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Suplemento AVPA nº 2 - Cartuxa

Published by Paulo Mascarenhas, 2021-07-12 19:10:39

Description: Suplemento nº 2 do jornal a Voz de Paço de Arcos nº 35

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A CARTUXA - II EDIÇÃO DA ASSOCIAÇÃO CULTURAL A VOZ DE PAÇO DE ARCOS A CASA DA PESCA QUINTA DE CIMA - OEIRAS O SUPLEMENTO CULTURAL A CARTUXA É PARTE INTEGRANTE DO JORNAL A VOZ DE PAÇO DE ARCOS EDIÇÃO DEDICADA À CANDIDATURA - OEIRAS CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA 2027 Diretor: José Manuel Marreiro | Bimestral | N.º 2, JUNHO de 2021 DISTRIBUIÇÃO GRATUÍTA

A CARTUXA - II Editorial Por José Marreiro AAssociação Cultural A Justiça, tendo sido desconti- Convidamos os nossos lei- Voz de Paço de Arcos, nuado aquando da redefinição tores a participar com os seus proprietária do jornal A do modelo do estabelecimento, conhecimentos, e ideias, que Voz de Paço de Arcos, que pôs fim às atividades de possam gerar um maior inte- decidiu criar um suplemento cul- ensino profissional. O jornal era resse pelas nossas “coisas”, e tural para acompanhar a candi- feito nas suas oficinas gráficas. proporcionar aos oeirenses um datura de Oeiras à Capital Euro- reforçado espírito de pertença. peia da Cultura em 2027. Embora o título remeta para a Cartuxa, o seu âmbito esten- Serão publicados, nesta pri- Para realçar a recente entrega de-se a todo o território do Con- meira fase, 4 suplementos, do Mosteiro da Cartuxa, à CMO, celho. Pretende divulgar o patri- até ao fim do ano. Brevemente e a importância deste patrimó- mónio cultural, e acompanhar anunciaremos o nosso futuro nio para a cultura do Concelho, o efeito na sua vida cultural, do projeto. e, desde logo, poder afirmar-se dinamismo gerado com a can- como uma peça importante na didatura, desde logo com a sua Muito obrigado por nos acom- Candidatura, dada a sua ri- aprovação. panhar nesta tarefa de divulga- quíssima história e o que agora ção da nossa riqueza cultural. l nele vai ser implantado, um Centro de Arte Contemporânea, ao referido suplemento foi dado o nome de A CARTUXA. É de referir, que este título foi editado por muitas décadas pelo Reformatório, depois Insti- tuto Padre António de Oliveira, dependente do Ministério da Colaboradores deste suplemento: Alexandra de Carvalho Antunes; Assoc. Espaço e Memória; M. Barão da Cunha; Sofia Nunes; Vasco Faria Leal; Vítor Henriques e Tânia Rocha Capa: “A Casa da Pesca” - Aguarela de Serrão de Faria 2

A CARTUXA - II A CARTUXA DE LAVEIRAS A História apaixonante de um antigo mosteiro contemplativo no seu passado, presente e futuro. (Continuação da edição anterior) Por Victor M T Henriques Vista geral do primeiro mosteiro da Ordem Cartuxa em Portugal: Cartuxa de Santa Maria Scala Coeli, nos arredores da cidade de Évora. Observa- I- A ORDEM DA CARTUXA -se o edifício da igreja, ladeado por dois pequenos claustros (em Vallis EM PORTUGAL. Misericordia e só se construiu um) e no espaço atrás,tal como o projetado A Ordem da Cartuxa, nas- paraVallis Misericordiae,o grande claustro - o maior em Portugal - ladeado cida em 1084 com São Bruno pelas celas individuais dos monges eremitas. como já o vimos, só chegou a Portugal em 1587, pela mão tíssima amizade com estes sas minhas, algum mosteiro, o do então Arcebispo de Évora, religiosos. Por que possa intro- que será de grande consolação D. Teotónio de Bragança, que duzir em Portugal esta Sagrada para mim, e para este reino um tinha estudado enquanto jovem Ordem, fabricando-lhe a expen- grande benefício”. em Paris e conhecia de lá os monges Cartuxos, que escreve a 1 de janeiro de 1583 ao Papa Gregório XIII a seguinte carta: “Beatíssimo Padre: Com par- ticular estima, venerei e prezei todas as Ordens religiosas, porém, minha inclinação e afeto foi, em especial pela Santíssi- ma Ordem da Cartuxa, não só pelo conhecimento que tenho do seu contínuo exercício em todas as virtudes, senão pela experiência do cuidado da sua primitiva Regra e modo de viver angélico. Com ocasião de ter passado muitas horas em seus mosteiros, pude alcançar conhecimentos dos insígnes varões que possuí, que são muitos, e de rara piedade e santidade. Havendo eu assis- tido por algum ano na famosa cidade de Paris, contraí estrei- 3

A CARTUXA - II A capela da comunidade monástica, onde os monges Cartuxos de solo português. A acompanhar Scala Coeli, se reúnem em comunidade três vezes durante o dia. Desde D. Luís Telm, vieram os padres 1960, data da restauração da vida monástica na Cartuxa eborense, que a D. Jerónimo Ardio, e D. Francis- antiga sacristia, tinha sido convertida em capela da Comunidade. co Ardio Monroig e mais quatro Abaixo: cemitério da Cartuxa eborense. Todos os mosteiros Cartuxos monges irmãos. (De referir, que possuem no espaço do grande claustro, o cemitério da Comunidade estes três sacerdotes, todos monástica. eles, vieram a ser também Priores da futura Cartuxa de Com autorização papal, o Ca- envia o Prior da Cartuxa catalã Lisboa-Laveiras). pítulo Geral da Ordem Cartu- de Scala Dei (Tarragona), D. siana (consistório bi-anual dos Luís Telm, amigo de D. Teotó- Foram assim precisamente Priores de todos os mosteiros nio de Bragança, para fundar o sete, os monges fundadores da da Ordem) celebrado em 1587, primeiro mosteiro Cartuxo em primeira Casa em Portugal, tal como em em 1084, aquando da primeira fundação por São Bruno. Depois da escolha da loca- lização do novo mosteiro (op- tou-se pela herdade do Azinhal a cinco quilómetros de Évora, em detrimento de uma primei- ra localização pensada para Pinhel), a comunidade instala- -se no Paço de São Francisco na cidade de Évora, enquanto se dá inicio às obras de constru- ção da Cartuxa. Dado o empe- nho de D. Teotónio em receber os monges Cartuxos na sua diocese, o piedoso Arcebispo conseguiu autorização do Rei Filipe I (II de Espanha) autoriza- ção para hospedagem deles no Paço, propriedade régia, onde adaptou parte dos aposentos a celas, para viverem o mais perfeitamente possível a vida eremítica até à sua transferên- cia para a nova Cartuxa. Foi portanto a 8 de setem- bro de 1587, dia da festa da 4

