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Vale Mais Junho & Julho'19

Published by info, 2019-06-12 04:13:11

Description: Vale Mais n.º67

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VIANA DO CASTELO AUGUSTO CANÁRIO Artesão de cantigas VALENÇA JORGE MENDES Oh Salgueiro! Como é que te meteste na política? ALTO MINHO AGREGAÇÃO E SEPARAÇÃO Freguesias poderão ter novos limites PAREDES DE COURA ÚNICA NO ALTO MINHO Com Unidade de Formação de bombeiros ENTRE EXPLORAÇÃO DE LÍTIO E ÁREA DE PAISAGEM PROTEGIDA Visite-nos :: www.valemais.pt INFORMAÇÃO CREDÍVEL, CONFIÁVEL E DE INTERESSE PÚBLICO #N.º67 :: #junho/julho :: #2019 :: #BIMESTRAL :: #PVP 1€ www.valemais.pt 1

SERVIÇOS [email protected] 2 www.valemais.pt

Opinião ASerra de D’Arga é a “galinha dos ovos de ouro” do Alto Minho e nela reside um património fantástico. A afirmação é de um 15 | Manuel Pinto Neves A magia de ler dos autarcas envolvidos no projeto intermunicipal “Da Serra 28 | Adelino Silva O último paraíso D’Arga à foz de Âncora” que pretende tornar este espaço numa 39 | Emília Cerqueira Joe Berardo referência, inclusive classificá-lo como Área de Paisagem Protegida. 64 | Manuel Cunha_Pólen. A misarela num labirinto de sonhos 82 | Fátima Cabodeira Cidadãos Europeus Existe, pois, um potencial fantástico, a nível ecológico, estético e cultural, Secções que compreende, numa distância relativamente pequena, paisagens 10 | Saúde Bursites Trocantéricas e as caminhadas serranas, vales férteis e áreas costeiras, onde existe uma subcultura 20 | Desporto Mister, assim não vais longe que importa destacar. 26 | Nutrição Quiche de Espargos 40 | Consultório Jurídico Não ladra cão, sem ter razão Caminha, Ponte de Lima e Viana do Castelo são os três municípios 46 | Sexo & Amor Diferenças entre Homens e Mulheres que abrangem a Serra d’Arga e que, agora, se mostram empenha- dos numa estratégia comum para aproveitamento e valorização do Reportagens património endógeno de um espaço singular do Alto Minho, designa- damente a nível paisagístico, ambiental e cultural. 30 | VILA NOVA DE CERVEIRA Algo que tem de ser conseguido na interação harmoniosa entre o Artista brasileiro pinta mural homem e a natureza. Esta é uma questão essencial e que não pode de 80 metros quadrados ficar, apenas, pela semântica. Sem gente, é inevitável a desertificação e o abandono de um espaço com enorme potencial e que se quer pro- 36 | CAMINHA movido e potenciado. Não podemos ignorar aldeias a ficarem desertas, apenas com os mais idosos, pois não tem existido capacidade de criar Locus Cinemae riqueza que fixe as populações em idade ativa. Um problema que é geral Cinéfilos por mera paixão à arte e que, pese embora alguns esforços, não se tem conseguido ultrapassar. 42 | ALTO MINHO Nessa perspetiva, o projeto “Da Serra D’Arga à foz de Âncora” pode ser uma luz ao fundo do túnel e na qual interessará continuar a Lítio - Energia de futuro apostar. A primeira fase do projeto, agora apresentado, e que com- ou 'desgraça'ambiental preendeu, segundo foi dito, dois anos de intenso trabalho, constitui um primeiro passo, fundamental, e que tem de ser seguido por outros, 48 | ALTO MINHO não menos importantes e fundamentais para o seu êxito. Desencaminharte Neste entrementes, surge a questão do lítio e de que existirão, gran- Dez municípios, dez autores, dez obras des reservas, nos montes e vales de Arga. Chamam-lhe o “petróleo” do século XXI e, nessa perspetiva, será um fator de riqueza e criador 74 | MONÇÃO de emprego que não poderá ser descurado de ânimo leve. 'Ponte de Mouro Medieval' Nessa equação, todavia, não podemos esquecer os enormes impac- Recriação de encontro de 1386 tos no património natural, na fauna e na flora, nos recursos hídricos e paisagísticos, colocando em causa, pensamos, os desígnios do 78 | DESPORTO projeto agora tornado público. Estará em causa a ancestral simbiose entre o ser humano e o meio envolvente, apontada nos desideratos C. D. Cerveira é campeão distrital deste, como algo que é fundamental salvaguardar. foto da capa: @Ruona É essencial que, em todas estas questões, o interesse das populações sejam salvaguardados, com racionalidade e bom senso. O território e a sua identidade não existem sem elas, sendo primordial não se acentuarem desequilíbrios, sob pena de tudo estar em causa. Manuel S. www.valemais.pt 3

Reportagem #Ponte de Lima | Caminha | Viana do Castelo Texto :: José C. Sousa Ponte de Lima, Caminha e Viana do Castelo JUNTOS PARA PROMOVER A SERRA D’ARGA Os municípios de Ponte de Lima, Como referimos anteriormente, o trabalho técnico esteve a cargo Caminha e Viana do Castelo uniram da empresa Território XXI. Aquando desta apresentação, Vilma Sil- esforços para promover a Serra va, fez uma breve exposição do trabalho realizado ao longo de dois D’Arga, num projeto intermunicipal anos (iniciou-se em março de 2017). Mais tarde, falamos com ela e intitulado “Da Serra D’Arga à foz do Âncora”. Vera Santos Silva, arquiteta, e uma das integrantes desta equipa. O objetivo é tornar este território numa “referência da paisagem portuguesa, nos Que análise faz deste projeto e do trabalho domínios dos valores naturais e culturais, retaliado até ao momento? através da qualificação, proteção e promoção da sua singularidade paisagística, respeitando O balanço que a equipa de trabalho faz deste projeto é franca- a identidade do lugar e a ancestral simbiose mente positivo. Tendo como objetivo primordial gerar conheci- entre o homem e a natureza”. Este projeto, que tem mento sobre um território praticamente desconhecido, determinar objetivos de qualidade paisagística baseados nos estudos de sido cofinanciado pelo Programa Operacional Regional do Norte caracterização efetuados e propor estratégias de gestão da pai- 2014-2020 (NORTE2020), foi apresentado recentemente, nos sagem que vão de encontro às aspirações, tanto das populações, Quartéis de Santa Justa, em plena Serra D’Arga, Ponte de Lima. como dos representantes locais, acreditamos que a execução deste projeto será uma mais-valia e um passo importante para a Na apresentação desta primeira fase do projeto, que resultou valorização atual e futura do território compreendido entre a Serra na elaboração de estudos técnicos, elaborados por uma equipa d’Arga e a Foz do Âncora. técnica liderada por Vilma Silva, do Território XXI, foi possível sis- tematizar o manancial de informação técnica e científica recolhida Os estudos desenvolvidos vieram demonstrar que a paisagem da durante o período de investigação, assente num minucioso e deta- Serra d’Arga e vale do Âncora até à sua foz resulta da interação lhado trabalho de campo. harmoniosa entre o ser humano e a natureza, evidenciando, simul- taneamente, grande valor estético, ecológico e cultural, razão pela Desse trabalho, foi então apresentada uma Logomarca, um site, qual o estudo propõe a criação de uma área protegida de âmbito vídeo promocional, brochuras e aplicação móvel para interpreta- regional. ção de trilhos na serra. Quais as principais dificuldades que encontraram A apresentação contou, ainda, com várias entidades, entre elas, na realização do mesmo? Victor Mendes e Miguel Alves, presidentes das Câmaras de Ponte de Lima e Caminha, respetivamente, acompanhados por vários A maior dificuldade consistiu na gestão de todo o manancial de elementos dos seus executivos; Ricardo Carvalhido, vereador da informação recolhida, não tanto através das fontes de informação Câmara Municipal de Viana do Castelo, e ainda Luís Pedro Martins oficiais e não oficiais já disponíveis, mas principalmente através do atual presidente do Turismo Porto e Norte de Portugal. extenso e detalhado trabalho de campo desenvolvido ao longo destes dois anos de intenso trabalho. 4 www.valemais.pt

Desafiante foi também o desenvolvimento e a aplicação de uma Vera Santos Silva Vilma Silva metodologia de trabalho que permitisse analisar, avaliar, potenciar as qualidades e mitigar as vulnerabilidades deste território tão No caso da Serra d’Arga, os aspetos culturais relevaram-se também diferenciado, que agrega, numa distância relativamente curta, as surpreendentes (tanto em número, como em qualidade). Quando características das paisagens serranas, dos vales férteis associados iniciámos os trabalhos, não estávamos à espera de encontrar tantos ao Rio Âncora e seus afluentes e das áreas costeiras junto ao mar. valores culturais (arquitectónicos e imateriais). Os resultados do inventário realizado foram surpreendentes pela positiva. Trata-se de O que podemos destacar no final deste projeto? um território culturalmente muito rico, com um enorme potencial. A execução deste projeto permitiu, antes de mais, a tomada de Quem também falou à VALE MAIS foi Miguel consciência da enorme riqueza de valores naturais, culturais e pai- Alves, líder do município caminhense, que referiu sagísticos presentes em todo o território da Serra d’Arga e Vale do que este projeto surgiu da necessidade de Âncora, valores esses até agora praticamente desconhecidos. valorizar aquilo que é a força e o papel da Serra D’Arga no conjunto destes municípios. Para além da enorme diversidade de valores arquitectónicos e imateriais, que espelham os aspetos mais identitários e caracte- \"Se algo une estes municípios, para além da cultura e da geogra- rísticos das populações locais, os valores naturais (flora, fauna e fia é a Serra D’Arga. Esta no coração de Ponte de Lima, Viana do geologia) adquirem, nestes territórios, uma importância fulcral. Castelo e Caminha e sentimos que tínhamos de fazer algo mais para valorizar aquilo que temos. Neste contexto, destaca-se o património florístico, tendo sido iden- tificado mais de meio milhar de espécies de flora vascular, das quais Saber a flora e a fauna, os valores culturais, materiais e imateriais, cerca de 87% são táxones nativos e 32 são espécies RELAPE (Raras, perceber bem a cultura desta serra que é uma espécie de sub- Endémicas, Localizadas e Ameaçadas ou em Perigo de Extinção). cultura neste mundo minhoto que tão bem conhecemos, ou seja, valorizar o território através daquilo que ele tem para oferecer. A Chupadeira-do-Minho (Scrophularia bourgaeana), encontrada em Arga de Cima, no concelho de Cami- É um projeto que levamos a cabo, na ordem dos 350 mil euros, e nha, é, sem dúvida, a maior descoberta deste pro- hoje, temos uma marca, um registo e vamos, sobretudo, lançar a jeto. Trata-se de um endemismo ibérico que apenas Serra D’Arga para o futuro. tinha sido observado uma única vez em Portugal no vale do Ramiscal, na serra do Soajo, há cerca de 40 anos e, por isso, pensava-se que provavelmente estaria extinta no território nacional. Neste projeto, destacamos, também, o incansável envolvimento dos representantes dos municípios, quer a nível político, quer técni- co. Não foi uma mera encomenda “chave na mão”. Houve sempre um grande envolvimento dos representantes dos três municípios, o que permitiu alcançar este resultado francamente positivo. Do ponto de vista da avaliação do território e do que o distingue de outros que já estudámos, destacamos o valor da paisagem, quer do ponto de vista estético, quer do ponto de vista ecológico. www.valemais.pt 5

Estamos muito contentes com o trabalho alcançado e as pes- PAISAGEM soas, conhecendo aquilo que aqui temos. Perceberam que é um trabalho de exceção. Com cerca de 9 km de comprimento por 5 km de largura, o afloramen- to granítico que constitui o cume da Serra d’Arga é o elemento mais Queremos dizer às pessoas que temos aqui uma joia, e temos um distintivo desta paisagem. Culminando a 825 metros de altitude, no Alto potencial tremendo. do Espinheiro, dele brotam inúmeras linhas de água. As suas vertentes altamente declivosas e pedregosas contrastam com o seu topo, onde se Os trilhos vão ser melhorados, terão sinalética própria e vão per- encontram as maiores chãs e onde se podem, frequentemente, observar mitir, através deste projeto, ter outra dimensão. Teremos, também, manadas de garranos a pastar. No sopé da serra e ao longo dos vales uma APP que irá permitir, a quem nos visita, saber a informação do do Âncora e do Estorãos localizam-se as povoações, as matas e os local onde estão, o que podem encontrar e visitar na Serra D’Arga. característicos conjuntos de socalcos. Depois, temos um objetivo maior, que é fazer deste local uma pai- PATRIMÓNIO CULTURAL sagem protegida de âmbito regional, valorizando as pessoas, a sua economia mas também as espécies que aqui podemos encontrar”. A elevada riqueza patrimonial da Serra d’Arga é comprovada pela diversi- dade de valores arquitetónicos presentes no território: as casas de monta- Por seu lado, Vítor Mendes, edil limiano, revelou nha, os moinhos de reduzidas dimensões, a profusão de alminhas, cruzeiros que esta é a primeira fase de um projeto, que é, e capelas ao longo dos caminhos, as pontes e os pontões que possibilitam uma das mais-valias do Alto Minho, quer do ponto o atravessamento pedonal das inúmeras linhas de água que sulcam a serra de vista do património ambiental quer do cultural até à foz do Âncora. Do ponto de vista etnográfico, as dezenas de festas e e rural. romarias que se realizam anualmente proporcionam ricas manifestações de religiosidade popular. “Este é um dia muito importante para todos nós porque, por um lado, resulta de uma parceria entre três municípios que tem uma estratégia comum relativamente a um determinado território, e depois, este é o início de um projeto que queremos consolidar e que terá como objetivo a criação de uma área de paisagem prote- gida de âmbito local e regional. Nesta primeira fase, foi feito um levantamento daquilo que são os valores ambientais, culturais e do património. É fundamental que estes projetos estejam em consonância daquilo que são os anseios e vontades das populações locais. Está em causa a valorização de um território que pode e deve ser colocado ao serviço da economia local e da qualidade de vida das populações locais. Do ponto de vista turístico é, também, extremamente importante associado a um turismo de natureza e de qualidade. Ricardo Carvalhido, vereador da Câmara de Viana do Castelo, não tem dúvidas de que este é um projeto icónico para o Alto Minho. “Temos aqui a conjugação de três municípios que estão em torno da nossa ‘Aurega’, que significa mãe do ouro. E de facto a Serra de D’Arga é a galinha dos ovos de ouro do Alto Minho e nela reside um património fantástico, desde o imaterial ao natural, biológico e geológico. E o trabalho que foi desenvol- vido e, agora, apresentado, vai permitir dar os passos necessários para uma classificação, que é o que pretendemos. Relembro que as áreas de paisagem protegida trazem várias res- ponsabilidades, como por exemplo, a existência de um plano de gestão, com uma estrutura que acompanhe o valor do território e que depois faz o seguimento e promoção. Este é o primeiro passo, e foi o culminar das etapas que são ne- cessárias para este processo de classificação. Agora virá a valoriza- ção, proteção e conservação do local classificado. 6 www.valemais.pt

