Ano IV | Mensal | Edição XL |Março 2021A Fundador e Director : Domingos Chaves A BARROSANA A Revista das Terras Altas do Barroso Versão digital Concelho de Montalegre Uma Ideia da Natureza
Ano IV | Mensal | Edição XL | Março 2021| 2 A BARROSANA PERIODICIDADE Mensal DIRECT OR E FUNDADOR CONTACTOS Domingos Chaves Email: [email protected] Coordenação https://a-barrosana.webnode.pt/contacto/ Domingos Chaves Textos de Edição E… BARROSO É ISTO MESMO… DIREITOS Ficha Técnica Barroso não tem monumentos, nem precisa!... Barroso Nos termos do disposto no n.º 2, alíneas i) e j) é só por si um verdadeiro monumento. O granito que do artigo 68.º e do artigo 75.º, n.º 2, alínea m) do Domingos Chaves, Catarina Pereira. Barroso da Fonte, Fernando deu forma às suas \"muralhas\", aos velhos quartéis de Código dos Direitos de Autor e dos Direitos Gonçalves Rosa, João Damião, António Chaves, Custódio Montes, José outrora, às igrejas e ao casario, foi arrancado às Conexos, e do artigo 10.º da Convenção de Berna, Dias Baptista Marie Oliveira, Arménio Santos, Helder Alvar, Fernando encostas que descem até ao Cávado e ao Rabagão, os é de todo ou de parte, proibida a reprodução bem Botelho Gomes, Isabel Tavares, Raquel Costa, José Alves, Jorge Martins rios que serpenteiam os termos de toda a região. Esse como a distribuição, comunicação ou colocação e Gabinete de Imprensa da C.M. Montalegre é o granito omnipresente que consubstancia, torna à disposição da totalidade ou parte dos concreta e palpável a memória do meu povo. conteúdos desta publicação com fins comerciais Fotografia Foi com essas pedras que ele se defendeu, construiu directos, indirectos ou outros., em qualquer as suas humildes habitações, paços senhoriais ou suporte, através de qualquer meio técnico, sem Domingos Chaves, C.M. Montalegre, José Alves, Artur Pastor, Gerard vivendas burguesas, pavimentou as ruas, albergou a autorização prévia do director. Fourel, Fernando D. C. Ribeiro, Mauro Fernandes Heléne Martins, santos em igrejas e conventos e deu guarida aos militares que o defendiam das invasões. EDIÇÃO Raquel Costa e de Domínio Público Nessas pedras deixaram os mestres canteiros as suas identitárias marcas e os pedreiros as suas fortes e Março 2021 - Edição 40 ISBN certeiras cinzeladas. Hoje não se ouve o pedreiro a DISTRIBUIÇÃO GRATUITA 152281/2017 percutir a pedra, nem o bulício dos militares em Versão digital serviço ou de licença, e são poucas as crianças que Execução alegram e dão vida às ruas cada vez mais desertas. Mas os que por cá andam, os que cá moram e os que Domingos Chaves como eu não abandonam a \"terra\", têm a firme convicção de que o futuro de Barroso terá que ser REVISTA ONLINE ainda mais risonho. Sejamos justos: aquilo que tem para oferecer é único. Tudo que ficou dito, é ímpar!... https://a-barrosana.webnode.pt/ A arquitectura moldada pelo Larouco e pelo Gerês, tem aqui uma das suas pérolas mais brilhantes e ... marcantes em comparação com outras que existem por essa Europa fora.
OS DESTAQUES 3 Pag.6 BARROSÕES ILUSTRES 7 DR. Victor Branco 10 9 16 O DESTAQUE DO MÊS 68 Pag.10 Saudade, a palavra do ano 70 72 O ROTEIRO DO ROMÂNICO DR José Dias Baptista VIAGEM PELAS ALDEIAS Codeçoso da Chã CRÓNICA DO MÊS O interior das nossas mágoas POLITICA INTERNA Retrospectiva Pag.31 Marie Oliveira Sociedad52e Barroso da Fonte José Dias Baptista Pag.36 João Damião O CONCELHO António Chaves Custódio Montes EM NOTICIAS A S A L T E R A Ç Õ E S C L I M Á T I C A S … Catarina Pereira 74 Pag.51 OS GRANDES MITOS DA HISÓRIA DE VIRIATO A SALAZAR… Pag.87 Pag.42
A PORTUGAL COMEÇA AQUI… • Adeus lugar de Padroso, • As costas te vou virando, • A saída é agora, • A volta não sei quando. • Padornelos vale pouco, • Sendim, pouca terra e essa má, • Respondem os de Padroso, • Tomara-mo-la nós por cá… Ditos de antanho
A BARROSO É ISTO!... Pedra sobre pedra, dias sobre dias, estórias Mas se somos assim, de paladar refinado com história, corpos com alma e rugas com e pote enriquecido, é porque aprendemos eternidades para contar. Barroso é isto e isto a ser felizes à mesa, a conviver à luz da é tanto!... Estimam-se livros de ouro e candeia acesa e ao sabor de um cozido à desperdiçam-se histórias de diamante. nossa moda. O que somos, é muito mais do que aquilo Somos aquilo que somos, porque somos que se pode guardar num banco ou bolsa. O poupados, e conseguimos ultrapassar que somos, é história fortificada, é ADN dezenas de crises, aprendendo a utilizar enriquecido pela luta de quem viveu, sofreu, cem por cento do porco, a cozinhar com sorriu e venceu. castanhas, a fumar o que é preciso estimar ou a saborear uma sardinha O que não deveríamos era ser fracos de partida em três. memória e deixar de estimar o que somos, e o que somos vale mais que ouro. Se somos assim é porque milhares e milhares de aldeias sobreviveram ao Se somos assim, é porque rios de lágrimas passar dos tempos, sempre edificadas choveram sobre os mares!... Se somos nos seus mais nobres valores e tradições. assim, é porque os “mares desconhecidos” Mas se somos assim porque haveremos nos permitiram enxergar a nossa alma nós de mudar?!... destemida!... Se somos assim guerreiros, é porque nem bávaros, gauleses ou vizinhos VIVA BARROSO… alguma vez nos conseguiram dobrar pela espinha!...
6 OS VIOLINISTAS FURA-FILAS DAS VACINAS… Há sensivelmente um ano, o país entrava num dos maiores desafios da sua História: enfrentar o desconhecido vírus do covid-19. Momentos houve, em que o país inteiro praticamente parou por conta dos agravos da pandemia e de um possível colapso na rede de saúde, face a uma doença que alastrava, e até então, sem tratamento específico, sem vacina, e sem outra forma de a conter, outra coisa não restava senão o confinamento. Fura-filas da vacina!... Um Pessoas houve porém, que não tiveram a opção de ficar em casa!... Entre elas, os profissionais de crime, que se para aqueles saúde, que apesar de tudo, se predispuseram a lutar contra a pandemia e o medo. Medo de se infectar que sofrem e que lutam de infectarem e por via disso os levaram a afastarem-se das suas famílias. Muitos deles, viram os seus pela vida, a punição não próprios colegas a contraírem a doença e a não resistirem. Foi assim que à sua volta se gerou uma pode ser maior que o imensa onda de mobilização e reconhecimento, e todos quantos na chamada “linha da frente” davam desgosto e a angústia de e continuam a dar combate a esta malfadada pandemia, passaram a ver os seus méritos reconhecidos, ver o quão tamanho é o por uma corrente de aplausos e inúmeras demonstrações de empatia que todos saudamos. O que egoísmo e falta de ninguém imaginava, é que um ano depois de tudo isso que os fustigou, os mesmos profissionais de empatia do ser humano, já saúde e outros que tanto sofreram com a angústia de não saber quais seriam os seus destinos, seriam para quem o promove e parcialmente ignorados e desvalorizados perante o egoísmo de outros. comete, a pena terá que ser exemplar e No inicio deste ano, as mortes e os casos de contaminação cresciam assustadoramente e o Governo, os proporcional à sua torpeza hospitais e os ditos profissionais de saúde, eram incapazes de encontrar antídotos para travar tamanha moral – a Justiça não pode calamidade. Entretanto em Janeiro, a esperança parece ter chegado!... As primeiras vacinas são vacilar. aprovadas para distribuição e com prioridades direccionadas especificamente aos grupos de maior risco, entre eles, os profissionais que actuam directamente na linha de frente. O que vemos porém, é além de uma falta de respeito, uma covardia e egoísmo inimagináveis!... Isto é, pessoas que podem aguardar a sua vez e que têm até a opção de ficar em casa, a roubar a dose de esperança de quem não sabe o seu destino. São os fura-filas da vacina!... Um crime, que se para aqueles que sofrem e que lutam pela vida, a punição não pode ser maior que o desgosto e a angústia de ver o quão tamanho é o egoísmo e falta de empatia do ser humano, já para quem o promove e comete, a pena terá que ser exemplar e proporcional à sua torpeza moral – a Justiça não pode vacilar. E não me venham com a teoria das sobras!... As sobras são sim, todos aqueles a quem sobra a falta de vergonha na cara. Sim, esses mesmo conspurcadores da sociedade, a quem sobra a falta de dignidade suficiente para roubarem uma vacina a um idoso, a um doente ou a um profissional de saúde. E sobra-lhes em torpeza moral aquilo que lhes falta em carácter, valendo-se do poder de administrar o bem comum, para desviarem para si próprios e para os seus, aquilo que não lhes pertence. Não nos dêem música!... Gente desta não pode contar…
7 DR. VICTOR BRANCO “Grandes homens, entre eles Gil Vicente e Luis de Camões, têm 1863 - 1947 dado água pela barba aos estudiosos que pretendem saber A EVOCAÇÃO DO HOMEM onde, quando e de quem nasceram. E DO POLITICO… Victor Branco teve o cuidado de nos poupar a essa tarefa, deixando escrito: “nasci em 23 de Março de 1863, pelas quatro horas da tarde, no lugarejo de Frades, deste concelho de Montalegre. Minha mãe chamava-se Isabel Afonso Gonçalves e meu pai João Gonçalves Branco”. Grandes homens, entre eles Gil Vicente e Luis de Camões, têm dado Tocava doze vacas e duas éguas. Hoje em dia só os velhos água pela barba aos estudiosos que pretendem saber onde, quandForaedes mdoaiRoiroe|sCdaesa5o0ndaenonasscpeoudVemictofraBlarrandceossas famílias patriarcais de de quem nasceram. Victor Branco teve o cuidado de nos poupar a essa Barroso, organizadas à semelhança das de Abraão e de Jacob.Os tarefa, deixando escrito: “nasci em 23 de Março de 1863, pelas quatro novos já as não conheceram. E é pena porque elas imprimiam à horas da tarde, no lugarejo de Frades, deste concelho de Montalegre. vida outro sabor, outra felicidade. Minha mãe chamava-se Isabel Afonso Gonçalves e meu pai João No salutar convívio com dez irmãos e doze vacas, o pequeno Gonçalves Branco. Victor tinha de ter, por força, uma infância feliz. No contacto com Tiveram onze filhos, tendo eu aparecido em décimo lugar. Projectaram as coisas puras e simples da natureza e na convivência com as ordenar três, na esperança de que cada um deles se faria acompanhar pessoas igualmente puras e simples da natureza e na na vida por cada uma das irmâs, que também eram três. Os restantes convivência com as pessoas igualmente puras e simples da cinco homens, continuariam na cultura das terras. Todos seguiram familia e da aldeia, ao tempo superpovoada, deve ter forjado pela rota marcada, menos um dos três que tresmalhou. Não lhes digo essa firmeza de carácter que depois, vida fora sempre o nome, porque ele está bem à vista”. demonstrou. Frades do Rio | Casa onde nasceu Victor Branco Montalegre anos de 1920 É de crer, que quando pelos 7 ou 8 anos, o arrancaram ao paraíso da infância, haja vertido duas lágrimas. Mas em Frades Ficamos portanto a saber, que o Dr. Victor Manuel Gonçalves Branco, não havia escola primária, e os pais queriam fazer dele um veio ao mundo no seio de uma família numerosa e abastada: a casa padre. Por isso, vá de entroixar os pertences e jornadear para dos Pereiras. Cabril, onde o irmão mais velho, padre Bento José Pereira Branco, paroquiava.
8 DR. VICTOR BRANCO A EVOCAÇÃO DO HOMEM E DO POLITICO… 1863 - 1947 O estudante Victor Branco A ENTRADA NA POLITICA “Foi ali” conta-nos ele, “que passei a minha meninice, frequentando a Compraram-lhe então os primeiros sapatos. Lá lhe pareceu escola primária a cargo do professor Manuel José Antunes, homem de boa aos pais que ficaria mal o rapaz aparecer de tamancos na moral e proficiente no seu oficio. cidade dos arcebispos. Por falta de tempo, não me foi possível averiguar se por essa altura, os bracarenses Foi nessa idade que eu fiz a primeira viagem ao coração da serra do Gerês, andavam ou não de sócos. O que posso dizer, é que uns com uma cabaça de vinho às costas, destinada a uns caçadores que para lá vinte anos antes, ainda nas ruas de Braga o estridor dos tinham ido de véspera e onde tencionavam demorar-se uns dias. Fui atrás tamancos era de tal ordem que abafava o de um carroção do vizinho Tamanqueiro, às costas do qual foram postas as iguarias sólidas. puxado a cavalos – quem o afirma é Camilo Castelo Branco. Não me lembro se fui descalço ou levava sócos. Sapatos com certeza não Uma vez em Braga, apresentou-se ao exame de admissão ao levava, porque esse luxo só mais tarde me foi permitido, na ocasião em seminário e foi admitido. Ao tempo os seminaristas não que tive de aparecer em Braga a fazer no liceu o exame da instrução gozavam do previlégio de aposentadoria na casa dos primária e no seminário o de latim e latinidade que o padre Venâncio me arcebispos, Cada qual aboletava-se onde quisesse, ou as ensinara no Eiró à custa de palmatoadas, distribuídas com abundâncFiaraadoess do Rpioos|seCsaslahoonpdeernmaistciaeumVeictfoarziBaraancvoida de qualquer estudante seus discípulos mais ronceiros e obtusos. Tinha eu 16 anos feitos”. leigo. Passeatas nos jardins, olhinhos às moças, cigarrito clandestino, horas de pasmo pelos cafés, estúrdia. Nessas circunstâncias, forçoso é que vocações fossem realmente fortes para vingarem. Victor Branco estava sinceramente convicto da sua vocação. Os padres-mestres é que não pareciam lá muito convencidos disso. Etantas lhe fizeram que acabaram por atirar com o rapaz borda fora. Tinha ele uns cinco ou seis anos de seminário, 21 ou 22 de vida e ordens menores. O que tudo somado, de pouco ou nada lhe serviu, como ele próprio contou. Universidade de Coimbra Conjugando estes dizeres, tiramos a limpo o seguinte: que o pequeno Victor Branco com a esposa Victor passou os primeiros sete ou oito anos de vida na casa paterna, fruindo aquela perene liberdade e segurança que as aldeias barrosãs do Desalinhado coma vida de seminarista e com a sua própria século passado e princípios deste prodigalizavam a todas as crianças; na cidade dos arcebispos, Victor Branco entendendo que chegado à idade da razão seguiu para Cabril, onde decerto a existência lhe aquilo que ali aprendia não lhe servia para nada, resolveu ir continuou a decorrer feliz e descuidada, entre o presbitério, a igreja embora e seguir a sua vida. Neste caso, nem todos paroquial, em cujos actos litúrgicos acolitava, e a escola de primeiras manteriam a “linha” de estudante, mas o rapaz não era um letras, onde ainda dentro das conjecturas possíveis, gozaria do estatuto qualquer!... privilegiado que lhe advinha do facto de ser irmão do pároco. Concluída a instrução primária, aí vai ele despachado ao mestre de Latim, padre Venâncio, do Eiró, ainda dentro dos limites de Barroso e respectivos usos e costumes, entre eles, os tamancos; aos 16 anos mandaram-no para Braga.
