A Voz deJORNAL DEFENSOR DOS INTERESSES DA VILA DE PAÇO DE ARCOS E DAS LOCALIDADES CIRCUNDANTESFUNDADO EM 1979 POR ARMANDO GARCIA, JOAQUIM COUTINHO E VÍTOR FARIA Diretor: José Serrão de Faria | Bimestral | N.º 14, Dezembro de 2017 DISTRIBUIÇÃO GRATUÍTA
ESTATUTO EDITORIAL FICHA TÉCNICA1 – A VPA é um jornal bimestral de PROPRIEDADE: Associação Cultural “Ainformação geral na área da cultura e Voz de Paço de Arcos”da língua portuguesa, em particular na SEDE: Rua 1º de Maio, 6-A, 2.º Dto. 2770-defesa dos interesses dos habitantes da 140 Paço de Arcosvila de Paço de Arcos e das localidades E-mail: [email protected]. N.I.F.- 513600493 | E.R.C. nº 126726 DIRECTOR: José Serrão de Faria2 – A VPA pretende valorizar todas DIRECTOR-ADJUNTO: José Manuelas formas de criação e os próprios Marreirocriadores, divulgando as suas obras. SUBDIRECTOR: Maria Aguiar EDITOR: José Lança-Coelho 3 – A VPA defende todas as liberdades, [email protected] particular as de informação,expressão e criação. Ao mesmo tempo, COLABORADORES: A. L. A.; Clotil-afirma-se independente de quaisquer de Moreira; Dora Canastreiro; Edgardoforças económicas e políticas, grupos, Xavier; Eduardo Duarte; Filipa Coelho;lóbis, orientações, e pretende contribuir Gina Maio; Isabel Tavares; João Raposo;para uma visão humanista do mundo, João Paulo Sant’Anna; José Lança-Coe-para a capacidade de diálogo e o espírito lho; José Marreiro; Luís Álvares; Mariacrítico dos seus leitores. Aguiar; M.G.; Raquel; Serrão de Faria; Virginia Branco e Zélia Coutinho4 – A VPA recusa quaisquer formas Fotografia: Santos Zoio, Tozé Almeidade elitismo e visa compatibilizar a Rodriguesqualidade com a divulgação, para levar a Capa: Aguarela de Serrão de Fariainformação e a cultura ao maior número Paginação: Andreia Pereirapossível de pessoas. Impressão: www.artipol.net Tiragem: 2000 exemplares. Facebook: www.facebook.com/avozdepacodearcos Redacção e Administração: Sede Publicidade: [email protected] Tel.: 919 071 841 (José Marreiro) Depósito Legal: 61244/92 Retrato de Adolfo Gutkin Desenho de Serrão de Faria2 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
EDITORIAL Aqui estamos citar a todos os colecionadores da nossa de novo para revista, desde a sua fundação, que entre- mais um ano guem nas instalações da Unioeiras, anti- que, esperamos seja o ga Junta de Freguesia de Paço de Arcos, melhor possível, para para já, os citados doze primeiros núme- os nossos associados ros, ou outros que tenham, que depois e amigos. de tratados serão devolvidos. Prometemos a conti- nuação do trabalho E terminamos com uma boa notícia, até ao momento rea- de acordo com os anseios de toda a po-lizado, e estamos sempre abertos à cola- pulação de Paço de Arcos. Quando daboração da população, pelo que, solici- homenagem ao actor José de Castro, rea-tamos o envio de ideias, artigos e outras lizada em Novembro do passado ano, epeças, sugerindo assim, que as enviem que teve a presença do actual Presidentepara o nosso editor, cujo mail de encon- da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais,tra na ficha técnica da revista. este afirmou que o Centro Cultural José A Biblioteca Municipal de Oeiras atra- de Castro nasceria em breve, nas antigasvés do seu serviço direcionado para tal instalações do Quartel dos Bombeiros dematéria, está a digitalizar todos os nú- Paço de Arcos.meros das três séries de «A Voz de Paçode Arcos», porém, como faltam alguns, Um bom ano de 2018 para todos!como por exemplo, os doze iniciais da José Lança-Coelhoprimeira série, daí que, venhamos soli- (escreve de acordo com a antiga ortografia) Errata No nr. Anterior do Jornla A Voz de Paço de Arcos, na legenda da pág. 16, por lap- so trocamos o nome do Sr. João Bertolo. Pelo facto pedimos desculpa ao visado e aos nossos leitores.JÁ ABRIU EM PAÇO DE ARCOS LEITÃO DE NEGRAIS AOS SÁBADOS >> ENCOMENDAS: 96 966 68 90 <<RUA DO LIMA, 16C RUA LUCIANO CORDEIRO, 27B2775-321 PAREDE 2770-112 PAÇO DE ARCOSJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 3
ARTIGO DE CAPAÀ Conversa Com… Adolfo GutkinA Voz de Paço de Arcos achou por bem, orientei alguns es-vir até Caxias, para dar a conhecer aos tudos histórico-cul-nossos leitores esta personalidade. turais em múltiplas produções e simulta-Voz de Paço de Arcos: Quer contar- neamente, frequen- nos onde nasceu? tei História de Arte Adolfo Gutkin – Nasci em Buenos e do Teatro, DançaAires, Argentina, em 1936, e desde 1994 que Moderna, Direcçãosou cidadão português. Teatral e de Actores, Voz e Dicção, e Pedagogia Teatral.VPA – Diga-me como começou as suasactividades? VPA – Em 1958, aqui também participouAG – Em miúdo já em algumas modalida-brincava aos teatros. des, não foi?Em 1953, passo a inte- AG – É verdade. Em 58grar o elenco do grupo e até 61, passei a fazerde teatro independen- parte do Teatro Popularte, participando nas Bonaerense, adquirindoseguintes modalida- o cargo de secretário-ge-des: encenador, actor e ral. Em 68 viajei por di-escritor de prosa e mu- versos países da Améri-sical. Aqui em Portugal ca Latina, residindo emfiz várias peças como Cuba, onde desenvolvi«Mãe Coragem»ao a actividade profissionallado de Eunice Muñoz. como actor, professorEm 56, como respon- de teatro e prosseguisável técnico de ilumi- com estudos superiores,nação participei em frequentando Psicolo-múltiplas montagens gia, Estética, Filosofiae durante esse período, Adolfo Gutkin e História da Arte. Si-4 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
multaneamente, participava no ConjuntoDramático do Oriente, do qual a partir de64 fui director-geral e artístico e professorde actuação, fazendo parte da fundação daprimeira Escola de Teatro de Santiago deCuba.VPA – Sei que teve cargos a nível oficial... AG – Fui fundador do Grupo de «TeatroAG – Sim, fui nomeado membro Oficial da do Mundo» e escrevi e dirigi-o.Union de Artistas e Escritores de Cuba, emembro do júri de vários festivais de teatro VPA – Sabemos que trabalhou para aem Cuba. Em 68 tive o privilégio de rece- Gulbenkian...ber o Prémio Especial de Teatro da «Casa AG – É verdade, leccionei num curso dede Las Américas». Neste concurso em 68, actuação com o convite da Fundação Gul-recebi como prémio pela obra «Sete Con- benkian, do qual surgiu posteriormente otra Tebas», prémio esse que foi impugnado grupo de teatro «Maisum», onde dirigi al-oficialmente pelas autoridades e constituiu guns actores de nomeada.motivo de escândalo internacional. Foi em1971 que recebi o Prémio como director-ge-ral e artístico do Conjunto Dramático deteatro para televisão, como actor em pro-gramas televisivos. De regresso a Portugal,em 1973, fui expulso pela PIDE, voltando aCuba, mas em 78, fui convidado a regressar aPortugal para ministrar um curso e encenaruma criação colectiva com o TEUC (Teatrode Estudantes Universitários de Coimbra)encenando peças no Festival Universitáriode Lyon, Nantes e Rennes (França).VPA – E teve um grupo onde actuava tam-bém como actor?www.tecnilab.pt UM PARCEIRO DE CONFIANÇAJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 5
VPA – Quer contar-nos como foi a sua sente», ao lado de actores profissionais.actuação nas antigas colónias portugue- Entre 88 e 96, como director das novassas em África? edições dos Festivais de Outono de Lis-AG – Sim, foi também pela Gulbenkian boa participei no Festival Internacionalque foi criado o Instituto de Formação de Teatro, Música e Dança. ContinuandoInvestigação e Criação Teatral para as em 96, fui nomeado membro de forma-antigas colónias. Em 81 viajei até Mo- ção da Rede Centro Cultural Europeu, or-çambique e Angola que foi o prenúncio ganizado pelo Conselho da Europa e emde conferências nas cidades de Maputo e Bolonha no Encontro de Directores, Pro-Luanda, e em 87, fui à República Popular dutores do Teatro Europeu. Ainda nessede Cabo Verde para promover duas con- tempo, participei na actividade docenteferências de Teatro na Formação de uma como encenador e director de algumasConsciência Nacional de Novas Tendên- obras. Nos Festivais de Outono de Lisboacias Teatrais. dei a minha contribuição em Teatro, Dan- ça e Música, nos teatros de S. Luís, MariaVPA – Penso que será desnecessária a Matos e Trindade.minha função, porque o maestro temtudo na sua memória. VPA – Ainda há pouco, deixou escaparAG – Então está bem, vou eu prosseguin- que tem um novo projecto em curso.do. Fiz um curso para Encenador, orga- Quer desvendá-lo?nizado pelo Ministério da Cultura, com AG – É verdade. Estou na preparação dea presença de 70 directores de grupos de um curso na minha área de conhecimen-teatro amador. Encenei várias institui- tos teatrais, curso esse que se chama, Ar-ções, tendo ganho o primeiro prémio da tesania Dramática da Escrita Cénica.Associação Portuguesa de Teatro Ama-dor, e o segundo prémio do Festival de VPA – O Mestre desculpe-me, mas o nos-Teatro da Câmara Municipal de Lisboa. so jornal tem muitas limitações de espaçoLogo no ano seguinte, leccionei com gru- e o seu curriculum é tão vasto, que se nospos africanos e portugueses em Arte de permitir, dar-lhe-emos continuidade noDizer e Lendas Africanas. Como actor próximo número.e encenador, mas já em 87, participei na estreia da peça «A Procura do Tempo Pre- Maria Aguiar6 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
CAMINHOSDa Ponte da Ribeira de Paço de Arcosaté BarcarenaOnosso caminho de hoje começa liária não se nota em cima da ponte sobre a ri- qualquer movi- beira de Paço de Arcos. Daqui mento de vendas,se avista, para sul, um antigo arco que apesar da granderegula o caudal da ribeira antes de procura de casas,entrar na sua parte final, que está en- na zona, que secanada até à sua foz. regista atualmen- te. O que se passa? Muralha da Ribeira de Paço de Arcos Construção ilegal com alterações A norte, depois das margens que não aprovadas aoapresentam algumas hortas tratadas, projeto inicial?temos o edifício da Segurança Social, Ou será porqueEscola de Música, e escritórios de pe- estão construídosquenas empresas, e profissões liberais no leito de cheia,(advogados). Mais acima sobressaem mesmo dentrodois edifícios habitacionais já concluí- da ribeira, o quedos há vários anos, e que continuam impede a suadesabitados. Embora estejam coloca- aprovação?dos os painéis promocionais da imobi- Hortas nas margens da ribeiraJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 7
CAMINHOS ta da Quinta da Loba completamen- te coberta de bairros com habitação e comércio que garante o abastecimento dos residentes, e também por quem se desloca em trânsito dada a sua locali- zação ser cruzada por várias estradas. Finalmente viramo-nos para poente cujo sentido vamos seguir. À nossa es-Prédios construídos no leito da ribeira querda temos uma urbanização de boa qualidade e um vasto terreno com pro-Seja qual for a razão parece-nos que jeto em fase de estudo.estamos perante o caso típico, tão vul- De novo referimos que seria muitogarizado, de andar para a frente à nossa importante para a vila de Paço demaneira que depois logo se vê, não há Arcos se este projeto incluísse insta- lações para o Terminal de Camiona-nada que não se resolva.Seja como for terá de haver uma so- gem há muito aguardado e que viesselução que respeite as regras e que pos- pôr fim à insustentável situação que sesibilite a utilização dos muitos anda- vive junto à estação, com as viaturas ares, por famílias, que as possam adqui- serem manobradas nas ruas e estradasrir e registar em seu nome, com licença de ligação a Caxias, sempre com muitode habitação, portanto, para que não movimento de carros, e peões da, ese repitam os casos de vendas a in- para, a estação de caminho de ferro,cautos que já estão a habitar as casas com todos os inconvenientes daí adve- nientes.sem que possamoutorgar as res-petivas escritu-ras. Isto é umfilme já muitovisto, e que in-felizmente con-tinua a repetir-se. Ou será quea solução passapela demoliçãode parte do em-preendimentoque não cumpreas regras? Para nascente Vista panorâmica de Paço de Arcostemos a encos-8 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
