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Livro 6 ano

Published by Tobias Neuhaus, 2022-02-01 04:39:17

Description: Livro 6 ano

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Silvio Wonsovicz FILOSOFAR E VIVER 8.ª Edição Florianópolis (SC), 2022.

Onde viveram os primeiros FIlosofos? Espaço Filosófico na Grécia Antiga PHILOS = Amizade, amor SOPHIA / SOPHOS = Sabedoria, sábio Philos + Sophia FilosoFIa = amor pelo saber, amizade à sabedoria, busca do saber. Philos + Sophos Filosofo = sábio que tem amor, amizade pelo saber, que busca a sabedoria.

Onde vivem os FIlosofos?

COLEÇÃO NOVO ESPAÇO FILOSÓFICO CRIATIVO Copyright c 2009, by Editora Sophos Ltda. W872f EDITORA SOPHOS LTDA, Florianópolis, 2022 Rua Cristóvão Nunes Pires, 161 - Centro CEP 88010-120 - Florianópolis - SC Fone (48) 3222.8826 - 3025.2909 www.editorasophos.com.br [email protected] Todos os direitos reservados. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Wonsovicz, Silvio Filosofar e viver / Silvio Wonsovicz. – 8. ed. – Florianópolis : Sophos, 2022. 96 p.: il. - (Coleção Novo Espaço Filosófico Criativo; 6.º ano) ISBN: 978-85-8037-045-4 1. Filosofia - Estudo e Ensino. 2. Ensino Fundamental. 3. Aprendizagem - Metodologia. 4. Pensamento filosófico e criativo. I. Título. CDU: 1:37 Ficha Técnica Editor: Silvio Wonsovicz Revisão: Rodrigo Brasil e Isabel M.ª B. Luclktenberg Ilustração: Rose Gaiewski e Fransuá de Lima Capa: Fransuá de Lima Projeto gráfico: FK Estúdio Diagramação: FK Estúdio Coleção NOVO ESPAÇO FILOSÓFICO CRIATIVO 1.º ano Vamos filosofar? 8.ª edição 2.º ano Aprender a filosofar com os colegas 8.ª edição 3.º ano Discutir e construir um filosofar vivo 8.ª edição 4.º ano Entender as ideias e filosofar 8.ª edição 5.º ano Tecer as ideias com os outros: filosofando 8.ª edição 6.º ano Filosofar e viver 8.ª edição 7.º ano A Filosofia no nosso dia a dia 8.ª edição 8.º ano Conviver e filosofar com os outros 8.ª edição 9.º ano Somos cidadãos reflexivos: filósofos por natureza 8.ª edição 2022 Depósito legal na Biblioteca Nacional conforme Decreto n.º 1.825, de 20 de dezembro de 1907. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópias e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.

Entendendo a estrutura do seu livro de FilosoFIA O filósofo contemporâneo Wittgenstein afirmou que poderia escrever um bom e sério livro de Filosofia utilizando apenas piadas e jogos. Este é um livro com características peculiares, pensado interativamente para qualquer idade, para ser utilizado com adolescentes que fazem Filosofia sistematicamente no Programa Educar para o Pensar: Filosofia com Crianças, Adolescentes e Jovens, pois não se pode viver sem filosofar. O autor Quadro de competências e habilidades Filosofar e viver - 6.º ano Capítulo 1 - É possível filosofar sem dialogar? UNIDADE 1 – Com e pelo diálogo, o exercício do filosofar na vida Proposta de trabalho Noções/Conceitos Habilidades 1.1 Sou filósofo? N Discussões e investigações N Perceber o encaminhamento sobre as definições. didático para a ampliação 1.2 O filósofo e o diálogo N Conhecimentos de que os dos conhecimentos sobre o constante filósofos gregos se utilizavam diálogo filosófico a partir deste do teatro, da literatura, de ano e nos vindouros. 1.3 Na Comunidade de diálogos para ampliarem Aprendizagem Investigativa o os conhecimentos sobre si N Associar a habilidade do diálogo como motor mesmos, a realidade em que dialogar com as demais viviam e o mundo. disciplinas e professores. N Percepção de que somente pelo diálogo é possível o N Sentir que há continuidade entendimento do ponto na construção da Comunidade de vista do outro e assim a de Aprendizagem Investigativa, construção do que buscamos: a que se iniciou nos primeiros Comunidade de Aprendizagem anos escolares. Investigativa. Capítulo 2 - Onde se dá o pensamento? Proposta de trabalho Noções/Conceitos Habilidades 2.1 Estudos filosóficos e N Sobre o cérebro e os N Entender o significado científicos sobre o cérebro avanços nas demais ciências. de uma educação filosófica N Curiosidades sobre o reflexiva e ligar com os 2.2 Uma máquina pensante: cérebro e a capacidade de conteúdos de outras disciplinas. o cérebro pensar do ser humano. N Aprender a perceber além do N Como o mundo se que está sendo apresentado 2.3 Percepção – Visão apresenta a nós pela visão e e do que nossos sentidos nos pela percepção. deixam perceber. N Analisar os demais avanços relacionados ao cérebro humano.

Capítulo 3 - A organização das ideias Proposta de trabalho Noções/Conceitos Habilidades UNIDADE 2 - Pensar bem e agir filosofando na vida 3.1 Para que a Lógica? N Importância do pensamento N Sentir que um lógico na vida e no entendimento do mundo. conhecimento filosófico desencadeia uma série de outras descobertas. 3.2 Preparando o bem pensar N Perceber que a com e pela Lógica N Início dos conhecimentos organização de um correto básicos da lógica aristotélica. e bom pensar ajuda em vários aspectos nos entendimentos de mundo. 3.3 Os princípios básicos da N Conhecimento das vantagens N Iniciar os entendimentos Lógica do bem pensar. dos princípios básicos da lógica aristotélica. Capítulo 4 - O comportamento humano: penso, vivo e ajo Proposta de trabalho Noções/Conceitos Habilidades 4.1 O que somos obrigados N Início do entendimento N Identificar a importância a fazer, o que fazemos a sistematizado sobre a moral de pensar sobre as ações e respeito do bem e do mal? e a ética. os desejos que existem em N Capacidade de distinguir o cada ato humano. 4.2 Como me manifesto na que é o bem e o mal na visão N Utilizar os entendimentos a sociedade: a liberdade atual e de filósofos. respeito do bem e do mal para N Sobre a liberdade e a pensar nas ações futuras. sociedade em que vivemos. N Realizar reflexões sobre a maneira como somos vistos e como vemos a realidade no tocante à liberdade. UNIDADE 3 - Pensar bem e agir Capítulo 5 - Atos humanos são atos políticos Proposta de trabalho Noções/Conceitos Habilidades 5.1 O ser ético e o ser político: N A não separação do ser N Oportunizar o entendimento uma reflexão filosófica e ação político do ser ético. do ser ético e do ser político transformadora N Entendimento de que todo como capacidade de ato humano é um ato político transformação da realidade 5.2 Uma diferença significativa: e todo ato político deve ser em que vivemos. a presença e os direitos do ético e moral. N Investigar o papel do filósofo homem no mundo N Entendimento dos direitos nos dias atuais (interpretar a e dos deveres. realidade ou transformar a realidade?). N Discutir sobre os direitos e os deveres como atitudes transformadoras.

A estrutura N 1. Este é um livro que faz parte de uma coleção pertencente ao programa filosófico Educar para o Pensar: Filosofia com Crianças, Adolescentes e Jovens. N 2. Esta coleção caracteriza-se por ser interativa, isto é, você também é convidado a ser coautor do livro, por isso ele não está pronto e, em muitas situações, você irá ajudar a escrever o nosso livro, com os seus colegas, na Comunidade de Aprendizagem Investigativa – COM.A.I. N 3. Cada livro do 6.º ao 9.º ano contém três unidades com cinco capítulos – Diálogo filosófico, Teoria do Conhecimento, Lógica, Ética e Política e Estética. - Diálogo filosófico - Teoria do Conhecimento - Lógica - Ética - Política e Estética 6.º ano 7.º ano 8.º ano 9.º ano N 4. Em cada livro há uma ligação e um aprofundamento entre os conteúdos. Ao final do 9.º ano você terá um conhecimento muito maior dos assuntos filosóficos escolhidos para lhe dar uma base filosófica para o Ensino Médio e uma continuidade de vida como um cidadão consciente. Organização dos livros do 6.º ao 9.º ano N I. No final de cada livro, temos a Avaliação formativa e reflexiva para que você e a sua COM.A.I. possam avaliar o crescimento e o entendimento dos conteúdos e das reflexões filosóficas passo a passo durante o ano. N II. Vamos passar em cada conteúdo e atividade com calma e cuidadosamente. Não há nada tão complicado que um adolescente brilhante não possa acompanhar, ainda mais sabendo que tem junto consigo os seus colegas e o professor, formando a COM.A.I. N III. Não tenha medo de se expor a todo instante. Esteja preparado para o erro, para discutir, investigar e modificar seu modo de pensar, chegar a um consenso. Mesmo com dúvida e principalmente a partir da reflexão, procure buscar ações individuais e coletivas, exercendo o protagonismo juvenil.

