Important Announcement
PubHTML5 Scheduled Server Maintenance on (GMT) Sunday, June 26th, 2:00 am - 8:00 am.
PubHTML5 site will be inoperative during the times indicated!

Home Explore COLECTÃNEA DE TEXTOS -1.º CADERNO

COLECTÃNEA DE TEXTOS -1.º CADERNO

Published by dvazchaves, 2020-06-01 11:26:50

Description: O Concelho de Montalegre ao vivo

Search

Read the Text Version

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 46 SOCIEDADE O TEMPO EM QUE NÃO HAVIA DINHEIRO VIDAS DIFÍCEIS AS CARVOADAS DE GRALHAS E eu digo-lhe assim: e tu sabes fazer carvão? Tu sabes arrancar tórgos? E ela disse: mas tu ensinas-me! Fiz carvão As “carvoadas” ocorriam na Serra da Cepeda ou da Lagoa como também é até aos 19 anos, refere hoje a “tia Adília”. A grande conhecida pelos habitantes da aldeia, num tempo em que havia limites e dificuldade na produção do carvão residia na interdição da em que as pessoas viviam debilitadas, homens e mulheres, rapazes e sua prática. De facto, a ilegalidade das carvoadas - até para raparigas da aldeia de Gralhas faziam carvoadas às escondidas. Nesse cortar o mato era necessário uma licença - obrigava a que tempo, trabalhava-se para o caldo ou para a merenda. A produção de parte das operações técnicas tivessem de ser realizadas carvão, mais frequente nos meses frios de inverno, permitia compor o durante a noite: Quem não tinha de comer tinha que andar débil orçamento das casas: “a vida era assim, a gente não tinha de onde lhe sempre assim ao sobressalto, diz-nos a “tia Celeste”. viesse nada E tinha que comer. Valíamo-nos disso, da floresta, e depois a Temiam-se, para além dos guardas florestais, os rondistas, gente semeava a batatita, como agora, as couvinhas, cenoura E cebola. A os homens do terreno que a guarda enviava para a serra gente aqui não passa fome, mas dantes passou-se muita, era uma sardinha com o objetivo de impedir o corte dos arbustos e a queima para três e a terra dá tudo” - refere Fátima, uma habitante da aldeia. A das urzes. Havia guardas florestais e rondistas mais memória coletiva referente às últimas carvoadas de Gralhas remonta à rigorosos e com pouca empatia para com os infratores: década de 1960, embora nos anos de 1970, já depois da Revolução de Ainda fui responder à “mor do carvão”, mas não deu em Abril, ainda se tenha produzido, ainda que esporadicamente, o carvão. nada. Tinha 17 anos. Porque eu namorava com um rapaz e Havia quem fizesse carvão porque não tinha outra forma de se sustentar. tínhamo-nos zangado e vínhamos embora de queimar o Eram os cabaneiros sem terras próprias que no verão, se ocupavam dos carvão e diz ele assim: não o haveis de trazer, cangalho! E trabalhos agrícolas nos terrenos dos outros e no inverno a par das eu respondi-lhe assim: não, mas trago, c...! Depois foi-nos carvoadas, guardavam o gado dos proprietários. acusar à guarda! E depois no tribunal perguntaram-me porque é que fui fazer o carvão, e então eu disse: fui porque precisava. Se queria vestir blusa tinha de o ganhar que a minha mãe não tinha para mo dar. E depois deram-me pena suspensa, não sei se foi três ou quatro anos, mas pagar não paguei nadinha. Nadinha deste mundo. E foi assim a vida do carvão, conta a Adília, Mas havia, também, quem fizesse carvoadas apenas para ter dinheiro para Embora as “Carvoadas” consubstanciassem um tempo de comprar um pano para fazer uma blusa ou uma saia. Estas carvoadas carência materiais, a memória dos habitantes mais velhos, esporádicas, que não se enquadravam numa prática de sobrevivência ainda está ancorada a esta prática. financeira da família, eram sobretudo realizadas pelos mais jovens. Sozinhos ou em grupo, com um conhecimento mais ou menos sólido sobre todas as etapas do processo, usavam o dinheiro resultante da venda do carvão para aquisição de roupas ou para poderem ir a alguma festa da aldeia ou de aldeias vizinhas. Comecei a fazer carvoadas com 13, 14 anos Numa ocasião, que eu queria vestir uma roupinha à minha irmã, tinha de ganhar dinheiro que a minha mãe, coitada, não tinha para mo dar. E, então, fiz muito carvão e a minha irmã foi comigo vender. E depois ela já era uma mulherzinha e eu disse-lhe: já tens que andar vestidinha como ando eu, e quanto custará? Outra ocasião, uma amiga minha disse assim para mim: ó Adília vem aí a senhora da Saúde e eu queria um vestido e a minha mãe não mo compra, tu podias ir à carvoada comigo.

A BARROSANA | ANO II | EDIÇÃO 21 | JULHO2019 47 EMIGRAÇÃO NA DÉCADA DE 60 UM TESTEMUNHO NA PRIMEIRA PESSOA O «SALTO» Chamo-me José de Moura, sou de Gralhas e já passei a casa dos 70 anos de idade em Maio passado!... Em tempos, em 1964, resolvi ir prá França. Era inverno e lembro-me bem que foi num 23 de Fevereiro que parti. Fui daqui para Montalegre a pé. Saímos dali em direcção a Soutelinho da Raia sempre a pé. Em Soutelinho da Raia estivemos até à meia-noite numas terras, metidos no meio de umas silvas agachados, na fronteira. Dali seguimos, fomos ali para um povo espanhol que nos meteram num palheiro, estivemos lá o resto da noite sem comer nada. O resto da noite, e o outro dia todo até á noite. Chovia muito e não podíamos sair. De dia comemos, uma vez, mas ao menos comemos. Ao escurecer saímos, passamos lá num riozito que tinha só uma trave para passarmos. Passamos numa linha de comboio antiga, já desabitada. Entrámos num túnel, todos na trave, onde dali já íamos 44 homens, com dois passadores. Passamos estava cheio de ervas, codeços, silvas, aquilo não era transitado. aquele rio, fomos por cima de Verin, onde havia uma floresta, os pinheiros ainda Assim que entrámos dentro da linha, os tiros de trás de nós pelo eram pequenos, meteram-nos lá no meio da floresta, chegou-nos uma notícia que estávamos denunciados. Estivemos lá todo o dia, amanheceu estivemos lá túnel dentro, uns de trás e outros da frente, era só tiros não se todo o dia e toda a noite e para o outro dia todo o dia. Comer nada, ninguém foi ouvia outra coisa. prender-nos, ninguém nos apareceu. Nós não nos podíamos pôr de pé, sequer, Era só fogo, quando o passador nos disse: - \"Tudo para terra\" - nós porque ao pôr-nos de pé viam-nos de Verin, viam-nos de frente, de todos os deitamo-nos, e - \"Fiquem quietos. Até segunda ordem ninguém se lados, não tivemos outro sítio melhor onde nos esconder. mexa\". O fogo parou, os passadores foram falar com quem dava o fogo, os polícias ou lá com quem foi, estivemos ali umas duas ou três horas de noite, frio, chuva, tudo, fome. Dali, desde que parou o fogo, por um bocado veio então um passador e disse assim: - \"De pé e acompanhem\" - toca a acompanhar todos atrás dele. \"Nós íamos mal, começamos a gritar\" Fomos um pedaço grande, já era quase dia, fomos para a estrada estava uma carrinha pequena aberta. Éramos 44 homens, nem dez lá cabiam, mas tivemos que caber todos, era a subir na estrada. A carrinha não podia connosco, nós íamos mal começamos a gritar. Um colega meu, que já morreu, começou às vergastadas com o guarda - chuva em cima da cabine do carro para o chofer parar. O chofer desde que viu que a coisa era a mais parou - \"Se não quereis seguir desceide e fugi, fugi para aquela corga\". Nós não podíamos ir no carro, fugimos todos do carro e metemo-nos numa corga, onde encontrámos um lameiro, não podíamos ir de pé, tínhamos que ir aos tombos de encosta. \"Não cabíamos, fomos a cavalo uns dos outros\" Depois destas misérias, já estava “repeso” de me ter metido À noite escureceu, vai lá um homem chamar-nos: - \"Vinde depressa para a naquilo, mas já tinha pago ao passador “14 contos\" - o valor de estrada, vinde atrás de mim\", um passador. Fomos todos de gatas à estrada. \"uma junta de vacas\" - pela viagem que tinha negociado comigo de forma secreta porque \"nas aldeias as denúncias eram muitas, Chegamos à estrada estava lá um camião de marcha atrás encostado a uma inclusivamente no meio das famílias\". Depois disto, lá arranjaram barreira com a porta de trás aberta, um camião de gado fechado. Entrámos uma camioneta de gado que nos levou até Vitória, no País Basco, todos para dentro, uns a cavalo dos outros, aos empurrões. Meteram-nos dentro tendo depois gasto \"oito, nove dias\" para atravessar as montanhas daquele camião. Comer nada. Não cabíamos, fomos a cavalo uns dos outros. outra vez a pé, num \"inverno terrível\", com \"30 centímetros de Andámos, andámos, sem saber para onde nos levar. De noite, quando era que a neve nos Pirinéus\". gente precisava de fazer as nossas necessidades tínhamos um buraquinho redondo no fundo do camião e era ali que nos servíamos. \"Era o medo, o frio e ao mesmo tempo, digamos, a fome. Os passadores davam à gente um bocadinho de chocolate, um Andámos sem destino, o camião andou sempre. Frio, fome e tudo que era de bocadinho de pão e a gente bebia água nos rios. Nós passámos dois ruim. Fomos lá a um povo espanhol, passado de Ourense, lá num sei por onde ou três dias na montanha numa corte abandonada, tivemos que era, a gente num via era de noite dentro de um camião fechado, tanto valia ser queimar as tábuas que estavam lá para pôr a palha porque havia de noite como de dia. Parou o camião, abriram-nos a porta de trás entra um um frio terrível“. O \"momento de felicidade\" foi num outro dia, homem dentro do camião: - \"Fora, fora, fora\" - botaram-nos todos para fora do quando vimos um rebanho de ovelhas que permitiu ao grupo camião aos tombos e já estava outro fora - \"Vinde atrás de mim\". aconchegar-se no calor dos animais. Ao fim de 13 dias com tombos “Tiroteio no túnel\" aqui e tombos ali, de carro umas vezes e a pé outras, la acabamos Seguimos numas escadas de uma igreja, uma igreja à volta de uma povoação, um por chegar todos ao destino onde já tínhamos amigos à nossa escadario alto, chegamos à coroa, pulamos o muro para fora, meteram-nos numa espera. Nem me quero lembrar desse tempo.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 48 AS POTENCIALIDADES DA REGIÃO A BATATA DE SEMENTE A TRADIÇÃO E O FUTURO DESCRIÇÃO HISTÓRICA A batata é um dos alimentos mais apreciados e consumidos pela generalidade da Trazida para a Europa por volta de 1588, só população mundial, sendo actualmente produzida em cerca de 140 países. A história leva- cerca de um século depois, em 1758 é que a nos até aos distantes anos do século XVI em que os conquistadores espanhóis trouxeram batata foi conhecida no nosso país, sendo na para Espanha este precioso tubérculo que os povos indígenas dos planaltos andinos já altura chamada de \"castanha da terra\", uma vez cultivavam desde tempos imemoriais, e assim surgiu a introdução da cultura da batata em que desempenhou um papel importante na diversos países da Europa, incluindo Portugal. Aqui, houve necessidade de encontrar substituição desta nos nossos hábitos localizações adequadas à sua produção, e a região de Montalegre revelou possuir alimentares excelentes características para o efeito, situando-se mesmo entre as melhores localizações Nos finais do século XVIII as zonas mais no que se refere à obtenção de batata para semente com baixos índices de contaminação significativas de produção de batata, eram a virótica. Neste contexto, os recursos naturais das montanhas de Barroso, que se tinham Veiga de Chaves e a região Barrosã. Nessa época revelado restritivos ao alargamento do conjunto de culturas que poderiam estar à ocupava os terrenos quentes e húmidos, os disposição dos agricultores na procura do auto-abastecimento alimentar do período agro- mesmos utilizados nas culturas do milho, feijão pastoril, revelaram-se por isso uma mais-valia. Na comparação com outros espaços de e legumes, sendo o seu cultivo feito montanha de Trás-os-Montes, a região de Montalegre tem a vantagem de possuir uma intensivamente. O nome batata, só aparece no menor secura estival, factor importante se atendermos a que a cultura de batata é na sua entanto e pela primeira vez, em 1647, pelo grande maioria de sequeiro. Desde os meados da década de trinta até meados da década lexicógrafo Bento Pereira, na sua obra Thesouro de oitenta, do século passado, a batata protagonizou um papel fulcral no processo de da língua portuguesa. integração mercantil da agricultura no concelho de Montalegre que desencadeou um surto de desenvolvimento económico e social sem precedentes na região. Produziu-se batata de Sobre a introdução e o cultivo da batata na semente que era depois reproduzida com sucesso nas zonas mais quentes do país. Foram região barrosã, há quem defenda por um lado, anos que quebraram décadas de pobreza extrema e até criação de riqueza. Gradualmente que tal apenas ocorreu nos finais do século verificaram-se melhorias e modificações profundas nas condições de vida da população XVIII, enquanto outros afirmam , que a data da barrosã, nas habitações, nos regimes alimentares, no vestuário, no acesso à educação dos sua introdução no país e na região, se deu jovens, nas relações sociais e nos contactos com o exterior. A partir daí a produção apenas nos finais do século XIX. estagnou e sofreu um sério revés, para o qual contribuíu de sobremaneira os poderes Certo é que a notoriedade, consequência das instituídos na região, que não foram capazes de inverter a situação, acomodando-se características únicas e muito apreciadas da perante os surtos de emigração que à falta de expectativas se revelaram galopantes. Batata de Barroso, fez com que este produto Hoje, a aposta na produção da batata da semente no concelho de Montalegre voltou a ser atingisse a reputação de que goza hoje em dia. uma prioridade, e sendo assim, há quatro anos, através de uma iniciativa que a Câmara Esta reputação está bem patente no sucesso que Municipal implementou junto dos agricultores, iniciou-se o processo de revitalização é a procura da batata na região. desta actividade e os resultados têm sido extremamente positivos. Na última campanha, as Estudos recentes demonstram que a reputação condições climatéricas permitiram uma época de sementeira dentro do período normal desta batata leva a que a designação “Batata de para esta região e condições de cultivo favoráveis, tendo como resultado, a produção de Montalegre”, seja suficiente para que um mais de 300 toneladas, que como afirmou em tempos o Presidente do Municipio, foram consumidor se disponha a pagar mais por um menos 300 toneladas que o pais teve que ir buscar ao estrangeiro, dado que o escoamento produto que é, aos seus olhos, indestrinçável de esteve previamente garantido para toda a produção. produtos semelhantes existentes no mercado e vendidos a preços mais baixos. Nos dias que correm, a produção por toda a região é diminuta. Porém, face à notoriedade Esta reputação leva também a que hoje em dia, conseguida através dos tempos e até à vasta procura na região, o actual Presidente da apareçam no mercado batatas das mais diversas Câmara não desiste e quer fazer jus ao seu projecto de retoma da produção de batata de regiões que usam abusivamente \"batata de semente. Para o efeito tem vindo a apelar a que todos os interessados se inscrevam no montalegre” que induzem a proveniência da Gabinete de Apoio ao Investidor e de Dinamização da Economia Local, por forma a região. Utilizações que são suficientes para constituir-se tão cedo quanto possível, a base de aderentes e a desenharem-se os apoios destruir a reputação, conquistada ao longo de necessários à implementação desta medida. A ideia é recuperar «o estandarte de muitos anos, criando receio no consumidor que Montalegre e da região de Barroso\". Para tanto, a autarquia fornece gratuitamente a não acredita, quando a vê à venda, que a batata semente aos produtores, financia a análise dos terrenos que é obrigatório fazer-se, seja da região. financia as inspeções sanitárias e fitossanitária, e suporta os custos com um técnico que acompanha todo o ciclo de produção até ao seu armazenamento. No último ano, todos os ... campos inspecionados foram aprovados pela DRATM - Direção Regional de Agricultura de Trás-os-Montes - e durante o período de cultivo foram instaladas armadilhas para controlo e monitorização de pragas significativas para a cultura, numa experiência que se pretende manter no futuro. Gozando este projecto de ”boa saúde”, a Câmara de Montalegre irá “continuar a apoiar os agricultores, com a certeza de que no início da produção têm desde logo garantida a venda da batata a preços previamente estipulados.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 49 AS POTENCIALIDADES DA REGIÃO|A OPINIÃO DO PRESIDENTE* BATATA DE SEMENTE: A sustentabilidade do concelho também passa pela dinamização do Mundo Rural Após a quarta campanha de produção da batata Cultura é tudo aquilo que nos identifica como um da semente de Montalegre, tem sido um projeto povo, as nossas tradições, os pormenores do que tem correspondido às expectativas? quotidiano da vida barrosã, o misticismo, as nossas O projeto da retoma da batata de semente é um crenças. Tudo isso é cultura e tudo isso pode ser projeto que está a nascer do nada e representa o exponenciado economicamente. Além da “Sexta-Feira agarrar de um desígnio e a retoma de uma identidade. 13”, é o caso do Congresso da Medicina Popular, a Montalegre é a “Capital da Batata da Semente”, pois “Queima do Judas”. Construir eventos, violentando somos o único concelho de Portugal com condições esta memória coletiva, não é a melhor forma de para a sua produção. Para este projeto embrionário, prespetivar o futuro. foi criada a Coop Barroso que assessoria a produção, Também em abril, Montalegre recebe o Mundial com todo o rigor exigível, dando o apoio técnico de de RallyCross. Um evento importante para o forma graciosa aos produtores, com quem concelho? contratualiza o preço de venda antes da época se É um evento que nos distingue e nos categoriza. Um iniciar. Estamos, pois, numa cruzada em busca de terra pequena ter uma prova do circuito mundial, uma identidade perdida, e que esperamos que dê os cada vez tem mais projeção e mais adesão é algo que seus frutos. nos enriquece e nos deixa muito honrados. Também Com uma produção, na campanha de 2017, a neste sentido estamos a alargar o espaço para o rondar as 300 toneladas da batata de semente, público, que, cada vez mais, adere a esta modalidade, como está a decorrer a sua comercialização? nomeadamente, os nossos vizinhos da Galiza, pois é A Cooperativa, atempadamente, estabeleceu os meios necessários com diversas lojas desta forma que vamos rentabilizando o evento. Na avaliação para a comercialização da Batata de Semente, garantindo assim a sua escoação. Neste da FIA, das 12 provas que constituem o campeonato, no ano momento a batata está devidamente armazenada num espaço no Barracão, onde pode transato, a prova de Montalegre obteve o 6º lugar… Esta ser adquirida. Já tentámos criar um espaço mais acessível, aqui em Montalegre, para classificação não tem a ver com a pista em si. A pista de armazenamento e comercialização, mas ainda não foi possível. Montalegre, senão a melhor, está entre as melhores. Esta Estamos perante um projeto economicamente sustentável? mediana pontuação tem a ver com alguns pequeníssimos O desiderato é tornar esta atividade lucrativa e rentável, que é o principal objetivo da pormenores à volta da prova, tais como os serviços de apoio Cooperativa, da autarquia e de quem acredita na região. É um processo lento, mas desde prestados no período em que as provas decorrem, as casas já nos conforta saber que a produção da batata de semente representa uma diminuição de banho, a sua funcionalidade, o controlo das entradas e das importações, contribuindo assim para o aumento do PIB nacional, da riqueza do país saídas. Não sendo de muita importância, não podem ser e da sustentabilidade do território. Pensamos, pois, que o Mundo Rural, a propriedade desprezados. Vamos melhorando aos poucos. A FIA esteve, rústica, a atividade agrícola, pecuária e florestal são pressupostos em que teremos de recentemente, em Montalegre e a pista foi homologada por estruturar o nosso crescimento económico. mais cinco anos. E tudo faremos para garantir, a partir dessa Falando na floresta e o meio ambiente, como se poderá, a partir deste património data, a continuidade desta prova. natural, procurar alguma sustentabilidade do território? Passa pela promoção de eventos ligados à natureza? A capacidade hoteleira de Montalegre não consegue dar Certamente. Os eventos que fazemos contribuem para a visibilidade do espaço e a resposta às necessidades resultantes deste tipo de dinamização da atividade económica. Congratulamo-nos em ter em quase todos os fins eventos. Tem sido um aspeto menos positivo, neste de semana eventos, onde a relação do homem com a natureza prevalece em todos eles. processo? Os trailers que se fazem durante o ano, as Carrilheiras do Barroso, os desportos da Há dois aspetos a que a FIA aponta o dedo. A estrada para natureza, o Parapente, que este ano vamos ter o campeonato da Europa, são alguns Chaves e a incapacidade hoteleira do concelho para exemplos. Isto leva-nos a uma consciencialização pelo respeito pela natureza. responder às necessidades deste evento. A requalificação da Poderemos, assim, alavancar o turismo e a visibilidade na região, alicerçando-os no estrada para Chaves é um processo que está em curso. património paisagístico, ambiental e gastronómico. Somos reconhecidos como um Lamentamos que, tendo Montalegre um conjunto de eventos concelho dinâmico que se preocupa em mexer com a estrutura aqui radicada, dos quais os concelhos vizinhos tiram partido, não se tenha envolvendo todos os agentes económicos em prol da visibilidade e desenvolvimento do requalificado esta estrada no que respeita ao concelho de concelho. Chaves. Quanto à capacidade hoteleira, o Município tem feito Referiu a necessidade de uma consciencialização pelo respeito pela natureza. tudo para suprir esta carência. Já tentámos várias diligências Como se leva a cabo essa consciencialização? junto dos gerentes do Hotel em Montalegre para a abertura A floresta, e o meio ambiente, sempre foi uma preocupação nossa. As ações de desta unidade hoteleira, com 40 quartos, mas têm-se consciencialização da preservação da natureza passam pela educação, no âmbito dos revelado infrutíferas. Esta unidade está encerrada, não por programas curriculares nas escolas, da sensibilização dos pais e nos sinais que a falta de rentabilidade económica, mas por outros motivos. De autarquia vai dando, preocupação acrescida com as alterações climáticas. salientar que, a seguir a Chaves, Montalegre é o concelho do Que sinais a autarquia está a dar? Alto Tâmega que tem mais dormidas. *Em entrevista ao São vários. Salientamos a adesão do Município às Águas do Norte, para não termos no diarioatual.com futuro, eventuais problemas no fornecimento de água às populações. Estamos a estender ao concelho uma rede de distribuição de gás natural, menos poluente e mais em conta para as famílias. Vamos adquirir mais três viaturas elétricas, e desta forma dar o nosso contributo para a descarbonização da economia. Estamos com um processo de distribuição de recipientes para recolha de óleos usados, tanto para empresas, como para particulares. Seremos o primeiro concelho do país a substituir por completo as luminárias em mercúrio por lâmpadas com a tecnologia Led. São estes alguns sinais da preocupação da autarquia e dos autarcas de Montalegre pela preservação da natureza. Além do património paisagístico gastronómico e também a cultura poderá ser um fator de dinamização do território, como o evento da “Sexta-13”, cujo próximo evento é já em abril?

