educados, chegou um ponto em que estavam me empurrando Angelo Stirmapara fora. Compramos macarrão, massa de tomate, pão, vinho efizemos uma macarronada no albergue. Nessa etapa do caminho,parte das trilhas, nas subidas e descidas, possuía muita água,correndo nas trilhas. E embora perigoso, era muito bonito egostoso andar na água, o que me aliviava as dores nos pés. 101
Loucuras de um peregrino 24 – 9/6/2007 de Lubian para La Gudinha: 24,8 = 785 km Com destino a La Gudinha, saímos cedo. A etapa também é difícil, com muita subida, mas muito bonita. Fica em La Gudinha, talvez, o melhor albergue do caminho. Excelente. Quando chegamos, cedo, fomos muito bem atendidos pelo102 hospitaleiro, que nos informou sobre um bar para almoçarmos, onde experimentamos uma bebida tipo a graspa daqui. A cidade, embora pequena, é muito acolhedora. Nesse dia, chegaram ao Albergue dois espanhóis, o José (Pepe) e o Joaquim, com os quais fizemos amizade e fomos juntos até Santiago. O Joaquim, de 67 anos, estava ansioso pela saída e já pelas quatro da manhã estava levantando, mexendo em sacolas, o que não me deixou dormir, e cheguei a ficar irritado.
No entanto, no outro dia, conhecendo as excelentes pessoasque são, vi que era a ansiedade para iniciar a caminhada. Comoeles tinham poucos dias, resolveram iniciar em La Gudinha,percorrendo aproximadamente duzentos quilômetros atéSantiago. Nesse dia, errei na quantidade de caldo de galinha nasopa, que ficou muito forte e salgada. Haja água!Caminho difícil, mas bonito! Angelo Stirma 103
25 – 10/6/2007 de La Gudinha para Laza: 34,7 = 819,7kmLoucuras de um peregrino Depois de andar uma hora, alcançamos os espanhóis, Joaquim e Pepe, e fomos conversando com eles. O Pepe, uma pessoa muito culta, conhecia muito sobre a história da Espanha, o que nos proporcionou, diariamente, excelentes conhecimentos, e que foi muito importante, pois até Santiago, aprendemos muito104 sobre a história da Espanha. Em Laza, o albergue é muito hospitaleiro. Compramos novamente macarrão, queijo, caldo de galinha e vinho. Fiz novamente uma macarronada, temperada com “chouriço” (salame). Na Galícia, a estrutura para o peregrino é muito boa, com bons albergues. Também o povo é mais simpático, tratam bem os peregrinos, diferente das outras províncias em que passamos, onde o que impera é a cara fechada e o mau humor.
105 Angelo Stirma
Loucuras de um peregrino26 – 11/6/2007 de Laza para Xunqueira de Ambia: 32,7 = 852,4km A etapa é muito difícil no início, porém bonita. Quando se termina de subir, no ponto mais elevado, encontra-se o bar chamado Retiro do Peregrino, num pequeno pueblo. Vale a pena lá chegar, é todo enfeitado com conchas, em que se coloca nelas o nome do peregrino e de onde vem, deixando-a pendurada, e isso lembra muito os bilhetinhos do restaurante do Arantes, no sul da Ilha de Santa Catarina. Tomamos um excelente café com Torta de Santiago. Depois, soubemos que, quando o Pepe e o Joaquim chegaram, o hospitaleiro disse que havia passado dois brasileiros e que haviam comido todas as tortas. Chegamos a Xunqueira e fomos almoçar. A moça que atendia era morena, com traços bem brasileiros, ao que falei pro Celso que achava que era brasileira. Daí perguntamos e realmente era de Santarém, PA, e era casada com o dono do bar. À noite, fizemos novamente nossa comida, com atum, pão e vinho.106
Retiro do peregrino Angelo Stirma 107
