Co ec ãoD. SEBASTIÃOBENÇÃO OU MALDIÇÃO?
TítuloD. Sebastião Benção ou Maldição?AutoresPinheiro Chagas, I. de Vilhena Barbosa, António H. SeccoDirector EditorialEduardo AmaranteCoordenação EditorialDulce Leal AbaladaRevisãoIsabel NunesGrafismo, Paginação e Arte finalDivAlmeida Atelier Gráficowww.divalmeida.comTécnica da capaImagem: pormenor de iluminura do Séc. XVID. Sebastião no berçoDivAlmeida Atelier Gráficowww.divalmeida.comImpressão e AcabamentoEspaço Gráfico, Lda.www.espacografico.pt1ª edição Maio 2012ISBN 978-989-8447-20-3Depósito Legal nº©Apeiron EdiçõesReservados todos os direitos de reprodução, total ou parcial, porqualquer meio, seja mecânico, electrónico ou fotográficosem a prévia autorização do editor.Projecto Apeiron, Lda.www.projectoapeiron.blogspot.comprojecto.apeiron@gmail.comPortimão Algarve
Pinheiro ChagasI. de Vilhena Barbosa António H. Secco apeiron edições
D. Sebastião Benção ou Maldição?ÍNDICEOs Planos de Carlos V para Portugal 9Inácio de Vilhena Barbosa 23D. João III, o Piedoso da glória à perda da independência 31António Luiz de Sousa Henriques SeccoO Berço da MaldiçãoPinheiro Chagas 7Apeiron Edições |
OS PLANOS DE CARLOS V PARA PORTUGAL Imperador do Sacro Império Romano-Germânico (1500-1558) I. de Vilhena Barbosa (in Arquivo Pittoresco, vol. VII, 1864)
Pinheiro Chagas, I. Vilhena de Barbosa, Anónio H. Secco Legenda da pág. anterior: Carlos V nasce em Gand, na Holanda (Países Baixos) e é filho de Filipe deHabsburgo e de Joana, a Louca. Com 15 anos, sucede ao pai como duque deBorgonha. Em 1516 torna-se Carlos I da Espanha, da Sicília, de Nápoles e dascolónias da América e, em 1519, soberano da Alemanha como Carlos V. Nomesmo ano é sagrado imperador. Em 1526 casa-se com a Infanta Isabel, filhade Manuel I, de Portugal, com quem tem um filho, Filipe. Une sob o seu ceptro quatro casas reais, tornando-se um dos principaispersonagens da Europa no século XVI. Tenta instaurar a hegemonia do SacroImpério Romano-Germânico, tanto na política quanto na religião (o impérioé católico), sobre os territórios dominados pela sua dinastia. Isso gera confli-tos com a França, com os senhores dos Estados Pontifícios, liderados pelopapa Paulo III, e com os protestantes. Fora da Europa, comanda expedições aTúnis e a Argel, conquista o México e o Peru e promove a exploração doPacífico. Abdica em 1555 do trono da Espanha, da Itália e da Borgonha em favordo filho Filipe II, casado em segundas núpcias com Maria I, da Inglaterra.O sonho de Carlos V era que o filho fosse coroado rei da Inglaterra, dirigin-do, assim, um império universal – mas o Parlamento inglês recusa-se a coroá-lo. No ano seguinte, Carlos V entrega ao irmão Fernando a coroa da Alema-nha. Aos 56 anos, retira-se da vida política e morre no Mosteiro de San Jeró-nimo, na Espanha.10Apeiron Edições |
D. Sebastião Benção ou Maldição? A usurpação da coroa portuguesa por Filipe II de Espanhanão foi um negócio sugerido a este soberano pela desgraçadaperda del-rei Dom Sebastião em África, como geralmente sepresume. Já muito anteriormente era assunto das maquinaçõese intrigas de Castela; e não errará, sem dúvida, quem disser quetodas, ou quase todas as causas de que resultou aquela duplacatástrofe, foram efeitos de um plano concertado e seguido pelacorte de Madrid com singular perseverança, e executado emLisboa pelos seus agentes, com tanta audácia como astúcia. O imperador Carlos V, que pensara, nos devaneios da suailimitada ambição, em cingir a fronte com a coroa da monar-quia universal, não podia deixar de estender a vista, com olhosde muita cobiça, para este nosso país, embora pequeno, mas quea natureza dotara com um dos melhores portos do mundo. Se este monarca não consultasse senão o seu ânimo guerrei-ro e aventuroso, teria começado, certamente, a pôr em prática oseu intento, invadindo Portugal, e esforçando-se para o subme-ter ao seu ceptro de ferro. Porém, como hábil político, não jul-gou prudente vir afrontar a bravura e coragem de um povo cio-so da sua liberdade, e briosamente mantenedor da sua indepen-dência, enquanto Francisco I, o seu poderoso rival, lhe embar-gava o passo nas fronteiras da França, e lhe disputava na Itália ainfluência e poder. Além disso, graças à ilustrada política deD. João I, seguida pelos reis seus sucessores, Portugal já não erauma simples faixa de terra no extremo ocidental da Europa. Eraa capital de um potente império, era a cabeça de um gigante,cujos braços se estendiam pelo interior da África, da Ásia e daAmérica. Era o empório das mercadorias do Oriente, o primeirocentro comercial do mundo, uma das principais potências marí-timas do globo. Era, enfim, uma nação de bravos, organizada,por assim dizer, militarmente, afeita aos triunfos, e vivendo,mais que a vida material, a vida do espírito, em que os estímulos 11Apeiron Edições |
