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12ª RF - final

Published by Marcia Boroski, 2023-06-15 20:51:01

Description: 12ª RF - final

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12 ª Edição - XII ano



Editorial Especial Fotografia Em agosto de 2021, o Ponto Zero, projeto guarda-chuva responsável por esta publicação, retomou a III Semana da Fotografia, evento a partir do qual os e as estudantes puderam juntar forças, ideias, habilidades e talentos, em uma atividade interdisciplinar de proposta, organização, execução e cobertura de evento. A ativi- dade aconteceu próximo ao Dia Mundial da Fotografia, dia 19 de agosto. Foram três dias discutindo sobre fo- tografia em suas temáticas de política e de esporte e em seus modos de fazer, como os projetos fotográficos. Foram dias de ampla e múltiplas trocas com as quais contamos com a generosidade de profis- sionais atuantes no mercado que toparam conversar entre si e com o público. A partir do evento, a equipe da Revista F montou, nesta 12ª edição, o Especial Fotografia, com produções de diversas naturezas - há reportagens, entrevistas, perfis e fotolegendas. São produções que partem do evento, mas não configuram-se como uma cobertura: os/as estudantes tomaram como ponto de partida algumas temáticas tratadas no evento e algumas histórias levantadas pelos profissionais participantes para constituir e executar suas pautas. Este especial conferiu um tom difer- ente à Revista F. Celebramos nesta edição a fotografia e suas multifacetas temáti- cas, técnicas, produtivas, experimentais. E acreditamos que este foi início de uma proposta de deve se repetir, de forma atu- alizada e reelaborada, nos próximos anos. Boa leitura!

SUMÁRIO BToradsoilsdoes0C6antos Entrevistas 14 Perfil 22 Especial 26 Frame 30

Especial Fotografia 14

BrasilDE TODOS OS CANTOS Com temperaturas frias e tons quentes, Parque Tingui ganha destaque em fotografias Um dos principais parques de Curitiba recebe de braços abertos as mudanças trazidas na passagem do verão para o outono Por Gabriele Rocco Em meio à nova estação, as árvores predominantes por todo o Parque Tingui ganham uma nova coloração: abandonam o verde para receber o amarelo, marrom, laranja e vermelho. A mudança não passa despercebido pelos visitantes, que logo registram tudo em belas fotografias. O Parque Tingui foi fundado pela prefeitura de Curitiba em 1994 e fica localizado entre as ruas Fredolin Wolf e José Valle, ao longo do Rio Barigui. O nome é uma homena- gem a um dos povos indígenas que habita- vam a região. Moradores da região há mais de 30 anos, Sueli da Conceição Machado e Luiz Campos de Lara relembram: “Quando vie- mos morar aqui não existia parque ainda, essa área era tudo mato”. Mesmo sendo incontáveis as mudanças de estações que já vivenciaram nos seus passeios diários pelo parque, os dois ainda se surpreen- dem com a beleza das cores trazidas pelo outono. Sueli e Luiz já conheciam a região antes da O espaço é frequentado diariamente fundação do parque. Foto: Gabriele Rocco. 6 por quem busca praticar uma atividade Serviço física em contato com a natureza, passear Parque Tingui - Av. Fredolin Wolf, 1870 - Pilarzinho, com o seu pet ou fazer um piquenique em Curitiba (PR) Entrada gratuita, aberto todos os dias. família. Também é atração para diversos Memorial Ucraniano - Dependências do Parque turistas ao longo do ano, devido ao me- Tingui morial Ucraniano, que fica nas dependên- Entrada gratuita, de terça à domingo, das 10h às 18h. Contato (41) 3321- 3247. cias do parque.

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BrasilDE TODOS OS CANTOS Maior jardim de esculturas do Brasil homenageia as obras de João Turin Com cerca de 6 mil m², o Memorial Paranista celebra a arte do paranaense que é considerado um dos maiores escultores brasileiros Por Lucas Geremias A fachada da Casa Paranista convida para conhecer a obra de João Turin. Foto: Lucas Geremias. O Parque São Lourenço já é um re- em 1917 na França em homenagem aos nomado ponto turístico da cidade de Curiti- soldados mortos na Primeira Guerra Mun- ba (PR) desde a sua inauguração. Em maio dial e “Frade”, um presente para o Papa 8 de 2021 o local recebeu um novo espaço Francisco em sua visita ao Brasil em 2013, chamado de Memorial Paranista, que conta além de esculturas “Animalistas” nas quais Turin representou diversas onças. Parte do com obras do escultor paranaense João acervo foi doada pela família Lago, dona Turin (1878-1949). O acervo com reproduções em bronze dos direitos autorais das obras do artista possui as réplicas de “Marumbi”, destaque paranaense. Segundo Felipe Zeem, educador do Me- da coleção, que possui 3 metros de altura e cerca de 700 quilos, representando um morial, “o local possui mais de 100 peças, duelo entre duas onças, “Pietá”, esculpida entre réplicas ampliadas e em tamanho

