ÁREAS DE CONHECIMENTO 2º eixo: Esportes, jogos, lutas e ginástica com certo paradigma dominante de que o necessário é sempre vencer o outro, e também se abre um espaço Os esportes, jogos, lutas e ginásticas apresentam prático para melhoria das relações humanas e, conse- aproximações conceituais e práticas, que dificultam quentemente, da qualidade de vida. o estabelecimento de suas diferenças, principalmen- te quando observamos as influências oriundas dos As lutas apresentam regras específicas, de acordo com contextos sociais onde são praticadas. os diferentes estilos. São regulamentadas por federa- ções e são praticadas com finalidades competitivas, Os esportes são atividades com regras de caráter profiláticas e de hobby. As lutas apresentam um vasto oficial, regidas por federações regionais, nacionais repertório envolvendo desde brincadeiras, inspiradas e internacionais, de cunho competitivo, amador e por filmes e desenhos que envolvam lutas, até cabo profissional. Necessitam de espaços e equipamentos de guerra, briga de galo, capoeira, judô, dentre outras. apropriados, como quadras, pistas, piscinas, campos e ginásios, para serem desenvolvidos. Temos aqui as As ginásticas – acrobática, de aparelhos, de prepara- especialidades do atletismo, futebol de salão e de ção para modalidades específicas, rítmica e despor- campo, handebol, natação, nado sincronizado, saltos tiva – apresentam características diversas, podendo ornamentais, basquetebol, voleibol e outros. ser utilizadas para fins estéticos, preparatórios para o esporte e auxiliando na construção da consciência Os jogos são praticados com regras, espaços e mate- sobre as condições posturais, os ritmos respiratórios riais adaptados às necessidades e desejos dos e cardíacos dentre outras funções e partes corporais. participantes. Têm características competitivas ou cooperativas e apresentam vasto repertório: jogos Interessante sinalizar que os conteúdos deste eixo tradicionais e pré-desportivos: piques, cabo de guerra, também poderão ganhar uma apreciação históri- queimado, pique-bandeira; jogos com regras aproxi- ca com relação as suas origens e características. Há madas às do voleibol, basquetebol, futebol, handebol ampla literatura sobre assunto, almanaques, enciclo- e demais esportes. pédias, literatura infantil e uma variedade enorme de notícias nos meios de comunicação. A seção Esportes, Os jogos cooperativos devem ser valorizados, ganhan- por exemplo, é encontrada em boa parte dos jornais do nas aulas lugar de destaque, pois muito podem de grande circulação. colaborar para o desenvolvimento da autoestima, colocando em questão princípios como inclusão, A bagagem cultural do estudante como ponto de parti- respeito às diferenças, solidariedade, coletividade e da para a organização do planejamento é fundamental igualdade de direitos e deveres. Não há exclusão e para o processo de construção do conhecimento. A (re) todos são corresponsáveis nas decisões e na gestão criação de novas maneiras de se movimentar se dará do jogo. Nesta perspectiva, instaura-se uma fissura mediante análise crítica daquilo que já se sabia sobre aquela prática corporal. Ensino Fundamental - PROPOSTA PEDAGÓGICA 249
ÁREAS DE CONHECIMENTO 2º eixo: Esportes, jogos, lutas Conteúdos em esportes, jogos, lutas e ginástica e ginástica Respeito, mediante os combinados da classe, ao direito de expressão dos colegas, compreendendo a importância da expressão pessoal para a construção coletiva. Organização de formas de brincar e dançar que enfatizem o envolvimento coletivo. Vivência de jogos e brincadeiras conhecendo suas regras e movimentos. Conhecimento da origem e história dos jogos e brincadeiras. Criação de brincadeiras individuais. Elaboração de novas regras para as brincadeiras vivenciadas em acordo com as questões problematizadas pela turma. Organização de formas de brincar em pequenos grupos. Explicação e demonstração de brincadeiras aprendidas em contextos extraescolares Participação e apreciação de brincadeiras ensinadas pelos colegas. (Re)construção dos jogos e brincadeiras, suas regras e movimentos de acordo com a situação, com o espaço e materiais disponíveis. Vivência do esporte por meio de algumas modificações da regra dita “oficial”, tendo em vista a disponibilidade do espaço e dos materiais e as possibilidades de movimentos. Conhecimento da história do esporte. Reconhecimento que existem as regras “oficiais” do esporte, compreendendo as diferenças em relação às regras que são vivenciadas durante a aula. Vivência das práticas circenses e as possibilidades de expressão e movimentos que permitem brincar de circo. 250 PROPOSTA PEDAGÓGICA - Ensino Fundamental