Loucuras de um peregrino27 – 12/6/2007 de Xunqueira de Ambia para Orense: 22,3 = 874,7km O caminho até Orense é fácil, sem problemas, porém, o que estressa é que tem uma parte pela carreteira, com muito movimento e perigo. Orense é uma cidade muito bonita e interessante. Ao lado de Sevilha, Mérida, Zamorra e Salamanca, são as principais cidades do caminho. O albergue fica encostado no cemitério, e as janelas encostadas nas tumbas. Ficamos a tarde toda tentando resolver as passagens de volta para o Brasil, pois estavam marcadas para o dia primeiro de julho e como a previsão é terminar o caminho bem antes, tentamos antecipar. No entanto, não conseguimos, e a única alternativa foi comprar outras passagens, embarcando em Lisboa, indo a Milão, na Itália, e de lá para o Brasil.108
Orense Angelo StirmaOrense 109
Loucuras de um peregrinoOrense 28 – 13/6/2007 de Orense para Cea: 22,3 = 897 km Assim que se sai da cidade, já começa uma subida. No topo, a vista da cidade compensa o sacrifício. Nessa etapa, caminhamos praticamente sempre juntos aos amigos Pepe e Joaquim, que estava com grandes bolhas na sola dos dois pés, e dava para sentir a dificuldade que enfrentava; mas, acima de110 tudo, era de admirar a força de vontade e a persistência dele, um verdadeiro exemplo. Muitas pessoas bem mais jovens, com dificuldades bem menores, desistem. Chegamos cedo, tentamos fazer um risoto de almoço, porém o fogão deu problema e passamos a comer uns sanduíches. Assim que chegou o hospitaleiro e explicou onde ligar a tomada do fogão, que era elétrico, terminamos o risoto e almoçamos novamente, peregrino tem muita fome!
Esse pueblo é muito pequeno e não oferece nada para se Angelo Stirmafazer a não ser dormir no albergue. Nesse dia, chegaram algunsportugueses metidos, cheios de pompa, metidos como pinto emquirera, com ar superior. 111
Loucuras de um peregrino 29 – 14/6/2007 de Cea para A Laxe: 37,3 = 934,3km Esse dia iniciou com muita chuva e foi todo o caminho praticamente assim. Os portugueses, sempre apressados, querendo demonstrar mais resistência e capacidade. Num certo ponto do caminho, tinha um parado, ajeitando as bolhas. Os amigos dele o deixaram para trás. Então foi conosco até o112 próximo pueblo e nos pagou um café, mas dava para perceber a arrogância dele. Em A Laxe, não tem nada, um pueblo muito pequeno, embora o albergue seja muito bom. Para comer tem que andar uns dois quilômetros. Aí pelas seis horas fomos até o bar para comer. Contudo, a janta inicia só depois das 20:30 horas. Como não queríamos esperar, primeiro por causa da fome – não tínhamos almoçado –, em segundo lugar, porque jantar muito tarde, para o peregrino, não é bom, pois ele tem que dormir cedo para levantar cedo e aproveitar as melhores horas do dia
para andar, que estão no início da manhã. A senhora que nosatendeu foi muito solícita em mandar preparar um prato paranós, mesmo antes da hora, ao que agradecemos muito, pois issonão é normal na Espanha. Quando terminamos de jantar e saímos, lá estavamos portugueses e nos convidaram para um chope, ao queagradecemos, pois havíamos bebido vinho. O albergue éexcelente. No albergue, estava também a israelense que vimosem Orense, conversamos com ela e aprendemos que o que sefala sobre a violência em Israel é proporcionalmente igual aoque dizem da violência no Rio de Janeiro, ou seja, a imprensasupervaloriza pontos isolados. Ela tinha feito o caminhoFrancês e como sobrou tempo, resolveu fazer o de Orense aSantiago também. Estava fazendo o caminho sozinha, semprecom um livro, que parecia uma bíblia, isolada num canto, tipomeditando. Angelo Stirma 113Nós, o Pepe e o Joaquim e os portugueses.
