Mamãeensine-meca saemr peãFrancisco Brito
Mamãe ensine-me a ser campeã
Francisco BritoMamãe ensine-me a ser campeã Goiás, julho de 2013
© 2013, Francisco BritoProjeto grá co, editoração e capa:Paulo Roberto da SilvaB???m Brito, Francisco Mãe Ensine-me a Ser Campeã / Francisco Brito – CreateSpace, 2013. 127p. ISBN – 13: 978.14905536927 ISBN – 10: 140536922. 1. Educadores – Ginástica Rítmica – Olimpíadas – Século XXI – Ficção. 2. Romance – Literatura Juvenil – cção. I. Francisco Brito. II. Título CDU ?????????? Texto elaborado e revisado segundo o novo Acordo Ortográ co da Língua Portuguesa. E-mail do autor: [email protected]
Dedicatória Aos meus lhos Carolina Brito, Enrique Gabriel, Felipe, Gustavo, Rodolfo Zion, Vitorugo e Yor Eduardo, quem amo de paixão. Dedico também para: Jaqueline RuthesSimonelli Sauer Colet e Emerson Colet, meus compadres. Célia Wolf, minha comadre. Maria de Lourdes Brito e o seu lho Carlos Alberto.
SumárioNota do Autor -------------------------------------------------------------------------- 9Primeira Parte – Aprendendo a viver ------------------------------------------ 11 Capítulo 1 | A Vida Moderna -------------------------------------------------- 13 Capítulo 2 | Uma criança muda tudo ----------------------------------------- 17 Capítulo 3 | Noticiar a Gravidez ----------------------------------------------- 21 Capítulo 4 | Amor de Mãe------------------------------------------------------ 25 Capítulo 5 | Aniversários-------------------------------------------------------- 27 Capítulo 6 | O Quintal---------------------------------------------------------- 29 Capítulo 7 | Travessuras de Criança ------------------------------------------- 33 Capítulo 8 | Brincar com Bolha de Sabão ------------------------------------ 36 Capítulo 9 | Mãe na vida da lha ---------------------------------------------- 39 Capítulo 10 | O futuro é incerto----------------------------------------------- 43 Capítulo 11 | Passeio matinal -------------------------------------------------- 46 Capítulo 12 | A Escola ---------------------------------------------------------- 50 Capítulo 13 | O Trenzinho Piuí------------------------------------------------ 57 Capítulo 14 | Brincando no Parque ------------------------------------------- 61Segunda Parte – O Esporte ----------------------------------------------------65 Capítulo 15 | Menina esportista ----------------------------------------------- 67 Capítulo 16 | Os Jogos Olímpicos--------------------------------------------- 72 Capítulo 17 | O amor na vida dos adolescentes ----------------------------- 75 Capítulo 18 | Vida de Atleta---------------------------------------------------- 80 Capítulo 19 | As Olimpíadas --------------------------------------------------- 87 Capítulo 20 | O destino é uma roda viva ------------------------------------- 89
Nota do Autor Esta história de amor é dedicada a todas as mães, pais, tutores, educadores e treinadores. esportistas. Mãe ensine-me a ser campeão é uma história de amor direcionadaaos pais, educadores, treinadores e a todos aqueles que acreditam napotencialidade do adolescente e dedica seu tempo a esses seres maravilhosospara torná-los campeões neste mundo de competições – especialmenteaqueles alunos que já alcançaram a faixa etária de doze anos em diante. Mãe ensine-me a ser campeão tem uma linguagem agradávele de fácil entendimento. O livro destina-se às mães, pais, psicólogos,educadores e pro ssionais da área de esporte, em especial na modalidadede esporte feminino. O texto contém várias orientações a respeito de educação,direcionamento de ideias que vão ser úteis a mulheres e homens que estãolidando com seus lhos e lhas, por um lado, por outro, a educadores quelidam com alunos e esportistas na faixa etária de quatorze anos em diante.Será um rico manual de direcionamento, com dicas que serão facilmenteadotadas para o cotidiano de uma criança até a sua adolescência. O conteúdo do livro torna a obra verdadeira e de fácil identi caçãocom o público juvenil, sendo de extrema importância a sua utilizaçãopelos pais; e para os educadores que ministrem aulas para a faixa etária depré-adolescência. Mãe ensine-me a ser campeão tem uma narrativa com linguageminteressante, por conter expressões que vão tocar o leitor. Tem umconteúdo que oferece uma leitura prazerosa para aqueles que buscamtexto útil ao seu dia a dia, por ter uma leitura que ui com facilidade.
Primeira ParteAprendendo a viver
Capítulo 1 45 A Vida Moderna Ela se vestiu lentamente, em seu devaneio; e quando estava vestidanaquele lindo vestido de noiva, escolheu o seu perfume preferido paraocasiões especiais, o Chanel No. 5 Eau De Parfum Feminino e se perfumousem exagero, a m de que o perfume evidenciasse na medida certa. Estherolhou-se no espelho para se certi car que estava bonita e pôs-se pensativa,por alguns segundos, certi cando-se no espelho se era isso mesmo que elaqueria. “É isso mesmo que eu quero?”– Indagou a si mesmo. – “Sim, éisso que eu quero. Vou deixar a minha vida de solteirona para me casarcom o homem que eu escolhi.” Era hora de ir. O carro já estava esperando para levá-la à Igreja.Não havia mais tempo para devaneio. Ela tinha levado 40 anos para sedecidir com quem deveria se casar. Não havia mais tempo para voltaratrás em sua decisão de se casar. Levantou-se e saiu do quarto. – Madrinhas! Estou pronta. Podemos ir. – Vamos que o noivo deve estar impaciente. – Disse Estela Maris – Melhor não deixá-lo esperando. Vai que ele resolve fugir e vouter que car mais 40 anos para encontrar um noivo ao gosto de minhasexigências. – Brincou Esther. – Imagina! Ele ganhou na sorte grande, casando com uma mulhercomo Você. – Disse Marina Bitencourt. – Eu estou me sentindo uma verdadeira princesa num conto defadas. Eu sempre sonhei que alguém pudesse me fazer tão feliz. E hoje
14 ||| Mãe ensine-me a ser campeãeu vou me casar com o homem que me ama verdadeiramente. – DisseEsther, certa do que estava fazendo. – Tenho certeza que Você será muito feliz na sua vida de casada,Esther. – Disse Estela Maris. – Amém! Que Você esteja falando pela boca de um anjo. – DisseEsther, encaminhando-se para a porta de saída. – Vamos, não é! Nãogosto de deixar ninguém esperando por mim. Especialmente no dia demeu casamento com o Mansur. Todos saíram às pressas. Esther entrou na Mercedes Bens que o paitinha alugado para aquela ocasião. E ela foi levada para a igreja, onde elaera esperada. A igreja estava cheia. E a cerimônia do casamento foi dada início.Fora exatamente como Esther sonhara, com direito a daminhas e pajens,padrinhos e madrinhas, convidados e o suspense na hora que o padredisse: “antes de continuar com a cerimônia deste casamento, se alguémsouber de algo que impeça este matrimônio, que fale agora ou cale-se parasempre”. O burburinho foi geral dentro da igreja. Apreensiva, Esther seimaginou no meio de uma confusão, com uma mulher aparecendo paraarmar o maior barraco. “Seria hilário, alguém aparecer aos prantos, aos gritos, fazer umbarraco na igreja e impedir o meu casamento. Com certeza eu mataria oMansur depois.”– Pensou Esther. O padre deu prosseguimento à cerimônia do matrimônio e Estherse casou com Mansur. Depois que foi realizado o casamento, lá fora da igreja desabou umtoró de chuva com rajadas de ventos e relâmpagos. E todas as expectativasforam liberadas. Todos caram dentro da igreja, esperando a chuva passar. A chuva não durou mais que meia hora. A noiva e os convidadosse aglomeraram na porta de saída da igreja, esperando que a chuva desseuma trégua. Quando diminuiu a chuva todos deixaram a igreja e forampara o Café Cancun, na Avenida Beira-Mar Norte, em Floripa, onde foioferecido um jantar aos convidados e padrinhos. Havia um senso de gentilezas, afeto e respeito mútuo. Desde queMansur e Esther se conheceram, eles viveram um amor verdadeiro. Cedoestabeleceram regras claras de convivência entre si. E a principal delas
