Geografia 4o BIMESTRE Este conteúdo é parte integrante da coleção Moderna Plus Geografia – Conexões: Estudos de Geografia Geral e do Brasil, 3a edição, de Lygia Terra, Regina Araújo, Raul Borges Guimarães. Ilustradores Adilson Secco • Anna Luiza Aragão/Maná e.d.i. • Cecília Iwashita • Daniel Roda • Éber Evangelista • Gil Tókio • Leblu • Ligia Duque • Luiz Rubio • Nathália Tanbellini • Paulo Manzi • RLima • Raul Aguiar • Vagner Vargas 83
CAPÍTULO Urbanização mundial 17 O processo de urbanização vem ASHRAF JANDALI/SHUTTERSTOCK ocorrendo em ritmos diferentes nos continentes. Hoje há grandes aglo- merações urbanas que são classifi- cadas em megacidades, metrópoles, megalópoles e cidades globais. Mui- tas delas apresentam um crescimen- to desordenado e sem planejamento. O processo de urbanização Nos países desenvolvidos, o proces- so de urbanização praticamente já se completou. Na África e na Ásia, a urbanização avança velozmente. Forma e funções das cidades As megacidades são resultantes do incremento populacional dos nú- cleos urbanos; a expansão territorial das cidades condiciona o surgimento das metrópoles e das megalópoles. As cidades globais, por sua vez, se constituem como espaços relacio- nais da era das redes. C2: H6 MUNDO: PROJEÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA — C4: H19 1950, 2010, 2050 EM13CHS104 África América Latina e Caribe 1% EM13CHS105 Ásia América do Norte EM13CHS203 Europa Pacífico EM13CHS504 1% 6% 10% 8% 12% 20% 14% 1% 5% 9% 15% 10% 31% 15% 50% 54% 38% 1950 2010 2050 (projeção) 3,5 bilhões 6,9 bilhões 9,3 bilhões Fonte: UNICEF. Situação mundial da infância 2012: crianças em um mundo urbano. Nova York: Unicef, p. 9. 84
MUNDO: POPULAÇÃO URBANA — 2014 0° CÍRCULO POLAR ÁRTICO TRÓPICO DE CÂNCER 0° EQUADOR OCEANO PACÍFICO Porcentagem urbana De 0 a 20 OCEANO OCEANO TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO De 20 a 40 PACÍFICO ATLÂNTICO De 40 a 60 OCEANO De 60 a 80 2.370 km ÍNDICO De 80 a 100 Fonte: ONU. World urbanization prospects: the 2014 revision. Disponível em: <http://esa.un.org/unpd/wup/Maps/ CityDistribution/CityPopulation/CityPop.aspx>. Acesso em: nov. 2014. Dubai é a maior cidade dos Emirados Árabes Unidos e tem apresentado altas taxas de crescimento urbano nas últimas décadas. 1. Com base no mapa, destaque as regiões mais urbanizadas no mundo. 2. De acordo com o gráfico, a partir de 1950 ocorreu um crescimento significativo da população urbana que vive na África, fenômeno que deve continuar nas próximas décadas. Por outro lado, a porcentagem da população urbana da Europa tende a diminuir. Explique esse fenômeno. 3. Pequim, na China, é uma das cidades mais populosas do mundo. Relacione o gráfico ao mapa e diga qual é a tendência do futuro da China em termos de urbanização. 85
TERMOS E CONCEITOS O processo de urbanização • cidade Em 2008, pela primeira vez na história, o número de habitantes das • urbanização cidades superou o número de pessoas que vivem no campo; em 2014, cerca • taxa de urbanização de 54% da população do planeta já vivia nos centros urbanos. A humani- • população rural dade tem deixado para trás o longo passado rural e caminha rapidamente • população agrícola para um futuro cada vez mais urbano. De acordo com as estimativas da ONU, até 2050, cerca de dois terços do crescimento da população mundial Videoaula ocorrerão em cidades, especialmente naquelas situadas nos países pobres. • Urbanização mundial - MUNDO: POPULAÇÃO URBANA E RURAL — 1950-2050 Introdução. 7000 População (em milhões) 6000 Urbano 5000 Rural 4000 3000 2000 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Fonte: ONU. World urbanization 1000 prospects: the 2014 revision. Nova York: ONU, 2014. p. 7. 0 1950 1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050 A taxa de urbanização em O urbano e o rural Cingapura é de 100% (foto de 2014). As cidades resultam de um processo de ocupação e organização do espaço com algumas características comuns. A população urbana, embora represente mais da metade da população total, ocupa uma área equivalente a apenas 3% da superfície do planeta. Desde os primeiros núcleos urbanos, a concentração de pessoas re- presentou certo grau de permanência, que levaria a uma vida sedentária e romperia com a intensa mobilidade dos povos nômades. Nessas primeiras cidades, também surgiram ou se especializaram atividades distintas das realizadas no campo, como o comércio, a administração e aquelas ligadas à defesa dos territórios. A partir do século XVIII, com a Revolução Industrial, as atividades industriais e de serviços se expandiram muito nas cidades, intensificando ainda mais a concentração da população nesses espaços, além de consolidar seu papel centralizador. DENNIS GILBERT/VIEW/CORBIS/LATINSTOCK 86
Quando falamos em urbanização, nos referimos ao aumento da por- centagem de população urbana em relação à porcentagem de população rural. Em um país urbanizado, a porcentagem da população que vive em assentamentos considerados urbanos é superior à da população rural. Esse fato ocorre principalmente por causa do êxodo rural, ou seja, da migração rural-urbana. A taxa de urbanização refere-se à porcentagem da população da área urbana em relação à população total. Os critérios que distinguem o urbano e o rural são definidos pelas agências nacionais de estatísticas (no caso do Brasil, o IBGE), de acordo com as normas estabelecidas pela legislação de cada país. Por isso, os critérios variam muito de um país para outro e são muito relativos. Na Islândia, uma aglomeração com apenas 300 habitantes já pode ser classificada como urbana; na Grécia, seriam necessários 10 mil habitantes para atingir o mesmo status. No Brasil, são consideradas urbanas as sedes dos municípios ou distritos municipais, independentemente do número de habitantes. Entretanto, existe grande diferença entre população rural e população agrícola. População rural é aquela que mora em áreas rurais; população agrícola é aquela diretamente vinculada ao trabalho na agricultura e na pecuária. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 18% da população vive em áreas rurais, mas apenas 3% exercem atividades agrícolas. Esse fe- nômeno ocorre também no estado de São Paulo: aproximadamente metade da população rural realiza atividades não agrícolas, tais como prestação de serviços domésticos e de lazer. Nas economias modernas, o mundo rural é amplamente conectado ao mundo urbano. Máquinas e equipamentos industrializados, assim como tecnologias produzidas na cidade, são consumidos nas áreas rurais, que, por sua vez, abastecem as cidades com alimentos e matérias-primas. Quanto maior o grau de modernização técnica da agricultura, menor é a oferta de trabalhadores agrícolas e mais urbanizada tende a ser a sociedade. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. GERSON SOBREIRA/TERRASTOCK EDSON GRANDISOLI/PULSAR IMAGENS Grande parte das matérias-primas e produtos de lavouras vindas do campo é transformada nas cidades e consumida no campo e na cidade (Presidente Bernardes, SP, 2015). Elementos rurais são trazidos ao espaço urbano. Feira do produtor orgânico do Parque da Água Branca, na cidade de São Paulo (SP, 2015). 87
CULTURE CLUB/CONTRIBUTOR/GETTY IMAGES As ondas de urbanização Dudley Street, rua em Londres onde crianças A primeira grande onda de urbanização, cir- Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. brincavam na época vitoriana. Gravura de Gustave cunscrita aos países em processo de industriali- Doré, publicada em Londres, uma peregrinação, zação da Europa e da América do Norte, ocorreu de Gustave Doré e Blanchard Jerrold, 1872. entre 1750 e 1950, quando a taxa de urbanização do conjunto desses países passou de 10% para LONDRES — 1854 52%, e a população urbana cresceu de 15 milhões para 423 milhões de pessoas. A pioneira Inglaterra Oxford Street Dean Street já apresentava nível de urbanização superior a 50% em 1850. RegentStreet Gt. Marlborough St. No rastro dessa primeira onda, agravaram-se os Broad Street problemas ambientais e sociais associados à concen- tração urbana. Na maior parte das grandes cidades 70 m Ring Street europeias não havia sistema de abastecimento de água ou de tratamento de esgotos, e a população Conduit Street Regent Street Golden Brewen Street mais pobre recém-chegada do campo se aglomerava Saville Row Square em cortiços insalubres. Quase todas as cidades viveram surtos de cólera e outras doenças graves New Bond Street Regents Quadrant Piccadilly associadas ao consumo de água contaminada, que matavam milhares de pessoas. Disponível em: <http://geoind.files.wordpress.com/2013/12/ snow-cholera-map.jpg>. Acesso em: nov. 2014. Em 1854, no auge de uma epidemia de cólera que devastava a cidade de Londres, na Inglaterra, Análise cartográfica o médico John Snow conseguiu associar a doença à ingestão de água contaminada vinda dos poços Os pontos representam os casos de cólera na cidade de distribuídos pela cidade. Pelo seu pioneirismo no Londres, e as cruzes, os poços de água. Qual dos poços uso da análise espacial para fins de saúde pública, representados era a fonte de contaminação? Snow é considerado um dos fundadores da moderna epidemiologia. 88 A urbanização contemporânea Uma segunda onda de urbanização teve início em 1950, nos países em desenvolvimento da América Latina, Ásia e África. Esse processo tem ocorrido com ritmos e intensidades diferentes: em 2014, a América Latina e o Caribe já registravam nível de ur- banização próximo aos 80%, e já ocorria diminuição do ritmo de crescimento urbano, enquanto na África e na Ásia menos da metade da população vivia em cidades. Porém, de acordo com as projeções da ONU, entre 2014 e 2050, cerca de 90% do crescimento da população urbana do mundo ocorrerá na Ásia e na África. Entretanto, mesmo apresentando menores níveis de urbanização, países situados na Ásia já abrigam uma porcentagem importante da popula- ção urbana global. A China, por exemplo, apresenta nível de urbanização de 54% e abriga a maior população urbana do planeta, quase 729 milhões de pessoas. A Índia, com cerca de 30% de sua população vivendo em cidades, ocupa o segundo lugar em termos globais, com 400 milhões de ha- bitantes urbanos.
Perspectiva Urbanização: cidadã problema ou solução? “A urbanização — o aumento da parcela ur- entretanto, os especialistas e os formuladores de bana na população total — é inevitável e pode políticas reconhecem cada vez mais o valor poten- ser positiva. A atual concentração da pobreza, o cial das cidades para a sustentabilidade em longo crescimento das favelas e a ruptura social nas ci- prazo. Mesmo que as cidades gerem problemas dades compõem, de fato, um quadro ameaçador. ambientais, elas também contêm as soluções. Os Contudo, nenhum país na era industrial conseguiu benefícios potenciais da urbanização compensam atingir um crescimento econômico significativo sem amplamente suas desvantagens. O desafio está em a urbanização. As cidades concentram a pobreza, aprender como explorar suas possibilidades.” mas também representam a melhor oportunidade de se escapar dela. As cidades também refletem os ONU. Situação da população mundial 2007: desencadeando danos ambientais causados pela civilização moderna; o potencial de crescimento urbano. Nova York: Fundo de População das Nações Unidas, 2007. p. 1. l Questões 1. Por que a urbanização pode ser um fator de desenvolvimento social e ambiental? 2. O mundo em desenvolvimento (sul e leste da Ásia, África Central e do Sul, América Latina) está se urbanizando rapidamente. Cite dois problemas socioeconômicos que esse fato pode acarretar. O crescimento desordenado das cidades ANDREW BIRAJ/REUTERS/LATINSTOCK A rápida urbanização dos países em desenvolvimento traz con- Em Bangladesh, muitos habitantes sigo um novo conjunto de problemas ambientais e socioeconômi- da zona rural se deslocam para cos, já que não é acompanhada de investimentos em infraestrutura, a capital em busca de trabalho como energia, redes de água e saneamento e, principalmente, da na indústria têxtil que lá se oferta de trabalho. desenvolveu, visto que Bangladesh Para a maior parte da população recém-chegada do campo, é hoje o segundo exportador sobram apenas empregos temporários, de baixa remuneração, e moradias precárias, como as favelas e os cortiços. A situação de mundial de têxteis, atrás da China. exclusão social gera violência urbana e alimenta o aliciamento dos Na foto, tráfego intenso em Dacca mais jovens para as atividades ilegais, como o tráfico de drogas. (Bangladesh, 2014). l Questões de revisão 1. Diferencie população rural de população agrícola. 89 2. Quais foram as características da primeira onda de urbani- zação, ocorrida entre 1750 e 1950? 3. Apresente as características da onda de urbanização con- temporânea, que teve início em 1950.