30 – 15/6/2007 de A Laxe para Outeiro: 33,0 = 967,3kmLoucuras de um peregrino Agora já começa a ansiedade da chegada, esta é a penúltima etapa, já temos absoluta certeza de que vamos chegar, embora nunca tivemos dúvidas de que se dependesse de nossa vontade chegaríamos. As dificuldades existem para podermos provar nosso poder de superação.114 Novamente iniciamos com chuva, e praticamente a etapa toda foi assim: abria o sol e logo voltava a chover. No caminho, tem a cidade de Silleda, onde tomamos café. Muito organizada e bonita com traços modernos – diferente da maioria da Espanha – que, em sua maioria, tem construções muito antigas. Perto de Puente Vila tem uma grande descida, depois cinco quilômetros de subida forte. Mas, a essa altura, já não sentimos dificuldade nenhuma, primeiramente pelo preparo físico que já temos, e também porque, a partir do ponto em que faltam menos
que duzentos quilômetros, todo santo ajuda, principalmente Angelo StirmaSantiago, que parece nos empurrar nas subidas e nos ajudar nasdescidas. 115 O estado de espírito faz com que tudo fique mais fácil,e a motivação para chegar é um elixir indescritível. Nessedia, estávamos com dúvidas de que o Joaquim conseguiriachegar, pois seus pés estavam realmente muito complicados.Mas, para nossa surpresa, uma hora depois que chegamos aoalbergue, lá estavam eles também chegando, o que foi umafesta, e nós os convidamos para jantar conosco, o risoto quefaríamos. O albergue fica num local isolado, não há nada porperto, e conseguimos com a hospitaleira o número do telefoneda tienda que entregava no albergue o pedido de alimentos.Pedimos os ingredientes necessários para um risoto, que ficoude primeira. Os portugueses ficaram babando de vontade que osconvidássemos também, tiraram fotos, quiseram experimentar,mas como fizemos para somente quatro pessoas, não teve jeito.Depois fiquei constrangido e arrependido de não ter convidadotodos eles, e organizado melhor a janta para todos. Jantamoscom o Pepe e o Joaquim, conversamos muito, tomamos umasgarrafas de bons vinhos e fomos dormir, pois o dia seguinte seriao grande dia da chegada. Esse albergue é um dos consideradosexcelentes do caminho. Quando estávamos chegando, na frente do albergue,estava passando um peregrino da Áustria, que havia saído doseu país de origem há noventa dias, apoiado por um burricoque carregava alimentos, panelas, barraca e o necessário para asobrevivência. O interessante foi que nas patas do burro tinhauma espécie de tênis também.
Loucuras de um peregrinoSobre a ponte milenar116 Austríaco
117 Angelo Stirma
Loucuras de um peregrino31 – 16/6/2007 de Outeiro para Santiago de Compostela: 16,0 = 983,3km A intenção é chegar a tempo de pegarmos a Compostelana e assistir à missa do peregrino ao meio-dia. Pensando nisso, saímos às 6 horas, ainda escuro, e já às 9 horas avistávamos ao longe a torre da catedral. Esse momento foi um dos mais emocionantes, acho que os dois silenciosamente choraram. Dava para ver e sentir a emoção, pois até a catedral, pelo silêncio de ambos, estávamos tão emocionados, que se ouvia o próprio coração. Nesse momento, passa pela nossa cabeça tudo, desde o desafio de ir fazer o caminho, definindo ano e data, as dificuldades enfrentadas, e que nesse caminho foram muitas, e em proporções muito maiores do que as que enfrentamos no caminho francês, inclusive com perigo de consequências mais sérias, como o caso do segundo dia, com o Celso, o do dia em que o cachorro me atacou, o problema dos meus pés com a bota, que desde o primeiro dia me machucou, a torcida da família e dos amigos, enfim, tudo isso passa pela nossa cabeça em segundos. Só mesmo quem passa por isso pode dizer, mas tenha certeza, o aprendizado que adquirimos numa etapa como essa, em 31 dias, não se adquire com livro, professor, ou qualquer outra coisa, senão a experiência. E é por isso que quem peregrina uma vez, será sempre peregrino, caminhar assim vira uma118 “cachaça”, um vício, e sempre queremos fazer novamente para sentir os mesmos efeitos. Andando em silêncio, chegamos em frente à Catedral, com todo esse filme pela cabeça. A emoção é muito grande, e, como dizem, haja coração!