FLORA A Serra d’Arga possui 546 espécies de plantas vasculares, incluindo 32 espécies raras ou ameaçadas de extinção. Destas, destaca-se a chupadei- ra-do-Minho e o feto Dryopteris carthusiana por estarem quase restritos à Serra d’Arga em Portugal. Para outras espécies, tais como: arranha-lobos, raiz-divina-de-cheiro, Laserpitium prutenicum subsp. duforianum, Succisa pinnatifida e Carex durieui, esta serra apresenta a maior, ou uma das maiores, populações em Portugal. FAUNA Por fim, é necessário realçar a intervenção de Guilherme Lagido, vice-presidente da Câmara de A Serra d’Arga possui uma fauna muito diversificada, com presença con- Caminha e um dos principais intervenientes na firmada de mais de 180 espécies de vertebrados selvagens. As aves são realização deste estudo. o grupo mais abundante, beneficiando da grande variedade de biótopos particulares, tais como: o estuário e corredor fluvial do Rio Âncora e as “Este projeto nasceu, há muitos anos, e da curiosidade de conhe- áreas serranas, incluindo as escarpas e os planaltos. Nestes biótopos cer a Serra D’Arga. podem ainda ser encontradas várias espécies de peixes, anfíbios, répteis e mamíferos, das quais se destacam várias raras e emblemáticas, nomeada- Uma das coisas que me fazia confusão é como é que um patrimó- mente o lobo, a salamandra-lusitânica, o falcão-peregrino e o bufo-real. nio desta envergadura com esta dimensão e envolvendo três con- celhos era tão pouco conhecido. Já muita gente passou pela Serra GEOLOGIA D’Arga, mas muita pouca a conhecia, verdadeiramente. A geologia da Serra d’Arga é caracterizada por um proeminente batólito Quando cheguei a Câmara de Caminha, o presidente Vítor Men- granítico, próximo do mar, que atinge os 825 metros de altitude no des, de Ponte de Lima, disse-me num certo dia: “é desta vez que Alto do Espinheiro. A paisagem granítica expressa-se no modelado de vamos conhecer a Serra D’Arga”!? vales, de cristas e de vertentes, mas também em microformas variadas, tais como: caos de blocos, tors, pseudoestratificação, planuras e blocos Disse-lhe que sim, mas sem grande convicção. Até que um dia pedunculados. fizemos uma candidatura e este projeto acabou por ser financiado. E este projeto tem basicamente três vertentes; Conhecimento; Divulgação; Promoção. No conhecimento, património natural, obrigatório, (fauna, flora, geologia), paisagem, valores culturais, património imaterial. Na divulgação criar atlas para todas estas áreas, que dão um co- nhecimento ao detalhe, e que, de certeza absoluta, nenhum outro local de importância comunitária é tão bem conhecido como é, hoje, a Serra D’Arga. A promoção, onde foi criada uma marca, um logótipo, um vídeo promo- cional e um documentário sobre a Serra que será a síntese de tudo isto. Trabalhou aqui uma vastíssima equipa, de pessoas com elevadíssi- mo grau de formação, de conhecimento, com um empenhamento que há muito tempo não via e com um trabalho de dois anos a estudar todo o terreno, com todo o cuidado. Estou muito contente porque a Serra D’Arga tem, finalmente, o lugar que merece e já não é um potencial, é uma realidade”. www.valemais.pt 7

QUARTÉIS O Pro|Seguindo é uma candidatura no âmbito do QREN, promovi- DE SANTA JUSTA do pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.” Os Quartéis de Santa Justa localizam- O projeto de requalificação aproveitou as instalações e o períme- se no ponto mais alto do Monte tro murado existentes: a disposição e distribuição programática de Santa Justa, em Ponte de Lima dos volumes foi preservada e, em termos construtivos, recupe- (Portugal) e possuem, para além da rou-se o existente, à exceção da cobertura do edifício principal, capela, uma estrutura que, outrora, era um que se propôs plana, em chapa metálica, que se prolongou para local utilizado como albergue pelos romeiros, norte, de forma a proteger um percurso exterior. No edifício caminhantes e peregrinos, intimamente principal mantiveram-se as paredes exteriores existentes em pedra ligados à festa de Santa Justa, conotada e aproveitaram-se os vãos criados pela distância à cobertura para como tradição equestre da região. garantir a entrada de luz natural em toda a fachada norte. A distri- buição programática neste edifício regeu-se pelo mesmo princípio Vítor Mendes refere que este local, é um excelente exemplo de re- da requalificação: o forno existente foi preservado e deu o mote cuperação dos nossos valores patrimoniais. “Estes Quartéis de Santa para a localização da sala de refeições e cozinha, no topo poente Juntas, há poucos anos, estavam abandonados e a Câmara Munici- do edifício principal; as duas camaratas também tiraram proveito pal, considerou que, fazendo parte daquilo que são as nossas memó- dos compartimentos previamente existentes. rias, cultura e tradições era fundamental proceder a sua recuperação. O pavimento em madeira, bem como o plano vertical de rebatimen- Foi feito aqui um investimento na ordem dos 500 mil euros, a favor to das camas e o tecto no mesmo material, envolvem todo o espaço, do património mas também como empreendimento de turismo de contribuindo, assim, para uma maior sensação de conforto. No natureza, num espaço magnífico, que é hoje um dos ex-líbris do remate a nascente, num volume de dois pisos e perpendicular ao vo- concelho de Ponte de Lima. lume anterior, propuseram-se duas suites individuais; no piso inferior, criou-se uma área de arrumos / apoio aos peregrinos e instalações A REQUALIFICAÇÃO sanitárias públicas. Na restante área intra-murada, descoberta e sem programa previamente definido, definiu-se a localização de uma área No dia 19 de julho de 2015, dia da romaria a Santa Justa deu-se a para acampamento, para alturas de maior afluência. inauguração da remodelação deste espaço. A requalificação dos Quartéis de Santa Justa assentou na construção existente, man- tendo as estruturas que caracterizam o local, sendo reconvertido num Centro de Interpretação e Vivência Ativa da Natureza. Esta recuperação foi da autoria do Município em colaboração com a Comissão da Fábrica da Igreja de S. Pedro de Arcos e a aposta recaiu numa estratégia de qualificação e diversificação, criando um espaço de atração turística, beneficiando da localização geográ- fica, numa ligação natural e simbólica entre a Área Protegida das Lagoas de Bertiandos e S. Pedro de Arcos e a Serra d´Arga. A reconversão dos Quartéis de Santa Justa num Centro de Interpretação e Vivência Ativa da Natureza - foi um investimento incluído na operação Pro|Seguindo, aprovada pelo Programa Ope- racional da Região Norte (ON.2). 8 www.valemais.pt Fotografia | © NUDO carvalhoaraujo.com

19 20 Showcase School Artes do Espetáculo – Luz, Som e Efeitos Cénicos Desporto* Mecatrónica Eletrónica Automação e Computadores Eletrónica Automação e Computadores* Auxiliar de Saúde Esteticista *em parceria com o Agrupamento de Escolas de Melgaço Mecatrónica Automóvel Manutenção Industrial/Mecatrónica Cozinha/Pastelaria Restaurante/Bar Massagem de Estética e Bem Estar Esteticista Nível II básico | 9º ano CEF Operador de Informática Tipo 2 e tipo 3 inscreve-te www.eprami.pt www.valemais.pt 9

Saúde Texto :: Lígia Rio BURSITES TROCANTÉRICAS E AS CAMINHADAS… Com a chegada ao verão chegam também O trocânter é uma proeminência óssea do fémur, na zona late- as preocupações com o corpo! É normal ral da anca, que serve de ponto de fixação de vários músculos nesta altura ver-se mais gente a correr e a importantes para a movimentação da articulação da anca. É nessa caminhar nos passeios, ecovias e praias. zona que existem as bursas, uma espécie de invólucros de líquido gelatinoso que serve de “almofada” para minimizar o atrito entre Na verdade, já toda a gente sabe que um corpo de verão o osso e os tendões. se faz durante o Inverno, mas existem mil e uma descul- pas para falhar “aos treinos” e à corrida (literalmente!) Causas e esse prejuízo, às vezes, sai caro. É realmente por esta altura, com o tempo a melhorar, que há mais vontade de fazer as Embora a localização da dor seja fácil de identificar, menos fácil é caminhadas e corridas. Também é verdade que há quem as faça descobrir a causa. Pode ser provocada por um traumatismo direto durante todo o ano assim como também é verdade que não é só como uma queda/contusão sobre esse osso ou indiretamente para emagrecer como também por razões de saúde várias. devido a encurtamentos musculares, esforços repetidos, disme- trias dos membros inferiores, alterações na passada (alterações Os atletas “sazonais” que passam o resto do ano sem praticar no pé podem levar a problemas nos joelhos e sobrecarga nas exercício físico têm maior probabilidade de contrair as tais ancas), excesso de peso, calçado e piso inadequados, alterações bursites trocantéricas (englobadas num contexto de síndrome de dor trocantérica). de tamanho ou posicionamento da pelve, alterações na coluna (escolioses e hiperlorsose) entre outras causas a avaliar clinicamente. Sintomas A dor é o principal fator de alarme e pode estender-se pela face lateral da coxa até ao joelho; incomodo à palpação; dor em flexão, abdução e rotação interna da anca; pode haver dor em repouso principalmente na cama – sinal inflamatório, poderá ocorrer ede- ma (inchaço) local e aumento de temperatura. Tratamento Um bom tratamento depende sempre de um bom diagnóstico! Partindo do princípio que foram efetuadas ecografia e/ou eventualmente ressonância magnética para despistar outras lesões e o diag- nóstico clínico é realmente bursite trocantérica, o tratamento conservador normalmente tem bons re- sultados. Vai sempre depender do estado da lesão. Quando tratada precocemente tem sempre melhor prognóstico. Primeiro eliminar a causa avaliada clinicamente e depois os tratamentos com agentes físicos de fisioterapia para eliminar dor e infla- mação. Podem ser necessários analgésicos e anti-inflamatórios orais ou eventualmente injetáveis. 10 www.valemais.pt

Ondas de Choque em situações crónicas ou calcificações QUEIJO DE CABRA e cirurgias para extração da bursa em casos extremos QUEIJO DE CABRAO Leite dos Nossos Animais que muito raramente acontecem. Se estamos a falar de atletas, o repouso seletivo, ou seja, a paragem da prática desportiva vai ser necessária. Aos primeiros sintomas, a colocação de gelo em períodos curtos (10-15 minutos) 3-4 vezes ao dia podem ajudar a aliviar sintomas. Prevenção A prevenção é o melhor tratamento… Avaliar o gesto des- portivo; evitar biomecânica de passada e corrida alteradas; manter bom alongamento principalmente das estruturas adjacentes: glúteos, tensor da fáscia lata/banda iliotibial; evitar pisos de corrida e caminhada duros, arenosos ou em declives; manter boa condição física todo o ano; ter em atenção histórico de lesões e mais atenção com as senho- ras que devido à estrutura de ancas mais largas têm mais tendência a desenvolver o problema. Em jeito de conclusão, ressalvo que as caminhadas devem sim acontecer, não só pelo benefício lúdico que traz andar em grupos, mas também pelo benefício para a saúde em geral: prevenção de doenças cardiovascula- res, diabetes e obesidade e claro, acompanhadas com um estilo de vida saudável alimentar. Se vai iniciar agora procure trajetos curtos a ritmos médios e ir progredindo lentamente para evitar lesões. A dor é o sinal de alarme por isso não deixe avançar muito tempo sem procurar um profissional qualificado. Bons treinos! FeFleizliezse,sS, SaauuddáávOveeisLiseeeiotcechqhedueiooeiosssfNdadoezeseEsmEonnsoeeAsrrg.gniiaiam,,ééaiaas base de tudo base de tudo A sua excecional quaolidqaudeefaézeomreossu. ltado do cuidado e amtaAaettneséuçnrãaçiaãoe-oxpqcqrueiumeceiadodnapaameml roqfoseusaitalaaiodospasadNNreoaoéssossosoosmrseAaAsinunsilitmmdaeadalioiisscidoeeosccocoosunnQidssutatiietdtuuiojiioaeas. QUEIJO DE CABRAmatériCaO-pMriPmRaOpVeErfNeiUtaMpAarLaOoJsAmPaEisRdTeOlicDioEsoSsI!Queijos. QUEIJO DE CABRACOMPROOVLeEitNeUdoMsANoLsOsoJsAAnPiEmRaTisO DE SI! PRADFOeSlizDeEsM,ESLGaAuCdOáve| isWeWcWhe.PiRoAsDdOeSDEEnMeErLgGiaAC, éO.aPTba|seTLdFe. 2t5u1d4o14 093 QUEIJO DE CABRAPRADOSDEMELGACO | WoWWqu.PeRAfDaOzeSDmEMoEsL. GACO.PT | TLF. 251 414 093 AAFFamteeaesslliiuutzznéeeaaçrssãieea,,oSSxx-ccpaaqeeuurucciddmeiiooááadOOnnvvaaaeepLLmiillesseeqqroeeiiuufttseoeeaaccihhlltaddiiqddaeeooouaaiispoosseddssaNNNeefrddaoooaééeezssseosssooEEmoosonnssrrsmoeeeAAsrrAssagg.nnuuiniisiiaallmmittmdaa,, ééaaeddaiilooaaissiscbbiddoeaaoossscocceeosuunddQiiddseeutaaietttdduuuioojddioaeeoos. atençãoCOquMePdRaOmVoEsoNaqUouMseANfaoLzsOesJmoAsosAP.nEiRmTaOisDeEcSoI!nstitui a Amasutéarieax-cpercimioanapleqrufeailtidaapdaeraéoosrmesauisltdaedloicidoosocsuQiduaediojoes. amtaPeRtnAéçDrãOiaSoCD-EpOqMruMEimeLGPAadRCaOpOmeVr|oEfWseNiWtaUaWoM.spPRaANArDoLaOsOSosDJsoEMAsmELAPaGinEAsCiRmdOT.ePaOTliiscDio|eEsTcoLSFosI. !n2Q5s1ut4ie1t4uij0io9as3 . PRADOSCDEOMMELGPARCOOV| EWNWUWM.PRAADLOOSDJEMAELPGEACROT.POT D| ETLSFI. !251 414 093 PRADOSDEMELGACO | WWW.PRADOSDEMELGACO.PT | TLF. 251 414 093 www.valemais.pt 11

Reportagem #Alto Minho Texto :: Manuel S. AGREGAÇÃO E SEPARAÇÃO Freguesias poderão ter novos limites Ainda antes das próximas Aquestão está em discussão, como nos referiu o delegado autárquicas, em 2021, deverão da ANAFRE no Alto Minho, Luís Matias. Nesta altura, a verificar-se ajustes na questão está a ser estudada e foi pedido, às juntas, para reorganização das freguesias se pronunciarem, considerou, numa primeira abordagem, efetuada em 2013, altura em onde não quis tecer grandes considerações sobre o assunto. que foram agregadas 1168, passando-se de 4260 para Todavia, após análise com a restante Coordenação Distrital, entendeu 3092 autarquias. Uma proposta referir-nos que lhe tendo sido enviado pela ANAFRE Nacional para de lei do Governo PS permitirá análise e parecer a Proposta de Lei que define o regime jurídico da o ressurgimento de algumas criação de novas Freguesias recebida do Governo, a delegação dis- extintas há meia dúzia de anos, trital da Anafre decidiu “convocar uma Assembleia Geral extraordi- um tema que tem sido objeto nária dos membros da delegação distrital, convidando as Freguesias de encontros e vai ser debatido, associadas e (dada a importância do tema em discussão) convidar em setembro próximo, pela também as não associadas.” associação nacional de freguesias (ANAFRE). Desde já, no entanto, manifesta “uma grande surpresa e deceção pelo conteúdo da proposta, já que, nomeadamente para o nosso distrito, não vem ao encontro da vontade, não só das populações, como de muitos Autarcas de Freguesia, que esperavam que fossem restabelecidas as Freguesias que, por força de Lei, foram extintas”. Daqui se depreende que a proposta não serve os interesses de ne- nhuma freguesia do Alto Minho. 12 www.valemais.pt