A CARTUXA - II Natividade de Nossa Senhora, desejavam ver uma segunda rem de alojamento provisório, que os primeiros sete monges fundação da Ordem Cartusiana à formação de uma segunda cartuxos espanhóis iniciam a em Lisboa. Por sua vez, a pró- comunidade de monges cartu- sua vida monástica em Portu- pria Ordem também o desejava. xos em Portugal, enquanto não gal pela primeira vez, na cidade houvesse mosteiro definitivo, tal de Évora. Uma curiosidade: Em 1594, o Prior da comu- como o Paço de São Francisco nesse mesmo dia entrava para nidade cartusiana eborense, serviu de alojamento à comu- a Cartuxa o primeiro monge D. Luis Telm adoeceu e pediu nidade eborense, enquanto se cartuxo português, um pároco a exoneração do cargo, tendo construía Scala Coeli. da cidade, de nome Frei Pedro o Arcebispo de Évora, D. Teo- Bruno. Em fevereiro do ano se- tónio o enviado a médicos em Vale a pena escrevermos guinte, já eram 17 os monges Lisboa. O facto extemporâneo, aqui o que o padre D. Luis Telm da comunidade cartusiana. veio-se a tornar a oportunidade escreveu ao Prior da Casa- histórica para o efeito. 1594 foi -Mãe da Ordem da Cartuxa, a Em julho de 1588, a Ordem também o ano do falecimento Grande-Chartreuse em França da Cartuxa confirmava a nova de uma nobre viúva São-tomen- a pedir-lhe companheiros para fundação do novo mosteiro, se em Lisboa, negra, bastante a nova fundação: “Escolha V. nomeando-o de Cartuxa Santa rica, proprietária de diversas Reverência atentamente as Maria Scala Coeli (Escada do fazendas de café em São-Tomé pedras que vai enviar apara qui, Céu), em memória da Cartuxa entre muito outro património, e porque esta é uma cidade cé- Scala Dei (Escada de Deus) benemérita da Santa Casa da lebre, onde chegam gentes de na Catalunha, que oferecera Misericórdia de Lisboa. A conju- todas as terras, e onde o culto os primeiros monges à Cartuxa gação destes dois fatos distan- divino se celebra com muito portuguesa.A devoção a Nossa tes e estranhos entre si, dariam zelo; aqui todas as Ordens reli- Senhora ocupa um lugar proe- origem ao futuro segundo mos- giosas são observantes e fervo- minente na espiritualidade car- teiro português da Cartuxa em rosas, mas a nossa é conside- tusiana, sendo os mosteiros lhe Laveiras. rada pelos habitantes de Reino geralmente dedicados. como a primeira de todas, mos- Tal como em Évora, a Cartu- trando-nos a conseguinte honra A CARTUXA SANTA MARIA xa de Laveiras, a 13 quilómetros e veneração. Os portugueses VALLIS MISERICORDIAE de Lisboa, teve primórdios se- tem inclinação às coisas divi- melhantes aos da Scala Coeli. nas e piedosas, e gostam de as Os monges cartuxos, os filhos Quando D. Luis Telm se encon- manifestarem pelo qual se es- de São Bruno, eram conheci- trava sob tratamento médico em candalizam facilmente se vêem dos e estimados em Portugal Lisboa, encontrou-se com um imperfeições nos religiosos. mesmo muito antes da sua admirador e protetor da Cartu- Aliás, já encontrei até seculares vinda. Compreende-se por isso xa, o bispo emérito de Viseu D. tão espirituais que ultrapassam os ciúmes da Capital do Reino, Jorge de Ataíde, capelão-mor mesmo as vias comuns da ao saber instalados na Pro- de Filipe I (II de Espanha), que oração, e praticam as alturas víncia. Rapidamente surgiram disponibilizou a D. Luis Telm da contemplação que chamam vozes, dentro da Igreja, que umas casas suas na Pampulha de “teologia mística” e sabem (Santos-O-Novo) para servi- 5

A CARTUXA - II da divina oscuridão de que fala de religiosas que se interes- tuxos não eram “frades” mas Dionísio o Areopoagita”. sasse pela “quinta de Laveiras” sim “monges” e que também (certamente pelo seu extremo não eram “pobres”. A Justiça Adianta-se que o padre D. isolamento e proximidade do e a sua interpretação sempre Luís Telm (Prior em três Car- mar, permitindo o ataque de foi um reduto de defesa dos tuxas diferentes: Scala Dei corsários, não oferecendo a interesses instalados e dos em Terragona; Scala Coeli em segurança necessária a que poderosos. Não é de agora. Évora e Vallis Misericordiae em uma comunidade de religio- A realidade é que havia uma Laveiras) é considerado como sas ali se instalasse), surgiu a outra Ordem religiosa interes- um dos cartuxos mais santos oportunidade que D. Luis Telm sada na “quinta de Laveiras”, daquela época. O seu Vigário esperava. Escreve ao Rei, em os frades Capuchos da Pro- em Scala Coeli chegou a escre- Madrid, sobre este Legado víncia da Arrábida. E sendo o ver que qualquer outra Ordem pio, candidatando a Ordem da rei “espanhol” e a maioria dos religiosa teria promovido a sua Cartuxa à herança testamen- membros da Ordem da Car- canonização em Roma. Só a tária da “quinta de Laveiras” tuxa em Portugal, tal como D. obstinação histórica da Ordem de D. Simoa Godinho. A sua Luis Telm… é normal que sen- da Cartuxa em não encorajar carta é recebida na Corte a 4 tissem e sofressem alguma beatificações ou canonizações de dezembro de 1594. A 30 de resistência para a atribuição de de seus membros, remeteram janeiro de 1595, El-Rei escreve Legado testamentário de Dona a grande figura de D. Luis Telm à Santa Casa da Misericórdia Simoa. para o esquecimento da His- de Lisboa (que era a entidade tória. No entanto, a fundação administradora do Testamen- Após várias intrigas judi- lisboeta começava, pois, san- to de D. Simoa Godinho) para ciais, a SCM de Lisboa atribui tamente. que o convento a ser construí- a “Quinta de Laveiras” aos do na Quinta de Laveiras de padres Capuchos da Província Mas os primeiros anos iam Dona Simoa Godinho, fosse da Arrábida como consta de decorrer à procura de terreno dos Cartuxos. carta de D. Luis Telm ao Prior para edificar a nova Casa da da Cartuxa de Évora em no- Ordem em Lisboa, e a em- No entanto, a decisão não vembro de 1597: “Eis algumas presa não se estava a afigurar foi satisfeita pela SCM Lisboa, coisas que se referem à nossa fácil. É, entretanto, divulgado que analisando a carta do rei, fundação e que me parece que as vontades testamentárias lhe respondeu dizendo que devo comunicar aV.Reverência. do Legado de D. Simoa Go- não seria possível fazer-se Há quinze dias a granja durante dinho, a tal nobre e viúva rica ali convento dos Cartuxos, tanto tempo desejada e pedida São-Tomense, que num vasto pois não obedeceria em letra por nós foi entregue aos Capu- Testamento, deixa uma sua à vontade de Dona Simoa: chos pela Misericórdia, pois era “quinta de Laveiras a freiras pois se sua vontade era que esta quem devia decidir. Vossa pobres para ali construírem fosse convento de “freiras”, e Reverência me encomende seu convento, e que se não quando não, de “frades”, e a a Deus nas suas orações por pudesse ser destas, fosse de Mesa Administrativa da SCM amor de Cristo. Até aqui, D. frades”. Como não houve ne- Lisboa, entendia que os Car- Luis”. nhuma comunidade feminina 6