N IV. Este livro não vê o aluno como um vaso vazio que precisa ser preenchido com teorias ou doutrinas, mas como um recipiente com muitas ideias filosóficas, passíveis de serem melhoradas (individualmente e no grupo). O foco não está centrado na verdade, mas na opinião, no diálogo, na crença, no erro, na discussão e na investigação. As perguntas podem ser muitas, mas poucas as respostas. Cabe a cada aluno dar suas respostas, saber justificá-las, estar aberto para reconsiderá-las e/ou modificá- las, num processo de reflexão e investigação, assim como o filósofo Sócrates, que, pelo diálogo, fazia as pessoas entenderem que “uma vida que não é examinada não merece ser vivida”. N V. Na introdução e nos capítulos, junto ao conteúdo, você é desafiado, com a sua turma, a participar como coautor nas seguintes ações: Vamos criar Vamos filosofar e filosofar... e criar... Cantar e Curiosidades sobre A lógica filosofar o cérebro e o corpo das piadas Sessão “Acenda Educação Educação as luzes”: Filme financeira para valores Aprender a empreender: Educação afetiva Empreendedorismo social e ética sexual

Unidade SUMARIO Unidade05 Entendendo a estrutura do seu livro de Filosofia 09 Sumário 11 INTRODUÇÃO: O que é e por que um filosofar vivo? 1 Com e pelo diálogo, o exercício do filosofar na vida Diálogo filosófico - Teoria do Conhecimento 16 CAPÍTULO 1 - É possível filosofar sem dialogar? 16 1.1 Sou filósofo? 18 1.2 O filósofo e o diálogo constante 20 1.3 Na Comunidade de Aprendizagem Investigativa o diálogo como motor 22 Aprender a empreender: O caso da “máquina registradora” 24 CAPÍTULO 2 - Onde se dá o pensamento? 24 Cantar e filosofar: Pensamento 25 Reflexão: O sonho, a paixão e a opinião 26 2.1 Estudos filosóficos e científicos sobre o cérebro 31 Aprender a empreender: “Gênio e louco, todos somos um pouco: lições de empreendedorismo” 33 2.2 Uma máquina pensante: o cérebro 35 2.3 Percepção – Visão 42 Educação afetiva e ética sexual: Visão, percepção e construção do homem 43 Sessão “Acenda as luzes”: Filme “O fantástico Sr. Raposo” 43 A lógica das piadas 2 Pensar bem e agir filosofando na vida Lógica – Ética 46 CAPÍTULO 3 - A organização das ideias 46 Cantar e filosofar: Lógica 47 Reflexão: A riqueza e o conhecimento 48 3.1 Para que a Lógica? 50 Aprender a empreender: Sequências lógicas 51 3.2 Preparando o bem pensar com e pela Lógica 53 3.3 Os princípios básicos da Lógica 56 Sessão “Acenda as luzes”: Filme “Rain Man” 57 A lógica das piadas

Unidade58 CAPÍTULO 4 - O comportamento humano: penso, vivo e ajo 58 Cantar e filosofar: Ética 59 Reflexão: Construindo pontes 60 4.1 O que somos obrigados a fazer, o que fazemos a respeito do bem e do mal? 61 Educação afetiva e ética sexual: Presente de amigo 65 4.2 Como me manifesto na sociedade: a liberdade 66 Aprender a empreender: Responsabilidades sociais 68 Sessão “Acenda as luzes”: Filme “O Senhor das moscas” 68 A lógica das piadas 3 Pensar bem e agir (= protagonismo social) Política – Estética 71 CAPÍTULO 5 - Atos humanos são atos políticos 71 Cantar e filosofar: Disparada 72 Reflexão: A divindade dos homens 73 5.1 O ser ético e o ser político: uma reflexão filosófica e ação transformadora 77 Educação financeira: A viagem 78 5.2 Uma diferença significativa: a presença e os direitos do homem no mundo 80 Aprender a empreender: E agora? 83 Sessão “Acenda as luzes”: Filme “O grande desafio” 83 A lógica das piadas Avaliações 85 Avaliações: formativa e reflexiva 90 Afinal, sou um SER pensante, faço Filosofia no 6.º ano 92 Considerações sobre a avaliação (para os pais e os professores) 93 Lembrete filosófico 94 Aos educadores e aos educandos do século XXI: Construir um filosofar vivo?

NTRODUCAO O que é e por que um filosofar vivo? 0

ntroducao 0 Caro estudante, Você é um “Amigo dos Amigos da Sabedoria”, um phílo philosophos. Ao estudar no 6.º ano e utilizar o livro Filosofar e viver, da Coleção Novo Espaço Filosófico Criativo, você é o convidado especial para aprender a filosofar junto com os seus colegas em sala de aula, procurando dia a dia formar uma Comunidade de Aprendizagem Investigativa – COM.A.I. Mas o que é e por que um filosofar vivo? Somos adolescentes que vivemos num mundo em constantes mudanças, onde tudo é muito rápido. Fazemos perguntas e já temos respostas, duvidamos e já temos como investigar e descobrir caminhos para encontrar soluções. Um filosofar vivo é a forma como podemos encontrar, junto com os outros, caminhos para as nossas dúvidas, esperanças de soluções, isso tudo pelo diálogo constante em busca de ações concretas. Portanto, esse filosofar vivo dá condições para pensarmos juntos em alternativas, pensarmos

Filosofar e viver 6.º ano 13 na vida de forma global e entendermos a nós mesmos, o outro e o mundo através daquilo que já foi pensado. Os filósofos de todos os tempos fazem isso, constroem um filosofar vivo. Muitos filósofos a partir daí se imortalizaram e continuam presentes hoje no mundo acadêmico e no nosso mundo. NesteiníciodecaminhadafilosóficanoEnsinoFundamentalII,hámuitasrespostas para a dupla pergunta: O que é e por que um filosofar vivo? Quero responder com a expressão de Bernard de Chartres, filósofo e teólogo na Idade Média (século XII), para mostrar que nenhum trabalho intelectual, filosófico, artístico, parte do zero, mas está apoiado em grandes pensadores de todos os tempos: “Somos como anões sobre os ombros de gigantes”. Essa mesma ideia foi mais tarde atribuída a Isaac Newton, numa afirmação que dizia: “Se vi mais longe do que os outros, é porque eu estava sobre os ombros de gigantes”. Um filosofar vivo que queremos neste ano em que aprenderemos a filosofar, a sermos protagonistas, a investigar e a agir começa por pensarmos sempre que Copyright_stockyimages. Shutterstock.com precisamos subir nos ombros dos gigantes da Filosofia e das outras áreas do saber humano e olhar mais longe, buscando sempre mais clareza. E por isso iremos iniciar neste ano e dar continuidade nos próximos anos, pois vamos aprender a discutir e a investigar o Diálogo filosófico, a Teoria do Conhecimento, a Lógica, a Ética e a Política e Estética. Esta caminhada que iniciamos não tem fim, pois iremos utilizar esses conhecimentos filosóficos durante toda a vida. E o desafio de um filosofar vivo é nos tornarmos gigantes, juntos na Comunidade de Aprendizagem Investigativa de sala de aula, para que outros possam apoiar-se em nossos ombros e enxergar mais longe ainda. Afinal, todos somos filósofos porque pensamos, refletimos, perguntamos, agimos, reconsideramos... Bons trabalhos para cada um e para todos nós, que formamos a COM.A.I. do 6.º ano com o Filosofar e viver. Silvio Wonsovicz Equipe de Assessoria Filosófica Editora Sophos e Centro de Filosofia Educação para o Pensar

1 UNIDADE COM E PELO DIALOGO, O EXERCICIO DO FILOSOFAR NA VIDA Diálogo filosófico Teoria do Conhecimento

1 Com e pelo dialogo, o exercIcio do FIlosofar na vida PENSAMOS: não parece ser nenhuma grande novidade. Mas o que anima, e muito, a Filosofia está no diálogo e na investigação de “como” e “onde” está o pensamento. Hoje certas descobertas sobre o cérebro produzem efeitos nas ciências, na vida comum e até na Filosofia. Os avanços no conhecimento do cérebro mostram que sabedoria não é sinônimo de conhecimento; que conhecimento não implica pensamento... Por que o cérebro se tornou o centro de um debate atual sobre o funcionamento da mente e o pensamento? Os conhecimentos atuais a respeito do cérebro através da Neurociência impulsionaram avanços e ampliaram os entendimentos e as investigações da Filosofia. Estamos no tempo que se anuncia como sendo “o momento do cérebro”. Esse órgão responde por todos os nossos comportamentos, emoções, sentidos, linguagem. Esse momento do cérebro talvez não traga soluções definitivas para problemas básicos da Filosofia, como, por exemplo, como o conhecemos? Mas pode certamente fazer aparecer alguns caminhos sobre como organizamos certas explicações. Diálogo filosófico Teoria do Conhecimento É possível dialogar sem filosofar? Onde se dá o pensamento? N Sou filósofo? N Estudos filosóficos e científicos N O filósofo e o diálogo constante sobre o cérebro N NaComunidadedeAprendizagem N Uma máquina pensante: o cérebro Investigativa o diálogo como motor N Percepção – Visão

CAPÍTULO 1 1 É possivel FIlosofar sem dialogar? 1.1 Sou filósofo? ! Todos somos filósofos enquanto pensamos e refletimos, escutamos e falamos, participamos e agimos. Silvio Wonsovicz Certamente, você já ouviu algumas definições sobre o que Copyright Iurii. Shutterstock.com. é Filosofia. Agora no 6.º ano e nos próximos, irá aprofundar seu conhecimento sobre a Filosofia fazendo algo que é natural em nós – filosofar. Todos somos filósofos. Você já pensou nessa afirmação antes ou é a primeira vez? Por Filosofia, podemos entender um modo de pensar, uma certeza e um posicionamento diante do mundo. Não é um conjunto de conhecimentos prontos, um pensar acabado sobre uma ideia, uma ação ou uma visão de mundo. Todos somos filósofos quando, de algum modo, nos colocamos diante da realidade procurando refletir sobre os acontecimentos a partir das vivências que temos conosco, com os outros e com a

Filosofar e viver 6.º ano 17 realidade. Como assim? Por meio da reflexão e do diálogo, buscando as raízes e o contexto, levando em conta os valores sociais, históricos, econômicos, políticos, éticos e estéticos. Isso faz com que o filósofo (agora, cada um de nós que irá ler, discutir e produzir ideias neste livro), pelo diálogo e pela reflexão, consiga questionar o agir humano. Como? N Pensando sobre as ciências – investigando e questionando sobre os seus métodos, valores, verdades e mitos... N Pensando sobre as religiões – refletindo e questionando sobre como se processam as realizações espirituais, as alienações, a dominação, os dogmas... N Pensando sobre as artes – refletindo e questionando sobre como se processam as expressões da sensibilidade, as alienações, a indústria cultural, a utilidade e a inutilidade da(s) obra(s)... N Pensando sobre a história – refletindo e questionando sobre a manipulação, as verdades parciais, a libertação, os movimentos sociais, as ideologias... N Pensando sobre a educação, a tecnologia, o direito, a comunicação, a moda, o consumo... N Pensando sobre o pensar... N Pensando... Copyright Nomad_Soul. Shutterstock.com Vamos criar e filosofar... 1. Estamos, como alunos do 6.º ano, construindo a Comunidade de Aprendizagem Investigativa em sala de aula – COM.A.I. Queremos, e os professores de todas as disciplinas também querem, que através do diálogo possam surgir a investigação, a discussão, a descoberta e a criação de ideias e soluções. Vamos pensar juntos: a. A disciplina de Filosofia tem a ver com a minha vida? Com a vida de toda a turma? ! b. Para você, o que é filosofar? c. E para a sua turma, o que é filosofar? Filosofia vem do grego phílos (= amigo, amante) e sophía (= conhecimento, saber). Tem tantas definições quantas são as correntes filosóficas (= formas de entender o mundo). Filosofia é a busca, é o amor pela sabedoria. O filosofar (condição natural nossa) é a busca por um saber mais profundo e abrangente do homem e da natureza que vai além dos conhecimentos concretos obtidos pelas ciências. Um conhecimento que orienta o comportamento, a maneira de ver e viver a vida. Essa condição natural em nós, de filosofar, é também uma busca, uma justificação racional de tudo (até das ciências) e dos valores. É um pensar mais radical para entender as origens e a validade das ideias e dos conceitos que temos sobre nós e sobre tudo que está ao nosso redor. Fonte: ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA DO BRASIL PUBLICAÇÕES LTDA. Rio de Janeiro: Encyclopaedia Britannica, Inc. 1999.

