Noticias de Colectânea de textos|Janeiro 2020 2.º CADERNO Concelho de Montalegre
1 Noticias de HISTÓRIA VIVA DO CONCELHO MONTALEGRE TERRITÓRIO DE FRONTEIRA COLECTÂNEA DE TEXTOS A BARROSANA JULHO A DEZEMBRO 2018 1.º CADERNO 2020 O Autor Domingos Chaves
2 Noticias de
3 Edition nº 118 |du 08 juin 2017 GRATUIT Mensuel Franco-Portugais Ojornal dasComunidadeslusófonas daBélgica, editadopor CCIFP Editions, daCâmaradeComércioeIndústria Franco Portuguesa Pedro Santos é o novo Secretário-Co rdenador da Secção do PS português em Bruxelas.Entrevista Be 13 03 08 Lusa /Tiago Petinga
OS DESTAQUES 4 Os primórdios de um país 6 COLECTÂNEA DE TEXTOS II AS TERRAS DE BARROSO Afonso Henriques é o responsável pela criação da primeira nação europeia independente... Terra fria 9 Couto Misto 15 UMA AVENTURA ÚNICA UM PAÍS COM 800 ANOS Nestas terras, que foram de mouros, Um país constituído entre 1143-1147, Ficha Técnica exibem-se belos pelourinhos e ainda e a sua origem no processo de sobrevivem lendas e tradições sem independência de Portugal do Reino Periodicidade igual. de Leão. SEMESTRAL Dia das Bruxas 18 Sociedade 19 Data Janeiro 2020 DESDE 2002 Coordenação Domingos Chaves Um evento cultural que já se RETROCESSO DEMOGRÁFICO Textos da Edição tornou numa das maiores festas de rua do país. O retrocesso demográfico, é um dos Domingos Chaves; Marie Oliveira, Arménio Santos, Carlos factores que caracterizam a mudança da Tomás, Fernando Botelho Gomes; Isabel Tavares, Carlos estrutura populacional ao longo dos Fragateiro, Raquel Costa, José Alves, Jorge Martins, Catarina anos. Se nada mudar, daqui por 50 anos Pereira, António Lourenço Fontes e Gabinete de Imprensa seremos menos ¼. da C.M. Montalegre Fotografia Domingos Chaves, C.M. Montalegre, José Alves, Fernando D. C. Ribeiro, Mauro Fernandes Heléne Martins, Raquel Costa e Portal Google BARROSÕES ILUSTRES 24-33-50-70-77 ISBN 152281/2017 Concelho Bento da Cruz Barroso da Fonte Execução Montalegre Domingos Chaves numa das Padre Lourenço Fontes Américo Canedo Contacto Acácio da Silva [email protected] 35 Entrevista 53 Lição de História 68 Estórias de Antanho REVISTA ONLINE https://a-barrosana.webnode.pt/ 48 Lenda da Misarela 64 A Grande Rota 75 Opinião Domingos Chaves
5 Noticias de Ser Transmontano é uma Honra!… Ser Barrosão, são Duas… Domingos Chaves BARROSO É ISTO MESMO… Pedra sobre pedra, dias sobre dias, estórias com história, corpos com alma e rugas com eternidades para contar. Barroso é isto, e isto é tanto, que nunca mais acaba. Estimam-se livros de ouro, desperdiçam-se histórias de diamante, e o que somos, é muito mais do que aquilo que se pode guardar numa carteira ou num banco. O que somos é história fortificada, é ADN enriquecido pela luta de quem viveu, sofreu, sorriu e venceu. Domingos Chaves O que não deveríamos, é ser fracos de memória e deixar de estimar o que somos, e o que somos vale mais que ouro. Se somos determinados, é porque as serras nos permitiram enxergar a nossa alma destemida; se somos assim, guerreiros, é porque ninguém alguma vez nos conseguiu dobrar pela espinha; se somos assim, de paladar refinado e pote enriquecido, é porque aprendemos a ser felizes à mesa, a conviver à luz da candeia e ao sabor de um belo cozido à barrosã. Se somos assim, poupados, é porque conseguimos ultrapassar dezenas de crises, aprendendo a utilizar cem por cento do porco, a cozinhar com batatas ou castanhas, a fumar o que é preciso estimar ou a saborear uma sardinha partida em três durante décadas. Se somos assim, é porque as nossa aldeias sobreviveram ao passar dos tempos, sempre edificadas nos seus mais nobres valores e tradições. E se somos assim porque haveremos de mudar?!... A nossa marca é simples: não temos produto que não combine, no seu melhor, a descoberta activa da paisagem e do património com a nossa gastronomia. Sabemos ser próximos e discretos com as pessoas e dar-lhes a segurança e o espaço de que precisam para poderem divertir-se, evadir-se e descansar. Os nossos valores são os princípios da nossa acção: respeito incondicional pelo próximo, sempre na procura de algo sustentável e de qualidade acrescida. Acreditamos por isso na nossa terra, no turismo como força viva ao serviço da paz, veículo de amizade e compreensão entre as regiões, factor de desenvolvimento sustentável e contributo para a valorização e preservação do património natural e cultural da nossa terra. Sabemos que é um privilégio ter como \"ofício de lazer“, partilhar o lado bonito do mundo BARROSÃO e poder fazê-lo com entusiasmo e acima de tudo com a qualidade e o saber a que já nos habituamos. SOMOS BARROSO COM MUITA HONRA.
6 AS TERRAS DO BARROSO Afonso Henriques é o responsável NOS PRIMÓRDIOS DE UM PAÍS… pela criação da primeira nação europeia independente... Em 1091, a princesa Urraca, filha do rei Afonso VI, casava com Raimundo de Borgonha, filho de Guilherme I de Borgonha, que assistira como cruzado para lutar contra os almorávidas. As vitórias militares do borgonhês, e a altura das suas relações familiares na Europa propiciaram a conveniência do enlace matrimonial, ao que Afonso VI outorgou um importante dote - o governo das terras galegas, desde o Cabo Ortegal até Coimbra, com o título de condes. Dois anos mais tarde, em 1093, outro cruzado francês Henrique de Borgonha, neto do duque Roberto I, casava com a filha ainda menor de Afonso VI, Teresa de Leão, recebendo o governo do Condado de Portucale e Coimbra, que havia sido fundado em 868 pelo nobre galego Vimara Peres, e que compreendia as terras situadas entre o Minho e Douro. Arrumava-se, assim, uma complexa rede de relações feudais. Por um lado o rei Afonso VI, que governava toda a Galiza e Toledo, recebia vassalagem feudal de Raimundo e Urraca que governavam as terras galegas de Ortegal até Coimbra e estes à sua vez, recebiam-na de Teresa e Henrique de Borgonha. Com a morte de Henrique de Borgonha em 1112, sucede-lhe a viúva Teresa, no governo dos dois condados durante a menoridade de seu filho Afonso Henriques. Desenhavam- se então duas tendências: uma de achegamento à politica galega e do seu novo rei, Afonso Raimundes, e outra de manutenção de um forte poder condal com aspirações à proclamação real do herdeiro condal. A ascensão de Compostela à condição metropolitana em detrimento da histórica Braga e a viragem política de Teresa a norte do Minho, materializada na sua ligação amorosa ao nobre galego Fernão Perez de Trava, aliado do rei Afonso VII de Leão e Castela, precipitariam os acontecimentos no Condado que viria a tornar-se no reino de Portugal. O arcebispo de Braga - privado das relíquias de São Frutuoso, por Gelmirez em 1102 - e os grandes aristocratas portucalenses, interessados em adquirir maior poder territorial - foram os principais valedores das pretensões reais de Afonso Henriques. As constantes derrotas sofridas às mãos dos almorávidas e o Ante tal situação, o rei galego Afonso VII avança sobre Portucale, sitia-o em descontentamento crescente do rei com a política Guimarães e exige um juramento de vassalagem, finalmente comunicada por Egas administrativa do seu genro Raimundo de Borgonha, levaram Moniz. Meses mais tarde, perante o incumprimento de Afonso Henriques, as tropas de Afonso VI a privar Urraca e Raimundo de Borgonha dos Teresa e Fernán Pérez de Trava penetram em Portucale e trava-se a batalha de São direitos feudais que possuíam sobre Portucale, equiparando o Mamede em 1128, na qual Afonso Henriques e as tropas portucalenses triunfam. A domínio destes ao de Henrique e Teresa. Assim, embora o morte de Teresa em 1130 e a batalha de Ourique em 1139 consolidam enfim o poder de Condado Portucalense continuasse como parte integral da Afonso Henriques e a independência efectiva do reino de Portugal. Tendo formado Galiza, parava na prática de render vassalagem a Raimundo parte do território da Galécia desde o Império Romano e tendo albergado mesmo a de Borgonha e Urraca, para prestar vassalagem directamente capital do reino em Braga durante muito tempo, o novo reino desenvolveria, doravante ao rei de Leão, Afonso VI, provocando o descontentamento o seu próprio perfil político, precisamente na medida em que se diferenciava da entre a nobreza galega. monarquia galego-leonesa, cujas cabeças reitoras radicavam em Leão e Compostela.
7 AS TERRAS DO BARROSO Por: Domingos Chaves NO PÓS-AFONSO HENRIQUES… Região de antigas origens e de fortes tradições, as Terras de Barroso influenciaram a vida e obra de múltiplos escritores portugueses, como Ferreira de Castro, Miguel Torga, Bento da Cruz e mais recentemente Lourenço Fontes e Barroso da Fonte, entre muitos outros… A partir de 1273, as regras tributárias dos habitantes de Barroso, foram significativamente alteradas. Através da carta de foral de 1273, atribuída a Montalegre, como «Cabeça das Terras de Barroso», cuja motivação principal, era a intensificação do povoamento e desenvolvimento agricola da região, motivo porque o Rei D. Afonso III, concedeu às populações «todos os direitos e rendas reais, com excepção dos direitos de hoste, moeda e padroado das igrejas, que reservava para a corôa». Impunha ao Alcaide, «...o tributo anual de 3.500 morabitinos», que este deveria cobrar, junto das populações das diversas aldeias que tutelava e pagar à corôa, em três prestações: 1 de Outubro, 1 de Fevereiro e 1 O termo \"Barroso\" conserva ainda hoje o nome de uma das antigas \"terras\", de Junho. A falta de pontualidade deste pagamento, seria circunscrições administrativas e judiciais em que o território português estava dividido penalizada com uma «multa» de 10 morabitinos, por cada dia de desde o século XI. Possivelmente, o castelo que servia de centro a esta terra era o de atraso. São Romão, hoje um sítio desabitado na margem Sul da Barragem do Rabagão. A primeira menção incontroversa ao termo Barroso está num documento galego de 1100 que indica o Barroso servir de termo à villa de Tourém. Antes, em 942, o testamento de São Rosendo refeDre Rque. eAleRpoTssUuíaRumMreObanNhoTdEe vIaRcaOs \"iDn BOaroCsaO\". UEstTa tOerra foi incluída nas Inquirições Gerais de 1220 mas não sobrevivem os textos relativos a esta visita. Já o texto das Inquirições de 1258 relativo a esta circunscrição sobreviveu e através dele se percebem os limites da Terra do Barroso. Além dos territórios actuais dos concelhos de Boticas e Montalegre, a terra incluía as freguesias de Canedo, hoje concelho de Ribeira de Pena, e Vilar de Vacas – hoje Ruivães, no concelho de Vieira do Minho. Na Taxatio de 1320 - documento conhecido como Catálogo das Igrejas de 1319-20 -, o arcediagado do Barroso incluía ainda Guilhofrei, no concelho de Vieira do Minho, e Santiago de Serzedo, de localização desconhecida. A 9 Junho de 1273, D. Afonso III em carta de foral fundou a vila de Montalegre e ergueu o Com a dita carta de foral, foram ainda proíbidos todos os respectivo castelo. Montalegre tornou-se assim a cabeça da Terra de Barroso em abusos que alguns fidalgos da «Cabeça», exerciam sobre os detrimento do castelo de São Romão. Este foral foi depois modificado por D. Dinis em aldeões, designadamente, o uso da força que muitas vezes 1289, por D. Afonso IV em 1340, e por D.João II em 1491. Em 1515, D. Manuel I utilizavam para extorquir determinados bens de que converteu-o em foral novo. No reinado de D. João I e na sequência da Guerra da necessitavam, bem como a sua aquisição sem a necessária Independência, a Terra de Barroso foi doada a Nuno Álvares Pereira e por ele passou à contrapartida de pagamento. Só que tal «politica» não resultou. A intensificação do povoamento e o desenvolvimento agrícola pretendidos, não tiveram sucesso, muita gente morreu, em consequência da fome e de uma grave epidemia que na época por ali passou e procurando fugir à doença e à fome, alguns povoadores saíram das suas terras e procuraram novas paragens, em busca de melhores meios de subsistência. Outros ainda fugiram às acções de violência e extorção de bens, de que eram vitimas por parte de alguns fidalgos da «Cabeça». Mais tarde, após tomar conhecimento de todos estes factos, o rei D. Dinis, encarregou então, o Afonso Henriques Afonso III clérigo Pedro Anes, de proceder ao estudo da situação e encontrar as necessárias soluções, que permitissem inverter Casa de Bragança. Em 6 de Novembro de 1836, o concelho de Montalegre foi os dados referidos, tendo confirmado o Foral que havia siso conferido por seu pai em 1289, onde se estabelecia uma nova dividido, criando-se o novo município de Boticas e perdendo-se no processo, para o divisão dos terrenos, para serem entregues aos povoadores, cada um dos quais, ficaria obrigado a pagar 1 maravedi de município de Vieira do Minho, o município de Vilar de Vacas - sediado em Ruivães, e também, o Couto Misto de Santiago de Rubiás – Tourém. Depois de tudo quanto ficou dito, é pacífico, que a região do Barroso já existia, quando do reconhecimento do foro. Reino, em 1143. A partir desta data, sabe-se que administrativamente dependia do Se para a divisão efectuada, não houvesse os necessários Alcaide de Montalegre, a quem eram pagos parte dos tributos da terra, que era povoadores, cada um poderia adquirir mais de um terreno, pertença da corôa. Tais tributos, eram devidos, pelo facto, daquela que hoje é sede de pagando 1 maravedi por cada unidade a mais que possuísse. concelho, ser ao tempo e no seguimento da organização administrativa, que vinha do O periodo mínimo de aforamento era de 3 anos e ao fim deste Reino de Leão, aquilo a que se chamava «Cabeça da Terra de Barroso», onde tempo, o foreiro poderia continuar na posse das terras, funcionava e era organizada toda a administração civil, judicial e militar. aliená-las, dá-las ou vendê-las, mas sempre (Continua)
8 AS TERRAS DO BARROSO Por: Domingos Chaves (Continuação) NO PÓS-AFONSO HENRIQUES… Entre o Minho e o nordeste Transmontano, envolvido a norte pelas serras do Gerês e do Larouco, a leste por Chaves , a sueste por Boticas, a sul por Cabeceiras de Basto, a sudoeste porVieira do Minho e a oeste porTerras de Bouro , encontramos o “Reino Maravilhoso”, onde se situam duas vilas e vinte e cinco freguesias aglutinadoras de cento e trinta e cinco lugares. DR. ARTUR MONTEIRO DO COUTO A partir daqui e tendo em conta o número de forais ou cartas reais de foro, referentes à região do Alto-Barroso, poder-se-à concluir, que como consequência das medidas levadas a cabo, pelo rei D. Dinis, ali tenha ocorrido um significativo desenvolvimento agricola. Os forais falam frequentemente em «casais» (bens), que se desdobram em dois, três ou mais, e terras incultas, transformadas em propriedades produtivas. A multiplicação de terras cultivadas, aumentando a rentabilidade agricola para as populações foreiras, constituía assim, apreciável fonte de receita para os Alcaides, que na ausência de moeda, viam muitas vezes os seus tributos serem pagos em géneros. No tempo em que reinou D. Dinis, existiam já vinte e três das actuais vinte e cinco freguesias, oito então designadas por paróquias do concelho de Montalegre. No âmbito eclesiástico, como no administrativo, estava esta região perfeitamente organizada. Foto:Artur Pastor com a condição, de que o novo possuidor pagasse o respectivo «imposto». Nos casos de venda, alienação ou doação das terras, os agricultores só seriam obrigados a entregá-las aos novos proprietários, depois de efectuadas as colheitas, pagando-lhes no entanto as rendas, que os «homens bons» da povoação julgassem ser justas. Os rendimentos dos povoados no século XIV, comparados com o estado actual das paróquias de Barroso, leva-nos a concluir, que algumas das actuais freguesias, progrediram com o tempo, enquanto que relativamente a outras, se deu precisamente o inverso. A título de exemplo veja-se o caso de Montalegre: Apesar de administrativa e militarmente ser «Cabeça da Terra de Barroso», no aspecto económico, era inferior a Mourilhe, Viade, Salto, Cervos e Mosteiro das Júnias, estando ao nível de Cabril, Cambeses e Ponteira.
9 TERRA FRIA COM ALMA QUENTE Visitar as Terras de Barroso é uma aventura Também o Couto Misto, ali mesmo ao lado de única!.... Tourém, com os privilégios e isenções de antanho, é Por entre uma hidrografia rica, constituída em um caso paradigmático de comunitarismo particular pelo principais rios da região, Cávado transfronteiriço. e Rabagão, floresceram soberbas paisagens e culturas milenares. As populações abrangidas tiveram o privilégio de escolher a nacionalidade espanhola ou portuguesa, O megalitismo continua a surpreender por estas depois de viveremm em regime de comércio livre, bandas, dado não só o grande número de possuíndo pastagens mistas e do cultivo do tabaco. Dólmenes, mas também outras preciosidades que deixaram reminiscências através de Castros, Surpreendam-se pois os visitantes, com as Estradas Romanas e Forais. Nestas terras, que pachorrentas vacas do Barroso a passear pelas ruas foram também de mouros, exibem-se belos das vilas e aldeia e quem desejar apostar no fascínio, pelourinhos e ainda sobrevivem lendas e visite o Convento de Santa Maria das Júnias de Pitões tradições sem igual. e a cascata. O comunitarismo das bonitas aldeias onde a água Mas para saber mais, é preciso vir até cá e cristalina ainda se passeia pelas ruas em muitos complementar os saberes desta terra, lendo as locais, está bem vincado nos resistentes Fornos magnificas monografias disponíveis na Biblioteca do Povo, nas Torres do Boi e no significado Municipal ou no Ecomuseu de Barroso. Quem cá vem, das chegas. pensa sempre em regressar para revisitar tão singular beleza.
10 O TURISMO–UM FILÃO EM FRANCA EXPANSÃO Sem falar nas “bruxas que só aparecem quando querem”, ou do maior evento do fumeiro que anualmente ocorre neste país lusitano, desde lá bem do alto do Larouco, até às aldeias, aos Ecomuseus, aos trilhos, ao Parque Nacional da Peneda Gerês, à gastronomia ou aos grandes espelhos de água, como os das albufeiras do Rabagão, Paradela ou Venda Nova, que submergiram vales e tornaram penhascos em margens serenas, onde abeiram lugares como Vilarinho de Negrões, são alguns dos ingredientes que fazem desta região do Barroso, uma das mais genuínas e pitorescas terras do Portugal dos nossos dias. A capacidade de receber, entreter, distrair ou divertir, são a sua essência e moram por cá. Julho e Agosto foram “meses de ouro” para a economia local, mas estas terras merecem e querem mais… As aldeias Os trilhos pedestres Tal como na generalidade das terras de Trás-os - Montalegre é um destino imperdível para os Montes, as aldeias e lugares desta região de amantes da natureza e percursos pedestres. Barroso caracterizam-se por pequenos povoados, Actualmente, dispõe de uma boa rede de trilhos onde predomina o material da região - o granito. A espalhada poro todo o território municipal, os quais arte dos pedreiros ao longo dos séculos permitiu permitem o contacto directo com a natureza e criar conjuntos arquitectónicos esteticamente muito o Património Cultural. atraentes, que em alguns casos vão conseguindo Dos trilhos mais conhecidos destacam-se a Rota do resistir à invasão das construções em betão. Estas Contrabando, o Trilho de D. Nuno, o Trilho do aldeias caracterizam-se ainda pelas résteas Rio e o Trilho do Ourigo. Mas muito mais do comunitarismo de outrora, muito enraizado nesta informação sobre este assunto, pode ser obtida região, onde os habitantes demonstram grande no site oficial do Município. espírito de entreajuda nas tarefas ligadas à agricultura e pecuária.
11 O TURISMO–UM FILÃO EM FRANCA EXPANSÃO A nível local, este sector revela-se fundamental no desenvolvimento das regiões, sendo um meio para minorar a desertificação e a estagnação económica, através da potenciação de recursos. Existindo grande competitividade no turismo, será por isso necessária a implementação de parcerias e outras formas de cooperação entre empresas, associações e instituições, para o desenvolvimento de sinergias e o alcance de vantagens competitivas. As albufeiras A gastronomia São várias as albufeiras que pode visitar em A gastronomia e os produtos locais constituem uma importante Montalegre: Pisões, Venda Nova, Sezelhe, e Paradela. Estes bandeira para Montalegre. Quando visitar esta terra, não se esqueça grandes espelhos de água marcam profundamente a de provar as iguarias típicas da região como o cozido, a posta barrosã paisagem barrosã e contribuíram enormemente para o e o cabrito. Ajude a economia local comprando produtos tradicionais impulso económico e demográfico do concelho nos anos 50 como o fumeiro, o pão centeio, as compotas e o mel. e 60. São locais excelentes para a prática de desportos náuticos e para o lazer. O Larouco O Parque da Peneda-Gerês Parque Nacional da Peneda Gerês, o único no país, é um A Serra do Larouco, cujo nome provém do deus celta Larauco é o dos maiores postais turísticos de Portugal e cerca de 26% ponto mais alto do concelhor de Montalegre, com uma altitude da sua área total está inserida no concelho de na ordem dos 1527 metros. Trata-se do mais Montalegre. Este território possui uma paisagem única, no imponente miradouro da região, a partir do qual as vistas são lado mais selvagem e protegido, seduz pelo seu aspecto fabulosas, As Serras do Gerês, do Barroso a Barragem dos Pisões inóspito e inacessível, visível nas enormes fragas e filões e toda a veiga de Montalegre são os belos cenários que se de rocha nua, desfiladeiros e precipícios. Na parte mais apresentam diante dos nossos olhos. Segundo os arqueólogos e humanizada podemos explorar as aldeias historiadores terá existido neste sitio um templo romano centenárias recheadas por um vasto e riquíssimo dedicado a Júpiter. património cultural, designadamente as igrejas, as capelas e os espigueiros.
12 O TURISMO–UM FILÃO EM FRANCA EXPANSÃO As condições naturais que apresenta, os percursos pedestres homologados, as condições para a prática de desportos radicais e de natureza, aliados a uma gastronomia e identidade culturais genuínas, o concelho de Montalegre dispõe já de recursos capazes de atrair um conjunto diversificado de públicos e segmentos. Os Ecomuseus Montalegre foi dos primeiros Municípios em Portugal, a adoptar o conceito de Ecomuseu. O Ecomuseu é um museu dedicado ao território, um espaço de memória colectiva e um importante centro de divulgação das tradições de Barroso. Para além do edifício-sede junto do Castelo, existem outros pólos distribuídos por temas como a Corte do Boi em Pitões das Júnias, o Forno do Povo em Tourém, o Centro Interpretativo das Minas da Borralha em Salto ou a Vezeira e a Serra em Fafião. Saiba mais no site oficial do Ecomuseu. A Igreja do Castelo Chama-se Igreja do Castelo devido à sua proximidade deste, mas também é denominada como Santa Maria do Castelo. É uma das duas igrejas situadas na zona medieval da vila. Perdeu o estatuto de matriz desde a construção da nova igreja. De cariz medieval, a sua traça atual remonta ao séc. XVII. Merece o destaque a sua torre sineira que, como acontece com a maior parte das igrejas do concelho, está separada do tronco principal do templo. De planta longitudinal, é constituída por uma nave e capela-mor retangulares. O interior é caracterizado pelo seu rico altar em talha dourada.
