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Revista Saúde Mental Edição Especial - Outubro 2021

Published by Miligrama - Comunicação em Saúde, 2021-10-18 09:04:40

Description: Já se encontra em distribuição a Revista Especial Saúde Mental do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do HDS.

Keywords: Saúde Mental,Hospital Distrital de Santarém,Saúde,HDS,Edição Especial,Psiquiatria

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Edição Especial • Outubro 2021 maeúndteal Literacia para a saúde Combater o estigma da doença mental O estigma e o desconhecimento da doença mental, pág. 5 A hiperutilização das redes sociais As redes sociais têm papel fulcral no nosso quotidiano. Identifique os perigos e benefícios, pág. 20 Reportagem Conheça o Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental HDS, pág. 22 - 1SaúdeMental HDS

maeúndteal PUB? 2 - SaúdeMental HDS

Editorial 04 20Hiperutilização das redes sociais na infância No âmbito da literacia para a saúde, o HDS e na adolescência Publicação publica esta revista sobre o efeito da pandemia A pandemia acentuou a hiperutilização das Edição Especial • Outubro 2021 S U M Á R I O no nosso quotidiano. redes sociais. Como lidar com este fenómeno. 22 Combater o estigma da doença mental 05 Reportagem – Departamento de Psiquiatria Como ajudar a reduzir o estigma e a e Saúde Mental discriminação da pessoa com doença mental. O HDS a investir cada vez mais na intervenção 06 precoce para prevenir a patologia mental no Não há saúde sem saúde mental adulto. Dicas e recomendações para uma boa saúde 30 mental. Depressão A depressão é uma doença mental que afeta 08 HDS mobiliza a arte como ferramenta um elevado número de pessoas. terapêutica 32 Inauguração da oficINa – arte bruta inclusiva, A Psicologia na saúde mental A saúde psicológica é uma parte integral da novo espaço de criação artística do HDS. 10 saúde do ser humano. Cultive-a! Doença mental grave – esquizofrenia O papel da Terapia Ocupacional na saúde 34 O que é a esquizofrenia - sintomas e mental tratamento. 11 Conheça os objetivos da terapia ocupacional Ansiedade no contexto da saúde mental. Como lidar com esta emoção, que em excesso 36 provoca grandes transtornos. O Apoio Social na saúde mental 12Perturbações do sono na criança: como agir Diagnosticar, apoiar e aconselhar são parte das A falta de sono pode causar muita ansiedade, funções do assistente social na saúde mental. tanto às crianças como aos pais. Psiquiatria na Infância e na adolescência 37 HDS, do hospital à comunidade, com vários 13 Sono tranquilo projetos de intervenção em saúde mental. Como é o sono das crianças? Bom hábitos e 38 boas práticas. Luto O luto é uma resposta característica a uma 14 Não consigo dormir, e agora? perda significativa. Quais o critérios e como Desde o início da pandemia que as queixas reagir perante o luto. relacionadas com o sono têm aumentado. O 40 que fazer? Cuidador do doente mental Cuidador informal é aquele que apoia, que 17 Brinque com o seu filho cuida. Mas para cuidar do outro tem de cuidar A brincar a criança estimula o desenvolvimento de si! emocional, cognitivo e social. 41 Procure ajuda… ajude o seu filho a viver 18 Impacto da pandemia na saúde mental melhor! Leia alguns testemunhos de utentes do HDS e conheça algumas dicas para cuidar da sua Aprenda alguns truques para lidar com as saúde mental no dia a dia. birras dos mais pequenos. FICHA TÉCNICA: Revista Saúde Mental do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do HDS | Diretora: Sílvia Malheiro ([email protected]) | Paginação e design: Miligrama Comunicação em Saúde | A Revista Saúde Mental do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do HDS é uma publicação da Miligrama Comunicação em Saúde, Unipessoal, Lda. ([email protected]), dirigida à população | Tiragem: 3.000 exemplares | Distribuição gratuita | Depósito Legal: 489881/21 | Impressão e acabamento: Estria, Produções Gráficas, S.A. - 3SaúdeMental HDS

maeúndteal Ana Infante Presidente do Conselho de Administração EDITORIAL Não podemos ignorar os efeitos de ter o almoço de domingo com os quiatra ou psicólogo) é assumir as que a pandemia está a ter nas nossos pais e avós e deixámos de os nossas fraquezas enquanto seres nossas vidas. Desde logo, o impacto poder visitar nos lares onde viviam. humanos. Podemos estar doentes a nível psicossocial e económico. De por força de um vírus, duma indiges- um dia para o outro, muitos tiveram Tudo isto, pequenas grandes reali- tão, por uma queda ou por razões de ficar em casa, num confinamento dades do dia a dia, que nos causa- que desconhecemos. Se estamos que nos levou a encarar de forma ram angústia, insónias, ansiedade, doentes, devemos consultar os es- bem diferente a vida que vínhamos depressão, incerteza e medo do dia pecialistas. vivendo. Neste contexto, e no seguinte. Nada voltou a ser como âmbito da literacia para a saúde, dantes e não voltará a ser. A saúde O Departamento de Psiquiatria e o HDS publica esta revista para ir mental nunca, como agora, mereceu Saúde Mental do HDS tem - de for- ao encontro das necessidades da toda a nossa atenção! ma meritória, com muita imaginação, população. criatividade e luta no terreno -, con- Sabemos bem que a ida a uma con- tribuído para que os nossos utentes O emprego passou, para muitos, a sulta de Psiquiatria sempre foi, infe- tenham as respostas adequadas às ser uma incógnita quanto ao futuro lizmente, para muita da nossa popu- suas necessidades de cuidados de e um problema para quem, até lação, algo que não se faz de ânimo saúde mental. A doença mental está então, tinha alguma estabilidade leve. O preconceito e estigma social entre as doenças mais comuns da económica. acompanham ainda a nossa socie- nossa sociedade e não nos podere- dade. mos esquecer disso. A família reencontrou-se numa en- cruzilhada de sentimentos e numa Chegou a altura de combater tal A edição desta revista dedicada aos montanha-russa de emoções. A negatividade e neste hospital tudo problemas da saúde mental é, acre- casa passou a ser o escritório, a sala temos feito nesse sentido. A pande- ditamos, pela abrangência dos seus de aulas, o jardim de infância, a pista mia veio exigir de nós a ousadia de conteúdos, uma mais-valia para os de atletismo. De repente, deixámos pensar diferente! profissionais e utentes do HDS. Pedir ajuda a um profissional (psi- 4 - SaúdeMental HDS