Francisco Brito ||| 15foi que cada um cultivasse gentilezas no trato pessoal um com o outro.Porque o amor exige respeito e afeto. E isso é demonstrado em atitudes,não somente em palavras. Gentilezas geram gentilezas – construídas aolongo do relacionamento. Esther e Mansur mantiveram o foco no futuro. Entre os acordos rmados: Amar sem exagerar no ciúme, não interferir nos horários detrabalho um do outro. E para blindar aquele relacionamento, ela o fezassinar um termo de regras de conduta e delidade. E ele assinou sem leros termos, tanto que ele estava apaixonado por ela, dando-se início aqueleamor regado a respeito e afeto. Aos 40 anos de idade, Esther continuava com os belos e nos traçosde seu rosto, elegante, serena, moderna e beleza natural. O seu grandedefeito era o vício em trabalhar – uma verdadeira workaholic sem chancede cura. Era uma típica mulher executiva. E apesar do sucesso pro ssional,ela não era diferente de outras mulheres de sua idade: sonhava em ser mãe. Esther esforçava-se para manter um equilíbrio entre os obstáculosda vida moderna: conciliar o tempo que era destinado ao trabalho que alevava ao estresse com a sua vida de casada. Ela saía de casa cedo e voltavapara casa somente para dormir – motivos que atrapalhava a real felicidadedela com o marido. De vez em quando, no seu jeito de falar, medindo aspalavras, Mansur reclama a ausência dela na vida conjugal. O jeito era eladar uma de durona: se eu não trabalhar muito, não teremos o padrão devida que levamos. E com aquelas palavras fechava a boca do marido, jáque o salário do marido no Banco do Brasil não era lá essas coisas. Mansur sabia das responsabilidades pro ssionais de Esther, ele sónão sabia até quando ele ia aturar aquela vida solitária de casado quelevava. Com 40 anos de idade, Esther já estava conformada que nunca iaser mãe. Esther adiara a maternidade. Casara-se tarde. E a natureza femininanão lhe ajudava mais. Ela sabia que já tinha chegado a uma idade que afertilidade não favorecia. O tempo de engravidar tinha passado. Agora,uma gravidez na sua idade era risco certo para ela e para o bebê. Quem via Esther e Mansur juntos, logo imaginava: “eles nasceramum para o outro”. Parecia que eles tinham a fórmula perfeita de um
16 ||| Mãe ensine-me a ser campeãcasamento bem sucedido. Esther era extrovertida e de inteligênciaexcepcional. Mansur era introvertido, com inteligência mediana etendências solitárias. Ele tinha de se esforçar para transformar a suatimidez em algo útil e parecer desinibido ao lado da esposa. Apesar de sua timidez, Mansur não tinha problema para se colocarperante as pessoas e para lidar com Esther – mesmo ela parecendo sofrerda síndrome da última bolacha com recheio do pacote. Ele convivia bemcom ela e a amava como se ela fosse à única mulher da face da terra, tantoque ele era (e é) apaixonado por ela. Esther não tinha mais esperança de ter lho. E cobrava de si, pornão ter sido mãe quando era jovem e podia ter lhos. Talvez, por vaidade,ela evitou gravidez. Pudera! Ela levava uma vida tão atribulada com otrabalho que quando voltava para casa queria dormir, já que o desgastefísico e emocional que ela sofria durante o dia a impedia de querer lho.Mesmo porque ela não queria ser mãe solteira. Ela queria um lho, desdeque fosse com um homem que ela amasse e ele se dispusesse em ajudarcriar o lho. Ela não era mulher de produção de lho independente. Pensar que ela fora capaz de tantas coisas, menos de ser mãe. Doía-lhe na alma.
Capítulo 2 45 Uma criança muda tudo Deus escreve certo por linhas tortas. Quando parecia que aesperança tinha chegado ao m, diante da sua idade, Esther engravidou evieram os enjoos. E num desses enjoos Mansur presenciou. – Você comeu alguma coisa que lhe fez mal? Vamos passar numafarmácia para ver um remédio para Você. – Não existe remédio na farmácia para este tipo de enjoo. Vou terque conviver com eles ainda por uns três meses se Deus quiser. – Você está grávida? Ora, isso é maravilhoso. É um lho que nosfalta para realmente formar a nossa família. – É assim que Você pensa? – Sim. – Eu já não estou mais em idade de procriar. Eu tenho que admitirque esteja ultrapassando o limite imposto pela natureza para ser mãe.Apesar de a maternidade tardia impor muitas limitações à mulher, eu mesinto poderosa mais que em qualquer época de minha vida. – O fato de gerar um lho é motivo justo para se sentir poderosa.Você pode contar com meu apoio. – Com a minha idade, o vigor físico e o psicológico têm suasfragilidades. A sua ajuda será muito importante, mas eu sei o risco queestarei correndo a cada dia da gravidez.
18 ||| Mãe ensine-me a ser campeã – Juntos poderemos encontrar forças para trazer essa criança geradaem seu útero à luz da vida. – Com a nossa idade, nós já não temos mais energia para lidar comum lho, por um lado, e por outro, o nosso lho ao chegar à idade deentendimentos poderá sofrer impacto psicológico por parecermos com osavôs de seus amiguinhos que com seus pais. – Agora é tarde para pensar nisso. – O pior de tudo, nosso lho corre o risco de se tornar órfão antesde completar dez anos. – Você nunca ouviu a parábola que diz: Deus dá o frio conformeo cobertor! – Quando eu era nova quis ser mãe, mas não encontrei umrelacionamento estável. Quando completei 30 anos, pensei em ter um lho independente, novamente adiei por causa de meu trabalho. Quandome casei com Você, achei que já era tarde demais para formar minhaprópria família. Eu já estava conformada que a minha família acabariaem mim. – Ora, não seja boba. Sara, a mulher de Abraão, que tinha 90 anos,e já tinha passado pela menopausa, ela teve um lho de Abraão que jáera velho (conforme Genesis 18:11-14), eu tenho certeza que, como aSara, Deus irá desampara-la, depois de ter lhe dado essa oportunidadede engravidar. Com certeza você teré uma gestação saudável. Veja se nãoé um milagre, você não precisou recorrer a nenhum método arti cial.Então, agora é agradecer a grandeza providência e esperar esse lho nascer.Porque esse menino ou essa menina será bem vindo e muito amado. – Está certo. Você tem razão. Mesmo porque agora já estou grávida,não tem mais o que fazer. Mesmo sabendo que a gestação em idade tardiapode trazer riscos a mim e ao bebê, agora é me cuidar para minimizaro risco de aborto. E esperar os nove meses para ver a carinha de nossamenina. – Como você sabe que é uma menina? – Perguntou Mansur. – É um pressentimento que senti agora. Para mim será maravilhosose vier menina. Mas, se for homem será amado do mesmo jeito. – Eu senti uma ponta de desejo que esse bebê nasça com o sexofeminino, eu estou certo?
Francisco Brito ||| 19 – Sim. Tomara que seja uma menina. – Eu tenho minhas preferências que seja um menino. Mas, se foruma menina, ela será muito amada. Mansur, você é um amor. São essas sutilezas suas que o torna tãoespecial. – Disse Esther, dando um beijo no rosto dele. – Agora cabe a nóscuidar para que esse bebê nasça sadio para nos fazer mais felizes. – Quem há de dizer que é tarde para nós formarmos a nossa própriafamília? – Não vai é faltar gente para nos criticar por eu ter uma gravideztardia. – Disse Esther. – Vamos fazer como manda aquela música: deixa que digam quepensem que falem... Deixa isso pra lá, o que é que tem... A gravidezé nossa, quem fez o lho fomos nós. Depois, meu amor, eu não estoufazendo nada nem Você também. Vamos curtir a nossa gravidez e esperarchegar o nosso bebê. – Você tem razão. Como a expectativa de vida para os homens é69,1 anos e para as mulheres são 72,8 anos, eu tenho ainda 36 anos paraviver ao lado desse lho ou lha. E Você tem ainda 16 anos para viver ecurti-lo. Esther pôs-se pensativa. – Aos 25 anos, essa idade é su ciente para este lho ou lha já estartrabalhando e ser independente. Não é porque eu terei 41 anos quandoder à luz que vai mudar a minha condição de zelar pelo meu lho. – Nós vamos saber preparar este lho que vai nascer para a vidacom elevada autoestima. – Disse Mansur. – Nós estamos em melhores condições que muitos pais jovens.Já estamos estabelecidos na vida pro ssional e nanceira para oferecereducação, dar boa assistência médica e boa moradia. – Disse Esther. – Uma gravidez tardia requer repouso. Por isso trate de se cuidar.– Disse Mansur. – Eu sei. Nós temos um bom plano de saúde. E se for precisorepouso, o plano de saúde cobre os dias que for preciso repousar numaclínica. Mansur limitou-se em olhar para Esther.