BrasilDE TODOS OS CANTOS A réplica de “Pietá” é uma das obras esculpi- 9 das por Turin e faz parte do acervo do Memori- al. Foto: Lucas Geremias. original, desenhos e modelos de fachadas criadas por Turim. O principal objetivo é manter viva a história e obra do autor e divulgar o Movimento Paranista”. O espaço também conta com ateliê de esculturas e fundição, loja, teatro e um laboratório de criação que oferece cursos de artes. Serviço Memorial Paranista, Parque São Lourenço - Rua Matheus Lemos, 4700, Bairro São Lourenço, Curitiba (PR). Entrada gratuita, de terça à domingo, das 10h às 18h.

BrasilDE TODOS OS CANTOS A famosa lenda urbana sobre o Casarão de Maria Tangará A moradora da cidade Pitangui que ficou conhecida por ter sido a mulher mais cruel da região Por Guilherme Lobato 10 Lateral do Casarão com visível desgaste pelo tempo. Foto: Guilherme Lobato. Localizado na Rua Coronel Américo Ba- da época. Maria ficou conhecida por ter hia, no número 115, o casarão construído sido má com seus empregados, fazendo no século XIX abrigou Maria Tangará e seu crueldades com as mulheres que recebiam marido Ignácio Joaquim da Cunha. Juntos elogios de seu marido. Segundo relatos é formaram um dos casais mais influentes possível escutar barulhos de correntes e

BrasilDE TODOS OS CANTOS gritos vindo do local após a meia noite. Herbert Viana, morador da região, comentou sobre a lenda. “Várias histórias surgiram com o seu nome e acabaram se popularizando pela cidade. Uma delas a Maria Tangará teria obrigado os emprega- dos a enterrarem um tesouro no quintal da sua casa. Para que eles não contassem para ninguém a localização, ela teria man- dado matar todos eles. ” Não existem informações sobre a data exata da morte de Maria Tanguá, mas ela é sempre lembrada pelos cidadãos pitanguienses. Desde 1930, o casarão abriga a Escola Estadual Professor José Valadares, que atualmente está em refor- ma devido a precária estrutura que se encontrava. Serviço Escola Estadual Professor José Valadares, Pitan- gui (MG). Contato: (37) 3271-4283. 11 O Casarão de Maria Tangará se destaca dos edifícios da rua. Foto: Guilherme Lobato.

BrasilDE TODOS OS CANTOS Centro histórico-cultural Santa Casa se reinventa na pandemia Com o local fechado fisicamente, responsáveis pela programação propuseram solução para continuar atendendo o público Por Andreana da Silva Chemello As atividades presenciais do Centro Histórico-Cultural Santa Casa, em Porto Alegre (RS), foram paralisadas no dia 18 de março de 2020, quando o vírus Sars- CoV-2 chegou ao país. Para seguir ofere- cendo conteúdo, apenas duas semanas depois, foi criado um projeto para trans- missões virtuais por um canal no Youtube. “A gente tenta ter no mínimo uma vez por semana eventos culturais, espe- táculos, shows, atividades de educação patrimonial e curiosidades históricas. O resultado foi melhor do que esperávamos. Eventos, que antes recebiam 20 pessoas, estão com audiência de 150. Então, vamos manter o on-line mesmo com a retoma- da do funcionamento presencial”, conta Renata Meirelles, produtora cultural do espaço. O local é responsável pela guarda, conservação e disponibilização de docu- mentos do hospital mais antigo de Porto Alegre, a Santa Casa de Misericórdia. 12 Além disso, conta com museu, teatro, arquivo histórico, biblioteca, sala de aula, loja e bistrô, ambientes que aos poucos voltam a receber visitação. Serviço Centro Histórico-Cultural Santa Casa, Av. Inde- pendência, 75, no bairro Independência, Porto Alegre (RS). Funcionamento: de terça a sábado das 9h às 18h e domingos e feriados, das 14h às 18h. Contato pelo (51) 3214-8255.