Estação do SATU, da Tapada do Mocho, e tram algumas lojas de vários ramos Hospital Veterinário que exercem a sua atividade em bene- fício dos residentes. Em frente os campos de jogos daEscola Luís de Freitas Branco, bem tra- Logo à entrada do bairro temos a es-tados e com muita frequência de atle- tação intermédia do desativado SATUtas, alunos e de clubes que aqui desen- onde, numa loja do piso térreo, há jávolvem as suas actividades desporti- alguns anos se instalou um consultó-vas, por não terem instalações próprias rio de veterinária, e que recentementeadequadas às suas necessidades. alargou a sua actividade a hospital ve- terinário, o que é uma mais valia para À direita a urbanização da Tapada toda esta muito habitada zona, ondedo Mocho, do cofre do ex. Ministério muitas famílias têm animais de estima-do Ultramar que recebeu muitos dos ção, sobretudo cães e gatos.seus sócios provindos das ex-colónias,e onde ainda moram muitos deles ou Subimos a Av. Bernardo Costaseus descendentes. Também se encon- Cabral, ao longo do percurso do refe- rido SATU, passando pela Unidade Fa- miliar de Saúde, pelo Colégio Parkids e pelo recinto desportivo da Coopera- tiva Nova Morada, que tem estado de- sativado, mas que aguarda para breve o início de obras de construção de um pavilhão que permita desenvolver a atividade desportiva da instituição em condições de conforto e segurança du- USCP de Paço de ArcosJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 9
CAMINHOS Edifício camarário - Serviços de Educação nomeadamente o Pelouro da Educação que aglutina a atividade das associa-rante todo o ano. ções desportivas, culturais e sociais. Enquanto isto, no lado esquerdo Uma passagem aérea une este edifí-da dita avenida vão surgindo novas cio ao fronteiro Oeiras Parque que estáconstruções de grande qualidade que fora de serviço por pertencer à estrutu-cobrem a quase totalidade dos lotes ra da estação do SATU e que pode serprevistos. utilizada para exposições como acon- teceu com o Salão da Primavera de No fim da rotunda temos, ainda no 2016, de A Voz de Paço de Arcos.lado esquerdo a Rua São Salvador daBaia em direção ao Parque dos Poetas. O Oeiras Parque é um dos maioresEste Parque merece ser visitado por sucessos de grandes superfícies emtodos os oeirenses, e não só, pela sua Portugal. A sua adequada dimensão,qualidade em si mas também pelos o número de lojas de acordo com aseventos que realiza, nomeadamente, necessidades registadas até agora, oconcertos, conferências, teatro, feiras parque de estacionamento gratuito detemáticas e sessões de poesia. grande capacidade, e sobretudo a sua localização privilegiada , numa rotun- Na esquina temos a sede da AERLIS da de acesso à auto-estrada Lisboa,(Assoc. Emp. da Região de Lisboa) e Cascais (A5), que atrai clientes de todoonde se realizam atividades ligadas à o concelho e dos concelhos limítrofesformação, e cedência de espaços para que proporcionam elevados níveis derealização de atividades de natureza faturação.económica, cultural e social. Ampliação do Oeiras Parque Logo a seguir temos um edifício queé ocupado por serviços camarários,10 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
Templo de Poesia - Parque dos Poetas local, nomeadamente no comércio do centro histórico. Com o grande crescimento que conti-nua a verificar-se, e que se vai intensifi- Num lote de terreno, onde antescar, como tudo aponta, a empresa pro- estava uma moradia, foi construídoprietária já iniciou obras de ampliação um edifício comercial com uma loja depara mais e melhores lojas e moderni- grande dimensão da empresa multina-zação dos espaços alimentares. cional AKI. Em frente, a rotunda, com a sua fonte, Continuamos pela via que dá acessolago e iluminação, que enriquece o pa- à auto-estrada, ao parque de estacio-trimónio construído Do lado contrário, namento do Oeiras Parque e a Portouma frente do Parque dos Poetas, e o Salvo. A confluência do trânsito paraacesso à urbanização - Fórum - com estes três destinos, para além do trân-vários edifícios habitacionais de boa sito que circula na rotunda para os res-qualidade, e com lojas de vários ramos, tantes destinos provoca engarrafamen- tos constantes o que é muito prejudi- também de grande qualidade, com cial, sobretudo para quem se dirige àdestaque para pastelarias, restauran- A.E. para uma viagem mais longa, pelotes, óticas, bancos e farmácia, que tempo gasto até chegar à portagem.atraem, também, muitos clientes pro- As obras em curso de ampliação dovindos de outras zonas, para além dos Oeiras Parque, como é previsível, faráaqui residentes. aumentar o fluxo de trânsito, e portan- to piorar a situação já de si caótica. Para o terreno junto à rotunda estáhá muito prevista a construção de uma O aqui exposto leva-nos a pensar quetorre para a Câmara Municipal, cujo seria de avançar, desde já, com altera-projeto tem sido alvo de muita polé- ções que viessem minorar a situaçãomica. O objetivo é centralizar os ser- tais como a construção dum acessoviços camarários, e proporcionar me- direto à AE., por túnel, caso não sejalhores condições de trabalho a quem possível fazê-lo à superfície. O futurolá exerce as suas funções. Aguardam- é já hoje.se novos desenvolvimentos do proces-so até que seja tomada a decisão final Atravessamos os parques de escritó-sobre este projeto estruturante para a rios, Qta. da Fonte, e seguimos em di-vila de Oeiras, e para o concelho, e que reção ao túnel sobre a A.E. e entramosterá um grande impacto na economia na freguesia de Porto Salvo que começa com uma rotunda com oliveiras, já his- tóricas, provindas do Alentejo, nomea- damente do Alqueva, e que estão distri- buídas por todo o concelho o que muito o enriquece. Passamos outro túnel e subimos a Vila Fria, núcleo antigo, com características rurais, e novas urbanizações residên-Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 11
CAMINHOS Rotunda das Oliveiras instalações das oficinas municipais, recentemente inauguradas e que vêmcias modernas. Subimos a Rua Carlos substituir as anteriores que estão a serPaião, saudoso médico e músico trágica desativadas por falta de condições parae precocemente falecido, e chegamos a uma boa laboração.uma zona central onde se concentramrestaurantes, pastelarias, padaria e pa- Prosseguindo pela estrada para Leceia,pelaria. temos à nossa esquerda o campo de fute- bol e a “montanha” formada, pelo entre- tanto encerrado, aterro sanitário que du- rante anos recebeu os resíduos orgânicos produzidos no concelho, e que ficará em repouso até que haja condições para a A seguir o Vila Fria - Casa de Quinta antigaedifício sededo RanchoFolclórico deVila Fria, ins-tituição comaltos serviçosprestados àcultura popu-lar da zona. À nossafrente uma ro-tunda com ins-trumentos detrabalho que jásaíram de uso,indica-nos queestamos pe-rante as novas12 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
Sr. Manuel Correia, proprietário do Restaurante sua utilização como fertilizante.“Arcos da Vila” Daqui até Leceia temos, em ambosRancho Foclórico os lados da estrada, terrenos agrícolas que continuam a ser cultivados com as culturas tradicionais como em tempos idos, quan- do eram considerados os melhores ter- renos para ce- reais e forra- gens. No la- do esquer- do uma anti- ga quinta que está a ser ur- banizada mas que mantém intacto o seu núcleo cen- tral. Atravessa- mos Leceia,Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 13
CAMINHOS Rotunda das Oficinas Municipais lógicos que comprovam a existência de aglomerados humanos desde a an-com a sua bonita e bem conserva- tiguidade. Local de visita obrigatória.da capela, um pequeno restaurante e Descemos até ao vale, onde corre Capela de Leceia - Nossa Srª. da Piedade a Ribeira de Barcarena em direção à sua foz, na praia de Caxias. Atraves- samos Barcarena em direção à nossa meta, que é Tercena. Uma localidade pertencente à freguesia de Barcarena. Esta freguesia tem uma histó- ria muita rica, muito bem tes- temunhada pelo seu importante património cons- truído e que tem sido preservado em bom estado de usufruto e estudo. São disso bom exemplo a Fábrica da Pól- vora, a Igreja de S. Sebastião. Fa- laremos destaoutros comércios, Campos agrícolase descemos a Rua 7de Junho, com o seuacentuado declive,onde o piso foi me-lhorado com umacamada de produ-to antiderrapantepara minorar o ris-co de acidente, pas-samos pela entradado Castro de Leceia,um conjunto de tes-temunhos arqueo-14 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
Unidade de Saúde de Tercena longo de décadas um trabalho intenso de recolha e divulgação de informaçãorealidade em futuros “caminhos”, por que muito ajudou os referidos espe-agora referiremos somente o caso da cialistas a produzir as suas conclusões.Fábrica da Pólvora pela sua importân- Referimo-nos ao Sr. Fernando Silva,cia histórica, e económica que têm sido recentemente falecido. Este madeiren- se dedicou a sua vida em prol da cul- tura rural da zona, criou um núcleo museológico onde estão muitos teste- munhos das atividades desenvolvidas na freguesia, criou o rancho folclórico “Os Macanitas”, escreveu, encenou e representou, muitas peças teatrais deCapela de Tercenaalvo do estudo e investigação de muitos cariz popular, escreveu muitos livrosespecialistas. sobre as suas investigações e memó- rias da vida da Fábrica da Pólvora, das A par desses especialistas um ex. em- alegrias, mas sobretudo das tragédiaspregado da Fábrica desenvolveu aoJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 15
CAMINHOS Museu Etnográfico Sr.Fernando Silva Fernando Silva e José Marreiroque de quando em vez ceifavam vidas mais sentidas condolências pelo desa-de operários. Como jornalista era cor- parecimento físico do nosso amigo erespondente de jornais madeirenses colega e congratula-se pelo facto de afazendo a cobertura de acontecimen- CMO ter prontamente reconhecido otos que interessavam aos seus conter- mérito deste barcarenense incluindo orâneos, e fundou e dirigiu, até ao seu seu nome na toponímia concelhia.falecimento, o jornal regional “A Vozde Torcena”. Texto de José Marreiro, Aguarelas e Desenhos de Serrão deFaria, A Voz de Paço de Arcos, expressa à Fotografias de Tozé Almeida e Santos Zoiosua viúva e restantes familiares, as suas16 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
EFEMÉRIDESGrupo Desportivo Unidos Caxienses - Fundado em 1930 |Medalha Municipal de Mérito da C. M. de OeirasHistória mantém: Grupo Desportivo Os Unidos O Grupo Desportivo Unidos Caxienses”. Caxienses foi fundado a umde Janeiro de 1930, com sede na rua Datas históricas do Clubedireita de Caxias – cave ao lado do 1 Janeiro 1930: Fundação do ‘GrupoRestaurante Mónaco. Dez anos mais Musical os Unidos Caxienses’ 1930-1940:tarde, devido à construção da Avenida Sede na Rua Direita de CaxiasMarginal, o Clube mudouas suas ins- 1940: Sede no Largo Viscondessa detalações para o Largo Viscondessa de Santo Amaro de LaveirasSanto Amaro. 1950: Aquisição de parte dos terrenos actuais (capitais próprios) Em 1950 o Grupo Musical, denomi- 1950-1980: Construção da sede e desen-nação existente até 1978, adquire parte volvimento do complexo desportivodo terreno da quinta onde, hoje em 7 Janeiro 1978: ‘Grupo Desportivodia, se situa o GDUC, recorrendo a fundos Unidos Caxienses’ (novos estatutos)próprios. Uma outra parte do terreno foi Desde 1930, o GDUC tem organizado eoferecida pelo Sr. Florindo Ferreira dos desenvolvido inúmeros eventos e activi-Santos. Com a ajuda de residentes de La- dades socioculturais e desportivas, sendoveiras, Caxias (sócios e colaboradores) foi hoje uma importante referência local aoconstruída a actual sede na rua de João nível do desporto, cultura, associativismoFreitas Branco, em Laveiras – Caxias. e voluntariado. Actualmente, o GDUCActividades sócio-culturais e desporti- tem mais de 190 atletas a praticar, diaria-vas. mente, Futsal, Ginástica, Karaté, Kickbo- xing e Pesca Desportiva. Em 1930 um grupo de amigos, todoseles músicos, formaram um grupo mu- A Direção do GDUCsical que denominaram como Colectivi-dade “Grupo Musical Os Unidos Caxien-ses”. Com o decorrer do tempo “deu-sevoz ao desporto”, ficando o clube conhe-cido pelas principais actividades e emdestaque o futebol, hóquei, andebol e,também, jogos tradicionais e lutas ama-doras. No dia 7 de janeiro de 1978, em reuniãode Assembleia Geral extraordinária,foi posta à aprovação a alteração de de“Grupo Musical” para “Associação Des-portiva”, denominação que ainda hoje seJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 17