18 É possível filosofar sem dialogar? Capítulo 1 Ter uma atitude de ser “amigo da sabedoria” (como o filósofo e matemático Pitágoras defendia) é entender que nunca possuiremos uma compreensão definitiva sobre tudo, mas uma permanente busca e desejo de atingir o conhecimento. Nós, alunos do 6.º ano desta escola, na nossa cidade e em nosso país somos os “amigos dos amigos da sabedoria” – ou phílo philosophos –, pois queremos entender: N Como pensamos? (Teoria do Conhecimento) N Por que e como conseguimos organizar nossos pensamentos? (Lógica) N Como e por que agimos como agimos? (Ética) N O que nos capacita a viver em sociedade? (Política) N De que maneira nos deixamos conhecer e como vemos o mundo? (Estética) 1.2 O filósofo e o diálogo constante Agora, como “amigos dos amigos da Copyright Ammentorp Photography. Shutterstock.com sabedoria”, precisamos entender que filosofar é partir do que existe, criticar, colocar em dúvida, fazer perguntas, aprender a escutar, abrir as portas para outras possibilidades e outros modos de compreender a vida. Poderíamos resumir afirmando que, por meio do diálogo, isto é, de um “pensar crítico” sobre todas as áreas do saber e do agir humanos, podemos estar a caminho de um entendimento maior do mundo, do outro e de nós mesmos. Vamos filosofar e criar... 2. Como você vai se beneficiar pensando filosoficamente? 3. De que maneira a sua turma do 6.º ano, que começa a estudar de forma sistematizada neste livro Filosofar e viver, vai se beneficiar ao refletir e discutir sobre as grandes questões filosóficas da humanidade?

Filosofar e viver 6.º ano 19 Então, ao filosofar em sua sala de aula, na sua escola, na sua vida, você deverá, com e pelo diálogo Copyright Rawpixel. Shutterstock.com N buscar a raiz, a essência para investigar significados mais abrangentes das situações que se relacionam com o ser humano em sua totalidade; N defender a liberdade de pensar, respeitando e descobrindo os diversos significados da realidade; e N entender que filosofar é uma busca de um conhecimento lógico e sistemático a respeito do mundo, do homem e das suas transformações e ações. O filósofo Sócrates, por meio de sua prática filosófica chamada maiêutica (= pergunta e resposta) ou também denominada “o parto das ideias” (que acontecia pelo diálogo), levava as pessoas a pensarem mais sobre as verdades e a chegarem a conclusões, muitas vezes pensando como ele: “só sei que nada sei”. Traduzindo para os nossos dias: “quanto mais eu penso que sei, mais percebo que preciso saber mais”. Portanto, em nosso livro Filosofar e viver, da coleção Novo Espaço Filosófico Criativo, temos um diálogo constante. Primeiramente, um diálogo consigo mesmo (= reflexão) e com todos os seus colegas de sala de aula que formam a COM.A.I. e os ! demais colegas da escola e de sua vida. Na Grécia Antiga – séculos VI e V a.C. – se estabelecia pelo diálogo um filosofar fundamental e natural. N Sócrates dialogava em praça pública com todos os cidadãos, com os seus concidadãos e, principalmente, com os jovens. N Na literatura o gênero literário com aceitação popular eram as peças teatrais (de Ésquilo, Sófocles, Eurípides e Aristófanes), o que incentivou escritores e filósofos a se utilizarem desse gênero literário, pelo diálogo, para discutir sobre as ideias. N O grande mestre grego dos diálogos é indiscutivelmente Platão. Escreveu 42 diálogos entre fins do século IV a.C. E foi por meio dos diálogos que tivemos acesso ao pensamento de Sócrates, mestre de Platão, que nada deixou escrito de seu próprio punho. Os Diálogos de Platão distribuem-se em três grupos:

20 É possível filosofar sem dialogar? Capítulo 1 ! N 1.º diálogos da juventude ou socráticos: giram em torno dos conceitos e das definições de coragem (Laches), da piedade (Eutífron), da temperança (Cármides), do ensino moral (Protágoras), da inspiração poética (Íon), do belo (Hípias maior) e da mentira (Hípias menor); N 2.º diálogos da maturidade: a preocupação central é a procura da verdade em questões relativas à imortalidade da alma (Fédon), ao amor (O Banquete, Fedro), à política (A Política), à virtude (Menono ou Menão) e à retórica (Górgias); e N 3.º diálogos da velhice: consagrados ao conhecimento (Teeteto), às relações entre o ser e o não ser (Sofista), à filosofia da natureza (Timeu), à linguagem (Crátilo). Diálogos em que Platão faz a “revisão crítica da teoria das ideias”. Fonte: ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA DO BRASIL PUBLICAÇÕES LTDA. Rio de Janeiro: Encyclopaedia Britannica, Inc, p. 17, 1999. 4. Qual diálogo temos que construir na escola para haver um filosofar vivo e para que possamos aprender e viver bem? 1.3 Na Comunidade de Aprendizagem Investigativa o diálogo como motor A palavra “diálogo” resulta de duas palavras gregas: dia, que significa “através de”, + logos, que pode ser entendida como “significado”, “palavra”, “expressão”, “fala”, “verbo”, “relação”. O diálogo aproxima as pessoas, por meio dos significados que compartilham, para que possam compreender verdadeiramente umas às outras e estabelecer uma convivência de respeito mútuo. Portanto, dialogamos quando conseguimos deixar de lado nossas verdades para estarmos abertos às verdades do outro. Pelo diálogo, ampliamos a compreensão da realidade e construímos um novo pensar, capaz de atender às necessidades individuais e coletivas. O diálogo pode levar a uma nova inteligência coletiva, a um protagonismo juvenil, o qual entendemos ser a construção de lideranças e ações transformadoras. Copyright Rawpixel. Shutterstock.com

Filosofar e viver 6.º ano 21 Para o diálogo acontecer, é preciso N deixar de lado as verdades, não julgar; N refletir sobre o que diz e o que está sendo dito; e N aprender a ouvir (a si mesmo e o outro). Para construir a Comunidade de Aprendizagem Investigativa na sala do 6.º ano e esse ser um local privilegiado para a realização de uma nova “inteligência coletiva” com o “protagonismo”, é preciso que o diálogo N seja sobre o(s) assunto(s) levantado(s) e compartilhado(s) para permitir a aceitação de outras ideias e obter respostas criativas às necessidades de cada um e da turma; N comece pelo ouvir, principalmente quando houver pontos de vista discordantes no grupo; N não leve em conta uma única resposta ou linha de pensamento, porque assim se perde o poder de criação de novas ideias; N oportunize o respeito às diferenças, que sempre existem em todas as turmas de sala de aula, mas isso não é motivo para separar as pessoas; N nivele os papéis sociais e os status (professor, aluno, aquele que sabe mais...) para permitir que o ouvir e o falar abertamente aconteçam, bem como as contribuições dos envolvidos; N estabeleça responsabilidades e liderança para cada um em sala de aula, espaço democrático para o ouvir, o refletir e o dizer a palavra, de forma a garantir a participação de todos; N garanta que é fundamental falar para toda a comunidade, e não direcionar a conversa a apenas uma pessoa ou uma parte do grupo; N motive e dê confiança para que a participação seja útil ao grupo; N leve a uma participação atenta e ativa, expressando o que sente e imagina no momento, atento aos pensamentos dos participantes e buscando ir além da compreensão do grupo; N estabeleça uma participação equilibrada: reflexão, questionamento, defesa, reconsideração do ponto de vista... Atitudes necessárias para a sustentação do diálogo e a busca do significado que será compartilhado; N ... 5. Quais as regras com as quais precisamos estar de acordo para que haja o diálogo filosófico na nossa Comunidade de Aprendizagem Investigativa, a qual queremos construir dia a dia em sala de aula, em todas as disciplinas no 6.º ano? a b c d e f g

22 É possível filosofar sem dialogar? Capítulo 1 APRENDER A EMPREENDER: Empreendedorismo social Construir juntos a Comunidade de Aprendizagem Investigativa, exercitando o diálogo e as regras para construir sempre uma nova “inteligência coletiva” e desenvolver o protagonismo juvenil. O caso da “máquina registradora” O fato Um comerciante, ao acender as luzes de sua loja de roupas, depara-se com um homem pedindo dinheiro. O caixa abre uma das máquinas registradoras. O conteúdo da máquina registradora é retirado, o homem corre. Um membro da polícia é imediatamente avisado. Objetivos N Demonstrar como a busca do pensar em comunidade melhora a(s) decisão(ões). N Explorar o impacto que as suposições têm sobre as decisões. N Perceber que com e pelo diálogo é possível chegar ao entendimento comum. Procedimentos N Em dupla, a leitura e o entendimento sobre a história e as conclusões, marcando no quadro a seguir as declarações consideradas verdadeiras, falsas ou desconhecidas. N Em seguida, o professor amplia as duplas formando grupos de seis alunos para o diálogo e o trabalho de consenso do grupo, marcando novamente no quadro as declarações consideradas verdadeiras, falsas ou desconhecidas. N Agora abrindo para a COM.A.I. o diálogo sobre as respostas que foram levantadas, a justificação das suposições, as modificações de opiniões. N Em seguida, haverá um breve comentário acerca da experiência vivida e dos diálogos (grupo e turma), focalizando o impacto que as suposições causam sobre a decisão e os valores da turma. N O professor no final poderá anunciar as respostas corretas, caso a turma não chegue a um consenso.

