50 PRESENTE, FUTURO, PASSADO ||||| Frisos de caligrafia e outros poemas (O nosso submundo)
PRESENT, FUTURE, PAST 51 (Our Underworld) ||||| Sérgio Medeiros
Frisos de caligrafia e outros poemas 58 ||||| APÊNDICE
APPENDIX 59 ||||| Sérgio Medeiros
60 OS “RASGATADOS” ||||| Frisos de caligrafia e outros poemas Nota do Autor Os descritos apresentados a seguir foram resgatados (sic) da parte de trás das folhas que rasguei e depois colei na primeira parte deste friso. Cada descrito está acompanhado de uma data, a qual não corresponde, necessariamente, à época em que foi originalmente elaborado; quis apenas celebrar, assim, os meus anos dedicados a escrever diariamente descritos em cadernetas de variados tamanhos, de 2001 até hoje... Esses poemas descritivos antigos, saídos de folhas rasgadas (ou, melhor, de folhas extraídas das minhas cadernetas) e depois coladas nos poemas visuais do presente, talvez mereçam mesmo ser chamados de “rasgatados”. O último descrito, porém, não é um “rasgatado” – a folha na qual o escrevi ainda está intacta na minha mais recente caderneta, que poderá ainda ser preenchida com outros textos imagísticos, repletos de símiles e de prosopopeias, ao longo deste ano e do próximo (escrevo hoje cada vez mais lentamente, mas desenho com vigor redobrado).
“Re-sTOREd”/Res(tore)d/(Res)tore(d) 61 ||||| Sérgio Medeiros Author’s Note The following short texts I call descritos (de-scribed) were res- TOREd (sic) from the back of the sheets I tore and then glued onto the first part of this frieze. Each descrito bears a date, which does not necessarily correspond to the time it was originally created. It was merely a way to celebrate the years I have devoting to writing descritos in notebooks of varying sizes, from 2001 to today... These old descriptive poems, coming from torn pages (or rather, from pages extracted from my notebooks) and later pasted onto my current visual poems, may perhaps justifiably be called “res- TOREd.” The last descrito, however, is not “res-TOREd” – the paper on which I wrote it is still intact in my latest notebook, which can also be filled with other imagistic texts, full of similes and prosopopoeia, in the course of this year and next. (Today I write ever more slowly, but I draw with twice the strength.)
Frisos de caligrafia e outros poemas62 (2001) ||||| – o pelo do cachorro negro endurece e se enche de casulos os quais ele leva para a avenida fazendo dois carros pararem subitamente
(2001) 63 – the black dog›s fur gets matted with cocoons he then carries ||||| to the main road stopping the traffic Sérgio Medeiros suddenly
Frisos de caligrafia e outros poemas64 (2002) ||||| – entre as intermináveis fileiras de carros lerdos diante do túnel a moto repentinamente passa veloz como se estivesse num canudo que uma boca lá longe sugasse
(2002) 65 ||||| – facing the tunnel between endless lines of sluggish cars, a motorbike, Sérgio Medeiros all of a sudden whizzes by as if a faraway mouth sucked it in with a straw
Frisos de caligrafia e outros poemas66 (2003) ||||| – com rosto de velho e corpo de jovem o homem careca se senta sob o guarda-sol enquanto à sua frente barcos se agitam na água trêmula como insetos loiros e negros
(2003) 67 – old face, young frame ||||| the bald man sits under a parasol boats rustling in front Sérgio Medeiros quivering like insects in the water blond and black
Frisos de caligrafia e outros poemas68 (2004) ||||| – o urubu plana entre galhos pontiagudos feito um longo fio solto de velha teia de aranha agora visível
(2004) 69 ||||| – the vulture glides amid pointy branches like the long loose thread Sérgio Medeiros of an old cobweb now in view
Frisos de caligrafia e outros poemas70 (2005) ||||| – do entulho embrulhado numa rede azul que o caminhão pulsante leva embora salta um pedaço de papel que pousa na beira da estrada – da traseira do caminhão lerdo que recolhe os sacos de lixo enfileirados nas calçadas salta um rapaz uniformizado magro e ágil
(2005) 71 ||||| – from the rubble wrapped in blue mesh carried away by a throbbing Sérgio Medeiros truck piece of paper escapes landing by the roadside – from the back of the sluggish truck collecting garbage bags lined up on the sidewalks a young man in uniform jumps out limber and lean
Frisos de caligrafia e outros poemas72 (2006) ||||| – à beira da estrada o cavalo opaco afunda a cabeça num negro charco e no seu pescoço (tenso) sobressai a cabeça clara de um pássaro (alerta)
(2006) 73 – by the roadside the dark horse sticks ||||| its head into a black puddle and from his neck (strained) Sérgio Medeiros protrudes a bird’s white head (aware)
Frisos de caligrafia e outros poemas74 (2007) ||||| – no fio longo prendedores de madeira com asas para cima e para baixo ao sol porém como se um dos prendedores fechasse as asas e pulasse para cima caindo em seguida para trás de asas abertas uma borboleta pálida surge em volta do fio e desaparece do quintal
(2007) 75 ||||| – along a long line of wooden clothespins, tips pointing up and Sérgio Medeiros down in the sun but as if one of the clothespins closed its wings and jumped up falling suddenly backwards with open wings a pale butterfly suddenly flutters by, then flies away from the yard
Frisos de caligrafia e outros poemas76 (2008) ||||| 2001 – a garça lenta parece ter braços que pendem do peito mas de repente tudo se transmuda em patas estendidas para trás e ela acelera o voo 2009 – o pássaro segue para trás mexendo as patas tensamente estendidas então pousa em meio à cerração na placa de trânsito oculta à beira da estrada
(2008) 77 ||||| 2001 Sérgio Medeiros – the slow heron’s legs look like arms hanging from its chest, yet suddenly transform into legs extended backwards as it takes flight 2009 – a bird moves backwards with tense, outstretched legs, then lands amid the fog on the hidden road sign.