Noticias de 13 AS POTENCIALIDADES DA REGIÃO ROTEIROS AS SETE MARAVILHAS DE BARROSO GASTRONOMIA 5. Histórico, Cultural e Natural 1. Pão: Pão centeio No Barroso abundam os cereais, em especial o Fatia maior do único Parque Nacional, •Castelo de Montalegre - mais do que falar centeio, tradicional dos climas frios, que fazem reserva da biosfera, é proposta com selo da história deste emblema do património nascer um paladar único para ser saboreado à de garantia insuspeita. Património edificado, sugerimos abordar o evento mais mesa mais exigente. singular que corre pelas veias dos rios e grandioso que se realiza nesse recinto: as Sextas albufeiras, que desabrocha o maior 13. 2.Petiscos: Chouriça e alheira espanto. • Serra do Larouco - esta serra, terceira maior de Portugal continental, com uma EVENTOS DE AFIRMAÇÃO elevação de 1527 metros, faz as delícias dos aventureiros que procuram uma paisagem 6.Rallycross e Feira do Fumeiro panorâmica deslumbrante. A sua estrutura geomorfológica faz deste um local propício à “Entre… quem é”!...Ouve quem nos bate à Região de forte cariz tradicional, é terra prática de parapente. porta. É recebido com presunto fatiado, que luta pela afirmação territorial através • Tourém - uma das aldeias mais bem chouriça assada, alheira e omelete de chouriça da organização de eventos únicos no país: conservadas do concelho de Montalegre, alberga que fazem as delicias de uma boa mesa “Sexta 13”, Mundial Rallycross e a Feira um núcleo do Ecomuseu de Barroso, barrosã. do Fumeiro. reconstruído na antiga “corte do boi”. Funciona como Centro Interpretativo da Avifauna da 3.Carnes:Cozida à Barrosã EXPERIÊNCIAS ÚNICAS região. • Pitões das Júnias - aldeia situada em pleno Mesa composta por presunto, chouriça, 7.Sexta-Feiras 13 Parque Nacional da Peneda-Gerês, recebeu o chouriço, sangueira, salpicão, orelha, focinho, primeiro espaço museológico criado nas aldeias. rabo, pé e farinhota. Um mundo de odores, só • Cabril - Em pleno Parque Nacional da Peneda- possíveis neste reino maravilhoso. Gerês é possível observar elementos de valor universal incalculável. Estes tornam a região VINHOS AZEITES E MEL singular pela imensa riqueza. Na região são visíveis manchas florestais de grande 4. Marcas de excepção importância, quer pelo valor ecológico, quer pela riqueza paisagística. Vinho branco e tinto de qualidade com a marca Embarque no chão barrosão e, com ele, • Salto- Instalado numa antiga casa senhorial, Mont’alegre. Não conhece?!... Aceite o desafio. deixe-se enfeitiçar por esta terra de que pertenceu ao capitão da aldeia, encantos onde o aroma da natureza é representante da autoridade e do poder, a nível E depois não esqueça o azeite e o mel do Gerês e convite permanente ao deslumbre. O local, apresentamos Ecomuseu de Barroso – castelo da capital do misticismo é palco de Casa do Capitão. do Larouco. O sorriso final é garantido. encanto. • Paredes do Rio - De actividades agrícolas comunitárias, de que são exemplo a segada e malhada do centeio, o entrudo, o cantar dos reis, a matança do porco, entre muitas outras, em que o sentido de festa da comunidade revela grande cumplicidade e determinação em preservar um património imaterial com um valor incalculável. • Santo André – Piscinas, forno do povo e igreja Matriz. • Gralhas - Igreja Matriz, Capela de Santa Rufina e Trilhos do Larouco. •Vilar de Perdizes- Igreja Matriz, Trilhos e Casa do Paço
14 Noticias de VIAGEM PELAS ALDEIAS TOURÉM UMA ALDEIA DE FRONTEIRA A HISTÓRIA Tourém é uma freguesia do concelho de Montalegre, com 16,61 km² de área e 151 habitantes – censos de 2011. Recebeu foral de D. Sancho I para manutenção da vigilância fronteiriça a partir do Castelo da Piconha e da sua ligação, num caminho neutral, ao coração do Couto Misto formado pelas povoações de Santiago, Rubiás e Meaus. Há mesmo notícia certa de que o rei por ali passou, antes de Tourém recebeu foral de D.Sancho I com a incumbência de promover a defesa daquela zona raiana. 1211: “…quando ibat rex domino Sanchio pro a Sancte Pelagio Na realidade o território em volta viveu até meio do século XIX sem estar bem definido se o mesmo de Piconia…” Mesmo após o estabelecimento definitivo da pertencia a Portugal, se a Espanha e penso que atendendo à distância que estão das respectivas capitalidade das terras de Barroso em Montalegre, as capitais, esse era um assunto que pouco interessava às populações. Chamavam-lhe Couto Misto – prerrogativas e privilégios de Tourém foram mantidos. Basta retratado nas páginas seguintes. O Tratado de Lisboa em 1864 definiu final e objectivamente as dizer que as chamadas “honras” ficaram oneradas em fornecer fronteiras naquela zona. Vendo-se porém o mapa, verificamos que o território de Tourém faz lembrar homens para a guarnição da Piconha. Aliás, a defesa do sítio era uma farpa cravada em Espanha. Quanto às populações, essas, sempre viveram em conjunto da terra questão primordial para toda a população de Tourém como se que ainda hoje partilham. Porém, quando as fronteiras se instituíram e a troca de bens que sempre verifica pelos orifícios abertos nas testadas das casas, sobre as fizeram passou a ser ilegal, passaram a viver do Contrabando e prosperaram. E os exemplos de portas das habitações, de modo a evitarem assaltos, cercos e Lucilia e Fernando são elucidativos!... Noite dentro e escura e Lucília preparou-se muitas vezes ara esperas ou emboscadas. Dado de inusitada curiosidade é o facto percorrer os doze quilómetros de rota montanhosa que une Tourém a Randín, já do outro lado da da igreja muito antiga de São Pedro - com vestígios românicos - fronteira. Às costas, levava vinte quilos de café e na cabeça temores vários: o breu, o terreno clivoso, não aparecer no catálogo de 1320. E não aparece porque os lobos da montanha e os carabineros eram os principais inimigos dos contrabandistas. Mas não pertencia, no espiritual, à Diocese de Ourense. enfrentava tudo isso sozinha, jamais o faria. Há mais de 20 quilos de café para transportar até Por esse motivo - é da tradição e tido como certo, que a dada Espanha e por isso terá o Fernando como companheiro de travessia, transportando um \"fardo\" de 60 altura, no florescimento do Liberalismo Galego, um bispo de quilos – aquela que é a medida de uma carga masculina. Sob chuva ou neve e frio, tudo é possível. A Ourense, da família Quevedo, se refugiou em Tourém, por polícia portuguesa fazia vista grossa, estava tudo combinado, mas os carabineiros não facilitavam; se razões políticas. O Bispo, estando em país estranho, estava em Lucília e Fernando fossem apanhados, os bens eram confiscados e não ganhavam um tostão terra própria, porque Tourém integrava a Diocese de Ourense. O mesmo risco corriam os espanhóis que atravessavam a fronteira em direcção a Tourém, Tourém, muito antes do foral, foi honrada numa escritura de invariavelmente na posse de bacalhau – o principal bem de contrabando no sentido Espanha- doação de bens ao Mosteiro de Celanova, pelos anos de Cristo Portugal. Ir e voltar podia levar toda a noite e no dia seguinte era dia de trabalho no campo. Era um de 1065! É talvez a freguesia mais cosmopolita da zona com esforço que faziam a troco de bom dinheiro. Era um crime, é certo, mas não era um pecado. Além de visitas diárias dos “labregos” e “turistas” da Galiza Irmã. Estes toda a gente o fazer, em Tourém, até São Lourenço – o santo padroeiro do contrabandista – ajudava. forasteiros podem desfrutar, com toda a comodidade das Junto à rota percorriam, lá estava na capela para abençoar a travessia. A agricultura é ainda hoje um instalações legadas pela Casa dos Braganças, reconstruída para trabalho duro e pouco rentável; sem o contrabando, a vida seria muito mais difícil. Era assim nos turismo de habitação. Nesta aldeia a corte do boi do povo foi anos 60, em Barroso. O contrabando era normal, praticado por todos, e tinha um aval comprometido transformada em pólo do Ecomuseu onde está retratada a das próprias autoridades. Portugal estava sob a ditadura de Salazar e as fronteiras estavam questão do contrabando, do couto misto, dos exilados políticos encerradas. \"Saltavam\" emigrantes e mercadorias, nesse período, e qualquer \"salto\" era ilegal, e da relação transfronteiriça. envolvia perigo. Hoje, todos aqueles que \"passavam\" mercadorias para Espanha têm mais de 70 Apesar de na atualidade a aldeia de Tourém estar esquecido no anos. Alguns têm mesmo muito mais de 80. Consideram que apesar da abertura das fronteiras ter tempo e no espaço, esta pequena aldeia está ainda associada à sido benéfica, todas as pessoas de Tourém ficaram mais pobres. A região mantém-se fiel à fundação da Nacionalidade. Assume-se como tendo tido um agricultura e os rendimentos dos seus habitantes fiéis à legalidade. O contrabando existe ainda nas papel importante na independência de Portugal, tendo sob a sua memórias dos mais velhos, mas o seu rasto perdeu-se. Mantêm-se os postos fronteiriços – proteção o Castelo da Piconha a quem fornecia os bens e abandonados, vandalizados –, os marcos de fronteira, a capela de São Lourenço e algumas das rotas recursos para sustentar as lutas que se desenvolviam, primeiro – que servem hoje em dia outros propósitos. na reconquista cristã e depois na Independência de Portugal. Com o desaparecimento do Castelo da Piconha em 1650, Tourém assume-se como o centro administrativo e económico substituindo nos cartórios da Administração Pública, a designação de Castelo da Piconha por concelho de Honra ou Vila de Tourém. Em 1836 este concelho foi extinto na reforma de Mouzinho da Silveira.
Noticias de 15 COUTO MIXTO|OPAÍS DA MEMÓRIA UMA “REPÚBLICA” COM 800 ANOS Vários autores situam a sua constituição formal no século XII, entre os anos 1143- Estas decisões, a integração dos povos promíscuos em Portugal e do 1147, e a sua origem no processo de independência de Portugal do Reino de Leão, Couto Mixto na Galiza, é pois a “estória que se segue para melhor numa época em que a divisão fronteiriça não estava definida. compreender a verdadeira História desta “república” que durou 800 anos. No entanto, pouco se fala de uma república democrática, com os O Couto Mixto era um enclave com vinte e sete quilómetros quadrados de governantes eleitos directamente pelo povo, que existiu durante cerca superfície, situado na Galiza, entre as serras do Pisco e do Larouco, limitado a sul de sete séculos, do XII ao XIX, em plena Península Ibérica, região pela fronteira portuguesa, com três povoações (Santiago, Rubiás e Meaus), que pouco afeita à democracia nesse período e que mesmo no século XX nunca tinham formado parte de qualquer um dos países desde a formação de passou por breves hiatos de liberdade na sua triste história de Portugal, onde viviam entre seiscentos e mil habitantes. São várias as teorias sangrento totalitarismo, só conhecendo a democracia há menos de sobre a origem do Couto Mixto!... Entre elas está a que sustenta que a sua meio século. fundação deriva de um foral concedido por Sancho I, outra defende que se tratou de um “coto de homiciados”, isto é, “uma jurisdição territorial donde os criminosos que não tivessem sido autores de falsificação de moeda, delito sexual ou religioso, poderiam redimir as suas penas” , e outra assente ainda na lenda da princesa desterrada, que teria sido salva por habitantes do Couto de morrer quando dava à luz, depois de ter sido apanhada ao cruzar a serra por um nevão, e que agradecida, lhes concedeu a independência e os privilégios. Diz-se que os do Couto Mixto desfrutavam de uma série de privilégios: tinham Essa república, que o historiador galego Luiz Manuel García Mañá direito a decidir se queriam ser espanhóis ou portugueses ou não optar por chama de “Unha República Esquecida”, foi um Estado independente nenhuma nacionalidade; não pagavam impostos nem a um país nem ao outro, de Portugal e Espanha situado no vale do Rio Salas, na região nem podiam ser recrutados pelos respectivos exércitos; não necessitavam licença fronteiriça entre a Galícia, nos Concelhos de Calvos de Randin e para portar armas; podiam cultivar o que quisessem, incluído tabaco, cujo cultivo Baltar, na Província de Ourense, e as terras portuguesas de Barroso, estava estrictamente controlado, tanto em Espanha como em Portugal; não tinham no Concelho de Montalegre. Era formado por três aldeias, Santiago, a obrigação de usar papel selado oficial para nenhum tipo de acordos ou Rubiás e Meaus, que teve os seus direitos e privilégios reconhecidos contratos, obrigatório nos dois países; tinham permissão para transportar o que por Foral outorgado por Sancho I possivelmente em 1187, ainda no desejassem, sem risco de serem interceptados pelos agentes de autoridade de século XII, quando Portugal lutava para ser reconhecido como nação nenhum dos dois países, por um caminho neutral de seis quilómetros, o “Caminho independente do reino de Castela e Leão. Privilegiado”, que unia as três povoações do Couto Mixto com a localidade portuguesa de Tourém, atravessando território de Espanha e Portugal. Dentro do Muito embora não se tenha certeza da origem dos privilégios perímetro do Couto Mixto, as autoridades portuguesas e espanholas não podiam concedidos à população do “Couto Mixto”, imagina-se que tenha entrar em perseguição de ninguém. relação com a proximidade do Castelo da Piconha, uma fortaleza Este privilégio talvez fosse uma reminiscência das suas origens, contudo, este direito de asilo nem sempre teria sido respeitado pelas autoridades dos dois construída sobre um velho castro luso-romano de fundamental países. Do mesmo modo, nem sempre foi cumprida a regra de recusar alojamento e passagem de forças militares pelo território do Couto ante a superioridade importância na defesa da fronteira entre Portugal e a Galiza quando numérica destas. este último reino era dependente de Castela e Leão. O Foral foi Foi o que aconteceu aquando das invasões francesas comandadas pelo Marechal renovado por Afonso II (1185 – 1233) e Afonso III (1210 – 1279), Soult; com o contingente militar português de 700 soldados, seguidos por 300 mulheres, comandado pelo General Saldanha, em 1851, na sua retirada para a sendo que este último condicionou os privilégios à obrigação dos Galiza durante as Guerras Liberais, que pernoitaram uma noite no Couto Mixto a caminho de Lobios, ou com a ocupação por pequenas unidades militares galegas habitantes do Couto de ajudarem na defesa da Piconha em caso de ou portuguesas, por ocasião das destruições das plantações de tabaco. ataque inimigo. (Continua na página seguinte)
Noticias de 16 COUTO MIXTO|UMA REPÚBLICA ESQUECIDA UMA “REPÚBLICA” COM 800 ANOS A relação entre a obrigação da defesa do Castelo da Piconha e os por um representante de cada aldeia, o que significa que todas as decisões eram inusitados privilégios dos habitantes do Couto é reforçada pela tomadas por unanimidade, já que o Juiz eleito, que ficava com a chave da sua confirmação do antigo Foral por D. Denis (1261 – 1325), que o faz aldeia, não podia abrir a arca sem a concordância dos demais. Além disso, a arca só quando da restauração da fortaleza, e por D. João I de Avis (1357 – podia ser aberta na presença, além dos detentores das chaves, de quatro homens de 1433), que manda reconstruí-lo após sua completa destruição pelos cada uma das aldeias, e com a presença dos “homes de acordo” eleitos nas castelhanos em 1388. Assim também fez D. Manuel (1495 – 1521), que mesmas. Infelizmente, muitos dos documentos seculares mantidos na Arca foram concedeu novo Foral em 1515, quando mais uma vez a fortificação foi destruídos pelos soldados franceses do Marechal Soult em 1809, quando fugiam ampliada. Mas, se os privilégios dos habitantes do “Couto Mixto” se das tropas portuguesas e inglesas comandadas por Lord Wellington. Mas, segundo originaram na defesa do Castelo da Piconha, continuaram existindo Luís Manuel García Mañá, no seu magistral “Couto Mixto-Uma República durante o período da União Ibérica (1580 – 1640) quando já não fazia Esquecida”, nem tudo se perdeu, uma vez que “mais algúns dos documentos sentido a defesa das fronteiras dos dois reinos unificados sob a Dinastia “deberon de ser agochados e protexidos, xa que anos despois se atopaban de novo Filipina dos Habsburgos, e mesmo depois da completa destruição da na arca”. fortaleza em 1650, nas guerras que se seguiram à Restauração. Dentre os documentos guardados na Arca estavam os Forais que desde o século XII Assim, os habitantes do Couto continuaram elegendo os seus garantiam aos habitantes do Couto diversos privilégios que iam muito além da governantes que tinham poderes administrativos e judiciais, tanto na inusitada possibilidade de auto-governo em plena idade média: o direito de livre esfera cível como penal, ao mesmo tempo em que legislavam sobre comércio com Espanha e Portugal sem pagamento de impostos, podendo vender os todos os temas de interesse da população, independentemente das leis seus produtos nas feiras e mercados dos dois países; o direito de possuir armas sem espanholas ou portuguesas. A autoridade máxima local era denominada licença das autoridades; o direito de não contribuir com homens aos exércitos em “Juiz”, escolhido em eleição directa pela população das três aldeias caso de guerras; o direito de conceder asilo tanto a portugueses quanto a espanhóis para um mandato de três anos, período após o qual ele próprio deveria fugitivos da justiça dos seus países; o direito à liberdade de cultivo e comércio, convocar novas eleições. mesmo de produtos submetidos ao monopólio (“estanco”) das coroas vizinhas, como o tabaco (à época chamado “herba santa”); e o mais que inusitado direito ao O Juiz era auxiliado por seis ajudantes, também eleitos, dois por cada “Camiño Privilexiado”, uma espécie de servidão internacional que saía de Rubiás, uma das aldeias, chamados “homes de acordo”, que tinham passava por Santiago e entrava em território português até Tourém, num percurso competência para resolver os litígios mais simples e aplicar penas leves. de aproximadamente seis quilometros por terrenos de Portugal, onde os habitantes Caso houvesse recalcitrância na submissão às penalidades sentenciadas do “Couto Mixto” não podiam ser incomodados pelas autoridades portuguesas por pelos “homes de acordo”, estes requisitavam a actuação do “vigairo de qualquer motivo, só podendo ser detidas por flagrante delito em caso de homicídio. mes”, pessoa escolhida para executar as decisões e que tinha o poder de nomear ad hoc dois homens do povo para ajudá-lo na tarefa. Além dos A junção do direito de asilo a qualquer fugitivo dos dois países vizinhos com o “homes de acordo” e do “vigairo de mes”, o Juiz era auxiliado pelos direito ao Caminho Privilegiado dentro de Portugal, como era de esperar, “homes bos” escolhidos pelos Conselhos de cada aldeia (“Concellos transformou o antigo “Couto Mixto” num verdadeiro “depósito” de perseguidos da dos Pobos”). justiça, o que levou os dois reinos a se preocuparem com as consequências da manutenção dos privilégios feudais do Couto, principalmente depois da legislação Muito embora a capital administrativa do “Couto Mixto” fosse a aldeia que decretou o fim dos privilégios constitucionais dos coutos em Portugal (1834) e de Santiago de Rubiás, a eleição do Juiz a cada três anos era realizada da “desamortización de Mendizábal” (1836) em Espanha, que estatizou todos os em campo aberto, no vale do rio Salas, em local equidistante das três bens oriundos das obrigações feudais da igreja e dos mansos comuns. Ademais, o aldeias, onde os candidatos apresentavam suas propostas e planos de “Couto Mixto” estava geograficamente situado na região dos “pobos promíscuos”, governo ao eleitorado antes da votação. Confirmando o “Nihil novi sub aldeias galegas situadas na raia seca entre Portugal e Espanha, onde a fronteira sole” do Eclesiastes, as regras eleitorais seculares do “Couto Mixto” já cortava pelo meio três lugares - Soutelinho da Raia, Cambedo e Lamadarcos -, previam o instituto do recall ao determinarem que o Juiz eleito poderia fazendo com que algumas casas tivessem algumas partes num país e e outras no ter o seu mandato cassado pelos eleitores, caso não fizesse uma boa outros, já que a linha fronteiriça não obedecia a acidentes naturais, mas pelo administração, o que era feito através de um plebiscito. A legislação do contrário, passava por dentro de ruas e prédios residenciais, o que significava que a Couto, com base no direito consuetudinário, era guardada numa arca de cozinha de uma habitação poderia estar sediada em terreno português e o madeira com três fechaduras, a “Arca das Três Chaves”, depositada na “sobrado” em lugar da Galiza. igreja de Santiago de Rubiás, sendo que só podia ser aberta com o uso simultâneo das três chaves, cada uma guardada Em 1864, Espanha e Portugal assinaram o Tratado de Lisboa estabelecendo novos limites na fronteira entre os dois países, ignorando o direito histórico-jurídico dos habitantes do Couto e anexando as suas aldeias ao território espanhol. Portugal, por sua vez, ficou com as três “aldeias promíscuas”, também ignorando a milenar tradição galega dos seus habitantes. A história dessa interessante experiência democrática ficou esquecida por mais de um século, já que não interessava aos governos ditatoriais dos países ibéricos a sua lembrança, só começando a ser resgatada após a democratização de Portugal e Espanha, já na quadra final do século XX.