Fernando Bessa Marinho é o presidente da Junta, eleito pelo PS e já no 2º mandato nestas funções. À VALE MAIS deu conta da situação vivida nesta união de freguesias (desde 213) e em que a “esmagado- ra” maioria da população não concorda desde o início do processo. Desde logo, os elementos da respetiva assembleia de freguesia manifestaram a sua oposição. Também, logo no 1º mandato, em que promoveu reuniões para ouvir os residentes, quer os de Reboreda, maioritariamente PS, quer os de Nogueira, em que o voto no PSD é maioritário, se manifestaram favoráveis à autonomia das freguesias. A situação, referiu-nos, é de tal modo ilógica que nem sequer exis- te uma “ligação viável” entre as mesmas, a não ser atravessando uma outra união de freguesias, a de Campos/Vila Meã. De forma direta, apenas por monte, algo que praticamente ninguém faz. Além de que não tiveram benefícios na união, nomeadamente em obras do Município, que são efetuadas em termos do território da união e não, especificamente, em cada uma das freguesias. Além disso, implica registos novos de terrenos (por via da união “ser” uma nova freguesia), com os custos inerentes a carga do executivo da Junta. Aliás, só nos custos deste (perto de 10 mil euros) é que vê menor despesa, pois é só um e não dois, como anteriormente. De resto, “não encontro vantagem nenhuma”, afiança, sublinhando que são os autarcas de freguesia a “cara da democracia”, pois são, de todos, os que estão mais perto das pessoas e são a quem estas se dirigem em primeiro lugar. Com estas uniões contra a vontade das populações estão a “cortar as pernas” a estes autarcas. De resto, na sua perspetiva, a proposta de lei visa é mais dirigida para a “criação de freguesias” do que para “reparar o mal que foi feito”. “Fundamentamos, esta nossa decisão, nos critérios estabelecidos Nesse sentido, desvaloriza o facto da sua autarquia, com perto de no artigo 5° da Proposta de Lei [de que falamos mais adiante e 970 eleitores, puder não cumprir os critérios populacionais, não que passa pelo cumprimento de, pelo menos, oito requisitos], considerando isso fundamental, lembrando a vontade da popula- visto que todos eles não existem cumulativamente na realidade do ção, a identidade de cada uma das freguesias e a inexistência de nosso Distrito”, conclui, em nota remetida à VALE MAIS. uma ligação direta entre as mesmas. Relativamente à existência de associações na freguesia, lembra a dinâmica que foi dada, no- REBOREDA E NOGUEIRA: CASO FLAGRANTE meadamente com a utilização do edifício onde funcionou a escola primária de Reboreda. É reconhecida, porém, a existência de freguesias agregadas e que pretendem reverter a situação. Um dos casos mais flagrantes e de Reconheça-se, todavia, adiantou-nos fonte bem colocada, que, a que se fala até nas reuniões da ANAFRE, apontado até em encon- par das descontentes, a existência, noutras paragens, de freguesias tros de freguesias como um caso de má reorganização, tem a ver “que se mostram satisfeitas com a agregação e funcionam bem”. com a união de freguesias de Reboreda e Nogueira, no concelho Portanto, tudo “isso é que tem de ser tido em conta no país”. de V. N. Cerveira. www.valemais.pt 13

Fernando Bessa Marinho é o presidente da União de Freguesias de Reboreda e Nogueira Depois terá de ser aprovada, com maioria absoluta, na Assembleia Municipal e seguir, visando a decisão final, para a Assembleia da A TEMPO DAS PRÓXIMAS AUTÁRQUICAS República. O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, no con- De acordo com o mesmo diploma, no prazo de 10 anos, há gresso da ANAFRE, em Viseu (janeiro 2018) afirmou que ia tentar critérios que terão de ser cumpridos por todas as freguesias; caso tratar do assunto ainda a tempo para as próximas eleições autár- contrário, terão de se agregar. Além dos relativos à população e quicas, em 2021. território, há os de serviços à população, boas finanças, história e identidade, representatividade e vontade dos seus habitantes. Agora, após a aprovação das novas leis de competências para as Há obrigatoriedade das juntas terem sede, de ter o mínimo de freguesias e os municípios, tudo aponta que o próximo diploma dois trabalhadores no quadro, bem como de cumprir cinco dos que tratará será o relativo à nova proposta de lei de agregação de seguintes sete critérios: cemitério, extensão de saúde, farmácia freguesias. ou parafarmácia, equipamentos desportivos e culturais, mercado e jardim ou espaço infantojuvenil. São ainda previstos a existên- O tema está, neste momento, em discussão e em auscultação, cia de multibanco, serviço de apoio a idosos e coletividade com por parte da ANAFRE, da posição das diversas freguesias sobre o atividade desportiva, social ou cultural. assunto. O assunto será, depois debatido, de forma aprofundada, no próximo conselho nacional geral da ANAFRE, em setembro. Uma nota, ainda, para a proposta de lei admitir a possibilidade de “agregação da totalidade de parte de duas ou mais freguesias”, Pelo que nos foi possível, desde já, perceber, o sentimento geral mesmo de juntas que pertençam a concelhos diferentes e se os das freguesias poderá não ser favorável ao diploma. Todavia, respetivos autarcas assim o entenderem e cumprirem os critérios mesmo assim, poderá entrar em vigor, desde que tenha o voto de agregação ou desagregação acima referidos. favorável da maioria dos deputados da Assembleia da República. Baseados apenas no critério populacional e se o números não CRITÉRIOS E REQUISITOS se alterarem no prazo de uma década, a nível do Alto Minho, estarão em risco (de continuarem autónomas, segundo foi já A proposta de lei estabelece o regime jurídico das freguesias que divulgado), a maioria das freguesias dos concelhos de Ponte da só as que tiverem com mais de 1150 eleitores e mais de 2% do Barca, Viana do Castelo, Monção, Paredes de Coura, Ponte de território concelhio possam reverter a fusão. Para as juntas distan- Lima e V. N. Cerveira. ciadas a 10 ou mais quilómetros da sede concelhia, são precisos apenas 600 eleitores. Luís Matias, Coordenador Distrital de Viana do Castelo da ANAFRE Ainda de acordo com a proposta de lei do Governo, desde já, a desagregação terá de ser proposta por, pelo menos, 1/3 dos membros da Assembleia de Freguesia. Esta disporá de 15 dias para dar parecer e convocar reunião para votar a proposta. Se esta for aprovada por maioria absoluta, segue para a Assembleia Muni- cipal. Esta terá de solicitar parecer à Câmara que, se não o der em 15 dias, é considerado favorável. 14 www.valemais.pt

Opinião Odia entardecia… Abri a porta e entrei. Sentei-me para poder sentir melhor a luz que iluminava todos os recantos daque- Texto :: Manuel Pinto Neves le espaço por descobrir, que tinha estado à minha espera. Respirei um ar puro, sem fronteiras, e deixei-me levar por A MAGIA aquela luz que me incitava a partir para uma aventura à descoberta de DE LER tesouros maravilhosos. A leitura de uma crónica de José Tolentino de Mendonça, deu-me o mote para a A luz continuava a brilhar com uma intensidade cada vez maior, e “0pinião” deste número. Referia-se ele a comecei a descobrir memórias e sonhos da Humanidade inteira. um livro de Eduardo Galeano, “O Livro dos Abraços”, onde se conta que um menino, E a luz continuava a brilhar e eu a sentir o bater de um coração vendo o mar pela primeira vez, pedia ao imenso por onde brotavam ondas de liberdade e de esperança. E pai que “o ajudasse a ver”. O cronista acrescentava: “penso que é isso que senti que se a luz se apagasse me faltaria o ar. pedimos aos livros…” Mas a luz não se apagava e continuei na descoberta de tesouros que só se encontram através de rios de palavras. E mergulhei nelas sentindo que fazia uma viagem fantástica, desde a infância até à idade adulta. E, através dessa viagem, senti a magia da infância onde sonhamos que, quando formos grandes, vamos conquistar o Mundo. E senti-me como se fosse um camponês que apanha as espigas depois de terminada a ceifa. Só que, para mim, as espigas eram palavras. E apanhei-as, uma a uma, e guardei-as na minha memória. Senti, durante a viagem imaginada, que necessitava das palavras para alcançar os sonhos, de modo a poder entender o Mundo e para me entender a mim próprio. E a luz, de que vos falei no princípio, continuava a brilhar, tornando possível que, através da imaginação e da criatividade, eu pudesse exprimir os meus sentimentos. O dia anoitecia… E, de repente, dei comigo, sentado no sofá da sala, a ler um livro… Fora através dele que eu pudera fazer essa viagem fantástica. O livro era a luz, era o rio, era o sonho, era a liberdade, era a esperança, era o sentimen- to, era o coração, era a memória, era a magia de conquistar o Mundo. Termino com a crença de que os livros podem dar asas aos nossos sonhos e ser a semente que permite o voar da imaginação na escolha das palavras que conduzem, através da magia de ler, à liberdade possível. www.valemais.pt 15

Reportagem #Viana do Castelo Texto :: José C. Sousa AUGUSTO CANÁRIO ARTESÃO DE CANTIGAS Augusto Oliveira Gonçalves, mais conhecido por Augusto Canário considera-se um artesão de cantigas porque considera que aquilo que faz, e escreve, são coisas simples, que radicam na singeleza da linguagem popular, das danças, trajes, ritmos e no sentir do povo do Minho. Tem 28 trabalhos discográficos no mercado, incluindo 9 DVD gravados ao vivo, um deles, no Brasil. Deles, nove são discos de platina e ouro. A VALE MAIS foi até Vila Nova de Anha, de onde é natural, onde este músico, cantor, cantador, tocador e poeta que nos recebeu, afavelmente, no seu ‘Cantinho do Canário’. O NOME CANÁRIO E OS INÍCIOS PELO ‘ROCK LITÚRGICO’ De onde vem o nome canário? Recuperei esse nome porque acho que é bonito, simpático, diz com a arte de cantar, e já quando eu era mais novo havia muita gente a chamar-me canário. O nome canário vem do meu pai se chama Joaquim Gonçalves Canário, apelido que eu e os meus irmãos não temos nos nossos nomes porque a minha mãe não gostava. Como é que entrou para esta vida? Eu comecei a cantar ainda em criança, quando imitava os con- juntos típicos que vinham aqui às nossas festas, e lembro-me de imitar o gira-discos com umas caixas de sapatos velha, e nessa altura, para brincar, criamos um grupo com latas de chouriço a fazer de bateria, com tábuas a fazer de guitarras, com cabos de vassoura, os tripés de microfone e com isso granjeamos uma grande simpatia junto da vizinhança que gostava de nos ouvir can- tar, até porque éramos muito educados também. Inclusive, depois, mandavam-nos fruta a casa. Isto com 9, 10 ou 11 anos. 16 www.valemais.pt

Aos 11 anos fui para o seminário, onde aprendia a tocar viola com o Padre Trouxemos ao Minho tocadores de concertina de todo o mundo, desde Dias e depois fiquei sempre ligado ao que nós chamávamos ‘Rock litúrgico’ Colômbia, Uruguai, Brasil até Espanha o que criou uma influencia espe- juntamente com amigos que ainda hoje preservo como Júlio Viana, Jaime cial para os jovens que hoje tocam concertina. Dessa forma surgiram, Parente, e outros. Tocávamos nas missas dos escuteiros, por exemplo. também, novas marcas de concertinas, fantásticas, e o panorama que temos hoje nada tem a ver com o que existia há 25 anos. Entretanto, em 1982, fui trabalhar para a APPACDM e aí aprendi a tocar cavaquinho com um grande amigo que é o João e nesse mesmo A concertina é o seu instrumento? ano ingressei no Grupo Folclórico de Chafé, uma terra de grande rivali- dade, naquela altura, com Anha, e em paralelo numa Tuna. Aí desen- Eu adoro tocar concertina mas o instrumento que eu gosto mais é o volvi muitas capacidades, fui aprendendo a tocar vários instrumentos e cavaquinho. comecei a cantar, também, as primeiras desgarradas e improvisos. E uma das minhas referências foi quando saiu um disco do Júlio Pereira Em 1984 construímos o grupo Cantares do Minho, que foi fundamental chamado ‘O cavaquinho’. Nessa altura senti-me muito motivado por para aquilo que hoje sou. Aprendi a tocar Gaita-de-Foles, Bandolim esse instrumento e pelo Júlio Pereira que me influenciou bastante. Des- , Cavaquinho, Viola Braguesa, Concertina, entre muitos outros. Nessa de então é um instrumento que guardo com carinho. fase fizemos um trabalho muito importante de recolha e divulgação e ganhamos uma grande consistência musical. Músico, cantor, cantador, tocador, poeta. Como se define? Em 1991/92 fui desafiado para participar numa peça de Teatro do grupo Teatro do Noroeste. Nessa altura, fiz um curso de concertinas, no IPJ – Um pouco de tudo e nada de nada. Eu considero-me um artesão de Instituto Português da Juventude -, patrocinado pela INATEL. Aí começou cantigas. Aquilo que eu faço, e escrevo, são coisas simples, radicam na uma fase muito importante da minha vida, porque comecei a trabalhar singeleza da nossa linguagem popular, com alguma profundidade de co- com a DREN - Direção Regional Educação do Norte -, e fui estudar para nhecimento das coisas, do que são as danças, os trajes, os ritmos, o que é o Instituto PIAGE, em Arcozelo, onde entrei para a Tuna da Fernando Pes- o sentir, sobretudo do povo do Minho, e sabendo que a brejeirice faz parte soa, de Ponte de Lima, mas sempre com o ‘Cantares do Minho’ de fundo. da nossa essência, e dos cantares ao desafio, então, nem se fala. Entretanto também estive na Tuna de Anha, o que me permitiu trabalhar com pessoas de outras idades e outras sensibilidades. Não farei poesia daquela clássica, mas dentro do meu modesto lavor vou escrevendo umas cantigas que acabam por agradar às pessoas. Mais tarde dei uns cursos de concertina na INATEL. Dava aulas de terça a domingo, só parava à segunda. Foram mais de 1000 as pes- Referência da cultura popular minhota. soas que ensinei a tocar, em todo o Alto Minho e não só. A partir daí a Que abordagem faz das variadas temáticas nos concertina começou a crescer muito. Em 1996 fez-se o primeiro grande seus cantares? encontro de concertinas e cantares ao desafio, em Viana do Castelo, e que na altura juntou 75 concertinas a tocar, ao mesmo tempo, a mes- Claro que também canto brejeiro, também digo as minhas asneiras, mas ma cantiga e no mesmo tom. tento sempre cantar coisas que se possam ouvir em qualquer lado. A linguagem da desgarrada é, essencialmente, o segundo sentido, mas A PARTIR DAÍ FOI UM ‘NUNCA MAIS não só. Também pode ser poético que requer um conhecimento das PARAR’ coisas. Não dirão de mim, que sou um cantador obsceno ou malcriado. O Cantares do Minho terminou no dia em que fizemos 25 anos, a 20 de Não tenho uma grande voz mas tenho uma voz única e que as pessoas março de 2009, mas entretanto, em 1999/2000 criei um grupo, com gostam de ouvir. E por isso mesmo é que por cá ando. Procuro ter sem- este conceito de banda. Hoje existem muitos, mas na altura não existia e pre um qualidade no grupo e em cada lugar da banda tenho excelentes nem as concertinas eram utilizadas nas bandas de baile. músicos que sabem tocar e interpretar o meu sentir. Hoje em dia, uma banda do norte que não tenha um tocador de Sei para onde quero ir, por onde não quero ir, o que gosto de fazer e o concertina, não é banda. Com o passar do tempo, fomos adicionan- que me dá prazer. do instrumentos e hoje temos esta formação de sucesso e que criou escola. Temos grupos destes, não só, no norte, mas em todo o país e na Como está o processo de candidatura à Unesco diáspora. do canto ao desafio e do repentismo português a Património Cultural Imaterial da Humanidade? Entre 2000 e 2004 fiz quatro discos, edição de autor, mantendo sem- pre a atividade na APPACDM, ligada à animação, depois de ter feito a É uma das minhas preocupações, de momento. Justamente porque minha licenciatura em Animação Sociocultural, que dura até hoje. há uma evolução muito grande, em termos de quantidade de cantado- res, no continente, nas ilhas e na diáspora, o que é muito interessante. Em 2005 dei o grande salto quando gravei um DVD ao vivo, no Teatro Porque quando comecei a tocar no estrangeiro, eram muitos poucos os Sá de Miranda. Esse foi o momento onde começou, a sério, a minha cantores ao desafio que haviam. Existia um ou outro que tinha emigrado. carreira com o Augusto Canário & Amigos. Hoje, temos bons cantadores de fora, grandes tocadores de concertina e é um fenómeno interessantíssimo que jovens que falam a língua do Eu considero-me um pioneiro, quer na manutenção das concertinas pais onde estão, mas quando cantam, fazem-no em português. E isto quer na valorização dos cantadores. Aqui que sou hoje devo-o a minha passa-se em todo o mundo. Austrália, Canadá, Brasil, Argentina, França, capacidade de ser empreendedor. Suíça, entre outros. Para mim é uma alegria muito grande porque sei que fui um dos responsáveis por isso. www.valemais.pt 17

