Noticias de Colectânea de textos|Janeiro 2021 4.º CADERNO Concelho de Montalegre
Edition nº 118 |du 08 juin 2017 GRATUIT Mensuel Franco-Portugais Ojornal dasComunidadeslusófonas daBélgica, editadopor CCIFP Editions, daCâmaradeComércioeIndústria Franco Portuguesa Pedro Santos é o novo Secretário-Co rdenador da Secção do PS português em Bruxelas.Entrevista PORTUGAL Be 1308 COMEÇA 03 AQUI MESMO: nas terrasLusa /Tiago Petinga de Barroso…
Noticias de HISTÓRIA VIVA DO CONCELHO DE MONTALEGRE TERRITÓRIO DE FRONTEIRA COLECTÂNEA DE TEXTOS 4.º CADERNO | JANEIRO 2021 O Autor Domingos Chaves
4.ª Colectânea | Janeiro |2021 4 COLECTÂNEA DE TEXTOS PERIODICIDADE DIRECT OR E FUNDADOR Semestral Domingos Chaves CONTACTOS Ficha Técnica Email: [email protected] Coordenação https://a-barrosana.webnode.pt/contacto/ Domingos Chaves DIREITOS Textos de Edição E… BARROSO É ISTO MESMO Domingos Chaves, Catarina Pereira. Barroso da Nos termos do disposto no n.º 2, Fonte, Fernando Gonçalves Rosa, João Damião, Pedra sobre pedra, dias sobre dias, estórias com história, corpos com alíneas i) e j) do artigo 68.º e do artigo António Chaves, Custódio Montes, Marie Oliveira, alma e rugas com eternidades para contar. Barroso é isto, e isto é 75.º, n.º 2, alínea m) do Código dos Arménio Santos, Helder Alvar, Fernando Botelho tanto, que nunca mais acaba. Direitos de Autor e dos Direitos Gomes, Isabel Tavares, Raquel Costa, José Alves, Jorge Estimam-se livros de ouro, desperdiçam-se histórias de diamante, e o Conexos, e do artigo 10.º da Convenção Martins, António Lourenço Fontes e Gabinete de que somos, é muito mais do que aquilo que se pode guardar numa de Berna, são expressamente proibidas Imprensa da C.M. Montalegre carteira ou num banco. O que somos é história fortificada, é ADN a reprodução. bem como, distribuição, enriquecido pela luta de quem viveu, sofreu, sorriu e venceu. O que comunicação pública ou colocação à Fotografia não deveríamos, é ser fracos de memória e deixar de estimar o que disposição, da totalidade ou parte dos Domingos Chaves, C.M. Montalegre, José Alves, Artur somos, e o que somos vale mais que ouro. Se somos determinados, é conteúdos desta publicação, com fins Pastor, Gerard Fourel, Fernando D. C. Ribeiro, Mauro porque as serras nos permitiram enxergar a nossa alma destemida; se comerciais directos, indirectos ou somos assim, guerreiros, é porque ninguém alguma vez nos conseguiu outros, em qualquer suporte e através Fernandes Heléne Martins, Raquel Costa e Portal dobrar pela espinha; se somos assim, de paladar refinado e pote de qualquer meio técnico, sem a Google enriquecido, é porque aprendemos a ser felizes à mesa, a conviver à autorização prévia da direcção. luz da candeia e ao sabor de um belo cozido à barrosã. Se somos ISBN assim, poupados, é porque conseguimos ultrapassar dezenas de crises, EDIÇÃO 152281/2017 aprendendo a utilizar cem por cento do porco, a cozinhar com batatas ou castanhas, a fumar o que é preciso estimar ou a saborear uma Janeiro 2021 - Número 4 Execução sardinha partida em três durante décadas. Se somos assim, é porque DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Domingos Chaves as nossa aldeias sobreviveram ao passar dos tempos, sempre edificadas Versão Digital nos seus mais nobres valores e tradições. E se somos assim porque A Barrosana haveremos de mudar?!... A nossa marca é simples: não temos produto que não combine, no seu REVISTA ONLINE melhor, a descoberta activa da paisagem e do património com a nossa gastronomia. Sabemos ser próximos e discretos com as pessoas e dar- https://a-barrosana.webnode.pt/ lhes a segurança e o espaço de que precisam para poderem divertir-se, evadir-se e descansar. ... Os nossos valores são os princípios da nossa acção: respeito incondicional pelo próximo, sempre na procura de algo sustentável e de qualidade acrescida. Acreditamos por isso na nossa terra, no turismo como força viva ao serviço da paz, veículo de amizade e compreensão entre as regiões, factor de desenvolvimento sustentável e contributo para a valorização e preservação do património natural e cultural da nossa terra. Sabemos que é um privilégio ter como \"ofício de lazer“, partilhar o lado bonito do mundo BARROSÃO e poder fazê-lo com entusiasmo e acima de tudo com a qualidade e o saber a que já nos habituamos. SOMOS BARROSO COM MUITA HONRA ...
5 OS DESTAQUES O DESTAQUE DO SEMESTRE 6 19 9 O Ataque do Coronavirus … 25 CULTURA A Civilização Romana também passou por cá JOÃO BARROSO DA FONTE 26 O homem que teima em contrariar a Histõria O PATRIMÓNIO CONSTRUÍDO 31 87 A Casa Barrosã 93 VIAGEM PELAS FREGUESIAS Viade de baixo e Fervidelas, Salto, Santo André, Solveira COMUNIDADES PORTUGUESAS 52 Barroso da Fonte Fernando Fernandes Marie Oliveira António Chaves Custódio Montes João Damião 74 AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS… 119 OS GRANDES MITOS DA HISÓRIA 134 DE VIRIATO A SALAZAR
6 A PANDEMIA QUE NOS ENSINOU “QUE TODOS PRECISAMOS DE TODOS” “Este é um dos maiores desafios, senão mesmo o maior, das nossas vidas!... É o momento, em que todos nós enquanto comunidade, teremos que suplantar sob pena de colapso. A Covid-19 entrou no nosso dia-a-dia em Março de 2020 e é um dado adquirido que nos irá acompanhar nos próximos tempos.Isto é: vai fazer-nos companhia nas nossas casas, nas escolas, nas universidades, nos empregos, nas ruas e por onde quer que nos desloquemos”. As nossas melhores perspectivas, sa dentro sem pedir licença. E o melhor de nós, passa também por ignorar e apontam que lá para meio do ano até combater toda a espécie de boatos e alarmismos, incendiados pela tenhamos melhores notícias, em ignorância e pela má-fé de quem no meio de um manto de receio em que se termos de combate a este vírus, que vive, quer adensar a realidade para alimentar outras agendas que não a da veio travar a fundo todas as nossas saúde pública e a da protecção da Comunidade. rotinas e que arrasou todas as cadeias As tais veleidades que neste domínio se pagam geralmente muito caras, de afectos, implementando receios e quando estamos a falar de saúde. Há factos, que por muito que custe a medos nunca vistos. Uma questão de alguns, são inquestionáveis e inamovíveis. Dito isto, é por isso fundamental saúde pública, principalmente a de que as garantias que a ciência nos dá – mesmo que escassas numa doença quem por várias razões é mais nova – são para levar a sério e condenar todas as revoltas de libertários vulnerável à acção do vírus. Com as que não hesitam em ir para a rua gritar que a máscara já incomoda e até nos vacinas que já aí estão, estamos restringe, e de negacionistas de toda a estirpe que ostentam com o seu portanto, perante o momento que orgulho altíssimos níveis de ignorância e que entendem que tudo é todos queremos ultrapassar o mais reversível. rapidamente possível, mas que para o Há uma coisa que se chama “realidade”!... Uma realidade que não pode nem efeito, exige o melhor de nós. E o deve ser escondida e para a qual todos olhamos na esperança de que nas melhor de nós é simples: respeitar as universidades e laboratórios, onde neste momento, milhares de cientistas indicações das autoridades de saúde. continuam em busca em contra-relógio inédito, de antídotas para além das Passos, que todos nós já conhecemos vacinas, que coloque esperança no horizonte e o esperado travão neste suficientemente há quase um ano e pesadelo em que vivemos. que é mais do que nunca premente Nestes dias de chumbo, em que a saúde pública nos continua a redefinir o no actual contexto em que as novas nosso quotidianos há também um outro nível de angústia que nos infecções diárias ainda nos entram ca- atormenta: a questão económica. A Barrosana
7 A PANDEMIA QUE NOS Nos próximos tempos tempos vamos ENSINOU esperar que as más notícias” tendam a diminuir e a nossa percepção sobre tudo QUE “TODOS PRECISAMOS o que nos rodeia tenda para níveis da DE TODOS” esperança que todos desejamos e ambicionamos. Nada é mais humano e As sequelas que advêm deste cenário de excepção compreensível. Somos nós e as nossas irão permanecer ainda por algum tempo. difíceis circunstâncias que nos impelem Muitos empregos já foram e muitos outros ainda irão para que assim seja. Mas a forma como ser destruídos com o brusco abrandamento da sairemos delas – porque iremos sair – actividade económica. E sendo assim, também aqui depende também de nós enquanto nos cabe um papel de responsabilidade cívica. Dentro indivíduos e elementos responsáveis de das restrições e das cautelas a que estamos uma comunidade. Não estamos sozinhos obrigados, não podemos esquecer que em cada nesta hora e chegará o dia em que a aldeia, vila e cidade, muitos negócios são sinónimo de esperança reocupará o seu devido sobrevivência de milhares de famílias. espaço nas nossas vidas. Cuidemo-nos e aguardemos por esses dias. A Barrosana
8 O GRANDE PLANO DE VACINAÇÃO ESTÁ JÁ A CAMINHO… Primeira Fase É uma janela de esperança que veio mostrar que, ao contrário do que dizem os arautos da desgraça que são os inúmeros júdices que por aí andam, as nossas Foi há cerca de um ano que apareceu o novo coronavírus que autoridades sanitárias estão atentas e a merecer a depressa se estendeu pelo planeta e a que a OMS deu a nossa total confiança. designação de covid-19. Esse vírus revelou-se muito letal e era No âmbito da aquisição conjunta de vacinas pela desconhecido da Ciência, mas de imediato mobilizou o União Europeia, há seis contratos assinados com os fabricantes e o nosso país vai receber 22 milhões de conhecimento e a inteligência em diversos locais do mundo, doses de vacinas, sendo 6,9 milhões de doses da numa corrida que tornou possível esse acontecimento de AstraZeneca/Universidade de Oxford, mais 4,5 extraordinária importância científica que foi a descoberta de milhões de doses da BioNTecn/Pfizer e a mesma uma vacina em tão pouco tempo. quantidade da Johnson&Johnson, mais 1,9 milhões Segunda Fase da Moderna e quatro milhões de doses da CureVac. Terceira Fase Esse deve ser um motivo de grande satisfação para o mundo e, As vacinas serão universais, gratuitas e facultativas, depois de tempos de ansiedade e de incerteza, surgem no sendo distribuídas nos 1200 pontos de vacinação ou horizonte tempos de esperança. centros de saúde, enquanto o plano de vacinação A pandemia já causou quase cinco mil óbitos em Portugal e terá três fases para atender a população, de acordo gerou uma grande incerteza quanto ao futuro, mas as notícias com os grupos definidos no próprio plano. Vai ser dos últimos dias desanuviaram o ambiente e deram um novo demorado e vai exigir muita disciplina, muita determinação e muita competência, mas tudo olhar sobre o futuro, permitindo ver a luz ao fundo do túnel. Já foi apresentado o Plano Nacional de Vacinação contra a covid- parece estar pensado e estruturado. O que é curioso 19 que vinha a ser preparado por quem sabe e que visa reduzir a é que já tenham aparecido os críticos do costume, mortalidade causada pela pandemia e aliviar o Serviço Nacional que julgam saber de tudo e desconhecem que vivemos num país de recursos limitados. de Saúde.