Noticias de 17 COUTO MIXTO|UMA REPÚBLICA ESQUECIDA UMA “REPÚBLICA” COM 800 ANOS A ARCA ERA A LEI O PAÍS DA MEMÓRIA Uma imponência de pedra|... A igreja paroquial de O terramoto de Lisboa destruiu os arquivos da Santiago tem paredes lisas, com excepção dos vitrais que fundação do Couto Misto e os primeiros relatos enrubescem um altar opulento, talhado do chão ao tecto escritos datam do século XIII. Estas eram as terras em dourado. Tem um enorme crucifixo ao centro, uma da Piconha, incluíam as três aldeias do Couto, mais figura de São Tiago à direita e uma Senhora do Pilar à Tourém e um castelo construído no Gerês, cuja esquerda. Mas o que é verdadeiramente surpreendente, é localização exacta permanece uma incógnita. É que galgando o púlpito e contornando o altar, se encontra certo que D. Manuel I mandou reconstruir a uma escadaria invisível aos olhos dos fiéis, que desce até fortaleza em 1515, e que três anos mais tarde, as uma câmara escondida no subsolo. Nessa cave, um populações de Rubiás, Santiago e Meaus se espaço bafiento e mal iluminado, existe uma relíquia, sublevaram contra o governador local António uma arca antiga de madeira de carvalho e com três Araújo, por causa da imposição de imposto no fechaduras. caminho privilegiado. O corregedor de Riba Côa, António Correia, e o alcaide-mor da Galiza, José Dentro dessa arca estão reunidos os principais Escalante, condenaram o governador português do documentos que garantiram durante séculos a autonomia castelo da Piconha e também o espanhol do vale do ao Couto Misto. Cartas dos reis de Portugal e Espanha. Salas, e acordaram que a partir desse momento, o Mas também as actas de todas as resoluções tomadas povo misto teria o direito a privilégios de pelos juízes da lei, os representantes eleitos de cada autonomia para não ser vítima de novos abusos. aldeia e governadores do Couto Misto. Esse cargo Até ao século XIX, a pequena república de continua a existir, embora hoje tenha um papel pastores manteria as suas regras medievais meramente simbólico. Mas, tal como no passado, cada inalteradas. Em 1810, a Junta de Armamento do um dos três homens tem em seu poder uma das chaves Reino da Galiza recebeu uma carta do prior de que abrem a arca. Só as três chaves conseguem abrir o Celanova, que está guardada no Arquivo Histórico baú. O mesmo é dizer que nenhuma resolução era tomada da Província de Ourense, acusando o território do se não fosse por unanimidade. Nas aldeias ainda há várias Couto Misto de acolher um “número infindável de casas com um P, um E ou um X, esculpido na pedra, por moços fugidos à tropa e de criminosos de toda a cima da porta. espécie”. E essa queixa desencadeou o processo que levaria ao fim do Couto Misto, com a As famílias decidiam se queriam ter nacionalidade assinatura do Tratado de Lisboa em 1864. Hoje, o portuguesa, espanhola ou mista (mixta, em galego) de vale do Salas esqueceu a história dos homens e uma maneira muito simples: no dia do casamento, o regressou ao seu estado primitivo, o de uma homem tinha de fazer um brinde a um dos reis, diante de criação esmerada da natureza. É uma república todos os vizinhos. A maioria, no entanto não brindava e esquecida, uma Andorra que nunca o chegou a ser, marcava o X na parede, porque em caso de delito, seriam como um dia disse o padre Lourenço Fontes. E no julgados pelos três juízes do Couto. “A prisão era aqui, no entanto, ao falar com um grupo de velhos, homens forno do povo”. “Os ciganos eram logo detidos, sem nomeados juízes, contrabandistas ou empresários, acusação nenhuma. Por isso é que existia um vigário de percebe-se que a mística dos mistos ainda não mês, que era um cargo de rotatividade mensal entre os sucumbiu totalmente. É fim da tarde de junho, o homens do Couto, com função de vigiar o caminho sol presta-se à despedida e inunda agora o vale do privilegiado. Salas de um tom dourado. Escalam-se as fragas a meio caminho entre Tourém e Pitões das Júnias, aquelas que garantem a melhor vista do Couto. E nessa altura, no exacto momento em que uma águia plana majestosamente ao longo do rio, percebe-se que a fúria de fronteiras e a cobiça territorial acabaram com um país, para construir no lugar dele coisa nenhuma.
18 SEXTAS 13 EM MONTALEGRE O MAIOR ESPECTÁCULO DE RUA DO PAÍS As sextas-feiras 13, iniciativa que já faz parte do calendário cultural da região tornou-se numa das maiores festas de rua do país, onde acorrem muitos milhares de entusiastas que enchem as artérias da histórica vila. O ESCONJURO Sexta-Feira 13 Avila de Montalegre recebe a cada sexta-feira 13, com um espetáculo de cor, Sapos e bruxas, mouchos e crujas, demonhos, trasgos e dianhos, espírtos das luz e som junto ao castelo onde reúne “milhares” de visitantes o chamado “dia das eneboadas beigas, corvos, pegas e meigas, bruxas”. Nessa altura do ano, tudo que seja menos de 80 mil visitantes sabe a feitiços das mezinheiras, pouco. lume andante dos podres canhotos furados, luzinha dos bichos andantes, Como vem referindo o Presidente da edilidade, esta é mais uma janela de luz de mortos penantes, oportunidades e de valorização do território. Além do desfile de “bruxas”, mau olhado, negra inveija, “demónios”, “figuras do além” ou “duendes”, as última sextas-feiras 13 apresentam ar de mortos, trevões e raios, um grande espectáculo em busca do conhecimento ancestral dos rituais das bruxas, uivar de cão, piar de moucho, exiladas durante séculos numa dimensão digital oculta do seu significado na sociedade actual. Em contagem decrescente para a noite “mais mágica” desta vila pecadora língua de má mulher casada cum home belho. de Barroso, as lojas comerciais, restaurantes e casa de turismo rural, estão Vade retro, Satanás, decorados com motivos ligados a esta data de azar e as rotundas da vila “vestidas a rigor”. Os restaurantes, com uma ementa específica, onde os convivas serão prás pedras cagadeiras! surpreendidos por “figuras do além” enquanto comem, já contam com lotação Lume de cadávres ardentes, esgotada. mutilados corpos dos indecentes peidos de infernais cus. Barriga inútil de mulher solteira, miar de gatos que andam à janeira, A figura principal da festa é habitualmente o padre António Fontes, que tem como guedelha porca de cabra mal parida! tarefa a preparação da queimada, licor feito à base de aguardente, limão, maçã e Com esta culher levantarei labaredas deste lume, açúcar, acompanhada por um espetáculo piromusical. Antes de servir a queimada - que se parece co do Inferno. \"mistela abençoada\", faz o esconjuro da bebida, recitando a ladainha \"mochos, Fugirão daqui as bruxas, corujas, sapos e bruxas, demónios, trasgos e diabos, espíritos das enevoadas por riba de silbaredos e por baixo de carbalhedos, veigas\", livrando todos os visitantes de maus-olhados, feitiços e bruxedos. A a cabalo na sua bassoira de gesta, pra se juntarem nos campos de Gualdim, pra se diversão e animação continuam, até de madrugada, pelos bares e discotecas. As banharem na fonte do areal do Pereira... sextas-feiras 13 são já uma das bandeiras de Montalegre e segundo a autarquia, “um peso pesado” na promoção deste município do distrito de Vila Real. Desde Oubide! Oubide 2002, que a Câmara de Montalegre, festeja as sextas-feiras 13, iniciativa que já faz os rugidos das que estão a arder nesta caldeira de lume. parte do calendário cultural da região e se tornou numa das maiores festas de rua do país, onde acorrem, muitos milhares de entusiastas que enchem as artérias da E cando esta mistela baixe polas nossas gorjas, histórica vila. A animação começa cedo, invadindo todas as ruas vigiadas pelas ficaremos libres dos males e de todo o embruxamento. mais criativas bruxas. Forças do ar, terra, mar e lume, a vós requero esta chamada: Não há oportunidades perdidas no que torna a adornar todo o tipo de adereço com Se é verdade que tendes mais poder referência às bruxas. Nem a estátua de uma chega de bois escapa. A música reina que as humanas gentes, em vários palcos. No principal, perto do imponente castelo, decorre uma paródia teatral que já faz parte da tradição. Uns quantos sorrisos depois, já no fim, uma fazei que os spírtos ausentes vistosa sessão de fogo-de-artifício que ganha outro encantamento pelo facto de boa dos amigos que andam fora parte deste, brotar do próprio edifício histórico datado do distante 1273. Recitado o participem connosco desta queimada! esconjuro que encerra o espetáculo-rei, há a gratuita bebida.
19 Noticias de O RETROCESSO DEMOGRÁFICO NAS TERRAS DE BARROSO CONCELHO DE MONTALEGRE -32% -86% -183% CONCELHO DE BOTICAS -108% -215% -39% CONCELHO DE MONTALEGRE +17,1% -37% CONCELHO DE BOTICAS +18,3% Na verdade, e pelo facto de estarmos perante concelhos próximos da raia, as saídas, quer legais, quer - 49% clandestinas, para o centro da Europa atingem aqui particular importância. Assim sendo, com a emigração, SE NADA MUDAR, DAQUI POR 50 ANOS SEREMOS MENOS ¼… Montalegre e Boticas vêem-se privados do seu mais importante factor potencial de desenvolvimento: os O retrocesso demográfico, é um dos factores que caracterizam a mudança da estrutura populacional ao recursos humanos. longo dos anos, indicando-nos em termos evolutivos e comparativos, os efectivos populacionais e a sua variação numa determinada área geográfica. Aliado a este fenómeno, os fluxos migratórios internos têm também contribuído para o progressivo Para compreender melhor a situação demográfica actual na região de Barroso, é necessário fazer um esvaziamento da região em favor dos centros urbanos do estudo retrospectivo da evolução e retrocesso populacional que ao longo do tempo na região Barrosã de litoral, o que se justifica pelo facto de estarmos perante 1864 a 1920 se efectuou de forma moderada. Entre 1920 e 1930, houve um decréscimo pouco concelhos com nítidas características de interioridade - significativo, e foi a partir da década de 30 até 1960 que se verificou um grande surto populacional, com falta de dinamismo da economia local, ausência de o aumento de cerca de dezenas de milhar de indivíduos – no caso do con. Considerou-se assim, o período cultura empresarial, debilidade do sector industrial, sub- entre 1864 e 2011 de acordo com os gráficos anunciados. Verifica-se pelos ditos gráficos, que a aproveitamento dos recursos endógenos, sector agrícola evolução da população celho de Montalegre, de mais 11.570 pessoas. A década 60/70 ficou marcada pelo com baixa produtividade e rentabilidade, deficientes e declínio mais evidente da população residente em ambos os concelhos – Montalegre teve um decréscimo degradadas condições de acessibilidade interna e de 9.803 indivíduos. externa e insuficiente cobertura de infra-estruturas físicas e sociais. As razões deste declínio devem-se ao efeito da emigração, fenómeno nacional que marcou sobretudo o interior do País. A partir de 1960, o fluxo migratório passou a encaminhar-se mais para a Europa, Neste cenário, o desequilíbrio demográfico é uma especialmente para a França, para a Alemanha, e mais tarde para a Suíça, o Luxemburgo, a Bélgica e a evidência, agravado pelo facto do retorno dos Espanha entre outros. emigrantes não ter sido suficiente para recompor o perfil demográfico do concelho. Ainda assim e num àparte, saliente-se que essa “degradação” em todas as faixas étárias – como é visível pelos gráficos apresentados – é ainda mais evidente no concelho de Boticas, o mais causticado na região do Alto Tâmega.
20 Noticias de A NOSTALGIA DO TEMPO Apartada do leite, é então invariavelmente abandonada á educação do próprio instinto. Aos cinco anos ensinam-lhe a rezar, e aos sete já lhe confiam a guarda das vacas e das ovelhas. Até eu sei como era!... Muitas vezes, a criança passa já os dias no monte, solitária, pastoreando o “ESTÓRIAS DO ARCO DA VELHA” gado. O monte é a sua primeira escola e quase sempre a única. Aos dez anos, começa a preparar-se para a comunhão COMO E DE QUE VIVIA A GENTE BARROSÃ NO INICIO E DURANTE PARTE DO SÉCULO PASSADO!... \"indo á doutrina\". Corria o ano de 1910!... Enquanto as tropas monárquicas com as suas luzidias espadas e os seus cavalos em Era assim que o “senhor padre” queria e passo de “caracol” desciam pelas encostas do Larouco tentando recuperar posições face ao avanço dos determinava. Quem não seguisse a regra, repúblicanos, dois meninos, a Maria Carneira* e o seu irmão Begia**, guardavam uma junta de vacas ali para entrava em “pecado”. Aos doze anos os lados do Castelo do Romão!... comunga. E a vida de trabalho ininterrupto principia. Assustados co`a “guerra”, esconderam-se por entre o arvoredo e os muitos penedos ali existentes, de onde só Rapaz ou rapariga e de comunhão feita, é saíriam com a chegada do seu pai, que entretanto havia ido ao seu encontro. Pareciam coisas do “outro mundo” já uma criatura emancipada. Se os pais são e era preciso serenar as crianças!... Crianças que cedo despertavam para a vida!... Nasciam no único aposento pobres, vão “servir”. Se são filhos de um da casa, coberta que era de colmo esburacado, de rudes paredes de pedra sobreposta, por cujas fendas entrava o lavrador remediado, fazem em casa o frio e o vento. Era assim nestas aldeias remotas e “perdidas no tempo\". Nasciam sem assistência médica e só tirocínio árduo da lavoura. O “criado de servir”, começa por ganhar o que come e raras vezes com o auxilio de uma parteira improvisada, no mesmo leito tosco e bárbaro do noivado. O ritual era bebe, bem como os “usos da casa”. Raros são aqueles que têm direito a “jorna”, e sempre o mesmo!... Momentos antes de dar á luz, a futura mãe colocava junto ao fogo do lar o pote de ferro com água para o banho. O marido, esse andava pelos campos a sachar, a lavrar ou a arrancar ervas. Acontecia por vezes uma vizinha chamá-lo para ver o filho que havia nascido.Quatro ou cinco dias depois, a mãe aparecia quando tal acontece, não ultrapassa os pela primeira vez após o parto na rua com o filho ao colo, e uma semana depois já o levava para o monte. Neste dois mil réis por ano. “meio tempo” tem também lugar o baptizado... Mais tarde - dos dezoito aos vinte anos - Durante dois anos – ás vezes mais – a criança alimentava-se do leite materno. Por vezes já comia pão e ainda os mais diligentes e ao serviço de mamava. Exposta ás intempéries da vida, ao calor e ao frio, ao sol e á chuva como um “animalzinho bravio” lavradores mais abastados, chegam a nascido no monte sob uma lapa, a criança ou sucumbe ou fortalece. Eram as agruras do tempo e da época. A ganhar três moedas. Mas este salário é um maioria das vezes cria-se bem resistente e forte, nesse severo regime de selecção natural. fenómeno. Os usos variam também com a idade dos “criados”!...
21 Noticias de A NOSTALGIA DO TEMPO “ESTÓRIAS DO ARCO DA VELHA” COMO E DE QUE VIVIA A GENTE BARROSÃ NO INICIO E DURANTE PARTE DO SÉCULO PASSADO! Uma a três camisas de estopa, um ou dois pares de calças de cotim ou saias de São deles as aguas, os campos, as árvores, os montes, as eiras e as casas. Não riscado, um colete e um par de sócos, é o prémio pelo seu trabalho. Aos rapazes, as existe para eles, como para o operário citadino, um patrão dominador e patroas remendam-lhes e lavam-lhes a roupa. As raparigas fazem-no por conta imperativo. Só eles mandam na “sua fabrica”. No ínicio do século passado, o própria. As relações entre estes “servos pobres” e estes amos tão pobres como eles alimento destes casais, reduz-se a pouco mais do que a caldo e pão. O homem são quase familiares mas sempre com a noção inata da hierarquia. Por volta dos que trabalha de manhã até á noite, a mulher que o acompanha na sua lida vinte e dois, vinte e três anos, o moço de lavoura, tendo concluído a sua incessante, comem menos do que hoje as crianças da cidade. Mas se a aprendizagem e livre de “ser soldado”, casa-se. É tão raro ficar um lavrador sem gravidez a não deformou, é uma mocetona corada e jovial de larga bacia, de casar, como haver moço que não lute tenazmente, para se furtar ao tributo do grandes seios e de roliços braços de trabalhadora. O homem é musculoso e sangue. O casamento por estas terras funcionava como base essencial á rijo. Ambos cantam enquanto sacham. Nenhuma tristeza perturba esses casais independência. Moço ou moça que não case fica condenado a servir toda a vida ou pacificos e laboriosos, que não conhecem o dinheiro. Gozam amplamente os a trabalhar para os “bezinhos”. dois saúdes humanas: a moral e a física, de cuja união resultam as felicidades O casamento é por isso a aspiração unânime, o fim para que tendem todos os perfeitas. esforços, o prémio conquistado com as canseiras mais indescritíveis. O idilio, meio sensual e meio lírico iniciado nas segadas, nas malhadas, no arranque das O trabalho é o seu regime moral. O caldo destes trabalhadores infatigáveis batatas, ou até no adro da Igreja, termina com a boda para se converter numa reduz-se a algumas couves galegas, apanhadas na horta, a alguns feijões e a obstinada refrega pelo pão. Ordinariamente, a noiva leva para o casal um cordão e um magro fio de azeite, ou um “bocado de unto” como adubo. O pão é de umas argolas de ouro e o noivo as alfaias indispensáveis para o granjeio das terras. centeio, cozido em grandes fornadas no forno do povo para durar uma ou Os parentes e os amigos oferecem aos esposados, alguns duas galinhas, outros uma duas semanas. O cozer pão a miúdo é prejudicial á economia, porque se come raza de centeio, outros dois pedaços de pano de linho, um pote, meia dúzia de mais enquanto é fresco e quantas mais vezes se acende o forno mais lenha se tigelas ou de pratos de barro, meio alqueire de pão, a pá para o forno ou um carro consome. Raras, muito raras vezes, há sardinhas ao jantar ou à ceia. Petiscos de lenha. Se um deles é filho de lavrador abastado, este abona-lhes o gado!... como este só de longe a longe. Quando o sardinheiro as vende a mais de 5 ao Uma junta de “bacas” medianas para principiar e raras vezes um bezerro para a vintém, a mulher aventura-se a gastar dez réis nesse luxo supérfluo. Um engorda. Algumas vezes, também raras, levam ainda em dote uma “céba” de quartilho de azeite, podia custar seis ou sete vinténs e durava a um casal porcos e um “odre” de vinho. O primeiro dia de casados é para os noivos pobres o pobre, de 15 dias a um mês. primeiro dia de trabalho árduo. Vão tratar os dois umas terras a “mêas”, que tomam a algum “bezinho”. Desde o nascer do dia até noite fechada, trabalham Anos há, em que o pão (centeio) escasseia e a caixa (arca) se esgota. Aí surgem de Montalegre os compradores, oferecendo oito tostões por alqueire. ambos no campo ou na eira. À noite, até altas horas, a mulher fia junto da lareira a Á salgadeira – os que a têm – vão apenas pelas festas do ano: no Entrudo, na teia com que há-de fazer as primeiras camisas e os primeiros lençóis. O homem Pascoa e no Natal, ou em dias de trabalho extraordinário, quando não podem descansa da labuta do dia, ajudando a mulher a dobar o fiado. Feitas as de todo, sozinhos, granjear as terras, e rogam o auxílio dos vizinhos que vêem sementeiras e antes das colheitas, quando a lavoura abranda, o homem vai ás ajudar, sem direito a “jorna” e só pelo favor e pela mantença. Nestes tempos, feiras, vende os bezerros e ás vezes as “bacas”, compra outras mais baratas e vai uma família de lavradores, que não satisfeita com as dádivas generosas da ganhando alguns favores em carretos de pedra, de lenha ou de estrume. A mulher, terra - pão, batatas, hortaliça, feijão e lenha, gasta em alimentação, vestuário e no entanto, cora a teia, lança ninhadas de frangos e galinhas e engorda os porcos demais necessidades da vida para cima de dez tostões por mês, ou é rica ou para sustento no ano que se segue. está perdida. Parecendo á primeira vista impossível que tão insignificante Mas esses pobres têm uma riqueza: São independentes!... Enquanto pagarem com quantia possa chegar ao orçamento de uma casa, verifica-se, que ele é o que a terra lhes dá, essa terra que eles lavram cavam e semeiam pertence-lhes. É suficiente e não é mesmo atingido na maior parte das das vezes. O exíguo dessa terra, adubada com o seu suor, que lhes vem com o sustento, o orgulho de \"orçamento\" de um casal de lavradores no inicio do século passado por terras um domínio que se lhes afigura sem partilha. de Barroso para as primeiras necessidades, assentava fundamentalmente em quatro modestísimas verbas: 240 réis para o azeite, 100 para as sardinhas, 20 para sal e 60 para sabão. Fora do \"orçamento\", ficam as despesas de vestuário. Uma “andança” de roupa para homem, que pode custar aproximadamente 8 réis, dura entre 5 e 10 anos. Quase sempre usando “sócos”, o lavrador não chega a romper um por ano. A boina, que custa de seis a dez tostões, serve apenas para usar nos dias de feira ou nas festas. No trabalho diário, o lavrador usa uma capucha de burel no Inverno e um lenço da mão no verão. As mulheres gastam ainda menos do que os homens!... Uma saia de chita, um avental com barras a enfeitar e um lenço para a cabeça, são as peças essenciais e que duram “uma vida”. Roupa branca, lençóis, toalhas e ainda as calças de uso dos homens saem do linho, da estopa ou dos tomentos – da teia fiada em casa. O gado, é considerado fortuna comum. A própria doença, parece respeitar todo este culto sagrado da economia dos lavradores de Gralhas e de outras aldeias vizinhas. Só a velhice mata esta gente... Quando entram na agonia, a família manda chamar o padre para os confessar e ungir. Depois do padre, vem então o médico - se o houver - que raro receita e as mais das vezes chega a tempo de verificar o óbito.E assim morreu economicamente todo este mundo e toda esta gente. Exactamente, como economicamente nasceram e viveram.Só a emigração a partir da década 60, mudaria os hábitos e o \"bem-estar\" destas gentes... (*Avó; ** Tio-Avô) Por: Domingos Chaves
Noticias de 22 2018 COLÓQUIO|DEBATE - \"Os desafios do O ANO EM QUE O COUTO MIXTO FOI presente na construção do futuro “|Opinião TEMA DE DEBATE E O “REI” DEU OS PARABÉNS O Herdeiro da Casa de Bragança, D. Duarte Pio, esteve mais uma vez em Montalegre a convite do Municipio, tendo presidiu à conferência realizada nos Paços do Concelho, subordinada ao tema \"Couto Misto - Caminho Privilegiado“,, explicado pelo General barrosão Dário Carreira. Uma sessão concorrida onde o Chefe da Casa Real Portuguesa não disfarçou a satisfação pela recepção que teve, ao mesmo tempo que deixou os mais rasgados elogios à postura do povo de Barroso. Eis as suas palavras: “É uma ocasião muito bonita e muito Para as comemorações do feriado municipal ocorrido no passado dia 9 de Junho, alguém interessante numa terra que, para além das qualidades de toda a teve a feliz ideia da organização de um colóquio, subordinado ao tema “Os Desafios do população, está muito bem representada pelo atual Presidente Presente na Construção do Futuro”. Interessante – muito interessante até, se tivermos em da Câmara que defende acerrimamente os valores, a tradição e o linha de conta, um tema que ultimamente tem marcada a agenda politica – a progresso da sua terra. É sempre uma emoção vir a esta região. descentralização. É fundamental manter a beleza arquitetónica de cada região. Uma vez destruída é muito difícil recuperá-la. Perde-se o No referido colóquio, estiveram presentes figuras gradas da região barrosã, entre outros, os interesse turístico e a identidade cultural. Nesse aspeto temos os Presidentes dos Municipios de Montalegre e Boticas, e ainda o Presidente da edilidade de piores exemplos de toda a Europa. A apresentação sobre o Chaves, e um dos principais promotores do Movimento pelo Interior - Engenheiro Rui território do Couto Misto foi muito interessante. Seria um Santos, por sinal, Presidente da Câmara Municipal de Vila Real, que recentemente com atrativo cultural e turístico. Existem algumas semelhanças com Àlvaro Amaro, autarca do PSD e outras personagens que integram o referido movimento, o caso de Olivença. Nomeadamente quando Espanha coloca a apresentaram ao Governo e ao Presidente da República, um conjunto de propostas para questão de que Gibraltar deveria ser devolvida a Espanha. revitalização da interioridade, designadamente, uma nova “politica fiscal” e de “ocupação do Nesse sentido, Olivença deveria ser devolvida a Portugal. São território pelo Estado”. situações políticas parecidas mas cada uma com as suas especificidades. Creio que o reconhecimento da identidade do O tema era obviamente aliciante!... O que se viu porém, foi apenas e só, os do “costume” – território do Couto Misto seria uma vantagem muito grande aqueles que verdadeiramente “teimam em continuar a remar contra a maré e a puxar pela para a população local”. carroça”, a “dar o corpo ao manifesto”. Os outros ninguém os viu!. Os Presidentes de Junta – salvo honrosas excepções, tinham concerteza a sua agenda demasiado preenchida, e quanto à Sobre o tema propriamente dito, também o <General que deu Oposição nem vê-la. Uns “hibernaram” logo após as eleições de Outubro, para a palestra se pronunciou, argumentando, que “o nosso objetivo possivelmente despertarem e fazerem prova de vida da sua existência lá para 2021; outros é colocar a questão do Couto Misto na ordem do dia, ainda com mais responsabilidades, parece terem resolvido “hipotecar” a sua condição de nomeadamente na perspetiva portuguesa. Muita da informação autarcas, pela de “fiscais tributários”, desejosos de “exumar cadáveres” há muito sujeitos a que foi apresentada não está a ser transmitida e não há avaliações externas e sem retorno viável. conhecimento disso. Fazemos um esforço para repormos a verdade porque a dignidade é muito preservada pelos Ora isto – com o devido respeito, não é fazer politica!... Pode ser tudo, mas fazer politica não barrosões. Aproveitamos a presença de D. Duarte para lhe é certamente. A título de exemplo: não vale a pena “fazer bandeira” do retrocesso transmitirmos isso. Muita gente ouve falar deste assunto só demográfico e hipotecar uma oportunidade destas, com contribuições que possam potenciar pelo que é dito do lado espanhol”. a respectiva inversão. Montalegre, a par de Boticas – este ainda em maior escala, são dois dos concelhos do Alto Tâmega, onde a desertificação mais se tem acentuado. Seria por isso importante que todos dessem, senão as mãos - porque isso já se viu serem coisas de outra galáxia, pelo menos os seus contributos, que valendo aquilo que valem, teriam pelo menos o mérito de se poder dizer – estamos vivos, presentes, e queremos o melhor para a nossa terra. Mas não!... Aquilo a que se assiste, é que pelos vistos a Oposição no concelho não existe, e se existe não se dá por ela. É verdade que o exercício do direito à diferença é muito estreito, sobretudo perante um Partido com maioria absoluta!... Porém e nestas circunstâncias, manter o discurso e o combate político nas meras instâncias institucionais é redutor e apenas beneficia quem controla o poder. Quando assim é, as minorias acabam por ter, por omissão, apenas um papel legitimador que não se deseja em democracia. Daquilo que o nosso concelho verdadeiramente precisa, é de uma Oposição forte, séria e capaz de alertar com honestidade o cidadão para o que considera certo ou errado na prática de quem governa, e acima de tudo envolver-se em combates por causas públicas. Pessoalizar como tem acontecido a acção política e construir esse combate em torno de uma ou duas figuras, nunca deu nem jamais dará qualquer resultado positivo para a comunidade. Em boa verdade e em jeito de conclusão, este Colóquio, dada a sua importância merecia muito mais…
23 Noticias de REQUALIFICAÇÃO DO CASTELO DE MONTALEGRE 2018 | O ano de lançamento da primeira pedra D. Duarte Pio, presidiu à cerimónia Das comemorações que fizeram parte do feriado municipal, fez também parte o lançamento da primeira pedra para a requalificação do Castelo. Uma obra que promete vir a conferir um maior valor acrescentado à cultura do concelho. A cerimónia contou com a presença, entre outras individualidades, de Dom Duarte Pio de Bragança que presidiu ao evento. A este propósito referiu Orlando Alves: «Esta obra é muito significativa para o executivo municipal. Foram quatro anos a trabalhar esta ideia que resultou numa grande candidatura submetida aos fundos comunitários e que abrange outros castelos na zona Norte. Esta candidatura é uma iniciativa do município de Montalegre e temos muita vaidade nisso. Vamos intervir num espaço que não é nosso. Isto é património nacional. Há 30 anos que estou na autarquia e esta casa está sempre fechada. Espero que as obras não sejam prolongadas e estou convencido que dentro de pouco tempo temos a \"sala de visitas de Montalegre\" ao serviço dos barrosões e do turismo que é uma alavanca importantíssima no nosso desenvolvimento» . Enquanto isso, também D. Duarte não escondeu a sua satisfação, afirmando que é «com muita satisfação e alegria que vejo avançar a restauração do Castelo de Montalegre. Mas gostava de lembrar que alguns arquitetos e artistas fizeram estragos noutras construções. Há uma série de castelos desfigurados por especialistas que não respeitam e querem mostrar a sua originalidade aproveitando-se do monumento. É muito perigoso. De repente temos uma construção chocante que não se integra nas construções. É preciso bom senso porque estraga totalmente o prazer dos visitantes. Fico muito feliz porque tenho a certeza que isso não vai acontecer aqui». WI-FI GRATUITA NO CENTRO HISTÓRICO DE MONTALEGRE O investimento total foi de cerca de 40 mil euros, financiados em 90% através de uma candidatura aprovada à linha de apoio à disponibilização de redes Wi-Fi pelo programa \"Valorizar\" do Turismo de Portugal. 2018 fo o ano em que a Câmara Municipal de Montalegre instalou, uma rede Wi-Fi pública gratuita no centro histórico da vila, na zona do Parque de Exposições e Feiras e um MUPI digital interativo - Mobiliários Urbanos Para Informação - com Wi-Fi incorporado, na Praça do Município. O investimento total foi de cerca de 40 mil euros, financiados em 90% através de uma candidatura aprovada à linha de apoio à disponibilização de redes Wi-Fi pelo programa \"Valorizar\" do Turismo de Portugal. Colocados em zonas de maior afluência por parte de visitantes e moradores locais, estão hoje instalados na zona do Castelo/Ecomuseu de Barroso, Rua Direita, Praça do Município e no Parque de Exposições. Porém, é na Praça do Município que se encontra também o MUPI interativo contemplado neste projeto. A componente interativa destes dispositivos possibilita a navegação em áreas temáticas informativas relevantes, através de mapas interativos, com informação apresentada de forma segmentada e georreferenciada. O projeto está inserido num plano de divulgação turística do Município, através de soluções de smart cities, com suporte a MUPI digitais interativos e internet gratuita, através da disponibilização de rede Wi-Fi para visitantes e moradores locais. Trata-se de uma solução integrada com capacidade de análise de dados relativos à mobilidade e à caracterização dos perfis dos visitantes do concelho de Montalegre, que pretende melhorar a infraestrutura urbana e tornar o espaço físico mais eficiente de forma a criar um ambiente inteligente e interativo.