COMBATER O ESTIGMA DA DOENÇA MENTAL Paula Pinheiro Diretora do Serviço de Psiquiatria O que é o estigma? acompanhado por uma reação negativa relativamente à pessoa a quem foi diagnosticada uma doença mental. A palavra estigma provém do grego e significa marcar, Surgem estereótipos de perigosidade, imprevisibilidade pontuar. e desvalorização que induzem reações de medo, desconfiança e rejeição. O estigma corresponde a um tipo especial de relação entre um atributo da pessoa e um estereótipo negativo. Resulta O estigma e a discriminação relativamente às pessoas de conhecimentos insuficientes ou inadequados que com doença mental também envolvem os familiares, conduzem a pressupostos negativos e a comportamentos os amigos e até os profissionais e os serviços de saúde de rejeição ou ao distanciamento social da pessoa mental, com impacto negativo nos recursos disponíveis estigmatizada. para a melhoria da saúde mental da população. Ainda persiste, na comunidade, um grande desconhecimento da doença mental que é, muitas vezes, Como ajudar a reduzir o estigma? das limitações decorrentes da perda de algumas capacidades pela doença mental. Procurar reconhecer Procurar estar informado e aceitar essas limitações, admitindo o seu carácter transitório e acreditar no potencial de melhoria da Sabemos que o estigma resulta do desconhecimento pessoa com doença mental, ajuda a reconhecer os da doença mental. Procurar boas fontes de informação equívocos e estereótipos envolvidos no estigma. e de compreensão da doença, ajuda a reconhecer os equívocos e estereótipos envolvidos no estigma. Procurar compreender a doença mental como uma doença que tem tratamento Procurar diferenciar a pessoa e a doença mental Sabemos que as doenças mentais são motivo de Sabemos que a pessoa não é a doença mental sofrimento e que melhoram com o tratamento médico diagnosticada, mas é muito frequente que a pessoa especializado, adequado a cada caso. Procurar seja identificada com a sua doença. Procurar compreender a importância da aliança terapêutica com reconhecer os atributos, as qualidades e os talentos a equipa de saúde mental, da pessoa e seus familiares, da pessoa e compreender o que a diferencia das num compromisso de adesão às opções terapêuticas manifestações da doença, ajuda a reconhecer os disponíveis, acompanhando todos os progressos equívocos e estereótipos envolvidos no estigma. terapêuticos, ajuda a reconhecer os equívocos e estereótipos envolvidos no estigma. Procurar aceitar as limitações e ajudar a vencê-las Sabemos que todas as pessoas têm limitações, mas é muito frequente a excessiva valorização negativa - 5SaúdeMental HDS

maeúndteal Não há saúde sem saúde mental Unidade de Psicologia e Saúde Mental A  Organização Mundial da Saúde  define  saúde men- Neste sentido, saúde mental não remete apenas para a tal  como um estado de bem-estar no qual um indivíduo ausência de doença, mas também para uma situação de percebe suas próprias habilidades e competências, pode bem-estar físico, mental e social. É fundamental ressalvar lidar com o stress diário, pode trabalhar produtivamente e que ninguém é imune ao risco de falta de saúde mental. é capaz de contribuir para a comunidade. Quando falamos de SAÚDE MENTAL falamos de: • Capacidade de adaptação a novas circunstâncias de vida/mudanças; • Superação de crises e resolução de perdas afetivas e conflitos emocionais; • Ter capacidade de reconhecer limites e sinais de mal- -estar; • Ter sentido crítico e de realidade, mas também humor, criatividade e capacidade de sonhar; • Estabelecer relações satisfatórias com outros membros da comunidade; • Ter projetos de vida e, sobretudo, descobrir um sentido para a vida. 6 - SaúdeMental HDS