No caminho, sempre aprendemos muito, o valor da Angelo Stirmaamizade, a solidariedade, pois sozinho é muito difícil, quaseimpossível chegar. Entre os peregrinos, sempre ocorre ajudamútua, toda vez que se vê um peregrino com dificuldades,sempre se para para ajudar, enfim, é o alicerce de algo alémdaquilo que podemos imaginar que alicerça nossa existência naTerra. Fomos à secretaria da Catedral pegar a Compostelana, queé o certificado de conclusão do caminho, para depois assistirmosà missa, tirar fotos, comprar lembranças, etc. Decidimos, em razão da falta de vaga em albergues emSantiago, e até porque já conhecíamos bem a cidade por ocasiãodo caminho de 2002, a pegar ônibus e ir para Porto, paraconhecermos a cidade, alguma indústria de vinho do porto,beber e comprar umas garrafas. 119
Loucuras de um peregrino120 Catedral de Santiago de Compostela
Na urna, ao fundo, estão os ossos do apóstolo Tiago Angelo StirmaUm brinde aos “loucos”peregrinos 121
Loucuras de um peregrinoO banner, abaixo, está na parede do albergue de Mérida – Espanha, e traduz em parte o espírito do peregrino.122
Este banner está no Caminho da Fé, entre Cravinhos e São Angelo StirmaSimão, SP. 123
Loucuras de um peregrinoEste quadro está na Catedral de Santiago de Compostela – Espanha, na sala onde pegamos a Compostelana.124
FATO EXTRAORDINÁRIO – MENSAGEM DE N. SRA. APARECIDA. Angelo Stirma 125
Alguns fatos aconteceram durante minhas peregrinações, de forma inexplicável, que fizeram com que, cada vez mais, minha fé aumentasse. Foram muitos, mas o mais extraordinário foi o da foto acima. Em 2008, no Caminho da Fé, esse MP3 era meu companheiro, para ouvir músicas, visando a reduzir o cansaço. Na região do sul de Minas Gerais, onde, em 2006 perdemos todas as fotos a partir dessa região, nesse ano de 2008 a mensagem foi muito mais contundente. Estava com o MP3 no bolso, e, no final do dia, para minha surpresa, quando apanhei o aparelho, ele estava quebrado. Não prestei muita atenção, mas depois, na pousada, voltei a olhar o aparelho, e para minha surpresa, quando o peguei virado, a imagem do vidro quebrado, como podem conferir acima, corresponde a do Manto de Nossa Senhora. As pernas bambearam, fiquei sem palavras, e cada vez que vejo essaLoucuras de um peregrino imagem me trava a garganta, e muitas vezes as lágrimas caem do meu rosto. Nessa mesma região, em 2010, peguei uma intoxicação alimentar muito forte, mas a fé fez com que, mesmo debilitado, eu continuasse caminhando e consegui chegar em Aparecida para agradecer a Nossa Senhora. Em 2011, estávamos muito felizes, eu, o Andrey e o Elizandro, no último dia, porque faltava pouco. Saímos de126 Pindamonhangaba cedinho, mas sem compromisso de horário, pois nosso ônibus sairia somente à noite. Quando estávamos chegando na cidade, fomos no local onde os pescadores acharam a imagem. O Andrey foi parando nas vendas para comprar um invólucro para despachar um quadro que ganhou no caminho, enfim, fomos tirando fotos, sem olhar o relógio. Quando colocamos o pé no pátio da Catedral, os sinos começaram a tocar, e foguetes a espocar no céu. Olhei para a torre onde estavam tocando os sinos, e, para nossa surpresa,
eram 12 horas. Nem precisa descrever a emoção de ganharmos Angelo Stirmaesse presente, na conclusão da caminhada. Enfim, em todas as caminhadas, aconteceu alguma coisaque fizeram com que eu continue a ser um Eterno PeregrinoLouco! Mas louco de fé, de determinação e persistência. 127
