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mamae-ensine-me a ser campeã

Published by Paulo Roberto da Silva, 2018-09-12 16:46:41

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Francisco Brito ||| 49 Como o sol estava muito quente, as duas caram na praia só poruma hora – das 09h00min – 10h00min horas. Esther e Camila voltarampara casa. Esther não media esforço para passar o tempo com a sua lha. Oconvívio com a lha trazia muita energia positiva e alegria. As duas cavamhoras pintando juntas e buscando encontrar novas combinações de cores.Camila fazia Esther se sentir como uma menina em tais momentos – erasimplesmente ótimo brincar com a lha. Como Camila era lha única, ela costumava brincar com os seusamigos imaginários no quintal da casa. Esther achava aquilo normal,então ela não interferia. Foi a partir das brincadeiras com a lha que Esther tomou gostopela pintura. Não levou muito tempo, Esther estava pintando quadros efazendo exposição dos seus quadros nas feiras e os vendendo. Ela agorapercebia pequenos detalhes que a tornava um ser com energia positiva.Ela sabe que a lha veio para tirá-la da escuridão da solidão e colocá-lanum patamar que ela pode ser mulher e mãe. Camila enche a vida dos pais de alegria.

Capítulo 12 45 A Escola A escola é a base para a construção da formação social naaprendizagem da criança. Criança que tem acesso a boas escolas, desdeo início de sua vida escolar, tem melhor desenvolvimento em suashabilidades e elevado nível de aprendizagem – sabiamente, dizem oseducadores. Camila entrou no primeiro período do ensino de alfabetizaçãocom seis anos. Em u ano, ela já lia e escrevia com letras cursivas. Eraa queridinha de todos os coleguinhas e adorada pelas professoras. Mas,logo descobriram o que ela fazia. E não demorou muito e os buchichostornaram-se crescentes de que Camila era um capeta, vestida de menina,por ela ser travessa... Tão travessa e tão danada que os coleguinhas puseramo apelido carinhoso nela de “menina do miolo mole”. Camila era uma menina cheia de energia. Por mais que ela fosse pequena, ela sabia se defender. Quandoela contou para a mãe que as meninas da escola puseram apelido nelade “menina do miolo mole”, Esther sentiu uma raiva por dentro. Mas,conteve-se. Ela sabia que precisava ensinar ingenuidade para a lha, emvez de plantar discórdia no coraçãozinho dela. – O que é miolo mole mamãe? Esther pensou antes de responder a pergunta da lha. – Eu conheço por miolo mole o go roxo que cai do pé e se parte.A gente apanha o go e a gente raspa para comer. É muito saboroso. É do

Francisco Brito ||| 51miolo mole do go que se faz a geleia de go. Nunca ouvi alguém chamaroutra pessoa de miolo mole. Para “mim é novo este termo. – Mamãe, não enrole. Diga logo o que signi ca o apelido: meninado miolo mole? – Miolo-mole diz-se de uma pessoa que perdeu a capacidade depensar, por não ter mais sagacidade. É o mesmo que dizer que uma pessoaé desmiolada ou desajuizada. – Você quer dizer “doida”, né!. – Pessoa que tem memória fraca. “Mamãe eu sou mesmo uma menina do miolo mole?” – Não. Você é muito é da esperta e inteligente. – Sei. Eu não gostei de ser chamada de menina do miolo mole. – Não ligue para este apelido bobo. Amanhã quando Você chegarà escola e encontrar as suas coleguinhas, diga: oi menina do miolo mole!Diga para todas as coleguinhas. E logo todas as suas coleguinhas serãochamadas de menina do miolo mole. Aí, a brincadeira perde a graça.Ninguém chama ninguém mais de miolo mole. As duas caíram na risada e deram gostosas gargalhadas. Esther explicou para a lha que ela nunca casse zangada com umdeterminado apelido que uma coleguinha a chamasse, senão o apelidopegaria. O melhor que ela tinha a fazer era transferir aquele apelido paraa próxima coleguinha, para outra e mais outra, até o apelido car comoutra menina. No nal todas teriam o mesmo apelido. Aí o apelido nãotinha graça. Porque um apelido só tem graça quando a outra pessoa cazangada e apela. Camila fez o que a mãe ensinou. Na manhã seguinte, quando elaencontrou a primeira amiguinha a cumprimentou, dizendo: oi menina domiolo mole. E foi assim com todas as outras amiguinhas. E a brincadeiratornou saudável. Ninguém cou zangado e o apelido não pegou emninguém. Camila era mesmo uma menina espevitada. Estava sempre com umsorriso nos lábios, falante e perguntadeira. Gostava de brincadeiras queexercesse motricidade. Brincava de esconde-esconde, teatro, castelo, forteapache, bambolê... E adorava brincar de soltar pipa, jogar bolinha de

52 ||| Mãe ensine-me a ser campeãgude, brincar de bleibleide, videogame, desenhar e de jogar futebol comos meninos. Ela só não gostava de brincar de princesa nem de bonecas. Aquela explosão de energia a liberava para fazer o que lhe desse nacabeça. O que ela mais gostava era ir para o sítio das tias. Sempre que tinha um feriado prolongado, Esther e Mansur saíamcom Camila. E chamavam o passeio de “férias em família”, que era ir paraum hotel fazenda nas proximidades ou para o sítio – herança que Mansure as irmãs tinham recebidos dos pais. No sítio tinha criação de porcos, galinhas, ovelhas, cavalos demontaria, algumas éguas mansas e cabeças de gado. Daquela vez Camila se divertiu a valer. Como as galinhas estavamcom pintinhos novos e uma porca tinha dado cria, aquilo foi o máximopara ela. Ela cou brincando com os pintinhos até descobrir a ninhadade porquinhos. Desde então ela não largou mais um porquinho que ele oelegeu como seu brinquedo principal, o qual passou a chamá-lo de bembé. Esther observou que depois daquela viagem das “férias em família”,a Camila melhorou o rendimento na escola. A viagem com os pais nãosó proporcionava lazer, como ofereceu nova experiência de conhecernovas pessoas, novos lugares, ver animais pastando solene no campo, verpássaros diferentes dos que ela via no quintal de sua casa. Talvez, porque na roça, Camila saía da zona de conforto que tinhaem casa e aprendia a se virar sozinha, por um lado, e por outro, elaaprendia a decidir sobre o próximo passo a ser dado. Isso, talvez, zessecom que houvesse um uso maior do cérebro para ver onde pisava paraatravessar a zona do medo. Esther e Mansur passaram a viajar com Camila com mais frequência.Ela sempre voltava daquelas “férias em família” muito mais autocon ante.E na segunda-feira, do alto de seus quases sete anos, ela ia para a escolacom mais disposição e encarava os inúmeros “dever de casar” e as muitas“lições de casa” que a professora mandava para casa. Com tantos “dever de casa” e tantas “lição de casa”, Esther viviacom o piloto automático ligado o tempo todo. Quando a Camila punhao pé dentro de casa, ela ia olhar na mochila da lha para ver qual era o“dever de casa” e qual era a “lição de casa”.

Francisco Brito ||| 53 Esther está sempre disposta em ajudar a lha na lição, já que aslições de casa são praticamente impossíveis de a criança fazer sem a ajudade um adulto. Esther montou um local na casa, longe da televisão, denominado“meu cantinho de estudo”. Tem boa iluminação, escrivaninha e cadeiraadequada, onde Camila se sente confortável para fazer as suas “lições decasa” e os inúmeros “dever de casa”. Camila estava adiante do plano intelectual apresentado noensinamento da escola. Ela tinha questionamento maduro e diferentedas suas coleguinhas, o que fazia com que algumas professoras tivessemressalvas contra o comportamento de Camila. Esther estava sempre recebendo bilhetes das professoras de Camilasobre o comportamento de Camila. Na reunião de pais para serem apresentadas as regras da escola paraa turma do primeiro ano do ensino fundamental, Camila foi citada como“uma menina que fugia às regras da escola, por ser muita danada”. Naquela hora Esther, como mãe de Camila, levantou-se e pediu apalavra e disse: – Senhoras, eu não sou educadora nem psicóloga, eu sou mãe.Permitam-me dizer algumas palavras em favor de minha lha. Euacompanho o desenvolvimento dela diariamente. E asseguro que a Camilaé uma criança fantástica. Ela tem uma inteligência excepcional. Criançascomo a minha lha e outras que devem ter na escola são crianças com QIacima da média, devendo ser conduzidas com explicações, negociações eescolhas, em vez de ordens e gritos. – A senhora quer dizer: deixe a criança fazer o que ela quer. É boma senhora saber que professoras não são babás, são educadoras. – Longe de mim querer interferir nas orientações dos professores,contestar a orientação pedagógica ou impor limite à escola. Eu só nãoconcordo com avaliações pejorativas, como ouvi, aqui, quando disseramque a minha lha é “danada” Eu coloquei a minha lha neste colégio porquecon o nos limites pedagógicos do colégio. Eu sou uma mãe cuidadosa,atualizada, primo pela disciplina e sei impor limites à minha lha. – O que mais se vê hoje em dia são crianças desajustadas, mesmo lhos de pais atualizados, o que exige da escola o trabalho de educação