Para a redução da qualidade da saúde mental concor- A par destas perturbações mentais comuns, que em Por- rem motivos pessoais, circunstanciais e constitucionais: tugal têm uma elevada prevalência (anual 22,9%; 42,7% há pessoas mais vulneráveis emocionalmente a aconte- ao longo da vida), também existem doenças mentais gra- cimentos de vida adversos, como há pessoas mais sus- ves (cerca de 4%), que podem exigir cuidados especiali- cetíveis à exposição solar do que outras ou com maior zados. tendência para desenvolver problemas respiratórios, por exemplo. Quando existe sofrimento emocional e a relação com fa- miliares e amigos não for suficiente para os resolver, im- Assim, há acontecimentos de vida que, numas pessoas porta pedir ajuda a profissionais do setor da saúde, a co- mais facilmente que noutras, precipitam doença mental, meçar pelo respetivo médico de família. particularmente a nível da perturbação da ansiedade ou do humor, como é o caso da depressão. Estatísticas Recomendações variadas A Organização Mundial da Saúde apresenta um conjunto a) Uma caminhada por dia ajuda na sua Saúde Mental. de dados relativos a diversos aspetos da Saúde Mental b) Se tiver ansioso, o seu filho também irá ficar. Respire sobre os quais é importante refletir: • Uma em cada quatro pessoas  irá desenvolver uma fundo! c) Partilhe os seus pensamentos e sentimentos com um doença mental ao longo da sua vida; • Em todo o mundo cerca de  450 milhões de familiar ou amigo. d) Realize atividades que lhe deem prazer! pessoas sofrem de uma doença mental; e) Não se esqueça: Um psicólogo pode ajudar a sentir-se • Cinco das dez causas principais de incapacidade e mais capaz para lidar com o que acontece ao seu redor, morte prematura são doenças do foro psiquiátrico; e a reduzir a ansiedade! • Prevê-se que,  em 2030,  a principal causa de inca- f) Em momentos de crise, é normal ficar ansioso! g) Priorize os seus objetivos! pacidade e morte prematura seja uma doença h) Converse com o seu filho sobre aquilo que ele está a mental: a depressão, que ultrapassará várias doenças sentir, identifiquem juntos as suas emoções e ajude-o a (cardiovasculares, respiratórias, diabetes). regulá-las. i) Converse com alguém da sua confiança! 8 dicas práticas para uma boa j) Foque-se nas ações que consegue controlar. saúde mental k) Distraia-se. Dê um passeio, ouça música, apanhe sol… l) Quando sente maior ansiedade, respire fundo! 1. Tenha cuidado com a sua alimentação. m) Aceite que não pode controlar tudo. 2. Pratique atividade física. 3. Dê prioridade ao sono. n) Conte até 10 antes de agir! 4. Passe tempo com as pessoas que ama. 5. Reverse algum tempo para o lazer. Dicas práticas para uma boa 6. Ajude o próximo. saúde mental para adolescentes 7. Procure algo que lhe dê prazer. 8. Conheça-se a si mesmo. 1. Dá valor aos teus familiares e amigos mesmo que eles não estejam online! 2. Tenta descobrir os teus interesses e talentos - “upgrada-te”! 3. Aposta em ti… dá valor ao conhecimento. 4. Diverte-te, mas lembra-te que o podes fazer sem álcool ou drogas. 5. Aceita e acredita que não existem drogas inofensivas. - 7SaúdeMental HDS

maeúndteal HDS mobiliza a arte como ferramenta terapêutica “A dinamização de projetos de reabilitação psicossocial associados ao prolongar da pandemia irão merecer de de pessoas com doença mental, mobilizando a arte todos nós uma profunda reflexão quanto ao que realmente como ferramenta terapêutica, é um contributo importante importa fazer”, acrescentou Ana Infante. para estreitar as margens de um rio tenebroso que corre bem perto de nós e que nem sempre é compreendido: o Carla Ferreira, enfermeira do Departamento de Psiquiatria estigma social associado à doença mental.” A afirmação é e Saúde Mental do HDS, lembrou que este projeto dá de Ana Infante, presidente do Conselho de Administração continuidade ao trabalho iniciado no âmbito do projeto do HDS. Incluir em 2016, com oficinas artísticas que funcionaram no Convento de São Francisco e em vários locais públicos A responsável esteve presente na inauguração da da cidade de Santarém, envolvendo utentes do hospital oficINa – Arte Bruta Inclusiva, novo espaço instalado de dia do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do no Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do HDS e membros da comunidade. HDS, que tem como objetivo dar respostas de inclusão socioprofissional e a desmistificação da barreira do A enfermeira sublinhou que a oficINa “pretende ser estigma associado à doença mental. um espaço de arte bruta inclusiva, um espaço de total liberdade de expressão artística sem tabus que possa ser “Em época pós-covid, a doença mental e os traumas 8 - SaúdeMental HDS