9 DR. VICTOR BRANCO A EVOCAÇÃO DO HOMEM E DO POLITICO… 1863 - 1947 O Presidente da Câmara assunto em sessão pública. “É o cúmulo do cinismo”, exclamou Victor Branco. Daí até 1920, o povo continuou a ouvi-lo!... Bateu-se pela ligação da estrada de Victor, tinha inteligência, força de vontade, altivez Montalegre, à então chamada via Chaves-Braga, fez parte de uma Associação protectora de carácter, boa constituição física, simpatia e de crianças, bateu-se pela criação do Posto Zootécnico de Barroso destinado a fomentar granjeava amigos. Um destes, médico de profissão, a pureza do gado barrosão, verberou o golpe de estado sidonista protagonizado por abriu-lhe então crédito, Victor aceitou, concluíu os Sidónio Pais e em 1920 voltou à presidência da câmara embora por pouco tempo, tendo exames no liceu e seguiu para Coimbra. A sua em conta que a breve trecho foi substituído por Augusto Canedo, do qual disse “ter chegada à Lusa Atenas deve ter coincidido com a de ficado tão contentinho” com esta substituição, que logo no primeiro dia em que entrou António Nobre, que nos deixou num belo poema em exercício distribuiu todo o dinheiro que encontrara no cofre, por quem muito bem do belíssimo livro “Só”, um retrato de Coimbra quis. Entretanto por razões de herança da mulher, é forçado a fixar residência em desse tempo. Ali, Victor Branco viria a concluir a Vermoim, abandonando um palco de operações políticas que o celebrizara e que o sua licenciatura em Direito. levaria a escrever: \"Fidalgo na Minha Terra, Juíz na Minha Comarca e Tocador de Burros em qualquer parte\". Em 20 de Fevereiro de 1895 casa com uma senhora de uma família aristocrática do lugar de Vermoim, Em 1922 volta a concorrer e volta a ganhar a câmara até ao Golpe de Estado de 28 de arredores de Famalicão. Nesse mesmo ano candidata-se à presidência da Câmara de Maio Adepa1r9t2ir6,dFaerímaddeqessuedenovcoRolvimoeu|aCuadmsiataaodlnuudtraae ntdiateâscnSeiaculaaVzciacortn,otrpraBerrodaencclãiorrdeomseCdaianveedlmoseenteemo poder Montalegre pelo Partido Progressista, tendo como local. defesa opositor, outro ilustre barrosão o Dr. José Joaquim Álvares de Moura, natural de Covelães que das populações do concelho, de que em edições próximas daremos as devidas notas. concorria pelo Partido Regenerador. Perdeu as eleições, mas em 1898, desforrava-se após ter Foto de família… publicado a Cartilha Eleitoral, um opúsculo onde acusava os seus adversários, de forma exaustiva. Só De Victor Manuel Gonçalves Branco, há pois que dizer que como poucos foi um que em 1901, em novo acto eleitoral, justifica os democrata de lei, um Barrosão de peso tanto na barra dos Tribunais como na política e seus fracassos, sobretudo na florestação que ainda lhe sobrou tempo para escrever – e bem – algumas belas páginas na língua pátria. apenas resultou, em três freguesias do concelho, As mais delas podem ser catalogadas na gaveta literária das Polémicas mas não deixam onde os irmãos padres - Bento e Guilherme - de ser bem nossas e de ter o que fazem dele um grande homem, um grande barrosão e tinham bastante influência. Perdeu a Câmara a um grande escritor. favor do adversário Germano Augusto Rodrigues Canedo, só voltando ao Poder em 1911. Victor Branco, morreu a 16 de Dezembro de 1947. Deixou alguns livros publicados, tais como: Carta Aberta, em forma de Crónica escrito em 1936, Reminiscências do Passado e Em 1913 voltava a perder a presidência e em Junho Almanaque de Lembranças Locais em 1941. de 1916 elabora um Manifesto com o título: Ao Público – As Imoralidades da Maioria da Câmara de Está perpetuado na toponímia de Montalegre, onde ficou mais conhecido pelo Dr. Bitro. Montalegre, no qual para além de múltiplas e Teve os seguintes filhos, todos ilustres e todos nascidos em Montalegre: Maria Cecília de variadas prepotências, corrupções e atropelos à lei Aguiar Branco; Isabel Maria de Aguiar Branco; Ana da Glória de Aguiar Branco; Victor se detém em dois factos que ele então considerava Manuel de Aguiar Branco; Guilherme Francisco de Aguiar Branco; Maria da Glória de graves – sendo o primeiro, o criminoso desinteresse Aguiar Branco; Fernanda Victória de Aguiar Branco; e Maria Eugénia de Aguiar Branco. da câmara pela liquidação da herança do Dr. Morais Fonte: Vida e Obra de Victor Branco, de Bento da Cruz. Caldas, benemérito falecido em 1914 e que deixou aos pobres de Montalegre uma fabulosa fortuna então calculada em 300 contos em moeda, nomeando a dita câmara, liquidatária e administradora do legado. Segundo Victor Branco dois anos após a morte daquele ilustre médico, lente e director da Escola-Médico Cirúrgica do Porto, nunca a câmara havia falado em tal
10 A data surgiu pela primeira vez a 19 de Março de 1911 na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. Desde esse ano, o dia tem vindo a ser comemorado em vários países do mundo de forma a reconhecer a importância e o contributo da mulher na sociedade. Outro dos objectivos por detrás da origem do Dia Internacional da Mulher é recordar as conquistas das mulheres e a luta contra o preconceito seja ele de natureza racial, sexual, político, cultural, económico ou outro. O dia 8 de Março é também comemorado pelas Nações Unidas como Dia Internacional da Mulher desde 1975, em homenagem às operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque que no ano de 1857 entraram em greve e ocuparam a fábrica para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Estas operárias, que recebiam menos de um terço do salário dos homens, foram fechadas na fábrica onde entretanto se declarara um incêndio e cerca de 130 mulheres morreram queimadas. ... Não, não é preciso envergonhar-nos dos séculos de exploração feminina, das humilhações a que os homens sujeitaram a mulher e do sofrimento que lhe impuseram. Não somos culpados do anacronismo das leis, dos preconceitos generalizados e da violência das ditas leis que a discriminaram. Não defendemos os conteúdos misóginos da Tora, da Bíblia ou do Corão que legitimam a violência de que são vítimas e as penas a que são sujeitas, sem esquecer a lapidação e as vergastadas públicas a que o fascismo islâmico ainda as submete. Nos primórdios da humanidade, a força física foi determinante, a divisão do trabalho e a apropriação dos incipientes meios de produção conferiram ao homem a supremacia que o tempo se encarregaria de perpetuar e os homens de defender. Impensável é que a modernidade tenha sido tão lenta no reconhecimento da igualdade, que os preconceitos permaneçam em homens ditos civilizados e a resignação seja aceite por mulheres que sempre foram vítimas da exploração e da violência. Não temos que apreciar dias internacionais ou celebrações impostas pelo calendário para condenar atitudes que envergonham e permanecem o resto do ano coniventes com a tradição. Abrimos porém nesta edição, uma excepção para recordar, não a Idade Média, mas a ditadura salazarista e os valores e princípios que envergonham o passado recente resgatado pelo Portugal de Abril.
11 Homenagear as mulheres do passado é construir o presente das mulheres do futuro… Carolina Beatriz Ângelo Florbela Espanca O regime republicano que se implantou em Portugal em 5 de Outubro de 1910 Mas note-se que a Liga era primeiro Republicana e só depois das visava transformar a sociedade, visava, como vários autores escreveram, acabar Mulheres, o que revela a intenção dos seus fundadores. Considerando com um sistema baseado no poder, mesmo que simbólico, de um rei e dos o que se passou a seguir ao 5 de Outubro, concluímos de novo, que as círculos a ele conexos (aristocracia, igreja) substituindo-o por um sistema suas preocupações principais não se centravam na situação das baseado numa comunidade de cidadãos. Muito mais do que o 25 de Abril de mulheres, mas antes que consideraram útil do ponto de vista 1974, cujo primeiro objectivo era acabar com as guerras coloniais, a República, estratégico, cativá-las para os seus ideais. Em 1909 realizou-se um preparada ao longo de décadas, sonhada e idealizada, tinha horizontes quase Congresso do Partido Republicano onde se anunciou a necessidade de utópicos. decretar a igualdade de direitos políticos e sociais para as mulheres. Mas muito antes da fundação da Liga, um pequeno grupo de Contudo, ao contrário de outras utopias que se desenvolveram ao longo do mulheres feministas empenhava-se de forma enérgica no derrube da século XX, com consequências catastróficas, a ideologia republicana estava Monarquia, visando a implantação do Regime Republicano. longe de propôr soluções fixas e previamente delineadas. Tinha alguns Acreditavam que posteriormente se iria promulgar legislação favorável princípios básicos, o mais importante dos quais seria a necessidade de separar às mulheres e que o sufrágio lhes seria concedido. os poderes da Igreja e do Estado. Por sua vez os perenes valores republicanos – Liberdade Igualdade e Fraternidade, estavam bem presentes nas aspirações É importante evocar ainda que brevemente alguns dos seus nomes: republicana Guiomar Torresão 1844-1898; Carolina Michaëlis de Vasconcellos 1851- 1925; Angelina Vidal 1853-1917; Alice Pestana 1860-1929; Adelaide Um dos horizontes propostos antes do 5 de Outubro dizia respeito à vida das Cabete 1867-1935; Alice Moderno 1867-1946; Maria Veleda 1871- mulheres – alguns republicanos (muito poucos) reconheciam que à face da lei e 1955; Beatriz Pinheiro 1871-1922; Ana de Castro Osório 1872-1935; dos costumes a situação das mulheres era degradante e como tal deveria ser Virginia de Castro Almeida 1874-1945; Carolina Beatriz Ângelo 1878- alterada. Mas a sua motivação principal não seria, na realidade, a condição 1911; Virgínia Quaresma 1882-1973; Deolinda Lopes Vieira 1888-1993; específica das mulheres, mas antes o interesse em arregimentar o maior apoio Lucinda Tavares. possível para o ideal republicano. Para além destas há ainda que destacar pela sua imensa dedicação à É isto que poderá explicar que se deva à iniciativa de três dirigentes causa republicana e à defesa dos direitos das mulheres, Ana de Castro republicanos a ideia da fundação da Liga Republicana das Mulheres Osório, Carolina Beatriz Angelo, Maria Veleda e Adelaide Cabete; Portuguesas, em 1909. A proposta nasceu em Agosto de 1908 quando António Sophia de Mello Breyner 1919-2004 e Natália Correia 1923-1993. José de Almeida, Bernardino Machado e Magalhães Lima convidaram todas as Ana de Castro Osório foi uma das que publicou uma vasta obra sobre a ‘senhoras’ que o desejassem para fazer parte de uma Liga. temática feminina e é dela a seguinte frase, publicada no jornal republicano ”O Mundo” de 26 de Abril de 1909: “Tendo o direito de ser Os objectivos eram «orientar, educar e instruir, nos princípios democráticos a rês, devemos ter também o direito de ser advogados ou juizes, para mulher portuguesa.» António José de Almeida chegou a prometer que ao que da justiça se não diga que é uma coisa bifronte… e injusta”. contrário do que se tinha passado com a revolução francesa, as mulheres não ficariam ‘logradas’ pela futura República. A Barrosana
12 Homenagear as mulheres do passado é construir o presente das mulheres do futuro… Sophia de Mello Breyner Natália Correia Maria Barroso Maria Lourdes Pintasilgo Amália Rodrigues Muitas das mulheres que se entregaram a esta causa também ingressaram na – A Lei do Divórcio (que interessava também aos homens) entra Maçonaria, talvez iludidas com o que tal poderia significar em termos de igualdade em vigor a 3 de Novembro 1910, (portanto, menos de um mês com os irmãos maçons. As lojas então criadas para as mulheres ficaram sob após o 5 de Outubro). Passa a ser dado tratamento equivalente à dependência masculina. Entre as maçons encontravam-se as referidas Carolina mulher e ao marido, em relação às causas do divórcio e aos Beatriz Angelo, Ana de Castro Osório, Adelaide Cabete e Maria Veleda. direitos sobre os filhos. É necessário recordar o quadro geral do país em termos de nível de educação das O adultério, que embora continuando a ser considerado crime, mulheres, o que também explica a razão do reduzido número de activistas. Estima- passou a ser punido da mesma forma, quer seja cometido por uma se que, à época, acima de 80% das mulheres eram analfabetas. Além disso, a ou pelo outro. grande maioria eram pobres e só tinham energia para o trabalho duríssimo nas – A Lei da Separação da Igreja e do Estado fábricas, na agricultura, no serviço doméstico, acumulado com o cuidado dos – As mulheres passaram a ter o direito a trabalhar na função filhos, e familiares. pública. – É declarada a escolaridade obrigatória dos 7 aos 11 anos para Mas também é importante frisar que a maior parte dos intelectuais e/ou políticos rapazes e raparigas mas, por falta de organização, na prática não portugueses, do sexo masculino, que prepararam de alguma forma a República, existiam escolas em número suficiente para que esse direito fosse eram assumidamente anti-feministas, entre os quais se encontram Teófilo Braga, exercido. Sampaio Bruno, Antero de Quental, João Chagas, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro, Basílio Telles, Trindade Coelho, Antero de Figueiredo e Heliodoro Ainda assim, a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas, em Salgado. Dezembro de 1910, apresentou ao governo uma série de propostas que considerava justas, e que foram elencadas por João O influente escritor e político Raul Proença, escreveu em 1909: “Que tenham Gomes Esteves e que eram as seguintes: voto, está bem. Que tenham direitos políticos, é justo (…) mas mais importante – a revisão imediata do Código Civil, de onde deveriam ser que Mulher Livre é Mulher Honesta. A igualdade de direitos deveria respeitar a eliminados os artigos mais vexatórios para a mulher. diversidade de missões”, o que exprimia sucintamente a opinião da maior parte – o direito de voto, ainda que restringido à mulher comerciante, dos homens republicanos. industrial, empregada pública, administradora de fortuna própria Anoto aqui que a Primeira República é muitas vezes analisada de forma ou alheia, diplomada com qualquer curso científico ou literário e maniqueísta – ou foi tudo ou quase tudo muito bom e acertado ou o seu absoluto escritora. contrário. Sabemos que a história é sempre muito mais complexa do que estes – o direito de eleger e ser elegível para os cargos municipais. olhares simplistas. – o direito de ocupar cargos na Assistência Pública, bem como o acesso a outras profissões e a lugares cimeiros, aos quais deveria Olhando para a situação concreta das mulheres temos que reconhecer aspectos poder concorrer em igualdade de circunstâncias com os homens. extremamente positivos realizados pelo regime, a saber – o combate à prostituição. A Barrosana