ÁREAS DE CONHECIMENTO 2º eixo: Esportes, jogos, lutas Conhecimento da história do circo. e ginástica Vivência dos elementos ginásticos a partir de uma história contada. Conhecimento da história da capoeira vivenciando seus elementos básicos. Participação em diversos jogos e lutas, respeitando as regras e não discriminando os colegas. Resolução de situações de conflito por meio do diálogo. Discussão das regras dos jogos. Utilização de habilidades em situações de jogo e luta, tendo como referência de avaliação o esforço pessoal. Resolução de problemas corporais individualmente. Avaliação do próprio desempenho e estabelecimento de metas com o auxílio do professor. Utilização e recriação de circuitos. Utilização de habilidades (correr, saltar, arremessar, rolar, bater, rebater, receber, amortecer, chutar, girar etc.) durante os jogos, lutas, brincadeiras e danças. Desenvolvimento das capacidades físicas durante os jogos, lutas, brincadeiras e danças. Diferenciação das situações de esforço e repouso. Ensino Fundamental - PROPOSTA PEDAGÓGICA 251
ÁREAS DE CONHECIMENTO 3° eixo: Atividades rítmicas e expressivas curiosidades, podendo estimular pesquisas sobre as particularidades do nosso povo. As atividades rítmicas e expressivas integram expres- sões corporais a estímulos sonoros, formando um rico Uma boa maneira de ampliar a reflexão sobre este e amplo conteúdo para o trabalho com o movimento eixo de conteúdos é consultar os Parâmetros Curri- corporal. Os condicionamentos tropicais e as formações culares Nacionais de Arte, na seção específica para socioculturais como as do Brasil, euro-afro-ameríndio dança. Para este eixo, os conteúdos trabalhados terão, em suas bases étnico-culturais, são fatores de impor- certamente, grande intenção expressiva, comunicati- tância para a construção de muitas manifestações de va; então, a experimentação das qualidades do movi- danças, com grande variedade de ritmos, que possibi- mento expressivo se faz necessária. litam o desenvolvimento de aprendizagens que envol- vam as expressões corporais. Citando alguns: danças Os conteúdos trabalhados a partir dos três eixos regionais como samba, baião, bumba meu boi, maraca- devem contemplar os aspectos sociais pertinentes às tu; danças urbanas como rap, dança de rua e de salão; práticas corporais, no que diz respeito às suas dimen- lenga-lengas; brincadeiras de roda. sões socioculturais, de lazer e de manutenção da saúde. Importante, ainda, destacar que brincadeiras Além dos repertórios regionais, existem outros esti- como pião, pipa, bola de gude, pular corda, polícia e los de danças que podem ser exploradas no espa- ladrão e uma variedade grande de piques não devem ço escolar, produzindo cultura e gerando inserções ser esquecidas, pois relacionam tais dimensões de sociais. Assim, o aluno envolvido com a dança de rap modo harmônico. As características pessoais, regio- pode constituir um grupo para fazer apresentações em nais e culturais dos alunos merecem atenção especial outros espaços sociais. As brincadeiras cantadas, muito devido à diversidade de práticas corporais existen- presentes no repertório infantil, apresentam conte- tes no Brasil, pois se não considerados, subtraem em údos históricos regionais repletos de informações e muito a qualidade do trabalho. 252 PROPOSTA PEDAGÓGICA - Ensino Fundamental
ÁREAS DE CONHECIMENTO 3º eixo: Atividades rítmicas Conteúdos em atividades rítmicas e expressivas e expressivas Explicação e demonstração corporal das brincadeiras vivenciadas no contexto familiar. Imitação e criação de expressões faciais, gestos, posturas, vocalizações e sons nas brincadeiras, intencionalmente. Exploração de espaços, a fim de perceber os sons ambientes (vozes, corpos e materiais sonoros), associando-os à fonte sonora. Conhecimento e experimentação de possibilidades do corpo na dança. Acompanhamento de diferentes ritmos com o corpo. Posturas de cuidado e respeito pelo outro durante a vivência das brincadeiras e danças. Participação em brincadeiras cantada. Criação de brincadeiras cantadas. Apreciação e valorização de danças pertencentes à localidade. Participação em danças simples ou adaptadas, pertencentes a manifestações populares, folclóricas ou de outro tipo que estejam presentes no cotidiano. Participação em atividades rítmicas e expressivas. Elaboração de pequenas coreografias. Reconstrução das danças propostas em conformidade com as características do grupo e da dança. Expressão de diferentes gestos, algumas ideias, sensações e sentimentos proporcionados a partir do cotidiano. Improvisação de cenas teatrais com os colegas, a partir de estímulos variados (tais como temas, sons, gestos, objetos etc.), integrando-se com eles, sabendo ouvir e esperar a hora de falar. Ensino Fundamental - PROPOSTA PEDAGÓGICA 253