9 Domingos Chaves A MEDALHA DE LATA 2020… O cidadão – designadamente o indeciso - que se pretenda informado sobre a vida pública no concelho, encontra hoje sérias dificuldades em encontrar chão seguro para se posicionar. Na verdade, saber o que pensar sem um dispêndio razoável de energia não é nada fácil. E não é nada fácil, porque nos dias que correm, vive entalado mas enquanto não mudar, é por esta que todos temos que entre duas situações distintas!... Por um lado, é confrontado por nos reger. É assim que se exige que seja, num Estado de quem se diz apostado em “puxar” pelo concelho, por quem Direito Democrático e Montalegre não é excepção. defende o empresariado local, os postos de trabalho e se propõe, Ora sendo esta a verdade, estamos por isso perante actos contra ventos e marés dinamizar a economia local; e pelo outro, que não prestigiam quem deles faz uso e muito menos a por uma Oposição que “sabendo muito”, sabe a pouco e se democracia representativa no concelho, onde o povo ainda exprime como um oráculo e com uma terminologia e raciocínio é quem mais ordena. destinados a só poderem ser entendidos e escrutinados pelos seus pares, empenhando-se mais em o empurrar para uma determinada opinião, do que em lhe fornecer elementos para formular um juízo próprio. Há porém duas coisas que não escapam aos barrosões: a E sendo assim, é por isso mesmo que o poder da razão primeira, são os constantes atropelos de uma Oposição que desta Oposição, da sua verdade e do serviço público que se insiste num discurso para os colocar uns contra os outros; e a lhe exige e para o qual foram mandatados bateram no segunda, as sucessivas acusações sem rosto com que de vez em fundo. Estamos perante alguém com um objectivo único: quando nos vem presenteando, fazendo da Lei e da Justiça “abater” um homem e retirá-lo do lugar que por direito “tábua rasa” e dos Tribunais pelourinhos. próprio ocupa e o povo lhe concedeu. Perante factos que são reais e públicos, esta é sem margem para E quando assim é, procurando fazer do mesmo o principal dúvidas gente que não nasceu para fazer da politica vida, e por e único alvo para o atingir de interesses pessoais e políticos conseguinte, gente sem honra nem dignidade na respectiva que cabe ao povo consagrar, é o mesmo que colocar o acção – os políticos assumem-se. “carro à frente dos bois”. Ainda que por outras palavras, foi o Tribunal que o disse - ao recusar o pedido da perda de Parafraseando Francisco Sá Carneiro, “a politica sem risco é uma mandato - e o signatário o leu. Estamos por isso perante chatice, mas sem ética é uma vergonha”!... Um selo, que assenta uma Oposição que se vai aguentando sem honra nem que nem uma luva em toda esta gente, hoje decomposta em glória, e que da politica, à falta de argumentos e provas Partidos e Movimentos em catadupa, todos eles com o mesmo válidas, faz uma espécie de campeonato de tiro ao alvo. objectivo, mas que outros argumentos não tem, senão a PARA ELA, VAI POR ISSO A MINHA MEDALHA DE LATA DO promoção da desconfiança e as acusações reiteradas que os ANO DE 2020... Tribunais não consagram e a Lei rejeita. Lei, que existe para defesa de todos e não para ser utilizada ao prazer de cada um ou ao sabor das conveniências politicas. Podemos até achar - porque temos esse direito - que é boa ou má, porém, os mecanismos para a sua mudança estão previstos e são claros,
10 JOSÉ DIAS BAPTISTA ....... “Éh… Barrosão”!... Eh, barrosão! Nem o sol, a chuva, o vento, as geadas, Olhos semicerrados, fixos no ocaso, Nem granizo cortante, a neve ou o trovão, Muito para lá da Serra da Cabreira Quais abismos medonhos ou píncaros ciclópicos Mesmo para lá do mar oceano - Ao diabo que as leve! – Não te dizem que não! E bendizes com devoção o teu cansaço Semeada finalmente a tua leira. Ah, Barrosão, Barrosão, Que fazes os dias mais duros e mais longos, Passas a manga da camisa pelo suor Que corre dos cabelos pelo rosto À justa medida da tua mão! E te vai banhando o corpo todo. Bendito seja esse maravilhoso sorriso Abres um sorriso quase igual ao do sol-posto Com que arrancas das pedras o teu pão! e fungas, tosses e cospes o pó tornado lodo. *José Dias Baptista | Vila da Ponte 2017 Pões a véstia no ombro, Limpas às calças o cuspo das mãos Enquanto olhas em redor o teu trabalho. Depois segues devagar pelo combro Do rego da leira e vais direito ao atalho. Abres ainda mais o teu sorriso De que ninguém alcança o significado. Em que pensas, Barrosão? Para ti o que conta? Os filhos que te beijam o rosto suado? A mulher que já tem a ceia pronta? A cada passo teu é maior o teu sorriso E mais obscuro o seu significado Que ninguém define com juízo: Nem bruxo nem poeta, nem vidente segura Nem sequer os Sábios da Escritura.
AS TERRAS DO BARROSO PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO E HISTÓRICO
12 MONTALEGRE | O PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO A cultura megalítica floresceu na pré–história, no período Neolítico, que Dos das Ferraduras, Pena Escrita, Pena se caracteriza pelo aparecimento de utensílios de pedra polida, pela Escrita, Caparinhos, etc. que se distribuem domesticação de alguns animais e início de actividades agrícolas por todo o planalto barrosão. Apesar de primitivas que levaram à descoberta da cerâmica. O material mais não existir uma Carta Arqueológica do utilizado era o sílex, com que se faziam facas, raspadeiras, pontas de seta Concelho, cumpre deixar dito que há e lanças, etc. inúmeros monumentos que merecem referência. O nosso território foi habitado A sedentarização do homem deixou-lhe tempo para o progresso social e desde o Megalítico como fazem prova os religioso e, muito mais tarde, para a indústria metalúrgica. Contudo, a muitíssimos monumentos desse período e roda de oleiro e o arado parece terem surgido apenas na Idade do que a nossa toponímia preserva: antas, Bronze. Nessas eras a habitação do homem era ainda a gruta natural e a mamoas, motas, Forninhos e dólmenes. cabana rudimentar. Com os avanços referidos transferem-se os abrigos Estas construções estão disseminadas por para sítios defensáveis em montes cónicos, próximos da água, todo o concelho. constituindo povoados de várias famílias. No concelho de Montalegre aparecem e existem muitas provas da passagem desses povos em todo o Da mesma época, mas muito mais raros - território. Era com tais artefactos que o homem primitivo fazia as e denotando já um avanço importante gravuras rupestres, caçava, pescava e descarnava os animais que abatia, nas técnicas de produção de cerâmica - em grutas como as de Loivos, junto ao Cávado. Vestígios dessas são as Cistas de que temos exemplares actividades encontram-se ainda nos Penedos do Sinal, Pedra Pinta, Pene- conhecidos e únicos na Vila da Ponte. Castro de S. Vicente - Albufeira dos Pisões
13 MONTALEGRE O PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO Depois desses tão ignorados povos primitivos e Dr. Mendes Correia, na faculdade de provavelmente indígenas, vieram outros a que é Ciências do Porto, onde se encontram costume chamar CELTAS cujos conhecimentos e também os três vasos da 1ª Cista da modos de vida se enraizaram em definitivo. São os Vila da Ponte, dita de Donim, achada em metalúrgicos: além de recolectores, de pastores e de 1931.Sete, oito séculos após a fixação agricultores passaram a dominar os metais, primeiro céltica iniciou-se a conquista romana. o cobre, depois o bronze (liga de cobre e estanho) e, As máquinas de guerra daquele tempo, finalmente, o ferro. Daí a facilidade com que como é uso chamar-se às legiões ocuparam o mundo conhecido. Também muitos e romanas, demoraram duzentos anos a variados escritores da antiguidade consideram os dominar os povos peninsulares, dentre Galli, Galatae, Galleci, Keltoi designações de povos os quais sobressaem os Vetões, os com a mesma entidade étnica – os Celtas – e Vaceus, os Lusitanos, os Ástures, os ocupando quase toda a Europa e a Ásia Menor. Cântabros e, sobretudo, os nossos mais Habitavam os castros que eles construíram muitos lídimos antepassados – os orgulhosos e séculos antes da era romana. No concelho de indomáveis Galaicos. Montalegre podemos distinguir facilmente pela análise dos restos de cerâmica e de outros objectos os castros romanizados e os “celtizados”. Castro de S. Vicente - Albufeira dos Pisões Castro de Outeiro Ao nível artístico e artesanal os Celtas não têm Castro de Outeiro paralelo. Os seus objectos de adorno, em oiro, prata, cobre, ferro e bronze são fruto de uma perícia manual imbatível. Vejam-se, a título de mera referência, os torques de oiro do castro de Outeiro ou os objectos de bronze de Solveira e Vila da Ponte, aqueles expostos no Salão Nobre da Câmara Municipal e este no Museu
14 MONTALEGRE O PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO • Castro de São Vicente da Chã/Castro dos Mouros Este povoado fortificado conserva uma parte das três linhas de muralha e um fosso que o circunda parcialmente. Encontra-se estrategicamente implantado numa curva do rio Rabagão, sendo defendido por este. Na muralha intermédia ainda se observa uma porta de acesso ao povoado. Tudo indica que o castro se tenha desenvolvido sobretudo nas plataformas superiores, dentro dos limites da segunda muralha, pois são aí visíveis ruínas de construções de aparelho castrejo. O povoado cinge-se ao cabeço, à excepção de um prolongamento de muralha externa para uma rechã natural onde se identificam algumas construções. Os vestígios existentes remontam à Idade do Ferro, Os restos arqueológicos desta via são sendo pouco evidentes os supostos vestígios de vestígios de um passado glorioso e recordam romanização, embora se conserve, relativamente ao mundo que é verdadeira a canção: perto, o traçado da Via Romana XVII. Distinguem-se, neste local, vestígios de estruturas e BARROSO fragmentos de cerâmica bem como pedaços de escória de ferro. Tudo indica que o povoado teria As tuas terras dão, o mineral e o pão - viva uma área urbana extensa, incluindo um sector com Barroso! evidente actividade metalúrgica. Para sustentação de tal domínio foi necessário abrir Barroso, Terra do pão, Do minério e do carvão, estradas para que as legiões do exército acorressem Viva Barroso!... prontamente a qualquer ponto do império. Por isso (Com música própria) lhe chamavam “estradas imperiais militares” sendo a primeira a que, saindo de Braga (Bracara) e, atravessando o planalto barrosão de poente a nascente,, aflorava Chaves (Flaviae) e seguia depois por Astorga (Asturica) à importantíssima zona portuária de Tarragona (Tarraco).
15 MONTALEGRE O PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO -OS CASTROS E A MAMÔA DE GRALHAS CASTRO DO CASTELO DO ROMÃO CASTRO DE SOUTELO Povoado fortificado da época pré-romana, No triângulo entre Solveira, Santo André e Gralhas, na localizado no sopé da vertente sudoeste da parte final do Regato Do Campo, a cerca de 900 metros Serra do Larouco, entre o Corgo do Fojo e o de altitude máxima situa-se o castro de Soutelo. Trata-se Corgo do Cabreiro, a 1090 metros de altitude. de um povoado fortificado cuja tipologia também é Encontram-se por todo o monte vestígios de condizente com os povoados da Idade do Ferro, mas que alinhamentos de estruturas, com maior está circundado de vestígios de época romana, portanto incidência na plataforma superior, onde se com um período de ocupação mais alargado. Apresenta encontra a maior concentração de materiais duas ordens de muralha, sendo que a muralha interior cerâmicos. Identificam-se também restos de circunda o povoado e a mais exterior é apenas visível dos muralhas. A Norte e Noroeste a defesa era lados Norte, Sul e Este. natural. MAMÔA DO CAMPO DA ARMADA A Oeste localizava-se o fosso. No interior do povoado, e voltada a Poente existe uma extensa plataforma, onde Trata-se de um monumento megalítico provavelmente se concentravam as estruturas funerário razoavelmente visível, com cerca de habitacionais. Na zona circundante e fora das linhas de nove metros de diâmetro e parcialmente muralha identificam-se grandes concentrações de cortada por um caminho. Não se identificam material de tipologia romana, nomeadamente tégulas, esteios à superfície. ímbrices, cerâmica domestica comum, pedra aparelhada Este monumento foi recentemente lavrado, o e mós rotativas. Ou seja o espectro de materiais que originou o aparecimento de fragmentos frequentes em povoados mineiros. Para Norte identifica- cerâmicos lisos. se um grande fosso, actualmente preenchido por um extenso carvalhal e que segundo os especialistas Francisco Sande Lemos da Universidade do Minho, Carlos Meireles do Instituto Geológico e Mineiro e Carla Martins doutorada da Universidade do Porto, corresponde a uma corta mineira, cronologia romana, provavelmente para extracção de ouro.
16 MONTALEGRE | UM CONCELHO COM HISTÓRIA - O PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO Com efeito daqui saíam enormes carroções de cereais (cevada, painço e centeio) e de minérios (sobretudo, estanho e oiro) que ajudaram os homens do Lácio a fazer de Roma o que ela é e a manter o império ao longo de meio milénio. Memórias dessas eras são o Pindo, o Vinhouro, as Calçadas de Currais e de Espindo, as reformadas pontes de Campos, de Peireses e do Cortiço, os achados de inúmeras moedas – algumas colecções catalogadas e outras na posse de diversos particulares e ainda umas dezenas de marcos miliários que se encontram em diferentes locais da região e nos museus de Chaves e de Braga. Um desses marcos, dito Pedra do Caixão por ter sido reutilizado como sepultura, é dos mais antigos da Península e data do tempo do Imperador Augusto, alguns anos ainda antes de Jesus Cristo. Daí que a nossa via se tenha chamado Prima ou primeira. Achados - Moedas Antoniano em prata- cunhada em Roma entre os anos 244 e 249 d.C. Anverso- IMP M IVL PHILIPPVS Os achados de conjuntos monetários mais importantes são AVG Busto do imperador Philippe I, com barba, coroa os de Penedones (doze denários de prata que se radiada, vestido com toga e virado para a direita. perderam), da Vila da Ponte (cinco excelentes denários de prata e alguns bronzes médios), Minas da Borralha com mais de 3 mil médios bronzes e Montalegre, com mais de novecentas peças, quase todas denários com magro banho de prata. As moedas destes achados não ultrapassam o século III. Da mesma altura são as aras votivas a várias divindades, que os romanos acolheram, como o Deus Larouco (Vilar de Perdizes); outras dedicadas ao deus Júpiter (Vilar de Perdizes e Chã); e outras mais, anepígrafas, em Pitões e Tourém. Ainda desses recuados tempos são as estelas funerárias cujo exemplar mais conhecido, segundo Hübner, relatava a morte de um tal “Camalo Mibois, falecido na idade de 46 anos” à descida para o rio Cambela, entre Vila da Ponte e Friães, junto da via romana. Igualmente chegam até nós muitas sepulturas líticas–sinais Reverso- ROMA E AETERNAE indesmentíveis do atento cuidado que a gente de antanho Alegoria para a esquerda, sentada nu m trono sobre punha no destino a dar aos cadáveres dos seus escudo, tem u m ceptro na mão esquerda e sustém uma antepassados. pequena vitória na direita.
