um giro pela Europa 2a edição 20 AnosEDITORA Paulo MS Coelho SantosDA UFSC
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA Reitor Lúcio José Botelho Vice-Reitor Ariovaldo Bolzan EDITORA DA UFSC Diretor Executivo Alcides Buss Conselho Editorial Eunice Sueli Nodari (Presidente) Cornélio Celso de Brasil Camargo João Hernesto Weber Luiz Henrique de Araújo Dutra Nilcéa Lemos Pelandré Regina Carvalho
Paulo MS Coelho Santos Editora da UFSC Florianópolis 2006
© 2006 Paulo MS Coelho Santos Editora da UFSC Campus Universitário – Trindade Caixa Postal 476 88010-970 – Florianópolis – SC (48) 3331-9408, 3331-9605 e 3331-9686 (48) 3331-9680 [email protected] http://www.editora.ufsc.br Direção editorial: Paulo Roberto da Silva Projeto gráfico, diagramação e capa Paulo Roberto da Silva Desenhos: Clóvis Geyer Revisão técnico-editorial: Aldy Vergés Maingué Revisão: Maria Geralda Soprana Dias Ficha Catalográfica(Catalogação na fonte pelo Departamento de Biblioteconomia e Documentação da UFSC)S237 Santos, Paulo MS Coelho Ciclismo : um giro pela Europa / Paulo MS Coelho Santos. 2. Ed. rev. – Florianópolis : Ed. da UFSC, 2006. 156p. : il. 1. Ciclismo. I. Título. CDU: 796.6(4) CDD: 796.6094ISBN: 85.328.0373-8Índice para o catálogo sistemático (CDU)1 - Ciclismo: Europa 796.6(4)2 - Europa: Ciclismo 796.6(4) Reservados todos os direitos de publicação total ou parcial pela Editora da UFSC Impresso no Brasil
A meus pais, pela superação, dedicação e doação
AGRADECIMENTOS Muitas pessoas contribuíram para a concretização, tanto do girociclístico, como da publicação deste livro. Não poderia aqui, sem orisco de cometer injustiças, citar uma a uma, as muitas que diretaou indiretamente contribuíram, pessoas que mal conhecíamos e quese tornaram amigas. Por isso, dedico nossos agradecimentos, tanto àqueles que nosajudaram nas tarefas complicadas, como por exemplo, construirequipamentos especiais para nossas bicicletas e o material necessárioao giro, como aos que garantiram com seu estímulo, apoio,credenciamento, patrocínio, receptividade e amizade a realizaçãode nosso objetivo. Na certeza de que suas atitudes foramfundamentais para nosso êxito. O Autor
Sumário Prefácio / 13 Prólogo Em Clervaux, uma sopa especial / 15 Capítulo 1 Sonhando no Brasil / 21 Capítulo 2 Em Lisboa, o início da aventura / 37 Capítulo 3 Espanha: uma travessia agitada / 47 Capítulo 4 Paris, a chegada triunfante / 63 Capítulo 5 Novamente na estrada / 85 Capítulo 6Em Amsterdam, um contato inesperado / 95 Capítulo 7 Suíça, uma cômoda passagem / 109 Capítulo 8 Em Roma, um encontro com o Papa / 125 Capítulo 9 Cruzando a Riviera com Yasuaki / 145 Capítulo 10 O retorno a Lisboa / 155 Anexo / 165
PrefácioNove mil quilômetros em bicicleta, disso um obstáculo, mas sim um estímulo ou seja, nove milhões de metros para esforçar-se ainda mais e conquistar pedalando. Você imagina a expressivos feitos também no esporte. Estemagnitude deste feito? Aproximadamente entusiasmo, aliado à persistência, faz comtrês milhões de pedaladas, com chuva, sol, que se diferencie da grande maioria. Ocalor, neve. Uma pessoa não atleta, porém mesmo ocorre com seus companheiros deque se exercita regularmente em bicicleta, viagem.chega aproximadamente a quatro milpedaladas. Isso sem o peso das bagagens, Não foram poucos os comentários eas dificuldades adversas dos terrenos conselhos desestimulando-os a prosseguirdesconhecidos, os vários idiomas e a com tal “loucura”. Comentários do tipoalimentação irregular, fora de seus hábitos. “são loucos”, ou ainda “vão perder seis meses de suas vidas” eram constantes. Ao lermos este livro de linguagem Bem, de louco todos nós temos um pouco.agradável, somos estimulados cada vez Porém estes saudáveis jovens estudaram,mais a virar a outra folha, para sabermos o planejaram, pensaram e mediram tudo (ouque irá acontecer na próxima. Temos a melhor quase tudo) e se prepararam parasensação de que as dificuldades não são tão enfrentar as adversidades que a aventuragrandes e possíveis a qualquer um de nós. requeria.Porém, a meu ver, isto se deve a doisfatores principais: a simplicidade e Realizaram durante seis meses o sonhomodéstia do autor, aliada a sua condição e o planejamento de mais de um ano.de ex-ciclista de competição. A superação Viveram, viram e conferiram situações dasdas dificuldades e a determinação que mais diversas. Mais do que uma viagem, otransparecem constantemente são marcas giro foi uma verdadeira aventura cultural,registradas de Paulo, que apesar de ter uma que supera qualquer curso da melhorpequena desvantagem física, nunca fez universidade. Então ganharam muito mais,
pois aprenderam tudo in loco com grande esforço e admirável garra. Mostrando que o ser humano é ímpar, mesmo entre os três aventureiros, Paulo prosseguiu e foi realmente até o fim de seu projeto, escrevendo este livro e dando-nos a oportunidade e o prazer de participarmos desta inédita aventura sem sairmos de casa, deixando-nos a emoção de cada pedalada, o carinho do convívio dos admiradores e ainda um roteiro turístico fantástico. Então, vamos a ele! Milton Carlos Della Giustina Campeão brasileiro e panamericano de ciclismo14
PrólogoEm Clervaux, uma sopa especial
B– résiliens! Exclamou a velha senhora A senhora que nos atendeu parecia 17 com ar de espanto. Sim, somos bastante velha. Vestida de negro, com um brasileiros, respondi em francês. lenço na cabeça e um avental de um tecido cinzento, tinha uma aparência cansada e Perguntei-lhe, em seguida, se tinha um pobre. Falava, entretanto, francês e alemão.quarto para alugar. Respondeu que sim e Como falava mais sozinha do que conosco,fez um gesto para que entrássemos logo. A pareceu-nos que não batia muito bem dasenhora nos indicou um canto onde bola. Talvez fosse a idade...poderíamos deixar as bicicletas e a seguirmostrou-nos o quarto. Este possuía uma A casa era pequena e antiga. Nestacama de casal, uma cômoda e espaço para região da Europa é costume as pessoas queestender no chão os sacos de dormir. têm um quarto vago colocarem umAchamos excelente. O preço pedido por anúncio na porta, indicando “Zimmeruma noite era meio caro, mas aceitamos. Free”, isto é, quarto livre. Com isto obtêmEstávamos cansados demais para sair uma renda extra e resolvem o problemaprocurando outro local para dormir. de muitos viajantes que carecem deTínhamos pedalado cerca de 145 km, uma alojamento.de nossas maiores etapas, por estradassinuosas, cheias de vales e pequenas serras. Tomamos um banho e perguntamosEra hora de descansar, por isso tratamos à senhora onde poderíamos comer.de desmontar as bicicletas e levar asbagagens para o quarto. Eram 19 horas e Ela indicou-nos um restaurante, nojá estava escuro. centro da cidadezinha. Saímos. Tudo estava deserto. Até o restaurante indicado não