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 50 BARROSÕES ILUSTRES Tenente, António Augusto Seixas (1891 - 1958) O drama dos refugiados não é só de agora, ao longo da história, O Tenente Seixas, da Guarda Fiscal era Comandante daquela região de fronteira aconteceram, quase sempre pelas mesmas razões, grandes fluxos de e as suas decisões de tolerância e humanidade para com os refugiados refugiados. O Herói que aqui vamos falar, o Tenente Seixas, salvou desagradavam aos comandos militares destacados para a zona e à polícia centenas de refugiados espanhóis, que fugiam da guerra civil, o Tenente política PVDE/PIDE. Em Sines além de desempenhar a sua actividade Seixas, desobedecendo às ordens do Estado Novo, ajudou a salvar profissional, foi nomeado Vice-Presidente da Câmara Municipal de Sines em centenas de vidas e, por isso mesmo, foi castigado. Aqui fica um pouco 1941, tendo tomado posse no Governo Civil de Setúbal no dia 29 de Maio de 1941. da sua história. António Augusto Seixas de Araújo, mais conhecido por TENENTE Em 31 de Maio o Presidente da Câmara informou o Governador Civil que SEIXAS, nasceu em Montalegre, em 1891, e faleceu em Sines, em 1958. delegara no Vice-Presidente as competências de autoridade policial do Cedo adere às ideias republicanas. Organiza a defesa e combate a Concelho. Era também o Tenente Seixas o responsável pela Mocidade incursão monárquica de Paiva Couceiro, às ordens do seu amigo general Portuguesa em Sines, que se sedeava no Castelo. Nessa qualidade, procurou Ribeiro de Carvalho. É ferido no combate de S. Neutel, em Chaves. recolher fundos para o fardamento das crianças cujos pais não dispusessem de Tomou parte no círculo político de Nicolau Mesquita, chefe democrata meios para fazê-lo. Num ofício à Câmara Municipal em 1941, pedia apoio para a aquisição de dez fardas para dez meninos, que seriam escolhidos entre os mais de Trás-os-Montes. pequeninos e os mais pobres. Foi também dinamizador da Legião Portuguesa em Sines e Santiago do Cacém, fotografando as suas actividades. Em 1938 recebeu um louvor por se ter prestado a dar instrução à Legião Portuguesa. Mas a situação de um campo de refugiados clandestino só viria a ser descoberta, por discrepância em números, quando das operações de transferência para Tarragona de cerca de 1500 refugiados embarcados no navio Nyassa. Então, o Tenente Seixas, foi preso e castigado. Mais tarde, tornou-se industrial em Sines. CONTEXTO HISTÓRICO DA SUA ACÇÃO Um democrata português que salvou centenas de vidas de refugiados A presente mostra pretende dar a conhecer, resumidamente, a acção do espanhóis. O Tenente Seixas, comandante da Guarda fiscal na fronteira, Tenente Seixas (Guarda Fiscal), destacado, em Março de 1932, para comandar em 1936, evitou o massacre de grupos de refugiados espanhóis e o território que, de Norte a Sul, ia de Moura a Vila Verde de Ficalho e tinha organizou, manteve e ocultou um campo de refugiados com centenas de como centro a vila de Barrancos. Com a Guerra Civil Espanhola, centenas de pessoas num lugar do concelho de Barrancos, evitando também que pessoas afectas ao movimento republicano passaram a refugiar-se em vários elementos constantes de “listas negras”, políticos e intelectuais Portugal, tendo o Tenente Seixas acolhido estes refugiados em 1936. republicanos espanhóis, fossem encaminhados para Badajoz, onde Contrariando a Policia de Vigilância e Defesa do Estado (PVDE), o Tenente seriam fuzilados. Fez carreira na Guarda Fiscal, em vários locais do País, Seixas desdobrou-se em diligências junto da hierarquia militar e conseguiu do Minho ao Alentejo. Era perito em contencioso aduaneiro. Foi louvado “legalizar” o campo de refugiados da Herdade da Coitadinha e criou um outro diversas vezes: pela energia, zelo e dedicação na repressão do campo, clandestino, na Choça do Sardinheiro, junto ao Posto Fiscal das contrabando, acção material nos postos, impecáveis, com o mínimo de Russianas, onde acolheu perto de 300 pessoas. Fortemente criticado pelas dispêndio para o Estado, e pela actuação moral que desenvolveu junto forças no terreno, em especial pela PVDE, o Tenente Seixas foi alvo de uma dos seus subordinados. Em 1935, torna-se Cavaleiro da Ordem de Avis. investigação sobre a sua actuação e, no dia 4 de Novembro de 1936, foi Nos anos conturbados de 1936 a 1939 da história de Espanha, quando o acusado de ocultar a existência do campo de refugiados. Foi assim condenado regime eleito democraticamente é derrubado por militares golpistas, a dois meses de prisão no Forte da Graça, em Elvas, passando de seguida à com apoio dos partidos de direita, durante uma sangrenta guerra civil, e reforma antecipada. Contudo, passado algum tempo, conseguiu ser à medida que as tropas espanholas revoltosas da chamada Coluna da reintegrado na Guarda Fiscal e passou a comandar a secção de Sines, Morte de Yagüe progrediam de sul para norte ao longo da fronteira recebendo as devidas indemnizações. Em Oliva de la Frontera, Badajoz, portuguesa, as populações das localidades ocupadas procuravam eregiram um monumento em sua homenagem e os Correos de España refúgio em Portugal, pondo-se a salvo de sevícias e execuções. lançaram um selo postal onde aparece o Tenente fardado de oficial da Guarda Perseguições de toda a ordem desenrolavam-se na zona fronteiriça. Fiscal com a seguinte legenda “Teniente Seixas – El Schindler de La Raia”. Muitos eram mortos antes de passar a fronteira, outros eram detidos pelas autoridades portugueses e deportados para os seus adversários, devido à colaboração do governo de Salazar com os insurrectos fascistas. Neste contexto, a acção do Tenente Seixas foi ter evitado, em 1936, o massacre de grupos de refugiados espanhóis pelas mãos dos seus perseguidores, ou destes em conluio com alguns militares portugueses, e de ter organizado, mantido e ocultado um campo de refugiados com centenas de pessoas no lugar da Choça do Sardinheiro, concelho de Barrancos, evitando também que vários elementos constantes de “listas negras”, políticos e intelectuais republicanos espanhóis, fossem encaminhados para Badajoz, onde seriam fuzilados.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 51 Noticias de HISTÓRIAS DE ANTANHO PELAS ALDEIAS E LUGARES VIAGEM ATÉ CABRIL A FREGUESIA DITOS III O bom homem Barrosão, A Freguesia de Cabril é actualmente constituída por 15 aldeias, de DE Nunca fará contratos IV povoamento concentrado onde habitam aproximadamente 900 habitantes. É ANTANHO uma das mais belas inserida no parque nacional do Gerês. Fica situada nas Com os de Campos, Ruivães e Fafião, margens do cávado, albufeira de verde azul de Salamonde e no sopé das I E os que os fizerem, Não sei que cidade é esta, fragosas penedias da serra do Gerês. De Cabril são Carvoeiros, Fodidos estão!... onde vai tanta senhora, Pata mansa de Xertelo; bem hajam as de Pincães, Freguesia antiga, medieval, com pequenas aldeias de uma vida pastoril Pica-burros em Pardieiros, sossegada, tem também uma riqueza multifacetada. A paisagem oferece aos E saca bolsas os de Sacoselo!... Que trajam à lavradora. olhos os mais belos quadros... Aqui também se verificou, inevitavelmente, o êxodo rural, umbilicalmente ligado à procura de melhores condições de II V vida. No início desta freguesia, permanece o rasto histórico da existência de Em Fafião, Nossa Senhora das Neves, povoamentos pré-romanos como os Turodos, Esquesos e Nemetanos, povos Como tangerdes Do lugar de São Lourenço, que se dedicavam quase exclusivamente à pastorícia com a criação de cabras, Assim vos bailarão. Todo o caminho fui bem, Só na barca tive medo. o que daria o nome a Cabril. Cabril, assim como grande parte das aldeias do Barroso, foram durante séculos locais isolados, construídas sobre ermos, praticamente inacessíveis durante o Verão e alguns deixavam mesmo de o ser durante os meses de Inverno. Estes pequenos povoados pouco ou nada alteraram ao longo de centenas de anos a sua forma de vida e o seu viver.Eram povos que viviam em locais inóspitos entre fragas e pedras, encravados nas montanhas entre cursos de água, junto à florestas em zonas de difícil acesso, talvez por esse motivo o comunitário forçado e a entreajuda foi uma forma de ultrapassar todas as dificuldades com que se iam deparando e foi desse modo que conseguiram chegar com alguma vitalidade aos dias de hoje. Eram povos muito ligados ao sobrenatural, á natureza, e viviam em constante promiscuidade com os seus animais, desenvolveram lendas e crenças, criaram mitos e benzeduras, fundiram o passado pagão com o catolicismo, aprenderam as propriedades medicinais das plantas, aprenderam a ver as horas pelo sol, a escutar os sinais da natureza, enfim aprenderam a viver onde era difícil sobreviver. Presidente da Junta Freguesia Viviam na natureza e dela sabiam tirar o melhor proveito, e a respeita-la, Márcio Azevedo mas sempre com a consciência que Deus tudo perdoava, mas que a natureza era implacável e nada perdoava.Eram povos muito religiosos, Assim sendo, e segundo os historiadores, era o gado que abastecia toda esta demasiado religiosos, respeitavam os dias Santos, as trindades, não região, continuando ainda nos dias de hoje a existir. Com a derrota dos tinham a quem recorrer senão a Deus. Na semana da Páscoa, na Quinta- Lusitanos (povos que habitavam a Península Ibérica sob o comando do pastor feira a partir do meio-dia em ponto, se estivessem a podar as tesouras Viriato), Roma conseguiu o domínio total da Península Ibérica e de todos os deixavam de cantar, as enxadas deixavam de cortar terra, as gadanhas e povos e povoados Os habitantes das \"tribos\" derrotadas, foram escravizados foucinhas deixavam de tombar a erva, as vassouras deixavam de varrer, a e integrados no Império Romano, apesar de terem tentado resistir aos roupa ficava por lavar, não se podia fazer terra fresca, era assim até ao senhores do Universo. Cabril não foi excepção e podemos ainda encontrar um meio-dia da Sexta-feira santa.Outro dia muito importante era o 3 de dos vestígios mais visíveis dessa data, \"a ponte velha\" agora de difícil Maio, o dia da Santa Cruz, que no calendário católico celebra a data da visibilidade visto que se encontra a maior parte do tempo submersa pela descoberta da Cruz de Cristo em 326 por Santa Helena e ainda a recuperação da mesma Cruz por Heráclio que a reconquistou aos Persas barragem de Salamonde. e a levou ás costas para Jerusalém, tendo-a entregue ao patriarca A ponte foi construída com o intuito de permitir a passagem entre as duas Zacarias, no dia 3 de Maio de 630. Em Cabril, a Santa Cruz era o dia margens que se encontravam separadas por um riacho, mas que em dias de dedicado aos pobres e aos cabaneiros, os cruzeiros e as fontes eram Inverno chegava a não permitir a passagem dado o caudal gerado. Importa ornamentados de ramos verdes e flores silvestres e muito alecrim. Em pois, realçar o facto de que foram os Romanos os primeiros a unir a Freguesia casa nada se podia fazer, não se podia trabalhar com o gado, não se podia de Cabril, povo este que era exímio na construção de vias terrestres, ligando por o arado na terra, só se podia trabalhar para os pobres, se bem que assim todo o seu império. não havia gente rica, mas havia sempre a mais remediada. Era o dia de ir A 8 Km de Cabril podemos encontrar um vestígio de grande importância, a tirar esterco, lavrar, fazer as bessadas das pessoas que não tinham \"Ponte da Misarela\", onde as tropas francesas de Napoleão em 1809, tiveram animais e não tinham como trabalhar as terras, era estritamente proibido inúmeros problemas com os Barrosões. Encontra-se também neste local a trabalhar em casa, tinha que se ir ajudar aqueles que não tinham como estrada que ligava em tempos, Bracara Augusta a Áqua Flávia. Com o fim do fazer o trabalho, e quando alguém não cumpria, havia sempre um Império em 476 D.C., Cabril continuou a ser ocupado, pois existem marcos fenómeno que acontecia, segundo a linguagem popular. Ou eram os dessa ocupação, a \"cilha dos ursos\". Construção circular em pedra que servia arados que se partiam, ou os animais que se recusavam a trabalhar, ou para pôr a salvo as colmeias de abelhas do ataque dos ursos. Esta construção então um boi que acabava sempre por se \"escanhotar \". Era assim a tem muitos séculos, pois os ursos foram extinguidos do Gerês há quase 800 sociedade de há 50 anos e da qual já pouco resta anos. Mais recentemente no século XVI, Cabril lançou para o mundo uma Quanto a mim não sei o que pensar, mas lá que gosto de recordar e trazer figura notável, João Rodrigues Cabrilho, natural do lugar de Lapela da casa do à lembrança esta vida em comunidade, lá isso gosto. Americano que em 1542 ao serviço da armada Espanhola, comandou os navios \"San Salvador\" e \"Victória\", saindo do porto de Navidade em Espanha e descobrindo então a costa da Califórnia. Presentemente a vida rural ainda permanece bem enraizada, as vezeiras e as manadas de vacas, a vegetação sempre verde dos medronhos, azevinhos e teixos, fetos, lírios do Gerês, as suas fragas enormes de figuras ciclópicas, desafiando aventuras de águias, os corços, javalis e os garranos, saltando e correndo, disputam o território sagrado de uma serra que jura perpétuar a sua pureza ecológica… Cabril oferece-nos tudo isto, horas de regalar e comer com os olhos este misto de humano, animal e divinal da mãe natureza.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 52 VIAGEM PELAS ALDEIAS O QUE É QUE BARROSO TEM QUE FALTA NOUTROS LUGARES?!... Agora classificada como Património Agrícola Mundial, a região atrai cada vez mais visitantes que a escolhem para viver. Paula Oliveira de 41 anos, licenciada em Estudos Portugueses e Lusófonos e mestre em Gestão de Projetos Culturais, deixou Lisboa para se instalar na região do Barroso, onde se dedica ao turismo de natureza. Em Cabril, uma das aldeias mais bonitas do concelho de Montalegre, criou a Cabril Eco Rural, uma empresa que surge da “vontade de partilhar com o mundo um património que é de todos e do qual somos todos responsáveis”, conta Paula. A coordenadora do projeto assume como desafio “promover, conservar e potenciar valores culturais, humanos e patrimoniais de uma região cada vez mais desertificada” e quer “proporcionar experiências únicas aos visitantes, promover o desenvolvimento sustentável da região, contribuir para a criação de emprego local e ser uma referência no turismo internacional”. E foi a partir da aldeia de Cabril que lançou o projeto “Do Linhar ao Tear”. Um projeto dentro da cultura tradicional do Barroso que visa “recuperar as práticas agrícolas ancestrais que fazem parte da cultura identitária das gentes de Barroso”. “O linho tem uma importância de dentro de casa para fora, para a comunidade, que é identitário do nosso território e a nossa função é trazê-lo de volta, criar dinâmicas, criar interesse nos mais novos, para que se possam entusiasmar e aproveitar como um recurso”, explica Paula Oliveira. As “voltas que o linho dá” Em abril do ano passado, a coordenadora da empresa Cabril Eco Rural semeou a linhaça em Cabril, no lugar do Abrigo da Garrana, Na Corte do Boi, Ecomuseu de Barroso, Pólo de Pitões das Júnias, Paula hoje Quinta da AlbaLeda, um espaço onde existem cavalos e o Oliveira promoveu a iniciativa Conversas à Lareira com fiadeiras e burro Chiquinho. A sementeira do linho foi feita nos moldes tecedeiras e ali foi explicado todo o processo do linho. Cecília do Preto, de 72 tradicionais. Depois seguiu todo o ciclo do linho: colheu, ripou, anos - aqui as mulheres identificam-se e são conhecidas pelo nome dos molhou, espadelou, assedou, fiou, ensarilhou e dobou. Afinal, “Do maridos - de roca e fuso na mão convive e ensina aos turistas as “voltas que Linhar ao Tear” tem esse objetivo - recuperar o ciclo do linho, o linho dá”. Aprendeu a fazer todo o ciclo do linho em criança e fazia tudo reavivando a memória coletiva, dando a conhecer os processos muito bem, apenas “não o sabia plantar”. Hoje já não se dedica ao linho, mas tradicionais da cultura, desde a sua plantação até à tecelagem e continua a fiar a lã, a fazer as meias e os gorros e ainda tece. Sempre que é convidada para partilhar o muito que sabe, não deixa escapar a “utilizar esta componente agrícola, estas tradições e este oportunidade. Sentada no escano, ao lado de Cecília, Teresa do Raposo, de património para chamar turistas de qualidade, que valorizem, que 66 anos, conta que “fiar não é coisa fácil”. “Custa muito, os dedos ficam a queiram aprender”. doer e é preciso estar sempre a molhar o fio com a saliva e eu tenho pouca, porque bebo pouca água”, conta. No passado, Teresa fiou muito, à lareira e à luz da candeia, agora só o faz “nestas brincadeiras”. “Ai, eu, para estas brincadeiras sirvo e estou sempre pronta. E é bom que não se percam, porque convivemos uns com os outros e vem gente de fora”, diz a sorrir. Joaquim Guimarães, de 53 anos, veio de Amarante e dá por bem empregue a tarde em Pitões das Júnias. Diz que “é gratificante e é uma prova que há determinado tipo de tradições que não estão esquecidas” e acha “muito bem que as pessoas as possam reavivar”. “Não podemos deixar esquecer, de maneira nenhuma, o nosso passado, que acaba por ser o nosso presente e o nosso futuro”. Aurízia Dias, 67 anos, viveu longos anos em Lisboa, mas está de volta à terra, à Ponteira, porque “o coração assim o exigiu”. “O meu coração sempre me chamou para o Barroso e agora não quero outra coisa. O Barroso é especial, aqui é que é o puro, o genuíno, a tradição” - refere, recordando os tempos em que a sua família se dedicava à cultura do linho. “Antigamente não havia tecidos vindos de fora, tínhamos que nos vestir com aquilo que fabricávamos”, conta. E sobre a tarde passada à volta da lareira com as fiadeiras, Aurízia só tem pena que não aconteça mais vezes. O Barroso está na moda e Pitões também… Lúcia Jorge, presidente da Junta de Freguesia de Pitões das Júnias, concelho de Montalegre, classifica a iniciativa de “fantástica, na medida em que veio ao encontro do que é genuíno, do que ainda é vivido e praticado”. E o objetivo da Junta é mesmo esse, “revitalizar tradições” e, com isso, atrair turistas. “Nós, com a tradição, com o património imaterial e com a atividade diária das pessoas queremos atrair o visitante, para que ele se sinta bem e esteja aqui connosco”, conta a autarca. Concluído o ciclo do linho que vai continuar a realizar, Paula Oliveira da Cabril Eco Rural vai iniciar, em maio, o ciclo da lã, porque o objetivo do seu projeto é “trazer de volta as dinâmicas que foram perdidas e que são um marco fundamental da cultura tradicional do Barroso”. A autarca reconhece que a aldeia está na moda e é uma das mais visitadas de toda a região, por turistas de todas as idades, e confessa que até brincam com isso e se interrogam sobre o motivo de tanta procura. Mas ali sabe-se bem o por quê. E tem a ver com a hospitalidade das gentes, a paisagem, a gastronomia, a cultura, a tradição e a tranquilidade. Ali o turista sente-se em casa, porque “quando chega à aldeia é bem acolhido e sente-se cá bem”. A população de Pitões das Júnias vive da agropecuária, dos produtos típicos, onde se destaca o presunto, o fumeiro, o mel e os chás, do alojamento local e do artesanato.