13 Homenagear as mulheres do passado é construir o presente das mulheres do futuro… Efectivamente, no Dia de Natal de Apresentou-se no dia das eleições, a 28 de Ana de Castro Osório, a viver no Brasil, escreveu desesperada: «Eu 1910 foram publicadas as Leis da Família, das quais só em parte foram Maio de 1911 e votou. Em 1913, o Código pergunto senhoras por que razão nos afastam das urnas de que eliminados os tais artigos vexatórios do Código Civil. Eleitoral aprovado especifica que apenas devem sair os representantes do povo, se nós somos mais de Citando João Esteves foi estabelecido que “o contrato de casamento era têm direito a votar os cidadãos do sexo metade primeira deste povo? Eu pergunto com verdadeiro exclusivamente civil, já não era perpétuo e a sociedade conjugal masculino que saibam ler e escrever. Temia- assombro, qual o espírito de justiça que actuou nos membros das passava a basear-se na liberdade e na igualdade, ao mesmo tempo que se o alegado conservadorismo das mulheres constituintes portuguesas, quando puseram de lado, com tão reconhecia a capacidade judiciária da mulher e permitindo igualmente a (e dos homens analfabetos que também vexame desprezo para nós, mulheres, como para a magistratura possibilidade da investigação da paternidade ilegítima. perderem o direito ao voto). portuguesa que nos dera o direito de votar, a questão do voto Entre outras alterações, também foi Segundo acreditavam os homens no poder, feminino, considerando-a inoportuna? Porquê? Ah! Minhas revogado o artigo que obrigava a as mulheres eram dominadas pelos padres preclares consócias, eu senti, aqui de tão longe onde me encontro, mulher a prestar obediência ao e pelas freiras e por isso não apoiariam as vergonha pelos homens do meu país, e prazer, ao mesmo tempo, de marido e reconhecia-se àquela o ideias de progresso da República, apegando- me encontrar neste momento afastada.» direito de publicar sem necessitar de autorização marital.» se à monarquia. Era até missão da República Mas em relação às outras propostas a situação foi bem distinta: desde logo libertá-las de tão funestas influências. na questão fulcral do sufrágio. Antes do 5 de Outubro as élites Neste processo de negação do sufrágio partidárias da republica fizeram crer feminino Afonso Costa teve um papel que essa seria uma medida a preponderante, como também o teve promulgar sem problema de maior. O António José de Almeida. Nenhuma das que se passou foi uma história ilustres republicanas da Liga foi capaz de trágico-cómica, ilustrado pelo dissolver os seus precoAncmeiátolisa. Rodrigues episódio em que se viu envolvida Carolina Beatriz Angelo em 1911. Paradoxalmente estes republicanos tinham Como viúva e mãe considerou que medo das mulheres – da forma como se Depois desta grande decepção, a Liga comunicou oficialmente a era ‘chefe de família’ e portanto com iriam ‘comportar’ face aos direitos cívicos. Afonso Costa o seu descontentamento e considerou abandonar a capacidade para votar, pois o Código Administrativo vigente não Foi também penoso constatar que os política partidária de forma a poder dedicar-se mais livremente à especificava o sexo dos chefes de família. principais jornais republicanos vinham, promoção dos direitos das mulheres. Em 1920 houve nova Pediu o seu recenseamento. Foi-lhe negado pelo Ministro António José de desde a implantação da República, a atacar tentativa, falhada, para que a Câmara dos Deputados atribuísse o Almeida. Interpôs recurso. O juiz que apreciou o caso, João Batista de e a zombar as sufragistas, em tom sufrágio às mulheres com mais de 21 anos, que soubessem ler e Castro, era pai de Ana de Castro Osório. Ganhou. semelhante ao que faziam os jornais escrever. monárquicos e de oposição. Maria Veleda, Outra questão que foi gravemente descurada pelos governos sempre muito combativa, participou no republicanos foi a educação das mulheres – a que a monarquia Congresso do Partido Republicano em 1911 também não prestara qualquer atenção. Basta recordar que o e declarou «os homens desdenhadores da primeiro liceu feminino – o Maria Pia – só abriu em 1906. Contudo a interferência das mulheres na política retórica republicana atribuia grande importância à educação, quer mostram não ter cabeça.» feminina quer masculina. Os resultados a nível das mulheres foram Aliás, já em 26 de Dezembro de 1910 a Liga quase inexistentes. Com a agravante de se ter publicado em Março tinha reunido «para se apreciar a forma de 1911 uma reforma do ensino primário que as professoras descortês e também insultuosa como consideraram muito lesiva dos seus direitos. Nomeadamente as alguns republicanos têm tratado as professoras foram proibidas de se apresentarem nos exames senhoras da Liga, depois da implantação da primários de 2º grau. Só em 1920, dez anos depois da implantação da Republica, é que as raparigas são autorizadas a frequentar os República.» liceus masculinos. A Barrosana
A MONTALEGRE UM CONCELHO COM HISTÓRIA Dizem os nossos escritores e também os poetas transmontanos, que Barroso é uma dádiva especial da Natureza e a grande obra de pedra e água feita em Portugal. E dizem-nos ainda, que é neste Norte que arduamente se riscam e planeiam caminhos, se cruzam vontades, e se resiste à força do tempo com a granítica força e persistência dos rios e das serras, à invasiva e danosa cultura que desvirtua e engana a História. E por fim concluem: “é da mesma pedra e da mesma água, que são feitas as gentes destes lugares”...
A Roteiro do Românico… AS TERRAS DE BARROSO Por: José Dias Baptista Historiador e Investigador • O Mosteiro de Pitões • As Igrejas • As Capelas • As Alminhas • E os Cruzeiros
16 TERRAS Santa Maria das Júnias DE BARROSO • O Mosteiro de Pitões O tipo construtivo que floresceu após o ano mil foi o chamado estilo Os pés direitos e a divisória das sineiras exibem canais que românico por ser proveniente da junção de arte bizantina com a arte acompanham todos os bordos, ao abrigo do sofito simples romana. O edifício tem planta de dois rectângulos, nave única e ábside das abas salientes, onde descansam os saimeis dos arcos e, e segue fielmente, apesar das injúrias dos séculos, dos temporais e do no ângulo poente, um rebuscado relógio de sol. abandono, o plano-tipo das abadias cistercienses, como se pode verificar através das estampas da “Peregrinatio Hispânica”. Os pés direitos e a divisória das sineiras exibem canais que acompanham todos os bordos, ao abrigo do sofito simples Trata-se de uma construção de evidente equilíbrio, apesar de das abas salientes, onde descansam os saimeis dos arcos e, reconstruída em diferentes épocas, girando as suas partes à volta da no ângulo poente, um rebuscado relógio de sol. igreja, paralela à qual fica a ala do refeitório, cozinha, forno e despensa. Na planta baixa temos, partindo da cabeceira da igreja, sacristia, sala do capítulo, enfermaria e oficinas. Pórtico do cemitério Sobre esta ala, sobranceiras à ribeira, ficavam as celas dos monges, Sobre o conjunto estende-se uma cimalha bastante parecida logo após a do abade. Ao centro destas construções era o claustro. A com a da base onde se levanta um remate imponente Coroa, a empera da fachada, um campanário muito elegante com duas ladeado por pináculos iguais aos da fachada da igreja. sineiras gémeas de arcos de volta inteira, com desiguais aduelas contrarrestadas por estribos muito justos. Toda a fachada constitui uma arrojada tentativa de exaltação mística. É um pórtico muitíssimo harmonioso, bem característico dos monumentos românicos.
17 TERRAS Santa Maria das Júnias DE BARROSO - O Mosteiro de Pitões II A imposta, elemento arquitectónico de lavor atento, é uma faixa corrida e saliente, muito bem decorada que percorre Apresenta duas arquivoltas circuitadas por um friso de canais de horizontalmente todo o paramento da fachada, saindo da pronunciado boleio, gradualmente saliente para o exterior. A base do tímpano até às esquinas com as fachadas laterais. arquivolta exterior, de perfeito e simétrico entrançado, é bordejada Percorre também o mesmo espaço interior, mas aí, por vezes, o inferiormente por singelo mas encorpado cordão. Após o elemento decorativo é uma dupla espiral. Creio que, o que costumado recuo de cerca de um palmo aparece a arquivolta aliás era corrente, a imposta determinava (antes das primeiras interior ainda mais simples e lisa. “beneficiações”) a separação dos pisos do templo, ao nível do coro e do púlpito. Sobrepujando impostas de esmerado lavor as arquivoltas repousam em pés-direitos que constituem o próprio paramento e que, em Perfilados a meio das fachadas laterais, e separados alguns reentrância de ângulo recto, determina os pilares em cujas metros uns dos outros, restam cinco modilhões de cada lado, mochetas assentam a padieira e o tímpano. Na padieira repete-se, todos de tocante arcaísmo e singelamente ornatados, como em duas filas, um quadripétalo cujo desenho muitas vezes se identifica aprazia ao patrono S. Bernardo. com as cruzes terminais das igrejas românicas. Com efeito, é intrigante verificar que todo o bestiário, por A região timpanal divide-se em três domínios: ao centro, duas vezes fabuloso, que costumava figurar nos modilhões, gárgulas circunferências concêntricas sendo que na menor se inscreve uma e capitéis, aqui não existe. De duas, uma: ou as cruz pátea em que os espaços entre os respectivos braços são «beneficiações» a que o edifício foi sujeito retiraram todas as vasados; a cada lado, três pequenos círculos igualmente vazados figurações ou, como afirma Bourassé17: “Ao deixar a espada, a definindo triângulos equiláteros. Um pouco acima e a meio do mão dos homens do norte não foi muito hábil a usar os extradorso da arquivolta maior abre-se uma fresta rudimentar instrumentos de arquitecto”. que, no interior, produz aceitável efeito. A estirpe do românico Um Modilhão (pormenor) no barrosão paramento lateral
18 TERRAS Santa Maria das Júnias DE BARROSO -O Mosteiro de Pitões III É óbvio que os modilhões de Pitões nunca poderão servir de prova do românico tanto mais que a sua posição a meio dos paramentos Vamos contudo observar um dos modilhões situados como se laterais há-de ter duas leituras diferentes: dir-se-á que, enquanto no disse a meio dos panejamentos da nave. alçado voltado para o convento, os cachorros poderiam servir de De um lado do claustro, no sentido da ábside, o primeiro está suporte ao vigamento do andar superior, sobre o claustro, no alçado vazio, o segundo apresenta um xadrez, o terceiro mostra duas do cemitério não passariam de objectos decorativos, aliás grossas rodas ligadas por não menos avantajado eixo, o assimetricamente colocados.Todavia urge dedicar alguma atenção a quarto, numa trança simples e o quinto, também vazio. um ponto que ninguém referiu até hoje: a retaguarda da ábside revela parte do segredo da vida destas opus francigenum ao longo dos séculos… Janelão gótico da capela-mor Cruz inédita da época medieval Coluna do púlpito N o sítio que outrora fora o cume do outão esqueceram os monges com inscrição gótica artistas uma linda cruz apoiada num cachorro esculpido… Será o que resta da primitiva cachorrada ou o que resta das primitivas esculturas Do lado do cemitério o primeiro é vazio, o segundo tem um românicas? hemisfério quadripartido o terceiro é uma série com vários rectângulos de diferentes dimensões sobrepostos em Inclino-me para esta hipótese dada a semelhança de feições e crescendo, o quarto apresenta-se com duas figurações ausência de vida que as imagens revelam! Esta exibe uma espécie de semelhantes à do segundo cachorro, e o quinto é folheado onde é suposto haver pescoço, no plano da cornija, como sensivelmente como o terceiro mas com menos rectângulos. alguém que permanecesse para sempre vivendo o mistério das águas Segundo a leitura de Upjohn-Wingert-Mahler o nosso do ribeiro que logo abaixo se despenham na infernal cascata. Foi mosteiro parece estar mais perto da chamada escola então que o telhado de duas águas sobre a abóbada do altar-mor, Normanda do românico ocidental. de modo a evitar infiltrações se transformou numa só água para dar seguimento à cobertura do primeiro andar do convento. Em boa verdade, são constantes os elementos decorativos que os citados estudiosos consideram como característicos daquela “escola”: “Esferóides”, “barriletes” e “dentes de serra”.