apresentava nenhum sinal de vida. Nossa Famintos e cansados, resolvemos voltarfome era grande, pois havíamos nesse dia para a casa onde havíamos alugado opartido cedo de Aachen, na Alemanha. quarto na esperança de conseguir algumaViajamos por uma região montanhosa, coisa para comer. Chegando, tratamos deentrando na Bélgica e seguindo em direção explicar à velha senhora a situação quea Luxemburgo. Esse é um pequeno país, com enfrentávamos. Éramos ciclistas epouco mais de 100 km entre seus extremos estávamos fazendo um giro pela Europa,norte e sul, espremido entre a França, visitando vários países. Nossas energiasAlemanha e Bélgica. precisavam ser refeitas e era fundamentalA região era linda. Programamos termos uma boa alimentação.dormir numa cidadezinha encravada entre Perguntamos se ela poderia nosmontanhas, junto a um vale muito bonito, preparar algo para comer. A princípio acheio de pequenos rios e cachoeiras, senhora relutou. Resmungou algo emchamada Clervaux. francês que não compreendemos bem.Nossa pretensão era chegar no dia Parecia nos dizer que tudo já estavaseguinte a Luxemburgo, capital, situada a fechado e que não havia o que comer. Apóscerca de 70 km do local onde nos insistirmos, ela respondeu meio a contraencontrávamos. A temperatura nesse gosto que poderia preparar uma sopa,começo de noite, já em pleno outono, pois indicando que cada porção, uma pequenaestávamos no mês de outubro, era baixa, tigela que tinha nas mãos, custaria cerca18 cerca de 10 a 12 graus. de 46 francos belgas, um absurdo, mas
como nossa fome era grande, topamos. A cerimônia, sentamos. O cheiro era muito 19senhora foi para a cozinha, enquanto nós gostoso. A mulher voltou para a cozinha,ficamos na sala de visitas da casa. mas ficou observando como tomávamos a sopa com rapidez. Num curto espaço de As paredes eram cobertas de fotos, tempo as tigelas estavam vazias. A senhora,algumas pinturas e diversas cabeças então, num gesto para nós surpreendente,espallhadas de animais selvagens. A luz era foi ao fogão, pegou a panela com o restofraca. Os móveis eram velhos e de sopa que preparara, tomou uma conchadesgastados, porém conservados. Enfeites e trouxe para nós. Sirvam-se, disse com umantigos e variados espallhavam-se sobre os sorriso encantador. Rapidamente limpa-poucos móveis. O ambiente assustava um mos a panela e comemos todo o pão.pouco, mas logo um cheiro animador Depois desta sopa, que para nós pareciainundava a casa. A sopa prometida, um jantar, estávamos recuperados.misturada com nossa fome, já nos fazia Agradecemos à senhora, desejando-lhesonhar. Estávamos em silêncio, Murilo e boa noite e fomos para o quarto.Hercílio, meus companheiros, pareciamque cochilavam. Enquanto estendíamos os sacos de dormir, ligamos o toca-fitas, som do Brasil A mulher entrou na sala com uma (Milton Nascimento). Conversamos umbandeja nas mãos onde estavam três tigelas pouco, mas rapidamente o cansaço e ode sopa fumegante e três pães de trigo sono nos invadiram. Deitado, comecei apequenos. Ela colocou a bandeja sobre a rever diversas passagens de nosso giro pelamesa e convidou-nos a sentar. Sem
Europa. Recuperei na minha mente muitas etapas do projeto. Não sei se sonhava ou se estava consciente. Com o passar do tempo, adormeci...20
Capítulo 1Sonhando no Brasil
E stávamos iniciando mais um um giro de bicicleta pela Europa. Acho que 23 semestre letivo na Universidade nossa primeira conversa sobre o assunto Federal de Santa Catarina, em 1985. aconteceu num domingo à tarde, quandoUm semestre louco, fora de época. Isto lanchávamos, no meio de uma sessão deporque, em 1984, a Universidade havia estudos. Falei, na ocasião, sobre aficado paralisada durante três meses. A oportunidade e a conveniência do giro,recuperação de aulas durante 1985 pois na Europa o ciclismo é bastanteenvolveu os meses de fevereiro, julho e valorizado. É comum pessoas viajarem dedezembro, tradicionalmente ocupados por bicicleta, fazendo o que se chama de ciclo-férias. Para os estudantes, a continuidade turismo, ou usar a bicicleta para visita aosdas atividades escolares quase sem locais turísticos das cidades. O ciclismo,interrupção dificultava bastante a como esporte, é avançadíssimo. Seusaprovação nas matérias mais difíceis. A astros e competições mais importantes sãogreve também havia desesperançado populares. Hercílio escutou com bastantemuita gente, e o clima na Universidade era atenção e comentou ao final que era umade crítica e de aborrecimento. Volta e meia, boa idéia, apesar de achar difícilsurgiam ameaças de novas paralisações. concretizá-la, e que topava. Foi nesse quadro que comecei a Voltamos a falar diversas vezes sobreconversar com Hercílio, meu companherio a idéia do giro. Isso entremeando as horasde estudos e parceiro em minha equipe de de estudo, pois tínhamos tarefas e maisciclismo, sobre a possibilidade de fazermos tarefas para vencer. Os momentos de
devaneio sobre o giro quase nos apareciam pelo Mediterrâneo. Calculamos que um como descanso ou sonho. O Brasil roteiro como este significaria pedalar cerca atravessava uma fase difícil. A população de nove a dez mil quilômetros. Imagi- estava bastante desesperançada, após a namos que o tempo mínino para isso seria morte de Tancredo Neves. As lutas pela uns cem dias. Isto significava ter que trancar redemocratização, as passeatas, os grandes um semestre letivo. Aí começamos a levar comícios, pareciam ter perdido seu mais a sério nosso propósito. Parar a sentido. Talvez por isso, também sonháva- Universidade significava atrasar nossos mos. Ou será que tentávamos nos estudos, mas em compensação teríamos enganar? Aos poucos, porém, a idéia do mais tempo para cumprir o roteiro que giro foi se transformando no único assunto estávamos traçando. Significava também que tínhamos prazer em conversar. uma decisão mais pensada, amadurecida. Começamos, então, a procurar alguns Seria isto um sonho impossível, ou uma mapas da Europa e traçamos a volta que loucura, como já diziam alguns de nossos nos parecia possível. Decidimos partir de amigos? Que diriam nossos pais? Antes, Portugal, mais precisamente de Lisboa, sempre tomávamos conhecimento de terra de nossos ancestrais. Daí iríamos para aventuras pelo mundo afora através dos a Espanha, França, Bélgica e Holanda, livros, notícias de jornais e revistas. Gente ponto extremo-norte de nosso giro. que dava a volta ao mundo e ao país de Cortaríamos a Alemanha de norte a sul, moto, bicicleta, a pé, de barco... Que atravessando a Suíça e chegando à Italia, motivos levavam tais pessoas a tomarem24 até Roma. Daí regressaríamos a Lisboa, tais iniciativas?