BrasilDE TODOS OS CANTOS A pandemia obrigou o espaço a adaptar suas apresentações para o ambiente online. Foto: Andreana da Silva Chemello. 13

‘Ouvir as pessoas e trabalhar a serv delas é a missão do jornalismo’, diz Annelize Tozetto 14

viço z Por Patrícia Gaudêncio crítico. Annelize é nascida em Ponta 15 Grossa (PR), formada pela Universi- Ouvir as pessoas e trabalhar a dade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) serviço delas parece que é o fio con- e pós-graduanda em Fotografia como dutor do entendimento de Annelize Suporte para a Imaginação. Hoje, reside Tozetto sobre o jornalismo. Nesta na cidade de São Paulo, onde trabalha entrevista, a fotógrafa e fotojornalista como assessora parlamentar. Em agos- conta o que a motivou a fazer facul- to ela participou como convidada na dade de jornalismo e como o curso mesa ´Fotografia e Política´, durante a contribuiu para a formação de um olhar III Semana da Fotografia da Uninter.

Cobertura da peça ‘ A Barca dos Corações Partidos’, no teatro Carlos Gomes - Rio de Janeiro/RJ 2019. Foto: Annelize Tozetto. Revista F: Acompanhando seu trabalho fiz um curso de fotografia pelo Centro no Instagram @annelizetozetto, per- Europeu para conseguir aprender na cebemos que você tem uma atuação na prática outras formas de fotografar. E fotografia que transita em diferentes nesse meio tempo, comecei a fotogra- vertentes. Mas como foi seu começo na far peças teatrais. Fui aprovada em uma fotografia? seleção para fotografar o Festival de Annelize Tozetto: Sou jornalista de Teatro de Curitiba. E ainda em tempo formação. Escolhi fazer o jornalismo de faculdade, cheguei a fazer estágio porque era o mais próximo da fotogra- na área de assessoria política. Então fia. Lembro de ter pesquisado algumas nasceu tudo junto, praticamente: a faculdades, algumas até fora da minha fotografia de teatro e a fotografia de cidade, mas meus pais não teriam movimentos políticos. Eventualmente 16 condições de me bancar em uma mu- fazia ensaios, festas, para levantar uma dança para um lugar muito distante. grana, afinal, eu precisava pagar as Minhas opções eram tentar fazer em contas. Claro que também era praze- Curitiba, ou em Ponta Grossa, onde eu roso, fotografei muitos amigos e me morava, o que seria o ideal. Minha es- divirto fazendo isso. Então, sempre colha, então, foi a UEPG. Na faculdade mesclei um pouco de tudo. Hoje cada desenvolvi bem a escrita jornalística e vez mais quero me voltar para projetos me apaixonei pelo jornalismo literário, e documentários. É bom uma virada de que é muito conectado com o que faço chave, mas sempre com a fotografia na fotografia. Depois que me formei eu como prioridade.