Noticias de 24 BARROSÕES ILUSTRES O HOMEM O único português a andar de amarelo no Tour vive em Dudelange ACÁCIO DA SILVA Já lá vão 29 anos e Acácio da Silva continua a ser o “Pedalo pouco. Só de vez em quando, pelos bosques, Acácio da Silva Mora, nasceu nos único português a vestir a camisola amarela na Volta a Casais da Veiga-Montalegre, em 2 França. Nascido em Montalegre, emigrou com 7 anos com o meu filho, que está prestes a completar 8 de Janeiro de 1961. É um antigo para o Luxemburgo, precisamente onde haveria de anos”, contou o antigo atleta, a viver no Luxemburgo ciclista profissional português, fazer história em 1989, porque foi nesse país que há quase meio século – interrompidos por cerca de 15 tendo iniciado a respectiva carreira venceu a etapa do Tour que lhe deu a camisola em 1982 e terminado a mesma em amarela. “Foi em casa, onde cresci para o ciclismo, na anos a viver na Suíça, onde vai mostrando pedalada 1994. Durante o referido período primeira etapa em linha desse ano. Estava motivado. para os negócios, em Dudelange. “Tenho dua venceu etapas no Tour de France, Estávamos três ciclistas na frente à entrada para os Giro d`Italia e em muitas outras últimos três quilómetros: eu, o dinamarquês Søren agências imobiliárias. Vendo casas. De manhã, estou competições por etapas. Venceu ao Lilholt e o francês Roland Le Clerc. Larguei-os e fui todo três etapas no Tour de France, sozinho para a meta. Eles eram muito rápidos e não mais pelo escritório, mas à tarde vou para o terreno. uma em 1987, outra em 1988 e podia arriscar uma discussão ao sprint”, recordou, em uma terceira em 1989. Após a conversa com o Diário de Notícias. Não gosto de estar muitas horas fechado. Entrei no vitória na etapa em 1989 vestiu a camisola amarela durante quatro “Os emigrantes ficaram muito contentes e ainda hoje ramo há mais de 20 anos, com a ajuda de um amigo dias. Em 1986 venceu a Zuri- falam disso. Foi uma coisa enorme. Afinal, o Tour é a Metzgete e foi campeão português maior corrida do ano e todos os olhos estão virados entretanto falecido. Está a correr bem, com altos e de estrada. para lá. Festejei com os amigos, mas não deu para baixos, mas o balanço é positivo”, explicou, via Prova de BTT com o seu nome muito, porque no dia seguinte havia etapa”, contou o Acácio da Silva começou a pedalar ex-ciclista, agora com 57 anos. Essa foi a terceira chamada telefónica, num português bastante aceitável por influência dos irmãos - dos vitória do transmontano numa etapa da Volta a França, melhores ciclistas amadores do uma vez que já tinha vencido duas nos anos anteriores, para quem vive há tantos anos fora do país de origem. Luxemburgo, e pelo gosto pela mas ainda assim a que lembra com maior orgulho. “A minha mulher e os meus filhos são portugueses e modalidade. \"Se não gostasse do vou todos os anos a Portugal uma ou duas vezes”, ciclismo não teria chegado tão Um dos pontos altos da carreira, a par do primeiro justificou o antigo ciclista das equipas Royal– longe\", diz. Como ciclista, \"era triunfo numa etapa da Volta a Itália (1985) – “ganhei dos mais rápidos\". \"Era bom a ao sprint, frente a grandes sprinters!”, vinca – e da Wrangler, Eorotex-Mavic, Malvor-Bottecchia, Kas, fazer sprints, sobretudo quando consagração como campeão nacional (1986) – “sempre havia alguma inclinação. Era o quis ser campeão no meu país”, confessa o antigo Carrera e Festina-Lotus, assim como da portuguesa meu ponte forte. Subia bem em corredor, que no Giro de 1989 vestiu a camisola rosa troços de poucos quilómetros. Não por duas vezes. Jumbo-Maia.Acácio da Silva começou a pedalar por me destacava muito pela influência dos irmãos, “dos melhores amadores do montanha. Tinha de fugir da A paixão pelo ciclismo continua a ser sentida por Luxemburgo”, e pelo gosto pela modalidade. “Se não montanha para ganhar\", descreveu, Acácio da Silva, mas nem por isso se atreve a pedalar gostasse do ciclismo não teria chegado tão longe”, reconhecendo o ponto fraco com frequência. chamado contrarrelógio: \"Não era diz. mesmo para mim. Fiz mais maus do que bons. Não se pode ter Como ciclista, “era dos mais rápidos”. “Era bom a tudo...“ Este antigo corredor pode não ter fazer sprints, sobretudo quando havia alguma tudo, mas tem em memória dos seus feitos, direito a uma prova de inclinação. Era o meu ponte forte. Subia bem em BTT com o seu nome, em Montalegre, a qual se realiza troços de poucos quilómetros. Não me destacava normalmente no inicio de Julho de cada ano. muito pela montanha. Tinha de fugir da montanha para ganhar”, descreveu, reconhecendo o ponto fraco chamado contrarrelógio: “Não era mesmo para mim. Fiz mais maus do que bons. Não se pode ter tudo…”E este antigo corredor não tem tudo, mas tem direito a uma prova de BTT com o seu nome, em Montalegre.
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26 Noticias de A IDENTIDADE DE UMA REGIÃO A magia do Parque Nacional da Peneda- Gerês, um piquenique em Montalegre e um périplo pelos restaurantes de Barroso, fazem as famílias mais felizes Passamos por Meixedo e tomamos Montalegre, vila e sede do concelho, ocupa o coração do planalto o pequeno almoço já tarde e a más barrosão, em lugar sobranceiro ao rio Cavado e à serra do Larouco, que horas no café 25 em Gralhas. lhe domina as vistas. Está a cerca de mil metros de altitude, pelo que o Depois foi um saltinho até Solveira, seu clima é muito frio e rigoroso no Inverno, sendo em contrapartida uma passagem rápida pelo bastante ameno no verão. Os historiadores não sabem ao certo desde Santuário de Nossa Senhora da quando esta terra é habitada. Julga-se porém que houve barrosões desde Saúde e a chegada àquela que o o segundo milénio antes de Cristo. Prova disso são os inúmeros padre Lourenço Fontes resolveu dólmenes espalhados por toda a região, cuja enumeração inclui várias baptizar como a aldeia das Bruxas. dezenas. No último milénio antes de Cristo, todo o Barroso foi povoado pelo povo celta, que se disseminou pelos outeiros deste território COZINHAR COM AMOR |O QUE DIZEM DE NÓS agreste, construindo os seus castros. Estão actualmente inventariados cerca de cinco dezenas. Entre eles, o da vila de Montalegre, sobre cujas Acordámos no Gerês envolvidos numa neblina misteriosa e mágica, que nos ruínas viria a ser mais tarde construído o castelo medieval. Ainda hoje, levou a redescobrir este local belíssimo de Portugal. A beleza do Parque o povo barrosão exibe as suas características célticas, nas suas feições Nacional da Peneda-Gerês é indescritível e tem mesmo que ser vivenciada. físicas, no seu carácter violento e orgulhoso e nas suas manifestações Depois de uma noite bem dormida à beira rio, sentia-se uma aragem fresca, lúdicas e culturais. Embora não haja documentação que o comprove, fruto da misteriosa neblina que nos envolvia, pelo que decidimos que o melhor parece certo que a zona da vila, povoada apenas por pastores até à Idade seria tomar um banho bem “quentinho” e ao ar livre. E foi o que fizemos. Média, por essa altura se povoou intensamente, correspondendo este fenómeno à necessidade de povoar e defender o reino portucalense, e A Serra está repleta de lugares mágicos que nos permitem ter experiências em particular, as zonas fronteiriças. Aliás, ao que parece, já então a vila únicas. Relaxados, seguimos viagem em direcção a Montalegre, no Planalto de ocupava o lugar de cabeça da terra de Barroso. Com D.Afonso III, Barroso. Ali visitámos o famoso castelo e sentimos um pouco da energia da Montalegre teve o seu primeiro foral em 1273, confirmado e renovado grande festa que se avizinhava – as Bruxas. Antes porém e com Vilar de por D. Dinis em 1289. Este é o primeiro documento escrito que se Perdizes ali por perto, não perdoamos! Passamos por Meixedo e tomamos o conhece sobre Montalegre. E dele pouco se sabe mais, porque pequeno almoço já tarde e a más horas no café 25 em Gralhas. Depois foi um desapareceu com o incêndio que destruiu a vila durante as escaramuças saltinho até Solveira, uma passagem rápida pelo Santuário de Nossa Senhora da fronteiriças que opuseram o nosso rei D. Afonso IV a Afonso XI de Saúde e a chegada àquela que o padre Lourenço Fontes resolveu baptizar como Castela. Conhece-se uma versão posterior do foral, emitida pelo próprio a aldeia das Bruxas. D. Afonso IV em 1340 e renovado por D. João II, em 1491. Com D. Manuel, em 1515, a vila teve novo foral, o qual acabou com antigos O desafio que então lançámos às pessoas da aldeia foi tão bem acolhido que privilégios nobiliárquicos e abriu o caminho para o desenvolvimento tudo estava perfeito! O local escolhido é mágico, as palestras fluiram de uma que a vila teria nos tempos modernos. forma espontânea, indo ao encontro das necessidades dos presentes, mas a hora da comidinha apressava e não podíamos deixar que se fizesse tarde. As Actualmente, Montalegre é uma vila agitada por ser o centro recomendações foram muitas, mas a aposta recaíu ali na cozinha barrosã, que administrativo e comercial do Alto Barroso. Tem foros de mini dizem praticar-se a preceito na margem esquerda do Rabagão. metrópole. A sua rua principal, a Rua Direita, é a mais comercial e destina-se apenas ao trânsito de peões. Nesta rua predominam ainda as O almoço foi um sucesso, mostrando que a alimentação pode ser saudável, casas de granito cinzento, típicas de Barroso, que aliás são muito consciente e super saborosa. Degustamos em família um valente cozido à abundantes por toda a vila. Verifica-se com agrado que vários dos portuguesa com carnes da região e para sobremesa optamos pela fruta da época, edifícios públicos de construção mais moderna, na zona da Portela, a que se seguiu o já tradicional café, que tornando-se num hábito, já não pode exibem o uniforme cinzento acastanhado que lhes impõem o estilo e os faltar na mesa dos portugueses. Tudo estava de comer e chorar por mais. Foi materiais de construção tradicionais. Infelizmente há também, por toda emocionante e incrível o carinho e o interesse com que nos receberam e a vila, \"maisons\" de cores garridas, normalmente propriedade de ouviram, e no final ainda nos presentearam com produtos da terra. O fim de emigrados e por isso fechadas durante a maior parte do ano. Mas é tarde e a noite dentro, foi como não podia deixar de ser na festa das bruxas em também uma vila florida, com vários e bem cuidados canteiros e Montalegre. jardins. Sobretudo nas praças principais, onde uma estátua de João Cabrilho domina com o olhar os edifícios solenes do Palácio de Justiça. Um monumento de carinho, de bem receber, de organização e de respeito pelo In Terras de Barroso – Domingos Chaves próximo. Montalegre ensinou-nos muito e prometemos voltar. Já cansados, pernoitamos e prolongamos por mais um dia a nossa estadia, desta vez do lado de cá do rio desta terra maravilhosa, orientados que fomos por novos amigos, que nos presentearam com um cenário de milhões de estrelas. Parabéns a Montalegre
27 Noticias de MEU QUERIDO MÊS DE AGOSTO… EMIGRANTES|O REENCONTRO COM AS RAÍZES E AS EMOÇÕES… Tal como ocorre em outros pontos do país, também pela “república do barroso”, Agosto continua a ser considerado como o mês dos emigrantes. O seu regresso e a passagem pelos diversos postos fronteiriços, são até em permanência, registados nos telejornais, numa época em que as televisões – não fora os incêndios - têm muito pouco para mostrar. Mas a emigração hoje é diferente, porque o mundo também o é!... Acima de tudo, muito menos redundante. Noutros tempos, “chegada a hora” do regresso, faziam fila em Vila Verde da Raia, hoje porém, muitos optam já por chegar e partir em voos low costs preferindo cruzar os céus da Europa, o que significa que talvez seja por isso, que vemos cada vez menos matrículas com “sotaque francês” a circular por cá. E por falar em emigrantes, direi que já aqui falei mais do que uma vez sobre aqueles que partiram, mas não me lembro de abordar os seus curtos regressos, que cada vez mais já não se limitam ao Verão. A oferta das companhias aéreas permite agora uma nova versão da emigração, picotando o calendário com pequenos regressos e outras tantas partidas. Ainda assim, Agosto continua a ser o mês que associamos ao emigrante “filho do povo” barrosão, inequivocamente muitas vezes mal tratado e desconsiderado pelas chamadas elites mais urbanas supostamente intelectuais, que no Verão até preferem migrar da cidade para praias quase semi-exclusivas, nas quais se reúnem com os amigos. Praias essas onde não há emigrantes, apenas o primo que vive no Dubai ou o tio que tem negócios em qualquer outra parte do mundo - a tal emigração chique, a tal sociedade composta de pessoas diferentes e com estatutos e posições sociais alegadamente diferenciadas. Nunca fui emigrante, mas é um prazer conviver com eles, principalmente com aqueles que se agarram à sua – nossa - identidade com unhas e dentes, ainda que alguns dos que por cá ficaram como referi, os olhem com desdém e desprezo por tudo quanto respeita à nossa região – apostando no “quanto pior melhor”, pese embora nem tudo seja seguramente assim tão maus. E louvo-os ainda, porque tendo saído muitos deles revoltados e desiludidos com um país que não os soube reconhecer e acolher, quando da partida, já estão a olhar com saudades para a família e amigos, recordando alguns detalhes que fazem de Barroso essa terra à qual apetece sempre voltar. Agosto continuará por isso a ser um mês querido por todos os que partiram, independentemente da motivação ou condições. E diga-se em abono da verdade, que bem precisamos deles!... Agosto, seria sempre Agosto, mas não era a mesma coisa. Barroso, estar-lhe-à por isso agradecido. Voltem por isso sempre… Domingos Chaves
Noticias de 28 TERRAS DE BARROSO | UMA TRADIÇÃO QUE RESISTE SEM A MISTICA DE OUTRORA, AS CHEGAS DE BOIS AINDA CONTINUAM A SER O ESPECTÁCULO DE REFERÊNCIA DOS BARROSÕES COMO SE PROCESSAVAM NO PASSADO AS “CHEGAS DO BOI DO POVO”… As Chegas de bois, são uma antiga tradição das terras de Barroso, e nos dias de hoje, pese embora todas as mudanças ocorridas com o decorrer do tempo, são ainda o espectáculo de referência das suas gentes. Num passado não muito distante, cada “chega”, era um dia de festa, ou de tremenda amargura e tristeza, para os habitantes das aldeias. O principal protagonista, era sempre o Boi do Povo. Boi do povo que era um bem comunal e se alimentava normalmente nos lameiros que pertencem ainda hoje a toda a comunidade. Cerca de meio ano antes da participar em qualquer duelo, recebia ainda feno, centeio, batatas, nabos, beterrabes e todo um conjunto de géneros, que eram oferecidos por todos os habitantes da aldeia, para complemento da sua alimentação e respectiva engorda. Pernoitava numa casa, que fazia também parte do património de todos. Anualmente e por uns tantos alqueires de centeio, um pastor “arrematava” a guarda e o tratamento do animal, de quem passaria a cuidar. Quando chegava à idade adulta - cinco ou seis anos - tornava-se no orgulho das aldeias, sendo por isso, motivo de acesas discussões entre os habitantes locais e de povoações vizinhas, com cada um a defender a maior pujança do seu animal. Estas discussões terminavam irremediavelmente numa luta entre os animais - as chamadas “chegas” - que visavam distinguir o campeão. Em certos casos, fazia-se até alguma batota, promovendo-se um confronto preliminar entre os contendores, feito sempre às escondidas e normalmente em noites de luar. Para que isso acontecesse, o “boi do povo” de uma determinada aldeia era raptado, uma tarefa nem sempre fácil, quer pelos cuidados que cada pastor e a respectiva comunidade colocava na sua guarda, quer pela bravura do próprio animal, que geralmente se tornava agressivo face a desconhecidos, quer ainda, porque perante uma situação desse tipo e caso o raptor ou raptores fossem detectados, se sujeitavam a ser severamente maltratados, ou mesmo até mortos, já que era colocada em causa, a honra e a dignidade dos intervenientes. Há mesmo exemplos, cujas marcas deixadas, são profundas. Em alguns casos são colocados frente a frente. Invariavelmente, o campo de batalha está a abarrotar de porém, havia conivência entre os tratadores das duas aldeias, que decidiam gente, quer se trate de pessoas oriundas das aldeias dos bois em presença, quer de confrontar os animais para atestarem se estavam prontos para poderem realizar a curiosos de outros lugares das cercanias, que vibrando com acontecimentos deste “chega” pública, de forma a que esta não resultasse num fiasco. Caso o resultado tipo, acorriam ao chamamento de uma festa ímpar na região e que tocava no fosse positivo, estavam então reunidas as condições para a realização do confronto, o subconsciente de homens, mulheres, jovens e menos jovens. Uma vez na presença um qual devia ser acordado seguindo um certo ritual: os rapazes - mais maduros e do outro, os animais «medem-se», sob o olhar atento do público presente, que de badolas-de uma aldeia dirigiam-se, geralmente ao domingo, à aldeia que pretendiam imediato toma partido, apoiando o seu favorito. Este é o momento em que se desafiar. destacam os incitamentos das duas comunidades em confronto, que se revêem nos As regras do jogo exigiam que o desafio não fosse directo. Os visitantes deviam seus “bois do povo”. referir, de uma forma evasiva à juventude visitada, a possibilidade da “chega”, ao Os dois possantes machos rapidamente se enfrentam. Segue-se uma luta indescritível que os estes deveriam responder da mesma forma, mesmo que o seu boi fosse o de jogos de cornos e marradas, corpos a vibrar até ao extremo, luta sangrenta de campeão coroado em outros confrontos. O passo seguinte dependia da aldeia carreiros de sangue na disputa, que vai marcar a distinção entre vencido e vencedor. desafiada, tanto mais, que a decisão a tomar, fazia parte da tradição comunitária, o Por alguns momentos descansam, voltam a investir, afastam-se, voltam a lutar, que significa, que dependia da realização de um escrutínio, normalmente feito de entrelaçam de novo os seus cornos uns nos outros e empurram-se mutuamente e com braço no ar, no domingo seguinte à saída da missa e após a comunicação do desafio, violência, mostrando cada qual a sua força e a sua bravura. A “chega” pode ser rápida feita pelo Presidente da Junta. Neste escrutinio, era sempre exigida uma maioria ou prolongada, dependendo essencialmente do gabarito dos contendores. Em absoluta, caso contrário, gorava-se a hipótese da realização da “Chega”. Se o desafio qualquer dos casos, o entusiasmo dos assistentes é indiscritível. O seu final pode fosse aceite, os responsáveis das duas aldeias, iniciavam então os planos para a acontecer quando um dos bois abandona o combate fugindo em debandada, o que realização da festa, que devia acontecer em data aprazada, passado que fosse um significa o assumir da derrota, ou quando um dos animais é irreversivelmente ferido periodo, que oscilava entre os quatro e os seis meses e a meio caminho entre as duas pelas investidas do seu opositor. povoações. A escolha do terreno, era também motivo de discussão, já que apesar da “Chega” ter obrigatoriamente de se realizar em terreno neutro, o tipo de piso era muito importante para o desenrolar do confronto. As técnicas eram as seguintes: Os proprietários de um animal jovem, tentavam que a escolha recaísse sobre um piso duro, enquanto que os donos de um animal mais velho tentavam assegurar um piso mole, menos desgastante para o seu boi, que geralmente era mais pesado. O meio termo, acabava quase sempre por prevalecer. Outro dos assuntos a negociar, prendia-se com os cornos do boi!... Havia que decidir, se as suas pontas se afiavam ou não, se podiam ser introduzidas pontas de aço, ou até o enxerto de pontas de cornos, quando o animal estava mal servido delas. Posteriormente e Para os habitantes da aldeia vencedora, os momentos que se seguem são de euforia, após “celebração do acordo” ocorriam ainda muitos outros rituais, tais como rezas, quase de glória. O seu boi passa a ser quase venerado. O vencido segue em silêncio, a caminho do talho. Dos tratadores e de quem os acompanha ouvem-se, por vezes, superstições, saberes ocultos e mezinhas, que poderiam contribuir para um desfecho vozes roucas a desabafar, numa raiva incontida: - o boi perdeu, mas os homens... favorável. Até as mulheres levantavam saias e saiotes para incitar o boi. Definido então o local da “chega” e as condições em que a mesma iria decorrer, era veremos. então necessário, tratar da respectiva autorização junto das autoridades concelhias, As cenas de violência nem sempre são evitadas, mas felizmente são cada vez mais bem como da presença de alguns Guardas no local da contenda, como forma de prevenir potenciais desacatos, o que nem sempre era conseguido, face à emoção raras. Esta tradição, já não é hoje o que era. Apesar dos habitantes destas Terras do gerada em torno de cada um dos animais. Barroso continuarem a vibrar e a manifestar grande entusiasmo com as “Chegas”, o Quanto às despesas, que daí resultavam, eram normalmente suportadas, em partes boi do povo já não existe mais. Aquilo que resta, são as ”Liadas”, agora , iguais, pelas aldeias envolvidas. Chegado então o dia aprazado, os dois bois, são conduzidos ao local do combate pelos seus tratadores munidos de varapaus, onde comercializadas a troco de alguns euros, levadas a efeito pelos proprietários dos bois, que individualmente se dedicam a esta actividade. Dos tempos de outrora, resta a nostalgia.
