EDUCAR PARA O PENSAR    AprendendoAprendendo        a Viver   a ViverJuntos            Investigação sobre    Juntosética, política e estética.                        Silvio Wonsovicz    88ºº18ª Edição      Doutor em Filosofia e História da Edu-                 ano  cação pela UNICAMP Campinas/SP                      Mestre em Antropologia Filosófica –                      PUC de Porto Alegre/RS                      Graduações em Filosofia e Letras                      Presidente do Centro de Educação                      para o Pensar e da Ed. Sophos                                                                   Conteúdos                                                                     Digitais                                  Florianópolis, 2019.
COLEÇÃO FILOSOFIA O INÍCIO DE UMA MUDANÇA                                            Copyright © 1998, by Editora Sophos Ltda.                                                                    Editora Sophos                                                 Rua Cristóvão Nunes Pires, 161 / Centro                                                          88010-120 / Florianópolis / SC                                                      Fone: (48) 3222.8826 e 3025.2909                                                           www.editorasophos.com.br                                                  E-mail: [email protected]                                     Filiada ao Sindicato Nacional dos Editores de Livros – SNEL                         Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB - 14/071                         W872m  Wonsovicz, Silvio                                 Aprendendo a Viver Juntos / Silvio Wonsovicz                                 - 18. ed. - Florianópolis: Sophos, 2019.                                 96 p.: il. - (Coleção Filosofia, O Início de uma Mudança: 8º ano)                                ISBN Coleção: 978-85-8037-049-2                              ISBN Livro: 978-85-8037-057-7                                 1.Filosofia – Estudo e Ensino. 2. Ensino Fundamental I. 2.Ensino,                                Aprendizagem – Metodologia. 4. Pensamento filosófico e criativo.                                5. Programa Educar para o Pensar I. Título.                                                                                                                       CDU: 1:37                                                                 FICHA TÉCNICA                                                   Editor        Silvio Wonsovicz                                               Revisão         Contextuar                                            Ilustração         Rose Gaiewski                                                               FK Estúdio                                                   Capa        FK Estúdio                                      Projeto Gráfico          FK Estúdio                                          Diagramação                                COLEÇÃO FILOSOFIA O INÍCIO DE UMA MUDANÇA                                1º ano  O Meu Quintal                                                                               18ª edição                              2º ano  Minha História no Quintal                                                                   18ª edição                              3º ano  A Pequena Grande Marília                                                                    18ª edição                              4º ano  Uma Ideia Puxa Outra...                                                                     18ª edição                              5º ano  Os 422 Soldadinhos de Chumbo do Senhor General                                              18ª edição                              6º ano  O Desafio do Pensar sobre o Pensar                                                          18ª edição                              7º ano  Pensar Lógica+mente                                                                         18ª edição                              8º ano  Aprendendo a Viver Juntos                                                                   18ª edição                              9º ano  Somos Filhos da Pólis                                                                       18ª edição    CENTRO DE EDUCAÇÃO                                     2019        PARA O PENSAR                              Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto nº 1.825, de 20 de dezembro de                              1907. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida                              ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos ou mecânico,                              incluindo fotocópias e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados                              sem permissão escrita da Editora.
PLATAFORMA DO PENSAR                                                                          Aprendendo a Viver Juntos                                                   Seu livro digital em:                                      www.editorasophos.com.br/pensar       Ao participar do Programa Educar para o Pensar e estudar com a Coleção O Início de uma  Mudança, você recebe uma CHAVE para acessar o livro digital do 8º ano, com mais conteú-  dos e mídias digitais.       No seu espaço virtual, o convite é para assistir a vídeos, pesquisar, participar de videoau-  las - o capítulo 1 será com o autor do livro e o capítulo 5 será com o assessor para sua escola.       Na Plataforma, interações com os colegas e o professor por meio de atividades, avaliações,  pesquisas, avisos, fóruns... Tudo pensado para a sua aprendizagem, para o seu entendimento  e desafios às ações como protagonistas.       O seu livro possui conteúdos digitais. Por isso, sempre que aparecer um QR Code, coloque  seu celular ou tablet para ler ou acesse no endereço da plataforma.       Faça bom uso dos conteúdos digitais no seu livro e na PLATAFORMA DO PENSAR.                                               Dúvidas? Procure-nos!                                                                                Assessoria Pedagógica                                                      Ed. Sophos e Centro de Ed. Para o Pensar                                                                 [email protected]
Você tem em mãos um livro que faz parte da Coleção              cocmoPmPeaaeçrrçoaao ddee                           O Início de uma Mudança. Este livro pertence à série                coconnvveerrssaa                                “Investigação sobre…”, e investigação significa:                                     Do latim, investigare, refere-se à ação de seguir os ves-                               tígios de algo ou alguém. Referindo-se à realização de ati-                               vidades intelectuais e experimentais de modo sistemático                               (= pesquisa), com o objetivo de ampliar os conhecimentos                               sobre determinado assunto. Uma investigação é a procura                               de conhecimentos ou de soluções para certos problemas.                                     Uma investigação científica é todo um processo sistemá-                               tico, organizado e objetivo. As atividades realizadas em um                               processo investigativo incluem: a análise de fenômenos, a                               comparação dos resultados obtidos e a interpretação dos                               mesmos em função dos conhecimentos atuais.                                     Há dois tipos de investigação: a investigação básica                               (pura ou fundamental), que costuma ocorrer em laborató-                               rios com a ampliação do conhecimento científico graças à                               criação ou modificação de teorias. A investigação aplicada,                               que consiste na utilização dos conhecimentos na prática.                               Também existem as investigações conhecidas como mul-                               tidisciplinar, transdisciplinar e interdisciplinar, nas quais                               várias áreas do conhecimento são utilizadas.    O Início de uma Mudança     A Coleção, que vai da Educação Infantil ao Ensino Médio, foi organizada e pensada para alunos                           e professores terem pistas investigativas, caminhos norteadores, entendimentos básicos e funda-                           mentais dos assuntos propostos, apresenta:                                                           investigação sobre o Conhecimento;                                                         investigação sobre a Lógica e a Linguagem;                                                         investigação sobre a Ética;                                                         investigação sobre a Política e a Estética.                                A intenção é apresentar caminhos para você e sua turma, em Comunidade de Aprendizagem                           Investigativa - COM.A.I., elaborem, a partir das ideias colocadas, um entendimento do mundo,                           do outro e de si mesmo, sempre com argumentos justificados (interdisciplinar, multidisciplinar e                           transdisciplinar). Bem como conhecerem pensadores que, com suas reflexões, ajudaram a desen-                           volver e ampliar a capacidade reflexiva diante dos temas que acompanham a humanidade.
Os caminhos do investigar e construir entendimentos estão abertos.                           Aprendendo a Viver Juntos  Oferecemos um início com esta coleção, a partir do seu interesse e da sua  turma por pesquisas, pelas discussões e pelos aprofundamentos, a conti-  nuarem a investigação sobre o bem e bom pensar.       No livro do 8º ano – Aprendendo a Viver Juntos –, a partir da inves-  tigações sobre ética, política e estética, você perceberá que nem todos os  meios são justificáveis, apenas aqueles que estão de acordo com os fins da  própria ação. Sendo assim, fins éticos exigem meios éticos. E isso pressu-  põe que a pessoa moral precisa ser educada para os valores morais e as  virtudes.       Vamos, no decorrer deste ano e do próximo, investigar alguns cami-  nhos percorridos dentro da ética que têm repercussões políticas e estéticas.  Iniciaremos examinando o desenvolvimento de ideias éticas na Filosofia  e em sociedade. Portanto, olhos e mentes abertas, pois vamos questionar  e aprofundar entendimentos, junto com algumas posições de pensadores,  para encontrarmos, quem sabe, outras respostas para a realidade e o tem-  po em que vivemos. Afinal, investigar, buscar e querer ser feliz, vivendo  bem na sociedade e no tempo em que estamos, é aspiração de todos.       Ao iniciar essa caminhada nas reflexões éticas, políticas e estéticas, um                 grande desejo: que você, junto com a sua turma de sala de aula,                            formando uma Comunidade de Aprendizagem Inves-                                tigativa - COM.A.I., realize bons trabalhos, com um                                   grande senso de investigação, pesquisa, espírito                                    de busca, discussão e aplicação na vida.                                            Ótimos estudos!                                                                                           O autor                                                                Você pode enviar notícias e                                                              se comunicar com o autor.
Nosso livro foi pensado em 7 capítulos, sendo que o último       eennPtPteaannrradadeerr                           capítulo inicia aqui e termina na Plataforma do Pensar em           oosseeuu lliivvrroo                           www.editorasophos.com.br/pensar. Veja, a seguir, a organi-                           zação dos capítulos do seu livro.                                    Pensar, discutir e produzir na COM.A.I.                                Em todos os 7 capítulos, temos um texto motivacional que                           tem ligação com o conteúdo e serve como primeiro momento                           de reflexão nas aulas do Educar para o Pensar.                                         Ampliação dos entendimentos                                É a parte teórica do capítulo. O assunto principal sendo apre-                           sentado e colocado de maneira bem didática.                                BÔNUS especial para você, aluno e professor(a): o capítulo 1 tem                           videoaula com o autor do livro. O capítulo 5, videoaula com o assessor da                           Editora para sua escola e seu professor.                             Para saber e refletir na COM.A.I.                        Reflexões e ações                                                                            interdisciplinares na COM.A.I.                                Com objetivo de ampliar os entendimen-           Aqui é o momento de registar as ativida-                           tos e despertar curiosidades, é um convite       des individuais e coletivas para a fixação e                           para que você saiba mais e reflita sobre o       ampliação dos entendimentos em COM.A.I.                           tema do capítulo.    O Início de uma Mudança     Pensar como PROTAGONISTAS                               Pensar “fora da caixa”                                                                                         e deixar marcas                              Sempre que aparecer esta chamada é para                           você e sua turma saberem que é uma ativi-           Aqui, o encontro com pensadores que ti-                           dade em grupo, na qual cada um é chamado         veram a coragem de pensar muito além do                           a ser autor de ideias e ações.                   seu tempo e deixaram marcas.                                       Para ler e saber mais                                 O convite para você, pelo celu-                                                                                        lar ou tablet, acessar, via QR Code,                              Um resumo de livro de quem pensou “fora                   os conteúdos disponibilizados (ví-                           da caixa” e deixou marcas. Um convite para                   deos, textos, conteúdos multimídia)                           você ler ou saber mais sobre as obras escritas.              na Plataforma do Pensar.                                 Comunidade de Aprendizagem Investigativa – COM.A.I.                              É nossa intenção transformar a sala de aula, em todas as disci-                           plinas, em uma comunidade que aprende e investiga. Saiba mais                           na Plataforma do Pensar.