17 MONTALEGRE | UM CONCELHO COM HISTÓRIA - O PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO - OS RITUAIS FUNERÁRIOS Os rituais funerários são diversos e vão mudando ao longo dos tempos. Por isso Há muitas sepulturas líticas móveis, talvez os cumpre-nos somente colocar à discussão a análise destes monumentos num monumentos mais antigos, e sepulturas fixas. contexto arqueológico e histórico. O homem das cavernas nascia e morria nas Das móveis temos exemplos em Bobadela, cavernas. O primeiro destino do cadáver terá sido o abandono; todavia, a inumação Sapiãos, Bustelo (Vila da Ponte), Tourém, e a incineração são referidas desde as mais remotas eras. Na verdade as antas ou Pitões, Santo Adrião (Montalegre) e, dólmenes estão datadas desde cerca de Z.000 anos antes de Cristo! sobretudo, os enigmáticos arcões graníticos de Salto, a merecerem um estudo mais atento. Das fixas, que normalmente aparecem em grupos, temos várias necrópoles: no Cristelo da Seara (Salto), entre Penedones e Parafita (Vila de Mel), em Penedones, sobre a aldeia, junto à Capela de Santo Amaro (Donões) e perto da Capela da Senhora de Galegos do Cortiço (Cervos) e de Antigo de Arcos. As sepulturas líticas, de que nos cabe agora falar, são de dois tipos: as móveis e as O património histórico-arqueológico do imóveis ou fixas. É difícil afirmar qual dos tipos é mais antigo ou se são coevos. Os concelho de Montalegre conquistou, ao longo romanos incineravam e enterravam os seus mortos. O Imperador era incinerado dos séculos, um lugar de grande importância. numa pira enorme a que estava presa por uma corda uma águia. Quando a corda Analisemos alguns exemplares começando ardia a águia, fugindo ao fumo e aos cheiros dos líquidos combustíveis, subia ao pela arquitectura militar de que é memória Olimpo a entregar a Júpiter a alma do Imperador. Os Lusitanos faziam-se cremar única. também. A partir do imperador Teodósio, caiu em desuso o hábito de cremar os corpos, pelo menos, das figuras públicas ou mais importantes. Porém, segundo a Bibliografia: José Dias Baptista, in Livro Concelho de Lei das Doze Tábuas, os mortos ficavam fora dos muros das cidades: “Hominem Montalegre mortuum in Urbe ne sepelito neve urito.” O rito sepulcral do século VI, foi inovado pelo cânone 18 do 1º Concílio de Braga, em Z61 que já impedia o enterramento nas igrejas: “Aprouve que os corpos dos defuntos por nenhum modo se enterrem dentro da basílica dos santos”. A partir de então apareceram as sepulturas antropomórficas do lado de fora das igrejas. Só as excepções, que sempre as houve, erguiam arcossólios no corpo interior dos templos de que são exemplo o sarcófago de Covas de Barroso e vestígios de um túmulo em Covelo do Gerês.
19 ANTÓNIO CHAVES Dr.António AChaves CIVILIZAÇÃO ROMANA TAMBÉM PASSOU POR CÁ… A cultura romana foi protagonista de uma organização económica e As forças auxiliares eram recrutadas entre os povos social singular, provavelmente a sociedade mais complexa até à conquistados e os seus soldados revelaram-se Revolução Industrial. sempre muito leais. Quando se licenciavam Tratou-se de um povo engenhoso, pragmático e hábil, capaz de obtinham a cidadania romana para eles e para os desenhar espaços adequados para viver confortavelmente. As filhos. Ocupavam também um lugar chave nas cidades eram dotadas dos necessários espaços públicos, redes de colónias de veteranos que espalhavam o modo de esgotos, pontes, aquedutos, espaços lúdicos como termas, circos e vida romano nos novos territórios. Este processo teatros, uma língua, o latim, mãe dos diferentes idiomas europeus resultou muito adequado e fundamental junto das posteriores. Capaz de governar povos bastante diversos, que não novas comunidades nativas, levando-as a assimilar conquistou apenas pela força das armas, como também os convenceu a nova civilização, muito mais complexa que a sua. e assimilou através de um processo que ficou designado por romanização. Roma estabelecia com os povos conquistados uma relação de exploração material e o respetivo controlo militar. Contava para defesa do território com 30 legiões, contando 5.000 homens cada uma delas, juntamente com unidades independentes, conhecidas como auxiliares, de 500 a 1 000 homens. Pela forma como era feito o recrutamento, desempenharam um Antes de adquirir a cidadania romana, já falavam papel importante na unificação do Império. latim e adotavam os nomes latinos ou latinizavam os nomes bárbaros. Roma sabia impressionar os povos onde atuava; vestiam a toga, concretizando um magnífico mecanismo de aculturação. Não foi apenas a sua superioridade militar, o controle físico
20 A CIVILIZAÇÃO ROMANA… Dr. António Chaves que levou com que Roma alcançasse as dimensões do maior império de até então. Pelo contrário, a ocupação militar foi sempre acompanhada de um processo progressivo de assimilação cultural, pela qual a população indígena adaptava as suas formas de vida às dos romanos, sem abandonar as suas caraterísticas naturais. Quando o território do noroeste peninsular entrou em contato com o mundo romano, em finais do século II a.C., Roma estava a converter-se num grande império, a caminho da sua máxima expansão quando terminou a conquista deste território peninsular, por volta do ano 19 a.C. Foi uma etapa chave no desenvolvimento da civilização romana, abandonando a velha forma de governo tradicional desde o seculo VI a.C. a réspublica (governo baseado nas magistraturas eletivas, colegiadas e temporais), para dar lugar a outra realidade política, o Impérium ou o poder de um só homem, em resposta, em boa medida, às dimensões físicas e exigências do extraordinário domínio territorial. Na mudança de era, ao finalizar as grandes guerras de conquista, o Império estendia- se desde os limites do Sahara a Sul, até aos rios Reno e Danúbio no norte e desde o rio Eufrates e as montanhas da Turquia oriental no leste até às costas atlânticas da Península Ibérica, frança e Marrocos no oeste. A partir de então só aumentou os seus domínios com a anexação da Britânia e a região montanhosa da Roménia, a antiga Dácia, espaço de muitos povos de diferentes línguas e formas diferentes de civilização. Os principais meios de romanização foram a difusão da língua latina, a propagação do culto religioso e das formas artísticas, a presença militar, a fundação de núcleos populacionais e o traçado da rede viária. As informações que temos quanto ao caso galaico é muito díspar: há questões que são bem conhecidas e outras que quase ignoramos.
21 A CIVILIZAÇÃO ROMANA… DO FIM DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS INVASÓES BÁRBARAS E AOS ATAQUES DOS VIKINGS Feudo O feudalismo, enquanto sistema político, económico e social, tornou-se dominante na Europa entre o século V e o século XV. A queda do Império romano entrou em decadência, em especial no que se refere ao sistema esclavagista e à invasão do território pelos povos bárbaros, que se contavam por cerca de duas dezenas de etnias diferentes, fortemente pressionados a romper as fronteiras defensivas Dr. António Chaveesstabelecidas por Roma. A palavra FEUDO é de origem germânica e o seu sentido está associado ao direito que alguém dispõe sobre um Esse juramento consistia numa espécie de ritual, bem, predominantemente uma propriedade de terra. envolvendo honra e poder. O senhor ajoelhava-se diante Constituía uma unidade de produção do mundo do suserano, colocava a sua mão na dele e prometia-lhe medieval, onde o proprietário possuía além da terra, ser leal e servi-lo na guerra. riquezas em espécie e tinha o direito de cobrar impostos Os suseranos e os vassalos estavam ligados por diversas obrigações: o vassalo devia serviço militar a seu e taxas no seu território. O Feudo podia ser cedido a um suserano, e este proteção a seu vassalo. Pode-se dizer nobre em troca de obrigações e ou prestação de que não havia quem não fosse vassalo de outro. Na serviços. Por sua vez, o vassalo podia ceder parte das sociedade medieval, o rei não cumpria a função de chefe terras recebidas, a outro nobre, passando a ser, ao de Estado. Apesar de seu papel simbólico, ele tinha mesmo tempo, vassalo do primeiro senhor e suserano poderes apenas em seu próprio feudo. Sua vantagem do segundo. O vassalo, ao receber a terra, jurava era não dever obrigações de vassalo, dentro de seu fidelidade a seu senhor. reino, a outro senhor.
22 A CIVILIZAÇÃO ROMANA… DO FIM DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS INVASÓES BÁRBARAS E AOS ATAQUES DOS VIKINGS DO FIM DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS INVASÓES BÁRBARAS E AOS ATAQUES DOS VIKINGS… A organização do feudoDr. António Chaves A organização dos feudos baseou-se em duas tradições: Uma de origem germânica: o comitato. A outra de origem romana, o colonato. Pelo comitato os senhores da terra, unidos pelos laços de vassalagem, comprometiam-se a ser fiéis e a honrar uns aos outros. No colonato, o proprietário de terras dava proteção e trabalho aos colonos que, em troca, entregavam ao senhor parte de sua produção. O tamanho dos feudos era variável, mas estima-se que os menores mas estima- se que os menores tinham pelo menos 120 ou 150 hectares. Cada feudo compreendia uma ou mais aldeias e as terras cultivadas pelos camponeses, as florestas e as pastagens comuns, a terra pertencente à igreja paroquial e a casa senhorial, que ficava na melhor terra cultivável. Pastos, prados e bosques eram usados em comum. A terra arável era divida em duas partes. Uma, em geral a terça parte do todo, pertencia ao senhor; a outra ficava em poder dos camponeses. Nos feudos plantavam- se principalmente cereais (cevada, trigo, centeio e aveia). Cultivavam-se também favas, ervilhas e uvas. Os instrumentos mais comuns usados no cultivo eram a charrua ou o arado, a enxada, a pá, a foice, a grade e o podão. Nos campos criavam-se carneiros que forneciam a lã; bovinos, que forneciam leite e eram utilizados para puxar carroças e arados; e cavalos, que eram utilizados na guerra e transporte. A economia feudal A economia feudal baseava-se principalmente na agricultura. Existiam moedas na Idade Média, porém eram pouco utilizadas. As trocas de produtos e mercadorias eram comuns na economia feudal. O feudo era a base econômica deste período, pois quem tinha a terra possuía mais poder. O artesanato também era praticado na Idade Média. A produção era baixa, pois as técnicas de trabalho agrícola eram extremamente rudimentares. O arado puxado por bois era muito utilizado na agricultura.
23 JOÃO BARROSO DA FONTE O HOMEM QUE TEIMA EM CONTRARIAR A HISTÓRIA Cada geração tem, num estado de Essas ambições definiram-se num primeiro combate, legítimo, como era então Direito, o dever de transmitir aos uso. Um casal de condes galegos não aceitou, por bem, a herança do rei de Leão, mais novos, aquilo que aprendeu e Afonso VI, que tinha duas filhas. A mais velha, Urraca, era legítima. ajuizou com os mais velhos. A mais nova, Teresa, era filha só pelo pai, e recebeu como herança apenas a Ensinaram, por exemplo, que a gerência do Condado Portucalense. As partilhas régias agravaram-se com a hierarquia social se rege por morte de Afonso VI (em 1109). Pouco tempo depois morre o conde princípios, por usos e costumes e portucalense, pai do jovem Afonso Henriques, quando este tinha dois ou três por leis naturais e leis positivas. anos de idade. D. Teresa, que antes da morte do marido (Conde D. Henrique) Aquelas são fruto da natureza. Estas partilhava com ele as suas ambições de mais poder e autonomia, após a viuvez são decididas pelo poder político de envolveu-se de amores com dois condes galegos, que começaram a interferir nos cada país, reconhecido pela destinos do Condado, o que não agradou ao filho, nem aos barões portucalenses. comunidade internacional. Portugal Daí resultou entrarem inevitavelmente em conflito, que culminou na batalha de é um país europeu que nasceu das S. Mamede. E a vitória do filho foi o primeiro passo para a independência do divergências políticas dentro do condado, naquela que foi «a primeira tarde Portuguesa». reino de Leão. Um polémico, um conhecedor de causas, Barroso da Fonte luta por valores como a honestidade, competência e a lealdade. É o autor de meia centena de títulos, entre os quais “D. Afonso Henriques – Um Rei polémico” e “D. Afonso Henriques 900 anos”, mas a história que escreveu é bem maior. Vem do lar de dez irmãos e traz consigo as cicatrizes da fouce ou do gadanho, Barroso da Fonte apresenta uma das caraterísticas descendentes dos pais: a frontalidade. Transmontano barrosão, é daqueles portugueses que subindo a pulso alcançou o pódio da estabilidade moral e social que distingue os homens de bem. Herdou uma língua e um condado O segundo passo teve a ver com o novo estatuto desse Reino nascente. que foram crescendo, graças às Em guerras sucessivas, Afonso Henriques e os seus seguidores bateram-se e ambições dos seus residentes. consolidavam as fronteiras da nova nação. Entretanto a diplomacia fazia o seu trabalho. Houve outras etapas importantes, sendo de destacar a Batalha de Ourique (1139), contra os cinco reis mouros; e os acordos de Zamora (1143). Em Ourique Afonso Henriques considerou-se rei pela primeira vez. Mas o seu primo, o Imperador da Hispânia Afonso VII, só desde 1143 reconheceu esse tratamento. Finalmente, em 1179, o Papa Alexandre III reconheceu o pleno direito ao título de Rei a D. Afonso Henriques (...) .