ESCREVENDO SOBRE TOPONÍMIARuas de CaxiasMaria Albertina Soares de Santo, da Duquesa de Palmela, nos pa- Paiva, ficou conhecida no lácios do Conde da Torre e de Fontalva. meio artístico por Maria Al-bertina. Actuou na Emissora Nacional e no Rádio Clube Português, em esperas Nasceu em Ovar. Sobre a data do de touros em Vila Franca de Xira, noseu nascimento, várias fontes indicam Maxim’s, Solar da Alegria e Café Chavedatas diferentes. Na placa toponímica d’Ouro.está gravada a data de 1912. No Museudo Fado indica que nasceu em 1909. Na As suas viagens ao estrangeiro foramWiquipédia está registada a data de 5 a Espanha, Canadá, E.U.A. e Brasil.de Janeiro de 1910. Em que ficamos? Foi artista contratada no Restaurante Mãe do locutor e apresentador Cân- Típico “O Faia” (hoje “Arcadas do Faia”dido Mota, que confirma que a data do - Bairro Alto em Lisboa), durante 20nascimento de Maria Albertina foi a 5 anos.de Janeiro de 1909. Obteve vários prémios ao longo da É evidente o ERRO nesta placa topo- sua vida e o seu espólio está no Museunímica. Faleceu a 27 de Março de 1985. Nacional do Teatro. Começou por cantar Fado de Coim- Para terminar, faço a minha críticabra, tendo-se estreado em Lisboa , no à placa toponímicada C.M.O. por duasTeatro Maria Victória em Julho de razões: 1º - Pela data do nascimento1931, na peça “História do Fado”. Num (erro crasso e pouco profissionalismoconcurso organizado pelos jornais “O de quem de direito…); 2º A designaçãoSéculo” e “Diário de Notícias” em 1932, de “Cantora”, pois a expressão normal-ganhou o prémio “Guitarra de Ouro”. mente usada para as fadistas é a de cantadeiras e como tal e designando a Em 1934 estreou-se como actriz na sua actividade, talvez fosse mais indi-revista “Vista Alegre”, contracenando cada “cantadeira e actriz”com outro grande nome do Fado, quefoi Carlos Ramos e encenando o céle- A.L.A.bre quadro de Malhoa “O Fado”, per-tencente à colecção de pintura da CasaMuseu Anastácio Gonçalves e cedidoao Museu do Fado. Os seus sucessos noTeatro foram muitos. Maria Albertina cantou no filme“Canção de Lisboa”, onde interpretouum êxito de então “Fado dos beijosquentes” e também fez parte do elencodo filme “Bocage”. Cantou em casasparticulares, como Ricardo Espirito18 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
PERSONALIDADERamalho EanesEsta é a vida de um homem incon- ouvir um discurso tão bonito que me pre- formado, que nunca desistiu do seu gou ao chão. Era Agnés Heller, uma filóso- país, da sua gente, da liberdade. Um fa húngara que passou pelos horrores deDom Quixote dos tempos modernos. Auschwitz, uma mulher de 90 anos e pou- co mais de 90 centímetros de altura, mas É o retrato de um homem que quis ser enorme. Soube que tinha de a entrevistar.médico, padre ou militar. Que esteve naGuerra do Ultramar, que matou e que viu Logo que desceu do púlpito aproximei-morrer. Que foi presidente da República me, apresentei-me e disse-lhe que gostariadez anos. Que puxa os punhos da camisa de a ouvir. Num abrir e fechar de olhose endireita a lapela do casaco quando está um séquito de seguranças puxava-me, pu-nervoso. Que tem um grande sentido de xava-a, dizia que não havia tempo, nemhumor. Que deixou criar um partido à sua pensar. Tarde de mais. A professora já meimagem. Que se doutorou aos 71 anos. Que segurava a mão com firmeza e anunciavaaos 82 anos (quase 83) continua a sonhar aos “guardas” que queria falar. E fixou-mecom o futuro. nos olhos: «Sabe, cabe-vos a vocês jornalis- tas contar estas histórias. E não pode ser só Foi tudo isto e um bocadinho mais que uma vez, elas têm de ser repetidas ao longome levou a querer escrever a biografia de dos tempos para que nenhuma geração asRamalho Eanes. O processo também tem esqueça. Para que ninguém esqueça.»uma história, que aqui vou contar antesde deixar ficar um ou dois episódios que, O ano de 2015 tinha sido mau. Para oacredito, caracterizam bem o primeiro mundo. Para Portugal. Para mim. Sentiachefe de Estado eleito em democracia em isso muito claramente, até pela profissãoPortugal. que exerço: um desalento, um desencan- Em Janeiro de 2016 fui a Bruxelas a con-vite do Parlamento Europeu para partici-par num seminário para jornalistas sobreterrorismo: “Terrorism: the EU’s respon-se”. Num desses dias, nas idas e vindaspelos corredores do edifício da ComissãoEuropeia, deparei-me com uma cerimóniaem memória do Holocausto, a tempo deJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 19
PERSONALIDADEto latente e uma desorientação manifesta. manchetes dos jornais e as notícias de aber-Sempre gostei de ouvir histórias – a minha tura dos noticiários eram (são) os crimes deMãe era uma fabulosa contadora de histó- colarinho branco, a promiscuidade dos po-rias, a melhor – e há muito que eu ensaia- líticos, a corrupção generalizada vinda, ain-va escrever um livro. Só que talvez, afinal, da por cima, dos líderes, daqueles de quemesse primeiro livro não nascesse de uma se espera o exemplo, uma hipótese era con-das minhas sebentas mais antigas. tar a história de alguém que ao longo da vida tivesse sido um modelo de inconfor- De regresso a Lisboa continuei a pensar mismo, de honestidade, de coragem física esobre o que escrever. Não queria que fosse intelectual.apenas um livro, queria que fosse tambémum abanão, um motivo para cada um de Não gosto de homenagens póstumas enós se desinstalar. Num tempo em que as para mim não fazia sentido procurar num passado longínquo quando temos gente com estas características entre nós. Não ti- nha de ser uma pessoa com quem concor- dasse em tudo, não tinha de ser alguém sem contradições – isso não existe e, a exis- tir, duvido que tenha graça. Precisava de ser alguém com valores. Foi assim que surgiu Ramalho Eanes. No final de Fevereiro estava no seu gabine- te a tentar convencê-lo a deixar-me escrever a sua biografia. Ouviu tudo - que não foi mui- to - rebateu, tornou a ouvir. Fez um silêncio e aquele seu meio sorriso: «Está bem, auto- rizo». Mas esta não é uma biografia oficial. Ramalho Eanes também não a quis ler nem contraditar antes da sua publicação, como conto no livro. A autorização era tudo o que eu queria, sabia muitíssimo bem que sem isso ninguém falaria comigo. E, embora Ra- malho Eanes se ria e diga que não foram as- sim tantos os que lhe telefonaram, a verdade é que foram muitos e se outros não o fizeram foi porque confiaram na minha palavra.20 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
Foram muitas horas de intermináveis Minutos naquilo e nada, com o amigo queconversas. E esta é apenas parte de um pro- garantia haver um papagaio já a ficar desa-jecto maior. Não é uma biografia convencio- creditado. Do outro lado, no jardim, Eanesnal – e nem poderia ser, se o meu objectivo, ouvia a conversa.talvez imodesto, é servir de inspiração paraa mudança. O passo seguinte será um docu- - Juro que é verdade!mentário a partir do livro, um desafio aceite - És um mentiroso. Se fosse verdade o pa-por Francisco Manso e que me honra mui- pagaio já tinha falado.tíssimo. Para já, espero que leiam e gostem - Não estou a mentir. Vou tentar mais umadeste “Ramalho Eanes, O Último General”. vez. E, desesperado: Enquanto isso, o prometido, um episó- - Papagaio, estás aí? Se estás aí fala…dio que vem no livro. Como aquele em que E, finalmente, ouve-se vindo do jardim:duas crianças, na paragem que existe em - Sim!frente da casa dos Eanes, no Bairro Madre - Vês?! És tu, papagaio?de Deus, com um jardim todo tapado por - Sou.árvores, heras e outras plantas densas, que - Papagaio lindo!tornam impossível a visão de fora para den- - Papagaio lindo!tro, discutiam a existência de um papagaio E foi assim até à chegada do autocarro. Dopresidencial. outro lado, no jardim, e apesar de haver de facto um papagaio, não estava o papagaio, - Sabes que o presidente da República estava sim Ramalho Eanes a papagueartem um papagaio que fala e repete tudo o umas respostas para não deixar malvistoque ele diz, dizia um miúdo ao amigo. perante o amigo um rapaz que, afinal, até estava a dizer a verdade. - A sério?, perguntava o outro incrédulo. - Sim. Queres ver? Papagaio?, chamava do Isabel Tavareslado da estrada. Jornalista, escritora - Oh! Estás a mentir. Não se ouve nada. - Tem, tem. É verdade.Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 21
CONTOOs Brinquedos do Natal de 1944Era Dezembro de 1944, o Natal esta- de que ti- va a aproximar-se e não ia haver di- nham chega- nheiro para comprar brinquedos. do já os brin-O Pai, militar, tinha morrido em Agosto quedos, eem Cabo Verde, para onde fora mobiliza- que na Noitedo dois meses antes; eram tempos de guer- de Natal osra.. brinquedos seriam a E o Natal de 1944 estava a chegar. A Mãe surpresa dosresolveu explicar às suas meninas o que, outros anos.realmente, significava o Menino Jesus e oPai Natal. E acredi- tou que às vezes havia mesmo milagres. E E entre muitas lágrimas contidas e sim- um dia, no colégio, quando se aproximavaples palavras foi contado o que era o Natal, outro Natal e todas já sabiam que não ha-o que não ia haver. Nem a árvore de Natal via Pai Natal a Tilinha afirmou que às ve-seria erguida. As bolas e as franjas não sai- zes havia mesmo milagres e contou que noriam das caixas. Natal de 1944 os brinquedos tinham caído pela chaminé numa tarde de sábado. As Conformadas, no sábado antes do Natal amigas ficaram caladas mas incrédulas e aforam as meninas com a Avó à cateque- Tilinha resolveu perguntar de novo à Mãese pois era o dia de serem distribuídas como tinham aparecido aqueles brinque-as lembranças natalícias (às vezes só um dos.santinho) contra a entrega das senhas quecada uma recebia por assistir à catequese. E a verdade apareceu. A Mãe ficou mui-No caminho verificaram que não traziam to admirada por, anos depois e de tantaas senhas todas e a Tilinha voltou a casa sabedoria já aprendida, a Tilinha aindapara as ir buscar.. acreditasse em milagres. E explicou: tinha sido as vizinhas de baixo, duas meninas Bateu com força à porta para a Mãe ou- crescidas que sabendo das dificuldadesvir bem e, quando a porta se abriu, entrou das pequeninas do andar de cima tinhamde rompante à procura das senhas. Nem recuperado restos de alguns brinquedos ereparou que a Mãe, um pouco atrapalha- os tinham acabado de os levar, e a Mãe es-da tinha corrido para a cozinha. Pegou nas tava a aproveitar a ausência das suas filhassenhas e foi ver o que a Mãe estava a fazer. para ensaiar, em cima do fogão de lenha, aEm cima do fogão de lenha estavam brin- melhor disposição a dar.quedos que a Mãe tentava tapar. Como? Oque eram? Como tinham aparecido? Afinal não havia milagre.. Mas a Tilinha aprendeu e muitas vezes repete: naquele A Mãe respondeu que também estava Natal aconteceu o verdadeiro milagre deadmirada. Estava a limpar o fogão e que Natal: solidariedade.pela abertura larga tinham acabado decair. Parece que afinal havia Pai Natal. En- Clotilde Moreiracantada disse para não dizer nada à mana22 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