29 Noticias de CRIAÇÃO E PRODUÇÃO DE CARNE DE GADO BARROSÃO UMA ACTIVIDADE EM DESENVOLVIMENTO A FEIRA DO PRÉMIO Origem|A origem do gado de raça Barrosã e o seu Características|Os bovinos da raça Como de costume, a já tradicional feira do prémio de Montalegre irá ter lugar mais uma enquadramento com as outras raças da Península Ibérica tem Barrosã possuem cor castanha clara e tamanho médio, vez neste mês de Agosto e também como ainda muito por explicar, constatando-se uma grande e tornaram-se mais resistentes que outras raças da sempre, será uma das mais concorridas do heterogeneidade na opinião de diversos estudiosos a este região, sendo bastante conhecidos pela sua carne de ano para os presentes e amantes destas respeito. Uns, referem a existência no Norte de África - vale qualidade, sabor e ternura. “coisas do gado” poderem apreciar os do Nilo, de um gado com características morfológicas diversos exemplares desta raça que desfilarão semelhantes à actual raça Barrosã, em especial no que se 4 perante um Júri que as avaliará, e com refere à forma, tamanho e espessura dos cornos. centenas de curiosos a assistir e a dizerem Diga-se, que aA Carne Barrosã DOP se pode também de “sua justiça”. É nestas alturas que Este gado é normalmente associado à designação apresentar como: “carne de vitela”, quando os os criadores e produtores do gado barrosão se subespecífica “bos primigenius opisthonomus”, embora animais são abatidos entre os 5 e os 9 meses de idade sentem recompensados pelo esforço que é também se refira como “bos primigenius mauritaniens” e e peso entre os 70 e 130 kg; “carne de novilho”, necessário fazer para “manter de pé” esta como “bos taurus desertorum”, e terá chegado à Península quando possuem entre 9 a 36 meses, com peso raça, só possível com muito esforço e amor a Ibérica através de várias rotas migratórias dos povos norte- mínimo de 130 kg; e por último, “carne de vaca”, uma causa que faz já parte da tradição há africanos. carcaça de animais abatidos entre os 3 e os 4 anos de dezenas, senão centenas de anos. A feira do idade, com peso mínimo de 130 kg. No caso dos bois prémio, irá ocorrer Integrada no programa A raça Barrosã, poderia assim, ser incluída no tronco adultos, corpulentos e robustos que são, entusiasmam das festas da vila de Montalegre e o recinto mauritánico, tendo como ancestral o “bos primigenius ainda o povo nas tradicionais chegas de bois que se do campo da feira servirá como palco, para a mauritanicus”. Neste contexto, poderá admitir-se que o gado envolve em apostas para saber qual é o que se sagra exposição dos diversos exemplares que os A que corresponde a este grupo se tenha instalado na Península campeão. preservação desta tradição é um motivo de Ibérica, provavelmente durante a longa ocupação Moura. orgulho e vaidade para muitos barrosões que Posteriormente, a raça Barrosã terá sido desalojada pelos Um dos seus traços mais caraterísticos é o acentuado recuam às memórias do passado, recorda troncos ibérico e aquitânico, restando apenas um núcleo tamanho dos seus cornos, que nas feiras e concursos Orlando Alves, Presidente da Câmara populacional confinado às zonas planálticas do Barroso, onde parecem exibir com garbo, fazendo o orgulho dos Municipal de Montalegre, ao considerar que permaneceu até hoje. Esta hipótese, não é contudo partilhada seus proprietários. Em Portugal, apesar de originária o contexto destes concursos acontece devido por outros estudiosos, que lhe criticam a escassa evidência - do planalto barrosão de onde lhe provém o nome, “à paixão que as pessoas ainda nutrem pela forma e tamanho dos cornos- e portanto, uma clara ausência rapidamente se disseminou pelo Minho a partir das feira do prémio e também pelas feiras do de base científica. feiras de Cabeceiras de Basto e outras localidades gado”. É sempre uma iniciativa muito onde era comercializado. participada e é desta forma que “nos Perante o exposto, pode verificar-se que a raça Barrosã propomos continuar a cumprir a tradição e apresenta aspectos morfológicos e histórico-evolutivos muito De resto, a Associação dos Criadores de Bovinos de preparar e construír o futuro”. peculiares, sendo ainda hoje difícil proceder ao seu Raça Barrosã encontra-se sediada na freguesia de enquadramento no seio das restantes raças bovinas ibéricas. O Salto, localidade onde ainda perduram tradições Refere ainda o Presidente, que este evento, “é aprofundamento da investigação sobre a estrutura genética minhotas, tendo em conta que antes da Reforma também uma forma de promover e divulgar a das suas populações, poderá ser assim, uma via para o Administrativa de Mouzinho da Silveira em 1836, criação e a comercialização da carne de gado esclarecimento das muitas questões que permanecem por pertenceu ao actual concelho de Cabeceiras de Basto. da raça barrosã” e ao mesmo tempo, “uma responder. Actualmente, os criadores deste gado beneficiam de homenagem aos produtores, jovens na sua um subsidio da Câmara Municipal de Montalegre maioria, que resistem em manter-se nesta para o efeito e segundo o Registo Zootécnico, o actividade, apesar de se tratar de trabalho que número de exemplares desta espécie deve rondar não será tanto rentável quanto se desejaria”. actualmente os dez mil exemplares. A sua carne tem “denominação de origem controlada”. Na verdade, a rentabilidade destes produtores seria maior se se dedicassem a outras raças, pois, enquanto uma cria de raça barrosã, em seis meses, atinge 80 quilos, em igual período, uma cria de outra raça poderá atingir os 200.Como forma de ajudar os produtores, o Municipio concedeu já vários incentivos aos produtores de gado barrosão, por cada cria nascida.
30 Noticias de VIAGEM PELAS ALDEIAS|GRALHAS A HISTÓRIA DE UMA ALDEIA MILENAR A aldeia situa-se no sopé da Serra do Larouco, onde nasce o Rio Cávado.A história da freguesia de Gralhas é milenar!... Segundo alguns autores, por aqui cruzaram estradas romanas, passando pelo \"opidum\" romano, hoje relembrado pelo lugar de Castelo Romão (castro romano). Nesta terra, aparece com alguma frequência, cerâmica com fortes sinais de romanização. Para além desta referência arqueológica, outra merece idêntico destaque. Falamos da \"villa de Caladunum\". São vários os textos que a ela se referem, informando ter existido no local, um edifício quadrangular abobadado em pedra, muita dela reutilizada na construção da actual igreja paroquial. Gralhas foi um Curato da Sé de Braga, tendo mais tarde passado a Vigararia, tendo-lhe sido concedido um foral em 20 de Setembro de 1310 pelo rei D. Dinis. Falamos da \"villa de Caladunum\". São vários os textos que a ela se referem, REGISTO DO AUTO DE POSSE: informando ter existido no local, um edifício quadrangular abobadado em pedra, muita dela reutilizada na construção da actual igreja paroquial. Ano de mil setecentos e cinquenta e seis: aos 9 dias do mês de Gralhas foi um Curato da Sé de Braga, tendo mais tarde passado a Junho em esta honra e julgado de Gralhas que é termo da vila Vigararia, tendo-lhe sido concedido um foral em 20 de Setembro de 1310 de Montalegre e casas da câmara e órfãos veio o doutor pelo rei D. Dinis. António Paes Teixeira … e sendo ai na assistência do juiz ordinário e mais oficiais da câmara desta honra em virtude de As principais actividades económicas situam-se nas áreas da agricultura e uma ordem, tomou posse desta honra e julgado de Gralhas e pecuária, mormente na criação de bovinos, caprinos e ovinos. O artesanato ofícios do tabelião do público judicial e notas órfãos, câmara, nunca foi rico, tendo-se produzido em tempos artefactos de carpintaria, almotaçaria que são de todas as honras e julgados deste ferraria e linho. O que individualizou Gralhas noutros tempos, foi o facto de concelho de Barroso e de tudo o mais (…) que na dita honra e ter sido uma das seis honras de Barroso a saber; Gralhas, Meixedo, julgado havia, um casal que pagava à Sereníssima Casa de Padornelos, Padroso, Tourém e Vilar de Perdizes. Bragança doze alqueires de pão centeio como melhor há de constar do tombo do almoxarifado da vila de Chaves. Todas estas honras eram terras sob protecção senhorial, que detinham identidade e jurisdição própria sobre o seu território, organizando-se com um governo próprio e autónomo desde o início da nacionalidade. Por volta dos finais do século XII estas honras de Barroso aparecem associadas às alcaidarias dos castelos de Portelo e Piconha, castelos que dão nome e são apontadas como cabeça de circunscrições concelhias onde se inserem as referidas honras. Em 1530 Gralhas aparece referenciada com 44 moradores o que daria uma população aproximada de 180 pessoas e a sua Câmara era composta por um Juiz ordinário, que presidia à Câmara, 2 vereadores e 1 procurador. Era eleita de três em três anos e a eleição era presidida pelo corregedor da Comarca de Bragança, que vinha à terra para presidir. Para auxiliar o governo da Honra de Gralhas havia um almotaçé que tinha Actualmente o seu património cultural reduz-se,à Igreja matriz, competência sobre o controlo do comércio de bens, o tabelamento de Capela de Santa Rufina, edifícios da antiga Casa do Povo, preços, o licenciamento das vendas, fiscalizava o sossego da gentes para Escola Primária, Fonte Fria, Fonte do Bárrio, Forno do Povo, além de haver o tabelião de notas. Gralhas era território do Duque de Moinhos de Àgua muito deteriorados e aos seus Cruzeiros Bragança que tinha jurisdição plena sobre o seu território, estando vedada a Seculares. entrada dos oficiais régios. Outros locais de interesse turístico: Adro e zona da igreja e lugar do Castelo do Romão. Com o Terramoto de Lisboa de 1755 a maior parte do cartório da Casa de Bragança ficou destruído e para reorganizar o registo dos bens do Ducado foi enviado um magistrado da Casa de Bragança às terras de Barroso para tomar posse e fazer o registo dos bens que à Casa pertenciam.
Noticias de 31 GRALHAS | A HISTÓRIA DE UMA ALDEIA MILENAR A ALDEIA NA IDADE MÉDIA Depois de tudo quanto ficou escrito, é pacífico, que a aldeia de Gralhas, dentro do actual contexto e com a ressalva do Bairro das Cruzes (ou de São Sebastião), que é contemporâneo, já existia, quando do reconhecimento do Reino, em 1143. Sabe-se que administrativamente dependia do Alcaide de Montalegre, a quem pagava, tal como outras aldeias das redondezas, parte dos tributos da terra, que era pertença da corôa. Tais tributos, eram devidos, pelo facto, daquela que hoje é sede de concelho, ser ao tempo e no seguimento da organização administrativa, que vinha do Reino de Leão, aquilo a que se chamava «Cabeça da Terra de Barroso», onde funcionava e era organizada toda a administração civil, judicial e militar. A partir de 1273, as regras tributárias dos habitantes de Barroso e por consequência dos de Gralhas, foram significativamente alteradas. Através de uma carta de foral, datada de 9 de Junho de 1273, atribuída a Montalegre, como «Cabeça das Terras de Barroso», mas cuja motivação principal, era a intensificação do povoamento e desenvolvimento agricola da região, o Rei D. Afonso III, concedeu às populações «todos os direitos e rendas reais, com excepção dos direitos de hoste, moeda e padroado das igrejas, que reservava para a corôa». Impunha ao Alcaide, «...o tributo anual de 3.500 morabitinos», que este deveria cobrar, junto das populações das diversas aldeias que tutelava e pagar à corôa, em três prestações: 1 de Outubro, 1 de Fevereiro e 1 de Junho. A falta de pontualidade deste pagamento, seria penalizada com uma «multa» de 10 morabitinos, por cada dia de atraso. Com a dita carta de foral, foram ainda proíbidos todos os abusos que alguns fidalgos da «Cabeça», exerciam sobre os aldeões, designadamente, o uso da força que muitas vezes utilizavam para extorquir determinados bens de que necessitavam, bem como a sua aquisição sem a necessária contrapartida de pagamento. Só que tal «politica» não resultou!... A intensificação do povoamento e o desenvolvimento agrícola pretendidos, não tiveram sucesso; muita gente morreu, em consequência da fome e de uma grave epidemia que na época por ali passou; procurando fugir à doença e à fome, alguns povoadores saíram das suas terras e procuraram novas paragens, em busca de melhores meios de subsistência; outros ainda, fugiram às acções de violência e extorção de bens, de que eram vitimas, por parte de alguns fidalgos da «Cabeça»; a mão- de-obra era diminuta e o desenvolvimento agricola, regrediu de forma significativa. Mais tarde, após tomar conhecimento de todos estes factos, o rei D. Dinis, encarregou então, o clérigo Pedro Anes, de proceder ao estudo da situação e encontrar as necessárias soluções, que permitissem inverter os dados referidos. Assim e à semelhança de outras aldeias das «Terras de Barroso», foi Gralhas contemplada, com uma Carta de Foral, datada de 20-09-1310, a qual era dirigida aos moradores que se haviam mantido na povoação. Na dita Carta, se estabelecia uma nova divisão dos terrenos, para serem entregues aos povoadores, cada um dos quais, ficaria obrigado a pagar 1 maravedi de foro. Se para a divisão efectuada, não houvesse os necessários povoadores, cada um poderia adquirir mais de um terreno, pagando 1 maravedi, por cada unidade a mais que possuísse. O periodo mínimo de aforamento era de 3 anos e ao fim deste tempo, o foreiro poderia continuar na posse das terras, aliená-las, dá-las ou vendê-las, mas sempre com a condição, de que o novo possuidor, pagasse o respectivo «imposto». Nos casos de venda, alienação ou doação das terras, os agricultores, só seriam obrigados a entregá-las aos novos proprietários, depois de efectuadas as colheitas, pagando-lhes no entanto as rendas, que os «homens bons» da povoação, julgassem ser justas. A partir daqui e tendo em conta o número de forais ou cartas reais de foro, referentes à região do Alto- Barroso, poder-se-à concluir, que como consequência das medidas levadas a cabo, pelo rei D. Dinis, ali tenha ocorrido um significativo desenvolvimento agricola. Os forais falam frequentemente em «casais» (bens), que se desdobram em dois, três ou mais, e terras incultas, transformadas em propriedades produtivas. A multiplicação de terras cultivadas, aumentando a rentabilidade agricola para as populações foreiras, constituía assim, apreciável fonte de receita para os Alcaides, que na ausência de moeda, viam muitas vezes os seus tributos serem pagos em géneros. Gralhas não foi excepção à regra. No tempo em que reinou D. Dinis, existiam já, vinte e três das actuais trinta e cinco freguesias do concelho de Montalegre, entre as quais Gralhas. No âmbito eclesiástico, como no administrativo, estava esta região perfeitamente organizada. Os rendimentos dos povoados no século XIV, comparados com o estado actual das paróquias de Barroso, leva-nos a concluir, que algumas das actuais freguesias, progrediram com o tempo, enquanto que relativamente a outras, se deu precisamente o inverso. No tempo em que reinou D. Dinis, existiam já, vinte e três das actuais trinta e cinco freguesias do concelho de Montalegre, entre as quais Gralhas. No âmbito eclesiástico, como no administrativo, estava esta região perfeitamente organizada. Os rendimentos dos povoados no século XIV, comparados com o estado actual das paróquias de Barroso, leva-nos a concluir, que algumas das actuais freguesias, progrediram com o tempo, enquanto que relativamente a outras, se deu precisamente o inverso. A título de exemplo veja-se o caso de Montalegre : Apesar de administrativa e militarmente ser «Cabeça da Terra de Barroso», em termos económicos era inferior a Mourilhe, Viade, Salto, Cervos e Mosteiro das Júnias, estando ao nível de Cabril,
Noticias de 32 GRALHAS | A HISTÓRIA DE UMA ALDEIA MILENAR A ALDEIA NA IDADE MÉDIA O ÚLTIMO REGEDOR Cambeses e Ponteira. Neste âmbito, não se conhece Figura respeitada, o Regedor, era um subordinado qualquer referência à aldeia de Gralhas, sobre a qual do Presidente da Câmara, ao serviço do Estado. Não aparecem novos dados, no reinado de D. João III, quando recebia qualquer ordenado pelo trabalho que fazia, este monarca determina, através de carta datada de 17 de isto pese embora a função lhe ocupasse muitas Julho de 1527 o recenseamento da freguesia. Tal vezes grande parte do seu tempo. recenseamento viria a ser feito três anos mais tarde, isto é, no ano de 1530, após nova insistência do rei, tendo estado a Para além da segurança que procurava manter na António Chaves | O “Pistão” cargo, dos juízes de Montalegre, Pero Gil e João do Rego, freguesia, era chamado a dirimir as mais insólitas e dos tabeliães Lisuarte Gonçalves e Pero Álvares, do Alcaide até caricatas situações, como o “assalto” a um João Pequeno e de 2 «homens bons» da aldeia, não galinheiro ou até entre as ocorridas entre marido e identificados, os quais, antes de empreenderem tão mulher, em brigas, desacatos, comprovar os óbitos importante tarefa, juraram aos Santos Evangelhos, que ocorridos, fazer o registo anual da produção de seriam diligentes e verdadeiros no desempenho daquela batatas e centeio, e penalizar os lavradores que não missão. O resultado do seu trabalho, cifrou-se no registo de fornecessem correctamente os bens produzidos. 44 fogos. Figura respeitada, o Regedor, era um subordinado do Presidente da Câmara, ao serviço do Estado. Não recebia qualquer ordenado pelo trabalho que fazia, isto pese embora a função lhe ocupasse muitas vezes grande parte do seu tempo. Para além da segurança que procurava manter na freguesia, era chamado a dirimir as mais insólitas e até caricatas situações, como o “assalto” a um galinheiro ou até entre as ocorridas entre marido e mulher, em brigas, desacatos, comprovar os óbitos ocorridos, fazer o registo anual da produção de batatas e centeio, e penalizar os lavradores que não fornecessem correctamente os bens produzidos. Em muitos casos, as decisões do Regedor, emanavam do parecer das “assembleias do povo”, as quais normalmente eram realizadas numa eira, para onde eram previamente convocados os residentes. Em plena II Guerra Mundial e com a escassez de alimentos que se verificava, as necessidades que não derivavam das colheitas familiares, designadamente o sabão, o petróleo, o arroz, o açucar e outros bens eram racionadas, e a cada família, o Regedor atribuía senhas de racionamento através das quais era possível levar para casa um pouco de cada um desses produtos, sempre insuficientes para as necessidades, designadamente das crianças e idosos. O último Regedor da aldeia, foi o “Pistão”, de seu nome completo António Fernandes Chaves. Um homem de grande carácter e daqueles que já não se fabricam, que na década de 60, enfrentando o poder da “tutela central” contra a “fome e a miséria”, foi pioneiro no abrir de portas à emigração. Morava no hoje designado Beco dos Carneiros e habitava a casa onde actualmente mora a sua filha Lourdes Chaves. Após este, há apenas registo de novo censo na freguesia, já em pleno século XIX, mais concretamente no ano de 1836, constando do mesmo, o registo de 66 fogos, neles habitando 162 homens e 148 mulheres. GRALHAS, é hoje uma aldeia igual a tantas outras do interior. Embora com muito bons acessos, encontra-se marcada por uma forte depauperação económica e um quase abandono, das suas actividades tradicionais de outrora, designadamente no que diz respeito à agricultura e à criação de gado bovino, a que apenas vão resistindo alguns «teimosos» da terra. O aglomerado populacional está concentrado e organizado em diversos arruamentos. Caracteriza-a ainda, o imponente relevo que a envolve. A paisagem à sua volta, merece especial atenção, em particular os imponentes picos rochosos, como o Castelo do Romão, o Cabreiro, o Caldeirão, as Barreiras Brancas, o Corisco, e mais a sul a não menos importante Serra da Lagoa, hoje recheada de caminhos pedonais, que em conjunto formam autênticas barreiras naturais.