Então a minha preocupação é estudar as origens e o contexto que te- mos hoje dos cantares ao desafio, criar mecanismos para os classificar como Património Cultural Imaterial da Humanidade e com a ajuda da Câmara Municipal de Viana do Castelo fizemos um grande encontro em Outubro e na zona de Murtosa, Estarreja, Albergaria-a-Velha e Aveiro faz-se o FESTCORDEL que celebra o repentismo e o verso popular. Apesar desta candidatura ainda estar numa fase embrionária, acho que estamos em condições de criar uma rede de repentistas mundial. Cantador ao desafio, à desgarrada, tocador de concertina e intérprete de música tradicional, está prestes a ser mestre em repentismo? Fale- nos um pouco disso? Não está a correr muito bem. Não tenho muito tempo para estudar e estou um pouco baldas. Ainda não fiz trabalho nenhum mas um aluno que se preze tem muitas matriculas. (risos). Tenho esse desejo, essa convicção de que vou conseguir e acima de tudo, uma consciência muito grande de que não é para brincar. É uma coisa séria, e pretendo, com isto, que os cantares ao desafio sejam reco- nhecidos a nível institucional, sobretudo, nas universidades. Também escreveu para uma revista desenvolvida pela Câmara Municipal que promove a cidade de Viana do Castelo, juntamente com o ex- embaixador Seixas da Costa e a escritora Marlene Ferraz. Escreveu sobre o quê? Sobre Viana. Sobre o que eu gosto, dando uma saliência à nossa cultura tradicional e especialmente à Senhora da Agonia que é uma das minhas paixões, e portanto, como tenho escrito muitas cantigas sobre Viana do Castelo, ao longa da minha carreira. Recentemente editei um livro que se chama “Cantigas com Amor a Viana”, (livro e CD) dedicados a Viana do Castelo. Este livro tem as letras das cantigas, tem ilustrações com pinturas de Rego Meira, e com foto- grafias. Esta um trabalho simples, objetivo e feito com muito carinho. Não conheço nada parecido dedicado a uma cidade. Como é que, um cantor popular, faz letras sobre lendas dos concelhos do Alto Minho, em articulação com compositores de géneros tão diversos? [O programa cultural “Sente a História – Ação Promocional de Música e Património – Novas Abordagens, Novos Talentos”, dinamizado pelo CIM Alto Minho, apresenta caraterísticas inéditas no país. Augusto “Canário” escreveu as letras das canções que invocam as lendas da região. Em paralelo, seis compositores de referência do jazz à música erudita (Afonso Alves, Eurico Carrapatoso, Carlos Azevedo, Fernando Lapa, Mário Laginha e Telmo Mar- ques) 10 peças corais polifónicas dedicadas a uma lenda de cada município e, ainda, um Hino do Alto Minho. Vozes de todos os coros da região vão fundir-se no Coro Intermunicipal do Alto Minho, num gran finale a encerrar o projeto em julho, onde interpretarão todas as canções das lendas e o Hino do Alto Minho]. 18 www.valemais.pt

Foi uma aventura muito grande e uma enorme responsabilidade. Eu fui Depois, tenho uma pequena casa que estou a preparar para fazer um desafiado a escrever 11 letras correspondendo a um hino do Alto Minho pequeno Bar/Museu, onde espero ter as minhas coisas expostas num que tinha de ter, expressamente, o nome das 10 sedes de concelho e espaço de convívio, onde se possam partilhar cantigas e muitas vivências. uma lenda de cada região. Por acaso, eu tinha nos meus projetos fazer umas desgarradas sobre lendas do Alto Minho. Essas letras seriam O amarelo é a cor característica? depois musicadas por vários compositores nacionais. As letras deviam ter uma escrita popular porque, depois, iam ser tocadas por bandas É, se bem que quando começamos s vestimenta era à regional, de- filarmónicas e grupos corais. pois passamos para fato e gravata. Mais tarde, ganga, camisa branca e colete preto. Depois camisa vermelha e finalmente chegamos ao Algumas lendas eram muito complicadas de sintetizar, que não fossem preto e amarelo. Porque são as cores de Viana, e porque o canário e repetitivas e que juntas fizessem uma só obra. Foi complicado mas o amarelo condizem. correu bem. No hino, utilizei os slogans mais conhecidos de cada terra. Como vai ser este verão? A 20 de Julho, em Paredes de Coura, no encerramento do Sente a His- tória, vozes de todos os coros da região vão fundir-se no Coro Intermu- Vai ser brutal. Do Minho e Trás dos Montes até ao Algarve passando nicipal do Alto Minho, onde interpretarão todas as canções das lendas e, pelas ilhas. No mês de agosto é todos os dias e há dias em que fazemos pela primeira vez, o Hino do Alto Minho. dois concertos. E não temos mais porque não temos datas. O GRUPO CANÁRIO & AMIGOS Já fez muita coisa, mas o que podemos ainda esperar do Augusto Canário? Como está constituído o grupo “Canário e Amigos”? Tentar, sempre, fazer melhor, tentar ir mais além na qualidade que apre- sentamos, procurando ideias inovadoras e divertidas e acima de tudo, A base do grupo é mais ou menos a mesma há vários anos. Somos 13 um profundo respeito por todos, especialmente, por duas entidades. elementos mas raramente tocamos os 13. Normalmente tocamos 10 ou Quem nos contrata e, claro está, pelo público. 11 músicos. Até porque cada hora de palco representa, para mim, 10 horas de tra- Qual o espetáculo que mais o marcou? balho anterior, porque os temas que tocamos são de minha autoria, há um trabalho enorme da banda na produção dos temas e, mesmo assim, Foi a gravação do DVD ao vivo no Teatro Sá de Miranda. com toda a habilidade técnica que cada músico tem, se não tiver muito claro o que quero, as coisas tornam-se muito complicadas. Fale do Cantinho do Canário? Este espaço tem reunido um acervo de vivências. Temos muitos instru- mentos, que são a minha paixão, uma coleção de mais de 400 bonecos a tocar concertina, é o espaço onde ensaiamos e é o nosso armazém. Espero, um dia poder receber aqui crianças que queriam conhecer e brincar com os instrumentos. www.valemais.pt 19

Desporto MISTER Texto :: Paulo Gomes ASSIM NÃO VAIS LONGE “O futebol é importante, mas há coisas mais importantes na vida.  O futebol é, apenas, o futebol! Se tivermos esta determinação nos outros aspectos da nossa sociedade, se vocês se unirem, se tiverem a força e a exigência que têm no futebol, na economia, na saúde, na educação, nós vamos ser um país muito melhor”. Terminam os diversos campeonatos de futebol, profissionais Bruno Lage, treinador de futebol e amadores, terminam as guerras, termina o Estado de Sítio, termina “a coisa mais importante das coisas menos importan- Chapeau Bruno Lage. tes”. Vencedores vangloriam-se, perdedores lamentam-se. No futuro, a história dos vencedores será a mais elogiada, mais comentada Que bela maneira de terminar uma época desportiva. Que grande ensina- e será também, aquela que perdurará no tempo. “Dos fracos não reza a mento. Que lição tática de vida. Noutra cultura, noutra sociedade acredito história” diz-se comummente. que muita gente iria parar, refletir e talvez, perceber como se diz tanto em tão poucas palavras. Numa outra sociedade onde a cultura fosse mais Pois bem, comecei este texto com uma declaração de um treinador de futebol que me fez pensar. Um Homem que, porventura, em pleno festejo elevada e sobretudo mais transversal. Não é o caso da nossa infelizmente. da sua maior conquista desportiva, tem a capacidade, lucidez, humildade e grande inteligência de relativizar uma conquista numa modalidade des- Bruno Lage não te auguro grande futuro. Ou mudas ou então vais deixar de portiva. Um profissional, que tem como seu “ganha-pão” o futebol, depois servir. Ou és como os outros ou então procura outro rumo, outro campeo- de ser campeão consegue transmitir aos seus adeptos, aos adeptos nato, outro país. Onde já se viu achar que o futebol não é assim tão impor- adversários que “vamos ter calma, isto é só desporto. É o meu trabalho, tante. Onde já se viu elogiar os adversários. Onde já se viu dar os parabéns mas no fim de tudo há coisas bem mais importantes na vida”. ao adversário na hora da derrota. Não caro senhor treinador, assim não. Não neste país, onde se valoriza a “chico-espertice”! Que parece inata nos portugueses. Não neste país onde se valoriza mais ficar rico da noite para o dia do que criar uma família baseada em valores e respeito para com os demais. Não neste país onde a cultura pela leitura é inexistente, onde se sabe mais de futebol do que de política, história ou economia. Não neste país onde a classe política é o reflexo daquilo que somos como cidadãos. Não numa sociedade com muita subversão de valores, onde fingimos não ver idosos em pé nos autocarros, onde fingimos não ver peões a atraves- sar passadeiras, onde fingimos que somos tudo aquilo que não somos. Como tão bem dizia Eduardo Prado Coelho: “Como ‘matéria prima’ de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que o nosso país precisa.” Estas transversalidades das declarações de Bruno Lage deveriam ecoar na eternidade. Terão sido, porventura, o único sinal positivo digno de destaque de uma época desportiva onde imperou a boçalidade. O clima de suspeição é constante numa modalidade que já nada tem de despor- tiva. Mais parece tratar-se de um negócio cada vez mais rentável para um “punhado de malfeitores” às custas dos ainda crentes que todos os meses pagam as cotas e vão ao estádio esperar e desesperar por uma alegria momentânea que ofusque quem sabe alguma tristeza ou frustração. “Se em vez de adeptos ferrenhos e fanáticos, quando não violentos, a olhar a TV tivéssemos redução do horário de trabalho para a malta ter tempo e vida decentes e ir jogar com os amigos, que nem se importam de perder, porque estão ali para conviver, eu seria uma grande adepta do futebol. Como espaço de lazer e amizade. Isso seria futebol. Isto que temos hoje é tão só um negócio.” Raquel Varela, Historiadora 20 www.valemais.pt

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Reportagem #Arcos de Valdevez Texto :: José C. Sousa CLUBE DE RUGBY DE ARCOS DE VALDEVEZ Fundado em 1981, o CRAV - Clube de Rugby de Arcos de Valdevez - é uma referência no rugby nacional, assumindo o papel de clube mais representativo fora dos grandes centros urbanos, numa modalidade com os clubes de referência sediados em Lisboa, Coimbra e Porto. 22 www.valemais.pt

O Clube tem mais de 35 anos de existência e assume, nos dias atuais, um forte protagonismo no desporto regional e nacional. Com o novo Estádio Municipal (relva sintética), preparado para acolher jogos de rugby, juntamente com o campo de rugby de relva natural existente, o clube possui das melhores infraestrutu- ras no país para a prática da modalidade. Com várias presenças no escalão mais alto do rugby nacional, praticantes de todas as idades e ambos os géneros a começar nos 5 anos, cerca de 170 atletas, e vários praticantes nas diversas seleções nacionais, fazem do CRAV um caso singular e de sucesso no Rugby português. Nos dias que correm, o CRAV, tem equipas de formação de Sub-8;10; 12; 14; num total de, aproximadamente, 40 jovens. Em pré-competição tem os sub-16 e 18, com 50 atletas. Em compe- tição possui os sénior “A”, com 35 jogadores, a equipa sénior “B”, com 25 praticantes; a equipa feminina com 15 atletas e os veteranos com 20. O Presidente do clube é Fernando José Manso que conta com uma direção com cerca de 19 elementos. Um dos destaques deste clube é o rugby feminino que surgiu poucos anos depois da criação do clube e foi uma da pioneiras do rugby feminino em Portugal. Na Seleção Nacional Feminina o CRAV esteve representado por O ano de 1983 foi de grande importância para o clube. Foi nesse diversas jogadoras, tendo mesmo cinco das suas atletas feito par- ano que se ativaram as camadas jovens, que impulsionaram, nos te da 1.ª seleção feminina. Depois, ainda se destaca, em presen- dias de hoje, o Rugby Minhoto para a ribalta do desporto a nível ças posteriores, Bárbara Viana (Capitã da Seleção Nacional), Sara nacional. Lago, Catarina Barbosa e Antónia Braga. A 1 de Maio de 1986, era inaugurado o Campo Relvado da Cou- Desde então, esta é uma das “bandeiras” do clube. Embora o tada, espaço criado e cedido para a prática exclusiva do Rugby . rugby seja um desporto de intenso contacto físico (duro, mas não violento), normalmente, os jogadores de rugby são pessoas Com apenas seis anos de existência, em 1986/87, o CRAV ascen- de boa formação, determinadas e leais para com os colegas e de à 1ª divisão. adversários. Essa forma de estar na vida e transportada para a sociedade em geral., Após um convívio de quatro anos com “grandes” o CRAV desceu de divisão, para voltar a subir no ano imediatamente a seguir (1991/92), “O futebol é um desporto de cavalheiros praticado por brutos. com o título de Campeão Nacional da 2.ª Divisão, e mantém, desde O rugby é um desporto de brutos praticado por cavalheiros.” aí, o estatuto de uma das equipas mais regulares desta competiti- Winston Churchill va prova. Em 2002/2003, os Campeonatos foram reestruturados, ditando a passagem do CRAV para a 1ª divisão, onde esteve sempre O Clube possui uma imagem de sucesso na região. O CRAV, mais do classificado no grupo das primeiras quatro equipas. que uma vila, representa toda uma região, no panorama do des- porto nacional de alta competição e é uma das poucas equipas do Em 2009/2010 e de 2017/2018 a sua equipa sénior sagrou-se distrito a disputar um Campeonato Nacional no seu escalão máximo. campeã nacional da 1ª divisão. Também os Sub18, na época 2017/2018, conquistaram o Campeonato Nacional da série B. No seu longo historial ainda se destaca, para além dos títulos já referidos, a presença de vários atletas em representação da A IMAGEM CRAV seleção nacional. A nova imagem de marca do Clube de Rugby de Arcos de Val- A HISTÓRIA devez foi desenvolvida pela designer Sara Pimenta, e pretende transmitir uma ideia de modernidade, organização e interação. O Clube foi fundado em 9 de Julho de 1981, por um grupo de jovens que apanhou o “bichinho” do rugby no decorrer da sua Com esta imagem, ao mesmo tempo que mostra a forte ligação vivência académica, em cidades como o Porto e Coimbra. do clube à sua terra, transparecem os seus valores: o companhei- rismo, a união e o espírito de equipa, a força, a solidez, o equilí- A mentalidade ganhadora confunde-se com a própria criação da brio e a disciplina. equipa pois, logo na época a seguir (1982/1983), o CRAV ganha o título de Campeão Nacional da Terceira Divisão. www.valemais.pt 23