partilhado pelos nossos artistas (os utentes) e também por A responsável lembrou que o projeto oficINa contou com artistas”. o apoio financeiro do Programa de Responsabilidade Social – Fidelidade Comunidade no valor de 47.500 euros, De acordo com Carla Ferreira, a nova oficina “é um que permitiu a construção de um novo edifício contíguo espaço de criação artística que não pretende ser só arte ao Serviço de Psiquiatria do HDS, assim como do Prémio plástica - pode ser costura, arraiolos, oficina de reciclagem BPI “la Caixa” Capacitar, no valor de 28.670 euros, que de móveis, entre outras”. vai possibilitar a dinamização de projetos de reabilitação psicossocial. Paula Pinheiro, diretora do Serviço de Psiquiatria, disse que “este tipo de iniciativa é um combate ao estigma A cerimónia de inauguração contou com as presenças de e uma verdadeira ajuda para acompanhar os nossos Tina Sequeira e Lourdes Mileu, em representação do BPI; utentes”. de Fernanda Pereira, em representação da Fidelidade; de Ricardo Gonçalves, presidente da Câmara Municipal de Santarém; e da decoradora Ana Carvalho, que tem dado apoio ao projeto. Arteconceito bruta A expressão arte bruta (em francês Art Brut) foi concebida por Jean Dubuffet, em 1945, para designar a arte produzida por criadores livres da influência de estilos oficiais, incluindo as diversas vanguardas, ou das imposições do mercado de arte. Dubuffet via nesses criadores - oriundos de fora do meio artístico, a exemplo dos internados em hospitais psiquiátricos e os autodidatas isolados não doentes - a forma mais pura de arte. O suíço Adolf Wölfli (1864-1930), que viveu em um asilo de alienados desde 1895 até sua morte, é apontado por Dubuffet como autor símbolo da arte bruta. - 9SaúdeMental HDS

maeúndteal EDOSENQÇAUMIEZNOTALFGRRAEVEN-IA Paula Pinheiro Diretora do Serviço de Psiquiatria O que é a esquizofrenia? à adesão terapêutica, dado que a doença compromete frequentemente a consciência da mesma e da necessidade A esquizofrenia é uma doença mental grave que afeta um do tratamento, particularmente durante as fases agudas. elevado número de pessoas, em todo o mundo, nos vários contextos sociais. O que fazer? A esquizofrenia manifesta-se habitualmente no final da - Procurar ajuda médica especializada adolescência ou no início da idade adulta. É uma doença Sabemos que o tratamento da esquizofrenia indica a complexa, com clínica muito diversificada, cujos sintomas administração regular de medicamentos antipsicóti- variam ao longo do tempo. A evolução da doença é muito cos. O primeiro fármaco deste grupo surgiu no início variável, também de acordo com as várias intervenções dos anos 50 e revelou-se então, um grande sucesso terapêuticas disponíveis. no tratamento desta doença. Nos anos seguintes, foram surgindo outros medicamentos do mesmo Os sintomas da doença envolvem o pensamento, a grupo e, mais recentemente, uma nova geração de perceção, a cognição, a afetividade e o comportamento, antipsicóticos. comprometendo a avaliação da realidade e as relações O médico psiquiatra irá prescrever o fármaco mais interpessoais e sociais. indicado à situação clínica presente. São frequentes as ideias delirantes que correspondem a - Procurar acompanhamento num serviço de saúde convicções inabaláveis que não cedem à argumentação mental lógica. As alucinações mais frequentes são as auditivo- Sabemos que os serviços de saúde mental estão verbais, correspondendo a vozes de pessoas, de organizados em equipas multidisciplinares, com in- carácter crítico ou ameaçador para a pessoa doente. tervenções terapêuticas diferenciadas. Estas equi- O pensamento pode estar alterado, comprometendo a pas de saúde mental, formadas por médicos, enfer- capacidade de dar continuidade a uma ideia, com pausas meiros, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas e incapacidade de voltar à ideia anterior. O discurso pode ocupacionais, oferecem intervenções terapêuticas ser incompreensível e incoerente, com neologismos ou integradas num projeto individual, adequado a cada palavras novas. O comportamento pode ser estranho, pessoa. manifestar agressividade ou isolamento social. Os afetos podem estar comprometidos, com dificuldade ou incapacidade na expressão de sentimentos ou emoções. O compromisso cognitivo parece constituir o maior impedimento ao adequado funcionamento psicossocial e implica intervenções específicas. A esquizofrenia é uma doença mental grave que melhora com o tratamento médico especializado e que pode evoluir com longos períodos de remissão ou com sintomas apenas residuais. Durante estas fases da doença, a continuidade do tratamento farmacológico é fundamental na prevenção das recaídas e na melhoria do prognóstico da doença. Os familiares são muito importantes na ajuda 10 - SaúdeMental HDS

Ansiedade Unidade de Psicologia A ansiedade é uma emoção que, em excesso, pode ser falta de ar, tonturas, tremores, etc.), nos pensamentos considerada desagradável. Esta emoção é caracterizada (preocupo-me bastante com o futuro, estou sempre a por uma sensação de preocupação, nervosismo ou receio pensar no pior, etc.), e nos comportamentos (dificuldade do que poderá acontecer e é despoletada quando algo em dormir, em relaxar, evito locais ou pessoas difíceis para nos assusta ou inquieta. É uma emoção que faz parte da mim, etc.). nossa vida, assim como a alegria, tristeza, vergonha, entre Visto que ansiedade faz parte do quotidiano, é importante outras. utilizar algumas estratégias para a gerir da melhor forma possível, diminuindo a sua interferência nas tarefas do Ter alguma ansiedade é normal. A ansiedade é um estado nosso dia a dia: mental e emocional normal e útil ao ser humano, que tem como função principal a proteção, deixando-nos mais - Concentre-se no aqui e agora, nas atividades que alerta e focados. No entanto, quando sentida de forma está a fazer no momento; muito intensa e continuada no tempo, pode tornar-se um problema de saúde psicológica, causando mal-estar - Identifique os pensamentos que o estão a perturbar e e consequências negativas na nossa vida, podendo pergunte-se sobre a probabilidade de acontecerem; mesmo interferir significativamente nas diversas áreas do quotidiano (trabalho, família, escola, etc.). - Partilhe com alguém o que está a sentir; - Crie objetivos realistas e priorize-os; A ansiedade afeta qualquer pessoa, em qualquer idade - Faça um passeio relaxante. e em qualquer fase da sua vida. Enquanto perturbação psicológica torna-se extremamente incapacitante e E, não se esqueça, é normal sentir ansiedade em limitadora. Manifesta-se no corpo (coração acelerado, determinadas situações e é possível geri-la. SaúdeMental HDS - 11