ÁREAS DE CONHECIMENTO 3º eixo: Atividades rítmicas Movimento em diferentes ritmos (samba, mpb, reggae, e expressivas pop, rock, hip-hop, funk, clássico etc.), conhecendo as possibilidades de expressão que o corpo pode realizar na presença da música. Conhecimento de danças típicas de diferentes regiões do nosso país, identificando suas características e movimentos próprios. Vivência de danças em diferentes eventos escolares (festas já presentes no calendário, como as festas juninas ou em festivais). 254 PROPOSTA PEDAGÓGICA - Ensino Fundamental VOLTAR
ÁREAS DE CONHECIMENTO Algumas considerações •• Os componentes afetivos, de sentimentos e sensa- metodológicas para o trabalho com a Educação Física ções, estão articulados a toda a trama cognitiva do •• A construção da motricidade referente às práticas indivíduo em ações lúdicas corporais, que evocam tanto a consciência quanto a subjetividade, devi- de jogos, brincadeiras e atividades desportivas do à natureza da atividade. Dessa forma, diversas deve ser desenvolvida de forma dinâmica e mutá- circunstâncias características das atividades corpo- vel, evitando repetições exaustivas e sem contexto rais, como o confronto com adversários, os desa- de jogo para os alunos. A ideia é comportar varia- fios que solicitem o esforço físico, as habilidades ções dos códigos gestuais de cada proposta traba- motoras em brincadeiras, jogos, lutas e danças, que lhada, considerando-as como parte integrante e não promovem alterações fisiológicas diversas e viabili- como finalidade ou principal objetivo da aprendiza- zam as expressões emotivas, compõem uma gama gem. Por exemplo, quando um jogador de futebol de vivências importantes para serem trabalhadas não necessita olhar para a bola enquanto a conduz, pela escola. podendo observar o deslocamento dos compa- nheiros e adversários, tem maior tranquilidade para •• As situações que envolvam resoluções tensas, analisar e efetivar a melhor jogada no decorrer de uma partida e demonstrar o aperfeiçoamento que a partir de diferenças de ponto de vista entre os conquistou, por meio de repetições que realizou em participantes, devem ser trabalhadas pelo profes- diversos contextos de aprendizagem, com elemen- sor de forma que os alunos possam constituir, por tos do jogo de futebol. meio do diálogo, soluções autônomas, sabendo recorrer ao mestre quando necessário. •• A atenção é exercida constantemente, com maior •• As atividades escolhidas pelo professor e as soli- ou menor eficácia, junto aos movimentos, gestos e deslocamentos nas atividades lúdicas, contribuin- citadas pelos alunos devem conter regras que do qualitativamente para o exercício dos movimen- permitam a participação de todos, levando-se em tos específicos, como para as ações mais objetivas consideração as diferenças de gênero e as compe- como um passe, ou criativas como um belo drible tências motoras individuais. no adversário, sendo um direcionador especial que decide e dá sentido às ações em contextos de ativi- •• Com o aumento de convivência com jogos e brin- dades corporais. cadeiras, principalmente naqueles que envolvem competição, os alunos passam a adquirir noções sobre o desempenho dos colegas, realizando avaliações em diversas ocasiões. Ao identificarem as habilidades dos companheiros nas diferentes atividades, faz-se necessário cuidar da forma como Ensino Fundamental - PROPOSTA PEDAGÓGICA 255
ÁREAS DE CONHECIMENTO encaminham suas observações e críticas, para aprendem a lidar com bonecas, miniaturas de que não interfiram no desempenho e no interesse utensílios domésticos, participam de brinca- daqueles que estejam com uma ou mais dificulda- deiras de roda, brincam com cordas e elásticos. des. A identificação dos diferentes desempenhos Consequentemente, os meninos desenvolvem as individuais dos alunos deve ser tratada sem taxa- coordenações específicas do manuseio de bolas, ções, evitando assim a geração de discriminações e agilidade, força e velocidade, ao passo que as rotulações que desestimulem a aprendizagem. meninas tornam-se mais habilidosas em ativida- des que solicitam movimentos associados a ritmos •• Em função das atribuições estabelecidas pelas e equilíbrios com objetos, geralmente utilizados pelas mãos. À medida que a escola não reproduz diferentes culturas, que ditam papéis e funções a cultura tradicional e encaminha alternativas para aos homens e às mulheres, as práticas corporais que ambos os sexos entrem em contato com todo masculinas e femininas foram se constituindo em o repertório possível, torna-se geradora de cultura, repertórios de atividades específicos a cada sexo, fundando novos paradigmas para as práticas entre resultando numa grande diferença de competência os gêneros, aproximando-os por meio deste espa- entre os gêneros em diversos tipos de atividades. ço privilegiado de interação. Assim como os meninos desde cedo são apre- sentados às bolas, piques e raquetes, as meninas 256 PROPOSTA PEDAGÓGICA - Ensino Fundamental VOLTAR