Infográfico O rio Cheonggyecheon Depois de centenas de anos sendo alterado, dragado e poluído, parte do rio Cheonggyecheon sumiu sob o concreto no século passado, mas ressurgiu como um símbolo da revalorização da qualidade de vida na capital da Coreia do Sul. As imagens destacam a maneira como ocorreu a ocupação das margens do rio Cheonggyecheon nos últimos séculos. Coreia Seul O coração de Seul do Norte Palácio O Cheonggyecheon é um afluente do rio Han. Em 1394, Japão Gyeongbok a monarquia coreana ordenou a construção do Palácio Seul Gyeongbok (abaixo, foto de 2008) e outros edifícios reais China Coreia perto da nascente desse pequeno curso de água, e Seul cresce à sua volta desde então. do Sul Rio Han Rio Cheonggyecheon 1760 Na ilustração de 1760, trabalhadores com animais dragam e alargam o leito seco do rio, enquanto nobres os observam de cima de uma ponte. Quase seco na maior parte 1394 do ano, o Cheonggyecheon se tornava largo e caudaloso Transformações urbanas na época das monções. A partir do fim do século Estas visões em corte do rio mostram como seu perfil foi alterado, XIV, quando virou capital da assim como o nível da água durante as enchentes periódicas. Coreia, Seul cresceu rápido, assim como o desmatamento da área e o assoreamento do rio Cheonggyecheon. Fonte: BUSQUETS, Joan (Ed.). Deconstruction/construction: the Nível estimado para enchentes a cada 200 anos a cada 100 anos Cheonggyecheon restoration project in Seoul. Cambridge: Harvard Graduate School of Design, 2011. 90
Questão Ganhos e custos ambientais ILUSTRAÇÕES: CLEITON NASS Com base nas imagens e nos textos O degradado centro histórico de Seul melhorou do infográfico, descreva a evolução do depois da reabertura do Cheonggyecheon. relacionamento entre os habitantes Viam-se apenas 6 espécies de pássaros e de Seul e o rio que cruza a cidade. 62 de plantas na área em 2003. Cinco anos depois, já eram 36 e 308, respectivamente. Doenças respiratórias e o efeito de ilha de calor diminuíram na vizinhança do rio, que chega a ser 6 oC mais fria do que as ruas localizadas a alguns quarteirões de distância. Anos 1969 1920 O Japão ocupou a Coreia de 1910 a 1945, quando terminou a Segunda Guerra Mundial. Estados Unidos e União Soviética passaram, então, a disputar a península, como área de influência, o que levou ao surgimento das Coreias do Sul e do Norte e à guerra entre elas, de 1950 a 1953. Anos Até o fim dos anos 1980, 2012 1950 a política sul-coreana foi dominada por militares Enfrentando violenta A ocupação autoritários que, fiéis à repressão, movimentos desordenada visão de industrialização civis forçaram a ditadura converteu o rio em e progresso capitalista militar a convocar eleições um canal para chuvas da época, remodelaram diretas em 1988. Com a e esgoto. a capital e passaram a democracia e o debate privilegiar o transporte público dos problemas rodoviário. da cidade, novas ideias de desenvolvimento ganharam espaço. O rio, que em 1900 ainda reunia Em vez de enfrentar as complexas questões Nos anos 1990, professores locais lavadeiras e crianças, virou um esgoto ambientais, socioeconômicas e estruturais propuseram melhorar o centro de Seul a céu aberto cercado por barracos de necessárias para recuperar o rio, de 1956 a reduzindo o trânsito e desenterrando o rio. milhares de pessoas deslocadas nas 1970, o governo o converteu em um canal Em dez anos, ganharam apoio do governo, décadas de ocupação estrangeira e subterrâneo coberto por uma movimentada que, investindo em transporte público e conflitos que desfiguraram Seul. estrada elevada. infraestrutura, realizou a ideia em 2005. CRÉDITOS DAS FOTOS: 1 ALAMY/OTHER IMAGES; 2 REPRODUÇÃO/ IAN KLEIN/JOAN BUSQUETS/DECONSTRUCTION/CONSTRUCTION: THE CHEONGGYECHEON RESTORATION PROJECT 91 IN SEOUL; 3 REPRODUÇÃO/JOAN BUSQUETS/DECONSTRUCTION/CONSTRUCTION: THE CHEONGGYECHEON RESTORATION PROJECT IN SEOUL; 4 REPRODUÇÃO/JOAN BUSQUETS/ DECONSTRUCTION/CONSTRUCTION: THE CHEONGGYECHEON RESTORATION PROJECT IN SEOUL; 5 KIM CHONKIL/AP PHOTO/GLOW IMAGES; 6 ALAMY/OTHER IMAGES
TERMOS E CONCEITOS Formas e funções da cidade • megacidade A proliferação das megacidades, aglomerações urbanas com mais • conurbação de 10 milhões de habitantes, é um dos resultados mais espetaculares do • metrópole processo acelerado de urbanização em curso. Em 1990, existiam apenas • megalópole 10 megacidades no mundo, nas quais viviam cerca de 153 milhões de • cidade global pessoas. Em 2014, a ONU contabilizava a existência de 28 megacidades, abrigando 453 millhões de pessoas, o que representava 12% da população Videoaula urbana global. Tóquio no Japão, com 38 milhões de habitantes, era a maior • Urbanização mundial II. do mundo; Nova Délhi, na Índia, com 25 milhões, ocupava o segundo lugar. SEAN PAVONE/SHUTTERSTOCK ANINDITO MUKHERJEE/REUTERS/LATINSTOCK Contrastes urbanos: em 2014, Tóquio, no Japão, era a maior aglomeração urbana do mundo e também a cidade mais rica do planeta; Nova Délhi era a segunda maior cidade e ocupava um modesto 32o lugar no ranking da geração de riqueza. Análise de imagem AS DEZ MAIORES AGLOMERAÇÕES URBANAS DO MUNDO — 2014 1. Entre as maiores aglomera- 40000 ções urbanas do mundo em 2014, quais não eram mega- 35000 cidades em 1990? 2. Todas as maiores aglomerações 30000 do mundo estão situadas em países em desenvolvimento? População (milhões) 25000 Fonte: ONU. World urbanization 20000 prospects: the 2014 revision. Nova York: ONU, p. 14. 15000 92 10000 5000 0 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 1990 Cairo São Paulo Nova York-Newark Cidade do México Pequim Xangai Osaka Nova Délhi Mumbai Tóquio
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. RAFIQ PHOTOGRAPHY/GETTY IMAGESAs megacidades reúnem migrantes de diversas procedências, mui- ASIM HAFEEZ/BLOOMBERG/GETTY IMAGES tos deles constituindo grupos de variadas etnias. Dessa forma, além MOHAMMED ELSHAMY/ANADOLU AGENCY/GETTY IMAGES de serem centros de economia dinâmica, crescimento e inovação, as megacidades são territórios de grande diversidade cultural. Por outro lado, elas também são pontos de concentração de desigualdades sociais e de degradação ambiental. Como se trata de um fenômeno relativamente novo, o crescimento das megacidades, principalmente nos países mais pobres, exige formas de ges- tão igualmente inovadoras, que possam garantir infraestrutura, habitação e inclusão social para um número cada vez maior de pessoas. A experiência dos países ricos e suas megacidades mostra que não há um limite de ta- manho a partir do qual é impossível administrar os problemas gerados por essas aglomerações. Pelo contrário, no mundo inteiro, as grandes cidades são os principais redutos de geração de riqueza. Entre as cidades com mais de 10 milhões de habitantes que mais crescem no mundo estão (em nível decrescente): Karachi, no Paquistão; Shenzhen, na China; Lagos, na Nigéria; Pequim, na China; Bangkok, na Tailândia; Dacca, Bangladesh; Guangzhou e Foshan, China; Xangai, China; Nova Délhi, Índia; Jacarta, Indonésia. Karachi é o centro da economia do Paquistão e atrai grande população. Desde a década de 2000, teve um crescimento populacional de 80%. Em 2015, contava com 19 milhões de habitantes. Apresenta um lado moderno e outro com graves problemas de infraestrutura, como pode ser visto nas fotos de 2015. Lagos é o principal centro econômico da Nigéria e um dos mais importantes do continente. A presença de atividades ligadas ao petróleo no país tem sido fator de atração para a população rural. Em Lagos há 12,6 milhões de habitantes, e nos últimos dez anos a população da cidade cresceu 48%. Cerca de 70% da população vive em favelas, como a de Makoko, uma populosa favela flutuante dessa cidade (foto de 2014). 93
As cidades menores urbana continua a crescer mais do que a população, formando regiões urbanas de baixa densidade, frag- Apesar da importância das megacidades, cerca de mentadas e desconectadas do núcleo central. Um metade da população urbana mundial vive em cida- dos principais desafios urbanos contemporâneos é des com menos de 500 mil habitantes, consideradas o de tornar as cidades mais compactas, para facili- pequenas pelos padrões da ONU. Essa porcentagem tar o provimento de serviços para os seus habitantes. varia significativamente entre as regiões do globo: na Europa, onde a urbanização é mais antiga, cerca de ANDREW HARRER/BLOOMBERG/GETTY IMAGES dois terços da população urbana vivem em cidades pequenas. Na Ásia e na América Latina, metade da população urbana vive em cidades de até 500 mil habitantes, enquanto na América do Norte, esse contigente representa apenas um terço. MATTES RENÉ/HEMIS.FR Na região do Central Park, em Nova York (Estados Unidos), está HAROLDO PALO JR/KINO um dos metros quadrados mais caros do mundo (foto de 2010). Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O Porto, em Portugal, é uma das cidades mais antigas da Europa O processo de expansão territorial das cidades e a segunda mais populosa em Portugal, com pouco mais de muitas vezes resulta na formação de grandes man- 237 mil habitantes (foto de 2012). chas urbanas, que atravessam as fronteiras munici- pais. Esse fenômeno é conhecido como conurbação. Metrópoles e megalópoles A região do ABCD de São Paulo é um exemplo típico dessa situação, pois une fisicamente as áreas urbanas A concentração da população nas cidades pro- de Santo André, São Bernardo do Campo, São Cae- vocou dois processos interligados: a verticalização tano do Sul e Diadema. Na Alemanha, por sua vez, das áreas mais centrais e o surgimento de novos a urbanização se estendeu ao longo do rio Reno e loteamentos nas regiões mais afastadas dos centros. passou a abranger cidades próximas como Colônia, Düsseldorf, Essen e Bonn. O principal fator responsável pela verticalização é o aumento dos preços dos terrenos nos bairros As cidades de Cuiabá e Várzea Grande são cidades conurbadas com melhor infraestrutura e acessibilidade. O valor (MT, 2011). elevado por metro quadrado torna rentável a indús- tria da construção civil, que atua agressivamente na As cidades mais importantes de um país, ou a obtenção de lotes e na oferta de empreendimentos cidade principal de uma rede urbana conurbada, imobiliários. Um dos melhores exemplos desse pro- recebem o nome de metrópole (junção de duas pala- cesso é o da região do Central Park, em Nova York: vras gregas: mater, mãe, e polis, cidade). A influência é preciso pagar um preço muito alto para ter o pri- das metrópoles se estende de forma acentuada às vilégio de usufruir a melhor vista da cidade. cidades vizinhas, funcionando como polos de pres- tação de serviços sofisticados. Nas últimas décadas, porém, os novos lotea- mentos na periferia têm crescido mais rápido do que a verticalização e dado origem ao fenômeno da periurbanização. As causas estão associadas ao elevado custo dos imóveis nos bairros mais próxi- mos do centro que expulsa a população de menor renda, que, por sua vez, se vê obrigada a procurar moradia nos loteamentos mais distantes, deficientes em infraestrutura e serviços urbanos adequados. Por causa desse fenômeno, muitas vezes a mancha 94
As metrópoles nacionais exercem influência em CORBIS CORPORATION/FOTOARENA todo o território de um país. É o caso, por exemplo, Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. de Nova York (Estados Unidos), Tóquio (Japão), Vancouver é uma metrópole regional situada na costa oeste Sidnei (Austrália), Buenos Aires (Argentina) e São do Canadá (foto de 2015). Paulo (Brasil). Já as metrópoles regionais, como Lion (Sudeste da França), Vancouver (litoral do Pacífico canadense), Seattle (Noroeste dos Estados Unidos) e Belém (Região Norte do Brasil), influenciam uma parte do território do país. As megalópoles são as maiores aglomerações urbanas da atualidade. Elas se formam pela expansão ou pela conurbação de duas ou mais metrópoles, originando uma extensa área urbanizada atravessada pelos mais diversos fluxos. A mais antiga e maior megalópole é a chamada Bos-Wash, na costa nordeste dos Estados Unidos. Ela se estende por territórios de dez estados, desde Boston (Bos) até Washington (Wash), abrangendo a importante metrópole de Nova York, além de Baltimore e Filadélfia. Concentra cerca de 20% da população total do país. Na Inglaterra, destaca-se a megalópe Londres-Birmingham-Manchester. No sudeste do Japão, a megalópole de Tokaido abrange Tóquio, Nagoya, Hamamatsu, Osaka, Kyoto, Kobe, Hiroshima e Nagasaki e estende-se por grande parte do território japonês. TOKAIDO: A MEGALÓPOLE JAPONESA Megalópole inicial Expansão da megalópole Sendai Área muito urbanizada MAR DO LESTE Niigata TÓQUIO Pôlderes e aterros industriais (MAR DO JAPÃO) Funabashi Aeroporto internacional Chiba Shinkansen (trem de grande velocidade) Nagano Pontes e viadutos principais Tecnopolos Kanazawa Toyama 80 km 36º N I. HONSHU Hachioji 95 Sagamihara Kawasaki Yokohama Kyoto NAGOYA Kobe Okayama Shizuoka OSAKA Hiroshima Mar Interior Higashiosaka Hamamatsu Sakai Kitakyushu Fukuoka I. SHIKOKU Nagasaki Kumamoto OCEANO PACÍFICO I. KYUSHU Tráfego marítimo 136° L (milhões de toneladas) Aglomerações urbanas Eixo de dinamismo e (mil habitantes) 500 expansão metropolitana De 200 a 300 CE1)/ALAMY/LATINSTOCK De 350 a 499 100 De 500 a 2.000 Mais de 2.000 Cidade mundial Fonte: FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. PF-(SPA São Paulo: Moderna, 2013. p. 106.
As cidades globais MIKECPHOTO/SHUTTERSTOCK Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Na sociedade em rede, algumas cidades funcionam como polos que Multidão caminha e faz compras estruturam a economia e a sociedade global. Elas coordenam e cen- na Times Square. A avenida está tralizam atividades terciárias (bancos, publicidade, consultorias etc.) e localizada em Nova York, cidade são promotoras da integração das economias nacionais com os merca- global alfa com mais conexões dos mundiais. Conhecidas como cidades globais, constituem espaços e influência no mundo. (Estados relacionais de administração e planejamento da economia capitalista Unidos, 2014). na globalização. 96 Observe, a seguir, algumas características dessas cidades. • São polos financeiros, comerciais e de serviços. Por elas transita a maior parte do dinheiro que alimenta os mercados financeiros internacionais. Contam com investimentos em tecnologia de ponta. • Sediam grandes empresas transnacionais. • Têm profunda integração com a economia global, irradiam progressos tecnológicos e polarizam os fluxos das redes mundiais. • Integram-se às redes mundiais por um conjunto de atividades que caracterizam a fase econômica atual, como serviços especializados e alta tecnologia para a indústria e o comércio: escritórios, consultorias, publicidade, financiamentos, telecomunicações etc. De acordo com um grupo de pesquisadores ingleses especializados no tema, as cidades globais podem ser divididas em três grandes categorias, de acordo com o grau e a intensidade de suas conexões externas: alfa, beta e gama. As cidades globais de tipo alfa são os espaços relacionais por excelência; nelas se aglomeram firmas especializadas que pres- tam serviços para o mundo todo. Londres (Reino Unido) e Nova York (Estados Unidos) ocupam o topo dessa categoria, que inclui mais 43 cidades. A maior parte das cidades globais de tipo alfa está situada nos países desenvolvidos da América do Norte e Europa, embora todos os continentes apresentem pelo menos uma cidade dessa categoria. As cidades globais de tipo beta são aque- las que conectam seu país ou região aos fluxos da economia global, tais como Los Angeles (Estados Unidos) e Rio de Janeiro (Brasil). Esse mesmo papel, em uma escala me- nor, é exercido pelas cidades globais de tipo gama, tais como Durban (África do Sul) e Guadalajara (México). l Questões de revisão 1. Explique a diferença entre conurbação e periurbanização. 2. Quais são os critérios que definem uma megacidade? E uma cidade global?
