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Revista Saúde Mental - Outubro 2022

Published by Miligrama - Comunicação em Saúde, 2022-10-31 10:22:16

Description: A segunda edição da revista especial Saúde Mental, do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Hospital Distrital de Santarém, já está disponível!

Keywords: saúde mental,HDS,saúde,psicologia,psiquiatria,mental health,Miligrama

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Hospital Distrital de Santarém 2022 SAÚDE MENTAL 1

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde 2

Hospital Distrital de Santarém 2022 Sumário Editorial 4 Equipa Comunitária de Saúde 21 5 Mental na Infância e Adoles- 22 Diretor do Programa Nacional cência de Saúde Mental visita o HDS 6 para preparar respostas aos de- A Intervenção do Serviço So- safios da atualidade cial numa ECSM Exposição “Quando a Arte 23O Regime Jurídico do Maior Cuida” no HDS Acompanhado Perturbação da Hiperatividade 8 Saúde Mental no Trabalho 24 com Défice de Atenção (PDHA) Depressão na Gravidez 26 Psicose Pós-Parto 27 Tempos de Mudança no Pós-Pan- 10demia Programa de Reabilitação Cog- Unidade de Psicologia 28 11nitiva - RehaCom Perturbação do Espectro do Au- 12 29Importância dos Primeiros So- tismo corros Psicológicos O Impacto da Violência na In- 13 Impacto dos Eventos Traumá- 30 fância e Adolescência ticos na Saúde Mental 14 Violência no Namoro 32 Sexualidade e Saúde Mental 16 Episódios de Ansiedade 34 Gaming e Saúde Mental Videojogos como ferramenta na 17 O Papel da Psicologia no Cen- 36 Reabilitação Psicossocial tro de Tratamento Cirúrgico da Obesidade O Burnout como Doença Profis- 37A Intervenção da Psicologia na 18sional Diabetes Tipo 1 Saúde Mental na Comunidade 20 Oficina Aberta à Comunidade 38 FICHA TÉCNICA: Revista Saúde Mental do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental e da Unidade de Psicologia do HDS| Diretora: Sílvia Malheiro (silviamalheiro@ miligrama.com.pt) | Paginação e design: Miligrama Comunicação em Saúde | A Revista Saúde Mental do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental e 3da Unidade de Psicologia do HDS é uma publicação da Miligrama Comunicação em Saúde, Unipessoal, Lda. ([email protected]), dirigida à população

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Editorial ANA INFANTE Os efeitos causados pelo aumento do Estamos convictos que os nossos aler- Presidente do Conselho de Ad- custo de vida e a consequente quebra tas, o nosso empenho e a nossa determi- ministração de rendimentos da população mais vul- nação, enquanto equipa multidisciplinar, nerável vão condicionar de forma efeti- trarão à população que servimos respos- va as suas vidas. Sabemos, pelos relatos tas condignas e adequadas às suas ne- que chegam às nossas consultas, como cessidades de cuidados de saúde mental. este facto é perturbador na vida dos nossos doentes e das suas famílias. O preconceito e o estigma social asso- ciado à saúde mental ainda existe, mas Continuamos disponíveis para olhar estamos empenhados em colocá-los no a problemática e dar as respostas seu devido lugar. Para tanto, promove- necessárias, enquanto SNS, a todos os mos a literacia em saúde: organizan- que nos batem à porta na busca de mais do eventos, divulgando informação e saúde e melhor qualidade de vida. Dis- conhecimentos, criando “pontes” que pomos de instrumentos e capacidades nos aproximam e nos permitem melhorar para tal. o trabalho que realizamos. Os atuais desafios, em termos de saúde A saúde mental continuará a estar na mental, são um trabalho exigente e de primeira linha de ação a que temos de grande responsabilidade clínica e so- responder! cial aos quais os nossos profissionais de- dicam, no dia a dia, o seu saber e com- petências. A panóplia de assuntos que este 2.º número da Revista nos apresenta responde a um vasto leque de situações quotidianas, muito delas aparentemente do senso comum, cujo enfoque nos colo- ca perante análises diferenciadas a que devemos estar vigilantes 4

Hospital Distrital de Santarém 2022 Diretor do Programa Nacional de Saúde Mental visita o HDS PARA PREPARAR RESPOSTAS AOS DESAFIOS DA ATUALIDADE O diretor do Programa Nacional de Saúde Mental, Miguel Xavier, a coordenadora regional de Saúde Mental da Região de Lisboa e Vale do Tejo (RLVT), Teresa Maia, e a assessora da Ministra da Saúde, Fátima Sena e Silva, visitaram em janeiro o Departa- mento de Psiquiatria e Saúde Mental (DPSM) do HDS com o propósito de incentivar a apresentação de um projeto de renovação e requalificação das instalações do Departa- mento, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), programa de aplicação nacional que prevê, entre outros investimen- tos, a reforma dos serviços de saúde mental. Antes da visita, houve espaço para uma reunião com o Conselho de Administração e a direção do DPSM e do Serviço de Pis- quiatria - Nazaré Matos (diretora do DPSM), Paula Pinheiro (diretora do Serviço de Psiquiatria) e Teresa Massano (enfermeira coordenadora do DPSM) - para conhecerem melhor a realidade do hospital e preparar as respostas aos atuais desafios colocados aos Serviços de Saúde Mental e comunidades em que se inserem. Avisita enquadra-se na atividade desenvolvi- da pelo Conselho Regional de Saúde Mental (CRSM) da RLVT, em conjugação com o Programa Nacional para a Saúde Mental da Direção-Geral da Saúde. 5

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Exposição Quando a arte cuida no HDS Foi inaugurada, em julho, no HDS, a exposição “Quando a Arte Cuida”, que reúne trabalhos dos colaboradores do HDS e dos utentes da oficína - Arte Bruta Inclusiva, projeto que aposta na reabilitação de pessoas com doença mental grave. Ricardo Gonçalves, presidente da Câ- mara Municipal de Santarém, esteve presente na inauguração da exposição e enalteceu a iniciativa. O autarca elogiou os trabalhos expostos, realçando que os mesmos são a prova de que “somos to- dos diferentes”. Por sua vez, Ana Infante, presidente do Conselho de Administração do HDS, sa- lientou que “se encararmos a arte não só como um hobbie, mas também como uma terapia, isso permite promover a au- toestima e realização pessoal”. Segundo a responsável, esta exposição pretende mostrar que “todos nós somos únicos e insubstituíveis.” Por último, Carla Ferreira, enfermeira especialista em Saúde Mental e coordenadora do projeto oficina - Arte Bruta Inclusiva, destaca que a exposição permite não só mostrar os talentos dos profissionais do HDS, mas também promover a inclusão e combater o estigma da doença mental. 6

Hospital Distrital de Santarém 2022 7

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Perturbação da Hiperatividade com Défice de Atenção (PHDA) COMO LIDAR NAZARÉ MATOS É fundamental que o contrato seja cum- realmente valem a pena; Diretora do Departamento de prido ou corre-se o risco de a criança -Perante um comportamento desade- Psiquiatria e Saúde Mental começar a manipular a situação. quado, tente distrair e direcionar Médica especialista em Psiqui- a atenção do seu filho para outra atria da Infância e da Adoles- Esteja preparado para criar planos alter- atividade; cência nativos se estes falharem. Identifique os -As rotinas ajudam na organização, con- fatores protetores e positivos, reduza os tribuem para o cumprimento das regras Se o seu filho tem o diagnóstico médico fatores de risco: e tarefas e diminuem a probabilidade de de Perturbação da Hiperatividade com -As mensagens devem ser simples, conflitos. Planifique as tarefas para os Défice de Atenção (PDHA), vai precisar adequadas à idade e objetivo pretendi- diferentes momentos do dia: de manhã, de uma intervenção pluridisciplinar dire- do, não devem ser ambivalentes ou con- quando chegam a casa. Plastifique um cionada. traditórias; quadro com as tarefas diárias, pode uti- -Deve expor claramente ao seu filho o lizar materiais coloridos para cada uma Os pais têm um papel imprescindível que é pretendido, utilizando frases cur- e coloque-o num local visível e acessível, pelo que se sugerem algumas orien- tas, olhando-o nos olhos e perceber se a para que o seu filho assinale quando a tações: mensagem foi compreendida; realiza (não se esqueça de pendurar -Os pais devem auxiliar a criança uma caneta no quadro). Envolva o seu - Pai e mãe devem utilizar as mesmas es- a estruturar as suas atividades, filho na realização do mapa de tarefas tratégias, que lhes façam sentido como orientá-la, estimulá-la, o que a vai ajudar e não esqueça os tempos para brincar. família, numa intervenção partilhada; a envolver-se e concentrar-se na tarefa; As rotinas e horários podem ter alguma - Podem criar um acordo, de preferência -Um desempenho adequado ou quando flexibilidade, até serem momentos de por escrito, assinado pela criança e pais. existe um esforço por melhorar, deve ser recompensa ou incentivo. Se o seu filho Devem selecionar um número reduzido valorizado (elogio, afeto,…) no momento, se portou bem, pode deixá-lo escolher de objetivos em cada contrato e respe- para aumentar a possibilidade de voltar uma atividade / brincadeira; tivas recompensas se os atingirem. Pode a ocorrer. -As regras e limites são essenciais no tornar o seu filho parte integrante do crescimento do seu filho, transmitem-lhe processo, ouvir o que tem a dizer e per- Valorize todos os dias os aspetos positi- segurança. Consoante a idade, algumas mitir-lhe até negociar alguns objetivos. vos do seu filho, ele vai sentir-se recom- regras podem ter a participação do seu De início estes devem ser simples e fá- pensado e mais confiante. filho, o que pode levar a um maior cum- ceis de atingir. primento. Cada espaço da casa pode ter -Pode atribuir pontos aos comporta- as suas regras e estarem expostas num mentos adequados que poderão ser tro- local visível. Perante o incumprimen- cados por uma recompensa, determina- to, pode usar a técnica do terceiro avi- da pelos pais; so e agir, quem manda é o adulto. Use -Ignore comportamentos que apesar de um tom de voz firme, não dê grandes ex- incomodarem, não interferem com o de- plicações e seja coerente na resposta ao sempenho do seu filho ou do relaciona- mesmo tipo de comportamento. mento dele com o outro. As sucessivas As regras existem e são para ser cumpri- chamadas de atenção levam a que o seu das por todos. Não se esqueça que os filho se sinta incompreendido, evite-as. pais são a referência dos filhos; Concentre os esforços nas situações que -Diariamente deve ter um momento, mesmo que curto, para brincar com o 8