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3 capítulo FORMAÇÃO CONTINUADA
FORMAÇÃO CONTINUADA Para reafirmar o compromisso contraditórios desta trajetória, mas que ajudam a com o ensinar-aprender: compreender as opções feitas quando se está na “Jogo do trabalho na dança condição de educador. das mãos: macias” 1 Pela memória resgatam-se marcas, ideias, sentimentos Se a gente cavar um buraco ao pé do galinheiro, – individuais e coletivos. Pode-se reatualizá-los, ressig- Lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. nificá-los, o que permite afirmar processos culturais e identitários, presentes em uma comunidade, inclusi- Sou hoje um caçador de achadouros de infância. ve a escolar. À luz dessas interseções de memórias é Vou meio dementado e enxada às costas a cavar no meu que diversos contextos culturais deverão ser conside- rados, com as distintas leituras de realidade que eles quintal vestígios dos meninos que fomos. sugerem. Sabe-se que nenhum projeto de formação BARROS, 2003, p. 54 continuada poderá prescindir de diálogos com a cultu- ra. Tampouco o trabalho docente poderá se reduzir a Pensar nos achadouros de infância e nos vestígios da uma dimensão técnica posto que intenções, posicio- criança que se foi ajuda a lançar a discussão em torno namentos, valores e crenças serão sempre inerentes à da formação continuada dos professores a um espa- ação pedagógica. Como sugere Perez (2009), “a forma- ço fundamental, que é a memória. Revisitar o próprio ção de professores deve conjugar a formação técnica à percurso, voltar o olhar para a própria condição de cultural” (PEREZ, 2009, p. 254). estudante e para os mestres que se teve; para a esco- la que se frequentou, para a infância que se experi- Nessa perspectiva, mexe-se com as práticas tradicio- mentou, remeterá, certamente, a muitos sentimentos nais de formação em que ao docente não resta mais que absorver os conhecimentos disponibilizados 1 Trecho da música Redescobrir, de Elis Regina e Luiz pelas pesquisas acadêmicas. E, ao contrário, sabe- Gonzaga Jr. (2007). res e experiências dos professores, recorrentes em suas memórias e narrativas, passam a ser referências importantes no processo de formação. Muda-se, então, o eixo político-epistemológico porque se terá desfeito a tradicional relação sujeito-objeto, o professor assu- me o lugar de sujeito que produz conhecimento, e não simplesmente absorve os conhecimentos produ- zidos em inúmeras pesquisas, muitas vezes sobre a sua prática. Temos, agora, sujeitos interagindo e 264 PROPOSTA PEDAGÓGICA - Ensino Fundamental
FORMAÇÃO CONTINUADA construindo uma multiplicidade de saberes que circu- um aspecto de autoformação, na medida em que cada lam no cotidiano escolar, e, em parceria, desenvolven- um ressignifica de modo particular o que vai apren- do práticas de investigação-formação. dendo, experimentando. Sabe-se que é responsabilidade da escola a formali- Cativar e ser cativado são posturas fundamentais zação e a sistematização de conteúdos. Neste sentido, neste processo e que não prescindem de sensibi- espera-se que o educador se aproprie do conheci- lidade, intuição, criatividade e também de aporte mento produzido pelas diferentes áreas e as suas teórico que consubstancie práticas. Cativar e ser cati- didáticas de modo crítico e consistente. Sua busca por vado demanda comunhão com o outro, com o seu saber mais é o que poderá garantir a consciência, a saber/fazer; demanda abertura, disponibilidade para lucidez e a previsão do processo educativo que, por compreender outras lógicas, valores e entendimentos, sua vez, torna-se motor de novos conhecimentos, na como diz o poeta: “Para enxergar as coisas sem feitio, é medida em que o educador também aprende enquan- preciso não saber nada” (BARROS, 2003, p. 54). Cativar to ensina. Aprende, inclusive, a ver o diferente de cada e ser cativado demanda intimidade, “o tamanho das indivíduo na construção do coletivo e é justamente coisas há que ser medido pela intimidade que temos com o seu conhecimento que irá permear o saber de com as coisas. Há de ser como acontece com o amor” cada um. (BARROS, 2003, p. 54). Cativar e ser cativado deman- da confiança (fiar com), demanda aproximação afetiva, A questão fundamental e que se impõe é que nada que em nada se relaciona ao estereótipo da professo- neste processo será possível se o educador não se ra-tia e, sim, ao reconhecimento do outro, como sujei- inquietar, não se sentir instigado com os desafios to, em sua singularidade, no reconhecimento de sua que se apresentam. Para que se assuma autor de seu cultura e de seus saberes aí construídos. Talvez, nesta trabalho – e não apenas informante das propostas dos perspectiva, é que resida a força das palavras de Tardif livros didáticos e dos currículos