meu trabalho, só voltava para casa no final desemana, 14 horas diárias, às vezes, nem tinha lugar para dormir. Era quase meia-noite para eu chegar em casa e reverminha nega, abraçar meus filhos. Só que chovia muito, iademora mais ainda para isso acontecer. A chuva caía igualpedra em minhas costas, estrava com um medo de cão.Tudo apontava o pior, mas minha crença em Deus que nadaaconteceria. A água já subia em meus joelhos, quando abarragem de uma praça inundada não segurou a quantidadede água, e eu não consegui me segurar em pé e fuiarrastado, para longe de casa, para longe dos meus filhos,para longe da minha nega... Não sabia que seria tão longe aponto de durar para sempre. Acordei gritando de desespero, mas aliviado por estarvivo, mal sabia que o pior estava por vir. Olhei em volta ereconheci o lugar, não estava tão longe de casa, encontreium orelhão, liguei para polícia, bombeiros, SAMU, tudo quetinha direito, porque o estrago estava grande, mas acho queera tarde de mais. Quando encontrei minha casa, não encontrei meucoração batendo dentro do peito de tanto desespero. O queera uma casa simples e acolhedora, virou só entulho. Eu jásabia que eu não tinha mais vida. Então sem olhar para trás 32

sai correndo sem rumo, sem esperar a polícia chegar,porque eles não iriam chegar. Pobre?! Pobre não temdireito a nada, só de votar e colocar um corrupto nogoverno. Uma hora cansei de correr, me sentei na guia damarginal e sinalizei, pedindo carona, até que umcaminhoneiro parou. - Vai para onde, moço? – perguntou o caminhoneiro. - Não sei, quero ir para o centro, pode me levar? - Claro, sobre aí! Não conversamos, só perguntei o nome dele, Leonardo.Quando chegamos ao centro, Leonardo me deixou em frente auma praça, agradeci sua generosidade e sai andando e,novamente sem rumo. Até que cheguei em um mercadão e medeitei no papelão, deixando que o sol secasse minhas lágrimas.Acordei com algo molhado acariciando meu rosto, sorri, jáachando que estava no céu, em seus braços e recebendo osbeijos de minha mulher, só que não, era apenas um cachorrosujo, magro igual cipó, fiquei com dó e o acolhi como um filhoperdido que foi reencontrado. Não queria viver, apenas sobreviver de restos ou esmolasdadas a mim e ao meu novo amigo. Estávamos passando fome,mas eu não tinha forças para procurar sustento. Sei que estava fazendo errado, pelo fato de não valorizar asorte que é estar vivo, mas a dor em meu peito sem minhafamília era mais forte. O meu cão era meu único amigo, meuúnico companheiro. 33

Semanas se passaram e a culpa não saia da minha cabeça: seeu tivesse chegado mais cedo, se eu trabalhasse mais ecomprasse uma casa melhor, se por algum motivo não os ameio suficiente, se eu tivesse estudado mais, se eu chegasse maiscedo, cedo, cedo! Mas... já era quase meia-noite! Luísa – 9º Ano B 34

Minha vida invisível Em uma cidade morava, Cleusa, junto aos seus pais que asustentavam, dando-lhe uma vida boa, com um colégio, umacasa humilde com um quarto, comida e amigos. Mas um pontoessencial que começou a afetar tudo isso foi o envolvimento deseus pais com droga, o que trouxe a ela uma fraqueza e osentimento de estar perdida. Cleusa terminaria o colégio, e com o pensamento em fazeruma faculdade para uma boa profissão, ter um futuro melhor efugir das drogas utilizadas pelos seus pais. Então tomou adecisão e foi conversar com seus pais, que com o problemapsicológico causado pela droga, entraram em uma discussão: - Mãe e pai, estou decidida a ir para São Paulo, em busca demelhores condições de vida. - Como assim? Não! Você não tem condições para ir. - Eu vou sozinha, procuro algo por lá e corro atrás de umfuturo melhor. - Não é não Cleusa! Pronto e acabou! Está decidido que vocênão vai. Na mesma noite ela arruma suas malas, deixa tudo pronto.Logo cedo ela foge de casa rumo a São Paulo. Chegando lá, elaainda está perdida, sem conhecer ninguém e começa a andarpelas ruas da cidade. O dia começa a escurecer, então Cleusasabia que teria que arrumar algum lugar para dormir aquelanoite. 35