Filosofar e viver 6.º ano 23 Declarações acerca da história: ) ) Verdadeiras – Falsas – Desconhecidas ) ) Suposições Decisão ) ) N a. Um homem apareceu assim que o proprietário acendeu as V ( ) F ( ) D ( ) ) luzes de sua loja de roupas. V ( ) F ( ) D ( ) V ( ) F ( ) D ( ) N b. O ladrão foi um homem. V ( ) F ( ) D ( V ( ) F ( ) D ( ) N c. O homem não pediu dinheiro. V ( ) F ( ) D ( N d. O homem que abriu a máquina registradora era o proprietário. V ( ) F ( ) D ( V ( ) F ( ) D ( N e. O proprietário da loja de roupas retirou o conteúdo da máquina V ( ) F ( ) D ( registradora e fugiu. V ( ) F ( ) D ( N f. Alguém abriu uma máquina registradora. V ( ) F ( ) D ( N g. Depois que o homem que pediu o dinheiro apanhou o conteúdo da máquina registradora, fugiu. N h. Embora houvesse dinheiro na máquina registradora, a história não diz a quantidade. N i. O ladrão pediu dinheiro ao proprietário. N j. A história registra uma série de acontecimentos que envolveu três pessoas: o proprietário, um homem que pediu dinheiro e um membro da polícia. N k. Os seguintes acontecimentos da história são verdadeiros: alguém pediu dinheiro, uma máquina registradora foi aberta e seu dinheiro foi retirado.1 ! Protagonismo juvenil A sua turma do 6.º ano deverá, a partir da atividade anterior e do conteúdo do capítulo “É possível filosofar sem dialogar?”, pensar e construir um projeto filosófico que leve as pessoas da escola a refletirem e dialogarem sobre os julgamentos apressados e os preconceitos sociais. 1 Respostas em: [email protected]

CAPÍTULO 2 2 Onde se dA o pensamento? Cantar e filosofar ! Pensamento Colocar música em uma cena é como escolher palavras Fonte: BERNARDO, Ras et al. Pensamento. Intérprete Cidade para um poema. Como disse Negra. In: CIDADE NEGRA. Sobre todas as forças. Rio de Janeiro: Arthur Shopenhauer: “as Epic Records/Sony Music, 1994. 1 CD. Faixa 10. palavras expressam a razão e a música, a emoção”. Encontre a música no canal: https://www.youtube.com Vamos refletir e dialogar em COM.A.I. N a. Na primeira frase da música, temos “Você precisa saber/O que passa aqui dentro”. Que espaço é esse a que a música se refere? N b. Como assim “Eu ganho o mundo sem sair do lugar/Eu fui para o Japão/Com a força do pensar”? N c. O que você entende com a afirmação “Nunca pense em desistir, não/ Te aconselho a prosseguir/O tempo voa rapaz/Pegue seu sonho rapaz/A melhor hora e o momento/É você quem faz”? N d. A turma do 6.º ano criará uma ilustração, desenho, montagem de fotos, vídeo... para essa música. Esta atividade da Comunidade de Aprendizagem Investigativa será exposta na sala ou apresentada na escola.

Filosofar e viver 6.º ano 25 Copyright Katarzyna Mazurowska. Shutterstock.com REFLEXÃO: O sonho, a paixão e a opinião Ainda muito pequena, Sofia descobriu algo que gostava de fazer, uma verdadeira paixão que fazia muito e não cansava: adorava dançar e sonhava em entrar para a Escola do Teatro Bolshoi do Brasil. Queria tornar-se a “primeira bailarina” do Ballet Bolshoi. Como dançava com verdadeira paixão, os pais desistiram de apresentar qualquer outra atividade e não mediam esforços para ajudá-la a realizar seu sonho. Quando chegou no 6.º ano, os colegas já sabiam: no coração de Sofia tinha lugar somente para sua paixão e tudo mais era sacrificado para tornar-se uma bailarina. Chegou o dia em que Sofia teve sua grande chance. Os pais também, entusiasmados, levaram-na para o teste de seleção de bailarinos da Escola do Teatro Bolshoi do Brasil. Era a chance de realizar com mais profissionalismo o seu sonho, dançar ballet e ser a “primeira bailarina” reconhecida internacionalmente. O diretor artístico e a equipe de professores do ballet estavam selecionando os aspirantes a entrarem na escola. Sofia dançou como se fosse seu último dia de vida, colocou tudo que sentia e que aprendera como se sua vida inteira até ali pudesse ser contada naqueles movimentos. Ao final, aproximou-se do diretor artístico da escola, que avaliava sua apresentação, e perguntou: - Então, o senhor acha que eu posso me tornar a “primeira bailarina”? Na viagem de volta a sua casa, não conseguindo conter as lágrimas, imaginou que nunca mais aquele “não” deixaria de ser ouvido em sua mente. Meses, anos se passaram até que pudesse novamente calçar uma sapatilha. Ou fazer seu alongamento em frente ao espelho. Anos mais tarde, Sofia, já uma estimada professora de ballet em sua cidade, criou coragem de ir à performance anual da Escola do Teatro Bolshoi em sua região. Sentou- se bem à frente e notou que o diretor artístico ainda era o mesmo. Após o concerto, aproximou-se e contou o quanto ela queria ter sido a “primeira bailarina” e o quanto doeu, anos atrás, ouvir ele dizer que não seria capaz. - Mas, minha filha, eu digo isso a todas as aspirantes, respondeu o diretor artístico. - Como o senhor pôde cometer uma injustiça dessas? Eu dediquei toda a minha vida. Todos diziam que eu tinha o dom. Eu poderia ter sido “a primeira bailarina” se não fosse o descaso com que o senhor me avaliou. Com uma voz solidária e compreensiva, ele não hesitou na resposta: - Perdoe-me, minha filha, mas você nunca poderia ter sido grande o suficiente se foi capaz de abandonar seu sonho por causa da opinião de outra pessoa. (Texto adaptado de autoria desconhecida)

26 Onde se dá o pensamento? Capítulo 2 Para discutir na COM.A.I. 1. Após a leitura e a discussão do texto, qual é o ensinamento que essa história traz para nós? 2. Onde estavam o pensamento e a ação de Sofia no querer ser e no desistir após um comentário? É comum mudarmos o sonho a partir das opiniões dos outros? Desafio: procure organizar, de maneira criativa, uma forma para que essa reflexão possa ser vista por toda a sua escola, principalmente nesse começo de ano. 2.1 Estudos filosóficos e científicos sobre o cérebro Temos em nosso corpo uma estrutura complexa – o cérebro. Também conhecido por metáforas como “a morada dos pensamentos”, “um computador perfeito” e “a grande fábrica de conhecimentos”, o cérebro tem sido estudado e investigado por diversos ramos do saber. O desafio é conhecer, entender as complexas relações entre a aquisição do conhecimento, a percepção da realidade, o comportamento humano e as complexas atividades do sistema nervoso. Daí termos as várias áreas de estudos focadas nesse órgão fundamental e fascinante: N Teoria do Conhecimento - desde os Copyright Mopic. Shutterstock.com primeiros filósofos, na Grécia Antiga, procurando o entendimento de como se processa o conhecimento humano. N Filosofia da mente - ramo recente da Filosofia que compreende uma inter-relação entre saberes das várias ciências em que interagem o cérebro e a mente. N Neurociência - tem por objetivo estudar o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso central com as milhares de funções, a partir de uma perspectiva biológica.

Filosofar e viver 6.º ano 27 N Neuropsicologia - tem como objetivo estudar cientificamente o comportamento do indivíduo e como esse se relaciona com as estruturas cerebrais. Uma das metas é reconhecer a causa de distúrbios da cognição e de determinados comportamentos humanos. N Teorias cognitivas - por meio das ciências cognitivas, há uma procura em estudar as funções cerebrais com o objetivo de desenvolver o conceito de “inteligência artificial”. N Teoria quântica - o termo quantun vem do latim e significa simplesmente quantidade, mas é usado para designar a menor unidade de qualquer propriedade física, tal como energia ou matéria. A física quântica afirma que nós criamos nossa realidade e que até mesmo o mundo material é criado por nós, momento a momento. Percebemos que as pesquisas cada vez mais se dirigem para essa parte fundamental do nosso organismo e sobre a qual ainda pouco sabemos. Estudiosos não conseguem, por exemplo, explicar exatamente onde está a diferença entre irmãos, sendo um deles um gênio no esporte e outro não tendo noção de movimento. Deixando de lado os fatores ambientais e culturais, as questões continuam abertas: N Onde se encontram os elementos diferenciais na constituição das habilidades e da inteligência? N Como se forma a mente humana? N A mente humana confunde-se com a alma ou se trata do resultado de eventos elétricos e químicos no cérebro? N Poderá um dia a mente humana ser compreendida por ela mesma? Essas e outras questões são antigas e levantadas desde o começo da civilização ocidental na Grécia, numa época em que o homem passava a ser o centro das atenções nas investigações filosóficas. Não por acaso, N o filósofo Alcméon, habitante de Crotona, uma cidade grega ao sul da atual Itália, no século V a.C., iniciou o estudo das relações entre cérebro e comportamento. Sua pesquisa se deu pela dissecação de cadáveres com a busca no cérebro para o segredo das atitudes humanas; N na mesma época Hipócrates, um dos fundadores da medicina, investigou e chegou a conclusões sobre a função do cérebro como espaço da consciência e responsável pelos movimentos do corpo; N o filósofo pré-socrático Empédocles afirmava: “para os homens, o sangue que lhes flui em volta do coração é o pensamento”; N Platão defendia que a mente estava na cabeça, uma esfera, a forma geométrica perfeita; N para Aristóteles, a mente habitava o coração, pois estava no espaço vital e de calor do corpo; N na Idade Média acreditava-se que o cérebro era somente o abrigo da mente;