54 ||| Mãe ensine-me a ser campeãmoral dessas crianças. Hoje os professores vivem pisando em ovos devidoà intromissão dos pais nos assuntos de disciplinas dos alunos. – Eu sou uma mãe que vejo o professor como autoridade dentro dasala de aula. E passo esse conceito para a minha lha. – Muitos pais interferem negativamente no aprendizado do lho aofazer o dever de casa do lho. Por mais que se tente combater isso, a escolanão consegue. As mães continuam fazendo o dever de casa da criança e o lho só copiam. – A minha presença na vida escolar de minha lha, como mãe, éajudá-la no seu desenvolvimento educativo. E como família, eu buscofazer parte da interação entre a escola e os pais para saber se a minha lhaestá mesmo numa escola que irá prepará-la para o futuro. – É importante à aproximação dos pais de alunos para se inteiraremsobre o desempenho escolar, mau comportamento, notas baixas paraevitar mal-entendidos futuros e defesa cega do lho. – Longe de eu querer criticar as regras da escola e criar con ito.Eu quero somente colocar que crianças inteligentes são danadas. Elas sãoousadas pela própria natureza da criança. A compreensão da realidade dacriança é o que ela percebe com os seus olhos, não o que o adulto querque ela perceba. – A loso a de ensino da nossa escola é mostrada aos pais no atoda matrícula, bem como as diretrizes de ensino que são utilizadas duranteo ano letivo. – Criança gosta de ir à escola para brincar, não para ter atividadesrotineiras. Infelizmente as escolas oferecem um processo de aprendizagemvagaroso, com tarefas repetitivas, o que faz com que a criança que tenhainteligência excepcional se entedie fácil. E como ela entende comfacilidade, logo ela se entedia e desestimula-se fácil. – Eu aceito o seu argumento, mas não concordo. – Infelizmente, nem sempre as pessoas na idade adulta que lida comcrianças de inteligência excepcional procuram entender a perspectiva dacriança que tem a essência da verdade que ela vê. Esther continuou falando: – As crianças de hoje já vêm ao mundo com excepcional inteligênciae extremamente sensíveis. Elas têm uma percepção aguçada e percebem

Francisco Brito ||| 55as nossas tensões e raivas que trazemos em seu nosso subconsciente.Portanto, cuidar da geração dessas crianças da idade de minha lha é umverdadeiro desa o para as professoras e coordenadoras das escolas. Esther olhou à sua volta e continuou. – É essencial que as professoras respeitem nossas crianças e saibamnegociar com essas crianças extremamente inteligentes. Não será comregras rígidas, gritos e imposição que os educadores dessa primeira faseeducacional irão fazê-las mudar. O diálogo ainda é a melhor maneira deeducar esses novos seres. Eles vieram a este mundo para nos ensinar a sermais humildes e solidários. São crianças saudáveis e inteligentes. Esther fez uma pausa. – Eu, como mãe de Camila, orgulho-me de ser mãe de umamenina anja que está adiante de meu tempo. Ela e outras crianças deinteligência excepcional que estudam nesta escola são o futuro. Portanto,cuidem bem delas para que elas desenvolvam ainda mais a inteligência.Não as façam se moldarem a um sistema arcaico e obsoleto que aindaestá enraizado em nós que somos originários de um sistema de repressãodo passado recente. Naquela hora a coordenadora tentou interceder. Mas Esthercontinuou. – A minha lha é “danada”, entre aspas, como deve ser outrascrianças, não porque ela seja ruim. Não. Ela é danada porque carrega emseu interior uma grande sabedoria, tem o seu sonho próprio, sua própriapersonalidade e seu próprio talento... Exige mais compreensão, amor eamizade dos educadores. Esther olhou para outras mães e balançou a cabeça, assentindo oque disse. Virou-se para a mesa e disse: – Senhoras educadores ouçam mais o que essas crianças fantásticastêm a dizer. Não se precipitem em suas avaliações e rotulações de “louca”,“danada”, “capeta”, “miolo mole” e outros adjetivos sobre esta ou aquelacriança. Dêem aos nossos lhos o máximo de atenção de Vocês. É omínimo que os educadores podem fazer por esses novos seres fabulosos.Obrigada. – Concluiu, Esther. Quando Esther terminou de falar recebeu uma salva de palmas dasmães e pais presentes.

56 ||| Mãe ensine-me a ser campeã – Dona Esther, as crianças que estão nessa escola têm atividades combrincadeiras no parque da escola, praticam artes, escrita e são respeitadase amadas. Esther cou em silêncio e não quis atiçar mais a discussão. Outrasmães falaram e con rmaram que as novas crianças são seres que precisamde mais atenção e apoio para torná-los con antes e seguros para o dia deamanhã. Na saída da escola, Esther foi rodeada de outras mães queconcordavam com a sua teoria de que as novas crianças são seres deinteligência excepcional. Elas deram-se as mãos e se comprometeram emparticipar mais das reuniões de pais e professores para levar ideias novasde como cuidar de seus lhos na escola. Aquelas mães nunca mais deixaram de participar dos eventos daescola, como forma de combater os maus professores que vão à escola sópara constar presença para no nal do mês ter o salário integral. Mas, quemuitos são péssimos educadores. Desde então, a escola passou a ver as crianças como crianças. Epassou a combater aquelas professoras que exigiam das crianças atitudesprecoces de adulto, por não ter o preparo devido para cuidar de criançasno início do ensino básico.

Capítulo 13 45 O Trenzinho Piuí As férias daquele ano foram inesquecíveis para Esther e Mansur. Ocasal era uma típica família de classe média – ele funcionário do Banco doBrasil, ela, uma engenheira que tinha deixado o emprego para se dedicarà gravidez e aos cuidados da lha; e agora se tornara uma pintora quefazia exposição de seus quadros nas feiras da cidade. E se ela não ganhavamuito dinheiro, ela tinha qualidade de vida ao lado da lha. Camila já tinha completado seis anos de idade, uma menina deinteligência excepcional, não aceitava não como resposta. “Eu quero”!Era a frase mais comum que se ouvia dela quando algo lhe interessava.Quando Esther não podia dar aquilo que ela queria, ela adotava aestratégia de pedir a colaboração dela, em vez de dizer não. Quandoela queria um brinquedo ou uma roupa que ela não podia comprar, eladividia a responsabilidade com ela, perguntando o que ela faria se visse umdoce que ela mais gostasse na cantina do colégio, quando ela não tivessedinheiro para comprá-lo? E pedia a opinião de Camila. E ela respondia:Eu não comprava e procurava esquecer o doce. E assim, Esther nuncadizia não, mas dividia com a lha a responsabilidade de comprar ou nãodeterminado objeto que fosse muito caro. Não que ela quisesse inverter os papéis, mas Esther deixava Camilain uenciar nas decisões de escolha de roupas, sapatos e até na cor docarro que o casal fosse comprar. Esther achava a coisa mais normal ouvir

58 ||| Mãe ensine-me a ser campeãa opinião da lha e pedir colaboração dela, porque assim, eles faziam comque a lha sentisse que estava muito próxima deles. Naquelas férias foi Camila quem quis ir para Cabo Frio, depois dever com a mãe na internet as belezas naturais daquele lugar. Naquele mde ano, eles viajaram para Cabo Frio – onde existem praias de areia na eágua azul transparente que é um convite ao deleite nas manhãs de janeiro. Para evitar que Camila tivesse a sensação de mal-estar e náuseasseguidas de vômitos na viagem, eles optavam por viajar cedinho da manhã.E descansavam entre meio dia e quinze horas. E voltavam à estrada apósas quinze horas, justamente no horário que Camila costumava dormir. Aquele verão fora um dos mais quentes: calor 40 graus. O céu todoaberto, sem uma réstia de nuvem no céu. O frescor da água era um conviteao banho no mar. Camila estava sempre besuntada de protetor solar, jáque ela queria car na água o tempo todo. O jeito era Esther se besuntarde protetor solar fator 60 e car exposta àquele sol para acompanharCamila. O medo de perder a lha na praia tinha virado uma obsessão, diantedos noticiários que passavam na TV sobre o sumiço de crianças nas praiasou nos shoppings do Rio de Janeiro. Diante daquele medo assustador deperder a lha, Esther pensou numa solução para fazer com que a lhacompartilhasse na solução daquele problema. Naquela manhã, quando chegaram à praia, Esther contou paraCamila a história de uma família que teve o lho desaparecido. Emseguida perguntou o seguinte: – Camila o que Você acha que a família deveria ter feito para o lhonão sumir? Camila pensou por um instante, aí ela disse: – Não ter deixado o lho sair do ângulo da vista deles. Esther disse: – Eu estou morrendo de medo de Você desaparecer, porque a praia ca muito cheia de gente. Muitas dessas pessoas são pessoas más, que aover uma criança perdida dos pais, em vez de ajudar, elas levam a criançapara mais longe. A criança que desapareceu nunca mais irá ver os paisnem os pais irão ver a criança. Você pode imaginar o desespero dos pais eo desespero da criança que cou sem os pais?