No dia seguinte parte para encontrar algum trabalho, porémjá estava fraca, com fome, sede e dor no corpo pelodesconforto. E os dias vão se passando e ela enfrentando as noitesenquanto dormia na rua, passando fome, frio, calor e ás vezesfazendo reflexões de se ela fez a escolha certa ou se fez a erradaou se deveria ter seguido o conselho de seus pais. Percebe quea sociedade não a vê, ela é invisível e o sofrimento e asdificuldades vão aumentando. Então, achando que a droga vaiajudá-la entra no mesmo mundo que seus pais, o mundo queela havia fugido, mas que no final não conseguiu escapar. Isabella – 9º Ano B 36

Sem saída Roberto era um adolescente órfão, sua mãe morreu no partoe seu pai quando tinha 14 anos. Ele havia passado a guarda paraseu único amigo, Ricardo, que na época tinha 46 anos. Ricardoera mecânico, morava em sua oficina, lá tinha um quarto comuma TV, armário com algumas roupas; na cozinha uma geladeirasimples e um fogão pequeno. Quando Ricardo recebeu a notícia de que seu amigo haviamorrido, ele se assustou, mas, aceitou cuidar de Roberto. Quando chegou à casa de Roberto, disse: - Eu e seu pai éramos muito amigos... Roberto permaneceu em silêncio - Bom, ele disse para eu cuidar de você... Roberto pegou sua mala e entrou no carro. Chegando a oficina, Ricardo havia deixado um colchão paraRoberto que entrou no quarto e disse: - Posso ficar um pouco sozinho? - Claro, eu estarei na oficina. Roberto ficou no quarto por horas chorando, quandofinalmente decidiu descer e conversar com Ricardo: - Como você e meu pai se conheceram? - Seu pai que me comprou essa oficina... Quando eu tinha 19anos, eu estava com alguns amigos, nós estávamos pichando osmuros da faculdade, eu tinha sido expulso e estava revoltado... 37

A polícia apareceu, um dos meus amigos sacou uma arma...Enfim, fui preso e fiquei 4 anos na cadeia, não conseguiaemprego e seu pai me encontrou vasculhando uma lixeira e meensinou tudo o que eu sei, com uma condição: cuidar de vocêquando ele morresse, e aqui estou eu... Bruno – 9º Ano B 38

Faltam forças para mudar Cinco e meia da manhã. Acordo e o sol ainda não nasceu.Prendo meus cabelos crespos em um coque apertado. Me olhono espelho e vejo meus olhos castanhos cansados, de quemdormiu pouco, de quem está envelhecendo rápido. Coloco meuuniforme, pego minha marmita e dou uma olhada final no meukitnet. Gabriel, meu filho, dormindo. Vou até ele e deposito umbeijo em sua testa, involuntariamente uma lágrima escorre emmeu rosto suado. Ouço um resmungo. Olho para trás e lá estáele, Vandersson. Desmaiado em cima da mesa, a garrafa deuísque na mão. Deveria ser sexta-feira, ou segunda, ou terça, ouquarta, não importa, ele bebe em todos. Tranco a fechadura, atravesso o portão. A brisa gelada só meacorda mais. Vejo um ônibus parando no ponto, corro paraalcança-lo. Subo e não há ninguém, apenas o cobrador e omotorista. R$3,80. E, o preço da condução, aumentou. Pior pra mim.Abro minha mão enrugada, e nela tem uma nota de 5 reaisamassada, entrego ao cobrador, que como resposta me olhacom desprezo. Sinto em qualquer lugar, quando meuspensamentos me pegam. Penso em como o balançar do ônibusme incomoda, não tínhamos isso no Nordeste. Penso nobarulho, penso em como vou pagar o IPTU, como irei pagar osmateriais escolares de Gabriel, em como pagaria tudo isso jáque metade do meu salário vai para o uísque de Vanderson. Meperco tanto em pensamentos que nem reparo que o ônibus 39