maeúndteal sPoerntuorbnaaçcõreisandçoa: como agir Julieta Silva Enfermeira, Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental A falta de sono causa grande ansiedade tanto às crianças como aos pais. Algumas perturbações do sono são frequentes na infância. Apesar de na maioria serem normais, passageiras e pouco graves, estas perturbações podem ser evitadas tornando as noites tranquilas. Monstros A criança pode deambular pela casa, abrir as portas ou até tentar sair, sempre com os olhos abertos. Os monstros não são reais, mas o medo deles é real. Podem Deve garantir-se toda a segurança de modo a que a criança ser consequência da TV, de notícias ou até jogos. Uma hora não se magoe. Uma sineta na porta do quarto pode alertar os antes de ir para a cama é importante desligar a televisão e pais. De manhã, a criança não se vai lembrar de nada. optar por atividades calmas e tranquilizantes. A melhor atitude é encaminhá-la com cuidado para a cama Se a criança tem medo dos ruídos, ouvir uma música calma sem a tentar acordar.  parece boa ideia. O melhor é aceitar que é normal ter medos e que os pais estão Ranger os dentes lá para proteger os filhos. Faz impressão mas não tem qualquer significado especial. Terrores noturnos Em casos raros, pode estragar os dentes. Um dentista poderá aconselhar uma proteção dentária. Os terrores noturnos são um terror para os pais mas não para as crianças. Falar durante o sono O que fazer? Não fazer nada e esperar que o episódio termine. A criança não sabe o que diz, não sendo responsável pelo que Se a sua ansiedade não permitir, pode abraçar a criança afirma e não guarda qualquer memória do acontecimento. É suavemente ou fazer festas nas costas sem a estimular. É inútil fazer-lhe qualquer tipo de pergunta. É uma situação muito natural que, se estiver cansada, a criança tenha mais destes comum e não necessita de qualquer intervenção terapêutica.  episódios, pelo que deitá-la meia hora mais cedo pode ser boa ideia. Despertar confusional Pesadelos O despertar confusional surge nas primeiras horas de sono. A criança pode começar a gemer, depois chora e começa a Os pesadelos surgem no final da noite, enquanto os terrores mexer-se progressivamente. Se os pais tentam pegar-lhe, o noturnos acontecem uma ou duas horas depois de deitar. seu comportamento é semelhante ao de uma birra, parecendo A criança não tem memória dos terrores noturnos, mas é recusar qualquer tentativa de a acalmar. capaz de contar um sonho mau com detalhes. Os pesadelos Nesta fase, a criança pode ficar de olhos abertos, falar, despertam a criança, o que a leva a ter medo de se deitar. andar pela casa, mas é incapaz de realizar coisas que exijam Podem ter origem em medos e conflitos normais para a idade verdadeira consciência, como ler e responder a perguntas de devendo ser encarados como tal. forma acertada. Sugestão – fazer um desenho sobre o medo, amachucá-lo e O que fazer? Não há nada a fazer e quanto mais tranquila a deitá-lo fora. deixar mais depressa torna ao sono leve. É inútil acalmá-la e quanto mais estimulada, mais parece durar o episódio. Os Sonambulismo episódios vão-se tornando menos frequentes até terminarem espontaneamente. É um fenómeno normal, embora se possa acentuar em alturas de maior stress. 12 - SaúdeMental HDS

Stroannoquilo As crianças em geral não têm privação do sono, porque adormecem com facilidade em qualquer lugar ou circunstância, se sentirem necessidade. O Sono ao longo dos anos O papel dos pais Recém-nascidos Necessitam de cerca de 13 a 17 horas de sono • O papel dos pais deve ser empático e de apoio estimulando, a independência e o sucesso da criança; Aos 3-4 anos Dormem em média 10 a 12 horas • Quando o bebé chorar de madrugada aguarde, muitas Aos 5 anos Necessitam de 11 horas de sono vezes voltam a adormecer; Dispensam as sestas • Acalme a criança com manifestações de carinho de que Aos 10 – 12 anos Necessitam de cerca de 10 horas de sono tanto gosta; Os adolescentes Devem dormir em média 9 horas • Uma conversa tranquila com a criança pode ajudar a adormecer; Hábitos de sono saudável • Proporcione brincadeiras leves e calmas ao final da • Uma boa higiene do sono é fundamental para as tarde que estimulem o sono! Leia uma história na hora crianças serem mais saudáveis e motivadas; de deitar; • É importante colocar regras e limites claros e objetivos à • Nos primeiros anos de vida, escolha um objeto que criança na hora de dormir; possa servir para avisar a criança que são horas de dormir; • Não esqueça que as crianças são mais felizes quando sabem que existe alguém que as “comanda” e quais os • Não adormeça o seu filho na cama dos pais; limites que lhe são impostos; • Depois de desejar boa noite, procure não ficar no quarto • Não devem adormecer na cama dos pais; à espera que a criança adormeça; • É importante que compreendam que têm um espaço • Ajude-a a aprender a adormecer sozinha; individual para os ajudar a crescer e atingir a maturidade de uma forma mais harmoniosa; as crianças só aprendem • Não ceda a só mais um beijinho, uma história… apesar a lidar e a vencer os seus medos e inseguranças de poder haver uma certa flexibilidade; tornando-se autónomos; • Não tenha medo de dizer não à criança; • Nunca perder a noção do bom senso (crianças nos primeiros meses de vida podem dormir num bercinho • Apague as luzes do quarto ou, se necessário, deixe uma no quarto dos pais facilitando a amamentação). luz de presença. • Quando a criança está doente, o ideal será ter um sofá • É muito importante a rotina ao deitar! no quarto da criança, podendo deitar-se no quarto dela até que adormeça. • A criança/jovem não deve adormecer a ver TV, jogar consola ou jogos estimulantes! • “Se a criança está feliz, ativa, bem-disposta, de olho aberto e com atenção nas aulas é porque está a dormir o tempo suficiente.” SaúdeMental HDS - 13