ROMAGEM A JOSÉ DE CASTROHomenagem a José de Castro Castro, proje- tado há maisRealizou-se no passado dia 26 de no- de 20 anos e vembro de 2017 a habitual home- que ainda es- nagem ao ator José de Castro que tá por con-anualmente se repete desde há mais de cretizar evinte anos. afirmou que a sua força política estará atenta e que tudo A Voz de Paço de Arcos, com o apoio da fará para que o processo avance o mais ra-CMO e da Unioeiras ( ex Junta de Fregue- pidamente possível.sia de Paço de Arcos) e a colaboração doCDPA, levou a efeito a cerimónia, junto do Em resposta o Sr. Presidente da CMO,Monumento ao ator, situado no Largo 5 de Dr. Isaltino Morais, congratulou-se comOutubro, em Paço de Arcos. a presença de tantos amigos, e população presente, e afirmou que este projeto é para Após as boas vindas dadas pelo diretor si prioritário e que daqui a dois anos, ga--adjunto, José Marreiro, o Sr. Presidente da rantiu, a festa já será no Centro Cultural,CMO depôs uma coroa de flores junto ao que irá ficar localizado no antigo quartelbusto do homenageado. dos BVPA, e que para isso se iniciarão, as necessárias obras de adaptação do edifício, Seguidamente a subdiretora Maria no próximo ano. Como é um projeto de al-Aguiar fez uma brilhante, e comovida in- teração, e não de construção, é possível atervenção, a propósito da sua vinda para sua concretização neste período de tempo.Paço de Arcos, e como conheceu, e se tor-nou amiga de José de Castro. Esta solução, que agrada a todos, segun- do nos parece, foi recebida com aplausos O ator e encenador Armando Caldas, pela generalidade dos assistentes.amigo, camarada e colega, com quem tra-balhou, recordou como era José de Castro, Seguiu-se no Salão Nobre do CDPA umanestas facetas, e como foi a sua participa- sessão cultural, com música e poesia porção no 1º ATO, no teatro, em Algés ( hoje elementos convidados pelos Serviços Cul-Intervalo em Linda-a-Velha) por si dirigi- turais da CMO, que muito agradou.do. A direção de A Voz de Paço de Arcos Em nome da CDU, falou o seu líder de agradece a todos os participantes o apoiobancada da Assembleia de Freguesia, Sr. recebido e con-Rogério Pereira, que historiou o processo gratula-se porde construção do Centro Cultural José de finalmente apa- recer a luz ao fundo do túnel para a concreti- zação deste an- tigo anseio da população da Vila de Paço de Arcos. José MarreiroJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 23
PATRIMÓNIO - IMATERIAL E CONSTRUÍDODomingos Sequeira na Cartuxa de LaveirasA propósito da comemora-ção dos 403 anos da Cartuxa de Laveiras, outrora designadade Cartuxa de Lisboa, vem esteartigo evocar a presença do notávelpintor Domingos António deSequeira (1768-1837) nesse mosteirocomo noviço ou somente nocontexto de uma experiênciareligiosa. Fotografia da placa alusiva aos quadros da Cartuxa. In FERNANDES, José Domingos Sequeira foi um dos Maria de Almeida - Monografia do Reformatório Central de Lisboa Padre António de Oliveira. Caxias, 1958, p. 142.maiores pintores portugueses de todos os tempos e talvez o nosso maior desenhador.1Vivendo uma época dificilmente comparável com outra em termos de instabilidade nacionale internacional (Invasões Francesas, corte portuguesa no Brasil e guerra civil entre Liberais eAbsolutistas), o artista formou-se em Portugal e Roma. Viajou ainda por França, tendoparticipado no Salon, em Paris, no ano de 1824, com o mítico Morte de Camões, enquantoprimeiro quadro do romantismo português, e ainda mais mítico porque desaparecido. Em1826, estabeleceu-se definitivamente em Roma, estando sepultado na igreja de Santo Antóniodos Portugueses. Um dos seus primeiros biógrafos, o Marquês de Sousa Holstein2, também um dos seusmaiores colecionadores, através da Casa de Palmela, referiu a estada de Sequeira na Cartuxado Vale da Misericórdia em Laveiras. Segundo ele, o pintor terá aí vivido entre finais doséculo XVIII e inícios de 1801, portanto, no máximo três anos. De acordo com uma das maisexaustivas biografias de Sequeira existentes, a estada em Laveiras ocorreu entre 1798-1799/1800 e 1801.3 Deste modo, a placa que ainda hoje existe na Cartuxa de Laveiras, datada de 1884, contémum erro relativamente à permanência do artista no mosteiro, pois refere que ali esteve entreo começo de 1796 e meados de 1802. Não deixa ainda de ser interessante e justíssima aseguinte evocação nessa placa: “Aqui conservavam os monges os cinco quadros que Sequeirapintou para o convento, depois denominados quadros da Cartuxa.”41 Para a biografia e obra de Domingos Sequeira vd. PORFÍRIO, José Luís (Comissário) – Sequeira 1768-1837. Um português namudança dos tempos. Lisboa: Instituto Português dos Museus, 1996. Em relação aos desenhos: BEAUMONT, Maria Alice Mourisca– Domingos António de Sequeira. Desenhos. Lisboa: Instituto de Alta Cultura, 1972-1975 e MARKL, Alexandra Reis Gomes - Aobra gráfica de Domingos António de Sequeira no contexto da produção europeia do seu tempo. Lisboa: Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Doutoramento em Belas-Artes. Especialidade em Desenho. Disponível em:http://repositorio.ul.pt/handle/10451/119812 HOLSTEIN, Marquez de Souza – Domingos António de Sequeira, Artes e Letras, 3.ª série, Lisboa, 1874.3 PORFÍRIO, José Luís (Comissário) – Sequeira 1768-1837. Um português na mudança dos tempos, p. 110.4 No início, a placa refere os anos da estada de Sequeira na Cartuxa, seguindo-se a data de nascimento e morte do pintor, designadocomo “insigne pintor historico portuguez” que ali teria estado como noviço.24 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
Sousa Holstein refere que analisou exaustivamente toda a documentação da Cartuxa deLaveiras, que se encontrava na Torre do Tombo, mas não encontrou qualquer referênciasobre as datas de entrada e saída desse mosteiro ou outra informação relativa ao pintor.5Contudo, foi informado por um tal senhor Meira, guarda-livros do Banco de Portugal, quehavia conhecido um frade cartuxo de nome D. Ricardo e o leigo Fr. António, e que estes lhegarantiram que, quando Sequeira esteve na Cartuxa, cumpria todos os “rigores da ordem deS. Bruno, vivendo ali mais como recluso monge do que como homem do mundotemporariamente recolhido n’aquelle abrigo de paz. Frequentava todos os exerciciosmonasticos, acompanhava os frades em todas as suas praticas e austeridadas, considerando-se como noviço e não como hospede.”6 Associado à Cartuxa, estão os cinco quadros que Sequeira ali pintou subordinados àtemática da vida de S. Bruno e à vida eremítica.7 Célebre é o notável quadro S. Bruno emoração, 1799-1800, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), pela atmosfera tenebrista,cuja luz vem de uma candeia, e, principalmente, pela postura do santo, prostrado por terraem oração, de mãos postas, numa notável composição plástica que testemunha, a todos osníveis, um desenho em escorço de exceção. Obra menos conhecida é o S. Bruno em oração no deserto da Cartuxa, no qual o santosurge em pé a segurar uma cruz que contempla, estando rodeado por um conjunto derochas. Ainda menos conhecida (por estar nas reservas do MNAA) é a grande tela de 2730x3040mm na figura a Conversão de São Bruno. Aquando do funeral de Raymond Diocrès, estelevantou-se do esquife a informar que estava condenado por Deus. Diante dessa terrívelcena, toda a assistência se espanta de horror e naturalmente foge. S. Bruno, ainda cónego eprofessor da Universidade de Paris, assiste ao acontecimento e, na sua conversão derradeira,decide ir para o deserto montanhoso da Chartreuse (Cartuxa) e aí fundar a sua ordemmonástica. Sequeira pintou ainda as telas de Comunhão de Santo Onofre e de S. Paulo 1.º Eremita eSanto Antão, temas que tratam da hagiografia de eremitas do século IV e, portanto, depredecessores na vida monástica que S. Bruno irá continuar a partir de 1085. Existem aindavários desenhos de estudos e pormenores para estes quadros da Cartuxa, na coleção doMNAA.8 Além destas cinco telas, conhece-se igualmente um desenho de Sequeira que seria umestudo para uma pintura que não chegou a ser materializada: São Bruno recebendo asRegras pelas mãos do Menino Jesus.9 Segundo o seu biógrafo, Sousa Holstein, esses quadros da Cartuxa encontravam-se nasparedes de uma sala que imediatamente precedia o claustro (pequeno, ainda existente).Hoje, com as várias obras, reformas e destruições a que a Cartuxa de Laveiras foi sujeita,5 HOLSTEIN, Marquez de Souza – op. cit., p. 124.6 Ibid.7 Associados a estes quadros, estão ainda vários desenhos e esboços.8 BEAUMONT, Maria Alice Mourisca – op. cit., pp. 82-83, 135-137.9 RODRIGUES, Dalila (Concepção e estrutura) – Museu Grão Vasco. Colecção de Desenhos Séculos XVIII-XX. Viseu:IPM/CMV, 2002, p. 51. A atribuição deste desenho a Sequeira foi feita por Maria João Pinto Correia.Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 25
PATRIMÓNIO - IMATERIAL E CONSTRUÍDOpodemos concluir que as telas teriam estado numa grande sala (devido às suas dimensões) nazona anterior (atualmente ocupada por várias salas) do lado esquerdo da fachada principalda igreja da Cartuxa. Sousa Holstein considerou que a permanência do artista no mosteiro dos Cartuxosrevestiu-se de evidente precipitação. Assim, Sequeira “Julgava-se chamado á vidacontemplativa, e por uma ilusão natural e explicavel, dado o seu caracter mixto de exaltaçãoreligiosa, de enthusiasmo artístico, e diga-se ainda, de amor proprio um pouco exagerado,illudiu-se a si mesmo, e reputou vocação sincera e inabalavel o que era apenas desapêgo eaborrecimento momentâneo do mundo e da vida social.”10 De acordo com Dagoberto Markl, o artista teria entrado na Cartuxa, depois do seuregresso de Roma, talvez mais por um desgosto amoroso do que por uma qualquer crisemística.11 Em termos biográficos, Sequeira, “um português na mudança dos tempos” como éreferido no título do catálogo da exposição comissariada por José Luís Porfírio, parece tersido sempre liberal. Na sua vasta obra, encontramos desenhos e pinturas homenageando D.João VI, D. Pedro IV, Wellington, mas também D. Miguel, Junot e até Napoleão... Devido àssuas simpatias francesas, Sequeira chegou mesmo a estar preso durante alguns meses, maisconcretamente entre dezembro de 1808 e setembro de 1809, acusado de colaboracionismo. O artista sempre foi politicamente ativo, mas conheceu vários dissabores devido às suasopções. Também em termos pessoais e familiares, Sequeira teve grandes desgostos como amorte da sua esposa, Mariana Benedicta Vitória Verde, em resultado do parto do seusegundo filho, Domingos, em 15 de fevereiro de 1814.12 Refira-se, como curiosidade, que aesposa de Sequeira era da família Verde, a que pertenceu o conhecido poeta Cesário Verde(1855-1886), com ligações ao concelho de Oeiras, por ter tido casa em Linda-a-Pastora. Numa coisa, concordamos em absoluto com Sousa Holstein, a “exaltação religiosa” deSequeira. Na verdade, o testamento artístico do artista são os quatro quadros adquiridos peloduque de Palmela à filha do pintor, em 1845. Deixando de pintar referências à atualidade,alegorias e citações pagãs, o artista tratou somente, no fim da sua vida, de motivos ligados aoNovo Testamento e aos Evangelhos13. Aliás, se dúvidas existissem, essas telas, absolutamentenotáveis do ponto de vista plástico e religioso, testemunham por si só a profundareligiosidade de Sequeira. As telas Adoração dos Magos14, Descida da Cruz, Ascensão e JuízoFinal, realizadas entre 1827 e 183015, marcam indelevelmente o percurso de Cristo:nascimento, morte, ressurreição e segunda vinda.10 HOLSTEIN, Marquez de Souza – op. cit., p. 124.11 MARKL, Dagoberto L. – O espelho de Sequeira. Auto-retratos e auto-representações. In Sequeira 1768-1837. Um português namudança dos tempos, p. 39.12 O casamento realizou-se em 16 de outubro de 1809, depois de Sequeira ter saído da cadeia do Limoeiro. A filha mais velha (que lhesobreviveu), Mariana Benedita Vitória, nasceu em 7 de fevereiro de 1812.13 PORFÍRIO, José Luís – Roma – o final. Religião II. In Sequeira 1768-1837. Um português na mudança dos tempos, p. 235.14 A tela Adoração dos Magos foi adquirida pelo MNAA, em 2016, através de uma campanha de crowdfunding.15 Sequeira parece ter deixado de pintar regularmente após os primeiros ataques apopléticos que sofreu em 1833.26 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