Novos rumos O fenômeno das cidades globais Desde a década de 1990, a socióloga Saskia Sassen estuda o fenômeno das cidades globais. Na entrevista, parcialmente reproduzida abaixo, ela analisa as relações entre os levantes populares que pipocam nas grandes cidades e o processo da globalização. Em sua obra, a sra. diz que um dos efeitos da globalização é a reor- ganização de tensões globais em microcosmos locais. É esse o processo em curso quando vemos garotos sírios escrevendo nos muros das escolas os slogans cantados na Praça Tahrir? Justamente. Para mim isso é evidência de que vivemos numa era verdadeiramente global, em que o global se manifesta horizontalmente e não por meio de sistemas de integração verticais, como o Fundo Mo- netário Internacional e o sistema financeiro. Muito da literatura sobre a globalização foi incapaz de ver que o global se constitui nesses densos ambientes locais. A tendência é pensar o global como algo que flutua lá em cima, entre os países, numa mobilidade internacional. Minha pesquisa dos últimos 15 anos conclui o contrário e tenta explicar a globalidade organizada subnacionalmente. Quando esses slogans reaparecem em lugares diferentes ou quando vemos uma recorrência de levantes, tem gente que fala de plágio. Essa é uma linguagem errada e uma falta de entendimento dos processos de globalização. O Egito não está copian- do a Tunísia, nem o Bahrein, nem o Iêmen. Não é isso. O fato é que as mesmas tendências sociais estão reproduzidas nesses locais e são um tecido comum dos levantes. Há um compartilhamento de condições sistêmicas l Questões similares. Em outras palavras, é o crescimento de 1. De acordo com o texto, o global se um grupo de pessoas, de jovens com educação, em conjunto com uma ampla e poderosa circulação constitui em “densos ambientes lo- de ideias, experiências e atos comunicacionais. cais”. Explique essa ideia. ROSSETTI, Carolina. A globalização do protesto. Caderno Aliás. 2. O texto reforça a ideia de que as cida- O Estado de S. Paulo, 13 ago. 2011. Disponível em: <www. des são espaços relacionais? Justifique estadao.com.br/noticias/suplementos,a-globalizacao-do- sua resposta. protesto,758135,0.htm>. Acesso em: nov. 2014. Momento do levante comentado MONIQUE JAQUES/CORBIS/LATINSTOCK na entrevista, na Praça Tahrir, na capital Cairo (Egito, 2011). 97
ATIVIDADES Para além do texto 3 “Não há cidades globais. Toda grande cidade é algo global, em proporções diferentes. E muito local ao 1 Escolha a alternativa que indica a(s) afirmativa(s) mesmo tempo. A maioria dos bairros e pessoas vive correta(s) e justifique a sua resposta. vidas locais. O que é global são as funções direcionais da cidade. [...] A cidade global não é concreta, é uma I. Ocorre urbanização quando aumenta o número rede interterritorial de espaços locais conectados em de pessoas que vivem nas cidades. uma rede global de capital e informação, onde estão Wall Street, a City de Londres, Ginza de Tóquio e a II. O crescimento das cidades ocorre apenas quando Avenida Paulista, entre outros.” a população urbana cresce em velocidade duas vezes maior do que o crescimento da população CASTELLS, Manuel. Caderno Mais, rural. Folha de S.Paulo, 23 maio 1999. III. Um país urbanizado é aquele no qual a maior parte Para o autor, o que é “cidade global”? da população vive em cidades. a) I, apenas. d) I e II, apenas. b) II, apenas. e) II e III, apenas. c) III, apenas. 2 “Se a população do mundo fosse mais dispersa, seriam 4 “As pessoas reunidas em concentrações de tamanho Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. utilizadas maiores ou menores porções da valiosa terra? e densidade típicos de cidades grandes podem ser A dispersão liberaria terra agriculturável de boa quali- consideradas um bem positivo, na crença de que são dade? Ajudaria a evitar a invasão de ecossistemas frá- desejáveis fontes de imensa vitalidade e por represen- geis? — a resposta, na maioria dos países, seria: Não! tarem, num espaço geográfico pequeno, uma enorme A densidade é potencialmente útil.” e exuberante riqueza de diferenças e opções, sendo muitas dessas diferenças singulares e imprevisíveis UNFPA – Fundo de Populações das Nações Unidas. e acima de tudo valiosas só por existirem. A grande Situação da população mundial 2007: quantidade de pessoas reunidas em cidades deveria ser considerada um trunfo, e sua presença, comemorada desencadeando o potencial do crescimento [...].” urbano. Nova York: Unfpa, 2007. p. 45-46. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. De acordo com o texto, a urbanização é a principal São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 244. ameaça ao equilíbro ecológico do planeta? Explique sua resposta. Você concorda com a visão da autora? Justifique sua resposta. 98
5 “Em média, crianças que vivem em áreas urbanas têm maior probabilidade de sobreviver à fase inicial da vida e à primeira infância, de ter melhores condi- ções de saúde e de contar com maiores oportunidades educacionais do que crianças que vivem em áreas rurais. Frequentemente, esse efeito é considerado ‘vantagem urbana’. No entanto, a escala de desigualdades nas áreas urbanas causa grande preocupação. Algumas vezes, as diferenças entre ricos e pobres em cidades médias e grandes podem ser iguais ou maiores do que aquelas encontradas em áreas rurais. Quando médias nacionais são desagregadas, [...] muitas crianças que vivem em condições de pobreza urbana são visivelmente menos favorecidas e excluídas da educação superior [...] e de outros benefícios usufruídos pelas crianças ricas.” UNICEF. Situação mundial da infância 2012: crianças em um mundo urbano. Nova York: Unicef, 2013. p. 6. De acordo com o texto, que característica da cidade se contrapõe à chamada “vantagem urbana”? 6 Observe a charge e diga que críticas podem ser feitas à visão do cartunista. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. © ANGELI - FOLHA DE S. PAULO 09.10.2003 7 Defina o que são megalópoles. 99
ATIVIDADES Leituras cartográficas 8 Observe os mapas e o gráfico. Em seguida, estabeleça uma relação entre as informações apresentadas em cada um deles. EVOLUÇÃO DEMOGRÁFICA DAS METRÓPOLES — MAPA DAS METRÓPOLES MUNDIAIS — 1950-2015 1950-2025 Para o período 2005-2025, foram mantidas 1950 as previsões médias da ONU Tóquio África Nova York Ásia América do Sul, 16,7 Kinshasa América Central (RDC) e Caribe América do Norte 22 Dacca (Bangladesh) 15,8 Lagos (Nigéria) 19,1 Karachi Representação sem escala. (Paquistão) 22,5 Délhi (Índia) 0,2 14,8 Manila População Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. (em milhões) 0,3 (Filipinas) 21,4 São Paulo 2015 26,4 0,3 (Brasil) 19,0 México Los Angeles Tóquio 1,0 26,4 Mombai Osaka 10,1 Pequim 1,4 (Índia) Xangai 1,5 21 Cidade do México Tianjin Manila 2,3 (México) Nova York Daca Bangcoc 15,5 Cairo Délhi 2,9 (Egito) Istambul KarachMi umbHaCyiadlceurtaábadJacarta 20,6 Calcutá Cairo 2,9 (Índia) Buenos 14,5 Pequim Aires 2,5 (China) Lagos 4,5 19,4 Xangai Rio de Janeiro 4,3 (China) São Paulo 6,0 36,4 Tóquio Representação (Japão) sem escala. 11,3 Fonte: SCIENCES PO. Atelier de Cartographie. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/agglom-rations-de-plus- 20,7 Nova York de-10-millions-dhabitants-1950-2015>. Acesso em: nov. 2014. 12,3 (EUA) 1950 1975 2000 2025 Fonte: SCIENCES PO. Atelier de Cartographie. Disponível em: <http://cartographie.sciences-po.fr/fr/evolu-o-demogr- fica-das-metr-poles-1950-2025>. Acesso em: nov. 2014. 100
9 Analise o mapa a seguir e responda às questões. MUNDO: HABITAÇÕES PRECÁRIAS Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 0° 4.270 km Parte da população urbana vivendo em habitações precárias (%) menos de 10,0 de 10,0 a 30,0 de 30,1 a 60,0 mais de 60,0 Fonte: FERREIRA, L. M. Graça. Atlas geográfico: espaço mundial. 4. ed. São Paulo: Moderna. p. 45. a) Considerando que a Ásia e a África somam mais da metade da população mundial, o que podemos dizer sobre a moradia nessas regiões do mundo? b) Compare a situação de moradia da Europa e da África. O que explica essa diferença? 101
EXAMES DE SELEÇÃO 1 (UFMT, 2011) “A globalização da produção transfor- c) à forte participação no comércio internacional, Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. mou algumas metrópoles em centros da economia sobretudo aqueles países que ultrapassaram a fase internacional. Esses centros urbanos formam uma rede de exportação de bens de baixo valor agregado. urbana por onde transita a maior parte do capital que circula pelos mercados financeiros mundiais. São as d) ao atual estágio de desenvolvimento socioeco- empresas sediadas nestes centros que lançam inovações nômico que, desde o início do século XXI, tem se tecnológicas e comandam os serviços especializados caracterizado pela estagnação. para a indústria, como a publicidade e o marketing.” e) ao expressivo crescimento dos Estados como geren- GUIMARÃES et al., 2007. ciadores da economia, após um período, entre os anos de 1980 e 90, de expansão do neoliberalismo. Como esses centros urbanos são denominados? 4 (Enem, 2016) O conceito de função social da cidade incor- a) Megacidades. pora a organização do espaço físico como fruto da regulação b) Centros regionais. social, isto é, a cidade deve contemplar todos os seus mora- c) Cidades globais. dores e não somente aqueles que estão no mercado formal d) Conurbação urbana. da produção capitalista da cidade. A tradição dos códigos de e) Megalópoles. edificação, uso e ocupação do solo no Brasil sempre parti- ram do pressuposto de que a cidade não tem divisões entre 2 (PUC-SP, 2010) Leia o trecho citado abaixo. os incluídos e os excluídos socialmente. “A concentração urbana é um dado essencial do QUINTO JR., L. P. Nova legislação urbana e os velhos fantasmas território nacional [Argentina], uma vez que 87% dos Estudos Avançados (USP), n. 47, 2003 (adaptado). 32,7 milhões de habitantes residiam, em 1991, em cen- tros urbanos. Não se trata, porém, de um perfil urbano Uma política governamental que contribui para via- composto de numerosas cidades milionárias, mas de bilizar a função social da cidade, nos moldes indica- uma forte concentração em três metrópoles principais, dos no texto, é a com indiscutível liderança de Buenos Aires[...].” a) qualificação de serviços públicos em bairros SILVEIRA, Maria Laura. Argentina: território e globalização. periféricos. São Paulo: Brasiliense, 2003. p. 65. b) implantação de centros comerciais em eixos Considerando as informações do texto e ampliando rodoviários. a análise para o conjunto da América do Sul, pode- -se afirmar que: c) proibição de construções residenciais em regiões íngremes. a) no presente, esse quadro se mantém na Argentina e não há nenhum outro país na América do Sul d) disseminação de equipamentos culturais em locais com esse tipo de predomínio da vida urbana. turísticos. b) o índice de urbanização da Argentina aponta que e) desregulamentação do setor imobiliário em áreas esse é o único país da América do Sul que se asse- favelizadas. melha neste aspecto à condição da Europa ocidental. 5 (FGV-SP, 2013) O lançamento do relatório Estado das c) somente Argentina e Venezuela (em razão de sua Cidades da América Latina e Caribe, produzido pelo economia baseada no petróleo) possuem geogra- Programa das Nações Unidas para os Assentamentos fias com predomínio tão grande das realidades Humanos (ONU-Habitat), em 21 de agosto de 2012, urbanas. repercutiu intensamente na mídia impressa e digital. d) Chile, Uruguai e Argentina são os únicos países Sobre o tema desse relatório, assinale a afirmação da América do Sul que têm um predomínio das correta. realidades urbanas, isso por possuírem um perfil mais europeu. a) Com cerca de 80% de sua população vivendo em cidades, a região formada pela América Latina e e) essa condição da Argentina se assemelha à de pelo Caribe figura entre as mais urbanizadas do outros países da América do Sul, inclusive o Brasil, mundo. que também tem a maioria da sua população em áreas urbanas. b) A maior parte da população urbana da América Latina e do Caribe vive em aglomerações urbanas 3 (FGV-SP, 2013) A história da América Latina é a histó- com mais de 10 milhões de habitantes, conhecidas ria dos contrastes e semelhanças, das convergências como megacidades. e divergências. A geografia do continente também é assim e pode-se destacar que em boa parte os países c) Apesar do recente incremento da urbanização, latino-americanos se assemelham quanto: estima-se que mais da metade do PIB da América Latina e Caribe seja produzido em áreas rurais, onde a) à fase da transição demográfica em que vivem, se concentram as atividades ligadas ao agronegócio. pois, de modo geral, encontram-se no momento inicial que se caracteriza pela redução da morta- d) O número de cidades da América Latina e Caribe lidade infantil. vem diminuindo nos últimos cinquenta anos, graças ao padrão concentrador que caracteriza a b) à urbanização que se caracterizou como um pro- urbanização regional. cesso rápido e desordenado, em geral, relacio- nado à transferência da população do campo para e) Na América Latina e Caribe, as elevadas taxas de as cidades. fecundidade vigentes entre a população rural ali- mentam um crescente êxodo migratório do campo 102 para as cidades.