20 ||| Mãe ensine-me a ser campeã – Se for o caso, eu deixarei o emprego, depois que der à luz. – DisseEsther. Esther pôs-se pensativa. – Coração de mãe não tem idade para amar o lho. Eu já estou mesentindo uma mãe. E quando esse bebê nascer, eu serei uma mãe coruja. Esther e Mansur riram e se beijaram no meio da praça, como hámuito tempo não faziam em público. – Engravidou, deixe o lho nascer. É o que manda a lógica doamor. – Disse Mansur. – É o que eu vou fazer. E se for necessário eu deixarei o cargo paracuidar da gravidez em tempo integral. Esther sabia que ia ter que aprender a lidar com os seus limites deidade. O que ela tinha que fazer era se ajustar a uma carga horária detrabalho que não requeresse tanto dela. Principalmente que ela não podiamais se dar ao prazer de trabalhar até depois do horário normal e aindalevar para casa trabalho para fazer nos nais de semana. Pelo seu bebê, quando começaram os enjoos, ela decidiu desaceleraro seu ritmo de trabalhar. Naquela semana Esther pediu exoneração docargo para se dedicar à sua gravidez tardia. Ela sabia que não ia poderlevar aquela vida de competitividade que exigia dela trabalho de até 14horas por dia, sem falar que nos nais de semana ela tinha que atender ocelular que não parava de tocar e de responder e-mails pelo celular.
Capítulo 3 45 Noticiar a Gravidez Noticiar a sua gravidez aos amigos era motivo de uma comemo-ração. Naquela nal de semana, Mansur organizou um churrasco em casapara comunicar o grande acontecimento. E chamou o sogro e os amigosGui e Irene, Susie e George, Felisberto e o Sr. Manuel para comunicar anovidade de que Esther estava grávida. Esther tivera curtido a vida, conhecido o mundo, tinha segurança nanceira e, claro, estava casada. E ela se sentia madura e com maissabedoria para cuidar da educação de seu rebento quando ele chegasse.Involuntariamente, ela tinha economizado nos últimos anos para aquelemomento. Estava tranquila, com relação voltar ao trabalho ou não, apóso m da licença-maternidade. Ela sabia que estava preparada para daratenção ao seu lho ou lha quando nascesse. Se bem que Esther tinhaquase certeza que era uma menina, apesar de não ter feito ultrassonogra apara ver o sexo do bebê. Apesar de passar por grandes reveses de sua maternidade, comorepouso e passar maior parte do tempo deitada de lado, para que a artériauterina dilatasse, à medida que o bebê crescia, Esther levou a gravidez atécompletar 42 semanas. E deu à luz a uma linda menina, de parto normal,no dia 29 de janeiro de 1995, com 52cm, 3 quilos e 200 gramas. Era umamenina saudável.
22 ||| Mãe ensine-me a ser campeã A menina foi registrada e batizada na pia de batismo com águaabençoada, onde recebeu o nome de Camila Meirele Mansur. Teve comopadrinhos Gui e Irene – amigos mais íntimos de Ester. Depois do batizado de Camila todos foram comemorar o batizadona casa dos pais da menina. Esther estava satisfeita, atenciosa aosconvidados, cuidadosa para que nada faltasse. Sempre sorridente, eladava atenção a cada convidado, um sorriso aqui e outro ali, sem perder apose de seu charme, con ante, ela sabia como receber e ser simpática aosconvidados. O primo de Mansur, Raimundo Teles Resende, empresário rico emilitante do Partido dos Trabalhadores (PT), era candidato a deputadofederal. O único empecilho, porém, era que o Raimundo Teles e ojornalista Gui, os dois eram feitos água e azeite, eles não se misturavam.Cada um olhava o outro de soslaio, cada um na sua, tipo: não mexecomigo que eu não revido. Raimundo Teles, 53 anos de idade, tinha acabado de se casar comLarissa Goes, trinta e quatro anos mais nova que ele. Larissa tinha 19anos de idade, alta, corpo malhado, tez alva, cabelos negros, olhos verdes;bonita na medida certa; charmosa, elegante e bem-vestida, de acordo comas últimas tendências da moda fashion. Ela tornara-se o alvo dos olharesmasculinos (e femininos), enquanto Raimundo Teles a exibia como oseu mais valioso e importante troféu. Ele parecia um pavão enfeitado,exibindo a nova esposa, enquanto era motivo de chacota entre as pessoaspresentes no batizado. Enquanto os comentários corriam soltos sobre a nova esposa deRaimundo Teles, ela se desvelava em simpatia. A sua espontaneidadetinha um quê de ingenuidade que não a deixava se prevenir contra amaldade das pessoas e fazia de conta que não enxergava as maledicênciasde algumas pessoas cheias de invejas que a criticavam pelas costas – tudodesdém. Larissa fazia-se de tímida para não chamar tanta atenção – coisaque não conseguia. Ela cou o tempo todo ao lado de Raimundo Teles,feito uma coelhinha mimada. Apesar de jovem e de se fazer de ingênua,ela percebera os olhares críticos das pessoas, por sua beleza e pela grandediferença de idade entre ela e Raimundo Teles.
Francisco Brito ||| 23 Percebendo que a esposa estava constrangida com o assédio daspessoas à esposa, Raimundo Teles despediu-se e foi embora, levando aesposa a tiracolo, sentindo-se o homem mais feliz da face da terra. Esther tinha percebido o assédio das pessoas à mulher do primodo marido, mas evitou fazer qualquer comentário com Mansur. Ela iade mesa em mesa, com a lha no colo, toda orgulhosa. Pudera! Camilaera um bebê lindo, rechonchudinha, rosada, fo nha e com a carinha defelicidade. *** Camila cresceu sempre sorridente. Camila era uma criança feliz.Em vez de choro ouvia-se gargalhadas dela. Esther remoçou com o nascimento de Camila. Ela passou a ser umanova mulher: mais calma e mais amável, mais alegre e mais sorridenteno seu jeito de viver. Ela e Mansur decidiram serem os melhores pais domundo, dedicando-se com esmero àquele serzinho. Quando se passaram os quatro meses de licença maternidade, nahora de voltar a trabalhar, ela resolvera jogar tudo para o alto e seguir oseu sonho de ser mãe e cuidar da lha. Nem ela mesma acreditou quetinha pedido demissão. Só ela sabia que era hora de reconstruir a vidaem bases diferentes daquela que ela levara até ali. Mesmo sabendo que odinheiro ia car curto, ela tomou a decisão de deixar o emprego de altosalário e procurar outra forma para melhor viver com a lha e o marido. “Eu estava cega quando enxergava que a felicidade era ter poderde compra de bens materiais, o que me obrigava trabalhar mais de dozehoras por dia”. – Pensou Esther. Esther não via sentido ir trabalhar e deixar a lha aos cuidados deuma babá ou numa creche. Ela queria estar presente no dia a dia da lha. Esther sabia que era hora de cortar as despesas e equilibrar oorçamento. Ele nunca pensou que era tão desapegada a coisas materiais.Morar naquele apartamento enorme ou morar na casa modesta de Mansurnão fazia diferença para ela. Fez as contas de quanto aquele apartamentodava de aluguel somado com o salário do marido dava para os três – ela,o marido e a Camila.