Hospital Distrital de Santarém 2022 seu filho, numa atividade do seu interes- Grande é a se. Brincar contribui para o desenvolvi- poesia, a mento emocional, social, cognitivo e para bondade e as o fortalecimento das relações afetivas in- danças. Mas o terpessoais. melhor que há -Evite penalizar a brincadeira, como per- no mundo são da de privilégio ou castigo. as crianças. (in“Liberdade”) - As atividades escolares devem ser realizadas num espaço isento de Fernando Pessoa estímulos, com o material estritamente necessário. Privilegie horários em que 9 está mais concentrado, se possível evite o final do dia e permita pequenas pausas. Supervisione a sua realização e estimule a sua autonomia. -Estimule o seu filho a participar em atividades do seu interesse (desporto, passeios, visitas de estudo). Estas podem favorecer várias competências como a concentração, o cumprimento de regras, o autocontrolo, a interação com os outros. Nada é fácil, não desis- ta, ele vai testar os seus limites. Mostre-se calmo, confiante e seja per- sistente, de forma consistente... e com muito AFETO. Acredite no seu potencial e no sucesso do seu filho.

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Tempos de Mudança no Pós-Pandemia A CRIANÇA E OS AMIGOS MARTA HENRIQUES, reforço da imunidade, na promoção auto-conhecimento das suas emoções, Enfermeira ECSM-IA/ de sono de qualidade, na diminuição providenciar ferramentas para lidar Pedopsiquiatria e Internamento do risco de doenças de foro orgânico com os desafios e amparar durante de Psiquiatria e na promoção de saúde mental (di- todo o processo. Pais e filhos, unidos minuição de sintomas de ansiedade, por laços e vínculos, a reaprender a A Saúde Mental das Crianças e Jovens stress, depressão). viver, lado a lado, a nova realidade. carece de especial atenção após um longo período de isolamento social. De As crianças foram privadas do que Esta reflexão enquadra-se no projeto forma inesperada e hostil, perderam a outrora era normal, tornando o que da equipa comunitária de saúde oportunidade de brincar, aprender, so- para muitos era aborrecido, em mera mental para a infância e adolescência cializar, relacionar com os pares, com a saudade. Ninguém saiu ileso ao sofri- (ECSM-IA) do HDS, quetem como plano natureza, com a vida. Quando falamos mento mental inerente ao confinamen- a intervenção multidisciplinar junto da em desenvolvimento infantil saudável, to: pais e filhos. Oscilações de humor, comunidade infanto-juvenil, visando é expectável pensar em crianças que alterações comportamentais, isola- suprir as necessidades sentidas brincam ao ar livre (em contacto com mento social, ansiedade e depressão (absentismo escolar, alterações do relva, terra, ar puro e as maravilhas são alguns dos danos provocados. comportamento, ansiedade, compor- que a natureza oferece). A pandemia tamentos autolesivos, perturbações privou-os de viver em pleno. Houve uma maior adesão às novas do neurodesenvolvimento). Alicerça-se, tecnologias, em que o tempo de ecrã assim, o Princípio n.º 5 da Declaração Segundo a Declaração Universal dos (lazer, ensino à distância) e o afasta- Universal dos Direitos da Direitos da Criança, Princípio n.º 7, mento social deixaram marcas. Há Criança. “A criança deve ter plena oportuni- questões psicológicas, biológicas e so- dade para brincar e para se dedicar a cioemocionais que podem demorar a “A criança mental e fisi- ativi-dades recreativas, que devem ser voltar ao lugar. orientados para os mesmos objetivos camente deficiente ou da educação; a sociedade e as auto- As crianças enfrentam a interação que sofra de alguma di- ridades públicas deverão esforçar-se com os pares, onde se pode verifi- minuição social, deve por promover o gozo destes direitos”. car algumas lacunas na socialização beneficiar de tratamen- Toda a criança tem o direito a brincar e e também na dificuldade em gerir a to, da educação e dos a divertir-se, cabendo aos pais e à so- frustração. Os adolescentes apresen- cuidados especiais re- ciedade garantir-lhe o exercício pleno tam receio do que podem encontrar queridos pela sua par- desse direito. ao conviver em grupo, ficando dividi- ticular condição.” O contacto com a natureza auxilia no dos em dois mundos distintos: de um lado, a liberdade, e de outro, a fobia Segundo Inês Clímaco: 10 social. “As crianças são como borbole- tas ao vento. Algumas voam rápido. Alerta-se para situações de medo mar- Outras voam pausadamente. Mas to- cante e persistente, labilidade emocio- das voam do seu melhor jeito. Cada nal, sentimentos de revolta, imobili- uma é única, genuína e especial! ” dade, hostilidade e dificuldades na co- municação, devem ser encaminhadas para um profissional de saúde qualifi- cado. Há que envolvê-los na promoção do

Hospital Distrital de Santarém 2022 Programa de Reabilitação Cognitiva - RehaCom NO HOSPITAL DE DIA DE PSIQUIATRIA CARLA FERREIRA Além das atividades de grupo, o plano Bibliografia Enfermeira Mestre em Enferma- de tratamento inclui sessões individu- gem de Saúde Mental e Psiqui- ais, consultas médicas com o psiqui- [1]Mak M, Tyburski E, Starkowska A, Karabanowicz E, atria atra e sessões de reabilitação cognitiva Samochowiec A, Samochowiec J. The efficacy of com- com o Sistema Informático RehaCom®, puter-based cognitive training for executive dysfunc- O Hospital de Dia é uma unidade de que permite treinar competências co- tion in schizophrenia. Psychiatry Res. 2019 Sep;279:62- reabilitação psicossocial, em regime de mo: Atenção, Concentração, Memória 70. internamento parcial, que promove a re- (trabalho, verbal, palavras…) e Funções cuperação da doença mental mediante Executivas (compras, plano diário, ra- [2]Mohammadi MR, Keshavarzi Z, Talepasand S. The um Plano Individual de Cuidados. É uma ciocínio lógico…). effectiveness of computerized cognitive rehabilita- unidade fundamental no tratamento tion training program in improving cognitive abili- dos utentes com Doença Mental Grave, Com base na avaliação do utente, é ties of schizophrenia clients. Iran J Psychiatry. 2014 pois permite: (1) o tratamento necessário parametrizado no próprio programa Oct;9(4):209-15. num ambiente o menos restrito possível, RehaCom® um treino personalizado, (2) uma continuidade de cuidados baseado nos défices que apresenta e [3]Mak M, Tybura P, Bieńikowski P, Karakiewicz B, Samo- (sendo uma unidade de interface entre nas suas aspirações enquanto pessoa. O chowiec J. The efficacy of cognitive neurorehabilitation os ambientes hospitalar e comunitário), utente terá à sua disposição um treino with RehaCom program in schizophrenia patients. Psy- (3) a articulação eficaz e duradoura de reabilitação cognitiva avançado, chiatr Pol. 2013 Mar-Apr;47(2):213-23. com as estruturas da comunidade, e único e individualizado, centrado nas [4]Owen MJ, Sawa A, Mortensen PB. Esquizofrenia.pdf. (4) a integração da família no processo suas dificuldades (através do programa Lancet Online 2016:1–12. terapêutico do doente. REHACOM que tem demonstrado ser um instrumento eficaz na melhoria do [5]Foldemo A, Ek A-C, Bogren L. Needs in outpatients “A reabilitação psicossocial é um proces- funcionamento cognitivo [1,2,3]). with schizophrenia, assessed by the patients them- so que oferece aos indivíduos que estão selves and their parents and staff. Soc Psychiatry Psy- debilitados ou incapacitados, devido à É de extrema importância o recurso à chiatr Epidemiol 2004;39:381–5. perturbação mental, a oportunidade de reabilitação cognitiva no processo de re- atingir o seu nível potencial de funciona- cuperação, uma vez que os domínios cog- [6]Bengtsson-Tops A. Mastery in patients with schizo- mento independente na comunidade.” nitivos são afetados pela própria doença phrenia living in the community: relationship to so- (OMS 2001) [4]. É frequente existirem défices ao nível ciodemographic and clinical characteristics, needs for da velocidade do pensamento, funções care and support, and social network. J Psychiatr Ment executivas, atenção e concentração, Health Nurs 2004;11:298–304. memória de trabalho, cognição social, entre outros. Estes défices cognitivos prejudicam marcadamente a funcionali- dade do doente, a sua qualidade de vida e a possibilidade de integração em co- munidade enquanto pessoa autónoma. A melhoria do funcionamento cognitivo e social é dos aspetos mais importantes do tratamento identificado pelos doentes e pelas famílias [5], sendo um forte preditor do bem-estar subjetivo nas pessoas com doença mental grave [6]. 11