encheu. Alguns sentados, alguns de pé, mas ninguém sentadoperto da negra catadora de lixo. Desço no meu ponto, e sinto um alívio por ter vindo deônibus, não é sempre que o dinheiro da conta. Agora já é demanhã. A brisa esquenta, já tem gente nas ruas, o barulhoinfernal de carros já começou. Chego ao galpão, não tem praticamente ninguém lá. Pegomeu carrinho, as ferramentas, pronta para trabalhar. Quandosaio, consigo ver a mendiga que sempre ficava por ali: Cleide. Amendiga que perdeu tudo, uma boa pessoa. - Dia, dona Maria! – diz ela com seu sorriso incompleto. Sorrio como resposta. O sol escaldante queima minhas costas, me faz suar mais quetudo, passo a costa da mão na testa, sinto ela se umedecer.7:00; 8:00; 9:00. 10:00; 11:00; 12:00; 13:00, e nada de alguémme oferecer um copo d’água. Sinto fome, meu estômago ronca.Tiro da minha bolsa minha marmita: arroz, feijão, ovo e farofa,tudo frio. Como observando a cidade bonita. Meus olhos paramem uma placa, futilmente paro para lê-la. Inútil! Volto aotrabalho. As horas passam lentamente, até que chega 18:00.Volto ao galpão e deixo as coisas lá. Algo acontece este dia que me deixa intrigada. Não foi aprimeira vez e com certeza não será a última. Estava andandocom passos curtos e rápidos até o longo caminho de casa,quando algo acertou minha cabeça. 40

- Cata aí “ô macaca”! – diz um jovem dentro do carro entrerisadas. Pego a lata de refrigerante vazia do chão e jogo na lixeira. O longo tempo entre o galpão e minha casa me faz refletir oque o jovem disse. “Macaca”. Será que eu deveria sentirvergonha da minha cor? Da minha profissão? Será que souinferior a ele só porque sou menos favorecida? Deveria sentirmedo? Deveria me proteger? Havia tantos pensamentos em minha cabeça, que malpercebi quando cheguei em casa. Atravessei o portão,destranquei a fechadura, e me deparo com uma cena de parar ocoração. Gabriel chorando em perdão por ter acidentalmentequebrado a garrafa do pai. Vanderson, com um cinto na mão,gritando bêbado, as punições que Gabriel receberia. Elelevantou o cinto e eu não pensei duas vezes, corri para frentede meu filho, cobrindo-o e levando a chibatada. O meu braçoesquerdo queimava. Era como se estivesse pegando fogo.Vanderson gritava palavras sem sentido para mim, e depois searrastou com passos fundos para o quarto. Instantaneamente, peguei Gabriel no colo e tentei acalmá-lo.Senti suas lágrimas grossas em meu ombro. Passei a mão emsuas costas, dizendo que não iria acontecer de novo. Mas iria.Sempre acontece. Faltam forças para mudar. Isabelle – 9º Ano B 41

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Bom Dia Eu estava deitado em uma praça como todos os dias, masaquele dia era diferente, eu não tinha colocado um pão na bocahá 3 dias. Enfim, meu nome é Marlison e eu vim contar umpouco da minha história. Tudo começou aos 16 anos, quando comecei a desconfiarde minha sexualidade, tinha uma família muito preconceituosae tradicional. Quando completei 19 anos, resolvi me assumirpara a minha família. E, sim aconteceu o que eu imaginava: eufui humilhado, mal tratado, fui expulso da minha própria casa.Todos viraram as costas para mim, eu estava absolutamentesozinho, ninguém mais quis saber de mim. Ninguém! Anos se passaram, já estou com 29 anos, ou seja, já são10 anos sozinho, abandonado nas ruas de São Paulosimplesmente, porque eu sou quem realmente sou e sou“diferente”. Tudo acabou, tive que parar de estudar, sonhavaem cursar medicina. Agora vivo sem saber se amanha terei umcopo d’agua, não estou aqui porque quero, fui totalmenteabandonado. Em uma manhã que eu não tinha comido absolutamentenada, uma moça linda, bem vestida, com um cabelo que pareciaser muito macio, parou e me deu um simples bom dia. Fiqueifeliz, pois ninguém via que eu estava ali, eu era invisível paraalguns, mas aquela moça passava ali todas as manhãs e me davabom dia. Depois de muito tempo que aquela moça fazia o mesmocaminho, eu resolvi parar e falar educadamente: 43