24 ||| Mãe ensine-me a ser campeã Esther naquela manhã telefonou para uma imobiliária vir fazera avaliação do valor do aluguel do seu apartamento. O próprio donoda imobiliária foi pessoalmente fazer a avaliação do apartamento dela.Depois de acertarem o valor do aluguel, o avaliador do imóvel disse que játinha um cliente para morar naquele apartamento. E naquele momentofoi acertado o dia de entrega do apartamento para o locatário o imóvel.Era só questão de ser feito uma reforma e pintura na casa para ser rmadoo contrato de aluguel entre Esther e a imobiliária. Três meses depois daquela conversa que ela tivera com o dono daimobiliária foi rmado o contrato do aluguel. E Esther e Mansur deixaremo apartamento e foram morar na antiga casa de Mansur que era usada atéentão como casa de praia. Trocar aquele amplo apartamento, localizado à beira-mar norte,com vista para o mar, por um casarão velho em Campeche, era descer20 degraus na escala de qualidade de vida. Aquela era a sua escolha. EEsther deixou o seu apartamento sem nenhum remorso e foi morar numamodesta casa, mas que tinha um amplo terreno com mata nativa. Com o apartamento alugado, Esther passou a usar o aluguel comoo seu salário para somar a renda do casal. E reaprendeu a priorizar o queera mais importante e a viver uma vida modesta com pouco dinheiro. Feliz, por poder ver a lha crescer sob os seus olhos de mãe. Para não car ociosa, Esther decidiu usar o seu antigo passa tempo– pintura de quadros – e montou o seu próprio ateliê em casa. E passoua vender os quadros aos amigos e nas feiras da cidade. E com isso, elapassou a ter mais tempo para sair com o marido e ser mais receptiva anovas amizades, ir mais vezes à casa do pai e visitar mais vezes os irmãos.
Capítulo 4 45 Amor de Mãe Um vínculo permanente havia sido estabelecido entre Esther e InácioMansur, graças àquela garotinha. A vida do casal mudou completamente.Era como se Camila tivesse vindo ao mundo para unir ainda mais os paise torná-los mais felizes. Camila crescia com fôlego de sete meninas. O tanto que ela erasaudável, ela era danada. Com ela a vida tomou novo sentido para Esthere Mansur. Eles descobriram o real sentido do amor, bem como a dimensãoexata do signi cado de uma família feliz. Mansur não media esforço paracuidar daquele serzinho. Ele assumiu o vínculo de amor com a lha. Epassou a participar efetivamente dos afazeres domésticos e cuidados coma menina, enquanto Esther trabalhava no ateliê. Mansur entregara-se à arte de amar. Desde que Camila nasceu, eleesteve sempre presente na vida da mãe e da lha. Em nenhum momentose furtou à verdadeira emoção da paternidade. – Deus une o homem com a mulher. E esta menina nos uniu aindamais em torno dela. – É verdade. Este serzinho nasceu para eliminar toda e qualquerdiscórdia que pudesse haver entre nós. – É como se este bebê tivesse vindo a este mundo para nosproporcionar harmonia e transformasse a nossa vida para melhor. – Quando você olha para essa criança tudo em você é amor. Você ca mais bonita, radiante. Eu acredito que ela será tão bonita e terá amesma faceirice feminina sua.
26 ||| Mãe ensine-me a ser campeã – Você acha? – Sim. – Nunca pensei que um lho mudasse tanto o meu modo de ver avida. Eu sei que eu mudei com a chegada de nossa lha. – Acredite. A mudança foi para melhor. – Pudera! Antes eu pensava só no meu umbigo. Agora tenho uma lha para cuidar dela e ajuda-la a realizar seus planos, objetivos e suasmetas pro ssionais. – Ela é uma menina de sorte só em ser a sua lha. – Nossa. Nossa lha. Somos um casal com uma lha para cuidar.Eu estou achando ótima esta nova fase da minha vida. Apesar de nãosobrar dinheiro para irmos a restaurantes nem sair de férias e car embons hotéis, temos com quem nos preocupar e pensar no futuro. – Nós já tivemos as nossas cotas de férias em bons hotéis. Não sepode ter tudo. – A empresa me telefonou convidando para retomar as minhasatividades. – O que você disse? – Que eu estava gostando da vida de esposa, mãe e dona de casa. – Imaginar que Você era dedicada ao trabalho e nunca tivera horapara voltar para casa. Agora é dedicada à vida familiar. – O presente que Deus me deu, dando-me a graça de ter sido mãetardia, mesmo assim a minha lha ter nascido saudável, é motivo deacreditar que a vida não é só querer ganhar dinheiro. Os dois conversaram até altas horas daquela noite. E dormiramabraçados, como há muito tempo não faziam. Acordaram com Camilaque viera dormir na cama com eles. O instinto paterno a orou em Mansur, desde que Camila havianascido. Ele tornara-se um pai dedicado. E não teve essa de dizer “faltade jeito” para pegar a menina quando nasceu. Ele não só pegou a lha,como passou a trocar as fraldas, dar banho, vesti-la, dar de mamar namamadeira, fazê-la arrotar e pô-la para dormir. E quando ela chorava eraele que levantava no meio da noite para pegar a lha e trazê-la para a mãedar de mamar.
Capítulo 5 45 Aniversários Cada aniversário da menina era festejado. As festas de aniversárioseram sempre com temáticas que encantavam as crianças. Não eram festaspara ricos, mas eram festas de muito bom gosto para criança. Podia-se verque Camila crescia feliz e com elevada autoestima. Ela se divertia, corriana rua, brincava, sujava a roupa, sorria e era feliz. Tudo era feito para tornar feliz aquela menina que crescia feitoabóbora. O amor entre ele e Esther era à base daquela estrutura familiar.Amar a lha era a melhor coisa do mundo para Esther e Mansur. Esthercurtia cada momento com a lha. O sorriso da lha era a sua maiorrecompensa por ter passado o que passou durante a gravidez. Agora, elapassava horas brincando com a lha. Enquanto a Camila brincava, Esther ajudava-a desenvolver asnoções espaciais sobre signi cados de maior, menor, alto, baixo, largo,estreito... E quando as duas saiam para ir ao shopping, lojas ou à padaria,Esther deixava a lha decidir sobre o que queria – o que fazia com queCamila crescesse com opinião própria. Esther incentiva a lha participar da decisão na compra de suascoisas de uso pessoal ou brinquedos. Na hora de ela provar roupas, tênis,sapatos ou brinquedos, ela ouvia a opinião da lha. E se ela não gostoudo objeto, Esther não comprava para não contrariar a opinião da lha.
28 ||| Mãe ensine-me a ser campeã Com tanto amor que recebia da mãe, Camila não era uma meninamanhosa. Mesmo assim ela tinha seus momentos de “piti” e emburrava. Etinha ataques de fúria – fosse por se sentir frustrada por não ter conseguidomontar o quebra-cabeça ou porque a mãe interrompia o jogo na internetque ela estivesse brincando no computador ou porque foi contrariadapor não poder levar um brinquedo no supermercado. Esther mantinha-se rme na condição de adulta e justi cava as razões do por que ela não ialevar tal brinquedo ou por que havia interrompido o jogo no computador. Esther administrava a emoção negativa da lha com rmeza, sembater nem agredi-la. Quando Camila completou três anos de idade, Esther tentou colocara lha na creche maternal que era mantida pela prefeitura municipal.Ficou quase um ano na la de espera por uma vaga para a lha entrarna creche, já que o critério para selecionar a criança era a renda familiardividida pelo número de pessoas da casa. Por m, Camila foi aceita nacreche de Campeche.
Capítulo 6 45 O Quintal Andar, correr, pular, subir nas árvores do quintal de casa foi umadescoberta maravilhosa, dando a sensação de autonomia e liberdade paraCamila. A partir do momento que sentiu que era mágica a vida, Camila nãoparou mais de buscar novas descobertas. Não precisou de muito tempopara mostrar que ela imprimia a sua personalidade no que fazia. A Camila não parava. Ela estava sempre buscando descobrir novasformas de brincar. E logo aprendeu a subir nos bancos de madeira queexistiam no quintal da casa, à sombra esplendorosa do pé de bougainvilleque tinha a função de trepadeira sobre o percolado. Ela não só aprendeua subir na lateral de encosto do banco (com excesso de con ança), comono percolado. Ela caiu várias vezes e se machucou. Mas, naquela manhã,ela se machucou feio ao cair da trepadeira. Esther levou Camila para ohospital infantil, onde foi tirada radiogra a da área frontal do rosto e feitoexame médico. Por sorte, ela só teve os lábios inchados e um galo na testaque logo desapareceu com as compressas de gelo. A partir daquele dia, Esther fez curso de primeiros socorros. Eaprendeu a cuidar dos primeiros socorros da lha e das outras criançasque frequentavam o espaço lúdico infantil de sua casa. Quando Camilaou outra criança caía, a primeira coisa que ela fazia era lavar o cortecom água e sabão para limpar o local do ferimento e evitar uma possívelinfecção. E se fosse um ferimento mais sério, ela levava a lha ao prontosocorro infantil para uma avaliação médica.
