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COLECTÃNEA DE TEXTOS -1.º CADERNO

Published by dvazchaves, 2020-06-01 11:26:50

Description: O Concelho de Montalegre ao vivo

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Noticias de Colectânea de textos 2018 1.º CADERNO Concelho de Montalegre

Noticias de HISTÓRIA VIVA DO CONCELHO MONTALEGRE TERRITÓRIO DE FRONTEIRA COLECTÂNEA DE TEXTOS A BARROSANA 1.º CADERNO 2018 O Autor Domingos Chaves

Noticias de

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 1 OS DESTAQUES POR BARROSO SEMPRE… 2 7 A arquitectura moldada pelo Larouco e pelo Gerês, têm aqui uma das suas pérolas mais brilhantes e marcantes… PELAS ALDEIAS E LUGARES • Vila da Ponte A história de uma aldeia retratada nos seus vestígios arqueológicos ESTÓRIAS DA HISTÓRIA 8 • O que eramos e o que somos Como e de que vivia a “gente barrosã” no século passado… ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS 2017 12 • Concelho de Montalegre Para memória futura… O VOTO DOS EMIGRANTES 13 • O dia em que os sinos “tocaram a rebate” A guerra surda e perversa que envergonhou o concelho… SERRA DO LAROUCO 15 • Um tesouro escondido Tesouro tão profundo e genuíno como a história das nossas terras O DIA MAIS NEGRO PARA A OPOSIÇÃO 18 • Dura lex sed lex A letra da Lei… AS POTENCIALIDADES DA REGIÃO 21 • Fumeiro de Barroso 26 37 A tradição e o futuro… CULTURA • Os Motes de Gralhas Uma tradição milenar… BARROSO PATRIMÓNIO AGRICOLA MUNDIAL • Um mosaico de pastagens tradicionais

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 2 Noticias de Ser Transmontano é uma Honra!… Ser Barrosão, são Duas… Domingos Chaves POR BARROSO SEMPRE... Ninguém fica indiferente a BARROSO. Eu que calcorreio as suas vilas, aldeias e lugares, desde a \"longínqua\" Fafião, passando por Salto e Tourém, até ao extremo oposto de Santo André e Meixide há algumas décadas, ponho-me por vezes a pensar qual será a sensação de alguém que entre pela primeira vez as portas desta belíssima \"república\" e dê de caras e de forma inesperada, com o casario, as ruas, os monumentos ou os seus poucos mas resistentes e acolhedores habitantes. A localização de Barroso moldou o seu destino, a sua forma e o carácter das suas gentes. O destino, porque terra fronteiriça em tempos de instabilidades raianas e disputas territoriais, se erigiu como primeiro obstáculo à impetuosidade guerreira de estranhos. A sua gente, que sofreu ataques, assédios, bombardeamentos e destruição, é o que tinha que ser - dura como pedra, resistente, mas também sabedora dos benefícios da paz, o que a leva a receber com genuína simpatia quem quer que venha por bem. Barroso não tem monumentos, nem precisa!... Barroso é só por si um verdadeiro monumento. O granito que deu forma às suas \"muralhas\", aos velhos quartéis de outrora, às igrejas e ao casario, foi arrancado às encostas que descem até ao Cávado ou ao Rabagão, os rios que serpenteiam os termos de toda a região. Esse é o granito omnipresente que consubstancia, torna concreta e palpável a memória do meu povo. Foi com essas pedras que ele se defendeu, construiu as suas humildes habitações, paços senhoriais ou vivendas burguesas, pavimentou as ruas. albergou santos em igrejas e conventos e deu guarida aos militares que o defendiam das invasões. Nessas pedras deixaram os mestres canteiros as suas identitárias marcas e os pedreiros as suas fortes e certeiras cinzeladas. Hoje não se ouve o pedreiro a percutir a pedra, nem o bulício dos militares em serviço ou de licença, e são poucas as crianças que alegram e dão vida às ruas cada vez mais desertas. Mas os que por cá andam, os que cá moram e os que como eu não abandonam a \"terra\", têm a firme convicção de que o futuro de Barroso terá que ser ainda mais risonho. Sejamos justos: aquilo que tem para oferecer é único. Tudo que ficou dito, é ímpar!... A arquitectura moldada pelo Larouco e pelo Gerês, tem aqui uma das suas pérolas mais brilhantes e marcantes em comparação com outras que existem por essa Europa fora. Viva Barroso... Domingos Chaves

Noticias de Vila da Ponte EDIÇÃO 1 – JANEIRO 2018

COLECTNÂotiNciEasAdede textos | A BARROSANA| ANO 2018 4 PELAS ALDEIAS E LUGARES DITOS DE ANTANHO VIAGEM ATÉ À VILA DA PONTE I Vila da Ponte foi vila, Localizada entre o Minho e Trás-os-Montes, a aldeia de Vila da Ponte reúne características de Chaves foi nobre cidade, ambas as regiões, o que faz dela um exemplar único das peculiares tradições regionais. Inserida no Montalegre, ladroeira, concelho de Montalegre, Vila da Ponte tem uma longa história, retratada nos vestígios Como toda a gente sabe. arqueológicos e património que vai encontrando no Percurso Pedestre da Via Romana. A ponte que dá nome à terra, em granito, terá sido a primeira ponte a ser construída sobre a ribeira de II Cabril. Canto no rio e no monte, Atravesse-a e demore-se pela via romana, um percurso pedestre que proporciona um passeio Inda não sei o bastante, prolongado e tranquilo pela história e património da aldeia, como os diversos monumentos Eu sou de Vila da Ponte, funerários, entre castros e cistas, que atestam a presença de população há muitos séculos. Também com marcas antigas ergue-se a Igreja de Vila da Ponte, um templo que terá servido para Arre burro pra diante. adorar outros deuses e, ao longo das épocas, foi acolhendo a religião vigente, sendo hoje uma III importante igreja católica, dotada de um pequeno Museu Paroquial. Adeus ó Vila da Ponte, Adeus que me vou embora, Moças esperai correio, Das onze prá meia-hora. IV Ó Bustelo, ó Bustelo, Ó Bustelo soleirento, Com as moças de Bustelo, Não vou perder o meu tempo. V Senhora Santa Luzia, Da povoação de Bustelo, Dai-me vista nos meus olhos, Que andar cego é degredo Vila da Ponte possui ainda 26 moinhos, sendo a aldeia com mais moinhos do país! Além destas estruturas tradicionais em granito, que pode percorrer através do Trilho dos Moinhos, e dos canastros e forno comunitário que integram a rota do pão, encontra ali próximas, a 2 e a 4 quilómetros, duas barragens, onde pode usufruir de praias fluviais. Demorar-se em Vila da Ponte é possível, na unidade de turismo rural aqui existente. Curta ou prolongada, na sua estadia aproveite para se deliciar com os produtos locais ainda hoje produzidos na terra, como o mel biológico Santa Maria e, como prato principal, sugere-se a vitelinha barrosa, uma raça autóctone muito apreciada. Via Romana Cistas da Portela do Gorgulão Museu de Vila da Ponte Conjunto de dois monumentos que se acredita terem sido sepulturas para adultos, dos quais já só existe o segundo. O primeiro monumento era uma sepultura individual, do tipo cista, edificada com lajes de granito local, com uma altura aproximada de 0,50 metros e 1,5 metros de comprimento. Foi encontrada em Março de 1931 quando se efectuavam trabalhos agrícolas no local. Possuía três vasos cerâmicos, fragmentados na altura do achado. Actualmente, já não existe!... A segunda cista do Gorgulão foi encontrada em 1994, aquando da construção da actual residencial “A Cista”, contendo apenas um vaso cerâmico. As lajes laterais tem aproximadamente 2,27 metros de comprimento e uma delas foi fracturada. As duas lajes que recobriam o túmulo são de formato irregular e tem cerca de 0,90 metros de comprimento por 1,06 metros de largura. O monumento foi colocado a cerca de 20 metros do local original, no jardim de residencial.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 5 2 ESTÓRIAS DA HISTÓRIA AS TERRAS DE BARROSO, ANTES E APÓS A REFORMA ADMINISTRATIVA DE 1836 O QUE ERAMOS E… O QUE SOMOS!... A região de Barroso, reparte-se actualmente por duas zonas Esta identidade geográfica barrosã, actualmente distintas: o Alto e o Baixo Barroso, a que correspondem apenas histórica em função da Reforma Administrativa administrativamente dois concelhos: a sul, o de Boticas, que operada a partir de 1836, tem porém uma grande ocupa a região dos vales fundos e escavados dos rios tradição autonómica regional: corresponde à antiga Tâmega, Beça, Terva e Covas-é o chamado Baixo Barroso. terra de Barroso, dotada de foral em 1273 por D. Sancho II, aí se incluindo o actual concelho de A norte, onde se incluem as serras do Gerês, do Larouco e do Montalegre e de Boticas, mas também o antigo Barroso, formando uma zona natural de serras, carvalhais, concelho minhoto de Vilar de Vacas - do qual faziam rios e ribeiros, o de Montalegre – o qual se designa como o parte as terras de Arco, Botica, Espindo, Frades, do Alto Barroso. Por estas terras, habitaram Lusitanos, Paradinha, Ponte, Quintã, Roca, Soutelos, Santa Celtas, Visigodos, Suevos e Romanos, que deixaram um Leocádia, Vale, Vila e Zebral - localidade hoje importante património arqueológico, tendo sido designada por Ruivães, uma freguesia situada na posteriormente uma terra importante na Idade Média, dada margem esquerda do rio Rabagão, nas fraldas da Serra a sua localização estratégica. da Cabreira, parte do concelho de Vieira do Minho. Talvez pelo seu passado - a que porventura não serão alheias razões históricas -, para os barrosões, são indiferentes estas Como todas as regiões, também a “região natural divisões e. classificações. Sejam do “baixo” ou do “alto”, barrosã” tinha e tem ainda nos dias que correm, todos são de Barroso, e quanto ao resto, fale-se de politica, tradições, características, psicologias próprias e de agricultura, de bruxas, de bois ou de vacas, nada os faz hábitos ancestrais, herdados e transmitidos tantas mudar de opinião. vezes de viva voz, através das sucessivas gerações. Mas porque a “estória” não acaba aqui, é justo que se diga Desde as terras flavienses de Soutelinho da Raia, até à também, que além de Boticas e Montalegre, as terras de minhota Ermida, fronteiriça a Fafião, passando por Barroso ainda cobrem a freguesia de Soutelinho da Raia, no terras de Ruivães até à região de Basto, muito concelho de Chaves, bem como algumas freguesias dos próxima da vila montalegrense de Salto, o modus concelhos de Vieira do Minho e de Cabeceiras de Basto. (Continua na página seguinte)

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 5 2 ESTÓRIAS DA HISTÓRIA AS TERRAS DE BARROSO, ANTES E APÓS A REFORMA ADMINISTRATIVA DE 1836 (Continuação) Os trabalhos árduos no campo, de sol a sol, com a ajuda dos animais, deixavam pouco tempo aos habitantes das aldeias para grandes folias, já que o lema do homem desta região sempre foi o de trabalhar para viver e viver para trabalhar. Porém, ao domingo, dia de ócio e de “ida à missa”, realizavam- se de modo recorrente e entusiasta, as tão apreciadas “chegas de bois”, que ontem como hoje, ainda que nos nossos dias com uma prática bem mais reduzida, constituíam uma forma de reunião e convívio entre os barrosões. Um povo trabalhador, humilde, unido, recto, bom anfitrião e leal às suas raízes culturais e que persiste em falar dos saberes e práticas ancestrais através dos tempos, suscitando mormente a curiosidade, o interesse e a atenção de estudiosos, jornalistas e escritores. Um povo também essencialmente crente e arreigado, que segue fielmente os costumes e as tradições herdadas, estritamente católico e pioneiro na instituição do comunitarismo, hoje em vias de extinção, e que era visível nas O QUE ERAMOS fainas agrícolas, designadamente no arranque das batatas, carretos da lenhas, desfolhadas do milho, vindimas, malhadas, segadas do centeio e do feno, que de certo modo contribuiam para a manutenção do folclore local, bem como para a rega, conservação de caminhos, dos moinhos, das vezeiras, do forno, ponto de encontro entre os habitantes das aldeias, hoje ultrapassado pelos cafés e também do “boi do pobo”, sinal particular e supremo de cada aldeia. E… O QUE SOMOS!... Definir a cultura barrosã, será um pouco como “olhar para a nossa alma, a nossa identidade, a nossa maneira de ser, de viver, de estar no mundo” e de dizer – nós somos Barrosões vivendi deste povo tradicional e em muitos casos ainda com muito orgulho. Este é pois o resultado de um processo comunitário, depara-se-nos com uma cultura secular, um «falar» próprio e uma sabedoria que se arrasta desde histórico, é o povo Barrosão em movimento, são as nossas tempos imemoriais que urge preservar, reavivar e transmitir às gerações vindouras. Uma singularidade de raízes e como se espera, que seja também o “passaporte válido usos e costumes, de crenças, de superstições, de certos rituais, e de um “falar local” que dentro da própria região, para o futuro”. (Continua na página seguinte) incluindo o léxico, mesmo variando de aldeia para aldeia, de concelho para concelho, não pode ser apagado da memória barrosã. Entre outros, os hábitos ancestrais de vida comunitária agro-pastoril, o folclore, os romances medievais, os provérbios do povo sábio, as cantigasde amigo e saudade e até a pronúncia a que já tive oportunidade de me referir, formam um conjunto de manifestações culturais, que devem ser preservadas e tomadas na devida conta.Em termos económicos, Barroso foi sempre uma região pobre. Como principais actividades, predominou em toda a sua vasta área e desde tempos longinquos, a agricultura de subsistência, realçando-se o cultivo da batata e do centeio, a criação de gado bovino de raça preferencialmente barrosã, ovino, caprino, suíno, e só mais recentemente, a construção civil, a pequena e média indústria, o comércio, os serviços e o turismo, começaram a dar os primeiros passos.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 6 ESTÓRIAS DA HISTÓRIA COMO E DE QUE VIVIA “A GENTE BARROSÔ NOS COMEÇOS E DURANTE AS PRIMEIRAS DEZENAS DE ANOS DO SÉCULO PASSADO!... Crianças que cedo despertavam para a vida. Nasciam no único aposento da casa, coberta que era de colmo esburacado, de rudes paredes de pedra sobreposta, por cujas fendas entrava o frio e o vento. Era assim nestas aldeias remotas e “perdidas no tempo\". Nasciam sem assistência médica e só raras vezes com o auxilio de uma parteira improvisada, no mesmo leito tosco e bárbaro do noivado. O QUE ERAMOS O ritual era sempre o mesmo!... Momentos antes de dar á luz, a futura mãe colocava junto ao fogo do lar o pote de E… O QUE SOMOS!… ferro com água para o banho. O marido, esse andava pelos campos a sachar, a lavrar ou a arrancar ervas. Acontecia por Corria o ano de 1910!... Enquanto as tropas monárquicas vezes uma vizinha chamá-lo para ver o filho que havia com as suas luzidias espadas e os seus cavalos em passo nascido. Quatro ou cinco dias depois, a mãe aparecia pela de “caracol” desciam pelas encostas do Larouco tentando primeira vez após o parto na rua com o filho ao colo, e uma recuperar posições face ao avanço dos repúblicanos, dois semana depois já o levava para o monte. Neste “meio meninos, a Maria Carneira e o seu irmão Begia, tempo” há ainda lugar para o baptizado. guardavam uma junta de vacas ali para os lados do Castelo do Romão. Durante dois anos – ás vezes mais – a criança alimentava-se Assustados co`a “guerra”, esconderam-se por entre o do leite materno. Por vezes já comia pão e ainda mamava. arvoredo e os muitos penedos ali existentes, de onde só saíriam com a chegada do seu pai, que entretanto havia Exposta ás intempéries da vida, ao calor e ao frio, ao sol e á ido ao seu encontro. Pareciam coisas do “outro mundo” e era preciso serenar as crianças!... chuva como um “animalzinho bravio” nascido no monte sob uma lapa, a criança ou sucumbe ou fortalece. Eram as agruras do tempo e da época. A maioria das vezes cria-se bem resistente e forte, nesse severo regime de selecção natural. Apartada do leite, é então invariavelmente abandonada á educação do próprio instinto. Aos cinco anos ensinam-lhe a rezar, e aos sete já lhe confiam a guarda das vacas e das ovelhas. Até eu sei como era!... Muitas vezes, a criança passa já os dias no monte, solitária, pastoreando o gado. O monte é a sua primeira escola e quase sempre a única. Aos dez anos começa a preparar-se para a comunhão \"indo á doutrina\". (Continua na página seguinte)

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 6 ESTÓRIAS DA HISTÓRIA COMO E DE QUE VIVIA “A GENTE BARROSÔ NOS COMEÇOS E DURANTE AS PRIMEIRAS DEZENAS DE (Continuação) ANOS DO SÉCULO PASSADO!... Era assim que o “senhor padre” queria e determinava. Quem não seguisse a regra, entrava em “pecado”. Aos doze anos comunga. E a vida de trabalho ininterrupto principia. Rapaz ou rapariga e de comunhão feita, é já uma criatura emancipada. Se os pais são pobres, vão “servir”. Se são filhos de um lavrador remediado, fazem em casa o tirocínio árduo da lavoura. O “criado de servir”, começa por ganhar o que come e bebe, bem como os “usos da casa”. Raros são aqueles que têm direito a “jorna”, e quando tal acontece, não ultrapassa os dois mil réis por ano. O QUE ERAMOS argolas de ouro e o noivo as alfaias indispensáveis para o granjeio das terras. Os parentes e os amigos oferecem aos E… O QUE SOMOS!… esposados, alguns duas galinhas, outros uma raza de centeio, outros dois pedaços de pano de linho, um pote, Mais tarde - dos dezoito aos vinte anos - os mais diligentes e meia dúzia de tigelas ou de pratos de barro, meio alqueire ao serviço de lavradores mais abastados, chegam a ganhar de pão, a pá para o forno ou um carro de lenha. três moedas. Mas este salário é um fenómeno. Se um deles é filho de lavrador abastado, este abona-lhes o Os usos variam também com a idade dos “criados”!... Uma a gado!... Uma junta de “bacas” medianas para principiar e três camisas de estopa, um ou dois pares de calças de cotim raras vezes um bezerro para a engorda. Algumas vezes, ou saias de riscado, um colete e um par de sócos, é o prémio também raras, levam ainda em dote uma “céba” de porcos e pelo seu trabalho. um “odre” de vinho. O primeiro dia de casados é para os noivos pobres o primeiro dia de trabalho árduo. Vão tratar os dois umas terras a “mêas”, que tomam a algum “bezinho”. Aos rapazes, as patroas remendam-lhes e lavam-lhes a roupa. As raparigas fazem-no por conta própria. As relações entre estes “servos pobres” e estes amos tão pobres como eles são quase familiares mas sempre com a noção inata da hierarquia. Por volta dos vinte e dois, vinte e três anos, o moço de lavoura, tendo concluído a sua aprendizagem e livre de “ser soldado”, casa-se. É tão raro ficar um lavrador sem casar, como haver moço Desde o nascer do dia até noite fechada, trabalham ambos que não lute tenazmente, para se furtar ao tributo do no campo ou na eira. À noite, até altas horas, a mulher fia sangue. O casamento por estas terras funcionava como base junto da lareira a teia com que há-de fazer as primeiras essencial á independência. Moço ou moça que não case fica camisas e os primeiros lençóis. O homem descansa da condenado a servir toda a vida ou a trabalhar para os labuta do dia, ajudando a mulher a dobar o fiado. Feitas as “bezinhos”. sementeiras e antes das colheitas, quando a lavoura abranda, o homem vai ás feiras, vende os bezerros e ás O casamento é por isso a aspiração unânime, o fim para que vezes as “bacas”, compra outras mais baratas e vai tendem todos os esforços, o prémio conquistado com as ganhando alguns favores em carretos de pedra, de lenha canseiras mais indescritíveis. O idilio, meio sensual e meio ou de estrume. A mulher, no entanto, cora a teia, lança lírico iniciado nas segadas, nas malhadas, no arranque das ninhadas de frangos e galinhas e engorda os porcos para batatas, ou até no adro da Igreja, termina com a boda para sustento no ano que se segue. se converter numa obstinada refrega pelo pão. (Continua na página seguinte) Ordinariamente, a noiva leva para o casal um cordão e umas

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 7 ESTÓRIAS DA HISTÓRIA COMO E DE QUE VIVIA “A GENTE BARROSÔ NOS COMEÇOS E DURANTE AS PRIMEIRAS DEZENAS DE (Continuação) ANOS DO SÉCULO PASSADO!... O QUE ERAMOS E O QUE SOMOS… Mas esses pobres têm uma riqueza: São independentes!... Enquanto pagarem com o que a terra lhes dá, essa terra que eles lavram cavam e semeiam pertence-lhes. É dessa terra, adubada com o seu suor, que lhes vem com o sustento, o orgulho de um domínio que se lhes afigura sem partilha. São deles as aguas, os campos, as árvores, os montes, as eiras e as casas. Não existe para eles, como para o operário citadino, um patrão dominador e imperativo. Só eles mandam na “sua fabrica”. No ínicio do século passado, o alimento destes casais, reduz-se a pouco mais do que a caldo e pão. O homem que trabalha de manhã até á noite, a mulher que o acompanha na sua lida mês, ou é rica ou está perdida. Nestes tempos, uma família de incessante, comem menos do que hoje as crianças da cidade. lavradores, que não satisfeita com as dádivas generosas da terra - Mas se a gravidez a não deformou, é uma mocetona corada e pão, batatas, hortaliça, feijão e lenha, gasta em alimentação, jovial de larga bacia, de grandes seios e de roliços braços de vestuário e demais necessidades da vida para cima de dez tostões trabalhadora. O homem é musculoso e rijo. Ambos cantam por mês, ou é rica ou está perdida. enquanto sacham. Nenhuma tristeza perturba esses casais Parecendo á primeira vista impossível que tão insignificante pacificos e laboriosos, que não conhecem o dinheiro. quantia possa chegar ao orçamento de uma casa, verifica-se, que ele Gozam amplamente os dois saúdes humanas: a moral e a física, é suficiente e não é mesmo atingido na maior parte das das vezes. de cuja união resultam as felicidades perfeitas. O trabalho é o O exíguo \"orçamento\" de um casal de lavradores no inicio do século seu regime moral. O caldo destes trabalhadores infatigáveis passado por terras de Barroso para as primeiras necessidades, assentava fundamentalmente em quatro modestísimas verbas: 240 reduz-se a algumas couves galegas, apanhadas na horta, a réis para o azeite, 100 para as sardinhas, 20 para sal e 60 para alguns feijões e a um magro fio de azeite, ou um “bocado de sabão. unto” como adubo. O pão é de centeio, cozido em grandes fornadas no forno do Fora do \"orçamento\", ficam as despesas de vestuário. Uma “andança” de roupa para homem, que pode custar povo para durar uma ou duas semanas. O cozer pão a miúdo é aproximadamente 8 réis, dura entre 5 e 10 anos. Quase sempre prejudicial á economia, porque se come mais enquanto é fresco usando “sócos”, o lavrador não chega a romper um por ano. A boina, e quantas mais vezes se acende o forno mais lenha se consome. que custa de seis a dez tostões, serve apenas para usar nos dias de Raras, muito raras vezes, há sardinhas ao jantar ou à ceia. feira ou nas festas. No trabalho diário, o lavrador usa uma capucha Petiscos como este só de longe a longe. Quando o sardinheiro de burel no Inverno e um lenço da mão no verão.As mulheres as vende a mais de 5 ao vintém, a mulher aventura-se a gastar gastam ainda menos do que os homens!... Uma saia de chita, um avental com barras a enfeitar e um lenço para a cabeça, são as peças dez réis nesse luxo supérfluo. Um quartilho de azeite, podia essenciais e que duram “uma vida”. Roupa branca, lençóis, toalhas e custar seis ou sete vinténs e durava a um casal pobre, de 15 ainda as calças de uso dos homens saem do linho, da estopa ou dos dias a um mês. Anos há, em que o pão (centeio) escasseia e a tomentos – da teia fiada em casa. O gado, é considerado fortuna caixa (arca) se esgota. Aí surgem de Montalegre os comum. compradores, oferecendo oito tostões por alqueire. Á A própria doença, parece respeitar todo este culto sagrado da salgadeira – os que a têm – vão apenas pelas festas do ano: no economia dos lavradores de Gralhas e de outras aldeias vizinhas. Só Entrudo, na Pascoa e no Natal, ou em dias de trabalho a velhice mata esta gente... extraordinário, quando não podem de todo, sozinhos, granjear Quando entram na agonia, a família manda chamar o padre para os asterras, e rogam o auxílio dos vizinhos que vêem ajudar, confessar e ungir. Depois do padre, vem então o médico - se o sem direito a “jorna” e só pelo favor e pela mantença. houver - que raro receita e as mais das vezes chega a tempo de verificar o óbito. Nestes tempos, uma família de lavradores, que não E assim morreu economicamente todo este mundo e toda esta satisfeita com as dádivas generosas da terra - pão, batatas, gente. Exactamente, como economicamente nasceram e viveram.Só hortaliça, feijão e lenha, gasta em alimentação, vestuário e a emigração a partir da década 60, mudaria os hábitos e o \"bem- demais necessidades da vida para cima de dez tostões por estar\" destas gentes...