19 TERRAS Santa Maria das Júnias DE BARROSO - O Mosteiro de Pitões IV De igual modo se procedeu com as sepulturas líticas móveis existentes que serviram de banca e de caldeiras para recolha Um pouco para a esquerda, onde outrora teria sido a Sala de água potável na cozinha. do Capítulo notam-se ainda, entre duas pequenas janelas inferiores, os sinais muito evidentes de anteriores A meio do espaço entre os modilhões e a cornija corre, um serventias. Parece certo que se havia perdido a técnica da pouco saliente, uma bonita imposta, ao longo de quase todo escultura desde o século VI. Reinventara-se no românico o pano. Apresenta-nos como ornato os sempre citados deste período, meio milénio após. “dentes de serra”. É acima de todo este friso que se abrem as seis rústicas frestas do templo. Um pouco para a esquerda, onde outrora teria sido a Sala A nave apresenta ainda duas portas laterais muito do Capítulo notam-se ainda, entre duas pequenas janelas semelhantes, enfrentadas. inferiores, os sinais muito evidentes de anteriores serventias. Os tranqueiros, a cerca de três quintos da sua altura, inclinando-se, apertam a entrada. Remata a abertura um Parece certo que se havia perdido a técnica da escultura tímpano simples em que aparece a cruz pátea do pórtico. desde o século VI. Reinventara-se no românico deste Uma arquivolta singela circuita o conjunto, ao nível dos período, meio milénio após. paramentos. Visto e atento o irrealismo da imaginária românica inicial, Finalmente, depois da nave, a ábside. Trata-se de uma obra como adjectiva Henri Focillon, é possível que a estátua do nitidamente posterior e em que foram abertos dois janelão do cemitério - que estaria de pé num qualquer lindíssimos e até avantajados janelões: um, pedestal ou servindo de coluna - e justamente considerada incongruentemente, na cabeceira absidal – sítio onde se objecto de culto, ali se reutilizasse para não se perder nem costumam ver esguias frestas para arejamento e iluminação; ultrajar. outro, a nascente, quase no enfiamento do altar-mor.
20 TERRAS Santa Maria das Júnias DE BARROSO -O Mosteiro de Pitões V É de saber que as malfadadas “beneficiações” não devem confundir-se com as modificações devidas ao fluir do tempo e Ambos levam um arco de ponto subido, em evidente transição estabelecem notórias diferenças de estilo – convicção que decorre para o gótico, em que os rebordos boleados, tanto o interior não só da elegância e tamanho dos janelões atrás descritos (em como o que fica ao nível do paramento acompanham simétricos que a elevação do arco afirma já a arte ogival) mas ainda pela canais. N o janelão do cemitério o boleado interior nasce de existência da abóbada. O diagrama abobadal do amador permite bases em forma de rodelas sobrepostas. as seguintes observações: dada a independência da ábside servem Parte do espaço inicialmente definido para o janelão foi depois de contrafortes os muros da nave e das outras construções do tapado por um bloco de cantaria de larga dimensão e, sobre ele, convento. Contudo tais ajudas não existem do lado do cemitério encurtando algo mais a abertura, um outro bloco esculturado. com o ribeiro, à cabeceira. Os falsos colunelos laterais e os canais que os acompanham, abraçam na ponta do arco um círculo em cujo interior se admira um belo trifólio vasado. A esquadria de ferro crava-se na escultura deitada que serve de peitoril e que continuará a ser um enigma – uma rude manifestação de arte escultórica de inexpressivas feições… O janelão da cabeceira foi ainda mais reduzido depois de feito. Por outro lado a nossa abóbada que quase parece desmentir as Entre a janela rectangular e a ponta do arco inicial, bem definições de Moore quanto aos elementos estruturais do gótico distinguível, aparece um bloco de granito bem trabalhado e cujos de transição. elementos centrais são também o trifólio vasado inscrito no círculo. Sob este conjunto aparece uma fresta horizontal recuada e Trata-se de uma abóbada quadripartida… que alteia em excesso os ladeada de duas bonitas bases de colunelos. arcos formeiros, o que, revelando indiscutível habilidade técnica, permitiu ignorar-se o contraforte como elemento estrutural ou o Ao cimo da empena outra bonita cruz. butaréu e lançou as nervuras desde capitéis - ou não - muito simples e muito fundos, a menos de metro e meio da base.
21 TERRAS Santa Maria das Júnias DE BARROSO - O Mosteiro de Pitões VI Deveria ser-lhe feita uma operação de envergadura (a reconstrução inteligente e Restos de antigas glórias, quase ao nível do pavimento lajeado, fiel) e eliminar as mal serzidas remendices abre-se um cofre? ou lavatório? na parede, não longe do lugar que desfeiam o venerando convento de a par onde fora a porta da sacristia e do armário. Mourela. E o Mosteiro de Pitões poderá voltar a ser o paradigma dos monumentos De todo o conjunto sobressai também o moinho, extremamente cuja primeira característica é a sobriedade rústico, o claustro – restos de impressionante elegância – a explícita, é a fidelidade perfeitíssima de entrada do cemitério e a cozinha, de feição utilitária e onde se adaptação às asprezas recatadas da serra ergue uma extraordinária chaminé bem digna de curar os inóspita onde tomou assento. salpicões de suas reverendíssimas. É verdadeiramente estranhável que uma igreja de glórias sofra A desatendida natureza da construção serrana e fronteiriça, lá vem resistindo às assim, indiferentemente, este afrontoso estiolar. Ora, sabendo-se que o Mosteiro de Nossa Senhora das Júnias, em injúrias do tempo e das várias espécies de Pitões, é uma das raríssimas jóias da arqueologia religiosa selvagens. românica de Barroso, parece legítimo e urgente exigir um Ainda bem que resiste porque é a estirpe do remédio eficaz para a poética construção de nobres crónicas e românico barrosão e aguarda uma monografia conscienciosa. linhas…
22 TERRAS Santa Maria das Júnias DE BARROSO - CONCLUSÃO Mosteiro de Santa Maria das Júnias O estudo apresentado pelo ilustre Historiador e Investigador JOSÉ DIAS BAPTISTA, procurou transmitir o elevado valor da estrutura monástica do Mosteiro de Santa Maria das Júnias e em especial da sua Igreja, do ponto de vista histórico, artístico e até certo ponto, antropológico. A análise da Arte e da Arquitectura, isto é, da cultura material é extremamente importante, entre outros motivos, porque nos permite compreender a componente humana que lhe está subjacente e lhe deu origem. Considera-se importante salientar o facto de que este edifício constitui um dos raros exemplos actuais de um mosteiro que embora em ruínas, conserva e reflecte na perfeição, a localização geográfica e o isolamento pretendido pelo seu fundador, aspecto, que se prende ao seu carácter monástico. Este é, trata-se de facto, de um lugar que preserva perfeitamente a memória de um período e uma cultura marcados essencialmente pelos valores e ideais da Cristandade Ocidental no decorrer da Idade Média. Por outro lado, por se constituir como um mosteiro fronteiriço e porque a sua história e evolução, está em grande medida associada ao processo de formação de Portugal. No entanto, a importância do mosteiro atravessa não só a Idade Média mas todo o período desde a sua origem até ao século XIX, altura em que é extinto. A igreja, por seu lado, mantém-se importante até aos dias de hoje, sendo nela celebrada a 15 de Agosto, a festa local de Santa Maria das Júnias. Diga-se que o mosteiro e respectiva igreja, têm vindo a ser alvo de estudo e interesse geral desde tempos relativamente recuados, o que se pode comprovar pelo número de documentos já publicados a seu respeito. O edifício foi já alvo de algumas acções de restauro e conservação, bem como de intervenções arqueológicas, constituindo um elemento importante no turismo da região. Fontes orais deram-me a saber que hà cerca de dez anos, se verificou o desabamento de parte de uma das paredes das dependências monásticas. Pelos motivos apresentados, considerar-se-ia a urgente realização de obras de conservação e restauro, de modo a que não se perca este precioso monumento. (Continua no próximo número)
A POR TERRAS DE BARROSO HISTÓRIAS DE VIDA…• Fui pastor|Parte II LAMPEJOS DE MEMÓRIA… Viagem à memória Da Batalha do Cambedo
24 Dr. Custódio Montes | Juíz Conselheiro Lampejos de memória • Fui pastor|Parte II O meu pai morreu em 31.1.1951, com 31 anos, num acidente de viação, tinha eu acabado de completar sete anos de idade. Mas nessa altura, já ia sozinho com as vacas. E, depois da morte do meu pai, nesse ano, e do meu avô paterno, no ano seguinte, passei a pastor de serviço, meu irmão, a homem do arado e minha mãe, a mulher e homem da casa. O lameiro que mais lembranças me traz é o de “Regabão”, O maior tormento era a solidão e a possibilidade de poderem pegado à margem esquerda do rio Rabagão, a mais de uma aparecer lobos esfaimados pelas encostas, como se ouvia aos hora de casa. As vacas desciam pelo povo abaixo e depois das serões. últimas casas do Padrão, atravessada a estrada, onde a carreira parava e a “D.ª Julinha” entregava um ramo de flores ao Durante a minha meninice, também tornei águas, levantei corredor da volta que passasse em primeiro lugar, e dada a pesos para mostrar a minha valentia, ajudei no campo. Andei curva das Lezírias, deixava de se ver a aldeia e, além do gado, descalço na neve, escalei montes e penedos em busca de mais só a fusca me acompanhava, menos quando o cio apertava. vastos horizontes… Mas lobos nunca os vi, a não ser um, na aldeia, já morto e enfiado num pau desde o rabo até à boca, transportado pelo matador, à frente, e por outro homem, atrás, e um outro com uma saca a pedir pela aldeia pela façanha do abate. O meu pai morreu em 31.1.1951, com 31 anos, num acidente E a solidão era apenas temporária, logo quebrada pouco depois de de viação, tinha eu acabado de completar sete anos de chegar, pois havia sempre outros pastores por ali para as idade. Mas nessa altura, já ia sozinho com as vacas. brincadeiras do costume. Na margem direita do rio, do lado oposto ao meu lameiro, havia uma poula que era o nosso campo Passava-se o corgo da Agueira e depois subia-se o monte de desportivo.Jogávamos à choca, à cabra cega, às escondidas, cabeça de Mua. Ao chegar ao cimo, olhando para trás, praticávamos desportos, como atirar ao xito, jogar ao vinte, às voltavam a ver-se as casas da aldeia, mas, dobrado o monte, pedrinhas e, no verão, quando já “eramos homens”, nadávamos nunca mais se alampavam. Fome só à noite porque a minha até ao marco, num lago que o rio fazia junto ao meu lameiro. mãe me mandava a merenda dentro duma saca de linho, normalmente um naco de presunto e pão, e um vidrinho de (Continua) vinho.
25 Dr. Custódio Montes | Juíz Conselheiro Tive os meus namoros, quando pastoreava o gado, mas, com mais vigor, no meter dos fenos, pois mandavam calcá-lo no Lampejos de memória palheiro aos rapazes e raparigas e lá dentro havia escuridão bastante para os encostos ao de leve e outros afagos que, na • Fui pastor |Parte II altura, eram tudo para nós…. (continuação) Sim, sim, porque só nos consideravam homens quando - oh nossa Senhora de Fátima se me trouxeres de volta a briosa conseguíamos nadar até ao dito marco e nos sentávamos nele. (era a que mais arrabava) dou-te um milhão de contos quando for Aí sim, diziam, grande. - já nadou até ao marco….. e eramos respeitados como tal. Deu-me sempre resultado esta táctica mas a dívida foi Mas os que sabiam nadar só nos deixavam entrar na aventura aumentando tanto que a ter que saldá-la, nem saberia a quanto depois de darmos provas, dentro do rio, onde a água não montava ou se era pagável, mesmo com a sua reestruturação, cobrisse. E, quando a prova ocorria já nós nos tínhamos como agora se diz. fartado de treinar nas poças da rega, na aldeia. A hora de voltar para a casa era a de chegar pelo pôr do sol. Minha mãe dizia-me, como já era tradição, que devia voltar com as vacas para a corte quando a sombra batesse no meio da encosta Nascente do monte do Castelo. Mas, muitas vezes, distraídos a brincar, a noite surpreendia-nos a meio do percurso, o que obrigava os nossos pais a irem saber de nós, com lampiões na mão. Durante a minha meninice, também tornei águas, levantei pesos para mostrar a minha valentia, ajudei no campo. Andei descalço na neve, escalei montes e penedos em busca de mais vastos horizontes, percorri terras semeadas e vales aos fradelhos e aos míscaros. Subi a carvalhos à cata de ninhos e refresquei-me à sua sombra em dias de verões escaldantes, habituando-me a respeitar os frondosos carvalhais, razão pela qual ainda hoje não gosto de cortar carvalhos pela raiz por entender que as florestas são de todas as gerações. Normalmente, o dia corria bem, a menos que desse a “mosca” a alguma das vacas e se pusesse a arrabar porque, nesse caso, suávamos as estopinhas para a trazer de regresso à manada. E se aparecêssemos em casa sem algum animal, tínhamos tareia pela certa. Eu, normalmente, tinha uma táctica que nunca falhava para Tive os meus namoros, quando pastoreava o gado, mas, com mais regressar a casa sem problemas. Levantava as mãos ao céu e vigor, no meter dos fenos, pois mandavam calcá-lo no palheiro aos dizia: rapazes e raparigas e lá dentro havia escuridão bastante para os encostos ao de leve e outros afagos que, na altura, eram tudo para nós…. À noite assistia aos ensaios da banda de música, quando os havia, já no tempo do sossego, findos os trabalhos agrícolas, e que decorriam no sobrado do Pinto, dos meus avós maternos, sendo ensaiadores os meus tios, e um deles maestro - o ti Zé do Pinto.
