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Jornal Cultural "A Voz de Paço de Arcos"

Published by Paulo Mascarenhas, 2021-03-15 12:54:17

Description: JORNAL_33

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A Voz de Após 20 anos de espera... ...VAI NASCER O AUDITÓRIO JOSÉ DE CASTRO JORNAL DEFENSOR DOS INTERESSES DA VILA DE PAÇO DE ARCOS E DAS LOCALIDADES CIRCUNDANTES FUNDADO EM 1979 POR ARMANDO GARCIA, JOAQUIM COUTINHO E VÍTOR FARIA Diretor: José Manuel Marreiro | Bimestral | N.º 33, Fevereiro de 2021 DISTRIBUIÇÃO GRATUÍTA

ESTATUTO EDITORIAL FICHA TÉCNICA 1 – A VPA é um jornal bimestral de Propriedade: Associação Cultural informação geral na área da cultura e “A Voz de Paço de Arcos” da língua portuguesa, em particular na defesa dos interesses dos habitantes da Sede: Rua Thomaz de Mello nº4 B vila de Paço de Arcos e das localidades 2770-167 Paço de Arcos circundantes. Direção: Presidente - José M. R. Marreiro; 2 – A VPA pretende valorizar todas Tesoureiro - António Alberto Lopes; as formas de criação e os próprios Secretário - Francisco Rita Santos criadores, divulgando as suas obras. Redação: Rua Thomaz de Mello nº4 B 3 – A VPA defende todas as liberdades, 2770-167 Paço de Arcos em particular as de informação, expressão e criação. Ao mesmo tempo, E-mail: [email protected] afirma-se independente de quaisquer N.I.F.- 513600493 | E.R.C. nº 126726 forças económicas e políticas, grupos, Depósito Legal: 61244/92 lóbis, orientações, e pretende contribuir Diretor: José M. R. Marreiro para uma visão humanista do mundo, Diretor-Adjunto: José Maria Santos Zoio para a capacidade de diálogo e o espírito Subdiretora: Maria Inês Bastos crítico dos seus leitores. Editor: José Aguiar Lança-Coelho email: [email protected] 4 – A VPA recusa quaisquer formas Impressão: www.artipol.net de elitismo e visa compatibilizar a Sede do impressor: Rua da Barrosinha, qualidade com a divulgação, para levar a n.º 160 | Barrosinha Apartado 3051 | informação e a cultura ao maior número 3750-742 Segadães, Águeda Portugal possível de pessoas. Colaboradores: Alexandra Antunes; Carlos Aguiar; Carlos Cunha; Carmo Vieira; Eduardo Barata; Jaime Silva; João Pinto; José Aguiar Lança-Coelho; José Marreiro; José Mendonça; Mafalda Ascenção; M. Barão da Cunha; Maria Inês Bastos; Mário Matta e Silva; Neza; Olivia Matos; Santos Zoio; Sara Carvalho; Sérgio Bruno e Paulo Mascarenhas; Vasco Santos Fotografia: Paulo Mascarenhas Capa: Bombeiro Voluntários P. A. Paginação: Andreia Pereira Tiragem: 2000 exemplares Facebook: www.facebook.com/avozdepa- codearcos Publicidade: [email protected] Tel.: 919 071 841 (José Marreiro) Diretor Honorário: José Serrão de Faria Subdiretora Honorária: Maria Aguiar 2 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

EDITORIAL Finalmente…não deste ano de 2021. leitor, não é o final Também, motivo de orgulho da popu- da Pandemia da Covid (como gostava de lação da vila de Paço de Arcos, é a passa- lhe dar esta notícia em gem do 1º centenário do clube desportivo 1ª mão!), mas são duas que tantas jornadas de glória conquistou notícias pelas quais es- no hóquei em patins, onde nos anos 50 perámos muito tempo. do século passado tinha três jogadores Assim, ouça com aten- efectivos da selecção nacional portu- ção: guesa, e que ganharam inúmeros títulos Finalmente, o tão almejado «Centro mundiais e europeus. Cultural José de Castro», pelo qual a população de Paço de Arcos vem espe- Até à próxima caro leitor, e não se es- rando há tantos anos, vai começar a ser queça de usar a máscara e guardar dis- construído, no antigo quartel dos bom- tância dos seus semelhantes, para irra- beiros, edifício que ao ser transforma- diarmos a maldita pandemia, o mais de- do, vai originar, não só, o Centro Cultu- pressa possível. ral, mas também, a extensão do Centro de Saúde de Paço de Arcos, destinado à José Aguiar Lança-Coelho - Licenciado saúde mental. e Mestre em Filosofia pela FLUCL As obras deverão arrancar no final (Escreve de acordo com a antiga ortografia) Muitos Parabéns Ruy! Ruy de Carvalho está de parabéns. O ator celebrou dia 1 de março, o 94.º aniversário Rui Alberto Rebelo Pires de Carvalho, mais conhecido por Ruy de Carvalho, tem um vasto currículo na área da representação e conta já com 79 anos de carreira. O último trabalho no qual participou foi a telenovela ‘Nazaré’, da SIC, que terminou em janeiro deste ano. A direção Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 3

ARTIGO DE CAPA Finalmente a boa Notícia... Após cerca fim de 2022, possamos ter, finalmente, de 20 inaugurado, e a funcionar, o Auditório anos de em homenagem ao grande ator que os espera, finalmen- paçodearquenses há muito ambicio- te a notícia, há nam. muito desejada, “A Voz de Paço de Arcos”, que sempre da construção do acompanhou este processo após a Centro Cultural inauguração do monumento, em honra José de Castro. de José de Castro, congratula-se com a Promessa que decisão, e acompanha os seus familia- tardou em ser res e amigos, nesta hora de satisfação cumprida, após que muito vem enriquecer a atividade várias vicissitu- cultural da vila. des, e que passou pela definição do Texto José Marreiro local, execução Fotografia Paulo Mascarenhas do respetivo pro- jeto, e até cabi- mento orçamen- tal. O prédio então escolhido, foi, entretanto, entregue à APPA- Associação Popular de Paço de Arcos, que aí funcionou durante anos, e que só veio a vagar após demanda judicial, e através de acordo entre as partes. Dado o tempo decorrido, e a evolução de certos conceitos, a CMO decidiu al- terar a localização do espaço cultural dedicado a José de Castro, tendo es- colhido o antigo Quartel dos Bombei- ros Voluntários de Paço de Arcos, cuja obra de alteração, e adaptação do edifí- cio, foi recentemente agendada para o 3º trimestre deste ano. Fazendo votos que não surjam novos escolhos no caminho, que os prazos definidos sejam cumpridos, e que, no 4 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

CAMINHOS Do Cabo Espichel à Serra de Sintra Os Caminhos desta vez são vir- para encaminhar tuais, feitos a partir da janela da o movimento das cozinha de minha casa, situada embarcações que na parte alta da vila. cruzam a barra do Tejo, ou que O confinamento desaconselha o ca- passam ao largo minhar para longe da residência pelo da costa. optei por esta solução, de falar sobre a que posso visualizar quando me ponho Para além do à dita janela. farol, é constituí- do por zona ha- Assim, começando pela minha esquer- bitacional, onde da, avisto a sul, na linha do horizonte o viviam os faro- Cabo Espichel, distrito de Setúbal, cuja leiros até à sua automatização, e uma história é riquíssima, mas que não tem Capela com muito interesse cultural e cabimento neste “Caminhos”. Ligeira- histórico. Presentemente, dada a falta de mente à direita ergue-se o “nosso” Bugio, utilização, está degradada e a necessitar ladeado por uma imensa mancha branca de uma grande intervenção de recupe- das ondas alterosas desta manhã. ração. Trata-se de mais um monumento propriedade do Estado, vítima de aban- O Forte do Búgio, como lhe chamamos, dono e falta de manutenção. é o Forte de S. Lourenço da Cabeça Seca, um edifício exemplar de construção com Bom seria, que a exemplo do que vem fundações no fundo do rio, e está locali- acontecendo com o património similar, zado junto à sua foz. A sua história é ri- fosse encontrada uma rápida solução quíssima, desde a sua conceção e cons- que permita a merecida obra de restau- trução, passando pelas suas diversas fun- ro, a fim de integrar a Candidatura de ções ao longo dos séculos, até aos nossos Oeiras a Capital Europeia da Cultura, dias, que mantém a sua função de farol 2027, que está em elaboração. Vimos esta possibilidade como conti- nuação do que aconteceu, recentemen- te, com A Quinta de Cima ( Ex Estação Agronómica Nacional) e o Convento da Cartuxa, em que o Estado transfe- riu para a Câmara Municipal de Oeiras a responsabilidade da sua recuperação, e disponibilização para usufruto dos ci- dadãos. Como se costuma dizer “não há duas sem três”, será assim desta vez? Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 5

CAMINHOS Aproximando o olhar vejo os telhados finalmente está prestes a come- das antigas casas do Bairro da Fonte de çar a ser construído. A inaugu- Maio, algumas felizmente recentemen- ração está prevista para o fim do te recuperadas, e com novas constru- próximo ano. Que assim seja. ções que muito valorizam esta parte alta da vila. Ao lado a placa ajardinada que Olhemos agora para o Centro separa os dois sentidos do trânsito da Es- Histórico da vila, onde conti- trada de Porto Salvo. Com o SATU em nuam as obras de reconversão da fundo, deslocamos o olhar pela avenida Praceta Dionísio Matias. que nos leva à estação de Caminho de Ferro, junto à qual temos o antigo quar- Na Rua Costa Pinto continua a tel dos BVPA, que dentro de meses entra- reconstrução da Casa dos Cacetes rá em obra para a adaptação a novas fun- e do Prédio da Danny. Esta Rua, ções de interesse cultural e social, com a a mais comercial, e onde estão a instalação duma extensão do Centro de maioria dos restaurantes que fazem de Saúde de Paço de Arcos, para acolher os Paço de Arcos um conhecido destino de serviços de Saúde Mental, e o tão aguar- milhares da gastrónomos pela sua qua- dado Centro Cultural José de Castro, que lidade e diversidade, está irreconhecível perante a ausência de atividade imposta pelas medidas de combate à pandemia. Que a retoma se faça em breve, e com su- cesso, não correndo o risco de nova vaga. Ainda, no Centro Histórico de realçar o anúncio de que está a concurso a obra do prédio (Ex APPA e ex para ser José de Castro) para construção de apartamen- tos, e loja, dentro do plano de Habitação Jovem, o que se aplaude. Ao voltar a olhar para o rio, e para a linha de costa, visualizamos a Torre do Controle Marítimo, instalada junto à Escola Superior Náutica Infante D. Hen- rique, estabelecimento de ensino supe- rior e técnico, de grande prestígio nacio- nal e internacional, dada a qualidade do seu ensino. O Campus, de boa dimen- são, tem condições para receber muitas atividades. Pavilhões, piscina, jardim (de autoria do Arqtº. Ribeiro Teles) e outros atrativos como a paisagem sobre o rio e o mar. A piscina, em tempo, esteve concessio- 6 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

na Região de Lisboa e Vale do Tejo. Aguardemos que essas decisões não fiquem para as ca- lendas, já que são muito impor- tantes para a racionalização do sistema de transportes locais e intermunicipais. Para lá da ribeira observo as escolas João de Barros e Luís de Freitas Branco, os seus moder- nada a clubes (Sporting, Paço de Arcos, 7 etc.), pelo que foi frequentada por muitos atletas e também por pratican- tes por puro exercício físico. Está, portanto, bem presente na me- mória de muitas pessoas a possibilidade de abertura destes espaços ao usufruto da população. Foi com grande satisfação que soube- mos da existência dum protocolo cele- brado, recentemente, entre a Câmara Municipal de Oeiras, e a Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, que per- mite a abertura à população de algumas das suas áreas de atividade, assim como colaboração no desenvolvimento das ati- vidades científicas da Escola. Aproximando de novo o olhar para a frente da janela em que me encontro, sigo o serpentear da linha adormecida do SATU, e os seus pilares assentes no vale da Ribeira dos Arcos, no seu percurso até junto do Oeiras Parque, onde tinha a sua estação terminal. A ideia é que, um dia, possa continuar, e ligar as localidades e empreendimentos do interior do Conce- lho, projeto com todo o interesse para a melhoria da mobilidade, e que aguarda decisões sobre os transportes públicos Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