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 8 O GRANDE EMBAIXADOR Padre António Lourenço Fontes DAS TERRAS DE BARROSO É o embaixador do Barroso, e tornou-se num dos maiores polos de para as usurpar e lhes extorquir os bens, dinheiro, valores e atracção turística desta região. António Lourenço Fontes é padre, joias, com a vã promessa de uma cura que nunca chegará. escritor, hoteleiro, é um homem solidário e estudioso das plantas e ervas, emprestou o nome ao Ecomuseu e também já é marca de vinho e A dada altura, dizia-me que os santos não precisam de de um licor com ouro. A junção do sagrado e do profano protagonizado dinheiro e que o remédio para alguns dos males que nos por um padre é uma mais valia e um crescente chamariz das terras de afligem, não está nos outros, mas em nós próprios, Barroso. sublinhando que os médicos da Medicina convencional, deviam estudar a cultura das pessoas, e procurar Foi como que a arte de sacralizar o profano e profanar o sagrado, que compreender melhor o que pensam e em que acreditam, este homem nascido em Cambezes do Rio no ano de 1940 e vida feita para que desse modo, conseguissem ir mais fundo, no em Vilar de Perdizes, levou o nome da região a Portugal inteiro. Em conhecimento de cada pessoa, e assim, acertar mais no Vilar de Perdizes, o padre construiu um “palco” que baptizou de diagnóstico e na terapêutica. Lembrou-me inclusive a célebre Congresso do oculto, ao qual todos são convidados a subir e onde frase do Dr. Abel Salazar: – “…um Médico que só sabe de anualmente se reúnem cientistas e investigadores, curandeiros, bruxos, Medicina, nem de Medicina sabe”.Muitas práticas, videntes, médiuns, astrólogos, tarólogos, massagistas e ervanários, supostamente fundadas em ritos e tradições que remetem curiosos e turistas. . A primeira edição desse evento realizou-se em 1983, numa altura em Para uma qualquer relação com o além, com o exotérico e que as tradições e a medicina popular antiga estavam a cair em desuso oculto, são próprias apenas do palco, do domínio do devido à concorrência ou oposição da medicina química ou moderna. espectáculo e da dimensão do Teatro, disse-me o Padre Vilar de Perdizes era uma terra isolada, onde faltavam os médicos Fontes Hoje a a grande batalha do território Barrosão, muito convencionais, e por isso, a população tinha de recorrer à medicina popular para curar as suas doenças. Era também uma terra onde tudo afectado pelo envelhecimento, é o combate ao parecia estar ligado à superstição, à religiosidade e ao paganismo. despovoamento. Para ajudar nesta luta o padre Fontes está sempre na primeira fila seja na já famosa festa das bruxas, No último verão, durante uma caminhada pelos terrenos do Couto seja na tradicional feira do fumeiro seja no investimento que Misto, dizia-me a certa altura o padre Fontes, que só conhecendo as Montalegre vai fazendo ao pretender afirmar-se como um coisas por dentro, podemos entender o seu autêntico significado e qual “santuário dos desportos de natureza”, a sua verdade, reconhecendo que há muitos saberes ancestrais e Uma estratégia que cruza o desporto e a cultura e une a expressões da cultura do povo, que têm de ser estudados, e que devem tradição à modernidade, e que tem como objetivo atrair mais ser publicados, porque se revestem de interesse e em muitos casos são visitantes e ajudar a fixar os mais novos. O palco para estas benéficos, referindo-se a certas propriedades curativas de muitas iniciativas estende-se desde a serra do Larouco, na fronteira plantas, cujo conhecimento o povo vai transmitindo oralmente, de com Espanha, segue o curso do rio Cávado até ao Parque geração em geração. E é o que tem feito, publicando livros e textos, Nacional da Peneda-Gerês e, entre os diversos eventos, partilhando conhecimento sobre chás com qualidades especiais para o destacam-se as caminhadas, observação de aves, parapente, tratamento de algumas maleitas. ultramaratonas, campeonatos de pesca ou troféus de BTT. A desmistificação liberta o espírito e a mente, e as pessoas livres dos A juntar a estas iniciativas está igualmente o mundial de rali- seus medos são menos vulneráveis ao oportunismo e à exploração. A crosse, uma iniciativa que promove a internacionalização do cruzada do Padre Fontes também procura a libertação dos que concelho e que atrai milhares de portugueses e galegos padecem de doenças incuráveis, das garras do oportunismo sem escrúpulos, que se aproveita do desespero e do clamor das pessoas, aficionados pelos desportos automóveis.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 9 ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS 2017 …C“onãno cháedlhemoo:cracia sem imprensa livre”!... Montalegre Mandatos PS PSD Votantes 51,84% PARA MEMÓRIA FUTURA… Por: Domingos Chaves Uma democracia bem entendida e inteira, tal qual um sol que por igual Não há por isso que esconder ou procurar a todos ilumine, deveria em nome da pura lógica começar por aquilo deturpar uma realidade que é objectiva, factual, que temos mais à mão: o respeito pela terra onde nascemos, o clara e transparente. Digam o que disserem, o que respeito pelas gentes com quem convivemos, e até o respeito pelos se passou nas últimas autárquicas, só pode ter vizinhos da rua onde moramos. Se estas primárias condições não uma leitura: os eleitores foram claros, objectivos, forem observadas – como de facto não o têm sido em inúmeros precisos, concisos e realistas. Que ninguém ocasiões do quotidiano barrosão, toda a fundamentação ainda que procure por isso fazer deles mentecaptos!... teórica estará à partida intelectualmente viciada e corrompida. Dito Expressaram a sua vontade convincentemente através do seu voto e de isto e por muito que algo possa desagradar a quem quer que seja, é forma inequívoca. Não vale a pena por isso continuar a invocar desculpas e isso que efectivamente dá para observar na nossa terra - bodes expiatórios, através de condutas que em alguns casos chegam a roçar designadamente no período pós-autárquicas - através de uma “guerra o fundamentalismo. Em democracia ganha-se e perde-se, e o que cada um surda” e perversa, levada a cabo por determinados sectores de uma tem a fazer, é assumir democraticamente, as responsabilidadesque lhe Oposição sem freio, que não conhece, ou faz por desconhecer, as foram conferidas pelo voto do povo – que é quem mais ordena. regras mais elementares daquilo que é a democracia representativa e o conceito de liberdade com responsabilidade, que tantas vezes Não há por isso volta a dar!... A soberania reside em quem decide, e foi exactamente por isso, que através do dito voto, os eleitores entenderam reclama, mas que raramente pratica. confiar a maioria à candidatura vencedora, como garante da continuidade Uma postura que qualquer barrosão com “dois dedos de testa”, não do trabalho realizado, e com o objectivo de assim contribuírem para um deixará de ter na devida conta. Desenganem-se por isso, aqueles que projecto de futuro, com mais desenvolvimento e melhor qualidade de vida usam e abusam de todos os meios ao seu alcance para “investirem” na no concelho. manipulação, na mentira a qualquer preço, e na instrumentalização dos menos atentos!... Como vulgarmente se costuma dizer, “não Uma soberania que resolveram igualmente estender à Assembleia passarão”. A importância que hoje assume o Poder Local – diga ela Municipal, pelo papel relevante que este Órgão deliberativo desempenha, e respeito à comunidade emigrante que abusivamente continua a ser como garante da estabilidade democrática e da promoção do debate político tão mal tratada e em determinados casos até vilipendiada, à diáspora, entre pares, peça fundamental na construção de um Município que se quer ou a todos quantos resistem intramuros, está suficientemente ainda mais consistente e cada vez mais ao serviço das pessoas. Isto sim, é enraizada e constitui para toda esta gente - que com toda a que é a democracia a funcionar!... Em liberdade não há vitórias na secretaria, legitimidade e legalidade decide defender os seus direitos e os e o combate politico deve ser feito sim, mas com elevação e nos locais interesses das suas aldeias - um espaço de participação democrática e próprios – que são muitos, ao invés de se recorrer à praça pública e à cívica de que não abdicam. “justiça de pelourinho” – só porque sim. E não abdicam, não só porque têm direito a ele, porque a lei lho Diz e muito bem um conceituado historiador e jornalista barrosão, que em permite, e porque só assim se podem constituir como um importante “politica não vale tudo”. Pois claro que não!... Aliás: não deveria valer. elo de ligação do Poder Executivo às populações, e de intervenção Pessoalmente diria até mais: não vale tudo, nem os fins poderão justificar os destas, na construção de melhores estruturas para as aldeias onde meios. Mas sendo esse um pressuposto digno, tal só será realizável quando nasceram, querem viver e um dia morrer. estivermos perante gente que respeite as regras da democracia, quando o As coisas são como são e não como alguém em particular quer que dever deontológico e social de informar com verdade e objectividade sejam, e as estatísticas e os números, têm até o condão de “vestir à prevalecer sobre os interesses individuais; e acima de tudo, quando medida”, todas as verborreias desencadeadas em tudo que é redes tivermos uma informação isenta, em vez do esforço continuado e muitas sociais, e todas as análises e leituras em função de aspirações vezes requentado na procura de polémicas, manipulando factos e individualizadas e interesses partidários que por cá gravitam. acontecimentos desgarrados que selecciona a seu jeito. Enquanto tal não ocorrer, tudo como dantes “quartel-general em Abrantes”.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 10 Noticias de VOTO DOS EMIGRANTES AUTÁRQUICAS DE 2017 O DIA EM QUE OS SINOS “TOCARAM A REBATE” A possibilidade e a capacidade das pessoas que se encontram fora do seu país para a Assembleia da República, através de duas circunscrições de origem para nele exercerem o seu direito de voto, tem levantado ao longo eleitorais: uma abrangendo todos os países europeus - Círculo dos anos, principalmente no decorrer das campanhas e actos eleitorais, todo Eleitoral da Europa - e outra que abrange todos os restantes países a um conjunto de questões que têm a ver não só com legitimidade democrática, nível mundial – o chamado Circulo Eleitoral Fora da Europa. Círculos mas também com o exercício pleno da cidadania. O último exemplo, surgiu que elegem cada qual dois deputados, o que permite que quatro dos recentemente quando das eleições autárquicas no concelho de Montalegre, duzentos e trinta deputados da Assembleia da República, fiquem àcerca das quais alguns jornais e até a própria televisão pública, resolveram reservados para representar a emigração, ainda que, depois de eleitos colocar em causa o direito ao voto dos nossos emigrantes. Perante a evidência prevaleça a defesa do interesse nacional e não o de grupos específicos dos factos, há então que perguntar: afinal, têm ou não têm os mesmos, o direito de cidadãos ou regiões em concreto. de se manterem recenseados no seu país de origem, e consequentemente exercerem aí o seu direito de cidadania?!... Diferente, é o caso da Lei Eleitoral dos Órgãos das Autarquias Locais. Enquanto norma de carácter introdutório e genérico, refere-se a Para uma correcta resposta, há desde logo duas questões a considerar: por um Assembleias de Freguesia, Assembleias Municipais, Câmaras lado, a questão do voto externo e a opção ou não, de se recensearem nos países Municipais, e ainda que sejam os únicos mencionados na Lei, outro de acolhimento. Pelo outro, a legitimidade ou falta dela, da opção pelo voto órgão autárquico existente não totalmente abrangido pela mesma, que interno, daqueles que optarem pelo recenseamento no país de origem. Muitas é a Junta de Freguesia, cujo Presidente é eleito directamente enquanto abordagens foram já feitas sobre o assunto – e até sobre o impacto que esta cabeça de lista da eleição para a Assembleia de Freguesia. E aqui sim, temática tem nos números da abstenção nos diversos actos eleitorais, mas essa há que diferenciar a questão dos chamados votos externos e votos é uma outra questão que aqui não cabe agora averiguar. Por agora, aquilo que internos. Assim e no que respeita às eleições locais, a participação aos se pretende, é que este pequeno contributo ainda que abordado ao de leve por nacionais residentes e recenseados no estrangeiro não lhes é imposições de espaço, possa de alguma forma contribuir para o esclarecimento permitido o voto, dado que as eleições para as Assembleias Municipais da polémica gerada. estão limitadas aos cidadãos recenseados na respectiva área territorial, uma vez que estamos perante entidades territoriais infra- Como se sabe, Portugal é historicamente um país de emigração, possuindo um estaduais. grande número de comunidades de emigrantes em diversos países e em vários continentes. Debruçando-nos então sobre os direitos de sufrágio dos E diferente também, é o caso dos que optaram por manter-se emigrantes, impõe-se desde logo começar esta análise, com a afirmação de que recenseados no país de origem. Para esses, o elemento determinante só gozam de direitos de sufrágio nas eleições em Portugal se tiverem a para a atribuição da capacidade eleitoral activa e passiva é o local de nacionalidade portuguesa. E quem é afinal considerado português, à luz da Lei residência, e estão por isso habilitados a usufruir desse direito, todos da Nacionalidade?!... A este respeito, através da Lei Orgânica n.º 2/2006, de 17 os que estão recenseados em Portugal. Quer isto dizer, que os cidadãos de Abril, foram introduzidas importantes alterações à anterior Lei n.º 37/81 de que residem no estrangeiro e mantêm o recenseamento eleitoral em 3 de Outubro, modificando substancialmente os regimes da atribuição e da Portugal, normalmente na localidade de residência onde residiam aquisição da nacionalidade portuguesa. antes de emigrar, mantêm o seu direito de voto desde que se desloquem, uma vez que não são considerados como residentes no Nesta medida, a lei portuguesa considera que para além dos portugueses de estrangeiro para efeitos eleitorais. origem, são igualmente portugueses, os filhos de portugueses, sem deixar de atribuir o direito subjectivo de naturalização aos netos de emigrantes, Ninguém pode ignorar por exemplo, que dos portugueses residentes permitindo-lhes um acesso mais fácil à aquisição da nacionalidade. Ou seja, no estrangeiro que mantêm laços económicos, afectivos e culturais basta-lhes comprovar que têm um ascendente em 2.º grau com a aquisição da com o país de origem, muitos deles não exercem os direitos eleitorais nacionalidade. Feito este pequeno esclarecimento, fica portanto desde logo que a Lei lhes confere na plenitude, quer por opção, quer por claro quais os cidadãos portugueses ou descendentes de portugueses que se constrangimentos exteriores ou quer até por falta de interesse, o que encontrem ou residam no estrangeiro, e que sendo assim, gozam dos direitos e se reflecte no não registo no recenseamento eleitoral por um lado, ou estão sujeitos aos deveres que não sejam incompatíveis com a sua ausência do no não exercício do direito de voto por outro no país de acolhimento. país nos termos do artigo 14.º da Constituição da República Portuguesa. Isto porque, contrariamente ao que acontece com os cidadãos Termos em que, uma vez completados os 18 anos de idade, são chamados a portugueses residentes no território nacional, aos quais e nos termos participar na eleição do Presidente da República, da Assembleia da República, do artigo 113.º n.º 2 da Constituição da República Portuguesa e do do Parlamento Europeu, das Autarquias Locais, e ainda, em Referendos de artigo 3.º do Regime Jurídico do Recenseamento Eleitoral, a Lei obriga âmbito nacional, regional ou local. Para justificar a participação dos emigrantes ao recenseamento, os portugueses residentes no estrangeiro não são nacionais nas eleições portuguesas, poder-se-ão - ao contrário do que alguns obrigados a tal, ainda que, de facto e de direito, possam fazê-lo argumentam – ainda invocar outras razões de natureza constitucional, voluntariamente logo após a chegada ao novo país de residência designadamente e para além da titularidade da nacionalidade, argumentos que através das embaixadas ou consulados. passam pelo preceituado nos artigos 113.º e 121.º da nossa Constituição da República e dizem respeito não só aos princípios gerais de direito eleitoral, mas Mas pelo contrário, também não lhes é vedado o direito de se também à existência de laços de efectiva ligação à comunidade nacional; manterem recenseados no país de origem, o que significa de per si, que à participação na tomada de decisões que os podem afectar; ou ainda à defesa a opção é sua. É por isso que em termos estatísticos, temos dos seus legitimos interesses por via directa ou indirecta. portugueses emigrados que não contam como tal para efeitos eleitorais, e que possivelmente alimentam as bolsas da abstenção Posto isto, importaria pois sublinhar os actos eleitorais nos quais podem os aquando da realização de eleições em Portugal – sejam elas emigrantes participar. Porém e dado o curto espaço disponível, debrucemo-nos Legislativas, Presidênciais, Europeias ou Autárquicas.Dito isto, apenas nas Eleições para a Assembleia da República e nas Eleições Autárquicas percebe-se que haja quem prefira que os nossos emigrantes se para melhor se perceber aquilo que as distingue. Assim, nas eleições para a encontrem recenseados, onde efectivamente residem. Será por Assembleia da República, a participação dos portugueses residentes no exemplo, uma forma de fortalecer candidaturas em épocas eleitorais estrangeiro enquanto eleitores é admitida, dado que “é a assembleia particularmente para a Assembleia da República, mas esse é um representativa de todos os cidadãos portugueses”. A Constituição, permite aliás, problema de quem tem o poder de decisão e nunca das vontades desde a sua versão originária, a participação de cidadãos residentes no alheias. “Dura lex, sed lex”… estrangeiro na eleição do Parlamento, em consonância com a Lei Eleitoral para a Assembleia da República, ao determinar que “têm direito de sufrágio todos os Domingos Chaves cidadãos maiores de dezoito anos, ressalvadas as incapacidades previstas na lei geral”. Obviamente, que o exercício do direito de sufrágio está dependente de inscrição prévia no recenseamento eleitoral, o que quer dizer, que todos aqueles que procedam ao recenseamento eleitoral, podem votar e ser eleitos

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 11 SOCIEDADE UMA ROTA QUE LIGA CINCO CONCELHOS OS VELHOS FORNOS COMUNITÁRIOS Uma rota pedestre com a extensão de 200 quilómetros vai ligar a partir de junho de 2018, os cinco concelhos do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), num investimento de quase 300 mil euros. Em declarações à agência Lusa, a administradora delegada da Adere/Peneda-Gerês, Sónia Almeida, explicou que apesar da conclusão da \"Grande Rota do PNPG\" estar prevista para 31 de dezembro do próximo ano, em junho já estará marcada e sinalizada para poder ser percorrida por visitantes e turistas\". A ideia de projecto nasceu da necessidade sentida há já alguns anos de voltar a ser criado um percurso que chegou a existir em tempos, implementado pelos serviços do PNPG, que permitisse percorrer a pé, todo o território\", explicou ainda a responsável da Adere Peneda Gerês. O PNPG foi criado em 1971 e é a única área protegida no país com a classificação de parque nacional. Localiza -se no noroeste de Portugal, abrangendo o território de cinco municípios: Melgaço, De todas as instituições de vida comunitária, uma das Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Terras de Bouro e mais importantes, pelo seu significado prático e Montalegre. sociológico, era a construção e manutenção em funcionamento de um forno do povo. Do ponto de vista da vida quotidiana, esta tradição era muito importante no passado, quando as aldeias estavam POR: Catarina Pereira isoladas. Vivia-se em economia de subsistência e por isso, havia que ser auto-suficiente no aspecto alimentar. As padarias, mesmo na vila, são um fenómeno moderno, e um bom naco de pão não se dispensa à mesa. Tanto mais, que no Barroso abundavam os cereais, em especial o centeio, tradicional dos climas frios, que cozido dá um pão muito escuro e saboroso, que se conserva fresco e inalterado durante muitos dias. O forno comunitário servia então para que cada uma das famílias fabricasse regularmente pão, consoante fosse sendo necessário. Até há poucos anos, ser padeiro não era profissão, pelo que cada um, tinha que amassar e cozer O PNPG foi criado em 1971 e é a única área protegida no país o pão que consumia. Assim, o forno era uma obra social e colectiva com a classificação de parque nacional. Localiza -se no importante, uma vez que a construção de um forno próprio era noroeste de Portugal, abrangendo o território de cinco municípios: Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, incomportável para a maioria das famílias que, deste modo se socorriam, Terras de Bouro e Montalegre. O objectivo deste projecto é por turnos, do forno colectivo. Além disso, num passado desaparecido, e melhorar as condições de visita no único parque nacional do por isso, por vezes chorado, o forno do povo era um ponto de encontro de país, adequando os interesses do desenvolvimento turístico toda a aldeia. Aí se albergavam, ao calor da fornalha, os mendigos, os do território com os princípios basilares da preservação e artistas ambulantes e os viandantes, nas noites invernosas. Era um \"lugar conservação da natureza.A implementação da rota está a ser de oração e de reunião, como qualquer capela em serviço permanente\" articulada com os conselhos directivos dos baldios, com os (ANTÓNIO LOURENÇO FONTES, em \"Etnografia Transmontana\", l, página municípios de Melgaço, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, 10). Era também um local para o serão da rapaziada da aldeia, nas longas e Terras de Bouro e Montalegre, bem como com o Instituto de frias noites de inverno, num mundo que já não existe, onde não havia Conservação da Natureza e Florestas. televisão, nem cafés, nem outras modernidades. Melhor ou pior, todas as aldeias tinham o seu forno, havendo até algumas que tinham mais que um. Ainda hoje, merecem destaque, por estarem em bom estado de funcionamento, os de Vilar de Perdizes, de Padornelos, Tourém e Pitões das Júnias. Estão ainda referenciados outros, em Meixedo, Gralhas, Solveira, Negrões e Travassos da Chã. Nenhum deles tem tido utilização, por serem grandes e consumirem muita lenha até aquecerem e ficarem prontos a usar, o que implica grandes custos, que actualmente não são vantajosos, se comparados com o preço do pão trazido das padarias da vila. Todos os fornos têm de comum serem edifícios baixos, de um só piso, integralmente construídos em granito, para evitar incêndios. São de pedra as paredes, como também o são os arcos e a abóbada que suportam o telhado. O mesmo se passa com o próprio telhado, formado por lajes graníticas, finamente cortadas. Do lado de fora, ao longo das paredes, existem, em regra, sólidos Com uma área de mais de 70.000 hectares, o PNPG encerra uma diversidade biológica destacada, uma riqueza específica contrafortes, também graníticos, onde se apoiam os arcos da abóbada elevada e um número significativo de espécies endémicas. interior. Tudo visto, apenas é feita de madeira a única porta que costumam Destaca-se ainda pela extensão e pela diversidade de ‘habitats ter. No interior, o espaço é amplo, havendo num dos lados uma bancada de naturais\", evidenciando-se as matas climáticas de carvalhos, trabalho, de pedra. No outro, fica o forno, propriamente, com a sua cúpula associadas ao azevinho, ao medronheiro, ao teixo e ao de materiais argilosos e refractários. Para o viajante que anda em busca das sobreiro.Constitui juntamente com o Parque Natural da Baixa ancestrais tradições e formas de vida comunitária do povo barrosão, de um Limia/Serra do Xurés, na Galiza, o Parque Transfronteiriço mundo que já expirou, é também obrigatória a visita ao forno de Padroso, Gerês-Xurés e em conjunto com esse parque natural espanhol, terra dos meus antepassados de que me muito me orgulho. integra desde 2009, a Reserva Mundial da Biosfera.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 12 SERRA DO LAROUCO MERCADO CULTURAL DE PITÕES UM TESOURO ESCONDIDO A aldeia de Pitões das Júnias, transformou-se nos dois dias No País Barrosão existem ainda muitos tesouros que antecederam a consoada num mercado de Natal cultural, por descobrir, a sua gente, a sua cultura, a onde foi possível ver artesãos a trabalhar ao vivo, visitar natureza e as suas tradições. Tão profundo e uma vacaria e até procurar fadas no bosque. Margarida genuíno como a história das nossas terras e Paiva, da organização do “Pitões à mão”, disse à agência antepassados é o privilégio de entender, sentir e Lusa, que o evento quer desvendar os segredos desta aldeia viver a cultura, a natura e as gentes. Aqui, a do concelho de Montalegre e atrair mais visitantes ao história e as estórias contam-se desde o território. Quer ser também, acrescentou, uma alternativa princípio, por mais remotas que sejam. aos mercados tradicionais de Natal. POR: Mauro Fernandes Promovemos em eventos todo este património E cultura, percorrem um vasto Património arqueológico, o Megalitismo Margarida Paiva destacou ainda a construção da árvore de (pré–história), no período Neolítico, a Pena Escrita, o Penedo Caparinho, os Natal alternativa, que foi feita com os materiais que Castros Celtas e Romanos relembram descobertas como as aras votivas a estiveram disponíveis e que quer evitar o arranque de uma várias divindades, que os romanos acolheram, relembram ainda o Deus árvore que seja.Organizado pela Taberna Terra Celta “Pitões Larouco (Vilar de Perdizes, bem como o Deus Júpiter (Vilar de Perdizes e à mão”, o evento contou com o apoio da Câmara de Chã). Os as caminhadas e trilhos percorrem as Igrejas, Capelas, Alminhas e Montalegre, da Junta de Freguesia de Pitões das Júnias, da Cruzeiros. E tudo aquilo que não vemos porque corremos, todo esse vasto Associação para o Desenvolvimento de Pitões das Júnias, da património está preservado e protegido no Ecomuseu do Barroso, uma Biblioteca Aberta de Pitões e do Ecomuseu de Barroso. ideia e forma de salvaguardar o património natural,cultural, social, económico, contribuindo para o desenvolvimento dos seus habitantes, respeitando e valorizando a sua cultura, local de visita obrigatória. Já depois dos trilhos não nos esquecemos da Gastronomia, por esta altura potenciada pela Feira Do Fumeiro (de 21 a 24 de Janeiro). Com o seu Património Natural, o Barroso constitui uma região, desde a medievalidade, ocupando cerca de mil e cem quilómetros quadrados de superfície. PITÕES APOSTA NO TURISMO Enquadra-se na chamada Terra Fria Transmontana, de fortes As localidades de Pitões das Júnias e Lobios, na Galiza, estão contrastes climatéricos, com estios de temperaturas elevadas e unidas através de uma rota transfronteiriça com uma extensão invernos ventosos e frios. Ainda hoje se repetem dizeres dos antigos de 70 quilómetros, cujo objectivo é atrair turistas para os fazer sobre a imprevisibilidade e extremos do clima; O Larouco e os seus viajar “nas pegadas do lobo ibérico”.A rota passa por seis fojos 1535 metros, rodeado de um planalto com altitude média de 850 do lobo, que foram já recuperados. A ideia é valorizar metros, permite um cenário diferenciado com paisagens de sonho e de turisticamente estas antigas armadilhas que serviam para perder o fôlego, representando muito do que é vivência na região, do capturar os lobos e criar a marca “Território do Lobo Ibérico”. mais belo ao mais agreste, um despertar para a vida. A proximidade Os turistas terão também oportunidade de pernoitar num cultural com a Galiza, as fabulosas histórias da raia e do contrabando, refúgio de montanha. O objectivo central da iniciava passa o misticismo, as bruxas, o Congresso de Medicina Popular, o Padre também por “valorizar o património etnográfico, natural e Fontes, as Olas de Santa Marinha, as belíssimas igrejas e capelas, a imaterial associado ao lobo, como forma de melhorar a religião, o Auto da Paixão (preparado a meses a fio e interpretado capacidade de atracção turística do território, ao mesmo tempo pelos melhores atores, a população de Vilar de Perdizes), a Sexta-Feira que se conserva e preserva um elemento da biodiversidade de 13, uma mescla de cultura, tradições, património e uma forma de viver uma área protegida..A intervenção vai também ajudar as em natureza tornam esta região verdadeiramente distinta. Mais comunidades locais a encarar o lobo não como um animal haveria para dizer, mas queremos deixar à descoberta de cada um. De selvagem ofensivo, mas como um meio atractivo de obtenção de tudo isto é feito o Barroso, mas é sobretudo feito de pessoas que ganhos. A rota, liga a aldeia de Pitões das Júnias a Lobios, um comungam destes valores, que se apaixonaram pelo Barroso, porque município raiano localizado na província de Ourense, em sempre cá viveram, porque conheceram e não mais esqueceram, Espanha. No futuro serão ainda criados dois polos do Centro de porque vivem a natureza, porque encantam as gentes com a sua Interpretação do Lobo Ibérico, um em Pitões das Júnias e outro cultura. O que não reza a história por estes lados é de facilidades ou na localidade espanhola de Puxedo. O projecto “Nas pegadas do desistências, como alguém dizia, a felicidade só faz sentido se lobo ibérico, através do património etnográfico, natural e partilhada. Sabem-no bem aqueles que por cá passam! imaterial da Reserva da Biosfera Xurés-Gerês” já foi apresentado ao programa INTERREG V A Espanha Portugal (POCTEP). Mauro Fernandes