MONTALEGRENoticiasde UM Afonso III, foi um dos principais pilares do CONCELHO povoamento de COM Barroso. Outorgou cartas de foral, cartas de foro, aforamentos e MONTALEGREHISTÓRIA outros diplomas. A vertente povoadora do “Bolonhês” é manifestada por UM diferentes cronistas. Meio século após a sua morte, o neto conde D. CONCELHO Pedro escrevia na “Crónica Geral de COM Espanha de 1334”: “ E fez muytas pobraçõoes 1H2I7ST3ÓRIA e levãtou muytos castelos e cercou muytas villas”. 2021 O selo de garantia do foro preservado na Torre do Tombo “Entre quem é…”
correiodominho.pt 23 de Março 2020 25 3 747 ANOS DE HISTÓRIA 9 DE JUNHO DE 1273 O QUE ERAM O DIA DO MUNICIPIO COMEMORA-SE ANUALMENTE A 9 DE OS FORAIS JUNHO DATA DA CONCESSÃO DO RESPECTIVO FORAL… Carta de Foral ou Foral foi um documento real muito utilizado em Portugal, que visava estabelecer Barroso, ou Terras de Barroso, é o nome tradicional da região formada pelos um Concelho e regular a sua administração, deveres concelhos de Montalegre e Boticas. O termo \"Barroso“, conserva o nome de uma e privilégios. A palavra \"foral\" deriva da palavra das antigas \"terras\", circunscrições administrativas e judiciais em que o portuguesa \"foro\", que por sua vez provém da território português estava dividido desde o século XI. latina \"forum\". Possivelmente, o castelo que servia de centro a esta terra era o de São Romão, Os Forais foram concedidos entre os séculos XII e XVI. hoje um sítio desabitado na margem sul da Barragem dos Pisões. A primeira Eram a base da fundação do Município e desse menção incontroversa ao termo Barroso está num documento galego do ano de modo, o acontecimento mais importante da história 1100, que indica o Barroso, servir de termo à “villa de Tourém”. da vila ou da cidade. Era determinante para assegurar as condições de fixação e prosperidade da Antes, em 942, o testamento de São Rosendo, refere que ele possuía um comunidade, assim como o aumento da área rebanho de vacas \"in Barosa\". Esta terra foi incluída nas Inquirições Gerais de cultivada, pela concessão de maiores liberdades e 1220, mas não sobrevivem os textos relativos a esta visita. Já o texto das privilégios aos seus habitantes. Inquirições de 1258 relativo a esta circunscrição sobreviveu, e através dele, se percebem os limites da Terra do Barroso. O Foral tornava um concelho livre do controlo feudal, transferindo o poder para um concelho de Além dos territórios actuais dos concelhos de Boticas e Montalegre, a terra vizinhos - concelho, com a sua própria autonomia incluía as freguesias de Canedo, hoje concelho de Ribeira de Pena e Vilar de municipal. Por conseguinte, a população ficava Vacas, hoje Ruivães, do concelho de Vieira do Minho. directa e exclusivamente sob o domínio e jurisdição da Coroa, excluindo o senhor feudal da hierarquia Na Taxatio de 1320 - documento conhecido como Catálogo das Igrejas de 1319- do poder. O Foral garantia terras públicas para o 20 – o arcediagado do Barroso incluía ainda Guilhofrei, no concelho de Vieira uso da comunidade, regulava impostos, pedágios e do Minho e Santiago de Serzedo, de localização desconhecida. A 9 Junho de multas e estabelecia direitos de protecção e deveres 1273, D.Afonso III, em carta de foral, funda então a vila de Montalegre e militares dentro do serviço real. determina erguer-se o respectivo castelo. Directamente associada à existência de um Foral A vila, tornou-se assim a cabeça da Terra de Barroso em detrimento do castelo estava o pelourinho. Era erguido na praça principal de São Romão. Este foral foi depois modificado por D. Dinis em 1289 e mais da vila ou cidade quando o Foral era concedido e tarde por D. Afonso IV em 1340 e por D. João II em1491. Em 1515, D. Manuel simbolizava o poder e autoridade municipais, uma II converteu-o em foral novo. No reinado de D. João I e na sequência da Guerra vez que era junto ao pelourinho que se executavam da Independência, a Terra de Barroso foi doada a D. Nuno Álvares Pereira e sentenças judiciais de crimes públicos que depois dele passou para a Casa de Bragança. consistissem em castigos físicos. Já na época contemporânea, em 6 de Novembro de 1836, o concelho de Montalegre foi dividido. Criou-se o novo município de Boticas, perdeu neste Os forais entraram em decadência no século XV, processo para o município de Vieira do Minho, o município de Vilar de Vacas, tendo sido exigida a sua reforma pelos procuradores então sediado em Ruivães, e também o Couto Misto de Santiago de Rubiás, dos concelhos, o que viria a acontecer no reinado de próximo de Tourém. D. Manuel I de Portugal. Foram extintos por Mouzinho da Silveira em 1832. Hoje, uma coisa se tem por garantida!... Ninguém fica indiferente a BARROSO. Eu que calcorreio as suas vilas, aldeias e lugares, desde a “longínqua” Fafião, passando por Salto e Tourém, até ao extremo oposto de Santo André há algumas boas décadas, ponho-me por vezes a pensar qual será a sensação de alguém que entre pela primeira vez as portas desta belíssima “república” e dê de caras e de forma inesperada, com o casario, as ruas, ou os seus poucos mas resistentes e acolhedores habitantes. continua na página seguinte
correiodominho.pt 23 de Março 2020 26 3 747 ANOS DE HISTÓRIA 9 DE JUNHO DE 1273 Uma coisa temos como certa: Barroso moldou o seu destino, a Foi com essas pedras que ele se defendeu, construiu as suas sua forma e o carácter das suas gentes. O destino, porque terra humildes habitações, paços senhoriais ou vivendas burguesas, fronteiriça em tempos de instabilidades raianas e disputas pavimentou as ruas. albergou santos em igrejas e conventos e territoriais, se erigiu como primeiro obstáculo à impetuosidade deu guarida aos militares que o defendiam das invasões. Nessas guerreira de estranhos. A sua gente, porque sofreu ataques, pedras deixaram os mestres canteiros as suas identitárias assédios, bombardeamentos e destruição, é o que tinha que ser – marcas e os pedreiros as suas fortes e certeiras cinzeladas. dura como pedra, resistente como o aço, mas também sabedora dos benefícios da paz, o que a leva a receber com genuína Hoje não se ouve o pedreiro a percutir a pedra, nem o bulício dos simpatia quem quer que venha por bem. Barroso não tem militares em serviço ou de licença, e são poucas as crianças que monumentos, nem precisa!... Barroso é só por si um verdadeiro alegram e dão vida às ruas cada vez mais desertas. Mas os que monumento. por cá andam, os que cá moram e os que como eu não abandonam a “terra”, têm a firme convicção de que o futuro de O granito que deu forma às suas “muralhas”, aos velhos quartéis Barroso terá que ser ainda mais risonho. de outrora, às igrejas e ao casario, foi arrancado às encostas que Sejamos justos: aquilo que tem para oferecer é único. Tudo que descem até ao Cávado ou ao Rabagão, os rios que serpenteiam os ficou dito, é ímpar!... A arquitectura moldada pelo Larouco e pelo termos de toda a região. Gerês, tem aqui uma das suas pérolas mais brilhantes e É o granito omnipresente que consubstancia, torna concreta e marcantes em comparação com outras que existem por essa Europa fora. palpável a memória do deste povo.
27 AS TERRAS DO BARROSO Afonso Henriques é o responsável - PORTUGAL COMEÇA AQUI… Em 1091, a princesa Urraca, filha do rei Afonso VI, casava com pela criação da primeira nação Raimundo de Borgonha, filho de Guilherme I de Borgonha, que europeia independente... assistira como cruzado para lutar contra os almorávidas. As vitórias militares do borgonhês, e a altura das suas relações familiares na Assim, embora o Condado Portucalense continuasse como parte integral da Europa propiciaram a conveniência do enlace matrimonial, ao que Galiza, parava na prática de render vassalagem a Raimundo de Borgonha e Afonso VI outorgou um importante dote - o governo das terras Urraca, para prestar vassalagem directamente ao rei de Leão, Afonso VI, galegas, desde o Cabo Ortegal até Coimbra, com o título de condes. provocando o descontentamento entre a nobreza galega. Com a morte de Dois anos mais tarde, em 1093, outro cruzado francês Henrique de Henrique de Borgonha em 1112, sucede-lhe a viúva Teresa, no governo dos Borgonha, neto do duque Roberto I, casava com a filha ainda menor dois condados durante a menoridade de seu filho Afonso Henriques. de Afonso VI, Teresa de Leão, recebendo o governo do Condado de Desenhavam-se então duas tendências: uma de achegamento à politica Portucale e Coimbra, que havia sido fundado em 868 pelo nobre galega e do seu novo rei, Afonso Raimundes, e outra de manutenção de um galego Vimara Peres, e que compreendia as terras situadas entre o forte poder condal com aspirações à proclamação real do herdeiro condal. Minho e Douro. Arrumava-se, assim, uma complexa rede de relações feudais. Por um A ascensão de Compostela à condição metropolitana em detrimento da lado o rei Afonso VI, que governava toda a Galiza e Toledo, recebia histórica Braga e a viragem política de Teresa a norte do Minho, vassalagem feudal de Raimundo e Urraca que governavam as terras materializada na sua ligação amorosa ao nobre galego Fernão Perez de Trava, galegas de Ortegal até Coimbra e estes à sua vez, recebiam-na de aliado do rei Afonso VII de Leão e Castela, precipitariam os acontecimentos Teresa e Henrique de Borgonha. As constantes derrotas sofridas às no Condado que viria a tornar-se no reino de Portugal. O arcebispo de Braga - mãos dos almorávidas e o descontentamento crescente do rei com a privado das relíquias de São Frutuoso, por Gelmirez em 1102 - e os grandes política administrativa do seu genro Raimundo de Borgonha, aristocratas portucalenses, interessados em adquirir maior poder territorial - levaram Afonso VI a privar Urraca e Raimundo de Borgonha dos foram os principais valedores das pretensões reais de Afonso Henriques. direitos feudais que possuíam sobre Portucale, equiparando o Ante tal situação, o rei galego Afonso VII avança sobre Portucale, sitia-o em domínio destes ao de Henrique e Teresa. Guimarães e exige um juramento de vassalagem, finalmente comunicada por Egas Moniz. Meses mais tarde, perante o incumprimento de Afonso Henriques, as tropas de Teresa e Fernán Pérez de Trava penetram em Portucale e trava-se a batalha de São Mamede em 1128, na qual Afonso Henriques e as tropas portucalenses triunfam. A morte de Teresa em 1130 e a batalha de Ourique em 1139 consolidam enfim o poder de Afonso Henriques e a independência efectiva do reino de Portugal. Tendo formado parte do território da Galécia desde o Império Romano e tendo albergado mesmo a capital do reino em Braga durante muito tempo, o novo reino desenvolveria, doravante o seu próprio perfil político, precisamente na medida em que se diferenciava da monarquia galego-leonesa, cujas cabeças reitoras radicavam em Leão e Compostela.