ARCOS SEVENS O clube organiza desde 1989 o Torneio Internacional Arcos Sevens, e que conta desde o seu início com a participação de equipas de diversos países (Portugal; Espanha; França; Irlanda). Este é um dos momentos altos da época do clube, porque devido à já grande tradição do torneio, leva a que muita da população de Arcos de Valdevez se desloque ao estádio municipal, para ver alguns dos melhores jogadores nacionais e presenças assíduas na seleção portuguesa desta variante do rugby. O clube tem já uma larga tradição nesta competição partici- pando, habitualmente, em vários torneios internacionais, e tendo a equipa sénior do clube ganho já diversos títulos em vários torneios, dos quais se destaca: vencedor do Sevens de Coimbra; vencedor da «Copa Beefeater» no I Torneio Interna- cional de Santiago de Compostela, ambos em 1993; vencedor do «Trofeo C.R.C.» em Santiago de Compostela e novamente do Sevens de Coimbra em 1994; vencedor do Arcos Sevens em 1995/97 e 2000; vencedor do torneio «Villa de Allariz» em 1995/96/97/98/99; e ainda Vencedor da «Taça Primavera» do Lisboa Seven’s em 1997. O CLUBE E AS ESCOLAS O Clube, ao longo dos anos, tem levado a cabo várias ativida- des junto dos agrupamentos de escolas de Arcos de Valdevez e também na vila vizinha de Ponte da Barca. O grande objetivo destas atividades é mostrar e desmistificar junto dos mais novos o que é o rugby, e também o que é o clube e as suas atividades. Estas ações têm ainda o objetivo de cativar os mais novos para a pratica da modalidade. FORMAÇÃO DE TREINADORES E DIRETORES Uma das principais preocupações do clube é a formação de todos aqueles que estão em contacto com os atletas desde os mais no- vos até aos seniores. Para tal, os seus treinadores são certificados e recebem formação anual junto das entidades responsáveis pelo desporto e pela modalidade em Portugal, como são os casos do Instituto do Desporto de Portugal e da Federação Portuguesa de Rugby. Ou pela International Rugby Board. Outra vertente, e não menos importante, é a formação dos dire- tores, já que são eles que muitas vezes estão em contacto com os atletas e os pais dos atletas. Devido às condições que o clube oferece tanto a nível de infraes- truturas desportivas, como de espaços especializados, muitas ve- zes é escolhido como o local para a realização das mais diversas formações organizadas pela FPR. Para além das formações, o clube tem por hábito organizar as “Jorna- das do CRAV”, envolvendo várias pessoas a si ligadas, proporcionan- do uma troca de ideias entre os seus vários setores e também dando a possibilidade a atletas e ex-atletas de se pronunciarem sobre a vida do clube, e exporem as suas ideias para o melhoramento do mesmo. 24 www.valemais.pt

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Opinião Texto :: Luís Ceia “TANTA GENTE SEM CASA e TANTA CASA SEM GENTE” É uma expressão que consta no relatório da Estratégia Nacional para a Habitação, 2015, e que se prestarmos a devida atenção, reflete e resume a realidade atual do parque habitacional do país. Estamos perante uma dimensão nova, pois em Portugal já não Outro dado que veio desequilibrar ainda mais oferta da procura foi o fenó- C existe um défice habitacional, mas antes dificuldades no acesso à meno do alojamento local (AL). Particularmente nos grandes centros, os M habitação.Como se justiça este desfasamento entre a procura e a espaços mais centrais e porventura mais pequenos, quase se ajustariam Y oferta? Várias razões estruturantes podem explicar tal desiderato: melhor á procura atual, foram retidos pelo crescimento do AL. Parece CM que o tal boom do AL, nos últimos anos tem decrescido, prova disso é o MY O índice sintético de fecundidade, que em 1970 era de 2,99, sendo em 2017 número de unidades registadas, por exemplo no 1º trimestre deste ano CY de 1,37; A dimensão média das famílias passou de 3,7 indivíduos em 1970 foram registadas 3.283 unidades de AL em Portugal, menos 2.235 que CMY para 2,5 em 2018; o número de agregados domésticos monoparentais no período homólogo, o que significa uma quebra de quase 60%. (Fonte: K duplicou desde 1992. (Pordata, 2018). A mudança dos hábitos dos portu- Publico). Outro número que comprova que o AL pode estar a ser menos gueses, particularmente dos mais jovens, preferindo e valorizando expe- atrativo é relativo aos pedidos de anulação da licença, que é obrigatória riências, em vez do conforto do lar, adquirindo outa mobilidade resultante desde 2014: dos 82.363 registos existentes desde novembro de 2014, da globalização do trabalho, também ajudará A encontrar explicações para 7.057 proprietários cessaram a atividade junto da entidade que regula o tamanho desfasamento. setor, possivelmente porque a concorrência no setor aumentou, as mar- gens de lucro diminuíram, e o facto do Fisco está a apertar a fiscalização. Se voltarmos à estatística, verificamos que no que se refere às áreas e tipologias da habitação, Portugal era, em 2011, o quinto Estado-membro Como adequar a oferta à procura? Possivelmente estimulando a cons- da União Europeia com maior número médio de divisões por habita- trução de habitações a preços controlados, a Câmara Municipal do Por- ção (4,98) e era o terceiro com a maior área média útil por alojamento to é já um bom exemplo, no que diz respeito ao número de alojamentos (109,1 m2). Estes dois indicadores apresentaram um crescimento deste tipo edificados. Custos controlados, não significa menos qualidade contínuo nos censos dos últimos 50 anos. Em 1970, o número médio nos materiais, significa sim uma utilização mais racional do espaço. de divisões por habitação era de 3,42 e nesse ano a área útil média era Serão necessárias tantas varandas, pés direitos tão elevados, habitações de 88,9 m2. Em 1970 as tipologias T0 a T2 representavam 30% do tão grandes? Todos sabemos que isto acarreta mais custos na compra/ total de alojamentos familiares clássicos. Quarenta anos depois, em arrendamento, manutenção e decoração e climatização. 2011, estas tipologias só representavam 11,2% deste total. Ao contrário das tendências demográficas, a percentagem das habitações de maior Como é possível um agregado familiar despender por vezes mais de dimensão aumentou expressivamente nestes 40 anos. 70% do seu orçamento na prestação ou renda de uma habitação? Como podem estas pessoas viverem? Como podem usufruir do espaço urbano, Em Portugal existiam em 2011 cerca de 120.000 fogos de habitação so- dos cafés, dos restaurantes, enfim de coabitarem o espaço publico? Fará cial, representando 3,3% do total do parque habitacional de residência ha- sentido investirmos no mobiliário urbano, arruamentos, estacionamentos, bitual.Esta percentagem é inferior à da generalidade dos países europeus, jardins, se depois as pessoas não têm dinheiro para sair de casa? de que são exemplo a Alemanha (5,0%), a Itália (5,3%), a Bélgica (7,0%), a Irlanda (8,7%), a França (17%) ou o Reino Unido (18%) (INH,2018). Em 2011, o peso da reabilitação no setor da construção no que se referia ao volume de produção só representava 8%, percentagem reduzida quando comparada com a média dos países da Europa a 28 que era de 26%. Feliz- mente que no Alto Minho, em particular no concelho de Viana do Castelo, esta taxa é bem superior à média nacional. 26 www.valemais.pt

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Opinião Texto :: Adelino Silva Fotografias: João Calalout e Arquivo da Casa Casa de Nossa Senhora D'Aurora O ÚLTIMO PARAÍSO Incrustado na tranquilidade da tessitura da Trata-se da “Casa de Nossa Senhora d’Aurora”, organizada à volta antiga vila medieval limiana situa-se um de um “tríptico” deslumbrante e sedutor, que faz parte do imaginário icónico santuário arquitetónico, histórico, coletivo das gentes do Lima. paisagístico e ambiental, que, há alguns séculos, mantém uma sólida identidade com o Neste harmonioso espaço cenográfico, representativo da arte e da “espírito do lugar” e dá um brilho enternecedor arquitetura barroca, sobressai um majestoso palácio urbano brasonado e intemporal à romântica beleza dos cenários (com capela), decorado com um frontispício de formosos detalhes esté- rendilhados do burgo ancestral. ticos e decorativos, que se funde, num efeito cénico expressivo, com um jardim esculpido numa artística e poliédrica constelação vegetal. 28 www.valemais.pt O “tríptico” é preenchido por uma mata exuberante, inserida num imenso território, apresentando-se vestida com uma esplendorosa e diversificada coleção arbórea, pincelada por espécies raras oriundas de distintas latitudes do planeta, irradiando o conjunto uma beleza onírica que a todos deixa fatalmente aturdidos, pela riqueza, imponência e elegância da sua lídima variedade biológica.

Mandado edificar entre 1714 e 1730, por João de Sá Coutinho (sexto avô dos atuais proprietários), este romanesco e glamoroso paraíso, que sobreviveu à ditadura do tempo, despertou, desde a sua fundação, uma combinação virtuosa de estima e afeto e um sentimento de comunhão e de calor fraternal, entre os seus proprietários (família Sá Coutinho) e o povo da vetusta vila realenga. Classificada, desde 1977, como “imóvel de interesse público”, esta in- candescente obra-prima limiana serviu de “quartel-general” a um nome maior no contexto nacional, nas áreas da antropologia, da etnografia, da história e da literatura: José de Sá Coutinho, o 3.º Conde d’Aurora (1896- 1969), vulto que conciliou uma fecunda atividade de homem de letras com o ofício de Juiz do Tribunal de Trabalho. Durante décadas, José de Sá Coutinho manteve a Casa d’Aurora como um espaço de encontro das mais notáveis figuras do universo das artes e das letras, prática que seu filho — João de Sá Coutinho (JSC), 4.º Con- de d’Aurora (1929-2012) —, conservou com generoso entusiasmo, em simultâneo com a sua carreira diplomática como Embaixador. A NOVA VIDA DE UMA CASA COM ALMA Com a morte do Embaixador JSC, o “tríptico” da Casa d’Aurora — casa, jardim e mata —, passou a ter uma nova vida, sob a direção dos seus três filhos — Rosário, João e José de Sá Coutinho —, cabendo a gestão operacional a Rosário de Sá Coutinho (ex-jornalista e escritora), em conjunto com o seu marido, o artista plástico João Calalout. Se é certo que este tesouro, de admirável grandeza, sempre foi um espaço aberto ao mundo, hoje todos podem desfrutar deste patrimó- nio imaculado; penetrar no seu território mais íntimo e deixar a mente sufocar com idílicas emoções; contemplar a pureza, a paz infinita e a simplicidade grandiosa da “alma do lugar”; sentir a subtileza tímbrica da musicalidade relaxante da mística atmosfera envolvente; captar o brilho, a energia, a vibração e as fragrâncias da vegetação exuberante que matiza este gracioso e divinal “jardim botânico”; fruir das sombras majestosas e deambular no sossego da natureza pelos misteriosos e infindos trilhos do bosque secular, irrompendo, como por magia, na mais verdejante e pura “floresta pristina”. 3.º Conde D'Aurora - Escritor Embaixador Sá Coutinho A ex-jornalista da Casa Cláudia, Blue Travel e Evasões, depois de adotar, 4.º Conde D'Aurora em 2012, a Casa d’Aurora como o seu projeto de vida, disponibiliza, com reconhecida hospitalidade, visitas guiadas à casa, ao jardim e à mata, facultando aos visitantes, se assim o desejarem, uma suculenta refeição, a saborear no intimismo poético do histórico palácio ou uma bebida rege- neradora, na serenidade do refúgio virginal da pictórica mata ou na calma telúrica das brilhantes tonalidades do sorridente e artístico jardim barroco. Tudo isto, rodeado por lampejos de sonoridades balsâmicas das águas cantantes das bucólicas fontes; por exalações de ternura das indu- mentárias de mil cores, de atração eterna, das mais resplandecentes e fotogénicas flores de veludo; por inebriantes concertos sinfónicos de palpitação intensa, difundidos, em variações melódicas intermináveis, pela diversificada comunidade de pássaros residentes no bosque; por extasiantes sinfonias visuais de tons e subtons e por sombras tonifican- tes, espargidas pelas frondosas e imperiais árvores centenárias. Casa d’Aurora, em Ponte de Lima — sim, o último paraíso, forçosamente a conhecer! www.valemais.pt 29

Reportagem #Vila Nova de Cerveira Texto :: Manuel S. Alusivo às “Três Marias”, à emancipação da mulher e à “revolução dos cravos\" ARTISTA BRASILEIRO PINTA MURAL de 80 metros quadrados Assinalando o “25 de Abril”, pela liberdade Desta vez, o tema foram as “Três Marias”: Maria Teresa Horta, Maria Isa- de expressão e emancipação da mulher, bel Barreno e Maria Velho da Costa. Estas lançaram, em 1971, as “Novas Vila Nova de Cerveira inaugurou, no 45º Cartas Portuguesas”, falando da discriminação da mulher em Portugal. aniversário da “Revolução dos Cravos”, um Na altura, foram acusadas de terem escrito um livro pornográfico, aten- mural com 80 metros quadrados na parede tatório dos bons costumes. O seu julgamento foi apresentado como a da Casa do Artesão, junto ao Baluarte Santa primeira causa feminista internacional. O mesmo, porém, não chegou ao Cruz. A instalação é do artista brasileiro Elton fim, uma vez que, entretanto, aconteceu o “25 de Abril de 1974”. Hipólito, também responsável por idêntico mural, pintado em 2016, na “Vila das Artes”, Elton Hipólito tem 35 anos é natural de S. Paulo, a capital financeira do alusivo ao escultor José Rodrigues (1936 – Brasil, e foi, ainda, a dar uns retoques na obra, já após a sua inauguração, 2016), um dos fundadores da Bienal de Arte e que o fomos encontrar. que é visível na fachada do Cineteatro local. “Não vivo do meu trabalho plástico. Trabalho com conservação e restauro. Tenho uma formação técnica na área e atuo há sete anos como conser- vador/restaurador. Estava desencanando um trabalho como artista plás- tico e comecei a estudar restauração. Que era algo mais próximo em que podia encaixar as minhas habilidades plásticas. Mas também estudando conservação e restauro, é um trabalho muito técnico, o principal conheci- mento que se tem de ter é a parte química. E a ética sobre o património.” 30 www.valemais.pt