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 13 SERRA DO LAROUCOINVESTIMENTO CUSTOU 300 MIL EUROS UM TESOURO ESCONDIDO Foi isso que procurei fazer, assim como em outras situações. Defendo que a importância que o Larouco representa, tem que ser 2014 FOI O ANO EM QUE PELA PRIMEIRA VEZ potenciada sob o ponto de vista cultural, económico, turístico e desportivo. Neste campo, perspetivei, de imediato, a possibilidade UMA GRANDE COMPETIÇÃO VELOCIPÉDICA de trazer um grande acontecimento à nossa terra, que é a Volta a SUBIU A SERRA DO LAROUCO Portugal em bicicleta». O que pode representar para o concelho um evento como a Volta a Portugal? «Irá representar muito, seguramente. Com a etapa, iremos meter Montalegre no mapa das grandes realizações desportivas que se fazem no país. Uma vez que não podemos trazer para aqui o Benfica nem o Porto nem o Sporting, podemos trazer uma grande prova velocipédica que durante 15 dias concita as atenções gerais do país». O que tem escutado sobre este investimento? «Como é do conhecimento público, vamos ter no dia 2 de Agosto, o final de etapa no alto da serra do Larouco. Este facto está a provocar uma grande curiosidade em todo o país. A organização da prova já cá esteve e ficou radiante. Não sabia que estava aqui este tesouro escondido. Não tenho dúvidas que irá ter o mesmo peso, em termos desportivos, à Senhora da Graça e à serra da Estrela. As impressões têm sido as melhores». Acredita que o acesso ao Larouco irá transformar a região? «A acessibilidade ao Larouco vai permitir a devoção de Montalegre à prova velocipédica maior de Portugal e vai fazer com que, ao longo do ano, os ciclistas venham para Montalegre treinar o que já se verifica desde há dois meses. Com isto, A primeira tirada da história da Volta a Portugal em bicicleta com final na alimentam-se na terra e estão a deixar cá o dinheirinho que nós Serra do Larouco, consagrou para a História do concelho, o espanhol David precisamos para a nossa manutenção neste território tão bonito. Belda, de Burgos. Foi também nesta etapa, que o também espanhol Gustavo Não tenho dúvidas que o Larouco vai ser transformado num Veloso arrebatou a camisola amarela ao seu compatriota Victor de la Parte, espaço de grande atratividade turística. Irá contribuir, acabando por vencer a volta. Para esta etapa que teve o seu inicio em Macedo significativamente, para a sustentabilidade do território. Em boa hora apareceu esta aposta que foi bem feita e que em meia dúzia de Cavaleiros, foram percorridos 175,6 quilómetros, que terminaram na contagem de anos será convertida em muitos proventos económicos para a de primeira categoria instalada na Serra do Larouco, 1.525 metros de altitude. região de Barroso e, particularmente, para a vila de Montalegre». Serra do Larouco é um tesouro escondido Presidente do Municipio O Presidente da Câmara Municipal de Montalegre fala do investimento de 300 mil euros, realizado na serra do Larouco, para poder ser palco de uma prova da Volta a Portugal em bicicleta, e palco de veraneio para todos quantos ali se queiram deslocar, tornando a serra como mais um cartão de visita do concelho.. Garante que a aposta «foi bem feita» e que irá «transformar a região». Orlando Alves quer destapar o «tesouro escondido» do Larouco ao país por forma a potenciar um concelho que pode ter encontrado um balão de oxigénio turístico e económico. importância Quanto dinheiro gastou a Câmara de Montalegre? Para quem não conhece a serra do Larouco, que «Este investimento está orçado em 300 mil euros, suportado pelo representa este local? orçamento municipal. Estamos a tentar, com a EDP, enquadrar o «O Larouco, já no período da romanização, foi comparado ao Deus Júpiter. As investimento no protocolo de concessão das barragens por forma a aras que apareceram na serra tinham todas a inscrição latina que falava do conseguirmos aliviar um pouco o esforço financeiro que tivemos Deus Júpiter, divindade que a cultura romana consagrou e divulgou para que fazer. Tudo foi feito um pouco à pressa. Um pouco em sempre. É uma serra que tem contornos diferentes. Quem vier de Chaves e contrarrelógio. Contudo, está uma estrada bem feita, que convida olhar para o Larouco, vê um guerreiro deitado, uma espécie de herói morto...é as pessoas a ir ao Larouco. Irá, como disse, dar sustentabilidade à a imagem que o Larouco oferece. Ora a importância que os nossos região. Por exemplo, não está posta de parte a hipótese, se alguém antepassados deram ao Larouco e que, também, os povos raianos souberam, aparecer, de construção de um hotel no cimo da serra. Nós cá ao longo do tempo, contemplar, é um facto que devemos respeitar. Recordo a estaremos para analisar esse tipo de situações». festa ao \"Deus Larouco\", onde os povos de Padornelos, Gralhas, Meixedo e de De que forma a autarquia irá defender o valor ambiental da Santo André se juntavam, no cimo da serra, com os galegos. Desde que estou serra do Larouco? na Câmara, houve duas ou três festas que fizemos em conjunto. A «A serra do Larouco encerra, em si, valores patrimoniais que temos circunstância de não haver uma acessibilidade fácil fez com que essa festa que saber defender. A biodiversidade que a serra esconde vai ser preservada. Jamais iremos consentir a devassa seja do que for. As morresse. Foi uma pena. Vamos ver se conseguimos ressuscitá-la». espécies cinegéticas irão ser protegidas. Desta forma, o acesso à Como aparece a decisão de investir na serra do Larouco? serra será sempre condicionado. «A acessibilidade ao Larouco resulta de um compromisso politico assumido nas ... últimas eleições autárquicas. Entendo que os compromissos são para se honrar.

COLECNTotÂiciNasEdAe de textos | A BARROSANA| ANO 2018 14 PODER LOCAL O QUE É?!... O Poder Local é um dos três níveis de governação pública previstos na Constituição.!... Ou seja: o Poder Central gira em torno dos órgãos de governação de âmbito nacional: o Presidente da República, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais. O Poder Local é composto pelas autarquias locais que se subdividem em Municípios e cujos órgãos são a Câmara Municipal e a Assembleia Municipal e as Freguesias cujos órgãos são igualmente a Junta de Freguesia e a Assembleia de Freguesia. E quem pode ser eleito?!... De forma global, podem candidatar-se cidadãos portugueses, brasileiros e cabo verdianos e cidadãos de Estados Membros da União Europeia. Têm de estar inscritos no recenseamento eleitoral e só podem candidatar-se a órgãos autárquicos de um único Município, mas podem integrar as listas para a Câmara Municipal, para a Assembleia municipal e para – apenas - uma assembleia de freguesia. Se for eleito para mais do que um cargo, terá de optar por um. A lista é enorme e inclui: o Presidente da República, inúmeros membros da magistratura -juízes do Tribunal Constitucional e do Tribunal de Contas, o Procurador-Geral da República, magistrados e membros do Conselho Superior da Magistratura ou do Ministério Público, bem como membros da Comissão Nacional de Eleições ou da Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Também estão proibidos de se candidatar militares, agentes das forças de segurança em serviço efectivo, cidadãos insolventes salvo se reabilitados e cidadãos estrangeiros que estejam privados do direito de sufrágio activo ou passivo, entre outros. Existe também um conjunto de pessoas que não se podem candidatar a cargos autárquicos dos círculos eleitorais onde trabalham. É o caso dos directores de finanças e chefes de repartição de finanças, dos secretários de justiça e administradores judiciários, os ministros de qualquer religião ou culto e os funcionários das autarquias com funções de direcção, a não ser que suspendam funções quando é entregue a lista em que se integrem. Ficam ainda de fora os concessionários de serviços da autarquia em causa, as pessoas com dívidas em atraso à autarquia ou os seus fiadores, e os donos e dirigentes de empresas que tenham contratos em curso com a autarquia. ALDEIAS E LUGARES Cepeda é uma pequena aldeia com as características das demais aldeias do planalto do Alto Barroso. Maioritariamente despovoada e envelhecida quer na população quer no casario e também tal como as restantes, dedica-se maioritariamente à agricultura e à pastorícia. O casario é o típico casario transmontano com casas de granito à vista de dois pisos em que o primeiro pisoera destinado ao gado e arrumações e o segundo à habitação. Actualmente existem já algumas construções e acrescentos onde já entra o tijolo e o cimento. A aldeia de Cepeda pertence à freguesia de Sarraquinhos, uma freguesia que enquanto tal, não consta das Inquirições de 1258, DITOS DE ANTANHO CEPEDA ainda que constem dela todas as localidades que a integram. Em I boa verdade lá se referem Pedrário, Sarraquinhos, Cepeda, Zebral - Os de Sarraquinhos onde existia uma herdade do irmão do trovador João Baveca, e (como a porca de Murça) Antigo. Esta última povoação com o topónimo significativo Antigo São muito honradinhos. de Espinho, que o mesmo era dizer Antigo de Aspinius (Aspini). II Mais tarde foi Antigo de Arcos, pertencente ao aro de Cervos, e É manha dos de Zebral, actualmente Antigo de Sarraquinhos. As voltas que a vida dá!... Comer, beber e dizer mal. Quem vai a Cepeda, deve seguir o roteiro do grande poeta transmontano e nacional Miguel Torga. Merecem ser visitadas a igreja e ali bem perto a capela da sede de freguesia, o castro de Pedrário e o forno do povo, onde se podem se podem sempre ouvir meia dúzia de velhinhas dizer jaculatórias por alma do sempre lembrado Padre Joaquim que Deus haja.Actualmente é uma aldeia que anda nas “bocas do mundo”, pela corrida ao chamado petróleo branco – lítio – provadamente existente nas imediações, corrida essa que chegou já à barra dos tribunais. A empresa australiana Novo Lítio entrou em litígio com a portuguesa Luso Recursos. Em causa está a exploração do dito lítio na zona, um investimento que ronda – dizem, os 370 milhões de euros e pode vir a gerar centenas de postos de trabalho. CANICÓ A uma altitude a rondar os 900 metros, Caniçó pertence à freguesia de Salto, mas com três concelhos ali à beirinha, o mais próximo, o de Vieira do Minho fica só a 700m, o de Cabeceiras de Basto a 4 km e o de Boticas a 5 Km, medidas em linha recta. Por sua vez, a sede da freguesia fica a apenas 3 Km, mas mesmo, mesmo ali ao lado, a coisa menos coisa de 400 metros ficam as Minas da Borralha a Norte, ou aquilo que delas resta, mas também e ainda a cerca de 400 metros, mas a Poente, tem como vizinha a aldeia de Paredes.Esta pequena aldeia, chama-se como já se disse Canicó e pertence à Freguesia de Salto. Vila de Salto que é sede da mais vasta e populosa freguesia do concelho de Montalegre. Situada no extremo sul do concelho, fica encravada entre os concelhos de Boticas, a Leste, Cabeceiras de Basto, a Sul e Vieira do Minho a Oeste. Encontra-se a 41 quilómetros da sede do concelho - Montalegre, a 5 quilómetros da albufeira da Venda Nova e a 21 quilómetros de Cabeceiras de Basto. Situa-se entre a Serra da Cabreira e a Serra da Seixa é atravessada pela Estrada Nacional 311 e está a 4 quilómetros da Estrada Nacional 103. Salto que passou a vila em 21 de Junho de 1995 e uma vez promovida à categoria e a freguesia passou a ter 19 aldeias -Amial, Amiar, Bagulhão, Beçós, Borralha, Caniçó, Carvalho, Cerdeira, Corva, Golas, Linharelhos, Lodeiro de Arque, Paredes, Pereira, Pomar da Rainha, Póvoa Reboreda, Seara e Tabuadela, a fazerem-lhe companhia. Limites da Freguesia: A Freguesia de Salto faz fronteira com três concelhos que são: Cabeceiras de Basto, Vieira do Minho e Boticas.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 15 Noticias de PODER LOCAL O DIA MAIS NEGRO PARA A OPOSIÇÃO O que se sabe isso sim, é que apesar de não lhes ter sido atribuído qualquer pelouro nem competências delegadas, não perderam tempo nas suas exigências, como se poderá constatar QUANDO A OPOSIÇÃO PROTESTOU pelas palavras proferidas pelos próprios, constantes que são da página anterior. Exigências, que sabe-se lá porquê, fizeram tábua rasa da Lei n.º 24/98 de 26 de Maio, que aprovou o E O PRESIDENTE FALOU EM POLITICA DE CHIQUEIRO Estatuto do Direito de Oposição, regula esta matéria, define os titulares do dito direito, e consequentemente dos direitos daqueles que não fazem parte dos correspondentes Orgãos José António Carvalho de Moura e José de Moura Rodrigues, Executivos, ou que neles não assumam pelouros, poderes delegados ou outras formas de eleitos em outubro pela coligação \"A Força da Mudança\", responsabilidade directa e imediata pelo exercício de funções executivas. Assim e perante os fizeram um protesto público e simbólico contra o factos, cumpre-me emitir a seguinte opinião: indeferimento do seu pedido para que o Presidente da 1 - O Estatuto do Direito de Oposição consta da Lei n.º 24/98, de 26/5 e baseia-se no princípio autarquia Orlando Alves, lhes disponibilizasse os recursos constitucional do direito de oposição democrática, constante do artigo 114.º da Constituição físicos, materiais e humanos que dizem ser necessários ao da República Portuguesa. exercício do mandato e conforme alegam estar previsto na lei. 2 - De acordo com os n.ºs 2 e 3 deste artigo, é assim reconhecido às minorias o direito de Em protesto, os dois vereadores ocuparam o átrio do edifício oposição democrática, nos termos da Constituição e da lei. camarário, utilizando duas mesas que pediram emprestadas 3 - Deste modo, os Partidos políticos representados na Assembleia da República e que não num café local, de modo a ali, segundo alegaram, prepararem façam parte do Governo, gozam designadamente do direito de serem informados regular e a reunião de câmara, prevista para a tarde do dia 21 de directamente pelo mesmo Governo, sobre o andamento dos principais assuntos de interesse Dezembro, público. De igual direito, gozam os Partidos políticos representados nas Assembleias Carvalho de Moura disse à agência Lusa que reparou que, esta Legislativas Regionais e em quaisquer outras Assembleias designadas por eleição manhã, tinha sido retirada a mesa que costuma estar no directa, relativamente aos correspondentes executivos de que não façam parte. segundo andar da autarquia. \"O que pretendemos é que nos 4 - direito de Oposição, é pois a consagração em termos políticos dos direitos das minorias, sejam garantidos os direitos que temos como oposição, na base podendo afirmar-se, que “no fundo, a garantia dos direitos e poderes das minorias é um dos estatutos e do direito da oposição que está consagrado em instrumento constitucional de contrapeso e limite do poder da maioria”. lei. Pedimos um gabinete, pedimos suportes eletrónicos, 5 - A Lei n.º 24/98 de 26/5, veio assim, e para além de consagrar legalmente este direito pedimos outras coisas e nada nos foi concedido\", salientou. Os constitucional, estabelecer igualmente os direitos que concretamente a Oposição possui, ao vereadores pediram um gabinete e meios logísticos que definir Oposição relativamente às autarquias locais, como a actividade de alegam ser necessários à atividade, apoio de secretariado, acompanhamento, fiscalização e crítica, das orientações políticas dos Orgãos Executivos horário de atendimento aos munícipes e acesso à rede digital das dita autarquias locais; interna do município. Carvalho de Moura referiu que querem 6 - E fê-lo, estabelecendo, que são titulares do direito de Oposição os Partidos políticos melhores condições de trabalho para também poderem ser representados nas Assembleias Deliberativas e que não estejam representados no respectivo uma \"oposição mais construtiva\". \"Infelizmente nós não Orgão Executivo; contamos aqui para esta câmara, para este executivo 7 - Bem como, os Partidos políticos que embora representados nas Câmaras Municipais, municipal, e nós temos que fazer ver as nossas razões desta verifiquem que os seus eleitos não assumem pelouros, poderes delegados ou outras forma\", salientou Carvalho de Moura. O Presidente da Câmara formas de responsabilidade directa e imediata pelo exercício de funções executivas. de Montalegre, Orlando Alves, disse por sua vez, que o 8 - Direito esse, que é igualmente reconhecido aos Grupos de Cidadãos eleitores, que tenham município não pode dar resposta ao que é solicitado pela concorrido nas eleições autárquicas, e que tenham eleitos em qualquer Orgão igualmente oposição, que pede, inclusive, \"apoio administrativo de uma Autárquico; secretária, computadores, telefones e chave da câmara para 9 - Ora sendo desta forma, os titulares do direito de Oposição, têm assim o direito de serem entrar a qualquer hora\". \"É gente que não tem noção do ouvidos sobre as propostas dos respectivos Orçamentos e Planos de Actividades, bem como de ridículo e só me apetece dizer que tenham vergonha e que se pronunciarem sobre quaisquer questões de interesse público relevante; aprendam como por todo o lado se faz oposição\", afirmou à 10 - Importando porém referir, que os titulares do direito de Oposição não são os membros agência Lusa. E acrescentou: \"como não têm ideias refrescantes das Assembleias Municipais, mas sim os Partidos políticos representados nas Assembleias navegam em águas sujas e fazem política de chiqueiro\". Diga- Deliberativas e que não estejam representados no respectivo Orgão Executivo, ou os se, que o PS liderado por Orlando Alves, venceu as eleições de Grupos de Cidadãos eleitores, que tenham concorrido nas eleições autárquicas e que tenham Outubro com 60,60% dos votos (4.696 votos) contra os eleitos em qualquer Orgão Autárquico, os quais embora representados nas Câmaras 30,75% (2.383 votos) conseguidos pela coligação liderada por Municipais, verifiquem que os seus eleitos não assumem pelouros, poderes delegados, Carvalho de Moura, que foi presidente de câmara de ou outras formas de responsabilidade directa e imediata pelo exercício de funções Montalegre a seguir ao 25 de Abril. Recorde-se que o PS executivas. conquistou cinco mandatos e a coligação dois. 11 - O direito de Oposição nas autarquias locais, concretiza-se assim com o direito dos seus titulares – Partidos ou Grupo de Cidadãos - serem ouvidos sobre as propostas dos respectivos Orçamentos e Planos de Actividade, bem como de se pronunciarem sobre quaisquer questões de interesse público relevante. O que significa, que são dois e apenas dois, os direitos que assistem aos titulares do direito de Oposição: A - O direito de serem ouvidos sobre as propostas e Planos de Actividade e Orçamentos; Domingos Chaves B - O direito a pronunciarem-se sobre quaisquer questões de interesse público relevante. No primeiro caso, o momento em concreto em que a audição se deve processar, deverá ser logo que José Carvalho de Moura e José Moura Rodrigues, eleitos pela a Câmara Municipal tenha elaborado o Projecto de Plano e de Orçamento, ou seja, após a sua coligação “A Força da Mudança-PSD/CDS no sufrágio autárquico de elaboração embora anteriormente à aprovação dessas propostas em reunião de Câmara. No que 1 de Outubro último, são os dois Vereadores representantes da diz respeito à alínea B), a Câmara Municipal deve informar os titulares do direito de Oposição, Oposição na Câmara de Montalegre. Oposição, que tendo em conta a independentemente de qualquer iniciativa em concreto dos mesmos, sobre os assuntos de Lei Eleitoral Autárquica vigente; os seus comunicados e considerável importância local. De outra forma não se compreenderia o conteúdo inovador declarações de voto; e até o conteúdo das actas das reuniões deste direito à informação; camarárias em que participam, ainda não deu a conhecer, muito menos clarificou publicamente, quem afinal representa quem. Isto C- Para comprovar a aplicação desta lei, é obrigatória a elaboração pela Câmara Municipal de é, se os ditos Vereadores representam a dita Força da Mudança e se relatórios de avaliação do grau de observância do respeito pelos direitos e garantias nela esta se constituíu em Coligação de Partidos; se o PSD; se o CDS; ou estabelecidos, até ao fim do mês de Março do ano subsequente àquele a que se refiram; se apenas os supraditos Vereadores se representam a si mesmos. D- Estes relatórios são por sua vez enviados aos titulares do direito de Oposição, para que estes se possam pronunciar, ou reclamar dos mesmos para as entidades competentes. Em suma: estes são pois os direitos que advêm do Estatuto do Direito de Oposição não se descortinando qualquer outro – designadamente a concessão de espaços físicos ou outros - que advenha da aplicação da Lei n.º 24/98, de 26 de Maio.