Francisco Brito ||| 59 Camila respirou e soltou o ar. E disse: – Eu acho que eu morreria de saudade da senhora e do papai. – Como Você pode nos ajudar em carmos sempre juntos? – Eu não sair de perto de Vocês. Esther contou um fato que tinha acontecido com ela mesma.Contou que quando ela tinha a idade da lha, ela tinha ido com os paisa um shopping de São Paulo. E lá ela se afastou e se perdeu dos pais.Então quando ela se sentiu perdida dos pais, ela procurou um guarda doshopping e o pediu para ajudá-la encontrar os pais. E o guarda pediu quefosse anunciado no alto falante que uma criança de nome Esther estavaaguardando os pais na administração do shopping. Aí, Esther perguntou o que Camila faria numa situação parecida,como por exemplo, se ela se perdesse na praia. Camila lembrou-se que dias antes de viajar para Cabo Frio tinhaouvido os pais de suas amiguinhas dizerem que quando a criança se perdena praia, o melhor que ela faz é procurar o posto de salva-vidas e pedirajuda. Nunca aceitar a ajuda de pessoas estranhas. Camila respondeu: – Eu vou procurar o salva-vidas e pedir a ajuda dele para localizarmeus pais, porque é onde os pais devem primeiro ir procurar o lho. Naquele mesmo instante, Esther levantou-se e retirou as coisas dochão. E as duas foram sentar num lugar estratégico que casse o maispróximo do posto de salva-vidas. – Aqui será onde iremos car todos os dias. – Mamãe, eu já estou bem crescidinha. Já vou fazer sete anos deidade. Não vou me perder nesta praia. Ademais, nós estamos hospedadasno hotel em frente à praia. Caso eu me perder da senhora irei procurar osalva-vidas ou vou para o hotel. – O seguro morreu de velho. Só eu e Deus sabemos o sacrifício que z para ter Você. – Mãe deixe de neuras. Não vou me perder. No nal da tarde, depois de repousar, eles alugavam bicicletas eforam andar pela cidade com a Camila. E foram pedalando até o BoulevardCanal. E lá, a Camila descobriu o trenzinho piu iií – uma espécie de

60 ||| Mãe ensine-me a ser campeãônibus pintado de vermelho e detalhes azuis levando um palhaço ao ladodo capô fazendo as brincadeiras de palhaço para chamar a atenção dameninaa. Quando Camila viu o trenzinho e o homem aranha que estavasentado na frente do trenzinho, ela cou encantada. Aí fez a mãe ir comela fazer um passeio no tal “piu iií”. O passeio de trenzinho pelos pontos turísticos da cidade era umconvite à criançada. Piuí. Dava o sinal que o trenzinho já podia partir. Acriança que ainda não tinha entrado no trenzinho corria desesperada paraalcançar o tal piuí. Dentro do trenzinho, as crianças estavam felizes... Erauma algazarra só. Camila gostou tanto de andar no tal “piuí”, que Esther foi obrigadaandar mais três vezes seguidas no “piuí” para satisfazer a vontade da lha. A partir daquele dia, Esther não teve mais sossego. Era um Deusnos acuda toda vez que a Camila ouvia o apito do tal “piuí”. Ela saía emdisparada para pegar o tal “piuí”. Muitas vezes não dava tempo de Estheralcançá-la. E ela entrava no trenzinho e ia passear. Esther corria atrásdo trenzinho até alcançá-lo. Algumas vezes só alcançava a Camila quasechegando ao ponto nal do trenzinho.

Capítulo 14 45 Brincando no Parque Brincar no parque é uma atividade que faz a criança mergulharnum ambiente de ação lúdica ao explorar aquele mundinho social, jáque a brincadeira envolve vários brinquedos e a convivência com outrascrianças. As brincadeiras infantis geram ações que desenvolvem a capacidadecognitiva da criança e a faz se posicionar perante o pequeno grupo social.A brincadeira absorve horas de recreação ao ar livre: divertir, jogar, pulare se exercitar dentro dos limites do tempo disponível para brincar. É ondeas crianças melhor aprendem a se relacionar com grupos de crianças deníveis sociais e etnias diferentes. As brincadeiras no parque tem como nalidade “brincar” sob umaperspectiva social e humana, em que a criança escolhe os espaços parabrincar sozinha ou escolhe com quem brincar. Cada um canaliza a suaenergia como pode. O importante é brincar e se divertir com outrascrianças da mesma idade. Esther não interferia nas escolhas de brincadeiras ou brinquedos deCamila. Ela procurava entender as brincadeiras da lha, deixando-a livrepara entrar e sair do seu mundinho imaginário. O importante era deixá-la brincar e viver a sua infância. Quando ela enjoa de brincar sozinha elabusca este ou aquele grupo de meninas e pede para entrar na brincadeira.Ela gosta de brincar no parque de pega-pega, corre-corre, subir em galhosde árvores e nos brinquedos de balanço, bambolê e de pula-corda.

62 ||| Mãe ensine-me a ser campeã Esther sabe que deixar a lha brincar é muito importante para odesenvolvimento dela. Especialmente que na idade de seis anos, brincarcom outras crianças é vital para o desenvolvimento cognitivo e instrutivopara torná-la com o espírito competitivo e cooperativo. E não tem coisamelhor que as brincadeiras no parque com crianças diferentes do convíviodiário para a criança aprender a competir, sociabilizar, respeitar as regrasde convivência e aprender a ter noções sobre onde termina o seu direito ecomeça os direitos alheios. E Camila brincava à vontade, satisfeita, feliz,segura de si. Logo ela conquistava a atenção das outras crianças. Nãodemorava, elas já se comunicava uma com as outras, chamando pelonome. Camila aprendia diferentes habilidades, já que as brincadeirasenvolviam uma dinâmica de grupo muito grande, bem como fazia a oraro senso coletivo e o respeito um ao outro. Ester não tirava os olhos da lha. Ficava por perto, com o olharvigilante. Ela sabia que há uma necessidade muito grande de as criançasbrincarem em grupos nos parques da cidade, nos playgrounds, praças,praias, a m de elas satisfazerem suas necessidades lúdicas. Ela deixavaa lha brincar até car exausta. Ai as duas voltavam para casa com oespírito renovado. Camila voltava toda suja – mãos, roupas, pés. Aí quando chegavama casa, Esther deixava Camila car debaixo do chuveiro para brincar naágua e brincar com as letras do alfabeto para formar palavras e completaras suas necessidades lúdicas. Com isso, ela relaxava da descarga de energiano parque e descansava da fadiga da rigidez dos estudos impostos pelocolégio – “lição de casa” e “Tarefas de casa”, os quais sempre exigem aajuda de Esther. Como no quintal de casa tinha sido criado um espaçolúdico para rotinas de estudos, era lá que eram feitas “a lição de casa” e a“tarefa de casa”. Aos oito anos de idade, Camila tinha traços de personalidademarcantes. As suas brincadeiras preferidas eram jogos ao ar livre e andarde bicicleta que exigiam movimentos, já que ela tinha energia de sobra.Mesmo assim, Camila era uma menina disciplinada. Ela sentava parafazer a lição de casa e a tarefa sob a supervisão da mãe. Camila não era diferente de outras crianças, ela adorava colecionarbrinquedos – educativos ou para exibir perante outras crianças de sua

Francisco Brito ||| 63idade. Era reservada uma parte do armário de roupas no quarto delapara guardar os brinquedos dela. Isso não impedia que a sala casse combrinquedos espalhados. Outros brinquedos cavam no espaço lúdico,como a mesa de pingue-pongue, as raquetes de tênis e de frescobol, bolas,bicicleta, patins, material de pinturas, pincéis, papelão e papel su x paraela pintar; e o aparelho de som para ela ouvir músicas quando estivesserealizando atividades que requeria concentração. Mansur preparou o entorno do muro que circundava o quintalde sua casa para praticar caminhadas com Esther e Camila. Ele queriatransformar ali em um local de treinamento de corrida de Camila. Elesonhava ver a lha participando de campeonatos de atletismo ao ar livreou em pista coberta. O amor que ela recebia era o que retribuía aos colegas da escola. Etodos gostam dela. Em casa, os pais estimulavam à lha ser criativa. Comaquela idade, ela desenvolvia traços de personalidade que, certamente,será o que ela terá na sua juventude e na fase adulta.