maeúndteal Não consigo dormir e agora? Carla Ferreira Enfermeira Mestre em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria Nuno Agostinho Fernandes Médico Interno de Psiquiatria, Serviço de Psiquiatria Desde o início da pandemia Tabela 1: tem-se vindo a registar um aumento crescente de queixas Sinais sugestivos de perturbação do sono relacionadas com o sono, • Demorar mais de 30 minutos para nomeadamente em relação à dificuldade em adormecer - adormecer à noite. insónia. • Acordar muitas vezes durante a noite e ter A insónia pode ser: inicial - dificuldade em dificuldade em voltar a adormecer. • Acordar muito cedo de manhã. adormecer no início da noite, • Apesar de dormir 7 ou 8 horas por noite, intermédia - dificuldade em voltar a acordar cansado de manhã. adormecer depois de acordarmos • Ter sono durante o dia. durante a noite, • Adormecer profundamente em horas e terminal - quando acordamos mais cedo do que o habitual e impróprias. não conseguimos voltar a • Precisar de estimulantes (ex.: café, bebidas adormecer. Existem alguns sinais que podem energéticas) para se manter acordado indicar uma perturbação do sono durante o dia. (tabela 1), aos quais devemos estar atentos. Tabela 2: As perturbações do sono podem ter consequências Sintomas comuns nas perturbações do sono na nossa saúde, existindo uma relação entre o sono, a • Cansaço memória, a capacidade de concentração e a saúde em • Irritabilidade geral. Assim, a persistência de um sono não satisfatório • Pouca resistência ao stress pode refletir-se na vida diária, incluindo no desempenho • Problemas de atenção e/ou concentração profissional/académico, podendo estar presentes alguns • Problemas de memória sintomas (tabela 2). • Dificuldades de aprendizagem • Mal-estar indefinido 14 - SaúdeMental HDS • Alterações do apetite.

Uma boa noite de sono pode melhorar o seu bem-estar de semana), bem como nas atividades que antecedem mental. Existem várias estratégias que o podem ajudar a a ida para a cama; melhorar o seu sono: •Tente expor-se diariamente à luz solar natural •Assegure-se que o seu quarto fica silencioso, escuro e nas horas após acordar, para reforçar os ciclos de com uma temperatura adequada, e que o colchão e a sono/despertar; cama  são confortáveis; •Evite olhar ou ter relógios visíveis no quarto quando •Mantenha um horário de sono regular e tente estabelecer está na cama; rotinas nos horários de deitar e acordar (mesmo ao fim •Evite “forçar” o sono, vá apenas para a cama quando se sentir sonolento, evitando atividades na cama que mantêm a mente ativa, como ler, ver televisão, trabalhar ou estudar; •Se não conseguir dormir após 20 ou 30 minutos depois de se deitar, saia da cama e realize uma atividade que seja relaxante ou aborrecida para si. Volte para a cama quando se voltar a sentir sonolento; •Evite refeições pesadas antes de dormir, preferindo refeições leves com alimentos pouco açucarados ou condimentados; •Evite cafeína e outras substâncias estimulantes (café, chocolate, cacau, alguns chás – chá preto e verde, refrigerantes - guaraná, coca-cola e ice tea); •Evite o consumo de álcool nas horas antes de dormir; •Evite fumar antes de se deitar; •Evite as  sestas, pois podem interferir com os ciclos de sono normais; •Realize exercício físico (como caminhar ou correr), de preferência a meio do dia ou ao fim da tarde, pois é período que mais melhorias traz ao sono; •Tente implementar estas medidas nas suas rotinas progressivamente. SaúdeMental HDS - 15

1 Schroder CM, et al. Pediatric Prolonged-Release Melatonin for Sleep in Children with Autism Spectrum Disorder: Impact on Child Behavior and Caregiver's Quality of Life. J Autism Dev Disord. 2019 Aug;49(8):3218-3230 2 Blackmer AB, Feinstein JA. Management of Sleep Disorders in Children With Neurodevelopmental Disorders: A Review. Pharmacotherapy. 2016 Jan;36(1):84-98 maeúndteal Uma noite de sono NÃO PASSA DE UM sonho? Noite Tranquila, Todas as Noites Apoios: 16 - SaúdeMental HDS





