28 AS TERRAS DO BARROSO - PORTUGAL COMEÇA AQUI… (Continuação) Região de antigas origens e de fortes tradições, as Terras de Barroso influenciaram a vida e obra de múltiplos escritores portugueses, como Ferreira de Castro, Miguel Torga, Bento da Cruz e mais recentemente Lourenço Fontes e Barroso da Fonte, entre muitos outros… O termo \"Barroso\" conserva ainda hoje o nome de uma das antigas \"terras\", região, motivo porque o Rei D. Afonso III, concedeu às circunscrições administrativas e judiciais em que o território português estava populações «todos os direitos e rendas reais, com excepção dividido desde o século XI. Possivelmente, o castelo que servia de centro a esta dos direitos de hoste, moeda e padroado das igrejas, que terra era o de São Romão, hoje um sítio desabitado na margem Sul da Barragem reservava para a corôa». Impunha ao Alcaide, «...o tributo anual do Rabagão. A primeira menção incontroversa ao termo Barroso está num de 3.500 morabitinos», que este deveria cobrar, junto das documento galego de 1100 que indica o Barroso servir de termo à villa de populações das diversas aldeias que tutelava e pagar à corôa, Tourém. Antes, em 942, o testamento de São Rosendo refere que ele possuía um em três prestações: 1 de Outubro, 1 de Fevereiro e 1 de Junho. A falta de pontualidade deste pagamento, seria penalizada rebanho de vacas \"in Barosa\". Esta terra foi incluída nas Inquirições Gerais de com uma «multa» de 10 morabitinos, por cada dia de atraso. 1220 mas não sobrevivem os textos relativos a esta visita. Já o texto das Com a dita carta de foral, foram ainda proíbidos todos os Inquirições de 1258 relativo a esta circunscrição sobreviveu e através dele se abusos que alguns fidalgos da «Cabeça», exerciam sobre os percebem os limites da Terra do Barroso. Além dos territórios actuais dos aldeões, designadamente, o uso da força que muitas vezes concelhos de Boticas e Montalegre, a terra incluía as freguesias de Canedo, hoje utilizavam para extorquir determinados bens de que concelho de Ribeira de Pena, e Vilar de Vacas – hoje Ruivães, no concelho de necessitavam, bem como a sua aquisição sem a necessária Vieira do Minho. Na Taxatio de 1320 - documento conhecido como Catálogo das contrapartida de pagamento. Só que tal «politica» não Igrejas de 1319-20 -, o arcediagado do Barroso incluía ainda Guilhofrei, no resultou. A intensificação do povoamento e o desenvolvimento concelho de Vieira do Minho, e Santiago de Serzedo, de localização desconhecida. agrícola pretendidos, não tiveram sucesso, muita gente A 9 Junho de 1273, D. Afonso III em carta de foral fundou a vila de Montalegre e morreu, em consequência da fome e de uma grave epidemia ergueu o respectivo castelo. Montalegre tornou-se assim a cabeça da Terra de que na época por ali passou e procurando fugir à doença e à Barroso em detrimento do castelo de São Romão. Este foral foi depois modificado por D. Dinis em 1289, por D. Afonso IV em 1340, e por D.João II em 1491. Em 1515, D. Manuel I converteu-o em foral novo. No reinado de D. João I e na fome, alguns povoadores saíram das suas terras e procuraram sequência da Guerra da Independência, a Terra de Barroso foi doada a Nuno novas paragens, em busca de melhores meios de subsistência. Álvares Pereira e por ele passou à Casa de Bragança. Em 6 de Novembro de 1836, Outros ainda fugiram às acções de violência e extorção de o concelho de Montalegre foi dividido, criando-se o novo município de Boticas e bens, de que eram vitimas por parte de alguns fidalgos da perdendo-se no processo, para o município de Vieira do Minho, o município de «Cabeça». Mais tarde, após tomar conhecimento de todos estes Vilar de Vacas - sediado em Ruivães, e também, o Couto Misto de Santiago de factos, o rei D. Dinis, encarregou então, o clérigo Pedro Anes, Rubiás – Tourém. Depois de tudo quanto ficou dito, é pacífico, que a região do de proceder ao estudo da situação e encontrar as necessárias Barroso já existia, quando do reconhecimento do Reino, em 1143. A partir desta soluções, que permitissem inverter os dados referidos, tendo data, sabe-se que administrativamente dependia do Alcaide de Montalegre, a confirmado o Foral que havia siso conferido por seu pai em quem eram pagos parte dos tributos da terra, que era pertença da corôa. Tais 1289, onde se estabelecia uma nova divisão dos terrenos, para tributos, eram devidos, pelo facto, daquela que hoje é sede de concelho, ser ao serem entregues aos povoadores, cada um dos quais, ficaria tempo e no seguimento da organização administrativa, que vinha do Reino de obrigado a pagar 1 maravedi de foro. Leão, aquilo a que se chamava «Cabeça da Terra de Barroso», onde funcionava e Se para a divisão efectuada, não houvesse os necessários era organizada toda a administração civil, judicial e militar. A partir de 1273, as povoadores, cada um poderia adquirir mais de um terreno, regras tributárias dos habitantes de Barroso, foram significativamente alteradas. pagando 1 maravedi por cada unidade a mais que possuísse. O Através da carta de foral de 1273, atribuída a Montalegre, como «Cabeça das periodo mínimo de aforamento era de 3 anos e ao fim deste Terras de Barroso», cuja motivação principal, era a intensificação do povoamento tempo, o foreiro poderia continuar na posse das terras, aliená- e desenvolvimento agricola da las, dá-las ou vendê-las, mas sempre (Continua)
29 AS TERRAS DO BARROSO - PORTUGAL COMEÇA AQUI… (Continuação) Entre o Minho e o nordeste Transmontano, envolvido a norte pelas serras do Gerês e do Larouco, a leste por Chaves , a sueste por Boticas, a sul por Cabeceirasde Basto, a sudoeste por Vieira do Minho e a oeste por Terras de Bouro , encontramos o “Reino Maravilhoso”, onde se situam duas vilas e vinte e cinco freguesias aglutinadoras de cento e trinta e cinco lugares. com a condição, de que o novo possuidor pagasse o respectivo No tempo em que reinou D. Dinis, existiam já vinte e três das «imposto». Nos casos de venda, alienação ou doação das terras, os actuais vinte e cinco freguesias, oito então designadas por agricultores só seriam obrigados a entregá-las aos novos proprietários, paróquias do concelho de Montalegre. No âmbito eclesiástico, depois de efectuadas as colheitas, pagando-lhes no entanto as rendas, como no administrativo, estava esta região perfeitamente que os «homens bons» da povoação julgassem ser justas. A partir daqui organizada. Os rendimentos dos povoados no século XIV, e tendo em conta o número de forais ou cartas reais de foro, referentes à comparados com o estado actual das paróquias de Barroso, região do Alto-Barroso, poder-se-à concluir, que como consequência das leva-nos a concluir, que algumas das actuais freguesias, medidas levadas a cabo, pelo rei D. Dinis, ali tenha ocorrido um progrediram com o tempo, enquanto que relativamente a significativo desenvolvimento agricola. Os forais falam frequentemente outras, se deu precisamente o inverso. A título de exemplo em «casais» (bens), que se desdobram em dois, três ou mais, e terras veja-se o caso de Montalegre: Apesar de administrativa e incultas, transformadas em propriedades produtivas. A multiplicação de militarmente ser «Cabeça da Terra de Barroso», no aspecto terras cultivadas, aumentando a rentabilidade agricola para as económico, era inferior a Mourilhe, Viade, Salto, Cervos e populações foreiras, constituía assim, apreciável fonte de receita para os Mosteiro das Júnias, estando ao nível de Cabril, Cambeses e Alcaides, que na ausência de moeda, viam muitas vezes os seus tributos Ponteira. serem pagos em géneros.
MONTALEGRE | UM CONCELHO COM HISTÓRIA O Património Construído A Casa Barrosã
31 UM CONCELHO COM HISTÓRIA Tudo aquilo que o Homem Barrosão acrescenta à natureza é Cultura, ou seja, toda a obra do Homem é cultural. Pode mesmo dizer-se que onde existe a mão do Homem existe, forçosamente cultura. Contudo, os homens não acrescentam coisas à Natureza da mesma maneira!... Cada grupo tem a sua forma peculiar de o fazer. A variedade das condutas humanas é pautada, essencialmente, por padrões ou modelos, tendo como sustentáculo o sócio-cultural. Padrões que assumem toda uma dimensão comunicacional, onde cada homem se identifica, se conhece e reconhece nas suas formas de expressão, de adaptação e de transformação do meio circundante às suas necessidades e condicionalismos. Tudo factos que lhe permitem desenvolver as suas potencialidades e a sua própria individualidade. Nesta edição, iremos então falar do património construído, transcrevendo nas páginas seguintes os ensinamentos do Mestre vilapontense, José Dias Baptista, no livro Montalegre, onde nos fez uma resenha da casa barrosã. Das casas antigas construídas em pedra arrancada às serranias do território, de interiores sombrios, paredes e tectos escuras como breu, mas sempre acolhedoras e de lareiras acesas grande parte do ano para cozinhar e as aquecer. Casas onde de Novembro até Março se penduram por cima das ditas lareiras grandes quantidades de porco salgado e enchidos para serem fumados. É também deste meio, que o homem barrosão extrai parte das necessidades para a sua subsistência e que vão desde a dita casa ao vestuário aí produzido, passando pelo alimento e utensílios que ao longo do tempo foram aí construídos pelas mãos de gente habilidosa, desde peças de vestuário a instrumentos gratuitos, inseridos no ciclo das trocas de favores. Não é por acaso que o Homem é o único ser na Terra com capacidade de criar, adoptar, adaptar e modificar objectos, ideias, crenças ou costumes e o barrosão não foge à regra!... Nele existe uma componente da cultura e de criador em função das circunstâncias que o envolvem. O natural foi-se assim aliando ao cultural, procurando o próprio equilíbrio comunitário e social
32 A Casa Barrosã… JoséDiasBaptista É significativo que a povoação se aglomere e concentre sobre o Outeiro, Oiteiro, Eiteiro, Iteiro, que tudo é um e significa o A habitação barrosã actual vai perdendo dia a dia as sítio do altarium, o altar. Muitas das actuais povoações nunca características da nossa arquitectura tradicional. A base dessas mudaram de sítio, nasceram junto do altar e lá continuam, construções era o granito local que agora vai sendo substituído bem integradas na paisagem. por outros materiais, conquanto haja exemplos abundantes A casa do lavrador tem, normalmente rés-do-chão e primeiro inspirados nos arquétipos da região. Por via da regra, tais andar. N o rés-do-chão são as cortes dos animais (e às vezes, a exemplos são igualmente incaracterísticos porque não passam cozinha, e no primeiro andar os sobrados e a sala. de péssima imitação das obras de brasileiros de trona-viagem São poucas as que exibem uma varanda para a rua. do século XIX, com dois e três andares e até águas furtadas. Geralmente têm uma porta carral para o pátio interior. A aplicação de novos materiais verifica-se também nos Em consequência desta “evolução/revolução” a arquitectura canastros, capelas, abrigos para o gado e até nos caminhos. A moderna vem desfigurando a fisionomia das nossas nossa casa integrava uma povoação aglomerada à roda dos povoações com o emprego de materiais industrializados, lugares de culto e não longe de água, na linha dos hábitos ancestrais dos castrejos nossos antepassados. Aliás, o coloridos e berrantes. povoamento barrosão é, maioritariamente, não só semelhante como está assente sobre os castros de há três mil anos.
33 A Casa Barrosã… JoséDiasBaptista Esta mudança anti-tradicional (e, não raro, anti - natural) deve-se a motivos de índole cultural provocados por cinquenta anos de obscurantismo; deve-se às técnicas agressivas de marketing e publicidade e ainda à rapidez da construção actual. Nos alinhamentos contíguos uma escada interior sobe ao primeiro andar em cujos compartimentos se entra através da varanda. Algumas, não obstante, servem-se de escaleiras exteriores em granito. O pátio ou curral é quase sempre fechado, com porta ou cancela para a horta ou cortinha. N o seu interior há as portas das cortes, da dispensa e, por vezes, do palheiro e tulhão. O granito de cada zona (a carta geológica refere como principais tipos o de Montalegre - Pondras-Borralha, o de Vila da Ponte, o de Parada, o de Pisões, o de Telhado, e o granitoide de Seselhe) era o material de construção por excelência. Os telhados tanto podiam e podem ser de duas como de quatro águas. Mais de duas, geralmente com guarda-ventos. Hoje a cobertura é de telha; aliás, o colmo, no acto das debulhas que hoje se praticam, não sai em tão boas condições de ser utilizado como era antigamente. A cozinha é a divisão primordial da casa barrosã. Ali se junta toda a família para comer, falar e fazer serão; ali se cura o presunto e o fumeiro; ali se erguia o caniço. As casas mais abastadas tinham ali o seu forno, ao lado da lareira. Esta recebe o fogo entre dois escanos, sobre um dos quais rodava a burra ou com a caldeira ou potes para irem ao fogo. Contra a parrogueira juntava-se a cinza de carvalho para fazer a barrela. Entre a borralheira e a parrogueira ficava o trasfogueiro de ferro, pedra ou madeira onde poisavam as achas a arder. Do escano, ou mesmo da parede, podia pender uma mesa para se comer no Inverno. Esta parte da cozinha é, muitas vezes, coberta por uma saia que se destinava a encaminhar o fumo para os enchidos (e, muitos anos antes, para o caniço das castanhas) e, por fim, para a chaminé exterior.