28 Onde se dá o pensamento? Capítulo 2 N no século XVII, Descartes afirmava que a mente devia, de fato, residir no cérebro, mas como algo separado, imaterial; N no século XVIII, para o anatomista Franz Joseph Gall, as funções mentais estavam localizadas em regiões específicas do córtex cerebral. Essa comprovação das funções mentais em áreas específicas do cérebro relacionadas à cognição só ocorreu no século passado; e N já Pierre Paul Broca em 1861 investigou uma lesão no cérebro que provocou sérios distúrbios na expressão verbal. Chegou à conclusão de que essa área é a responsável pela linguagem. Com essas e outras descobertas, abriram-se enormes campos de estudos e pesquisas no “espaço misterioso das ideias”, no qual se localizam os segredos do homem. Os estudos iniciados na Grécia Antiga e ampliados até hoje abrem investigações sobre as estruturas cerebrais envolvendo as composições moleculares das redes de neurônios. As descobertas das áreas do cérebro responsáveis por atividades elementares contribuem para o entendimento do funcionamento específico de cada função. E os estudos comprovam a maravilha que é a intercomunicação entre as diversas partes do cérebro. Avanços tecnológicos apontam caminhos a alguns mistérios que sempre intrigaram, desde o mundo grego dos primeiros filósofos até os cientistas atuais. Esses avanços produzem equipamentos cada vez mais sofisticados com capacidade de imagens que permitem mapear as áreas do cérebro que são acionadas. Quando o seu time joga ou quando você sente um friozinho na espinha por causa de um medo, pode-se ver a formação do pensamento em manchas

Filosofar e viver 6.º ano 29 coloridas que se distribuem por áreas distintas do cérebro, o que não deixa de ser fantástico. Imagine os avanços que virão! Os estudos dessas áreas no cérebro resultam em mapeamentos cada vez mais perfeitos das funções cerebrais, oferecendo caminhos para a cura de várias doenças e para o entendimento dos mistérios que se encontram no centro (ou topo) do corpo humano. Vamos filosofar e criar... 1. O que você poderia dizer da expressão “sótão escuro das ideias ou espaço misterioso das ideias” caso não tivesse havido todo esse progresso para o entendimento do que é o cérebro humano? 2. Pensar como se processa o conhecimento (= Teoria do Conhecimento) somente com o que os filósofos investigaram e descobriram, deixando de lado as pesquisas da Filosofia da mente, da Neurociência e de outras áreas, seria o melhor caminho? 3. Avanços tecnológicos dão soluções a alguns mistérios que atormentam os filósofos e os cientistas há milhares de décadas. Equipamentos obtêm imagens que permitem mapear áreas do cérebro acionadas. A partir dessa afirmação e visualizando as ilustrações do cérebro, escreva o que você aprendeu com essa forma de ver a “morada dos pensamentos”.

30 Onde se dá o pensamento? Capítulo 2 Vamos criar e filosofar... 4. Vamos fazer o caça-palavras para o preenchimento do texto a seguir e a recapitulação dos conteúdos vistos. N O filósofo ......................................., habitante de Crotona, uma cidade grega do sul da atual Itália, no século V a.C., foi o introdutor do estudo das relações entre cérebro e comportamento. Ele dissecou cadáveres e buscou no cérebro o segredo para as atitudes humanas. N Hipócrates., um dos fundadores da medicina, percebeu a função do cérebro na manutenção da consciência e como controlador dos movimentos. N ..............................................., filósofo que afirmava: “para os homens, o sangue que lhes flui em volta do coração é o pensamento”. N ............................................... defendia que a mente estava na cabeça, uma esfera, a forma geométrica perfeita. N ....................................... acreditava que a mente vivesse no coração, centro de vitalidade e calor do corpo. N Na Idade Média se imaginava que o cérebro fosse ................................................................ N No século XVII, ........................................ afirmava que a mente devia, de fato, residir no cérebro, mas como algo separado, imaterial. N No século XVIII, o anatomista ........................................................... concluiu que as funções mentais seriam localizadas em regiões específicas do córtex cerebral. A comprovação de que áreas específicas do cérebro estavam relacionadas à cognição só ocorreu no século passado. N Em 1861, ..................................................................... descobriu que uma grave lesão na base do terceiro giro frontal esquerdo provocava sérios distúrbios na expressão verbal. O cientista chegou à conclusão, tempos depois, de que essa área era o centro da imagem motora das palavras. Aristóteles – Platão – Pierre Paul Broca – Descartes – Franz Joseph Gall – Alcméon – Empédocles – Hipócrates – O abrigo da mente

Filosofar e viver 6.º ano 31 5. Investigar o conhecimento leva a pensar nos gênios. Você certamente já ouviu a !expressão “de gênio e louco todo mundo tem um pouco”. Gênio são as pessoas que propõem, criam, veem de maneira diferente a realidade, inovam, inventam nas mais diversas atividades humanas, são inteligentes. O esforço empregado pelo gênio naquilo que acredita leva a mudanças na maneira como podemos ver o mundo ou a área do trabalho em que o esforço foi realizado. Um gênio é um ser inteligente, capaz de utilizar a sua genialidade para transformar a realidade, podendo proporcionar muitos benefícios e mudanças. Todos somos gênios? Existem várias maneiras de perceber e que mostram as grandes dificuldades do estudo dos gênios. N Em primeiro lugar, a própria definição de gênio é subjetiva, tendo várias maneiras de definir. Há a defesa de que todos com um QI (quociente de inteligência) mais elevado são gênios, bem como outros que dizem que esse teste mede apenas uma parte limitada da inteligência. Porém, existem pontuações altas no teste de QI, mas que não estão muito relacionadas com o ser gênio. N O conceito de gênio é variado. A maioria das pesquisas científicas e médicas examina os detalhes. Um conceito tão subjetivo quanto o de gênio não é fácil de medir, analisar ou estudar. N a. O que leva uma pessoa a estar preparada para realizar uma atividade de forma genial? N b. Uma pessoa considerada gênio tem um cérebro diferente e mais ágil? N c. O gênio tem sempre uma inteligência excepcional? APRENDER A EMPREENDER: Empreendedorismo social Construir juntos a Comunidade de Aprendizagem Investigativa, exercitando o diálogo e as regras para construir sempre uma nova “inteligência coletiva” e desenvolver o protagonismo juvenil.

32 Onde se dá o pensamento? Capítulo 2 “Gênio e louco, todos somos um pouco: lições de empreendedorismo” Quais ideias temos para partilhar na COM.A.I. lendo a frase de Albert Einstein sobre a genialidade: “talento que é 10% de inspiração e 90% de transpiração”? E também no mesmo sentido a frase de Thomas Edison: “talento é 1% e transpiração é 99%? Vamos ler o texto a seguir e ver se de gênio e louco todos temos um pouco. N Grandes inventores, pensadores e filósofos de todos os tempos nos dão lições de empreendedorismo. Inventaram e socializaram ensinamentos, pensamentos e posturas valiosas, norteadores de vidas, de ações e de empreendedorismos sociais (lembra-se da frase “suba no ombro dos gigantes”, que consta na introdução do nosso livro?). N Precisamos saber mais sobre os grandes empreendedores e inventores. N Lições de empreendedorismo a partir de ideias (agora Thomas Edison) que precisamos levar em conta ao pensarmos no Aprender a empreender: Empreendedorismo social. - Talento é 1% de inspiração e 99% de transpiração: o sucesso em qualquer área da vida exige trabalho e esforço, nada surge do nada. Portanto, talento é transpiração... - Insatisfação: mostra-me um homem cem por cento satisfeito e eu mostrar-te-ei um fracassado. Um eterno insatisfeito é o que precisamos ser, pois procuramos soluções inovadoras.

Filosofar e viver 6.º ano 33 - Persistência: “nossa maior fraqueza está em desistir. O caminho mais certo de vencer é tentar mais uma vez”. Ser empreendedor é saber dos tropeços e dos insucessos, mas treinar e se preparar pelo esforço, pela obstinação e pela determinação para não desistir. - Intuição: “A surdez foi de grande valia para mim. Poupou-me o trabalho de ficar ouvindo grande quantidade de conversas inúteis e me ensinou a ouvir a voz interior”. Acreditar, seguir o sonho e não desanimar por qualquer comentário. - Erros e acertos: “aprendi muito mais com os meus erros do que com os meus acertos”, pois “cada tentativa errada descartada é outro passo à frente”. Errar é o incentivo para ousar novamente, tentar novamente. Acertar é perceber que devemos pensar mais sobre e imaginar novos cenários. N O Empreendedorismo social neste momento é pesquisar sobre grandes gênios que mudaram a sua realidade e de outros ao proporem mudanças na forma de ver o mundo e sonharem com novas realidades. Em COM.A.I. vocês deverão apresentar essa pesquisa sobre dois ou três gênios ou loucos que influenciaram a humanidade em novos rumos a partir do que propunham. Vocês deverão colocar as pesquisas em destaque por diversos lugares da escola. 2.2 Uma máquina pensante: o cérebro As perguntas que os primeiros filósofos levantaram sobre o conhecimento, a inteligência e o raciocínio, juntamente com outras perguntas feitas por cientistas e pesquisadores, começam a ser desvendadas. Pensar o cérebro hoje, com os avanços nas diversas áreas e como um enorme e complexo computador, gera perguntas: N O cérebro humano é capaz de desvendar seu próprio funcionamento? N O mundo é o que percebemos ou tudo é uma ilusão? N Nós criamos cada objeto quando o percebemos? N Será que sempre vivemos mergulhados em ilusões? Essas e outras questões são antigas, muitos debates foram iniciados desde os primeiros filósofos na Grécia Antiga e somente agora algumas questões começam a ter pontas de respostas. Conhecemos a nós, os outros e o mundo por meio dessa maravilhosa máquina pensante – o cérebro. Com uma estrutura de aproximadamente um quilo e quatrocentos gramas de material orgânico, com trilhões de neurônios conectados, a realidade é recriada a cada instante, dia e noite. O cérebro realiza tarefas incríveis para o corpo viver. O maravilhoso é que essas e outras tarefas são coordenadas, controladas, reguladas e ampliadas por uma massa cinzenta relativamente pequena, mas que controla todo o nosso organismo.