Segunda ParteO Esporte



Capítulo 15 45 Menina esportista O incentivo ao esporte era feito pelos pais, desde que Camilacompletou cinco anos de idade. Esther queria que a lha se tornasse umagrande esportista quando crescesse. Quando ela completou cinco anos,Esther a colocou nas aulas de ginástica rítmica da professora Eneida, ex-ginasta olímpica. Esther cuidava para que Camila adquirisse bons hábitos alimentarespara que houvesse manutenção do seu bem estar físico, mental, intelectuale social. Como Camila gostava de jogar bola, Mansur a colocou nos treinosde futsal duas vezes por semana - mesmo contra a vontade de Esther. Elatinha receio de a lha viesse se machucar nos treinos de futsal. E de tantoEsther falar, Camila acabou se convencendo que precisava cuidar dos péspara executar os movimentos corporais na corda, no arco, com a bola, maçase a ta. E acabou deixando o futsal de lado, a ginástica tornou-se o seu foco. Naquela tarde, Mansur levou a lha aos treinos de ginásticarítmica da professora Eneida. Ele ainda não tinha visto Camila treinarginástica rítmica – com o uso de bambolês, bolas, bastões, tablados,cordas, tas, música com movimentos rítmicos e graciosos. Mansur couimpressionado com a desenvoltura de Camila naquela modalidade deesporte. Quando voltou para casa, ele colocou para Esther a impressãoque teve com o desempenho da lha nos treinos na escolinha da ex-ginasta Eneida Maciel.

68 ||| Mãe ensine-me a ser campeã – Esther, a nossa lha tem futuro. Ela tem porte que será umagrande atleta de ginástica rítmica. A professora Eneida falou maravilhasde Camila. – Você também acha mesmo que ela tem futuro? Eu tenho certezaque ela será uma grande ginasta. – A sua lha já escolheu o que ela quer fazer no esporte. Ela fazcom amor. – Você também cou impressionado com o que ela faz. Ela é criativa,tem expressão pessoal, tem graça e beleza estética nos movimentos. – Sim. Pudera! Ela começou a treinar com sete anos de idade. E de lápara cá, ela tem se dedicado aos exercícios que a professora Eneida ensina.Ela diz que Camila está pronta para entrar numa escola que disponhade aparelhos próprios para adquirir habilidades motoras fundamentaisexigidas em ginástica olímpica. – Não quero ser coruja de nossa lha, mas eu acredito que temosuma futura campeã em ginástica olímpica. Vamos ter que mudar decidade e ir para uma cidade grande como o Rio de Janeiro, onde tembons clubes como o Vasco, Fluminense, Flamengo, Botafogo, os quaistêm excelentes técnicos e espaços para o atleta de ginástica artística sertreinado por pro ssionais dessa categoria. – Você acha mesmo? – Eu sempre quis voltar a morar no Rio de Janeiro. Acredito quechegou a hora de buscarmos o futuro de nossa lha e torná-la uma campeã. – O que vamos fazer com nossa casa, com a nossa escolinha de artee com os seus alunos de futsal? – Está chegando o nal do ano. Vamos encerrar as atividades evender ou alugar a nossa casa. Vamos conseguir um bom aluguel aqui queirá dar para pagarmos o aluguel de um apartamento em Laranjeiras, ou naGávea, onde mora o seu primo Jose Augusto. Ele pode nos ajudar alugarum apartamento de dois ou três quartos para nós. – Você tem toda razão. A nossa missão agora é pôr a nossa lha nopódio. O Rio de Janeiro que nos aguarde que nós estamos indo morar lá. Naquela mesma noite Esther ligou para o primo. Quem atendeu aotelefone foi o próprio Jose Augusto.

Francisco Brito ||| 69 – Alô! – Zé, boa noite. Adivinha quem está falando! – Esta voz é inconfundível. E a única pessoa que pronuncia “Zé”com tanta ênfase só tem uma pessoa. É a Esther, a minha querida prima...Como está Você Esther? e o Mansur? A Camila já deve estar grande. – Sim. Ela acabou de completar 10 anos. Está uma mocinha. Elinda. – Quando Vocês vêm me fazer uma visita, prima? – Ora, Você sabe que o Mansur pôs na cabeça que tem quer voltar amorar no Rio de Janeiro! E eu como esposa devo estar de comum acordocom as vontades do meu marido. – Venha mesmo. O Rio é o melhor lugar para se morar. Eu amo oRio de Janeiro. O que eu posso fazer para ajudar Vocês a mudarem logo? – Zé, eu pensei pedir a Você para ser nosso ador para alugarmosum apartamento de dois ou três quartos em Laranjeiras, no Flamengo ouBotafogo. – Eu posso fazer melhor. Eu tenho um apartamento de três quartosem Cosme Velho, do lado de Laranjeira, um lugar gostoso de morar.Ele foi desocupado há uma semana. O prédio é antigo, mas foi todoreformado e pintado. Se Você quiser eu já retiro da imobiliária para Vocêe mando fazer uma pintura nova. – Excelente. – Não se preocupe com valor de aluguel. Você pagará somente oIPTU e as taxas de condomínio. Assim, Você não precisará vender a suacasa. O importante é Vocês virem morar no Rio. – O Mansur vai dar pulos de alegria. – Tire a minha curiosidade. Tem um motivo especí co a sua voltapara o Rio de Janeiro? Esther riu do outro lado da linha. – “Tem”. Esther mediu as palavras para explicar o objetivo de sua ida para oRio de Janeiro. – Queremos levar a nossa lha para fazer um curso deaperfeiçoamento em ginástica artística feminina num desses clubes

70 ||| Mãe ensine-me a ser campeãgrandes do Rio. Eu decidi ajudar a minha lha alcançar o pódio doesporte que ela escolheu. – Ora, isso é maravilhoso. A sede do Clube de Regatas do Flamengo,onde são treinados os atletas, ca ali na Gávea. Eu sou sócio do clube etenho alguns amigos lá. Eu já vou começar a mexer com meus pauzinhospara abrir uma porta no Flamengo para a sua lha. – Isso é maravilhoso, Zé. – Mudando de assunto, Você não pensa em voltar a trabalhar? Omercado de trabalho está carente de pro ssionais de seu quilate. – Não. Eu já me acostumei à minha vida de doméstica e de mãe.Uso meu tempo para dedicar à minha lha e à pintura de quadros queexponho em feiras. Onde tem uma feira eu estou lá, expondo os meusquadros. – Eu gostaria de retribuir o favor que Você me fez há 24 anos,quando me levou para as Centrais Elétricas de Furnas. – Imagina Zé! Você fez por merecer. Tanto é que Você está até hojena empresa. Construiu sua carreira, trabalhando com empenho e talento. Depois de conversar sobre outros assuntos com Esther, José Augustopassou o telefone para a esposa, Maria das Mercês. E as duas conversarampor mais de meia hora. A última vez que eles tinham estado juntos, tinha sido no batizadode Camila. Mas, nunca deixaram de se falar pelo telefone ou pela internet,eles estavam sempre conversando por telefone, especialmente no natal. Depois que Esther desligou o telefone, pôs-se a pensar nas voltasque o mundo dá. – Este mundo dá muitas voltas. Acabei precisando de um favorde meu primo, uma pessoa que tanto ajudei no início de sua carreira.Eu o levei para ser meu estagiário. E quando ele se formou, eu z a suaindicação para ele ser admitido na empresa. E ele foi trabalhar como meuassistente. Tempos depois o coloquei como meu substituto. Quandodeixei a empresa o pus no meu lugar... E agora preciso dele e ele me ajuda– murmurou Esther. Fora um tempo que Esther considerava a sua grande fase. Tempoque ela era uma jovem engenheira talentosa que alcançou o sucessopro ssional muito nova e formou equipes que zeram histórias. Ela

Francisco Brito ||| 71criou o seu próprio território e cercou-se de jovens talentosos que zeramcom ela carreiras promissoras, sob a ótica temporal e espacial, ao longode toda sua vida madura de engenheira elétrica. Ela soube aproveitar oseu tempo pro ssional. Quando decidiu se aposentar proporcional noemprego e pela previdência privada, ela fez sem nenhum pesar. Encerroua sua carreira por um motivo justo: ser esposa e mãe. É sua missão ajudara lha no que ela precisar. E ela ia precisar ter um bom treinamentopara participar nas olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro, quando elacompletará 16 anos – idade mínima para participar como ginasta. Ver a lha participando como atleta nas olimpíadas é o seuprincipal objetivo, mesmo que para isso, ela mude para uma cidade queofereça condições de a lha treinar para se desenvolver. O sonho era seu, arealização ia ser da lha estar entre as medalhistas nas olimpíadas. Aquelaia ser o seu maior desa o. Em meados de janeiro, a família Mansur mudou-se para o Rio deJaneiro. Lá, chegando, Esther não levou Camila para fazer o teste noclube de Regatas do Flamengo. Ela procurou um curso de preparação deatletas mirins em ginástica Artística ou Olímpica.

Capítulo 16 45 Os Jogos Olímpicos Os jogos olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro, é o foco principaldos clubes do Rio de Janeiro e do mundo. No clube Regatas do Flamengoeram realizados treinamentos das meninas e meninos – na categoriainfantil (atletas de 10 a 12 anos) e na categoria juvenil (13 a 16 anos).Na ginástica rítmica, os atletas treinam nos aparelhos bola e maças. Ena ginástica olímpica eram intensi cados os treinamentos dos atletas nasmodalidades de solo e salto. Esther colocou Camila no curso de treinamento de ginásticaolímpica da ex-ginasta professora Salete Sampaio, especialista nas provasde solo e salto. Como atleta, Salete obtivera o título de campeã mundialna prova de solo nas Olimpíadas dos Jogos de Antenas de 2004. Naqueleano, depois de ter sido medalha de ouro, um problema no joelho direitoa tirou para sempre das competições. Quando se viu impedida de participar como ginasta, Salete passoua ser técnica e professora de equipes juvenil e infantojuvenil. E em 2006fundou a Escola de Atletas Salete Sampaio. E passou a dedicar o seutempo em descobrir novos talentos e preparar novos talentos. E investiuna sua fundação Escola de Atletas, tendo comprado seis aparelhos para oshomens e quatro para as mulheres: solo, cavalo com alças, Argolas, Saltosobre o cavalo, Barra Assimétrica, trave, Paralelas e Barra. O seu trabalhode treinadora destina-se preparar novos talentos: masculino e feminino.