30 ||| Mãe ensine-me a ser campeã O fato é que Esther não se descuidava da lha. Ela sabia que aomenor descuido, o mal podia acontecer. Caiu, machucou, ela não esperavaa dor passar. Ela levava a lha ao pronto socorro infantil mais próximopara avaliação, exame e cuidados necessários. O quintal da casa tinha muro alto. Mas, a bola da meninada sempretinha que cair justamente dentro do quintal. E cava lá. Além de o muroser alto, tinha um cachorro que latia até com a sombra, o que impedia dea meninada se aventurar a pular o muro. Camila experimentava jogar bola de futebol, bola de gude e soltarpapagaios, colecionar gurinhas, menos brinca de boneca. Ela desenvolviao ego, aprendia competir e tinha boa saúde física e psíquica. Parte de seudesenvolvimento era graças ao quintal de casa, onde Camila brincava eaprendia a subir nas árvores. O quintal da casa era o local predileto de Camila. Desde muitopequenina, ela tinha predileção pelas ores e plantas do quintal. O velhocasarão fora herdada do pai, o botânico Luiz Salomão. O quintal era umaverdadeira ilha de oresta original. Os cuidados com as árvores vinhamde pai para lho, desde os tempos de seu bisavô. Muitas árvores eramseculares. Algumas árvores tinham seus galhos podados com serrotes(nunca com motosserra) para evitar queda de árvores. E outras tinhamseus galhos sustentados por colunas de ferro. Mansur herdou dos pais a casa com aquele quintal arborizado. Elenunca se descuidou das árvores nativas. Ao redor da casa foi plantadoIpê roxo, branco e amarelo, Resendá, Cambuci, Dama da Noite e outrasespécies exóticas. E algumas árvores frutíferas. Todas as árvores eramalimentadas com adubo, logo depois que elas oresciam para ajudá-las aresgatar suas energias e estender os anos de suas vidas no tempo. Como agrônomo, Mansur estava sempre cuidando para apreservação daquele meio ambiente. Cuidava das árvores como se elasfossem a sua família. Tratava as árvores para que nenhuma delas caísse noverão chuvoso, quando é muito comum chuva com ventos fortes. Quando Mansur se aposentou no banco, ele criou num canto doquintal um pequeno espaço lúdico para promover atividades lúdicasda lha. Com o espaço lúdico estruturado, uma pequena bibliotecafoi montada com alguns livros infantis que aguçassem. E aquele localaguçado a curiosidade de Camila. Havia livros com histórias novas e
Francisco Brito ||| 31assuntos recentes com vocabulários mais acessíveis para consulta. Erasempre promovida a realização de o cina de apresentação de teatrinho defantoches para a dinamização de histórias. Havia um quadro com as letras do alfabeto. E havia um quadrointerativo para exploração de explicações educativas. E noutro cantohavia uma área de brinquedos, jogos, artes, expressões artísticas, culturae educação. Aquele espaço lúdico destinava-se ao desenvolvimento de leitura dafamília e para aperfeiçoar a aprendizagem de Camila, já que ela começavaentrar em contato com a leitura alfabética. Ali passou ser um local que era desenvolvido o hábito de leitura deEsther e Mansur. E eles aproveitavam para ensinar a lha a desenvolvero hábito de leitura para que ela aprendesse as letras do alfabeto edesenvolvesse a escrita, habilidades motoras e aprendesse a ser crítica desua realidade. Eles não queriam que a lha padecesse do mal do século, em queo jovem pré-adolescente e adolescente troca o livro de leitura clássica daescola pela internet. A primeira infância de Camila foi de cuidados, o que foi degrande importância para que ela tivesse boa estrutura física, intelectual,emocional e sociabilização. Quando Camila completou seis anos de idade, Esther dormiu na la do colégio para conseguir matricular a lha na Escola pública. E elainiciou a aprendizagem da leitura e da escrita. Na escola, a professora estimulava o aprendizado da escrita mediantetarefas de contornar as letras do nome dela, colar palavras ao lado dodesenho... E Camila entrava no mundo da alfabetização. Por onde elapassava, ela cava tentando decifrar o que estava escrito nos outdoor. E amãe ia ajudando-a descobrir as palavras com ela. Esther dedicava uma parte do seu tempo para acompanhar astarefas de Camila. As duas cavam horas juntas, com Esther ensinandoa lha a ler... Primeiro, ela lia em voz alta e, depois, pedia que ela lesse oque ela tinha lido. E no nal da leitura, ela elogiava.
32 ||| Mãe ensine-me a ser campeã *** Esther tinha deixado o emprego para se dedicar aos cuidados da lha. E como ela tinha a parte da manhã livre, ela resolvera pôr em práticaa sua antiga pro ssão: professora de artes. Três vezes na semana, Estherdava aulas de artes para crianças de 5 a 6 anos de idade no espaço lúdicoinfantil. Não demorou, ela teve que registrar o local como “A escolinhade arte”. Aquele espaço lúdico passou a funcionar como uma o cina deartes para crianças. Noutro canto do quintal, Mansur usou uma parte que era antesuma horta e construiu uma praça sustentável: destinou ao espaço vaziopeças de madeira, fez balanços coloridos de pneu, banco triangular demadeira apoiada em pilares de troncos de madeira de lei (aroeira), osquais foram enterrados em cimento para não apodrecer. Ao lado do “espaço lúdico infantil” foi construído um pequenocampo de futsal para criança. E Mansur passou a ensinar o que ele sabiade melhor: jogar futsal. E ele passou a ministrar três vezes por semanaaulas de futsal para três grupos de crianças com idade de 6, 7 e 8 anos deidade. E tanto foi a procura de pais de alunos que queriam ver seus lhosem atividades esportivas, obrigando Mansur a criar mais duas turmas,com meia hora de aula para cada grupo, no horário das 18h00 – 19h00. Esther e Mansur estavam sempre perto de Camila. O amor que ela recebia dos pais ajudava-a ser uma criança feliz.O vínculo afetivo, o amor e afeto eram dados sem exagerar na dose doamor. Isso contribuiu para que ela tivesse boa formação de personalidadee competências para desenvolver as suas próprias habilidades. Camila tinha uma energia de extremo poder que impressionavaaté a mãe. Num instante era um capetinha, no minuto seguinte era umaverdadeira “anja humana”. Num instantes era uma criança tranquila e detemperamento dócil. Noutro era uma criança de determinação impetuosacom ataques de fúria. Por mais danada que fosse a Camila. Ela só fazia coisas de criançasaudável.
Capítulo 7 45 Travessuras de Criança A tarefa árdua de cuidar da lha é na hora de levá-la para passear.A adrenalina é minuto a minuto. A criança não obedece andar de mãosdadas. Fica ziguezagueando até se soltar da mão da mãe. E logo que sesolta dispara na frente, tipo: pernas para que te quero. O jeito é a mãe sairdo salto e correr atrás da lha num desespero sem m. E o passeio que erapara ser diversão se transforma numa verdadeira tortura da mãe. Alguém ao ver a mãe naquele desespero, diria de lá: “A menina émeio miolo mole, só pode ser”. Outra pessoa dizia de cá: “Ah, ela é apenas uma menina com muitaenergia”. Camila era mesmo danada. Ela pulava o muro do quintal dovizinho para pegar Ciriguela no pé – uma frutinha gostosa de comerpura. Ela subia no pé e cava lá em cima nos galhos, tirando a frutinha,uma a uma e comendo sem parar. Os lhos dos outros são sempre os “danados”, nunca os nossos lhos. Só quem tem lhos é que sabe o trabalho que é car de olho nacriança para não deixá-la sumir e se perder entre as pessoas. Todas assaídas para ela fugir estão abertas. E a criança pode sumir num passe demágica diante de nossos olhos. Aí a censura aos lhos dos outros, somentedura até que aconteça de o lho da gente sumir. Aí, a mãe e pai tornam-se loucos varridos e esquecemos que são recatados, educados, nos...