Noticias de A BARROSÂNA SOLVEIRA EDIÇÃO 2 – FEVEREIRO 2018

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 17 Noticias de DITOS DE ANTANHO PELAS ALDEIAS E LUGARES I Vaca sem manha VIAGEM ATÉ SOLVEIRA E mulher sem fama Não vêm de Solveira, Solveira é uma freguesia do concelho de Montalegre, com 12,17 km² de área e 154 Nem de Ardãos ou Nogueira, habitantes - Census2011.A sua densidade populacional é 12,7 hab/km². Até ao liberalismo Nem dos lados da Ribeira. fazia parte da Honra de Vilar de Perdizes juntamente com a mesma freguesia de Vilar de Perdizes e Santo André. É uma aldeia da região de Barroso onde abundam os vestigios de II remotas ocupações humanas e onde o sentido comunitário se revela desde logo no Forno Santo António de Solveira do Povo, obra arquitectónica feita integralmente em pedra, na Torre, nos Moinhos comuns Acendeu-me esta fogueira; e nas cortes e lamas pertencentes ao Boi do povo. É a mais recente freguesia do concelho de Montalegre e ganhou a independência à custa de Vilar , como Santo André. O topónimo Santo António de Vilar, é muito antigo: provém do étimo sorbu + aria - sorbaria, planta semelhante ao buxo muito Não ma deixes apagar. utilizada em obras de marcenaria. Como tal, já se vê que o território desta freguesia foi habitado há muitos séculos. Aliás, a toponímia circundante certifica-o. Primeiro o sítio das III Antas que nos levam até à pré-história; depois o próprio assentamento da povoação Jarretas de Vilar, no Outeiro – altarium; depois o castro do Soutelo, a Cidadonha e finalmente Paio Mantela, Escorna-cruzes de Solveira, uns e outros tradicionalmente considerados locais habitados. Solveira ao fazer parte da Arriateiros de Santo André, honra de Vilar de Perdizes estava abrigada a mandar homens à guarda do Castelo da E cucos da Ponteira: Piconha, pelo menos até ao reinado de D. João I, mas há quem pense que a obrigação Deram-me de comer durou até à Restauração. Entre 1841 e 1853 pertenceu ao concelho de Ervededo que foi E deitaram-me na eira. couto criado por D.Afonso Henriques para o seu amigo Arcebispo D. Paio Mendes, em 1132, tal como fizera ao Couto de Dornelas. IV O vento espalha no chão, As folhinhas d´amoreira, Só não espalha a malicia, A ALDEIA Presidente da Junta Freguesia Alberto Alves Ferreira Solveira, embora sendo hoje uma terra muito despovoada, nota-se ter sido uma grande aldeia, onde se destacam algumas construções, como a Igreja, um tanque comunitário, uma curiosa torre sineira, muito utilizada principalmente para noutros tempos, se chamar as vezeiras e os gadinhos. Segundo informações colhidas na aldeia, a torre sineira não se encontra no seu sítio original. Nesta terra, há ainda o forno comunitário do povo para turista ver e fotografar, o cruzeiro, um tanque com uma fonte anexa, uma fonte de mergulho com pátio pavimentado, e o tradicional casario do barroso, algum ainda com a estrutura em pedra das antigas coberturas de colmo. O território desta freguesia foi habitado há muitos séculos. Aliás, a toponímia circundante certifica-o!... Primeiro o sítio das Antas que nos levam até à pré-história; depois o próprio assentamento da povoação no Outeiro – altarium; depois ainda o Castro do Soutelo, a Cidadonha e finalmente Paio Mantela, uns e outros tradicionalmente considerados locais habitados. Solveira ao fazer parte da honra de Vilar de Perdizes estava abrigada a mandar homens à guarda do Castelo da Piconha, pelo menos até ao reinado de D. João I, mas há quem pense que a obrigação durou até à Restauração. Entre 1841 e 1853 pertenceu ao concelho de Ervededo que foi couto criado por D. Afonso Henriques para o seu amigo Arcebispo D. Paio Mendes, em 1132, tal como fizera ao Couto de Dornelas”.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 18 Noticias de AS POTENCIALIDADES DE UMA REGIÃO A CARNE BARROSÃ A TRADIÇÃO E O FUTURO gn“auTdmeobmonoismsteaaau,nspuqretueifemeniçtaaãoosztéidraeenfdolpeeoscstevitrois-svqseedu-reãeontcreuabmbmeanolaehsfoitcdeaaremnrsíeasvnaettleãlooacanl,ívceolmdoa Na última edição da Barrosana, falamos da criação de idcQnoeeunsrfteeainmnvuoteridveiaecmdidmdpeeae,,dvdficooimoclmteauanssrtoooe”mdr…deaaspsdpreeepsiterocárottpiimfceiaclsoavçoãapomnrotdbdaeiuedutneimtveaa,s região barrosão, da sua importância para a actividade agricola face à passado ainda recente, da qualidade da sua carne e na importbâneclieaza. e de em termos económicos para a região. Neste número, a abordagem irá ter como alvo a Fumeiro de Barroso, a sua tradição e o futuro desta actividade de qualidade ímpar. A produção de fumeiro, teve transformação tradicionais, e pelo escoamento de desde sempre em toda a região de Barroso uma enOorrlamndeo Alvedsiversas matérias-primas regionais, desde sempre utilizadas na alimentação dos animais. importância. O que começou por ser uma importante reserva alimentar, quando O PRESUNTO o acesso destas populações a alimentos diversificados era bastante difícil, é hoje uma actividade económica com algum peso para a região. A produção de fumeiro em pequenas unidades de transformação que respeitam os processos tradicionais de fabrico mas que se modernizaram, adquirindo todas as condições para funcionar de acordo com as actuais exigências, é hohe um dado adquirido e uma actividade viável em termos económicos, que muito tem contribuído e continuará a contribuir para a manutenção das populações rurais, e que mantém o equilíbrio com as condições agro-ecológicas da região. A notoriedade, consequência das características únicas e muito O Presunto de Barroso, é um presunto - ou pá, obtido a partir apreciadas do fumeiro barrosão, fez com que este produto da perna de porcos abatidos entre os 16 e 18 meses de idade, atingisse a reputação de que já goza hoje em dia e é evidenciada alimentados de forma natural, essencialmente através dos sempre que se referem os costumes, a gastronomia e as produções subprodutos da exploração e dos restos da alimentação das da região, levando a que nomes como o presunto de Barroso, a famílias. Tem uma cor entre o vermelho-sangue a vermelho- chouriça, a alheira, a sangueira e tantas outras iguarias, sejam acastanhado, apresentando a gordura uma tonalidade branco- suficientes para que mesmo os consumidores não habituais e não suja. Comercialmente pode apresentar-se inteiro, com osso, ou naturais da região se disponham a pagar mais por um produto que em porções desossadas. é, aos seus olhos, indestrinçável de produtos semelhantes Método de produção: o presunto e a pá permanecem na salga existentes no mercado e vendidos a preços mais baixos. durante duas a quatro semanas. Após este período, a carne é fumada durante duas semanas a três meses, essencialmente A protecção do nome deste produto como Indicação Geográfica, é com a utilização de lenha da região. por assim dizer, um instrumento importantíssimo para evitar a sua Características particulares: A produção de Presunto de descaracterização, salvaguardando a sua genuidade, e Barroso, depende em muito do clima frio e seco desta região, consequentemente a sua reputação. Para além da importância que que obriga a que cada casa tenha sempre a sua lareira acesa, o representa em si mesma, a protecção jurídica das várias que proporciona condições de fumagem únicas, caracterizadas designações de produtos do fumeiro de Barroso, os por um fumo pouco intenso e gradual.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 19 Noticias de AS POTENCIALIDADES DE UMA REGIÃO AS CHOURIÇAS A CARNE BARROSÃ FUMEIRO DE BARROSO A TRADIÇÃO E O FUTURO Descrição: a Chouriça de Carne de Barroso, é um DESCRIÇÕES HISTÓRICAS enchido fumado, em forma de ferradura, com cerca de 3 cm de diâmetro e 25 a 35 cm de comprimento, obtido à A ALHEIRA TRADICIONAL base de carne e gordura de porco condimentadas com A Alheira é um enchido feito a partir de carne de porco, sal, alho, vinho, colorau picante e/ou colorau doce. com a adição de pequenas quantidades de carne de aves, A sua cor varia do vermelho ao castanho, com manchas, caça, pão, azeite, cebola, alho e condimentos picantes. apercebendo-se exteriormente os pedaços de gordura. iCspdcneoeradmontreicfarpereecmrrscteisetrioanrao,ícadsuseetqesmiduuacasaeea,fsvruapoepmrAzmoaalpqrahçtoueãeirecioxcrucaialollesuadnnsrceatieaovmBssoea:aoasosrorualcooamelscvinmoabecii,hasseceinocfdjrtoamoiemo.fpaueeammrssfaeaesdcdiuoateaoidsdrpaaelaalrfrrooeaecgriaumriãlamoaasb“eTleecoaoaMebompnmszoéqsncaaetonuohdr.onsaeiisidmQtmosadsasouemee,ednenpdqaaettmargoedausi1rd,imseac0vpuotiso.eaoasrã°m,domn,ztCéapidasaa,eãeunnpofordçdeeiomãccomrecsoaonaooln:evalrosoeistreeAevcaqcanmaseduauclnra.hepcccsdPaniocardorreeemruononmmemeccepmfesoooaopdemrsudxeremtecida-dessapvaarteeoopeçrhsdonuáanesuesstmatmeoteafãpeidàsdaerodeertqavogéaduoudeell5itou,ndamradoaadpisb.aaóooAsoess,, fumagem é feitdaecovmolltuamr”e…brando, fundamentalmente a partir de lenha de carvalho e dura de 10 a 15 dias. Orlando Alves História: O isolamento geográfico da região do Barroso fez com que a dieta regional, constituída principalmente por pão, batata e carne de porco, estivesse essencialmente limitada à produção local. A antiguidade e importância da criação de porcos são testemunhadas pelas referências feitas em vários forais relativos aos tributos dos suínos e seus produtos, entre os quais o foral de Montalegre. Para poder ser consumida durante todo o ano descobriram-se formas de conservar a carne de porco, que rapidamente se tornaram numa arte História: A origem da Alheira de Barroso remonta ao final ancestral transmitida de geração em geração. do século XV e está associada com a chegada a Trás-os- UM EVENTO Montes de um número considerável de judeus que foram QUE NEM OS MEMBROS DO GOVERNO DISPENSAM expulsos de Castela em 1492. Como não comiam carne de porco, para esconder a sua identidade e fugir da perseguição, os judeus portugueses fizeram as primeiras alheiras sem carne de porco, utilizando apenas frango e pão, mas mantendo a mesma aparência de um produto de carne típico. Mais tarde, a população de Trás-os-Montes adoptou este enchido e adicionou a carne de porco. A dieta tradicional local, influenciada pela geografia local, clima e economia baseia-se principalmente no pão, batatas e carne de porco o que também determinou os ingredientes deste enchido. O fabrico das alheiras está associada a festas populares e religiosas e ainda hoje é tradicional dar e receber presentes deste enchido.

COLECTNÂotNiciEasAdede textos | A BARROSANA| ANO 2018 20 AS POTENCIALIDADES DE UMA REGIÃO FEIRA DO FUMEIRO PRESIDENTE RELEMBRA “QUEAMCÉAORPNAEI DBAACRRRIAONSÇÃA”… Para muitos foi um visionário!... O actual Presidente da Câmara de Montalegre é considerado o \"pai\" da Feira do Fumeiro. Uma \"galinha de ovos de ouro\" que colocou Montalegre, há mais de um quarto de século, no mapa da procura e da atracção turística. Orlando Alves lembra como tudo começou. Um caminho iniciado com pedras mas que cedo conquistou o tapete das luzes. Entre tantas curiosidades, fica a confissão que a \"rainha do fumeiro\" foi oferecida à oposição e que esta não a quis. Chegado ao poder, o autarca só teve que agarrar a ideia e fazer nascer o maior evento algum dia realizado no concelho. A Barrosana-Como surgiu a Feira do Fumeiro de Montalegre?... Rui Dias José, jornalista da rádio Antena 1, acompanhado do entendido crítico de Presidente - Fui durante dois ou três mandatos vereador da gastronomia, José Quitério. Estiveram com a emissão a partir daqui durante toda a Oposição. Na altura fazia-se aqui a AGRO BARROSO. Era uma feira. Muito contribuíram para que colocássemos este certame no trilho certo, para o manifestação da nossa força e do nosso barrosismo, mas era auto reconhecimento de que podíamos continuar e de que o nosso trabalho está sobretudo, uma exposição de tractores e pouco mais. Já nessa correto e estava a ser aceite. altura eu sentia que se podia caminhar no sentido de vincar a A Barrosâna - Pulamos para outro patamar da Feira do Fumeiro. Sai da Zona matriz rural e cultural das terras de Barroso. Nesse sentido, e Agrária e passa a realizar-se no já extinto pavilhão desportivo (onde atualmente estando na oposição, dei esta ideia para que se fizesse uma grande existe, em área superior, o Pavilhão Multiusos). Foi o crescimento da feira que realização à volta do presunto e do fumeiro. Nessa altura, a ideia obrigou a Câmara a reenquadrar o certame?... não foi aceite. Quando cheguei à Câmara, em articulação com o Presidente - Verdade! A feira cresceu sempre mais do que nós projetamos. Foi a restante executivo, o Dr. Pires e o professor Fernando, afluência do público a puxar por nós. Pelo menos em duas edições decorreu nesse entendemos avançar. pavilhão e era dividida ao meio. Havia umas escadas para a parte superior onde o Preparámo-la com um ano de antecedência. Andamos pelas público assistia. A partir do quinto ano, passou a ocupar todo o pavilhão desportivo. aldeias.... nós, o padre Fontes, a Dr.ª Irene, o João Ribeiro, para Entre outras novidades, passamos a ter uma cozinha regional no topo Norte. Aqui sensibilizarmos as pessoas a produzirem mais um animal do que reconheço o mérito ao funcionário João Ribeiro - que arquiteta a estrutura todas as era uso lá em casa e que o direccionassem para algo que a Câmara edições - que colocou, com a colaboração de todos os funcionários municipais, estava a preparar e de que iriam gostar. Foi assim que sempre imagens bonitas e vistosas... conseguimos que participassem pouco mais que uma dúzia de produtores. Devo dizer que acreditaram com alguma “Temos a primazia de viver numa terra tão desconfiança. A primeira edição aconteceu em 1991 numa das bonita, que até nos esquecemos dessa garagens da Zona Agrária. Desde aí tem vindo sempre a crescer e agora é esta grande realização que faz inveja a muita gente. Temos beleza. Quem vem, fica sempre com vontade que saber manter-lhe o nível. de voltar”… A Barrosana - É sabido pela memória, que o agricultor barrosão era avesso a vender o que a casa produzia. O que lhe Orlando Alves foi dito quando foi desafiado a vender?... Presidente - Olhe...as pessoas riam-se da proposta. Não A Barrosâna - Os barrosões têm consciência do que representa a Feira do Fumeiro acreditavam nela mas assumiram um compromisso. Ao jeito Para o concelho?... barrosão, que dá a palavra e vale como uma escritura, quem se Presidente - Penso que sim. Sobretudo os emigrantes. Tenho um feedback comprometeu connosco não falhou. Ao longo do ano fomos extraordinário. Muitos vieram passar o Natal mas já têm viagem marcada para virem à fazendo um acompanhamento. Também soubemos estar feira. Já é um ritual anual. É simpático ver que credibilizam e dão valor a estas presentes na hora da matança para relembrá-los do nosso intuito. realizações. Os residentes também sabem a extraordinária relevância que tem para o Tinha que haver uma grande relação de confiança da nossa parte. desenvolvimento económico e social da nossa terra. Sentem isso na afluência e nos Os barrosões estavam habituados a produzir para consumo preparativos. Já se habituaram a ver a nossa feira como uma grande manifestação próprio e viam até com desdém e pouco gratificante, vender o que cultural e económica, estando muito ao nível daquilo que as pessoas ambicionam para a casa dá. Conseguimos vencer todas essas lutas e acabamos por a sua terra. ser bem-sucedidos. A Barrosâna - Na última edição da Feira do Fumeiro os números falam em 100 A Barrosâna - Colocada no terreno, que impressão começou a toneladas. Acha que atingiu o máximo?... ter dos primeiros visitantes da Feira do Fumeiro? Ficou logo Presidente - Penso que sim. Acho que já não tem muito mais para onde crescer. O que com a ideia de que era um filão com margem de crescimento?... equaciono é que podem vir mais pessoas pelo charme, pelo encanto, pela sedução da Presidente - Fiquei logo convencido disso. No segundo dia, da paisagem da terra e pelo caráter da nossa gente. Temos a primazia de viver numa terra primeira realização, já não havia fumeiro. Já nessa altura tínhamos tão bonita que até nos esquecemos dessa beleza. Quem vem fica sempre com vontade feito uma grande campanha de publicitação do evento. No terceiro de voltar. É tudo isto que faz com que a terra e as iniciativas tenham sucesso. dia, tivemos que nos mobilizar. Fomos pelas aldeias comprar A Barrosâna - Fica surpreendido com os vídeos promocionais da Feira do Fumeiro fumeiro para vendermos e, desse modo, conseguimos manter o serem virais nas redes sociais em muito pouco tempo?... produto até ao último minuto da feira. Houve momentos em que Presidente - Não fico nada surpreendido. Todos os anos as redes sociais aguardam praticamente já não havia produto. que haja uma nova promoção nossa. Também aí está um investimento da Câmara. Não A Barrosâna - A comunicação social começou logo a dar nota há melhor forma de promover um evento. positiva ao evento?... A Barrosâna - O certame já superou todos os cenários: chuva, neve, sol, crise...este ano a previsão de novo sucesso concretizou-se… Presidente - Muito pelo contrário. Por exemplo, o conhecido Presidente - Absolutamente!... Há uma apetência muito grande pelo \"cheirinho\" que sai de Montalegre para todo o Mundo com reflexo nos visitantes. Este ano, à jornal Público, na segunda-feira seguinte, publicou uma página semelhança de anos anteriores, todos os espaços foram entupidos pelos visitantes. que tinha como titulo \"alheiras azedas e presunto rançoso\". Foi uma situação que nos deixou inquietos mas convencidos de que estávamos perante uma situação de exagero absoluto por parte do jornalista que aqui tinha estado. Viu no aspeto bolorento que os presuntos têm, que é muito saudável, o adjetivo rançoso e sobre a alheira ouviu algum comentário que lhe serviu para atribuir este título injusto. Depois disto, devo dizer que na segunda edição do certame (1992) já foi a comunicação social quem muito contribui para o sucesso. Agradeço ao meu amigo