SSuummáárriioo    01                  Pensar, discutir e produzir na COM.A.I.                 10                      	 Lição de Sabedoria                                    13  A IMPORTÂNCIA DA    Ampliação dos entendimentos                             14  EDUCAÇÃO ÉTICA NOS  	 Inquietações éticas                                   15  DIAS ATUAIS         	 Sobre os valores universais                           16                      	 A importância dos valores considerados universais     18  02                  Para saber e refletir na COM.A.I.                       19                      	 Declaração do Parlamento das Religiões do Mundo       21  HÁBITOS, COSTUMES,  Reflexões e ações interdisciplinares na COM.A.I.  REGRAS, NORMAS −    Pensar como PROTAGONISTAS                               24  BEM E MAL           	 Só mudo o mundo se eu me conhecer                     27                      Pensar “fora da caixa” e deixar marcas.                 29                      	 Sócrates –“O Perguntador”                             32                                                                              33                      Pensar, discutir e produzir na COM.A.I.                 34                      	 Os macacos e as bananas                      Ampliação dos entendimentos 	                           37                      	 O que isso tudo tem a ver com a Moral e a Ética?      39                      Para saber e refletir na COM.A.I.                       40                      	 Sobre o bem e o mal                                   41                      Reflexões e ações interdisciplinares na COM.A.I.        43                      Pensar como PROTAGONISTAS                               43                      	 Construção de uma comunidade                          45                      Pensar “fora da caixa” e deixar marcas                      	 Platão – “A visão do outro”    03                  Pensar, discutir e produzir na COM.A.I.                     Aprendendo a Viver Juntos                      	 O pote e o furo  LIBERDADE DE        Ampliação dos entendimentos	                      	 Podemos escolher viver situações?  AÇÃO E DECISÃO      	 Escolha feita implica uma responsabilidade                      Para saber e refletir na COM.A.I.                      	 As três peneiras                      Reflexões e ações interdisciplinares na COM.A.I.                      Pensar como PROTAGONISTAS                      	 Jogo da NASA                      Pensar “fora da caixa” e deixar marcas                      	 Aristóteles – “A felicidade (eudaimonia) como busca”
04                         Pensar, discutir e produzir na COM.A.I. - O discípulo honesto      48                                                      Ampliação dos entendimentos                                        50                           FUNDAMENTOS DO             	 Pensadores e suas reflexões sobre a Ética                        52                           MODO DE SER (ETHOS)        	 A ética e a análise metafísica como seu fundamento               53                           COMO FORMA DE              Para saber e refletir na COM.A.I.                                  54                           VIDA CONQUISTADA           	 Alguns ideais éticos ao longo da História                        55                                                      Reflexões e ações interdisciplinares na COM.A.I.                   56                           05                         Pensar como PROTAGONISTAS - A maleta                                                      Pensar “fora da caixa” e deixar marcas                           COMPORTAMENTO              	 Kant - “Moral do dever e imposição de normas a si mesmo”                           HUMANO E                           CONVIVÊNCIA                Pensar, discutir e produzir na COM.A.I. - Amizade, amor, generosidade 59                           SOCIAL                     Ampliação dos entendimentos.                             06                         	 Comportamento moral e religião                                   62                             NÓS SOMOS                  	 Comportamento moral e política                                   63                           RESPONSÁVEIS POR                           NOSSAS AÇÕES?              	 Comportamento moral e convivência social                         64                             07                         	 Comportamento moral para quê?                                    65                             SER FELIZ OU POR UMA       Para saber e refletir na COM.A.I.                           ÉTICA E UMA ESTÉTICA                           EMANCIPATÓRIAS             	 Comportamento moral = conhecimento e liberdade                   66                                              Conteúdo  Reflexões e ações interdisciplinares na COM.A.I.                   68                                      disponível na                                   PLATAFORMA         Pensar como PROTAGONISTAS – Dificuldades nas escolhas              69                                       DO PENSAR!                                                      Pensar “fora da caixa” e deixar marcas                                                        	 Sartre – “A angústia da liberdade”                               70                                                        Pensar, discutir e produzir na COM.A.I. – O rouxinol e o caçador   72                                                      Ampliação dos entendimentos                                        73                                                      	 A ignorância e a responsabilidade moral                          74                                                      	 A questão da força externa e a responsabilidade moral            75                                                      	 As forças internas e a responsabilidade moral                    75                                                      	 As três posturas e a responsabilidade moral                      78                                                      Para saber e refletir na COM.A.I.                                  79                                                      	 Livre-arbítrio na literatura                                     80                                                      Reflexões e ações interdisciplinares na COM.A.I.                   80                                                      Pensar como PROTAGONISTAS – O caso das laranjas Ugli                                                      Pensar “fora da caixa” e deixar marcas                                                      	 Rousseau – “A liberdade como valor supremo”                                                        Pensar, discutir e produzir na COM.A.I. – O gigante e as crianças  83    O Início de uma Mudança                             Ampliação dos entendimentos                                                      	 A ética no Período Moderno                                                      	 A ética no Período Contemporâneo                                                      	 A ética Hoje                                                      	 A cidadania e a sociedade tecnológica                                                      Para saber e refletir na COM.A.I.                                                      	 A ética, a estética e a emancipação humana                                                      Reflexões e ações interdisciplinares na COM.A.I.                                                      Pensar como PROTAGONISTAS                                                      	 Emancipação pelos valores – Axiologia                                                      Pensar “fora da caixa” e deixar marcas                                                      Theodor Ludwig Wiesengrund Adorno – “A tarefa atual da                                                        arte é introduzir o caos na ordem”                             AVALIAÇÕES - FORMATIVA E REFLEXIVA - 8º ANO                                                   85
A importância              da Educação              Ética nos dias                    atuais    01
O Início de uma Mudança10                                                    ddPiPisseeccnnuuststaiairrrr,e,e                                                  pprordoudzuirznira                                                  CCOOMM.A.A.I..I.                                                                                                                                       Comunidade de                                                                                                                                     Aprendizagem                                                                                                                                      Investigativa                                                                                    LIÇÃO DE SABEDORIA                                    Um cientista, muito preocupado com os problemas do mundo, passava dias em seu laboratório,                              tentando encontrar meios de minorá-los.                                    Certo dia, seu filho de sete anos invadiu o seu santuário decidido a ajudá-lo. O cientista, nervo-                              so pela interrupção, tentou fazer o filho brincar em outro lugar. Percebendo que seria impossível                              removê-lo, procurou algo que pudesse distrair a criança. De repente, deparou-se com o mapa do                              mundo. Estava ali o que procurava. Recortou o mapa em vários pedaços e, junto com um rolo de                              fita adesiva, entregou ao filho, dizendo:                                    − Você gosta de quebra-cabeça? Então, vou lhe dar o mundo para consertar. Pegue os seus                              pedaços, está todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! Você irá fazer tudo                              sozinho!                                    Pelos seus cálculos, seu filho levaria dias para recompor o mapa-múndi. Após algumas horas,                              ouviu o filho chamando-o calmamente.                                    Em princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível, na sua idade, conse-                              guir recompor um mapa que jamais havia visto. Relutante, o cientista levantou os olhos de suas                              anotações, certo de que veria um trabalho digno de uma criança. Com muita surpresa, viu o mapa                              completo. Os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Ficou perguntando-se: como                              seria possível? Como seu filho havia sido capaz?                                    − Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conseguiu?                                  − Pai, eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da revista para recortar,                              eu vi que, do outro lado, havia a figura de um homem. Quando você me deu o mundo para con-                              sertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei                              a consertar o homem, pois este eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem, virei a                              folha e vi que havia consertado o mundo.                                                                                                                                                                  Autor desconhecido
11       A partir do título “A importância de uma Educação Ética hoje”, com a história “Lição de sabe-  doria”, escreva algumas ideias que você defende sobre a importância de uma aprendizagem ética  para vivermos em um mundo mais fraterno.      AAmmdppoolliissaaççããoo                         Com os avanços sociais, tecnológicos e  eenntteennddiimmeennttooss                     econômicos, enfrentamos cada vez mais si-                                                 tuações nas quais é preciso tomar decisões e         Aula com o autor do livro               planejar ações, tanto individualmente como                                                 em comunidade. Por isso, o ponto central da          Assista utilizando o leitor de código  aprendizagem e vivência ética está em ter            QR em seu celular ou conectan-       consciência e responsabilidade, condições in-             do-se na Plataforma do Pensar.      dispensáveis para uma vida ética.                                                      É fundamental que, na escola, haja espaço      Aprendendo a Viver Juntos                                                 para a aprendizagem e para um viver como                                                 cidadão. Por isso, a afirmação e a defesa do                                                 Estado brasileiro sobre a importância de uma                                                 Educação Ética desde a infância:                                                        “Aprender a ser cidadão é, entre ou-                                                     tras coisas, aprender a agir com res-                                                     peito, solidariedade, responsabilida-                                                     de, justiça, não violência;                                                     aprender a usar o diálogo nas mais                                                     diferentes situações e comprome-                                                     ter-se com o que acontece na vida                                                     coletiva da comunidade e do país. Es-                                                     ses valores e essas atitudes precisam                                                     ser aprendidos e desenvolvidos pelos                                                     alunos e, portanto, podem e devem                                                     ser ensinados na escola. ”                                                        Secretaria de Educação Fundamental. Ética e                                                      cidadania no convívio escolar. Brasília,                                                      2001, p.13                                                        Leia na página 96 as Competências Gerais da                                                      Educação Básica, extraído do documento                                                      BNCC.
O Início de uma Mudança12                                    É forte e muito difundida a afirmação de que a ética é hoje a arte da convivência. Isso deve-se                              a muitos fatores, inclusive o de que cada vez mais princípios e objetivos fixos estão em falta no                              mundo. Não há respostas prontas para as grandes questões, nem certezas que sustentem o viver                              de todos. Nada que seja capaz de explicar e justificar as angústias, as injustiças, as carências e as                              frustrações do tempo presente.                                    São cada vez maiores as perguntas e não temos mais garantias. Esse é o mundo em que vive-                              mos hoje – um tempo de incertezas.                                    A ética das sociedades tradicionais é vista como um código de rigidez, um repertório de valores                              normativos, deveres e prescrições. Essa ética não dá voz, muitas vezes, às aspirações de cresci-                              mento, mudanças e compreensão do tempo atual.                                    Em toda a existência humana, nunca se foi tão longe no universo em termos de distância. Al-                              cançamos Júpiter, Marte, e conhecemos também as partículas subatômicas. Sem deixar de pen-                              sar na velocidade com que se ampliam os conhecimentos, até onde devemos ir? Onde devemos                              chegar? Vamos cada vez mais viver a ousadia? Ou seria melhor voltar para a tradição?                                    Hoje, são polêmicos os assuntos que, na juventude dos nossos pais, eram vistos como ficção                              ou considerados tabus em discussões éticas. Muitas vezes, os assuntos eram abafados, pois havia                              um código de rigidez, de valores normativos. Estão na ordem do dia as discussões e investigações                              sobre temas que envolvem questões éticas, tais como: globalização,                              clonagem, mudança de sexo, transplantes, mutações genéti-                              cas, gestações in vitro, banco de espermas, armas químicas,                              armas biológicas, drogas (LSD, ecstasy, crack etc.), des-                              truição da natureza, alimentos transgênicos, eutanásia...                                    Por meio desses assuntos e também de outros                              igualmente polêmicos, os nossos entendimen-                              tos, e com eles a nossa capacidade de escolha e                              ação, são constantemente desafiados.                                    O grande avanço que nos diferencia das ge-                              rações anteriores e da natureza é a oportunidade de                              reflexão. No tempo dos nossos pais, com a idade que                              temos hoje e no 8º ano, esses assuntos não podiam ser                              ou não eram discutidos nas escolas. Somente pela re-                              flexão e aprendizagem ética é que conseguiremos realizar                              um mundo melhor (= ético, político e estético).                                    Uma Educação Ética desde a Educação Infantil, sob diver-                              sas formas, precisa refletir sempre sobre as possibilidades e                              ações para um mundo melhor. Essa é a proposta desta Coleção                              e do Programa Educar para o Pensar. Fazer um contraponto a                              um mundo onde a indiferença, o cinismo, o ceticismo, o “levar                              vantagem” e o deboche cegam a visão e abrem espaços para o                              surgimento da discriminação, do bullying, do totalitarismo, de                              fanatismos, fundamentalismos, partidarismos e xenofobias.                                    A necessidade urgente de termos uma Educação Ética e Crí-                              tica sistematizada, que você continua no 8º ano, implica em re-                              fletir:                                               sobre as consequências das escolhas, individuais e coletivas;                                             sobre as condições para uma ética do nosso tempo e aberta aos novos desafios, ne-                                             nhum saber e nenhuma ação podem colocar em risco tudo o que já foi conquistado.
13                                         INQUIETAÇÕES ÉTICAS       Em todas as áreas do saber e fazer há uma inquietação ética. Esse desconforto é visível nas  praças públicas, nos mercados, nos sindicatos, nos governos, nos teatros e bares, nas esquinas, nos  laboratórios, nas escolas.... Somente a partir da reflexão e de uma Educação Ética é que convive-  remos melhor nestes tempos de mudanças rápidas em todas as áreas.       Em nossa COM.A.I., principalmente no 8º ano, precisamos:               ensinar e aprender a pensar a partir dos valores universais para os particulares;             estimular a autoanálise e o autoconhecimento;             ser educado para responder aos desafios externos e internos;             utilizar o diálogo consigo mesmo e com o outro para estabelecer, de forma vital,             a ampliação dos entendimentos e a fortificação dos argumentos.    O mundo capitalista leva muitas vezes as pessoas para o individualismo e educa (pelos meios    de comunicação, nas relações humanas e sociais) para a ambição e a competição. Ainda apresenta    como medida para ser feliz e realizado somente o sucesso econômico e o acúmulo de bens mate-    riais (modo de vida consumista).    A partir desse modelo ético, tão arraigado na sociedade, os alunos são vistos na escola como    adversários em potencial. O resultado desse modelo social em nossa vida diária gera conflitos,    desgraças, violência e desigualdades sociais e econômicas, deixando milhares de pessoas à mar-    gem da sociedade e do processo evolutivo, formando um enorme exército de excluídos (muitas    vezes, por não serem consumidores).    Por meio do diálogo e da discussão das ideias, das análises de comportamentos e de critérios    de julgamento, principalmente na escola que forma a COM.A.I., é que serão desvendados os me-    canismos que atuam em nossa sociedade e os meios para modificá-los. Como? A partir da investi-    gação (relembre o que está colocado no “Para começo de conversa” – p. 4).    A importância de uma Educação Ética em todos os anos escolares (e de maneira sistemática    a partir do 8º ano) implica ligações com uma aprendizagem para a cidadania e requer uma dis-    cussão e investigação sobre o que vem a ser os valores universais: verdade, paz, amor, não violên-    cia e a ação. Isso pode ser obtido pelo diálogo, fundamento para uma mudança interior e social.    Esse é o caminho para a formação de um caráter íntegro, capaz de trazer uma transformação das    prioridades e uma nova visão da existência. Des-                                                     Aprendendo a Viver Juntos    sa forma, poderá surgir uma vivência social mais    compatível com o tempo em que vivemos e uma    nova condição humana.                               Veja a história dos direi-       Uma Educação Ética, a partir do despertar da     tos humanos utilizando o  vivência ética e do respeito aos valores humanos,   leitor de código QR ou na  é, hoje, de importância vital para a sobrevivência                                                        Plataforma do Pensar.    do mundo e da espécie humana.