CAMINHOS nos edifícios, campos de jogos e zonas Ao lado da estação intermédia do envolventes arborizadas e bem cuida- SATU, temos o Bairro da Tapada do das. Aqui centenas de alunos são forma- Mocho. Este bairro foi construído pelo dos para a vida. Ao longe avisto a torre Cofre dos Funcionários do Ministério do Templo da Poesia, que domina a pai- do Ultramar na década de 60 do séc. sagem com o branco da sua pintura, de XX, para os seus associados que os ad- dia e com a sua iluminação, à noite. No quiriram e, ainda hoje muitos os habi- interior do grande Parque dos Poetas, tam, ou as suas famílias. Projeto de qua- recebe eventos culturais e artísticos, de lidade boas casas, e tinha piscina cole- grande qualidade. tiva, ainda havia poucas à época, mas que, entretanto, foi desativada e des- construída. Na margem esquerda da ribeira avisto o Edifício da Segurança Social, Escola de Música e outros escritórios. Entre eles um de advocacia onde exerce o ad- vogado Dr. Jorge Fernandes. Para a minha direita, lado norte, deparo com a situação de maior difi- culdade em se aceitar: Dois grandes Na parte antiga desta zona da vila, está em curso a maior obra de reabilitação habitacional, do Programa Habitação Jovem, o edifício Villa Longa, que vai ter 32 apartamentos para arrendamento a jovens. Outros prédios privados vizi- nhos estão, igualmente, a ser reabilita- dos o que moderniza, embeleza e enri- quece o bairro. 8 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

prédios habitacionais com dezenas de apartamentos, mas só um habitado. O que se passa? Tem publicidade para venda, mas não há vendas. Diz-se que a construção não respeita o projeto apro- vado, e que tem parte da construção muito perto da linha de água, e que por isso a CMO não aprova as telas finais, e assim não há como fazer escrituras de compra e venda por ausência de registo das frações. Será mesmo isto? Consta, também, que o construtor abandonou o caso. Se assim é a quem compete a so- lução do problema? Os Bancos finan- ciadores, se os houve, terão as hipotecas para executar, porque não as executam? A parte de construção ilegal, se a houve, não poderá ser demolida para permitir a aprovação da parte legalmente cons- truída? Muitas dúvidas, nenhuma certe- za, para quando a solução para permitir a entrada de dezenas de apartamentos no mercado? É que estão a fazer falta. A acompanhar a Estrada de Paço de Arcos temos a Ciclovia Empresarial que liga a estação de Paço de Arcos à Quinta da Fonte, que vai mudando de lado da estrada, conforme a natureza do terre- no, atravessando-a várias vezes. Para terminar com uma boa panorâ- mica refiro que olhando sobre os edi- fícios fantasma, posso ver a Serra de Sintra, lá ao longe. Assim terminam estes Caminhos, di- ferentes e originais, pois foram vistos de longe e não localmente como de costu- me. Texto: José Marreiro Fotos: Paulo Mascarenhas Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 9

PATRIMÓNIO Câmara de Oeiras já pode recuperar Quinta da Cartuxa Aassinatura do auto de ce- Além do investimento na recuperação do dência aconteceu no pas- património, o projeto previsto na reabilita- sado dia 17 de fevereiro na ção da Quinta da Cartuxa prevê a criação Igreja da Cartuxa, em Caxias, com de um Centro de Arte Contemporânea, a presença da Ministra da Justiça. com um programa de atividades ligadas à Arte e que inclui uma residência para artis- Município vai investir cerca de tas. 7,5 milhões de euros na recupera- ção integral daquele património O Presidente da Câmara Municipal de abandonado pelo Estado há 30 Oeiras associou ainda o momento de hoje anos à aquisição da Estação Agronómica, tam- bém cedido pelo Estado ao Município há A Câmara de Oeiras chegou a pouco mais de um ano, como “alavancas acordo com Estado, em meados determinantes” na candidatura de Oeiras a de dezembro, para reabilitar o Capital Europeia da Cultura em 2027. Convento da Cartuxa, numa concessão de 42 anos e um investimento que ronda os 7,5 “Não sei se vamos ganhar, mas não tenho milhões de euros. O objetivo é dar a digni- dúvidas que, agora com a posse da Quinta da dade merecida àquele conjunto patrimo- Cartuxa e da Estação Agronómica, vamos ter a nial histórico e colocá-lo à fruição pública. melhor candidatura do país”, concluiu. Para o Presidente da Câmara Municipal Com mais de 400 anos de história, o Con- de Oeiras, Isaltino Morais, o acordo hoje vento da Cartuxa está devoluto há vários firmado traduz-se num “ato de Cultura da anos, à exceção da igreja desenhada por maior relevância e que diz respeito a todo o Carlos Mardel no século XVIII. país”. Texto e fotografia, fonte: “Porque é garante de que vamos cuidar para www.cm-oeiras.pt/pt/municipio transportar este legado, esta História e esta Cul- tura para as próximas gerações”, justificou. Para o autarca, representa também um “ato político de extrema importância” e que permite “tirar algumas lições”, nomeada- mente sobre o Estado Central. “Há que desburocratizar. É inadmissível que este património estivesse aqui abandonado por 30 anos”, sustentou Isaltino Morais, lamen- tando que o Estado tenha deixado esque- cer este património, mas reconhecendo este ato positivo, com elogios à Ministra da Justiça, Francisca Van Dunem, que marcou presença na cerimónia. 10 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

RECONHECIMENTO MERECIDO Grupo Desportivo Unidos Caxienses declarado Instituição de Utilidade Pública \"Declaração de utilidade pública” responsabilidade social, em parceria com diversas Organizações Não Governamen- OGrupo Desportivo Unidos Cax- tais. Coopera com diversas entidades, des- ienses, pessoa coletiva de direito ignadamente com a Administração local e, privado n.º 501438092, com sede em especial, com o respetivo Município, na em Caxias, Oeiras, vem desenvolvendo, prossecução dos seus fins. desde a sua constituição, relevantes ativi- dades de interesse geral no âmbito da pro- Por estes fundamentos, conforme expos- moção da prática desportiva, designada- to na informação n.º I/7/2021/SGPCM, do mente do futsal, do karaté, do kickboxing processo administrativo n.º 162/UP/2017, e da ginástica. Tem dado particular ênfase instruído na Secretaria-Geral da Presidên- à vertente formativa das diversas modal- cia do Conselho de Ministros, e no uso dos idades. Participa em diversos eventos ou poderes que me foram subdelegados pela provas desportivas, em especial no futsal, Ministra de Estado e da Presidência através no karaté e no kickboxing, tanto de âm- do Despacho n.º 1338/2020, de 24 de janei- bito nacional como regional, com alguns ro, publicado no Diário da República, 2.ª resultados de relevo. Tem promovido a série, n.º 21, de 30 de janeiro de 2020, decla- igualdade de género no desenvolvimento ro a utilidade pública do Grupo Desport- das referidas modalidades, tanto ao nível ivo Unidos Caxienses, nos termos do De- da formação como da competição. Tem creto-Lei n.º 460/77, de 7 de novembro, na desenvolvido diversas ações de respons- sua redação atual. abilidade social, criando programas inter- nos de apoio a jovens atletas oriundos de 28 de janeiro de 2021. - O Secretário de Es- famílias carenciadas e promovendo a par- tado da Presidência do Conselho de Minis- ticipação de atletas do clube em ações de tros, André Moz Caldas. \" Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 11

MAGIA Magia Verde da magia verdadeira- mente mágica, nunca Existem vários tipos de magia: A cha- conseguiremos fazer... mada Magia Negra, que é uma coi- Para esta magia tam- sa que não existe, mas...para os que bém não são precisas acreditam, serve para fazer vários males. palavras mágicas co- Esta é má. É uma crendice primitiva. mo as famosas Abra- cadabra! Abracadabra! A magia verdadeiramente mágica, que é aquela que os mágicos nos fazem acredi- É a maior das maiores magias e, sendo tar que é verdade, mas...que não é verda- tão simples, é tão importante, tão impor- de. Eles usam truques e ilusões e, por isso, tante que, sem ela, não poderíamos nós também lhe chamamos ilusionistas. Esta existir. Também não precisa de truques magia é boa, esta dá prazer, esta não está nem de ilusões. ao serviço do Mal. Então, se é tão simples, porque é que Com esta, vemos desaparecer e apare- não sabemos fazer? Mistério, mistério... cer coisas, transformar lenços em pombi- nhas, tirar coelhos de dentro de um cha- Bem vamos lá dar uma ajudinha, para péu que antes não tinha nada...e ficamos ver se conseguimos pôr um pouco de luz sem saber como é que eles fazem aquilo. – por falar em luz, luz é uma das coisas Fartamo-nos de dar palpites, uns dizem necessárias para esta magia – e vamos que foi assim, outros que foi assado, mas desvendando mais um pouco do misté- o que é certo, é que nós não sabemos co- rio, além de luz são só precisas mais duas mo fazem, e ainda bem, senão não tinha coisinhas. Uma das coisinhas é água. piada. Portanto, segundo as minhas contas só falta outra coisinha. Não mantenho mais Decerto, os meninos já viram no Circo, o mistério, vou dizer o que falta..., o que ou na Tv, ou nas festas de Natal, o mágico ainda falta é um pouco de terra (podia ser adivinhar qual é a carta que alguém esco- outra coisa, mas, para aqui não interessa lheu, sem a ter visto, depois de baralhar agora!). tudo muito bem baralhadinho. Gostam de cerejas, de maçãs, de peras, Se calhar também viram ele colocar de bananas? Pois com esta magia, usando uma senhora dentro de um caixote, de- apenas Luz, àgua e terra, consegue uma pois serrar o caixote ao meio e, em cada senhora mágica chamada Clorofila, fazer uma das metades, a senhora continuava a todas estas, e outras, frutinhas. mexer as mãos, numa delas, e os pés na outra; depois o mágico juntava de novo as Antes de falarmos mais da Clorofila vou metades e...a senhora saia outra vez intei- pedir-lhes que façam uma experiência- rinha. zinha: peçam à mãe, ou ao pai, que vos ajudem a fazer. Se calhar vocês já fizeram Mas a magia das magias, é aquela que isto, mas para os que não fizeram eu con- eu vos vou agora contar! Vou só contar, tinuo: precisamos só de um bocadinho de pois nem eu, nem o mais perfeito dos mágicos, quer os da magia negra, quer os 12 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

algodão, um pratinho e...um feijão; colo- Porque a Clorofila fica a descansar até quem o algodão no pratinho, ensopem- à Primavera, porque, coitada, depois de -no bem com água e...ponham em cima tanto trabalhar, também tem direito a fé- o feijãozinho. Depois, ponham tudo sob rias! Mas, para compensar, existem outras uma luz forte, se não houver Sol - pois a plantas cujas folhas não caem, e produ- luz do Sol é que era a melhor, mas outra zem que chegue. também serve – e esperem uns dias, mas não lhe mexam, e vejam se está sempre E magias destas, como eu disse, não há molhadinho! nenhuns dos outros mágicos que as con- sigam fazer! Quando o feijão crescer, hão-de ver que começa a sair uma folhinha verde para ci- Aprendam desde pequeninos a respei- ma e uma raízinha para baixo... tar as plantas verdes, pois sem elas não poderíamos viver...muito tempo. Pode- Depois, se puserem o feijãozinho re- mos tapar o nariz e mergulhar na água cém-nascido, num vaso com terra, ele irá linda do mar, mas...dali a um bocadinho, crescer, crescer, e ficará tão grande como temos que vir acima, respirar o oxige- o da história do João Feijão, que podem niozinho. Os mergulhadores, que levam ler, quando souberem, ou podem pedir oxigénio numa garrafa, podem lá estar aos pais que vos leiam. mais tempo, mas também têm que subir quando ele se acaba, e cá fora há muito, Como viram, esta magia, foi feita sem felizmente. Nos hospitais, existem res- necessitar de mais nada senão Luz (Sol), piradores com os quais podemos inalar água e algodão, a fazer de terra. E isto, por- oxigénio durante algum tempo, mas não que o feijão já tinha alimento e não pre- todo o tempo. cisava de mais nada, mas, esse alimento foi já feito pela mágica Clorofila, e é esta Sem o Oxigénio que as plantas verdes mágica que o vai fazer crescer, até ficar tão libertam, e nas grandes quantidades que grande como o da história do João Feijão. o libertam, não poderia haver Homens... nem outros animais terrestres. Esta Clorofila, é uma coisa que existe em todas as plantas ditas verdes, especial- Digo animais terrestres e não todos os mente nas suas folhas, autênticas fábricas animais, porque vocês sabem bem que al- que, recebendo luz do sol, e água que vem guns, como por exemplo, os peixes, quan- do solo pelas raízes, magicamente trans- do os tiramos da água, ao fim de algum forma o ar mau que expiramos - o ar que tempo morrem, embora dentro da água deitamos fora - o famoso CO2, e que elas respirem o oxigénio que se encontra ne- precisam para formarem os seus corpos, la, mas não directamente do ar, como nós, no ar bom, que inspiramos - o que mete- porque não têm pulmões como os nossos. mos para dentro – o famoso Oxigénio. É troca por troca e ganhamos todos! Acontece que, embora a água contenha o tal oxigénio, recebeu-o, adivinhem don- Eu disse que existe especialmente nas de...do que as plantas verdes produziram! folhas das plantas verdes, mas vocês sa- É ou não é uma grande magia?! bem que, no Outono, as folhas de algu- mas árvores ficam amarelas. E porquê? Carlos Augusto Santos de Aguiar Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 13