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 21 CULTURA DIALECTO BARROSÃO IDENTIFICADO Fonologia barrosã… Encravada entre Trás-os-Montes, o Minho e a Galiza, a região de Barroso é assim como que uma ilha cultural e geográfica, com \"pobos\" de granito espalhados pelas encostas encostas das serras, lameiros regados por fios de água cristalina, tradições comunitárias que escaparam à erosão do tempo, mistérios do corpo e da mente e cultos sagrados da natureza das águas e das fontes. Uma terra assim merece por isso uma língua própria. Até hà pouco tempo julgava-se que não a tinha. Na verdade não tem, mas um Neste existe um tipo de \"u\", no falar barrosão existem paciente trabalho de investigação levado a cabo nos últimos anos por Rui dois: um tónico e outro átono, como nas palavras Guimarães, um professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, \"cunca\", que significa malga grande, tigela grande, e conduziu à descoberta de um falar próprio do Barroso, um subdialecto \"cupeira\", barrosismo utilizado para designar transmontano e alto-minhoto, arquétipo da forma originária do português. O \"apetrecho que serve para pendurar a candeia e a léxico do falar barrosão, segundo Rui Guimarães, possui 37 por cento de palavras garrafa de vinho da pessoa que prepara o forno para do princípio do português moderno - finais do século XVIII e inícios do século cozer o pão no forno do povo\". XIX, 37 por cento de barrosismos - termos exclusivos do Barroso sem datação, 15 por cento do português clássico - séculos XVI e XVII, e 11 por cento de antiga Em relação à geografia do falar barrosão, Rui linguagem que engloba o português antigo e médio - séculos XIII, XIV e XV. Em Guimarães encontrou uma diferença entre o Alto e o termos de partilha lexical, 43 por cento dos termos usados são comuns ao galego, Baixo-Barroso. O dialecto é mais falado no Alto- 32 por cento são barrosismos, 15 por cento são comuns ao contexto Barroso, no concelho de Montalegre, na zona do rio e transmontano, seis por cento ao Minho e quatro ao contexto fronteiriço próximo. de entre-rios - Cávado e Rabagão - principalmente nas Segundo Rui Guimarães, “daqui se conclui facilmente que o falar barrosão aldeias de Cambezes e Contim. apresenta uma personalidade linguística própria\". Na sua esmagadora maioria, os habitantes mais novos, sobretudo os da terceira geração - até aos 30 anos, praticamente já não usam o falar barrosão, \"devido à escolaridade que impõe a norma do português do dialecto padrão\", esclarece Rui Guimarães. Também foram encontrados registos do falar barrosão em Alturas de Barroso, que já pertence ao concelho de Boticas. Nos mapas linguísticos de José Leite Vasconcelos e Paiva Boléo, o único falar referenciado na região de Barroso era precisamente o de Boticas. O falar barrosão não varia apenas no espaço, varia também em altitude. O falar local assenta mais na primeira geração, em sujeitos maiores de 70 anos, As aldeias mais altas são mais isoladas e mantêm, pelo com um estatuto socio-cultural que corresponde ao do agricultor e pastor seu conservantismo e isolamento, um registo mais analfabeto ou que sabe ler e escrever mas não tem a quarta classe. puro do falar barrosão, especifica Rui Guimarães. Este professor invoca o espírito da Declaração Universal dos O falar barrosão é mais de uso familiar e informal e é utilizado em paralelo com Direitos Linguísticos, proclamada em 6 de Junho de o português do dialecto padrão, que domina. Os falantes do dialecto barrosão 1996 em Barcelona, para defender a necessidade de usam ainda as vogais médias do galego-português medieval. Essas vogais \"restaurar\" o falar barrosão, em nome do reforço da faziam parte do sistema vocálico átono e no falar barrosão fazem parte do identidade nacional. sistema átono e tónico. É o caso do \"e\", que se situa entre o \"é\" e o \"ê\", como na palavra \"gueicha\", pronunciada quase \"guéicha\", e que significa vitela, novilha, Ao contrário do mirandês, que é, segundo Lindley termo comum à Galiza e datado do princípio do português moderno. Cintra e do estudioso galego Fernandez Rei, um dialecto leonês em território português, ou, para Outro exemplo é o da vogal \"o\", situada em certos termos entre o \"o\" e o \"ô\", outros autores, uma língua que assenta numa como na palavra \"agora\", que é pronunciada como \"agôra\". As restantes vogais variedade leonesa, \"o falar barrosão é português até ao são ligeiramente mais abertas do que no dialecto padrão. tutano, radica numa variedade do português antigo\", defende Rui Guimarães. A partir dele, é possível \"reconstituir um pouco do nosso português antigo ou medieval\" acrescenta.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 22 CULTURA SOCIEDADE O DIALECTO BARROSÂO… A QUINTA-FEIRA DOS COMPADRES AS EXPRESSÕES QUE SÓ UM BARROSÃO CONHECE… Como já ficou descrito na edição anterior, a região de Barroso, encravada entre Trás-os-Montes, o Minho e a Galiza, é assim como que uma ilha cultural e geográfica, com \"pobos\" de granito espalhados pelas encostas das serras e lameiros regados por fios de água cristalina, tradições comunitárias que escaparam à erosão do tempo, mistérios do corpo e da mente e cultos sagrados da natureza das águas e das fontes. Uma terra assim merecia por isso uma língua própria. Até hà pouco tempo julgava-se que não a tinha, mas nos últimos anos, um professor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro – Rui Guimarães, conduziu à descoberta de um falar próprio do Barroso, uma antiga linguagem que engloba o português antigo e médio dos séculos XIII, XIV e XV. Dessa linguagem se dá aqui a conhecer algumas palavras, ainda hoje usadas pela comunidade que conta para além do meio século: Auga - água Sabiam que no tempo dos nossos avós, bisavós e Atafais - arreios todos os nossos antepassados, a quinta-feira que Alustrp - relâmpago ocorria ao décimo nono dia antes do Entrudo, se Arredar - afastar chamava a quinta-feira dos Compadres, ou quinta- Arrabunhar – arranhar; feira Magra?!... Afoutar – Incentivar; apoiar; Amanhê ou passado - Uma expressão contraditória, mas que para um barrosão faz E sabiam, que tal dia se festejava com uma merenda todo o sentido. Quando se diz “amanhê ou passado”, quer dizer-se “Amanhã ou de chouriças, num encontro previamente depois”; programado por todos os compadres amigos?!.... Albarda – selas para cavalos e burros Sabiam também, que no domingo imediato, se Bulir – mexer celebrava o domingo-magro, data em que muita Carrar -transportar rapaziada se começava a vestir de \"Careto\"?!... E Chiba - cabra como as mulheres também não podiam ficar de fora Escaleiras - escadas destas andanças, sabiam que a quinta-feira seguinte, Andar ao caínço - desespero por homem; era chamada de \"quinta das comadres\" ou \"quinta Arganas-espinhas do peixe; gorda“, e que também aqui, as \"comadres\" amigas se Arrabanhar - raspar o resto de alguma coisa, como por exemplo, “limpar até ao juntavam para uma merenda de arromba?!... limite o conteúdo de um tacho”; Arreguichado – pessoa que gosta de falar com o “nariz empinado”; E por falar em saber, o que representava em tempos Bacamarte - pessoa maldosa; idos o dia de Domingo Gordo para os nossos Bardamerda - esta é das tais palavras que não necessita de apresentações, significa conterrâneos?!... O próprio nome já diz tudo!. mandar alguém à merda; Tratava-se de um Domingo, no qual se preparava a Bonda - basta mesa como se fosse o dia de Carnaval. A mesa, onde Bilhó – castanha assada descascada; não podiam faltar bons pedaços de carne de porco - Bô- significa bom!...“Bô era… , que não nevasse”, ou então quando alguém pede para pé, orelheira, presunto cozido e, enchidos ficar mais uns minutos ao serão, como se fazia noutros tempos. “Fica mais um igualmente cozidos, como os chouriços de abóbora, cibinho!,,, Bô… bou mas é dormir”… Esta palavra também pode ser utilizada para de pão e de farinha. Neste dia havia ainda quem descrever algo de bom, como por exemplo: “ tens bô binho, ou como quem diz: o tou matasse um galo ou uma galinha gorda para encher oresunto é bem bô”.. as delícias da mesa. Bôta cá - pedir algo a alguém - \"bota cá um copo de binho…\" Canada – medida correspondente a dois litros; Também as sobremesas eram mais caprichadas Cibo - significa uma pequena porção de qualquer coisa, por exemplo \"dá-me um cibo neste dia, uma vez que se avizinhava o período de de carne, dá-me um cibo de pão\". abstinência - a Quaresma - que obrigava os Carranha - “macaco no nariz”; cumpridores da tradição cristã a não comerem deste Chamiça – acendalha; tipo de alimentação. Em toda a região de Barroso, C´mássim – assim sendo; este era também o dia dos pastores. Tinham comida Encher o odre - comer muito melhorada e festa. O dia de Domingo Gordo, era Engaranhada - pessoa que está encolhida tremendo com o frio. também o dia, em que no adro da igreja se fazia o Emplouricado –estar em cima de qualquer coisa leilão das carnes ao santo da terra. Espantalho - pessoa mal vestida. Gandulo – indivíduo vadio, meio delinquente; Os devotos levavam para ali partes do porco já Espantalho - pessoa mal vestida. curadas, nomeadamente orelheiras e chouriças, que Guicho/a – pessoa esperta; eram arrematadas pelos presentes no leilão. O Ladradeira – coscuvelheira; dinheiro revertia a favor do santo, a quem era pedido Pingadeira – menstruação que houvesse fartura em casa e que livrasse os Matabicho - pequeno-almoço animais da doença. O leilão era normalmente feito Podeu – venceu, foi mais forte ( o boi da minha terra podeu); pelo sacristão, no final da missa. No adro em cima do Reco – porco; muro ou à porta da igreja, leiloava todas as ofertas, e Tendeiro - pessoa desarrumada. ao fim de apregoar os maiores lanços e vendo-se que Zorro – filho não legitimo ninguém dava mais, terminava dizendo: dou-lhe uma, dou-lhe duas e por fim dou-lhe três, e está entregue o objecto arrematado, que pode ser pago na hora ou ficar apontado no livro das contas.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 23 CULTURA ERA ASSIM NA ÉPOCA CARNAVALESCA OS MOTES DE GRALHAS Sempre de forma simbólica, aos aldeões alvos de maiores criticas, eram atribuídas as penas. A outros, cuja conduta não UMA TRADIÇÃO MILENAR era tão censurável, saíam-lhe em sorte as patas ou a cabeça. Para outros, dado o seu melhor relacionamento e Em finais do mês de Dezembro ou princípios de Janeiro, já em pleno e rigoroso disponibilidade, ficavam reservadas, as asas ou o pescoço, e Inverno, que por estas paragens é ainda hoje conhecido pela sua longa duração, para os aldeões exemplares, para aqueles que mais contribuíam tinha lugar a primeira sementeira da época agrícola que se avizinhava: a para a boa harmonia e para o progresso da terra e respectiva população, ficavam as cochas e o peito, que eram as partes mais sementeira do centeio. apreciadas. Era um corropio de carros atrelados às juntas de vacas chiando pelas aldeias, rua abaixo, rua acima, cuja finalidade era o transporte do esterco (estrume dos No final da sessão, surgiam os comentários de concordância ou currais do gado), para as leiras (terrenos), que depois de podre e bem curtido, discordância, com o desfolhar das criticas. Discutia-se, a servia para adubar as respectivas terras. Daí até à proxima etapa – a segada - era «qualidade» dos Motes, se tinham sido bons ou maus, se tinham tudo uma questão de paciência e fé em Deus. Por um lado, porque desde que as sido melhores ou piores que os do ano anterior!... Discutia-se o sementes eram lançadas a terra, até ao momento de colher os frutos, nada mais «ataque» que fora feito ao fulano A, quando quem tinha a ver era necessário fazer, pelo outro, porque se rezava aos Santos, para que as neves com o assunto, era o B. Discutia-se a inoportunidade de ou as geadas, muito comuns por estas bandas, não fossem tão abundantes, que desvendar determinado segredo, quando outros, deviam vir viessem pôr em causa o sustento de muitas familias. para a praça pública, enfim... todo um rol de questões, que eram Neste periodo de maior lazer, em parte provocado pelo frio, pelas chuvas e pelas tema de conversa, nos três ou quatro dias que se seguiam. neves, era então chegado o Entrudo, época de Caretos por todas as aldeias do concelho e de Motes, uma exclusividade milenar da aldeia de Gralhas que a Quanto ao galo, agora sim... via chegada a sua hora, de fazer as juventude muito apreciava. Mas se os primeiros não constituíam qualquer delicias de quantos tinham contribuído para a festa. Anotadores novidade, o que eram afinal os Motes?... De que tratavam?... Os Motes, eram e trovadores, reúniam-se em casa de um deles e após a quadras de louvor, escárnio ou maldizer de origem pagã, nascidas nos alvores da respectiva jantarada comemoravam noite dentro. nacionalidade, e um tipo de poesia galaico-portuguesa, que constituíu sem qualquer dúvida, um dos fenómenos culturais mais ricos da Idade Média e se A APOLOGIA DO GALO prolongou na aldeia de Gralhas até aos finais dos anos sessenta do passado século. I III Eram enfim, um momento único de louvor ou de critica aos aldeões, tendo Óh… pobre coitado galo; Por isso tens que fazer testamento Pouca foi a tua sorte; E dizer a quem queres tudo deixar; sempre como pano de fundo, a satirização da sua conduta e das boas ou das más acções praticadas durante o ano que os antecediam. Os textos das quadras, que Nem sequer te deram tempo; Pois tens tanta riqueza; poderão eventualmente ser chamados de intervenção, eram lidos por dois De poderes fugir à morte. E contigo não a podes levar. «trovadores» previamente escolhidos pela juventude da aldeia, que em conjunto II IV com os anotadores (autores) as escreviam antecipadamente e em total segredo durante os serões das longas noites do inverno, de modo a que no momento És um galo muito valente; Sabemos que estás mal da barriga certo, constituíssem autêntica novidade. O texto no seu todo, contemplava uma a e estás aí para as curvas; e a conversa já cheira mal; uma, todas as familias da aldeia, e em geral, cada duas ou três quadras eram Mas estavas a ver-te fodido; Vamos ver se no fim; dirigidas em exclusivo e em forma de louvor ou critica, a determinada familia ou Para aturar as viúvas. Não vamos parar todos ao hospital… membro da mesma. O amor, a vaidade, a ganância, a inveja, a falta de solidariedade, a critica pessoal, as «casamenteiras» e os «compadres», aliados à veia cómica, lirica ou satírica estavam sempre presentes. Por vezes, determinadas criticas, não eram muito do agrado de quem as ouvia, O TESTAMENTO III designada mente, quando as mesmas lhe «batiam à porta», ou mesmo, quando através da sua leitura, se punham a descoberto, «amores proibidos», «negócios I fraudulentos», «comportamentos hereges», «falta de dignidade e honradez» ou se ridicularizavam os comportamentos menos abonatórios das pessoas visadas. Boa tarde meus senhores; Estais mortinhos para que morra; Mas como é que tudo isto funcionava: No dia aprazado para a leitura dos ditos Motes e ao toque do sino da Capela da aldeia, o povo juntava-se no largo hoje Vamos lá então começar; Então chegou o momento; apelidado de Cruzeiro. Um dos trovadores, subia para uma das varandas ali existentes, segurando o seu caderno de leitura e o melhor galo da freguesia, O galo é muito grande; Chamai os testamenteiros; devidamente decorado com todo o tipo de adornos, e que para o efeito, era oferecido ou comprado. Para outra varanda fronteiriça, subia o segundo E tem muito para dar. pra fazer o testamento. trovador, munido tal como o primeiro, do seu caderno, onde previamente haviam sido escritas as quadras, que iriam fazer as delicias dos presentes, tanto II IV mais que cada lavrador, suas mulheres, filhos, filhas, namorados, namoradas, velhos, velhas e até os solteirões e solteironas da terra, não escapavam à Povo que estais à roda; Vede bem quem escolheis; ridicularização. Não leveis portanto a mal; Quero gente de bom agrado; Uma vez instalados e em jeito de leitura feita ao desafio, os trovadores, só interrompidos pelas palmas dos presentes, faziam a apologia do galo. Realçavam Uma brincadeira bem feita; Por mim podem mesmo ser; as sua cores, o seu tamanho, o tamanho da sua crista e dos seus «tomates», a sua elegância e altivez, o modo como cantava, tudo isto intercalado com Sempre se fez no carnaval. O Fenando e o Delgado. comparações satiricas, a determinadas pessoas presentes na concentração. Aqueles que não resistiam, abandonavam o local a resmungar, em sinal de protesto, mas tudo isto fazia parte da «festa»... Após atingidos os primeiros objectivos, o galo era então simbolicamente morto e esquartejado. Logo após, procedia-se à distribuição de todas as componentes do seu corpo!...

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 24 BARROSÕES ILUSTRES ANTÓNIO JOAQUIM DE MORAIS CALDAS António Joaquim de Morais Caldas nasceu Médico e Professor em Montalegre, distrito de Vila Real, a 13 de fevereiro de 1846. Era filho do farmacêutico (1846 - 1914) Apesar de ter mantido a sua opção inicial - João António de Morais Carneiro e de Maria Medicina -, o estudo da Matemática veio a Inácia Ferreira Caldas. revelar-se muito útil, uma vez que, durante Teve 3 irmãos: um médico, um clérigo e o curso (1867-1872), leccionou em colégios outro farmacêutico. Aprendeu latim com o e casas particulares, sem prejuízo do padre José Dias e estudou em Braga, e aproveitamento escolar. Depois de ter depois no Porto, a partir de 1865. Fez os recebido vários prémios, diplomou-se em preparatórios na Academia Politécnica do 22 de julho de 1872, com a defesa da Porto para ingressar na Escola Médico- dissertação inaugural Anesthesia Cirurgica. Cirúrgica do Porto. Foi um estudante Por intercessão do lente Andrade Gramaxo, premiado, tendo atraído a atenção do encetou uma carreira no ensino, em 1873. professor Pereira Cardoso que o aconselhou Neste ano concorreu com sucesso ao lugar a seguir Matemática. de lente demonstrador da secção Cirúrgica, defendendo a dissertação Casamentos Consanguíneos. “NOMEAÇÃO COMO “LENTE” O SEU LEGADO António Joaquim de Morais Caldas, foi ainda nomeado como “lente substituto” por Decreto de 12 de Março e António Joaquim de Morais Caldas, exerceu a clínica no Posto Carta de Mercê de 9 de Julho. Médico Cirúrgico, fundado em 1875. Simultaneamente praticou a cirurgia geral nos Hospitais de St.º António, Carmo, Terço e S. No ano seguinte, foi promovido a lente proprietário da Francisco. cadeira de Anatomia Patológica. Entre julho de 1876 e a sua jubilação, em 1906, regeu a 4.ª cadeira - Patologia e O seu nome chegou a ser sondado para o Governo Provisório, terapêuticas externas – e entre 1900 e 1908, foi director caso triunfasse a Revolução do Porto de 31 de Janeiro de 1891. da Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Nesse ano começou a dedicar se à cura das doenças dos ouvidos, fossas nasais, cirurgia e ortopedia. Teve consultório Foi facultativo supranumerário no Hospital Geral de particular na actual Rua Miguel Bombarda. Faleceu no Hospital Santo António, em 1878, clínico do banco, aceitação e do Carmo em 27 de Julho de 1914. consultas, em 1880, facultativo honorário, em 1882, e director clínico da Enfermaria n.º 5 entre 1883 e 1914. Em 1911 fez testamento e doou 500 moedas da sua colecção numismática ao Museu da Câmara Municipal do Porto e à António Joaquim de Morais Caldas foi, também, um Câmara Municipal de Montalegre legou fundos da sua fortuna reputado médico policlínico e cirurgião, proprietário da para a fundação de uma instituição (que deveria ter o nome de maior clínica no norte de Portugal, e operador seus pais) a qual deveria apoiar os pobres e especialmente as especializado no aparelho urinário. crianças e os anciãos. Republicano activo, viu o seu nome erroneamente Ele escolhera para lema da sua vida aquele princípio de Bacon: incluído na lista do Governo provisório saído da revolta é dever do médico curar, não só as doenças do corpo, mas de 31 de janeiro de 1891. também os sofrimentos e as dores do espírito, nomeadamente a fome. Faleceu no Hospital do Ordem Terceira do Carmo, no Porto, a 27 de julho de 1914, deixando legados aos pobres de Montalegre - fundos administrados pelo Município local e do Porto, bem como a instituições de beneficência desta cidade.

Noticias de Padornelos Edição 3 – Março2018

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 26 Noticias de DITOS DE ANTANHO I PELAS ALDEIAS E LUGARES Padornelos vale pouco VIAGEM ATÉ PADORNELOS Sendim pouca terra e essa má!... ESTÓRIAS DO “ARCO DA VELHA” Respondem os de Padroso: Tomáramo-la nós cá... A aldeia de hoje já nada tem a ver com o Padornelos dos anos 30, 40 ou 50 do século passado. II Notam-se apenas alguns vestígios do que poderia ter sido nesses difíceis tempos. No cenário O lugar de Padornelos actual já não há Leonardos a lutar dia a dia pelo sustento da sua família. Ele que com a mulher, ainda sem filhos, procuravam em trabalhos esporádicos e principalmente no contrabando, Pequenino tem dois erros: ganhar algum dinheiro enquanto sonhavam estabelecer-se por conta própria com uma venda. Estar rodeado de bruxas Foi neste contexto que Ferreira de Castro nos descreveu a actividade do contrabando, que então E passeado de galegos. era o pão nosso de cada dia de contrabandistas a calcorrear o Larouco e Guardas-fiscais atrás ou à espera deles. Mas Ferreira de Castro foi mais longe!... De volta a Padornelos contou-nos III como um homem que havia estado emigrado nos Estados Unidos - o «americano» como ficam Se o casar fosse no fim apelidados todos os que regressavam de terras americanas - depressa começou a mostrar a sua Como foi ao começar riqueza que o levava a ser considerado um dos homens mais importantes e influentes da aldeia, e que deu origem a um drama que assolou a aldeia, escrito em forma de romance. Chama-se Não saía de Sendim “Terra Fria” e é um romance que nos faz sentir uma constante solidão. Nele somos assaltados Para tão longe casar. por imagens de uma terra desoladora, fria, onde a pobreza é a única condição conhecida e onde o rico julga ter todo o poder sobre o pobre que faz sentir em nós um sentimento de revolta. IV Ferreira de Castro para além de evidenciar a pobreza do Portugal profundo, neste caso o do Sendim Barroso, lança aqui uma crítica feroz ao abuso de poder do regime caracterizado no Terra de gente ruím. «americano» e na sua forma de agir. O Romance “Terra Fria” que passou a fita de cinema com um filme realizado por António de Campos em 1995 e protagonizado por atrizes como Presidente da Junta Freguesia Alexandra Lencastre, Ana Bustorff e Alexandra Leite, entre outra(o)s. Para quem gosta do Ricardo Moura Barroso, há dois livros que recomendo como de leitura obrigatória. Um é precisamente este, “Terra Fria” de Ferreira de Castro. O outro, é do há pouco falecido Bento da Cruz, “O Lobo Guerrilheiro” . Diferentes, mas ambos muito reais quanto à vida do Barroso do século passado. Aliás as estórias que dão origem ao “Lobo Guerrilheiro” são todas elas estória reais do Barroso, e sei-o, porque antes de chegarem a livro, já eu as conhecia por serem contadas nos serões à lareira de casa dos meus avós. Mas vamos a Padornelos de hoje, sem Leonardos (que eu saiba), sem contrabandistas, sem guarda-fiscal mas com o Larouco sempre presente e com uma vida muito mais fácil que nos tempos do romance, mas ainda com o rigor dos frios ingratos de inverno, que embora os barrosões estejam habituados a ele, não deixa de ser frio, mesmo o da neve que para muitos é uma atracção, para Padornelos é uma realidade que obriga os seus habitantes ao recolhimento forçado. A ALDEIA É a referência lógica à terra fria barrosã, desde os tempos de Camilo, muito antes de Ferreira de Castro! Mas Padornelos goza de outras referências bem mais importantes (ou devia gozá-las)! Importa recordar que lhe foi concedido um foral autêntico, por D. Sancho I e confirmado, a 5 de Outubro de 1266, por D. Afonso III. Foi ‘’conselho sobre si’’, isto é, gozava dos privilégios que aos grémios municipais se concediam: “Os homens de Padornelos devem juíz e serviçal e mordomo e clérigo” E assim, por este documento que substituía o de Sancho I, se conferia existência jurídica ao rudimentar concelho, com magistraturas próprias.Dessas glórias antigas (foi depois uma das honras fronteiriças de Barroso) sobeja ainda o facto de ter direito a capitão residente para poder arregimentar homens, dos 18 aos 60, para a defesa nacional, sempre que Portugal fosse acossado. Daqui até ao pico do Larouco é um saltinho. Pico que espreita a mais de 1500 metros de altura , emoldurado por um céu de um azul cândido que engana o frio que faz nestes extremos do território. Larouco é um saltinho. Pico que espreita a mais de 1500 metros de altura , emoldurado por um céu de um azul cândido que engana o frio que faz nestes extremos do território. O Inverno é bastante duro e não raro e as neves descem sobre as encostas. Aí se podem remorar leituras, como as privações do casebre de Leonardo e Ermelinda em Padornelos, personagens de “Terra Fria”, obra de 1933 de Ferreira de Castro. A localidade mudou em sete décadas, embora não viva completamente o século XXI. A aldeia ajeita-se a meia encosta da serra. Também aqui se recupera património. Por estas bandas fala-se do Projecto Ecomuseu do Barroso, uma espécie de museu do território a céu aberto, valorizando as populações e o património natural e cultural. Visita-se o forno da aldeia e lamenta-se que a casa onde viveu Ferreira de Castro não esteja em melhor estado. Ainda na aldeia a Casa de Padornelos, integrada na Rota das Tabernas merece uma paragem. Pretexto para uma incursão na genuína cozinha Barrosã. Estamos entre paredes de pedra escura, sob um tecto de madeira maciça, frente a uma lareira com um lume firme. A sala de refeições situa-se no andar de baixo nas antigas cortes de gado, sob a cozinha. Fumegam as carnes para o cozido à Barrosã e o cabrito assado no forno também espevita apetites.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 27 BARROSO É ISTO MESMO!… SÓ TINHA QUE SER… Barroso, ou Terras de Barroso, é o nome tradicional da região forma inesperada, com o casario, as ruas, ou os seus poucos mas formada pelos concelhos de Montalegre e Boticas. O termo \"Barroso“, resistentes e acolhedores habitantes. A localização de Barroso moldou o conserva o nome de uma das antigas \"terras\", circunscrições seu destino, a sua forma e o carácter das suas gentes. O destino, porque administrativas e judiciais em que o território português estava terra fronteiriça em tempos de instabilidades raianas e disputas dividido desde o século XI. Possivelmente, o castelo que servia de territoriais, se erigiu como primeiro obstáculo à impetuosidade centro a esta terra era o de São Romão, hoje um sítio desabitado na guerreira de estranhos. margem sul da Barragem dos Pisões. A sua gente, que sofreu ataques, assédios, bombardeamentos e A primeira menção incontroversa ao termo Barroso está num destruição, é o que tinha que ser – dura como pedra, resistente como o documento galego do ano de 1100, que indica o Barroso, servir de aço, mas também sabedora dos benefícios da paz, o que a leva a receber termo à “villa de Tourém”. Antes, em 942, o testamento de São com genuína simpatia quem quer que venha por bem. Barroso não tem Rosendo, refere que ele possuía um rebanho de vacas \"in Barosa\". monumentos, nem precisa!... Barroso é só por si um verdadeiro Esta terra foi incluída nas Inquirições Gerais de 1220, mas não monumento. O granito que deu forma às suas “muralhas”, aos velhos quartéis de outrora, às igrejas e ao casario, foi arrancado às encostas sobrevivem os textos relativos a esta visita. Já o texto das Inquirições que descem até ao Cávado ou ao Rabagão, os rios que serpenteiam os de 1258 relativo a esta circunscrição sobreviveu, e através dele, se termos de toda a região. Esse é o granito omnipresente que percebem os limites da Terra do Barroso. Além dos territórios actuais consubstancia, torna concreta e palpável a memória do meu povo. dos concelhos de Boticas e Montalegre, a terra incluía as freguesias de Canedo, hoje concelho de Ribeira de Pena e Vilar de Vacas, hoje Foi com essas pedras que ele se defendeu, construiu as suas humildes Ruivães, do concelho de Vieira do Minho. habitações, paços senhoriais ou vivendas burguesas, pavimentou as ruas. albergou santos em igrejas e conventos e deu guarida aos militares Na Taxatio de 1320 - documento conhecido como Catálogo das Igrejas que o defendiam das invasões. Nessas pedras deixaram os mestres de 1319-20 – o arcediagado do Barroso incluía ainda Guilhofrei, no canteiros as suas identitárias marcas e os pedreiros as suas fortes e concelho de Vieira do Minho e Santiago de Serzedo, de localização certeiras cinzeladas. desconhecida. A 9 Junho de 1273, D.Afonso III, em carta de foral, fundou a vila de Montalegre e ergueu o respectivo castelo. A vila, tornou-se assim a cabeça da Terra de Barroso em detrimento do castelo de São Romão. Este foral foi depois modificado por D. Dinis em 1289 e meis tarde por D. Afonso IV em 1340 e por D. João II em1491. Em 1515, D. Manuel II converteu-o em foral novo. No reinado de D. João I e na sequência da Guerra da Independência, a Terra de Barroso foi doada a D. Nuno Álvares Pereira e depois dele passou para a Casa de Bragança. Já na época contemporânea, em 6 de Novembro de 1836, o concelho de Montalegre foi dividido. Criou-se o novo município de Boticas, perdeu neste processo para o município de Vieira do Minho, o município de Vilar de Vacas, então sediado em Ruivães, e também o Couto Misto de Santiago de Rubiás, próximo de Hoje não se ouve o pedreiro a percutir a pedra, nem o bulício dos militares em serviço ou de licença, e são poucas as crianças que alegram Tourém. e dão vida às ruas cada vez mais desertas. Mas os que por cá andam, os Hoje, uma coisa se tem por garantida!... Ninguém fica indiferente a que cá moram e os que como eu não abandonam a “terra”, têm a firme BARROSO. Eu que calcorreio as suas vilas, aldeias e lugares, desde a convicção de que o futuro de Barroso terá que ser ainda mais risonho. “longínqua” Fafião, passando por Salto e Tourém, até ao extremo Sejamos justos: aquilo que tem para oferecer é único. Tudo que ficou oposto de Santo André há algumas boas décadas, ponho-me por dito, é ímpar!... A arquitectura moldada pelo Larouco e pelo Gerês, tem vezes a pensar qual será a sensação de alguém que entre pela aqui uma das suas pérolas mais brilhantes e marcantes em comparação primeira vez as portas desta belíssima “república” e dê de caras e de com outras que existem por essa Europa fora. Viva Barroso…

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 28 ECOS DA HISTÓRIA ACONTECEU EM MONTALEGRE NO ANO DE 1846 AS TRÁGICAS CONSEQUÊNCIAS DE INDEVIDAMENTE SE ACLAMAR UM REI... “Aclamação nos Paços do Concelho de D. Miguel I, rei absoluto de A PONTE DA “MATANÇA” Portugal” Situada bem próxima do maravilhoso Castelo de Faz brevemente 172 anos, que a Ponte Medieval (ou Romana como alguns Montalegre, esta antiga Ponte é muitas vezes lhe chamam) que se vê ao lado, “assistiu” ao espectáculo mais triste apelidada de “Ponte Velha” ou “Ponte Romana”. Tal ocorrido em Barroso, durante a Guerra Civil da Maria da Fonte, que passou como Montalegre, uma vila plena de história, à história com o nome de ‘’Guerra da Patuleia’’. Desde hà alguns anos, que denotando ocupação humana desde tempos remotos se sucediam pronunciamentos militares, insurreições e motins de e habitados por diversos povos e culturas, também a agitadores e criminosos. Em Barroso, não fugindo à regra, também ponte poderá ter sido construída por alturas de germinavam bigorrilhas e morgados lorpas, amanuenses corruptos e curas ocupação Romana do território, ou mesmo estúpidos. No inicio de Junho de 1846, apareceram em Montalegre 150 posteriormente, mas seguindo o estilo arquitectónico homens - 1/3 com armas de fogo e os restantes com gadanhas e fouces Romano e provavelmente utilizando materiais de roçadouras - \"comandados\" pelo Padre António Teixeira das Quintas, o anteriores construções. A ponte é constituída por um ex:alferes \"picador de cavalaria’’, natural das Lavradas, Manuel Joaquim só arco bem aparelhado e um tabuleiro já muito Teixeira e Bento Gonçalves dos Santos Moura, natural de Medeiros. Os alterado ao longo dos séculos. \"chefes\" resolvem subir aos Paços do Concelho, proclamam Rei de Portugal D. Miguel I e lavram Auto de Aclamação, nomeando também uma Nova Câmara. Dessa Nova Câmara, faziam parte: João Manuel, de Medeiros – Presidente; José Martins, do Cortiço – Vogal; António Alves, de Firvidas – Vogal; José Martins, de Medeiros – Procurador do Concelho. Assinam o Auto de Aclamação, Bento dos Santos Moura, de Medeiros, o Padre João Baptista Rosa, de Codeçoso da Chã, Manuel Joaquim Teixeira, das Lavradas, o Padre António Alves, de Cepeda, João Alves Dias, de Torgueda e António Monteiro, de Pinho. Os \"aventureiros\" não ficaram sem resposta e logo no dia 18 do mesmo mês, uma força de cavalaria comandada pelo Major António Teixeira Sarmento marcha de Chaves sobre Montalegre. Aliciados pelos acima nomeados conspiradores, uns \"trinta ou quarenta paisanos que ali se achavam dispararam alguns tiros contra a guarda avançada e dispersaram precipitadamente’’, quando o pelotão de cavalaria entrava na Portela.Dos perseguidos agressores que fugiam pelos juncais junto à ponte, 6 foram alcançados e logo ali pagaram com a vida o seu louco atrevimento. Pobres tolos, de quem nem os nomes se ficaram a saber!... O ACTUAL PARQUE ONDE OCORREU A TRAGÉDIA A recuperação das margens do rio Cávado tem sido feita por zonas, resultando em espaços de lazer modernos e muito agradáveis. Numa plataforma superior encontra-se a praça central, o parque de recreio infantil, um espaço para desportos radicais (como escalada, skate e patins), um polidesportivo, uma praça polivalente, um palco para espectáculos e um bar. A Faixa Marginal apresenta um espelho de água, preparado com um açude amovível pelo muro da levada e por uma defesa da margem em granito. Está ainda prevista a construção de um circuito de bicicletas, um campo de mini golfe, um espaço para a prática de ginástica, um jardim, percursos pedonais e outras zonas verdes.