Tínhamos muitas dúvidas. Qual o Olhamos amigos e parentes vivendo uma 25nosso objetivo ao decidir fazer um giro vida considerada normal. Crescem,ciclístico pela Europa? A troco de que estudam, arrumam emprego, casam, têmqueríamos fazê-la? Afinal, tínhamos, filhos, vivem uma rotina. Um saco...Hercílio e eu 20 anos; freqüentávamos umaUniversidade considerada elitista; nos Libertação, essa é a palavra, indepen-dávamos ao luxo de sermos ciclistas, dente de sermos ou fazermos parte de umutilizando equipamentos importados; país cuja sociedade impõe regras e roupas.enfim, tínhamos um padrão de vida que Com o giro, romperíamos a rotina, ou pelopoderia ser considerado de classe média menos a adiaríamos. Teríamos um espaçoalta. Por que não irmos a uma companhia de tempo para fazer coisas diferentes ede turismo e acertar um roteiro turístico novas, conhecer e conviver com outraspara visitar a Europa? Por que tentar fazê- pessoas, outros povos. Nossa determi-lo de bicicleta, onde enfrentaríamos nação, a essa altura, nos parecia fora domilhares de quilômetros confiando apenas comum. Às vezes, tínhamos a sensação dena força motriz de nossas pernas e estarmos sendo apoiados por alguma forçaequipamentos? interior, que em nenhum momento nos abandonava e sempre fazia com que nos Enfrentar chuva, frio, montanhas, sentíssemos mais seguros. Nossa vidatrechos praticamente desérticos e muito estava mudando. A rotina a que estávamoscalor? Em nossa idade é comum a acostumados havia acabado. De uma horainterrogação, a reflexão sobre a vida. para outra, acordamos para uma nova
forma de olhar a vida, encarando a história Pintamos um projeto esportivo-cultural quede nosso país e o progresso tecnológico de julgávamos inédito. Sem falsa modéstia,uma maneira nova. Víamos tudo através defendemos muito bem a proposta queda proposta que tínhamos em mente. estava desenhada em nossas mentes. MeuUm dado fundamental para que pai se empolgou, fez comentários e levantoupudéssemos prosseguir com nosso algumas questões. Mas tudo em função dapropósito era a aprovação de nossos pais. execução da proposta. O sonho começavaHercílio e eu combinamos conversar com a se tornar realidade.meu pai num final de semana. Queríamos Tratamos de falar com “Lélico”, pai deapoio para prosseguir; caso contrário, tudo Hercílio, e sua esposa, Dona Marli. Pelo fatoficaria reduzido ao sonho. Confiantes e um de Hercílio ser filho único, a idéia de ficartanto formais, apresentamos ao meu pai a seis meses fora de casa certamenteproposta, tal qual havíamos discutido. assustaria seus pais. Ao encontrarmos oFalamos da aventura, destacando a melhor momento para essa conversa,oportunidade de contatos com ciclistas entramos no assunto com entusiasmo. Aeuropeus, com clubes e federações de princípio Dona Marli não se interessouciclismo. Colocamos a possibilidade de muito, mas “Lélico”, com um sorrisovisitas às diversas universidades européias,ampliando nossa visão de estudantes e irônico, que eu não sabia se gozava Hercílioestimulando o intercâmbio entre essas ou contrariava sua mulher, disse: “Estou de26 instituições e a nossa Universidade. acordo; pago pra ver!”.
Isso aconteceu em meados de maio de teríamos mais tempo de convívio, e ele 271985. Motivados pela aceitação da idéia por maior entrosamento com o projeto. Meuparte de nossos pais, tratamos logo de fazer pai e “Lélico” também achavam que oum cronograma, distribuindo o tempo em número adequado seria três. Em caso defunção dos contatos e providências que acidente com um membro do grupo, havialogo deveríamos começar a tomar. A idéia a possibilidade do terceiro elemento irdeveria ser concretizada com o máximo de buscar socorro. Nós concordamos,patrocínio, já que, de acordo com um pensando mais na distribuição de tarefas,grosseiro orçamento que fizéramos, em tanto na fase do projeto, quanto durante oque calculamos tudo o que gastaríamos de próprio giro. Começamos então a contataracordo com o tempo que passaríamos lá, com nossos companheiros de ciclismo,teríamos que ter uma boa grana. Isso imaginando que não teríamos dificuldadesimplicava correr atrás de empresas em encontrar um novo parceiro.patrocinadoras, definir a proposta e seus Enganamo -nos. Talvez por falta decustos, manter dezenas de contatos para credibilidade em nossos propósitos,obter as informações de que precisávamos. somente quatro meses após é que MuriloMas, acima de tudo, era essencial definir a Krüger se juntou a nós.equipe, pois assim seria mais fácil distribuiras tarefas, fazer o orçamento, enfim, dar Em uma noite, quando na casa decontinuidade ao projeto com maior Hercílio comemorávamos nossa vitória nossegurança. Além disso, com o rápido Jogos Abertos de Santa Catarina, Murilo seengajamento do terceiro integrante, aproximou e começou a me perguntar
como ia o projeto. No decorrer da conversa mos a contatar com diversas empresas deseu interesse foi aumentando, e algumas São Paulo. Em outubro, junto com o nossosemanas depois ele se integrava como técnico e amigo, Milton C. Della Giustina,terceiro membro da equipe. viajamos para São Paulo, com o objetivoA esta altura tínhamos mantido contatos de manter algumas entrevistas comcom diversos setores da UFSC, em particular empresas potencialmente colaboradoras.com o Escritório de Assuntos Internacionais, Procuramos na ocasião o então presidenteobjetivando obter apoio para a troca de da Confederação Brasileira de Ciclismo ecorrespondência com universidades diretor-presidente de importante empresaeuropéias e federações de ciclismo. do setor de ciclismo, que entretanto achou Havíamos definido nosso projeto com o projeto inviável. Outros contatoso título Giro ciclístico visitando também se mostraram improdutivos. Nauniversidades européias, incluindo o melhor das hipóteses, tivemos respostascurrículo de cada um e o roteiro a ser como: “Bem, vamos estudar”. Regressamosseguido, com respectivas quilometragens, a Florianópolis abatidos, mas nãocalendário, programa e objetivos. Esse desanimados.projeto era fundamental como meio de Na verdade, à medida que discutíamosapresentação e venda de nossa idéia para a proposta, que aprofundávamos nasfuturos colaboradores. sutilezas, que definíamos o roteiro e oTínhamos um longo caminho a equipamento, a necessidade de concretizá-28 percorrer. Com o apoio da UFSC, começa- la se fortalecia cada vez mais. Começamos