Noticias de 33 BARROSÕES ILUSTRES CONFISSÕES PADRE Não posso perder tempo com acontecimentos da terra. ANTÓNIO LOURENÇO FONTES Sem que exista motivo para parar a minha vida, continuarei a minha existência como me propus narrar, \"Afrontou o salazarismo e encheu o ou alguém se propôs, nesta forma livre e ficcionada dos peito contra a Guerra Colonial. meus momentos. Estou no seminário. Ou antes, não estou. Vou a caminho de Tourém de carro. E até aldeia, Pesquisou o oculto para entender a até esse tempo, há o seminário. Uma educação severa crendice - \"porque só ao entendê-la que proibia ler romances. A capela era o lugar ideal para podia destruí-la.\" Pagou por isso o os ler por ser lugar pouco vigiado. O local de oração sempre foi refúgio de sossego. Talvez tivessem medo, os preço de o esconderem numa superiores, da presença de Deus que ali estava mais aldeia isolada do Alto Barroso. Mas perto da Terra. Naquele recinto não incomodavam ele ripostou, fez do fim do mundo o ninguém. Mesmo durante as eucaristias, quando os seu centro. Na terceira página do chinelos voavam de um lado para o outro. Era proibido vir de chinelos mas, à noite, depois do banho, ninguém seu diário de 1957 escreveu esta cumpria essa regra. E como a Eucaristia era celebrada frase que pode bem explicá-lo por sempre nessa monotonia bafienta, tínhamos de inteiro: \"Trago comigo o terço na encontrar formas de passar o tempo. Uma era arrastar bancos, obrigando alguém a ficar de pé. Outra, a mais mão e o diabo no coração.\" perigosa e arrojada, era fazer dos chinelos discos voadores quando os conseguíamos arrancar dos pés de O Homem que abriu as portas de Barroso ao mundo algum moço distraído. Nunca participei nessas aventuras. Para mim, bastava olhar e ver. Os sorrisos silenciosos António Lourenço Fontes, é filho de João Albino Gonçalves Fontes e de Ana Jesus, nasceu em esqueciam o tempo. Todavia, tudo parou por alguns Cambeses do Rio, uma aldeia do concelho de Montalegre, a 22 de fevereiro de 1940. Uma vez meses quando um chinelo desgovernado, atirado pelo terminado o ensino primário, em 1950, ingressou no Seminário de Vilar, no Porto. Em 1962 Chico, um rapaz robusto de Chaves, foi parar ao altar no concluiu o curso de Teologia. Foi ordenado sacerdote em 1963, ficando responsável pela momento da consagração do pão e do vinho. Virou o paróquia de Barroso, em Montalegre. De seguida, foi nomeado pároco de Tourém, Pitões das vinho. Não foi expulso porque o pai, um fabricante de Júnias e Covelães. Anos mais tarde, entre 1975 e 1980, frequentou o curso de História, na móveis, dava quantias avultadas para o seminário. O Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Entre 1970 e 1971 colaborou na criação da Casa assunto foi silenciado e os chinelos deixaram de voar. do Povo de Montalegre. Neste mesmo ano foi transferido para a paróquia de Vilar de Perdizes, Somente se moviam os bancos. Depois das férias, quando sendo admitido em 1973 como 2.º oficial da Casa do Povo de Montalegre e foi coordenador das voltava para a severidade, levava sempre presunto e extensões de Solveira e Vilar de Perdizes em 1974. António Fontes exerceu também funções chouriços. A primeira vez, ainda não habituado aos administrativas na Caixa de Previdência e em 1991 foi nomeado assessor do Pelouro da Cultura costumes da casa, fui confiscado. Ficaram-me com todos da Câmara Municipal de Montalegre. os fumados. Deviam rir de nós ao comê-los. Desejei-lhes silenciosamente que se entalassem até ao rabo com Fundou também e presidiu o Centro Social e Paroquial de Vilar de Perdizes. Dinamizou vários aqueles alimentos. ranchos folclóricos regionais e organizou os Jogos Populares Galaico Transmontanos. Criou a Da segunda vez, e sabendo o que acontecia, guardei os Feira do Fumeiro de Montalegre em 1991 e impulsionou as sextas-feiras 13 – Noite das Bruxas. produtos debaixo da capa e nas mangas do capote. Podia É autor de obras de etnografia e história local, tais como: Etnografia Transmontana – 1974; Aras cheirar um pouco, mas nunca descobriram onde estavam. romanas e terras de Barroso desaparecida -1978; Cultura popular da zona do Barroso: situação Sabíamos que nessa noite teríamos revista ao quarto. geográfica, história antiga e moderna, artes e ofícios -1984; e de Grandes Barrosões: 1. Padre Pegava nos odores de porco divinais e escondia-os no Domingos Barroso - 1991. Em co-autoria escreveu também: usos e costumes de penico. Nunca o utilizava a não ser para esse fim. Vinham, Barroso 1972; Medicina popular barrosã: ensaio de antropologia médica - 1995; e Cancioneiro revistavam tudo, e partiam desolados. Com os produtos ancestral barrosão - 2011. O Padre Fontes colaborou também com a imprensa regional, sendo bem guardados e em nosso poder, marcávamos uma fundador e director do jornal Notícias de Barroso desde 1971, e com canais televisivos como a noite, eu mais seis,para nos juntarmos e fazermos uma RTP e a TVE. Nas actividades que desenvolve contam-se, também, a organização de congressos pequena e silenciosa festa. A preparação era cuidadosa. internacionais, como: Milenário de S. Rosendo em 1977, Centenário de S. Bento em Levávamos vários anos de casa e, mesmo assim, 1981, Caminhos de Santiago em 1982 e Medicina Popular - que se realiza desde 1983. É obra de sabíamos que todos os cuidados eram poucos. Tínhamos sua autoria a reedificação do solar setecentista do Outão, em Mourilhe, que converteu no hotel de tapar todas as possíveis passagens de luz de um dos rural Senhora dos Remédios. É o Maior Arraiano de todos os tempos e foi várias vezes quartos. condecorado pela Câmara de Montalegre. O mais retirado do local onde dormiam os padres era o do Fernando. Tudo preparado, deixávamos a noite CAMBESES DO RIO | VILAR DE PERDIZES adormecer o seminário. E saíamos silenciosamente das nossas celas. Só o ruído das madeiras velhas, os sons que A história de como um sacerdote, “filho destas a noite produzia no edifício antigo, tornavam a operação ambas nações”, aprendeu a dançar com o diabo temida por alguns do grupo. O Joaquim era sempre o e de como o escreveu num diário secreto que último a chegar. Todos no quarto do Fernando, luz tem desde os dez anos e agora mostrou ao coberta com um pano, decidíamos quem iria buscar o mundo. vinho. A decisão era difícil naquela penumbra silenciosa. Toda a estória aqui: O diário secreto do Padre Não queríamos que fosse o Joaquim. Com receio de ser António Lourenço Fontesa, O “Barqueiro”, o apanhado, andava sempre acagaçado, poderia estragar “Marotus” ou o “Ramiro Concha”, para fugir tudo. Era eu e o Fernando que procedíamos à operação. às malhas da censura e à PIDE de Salazar. Saíamos do quarto e dirigíamo nos à cozinha onde, habitualmente, dormia o senhor Barros, cozinheiro e guarda-noturno, homem idoso que de noite não conseguia cumprir o seu papel (...)
34 Noticias de BARROSÕES ILUSTRES CONFISSÕES PADRE, LOURENÇO FONTES Sigo para Randim. Esquecia-me de dizer que criei uma escola de adultos em Tourém. Serviam para o ensino Por: O MEU TRIBUTO revistas e jornais. Muitos dos que a frequentaram fizeram o segundo ano. Também, quando vim para a aldeia, quis Prof. Dr. UM HOMEM ASSIM MERECE FICAR NA HISTÓRIA comprar um carro. Um padre deve ter um automóvel Hélder Alvar para poder facilmente deslocar-se de um lado para o outro. Encomendei um Citroen dois cavalos. Custava O meu melhor amigo de sempre depois do meu pai e dos meus filhos que ele baptizou, é o Padre quarenta contos. E se não ganhas dinheiro para a Fontes. Na década de setenta a oitenta, tive o privilégio de com ele seguir no barco para muitas gasolina, perguntou o padre que estivera em Tourém. tarefas de preservação da cultura das nossas terras e das nossas gentes. Labutamos em comum por Depois dessa questão decidi cancelar a encomenda, pois aberturas de escolas e telescolas, a fim de travar o castelhano que invadia Portugal por televisão. não sabia o que ganharia. Fiquei com o cavalo do padre. Criámos juntos o posto da telescola de Vilar de Perdizes, subindo a telhados e montando antenas Talvez me tenha colocado o problema do dinheiro para se altíssimas para captar Portugal. Comemos caldo de pedra algumas vezes lado a lado, após dias desfazer do bicho de quatro patas. Mas, em cima do inteiros da azáfama à procura dos vestígios megalíticos dos nossos primeiros habitantes e da cultura cavalo, as horas tornavam-se intermináveis. Apanhava castreja, exploramos castros Bíbalos-povos que, com outros Tameganos, construiram a ponte romana frio, demorava tempo infinito a chegar às outras de Chaves, descobrimos aras e vias romanas, fizemos estágios e formações em conjunto localidades, a fome apertava pela demora da viagem, no e criámos com Carvalho de Moura, ex-presidente da Câmara, o primeiro Museu de Montalegre Inverno a neve não deixava passar em muitos locais. no Milenário de S.Rosendo. Graças à sua incomparável força de combate, à sua perseverança, Como os caminhos eram melhorados progressivamente prosperou a ideia de colmatar a falta de médicos e criou ele e os seus mais directos colaboradores, decidi comprar a motorizada. Com ela andava por tudo o usando a imprensa local e nacional do Algarve ao Minho, o Congresso das Medicinas Alternativas que era canto. em nome daqueles que nunca têm a palavra. Deu visibilidade a Vilar de Perdizes, ao planalto do Durante dois anos o meu transporte foi esse belo veículo Barroso, a Trás-os-Montes em geral e a Portugal no Estrangeiro. Iniciativa essa, que visava de duas rodas, só uma motriz, a de trás. Para não ter frio, abrir diálogo social entre populações carecidas, tirar os poderes públicos do marasmo e abrir os comprei um fato alentejano, luvas, um capacete, guarda- espíritos à interculturalidade. Sem o incentivo dessa personagem hoje tão mediática quão lamas para as pernas. Vinha para Randim, terra galega carismática, eu não teria provavelmente realizado os \"sonhos\" que realizei com ele e na diáspora que junto a Tourém, por um carreiro de cabras onde o cavalo vivi. Aqui lhe fica a minha homenagem tomando a iniciativa neste movimento como forma de dificilmente passava. A motorizada avançava sempre e o gratidão. dinheiro que ganhava chegava para a manter. Na motorizada podia transportar mais duas pessoas, apesar Como eu, inumeros estudiosos estrangeiros por esse de ser um pouco apertado e arriscado, o que me levou a pensar mudar o meio de deslocação. Vendo que ganhava Mundo fora, muitos portugueses por este país, não menos para a gasolina, ainda sobrava algum, e pensando no Inverno que se aproximava - sentia o vento a cortar, água amigos desta região, académicos de todas as latitudes, até aos ossos - resolvi comprar um carro. Mas, depois de quatro anos em Tourém, dois com transporte não teriam enriquecido as suas teses, concluído os seus quadrúpede e mais dois com veículo motriz de duas rodas, cheguei à infeliz conclusão que não tinha trabalhos de pesquisa, validado as suas hipóteses, conseguido juntar vinte contos. Sem dinheiro não havia carro para ninguém, pois não existiam esses sistemas de elaborado os seus relatórios, as suas dissertações, criado créditos actuais. Resolvi pedir a um tio e pagar-lhe calmamente o empréstimo. Ele, homem de massa, os seus conteúdos, publicado as suas obras. Quantos aceitou o que lhe pedi. Ó António, é uma vergonha um padre não ter carro. Quanto precisas? Achas que chega? jornalistas não se formaram, elaborando as suas crónicas Está à vontade. Se precisares de mais basta dizer.Tenho muito gosto em poder-te ajudar.Não te preocupes com ou relatando o quotidiano do Padre Fontes? isso. Pagas quando puderes.E se não puderes não penses que vou ficar mais pobre.Não. Juros não há. É um Qual Universidade Europeia não tem nas bibliografias empréstimo de um tio a um sobrinho padre. Não há juros. E, mais palavra menos palavra, comprei o carro, das suas bibliotecas citações, alusões ou paráfrases do meio de transporte ideal, apesar das estradas se limitarem a uns poucos traçados alcatroados comidos nosso etnógrafo? Quantos não o citam como Alain pela terra. No interior do carro não chovia, tinha aquecimento, era mais rápido, mais seguro. Enfim, um Tranoy, Gilles Cervera, Gérard Fourel, Michel padre deve ter um automóvel que sirva para tudo. Para transportar doentes, levar pessoas que me pedissem a Giacometti, Anne Cauffrez, Mouette Barboff, Viegas algum local, buscar alguma coisa que fosse necessária como, por exemplo, medicamentos ou alimentos para Guerreiro, António Colmonero, Rui Mota, Geneviève, satisfazer desejos de mulher grávida. Enfim, era o carro do povo de Tourém, um veículo que tratava com cuidado, Coudé-Coussin, Júlio Meirinhos, António pois sabia que tão cedo não teria dinheiro para outro. Paguei o empréstimo, apesar do meu tio não querer Martinho, René Barbier, Ana Paula Guimarães, Baquero aceitar esse dinheiro.Servia o carro, também, para transporte de contrabandistas. O padre era transporte Moreno, Alexandre Parafita, Xerardo Dasiras Valsa, Viale Moutinho, Barroso da Fonte, Hélder seguro. Alvar, Gomes Sanchez, Bairão Oleiro, Irisalva Moita, Pais de Brito, Belarmino Afonso, António Padre Fontes-In Romance de uma vida Moutinho, Reine Accoce e tantos outros para não enumerar os que por cá vão andarilhando? Que o diga a poetisa Natália Correia lá no alto do Olimpo, a quantos os seus cuidados paliativos foram atenuantes na sua agonia final antes de patir para a longa viagem. O Padre Fontes é um humanista! Um homem sóbrio, frugal! Um homem sábio. O expoente máximo do altruismo como ser humano. O santo vivo da região que defende. O etnógrafo que retrata com nitidez a imagem telúrica do seu concidadão quanto uma máquina fotográfica põe em exergue, as rugas que modelam a sua face - igual às rochas erodadas do clima da sua terra, que assim escavou os sulcos do seu rosto. A cópia das escarpas serranas que um dia Kenyak, pintor japonês, retratou nas suas telas. Os mais de mil testemunhos que me corroboram são a elequência da grandeza deste personagem único, a quem o cinema veio procurar desde as longas metragens de Philppe Constantinni a documentários etnográficos em que Manuel Oliveira se inspirou no \"auto da Primavera\" e para em \"5 dias, cinco noites\" consagrar a multifacetada existência ao serviço dos seus e das suas causas. Citando o Doutor João Sanches, o Padre Fontes, \"escolheu dedicar a sua vida aos outros, elaborando assim , o seu próprio estilo de vida\". O Padre Fontes merece reconhecimento. Um homem assim precisa de ficar na história, servir de paradigma às gerações que neste país e na sua terra, rebuscam os caminhos da realização. O Padre Fontes pela sua vida e sua obra, merece ser agradecido . Merece como os maiores, ser agradecido e condecorado. Creio que o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades em 10 de Junho, seria o palco ideal para que o Sr. Presidente da Republica lhe consagre essa atenção. Já merece. Oxalá, pois, o meu desejo e o de quantos me acompanham nesta empresa que testemunharam em abono da verdade, se façam entender e atender por quem de direito
35 Noticias de 9 de Junho de 2018 D. Duarte Pio, visitou A ENTREVISTA | Montalegre O Herdeiro da Casa de Bragança O Herdeiro da Casa de Bragança, D. Duarte Pio, passou mais uma vez por Montalegre a convite do Municipio, tendo durante a sua visita, não só presidido à conferência realizada nos Paços do Concelho, subordinada ao tema \"Couto Misto - Caminho Privilegiado“, a que A Barrosâna se referiu na edição de Julho, como também ao lançamento da primeira pedra, para a requalificação do castelo de Montalegre. O Chefe da Casa Real Portuguesa, como todos puderam testemunhar, não disfarçou a satisfação pela recepção que teve, ao mesmo tempo que deixou os mais rasgados elogios não só à postura do povo de Barroso, bem como ao actual Presidente da Câmara que segundo as suas palavras, defende acerrimamente os valores, a tradição e o progresso da sua terra. Posto isto e como rescaldo, chegou então o momento de ouvi-lo àcerca do país no seu todo e sobre a politica nacional É mais difícil defender a monarquia com um Presidente da meu serviço militar. Fui perguntar-lhe se haveria interferência política se eu República que consegue ser tão popular? concorresse à Força Aérea e ele garantiu que não haveria interferência. Quando ele Diria que um presidente que atua como se fosse um rei é um ótimo foi substituído pelo Marcello Caetano fui proibido de voar pelo ministro da presidente. Os maus presidentes são aqueles que têm um Defesa. comportamento contrário àquele que teria um rei. A conclusão a Antes de entrar para a Força Aérea como foi a sua adolescência? que se pode chegar é que seria melhor ter verdadeiramente um rei. Eu gostei muito das escolas por onde andei. Ainda tenho muitos amigos dessa Marcelo Rebelo de Sousa atua como um rei? altura com quem me encontro regularmente. Gostei do liceu Alexandre Herculano, Exatamente. Ele atua como se fosse um rei. É uma pessoa no Porto. A seguir fui para o colégio Nuno Álvares, em Santo Tirso. Depois, inteligente, culta, com uma boa formação ética e percebe aquilo finalmente, fui autorizado a entrar no Colégio Militar, porque o Presidente da que o povo português gosta de ter num chefe de Estado. Eu disse a República, Craveiro Lopes, não tinha autorizado. Entrei e gostei muito. Achei um mesma coisa do general Ramalho Eanes, que também atuou dessa colégio fantástico, com uma formação física e intelectual que dura a vida toda. maneira. Ele, no fim do seu mandato, disse que tinha tentado atuar Ainda hoje me sinto um antigo aluno do Colégio Militar e encontro-me com os como se fosse um rei constitucional. Foi a definição que ele deu de camaradas daquela época. Para mim, é certamente o melhor colégio português. como é que tentou agir como Presidente da República. Teve uma educação rígida? Sei, por exemplo, que o seu pai insistia muito na Historicamente, temos visto que os Presidentes mais estimados ideia de que é importante poupar... pelo país são aqueles que mais se aproximam da figura do rei. O meu pai achava que tudo o que fosse gastar mal algum recurso era pecado, Se houvesse monarquia teríamos uma espécie de rei dos afetos? porque havia muita coisa que se podia fazer de bom com o dinheiro. Portugal era Eu tenho essa proximidade. Na Europa contemporânea todos os um país pobre e ainda é. O desperdício é uma ofensa aos outros e é um pecado Reis têm esse tipo de atitude. Com exceção talvez da Rainha de perante Deus. Fico muito chocado quando vejo o Estado a desperdiçar os seus Inglaterra, que já tem muita idade e é de uma época em que, de recursos com obras de luxo. facto, o povo queria que a rainha tivesse uma posição mais Quer dar alguns exemplos? distante. Foi nesta geração que o desejo popular se manifestou de A Expo 98, que foi paga por todos nós com os nossos impostos. O país não ganhou uma maneira diferente. Os Reis de Espanha têm uma enorme nada com aquilo. O Centro Cultural de Belém é um monstro construído em frente simpatia e um enorme carinho da parte da população. A diferença é aos Jerónimos com o nosso dinheiro. O país está cheio de rotundas e de obras que o Presidente da República dá muitas opiniões sobre a realidade monstruosas como o Palácio da Justiça. política do país e o Rei Filipe foi preparado e educado na lógica de Foi a partir do cavaquismo que o país fez algumas dessas grandes obras. que o rei não deve dar opiniões. Só em particular, em conversa com Tenho toda a consideração pelo professor Cavaco Silva, mas acho que ele não os políticos e os responsáveis. Raramente dá uma opinião em percebeu isso. Não percebeu que esse investimento não era reprodutivo. O público. investimento que é reprodutivo é em educação, formação profissional e na criação Qual seria a grande vantagem de temos um rei em Portugal? de condições para os pequenos e grandes empresários produzirem riqueza Veja o que os aconteceu nos últimos 100 anos. Os primeiros anos nacional. Desde o agricultor que faz uma criação de galinhas ao grande da República foram revoluções, golpes... A II República foi paz e empresário. Isso é que produz riqueza e só quando um país tem essa riqueza é que tranquilidade e um certo progresso económico, mas em regime não pode dar-se ao luxo de fazer autoestradas e coisas desse género. O défice de democrático. A III República voltou à democracia e regressou a educação clássica é grave, mas pior é o défice de formação profissional técnica. Os instabilidade económica e política. Entrámos em falência várias bombeiros, por exemplo, têm uma formação muito baixa e muitas vezes acabam vezes, tivemos crises e problemas muito complicados. E houve, por ser vítimas dessa situação. além disso, a maneira desastrosa como se fez a separação das antigas províncias ultramarinas. Isso mostra que a República não (Continua na página seguinte) foi capaz de transformar o país numa democracia de uma maneira pacífica. Foi feita com uma revolução com o enorme trauma provocado em todos os antigos territórios portugueses. As independências poderiam ter acontecido de uma maneira pacífica e democrática. Foi uma entrega a movimentos políticos que sustentaram guerras civis terríveis durante dezenas de anos. Houve mais violência e morte depois das independências do que antes da independência. Não simpatiza com o 25 de Abril? Eu respeito e simpatizo com o idealismo de muitos oficiais que fizeram o 25 de abril, mas, de facto, houve uma ingenuidade muito grande. Uma falta de preparação política muito grande, provocada também pela falta de preparação política que a II República deu à população portuguesa. Para mim, o maior pecado da II República foi não ter preparado os portugueses para a vida política. Conheceu Salazar? Estive duas vezes com ele. Uma das vezes fui falar com ele sobre o
Noticias de 36 A ENTREVISTA | 9 de Junho de 2018 Montalegre D. Duarte Pio, visitou O Herdeiro da Casa de Bragança Em Portugal a questão da monarquia não voltou a ser colocada. Não acha que os portugueses sentem que estão que estão bem assim… É sempre colocada por pessoas politicamente motivadas e pelo movimento monárquico. Há muitos portugueses que são simpatizantes. Provavelmente, metade dos portugueses considera que seria uma alternativa aceitável ter um rei em vez de um presidente da República. Isso só seria possível de saber através de um referendo. É proibido pela Constituição. A nossa Constituição não é muito democrática, porque diz que é irrevogável a forma republicana de governo. O professor Jorge Miranda, que é um grande constitucionalista, disse que isso não impediria o referendo, porque as monarquias hoje tem todas formas republicanas de governo. E, portanto, não inclui especificamente a chefia de Estado. Mas outros constitucionalistas pensam que esta Constituição proíbe o referendo da República. Faria sentido ouvir os portugueses... Faria todo o sentido. Claro que o resultado resultaria muito da honestidade da pergunta. Se perguntarem se ‘é a favor do regresso ao regime vigente em Portugal antes de 1910’ é óbvio que o resultado No seu dia-a-dia tem poucos luxos? seria muito mau. Mas se a pergunta for honesta estou convencido de Viajo sempre em classe turística nos aviões. No comboio vou em primeira classe por causa do sossego, mas uso muito os transportes públicos. Às vezes, que a monarquia ganha em Portugal. Basta ver a abstenção nas apanho aqui [no Chiado] o 28, mas tenho de ter cuidado. Felizmente, os carteiristas respeitam-me. Ainda nunca contei isto em público, mas uma vez eleições republicanas. Quem não vai votar no Presidente da estava na estação de Metro dos Restauradores e no meio da multidão senti uma mão enfiada na minha gabardine e dei um grito ao homem. Ele disse-me: ‘Ai, República é porque acha que não vale a pena. desculpe, não vi quem era’. Os carteiristas do 28 já me cumprimentam. Não tem motorista? Qual seria a pergunta que faria num eventual referendo? Temos um senhor que é um antigo polícia e que costuma apoiar os nossos filhos. Quando há deslocações oficiais, às vezes, recorro a esse senhor. Mas Se os portugueses preferem ter uma chefia de Estado republicana quando vou, por exemplo, aos jantares no Palácio da Ajuda vou sempre eu a conduzir. Era muito importante que se conseguisse diminuir muito o custo do eleita ou preferem uma chefia de estado monárquica com o rei funcionamento na máquina política. Nas campanhas eleitorais, por exemplo, o eleitor precisa de ter uma informação mais clara possível sobre as propostas de hereditário. cada partido e sobre o seu passado político. Vender uma ideia política como quem vende um refrigerante não me parece correto. Isso desvirtua a Costuma votar? democracia, porque quem ganha as eleições é quem tem o melhor técnico Não voto nas eleições presidenciais. Também não voto nas eleições eleitoral para fazer propaganda. para o Parlamento. Se votasse, estaria a tomar uma posição partidária Os partidos são pouco claros e transparentes nas campanhas eleitorais? e na minha posição não o devo fazer. Costumo votar nas eleições Não dão a informação necessária para o eleitor fazer uma boa escolha. autárquicas, porque considero que o que interessa é a qualidade Tem uma opinião negativa sobre os políticos que governaram o país em pessoal do presidente da câmara e não a etiqueta partidária com que democracia? ele vai concorrer. Eu gostaria que nas eleições para os deputados Temos tido bons primeiros-ministros, mas é um bocado por sorte. Também contassem mais as qualidades pessoais dos candidatos. tivemos maus primeiros-ministros. Se temos tido alguns melhores é por sorte. Não há nenhum exame, nenhum teste, nenhuma forma de avaliar a honestidade (Continua na página seguinte) e a sua carreira no passado. Como também não há forma de avaliar a sua competência profissional. Uma democracia para poder funcionar tem de ser controlada por regras. A pessoa poder ser eleita e a população poder votar em quem quiser dá resultados, por vezes, muito perigosos. O Hitler foi eleito democraticamente. Vários políticos desastrosos no mundo foram eleitos democraticamente por vontade popular. A vantagem do rei é que é uma instituição que não está dependente da política nem dos grupos económicos e grupos de interesses, porque não precisa de dinheiro para ser nomeado. As famílias reais têm meios suficientes próprios e mesmo que não tenham estão preocupadas em que o seu filho e o seu neto desempenhem bem a sua missão. As pessoas não poderem escolher quem os governa não é uma limitação? Não escolhem, mas podem impedir. Os representantes da Nação podiam impedir ou demitir o rei. Houve reis que foram demitidos. Não houve nenhum caso de um rei no século XX que tivesse feito um mau papel ou tivesse sido demitido e houve inúmeros casos de presidentes da República que foram demitidos ou deviam ter sido demitidos.