COLECTNÂotNiciEasAdede textos | A BARROSANA| ANO 2018 29 AS POTENCIALIDADES DE UMA REGIÃO GADO BARROSÃO A CARNE BARROSÃ A MORFOLOGIA DE UMA RAÇA Trata-se de uma raça conhecida pelo seu temperamento dócil, de pelagem castanho-claro (cor de palha), tem a cabeça curta e larga, e uma forte armação córnea em lira. De focinho largo, um pouco grosso e Distingue-se das outras pela sua Segundo estudos levados a efeito pela Universidade de arrebitado de cor negra, orelhas armadura considerável, que se Lisboa, a presença nas suas fibras musculares de ácidos médias rodeadas de pêlos projecta quase verticalmente e em gordos insaturados, ómega 3 e ómega 6, nomeadamente geralmente escuros e no interior forma de lira, assim como pelas suas de ácido linoléico conjugado – CLA, e de antioxidantes, compridos, cornos compridos e formas harmoniosas e a carne de entre outros elementos, aliada ao baixo teor em espessos de cor branco-sujo e características inigualáveis. Estamos colesterol conferem à “Carne Barrosã - DOP” pontas escuras de secção elíptica. perante uma raça de dupla aptidão, propriedades promotoras de saúde. O pescoço é curto, bem ligado à trabalho e carne, tendo esta última cabeça e à espádua. Barbela muito sem dúvida um futuro mais promissor, Estas são evidentes a nível do sistema cardiovascular, do desenvolvida. com a comercialização da “Carne sistema imunitário além do seu efeito anticarcinogénico. Barrosã” – DOP, como produto O rigor das modernas técnicas de controlo de qualidade O gado barrosão é porventura a raça certificado. garante toda a riqueza da tradição desta raça autóctone. autóctone de gado bovino mais Pode dizer-se que estamos perante um A idade normal de abate é entre os cinco e os nove emblemática de Barroso. Os seus animal perfeitamente adaptado a meses, pesando em média 184 kg de peso vivo para os pastos verdejantes e lameiros zonas de agricultura de montanha, machos e 169 kg para as fêmeas, com pesos médios de tornaram-se num dos locais de onde desempenha um papel carcaça que rondam os 98 Kg. eleição para a sua criação. importante, permitindo ainda em casos esporádicos trabalhar as O efectivo Barrosão caracteriza-se pela ocorrência de pequeníssimas leiras, fazer a reduzida fertilidade média e, consequentemente, fertilização das mesmas com o alargamento do intervalo entre partos; não se verifica estrume e valorizar os recursos sazonabilidade de partos. Quanto à taxa de fertilidade alimentares naturais disponíveis que verificam-se, ainda, alguns problemas sanitários, no de outra forma seriam desperdiçados. entanto é normal as vacas fazerem um parto por ano, sendo, ainda de referir que muitos destes animais são explorados em reprodução até idades que ultrapassam os vinte anos, aumentando assim o intervalo entre partos. CARACTERÍSTICAS Esta nobre raça distingue-se das outras pela sua REPRODUTIVAS armadura considerável, que se projecta quase verticalmente e em forma de lira, assim como pelas suas Na raça Barrosã o método de cobrição natural ainda é o sistema mais utilizado, formas harmoniosas e a carne com um sabor inigualável. embora a inseminação artificial tenha vindo a aumentar. A Raça Barrosã caracteriza-se por ter grande longevidade reprodutiva, em média 7,6 anos, EFECTIVOS conduzindo a uma reduzida taxa de substituição (aproximadamente 10% ao ano). Regra geral não apresenta elevada incidência de partos distócicos, O efectivo da raça Barrosã sofreu um forte declínio apresentando um intervalo entre partos de cerca de 420 dias, podendo variar até à década de noventa, contribuindo para tal em função dos factores ambientais. Dependendo da disponibilidade e qualidade evolução factores como êxodo das populações de alimentos, assim se pode antecipar ou retardar o primeiro parto. rurais, o abandono das explorações agrícolas, a mecanização da agricultura existente, a introdução Por exemplo, na presença de regimes alimentares adequados podemos ter de novas culturas e a substituição da Barrosã por vitelas a atingir a puberdade antes dos 16 meses o que torna possível a raças de aptidão leiteira. antecipação do primeiro parto em dois meses. Podemos dizer que em média a Segundo Silvestre Bernardo Lima, em 1873 o primeira cobrição se faz entre os 15 e os 18 meses, ocorrendo o primeiro parto efectivo era de 102.301 machos e de 144.501 entre os 24 e os 36 meses. No que se refere aos touros, estes entram em fêmeas, tendo-se verificado uma diminuição reprodução aos 18 meses, podendo fazer-se a colheita de sémen a partir dos 16 abrupta havendo um efectivo de fêmeas não meses, nos touros testados para o efeito.De uma maneira geral esta raça possui superior a 7000 animais e no caso dos machos o bons parâmetros reprodutivos, apresentando mesmo potencial para a melhoria número é insignificante. dos mesmos. Actualmente verifica-se alguma estabilização dos efectivos, devido a apoios vindos do Estado, da Comunidade Europeia -com as medidas Agro- Ambientais, indemnizações compensatórias e prémios às vacas aleitantes e no caso do concelho de Montalegre Como forma de ajudar os produtores, com um um incentivo de 50,00 euros por cada cria nascida, atribuído pelo Municipio.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 30 CULTURA CÂMARA INVESTE NA EDUCAÇÃO DEPOIS DA ESCOLA DO BAIXO BARROSO, O CARNAVAL NA PONTE DA MISARELA CHEGOU A VEZ DE SALTO!... O Entrudo é comemorado um pouco por todo o universo barrosão que fáz REQUALIFICAÇÃO CUSTOU 300 MIL EUROS parte do concelho de Montalegre. Ponto alto dessas comemorações é aquele que tem como cenário a mítica ponte da Misarela. Aí o povo recupera ano Depois dos 150 mil euros aplicados na requalificação da escola do após ano os caretos, a sátira popular e desfia uma tradição com a queima do Baixo Barroso, na Venda Nova, a Câmara Municipal de Montalegre entrudo. A manifestação cultural sempre dezenas de curiosos que são acaba igualmente por dar como concluído o processo de reabilitação contemplados com a história associada àquele local emblemático. A Ponte da da Escola básica de Salto. O espaço apresenta, agora, condições de Mizarela ou Ponte do Diabo como também é conhecida, localiza-se sobre o rio conforto térmico, acústico e de segurança, com a remodelação das Rabagão, a cerca de um quilómetro da sua foz no rio Cávado, ligando as salas de aulas, a criação de novas instalações sanitárias e melhoria freguesias de Ruivães à de Ferral, respectivamente nos concelhos de Vieira do das acessibilidades. Um investimento, avaliado em cerca de 300 mil Minho e Montalegre. Está implantada no fundo de um desfiladeiro escarpado, euros, que coloca este equipamento escolar na senda da assente sobre os penedos e com alguma altitude em relação ao leito do rio, modernidade. Entretanto, no resto do concelho, já foi adjudicado o sendo sustentada por um único arco com cerca de 13 metros de vão. Foi processo de intervenção na escola básica e secundária Dr. Bento da erguida na Idade Média, reconstruída no início do século XIX., e encontra-se Cruz, em Montalegre, orçado em um milhão e duzentos mil euros. classificada como Imóvel de Interesse Público desde de 30 de Novembro de Orlando Alves | Presidente do Municipio 1993. «Esta intervenção resulta de um empenho muito grande da Câmara Municipal que dedica sempre o melhor às questões da educação e A LENDA não olhamos a meios para que haja sucesso educativo. Se o sucesso escolar se conseguisse com dinheiro, estávamos garantidos porque a \"Diz-se que um padre, querendo fazer uma pirraça ao Diabo, se disfarçou em autarquia não se furta a meios para que se desenvolva da melhor salteador perseguido pelas justiças de Montalegre, e foi certo dia à meia-noite, forma o processo ensino/aprendizagem. Fizemos uma intervenção àquele lugar para passar o rio. Como o não pudesse passar, por meio de de 150 mil euros na escola do Baixo Barroso. A intervenção na escola esconjuros, invocou o auxílio do inimigo. Ouve-se um rumor subterrâneo e eis de Salto ronda os 300 mil euros e temos em andamento o processo que aparece, afável e chamejante, o anjo rebelde: \"Que queres de mim?\" - de intervenção na Escola Bento da Cruz que ronda 1 milhão e perguntou ele.: \"Passa-me para o outro lado e dar-te-ei a minha alma”…. duzentos mil euros. O município tem tido uma conduta \"Satanás, que antegozava já a perdição do sacerdote, estendeu-lhe um pedaço de irrepreensível na abordagem a questões que se relacionam com a pergaminho garatujado e uma pena molhada em saliva negra, dizendo: \"Assina!\". educação. Sinto alguma emoção por ver este espaço, onde trabalhei O padre assinou. O Demo fez um gesto cabalístico e uma ponte saiu do seio durante 16 anos, completamente transformado. Não tinha horrendo das trevas. O clérigo passa, e enquanto o diabo esfrega um olho, saca completamente nada do que existe hoje para que se possa trabalhar da caldeirinha da água benta que escondera debaixo da capa de burel e asparge e almejar o sucesso educativo. Trabalhei aqui em condições com ela a infernal alvenaria, fazendo o sinal da cruz e pronunciando bem extraordinariamente difíceis. Não me consta que nenhum aluno vincadas as palavras do exorcismo. Satanás logrado, deu um berro bestial e tenha ficado traumatizado com a realização de exames. Naquela desapareceu num boqueirão aberto na rocha, por onde sairam línguas de fogo, altura, o resultado do aproveitamento dos alunos refletia-se na estrondos vulcânicos e fumos pestilenciais. O vulgo das redondezas, na sua avaliação dos professores. Hoje isso não acontece por questões ignorância e ingenuidade, e não sabemos a origem, aproveita-se da ponte para variadíssimas. À escola o que lhe compete e ao município o que ali exercer um rito singular. Quando uma mulher, decorridos que sejam dezoito também lhe compete. No que respeita ao município estamos a fazê-lo meses após o seu enlace matrimonial, não houver concebido, ou, quando pejada, mesmo muito bem». se prevê um parto difícil ou perigoso, não tem mais que ir à Mizarela, à noite, para obter um feliz sucesso. Ali, com o marido e outros familiares, espera que Fátima Fernandes | Vereadora da Educação passe o primeiro viandante. Este é então convidado para proceder à cerimónia, a «Vejo este novo espaço, também, como uma nova oportunidade para qual consiste no baptismo in ventris do novo ou futuro ser. Para isso, o que os professores continuem a esforçar-se em prol das nossas caminhante colhe por meio de uma comprida corda com um vaso adaptado a crianças, como têm feito até agora. É um esforço pesado para a uma das extremidades, um pouco de água do rio e com a mão em concha deita-a autarquia mas a educação é a nossa prioridade. Um exemplo disso é no ventre da paciente por um pequeno rasgão aberto no vestuário para esse o investimento que vai ser feito na escola sede do agrupamento, a efeito, acompanhando a oração com a seguinte ladaínha: Eu te baptizo criatura escola Dr. Bento da Cruz, e as requalificações que têm vindo a ser de Deus, Pelo poder de Deus e da Virgem Maria. Se for rapaz, será ‘Gervás’; se for feitas nos vários espaços escolares. Vemos as nossas crianças felizes rapariga, será Senhorinha. Pelo poder de Deus e da Virgem Maria, um Padre- e motivadas. São precisas condições físicas e materiais para que haja Nosso e uma Avé-Maria. “O barulhar iracundo da cachoeira no abismo imprime a sucesso». estas cenas um cunho de tétrica magia. Segue-se depois uma lauta ceia, assistindo, geralmente, o improvisado padrinho. E o êxito é completo: um neófito virá alegrar a família. Claro que se na primeira noite não passar o viandante desejado, a viagem à Mizarela repetir-se-á até o cerimonial se realizar nas condições devidas. De um dos lados ergue-se um enorme rochedo que o povo denominou \"Púlpito do Diabo\", por crer que o Demo vai ali pregar à meia- noite, quando as bruxas das redondezas se reunem em magno concilio.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 31 BARROSÕES ILUSTRES Doutor António José de Barros e Sá António José de Barros e Sá nasceu em 1821-1903 e duas raparigas. António José de Barros e Montalegre a 4 de Julho de 1821, Fidalgo da Sá licenciou-se em Direito em 2 de Março de Casa Real, formou-se em Direito na 1845 e logo no ano seguinte alistou-se no Universidade de Coimbra em 2 de Junho de Batalhão Académico que participou no 1845. movimento da Patuleia. Voltaria 5 anos mais tarde a Montalegre, Foi preso e libertado em virtude da Convenção elegendo-se Presidente da Câmara e mais de Gramido e como muitos correligionários, tarde Administrador do Concelho de veio a alinhar na Regeneração ao lado do Mirandela. Duque de Saldanha e de Fontes Pereira de Era filho de Sebastião José de Barros – Melo, de quem era amigo pessoal e político. fidalgo da Casa Real, Magistrado e Juiz da Em 2 de Janeiro de 1850 presta juramento Alfandega de Montalegre por mercê de D. como Presidente da Câmara de Montalegre. Maria I de 27 de Junho de 1791 - e de D.ª Quatro anos depois colocou-se ao serviço do Maria Rosa Clementina Sanches de Partido Regenerador, trocando a Câmara de Mascarenhas. Casou com Clara Pinheiro da António José de Barros e Sá Montalegre pela Magistratura e fez carreira na Cunha Pessoa, e foi pai de 6 filhos – 4 rapazes Magistratura Militar. Antigo Presidente da Câmara de Montalegre O PARLAMENTAR DISTINTO António José de Barros e Sá, foi eleito pela primeira vez deputado na eleição suplementar ocorrida pelo círculo de Faro em 3 de Dezembro de 1854, tendo o juramento sido prestado a 17 de Janeiro de 1855. Em 1856 e 1858 foi eleito pelo círculo de Chaves, com juramento a 24 de Janeiro de 1855 e 21 de Junho de 1858 respectivamente, tornando-se num ilustre parlamentar. Nas eleições de 1860, 1864, 1865 e 1868 representou o círculo de Montalegre, apenas havendo registo de juramento para as duas ultimas legislaturas, a 9 de Março de 1867 e 30 de Abril de 1868 respectivamente. Em Setembro de 1870 foi derrotado em Chaves por António José Antunes Guerreiro mas em 1871 conseguiu voltar ao Parlamento como deputado pelo círculo de Moncorvo, com juramento a 27 de Julho de 1871. Teve uma vida parlamentar intensíssima: participou em dezenas de comissões; elaborou inúmeros relatórios e pareceres, produziu centenas de intervenções e discursos. Assegurou a Vice- Presidência e Presidência da Câmara dos Pares em duas ocasiões: períodos de 29.12.1887 — 31.12.1891 e 29.12.1892 — 8.6.1897. Muitas das suas intervenções destinaram-se á entrega de novas bases construtivas do Banco de Portugal, Código de JustiçaMilitar, pareceres de comissões, de representações e de requerimentos, Regulamento de Justiça Militar e Código Penal. Foi relator do parecer sobre especialmente nos períodos em que os Regeneradores estiveram o Código de Justiça Militar. Em 1884, quando já era evidente o alinhamento no Governo. Na primeira legislatura preferiu as questões de com teses mais conservadoras, entrou na discussão da Reforma âmbito militar, nomeadamente em torno da Lei do Constitucional e foi dos poucos Pares que votou contra o novo \"Acto Recrutamento - 20.1.1855. Nas legislaturas seguintes foi Adicional\". entrando nas discusões de política geral e apresentou até uma Na sequência da revolta republicana de 31 de Janeiro, pediu ao Ministro da proposta de criação de uma comissão revisora da Lei Eleitoral Guerra um largo debate sobre a disciplina militar -17.6.1891, pois em seu em 28.1.1857. entender, tolerar a propaganda republicana era um suicídio e no quadro da Progressivamente afirmou-se um sério combatente parlamentar Monarquia Constitucional não poderia ter lugar o conceito de «militar regenerador, intervindo muitas vezes de forma veemente como cidadão». No seu último discurso relevante, alusivo ao Projecto-Lei sobre as sucedeu na sessão de 16 de Junho 1868, na qual Santos e Silva Juntas de Paróquia, voltou a sublinhar o seu desempenho na causa católica lhe denunciou os métodos:”se ouviu pedir a palavra a favor, ao reclamar “que à Igreja e aos ministros seja restituída inteira liberdade de pede-a contra e se ouviu pedir a palavra contra, pede-a a favor; o acção” e que acabassem com as prerrogativas régias, ainda do tempo dos seu inocente fim é inscrever-se e ter ocasião de injuriar o reis absolutos que subordinavam “o altar ao trono” - 27.11.1894. Até 1897 governo (...) exaltado ou moderado, pacifico ou irritado pode o ainda se manteve na vida parlamentar, embora sem intervenções ilustre deputado fazer quando quiser para menosprezar a significativas. dignidade desta casa, pode pôr em prática quantos meios a sua Depois desta data e até á sua morte, abandonou a participação activa nos imaginação lhe sugerir para anarquizar os trabalhos do trabalhos do hemiciclo. Filiado no Partido Regenerador, deteve lugar Parlamento”. destacado na cúpula partidária, como comprova o papel desempenhado nas Ao invés, nos consulados regeneradores era um dos deputados negociações com os progressistas com vista ás eleições de 1881. mais diligentes, não só pelos muitos pareceres que redigiu, mas MINISTRO DA JUSTIÇA E DA FAZENDA até pelas iniciativas tomadas, como por exemplo a proposta de aquisição das colecções de legislação e actas de sessões das Entre 1 e 30 de Setembro, acumulou com a pasta dos Negócios Eclesiásticos a da câmaras de outros países para a biblioteca das Cortes -5.2.1872. Justiça, substituindo interinamente Lopo Vaz de Sampaio e Melo. A suafigura Na Câmara dos Pares proferiu discursos de maior fôlego, sendo enérgica e a sua intensa vida parlamentar e política celebrizaram-no, mas alguns dados à estampa. Nas comissões evidenciou grande também lhe criaram inimigos e críticos. A imprensa da época, em especial capacidade de estudo e ponderação das questões, sendo durante o seu ministério popularizou-o, mas também o satirizou e caricaturou escolhido para relator de importantes projectos, como o da sem piedade, especialmente Rafael Bordalo Pinheiro na revista “O António Maria”. Morreu a 28 de Julho de 1903 reforma do pariato, contabilidade pública, deserções militares,

Noticias de Codeçoso Edição 4 – Abril2018

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 33 Noticias de BARROSO - TERRITÓRIO DE FRONTEIRA… Este é um lugar de fronteira, mais de 70 quilómetros de raia com a vizinha Galiza que, outrora, espevitaram muitas histórias de contrabando pelos caminhos da montanha. Esta é, também, uma terra de muitos “adeus”, de surtos migratórios especialmente nas décadas de 60 e 70, mas também nas posteriores, do século XX. Por aqui fala-se de refregas fronteiriças, do embate às Invasões Napoleónicas. A paisagem vive em silêncio essas memórias devolvendo-nos somente sons intemporais: a água, o vento, o chilreio das aves, o tilintar longínquo do gado. A terra é de pedra, suavizada pelos contornos despidos pelo inverno dos bosques de carvalho e castanheiro. Montanhas poderosas como a do Larouco, a terceira mais alta de Portugal continental, caem em vales profundos e surpreendentemente cálidos. Impera a pequena propriedade, moldando a paisagem. Os pastos delimitam-se por muros em pedra solta, construindo uma malha que ora se encosta às aldeias, ora se afasta, descendo colinas, afoitando-se nos bordos dos precipícios. Esta é, também, uma terra de águas vividas, aproveitadas pelo homem que as desviam, moldando-lhes o trajecto aproveitando-as para os terrenos agrícolas. A paisagem também se faz com os Lameiros, pastos naturais, outrora tomados pelo gado da raça Barrosã com os seus “cornos infinitos”, como escreveu Miguel Torga. Longe vão os tempos em que esta raça, verdadeiro património genético e cultural do Barroso, apurado durante séculos pelos criadores, imperava em número, entretanto ultrapassado pelo gado Maronês, mais rústico e resistente ao trabalho e pelo Mirandês, mais corpulento e possante. Até à reforma administrativa de 1836 o concelho de Montalegre era mais conhecido por «Montalegre e Terras de Barroso», compreendendo o actual concelho de Boticas e parte dos concelhos de Terras de Bouro, o então concelho de Ruivães e algumas povoações do actual concelho de Chaves. As terras de Barroso já assim eram conhecidas ao tempo dos outros autores que se lhe seguiram, confirmam que Barroso, primórdios da nacionalidade Portuguesa. Nos primeiros documentos ao tempo dos Romanos, era atravessado por três vias medievais é simplesmente conhecido por «Terras de Barroso», imperiais: a primeira dessas vias ía de Chaves a Braga, confrontando a norte com a Galiza, a Oeste com Terras de Bouro, a sul passando por várias aldeias barrosãs. com Vieira do Minho e Cabeceiras de Basto e a nascente com o Rio Tâmega, do concelho de Chaves. Estas confrontações colhem-se no O trajecto era o seguinte: Chaves, Casas dos Montes, Pastoria, «Ensaio Topográfico Estatístico», de J. Santos Dias; em «Portugal Antigo Seara Velha, Castelões, Soutelinho, Solveira, Ciada (também e Moderno» de Pinho Leal e em «Corografia de Portugal» do P. Costa conhecida por Caladuno que seria uma grande cidade, Carvalho. situada perto de Gralhas), Meixedo, Codeçoso, Peirezes, S. Vicente da Chã, Travassos da Chã, Penedones, Pisões, Currais, Codeçoso do Arco, Ruivães e Braga. Esta ampla região Barrosã tem várias e importantes serras: Larouco (com 1.527 metros, a 3.ª mais alta de Portugal continental), o Gerês, a Cabreira, as Alturas, também conhecida pela Serra do Barroso ou «Cornos das Alturas» e Leiranco, para além do Ferronho e do Monte Gordo, que se situam entre Codeçoso, Cepeda e Fírvidas. E tem os seguintes Rios: Cávado que nasce na serra do Larouco e desagua em Esposende; Rabagão que nasce em Codeçoso e dá origem à maior albufeira do país, conhecida por Pisões; Beça que nasce perto de Serraquinhos; Terva que nasce em Ardãos e Assureira que começa em Meixedo, passa perto de Gralhas, Solveira e Vilar de Perdizes e reentra em Espanha para desaguar no Tâmega. Por aqui andaram os mais antigos povos que deixaram vestígios, ainda hoje bem visíveis, nos dólmenes, antas, castros, pedaços de via romana, marcos miliários, moedas, etc. Isto confirma que as «Terras de Barroso» foram pertença dos Alanos, dos Vândalos, dos Celtas, dos Romanos, dos Suevos, dos Godos, dos Visigodos, enfim, dos Iberos, nome que melhor traduz todos quantos povoaram a Península Ibéricsa. Jerónimo Contador de Argote afirma nas suas “Memórias e Antiguidades”, e tantos