então a efetivar reuniões semanais com Assim o projeto foi tomando sua forma 29todos os membros da equipe, com o definitiva. Discussões enormes relativas aobjetivo de trocar idéias e de começar uma certos problemas foram superadas.convivência mais profunda. O projeto Algumas cartas, em resposta às mensagensdependia muito da harmonia de seus enviadas pela UFSC, chegaram. Quatroparticipantes. Apesar de sermos amigos, universidades estavam dispostas a nostínhamos a consciência de que, durante o receber e apoiar. Algumas federações dedia-a-dia e enfrentando situações adversas, ciclismo também nos responderam,teríamos motivos para possíveis desen- fazendo indicações preciosas. Como iníciotendimentos. Sabíamos que a partir do de conversa, dava para manter o ânimo.início do giro, dependeríamos um do Insistimos, novamente, junto à Confede-outro, e as decisões teriam que ser obtidas ração Brasileira de Ciclismo, conseguindopor consenso ou na base da maioria um contato com o Conselho Nacional dedemocrática. Sempre deveria ter alguém Desportos, que manifestou interesse naque servisse como mediador. Começamos, proposta. A partir daí, a imprensa começoutambém, uma vez por mês, a fazer reuniões a se interessar. As entrevistas com asconjuntas com nossos familiares, onde empresas potencialmente patrocinadorasacertávamos alguns detalhes e podíamos começaram, pelo menos, a ficar maiscomer algo diferente, pois passaríamos seis fáceis. Através da CBC, chegamos àmeses sem essas regalias. Aos poucos, Secretaria de Educação Física e Desportostambém nossas famílias foram assumindo do MEC, que enquadrou nossa propostaparte de nossa proposta. num programa de aproximação esportivo-
cultural, desenvolvido por aquele órgão. A muito caro importá-las. Restava-nos agora UFSC reforçou essa aproximação, fazendo descobrir quem as fizesse. Após algum a solicitação de três passagens aéreas Fpolis- tempo pesquisando em diversas fábricas, Lisboa-Fpolis. A IBM do Brasil nos deu uma sem sucesso, percebemos que devido ao pequena, mas muito importante, contri- ineditismo de nossa proposta as coisas não buição financeira. A empresa de proprie- seriam tão fáceis. dade de nosso técnico e colaborador, Cicle Por meio de um amigo, chegamos a Della Giustina, concordou também em Juan Carlos Iudice que possuía um pequeno financiar parte do projeto. Em seguida, Doll atelier em Coqueiros – Cormoran Artigos Produtos Naturais, empresa local, Esportivos – e era especialista na confecção assegurou uma parte ponderável dos de produtos emborrachados e impermeá- recursos necessários para a compra de veis. Entramos em contato com ele e, após nossos uniformes e roupas especiais. muita conversa, o mesmo aceitou o desafio Precisávamos, ainda, resolver o problema de fabricar as bolsas, achando que seria das bolsas que utilizaríamos durante o giro ótimo como meio de divulgar seu trabalho. e que iriam acopladas às bicicletas, já que30 no Brasil não existem equipamentos do Ao mesmo tempo, estávamos gênero. Após uma troca de correspodência estudando uma maneira de adaptar às com uma loja especializada em materiais nossas bicicletas de corrida os suportes para cicloturismo nos EUA, recebemos necessários para fixar as bolsas que Juan diversos catálagos com modelos e preços. prometera confeccionar. Nossas bicicletas Decidimos copiá-las, já que nos custaria tinham que ter auto-suficiência para
transportar a nós e a todo o nosso com uma fábrica de São Paulo a sua 31equipamento. Muitas discussões tivemos confecção. Mais algumas viagens foram feitascom alguns companheiros de ciclismo e nelas outras tentativas de patrocínio foramsobre a resistência e futuro desempenho realizadas. O CND comunicou à UFSC, emde nossas bicicletas. Concluímos que as abril de 1986, que o auxílio para nossasmesmas agüentariam. Todas eram passagens estava aprovado. Dia de glória! Oimportadas e apesar de serem próprias tempo voava e os quesitos básicos estavampara competição, eram resistentes e tendo respostas positivas. Em resumo, a IBMfuncionais. Além disso, teríamos a do Brasil, juntamente com o Doll Produtosvantagem do baixo peso. Com base nos Naturais e o Cicle Della Giustina, entravamcatálogos americanos, fabricamos os com uma ajuda financeira. A Olímpicosuportes onde seriam colocadas as futuras Tubulares entrava com um estoque de pneusbolsas. Os mesmos foram feitos com perfis e a Cormoran Artigos Esportivos entrava comde alumínio. Um suporte exclusivo. as bolsas, equipamentos de emergência e capas impermeáveis. Um mês antes da Através de nosso técnico, entramos em partida, prevista para o início de julho, ocontato com a Olímpico Tubulares, Governador do Estado, Esperidião Amin,fabricante de pneus de competição. recebeu-nos em audiência e autorizou aObtivemos o compromisso do fornecimento concessão de um auxílio financeiro, parade quarenta pares de pneus (tubulares), fazer frente à parte das despesas denecessários ao giro. Definimos nossos manutenção. O resto, o principal que faltava,uniformes e roupas especiais e acertamos
seria por conta dos “paitrocinadores”. E não iríamos enfrentar. Estudamos a história daera pouco: cerca de 2.500 dólares para cada Europa e nos aprofundamos em suaum. Calculávamos, por alto, que no mínimo geografia. Havíamos entrevistado diversasnossas despesas diárias com alimentação e pessoas que conheciam a Europa. Opernoite ficariam em torno de 15 dólares por equipamento já estava pronto e as bicicletaspessoa. estavam pintadas e revisadas pelo pessoalAtravés do setor de Comunicação do Cicle Della Giustina. Começamos aSocial da UFSC, confeccionamos um folder pensar num teste. O tempo voava.sobre o nosso giro, apresentando em Conseguimos montar todo o equipamentoportuguês, francês, alemão e italiano a e circular até Santo Antônio de Lisboa, umanossa proposta. A divulgação na imprensa pequena comunidade da Ilha, distante cercaficou facilitada e no futuro, durante nossa de 15 quilômetros do centro. Ali montamosviagem, esse folder seria muito útil como nossa barraca e testamos os sacos de dormir.meio de apresentação nas universidades, Havia entusiasmo, mas o peso dofederações de ciclismo e embaixadas. equipamento e a falta de equilíbrio dasHavíamos feito um grande avanço no bicicletas nos deixaram bastante assustados.que se referia ao projeto. Podíamos falar Faltavam poucos dias para a partida,horas e horas sobre o roteiro que iríamos quando conseguimos fazer um segurocumprir. Tínhamos feito um curso intensivo saúde. Há meses, procurávamos em vãode francês e meu inglês estava afiado. informações para efetivar o seguro.32 Sabíamos quase tudo sobre o trajeto que Acabamos resolvendo a questão a partir de