A CARTUXA - II Mas a cartada final dos Car- de vez o litigio que se tinha tor- Santa Maria Vallis Misericor- tuxos, neste jogo de nervos nado um braço-de-ferro politi- diae, Cartuxa de Santa Maria do ainda iria ser dada. Tendo che- co em Lisboa. O Arcebispo de Vale da Misericórdia.Um tributo gada a notícia da entrega da Lisboa ainda demorou tempo a mariano na melhor tradição da quinta de Laveiras de Dona publicar a decisão papal, só o Ordem, mas também uma agri- Simoa aos frades Capuchos fazendo a 10 de dezembro de doce lembrança, de quem fora aos ouvidos do Rei D. Filipe I, 1598. a entidade gestora das terras: a e tendo ele mesmo se empe- Santa Casa de Misericórdia de nhado na decisão a favor dos Assim, os padres Capuchos, Lisboa. Apesar desta Entidade Cartuxos, apelou a Roma, quanto muito, não chegaram a tudo ter feito para não atribuir diretamente ao Papa, interce- estar na posse do espaço da a propriedade da Quinta de dendo pelos Cartuxos, alegan- “Quinta de Laveiras” por mais Laveiras aos Cartuxos, estes a do que os frades Capuchos já do que três meses. E os Car- honraram e a perpetuaram no possuíam na cidade de Lisboa tuxos, graças ao empenho de- nome da nova Fundação. Um e seu termo, vários conven- notado, aguerrido e incansável gesto elegante sem hard-fee- tos (Sintra, Barreiro, Dafundo, do padre D. Luis Telm, torna- lings. O novo mosteiro seria a Algés, Loures, Torres Vedras) ram-se os legítimos proprietá- Cartuxa mais ocidental de toda e os Cartuxos nenhum. rios da Quinta de Laveiras. O a Ordem, quase à beira mar, padre D. Luis Telm, o verdadei- olhando o sul, uma Cartuxa Ora o Papa, Clemente VIII ro fundador da Cartuxa lisboe- praticamente na praia. na Santa Sé, recebeu a em- ta, não saboreou o fruto do seu baixada de Filipe I, e ouvindo trabalho, pois faleceu a 08 de E com a tomada posse da a exposição acerca do litigio agosto de de 1598, quando se Quinta de Laveiras, agora iria- entre os Capuchos e os Car- encontrava na qualidade de Vi- se iniciar a construção da nova tuxos acerca da herança tes- sitador na Cartuxa de Cazalla, Cartuxa. tamentária de Dona Simoa na Andaluzia. Godinho, emite um Breve, A par das semelhanças e dirigido ao Excelentíssimo e A 12 de dezembro de 1598 até contemporaneidades das Reverendíssimo D. Miguel de a Cartuxa tomava posse da duas cartuxas portuguesas, Castro, Arcebispo de Lisboa, antiga Quinta de Dona Simoa uma diferença iria marcar de- dado em São Pedro, Roma, a Godinho, três dias antes de finitivamente o resto das suas 8 de dezembro do ano de 1597 também em Évora, os cartu- histórias: a generosidade de da encarnação do Senhor, xos darem entrada na recém- um Arcebispo D. Teotónio de Dia da Imaculada Conceição, -construída Cartuxa de Scala Bragança, faltaram em Lisboa, sexto ano do seu Pontificado, Coeli. e com isso, a Cartuxa do Vale notificando de que por deci- da Misericórdia foi uma Casa são da Santa Sé, a “Quinta Em todo o caso, só em 1 de pequena, com uma Comuni- de Laveiras” mencionada no julho de 1603 a Santa Casa de dade exígua, abaixo do normal testamento de Dona Simoa Misericórdia de Lisboa redige na Ordem. A quinta também Godinho seria entregue aos o documento final da entrega era pequena. l monges Cartuxos, arrumando da Quinta à Cartuxa para ali fazer o seu mosteiro. (Continua na próxima edição) Batizou-se a nova Casa: 7

A CARTUXA - II O Palácio da Terrugem e a sua quinta – património singular em Paço d’Arcos por Alexandra de Carvalho Antunes Oconjunto formado por Quinta e Palá- 1. Introdução cio da Terrugem é a memória, quase A Quinta da Terrugem localiza-se na encosta sempre esquecida, do que terá sido virada a Sul entre Caxias e Paço de Arcos, uma parte do Reguengo de Oeiras. distando cerca de 500 metros da linha de A quinta já não é mais que um jardim e a parte costa e da Avenida Marginal. Da vasta edificada resulta de mais de quatro séculos de quinta de produção agrícola e de recreio, profundas transformações empreendidas pelos propriedade do município oeirense desde 3 seus inúmeros proprietários. de Janeiro de 1978 e, em 2004, classificada Do conjunto há a destacar a fachada nobre, como Imóvel de Valor Concelhio, resta cerca orientada a sul, exibindo singular loggia dupla. de meio hectare de um bem cuidado jardim. O piso térreo ostenta colunas quinhentistas com A Quinta e o Palácio da Terrugem de Baixo capitéis dissemelhantes, revestimento azulejar têm sido objeto de estudos de âmbito ge- enxaquetado de colocação diversa da conven- nealógico dos seus ancestrais proprietários. cional, datável do início do século XVII, e lintéis O edifício, também conhecido por Palácio ornamentados das portas de entrada principal e Flor da Murta, em alusão a D. Luiza Clara de acesso à capela. A capela, originalmente uma de Portugal (1702-1779), uma das suas pro- ermida de que haverá memória de culto desde prietárias, tem sido recorrentemente citado pelo menos o ano de 1528, está adossada à edi- em obras acerca dos amores de D. João ficação principal. Eis alguns encantos deste ele- V, atendendo à ligação estabelecida entre mento patrimonial oeirense raramente lembrado. ambos. Fig. 1 – Palácio da Terrugem, alçado principal/sul, 2. A quinta da Terrugem em set. 2009. (CMO) O topónimo Terrugem en- globa a Terrugem [de Cima] – o lugar altaneiro – e a Terrugem de Baixo (onde se situa a quinta), sendo comum desde pelo menos o séc. XIX a denominação Quinta da Terrugem (Fig. 2). Existem relatos que comprovam a utilização da quinta para fins de produ- ção agrícola e também referência às soirées que tiveram lugar no palácio. 8

A CARTUXA - II espécies tropicais no jardim); em 1934 por Sara Sofia Abecassis Seruya; e em 1970 pela firma TERIMO – Construções Urbanas e Turísticas. Fig. 2 – Quinta da Terrugem e principais topónimos da Fig. 3 – Implantação do Palácio da Terrugem enquadrado com os limites atuais da quinta (a vermelho) e a indicação sua envolvente, sobre excerto do Plano Hydrographico da dos limites da propriedade antes da urbanização concluí- da na década de 1980 (a azul). Implantação sobre Planta Barra do Porto de Lisboa, de 1857, sondado e retificado de Localização. (CMO/AMO) em 1879. (Instituto Geográfico Português). Legenda: 1 – O prolongado processo de loteamento parcial da quinta resultou na urbanização da maior parte da Quinta da Terrugem; 2 – Terrugem [de Cima]; 3 – Laveiras; área verde (Fig. 3) e incluiu a doação do edifício e parte da quinta à Câmara Municipal de Oeiras. 4 – Moinho da Cartuxa; 5 – Quinta da Cartuxa; 6 – Alto do O ano de 1971 marcou a instalação, no palácio, de diversos serviços camarários, situação que Chafariz; 7 – Fonte de Maio; 8 – Paço d’Arcos; 9 – Quinta se manteve por mais de uma década. Depois de inúmeras discussões, ideias e pareceres acerca das Covas; 10 – Quinta da Lagoinha; 11 – Quinta Real de do destino a dar ao conjunto quinta e palácio, em 1996 foi decidida a sua cedência à Sanest, Sa- Caxias; 12 – Caxias; 13 – Foz da Ribeira de Paço d’Arcos; neamento da Costa do Estoril, S.A. pelo período – já findo – de 35 anos. O contrato firmado exigia 14 – Foz da Ribeira de Barcarena. (BNP) que esta empresa promovesse intervenção de conservação e reabilitação do conjunto. Desde a sua fundação, no início do séc. XVI, e por cerca de quatro séculos, a quinta esteve, se- 3. O Palácio daTerrugem quentemente e por herança, na posse das famí- A atual edificação resultará de quase cinco sé- lias: Barém, Jacques de Magalhães e Menezes. culos de alterações e ampliações. Uma peça Terá sido Pêro Jacques de Magalhães (fidalgo da casa real, 1.º visconde de Fonte Arcada e 5.º senhor do Paul da Bordeira) a instituir, em 1681, o morgadio da Terrugem, depois herdado por D. Jorge Francisco de Meneses (neto de Pêro Jacques e 5.º neto de António Correia Barém). Durante o séc. XX são inúmeros os proprietários. Estão registadas as aquisições: em 1900 por Al- berto Júlio da Costa Lobo da Bandeira (3.º conde de Porto Covo da Bandeira); em 1920 por Afonso Henriques Botelho de Sá Teixeira (comendador das Ordens de Santiago da Espada e Militar de Avis); em 1922 por Artur António da Costa Piano (banqueiro no Brasil);em 1930 por Fritz OttoWirth (que fez algumas obras na edificação e introduziu 9