O que é a depressão? O que fazer? A depressão é uma doença mental, muito frequente, clas- - Procurar ajuda médica e apoio de psicoterapia sificada no grupo das perturbações do humor e que afeta Sabemos que o tratamento da depressão inclui um elevado número de pessoas, em todo o mundo. tratamento farmacológico e psicoterapia, tendo A depressão pode manifestar-se em qualquer idade, ao a duração mínima de um ano, sendo que pode longo da vida. Os sintomas da doença envolvem o pen- ser prolongado por dois ou mais anos, para se samento, as emoções e o comportamento, interferindo no atingir o funcionamento adequado e para prevenir normal funcionamento e persistindo durante, pelo menos, eventuais recidivas ou recaídas. Uma boa adesão ao duas semanas. tratamento é muito importante, na medida em que a sua interrupção prematura pode comprometer a O humor deprimido, caracterizado por tristeza, é o sintoma sua eficácia e determinar a ocorrência de um novo mais característico e ocorre na grande maioria dos casos. episódio depressivo. A perda de interesse e de prazer nas atividades é outro sintoma cardinal. É frequente a lentificação psicomotora, - Prevenir o risco de suicídio com lentificação do pensamento, discurso e movimentos, Sabemos que a consequência mais grave da no entanto, a presença de ansiedade pode manifestar-se, também, com agitação psicomotora. A falta de energia e o depressão não ser devidamente reconhecida e cansaço, mental ou físico, são frequentes, particularmente tratada, é o suicídio. Foram identificadas algumas durante a manhã, com dificuldade em iniciar as atividades condições de maior risco: ser homem, com idade e tendência para o isolamento. superior a 45 anos, divorciado ou viúvo, aposentado ou desempregado, dependência de álcool ou de A insónia e o sono agitado, com incapacidade de voltar a outras substâncias, doença crónica diagnosticada e adormecer, também são comuns. A perda de apetite e de pouco apoio social ou familiar. São, também, fatores prazer em comer podem levar a perda de peso. de maior risco de suicídio, a existência tentativas de suicídio anteriores e a história familiar de suicídio. São também características da depressão, as distorções cognitivas, com distorção da realidade e uma visão pessi- mista do próprio e de tudo o que o rodeia, em relação ao passado, ao presente e ao futuro. Dificuldades de concen- tração e na tomada de decisões podem também ser co- muns. A ideação suicida, que pode corresponder a pen- samentos fugazes ou a planos elaborados, é frequente. SaúdeMental HDS - 31

maeúndteal O PAPEL DA PSICOLOGIA NA SAÚDE MENTAL Unidade de Psicologia A saúde psicológica é uma parte integral da saúde do ser Apesar de Portugal ser o segundo país da Europa com maior humano. Deste modo, o desenvolvimento sustentável de prevalência de doenças mentais, é importante desmistificar um país não pode ser conseguido sem cuidar do bem- crenças como: as doenças mentais não têm cura ou que -estar psicológico dos seus cidadãos. Esta questão é não há nada a fazer.  Os tratamentos psicoterapêuticos, fundamental para a qualidade de vida e a produtividade assim como os farmacológicos, demonstram o contrário. dos indivíduos, das famílias, das comunidades e das Estes são bastante eficazes e melhoram muito a qualidade nações e, por isso, é necessário posicioná-la no centro da de vida dos doentes. política da saúde pública. O acompanhamento psicológico/psicoterapêutico permite Os problemas de saúde psicológica têm um grande ajudar o doente a tomar consciência da origem dos seus impacto na saúde e bem-estar dos indivíduos. As pessoas problemas, promovendo mudanças que podem influenciar com este tipo de dificuldades estão mais sujeitas a positivamente as principais áreas da vida, nomeadamente experienciar problemas de saúde física (como diabetes ou na família, na sua profissão, na sua saúde e no seu bem- doenças coronárias); apresentam maior probabilidade de -estar interior. Paralelamente, ajuda o doente a lidar de consumir álcool e drogas e de não aderir ao tratamento; e uma forma mais adaptativa com situações dolorosas do têm uma esperança média de vida inferior. passado ou do presente, promovendo assim alterações do seu comportamento, conduzindo a uma maior As perturbações mentais tornaram-se, nos últimos anos, consciencialização do seu “Eu” (de si próprio/a) e aumento na principal causa de incapacidade e numa das principais do seu bem-estar. causas de morbilidade nas sociedades. 32 - SaúdeMental HDS