O Início de uma Mudança14                                                                           SOBRE OS VALORES UNIVERSAIS                                    Os valores universais são os pilares para a convivência entre cidadãos de todo o mundo. Fo-                              ram apresentados na Declaração Universal dos Direitos Humanos - DUDH, adotados e procla-                              mados na Assembleia Geral das Nações Unidas, de 10 de                              dezembro de 1948.                                    Após o término da Segunda Guerra Mundial (1939-                              1945), os países começaram a discutir a necessidade de                              uma Declaração Universal para garantir o direito de                              igualdade entre os povos sem ir contra a diversidade                              das muitas culturas espalhadas pelo mundo.                                    Os valores descritos na declaração têm como ob-                              jetivo principal ajudar no entendimento das dife-                              renças entre o certo e o errado. Querem, também,                              alertar para a melhor maneira de agir e conviver                              bem com as pessoas e culturas diferentes.                                    No primeiro artigo, a Declaração diz que “todos                              os seres humanos nascem livres e iguais em dig-                              nidade e direitos”, são “dotados de razão e cons-                              ciência e devem agir em relação uns aos outros                              com espírito de fraternidade”.                                    Palavras que se tornam cada vez mais fortes e importantes no mundo                              globalizado, onde reconhecer a igualdade entre os indivíduos, independentemente de cor, raça,                              religião, condição social ou opção sexual é a base para o desenvolvimento de uma sociedade mais                              justa e igualitária. Essa é uma atitude que deve começar dentro de cada um.                                    Com a publicação da Constituição Brasileira, em 5 de outubro de 1988, os Direitos Humanos                              receberam mais atenção no nosso país. Pela primeira vez na história das constituições nacionais,                                                                                    os Direitos Humanos foram regulados no início do docu-                                                                                  mento, após a declaração dos princípios fundamentais. “A                                                                                  dignidade da pessoa humana” é considerada fundamento                                                                                  do Brasil no artigo primeiro da Constituição.                                                                                       A nossa Constituição Federal aponta que princípios éti-                                                                                  cos, como a solidariedade, o cultivo da liberdade de opi-                                                                                  nião e discussão e uma série de direitos econômicos e so-                                                                                  ciais são fundamentais para a vida em sociedade.                                                                                                                Assista ao vídeo: “30 arti-                                                                                                              gos da DUDH” utilizando                                                                                                               o leitor de código QR ou                                                                                                              na Plataforma do Pensar.
15    A IMPORTÂNCIA DOS VALORES   CONSIDERADOS UNIVERSAIS       A Declaração Universal dos Direitos Humanos tem valores que são a base de toda sociedade                  Aprendendo a Viver Juntos  e precisam ser considerados, além de, cada vez mais entendidos. Valores universais comuns às  várias culturas e religiões, às vezes, com outros nomes ou diferentes classificações. Por isso, é im-  portante saber o que vem a ser: verdade, ação correta, paz, amor e não violência.           Verdade: a busca da Verdade nos diferencia dos animais, porque temos condições de ques-         tionar o que é certo ou errado, e podemos optar por seguir o caminho que o entendimento         nos indicar. A verdade é um valor humano, uma vez que o homem, mesmo conhecendo e         emitindo julgamentos variáveis sobre as coisas, pode fazer dela a motivação para a busca         constante.                  Valores relacionados à Verdade: otimismo, discernimento, interesse pelo conhecimen-                to, autoanálise, espírito de pesquisa, perspicácia, atenção, reflexão, sinceridade, otimis-                mo, honestidade, exatidão, coerência, imparcialidade, sentido de realidade, justiça, leal-                dade, liderança, humildade etc.           Ação Correta: os animais, pelo instinto de proteção, defendem aqueles com quem convi-         vem. Já o ser humano é caracterizado pelo amor, que ultrapassa os limites familiares e os         laços de amizade, e abrange toda a humanidade e o planeta.                  Valores relacionados à Ação Correta: dever, ética, honradez, vida salutar, iniciativa,                perseverança, responsabilidade, respeito, esforço, simplicidade, amabilidade, bondade,                disciplina, limpeza, ordem, coragem, integridade, dignidade, serviço ao próximo, pru-                dência etc.           Amor: a mente repleta de pensamentos harmoniosos, de amor e paz, gera sentimentos de         afeto, alegria e tranquilidade. Ao receber pensamentos de ódio, inveja e agressividade, gera         sentimentos de violência, tristeza e desunião. Em outras palavras, a mente humana é como         terra fértil, tudo o que nela se planta, nasce.                             Valores relacionados ao Amor: dedicação, amizade, generosidade, devoção,                                 gratidão, caridade, perdão, compaixão, compreensão, simpatia, igualdade,                                     alegria, espírito de sacrifício, renúncia etc.                                         Paz: ao buscar o caminho do bem e da paz, provavelmente, surgirá                                   a pergunta: a mente sem pensamentos agressivos tem mais capacidade                                  de compreensão? A resposta pode ser sim, pois os sentimentos de paz e                                 tranquilidade abrem-na para a intuição, que indica o melhor caminho a                                 seguir.                                           Valores relacionados à Paz: silêncio interior, calma, contentamento,                                         tranquilidade, paciência, autocontrole, autoestima, autoconfiança,                                         auto aceitação, tolerância, concentração, desprendimento etc.
16                 Não Violência: é o resultado da prática de todos os outros valores. É alcançar o mais alto               estágio do crescimento espiritual − o amor universal é o conhecimento da verdade.                        Valores relacionados à Não Violência: fraternidade, cooperação, concórdia, altruís-                      mo, força interior, respeito à cidadania, patriotismo, responsabilidade cívica, unidade,                      solidariedade, respeito à natureza, respeito pelas diferentes raças, culturas e religiões,                      uso adequado do tempo, da energia, do dinheiro, da energia vital, do alimento, do conhe-                      cimento.             O segredo da Educação Ética hoje em todo o processo escolar é praticar os valores na família,       na turma e escola, com os amigos e conhecidos. Isso fará com que todos percebam mudanças. En-       tão, muitos perguntarão: o que mudou em você? Muitos dirão: como você está feliz?             Acreditar, agir e fazer cada um a sua parte. A ação consciente de cada um de nós terá reflexos       nas ações de outras pessoas que convivem conosco.                                Segue a declaração assinada por 125 líderes e represen-        PPeaarrraeafsslaaebbtieerrr                           tantes de 17 tradições religiosas, durante o encerramento                           do Parlamento das Religiões do Mundo, em agosto de 1993,                           na cidade de Chicago (EUA).                                                     NÓS DECLARAMOS:                                Somos interdependentes. Cada um de nós depende do                             nnaaCCOOMM..AA..II..bem-estar do todo e, assim, sentimos respeito pela comunidade                           dos seres vivos, pelas pessoas, pelos animais e pelas plantas,                             assim como pela preservação da Terra, do ar, da água e do solo.          Comunidade de                           Temos a responsabilidade individual por tudo o que fazemos.              Aprendizagem                           Todas as nossas decisões, ações e omissões têm consequências.             Investigativa                                Devemos tratar os outros como gostaríamos que os outros                             nos tratassem. Assumimos o compromisso de respeitar a vida e a                             dignidade, a individualidade e a diversidade, para que cada pessoa, sem                             exceção, seja tratada humanamente. Devemos ter paciência e uma visão                             positiva da vida. Devemos saber perdoar, aprendendo com o passa-                             do, sem jamais nos tornarmos escravos de lembranças odiosas.                             Abrindo nosso coração aos outros, devemos eliminar nos-                             sas pequenas diferenças em prol da causa da comuni-                             dade mundial, pondo em prática uma cultura de                             solidariedade e de relacionamento harmônico.    O Início de uma Mudança  Consideramos a humanidade como nossa fa-                             mília. Temos de nos esforçar para sermos bons                             e generosos. Não devemos viver somente pen-                             sando em nós mesmos, mas também para servir                             aos outros, nunca nos esquecendo das crianças,                             dos idosos, dos pobres, dos que sofrem, dos in-                             capazes, dos refugiados e dos que vivem na so-                             lidão.