MONTALEGRE 745 ANOS DE HISTÓRIA Edição Junho2018

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 54 …“não há democracia sem imprensa livre”!... 745 ANOS DE HISTÓRIA O PASSADO E O PRESENTE O Ecomuseu de Barroso é um projecto que abrange todo o concelho de Montalegre, mas que poderá alargar-se a todo o Barroso e contribuir, desta forma, para o desenvolvimento da Região. A ideia do Ecomuseu resulta da consciência, mas também da preocupação de salvaguardar um património nas suas múltiplas componentes, natural, cultural, social e económica. O projecto do “Ecomuseu de Barroso” teve o seu início há longa data, remontando a uma das visitas de Georges Henri Revière, a Portugal, nos anos 70. Este antropólogo sugeriu a realização de determinadas acções nesta região, como a criação do Museu do Tempo e do Espaço. O projecto inovador da criação do Ecomuseu de Barroso, por ele proposto, era apenas para as aldeias dentro do Parque Nacional. Mais tarde António Martinho Baptista e Fernando Pessoa, arqueólogo e arquitecto paisagista, respectivamente, do então Serviço Nacional de Parques, Reservas e Conservação da Natureza (SNPRCN), são duas das personagens que iniciaram o projecto que depois seria apresentado e ampliado uma vez que expandiu a sua área territorial para fora do Parque Nacional da Peneda Gerês, abrangendo a sede do concelho de Montalegre e a aldeia de Vilar de Perdizes. Deram sugestões e soluções que ainda hoje se encontram perfeitamente actuais, razão pela qual se mantêm no projecto que actualmente se começou a implementar. Também o nome do projecto é fruto de uma evolução: nasceu finalmente o ‘’Ecomuseu de Barroso’’ por decisão da Comissão Local para o Património A decisão da implementação em definitivo do Ecomuseu de Barroso remonta ao ano 2000, quando o Professor Fernando Rodrigues, Presidente da Câmara Municipal de Montalegre, contratou a empresa Quaternaire Portugal para a elaboração de um estudo de caracterização da região que apontasse um plano de trabalhos para a implementação, nos próximos anos, do Ecomuseu. As aldeias de Barroso possuem, de um modo geral, um grande valor cénico e cultural, pelo que estas povoações devem ser consideradas, no seu conjunto, como partes do Ecomuseu. Por fim, dado o enorme território concelhio e o número de lugares ainda povoados decidimos escolher os pólos que sirvam de motor de arranque. Assim em Montalegre será criada a sede do Ecomuseu, como Centro Interpretativo da Região, com capacidade de recepção de turistas e mobilização para visitar os polos temáticos que estão já em avançada fase de implementação nas aldeias de Tourém, Pitões e Salto. Tourém é uma freguesia do Concelho de Montalegre, situada num enclave bem dentro da Galiza, a uma distância de 30Km da sede do concelho que vê aproveitada a corte do Boi do Povo para evidenciar a Identidade Cultural. Este pólo irá funcionar em rede com o Centro Interpretativo em Montalegre, abordando as temáticas: “O Boi do Povo, as relações com a vizinha Espanha, o Couto misto, o sistema de regadio, o castelo da Piconha, o contrabando, os modos de produção local, as alfaias agrícolas e a venda de artigos artesanais. A aldeia de Pitões, situa-se na parte Ocidental do Planalto da Mourela, em pleno Parque Nacional da Peneda Gerês, virada a Sul, a mais de 1130 metros de altitude e com uma extensão de 36,890 km2 deárea, fazendo fronteira de vários quilómetros com a Galiza. Este pólo está situado na corte do Boi do Povo e funciona em rede com o Centro Interpretativo, em Montalegre, dando corpo às seguintes temáticas: “O Boi do Povo, o pastoreio em regime extensivo, a vezeira, a tecelagem, os abrigos de pastores, a agricultura de Montanha, os modos de produção local/alfaias agrícolas, o património etnográfico, o fumeiro, a aldeia velha de o Gerês, o mosteiro de Pitões, o Parque Nacional da Peneda-Gerês e o património Natural.” O último dos pólos situa-se na Vila de Salto, uma das maiores Afonso III freguesias do concelho, na antiga casa do Capitão. A Casa do Capitão é um bom exemplo das casas imponentes das famílias abastadas. Espaço vocacionado para a museologia da freguesia, com especial incidência na área etnográfica, a Casa do Capitão é também um lugar de oferta cultural com serviço de biblioteca, com acesso à Internet, serviços educativos e venda de artigos regionais. Tem um auditório para 50 pessoas que permite reuniões e colóquios, bem como a passagem de pequenos documentários representativos da vida barrosã. Além do destaque dado à vida agrícola e à forte presença da raça bovina barrosã, neste território, será prestada atenção especial à questão mineira, remetendo no futuro para um pólo das minas de volfrâmio da Borralha. O Ecomuseu espera pela vossa visita. (Fonte- José Dias Baptista)e AS ALDEIAS O concelho de Montalegre é constituído por 25 freguesias e estas por mais de 130 lugares. Na generalidade são povoações pequenas, cada vez mais pequenas – metade das casas recuperadas ou novas e outra metade em ruínas. Grassa entre nós a desertificação devido a uma administração pública monarquicamente centralizada, desde coloridos mas menos duradoiros e da Ponte, e ainda outras aldeias, há novecentos anos, em que a distribuição da eficazes. Há várias povoações com tais como Viade, Carvalhais, riqueza se faz à medida da gula insaciável da Foz construções tradicionais, bem Cervos, Donões, Gralhas, Tourém, do Tejo que tudo arrebanha, que tudo leva, que conservados, muitíssimo belos e Pitões, Parada e Sirvozelo. tudo consome. “Eles comem tudo e não deixam Orlando Alves nada!” Moram em casas de granito, algumas dignos de ajuda para a melhor Em todas elas há vários núcleos muito bonitas, mas a falta de educação estética e preservação do património construídos dignos de integrarem construído. Estão neste caso os vários roteiros de visita ao de outras educações, leva alguns a substituir os Fafião, Pincães, diversos lugares património cultural que o seus materiais por outros mais brilhantes e da freguesia de Salto, Currais, Vila Ecomuseu de Barroso defende.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 55 PELO MUNICIPIO CUIDADOS CONTINUADOS DE MONTALEGRE ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA CONCEDEU VOTO DE LOUVOR ÀS TERRAS DE BARROSO UNIDADE CUSTOU 2,8 MILHÕES DE EUROS E CRIOU 40 EMPREGOS A Assembleia da República aprovou, por unanimidade, um voto de congratulação pela distinção da região do Barroso como Património Agrícola Mundial. No texto apresentado pode ler-se que o órgão legislativo do Estado «saúda a região de Barroso pela distinção e todos os envolvidos no processo de candidatura». Para o Presidente da Câmara de Montalegre, este reconhecimento «é uma honra». O salão dos Paços do Concelho foi pequeno para testemunhar um dia histórico – na área da saúde – para o concelho. Falamos da inauguração de um equipamento, há muitos anos desejado pela população, que passa a preencher um espaço vazio e de VOTO DE CONGRATULAÇÃO N.º 527/XIII/3.ª carência. A nova Unidade de Cuidados Continuados Integrados Pela classificação do Barroso como Património (UCC) da Santa Casa da Misericórdia de Montalegre promete ser referência na região a avaliar pela beleza da obra e pela Agrícola Mundial modernidade de equipamentos que oferece. Refira-se que estamos perante um investimento adjudicado por 2.850 mil A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e euros e financiado pelo programa MODELAR da ARS (750 mil Agricultura distinguiu a genuidade do território região do euros). A restante verba é assumida pela Câmara de Montalegre, Barroso com base na forma tradicional de trabalhar as terras, de isto é, transferiu recentemente 120 mil euros e paga 18 mil/mês tratar do gado e na entreajuda dos seus habitantes. ao longo dos próximos 15 anos. Com isto, suporta o empréstimo O Barroso é assim o primeiro território português a integrar o Sistema Importante do Património Agrícola Mundial e um dos primeiros a ser aprovado contraído pela Misericórdia (1.700 mil euros). Teve protocolo na Europa, num reconhecimento da genuidade dos costumes, dos produtos e com a Câmara de Montalegre em 2011 ao qual foi aprovado pelo dos sistemas de agricultura tradicional desta região transmontana, que possui caraterísticas notáveis ao nível da diversidade, do saber tradicional, da executivo e assembleia municipal por unanimidade. biodiversidade, da paisagem, do modelo socioeconómico e, sobretudo, de resiliência face às alterações humanas, climáticas e ambientais. UCC ABRIU EM MAIO | 40 POSTOS DE TRABALHO A Assembleia da República, reunida em plenário, saúda a região de Barroso O processo que envolveu esta empreitada teve avanços e recuos. Construída em terreno afeto à Misericórdia de Montalegre, a pela distinção e todos os envolvidos no processo de candidatura. UCC teve que ultrapassar várias dificuldades a ponto de ser Palácio de S. Bento, 20 de abril de 2018 abandonada pelo empreiteiro ao longo de três anos. Por exemplo, de trabalhos somados a mais pelo empreiteiro, foram «MOMENTO SOLENE» pagos cerca de 150 mil euros. Outros investimentos aplicados totalizam 140 mil, a que acresce o custo de mobiliário e Para Orlando Alves, presidente da Câmara de equipamento de 350 mil euros. Esta unidade, com 40 camas – Montalegre, foi «um momento solene e de uma 30 de longa e 10 de média duração – está inserida na Rede grande honra». Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Para além do Uma atitude de «reconhecimento para com o serviço de saúde e apoio social que presta, participa na mundo rural» que faz parte do sentido de «dever de quem está aos comandos da nação e economia local com 40 postos de trabalho diretos: médicos, que merece destaque em todo o país». enfermeiros, psicólogos, técnicos de serviço social, O autarca acredita no «desenvolvimento e fisioterapeutas, terapeuta da fala, terapeuta ocupacional, sustentabilidade da região», que «fixe pessoas», animador social, nutricionista e auxiliares, e partilha serviços sendo este «o principal caminho que vai ter administrativos e de alimentação e outros com a Misericórdia. que continuar a ser percorrido». Rosa Valente de Matos | Secretária de Estado da Saúde «FEITO INÉDITO» «Não há algo mais importante do que cuidar bem das pessoas. É também muito importante para a economia do município. São Francisco Rocha, deputado na Assembleia 40 postos de trabalho de diversas áreas. Vamos tratar as da República, eleito pelo círculo de Vila pessoas de maneira integrada, respondendo a esta população e Real, destaca «o feito inédito que distingue não só, porque esta infraestrutura faz parte da rede nacional. A todos os construtores da paisagem e do descentralização vai existindo, estamos a percorrer um património agrícola do Barroso que é único, caminho. Se cada um fizer o que lhe compete, numa relação de invulgar e raro». A casa onde reside o órgão proximidade, é muito mais fácil tratamos melhor as pessoas. máximo da democracia portuguesa está Temos que nos preparar para uma nova realidade. Temos mais «orgulhosa», gesto motivador para que anos mas é preciso darmos mais vida a esse tempo. Elas querem «nunca se perca essa identidade tão viver mais, com mais qualidade de vida e é isso que o Governo genuína e única». tem estado a fazer.