No entanto, adianta, retomou o seu trabalho como artista plástico há cerca de três anos. “A minha produção mudou, resultado das influências que tive na restauração”, sublinha. Elton conta-nos que depois de, em 2016, ter estado, pela 1ª vez, em V. N. Cerveira, foi para o Brasil e recebeu uma proposta para trabalhar em Minas Gerais. “Fui para uma cidade que ficou conhecida como a cidade do rompimento da barragem, Mariana. Na verdade, esta não foi atingida pela lama. Mas eu trabalhei em três cidades que o foram. Passei um ano nesse projeto”. Antes, porém, em passeio, aproveitou para visitar cidades como Madrid e Paris. CARVÃO, TERRA E ÁGUA Para o mural, o artista usou carvão, terra e água. “Nos trabalhos que tenho numa das áreas que desenvolvo, faz parte essa pesquisa com tinta de terra. Ela também está ligada concetualmente. Tento fazer uma ligação com as pessoas que moram no local, as pessoas que vou representar, com a terra local”, refere-nos, adiantando-se que tem alguns murais no Brasil, nomeadamente em S. Paulo e Florianopalus, embora não com a carga política como este das “Três Marias”. Opção habitual? “Sim. Mas aqui, no caso deste mural, com a represen- tação das Três Marias, resolvi fazer também com terra por conta delas serem daqui de Portugal. Não são naturais daqui, mas são da terra. Com representação nesse sentido.” Teve de usar, porém, tinha acrílica para os cravos. “A terra da região só tem uma coloração que é meio sépia, não tinha como fazer os cravos vermelhos. Teria de ter um solo vermelho. Acho que ficou um resultado bom. Interessante.” Quanto à conservação das obras, observa que têm uma preparação especifica para elas durarem. “Mas… a pintura está no ambiente e ela vai sofrer com as intempéries. Assim, de tempos a tempos, tem de haver uma manutenção. A do José Rodrigues devo voltar para fazer um retoque nela. Usei um verniz à base de água, mas não é muito resistente ao tem- po. Para este mural agora, usei uma resina que dura bem mais que aquela que está a fazer três anos. Que até está bem com uma pintura feita com terra. Acredito que com essa resina, ela dure bem mais tempo.” Por isso, Elton Hipólito conta voltar na segunda semana de junho, um pouco antes de regressar ao Brasil, para efetuar essa intervenção. PORTUGAL NO ROTEIRO Como surgiu Portugal no seu roteiro artístico? “Aconteceu por conta do edital que a Fundação da Bienal publicou e, aí, mandei uma proposta de intervenção que envolvia o uso da terra. Gostaram e aprovaram. Vim para cá em outubro de 2016, fiz a residên- cia artística com uma portuguesa, a Selma (que dá aulas aqui na Escola Superior Gallaecia) e duas brasileiras (uma pintora e outra fotógrafa).” E como surgiu o mural de José Rodrigues? “Quando vim para cá, nem fazia ideia do José Rodrigues. Mas, chegando aqui, as pessoas foram falando dele (havia falecido e era um dos artistas importantes do país), mas eu não ia fazer o mural. Buscava pessoas anónimas, aqui da vila. Buscava essa valorização da pessoa com o local. Na parede da casa da pessoa, ia fazer o seu retrato. Não consegui encon- trar pessoas para criar essa relação. Tinha de ter www.valemais.pt 31

mais tempo… fiquei aqui apenas duas semanas. De uma forma aleatória. Aí o Cabral Pinto, coordenador da Bienal, propôs fazer o José Rodrigues. Estava fugindo um pouco da proposta porque é uma pessoa famosa… Mas, aí, depois de fazer, as pessoas começaram a ver que era ele, foram- -se emocionando (“parece que está olhando para a gente”), o laço afetivo foi muito forte, essa receção que as pessoas tiveram. No final, foi, pois, sentido. É uma obra para as pessoas daqui. Que o conheceram e tiveram esse contacto. Penso que não fugiu da proposta; era esse o sentido da relação de trabalho. Ter um vínculo com as pessoas.” E, agora, para as Três Marias? “Foi inesperado. Foi uma proposta assim… no meio de fevereiro, estava lá no carnaval, recebi uma mensagem. ‘Nossa, a sério, aí vou com certe- za”, disse. Depois descobri do que se tratava, da data do 25 de Abril, e foi uma coisa mais significativa”. Elton conta, ainda, que ia pintar noutro local, próximo do cineteatro, mas, porque a laje tem alturas diferentes, verificou que não ia dar para fazer. NÃO SABIA DO “25 DE ABRIL” Elton Hipólito desconhecia o significado do “25 de Abril de 74”, uma acontecimento que se registou uma década antes dele nascer. “Vim a saber depois, através da pesquisa, e conversando com alguns amigos portugueses no Brasil”. Elton aponta, mesmo, o que descobriu mesmo “para além da música, dos cravos e dos militares”. “Era um regime opressor, uma ditadura fascista. Um pouco semelhante à que estou vivendo no Brasil… embora esta não seja uma ditadura fas- cista, tem ares disso. Acho que fazer esse mural foi também significativo em relação a isso. Lembrados os valores que esse dia traz aqui, de certa forma, é preciso lembrar isso lá. A onda conservadora hoje é muito grande não só no Brasil, mas em diversos países.” E acrescenta: “Era um regime que dificultava a conversa entre as pessoas. A data foi um salto nessas condições, possibilitando uma vida com Na rua não podiam estar mais de três… já era concentração. Em relação menos opressão. Mas hoje ainda existe a opressão machista. Que às condições que a mulher tinha, era bem complicado. Para fazer diversas coisas tinham de ter autorização dos maridos. A única função era ficar no deve ser combatida.” lar. Eram coisas que nem me passavam assim pela cabeça. Em relação à criatividade artística e cultural no Brasil de Bolsonaro, considera que “está acontecen- do um desmonte sistemático”. “Estava a ler uma noticia que o presidente vai cortar verbas para o ensino de Flosofia e Sociologia…. O importante é que as pessoas sejam letradas, que possam saber matemática e terem profissões que tenham uma renda mais rápida. Vai criar uma grande massa que não pensa…. Existem linhas de artistas que estão engajados com essa crítica em relação ao que está a acontecer.” 32 www.valemais.pt

Todavia, acha que a criatividade artística está refreada. “Podia ter mais engajamento… mas tem diversos grupos, nas redes sociais, que se estão a movimentar para esse desmonte… Não temos mais o Ministério da Cultura.. Há uma pasta que está a ser gerida por um ex-ator pornô. Em S. Paulo, por exemplo, o prefeito (que abraça a causa do Bolsonaro) cortou na pouca verba que já tinha para a Cultura, fez um corte de 24%. Então diversos museus vão ter que fechar e outros vão reduzir. Trabalhei três anos mo Museu Afro Brasil, em S. Paulo, que corre o risco de fechar. E é um mu- seu superimportante”. Elton Hipólito que, depois deste mural, foi para Lisboa, com a finalidade de adquirir material para poder continuar a produzir, e, mais tarde, para Peniche. Aqui, maio foi o mês para efetuar uma residência artística. “Um convite a partir de uma galeria que abriu em Lisboa”. Ia ver a cidade “e o que ela me pode oferecer para puder produzir o trabalho. As impressões para puder ali colocar ou que eu tenho de poética já desenvolvidas ou, a partir dali, um novo trabalho”. Como atrás referimos, ainda antes de regressar ao Brasil, passará por V.N. Cerveira para retocar o mural de José Rodrigues. “No máximo, serão três dias na 2ª semana de junho… e o tempo que estar bom. Retorno ao Brasil a 11 de junho.” AMIZADES PARA A VIDA Já é a 2ª vez que veio a V. N. Cerveira. Que mais gosta nesta terra? “Além da paisagem, que é linda, as pessoas que são muito boas. Já constitui amizades, aqui , para a vida.” E a gastronomia? “A região tem muito peixe, pratos muito bons. O bacalhau é incrível, no Brasil não há assim. A pescada muito saborosa. Os doces “cerveirinhos”, folheados com uma fruta daqui, nozes, são bem gostosos. E para beber? “Não sou especialista, mas a maioria dos vinhos que experimento aqui são bem saborosos.” www.valemais.pt 33

Fotorreportagem #Vítor Ferreira Teatro Diogo Bernardes Ponte de Lima AGNUS DEI TEATRO URZE Agnus Dei é uma obra inédita, que nos conta uma história dramática e comovente sobre uma relação amorosa condenada a um fim trágico. Maria e Jorge — uma Freira e um Padre —, vivem num conflito interior, entre a fé e a intensa paixão que sentem um pelo o outro — entre o desejo de felicidade e a realidade. A coreografia e o vídeo conferem ao espectáculo uma marca identitária, ancorada numa atmosfera dramática-poética, onde os corpos dos actores prosseguem a ondulação do elemento água, que fisicamente preenche com naturalidade o espaço cénico, matizado pela música e luz, envolvido numa cenografia expressiva reflectindo a realidade angustiante em que vivem os dois protagonistas.\" 34 www.valemais.pt

Texto e encenação Fábio Timor Elenco Pedro Miguel Dias; Isabel Feliciano; Anabela Nóbrega Assistência de encenação Glória de Sousa Coreografia Isabel Costa Música Vítor Nogueira Cenografia e desenho de luz Fábio Timor Figurinos Isabel Feliciano Vídeo, registo fotográfico e design gráfico Paulo Araújo Sonoplastia Paulo Almeida Apoio literário Rosa Canelas Produção Glória de Sousa, Fábio Timor, Isabel Feliciano e Anabela Nóbrega www.valemais.pt 35

Reportagem #Caminha Texto :: Manuel S. CINÉFILOS POR MERA PAIXÃO À ARTE Locus Cinemae (lugar do cinema) é o nome que um grupo de caminhenses, amantes da sétima arte, entenderam atribuir à associação cineclubista da vila da foz do Minho que fundaram em julho de 2011. Com atividade regular desde então, atinge, neste mês de junho, a 400ª projeção, com “Um assassino pelas costas”, de Steven Spilelberg. Artur Villares, o presidente da Direção, é um dos fundadores ALTO MINHO E GALIZA com quem a VALE MAIS se encontrou para falar de cinema e da atividade da instituição cujas projeções, decorrem, Explicando: “Em agosto, desde o início, que temos uma programação maioritariamente, no auditório municipal. paralela à programação regular (que é semanal) que se chama Cine- ma + Perto, às 6ªs feiras à noite. Optamos por esse mês, Já que nele “Desde o início que o nosso objetivo foi o de criar um espaço, dentro da Caminha tem uma particular presença de pessoas de todo o país e boa tradição cineclubista que existe em Portugal, de valorizar o cinema também do estrangeiro. Com filmes dedicados a temáticas da área clássico e dar ênfase aos grandes períodos da história do cinema clás- do Alto Minho, produzidos por realizadores locais ou relacionados sico, das décadas do cinema mudo, inclusive, anos 30 a 50, do cinema com o Alto Minho e com a Galiza. “ norte-americano, do europeu ou do japonês. Mas também há programa- ção de outras áreas e de outros continentes”, começa por nos referir. O Locus Cinemae ainda não tem produção própria, mas identifica, todos os anos, neste âmbito, obras de realizadores que estejam relacionados “Logo nos primeiros anos, fizemos workshops, abertos a sócios e não com a região. ”Estamos a falar não só de documentários, mas também sócios, na área da linguagem do cinema e dos géneros cinematográfi- de ficção e com os quais também temos colaborado, associações do cos. Há, ainda, uma característica que tentamos manter; a de, no início lado da Galiza, nomeadamente com a projeção anual de obras que são de cada sessão, fazermos uma introdução, contextualizando a obra, apresentadas no Festival de Cans (curtas-metragens) e, também, com o caracterizando-a em termos de género e época e de análise do próprio DOC Festival de Tui. Vamos iniciar este ano também a projeção e outra filme. Também distribuímos um boletim semanal e temos o site. Os colaboração com realizadores independentes da Galiza.” objetivos passam, pois, por também se fazer alguma didática sobre o cinema, enquanto arte. Nesse sentido, há uma estrutura de ciclos temáti- cos que cumprimos, mais ou menos, mensalmente”. 36 www.valemais.pt

ESCOLA E BIBLIOTECA O Locus Cinemae tem perto de sete dezenas de associados. “Funcio- namos com base em despesas muito básicas e que são mantidas pelo Em algumas datas, efemérides e comemorações, o Locus Cinemae tem apoio das quotas dos associados e da própria boa vontade e volunta- desenvolvido, ainda, colaboração com o Plano de Cinema da Esco- rismo dos dirigentes do cineclube. Estamos, de facto, tranquilos. Não la Básica e Secundária Sidónio Pais (Caminha), De igual modo, com temos qualquer queixa, funcionamos por mero gosto.” instituições locais, designadamente a Biblioteca Municipal de Caminha. “Tem havido algumas efemérides em que tentamos enquadrar a nossa FUTURO programação com a atividade da Biblioteca. Municipal. “Às vezes, é-nos pedido que coordenemos com determinada iniciativa. Ainda recente- Relativamente ao futuro, o presidente do Locus Cinemae é prudente, ao mente sucedeu com um livro relacionado com cinema. Coordenamos-o considerar que “temos de dar passos muito seguros e não vale a pena com o filme Match Point (projeção no auditório do museu) que tem estar com uma grande apresentação de projetos ambiciosos que, depois, relação com a apresentação do mesmo”, observa Artur Villares. não têm qualquer possibilidade de serem postos em prática. A alma do nosso cineclube é a permanência da projeção de bom cinema, semanal- Este dá nota, ainda, do apoio da Câmara Municipal com a cedência, mente, aqui em Caminha. A parti daqui, o desiderato é o aprofundamento além do auditório municipal, do Teatro Valladares para determinado tipo das relações com a Galiza. Vamos continuar a aprofundar este projeto de programação, nomeadamente em agosto, face a uma maior procura anual do ponto de vista da projeção, mas não só; quando vêm represen- de público e à própria qualidade da projeção. tantes da Galiza, os organizadores dos festivais de Cans e Tui, temos sem- pre períodos de diálogo e realizadores que falam com o público. GRATUITIDADE PARA TODOS As sessões são abertas e gratuitas, independentemente de ser ou não associado. A vantagem em o ser é “existencial”. “Obviamente que necessitamos do apoio de associados e, naturalmente, das suas quotas. Mas é um ponto de honra a manutenção dessa abertura e gratuitidade do acesso. Pretendemos, de facto, manter totalmente esta ideia de uma associação cultural sem fins lucrativos e que funciona exclusivamente por paixão a uma arte, neste caso, ao cinema.” www.valemais.pt 37