Pensamos que uma das possíveis chaves para entender esta inequívoca religiosidade deSequeira, cuja expressão plástica anuncia desde logo uma viragem para o romantismo, é oseu profundo amor a Nossa Senhora. Nos referidos quadros, a presença da Virgem Maria épermanente ao lado de Cristo. De temática mariana foram, entre outros trabalhos emdesenho e pintura de Sequeira, a Virgem em Glória, Coroação da Virgem e Assunção daVirgem. Esse evidente culto mariano, típico da espiritualidade cartusiana, no qual Maria éapresentada como mãe e modelo dos Cartuxos16, talvez Sequeira o tenha recebido eaprofundado na Cartuxa de Lisboa, como se observa nas quatro derradeiras telas, dentro dasquais a Virgem assume lugar de destaque e sempre à direita de Cristo. Depois de Jesus Cristo, sobre o qual primeiramente e com maior intensidade incidesempre a luz, é a Virgem Maria que a recebe num segundo momento. Cristo e Virgem são,deste modo, os únicos que recebem os favores da luz e que a distribuem pelas trevas dastelas. Também as vestes de Nossa Senhora são as mesmas nos quatro quadros, fazendo com queestes, pela presença mariana, constituam uma verdadeira série simbólica e cultual. NaAdoração dos Magos, Descida da Cruz, Ascensão e Juízo Final, as vestes de Maria sãoconstituídas por um vestido vermelho, uma capa azul e um véu branco. Cores típicasmarianas que há muito, sobretudo desde o Renascimento, eram as tradicionais da VirgemMaria. O vermelho simboliza a vida e a união, mas também a morte de Cristo, o azul era acor mais associada à Virgem Maria, pois ela é Rainha do Céu, e o branco, naturalmente,ligava-se à pureza e à virgindade. Com o traje tricolor da Virgem, talvez Sequeira tenha,consciente ou inconscientemente, recordado a França e as suas simpatias antigas, mas issoserá sempre pura especulação… Certa foi a profunda religiosidade de Domingos Sequeira que perpassa na sua vasta obrade pintura religiosa, desde os quadros da Cartuxa até terminar no Juízo Final, cuja luz ehorizonte infinito nos remete para o fim dos tempos e para a presença de Deus, de Cristo ede Maria Santíssima. Eduardo Duarte Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa [email protected] http://www.chartreux.org/pt/apresentacao-rapida.php# 27Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
HOMENAGEMFernando SilvaOJornal «A Voz de Paço de Arcos» das tradições vem através da evocação se- populares do guinte, homenagear o Homem concelho, no-que sempre lutou pela dignificação da meadamente,Cultura, sobretudo, a do concelho de a fábrica daOeiras, nas suas diversas vertentes. pólvora ne- gra de Barca- Conheci Fernando Silva, pessoal- rena; escritamente, numa sessão das quintas-feiras e encenação de peças de teatro de ca-culturais do Clube dos Poetas de Paço riz popular; a fundação de um museude Arcos (CPPA), realizada na Galeria etnográfico onde, entre outras coisas,Verney, em Oeiras. Fazia-se, então, ele recordava as profissões dos habitantesacompanhar por uma neta que, me re- do concelho; e, a cobertura jornalísti-conheceu imediatamente, afirmando ca dos jogos dos escalões menores dasque me conhecia da sua escola, de uma equipas de futebol da ilha da Madeira,das inúmeras apresentações que faço local de onde era originário. Quandodos meus livros infanto-juvenis, escri- as novas tecnologias despertaram, nãotos com carácter pedagógico-didáctico. amedrontaram o homem que se fizera por si próprio, e assim, comecei a re- O meu (primeiro) conhecimento de ceber o jornal «A Voz de Torcena» noFernando Silva chegara-me através do meu computador, chegando a colabo-seu jornal «A Voz de Torcena», vocábu- rar com artigos jornalísticos na sua pu-lo em que insistia, defendendo ser este blicação.o nome primitivo de Tercena. Jornalem papel, com título a vermelho, que É, pois, este homem de Cultura, quese encontrava disseminado por todo o estas linhas pretendem homenagearconcelho de Oeiras. Nele, já se falava por tudo quanto fez em prol do con-das múltiplas intervenções culturais a celho de Oeiras. Obrigado senhor Fer-que o citado Fernando Silva realizava, nando Silva.como, a fundação do Rancho Folclóri-co «Os Macanitas»; a edição de livros José Lança-Coelhoque pugnavam pelo não esquecimento28 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
PERSONALIDADERobert Baden-PowellRobert Stephenson Smyth Baden a Índia, o troféu de “sangrar o porco”, -Powell (Londres, 22 de Fevereiro caça ao javali selvagem, a cavalo, tendo de 1857 — Nyeri, 8 de Janeiro de como única arma uma lança curta. Vocês1941) foi um tenente-general do Exército compreenderão como este desporto é pe-Britânico, fundador do esco- rigoso ao saber que o javalitismo. selvagem é habitualmenteO seu pai era o reveren- citado como “o único animaldo Baden Powell, professor que se atreve a beber águacatedrático em Oxford. A no mesmo bebedouro comsua mãe era filha do almi- um tigre”.rante inglês W. T. Smyth. O Em 1887, participou naprimeiro morreu quando campanha contra os ZulusRobert Baden-Powell tinha na África. Foi promovido aapenas 3 anos, deixando a Major en 1889, e em Abrilsua mãe com sete filhos, dos de 1896 dirigiu uma expedi-quais o mais velho tinha 12 cão contra os matabele naanos e o mais novo apenas Rodésia. Esta era um época1 mês de vida. Robert viveu formativa para Baden, nãouma bela vida ao ar livre só porque ele tinha a épocacom seus quatro irmãos, da vida dirigindo missõesacampando com eles em como chefe do reconheci-muitos lugares da Inglaterra. Lord Baden-Powell of Gilwell mento no território inimigoEm 1870 Baden-Powell in- na Rodésia, mas tambémgressou na Escola Charterhouse em Lon- porque muitas das suas ideias mais re-dres com uma bolsa de estudos. Não era centes do escotismo se enraizaram aqui.um estudante que se destacasse especial- Foi nesta guerra que ele começou umamente dos outros, mas era um dos mais amizade com o celebre escoteiro america-vivos. Após a Segunda Guerra Mundial, o no Frederick Russell Burnham Mais tardenome de Robert foi encontrado no Livro Powell participou na campanha contra aNegro, sendo ele também, um dos alvos tribo dos Ashantís. Os nativos temiam-nodo Terceiro Reich. tanto que lhe davam o nome de “Impisa”,Aos 19 anos, Baden-Powell terminou os o “lobo-que-nunca-dorme”, devido à suaestudos na Escola Charterhouse e aceitou coragem, à sua perícia como exploradorimediatamente uma oportunidade de ir e à sua impressionante habilidade em se-à Índia como subtenente do regimento guir pistas.que formara a ala direita da cavalaria na Pôs-se então a trabalhar, aproveitando ecélebre “Carga da Cavalaria Ligeira” da adaptando sua experiência na Índia e naGuerra da Crimeia. Além de uma carrei- África entre os Zulus e outras tribos do sulra excelente no serviço militar (chegou a da África. Reuniu uma biblioteca especialcapitão aos vinte e seis anos), ganhou o e estudou nestes livros os métodos usa-troféu desportivo mais desejado de toda dos em todas as épocas para a educaçãoJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 29
PERSONALIDADEe o adestramento dos rapazes, desde os foi feito Comendador da Ordem Militarjovens espartanos, os antigos bretões, os de Cristo, mas com o fim das hostilidadespeles-vermelhas, até aos nossos dias. Len- foi recomeçado, e em 1920 escoteiros deta e cuidadosamente, foi desenvolvendo a todas as partes do mundo reuniram-seideia do escotismo. Queria estar certo de em Londres para a primeira concentraçãoque a ideia podia ser posta em prática, e internacional de escoteiros: o Primeiropor isso, no verão de 1907 foi com um gru- Jamboree Mundial. Na última noite destepo de 20 rapazes separados por 4 patru- Jamboree, a 6 de Agosto, Baden Powell foilhas (Maçarico, Corvo, Lobo, Touro) para proclamado “Escoteiro-Chefe-Mundial”a Ilha de Brownsea, no Canal da Mancha, sob os aplausos da multidão de rapazes.para realizar o primeiro acampamentoescoteiro que o mundo presenciou. O O Movimento Escoteiro continuou aacampamento teve um completo êxito. crescer. No dia em que atingiu a “maiori- dade” completando 21 anos contava com Nos primeiros meses de 1908, lançou mais de 2 milhões de membros em prati-em seis fascículos quinzenais o seu ma- camente todos os países do mundo. Nestanual de adestramento, o “Escotismo para ocasião, Baden recebeu do rei Jorge V aRapazes” sem sequer sonhar que este li- honra de ser elevado a barão, sob o nomevro iria por em acção um movimento que de Lord Baden-Powell of Gilwell. Maschegaria à juventude do mundo inteiro. apesar deste título, para todos os escotei-Mal tinha começado a aparecer nas livra- ros ele continuou e continuará semprerias e nas bancas de jornais e já surgiram sendo Baden Powell, o Escoteiro-Chefe-patrulhas e escotistas não apenas na In- Mundial.glaterra, mas em muitos outros países. Omovimento cresceu tanto que, em 1910, Quando suas forças afinal começaram aBaden compreendeu que o Escotismo declinar, depois de completar 80 anos deseria a obra a que dedicaria a sua vida. idade, regressou à sua amada África comTeve a visão e a fé de reconhecer que po- a sua esposa, Lady Olave Baden-Powell,dia fazer mais pelo seu país adestrando que fora uma entusiástica colaborado-a nova geração para a boa cidadania do ra em todos os seus esforços, e que era aque preparando meia-dúzia de homens Chefe-Mundial das “Girl Guides” (Guias),para uma possível futura guerra. Pediu movimento também iniciado por Badenentão demissão do Exército onde havia -Powell.chegado a tenente-general e ingressou nasua “segunda vida”, como costumava cha- Fixaram residência no Quênia, nummá-la, sua vida de serviço ao mundo por lugar tranquilo e com um panoramameio do Escotismo. maravilhoso: florestas de quilômetros de extensão tendo ao fundo montanhas Em 1912, fez uma viagem à volta do de picos cobertos de neve. Onde morreumundo para contactar os escoteiros de Baden-Powell, em 8 de Janeiro de 1941,muitos outros países. Foi este o primeiro faltando um pouco mais de um mês parapasso para fazer do Escotismo uma fra- completar 84 anos de idade. Encontra-seternidade mundial. A Primeira Guerra sepultado na Saint Peter’s Churchyard,Mundial momentaneamente interrom- Nyeri, no Quénia.peu este trabalho, a 27 de Junho de 1919 João Paulo Sant’Anna30 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
SOLIDARIEDADEA Century 21 Local de Partidapromove acção solidáriaNesta época em que os corações se destas crianças enchem de solidariedade, a Local mais diverti- de Partida e a sua equipa, mais das… Assim nouma vez se uniram por uma causa. dia 12 de dezembro de 2017 foi ao JardimPorque o natal só éfeliz com criançasfelizes, a missãoera proporcionaràs crianças umnatal com maisalegria.Para concretizareste desejo de fa-zer o bem, foi es-colhida uma ins-tituição da SantaCasa da Miseri-córdia de Oeiras,o Jardim de In-fância Santa Ana,onde para alémda necessidade debrinquedos haviatambém a neces- Da esq. para a dta. – Dr. Luís de Almeida Bispo (Sr. Provedor da Santa Casa dasidade de pintar o Misericórdia de Oeiras); Dr. Ana Maria Fernandes (Coord. do Jardim de Infânciarefeitório. Santa Ana); Filipe Neto (Dir. Comercial Century 21 Local de Partida); Vasco Fernandes (Gerente Century 21 L. P.); Laura Silva (Consultora Imob. Century 21 L. P.); Cláudia Parreira (Consultora Imob. Century 21 L. P.); Fátima Lopes Desta forma a Lo- (Consultora Imob. Century 21 L. P.); Fernanda Neves (Consultora Imob. Centurycal de Partida, pro- 21 L. P.); José Coelho (Consultor Imo. Century 21 L. P.); Cátia Pereira (Gest.videnciou os meios Processual Century 21 L. P.); Andreia Brito (Dir. Recursos Humanos Century 21necessários para L. P.); Cátia Almeida (Coordenadora Century 21 L. P.).tornar as refeiçõesJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 31