34 Onde se dá o pensamento? Capítulo 2 N O cérebro é o responsável pelo controle da temperatura do corpo, da pressão arterial, da frequência cardíaca e da respiração. N Responsável por milhões de informações, pelos cinco sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato). N Comanda todos os movimentos físicos quando andamos, falamos, ficamos em pé ou sentados, dormimos. N É o canal pelo qual pensamos, sonhamos, raciocinamos e sentimos as emoções. Características do cérebro humano N É o responsável pela existência física dentro de uma complexidade e extensão. N Situa-se numa parte do organismo que o deixa imóvel e bem protegido. N Do total de peso do corpo, corresponde aproximadamente a apenas 2% do nosso peso. N Recebe em torno de 25% de todo o sangue que o coração bombeia. N Divide-se em duas metades chamadas de hemisfério esquerdo e hemisfério direito. Os estudiosos do cérebro e do sistema nervoso (neurocientistas e neurobiologistas) maravilham-se com a fantástica malha de cem bilhões de neurônios que se espalham por alguns quilos de material orgânico. Essa máquina pensante – o cérebro – está ligada pela medula espinhal e por nervos periféricos, os quais compõem um sistema de controle e processamento integrado de informações. Após essa visão do cérebro, vamos iniciar o estudo sobre a Teoria do Conhecimento e perceber conceitos como controle motor, processamento visual, processamento auditivo, sensações, aprendizagem, memória e emoções. Por que pensamos? Vamos filosofar e criar... 6. Como lemos no texto, temos uma fantástica “máquina pensante”. Juntamente com os seus colegas do 6.º ano, na COM.A.I. de sala de aula, após conversarem sobre o mau uso que muitos fazem da sua inteligência e do desperdício de possibilidades, escreva um pequeno texto sobre essa maravilha que é o nosso cérebro.

Filosofar e viver 6.º ano 35 7. A questão é encontrarmos respostas à pergunta: por que e como pensamos? Mas antes iremos discutir em pequenos grupos sobre como pensamos. Depois é hora de você colocar suas ideias abaixo sobre por que pensamos. Vamos criar e filosofar... 8. No momento em que o mecanismo cerebral encontra uma resposta lógica, o cérebro dá o assunto por encerrado e fica com preguiça de procurar outras soluções possíveis. Acontece que nem sempre a primeira resposta está correta. Faça agora o teste da leitura e escreva a quais conclusões você chegou. De aorcdo com uma pqsieusa fieta numa uinrvesriddae inlgsea, não ipomtra em qaul odrem as lrteas de uma plravaa etãso, a úncia csioa iprotmatne é que a piremria e útmlia lrteas etejasm no lgaur crteo. O rseto pdoe ser uma ttaol bçguana que vcoê pdoe anida ler sem pobrlmea. Itso é poqrue nós não lmeos cdaa lrtea isladoa, mas a plravaa cmoo um tdoo. 2.3 Percepção – Visão ! Os filósofos durante séculos vêm Olhos: um dos órgãos do discutindo os modos como se pode conhecer corpo responsável por um o mundo exterior. As discussões refletem dos sentidos mais utilizados uma preocupação quanto à validade das para a nossa percepção do experiências sensoriais. mundo. Embora o entendimento do mundo venha da informação captada pelos nossos sentidos, podemos confiar nos sentidos

36 Onde se dá o pensamento? Capítulo 2 para conhecer a verdade? Não podemos estar iludidos em relação ao mundo? Talvez, como Platão sugeriu no livro VII de A República, somos prisioneiros em uma caverna, longe da realidade de maneira que só vemos sombras do mundo exterior. A importância de pensar sobre a percepção pode ser medida pelo tratamento dado ao assunto. N Platão considerava a visão correta dos objetos fundamental para o conhecimento verdadeiro. Segundo o mito da “parelha alada”, encontrado no diálogo Fedro, o filósofo é aquele que num mundo ulterior tenha percebido as essências com maior atenção. N Descartes questionava todo e qualquer conhecimento adquirido pela percepção por meio dos cinco sentidos. Ele intuitivamente acreditava que o sentido da “propriocepção” (sentido interno do próprio corpo, desconhecido em sua época) é fundamental para a ! formação de um “eu” pensante. Na Teoria do Conhecimento Aprendemos que temos cinco como nas ciências cognitivas, a sentidos: visão, audição, olfato, tato e percepção tem sido fonte de intensas paladar. Há, entretanto, outro sentido pesquisas. Trata-se, afinal, de saber muito importante, a propriocepção como a mente humana transforma ou consciência da posição do as informações dos sentidos em corpo. É o sentido que faz com que percepção consciente. A percepção o cérebro desenvolva um mapa visual, de modo mais intenso, é o foco interno do corpo, de modo que das atenções dos estudiosos. fazemos atividades sem precisar monitorar tudo visualmente o tempo todo. A maioria das pessoas Percepção e realidade ignora a existência desse sentido. Isso é um problema particularmente sério quando ele não funciona bem. Quando utilizamos os sentidos e esses correspondem ao que realmente é, dizemos que percebemos a realidade. Mas podemos estar enganados pelas ilusões dos sentidos ou por alucinações. As “ambiguidades da percepção”, que nas ciências são chamadas de camuflagem ou mimetismo, são perceptíveis em diversas espécies animais e vegetais. Temos como exemplo borboletas com desenhos semelhantes a olhos de pássaros que assustam os predadores.

Filosofar e viver 6.º ano 37 ! Imagem ambígua. O animal da figura pode ser uma girafa ou um pinguim. Um exemplo de “percepção mutável”. Então, ao vermos a relação entre percepção e realidade, percebemos que as sensações, sozinhas, não são capazes de prover uma descrição única do mundo. Aqui temos algumas posições filosóficas para pensarmos. 1. Existe o chamado realismo ingênuo – geralmente defendido por pessoas pouco informadas e por quem inicia o estudo da percepção. Diante da pergunta: “Por que o mundo aparece para você dessa maneira?”, o realista ingênuo responderá: “Porque o mundo é desta maneira”. Porém, pessoas diferentes têm experiências do mesmo acontecimento de maneira diferente. Por exemplo, crianças podem não ver objetos pequenos que os adultos conseguem ver; jovens ouvem alguns sons que os adultos não conseguem ouvir; e algumas pessoas são insensíveis a odores que outros cheiram. Afinal, todos vivem no mesmo mundo físico? Para o realismo ingênuo ser válido, os nossos mundos perceptivos não deveriam ser idênticos? 2. Temos o idealismo subjetivo, que considera o mundo físico como produto da mente. É a posição filosófica de George Berkeley, que resume a ideia na expressão “ser é perceber” (percepcionar). Quando levada ao extremo, essa posição leva ao solipsismo: ideia de que só a nossa mente existe e todos os outros objetos no mundo são percepções da nossa mente. 3. Rejeitando o realismo ingênuo e o idealismo subjetivo, o que aceitar quanto às relações entre as percepções humanas e o mundo real? Sabemos da existência do mundo real, a qual não depende de um observador, e reconhecemos a contribuição do próprio observador para o processo da percepção. Então, para compreender a importância da percepção da realidade, temos de estudar não só as propriedades do mundo físico, mas também as propriedades do observador.

38 Onde se dá o pensamento? Capítulo 2 Influências e princípios na percepção da realidade Percepção é a atenção ou observação seletiva que efetuamos sobre a realidade. Esse processo faz com que percebamos alguns elementos e outros não. Temos, então, vários fatores que influenciam a atenção e que estão agrupados em duas categorias: os fatores externos (no meio ambiente) e os fatores internos (no indivíduo com o seu interior). Fatores externos Fatores internos São os que apresentam São os que apresentam N intensidade: a atenção é despertada N motivação: a atenção é maior àquilo por estímulos intensos, por isso as que nos motiva e dá prazer; sirenes do carro de bombeiro; N experiência: é a força do hábito que N contraste: a atenção é despertada faz com que prestemos mais atenção por estímulos, por isso os sinais de ao que já conhecemos e entendemos; e trânsito são pintados em cores vivas e N fenômeno social: a atenção é maior contrastantes; às coisas que fazem parte da cultura ou N movimento: elemento principal no do grupo. Exemplo disso é a força de um despertar da atenção, por isso brinquedos esporte, um tipo de música... que se movem despertam reações e interesses nas crianças; e N incongruência: a atenção é despertada para as coisas absurdas e bizarras, por isso chama mais atenção numa praia em pleno verão alguém vestido de terno na areia do que as pessoas em trajes de banho. Tipos de percepção Os nossos sentidos são muito ! mais complexos do que sempre nos disseram. A ideia de que temos apenas cinco formas de perceber o Um vaso ou duas faces se olhando? mundo foi formulada por Aristóteles Depende da escolha do que é figura (o no século IV a.C. e, de forma um tanto tema da imagem) e do que é fundo. impressionante, permanece popular até hoje. Além da percepção ligada aos cinco sentidos, possuímos a capacidade de percepção temporal e espacial, além de outras. Historicamente, temos mais desenvolvidas a percepção visual e a percepção auditiva, pois durante muito tempo foram fundamentais à sobrevivência da espécie (ver e ouvir para a caça e a proteção contra os predadores). Isso explica por que as artes plásticas e a música foram as primeiras formas de arte a serem desenvolvidas por todas as civilizações antes mesmo da invenção da escrita. As outras percepções da realidade (olfato, tato e paladar), embora não associadas às necessidades básicas, têm importância na afetividade e na reprodução.