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 34 UMA REGIÃO COM HISTÓRIA PRESIDENTE DO MUNICIPIO RECEBEU GALARDÃO EM ROMA BARROSO BARROSO PATRIMÓNIO AGRÍCOLA MUNDIAL Foi no passado dia 20 de Abril, na capital italiana sediada em Roma, que o Presidente da Câmara de Montalegre Orlando Alves, recebeu, na sede da FAO - Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, o certificado de reconhecimento público do Sistema agro-silvo-pastoril do Barroso, como Sistema Importante do Património Agrícola Mundial. Sistema agro-silvo- pastoril do Barroso, que abrange os concelhos de Boticas e Montalegre, o primeiro a ser aprovado em Portugal e um dos primeiros a ser aprovado na Europa. O GIAHS, é um processo de certificação promovido pela FAO que visa identificar e certificar, em todo o mundo, os sistemas de agricultura tradicional que, pelas suas características notáveis do ponto de vista da diversidade, saber tradicional, biodiversidade, paisagem, modelo socioeconómico e resiliência face às alterações humanas, climáticas e ambientais, possam contribuir para melhorar a gestão dos agro-sistemas modernos. Para além de Portugal, esta manhã foram distinguidos em Roma sistemas agrícolas da China, Egito, Japão, Coreia, México, Espanha e Sri Lanka. BASE DE SUSTENTAÇÃO ECONÓMICA No caso do Barroso, a pequena agricultura ainda é a base de sustentação sócio-económica de uma grande parte das populações. O Barroso é uma região agrícola onde predomina a produção pecuária e outras culturas típicas das regiões montanhosas. Do ponto de vista cultural, os habitantes do Barroso “desenvolveram e mantiveram formas de organização social, práticas e rituais que os diferenciam da maioria das populações do país em termos de hábitos, linguagem e valores. Isso resulta das condições endógenas e do isolamento geográfico, bem como dos limitados recursos naturais que os levaram a desenvolver métodos de exploração e uso consistentes com sua sustentabilidade”, explica a câmara de Boticas, num comunicado agora divulgado. No mesmo documento pode ainda ler-se que “o comunitarismo é um dos valores e costumes mais característico de Barroso, intimamente associado às práticas rurais de vida coletiva e à necessidade de adaptação ao meio ambiente”. Atualmente, tudo isso representa um recurso fundamental promover o turismo rural e de natureza, que desempenham um papel cada vez mais importante nas atividades da região. UM 'MOSAICO' DE PASTAGENS TRADICIONAIS Trata-se de uma paisagem montanhosa historicamente relacionada com os sistemas agrícolas tradicionais, em grande parte baseados na criação de gado e na produção de cereais. Daqui acabou por resultar um mosaico de paisagem em que as pastagens antigas, as áreas de cultivo - campos de centeio e hortas -, os bosques e as florestas estão interdependentes, e onde os animais constituem um elemento chave no fluxo de materiais entre os componentes do sistema. O processo de candidatura que agora se traduziu no reconhecimento mundial, teve o patrocínio do Ministério da Agricultura. Foi entregue à FAO em agosto de 2017 e desenvolvido por uma parceria que inclui a Associação de Desenvolvimento da Região do Alto Tâmega - ADRAT, as Câmaras Municipais de Boticas e Montalegre, as Universidades do Minho e de Trás-os-Montes, organizações e associações de produtores agrícolas, profissionais do sector e cidadãos da região.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 35 HISTÓRIA|O ANTES E O DEPOIS DIA DA LIBERDADE DA REVLUÇÃO COMEMORADO EM MONTALEGRE PORTUGAL ANTES DO 25 DE ABRIL PORTUGAL DEPOIS DO 25 DE ABRIL O 25 de Abril que os poetas cantaram e que o povo PORTUGAL EM 24 ABRIL DE 1974 - O governo O 25 ABRIL DE 1974 - Os capitães rejeitaram a aclamou nas ruas, foi mais uma vez comemorado em de Marcelo Caetano não autorizava a existência guerra colonial e resolveram organizar-se no Montalegre. Passados que foram 44 anos desse de partidos políticos nem de opiniões Movimento das Forças Armadas (MFA) para acabar inesquecível dia, a que Sofia de Melo Breyner chamou o discordantes da ditadura em que Portugal vivia e com a guerra e restabelecer a democracia. “dia inicial inteiro e limpo”, lembrou-se o derrube de que Salazar baptizou de Estado Novo. um regime político que oprimia o povo e reprimia os LIBERDADE DE EXPRESSÃO E MANIFESTAÇÃO - O seus adversários, que persistia numa guerra injusta e 1 25 de Abril trouxe a extinção da censura prévia. No prolongada, que estava isolado internacionalmente, que 1º de Maio de 1974 milhões de portugueses saíram à se conformava com o subdesenvolvimento económico e A CENSURA - Os jornais, os livros, o cinema e o rua em manifestações livres por todo o país, social e que apostava no obscurantismo cultural. teatro eram visados por censores que proibiam comemorando a conquista da liberdade. Os 44 anos que decorreram desde 1974 traduziram-se as palavras que não agradavam ao regime. num enorme progresso económico e social da Muitos escritores, jornalistas, cantores e músicos LIBERDADE DE REUNIÃO E ASSOCIAÇÃO - Foram sociedade portuguesa, num espectacular avanço nos eram proibidos de divulgar as suas obras. legalizados os sindicatos, as associações de campos da educação, da saúde e das infraestruturas, estudantes e os partidos políticos, aceitando-se a na melhoria da qualidade de vida e do desenvolvimento A PIDE - A Polícia Internacional de Defesa do livre associação para a difusão de ideias e propostas. cultural da nação portuguesa, para além da sua Estado existia para perseguir, vigiar, prender e integração na Europa e da recuperação do seu lugar no torturar todas as pessoas que tinham opiniões A LIBERTAÇÃO DOS PRESOS POLITICOS - Os plano internacional. Os objectivos do movimento de diferentes das do governo. Muitos antifascistas presos políticos foram libertados, pondo-se fim à militares que planeou e realizou o 25 de Abril foram foram assassinados pela PIDE. prática de se prender as pessoas que não por isso inteiramente alcançados. concordassem com o governo ou que pertencessem Concretizou-se a democratização, realizou-se a AS PRISÕES DA DITADURA - Os opositores ao a partidos da oposição. descolonização e promoveu-se o desenvolvimento. A Estado Novo eram presos em prisões com as de geração do 25 de Abril pode orgulhar-se do serviço Peniche e Caxias, onde permaneciam em O REGRESSO DOS EXILADOS - Após o 25 de Abril, que prestou ao país, pois soube interpretar os anseios péssimas condições e eram torturados, só pelo os exilados regressaram a Portugal, podendo do povo e foi capaz de abrir as portas para que o nosso facto de não concordarem com o regime. integrar-se na sociedade democrática e contribuindo país fosse melhor e mais próspero. Alguns perguntam para a construção de um país novo. se tudo correu bem, defendendo mesmo que há ainda O EXILIO - Muitos portugueses foram obrigados uma parte do 25 de Abril por cumprir. a emigrar para não serem presos ou por ESCOLA PARA TODOS - A escolaridade obrigatória De facto, o peso da herança recebida, o excesso de recusarem ir combater na injusta guerra colonial. até ao 9º ano (se bem que inicialmente foi até ao 6º entusiasmo, as rivalidades políticas, a submissão aos Nos países de exílio, continuaram a sua luta ano) e a proibição do trabalho infantil permitem a mercados financeiros, os contextos internacionais e contra a ditadura. todos os jovens darem o devido valor à escola e aos muitos erros próprios, não permitiram que fossem estudos, preparando-se melhor para a vida activa. completamente alcançados os nossos designios de A MOCIDADE PORTUGUESA - Os jovens, a partir desenvolvimento que todos desejariam. dos sete anos, eram obrigados a pertencer a esta A DEMOCRACIA - As eleições passaram a ser livres Encontramos faixas da sociedade, ou sectores organização militarista de juventude, que exigia e os partidos políticos passaram a poder divulgar os económicos, ou regiões periféricas, onde ainda que andassem fardados, marchassem como seus programas eleitorais para a eleição dos nossos prevalecem índices de desenvolvimento insatisfatórios soldados e fizessem uma saudação muito representantes e onde anida se verificam situações inaceitáveis de parecida com a nazi. pobreza, de desigualdade ou de desemprego, bem como O PODERLOCAL - As Câmaras Municipais e as Juntas algumas condenáveis práticas de corrupção e de A RESISTÊNCIA - Como estavam proibidos os de Freguesia passaram a ser eleitas pelas populações autoritarismo. Ainda assim, há que dizer que valeu a partidos políticos, lutava-se na clandestinidade locais, que podem fiscalizar o cumprimento das pena. É preciso contudo, que o ideal libertador e de pela liberdade. A Oposição Democrática propostas eleitorais dos respectivos autarcas. progresso do 25 de Abril chegue a toda a gente, a participou em eleições, mas os resultados eram todos os sectores e a todas as regiões. falseados e os candidatos presos. PORTUGAL NA UNIÃO EUROPEIA - A Vamos por isso continuar Abril!... democratização de Portugal e a independência das A GUERRA COLONIAL - Os territórios de Angola, ex-colónias foram bem recebidas pelas organizações Guiné e Moçambique, para alcançarem a sua internacionais e abriram-se as portas para a liberdade, foram obrigados a fazer guerra a integração europeia. Portugal. Em consequência, morreram milhares de africanos e portugueses em África. O PODER AUTORITÁRIO - Quem nomeava os presidentes das Câmaras Municipais e das Juntas de Freguesia eram os governantes, que não ouviam a opinião das populações nem tinham que cumprir um programa de acção. PORTUGAL ISOLADO DO MUNDO - O nosso País era condenado por organizações internacionais como a ONU, que não aceitava que continuássemos a colonizar os territórios que exigiam a sua independência.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 36 EFEMÉRIDE O “ÚLTIMO ABRAÇO” AO PROFESSOR ESTEVES DIA DA LIBERDADE Era previsível que o terceiro AVC lhe seria fatal. Resistiu a dois. Agora foi de O vinte e cinco de Abril aproximou-nos e foi pela mão vez e como um passarinho partiu. Com serenidade e coragem superou o dele que entrei noPS, partido que o prof. Esteves fundou choque traumático de ter de abandonar a sua casa para, com a dedicada em Montalegre. Lurdes, se institucionalizar no lar residencial da Santa Casa. E com racional frieza se consciencializou – evidenciava-o nas muitas conversas entre nós Esta circunstância reforçou em nós cumplicidades sãs. havidas – de que, sendo esta vida dois dias, o prazo de validade estava a E gostei de sentir nele o lampejo de felicidade pelo sim aproximar-se do fim. que demorei a dar-lhe e em que vislumbrou uma verdadeira conquista. Com o Prof. Esteves aprendi a estar em sociedade e a fazer política. As muitas derrotas por que passámos eram os degraus que tínhamos de percorrer para um dia sermos vencedores. Assim mo dizia ele em jeito de planeamento e de partilha. A sua casa e os petiscos da dona Lurdes passaram a ser uma habituação ou refúgio. Enchia o então aparecido Ricotero com o jogo do poker de que se tornou fã. E nas constantes visitas à casa da sua irmã, em Solveira, éramos a devastação na despensa. Mais tarde veio a política séria, com envolvimento diário, responsável, e foi sempre o meu leal conselheiro. Sentia vaidade pelas coisas que na Câmara íamos fazendo. Vibrava com os nossos êxitos. E nem a circunstância de numa ou outra vez haver sido injustiçado lhe tirou Conheci-o, iniciava-me eu como primário na “Universidade” de Salto. Era ele bonomia e capacidade de discernimento. Agora que o delegado escolar, o meu chefe. E a ele devo, reconhecidamente, o ter-me partiu e me fez rebobinar o filme dos muitos tempos posto na rota daquela com quem viria a constituir família após uma alegremente vividos, só me resta dizer: extenuante jornada de verificação das condições necessárias à abertura de Obrigado Camarada. escola em Tabuadela e Seara que juntos conseguimos. Ali selámos uma Abraço. E até sempre! amizade prá vida. Orlando Alves - Presidente da Câmara de Montalegre ... ... MUNICIPIO DE MONTALEGRE EXECUTIVO MUNICIPAL E VEREADORES DA É DOS QUE PAGA MAIS RÁPIDO A FORNECEDORES OPOSIÇÃO NÃO SE ENTENDEM… A questão não é nova, e na reunião ordinária do dia três de A Câmara Municipal de Montalegre é das autarquias portuguesas mais rápidas a Maio, manifestou-se mais uma vez, conforme se pode constatar pagar aos fornecedores, com um prazo médio de pagamento de 13 dias. Quem o da Acta entretanto difundida publicamente. Divergências refere é o portalnacional.com.pt o qual refere que os dados disponíveis se decorrentes da atribuição de verbas pelas freguesias no âmbito referem a Dezembro de 2017 e agora revelados num estudo da Direção-Geral do Protocolo celebrado entre a Associação Nacional de das Autarquias Locais. Refira-se que esta tendência tem sido uma \"imagem de Municipios Portugueses e a EDP-Energias de Portugal S.A. e marca\" do Município, conhecido por pagar a tempo e horas e apresentar uma apoios a Associações, foram os temas mais marcantes. saúde financeira invejável. Outro assunto que marcou a aludida reunião, foi o pedido formulado pelos Vereadores da Oposição ao Presidente do Executivo, para que este solicitasse à Autoridade Tributária informação sobre o valor patrimonial tributário para efeitos do IMI de cada prédio situado no seu território, indicando quais os prédios isentos, bem como a identificação dos respetivos sujeitos passivos, com referência a 31 de dezembro do ano anterior 2017; a identificação dos sujeitos passivos e o valor de imposto liquidado, relativamente a factos tributários localizados nesses municípios, por sujeito passivo e com referência às declarações de IMT entregues no ano civil Segundo refere o Municipio Montalegrense, para se ter “uma noção mais anterior 2017; e a identificação dos sujeitos passivos de IRC próxima da importância destes dados, basta referir que em Portugal há 114 sujeitos a derrama nesses municípios e o valor da derrama Câmaras Municipais que demoraram mais de 30 dias para pagar aos liquidada, por sujeito passivo, com referência aos períodos de fornecedores, apesar de a maioria ter baixado o prazo médio de pagamento. tributação terminados no ano civil anterior 2017. Há exemplos de câmaras que chegam a demorar, em média, dois anos e meio Segundo os Vereadores da Oposição, a informação solicitada para saldar as suas dívidas a fornecedores (o município em pior posição destina-se a fundamentar eventuais propostas a apresentar demora mais de 800 dias)”. E ainda “que os dados do Conselho das Finanças pelos mesmos no âmbito da tributação municipal. A estas Públicas mostram que até ao final de 2017, o total de dívida dos municípios solicitações respondeu a Vice-Presidente camarário com portugueses era de 4.540 milhões de euros. A verba baixou 493 milhões de algumas cautelas, tendo em conta possíveis infracções de euros entre 2016 e o ano passado, mas ainda há 27 municípios acima do limite natureza legal, designadamente a Lei da Proteção de Dados. da dívida total”. ...

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 37 CULTURA A CAPUCHA DOMINGUEIRA A CAPUCHA AS ORIGENS Longe estamos do século XI, tempo e lugar de origem da tão já portuguesa capucha. Introduzida pelos árabes - influência riquíssima muito pouco mencionada e explorada pelos portugueses -, a capucha para além de fazer parte da história barrosã, permanece em tempo real no dia a dia de muitos portugueses. A passagem dos séculos têm ditado o valor da capucha, A capucha ainda hoje é o manto que desde os princípios do objecto simples, despojado mas completo e multifacetado que Cristianismo, aparece cobrindo a maior parte das imagens. tanto pode ser usado como agasalho nos dias frios, como até Apenas foi modificado o modelo, adaptando-lhe no cimo, na parte servindo de manta de cama ou arma de protecção. que há-de assentar na cabeça, uma semi-rodela em forma de Nos últimos anos, temos assistido a uma reinvenção e meia-lua. valorização de algumas peças tradicionais portuguesas entre Como também já foi dito, é ordinariamente de burel e de fabrico as quais a capucha e o investigar das nossas raízes, tem por caseiro, muito embora haja réplicas destinadas especialmente um lado, aberto as portas a novas oportunidades e modelos de para os domingos e dias de festa, feitas de uma espécie de negócio, como também permitido a sustentabilidade saragoça preta muito lustrosa, a que chamam briche. Usaram-se económica de alguns artesãos da região, perpetuando desse em toda região barrosã e em alguns outros pontos de Trás-os- modo a riqueza da nossa história, ao trazerem “sangue novo” Montes. A sua utilidade é incomparável!... Se é preciso conduzir para ofícios quase perdidos ou esquecidos e hoje já em franca um carrego, de uma das pontas faz-se a rodilha, para o levar à expansão. cabeça, dando assim melhor jeito para conduzir pesadas Como já foi referido, a sua origem remonta ao século XI, muito canastras ou enormes molhos de lenha, de erva, de milho, couves embora não seja fácil precisar como e donde surgiu, mas tudo ou outros fardos. leva a crer que viesse do Oriente, sendo trazida à nossa região Se precisam de levar cereais, hortaliças ou quaisquer outros pelos Árabes, se é que o modelo não foi extraído de alguma objectos e não têm à mão com que melhor os possam conduzir, gravura, estampa ou desenho vindo dos lugares Santos - o que sem a tirar da cabeça fazem de uma das pontas uma espécie de é muito natural. saca, e com grande facilidade se leva uma grande pontada, como por ali vulgarmente se diz. Se precisam de agasalhar ou conduzir ao colo uma criança, deitando-a sobre uma das pontas, e passada a outra por baixo desta, levam as mães os filhinhos encostados ao coração. Serve também, enrolada ou torcida, ao comprido, para enfeixar coisas diversas, à maneira de corda ou atilho. Estendida no chão, sobre elas secam feijão, milho ou outros cereais. Se é preciso estender a toalha, para as frugais refeições em pleno campo, e não há perto lage ou relvado, a capucha estira-se no solo, à volta da mesa, evitando deste modo que a toalha vá sujar-se sobre a terra. Óptima capa para os rigores do tempo, aproveitam-na pelos dias de Estio para sobre ela se deitarem, e devidamente dobrada, pode servir de travesseira. Numa das pontas, leva por vezes a merenda, como no Outono a aproveitam para conduzir os ouriços dos castanheiros que encontram pelos montados. E até pastores dela se serviram para afugentar os lobos dos “gadinhos”, assegurando que não há lobo que vendo caminhar para ele, com o improvisado trapo, como no redondel para o toiro, não fuja desabridamente ou a sete pés, como por cá se diz. Tem ainda a vantagem de se ajustar bem ao corpo e escoar a água, como nenhum outro fato, e de especialmente os homens, poderem sobre ela assentarem o grosso e largo chapéu, para melhor livrarem a chuva da cara.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 38 Noticias de DITOS DE PELAS ALDEIAS E LUGARES ANTANHO VIAGEM ATÉ CODEÇOSO I Ó meu São Sebastião, Livrai-me deste degredo, Deixei irmãos, pai e mãe, Pra me casar em Meixedo. II Se fores a Codeçoso, Reza a São Nicolau, Mas quem melhor te defende É a camola ou um pau. Codeçoso, é uma das aldeias mais próximas da vila de «O Casulo do Facho». Mas situa esse espólio no Montalegre, sede do concelho. Durante muitos anos Codeçoso pertenceu termo de Meixedo. Se for entendido como à freguesia de S. Vicente da Chã. É por isso que habitualmente aparece freguesia compreende-se. Se for entendido como com esse designativo. Como a Chã, desde o tempo de Dinis, pertencia à lugar, então deve dizer-se, no termo de Codeçoso. Comenda do Convento de Santa Clara de Vila Conde, Codeçoso pagava os tributos religiosos a esse Convento, ao contrário da maior parte das Já atrás dissemos que houve dois antigos povoados restantes freguesias e aldeias de Barroso que pertenciam à Ordem no actual termo de Codeçoso: um nos «Pardieiros» Militar dos Templários. Estes elementos podem ler-se no livro e outro em «Portela da Urzeira». Por ambos «Montalegre e Terras de Barroso» do Padre João G. da Costa que passava a via romana. E foi pena que no fim do esclarece muitas das afirmações que aqui tentamos resumir, a propósito século XX, já nos nossos dias, com o intuito de de Codeçoso. arranjar os caminhos para os tractores, fosse entupido esse troço de via romana, por onde, o Aí se diz que somente a freguesia da Chã (à qual Codeçoso pertencia), autor desta pequena nota e toda a sua geração, Morgade e Negrões dependiam do Convento de Santa Clara de Vila do ainda transitaram, longos e penosos Invernos. Conde. E, segundo Duarte Nunes Lião, in «Portugal Económico, Monumental e Artístico» (1935), D. Dinis, em 1291, «por escambo, ou Afinal, prova-se que o progresso nem sempre é seja, por troca, doava ao Convento de Pombeiro, a freguesia de S. Vicente aliado da arqueologia.Também no lugar das Motas, da Chã. Logo Codeçoso, já nessa recuada data, existia e contribuía, ora onde a estrada que serve Codeçoso se cruza com a para o Convento de Vila do Conde ou para o de Pombeiro». Mais nacional, ainda é visível uma anta, também precisamente, seguindo Gonçalves Costa: «a freguesia de S. Vicente conhecida por «cova da moura». pertenceu à Ordem Militar dos Templários (fundada em 1118, em Jerusalém), entre 1291 e 1319. Esse relevo orográfico foi vandalizado aquando do arranjo da estrada. Foi pena porque nunca fora D. Dinis viu essa Ordem aprovada por Bula pontifícia de 14-3-1319, com estudado. Em Vale Ferreiro, já dentro do terreno o nome de «Ordem de Cristo». Lê-se no livro de Gonçalves Costa que «os que foi subtraído à aldeia para delimitar o «Posto Templários tiveram efectivamente, na Chã, um Convento, com a experimental», existem uns penedos, rasteiros, respectiva igreja, cuja parte inferior denuncia estilo românico do século quase invisíveis com a vegetação, que nos nossos X . Em conclusão podemos ter por certo que a Chã, com S. Vicente, tempos de pastor tinham várias letras e outros Negrões e Morgade, foram pertença dos Templários nos princípios do símbolos. século XIV». A Igreja paroquial ainda é hoje considerada monumento nacional. Se referimos aqui, com este relevo, a freguesia de S. Vicente é pelo facto de nessa altura Codeçoso lhe pertencer, religiosamente.Mas Codeçoso valeu e vale, sobretudo, pelos vestígios românicos. Erradamente os vários autores atribuem a Medeiros e a Meixedo castros, dólmenes e antas que lhe pertencem. O Castro que dista, para poente, cerca de 500 metros da E. N. Montalegre - Chaves, inscreve-se no termo de Codeçoso. Chama-se «o Cabeço dos Mouros» e está por escavar. É sempre citado como sendo de Medeiros o que constitui um erro grave. Valia a pena estudá-los. São vestígios rupestres, Aí apareceu uma «ara» na veiga de Carigo que actualmente se encontra possivelmente de grande importância histórica. E no Museu Etnográfico com o nº 5.206, escreve João Gonçalves da Costa, ali não é preciso neutralizar barragens para as páginas 30/31. Na mesma página se diz que existe um dólmen no Monte localizar, como em Foz Côa do Facho que há anos ainda tinha três esteios aos quais o povo chamava Fonte: Monografia de Codeçoso de Barroso da Fonte