-EVNISTTRAES Revista F: Então a vertente de fotografia estou. Meu trabalho me permite isso. 17 política começou nos tempos de facul- A fase do receio de me posicionar já dade? passou. Agora está bem claro, sou uma Annelize: Sim, comecei a fotografar na fotógrafa de esquerda. E o jornalismo área da política em tempo de estágio. não é isento, a fotografia não é isenta, Fiz a cobertura de uma campanha do tudo que faço parte de um recorte do Partido Verde (PV) e na época não foi meu olhar. a melhor experiência do planeta, tanto que eu dizia que não queria mais isso Revista F: A faculdade de Jornalismo foi na minha vida. No entanto, em 2012 eu importante na formação do seu olhar nas voltei e voltei muito ligada. O trabalho ruas? com o teatro nessa época estava bem Annelize: Sim, com certeza. A faculdade intenso e me dividi para cobrir duas em si me trouxe muitas questões. Eu era campanhas, uma em cada cidade. E hoje uma menina do interior do Paraná, que atuo como assessora parlamentar. En- cresceu com valores cristãos, quase fun- tão desde sempre estive envolvida com damentalistas. A faculdade me permitiu a política. Não caí de paraquedas nesse mudar a minha visão de mundo. Quando meio. A política e o teatro são minhas participei do Movimento Estudantil, na Executiva Nacional dos Estudantes de grandes paixões, até porque o teatro é Comunicação Social, aí eu me encontrei. político. A arte é política. Foi quando eu entendi que o Jornalismo serve também para fazer a diferença na A política e o teatro vida das pessoas, serve para informar, são minhas grandes mas também para questionar e cobrar paixões, até porque respostas do poder público. o teatro é político. A arte é política. Revista F: Em relação à presença da mul- her no fotojornalismo, como você vê esse Revista F: Alguma vez você já sentiu que cenário? Sabemos que em algumas outras seu trabalho relacionado à política atra- áreas, como no esporte, a presença da palhou algum trabalho de outra natureza? mulher na fotografia ainda é rara. Annelize: Talvez não tenha nem che- Annelize: Acredito que a popularização gado algum trabalho por conta do meu da fotografia ajudou a aumentar o posicionamento político. O meu perfil número de mulheres fotografando nas de trabalho no Instagram, atualmente, ruas. Temos ótimas referências de fo- deixa tudo super à mostra. Hoje meu tógrafas, por exemplo a Gabriela Biló perfil pessoal é separado do profission- que faz um trabalho incrível e está lá em al, afinal é bom manter um pouco de Brasília. Mas é certo que ainda existem privacidade. Há alguns anos, postava muito mais homens nessa categoria. menos coisas relacionadas à política e Tem a questão do assédio que é real, nem usava tanto o Twitter. Mas hoje eu acontece muito. E na rua a disputa por consigo expressar melhor o lado em que um espaço na cobertura de movimentos, por exemplo, é acirrada. Ser mulher, ser baixinha como eu, é um desafio maior na disputa por espaços na rua.

-EVNISTTRAES Revista F: Você já sofreu algum pre- conceito, por ser mulher, enquanto fazia coberturas políticas? Annelize: Já aconteceu. Tinha ido para o Paraná, para fazer uma cobertura do Guilherme Boulos. E aí ouvi alguns co- mentários, perguntas dos rapazes que já atuavam ali há mais tempo, do tipo “Você já fez alguma cobertura ao vivo?”, “Sabe fotografar ao vivo?”. Simples- mente, me olharam de cima a baixo e deduziram que eu não soubesse. E ali eu já tinha grande experiência, anos de formada nas costas. Poderiam ter me abordado de uma outra forma. Mas passou essa primeira impressão e hoje temos uma boa relação. Eu também já cheguei a ser proibida de fotografar um evento por causa da cor do meu cabelo. Disseram que eu estava chamando mui- ta atenção. Foi bem constrangedor esse episódio. Revista F: Como aconteceu o convite para atuar como assessora parlamentar? Annelize: Em 2019 tinha ido passar o carnaval no Rio de Janeiro. Estava lá quando completou um ano da morte de Marielle Franco, dia 14 de março, e fo- tografei os atos que aconteceram nessa mesmo e em uma semana já estava no data. Dali fui para São Paulo e a Isadora cargo. E estou adorando. Estou apren- Penna havia tomado posse como depu- dendo muito, acompanho a Isa em todos tada estadual. Eu a conhecia por conta os lugares. Hoje conheço bem a cidade do PSOL, mas não éramos tão próximas. de São Paulo, o estado de São Pau- 18 Mandei uma mensagem para ela, dan- lo. Fico emocionada por fotografar as do os parabéns e desejando boa sorte. transformações e todo esse movimento. Dois dias depois, era um domingo, ela Isso é o que realmente me move nessa me mandou uma mensagem e eu levei profissão. um susto. Na mensagem ela dizia que precisava falar comigo. Senti logo um Revista F: Você consegue perceber um cli- frio na barriga. Em seguida ela me ligou ma diferente entre as manifestações que e falou a respeito da vaga. E quando ela acontecem neste governo em comparação terminou de explicar, eu já disse: “ok, aos anteriores? eu topo”. Fiz a entrevista no domingo Annelize: Sim, muita coisa mudou. O