17       Ninguém deveria jamais ser considerado ou tratado como cidadão de segunda  categoria, ou explorado da maneira que for. Deveria existir uma parceria de iguais  entre homens e mulheres. Devemos deixar para trás qualquer forma de dominação  ou abuso.       Assumimos um compromisso com uma cultura da não violência, do respeito, da  justiça e da paz. Não praticaremos a opressão, a ofensa, a tortura, nem mataremos  outros seres humanos. Abandonaremos a violência como meio de resolver nossas  diferenças.       Devemos nos empenhar por formar uma ordem social e econômica justa, na qual  todos tenham oportunidade igual para atingir o seu potencial máximo como seres  humanos. Temos de falar e agir com veracidade e compaixão, tratando a todos com  equidade, evitando preconceitos e ódios. Devemos nos colocar acima da cobiça pelo  poder, por prestígio, por dinheiro e pelo consumo, a fim de criarmos um mundo  justo e prático.       A terra não poderá ser mudada para melhor sem que se mude antes a consciên-  cia dos indivíduos. Comprometemo-nos a expandir nossa consciência, disciplinando  nossas mentes por meio da meditação, da oração ou pelo pensamento positivo.       Sem riscos e sem uma disposição ao sacrifício, não haverá mudanças fundamen-  tais em nossa situação. Comprometemo-nos, portanto, com essa ética global, com a  compreensão do outro, com modos de vida socialmente benéficos, geradores de paz  e que estejam em harmonia com a natureza.       Convidamos todas as pessoas, religiosas ou não, a nos acompanhar.     Assista a Diversidade reli-   giosa e Direitos Humanos  utilizando o leitor de código        QR ou na Plataforma             do Pensar.                                                                                        Aprendendo a Viver Juntos
18                             1. Vamos, em COM.A.I., discutir, pensar e reescrever alguns dos valo-                             res que estão presentes na Declaração do Parlamento das Reli-                             giões do Mundo e que nós, do 8º ano, consideramos funda-       aRiRçneõfetelefeslxreindõxetiõessrcee-is-                           mentais nos dias de hoje.                             2. No seu primeiro artigo, a Declaração diz que “todos    dnpiaCslciCOnipOaMlMirne.a.AAsren..IIs..a                           os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade                           e direitos”, são “dotados de razão e consciência e devem                           agir em relação uns aos outros com espírito de fraterni-                           dade”. Escreva seu entendimento sobre a frase acima e                           coloque um exemplo em que esse artigo torna-se con-                             creto.                                                                                                       Comunidade de                                                                                                       Aprendizagem                                                                                                       Investigativa                             3. A necessidade de haver uma educação e uma vivência ética nas                           escolas é urgente. Seguem algumas propostas, para que a COM.A.I. leia                           e, posteriormente, amplie, escrevendo e propondo a realização na escola:                                     acolhimento dos alunos pela escola, em todas as situações, com momentos especiais                                   no início do ano letivo;                                   criar espaços para que os pais entrem na escola e participem dela;                                   resolver todos os conflitos por meio do diálogo;                                   criar código de ética da classe ou da escola;                                   estabelecer conjuntamente normas de condutas periodicamente revistas – por                                   exemplo, ouvir e respeitar a opinião dos colegas, não interromper a fala do outro;                                   ...    O Início de uma Mudança
19     PPcceoeonnmssaaoorr  SÓ MUDO O MUNDO                        SE EU ME CONHECER  PPRROOTTAAGGOO-   NNIISSTTAASS                              DESENVOLVIMENTO                             A partir da ilustração colocada na página seguinte,                        cada aluno está convidado a responder às perguntas,                        baseando-se em suas características e suas ideias, tendo                        sempre justificativas para sua escolha.                                               ANOTAR NA FIGURA                             Diante dos olhos: as coisas que vejo e mais me im-                           pressionam no mundo em que vivemos.                           Diante da boca: três expressões (palavras, atitudes)                           das quais arrependeu-se de dizer até este momento                           da sua vida.                           Diante da cabeça: três ideias das quais não abre mão.                           Diante do coração: três grandes amores.                           Diante das mãos: ações inesquecíveis que realizou.                           Diante dos pés: piores enrascadas em que se meteu.                                                   COMENTÁRIOS                             Foi fácil ou difícil esta reflexão? Por quê?                           Este exercício é uma ajuda? Em que sentido?                           Em qual anotação sentiu mais dificuldade? Por quê?                           Por que este exercício pode favorecer o diálogo entre                           as pessoas e o conhecimento de si mesmo?                           Que relação dá para fazer com a história inicial                           “Lição de Vida”?                                             DESAFIO AOS PROTAGONISTAS                             Aprendendo a Viver Juntos       Neste capítulo, vemos a defesa da necessidade e a importância de uma aprendizagem e dis-  cussão sobre a vivência ética e o comportamento moral de cada um, pois vivemos em sociedade.  Com esta atividade e todo conteúdo deste capítulo, devemos salientar nossa convicção de que a  sociedade irá modificar-se na medida em que cada pessoa possa se conhecer e mudar a si mesma.       Diante disso, a COM.A.I. irá pensar e propor uma atividade para todas as turmas do Ensi-  no Fundamental, tendo essa atividade e ideia forte: “a sociedade irá modificar-se na me-  dida em que cada pessoa possa se conhecer e mudar a si mesma”
O Início de uma Mudança  20
“cPf“caPofeaoiernixrnxaaasasad”a”dreraa                                                                21  ddeeiixxaar  mmaarrccaass                                Para o mundo grego clássico, os problemas éticos e                                           políticos tinham um destaque. Após o naturalismo dos                                           pré-socráticos (Tales, Heráclito, Parmênides, Anaxágoras,                                           Empédocles…), há uma preocupação com os problemas                                           políticos e morais do homem na sociedade. Por isso, as                                           ideias de Sócrates, Platão e Aristóteles sobre a ética e a po-                                           lítica estão ligadas a uma comunidade limitada e local – o                                           Estado-cidade ou a pólis, principalmente Atenas.                                                    Filósofos naturalistas: dedicavam-se ao proble-                                              ma de determinar o princípio material de que era                                              constituída a ordem da natureza. Foram chamados                                              de naturalistas porque procuravam responder a                                              questões do tipo: o que é a natureza? Qual é o funda-                                              mento último das coisas? Tinham como principal                                              objetivo viver para contemplar a natureza.                                             SÓCRATES (470-300 A.C.)  Aprendendo a Viver Juntos                                                  O “perguntador”       Na democracia ateniense, temos a arte da conversação  como principal instrumento da convivência social. Por  isso, Sócrates perguntava, inquiria as pessoas sobre as-  suntos que eram do dia a dia. Mostrava que, no plano das  opiniões, todos têm razão e, por isso mesmo, ninguém a  tem. Ampliando o diálogo pelas perguntas, queria chegar  à essência das coisas.       Há quem diga que, a partir de Sócrates, começou de fato  a existir a Filosofia, pois ela chegou à sua maturidade. Sem  dúvida, ele é o destaque da filosofia clássica grega. Não es-  creveu nada, mas falava e muito, interrogava as pessoas  sobre suas crenças, buscava um conhecimento mais ela-  borado. Percebia e fazia perceber que, quanto mais co-  nhecia, mais tinha consciência de que sabia muito pouco.       Sócrates participou do apogeu e da crise da democracia  ateniense. A vida cultural de Atenas era repleta de escul-  tores, artistas, dramaturgos, historiadores, filósofos, ora-  dores, grandes personalidades, como médicos (Hipócrates)  e homens públicos (Péricles).                       Ouça o PODCAST “Quem é esse                     Sócrates?”, disponível na                     Plataforma do Pensar.
22                              	 A DEFESA DE SÓCRATES                                                PlPleeaarrrreeaa                                                                                                  ssaabeerr                              Como Sócrates não escreveu nem uma linha sequer, conta-nos          mmaaiiss                           a tradição filosófica que ele, pelo diálogo (método da Maiêutica:                           pergunta/resposta), fazia sua Filosofia. Foi condenado sob a acu-    Pensaram “fora da                           sação de corromper a juventude, ter atitudes e ideias contra os      caixa” e deixaram                           deuses da pólis. Lemos isso no livro de Platão, A Defesa de Só-       marcas. E você?                           crates1, que relata o processo e a condenação de Sócrates, em 399  O Início de uma Mudança  a.C. Ele foi acusado por Meletos, Anitos e Líncom de corromper                           a juventude e de introduzir novos deuses, além de questionar                           outros já existentes na cidade.                                O conteúdo do livro de Platão apresenta-se dividido em três                           partes. A primeira, fala das objeções de Sócrates às acusações a                           ele impostas. Na segunda parte, ele defende-se da sentença que,                           segundo o costume e as leis, era a pena merecida. Na terceira                           parte, o filósofo reflete sobre o sentido político e filosófico que                           representava sua condenação à morte.                                Nesse julgamento, Sócrates não queria convencer o júri de sua                           inocência, nem buscar ajuda de outros para tal fim. Ele mesmo                           faz a exposição da verdade, com toda sua crueza.                           Por isso, não satisfeito em mostrar que as acu-                           sações eram tolas, assume o papel que escolheu                           cumprir na cidade. Assim, propõe que a cidade,                           em reconhecimento aos seus serviços, viesse a                           sustentá-lo gratuitamente. É óbvio que tal pro-                           posta soou como provocação e contribuiu para                           sua condenação à morte pela maioria dos juízes.                                A defesa de Sócrates é, mais do que qualquer                           outro escrito, uma modelagem do caminho para                           o surgimento do primeiro mártir da Filosofia.                           “Bem, é chegada a hora de partirmos; eu, para a                           morte; vós, para a vida. Quem segue melhor des-                           tino, se eu, se vós, é segredo para todos, exceto                           para a divindade”. O livro “Apologia de Sócrates”                           (ou defesa...) é responsável por ampliar a imagem                           do Sócrates emblemático, perseguido pelos pode-                           res constituídos, e até pela opinião do povo.                             			                           1. Col. Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987.
Hábitos,                costumes,            regras, normas –                bem e mal    02
O Início de uma Mudança24                                                    ddPiPisseeccnnuussttaiairrrr,e,e                                                  pprorodudzuirznira                                                  CCOOMM..AA.I..I.                                                                                                                                       Comunidade de                                                                                                                                     Aprendizagem                                                                                                                                       Investigativa                                                                               OS MACACOS E AS BANANAS                                          Em um laboratório de estudo do comportamento animal, um grupo de cientistas colo-                                    cou quatro gorilas em uma jaula. No meio da jaula, foi colocada uma escada que permitia                                    que os gorilas alcançassem um suculento cacho de bananas.                                          O experimento consistia em jogar um forte jato de água fria nos quatro gorilas quando                                    algum deles tentasse subir a escada para pegar as bananas. Depois de alguns dias, nen-                                    hum deles se atrevia a tocar na escada para não ser atingido pela água fria.                                          Os cientistas, então, retiraram um dos quatro macacos e o substituíram por outro, que,                                    chegando à jaula, logo dirigiu-se à escada, sendo que os três antigos imediatamente lhe                                    aplicaram uma tremenda surra. Os cientistas, dessa forma, substituíram mais um dos                                    macacos e este, ao tentar subir a escada, também levou uma surra dos demais. Os cien-                                    tistas, então, substituíram o terceiro macaco e o substituto também apanhou.                                          Depois que os cientistas substituíram os quatro gorilas, não havia na jaula nenhum                                    que tivesse recebido o jato de água fria, contudo, um quinto gorila introduzido na jaula,                                    ao tentar tocar na escada, levou uma surra dos demais.                                          Este experimento sugere que, se os gorilas pudessem falar, diriam para os novos ocu-                                    pantes da jaula algo parecido com o seguinte: “Aqui, sempre foi assim, se encostar a pata                                    na escada, leva uma surra”.                                                                                                                                                            Autor desconhecido
25       O texto não revela se os cientistas iriam ou não continuar jogando água gelada nos macacos  caso eles parassem com as agressões. O que se percebe é que eles passam a agredir para não serem  agredidos pela água gelada dos cientistas – é a violência defensiva, mas não uma ação legítima.       Muitos seres humanos agem como os macacos dessa história, fazendo sem refletir por que  razão ou com que objetivos fazem. As pessoas agem, às vezes, movidas somente por costumes  arraigados ou por hábitos e, dessa maneira, não exercem o mais precioso atributo da espécie hu-  mana: a inteligência.       O texto, retirado do livro Discurso da servidão voluntária, de Etienne de La Boétie, reitera um  pouco a afirmação anterior:    Saiba mais sobre Mitrí-              “É verdade que, no início, serve-se obrigado e  dates utilizando o leitor         vencido pela força; mas os que vêm depois ser-  de código QR ou na Pla-            vem sem pesar e fazem de bom grado o que seus  taforma do Pensar.                                      antecessores haviam feito por imposição. Des-                                       se modo, os homens nascidos sob o jugo, mais                                        tarde, educados e criados na servidão, sem o-                                           lhar mais longe, contentam-se em viver como                                          nasceram; e como não pensam ter outro bem                                           nem outro direito que o que encontraram,                                              consideram natural a condição de seu nas-                                             cimento. E, no entanto, não há herdeiro tão                                              pródigo e despreocupado que às vezes não                                                    corra os olhos nos registros de seu pai                                                     para ver se goza de todos os direitos                                                      de sua herança ou se não usurpa-                                                      ram a si ou a seu predecessor. Mas o                                                    costume, que por certo tem em todas                                       as coisas um grande poder sobre nós, não possui,                             em lugar nenhum, virtude tão grande quanto à seguinte:                             ensinar-nos a servir − e como se diz de Mitrídates, que se                             habituou a tomar veneno: para que aprendamos a engo-                             lir e não achar amarga a peçonha da servidão”.       A partir da história dos “Macacos e as bananas” e das ideias apresentadas acima, em sua opi-     Aprendendo a Viver Juntos  nião, o que isso tem a ver com os assuntos: regras, normas, costumes, hábitos bem e mal, os quais  iremos trabalhar neste capítulo?
26                                Vivemos e buscamos ser autores da nossa exis-        AAmmdpdpololisiasaççããoo                           tência no mundo em que estamos. Queremos fazer        eenntteennddiimmeennttooss                           as coisas, escolher o que é melhor, ser livre para                           responder pelas ações. Enfim, somos diferentes das                           outras pessoas porque pensamos de forma diferen-                           te. A inteligência e a razão nos diferenciam. Isso é                           bom, mas também exige mais de cada um. Por isso,                           algumas coisas são essenciais para vivermos em co-                           munidade.                                Aceitando essa constatação, fica a pergunta:                              	                              Podemos realmente escolher e fazer o que que-                           remos? A resposta é:    O Início de uma Mudança             Quase sempre não podemos escolher o que acontece                                      conosco, mas podemos escolher o que fazer a partir do                                      que aconteceu. (Essa é uma ideia defendida por Sartre).                                      	                                      Muitas vezes, somos obrigados a escolher entre duas ou mais possibilidades, em-                                      bora preferíssemos não precisar escolher, pois, feita uma escolha, deixamos ou-                                            tras de lado. (Essa é uma ideia defendida por Santo Agostinho).                                	                              Não passamos a vida só pensando nas escolhas que temos ou não que                           fazer. Muitos dos nossos atos são automáticos, fazem parte de regras da                           casa, da sociedade e das normas estipuladas para vivermos em grupo.                           Agimos e escolhemos sem muito pensar, sem refletir, pois vivemos si-                           tuações que passaram a ser regras e/ou normas. Por exemplo: levan-                           tar no horário por causa das obrigações diárias, fazer a higiene                           pessoal, tomar café, vir para a escola, respeitar os outros etc.                              Essas ações repetidas no dia a dia podem ser entendi-                           das como regras/normas de convivência social, familiar.                           Por isso, quando fazemos escolhas a partir do que aconte-                           ceu, por exemplo, de não seguir o estipulado na questão                           horários, invertemos nossas ações rotineiras e isso pode                           ou não nos fazer sentir bem. Em algumas situações, parar                           para pensar a respeito de tudo o que fazemos ou não aca-                           ba por paralisar-nos e isso também não é bom.                              Vamos retornar à ideia do primeiro parágrafo. Pode-                           mos nos perguntar: por que fiz o que fiz? Por que tomei                           aquela atitude e não outra? Isso nada mais é do que que-                           rer saber os motivos que levam a agir ou não agir.