37 Noticias de A ENTREVISTA | 9 de Junho de 2018 Montalegre D. Duarte Pio, visitou O Herdeiro da Casa de Bragança Como é normalmente o seu dia-a-dia? É sempre diferente, desde os convites que recebo das câmaras municipais para visitas – como foi o caso de Montalegre - até às visitas organizadas pelas reais associações. Visitei também recentemente alguns dos concelhos mais afetados pelos incêndios, como Oleiros, Castelo Novo, Alcaide... Fui sobretudo a terras que não tinham sido visitadas pelos políticos. Qual a educação que deu os seus filhos? É uma educação especial? Tive muita pena que não tivessem ido para o Colégio Militar, mas na altura o Colégio Militar ainda era interno e a família, em geral, não gostou da ideia, porque acharam que isso iria cortar um bocado o relacionamento do dia-a-dia com eles. Foi pena, porque perderam uma coisa que os iria ajudar muito no futuro. Tem sido uma educação normal, como a de qualquer estudante. A diferença é a que é dada em casa. Nós em casa vamos tentando incutir-lhes os valores da família. O que tentamos transmitir é que não basta ter sucesso pessoal. É preciso condicionar o sucesso pessoal ao interesse nacional. É necessário dar sempre um bom exemplo. Espero que nenhum deles faça coisas que possa depois envergonhá-los, porque seria um mau exemplo. Nesse sentido, até agora, têm tido muito cuidado e estou convencido de que continuarão a ter. Prefere que, quando chegar a altura do casamento, eles optem por Conta ter alguma interferência na escolha? alguém da aristocracia ou não considera isso importante? Só se eu tiver totalmente em desacordo é que poderei O que lhes tenho dito é que duas pessoas que tenham a mesma base moral, tentar opor-me, mas não sei se vou ter sucesso. Aquilo espiritual e cultural têm mais condições para se darem bem do que pessoas que os pais dizem tem pouco efeito. O que tem efeito é o que venham de meios culturais muitíssimo diferentes. Essa é a grande exemplo que os pais dão. Os filhos acabam por preocupação. Não estou a falar da cultura clássica. De saber muito de interiorizar é o exemplo dos pais. Se os pais dizem uma literatura ou de música. É a cultura de perceber o que é o país. Portugal, coisa, mas depois atuam de maneira diferente isso não para mim, não é só aqui o nosso retângulo. É todos os povos e comunidades tem resultado nenhum. Tenho na família casos assim. que viveram connosco durante séculos e que são nossos irmãos culturais e Houve primos meus que acabaram por não seguir o espirituais. melhor caminho, porque os pais eram incoerentes. Quando temos férias, tentamos ir a países da CPLP [Comunidade dos Países A forma como comentou o casamento do príncipe de Língua Portuguesa]. Já estiveram em São Tomé e Príncipe. Estiveram em Harry gerou alguma polémica por ter dito que deve Timor. A Maria Francisca trabalhou nas férias grandes num programa social ser complicado ver a mulher na cama com outro... na Guiné. O Afonso está a pensar também ir trabalhar para a Guiné nas Fico muito feliz por poder explicar. O que eu disse é que férias. Esse aspeto cultural e espiritual é fundamental. quando há uma grande diferença cultural podem existir Depende da formação. Conheço pessoas de meios operários, sobretudo nos problemas no casamento. Isso foi descontextualizado por meios rurais, com uma formação espiritual e moral muitíssimo boa. uma revista portuguesa e acabou por chegar a Espanha. Uma revista diz que eu fiz afirmações racistas. Isso é muito injusto e estúpido, porque eu comecei por elogiar o casamento do príncipe Harry. O que queria dizer com isso? Isso já não tinha a ver com o casamento inglês. Eu disse isso por graça. Foi uma resposta espontânea. Há atrizes de cinema que são exemplares e dariam ótimas mulheres para um filho meu. Disse por graça que poderia haver cenas de cinema chocantes. É estúpida e injusta a acusação de que fiz uma afirmação racista. Toda a minha vida fui a favor de que Portugal tinha de ser um país multirracial. Aceitar todas as culturas de origem portuguesa. Isso não impede de compreender que há diferenças culturais enormes entre os povos. Ignorá-las é fechar os olhos à realidade. In: Sol On line
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39 3 Viagem pelas freguesias… SALTO A FREGUESIA NOTÁVEIS DA TERRA Salto é a maior freguesia do concelho, pois para além da sede da freguesia existem mais 20 D. Egas Gonçalves Barroso viveu no reinado de D. Sancho II aldeias que fazem parte da mesma e que totalizam cerca de 1.800 pessoas, o que ultrapassa e D. Afonso III. É considerado o trono da família dos Barrosos a própria sede concelhia. São elas, Ameal, Amiar, Bagulhão, Beçós, Minas da Borralha, e dos Bastos (1247). Vasco de Alvim Barroso, senhor de Caniçó, Carvalho, Cerdeira, Corva, Linharelhos, Lodeiro d'Arque, Paredes, Pereira, Pomar Pedraça, marido de Maria Mendes Petite. Leonor de Alvim – da Rainha, Póvoa, Reboreda, Seara, Tabuadela e Golas. Sempre teve ilustres filhos!... Em filha, casou em primeiras núpcias com Vasco Gonçalves Reboreda nasceu Leonor Alvim, que foi mulher de Nuno Álvares Pereira. As Minas da Barroso. Falecido, este, casou com D. Nuno Alvares Pereira. Borralha constituíram, na segunda metade do século XX, um filão de ouro que valeu a Pedro Gonçalves Barroso, foi capitão de Gil Pereira Alcassus, muita gente da região. Como espaço habitado e evangelizado, Salto é já referido no de Salto (faleceu em 1374). Gervásio Barroso, natural de Paroquial Suévico como uma das trinta paróquias já existentes no último terço do século VI Caniçó, da Casa do Rio. Foi capitão-mor de Ruivães, por volta e pertencentes à catedral de Braga. de 1635. Gil Pereira Alcassus, natural de Salto. Era cavaleiro da Ordem de Cristo. Padre João Baptista, natural de Salto, foi Ao longo da sua vida teve muitos momentos de glória, daí a riquíssima história desta reitor de Salto (ano de 1600). Padre António Pires, natural da freguesia. Enquanto os cruzados do norte da Europa atravessavam o Atlântico e o Reboreda, coadjutor de 1ª. Mediterrâneo, para combater nos lugares santos, o povo portucalense trepava descalço os caminhos das suas peregrinações que atravessavam a freguesia. De tal modo que D. Afonso Seculo XVIII Afonso Dias Pereira, natural da Reboreda, foi Henriques autorizou e apoiou a construção da Albergaria de São Bento das Gavieiras ao capitão da companhia de Ordenanças de Minas Gerais, no monge Benedito em 1136. Alguns nobres olharam com cobiça para esse território onde Brasil (1760). Padre Baltasar Pereira Barroso, natural de adquiriram casais ou mesmo povoações como Carvalho, Póvoa e Revoreda que eram do Salto, formado em direito canónico e civil, foi reitor da vila de fidalgo-trovador D. João Soares Coelho e de suas irmãs. D. Pedro I, o tal que arrancou o Montalegre, de 1727 a 1754. Domingos Alvares de Sousa, coração pelo peito a Pero Coelho (bisneto do referido João Soares Coelho) e pelas costas a natural de Paredes, foi pai do Reverendo Dr. António Álvares Álvaro Gonçalves por terem morto Inês de Castro, também cobiçou Salto. Por isso, depois de Sousa, reitor de Salto. Fundou a capela de São Domingos, de uma visita a Santa Senhorinha de Basto, de quem era devoto, cedeu-lhe fartos em Paredes. Padre Gonçalo Barroso Pereira, natural da rendimentos da Igreja de Santa Maria de Salto. Seara. Foi Vigário do Couto Dornelas, durante quinze anos e trinta e cinco reitor de Salto. Faleceu em 1705, com 75 anos, O território da freguesia actual 78,6 km2 era ocupado também pela freguesia de Novaíças sepultado na igreja de Salto. Dr. Geraldo Pereira, natural de que incluía vários casais e herdades em diferentes povoações entre- tanto desaparecidas: Salto, parente próximo do padre Gonçalo barroso Pereira. Foi Pontido, Curros de Mouro, Ulveira, Gulpilheiras e outras. Os grandes mosteiros do norte juiz de fora em Trancoso e Coimbra e desembargador do Porto, Refojos, Pombeiro e Bouro – todos levantavam daí grossas rendas. Aqui poderá visitar-se a faleceu em 1717. Dr. João Barroso Pereira, natural de Salto, antiga casa do Capitão, agora pólo do Ecomuseu de Barroso, onde se encontrará uma foi cavaleiro da Ordem de Cristo, juiz de fora em torre de apresentação dos ofícios tradicionais do Pisão de Tabuadela e das Minas do Volfrâmio Moncorvo. Em 1730 era Provedor de Évora. Padre João da Borralha. Barroso Pereira, natural da Seara, da casa de Alcassus, nasceu em 1682. Escreveu um volumoso caderno sobre a freguesia de DEMOGRAFIA Salto, nos princípios do Séc. XVIII. Dr. António Joaquim Gonçalves Pereira, nasceu em Salto, a 9 de abril de 1823. Foi Nas vinte povoações que constituem a freguesia, o número de habitantes residentes em administrador do concelho de Montalegre. Foi Procurador em Julho era de 1.220, distribuídos da seguinte forma: Sede da freguesia 505; Minas da Chaves, da Casa de Bragança de 1868 a 1872. Bento Pereira Borralha 166; Pereira 74; Corva 72; Caniçó 70; Reboreda 58; Bagulhão 34; Linharelhos Barroso, natural de Salto. Formou-se em Direito, foi primeiro 32; Amiar 30; Póvoa 27; Amial 21; Pomar de Rainha 21; Carvalho 20; Tabuadela 20; reitor de Mourilhe e depois de Montalegre, no principio do Beçós 18; Golas 17; Lodeiro de Arque 15; Seara 9; Cerdeira 8 e Paredes 3. Séc. XIX.
40 Viagem pelas freguesias… SALTO PATRIMÓNIO ARQUEOLÓGICO SENHORA DO PRANTO Aldeia das Madanelas, Mamoa de Amiar, Mamoa da Cerdeira, Mamoa de O pároco da freguesia de Santa Maria de salto em 1758, o reitor Paredes, Mamoa de Pensais, Mamoa de Lamas de Miro, Casa dos Mouros de António Alves de Sousa, fornece a sua versão para a origem do nome Cristelo, Cividade, Alto do Castelo, e Castro de Cabanas “In Lodeiro de Archa de salto:” Este dito lugar é assim chamado para a tradição de uma habentur ibi XV. imagem com o titulo Senhora do Pranto, padroeira desta freguesia chamada a “Senhora de Salto” pela dita tradução de que de distancia Localizam-se ainda na região de Salto, vestígios das seguintes localidades de quase meio quarto de légua saltara para um sítio em que hoje está, ermes: Aldeia de S. Bento, Santa Madalena, Ulveira, Curros de Mouro, para a lagoa e carvalheira que esta se extingui e é o sítio deste lugar. Espinheiro e Sulpeleira”. Castros, mamoas, e sepulturas líticas, testemunham ainda uma história muito profunda e uma igreja paroquial antiga e outra moderna atestam o fervor religioso de uma população apegada ao chão de origem. Esta fidelidade contribuíu para o crescimento da sede da freguesia que atrai A carvalheira secou e a lagoa enxugou de sorte de que no tempo do cada vez mais visitantes e onde foram criados apoios estruturais: Escolas, Parque Empresarial, Posto Médico, Farmácia, Lar, Bombeiros, agências Estilo e parte do Outono faz a aprazível e de limitável a circunspecto Bancárias, Associações Desportivas e Culturais, Parques de Lazer e campos de deste lugar de salto”. Perante o fenómeno milagroso e tão futebol. As casas Senhoriais e Brasonadas são as seguintes: Casa do Capitão, Casa da Fonte, Casa do João André, Casa da Madalena, Casa do Morgado, e persistentemente repetido, da misteriosa mudança de imagem de Casa do Tomás. Senhora, do lugar de Oliveira para o sítio onde seria construída, há mais de mil anos, a igreja velha, o povo devoto achou que se a Senhora dava o “salto” para este lugar era porque desejava que lhe construíssem um espaço de culto ali e por isso foi decidido construir uma capela para acolher a Senhora, nascendo a nova aldeia em seu redor, a qual recebeu o nome de Nossa Senhora de Salto ou Santa Maria de Salto, em honra do “salto da Senhora” de Terras
SOCIEDADE|O PAÍS GLOBAL 41 UM PAÍS A DUAS VELOCIDADES 3 O fim da ditadura acelerou a vida das pessoas e foi a ignição de muitos e novos projectos!... Projectos políticos, ideológicos, sociais, culturais, e até mentais. Longe de Lisboa, havia porém um Portugal “desconhecido” e parado no tempo. Um Portugal mais habitado do que é hoje, mas também mais isolado e muito mais pobre. Acreditava-se então, que o futuro estava ali mesmo à mão de semear e que alguns desses novos projectos passassem também por aí. Certo é que essa esperança se foi diluindo ao longo do tempo, quase tudo falhou e para sobreviver, apenas tem podido contar com as “bem-aventuranças” de alguns mecenas, dos que por lá vão resistindo, e da luta continuada dos Orgãos do Poder Local, que fazem das “tripas coração” para que esse Portugal não “feche portas”. Ao longo de mais de 40 anos tem sido sempre assim, tem sido o desalento, a tristeza e a ausência forçada de expectativas, promovidas por um Poder Central cego, que não hesitou até no encerramento de múltiplos serviços públicos, na sua mobilidade e não vai muito tempo, até no incentivo a mais e mais emigração, só comparável à ocorrida na década de 60. Parece algo saído do cinema e de um qualquer “filme de terror”, montado por um tal Visconti ou Rossellini logo no pós-guerra, mas não!... A prova está lá e à vista de todos. Está em cada vila, em cada aldeia e em cada lugar, passível de ser captada ainda hoje, passadas que são mais de quatro décadas, após aquele “dia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio” de Sofia Mello Breyner. Continuamos a respirar o ar daquilo que a revolução e a democracia ainda pouco ou nada nos proporcionaram. Agora, tarde e a más horas, dizem-nos que vem aí aquela coisa a que chamam descentralização!... Mas que descentralização?!... Enquanto regionalista e na ausência da necessária coragem politica do Poder Central para levar um processo destes – constitucionalmente consagrado - em frente, passei a acreditar neste mal menor e nas suas virtualidades, como uma reforma estrutural fundamental para o país e particularmente para o tal Portugal abandonado. Por isso mesmo e em virtude do acordo obtido entre o Governo e a Associação Nacional de Municípios, entristece-me agora assistir à substituição da descentralização que defendo, por um simples aumento de “tarefas” de intervenção dos Municípios, ainda por cima, somada a uma clara ausência de rigor nos dados reunidos pela Associação, e à ausência de ambição nos valores em questão. Nós, gente do interior, não nos iludamos!... Se o “nó da descontinuidade não fôr de vez desatado”, continuaremos a ser os parentes pobres do país. Com o trabalho já realizado em torno deste acordo pela descentralização, os grandes perdedores são no imediato os Municípios, estando mesmo em crer que se não houver vontade politica para alterar o que deve ser alterado, estamos perante mais uma oportunidade histórica perdida - muita tarefa, muita burocracia, “muita conversa gasta”, mas pouca política, nenhuma estratégia e pouca participação no desenvolvimento local, é o que este cenário nos oferece. E a ser assim, teremos de continuar por isso a contar apenas connosco. Pelo que conheço – e julgo ser o suficiente - o Município de Montalegre não fugirá à regra, e tal como outros, irá ter muitas dificuldades em assumir determinadas decisões, depois do esforço de estabilização financeira operado nos últimos anos. Nem o programa eleitoral para este mandato, nem as expectativas criadas permitem gerar condições para abraçar este processo, se ele se mantiver como nos é apresentado. Acredito no entanto no diálogo entre a ANMP e o Governo, e no aperfeiçoamento de um dossiê que está longe de estar concluído. Ver para crer, como São Tomé…
42 ARTES E OFÍCIOS 3 3 OFICINA DO BUREL O CONCELHO EM MOVIMENTO O jovem estilista barrosão, Carlos Medeiros e a sua esposa Elsa Gonçalves, apresentaram as suas mais recentes criações no primeiro desfile de moda que concebeu em Montalegre através da marca \"Oficina do Burel - by Único no Momento\". Muitos curiosos e amigos compareçam a uma iniciativa que ganhou \"sementes\" para o futuro. O Executivo Municipal presente na cerimónia, aproveitou o momento para parabenizar o arrojo e o saber fazer destes empresários. Oficina do Burel - by Único no Momento: recriações É um projecto empresarial que fez jus aos objectivos do Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento. O Projecto Planalto Barrosão foi promovido pela Associação para a Promoção das Terras de Barroso e financiado pelo QREN, POPH/CIG (tipologia 7.6.), Estado Português e Fundo Social Europeu (FSE), tendo sido amplamente divulgado junto da comunidade montalegrense. Na sequência deste projecto surgiram 12 empresas promovidas e geridas por mulheres, sendo que uma delas é a Oficina do Burel-by Único no Momento. A Oficina do Burel-by Único no Momento, mediante as práticas adoptadas, contribui para a conservação da biodiversidade, para a promoção do bem-estar da população local, inculca nos consumidores o sentido de responsabilidade pela natureza, contribui para a biodiversidade e fomenta a participação da população rural. Esta empresa, realiza e comercializa todo o tipo de produtos em burel, um tecido artesanal português, feito em lã. Dentro dos produtos comercializados destacam-se vestuário em burel - capas, casacos, vestidos, coletes, calções - acessórios de moda - carteiras, malas de mão, porta moedas, acessórios para o cabelo - e decoração de casa - abajours, almofadas e painéis. Esta empresa tem vindo a participar em inúmeras iniciativas, facto que não tem passado despercebido aos diversos órgãos de comunicação social, dos quais se destaca a RTP. O trabalho da lã é uma tradição portuguesa ancestral que a Oficina do Burel tem vindo a recriar, através da concepção de peças únicas que comercializa para o mercado nacional e internacional. Importa referir que a manufactura do burel respeita a sustentabilidade ambiental, uma vez que o uso da lã é realizado de forma sustentável, não recorre a produtos químicos e a tosquia das ovelhas é realizada de forma manual. Ao promover o burel a Oficina do Burel - by Único no Momento está a dar a conhecer os recursos endógenos da região de Montalegre, criando condições efectivas para dar visibilidade à região e contribuindo para maximizar os fluxos turísticos no território.