Filosofar e viver 6.º ano 39 N Percepção visual: pela visão, que é a percepção dos raios luminosos, temos a forma de entendimento da realidade. Entender o mundo pela percepção visual compreende o entendimento de formas, de relações espaciais como profundidade, de cores através da intensidade luminosa e de percepção dos movimentos. N Percepção auditiva: uma aplicação particularmente ! importante da percepção auditiva é a música. Em geral, ela possui estruturação, boa forma, O triângulo de Kanizsa figura, fundo (representada pela melodia e pelo demonstra o princípio do acompanhamento), gêneros e formas musicais. fechamento – vemos um Entre os fatores considerados no estudo da triângulo branco sobreposto percepção auditiva, estão os timbres, a altura ou à figura, como uma figura a frequência, a intensidade sonora ou o volume, o completa e fechada, ritmo e a localização auditiva. embora ele só seja sugerido por falhas nas demais N Percepção olfativa: este sentido é relativamente formas que compõem a pouco desenvolvido nos humanos, mas é importante figura. para a alimentação e a afetividade. A perfumaria e a enologia são aplicações dos conhecimentos de percepção olfativa. Entre outros fatores, na percepção olfativa temos a descrição dos odores e o alcance olfativo. N Percepção gustativa: pela língua, o paladar nos proporciona o sentido dos sabores. Mesmo sendo um dos sentidos menos desenvolvidos nos humanos, o paladar é geralmente associado ao prazer. Na sociedade contemporânea verificamos a valorização do paladar sobre os aspectos nutritivos dos alimentos. A arte culinária e a enologia são aplicações importantes da percepção gustativa. N Percepção tátil: acontece pela pele e é sentida por todo o corpo. Permite reconhecer a presença, a forma e o tamanho de objetos em contato com o corpo e também sua temperatura. Além disso, o tato é importante para o posicionamento do corpo e a proteção física. O tato tem papel importante na afetividade e no sexo. Entre os fatores presentes na percepção tátil, estão a capacidade de distinguir objetos de pequeno tamanho, a percepção do calor, da dor...

40 Onde se dá o pensamento? Capítulo 2 Quantos sentidos tem o ser humano? A ciência concluiu que os sentidos passam de 20 e são bastante maleáveis e complexos. Ao estudar sobre a percepção, coisas incríveis acontecem: pessoas podem enxergar pela língua ou pelo ouvido, ou pintar coisas que nunca viram, até mesmo sentir o tato só pela visão. Estamos diante de uma ciência que estuda novos sentidos e que pode mudar muito do que sabemos sobre a realidade à nossa volta. Novos caminhos abrem descobertas interessantes sobre como percebemos o mundo. O que está em jogo é a forma com que lidamos e sabemos sobre tudo o que existe. É possível que essas pesquisas mudem toda a nossa relação com a realidade. O que estaremos vendo e ouvindo daqui a algumas décadas? Torna-se difícil prever. O que sabemos é que existem pessoas que parecem ter outros sentidos. Por exemplo: N existe quem consegue perceber mudanças no clima com dias de antecedência; N mães que conseguem perceber quando seu(sua) filho(a) está querendo aprontar alguma; e N existe quem sente e percebe quando alguém está nos observando (aqui a explicação do que chamamos de “olhos atrás da cabeça”). Copyright Sebastian Kaulitzki. Shutterstock.com Não há provas científicas de nenhum desses “novos” sentidos elencados, mas todos são formas de entendermos a nós e o mundo em que vivemos e estamos. Nós podemos, muitas vezes, ser enganados por ilusões visuais. Sabemos que as pessoas enxergam de modo diferente devido a problemas como miopia, hipermetropia, daltonismo ou astigmatismo e que essas visões dos objetos podem ser mais embaçadas ou com cores diferentes. O estudo da visão humana pode ser feito pelo seu lado anatômico, fisiológico ou psicológico, entre outros, com o objetivo de esclarecer um pouco mais sobre nossa percepção visual. Algumas questões: N O que acontece no nosso sistema visual para realmente vermos as coisas? N Com os olhos perfeitos conseguimos ver o que precisamos ou temos um repertório cultural apreendido desde o nascimento que pode “modelar” nossa forma de ver? N Que estímulo luminoso recebe o cérebro para realmente ver algo? Certamente, nossa percepção é diferente de quem convive mais em contato com uma floresta, como os indígenas, por exemplo. Também podemos investigar como o contato com a televisão, o cinema, a fotografia, o computador e outras tecnologias da mesma natureza visual altera a nossa percepção. Fonte: WIKIPÉDIA. Percepção visual. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Percep%C3%A7%C3%A3o_visual>. Acesso em: 10 maio 2015.

Filosofar e viver 6.º ano 41 Vamos filosofar e criar... 9. A percepção e a visão foram objeto de investigações e discussões. Como nos ajudam a ter conhecimentos? 10. Filósofos afirmaram que os sentidos nos enganam. O que você pensa sobre isso? Você deve exemplificar sua resposta, concordando ou não com a afirmação. 11. Na parte do nosso aprofundamento “Quantos sentidos tem o ser humano?”, foi feita a afirmação de que temos muito mais do que os cinco sentidos para conhecermos o mundo. Procure discutir em COM.A.I. sobre os outros sentidos e registre com exemplos quais outros sentidos temos para conhecer o mundo. ! Curiosidades sobre o cérebro e o corpo Sua tarefa é ampliar a busca por outras curiosidades e apresentar nas outras aulas que você tem na sua escola. N 1,4 kg é o peso do cérebro humano. Esse consome 25% do oxigênio que respiramos. N O cérebro de um recém-nascido cresce quase três vezes o seu tamanho durante o primeiro ano. N O cérebro humano é mais complexo do que o de qualquer animal na Terra. Em comparação com o tamanho do corpo, o nosso cérebro é bastante grande, o que não acontece com mais nenhum outro animal. N Durante o crescimento, o cérebro vai ficando enrugado. Caso estendido, mediria aproximadamente dois metros. N O cérebro humano é o que possui mais pregas entre todos os seres vivos, enquanto o cérebro de um gorila, apesar de ter o mesmo peso, só mediria uma quarta parte do tamanho do cérebro humano. N O cérebro está dividido em duas partes (hemisférios). O lado esquerdo controla o lado direito do corpo; e o lado direito controla o lado esquerdo do corpo. N O cérebro possui 12 milhões de células nervosas (neurônios). N Os impulsos nervosos podem ser transmitidos pelos nervos ou pelas fibras musculares a uma velocidade superior a 320 km/h.

42 Onde se dá o pensamento? Capítulo 2 ! Que ‘máquina’ maravilhosa o nosso corpo! N O olho humano é capaz de distinguir 10.000.000 de diferentes tonalidades. N Com uma média de 70 batidas por minuto, o coração bate 37 milhões de vezes por ano. N Cada soluço dura menos de um segundo e ocorre com uma frequência normal e regular de cinco a 25 vezes por minuto. O livro dos recordes menciona um soluço que durou 57 anos. N Uma pessoa normal tem em média cerca de 1.460 sonhos por ano. N O cabelo cresce cerca de 0,6 cm por mês e mais depressa pela manhã do que em qualquer outra hora do dia. (selecionadas pelo autor de sites na internet) Educação afetiva e ética sexual Visão, percepção e construção do homem N Participantes: Toda a COM.A.I. dividida em dois grupos. N Tempo estimado: 30 minutos. N Material: Pincel, folhas de jornal, tesoura e fita adesiva. N Descrição: O professor montará três grupos com o mesmo número de participantes. O primeiro grupo montará um boneco usando folhas de jornal, mas trabalhando em equipe. Para isso, deverá trabalhar em um canto da sala no qual não possa ser visualizado pelas pessoas que não participam do grupo. O segundo grupo deverá montar outro boneco. Cada pessoa do grupo deverá confeccionar uma parte do boneco e não poderá dizer para ninguém que parte é a sua nem mostrar (para que isso ocorra, é recomendado que sentem longe uns dos outros). O terceiro grupo somente irá observar e anotar tudo o que acontece nos dois grupos, fazendo a conclusão dos trabalhos por escrito em forma de um texto. O boneco deve ser confeccionado na seguinte ordem: 1.ª pessoa: cabeça 6.ª pessoa: braço direito 11.ª pessoa: perna esquerda 2.ª pessoa: orelha direita 7.ª pessoa: braço esquerdo 12.ª pessoa: pé direito 3.ª pessoa: orelha esquerda 8.ª pessoa: mão direita 13.ª pessoa: pé esquerdo 4.ª pessoa: pescoço 9.ª pessoa: mão esquerda 5.ª pessoa: corpo (tronco) 10.ª pessoa: perna direita N Tempo para essa montagem do boneco, aproximadamente 10 minutos. N Os participantes do segundo grupo não poderão ser visualizados, de modo que irão confeccionar partes de tamanhos e formas diferentes, porque não trabalharam em equipe.

Filosofar e viver 6.º ano 43 N Pedir às duas equipes que montem na parede, com a ajuda de uma fita adesiva, !suas construções do boneco. N Consequências Pedir aos grupos que falem o que A 1.ª equipe fez um boneco. observaram, bem como as pessoas A 2.ª equipe, por seus integrantes não que não participaram dos grupos, e terem trabalhado juntos... digam que conclusão tiraram disso Agora todos vamos discutir em COM.A.I. tudo. O grupo três deverá organizar como seriam nossas ideias e ações caso um texto falando sobre a atividade não houvesse uma organização e uma e a questão Educação afetiva e “morada dos pensamentos”. ética sexual. Sessão “Acenda as luzes”: Filme “O fantástico Sr. Raposo” Sinopse: O Sr. Raposa e a Dona Raposa levam uma vida pacata, tranquila com o seu filho Ash e o jovem sobrinho que se hospeda na casa deles, Kristofferson. Mas, após 12 anos de uma vida doméstica tranquila, a existência bucólica se torna um fardo para os instintos selvagens do Sr. Raposo. Logo ele retoma os antigos hábitos de ladrão de galinhas e não apenas coloca em risco a segurança de sua família, como ameaça também toda a comunidade animal. Presos debaixo da terra sem comida suficiente para sobreviver, os animais se unem para lutar contra os malvados fazendeiros Boque, Bunco e Bino, que estão dispostos a capturar o audacioso e fantástico Sr. Raposo. No final das contas, ele usa seus instintos animais para salvar a família e os amigos. Poderá ser encontrado no canal: https://www.youtube.com A lógica das piadas O humor é um produto da capacidade humana para criar julgamentos rápidos e intuitivos. Homens e mulheres reagem de maneira diferente à mesma anedota. Algumas pessoas podem levar um pouco mais de tempo do que outras para considerar as piadas como engraçadas ou não. Porém, piadas sendo inteligentes levam todos ao divertimento. Piada epistemológica Na Cidade do Conhecimento ocorreu um homicídio que foi presenciado apenas por uma testemunha. No decorrer das investigações, o delegado instaurou o inquérito policial e ouviu a testemunha. Para sua surpresa, o indiciado tinha um irmão gêmeo, impossibilitando, assim, o reconhecimento do verdadeiro culpado. Na dúvida, o delegado prendeu os dois irmãos. Durante os dois meses que passaram presos, um deles engordou 15 quilos e, diante desse acontecimento, o delegado mandou soltá-lo. Pergunta-se: qual o conhecimento e a lógica da decisão desse delegado? - O que não mata, engorda. O desafio no final deste capítulo é pesquisar outras piadas (inteligentes, é claro) que tratem do(s) assunto(s) deste capítulo.