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 56 O ANO EM QUE UM MUNDIAL DE RALLYCROSS PASSOU POR BARROSO O Circuito Internacional de Montalegre viveu mais um notável fim de semana de provas a contar para o Campeonato do Mundo de Rallycross. Casa cheia, tempo agradável com alguns “farrapos de neve à mistura”, corridas fora de série e organização elogiada, foram os condimentos reunidos nesta segunda etapa, que se seguiu ao inicio do campeonato em Barcelona. Até 2022 o espectáculo está garantido no palco de todas as emoções!... O acordo foi firmado há um ano entre o Município de Montalegre e a IMG- International Management Group, conferindo à autarquia luz verde para a organização deste evento para os próximos quatro anos que se seguem., No último fim de semana de Abril, a segunda etapa desta competição serviu de mote para a recolha de imagens de rara beleza, presenciadas por muitos milhares de pessoas de várias nacionalidades, embora com predominância dos vizinhos galegos. Saliente-se, que Montalegre faz parte do Mundial de Ralycross desde a primeira edição oficial do campeonato, realizado em 2014, tendo antes integrado o calendário do histórico Campeonato da Europa da modalidade. Ano após ano, a autarquia local tem feito um sério investimento neste evento, melhorando as infraestruturas do circuito e apresentando novidades organizativas a cada edição. REGISTO PARA A HISTÓRIA O Presidente da Câmara Municipal de Montalegre é claro: “todos têm feito esforços grandes para dotar o país de uma infra-estructura como esta. É considerada a melhor pista do périplo mundial do rallycross e isso dá-nos muito orgulho e conforto. Obviamente que depois de todo este grande investimento realizado, não projectamos a nossa relação com a FIA para os próximos cinco anos, que são os que estão protocolados. Queremos ir além disso e já não tenho dúvidas ao sermos considerados pela organização, pelos pilotos, pelas marcas e por quem nos visita como a melhor pista E para além disso somos a única pista no Mundo que se localiza em altitude. Estamos convencidos de que esta relação com a FIA é para manter. Só assim as coisas farão sentido e se justificará o conjunto de investimentos que temos vindo a fazer. Orlando Alves lembrou ainda que os investimentos que estão a ser realizados devem estar finalizados dentro de três anos e, daí para a frente, tudo o que acontecer na pista será basicamente lucro. É um investimento que temos feito direccionado para a terra, para o desenvolvimento do território e para a visibilidade da região. Orlando Alves lembrou ainda, que o povo de Montalegre, do Barroso, quando é chamado a marcar presença não foge às suas responsabilidades. E é sempre com orgulho e vaidade que os barrosões aderem a estas iniciativas e vêem a sua terra ser falada em todo o Mundo.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 57 MEMÓRIAS NOVA GERAÇÃO GARANTE FUTURO AO GADO BARROSÃO HÁBITO DE FAZER PASTAR O GADO À Nova geração de criadores parece apostada em garantir VEZ, FOI RECUPERADO PELA a permanência do gado barrosão no concelho de ASSOCIAÇÃO VEZEIRA DE FAFIÃO Prática comunitária atravessou séculos e continua Montalegre. No solar desta raça autóctone há quem viva graças a Associação criada pelos mais novos. comece desde muito cedo a cuidar das barrosas nos A pastorícia, tem sido desde tempos imemoriais, uma das actividades mais relevantes do Baixo Barroso. O gado da raça autóctone é uma das imagens de lameiros e nos montes. marca de um território singular, pleno de atractivos. Por ali há cascatas deslumbrantes como a de Pincães, com a água a precipitar-se de alturas Pedro Martins quando for grande quer ser veterinário. Para já, com consideráveis e a desfazer-se em borbotões de espuma dezenas de metros apenas 13 anos, é estudante e pastor. Fora do tempo de aulas ajuda o mais abaixo, esgueirando-se ao longo do rio por entre fraguedos. Há cumes pai no pastoreio de 32 vacas barrosãs na freguesia de Salto, concelho alcantilados que desafiam os mais afoitos, lagoas onde sabe bem dar um de Montalegre. Pedro vive e guarda a manada na terra que é mergulho quando o calor aperta; levadas por onde corre a água que irriga os justamente apontada como o solar da raça barrosã, ou barrosa, como lameiros e os campos de milho e boa gastronomia. Há muito para descobrir e gostam de dizer os locais. Encontramos Pedro e o pai, José Martins, apreciar no vasto concelho de Montalegre!... um domingo de manhã, nos pastos do Lugar de Paredes. Acabam de deixar a manada. Voltarão no final do dia para recolher os animais Num dos extremos, a 55 km daquela vila e a 500 metros de altitude, Fafião, ao estábulo. Gosto de ser pastor. Acho que é uma coisa natural. Ando aldeia localizada no Parque Nacional da Peneda-Gerês, é conhecida pela aí bem, diz-nos Pedro, confiante que é esta a vida que quer. Será vivência comunitária. Uma prática que atravessou séculos e continua viva veterinário certamente, mas não deixará de tratar das barrosas que graças ao empenho de gente jovem. Para manter as tradições, os mais novos conhece pelo nome. Aos fins de semana e nas férias escolares, Pedro fundaram uma associação a que deram o nome de uma das práticas levanta-se todos os dias pelas oito horas. Trata do gado até às seis ou comunitárias da aldeia: A Vezeira. Mas em que consiste então a vezeira?!... A sete da tarde. Começa a jornada com a distribuição de feno, milho ou vezeira, com regras e procedimentos muito próprios, começa por alturas de centeio aos animais que depois seguem para o pasto. À noite venho Maio quando o tempo fica mais ameno. Limpam-se os abrigos de tecto em metê-las na corte, explica. O rapaz que quer um dia ser veterinário colmo ou feito com “terrões” e toscas paredes graníticas, abandonados durante assume que esta é a sua vida desde pequenino. Começou a guardar o o inverno e reconstroem-se as cónicas “mariolas” - colunas de pedras e gado para aí há cinco, seis anos. Perguntamo-lhe se não preferia pedrinhas que sinalizam os percursos do gado nos montes. estar a brincar. Não, não!, responde com convicção. Os meus amigos Por cada duas cabeças de gado, um vizinho passa uma noite no monte; caso é só telemóvel e isso, assume com orgulho o pequeno vaqueiro. tenha quatro, a pernoita é a dobrar. Em caso de acidente ou doença de uma Pedro também o usa, mas poucas vezes, as suficientes para colocar rês, o prejuízo é dividido por todos que integrem a sociedade ou seja, pela as suas vacas no facebook. Orgulhoso, garante que a barrosã é a Vezeira, cuja prática termina em Setembro. melhor raça que há. O pai de Pedro diz com orgulho que o filho é que é o dono do gado. Trinta e duas vacas e uma meia centena de vítelos é quanto vale a manada deste produtor de Montalegre. Se houver mais jovens pastores como o Pedro, a raça barrosã e a pecuária em geral têm o futuro assegurado, garantida que fica a substituição de criadores mais idosos como Ana Rosa Costa, 61 anos feitos, que encontrámos mais a norte, na aldeia de Fafião. Já teve um rebanho de cabras, mas hoje cuida apenas de cinco vacas, uma barrosã, as outras quatro galegas. Ana Rosa cuidou de cabras até há cerca de dois anos. Nessa altura vendeu o rebanho, porque o marido teve de procurar rendimento mais certo como sapador florestal. Tive pena de as ter deixado, mas o meu marido agora não pode. Não havia quem fosse com elas para o monte, confessa-nos a pastora de Fafião, com as cinco vacas que vai dando alguma coisita. No concelho de Montalegre estão registadas 1764 vacas barrosãs reprodutoras. A prática comunitária conhecia ainda outros cenários, entretanto recuperados. Em todo o país elas serão 7 286, de acordo com dados da Associação Todavia, um dos equipamentos acabou por não ter índice de utilização muito Nacional de Criadores de Gado da Raça Barrosã. Só em Salto, onde a elevado. Hoje, recuperar usos e costumes de outrora é uma dor de cabeça, associação está sedeada, há 1 457 reprodutoras, o que explica a imagine-se, noutros tempos, o pânico causado pelos lobos. Mas para grandes nomeação de solar da raça barrosã a esta localidade. Nuno Sousa, males, lá diz o povo, grandes remédios: para apanhar os dizimadores dos presidente da associação, destaca também que Salto tem 113 rebanhos foi construída uma engenhosa armadilha, hoje ainda em bom estado explorações activas, a que se somam mais 44 no restante território de conservação. O fojo dos lobos era o nome dado a essa ratoeira, uma espécie do concelho de Montalegre. Em todo o país são 1 400 as explorações de triângulo delimitado por muros de pedra com um fosso num dos vértices. de barrosãs, se bem que as das terras do Planalto Barrosão, como as Nesse buraco, dissimulado por vegetação, caíam os lobos. Um dia, já lá vão suas vizinhas do Minho, beneficiem de um ecossistema e de uma muitos anos, houve mesmo festa rija na aldeia. Só “numa caçada em 1947, tradição de maneio próprios que lhes conferem qualidade superior a foram 4 lobos\" apanhados nesta armadilha. uma carne que foi reconhecida fora de portas, já no século XVIII, altura em que começou a ser exportada para a Corte de Inglaterra.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 58 PELO MUNICIPIO UNIDADE DE CUIDADOS CONTINUADOS INAUGURADO Com a presença da Secretária de Estado da Saúde, Rosa Valente de Matos, e antecedido de uma sessão protocolar nos Paços do Concelho, onde foi assinado um acordo de cooperação entre a Misericórdia de Montalegre, a Administração Regional de Saúde do Norte e a Segurança Social, foi finalmente inaugurada no passado dia 27 de Abril, a nova Unidade de Cuidados Continuados Integrados da Santa Casa da Misericórdia de Montalegre, com 40 camas, que proporcionará ainda a criação de 40 postos de trabalho. A Secretária de Estado da Saúde, Rosa Valente de Matos, inaugura esta sexta-feira, pelas 12 horas, a nova Unidade de Cuidados Continuados Integrados da Santa Casa da Misericórdia de Montalegre, nas tipologias de Médica Duração e Reabilitação (10 camas) e Longa Duração e Manutenção (30 camas). Antes, houve uma sessão protocolar nos Paços do Concelho (11h00) onde foi assinado um acordo de cooperação entre a Misericórdia de Montalegre e a ARS Norte e Segurança Social. Este novo equipamento , irá dar emprego a 40 pessoas. Esta nova Unidade de Cuidados Continuados Integrados da Santa Casa da Misericórdia de Montalegre promete ser referência na região a avaliar pela beleza da obra e pela modernidade dos equipamentos que oferece. Refira-se que estamos perante um investimento adjudicado por 2.850 mil euros e financiado pelo programa MODELAR da ARS - 750 mil euros. A restante verba é assumida pela Câmara de Montalegre, isto é, transferiu recentemente 120 mil euros e paga 18 mil/mês ao longo dos próximos 15 anos. Com isto, suporta o empréstimo contraído pela Misericórdia - 1.700 mil euros. Teve protocolo com a Câmara de Montalegre em 2011 ao qual foi aprovado pelo executivo e assembleia municipal por unanimidade. ECOMUSEU DE BARROSO . . . O DIA EM QUE UM PRIMEIRO- MINISTRO VISITOU MONTALEGRE CONVIDA À DESCOBERTA DE MONTALEGRE Paisagens fabulosas, gastronomia excelente e pessoas hospitaleiras, com histórias e tradições para dar a conhecer, são alguns dos encantos da vila de Montalegre e das aldeias que fazem parte do respectivo concelho. Com uma extensão de 800 km2, o Municipio tem uma grande riqueza paisagística, cultural e gastronómica para mostrar aos visitantes. Foi a pensar na preservação e divulgação desses “elementos únicos e distintivos”, que foi criado o Ecomuseu do Barroso. E foi a este propósito que a Vereadora da Educação da Câmara Municipal de Montalegre referiu que este é um “museu diferente dos outros”. “Este não é um museu em que as pessoas entram, veem e vão embora Coube a honra a António Costa, tendo começado por visitar uma área para casa. Este é um museu vivo. É uma maneira de aguçar a curiosidade, onde decorriam trabalhos apoiados pelo Fundo Florestal Permanente - o apetite para as pessoas partirem para o território e experienciarem o execução de fogo controlado em rede primária. Mais tarde, após ter que ele tem para oferecer” afirmou Fátima Fernandes, convidando todos assistido à assinatura de protocolos de criação de novas equipas de a atreverem-se à descoberta de Montalegre e a tudo que envolve esta vila sapadores florestais, o chefe do Governo insistiu na ideia do \"esforço Barrosã. extraordinário\" que está a ser feito, como \"nunca o país tinha feito\", para que o \"risco de haver incêndios seja minorado, porque há mais prevenção\". \"Mas, para que tudo isto seja possível aquilo que é essencial é aproveitarmos cada minuto, cada hora, cada dia da época que ainda estamos a viver para fazer o maior número de quilómetros de faixas de interrupção, a limpeza do maior número de hectares possível, e assegurar que num maior número de povoações e de casas, haja o afastamento devido para a sua protecção\". Para António Costa, é preciso continuar a fazer aquilo que é um \"grande desígnio nacional\", que é \"valorizar a floresta, para que ela deixe de ser um perigo e uma ameaça, mas, pelo contrário, seja uma fonte de enriquecimento dos territórios, de fixação e atracção das populações\".