A CARTUXA - II cartográfica datada de 1810 (Fig. 4) revela a im- Fig. 5 – Alçado principal, sul, do Palácio da Terrugem, plantação de uma construção em U, seguida de 1985. (CMO/AMO) duas outras, destacadas, de planta retangular, a sul da edificação principal – acreditamos serem as construções que vieram a dar origem ao atual palácio e edificações anexas. Fig. 4 – Implantação do Palácio da Terrugem no dealbar Fig. 6– Palácio da Terrugem, detalhes de base e capitéis, 1985. (CMO/AMO) do século XIX, pormenor de William CHAPMAN, A topo- Fig. 7– Vista parcial da loggia, porta de acesso à capela graphical chart of the entrance of the river Tagus: the coast e as colunas com os capitéis 5 a 8, em nov. 2013. (ACA) from Cape Roca to Sacavem, London, Wm. Faden, 1810. O corpo principal, configurado pelo palácio, com pátio interior e capela adossada, foi (BNP) construído em franca adequação ao declive da encosta. Desenvolve-se em dois pisos e Segundo a escritura de doação ao municí- tem na sua fachada principal (Fig. 5), orien- pio, de 1978, o total de área construída per- tada a sul, o alçado nobre de todo o conjunto, fazia 2240 m2, distribuídos por, entre outros: prédio formado por rés-do-chão e primeiro andar, com 3 pátios e capela (superfície co- berta de 527m2, 3 pátios somando 389m2), casas abarracadas, adega e lagar, garagem e cocheira, residência de caseiro, arribana destinada a palheiro, casa com forno de cozer, alpendre para guarda de instrumentos de lavoura, casa em tijolo para galinheiros, cocheiras e pombal. Com a amputação da década de 1980 e as intervenções ocorridas entre 1997 e o início do novo milénio, perdeu-se por completo a feição de quinta agrícola. As construções mais débeis (abarracadas) foram demolidas, enquanto as construções de alvenaria se mantiveram e adequaram aos novos usos. 10

A CARTUXA - II com loggia dupla. A do piso 1 é embelezada a capela detém peculiar valor enquanto me- por sete arcos, sendo o central arco abati- mória das edificações originais; inicialmente do e os outros seis, que o ladeiam, arcos seria uma ermida, isolada e destacada na de volta perfeita. As oito colunas de capitéis fértil encosta da quinta de produção agrícola. quinhentistas, dissemelhantes, exibem orna- Segundo Jorge Miranda, há registo de que mentação geométrica e vegetalista (Figs. 6 Frei Bartolomeu dos Mártires (1514-1590) e 7). O piso superior é também valorizado possa ter ali realizado, em 1528, a sua pri- por seis colunas, mais esbeltas do que as do meira missa. piso térreo. O acesso nobre ao interior do corpo princi- A porta de acesso à capela (Fig. 8) é orlada pal faz-se por porta com emolduramento em por molduras escalonadas. A padieira é en- cantaria com bom grau de compacidade e cimada pelas armas do escrivão da fazenda com lintel valorizado por elementos geomé- d’El Rei D. João III Damião Dias (o leopardo tricos (Fig. 9). rampante, ao centro) – que surgem ladeadas por módulos vegetalistas, um dos quais re- gista o ano de 1549 e outro a inscrição “Ave Maria”. Fig. 9– Pormenor do emolduramento da porta de entrada nobre, na loggia, fachada sul, em nov. 2013). (ACA) Fig. 8– Pormenor do emolduramento da porta de acesso O acervo azulejar do Palácio da Terrugem é à capela e pormenor com data, em nov. 2013). (ACA) diverso quanto à sua datação e motivos repre- sentados. Os elementos decorativos em azu- Em finais de 2013 a capela carecia, ainda, de lejo serão provenientes de outras edificações. alguns trabalhos de conservação e restauro. É o caso dos “azulejos enxaquetados, com Os andaimes então ali colocados não per- placas brancas separadas por tarjas esmalta- mitiram a sua análise adequada, no entanto das a verde, do início do século XVII”, consi- não foram observados quaisquer elementos derados por José Meco “os azulejos mais an- de particular interesse artístico. Cremos que tigos do Concelho de Oeiras”. Do interior há a registar um painel com o jogo das quilhas, do terceiro quartel de Setecentos, alegadamente furtado; e um outro painel, datável de finais do século XIX, de uma sala inferior da casa. São também notáveis e merecedores de cui- dada abordagem: as espécies vegetais, os dois lagos ornamentais (um a poente e outro, menor, defronte da fachada nobre do palácio) e o relógio de sol. 11

A CARTUXA - II Algumas fontes e bibliografia: Alexandra de Passeio de Lisboa a Cascais por mar e terra, Carvalho ANTUNES, “Quinta e Palácio da Lisboa, Imprensa Nacional, 1868; Fernando Terrugem, em Paço d’Arcos: contributo para LOPES, Os Barém e a Terrugem de Oeiras, o seu estudo”, A Villa Renascentista – Arqui- comunicação apresentada a 24.08.2015, tetura, Jardins e Paisagem. Visão Pluridisci- nos Diálogos em Noites de Verão da Espaço plinar dos Espaços e Vivências da Quinta de e Memória – Associação Cultural de Oeiras; Recreio de Conceção Renascentista, 2016, José MECO, “Azulejaria no Concelho de Caleidoscópio, p. 315-326; Arquivo Muni- Oeiras, Palácio Pombal e a Casa da Pesca”, cipal de Oeiras (AMO), Livro 92 das Escri- Cadernos da Biblioteca Operária Oeirense, turas Notariais da CMO, P.º 1478/1972, SP Oeiras, 1982; José MECO, Azulejaria Por- 16/85; Maria ARCHER e Branca de Gonta tuguesa, Lisboa, Bertrand Editora, 1985; COLAÇO, Memórias da Linha de Cascais, José MECO, “Património artístico de Oeiras Parceria A.M.Pereira,1943; CMO Plano de – séculos XVI a XIX”, 1.º Ciclo de Estudos Salvaguarda do Património Construído e Oeirenses. Oeiras – a Terra e os Homens, Ambiental do Concelho de Oeiras, ed. CMO, Oeiras, Ed. Celta e Câmara Municipal de Oeiras, 1999; Digressão Recreativa – Pas- Oeiras, p. 137-154; Jorge MIRANDA, “Frei satempo Alegre ou Revista do Viver das Frei Bartolomeu dos Mártires: reconheci- Praias, na epocha dos banhos do mar, no mento da santidade do Beato da Terrugem corrente anno de 1870, Lisboa, Typogra- demorou quatro séculos”, Jornal da Região, phia Portugueza, 1871; Rogério de Oliveira n.º 235, ano 5.º, 15.11.2001, p. 9; Amílcar GONÇALVES, O palácio dos Arcos meio Gil PIRES, A Quinta de Recreio em Portu- milénio, Oeiras, ed. CMO, 1989; Rogério gal: vilegiatura, lugar e arquitectura, Casal de Oliveira GONÇALVES, Terrugem. Terra e de Cambra, Caleidoscópio, 2013; Anne de gente de Paço de Arcos, Oeiras, Município STOOP, Quintas e palácios nos arredores de Oeiras, 1995; Lívio da Costa GUEDES, de Lisboa, Barcelos, Livraria Civilização, O Arco Belém – S. Julião da Barra, contor- 1989; M.P. VIDEIRA, Monografia de Paço de no da enseada de Paço de Arcos, Lisboa, Arcos, Caxias, Tip. do Reformatório Central 1986; D. José Coutinho de LENCASTE, de Lisboa, 1947. l 12