SOLIDARIEDADEde infância Santa Ana, pôs mãos à obra e agradecimentos pela iniciativa.deixou a sua marca. A equipa da Imobiliária Century 21 Deixou os brinquedos recolhidos e um Local de Partida quer assim agradecer àrefeitório pintado de novo com as cores Santa Casa da Misericórdia a oportuni-e os motivos lúdicos que alegram as nos- dade de poder fazer mais crianças felizessas crianças. neste Natal. Neste evento esteve presente o Sr. Pro- Local de Partida,vedor da Santa Casa da Misericórdia de Mediação Imobiliária, Lda.Oeiras, Dr. Luís de Almeida Bispo, que Rua de Macau Nº 36, 2780-019 Oeirasposteriormente expressou os devidos Tel: 214 540 60032 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
CONTODiário IntermitenteFinalmente que se vendeu a Casa porque hoje não há mais aulas! da Cachoeira. Era agora preciso - Ainda bem! – dissemos em coro. tirar de lá as coisas que nos in- - Mas o senhor Director, disse-me queteressassem. Eu, fui logo dizendo que esperassem no pátio, pois ele já lá vaios livros, papéis e fotografias estavam falar convosco.no baú da bisavó. Não pensava que os Olhámos umas para as outras e pergun-meus netos trouxessem também o baú, támo-nos o que quereria ele.talvez por saberem que eu gostava dele. Chegou risonho com duas bandeiri- nhas na mão, uma de Portugal entrela- 8 de Maio de 1945 çada com outra de Inglaterra. Há quanto tempo! - Ganhámos! Ganhámos! Os AliadosDepois de remexer na arca, encontreiuma folha amarelecida pelo tempo e venceram! Se quise-reconheci que, tinha escrito na sebenta rem, proponho-lhesda escola, esta data. Por quê? Isto não irmos até à Assembleiaera um diário, só tive um diário a sério, Nacional, festejarmosdado pelo meu pai, que tinha chave e condignamente a gran-tudo, com a promessa de escrever nele de vitória dos Aliados.todos os dias. Foi só nas primeiras se- É só avisarem os vossosmanas que cumpri, depois andava per- pais que têm a tarde li-dido tempos e tempos. vre.Estava na aula de Geografia das 15 às E foi assim que, pela16 horas (uma seca!). primeira vez, entrei naA professora ainda casa onde se decide onão chegara e a em- futuro do povo portu-pregada embora do guês.lado de fora, segurava E passaram setenta eno puxador da porta.A sala ao lado era a dois anos.dos professores. Algose passava ali. Num Maria Aguiarrompante, a chefe dasempregadas irrom-peu pela sala dentroe, tirando aquela carade sargento-mor, diri-giu-se a nós com estafrase: - Acabou a Guerra! Podem ir para casa,Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 33
A PROPÓSITO DE LITERATURANos 150 Anos do Nascimento de António NobreNascido no Porto a 16 de Agosto de português para traduzir e validar as suas 1867, no seio de uma família de credenciais, surgiu-lhe o cônsul que, comerciantes com terras no Dou- António Nobre, numa carta a Alberto dero, António Nobre foi extremamente in- Oliveira, descreve do seguinte modo: «…fluenciado por esta paisagem, bem como o ‘Padre Amaro’ correu logo com as per-pelas praias nortenhas que frequentou nas esganiçadas a dar a dar e de monó-durante a sua juventude. culo, com a careta arrepiada de engelhas, muito pálido de olhos pisados…», que Inicia estudos superiores em 1888, co- não era senão Eça de Queirós. Este, teránhecendo então Alberto de Oliveira,com quem participa simpatizado comdois anos depois, Nobre, chaman-numa das revistas do-lhe «ultralango-fundadoras do sim- roso» numa cartabolismo português, de 14-9-1892 paraa «Boémia Nova», a Oliveira Martins e,que se oporia outra noutra de 6-8-1894,revista «Os Insub- em que pergunta amissos», fundada Alberto de Oliveira,por outros estudan- se Nobre ainda estátes, entre os quais, em Paris, chaman-Eugénio de Castro. do-lhe «moço en- cantador», ao mes- Reprovado por mo tempo que, oduas vezes na Fa- seu desejo era vê-loculdade de Direito para «… justamenteda Universidade de lhe repetir quantoCoimbra, e odian- o estimo e para be-do os lentes e tudo bermos juntos umo que dizia respei- pouco de Médoc, que é o desconsoladoto a esta instituição, foi para Paris, para néctar destes tempos…».se matricular no mesmo curso, mas na Nobre nunca soube da existência des-Sorbonne. Ao dirigir-se ao consulado34 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
tas cartas, daí que a sua animosidade Marfins e pratas que do céu herdou.contra Eça, nunca tenha desaparecido. O Rei menino que se foi aos mouros, Que foi aos mouros e ainda não voltou. A ponte de ligação Nobre-Eça é Luís Esperai, esperai ó Portugueses!de Magalhães, que, de acordo com um Que ele há-de vir um dia! Esperai.testemunho de Nobre, Eça terá conside- Para os mortos os séculos são meses,rado não um poeta, mas um crítico e his- Ou menos que isso, nem um dia, um ai.toriador, «gostando de comer muito, de Tende paciência! finarão reveses,dormir muito, vivendo de regalos, quan- portugueses, trabalhai.do um artista necessita de ‘tempestades Que El-Rei menino não tarda a surgir,de nervos’ para criar». Daí que Luís de Que ele há-de vir, há-de vir, há-de vir!Magalhães não tivesse talento para es-crever um poema sobre o rei D. Sebas- Em carta, escrita da Ilha da Madeira,tião. Opinião corroborada por Nobre em 22 Abril 1899, endereçada a Luís deque, no encontro parisiense citado, terá Magalhães, Nobre escreve: «Há aindaconfessado ao autor de A Relíquia, «não sebastianismo. E eu sou um deles. (…)poder aturar os versos» de Magalhães. D. Sebastião virá dar saúde ao meu pei- to. (…) Para escrever um ‘D. Sebastião’ Eça soube sempre do desejo de Maga- é necessário ter sofrido muito, ter tidolhães escrever sobre o rei desaparecido Alcácer-Quibir na vida e eu penso queem Alcácer-Quibir, daí que, em Agos- é muito feliz! ‘Para o Luís escrever o ‘D.to de 1884, lhe chame «Luís Bandarra», Sebastião’ precisa ainda de levar muitacurioso é o facto de também António pancada na vida’, disse, um dia, o Ante-Nobre ter escrito, já na fase final da sua ro de Quental falando do seu verdadeirovida, um poema intitulado «Desejado», amigo.»inserido, incompleto, nas Despedidas,editado postumamente em 1902. Nobre não referiu a chamada de aten-Desejado ção de Eça sobre a falta das ‘tempestadesD. Sebastião, rei dos desgraçados, de nervos’ e a constante felicidade queD. Sebastião, rei dos vencidos, impediam Magalhães de ser um verda-El-Rei dos que amam sem ser amados deiro poeta. Porém, cita Antero que disseEl-Rei dos génios incompreendidos.Virá um dia, carregado de ouros,Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 35
A PROPÓSITO DE LITERATURAo mesmo de um modo menos rebuscado. num plano exterior à literatura, e istoCompreende-se a pendência de Nobre porque, Nobre vinha a prepará-lo desdepara Antero, uma vez que ele foi um dos os seus quinze anos, momento em queseus mestres, a propósito de quem es- publicou Primeiros Versos (1882-1886), re-crevia: «Rezei sonetos de Antero e como cuperando vozes e vivências do povo, aoque a bondade deste Deus me entrou mesmo tempo que introduziu a figura depela alma dentro (…)». um sujeito em 1ª pessoa em torno do qual tudo gira, numa temática que de imediato Antero não devia gostar do tema «D. faz lembrar o confessional saudosismo.Sebastião» pois, a sua filosofia foi sem-pre contra nacionalismos exacerbados. Seis anos depois, em 1898, Nobre refor- mulou o livro, ordenando-o em secções, Voltando a António Nobre, diga-se fazendo o percurso da vida de uma per-que, após a licenciatura na Sorbona em sonagem.1893, concorreu ao lugar de cônsul, sen-do aprovado, mas não ocupando nunca Os modelos mais evidentes que An-o lugar que lhe foi atribuído, devido à tu- tónio Nobre inclui no Só, são o Camõesberculose que o vitimaria. de Os Lusíadas, o romanceiro, Bernar- dim Ribeiro, Almeida Garrett, Antero de Nobre gasta os seus últimos tempos de Quental, Júlio Dinis, Shakespeare e Allanexistência em viagens entre Lisboa, Por- Poe.to e a quinta do Seixo da sua infância, aSuíça e a Madeira, à procura de melho- O Só ganha mais consistência se lermosres ares. os outros livros de António Nobre, como Despedidas de onde se destaca o herói Todos estes lugares foram importantes sebastianista «Anrique» do poema «Ona obra do poeta do Só, cuja memória Desejado», ou na elegância da escrita detransformou em mito. Correspondência. Em 1892, António Nobre publica o Só António Nobre, falecido na Foz do Dou-que, é definido no verso final do poema ro, Porto, a 18 de Março de 1900, pode re-«Memórias» como «o livro mais triste que lacionar-se, tal como Camilo Pessanha ehá em Portugal», e que foi publicado por outros poetas do fim do século XIX, comLéon Vanier, o editor parisiense dos mais os modernistas do Orpheu, sobretudo,importantes simbolistas franceses. Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro. O livro foi mal acolhido pelos seus con- José Lança-Coelhotemporâneos com raras excepções, comoa de Alberto de Oliveira, por se situar36 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DO CONCELHO DE OEIRASD. Sebastião e Paço de Arcos D. Henrique, confiando-lhe a regência do reino, ao mesmo tempo que, convidava aEste D. Sebastião refere-se ao rei lou- nobreza portuguesa a juntar-se-lhe numa co que, destruiu Portugal em Alcá- acção bélica contra a mourama, no que cer-Quibir?, pergunta o leitor. E o não foi atendido, porque a sua obsessãoque tem de ver Paço de Arcos com D. Se- era já há muito conhecida.bastião?, questão ainda mais intrigante. Finalmente, em Tânger, D. Sebastião É a estas duas questões que respondere- tentou convencer a guarnição desta pra-mos de seguida. ça, a reconquistar Larache e Arzila, entre- tanto abandonadas por D. João III, mas São muitas as loucuras deste rei, efec- como os seus desígnios não foram atendi-tuadas ao longo da sua vida, que aqui po- dos, voltou a Lisboa. No regresso à capital,díamos transcrever, porém, talvez a mais o mar atirou-o para as praias da Madeira.significativa e relacionada com a terra de O facto de ter escapado com vida a esteadopção do saudoso Patrão Lopes, tem naufrágio, ainda mais convenceu o loucoque ver com o mar – o mar, sempre o mar, monarca de que tinha uma missão trans-que nos fez grandes na época da Expan- cendental para realizar.são, e a que, posteriormente, devemos anossa decadência como país. Assim, de regresso a Lisboa, preparou e concretizou nova viagem a Marrocos. Por Na verdade, entre as suas loucuras, de- fim, um conflito entre dois chefes árabes,verá citar-se, a de se meter numa caravela levou-o a arrastar a nação para o maiorcom o mar encapelado, enfrentar as on- desastre militar português, Alcácer-Qui-das alterosas, sair a barra do Tejo, experi- bir, onde desapareceu.mentar a força do Atlântico, e só regressara Lisboa, quando a embarcação mostrava José Lança-Coelhoqualquer avaria. D. Sebastião a cavalo / óleo de Serrão de Faria Assim, no final do terceiro quartel do (C.M.Golegã)século XVI, mais propriamente, no anode 1574, verificou-se o desaparecimentode D. Sebastião. Na verdade, o rei, depoisde cavalgar entre a capital do Império eaquela que viria a ser a estância balnearséculos mais tarde, primeiro da aristocra-cia e depois da burguesia, - Paço de Arcos- bem entendido, embarcou aqui numacaravela, no mesmo local onde, diz a tra-dição, outro rei, D. Manuel I, o Venturoso,via sair as embarcações que integravam aCarreira da Índia. Cismando continuamente com as con-quistas em território mouro, o estouvadoD. Sebastião, preparou em segredo umaacção no Marrocos e entrou numa carave-la em Paço de Arcos, que se dirigia a Tân-ger. Ao contornar a costa algarvia, envioude Lagos, uma carta ao seu tio, o cardealJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 37