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Perturbação do Espectro do Autismo RAQUEL PEREIRA Atendendo às necessidades sensoriais da criança, existem várias Terapeuta Ocupacional estratégias que podem melhorar a participação e o desempenho ocupacional da mesma, e que potenciam a interação entre A Perturbação do Espectro do Autismo criança-cuidador, nomeadamente: (PEA) define-se como uma perturbação heterogénea do neurodesenvolvimen- •Antecipar qualquer mudança que to, que não tem cura, comprometendo o desenvolvimento típico da criança, nos aconteça na rotina ou de atividade; múltiplos contextos. Neste sentido, existe um comprometimento do funcionamen- • Dividir as tarefas maiores em tarefas to adaptativo, influenciando a autonomia, a independência e o desempenho ocupa- mais pequenas; cional da criança. • Fornecer pistas visuais; O papel dos terapeutas ocupacionais • Incorporar técnicas de redução do prende-se com a análise dos fatores que afetam o desempenho da criança nos stress; diferentes contextos e na criação e im- plementação de estratégias, de modo a • Integrar movimento nas atividades; facilitar a sua participação e melhorar o • Perceber as situações que fazem a funcionamento da família. criança desregular-se; É essencial perceber que, quanto mais precoce for o diagnóstico, mais rapida- • Respeitar os tempos de atenção; mente serão mobilizadas as respostas • Usar objetos de acordo com os inter- de intervenção adequadas e, consequen- temente, maior probabilidade de um esses da criança nas tarefas; melhor prognóstico. Assim, é importante ajudar a desmistificar e compreender • Usar um temporizador visual; esta perturbação, uma vez que a PEA • Usar uma linguagem simples. consiste num túnel de múltiplas cores que brilham, com diferentes intensidades em cada criança! 12

Hospital Distrital de Santarém 2022 O Impacto da Violência na Infância e Adolescência SABIA QUE ... Todos os anos, pelo menos 55 milhões de crianças, na Europa, sofrem alguma forma de violência física, sexual, emo- cional ou psicológica. A violência é a quarta maior causa de morte de jovens entre os 10 e os 29 anos, a nível mundial. 200 mil jovens morrem todos os anos vítimas de assassinatos, brigas, bullying e violência no namoro. Por: Equipa Comunitária da Infância e Adolescência Aviolência, de forma geral, e principal- quência da violência, nomeadamente: •Não ignore a situação; mente contra crianças e adolescentes, •Acalme-o(a), mostrando-lhe que é considerada um problema mundial •Problemas de sono; de saúde pública. Dados do Ministério •Baixa autoestima; naquele momento está em segu- da Saúde indicam que aviolência pode •Reações violentas; rança; dar origem a problemas emocionais, •Ansiedade ; psicológicos, sociais e cognitivos. •Intenção Suicida ; •Converse com ele(a): procure saber •Depressão; EXISTEMVÁRIOS TIPOS •Absentismo escolar; o que poderia ser feito para ajudá-lo; DE VIOLÊNCIA CONTRA •Abuso de substâncias psicoativas; CRIANÇAS: •Diminuição do rendimento escolar; •Explique-lhe que não tem culpa; •Alterações na memória. •Normalize e valorize os sentimentos • Violência física (agressões físicas, ASSIM, É EXTREMAMENTE IMPOR- (medo, vergonha); empurrões, chutos, etc.); TANTE ADOTAR COMPORTAMEN- TOS QUE AJUDEM A CRIANÇA/ •Garanta-lhe segurança e um es- • Violência psicológica (agressões ADOLESCENTE VÍTIMA DE VIOLÊN- CIA, POR EXEMPLO: paço onde possa expressar o que verbais e gestuais); está a sentir; •Reforce a coragem da criança em par- • Violência sexual (ato sexual provo- •Escute-o com atenção. tilhar o episódio de violência cado ou insinuado contra o corpo de consigo; É responsabilidade da sociedade em outra pessoa sem o consentimento geral não só proteger as crianças da mesma); de qualquer tipo de violência, como minimizar o impacto negativo no seu • Negligência (ausência ou negação desenvolvimento e bem-estar emo- cional. de atenção e cuidados). Independentemente do tipo de vi- olência praticada contra as crianças e adolescentes, é indiscutível a conse- 13

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Sexualidade e Saúde Mental RICARDO GASPARINHO as diferenças biológicas entre mulheres profissionais de saúde com conhecimen- Assistente Hospitalar de Psiqui- e homens, as identidades e papéis de tos e treino em sexologia. Estes podem atria e Responsável pela Uni- género, a orientação sexual, o erotismo, oferecer informação, sugestões e ferra- dade de Internamento o prazer, a intimidade e a reprodução. mentas para lidar com as dificuldades, bem como encaminhar para outros A Sexualidade é um tema indelével da A interligação entre variáveis como o profissionais especializados. Humanidade, presente em todos os sexo atribuído à nascença, o género, e a contextos e capaz de despoletar todo o orientação sexual, e a forma como estas A mentalidade e as normas pelas quais tipo de reações, como o riso, a vergonha, se relacionam é tão fluída e livre como se rege a sociedade contemporânea a dúvida ou a curiosidade. Qualquer a complexidade da própria existência ainda não se ajustaram à pluralidade da comportamento sexual assenta sobre humana. A nossa história pessoal e a vivência humana, que se vê forçada fre- elementos biológicos, elementos psi- maneira como nos relacionamos com quentemente a encaixar numa sociedade cológicos, elementos interpessoais e em os outros e com o mundo é influenciada punitiva e ostracizante para a maioria conceitos culturais de normalidade e pelo nosso género e pela nossa das expressões individuais. Persistem moralidade. sexualidade. A sexualidade e a sua ex- na atualidade as dificuldades atravessa- pressão estão em constante mudança das pelos grupos minoritários, onde se A Saúde Mental é definida pela Orga- ao longo da nossa vida, desde a adoles- incluem as pessoas com incongruência nização Mundial de Saúde (OMS), não cência até à senioridade. entre o género sexual experimentado como simples ausência de doença, mas e expressado pelo indivíduo e o género sim como um estado de bem-estar em O género e a sexualidade estão pre- atribuído à nascença. que cada indivíduo realiza o seu próprio sentes na nossa vivência humana, na potencial, consegue lidar com os desafi- forma como experienciamos paixão, in- A mudança de género e o processo de os normais da vida, consegue trabalhar timidade, amor, na maneira como nos reatribuição sexual são processos orga- de forma produtiva e frutífera e é capaz afirmamos perante a sociedade, na nizadores na vida dos doentes, mesmo de contribuir para a sua comunidade. elaboração e construção de relações em doentes com doença mental grave. afetivas, em como cresceremos nessas As questões de género são fraturantes Para a OMS, a sexualidade engloba di- relações e no papel que assumiremos ao numa sociedade binária, mas, felizmente, versos aspetos da experiência humana: constituirmos família. têm sido feitos progressos nesse campo, como por exemplo a lei n.º 38/2018 (di- As inúmeras formas de expressão da reito à autodeterminação da identidade sexualidade humana são saudáveis e de género e expressão de género e à legítimas, desde que experienciadas de proteção das características sexuais de forma salutar e não interferindo com cada pessoa). a liberdade de terceiros. A vivência da sexualidade pode, por vezes, levar a Sexualidade e saúde mental podem períodos de tristeza, ansiedade, medo, influenciar-se e determinar-se mutua- dúvida, angústia ou mesmo desistência. mente. Perturbações psiquiátricas com Em alguns desses momentos, a partilha as perturbações depressivas, as pertur- com pessoas próximas ou experientes bações ansiosas, o uso de substâncias, a poderá ajudar a encontrar soluções para doença bipolar ou psicoses (como a es- as dificuldades encontradas. Poderá, no quizofrenia) podem originar, coexistir ou entanto, ser importante a procura de agravar problemas da sexualidade. Por 14

Hospital Distrital de Santarém 2022 outro lado, disfunções sexuais podem Relacionam-se com a maneira como de igual modo originar, coexistir ou o corpo, a mente, a intimidade e a agravar perturbações psiquiátricas própria sociedade funcionam. Sentir pré-existentes. dificuldades sexuais não é o resulta- do de fracasso ou a razão para sen- A procura de ajuda especializada timentos de culpa. Procurar a ajuda e o tratamento de perturbações de profissionais de saúde é impor- psiquiátricas pode muitas vezes, por tante, mas, muitas vezes, adiado si só, resolver alguns problemas asso- por receios variados (vergonha, não ciados à sexualidade. compreensão das dificuldades, entre outros). As dificuldades sexuais são, Não esqueçamos também a in- geralmente, reversíveis com terapêu- fluência dos nossos hábitos de vida ticas relativamente simples. Também (sedentarismo, alimentação, sono, a doença mental é tratável. consumo de álcool, tabaco ou outras substâncias), muitas vezes relegados Os maiores obstáculos à resolução para segundo plano, mas, que de de problemas sexuais e ao tratamen- modo tão significativo influenciam a to de doença mental são, frequente- nossa saúde, a nossa saúde mental e mente, a demora em procurar ajuda. a nossa sexualidade. Assim, sexualidade e saúde mental Por último, também a medicação não devem ser relegados para segun- crónica (de qualquer tipo, não ape- do plano, muito menos as suas dificul- nas psiquiátrica), pode cursar com dades vistas como sinais de fraqueza alterações da função sexual. Uma ou vergonha, mas sim, como direitos das maiores causas de abandono de fundamentais de qualquer um. medicação é a existência de efeitos secundários (de entre os quais os sexuais são preponderantes). Os efeitos secundários sexuais dos fár- macos são geralmente reversíveis e existem diversas estratégias dis- poníveis de resolução dos mesmos. Nesses casos é de maior importân- cia procurar ajuda especializada de modo a adaptar a medicação crónica aos efeitos secundários experimenta- dos. A sexualidade (e as dificuldades na sua expressão) são frequentes em qualquer faixa etária. 15