EXPLORANDO OUTRAS FONTES Para ler REPRODUÇÃO Para assistir REPRODUÇÃO Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Como ficar podre de rico REPRODUÇÃO Lunchbox REPRODUÇÃO na Ásia emergente Direção: Ritesh Batra. País: Mohsin Hamid. São Paulo: Índia/França/Alemanha. Ano: Companhia das Letras, 2014 2014. Essa obra de ficção é escrita na A história se passa em forma de um livro de autoajuda Mumbai, na Índia, e tem início que acompanha a vida de um quando o serviço de entregas garoto pobre vindo da zona rural. de comida comete um erro e Nela, o autor expõe aspectos aproxima uma dona de casa essenciais da vida de uma mega- e um viúvo. A partir disso, o cidade imaginada em um país asiático, mas que filme constrói uma narrativa guarda intensa semelhança com as megacidades sobre a vida urbana moderna reais existentes no continente ou em qualquer lugar e seus personagens. do mundo subdesenvolvido. Medianeras: Buenos Os centros urbanos: Aires na era do amor a maior invenção da virtual. humanidade Direção: Gustavo Taretto. Edward Gleiser. Rio de Janeiro: País: Argentina/Espanha/ Elsevier, 2011. Alemanha. Ano: 2011. Escrita em linguagem clara O filme mostra de que e acessível, a obra se propõe a forma a solidão na cidade, a analisar a força das cidades com falta de comunicação entre base em seu potencial inventivo as pessoas e a agitação do e inovador, além de apresentar e comparar as mais meio urbano podem ganhar diferentes realidades urbanas no mundo todo e novas soluções por meio da virtualidade e do avanço analisar soluções para os problemas gerados pelos tecnológico. grandes adensamentos urbanos. Para navegar Programa da série Matéria de Capa, produzido pela TV Cultura, especial sobre as megacidades e seus problemas • http://tvcultura.cmais.com.br/materiadecapa/ materia-de-capa-as-megacidades Programa dedicado a Tóquio, na série sobre megacidades produzida pela Central Globo de Jornalismo • http://globotv.globo.com/rede-globo/fantastico/v/ toquio-a-cidade-que-nao-para-de-crescer/1256697/ Programa dedicado a Istambul, na série sobre megacidades produzida pela Central Globo de Jornalismo • http://globotv.globo.com/rede-globo/fantastico/v/ megacidades-istambul-sofre-com-os-problemas-de-transito/1241876/ Programa dedicado a Xangai, na série sobre megacidades produzida pela Central Globo de Jornalismo • http://g1.globo.com/fantastico/videos/t/edicoes/v/ xangai-investe-para-ficar-mais-moderna-e-melhorar-a-vida/1249840/ 103
CAPÍTULO Cidades e redes urbanas no Brasil 18 O processo de urbanização brasileiro apoiou-se essencialmente no êxodo rural, impulsionado pela moderni- zação agrícola e pelas condições de carência de terras criadas pelo pre- domínio do latifúndio. O urbano no Brasil Do ponto de vista regional, regis- tram-se intensas diferenças no rit- mo da transferência da população do meio rural para o meio urbano. Essas diferenças refletem as dispa- ridades econômicas regionais. A rede urbana brasileira é comandada por 802 cidades, classificadas de acordo com critérios, como as gestões pú- blica e empresarial, a oferta de ser- viços especializados e a presença de domínios na internet. Os espaços metropolitanos As metrópoles brasileiras revelam o caráter concentrador da urbaniza- ção do país. No Sudeste, a expansão das manchas urbanas se expressa também em escala regional, poden- do gerar uma megalópole. BRASIL: POPULAÇÃO RURAL E URBANA — 1950-2015 Milhões de habitantes 250 C2: H8, H10 EM13CHS105 200 EM13CHS206 150 100 85% 2015 50 68% 75% 81% 84% 2000 2010 0 36% 45% 56% 1980 1950 1960 1970 1991 RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS População rural População urbana Belo Horizonte é Fonte: IBGE. Banco de dados agregados. Disponível em: uma das capitais <https://sidra.ibge.gov.br/Tabela/1378>, IBGE. Conheça o Brasil — que mais cresce População. Disponível em: <https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o- no Brasil. Na foto, brasil/populacao/18313-populacao-rural-e-urbana.html>. vista do Mirante Acesso em: 7 jun. 2018. das Mangabeiras (MG, 2014). 104
MINAS GERAIS: REGIÃO E COLAR METROPOLITANOS 44°15’ O 43°30’ O Baldim Funilândia Sete Lagoas Prudente Jaboticatubas 19°30’ S Inhaúma de Morais Matozinhos Fortuna Capim de Minas Branco São José Taquaraçu da Varginha Pedro Confins Lagoa de Minas Taxa de crescimento Leopoldo Santa geométrico anual Nova da população (%) São José União 2000-2010 da Lapa Dados por municípios Esmeraldas Santa Vespasiano Luzia De –2,594 a 0,000 Ribeirão De 0,001 a 1,000 das Neves De 1,001 a 2,000 De 2,001 a 4,000 Pará de Minas Florestal Belo Sabará Caeté Barão De 4,001 a 6,169 Juatuba Horizonte Raposos de Cocais Contagem Taxa de urbanização (%) Betim Santa Dados por municípios Bárbara De 50 a 75 Mateus IgaSrãaodpeéJoBaicqausMCimaámripoSoasrIzbeirditoé Nova De 75 a 90 Leme Lima Acima de 90 Abaixo de 50 Itaúna Rio Acima R.M. ou R.I.D.E. Brumadinho Colar ou Área de expansão Municípios da R.M. ou R.I.D.E. Itatiaiuçu 20°15’ S Rio Manso Itabirito Bonfim Moeda Itaguara Belo Vale 20 km Fonte: IBGE. Atlas do censo demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. p. 117. 1. Observe o gráfico: em que década a população urbana brasileira ultrapassou a população rural? 2. Compare Belo Horizonte com Jaboticatubas quanto à taxa de crescimento geométrico anual da população e à taxa de urbanização. 105
TERMOS E CONCEITOS O urbano no Brasil Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. • população urbana Urbanização brasileira • rede urbana • centro de zona No Brasil, o processo acelerado de urbanização correspondeu ao período • centro sub-regional de intensa industrialização do pós-Segunda Guerra. De acordo com a Síntese • capital regional de Indicadores Sociais (2016), realizada pelo IBGE, o grau de urbanização no • metrópole Brasil era de 84,7% em 2015, superior ao da maior parte dos países europeus. OCDE: Organização para a Coo- Entretanto, os critérios que definem a população urbana não são peração e Desenvolvimento Eco- universais. Nos países que pertencem à OCDE, por exemplo, a densidade nômico, criada em 1961. Reúne demográfica superior a 150 hab./km2 é adotada como um dos parâmetros países da União Europeia, além de para que uma localidade seja considerada urbana. Estados Unidos, Canadá, Japão, Austrália, Nova Zelândia, Chile, Além de critérios de densidade, a maior parte dos países desenvolvidos Israel, Coreia do Sul, México, No- adota critérios funcionais para separar o urbano do rural. Assim, uma cida- ruega e Turquia, com o objetivo de só será definida como tal se apresentar determinadas infraestruturas de promover o desenvolvimento e equipamentos coletivos — como escolas, postos de saúde, estabeleci- econômico e social. mentos comerciais e agências bancárias — e funcionar como um polo de distribuição de bens e serviços. Videoaula • Processo de urbanização do Brasil. O Brasil não adota critérios funcionais: de acordo com a legislação vigente, população urbana é aquela residente nas sedes de município ou de distrito e nas demais áreas definidas como urbanas pelas legislações municipais, por exemplo áreas urbanas isoladas separadas das cidades por área rural ou outro limite. Por isso, alguns estudiosos acreditam que o Brasil apresenta um nível de urbanização menor do que revelam as estatísticas do IBGE. As áreas rurais são aquelas fora dos critérios definidos como urbanos. BRASIL: DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA — 2010 50°O EQUADOR Boa AP Vista Macapá RR 0º São Luís Belém Fortaleza AM PA Manaus MA Teresina CE RN Natal PI João Pessoa PB AC Porto TO Recife Rio Branco Velho Palmas PE Maceió AL RO SE MT Aracaju BA Cuiabá Brasília Salvador Goiânia DF OCEANO GO MG ATLÂNTICO MS Belo Campo Grande Horizonte ES Vitória População total das principais aglomerações urbanas TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO SP RJ Campinas Rio de Janeiro 19.672.582 PR São Paulo Taxa média de 11.838.752 Curitiba crescimento SC demográfico De 3.168.981 a 4.882.977 RS Florianópolis Percentual Fonte: IBGE. Atlas do De 1.350.841 a 3.168.980 Porto Alegre De 0,6 a 1,5 censo demográfico De 877.707 a 1.350.840 De 499.117 a 877.706 De 1,5 a 2,5 2010. Rio de Janeiro: De 335.797 a 499.116 De 2,5 a 4,0 IBGE, 2013. p. 117. De 228.297 a 335.796 Acima de 4,0 400 km Brasil: 1,166 106
Êxodo rural ARQUIVO/ESTADÃO CONTEÚDO/AE Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O processo de urbanização brasileiro apoiou-se Migrantes nordestinos foram essencialmente no êxodo rural, associado a dois con- atraídos para São Paulo, que se dicionantes que se interligam: a repulsão da força de industrializava rapidamente na trabalho do campo e a atração dessa força de trabalho década de 1960. A possibilidade para as cidades. de emprego e melhores A modernização técnica do trabalho rural, com condições de vida faziam com a substituição do ser humano pela máquina, é uma que os migrantes enfrentassem das causas da repulsão. Outra causa é a persistência dias de viagem em condições de uma estrutura fundiária concentradora. O mo- muito precárias em caminhões nopólio das terras por uma elite resulta na carência conhecidos como paus de arara de terras para a maioria dos trabalhadores rurais. (SP, 1960). Destituídos dos meios de sobrevivência na zona rural, os migrantes dirigem-se às cidades em busca de empregos e salários na construção civil ou nos serviços. O mercado urbano diversificado permite o aparecimento do trabalho informal, sem vínculo empregatício. Além disso, as cidades dispõem de serviços públicos de assistência social e hospitalar, mesmo que precários. Para as populações expulsas do campo, a cidade não é um sonho dourado: é uma promessa de sobrevivência. Urbanização e desigualdades regionais O processo de urbanização se manifesta em todo o país. Contudo, do ponto de vista regional, registram-se fortes diferenças no ritmo da transferência da população do meio rural para o meio urbano. A Região Nordeste foi a que apresentou menor taxa de urbanização, 73,4%; Ma- ranhão (58,9%) e Piauí (67,0%) foram os estados com as menores taxas de urbanização. As desigualdades no ritmo da urbanização refletem as disparidades econômicas regionais e a inserção diferenciada de cada região na economia nacional. BRASIL: EVOLUÇÃO REGIONAL DA URBANIZAÇÃO — 1950-2010 Análise cartográfica 100 Qual acontecimento contribuiu 93 90 89 para que a Região Centro-Oeste 85 se tornasse a segunda região 80 mais urbana do país a partir de 73,5 % da população urbana 70 73 1960? 60 50 40 30 20 10 0 1960 1970 1980 1991 2000 2010 1950 Região Sudeste Região Centro-Oeste Região Sul Fonte: IBGE. Banco de dados agregados. Disponível em: Região Norte Região Nordeste <www.sidra.ibge.gov.br/download/ Urbanizacao%20por%20regiao. csv>. Acesso em: jan. 2015. 107
Urbanização por regiões ZIG KOCH/PULSAR IMAGENS Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. No Sudeste, a população urbana ultrapassou a rural na década de Atualmente, Porto Alegre e 1950, sendo que a fase de urbanização acelerada encerrou-se há duas os municípios de sua região décadas. A população urbana predomina sobre a rural, o que revela um metropolitana compõem a quarta elevado desenvolvimento econômico e a subordinação da economia maior aglomeração urbana do país agropecuária à indústria, além de refletir o peso que a economia urbana (RS, 2014). tem na produção da riqueza. 108 A Região Sul teve uma urbanização lenta e limitada até 1970. A estrutura agrária, baseada na propriedade familiar, restringia o êxodo rural. Nas últimas décadas, porém, a mecanização acelerada da agricultura e a concentração da propriedade fundiária impulsionaram o êxodo rural. No Nordeste, a trajetória da urbanização permaneceu relativamente lenta. A estrutura agrária assentada sobre minifúndios familiares, na faixa do Agreste, contribuiu para evitar forte êxodo rural. Além disso, o insuficiente desenvolvimento do mercado regional reduziu a atração exercida pelas cidades. Ainda assim, durante décadas houve intensa migração do Nordeste para o Sudeste. Hoje, no entanto, no Nordeste, não há perdas populacionais significativas. A urbanização do Centro-Oeste foi impulsionada pela fundação de Brasília, em 1960, e pelas rodovias de integra- ção nacional que interligaram a nova capital com o Sudeste, de um lado, e a Amazônia, de outro. A ocupação do interior do Brasil por grandes proprie- dades voltadas para a pecuária e por culturas mecanizadas de soja e cereais acentuou a tendência à urbanização. Desde o final da década de 1960, o Centro-Oeste tornou-se a segunda região mais urbanizada do país. A Região Norte, por sua vez, conhe- ceu um processo vigoroso de urbaniza- ção nas últimas décadas, impulsionado pela proliferação de cidades ao longo das rodovias. Rede urbana brasileira O espaço geográfico abrange as redes formadas pelos complexos sistemas de fluxos de pessoas, bens, serviços, capitais e informações que caracterizam a sociedade contemporânea. A rede urbana é um conjunto de núcleos urbanos articulados entre si. Nessa rede, as cidades desempenham a função de nós, ou vértices, e as linhas representam os fluxos. De acordo com o estudo Regiões de influência das cidades 2007, publicado pelo IBGE, a rede urbana brasileira compõe-se de 802 cidades que funcio- nam como centros de comandos do território, classificadas de acordo com cri- térios como a gestão pública e empresarial, a oferta de serviços especializados e a presença de domínios na internet. As categorias utilizadas são as seguintes:
• Centros de zona: cidades de menor porte, com a atuação restrita a sua área imediata. • Centros sub-regionais: sediam atividades de gestão relativamente pouco complexas. • Capitais regionais: têm área de influência de âmbito regional e são referidas como destino para um grande número de atividades. • Metrópoles: são os 12 principais centros urbanos do país, cuja influência se estende por vastas áreas do território nacional. Entre elas, destacam- -se São Paulo — Grande Metrópole Nacional —, Rio de Janeiro e Brasília — Metrópoles Nacionais. Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre são classificadas como metrópoles, constituindo-se em um segundo nível de gestão territorial. BRASIL: REDE URBANA Mapa interativo • A rede urbana brasileira Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. OCEANO ATLÂNTICO 0° EQUADOR Belém São Luís Manaus Fortaleza Porto Velho Teresina Natal João Campina Grande Pessoa Palmas Recife Maceió Aracaju Feira de Santana Salvador Regiões de influência Vitória da Conquista Ilhéus Manaus Belém 330 km Cuiabá Montes Claros Fortaleza Recife Brasília Salvador Goiânia Belo Horizonte Rio de Janeiro Belo Uberlândia Belo São Paulo Horizonte Ipatinga Horizonte Curitiba Uberaba Divinópolis Porto Alegre Vitória Goiânia São José do Rio Preto Brasília Juiz de Fora Campo Grande Ribeirão Preto Campinas São Paulo Rio de Janeiro TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO Araçatuba Araraquara Varginha Maringá Marília Bauru Londrina Piracicaba Pouso Volta Rio de Campinas Alegre Redonda Janeiro Cascavel São José Curitiba Joinville Hierarquia dos centros urbanos dos Campos Blumenau Sorocaba São PauloTRÓPICO DE CAPRICÓRNIO Chapecó Passo Fundo Florianópolis Santos Grande Metrópole Capital Regional C Santa Maria Nacional Centro Sub-regional A Ponta Grossa Caxias do Sul Metrópole Nacional Curitiba OCEANO ATLÂNTICO Metrópole Centro Sub-regional B Porto Alegre Capital Regional A Centro de Zona A Florianópolis Capital Regional B Centro de Zona B 45° O 50° O l Questões de revisão Fonte: IBGE. Regiões de influência das cidades 2007. Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 12. 1. Cite dois fatores condicionantes do êxodo rural no Brasil. 2. Qual é a região brasileira mais urbanizada? 3. O que caracteriza a rede urbana? 109
TERMOS E CONCEITOS Os espaços metropolitanos • metropolização O processo de urbanização brasileiro foi essencialmente concentrador. • região metropolitana Em 1950, o Brasil tinha três cidades de grande porte: apenas Rio de Janeiro, • megalópole São Paulo e Recife abrigavam mais de 500 mil habitantes. Em 2010, nada • macrometrópole menos que 38 aglomerações urbanas já tinham ultrapassado a marca de meio milhão de habitantes. Cerca de 55 milhões de pessoas habitavam essas grandes cidades. Em 1950, existiam 35 cidades de porte médio, no Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. intervalo de 100 mil a 500 mil habitantes; em 2010, já eram 245 cidades. No Brasil, a estruturação colonial do espaço geográfico gerou os em- briões de algumas metrópoles, como Rio de Janeiro, Salvador e Recife. No entanto, o caráter concentrador da urbanização foi, essencialmente, um reflexo das condições em que ocorreu a modernização da economia do país. Desde a década de 1930 e, ainda mais, no pós-guerra, a industrialização baseou-se em investimentos volumosos de capital, realizados pelo Estado, pelas transnacionais ou por conglomerados privados nacionais. Um número reduzido de cidades, que apresentavam vantagens prévias, tornou-se alvo dos investimentos. Essas aglomerações evoluíram como polos de atração demográfica e grandes mercados consumidores. A con- centração econômica determinou a aglomeração espacial: o resultado foi a metropolização, ou seja, a formação de metrópoles. Recentemente, contudo, o crescimento vegetativo das grandes cidades diminuiu, o ritmo das migrações inter-regionais reduziu-se sensivelmente, o padrão do êxodo rural modificou-se e o poder de atração das cidades médias tornou-se maior que o das metrópoles. Integração funcional: ocorre As regiões metropolitanas entre dois ou mais núcleos ur- banos limítrofes cuja população O fenômeno da conurbação impulsionou a metropolização. A expan- compartilha a infraestrutura ur- são econômica das metrópoles produziu, ao mesmo tempo, crescimento bana e a rede de distribuição de demográfico do núcleo urbano central e dos núcleos situados no seu bens e serviços. Por causa da entorno. Em alguns casos, a integração das manchas urbanizadas realizou- integração funcional, ocorrem -se fisicamente, de modo que as estradas que ligavam núcleos próximos ainda fluxos pendulares diários foram incorporadas como avenidas à circulação viária metropolitana. Em de trabalhadores entre diferentes outros, as manchas urbanizadas permanecem separadas por áreas rurais, núcleos urbanos. Desse modo, há mas ocorreu completa integração funcional. intenso movimento de pessoas e mercadorias nas áreas urbanas Os processos de metropolização e conurbação geraram um descompasso integradas funcionalmente. entre os limites municipais e a mancha urbanizada. Os primeiros definem o território administrado pelo poder público municipal. A segunda é a ex- 110 pressão geográfica da cidade real. Os problemas de infraestrutura viária, transportes, abastecimento de água, saneamento, coleta e tratamento de lixo da cidade real manifestam-se nos diversos municípios conurbados. A gestão integrada desses e de outros serviços públicos escapa à competência política das prefeituras municipais. A Lei Complementar no 14, de 1973, reconheceu os desafios gerados pelo processo de conurbação e criou a noção de região metropolitana. As regiões metropolitanas são estruturas territoriais especiais, formadas pelas principais cidades do país e pelas aglomerações a elas conurbadas. Tais estruturas configuram unidades de planejamento integrado do desen- volvimento urbano. Originalmente, a noção foi aplicada às nove maiores aglomerações urbanas do país.