34 JoséDiasBaptista A Aldeia… O concelho de Montalegre é constituído por 25 freguesias e tantes distribuem-se à proporção das ventosas mais estas por mais de 130 lugares. Na generalidade são activas: quatro quintos pelo vale do Tejo e pelo litoral e povoações pequenas, cada vez mais pequenas – metade das o restante quinto, que são dois milhões de habitantes, casas recuperadas ou novas e outra metade em ruínas. foi mandado aos quintos por esses ermos sem fim. São Grassa entre nós a desertificação devido a uma verdadeiros emigrantes dentro da sua própria casa e na administração pública monarquicamente centralizada, terra que eles fizeram e fazem ainda.Moram em casas desde há novecentos anos, em que a distribuição da riqueza de granito, algumas muito bonitas, mas a falta de se faz à medida da gula insaciável da Foz do Tejo que tudo educação estética e de outras educações, leva alguns a arrebanha, que tudo leva, que tudo consome. “Eles comem substituir os seus materiais por outros mais brilhantes tudo e não deixam nada!” Figurativamente Portugal é um e coloridos mas menos duradoiros e eficazes. polvo especial, de pequeníssima cabeça (e sem cérebro) e um Há várias povoações com núcleos de construções capelo enorme que chega ao Porto; longuíssimos braços tradicionais, bem conservados, muitíssimo belos e carregados de duas filas de ventosas que se estendem pelo dignos de ajuda para a melhor preservação do território a partir do litoral: um vai a Caminha, outro a Vila património construído. Real ao longo do Douro por causa do vinho fino; o terceiro Estão neste caso Fafião, Pincães, Salto (diversos lugares vai a Viseu devido aos queijos da Serra; o quarto à Cova da de freguesia) Currais, Vila da Ponte, Viade, Carvalhais, Beira; o quinto sobe pelo Tejo até às Portas do Ródão; o sexto Cervos, Donões, Gralhas, Tourém, Pitões, Parada e entra pelo Alentejo até Évora; o sétimo desce ao Algarve e o Sirvoselo. Em todas elas há núcleos construídos dignos último segue o Vale do Sado para admirar os golfinhos de integrar os roteiros de visita ao património que o descendo o rio. Demograficamente, os dez milhões de habi - Ecomuseu defende.
35 A Aldeia… JoséDiasBaptista As casas podem e devem ser divididas historicamente em dois grupos: os lavradores e os cabaneiros. Tais designações vêm dos alvores da fundação nacional: os Herdadores e os Cabaneiros. Cumpre esclarecer que o nosso cabaneiro não é o servo da gleba, não é o “homem” adstrito à propriedade como aconteceu noutras regiões. Esses eram homens/ força de trabalho mas os nossos sempre foram pessoas! Nalguns locais foram considerados coisas diferentes: “Nesses seis casais moram vinte e um homens e três cabaneiros”. E também: “Há ai quarenta e sete casais e três cabaneiros”- como explicam as Inquirições de D. Afonso III, de 17Z8. Assim se contrapunha o cabaneiro ao homem e ao casal – o que, entre nós, não acontecia. O nosso cabaneiro era homem livre, pessoa civil que possuía casa e horta conquanto não tivesse gados para contar: vacas, cabras ou ovelhas. Como hoje, o povo barrosão que não possuía bens de raiz como os herdadores, servia quem queria e se não tinha mais independência era porque não eram muitos os terrenos produtivos. Escravos eram apenas os mouros cativos na guerra que não conseguiam remir-se. A liberdade era entre nós um princípio geral. Estas ideias ajudam a compreender o tipo construtivo das nossas aldeias, das próprias habitações e restantes edifícios. Assim a casa do lavrador costuma ter porta carral, pátio interior e primeiro piso com sobrados e sala, onde dormem os moradores e recebem as visitas. Não obstante, o compartimento mais importante é a cozinha. Aí se come, se passa a maior parte do tempo de ócios e se fazem os serões. Tem dispensa onde existe a salgadeira, os produtos alimentares secos (farinhas, feijões, batatas, enchidos, presuntos e o galheiro do pão) e outros alimentos.
36 A Aldeia… JoséDiasBaptista Já a casa do cabaneiro é muito mais humilde. Fica muitas vezes pegada à do lavrador ou das suas cortes e combarros. Geralmente é térrea e tem apenas dois ou três (e ás vezes apenas um) compartimentos: uma cozinha onde guarda o pouco que tem, aí come, dorme e arruma a lenha em que se empoleiram meia dúzia de galinhas que ganham a vida nas ruas e valetas. No tugúrio ao lado desta quadra dorme o seu porco. Claro que hoje as mudanças aceleram ao ritmo da vida. Os cabaneiros emigraram, os lavradores mecanizaram as suas explorações e o ambiente habitacional e patrimonial mudou radicalmente. Uma das construções sagradas da nossa terra era o Forno do Povo mas o seu uso tradicional já não existe. Pelo mesmo caminho de inexorável abandono irão outras construções igualmente sagradas como o Combarro, o Tulhão, a Eira e o Moinho. E que dizer das profissões tradicionais? Onde estão os nossos canteiros, os soqueiros, os croceiros, os ferreiros, os ferradores, os capadores, os colmadores, os seitoiras, os atadores, os amoladores, as costureiras, os albardeiros, os homens de arte que faziam molhelhas, engaços, malhos, sertãs e trempes; os carpinteiros que faziam carros de bois, grades, arados, rocas, espadelas, maços, dobadouras, berços e caixões; as parteiras, as mulheres de virtude, etc. etc? Tudo vai desaparecendo a passos de gigante no rodar veloz dos tempos actuais. Bibliografia: José Dias Baptista –In Livro Montalegre)
37 As Aldeias de Barroso “vistas por Bento da Cruz” e recriadas por António Chaves Casas tradicionais de Barroso… Por: Dr. António Chaves Economista, Escritor e Jornalista A aldeia é provavelmente a forma mais resistente de povoamento humano. Bento da Cruz descreveu a aldeia do seu tempo de criança; como era a vida de então - as gentes, a terra, os bichos, a paisagem. Dela deixou-nos retratos como estes: A aldeia de Peireses não era nada daquilo que é hoje. As casas eram todas cobertas de colmo e a rua, uma calçada irregular de grandes pedras sobre as quais saltitávamos no Inverno e esborrachávamos os dedos dos pés no Verão, porque andávamos descalços. Recordo-me da fonte de mergulho onde toda a gente se abastecia, do rego de água, rua abaixo, a que chamavam água de rega, do estrépito dos tamancos, do boi do De porcos, cães, gado, vozes, gritos, povo, da vezeira da rês, do forno comunitário e dos mendigos que nele pernoitavam, latidos, orneios. Era um mundo. Ao fim dos dias de festa e entreajuda, dos trabalhos das rezas, das crenças e dos medos. da tarde o boi do povo desceu da lama a Medos às víboras, aos cães danados, aos lobos, às bruxas, às almas do outro mundo. ornear e limpou a rua de animais e Mau grado medos e perigos, guardo da minha infância uma sensação de segurança rapazio. Passavam rua abaixo, rua que nunca mais gozei, provavelmente a forma mais resistente de povoamento acima, vacas de olhar meigo e passo humano. Bento da Cruz descreveu a aldeia do seu tempo de criança; como era a vida lento, rebanhos envoltos na música dos de então - as gentes, a terra, os bichos, a paisagem. guizos, belas formas de mulher A partir dos três, quatro anos, o mundo era nosso. Um mundo pequeno, primitivo, escondidas e deformadas por trajes tacanho, duro, mas nosso. Hoje parece um deserto. Não se vê lá ninguém. No meu mal ajustados, homens de expressão tempo de criança a qualquer hora do dia, a rua fervilhava de crianças, de galinhas, fechada, remoendo problemas;
38 As Aldeias de Barroso “vistas por Bento da Cruz” e recriadas por António Chaves Casas tradicionais de Barroso… Por: Dr. António Chaves As cozinhas dos lavradores Economista, Escritor e Jornalista Por isso a cozinha era o centro de toda a vida familiar. Aí comiam todos do mesmo prato, à fogueira, na mesa de vai e vem; aí se deitavam aos dois e três, garotos a correr e a gritar. integravam-se conforme o agregado e o número de camas distribuídas pelos quatro cantos da casa, separadas umas das outras pelas arcas do grão, pelo tear, pela moreia da perfeitamente na paisagem. lenha. A conversar adormeciam, a conversar acordavam. Havia mais convívio, maior união entre a família, quase sempre numerosa. Em Barroso mantém-se, Hoje o Barroso está a ser desfigurado por entre homens e animais, uma solidariedade que remonta ao Paraíso de Adão. várias construções aberrantes, dir-se-ia contranatura, obra de loucos. Dizem os se deitavam aos dois e três, conforme o agregado e o número de camas velhos que o clima se modificou. Que é distribuídas pelos quatro cantos da casa, separadas umas das outras pelas arcas hoje mais quente. É possível que sim. Mas do grão, pelo tear, pela moreia da lenha. A conversar adormeciam, a conversar pese embora aos apologistas de albufeiras acordavam. Havia mais convívio, maior união entre a família, quase sempre e florestas, o Barroso continua a ser a numerosa. Em Barroso mantém-se, entre homens e animais, uma solidariedade região montanhosa e fria que sempre foi. que remonta ao Paraíso de Adão. Uma cozinha de Gostofrio é uma arca de Noé: os cães e os gatos passam a vida É insensato pretender transplantar para cá modelos copiados do litoral mediterrânico. acaçapados à lareira ou no colo dos amos, dos quais recebem, conforme os Lá nisso, como em muitas outras coisas, os nossos avós tinham mais juízo. Construíam ventos, afagos, pontapés e lambiscos; as galinhas levam o dia a entrar e a sair, a casas de paredes duplas, por fora perpianho, por dentro pedra miúda assente bicar o cibo nos escanos, nos potes, nas camas, a esgaravatar a cinza e o lixo, e, à em barro, cozinhas amplas, janelas pequenas protegidas por vidraças de noite, empoleiram-se atrás da porta ao bafo do borralho; os coelhos entocam-se guilhotina e grossas portadas interiores, soalhos de castanho estanque, forro de debaixo da lenha ou da masseira a daí fazem incursões a todos os recantos do carvalho recapeado, beirais de colmo. Uma boa lareira e não havia frio, chuva. casebre e a qualquer hora; os recos criados ao caco, num caixote, muito perto do lume, porque são friorentos, fazem-se, com a idade, zaragateiros temíveis,
39 As Aldeias de Barroso “vistas por Bento da Cruz” e recriadas por António Chaves Casas tradicionais de Barroso… Por: Dr. António Chaves Ela estava a chorar pelo irmão que se ia embora. Meu pai tinha apenas a sorte que lhe coube da parte se seu pai, já falecido, Economista, Escritor e Jornalista porque a minha avó ainda era viva. E a casa onde vivíamos nem sequer era dele. Era de um amigo dele, que tinha ido para o espatifando trastes e canelas à dentada; os cabritos chegadiços, Brasil e a deixou ao seu cuidado para tomar conta dela. Não ou mesmo aleitados a biberão, não largam as pernas das pagava nada. A casa era pobrezita. O meu pai começou então a pessoas com més e turras; e o burro e a vaca espreitam por construir a casa dele. Justou os artífices, os serrinhas, os cima da trancada que os pedra do lar. Isto nas casas térreas. Nas pedreiros. Foram justados a molhado. A minha mãe tinha de de sobrado, as vacas e os suínos ficam por baixo. cozinhar para aquela gente toda. Para a família e para os operários. Eles metiam-se comigo que, claro, ainda era garoto. Eu posso estar a exagerar, mas estou convencido que a partir dos quatro, cinco anos, já andava com as vacas. Tenho tudo isso escrito. Lembro-me de quando chovia muito, e o meu pai não podia fazer mais nada, ia ele com as vacas. Mas encarregava-me de ir tornar a água aos lameiros. Tornar a água é desviar a água para os campos. Onde não houvesse água aviada, quem chegasse tornava-a para o lameiro dele. Depois vinha outro e tornava-a para o lameiro dele. De maneira que andavam naquela guerra. De cima, o lavrador segue, de ouvido atento, a regularidade ou O meu pai dizia-me para ir tornar a água a Ferreiros, que era irregularidade dos guizos, da respiração, do remoer, do escape para aí a um quilómetro da aldeia. Eu punha-me na brincadeira dos gases digestivos. A vaquinha merece ao barrosão mais com os outros e esquecia-me. O meu pai é que tinha de fazer atenções do que a própria mulher. E não admira: ela é a prima- tudo. Fazia uns socos para a família de cabedal e pau de dona de uma economia agro-pastoril coeva do rei Vamba. vidoeiro. Nos socos durava mais o cabedal que a madeira. Como Adoece ou morre a vaca, desfaz-se o conjunto, ou, para usar a o pau se gastasse mais depressa era necessário guiá-los como linguagem deles: arde a tenda. Desta interdependência nascem diziam. amizades tão fortes que as pessoas choram quando se vêem Meu pai tinha um banco onde carpintava à noite, porque obrigadas a vender um animal doméstico. De par com os textos durante o dia tinha que trabalhar na lavoura. Eu sentava-me literários, há uma outra dimensão que, pelo contexto mais nesse banco como se fosse um cavalo e cantarolava em cima próximo e informal revela outra abertura de espírito e um outro dele. Depois lembrava-me: - tenho de ir tornar a água a acesso íntimo e envolvente à figura humana, que está por detrás Ferreiros. A minha mãe dizia-me: - Não vás lá, que chove muito. do escritor. Escolhemos alguns exemplos que revelam essa À noite o meu pai perguntava-me: «Foste tornar a água a frescura natural e pendor de espírito, quando se refere à sua Ferreiros?» -Não senhor. Pumba, aquecia-me o pêlo. entrada no mundo dos vivos: «A primeira lembrança que tenho é da morte da minha avó paterna. Eu tinha três anos. Nasci em Minha mãe dizia: 1925 e minha avó faleceu em 1928. Recordo-me de estar ao colo do meu pai, que estava a chorar. Outra recordação desses meus - Coitadinho, nem mentir sabe!...» três anos é a partida de meu tio e padrinho, com o mesmo nome que o meu, quando foi para os Estados Unidos. Foi logo a seguir António Chaves à morte da mãe. O meu pai e outro meu tio foram levar-lhe as malas à aldeia de Gralhós, onde apanhava a camioneta. Eu via tudo a chorar. Até tenho uma imagem engraçada. O meu padrinho voltou atrás e subiu ao sobrado, a despedir-se de uma tia minha. Depois ela veio à janela. Chorava. Como eu estava habituado a ver as pessoas a chorar quando lhe batiam, disse cá para mim: - Que data apanhaste!...