A VELHICE E A SUA DIGNIDADEFuturo IncertoFrequentemente me debruço sobre o este triste ”puzzle” construído. futuro a curto e médio prazo da socie- É meu desejo quando faço estas crónicas, dade portuguesa a que pertencemos eesforçamos todos os dias para que ela seja puxar pela nossa auto-estima, e não sermais justa e equilibrada para nós, mas espe- considerado “profeta de desgraça”, mas nãocialmente para os nossos vindouros. podemos nem devemos andar despreveni- dos, assobiando para o lado, porque o futu- Os nossos jovens e até alguns de idade ro é “já amanhã”.adulta madura, já perceberam que pelo“andar da carruagem”, não irão receber Existe um incentivo generalizado, parapensões de reforma semelhantes às gera- que consumemos mais, e poupemos me-ções anteriores, não obstante sabermos que nos. De facto, isso é verdade para o desen-mesmo essas, na maioria dos casos, ser exí- volvimento da economia. Isso seria interes-gua. sante, se tivéssemos um Estado social, que nos nossos momentos difíceis nos acudisse Sabendo que a esperança de vida é maior, na resolução dos nossos problemas, o queapesar de muitos não terem uma velhice não se verifica à luz da recente tragédia quede qualidade não só sob o ponto de vista assolou o nosso país.de saúde, nem financeiro, onde o consumode medicamentos e apoio de actos médicos Motivada pela dívida pública, sofremosaumenta, o que implica um maior gasto do uma diminuição considerável no nossoerário público, juntando isso a diminuição rendimento líquido, que não obstante gra-da natalidade, infelizmente, umas das mais dualmente a ser reposto, as poupanças nãobaixas do mundo, conforme tenho referido aumentaram o que revela um mau augúrio.preocupantemente em crónicas anteriores,logo, menos população activa.Com estas Verdade seja dita, que o Estado e a Ban-variáveis, está construído um perfeito “co- ca, oferecem poucos produtos seguros comcktail explosivo”, para validar essa tese. taxas atrativas. Os que vão tendo algumas poupanças, só resta aplica-las na bolsa ou Através de um exercício simples, directo em produtos de risco e provavelmente, per-e lógico poderemos perceber esse encadea- der a “massa” toda, como muitos de nós!mento. A Segurança Social, é a entidade que Será por isso que poupamos menos, os quepaga a maior parte das pensões de reformas. podem, repito ou haverá outra razão?Ela é substancialmente capitalizada e ali-mentada, através do orçamento do estado, Luís Álvaressendo este constituído pela contribuiçãodos impostos dos portugueses. Como é doconhecimento prático de todos, a nossa car-ga fiscal já é excessiva considerando o valordos nossos rendimentos em comparaçãocom os restantes países europeus, agravadascom as recentes crises financeiras e despesasimprevistas (incêndios e secas),reduzirão ca-pacidade para apoios sociais. Temos assim,38 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
ANIMAISA Nossa história do o culminar de um projeto de vida, com anos de empenho e dedicação, não só dos1980 - O Dr. Francisco Brites Fernandes sócios, como de toda a equipa, que carinho- abre um dos primeiros consultórios ve- samente chamamos de Família House Vet. terinários do concelho de Oeiras, mais Um Hospital Para Os Seus Animaisprecisamente na Tapada do Mocho, Paço de Ortopedia, Oftalmologia, Dermatologia eArcos, dando-lhe o seu próprio nome. Animais Exóticos. 2003 - O Dr Francisco B. Fernandes fun- O Hospital está permanentemente abertoda a empresa CVPA – Centro Veterinário (24h por dia, todos os dias do ano), estandode Paço de Arcos, alterando dessa forma o o atendimento dividido em dois horários:nome ao consultório. Das 10h às 22H: atendimento geral (urgen- 2004 - Em Fevereiro, o Dr. Francisco B. te e não urgente, e programado), por ordemFernandes reforma-se, sucedendo-lhe o Dr de chegada ou por marcação (apenas entrePedro Canastreiro e a Dra Dora Canastrei- as 10h e as 20h, mediante a disponibilidade).ro. É alargado o horário de atendimento, oleque de serviços e cria-se um serviço de ur- Das 22h às 10h: destinado exclusivamentegências. ao atendimento permanente de urgências e emergências, e dos animais internados, 2011 - Perante o crescimento que se veri- não sendo permitidos agendamentos. Esteficou desde 2004, surge a necessidade de horário não se destina a atos de profilaxia,mudar para instalações mais amplas, o que como vacinação ou desparasitação, nem àacontece em Fevereiro de 2011. É nessa altu- venda de produtos, como alimentos parara que a empresa CVPA cria a marca House animais. Neste horário, ao custo normal dosVet, que dá o nome ao atual Centro de Aten- serviços, acresce taxa de urgência.dimento Médico Veterinário. A House Vetconta agora com instalações hospitalares e O Hospital situa-se na Avenida Antóniocom uma equipa de 9 médicos-veterinários, Bernardo Cabral de Macedo, entre o Oei-oferecendo um vasto conjunto de serviços, ras Parque e a Segurança Social de Paço deem horário alargado. Arcos, por baixo da estação do Satuoeiras, com os seguintes contactos: 214 411 252 e 937 2017 - Com o forte crescimento que se 374 371.verificou desde a mudança de instalações,sentiu-se a necessidade de responder às ne- Dora Canastreirocessidades e solicitações dos nossos clientes,evoluindo para hospital, com atendimento24h por dia, todos os dias do ano. O inves-timento feito em equipamentos médicos,recursos humanos, formações, a ampliaçãodo leque de serviços, e a maturidade e expe-riência alcançadas ao longo destes anos, de-ram-nos condições para responder a tais so-licitações. Assim, a 1 de Novembro de 2017, aHouse Vet deixou de ser Clínica Veterinária,para ser Hospital Veterinário, representan-Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 39
LANÇAMENTOSÁfrica - Quatro ases e uma damaTeve lugar na Galeria Verney, no e que está colo- passado dia 12 de dezembro, o cado no bairro lançamento de mais um livro da da Figueirinha.coleção “Fim do Império”, que junta Maria Morais,depoimentos e fotografias de quatro ho- que é nossa as- sociada e colobora- dora, auto- grafou um exemplar da obra destinado à nossa biblioteca o que muito nos honra e agradecemos.Mª. Morais dedicando 1 exemplar ao Jornal A Voz de Paço de Arcosmens, os quatro ases, O Cor. Barão da Cunha, coordenador da col. “Fim do Império” dirigindo-se à vasta assistência.e uma mulher, a damaMaria Morais. São cinco testemu-nhos das suas expe-riências africanas, e nocaso da Maria Morais,que nasceu em Mo-çambique, também asua experiência comoautora do conjuntoescultórico que home-nagea os combatentes40 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
POESIAÀ tua EsperaDe tanto te chamar em vãosobram estes restos do teu nomee as palavras que forambrasa a arder na minha pele.De tanto te chamar em vãocalei a voz e a memória.Vivo cheio de silêncioà tua espera.Edgardo XavierIn “ Escrita Rouca”, Insubmisso Rumor,Porto 2016.Até que voltesE aí estás, anjo caído entre mágoas e lençóis de “Anjo” Jean-Michel Basquiat –renda Jean-Michel Basquiat, neo-impressionista, nasceu emsem pressa, sem fazenda, sem fim outro que 1960 e morreu em 1988. Integrou a sociedade marginalnão atenda do seu tempo e cultivou a arte urbana com tanta inten-à espúria carne em mim assim exposta, sidade e força que viria a marcar a arte mundial dosdesvelada, anos oitenta do século vinte como um dos seus mais re-oferecida a gestos, abraços e dedos, presentativos arquétipos. Dizia-se influenciado por Cyà língua que vagarosa toma o melhor rumo. Twombly e teve a estribar o seu percurso uma figuraMontanhas, montes, matas, fumo e o ribeiro marcante da Arte Contemporânea: Andy Warhol.doce sentido de águas mornas que vi primeiro, Escolhi reproduzir o “anjo” por me parecer que reporta,doce correr entre gigantes e sedas, entre ânsias como uma biografia, a vida acidentada do seu autor.e fontes, A marginalidade, a emocionada procura, o registo deo mar a sentir-se crescer na intimidade, a onda traumas, experiências, delírios, droga, força e uma fan-a verdade do rumor, o acento da dor e do grito, tástica necessidade de confrontar o observador com osa força da luta, tesos os membros, brava a seus caminhos a um tempo empolgantes e desconheci-sede, branda a morte. dos. Basquiat mudou a maneira de vivenciar a arte doDevagar retoma o anjo a plenitude das asas e seu tempo mostrando que já não basta o realismo amor-eu fo mas que se torna essencial a possibilidade de guardarna quieta melancolia deste tempo branco, e transmitir emoções. Sem regra, sem escola, sem mestreofegante respiro antes de te perder até ao exercendo uma liberdade que acentua diferenças e des-recomeço dos dias. fralda, como um estandarte, a revolta contra o imobilis-Edgardo Xavier mo e a indiferença.In “ Escrita Rouca”, Insubmisso Rumor,Porto, 2016 Edgardo Xavier, critico de arte A. I. C. A. PortugalJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 41
POESIANatal em Casa dos AvósLembro o meu primeiro Natal em família,pleno de amor e de magia.Um presépio feito de musgos, a um canto nos sorria.Na “ casa de fora dos avós” ; A Consoada !Sbre a toalha branca adamascadafumegavam o bacalhau, as couves e batatas.A canja e galinha no forno nunca faltavam.Mas antes de começarem, todos os presentesgratos a Deus, em conjunto se benziam!Na lareira o fogo crepitava.Fritava-se a lêveda massa das velhozes * à colherada.Pela porta, que estava sempre no trinco,entravam hinos de amor,cantados ao Deus menino, com fé e afinco.Um grupo de jovens, as Boas Festas vinham desejar .Provavam as velhozes, os arrepiados e os coscorões,regando-os com licor que aquecia os corações .Perto da meia-noite ouvia-se o sino a tocar;Chamava para a Igreja, toda a gente do Lugar !Foi a missa do Galo, onde todos beijavam do presépio, o menino !Só nós, os mais pequeninos deixámos na lareira um sapatinho,para ver se tinhamos direito a um regalo ?!No regresso senti-me esvoaçar..., qual querubim,quando vi que a boneca grande de papelão, era para mim!Lá fora fazia frio, uivava o vento.Mas na casa de meus avós, lá dentro...Havia vozes alegres, risos largos e estridentes.Havia amor entre as pessoas; – Por dentro ! * No concelho de Torres Novas – chamam velhozes às filhós de Abóbora. Virgínia Branco/ Gina Maia42 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
Minha amada poesiaDisse-te bom dia GostosQuando queria dizer-te, boa tarde Gosto do anoitecer discreto e sublime De um dia que se recolhe para lá do tempoMas já pensando, numa boa noite Afogando-se na linha fina do horizonte …. Gosto do cheiro doce da maresia,Porque é de noite, que penso em ti Do vento nos meus cabelos, Do sabor salgado das gotas de espuma que sePorque é de noite, que sonho contigo desfaz na praia…. Gosto do planar livre de uma gaivota,Sonho que és a lua Gosto de sentir o teu braço nos meus ombros, Moldando-os ao tamanho exacto do teuQue és a estrela, mais brilhante do braço… Gosto de te sentir, de te saber…universoMinha Amada Poesia Gosto, gosto de viver, de te ter….E quando acordo M.G.CoDmissae-tde ebosmludmia brante auroraVejMQouaaqsnujdáoepqeéunsesraionaddsoi,oznelru-mtea, boa tarde boa noiteQuPeoriqluue mé diennaoi,teo, qsume penusosepmetni samentosEVeojQPSooouvnrenqehéuonoseqatétuoeedeseutéqrsneuoaolaieltl,uhems,aaqoauirpse,rbsoraoinlhahaozncutoelndtdoigouontiveeursomarTCroaCEVmozeqmjouaeaaqltnuadédeeosérmlsauecomsiomsprbodrilao,rnoate, taeuurmaoraebriinssapiroQPauEVQreaueojeé,oviscnleunooamtmtoiernuqaauco,ezlaohãssraoomrpi,nreoaduhsaezopsuetlndedsiaozmmeteeernu-utmotseasrer lrPCTuiroaqazmrzau,deaelctaaozémrammescipdamiiranr,ionah,hmteoaumadineaibzirlhenierssa-agpteirrboiuarguesiaAAAÉsrAAQaeualreuipqlzéuiasddeiazaaxarmadãdzieaonãhomdqadianuaehlseetmagerbtmiiauanernughutseaeosriafaadnotraosiaMiÉAnsrheaaapliadAiaxdãmeo daqaudematiannPhtaoofeaadsnoitaraosia Minha Amada Poesia A poesia é maravilhosa 12-11-2017 João RaposoJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 43