Francisco Brito ||| 73 Depois de um ano, Camila passou a treinar individual com oProfessor e ex-atleta Miguel Ferreira – um treinamento bem objetivo. Otreinamento era de 5 horas por dia, seis dias na semana, com preparaçãofísica e exercícios coreográ cos das séries de trave, solo, paralela e salto. Elogo ela se familiarizou com os aparelhos de solo, trave, barra assimétricae mesa de salto. O treinamento era intenso para que houvesse uma boa evolução dotrabalho acrobático e ginástico, a m de embelezar o trabalho coreográ co(equilíbrios, solo, giros e saltos). Após três anos de preparação especial, o professor Ferreira levouCamila para fazer uma apresentação no Clube de Regatas do Flamengo.E Camila apresentou-se com rmeza. Os seus movimentos rítmicos,acrobacias e coreogra as graciosas encantou o técnico da seleção brasileirade ginástica olímpica. Na semana seguinte, Camila foi procurada pelo treinador doFlamengo. E ela passou a treinar ginástica olímpica com a equipe dopreparador das atletas da seleção, sob o acompanhamento do professorClayton de Mello. A Camila integrou o grupo de meninas que eram preparadas paraas Olimpíadas, onde passou a receber treinamento seis vezes por semana(inclusive, treinava um domingo sim e outro não). Era treinamento comatividades físicas intensivas para que ela conseguisse movimentos maisvariados. O objetivo era transformar di culdades em vitória, quandochegasse a hora de ela competir pelo clube. Por mais pesado que fosse o trabalho físico, a cada dia, Camilademonstrava bons resultados. A rotina de Camila no dia a dia não eranem um pouco fácil. Ela estudava pela manhã, no Colégio Andrews, emBotafogo. E à tarde, ela ia treinar no clube de Regatas do Flamengo. Asua dedicação e praticas diárias para aprender mais e mais fez com que elapassasse a ser uma das principais promessas do clube para as Olimpíadasnos aparelhos de trave, salto e solo. O lema do treinador de Camila era que uma atleta para chegara ser campeã de ginástica olímpica não era só inspiração e aspiração aotítulo, era suor, dor, lesões, lágrimas e decepções. Ele considerava o localde treinamento uma arena de treinamento de futuros gladiadores. Cadamenina teria que transformar os seus sonhos em arte e técnica. Quem

74 ||| Mãe ensine-me a ser campeãentrava naquela arena teria que ter dedicação, determinação e muitacoragem, sacrifícios, trabalho, força muscular e muita inteligência parater o raciocínio rápido e fazer os exercícios com sabedoria. O treinamento envolvia uns conjuntos de exercícios que fortaleciaos músculos, força, agilidade, exibilidade e equilíbrio, mas cabia à atletaser criativa para reproduzir movimentos elegantes para encantar a plateiana apresentação. A ginástica artística não é para quem quer, é para quem pode – erao que mais se ouvia nas quadras de treinamento. Camila cresceu com porte de modelo, quando ela andava. Masquando estava no treinamento físico, ela era uma verdadeira atleta. Elase concentrava para realizar os movimentos no solo. E nos treinamentosdiários, ela nunca praticava os exercícios sem a orientação do treinadorpara não incorrer em erros ou vícios. Ela sabia que os saltos e equilíbriosnos aparelhos deviam ser precisos. Um erro poderia ser fatal.

Capítulo 17 45 O amor na vida dos adolescentes Os adolescentes dormem com a magia do amor, onde tudo são ores, fantasias gostosas que os levam a se imaginar uma princesa, semeninas; e príncipes, se meninos. Enquanto o adolescente cultiva afantasia na criança que existe dentro dele, ele terá muitas ideias para criarbrincadeiras e criar as suas próprias fadas e bruxas. É importante que a criança chegue à adolescência acreditandoem Papai Noel, Coelhinho da Páscoa, Duendes, Fadas e Bruxas... Mas,daí acreditar que exista poder nos personagens do Homem Aranha, doSuperman, do menino Ben 10 que vira vários monstros poderosos quesubjugam o mal, em prol do bem da humanidade, é muito para a cabeçado adolescente. Essas fantasias ajudam muitas crianças (na pré-adolescência) aconstruírem suas próprias sensações de coragem e de força para inibiro medo do escuro, por um lado, e por outro, ajudam-nas a tomarconsciência de sua identidade quando chegarem à adolescência e vir queo mundo em que vivem é um lugar de competição. Sonhar é preciso. Realizar o sonho é que são elas, mas vale tentartodos os dias. Crescer é se encontrar no seu próprio mundo e despertar para oseu vocacional. E aí se torna crítico e indagativo (e sugestivo). E passa a

76 ||| Mãe ensine-me a ser campeãreclamar os seus direitos, expressar o que quer, tornando-se para o adultoum “aborrecente”. Pouco se atenta para o fato que o adolescente estápassando por importantes mudanças – físico emocional e cognitivo. Etudo isso é próprio das transições inerentes da própria idade. É nessa faseque são exprimidas e verbalizadas as vontades, sonhos e a sexualidadese torna mais presente; e aí vem os anseios do coração. E a oram osprimeiros sintomas do amor. Esther, como mulher e mãe, buscava compreender as atitudes da lha em querer fazer valer a sua vontade. Aí os “não” passaram a ser maispresentes, o que indignava Camila. O que eram fantasias projetadas no imaginário dela, quando erapré-adolescente, agora na adolescência, a energia sexual era projetada emmenino bonito de carne e osso. E a fantasia sexual que era projetada emsua imaginação, agora era valorizada nos desejos de laços de amor, taiscomo beijos, abraços, carinhos e toques que são o preparo para o amorcarnal. Esther não se descuidava da lha. Ela estava sempre atenta aopreparo da lha para o amor e a vida. Ela sabia que na mesma proporçãoque o amor faz sorrir, o amor causava dor e fazia chorar quando o amor sevai. Ela sabia que era uma ida sem volta. Era melhor a lha amar e perderque nunca ter sentido a sensação do amor. O receio de Esther era que a lha tivesse um namoro que viesse setornar uma obsessão numa emoção destrutiva. Todo cuidado era poucocom as colegas de Camila. Ao menor sinal de atitudes afetivas com esta ouaquela colega, ou com aquele menino, Esther já procurava cortar o malpela raiz. Ela morria de receio que Camila começasse a se envolver comdrogas – muito comum entre as adolescentes. Todo cuidado e zelo eram devotados a Camila para que fossemamenizados os picos de mau humor e as tristezas temporárias, inerentesaos adolescentes. É bem verdade que o ambiente do lar era cheio de amor.Mas, as emoções de adolescentes estão sempre utuando. Tudo era feito, tudo era imaginado. Esther fazia o máximo para ajudar a lha. Ao menor sinal debaixa autoestima, aborrecimento ou mudanças temperamentais ecomportamento confuso, ou súbita mudança de humor, Esther e Mansur

Francisco Brito ||| 77acudiam a lha, dando-lhe apoio, conversando com ela com jeito epaciência. Como pais, eles procuravam cuidar melhor da alimentação da lha.Desde cedo lhe foi ensinado que ela não devia comer salgadinhos nembeber refrigerantes na hora do café da manhã ou na hora do almoço. Eraredobrada a atenção sobre se ela estava dormindo bem ou se ela estavadeixando de se alimentar para se manter magra. É verdade que os exercícios que ela fazia na ginástica olímpicamelhoravam cada vez mais a sua capacidade cognitiva e ajudava emsua sociabilização. E para manter Camila conectada com o esporte e aresponsabilidade com a sua carreira de atleta. Era evitado que Camila casse mais de uma hora brincando de jogos online para não diminuir ogosto pela ginástica olímpica. Outro aspecto que era visto de perto era quanto o seu rendimentoescolar. Vez por outra, Esther ia à escola sondar se a lha se relacionavabem com os professores e com os colegas de classe. E se alguma nota deuma prova cava abaixo da média, Esther procurava a professora paraconversar sobre a prova aplicada. Não era porque Camila praticava esporte que ela não tivesse boasnotas. Muito menos queda de baixa autoestima, mesmo recebendopressão de todos os lados para ser a melhor. Era cobrado dela, não somentededicação nem ser somente boa no que ela fazia, era cobrado que ela teriaque ser ótima e parecer ser excelente. O esportista que não se preocupa em ser o melhor irá continuarà margem da sociedade, porque nem o esporte o absorve nas equipes.Porque nas equipes dos grandes clubes só entram os bons. E só cam osexcelentes. Camila treinava 5 a 6 horas por dia, nos cinco dias da semana. E nosábado ainda treinava por 4 a 5 horas. Ela sabia que a preparação do atletatinha por objetivo alcançar a excelência na sua modalidade escolhida.Logo ela passou a ser vista pela equipe da Ginástica Olímpica do clubecomo uma menina talentosa. Mas, o seu treinador não tinha pressa em trabalhar a especializaçãodela, evitando-se que ela iniciasse competições antes da hora. A intensidadedo treinamento vinha sendo aumentado gradualmente para não queimaretapas importantes no futuro.