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 59 AS POTENCIALIDADES DA REGIÃO|O TURISMO TERRAS DE BARROSO UMA IDEIA DA NATUREZA TURISMO Com o Larouco a espreitar em permanência Parque Nacional da Peneda-Gerês, esta região PITÕES DAS JUNIAS oferece deslumbrantes paisagens, em que a Natureza ainda conserva todo o seu encanto. A vila de Montalegre é dominada pelo castelo construído no século XIII sobre restos de uma fortificação mais antiga, o que demonstra a importância deste local como ponto estratégico de defesa do território. Nas redondezas, junto à típica aldeia comunitária de Pitões das Júnias, o pequeno e curioso Mosteiro de Santa Maria hoje em ruínas, propriedade que foi da Ordem de Cister (séculos XIII-XIV), é aida assim digno de uma visita. Sob o ponto de vista gastronómico, Montalegre é famosa pela produção de enchidos e presunto, sendo a Feira do Fumeiro que se realiza anualmente em Janeiro, a oportunidade ideal para adquirir estas iguarias. A sede do concelh, localiza-se na Região Norte, bem lá no alto de Trás-os-Montes, no vale do Cávado, entre as serras do Gerês, Barroso e Larouco e a cerca de 100 km a nordeste da cidade do Porto. É limitado a sul pelo concelho de Cabeceiras de Basto (distrito de Braga), a sudoeste pelo de Vieira do Minho (distrito de Braga), a oeste pelo concelho de Terras de Bouro (distrito de Braga), a nascente pelos concelhos de Chaves e Boticas, e a norte pela província da Galiza Pitões das Junias é uma aldeia de montanha (+ 1.200 (Espanha). O concelho de Montalegre ocupa uma área de 805,8 km 2 , na qual se distribuem 25 m.). Está localizada nas montanhas do P.N. de Peneda- freguesias: Cabril, Cambezes, Cervos, Chã, Contim, Covelães, Covelo do Gerês, Donões, Ferral, Gerês PN no norte de Portugal, na fronteira com a Fervidelas, Fiães do Rio, Gralhas, Meixedo, Meixide, Montalegre, Morgade, Mourilhe, Negrões, Espanha. Outeiro, Padornelos, Padroso, Paradela, Pitões das Júnias, Pondras, Reigoso, Salto, Santo André, Toda a região é ideal para caminhadas e excursões de Serraquinhos, Sendim, Sezelhe, Solveira, Tourém, Venda Nova, Viade, Vila de Ponte e Vilar de montanha, trilhas, ciclismo, etc. Nos passeios pelos Perdizes serão porventura as vilas e aldeias mais conhecidas..Trata-se de uma região muito arredores da aldeia, além de desfrutar de excelentes pluviosa, com muitas nascentes, e as suas águas dividem-se no planalto dando origem aos rios vistas panorâmicas sobre as montanhas em qualquer Cávado, Tâmega, Rabagão e a um grande número de ribeiros que atravessam esta região época do ano, encontramos vestígios significativos da vida urbana típica (casas, fornos, pontes, fontes, etc), e montanhosa e dão vigor aos prados naturais. também de valor histórico e arqueológico ao cruzar a História e Monumentos fronteira com a Espanha, perto do reservatório de Maos de Salas (Casola do Foxo). Também avistamos vários Do seu importante património arquitetónico rebanhos de cavalos selvagens, vacas, cabras nativas e destaca-se o Castelo de Montalegre, uma das ovelhas pastando nos prados e montanhas de Pitões e das principais referências arquitetónicas do aldeias vizinhas, protegidas de ataques de lobos por cães concelho, fundado no século XIII e reedificado de raça mastim de Castro Laboreiro, à vista das águias em 1331; o Mosteiro de Pitões; a Ponte da empoleiradas nos postes.. muito agradável de ver essa Misarela; a Igreja Românica de S. Vicente; paisagem natural!. a Casa do Cerrado em Montalegre; o Paço de A área foi declarada Reserva da Biosfera da UNESCO. Vilar de Perdizes; a Torre do Boi de Travassos; a Igreja de Paredes; o Castro de Pedrário; a Casa do Navegador Cabrilho e os Monumentos CASTELO DE MONTALEGRE Funerários Cista-Vila da Ponte. ambém sugerimos a visita ao Ecomuseu do Barroso, on- de pode ficar a conhecer um pouco mais os costumes e tradições desta vila barrosã. Tradições, Lendas e Curiosidades Situado na Freguesia, Vila e Concelho de Montalegre, no Realizam-se algumas festas como o Senhor da Piedade (primeiro fim de semana de agosto), distrito de Vila Real, em Portugal, no topo de um monte em Montalegre; Senhora do Pranto (15 de agosto), em Salto e a Senhora da Saúde (segundo granítico, encontra-se o Castelo de Montalegre que, domingo de junho), em Vilar de Perdizes. Também se realizam algumas feiras como a Feira do junto com o Castelo de Portelo e o Castelo da Piconha, Fumeiro de Barroso (segundo fim de semana de janeiro), Feira do Prémio do Gado(segunda integrava o conjunto defensivo das Terras do Barroso, quinta-feira de agosto) e a Feira dos Santos (em outubro), em Montalegre. O feriado municipal bem próximo da fronteira com Espanha. Neste local é a 9 de junho. Outros eventos a considerar são o congresso de medicina popular (em existiu um castro pré-histórico que, conforme pode ser setembro), em Vilar de Perdizes; os jogos populares (em maio), no Barracão; a matança do comprovado pelas diversas lápides e moedas porco (dezembro e janeiro) a serrada da velha em Tourém e Vilar de Perdizes e as mediáticas encontradas no local, foi sucessivamente ocupado pelos Sexta-feira 13(Noite das Bruxas), um dos maiores espetáculos culturais, que seduzem cada romanos, passando depois a ser ocupado pelos suevos e vez mais visitantes. O artesanato está muito ligado à região de Barroso, vivendo ainda no mais tarde pelos visigodos. Durante o século VIII, concelho alguns artesãos. Destacam-se as típicas capuchas, as típicas croças (capas de junco) e durante o período da Reconquista Cristã da Península as capas de burel. Ibérica, estas terras foram constantemente atacadas pelos muçulmanos. Depois, e até à independência do Economia Condado Portucalense, que deu origem ao Reino de A agricultura é uma actividade importante neste Portugal, as terras de Montalegre integraram os concelho, que gradualmente vai deixando de ser domínios da Gallaeciense Regnum. Desde a de subsistência, para passar a modernizar as suas independência de Portugal e até aos nossos dias, estas explorações ao mesmo tempo que se investe na terras nunca mais deixariam de pertencer ao domínio promoção e valorização de produtos tradicionais de Portugal. D. Dinis mandou reconstruí-lo e depois, regionais. com D. Afonso IV, foi erigida a torre de menagem, que A existência de águas abundantes favorece as mantém-se até hoje. Tem cerca de 21 metros de altura e pastagens, que muitas vezes ocupam socalcos, possui uma cisterna revestida a cantaria. onde se cria uma raça bovina particular - a barrosã. A pecuária e a criação de porcos sãotambém atividades importantes. A criação de parques industriais foi outro aspeto relevante na economia do concelho. O Parque Industrial da Vila de Montalegre e o Parque Industrial de Salto são duas importantes referências. No entanto, o turismo é considerada a atividade económica com maior possibilidade de desenvolvimento neste concelho, devido aos recursos naturais existentes, assim como ao seu património cultural. Existem outros domínios onde o desenvolvimento é possível com inerentes vantagens para as populações: as rochas, as energias renováveis e as produções agroflorestais.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 60 AS POTENCIALIDADES DA REGIÃO|O TURISMO TERRAS DE BARROSO UMA IDEIA DA NATUREZA TURISMO A sustentabilidade do concelho também passa pela dinamização 7 LAGOAS DO CABRIL do Mundo Rural e Montalegre vai-se afirmando aos poucos como destino turistico PRODUTOS REGIONAIS E GASTRONOMIA Há mais de dois mil anos que no nosso território os enchidos são reis. Ao fim de tanto tempo, nos locais onde a tradição foi mantida, a sua fabricação é hoje arte.Os fumados estão profundamente ligados à agricultura e à pecuária do nosso país. São ainda hoje feitos artesanalmente, com carnes de excelente qualidade, temperos criteriosos e através de um lento processo de maturação, o que enriquece os aromas finais. Matéria-prima seleccionada com um processo lento de maturação, com temperos naturais - sem aditivos - e fazendo a fumagem com lenha dos carvalhos seculares do Barroso; confere aos produtos o cheiro e o paladar que os caracteriza e os torna simplesmente diferentes. De igual fama e qualidade é o Presunto de Barroso, produzido da mesma matéria prima de excelência e Perto de Cabril, no Parque Nacional da Peneda – Gêres sublimemente temperado pelo clima único das nossas terras. Considerada a \"Meca\" dos apreciadores destas iguarias, a Feira do Fumeiro e Presunto do Barroso atrai anualmente, encontra uma das mais fantásticas cascatas que origina no final de Janeiro, milhares de visitantes que adquirem, neste certame, toneladas de produto uma cadeia de lagoas, a Cascata das 7 Lagoas. Estão diretamente às dezenas de produtores artesanais aí presentes. situadas ao longo do rio que nasce na serra e atravessa Cabril. São dotadas de uma incrível paisagem envolvente que contrasta com a água pura, límpida e cristalina. É um local de perfeita comunhão com a natureza e existindo ainda uma diversidade de lagoas para todos os gostos. Para os amantes de adrenalina existe a possibilidade de saltar a 10 metros de altitude. Para os mais aventureiros existe uma com um pequeno escorrega natural que lhe permite ter momentos de pura diversão. Conta com umas mais compridas e outras mais fundas o que lhe permite A carne do Cabrito do Barroso é bastante famosa na região, sendo tradicionalmente assada nadar. Ao percorrer todas as lagoas pode ver como todas em forno de lenha e tomando papel principal nas várias festas religiosas da região. Tradicional elas encaixam num vale criado pela natureza que torna é também o hábito de utilizar o cabrito como prato principal, sempre que há convidados todo o cenário digno de ser aproveitado.Todo o percurso especiais, sobretudo na altura da Páscoa. Estes cabritos eram utilizados como presente de até lá é de difícil acesso. Se optar por o fazer a caminhar honra para obsequiar as entidades importantes como o médico, o padre ou as autoridades civis tem de enfrentar um caminhada de 12 quilómetros (ida e e militares. volta) sem sombras ao longo de todo o percurso e ainda O Mel de Barroso é produzido pela abelha Apis mellifera mellifera (sp. Ibérica), nas regiões de algumas subidas e descidas. Se optar por ir de carro opte cota mais elevada do Barroso. As suas características particulares resultam de um por todo o terreno pois o caminho tem imensas pedras, extraordinário manto vegetal, composto maioritariamente de urzes (Erica sp.), que além de buracos e tenha em atenção que não passam dois carros proporcionarem um bom desenvolvimento das colónias das abelhas, originam o fabrico de um simultaneamente. mel escuro muito apreciado. A procura deste tipo de Mel é bastante elevada, pois tem inúmeras utilizações, nomeadamente na culinária regional e na acção terapêutica, já que contém uma CASCATA DE PINCÃESinfinidade de substâncias benéficas para o organismo humano (vitaminas, aminoácidos, proteínas, etc), revelando-se uma óptima fonte natural de saúde Com o cunho dos prados verdes do Barroso, dos lameiros e pastos naturais, marcada pelo milho e pelo azevém semeados pelos produtores, esta raça nobre produz uma carne de excelência. Por este motivo, no sêc. XIX, muitas embarcações exportavam milhares de animais directamente para a Corte Inglesa. Ainda hoje é vulgar encontrar-se a designação de \"portuguese beef\" em restaurantes londrinos, tendo na Carne Barrosã a sua origem. Fica a cerca de 1200 metros de Pincães (próximo de Fafião). Caminho aberto, sem problemas, fácil de fazer.Passa-se pelos caneiros de rega com origem no lago que a cascata forma. A cascata é imponente e o local é ideal para tomar banho. É aconselhável levar alguma A \"Carne Barrosã\" tem uma cor rosada a vermelha escura, com gordura branca a branca suja, coragem para aguentar aquela água fria. conforme se trate de vitela ou animal adulto. A carne é deveras tenra, extremamente suculenta IGREJA ROMÂNICA DE S. VICENTE e muito saborosa. O sabor, sensação complexa que se obtém pela combinação das características olfactivas e gustativas perceptíveis durante a mastigação, mantém-se com excelente nota e muito semelhante em todos os pesos de abate. Esta característica, tal como a suculência deve-se em grande medida ao \"marmoreado da carne\" estando por isso correlacionada com a repartição da gordura e a sua composição lipídica. Na realidade, estas valências, textura, cor, suculência e flavor, dão à \"Carne Barrosã\" uma qualidade ímpar. Produto de uma riqueza ancestral, a Castanha sobrevive à crise apesar da comercialização pedir outro arrojo. De elevadíssmo valor gastronómico, as castanhas podem ser usadas em inúmeras receitas, ou apreciadas simplesmentes assadas ou cozidas. Pelo outono, os castanheiros despertam e regalam os apreciadores com «o fruto dos frutos », palavras de A Igreja de São Vicente da Chã fica localizada na aldeia de Miguel Torga, escritor transmontano, tendo no São Martinho o pico do seu consumo, com os São Vicente.É uma aldeia pequena e é muito fácil tradionais magustos. A Batata é, ainda assim, o produto mais famoso de Montalegre porque é a encontrar a igreja, que fica misturada com a casario melhor batata que há para consumo. Produziu-se batata de semente que era depois antigo da aldeia. Esta é uma Igreja de estilo Românico, reproduzida com sucesso nas zonas mais quentes do país. Foram anos que quebraram décadas com 2 naves, uma característica pouco usual nas Igrejas de pobreza extrema e até de criação de riqueza em Montalegre. A par desta produção fazia-se Românicas portuguesas. Pode-se entrar na igreja ao batata para consumo próprio. Realmente esta batata tem um aspecto e um paladar únicos. É domingo de manhã durante a missa. tudo natural. É mesmo biológico, ainda que não certificada.