ESCRAVATURA Irlandês: Os Escravos Brancos Esquecidos Eles vieram como escravos: carga A Irlanda humana transportada em navios rapida- mente se britânicos com destino às Améri- tornou a maior fon- cas. Eles foram enviados por centenas de te de gado humano milhares e incluíam homens, mulheres e para os co- merciantes até as crianças mais novas. ingleses. Sempre que se rebelavam ou mesmo de- A maioria sobedeciam a uma ordem, eram punidos dos primeiros escravos do Novo Mundo da maneira mais severa. Os proprietários era na verdade branca. de escravos pendurariam suas proprieda- De 1641 a 1652, mais de 500.000 irlande- des humanas pelas mãos e incendiariam ses foram mortos pelos ingleses e outros as mãos ou os pés como uma forma de 300.000 foram vendidos como escravos. punição. Alguns foram queimados vivos e A população da Irlanda caiu de cerca de tiveram suas cabeças colocadas em lanças 1.500.000 para 600.000 em uma única dé- no mercado como um aviso para outros cada. cativos. As famílias foram destruídas porque os Nós realmente não precisamos passar por britânicos não permitiram que os pais todos os detalhes sangrentos, precisamos? irlandeses levassem suas esposas e filhos Conhecemos muito bem as atrocidades através do Atlântico. Isso levou a uma do tráfico de escravos na África. população desamparada de mulheres e Mas estamos falando sobre a escravidão crianças sem-teto. A solução da Grã-Bre- africana? O rei James VI e Charles I tam- tanha foi leiloá-los também. bém lideraram um esforço contínuo para Durante a década de 1650, mais de escravizar os irlandeses. Oliver Cromwell, 100.000 crianças irlandesas entre 10 e 14 da Grã-Bretanha, aprimorou essa prática anos foram retiradas de seus pais e vendi- de desumanizar o vizinho do lado. das como escravas nas Índias Ocidentais, O comércio de escravos irlandês começou Virgínia e Nova Inglaterra. Nesta década, quando James VI vendeu 30.000 prisio- 52.000 irlandeses (principalmente mulhe- neiros irlandeses como escravos para o res e crianças) foram vendidos para Bar- Novo Mundo. Sua Proclamação de 1625 bados e Virgínia. exigia que prisioneiros políticos irlande- Outros 30.000 homens e mulheres ir- ses fossem enviados ao exterior e vendidos landeses também foram transportados a colonos ingleses nas Índias Ocidentais. e vendidos pelo maior lance. Em 1656, Em meados dos anos 1600, os irlandeses Cromwell ordenou que 2000 crianças ir- eram os principais escravos vendidos pa- ra Antígua e Montserrat. Naquela época, 70% da população total de Montserrat eram escravos irlandeses. 14 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

landesas fossem levadas para a Jamaica e eles próprios, o que aumentava o tama- vendidas como escravas para colonos in- nho da força de trabalho livre do mestre. gleses. Mesmo que uma irlandesa conseguisse Hoje, muitas pessoas evitarão chamar sua liberdade, seus filhos continuariam os escravos irlandeses do que realmente escravos de seu mestre. Assim, as mães ir- eram: escravos. Eles apresentarão termos landesas, mesmo com essa nova emanci- como “Servidores contratados” para des- pação encontrada, raramente abandonam crever o que ocorreu aos irlandeses. No seus filhos e permanecem em servidão. entanto, na maioria dos casos dos séculos Com o tempo, os ingleses pensaram em XVII e XVIII, os escravos irlandeses nada uma maneira melhor de usar essas mu- mais eram do que gado humano. lheres para aumentar sua participação no Como exemplo, o comércio de escravos mercado: os colonos começaram a criar na África estava apenas começando nes- mulheres e meninas irlandesas (até os 12 se mesmo período. É bem registado que anos) com homens africanos para produ- os escravos africanos, não contaminados zir escravos com uma aparência distinta. pela mancha da odiada teologia católica e Esses novos escravos “mulatos” trouxeram mais caros para comprar, eram frequente- um preço mais alto que o gado irlandês e, mente tratados muito melhor do que seus da mesma forma, permitiram aos colonos colegas irlandeses. economizar dinheiro ao invés de comprar Os escravos africanos eram muito caros novos escravos africanos. durante o final dos anos 1600 (£ 50 Ster- Essa prática de cruzar fêmeas irlandesas ling). Os escravos irlandeses eram baratos com homens africanos continuou por vá- (não mais que 5 libras esterlinas). Se um rias décadas e foi tão difundida que, em fazendeiro chicoteava, marca ou espanca- 1681, foi aprovada uma legislação “proi- va um escravo irlandês até a morte, nunca bindo a prática de acasalar mulheres es- era um crime. A morte foi um revés mone- cravas irlandesas a homens escravos afri- tário, mas muito mais barato do que matar canos com o objetivo de produzir escravos um africano mais caro. para venda”. Em suma, foi interrompido Os mestres ingleses rapidamente come- apenas porque interferiu nos lucros de çaram a criar as irlandesas tanto para seu uma grande empresa de transporte de es- próprio prazer pessoal quanto para obter cravos. maiores lucros. Os filhos de escravos eram A Inglaterra continuou a enviar dezenas Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 15

ESCRAVATURA de milhares de escravos irlandeses por Mas, por que isso é tão raramente discu- mais de um século. Registros afirmam tido? As lembranças de centenas de mi- que, após a Rebelião Irlandesa de 1798, lhares de vítimas irlandesas não merecem milhares de escravos irlandeses foram mais que uma menção de um escritor des- vendidos para a América e a Austrália. conhecido? Houve abusos horríveis de cativos africa- Ou a história deles é a que seus mestres in- nos e irlandeses. Um navio britânico até gleses pretendiam: desaparecer completa- jogou 1.302 escravos no Oceano Atlântico, mente como se nunca tivesse acontecido. para que a tripulação tivesse comida sufi- Nenhuma das vítimas irlandesas voltou ciente para comer. a sua terra natal para descrever sua pro- Há pouca dúvida de que os irlandeses ex- vação. Estes são os escravos perdidos; perimentaram os horrores da escravidão aqueles que o tempo e os livros de história tanto (se não mais no século XVII) quanto tendenciosos esqueceram conveniente- os africanos. Também há pouca dúvida de mente. que aqueles rostos bronzeados e bronzea- Nota histórica interessante: a última pes- dos que você testemunha em suas viagens soa morta nos Julgamentos das Bruxas às Índias Ocidentais são provavelmente de Salem foi Ann Glover Ela e o marido uma combinação de ascendência africana foram enviados para Barbados como es- e irlandesa. cravos na década de 1650. O marido dela Em 1839, a Grã-Bretanha finalmente de- foi morto por se recusar a renunciar ao cidiu por si mesma encerrar sua partici- catolicismo. pação e parou de transportar escravos. Nos anos 1680, ela trabalhava como em- Embora a decisão deles não impedisse os pregada doméstica em Salem. Depois que piratas de fazer o que desejavam, a nova algumas das crianças que ela cuidava fica- lei concluiu lentamente este capítulo da ram doentes, ela foi acusada de ser uma miséria irlandesa. bruxa. Mas, se alguém, preto ou branco, acredita No julgamento eles exigiram que ela dis- que a escravidão era apenas uma expe- sesse a Oração do Senhor. Ela fez isso, mas riência africana, eles entenderam comple- em gaélico, porque não sabia inglês. Ela tamente errado. A escravidão irlandesa é foi enforcada. um assunto que vale a pena lembrar, não apagando de nossas memórias. FONTE: Canada Libre Propulsé par WordPress.com 16 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

ARTE Nikias Skapinakis – Um Pintor do seu tempo Por opção familiar ou decisão pes- formulação do soal, um vasto leque de artistas seu ideário artís- portugueses encontrou nos Cursos tico e que obtive- Livres da SNBA - Sociedade Nacional de ram necessária Belas Artes -, em Lisboa, o local certo de repercussão nas aprendizagem de disciplinas artísticas Artes Plásticas fundamentais, tais como o Desenho e a Portuguesas. Pintura, com reputados mestres. Nikias Skapinakis não foi excepção - a sua No livro “O Re- formação pictural aí teve lugar - tendo trato na Arte Por- participado activamente na vida associa- tuguesa” de José- tiva desta Casa dos Artistas. -Augusto França (Livros Horizon- Ali marcou presença, individual ou co- te, 1981), diz o autor: (…) Nikias Skapina- lectivamente, em exposições marcantes. kis, propõe um meio termo figurativo (…) Foi Prémio Malhoa em 1962, com uma uma obra que se declara “descritiva” e não bela peça sempre apreciada pelo artista “inventiva” e, assim traz considerável tes- e, em 2020, a SNBA prestou-lhe homena- temunho social, verificando-se nela (…) gem, apresentando em colaboração com o ritmo da vida a Galeria Fernando Santos, do Porto, as portuguesa”. últimas obras do Artista. E continua: “(…) O percurso artístico de Nikias é bem co- cerca de 1960 (…) nhecido, a sua contextualização está fei- realizou notáveis ta, no entanto, merecem destaque alguns retratos de inte- pontos fundamentais do mesmo. lectuais (Natália Correia) (…) cul- No seu modo discreto de ser e de estar, minando num o autor interrogou-se sempre, colocando grupo (J.J.Cocho- algumas questões, não despiciendas, na fel, Joel Serrão, A.Abelaira) que, pela expressão de melancólico aborreci- mento das figuras, já pôde ser considera- da “obra-chave” de uma sociologia senti- mental da vida mental portuguesa”. França tece ainda considerações sobre a velada ironia do retrato, de quatro críticos de Arte, datado de 1971, exposto na “Bra- sileira do Chiado” (Rui Mário Gonçalves, Francisco Bronze, Fernando Pernes, J.A. França) e de outros retratos de amigos e Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 17

ARTE amigas, em “recorte duro (…) com silhue- cos, perdem as suas ligações com a realida- tas lisas e cruelmente moduladas”. de” e, como muito bem observa, “todos os objectos, recortados sobre um fundo abs- Para França, Nikias: “Pintor crítico des- tracto, não valem senão por si próprios”. tes anos português (…) apresenta-se como o mais significativo retratista (…) talvez o Em 1985, na SNBA, pela mão de Fernan- último da sua espécie (…) na actualidade do de Azevedo, então Presidente desta possível”. Casa dos Artistas, apresenta Nikias diver- Esta fase de retratos pôde, mais tarde, ser sificada exposição, de que não resisto contextualizada como de aproximação à a apresentar algumas observações de “Arte Pop” inglesa ou americana, conside- Azevedo, pela concisão e clareza de que ração que me parece algo dubitativa, aten- se revestem: “Com o recuo, com a pers- dendo aos escritos do Pintor. pectivação conseguida, vem até nós, desde um lirismo inicial do paisagismo O notável historiador, em “Cem Exposi- citadino, presságio de melancolias fu- ções”, livro editado pela Imprensa Nacio- turas do pintor, mergulhadas em rosas nal – Casa da Moeda (Fevereiro de 1982), e azuis magníficos, para a violência úl- voltará a referir a Obra de Nikias Skapina- tima de um paisagismo sem referência kis, analisando os seus circos (Circo Rosa, (…) cor estrídula ressoando abstracta- 1965), e o notável Homenagem a Carpac- mente por concisos vales”. cio (1961), “retrato de uma cidade em que as ruas traçadas com uma simplicidade Certo é que, as suas “Paisagens do Va- rebuscada, são como rios de fogo, congela- le dos Reis” mais se prendem com a pura dos pela solidão”. reinvenção pictural, em extraordinário equilíbrio visual, raro acerto cromático e Referencia ainda uma decisiva fase pos- perfeito domínio técnico. terior “(…) em que os elementos da com- posição abandonam o esquema da pers- Os “Quartos Imaginários” constituem- pectiva clássica”, tornando-se a pintura -se, na minha opinião, como um dos mo- bi-dimensional, e em que “(…) quadros de mentos altos da Pintura Portuguesa recen- naturezas mortas, casas, paisagens ou bar- te. Em publicação, editada pela Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva (Maio de 2006) que contou com a participação de Michel Butor, Bernardo Pinto de Almeida e de Vasco Graça Moura, é densamente analisada esta proposta pictural. Os “Quartos Imaginários” referem Ka- vafy–Van Gogh–Louise Bourgeois – Fer- nando Pessoa, passando por Cezariny, Matisse,Teixeira de Pascoais, Max Ernst ou Chirico. Refiro Butor simplificadamente: “Peindre son propre atelier, quoi de plus normai pour 18 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

um peintre! Mais peindre l´atelier d´autrui, 2020, teve lugar no Salão da SNBA, a ex- quelle intrusion! Surtout quand il s´agit d´une posição “Paisagens: o Preto no Branco da reconstitution symbolique, dune transforma- Tela”, com mais de 30 obras do autor, de- tion en emblème!” senvolvidas nos últimos anos de vida. Pois é verdadeiramente disto que se trata! Óleos magníficos, de enorme capacida- Cada quadro conta com a cumplicidade de de síntese e recriação, em que a série do espectador, concedendo pistas de leitu- “Preto no Branco” antecede a série “Paisa- ra, subtilmente apontadas, mas cada qua- gens Ocultas”. dro é, em si-mesmo, um tratado de compo- sição, uma sábia montagem e, na opinião O cro- de Bernardo Pinto de Almeida, “(…) con- matismo vocam simultaneamente vários espaços e das obras diversos tempos, vários ambientes e luga- anteriores res, várias memórias e invenções, mapean- de Nikias é do um território que antes não existia (…), substituído que parece fazer parte integrante da nossa por um mo- memória (assim reconstruída)”. nocromatis- O Pintor reordena então dados múlti- mo, em que plos, fragmentos de discursos outros, espa- o preto é utilizado em camadas de diferen- ço propriamente dito, do imaginário. tes densidades e o branco mais luminoso é De 11 de Novembro a 5 de Dezembro de o branco da tela. Os desenhos executados a carvão sobre folhas de papel kraft, na sua aparente sim- plicidade, são rigorosos mas apelativos. Como criteriosamente observou Bernar- do P. Almeida, a Obra de Nikias é de uma densidade exemplar, na sua meditação sobre o tempo e a sua condição. Obra de carácter filosófico e moral, portanto. Jaime Silva Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 19