2 UNIDADE PENSAR BEM E AGIR FILOSOFANDO NA VIDA Lógica Ética

2 Pensar bem e agir FILosofando na vida PENSAMOS E AGIMOS - à medida que eu entendo como se dá o conhecimento, como ele se organiza no cérebro (do pensamento geral para o pensamento particular ou do pensamento particular para o pensamento geral), posso saber que a ação será mais consciente. E por isso vamos dar mais alguns passos no entendimento filosófico iniciado em nosso livro Filosofar e viver. Iniciamos vendo algumas ideias sobre o Diálogo filosófico e a Teoria do Conhecimento na unidade anterior e agora vamos dar alguns passos no entendimento da Lógica e da Ética, ao utilizar o título desta unidade: Pensar bem e agir filosofando na vida. É hora de você lembrar que os conteúdos do nosso livro vão continuar sendo ampliados e aprofundados nos anos que virão. Assim, podemos muito tranquilamente dar passos e, a cada passo dado, perceber onde iremos chegar. Lógica Ética A organização das ideias O comportamento humano: penso, vivo e ajo N Para que a Lógica? N Preparando o bem pensar ON que somos obrigados a com e pela Lógica fazer, o que fazemos a respeito N Os princípios básicos da Lógica do bem e do mal? N Como me manifesto na sociedade: a liberdade

Capítulo 3 3 A organizaCAo das ideias Cantar e filosofar ! Lógica Colocar música em uma cena é como escolher Fonte: SANTA CRUZ, Tico. Lógica. Intérprete: Detonautas. In: palavras para um poema. DETONAUTAS. O retorno de Saturno. Rio de Janeiro: Sony BMG Como disse Arthur Brasil, 2008. 1 CD. Faixa 5. Shopenhauer: “as palavras expressam a razão e a Encontre a música no canal: música, a emoção”. https://www.youtube.com Vamos refletir e dialogar em COM.A.I. a. O que significam na letra da música as frases: “Te encontrar em sonhos” e “Te encontrar num sonho bom”? b. A frase “Que eu encontre uma lógica/Que me ensine os caminhos do mundo” refere-se a uma lógica da organização para um entendimento do mundo? c. Os versos “Se eu não vou julgar/O que é o certo e o que não” referem-se à mesma ideia do que seja o bem e o mal?

Filosofar e Viver 6.º ano 47 N Crie uma ilustração (desenho, montagem de fotos) ou organize um “videoclipe” com essa música. Esta atividade será feita em grupos, e a sugestão é de que a ilustração seja fixada em sua sala de aula ou em murais espalhados por seu colégio. REFLEXÃO: A riqueza e o conhecimento Era uma vez, num reino distante, um jovem que entrou numa floresta e disse ao seu mestre espiritual: - Quero possuir riqueza ilimitada para poder ajudar o mundo. Por favor, conte- me, qual é o segredo para se gerar abundância? O mestre espiritual respondeu: - Existem duas deusas que moram no coração dos seres humanos. Todos são profundamente apaixonados por essas entidades supremas. Mas elas estão envoltas num segredo que precisa ser revelado, e eu lhe contarei qual é. Com um sorriso, ele prosseguiu: - Embora você ame as duas deusas, deve dedicar maior atenção a uma delas, a deusa do Conhecimento, cujo nome é Sarasvati. Persiga-a, ame-a, dedique-se a ela. A outra deusa, chamada Lakshmi, é a da Riqueza. Quando você dá mais atenção a Sarasvati, Lakshmi, extremamente enciumada, faz de tudo para receber o seu afeto. Assim, quanto mais você busca a deusa do Conhecimento, mais a deusa da Riqueza quer se entregar a você. Ela o seguirá para onde for e jamais o abandonará. E a riqueza que você deseja será sua para sempre. Existe poder no conhecimento, no desejo e no espírito. E esse poder que habita em você é a chave para a criação da prosperidade. Fonte: CHOPRA, Deepak DR. Criando prosperidade. Rio de Janeiro: Best Seller, 1993. Sinopse disponível em: <http://www.record.com.br/livro_sinopse.asp?id_livro=19654>

48 A organização das ideias Capítulo 3 Vamos refletir e dialogar em COM.A.I. 1. Após a leitura e a discussão em COM.A.I., qual é o ensinamento que essa história traz para nós? Como relacionar com o conteúdo de Lógica? 2. No mundo em que vivemos o interesse está mais para o conhecimento ou para a riqueza? Desafio: organizar um vídeo colocando essa mensagem para a nossa escola. 3.1 Para que a Lógica? Desde os primeiros habitantes do nosso planeta, é desejo do ser humano conhecer o mundo ao seu redor, saber a verdade. A busca da verdade traz alegrias e satisfações, bem como tristezas e decepções, mas queremos conhecer o mundo em que vivemos. O filósofo inglês Francis Bacon já afirmava, no século XVII, que “saber é poder”. Na busca pela verdade conhecemos as leis da natureza, a razão dos fenômenos sociais e também os segredos do funcionamento do cérebro humano. Ampliando sempre os conhecimentos em busca da verdade, o homem criou o microscópio e o telescópio, o rádio e a televisão, o computador, a nave espacial, o veículo lunar e os satélites artificiais de planetas, instrumentos que permitem conhecer mais a fundo os fenômenos naturais e sociais. Foram descobertos diversos métodos de conhecimento: simulação e métodos matemáticos, experiências físicas e biológicas, engenharia genética, processamento de informações e investigações avançadas pela neurociência. Devido à busca da verdade, aos inventos e aos métodos é que se exige do pensamento humano um pensar logicamente correto, de acordo com as leis do bem pensar, ou seja, as leis lógicas. E por isso ! Francis Bacon a ciência denominada Lógica ajuda a conhecer as verdades do pensar correto. “A Lógica é uma ciência do raciocínio”, pois a sua ideia está ligada ao processo de raciocínio correto e incorreto, que depende da estrutura dos argumentos envolvidos nele. Assim, concluímos que a Lógica estuda as formas ou as estruturas do pensamento, isto é, o seu propósito é estudar e estabelecer propriedades das relações formais entre as proposições (= enunciados ou frases). Irving Copi

Filosofar e Viver 6.º ano 49 Poderemos pensar corretamente sem conhecer as regras e as leis da Lógica, utilizando-as intuitivamente? Existem músicos que tocam instrumentos sem saber a arte musical (as notas), porém a sua criação e execução são limitadas. Assim como atletas que praticam um esporte e têm habilidades de jogar, mas isso não é tudo. O treinador acompanha, dá as técnicas, treina e apresenta certezas em jogadas ensaiadas. No nosso caso, podemos dizer que quem aprende Lógica pensa de um modo mais preciso, tem os argumentos mais exatos e ponderados, comete menos erros e enganos. Aprender Lógica significa conhecer as regras e as técnicas e exercitá-las, poder aperfeiçoar o raciocínio e ampliar a argumentação. E por isso é preciso um raciocínio lógico: Com os estudantes N Para que você domine as várias informações nos estudos das diversas ciências e suas atividades práticas. N Para entender e separar o(s) assunto(s) principal(is) do(s) secundário(s). N Para perceber de modo crítico as definições e a classificação dos diversos conceitos que aparecem nos textos e nas discussões. N Para selecionar os raciocínios verdadeiros e não aceitar os raciocínios falsos. Com os professores N Sem dominar a Lógica, não poderão desenvolver de modo eficaz o entendimento e a reflexão individual, bem como a dos seus alunos. Com os advogados e os juristas N Eles constroem a acusação ou a defesa em conformidade com um raciocínio correto ou não e com uma argumentação que precisa ser coerente. Com os médicos N Eles fazem diagnósticos de doenças partindo de suas manifestações e do entendimento do que o paciente relata, buscando o que é relevante e descartando o que é supérfluo. Com os... N A Lógica, sem dúvida, faz falta a todas as pessoas em geral, seja trabalhador intelectual ou não. São inúmeras as vantagens que esse antigo e interessante estudo da ciência das leis e das formas do raciocino correto pode proporcionar.

50 A organização das ideias Capítulo 3 APRENDER A EMPREENDER: Empreendedorismo social Construir juntos a Comunidade de Aprendizagem Investigativa, exercitando o diálogo e as regras para construir sempre uma nova “inteligência coletiva” e desenvolver o protagonismo juvenil. Sequências lógicas Objetivo Os alunos perceberem e sentirem em uma atividade que envolve um passo após o outro, pensando em COM.A.I., que algumas atividades práticas podem ser feitas na sala, na escola ou na comunidade escolar e que necessitam ser realizadas dentro de uma sequência lógica (começo, meio e fim). Agora vamos aprender a empreender realizando uma atividade lúdica. Participantes Toda a sala de aula. Monitores ! Professor e um aluno para cada um Obs.: no decorrer dos grupos que serão constituídos na sala. da atividade os monitores podem Procedimentos trocar de caneta. Ganha o grupo N Cada monitor deverá ter uma sequência de canetas que terminar a com várias cores, ficando um com a cor preta. sequência primeiro. N Cada grupo receberá uma sequência de cores diferentes. Por exemplo, 1.º grupo: amarelo, azul, vermelho, rosa e laranja; 2.º grupo: azul, rosa, amarelo, laranja e vermelho; e assim por diante. N Os monitores deverão estar espalhados por toda a sala. Os grupos devem andar juntos e, quando encontram um monitor, perguntar: - Que cor você tem? Monitor: Que cor você quer? O participante fala a cor na sequência recebida. Se o monitor tiver a cor, ele risca nas mãos dos participantes. Se não tiver, fala que não tem e o grupo vai atrás de outro monitor. Caso o monitor tenha a caneta preta, ele risca toda a sequência anulando tudo, fazendo com que o grupo inicie novamente.


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