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 61 AS POTENCIALIDADES DA REGIÃO|O TURISMO TERRAS DE BARROSO UMA IDEIA DA NATUREZA TURISMO MONTALEGRE MOSTEIRO ALTO RABAGÃO SANTA MARIA DAS JÚNIAS Um monumento nacional a visitar!.. A Barragem dos Pisões, ou do Alto Rabagão como No circuito do roteiro do Lobo ibérico Galaico- Localiza-se em Pitões das Júnias no também é conhecida, é um lugar muito visitado Português, visitar a histórica e bonita vila de concelho de Montalegre. Onde no século por quem viaja por esta região do Norte de Montalegre é obrigatório. As suas origens são de IX já havia um eremitério, construiu-se o Portugal. É uma barragem grande, a segunda quando foi construído o seu castelo nos séculos XIII e Mosteiro no século XIII. maior do país, só superada pela do Alqueva, no XIV. Uma grande parte do concelho é de alta montanha O isolamento e contato com a natureza Alentejo e muito procurada pelos pescadores de e fáz parte do Parque Nacional Da Peneda Gerês. faziam parte da vida dos eremitas e truta e escalo, os peixes que vivem nestas águas. Distingue-se por ter grandes prados e montes baixos. monges. Ao longo dos séculos, o Mosteiro É alimentada pelo Rio Rabagão - afluente do Um bonito lugar para passar uns dias de férias. foi ganhando novas construções - como o Cávado que nasce entre as Serras do Larouco e claustro e decoração da igreja - e sendo do Barroso. Muito bonita em qualquer altura do IGREJA DA MISERICÓRDIA reformado. ano, é mais procurada no Verão por quem gosta Actualmente só o que resiste é a igreja, de fugir ao calor. No Inverno é um lugar muito tendo todo o resto sido reduzido a ruínas. frio. Para além de pescar, pode visitar a aldeia de Pode-se chegar de carro até um certo Pisões, Vilarinho de Negrões e fazer uma ponto a partir do centro da freguesia, e caminhadas pelos trilhos de montanha. depois o caminho tem que ser feito a pé. A caminhada é bonita , passando por um IGREJA DO CASTELO belo cenário, mas envolve subidas e descidas por pedras. Aconselha-se que se A Igreja do Castelo de Montalegre é uma Igreja A Igreja da Misericórdia de Montalegre está localizada faça no outono e na primavera, pois no antiga de características medievais. Está no centro da vila, a caminho do Castelo e um verão é muito quente e no inverno as localizada junto ao Castelo de Montalegre e ao pouquinho antes do Ecomuseu de Barroso. Está pedras podem estar cobertas por gelo ou cemitério, na zona mais alta da vila. Já foi inserida no meio do casario e não tem quase nenhum neve. No dia 15 de Novembro acontece Igreja Matriz, antes da construção da nova espaço exterior. É preciso ter algum cuidado ao sair, uma romaria anual à Igreja do Mosteiro. Igreja,, esta localizada um pouco mais abaixo.É porque estamos logo em cima da rua, muito embora o muito bonita, rodeada por uma zona verde trânsito automóvel seja diminuto no local. É uma ECOMUSEU DE BARROSO muito bem cuidada. É de destacar a torre Igreja pequena e simples, de estilo arquitetónico sineira, separada do corpo principal de Igreja. Maneirista e Revivalista, do século XVII. No interior o Um Museu no coração de Montalegre Esta é uma característica comum nas Igrejas destaque vai para o coro-alto. desta região. A vista panorâmica também fazem valer a pena a visita. O PELOURINHO O Ecomuseu de Barroso fica localizado em O FOJO DOS LOBOS-FAFIÃO Os Pelourinhos são elementos arquitectónicos que Montalegre, junto ao Castelo. É uma normalmente têm a forma de uma coluna, infraestrutura recente, instalada em casas O Fojo dos Lobos é sem dúvida um marco construídos em granito e colocados em lugares antigas da vila. Local de visita obrigatória histórico de elevada importância existente na públicos. Eram símbolo do poder religioso e do para quem pretende conhecer esta região aldeia de Fafião. É considerado um dos mais poder feudal e remontam à Idade Média. Eram uma de Portugal. Aqui pode encontrar várias preservados da Península Ibérica e retrata espécie de tribunal. À volta do Pelourinho colocavam dicas de passeios a fazer e locais a visitar. muito bem a luta intensa existente à décadas/ os criminosos, eram decididas leis e era também Quem trabalha no local é muito simpático e séculos atrás mantida entre o homem e lobo. onde se reuniam as pessoas para tomar decisões sempre pronto a ajudar. Tem também importantes.É um elemento arquitectónico muito vários mapas interactivos onde pode, comum no norte de Portugal. Este, em Montalegre, sozinho, descobrir tesouros que não vêm está localizado no centro da vila, nos roteiros turísticos. No local existe também uma loja de artesanato e produtos da região que pode comprar e algumas exposições de artesanato, fotos, trajes típicos e outras, A entrada é gratuita.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 62 CASA DO PAÇO DE VILAR DE PERDIZES “ESTÓRIAS” DESCONHECIDAS I II III IV Quem tem amores não dorme... Jarretas de Vilar, Machos e fadistas, Homem de Vilar, Se os não tem, não tem paria; Escorna-cruzes de Solveira, Levam a vida a zurrar, Arriateiros de Santo André Todos são contrabandistas, E besta muar, Que fará quem tem os seus, E cucos da Ponteira. Nos três bairros de Vilar. Sempre têm coices a dar. Entre os mouros de Caria?!... Deram-me de comer, E deitaram-me na eira. CASA DO PAÇO DE VILAR DE PERDIZES Já se imaginou a ser transportado para outra dimensão temporal? É deixou-o praticamente em ruínas, o que deu azo a um processo de exactamente o que se sente ao entrar no Paço de Vilar de Perdizes com reconstrução no século XVIII. As paredes, no entanto, mantêm-se as as suas paredes de granito da região, os traços de arquitectura barroca, originais do século XVI. O monumento está novamente em risco, mas o chão de madeira, original do século XVIII, ou a colecção de oito tectos desta vez por motivos estruturais e foi pré-seleccionado para o artesoados, únicos em Portugal. programa “Os 7 sítios mais ameaçados” da Europa Nostra . A instituição aqui do morgadio dos Sousas no século XVI — Construído de raiz sobre “uma muralha que é um aterro”, onde apenas possivelmente “a única comenda papal em Portugal”, como conta uma parte está assente “em terreno firme”, o Paço de Vilar de Perdizes Alexandre Moniz de Bettencourt, proprietário do espaço e descendente está com problemas de estabilidade, explica Moniz de Bettencourt. de António de Sousa Pereira Coutinho, último morgado de Vilar de Como consequência, a casa-mãe já sofreu um deslize, houve um muro Perdizes — é já o reconhecimento pelo Papa Paulo VI do trabalho de que ruiu e a capela corre também o risco de ir ao chão. No interior e assistência aos romeiros de Santiago na rota de peregrinação que liga exterior do templo, já são visíveis as pedras desligadas e entrar na Chaves à Galiza. Em 1551, no senhorio dos Sousas, o abade António de capela é agora pouco seguro. Não intervencionar o solar da família não Sousa, fidalgo da Casa do Duque de Bragança, constrói o Hospital de é uma hipótese. “Não pode ser, de maneira nenhuma”, diz Moniz de Santa Cruz, juntando-lhe uma capela e uma botica, para albergar os Bettencourt, que realça a importância que este marco tem para a peregrinos pobres de Santiago e dar-lhes a necessária assistência. Europa, porque “Vilar de Perdizes é muito importante no caminho de Santiago”, um património europeu comum. Quatro anos depois, a bula do papa confirmava a instituição do hospital, concedendo aos Sousas a comenda prepétua de São Miguel de Vilar de Já em 2004, a família tinha feito um projecto para recuperar os anexos Perdizes e o morgadio. A aldeia nortenha de Vilar de Perdizes “era um da casa e reactivar o caminho de Santiago. A ideia mantém-se, conta o lugar de passagem fácil, quando o Tâmega estava intransponível no proprietário, que esclarece que o objectivo não é abrir a casa Inverno, por estar pegada com a Galiza”, conta enquanto bebe um chá permanentemente, por ser uma residência da família, mas dar uso aos num café da aldeia o padre António Fontes, organizador do famoso anexos: voltar a abrir a capela, fazer da Casa da Guarda um centro de Congresso de Medicina Popular e também do Congresso Luso-Galaico interpretação e criar um espaço museológico com o hospital e a botica, Trás-os-Montes nos Caminhos de Santiago. “Esta era uma das hipóteses com a particularidade de esta vender “mezinhas”, explorando as de passagem da Via da Prata”, um dos caminhos de Santiago, explica o tradições da comunidade local, tão conhecida pelo Congresso de padre. Mas voltemos à nossa visita ao solar. Medicina Popular. À entrada do paço, surge a botica (farmácia) e a Casa da Guarda em David Ferreira, técnico da Direcção Regional de Cultura do Norte, ruínas. A capela, com um altar em talha dourada no interior, ameaça reconhece que é muito importante reactivar o caminho e lembra que cair. Mais perto da casa, o hospital, “agazalho dos romeiros de Santiago” “o paço está classificado como monumento de interesse público” lê-se gravado na pedra, está igualmente em ruínas. Aí, onde já houve desde 2011: “Tudo o que seja atrair visitantes é bom. Quem faz o nove a doze camas para os peregrinos, vê-se ainda uma janela, que caminho de Santiago são pessoas sensíveis em relação ao património noutros tempos deu para outra capela, hoje desaparecida, através da cultural e natural e podem-lhe fazer boa publicidade.” O técnico qual os acamados podiam assistir à missa. Mas além da vertente sublinha que, em articulação com o turismo e os municípios, se tem religiosa, o Paço de Vilar de Perdizes tinha também uma função militar vindo a reestruturar este tipo de rotas e os monumentos que lhe estão e devia estar ao serviço do rei. Por isso mesmo, sofreu vários ataques associados. Em Barroso, isso articula-se com uma paisagem muito militares estrangeiros, três dos quais destrutivos. O último, em 1708, bonita e com uma oferta gastronómica.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 65 BARROSÕES ILUSTRES BENTO GONÇALVES DA CRUZ (1925 - 2015) Bento da Cruz, de seu nome completo, Bento Gonçalves Dois anos depois matriculou-se na Faculdade de da Cruz, era filho de Manuel Gonçalves da Cruz e Maria Medicina da Universidade de Coimbra. Concluída a Alves, pequenos proprietários rurais - chamados de «Os formatura, abriu consultório de clínica geral em Souselas, no concelho de Coimbra, em 1955. Pouco Marinheiros». depois, em 1956, estabeleceu-se no Barroso, Nasceu em Peirezes, uma aldeia pertencente à freguesia praticando clínica geral e estomatologia. Teve de S. Vicente da Chã, do concelho de Montalegre, a 22 de consultório na aldeia de Pisões, onde então se Fevereiro de 1925. Desde cedo foi iniciado no trabalho empreendia a construção de uma das maiores do campo e na pastorícia, único sustento da família. albufeiras do País – a Barragem do Alto Rabagão, A miséria e as dificuldades que então viu no povo do seu que viria a ser concluída no ano de 1964 e se tempo irão marcar profundamente toda a sua obra. constitui hoje como o «Empreendimento Segundo os seus contemporâneos, era desejo de seus Hidroélectrico do Alto Rabagão», onde prestou pais ter um filho presbítero, de tal modo que quase todos serviço aos muitos trabalhadores que a os filhos varões frequentaram o Seminário. construíram. A SUA VASTA OBRA O povo recorda ainda hoje o sacrifício que os Romances e Contos progenitores empreenderam para que eles pudessem Como Médico percorreu toda a região de Barroso e • Hemoptise, 1959 estudar. (sob o pseudónimo de Sabiel Truta) ficou conhecido pelo serviço prestado aos pobres • Planalto em Chamas, 1963 a quem não cobrava dinheiro e até oferecia os • Ao Longo da Fronteira, 1964 • Filhas de Loth, 1967 medicamentos. De tal facto existe um vasto leque • Contos de Gostofrio, 1973 • O Lobo Guerrilheiro, 1980 de testemunhos de como, naquela terra isolada, • Planalto do Gostofrio, 1982 • Histórias da Vermelhinha, 1991 curou e salvou inúmeras vidas. • Planalto de Gostofrio, 1992 • Histórias de Lana-Caprina, 1994 Em 1971 fixa-se no Porto, onde se manteve até ao • O Retábulo das Virgens Loucas, 1996 • A Loba, 1999 final da vida, e onde exerceu medicina até se • A Lenda de Hiran e Belkiss, de 2005 • A Fárria, 2010 reformar. Depois do 25 de Abril de 1974, fundou o (Comemoração dos 50 anos de vida Literária) jornal «Correio do Planalto». Bento da Cruz nunca Prémios Literários se desligou da aldeia e do mundo rural em que • Prémio “Fialho de Almeida” da nasceu. Visitava-a regularmente e nela gozou Sociedade Portuguesa de Escritores Médicos sempre as suas férias e os seus tempos de • Prémio Literário “Diário de Notícias” 1991 descanso. E nela se inspirou também sobre o que • Prémio de Ficção da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas escrevia, designadamente os vastos e famosos Médicos «Prolegómenos», crónicas que manteve no seu • Prémio Literário de Investigação da Jornal, das quais resultaram três obras com esse Câmara Municipal de Montalegre título) abordando na sua maioria temáticas rurais • Prémio Literário (Ficção) da Câmara e histórias de antanho. Era frequente encontrá-lo Municipal de Montalegre • Prémio Eixo Atlântico de Narrativa nos seus muitos passeios pelos campos e velhos Galega e Portuguesa 1999 caminhos da terra. Reconstruiu a casa de seu avó de forma rústica evocando o Barroso de antigamente. OPINIÕES António Baptista Lopes, editor e amigo, aquando da comemoração dos 50 anos de vida literária do escritor, em 2009, diz-nos que «[…] Bento da Cruz faz parte, por direito próprio, da galeria dos Assim, depois de concluir os primeiros estudos, veio a melhores autores portugueses contemporâneos, ingressar a 16 de Outubro de 1940, na Escola Claustral assumindo a sua obra uma riqueza linguística e de Singeverga, dirigida por monges Beneditinos, disposto estilística dificilmente igualável. Os seus livros são a seguir a vida religiosa. Aí concluiu com distinção o um legado aos seus leitores actuais e futuros de antigo Curso dos Seminários e foi director literário de uma obra que não reflecte apenas o ambiente duaas revistas estudantis «O Colégio» e «Claustrália». Ao barrosão, que é agora e sempre o seu “terreno longo do tempo, leu os Grandes Clássicos da Antiguidade favorito”, mas projectando-se num quadro e num registo de sentimentos, perfis com uma densidade e entrou no noviciado em 1945. humana e psicológica que só os autores de eleição Porém, terminado este, decidiu abandonar a ordem em logram alcançar. […]» 1946, curiosamente também, no dia 16 de Outubro, pese Também nas palavras de António Chaves «Bento embora sempre tenha mantido cordiais relações com os da Cruz criou uma marca própria, uma forma de Monges de Singeverga onde participava regularmente comunicar inimitável, enfim digamos, um estilo, em encontros de antigos alunos. que é, ao fim e ao cabo, aquilo que distingue os Contava sobre esse período o seguinte: \"fui cumpridor da artistas de eleição. Como referiu João de Deus, a regra e apontado como exemplo. A minha saída do “palavra falada é encanto de mães e filhos; a seminário pode ter afectado alguns condiscípulos que me verdadeira palavra do homem é a escrita, porque tomaram como referência. A maior pena que me ficou só ela é imortal”. Esta foi a fórmula encontrada desse tempo, foi não ter vivido essa extraordinária pelo escritor para imortalizar e dar voz à gente de experiência de vida na aldeia entre os 15 e os 21 anos. Barroso, cheia de saberes antigos mas condenada Senti toda a vida a falta desse percurso de juventude.\" à solidão e ao esquecimento. Com Bento da Cruz, a A sua primeira Obra « Hemoptise» dá-nos a conhecer geração que nos deu vida vai continuar a existir para além do seu ciclo biológico, na voz, nas esta etapa da sua caminhada. imagens e na pena deste escritor de eleição.».