34 ||| Mãe ensine-me a ser campeãE começam a fazer coisas que jamais imaginavam de fazer. Choram edesesperam atrás do lho sumido. Quem tem lho sabe que nem tudo é gentileza. Tem momentos quese há de fazer um esforço muito grande para não enlouquecer. Mas, é assimmesmo. Quem é mãe sabe que ao mesmo tempo em que se ri pode estarchorando no minuto seguinte. Ou com os nervos à or da pele. Porquecriança enerva aos pais. E no instante seguinte, ela encanta aos pais. Criança é autêntica, não existe mentira no que ela faz. O trabalho de uma mãe para educar e ensinar as regras do bemviver aos seus lhos é sempre um desa o. Quem subestima a inteligênciade sua criança logo será surpreendida. É grande a energia que guarda uma criança. Mesmo que a mãemantenha pulso rme está sujeita passar por maus bocados de angústia.Criança cega à gente. Basta um descuido, ela some de nossos olhos. Ninguém consegue adivinhar o que se passa na imaginação de umacriança quando ela está num shopping, numa feira ou na praia, ondetenha grande movimento de pessoas. Um desvio do olhar pode ser obastante para a criança escapulir e sair entre as pessoas. E sumir. Quem tem lho sabe que os benefícios de levar a criança parapassear vão além da criação de uma atmosfera descontraída e lúdica.Especialmente, sair para levar a criança ao parque da cidade ou fazerpiquenique. Além de proporcionar um convívio familiar, fortalece ovínculo afetivo enquanto brincam. Esther sabia que praticar brincadeiras entre ela e Camila tornavaas duas mais envolvidas e mais próximas. Ela não ia ao parquinho parafazer o tempo passar, mas para tornar aqueles momentos de brincadeirasnuma aproximação e troca de ideias que pudessem viver boas e gostosasexperiências de convivência. Em vez de proibir, Esther estimulava a lha inventar e ser criativa. Era comum Esther brincar com a lha de jogos de palavraspara estimular a ampliação do vocabulário. E para isso, ela inventavabrincadeiras que exercitasse a criatividade e o desenvolvimento deraciocínio lógico da lha. E a melhor maneira de provocar o aprendizadode palavras era inventar um contexto que a forçasse pensar uma palavrapara dar sequência a uma determinada história.
Francisco Brito ||| 35 Esther desde muito cedo fazia piquenique com a lha e o marido– fosse ao quintal da casa ou no parque da cidade. Quando iam fazerpiquenique no parque da cidade, ela levava brinquedos de encaixar paraincentivar a lha criar um espaço para brincar e se divertir, praticandoatividades que a estimulassem o gosto pelo lanche no parque. Todas as brincadeiras eram bem vindas. O que não faltava era ideianova de Camila em suas brincadeiras. Com ela por perto, aquele lar tinhamais vida e mais alegria.
Capítulo 8 45 Brincar com Bolha de Sabão Brincar de fazer bolhas de sabão é muito divertido e fascinante.Correr atrás das bolinhas de bolhas utuando no ar é uma verdadeirafascinação para as crianças. O que fascina não é pegar as bolhas de sabão,mas o seu colorido ao utuar das bolas de bolhas de sabão no ar. Camila adorava brincar de amarelinha, pular com um pé só dentrode cada quadrado. Mas, o que ela mais adorava era brincar de bolha desabão. Há quem compare as bolinhas de bolhas de sabão aos sonhos defelicidade. Pois, quando pegamos uma bolha de sabão, ela se desfaz e aícorremos atrás de outra, mais outra e mais outra... E mesmo que a bolhase desfaça quando tocamos nela, não paramos de tentar alcançar as outras. É mágico! É fascinante brincar de soprar a espuma da água misturadacom sabão para ver as imagens que brilham nas bolhas de sabão re etidasna luz do sol da manhã ou da tarde. Nessa hora a ingenuidade da criançaa ora e o sorriso dela ca mais bonito. A magia da brincadeira com bolha de sabão ganhava de todas asoutras brincadeiras. É uma brincadeira que encantava Camila. Ela adora car correndo atrás das bolhas de sabão. Especialmente quando vamospara o gramado do campo de futebol. A brincadeira divertia e a fascinava. O lúdico que existe nas atividades de brincar de bolha de sabãofaz um bem enorme às crianças. Não era diferente aos olhos de meninaCamila. Ela corria atrás das bolhas de sabão, mas em vez de tocá-las, ela
Francisco Brito ||| 37controlava a subida da bolha para car olhando o colorido que se formavana bolha de sabão sob a luz do sol da manhã. Quem a via admirando abolha de sabão se encantava com o seu lindo sorriso diante do coloridoda bolha. Esther sempre dizia para a lha: “faça um pedido por cada bolhade sabão que Você pegar e controlar com as mãos a subida dela”. Eraencantador ver o sorriso de Camila diante do colorido que se formava aoredor da bolha de sabão. Esther brincava com a lha, divertindo juntas. Brincar de bolha desabão era a brincadeira mais infantil que divertia e descontraía, fazendocom que Camila saísse da frente da televisão que insiste em passar desenhosde heróis que só têm violência, sem nenhum conteúdo educativo. A brincadeira de fazer bolinhas de bolhas de sabão é mágica! Esther e a lha cavam horas naquela farra de bolha de sabão.Fazer bolhas de sabão, além de ser uma brincadeira saudável, estimulaa imaginação da criança ao ver a bolha utuar no ar. Embora seja umabrincadeira que vem desde o tempo de sua avó, continua sendo umabrincadeira nova que encanta crianças e adultos. Esther virava umacriança. Esther e Mansur cavam horas brincando de bolhas de sabão coma lha no quintal da casa ou no campo de futebol que existia em frente àcasa que eles moravam. No nal de semana, a casa virava um ponto de encontro entre osamigos e parentes do casal Esther e Mansur. Enquanto os homens faziamo churrasco, as mulheres cuidavam de fazer o arroz e a salada e as criançasbrincavam no quintal. Gui e Irene Jabour foram visitar a a lhada naquele nal de semana.E levaram para Camila um pônei colorido e um DVD que mostravaa amizade de seis pôneis. Era um lme para entreter crianças de 4 a 6anos de idade que Irene tinha comprado na Argentina e trouxera paraa a lhada. Mas, para a surpresa de todos, Camila não gostou do pôneinem do lme. Foi mais um brinquedo que Esther colocou na pequenabiblioteca do espaço lúdico infantil para mostrar a outras crianças. Depois do almoço foi realizada à tarde das recordações. Vídeosforam mostraram dos aniversários de cada criança que estavam presentes.
38 ||| Mãe ensine-me a ser campeãE cada criança se reconhecia na festa um do outro. Em seguida foi à vez docampeonato de massinha. Cada mãe tinha trazido seus potes de massinhapara a hora da brincadeira. Cada criança criava o seu personagem eobjetos, compondo-se esta ou aquela história. E por último, foi à vez dospais contarem histórias de fantoches (de mão ou de dedo) criarem suashistórias, utilizando os vários personagens. E a tarde tornava-se sempredivertida, tanto para os adultos como para as crianças. As três lhas de Irene – as gêmeas Laura e Julian e Mariana era asmelhores amigas de Camila. Mariana e Camila tinham a mesma idade,com a diferença de uma semana. Mariana nasceu no dia 28 de março eCamila no dia 2 de abril, no mesmo hospital e com o mesmo médico que zera o parto de Mariana. Depois que Camila nasceu, Esther e Irene Jabour tornaram-seainda mais amigas. E à medida que as crianças cresciam, Esther e Ireneprogramavam os ns de semana para reunirem as crianças. Nas férias e feriados, as duas famílias viajavam juntas, sempre quepodiam. As quatro crianças se adoravam, apesar da diferença de idade queexistia entre Camila e as gêmeas Laura e Juliana, elas eram muito amigas.Mas, entre Mariana e Camila era algo providencial, coisa de almas gêmeas,elas eram amigas inseparáveis. As quatro crianças participavam das aulas de artes com Esther efutsal com Mansur. E nos nais de semana estavam juntas. Embora elasnão se divertissem com as mesmas brincadeiras, elas adoravam brincarcom água, pau e pedra. Camila tinha necessidade de variar os temas dosjogos infantis e brincadeiras – e apesar de ser a mais nova liderava o grupode amigas. O único elemento que Camila não gostava era de boneca. Elaadorava brincar mesmo era de bola – era o seu brinquedo preferido.