A CARTUXA - II SOBRE UM POTENCIAL EFEITO BORBOLETA, SOBRE A BIBLIOTECA OPERÁRIA OEIRENSE Por Sofia Nunes @cameraindiscrete No centro da vila de Oeiras, no número 119 da Rua Cândido dos Reis, encontra-se um edifício ligeiramente avançado, que al- berga uma biblioteca cujo propósito ultra- passa, em larga escala, a definição dessa mesma palavra.Sentei-me à conversa com a Isabel Domin- gos, a atual presidente da Biblioteca Operária Oei- rense (BOO), para desvendar um pouco da história deste emblemático local. Tudo começou, oficialmente, a 17 de julho 1933. Foi neste espaço, em pleno Estado Novo, que Um grupo de jovens, na sua maioria operários, várias pessoas se juntaram também para partici- juntou-se com o intuito de ensinar os seus colegas par nos debates e conferencias que ali decorriam. a ler. Tinham como mote “Depois do pão a instru- O objetivo era gerar conhecimento, trocar e trans- ção”. Existia, na altura, uma grande percentagem mitir ideias, respeitando sempre o próximo e a sua de analfabetismo, pelo que a sua missão consistiu ideologia. Era algo de diferente para a época.Trata- em reunir um conjunto de livros e criar as condi- va-se de um local para todos, com muita abertura ções necessárias para os ler. Com esse objectivo, e comunicação, realidade que se mantém nos dias foi criada uma comissão instaladora, composta por de hoje. Fernando Gomes Bonvalot, Cipriano Martins, Joa- quim Duarte e Carlos Nobre, que levou a cabo as A biblioteca teve assim um importante papel na tarefas necessárias à fundação da BOO. Arranca alfabetização e instrução dos trabalhadores de com 25 sócios fundadores, contando com o apoio Oeiras, papel que se foi mantendo ao logo dos de Agostinho José Fortes, então Professor catedrá- anos, cobrindo, entre outras, a necessidade de tico na Faculdade de Letras de Lisboa que, à data, ensino noturno, que praticamente ainda não exis- elaborou os respectivos estatutos. tia, apoiando alunos mais velhos, portugueses ou de outras origens. No início, a coleção de livros apenas contempla- va autores clássicos, oferecidos espontaneamente Em 1976, após a revolução de abril, um grupo de pelos membros fundadores ou por outras pessoas jovens oeirenses voluntariou-se para iniciar outras que desejavam contribuir para o seu património. atividades na biblioteca. A função de alfabetização Com o passar do tempo, o número de volumes e de biblioteca ainda existiam, mas viriam a perder foi aumentando e nos anos 50, 60 e 70 a coleção paulatinamente a sua expressão com a difusão do ganhou mais romances, o género mais requisitado, ensino noturno, com o surgimento das bibliotecas incluindo até alguns livros em Esperanto. escolares e, mais tarde, com a criação da biblio- 13

A CARTUXA - II teca municipal. A BOO foi então mudando o seu artistas convidados liam os seus poemas, a BOO percurso. Em 1981 já contava com variadíssimas realizava este evento, mais informal, onde sócios e oficinas, nomeadamente de música, construção de não sócios podiam declamar os seus poemas ou instrumentos, comunicação visual e comunicação outros que desejassem. Este espaço seguro de social. Incluía ainda atividades ligadas à animação partilha, serviu de palco a vários talentos locais, infantil, fantoches, chegando a promover uma feira criando as condições necessárias para que pudes- do livro que decorreu até 1989. sem seguir o seu caminho. Miguel Partidário come- çou a declamar na biblioteca com apenas 6 anos, Num pequeno vídeo do programa Inventário Mu- tendo neste momento dois livros publicados. Carlos sical, realizado por Francisco d’ Orey, para a RTP, Pedro, Jorge Castro e Luís Macara, são outros dos sobre as actividades da BOO, denota-se um claro nomes que por lá passaram e que hoje em dia são foco na diversidade da oferta, com o intuito de criar poetas editados. um espaço que servisse toda a população. Natu- ralmente que esse facto contribuiu para diversificar Ainda no âmbito do apoio e da divulgação, a o leque de pessoas que iam integrando a “família”. BOO também criou a possibilidade de os artistas poderem expor e vender o seu trabalho. Alguns A BOO desconstruiu a ideia de que era necessá- destes artistas cresceram graças a esta oportu- rio um curso para aprender, acabando por fugir, no nidade, tendo desenvolvido posteriormente os caso da música, do conceito de ensino tradicional. seus próprios negócios. A BOO funcionou como Tinha uma abordagem inovadora. Os alunos eram incubadora, criando as condições necessárias à integrados em grupos para poderem ter uma apli- promoção destes artistas, dando-lhes a oportu- cação prática do que iam aprendendo nas aulas, nidade de testar, no mercado real, o potencial da solução bastante motivadora. É importante frisar sua arte. Hoje em dia, possivelmente pelo desen- que ainda não existiam escolas de música nessa volvimento das plataformas digitais, as pessoas altura.Mais uma vez a BOO dava um passo no sen- já não procuram tanto esta solução mas, à data, tido de colmatar as necessidades locais, apoiando, existiam poucos locais onde se pudesse expor sem divulgando e promovendo a cultura. títulos e preconceitos. As vitrines que albergavam essas obras de arte, expõem agora o trabalho Para além das atividades descritas, foram que vai sendo realizado nas oficinas. E com este também realizadas variadíssimas exposições e mote voltamo-nos para o presente. A BOO conta, ateliers, de onde viriam a nascer alguns dos grupos atualmente, com cerca de 3500 associados, dos 8 musicais que podemos ver na atualidade. Destaco, aos 80 anos. Antes da pandemia, estavam em ati- a título de exemplo, o Cramol, um grupo de canto vidade cerca de 300. A biblioteca oferece um vasto tradicional de mulheres, que celebrou o seu qua- conjunto de atividades que passam pela azulejaria, dragésimo aniversário em setembro de 2019. O pintura e ateliers de técnica vocal e de instrumentos seu reportório provem, essencialmente, dos can- (piano, guitarra clássica, guitarra portuguesa, baixo cioneiros existentes e dos aquivos etno-musicais elétrico, bateria e violino). As aulas são individuais de Vergílio Pereira e de Michel Giacometti. Cantam e, em vez de regidas por um programa específico, a vivência das populações rurais, que passa pelas adaptam-se aos objetivos de cada um, quer seja re- canções de embalar, de trabalho no campo, religio- cordar, começar do zero, reforçar ou preparar para sas e de amor. o futuro. Deste modo, a BOO continua a pautar-se pelos valores que estiveram na sua génese, man- Há uma outra atividade que decorre há mais de tendo-se ali um espaço de descoberta e incentivo 20 anos e que merece ser destacada.A Madrugada da Poesia.Na sequência das sessões de poesia or- ganizadas pela Câmara Municipal de Oeiras, onde 14