Ato pelo 1 ano de assassinato de Marielle Franco, Rio de Janeiro/RJ - 2019. Foto: Annelize Tozetto. governo federal é um desserviço, para essência do jornalismo. Nosso papel é 19 começo de conversa. É horrível toda informar e é também conscientizar a essa confusão que se causa para des- população. É para as pessoas que a gen- viar a atenção do povo. Os profission- te trabalha. ais estão ali trabalhando e qualquer trabalhador, de qualquer área, merece Revista F: Que cobertura política foi a respeito. E toda essa questão das fake mais impactante para você? Aquela que te news e a forma como nosso trabalho fez voltar para casa diferente? é deturpado só prejudica a sociedade. Annelize: O trabalho de conclusão de Então a gente vê o povo nas ruas mais curso na faculdade de Jornalismo, so- intolerante, mais agressivo. Os jornalis- bre moradias em área de risco, foi o tas são agredidos moralmente, fisica- primeiro grande marco. Fiz um livro-re- mente. Mas acredito que o que a gente portagem em parceria com o meu amigo não pode deixar acontecer é a perda da Saulo. Passamos um ano acompanhando

Luiza Erundina no exercício da cidadania. São Paulo/SP 2020. Foto: Annelize Tozetto. três famílias. Isso me fez entender muito Annelize: A Revolução Russa de 1917, sobre como funciona uma cidade, sobre pelas mulheres revolucionárias já que tantas injustiças que acontecem, esse pelos homens tem muita história já con- processo todo me transformou. E um tada. E um outro episódio seria a Rev- momento mais recente que eu destaco, olução Cubana. Bem suave, não é? De- e até comentei na mesa da III Semana da stacando um momento brasileiro, seria Fotografia da Uninter, foi fotografar a o movimento das Diretas Já. Erundina votando no primeiro turno nas eleições de 2020 e fazer toda a cobertu- Revista F: Que conselho você deixa para ra da campanha no segundo turno. Ela os profissionais iniciantes na área de Co- move multidões em São Paulo. Foi mui- municação? to emocionante testemunhar isso. Olho Annelize: O meu conselho é: sejam 20 com imenso carinho para essas fotos. pessoas legais. Na época da elaboração Uma senhora com 86 anos, em meio a do meu trabalho de conclusão do cur- uma pandemia, firme, indo votar, foi lin- so, em conversa com uma pessoa que do. Se eu tiver um terço da garra dessa morava em situação de risco, a Tereza, mulher, estarei feliz da vida. A presença ela falava sobre o fato de profissionais da Erundina é realmente transformadora. fotografarem e irem embora, sem terem um mínimo de contato com a realidade Revista F: Que episódio histórico você deles. Isso ficou na minha memória. De- gostaria de ter presenciado para registrar pois de um tempo a Tereza se mudou e com suas lentes? não consegui mais encontrá-la. Gostaria

-EVNISTTRAES muito de saber como ela está. Acho que a fotografia, o jornalismo, as artes, pre- cisam chegar até as pessoas, deve existir este compromisso. As histórias das pes- soas são importantes. Não somos donos da verdade, não sabemos tudo. Ouvir as pessoas de coração aberto faz você enxergar muitas coisas além da sua real- idade, do seu mundo. Pude me redesco- brir jornalista através desse trabalho que tenho feito no parlamento. Como disse antes, o jornalismo é feito de pessoas para pessoas. Imagine que você possa resolver algumas questões da vida das pessoas através do jornalismo. Passar a ouvi-las com humildade foi o que fez toda a diferença no meu trabalho. Não é uma missão fácil, mas não deixem de acreditar que é possível. Participação de Annelize Tozetto na III Semana da Fotografia da Uninter. Foto: Bárbara Tagliani. 21

Perfil ’Descobri que o meu jeito de enxergar e viver o mundo era através da fotografia’ A fotógrafa Mariana Alves usa seu trabalho para criar e reelaborar conceitos de espaços e pessoas. Por Paulo Pessôa 22 ”Fotografar é relação, interação”, diz Mariana. Foto: Mariana Alves. Mariana Alves diz que já estava desti- era através da fotografia”. O amor pela nada à vida fotográfica. Desde que gan- fotografia a levou a cursar Jornalismo, hou sua primeira câmera, aos 15, desco- juntando o que amava ao seu ganha pão. briu o mundo com o qual mais tarde viria a trabalhar. “Tinha acabado de ganhar A fotógrafa atua como fotojornalista uma câmera pequena, e não larguei mais. e, além de ser jornalista, é especialista em A partir desse momento, descobri que o História da Arte pela Escola de Música meu jeito de enxergar e viver o mundo, e Belas Artes do Paraná. Na pós-gradu- ação dedicou-se ao estudo da fotografia