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A Constituição de 1988 delegou aos estados o poder de legislar sobre a criação de regiões metropolitanas. Por isso, diversas novas regiões me- tropolitanas foram criadas na década de 1990. Entre as 25 mais impor- tantes, oito são nucleadas por capitais estaduais: São Luís, Vitória, Natal, Florianópolis, Maceió, Goiânia, Aracaju e João Pessoa. No estado de Santa Catarina, foram estabelecidas outras duas: a do Vale do Itajaí, nucleada por Blumenau, e a do Norte/Nordeste catarinense, nucleada por Joinville. No norte do Paraná, criaram-se mais duas, nucleadas por Londrina e Maringá. No estado de São Paulo, foram criadas as regiões metropolitanas da Baixada Santista, em torno de Santos, e de Campinas. A população total dessas metrópoles corresponde a cerca de 30% da população brasileira. Em 2010, cerca de 55% da população dessas metró- poles habitavam os núcleos urbanos centrais, enquanto 45% residiam nos núcleos periféricos. Mas a média camufla as diferenças: na Grande Salva- dor, a capital baiana concentra mais de 75% da população metropolitana, enquanto na Grande Porto Alegre os municípios periféricos abrigam nada menos que 65% da população total da região. Os desafios das metrópoles A Grande São Paulo sintetiza a dimensão dos desafios de planejamento metropolitano. Nos seus 39 municípios, abriga 21,5 milhões de habitantes, ou cerca de 10% da população nacional e 35% da população total das regiões metropolitanas brasileiras. O lixo coletado diariamente está em torno de 16 mil toneladas, o número de veículos supera 6 milhões e há cerca de 11,5 milhões de viagens/dia em transportes coletivos. Aproximadamente um milhão de pessoas moram em favelas. POPULAÇÃO DAS METRÓPOLES MAIS POPULOSAS E DE SUAS REGIÕES METROPOLITANAS – 2018 MUNICÍPIO POPULAÇÃO POPULAÇÃO DA REGIÃO DO MUNICÍPIO METROPOLITANA São Paulo 12.176.866 21.571.281 Rio de Janeiro 6.688.927 12.699.743 Brasília 2.974.703 4.341.733 Salvador 2.857.329 3.899.533 Fortaleza 2.643.247 4.074.730 Belo Horizonte 2.501.576 5.916.189 Manaus 2.145.444 2.631.239 Curitiba 1.917.185 3.615.027 Recife 1.637.834 3.975.411 Goiânia 1.495.705 2.564.755 Belém 1.485.732 2.491.052 Porto Alegre 1.479.101 4.317.508 Fonte: IBGE. Estimativas de População dos municípios para 2018. Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/ populacao/9103-estimativas-de-populacao.html?=&t=downloads>. Acesso em: 3 jul. 2019. 111
A expansão urbana São Paulo expandiu-se, inicialmente, num sítio urbano limitado pelos rios Tietê e Pinheiros. No pós-guerra, porém, os cursos canalizados dos dois rios foram tragados pela mancha urbana em expansão. Os vetores principais de crescimento, ligados às periferias populares, direcionaram-se para o leste e o sul, limitados ao norte pelas elevações da Serra da Cantareira. Na década de 1980, a cidade alcançou as áreas de proteção de mananciais das represas Guarapiranga e Billings, no sul. Em 2014, a mancha urbanizada contínua ultrapassava 2.200 km2, o equivalente a mais de 221 mil quadras. O descompasso entre a integração funcional dos núcleos urbanos e os limites político-administrativos aparece, ainda mais nitidamente, no caso de Brasília e das cidades próximas, localizadas nos estados vizinhos. Nesse caso, foi instituída a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Fe- deral e Entorno, resultado do planejamento urbano conjunto dos governos de Goiás, Minas Gerais e do próprio Distrito Federal. SÃO PAULO: A EXPANSÃO DA MANCHA URBANA – 1872-2002 10 km RUBENS CHAVES/ PULSAR IMAGENS Área 18 metropolitana 16 Número de habitantes (em milhões) 14 Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.12 10 8 6 Fonte: SCIENCES PO. Atelier de Cartographie. Disponível em: <http:// Município de 4 cartographie.sciences-po.fr/en/s-o-paulo-talement-urbain-1872-2002>. São Paulo Acesso em: jan. 2015. 2 1872 1900 0 1930 1950 1963 1974 1985 2002 Valparaíso de Goiás é uma cidade que cresceu muito em função da expansão de Brasília. Na foto, a rodovia BR-020, que corta a cidade (GO, 2014). 112
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A dinâmica do crescimento metropolitano A rodovia Presidente Dutra LUCAS LACAZ RUIZ/FOTOARENA interliga São Paulo ao Rio de Segundo um estudo norte-americano sobre as 200 maiores metrópoles mundiais em 2012, Belo Horizonte é a metrópole que cresce mais rápido Janeiro e apresenta um dos no Brasil, seguida por Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. maiores tráfegos de carga do país. Esse crescimento, no entanto, é inferior ao das demais metrópoles latino- -americanas. Brasília caiu da 16a posição, em estudo semelhante realizado São José dos Campos (SP, 2014). entre 2007 e 2010, para a 34a posição; Rio de Janeiro, da 24a para a 42a; Belo Horizonte subiu da 39a posição para a 28a; São Paulo, da 38a para a 113 37a; Porto Alegre, da 60a para a 50a. Projeções da ONU para 2025 indicam que regiões metropolitanas do Nor- te e Nordeste, bem como do interior paulista, terão aumento populacional expressivo, superando as tradicionais São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Porto Alegre. Isso se explica pelo redirecionamento dos fluxos migratórios e pelo surgimento de centros urbanos regionais metropolitanos, que vão assumindo funções das antigas grandes metrópoles. A megalópole e a metrópole expandida São Paulo e Rio de Janeiro, separadas por apenas cerca de 400 km, configuram o principal eixo econômico do país. A expansão das regiões metropolitanas dessas cidades e das localizadas sobre o eixo de circulação que as conecta poderá fazer surgir a primeira megalópole do país. São Paulo e Rio de Janeiro estão conectadas por eixos de circulação rodoviários e ferroviários estabelecidos no Vale do Paraíba. Ao longo desse eixo, adensa-se o espaço urbanizado que está sob a administração das me- trópoles. Na parte paulista do Vale, destacam-se os centros industriais de São José dos Campos e Taubaté. Na parte fluminense, situa-se o grande polo siderúrgico de Volta Redonda. Outros centros industriais — como Jacareí (SP), Guaratinguetá (SP), Resende (RJ) e Barra Mansa (RJ) — dinamizam os fluxos da megalópole em formação. A existência de barreiras físicas muito nítidas — a Serra do Mar, a leste, e a Serra da Mantiqueira, a oeste — contribui para a concentração urbana ao longo do Vale do Paraíba. A expansão das cidades do eixo acarreta proces- sos locais de conurbação, integrando as manchas urbanas de São José dos Campos e Jacareí, de Taubaté e Pindamonhangaba, de Guaratinguetá, Lorena e Aparecida, de Volta Redonda e Barra Mansa. Os problemas de circulação nessa região decorrem da intensidade dos fluxos gerados pela concentração urbana e industrial. Mas esses problemas são agravados pela presen- ça de polos de turismo de praia, que geram tráfego pela Serra do Mar, e de turismo de montanha, que aumentam o tráfego na Serra da Mantiqueira. A duplicação da Via Dutra é insuficiente para conferir fluidez aos deslo- camentos de pessoas e mercadorias ao longo do eixo. A ampliação dos serviços da ponte aérea entre as metrópoles está limitada pela capacidade dos aeroportos existentes. O proje- to de modernização ferroviária e a implantação de um trem-bala surgem como alternativas para descongestionar o transporte de pessoas e mercadorias entre as duas metrópoles.
Os municípios da região A metrópole expandida JOÃO PRUDENTE/PULSAR IMAGENS metropolitana de Campinas Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. atingiram a melhor colocação no Na porção leste do estado de São Paulo, o fe- Índice de Bem-estar Urbano (Ibreu), nômeno da urbanização extensiva manifesta-se na composto pelos itens: mobilidade configuração de outro sistema de cidades. Trata-se urbana, condições ambientais e da macrometrópole ou metrópole expandida, que habitacionais, atendimento de ocupa a área centralizada pela região metropoli- serviços coletivos e infraestrutura tana de São Paulo. É limitada por quatro centros urbana. O estudo é baseado em regionais circundantes e está estruturada sobre dados do censo de 2010. Na foto, os eixos de circulação que ligam a aglomeração Lagoa do Taquaral, em Campinas urbana de São Paulo a Campinas, a noroeste, San- (SP, 2014). tos, a sudeste, São José dos Campos, a nordeste, e Sorocaba, a sudoeste. A urbanização extensiva no espaço macrometro- politano dinamiza processos de valorização imobi- liária, ligados à concorrência entre diferentes usos do solo. Os usos industriais, residenciais e de lazer, que competem entre si, tendem a expulsar os usos agrícolas tradicionais. Os mananciais que fornecem água são duramente disputados pelas deze- nas de cidades da metrópole expandida e sofrem os efeitos das descargas industriais. A megalópole e a metrópole expandida são produtos do fenômeno da “urbanização total”, que ocorre em diversas áreas do planeta. No Sudeste brasileiro, esse fenômeno leva a desafios de planejamento regional cuja magnitude está associada à difusão da pobreza e à limitada capacidade de investimento. A MEGALÓPOLE EM FORMAÇÃO Nova Duque Iguaçu de Caxias Campinas São Gonçalo Rio de Janeiro São José dos Campos Guarulhos TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO Principais rodovias Osasco São Paulo Concentrações urbanas Santo André OCEANO ATLÂNTICO Centros urbanos (habitantes) São Bernardo Menos de 100.000 do Campo De 100.000 a 249.999 Fonte: IBGE. Atlas geográfico De 250.000 a 499.999 escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 146. De 500.000 a 999.999 114 30 km 1.000.000 e mais 45° O l Questões de revisão 1 O que são regiões metropolitanas? 2. Quais as cinco maiores metrópoles brasileiras? Em que região elas se encontram? 3. Explique o processo que poderá formar a primeira megalópole do país.