43 OEFEMÉRIDES CONCELHO 3 MOVIMENTO EM LAMA DA MISSA MONTALEGRE FESTIVAL \"FORA DE TEMPO“ REUNIU MILHARES CONCENTRAÇÃO DE CONCERTINAS A capital do Barroso voltou a receber mais uma concentração de concertinas. Uma jornada inesquecível - desta vez realizada junto ao castelo de Montalegre - que juntou centenas de amantes deste género musical. O Presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves, acompanhado pelo seu Vice-Presidente, foi visitar o local onde se realizou o festival Fora de Tempo. Aconteceu no lugar da Lama da Missa, junto à albufeira do Alto Rabagão. O desfile pelas ruas da vila barrosã foi um dos momentos que despertou maior Mais de cinco mil pessoas, envoltas numa atmosfera curiosidade. singular, deram cor a um evento em crescendo. SANTO ANDRÉ UMA PISCINA QUE É JÁ UM DOS EX.LIBRIS DO CONCELHO Hà cerca de um ano reinava o impasse, fruto das exigências das entidades oficiais, que impuseram obras de beneficiação e condições sanitárias que permitissem o seu funcionamento. A piscina, já com décadas era porém muito desejada quer pela população local, quer pelos jovens emigrantes. E sendo assim, quer o Executivo Municipal, quer a Junta de Freguesia, fizeram jus às ditas pretensões. A obra arrancou em Julho do ano passado, permitindo a sua abertura no mês seguinte e continuaram no ano em curso. Hoje, a piscina de Santo André, é já um dos ex.libris do concelho de Montalegre e local de veraneio de galegos e portugueses das mais variadas aldeias. O equipamento, alvo de obras de remodelação, custou cerca de 180 mil euros. “Foi necessário um grande esforço financeiro, numa luta contra o tempo. Era um equipamento que passava ao lado das exigências do controlo sanitário e de saúde pública. Durante meio ano preparamos o projecto e realizamos a intervenção. Estamos satisfeitos porque viemos ao encontro de uma antiga e genuína aspiração da população local. Estamos perante um equipamento que é fulcral para o desenvolvimento e sustentabilidade económica, cultural e desportiva da terra e da região” - referiu o Presidente da Câmara Municipal de Montalegre. VENDA NOVA |FESTIVAL DE FOLCLORE DO BARROSO A praia fluvial da Venda Nova, no concelho de Montalegre, foi o palco do XII Festival de Folclore de Barroso. No final da tarde de um maravilhoso dia de verão, a beleza da paisagem e os cantares e dançares tradicionais completaram o agradável momento que reuniu muitos apreciadores desta manifestação popular. Em palco, estiveram os seguintes grupos: Rancho Folclórico da Venda Nova – Montalegre, Rancho Folclórico da Casa do Povo de Santa Cruz de Alvarenga – Arouca, Rancho Folclórico de Santa Eulália de Oliveira do Douro - Vila Nova de Gaia, e o Grupo de Danças e Cantares de Serreleis - Viana do Castelo.
44 O CONCELHO EM MOVIMENTO BARRACÃO|PRIMEIRA LIGAÇÃO ÀS ÁGUAS DO NORTE O Matadouro Regional do Barroso e Alto Tâmega passa a ser abastecido, também, pela rede de distribuição de água que percorre a Estrada Nacional 103. Na aldeia do Barracão foi construído um ponto de entrega a partir da captação de água na conduta principal que vai abastecer a infraestrutura sempre que for necessário. Posteriormente, a rede de água irá servir a aldeia do Cortiço. Orlando Alves | Presidente da Câmara «Hoje damos o pontapé de saída num processo longo e complicado que tem o seu epílogo com a adesão que se perspetiva e em que estamos a trabalhar afincadamente. Falo da adesão às Águas do Norte. Aproveitando a linha de abastecimento, que já existe ao longo da Estrada Nacional 103, as populações circundantes irão ser abastecidas por esta conduta. O mesmo acontece com a vila de Montalegre, Vilar de Perdizes e Salto. É um processo irreversível. As alterações climáticas obrigam-nos a sabermos perspetivar o futuro e a sermos cautelosos. De uma hora para a outra o caudal do rio Cávado pode ficar muito reduzido e a população de Montalegre pode ficar sem abastecimento. Cabe aos autarcas acautelar estas situações e, por isso, estamos a trabalhar o contrato de adesão às Águas do Norte. Iniciamos agora a utilização da água da barragem dos Pisões para o funcionamento do Matadouro Regional. Este ramalde já conta com um investimento de 50 mil euros. De seguida, vamos avançar com o abastecimento à aldeia do Cortiço. Estamos numa fase em que estamos debaixo da ameaça da entidade reguladora que define as taxas a aplicar que aplicará coimas elevadas se a taxa não for cumprida. Somos obrigados a fazer ajustamentos. É inevitável, a lei funciona assim e deve ser cumprida». MONTALEGRE|O INICIO DAS OBRAS DE REQUALIFICAÇÃO DO CASTELO O castelo de Montalegre entrou em obras de requalificação, vai para um mês. A fortificação vai ser alvo de uma intervenção arqueológica no âmbito da operação “Castelos a Norte”, cofinanciada pelo Programa Norte 2020, através do FEDER. Considerado a sala de visitas de Montalegre, o imóvel, classificado como monumento nacional em 1910, dispõe de uma zona especial de protecção e tem estado fechado. O projecto de revitalização contempla acções de recuperação, divulgação e promoção turístico-cultural, com vista a “potenciar o usufruto dos monumentos pela população local e pelos turistas que acorrem à região cada vez em maior número”, segundo referiu a Direcção Regional de Cultura do Norte - DRCN. Fundado na Idade Média, no início da nacionalidade, o castelo teve um papel importante na organização territorial e na protecção da fronteira nacional acrescentou o dito organismo, indicando que esta fortificação com origem medieval, foi objecto ao longo dos séculos, de obras de manutenção e adaptação, nomeadamente à utilização de armas de fogo, a partir do século XVI, com a construção de fortificações abaluartadas. Segundo a DRCN, o castelo, abrangido que foi pela operação Castelos a Norte, constitui um valor patrimonial, histórico e artístico relevante, tendo em consideração o ponto de vista da arquitectura militar, do património ou da sua própria história, que se confunde com a história de Portugal”.
45 3 O CONCELHO EM MOVIMENTO FINALMENTE CONCLUÍDAS AS OBRAS NA ESTRADA MUNICIPAL 508 Missão cumprida!... A Câmara de Montalegre que havia anunciado um investimento de cerca de três milhões de euros na melhoria da Estrada Municipal 508 que liga a vila ao limite do concelho de Chaves, resolvendo um impasse que se arrasta há oito anos, está à beira de ser concluída. Foram montantes muito elevados para os cofres da autarquia que suportou a totalidade dos custos, mas os barrosões merecem e a obra não podia ser adiada por mais tempo. \"É muito dinheiro. Não conseguimos um único cêntimo de auxílio de qualquer entidade. Quisemos candidatar a obra aos fundos comunitários mas todas as portas foram fechadas\", salientou o Presidente da CâmaraOrlando Alves. Este é um investimento que na sua opinião, vai “dar outro impulso ao tecido económico da região\". \"Estamos perante uma obra importantíssima e que a região ansiava há muito tempo. Uma obra que irá melhorar as acessibilidades do concelho e que irá colocar pressão do lado de Chaves, no sentido de terminar com o troço mais desqualificado de Portugal“ –disse. A intervenção implicou o alargamento da via e a construção de pontes, deixando no entanto de fora a ponte da Assureira, que já está construída entre os dois concelhos, mas não tem estradas de ligação exclusivamente por culpa do Poder Central e do Executivo Municipal de Chaves, que em 2012 – dizem que por falta de dinheiro – e quando tudo estava preparado para que a estrada seguisse por aquele traçado “roeram a corda”, deixando Montalegre com a “criança nos braços”. Oxalá que agora o novo autarca de Chaves pegue no assunto com a máxima urgência de forma a minimizar os estragos. Refira-se que a Estrada Municipal 508, que liga a vila de Montalegre aos limites do concelho, passa pelas localidades de Meixedo, Gralhas, Solveira, Vilar de Perdizes e Meixide. SALTO | INAUGURADO O NOVO PISO DO POLIDESPORTIVO LOCAL O Presidente da Câmara de Montalegre, Orlando Alves, inaugurou o novo piso do polidesportivo de Salto e anunciou a construção de um moderno complexo desportivo no futuro próximo. Instalado no Parque de lazer do Torrão da Veiga, este equipamento desportivo é palco de dezenas de jogos, sendo uma verdadeira atracção para os amantes do desporto. A obra, suportada pelo orçamento da autarquia, ultrapassou os 50 mil euros. O autarca aproveitou a jornada para anunciar que a vila saltense irá ter a médio prazo um moderno complexo desportivo, a ser construído de forma faseada. “Um pavilhão e um campo sintético são os trunfos mais visíveis”, destacou. O concurso público irá iniciar-se brevemente.
O CONCELHO EM MOVIMENTO 46 ALDEIA DE SANGUINHEDO, PROCURA SAIR DA “PENUMBRA”… 3 A aldeia de Sanguinhedo, fáz parte da União de Freguesias da Venda Nova e Pondras, do concelho de Montalegre. Uma freguesia com uma área de 19,13 kms2 e 393 habitantes. No Sanguinhedo, pelo menos desde 2009 que ali não vivia ninguém, as habitações foram-se degradando e só esporadicamente ali se deslocavam algumas das “almas vivas” que ali viram pela primeira vez a luz do dia. Felizmente que tal situação, se apresenta com tendência para ser alterada e nos dias que correm, a aldeia pode já contar com a permanência de 16 habitantes. Para tal, tem contribuído de sobremaneira, a Associação Recreativa e de Revitalização da Aldeia do Sanguinhedo, ali situada, e a sua Quinta da Riba, uma propriedade que providência passeios a cavalo, dispondo para o efeito de um total de 10 cavalos lusitanos. Entre as várias comodidades que esta propriedade proporciona, estão um jardim e um terraço, onde se dispõem diversos quartos para alojamento de turismo rural, equipados com um guarda-roupa e acessos à rede Wi-Fi gratuita . Todas as manhãs é ali servido um pequeno-almoço e disponibilizadas várias actividades populares na área em redor do alojamento, incluindo caminhadas. A 41kms de Braga, 30 de Montalegre e com Salto ali bem por perto, o projecto apresenta-se assim como um pólo de revitalização da aldeia, que deve merecer o reconhecimento de todos os barrosões. O aeroporto mais próximo é o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, a 76 km deste alojamento de turismo rural. Esta propriedade tem já uma das localizações melhor pontuadas e ouvidos os hóspedes que por lá resolveram passar uns dias de férias, estes mostram-se muito satisfeitos, designadamente por terem mais por menos dinheiro. PRESIDENTE DO MUNICIPIO RECEBEU ANTIGOS COMBATENTES Cerca de 40 ex-combatentes, que integraram a companhia de Caçadores 3414, na Guiné, entre 1971 e 1973, reuniram-se no convívio anual que este ano aconteceu em Montalegre. Vieram de vários pontos do país e do estrangeiro. A maioria é dos Açores. Luís Guerreiro, natural de Parafita, foi o único barrosão que fez parte deste grupo e que organizou o encontro deste ano no concelho. O grupo foi recebido no salão nobre da autarquia pelo presidente do município, Orlando Alves.
47 3 VIAGEM PELAS ALDEIAS Sidrós… A aldeia de Sidrós é uma das actuais 10 aldeias que ajudam a constituir a freguesia de Ferral, no concelho de Montalegre. Com a localização de 41º41’54.81’’N e 8º01’12.92’’W, situa-se a sudoeste da sede do concelho e dista desta cerca de 40 km, o que se traduz em cerca de 50 minutos de automóvel. Sidrós está implantada no interflúvio dos rios Cávado - margem esquerda, e Rabagão, afluente do Cávado – margem direita, a uma quota próxima dos 340 metros de altitude.Em tempos, a aldeia de Sidrós pertenceu administrativamente ao concelho de Ruivães extinto em 31 de Dezembro de 1853. Dados não certos dizem-nos que terá existido uma freguesia anterior O pesadelo de Soult ainda não terminara!... (…) Entrincheirados na à actual Freguesia de Ferral, a que Sidrós obrigatoriamente pertence, margem direita, guardando a ponte, cuja passagem estava barrada por que se chamaria “São João da Misarela”. No entanto, no tempo das pesados obstáculos, aguardavam cerca de 400 homens, comandados pelo inquirições de D. Afonso III, em 1258, já a actual existia. As mesmas Sargento-Mor José Maria de Miranda de Magalhães e Meneses, filho do inquirições falam ainda do \"eremitério de Carili\", dependente da Capitão-Mor de Ruivães, com o objectivo de proteger e defender a Ponte Igreja de Santa Marinha. Pelos meados do século XVII, a freguesia da Misarela.” Excertos do livro \"Aqui não passaram! – O erro fatal de de Ferral era uma abadia da apresentação da casa de Bragança, tendo Napoleão\", de Carlos de Azeredo, Livraria Civilização Editora, Porto, o abade um rendimento anual de 300 mil reis. Reza a história, que 2005. Sidrós teve pelo menos três cartas de Foro, uma delas em 1208. Património Arquitectónico: Não se entenda porém, estas cartas como Foral – privilégio, mas como simples contratos entre o Rei e os Foreiros. Em 1842, pertenceu o Estrada Medieval; juntamente com as freguesias transmontanas que agora pertencem ao o Ponte da Misarela -românica; concelho de Montalegre - Cabril, Covêlo do Gerês, Ferral, Pondras, o Alminhas da Cruz; Reigoso, Salto, Venda Nova, Vila da Ponte, e com as freguesias da o Capela da Santíssima Trindade; província do Minho, que actualmente pertencem ao concelho de o Capela da Senhora da Conceição; Vieira do Minho - Campos e Ruivães, ao concelho de Ruivães, que se o Cemitério das aldeias de Sidrós e, Vila Nova extinguiu em 31 de Dezembro de 1853. o Casa do Capitão -propriedade privada; o Um Moinho hidráulico -propriedade privada; Da história de Sidrós fazem parte as Invasões Francesas e o Dois fontanários de água potável públicos. obviamente a Ponte da Misarela. Das Invasões Francesas há conhecimento da passagem, entre 15 e 17 de Maio de 1809, das Artigo escrito por:Agostinho Vassalo|Ferral tropas do II Corpo de Exército Francês, comandadas pelo Duque da Dalmácia, Marechal Soult, aquando da retirada das tropas francesas no fim da segunda invasão francesa. “(…) A passagem dos franceses com os seus 4000 cavalos, sobre uma estreita passagem sustentada por alguns troncos sem guardas, demorou o dia todo (…) Mas após duas horas de marcha, a tropa francesa foi detida no sítio da Ponte da Misarela, sobre o rio Rabagão.
48 LENDA DA MISARELA “Os filhos do diabo e o padrinho da ponte”… Na Ponte de Misarela, que une as margens do Rabagão, houve pactos com o belzebu para dar filhos a mulheres desesperadas. Como pagamento, a alma e o nome da criança: Senhorinha se rapariga fosse, Gervásio se nascesse varão. Por oito vezes a ir ou a vir da central eléctrica onde trabalhava, sempre pelas à meia-noite. Ali, com marido e familiares, espera que passe um homem que será quatro da madrugada, Jeremias encontrou no meio da “Ponte do Diabo”, convidado a realizar uma cerimónia de baptismo “in ventris’” O caminhante tem jovens casais. Quando convidado a contar a “estória”, já não se lembrava da que encher um copo com água colhida do rio e com a mão em concha deitá-la no primeira vez que foi convidado para celebrar o baptismo “in ventris”. Mas ventre da mulher, acompanhando com a seguinte ladainha: “Eu te baptizo criatura sabia que das oito vezes resultou - nasceu um bebé. Os rapazes chamam-se de Deus, pelo poder de Deus e da Virgem Maria. Se fôr rapaz, será Gervásio, se Gervásio, as raparigas Senhorinha. Os baptismos na ponte já não se devem for rapariga, será Senhorinha. Pelo poder de Deus e da Virgem Maria, um Padre- fazer, a julgar pelos registos de nascimento ocorridos nos concelhos de Nosso e uma Ave-Maria”. Segue-se uma lauta ceia. Montalegre e de Vieira do Minho. Nas aldeias próximas da Ponte da Misarela ninguém ouviu falar de baptismos recentes em tais moldes. Os párocos das O PADRINHO DA PONTE freguesias, dizem que “nos últimos anos não há registo de baptismos a Gervásios ou Senhorinhas e pensam que são nomes que irão desaparecer”. Jeremias contou ter feito esta cerimónia oito vezes. “Não acredito muito Garantem também os padres que “nunca mandariam algum casal à famosa nisso. Mas deixa-me confuso porque aquelas mulheres tinham tido Ponte”. Se agora os jovens casais não recorrem às virtudes que segundo a desmanchos e depois de terem estado na ponte, nunca mais tiveram Lenda da Misarela, a ponte e a água do rio Rabagão terão feito, há vinte ou problemas em engravidar e tiveram filhos saudáveis, pelo que sei”. Crente trinta anos, as populações isoladas da região do Barroso, “quando não tinham ou não, ser “padrinho da ponte” é algo irrecusável. “Isso não, sempre que me mais onde recorrer, não hesitavam e íam à Ponte, que mal sabiam não fazer. pediram aceitei, claro. Houve vezes que fazia aquilo ligeiro, porque estava apertado para chegar a horas ao trabalho. Mas nunca se recusa”. Durante 34 A LENDA anos, seis dias por semana, atravessou a Ponte, em direcção à Central da EDP, no alto da encosta de Ferral, sempre acompanhado de uma pistola. O cenário é a velha Ponte da Misarela sobre o rio Rabagão, localizada na “Eram caminhos escuros, estreitos, e naquele tempo existiam muitas raposas, aldeia de Sidrós, freguesia de Ferral, concelho de Montalegre. Não se sabe lobos e outros animais. Tinha que andar sempre atento”. Jeremias não quando este episódio ocorreu, mas na origem da convicção popular está a fuga conheceu todos os “afilhados”. Sabia apenas que as mulheres tinham dado à de um criminoso que, por entre montes e penhascos do Barroso escapava da luz um bebé saudável. Também não se recordava bem de todos os episódios. Justiça. Encurralado, sem possibilidade de atravessar o rio, exclamou: “Por Mas há um que não se havia esquecido. “Ela vinha de Currais e não lograva Deus ou pelo Diabo, havia de me aparecer aqui uma ponte!”. E, no instante ter filhos – já tinha tido desmanchos. Bem, lá foi à Ponte nessa noite e eu fui seguinte, surge a ponte... com o Diabo no centro. “Deixo-te passar se me o primeiro a passar, claro, passava lá sempre. E um dia, não sei bem, mas venderes a alma”, disse. O homem concordou e lá passou a salvo para a outra menos de um ano após a noite do baptismo, o casal aparece com uma menina nos braços a convidaram-me para ser padrinho na igreja. Ela chamava-se margem (e à medida que caminhava, a ponte ia desaparecendo nos seus Senhorinha, tinha 26 anos, estudou, mas foi lá para fora trabalhar porque calcanhares). O foragido contou, anos mais tarde, a um padre da região o aqui não conseguiu emprego. Olhe, até o falecido Padre Caridade ficou sucedido. O padre, disfarçado de salteador, à meia-noite, colocou-se no espantado por aquela mulher ter conseguido lograr uma menina saudável. penhasco e chamou o Diabo. Satanás esticou-lhe um pedaço de pergaminho, Essa sim, era mesmo minha afilhada. dizendo: “Assina!”. O padre assinou. O Diabo, com um gesto, faz aparecer a ponte. O sacerdote passa e, enquanto o Diabo esfrega um olho, atira água benta sobre a ponte, fazendo o sinal da cruz. O Diabo, enganado, desaparece num buraco aberto nas rochas. A ponte benzida permanece. Dizem que por lá passaram Santa Senhorinha e São Gervás, a caminho de Santiago de Compostela, para visitar o primo São Rosendo. Estas são as razões que levaram os populares da região barrosã – especialmente rica no que ao lendário respeita - a acreditar que quando uma mulher, decorridos que sejam dezoito meses após o seu enlace matrimonial, não houver concebido, ou quando grávida, se prevê um parto difícil ou perigoso, não tem mais que ir à Misarela, Sabe que ser padrinho da Ponte não dá obrigações nenhumas, mas da Igreja é diferente.” Jeremias havia-se reformado anos depois. Dos outros sete afilhados pouco se lembrava. “Um era de Ruivães, outra era de Fafião, os outros são para além dos montes, já não me lembro”. Jeremias foi pai cinco vezes e nunca teve que passar uma noite na Ponte da Misarela. Pelo meio da conversa a mulher ria… (Continua na página seguinte)
49 LENDA DA MISARELA “Estórias do “arco da velha”… OS BAPTISMOS OS DESCENDENTES Antes de Senhorinha Gonçalves nascer, a mãe dela tivera dois “desmanchos”. Os seus Uma grande percentagem dos Gervásios registados nos registos civis da região Norte indica que a origem do seu nome não está, pais viviam numa aldeia de Montalegre e claro, conheciam a lenda da Misarela. directamente, ligado à lenda da Misarela. António Gervásio, antigo Decidiram tentar!... “Mesmo que a minha mãe não acreditasse naquela história, mas autarca e residente que foi em Braga, dizia dever o nome ao padrinho como ela dizia, mal não faria” - afirmava. Seria apenas uma noite ao relento à espera de baptismo. “Ele já faleceu, mas parece que ele sim, chamava-se Gervásio porque a sua mãe passou a noite na Misarela.“ de um caminhante. Foram lá. Ele meteu uma pedra dentro do copo. Colocou-se no Também Gervásio Poças, que foi psicólogo no Porto, natural do Salto, centro da ponte e largou o copo, preso a uma corda, até bater nas águas do Rabagão. Montalegre, afirmava que “nada teve a ver com a ponte. Chamo-me Gervásio por causa do meu tio-avô Gervásio, esse sim filho da lenda, Quando o caminhante chegou à Ponte viu-o de copo cheio numa mão e a outra ou melhor, a mãe dele parece que recorreu à ponte. Mas, realmente, é nome muito pouco vulgar. Não há muitos pois não?!…”. Cada vez há segurava o braço da mulher. Fez-se o baptismo. E passados onze meses nasceu uma menos. Não foi aliás por acaso que o padre de então, Domingos de menina. “A minha mãe mesmo depois de ter nascido, dizia que não acreditava na seu nome, previu que Gervásio e Senhorinha iriam desaparecer. Nos lenda” – dizia a mulher. Eu também não acredito, mas a família sempre achou piada à registos civis não aparecem há muito tempo, crianças com estes história”, contava Senhorinha, a viver na altura nos Pisões, ali bem perto de nomes. Como nota final, para quem quiser conhecer a ponte, basta apanhar a estrada nacional 103 Braga e Chaves, e seguir até Ruivães. Montalegre. Depois de passar o edifício/sede dos Bombeiros Voluntários de Ruivães encontrará uma placa informativa. Basta virar à esquerda e descer até chegar a um entroncamento. Junto à confluência do rio Rabagão com o rio Cavado estacione a viatura e percorra a pé, cerca de um quilómetro, até chegar à famosa ponte. Senhorinha soube da lenda e do baptismo na ponte “por volta dos nove anos” mas “nunca demos importância à história, no entanto, depois da minha mãe ter estado na ponte nunca mais teve problemas: nasceram seis filhos. No entanto, não digo que foi por causa da lenda”. Quando ía à terra e passava junto à barragem da Venda-Nova, o filho, então com 20 anos sempre exclama: “Olha mãe, a tua ponte”. “Éra uma piada nossa”, conta Senhorinha, que até se havia dedicado a fazer partos. “Eu não acredito na lenda mas acredito no baptismo. Eu também fiz muitos baptismos in ventris e nisso acredito”. Talvez por isso, Senhorinha tivesse mantido uma relação próxima com o seu “padrinho da ponte”. “Já faleceu, mas sempre convivemos. Ele trabalhava na central e era uma pessoa excelente. Gervásio Oliveira nasceu em Montalegre há 92 anos. Confessava que “não gostava muito de falar nisso. O meu nome é Gervásio e pronto. Não quero saber da lenda”. Lá ía contando que a sua mãe foi à ponte já grávida, pois \"parece que os primeiros meses foram ruins. O meu pai não achou boa ideia, mas também foi”. Gervásio afirmava nunca ter conhecido o padrinho da ponte. “Nunca falamos disso. Eu soube da história por um primo. A minha falecida mãe é que acreditava nessas histórias.” Gervásio não queria falar mais da lenda, mas confessou que por duas vezes, atravessou a Ponte. “Olhe, mal não faz”.
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