oficiais, simples apli- (2005, p. 31): “Todo trabalho humano sobre e com cador de modelos preestabelecidos – ele precisará ser seres humanos faz retornar sobre si a humanidade de capaz de cativar e ser cativado. Somente nesta condi- seu objeto”. ção de autoria é que poderá colocar-se como partici- pante do processo coletivo que tem como exemplo Por outro lado, a construção de um aporte teórico pelo a construção dos projetos políticos pedagógicos e docente pressupõe reflexão sobre a própria prática, seus desdobramentos. Dessa forma, os processos de firme comprometimento, para que não se corra o risco formação apresentam um aspecto compartilhado e de espontaneísmos, tal como ensinara Freire (2001, p. 24), “a reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação teoria/prática sem a qual a teoria Ensino Fundamental - PROPOSTA PEDAGÓGICA 265
FORMAÇÃO CONTINUADA pode ir virando blá, blá, blá, e a prática, ativismo”. infantil, um desejo de descobrir o mundo – o mundo Isso porque qualquer transposição didática2 deverá real, de indivíduos em suas tramas, de onde emergem envolver interseção entre conhecimentos das áreas infinitas e interessantes questões. Nesse sentido, os específicas, conhecimentos pedagógicos e conheci- conteúdos a serem trabalhados na escola poderão mento da experiência escolar, o que não acontecerá representar também temas históricos, questões cultu- sem comprometimento sociopolítico. rais, políticas e sociais, o que requer do professor estudo, pesquisa, participação e autoria, porque o que Tais saberes sempre estarão relacionados às escolhas estará em jogo não é mais uma série de atividades e às negociações (sobre: o quê? Como? Quando? Para escolarizadas que não fazem sentido em lugar algum, que ensinar?) que, como se vê, dizem respeito a, no apenas na sala de aula e para o professor. mínimo, três complexidades entretecidas: 1. Os conhecimentos das áreas que se “escolhe” ensi- Estarão as crianças tendo acesso ao direito de conhe- cer? Essa pergunta deve ser imperativa na constru- nar – são esses conhecimentos que num espaço ção de todo projeto político-pedagógico. Conhecer específico, a escola, se tornam “objetos” da inter- tem uma implicação não apenas cognoscitiva, mas venção pedagógica. também estética e ética, que não podem ser descon- 2. Conhecimento escolar, nas mais diferentes didáti- sideradas, não se trata simplesmente de copiar e cas, nas práticas de ensino e nas reflexões sobre a repetir o que o professor pretendeu ensinar e depois aprendizagem. intenciona verificar. 3. Cultura local, valorizando as especificidades regio- nais e disseminando-as no ambiente escolar. Conhecer sugere beleza porque implica transforma- ções, aprendemos e já não somos os mesmos; conhe- Como garantir que, desta teia, práticas significativas cer implica também se transformar em melhor pessoa, para os estudantes, portadores de um conhecimen- porque necessariamente precisamos reconhecer o to relevante para suas vidas, aconteçam, efetiva- outro na construção do nosso conhecimento. Comu- mente? Como torná-las uma realidade e, de fato, mente se esquece que nenhum conhecimento tem uma experiência? força atemporal: tudo se transforma ao longo do tempo. Muitos conhecimentos que, aparentemente Trabalhar nesta perspectiva requer, entre outras coisas, não “servem” para nada são altamente formadores que os conteúdos não sejam tratados à revelia do tais como aprender a dialogar, conquistar a autonomia grupo e de seus interesses. Diferentemente da ideo- logia constituída em torno de a criança gostar de um mundo encantado, mítico, pode-se sem muito esforço perceber a realidade de que existe outra ansiedade 2 Trabalhar pedagogicamente os conhecimentos oriundos dos diversos componentes curriculares. 266 PROPOSTA PEDAGÓGICA - Ensino Fundamental
FORMAÇÃO CONTINUADA necessária para a construção de uma postura de estu- tico-pedagógico realmente comprometido com o ser dante adequada, por exemplo. A troca entre amigos humano, com o trabalhador em formação. e parceiros fomenta o crescimento, a autonomia e a responsabilidade, consigo mesmo, com o outro, além Um projeto político-pedagógico não pode ser compre- de alimentar os sonhos, parte integrante e fundamen- endido simplesmente como um documento formal tal de nosso desenvolvimento emocional. que só alguns poucos “iluminados”, especialistas, estão autorizados a produzir, e como algo totalmente Ao longo desta Proposta Pedagógica algumas proble- distinto do que acontece no cotidiano da escola. Os matizações foram trazidas no sentido de fazer do diferentes planejamentos feitos pelos professores; as conhecimento uma aventura. Buscar o diálogo entre atividades desenvolvidas e os materiais seleciona- as áreas curriculares, desenvolver projetos apontan- dos; os projetos de trabalho; as