26 Dr. António Chaves • VIAGEM À MEMÓRIA Economista, Escritor e Jornalista DA BATALHA DO CAMBEDO Lampejos de memória Memória de um tempo da Guerra civil Espanhola, em Barroso. Tenho da memória de infância algo que me ficou gravada para a vida Ainda não recompostos daquele alvoroço, chega alguém inteira e me visita ainda, de tempos, a tempos, na forma de um vídeo em apressada correria, a caminho da torre do sino da que surge à frente dos meus olhos, sem anúncio prévio. aldeia e encetou um frenético toque de alarme, que todos identificaram imediatamente como sinal de perigo Esta recordação recorrente revelou-se-me no final de um verão extremo. distante, em Setembro de 1946, quando na minha aldeia se ocupavam com o arranque da batata de semente, guardada em Logo de seguida, vi os projéteis flamejantes das balas a longos silos, protegidos por coberturas de colmo de centeio e riscar o ar, em direção à torre da Igreja. O vizinho que cobertos depois por uma camada abundante de terra, para conservar operava o sino desceu a escadaria tão rapidamente, que o produto do frio e da geada, até ser vendido antes do início da mal teve ocasião de apoiar os pés na escadaria de pedra. Primavera seguinte. Já a escuridão de uma noite de verão envolvia tudo em volta quando o pessoal da família e vizinhos se foram arrumando à volta de uma grossa mesa de granito, a que chamavam maçadoiro Meu primo que, estava a ajudar-nos, vivia numa das por ser aí que maçavam o linho e mais tarde os juncos com que, aldeias raianas com a Galiza já tinha conhecido situações chegado o Inverno, fabricavam os adereços para os dias de vento e semelhantes no lado galego e rapidamente gritou: São os chuva em especial para os pastores de cabras e ovelhas nos montes e revoltosos que estão aí. Vamos fugir e trancar-nos dentro guardadores de vacas e bois barrosões nos pastos mais protegidos, de casa. de meia encosta. Pegou de imediato em mim, fugiu para dentro de casa e trancou-me no sobrado, debaixo de uma cama. Estavam a sair da cozinha as batatas cozidas, ainda fumegantes, a caminho da à mesa improvisada, no largo, quando soam súbitas Depois ouvi os adultos a procurar travar a saída do meu rajadas de tiros de armas de fogo nas redondezas. pai para a rua, de espingarda caçadeira na mão. Não apurei como a notícia chegou, mas ficou a saber-se que o tiroteio teve lugar dentro da casa do Pinto, o mais destacado lavrador da aldeia.
27 Dr. António Chaves • VIAGEM À MEMÓRIA Economista, Escritor e Jornalista DA BATALHA DO CAMBEDO Lampejos de memória Memória de um tempo da Guerra civil Espanhola, em Barroso. Meu pai libertou-se e seguia apressado nessa direção. A aldeia focou em polvorosa. Alguém cavalgou prontamente a Felizmente foi travado pelo seu cunhado, António Gomes, caminho de da vila de Montalegre a pedir `socorro às forças da que dizia para não avançar porque seria morto, que eram Guarda Nacional Republicana ali sediadas. guerrilheiros espanhóis, com espingardas metralhadoras a guardar o exterior da casa e que limpavam a vida a Os guerrilheiros, ou o que lhe quisessem chamar, retiraram-se e todos os que se tentassem aproximar. Que não valia a deixaram toda a aldeia entregue a si mesma, na maior confusão e pena acrescentar mais mortos inúteis aos que foram desespero. Os médicos foram chamados, mas para o Pinto Velho já executados. nada havia a fazer. A irmã Ana, com um tiro entrado na área do ouvido quando tentou interpor-se entre o irmão e o atirador foi Que se lembrasse que tinha três crianças em casa transportada para o hospital, durante a noite. aterrorizadas de medo, à espera da presença protetora do pai. Ficou-se então a saber que o Pinto foi morto, sua irmã Ana baleada e em perigo de vida, 30 trabalhadores fechados dentro da cozinha que trabalharam todo o dia de arranque da batata. Uma filha dos Peralta, que vinha de lampião na mão, de acomodar os animais, foi intercetada por um dos seguranças da operação; desferiu-lhe um tiro no lampião para não o sinalizar e mandou-a afastar. Ato contínuo um filho do lugar, ao aperceber- se da Ninguém pregou olho nessa noite, com a exceção das crianças. As seriedade da situação lançou-se escada acima entrou na forças de segurança chegaram sem saber bem o que iam encontrar. O casa do Velho “Viva Victor”, ia já ele a cambalear, de caso espalhou-se rapidamente por todo o planalto, toda a gente candeia na mão, em direção da janela para ver o a que se aturdida e ansiosa. passava. Foram chamadas, além as forças republicanas de Montalegre, também as Forças Armadas aquarteladas em Chaves, a 40 Este elemento, que fazia a segurança alvejou-o quilómetros do local. imediatamente com dois tiros certeiros e mortais. As tentativas de explicar o que aconteceu eram mais que muitas, mas ninguém se entendia. O filho mais velho da casal foi ainda atingido com uma bala no ventre, de raspão, mas não envolvia cuidados de maior A guarda Republicana chegou para proteger a aldeia. Agora era preciso serenar as pessoas e manter a guarda em toda a envolvência.
28 Dr. António Chaves • VIAGEM À MEMÓRIA Economista, Escritor e Jornalista DA BATALHA DO CAMBEDO Lampejos de memória Memória de um tempo da Guerra civil Espanhola, em Barroso. O funeral do Pinto teve lugar dois dias depois. O concelho de Recordo-me da aspereza e aflição com que me Montalegre caiu todo nas cerimónias fúnebres na aldeia de Negrões. repreendeu. Foi ter com os elementos da guarda e Como já ficou subentendido a casa dos meus pais ficava junto do explicou-lhes que era impossível continuarem ali com as largo da Igreja. crianças à volta. Passaram então a dormir em casa de um vizinho onde só existiam adultos. De longe assisti ao que se estava a passar, assustado e sem poder perceber minimamente o que quer que fosse. Lembrava-me apenas Dizem os entendidos que os traços fundamentais do que quando o Pinto passava por baixo da rua da minha casa e me via, carater se adquirem nos primeiros dois anos de vida, no eu ia a correr ter com ele e ele pegava-me ao colo. seio familiar. Não sei se por isso ou outra razão sempre Lembro-me perfeitamente do funeral a sair da Igreja e a passar frente me considerei sensível e atento ao que se passava em à minha casa. meu redor; um comportamento temperado pelo espírito Minha mãe tomou-me ao colo e fechou a porta. Apanhei-a distraída e aberto e confiante de meu pai ter-me-á sido muito corri abrir a porta de novo, mas fui uma vez mais impedido: - “não te vantajoso. chegues à frente, meu filho, que te pode atirar com o cajato”. Só mais tarde fiquei a perceber o que minha mãe pretendia dizer. Pensava-se então que o defunto iria lançar o cajato àquele que o iria a seguir a caminho do cemitério. Fiquei muito arrepiado com isso. A guarda Republicana fixou-se na aldeia com os seus membros A informação disponível sobre esse tempo foi sempre distribuídos pelos vários núcleos familiares. Dormiam com as armas escassa e distorcida. A fantasia humana não tem limites e ao lado do corpo e as balas e as granadas ao alcance da mão. Minha o devido rigor também só dificilmente se liberta da mãe convenceu-os a meter as granadas dentro de uma caixa de paixão. Muito mais tarde tive acesso a documento madeira, por causa dos filhos, ainda muito pequenos. escritos sobre o que o ficou conhecido por Guerra civil espanhola. Li tudo o que chegou à mão, mas nunca Esperei o momento a jeito, abri o tampo da caixa e mergulhei dentro completamente esclarecido. para colher uma granada. Minha mãe já só me viu com as pernas ao alto dentro da caixa.
29 Dr. António Chaves • VIAGEM À MEMÓRIA Economista, Escritor e Jornalista DA BATALHA DO CAMBEDO Lampejos de memória Memória de um tempo da Guerra civil Espanhola, em Barroso. Se algo houve de verdadeiramente sério foi a frase sábia que Dos homens convivi com dez e tive conhecimento de muitos mais. refere que “em tempo de guerra, mentira como terra”. Conta Luis Soto, «Memórias», 1983, autor que voltarei a citar que em Todavia não sendo a questão explicar aqui os factos de então, Abril de 1937, data em que por lá passou, em Tourém, aldeia de 40 sempre fiquei para o resto da vida com a convicção de que o vizinhos, havia oitenta refugiados. Alguns deles, como o próprio Soto, mais justo e prioritário era defender os mais fracos e «escolante e comunista» estavam de passagem. Todos os outros indefesos. A questão mais emocionante foi ter conhecimento trabalhavam na lavoura para justificar o naco de pão e a malga do cado de que o número de mortos ocorreu depois de terminado que os lavradores lhes ofereciam. Os guardas-fiscais do posto de formalmente o conflito bélico. Puro acerto de contas odioso e comando de um sargento aceitavam com naturalidade local a presença imperdoável. Esse trajeto de ódio ficou conhecido pelos dos espanhóis. passeados. Quando aparecia a Guarda-Republicana ou a PVDE (Polícia de Vigilância e Aqueles que o derramar do sangue dos vencedores não Defesa do Estado) os pastores gritavam a lobo e os espanhóis fugiam chegou não chegou a acalmar o seu rancor organizaram-se para os montes.” clandestinamente para extirpar da sociedade aqueles que o fim do conflito armado deixou ainda de fora. Chegavam pela calada da noite ao seu domicílio e convidavam-no a dar um passeio, muitas vezes em frente dos filhos e da família. Morreram mais indivíduos depois de terminado o que foi o conflito formal, do que até ali. Há ainda muitas vítimas cujo local onde jazem continua desconhecido, fora de qualquer conhecimento dos familiares os poderem situar e dar-lhes lugar condigno de repouso eterno. Beno da Cruz dedicou a todos eles o preito de memória que Guerrilheiros Antifranquistas em Trás-os-Montes constitui um relato de mereciam condignamente. E explica: cerca de 270 páginas bem humanas e reveladoras da vivência de “Quando eu me criei, aminha aldeia era redondamente proximidade entre povos irmãos, que forças alheias colocaram em analfabeta, Nem correio, nem jornal, nem rádio. Em televisão território separados, mas sempre Unidos por ligações fraternas desde há ainda ninguém falava. quase dois milénios. Não deixe de ler este extraordinário trabalho de Bento da Cruz, filho dileto das terras de Barroso, que nos diz: àqueles Mau grado o analfabetismo e isolamento, aí por finais de que não tiveram a coragem, ou cobardia, de virar a casaca e ir na onda, 1936, chegaram a Peireses notícias de guerra em Espanha. só lhes restava uma escapatória: fugir, «botar-se aos montes». Primeiro Atrás das notícias vieram alcateias de lobos e grupos de isoladamente, «agachados» nos palheiros, nos estábulos, nas minas, nas homens, Os lobos vinham fuxidos aos tiros dos canhões. Os cavernas, nos matagais, como coelhos ou lobos, à espera que a borrasca homens ao recrutamento militar. Dos lobos não cheguei a ver passasse. Mas só os dias, as semanas, os meses, os anos foram passando. nenhum. Mas ouvi dizer a quem os viu que tinham uma A repressão, essa continuava cada vez mais inquisitorial, selvática e cabeça um pouco maior e a pelagem um pouco mais clara do fratricida. que os autóctones de Barroso. Em desespero de causa, os fuxidos começaram a agrupar-se para sobreviverem. Assim, grosso modo (,,,) nasceram as guerrilhas.
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31 - O CICLO DE VIDA NAS TERRAS DE BARROSO O NASCIMENTO – O NAMORO – O CASAMENTO – A MORTE • O NASCIMENTO O nascimento é um dos momentos mais importantes no ciclo da vida!... tar o parto de quem estiver a parir, pois Afecta não apenas o núcleo familiar onde decorre, mas também todo o diz-se que esta estiver estendida o bebé não conjunto de redes sociais que o envolve. Celebrado com uma alegria nasce. transbordante, é a promessa de perpetuação da família e de todo o património que lhe está associado. Intrinsecamente associada ao O nascimento é comemorado com muita nascimento, está a gravidez. alegria, juntando-se-lhe uma série de rituais e procedimentos que deviam ser observados O mistério da gestação coloca a mulher num estádio muitas vezes ligado ao para proteger a criança e a mãe. sobrenatural, sendo encarada pela sociedade com um misto de receio e respeito pela sua condição de grávida. O ritual mais significativo era o primeiro banho, cuja água era peça fundamental para Nesta região encontram-se diversas crenças associadas à gravidez: À o futuro da criança. mulher grávida não se deve recusar nada do que ela pedir de forma a evitar possíveis consequências nefastas para o bebé. Durante o período de gestação, a mulher está sujeita a várias prescrições e proibições, deve evitar tocar determinadas coisas e cheirar as flores muito perto para que a criança não nasça com manchas vermelhas na pele. Existem também outras crenças que relacionam, directamente, o pão com Findo o primeiro banho, deitava-se essa a gravidez e o parto. água à rua, apenas durante o dia, e era costume dizer-se “Água a correr, menino (a) A mulher grávida quando tira o pão do forno não deve tirar dois pães de a crescer”. cada vez, senão pode vir a ter gémeos; quando faz os folares, não deve colocá-los no forno atravessados porque pode ter problemas na altura do Em algumas aldeias, esta água tinha parto, ou seja, a criança pode atravessar-se e não conseguir nascer. destinos diferentes dependendo do sexo da criança: se fosse rapariga, a primeira água Também a toalha estendida sobre o tendal pode ter influência no decorrer do banho deitava-se dentro de casa junto à do parto. Existe a crença de que, depois de se meter o pão no forno, a lareira, pois às mulheres competia a gestão toalha onde a massa foi colocada deve ser sacudida e arrumada para facili-
32 - O CICLO DE VIDA NAS TERRAS DE BARROSO O NASCIMENTO – O NAMORO – O CASAMENTO – A MORTE doméstica; se fosse rapaz, atirava-se com a água para a rua, pois Quem se recusasse a pagar o vinho, metiam-no na a rua é o domínio do homem. corte com o Boi do Povo como castigo, ou atiravam- no a um tanque da aldeia. Também era usual tomar providências para evitar os males ruins. Assim, em algumas aldeias colocavam um cordãozinho de alho no • O CASAMENTO pescoço da criança por causa do mau olhado; noutras, logo após o nascimento, colocavam a criança no colo da mãe e sobre elas O casamento é considerado um dos mais sete peças de roupa, incluindo a roupa da cama, para que nada importantes rituais de passagem. de mal lhe pudesse acontecer. Uma das manifestações mais curiosas das bodas da • O NAMORO região é descrita por Pinho Leal em 1874, sobre os casamentos em Barroso que ele descreve como Quando um rapaz de fora, namorava com uma rapariga da aldeia, “curiosíssimos, pela antiguidade que revelam”. tinha que pagar o vinho aos da terra, como indemnização simbólica por “roubar” a rapariga, considerada “propriedade” da Na manhã da boda o noivo “com os seus” familiares, aldeia. convidados e amigos dirigia-se à residência da noiva onde já os parentes dela estavam todos reunidos. Se em algumas aldeias apenas pagavam remeias de vinho, O noivo batia à porta várias vezes até que os noutras além do vinho tinham que pagar também o equivalente à parentes da noiva após conversa entre eles sua altura em pão e bacalhau; ou então, em vez de pagar o vinho, perguntavam: - Quem é e o que quer? levavam-no até junto de um tanque e obrigavam-no a beber sete chapéus de água. O noivo respondia: - É (fulano) que aqui vem buscar honra, gente e fazenda. - Entre, que tudo encontrará. Nessa altura, então, as raparigas ofereciam à noiva flores e doces de várias qualidades.