27Aprendendo a Viver Juntos       O sentido da palavra motivo, aqui colocado, é a razão que há ou acredita-se que há para fazer  algo. Uma das prováveis respostas é a da existência de regras/normas. Em algumas ações, o motivo                                    é o hábito (“sempre fiz assim” e/ou “todos fazem dessa forma”), e muitas                                  vezes nem pensamos o porquê. Como todos fazem, dizemos que passou                                  a ser um costume, lembre da história inicial − Os macacos e as bananas.                                        Os costumes dão certa comodidade ao seguir uma rotina e também                                  por não contrariarem as demais pessoas, por conta disso não sofremos                                  pressões ou represálias. Os costumes também implicam certa obediência                                  a algumas regras. Um exemplo é a moda: um tipo de roupa que você é                                  obrigado a vestir porque é comum entre amigos, e você não quer destoar.                                        Por isso, podemos entender que regras/normas e hábitos/costumes                                  parecem ter algo em comum: vêm de fora e não podemos nos posicionar                                  contra por uma série de razões.                                 Os hábitos são a repetição de costumes, que podem tor-                           nar-se regras/normas, que, pela repetição (muitas vezes                           mecânica), estranhamos quando não são realizadas.                                              O QUE ISSO TUDO TEM A VER                                          COM A MORAL E COM A ÉTICA?       Em princípio, queremos dizer que os termos moral e ética são usados muitas vezes de forma  confusa. Como é nosso objetivo iniciarmos uma investigação sobre ética, cabe aqui entendermos  o significado etimológico das palavras.                           MORAL: vem da língua latina, mos – mores. Significa costu-                         mes ou regras que determinam a vida. Por essa razão, dize-                         mos que a moral indica normas e valores que orientam a                         vida do homem dentro de uma sociedade.       Assim, a moral busca distinguir o certo do errado, o justo do injusto, o permitido do proibido, o  bem do mal. Procura determinar quais ações e atitudes devem ser adotadas diante das situações.       Quem diz quais são os deveres morais de uma pessoa? A primeira resposta parece ser o grupo  social, a turma a qual pertence. Como cada grupo, cada turma, tem ideias e pode ter interesses  diferentes, percebemos a existência de várias regras morais em uma mesma sociedade.                           ÉTICA: vem da língua grega, ethos, significando modo de                         ser. A forma usada por uma pessoa para organizar a vida                         em sociedade. É a forma como a pessoa transforma em nor-                         mas/regras as práticas, os valores do grupo e da cultura em                         que está vivendo.
O Início de uma Mudança28                                    Portanto, a ética tem a moral como base de estudo. Seu papel é o de analisar as opções feitas                              pelas pessoas, avaliar os costumes. É a reflexão crítica da moral do grupo no contexto social e his-                              tórico em que ele encontra-se. Busca questionar os fundamentos da moral e sua validade. Sendo                              assim, a ética preocupa-se em analisar, na ação e na reflexão, os conflitos do dia a dia.                                    Há um fio muito tênue que separa a ética da moral, então, vamos estabelecer a seguinte dis-                              tinção.	                                                  MORAL: são os valores ou as normas práticas que asseguram conduzir                                                ou deveriam nortear a vida social de uma coletividade.	                                                ÉTICA: é a análise e a reflexão sobre o comportamento do homem                                                na vida social de uma coletividade.                                    Ter a capacidade para analisar uma conduta moral requer que haja                              uma pessoa consciente, que conheça as diferenças entre:                                                                    bem / mal;                                                                  certo / errado;                                                                  pode ou não pode fazer;                                                                  virtude / vício;                                                                  direitos / deveres.                                  	                                  A consciência ética é a capacidade de julgar o valor dos atos e das condutas e ter uma ação que                              está de acordo com os valores morais. Chegamos ao ponto central do assunto, que são a consciên-                              cia e a responsabilidade, condições indispensáveis para uma vida ética.                                  O que caracteriza uma vida ética? Quem pode dizer que as suas ações são moralmente corre-                              tas? Procurando respostas, podemos dizer que uma pessoa ética, ou uma pessoa moral, tem que                              preencher alguns requisitos, como os apontados a seguir.                                                  Capacidade de reflexão e reconhecimento da existência do outro (= consciên-                                                cia de si e dos outros).                                                Capacidade para dominar-se, controlar-se e também decidir e deliberar entre                                                alternativas (= domínio da vontade, do desejo, dos sentimentos etc.).                                                Ser responsável (= assumir as consequências da ação ou não, respondendo                                                pela escolha).                                                Ser livre (= conseguir autodeterminar-se, fazer suas regras de conduta).                                  	                                  Uma pessoa pode, diante dos comportamentos humanos e da sociedade em que vive, ter uma                              atitude ética passiva ou ativa.                                          A atitude ética passiva é quando a pessoa deixa-se governar por impulsos, inclinações                                        e paixões; balança conforme o momento. Uma pessoa que se deixa levar pela boa ou má                                        sorte, pelas opiniões alheias, pelo medo e pela vontade dos outros, não tendo consciên-                                        cia, vontade, liberdade e responsabilidades.                                        A atitude ética ativa é a da pessoa que controla seus impulsos, suas inclinações e                                        paixões. Uma pessoa que questiona o sentido dos valores e dos fins estabelecidos, que                                        avalia as ações diante das regras de conduta e age conscientemente, que é respon-                                        sável, respeita os outros e é autônoma.
29    PPaarraa ssaabbeerr                                         SOBRE O BEM E O MAL                             Aprendendo a Viver Juntos   e refletir  nnaaCCOOMM..AA..II..                        O que é o Bem? O que é o Mal? São perguntas feitas                                           ao longo da história da humanidade. Perguntas que são                 Comunidade de             “problemas filosóficos”.                 Aprendizagem                  Investigativa               São perguntas que                                           ocupam o tempo e           Problemas filosóficos são in-   provocam a reflexão           trigantes e instigantes. Pen-   de muitos pensadores.           samos ter a resposta, mas, ao   As respostas são mui-           tentar formular as justifica-   tas e alguns acham           tivas ao que queremos de-       que trouxeram a so-           fender, percebemo-nos, com      lução definitiva a elas.           espanto e até admiração, que    Pensadores buscaram           pelos nossos preconceitos       responder a partir de           e nossas limitações intelec-    um código de man-           tuais, temos dificuldades de    damentos ou princípios de conduta, assim como os Dez           dar uma resposta firme e com-   Mandamentos do povo hebreu. Respostas que muitos           pleta sobre a questão. Sen-     acreditam ter vindo de autoridade divina e com força su-           do a filosofia uma atividade    ficiente para estenderem-se a todos os tempos e lugares.           que procura compreender as           coisas que nos intrigam e fa-      Vejamos o que alguns pensadores responderam e           lam a nosso respeito, a única   quais as suas teorias.           maneira de filosofar consiste           simplesmente em praticá-la,                      PENSADORES GREGOS           abertos para modificar a visão           de mundo, dialogando com os          HERÁCLITO: Filósofo da mudança, da transformação.           outros e não sendo preconcei-        Defendia que o universo resulta da combinação de opostos           tuosos e arrogantes no saber e       − o bem e o mal, que são duas notas em uma harmonia.           entender.                                                DEMÓCRITO: Ensinava que a felicidade constitui o alvo                                                da vida. Afirmava que o homem bom não é o que pratica o                                                bem, mas o que deseja praticá-lo sempre.                                                  PLATÃO: O bem seria o mundo das ideias puras e imutá-                                                veis. O mal, o mundo dos sentidos, que é irreal, transitório                                                e mutável.
O Início de uma Mudança30                                    PROTÁGORAS: Dizia que “o homem é a medida de todas as coisas”, sen-                                  do, então, também a medida do bem e do mal. Daí a ideia de que a mo-                                  ral é uma simples convenção, um hábito. Não há verdadeiramente                                  leis morais nem princípios completos sobre o bem e o mal.                                    SÓCRATES: Grande parte de suas ideias são sobre a significação do                                  bem e do mal. Perguntava constantemente: que bem é esse? Qual o                                  mais elevado bem, pelo qual se pode medir tudo o mais no mundo?                                  Sua resposta: o Conhecimento.                                    ARISTÓTELES: Toda ação tem um objetivo a alcançar. Sua pergunta:                                  que é o mais alto bem? Uma resposta sua acentuava que o alvo de                                  tudo no mundo é a realização completa. Homem bom é aquele que                                  vive segundo o meio termo, que em seus atos não vai aos extremos.                                    EPICURO: Defende que o objetivo de toda atividade humana é o prazer,                                  sendo a felicidade o bem supremo para todos.                                    ESTOICOS: O mais alto bem do homem está em agir em harmonia com o mundo.                                  Afirmavam que, se vivermos como os homens bons vivem, teremos uma vida virtuosa e a                                  felicidade certamente virá.                                    A partir desses pensadores gregos, vemos que o bem e a bondade estão relacionados com a                               harmonia do mundo. O mal é apenas imaginário ou uma discordância da harmonia.                                                                                    PENSADORES CRISTÃOS                                    OS APOLOGISTAS: Deus cria o homem com o próprio espírito de bonda-                                  de, mas o homem escolheu afastar-se e voltar-se para o corpo. Assim, o                                  homem, ao cometer o pecado original, vive perseguido pelo mal, está per-                                  dido, e seu trabalho é encontrar a salvação por meio da graça divina.                                    SANTO AGOSTINHO: Incomodava-o o fato de Deus, todo bondade                                  e perfeição, criar o mundo com o mal. Afirmava que tudo no mun-                                  do é bom. O mal é relativo, é a ausência do bem, da mesma maneira                                  que as trevas são a ausência da luz. Agora, esse mal que encontra-                                  mos foi posto por Deus para tornar o mundo bom.                                    ABELARDO: O bem ou o mal de um ato não está no ato em si, mas na                                  intenção de quem o pratica. Bondade e maldade são uma questão de cons-                                  ciência.                                    TOMÁS DE AQUINO: Deus criou o homem para um determinado fim,                                  o bem maior é a concretização desse fim. Dizia que a melhor maneira de                                  atingir a bondade é abandonar os bens mundanos e procurar viver para                                  Deus. O mal é a privação, a falta daquilo que é bom.
31    PENSADORES MODERNOS    THOMAS HOBBES: O bem e o mal são uma questão de movimento.  Quando o movimento é bem-sucedido, gera prazer; o contrário resulta  em dor. O bem e o mal são relativos a determinado homem, dependem da  natureza de cada um e na ocasião.    DESCARTES: Deus é perfeito, e, por isso, incapaz de nos fazer errar. O erro  não está no ato de Deus, porém em nós, pois tomamos decisões e agimos  sem provas suficientes.    SPINOZA: O erro é falta de conhecimento, e daí vem a dor. O bem é o esforço  individual de preservar-se.    JOHN LOCKE: Como as ideias que vêm de fora e são escritas em uma  folha branca de papel, assim se produz nossa ideia do que seja o bem e o  mal. Por isso, muitas pessoas passam por experiências iguais e chegam às  mesmas conclusões, concordam que certas coisas são boas e outras, más.    KANT: Acreditava ser seu imperativo categórico “age somente de acordo com uma máxima  que possas, ao mesmo tempo, querer que se converta em uma lei geral; age de modo a poderes  desejar que todo o mundo siga o princípio do seu ato”, um critério seguro sobre o que constitui  o bem e o mal.                                          ALGUMAS CORRENTES                                FILOSÓFICAS CONTEMPORÂNEAS       Pensamentos dos filósofos mais recentes acerca do bem e do mal têm em conta as relações so-  ciais do homem. Por esse motivo, vemos uma ética mais do grupo humano do que das leis divinas.  Vemos, então, a questão da bondade e da maldade tornar-se qualidade dos atos, dependendo da  situação em que são praticados.    A Escola Utilitarista: Os pensadores desta corrente afirmam que o      Acesse a Platafor-  bem é medido em termos de “o maior bem para o maior número possí-   ma do Pensar e leia o  vel”. O grupo social é o objetivo final da moralidade.              texto: “Os problemas                                                                      éticos e filosóficos no  A Escola Pragmática: Os pensadores desta corrente definem o bem     Século XXI”.  como aquilo que atende aos objetivos do grupo e do indivíduo nesse  grupo. Ato bom é aquele que considera o indivíduo como fim em si                                 Aprendendo a Viver Juntos  mesmo e não como meio.       Podemos dizer que, nas questões éticas relacionadas ao bem e ao mal, ao longo da história da  humanidade, percorreram-se dois caminhos: um absoluto e outro relativo. Ambos os caminhos  precisam ser redescobertos, porém o ponto de vista relativo é o mais acentuado. Hoje, quando a  ciência e a razão humana têm certo destaque, torna-se difícil encontrar argumentos para a de-  fesa de uma ética absoluta sobre o bem e o mal. A tendência é termos colocações relativas sobre  essas questões éticas.