-Bom dia! - Bom dia, moça posso te falar uma coisa? - Claro, você quer algo? - Não só queria dizer obrigado! -Mas... pelo quê? - Por me dar bom dia todas as manhãs. A moça abriu um lindo sorriso. - Por que você veio para cá? Você aparenta ser tão novo e eute vejo aqui há tanto tempo. - Eu só tenho 29 anos, estou sozinho desde os 19 anos, ahistória é muito longa. - Conte-me. - Não, a senhora vai se atrasar. - Eu insisto, conte-me, por favor. Comecei a contar minha história, de repente emocionadaperguntou se poderia gravar um vídeo sobre a minha história,eu disse que sim, e voltei a contar a minha história para ela epara a câmera... A partir disso minha vida começou a mudar completamente,mais pessoas me notavam, comecei a ser ajudado, conseguivaga em um Albergue, comecei a ganhar doações, até conseguiroupas seminovas, comida e até banho que eu podia tomar noalbergue. Depois de um tempo, consegui a oportunidade de ir auma entrevista de emprego, mas tinha a ideia de que eu nãoseria contratado, que não conseguiria voltar a ser alguém, não 44

consegui mudar de vida e voltar a estudar, pois eu só queria sairdas ruas, eu nunca coloquei um cigarro em minha boca, pois eusei que esse não é o meu caminho. E eu fui contratado, a princípio eu não acreditei, para oemprego eu precisava ter o ensino médio completo. Ganhavaum pouco mais que um salário mínimo. Consegui pagar meuprimeiro aluguel, comecei a mudar de vida. Hoje eu tenho 40 anos, tenho minha casa própria, e coma minha família formada com o meu marido e uma menininhalinda, a Laura que adotamos com apenas 9 meses, hoje ela játem 7 aninhos. Sou recém-formado em Medicina. Sim, eu mudeide vida dei a volta por cima, não sou mais o menino invisíveldeitado em um banco de praça, e tudo isso por conta de umsimples bom dia. Eu não seria o homem que sou, se eu nãotivesse passado esses 10 anos de sofrimento, existem muitosnas ruas, LGBTs ou não, querendo mudar, estudar, dar a voltapor cima, mas muitos deles não tem ninguém que lhes diga,bom dia. Diga mais bom dia, boa tarde ou até boa noite, porqueisso mudou a minha vida, e pode mudar a de muitos quequeiram. Tenha mais amor. Enfim, um bom dia pode mudar o dia ou até a vida deuma pessoa comum. Esther Palmeira 45

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Dando a volta por cima Em uma periferia de São Pulo morava Joana, uma domésticaque trabalhava para uma rica família no Morumbi. Levantou-se cedo para ir trabalhar, pois tinha que pegar 2ônibus e um trem para chegar à casa da família. Ela semprechegava cansada por causa do meio de transporte que é muitolotado. Nesse dia o chefe chamou-a para conversar, e ela acabousendo demitida, pois os patrões dela estavam infelizes com oseu trabalho. Joana voltou para casa muito chateada e sem saber como iaviver, pois aquele trabalho era seu único sustento. Meses depois, ela não tinha mais como pagar o aluguel dacasa e acabou indo morar na rua. Joana passou muitas dificuldades, pois não tinha nada parase alimentar, passava frio, e o pior, sofria muito preconceito porser negra, mulher e por morar na rua. Ela se sentia muitomenosprezada, ficava triste, pois não tinha ninguém para ajuda-la. Em um dia, uma mulher que trabalhava em uma ONG, queajudava moradores de rua foi falar com a Joana: - Olá, meu nome é Jéssica e eu tenho uma ONG que ajudamoradores de rua, eu queria saber se podemos te ajudar?! -disse a moça. 47