Perspectiva Plano Diretor e o cidadã Estatuto da Cidade “O Plano Diretor é uma lei municipal elaborada RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS com a participação de todos. É o instrumento bá- sico da política territorial que vai dizer como será Curitiba, capital do Paraná, 2014. o desenvolvimento do município. Nele deve estar explicitado o projeto de cidade que queremos ter. O Plano Diretor deve ser discutido com toda Podemos dizer de forma resumida que ele: a sociedade antes de sua transformação em lei. A participação de todos os cidadãos é fundamental • é resultado do planejamento do futuro da cidade; em todas as etapas de elaboração, implementação, monitoramento e fiscalização do Plano Diretor. • organiza seu crescimento e transformação; É importante conhecer e discutir democraticamente as posições de cada segmento social, buscando • define as ações prioritárias; que, ao final, prevaleçam aquelas propostas que representam os interesses da maioria da população e • dimensiona as metas a serem buscadas; a concretização do compromisso com a construção de cidades mais justas! • regulamenta os instrumentos urbanísticos para normatizar o processo de construção e o mer- Prefeitura, Câmara de Vereadores, Poder Judi- cado imobiliário; ciário, Ministério Público e cidadãos, cada um tem o seu papel para a melhoria da realidade • estabelece o sistema de gestão democrática. municipal. [...]” [...] Revisão 2014. Plano Diretor de Curitiba. Disponível em: <www.ippuc.org. O Estatuto da Cidade é a Lei Federal (no 10.257 de br/planodiretor2014/arquivos/INFORMATIVO%20PLANO%20DIRETOR%20 10 de julho de 2001) que regulamenta e desenvolve o capítulo ‘Da política urbana’, da Constituição DE%20CURITIBA%202014%20COMPLETO.pdf>. Acesso em: mar. 2015. Federal (1988 nos artigos 182 e 183), estabele- cendo como deve ser elaborada a política urbana em todo o país. Seu objetivo é possibilitar que as cidades brasi- leiras possam crescer de forma ordenada, proteger o meio ambiente e garantir os direitos urbanos fundamentais, como a moradia digna e os trans- portes sustentáveis. Para isso, o Estatuto estabelece um conjunto de regras para organizar o território do município, que devem ser aplicadas de acordo com a realidade local. [...] A Lei do Plano Diretor define a função social da cidade e da propriedade urbana, além de organizar o crescimento e o funcionamento do município. Consiste em um pacto sociopolítico da sociedade em direção a uma cidade mais humana, participa- tiva, inovadora, inclusiva, funcional, sustentável e que ofereça qualidade de vida para a população. Deve apresentar uma visão de futuro para as pró- ximas décadas, orientando o desenvolvimento do município. [...] O Estatuto da Cidade exige que haja participação popular em todas as etapas do Plano Diretor. [...] l Questão De que forma a população pode participar e fiscalizar o Plano Diretor da cidade? 115
ATIVIDADES Para além do texto 1 Observe a imagem e relacione-a com a urbanização brasileira. 2 Com base no gráfico abaixo, indique em quais regiões estão localizadas as cinco Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. áreas metropolitanas mais populosas. POPULAÇÃO DAS 15 MAIORES REGIÕES METROPOLITANAS (RM) — 2018 RM São Paulo 5 10 15 20 25 milhões de habitantes RM Rio de Janeiro RM Belo Horizonte RIDE Distrito Federal e entorno RM Porto Alegre RM Fortaleza RM Recife RM Salvador RM Curitiba RM Campinas RM Manaus RM Goiânia RM Vale do Paraíba e Litoral Norte RM Belém RM Sorocaba 0 Fonte: IBGE. Estimativas de População dos municípios para 2018. Disponível em: <https://www.ibge. gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9103-estimativas-de-populacao.html?=&t=downloads>. Acesso em: 3 jul. 2019. 116
3 Explique o acelerado ritmo da urbanização brasileira 5 Leia o texto a seguir e, depois, responda à questão. no pós-guerra utilizando as noções de repulsão do meio rural e atração das cidades. “A via regional, surgida a partir de uma demanda extraurbana, constitui o motor inicial que provoca a Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. causação circular entre oferta e demanda de transporte urbano de passageiros ao longo de seu traçado. [...] O transporte intraurbano surge, então, como um subproduto do sistema interurbano [...]. À medida que a cidade cresce, ela se apropria e absorve os trechos urbanos das vias regionais, como nos casos das rodovias antigas que, com o tempo, se transformaram em vias urbanas. [...] As vias regionais de transportes constituem o mais poderoso elemento na atração da expansão urbana. [...] Outro elemento que mais influencia a expansão urbana — agora no sentido de obstruí-la, e portanto adensar o tecido urbano — são os obstáculos naturais, tais como serras, zonas de proteção de recursos naturais etc. Cidades em vales tendem a crescer mais no sentido do vale do que transversalmente a ele.” VILLAÇA, Flávio. Espaço intraurbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel/Fapesp/Lincoln Institute, 1998. p. 82-85. Com base nessas ideias, analise a configuração da megalópole brasileira. 4 No processo da urbanização brasileira, o êxodo rural combinou-se com as migrações inter-regionais. Explique e exemplifique essa combinação. 117
ATIVIDADES 6 Sobre as regiões metropolitanas, responda: a) Qual foi o objetivo da legislação que definiu as regiões metropolitanas? b) Por que diversas novas regiões metropolitanas foram criadas na década de 1990? Leituras cartográficas Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 7 A partir da década de 1970, definiram-se com maior nitidez as regiões polarizadas pelas metrópoles nordestinas, em função da retração da influência de São Paulo e Rio de Janeiro. O mapa abaixo não contribui para sustentar essa afirmação. Explique por quê. BRASIL: EVOLUÇÃO DA REDE RODOVIÁRIA — 1955-1975 0º Boa Macapá EQUADOR Vista Rio Branco Manaus Belém São Luís Porto OCEANO Velho Fortaleza PACÍFICO 490 km Teresina Natal 1955 João 1964 Palmas Pessoa 1975 (1990) Recife Maceió Aracaju Cuiabá Salvador Goiânia Brasília (1960) Campo Belo Horizonte Grande Vitória Rio de Janeiro São Paulo TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO Curitiba Florianópolis OCEANO Porto Alegre ATLÂNTICO Fonte: elaborado com base em DEÁK, Csaba; SCHIFFER, Sueli Ramos (Orgs.). 50ºO O processo de urbanização no Brasil. São Paulo: Edusp, 1999. p. 92-95. 118
8 Compare os mapas de regiões metropolitanas do Brasil em 2010 e 2018 e explique quais foram as principais mudanças que ocorreram no período, levando em consideração os fatores históricos de povoa- mento das regiões brasileiras. BRASIL: REGIÕES METROPOLITANAS — 2010 RR AP Macapá EQUADOR 0º Belém Grande São Luís AM Manaus PA Grande Fortaleza MA Teresina CE RN Natal AC TO MSuadroaenshteenPP-sJeeIutCaraozmleiniprCaoin-aarirGirPaSAnBELdAerPaAEcagMjruReaJPeoscetecãseiisofóoea RO MT BA Vale do Salvador Rio Cuiabá DF Distrito Federal GO e entorno Goiânia MG Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. 490 km MS Belo Horizonte Vale do Aço ES OCEANO PACÍFICO SP Grande Vitória Maringá Londrina Campinas RJ TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO Rio de Janeiro Região metropolitana PR São Paulo Região integrada de Curitiba Baixada Santista desenvolvimento (Ride) Norte-Nordeste Catarinense Chapecó SC Vale do Itajaí Foz do Rio Itajaí OCEANO Lages Florianópolis Porto Alegre Tubarão ATLÂNTICO RS Carbonífera 50° O Fonte: elaborado com base em IBGE. Organização territorial. Municípios por regiões metropolitanas. Disponível em: <http://observatoriodasmetropoles. net/download/observatorio_RMs2010.pdf>. Acesso em: jan. 2015. BRASIL: REGIÕES METROPOLITANAS — 2018 RR AP Capital Macapá Central EQUADOR 0º Sul do AC estado Belém Grande São Luís Manaus Santarém PA MA Fortaleza MT Sudoeste AM Vale do Maranhense Grande Sobral Teresina Rio Cuiabá CE Cariri RN Natal PI PB João Pessoa TO PE Recife Porto Palmas Petrolina/ AL Maceió Velho Gurupi Juazeiro SE RO Distrito Feira de Federal Santana Salvador BA GO DF Goiânia 008_m_SFB_2EM_GEO_4bim_M19MG Vale do Aço ES MS Belo Horizonte 490 km Grande Vitória SP RJ Rio de Janeiro Maringá Londrina Campinas Umuarama ApucSaorraoncaaba Jundiaí V. do TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO São Paraíba Toledo PR Paulo Campo Baixada Santista Cascavel Mourão Curitiba OCEANO SC OCEANO PACÍFICO Serra ATLÂNTICO Gaúcha Região metropolitana RS Região integrada de Porto desenvolvimento (RIDE) Alegre 50° O Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2018. p. 145. 119
EXAMES DE SELEÇÃO 1 (Enem, 2011) “O Centro-Oeste apresentou-se como 3 (UFPB, 2012) Os movimentos sociais no Brasil não se Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. extremamente receptivo aos novos fenômenos da urba- resumem à luta pela terra rural. Na história recente, nização, já que era praticamente virgem, não possuindo identificam-se vários movimentos sociais que reivin- infraestrutura de monta, nem outros investimentos fixos dicam melhorias das condições de vida da população, vindos do passado. Pôde, assim, receber uma infraes- como, por exemplo, a União por Moradia Popular que trutura nova, totalmente a serviço de uma economia também se organiza na Paraíba, em cidades como João moderna.” Pessoa, Alagoa Grande e Bayeux. Considerando o tema luta por moradia e sua relação com a dinâmica social, SANTOS, M. A urbanização brasileira. é correto afirmar: São Paulo: Edusp, 2005 (adaptado). a) O déficit de moradia é uma realidade que atinge O texto trata da ocupação de uma parcela do território todas as médias e grandes cidades brasileiras, onde brasileiro. O processo econômico diretamente asso- se encontram os Movimentos de Sem-Teto, que ciado a essa ocupação foi o avanço da reúnem representantes de todas as classes sociais. a) industrialização voltada para o setor de base. b) A falta de moradias é uma realidade que atinge b) economia da borracha no sul da Amazônia. somente as grandes cidades, devido ao seu desen- c) fronteira agropecuária que degradou parte do cerrado. volvimento industrial e, consequentemente, ao d) exploração mineral na Chapada dos Guimarães. grande fluxo migratório do interior para as capitais e) extrativismo na região pantaneira. dos estados. 2 (Fuvest, 2009) A recente urbanização brasileira tem c) O projeto do Governo Federal “Minha Casa, Minha características parcialmente representadas nas situa- Vida” é uma importante política de habitação ções I e II dos esquemas a seguir. popular que visa distribuir, gratuitamente, casas aos moradores de rua e de favelas. Situação I d) A história da urbanização brasileira mostra formas Momento 1 Momento 2 desiguais e segregacionistas de organização do espaço urbano, bem como exprime as diferenças Situação II entre classes sociais. Momento 1 Momento 2 e) O Movimento de Sem-Teto é caracterizado pela luta por moradia, pela implantação de postos de saúde Limite municipal e pela ampliação e democratização das empresas imobiliárias privadas. População urbana 4 (FGV, 2014) “Ao se avaliarem as características da Área urbana urbanização brasileira em seu período mais recente, é importante considerar os efeitos do processo de inter- Considerando essas situações, é correto afirmar que, nacionalização da economia.[...] Uma das tendências entre outros processos, desse processo é reforçar a localização de atividades a) I representa a involução urbana de uma metrópole nas cidades ‘da região mais desenvolvida do país, onde está localizada a maior parcela da base produtiva, regional. que se moderniza mais rapidamente, e onde estão as b) I representa a perda demográfica relativa da cidade melhores condições locacionais’.” central de uma Região Metropolitana. Maria Luisa Catello Branco. In As metrópoles e a questão social c) II representa o desmembramento territorial e cria- brasileira. Rio de Janeiro: Revan, 2007. p. 101 (adaptado). ção de novos municípios. A tendência mostrada no texto d) II representa a formação de uma região metropo- a) dinamiza as redes urbanas em escala nacional. litana, a partir do fenômeno da conurbação. e) II representa a fusão político-administrativa de b) dá origem à formação de inúmeras metrópoles no interior do país. municípios vizinhos. c) reforça as desigualdades espaciais no Brasil. 120 d) minimiza a histórica concentração de riqueza em espaços reduzidos. e) destaca o papel das metrópoles no contexto da globalização. 5 (Furg, 2009) Nas grandes cidades brasileiras, a falta de moradia e o aumento do desemprego estão diretamente relacionados à existência de que tipos de habitação? a) Favelas e condomínios. b) Favelas e cortiços. c) Mansões e vilas. d) Vilas e bairros. e) Lugarejos e condomínios.
EXPLORANDO OUTRAS FONTES Para ler REPRODUÇÃO Para navegar Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. O que é cidade REPRODUÇÃO Ministério das Cidades • <www.cidades.gov.br> Raquel Rolnik. São Paulo: REPRODUÇÃO REPRODUÇÃO Brasiliense, 1994. Nesse site estão disponíveis informações e notícias REPRODUÇÃO sobre as cidades que compõem o território nacional, REPRODUÇÃO A autora aborda o fenômeno bem como o texto do Estatuto das Cidades. da cidade a partir de sua ori- gem, há 5.000 anos, nos vales Atlas do Desenvolvimento Humano da Mesopotâmia, apontando • <www.pnud.org.br/atlas> para os conteúdos comuns às aglomerações urbanas ao longo Além do acesso a dados sobre urbanização, o atlas da história humana e também possibilita a elaboração de mapas temáticos do país, em função de suas distintas de regiões e de estados com base em dados estatís- localizações. ticos do IBGE. O destaque fica por conta das tabelas de dados sobre as regiões metropolitanas brasileiras. O espaço do cidadão Programa de Cidades Sustentáveis Milton Santos. São Paulo: • <www.cidadessustentaveis.org.br> Edusp, 2007. O Programa, idealizado pela Rede Nossa São Paulo, O geógrafo Milton Santos Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis aborda a questão da desigual- e Instituto Ethos, apresenta diversas sugestões para dade na distribuição dos espa- a melhoria da qualidade de vida nas cidades. Além ços que se formam por meio das disso, apresenta indicadores e ações já realizadas em atividades econômicas. Com algumas cidades brasileiras e a situação atual delas. isso, o autor aponta para uma reflexão em que a restrição de Para assistir acesso da classe social de renda mais baixa a determinados locais da rede urbana Garotas do ABC (Aurélia materializa-se na dimensão espacial. Schwarzenega) Direção: Carlos ABC do desenvolvimento Reichenbach. País: Brasil. urbano Ano: 2003. Marcelo Lopes de Souza. Rio de Na região do ABC paulista, Janeiro: Bertrand Brasil, 2008. uma jovem operária têxtil man- tém um relacionamento com A obra analisa o significado um rapaz que inicia sua partici- do fenômeno urbano e da urba- pação em movimentos contra nordestinos, homosse- nização no Brasil e no mundo, xuais e negros. Dessa forma, a narrativa apresenta a bem como discute os principais contradição entre o rapaz manter um relacionamento problemas urbanos e as estra- amoroso com uma jovem negra e participar desses tégias necessárias para o seu movimentos descendentes do Integralismo brasileiro. enfrentamento. A problemática da reforma urbana, urgente e necessária no Brasil, é um dos destaques Uma onda no ar do livro. Direção: Helvécio Ratton. País: Brasil. Ano: 2002. Estudos sobre a rede urbana Quatro amigos moradores de uma favela de Belo Horizonte Roberto Lobato Corrêa (Org.). desejam criar uma rádio livre Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, que atenda às necessidades 2006. do lugar onde vivem. O desejo se torna realidade e os amigos Reúne oito textos clássi- criam a Rádio Favela, que, operando na ilegalidade, cos sobre a temática da rede conquista a todos da comunidade. urbana, sendo importante tanto para a discussão do conceito 121 quanto para a análise das espe- cificidades da rede urbana brasi- leira, cuja configuração é, ao mesmo tempo, produto e condição para as dinâmicas sociais em curso no país.