um contato com a Sra. Leonida, da Emcatur. tação para o Vaticano; visitas de familiaresEla ligou para Blumenau e lá acertou com e amigos. Os dias foram passando e aoutra empresa de turismo o nosso seguro confusão aumentando. Começamos asaúde por seis meses. Fizemos mais um preparar nossas bagagens, separandoexame médico completo. Tudo ok. roupas e equipamentos. Os problemas de equilíbrio com as bicicletas já haviam sido No último final de semana, antes da resolvidos.partida, houve uma confraternização comnossos colaboradores, amigos, compa- O dia que precedia ao embarque foinheiros de ciclismo e nossos familiares. A reservado para uma confraternização maisFederação de Ciclismo local também íntima com a família, pois tínhamospatrocinou um churrasco, precedido de uma passado as últimas semanas numa agitaçãomissa na Igreja da Boa Viagem. Os incentivos muito grande e não tínhamos tempoforam muitos, acompanhados de mensagens suficiente para nos dedicar aos nossosde garra e força. parentes mais próximos. Na segunda-feira, última no Brasil, a Manhã de oito de julho. Acordei às seteagitação aumentou. Contatos com a horas, o dia estava nublado. Minhaimprensa; com o Governo do Estado para ansiedade era grande. Mal acabei de tomarreceber o prometido auxílio financeiro; café e a Kombi da UFSC, que estavarecebimento de uma bênção especial do programada para pegar minhas bagagensArcebispo Metropolitano, Dom Afonso e as bicicletas em minha casa, chegou.Niehues, acompanhada de uma apresen- 33
Acabei de me arrumar, carregamos a determinação, era isso que sentíamos nesseKombi e segui para o aeroporto. Murilo e momento.Hercílio seguiam direto de suas casas. Ao subirmos as escadas do Boeing daConversando com o motorista, respondi Varig que nos levaria a São Paulo, numalgumas perguntas sobre nossa viagem. gesto de otimismo, vitória e união,Falei confiante, dando detalhes do paramos de mãos dadas, erguemos nossosequipamento e do longo planejamento que braços, saudando a todos os amigos ehavíamos feito. Mas acho que meu parentes, que da sacada do aeroporto nosentusiasmo escondia muitos temores. acenavam. Às nove horas da manhã o Chegando ao aeroporto logo fui avião sobe, cruzando minha queridaenvolvido por amigos, familiares e toda a Florianópolis. Passam imagens incríveis emturma do ciclismo. O clima era de euforia minha cabeça. Desde que conversei come de controle. Ninguém queria se deixar Hercílio pela primeira vez, mais de um anolevar pela emoção. Queríamos mostrar que se passara. Percebi que nossa passagem nahavíamos mudado. Após tantas barreiras terra é bem mais rápida do que até entãovencidas, queríamos parecer seguros, pensara. O avião também era rápido.maduros e determinados a concretizar a Chegamos a São Paulo, pegamos asaventura. bagagens e fomos para o balcão das Linhas Dá-se a chamada para o embarque. O Aéreas Paraguaias para despachá-las. Os último abraço cada um de nós reservou volumes eram grandes, pois nossas34 para nossos pais. Ternura, firmeza e bicicletas estavam acondicionadas em
caixas de papelão. As bolsas de cada um Assunção, Recife, Ilhas Canárias, Madrid eestavam reunidas em três sacos de viagem. Lisboa. A previsão era de trinta horas deEntramos na fila. Apesar de cada um de nós vôo.ter uma bolsa de mão, onde estavam aspeças de reposição, objetos pessoais e a Encontramos no aeroporto obarraca, ou seja, os objetos mais pesados, Alexandre Füllgraff, nosso companheiro dequando fomos fazer o despacho, ciclismo, que treinava em São Paulo. Porverificamos que tínhamos excesso e isso, tivemos um almoço que nos pareceuteríamos que pagar uma boa grana. Saímos uma nova despedida. Apesar de ansiososda fila e discutimos a questão. Resolvemos com a partida, o clima era de descontraçãoentão comprar uma outra bolsa de mão e e otimismo. Uma sensação estranha nostransferir dos sacos de viagem uma parte invadiu quando foi dada a chamada deponderável de carga. Escolhemos o que era embarque para o nosso vôo. Despedimo-menos volumoso e mais pesado. Depois nos de Alexandre. Tudo ao nosso redorvoltamos para a fila. Agora, conseguimos fazia-nos pensar: chuva, frio, Brasil. Era oo despacho sem ter que pagar excesso. nosso último momento no país, pisandoPrimeiro “drible”. em solo brasileiro. O que viria depois, não cabia a nós saber. Poderíamos somente O avião partiria às treze horas, via esperar...Assunção. A LAP foi escolhida porqueoferecia o preço mais vantajoso. O roteiro, 35entretanto, era tortuoso; São Paulo,
Capítulo 2Em Lisboa, o início da aventura
E ram aproximadamente dezenove tralha. Foram sete quilômetros até a rua 39 horas do dia nove de julho quando Andrade Corvo, local do Albergue. Em aterrissamos em Lisboa. O sol ainda nossas cabeças uma sensação de vitóriaestava alto, pois estávamos em pleno verão por termos chegado até ali, ultrapassandoeuropeu. A temperatura era de 37’2 oC. tantas barreiras, que nem se comparavamHavíamos feito escala em Madrid, viajando às que teríamos que passar no decorrer doem conexão com a Ibéria. giro. Mas assim mesmo o astral era altíssimo. No aeroporto, fomos recebidos porMauro Bueno e Cristina. Mauro era amigo Chegando ao Albergue da Juventudede Murilo e agora encontrava-se em (A.J.), uma antiga casa de dois pavimentos,Lisboa, realizando um estágio na Cruz fomos atendidos pelo responsável que nosVermelha. Os dois haviam trocado algumas indicou o número de nossos beliches ecorrespondências e Mauro, juntamente colocou-nos a par das normas do mesmo.com sua amiga Cristina, nos aguardava. Atualmente o número de jovens freqüen-Após pegarmos as bagagens e conferir se tadores desses Albergues na Europa étudo estava em ordem, montamos as muito grande, existindo inclusive umabicicletas no saguão do aeroporto e associação internacional que congregapartimos em direção ao Albergue da todos os Youth hostels do mundo.Juventude, onde tínhamos reserva. Mauronos acompanhou de carro e, para facilitar, Pegamos nossas bagagens com Maurolevou os sacos de viagem com toda a nossa e combinamos um contato para o dia seguinte. Estávamos cansados e famintos,
pois havíamos viajado cerca de 29 horas. entrevista marcada com a administração.Por isso tratamos logo de organizar nosso Visitamos boa parte da instituição, falamosequipamento, para então podermos comer com diversos professores e estudantes ee dormir. almoçamos no restaurante universitárioNo dia seguinte, saímos passeando pela (RU). Somente durante o almoço, em meiocidade logo pela manhã. Lisboa é uma a uma conversa, é que lembramos docidade de tamanho médio. Avenidas bem aniversário do Murilo. lsto foi motivo desinalizadas cortam a parte nova da cidade. comemoração e de brindes, com suco deA parte velha, chamada cidade alta, tem laranja, pois era a única bebida disponível.ruas estreitas e casarões antigos. É uma No final da tarde, regressamos ao A.J.cidade agradável, localizada às margens do Mauro havia deixado um recado, avisandorio Tejo, tendo praias famosas como que nos esperava para jantar. Murilo ligouCascaes e Estoril. Como era verão, o para ele e não acreditou: Mauro estava nomovimento turístico era grande. Alemães, Sheraton Hotel com Cristina e para lá nosfranceses, belgas, entre outros, costumam convidava. O Hotel era vizinho dovir a Portugal, principalmente para a região Albergue, a distância era de luxo, confortodo Algarve, ao sul, sobre o Mediterrâneo, e preço. Mauro havia lembrado doporque o custo de vida é bastante acessível. aniversário e Cristina, que era hóspede doPelas dez horas, chegamos à Universi- Hotel, logo sugeriu o convite. Foi uma beladade Técnica de Lisboa, que mantém comemoração para nosso primeiro dia em40 convênio com a UFSC. Ali tínhamos uma Lisboa. Teve até parabéns a você, acompa-