A CARTUXA - II ao gosto pela música e outras artes. para promover a entrada de novos elementos. Existem ainda três grupo corais: o Cramol, des- Este é um espaço que me é muito caro, por ter crito anteriormente; o coro misto ComSonante e o sido aqui que dei os meus primeiros passos oficiais coro À Quinta Voz, também misto, mas com alguns na música e por onde, ainda hoje, vagueio nesta instrumentos tradicionais; três grupos instrumen- procura do eu e da minha voz. A BOO ensinou-me tais: o Cantabilé, um sexteto de música de câmara; a ver o mundo de uma forma diferente.Talvez tenha o Fado em Nós, um grupo de fado e o Grupo Har- contribuído para construir em mim esta ideia de monia, um grupo de harmónicas; e dois grupos de que nunca é tarde para aprender. Que há sempre teatro juvenil. tempo, que tudo é possível, desde que haja von- tade, naturalmente. Não sei quem era a senhora, E com todas estas atividades, será que a BOO mas sei que tinha mais de 70 anos, cruzei-me com ainda funciona como biblioteca? A resposta é “Nim”. ela num dos corredores e disse-me que estava a A sua coleção de livros, que conta com de cerca de aprender piano. Piano, aquele instrumento com 88 7000 exemplares guardados e devidamente catalo- desafios que habitualmente se atacam com tenra gados no rés-do-chão, pode ser explorada através idade. do site da Biblioteca Municipal de Oeiras. Já não é possível levar livros para casa, dada a sua pro- Espaços como este têm magia. Não se esgotam vecta idade, mas podem ser consultados. Ocasio- nas aprendizagens da sala de aula e nas trocas nalmente, são visitados por historiadores que ainda com os professores. Abrem-nos os horizontes e procuram esses tesouros.O nome mantém-se para ajudam-nos a ver o mundo e algumas das suas po- homenagear a sua história e quem a fundou. tencialidades. Criam-nos a possibilidade de explo- rar a nossa arte, em segurança e ao nosso ritmo, A pandemia veio gerar novos desafios que estão adaptando-se às nossas particularidades. a contribuir para desenhar o futuro.A BOO continua a adaptar-se aos sinais dos tempos e aos estímu- Pela sua história, percebemos que a BOO esteve los da população, funcionando neste momento em sempre alinhada com as necessidades que vão regime misto, entre o presencial e o virtual. O futuro surgindo na população e arrisco mesmo dizer está no digital e a pandemia veio fazer ecoar essa que esteve sempre um passo à frente. Agrada-me necessidade, quer a nível interno, quer ao nível da pensar que pode ter contribuído para o facto de, população. Fala-se de alfabetização digital, mas, hoje em dia, Oeiras ser um dos municípios com neste momento, o foco está na recuperação da ati- maior número de licenciados e doutorados, sendo vidade. Num futuro próximo, terão alguns projetos também um dos mais inovadores. Imagino que seja ligados ao Cramol, designadamente conferências longa a lista de escritores, artistas plásticos e músi- sobre a mulher e o canto e workshops de canto, cos que por aqui passaram e continuarão a passar. A missão e percurso da BOO alimentam a minha convicção de que todos os pequenos passos con- tribuem para um mundo melhor. Resta-me deixar o convite para visitarem e descobrirem o que de bom se faz neste espaço. Talvez algum dos seus mundos ecoe em vós.Vale a pena espreitar o edifí- cio pré-pombalino, dos finais do século XVII, princí- pios do século XVIII, onde se encontram sediados, guardando as suas paredes magníficos azulejos que resistiram ao grande terramoto. l 15

A CARTUXA - II PARQUE DOS POETAS Por M. Barão da Cunha Aúltima edição e n.º 34 de A Voz de Foram o escultor Francis- bom catálogo e a participa- Paço de Arcos e o co Simões, que agora vive ção do professor David Mou- seu suplemento A na Madeira, e o, entretan- rão-Ferreira, o que achei ex- to falecido, doutor e poeta celente. Existe uma edição monu- Cartuxa fizeram-me pensar David Mourão-Ferreira, meu mental ilustrada, em formato A4, da Câmara Municipal de no início do Parque dos professor em Românicas, Oeiras, Parque dos Poetas, poesia, escultura e paisa- Poetas, outro emblema de na Faculdade de Letras de gem, de 2007, com 352 pá- ginas. Integra vários textos, Oeiras. Lisboa. sendo o de abertura da au- toria do presidente da CMO, Este pensamento foi reforça- Quando me encarregaram dr. Isaltino de Morais que inclui, em pp. 6/8: do pelo amável convite que de preparar a inauguração «O Parque dos Poetas é uma obra única, nascida recebi ontem, da parte da da Verney, pensei no escultor dos sonhos de uns e da ca- pacidade de concretização Câmara Municipal de Oeiras Cutileiro e ainda fui falar com de tantos outros, irmanados todos pela vontade de tornar e através da Livraria-Galeria ele a Évora. Ele recebeu-me possível o que muitos outros julgavam impossível. (…) Fe- Municipal Verney, para parti- bem, mas disse que não lizmente há sempre alguém que não esquece que “o cipar no evento relativo aos contasse com ele «para dar sonho comanda a vida” (…) A história remete-nos para 25 anos de falecimento do votos ao Isaltino» … Achei 20 de Maio de 1995, quando na (inauguração da) Galeria grande escritor e professor estranho, pois ele acedera a Verney tive o grato gosto de conhecer dois homens David-Mourão. Ferreira. um convite de Cavaco Silva; que marcaram os passos A Verney foi inaugurada, em penso é que não acreditou 1995.05.20, pela arte do no projeto, o que me obrigou escultor Francisco Simões, a procurar outro artista, cuja associada à poesia de David obra também apreciava, o Mourão-Ferreira. E daí escultor Francisco Simões. nasceu o Parque dos Poetas. Fui a Sintra com algum O «sonho» do Parque dos receio, pois um socialista já Poetas foi inspirado numa rejeitara a hipótese e Simões sugestão dos primeiros ar- tinha sido vereador de um tista plástico e escritor a par- município comunista. Mas ticiparem na Livraria-Galeria foi uma agradável surpresa a Municipal Verney, em 1995, reação dele, que me pareceu que eu tive o gosto de coor- bem mais sensata. Aceitou denar até 2007, salvo erro. com condições, incluindo um 16

A CARTUXA - II seguintes: o escritor David mais relevantes, a serem aos outros e bom senso. Mourão-Ferreira e o escultor executadas pelo escultor Antes de vir trabalhar na Francisco Simões. A partir Francisco Simões. O sonho Câmara Municipal de Oeiras, de uma exposição conjunta começava a ganhar forma em 1993, graças à interven- da obra destes dois mes- (…) de uma acalorada e ines- ção do maestro José Atala- tres da cultura portuguesa, quecível discussão surgiu a ya, fui o 1.º diretor do De- construiu-se uma relação de ideia de ir mais além. Passar partamento de Cultura da amizade e uma ideia que, da alameda para o parque, Câmara Municipal de Lisboa, desde logo, despertou o dos poetas do século XX em 1989/92, tendo assistido meu entusiamo: associar a para a poesia e a língua por- a uma atitude diferente da poesia e a escultura num tri- tuguesa, em Portugal e no que aconteceu em Oeiras, buto à cultura portuguesa do Mundo (…) onde o presidente da CMO século XX. Algo que consti- Surgia assim a primeira for- acolheu a ideia inicial de «20 tuísse uma marca distintiva mulação da ideia do Parque poetas do século XX no ano do concelho de Oeiras e que dos Poetas (…) este Parque 2000», encarregando o autor representasse uma homena- é o principal cartão-de-visita da mesma, escultor Francis- gem ao legado que poetas e da excelência ambiental de co Simões, de a concretizar, artistas plásticos transmitiam Oeiras.» embora o seu sonho tivesse às novas gerações de Portu- sido maior, acrescentando gueses. Este testemunho do nosso outras fases de outros auto- Assim surgiu a ideia de uma Presidente recorda-me mais res ao Parque dos Poetas. Alameda dos Poetas: 20 re- uma diferença no âmbito de Para mais pormenores, ver presentações escultóricas «o homem sonha, a obra O Homem Sonha? edição da dos 20 poetas portugueses nasce», mas com atenção CMO, 2020.12.28. l 17