HOMENAGEM Carta Aberta aos amigos de José Serrão de Faria e a quem possa interessar! José Francisco Quelhas Serrão de Faria, anos, nunca se voltando contra as gentes Azinhaguense de gema, nasceu a 21 de da sua terra e até “perdoando” algumas Fevereiro de 1937, sendo considerado o traições, que para o caso pouco ou nada ‘pintor do cavalo Lusitano’. Mas José Ser- importam. rão de Faria não se limita a ser pintor de ca- valos, retratando também a vida do campo É este homem, que desde há quase 2 em toda a sua plenitude. anos luta pelo regresso pleno à Vida (es- tando neste momento em boa fase de re- A sua paixão pelo Cavalo Lusitano leva- cuperação, graças a Deus), após dois AVC -o a ser coudeleiro, até que em pleno pe- e que, quase o fizeram render-se. Mas ele ríodo revolucionário, lhe destroem a sua é orgulhosamente ribatejano. E como tal, coudelaria mandando abater uma eguada forte, leal, lutador e nunca vira a cara à luta. de mais de 30 cabeças, nunca mais conse- guindo recuperar desta barbárie. Após um período de internamento obri- gatório, onde apesar de todas as vicissitu- Pintor, serigrafista, aguarelista e grava- des próprias do AVC, Serrão de Faria, que dor, Serrão de Faria é talvez o pintor nacio- nunca baixou os braços, nunca desistiu, e nal com mais obra publicada, destacando- nunca se permitiu o desânimo ou a des- -se “Caballus”, “Ginete Ibérico”, o” Solar crença de voltar a pintar, regressou ao seu do Cavalo”, “Arion” etc. Solar na Azinhaga. Ali, retemperava ener- gias junto de filhos, netos e bisnetos, e tal Poderia estar aqui a fazer muitas referên- cias sobre toda a sua vasta obra que seria sempre abaixo da qualidade do trabalho que sempre se impôs. Interessa-me tam- bém fazer uma chamada de atenção a toda a sua grande capacidade de desenvolver essa coisa tão cada vez mais em desuso: a Amizade! Serrão de Faria é um ser humano de uma bondade extrema, e um Amigo leal, honesto e solidário. Quem, como eu acom- panhou todo o processo das ocupações durante o PREC, e que viu este homem ser espoliado dos seu haveres, para além do criminoso acto que acima referi, poderia pensar que Serrão de Faria seria de algu- ma forma levado a odiar quem tão mal lhe causou e aos seus filhos. Enganem-se! Ser- rão de Faria é um ser humano diferente! Carregou a sua dor, durante todos estes 20 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

como me disse na cama do hospital, reto- Será que não estaria na altura de come- mou a sua eterna e valiosa paixão: pintar! çar a pensar-se em homenagear (em vida) condignamente este vulto da Cultura Ri- Serrão de Faria, todos nós o sabemos, é batejana? Será que é completamente des- um eterno amante da Vida e da Amizade. cabido pensar-se em edificar um Museu É esse Amor à Vida que Serrão de Faria com o seu nome num concelho que tem prática, que me faz dizer que ele continua como sua festa maior, a Feira do Cavalo, e sendo um homem feliz. Falta lhe apenas, e que ninguém melhor do que ele ajudou a isso é única e exclusiva culpa deste maldito levar artisticamente o nome e a beleza do vírus que nos tolhe os movimentos, privar Cavalo Lusitano por esse mundo fora atra- mais de perto e mais assiduamente com os vés dos seus quadros? seus queridos amigos, nas belas almoça- radas que ele tanto gosta. Almoços onde, Fica aqui, para memória futura, esta mi- mais que alimentar o corpo, ele adora ali- nha simples proposta, que deixo à consi- mentar o espírito, alimentando outra de deração de quem pode e deve fazer algo suas grandes paixões: a Amizade. Quando há pouco tempo, lhe propunham o reco- para que se torne uma lhimento quase total, aconselhando-o a realidade. não participar num almoço anual (apesar de todos os cuidados profiláticos naturais Para o Mestre Serrão e neste período de pandemia), ele respon- sua família o desejo sin- deu com aquele seu característico sorriso: cero de contínua recupe- A vida é um risco! E lá foi ao seu almoço ração, para que nos possa anual. Feliz! Extraordinariamente feliz! continuar a brindar, com a beleza das suas muitas Como azinhaguense, tal como ele, sinto- obras que ainda nos fará -me na obrigação de questionar se existem admirar. assim tantos artistas desta estirpe no nosso concelho, para que quase passe desperce- bida a importância cultural deste homem para as gentes da borda d á́ gua e não só. Carlos M. Cunha Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 21

SAÚDE Métodos para despistar a presença do Coronavirus-19 Para rastrear o Coronavirus-19 exis- prévio contacto tem três tipos de testes que se ba- com o Coronavi- seiam em diferentes métodos e rus-19. Atualmen- que são aplicados em situações específi- te esses Testes não cas definidas nos Regulamentos da Dire- são aplicados em ção Geral de Saúde. quantidade devi- do a problemas O Teste PCR de fiabilidade. No entanto existem Este Teste permite saber se uma pessoa versões de aplicação rápida recorrendo a está contaminada pelo SARS-CoV-2 no uma gota de sangue, tipo testes de gravi- momento em que decorre o teste. Resul- dez. No entanto os resultados são indica- ta normalmente da colheita com um es- tivos e deverão ser confirmados por um covilhão na zona nasofaringe. Teste PCR. A colheita retém o genoma do Coro- navírus sendo este depois sujeito a um O Teste antigénico método denominado RT-PCR (Reverse Transcriptase-Polimerase Chain Reac- Este Teste permite detetar se a pessoa tion) que permite recorrendo a enzimas está contaminada pelo vírus no momen- específicos obter sequencias de ADN to do Teste. Ao contrário do Teste PCR, detetáveis em laboratório. Os resultados este efetua-se através de uma recolha no podem estar disponíveis nas 24 horas. fundo do nariz para identificar os anti- Resumindo este Teste determina se um génios, ou seja, as proteínas presentes na individuo está ou não infetado naquele superfície do vírus. De seguida e aqui es- momento. tá a vantagem deste Teste, não necessita de ir ao laboratório para obter resultado, O Teste serológico pois recorrendo a um sistema equivalen- te ao da determinação da gravidez usa Permite verificar se uma pessoa foi con- uma tira que se colora em presença de taminada pelo vírus. Consiste em pes- antigénios. O processo é muito rápido quisar os anticorpos no soro sanguíneo pois demora 15 a 30 minutos. No entanto produzidos em caso de ter havido um 22 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

a fiabilidade é reduzida pelo que o seu dos laboratórios. O sintomático ou em uso se aplica mais no caso de conjuntos caso de contactos deverá haver sempre de pessoas, libertando assim o trabalho um Teste PCR. Vacina versus medicamento Atualmente vive-se com intensida- defesa de saúde pública em termos pre- de premente a vacinação, espe- ventivos. Será conveniente salvaguardar cialmente, em relação à situação este último desígnio, o da prevenção. pandémica provocada pelo coronaví- rus-19 (SARS-CoV-2). Função das vacinas e dos medica- Toda a comunidade científica apadrinha- mentos. da pelos dirigentes políticos se debruça com um olhar salvador para as vacinas. São duas formas de conter um problema Existindo a nível mundial várias vacinas de saúde, mas que o abordam de forma verificamos que cada país ou “bloco” de- diferente. signa aquela que mais se adapta ao seu -Uma vacina tem como função impedir cariz político. que um agente infecioso possa provocar Vacinas aprovadas e já disponíveis para uma doença. A vacina é administrada pa- serem administradas, embora obtidas ra evitar o aparecimento de sintomas que com tecnologias diferentes: podem desencadear uma situação gravo- Ocidente- Pfizer-BioNTeck, Moderna, sa como seja uma infeção generalizada. A Oxford-AstraZeneca. sua administração tem como finalidade Oriente- Sinova, Sputnic-V. evitar o aparecimento de sintomas graves. Existem, no entanto, várias em estudo, -Um medicamento tem como função tra- em Fase II e em Fase III (136) tar uma pessoa, tenha ela, uma doença O que tem mais preocupado os países e evidenciada ou sinais de estar a ser ataca- em consequência, os científicos desses da por algum agente infecioso. Serve para mesmos países é de tentar fabricar com tratar uma pessoa que já apresenta sinais rapidez, uma vacina contra a dissemina- de doença. ção do Covid-19. Trata-se de um designo Atualmente existem medicamentos em normal dentro de um enquadramento de fase avançada (Molnupiravir- Fase II, que pretende controlar a infeção viral do Co- Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 23

SAÚDE vid-19 em 24 horas, e Remdesivir- FaseII- no hóspede o fabrico de anticorpos (ele- -III) mentos naturais de defesa do nosso pró- prio sistema imunitário individual em Tratamento de uma doença. relação a agentes exteriores com caráter invasivo). Consiste em despertar e de- Existem vários tipos de medicamentos. senvolver sistemas de defesa naturais em Cada um tem uma maneira própria de relação aos invasores, (os designados an- atuação. No caso de dores temos os an- tigénios). Desta forma, após a vacinação, tiálgicos com diferentes graus de ação o corpo terá as condições naturais de se no combate à dor. No caso dos anti-infe- proteger contra esse agente infecioso as- ciosos predominam os antibióticos e os sim como de se defender dos outros pos- antivirais, que têm por função combater síveis transmissores (essa situação tende esses agentes patogénicos; antibióticos a demorar algum tempo, não tem efeito no caso das bactérias e antivirais no caso imediato). Ao vacinar uma grande parte de infeção por vírus. Temos igualmente da população vamos impedir a circulação medicamentos para variadíssimas causas dos vírus ou das bactérias que nos podem de agressão ao bem-estar da pessoa como afetar, portanto de incidir sobre novas os anti-inflamatórios, (várias situações de pessoas, disseminando a doença, criando inchaço, perturbações funcionais a nível um maior número de infetados de forma corporal), os medicamentos para os pro- generalizada. Esta forma de proceder é blemas cardiovasculares, respiratórios, denominada, imunidade de grupo. gástricos e digestivos, hormonais, etc. Em conclusão, apostar na vacina é pre- caver-se para o futuro, recorrer ao me- Como se defender das doenças. dicamento é atuar na hora sobre o mal instalado. Se ambos forem aplicados em Uma vacina permite ao sistema imunitá- simultâneo, os resultados têm um impac- rio individual de se defender contra um to efetivo no controlo da doença a curto, agente infecioso. É introduzido no corpo médio e longo prazo com evidentes van- do indivíduo uma mínima porção des- tagens para os pacientes. se agente infecioso (vírus, bactéria…) ou ainda o agente infecioso completo, mas Eduardo Barata diminuído da sua capacidade infeciosa (resultado de trabalho intenso em labo- ratório), para poder depois desenvolver 24 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

SUPLEMENTO CDPA CD PAÇO DE ARCOS – 100 ANOS DE HISTÓRIA Inicio do século XX, freguesia de Nossa Senhora da Purificação de Oeiras, Mor- gadio de Paço de Arcos, mesmo à en- trada do rio Tejo, numa aprazível enseada com praia da moda, onde se foi fixando muita gente fidalga. Desde cedo, estas gentes foram de- monstrando interesse pela prática despor- tiva, sendo regular as idas ao domingo a Carcavelos para assistir a jogos de Futebol entre equipas Portuguesas e Inglesas. Pouco demorou para que em 1911 fos- sem criadas duas equipas, a dos “Idosos”, juntando os atletas mais velhos e a dos “Infantis”, agregando os mais novos. Acabada a 1ª Grande Guerra (1914- 1918), as desigualdades entre as popula- ções eram poucas e o conceito de nação prestigiante, todos maximizavam a sua entidade através do apreço por escolher uma causa comum, única e honrosa, a na- cionalidade. cem os dois primeiros grupos de futebol em Paço de Arcos, “Os Leões” e “Os Car- Foi este conceito fortemente enraizado, taxos”, preconizando para os anos futu- bem como a perceção deixada pela Guer- ros a proliferação de clubes desportivos ra em que a união de povos saiu vencedo- neste pequeno, mas muito aprazível lu- ra porque se juntou e trabalhou em con- gar. junto, que iniciou a proliferação de grupos internacionais, desde logo com a funda- O Futebol Cube de Paço de Arcos ção da “Sociedade das Nações”, e que le- (Fundação: 01-03-2921) vou à procura por algo semelhante a uma escala menor, fortalecendo a necessidade “Os Cartaxos” sentindo necessidades de pertencer a algo maior. O conceito mais de se consolidar numa estrutura mais exequível disponível para a modernidade oficial, em 1 de março de 1921 decidem era ligar as pessoas com uma forte noção a criação de um clube de futebol, inscre- de pertença a um grupo mais restrito. Nas- vendo-se na “Futebol Association”. Teve a cem os Clubes nas pequenas localidades. sua primeira sede no 1º andar do nº1 da É neste contexto que em 1919 apare- Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 25