reuniões periódicas, do possíveis interconexões entre os conhecimentos os conselhos de classe,3 a discussão sobre as condi- produzidos pela humanidade, potencializar a condi- ções concretas de trabalho; as trocas de experiências, ção de participação e autoria dos estudantes, são os grupos de estudo; a diversidade de registros, rela- apostas necessárias. É fato que tais proposições se tórios, diários e sua socialização; as festas, as feiras, afirmam num projeto que é coletivo, de uma equipe, os encontros pedagógicos; todos esses elementos de uma comunidade escolar. Não pode se tratar de sedimentam e dão contornos a um projeto político- algo particular, tampouco é de exclusiva responsabili- -pedagógico. Tal projeto precisa – mesmo em caráter dade dos especialistas em Educação – gestores, coor- processual – ser organizado, formalizado pelas equi- denadores, orientadores – tomar decisões acerca de pes para que possa, inclusive, ser socializado com um Projeto de Ensino. A estes, o desafio de envolver outros grupos, com outras instituições, se for o caso. os demais profissionais, de mobilizar para a formação, Assim é que poderá dialogar com outras comunidades, de desenvolver projetos, só será efetivo se atender a no bairro, na cidade, no país; assim é que manterá a todo um complexo de relações humanas que respon- sua vitalidade, o seu frescor. da à produção de relações educativas e culturais, bem como a afirmação da cidadania de todos os envolvidos 3 Os Conselhos de Classe têm fundamental importância no no processo. Trata-se também de pensar a interação processo educativo. Isso se não forem assumidos burocraticamente, de grupos maiores que os de trabalho – com toda a apressadamente, reduzidos a um tempo/espaço em que, comunidade escolar – em torno de um projeto polí- simplesmente, notas e conceitos são divulgados. Terão uma função pedagógica se forem praticados como tempo/espaço de discussão, de socialização de olhares acerca de cada estudante e de seu percurso. Quando se lança mão de uma perspectiva de avaliação processual e formadora, é necessário redimensionar também os encontros em que tal avaliação se fará problematização. Assim, os momentos que se fizeram tradicionais na escola – como os conselhos – numa perspectiva transformadora – devem ser ressignificados. Ensino Fundamental - PROPOSTA PEDAGÓGICA 267
FORMAÇÃO CONTINUADA Ao registrar, por exemplo, o professor organiza o seu Percebe-se, então, que um desafio desta natureza não trabalho, refletindo de modo contínuo sobre o seu fazer deve ser assumido como obrigação e sim como neces- com os desdobramentos e fundamentações que lhes sidade de ação política e pedagógica para reinvenção são inerentes. Com a prática do registro está, por um do espaço coletivo; como uma necessidade de forma- lado, se distanciando do tempo/espaço de sua atua- ção teórica, técnica e cultural do grupo e, desta forma, ção, o que lhe permite trazer à tona, mais pontualmen- como uma necessidade de transformação, porque põe te, uma série de interlocuções, inclusive as teóricas; em marcha processos de repensar, refazer, rediscutir, por outro lado, ao registrar, experimenta uma aproxi- reavaliar, ressignificar o ensinar e o aprender. Para isso, mação afetiva, ao fazer do registro um refletir sobre o no entanto, não há fórmulas, receitas ou manuais que que remeterá a ações com outras comunhões. Assim, possam ser consumidos. A tessitura de um projeto e os novas ações poderão ser planejadas a partir de um seus processos – porque é indispensável a prática de registro reflexivo, ajustado e cuidadoso. Por meio dele, revisitá-lo – só se darão no encontro, num estar junto, as possibilidades de troca entre a equipe e também com grupos de estudo, planejamento, registro, rela- com os estudantes e suas famílias são potencializadas. tos de experiência – porque a tematização da prática, da experiência, é um saber legítimo a ser discutido, Tantas vezes, o que se vê é justamente o contrário desta investigado – enfim, com compromisso e sensibilida- construção coletiva. Para o cumprimento de determi- de para perceber os interstícios e as artimanhas dos nação legal, projetos são “produzidos” a despeito dos saberes cotidianos e comunitários. Neste sentido, mas saberes, conhecimentos e práticas, enredados nos dife- vale a recomendação de Santos (1989, p. 95) “de sem rentes contextos escolares, desconsiderando, assim, sair do mar, refazer o barco, tábua por tábua”. os sujeitos envolvidos. Em muitos casos não se tem mais do que projetos estéreis, às vezes, compilações Certamente que formação acadêmica, contato com de outros documentos que não cumprem mais do que as pesquisas em educação, (re)conhecimento crítico uma função burocrática. Ao contrário, o projeto polí- dos documentos e das propostas oficiais e vivências tico-pedagógico precisa expressar as diferentes vozes culturais subjazem os diferentes projetos e intenções do cotidiano escolar. Com uma observação ao que diz a de formação continuada, porém não se deve esquecer própria LDB, logo se verifica que para sua elaboração o que o espaço do trabalho docente, o espaço da escola, que está em jogo é uma responsabilidade coletiva – de também é formador e não deve ser desperdiçado, ou todos os profissionais que atuam na escola. seja, as práticas cotidianas devem ser tematizadas. 268 PROPOSTA PEDAGÓGICA - Ensino Fundamental