“A partir desta base e destes objetivos, pretendemos, mais adian- De resto, “desde a época do chamado cinema novo, penso não se te, sem puder adiantar nada de mais concreto… organizar uma encontrou ainda aquele nível de qualidade cinematográfica que outros iniciativa mais vasta e pública, mas que tenha condições, depois, de países têm (aqui ao lado, a Espanha tem produção cinematográfica ter periocidade regular. Por isso, queremos dar um passo tranquilo muito interessante). de cada vez. Mas com a ambição de organizar aqui uma iniciativa na área do cinema que tenha impacto nacional e internacional”, dá-nos O dirigente cineclubista não valoriza os prémios em certames interna- conta Artur Villares. Já quanto a produção própria, “está sempre cionais (“não é bitola de classificação de qualidade cinematográfica”). como objetivo, mas não temos nada definido nessa área”. No entanto, “penso que um bom caminho e onde me parece que CINEMA ATUAL tem havido maior qualidade é nalgumas produções que se baseiam em boas histórias da História ou tentam partir do argumento em Relativamente ao atual panorama do cinema nacional e o aumento obras literárias (o argumento é um dos lapsos do cinema português considerável do número de produções nos últimos anos, Artur Villares contemporâneo, há dificuldades graves a esse nível).” pronunciou-se, apenas, a título pessoal. Villares cita, mesmo, Pasolini quando disse que “uma coisa são filmes, “Tenho uma opinião muito negativa sobre a produção cinematográfi- outra coisa é cinema”. Questionado sobre a facilidade de acessos aos ca em Portugal, do ponto de vista da qualidade. Nas últimas décadas, meios que, há anos, não existia, contrapõe ser “curioso que muitas das teve um grande realizador (Manoel de Oliveira), o que produziu é grandes obras do cinema foram feitas com pequenos orçamentos, até significativo e penso que mais adiante terá o reconhecimento que com dificuldades técnicas significativas, e tornaram-se obras icónicas”. merece. Não por acaso, filmou aqui em Caminha e no Alto Minho (“Viagem ao Principio do Mundo”)! É criador de um conjunto de Quanto às suas referências no mundo da Sétima Arte, mesmo incon- filmes com uma linguagem cinematográfica muito própria”. tornáveis, apontou Orson Welles e Luchino Visconti, embora também admire outros realizadores, como Pasolini ou Rossellini. 38 www.valemais.pt

Opinião Texto :: Emília Cerqueira JOE BERARDO Grande culpado ou bode expiatório? Recentemente, levei um grupo de alunos Pois para os homens de Sócrates, muitos deles ainda hoje em cargos a visitar a Assembleia da República e de governo, as declarações de Berardo são uma ameaça porque podem durante essa visita fomos à sala onde relembrar aos portugueses aquilo que este governo tanto tem traba- Joe Berardo foi ouvido na Comissão lhado para branquear e mesmo apagar da memória dos portugueses, de Inquérito à Caixa Geral de Depósitos e por isso mostram-se indignados com Berardo, o mesmo Berardo que falamos sobre as declarações que ali proferiu foi claramente seu parceiro no assalto ao BCP e a forma como a Caixa e do sentimento generalizado de que tinha Geral de Depósitos foi um instrumento privilegiado desse assalto. gozado com o país. Berardo não pode ser culpado de tudo, não pode ser a ovelha negra Enquanto decorria essa conversa dei por mim a pensar se Berardo num rebanho de gente séria, não podemos esquecer os outros aventu- era o grande culpado ou um simples bode expiatório dum escândalo reiros morais que são tratados como empresários, venerados como me- que vai muito para além desta personagem e que é transversal a cenas das artes e distinguidos como comendadores da nação e, acima todo um período da nossa história recente? de tudo não podemos esquecer que não passa dum peão numa teia de poder ao mais alto nível governamental onde a corrupção, o nepotismo, Na verdade Joe Berardo, tal como Salgado, é mais uma personagem o compadrio, o desperdício e a incompetência reinaram.... da teia de interesses da era José Sócrates. O show da indignação, quase arrancando as vestes, a que assistimos, por parte de influentes figuras do PS incluindo António Costa, com as declarações de Berardo deixaram-me incrédula pois, salvo talvez o tom meio boçal com que foram proferidas, só podem surpreender quem não viveu em Portugal no período do governo de José Sócrates, ou então essa fúria nasce não do que Berardo fez (e que eles estavam fartos de saber) mas sim do facto dele ter posto a nu a forma como os socialistas se portam nos governos. Ou, pensei eu, do receio que os portugueses se começassem a lembrar que as personagens que rodeavam José Sócrates são as mesmas que hoje nos governam... www.valemais.pt 39

Consultório Jurídico Texto :: VS Advogados NÃO LADRA CÃO SEM TER RAZÃO Moro no 3º andar de um prédio e de minha casa consigo ver para um dos terraços do prédio vizinho. Há já algum tempo vejo um cão preso por uma corrente à casota, sempre a ladrar, passando todos os dias cá fora, ao relento, em completa angústia. Nunca vejo os donos a tirá-lo daquele espaço para o passear ou alimentar, estando, inclusive, todo o terraço cheio de sedimentos, o que torna o ar irrespirável. O que posso fazer para denunciar esta situação? Caro leitor, gravidade do ilícito e a culpa do agente, podem ser aplicadas, cumulativamente com as penas previstas para os crimes de maus tratos e abandono, as penas Alegislação que protege os animais está em constante evolução, acessórias de privação do direito de detenção de animais de companhia pelo sendo os maus tratos sobre os animais um crime em Portugal des- período máximo de 5 anos; de privação do direito de participar em feiras, de Outubro de 2015. Para além da violência física praticada sobre mercados, exposições ou concursos relacionados com animais de companhia; o os animais, outras ações podem configurar maus tratos, nomeada- encerramento de estabelecimento relacionado com animais de companhia cujo mente o abandono, tráfico, promoção de lutas e outras situações negligentes, funcionamento esteja sujeito a autorização ou licença administrativa; e a sus- tudo comportamentos que colocam em causa o bem-estar dos animais. pensão de permissões administrativas, incluindo autorizações, licenças e alvarás, relacionadas com animais de companhia. As três últimas penas acessórias têm Diz a lei que o proprietário de um animal deve assegurar o seu bem-estar, a duração máxima de três anos, contados a partir da decisão condenatória. integrando esta obrigação, designadamente, a garantia de acesso a água e ali- mentação de acordo com as necessidades da espécie em questão, bem como Desta forma, o leitor deverá fazer uma denúncia às autoridades policiais, a garantia de acesso a cuidados médico-veterinários sempre que justificado, nomeadamente ao Serviço de Proteção da Natureza e do Ambiente da incluindo as medidas profiláticas, de identificação e de vacinação previstas na lei. Guarda Nacional Republicana (SEPNA), cuja linha SOS é o 808 200 520, ou às Autoridades locais da sua área territorial. Todas estas entidades, ao Por outro lado, a lei da proteção aos animais (Lei n.º 92/95) proíbe todas as registar a queixa, têm o dever de comparecer no local com o intuito de evitar violências injustificadas contra animais, considerando-se como tais os atos actos de violência, abuso ou negligência para com os animais, assim como que, sem necessidade, provocam a morte, o sofrimento cruel e prolongado identificar quem praticou as infrações. ou graves lesões a um animal. Para além das denúncias referidas, poderá também o leitor participar a situação No que respeita ao abandono de animais, o Código Penal diz o seguinte: ao Gabinete Médico Veterinário Municipal, da Câmara Municipal, que tem como quem, tendo o dever de guardar, vigiar ou assistir animal de companhia, o responsabilidade fiscalizar e aplicar a legislação em vigor no que diz respeito à abandonar, pondo desse modo em perigo a sua alimentação e a prestação proteção dos animais. Por fim, poderá ainda contactar as associações zoófilas de cuidados que lhe são devidos, é punido com pena de prisão até seis da localidade onde ocorreu a situação exposta, atendendo à experiência destas meses ou com pena de multa até 60 dias. organizações em resolver estas situações de maus tratos sobre animais. Para além desta sanção, foi em 2015 alargado o quadro de penas acessó- Paula Viana & Janine Soares rias aplicáveis aos crimes contra animais de companhia. Assim, consoante a Largo 5 de outubro nº 22, 4940-521 Paredes de Coura :: Av. 31 de Janeiro nº 262, 4715-052 Braga 40 www.valemais.pt

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Reportagem #Alto Minho LÍTIO Lítio Energia de futuro ou 'desgraça' ambiental Já há quem lhe chame o “petróleo” Há, também aqui, o “reverso da medalha” neste metal, também de Portugal, dadas as reservas que cada vez mais fundamental para as baterias dos nossos telemó- o nosso país apresenta e o seu veis e em placas no fabrico de eletrodomésticos. A mineração é potencial para, nomeadamente efetuada a “céu aberto” e, por isso, os impactos na paisagem e incorporar baterias de alto rendimento, no ar são enormes, tanto mais que os locais onde o mesmo existe fundamentais à transição energética, se situam em áreas de reservas agrícola e ecológica, inclusive em sobretudo nos automóveis, na territórios parcialmente integrantes da Reserva Mundial da Biosfe- migração entre o motor de combustão ra. Os lençóis freáticos também são afetados e temos todos razões (fóssil) e o motor elétrico. para desconfiar quando alguém afirma que serão acauteladas todas as questões ambientais. Especialistas apontam mesmo que Portugal é “dos únicos países” que tem condições para “cobrir todo o ciclo das baterias, desde a É, pois, um assunto de agora e do futuro, sobre o qual não pode- mineração (lítio) à reciclagem” dos equipamentos, apontando que mos ficar à margem. Três dos nossos colaboradores, atentos a esta “há toda a economia circular” com base nas baterias. questão e à problemática que a envolve, tecem para a VALE MAIS considerações e lançam alertas, pertinentes, que merecem uma leitura e reflexão atenta. 42 www.valemais.pt

Opinião Opinião Texto :: José Manuel Carpinteira Texto :: Brito Ribeiro O Lítio é o metal mais leve e menos denso entre A QUESTÃO DO LÍTIO os elementos sólidos e foi descoberto há cerca de 200 anos pelo químico sueco Johan August A concessão da prospecção e exploração de Arfwedson. Por ser um mineral muito reativo, não lítio, um mineral de importância estratégica é encontrado de forma isolada na natureza, tem de para incorporar em baterias de alto rendimento, ser extraído de rochas. tem dividido opiniões, tanto mais que uma das zonas em causa é na Serra D’Arga. Olítio tem várias aplicações na indústria, nomeadamente no fabrico de vidros e cerâmicas com resistência ao calor, em ligas metálicas de A fazer fé nas declarações do Ministro da Economia, Pedro Cisa Vieira, cobre e de alumínio para a construção aeronáutica, baterias e pilhas o Governo prepara-se para lançar oito novos concursos até ao final do recarregáveis, e na composição de medicamentos para o tratamento da depres- ano, para exploração de lítio. são nervosa. Os interesses são imensos e envolvem as maiores empresas de extrac- No entanto, o lítio ganhou recentemente nova relevância com a sua cotação ção mineira nível mundial. Em Portugal existem minas de extracção de internacional a subir nos últimos anos. A explicação é simples: o aumento lítio para a indústria cerâmica, mas nenhuma extrai o óxido do mesmo da procura mundial para a produção de baterias para automóveis elétricos, mineral para as baterias dos carros eléctricos, que é o ponto de viragem telemóveis e placas utilizadas no fabrico de eletrodomésticos. que tem revolucionado o sector. Espera-se que em 2025 a procura de lítio em todo o mundo esteja nas 300.000 toneladas anuais, necessárias para As maiores reservas mundiais de lítio estão no Chile, China, Austrália, Ar- satisfazer a crescente reconversão da indústria automóvel, na migração gentina e Bolívia. Portugal, pelas reservas que já se conhecem, está num dos entre o motor de combustão e o motor eléctrico. Isso implicará o aumento lugares cimeiros da Europa no que diz respeito a um dos recursos minerais em dez vezes a necessidade do lítio em relação à procura actual. mais procurados do momento. Por isso, os pedidos de prospeção e pesquisa de lítio dispararam nos últimos meses em várias zonas do país. É o cenário ideal para a especulação e as grandes empresas mineiras encaram a posse de concessões, como activos seguros de um mineral Contudo, no terreno, e nas redes sociais, as populações vão exprimindo o seu que já se valorizou 200% nos últimos três anos. receio do que se anuncia para os seus territórios. Lembram os exemplos do pas- No caso concreto da Serra d’Arga, soube-se que a empresa concessio- sado, das minas encerradas e abandonadas, que deixaram atrás de si passivos nária terá desistido da prospecção, mas não é seguro que outra empresa ambientais de elevada gravidade para a saúde das populações. A este respeito não tome o lugar da primeira. o Governo tem anunciado várias medidas para acautelar as preocupações ambientais, garantindo que quem ganhar as licenças para a explorar as reservas Por outro lado, no Fojo (concelhos de Melgaço, Monção e Arcos de de lítio terá de ficar em Portugal a contribuir para desenvolver toda a fileira, do Valdevez), estão referenciados mais de 70 Km2 de área de prospecção ponto de vista económico e industrial, incluindo a recuperação ambiental das e pesquisa de minerais, designadamente de lítio. Esta área inclui a zona diversas intervenções feitas, de modo a não deixar “feridas ambientais”. da nascente do rio Vez e a aldeia de Sistelo, altamente valorizada nos roteiros de turismo de natureza. No Alto Minho a empresa australiana Fortescue Metals Group que tinha requerido a pesquisa de minérios na zona de Fojo, que abrange os conce- Seja na Serra D’Arga ou no Fojo, com a exploração mineral de lítio, fica lhos de Melgaço, Monção e Arcos de Valdevez, desistiu desse pedido e do em risco de colapso toda a promoção e valorização territorial, baseado respetivo procedimento, sem especificar as razões. na qualidade do ar, da água, da paisagem e da vida rural, aquilo que alguns gostam de designar como “mosaico de paisagens”. Admito que a contestação das populações e das autarquias tenha contribuído para essa decisão. Tive a oportunidade manifestar ao senhor ministro do Am- A importância do lítio não deve ser posta em causa, mas não se pode biente a preocupação das populações e das autarquias na eventual exploração pôr em risco o potencial turístico da região, nem da qualidade de vida das de lítio nos limites do Parque Nacional da Peneda-Gerês. Acrescentei ainda que populações, que veriam o seu cotidiano sofrer brutais alterações e não são o valor ambiental e paisagístico deste território não pode ser destruído. as meras promessas de estudos de impacto ambiental que sossegam os corações e as mentes sobressaltadas. Todos nós sabemos o que represen- Sabemos que não é fácil conciliar interesses antagónicos. De um lado, está o tam os estudos de impacto ambiental perante os interesses económicos. interesse em avançar com a exploração do lítio associada à mobilidade elétrica e à transição energética, e com valor económico e social relevante para o país. Do ou- É fundamental que os nossos autarcas se posicionem inequivocamente tro lado, está a necessidade de preservar o património ambiental e natural do país. na salvaguarda dos interesses das populações, do património natural e da coesão territorial, sem ceder às pressões políticas e económicas Há ainda muitas questões a esclarecer: Qual o contributo que a exploração e pro- vindas de onde vierem. cessamento do lítio pode ter para a economia do interior do país e dos territórios de baixa densidade? Há ou não riscos ambientais associados a esta atividade mineira? www.valemais.pt 43 E Portugal pode dar-se ao luxo de esbanjar esta oportunidade internacional? Uma nota final. A ONU declarou o ano de 2019 como o Ano Internacional da Tabela Periódica dos Elementos Químicos, como reconhecimento da importância da Química no desenvolvimento sustentável e como fonte de soluções para os desafios globais nas áreas da energia, agricultura, educa- ção e saúde. A Tabela Periódica, criação genial do russo Dmitri Mendeleev há 150 anos, resume tudo que existe no universo. Um verdadeiro hemiciclo químico, onde, como na política, também estão representadas a esquerda e a direita e serve para tudo, incluindo pensar!