A CARTUXA - II ORIGEM E PERCURSO ATRIBULADO DA CARTUXA DE LAVEIRAS Por EMACO particular protector da Ordem da Pólvora Negra situadas Laveiras: a vontade Cartusiana nos territórios do a montante, acabava então testamentária de D. seu império. numa vasta praia precedida Simoa Godinho de um “lagoar”(lagoal). Em cA Ordem dos Filhos de Ainda que Ulyssoponensis ambas as margens, uma São Bruno, ordo cartusiensis, (de Lisboa), a segunda Cartu- extensa várzea propiciava fundada em 15.08.1084, dia xa será reconhecida, mesmo o fabrico das ricas terras da solenidade de N.S. da As- na documentação, pela proxi- de aluvião. Será aqui, como sunção, expandiu-se por toda midade da localidade que a viu noutros lugares do termo a Europa Católica a partir da frutificar (1). Várias vontades de Lisboa, que o fidalgo da Casa Mãe, situada na Char- e circunstâncias vieram a de- Casa d´El Rei Luis de Almei- treuse, perto de Grenoble, terminar a sua localização, na da, enriquecido com os ne- nos Alpes franceses. Porém, margem esquerda da Ribeira gócios de escravos e açúcar só em 1587 os sete primei- de Barcarena, próximo de La- no Golfo da Guiné, vem ad- ros monges cartuxos viriam a veiras, lugar de escassa popu- quirir uma quinta que, nos instalar-se em Portugal, sob o lação no século XVI e, princi- finais do século XVI, estava patrocínio do Arcebispo Dom palmente, a suficiente distância entregue a caseiros que a Teotónio de Bragança que a do “deserto” semi-eremítico (2) faziam produzir. Falecido e suas expensas, em vida e por tão ansiado pelos monges car- sem descendência, a sua legado, vai promover o seu tuxos, adeptos do isolamento e viúva, Dona Simoa Godinho, acolhimento e instalação no contemplação. Ao contrário, na natural de São Tomé, “mulher mosteiro de Santa Maria Scala populosa Lisboa, onde os pri- parda”, com residência em Coeli (escada do céu) que faz meiros cartuxos se instalaram Lisboa, às Portas do Mar, erigir nos arredores da cidade em casas na Pampulha, cedi- paredes meias com casas de Évora. das por Dom Jorge de Ataíde da alta nobreza, pressentin- - capelão-mor do reino e Bispo do a proximidade da morte, Pouco tempo após a funda- de Viseu, os seguidores de São manda elaborar ao seu con- ção da Cartuxa Eborensis, en- Bruno não encontravam o si- fessor franciscano da Provín- viados desta Casa são incum- lêncio que procuravam, apesar cia da Arrábida, em Fevereiro bidos de procurar na capital de aí terem mantido hospício de 1594, um extenso testa- do reino um lugar apropriado próprio, ao Salitre, até ao pro- mento, seguido de codicilo, à instalação de outro mostei- cesso de extinção das ordens e nomeia a Misericórdia de ro, por forma a cumprir-se a religiosas no século XIX. Lisboa sua principal herdeira vontade dos principais benfei- e testamenteira. Neste docu- tores dos quais destacamos, A Ribeira de Barcarena, cujo mento notarial ficou expressa pela sua influência, o novo rei topónimo fluvial vai perdurar, a sua firme vontade de que de Portugal, Filipe II de Espa- certamente devido à fama das nha, devoto de São Bruno e Ferrarias de El Rey e Fábrica 18

A CARTUXA - II na sua Quinta de Laveiras Entre conflitos: de “cabanas” mente aos pedidos expostos a “mosteiro” com que se procura o aumento se edificasse, instalasse e da religião e do divino culto, e Sabedores do conteúdo do para que esses votos surtam sustentasse um mosteiro de testamento, aberto no dia ime- efeito conforme desejo do nosso diato à morte de Dona Simoa, coração, sobretudo porque isto freiras ou frades pobres. 26 de Março de 1594, os re- nos é solicitado pela piedosa presentantes e partidários dos devoção dos Reis Católicos, “Se acaso morrer sem fazer cartuxos em breve abrem uma mandamos mudar algumas de minha quinta de Lavei- “guerra” pela posse da proprie- disposições dos testadores, ras Mosteiro de Religiosas dade, procurando substituir-se segundo vemos que convém pobres, como desejo, e confio aos capuchos, privilegiados no Senhor.” (…) como aquele pela testamenteira, argumen- lugar por ser próximo ao mar e fazer, ainda que quem me tando que estes já possuíam afastado de Lisboa e do trânsi- vários convento no termo de to humano, não se pode fazer este meu testamento me faz Lisboa. Não obstante, a Mise- mosteiro de monjas(…). Nós ricórdia de Lisboa permanece que com gosto anuímos aos poem dificuldade de estarem firme, pretextando serem os pedidos de quaisquer fiéis, es- franciscanos, ao contrário dos pecialmente dos Reis Católicos, ali mulheres, eu desejo que cartuxos, considerados pobres (…)agora absolvemos e con- e, portanto, conformes com a sideramos absolvidos o Prior se celebre ali o ofício Divino, decisão testamentária de Dona e demais pessoas, apenas Simoa. Instado a fazer valer a para este assunto, (…) que pelo que peço ao Senhor sua autoridade, o todo-podero- concedas a nossa autorização so Filipe II é confrontado com a (…)para construírem edificarem Provedor e a meus testa- oposição jurídica da Misericór- nesse lugar um mosteiro para dia e os escrúpulos dos mesá- doze o menos irmãos dessa menteiros façam na mesma rios, acabando o monarca por Ordem. O qual uma vez cons- quinta Mosteiro de Religio- solicitar um Breve Apostólico truído assignarás, com a auto- sas pobres, e quando nam do Papa Clemente VIII (1597), ridade predita, os réditos anuais capaz de alterar o sentido da com os bens preditos, conforme puderem bem serem freiras, interpretação testamentária feita a disposição da mesma Simoa. pelo provedor e Mesa da Santa Dado em Roma, em São Pedro, sejão frades, de maneira que Casa. no ano de 1597 da encarnação do Senhor. Nos idus de Dezem- nella se sirva o Nosso Senhor “Clemente, Bispo, Servo de bro do sexto ano do nosso Pon- Deus, ao seu dilecto filho o tificado.” (4) Deus, por pessoas Ecclesiás- Oficial de Lisboa, saudação e ticas e Religiosas(…) Santa apostólica benção. Procurando In “Revista Espaço e Memória Caza Misericórdia(..)minha exercer, enquanto podemos, o Nº2”, gentilmente cedido pela universal herdeira(…) cuidado pastoral do múnus que, Assoc. Espaço e Memória. l embora indignamente, nos foi depois de haveren incorpo- incumbido, anuímos gostosa- (Continua no próx. Número) rado o juro, que desejo seja na Santa Caza perpétuo, tire dele cem mil reis, (…) pera se gastarem em compor a quinta e a ordenar em Mos- teiro, e depois de efectuada o Senhor Provedor me faça mercê e esmolla de querer ser Padroeiro, e tirará do juro ou rendimento da fazenda de Sam Thomé (…)que bastará pera ali se puderem sustentar dez ou doze Religiosos, se não for possível serem mu- lheres (…)”.(3) 19