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Gaming e Saúde Mental NO HOSPITAL DE DIA DE PSIQUIATRIA NÚRIA SANTOS depressão) e física podem aparecer (por PARA QUE A PERTURBAÇÃO DE GA- Médica Interna de Formação exemplo, obesidade e tendinite do pulso). MING NÃO SE DESENVOLVA, A PALA- Específica em Psiquiatria Uma pequena percentagem de gamers VRA-CHAVE É PREVENIR. PARA ISSO, (1-2%) pode desenvolver perturbação de É IMPORTANTE ADOTAR HÁBITOS DE O gaming refere-se ao ato de jogar em gaming. Se suspeitar que sofre de pertur- GAMING SAUDÁVEIS: plataformas virtuais e/ou eletrónicas, bação de gaming ou quetal acontece a um sejam elas consolas, computadores ou conhecido seu, deve procurar ou incenti- 1. Fazer pausas entre os períodos de telemóveis. Atualmente, há cerca de mil var à procura de ajuda especializada jun- milhões de gamers ( jogadores de video- to do médico ou psicólogo de referência. jogo e realizar outras atividades entre as jogos) em todo o mundo, constituíndo Existem ainda instituições com experiên- missões (por exemplo, tomar banho ou 1/8 da população mundial. A idade média cia no tratamento desta doença, como é o estender a roupa); dos gamers é de 24 anos. Existem diversos caso do Serviço de Intervenção nos Com- tipos de videojogos sendo os mais popu- portamentos Aditivos e nas Dependên- 2. Evitar o olho seco e o desconforto lares os jogos online por serem uma forma cias e o Instituto de Apoio ao Jogador. de socialização, de criação de amizades e visual: a cada 20 minutos, focar um obje- de relaxar. Em suma, os jogos continuam a ser um to ao longe durante 20 segundos; ingrediente fundamental da vida huma- A maioria dos gamers utiliza o jogo como na: tornam-na estimulante, diminuem a 3. Dormir cerca de 8 horas/dia; desli- uma atividade do dia a dia saudável e, em monotonia, impedem a solidão e propi- alguns períodos, pode ocorrer um aumen- ciam diversão. Para uma porção cada gar o ecrã 30 minutos antes de dormir; to do tempo de jogo sem que isso seja vez maior da população, o gaming é um problemático. Porém, o gaming pode tor- desses ingredientes. É importante intei- 4. Ter uma postura correta a jogar e nar-se pouco saudável quando o gamer rarmo-nos desta realidade, reconhecen- perde o controlo do tempo que passa a do as suas vantagens, mas também os fazer alongamentos nas pausas de jogo; jogar, perde o interesse noutras ativi- seus riscos, para que possamos disfrutar dades e começa a isolar-se para continuar em pleno e de forma salutar desta impor- 5. Modificar o ambiente de jogo: local o jogo. A escola e/ou o trabalho também tante atividade. podem ser prejudicados e problemas de arejado, com luz natural e plantas; cadei- saúde mental (irritabilidade, ansiedade e ra e secretárias confortáveis; 6. Alternar o gaming com outros hobbies; praticar exercício físico e ativi- dades ao ar livre; 7. Para os pais dos jogadores mais novos: utilizar o gaming como uma ativi- dade de diversão em família; escolher jo- gos adequados à idade dos mais jovens; estabelecer um limite para o tempo de jogo, procurando inteirar-se com o filho da forma como o jogo funciona e se o limite imposto faz sentido na dinâmica de jogo. 16

Hospital Distrital de Santarém 2022 Videojogos como ferramenta na reabilitação psicossocial O FATOR DIVERSÃO NA PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL A reabilitação psicossocial perspetiva o videojogo SPARX (Smart, Positive, Active, tratamento da pessoa com doença men- Realistic, X-factor thoughts). Este jogo foi tal para além da simples diminuição dos desenvolvido por psiquiatras para ajudar sintomas da sua doença. Procura inte- os jovens com depressão e ansiedade grar o indivíduo na sociedade e garantir a gerir as suas emoções. O jogador cria a maior qualidade de vida possível, devol- uma personagem virtual para viajar por vendo-lhe a oportunidade de viver uma sete reinos. Em cada reino, interage com vida plena de significado. diferentes personagens que tecem co- mentários negativos como, por exemplo, A literatura relativa aos cuidados de “és um falhado”. Através da interação excelência em saúde mental menciona com outras personagens, é estimulada a que o tratamento deve privilegiar as resolução de problemas e são desenvolvi- preferências da pessoa doente. Refere a das formas adaptativas para lidar com os importância de um ambiente apelativo sentimentos e pensamentos negativos. aos mais jovens e a necessidade de emprego das novas tecnologias para E quanto à utilização de videojogos a promoção da saúde mental, indo ao comerciais na reabilitação? Existe poten- encontro de uma geração que cresceu cial dos videojogos desenhados para en- com as tecnologias digitais. O uso dos tretenimento poderem ser utilizados. A videojogos pode constituir uma resposta vantagem é que muitas pessoas já adqui- para esse desafio. riram estes jogos e são considerados apelativos. Porém, a evidência ainda não é Foram desenvolvidas intervenções ba- suficiente para recomendara utilização de seadas em videojogos para as mais di- jogos comerciais na reabilitação. versas áreas da saúde, os chamados se- rious games ( jogos sérios) e a sua apli- Em suma, a evidência para a utilização cação na promoção da saúde mental não de videojogos na reabilitação psicos- foi exceção. social é promissora e está em desen- volvimento. Podemos estar a menos de Os serious games são uma categoria es- uma década de implementar a sua uti- pecífica de jogos criados com objetivos lização, passando dos serious games - educacionais. Existe evidência para a uti- carinhosa e metaforicamente apelidados lização de serious games na reabilitação de “brócolos com chocolate” - aos jogos psicossocial da psicose, da ansiedade e da comerciais – os prazerosos “morangos depressão. Foram capazes de melhorar a com chocolate” - capazes de motivar as concentração, a memória e a aprendiza- pessoas com doença mental a aderir ao gem de novos comportamentos num tratamento proposto, cativando-as e ambiente digital e controlado, podendo proporcionando claros benefícios depois ser aplicados em situações através do ambiente de jogo. da vida real. Como exemplo, temos o 17

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde O Burnout como Doença Profissional ANTÓNIO ALHO habituais, absentismo e dificuldades na da Madeira ao Governo, em 2018, para Interno da Formação Específica assiduidade; que “ Desenvolva as ações necessárias de Psiquiatria -Físicos: sensação de cansaço constante tendo em vista o reconhecimento do e alterações no apetite e no sono. nexo causal entre a SB e a sua classifi- Desde janeiro de 2022, a síndrome de cação como doença de trabalho, para Burnout (SB) passou a ser reconhecida Um estudo nacional recente indica que incluir grupos profissionais que sejam po- como doença associada às condições 21,6% dos profissionais de saúde apre- tencialmente vítimas da SB”. de trabalho, após a sua inclusão na 11.ª sentavam SB moderado e 47,8% elevado, Revisão da Classificação Internacional sendo o nosso país o primeiro da lista dos Contudo e, apesar de todas as diligên- das Doenças, da Organização Mundial países da União Europeia com maior ris- cias, até hoje a situação mantém-se inal- co de SB. terada, com o consequente prejuízo dos de Saúde, definindo-se como “stress diversos profissionais afetados. De sa- crónico de trabalho não admi- Em Portugal, é possível um trabalhador lientar o aumento significativo do número nistrado com sucesso.”. ser ressarcido, monetariamente, por de casos, após a pandemia por Covid-19, doença contraída pela exposição nomeadamente, nos trabalhadores do Caracteriza-se por exaustão física, emo- a um ou mais fatores de risco, quer Serviço Nacional de Saúde. cional ou mental. Surge devido à acu- no exercício da atividade, quer pelas mulação de stress no trabalho e é diag- condições de trabalho, que comprova- Urge, portanto, por um lado, continuar nosticada na presença dos seguintes damente contribuam para o quadro e a desenvolver esforços na melhoria sintomas: não representem o “normal desgaste do das condições de trabalho de modo a -Emocionais: sentimentos de fracasso, organismo”. Para que tal Doença Profis- diminuir gradualmente a prevalência da derrota ou desamparo, falta de mo- sional (DP) seja reconhecida, é necessária SB, e por outro, que se avance com as tivação, negativismo, diminuição da participação obrigatória junto do De- diligências necessárias que efetivamente satisfação e do sentimento de realização partamento de Proteção contra os possibilitem aos profissionais atingidos, profissional e pessoal; Riscos Profissionais da Segurança Social, do apoio a que têm direito, de acordo -Comportamentais: isolamento, lentidão entidade responsável pela certificação com a legislação em vigor, como sucede na execução de tarefas habituais, dificul- das DP. Sucede, no entanto, que para para as outras DP. dade em assumir as responsabilidades que uma DP seja reconhecida como tal é necessário que a mesma conste na Lista de Doenças Profissionais, ora, sendo a última versão datada de 2010, não inclui a SB, o que inviabiliza a devida compensação para o trabalhador, apesar de ser reconhecidamente associada ao exercício laboral. Nesse sentido, têm sido várias as iniciativas de grupos par- lamentares com vista à alteração da lista de DP, de modo a permitir a retribuição do trabalhador afetado. Destaca-se a recomendação da Assembleia Legislativa 18

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SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Saúde Mental na Comunidade HDS REALIZA 900VISITAS AO DOMICÍLIO EM DOIS ANOS Em dois anos, a equipa de Saúde Mental ao nível da diminuição de internamentos na Comunidade para a população adul- e da reabilitação social, assim como a di- ta do Departamento de Saúde Mental e minuição do absentismo do cuidador. Psiquiatria do HDS realizou 900 visitas domiciliárias. “Pensamos que, neste momento, com o conhecimento que temos sobre a Durante a pandemia de Covid-19, au- Covid-19, conseguimos ultrapassar as mentou a necessidade de assegurar a dificuldades iniciais e trabalhar melhor prestação de cuidados globais essen- a saúde mental dos nossos utentes. ciais de saúde mental, à população da Através do envolvimento da comuni- área de influência do HDS. Começaram a dade e das famílias, procuramos criar ser realizadas as consultas domiciliárias contextos facilitadores”, refere a equipa. pela equipa de Saúde Mental na Comu- E acrescenta: nidade que, sendo formada por elemen- tos do Serviço de Psiquiatria do HDS e “Com os olhos no futuro, a equipa lança do ACES Lezíria, atuam de forma a mini- os alicerces na área de intervenção co- mizar recaídas da doença mental grave e munitária que projetamos para um fu- a reduzir o impacto da Covid-19. turo próximo, alargando o âmbito da equipa à informação, psicoeducação e Este tipo de intervenção, através das intervenção cognitiva e emocional.” teleconsultas e da consulta domiciliária, permite diminuir o recurso ao Serviço de De acordo com o Plano Nacional de Urgência. O objetivo é melhorar quali- Saúde Mental, “estas equipas assumem dade de vida, capacitar a família/pessoa como objetivo “aproximar os serviços de doente na gestão da doença, diminuir/ saúde mental da população que acom- prevenir recaídas e consequente neces- panham e assegurar respostas focadas sidade de internamento. na prevenção, através do melhor enten- dimento do contexto onde as pessoas Destes dois anos de atuação, desta- vivem e adoecem, permitindo uma inter- cam-se, sobretudo, os ganhos em saúde venção mais efetiva nos problemas de saúde mental”. PAULA PINHEIRO, SANDRA FONSECA, TERESA MASSANO, CREMILDE COSTA, CIDÁLIA ASSUNÇÃO, diretora do Serviço de enfermeira enfermeira coordenadora enfermeira técnica de Serviço Social Psiquiatria do DPSM 20