Loucuras de um peregrinoOs “Equipamentos” Muito importante é não levar itens desnecessários, pois quando estamos descansados parece que tudo é leve, mas, após os primeiros dias de caminhada, tudo parece muito pesado, ao ponto de irmos deixando algumas coisas pelo caminho (peso máximo, considerando mochila e água, 8Kg). Quem pratica esse tipo de esporte não pode economizar em calçado, meias e mochila, pois, se o calçado não for bom, com certeza terá grandes problemas na caminhada. As meias funcionam como amortecedores, devem ser de algodão e sem costuras. A mochila também é importante, porque deve ser leve, resistente e com presilhas no peito e na cintura. O que levar? ü Mochila, com presilhas na cintura e no peito. ü Duas mudas de roupas além da que está no corpo (leve e de fácil secagem). ü Capa de chuva que cubra também a mochila. ü Chinelo. ü Material de higiene pessoal (sabonete, creme, escova e fio128 dental, papel higiênico, etc.). ü Primeiros socorros (esparadrapo, pomada contra assadura, antisséptico, etc.). ü Canivete. ü Toalha, de preferência fralda de pano. ü Agulha e linha – para drenar bolhas que possam aparecer. ü Cajado – serve de apoio e também para defesa de animais hostis.
ü Calçado – já adaptado aos pés, resistente e macio, de preferência botas, pois, além de mais seguras nas descidas, também são mais indicadas para os dias de chuva.ü Meias grossas de algodão e sem costura, não economize nas meias, porque uma boa meia evita bolhas.ü Chapéu ou boné.ü Água, levar o que for consumir a cada trecho, porém deve- se tomar cuidado para não calcular errado, pois sem água é quase certo haver grandes problemas.ü Protetor solar e repelente de insetos. Pela minha experiência, alguns itens devem fazer parte dosequipamentos a levar, pois, principalmente no Caminho da Fé,com grandes subidas e descidas, foi muito importante para mimuma joelheira, e absorvente feminino para colocar na ponta dosdedos dos pés quando estão com bolhas.
Considerações finais Quando fazemos alguma coisa, por mais que tenhamosconhecimento técnico, tenhamos lido sobre o assunto, o quevale mesmo é a hora de colocá-los em prática. Muitas situações,só vamos saber como resolver na prática, no caminho. Na primeira caminhada em 2002, no caminho de Santiago,sabíamos que, no primeiro dia, saindo da Franca, teríamos 29 kmde subida pelos Pirineus, fomos mentalmente preparados paraessa dificuldade. Quando alcançamos o topo, e começou a descida,ficamostãoempolgados–faltavamquatroquilômetrosparaoalber-gue –, havia duas trilhas, uma pelo asfalto e outra pelo bosque.Tinha um alerta que dizia que pelo bosque era mais difícil, porém,com nossa empolgação, resolvermos ir pelo bosque. Ninguémhavia nos alertado de que nas descidas, com o peso da mochilanas costas, a pressão nos joelhos é enorme, não sentimos nahora, mas depois…
Loucuras de um peregrinoBem, paguei caro por isso, tendo que suportar dores pelo resto da caminhada, tomando medicamentos. À noite, meu joelho inchou, e nos dias seguintes andar era um sacrifício muito grande, mas nesse caso a determinação foi maior. Portanto, muito cuidado com as descidas. Outra situação é o cuidado com a alimentação. Em 2010, tive uma intoxicação alimentar no Caminho da Fé, que quase me impediu de caminhar, fiquei quatro dias me alimentando somente com reidratante e rosca de polvilho. O Chico estava comigo e me aconselhava a parar. Mas no dia seguinte lá estava eu com minha garrafa de reidratante na mão, enfrentando as subidas e descidas da região de Tocos do Mogi. Mais uma vez, provando que, quando queremos, tiramos as forças que nem nós sabemos