A CARTUXA - II A CARTUXA VIVE-SE! Por Tânia Rocha Quando penso na Um lugar demasiado cada dia que passava, a de- Cartuxa, penso bonito e cheio de história gradar-se à vista de todos. com o coração, que não se podia deixar, Mas nunca, infelizmente, nem sei fazê-lo de morrer e ainda bem. nada passou do papel, par- outra forma. tilhado apenas com algu- São memórias herdadas Nestes anos de abando- mas pessoas próximas, e de uma criança que foi feliz no, pensei, como artista hoje arrependo-me por isso. entre aquelas arcadas. plástica de formação, que se poderia fazer um movi- Quando me pedem para Quando penso na Cartuxa mento, um manifesto, inter- falar sobre a Cartuxa a e exatamente por ter vivido venções artísticas de forma minha cabeça começa a os anos mais importantes a chamar a atenção para o borbulhar de ideias, tenho da vida de uma criança que que se estava a passar ali, as todas no papel e no está a crescer e a apren- der, penso na Cartuxa para todos e de todos. O seu lugar não é um lugar de passagem, é um lugar onde é preciso ir com um propósito. E, portanto, há que dar esse novo propósito àquele lugar. Saber que se vai reabilitar a Cartuxa, enche-me a alma. E acredito que não seja só a mim. Mas a todos os que têm memórias de lá, como aos que não tem nenhuma, porque aquele lugar é um lugar que envolve e que se deixa admirar por quem lá passa e o conhece, já fiz prova disso. 20

A CARTUXA - II MANIFESTO – A CARTUXA VIVE!!! amor que sinto por ela. A Falo para os monges que habitam estas paredes, porque eles Cartuxa Vive-se! Era o título cuidaram daquilo que lhes pertencia. do meu manifesto. Porque é assim que a vejo. Hoje aquilo que nos pertence é ignorado, deixado ao aban- dono… Vejo as pessoas a entra- rem naquele lugar para o vi- Não reconheço os modos do meu país, perante o património, verem. Para o trabalharem. perante a cultura! E por não me rever nele, faço este manifes- Para o respirarem. Para to: A Cartuxa Vive!” o partilharem. Vejo espe- Porque acredito no amor dos Homens, nas recordações que táculos e concertos. Vejo nascem desse amor, do amor que se guarda dos lugares workshops. Vejo ensaios onde fomos felizes. de teatro. Aulas de música. Apelo a quem viveu e a quem não viveu, mas podia ter vivido Ateliês e intercâmbio de e a todos os que podem vir a viver…este espaço abandona- artistas. Um lugar vivo, um do é de quem o queira promover, recuperar, recriar a quem lugar em que as pessoas o queira viver! chamem de casa, um lugar de todos. As coisas pertencem a quem cuida delas. A palavra é invadir! É dar vida! É criar! É usar! O potencial do espaço é incrível. O que se pode fazer Num mundo em crise e individual a palavra de ordem é unir - daquele lugar também. trabalhar em uníssono! Há duas palavras que A manifestação da mudança, não está nas grandes multi- espero que venham definir a dões, mas na coragem de se mover a si próprio! Cartuxa do futuro: Partilha e Vida E a cartuxa merece. l A cartuxa a quem a queira cuidar! … ou isso, ou o abandono e o silêncio, onde mortos, os mon- ges dormem! 21

A CARTUXA - II CENTRO DE LAZER DA CARTUXA CAXIAS CULTURA - RECREIO - DESPORTO Por Vasco Farial Leal Pretende-se a criação teriores 2.4 Religião de uma organização 3.2 Natação recreativa Manter a igreja aberta ao sem fins lucrativos, 3.3 Passeios/corrida culto, com a sua recupera- mas autossuficien- 3.4 Agricultura ção e dos espaços próprios. tes em termos de gestão fi- 3.5 Convívio nanceira. 3.2 Natação Considera se o investimen- 4. Desporto - Recuperação do tanque da to camarário como um bem 4.1 Futebol/futebol de 5 “Nogueira” para piscina re- comunitário que deverá ser 4.2 Andebol, Basquete, creativa retribuído através do ser- Vólei, Padle - Pequeno vestiário e casa viço prestado, sem desen- 4.3 Ténis de banho volvimento, e atenuado na 4.4 Equitação - Bar self-service com arran- medida do possível. jo exterior para convívio Para tal considera se o recur- 5. Apoios - Criação de apoio a natação so a voluntariado e funciona- Serviços administrativos e em águas livres (praia) mento no máximo possível gerais, restauração, cafés, em regime de self-service, hospedaria 3.3 Passeios/Corrida contando com a civilidade e - Organizar percursos respeito mútuo dos utentes. 2.1 Música - Balneários gerais aos Des- Os utentes serão pagantes, Aproveitamento da igreja, portos mas a preços muito reduzi- julgo haver também um dos. espaço em que se fazia 3.4 Agricultura cinema e espetáculos, apro- - Recuperar tanque de rega 2. Cultura veitamento de algumas salas (Tanque em frente aos Santa 2.1 Música para lições: formação de con- Martha), abastecimento de 2.2 Biblioteca e Núcleo Mu- juntos, orquestras e coros. água (era de Minas e poços seológico com moinho de vento) 2.3 Promoção de exposições 2.2 e 2.3 Biblioteca/ Núcleo - Atribuir os talões existen- e conferências Museológico/Exposições/ tes, definidos pelas cercas 2.4 Religião (igreja) Conferências de bucho, a agricultores Aproveitamento da zona do amadores ou grupos, para 3. Recreio claustro e anexos que julgo pequenas hortas ou floricul- 3.1 Aproveitamento das an- ser a área mais bonita tura 22

A CARTUXA - II - Os responsáveis pelos ta- 4.3 Ténis - Percursos Exteriores lhões terão de manter as - seriam recuperados os 2 teriam de ser estudados (até sebes de bucho devidamen- anteriores espaços à praia no inverno) te cortadas - No campo junto à cascata - Formação de aulas espe- - Desporto e um orientador seria criado um espaço de ciais? (consultor e coordenador) convívio e um bar self ser- dos agricultores que regu- visse (na Cascata) 5.1 Apoios lará os horários de rega e - Serviços - a estudar espa- outros 4.4 Equitação ços livres - Organizar concursos - Como cavalariças, poderia - Hospedaria - aproveitar anuais entre hortas e flores ver-se o estado da antiga Va- antigas celas dos frades caria? (depois salas de aula), com 4.1 e 4.2 Desporto - As antigas garagens, por criação de casas de banho O local do antigo campo de baixo do corpo das células dos - Restauração - no edifício futebol poderá ser utilizado frades, também se prestariam atual cozinha refeitório do para futebol que não o de à criação de boxes e serviços reformatório? ou criar 11. poderão ser estudados - Na zona das pedreiras seria - junto ao Lago de Hércules: outros espaços conforme se possível criar picadeiros co- criar de raiz com nova ponte justifique berto e descoberto pedonal para a Praceta. l 23


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