32                             1. A partir do fato verídico ocorrido no 8º ano em uma escola do nos-                             so país e, depois das discussões e do aprofundamento sobre o                             conteúdo deste capítulo, vamos ler, pensar e discutir na       aRiRçneõfetelefeslxreindõxetiõessrcee-is-                           COM.A.I. quais as consequências de uma discussão e                           ação em nossa escola? Lembrando de que os pontos                           centrais do assunto são a consciência e a responsabi-                           lidade como condições indispensáveis para uma vida                           e ação ética.                                                  UMA DISCUSSÃO SOBRE                     dnpiaCslciCOnipOaMlMirne.a.AAsren..IIs..a                                                    REGRAS E NORMAS                                Em uma das primeiras aulas reflexivas em uma sala                           de 8º ano, alunos que estudam no Programa Educar                             para o Pensar desde as séries iniciais discutiam sobre                             regras e normas. Ao final dessa aula, o professor solici-              Comunidade de                             tou que os alunos levantassem as normas e regras do colé-              Aprendizagem                             gio. Depois de alguns exemplos, o assunto predominante foi             Investigativa                           o uniforme escolar (= fardamento). O professor solicitou bons                             argumentos contra e/ou a favor. A escola tinha bons argumentos a                             favor do uso.                             Após alguns instantes, um aluno expôs um argumento contrário, com                             a justificativa:                             O primeiro parágrafo da página 26, diz que todos somos diferentes porque pensamos diferente.                             Por que precisamos usar a mesma roupa na escola se somos diferentes?                             O professor concordou com o aluno e a justificativa foi aceita. Em seguida, vieram duas outras                             colocações com argumentos.                             Quando a escola quer fazer propaganda na mídia, compra espaços em jornais, televisão, rádio,                             outdoors, revistas etc. E, para isso, paga caro. Quando uso uniforme, ao vir para escola e voltar                             para casa, sou uma propaganda ambulante. A escola não deveria pagar para eu usar uniforme?                             Meu pai trabalha em uma empresa que exige uniforme no trabalho. Pela legislação trabalhista,                             a empresa deve dar o uniforme. A escola é uma empresa e exige uniforme, então deveria dar os                             uniformes aos seus alunos, porque os obriga a usá-lo.                             O professor, então, elogiou a turma, os argumentos e solicitou uma ação. Depois de algumas                             discussões, surgiu a ideia de toda a turma assinar um abaixo assinado contra o uso do uniforme                             na escola. O documento foi entregue à direção, e o professor propôs que, na semana seguinte, os                             alunos da turma viessem sem uniforme. Isso aconteceu e foi um transtorno na escola.                             Ao final da semana sem uniforme, todos os professores daquele 8º ano reuniram-se com os                             alunos e mostraram que eles usaram outros uniformes. Esses colocados pela sociedade – calças,                             camisetas, bonés, tênis, pulseiras, tatuagens etc. E usaram os três mesmos argumentos colocados                             contra o uso do uniforme escolar.    O Início de uma Mudança  Terminaram a discussão reforçando a importância de                     A COM.A.I do 8º ano                             pertencer a um grupo, ter regras e normas de convivência, e            realizará o trabalho                             de questionar e ser livre para fazer escolhas.                         de pesquisa sobre                                                                                                    o Bem e o Mal utili-                                Escreva e justifique um costume que você precisa respei-            zando o leitor de có-                           tar para poder viver em sociedade.                                     digo QR ou na Plata-                                                                                                  forma do Pensar.
33                                 CONSTRUÇÃO DE      PcPecoeonmnmssaoaorr                    UMA COMUNIDADE  PPRNRNOIOSITSTTTAAAAGGSSOO-                               Objetivos: reflexão prática sobre a realidade, ligando com                               os conteúdos dos capítulos 1 e 2. Preparação da turma                               para a importância de pertencermos a uma Comunidade                               de Aprendizagem Investigativa - COM.A.I.                               Material: fichas com nomes de profissões criados pelo(a)                               professor(a).                               Desenvolvimento:                                     1º passo: Cada participante recebe uma ficha com o                               nome de uma profissão e deve encorporá-la. Individual-                                 mente e em poucos minutos, cada aluno deve analisar a im-                                 portância da sua profissão nessa cidade, levantando argumen-    tos, defendendo sua importância e escrevendo na sua ficha. Em    seguida, cada um lê ou defende na COM.A.I. a sua profissão e a impor-    tância de sua existência.       2º passo: O(a) professor(a) coloca a seguinte situação:     Vamos viajar por mar, porque a cidade em que gostaríamos de ter todas essas profissões fica  distante. Depois alerta que haverá um problema, o navio poderá afundar, e só há um bote capaz  salvar sete pessoas.    3º passo: O grupo deverá decidir quais profissões devem ser salvas com mais urgência.    OBS.: é importante que todos os alunos tenham conhecido todo o conteúdo e todas as dis-  cussões destes capítulos. Deve-se escolher um aluno que terá a função de secretariar, re-  gistrando os argumentos e fazendo uma síntese das discussões e das decisões e escolhas.    Estas são as sete profissões escolhidas por nossa COM.A.I.:                                           DESAFIO AOS PROTAGONISTAS                                Aprendendo a Viver Juntos       O trabalho teórico deste capítulo é a base do estudo e entendimento do comportamento  moral e ético que queremos que seja de todos na comunidade. Vamos, agora, realizar esta  atividade na turma, tendo presente a formação da COM.A.I. que buscamos em todas as dis-  ciplinas escolares e também em nossas relações sociais. Por isso, a partir das discussões e  dos exemplos abordados em sala e neste capítulo, a tarefa é pensar em como fazer que  esse entendimento possa ser repassado para outras turmas do nosso colégio. Vocês  devem usar a criatividade para que haja envolvimento.
34                                                      PLATÃO (427-347 a.C.)                   “Pf“Pofeoernrnaassadadrraa                                                        “A visão do outro”                                Discípulo de Sócrates, é responsável pela primeira siste-                           matização do conhecimento filosófico. Afirma-se que quase                             tudo o que a Filosofia toma como tema para investigação          ccaaiixxaa””e                           tem origem em Platão, seja para aprofundar ou para ir con-       ddeeiixxaar                           tra.                                                             mmaarrccaass                                Como seu mestre, ele tem críticas à vida política e cultu-                           ral de Atenas, tanto pelo falso saber quanto na questão dos                           valores humanos. Em seus escritos, temos críticas à política                           de Atenas, que tinha orgulho de que seu modo de governo                                            era o mais justo, mas desgastava-se de injustiça                             em injustiça. Escreveu ele: “A legislação e a mora-                             lidade estavam a tal ponto corrompidas que eu, antes                             cheio de ardor para trabalhar para o bem público, conside-                             rando essa situação e vendo que tudo rumava à deriva, acabei por ficar atur-                             dido”.                             Quando jovem, Platão tinha a intenção de seguir carreira política. Com a                             condenação e morte de Sócrates, as intenções modificaram-se e ele escreve                             em outro diálogo: “Fui, então, irresistivelmente levado a louvar a verdadeira                             filosofia e a proclamar que somente à sua luz se pode reconhecer onde está a                             justiça na vida pública e na vida privada”.                             Assim, funda uma escola por volta de 387 a.C., quando compra uma proprie-                             dade nos arredores de Atenas. Sua Academia, na entrada, tinha a seguinte                             frase: “Não entre quem não saiba geometria”. Não era uma escola no sentido                             que temos hoje. Era uma espécie de “convento”, até com algumas conotações                             religiosas. Nesse espaço, discutia-se livremente a respeito de temas como                             matemática, música, astronomia e questões filosóficas.                                               Ouça o PODCAST “Platão e a Visão                                             do Outro”, disponível na Platafor-                                             ma do Pensar.    O Início de uma Mudança  PlPleeaarrrreeaa            A REPÚBLICA, OU SOBRE A JUSTIÇA                           ssaabeerr                           mmaaiiss             É considerada uma das principais obras de Platão. É a obra                                             da maturidade. Abrange toda sua filosofia, da ética à política e à                                             metafísica. Inicia-se, assim, a maioridade das problemáticas fi-                                             losóficas. Sua obra divide-se em dez livros, originalmente apre-                                             sentada em forma de conversas entre Sócrates e um pequeno                                             grupo de discípulos e amigos sobre a natureza política.                                                  No Livro I, busca-se a definição de justiça – será ela dar a                                             cada um o que lhe é devido? Fazer o bem aos amigos e o mal aos                                             inimigos? Isso seria piorá-los!
35       A justiça não pode produzir injustiça. No Livro II, a busca em provar que a justiça é um bem em  si. Examina sua natureza na vida da cidade e não mais do indivíduo. Descreve o nascimento da  cidade, como as necessidades e a divisão do trabalho, depois os requintes organizacionais e, por  fim, a expansão (conquistas, guerras). Para que haja justiça, é necessário o guardião, que deve ter  dons naturais, uma educação especial. Os comandantes dos guardiões serão escolhidos entre os  mais velhos, mais ilustrados e que amem a cidade. Defendia que os guardiões não tivessem ne-  nhum bem próprio, e fossem alimentados e alojados em comunidade pela cidade.       Os Livros III e IV abordam o tema da exclusão da música dolente e debilitante e a importân-  cia da ginástica para fortalecer a força moral mais do que a física. Também trata da questão do  bem-estar dos guardiões para que haja felicidade na cidade inteira.       Já no Livro V, promove uma discussão sobre a educação para homens e mulheres; suas di-  ferenças não importam para a função de guardião. Mulheres e crianças não serão propriedade  deste ou daquele homem, mas serão comuns a todos. Para que haja felicidade na cidade, é preciso  que os filósofos tornem-se reis, ou os reis filósofos.       A questão do conhecimento, a ideia de Bem e o mito da caverna estão presentes nos Livros VI  e VII. Neles, Platão chega a falar do governo perfeito, em oposição ao governo corrupto, presen-  te no Livro VIII. No Livro IX, fala do homem tirânico com desejos desregrados. Faz a pergunta:                                                                            esse homem é feliz? Finalmente, no Livro                                                                                X da obra A República, surge a crítica                                                                                  aos artistas: eles praticam a imitação                                                                                  afastada do real.                                                                                                         Pensaram “fora da                                                                                                       caixa” e deixaram                                                                                                         marcas. E você?    Aprendendo a Viver Juntos
Liberdade   de ação  e decisão        03
37    ddPiPisseeccnnuuststaiairrrr,e,e  pprordoudzuirznira  CCOOMM.A.A.I..I.               Comunidade de             Aprendizagem               Investigativa                                      O POTE E O FURO       Certa vez, Deus resolveu descobrir quem era o ser humano mais inteligente e livre de todo o       Aprendendo a Viver Juntos  universo. Ele estava cansado de ver os seres que havia feito com tanto amor transformarem-se  em criaturas preguiçosas, complicadas, desanimadas com a vida. Seu maior desejo era encontrar  um ser humano que, além de inteligente, fosse corajoso, leal, livre, sincero e honesto. Então, Deus  apanhou um pote de argila e fez um buraco no fundo. Depois, sempre que encontrava uma pes-  soa, dizia-lhe:       - Por favor, traga um pouco de água para mim.     A primeira pessoa a quem Deus fez esse pedido correu para atendê-lo. Mas, quanto mais ela  enchia o pote, mais rapidamente este esvaziava, porque a pressão da água alargava o buraco do  fundo. A pessoa acabou desistindo e pediu perdão por não ter conseguido ajudá-Lo. Deus apa-  nhou o pote e continuou a procurar.     Encontrou outro homem e lhe fez o mesmo pedido. O homem reparou que havia um buraco  no fundo do pote, mas fingiu ignorá-lo. Correu para encher o pote e, cada vez que este esvaziava,  corria para enchê-lo novamente. E também acabou desistindo e desculpando-se por não ter con-  seguido ajudar Deus.     Deus continuou a pedir a mesma coisa a todas as pessoas que encontrava pelo caminho, mas  não encontrava ninguém que o enfrentasse e respondesse que seu pedido era absurdo. Como é  que se poderia encher de água um pote furado?     Até que um dia passou por uma casa e avistou uma linda criança brincando na terra. Deus  olhou ao seu redor, mas não viu ninguém por perto, então, resolveu observar a criança. Ela havia  feito vários buracos na terra e brincava de jogar pedrinhas dentro deles. Deus ficou surpreso com  a pontaria certeira da criança e decidiu testá-la. Deu-lhe o pote furado e pediu-a que o enchesse  de água.     Depois de examinar cuidadosamente o pote e ver que estava furado, a criança levantou os  olhos para o céu, que estava completamente azul e sem nuvens, virou-se para Deus e disse:
38             - Está começando a chover. Quero que o senhor pegue meus buracos e guarde-os em uma gru-       ta para que eles não fiquem cheios de água.             Ao ouvir esse pedido, Deus começou a rir. Percebeu que a criança fazia-Lhe um pedido tão       extravagante quanto o que Ele andava fazendo aos humanos. Então, abaixou-se, fez um carinho       na cabecinha da criança e declarou:             - Você é o ser humano mais inteligente que já encontrei, mesmo sendo tão pequenino!                                                                                                                                 História do folclore africano             Depois de conversar sobre a história na COM.A.I., escreva algumas relações entre a história e       o tema “Liberdade de ação e decisão”, que vamos trabalhar neste capítulo.    O Início de uma Mudança     Quem não quer ser livre? Esta é uma aspiração       AAmmdpdpololisiasaççããoo                           que faz parte do ser humano. Na história dos po-     eenntteennddiimmeennttooss                           vos, lutas, guerras e revoluções foram deflagradas                           buscando a liberdade. Quantas vezes reclama-                 É classificado pela filosofia como a in-                           mos, brigamos e até nos magoamos em defesa da            dependência do ser humano, o poder de                           liberdade que queremos ou que achamos ser de             ter autonomia e espontaneidade. A li-                           nosso direito?                                           berdade é um conceito utópico, uma vez                                                                                    que é questionável se realmente os in-                              Buscamos a condição de ser livre. Como falar          divíduos têm a liberdade que dizem ter,                           da liberdade humana não levando em conta uma             se ela existe ou não. Muitos pensadores                           condição concreta, histórica e socialmente locali-       pensaram sobre o conceito de liberdade,                           zada? Liberdade é só aquela que existe realmente,        como: Sartre, Descartes, Kant, Marx.                           e ela é possível dentro dos condicionamentos hu-                           manos, sociais e políticos.                                  Liberdade significa o direito de agir se-                                                                                    gundo o seu livre arbítrio, de acordo com                              Outra questão apresentada é sobre o significa-        a própria vontade, desde que não preju-                           do do termo liberdade. Existem definições histó-         dique outra pessoa, é a sensação de estar                           ricas, concepções particulares, dogmáticas e ideo-       livre e não depender de ninguém. Liber-                           lógicas em que a vida e a liberdade estão muito          dade é também um conjunto de ideias li-                           próximas – “Eu sou a minha liberdade”, já dizia          berais e dos direitos de cada cidadão                           um dos personagens na peça As Moscas, de Sar-                           tre.                                Em busca do significado dá para contrapor li-                           berdade ao que não é ter liberdade de ação, de                           pensamento, de desejos. Na busca de um ponto                           comum, pode-se dizer que liberdade é, por essên-                           cia, a capacidade de escolha. Por isso, onde não há                           possibilidade de escolha, não há liberdade.                                Diante disso, outras questões podem ser fei-                           tas: o que está e o que não está ao nosso alcance?                           Até que nível vai o poder de escolha, de desejo,                           de querer algo? Enfim, somos totalmente livres?                           Poderemos algum dia ser realmente livres?
