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Flor(em)essencia

Published by Paroberto, 2021-02-03 18:28:00

Description: Flor(em)essencia

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José Alberto Vieira Flor(em)essência para além da esquizofrenia Vilca Marlene Merízio Organização



FLOR(EM)ESSÊNCIA para além da esquizofrenia



José Alberto Vieira FLOR(EM)ESSÊNCIA para além da esquizofrenia ARTE & LIVROS 2021

© 2021 do autor Projeto gráfico, capa e editoração: Paulo Roberto da Silva Organização e revisão: Vilca Marlene Merízio V658f Vieira, José Alberto Flor(em)essência : para além da esquizofrenia [Re- curso eletrônico on-line] / José Alberto Vieira. – Floria- nópolis : Editora Arte & Livros, 2021. 72 p. ISBN 978-65-88719-13-8 (e-book) 1. Poesia catarinense. I. Título. CDU: 869.0(81)-1 Catalogação na fonte por Onélia Guimarães CRB 14/071 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, arquivada ou transmitida por qualquer meio ou forma sem prévia permissão por escrito do autor. Impresso no Brasil

Sumário Apresentação 7 Poemas 9 Sobre o autor 71



Apresentação Flor(em)essência: para além da esquizofrenia, título dado por José Alberto Vieira ao conjunto de sua poesia, consi- derada pelo autor como seus “escritos da adolescência”, traduz a pureza de um jovem catarinense, que, longe do seu país, tentando se adaptar a um universo novo, sofre profundas mudanças psicológicas e mentais, tendo que aprender a conviver com o despertar de seu mundo amoroso e sentimental enquanto era surpreendido pela incompreensível e dolorosa manifestação de seu “ego dissolvido”. Seus poemas de amor juvenil, aceitação e esperança, quando não de rebeldia e contestação, foram escritos em Ponta Delgada, ilha de São Miguel, Açores, Portugal, durante os anos de 1987 e 1988. Foram, como outros tantos que se perderam com o tempo, versos coletados pela família nos seus cadernos de aula e nos rabiscos das paredes do quarto que o então adolescente José Alberto Vieira, o Josa, ocupava. Entre todo esse turbilhão de símbolos, imagens, figuras e sonhos delirantes, sobressaía sua tendência poética. Seus poemas falam de amor e de esperança num tempo conturbado pela distância da família, em especial do irmão mais velho e do pai, e pelo transtorno mental recém-manifesto, justamente quando os anseios pela vida universitária e a futura profissão o empolgavam, e a impossibilidade de realização o amargurava. Diagnosticado como portador de transtorno esqui- zofrênico, caracterizado, principalmente, como “distorções

8 ■ Flor(em)essência ■ do pensamento e da percepção”, com agravantes relacionadas à oscilação do afeto repartido entre o passado recente da sua terra natal ao indefinível e incerto presente de uma ilha até então desconhecida, José Alberto Vieira manteve sua capacidade intelectual ativa, embora, na época, seu senso de individualidade, aparentemente, estivesse voltado apenas a si mesmo, como costuma acontecer aos poetas (ou aos sem juízo). E sua obra fala disso. Consciente da dor que o aflige, indaga-se a todo momento sobre a razão das mudanças a ele impostas por questões de família. E, perdido naquela ilha atlântica, onde pouca é a terra e muito o céu e o mar, se pergunta: “Quem eu sou?” E a si mesmo responde: “Sou o mistério do Sol”. Assim mesmo era a sua vida naqueles momentos de crise: incompreensiva, “dissolvida” entre conceitos e preconceitos, teorias e práticas flutuantes. Quando consegue, em momentos de lucidez, juntar os seus “eus” constantemente fragmentados, persevera na ideia de que os caminhos que levam à paz devem ser construídos passo a passo, com otimismo e tentativas de bem-aventurança. Hoje, aos 47 anos de idade, o autor continua a escrever descompromissadamente, dedicando-se, também, à música, da qual é grande apreciador e conhecedor. Bem hajas, José Alberto, pela tua ternura e compre- ensão da vida! Bem hajam todos os leitores destes versos da adolescência, cuja poesia ressoa muito além da Esqui- zofrenia. Florianópolis, 6 de novembro de 2017. Vilca Marlene Merízio

■ Poemas



Para a minha família, com gratidão. Para todos que me acolheram com o calor da amizade e o reconhecimento pelo amor.