que temos. Lógico que isso é um pouco de loucura, pode ser fatal, mas o peregrino vive um pouco, todos os dias, com essa “loucura”. Em 2007, no Caminho de Santiago, nosso grande erro foi de planejamento, no segundo dia. Havíamos planejado chegar a Castilblanco de Los Arroyos, a aproximadamente vinte quilômetros. Como chegamos muito cedo, e o pueblo é pequeno, pensamos que deveríamos andar até Almadén de La Plata, ou seja, mais trinta quilômetros. Seriam cinquenta naquele dia, mas já havíamos feito isso no Caminho da Fé em 2006. Resolvemos seguir caminho. No entanto, não avaliamos as dificuldades132 nem nossos suprimentos. Esse trecho do caminho não é difícil quanto à topografia, porém não tem nenhum lugar para pegar água ou algo para comer, além de grande parte ser pelo asfalto. Como o calor era intenso, quando faltavam aproximadamente dez quilômetros, acabou a água e também não tínhamos nada para comer e as forças começaram a faltar. Só chegamos com muita dificuldade e até com certo risco para a nossa saúde. Sugiro sempre ter na mochila, pelo menos uma barra de chocolate sobressalente, para eventuais dificuldades. O caso
repetiu-se em 2011 no Caminho da Fé, porém, o que nos salvou Angelo Stirmafoi uns sachês de carboidrato que o Andrey tinha consigo, etambém uns pés de cana que encontramos no caminho. Muito cuidado com as unhas, devem estar muito bemaparadas, curtas ao máximo, pois, quando caminhamos, nosprimeiros dias não sentimos, mas, se elas apenas roçarem nocalçado, é problema certo, o Chico, que o diga. Nos dois anosem que fez comigo o Caminho da Fé, já no primeiro dia estavacom grandes problemas, perdendo quase todas elas, o que olevou a quase desistir do caminho, mas aquela força interior deque falei anteriormente, que não sabemos de onde vem, e suadeterminação fizeram com que chegasse em Aparecida. Outra dica é em relação à compra do calçado. Semprecomprar dois números maiores do que o habitual. Como ospés incham, e com a meia grossa, eles vão apertar os pés eimpossibilitar a caminhada. Tudo é muito importante, mas o mais imprescindível éforça de vontade, determinação e persistência em querer chegar. Quando concluímos o caminho, recebemos um certificado,que acaba sendo um documento que levamos para o resto davida e deixamos para nossos descendentes, como parte de nossahistória. 133
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Caminhos percorridosAno País Caminho Distância Local da saída aproximada Caminho Francês – (km) St. Jean Pied Port2002 Espanha Santiago de 800 Compostela2006 Brasil Da Fé | 410 Mococa Aparecida2007 Espanha Santiago de 986 Via de La Plata / Compostela Sevilha2008 Brasil Da Fé | 500 Descalvado Aparecida2009 Brasil Da Fé | 420 Tambaú Aparecida2010 Brasil Da Fé | 530 Cravinhos Angelo Stirma Aparecida2011 Brasil Da Fé | 362 Vargem Grande do Sul Aparecida 141
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Loucuras de um peregrino Caminho da Fé - 2010144
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Este livro foi editorado com as fontes Chaparral pro e Roboto, omiolo impresso em couchê fosco 90g e a capa em cartão supremo250g com aplicação de prolan fosco. Impresso na Gráfica e EditoraCopiart em sistema de impressão offset.
O peregrino louco – O homem não é o centroda peregrinação, é o seu próprio coração queo guia na jornada. É por isso que ele se afastade sua terra natal à espera de encontrar olocal onde terra e céu se unem. Santo Agostinho ISBN: 978-85-99554-66-1
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