Capítulo 9 45 Mãe na vida da filha A semana já começava com mil e uma coisas para fazer, porquevida de mãe é buscar oportunidade de fazer a lha feliz, trabalhar, sermãe zelosa e acompanhar o desempenho da lha na escola. Esther nãoera diferente de outras mães, ela praticava atividades de lazer, educativase de urbanidades com a lha. A nal é a mãe que detém o poder de criaro espaço e o ambiente para as brincadeiras com os lhos. A importânciado pai ca no segundo patamar, já que a ligação da mãe com os lhosé in nitamente maior. Por mais que o pai se dedique e se esmere paraagradar os lhos, a ligação com a mãe é de longe a mais intensa. Ébiológica essa ligação. Pois, desde que a criança nasce, até quatro a seisanos, ela vê a mãe como uma extensão da sua vivência. Esther gostaria de fazer sempre o amor orescer para ver feliz asua lha. Sempre que podia, aos sábados, ela gostava de sair e visitar aslojas do centro para olhar as novidades para crianças. E naquele sábado,Mansur e Esther levaram Camila para passear no centro da cidade. Aopassar por uma loja de bonecas de pano, eles entraram. Mansur pegouuma boneca de pano e trouxe para Camila ver e pegar. Ela olhou a bonecanem tocou nela. Na tentativa de agradar a lha, ele disse: “É linda, né! Que tal levarmos para Você brincar”. “Eu não vejo graça nenhuma em boneca de pano. Mamãe, vamossair daqui!”.
40 ||| Mãe ensine-me a ser campeã Mansur colocou a boneca no lugar de onde tinha tirado. Saiu daloja e acompanhou as duas. “Você sabe que ela não gosta de boneca de pano. Para que insistir?” “Quis apenas agradá-la” “Eu sei”. “Vá devagar. O primeiro passo é Você conhecer o que a sua lhagosta de fazer e com o que ela gosta de brincar. Você sabia que ela nãogosta de boneca. Ela entendeu a sua atitude como provocação”. Ele amava a lha que doía. Mas, a paixão da lha era a mãe dela.Parecia que o pai não conseguia se expressar certo para a lha. Ele desistia.Estava sempre procurando algo que pudesse agradá-la. E ao passar numaloja de produtos de fazenda, ele entrou sozinho na loja e comprou umchocalho. Este a Camila adorou – o barulho a encantou pelo ruído quefazia quando ela balançava. À medida que o tempo passava Camila era mais imaginativae criativa. Adorava desenhar – incentivada pela mãe que se dedicava apintar quadros. Mansur exagerava no amor de vez em quando. Camila logopercebeu que podia jogar com a fraqueza do pai. Camila não era menina de agarra-agarra nem de beijo. Quando opai a beijava, ela se irritava e limpava o beijo. Ele tentava diversas formasde agradá-la. Mas, ele nunca acertava. Pudera! Mansur trabalhava no Banco do Brasil e fazia um curso depós-graduação à noite. Ele passava a semana toda sem ter contato coma lha. Quando ele chegava a casa à noite, a lha já estava dormindo.Quando acordava, Esther já tinha levado Camila para a escola. Acabavaque ele quase não brincava com ela. O tempo que ele tinha para carjunto da lha é no sábado e domingo. O pouco tempo que ele tinha parapassar com ela, ele queria agradá-la e mimá-la. Diferente da mãe quepassava o tempo todo com Camila. Esther tinha largado o emprego logo que terminou o período delicença à gestante. Desde então, ela trabalhava em casa, fazendo algunstrabalhos que aparecem. No geral, Esther tem se dedicando à pinturade quadros. E aos domingos, ela os colocava para vender na entrada dafeira.
Francisco Brito ||| 41 Naquela tarde Mansur comprou um livro e levou para ler paraCamila. E à noite, na hora de dormir, a Esther disse para Camila: “O papai comprou um livro e quer ler para Você. Vamos ler como papai!” Ela cou calada, olhando para o pai. Mansur trouxe dois objetos: um livro e o álbum de fotogra a decapa colorida que continha todas as fotos de Camila, desde que ela nasceu. Ele sentou-se na almofada ao lado da cama de Camila e mostrou olivro e o álbum. E perguntou: “Você quer ver as suas fotos e ouvir a história de cada foto ou querque eu lei este livro para Você?” “Ver o álbum de fotogra a e ouvir a história”. “Está bem” Mansur começou mostrando as fotos do dia em que Camila nasceu.E contou com ricos detalhes sobre aquele dia, que ele chamo de “o diada felicidade” – e mostrou as fotos dela quando o médico a retirou dabarriga da mãe, ela tomando banho e ela mamando pela primeira vez nopeito da mãe. Virou a página e mostrou as fotos dela com a mãe, na hora de sairda maternidade para ir para casa. Depois de contar a história de a mãe lha saírem da maternidade, ele mostrou as fotos dela chegando a casa ede quando ele deitou pela primeira vez no berço do quarto dela. Leu cada mensagem que ele tinha escrito para a mãe dela. Deixoupara ler por último à mensagem que ele tinha escrito para ela, onde se lia:“Camila, minha lha, Você é bem vinda a este lar. Juntos, eu, a sua mãe eVocê, nós três, agora formamos uma linda família. Bem vinda”. Virou a página e mostrou outras fotos do tempo que Camila erabebê. Para cada foto, ele tinha uma história que mostrava o quanto elaera importante naquela família, tanto o pai como a mãe a amava desdesempre. Ele nem tinha chegado o meio do álbum e a Camila adormeceu,virou para o lado e dormiu profundamente. Mansur não poderia imaginar que a leitura do álbum da lha fosseo ponto de partida para ele entrar em sintonia com ela e se aproximar
42 ||| Mãe ensine-me a ser campeãmais dela. Agora, ele tinha encontrado o seu jeito próprio de mostrar à lha que ele a amava tanto quanto a mãe dela. Naquela noite, Mansur dormiu feliz. Na manhã seguinte, quando Camila acordou pediu para o pai lernovamente o álbum e contar a história de cada foto. E ele começoumostrando as fotos e contando a história de cada foto. Quando ele chegouao nal do livro, ela o abraçou e lhe deu um beijo.
Capítulo 10 45 O futuro é incerto O mais preocupante dos sentimentos de cada mãe e pai era sobreos estudos e o futuro da lha. Em segundo, sobre as in uências externas– amigos, lmes de lutas que passam na televisão e na internet, pedo lia,bullying na escola e preconceito racial. Toda mãe se pergunta: “Que futuro terá a minha lha?” O medoestá em cada mãe e em cada pai, diante dos valores sociais que a sociedadevive. Cada mãe quer investir no futuro de lha. E assim, Esther investecomo pode na infância e no futuro da lha, na esperança que ela faça asua parte. Quão difíceis são os dias de hoje. As mães e pais cam o tempotodo longe dos lhos, já que precisam trabalhar para manter o sustentoda casa e dos estudos dos lhos. E acabam dedicando o mínimo de suapresença aos lhos. O cuidado de seus lhos é entregue a terceiros: babás,educadores e empregadas domésticas. Não é à toa que os lhos cresçamsofrendo as in uências externas dos terceirizados por seus cuidados eeducação, já que os pais cam ausentes o dia inteiro e não podem dedicarum tempo com qualidade os lhos. Era esse o pavor que sentia Esther. Ela não queria que a lha crescessecuidada por terceiros (avós, babás, creche, empregadas domésticas etc.).Ela queria que a lha crescesse sabendo sobre os valores familiares. Elaacompanhava a educação da lha para ter certeza que ela estava sendoeducada e preparada para o futuro. Fazia questão de levar e buscar a lha