78 ||| Mãe ensine-me a ser campeã Esther acompanhava a lha de perto. Ela lia tudo sobre o esportepara acompanhar os treinamentos da lha. Ela era a primeira a não deixara lha ter especialização precoce, já que a idade mínima era de 16 anos deidade para a participação em Jogos. A preocupação era que ela treinassepara adquirir mais equilíbrio e segurança na modalidade de ginástica queela fazia – solo, salto e barra xa. Camila era uma adolescente corajosa, forte, inteligente edeterminada, coisas que nem todas as meninas da equipe se mostravamcomo Camila. Não foi de graça que cedo ela se tornou a menina dos olhosdo Clube. O treinador dela não media as palavras de incentivo. Ele costumavadizer que a vida não é dura nem cruel, as pessoas é que são moles e nãodão tudo de si. E completava dizendo: “Para ser campeão é preciso suar,sofrer dor com as contusões, chorar lágrimas de dor e não desistir, senãonunca chegará a ser campeão nem ter fama, muito menos ser reconhecidana rua por onde passar”. Camila já sabia de cor e salteado aquela ladainha do seu treinador. O crescimento de Camila na equipe era a olhos vistos. E o futurode Camila era pintado com cores fortes para que ela fosse destaque na suabusca da superação. E ela estava começando a descobrir que o caminhoque ia percorrer não ia ser nada fácil. Todos os ginastas juvenis tinham consciência de que o mundo doesporte é competitivo, fazendo-se necessário treinar ao longo do tempopara adquirir força, agilidade e equilíbrio para preservar a sua integridadefísica e moral – um descuido, o atleta pode se acidentar e car fora dacompetição da ginástica olímpica na hora de mostrar o seu valor. Debutar não era o sonho de Camila. Mas a mãe fazia questãode fazer a festa da �ilha de 15 anos. Naquele Sábado, Camila ia Completar 15 anos de idade. Esta éuma idade para a menina um momento importante, pois, simboliza apassagem de menina a mulher. E no seu aniversário de 15 anos, Camilarecebeu uma festa digna de uma estrela, com direito a bufê de salgados,doces e o tradicional bolo, lembrancinhas, fotógrafos que registraram oevento, bem como DJs que agitaram a festa com músicas variadas. Todasas atenções estavam voltadas para a aniversariante que debutava. Camila

Francisco Brito ||| 79usou dois vestidos: um rosa claro, na entrada, e outro branco que ela usouna hora da valsa. Todos os gostos e vontades eram atendidos. Não era agora quealguma coisa ia ser feito sem que fosse de gosto de Camila. Podia-se dizerque ela gurava entre as três debutantes mais bonitas da noite. A felicidadeestava no seu sorriso entre os lábios, mesmo ela não sendo uma meninade escancarar o sorriso. As suas feições eram suaves e encantadoras,tornando-a uma garota simpática perante as pessoas. Bonita na medidacerta.

Capítulo 18 45 Vida de Atleta Camila cresceu sabendo que carreira de atleta é curta. Vez por outra,ela se irritava e dava piti, fala alto e sai batendo a porta. E com a paciênciade mãe, Esther argumenta que em vez de ela levantar a voz, bater a portae car enfurecida, ela aprendesse a melhorar o vocabulário para melhoraros argumentos se quiser ser entendida pelas pessoas. Esther ensinava a lha a ter polidez. Porém nem tanto delicada paranão ser vista como uma pessoa fraca. Quem disse que meninas têm que ser delicadas e quer ser princesas,não conhece as atletas da ginástica olímpica nem viu jogar as meninasdo futebol feminino. E se tudo que é masculino é valorizado, não tempor que as meninas se contentarem que tudo que é feminino é inferior.A nal, as meninas estão cada vez mais dispostas em conquistar espaçosque foram estereotipados como sendo “coisas do sexo masculino”. Éum novo tempo? Não. É a busca do equilíbrio e igualdade entre o sexofeminino x masculino. Esther, como mãe e mulher adiante de seu tempo, ela não sedescuidava de preparar a lha competir e vencer no mundo “estereotipadodos homens”. Ela criava a lha para aquele mundo competitivo. Sabiaque Camila ia crescer e ia precisar se relacionar bem com o sexo oposto.Ela preparava a lha para ser competitiva. Camila crescia e era educada para não ser estereotipado, tipo“menina é frágil e menino é durão”. E para criar maior con ança em si,

Francisco Brito ||| 81Esther colocou a lha no Judô. E quando ela completou 13 anos, ela alevou para fazer boxe tailandês (Muay ai). Porque como mãe, Estherqueria que a lha diversi casse suas atividades esportistas e aprendessedefesa pessoal. Como ela não cria a lha para car numa redoma de vidro, nadamais justo que Camila soubesse viver num mundo em que mulheres temque aprender a discutir e brigar para terem as mesmas oportunidadesque os homens. Não é fácil conviver com os preconceitos que continuamexistindo sobre o que a mulher deve ou não fazer, porque eram fortesos estereótipos impostos às meninas em relação aos meninos: meninasbrincam de bonecas e meninos brincam de carrinhos e com bola.Estereótipos que servem para perpetuar uma postura ideológica para queas mulheres não circulem com tranquilidade no mundo dos homens nemtenham as mesmas oportunidades. Esther não queria que a lha crescesse pressionada pelosestereótipos de que o feminino é inferior e só o que é masculino é superiore valorizado. Desde cedo orientou a lha que menina pode jogar bola defutebol, futsal, vôlei, rolimão, andar de bicicleta, jogar dominó, xadrez,subir em árvore etc. Ela não queria que a lha fosse massacrada pelaspreferências estereotipadas, mas que ela aprendesse que o mundo em quevivem os homens é o mundo em que vivem as mulheres. Cada um temoportunidades iguais. Esther criava a lha para ser uma campeã. A melhor maneira de ensinar a lha era não subestimar a inteligênciadela, mas ajudá-la a ter ideia para solucionar impasses do dia a dia; eaprender a pensar e se organizar sozinha. Era a sua missão, como mãe, pôr a lha nos trilhos do mundo emque vive. É verdade que ela brincou menos que devia brincar na infância,diante das cobranças impostas às crianças da geração de sua lha. Elassão crianças que nascem e crescem na cidade. Os brinquedos que têmem mãos é o computador, Kindle, notebook, celular, o videogame e atelevisão. A geração de sua lha são crianças superdotadas de inteligência.Contudo, desde cedo, elas são obrigadas a passarem horas sentadas paraver os enlatados de lmes com desenhos de bichos que falam como genteou monstros que não existem no mundo real.

82 ||| Mãe ensine-me a ser campeã Os brinquedos são comprados nas lojas de brinquedos, produzidospelos cartéis das indústrias de brinquedos que massi cam este e aquelebrinquedo na mídia, ditando os tipos de brinquedos que as criançasdevem brincar. Isso faz com que sejam tiradas as oportunidades de ascrianças criarem as suas próprias brincadeiras. Não bastasse a imposição da indústria sobre os tipos de brinquedosque as crianças vão brincar, os adolescentes da nova geração crescemsob a égide da obediência e do medo. Pudera! Desde a tenra idade veem lmes destinados a crianças que mostram cenas de maldade e violênciade arrepiar os cabelos da cabeça. Pouca coisa é mostrada sobre afeto eamizade, senão cenas de monstros (vampiro, lobisomem, monstros deoutros planetas etc) e muita violência. Esther, como mãe, sabia que a vida de adolescente não é nada fácil.Pois, por mais digno de ser admirado, o adolescente é mal compreendido.Não era diferente com Camila. Mas, Esther, como mãe, ela cuidava paraque a lha soubesse entrar e sair das diversas situações. A alimentação era saudável. Nada de dieta balanceada nemsalgadinhos industrializados, muito menos refrigerante no café damanhã. Com alimentação saudável, ela comia de tudo. E depois gastavacalorias se movimentando. Como ela praticava esporte, era melhorada asua capacidade cognitiva e a sua sociabilização, o que fazia com que elanão precisasse car vendo lmes de desenhos na televisão com cachorros ebichos falando ou monstros de outros planetas, os quais nada representama realidade em que se vive. Esther tinha o maior prazer em acordar cedo e acordar a lha, as duasse arrumarem e tomarem café da manhã, juntas, e depois levá-la à escola.Meio dia pegava Camila em frente ao colégio e a levava para almoçar emcasa. Depois do almoço, ela punha Camila para tira uma soneca de umahora, acordá-la para levá-la para o treino; e acompanhar os treinos. E nocomeço da noite leva-a de volta para casa. Isso, cinco dias na semana. Podia ser cansativo. Mas, era o futuro da sua lha que estava sendotrabalhado. Ela fazia toda aquela maratona – acordar e se arrumar, acordara lha e fazê-la se arrumar, coar o café e esquentar o leite, esquentar o pãono forno e colocar os “enche meios” do pão sobre a mesa para ser usadono pão – com gosto. E não perdia a paciência com a lha no trajeto daescola nem para o treinamento da ginástica olímpica.