■ José Alberto Vieira ■ 13 Sinto no ar o cheiro do meu ego dissolvido

14 ■ Flor(em)essência ■ Meu eu dissolvido... Zás... dissolveu-se no ar... Minha vida... em tudo mudada... Zás... dissolvida ... Minha vida... Em tudo mudada.. . Zás... dissolvi- da ... Vida Fiquei! Ficou! Fiquei! Ficou! Sou só Só porque SOU

■ José Alberto Vieira ■ 15 Sou só Só porque SOU Quero mais Minha vida... Em tudo mudada.. . Zás... dissolvi- da ... Quero Vida Fiquei! Ficou! Sou só Só porque SOU

16 ■ Flor(em)essência ■ Parou o tempo... E a vida... ...sárt arap uohnimac

■ José Alberto Vieira ■ 17 Isso não é um adeus É antes um voto de esperança Por tudo o que ainda há de vir Preciso encontrar significado Para este espetáculo ardente Dentro do meu Coração AMOR

18 ■ Flor(em)essência ■ Nenhum homem deveria considerar-se sábio ou possuidor do saber Mas tão só ser amigo do saber

■ José Alberto Vieira ■ 19 Implica Implicam Implicam MAS o importante é não complicar...

20 ■ Flor(em)essência ■ Não espero o que não pode ser. Quero o que é belo e bom. O bom só é belo quando notado, decifrado, admirado, querido. O belo só é bom quando amado.

■ José Alberto Vieira ■ 21 Cheguei um dia desses carregando na mala um passado de dezessete anos: vitalidade, boa vontade, necessidade de vida nova. Na ilha, uma coisa estranha. Na minha alma, promessa. Na realidade: um grande desafio.

22 ■ Flor(em)essência ■ Em tudo o que faço há cansaço, esforço demasiado para os meus dezessete anos. A estrela perdeu seu brilho. Não consigo viver com minha cara, meus gestos, meu jeito. Não tenho pai, não tenho mãe, não tenho irmãos. O que vale viver assim?

■ José Alberto Vieira ■ 23 Tomei consciência do tempo e do espaço quando tinha dez anos. Com onze anos, tive medo do meu pai (sempre tive). Aos treze, rezei o Pai Nosso depois da primeira masturbação. A viagem foi sonho ou pesadelo? Queria o amor aos dezessete e criei o ódio. Aos dezoito, a namorada me fez feliz. Amor, doçura e sexo. Mas ainda é grande a minha ambição.

24 ■ Flor(em)essência ■ Por que não posso ter asas se quero voar?

■ José Alberto Vieira ■ 25 O amor é, às vezes, chuva, outras, pôr-de-sol ... em lances sucessivos. E eu, de dia e de noite, vivo o Amor.

26 ■ Flor(em)essência ■ Amar é estar sempre em perspectiva. Amar é fazer amor ouvindo música. Amar é fazer amor mastigando chiclete.

■ José Alberto Vieira ■ 27 Escura a luz do dia Obscura... Da noite só o brilho do teu olhar Paixão etérea

28 ■ Flor(em)essência ■ A noite é curta demais para minha voz te iluminar.

■ José Alberto Vieira ■ 29 Quero uma rosa cor-de-rosa para regar meu deserto

30 ■ Flor(em)essência ■ O que seria do amor sem o AMOR?

■ José Alberto Vieira ■ 31 Triste, na areia vi destroços de um barco: da areia saiu e na areia foi parar... destroçado ...pobre barco! Meu amor é assim: vai e volta como as ondas do mar ...ferido!

32 ■ Flor(em)essência ■ O velho: vermelhos o coração, o corpo, o barco. O velho: longas histórias a contar, baleias, estrelas, golfinhos, sereias... Luar. E o velho lampeiro, na madrugada serena, a rede foi puxar; comida de pescador seus braços foram buscar.

■ José Alberto Vieira ■ 33 Minha hora alcancei Chegou a vez de me tornar eu outra vez Chegou o tempo o tempo final do juízo Acabou a brincadeira a coisa é verdadeira

34 ■ Flor(em)essência ■ Soube do teu sofrimento. A mim, basta-me saber isso. Não chora mais: eu te amo.

■ José Alberto Vieira ■ 35 Preciso de uma droga que me faça feliz... Preciso de uma droga para quebrar o tédio... Preciso de uma droga para vencer o cotidiano.. Minha droga é você a rebolar o corpo suado a arrebentar paixão dentro de mim! Chega, chega de droga! Eu quero você, Mulher!