CAPÍTULO Direito à cidade 19 As cidades representam a mais profun- DEPOSITPHOTOS/GLOW IMAGES Melbourne foi eleita quatro vezes pela revista da e radical intervenção humana sobre The Economist a melhor cidade do mundo a superfície do planeta. O espaço ur- para se viver. Entre os quesitos considerados bano condensa uma longa história de na pesquisa, a cidade destacou-se em: atividade social e reflete os diferentes saúde, cultura, meio ambiente, educação e ambientes culturais e as variadas es- infraestrutura (Austrália, 2015). truturas econômicas que envolveram a sua produção. Estão em permanente mudança, o que expressa a disputa de interesses de diferentes agentes, como as empresas da construção civil, as in- corporadoras imobiliárias, os proprietá- rios de imóveis e os movimentos sociais. Viver na cidade Em todo o mundo, a população que migra do campo para a cidade busca a possibilidade de consumir mais produ- tos, usufruir de melhores serviços e en- contrar melhores condições de trabalho. Principalmente nos países periféricos, a maior parte da população urbana é com- posta de pessoas pobres, que de modo geral expressam preferência pela vida na cidade, dadas as condições de extrema carência em que viviam no meio rural. Desafios urbanos A maioria das grandes cidades apresenta problemas de infraestrutura, principal- mente aqueles relacionados ao déficit habitacional, ao saneamento básico e à mobilidade urbana. Esses problemas serão tão mais intensos quanto menor for a capacidade de investimento do po- der público. Apesar disso, a tendência é de concentração cada vez maior da população no meio urbano, o que tor- na necessário encontrar alternativas para reforçar o papel desses espaços na inovação e comando do desenvolvimen- to econômico e cultural. C3: H11, H13, H14, H15 EM13CHS104, EM13CHS205, C5: H22, H25 EM13CHS206, EM13CHS301, C6: H26 EM13CHS401, EM13CHS501, EM13CHS502, EM13CHS504, 122 EM13CHS605
SHIMIZ CORPORATION WERNER DIETERICH/ALAMY/ FOTOARENA The Green Float é um projeto de cidades flutuantes elaborado pela empresa japonesa Shimizu. A empresa planeja construir ilhas artificiais dotadas de tecnologias, que serviriam de moradia à população e reduziriam em 40% as emissões de carbono. Cada um dos círculos teria 1 km de diâmetro, abrigando entre 10 mil e 50 mil moradores. As células teriam autonomia para flutuar sozinhas, mas poderiam se ligar a outras para formar cidades maiores e até mesmo países. Na fotografia, casas providas de sistema de energia solar, em Baden-Württemberg. O sistema é tão eficiente que produz energia excedente, ou seja, gera mais energia do que o necessário para o consumo das residências (Alemanha, 2015). 1. Para que Melbourne apresente notas elevadas nos quesitos meio ambiente e infraestrutura, que tipos de investimento devem ter sido feitos na cidade? 2. A empresa japonesa Shimizu imagina uma cidade que possa, no futuro, resolver vários problemas urbanos. Enumere esses problemas. 3. O que você entende por cidade sustentável? Qual é sua importância? 4. Na cidade onde você mora há exemplos de políticas relacionadas à proteção ambiental e à qua- lidade de vida? Se não existem, que ações poderiam ser implantadas? 123
TERMOS E CONCEITOS Viver na cidade • expansão horizontal • mercado imobiliário As cidades se definem, sobretudo, por serem lugares de grande aglo- • verticalização meração de pessoas, nos quais são realizados os mais diferentes tipos de • gentrificação troca. Ademais, as cidades exercem o papel de difusão de mercadorias, serviços, capitais e informações para além de seus próprios limites. Videoaula • Direito à cidade. Em geral, nas cidades estão localizadas as sedes das empresas, in- cluindo as do setor agropecuário. É para a cidade que muitas pessoas Estudantes secundaristas tomam se deslocam, para usufruir de serviços importantes (como hospitais, es- as ruas da capital paulista para colas técnicas e de nível superior) ou participar de atividades culturais protestar contra projeto de e políticas (concertos musicais, apresentações de teatro e dança e atos reorganização da rede pública de públicos, como passeatas). O centro das cidades sempre foi o lugar de ensino do estado de São Paulo. manifestações e reinvindicações populares, o que reforça o símbolo do Entre novembro e dezembro de poder das praças e avenidas. 2015, mais de duzentas escolas estaduais foram ocupadas pelos Agentes da produção da cidade estudantes (SP, 2015). Nas cidades, novos loteamentos são construídos todos os dias, e ave- nidas expressas tomam o lugar de ruas estreitas, casas e jardins. Torres são erguidas em terrenos baldios ou sobre os escombros de mansões que ou- trora abrigavam famílias aristocráticas. Tranquilas alamedas residenciais são invadidas por estabelecimentos comerciais, bares, restaurantes e cinemas. Essa permanente metamorfose das cidades expressa o movimento in- cessante de valorização e desvalorização das diferentes localizações. Atrás desse movimento estão o mercado imobiliário e a indústria da construção civil: a metamorfose da cidade é, antes de tudo, um grande negócio que envolve os proprietários das terras urbanas, os incorporadores imobiliários, as corretoras de imóveis, os bancos, as prefeituras e os órgãos públicos. LUIZ CARLOS MURAUSKAS/FOLHAPRESS 124
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. A dinâmica do mercado imobiliário Especular: praticar operação financeira com o objetivo de ob- Proprietários de muitos imóveis nas grandes áreas urbanas podem ter lucro sobre valores sujeitos à especular com o valor dos terrenos. Para isso, eles mantêm as propriedades oscilação do mercado (no caso, mais próximas do centro vazias e sem uso, forçando a população de baixa mercado imobiliário). renda a morar em bairros periféricos. Para atender às necessidades de benfeitorias urbanas desses bairros mais distantes, o poder público precisa 125 expandir a rede de água, esgoto e de iluminação, assim como construir creches, escolas e serviços de saúde, acelerando a expansão horizontal da cidade. Essa lógica de produção da cidade eleva os custos dos inves- timentos públicos. Apesar de os impostos pagos pelos cidadãos serem a principal fonte de recursos de tais investimentos, são os proprietários, que aguardam a valorização de suas terras, que mais saem ganhando, uma vez que as melhorias urbanas estendidas aos bairros distantes valorizam os preços das propriedades vazias entre o centro e os novos bairros. Daí em diante, é desencadeado o circuito do mercado imobiliário, en- volvendo outros agentes econômicos. O incorporador imobiliário se associa ao proprietário de terras para implementar um loteamento, o que não é uma tarefa simples. É preciso elaborar um projeto de acordo com as normas do município, obter sua aprovação no órgão de planejamento urbano municipal, possuir recursos para limpar o terreno, para recortar os lotes e para construir a infraestrutura mínima exigida por lei (guias e sarjetas, por exemplo), como tam- bém desenvolver estratégias de marketing e venda dos lotes. Nesse processo, os incorporadores imobiliários podem contar com o apoio das corretoras de imóveis e ainda obter linhas de financiamento de bancos públicos e privados. Caso o preço da terra urbana se torne muito elevado, o mercado imo- biliário pode desencadear outro processo de produção do espaço urbano: a verticalização. Erguer edifícios com vários andares barateia o custo de construção do imóvel, uma vez que o preço do terreno é dividido entre todos os apartamentos ou salas comerciais que constituem o empreendimento. A valorização de determinadas localizações é condicionada por inúmeros outros fatores. A localização central da principal área de comércio e serviços é consequência do funcionamento do mercado imobiliário. Geralmente, os terrenos centrais valorizam-se por serem mais acessíveis aos consumidores. Assim, os empresários de atividades terciárias aceitam pagar o preço elevado desses “pontos” centrais, pois eles prometem lucros compensadores. A acessibilidade ao centro tradicional ou aos subcentros comerciais sempre foi um fator de valorização dessas localizações. Assim, durante muito tempo, os terrenos próximos ao centro apresentaram preços mais elevados, definindo a divisão entre bairros ricos (cinturão residencial que envolve o centro) e os bairros pobres (áreas periféricas). A implantação de lojas, escritórios e bancos na área central intensifica-se com o crescimento das cidades. Casas são demolidas para dar espaço aos pré- dios, aumenta-se o número de estabelecimentos comerciais e, assim, o centro das cidades passa a adquirir novos significados e funções ao longo do tempo. Um fator que também influencia a valorização de imóveis é sua localiza- ção em relação à malha viária (ruas, avenidas etc.) e à rede de transportes públicos disponível. A proximidade de um imóvel a uma linha de metrô, por exemplo, pode ser o fator determinante de sua valorização, ou, ao contrário, a proximidade entre determinado imóvel e uma avenida com fluxo intenso de automóveis pode causar transtornos aos moradores por conta da poluição sonora e do ar — fatores que acabam por desvalorizar o imóvel. A proximidade com áreas públicas de lazer, como praias, parques e praças, também pode influenciar o valor de venda ou de aluguel de determinado imóvel.
O comércio de ambulantes se RONALDO NINA/TYBARessignificação dos centros comerciais multiplica nas áreas centrais, Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. que vão sendo ressignificadas, Nas décadas de 1970 a 1990, o mercado consumidor de alto poder adquirindo características aquisitivo abandonou o centro, principalmente nos países em desen- particulares. Na imagem, venda de volvimento. Os estabelecimentos comerciais e de serviços da região tiras de banana fritas e salgadas voltaram-se então para o mercado consumidor popular. As vitrines subs- em Itacoatiara (AM, 2014). tituíram os artigos caros e finos por mercadorias baratas. Muitas lojas sofisticadas foram transferidas do centro para outras regiões da cidade, e os antigos pontos foram ocupados pelo comércio popular, camelôs e vendedores ambulantes. A expansão horizontal das áreas metropolitanas, associada à intensifica- ção dos problemas do intenso tráfego de veículos e também à construção de vias expressas, pulverizou as atividades terciárias por todo o tecido urbano. Essa disseminação do comércio e dos serviços não eliminou a importância dos centros tradicionais e dos subcentros, mas acrescentou novidades à paisagem, ou seja, a presença de shopping centers, hipermer- cados e centros comerciais e empresariais espalhados por toda a cidade. As atividades industriais, os empreendimentos terciários, as agências bancárias e as clínicas médicas beneficiam-se da aglomeração espacial. Os centros tradicionais e os subcentros são aglomerações espontâneas, cuja formação acompanha o crescimento do mercado consumidor de toda a cidade ou de parte dela. Um shopping center ou um centro empresarial é uma aglomeração planificada e implantada de acordo com as vantagens locacionais, visando às facilidades de acesso das principais avenidas, linhas de metrô e rodovias que conectam aquela área do tecido urbano com áreas adjacentes e de outras cidades. Análise cartográfica TÓQUIO: ÁREA URBANA 1. Como se divide a população Ikebukuro-eki Nippori-eki por renda na cidade de Tóquio? IKEBUKURO 2. Analise a distribuição dos sub- centros em Tóquio, consideran- Shinkansen Cidade alta do as vantagens de localização. (antigamente da aristocracia, Trem de alta velocidade hoje bairro de elites e do Yamanote Ueno-eki setor terciário) Cidade baixa Cinturão ferroviário UENO (antigamente dos mercadores e artesãos, hoje bairros populares Akihabara-eki e de pequenas indústrias) Centro de negócios Governo SHINJUKU Subcentros ligados aos Metropolitano Shinjuku-eki entroncamentos ferroviários Centro de poder Palácio e Tokyo- Linha de metrô Parque Imperial -eki Principais linhas ferroviárias urbanas Antigo Bolsa Estação ferroviária central Governo (2a do mundo) Outras estações Rodovia Parlamento Zona portuária SHIBUYA MINATO GINZA 1 km Shibuya-eki Hamamatsucho-eki Monotrilho Yurikamome Shinagawa-eki Trem automático MEGURO Meguro-eki Fonte: LE MONDE Diplomatique. El atlas de las metrópolis. Paris: Le Monde, 2014. p. 83. 126
Nas décadas de 1980 e 1990, a disseminação de JOÃO PRUDENTE/PULSAR IMAGENS subcentros comerciais e a pulverização das ativida- des terciárias no espaço urbano contribuíram para o Nas décadas de 1980 e 1990, as periferias urbanas foram ocu- aparecimento de subúrbios residenciais compostos padas por empreendimentos imobiliários de alto padrão como de moradores de alta renda, principalmente nos este visto do alto em Campinas (SP, 2012). países em desenvolvimento. Inúmeros empreendi- mentos imobiliários, tais como Alphaville e Granja Bairros antigos da área central de Barcelona Viana, em São Paulo, ilustram esse movimento rumo sofreram intenso processo de renovação urbana, ao subúrbio. o que atraiu o interesse da população de maior A desvalorização das localizações nunca é defi- renda. Na foto, Las Ramblas (Espanha, 2013). nitiva. A abertura de avenidas pelo poder público ou a implantação de empreendimentos comerciais nas proximidades podem valorizar as áreas beneficiadas, tornando-as atraentes para as camadas da população de alta renda, fenômeno denominado gentrificação. Quando isso ocorre, empreendedores imobiliários atiram-se sobre os terrenos e imóveis desvalorizados, adquirindo-os a baixos preços. Os residentes são removidos, e as edificações, degradadas pela falta de manutenção, são demolidas. Edifícios residenciais ou de escritórios são erguidos e toda a paisagem é reinventada. Esse processo de valorização ou de revalorização de bairros degradados ocorreu nas últimas décadas nas áreas centrais de inúmeras cidades, como Lon- dres e Barcelona. A gentrificação é um processo em marcha nas principais cidades do mundo. PHILIPPE TURPIN/ PHOTONONSTOP/ 127