nhado de torta de morangos. Um sarro, compromissos já estavam cumpridos. 41mal acreditávamos... Segundo nosso calendário, estava na hora da partida. Começamos a nos despedir dos Nos dias seguintes, tivemos oportuni- amigos que recentemente fizéramos, dedade de conhecer os principais pontos da Mauro e Cristina, e a arrumar nossascidade: Mosteiro dos Jerônimos, a Torre de bagagens. Resolvemos partir à tarde, poisBelém, Monumento dos Descobridores, com o sol se pondo às nove e meia daRossio e Forte, entre outros. Fomos “noite”, enfrentaríamos uma temperaturatambém aos balneários de Cascaes mais amena, e também por ser estae Estoril. E a cidadela de Sintra. primeira etapa, até Vila Franca de Xira, bastante curta. Já estávamos adaptados ao Paralelamente, tivemos um contato clima, ao A.J., e à alimentação. No diacom o Prof. George Agostinho da Silva, seguinte, quatorze de julho, após horasamigo de meu pai e respeitado intelectual. arrumando e distribuindo as bagagens nasOfereceu-nos um jantar, oportunidade em bolsas, partimos em direção à Vila Francaque muito nos incentivou. Fizemos uma de Xira, cerca de 35 quilômetros de Lisboa.grande amizade e com ele deixamosalgumas roupas e equipamentos que, A temperatura era alta, beirava os 38o,então, julgávamos ter trazido em excesso. e tínhamos pela frente mais ou menosDemos também algumas entrevistas para cinco horas de sol forte. Não tivemos muitaa imprensa local. dificuldade para sair de Lisboa, pois nos dias que passamos ali, havíamos dominado Já se haviam passado cinco dias desdea nossa chegada, e todos os nossos
o trânsito. As bicicletas, agora equipadas preço, comer alguma coisa e ir diretocom as bolsas, estavam bastante pesadas. dormir, pois o cansaço era grande.Em média, cada de um de nós transportava Já deitados, conversamos um pouco acerca de 12 quilos. O trecho foi vencido respeito da sofrida etapa. Discutimoscom dificuldade, pois esse era o primeiro bastante, pois teríamos que começar a nosque percorríamos equipados. Logo de superar para não nos abater mais daqueleinício já tivemos o nosso primeiro pneu jeito e prometemos a nós mesmos nosfurado. Atravessamos toda a zona esforçar ao máximo para manter o astralindustrial de Lisboa, região muito sempre alto. Tínhamos um longo caminhomovimentada e poluída. Como o calor era a percorrer e não podíamos iniciar assim.forte, chegamos à Vila Franca de Xira Dormimos logo, pois na manhã seguinteabatidos e chateados. teríamos uma longa etapa a cumprir.Procuramos, logo de início, um local Demos uma pequena parada napara armar nossa barraca. Tentamos armá- estrada a caminho de Leiria. O calor erala em um parque da cidade, mas fomos terrível, mas estávamos irreconhecíveis seavisados por um senhor, que era comparados ao dia anterior. Era uma etaparesponsável pelo mesmo, que ali não longa, cerca de 85 km. Passaríamos aindapoderíamos acampar. Por isso, a única em Fátima onde pretendíamos rezar umopção que nos restava era procurar uma pouco e descansar.pensão. Após muito procurar, chegamos a A chegada a Leiria se deu no tinal da42 uma e, sem demora, tratamos de acertar o tarde, fomos direto para o A.J. e consegui-
mos vaga sem problemas. O mesmo estava Ficamos aí por dois dias, tempo 43praticamente vazio e logo fizemos amizade suficiente para descansar e conhecer acom Ilda, a responsável. cidade. Leiria é uma cidade pequena, mas Partimos cedo de Leiria em direção abastante agradável. É extremamente Coimbra, querendo evitar o calor.tranqüila, com o castelo de Dom Dinizlocalizado no centro, ponto mais alto da Triste ilusão. Nossa chegada a Coimbracidade. Ela é bastante antiga e conta muito foi dramática, pois chegamos cerca deda história de Portugal e da expulsão dos treze e trinta com uma temperatura demouros. 44 oC, a mais alta de todo o giro. Por sorte, logo na entrada da cidade encontramos Lá conhecemos Carlos Vieira, um ex- indicações da Cantina Universitária e emciclista que há algum tempo havia ido até seguida a achamos. Chegamos quinzeRoma de bicicleta. Durante a conversa o minutos antes de seu fechamento emesmo nos perguntou onde estava o nosso comemos a valer. Como não havia A.J. emcarro de apoio. Falamos que não tínhamos, Coimbra, tratamos logo de nos informarque viajávamos sozinhos. Ele nos olhou sobre uma pensão de bom preço. Umespantado!. Quando lhe mostramos nosso funcionário da cantina nos deu uma boafolder indicando a volta que daríamos, orientação. Observamos que nossadisse: – Vocês são malucos... Tenham uma receptividade era ótima entre osBoa Sorte! portugueses. Talvez pelo fato de estarmos realizando tal giro, acho até que muitos se
sensibilizavam por verem nossa disposição com quem ir, já que o Palácio São Marcos,e também por sermos brasileiros. local do jantar, distava vinte quilômetros Lá chegando, uma surpresa: o dono da do centro de Coimbra. Respondi que não,pensão era um brasileiro. Garantimos um pois viajávamos de bicicleta. Fátima sebom quarto e um ótimo desconto. surpreendeu e, tal qual Carlos Vieira em Leiria, nos chamou de malucos. Ali tínhamos um encontro com Ana Ganhamos a carona. Hercílio falou paraMendes, nossa amiga e tia do Alexandre Ana que tudo estava resolvido e que jáque, como juíza de Direito, estava em sabíamos como ir.Coimbra realizando um curso naquelafamosa Universidade. Por telefone O encontro com Ana foi ótimo. Ela noscontatamos com ela, que nos convidou apresentou a diversas pessoas, inclusive aopara participar, à noite, do jantar de reitor da Universidade. Conversamosencerramento do referido curso. muito. Todos nos incentivavam. O jantarParalelamente, enquanto Hercílio foi servido por volta das 22 horas. Estavaprolongava a conversa com Ana, próximo, excelente. Foi o melhor bacalhau jáuma jovem com prováveis 25 anos, saboreado por nós. Sem dúvida,comentava que também iria àquele jantar. sentiríamos saudades.Começamos a conversar. Tratava-se de Tarde da noite, nos despedimos doFátima, uma brasileira que também reitor, dos professores, de Ana e seusparticipava do mesmo curso. Durante a amigos e regressamos, novamente de44 conversa, ela me perguntou se tínhamos carona, com Fátima para a pensão.