Francisco Brito ||| 83 Desde que a lha era pequena, Esther tinha adotado a sistemáticade organizar a mochila da escola e a roupa que Camila ia vestir ao acordar,antes de ir deitar para dormir. Pela manhã, a roupa que ela ia usar, o tênis,as meias e mochila já estavam prontas. Era só se vestir, pôr as meias, calçaro tênis, pegar a mochila e sair. Muitas daquelas tarefas eram divididas com Mansur. As tarefas daescola cabia ao pai orientar e ajudar a fazê-las com Camila. Aquele contatocom o pai ajudava-a melhorar o humor e uma melhor aprendizagem. Eletinha habilidade excelente para ensiná-la matemática, química, física ebiologia, estimulando o seu raciocínio lógico e a visão de conjunto entreobjetos concretos e a noção de espaços. Quando terminavam as tarefasescolares, em vez de Camila estar agitada, ela se mostrava mais con antee tranquila. Camila cresceu se sentindo amada pelo pai e pela mãe. TantoMansur como Esther, ajudavam a lha a testar a sua curiosidade distoou daquilo. Ela estava sempre atenta a tudo. Não tinha receio de tomariniciativa nem de descobrir o mundo mágico da adolescência. Mansur estava sempre ensinando a Camila à importância de cuidarda natureza: não desperdiçar água quando fosse lavar as mãos ou tomarbanho, não jogar lixo no chão, não maltratar animais de estimação(cachorro, gato). E quando iam ao parque da cidade, ele ensinava-a nãotirar as ores das plantas, apreciar a beleza das borboletas e das aves, tivesseatenção e ouvisse o vento brincar com as folhas nas árvores etc. Os dois – Esther Mansur – acompanharam as fases maravilhosas decrescimento e descobertas de Camila Como tudo tem seu tempo de crescer, a menina cresceu. Camila cou moça e já se acha dona do nariz. Ela não é mais a menina que Esthercantava para ela dormir. Ela já está uma moça. Agora, conviver com elaé preciso tato. Senão o caldo entorna e ela sai batendo a porta atrás de si. Quando isso acontece, Esther repira fundo e apenas olha a cena. Enão vê mais a menina que ela pegava na mão para atravessar a rua. Esther olha a lha e vê uma moça que tem uma expressão corporalde uma mulher – nova nuance no rosto e até na voz – que já pode ir paraos treinos com as suas próprias pernas. E ela até já fala palavrão – coisaque Esther jamais ensinou.

84 ||| Mãe ensine-me a ser campeã “Minha lha está uma moça. Não é mais uma menina andando nacasa, é uma mulher” Camila havia criado asas e já estava pronta para alçar voos maisaltos. Pudera! Esther apoiou sempre a lha. E ela tinha dado opção à lhasobre o que ela queria ser quando crescesse. Quem te viu e quem te vê quem não a conheceu menina não sabe otrabalho que deu. Camila tinha crescido, mesmo assim, ela não se fazia dearrogada. E quando ela se via pressionada e sem saber o que fazer, ela diziapara a mãe: “Mamãe, ajuda-me a ser uma campeã”. Ela era consciente deque sozinha não ia chegar lá. Quem se ater a pequenos detalhes de uma menina irá ver que elaé mais pragmática que afetiva. E Camila era dessas meninas. Ela nãocurtia ruge, brilho nem batom. Desde pequena, ela gostava era de jogarfutebol com os meninos. Nunca deixou de fazer alguma coisa porqueera estereotipada como coisa de menino. Ela sempre lidou bem com asadversidades das atividades que eram consideradas “próprias de meninos”. Esther criava Camila sem nunca recriminá-la, por este ou aquelecomportamento. Se ela não gostava de uma determinada cor de roupa,Esther não insistia que ela usasse. Camila nunca foi menina de gostar debrincar de boneca, de praticar balé, brincar de fantasia de princesa ou debranca de neve e os sete anões. Mesmo porque Camila nunca se sentiuatraída por brincadeira que eram estereotipadas. O tempo passou e a menina deixou de ser menina, já era umamoça. De manhã cedo já está pintada, em vez de tomar café direito, ela ca suspirando, sonhando acordada, não come nem estuda direito. Vivecheia de charme... É sinal que o amor já chegou a seu coração – como diza canção. Esther ca atenta aos movimentos da lha, desde a hora que elaacorda até a hora que ela vai dormir. Não foi difícil perceber e entenderque a lha estava apaixonada por um menino de carne e osso, real. Eprocurou conversar com ela. – Quem está machucando o seu coraçãozinho? – Hã! – Quer falar sobre quem está fazendo Você sonhar. – O Beto. Um menino do clube.

Francisco Brito ||| 85 – Ele sabe de seu amor por ele? – Não. Nem vai saber. – Ué, por quê? Camila deu de ombro e não respondeu a pergunta da mãe. Mesmoassim a conversa foi longa. – Eu tenho um objetivo maior que me envolver. O que eu estousentindo agora vai passar. Eu vou conseguir superar isso. Não se preocupecomigo. Eu estou bem. Como diz o meu professor de matemática: “Nopróximo ano, vão ter mais rapazes mais bonitos e marombados.” Esther riu. – Não sofra calada. Lembre-se que eu passei por muitas paixõesna minha vida. Sofri mais que sovaco de aleijado por paixões, por quemnunca nem olhou para mim. – Mesmo! – E não foi uma vez nem duas, foram muitas. Eram paixões que euachava que ia morrer. E alguns dos causadores de minhas paixões eramtão sonsos que nem percebiam que eu arrastava toneladas de correntespor eles. Eles nem olhavam para mim. Era como se eu fosse invisível. – O Beto é assim. Eu só não co nua para chamar a atençãodele, porque o mais eu já z. E nada. Ele nem thum para mim. Eu soutotalmente invisível para ele. – Azar o dele que perdeu a chance de ter uma namorada que vai sercampeã de ginástica olímpica. – É, né! Mas, que dói, dói não ser correspondida no primeiro amor. Esther cou calada, olhando para a lha, sem poder fazer nada. – Mamãe, Você acha que estou sendo muito boba. – Não. Você está no tempo certo de se apaixonar. Logo Você vaiencontrar um namorado que vai dar certo o namoro. – Obrigada, mamãe. Sinto-me mais aliviada. Vou car bem. – O melhor que Você faz é quando passar por ele, não se fazer decoitada, levante o nariz e faça de conta que a chance dele passou. Camila riu e abraçou a mãe. – A senhora é uma gura. Eu amo Você.

86 ||| Mãe ensine-me a ser campeã Esther passou a cultivar uma preocupação a mais, sem, contudo,aconselhar a lha esquecer o menino nem proibiu o namoro. Deixouque o tempo se encarregasse de fazer Camila esquecer o tal Chico, quepor timidez ou por não ter se interessado por Camila, o namoro nemcomeçou. Mas, aquele amor platônico persistiu na cabecinha de Camilapor um bom tempo. Esther cou atenta ao comportamento da lha. Principalmenteporque dali a três semanas ia ser a seletiva para entrar na seleção. ComoCamila queria competir, ela decidiu se concentrar nos treinamentos.E logo tirou aquele amor platônico da cabeça. Mesmo assim, tinhamomentos que Camila achava que não ia dar conta de superar aquela dor.Mas Esther estava do seu lado para apoiá-la e incentivá-la. E ela voltava àatenção aos treinos. Era muita dedicação e força de vontade. Depois de ter sido aprovada na seletiva e entrar na seleção, otreinamento tomou novo ritmo. O treinador intensi cou o treinamentoda séria de trave, solo e salto, objetivando que Camila viesse atingir aperfeição. Esther não descuidava dos treinos nem da alimentação da lha, a m de que a lha mantivesse o peso ideal, de acordo com o seu biótipo.O mais importante é que Camila encarava a ginástica e todo aqueletreinamento como uma pro ssão. A nal, ela era a nova promessa talentosada seleção de ginástica olímpica.