Hospital Distrital de Santarém 2022 Equipa Comunitária de Saúde Mental na Infância e Adolescência A Equipa Comunitária de Saúde Mental Para tal, além da estreita articulação efetuada com na Infância e Adolescência (ECSM-IA) foi os Cuidados de Saúde Primários, ao longo deste ano a criada em 2021, com o intuito de ECSM-IA tem realizado diversas ações e intervenções, aproximar os serviços de saúde mental nomeadamente: da população e assegurar respostas fo- cadas no âmbito da promoção da saúde • Workshops sobre Desenvolvimento Infantil; e prevenção da doença. Assim, ao lon- • Ações de Sensibilização sobre a Violência e o seu Impacto go deste último ano, constatou-se uma na Infância e Adolescência; maior proximidade e intervenção da equi- • Ações de Sensibilização sobre Prevenção dos Comporta- pa junto dos concelhos de Salvaterra de mentos de Risco na Adolescência; Magos, Coruche e Almeirim. Neste senti- • Colaboração no Projeto Cool (projeto que visa alteração do, foi possível contribuir ativamente na do estilo de vida em crianças com excesso de peso e/ou obe- sensibilização do estigma, discriminação sidade); e preconceito, que infelizmente se encon- • Terapias e Intervenções Comunitárias de teor Individual e tram associados à doença mental. em Grupo; • Visitas Domiciliárias. A ECSM-IA visa suprir as necessidades sentidas pela comunidade, colaboran- ECSM-IA do com as entidades locais na melhor resposta possível a diversas situações, nomeadamente absentismo escolar, al- terações do comportamento, ansiedade, comportamentos autolesivos, pertur- bações do neurodesenvolvimento, entre outras. A ECSM-IA tem vindo a sofrer diversas adaptações, contando atualmente com os seguintes elementos: MARTA HENRIQUES, TÂNIA FIGUEIREDO, INÊS SANTOS, RAQUEL PEREIRA, NAZARÉ MATOS, enfermeira técnica superior psicóloga terapeuta ocupacional médica de Serviço Social 21

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde A Intervenção do Serviço Social numa ECSM A doença mental acarreta para os in- que engloba o Departamento de divíduos consequências negativas que se Psiquiatria e Saúde Mental (DPSM), manifestam ao longo de todo o ciclo de a Unidade de Saúde Pública (USP) e vida. O percurso de um doente no Serviço todos os centros de saúde da área de de Psiquiatria inicia-se ainda hoje, numa influência do HDS, surgiu como resposta fase de descompensação clínica, seguida à necessidade de maior proximidade de um possível internamento. A pouca ao doente. É constituída por médicos aposta na prevenção, a falta de recursos (psiquiatras, Medicina Geral e Familiar, humanos e de estruturas na comuni- S.P.) enfermeiros especialistas em dade vocacionadas para estas patolo- Psiquiatria e Saúde Mental, psicólogo gias justifica este percurso muitas vezes e assistentes sociais, sendo que estes tão doloroso para os doentes e seus fa- últimos têm, para além da capacidade miliares. de avaliar o doente, a competência de o percecionar como um todo inserido A Equipa Comunitária de Saúde Mental numa estrutura familiar, profissional e comunitária. As visitas domiciliárias, a TÂNIA FIGUEIREDO E grande mais-valia desta equipa, são um CIDÁLIA ASSUNÇÃO recurso que permite ao assistente social Técnicas de Serviço Social avaliar o contexto em que o utente vive e de que maneira este condiciona alguns 22 aspetos da doença, da sua evolução e respetivo acompanhamento. Integrado nesta equipa multidisci- plinar o assistente social desempenha as seguintes funções: identifica e analisa os problemas e as necessidades de apoio social dos doentes, elaborando o respetivo diagnóstico social; pro- cede ao acompanhamento e apoio psicossocial aos doentes e famílias; assegura a continuidade dos cuidados sociais a prestar em articulação com os parceiros da comunidade; envolve e orienta os doentes e suas famílias na procura de recursos adequados às suas necessidades (prestações socias, acesso a alguns apoios/direitos); articula com os restantes profissionais do serviço no sentido de contribuir para a qualidade, humanização e eficiência na prestação de cuidados; relata, informa e acompanha, sempre que necessário e de forma sistemática, situações sociais problemáticas. O assistente social assume, assim, um papel fundamental como interface da tríade doente-família/pessoas significa- tivas/ equipa hospitalar na definição do plano de intervenção, monitorizando a evolução do doente e identificando os problemas e necessidades sentidas, pro- cedendo ao seu encaminhamento para as respostas adequadas/disponíveis e sempre com o objetivo de combate ao estigma da doença mental e à integração plena do doente na sociedade.

Hospital Distrital de Santarém 2022 O Regime Jurídico do Maior Acompanhado COMO FORMA DE MELHOR APOIAR ANTÓNIO ALHO As medidas de acompanhamento po- o acompanhado pode exercer, como Interno da Formação Específica dem também ser solicitadas pelo por exemplo, votar, testar, casar, adotar, de Psiquiatria Ministério Público, pelo cônjuge ou unido perfilhar, deslocar-se no país ou no es- de facto ou por qualquer parente da pes- trangeiro, fixar residência ou comprar e A entrada em vigor do Regime do Maior soa que necessita de acompanhamento. vender imóveis. Acompanhado (RMA), em fevereiro de Nas situações em que a pessoa, por mo- 2019, substitui os anteriores regimes de tivo de doença ou fragilidade e, apesar É possível solicitar a revisão da sen- interdição e inabilitação e o seu regula- de necessitar, não queira ou aceite o tença proferida em qualquer momento, mento é aplicável a todos os processos acompanhamento, pode o Tribunal de- designadamente, sempre que se veri- previamente iniciados. cidir, sem a autorização do visado, ini- fique alteração no estado do acompa- ciar o processo de acompanhamento. nhado ou que se pretenda solicitar a mu- O RMA permite a qualquer pessoa, que No início do processo, a pessoa visada é dança da pessoa acompanhante. Neste por razões de saúde, deficiência ou sempre ouvida e o juiz pode determinar a regime, as funções do acompanhante comportamento, se encontre impossi- realização de exame médico que apenas não são remuneradas e a lei determina bilitada de exercer pessoal e conscien- é dispensável em casos excecionais. que no exercício das mesmas, deva man- temente os seus direitos ou cumprir os ter-se disponível para responder perante seus deveres, requerer junto do tribunal Com a instituição do RMA procura-se o o Tribunal. as respetivas medidas de acompanha- bem-estar do acompanhado e a sua re- mento. É também possível escolher o(s) cuperação, preservando a sua autono- Com a entrada em vigor do RMA, estamos acompanhante(s) para o seu auxílio mia, com o exercício pleno de direitos, perante uma mudança de paradigma ou representação em todos ou apenas cumprimento dos deveres e salvaguar- no que às pessoas com incapacidade para atos específicos, de natureza pes- da dos bens. Nesse sentido, o Tribunal, respeita, a qual emana de um movimento soal ou patrimonial, podendo haver após análise de todos os elementos e que se iniciou com a ratificação da acompanhantes diversos para diferentes com o auxílio de informação médica Convenção de Nova Iorque, pelo Estado funções. Este regime pugna por respeitar e eventual perícia, decide o regime de Português, em 2009. Esta Convenção as escolhas expressas pelo acompanha- acompanhamento. Assim, são definidos determina que “as medidas que se do. os atos que o acompanhado pode prati- relacionem com o exercício da capacidade car autonomamente e aqueles que, para jurídica fornecem garantias apropriadas sua proteção, devem ser exercidos com e efetivas para prevenir o abuso de o auxílio de acompanhante, sendo esta acordo com o direito internacional dos situação objeto de reavaliação periódica direitos humanos... são proporcionais e pelo Tribunal, com revisão obrigatória a adaptadas às circunstâncias da pessoa, cada cinco anos. aplicam-se no período de tempo mais curto possível e estão sujeitas a controlo É função do médico perito ajudar a es- periódico por órgão judicial competente, clarecer as capacidades e incapacidades independente e imparcial”, o que constitui do indivíduo avaliado, no intuito do Tri- um imenso desafio para magistrados, bunal determinar pela maximização da advogados, médicos e cidadãos, sendo autonomia e preservação de direitos. desejável que um número crescente de Assim, com base em todas as infor- pessoas com capacidade diminuída mações disponíveis, o juiz determina as tenha os seus direitos convenientemente medidas aplicáveis e define os atos que salvaguardados. 23