39    PODEMOS ESCOLHER,   VIVER SITUAÇÕES?       Seres humanos vivem determinadas circunstâncias. Somos levados a fazer algumas coisas, de-                      Aprendendo a Viver Juntos  fendemos e escolhemos outras. Muitas vezes, a realidade em que vivemos obriga-nos a realizar  ações contra a nossa vontade, pois estas são necessárias. Aqui, entra outra questão para pensar.                             As necessidades da vida, as regras sociais, não são maio-                           res e mais fortes do que o desejo de ser livre?       Ao fazer algumas coisas, apesar da definição de liberdade como a possibilidade de escolha, de  autodeterminação, sofremos pressões internas e externas, as quais chamamos de coação:                     Coação Interna: Pelo inconsciente, os instintos, as energias vitais, os senti-                   mentos reprimidos, a nossa herança genética. Vejamos alguns exemplos:                         em uma mesma família há filhos com temperamentos, tendências, desejos,                       formas de expressar seus sentimentos totalmente diferentes;                         uma pessoa que tentou suicidar-se não pode ser julgada moralmente, por-                       que, no momento do seu ato, não estava em condições mentais estáveis, esta-                       va sob o domínio de forças inconscientes.                     Coação Externa: Quando as obrigações vêm do mundo em que vivemos. Al-                   guns consideram essa forma de relação uma violência que pode ser física                   (ameaça à vida), moral (sua integridade) e psicológica (adotando certos com-                   portamentos que são impostos por alguém).       Jean-Paul Sartre (1905-1980), filósofo, escritor de vários romances e algumas peças de teatro,                                                   engajado nos problemas do seu tempo, afirmava que a li-                                                      berdade é o fundamento do ser humano. A liberdade está                                                      no começo do comportamento humano, porque sempre                                                                    há necessidade de escolha. Sendo assim, o ho-                                                                     mem é essencialmente livre, e por isso Sartre                                                                     dizia que “o homem está condenado a ser li-                                                                      vre”.                                                                          Com essa afirmação, a provocação para                                                                      pensar em algo que não é possível escolher, e                                                                       vem a condição da morte: “Faço certas coisas                                                                       ou morro!” Podemos pensar que morrer por                                                                        algo em que se acredita é uma escolha, por-                                                                        tanto, a morte pode ser uma escolha e, ao                                                                         fazê-la, estamos exercitando a liberdade.
40             É claro que, ao colocarmos esse extremo, estamos simplesmente reforçando a capacidade de        escolha, pois a opção principal sempre é pela vida.             Para Sartre, a liberdade do homem é integral, não há possibilidade de escalas ou graus de liber-        dade. O homem não pode ser mais livre ou menos livre, ninguém pode escolher “mais ou menos”        entre duas ou mais coisas.             A liberdade defendida por Sartre, a qual não admite graus, entra em atrito com a liberdade        vivida, que leva em conta as condições do dia a dia. Essa liberdade não é absoluta, é situada. Sou        livre em determinadas situações e, em outras, não. Essa é a liberdade que existe em graus, em        etapas, que pode ser conquistada ou reprimida.             Viver cada situação é dar-se conta de que, na complexidade das relações sociais, culturais,        político-econômicas, enfim, da vida humana, a possibilidade da liberdade é uma conquista. A        liberdade é uma construção a todo instante, aceitando as determinações das quais não se pode        escapar e a resistência às determinações que serão superadas.             Essa liberdade vivida, situada, é também um ato de escolha. A todo instante precisamos exer-        cer a capacidade para sermos livres, pois ninguém foge da escolha. Quando há muitas ou poucas        opções, essa liberdade pode ser mais fácil ou mais difícil de ser realizada.                             ESCOLHA FEITA IMPLICA EM                            UMA RESPONSABILIDADE    O Início de uma Mudança     A palavra responsabilidade deriva da palavra resposta.                                  Saiba mais sobre Res-                           Assim, dar uma resposta a um fato, a uma situação, é dar o                              ponsabilidade Moral e o                           consentimento, o aceite, a palavra; e somos responsáveis por                            Poder da Escolha pesqui-                           tal situação.                                                                           sando na Plataforma do                                                                                                                   Pensar.                              A definição filosófica do termo responsabilidade remete à                           possibilidade de prever os efeitos do próprio comportamento                           e de corrigi-lo com base em tal previsão. Na verdade, a noção                           de responsabilidade baseia-se na de escolha, e a noção de es-                           colha é essencial ao conceito de liberdade limitada*.                                Ao escolher algo, deixo imediatamente outra possibilidade                           de lado. Isso implica em consequências, resultados. Uma vez                           a escolha feita, pela ação dela, tenho responsabilidades. Tam-                           bém tenho responsabilidade sobre as consequências de mi-                           nha ação. Liberdade e responsabilidade estão sempre juntas.                                Detectar o progresso moral é ter como índice a responsabi-                           lidade moral das pessoas ou dos grupos sociais. Porém, falar                           de responsabilidade moral é relacionar as ações com a neces-                           sidade e liberdade humanas. A pessoa só pode ser cobrada pe-                           los seus atos quando tem certa liberdade de opção e decisão.                                Nesse sentido, só posso julgar uma ação, um ato, como res-                           ponsável ou não, ao examinar as condições concretas em que                           se realiza. Somente assim é possível perceber se existe a pos-                           sibilidade de opção, de decisão, de escolha (= liberdade), para                           cobrar uma responsabilidade moral.                             			                           *.ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4ª.ed., São Paulo: Martins Fontes, 2000.
41    PPeaarrraeafsslaaebbtieerrr                      AS TRÊS PENEIRAS  nnaaCCOOMM..AA..II..                                   Certa vez, um homem esbaforido                                       aproximou-se de Sócrates...    Comunidade de                                   Na condição de teu amigo,  Aprendizagem                                   tenho algo muito grave para   Investigativa                                                    dizer-te, em particular.                ...e sussurrou-lhe nos ouvidos:       Espera! Já passaste o que                     Sim, meu caro amigo, três  vais dizer pelas três peneiras?                peneiras. Observemos se tua                                                 confidência passou por elas.                                                    A primeira peneira é a da                                                  verdade. Guardas absoluta                                                  certeza quanto àquilo que                                                       pretendes comunicar?                      Três peneiras?               Bem, assegurar mesmo, não  Exato. Decerto peneiraste o assunto pela          posso, mas ouvi dizer…  segunda peneira, a da bondade. Ainda                                           Ah! Então recorramos à ter-  que seja real o que julgas saber, será pelo                                    ceira peneira, a da utilidade,  menos bom o que me                                                              e diz-me o proveito do que  queres contar?                                                                          tanto te aflige.                                                                                             Útil? Útil não é.     Aprendendo a Viver Juntos  Isso não! Muito  pelo contrário.            Bem, aquilo que pensas confiar não é verdadeiro, nem bom,         nem útil, portanto esqueçamos o problema e não te preocupes          com ele, já que de nada valem casos sem edificação para nós.
42                                                    ESTRUTURA DO TEXTO                             VERDADE    Qual a correspondência com o fato?        É verdadeira                                                                                É falsa                           BONDADE    Qual a intenção daquele que fala?                                                                                É boa                           UTILIDADE  Qual a consequência daquilo que se fala?  É má                                                                                  É benéfica                                                                                É prejudicial                                Aqui, surgem algumas questões para refletir, relacionando essa história com o conteúdo do                           capítulo.                                	                           a. Há condições necessárias e suficientes para colocar alguém como responsável por determinado                           ato?                             b. Quando e como posso censurar ou louvar uma pessoa por sua maneira de agir?                             	                             c. Onde se encontra o fio que separa a ação de um indivíduo, de modo que ele possa ser julgado                           total ou parcialmente responsável ou isento por seus atos?    O Início de uma Mudança
43    1. Vivemos em uma sociedade que defende liberdades para o ser hu-    mano, tais como: de expressão, de ir e vir, de crença, de traba-    lho etc. Procure assistir a dois programas de auditório na        iRaRnçeetõfefellresedxixnõiõsetceesrise-  televisão. Analise e registre no espaço abaixo se neles  está sendo defendido ou não algum tipo de liberdade.  Procure justificar suas anotações:  	       Programas: 	    e	                                                          pdnCliaisOncCiaMpOrlMien.Asa.Anr.Ie..aIs.    	    Quais liberdades estão sendo defendidas?    Quais liberdades não estão sendo defendidas?                                                                                 Comunidade de                                                                                 Aprendizagem                                                                                 Investigativa    2. Uma pessoa pode considerar-se livre mesmo com os seus direi-    tos de ir e vir retirados temporariamente (ex.: exilados políticos, presos,    ameaçados e outros)?      PPcceeonnmssaaoorr                         JOGO DA NASA                                                   Aprendendo a Viver Juntos  PPRNRNOOIISSTTTTAAAAGGSSOO-                                                                REGRAS:                                 1. Ler as instruções e fazer a atividade, sem fazer perguntas.                                 2. Perguntar apenas em caso de dúvida sobre o preenchi-                               mento do formulário.                                 3. Na fase da discussão e escolha na COM.A.I., deve prevale-                               cer a opinião da maioria, sempre tendo justificativas.                                 4. Atentar para o tempo estabelecido.                                 5. O professor tem no livro do Professor, que está na Pla-                               taforma do Pensar, a resposta da NASA para continuação                               da atividade. Após a sua resposta e a do grupo, junto com                               a resposta do professor e da NASA, vocês deverão chegar a                               um consenso.