A questão da moradia Em cidades europeias como Paris, a população mais pobre vive na perife- ria, em regiões menos valorizadas e não disputadas pelas elites. Nos Estados Unidos, até a década de 1990, a população de menor renda se concentrava nos bairros centrais. Com a implantação de projetos e empreendimentos imo- biliários nesses centros, denominados projetos de revitalização, moradores de baixa renda mudaram-se, passando a ocupar os subúrbios mais afastados. É o caso de cidades como Detroit, Chicago e Nova York. Nos países em desenvolvimento, o contraste entre os bairros é maior. De um lado, estão os bairros ricos, que contam com comércio diversifica- do, oferta de serviços públicos, condomínios fechados, elegantes edifícios e shopping centers. É a chamada cidade formal, dotada de construções legalizadas, com boa infraestrutura, equipamentos e serviços urbanos. Muitas vezes, não muito distante dali, está a cidade informal, que não conta com os mesmos serviços e equipamentos urbanos e ocupa áreas desvalorizadas. É o que se verifica, por exemplo, no Brasil. Em São Paulo, alguns bairros luxuosos foram construídos nos topos dos morros, mas a população de baixa renda construiu suas moradias nas margens de córregos nos fundos de vale. No Rio de Janeiro, a situação é inversa: bairros luxuosos localizados na orla marítima convivem com favelas próximas, construídas nas encostas dos morros. Atualmente no mundo, cerca de 900 milhões de pessoas vivem em habi- tações urbanas informais, ou seja, habitações improvisadas ou inacabadas, construídas com restos de materiais, como tábuas, papelão ou alvenaria. Segundo as Nações Unidas, esses moradores representam um terço dos habitantes dos espaços urbanos, que habitam assentamentos precários, situados em espaços inadequados para moradia: nos encostamentos de rodovias e linhas de ferrovias; nas margens de rios, mangues ou áreas susce- tíveis a enchentes; e vertentes de morros sujeitas a deslizamentos de terra. São grandes os problemas gerados pela concentração de pessoas em áreas sem infraestrutura. A incorporação de um enorme contingente po- pulacional às cidades não veio acompanhada de sua efetiva incorporação à cidadania, aos direitos urbanísticos e sociais. DIDA SAMPAIO/AE/ESTADÃO CONTEÚDO Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Favela Tucunduba, na periferia de Belém, no bairro do Guamá (PA, 2014). 128
Tribos urbanas Análise de imagem Num mundo cada vez mais conectado pelos meios de comunicação Bob Cuspe é um personagem de massa, a cultura jovem tornou-se de vital importância para o melhor dos quadrinhos brasileiros criado entendimento dos espaços urbanos, uma vez que a juventude se expres- pelo cartunista Angeli no come- sa como agente catalisador e propagador de estilos de vida modernos e ço da década de 1980. A charge cosmopolitas, centrados na música, no lazer e no consumo de produtos ressalta algumas características específicos. Alguns desses estilos criaram as denominadas tribos urba- do estilo punk. Quais são elas? nas, movimentos que se expandiram amplamente na década de 1990. As tribos urbanas desenvolvem uma linguagem própria e estabelecem sua identidade por meio de tatuagens, cortes de cabelos e roupas. A busca pela diferença, o desejo de causar impacto, de contrastar é o que mobiliza as tribos urbanas. Os movimentos punk, skinhead, hip-hop, entre outros, mobilizam, de forma mais visível, a atenção juvenil. O movimento punk O movimento punk (do inglês, “podre” ou “lixo”) surgiu na Inglaterra, no final dos anos 1960. Os jovens, que viviam excluídos socialmente e sem perspectivas de mudança, aglutinaram-se em grupos que andavam com roupas rasgadas e praticavam atos de violência. Proclamando a anarquia, chocaram a opinião pública por pregar a destruição do sistema. As ideias desse movimento foram disseminadas pelo mundo e passaram a despertar cada vez mais o interesse dos jovens das periferias urbanas. Ao assumirem uma postura de contestação contra o Estado e o sistema, eles consideram o movimento internacionalista, formando uma complexa rede de comuni- cação entre jovens do mundo inteiro. Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. GABO MORALES/FOLHAPRESS ANGELI - TODO BOB CUSPE - SÃO PAULO: CIA DAS LETRAS 2015. Os skinheads Grupos punks e skinheads de São Os skinheads (do inglês, “cabeça raspada”) também surgiram na In- Paulo se uniram em junho de 2011 glaterra. Filhos de operários e moradores das periferias urbanas, eles para protestar contra ataques aos começaram a organizar o próprio movimento em oposição ao dos punks. homossexuais, demonstrando que Vestiam calças com suspensórios, botas e jaquetas, além de rasparem possuem bandeiras comuns, como os cabelos. Formados, majoritariamente, por imigrantes jamaicanos que a discordância de qualquer tipo de frequentavam clubes de reggae, disseminaram nas periferias britânicas um intolerância e discriminação. grande interesse pelo rocksteady e pelo ska, ritmos musicais originários da Jamaica que despertam a consciência política a respeito da margina- 129 lização e da exploração dos trabalhadores. Na década de 1980, os skinheads ficaram conhecidos por atos racistas, violentos, nacionalistas e anti-imigrantes. Mas essas atitudes não foram apoiadas por todos os participantes do grupo; pelo contrário, geraram a fragmentação do movimento em subgrupos que não reconhecem os atos racistas como verdadeiramente skinheads.
O movimento hip-hop ritmo e poesia), um tipo de música que se desenvol- veu com base em poemas falados de improviso em O hip-hop surgiu no Bronx, bairro da periferia de trechos de antigas músicas negras; e o real-grafitte, Nova York com forte presença de latinos e negros, manifestação gráfica realizada em paredes, roupas em meados dos anos 1970. Os moradores dessa ou telas. O movimento hip-hop apresenta nas letras região da cidade enfrentavam diversos problemas de músicas e em outras formas de expressão artística como violência, tráfico de drogas e pobreza. A rua uma forte conotação social. era o único espaço de lazer e muitos jovens entra- vam em gangues que se confrontavam de maneira A partir da década de 1980, a cultura hip-hop violenta pelo domínio territorial do bairro ou de difundiu-se no mundo inteiro, gerando nova corrente determinada rua. musical e a profissionalização dos artistas. A influência e a visibilidade da cultura hip-hop atraem um público O hip-hop representa a unificação de três tipos cada vez mais amplo e diversificado, firmando-se de manifestações culturais: o break, dança de grande como um elemento da cultura urbana global. impacto visual; o rap (sigla de rhythm and poetry — HIP-HOP: UMA COMPETIÇÃO DE DANÇA MUNDIAL Las Vegas CANADÁ Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Adulto, ESTADOS infantil, UNIDOS misto. MÉXICO RÚSSIA NORUEGA FINLÂNDIA NOVA ZELÂNDIA Grandes Grupos 1 2 3 4 6 (Megacrew) 5 15 14 13 AUSTRÁLIA EQUADOR 87 MALÁSIA COLÔMBIA 9 10 12 ÍNDIA PERU 11 LÍBANO ISRAEL BRASIL ARGENTINA Batalha mundial Hip-hop internacional: 1 Irlanda 6 Bélgica 11 Grécia ZIMBÁBUE uma competição de dança mundial 2 Reino Unido 7 Suíça 12 Bulgária ÁFRICA 3 Países Baixos 8 França 13 Romênia DO SUL Países participantes da competição 4 Dinamarca 9 Espanha 14 Hungria com equipes de bailarinos licenciados 5 Alemanha 10 Itália 15 Ucrânia Ganhadores da edição de 2013 (por categoria) Cidade-sede da final internacional Fonte: LE MONDE Diplomatique. El atlas de las metrópolis. Paris: Le Monde, 2014. p. 127. l Questões de revisão 4. Apesar de as tribos urbanas terem surgido nos Estados Unidos e na Inglaterra, esses 1. Relacione a expansão horizontal e vertical movimentos culturais juvenis se espalha- das cidades com o circuito do mercado ram pelo mundo. O fenômeno pode ser imobiliário. explicado pela facilidade de comunicação entre os jovens no mundo globalizado, mas 2. Por que a área central da cidade é sem- o espaço urbano dos países mais pobres pre um espaço de grande interesse para também é um campo fértil para esses as atividades terciárias, como agências movimentos culturais. Explique por quê. bancárias, correios e órgãos públicos? 3. Associe o processo de degradação do centro tradicional com a gentrificação. 130
Novos rumos Solos culturais: a favela como protagonista “Ruas, becos e vielas tornam-se palcos. Atividades culturais acontecem, RUBENS CHAVES/PULSAR IMAGENS muitas vezes, em pequenos espaços improvisados, como um quintal emprestado, o fundo de um bar ou o campo de futebol. Nas favelas, A ausência de salas de periferias e comunidades populares podem até faltar salas de teatro, de teatro, cinema e de casas cinema ou casas de show, mas isso não significa a ausência da arte e de espetáculos estimulou de ações culturais. Pelo contrário, segundo o diretor do Observatório de a criação de diferentes Favelas, Jorge Barbosa, ‘As favelas são solos férteis para a criação cultural’. intervenções artísticas nas periferias das grandes cidades. No livro Solos culturais, Barbosa afirma ser preciso ‘superar as distinções Na foto, parte do conjunto territoriais que estabelecem recortes de subalternização entre o que se de favelas do Complexo do considera cultura superior (exprimindo o sentido de civilizado) e o popular Alemão, na cidade do Rio de ou folclórico (carente da obra civilizadora), tantas vezes veiculadas nas Janeiro (RJ, 2012). localizações consideradas opostas, como as de centro e periferia, ou de asfalto e favela’. A publicação é fruto do projeto Solos Culturais, realizado por parceria entre o Observatório de Favelas, o Governo do Estado do Rio de Janeiro e a Petrobras. Iniciado no ano de 2011, o projeto já formou cem jovens em produ- ção cultural e pesquisa. Chamados de solistas, os participantes têm entre 15 e 29 anos de idade e são moradores de cinco diferentes localidades da capital do Rio de Janeiro — Cidade de Deus, Complexo do Alemão, Complexo da Penha, Manguinhos e Rocinha. A formatura dos jovens aconteceu no mesmo dia do lançamento da obra, que reúne informações sobre a metodologia e os conceitos utilizados pelo Solos Culturais para identificar os hábitos culturais da juventude que reside nas favelas cariocas. De acordo com Barbosa, o Solos Culturais é uma possibilidade de estabelecimento de outras significações e de difusão de outros reconheci- mentos sobre o sentido de cultura. ‘Olhando de cima, não vemos grandes equipamentos culturais. Mas, quando nos aproximamos, percebemos a riqueza de manifestações, práticas e invenções que brotam desses ter- ritórios. O não reconhecimento dessas áreas da cidade por importantes agentes e instituições reforça estereótipos e aumenta as distâncias sociais. É preciso gerar novos registros, com os quais as linguagens estéticas que permeiam o cotidiano das favelas sejam entendidas e vividas como prá- ticas culturais relevantes’ [...]. A pesquisa identificou a música e as artes cênicas como as práticas culturais mais frequentes nos cinco territórios analisados — Cidade de Deus, Complexo do Alemão, Complexo da Penha, Manguinhos e Roci- nha. As ações culturais realizadas em tais comunidades, em sua maioria, têm mais de cinco anos de atuação e a maior parte das atividades ocorre todos os dias ou de duas a três vezes por semana.” ACESSO: o blog da democratização cultural. Disponível em: <www.blogacesso.com.br/ ?p=6244>. Acesso em: jan. 2015. l Questões 1. Mesmo sem equipamentos culturais públicos (bibliotecas, teatros, salas de cinema) são realizadas inúmeras atividades culturais nas favelas do Rio de Janeiro. De que forma isso acontece? 2. Segundo o coordenador do projeto Solos Culturais, o não reconhecimento das práticas culturais desenvolvidas em favelas reforça preconceitos. Cite alguns deles. 131
TERMOS E CONCEITOS Desafios urbanos • moradia • mobilidade urbana A moradia e a mobilidade urbana podem ser consideradas dois direitos • sistema multimodal fundamentais das pessoas que vivem nas cidades. Nenhuma necessidade bá- • ilhas de calor sica dos seres humanos (alimento, vestuário, descanso, segurança, trabalho • chuvas ácidas etc.) pode ser plenamente satisfeita sem a garantia de uma habitação com • lixo urbano as condições mínimas de moradia, o que envolve o direito à privacidade • deslizamentos de terra e à salubridade (as construções devem contar com isolamento térmico, ventilação e iluminação natural, além de outras benfeitorias). Da mesma Mutirão: mobilização coletiva forma, a mobilidade urbana envolve o direito de ir e vir de todos os mora- e voluntária para a realização dores da cidade. Não adianta ter garantido o direito à moradia se o bairro de uma tarefa de interesse co- está distante dos equipamentos públicos de lazer e cultura, e o custo e o mum, no caso, a construção de tempo gastos no transporte para o trabalho são elevados. Por causa disso, moradias. a moradia e a mobilidade transformaram-se nos maiores desafios urbanos. Moradias urbanas Segundo a ONU, mais de 100 milhões de pessoas vivem sem teto. Para suprir essa necessidade, seria preciso construir 4 mil habitações por hora nos próximos 25 anos. Além da falta de moradia, mais de 1 bilhão de pessoas não tem acesso à água potável e 2,5 bilhões não têm acesso aos serviços básicos de saneamento. Para enfrentar esse desafio, a tendência mundial tem sido a legalização dos assentamentos precários da cidade informal. Afinal, em muitos países, essas moradias estão tão degradadas que nada estimula os habitantes a investir em melhorias se eles não têm o título de propriedade dos imóveis e garantias de que não serão expulsos da área onde moram. O poder públi- co tem investido em saneamento básico e melhoria de infraestrutura nos assentamentos legalizados, o que tem contribuído para a diminuição gra- dativa, de forma proporcional, da população que vive em imóveis precários. Tais melhorias não seriam possíveis sem a participação dos movimentos sociais que lutam pelo direito à moradia. Grande parte dos investimen- tos públicos depende de parcerias com as empresas da construção civil e de recursos obtidos nos bancos. Para atender às necessidades da popula- ção mais pobre, tem crescido o número de experiências de mutirão e de autogestão dos projetos habitacionais. FABIO KNOLL/PULSAR IMAGENS Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Heliópolis, uma das maiores favelas paulistanas, vem passando por um projeto de urbanização que incluiu a construção de 71 prédios projetados pelo renomado arquiteto Ruy Ohtake (SP, 2011). 132
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