SUPLEMENTO CDPA Rua dos Fornos que mais tarde passou Paço de Arcos com as modalidades de para a Travessa do Ermida, nº6, no 1º Ténis e a Vela para além do Futebol, mo- andar. Jogavam futebol num terreno dalidade esta em que a rivalidade com mais ou menos plano nas Fontainhas o FCPA foi grande, dividindo verdadei- junto ao rio, mas em 1922, Dionísio ramente a escassa população do lugar. Matias cedeu um terreno (onde hoje se situa a Praceta Dionísio Matias) para Em 21/09/1925 o SLPA organiza uma construção de um campo com medidas grande regata de vela, com o apoio do oficiais, construção essa que demorou “Grupo Náutico Português”, onde se mais de 4 anos. apresentaram diversas classes: Canoas monotipo, canoas “Center-boards”, ca- Apesar dessas condições, o Clube noas médias, canoas pequenas ama- foi crescendo e em 1924 era já “rei e doras; canoas pequenas profissionais; senhor” em toda a Costa do Sol domi- botes de espicha, cacilheiros de 1ª cate- nando largamente o torneio “Linha de goria; e cacilheiros de 2ª categoria. Cascais”. Foram figuras de destaque do SLPA: Quando em 1925 se formou a “Liga Tito Moreira Rato, presidente do clube e Oeiras-Cascais” tinha já 3 escalões na José Machado Passos, atleta do futebol modalidade de Futebol. (1ª, 2ª e 3ª ca- que chegou a ser convocado pela sele- tegorias), tendo o FCPA conquistado fa- ção Oeiras-Cascais para jogo a disputar cilmente a taça dessa liga, que tinha por com a seleção de Almada. Mais tarde vi- condição, ser ganha 3 anos consecutivos ria ainda a destacar-se na formação que ou 4 alterados, para que o clube a arre- ganhou a 1ª Taça de Ouro entregue a cadasse. um clube de Futebol, e ainda como na- dador tanto em provas de 100 metros Foi figura de destaque no FCPA: “Teixei- rinha” (José Teixeira) fundador, atleta e dirigente co Clube. Sport Lisboa e Paço de Arcos (Fundação: 12-09-1922) Nessa época, o Sport Lisboa e Benfica iniciava uma politica de criação de clube satélites e verificando o sucesso dos atle- tas da região, instiga a criação de uma su- cursal em Paço de Arcos. Fundado pela família Moreira Rato, a 12-09-1922 o Sport Lisboa e Paço de Ar- cos, teve curta duração, não chegando a ter sede fixa, pois as reuniões da direção aconteciam em casa da família Moreira Rato. Foi o primeiro clube eclético em 26 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

SUPLEMENTO CDPA como nas da milha ou na travessia do Divisão na época 1939/1940. Tejo. Em 1942 é criada uma classe de Ginás- Paço de Arcos Sport Clube tica destinada aos filhos dos sócios e que (Fundação: 29/01/1926) teve a sua apresentação no salão de fes- tas dos Bombeiros Voluntários de Paço A forte clivagem entre a população do de Arcos. lugar e a divisão das receitas possíveis pelos dois clubes, foram fatores funda- A Natação decorria para treinos de mentais para que, menos de quatro anos provas de velocidade no grande tanque volvidos se concretizasse a necessária e existente na quinta da Libânia (onde hoje já desejada fusão. está a Igreja Paroquial), e para as provas de fundo, onde conquistou diversos tro- Com o crescimento da atividade des- féus, nas águas do rio Tejo. portiva em Paço de Arcos e com o ob- jetivo de tornar mais forte o seu núcleo O Basquetebol impulsionado por Bento representativo com possibilidade de uma Costa praticava-se num campo contruído maior expansão, foram iniciadas conver- junto ao angulo Norte/Este do campo de sações entre José Pereira Matias do FCPA futebol, tendo sido o PASC um dos clubes e Manuel da Silva Moreira Rato pelo fundadores da Associação de Basquete- SLPA, que se viriam a materializar numa bol da Costa do Estoril. Assembleia Geral conjunta a 29 de janei- ro de 1926 no Casino de Paço de Arcos Foram figuras relevantes do PASC: Eng. (atual sede do CDPA) onde os dois clu- Joaquim da Silva Moreira Rato, 1º presi- bes ratificaram a fusão no Paço de Arcos dente da direção; José Ribeiro Duarte fi- Sports Clube. Teve a sua primeira sede gura carismática com uma vida dedicada na Av. Patrão Joaquim Lopes (ao lado da ao clube, atleta e que em 1965 fundou a Pastelaria Oceânia), mas quando concluí- secção de Filatelia que liderou até à sua da a demorada construção do campo de extinção; João dos Santos; António Rebe- futebol da praceta, mudou-se para lá, pri- lo (O Alcântara); Silvino Pereira; Vital Pe- meiro para um barracão, depois para um reira Matias; Firmino Fernandes Pereira e edifício de alvenaria com duas cabines e Américo Dias da Silva, todos eles exímios sala da direção construídas de raiz. praticantes da modalidade de Futebol muito pretendidos por diversos clubes, O PASC desenvolveu a pratica do Fute- desde o Carcavelinhos ao Sporting Clube bol, Ténis de mesa, Ginástica, Natação e de Portugal. Muitos deles viriam ainda a Basquetebol. destacar-se noutras modalidades como a Natação ou o Basquetebol, não esque- No Futebol destaca-se a conquista da cendo o Gilberto Ribas, dirigente mode- 1ª Taça em Ouro “Operário F.C”, (primei- lar em entusiasmo e sacrifício, tendo de- ro troféu em Ouro entregue a uma equipa sempenhado todos os cargos diretivos de de futebol em Portugal) troféu conquis- seccionista a Presidente entre os anos de tado frente ao Portugal F.C. De assinalar 1935 e 1944. ainda a conquista do Campeonato da III Paço de Arcos crescia de braço dado Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 27

SUPLEMENTO CDPA com o clube, agora com pouco mais de Lisboa em 4/12/1938. 3.700 habitantes, foi elevado à condição Foram figuras de destaque do DAPA: Jo- de Vila a 7/12/1926. vito Tainha; Manuel Tainha; João Melo de Desportivo Académico de Paço de Oliveira e Jorge Moreira Rato Lopes Silva, Arcos (Fundação: 07-10-1937) todos fortes nadadores e vencedores de diversas provas, e Augusto Mortadas atle- O crescimento da vila trazia também ta das modalidades de Futebol, Ténis de uma forte presença de jovens estudan- Mesa, Basquetebol e Natação e um dos tes que tinham por hábito reunirem-se mais competentes diretores do clube. no “Quiosque do senhor Pereira” situado onde hoje está o Pavilhão do Jardim Mu- Paço de Arcos Hóquei Clube nicipal de Paço de Arcos. (Fundação: 02/03/1939) Foi precisamente aí que em outubro de Por esses tempos estava muito na moda 1937, se fundou o Desportivo Académi- o Hóquei em Patins, uma nova modalida- co de Paço de Arcos, com uma dinâmica de, impulsionada pela presença de Portu- completamente diferente à que as gentes gal no Campeonato da Europa em 1930, estavam acostumadas. Para os estudantes levando muitos dos jovens a patinar e a o desporto não podia ser visto sem estar “brincar ao hóquei” na antiga placa de ci- integrado no objetivo sócio cultural, onde mento que cobria a regueira junto à anti- a competição não era rivalidade, onde a ga praia. vitória e a derrota eram meros acidente. Conceito este que se tornaria fortemente Este gosto pela patinagem levou a que enraizado no adn do clube. fosse constituída a “Sociedade Desportiva de Paço de Arcos”, uma sociedade priva- Apropriadamente instalaram-se no anti- da, com o objetivo de construir e explorar go “Casino de Paço de Arcos” na Av. Mar- equipamentos de lazer e que construiu quês de Pombal que dispõe de um grande um rinque na Avenida Marquês de Pom- salão no 1º andar, bem adequado aos ob- bal para exploração própria e entreteni- jetivos culturais e recreativos do clube. mento das populações, com concessão até novembro de 1955. Este espaço aco- Desenvolveu as modalidades de Futebol; lheu de imediato a migração dos jovens Natação; Atletismo; Basquetebol e Ténis de patinadores, desenvolvendo de imediato Mesa. o desejo de constituição de uma equipa oficial para a pratica do Hóquei em Patins. Foi prossecutora das atividades cultu- Terminada a concessão, a posse do rinque rais organizando agradáveis serões re- passou para a CMO. creativos e culturais. Não dispondo de equipamentos, sti- O DAPA foi grande em Natação, tendo ques ou patins próprios, Leocácio Pór- triunfando por 2 vezes consecutivas no cio, Manuel Pórcio, Manuel Gomes, João “Torneio Popular Nacional de Natação” gomes, Fernando Prazeres, José Raposo, organizado pelo jornal “O Século”. No António Lancastre Freitas, António Henri- Futebol conquistou a Taça José César Lynce, vencendo a Escola Académica de 28 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

SUPLEMENTO CDPA ques e Emídio Pinto, tinham habilidade e rigente destacado no âmbito desportivo e espirito vencedor. Como experiência mar- Leocádio Pórcio, um dos maiores divulga- caram alguns jogos de teste com o “Rá- dores da modalidade, atleta e destacado dio Clube Português”, clube rico e a quem dirigente. O rinque da Avenida tem o seu nada faltava e que poderia emprestar os nome perpetuado em placa inaugurada a equipamentos em falta. Os de PA mos- 28 de maio de 1944. traram bom desempenho levando a que a 2/03/1939 fosse criado o Paço de Arcos CLUBE DESPORTIVO DE PAÇO DE Hóquei Clube com a sua sede na Rua Cos- ARCOS (Fundação: 21-08-1944) ta Pinto, 176 - 2º. Paço de Arcos tinha agora mais de 5.500 O clube dedica-se à prática do Hóquei habitantes; o PASC possui um esplendido em Patins, inscrito na Federação Portu- campo de futebol relvado, onde treinou guesa de Patinagem em 1939, participa por diversas vezes a seleção Nacional; o pela primeira vez no XVII Campeonato de DAPA tem a melhor sede com uma ativi- Lisboa com 1ªs e 2ªs categorias. dade cultural e recreativa de grande re- levância e com uma postura muito forte O PAHC conquistou, duas Taças de Hon- associando a camaradagem académica ra de Lisboa (1941;1943); um Campeo- à competição desportiva, embora com nato de Lisboa em 1ªs Categorias (1943); modestas prestações nessa área; o PAHC dois Campeonatos de Lisboa em 2ªs ca- não tem instalações nem campos, mas é tegorias (1942; 1943); um Campeona- o que maior crescimento desportivo tem to de Lisboa em 3ªs Categorias (1943); registado e melhores resultados apresen- um Campeonato de Lisboa em Juniores ta. Comuns a todos eles, as dificuldades (1942), um Torneio de Outono (1942); financeiras. A escassa população da vila, um Torneio de Abertura (1944); um Cam- não dispõe de capacidade financeira para peonato do Sul em 1ªs Categorias (1944); sustentar três clubes, mas por outro lado um Campeonato do Sul em 2ªs Categorias reconhece o enorme potencial desportivo (1944); uma Taça de Honra do Sul (1944); e humano. e dois Campeonatos de Portugal (1942; 1944). Ganha assim força a ideia da unificação destas três forças, que se veio a materia- Foram figuras de destaque do PAHC: lizar em 21-08-1944. Inicia-se assim uma Raul Noronha Penaguião, Fundador e nova fase para o clube e para a vila de Dirigente, tendo vindo a desempenhar Paço de Arcos. funções de Presidente da Associação de Patinagem de Lisboa como representante Luís Morais do Paço de Arcos; João Monteiro Pais, di- Caro leitor, este suplemento é o primeiro de vários que iremos publicar con- tando a história de vida do clube. São destacáveis para que os possa reunir em livro. Siga-nos nos próximos números. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 29

EVENTOS Helicayenne - by paulmask.com Este ano iniciamos a revista Helica- papel da Mulher, bem yenne Magazine 01/2021. como as particularida- Na capa tivemos a Modelo Daria des dos seus dia a dia. Bar que faz parte da nossa equipa, e o tema Quero também referir a parceria e apoio da Associação Cultural de janeiro foi com o A Voz de Paço de Arcos. Um apoio do Presi- prepósito “Cancro dente José Marreiro e equipa que fez com de mama”. que a nossa revista ficasse com uma qua- Participamos no lidade muito superior ao que inicialmente Jornal A Voz de Paço tínhamos projectado. Temos mais e me- de Arcos com a fo- lhores cronistas e continuamos a motivar to de capa da “Tia as pessoas para ler e escrever. Céu”, tirada pelo Criamos outros projectos e grupos e colo- Paulo Mascare- camos pessoas com a função de desenvol- nhas, e no centro ver, dar opiniões e criar ideias. da revista um artigo da Helicayenne com o Acreditamos que todos têm potencial e calendário de 2021. que podem usufruir e aproveitar as acti- No mês de Março vidades que temos, sem dispensar muito 2021 A Helicayenne tempo ou custos. Magazine sai com o Ficam aqui alguns projectos e responsabi- tema Mulher, e as lidades, para quem quiser ver, aderir e par- Cronistas e respon- ticipar (grupos no facebook): sáveis dos grupos Alma de poeta, alma inquieta-Sara Carvalho fizeram parte da Comunidade Cancro de mama-Amélia Santos capa. e Véra Lúcia Revista dedicada à Cliks Fotograficos Vania Bernardes-Models- Mulher, em que é Photos relatado a realida- Carmen Henriques -WildCreativityShow de da Mulher na sociedades actual e seus Carla Pereira -Arte - desenho e pintura problemas. Temos também as nossas Mo- WildCriativityFood- Alimentação delos e toda a envolvente a reelembrar o Helicayenne Magazine Portugal Helicayenne Magazine España Helicayenne Magazine France Bike and Photos Oeiras Photos Paulo Mascarenhas - Facebook e pagina: He- licayenne, Site: Paulmask.com, Email: heli- [email protected] Paulo Mascarenhas 30 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