44 ||| Mãe ensine-me a ser campeãno colégio. Estava sempre de olho. Ao menor sinal de discriminação,humilhação, bullying, violência e erotização precoce, ela reagia e cortavao mal pela raiz. Era ensinado à lha que o caráter era mais importante que aaparência física. E que a felicidade estava na família, não nos bens ouriqueza que a família possuía ou no que não possuía. Esther não era contra a tecnologia, era contra os enlatados de lmes de outros países que passavam nos canais de televisão (em suagrande maioria) com cenas de violência sem nenhuma ação educativa.Em vez de deixar a lha em frente à televisão, assistindo desenhos queincitavam à violência, ela punha Camila em atividades esportivas para elase movimentar e se exercitar, aprendesse a trabalhar em equipe para terresistência física. Ela bem que tentou fazer com que Camila gostasse de balé para criarnela consciência corporal, postura e disciplina; natação para melhorara respiração e as articulações, trabalhasse os músculos e a coordenaçãomotora dela; ginástica olímpica e jazz. E quando ela completou sete anos,quis colocá-la nas aulas de tênis, por ser um esporte que as meninas jogamde saia e por mexer com o raciocínio para formular táticas para montarjogadas inteligentes. Mas, as atividades que Camila quis foi participar daequipe de futsal, futebol, judô, capoeira e Karatê. Como Esther incentivaà lha a fazer o esporte que ela se identi casse, ela punha a lha no esporteque ela escolhia – e comprava a roupa adequada para o esporte que elaqueria com o maior gosto. Ela podia até não achar bonito ver a lhavestida de calção e a camiseta por dentro do calção, meião e chuteira paragrama ou para jogar futebol de salão ou futsal. Camila só queria os esportes que eram tidos como atividadesmasculinas. Enquanto para fazer atividades esportivas, ela se negavaparticipar de atividades tidas como próprias para meninas Mas, quandoera para passear, ela queria car bonita: usava saia, blusa, sapato e roupacombinando. Era extremamente vaidosa e queria car bem feminina.Queria que a mãe comprasse sapatos de salto alto para ela usar. Esther tinha que car horas explicando que sapatos femininosinfantis com salto alto eram prejudiciais ao crescimento de criança.Somente depois de muito explicar que ela estava em fase de crescimento,que os músculos da batata da perna estavam em formação, os dedos e a
Francisco Brito ||| 45parte frontal dos pés não tinham estrutura para aguentar o peso do corpo,é que a Camila se convencia usar sandália baixa para sair. Amar a lha era oferecer oportunidades de ela ter maior tempode convivência com ela para fazê-la se sentir amada e amparada, porum lado, e por outro, observar os sinais de que ela ia bem à escola.Oferecer oportunidade poder brincar e ter maior compromisso com averdade, ética e a moral. Quando pressentia alguma coisa de anormal naescola, ela se reunia com outras mães para formar comissão para cobrarresponsabilidade da escola com a educação e coibição de violência ebullying dentro da escola. Esther tinha a preocupação de oferecer o melhor para a lhaque colocou no mundo. Era mãe presente. Isso dava condições de elaconhecer melhor a lha e prepará-la para tornar o seu mundo melhorquando crescesse e casse adulta. A nal, a missão de mãe é preparar a lha para quando chegar a hora de voar, ela não cair. Esther e Mansur tinham consciência do papel de cada um nacriação da lha. Naquele sábado era dia de Esther fazer exposição de seusquadros nas feiras, coube a Mansur levar Camila para brincar no parque. Enquanto a lha brincava, Mansur percebeu que estava sendoobservado por algumas mães com olhares reprovadores à sua presença noparquinho. Ele se afastou do local e quando se dirigia para o brinquedoque a lha estava, duas mulheres aproximaram dele e sem nenhumadelicadeza intimaram-no que ele se retirasse do parquinho, alegando queaquele local era para mães que levavam seus lhos para brincar ao ar livre. Mansur tentou justi car que ele era pai e tinha levado a lha parabrincar no parquinho; e ter levado a lha ao parquinho era uma forma deos dois saírem sozinhos para fortalecer a relação de amor entre pai e lha. Quando tentava justi car o porquê de sua presença naqueleparquinho nem se deu conta que fora agredido sicamente por uma dasmulheres. E aos brados, ela alegava que levar criança ao parquinho eracoisa de mãe, não de pai, determinando que ele se retirasse do parquinhoimediatamente. Ele pegou a lha e se retirou do parquinho. Ficou evidente ali opreconceito daquelas mulheres aos pais que cuidavam dos lhos, como seele não fosse capaz de cuidar da sua própria lha.
Capítulo 11 45 Passeio matinal Era comum Esther sair com a lha nos ns de tarde. Também nosferiados e nais de semana. Era quando ela aproveitava as manhãs parapassear com a lha no parque para sentir o frescor da brisa e o calor dosol da manhã. Naquela manhã de sábado, as duas saíram para caminhar. Camilacorria na frente e Esther atrás. Somente quando Camila se cansou foique ela deu a mão à mãe e as duas foram devagar de mãos dadas. Estheria ensinando a lha para não atravessar a rua sozinha. Porque na ruapassava tudo: carroça de catador de lixo puxada por cavalo, caminhão,ônibus, automóvel, motocicleta e bicicleta, sendo um perigo atravessar arua sozinha. Deve esperar sempre um adulto para atravessa a rua. Porquese a criança atravessa rua sozinha é atropelada e morre. “Mamãe” “Que é lha. Diga”. “É verdade que nasci de sua barriga? Como é que eu nasci?” Ester pensou. Pôs a mão na barriga e disse: “Você formou-se aqui no meu útero. E quando chegou a hora deVocê nascer, o seu pai me levou para a clínica Santa Helena. Lá, a médicacortou a barriga da mamãe e tirou Você de dentro”. “Você não sentiu dor?”
Francisco Brito ||| 47 Não. “O médico deu uma injeção na mamãe para ela não sentirdor”. “Camila manteve-se calada por alguns segundos”. “Mamãe o que é zoológico?” “É um local que ca animal selvagem e domesticado para preservaçãode algumas espécies. E as pessoas vão lá para ver de perto os animais econhecer os perigos que eles representam para as pessoas”. “A senhora me leva ao zoológico para eu ver o elefante, macaco, aonça, a zebra e os outros bichos”. “No próximo domingo eu levo Você”. “Oba. Posso levar minha amiguinha Gabriela?” “Não sei. Vai depender de a mãe dela deixar a lha ir conosco aozoológico”. Camila cou em silêncio ao ouvir o xingamento que o vizinho faziacom o cachorro deles. “Porque o Sr. Ivan está zangado com o cachorro dele?” “O Sr. Ivan é um tresloucado, vive aos berros na casa dele”. “Ele é louco de jogar pedra na lua?” Esther riu. “Não. Ninguém joga pedra na lua”. “O papai falou que o Sr. Ivan é doido de pedra. Ele só falta jogarpedra na lua”. “Brincadeira de seu pai. Não se deve falar isso das pessoas”. “Diz mãe, o que é doido de pedra?” “Diz-se de pessoas doentes da cabeça, maluco, pessoas que falambesteiras”. “Então a tia Lúcia é doida de pedra, ela fala sozinha, conta piadassem graças, ri de suas próprias piadas e vive falando besteira”. “Não. A tia Lúcia é apenas uma excelente contadora de históriase piadas. E se ela fala sozinha, não é anormal. Porque todo mundo falasozinha”. “Ah! A senhora fala sozinha?” “Eu falo com meu anjo da guarda”. “O que é anjo da guarda?”
48 ||| Mãe ensine-me a ser campeã “É um anjo protetor enviado por Deus para nos proteger e nosorientar. Por isso, todas as pessoas falam sozinha para se comunicar como seu anjo da guarda. Eu penso”. As duas iam de mãos dadas pela rua, em direção à praia. A Estheria conversando com a lha, que já estava com seis anos e meio. Na horade atravessa a rua, Esther orientava a lha que ela devia olhar para os doislados da rua. Porque os carros e ônibus vinham de um lado e do outro. “Nunca atravesse a rua sozinha. Espere sempre a mamãe ou o papaipara atravessar a rua. Segure rme a mão da mamãe ou a mão do papai.As pessoas que atravessam correndo as ruas sem olhar se vem carro sãoatropeladas e morrem”. Camila cou calada. “O que é morrer?” Esther pensou. “A morte é o m da vida de nosso corpo. Você se lembra do vovôquando ele era vivo? E depois Você o viu no caixão morto. Aí ele foienterrado no cemitério. Nunca mais a gente esteve com ele porque elemorreu. Morrer é o m da vida”. “Eu vou morrer?” “Vai. Todos nós morremos um dia. Eu espero que Você não morraantes dos seus oitenta anos. Viva muito para aproveitar a vida que Deuspermitiu que Você tivesse para dar alegria à mamãe e ao papai”. “Eu vou crescer e car grande como à senhora?” “Sim. Será uma linda moça. Aí Você vai casar e ter os seus lhos.E quando Você tiver os seus lhos, eu serei a avó deles. E vamos brincarjuntos. Isto, se Deus permitir que eu esteja viva acima de 70 anos”. “70 anos é muito?” “Sim, é muito”. “Eu vou viver 80 anos também?” “Não sei. O futuro a Deus pertence. Mas nós devemos fazer a nossaparte para ter bom futuro”. As duas chegaram à praia. E Camila foi brincar na areia com osbrinquedos: pá conchas, enquanto Esther pegava água do mar com obalde para a Camila derramar na areia para ela fazer bolo.
Search