O projeto “Não Repare na Bagunça” visita os espaços íntimos das pessoas explorando as definições de “lar”. Foto: Mariana Alves. de família produzindo “Os Retratos da “Contar a história das pessoas at- 23 Família Sally Mann: da construção da ravés dos espaços mais íntimos, era algo memória à encenação”. Ela tem experiên- que me encantava. Cada lugar tem uma cia em áreas como editorial, museus, história, cada um se coloca nesses es- rua e eventos e desenvolve projetos pes- paços, e conseguimos ver muito da nossa soais nos quais exerce sua independência vida e da nossa cultura através disso.” afir- artística e fotográfica. ma Mariana. O projeto teve que ser pau- sado por conta da pandemia da Covid-19 Esses projetos são fundamentais para já que exigia interação próxima entre a Mariana exercitar seu olhar fotográfico profissional e as residências (e pessoas) e artístico. Apesar de defender e en- fotografadas. Os efeitos da pandemia não fatizar seu trabalho com fotografia de foram sentidos apenas neste projeto da rua – como forma de entender o espaço artista. “No caso da fotografia, ela im- do profissional fotógrafo -, uma das suas pacta totalmente a forma como a gente mais trabalhosas produções é o “Não trabalha. Afinal, fotografar é relação, in- Repare na Bagunça”, projeto que retrata teração. E estar longe disso tudo faz com espaços domésticos. A ideia surgiu como que a riqueza desse processo não acon- uma revisão dos espaços domésticos que teça da forma como esperamos.” estamos inseridos após Mariana ter anal- isado como essa representação foi feita Apesar do impacto, Mariana desta- em outros trabalhos. ca como a pandemia alterou o conceito

”Contar a história das pessoas através dos espaços mais íntimos era algo que me encantava”, explica Mariana sobre o que o projeto. Foto: Mariana Alves. de lar, residência e espaços domésticos, construção, chamado “Moradas”. A ideia mudando o modo como vemos as mora- era trazer em forma de ensaio fotográfico dias que se tornaram também local de as residências de moradores da cidade de trabalho, estudo e isolamento. “Acho Porto Camargo no interior do Paraná. A que voltando esse projeto, vão ter out- concepção de moradia e tempo na cidade ras questões, outras histórias e outras é outra; por conta do tamanho pequeno relações que vão aparecer depois disso da cidade, as cenas têm sido congeladas tudo que a gente tá passando.” afirmou a no tempo. Estamos sempre indo atrás de fotojornalista durante sua apresentação novas histórias e novas formas de contar. 24 na III Semana de Fotografia Uninter, no Esse ano eu termino um trabalho com qual debateu sobre o mercado fotográf- o lançamento de um livro e de uma ex- ico atual, sobre como montar projetos posição itinerante, que foi adaptada tam- fotográficos e como construir um olhar bém para o período pandêmico”, conta. fotográfico em um mundo onde a maioria A pausa obrigatória nos dois proje- das pessoas possuem uma câmera em tos fez Mariana retomar olhares sobre seus aparelhos celulares. a Fotografia de Rua que tinha no início No mesmo evento, Mariana Alves de sua carreira como fotógrafa. Ela re- também apresentou seu projeto ainda em visitou lugares que já conhecia, assim

Perfil como conheceu novos - prática que faz sempre fotografando. Não importa se em questão de manter na sua vida profission- casa, na rua ou em festas, é estar atento, al e que contribui para constantemente praticando o olhar. E nem é preciso tanto, mudar sua visão sobre o mundo. “Acho pode ser até com o celular mesmo. Im- que encontrar pessoas não só mudam portante é ir praticando e pensando nessa nossa visão de mundo, como acrescenta construção mesmo”. e enriquece nossa vida. Encontrei muita gente, ouvi muitas histórias, e tudo isso ”Encontrei muita gente, ouvi muitas histórias, é extremamente enriquecedor.” reforça e tudo isso é extremamente enriquecedor” Mariana, sempre lembrando da interação reforça Mariana. Foto: Mariana Alves. necessária entre o fotógrafo e as pessoas fotografadas para evolução do olhar por trás da câmera. A prática de estar sempre observan- do lugares ao redor, revisitando lugares antigos, conhecendo pessoas novas e lugares novos, é algo que Mariana Alves aconselha para fotógrafos iniciantes, visto que é uma rotina que mantém em sua carreira profissional e em seus trabalhos fotográficos pessoais: “Acho que a melhor coisa pra começar na fotografia é estar 25