33 - O CICLO DE VIDA NAS TERRAS DE BARROSO O NASCIMENTO – O NAMORO – O CASAMENTO – A MORTE Os noivos aceitavam provando os doces que depois eram distribuídos pelos Colocavam-se também arcos pela rua, padrinhos e pelos convidados. Enquanto este cerimonial se desenrolava eram desde a casa da noiva até à entrada da recitados (talvez cantados) versos mais ou menos elaborados conforme a veia igreja. criadora dos autores. Depois, seguiam em cortejo pela rua até A tradição mais antiga era as raparigas oferecerem à noiva uma pomba e a à igreja, como nos descreveu um noiva atava uma fita à cinta do noivo, mas nesta altura já tinha caído em desuso informante: “À frente ia a noiva com o segundo descreve o autor. padrinho debaixo do arco de flores brancas. Para além desta, existiam outras tradições como por exemplo em Peirezes, onde no dia antes do casamento o noivo ia com os seus amigos fazer uma A seguir, ia o noivo com a madrinha serenata à noiva, cantando-lhe o seguinte: debaixo de um arco verde feito de arbustos e flores, e atrás iam os (…) S’estás a dormir acorda| Vem ouvir a serenata| Guitarras com cordas restantes convidados. Entravam na d’ouro| Trilhadas por mãos de prata| Dava-te o meu coração| Se o pudesse igreja também por essa ordem e arrancar| Arrancando-o sei que morro| Morto já não te posso amar (…). sempre com a noiva primeiro lugar”. Em certas aldeias, no dia antes do casamento, era costume também juntarem-se um grupo de rapazes e percorrem as ruas a tocar buzinas aos noivos. No dia do casamento as famílias iam ter a casa de cada um dos noivos. Depois, E noutras juntavam-se igualmente as o noivo e a sua família iam a casa da noiva buscá-la para irem para a igreja. raparigas solteiras no próprio dia do casamento e ainda bem cedo, para As raparigas que fossem ainda virgens para o casamento, consideradas pela fazerem um arco que posteriormente comunidade como puras, levavam nesse dia um arco branco a acompanhá-las, iria acompanhar a noiva à igreja e os rapazes eram acompanhados por arcos de folhas verdes. também uma passadeira de flores desde a sua casa. também até à igreja.
34 - O CICLO DE VIDA NAS TERRAS DE BARROSO O NASCIMENTO – O NAMORO – O CASAMENTO – A MORTE Ao longo dos anos outros hábitos foram adoptados, como última homenagem benzendo o morto com água por exemplo atirar arroz e flores aos noivos à saída da igreja, benta, orando e dando apoio aos familiares de luto. como votos de felicidades e abundância na nova vida que A separação definitiva entre o morto e a iniciavam. Em algumas aldeias enquanto atiravam arroz aos comunidade a que pertenceu dá-se com o final da noivos, costumam dizer “Eu deito arroz para vos abençoar, missa de corpo presente, entregando-o em seguida deito e torno a deitar e que seja a mulher em casa sempre a àquela que será a sua última morada. Nas aldeias governar”. do concelho, havia a tradição de distribuir pão e • A MORTE vinho às pessoas que iam aos funerais. A família do falecido chamava mulheres para ajudarem e coziam O ciclo fecha-se com a morte, ritual de separação marcado uma grande fornada de pão que depois distribuíam pela tristeza e pela dor que atinge não apenas a família à saída do cemitério. próxima, mas toda a comunidade. Existem toda uma série de Hoje, essa tradição já quase desapareceu, apenas a rituais que preparam a transição para o mundo do além. família e as pessoas mais próximas se reúnem, para É necessário preparar o corpo do morto, as melhores roupas uma pequena refeição, onde, prestam apoio e e calçados como se estivessem a preparar o ente querido fazem companhia aos enlutados. para uma viagem, a última viagem; procede-se aos Fonte: Terras de Barroso – Origens e Características preparativos do funeral e vela-se o corpo. de uma Região, de Domingos Chaves Toda a comunidade se une nestes momentos, presta-se uma Fotos: Gérard Fourel
A Sociedade… Foto: Artur Pastor
Noticias de 36 Sociedade… A ENTREGAR EM 2020 CHEGOU A HORA DE ACERTAR AS CONTAS Começa no dia 1 de Abril de 2021 o prazo para entregar as Se tiver de pagar, os prazos normalmente são até 31 de declarações de rendimentos em 2020, que vão indicar os Agosto, podendo também pedir o pagamento a prestações montantes recebidos, e as deduções efectuadas, ao longo de para montantes mais elevados 2020. Saiba agora todos os passos para preencher o IRS em 2021. - Antes de preencher o IRS em 2021 Como aconteceu em 2020, os prazos para entrega das declarações de IRS em 2021 têm início em aAbril e prolongam-se até final de Já antes do prazo para entregar o IRS em 2021, deverá ter Junho. Este documento, que serve para declarar o que recebeu as suas facturas validadas no Portal das Finanças. Algo que durante o ano anterior é composto por duas partes: deve ser feito até ao final de Fevereiro. Durante o mês de Março deverá confirmar no Portal das Finanças os • Rosto da Declaração: Informações gerais de identificação do montantes das deduções à colecta - os habitualmente contribuinte e outros dados com impacto no cálculo de imposto e designados “descontos”, que efectuou durante o último deduções. Por exemplo, o estado civil, pessoas a seu cargo ou grau ano. Até dia 15 de Março serão disponibilizadas as de deficiência. Deve indicar igualmente neste documento o NIB deduções de cada contribuinte. para receber o reembolso por transferência bancária Mas, caso encontre discordâncias entre os valores • Anexos: Servem para indicar informações diversas, como os anunciados pela Autoridade Tributária para despesas rendimentos obtidos, as despesas efectuadas ou investimentos - gerais e familiares e aqueles que efectivamente foram por exemplo, com acções ou PPRs. É com base nos valores introduzidos, pode reclamar e pedir a correcção destes apresentados nestes anexos que será feito o cálculo do montante dados até final de Março. Em relação às outras despesas, a receber ou a pagar. como saúde, educação ou imóveis, poderá também mudar os dados, mas quando estiver a preencher a declaração. - As Datas Que Precisa Fixar Para O IRS Em 2021 Além disso, recorde-se que pode pedir o pré- preenchimento dos campos da declaração. Ou seja, fazer o • 15 de Março – Data-Limite para confirmar todas as deduções à IRS automático e depois conferir apenas se os valores e colecta, que servem para pagar menos ou receber mais no informações inseridas são as correctas. apuramento da declaração de IRS em 2021. Caso encontre algum erro ele deverá ser rectificado até final deste mês. Prazo Para Entregar a Declaração – 1 de Abril a 30 de Junho • 1 de Abril a 30 de Junho – Data para entrega das declarações de Se antigamente existiam prazos distintos para os trabalhos IRS. Lembre-se que como o Estado tem começado a fazer dependentes e independentes, essa distinção já pagamentos pouco tempo após o início da entrega das desapareceu. Por isso, todos podem preencher o IRS em declarações, quando mais cedo entregar também mais cedo irá 2021 entre 1 de Abril e 30 de Junho. receber.
Sociedade…correiodominho.pt 23de Março 2020 37 OS CONSELHOS DE UM BARROSÃO: 3 Por: Aliás, conheço pelo menos três médicos que me João Damião disseram ser hipertensos e solucionaram a tensão alta, com esta redução de sal. Eu faço a mesma coisa há, já DICAS PARA UMA TENSÃO ARTERIAL NORMAL vários anos, acrescentando também exercício aeróbico; de vez em quando, tomo um chá de erva- Afinal o que se entende por tensão arterial ou doce (stevia) e tenho mantido níveis normais. hipertensão? É o sangue a circular pelas artérias a uma Opções pontuais – cortar pêra e pepino, levar ao pressão maior daquela que é indicado para a saúde. liquidificador e beber 3 vezes ao dia; fazer uma infusão de folhas secas de oliveira; tomar suco de laranja Sintomas- Podem não se sentir. Também podem misturado com suco de toranja. ocorrer tonturas, cansaço e até indisposição generalizada. Mas, segundo os profissionais de saúde, Portugal está nos países europeus com o mais elevado só 30% das pessoas é que têm sintomas. consumo de sal. Troque o sal por ervas aromáticas e Causas- Muitas vezes desconhecem-se. Mas, a falta de especiarias. O sal das nossas cozinhas (cloreto de uma alimentação adequada é o suficiente para a subir sódio), embora seja necessário para a transmissão dos os valores não recomendáveis. Há também factores impulsos nervosos e para o bom funcionamento das genéticos a influenciar, levando os profissionais de células, deve ser consumido muito moderadamente; saúde a desconhecer o mecanismo da hipertensão. O como tem sódio e este é um elemento que propicia a stress e a ansiedade podem provocar pontualmente retenção de líquidos, daí o aumento da tensão. O sal aumento da pressão arterial. dos Himalaias é o mais aconselhável. Como medir a tensão arterial?- deve medir-se sempre Consequências da hipertensão- Excesso de pressão à mesma hora, sem realizar exercício preliminar e na nas artérias durante vários anos, provocando posição de sentado. Aconselha-se a realizar uma arteriosclerose, problemas renais, cardiopatia segunda medição cinco minutos depois da primeira. hipertensiva e ictus. A hipertensão pode ser um Por norma, os valores da segunda serão mais fiáveis “assassino” silencioso. O Dr. Wang refere: “ a maior que os da primeira. parte dos hipertensores perturbam a sexualidade”. As tomas prolongadas, normalmente provocam a João Damião necessidade de aumentar às doses com o decorrer dos anos. E, não podemos ocultar, que todos os compridos da farmácia têm efeitos secundários. Soluções- Tomar a medicação indicada de acordo com a interpretação do médico. No entanto, pode haver outras alternativas: mudanças no estilo de vida, caminhar, deixar de fumar, controlar o peso, reduzir o consumo de café, beber muitos líquidos e, sobretudo consumir os alimentos a meio-sal. É aqui que pode estar a solução
38 Sociedadecorreiodominho.pt 23 de Março 2020 A LUTA DE GOLIAS CONTRA DAVID… Lusa O INÍCIO DE UMA BATALHA... 3 EXPLORAÇÕES MINEIRAS De difícil acesso, Trás-os-Montes é apropriadamente A EQUAÇÃO CONFLITUOSA NO NORTE DE PORTUGAL denominado, tendo de se atravessar cadeias de montanhas ao Uma das regiões do norte de Portugal está a atrair novo interesse de longo do parque nacional da Peneda do Gerês, enquanto actores europeus e internacionais que estão a farejar milhões de euros em lucros, mas ao preço potencial de danos ambientais irreversíveis. A ganhando altitude de mais de 1000 metros, antes de descobrir descoberta de minas de lítio em Trás-os-Montes está a inverter a situação nesta região que tem vindo a sofrer de desertificação e despovoamento o que lá se encontra. Mouros, pinhais, vales verdes cobertos há cerca de meio século. Não só é este novo \"ouro branco\" utilizado para baterias eléctricas de oliveiras cinzentas e verdes irrigados por pequenos riachos, escondidas por detrás das montanhas - literalmente o nome da região, como a quantidade estimada já faz de Portugal o sexto maior produtor aldeias de casas de granito, e... algumas almas. mundial de lítio. Desde 2016, Lisboa tem vindo a estudar os múltiplos projectos de Desertificada pelo seu povo durante a ditadura - a última da extracção apresentados por várias multinacionais com vista a iniciar operaçõ Europa Ocidental, a região quase nunca recuperou da emigração massiva dos anos 60-70. Embora a integração na União Europeia tenha impulsionado a economia do país através da implementação de programas de desenvolvimento rural na região, a geração mais jovem continua a instalar-se nas grandes cidades a mais de 100 e 200 km de distância, quando não vão para o estrangeiro. Mas isto foi sem contar com a resistência das poucas pessoas que É neste contexto que o lítio, um recurso recentemente permanecem nas zonas rurais de Trás-os-Montes e que vivem da descoberto na região, parece ser uma solução para a criação agricultura. de empregos e actividades a nível local. Organizando movimentos como o \"Não à Mina, Sim à vida“, no concelho Em 2012 e anos subsequentes, os Governos de Portugal foram de Montalegre, os habitantes recusam o controlo dos recursos pelas proactivos nesta matéria, considerando o lítio como um multinacionais temendo uma mutação sócio-ambiental com erosão dos desígnio nacional, ao acordarem um programa de solos, poluição das águas, e o fim da sua criação animal. desenvolvimento mineiro para avaliar os recursos minerais de Esta, é de facto uma questão de muitos milhões de euros para Portugal: lítio existentes, não apenas na região mas no país, e decidiu mas como desenvolver o seu território mais remoto a partir dos seus implementar duas unidades experimentais mínero- recursos naturais sem prejudicar o ambiente?!... metalúrgicas e de demonstração, em consórcio com empresas de exploração. A questão está a tornar-se ainda mais crucial desde que uma pandemia suspendeu actividades em todo o mundo no início deste ano. Embora se Ao compreender que o metal poderia ser explorado em minas possa esperar que o Governo português ajuste a sua abordagem de a céu aberto, as populações locais do Norte começaram a falar capacitação na preservação do seu património, é provável que a variável sobre a possível poluição do ar, do solo e da água em relação ambiental seja esquecida a fim de manter com urgência a economia de aos meios de extracção necessários. todo o país.