44                                                                 ATIVIDADE:             Você faz parte da tripulação de uma nave espacial que deveria encontrar-se com a nave mãe        na superfície iluminada da lua. Entretanto, devido a um defeito mecânico, sua nave foi obrigada        a alunizar em um ponto distante, cerca de 200 milhas (= 322 km) do local do encontro. Durante a        alunissagem, a maior parte do equipamento a bordo foi danificada. Uma vez que a sobrevivência        da tripulação depende da chegada até a nave mãe, devem ser escolhidos os utensílios mais impor-        tantes e necessários para a viagem de 200 milhas.             A seguir, são apresentados os quinze utensílios que ficaram intactos, apesar da queda. Sua ta-        refa consiste em classificá-los por ordem de importân-        cia para a sua tripulação alcançar o ponto de        encontro.             Coloque o número 1 no mais impor-        tante, o número 2 no segundo mais        importante e assim por diante, até        o número 15, o menos importante.        Lembre-se de que você tem liber-        dade para escolher em um primei-        ro instante, depois irá discutir na        COM.A.I. sobre o que realmente le-        vará, mas, acima de tudo, é preciso        estar consciente da sua responsabili-        dade.                                                                                Minha   Decisão:  NASA  Consenso                                                                                     COM.A.I.    O Início de uma Mudança                               Caixa de fósforos                                                   Comida concentrada                                        20 metros de corda de náilon                                                    Seda de paraquedas                                                             Estufa portátil                                               Duas pistolas calibre 45                                 Uma lata de leite desidratado para                                                                       animal                               Dois tanques com 50 kg de oxigênio                                                         Mapa das estrelas                                                       Barco salva-vidas                                                                       Bússola                                                   Cinco galões de água                                      Sinais luminosos (com chamas)                                   Estojo de primeiros socorros com                                                          agulha de injeção                           Rádio com frequência modulada trans-                                   missor-receptor com bateria solar
45                                                          AVALIAÇÃO:     Conversar sobre o porquê das respostas, tanto pessoal quanto grupal. Os participantes podem  chegar a algumas conclusões pensando como COM.A.I. as questões abaixo.    1. O grupo pensa melhor e chega a resultados satisfatórios: a diferença individual geralmente é  menor do que a do grupo?  2. Quanto mais interação houver entre os participantes, melhores são os resultados?  3. Quanto maior o conhecimento sobre um assunto, também melhores são os resultados?  4. A liberdade de escolha exige que sejam explicitados os argumentos e a responsabilidade por  essas escolhas?                                        DESAFIO AOS PROTAGONISTAS         Como lemos e discutimos neste capítulo, “somente quando a pessoa tem certa liberdade    de opção e decisão, pode ser cobrada por seus atos”. Sendo assim, ao realizar esta atividade,    em primeiro lugar individual e, depois, em grupo, foi exercitada a liberdade com responsa-    bilidade. Agora, é hora de todo o 8º ano pensar uma atividade concreta na qual envolva a    liberdade de escolha (ação e decisão), e que tenha uma responsabilidade moral.         Sugestão: fazer com outras turmas do Ensino Fundamental 2 o que foi apresentado no    texto inicial – O pote e o furo. Fazendo, é claro, uma releitura e algumas adaptações    necessárias à realidade da escola.    “Pf“Pofeoernrnaassadadrraa          ARISTÓTELES (384-322 A.C.)  ccaaiixxaa””e                 “A felicidade (eudaimonia) como busca”.                                   Filósofo decisivo na história da Filosofia, serviu de fonte                              inspiradora para muitos outros, e as questões lógicas por ele                              propostas são importantes até hoje.                                   Ele não nasceu em Atenas, mas em    ddeeiixxaar                   Estagira, por isso foi apelidado de “O  mmaarrccaass                  Estagirita”. Seu pai foi médico da cor-                                te de Felipe, rei da Macedônia, pai de                                Alexandre Magno, do qual Aristóte-                              les foi professor.                              Realizou seus estudos na Academia e                                foi discípulo destacado de Platão, permanecen-    do ali até a morte do mestre. Funda, então, sua própria                                     Aprendendo a Viver Juntos    escola, situada nos arredores de Atenas, o Liceu, um centro de estudos de    ciências naturais. No Liceu havia dois cursos: um aberto ao público em    geral, chamado “exotérico”, e outro só para os discípulos, chamado “esotéri-    co”. Os seus discípulos eram chamados de peripatéticos (porque aprendiam    enquanto passeavam com seu mestre).    Ouça o PODCAST “Aristóteles e a Felicidade”,  disponível na Plataforma do Pensar.
46                                                     ÉTICA A NICÔMACO                         PlPleeaarrrreeaa                                Obra em dez livros, escrita por Aristóteles e endereçada ao   ssaabeerr                           seu filho Nicômaco. O título indica o tema ética, designando as  mmaaiiss                           concepções morais nas quais o ser humano deve acreditar.                             Aristóteles fala das virtudes humanas, que se dividem em                             dois tipos: as que nascem do hábito e as virtudes dianoéticas,                             que decorrem da inteligência e podem ser desenvolvidas por um                             ensinamento. O Livro II discorre sobre as virtudes: “A virtude                             é uma qualidade que se adquire voluntariamente, mas é preci-                             so ser justo, comedido e razoável. A virtude não é nem um dom                             nem uma paixão, mas um ato perfeito”.                             No Livro III, trata do aspecto voluntário e involuntário da                             ação. Uma ação pensada tem origem no desejo da pessoa. O ho-                             mem é, portanto, totalmente responsável por sua virtude, que                             nasce de sua intenção.                             A descrição, no Livro IV, é de certas                             atitudes éticas necessárias, tais como a                             temperança, o pudor, a magnanimidade,                             a franqueza. Já o Livro V trata da jus-                          Pensaram “fora da                           tiça e dos diversos tipos de relações. No                        caixa” e deixaram                           Livro VI, estão as virtudes dianoéticas,                          marcas. E você?                           que decorrem da inteligência; e ele fala                             de cinco: ciência (episteme), arte (techne),                             prudência (phronésis), inteligência (noûs)                             e sabedoria (sophia).                             O Livro VII condena os homens que                             utilizam o saber para objetivos nefastos.                             Já os Livros VIII e IX são os mais conheci-                             dos e tratam da amizade, do amor.                             Finalmente, no Livro X, a teoria da                             felicidade. Libertado de seus males    O Início de uma Mudança  terrestres, o homem atinge a felicidade                             suprema, que não é contínua, por isso, é                             preciso ser virtuoso e respeitar os valo-                             res morais segundo os quais cada um foi                             formado.
Fundamentos             do modo de ser              (ethos), como             forma de vida                conquistada    04
48                              ddPiPisseeccnnuuststaiairrrr,e,e                           pprordoudzuirznira                            CCOOMM.A.A.I..I.                                                                                                                Comunidade de                                                                                                              Aprendizagem                                                                                                                Investigativa                                                             O DISCÍPULO HONESTO             Uma vez, um rabino decidiu testar a honestidade de seus discípulos; por isso, os reuniu e fez-        lhes uma pergunta:             - O que vocês fariam se estivessem caminhando e achassem uma bolsa cheia de dinheiro caída        na estrada?             - Eu a devolveria ao dono - disse um discípulo.           A resposta dele foi muito rápida, preciso descobrir se ele realmente pensa assim -, pensou o        rabino.           - Eu guardaria o dinheiro se ninguém me visse encontrá-lo -, disse um outro.           Ele tem uma língua fraca, mas um coração mau -, o rabino falou consigo mesmo.           - Bem, rabino - disse um terceiro discípulo, - para ser honesto, acredito que eu ficaria tentado        a guardá-lo. Por isso, eu rezaria a Deus, pedindo que me desse forças para resistir a tal tentação e        para fazer a coisa certa.           - Ah! - pensou o rabino. Eis o homem no qual posso confiar.                                                                                                                                  História do folclore judaico             Imagine e escreva a sua resposta ao rabino.    O Início de uma Mudança
49      AAmmdppolliissaaççããoo       Com as reflexões surgidas pela história inicial  eenntteennddiimmeennttooss  deste capítulo e para aprofundar o tema “Funda-                              mentos da Ética” é importante relembrar o que já                              vimos no capítulo 2.                                        Ética vem da língua grega, ethos, signi-                                  ficando modo de ser, a forma usada pela                                  pessoa para organizar sua vida em socie-                                  dade. É o processo a partir do qual trans-                                  formamos os valores surgidos no grupo e                                  na cultura em que vivemos em normas/                                  regras práticas. É a análise e reflexão so-                                  bre o comportamento do homem na                                  vida social de uma coletividade.       Na história, a ética é vista como um estudo ou uma reflexão sobre os costumes ou sobre as        Aprendendo a Viver Juntos  ações humanas, e também como a própria realização de um tipo de comportamento.                                  Quando trata das regras de comportamento so-                                cial, poderia ser chamada de ética normativa.                                Quando se refere aos costumes, é mais                                uma ética descritiva, especulativa.       Assim, de maneira didática, acostuma-se a diferenciar os problemas éticos em dois segmentos:     	                             1º o que trata dos problemas gerais e fundamentais, que são liber-                           dade, consciência, bem, valor, lei etc.;                           2º o que trata dos problemas específicos, que se aplicam nas ações                           individuais, que são os da ética profissional, da ética política, da éti-                           ca sexual, da bioética etc.     	     Vale a importante observação de que essa separação é didática, pois, na vida real, os problemas  éticos (gerais) estão juntos com os aspectos específicos.     A ética, sendo uma reflexão sobre os costumes, as ações e as realizações, pode ser vista como  uma arte que torna bom aquilo que é feito e também aquele que a faz. Sendo uma arte, um há-  bito (ethos), é esforço repetido, cujo fim é a boa qualidade das ações e do próprio indivíduo como  pessoa.     Um comportamento ético exemplar deveria atender às pretensões de universalidade e expli-  car as variações de comportamento, devido às formações culturais e históricas.
O Início de uma Mudança50                                                                                     PENSADORES E SUAS                                                                               REFLEXÕES SOBRE A ÉTICA                                    É importante saber que a reflexão ética sempre foi preocupação de muitos pensadores. Tam-                              bém muito do que hoje é aceito como comportamento moral e postura ética foi discutido e vivido                              em todos os tempos.                                    Faz-se necessário relembrar que, desde a Grécia Antiga, no período clássico grego, filósofos                              que viveram dos Séculos V ao III a.C. consolidaram pensamentos que fundamentam muitas ações                              hoje. Entre outros, temos.                                    	                                  SÓCRATES                                    Um dos maiores filósofos da Grécia clássica, consta que ele não escreveu nada,                              mas andava pelas praças e ruas de Atenas conversando com todos. Usava o mé-                              todo da Maiêutica, o qual consistia em interrogar a pessoa até que esta chegas-                              se por si mesma à verdade. Questionava as crenças das pessoas, ia atrás                              das ideias, sendo uma espécie de “parteiro de ideias” (no sentido de trazer                              à luz, dar vida), querendo e buscando um conhecimento mais elaborado.                              Só que, quanto mais conhecia, mais tomava consciência do limite do seu                              saber.                                    Usando o diálogo, levava as pessoas a perceberem, a partir de suas pergun-                              tas, os pontos fracos de suas reflexões. Buscava compreender os conflitos da                              cidade, das gerações, dos costumes, enfim, procurava entender a vida. Uma de                              suas afirmações famosas é a que retrata o filósofo humilde e investigador, e é o                              ponto de partida para chegar à verdade: “Só sei que nada sei”.                                    Acreditava que, ao sabermos o que é o certo, estaríamos agindo corretamente.                              Por meio dos seus questionamentos, queria encontrar definições claras e válidas                              para o que são o certo e o errado. Isso só seria possível pelo uso da razão. Usando a razão, a pessoa                              seria feliz, e teria não uma felicidade passageira, mas real. Isto é, uma felicidade na qual está o                              desejo de fazer os outros felizes.                                    	                                  PLATÃO                                    Discípulo de Sócrates, fundou, em Atenas, uma escola que chamou de Aca-                              demia. Usava o método socrático – a Maiêutica. Platão considerava esse méto-                              do seguro e importante para o avanço do pensamento filosófico entre os seus                              alunos.                                    Constatou Platão que tudo o que sabemos e fazemos ou se dá pelos sentidos                              (visão, audição, tato, paladar, olfato) ou pelo pensamento, pela razão. O conhe-                              cimento pelos sentidos é transitório e até enganoso. O verdadeiro conheci-                              mento é o das ideias. O mundo das ideias é o mundo da perfeição, que é eterno.                                    Esses dois mundos e sua divisão são o ponto central da filosofia de Platão,                              também caracterizada por sua visão de homem como sendo corpo e alma.                              Assim, a alma, ou o espírito, é intelectiva (racional), superior. O corpo é irracio-                              nal (sensível), inferior.
                                
                                
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