Frisos de caligrafia e outros poemas78 (2009, reciclado) ||||| – quatro cadeiras brancas de plástico: (debruçadas sobre uma mesa de plástico) – cápsula lunar noturna silenciosa
(2009, recycled) 79 – four white plastic chairs: (stacked up on ||||| a plastic table) – Sérgio Medeiros silent nighttime lunar module
Frisos de caligrafia e outros poemas80 (2010) ||||| – som de bola batendo na areia da praia / só o que se vê porém (contra o sol) é certa borboleta subindo e descendo enquanto cruza o jardim diante do mar
(2010) 81 ||||| – the sound of a ball bouncing on the sandy beach / the only thing Sérgio Medeiros visible though (facing the sun) is a butterfly flying up and down across the garden by the sea
Frisos de caligrafia e outros poemas82 (2011) ||||| – exalando mau cheiro de noite e de dia o fraco riacho não carrega mais copos de plástico brancos que vão se juntando imaculados nas margens
(2011) 83 – giving off a foul smell day and night ||||| the open sewer no longer drags white plastic cups that accumulate, immaculate, on the edges Sérgio Medeiros
Frisos de caligrafia e outros poemas84 (2012) ||||| – finda a suja ventania sobrevoa – o jardim um grande – urubu – tranquilo – que parece – de veludo – reluzente – altivo
(2012) 85 – the dirty wind over ||||| – the garden a large – vulture – flies quietly Sérgio Medeiros – looking – velvety – gleaming – flashy
Frisos de caligrafia e outros poemas86 (2013) ||||| – o ônibus pesado finalmente arranca... e a passarela sobre os carros lentos (quase se tocando uns nos outros) se enche de homens e mulheres que cruzam apressadamente a aragem matinal
(2013) 87 – the heavy bus finally starts ... ||||| and the pedestrian overpass above sluggish cars Sérgio Medeiros (almost touching each other) fills up with men and women who cross in a hurry the morning breeze
Frisos de caligrafia e outros poemas88 (2014) ||||| – a chuva rodopia sobre os carros quase parados sob a passarela onde uma moça solitária surge sem pressa com o guarda-chuva fechado pendurado no braço
(2014) 89 – rain swirling over practically motionless cars ||||| under the pedestrian bridge where a lonely girl Sérgio Medeiros emerges from slowly an umbrella hanging from her arm
Frisos de caligrafia e outros poemas90 (2015) ||||| – quando os pescadores soltam fogos na praia iniciando a pescaria um inseto surge no terraço esfumaçado diante do mar planando como um peixe no aquário
(2015) 91 – when fishermen light fireworks on the beach ||||| to starting the fishing an insect Sérgio Medeiros appears on the smoky terrace facing the sea gliding like a fish in a tank
Frisos de caligrafia e outros poemas92 (2016) ||||| – só um pato negro nada viscoso numa poça também negra diante de um (talvez) profundamente imóvel jacaré-de-papo-amarelo nem sempre nítido na lama ensolarada
(2016) 93 – a slimy black duck swims alone in a black puddle too facing ||||| a (perhaps) totally motionless broad-snouted caiman not always visible in the sunny mud Sérgio Medeiros
Frisos de caligrafia e outros poemas94 (2017) ||||| – a dor do vira-lata é lancinante e desperta alguns outros no meio da manhã que correm andam vêm capengando vê-lo ganir no chão seco – um pássaro pia demorado num galho verde
(2017) 95 – the stray dog’s pain is stabbing and wakes up ||||| other dogs in the morning they run walk come limping watch him whine Sérgio Medeiros on the dusty ground – a twittering bird lingers on a green branch
Frisos de caligrafia e outros poemas96 (2018) ||||| – da carroceria carregada lança-se para trás uma comprida cauda branca de plástico que se desdobra no ar esfumaçado até roçar a sua extremidade no rosto de um motoqueiro que logo muda de pista (– ele segue agora irado ao lado do caminhão –) [(feito uma pipa que arrastasse a cauda no asfalto sem poder alçar voo o pesado veículo trêmulo agora freia ruidoso numa colina)]
(2018) 97 ||||| – from the loaded body of the truck a long white plastic Sérgio Medeiros whips out in the smoky air its end brushing against the face of a biker who soon switches lanes (– now angrily riding his motorcycle beside the truck –) [(like a kite dragging its tail on the asphalt and unable to take off the heavy trembling vehicle now brakes noisily on a hill)]
Frisos de caligrafia e outros poemas98 (2019) ||||| Descrito marinho – na madrugada de outono entre brilhantes folhas úmidas a onda sonora se sacode como uma ave desperta
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