ESPECIAL FOTOGRAFIA Memórias de resistências negras Movimento negro brasileiro utiliza fotografia como construção de memória coletiva Por Jana Costa O movimento negro brasileiro vem se car e construir memórias de resistências e constituindo no país desde o período da existências negras. escravidão e uma das principais formas de A importância de fotografar os mov- preservação de sua cultura e história foi a imentos sociais está no ato de registrar oralidade. No entanto, ao longo do tempo e representar lugares possíveis e com- surgiram outras formas de deixar regis- preender espaços, papéis sociais, possibi- tros para gerações futuras, como o uso da lidades de assuntos e demandas da popu- fotografia. lação negra. É uma forma de tornar visível A fotografia constitui a memória so- aquilo que não é. cial. Nos movimentos negros, ela permite Miriane Figueira, mulher negra, fo- que pessoas negras vejam outras pessoas tógrafa, artista visual e pesquisadora da negras ocupando espaços, conquistando memória e da negritude, afirma que “é direitos, se unindo, manifestando suas importante e necessário ter a memória ideias e pensamentos. preservada, mas ao mesmo tempo a Para Giorgia Prates, fotojornalista, gente precisa ressignificar a memória, de mulher preta criada na periferia de São um modo que a gente consiga ascend- Paulo, os registros feitos pelas mídias que er”. Por meio dessas fotografias pode-se falavam sobre seu lugar de pertencimento reconstruir as memórias de uma maneira eram realizados a partir do olhar de pes- afirmativa e coletiva. soas que nunca haviam pisado ali, criando Quebrar estereótipos, descolonizar pontos de vistas estereotipados. Hoje, Gi- corpos negros, desconstruir uma imagem orgia atua como militante, fotografando e conferida à população negra são algu- registrando a história do movimento ne- mas funções políticas da fotografia no gro que participa. “Tem a ver com a minha movimento negro. Ela permite mostrar, luta diária de existir. Acabo conhecendo por exemplo, que as pessoas de periferia outras realidades de vida, pensamentos, passam por outras realidades além da vivências, aprendizados. Eu tenho muita fome. “Com a fotografia estamos fazen- 26 sorte de poder me envolver de uma forma do e registrando a nossa história, constru- tão direta”, explica. indo essa memória do movimento negro, A fotografia é, ao mesmo tempo, a do lugar que a gente tem e pode estar”, captura de um momento que se findou afirma Giorgia. e uma história que se vive e se atualiza A internet tem tido um papel funda- por meio da imagem. Assim, assume um mental na divulgação de trabalhos com importante papel na construção e preser- propostas afins, uma vez que dá espaço vação da memória social da população para circulação de trabalhos de fotógra- negra, que, por meio dela, pode ressignifi- fas e fotógrafos negros que pensam

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ESPECIAL FOTOGRAFIA negritude e fotografia. No Instagram podemos acompanhar alguns trabalhos como o projeto Olhos Negros (@projeto. olhosnegros) que tem como objetivo dar visibilidade a fotografia negra, mapeando fotógrafos negros e construir um arquivo de imagens de memórias da negritude. Sob memoração: fotografia, memória e negritude Nesta perspectiva, a exposição “Sob Memoração” que durou cerca de sete anos, buscou, por meio de documen- tos e registros fotográficos, resgatar e mostrar a história da Associação 13 de Maio, de Curitiba (PR). Para a realização da exposição, Miriane Figueira e mais dois amigos fizeram uma pesquisa ao longo de 2012, construindo uma narrativa visual para contar e ressignificar memórias das pessoas que ali fizeram e fazem parte da história do Clube. Miriane tinha uma relação afetiva com o lugar: “Foi bonito reconstruir essa história do clube. O 13 de Obra Constança do projeto autoral “Desapropriam-me maio foi um espaço onde eu entendi mui- de mim” de Miriane Figueira. Foto: Miriane Figueira. tas coisas”, conta mostrando sua admi- ração pelo clube e entendendo o que esse espaço significa para a história da cidade. (https://mirianefigueira.com.br/sob-mem- oracao-negros-libertos-e-associados/) Em 2016, Miriane conectou seu tra- balho de artista visual e de fotógrafa com o projeto autoral “Desapropriaram-me de mim”, no qual pensa o corpo negro e sobre o que é ser uma mulher negra. Esse 28 projeto utiliza imagem como forma de afirmar de maneira positiva e ressignificar a negritude. “Sempre tivemos a imagem do colonizador como fonte, agora nós estamos construindo essa história. São heranças, que estão presentes na nossa cultura, mas a gente não dá o nome certo. As pessoas precisam saber dessa herança”, Fotógrafa e artista visual Miriane Figueira. Foto: Gabriel explica Miriane. Maça.