39 Sociedadecorreiodominho.pt 23 de Março 2020 A LUTA DE GOLIAS CONTRA DAVID Lusa O Governo português quer criar ainda este ano, um 'clus3ter' do lítio e da indústria das baterias e vai lançar um concurso EXPLORAÇÕES MINEIRAS público para atribuição de direitos de prospeção de lítio e minerais associados em nove zonas do país, entre as quais as A EQUAÇÃO CONFLITUOSA NO NORTE DE PORTUGAL áreas de Serra d'Arga, Barro/Alvão, Seixo/Vieira, Almendra, Barca Dalva/Canhão, Argemela, Guarda, Segura e Depois, tudo assumiu uma dimensão adicional quando a Maçoeira. concorrência entre operadores estrangeiros se tornou pública. No entanto, no meio do ruído crescente, ainda faltam estudos oficiais com Empresas multinacionais da Austrália, Canadá e Estados factos e números: quantos hectares estarão incluídos nos locais de Unidos manifestaram então interesse e foi posta em cima da exploração e quantos locais, quantas famílias e terrenos estarão mesa toda uma linha de produção de lítio na Europa com envolvidos, que metodologias serão adoptadas, quais serão os recursos início em Portugal para fornecer os programas de utilizados e qual é o estado de progresso dos contratos já adjudicados... electromobilidade das marcas de automóveis alemãs. O lítio, o mais leve dos metais alcalinos, é cada vez mais cobiçado Navegando no website de um dos operadores, a empresa britânica numa era de transição energética, em que se espera que a Savannah Resources já localizada em Boticas-Covas de Barroso, são procura triplique até 2025, na qual Portugal poderá ser uma indicados apenas os números da quantidade de lítio extraído; no total, 285 escolha privilegiada antes do Chile, Argentina, ou Bolívia. 900 toneladas de lítio. Se considerarmos que para 1kg de lítio, 1 tonelada de granito tem de ser perfurado - referência a uma emissão dos meios de De facto, Portugal apresentou números sobre a quantidade comunicação alemães - são feitos buracos imensuráveis no coração da de lítio nas montanhas do norte que ascendem a milhões de Terra. toneladas com reservas estimadas para 30 anos de produção. Perante isto, os habitantes locais de Trás-os-Montes levantaram a voz; \"Consideramos um ataque ambiental o que está a acontecer. Os Municípios – Boticas e Montalegre - onde existem pelo menos dois projectos de extracção, para quem não sabe, tem uma área considerável, superior à dimensão da ilha da Madeira. No espaço de um ano, a imprensa nacional e internacional Com uma queixa à UNESCO de uma ameaça à integridade do sistema agro- cobriu a notícia ao transmitir a voz dos transmontanos que silvo-pastoral na região norte, a batalha entre os habitantes das zonas têm questionado constantemente a grave perfuração de rurais de Portugal e Lisboa já começou. rochas a vários metros de profundidade, o uso de produtos químicos, os desmatamentos, e sobretudo a escassez de água A 14 de Fevereiro de 2020, os agricultores desceram à capital para se que estes projectos de extracção provocam. manifestarem na praça pública enquanto o Governo defendia repetidamente o respeito das normas ambientais e recordava que a \"O consumo de água para a exploração mineira é exploração do lítio é, ironicamente, precisa \"no interesse do ambiente para insustentável num país onde este recurso vital já é escasso e futuros veículos verdes. Dez dias mais tarde, eclodiu uma epidemia global, pode causar sérios danos ou mesmo aniquilação das águas que paralisou a situação. Subsequentemente, após sete meses, foi a subterrâneas, com impactos na agricultura e infra-estruturas, Comissão Europeia que interveio em Setembro para apoiar o Governo tais como fissuras em edifícios e estradas\", locais abordados português, autorizando projectos mineiros de lítio, mas num diálogo com num Manifesto entretanto difundido. as comunidades rurais. Para combate ao seu “infortúnio”, as populações criaram cerca de dezena e meia de Associações em todo o país e nas SERÁ QUE ESTAMOS PERANTE UMA GUERRA DE ANTEMÃO PERDIDA?!... quais despontam as sedeadas na região da Beira Alta, Minho Só podemos tentar detê-los\". A leitura deste testemunho citando um e Trás-os-Montes. agricultor à Reuters, em Lisboa, em Fevereiro de 2020: \"Estas empresas vêm com milhões. O que podemos fazer com o nosso pouco dinheiro?!... E recorda a história de David contra Golias, sendo que aqui as comunidades rurais seriam David e a entidade capitalista Golias. Que não haja mal-entendidos, os opositores dos projectos de extracção de lítio não estão a lutar contra o Governo que permite tais explorações, mas sim para que o Governo reveja a sua posição considerando o impacto negativo sobre a terra.
40 Sociedadecorreiodominho.pt 23 de Março 2020 A LUTA DE GOLIAS CONTRA DAVID 3 Lusa Movimentos cívicos acusam o Estado de deixar de ser “apenas cúmplice” para ser “culpado da destruição EXPLORAÇÕES MINEIRAS do território” com a aquisição da Galp de 10% do projecto de exploração de lítio da Mina em Boticas. A EQUAÇÃO CONFLITUOSA NO NORTE DE PORTUGAL Os lucros a curto prazo fornecem o impulso imediato do capitalismo, mas por outro Quando percebemos que o ambiente e o lado, Trás-os-Montes é a prova viva de que investir no ambiente pode ser um ganho desenvolvimento estão intrinsecamente ligados garantido a longo prazo... à sustentabilidade da população, o desafio não é escolher entre as duas variáveis para ganhar Na sequência de 1974, enquanto Lisboa se reorganizava com novos Governo libertando- mais, mas sim para viver melhor. se de uma ditadura de 40 anos, a região norte estava deserta deixando para trás os seus Com esta questão do lítio, o Governo português anciãos, os seus rebanhos e todos os bens de produção de que até ali se alimentava. Em deve compreender que esta é uma oportunidade geral, como observam Templeton e Scherr, a diminuição da densidade populacional única para reinventar a sua sociedade e o seu pode levar não só à diminuição da frequência das colheitas, mas também \"à cessação futuro. O maior desafio para evitar o colapso dos métodos de trabalho intensivo de reposição da fertilidade do solo, à negligência, talvez seja convencer as pessoas, especialmente abandono ou destruição das paisagens em socalcos e à erosão do solo, assoreamento a políticos e economistas, a quebrar este molde jusante e outras formas de degradação\" - Hartmann, 2010. antigo e a alterar o comportamento em relação aos factores básicos de consumo da população, A sobrevivência das terras em Trás-os-Montes foi assim assegurada graças a projectos os factores de deterioração ambiental. agrícolas patrocinados pela União Europeia e à instalação de turbinas eólicas que hoje contribuem para tornar o país um líder no domínio das energias renováveis. Para os Savannah entregou Estudo de Impacto transmontanos, o conceito de desenvolvimento sustentável não é apenas uma questão Ambiental para mina de lítio no Barroso de imagem mas sim uma verdadeira força motriz que salvou a sua existência e o seu património. O desenvolvimento sustentável liga fortemente as questões ambientais e socioeconómicas. Os transmontanos compreenderam-no e é por isso que desenvolveram ao longo dos anos a produção de castanhas, cultivo de vinhas e de olivais. Na última década, a região conheceu 5% de crescimento por ano na exploração vitícola e até azeite foi comprado com reconhecido selo de excelência, mesmo apesar das consequências substantivas das alterações climáticas. Desta forma, não só os projectos de extracção de lítio ameaçam o recente equilíbrio alcançado em Trás-os-Montes, mas destroem todas as perspectivas de renovação de mais de uma década, senão de mais. Nenhuma civilização pode evitar o colapso se não alimentar a sua população - Ehrlich, 2013. Por conseguinte, tal como a Comissão Europeia predisse em Setembro deste ano, existe uma mais-valia em falar com as comunidades rurais. O Governo português precisa de considerar a “capacity approach” dos transmontanos. Holden – 2016, diz que a “capacity approach” se concentra no que as pessoas são efectivamente capazes de fazer e de ser, ou seja, nas suas capacidades. Além disso, a tarefa do Governo português não se limitará à abertura do diálogo com as comunidades rurais, mas estará na partilha do poder da última palavra destes projectos de extracção de lítio. Segundo a Reuters, o lítio encontra-se em áreas classificadas e terrenos comuns onde os habitantes locais têm o direito de decidir como são utilizados. De qualquer modo, as directrizes internacionais dizem que a participação requer um sistema político que assegure a participação efectiva dos cidadãos na tomada de decisões e além disso, um sistema administrativo flexível e com capacidade de auto-correcção. Até agora, os locais têm sido as \"vozes baixas\" que incluem as camadas pobres, a natureza e as gerações futuras. Enquanto as pessoas pobres têm uma voz baixa, a natureza e as gerações futuras não têm qualquer voz; são aquilo a que Meadowcroft se refere como \"constituintes ausentes\". Para concluir, o que a história de David e Golias ensina não é apenas que um pequeno Este texto foi Publicado em inglês no site concorrente pode ganhar, mas que as verdadeiras chaves para a luta são uma académico Ideias para a Paz, 10 de Dezembro de vantagem do tamanho de Golias. 2020
A AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS… CONSEQUÊNCIAS Se nada mudar, as alterações climáticas irão gerar uma crise pior que a pandemia…
42 Por: PROTEJA O CLIMA Catarina Pereira PELA SAÚDE DE TODOS… Alterações climáticas vão gerar uma crise pior que a pandemia Alterações climáticas na UE A União Europeia é o 3.º maior emissor de gases com efeito de Portugal é um dos países da União Europeia que mais será estufa do mundo, a seguir à China e aos EUA. Em 2017, o afectado pelos efeitos das alterações climáticas, na erosão sector energético foi responsável por 80,7% das emissões de costeira, nos riscos da subida do nível das águas do mar, de gases com efeito de estufa da UE. As alterações climáticas desertificação e de incêndio florestal. afectam todos os Estados-Membros. Ação Climática da UE Os maiores aumentos de temperatura da Europa registam-se no sul durante o verão, e na região ártica, durante o inverno. A O artigo 191.º do Tratado sobre o Funcionamento da União precipitação diminui no sul do continente e aumenta no norte. Europeia faz do combate às alterações climáticas um objetivo Há pressão adicional sobre os ecossistemas: muitas espécies explícito da política ambiental da UE. vegetais e animais deslocam-se para norte ou para locais mais A UE já ultrapassou os seus objetivos climáticos e energéticos elevados. para 2020 e reviu a meta de redução das emissões de gases com efeito de estufa estabelecida para 2030 para uma Entre as regiões europeias particularmente vulneráveis às redução 55% (mínimo) em comparação com os níveis de alterações climáticas incluem-se: 1990. Alcançar uma economia com impacto neutro no clima até • O sul da Europa e a bacia do Mediterrâneo; 2050 é um objetivo estratégico da Europa. • As zonas de montanha; • As zonas costeiras, os deltas e as planícies aluviais; • O extremo norte da Europa e o Ártico.
43 Por: Catarina Pereira Acordo de Paris: Cinco anos de letra quase morta… Estratégia para 2050 • o crescimento económico seja dissociado da exploração dos recursos «Tornar a UE o primeiro continente neutro do ponto de • e ninguém nem nenhuma região seja deixada/o para vista climático» é uma prioridade-chave da Comissão trás. Europeia. A Presidente, Ursula von der Leyen, propôs um Pacto Ecológico nos primeiros 100 dias do seu mandato a O Pacto Ecológico é o roteiro para tornar a economia incluir «a primeira lei europeia sobre o clima, de modo a da UE sustentável. Descreve os investimentos consagrar na legislação a meta da neutralidade climática necessários e os instrumentos de financiamento para 2050». disponíveis e explica como assegurar uma transição justa e inclusiva. Salienta uma abordagem holística em O Pacto Ecológico Europeu foi apresentado a 11 de que todas as ações e políticas da UE devem contribuir Dezembro de 2019. É a nova estratégia de crescimento para os seus objectivos. que transforme a União Europeia numa economia A Comissão Europeia apresentou a sua Proposta de 1.ª moderna, eficiente no aproveitamento dos recursos e Lei Europeia do Clima, a 4 de março de 2020. Objetivo: competitiva, em que: garantir uma União Europeia com um impacto neutro • já não existam emissões líquidas de gases com efeito de no clima até 2050, transformando um compromisso estufa em 2050 político numa obrigação jurídica e num motor de investimento.
44 Por: Catarina Pereira \"Ou estamos unidos ou estamos perdidos“ Portugal vai ser dos países mais prejudicados pelas alterações climáticas O cenário apresentado pelas Nações Unidas sobre as alterações climáticas para 2030 prevê mudanças fatais no ecossistema mundial. E Portugal irá ser dos países da União Europeia que será mais prejudicado por estas mudanças. Segundo o relatório da ONU, o mundo tem até 2030 – daqui a 12 anos - para evitar o agravamento do aquecimento global em 1,5.º Célsius, um valor possível de atingir devido ao aumento registado de emissões de gases efeito de estufa. O aumento em 1,5º Célsius pode trazer uma subida do nível das águas do mar de 10 centímetros em 2100, o que terá impacto também nas chuvas e nas secas, que trarão consigo ainda mais danos. De acordo com os especialistas, “Portugal é o país da Europa que vai sofrer mais com as alterações climáticas”, isto devido à “extensa zona costeira”. A subida dos níveis das águas do mar é uma das maiores alterações, caso não sejam tomadas medidas contra o aquecimento global. Os especialistas falam ainda do agravamento da qualidade da água e do ar, causado pela subida das temperaturas e influenciado pelos fogos florestais que se podem vir a transformar “em mega fogos à custa da seca e do calor”.