Pinheiro Chagas, I. Vilhena de Barbosa, Anónio H. Seccoda glória e o amor da pátria bradam mais alto que todos os inte-resses egoístas. Carlos V resolveu-se, portanto, a lançar mão de outros meiosque já lhe eram familiares, e lhe tinham servido para sustentar eestender a sua autoridade na Alemanha e na Itália. Concebeu,pois, um plano, que devia dar-lhe, mais cedo ou mais tarde, asuspirada posse de Portugal, não por força de armas, mas simpela força dos sucessos preparados e dispostos intencionalmentepara a absorção da coroa portuguesa. O desenvolvimento desse plano, os fios tenebrosos que lheserviram de meios de acção, os personagens que nele figuraramcomo instrumentos activos ou passivos, os episódios e cenas detodo o género que originou, constituem uma parte muito im-portante da história do nosso país, quase toda secreta, e curiosís-sima para quem desejar conhecer as causas eficientes dos gran-des sucessos. Não cabe nos estreitos limites de um pequeno livro o que eraassunto para um grosso volume. O nosso propósito nesta ocasiãonem sequer nos leva a coligir apontamentos para essa históriaainda não escrita. Por agora, o nosso fim, tocando nesta matéria,é divulgar algumas passagens extraídas de uma obra compostae escrita sob a protecção real, debaixo da censura de uma aca-demia, e à vista de documentos fornecidos por todos os arquivosdo reino. O casamento do imperador Carlos V com a infanta D. Isabel,irmã del-rei D. João III, foi, em nossa opinião, o primeiro elodessa longa cadeia de intrigas, sugestões e crimes, talvez. Toda-via, todas as tentativas da corte de Madrid, quer fossem tramasocultos, quer negociações públicas, como o consórcio do prínci-pe D. Filipe, depois rei 2º do nome, com a infanta D. Maria, filhade D. João III, limitavam-se a preparar o terreno e a dispor ascoisas.12Apeiron Edições |
D. Sebastião Benção ou Maldição? Porém, apenas faleceu el-rei D. João III, como deixasse o cep-tro nas mãos de uma criança de três anos, activaram-se as dili-gências de Castela, e redobraram os seus manejos secretos. Di-zem respeito a este período os seguintes excertos das Memóriaspara a história del-rei D. Sebastião, publicadas no ano de 1736pela Academia Real de História Portuguesa: “Depois que o heróico coração de S. Francisco de Borja desprezou a fantástica pompa do mundo, ante- pondo a pobreza evangélica ao herdado esplendor da sua casa, para fugir ao tumulto da corte, que volunta- riamente deixara, escolheu por domicílio o noviciado de Simancas, de que foi arquitecto o seu profundo abatimento, onde, oculto e quase sepultado, passava o tempo absorto na suave contemplação dos divinos atributos. Deste delicioso retiro da sua alma o cha- mou, por uma carta, a princesa D. Joana, em que lhe insinuava ter recebido ordem expressa de seu pai, Carlos V, para que logo partisse a Juste, pois queria servir-se da sua prudente fidelidade em um negócio de suma importância.1 “Obedeceu prontamente o santo varão, não lhe causando impedimento para a jornada o excessivo ca- lor do estio, nem a debilidade do corpo, atenuado com rigorosas penitências; e, elegendo por compa- nheiros aos padres Dionísio Vasques e Francisco de Bustamante, com o irmão Francisco Brionas, chegou a Valladolid a beijar a mão à princesa; e depois partiu1 A princesa D. Joana era mãe del-rei D. Sebastião. Logo depois de dar à luzeste filho, achando-se já então viúva, retirou-se para Espanha por instantessolicitações de seu irmão, D. Filipe II, em quem o imperador Carlos V abdica-ra a coroa de Castela, recolhendo-se ao convento de S. Justo. 13Apeiron Edições |
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