36 ■ Flor(em)essência ■ Sinto em teu olhar Todo brilho de um querer, Mas não é suficiente o prazer que tu me dás. Desculpa, relaxa, pressinto que vou te deixar.

■ José Alberto Vieira ■ 37 Disseram-me que Não havia lugar E não há lugar Não há descanso Só existe medo Medo Ansiedade Me... do(r)!

38 ■ Flor(em)essência ■ Desejo despertar Desejo o desejo Aceito o desejo E depois do desejo? Paixão Violência, não!

■ José Alberto Vieira ■ 39 – O que fazes aqui? – Esperei mil anos... Tão danados, tão danados! – Eu não, eu não... – Estás aí? E disse o mesmo que eu digo Em palavras torcidas.

40 ■ Flor(em)essência ■ Minha mãe é mais nova Do que eu dezessete anos. Nascemos quantas vezes juntos?

■ José Alberto Vieira ■ 41 Muros Violência Paixão Insegurança Silêncios Medo Por que a mania De ver as coisas frias E mostrá-las geladas Como se sempre o fossem?

42 ■ Flor(em)essência ■ ROMANCE Parte 1 Vida: eternidade na procura Amor: nas mãos de quem o quer Fidelidade: amor a dois Inteligência: tática de quem sabe usar Perfeição: nem todos alcançam Sucesso: Deus proporciona Felicidade: todos a querem Deus: Todo Poderoso Música: dom divino Água: pureza Sol: rei da conquista Parte 2 Vício: gosto doce da solidão Solidão: flor a murchar Insegurança: arma do inimigo Medo: corte no coração Raiva: resultado da imperfeição Ódio: vontade de vingança Vingança: amarga satisfação de quem a consegue Depressão: todos me forçam Morte: à espera

■ José Alberto Vieira ■ 43 Sou feliz Acredito no futuro pleno Fama, doce saborear do sucesso. Sexo, prisão e solidão. Jovens, medo e paixão. Crianças, esperança de todos. Adolescência, cura inexistente. Mulheres, razão do ser. Amigos, tenho poucos. Visão, poucos a tem. Trabalho, projeto familiar. Sistema: maximização do poder. Tempo: quem sabe o faz. Ciúme, irracionalidade. Quem sou? Sou o mistério do sol.

44 ■ Flor(em)essência ■ Desde os 13, no sítio de mais de um quilômetro, uma casa gigante de madeira e o dizer da mãe para com os entes: – Vai! Sempre só eu brincava, e só eu trabalhava, e cuidava das galinhas, e aparava os ovos com as mãos, e ganhei um prêmio por dizer como as galinhas eram por dentro e como viviam e outros assuntos, assim “como criar galinhas no fundo de quintal”. Adolescência estranha, e muito chuveiro, e guitarra, e revistas, e bebida, e carro. E ser reconhecido no mundo. Mas sobra confusão na tentativa de amor, sexo, carinho e dinheiro. Eu vivo na minha cabeça. Saio de madrugada e você nem me pergunta se o que se passou foi verdade ou apenas mais uma noite. Bebo mais um copo. Meu dinheiro foi embora. Tenho de acordar às sete horas. Preciso trabalhar. E os nossos sentimentos onde ficam nisso tudo?

■ José Alberto Vieira ■ 45 O casal sensacional!!!??? Quem disse? Notei a indelicadeza, a intolerância, o mau convívio. O casal: uma bruxa; o outro, pervertido. Antes do agora, os dois levantavam a taça da minha admiração. Hoje, eu sou apenas eu. Danço o jogo da superação.

46 ■ Flor(em)essência ■ Olhou Pensou Acordou-me Desculpou-se... Notei que saiu Foi embora Até que enfim! Estava na hora

■ José Alberto Vieira ■ 47 Em São Miguel manhã sombria luzes verdejantes caudas de pavão

48 ■ Flor(em)essência ■ Só eu sei o que o vírus do amor faz, o que faz e o que desperta nas pessoas. Floresce em oportunidades e tem interesses fantásticos, mas também pode e sabe deixar vidas à espera. Por ventura, também a minha. Morte seria o fim? Ocupação e trabalho, sofrimento e perdão. Quero uma vida a dois, encontros, amor, conversas, mudança. O passado: lembrança. O futuro: vida mais vida. Quero!


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