45 EMIGRANTES | Governo apoiou com 6,1 milhões de euros regresso de 3.500 Lusa O Governo português apoiou com 6,1 milhões de euros o regresso de quase 3.500 Marie Oliveira |Paris emigrantes portugueses e familiares, ao abrigo do Programa Regressar, que abriu as candidaturas em Julho de 2019, segundo dados oficiais. De acordo com o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, desde que as candidaturas arrancaram e até 31 de Janeiro deste ano, o Instituto do Emprego e Formação Profissional recebeu perto de 2.300 candidaturas, das quais cerca de 1.600 foram aprovadas. As candidaturas aprovadas representam Segundo os dados oficiais, O Programa Regressar, contempla o regresso de 3.470 pessoas, entre as cerca de 3.500 emigrantes apoios financeiros aos emigrantes quais os portugueses emigrados e os portugueses e familiares ou familiares de emigrantes que seus descendentes e outros familiares. regressaram ao seu país da iniciem actividade laboral em O apoio das ajudas do Estado português sua naturalidade ao abrigo Portugal por conta de outrem ou ao regresso destes emigrantes atingiu, do “Programa Regressar”, que criem empresas ou o próprio desde o início do programa, os 6,1 que abriu as candidaturas emprego. milhões de euros, segundo a mesma em Julho de 2019… fonte. A comparticipação das despesas Uma larga maioria dos candidatos Refira-se ainda que numa resolução por via do seu regresso e ainda um estimados em 75%, saiu de Portugal do Conselho de Ministros publicada benefício fiscal através do qual os entre 2008 e 2015; 20% entre 2008 e em Diário da República no último dia contribuintes elegíveis pagam IRS 2011; e 55% entre 2012 e 2015. de 2020, o Governo decidiu prolongar sobre 50% dos rendimentos de Cerca de 43% dos regressados tem o por mais três anos, até 2023, o trabalho dependente e também os ensino superior e 38% uma idade até 34 programa de apoio ao regresso de empresariais e demais profissionais anos, com 41% a ter entre 35 e 44 anos. emigrantes a Portugal inicialmente durante um período que pode ir no desenhado para vigorar por dois anos, máximo, até cinco anos, são outras O Ministério do Trabalho e, de terminando em 2020. da prerrogativas que constam do Solidariedade e Segurança Social indica programa regressar. que uma parte significativa dos candidatos são pessoal qualificado ou ... altamente qualificado.
46 A CRISE DA AVIAÇÃO À SOMBRA DOS PIRINÉUS… Marie Oliveira |Paris COVID EM FRANÇA ATINGE NOVOS MÁXIMOS… A França registou na última quarta-feira novos máximos relacionados com o Covid-19, ao serem apurados 31.519 novos casos em apenas um dia, o número mais elevado de novas contaminações desde Novembro. Um facto que obrigou o Governo francês a instituir novas medidas restritivas na região norte do país para conter a pandemia. VEREADOR LUSO DA CÂMARA DE PARIS, ENALTECE A COMUNIDADE PORTUGUESA… A fotografia que ilustra esta notícia, mostra dois aviões da TAP Portugal tem em França a imagem de um país de estacionados entre muitos outros, sendo visíveis num segundo plano as confiança e nos últimos anos, tem combatido os montanhas nevadas da cordilheira dos Pirinéus. Os dois aviões estereótipos da comunidade portuguesa, mas esta \"abandonados\" junto das montanhas pirenaicas, são uma das precisa organizar-se, defende o vereador da Câmara de expressões da grave crise que atravessa a transportadora aérea Paris. Sanches Ruivo, elogiou a solidariedade e nacional. mobilização que os portugueses têm tido naquele país durante a pandemia de Covid-19. Os aviões estão à guarda da empresa Tarmac Aerosave, que é a maior O vereador da Câmara de Paris, com a pasta da Europa, empresa europeia que se dedica a esta actividade, mas com a crise considerou que Portugal é visto “como um país de causada pela pandemia do covid-19, viu aumentar a procura dos seus confiança” e que o facto de cada vez mais franceses espaços que já existiam em Tarbes nos Pyrénées-Atlantique, em Teruel- visitarem e conhecerem o país, o coloca “num outro Espanha, e em Toulouse.França, abrindo agora um novo estacionamento nível” de interesse e conhecimento por parte dos em Vatry, também em França. A empresa presta serviços de gauleses. armazenagem e guarda dos aviões, assegura a sua manutenção, e Apesar das desvantagens da falta de organização da protege os seus sistemas electrónicos mais sensíveis, isto é, o avião não comunidade portuguesa em França, o luso-francês fica abandonado e mantém-se capaz de voar a todo o momento. Sanches Ruivo relatou que durante a pandemia de Covid-19, a solidariedade e mobilização têm estado a Actualmente, a empresa guarda 230 aviões nos seus quatro funcionar. “Há várias cidades em França que procuram estacionamentos mas, segundo segundo notícias divulgadas pela uma cidade portuguesa para cooperar. Como Reims, imprensa francesa, há uma longa lista de aviões e de companhias aéreas Arras, Blois ou Colmar”, indicou Sanches Ruivo. em espera. Porém, se necessário, a empresa também assegura a reciclagem dos aparelhos e há a convicção de que muitos dos aviões guardados pela Tarmac Aerosave não voltarão a voar.
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48 JOÃO BARROSO Dr. João Barroso da Fonte DA FONTE Historiador e Jornalista Casa Regional de Trás-os-Montes vai ter nova sede em Lisboa… Nesta passagem de ano, conturbado pela pandemia que colocou o planeta em sobressalto permanente, quase nos esquecemos de que a vida humana é uma espécie de relâmpago que pode prenunciar uma catástrofe humanitária de proporções imprevisíveis. Apesar de tudo não devemos parar porque a História nos ensina que pandemias já houve muitas e que o mundo continuou a impor as suas regras. Esta reflexão transporta-me ao ano de 1905, data da fundação da Casa Regional de Trás-os-Montes e Alto-Douro, em Lisboa. Esta Instituição centenária, no seu longo historial de 115 anos, foi berço de dezenas de outras fundadas e geridas por Transmontanos, à sua imagem e sentido filantrópico. Aquando do primeiro centenário da sua fundação, houve associados que se empenharam na aquisição de nova sede, a partir de um terreno desbloqueado na zona de Belém. Chegou a haver conversações com a Câmara de Lisboa para essa construção. Lançou-se uma campanha nacional de fundos para essa construção. E a relação desses fundos foi regularmente mencionada na imprensa. Mas quando menos se esperava esse entusiasmo gorou-se. E, perante esse desalento, a Câmara de Lisboa, terá revelado interesse em renegociar essa construção, propondo espaço noutra zona urbana. Recentemente, a atual direção, acabou de enviar uma mensagem aos associados, na qual escreve: «Dia 21 - de Dezembro -- em reunião da CML foi aprovado por unanimidade a Um agradecimento especial ao Daniel Oliveira revogação do atual direito de superfície sobre o Prédio da Calçada do Ferragial, pelas horas que dispensou estes dias para número 1 a 5, e a constituição de um Novo Direito de Superfície, sobre um conseguirmos enviar a tempo toda a terreno com 2.200 m2, com capacidade de construção de um edifício com 1.540 documentação necessária para o efeito! m2, na Rua Fernão Mendes Pinto, e junto à Rua de Pedrouços, em Belém, com o máximo de bonificação possível em termos de Lei, ou seja 75% por tempo Além disso, um agradecimento a todos os indeterminado por proposta do PCP, e com ajuda do nosso consócio Modesto membros da Direção pela união e vontade em Navarro! resolver este problema com celeridade! Neste momento, já estamos a trabalhar no Além disso, foi possível levar este processo da Nova Sede, a título excecional, à projeto da Nova Sede! Assembleia Municipal de Lisboa, no dia 22 de Dezembro de 2020, onde obteve uma aprovação superior a 2/3 dos senhores deputados! O associado Arquiteto Carlos Ruivo ofereceu a autoria do projeto de arquitetura! A partir de Com a ajuda preciosa do nosso amigo Modesto Navarro, do Presidente da AML, agora todos os donativos que possam ser do gabinete do senhor Presidente da CML, e dos serviços da CML, foi possível dados para o projeto da Nova Sede será para ainda marcar a escritura de revogação do prédio da Calçada do Ferragial, a Nossa Casa de extrema importância, visto número 1 a 5, dia 28 de Dezembro de 2020, visto que se fosse a partir de 1 de que até 2023 pretendemos estar instalados na Janeiro de 2021 tínhamos de assumir mais um ano de IMI, AIMI e seguro! Dias Nova Sede!» loucos para a CTMAD, para conseguir arranjar a quantidade de documentos que nos pediram para entregar no notário! Como Transmontano e sócio desta prestigiada Agradecemos ao Dr. Jorge dos Santos, Isabel Cerqueira, Coronel Antão, Manuel Instituição Transmontana alegro-me e felicito Ferreira, Serafim de Sousa, Professor Jorge Valadares e António Amaro por se as sucessivas Direções destes 115 anos de terem deslocado à sede da CTMAD ou enviado por e-mail em PDF documentos vida. que eram necessários assinar! Barroso da Fonte
49 Abel Luiz Fontoura Moutinho Empresário Vacinação anti Covid-19 Caros amigos barrosões: Confinado no quarto da princesa (vide: Se entre este último grupo encontrar, e certamente encontro, www.osprimos,com) em Lisboa, sem a presença física de amigos como vós, profissionais e autarcas competentes, bem como voluntários, nem dos primos Ana, Maria e André para conversar, é assim que vou cuidadores… e outras pessoas bem intencionadas, o que penso fazer é passando algum do meu tempo, dando aso à imaginação e lendo algo do desculpá-las para não ferir sentimentos. muito que nos chega pelas redes sociais. Após leitura das mensagens Mesmo que a Comunicação Social continue a explorar-lhes os pontos recebidas no computador, via TP Link que [email protected] ontem me fracos e certa opinião pública lhes seja adversa, o que desejo é o trouxe e passo a dispor na Rua dos Lusíadas, onde acabei de reler o Velho do seguinte: não desistam, sigam em frente! Restelo de Camões, eis um comentário que escrevi no dia 4-02-2021. Os doentes, sofredores e todos nós, além de contarmos com a vossa Perante atitudes destas que a Vacinação anti Covid-19 provoca, e com base na dedicação também aguardamos boas notícias. E mais ainda, que o sabedoria popular e no que é preciso e urgente fazer, que poderei acrescentar mensageiro das mesmas seja emissor verídico, isento, compreensivo e para que a união do trabalho e boa vontade de todos contra a pandemia amigo. Já quanto aos \"chico espertos\" aos mal intencionados maganos, resulte, sem dar aso aos prevaricadores? Tendo em conta que \"Errar é manatas, marmanjos e outros que tais, que aproveitam \"a circunstância\" Humano\", quem não transigiu nem pensa correr o risco de tergiversar com as para tirar partido e proveito daquilo que não lhes pertence e a que não benesses das vacinas, \"seja o primeiro a lançar a pedra\". têm direito, para esses não deve haver contemplações. E que decidirá a Justiça relativamente a essas entidades ou cidadãos, que a Comunicação Social e a opinião pública já condenaram pelo seu oportunismo E se, como diz a anedota da madre superiora \"guerra é guerra\", que não intolerante ou inadmissível? Como é que o povo age quando se trata de ouso contar, nesta luta contra o vírus que, além de nos ter levado já repartir benesses ou conceder mordomias? muitos entes queridos de quem temos imensa saudade, também \"pode De acordo com a sabedoria popular : \"Quem parte e reparte, fica com a bater à porta de qualquer um de nós\", devemos ter cuidado, muito melhor parte. E quem tal não fizer ou é burro ou não tem arte\". cuidado com os falsos profetas e os burlões! E, se os necessitados ou curiosos pertencem ao núcleo familiar ou dos amigos Nestes momentos de incerteza que vivemos, temos de lembrar ainda o mais próximos, que acontece? provérbio: \"Em tempo de guerra mentira como terra\". Quanto à regra Assim reza o povo, praticando as obras de misericórdia: \"Esmola Mateus. sem excepção e ao sentir do povo, tão bem expresso na sentença Primeiro para ti, segundo para os teus\". Agora a minha reflexão pessoal, popular: “quem quiser ver o Estado rico é não pagar os direitos que ele sujeita às várias críticas de quem ler o que deixo escrito. nos deve”, vamos continuar atentos ao que um amigo meu ouviu de um “homem de leis”: Se as leis são para respeitar e ser respeitadas, entendo e defendo que as mesmas devem ser feitas e pensadas para benefício de todos e não só de - “Em qualquer diploma legal há sempre um parágrafo ou uma simples alguns, muito embora o nosso tão consultado dicionário também registe a vírgula, expressa ou omitida, que permitem o contrário do que essa palavra \"privilégio\". E o entendimento popular, os doutos advogados e demais mesma lei proíbe”. entendidos na matéria, também sabem que \"não há regra sem exceção\" e Quanto ao “farrapo” com que nos obrigam a tapar a boca e o nariz, que não raras vezes “a exceção confirma a regra”. Depois de tudo isto, que escondendo, enfim, a nossa educação ou frontalidade, já não digo nada, lição penso tirar da conduta que venho adotando, na prossecução dos porque também eu passo na rua, cruzando-me com pessoas conhecidas objetivos anti pandémicos que tanta ansiedade nos provocam? que nem vejo, tão escondidos e longe uns dos outros andamos! Eis o Seguir as ordens, conselhos e normas das entidades governamentais e desabafo de um chefe de casal transmontano e beirão, residente em autárquicas, SNS, médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares dos serviços de Lisboa, esperando que o mesmo tenha eco nas aldeias de Midões e Vale saúde e segurança, pessoas de família e demais cuidadores que tratam de de Espinho, onde espera gozar em breve, uns dias em plena liberdade! nós, para que o famigerado vírus não se lembre de atacar-nos. E estar muito atento aos alertas do Chefe Supremo da Nação, do Governo, da DGS e da Quando ali chegar, da janela do seu quarto ou do alpendre onde as União Europeia, da OMS…, sem esquecer o que regularmente nos chega da andorinhas já pernoitam e chilreiam, olhando em frente para as colinas, sempre atenta e tão simpática Úrsula van der Leyen cuja mensagem sobre o pertencentes ao antigo concelho de Água Revés mas agora de Valpaços, cancro, muito me impressionou. Nesta conjuntura e, se como já dizia Ortega Y poderá contemplar o despontar da primavera e mais ainda a beleza Gasset \"acerca do homem e da circunstância\", pode haver pessoas que pela deslumbrante que lhe proporciona aquele mosaico natural, ou seja, um sua conduta e atuação merecem um “Bom” em comportamento, também jardim polícromo onde além de vinhedos, cerejeiras, olivais, feijoas, podem surgir outras, suscetíveis de cometer deslizes e praticar atos menos hortaliças e também pinheiros, não faltam chamiços, estevas, giestas… e dignos. abundam as tão vistosas amendoeiras em flor! Abel Luiz Fontoura Moutinho
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