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Saúde Mental no Trabalho CARLA FERREIRA De acordo com as estatísticas: 10% Enfermeira Mestre em da população empregada ausenta-se Enfermagem de Saúde Mental e devido a depressão; 36 dias úteis é a Psiquiatria média de dias “perdidos” por cada episódio de depressão; 50% das pessoas A Organização Mundial de Saúde de- com depressão não são tratadas; os sin- fine a saúde mental como um estado tomas cognitivos de depressão (ex.: difi- de bem-estar, no qual cada indivíduo culdades de concentração, de tomar de- consegue: realizar as suas capacidades/ cisões e retenção de informação) estão tarefas; lidar com o stress normal da presentes em 94% do tempo durante vida; trabalhar de forma produtiva e um episódio de depressão com prejuízos contribuir para a sua comunidade. significativos no trabalho e na produ- tividade. Portugal é o país da Europa com maior prevalência de doença mental. Na CONTROLO E GESTÃO DE FATORES população adulta, um em cada cinco PSICOSSOCIAIS portugueses sofre de uma doença men- tal [1]. As perturbações por depressão A Agência Europeia para a Segurança e são a terceira causa de carga global de a Saúde no Trabalho considera a gestão doença (primeira nos países desenvolvi- de fatores psicossociais, fundamentais dos), estando previsto que passem a na promoção da Saúde Mental dos tra- ser a primeira causa a nível mundial em balhadores, tais como: 2030, com agravamento provável das taxas de suicídio e para suicídio [2]. • O stress ocupacional, relacionado com Os problemas de saúde mental têm a exigência e intensidade laboral; um impacto negativo e significativo a nível individual e em particular no plano • A síndrome de burnout (caraterizada profissional, explicando grande parte da redução da produtividade e do absentis- pelo esgotamento a nível profissional); mo laboral. É de extrema relevância o rastreio, avaliação e acompanhamento • A violência e o assédio moral e sexual; destas questões no âmbito do trabalho. • A fadiga e carga mental (diretamente relacionadas com os horários de trabalho atípicos que dificultam a conciliação da vida pessoal com a profissional); • O presentismo (fenómeno de passar mais horas “ligado” ao trabalho que o previsto); • As exigências do trabalho emocional (relacionado com o distanciamento pes- soal e gestão das emoções em funções específicas) ; • Necessidade de Promoção do Bem-Es- tar no Trabalho. 24

Hospital Distrital de Santarém 2022 É necessária a adoção de medidas que A aposta das empresas na prevenção, monitorizem e promovam o bem-es- no diagnóstico e no acompanha- tar nos locais de trabalho, traduzir-se mento é fundamental, um funcionário em inúmeros benefícios para as or- saudável é um funcionário produtivo. ganizações, entre os quais, a redução de custos ligados ao absentismo e o Bibliografia aumento do envolvimento ao nível da motivação e satisfação com a vida 1. PORTUGAL Saúde Mental em Números profissional. 2014. Programa Nacional para a Saúde Men- tal, 2014. Disponível em: www.dgs.pt/esta- A estratégia de prevenção de riscos tisticas-de-saude/estatisticas-de-saude/ psicossociais e de promoção da saúde publicacoes/portugal-saude-men- mental assenta sobretudo num para- tal-em-numeros-2014.aspx digma de humanização da experiên- cia de trabalho, sendo claro que um 2. Preventing Suicide: a resource for non-fa- trabalhador que esteja inserido numa tal suicidal behaviour case registration. organização que tem em conta a World Health Organization, 2014. Dis- sua saúde e o seu bem-estar pessoal ponível em: http://apps.who.int/iris/ bitstr terá maior sentido de pertença e se- eam/10665/112852/1/9789241506717_eng. gurança, será mais produti- pdf vo e construirá um maior número de relações positivas com os outros. 3. Xavier, M et al. Implementing the World Mental Health Survey Initiative in Portu- A AÇÃO DAS EMPRESAS NESTA ÁREA gal – rationale, design and fieldwork pro- cedures. International Journal of Mental Conforme o Programa Nacional de Health Systems 2013, 7:19. Disponível em Saúde Mental da Direção-Geral da http://www.ijmhs.com/content/7/1/19 Saúde, é imprescindível que as or- ganizações e a própria comunidade adotem uma postura compreensiva e holística face a estas questões, disponibilizando serviços de apoio nesta área, bem como ações de sen- sibilização e formação para efeitos de prevenção/promoção da saúde men- tal, combate ao estigma e, por con- seguinte, melhoria da produtividade empresarial [3]. 25

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Depressão na gravidez MARISA MARTINS Alguns sintomas comuns que surgem for positiva, deve recorrer ao seu médi- Médica Interna de Formação durante a gravidez (por exemplo, falta de co assistente, para seguimento e se Específica de Psiquiatria energia, tristeza, ansiedade, alteração do necessária implementação de um plano sono e do apetite) também podem ser terapêutico que pode contemplar o re- ROMEU SOARES manifestação de depressão, podendo di- forço de fatores protetores (reforço do Interno de Medicina Geral e ficultar o seu diagnóstico. círculo interpessoal, prática de exercício Familiar físico, equilíbrio dos ciclos sono-vigília), A depressão é a doença psiquiátrica psicoterapia e terapêutica farmacológi- A gravidez e o puerpério são um período mais comum na gravidez e apresenta al- ca. de grande vulnerabilidade para a mulher guns fatores de risco. devido ao facto de as alterações biológi- A terapêutica farmacológica está indi- cas e psicopatológicas que ocorrem Na suspeita de depressão na gravidez cada nas situações em que a depressão neste período poderem levar ao desen- devem ser respondidas duas questões: interfere com o bem-estar e funcionali- volvimento ou manifestação de doença “No último mês, sentiu-se deprimida/ dade da mulher e deve ser uma decisão psiquiátrica. muito triste ou sem esperança na vida?” partilhada por esta, pelo seu psiquiatra “No último mês, perdeu prazer em fazer e obstetra. coisas de que habitualmente gostava” Se a resposta a estas duas perguntas Os sintomas da doença podem envolver Fatores de risco associa- 4 DIMENSÕES: dos à depressão na gravi- dez: HUMOR: •Humor depressivo •História prévia de depressão •Anedonia (incapacidade de sentir •História prévia de depressão prazer) pós-parto •Abandono da medicação em COGNIÇÃO: mulher com história de depressão •Sentimentos de descrença, culpa prévia ou baixa autoestima •História familiar de depressão •Ideias delirantes •Ideação suicida ou ideias de morte Fatores psicossociais que •Dificuldade de concentração se correlacionam com de- pressão na gravidez PSICOMOTRICIDADE: •Lentificação ou Agitação •Atitude negativa em relação à •Redução da expressividade corpo- gravidez ral •Gravidez não planeada •Fadiga fácil •Falta de suporte social e económico •Anergia •Stress materno (associado a even- tos de vida negativos) SINTOMAS VEGETATIVOS •Companheiro/familiar descontente •Alteração do sono e do apetite com a gravidez •Falta de energia •Violência doméstica 26

Hospital Distrital de Santarém 2022 Psicose pós-parto A psicose pós-parto é uma doença men- estatuto socioeconómico ou habilitações tal grave. Começa repentinamente nos literárias. Não é culpa da pessoa que fica primeiros dias ou semanas após o nasci- doente nem do seu companheiro. mento do bebé. Os sintomas variam e al- ternam-se de forma rápida, de hora para Habitualmente, esta doença tem uma hora e de dia para dia e incluem elação do recuperação completa e relativamente humor, depressão, confusão, alucinações rápida quando tratada, sendo que o e delírios. O autocuidado e a prestação prognóstico melhora consideravelmente de cuidados à criança recém-nascida com o tratamento atempado. Por este podem tornar-se difíceis e durante um motivo, aquando da presença de um episódio de psicose pós-parto, a doente episódio psicótico, deve ser procura- pode não ter capacidade de perceber da ajuda médica o mais rapidamente o seu estado de saúde, as suas impli- possível, visto que é uma emergência cações e consequências, havendo assim psiquiátrica. uma falta de crítica para a sua situação clínica. No entanto, habitualmente, ou- MARISA MARTINS tras pessoas, nomeadamente o com- Médica Interna de Formação panheiro, família ou amigos notam que Específica de Psiquiatria algo não está bem e que é necessário solicitar ajuda. O risco de ter uma psicose pós-parto varia entre 0,1 % (1 em cada 1000 mulheres) se não existir história pessoal nem familiar de doença mental e 50% (1 em cada 2 mulheres). Este risco fran- camente aumentado em pessoas com história pessoal ou familiar de doença mental, nomeadamente: - Episódio de psicose pós-parto prévio, independentemente da existência de história familiar de doença mental; -Antecedentes pessoais de Perturbação Afetiva Bipolar (PAB) ou Perturbação Es- quizoafetiva (PE) e história familiar de psicose pós-parto por parte da mãe ou irmã. A presença de PAB ou PE, bem como a história familiar de psicose pós-parto em familiares de 1.º grau contribuem por si só, independentemente, para um aumen- to do risco da doença. A psicose pós-parto pode acontecer a qualquer mulher, qualquer que seja o seu 27

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Unidade de Psicologia do HDS Nas próximas páginas, a Unidade de Psicologia do HDS aborda al- A Unidade de Psicologia do HDS foi constituída em 2018 e, desde guns dos desafios em saúde mental da atualidade sob o ponto de então, foram criadas diversas consultas de prestação de cuidados vista da psicologia: em saúde psicológicos, nomeadamente de Psicologia da Infância e Adolescência; de Psicologia; de Psico-oncologia; de Psicologia • A intervenção da Psicologia na diabetes tipo 1; Cuidados Paliativos; de Psicologia Tratamento Cirúrgico da Obesi- • Impacto dos Eventos Traumáticos na Saúde Mental; dade; de Neuropsicologia; de Psicologia Ocupacional; e de Psico- •Violência no Namoro; logia Comunitária. • Episódios de Ansiedade; • O Papel da Psicologia no Centro de Tratamento Cirúrgico da Obe- A equipa da Unidade de Psicologia do HDS, coordenada por Sheila Sousa, é composta por sete psicólogas (na foto), a tempo inteiro, sidade; e conta ainda com a colaboração de um neuropsicólogo (Pedro Borges). • Importância dos Primeiros Socorros Psicológicos. ANA CASTELO SHEILA SOUSA ELSA HENRIQUES EUGÉNIA SALES Colabora nas Consultas de Psi- Coordenadora da Unidade de Psi- Colabora nas Consultas de Psi- Colabora na Consulta de Psi- cologia, Psiconcologia, Psico- cologia. cologia e Psicologia Tratamento cologia da Infância e Adoles- logia dos Cuidados Paliativos, Colabora nas Consultas de Psico- Cirúrgico da Obesidade. cência. Psicologia Ocupacional e Psico- logia da Infância e Adolescência e logia Comunitária. Psicologia Ocupacional. FÁTIMA PORTUGAL ANABELA LOURENÇO INÊS SANTOS Colabora nas Consultas de Psi- Colabora nas Consultas de Psi- Colabora nas Consultas de cologia da Infância e Adoles- cologia e Psiconcologia. Psicologia da Infância e Ado- cência e Psicologia (Diagnósti- lescência, Psicologia, Psicologia co Pré-Natal). Ocupacional e Psicologia Co- munitária. 28