Frame Por Talita Lopes 29 Um olhar rural por trás das lentes O Museu da Imagem e do Som, em Curitiba (PR), recebe a primeira exposição do 14º Prêmio New Holland de Fotojornalismo. Com o tema “Agricultura, substantivo femini- no”, traz trabalhos de fotógrafos amadores e profissionais. As histórias de simplicidade e o trabalho duro do campo ganham vida com cores, olhares, animais e jogos de luz e sombra.

Frame Por Naya Alonso Nascimento do Bloody Mary 30 Como todo clássico, o Bloody Mary não tem documentos que comprovem sua origem e criação. Alguns alegam que foi criado na década de 1920 por Fernand Petiot - barman do Harry’s New York Bar, em Paris. Os frequentadores pediam a criação de um drink que mascarasse a aparência e a fragrância do teor al- coólico, já que o país estava submetido à Lei Seca. Petiot, resolveu batizá-lo de Bucket of Blood (Balde de sangue), pois a mistura dos ingredientes resultou em uma cor exuberante em vermelho.

Frame Por Renata Cristina 31 Desenvolvimento do olhar fotográfico Os primeiros contatos de Henry Milleo com a fotografia foram manuseando uma câmera que era de sua mãe, e somente em momentos especiais. Deste início até o trabalho atual na agência alemã, DPA, e a brasileira, Fotorarena, seu olhar fotográfico sempre esteve em constante desenvolvimento. Milleo costuma revisitar trabalhos antigos e diz que isso é fundamental para a percepção e o desenvolvimento do olhar fotográfico. - Henry Milleo e a jornalista Ma. Elaine Schmitt na III Semana da Fotografia Uninter.

Frame Por Lucimara Artussa Cultivar, registrar e compartilhar Na pandemia, a fotografia se fortaleceu como arte de resistência e humanização, permitindo-nos compartilhar com outras pessoas o que fizemos durante o isola- 32 mento. Dentre tantas atividades em alta, o cultivo de plantas foi uma das formas de trazer vida e esperança em tempos tão incertos.

Frame Por Bárbara Tagliani 33 Fotografar como um ato político Para Giorgia Prates, a fotografia é uma forma política de colocar seu corpo no mundo. Especialmente, quando cobre atos e protestos em espaços público. Ela participou da III Semana Fotográfica Uninter por meio de uma vídeo chamada de dentro do carro, durante cobertura fotográfica de uma manifestação no centro de Curitiba (PR). - Giorgia Prates na III Semana de Fotografia Uninter.

Frame Por Jennifer Eduarda Fotografia esportiva não é só jogo e treino O fotógrafo colaborador da agência FotoArena e do Sevil- la F.C., Adam Escada, e o fotógrafo do clube Athletico Pa- ranaense, José Tramontin, concordam em um ponto: fotogra- far esporte não é só fazer foto de jogo e de treino. Quem cobre a área também trabalha com gestão da imagem dos clubes, dos jogadores e dos patrocinadores, cobertura de eventos, 34 fotos para imprensa, redes sociais e produtos e banco de ima- gens (privados e internos). - Adam Escada e José Tramontin na III Semana da Fotografia Uninter, com mediação de Marcia Boroski.

Expediente Produção: A Revista F é uma produção laboratorial do curso de Jornalismo do Centro Universitário Internacional Uninter. Chanceler Prof. Wilson Picler Reitor Dr. Benhur Gaio Coordenador do curso de Jornalismo Dr. Guilherme Carvalho Professora responsável Ma. Marcia Boroski (MTB: 10737/PR) Projeto gráfico Núcleo de Imagem Ponto Zero Diagramação e layout Renata Cristina Foto capa Naya Alonso Assistente de textos e Editoria Frame Paulo Pessôa Estudantes de Jornalismo Andreana da Silva Chemello, Bárbara Tagliani, Gabriele Rocco, Guilherme Lobato, Jana Costa, Jennifer Eduarda, Lucas Geremias, Lucimara Artussa, Naya Alonso, Patrícia Gaudêncio, Paulo Pessôa, Renata Cristina e Talita Lopes Endereço Rua Saldanha Marinho, 113, Centro, Curitiba (PR) Contato [email protected] Acesse o blog da Revista F www.blogdarevistaf.com.br

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