- Olá, eu sou Joana. Claro! Eu não aguento mais essa vida.Muito obrigado por me dar essa nova oportunidade de vida. -disse Joana. - Que bom saber disso senhora, fico muito feliz. Às 13 horasvai passar um carro, que vai levar a senhora à nossa ONG.Tchau! – disse Jéssica. - Ok! Muito obrigada! - disse Joana. Joana foi para essa ONG, meses depois, ela conseguiu umemprego de atendente em uma clínica, e com o dinheiro doemprego, que ela foi ajuntando durante 6 meses, ela conseguiucomprar um casa nova, e agora ela vive feliz! Gabrielle Damásio 48

Quarto escuro Tinha 13 anos quando tudo ocorreu, era meu aniversário. Osinal tocou, arrumei meu material rapidamente e fui para casa.No caminho para casa decidi pegar um atalho, pois estava compressa para chegar em casa e abrir meus presentes. Entrei emuma rua longa, estreita e vazia. Com medo eu andavarapidamente, e quando um carro preto passou lentamente,fiquei assustada e comecei a andar mais rápido. De repente eusenti alguém me abordando por trás e colocando um pano emminha boca, fazendo com que eu pudesse ser facilmenteabatida. Debatia-me e tentava gritar, mas meus braços estavamimobilizados. Fui amordaçada e amarrada, meus olhos foram sefechando. Senti meu corpo sendo arrastado, mover-me eu tentava enada, meus braços, minhas pernas, meus dedos, minha boca,meus olhos e absolutamente nada se mexia. Fui arremessada nochão, e aos pouco meus movimentos foram retornando, abrimeus olhos, levantei-me com muita dificuldade, meu corpoestava dolorido. Estava em um quarto escuro, pequeno e comalguns moveis. Pude ver por uma janela no teto que já era denoite. Comecei a entrar em desespero, gritava por socorroesmurrava a porta, ninguém me escutava. De repente, escutopassos e fico quieta, um homem abre a porta e me manda calara boca. Estava apavorada e comecei a gritar desesperadamentepor socorro. Fui arremessada na cama que ficava em um doscantos do quarto, ele subiu em cima de mim e começou a mesufocar. Não conseguia respirar, tentei me debater, mas ele 49

pressionava mais forte, só quando estava sem ar que me“acalmei”, ele parou, me olhou nos olhos e disse pra mim: - Fica em silêncio! Caso eu gritasse novamente, ele iria me matar. Fiquei quietae obedeci. Naquela noite ele me torturou e abusou de mim.Implorava a ele que não fizesse aquilo comigo, mas ele não seimportava com nada que eu dizia. Ele saiu do quarto e me deixou jogada na cama. Sentia-meviolada, não só o físico, mas a menta também. Fui estupradanaquela noite, e isso se repetiu por várias noites. Virou rotina.Ele vinha somente a noite, deixava comida, abusava de mim e iaembora. Já fazia quase 3 anos que eu estava naquele quarto, sendoviolada, não podia mais aguentar viver assim, então comecei aplanejar minha fuga. Ela precisava dar certo. Caso contrário eraminha vida que estava em jogo. Bolei meu plano e iria por ele em pratica naquela noite, nãosuportava ficar nem mais um dia naquele inferno. Eu ficaria aolado da porta e o acertaria com uma panela. Teria que sercerteiro. Teria que apaga-lo de uma só vez. Quando aquele monstro entrou no quarto, acertei-o, porémele não apagou. Acertei outra e funcionou. Meu coração estavaacelerado, sai correndo, estava no meio do mato, mas pudeescutar o barulho de carros na avenida e fui correndo comonunca corri antes. Gritava socorro e um dos carros parou parame ajudar, expliquei que estava fugindo de um estuprador e eleme levou até uma delegacia, onde me levaram até um hospital. 50


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