HISTÓRIA E PATRIMÓNIO A Gymkana em Paço d’Arcos, a 23 de Agosto de 1908 1. Corrida de crianças | 2. Corrida de pé-coxinho | 3. Corrida de meninas | 4. Assistência | 5. Corrida de meninos | 6. Corrida de botas | 7. Corrida de pés atados Realizou-se no dia 23 de Agosto, em Durante a festa tocou a Sociedade Paço d’Arcos, a anunciada festa Instrução Musical de Paço d’Arcos, que promovida pelo Sport Club de Paço executou apreciados trechos musicais. d’Arcos, que decorre com verdadeiro entu- siasmo. Os resultados das provas do programa foram os seguintes: Na avenida Marquês de Pombal, local onde ela se efetuou, era enorme – 1.ª corrida, Cavalitas, 40 metros de a afluência de espetadores, umas 700 percurso. – Vencedores os srs. Eduar- pessoas, na maioria banhistas, sendo do Ricou e Salazar Carreira, que gan- muitas as senhoras que, com os seus trajos haram uns estojos para relógio. próprios da estação e das praias, davam ao – 2.ª corrida, Ciclistas encravados, 70 belo local um aspeto animadíssimo. metros de percurso. – Vencedor o sr. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 31

HISTÓRIA E PATRIMÓNIO Óscar Correia, que derribou menos – 7.ª corrida, Pés atados, 30 metros. – obstáculos e ganhou uma escova de Foi ganha também pelo sr. Kessler, prata para dentes. sendo o prémio uma fosforeira de – 3.ª corrida, Cabra-cega, 40 metros prata. de percurso. – Vencedor o sr. Car- – 8.ª corrida, pedestre, de velocidade, los de Kessler, que ganhou um ter- para crianças, 40 metros. – Ganhou-a mómetro de bronze. o menino Joaquim Sequeira, a quem – 4ª corrida, pedestre, de velocidade, coube uma caixa de prata para para crianças, 30 metros de percurso. toilette. – Foi feita em quatro séries, ganhas pelas meninas Sarah Lhorente e À noite efetuou-se no Club a dis- Hortense C. Viana e pelos meninos tribuição de prémios, falando nessa Eduardo Bachá e Joaquim Sequeira, ocasião o nosso amigo Carlos Callix- sendo os prémios caixas com to, da Lucta [jornal], e tenente J. Cos- chocolate. ta, sendo muito aplaudidos. – 5.ª corrida, Botas, 50 metros. – Ven- ceu o sr. Américo Costa, a quem (In Tiro e Sport, Revista de Educação coube uma carteira de couro da Rús- Physica e Actualidades, n.º 394, 10 Set. sia. 1908) – 6.ª corrida, Pé-coxinho, 40 metros. – Foi ganha pelo sr. Carlos de Kessler, Alexandra de Carvalho Antunes que teve como prémio um estojo de (Pesquisa, transcrição barba. e atualização da grafia) 32 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

A VELHICE E A SUA DIGNIDADE Pandemia a Quanto Obrigas! * Eos Estamos numa pande- o tempo a corrigir erros de erros. Vamos mia. Na minha cabeça, nas ter de viver com o vírus, pelo menos, até minhas meditações nunca termos uma cura e uma vacina. Vamos imaginara que tal pudesse aconte- ter de nos adaptar e mudar os nossos cer. Se me contassem diria que era hábitos. Nem pensar tão cedo nos beiji- um filme de ficção. Mas como es- nhos, nos abraços fortes e nos sussurros tou a vivê-la, aliás, como todos nós, ao ouvido. Lá se foram as jantaradas, as consigo sentir na “própria pele” a festas, os santos populares, as discotecas. angústia e o seu sofrimento. Apete- Podemos dizer adeus às férias fora de ce-me parafrasear o Carlos do Car- Portugal. Vamos entrar numa crise, ain- mo, a quem aproveito para lhe fa- da maior. O desemprego vai aumentar. zer uma sentida homenagem, com Vamos ter dificuldades a todos níveis, a 2ª estrofe do seu fado “Por morrer uma como, por exemplo, no ensino, que vai Andorinha”; “Como vês não estou mu- mudar - vai ser menos presencial e mais dado/E nem sequer descontente/Con- à distância. servo o mesmo presente/E guardo o mes- mo passado”. Estamos fechados em casa. Vamos perder o afeto e os pequenos Não podemos sair, não podemos con- gestos de carinho que nos davam sem viver e mesmo que o sol raie no céu, os pedir, alimentando e aumentando o nos- parques, jardins e paredões, continuam so ego. Porque não podemos, nem deve- vazios, por interdição dos mesmos. mos. Agora temos o chamado distancia- mento social, máscaras que não poderão Durante este tempo, tenho apercebido ser quaisquer, porque com o vírus ao cir- que só existem duas formas de encarar cular livremente está sujeito a mutações, este acontecimento. Ou somos positivos logo as máscaras terão ser mais resisten- e acreditamos que vai ficar tudo bem; ou tes, bem como o inseparável desinfetan- somos negativos e cremos que tudo isto te. Perdemos as praias, os cafés e o toque. vai trazer imensas repercussões para o Não pelo preciosismo, mas por uma ne- futuro. Gostamos de rotular. Todos opi- namos de uma maneira e do seu contrá- rio. Temos necessidade de o fazer. Preci- samos de categorizar e pertencer a algo. Podemos quase afirmar que é inerente ao ser humano. Por isso, no meu caso pessoal, creio que tenho um pouco dos dois e nada de nenhum. Pelo lado negativo, isto é uma doença e não nos vai largar tão rapidamente como desejamos e nos fazem crer, se bem ago- ra com menos otimismo. Temos passado Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 33

A VELHICE E A SUA DIGNIDADE cessidade de sobrevivência. que alguns cantem os “parabéns” um Visto pelo lado positivo e otimista, pouco atrasados. Aprendemos a amar à distância. A preferir as palavras, a saber poupamos o planeta. Diminuímos de usá-las, porque não podemos abraçar, facto, e está comprovado, a poluição nem dar o toque. Lemos livros e perde- para números históricos. A tecnologia mo-nos prazerosamente nas suas pá- melhorou. Investimos em tecnologia à ginas, que antes eram (para bastantes) distância, e aumentamos os nossos co- um aborrecimento. Dedicamo-nos aos nhecimentos e criatividade tecnológi- passatempos, evoluímos e somos um ca. Criamos ventiladores, com a chan- pouco melhor. Fortalecemos as nossas cela portuguesa, porque a necessidade relações. Mas, acima de tudo, aprende- aguça o engenho. Aprendemos a falar mos o verdadeiro valor da palavra sau- através de um monitor. A dar e receber dade. Uma palavra única, tipicamente aulas através de um computador, mes- portuguesa. O que a pandemia trouxe mo que seja difícil. Mesmo que doa. As foi a saudade, por sinal a palavra portu- pessoas tornaram-se mais solidárias, guesa mais votada do ano 2020. mais conscientes, bem sabemos que por vezes com o espírito de “deixa-me Agora sentimos saudades, com uma apagar o fogo da casa do vizinho, an- réstia de esperança. Percebo e com- tes que chegue à minha.” Temos caixas preendo que não exista melhor maneira solidárias com alimentos para quem de descrever o que sentimos e vivemos. precisar. Temos empresas a produzir o Somos muito pequenos e estamos mui- que é preciso para ajudar no rastreio. to confusos e perplexos em relação a Criámos hábitos de higiene. Não dis- tudo isto. Somos indefesos. Mas, penso pensamos lavar as mãos, nem usar o que, somos fortes o suficiente para sair desinfetante. Aprendemos a viver em desta situação. Por muito que as sau- casa, sozinhos. Percebemos que algu- dades apertem, são elas que nos dão a mas coisas que não dávamos atenção, esperança e a força para continuar esta nem valoração, eram uma parte funda- batalha. E são elas, tipicamente portu- mental na nossa vida. Valorizámos os guesas, que fazem este tempo passar colegas de trabalho, os colegas de esco- um pouco mais depressa. Por isso, sen- la ou até mesmo o senhor do café, que timos saudade, quando a pandemia ti- tinha sempre uma história nova para nha contornos mais aceitáveis. Vejamos contar, além da atualização da coscuvi- ao ponto a que chegados. Supostamen- lhice que por vezes nos passa ao lado, te não sabemos quando vai tudo ficar mas que gostamos de saber. Ganhamos normal. Assim nem tanto ao mar, nem resistência. Aprendemos que, se calhar, tanto à terra. Acreditemos que tudo isto devemos aproveitar os mais pequenos se vai aliviar. É só saudade e esperança detalhes, os mais pequenos gestos. em tempos de pandemia… Criámos grupos online, claro. Festeja- mos aniversários, cada um em sua casa, *Luís Álvares mas juntos, graças ao zoom. Mesmo 34 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

PSICOLOGIA Solidão em tempo de Pandemia Estamos a vivenciar um momento Aceite a si- inédito, penoso e bastante comple- tuação, seja xo. capaz de en- Embora tenhamos uma necessidade nata frentar as ad- de nos relacionarmos com os outros, é ne- versidades que cessário tomar consciência da situação em fazem parte da que nos encontramos para enfrentarmos vida e apren- todas as contrariedades da melhor manei- da a ver o lado ra possível. positivo. Tudo é transitório. É necessário desenvolver uma menta- A serenidade e a paciência são essenciais lidade mais otimista, para que possamos nesta altura. evitar uma série de prejuízos, que podem pôr em causa a nossa saúde mental. Organize e aproveite o seu tempo. Fo- que-se nas suas tarefas e não no que se en- Esta é uma boa altura para fazer algo que contra fora do seu alcance, construa uma desperte o seu interesse. checklist e esforce-se para a concretizar. Dê um novo sentido à sua vida por forma Defina claramente qual o tipo de infor- a combater o vazio existencial. mação que deseja obter e evite a inércia, o medo permanente, a intolerância e o pes- Aprenda algo novo ou realize atividades simismo. que ajudem a evitar o sentimento de tris- teza. Por fim não se esqueça de celebrar todos os pequenos progressos que vai alcançan- Invista na sua autoestima. Faça um pla- do ao longo do dia e expresse regularmente neamento na sua vida. Analise, reflita, me- sentimentos positivos para com os outros. lhore determinados aspetos que gostaria de aprimorar e aproveite o seu lado criati- Este é o momento perfeito, para fazer vo para não deixar o sentimento de solidão um balanço das pessoas que fazem parte evidenciar-se. da sua vida. Crie e mantenha uma rotina consciente Reserve mais tempo para as pessoas que atendendo todas as suas necessidades e a(o) apoiam e amam. estabeleça um horário para as refeições e atividades ao longo do dia. Atividades es- Concentra a sua mente em algo positivo sas que podem ser feitas em casa, nomea- e os seus pensamentos manifestar-se-ão damente, tarefas laborais e domésticas, ati- numa realidade mais positiva. vidade física, lazer, e socialização por meio da tecnologia. Para mais informações poderá contatar- -nos através do Facebook de Mafalda As- Esta reorganização traz uma sensação de censão ou do e-mail abaixo indicado. segurança, conforto e equilíbrio ao longo E-mail: [email protected] do dia. Texto elaborado por: Não perca o bom humor. A forma como Mafalda Ascensão decide responder às circunstâncias depen- Psicóloga de de si. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 35

PATRIMÓNIO Comunidade Paroquial de Nossa Sª. da Purificação de Oeiras «Uma ponte entre e Céu e a Terra» (Cfr Jo 1, 50-51) No passado dia 18 de Dezembro Oeiras porque trata-se do espaço onde 2020 ocorreu a reabertura ofi- os fiéis não só tem as suas memórias cial e a consagração do Altar da mas também têm a possibilidade hoje Igreja Paroquial de Nossa da Purifica- de celebrar os mistérios centrais da sua ção de Oeiras após mais de um ano de obras de conservação e restauro. Depois deste longo período onde a igreja Matriz de Oeiras foi submetida a uma profunda intervenção a nível de conservação e restauro que orçou os € 624.370,46, subsidiados a 100% pelo nosso município de Oeiras. Esta inter- venção foi realizada no âmbito da polí- tica de Pre- servação do Património cultural existente no concelho de Oeiras. Foi um dia importante a reabertu- ra da Ma- triz para a toda comu- nidade pa- roquial de 36 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

fé através dos sacramentos e abandonados (Cfr Mt 25, 31-46). da Igreja. Aproveito para vos deixar os meus sin- A celebração da missa de ceros votos de um Santo tempo de Qua- reabertura e onde foi feita resma a caminho da Páscoa do Senhor também a consagração do Jesus. Como novo altar celebrativo teve São José, “ras- a presença do Dr Isaltino gando o nosso Morais, Presidente da Ca- coração” (Joel mara Municipal de Oeiras, 2, 12), encon- e do D. Manuel Clemente, tremos todos o Patriarca de Lisboa, o nos- caminho para so bispo e pastor, que tem o «Coração do a missão de confirmar os Pai». Coragem e fiéis cristãos na Fé da Igre- bom caminho! ja. Na sua homilia, D. Ma- nuel, referiu a importância do altar para Sérgio Bruno a liturgia da Igreja porque é através dele que se dá a ponte entre o Céu e a Terra. O Altar é Cristo, o Sacerdote Verdadeiro que se oferece em cada eucaristia ao Pai pela santificação do povo de Deus e do mundo inteiro. Agora após o restauro, abertura da Igreja e consagração do altar, fica a mis- são para todos nós. Alimentados por Cristo sermos também nós templos vi- vos de Cristo no meio do mundo onde vivemos. Construtores de uma Igreja que se quer de comunhão, aberta ao serviço do anúncio de Evangelho (Cfr Jo 1, 12-13) e do cuidado na caridade pelo próximo, especialmente os mais pobres Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 37