FORMAÇÃO CONTINUADA Os espaços escolares tecidos e aprendidos no cotidia- É reiterando o valor deste compromisso que as diretri- no são potencialmente produtores de nossa formação, zes do Sesc se alinham: também imprescindíveis fontes de capacitação para o enfrentamento e superação dos desafios que as reali- O trabalho educativo está voltado para o desenvolvi- dades escolares nos colocam e que as políticas oficiais mento integral dos indivíduos, mediante a melhoria da não dão conta [...] compreensão do meio em que vivem, maior percepção de si mesmos, elevação sociocultural das suas condi- As ações políticas destinadas à formação contínua de ções de vida e desenvolvimento de valores próprios de professores não devem desprezar, desde o início de uma sociedade em mudança e que o façam partícipe seus processos de elaboração, o significado e a poten- ativo desse processo (SESC, 2008, p.15). cialidade dos espaços e tempos cotidianos das próprias escolas (VICTORIO FILHO, 2002, p.75). Diferente do que se pode supor, não são os modismos pedagógicos, no que diz respeito à estrutura curricular Assumir o compromisso com a Formação Continuada e organizacional que darão conta dos desafios que se pressupõe periodicidade nas ações e, portanto, um impõem, produzindo, necessariamente, transforma- compromisso da Coordenação Pedagógica para ouvir ções eficazes no ensino, gerando bons resultados na e reconhecer as necessidades da equipe. Será uma aprendizagem. Isso apenas será possível com o alcan- forma de valorização dos profissionais de Educação se ce de uma qualidade no saber-fazer, que, como já dito, for assumida também como uma ação política de quali- passa por uma formação teórica, cultural e científica, dade e propositiva, comprometida com a formação articulada ao cotidiano do professor. Segundo Libâneo humana, tal como podemos ler nas diretrizes do Sesc: (2002, p. 17), a Pedagogia justamente se distingue “por estudar o educativo na sua globalidade, inclusi- Para garantir qualidade, duas atitudes devem ser ve para integrar os enfoques parciais das Ciências em permanentemente reforçadas e favorecidas no corpo função de uma aproximação global e intencionalmen- dos servidores de todos os níveis. A primeira delas é te dirigida aos problemas educativos”. o exercício intenso da criatividade na busca constante de melhores serviços, de novas técnicas, de soluções A falta desta formação integrada4 minimizará as possi- originais que resultem em maior qualidade e resulta- bilidades de o professor realizar uma análise crítica dos melhores (SESC, 2008, p. 18). de seu fazer pedagógico, podendo encerrá-lo ao seu mundo pessoal. Por outro lado, desvincular tal forma- O exercício intenso da criatividade está na ordem do ção de suas demandas práticas pouco contribuirá no dia das prioridades, especialmente porque a contem- sentido de melhoria de seu saber-fazer, que impli- poraneidade aponta para muitos desafios. Desafios ca, refletindo sobre a prática, desenvolver compe- que se tornarão ainda mais complexos se o compro- tências nas diferentes didáticas (LIBÂNEO, 2002). misso for com a participação da escola na construção de uma sociedade que inclua todos, a partir de outra 4 Uma formação continuada que passe pela construção integrada configuração social, cultural, política e econômica. de uma bagagem teórica, cultural e científica pelo professor. Ensino Fundamental - PROPOSTA PEDAGÓGICA 269
FORMAÇÃO CONTINUADA Os conteúdos sistematizados aprendidos na escola, ampliar a leitura de mundo. O professor só pode ofere- por exemplo, são instrumentos valiosos para a leitu- cer aos seus alunos aquilo de que dispõe; se não é ra do mundo e sendo o educador mediador deste “competente” como usuário da língua, curioso, crítico, processo precisa estar seguro do domínio deles. generoso, aberto a lidar com a realidade não poderá cultivar, oferecer isso ao seu aluno; não poderá fazer Também não se pode esquecer – e é notável – que o da escola um lugar fecundo para tal embate, para a processo histórico relativo às últimas décadas esteve construção de alguma discursividade transformadora. relacionado ao desenvolvimento de tecnologias que, Sendo assim, dificilmente poderá participar de qual- em muitos aspectos, se