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 63 ECOS DA HISTÓRIA|LA LYS MILITARES DO CONCELHO DE MONTALEGRE PRESENTES NA PRIMEIRA GRANDE GUERRA FOI HÁ 100 ANOS A Batalha de La Lys deu-se a 9 de Abril de 1918, no vale da CABRIL-António José Martins Pereira – Cabril, Bernardo António Gonçalves – Cabril, Cândido José Martins ribeira de La Lys, sector de Ypres, na região da Flandres, na Pereira – Cabril, Domingos José Pereira – Cabril, Domingos Manoel – Cabril, Domingos José da Costa – Fafião, Belgica. Nesta batalha, que marcou negativamente a e Francisco Luiz Lopes – Fontaínho. participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, os CERVOS-António Gonçalves Branco d'Araujo – Cervos, António Manoel Dias Veiga – Cervos, Camilo Afonso – exércitos alemães infligiram uma pesada derrota às tropaa Cervos, Domingos Dos Santos Moura – Cervos, Francisco Gonçalves Nogueira – Cervos, José Dias Veiga – portuguesas, constituindo o maior desastre militar Cervos, José Joaquim Gonçalves – Cervos, Atanásio Atilho – Cortiço, português depois da Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578. A E Francisco Gonçalves Nogueira – Cortiço. frente de combate distribuía-se numa extensa linha de 55 CHÃ-Abel Dias dos Santos – Chã, Abílio Gonçalves – Chã, António da Silva – Chã, António Joaquim Gonçalves – quilómetros, entre as localidades de Gravelle e de Chã, António Vieira – Chã, Francisco Esteves Dias – Chã, Raul Dias Barroso – Chã, Gonçalo Rodrigues – Armentiéres, guarnecida pelo 11.º Corpo Britânica, com Medeiros e João Garcia - Travassos da Chã. cerca de 84.000 homens, entre os quais se compreendia a 2.ª COVELO DO GERÊS- Augusto Fernandes - Covelo do Gerês, Delfim Dias - Covelo do Gerês, Domingos Lopes Divisão do Corpo Expedicionário Português, constituída por Pereira - Covelo do Gerês e Manoel Lopes Pereira - Covelo do Gerês. cerca de 20.000 homens, dos quais somente pouco mais de FERRAL- Adelino da Fonseca Magalhães – Ferral, Constantino Ferreira – Ferral, João Batista Alves de Souza – 15.000 estavam nas primeiras linhas, comandados pelo Ferral, Pedro José Antunes – Ferral e Sebastião Pires – Sidrós. general Gomes da Costa. Esta linha viu-se impotente para GRALHAS-Catita Lopes Moraes – Gralhas, Domingos Moura – Gralhas, Emílio Gomes Barroso – Gralhas, João sustentar o embate de oito divisões do 6.º Exército Alemão, Alves de Moura – Gralhas, Joaquim Fernandes de Mateus – Gralhas, Joaquim Gonçalves de Barros – Gralhas, com cerca de 55.000 homens comandados pelo General José Gonçalves Calado – Gralhas, José Joaquim Alves Penedones – Gralhas, José Joaquim Gonçalves Salgado Ferdinand Quast. – Gralhas, José Joaquim Martins Moura – Gralhas e Marcos Esteves – Gralhas. Essa ofensiva alemã, montada por Erich Ludendorff, ficou conhecida como ofensiva \"Georgette\" e visava à tomada de MORGADE-Abel Gonçalves – Morgade, Agostinho Gonçalves – Morgade, António Fernandes – Morgade e Calais e Boulogne-sur-Mer. As tropas portuguesas, em Agostinho Gonçalves – Carvalhais. apenas quatro horas de batalha na madrugada e manhã de 9 NEGRÕES-Domingos De Sousa – Negrões, Porfírio Pereira – Negrões, José Joaquim Afonso - Vilarinho de de Abril, teriam registado milhares de baixas, entre mortos - Negrões e Manoel Dias - Vilarinho de Negrões 1341, feridos -4626, desaparecidos -1932 e prisioneiros - OUTEIRO-Albino da Silva – Outeiro, Albino Dias Penedo – Outeiro, Domingos Dias dos Santos – Outeiro, 7440. De acordo com estudos recentes, porém, esses Francisco Luís dos Santos – Outeiro e António Castro Dias – Parada. números estariam muito inflacionados. Segundo estudos PITÕES DAS JÚNIAS-Belarmino Vaz Pereira - Pitões das Júnias, Guilherme Afonso - Pitões das Júnias, mais recentes, em La Lys ter-se-ão registado 423 mortos Joaquim Alves dos Reis - Pitões das Júnias e José Augusto dos Santos - Pitões das Júnias. portugueses de um total de 2086 mortos do Corpo REIGOSO-Domingos Gonçalves da Costa – Reigoso, João Batista André – Reigoso, José Dias da Silva – Expedicionário Português em 1917-1918, e cerca de 6000 Reigoso, Manuel Gonçalves Carneiro – Reigoso, Alberto da Costa – Currais e Manoel da Silva – Currais. prisioneiros. Outro estudo ainda, refere 300 mortos e 6000 SALTO-António Fernandes – Salto, António Joaquim Lopes Baia – Salto, António Pereira – Salto, prisioneiros portugueses em La Lys. Entre as diversas razões António Pereira – Salto, Casimiro de Magalhães – Salto João Fernandes – Salto, Júlio Fortuoso – Salto, para esta derrota tão evidente têm sido citadas, por diversos Manoel José Pereira – Salto, Manoel Tomaz Dias Pereira – Salto, Manuel Gonçalves – Salto, Roberto Fernandes historiadores, as seguintes: – Salto e Porfírio Rodrigues – Tabuadela. 1-A revolução de Dezembro de 1917 em Lisboa, que colocou SANTO ANDRÉ-António Fernandes Coelho - Santo André e Eduardo Augusto Carvalho - Santo André. na Presidência da República Sidónio Pais, o qual alterou SARRAQUINHOS-António Joaquim Moreno Gomes – Sarraquinhos, António José Gonçalves Coelho – profundamente a política de beligerância prosseguida antes Sarraquinhos, Joaquim Branco – Sarraquinhos, Joaquim Gomez – Sarraquinhos e Manoel de Moura - pelo Partido Democrático; Sarraquinhos 2-A chamada a Lisboa, por ordem de Sidónio Pais de muitos SOLVEIRA-Albano Fernandes Machado – Solveira, Albino Alves da Silva – Solveira, Albino Afonso Ferreira – oficiais com experiência de guerra ou por razões de Solveira, Francisco Alves da Silva – Solveira, João Afonso Ferreira – Solveira, João Afonso Lage – Solveira e perseguição política ou de favor político; Manuel Alves Calvão – Solveira. 3-Devido à falta de barcos, as tropas portuguesas não foram TOURÉM-António Fernandes de Carvalho – Tourém, Cândido Branco – Tourém. Domingos Gomes – Tourém, rendidas pelas britânicas, o que provocou um grande Domingos Rodrigues Forno – Tourém, João Rebelo Ferreira Lopes – Tourém, José Bento Barroso – Tourém, desânimo nos soldados; José Daniel Alves Fernandes Carvalho – Tourém e José Fernandes Pataca – Tourém 4-O facto de alguns oficiais, com maior poder económico e influência, terem regressado Portugal; (Continua na página seguinte) 5. A moral do exército que chegou a provocar insubordinações, deserções e suicídios; 6-A grande diferença numérica entre as forças portuguesas e as alemãs; 7-O armamento alemão era muito melhor em qualidade e quantidade do que o usado pelas tropas portuguesas o qual, no entanto, era igual ao das tropas britânicas. 8-O ataque alemão deu-se no dia em que as tropas lusas tinham recebido ordens para finalmente serem deslocadas para posições mais à retaguarda. 9-E pelo facto das tropas britânicas terem recuado nas suas posições, deixando expostos os flancos do CEP, facilitando o seu envolvimento e aniquilação. O resultado da batalha já era esperado por oficiais responsáveis dentro do CEP, Gomes da Costa e Sinel de Cordes, que por diversas vezes tinham comunicado ao Governo português o estado calamitoso das tropas. No entanto, é de realçar o facto de a “ofensiva Georgette”, se tratar de uma operação já próxima do desespero, planeada pelo Alto Comando da Alemanha Imperial para causar a desorganização em profundidade da frente aliada.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 64 ECOS DA HISTÓRIA|LA LYS MILITARES DO CONCELHO DE MONTALEGRE PRESENTES NA PRIMEIRA GRANDE GUERRA FOI HÁ 100 ANOS (Continuação) CONSEQUÊNCIAS DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL VILA DA PONTE-Celestino Afonso - Vila da Ponte, João Luís Pires - Vila da Ponte, Júlio César Branco - Vila da Ponte e Manuel Afonso Pereira - Vila da Ponte. A Primeira Guerra Mundial deixou milhares de mortos, modificou o mapa europeu e modo de fazer a diplomacia. UNIÃO DAS FREGUESIAS DE CAMBESES DO RIO, DONÕES e MOURILHE- João Machado - Cambezes do Rio, João Batista Gonçalves Fontes - Cambezes do Rio, Joaquim Branco - Cambezes do Rio, José Perdas Humanas e Materiais Barroso - Cambezes do Rio,António da Costa Carreira – Donões, António da Cruz – Donões, António A guerra provocou a morte de quase 13 milhões de mortos e Gonçalves do Rego – Donões, Domingos Miranda – Donões, António Alves Branco - Frades do Rio, João deixou vinte milhões de feridos e mutilados. Fernandes - Frades do Rio, António de Almeida – Mourilhe, Domingos José Alves – Mourilhe, Domingos Nesse conflito foram empregadas armas poderosas: gases Pires – Mourilhe, Francisco Fernandes da Braga – Mourilhe eManuel Antunes – Mourilhe, asfixiantes, canhões de longo alcance, metralhadoras, lança chamas, tanques, aviões e submarinos. Muitos foram usados pela UNIÃO DAS FREGUESIAS DE MEIXEDO e PADORNELOS-Domingos Alves – Meixedo, Germano Afonso primeira vez numa guerra. Amador – Padornelos, Joaquim Lopes – Padornelos, Marcelino Gonçalves André – Padornelos e Mesmo os países vitoriosos haviam perdido grande parte de sua Domingos Gonçalves André – Padornelos. população masculina jovem e quem voltou da guerra estava mutilado ou com sérios problemas mentais. As perdas materiais UNIÃO DAS FREGUESIAS DE MONTALEGRE e PADROSO-Alberto Gonçalves Dias – Montalegre, Aníbal também eram enormes e havia que reconstruir estradas, pontes, do Nascimento Flambó – Montalegre, António Afonso Botelho – Montalegre, António Lopes – cidades inteiras. Montalegre, Bento Alves Dias – Montalegre, Domingos José Afonso – Montalegre, Jaime Francisco da Começou um período de declínio da Europa, com os problemas Costa – Montalegre, João Augusto Lobo – Montalegre, João Augusto Gorro – Montalegre, João Ferreira sociais de desemprego, fome e miséria. A instabilidade política e Caldas Junior – Montalegre, João Lopes – Montalegre, João Rodrigues da Cruz Junior – Montalegre, social favoreceu o surgimento de regimes totalitários. Joaquim Alves – Montalegre, José António Dias Teixeira – Montalegre, Paulino Fernandes – Montalegre, Diante deste quadro, as sociedades viviam apreensivas com a Porfírio da Silva – Montalegre, Serafim Gonçalves Lopes – Montalegre, António Martins – Padroso, possibilidade de um novo conflito mundial de maiores João Ribas – Padroso e José Alves – Padroso. proporções e consequências do que o primeiro, o que de fato aconteceu com a Segunda Guerra Mundial. UNIÃO DAS FREGUESIAS DE PARADELA, CONTIM e FIÃES DO RIO-Avelino dos Santos – Paradela, Delfim Afonso – Paradela, José Gonçalves – Paradela, Domingos Pires – Contim, Manuel Afonso – Novos Países Contim, Manuel Francisco – Contim, Sebastião Rodrigues – Contim, Silvino da Costa – Contim, António Quatro impérios que eram considerados sólidos antes de 1914 José Roxo - Fiães do Rio, José Joaquim Miranda - Fiães do Rio, Constantino Afonso – Ponteira, Manoel simplesmente desmoronaram: Alemão, Austro-Húngaro, Russo e Fidalgo – Ponteira, Maximino Afonso – Ponteira, José Maria Rodrigues - São Pedro e Manoel Gonçalves Otomano.Com o Tratado de Versalhes, dos escombros desses Branco - São Pedro impérios surgiram novos países como Polônia, Checoslováquia, Iugoslávia, Áustria, Hungria, Estônia, Lituânia e Letônia. UNIÃO DAS FREGUESIAS DE SESELHE e COVELÃES-José Alves – Seselhe, José Bento Pires – Já o Império Otomano viu suas fronteiras diminuírem. Surgiu o Seselhe, José Bento Alves da Poça – Seselhe, Manuel António Alves Ramos – Seselhe, António João dos moderno estado da Turquia, que teve que reconhecer a Santos – Covelães, Alberto Alves – Travassos, Alberto Gonçalves Rocha – Travassos, Albino Macedo – independência da Armênia. Coube à França e à Inglaterra Travassos e Gervásio Gonçalves Rocha – Travassos. administrarem sob mandato os territórios da Síria, Líbano e Iraque. UNIÃO DAS FREGUESIAS DE VENDA NOVA e PONDRAS-António da Piedade - Venda Nova, António Gonçalves - Venda Nova, Domingos Fernandes - Venda Nova, Ventura Carvalho - Venda Nova, António Batista Barroso – Pondras, António Joaquim Teixeira – Pondras, Pedro Fraguina – Codeçoso,José Joaquim Gonçalves Pereira - São Fins. UNIÃO DAS FREGUESIAS DE VIADE DE BAIXO e FERVIDELAS-Aníbal Alves - Viade de Baixo, Custódio Barroso - Viade de Baixo, João Albino Barroso - Viade de Baixo, João Simões Ferreira - Viade de Baixo, Sebastião Cesar de Moura - Viade de Baixo, Sebastião de Miranda - Viade de Baixo Vítor Gonçalves - Viade de Baixo, António José Barroso - Viade de Cima, Domingos Pires Querido - Viade de Cima, José Joaquim Gonçalves - Viade de Cima, José Maria Gonçalves Carneiro - Viade de Cima, Manuel Afonso – Fervidelas, José Joaquim Gonçalves Outão – Lamas e Joaquim Rodrigues de Carvalho – Parafita Sociedade das Nações UNIÃO DAS FREGUESIAS DE VILAR DE PERDIZES e MEIXIDE-António da Fonseca - Vilar de A criação da Sociedade das Nações, em janeiro de 1919, com Perdizes, António Fernandes - Vilar de Perdizes, António Gonçalves Cruzeiro - Vilar de sede em Genebra - Suíça, foi inspirada nas propostas de paz do Perdizes, Domingos Teixeira - Vilar de Perdizes, João Padrão - Vilar de Perdizes, José de presidente americano Wodrow Wilson. O objectivo era fazer com Magalhães - Vilar de Perdizes, José Rodrigues - Vilar de Perdizes, Manoel Martins - Vilar de que as nações discutissem diplomaticamente seus problemas Perdizes, Sebastião Rebelo - Vilar de Perdizes, António Rodrigues dos Santos - São Miguel, antes de entrar em guerra. Domingos Alves Gomes - Meixide Estados Unidos Os Estados Unidos foram os grandes vencedores do conflito. Comercializaram por mais de três anos com os Aliados, não viram seu território ser invadido pelos inimigos e ainda se tornavam credores das nações europeias. As suas indústrias não sofreriam a concorrência da Europa e suas perdas foram poucas se comparadas às dos sócios europeus.Por isso tudo, o país seguiria sua ascensão como potência mundial.