Capítulo 19 45 As Olimpíadas Treinamento duro todos os dias. Nos Jogos da Juventude, emTampere, em 2009, Camila foi medalha de bronze. No ano seguinte, elaparticipou do campeonato Europeu Junior, em Birmingham, em 2010,tendo sido medalha de prata. E foi medalha de ouro em Tokyo, em 2011.E na volta não teve descanso. Os treinamentos continuaram. Nem nasemana natalina ou no carnaval, Camila teve folga. O treinamento era com mais objetivo, já que da época dos JogosOlímpicos de 2012, em Londres, Camila estará com idade elegívelpara competir. Ela sabe que não vai ser fácil, já que as atletas vão brigarpela classi cação no pré-olímpico, em Londres. Todos os dias eramrezados rosários para Camila pelo técnico, lembrando que iam ser oitoseleções, brigando por quatro vagas nos Jogos Olímpicos de 2012,em Londres. E que o Brasil ia ter como adversários: Bélgica, Canadá,Espanha, França, Itália, Coreia e Holanda. Era preciso treinar paraalcançar a perfeição, se quisesse garantir a sua vaga nas Olimpíadas deLondres. Camila era treinada com um treinador individual para buscar a suaprimeira olimpíada. O treinador era categórico ao aconselhá-la, dizendoque ela tivesse tranquilidade na hora de competir. “Tudo pode acontecer,contanto que Você traga a sua vaga olímpica” – era o bom dia do treinador,quando começava o treino com Camila.

88 ||| Mãe ensine-me a ser campeã Toda atenção devia ser cuidada pela atleta, já que as regras paraas Olimpíadas de Londres mudaram. Não era mais as regras utilizadasem Tókio, que os oito primeiros colocados já estavam com as suas vagasgarantidas. Para Londres, as regras era novas. E Camila conquistou a vagaolímpica nas provas individuais no pré-olímpico de ginástica artística.Ter conquistado a vaga olímpica signi cava mais treinos e mais dedicaçãopara conseguir fazer salto mais difícil que os das outras candidatas. Elaagora treinava no Centro de treinamento da ginástica artística, na Barrada Tijuca, no Rio de Janeiro, não como novata, mas como uma dasginastas talentosas que era treinada para ser uma campeã. A adrenalina era grande. A nal, Camila ia ser estreante nos JogosOlímpicos de 2012, em Londres, entre 27 de julho a 12 de agosto de2012. Todos os olhos do mundo vão estar voltados para Camila, quandoela pisasse na quadra de Ginástica Artística. A menina cresceu. Ela já não era mais menina, era uma moça.Tinha pela frente um futuro brilhante, como atleta da seleção brasileira,uma promessa de se tornar a grande estrela da ginástica artística brasileira.Ela ia representar o Brasil nos Jogos Olímpicos, em Londres, em 2012,como a grande esperança da seleção. Avante, menina brasileira! – eram as manchetes dos jornais.

Capítulo 20 45 O destino é uma roda viva Fazer o que tem de ser feito – este aera o lema diário passado aosatletas. Quem busca o mundo do esporte há que suar, sentir dor e nãodesistir. Esther ensinava à Camila que as esperanças se renovavam a cadadia, porque toda manhã é um recomeço, possibilitando deixar de pensarnos erros do dia de ontem, sem, contudo, deixar de torná-los a renovaçãoda esperança para fortalecer a determinação. Os erros de ontem queesgotaram a sua energia, hoje, eles irão fazer com que ela se libertassedos medos para agir na canalização da renovação de seus sonhos de sercampeã. Com isso, Esther cuidava para que Camila não se deixasse abatercom os erros cometidos ontem, evitando que ela entrasse em batalha comDeus – o que poderia torná-la fragilizada espiritualmente. Todos os cuidados eram tomados, já que ser atleta é exigido muitodo seu físico. Eram cuidados da prevenção odontológica de Camila comantecedência para evitar problemas gengivais, higienização de língua,correta escovação, uso do o dental, a m de evitar mau hálito. Esthernão se descuidava da alimentação e da ingestão de líquidos de Camila,por um lado, e por outro, cuidava para que Camila só treinasse se fossemonitorado pela equipe multidisciplinar do clube, sendo respeitadosos intervalos para recuperação muscular. Todo cuidado era pouco paraminimizar possíveis ocorrências de lesões.

90 ||| Mãe ensine-me a ser campeã Por mais que vencer tenha se tornado a coisa mais importante navida de Camila, Esther tinha que prepará-la para a derrota. Porque ocurso dos acontecimentos é uma via de mão dupla: o que faz sorrir paraalguém hoje é o que faz chorar amanhã. Perder ou ganhar, eis a questão! Ambos modi cam o comportamentodo atleta. Para o atleta não é admitido palpite, ele tem que suar e envidartodo esforço. Porque um erro é fatal, joga o atleta para trás ou o tira dopáreo da disputa. O destino pessoal do atleta é uma incógnita. Requer manter a forçado pensamento e assumir a responsabilidade no foco do futuro. Desviarda prioridade é desperdiçar a força de seus pensamentos, é relaxar, é seconformar com o mínimo, é abrir mão do sucesso – e se sentir infeliz. Esther não dava trégua para não dar sorte ao azar. Querer, por sisó, não é o bastante para a lha ser campeão. Requer suor, dor, lágrimase determinação para ser ajudado por Deus. E como ela queria que a lha fosse campeã, ela, como mãe, teria que ser útil hoje para a lha seconcentrar no que precisava ser feito para vir corresponder as expectativasdepositadas nela. Toda a sua orientação era para a lha viver no presente. E, assim,Camila pudesse se concentrar no aqui e agora, deixando a porta abertaatrás de si para um novo recomeço – já que tentar de novo é uma formaque cada um tem para começar de novo e viver no presente. Era esseprincípio que Esther procurava mostra à lha, já que nenhuma pessoapode chegar além de onde está. Nas olimpíadas de Londres, Camila era uma das brasileiras favoritasa uma medalha olímpica em ginástica artística feminina. Nos aparelhos,ela tinha sido muito bem: nas barras assimétricas, no solo e na trave. Mas,ao fazer o salto sobre o cavalo, ela se desequilibrou e torceu o pé direito enão pode continuar na competição, por não poder apoiar o pé no chão.Como torceu pé direito, ela foi obrigada a abandonar a competição. Doeu ver a menina brasileira ter que abandonar a competição aosprantos. Mas, teve a sua mãe ao seu lado, apoiando, consolando, fazendoentender à lha que no esporte se ganha ou se perde. E era para ela levantara cabeça, olhar o espaço percorrido e ver que ela tinha chegado tão longeem tão pouco tempo. Agora era para olhar para frente e mirar nos JogosOlímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.

Francisco Brito ||| 91 Doeu fracassar nas Olimpíadas de Londres. Mas, Camila aprendeuque no mundo do esporte conta a dedicação nos treinos, porque na horada competição deve-se fazer o que tem que ser feito, sempre tendo comofoco a medalha olímpica. Nas Olimpíadas do Rio 2016, ela vai estarlá. E Esther estará ao lado de Camila, cuidando para que ela esteja bempsicologicamente para vir ser campeã. Este é o seu papel de mãe. Fim.



Francisco Brito nasceu na cidade de Piripiri, no Piauí, cresceu no Rio de Janeiro, onde passou a juventude e fez faculdade de Administração na Faculdade de Administração Augusto Motta (UNI- SUAM) em 1974; e obteve o grau de Mestre e em Políticas Públicas e gestão ambiental, pela Universidade de Brasília (UnB) em 1999. É pai de seis filhos homens e uma mulher, todos os sete bem criados e formosos. Cada um com sua singularidade, sua personalidade e seu próprio universo, suas alegrias e seus encantos, que os fazem seres maravilhosos. Toda essa experiência com a criação e educação dos filhos, nas suas diferentes fases da vida, constitui a base de sua inspiração.Músico e compositor, com mais de 100 músicas gravadas por diversos cantores docenário nacional. A sua carreira literária teve início quando foi premiado em doisconcursos internacionais de monografias promovido pelo Centro Latinoamericanopara el Desarrollo del Caribe y America Latina (CLAD), em Caracas/Venezuela. O seulivro de estreia foi A Administração no Serviço Público; o segundo livro foiDemocratização e Gestão Ambiental, lançado em 1999; o terceiro livro foi Eles pedem emcasamento, elas pedem o divórcio, lançado em 2005; e o quarto livro foi CorredoresEcológicos: uma estratégia integradora na gestão de ecossistemas. Este livro teve novaatualização e publicada a sua nova edição em março de 2013. Em julho de 2013, lançou oromance Krausin, o socialite pela Kindle Edition. Mãe ensine-me a ser campeã – Este livro é uma história de amor direcionada às mães e aos pais, tutores, psicólogos, educadores, treinadores e técnicos esportistas que acreditam no talento desses jovens talentosos; e se doam para tornar meninas e meninos campeões neste mundo de competições. O livro é um rico manual de direcionamento, com dicas que serão facilmente adotadas para o cotidiano de uma criança até a sua adolescência. O conteúdo do livro torna a obra verdadeira e de fácil identificação com o público juvenil, sendo de extrema importância a sua utilização pelos pais, educadores e preparadores esportistas que ministrem aulas para a faixa etária de pré-adolescência. O livro tem uma narrativa com linguagem interessante, por conter expressões que vão tocar o leitor. Tem um conteúdo que oferece uma leitura prazerosa para aqueles que buscam texto útil ao seu dia a dia, por ter uma leitura que flui com facilidade.


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