POESIA Quero...que quero?Ó lagrima Quero…que quero? Quero ser luz, sol a despontarÓ lágrima, Grito do amanhecer…Que mensagem me Ser seara transformada em mar,trazes? Onde o oiro se vem esconder.Trago-te a alegria Quero ser cântico suave em cadencia deda vida. embalar…Vida é dor? Ser sobreiro, arvore milenar…Ó lágrima incolor. Ser terra com cheiro a trigo e a pão, Ser a menina dos teus olhos,Vida é um prado em flor, Quando olhas tamanha extensãoMas, tu vê-la em névoa,E eu, teus olhos quero lavar M.G.Ó lágrima,Só isso me dizes?Só...Só isso tu precisasPara seres feliz.Ó lágrima,A saudade?A tristeza?Onde estão elas?Andam por aíA vaguear de mãos dadasPara tentar novo hospedeiro.Arranjar, mas todosAs abonam a missãoDe tudo purificar.Oh, obrigada lágrimaTuas palavrasMe confortam,E teu suave escorrerMe enaltece…Filipa Coelho14 anos44 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
Aviso à minha navegação Maria,Da janela da minha Tanto haveria a dizer sobre ti…torre-biblioteca, na forma como brilham as emoçõesqual Montaigne nos teus olhos adocicados…de trazer por casa, esperançosos como contas de retrós,rodeado de livros, inúmeras vezes inundadas de saudadesjornais amarelecidos, sentimentos vividos que encerras em ti.discos e tudo, Dos teus braços longos saíram centenasavisto por entre três palmeiras de abraços, afagos… berços de obra.a praia da minha infância, Sorris ao mundo nessa meninice própriacom botes virados do avesso dos enamorados pela vida.tal como paira a minha navegação, A tua força é apaixonante…encalhada em sufocantes escolhos. as tuas convicções acutilantes…Mais adiante, mesmo quando os teus passos se tornamo largo mar em que searas ao vento; Lá encontras o rumose mascara a foz do Tejo, retomando a serenidade de alguém quecom o Bugio sempre a piscar-me aprendeu a caminhar deslizando.um intermitente olho verde, Bem hajas.para me avisar que a vidatem muitas marés plenas de traição, Raquelcarregadas de borrascas,como o cinzento escuro do céu,também anuncia.José Lança-CoelhoJornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 45
CONTOMãe LucingaConta Ongumbe, o grande boi dos ra morna e fértil. Veio então Onhoka, olhos tristes, mais tristes que os a velha serpente, silenciosa e rasteira pés de milho quando Haissikoti, como sempre vem e que, vendo a ra-a chuva de espantoso poder, se recusa pariga abandonada à imprudência doa descer das montanhas sobre as lavras sono, foi tomada de apetite. Então seansiosas; conta Ondjamba, o trombu- completou aquela força nova e Onhokado animal das moitas que, tranquilo, possuiu Lucinga e fecundou a jovemmedita em andamento depois de lau- sonhadora. E assim nasceu Kalihanga,ta refeição; conta também Onkhapi de da imprudência da mulher e da fertili-pele malhada e garras afiadas que mia dade da Natureza.infantilmente, ao cair da noite, à por-ta dos currais; conta ainda Kapundia, Nasceu, cresceu e foi Kalihanga, o so-o pequeno antílope que corre louca- litário o tocador e feiticeiro da flauta, omente sob o calor das grandes matas; e viajante activo e laborioso, o caçador in-conta Kissonde, a grande formiga preta fatigável, cujas flechas eram silenciosasque toma o que é das outras criaturas, como Ossãi, a Lua, e mais rápidas quequando varre tudo à sua passagem, até o vento. Depois foi conhecido como oser calcada pelos pés ágeis de Kalihan- exaltado guerreiro que nas suas batidasga, o caçador incomparável cujo corpo ansiosas desceu até às areias do Kaku-negro e nu, vibrátil como um arco ten- luvar, o que foi limite norte do reinoso, estremece de energia juvenil. de Humbi e mesmo até às paragens in- Todos contam que Kalihanga nas-ceu de Lucinga, a escrava, a infatigáveltrabalhadora que labutava nas lavrasdo seu Senhor, dobrada ao manejo daenxada de dois cabos e que, sem encan-tos, nunca foi pretendida. Mas um diadeixou-se dormir no aconchego da ter-46 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
sondáveis do grande rio Cunene, onde … Kalihanga, guerreiro incompará-habita Ongandu, o voraz senhor das vel, que corrias pelas terras do Norteáguas. vermelhas do sangue do teu povo, onde rondava a morte aflita e desamparada Todos os inimigos temiam a força, a e onde combatias a tribo maléfica dosagilidade e a inteligência de Kalihanga, Likisi, onde estás tu agora?o que dialogava com seu pai Onkota, aserpente sábia, e o que sondava todos Talvez descanses nas areias brancasos mistérios que Deus colocou na terra da margem do Kakuluvar, o corpo bri-para fazer os homens pensarem. lhando como fruto suculento, os panos ao vento, sem o cuidado de esconderes Mas quando as suas mãos ágeis dedi- o que o homem digno não deve mos-lhavam a flauta, então era como se em trar, guardando contigo o impenetrávelredor tudo parasse e ficasse imóvel. tesouro da tua solidão. Ofera, o vento portador de todos os E contam as garças de bico compridorumores, sentava-se nas copas das ár- e peito branco, que voam com distinçãovores, sossegado, para o escutar; Emba- sobre as águas calmas do Kakulavar,galala, a cigarra, detinha o canto maça- que era então pelas tardes frias do In-dor; Onhambi, o besouro verde, calava verno ou pelas noies quentes de Verão,o zumbido barulhento; Euvi, a peluda e quando já havia silêncio no céu, quan-útil aranha, deixava de tecer a original do a Grande Montanha da Lua já dor-teia e até Kandimba, o coelho sagaz, o mia e os caminhos iam desertos pelopequeno saltador de inesgotável astú- mundo, que Kalihanga visitava mãecia, se enrodilhava na toca como se algo Lucinga para lhe falar das coisas mis-de imponderável estivesse acontecendo. teriosas e longínquas, sem fugir à dorOs homens cercavam devagar o morri- do momento, antes escavando ambos onho arenoso onde Kalihanga se senta- chão da angústia para tocarem o que ova e escutavam, enlevados e absortos, a vento cobrira.música melodiosa que continha todasas mensagens das matas espinhosas da E era sempre na dimensão da purezaChibia, todas as ânsias de realização do e da submissão que ele lhe contava dospequeno tocador e todos os sonhos que silêncios de amargura, da fúria, do ódioultrapassavam os seus próprios limites. e da esperança, dos horrores das bata-Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 47
CONTOlhas sobre as planuras da Mongwa, dos rava um mundo de fúria e de ódio e foigritos da carne desfeita pelos ferros ou então que Kalihanga, vencendo o ódiopelas chamas – tal como o previra mui- e a fúria, tão desfigurado de tortura eto antes Ombeu, o animal sábio que ha- de sangue que só ela o reconheceria, abita entre duas cascas. abraçou: Mãe Lucinga! E tudo nele subitamente era inocên- E ela, pousando as mãos naquela facecia e verdade como aqueles panos sujos destruída, aí as esqueceu, confraterni-de terra que o cobriam. Nesses momen- zando com o sangue e com as chagastos a mãe estremecia de leve, mas tão ainda abertas, com se fosse investidafundo que tudo nela o sentia. Porque numa parte daquele sofrimento. E su-ela sabia da coragem do filho, uma co- bitamente iluminada, sentia-lhe asragem excessiva que era já só desfio e mãos, o olhar, uma certeza tão presen-que quase desdenhava da protecção te em todo o seu corpo, que era quaseque ela tinha para lhe dar e da certeza como se ele não tivesse um destino. Ehumilde de que há morte no mundo. E tendo-se fitado longamente um ao ou-ouvia, num silêncio resignado, todas as tro, reconheceram-se como tocados deproezas gloriosas da Kalihanga. uma vontade divina. Docemente ungi- da de um sinal de maternidade, deu- Durante longos anos Kalihanga par- lhe a bênção e esse gesto uniu-os paratiu pelas madrugadas frias do Inverno sempre. E à hora quente da lua cheia,ou pelas manhãs altas do Verão e sem- fechada de um silêncio final e certa depre qualquer coisa partia com ele e di- que tudo se cumpriria em perfeição,zia adeus a Lucinga para nunca mais. Lucinga deixou tombar a cabeça e paraMas voltava, o amor pela mãe inteiro sempre adormeceu.com ele e pedia-lhe a mão outra vez.Lucinga dava-lhe a sua, maternalmen- Há quanto tempo?...te, porque, mais do que nunca, Kalihan- A noite era quente, o vento corria cal-ga queria ser seu filho. Mas numa tarde mo e as árvores subiam mais alto no céucansada de Novembro a morte veio, de- profundo.vagar, para que ela a esperasse mesmo … E conta Ombeu, o sábio advogadodepois de estar presente. Lucinga espe- das causas difíceis, que Onhoka dormerou-o até a noite descer e muito depois enroscada no ramo mais alto de uma ve-de Ossãi subir ao alto da montanha e lha Mulemba e que, nas noites quentes,depois mesmo que um guerreiro amigo escuta a música melodiosa duma flautado filho a veio avisar de que Kalihanga invisível e que essa música transmite asnão viria mais. Esperou-o todas as noi- queixas das gentes da aldeia de Chibia,tes, com a lua, as estrelas e a sua solidão. das suas matas espinhosas e o choro dasMas Kalihanga não voltou. grandes planuras ensopadas em san- gue por onde marcha o Tempo, que é o Foi então que Lucinga o foi ver ao guardador da experiência dos homens.cume do seu destino, quando os sepa-48 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
… E conta Ohoka, a serpente rastei- Kalihanga, belo como Ekumbi, o solra, a quem o tempo afrouxou as fibras que se eleva no Oriente. E é esse Espí-nervosas e apagou ligeiramente o bri- rito que transmite àquela terra mártir alho escamoso do seu corpo ondulante, mensagem de Suku, o Deus da Alturasque na história dessas melodias, ali- – a mensagem da força e do amor quementada pela sabedoria dos anos que só Ele tem para oferecer ao mundo.se deposita sobre a cabeça dos homenscomo poeira sagrada, vive o Espírito de Zélia Coutinho BREVES À SOLTANovo Livro de Miguel Partidário“Psicadélico ou a Caminhada no De-serto”, é o título do novo livro do jovemautor Miguel Partidário, que foi apre-sentado no dia 26 de novembro p.p, noTemplo da Poesia, no Parque dos Poe-tas, em Oeiras.De notar que é já o segundo livro destejovem e promissor autor. Apresentação do Jornal nº 13 A Voz de Paço de Arcos. Realizou-se no dia 7/12 passado o lan-Exposição de artesanato çamento do nº. 13 de A Voz de PaçoNo passado dia 17 de Dezembro rea- de Arcos, no Salão Nobre da ex junta de lizou-se no Clube Desportivo dePaço de Arcos (Salão Nobre), uma ex-posição de artesanato diversificado, poriniciativa de Teresa Coutinho e de suafilha.Deram a sua colaboração, a este even-to, alunos e a Diretora Carmen Costa daEscola de Música “Passos Divertidis”(-Contacto Tel. 926 168 309). A assistência,numerosa, aplaudiu a sua exibição.Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017 49
BREVES À SOLTAFreguesia de Paço de Arcos, no decorrer da noite, tiveram oportunidade de mos-da sessão do Club de Poesia de Paço de trar os seus vastos dotes e que temosArcos. de contar com eles, para o futuro, poisA homenageada na capa não compare- vão continuarceu devido a razões de saúde, felizmen- a estudar e ate já ultrapassadas, o que muito nos trabalhar paraapraz registar, o que permitiu o seu re- singrarem nagresso em pleno ao trabalho pelas cau- música.sas que abraçou a Família em primeiro Caxias está delugar, amigos e com estes o “seu” Clube parabéns pelosde Poesia e A Voz de Paço de Arcos. Foi talentos que serepresentada pelo seu filho José Lança- vão revelando.Coelho, nosso editor. Mico da Câ-A recentemente eleita Presidente da mara Pereira,Unioeiras, Drª. Madalena Castro hon- anfitrião, apa-rou-nos com a sua presença, acompa- drinhou estanhada pelo vogal Sr. Artur Campos. noite mágicaA Voz de Paço de Arcos esteve repre- que a todos en-sentada pelo Presidente da Mesa da cantou.Obrigado, e que novas iniciati-Assembleia Geral Dr. Jaime Silva, e por vas surjam para mostrar o que de bomdois elementos da Direção, Presidente vai surgindo nesta pacata terra, Vila dee Secretária, respetivamente José Mar- Caxias.reiro e Helena Faria Leal marcando pre-sença e também, alguns associados. Oque muito louvamos.MúsicaAjovem autora, compositora e intér- prete Madalena Marques, tocou,cantou e encantou a numerosa assis-tência que enchia a sala da CarruagemReal, em Caxias.Foi na noite do passado dia 29 de de-zembro que tudo se passou. Luis Valen-ça acompanhou nalgumas canções, seufilho Duda e Joana, irmã da convidada50 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 14 dezembro 2017
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