COLECNTotÂiciNasEdAe de textos | A BARROSANA| ANO 2018 66 PELAS ALDEIAS E LUGARES POR TERRAS DE PADROSO A REVOLTA DO CABO JÚLIO... P A D R O S O Como todas as freguesias da raia seca, também esta aldeia que a figura mostra, sofreu as agruras das agressões castelhanas e gozou com os benefícios ocasionais do contrabando. Foi uma das honras de Barroso e tem outras glórias para passar à posteridade, desde logo o facto de ter sido lugar propício para a emigração clandestina – actos heróicos que salvaram da fome e da morte muitas famílias pobres do norte do país. E justo é recordar também o Padre Domingos que ali foi vilipendiado e condenado ao ostracismo, perdendo o sacerdócio e o seu estatuto social, apenas por ter espírito cristão, caritativo e solidário. Destaque ainda para um tal Júlio, cabo da Guarda Fiscal aí colocado, e que virou herói ao tornar-se conhecido por “armar o laço” a um prepotente oficial que a agitação social saída da “monarquia do norte”, designara administrador do concelho de Montalegre. Tratava-se de um tenente do exército ali dos lados de Viseu, chamava-se Aurélio Cruz e trazia o povo aterrorizado, com ameaças, perseguições, multas aos residentes, incompreensíveis sovas e até dias de prisão. Certo dia, alguém ouviu dizer ao dito cujo, revelar a intenção de oferecer à sua gentil criada um xaile de veludo galego, que resolveu ir comprar ao outro lado da fronteira. Foi quanto bastou para ser apanhado na esparrela. O cabo da aldeia sem destemor resolveu vigiá-lo de perto e uma vez apanhado em flagrante delito com o xaile de contrabando, foi o suficiente para lhe levantar um auto de notícia. Perante os factos, o governo de então decidiu exonerá-lo, por indecente e má figura, despachando-o para setenta léguas de distância. Foi um alívio para o povo de PADROSO a quem a imagem e o texto se referem.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 67 ESTATUTO EDITORIAL A revista A BARROSANA, tem como objectivo principal, promover e divulgar o concelho de Montalegre, o seu património, a sua língua, as características e valores da sua cultura, bem como valorizar as obras, os homens e mulheres da região e toda a área geográfica onde se insere. a) São ainda seus objectivos: 1- INFORMAR, garantindo a todos os cidadãos o direito à informação através da independência e pluralismo, de modo a defender os valores, as causas e os interesses do concelho onde se insere; 2 – FORMAR, no sentido de contribuir para a elevação do nível cultural dos seus leitores, tendo em conta a história da região, as as suas riquezas naturais, a tradição e todo um património cultural de séculos; 3 – DISTRAIR, sendo ao mesmo tempo lúdica e de recriação, tendo em conta a diversidade do público, idades, interesses, ocupações e espaços. b) São seus princípios: 1 – Assegurar a independência, o rigor e a objectividade da informação face aos poderes públicos; 2 – A revista define-se como autónoma e independente, sem finalidades lucrativas e acima dos interesses económicos; 3 – A Barrosâna compromete-se assim, a assegurar o respeito pelo rigor e pluralismo informativo, pelos princípios da ética, deontologia e boa fé; c) São seus fins: 1 – Alargar a sua implantação à divulgação de questões de natureza politica e modos de expressão de índole local e nacional; 2 – Preservar e divulgar os valores característicos das culturas da região barrosã; 3 – Difundir informações com particular interesse para o âmbito geográfico da sua incidência; 4 – E incentivar as relações de solidariedade, convívio e boa vizinhança entre os destinatários localizados na sua área de implantação e das comunidades barrosãs espalhadas pelo mundo. O Fundador

TERRAS DE BARROSO Património agricola mundial




Like this book? You can publish your book online for free in a few minutes!
Create your own flipbook