CURIOSIDADES HISTÓRICAS Palácio dos Marqueses de Castelo Melhor Quem olha para o Palacete Foz, de Pombal, e posteriormente à família em Algés, com as suas arcadas, Palha, que a «rebaptizou» com os no- suspenso sobre a arriba, não mes de Quinta da Maruja e Quinta de suspeita que ali se situou o Convento S. João do Rio e, depois de 1976, o co- de S. José de Ribamar, ainda activo na nhecido Instituto Espanhol de Lisboa. segunda metade do séc XVIII, com a sua mata, e uma vista soberba sobre o Em 1791, o Forte da Maruja foi doado vastíssimo areal. pela rainha D. Maria II ao Monsenhor Horta. O referido areal, que posteriormente Em 1804, o Forte da Maruja foi com- recuou enormemente prado pela Marquesa de Castelo Me- para Sul, estendia-se lhor, levantando aí um palácio em 1813. da foz da ribeira de Algés à do Jamor, lo- Seria aqui no Palácio dos Marqueses cal então designado de Castelo Melhor, que até 1925, fun- por Praias, com pou- cionou o Grande Casino Lusitano, an- cas habitações, mas tecessor do Casino Estoril. Aliás, Algés onde existiam os For- estava muito bem fornecida de casinos, tes de Nossa Senhora pois além deste, possuía mais dois, um da Conceição de Pe- no Palácio Ribamar e outro no Palácio drouços, junto à foz da Conceição, onde existira o Forte de da ribeira de Algés, Nossa Senhora da Conceição. de S. José de Ribamar, encostado ao Conven- José Aguiar Lança-Coelho to acima referido, e um pouco adiante, para Poente o Forte da Maruja, onde se situa actualmente o Aquário Vasco da Gama, e sobre o Jamor, na Cruz Que- brada, o Forte de Santa Catarina. Para Leste, erguia-se a casa dos Con- des de Vimioso, Marqueses de Valen- ça, actualmente transformada em Bi- blioteca Municipal de Algés. Na direcção de Poente, entre o já re- ferido Forte da Maruja e o antigo Cha- fariz, situava-se a casa que, pertenceu a Azevedo Coutinho, secretário de Es- tado do rei D. João V, depois do Conde de Redinha, filho segundo do Marquês 38 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

CONSUMISMO Tanta coisa ... para quê?? Voltando ao que escrevi no início, fa- lando da minha experiência pessoal, Sou um acumulador. De papéis, ao arrumar o meu quarto, o meu te- de panfletos, de brindes, de lemóvel e o meu computador, percebi tudo.... Dei por mim, ou me- que o mero esvaziar da nossa visão e lhor, pelo meu quarto, completamente do pequeno espaço retira de nós um cheio. Sentia um peso enorme ao ver peso enorme. armários e prateleiras cheios. O pro- blema não era, em si, o facto de esta- Passamos a ter mais espaço, somos rem cheios, o problema era o que os mais livres. Parece estranho, mas foi o ocupava. que, pelo menos comigo, aconteceu. Há uns meses, enquanto ainda passa- va na televisão, víamos cá em casa um Para além do que já referi, repen- programa sobre Tiny Houses – casas sarmos o que realmente precisamos, extremamente pequenas. O que ao torna-nos menos consumistas e passa- início me cativava e fascinava era or- mos a trazer para a nossa vida o que ganização que dentro destas pequenas é, de facto importante, com significa- habitações existia para que quem lá tivas poupanças, quer a nível financei- morasse pudesse ter o mínimo de con- ro, como a nível mental, emocional e forto. ambiental. Ora, tanto fui pesquisando sobre este Vasco Carvalhal Santos tema das casas pequenas, que acabei por chegar a um documentário sobre o minimalismo e, através deste, a um podcast. Assim, pesquisando e aprendendo mais sobre este assunto, cheguei à conclusão de que temos na nossa vida objetos – e não só – a mais. Quer se- jam físicos ou digitais temos demasia- dos materiais que são, na maioria das vezes, inúteis. Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 39

POESIA Viajo longe no pensamento Levando comigo asas de condor Mulher…essa maravilha Faço do horizonte o meu lamento terrena! Num abraço forte feito de amor. Mulher maravilhosa, serena e pura O espaço sideral, o estrelato Universal encanto de um Ser supremo Num campo magnético que atrai Luz da virtude na sua suave candura Vertigem das noites no palato Humana divindade que choro e temo. Azul celestial que sobre mim cai. Esperança no olhar no peito a doçura Raio de sol ou relâmpago de amargura. Quarto crescente, visível lua Vertendo em nós a sombra crua Mãe de ventre doce e de suavidade Em forma de gôndola sentimental; Ufana gentileza no seu gesto breve Leito de amor viril feito de vaidade Com os olhos em ti, pla noite fora Honra renascida que à virtude se atreve. Eu canto em verso, hora a hora Errante nos beijos e na sedução O supremo encanto universal. Razão da existência, vertigem na paixão. 21 de Fevereiro de 2021 Memória de um passado, amando no presente Mário Matta e Silva União na viagem de cada geração Leda no brilhar da lua reluzente Harmoniosa em cada música ou canção. Erva tenra dos prados, maresia vinda do mar Ri alegre a franca para teu corpo beijar. 8 de Março de 2021 Mário Matta e Silva 40 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

Decadência Grinaldas À medida que os Flutuam grinaldas dentes de Cronos de flores de laranjeira vão fechando nos jardins floridos vais perdendo qualidades do Palácio dos sentidos. começa pelos olhos Por entre as pedras onde tens de usar lentes soltas dos caminhos em seguida uma maleita ficam enroladas na poeira depois outra pétalas de angústia desfolhadas. e mais outra Por entre jardins floridos constatas então que na frescura das sombras dissipadas sempre que avança renasce a ternura e o carinho a Temporalidade enlaçam-se as mãos enamoradas. recua a vitalidade Para o banquete do Palácio dos sentidos até ao limite humano a natureza renova em ciclos da tua finita todo o perfume das flores. idade Lisboa, 2007-07-17 30-8-18 Virgínia Branco José Aguiar Lança-Coelho se a alma não tem rugas escondem a vergonha que os habita quando os velhos já não podem competir refugiando-se numa qualquer devoção com o vento que lhes faculta o bálsamo e o odor nem com as árvores o fascínio da fertil- de um retórico e abstracto amor. ização mas se a alma não tem rugas, nem idade e o nascimento das flores e dos frutos porquê esse inacreditável pudor uma invisível lágrima percorre os seus que resguarda e reflui as pulsões do amor corpos para os tempos recuados da mocidade? cansados e decadentes. e, envergonhados por ainda amarem Carmo Vieira Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 41

POESIA Equação No Caos inicial… Um labirinto de silêncio musicado Um rumor de informes signos Génese das elementares letras Crepitam já as primeiras formas Nos abismos interiores do pensamento Pequenos rasgos de luz ligando elos Até que tecida na translúcida teia Orvalhada pela primeira manhã Esteja a ordem formada pelo oculto vento do espírito Agora o verbo é Já fazem sentido os bosques e os rios O olhar que brilha ao som das palavras E a matemática implícita na linguagem Revela fórmulas humanas e divinas Uma equação comunicante escrevendo em todos os livros As sombras da civilização João Pedro Pinto 42 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

O vazio trazido por um medo que não conhecíamos e que parece agora um inquilino da nossa alma. O vazio dos espaços confinados. O vazio da vida, de repente, em suspenso. O vazio das horas que quem está sozinho conta de forma diferente. O vazio das incertezas que se amontoam e das quais ainda não falámos. O vazio dos olhos dos que vemos sofrer e o vazio dos muitos que sofrem sem que nós o vejamos. O vazio dos cuidadores ao final de turnos extenuantes. O vazio dos que tiveram de continuar expostos, dia a dia, para que outros ficas- sem a salvo. O vazio de tudo aquilo que, de um momento para o outro, ficou adiado. O vazio daquela mulher idosa que passa o dia com o rosto encostado à janela. O vazio das ruas donde nos chega um silêncio que não é um silêncio, mas uma espécie de acção de despejo da vida quotidiana. O vazio dos encontros e das conversas. O vazio que os amigos pressentem. O vazio das risadas. O vazio de todos os ABRAÇOS não dados. José Tolentino Mendonça Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 43

AMOR VERDADEIRO O Amor nou pela filha do carcereiro que era Todas as histórias de amor verda- cega e, por mila- deiro deviam ter um final feliz, gre (ou por amor), mas sabemos que nem sempre ela ficou curada. é assim. Desde mortes por execução, O amor que tudo estrangulamento, envenenamento a de- pode não pôde, capitações já houve de tudo. A distância contudo, evitar a também muitas vezes faz com que um morte do seu de- amor termine. Ou não? Talvez nunca fensor. termine, apenas é impedido de germinar E assim todos os anos, na data da sua e crescer, mas a semente permanece viva morte, é celebrado o amor entre apaixo- num terreno fértil em sentimentos puros nados. e verdadeiros, à espera. Uma paixão é fácil de ser despoletada, Dia 14 de fevereiro celebrou-se o Dia dos mas também pode rapidamente acabar. Namorados, ou Dia de São Valentim, mas Como um fogo que se alastra muito rá- só a partir do século XX é que este cos- pido e devasta tudo a eito, deixando tume se tornou global. Reza a lenda que apenas cinzas por onde passa. Difícil é um padre, de nome Valentim, celebrava alimentar esse fogo e mantê-lo vivo sem os matrimónios à revelia do Imperador, destruir quem se envolve e encanta com que queria um poderoso exército e acha- as chamas. Manter esse fogo controlado va que se não existissem laços familiares e duradouro. A isso chama-se amor. Vai fortes os jovens guerreiros seriam mais além da paixão, da cegueira, do físico, impiedosos. Assim, impedia-os de casar dos corpos inebriados. Mas, para exem- antes das batalhas. Quando este bispo plificar este nobre sentimento nada cristão foi descoberto prenderam-no como vos contar uma história real. e torturaram-no. Durante esse tempo, Há muitos, muitos anos atrás, numa so- muitos, através das grades da cela, entre- ciedade patriarcal, onde os casamentos gavam-lhe mensagens dizendo que acre- eram arranjados, existia uma jovem pas- ditavam no amor. Ele recebia e respon- tora chamada Raquel. Enquanto dava dia, originando a troca de cartões. Diz-se que, enquanto esteve preso, se apaixo- 44 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

água às ovelhas do seu pai, junto a um terior é sem dúvida a mais importante! poço, conheceu Jacó, filho de Isaque. Concluindo, espero que todos possam Este enviou o seu filho às terras do seu viver, pelo menos uma vez na vida, uma tio para lá tomar uma esposa para si. Ao história de amor verdadeira e quer na- se apresentarem e perceberem que eram morem, vivam juntos ou sejam casados, parentes, Raquel levou-o até casa do seu desejo que tenha sido um feliz Dia dos pai, que ficou muito feliz com o encon- Namorados! tro. Assim que Jacó viu Raquel, ele sentiu- Sara Carvalho -se imediatamente atraído por ela, pois era uma mulher muito bonita e atraente. O amor… Ai, o amor No entanto, Jacó descobriu que Raquel Nasce no coração era mais do que uma mulher bonita. Ele Mas controla todo o corpo apaixonou-se por ela. O pai de Raquel E sem qualquer razão fez Jacó trabalhar sete anos para si em Não escolhe idade, sexo, cor ou religião troca da sua filha mais nova. Indepen- Não pode ser tolhido dentemente de ter sido justo ou não, o Guardado ou fingido amor de Jacó foi posto à prova. No entan- Pode matar to, aos seus olhos, pareceram-lhe apenas Pode prolongar a vida alguns dias, por causa do seu amor por Nunca pode ser esquecido ela. Terminados esses sete anos, o pai O tempo não tem poder para o apagar ofereceu-lhe a irmã mais velha, Leia, que É fogo que arde sem se ver segundo os costumes devia ser a primei- Já dizia Camões ra a casar e pede-lhe mais sete anos de Quem o consegue eliminar? trabalho a troco de Raquel. Jacó, apesar O amor… Ai, o amor de sentir-se enganado, acede a mais um Quem consegue viver sem ele? contrato de sete anos de trabalho para o Todos o desejam, todos o buscam sogro. Mas nem todos lhe dão total liberdade O que podemos aprender deste exem- Para ser o que é sem amarras plo? Que o verdadeiro amor ultrapassa Julgamentos ou criticidade a barreira do tempo e que não se baseia apenas na aparência física. A beleza in- Sara Carvalho Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 45