Na manhã seguinte, após uma breve Chegávamos tão cansados e loucos por 45passagem pela Universidade, pois lá não uma cama que não tínhamos condições detínhamos nenhuma visita oficial, procurar um lugar para montá-la. Semseguimos para a cidade de Gouveia. falar nos fatores de conforto, segurança,Estávamos em pleno interior de Portugal etc. [...] Resolvemos vendê-la na primeiraa caminho de Espanha. Pedalamos oportunidade que pintasse.praticamente durante todo o dia. Aregião é muito bonita, com vales e Partimos para Guarda, distantevilarejos tranqüilos e calmos. cinqüenta quilômetros da fronteira com a Espanha. A chegada foi comemorada. Nos lugares onde parávamos para Era a nossa última noite em Portugal epegar água, todos nos saudavam e estávamos felizes, porque o roteiro quecumprimentavam. tantas vezes percorremos através de mapas, no Brasil, começava agora a se Isso era para nós muito importante, concretizar. As cidades e vilas por ondepois mantinha a moral elevada. passávamos nos pareciam familiares e materializavam nosso sonho. Sabíamos Ao chegarmos a Goveia, dividimos o que teríamos saudades de Portugal e depequeno quarto que alugamos com nossas seu povo, não só pelo idioma, masinseparáveis bicicletas. Após comermos, também porque tínhamos certeza de queapagamos... esse era o país com o custo de vida mais baixo da Europa. Entretanto, o fato de Já estávamos pensando em nosdesfazer de nossa barraca, pois era um pesoextra que não estávamos utilizando.
estarmos conseguindo cumprir o roteiro Partimos rumo a Ciudad Rodrigo, já naerá compensador. Espanha, num bonito e escaldante dia...As bicicletas estavam agüentando Bye, bye, Portugal, até a volta...bem. Todos os dias, após cada etapa, nósas revisávamos e regulávamos. Osbagageiros e as bolsas também estavamse portando bem. O único fato que nosdeixava um pouco intranqüilos era o altoíndice de pneus furados. Tínhamospedalado até aqui 450 quilômetros eestávamos furando mais pneus que oprevisto. Isso era plenamente explicáveldevido às altas temperaturas, aliadas aopeso das bicicletas. E também pelo fatodas estradas nessa região, apesar deserem asfaltadas, terem muitos buracos.Esperávamos que a temperatura, assimcomo as estradas, a partir da Françamelhorassem [...] E nossos pneus46 também.
Capítulo 3Espanha: uma travessia agitada
Chegamos na fronteira ainda cedo. mos e a mesma não mudava. Em meio a 49 Era uma pequena vila. Carimbamos tal cenário, com um sol a pino, apesar de nossos passaportes e em seguida já estarmos perto das quinze horas, nosrecebemos as boas vindas dos espanhóis. demos conta de que estávamos sem água.Após trocarmos nossos escudos por Deveríamos ter abastecido nossasalgumas pesetas numa casa de câmbio ali caramanholas na fronteira, porém, naexistente, prosseguimos em direção a empolgação, esquecemos, e com o altoCiudad Rodrigo. calor nosso consumo foi além do normal. Mesmo assim, continuamos, na esperança Restava-nos ainda uns trinta de encontrar mais adiante alguma casa ouquilômetros, entretanto queríamos chegar coisa parecida. Ficamos só na esperança,cedo, pois nos últimos dias estávamos pois nada apareceu. Nossa chegada adormindo muito tarde. A estrada, apesar Ciudad Rodrigo foi dramática; por umde asfaltada, era ruim, com muitos buracos, momento pensamos que morreríamos dealém de não haver acostamento, o que nos sede na estrada deserta. Passamos umdificultava um pouco, quando da passagem grande susto.de um caminhão ou algum veículo maior.Mas o movimento era fraco. A região era Nós nos hospedamos em uma pequenaextremamente seca. Não havia nada. Nem pensão em cima de um posto de gasolina.casas, nem animais, um verdadeiro Partiríamos já no dia seguinte. Sabíamos dadeserto. Hercílio era o que mais reclamava existência de um A.J. na cidade de Ávila e láda paisagem, pois pedalávamos, pedaláva- pretendíamos descansar por mais tempo.
O trajeto foi vencido com dificulda- Seguiríamos, agora, direto rumo à 51des. Fizemos uma breve parada em capital espanhola. Sabíamos que, a partirSalamanca, para uma visita à mais antiga de Madrid, as coisas tenderiam a melhorar,universidade do mundo. Chegamos em pois subiríamos um pouco nos aproxi-Ávila, dispostos a permanecer pelo menos mando dos Pirineus, e a temperatura,dois dias. seguramente, desceria a níveis mais suportáveis. Descansamos e aproveitamos O A.J. era excelente. Tínhamos um bastante nossa estada em Ávila. Fizemosquarto só para nós, café da manhã e jantar. inclusive diversas amizades no A.J. e foi aíA comida era ótima e o tratamento muito também que vendemos a um preçocordial. Um verdadeiro cinco estrelas, para simbólico nossa barraca, já que não anós, que viajando de bicicleta tínhamos estávamos usando. Partimos então paranecessidade de volta e meia ter um bom Madrid com cerca de quatro quilos adescanso e farta alimentação. menos em nossas bolsas, o que para nós era um estímulo a mais. Nossa estada em Ávila serviu para querecuperássemos as energias despendidas, Seguimos à tarde. Estávamos com umcom o forte calor, pois já havíamos perdido belo bronzeado. Há dias vínhamos utilizandoalguns quilos. algumas pomadas especiais para proteção, pois, além do sol, o ar era extremamente Avila é uma cidade medieval. Ainda seco.conserva os grandes muros que aenvolvem, além de diversos monumentos Pedalamos durante toda a tarde. Eramhistóricos. aproximadamente vinte e duas horas
quando estacionamos nossas bicicletas em não tínhamos rumo, passamos por algumasfrente ao A.J. de Madrid e recebemos a praças e monumentos que constavam eminformação de que não havia vagas. nosso mapa como pontos turísticos. SemEstávamos exaustos e pensar em procurar dificuldades chegamos a Plaza Mayor, ouma pensão era desanimador. A jovem que centro palpitante de Madrid. Seus dez arcosnos atendeu foi solícita e deu-nos levam a ruelas antigas, que não são poucasorientação para próximo dali acharmos o em toda a Europa. A seguir fomos à igrejaabrigo de que precisávamos. Lá fomos... de San Nicolás de los Servitas, a mais antiga da cidade. O cansaço era tanto que depois deachar a pensão ótima, desmontar as Em Madrid, tínhamos o endereço debicicletas e comer, nos estiramos em nossas um amigo, Almir Gentil, que faziacamas sem sequer tomar um banho. Que especialização em medicina. Ela já estavadia, pensei! em Madrid há algum tempo.Acordamos já com o sol alto e para Resolvemos, ao sair da igreja, procurarvariar com um calor terrível. Rapidamente a sua casa. Pedalamos um bocado e apósarrumamos tudo e seguimos para o A.J. algumas informações, chegamos ao local.com o objetivo de conseguir hospedagem. Fomos atendidos pelo zelador, que maisAli tomamos um bom café e logo tarde viríamos a conhecer melhor, Sr.conseguimos nossa vaga. Tudo OK! Jerônimo. O mesmo nos disse que Almir Saímos, agora com as bicicletas livres não estava. Havia tirado férias e partido52 de carga, pelo centro da cidade. A princípio com a irmã para a Itália. Ficamos