O CONCELHO E AS SUAS GENTES TERRA FRIA COM ALMA QUENTE
41 A magia do Parque Nacional da Peneda-Gerês, um piquenique em Montalegre e um périplo pelos restaurantes de Barroso fazem as famílias mais felizes Montalegre, vila e sede do concelho, ocupa o coração do planalto nosso rei D. Afonso IV a Afonso XI de Castela. Conhece-se barrosão, em lugar sobranceiro ao rio Cavado e à serra do Larouco, que uma versão posterior do foral, emitida pelo próprio D. lhe domina as vistas. Está a cerca de mil metros de altitude, pelo que o Afonso IV em 1340 e renovado por D. João II, em 1491. seu clima é muito frio e rigoroso no Inverno, sendo em contrapartida Com D. Manuel, em 1515, a vila teve novo foral, o qual bastante ameno no verão. Os historiadores não sabem ao certo desde acabou com antigos privilégios nobiliárquicos e abriu o quando esta terra é habitada. Julga-se porém que houve barrosões desde caminho para o desenvolvimento que a vila teria nos o segundo milénio antes de Cristo. Prova disso são os inúmeros dólmenes tempos modernos. espalhados por toda a região, cuja enumeração inclui várias dezenas. No último milénio antes de Cristo, todo o Barroso foi povoado pelo povo Actualmente, Montalegre é uma vila agitada por ser o centro celta, que se disseminou pelos outeiros deste território agreste, administrativo e comercial do Alto Barroso. Tem foros de construindo os seus castros. Estão actualmente inventariados cerca de mini metrópole. A sua rua principal, a Rua Direita, é a mais cinco dezenas. Entre eles, o da vila de Montalegre, sobre cujas ruínas viria comercial e destina-se apenas ao trânsito de peões. Nesta a ser mais tarde construído o castelo medieval. Ainda hoje, o povo rua predominam ainda as casas de granito cinzento, típicas barrosão exibe as suas características célticas, nas suas feições físicas, no de Barroso, que aliás são muito abundantes por toda a vila. seu carácter violento e orgulhoso e nas suas manifestações lúdicas e Verifica-se com agrado que vários dos edifícios públicos de culturais. Embora não haja documentação que o comprove, parece certo construção mais moderna, na zona da Portela, exibem o que a zona da vila, povoada apenas por pastores até à Idade Média, por uniforme cinzento acastanhado que lhes impõem o estilo e essa altura se povoou intensamente, correspondendo este fenómeno à os materiais de construção tradicionais. Infelizmente há necessidade de povoar e defender o reino portucalense, e em particular, também, por toda a vila, \"maisons\" de cores garridas, as zonas fronteiriças. Aliás, ao que parece, já então a vila ocupava o lugar normalmente propriedade de emigrados e por isso fechadas de cabeça da terra de Barroso. Com D.Afonso III, Montalegre teve o seu durante a maior parte do ano. Mas é também uma vila primeiro foral em 1273, confirmado e renovado por D. Dinis em 1289. florida, com vários e bem cuidados canteiros e jardins. Este é o primeiro documento escrito que se conhece sobre Montalegre. E Sobretudo nas praças principais, onde uma estátua de João dele pouco se sabe mais, porque desapareceu com o incêndio que Cabrilho domina com o olhar os edifícios solenes do Palácio destruiu a vila durante as escaramuças fronteiriças que opuseram o de Justiça. In Terras de Barroso de Domingos Chaves
42 O Concelho na actualidade… O turismo tem vindo a ganhar espaço crescente nas estratégias de As manifestações populares atraem também um número desenvolvimento dos territórios. Contudo, para que possa cada vez maior de pessoas e ocupam já um lugar de constituir-se num instrumento de desenvolvimento, torna-se destaque, fazendo as romarias e as festas, já parte da necessário – para além das muitas exigências ao nível das infra- sua oferta cultural. O artesanato é outra das actividades estruturas, equilíbrio ambiental e valorização do património – de carácter popular em expansão e que mais atrai o fazer um esforço no sentido de criar produtos turísticos turista. Os produtos regionais enriquecem a oferta local inovadores e diversificados.Situada lá bem no norte de Portugal - ao associarem a gastronomia, outro ponto forte da em Trás-os-Montes, ficam as Terras do Barroso e a “capital da região, para o qual contribuiem fundamentalmente a república” Montalegre, as quais fazendo fronteira a norte com a posta e o cozido barrosão bem como o cabrito, Galiza espanhola, com os “vizinhos” de Chaves, Cabeceiras de componentes turísticas de grande importância para a Basto, Vieira do Minho, Terras de Bouro e cada vez mais região. Muitos dos produtos, porque possuem beneficiada por facilidades de acesso através da A52 espanhola, características únicas, estão certificados, como é o caso N103, A24 e agora também pela M508, aliadas à sua proximidade do mel, da carne barrosã, agora também do vinho, e com Espanha, permitem colocar a região num plano privilegiado como não podia deixar de ser, do famoso fumeiro do mercado turístico receptor português. barrosão, actividades muito enraizadas social e culturalmente na região. No que se refere às potencialidades da região, a envolvência natural confere-lhe uma riqueza e variedade paisagística e uma A oferta de alojamento turístico, fulcral para o seu enorme diversidade de fauna e flora características, que permitem desenvolvimento, é disponibilizada em unidades de o desenvolvimento de um turismo activo. turismo rural, assim como por hotéis, pensões, estalagens e residenciais, consideradas pelos visitantes O seu património histórico-cultural que se encontra disperso por como de qualidade. São pois todas estas características, toda a região, sendo constituído por uma enorme diversidade que que fazem da região do Barroso um local maravilhoso e abrange testemunhos arqueológicos - megalíticos, romanos, apelativo. medievais -, passa pelas
43 O Concelho na actualidade… Visitar hoje as Terras de Barroso ou passar por cá umas As populações abrangidas tiveram o privilégio de férias, é uma aventura única!.... escolher a nacionalidade espanhola ou portuguesa, depois de viverem em regime de comércio livre, Por entre uma hidrografia rica, constituída em possuíndo pastagens mistas e do cultivo do tabaco. particular pelo principais rios da região, Cávado e Rabagão, floresceram soberbas paisagens e culturas Surpreendam-se pois os visitantes, com as pachorrentas milenares. vacas do Barroso a vaguear pelo Larouco, pela Mourela, pelo Gerês ou até em marcha lenta pelas ruas das vilas e O megalitismo continua a surpreender por estas aldeias. E quem desejar apostar no fascínio, visite o vasto bandas, dado não só o grande número de Dólmenes, património arquitectónico da região, donde se destacam mas também outras preciosidades que deixaram o Castelo de Montalegre fundado no século XIII, reminiscências através de Castros, Estradas Romanas e reedificado em 1331 e requalificado em 2019; o Mosteiro Forais. Nestas terras, que foram também de mouros, de Pitões das Júnias; a Igreja Românica de S. Vicente da exibem-se belos pelourinhos e ainda sobrevivem lendas Chã, edificada entre os séculos XI e XIII; o Paço de Vilar e tradições sem igual. de Perdizes; a Igreja de Santa Maria de Gralhas; a Torre do Boi, em Travassos do Rio; a Capela do São João da O comunitarismo das bonitas aldeias onde a água Fraga ali mesmo no cimo de um fraguedo único no cristalina ainda se passeia pelas ruas em muitos locais, mundo, entre a pitoresca aldeia de Pitões e Outeiro; ou está bem vincado nos resistentes Fornos do Povo, nas os Fojos do Lobo, locais onde as armadilhas “falavam Torres do Boi e no significado das chegas. Também o mais alto” para protecção das vezeiras. Couto Misto, ali mesmo ao lado de Tourém, com os Tudo isto entre muitos outros monumentos edificados e privilégios e isenções de antanho, é um caso espalhados pelas 25 freguesias e as 136 aldeias e lugares paradigmático de comunitarismo transfronteiriço. que fazem parte do concelho. Mas para saber mais, é preciso vir até cá e complementar os saberes desta terra, lendo as magnificas monografias disponíveis na Biblioteca Municipal ou no Ecomuseu de Barroso. E depois de vir, pensará sempre em regressar para revisitar tão singular beleza.
44 O Concelho na actualidade… O PISÃO DE PAREDES DO RIO O MOSTEIRO DE SANTA MARIA DAS JÚNIAS A cobertura em colmo faz lembrar as cabanas celtas e Encontramo-lo nas profundezas de um vale estreito e nas imediações de um representa um “cartão de visita” que tem convencido riacho que mais abaixo, se precipita numa queda de água dissimulada entre os muitos turistas. Este engenho hídrico aproveita a força penhascos. De estilo românico e gótico, crê-se que o Mosteirofoi erguido aos motriz da água canalizada, funcionando como serra, poucos, ainda antes da existência do país, portanto por volta do início do moinho e pisão de tecidos de lã. A água põe em século XII e no lugar de um retiro de um ermita usado desde o séculoIX. funcionamento os malhos que pisavam as teias de lã para fabricar o famoso Burel, a capa dos pastores. De início, ocuparam-no os monges da Ordem de São Bento. A meio do século Com o passar dos anos, o Pisão teve diversos usos. O mais XIII, tornou-se Cistercience e foi agregado à Abadia galega de Oseira. Aninhado popular continua a ser a produção do burel, o famoso num nicho improvável, este nunca se revelou um Mosteiro convencional. Por tecido artesanal negro, empregue nas capas, calças e norma, mesmo isolados, os Mosteiros costumavam subsistir do cultivo de coletas ainda hoje vestidas pelos nativos desta raia coutos, porém e em vez disso, os monges das Júnias dedicaram-se à criação de nortenha. animais e à pastorícia. Mesmo assim, prosperaram tanto ou mais que outros Mosteiros contemporâneos. Com o passar dos anos, o Mosteiro de Santa Maria das Júnias congregou mais e mais terras da região do Barroso e da Galiza. Nesse período, o seu desafogo justificou diversas obras de expansão e melhoramentos que se prolongaram pela Idade Moderna adentro, até quase meio do século XVIII. A localização aventureira do monastério impôs porém muitod revezes. O ribeiro assoreou e destruiu parte das estruturas acrescentadas e já em pleno século XIX, um incêndio avassalador arruinou outras das dependências. Já nos nossos dias, o Pisão foi legado à Associação Cultural. De qualquer maneira, por essa altura, já o Mosteiro havia sido abandonado. Em Também o forno comunitário de Paredes do Rio continua 1834, as ordens religiosas masculinas foram extintas e pouco depois, o derradeiro operacional. Ao longo dos tempos maioritariamente frios monge da abadia das Júnias assumiu a função de pároco da aldeia vizinha de Pitões. da região, serviu de Casa de Povo e de convívio. Acolheu Actualmente, o Mosteiro é propriedade da Igreja e encontra-se entregue ao vale que debates e discussões, abrigou viajantes e sem-abrigos a o recebeu e ao tempo. quem era permitido passar a noite ao calor alimentado a lenha, enquanto as broas coziam. Nesta visita, antes de deixarmos Paredes do Rio, ainda espreitamos o tanque comunitário. Quando dele nos abeiramos, uma pequena manada de vacas barra-nos o caminho. Entretanto um outro morador da aldeia conduzia-as ao bebedouro próximo, abaixo de um milheiral embelezado por girassóis a pé e de sacho ao ombro.