RECORDANDO Igrejas Caeiro N ascido a 8 de Agosto de 1917, da POESIA, queria fazer aqui uma em Castanheira do Ribatejo, pequena homenagem ao nosso ami- concelho de Vila Franca de go Francisco Igrejas Caeiro que há Xira, Francisco Igrejas Caeiro faleceu dias nos deixou. Até que a saúde lho a 19 de Fevereiro de 2012, em Lisboa, permitiu aqui esteve, sempre presen- faz em 2021 nove anos. te, apoiando-nos e incentivando-nos nesta caminhada da divulgação das Conhecido como actor de teatro, PALAVRAS. Vamos pois aplaudir-te televisão e cinema, e também como como tu mereces com a certeza que produtor e empresário de rádio, vi- gostarás. Palmas!» veu em Caxias durante muitos anos, tendo participado em muitas activi- E seguiu-se uma enorme ovação da dades onde emprestou os seus mui- parte das trinta pessoas que partici- tos e profundos conhecimentos aos pavam na tertúlia do Clube dos Poe- habitantes do nosso concelho, como tas Maria Aguiar. é o caso do Clube de Poetas Maria Aguiar, fundado pela minha mãe. Penso que esta evocação é a melhor homenagem que se pode fazer a este Desaparecida há dois anos, Maria filho de Paço de Arcos por adopção, Aguiar deixou um substancial espó- no nono aniversário do seu faleci- lio, que está em minha posse, uma mento. vez que sou o filho mais velho, espó- lio esse que continuo a tratar. E foi José Aguiar Lança-Coelho precisamente nesse local, que vim encontrar as palavras que se seguem, que se referem às palavras ditas pela minha mãe, na primeira tertúlia do Clube dos Poetas, imediatamente ocorrida ao falecimento de Igrejas Caeiro: «Antes de entrarmos pela dicção 46 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

PERSONALIDADE Tributo a António Mascarenhas* Sensibilizou-me o espírito, o gesto e o da capital. Calmo, sóbrio projeto solidário do Paulo Mascare- e conversador, António nhas, no artigo publicado na nossa Mascarenhas começou a Revista “Voz de Paço de Arcos”, com a pro- jogar futebol nos juniores dução de um calendário Helicayenne 2021, do Clube 1.º de Maio de Lourenço Marques, sobre o “Cancro da Mama”, com intuito de onde, assistido e presenciado atentamente, sensibilizar as pessoas para esta problemá- acabou classificado como o melhor marca- tica. dor e… ganhou o campeonato da categoria. Depois de transitar para as reservas, mu- Como gratidão do seu entusiasmo, gosta- dou-se para o Clube Desportivo Indo-Por- ria de lhe oferecer uma pequena memória tuguês da mesma cidade. Já como sénior, que guardo do seu Pai, António Mascare- no primeiro jogo que António Mascare- nhas, felizmente ainda entre nós, nos tem- nhas efetuou, contra o Desportivo – um dos pos em que vivi em Moçambique, onde, eu, grandes de Moçambique, dos consagrados menino e moço, e o António Mascarenhas, Lage, Jorge Nicolau, Pedro Santos, Mascare- já homem feito, pude observar o seu talento nhas e os companheiros do Indo venceram futebolístico. Recentemente, tive a oportu- por 3-1. Noutro jogo decisivo, que o Sporting nidade de usufruir com a sua companhia, de Lourenço Marques precisava de ganhar num almoço convívio, onde pude revê-lo. para conquistar o campeonato, o Indo fez Para escrever este “Tributo”, baseei em ex- questão de estragar a festa, vencendo por certos, devidamente autorizado, escritos 4-3, com um dos golos carimbado preci- pelo meu Tio Mário Viegas, que conviveu samente pelo “feiticeiro”. As vertiginosas de perto com o António Mascarenhas. deambulações pelos campos de futebol da capital possibilitam a António Mascare- Leve e franzino, mas irrequieto e habi- nhas a glória de desfeitear todos os gran- lidoso, o craque dispunha de força e de des guarda-redes da época em Moçambi- apurada técnica; era hábil na finta e no dri- que (Acúrsio, Costa Pereira, Pedro Santos, ble, ultrapassava o adversário com eficácia, Hélder, Pegado), registo que lhe granjeara transportava a bola para a linha da frente, uma certa aura. No seu tempo, começou a atemorizava as defesas com as suas eston- sangria no futebol de Moçambique com a teantes movimentações, e marcava golos, vinda para a Metrópole (Portugal) de Nal- no futebol. Ele reunia todos esses ingre- do, Coelho, Juca, Wilson. Mascarenhas foi dientes mais do que suficientes para dotar sondado para ingressar na Académica ao completamente um avançado que se preze. tempo orientada pelo saudoso Cândido de Oliveira. Mas a sua mãe (D. Guiomar) não Prendia a assistência com os seus ma- aprovou a ideia (as mães goesas não que- neios, que parecia “gingar” mas não, era riam os filhos fora do lar). mesmo seu, manietava os seus adversários, para gáudio de quem gostava de desporto- *Luís Álvares (Agradecimento especial -rei. António Mascarenhas, notável do Clu- a Mário Viegas, pela sua cortesia.) be Desportivo Indo-Português, de Louren- ço Marques, “feiticeiro da bola”, conforme o apelidaram em Maxixe, povoação a norte Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 47

SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DA CULTURA “Do Tempo da Maria Cachucha” Quantas vezes ao longo da nossa Em Torres Ve- vida ouvimos esta expressão? No dras, no ano de entanto, penso que muita gente 1900, nasceu não saberá a sua origem, o que nos ocor- Maria Purifi- re de imediato quando alguém se refere cação da Silva, a: - “é do tempo da Maria Cachucha” é tornando-se que se trata de algo muito antigo e na uma mulher verdade assim é! robusta; tinha É o nome dado a uma dança relacionada bigode, usava com o fandango, sendo mais popular na lenço na cabe- Andaluzia. É dançada a três tempos, por ça e vestia-se de mulher; Trabalhava no uma só mulher e acompanhada com cas- Matadouro Municipal da cidade, onde tanholas; começava num ritmo lento e ia era admirada por todos pela força que ti- nha e como sozinha conseguia matar um aumentando boi, morreu em 1960. Ficou conhecida com o decorrer como “Maria Cachucha” de sua alcunha. da música, sen- Para quem não sabe, existe uma rua com do mais frenéti- o seu nome nesta cidade. co no final. No carnaval está também representada Esta dança teve pelas chamadas “matrafonas” (homens alguma popula- vestidos de mulher) que tantas gargalha- ridade em Fran- das arrancam ao vê-las (os), com tanto ça, dançada na bigode e pêlos, é mesmo do tempo da Ópera de Paris, Maria Cachucha. por uma baila- Informação adicional: Também é dado o rina chamada nome de Maria Cachucha a uma barcaça Fanny Elssler. pequena. Em Portugal no Séc.XIX, foi adaptada uma cantiga popu- Maria Inês Bastos lar que a tornou conhecida e assim nas- ceu a “ Maria Cachucha”. 48 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021

CULTURA Encontros de Escultura, professor escultor Joaquim Correia On.º 29 e o n.º 30 um pai (…)» de A Voz de Paço de Arcos referem Jornalista Maria o saudoso mestre escul- Aguiar, de A Voz de Paço de tor Joaquim Correia, liga- Arcos: «Não concordo que do a Paço de Arcos, mas, tenhas mau feitio!» também à Câmara Muni- Eunice Muñoz: «Como cipal de Oeiras e a inicia- ela é minha amiga!» (ri- tivas da Galeria-Livraria sos) (…) Municipal de Oeiras, que Mestre Joaquim Cor- tive o privilégio de coor- reia: «Estou a lembrar- denar nos seus primeiros -me de uma coisa que o 12 anos, incluindo os En- Vilaret contava (…) Es- contros de Escultura. tavam, creio que no tea- Ocorreram 23 Encon- tro Avenida, a distribuir papéis e, entre os atores, tros, entre 2000.02.07 e Mestre Joaquim Correia no seu atelier. estava João Vilaret que 2000.11.28, sendo a pri- Aguarela de Serrão de Faria tinha acabado de con- meira parte dedicada, em cada sessão se- cluir o Conservatório, com muito brilho. manal, a um escultor com obra em Oeiras, Deram-lhe um papel para ele fazer, um que era acompanhado por um convidado. criadinho que entrava a certa altura e entre- No 13.º, o professor Joaquim Correia convi- gava uma carta. Ele ficou ofendidíssimo (…) dou a atriz Eunice Muñoz, de que tinha fei- E passou, muito zangado, diante da Adelina to o busto que está no auditório que lhe foi Abranches (…) Quando ele ia a passar, ela consagrado, o meu antigo «cinema Paraíso», disse: “ó meu menino, vais zangado?” E ele: no centro histórico de Oeiras. “ó senhora D. Adelina diga-me o que posso O 2.º volume da edição sobre Encon- fazer com este papel?” E ela: “olha filho, não tros de Escultura começa com o 13.º, em te preocupes, que só podes fazer disparates 2000.05.22, constando de pp. 9/11: com aquilo que tu sabes!”» Comentário da atriz: «(…) Foi com cinco Escultora Maria Morais: «Como é para si, anos que me estreei, com meus pais e a mi- professor Joaquim Coreia, esculpir Eunice nha família, no Dona Maria, na peça Ven- Muñoz, que é um ser deslumbrante, uma daval, de Virgínia Vitorino. Inscrevi-me no grande senhora e uma grande atriz? (…)» Conservatório e fiz o curso dos 14 aos 17 anos Mestre escultor Joaquim Correia: «(…) Ao (…) É engraçado que fiz a Maria, de Frei fazer o retrato desta senhora tive um grande Luís de Sousa, com a idade da personagem. gosto e, ao mesmo tempo, um grande medo. Tinha 14 anos. (…) Sou, de uma maneira ge- (…)» ral, uma pessoa de mau feitio (…) mas nun- ca com o encenador (…) ele pode e deve ser M. Barão da Cunha Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021 49

CULTURA TERTÚLIAS Tertúlias de Artes e Letras em Oeiras (previsão em 2021.01.14/15/02.08/10/18; 16.ª livro O Homem Sonha?, versão) de Manuel Barão da Agradecemos que se inscrevam oportuna- Cunha, sócio n.º 249 do mente, face aos condicionalismos atuais, CAB, edição de Câmara Municipal de Março de 2021, programação não confir- Oeiras, com prefácio mada, devido à situação atual. de presidente dr. Isal- Abril de 2021, a confirmar?: tino Morais, e posfá- 2021.04.01/(até 04.28), 5.ª feira, 15h30: expo- cio de coronel Mar- cos Andrade, diretor sição de pin- do Jornal do Exército tor Luís Lima (após a 1.ª apresenta- (residente ção, na Livraria Mu- no Alto da nicipal Verney, tam- Barra, abreu. bém condicionada, lima1950@ em 2020.12.28). gmail.com), indicada por Inscrições de coro- dra Isabel néis António Salgueiro (diretor do Colé- Mourão. gio Militar), Manuel Bernardo, Manuel 04.08/Abril5.ª Veloso, Francisco BC, eng.º Luís Barbo- feira, 15h30: apresentação da revista A sa (chefe de redação da revista Zacatraz, Voz de Paço de Arcos, com diretor dr. da AAACM) e Rui Marcelino; generais José Marreiro, munícipe de Oeiras, dr. Tomé Pinto e Sousa Pinto (presidente José Lança-Coelho (editor da revista, poe- da assembleia geral da SHIP); sócios do ta, investigador e professor de História da CAB M. Barão da Cunha (autor, n.º 249) Literatura, sobre A Voz de Paço de Arcos, professor Eduardo Barata e Isabel F. história e objetivos) e eng.º Daniel Nunes Homem (n.º 248); drs. Jorge Vieira, Pais (agrónomo, detentor de uma grande bi- de Ramos, António Carrelhas, João Cos- blioteca sobre África, sobre África em li- ta Ferreira, Manuel Machado e Sena e vro, do séc. XVII à atualidade). Silva; Pedro, Irene e Duarte Cunha; ma- Inscrições: seis elementos da revista; sete jor Acabado; engenheiros Pedro Lagido, sócios do CAB dr.as Rosário Batalha e He- Mendes de Almeida e José Sampaio (a lena Chaves Ferreira, M. Barão da Cunha confirmar) = 23 ou 24 (249), professor Eduardo e eng.ª Antonieta MAIO Barata, comandante Pais de Ramos e Isa- 2021.05.06 (até 05.26), 5.ª feira, 15h30: bel Homem; dr. Jorge Ferreira e coronel M. exposição de pintura de Armanda Fi- Bernardo; = 15 … A confirmar e esteve pre- gueiredo (residente no Alto da Barra, vista para 01.14. [email protected], a confir- 04.22, 5.ª feira, 15h30: apresentação de mar) 50 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 33 Fevereiro 2021


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