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 39 Noticias de CAPELA DE S. NICOLAU PELAS ALDEIAS E LUGARES VIAGEM ATÉ CODEÇOSO AQUI NASCE O RIO RABAGÃO - Mesmo que outras razões não houvesse para conferir a importância de Codeçoso bastava o facto indesmentível de ser aos pés da aldeia que nasce o famoso Rio Rabagão. Começa por gerar um fio de água na lama do boi, banha todo o fecundo vale de cerca de dois quilómetros, lado nascente, regando hortas e lameiros, para além de, por muitos anos, ter dado razão de ser aos moinhos que se construíram no seu leito. Hoje esses moinhos não funcionam, a exemplo de outros que eram Embora não seja sede de Freguesia, Codeçoso tem pertença da aldeia e que se situavam no leito do Rio Cávado. uma das mais sugestivas capelas com Sacrário, onde com alguma frequência se celebram actos religiosos. É dedicada a S. Nicolau, padroeiro da aldeia. O rio percorre um semi-círculo e após atravessar as freguesias de Quase todos os anos, quando a emigração não a Chã, Vila da Ponte e Pondras e de receber alguns regatos e ribeiros tinha desertificado, se celebrava a festa anual. que o avolumam, vai desaguar na margem esquerda do Rio Cávado, No começo deste século, a colónia de Codecenses um pouco abaixo da lendária Ponte da Mizarela. radicados na cidade de Bridgeport, nos Estados Unidos da América, tem-se substituído aos Ponte que foi construída no séc. XIX, substituindo outra que se resistentes que pela aldeia ficaram, promovendo a atribui aos romanos. Em 16-V-1809 o exército francês que retirava festa religiosa e profana, o que constitui um para Espanha foi atacado nesta ponte pelas ordenanças de acontecimento comunitário que tem merecido Montalegre. nalguma imprensa luso-americana, justos aplausos. FORNO DO POVO Não se conhece a data da sua construção. Mas sabe-se que já por alturas de 1700 foi alvo de beneficiações que foram retomadas nos nossos dias. O BOI DO POVO Também o boi do povo, que era património de toda a aldeia, deixou de existir, praticamente, pelas mesmas razões. Codeçoso tem um forno comunitário que tão útil foi pelos tempos fora a quantos ali nasceram e cresceram ou que mendigavam, de terra em terra. Para estes sempre foi a hospedaria que nunca se fechou, fosse aos «da volta», fosse a quem fosse. As lamas do boi que, como ele, eram comunitárias, deixaram de ter sentido. E também a corte do boi, por desnecessária, foi, em plebiscito comunitário, transaccionada a favor do arranjo urbanístico. Esse imóvel, a exemplo dos fornos de outras aldeias, deixou de A Junta de Freguesia consultou o povo que por funcionar, porque passaram a existir os fornos particulares e o pão se esmagadora maioria trocou essa corte por um comercializa, hoje, já prontinho a comer-se. sobrado junto ao largo da capela, com vista a ser este demolido, para ampliar o largo.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 40 BARROSÕES ILUSTRES Dr. João Barroso da Fonte Um Homem de causas e de luta pelos valores da honestidade, da competência e da lealdade… João Barroso da Fonte, de seu nome, nasceu Enquanto militar, enumeram-se as condecorações recebidas: em Codeçoso da Chã, uma aldeia do concelho de Insígnias da Ordem do Rio Branco, com o grau de Oficial, pelo Montalegre, a 19 de Fevereiro de 1939. Frequentou Presidente da República Federal do Brasil em 1990; Medalha do o Seminário de Vila Real de 1952 a 1962, licenciou- se em Filosofia no ano de 1982 e concluíu o Primeiro Centenário da Abolição da Escravatura Negra do Amazonas respectivo Mestrado na Universidade do Minho em em 1991; Medalha de Mérito Militar por acções em combate, e 1997. Medalha Comemorativa das Campanhas de Angola - 1965-1967. Barroso da Fonte é um homem “polémico”, um Barroso da Fonte é daqueles homens que subindo a pulso alcançou o conhecedor de causas e um lutador pelos valores da pódio da estabilidade moral e social que os distingue. honestidade, da competência e a da lealdade. Barroso da Fonte, veio de um lar de dez irmãos e trouxe consigo as cicatrizes da enxada, do gadanho e apresenta-se onde quer que esteja com as caraterísticas herdadas de seus pais: a frontalidade barrosã como “marca registada”. É casado, pai de dois filhos, e autor de mais de meia centena de títulos, entre os quais “D. Afonso Henriques – Um Rei polémico” e “D. Afonso Henriques 900 anos”. Porém a História que escreveu é bem maior… Depois de trabalhar na Barragem de Pisões, leccionou no Liceu Nacional de Chaves e em 1975, transferiu-se da cidade flaviense para Guimarães, para trabalhar na Inspecção do Trabalho e no IEFP- Instituto do Emprego e Formação Profissional. Como se referiu, é autor de mais de meia centena de livros em prosa e verso, e actualmente divide a sua permanência por Barroso e Guimarães, onde exerceu cargos de responsabilidade, entre os quais O gosto pela História está omnipresente nas suas conversas e quando se salientam os de director da delegação do Porto da comunicação social, Vereador a tempo inteiro do chegou a altura de defender D. Afonso Henriques, ergueu bem alto os pelouro da Cultura do Município local, de director do seus argumentos para refutar a ideia que o primeiro rei de Portugal semanário O Comércio de Guimarães - o mais antigo havia nascido em Viseu, liderou a contestação à teoria de Almeida jornal do distrito de Braga. Fernandes, ganhando a batalha” à Academia Portuguesa de História. A teoria do nascimento do nosso primeiro rei em Viseu, acabaria Para além destes esteve também entre os exactamente ali. fundadores da Rádio Santiago; e foi director da revista Gil Vicente, do jornal Voz de Guimarães e Barroso da Fonte, junta ainda ao seu currículo literário, o galardão do Poetas & Trovadores com já com mais de três que o premiou como vencedor do “Prémio Nacional de Poesia Fernão décadas de vida. João Barroso da Fonte, que se de Magalhães Gonçalves no ano de 2015”. Trata-se de um galardão iniciou no jornalismo em 24 de Janeiro de 1953, leva anual atribuído pela editora Tartaruga, instituído pelas Câmaras já 65 anos de labuta nesta actividade e promete não Municipais de Chaves e Murça, que tem dado a conhecer muitos dos autores contemporâneos, em particular os de Barroso e restante se ficar por aqui. Além da sua vasta obra, fez ainda região transmontana. os prefácios de cerca de meia centena de livros, sobretudo poesia, de vários autores. (Continua na página seguinte)

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 41 BARROSÕES ILUSTRES João Barroso da Fonte Barroso da Fonte, veio de um lar de dez irmãos e trouxe consigo as cicatrizes da enxada e do gadanho… Continuação… EM “NOME DA TERRA” Em verso : UM LOUVOR AO HOMEM • Neve e Altura, 1965. Domingos Chaves • Formas e Sombras, 1966. • O Sangue e as Palavras, 1967. Falar algo daquilo que já muitos sabiamente falaram, não é coisa fácil. • É Preciso Amar as Pedras, 1970. Mas falar do Doutor João Barroso da Fonte, é o mesmo que dizer, que é um desses tais favorecidos pelo seu mérito enquanto cidadão • Terra Violada, 1978. irrepreensível, homem de letras e figura pública propagada nas Terras do Barroso e em Portugal inteiro. Barrosão de gema, nascido na aldeia • Tempo Infecundo, 1982. A OBRA LITERÁRIA de Codeçoso da Chã, do concelho de Montalegre, ao 19.º dia do mês de • Pausa ao Entardecer, 1990. DE Fevereiro de 1939, o Dr. Barroso da Fonte, é daqueles – honra lhe seja • Trinta Anos de Poeta (antologia), 1995. feita - que subindo a pulso, alcançou o pódio da estabilidade moral e BARROSO DA FONTE social que distingue os homens de bem. Conheci-o pessoalmente e fiz- me seu amigo há cerca de meia dúzia de anos, mas o seu nome e a Em prosa : admiração que nutro pela sua pessoa e pela sua obra, há muitos mais que me é familiar. Tendo ao longo do tempo acompanhado a sua fértil • Conheça Trás-os-Montes, 1970. actividade intelectual que sob a sua chancela tem nas mais de meia centena de obras publicadas, chegou a hora de também aqui, lhe • Usos e Costumes de Barroso, 1972. prestar a minha singela homenagem. Barroso da Fonte, é um exemplo para todos os barrosões. Um exemplo aliás, que já lhe mereceu ser • Diálogo com Ferreira de Castro, 1973. justamente agraciado pela Câmara Municipal do meu concelho. Precisamente o dia, em que na presença de outros vultos da cultura • Síntese Monográfica de Chaves, 1975. barrosã – o escritor Bento da Cruz e o Padre António Lourenço Fontes - lhe foi atribuída a mais alta condecoração municipal, em ouro, pela sua • Vida e Obra de D. Joaquim da Boa Morte, 1979. inabalável paixão por tudo o que é barrosão. O dia, em que no excelente espaço cultural, como é o Ecomuseu do Barroso, inaugurou uma • Rifoneiro Barrosão, 1984. exposição dos seus livros, artigos, condecorações e pertences diversos recolhidos ao longo de uma vida e que anunciou pretender doar ao • Rezas, Crendices e Medicina Popular em Barroso, 1985. Município. Quero por isso aqui nestas páginas, dizer da minha felicidade por poder testemunhar o apreço com que o Dr. Barroso da • Vida e Obra de Artur Maria Afonso, 1987. Fonte é tido em Montalegre e no país. Um homem que sempre me transmitiu palavras amigas e solidárias, próprias de um ser humano de • Vida e Obra de Joaquim Álvares de Moura, 1987. excelência. Um grande Homem, um homem bom, aguerrido e que não hesita em ir à luta, na defesa dos ideais em que acredita. Na ausência • Guimarães - Roteiro Turístico, 1991. repetida do Poder Central reconhecer os vultos da nossa terra, é chegado pois o momento de se lhe fazer Justiça. Barroso da Fonte, • Paço dos Duques de Bragança, 1992. Bento da Cruz e Lourenço Fontes, fizeram muito mais pela nossa terra, que muitos “D. Nunos juntos”… • A Igreja de S. Miguel do Castelo, 1992. • O Castelo de Guimarães, 1992. • D. Afonso Henriques - Português de Guimarães, 1992. • Mumadona - A Fundadora de Guimarães, 1992. • Paço dos Duques de Bragança - Elo, Lisboa - 1993. • Paço dos Duques de Bragança - Elo, Lisboa - 1993. • Antologia Poética de Autores Vimaranenses - Ideal, 1993. • Guimarães e as Duas Caras, 1994. • Visita ao Castelo de Guimarães, 1995 • Unidades Militares que passaram por Guimarães, 1995. • Mosteiro de Stª Marinha da Costa, 1995. • Casa dos Pobres de Guimarães, 1997. • O Pensamento e a Obra de Alberto Sampaio, 1998. • Dicionário dos mais ilustres Transmontanos e Alto Durienses • As Origens da Casa de Bragança (Separata), 2000. • 7º e 8º Condes de Barcelos na tomada de Ceuta, 2000. • Monsenhor Alves da Cunha, 2000. • Poetas de Sempre – I e II Volume, 2000 e 2001. • A animação no contexto educativo, 2001. • O Associativismo e a animação comunitária, 2001.

Noticias de Sexta 13 em Montalegre Capital do misticismo… Edição 5 – Maio 2018

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 43 CULTURA A CADA SEXTA-FEIRA 13 AS SEXTAS 13 “BRUXARIA” INVADE MONTALEGRE COMO SURGIU A SEXTA-FEIRA 13 AINDA HÁ “BRUXAS EM BARROSO?!... Há uma tradição, principalmente na cultura ocidental, que As “bruxas” ainda perduram no tempo associa o número 13 e também a sexta-feira ao azar. Por isso, em Barroso e os “bruxos” também. o dia 13, quando cai na sexta-feira, é considerado um dia de Outra(o)s vão a caminho para o “dia de infortúnio, e os mais supersticiosos evitam alguns hábitos. No gala” da capital barrosã, que se celebra entanto, a origem do medo que algumas pessoas têm a 13 deste mês de Abril, primeira da Sexta-feira 13 é desconhecida. Existem algumas versões sexta-feira 13 do ano. Montalegre vai que justificam a má fama da data, uma delas ligada ao voltar a vestir-se a preceito para cristianismo. Na sua última ceia, que aconteceu numa quinta- acolher milhares de pessoas em volta feira, Jesus ter-se-à reunido com os seus 12 discípulos, de um evento que tem ganho, ano após totalizando 13 pessoas na refeição. Entre eles, estava Judas, o ano, cada vez maior número de traidor. Jesus morreu no dia seguinte, uma sexta-feira. curiosos. Programado como sempre, está um novo cartaz repleto de cor e A tradição cristã ainda une o facto de seu História magia, a realizar na zona envolvente ao líder ter morrido numa sexta-feira ao facto A origem da sexta-feira 13 também tem castelo desta vila barrosã. do livro do Apocalipse apontar o número 13 explicações na História, mais especificamente na \"Sapos e bruxas, mouchos e crujas, como a marca da besta, do anticristo. A monarquia francesa. De acordo com a História, o demonhos, trasgos e dianhos, spíritos imperfeição do número 13 também está rei Felipe IV sentiu o seu poder ameaçado pela das eneboadas beigas... Vade retro ligada às inúmeras referências ao número 12 influência exercida pela Igreja dentro de seu país. Satanás prás pedras cagadeiras\". Quem na Bíblia - 12 tribos de Israel e 12 discípulos, Na tentativa de contornar a situação, tentou “perder o comboio”, só em próxima sendo assim, o número 13 destoaria do filiar-se à prestigiada ordem religiosa dos edição o poderá apanhar, mas… com projecto de Deus. Não saindo do pensamento Cavaleiros Templários, mas foi recusado. Com atraso. cristão, há uma linha teórica que afirma que raiva, o rei teria ordenado a perseguição dos Adão e Eva comeram o fruto proibido templários numa sexta-feira, 13 de outubro de igualmente numa sexta-feira e que Caim teria 1307. matado Abel nesse mesmo dia da semana. Diante dessas lendas e teorias, quando ocorre Mitologia uma sexta-feira 13, os supersticiosos evitam Outra possibilidade de explicação para o cruzar com gato preto, passar debaixo de “terror” que envolve a sexta-feira 13, está escadas, quebrar espelhos e outras crendices que relacionada com a mitologia. Segundo uma podem trazer mau agouro. história de origem nórdica, o Deus Odin teria Em Portugal a festa maior relacionada com o realizado um banquete e convidou outras “bruxedo” ocorre em Montalegre, capital da doze divindades. Loki, Deus da discórdia e do região de Barroso. A Noite das Bruxas é ali fogo, que não teria sido convidado para a comemorada durante todo o ano às sextas-feira reunião, ao ficar a saber do banquete, armou 13, tem como personagem principal o padre uma confusão que terminou na morte de um Lourenço Fontes e é dedicada às bruxas e ao dos convidados. Diz a superstição que um profano que reúne milhares de pessoas, sendo encontro com 13 pessoas sempre termina em cada vez mais aqueles que acorrem a Montalegre para assistir ou participar nos festejos deste tragédia. evento que começa logo pela manhã. Pelas ruas ouve-se que chegam a ser mais de 80 mil pessoas que se deslocam a Montalegre, mesmo em tempo de frio e algumas vezes de neve. Este ano serão duas e nas noites da festa, o padre Fontes chega transportado numa grua, como se descesse dos céus, para dar início à reza do esconjuro destinada a afastar o povo de bruxedos e maus olhados. \"Sapos e bruxas, mouchos e crujas, demonhos, trasgos e dianhos, espíritos das eneboadas beigas... Vade retro Satanás prás pedras cagadeiras!\". O esconjuro do padre Fontes é o momento alto da Noite das Bruxas, festa que recria toda a mística e crenças tradicionais das terras do Barroso e constitui-se igualmente como fonte de receita para arranjar formas de sobrevivência num ambiente de crescente isolamento. A festa A Deusa da fertilidade Frigga, esposa de de sexta-feira 13 em Montalegre, pega em todas Odin, também teria relação com a sexta-feira estas tradições e raízes, demonstrando a 13, segundo outra hipótese. Para forçar a coragem do povo em enfrentar o azar. Para os conversão dos bárbaros, a Igreja Católica barrosões, pode ser o seu dia de sorte. Desde teria “demonizado” Frigga. Segundo a lenda, 2002 que a Câmara de Montalegre organiza a ela, o demônio e outras onze bruxas saíam \"Noites das Bruxas\", as quais já fazem parte todas as sextas-feiras para rogar pragas integrante do calendário cultural da região. contra a humanidade.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 44 CULTURA MONTALEGRE|UM LOCAL MITICO A RAINHA DE TODAS AS FESTAS A sabedoria popular dita que o 13 é o número do azar e que quando combinado com DIA DE AZAR!... SÓ O É… uma sexta-feira, resulta num dia que traz pouca fortuna às pessoas. Porém, PARA QUEM NÃO PÔDE OU NÃO QUIER ESTAR PRESENTE Montalegre é diferente e nesta vila, as sextas-feiras 13 são sempre recebidas com grande expectativa. Este ano, a “sorte”, que é como quem diz, o alinhamento do Como já se disse, o “dia das bruxas” traduz-se num cartaz turístico calendário, ditou que houvesse dois dias deste género na capital do Barroso. O bastante elucidativo daquilo que são todos os “rituais” e primeiro já lá vai com o 13 de Abril. Mais um dia em que a vila foi invadida por “cerimónias” em torno de um evento como este, em que todos os bruxas, feiticeiros, monstros, morcegos e… muitos foliões, como vem acontecendo principais sectores da região aderem ao mundo “mágico”, através, todas as sextas-feiras 13. Para além das “arruadas” durante o dia, tudo começa no caso da restauração – e a título de exemplo, com ementas verdadeiramente à hora de jantar, com os restaurantes da vila transmontana sugestivas; no caso da hotelaria, com enfeites criativos, e no caso do engalanados a preceito, como se tivessem sido decorados pela varinha de uma comércio, com toda uma gama de produtos relativos à “bruxaria”. bruxa. Para os habitantes de Montalegre, vila já apelidada de “capital do misticismo”, Na noite da “sexta 13”, os montalegrenses e os demais que ali se deslocam, todos vestidos e pintados a rigor, juntam-se próximo das este é o dia em que o azar vira sorte. É assim pelo menos para os comerciantes muralhas do Castelo de Montalegre e assistem a espectáculos locais, que a cada evento vêm crescer o número de visitantes. Desengane-se contudo, previamente preparados e definidos em função de um determinado quem pensa que esta é uma celebração aborrecida e obscura. Não - antes pelo mote e às tradicionais “queimadas” e “rezas” que fazem parte do contrário. Nesta festa há tanto de macabro como de divertido, e a “Noite das Bruxas”, imaginário popular. O evento tem início com a tradicional ceia, para não é por acaso que já se tornou num evento de dimensão nacional, com música, posteriormente prosseguir com a “grande queimada das bruxas”, fogo de artifício, espectáculos e animação de rua que chegue. em que sob um efeito de epifania se declama, enquanto a poção mágica aquece, um esconjuro “tenebroso” contra a “pecadora língua”, a “inveja” e o “mau olhado”. Dito isto, resta dizer que quem tenha vontade de conhecer este festival do oculto e não o tenha podido fazer, talvez tenha sido mesmo o seu dia de azar. Mas não desesperem!...Depois de Abril, Julho está logo aí… Porém, não seria possível falar da “Noite das Bruxas”, sem falar do padre Fontes. Um MONTALEGRE - UM LOCAL MITICO padre dinâmico e empreendedor que colocou Montalegre no mapa das maiores Aliadas à história, aos costumes e às tradições do concelho de festas de rua do país. Este pároco, é por isso a alma da festa e a principal “marca” da Montalegre, “as bruxas” fazem também, da terra barrosã, um local região, sendo responsável pelo ponto alto da noite e a preparação da queimada num mítico, fantástico e mágico. A cada \"sexta 13\", Montalegre é imbuída caldeirão sobre uma fogueira, sem esquecer a entrada em grande e com a dose de num ambiente “macabro” e “tenebroso”, onde os poderes da feitiçaria drama que se espera, descendo das alturas numa grua, qual salvador de todos os e dos maus olhados através de rituais e de superstições, invadem males. Antes de servir a “mistela abençoada” que limpa todos os males, o padre faz o toda a vila. “O dia das bruxas” ou “sexta 13” tornou-se com o passar esconjuro da bebida, recitando uma ladainha que a livrará “todo o mundo” presente dos anos, um dos maiores eventos de rua de todo o país, reunindo de maus-olhados, feitiços e bruxedos. Depois de tudo isto a festa continua noite milhares de “crentes”, não apenas da região, mas também do Minho dentro, pelas ruas, bares e discotecas, repletos de “bruxas”, “demónios” e outras ao Algarve e da vizinha Galiza, em actos ritualísticos que acabam por “figuras do além”. dar continuidade às antigas práticas medievais de feitiçaria e de Mas como nada se faz sem investimento, pergunta-se: será que vale a pena?!... encantamentos que persistiram mesmo depois de São Martinho Orlando Alves, Presidente da Câmara de Montalegre não hesita em dizer que sim, “O converter os poucos pagãos que subsistiam, após a queda do Império retorno é incomensuravelmente maior. Quem vem à sexta-feira 13 não fica só uma Romano. Pensa-se que o misticismo em torno da “sexta 13” provenha noite, fica todo o fim de semana, o que faz com que durma, coma e consuma em da morte de centenas de templários pelas chamas da fogueira, numa Montalegre, impulsionando a economia local “ sexta-feira a 13 de outubro de 1307.

COLECTÂNEAde textos | A BARROSANA| ANO 2018 45 CULTURA ONDE O PÚBLICO MARCA A DIFERENÇA O “REI” DA FESTA AS NOITES DAS BRUXAS NA CAPITAL DO BARROSO A vila de Montalegre ficou no passado dia 13 – durante o já muito conhecido dia das A QUEIMADA “bruxas”, bem mais pequena para acomodar as muitas dezenas de milhar de pessoas, muitas das quais vindas do outro lado da \"Raia“, que aqui se deslocaram A “queimada do esconjuro” é o ponto mais alto do para desfrutar de uma noite do “outro mundo” – a Sexta-Feira 13. As pensões e evento. O padre Fontes conta que o evento tem como casas de turismo rural esfregaram as mãos de contentes, roulottes à beira rio eram objectivo provocar a boa disposição entre as pessoas. ás dezenas e gente houve a aproveitar o fim de semana que se lhe seguiu, para Personagem marcante das \"sextas 13“, refere ainda que melhor conhecer a região. Pena foi a chuva que teimava em não querer dar tréguas, “com isto pretende-se acabar com os medos, com as ainda assim, a noite foi de gala. A maioria dos restaurantes aderentes a esta festa pressões, com a bruxas, maus olhados e invejas, coisa hoje conhecida em todo o país, já havia afixado o pôster com o programa do evento que ainda está patente em muita gente, e o que se deseja hà uma semana e os resultados não se fizeram esperar. Tudo lotado para uma festa é a “cura”. E de facto consegue-se, porque a mente é que que recria toda a mística e crenças tradicionais das terras do Barroso e constitui-se dá ordens ao físico para ficarmos bem-dispostos”, igualmente como fonte de receita para arranjar formas de sobrevivência num explicou. ambiente de crescente isolamento. A festa de sexta-feira 13 em Montalegre, pega em Esta iniciativa faz com que milhares de visitantes se todas estas tradições e raízes, demonstrando a coragem do povo em enfrentar o desloquem a Montalegre para conviverem com “bruxas” azar. Para os barrosões, pode ser o seu dia de sorte. A dita festa é organizada pela e actos de magia. Câmara Municipal e seu momento principal surge com a famosa queimada O padre diz que “as pessoas vêm ao encontro da cura, e é protagonizada pelo padre António Fontes, a qual tem como objectivo o curável, porque as pessoas desistem de acreditar em encantamento tradicional para afastar os maus espíritos e trazer sorte . Durante o bruxas, em pragas, em maus-olhados e feitiçarias, e festival pode ver-se todos os tipos de disfarces relativos a bruxas e feiticeiros, fazem disto um teatro”, acrescentou. Acredita que “o zumbis ou assassinos. As empresas de hotelaria mudam a sua decoração para segredo para a felicidade é as pessoas não terem atender a festa, que tem sempre início por volta do meio-dia com animação nas ambições e não terem vazios mentais. Aqui temos música ruas. Depois do jantar, várias músicas em palcos diferênciados e fogo de artifício em de passarinhos, não há provocações ao consumismo. A torno das mostras do castelo medieval dão então lugar à dita queimada, que é felicidade está em nós”, concluiu. distribuída gratuitamente a todos os participantes. A celebração continua até ao amanhecer. O ESCONJURO Mochos, corujas, sapos e bruxas. Com este fole levantarei Demónios, trasgos e diabos, as chamas deste fogo espíritos das enevoadas veigas. Corvos, píntigas e meigas: que assemelha o do Inferno, feitiços das mezinheiras. e fugirão as bruxas Podres canhotas furadas, lar dos vermes e alimárias. a cavalo das suas vassoiras, Fogo das Santas Companhas, indo se banhar na praia mau-olhado, negros feitiços, das areias gordas. cheiro dos mortos, trovões e raios. Ouvi, ouvi! os rugidos Uivar do cão, pregão da morte; focinho do sátiro e pé do coelho. que dão as que não podem Pecadora língua da má mulher deixar de se queimar na aguardente casada com um homem velho. Averno de Satã e Belzebu, ficando assim purificadas. fogo dos cadáveres ardentes, E quando esta beberagem corpos mutilados dos indecentes, baixe pelas nossas goelas, peidos dos infernais cus, ficaremos livres dos males mugido do mar embravecido. da nossa alma e de feitiço todo. Barriga inútil da mulher solteira, Forças do ar, terra, mar e fogo, falar dos gatos que andam à janeira, a vós faço esta chamada: guedelha porca da cabra mal parida. se é verdade que tendes mais poder que as humanas pessoas, aqui e agora, fazei que os espíritos dos amigos que estão fora, participem connosco desta Queimada.


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