diferenciaram das condições quer projeto coletivo, porque não será capaz de se anteriores. Estando tal processo implicado em trans- colocar também no lugar de quem aprende. formações radicais em vários aspectos, tem a sua construção relacionada às formas de pensamento e Um projeto de Formação Continuada deve partir do ação, enfim, às maneiras do viver, das relações entre pressuposto de que a escola será sempre uma orga- os seres humanos, produtores de cultura e, destes, nização aprendente e valorizar os saberes que ali se com as outras formas de vida do planeta. Intrínseco constroem. Também não pode perder de vista que no ao desenvolvimento dessa base material tecnológica, cenário da contemporaneidade, novas necessidades muito se tem produzido de reflexão sobre as formas e expectativas se impõem, demandando outros bali- de comunicação pelas Tecnologias da Informação e zamentos com os quais é preciso lidar: pós-moder- Comunicação (TICs); sobre os modos de conhecer nidade, multiculturalismo, educação das diferenças e como isso tudo chega à escola. No entanto, sabe-se culturais, TICs, conhecimento em rede etc. Diante de que não basta introduzir os materiais multimidiáticos tais desafios, é que uma formação integrada – que leve para que as transformações necessárias aconteçam em conta os conhecimentos específicos, os conheci- porque, naturalmente, eles não podem sustentar uma mentos pedagógicos, as dimensões política e cultural nova perspectiva na relação professor-aluno, ou seja, – deve ser pensada. As ações devem ser realizadas e não há ilusões, o uso de novas tecnologias para ensi- contribuírem para que o docente possa interagir com a nar e aprender, por si só, não é expressão de quali- realidade na qual está inserido e com o grupo escolar, dade e democratização da prática social reconhecida partilhando experiências, discussões, e buscar atua- como educação. lizar seus conhecimentos construídos, inserindo-se num contexto interdisciplinar. É preciso estar claro que ao abordar a cultura como um dos eixos dessa formação continuada integrada, Nesta perspectiva, e é preciso reiterar, não deverão ser não se está tratando de uma cultura livresca, simples- os educadores meros espectadores deste processo de mente, mas de uma disposição que é necessária para formação, mas também pesquisadores no desafio de 270 PROPOSTA PEDAGÓGICA - Ensino Fundamental
FORMAÇÃO CONTINUADA aprimorarem o seu saber-fazer, desta forma, atitude e Talvez a mais ousada intenção e a maior importân- habilidade de pesquisa são fundamentais. Uma polí- cia de um projeto de ensino transformador passem tica de formação comprometida com a vida cidadã por um aprender a ver, e para isso necessita-se de precisa intencionar a valorização do docente como educadores – “para habituar o olho à calma, à paci- sujeito, em seu projeto de vida, que almeja realizar-se ência, a deixar-que-as-coisas-aproximem-se-de-nós: como profissional e cidadão. aprender a aplacar o juízo, a rodear e abarcar o caso particular a partir de todos os lados” (NIETZSCHE apud Nenhum projeto de Educação, nenhuma propos- LARROSA, 2002, p. 32). Assim é que tantos educado- ta pedagógica pode ter a pretensão de se tornar um res não descuidam de ensinar/aprender multiplican- conjunto de ideias acabadas. Muitas dúvidas sempre do as perspectivas, o número de olhares – com afeto, permearão qualquer processo de construção, aliás, as amplitude e problematização. Um ensaiar e perguntar dúvidas são essenciais em qualquer empreendimen- marcará sempre o caminhar, com olhos e perguntas to humano que vislumbre a transformação do sujei- novas para tratar do que ainda pode ser desconhecido to e sua atuação na realidade, ainda mais quando se e desafiador na relação com o mundo. desdobram em educação, em relação de conhecimen- to e de amor. VOLTAR Ensino Fundamental - PROPOSTA PEDAGÓGICA 271
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A presente publicação integra a linha editorial dos documentos orientadores do Sesc, destinados a formalizar o marco filosófico, conceitual e prático dos diferentes campos de atuação da entidade, articulando os saberes técnico-científicos e a orientação estratégica das áreas com os valores e referenciais institucionais globais. A série Proposta Pedagógica explicita os elementos teórico-metodológicos e as diretrizes didático-pedagógicas que conferem identidade aos espaços escolares e aos projetos educativos do Sesc, consoante o objetivo de constituir um referencial norteador da organização e gestão das práticas, sua execução e avaliação, visando ao alcance dos resultados pedagógicos pretendidos. Esta edição tem como foco o Ensino Fundamental Anos Iniciais, compondo o espectro de orientações direcionadas ao Programa Educação.
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