45 A TERRA E AS GENTES… Sem falar nas “bruxas que fugiram ao Covid”, ou do maior evento do fumeiro que anualmente ocorre neste país lusitano e se espera venha a ter mais uma vez lugar em Janeiro próximo, desde lá bem do alto do Larouco, até às aldeias, aos Ecomuseus, aos trilhos, ao Parque Nacional da Peneda Gerês, à gastronomia ou aos grandes espelhos de água, como os das albufeiras do Rabagão, Paradela ou Venda Nova, que submergiram vales e tornaram penhascos em margens serenas, onde abeiram lugares como Vilarinho de Negrões, são alguns dos ingredientes que fazem desta região do Barroso, uma das mais genuínas e pitorescas terras do Portugal dos nossos dias. A capacidade de receber, entreter, distrair ou divertir, são a sua essência e moram por cá. Mas estas terras merecem e querem mais… As Aldeias Os Trilhos Pedestres Tal como na generalidade das terras de Trás-os- O concelho de Montalegre é um destino imperdível Montes, as aldeias e lugares desta região de para os amantes da natureza e percursos pedestres. Barroso caracterizam-se por pequenos povoados, onde predomina o material da região - o granito. Actualmente, dispõe de uma boa rede de trilhos espalhados por todo o território municipal, os quais A arte dos pedreiros ao longo dos séculos permitiu permitem o contacto directo com a natureza e criar conjuntos arquitectónicos esteticamente muito o Património Cultural. atraentes, que em alguns casos vão conseguindo resistir à invasão das construções em betão. Dos trilhos mais conhecidos destacam-se desde Tourém até ao lado oposto Santo André e Vilar de Estas aldeias caracterizam-se ainda pelas résteas Perdizes, passando por Fafião, Pitões das Júnias e do comunitarismo de outrora, muito enraizado nesta Outeiro, a Rota do Contrabando, o Trilho de D. Nuno, região, onde os habitantes demonstram grande o Trilho do Rio e o Trilho do Ourigo. espírito de entreajuda nas tarefas ligadas à agricultura e pecuária. Mas muito mais informação sobre este assunto, pode ser obtida no site oficial do Município.
46 ROTEIROSNoticiasde E TRILHOS… •Castelo de Montalegre - mais do que falar da história deste emblema do património edificado, sugerimos a sua abordagem e daí contemplar praticamente todo o plano envolvente da capital do Barroso. • Serra do Larouco - esta serra, terceira maior de Portugal continental, com uma elevação de 1527 metros, faz as delícias dos aventureiros que procuram uma paisagem panorâmica deslumbrante. A sua estrutura geomorfológica faz deste um local propício à prática de parapente. • Tourém - uma das aldeias mais bem conservadas do concelho de Montalegre, alberga um núcleo do Ecomuseu de Barroso, reconstruído na antiga “corte do boi”. Funciona como Centro Interpretativo da Avifauna da região. • Pitões das Júnias - aldeia situada em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, recebeu o primeiro espaço museológico criado nas aldeias. • Cabril - Em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês é possível observar elementos de valor universal incalculável. Estes tornam a região singular pela imensa riqueza. Na região são visíveis manchas florestais de grande importância, quer pelo valor ecológico, quer pela riqueza paisagística. • Salto- Instalado numa antiga casa senhorial, que pertenceu ao capitão da aldeia, representante da autoridade e do poder, a nível local, apresentamos Ecomuseu de Barroso – Casa do Capitão. • Paredes do Rio - De actividades agrícolas comunitárias, de que são exemplo a segada e malhada do centeio, o entrudo, o cantar dos reis, a matança do porco, entre muitas outras, em que o sentido de festa da comunidade revela grande cumplicidade e determinação em preservar um património imaterial com um valor incalculável. • Santo André – Piscinas, forno do povo e igreja Matriz. • Gralhas - Igreja Matriz, Capela de Santa Rufina e Trilhos do Larouco. •Vilar de Perdizes- Igreja Matriz, Trilhos e Casa do Paço
47 SERRA DO LAROUCO O grande farol das Terras de Barroso… A Serra do Larouco localizada a norte da aldeia de É a serra do Larouco, cuja altitude máxima atinge os 1527 metros acima do Gralhas, a nascente de Santo André e a poente de nível do mar. Está disposta na direcção norte/sul, atravessando a fronteira e Padornelos, tem uma forma alongada que segundo os prolongando- se para terras da Galiza, com um comprimento de cerca de 10 entendidos na matéria terá siso provocada por um quilómetros. Chega-se lá, partindo de Montalegre pela estrada que vai para acontecimento morfológico que se extende até terras espanholas. Com uma vegetação própria e reconhecível Vilar de Perdizes, que depois se deixa na direcção de Padornelos. em toda a sua extensão, a Serra do Larouco apresenta Daqui, toma-se a estrada de Sendim e do antigo posto fronteiriço, cuja estrada raros cursos de água, assim como também campos se deixa para a direita, na direcção da pendente ocidental da serra. Até aqui a trabalhados através da vida agrícola local que está desde estrada é pouco pronunciada, a partir de então começa a subir, mas é de fácil há muito ligada a esta região. No local podem-se acesso, dado terem ali ocorrido obras de beneficiação há muito pouco tempo. encontrar vários rios, rochas típicas da região e espécies O panorama imenso que daqui se avista, consoante se vai subindo, compensa da fauna e flora portuguesa. O Rio Cávado é bastante o esforço da subida, seja ela feita a pé, de automóvel, ou através de qualquer extenso e o seu percurso de 135km leva-nos até ao Oceano Atlântico. O Rio Salas é um rio internacional por outro meio. A zona do topo, próxima já da raia, é conhecida por Fonte da Pipa. nascer em Espanha, no concelho galego de Baltar, e o seu Trata-se de um planalto a cerca de 1500 metros de altitude, que no Inverno e percurso inclui o território do Couto Misto e o antigo na Primavera está sempre bastante molhado, por reter as águas pluviais. Um castelo da Piconha. O rio Salas desagua no Lima, ainda em pouco mais abaixo, na encosta poente da serra, com esta água começa a Espanha, junto à povoação galega de Lobios. Do planalto formar-se o rio Cávado. Aos 1527 metros de aItitude, num plateau rochoso, barrosão, a nordeste da capital do Barroso, sobressai o está um marco geodésico, de onde o panorama é fabuloso. Avista-se todo o espigão de uma serra que no Outono é escura e Barroso, o Alto Tâmega e o Gerês, como se fossem vistos de avião. O seu nome ameaçadora, no Inverno é branca, na Primavera verde e provem do Deus Celta Larauco, que originou também Larouco - Município no Verão garrida. espanhol que integra a província de Ourense. (Continua na página seguinte)
48 SERRA DO LAROUCO O grande farol das Terras de Barroso… (Continuação) No caso do Salas, trata-se de um rio internacional Integra-se no sistema montanhoso da Peneda/Gerês e serve de que nasce já em território galego, na vertente norte fronteira entre o distrito de Vila Real e a Galiza espanhola. Nesta da Serra, concelho de Baltar. Atravessa o território grande massa granítica distinguem-se, na vertente poente, manchas do antigo Couto Misto e o extremo norte da de xisto metamorfizado que originam encostas abruptas onde aves de freguesia raiana de Tourém, do concelho de rapina, como a águia-de-asa-redonda ocupam o território. A Serra do Montalegre e tem a sua foz no rio Lima, ainda em Larouco apresenta, ainda, uma vegetação em função da altitude, território espanhol na povoação galega de Lobios. A constituída nomeadamente por matos de urzes, sargaços e giestas, e historiografia galaica, diz que no cimo do Larouco algumas pastagens que se situam junto a cursos de água segundo a havia há dois mil anos, um templo a Júpiter. antiquíssima técnica dos prados de lima. (Continuação) Nas suas vertentes constatam-se campos de cultivo e algumas manchas Arqueólogos da região raiana, de ambos os lados da de mata climática, como sejam o carvalho-alvarinho, o carvalho-negral fronteira, apoiados por populares, têm feito nos e o vidoeiro. Os aglomerados urbanos de que são exemplo, as últimos anos, no verão, réplicas das festas pagãs freguesias de Gralhas e de Santo André, estão rodeados por campos que havia outrora. À serra chamavam os romanos outrora intensamente trabalhados. Para além do Cávado, que como se Monte Ladiço. Nas suas encostas foi colocada na disse tem aqui origem, também por aqui nasce o Rio Salas. Idade Média uma atalaia, que mais tarde se transformou em castelo, dividindo inicialmente as Um e outro sulcam as encostas desta serra e a “galeria ripícola” é o dioceses de Braga e Lugo e depois Portugal da habitat de inúmeras espécies de fauna e flora. Por debaixo da Galiza. protecção fornecida pela vegetação típica das linhas de água, persistem ainda mamíferos como o lobo, a raposa, o corço, o javali, a par de répteis como o lagarto-de-água, a cobra-bordalesa e o sapo-parteiro.
49 A IGREJA DA MISERICÓRDIA… Situada no centro histórico da vila de Montalegre ali mesmo junto do castelo, a Igreja da Misericórdia é de arquitectura maneirista e revivalista, de planta longitudinal e de nave única rectangular e presbitério. A fachada principal possui vãos de um simples recorte lateral no topo superior e os vãos das fachadas laterais apresentam-se de diferente modinatura revelando diferentes períodos de execução. O seu interior apresenta um tecto de madeira, fachadas em cantaria aparente, a principal terminada em empena rasgada por um portal de verga recta e janela. As laterais terminam em cornijas com porta travessa de ambos os lados. ... OS ECOMUSEUS DE BARROSO… O concelho de Montalegre foi dos primeiros Municípios em Portugal a adoptar o conceito de Ecomuseu. O Ecomuseu de Montalegre é por assim dizer um museu dedicado em exclusivo ao território, o qual retrata um amplo espaço de memória do povo do concelho. Trata-se enfim de um importante centro de divulgação dos mais varidos costumes e tradições do povo de Barroso. Para além do edifício-sede junto do Castelo, na sede co concelho existem outros pólos distribuídos por temas como a Corte do Boi em Pitões das Júnias, o Forno do Povo em Tourém, o Centro Interpretativo das Minas da Borralha em Salto, ou a Vezeira e a Serra em Fafião. Saiba mais no site oficial do Ecomuseu.
Noticias de 50 AS POTENCIALIDADES DA REGIÃO ROTEIROS AS SETE MARAVILHAS DE BARROSO GASTRONOMIA 5. Histórico, Cultural e Natural 1. Pão: Pão centeio No Barroso abundam os cereais, em especial Fatia maior do único Parque Nacional, •Castelo de Montalegre - mais do que falar o centeio, tradicional dos climas frios, que reserva da biosfera, é proposta com da história deste emblema do património fazem nascer um paladar único para ser selo de garantia insuspeita. Património edificado, sugerimos abordar o evento mais saboreado à mesa mais exigente. singular que corre pelas veias dos rios grandioso que se realiza nesse recinto: as Sextas e albufeiras, que desabrocha o maior 13. 2.Petiscos: Chouriça e alheira espanto. • Serra do Larouco - esta serra, terceira maior de Portugal continental, com uma EVENTOS DE AFIRMAÇÃO elevação de 1527 metros, faz as delícias dos aventureiros que procuram uma paisagem 6.Rallycross e Feira do Fumeiro panorâmica deslumbrante. A sua estrutura geomorfológica faz deste um local propício à “Entre… quem é”!...Ouve quem nos bate à Região de forte cariz tradicional, é terra prática de parapente. porta. É recebido com presunto fatiado, que luta pela afirmação territorial • Tourém - uma das aldeias mais bem chouriça assada, alheira e omelete de através da organização de eventos conservadas do concelho de Montalegre, alberga chouriça que fazem as delicias de uma boa únicos no país: “Sexta 13”, Mundial um núcleo do Ecomuseu de Barroso, mesa barrosã. Rallycross e a Feira do Fumeiro. reconstruído na antiga “corte do boi”. Funciona como Centro Interpretativo da Avifauna da 3.Carnes:Cozida à Barrosã EXPERIÊNCIAS ÚNICAS região. • Pitões das Júnias - aldeia situada em pleno Mesa composta por presunto, chouriça, 7.Sexta-Feiras 13 Parque Nacional da Peneda-Gerês, recebeu o chouriço, sangueira, salpicão, orelha, primeiro espaço museológico criado nas aldeias. focinho, rabo, pé e farinhota. Um mundo de • Cabril - Em pleno Parque Nacional da Peneda- odores, só possíveis neste reino maravilhoso. Gerês é possível observar elementos de valor universal incalculável. Estes tornam a região VINHOS AZEITES E MEL singular pela imensa riqueza. Na região são visíveis manchas florestais de grande 4. Marcas de excepção importância, quer pelo valor ecológico, quer pela riqueza paisagística. Vinho branco e tinto de qualidade com a marca Embarque no chão barrosão e, com ele, • Salto- Instalado numa antiga casa senhorial, Mont’alegre. Não conhece?!... Aceite o desafio. deixe-se enfeitiçar por esta terra de que pertenceu ao capitão da aldeia, E depois não esqueça o azeite e o mel do Gerês encantos onde o aroma da natureza é representante da autoridade e do poder, a nível e do Larouco. O sorriso final é garantido. convite permanente ao deslumbre. O local, apresentamos Ecomuseu de Barroso – castelo da capital do misticismo é palco Casa do Capitão. de encanto. • Paredes do Rio - De actividades agrícolas comunitárias, de que são exemplo a segada e malhada do centeio, o entrudo, o cantar dos reis, a matança do porco, entre muitas outras, em que o sentido de festa da comunidade revela grande cumplicidade e determinação em preservar um património imaterial com um valor incalculável. • Santo André – Piscinas, forno do povo e igreja Matriz. • Gralhas - Igreja Matriz, Capela de Santa Rufina e Trilhos do Larouco. •Vilar de Perdizes- Igreja Matriz, Trilhos e Casa do Paço
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