Hospital Distrital de Santarém 2022 Importância dos Primeiros Socorros Psicológicos Por: Unidade de Psicologia Vivemos atualmente numa era em que que estas reações diminuam à medi- •oferecer apoio e cuidados práticos não eventos súbitos, imprevisíveis e poten- da que o tempo passa, mas em alguns cialmente geradores de stress e crise casos podem evoluir para psicopatolo- invasivos; psicológica tornaram-se presentes no gia, por exemplo quando os sintomas nosso dia a dia. se mantêm com elevada intensidade ou •avaliar necessidades e preocupações; quando a duração deste desequilíbrio é •ajudar as pessoas a suprir as suas ne- A prevalência de problemas sociais e psi- superior a 1 a 3 meses. cológicos tem aumentado nos últimos cessidades básicas; anos, provocando a agudização das pa- É neste sentido que os Primeiros Socor- tologias do foro mental. Existem ainda ros Psicológicos se revelam de extrema •escutar as pessoas sem pressioná-las outros problemas que são suscetíveis importância em eventos críticos, pois de provocar trauma, como crimes vio- permitem que a pessoa restabeleça o a falar; lentos, acidentes, desastres naturais e seu equilíbrio emocional o mais cedo outros stressores, como o divórcio, hos- possível, atenuando as consequências •confortar as pessoas e ajudá-las a sen- pitalização, diagnóstico de uma doença futuras da exposição ao trauma. grave e/ou crónica ou perda de trabalho. tirem-se mais calmas; A exposição a um incidente crítico pode Os Primeiros Socorros Psicológicos são levar a uma crise psicológica, ou seja, os protocolos de intervenção propostos •ajudar as pessoas na busca de infor- nossos recursos internos habituais não pelo National Center for PTSD e com são suficientes ou adequados, provocan- guidelines já publicadas pela Organi- mações, serviços e suporte social; do um desequilíbrio. zação Mundial de Saúde, e que global- mente consistem em: •proteger as pessoas de danos adicio- Numa primeira fase, estas reações são normais e adaptativas, sendo expectável nais. EMOCIONAIS Importa ter em conta que este tipo de intervenção pode, por vezes, não ser su- • Choque emocional ficiente. Quando vítimas ou familiares • Depressão apresentam reações adversas prolon- • Ansiedade gadas no tempo, devem recorrer a um • Pânico profissional de saúde mental, no sentido • Culpa de encontrar formas construtivas para • Raiva lidar com esse impacto emocional • Medo negativo. • Desespero • Irritabilidade COGNITIVOS • Embotamento afetivo • Sentimento de luto/pesar • Atenção dispersa • Dificuldade de concentração FÍSICAS • Dificuldade de tomada de decisão • Descrença • Hipertensão Arterial • Negação • Taquicardia • Alteração de memória • Dificuldade respiratória • Confusão • Fadiga • Pensamentos intrusivos • Insónia • Hiperalerta Este desequilíbrio COMPORTAMENTOS • Queixas somáticas psicológico é pau- • Náuseas tado por diversas • Luta ou fuga • Alteração do apetite reações (emocio- • “Congelado ou imobilizado” • Arrepios e suores nais, cognitivas, • Obediência automática físicas e compor- • Alienação tamentais): • Abandono de atividades • Desconfiança • Problemas no trabalho • Conflito • Agitação 29

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Impacto dos Eventos Traumáticos na Saúde Mental Por: Unidade de Psicologia Na sociedade atual estamos expostos a Existem algumas estratégias que podem possi- inúmeros eventos críticos, quer por ex- bilitar a reposição do equilíbrio e o regresso ao posição direta das situações (vivência funcionamento anterior, como por exemplo: real), quer por exposição indireta, no- meadamente através da exposição às • Falar com alguém da sua confiança sobre os seus sen- informações transmitidas pela comuni- timentos; cação social. • Descansar; • Tomar refeições equilibradas; Um evento crítico é qualquer aconteci- • Realizar tarefas que lhe proporcionem prazer; mento que dê origem a um sentimento • Manter a rotina; devastador de vulnerabilidade ou perda • Limitar a exposição a notícias. de controlo. A exposição a um even- to deste tipo - por exemplo a guerra, os incêndios florestais, os acidentes de viação, a pandemia, entre outros – pode levar a uma crise psicológica, ou seja os recursos habituais do sujeito não são su- ficientes ou adequados para lidar com a situação, o que pode provocar um dese- quilíbrio psicológico. As reações à exposição a um inciden- te crítico podem ser diversas, podendo existir sinais e sintomas: físicos (cansaço, náuseas, dores de cabeça, insónias); cognitivos (confusão, pesadelos, preocu- pação, imagens intrusivas); emocionais (ansiedade, culpa, medo, irritabilidade); e comportamentais (isolamento, perda ou aumento de apetite, aumento de con- sumo de álcool ou tabaco). Porém, é im- portante relembrar que todos reagimos de forma diferente e cada um de nós tem capacidades diferentes para lidar com a adversidade. Assim, é claro que as diversas situações às quais somos expostos podem ter impacto na Saúde Mental, porém nem todas as situações são traumáticas ou originam trauma psicológico, dependen- do da forma como a pessoa consegue repor o equilíbrio psicológico. 30

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SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Violência no Namoro Se te identificaste com estes exemplos, então é importante tomares consciência que nada justifica as atitudes e compor- tamentos violentos que te são dirigidos, que não és responsável pela violên- cia nem tens a obrigação de te manter numa relação na qual te sintas desres- peitado/a: Por: Unidade de Psicologia Tal como a violência doméstica, a EM QUALQUER Em Portugal, segundo a violência no descreve um conjunto RELAÇÃO, TEMOS O APAV, sabe-se que 1 cada de comportamentos e formas de es- DIREITO DE: 5 jovens reconhece ter tar violentas, pontuais ou contínua, sido vítima de comporta- cometida por um dos parceiros (ou •Ser respeitado/a(s), independente- mentos emocionalmente por ambos) numa relação de namoro, mente de se ser rapaz ou rapariga, abusivos numa relação de com o objetivo de controlar, dominar da idade, nacionalidade e origens cul- namoro. e ter mais poder do que a outra turais; pessoa envolvida na relação. •Dar a nossa opinião; •Estabelecer os nossos limites e a A violência no namoro pode aconte- dizer Não; cer quer as relações sejam “sérias” ou •À nossa privacidade, nomeadamente não, menos ou mais longas. Quer as nas trocas de mensagem; raparigas quer os rapazes podem ser •Decidir e escolher livremente, sem violentos para os seus parceiros. As pressões; relações em que existe violência não •Ter outros amigos e passar tempo são todas iguais e não é obrigatório com as pessoas de quem gostamos; que incluam violência física. Na mes- •Não ser agredido/a(s) psicológica, ma relação podem ocorrer várias for- emocional, física ou sexualmente; mas de violência. A violência no namoro pode fazer-nos sentir muito sozinhos, assustados, envergonhados, culpados, tristes e ansiosos. Mas é importante lem- brarmo-nos que a violência nunca é aceitável e é uma forma errada de re- solver os problemas e as dificuldades de um namoro. 32

Hospital Distrital de Santarém 2022 O que posso fazer... EXISTEMVÁRIAS FORMAS DE VIOLÊNCIA NO NAMORO: SE FORVÍTIMA DEVIOLÊNCIA NO NAMORO? VIOLÊNCIA FÍSICA Quando somos empurrados, agarrados ou presos, nos • É fundamental procurar ajuda! Falar com um adulto em atiram objetos, nos dão bofetadas/pontapés/murros, quem confies sobre o que se está a passar é a única forma nos ameaçam de nos bater, nos bloqueiam a porta ou a da outra pessoa poder apoiar ou ajudar-te. Lembra-te que saída, não nos deixam sair de determinado sítio. não tens culpa de nada, nem precisas de ter vergonha. • Podes ligar para o Serviço de Informação de Vítimas de VIOLÊNCIA SEXUAL Violência (800 202 148) ou à APAV. Quando somos obrigados a praticar atos sexuais con- • Podes denunciar a situação junto da PSP. tra a nossa vontade ou quando somos acariciados/ to- • O psicólogo da escola também pode ajudar. cados sem que queiramos. SE ALGUM AMIGO/A ESTIVER ENVOLVIDO VIOLÊNCIA VERBAL NUMA RELAÇÃO DE NAMOROVIOLENTA? Quando nos chamam nomes ou gritam, nos humilham ou fazem comentários negativos sobre nós, nos intimi- dam e ameaçam. VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA Quando nos partem ou estragam objetos, controlam a nossa forma de vestir, controlam os nossos tem- pos livres e o que fazemos durante o dia, nos ligam constantemente ou enviam mensagens, ameaçam ter- minar a relação como estratégia de manipulação, nos dizem que mais ninguém ficaria connosco, nos fazem sentir culpados/as por alguma coisa que fizemos que não foi errada, nos fazem sentir que não merecemos ser amados/as, nos dizem que somos nós que provocamos a violência. VIOLÊNCIA SOCIAL Quando nos envergonham ou humilham em público, sobretudo junto de amigos; quando mexem no nosso telemóvel ou vigiam o que fazemos nas redes sociais sem permissão; quando somos proibidos de conviver com os nossos amigos e família. VIOLÊNCIA DIGITAL Quando entram nas nossas contas de email, facebook, instagram, etc., quando controlam o que fazemos nas redes sociais, quando perseguem os nossos perfis. • Tenta acalmar a situação e impedir o comportamento; • Não culpes as pessoas envolvidas pelo que está a acon- tecer; • Conversa calmamente; • Propõe a resolução do conflito através do diálogo; • A tua presença pode ajudar a que cada pessoa entenda os pontos de vista da outra; • Mantém-te sereno/a e nunca recorras à agressividade, nem à violência; • As reações agressivas ou violentas podem piorar a situação. 33