Reportagem #Alto Minho Opinião Lítio Texto :: Nelson Azevedo Em tempos idos, tocavam os sinos a rebate Com a escassez de água que se anuncia a cada ano que o aquecimento glo- porque a ameaça vinha sob forma de incên- bal se torna mais evidente, resulta evidente uma conclusão irrefutável: reduzir dio, meliantes ou mesmo invasão de exér- os caudais (porque milhões de litros de água seriam usados) e poluir os rios citos inimigos. Hoje, os sinos tocam mas e seus afluentes (porque são usados muitos produtos no tratamento dos di- sem a simbologia de outrora. Essa vigilância versos minérios) seria um erro não de julgamento mas um crime. Deixaremos transferiu-se para outros lugares, formas e este crime ameaçar a própria identidade deste Território por um punhado de expressões. empregos e por lucros de uma mão-cheia de milionários? O caso de que vos venho falar - e que não será novidade para muitos dos E quais os reflexos no nosso Turismo? Todos e mais alguns! Num mo- nossos representantes, mas sim para muitas pessoas que vivem nas aldeias mento particularmente bom para o turismo na região do Alto Minho, o que das zonas afectadas- é que temos perante nós uma ameaça ao nosso modelo seria de termos minas a céu aberto de lítio enquanto passa o Granfondo de desenvolvimento e modelo de vida: a exploração de minérios, que ameaçou Monção-Melgaço ou centenas de runners que calcorreiam a Serra d’Arga no e ainda ameaça - Monção, Melgaço e Arcos de Valdevez, Caminha, Viana do Grande Trail? Talvez não seja assim tão boa ideia, pois não? E para aqueles Castelo e Ponte de Lima. Estamos perante uma afronta ao que somos enquanto que procuram os trilhos, as lagoas, as quedas de água refrescante por estas comunidades, que assentam o seu modelo de desenvolvimento no equilíbrio serras, o que lhes daríamos? Um peeling ácido? (ainda que nem sempre bem conseguido) entre Homem- Natureza- Economia. As gentes do Alto Minho são gentes de bem, orgulhosas do seu passado e As serranias destes concelhos são fonte de rendimento de muitos criado- do seu presente. São gentes habituadas aos trabalhos duros do mundo rural res de gado; por outro lado, hoje muitos milhares de pessoas desfrutam da e da vida na montanha. São gentes que trilharam caminhos de contrabando, Natureza em estado puro, quer no Parque Natural da Peneda-Gerês, quer de fuga a existências miseráveis durante dezenas de anos até ao último nos inúmeros trilhos que calcorreiam pela Reserva da Biosfera ou pelas quartel do século XX. Mas são gente que não hesitará em defender o seu Paisagens Culturais do Sistelo, pelas Lagoas de S. Pedro e Bertiandos, pelas modo de vida, que assenta no respeito pelos ritmos da natureza, da vida Brandas, pelas leiras, sem esquecer as praias Viana, Caminha e Vila Praia de em comunidade, que recebe de braços abertos quem vem por bem. Mas Âncora ou Moledo. Não podemos também esquecer que os vinhos produ- algo diferente é vir a ser confrontada com gente que não vem para trazer o zidos em Monção e Melgaço ou Ponte de Lima estariam em risco com as bem, a riqueza ou o bem-estar em comunhão com as montanhas, os rios, alterações que os químicos usados na produção mineira iriam introduzir nos os animais que fazem parte do seu ser, da sua vivência. Tenho a absoluta lençóis freáticos, mudando as condições de produção dos Alvarinhos e Lou- certeza de que serão usados todo os meios legais disponíveis bem como o reiros e Trajaduras, ou seja, os seus terroirs que tanto tem custado a afirmar! direito à indignação, justamente aludido pelo antigo Presidente da República Portuguesa, Mário Soares. Até porque no Alto Minho, quem não se sente, E que dizer dos cursos de água que são o nosso elixir da vida? Nenhuma ex- não é filho de boa gente. E aqui a gente é boa mas não manda dizer por ploração mineira poderá colocar em causa dezenas de milhares de pessoas ninguém e percebe bem um lobo disfarçado de ovelha! Por isso, exija-se dos na sua saúde. nossos representantes a absoluta transparência no que decidem por nós. Só assim merecem a nossa confiança! Rio Minho, Rio Lima, Rio Coura, Rio Vez estão nesta grande bacia hidrográfi- ca ameaçada! 44 www.valemais.pt

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Sexo & Amor Texto :: Laura Couto DIFERENÇAS ENTRE HOMENS E MULHERES Os homens e as mulheres A sexualidade é algo de único em cada indivíduo e há muitos factores muitas vezes têm opiniões que afectam as nossas necessidades sexuais. Entre outros, factores diferentes sobre o sexo – desde relacionados com o nosso estilo de vida, o nosso perfil de excitação, a frequência que cada um acha ideal até à posição favorita e à hora que se o nosso género e mesmo os nossos laços históricos com o sexo e os prefere para fazer o amor. Por sorte, relacionamentos determinam como e quando queremos ter sexo. todos concordamos numa coisa: O sexo é uma coisa muito boa. FATORES DE EXCITAÇÃO 46 www.valemais.pt As mulheres têm laços fortes com a sua sexualidade, mas não têm sexo como um homem. Quando um homem vê uma imagem sexy – como a visão da parceira inclinada quando está a fazer as limpezas, ou um vislumbre da sua pele nua – fica excitado e pode reagir encos- tando-se à parceira, procurando ter sexo nesse instante. As mulheres também se sentem excitadas com estímulos visuais, mas tendem a precisar mais de estímulos cinestésicos – como carícias, beijos e abraços – para chegarem ao ponto de quererem ter sexo. Os homens adoram o imediatismo da excitação e gostam de seduzir a mulher. As mulheres, por outro lado, gostam da intimidade das carícias, do beijo e do toque. Os homens tendem a acordar com uma ereção e as mulheres preferem ter sexo à noite. TAREFAS E SEXO Às mulheres, custa mais desligarem-se das preocupações e, simplesmen- te, concentrarem-se no sexo. Muitas vezes estão a pensar nos trabalhos de casa dos filhos, na roupa que há para lavar, na comida, ou na reunião importante que vão ter no dia seguinte. É mais fácil para os homens abs- traírem-se das suas preocupações e tirarem o máximo partido do sexo. Estas necessidades sexuais diferenciadas podem causar problemas nas relações, porque nenhum dos parceiros compreende as necessidades do outro. É importante sermos honestos acerca das diferenças que sentimos. A GERAÇÃO DA MUDANÇA DE PAPÉIS A atual mudança de papéis dos homens e das mulheres está a obrigar muitos casais a repensarem o seu lugar nas relações. Homens que ganham menos do que as suas parceiras, ou que ficam em casa a cuidar das tarefas domesti- cas, por exemplo, podem ter dificuldade em afirmar-se na intimidade. Para além disso, uma das tendências mais frequentes é a confusão de géneros nas mulheres. Na sociedade atual, a última coisa que as mu- lheres gostam de mostrar é alguma fraqueza ou emoção. Esta atitude pode transpor-se para as suas relações pessoais. Uma mulher autónoma é autoconfiante ao mesmo tempo que permite que o homem sinta que é ele a mandar no domínio da sexualidade. À medida que os papéis sociais evoluem e mudam, os casais devem estar preparados para algumas alterações na sua vida íntima – mas desde que haja compro- misso e igualdade, o sexo até pode sair a ganhar com estas turbulências.

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Reportagem #Alto Minho VALENÇA MONÇÃO MELGAÇO ARCOS DE VALDEVEZ V.N.CERVEIRA CAMINHA PAREDES DE COURA PONTE DE LIMA PONTE DA BARCA VIANA DO CASTELO DESENCAMINHARTE é um programa que visa promover a criação artística no Alto Minho através de uma dinâmica em rede que estimule o reconhecimento da sua identidade. A edição de 2018, com programação a cargo do coletivo HODOS, centrou-se no desenvolvimento de dispositivos que contribuem para a valorização do património cultural e natural da região. Dez autores, relevantes no panorama artístico e arquitetónico contemporâneo, foram desafiados a intervir na paisagem singular de cada um dos dez municípios. A partir de uma leitura sensível e afetiva do lugar, estas obras propõem um diálogo aberto entre território, arte, cultura e população. 48 www.valemais.pt

01 ARCOS DE VALDEVEZ 02 CAMINHA A PAISAGEM É ABRIGO Fernanda Fragateiro FAHR 021.3 Para a artista, o valor da paisagem enquanto propriedade, Oespaço de intervenção é um lugar onde o bem como o valor poético e simbólico da paisagem en- tempo parece abrandar possibilitando uma total quanto valor cultural foram importantes pontos de partida. comunhão com o meio envolvente. A leitura No final, o convite para olhar a vista é uma sugestão para das marcas do passado e dos vários estratos olhar para nada – ou melhor – para olhar o ver, para embarcarmos da paisagem fazem-nos parar e a aproximação à água por numa espécie de perceção e consciência do espaço. Sabe-se que entre os campos é um verdadeiro estímulo aos sentidos. o uso da paisagem mudou e mudará ao longo dos tempos; e que Chegando ao lugar sem saída, ficamos simplesmente existem terras nestas paisagens. Olhar a paisagem afasta-nos, entre o correr da água e o restolhar dos choupos, apenas assim, do particular de cada uma dessas terras e faz-nos ver dentro expostos aos limites do olhar para a outra margem. A peça do grande horizonte espacial. Faz-nos ver um todo. Também o desenha um recanto de contemplação, uma moldura que direito à paisagem é o direito do uso da paisagem, a defesa do seu se molda e acomoda ao lugar, repousando à beira-rio e uso pela comunidade e isso faz-se através do direito à passagem, enquadrando a paisagem com o mesmo vagar com que à caminhada e não só ao olhar, atividade que este projeto também vivemos o local. Neste lugar reconhecemos um conjunto quer promover. Fernanda Fragateiro procurou “desenhar espaços de de elementos muito particulares que constroem num todo liberdade”, o que está em absoluta continuidade com o núcleo do a sua imagem e identidade. Ao percorrermos a margem do que sempre lhe interessou no espaço. Se a autora tivesse de indicar rio Minho podemos ver um conjunto de estruturas ligadas em poucas palavras o que julga ter compreendido sobre o espaço, à pesca: as embarcações, as amarras espiadas na margem, diria que a possibilidade da experiência e da abertura do pressenti- as redes expostas ao sol, pequenos abrigos usados para mento da liberdade é essencial em cada lugar. “Direito ao tempo” e guardar o equipamento da pesca que ocupam toda a “direito ao espaço” (que não são senão dois modos de declinar os frente ribeirinha, entre árvores, como se esperassem o nomes da liberdade). regresso dos pescadores para se tornarem úteis. É aqui que, de repente, a peça integra o contexto, quando os A intervenção abre, pois, um espaço semântico na paisagem, que é autores a decidem colocar em frente ao rio nessa espera compreendida a partir do conhecimento que temos da natureza e da por quem a ocupe e venha preencher a paisagem. Uma forma como a transformamos tal como da construção da paisa- relação formal e de composição que torna a peça muito gem enquanto fenómeno cultural. A compreensão desta não pode local. ser entendida de forma fragmentada, mas através do seu todo, daí a decisão de se contemplar uma grande parte do território para a instalação das bandeiras, que marcam lugares, mas também esta- belecem relação entre diversos e diferenciados espaços. A ideia de usar texto, frases retiradas de poemas, tem a ver com o facto de os poetas serem, talvez, os verdadeiros proprietários do horizonte. Os poetas integram, através do seu olhar, todas as partes da paisagem. Fernanda Fragateiro quis, com a introdução do texto, construir um guia poético para “atravessar” território e paisagem. Para além das palavras que escolheu, citou frases de Gonçalo M. Tavares, Maria Gabriela Llansol, W.J.T. Mitchell, Bernardo Soares e Ralph Waldo Emerson. Pode este texto, feito de muitos textos, ser memória e antecipação? É certamente um veículo de comunicação entre o que observa e o que é observado. DESENCAMINHARTE 2018 www.valemais.pt 49

DESENCAMINHARTE 2018 04 MONÇÃO 03 MELGAÇO A TORRE Sulco STILL urban design + Miguel Seabra depA Olocal suscitou desde logo uma intenção clara: trabalhar com o lugar, a paisagem e o Asoberana força do espaço envolvente da Porta contexto próximo – o castro – tanto quanto de Lamas de Mouro nasce do poder natural e da o longínquo – a paisagem do vinho verde. poética dos elementos que a desenham: os cursos Tornou-se imperativo que a peça reivindicasse, de alguma de água pura, os prados em manto verde, a massa forma, essa ancestralidade da ocupação do território por dos corpos arbóreos e, finalmente, os pinheiros, a urze e parte do homem, na sua evolução arquitetónica, produtiva a carqueja que tintam granito acima pelos penhascos que e simbólica. Do menir ao cruzeiro, ou à torre, o Homem nos envolvem num horizonte muito próximo. A intervenção sempre teve a necessidade de pontuar o horizonte e proposta potencia, de forma progressiva, uma interação marcar o território com a sua presença. A peça criada é com todos estes elementos: o sulco linear, no terreno, induz uma reinterpretação contemporânea dessa intenção. O o utilizador a descer e a envolver-se com o solo, a água e círculo aliado à verticalidade torna-a presente desde longe, o ambiente alagadiço da charca, entre musgos, seixos e integrado no contexto pela sua forma e cor exterior. Só juncos, proporcionando uma proximidade e uma perspetiva na caminhada começa então essa revelação do interior, ímpares. Ao percorrer o sulco, o utilizador ascende de novo vibrante, aberto ao céu, cheio de luz, e que termina numa à superfície sendo conduzido a uma segunda peça marcada escalada até ao topo focando a paisagem vinhateira, os por dois elementos verticais que, através da densidade dos vales e montanhas de Monção. A peça apresenta-se com troncos, do som das ramagens e dos jogos de luz e sombras uma forma tubular, ereta, composta por anéis pré-fabricados do vidoeiro, o atira para um trilho e o leva, finalmente, pelo de betão, modulares, permitindo ser contemplada pelo seu maciço montanhoso. Estar no Gerês é estar em confronto exterior e vivenciada pelo seu interior. A nível construtivo e com o poder da Natureza. Os autores, ao desenharem a iconográfico, pretende-se estabelecer uma ligação formal peça, procuraram exponenciar esse confronto, não limitando com as construções castrejas – circulares – colocadas, a o seu desenho (que é impositivo) nem a sua utilização (que maior das vezes, em locais elevados na paisagem. Na sua é intrusiva, experimental) a uma experiência apenas contem- dimensão simbólica, a forma quer estabelecer a relação do plativa, passiva e distante, nem resumida à experiência do terreno com o espiritual. O círculo, sendo a forma “total” olhar. Todos os sentidos são postos em ação numa experiên- – sem princípio nem fim – aparece associada ao divino e à cia submersiva e subversiva perante a Natureza. Também o eternidade; é símbolo do céu na sua relação com a terra e, desenho da peça retrata esse confronto: sulca, rasga, marca portanto, traduz a relação do espiritual com o material. o solo de forma racional, reta, assertiva, antinatural. É a força e a razão do desenho e da técnica do Homem a subjugarem aquele tempo e aquele lugar. Mas a peça prevê, por outro lado, que esse mesmo tempo e lugar, em dias incertos, possa subjugar a peça (e o Homem), a sua envolvente e o acesso à montanha, inutilizando-os pela força da sua água ou o asso- bio do seu poder. Um dia esse tempo (essa Natureza) poderá até, para sempre, transformá-la ou levá-la destruída. Não deixou de ser irónico, aliás, o xadrez jogado entre a técnica necessária à sua construção e a força que rosnou desde cedo das entranhas do solo. Afinal, a convicção do confronto cedo se confirmou. 50 www.valemais.pt


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