decepcionados, pois contávamos com sem falar nos horários que tínhamos que 53Almir para festarmos um pouco na noite obedecer. Grande Almir.madrilenha. Paciência. Após uma rápida verificada no Agradecemos ao Sr. Jerônimo pelas apartamento para saber se o mesmoinformações e, ao nos despedirmos, ele oferecia condições para que pudéssemosnos perguntou se éramos brasileiros e se cozinhar, retomamos ao A.J. para pegarestávanios dando um giro de bicicleta nossas bagagens. No apartamento, emborapela Europa. Respondemos que sim e pequeno, tínhamos condições de prepararlogo perguntamos como sabia. Seu nossa alimentação e de passar as horasJerônimo nos mandou entrar e a seguir mais quentes do dia, descansando.nos contou o que se passava. Ao ir viajar,Almir havia lhe dito que talvez As idas e vindas pela cidade com asaparecessem três malucos de bicicleta, bicicletas desprovidas das bagagens eramque eram brasileiros, seus amigos, e bastantes agradáveis. Volta e meia, tarefasdeixou as chaves do seu apartamento de correio, noticiando para a família epara que ficássemos ali hospedados. amigos os feitos recentes. Em outrosÓtimo, pensamos, pois, economiza- instantes, aproveitávamos o telefone queríamos bastante e teríamos um clima havia no prédio para falar diretamentemais caseiro do qual já estávamos com com nossos pais.saudades. Nos albergues não tínhamospossibilidade de ficar mais à vontade, Foi exatamente ao atender um chamado do Brasil, feito por Claudia, prima de Hercílio, que saímos todos do
apartamento, sem atentar para o fato de Os palpites foram vários, até que que a chave estava do lado interno. Quando alguém lembrou do poço interno de a porta bateu, movida por uma rajada de ventilação existente entre os apartamentos. vento, percebemos que estávamos literalmente na rua. Que fazer? Talvez fosse possível, passar de um apartamento para o outro, atravessando o Após o papo no telefone, no qual poço por meio de uma escada. Fomos pegá- ratificamos o que já havíamos dito em la e ao mesmo tempo obtivemos licença do cartas, tratamos de resolver nosso morador vizinho, que fazia fundos com o problema. Afinal, já eram vinte e três apartamento de Almir. Colocamos a escada horas e tínhamos deixado nossa sopa no no poço, ligando a janela do banheiro do fogo. Chamamos o Seu Jerônimo para apartamento de Almir com a área de serviço saber setinha outra chave. Não tinha. do apartamento em que nos encontrá- Estudamos a situação. O apartamento vamos agora. Feito isto, a questão era saber estava no 4o andar com uma única e quem se arriscaria a fazer a travessia. Quatro grossa porta de entrada. Arrombar, andares abaixo, o poço era ocupado por chamar os bombeiros? Seu Jerônimo nos dezenas de engradados com garrafas vazias advertia que os mesmos estragariam a de um bar, instalado no térreo. Lugar feio. porta. O que diríamos a Almir, que Murilo olhou, acompanhado por Hercílio, chegaria em breve? O barulho que concluindo que a tarefa era para quem fosse fazíamos decorrente da aflição, chamou menos pesado. Sobrou para mim, compreendi...54 a atenção de outros moradores.
Os moradores do prédio estavam Brasil, pensamos, mas não! Era Almir quetodos envolvidos no desafio. Sugeriam o estava chegando de viagem juntamenteuso de cordas de segurança, teste de com seus irmãos Adir e Adione. Outraresistência na escada, calma... Mas também correria, pois tínhamos ocupado seuninguém se oferecia para fazer a proeza ou quarto e provavelmente dormíamos emtampouco davam alternativas satisfatórias. sua cama. Almir entretanto se mostrouDepois de muita discussão, de verificar por extremamente gentil e de acordo com seuduas vezes as condições da escada, subi no próprio nome. Uma grande figura, sempreparapeito da janela e, sentado, atravessei sorrindo e contando piadas.os cinco metros que separavam a área de Esticamos nossos sacos de dormir naserviço, do apartamento do Almir. Ao sala. E, após um longo papo, dormimos.chegar do outro lado, a vibração dos No dia seguinte, saímos passeando semmoradores foi grande, mas a minha rumo certo, já que Almir e seus irmãos,sensação de alívio maior ainda. Ufa, que cansados da viagem, dormiam. Conversá-cagaço! vamos sobre o episódio do dia anterior eNossa sopa, entretanto, foi para o os riscos que aparentemente tínhamos nabrejo. Mas estávamos felizes, afinal tudo estrada. Falávamos também a respeito dasacabou bem. coincidências que aconteciam durante asJá estávamos em nossas camas etapas, de nossas facilidades em encontrarconversando sobre o agito do dia quando o que procurávamos, enfim, estávamos56 toca o interfone. Outro telefonema do constantemente ultrapasssando barreiras
e mais barreiras sem que nos abatêssemos O apartamento, agora, com a chegada 57para tal. Creditávamos tal fato ao nosso dos donos, começava a ficar apertado e nósgrande espírito de união, o que aliás foi já começávamos a pensar na partida. Nossouma constante durante todo o giro e fator calendário de viagem estava começandoprincipal de nosso sucesso. a ficar ameaçado. Enquanto isso, com Almir e seus irmãos, aproveitá- Nesse papo, chegamos pela Gran Via vamos para conhecer a noite de Madrid.ao escritório da Varig. Paramos. Apesar de Festamos bastante.fechado, por ser domingo, permane-cemos ali por alguns instantes. De repente, A partida de Madrid sem dúvidaum grito ecoou no alto de um prédio. Um deixaria saudades, mas tínhamos umhomem ameaçava saltar. Foi o tempo de objetivo a cumprir e não poderíamos nosmovimentarmos as bicicletas e um corpo acomodar. Havíamos feito muitaslogo se estatelou no chão, praticamente amizades com os moradores do prédio eonde estávamos segundos antes. Uma cena de todos nos despedimos recebendohorrível. Merda... manifestações de apoio e de sucesso no decorrer do giro. Em seguida uma infinidade de carrosda polícia chegou e fecharam o local. Manhã do dia trinta e um de julho,Madrid estava muito policiada devido aos após efusivas despedidas de Almir, seusfreqüentes atentados a bombas que vinha irmãos e seu Jerônimo, partimos emsofrendo por parte do grupo separatista direção a Guadalajara, a cerca de setentaBasco, ETA. quilômetros de distância. Um bom
começo, para nosso objetivo seguinte: homens, tanto no campo, como nas Paris. cidades, bem o indicavam. As ações de guerra dos integrantes do grupo armado Nos cinco dias seguintes, passamos por ETA – que traduz terra basca e liberdade – Medinaceli, Sória, Alfaro e Pamplona. À e das quais já tínhamos tido diversas medida que nos aproximávamos da notícias em Madrid, agora eram mais fronteira com a França, íamos subindo em visíveis, em particular pela presença de direção ao norte e conseqüentememe a tropas militares, nas estradas e cidades. temperatura ia caindo. Tanto que a partir de Sória a mesma já era de 20 oC, ótima Sem problemas, atravessamos os para pedalar. Pirineus em sua parte mais suave, próximo ao litoral, no Golfo de Vizcaya. Chegamos Livres do terrível calor, agora à capital do país basco, San Sebastian. Uma rendíamos muito mais e sem que nos cidade encantadora, praias lindas, muita desgastássemos tanto para cumprir as gente veraneando, e top less! Não etapas. Estávamos entrando em território resistimos, ficamos aí um dia inteiro Basco e tivemos uma boa prova disso já descansando e apreciando. em Pamplona. Pois, no dia seguinte à nossa passagem por lá, soubemos, através de O alojamento entretanto não foi fácil jornais, que houvera um atentado durante de achar. O A.J. estava lotado e ao os festejos da cidade, causando a morte de recorrermos ao consulado brasileiro, lá 35 pessoas. Escapamos por pouco. As existente, não fomos atendidos. Felizmente contávamos com algumas cartas de58 boinas pretas utilizadas pela maioria dos
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