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Episódios de Ansiedade Por: Unidade de Psicologia A ansiedade é uma emoção natural, ex- •episódios de pânico. perienciada pelas pessoas no seu dia a dia, perante uma situação considerada Existem diversas perturbações de an- como stress, sendo caracterizada por siedade, nomeadamente as fobias, sentimentos de tensão, preocupação, os ataques de pânico, a perturbação insegurança, normalmente acompanha- de ansiedade generalizada e o stress dos por alterações físicas, como o au- pós-traumático. Todas têm em comum mento da pressão arterial e da frequên- um sentimento de ansiedade intenso, cia cardíaca, sudação, secura da boca, que se prolonga durante vários meses. tremores e tonturas. Não existe um único caminho para controlar a ansiedade, mas sim vários A ansiedade tem um papel adaptativo que devem ser avaliados mediante as e ajuda-nos a estar preparados numa características de cada caso, porém as situação de perigo, a ter melhor desem- mais comuns são as alterações nos hábi- penho cognitivo e físico e tem um papel tos do dia a dia; a psicoterapia cogni- importante para a mobilização da mo- tiva-comportamental; a utilização de tivação. Embora desconfortável, a an- psicofármacos; e a terapia combinada siedade não é perigosa, pois as reações (psicoterapia + psicofármacos). são temporárias e acabaram sempre por diminuir, uma vez que fazem parte do 20% mecanismo de resposta natural do nos- so corpo. DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES SÃO AFETADAS POR EPISÓDIOS DE ANSIE- Pequenas doses de ansiedade em certas DADE. situações são úteis, mas quando o sentimento indefinido e desagradável A ansiedade é uma das preocupações de medo e apreensão, sempre associado mais comuns de saúde mental, sen- a um perigo desconhecido, se torna do que alguns estudos apontam para exagerado e desregulado, pode passar taxas de cerca de 50% dos utilizadores a ser um problema patológico com um de cuidados primários de saúde, afetan- forte impacto negativo na qualidade de do mais de 20% das crianças e adoles- vida da pessoa, particularmente devido a: centes. •recusa e evitamento frequente de ativ- idades, nomeadamente profissionais ou escolares; •medos antecipatórios variados; •perturbação do sono, principalmente do tipo insónia; 34

Hospital Distrital de Santarém 2022 TÉCNICAS DE RELAXAMENTO Como prevenir os MINDFULNESS, MEDITAÇÃO E YOGA Técnicas de respiração diafragmática episódios de Aumentam a capacidade de autocontro- profunda ajudam a diminuir a frequência ansiedade e aliviar lo e autoconhecimento com diminuição cardíaca, a pressão arterial e a lidar com os sintomas? de stress associado às crises de ansie- o stress, permitindo alcançar um estado dade e uma maior capacidade de apre- de relaxamento tranquilizador. Outras ciar aquilo que traz felicidade e bem-es- técnicas como a técnica de grounding tar. (voltar à realidade) e a técnica da ima- ginação guiada por imagens (imaginar AUTOCONHECIMENTO um jardim repousante ou praia favorita) Aprender a identificar o que provoca são práticas de uso fácil e ao alcance crises de ansiedade é a forma mais efi- de todos e contribuem para o alívio do caz de as evitar. Analise o seu dia a dia stress. e registe num diário o que lhe provoca ansiedade. Partilhe com amigos e fami- EXERCÍCIO, DIETA SAUDÁVEL E liares as suas preocupações e procure a DESCANSO ajuda de profissionais de saúde de modo Devem sempre fazer parte da vida diária, a saber como lidar com a ansiedade. mas são particularmente importantes para quem sofre de ansiedade. O exer- cício diminui as hormonas associadas ao stress e promove a saúde e o bem-estar generalizado. Na alimentação diária de- vem ser evitados alimentos com cafeína ou álcool e privilegiado o consumo de ali- mentos ricos em ómega-3. A falta de des- canso e de sono reparador são também promotores de stress. O QUE FAZER PARA SUPERAR UM ATAQUE DE PÂNICO? 1. Procurar rapidamente um local onde se sinta seguro ou um local fresco e calmo; 2. Sentar-se onde for possível; 3. Fechar os Olhos, inspirar profundamente e expirar lentam- ente pela boca, repetindo isto durante alguns minutos; 4. Não desesperar, relembrando que os sintomas e desconfor- to vão passar; 5. Tente implementar a técnica de grounding ou de imagem guiada; 6. Se estiver a ajudar alguém a gerir um episódio de ansiedade, saiba que frases como “acalma-te”, “não tens de ter medo”, “O que se passa contigo?”, por norma não ajudam. Diga antes “está tudo bem, estou aqui contigo”, “sei que as sensações são fortes mas já te vais sentir melhor”, “já te aconteceu antes e conse- guiste ultrapassar, agora vai conseguir também”; 7. Caso faça medicação, fale com o seu médico relativamente à possibilidade de utilização de medicação SOS. 35

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde O Papel da Psicologia no Centro de Tratamento Cirúrgico da Obesidade Critérios de inclusão para a O acompanhamento em consulta de Psi- consulta de Psicologia, na cologia é alargado à família nuclear, sem- equipa do Centro de Trata- pre que a dinâmica de relações interpes- mento Cirúrgico de Obesi- soais se compadeça com a realização de dade: alguma intervenção mais específica. • idade inferior a 65 anos; • utentes com diagnóstico de obesi- dade mórbida ou obesidade grave, com outras patologias associadas. No HDS, os objetivos da intervenção em 60% consulta de Psicologia, cuja responsável é a psicóloga Elsa Henriques, são os se- DOS UTENTES DO CENTRO DE TRATA- guintes: MENTO CIRÚRGICO DA OBESIDADE NECESSITAM DE CONSULTAS DE PSI- - avaliar (entrevista e testes) os utentes COLOGIA candidatos a cirurgia bariátrica; - decidir se reúnem condições psicológi- Uma média estimada de cerca de 60% cas para a realização da intervenção dos utentes, quer em período pré quer cirúrgica; em período pós-operatório, necessi- - preparar e otimizar os utentes para a ta significativamente de consultas de intervenção; Psicologia, na Equipa do Tratamento - seguir, em consulta periódica, a es- Cirúrgico de Obesidade, por acentuada tipular de acordo com as necessidades desestabilização emocional. individuais, os utentes operados, pelo menos durante três anos, cumprindo as indicações do Programa de Tratamento Cirúrgico de Obesidade; - participar nas reuniões de Avaliação Multidisciplinar do Tratamento Cirúrgico de Obesidade (AMTCO). 36

Hospital Distrital de Santarém 2022 A Intervenção da Psicologia na Diabetes Tipo 1 Inaugural na Criança e no Jovem O PAPEL DO PSICÓLOGO Por: Unidade de Psicologia O impacto da diabetes e a adaptação acabam por ficar sobrecarregados com à doença tem início com o diagnóstico, novas responsabilidades, que por vezes constituindo uma fonte de stress adi- recaem para apenas uma pessoa. cional para o doente e sua família na medida em que precisam adquirir novas Perante as inúmeras questões e afetos, informações e competências básicas, im- face às mudanças, a intervenção da plicando necessárias mudanças nas roti- psicologia pode auxiliar as Crianças/jo- nas e no estilo de vida da família. vens e famílias na adaptação à doença, podendo contribuir para tranquilizar e Como doença crónica que é, o conjunto promover mudanças cognitivas e com- de ações e de cuidados diários a imple- portamentais mais positivas. A escuta mentar são para toda a vida. Portanto, e resposta, às questões relacionadas a educação em diabetes é o primeiro com o autocuidado e com a qualidade passo para a melhoria na adaptação, de vida, melhoram significativamente a aceitação e controle adequado da pato- adesão ao tratamento. logia. A educação do portador criança/ jovem e dos seus familiares, tem um pa- Ajudar a criança/jovem e família a apren- pel essencial no sucesso do tratamento der e a assumir a sua autonomia frente e na colaboração com os cuidados. aos desafios que a doença crónica lhe apresenta e a melhorar a qualidade do Por outro lado, o papel da família é de controlo glicémico, aumenta a qualidade fundamental importância para manter e a expectativa de vida. o equilíbrio emocional da criança/jovem, que já se encontra fragilizada. A maneira PROPOSTA: como a família lida com a situação vai influenciar, tornando-se determinante na Integrar a intervenção do psi- aceitação ou negação da doença. cólogo na diabetes inaugural da criança/jovem, gerando sempre Na medida em que ocorre uma duas intervenções, preferencial- significativa mudança no estilo de vida, mente uma em contexto do in- o Suporte Psicológico à criança/jovem ternamento hospitalar e outra e sua família durante o período de cerca de duas semanas após a adaptação à doença, torna-se particu- larmente importante para uma melhor alta. aceitação do diagnóstico e colaboração nos cuidados necessários. Os cuidadores merecem igualmente toda a atenção, pois 37

SAÚDE MENTAL Literacia em Saúde Oficina Aberta à Comunidade A associação R.INserir e o HDS dispõem de uma Oficina artística, aberta à comu- nidade para o desenvolvimento de ativi- dades artísticas e workshops. Artistas e artesãos da comunidade com interesse em participarem e divulgarem o trabalho devem entrar em contacto com a oficina. Contactos: [email protected] +351 961 770 944 38

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