A Unidade de Psicologia do HDS A equipa da Unidade de Psicologia do HDS, coordenada por Sheila Silva, é composta por oito elementos: Ana Castelo Equipa da Unidade de Psicologia Colabora nas Consultas de Psicologia, Psiconcologia, Psicologia dos Cuidados Paliativos, Psicologia Ocupacional e Psicologia Comunitária. Anabela Lourenço Colabora nas Consultas de Psicologia e Psiconcologia. Elsa Henriques Colabora nas Consultas de Psicologia e Psicologia Tratamento Cirúrgico da Obesidade. Eugénia Sales Colabora na Consulta de Psicologia da Infância e Adolescência. Fátima Portugal Colabora nas Consultas de Psicologia da Infância e Adolescência e Psicologia (Diagnóstico Pré-Natal). Inês Santos Colabora nas Consultas de Psicologia da Infância e Adolescência, Psicologia, Psicologia Ocupacional e Psicologia Comunitária. Pedro Borges Colabora na Consulta de Neuropsicologia. Sheila Sousa Coordenadora da Unidade de Psicologia. Colabora nas Consultas de Psicologia da Infância e Adolescência e Psicologia Ocupacional. SaúdeMental HDS - 33

maeúndteal O Papel da Terapia Ocupacional na Saúde Mental Ana Rita Martins, Terapeuta Ocupacional Isabel Jacob, Terapeuta Ocupacional Márcia Almendra, Terapeuta Ocupacional A Terapia Ocupacional é uma profissão da área da saúde situações que comprometam ou coloquem em risco que tem como principal objetivo promover a saúde, bem- o desempenho e envolvimento ocupacional satisfa- -estar e qualidade de vida, de pessoas de todas as idades, tórios e, consequentemente restrinjam a sua atividade capacitando-as para a ocupação. e participação; Por ocupação entende-se tudo aquilo que a pessoa realiza - Capacita a pessoa para o envolvimento e participação no seu dia a dia, com o intuito de cuidar de si própria na sua rotina diária, utilizando uma abordagem holística, (autocuidados), desfrutar da vida (lazer) ou contribuir para biopsicossocial e centrada na pessoa, incentivando-a a o desenvolvimento da sua comunidade (produtividade). usar as suas capacidades e potencial. A participação em atividades e papéis significativos (por exemplo, trabalhador, amigo ou membro da família) leva A Terapia Ocupacional tem como objetivos: à melhoria do bem-estar emocional, saúde mental e - Ajudar as pessoas a desenvolver e manter uma saúde competência social. mental positiva, prevenindo doenças mentais, de forma O Terapeuta Ocupacional: a viver uma vida plena e produtiva; - Avalia e intervém ao nível de três dimensões: Pessoa, - Promover a participação em ocupações significativas; - Promover ambientes seguros e saudáveis para apren- Ocupação e Ambiente; dizagem, crescimento e desenvolvimento, abordando a - Intervém com pessoas de todas as idades em saúde física e mental. 34 - SaúdeMental HDS

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maeúndteal O Apoio Social na Doença Mental Cidália Assunção Técnica de Serviço Social Tânia Figueiredo Técnica de Serviço Social O assistente social assume uma grande relevância no emocional ao doente e agregado familiar. acompanhamento dos processos clínicos, sendo um dos agentes de ligação de todo o processo. No âmbito Assim, as funções do Serviço Social no DPSM abrangem da Psiquiatria, este profissional assume-se como um áreas de intervenção muito específicas, nomeadamente: elemento da equipa terapêutica, exercendo por isso um papel fundamental junto do indivíduo, da família e da - Diagnóstico de necessidades; comunidade, tendo em vista a reabilitação e reintegração deste na comunidade. - Prestação de apoio psicossocial; A intervenção do assistente social pressupõe uma - Aconselhamento e acompanhamento social e de avaliação interdisciplinar que cruza informação clínica, de psicoeducação, tentando estabelecer uma relação Enfermagem, de Psicologia, da observação, de relatórios empática entre o utente e sua rede de suporte; sociais, entrevistas ao doente, bem como à respetiva família e outros significativos da rede social. - Acompanhamento de projeto terapêutico, sendo o elo de ligação entre todos os atores sociais, Exerce funções relativas à recuperação, contribuindo, ou seja, o Serviço Social faz a articulação entre em articulação com os outros profissionais, ao atender, a Saúde Mental e a “Questão Social”, através de reduzir e recuperar os danos causados pela doença. É de uma atenção particular ao imperativo da justiça extrema importância, desenvolver funções de reabilitação, social e da equidade no acesso aos direitos; ao assegurar que os doentes consigam alcançar o uso das suas potencialidades. Cabe, a este profissional, intervir - Disponibilização de informações, potencializando em rede, avaliar os recursos existentes na comunidade, capacidades e rentabilização de recursos através por forma a garantir o seu bem-estar. da articulação em rede (IPSS, Segurança Social, IEFP, Municípios, entre outros), procedendo, O Gabinete de Serviço Social da Clínica de Psiquiatria e em caso de necessidade, ao seu devido Saúde Mental presta vários tipos de suporte social com vista encaminhamento. à resolução de problemas sociais com especificidades na Saúde Mental: suporte social que trabalhe os obstáculos Todo este processo só é possível através da criação ao tratamento e reabilitação; promoção da continuidade de sinergias entre diversas instituições, o que reflete o de cuidados de apoio social; trabalho em articulação caminho que se tem vindo a construir na área da Saúde com a comunidade; suporte informacional, económico e Mental, numa perspetiva de parceria que os assistentes sociais partilham com outros profissionais abertos à 36 - SaúdeMental HDS colaboração.

Saúde mental Do hospital à comunidade Psiquiatria da Infância e Adolescência O HDS criou Equipa Comunitária de Saúde Mental na área da Psiquiatria da Infância e Adolescência para prestar cuidados de saúde mental à comunidade, nos concelhos de Salvaterra de Magos, Coruche e Almeirim. Nazaré Matos, diretora do Departamento de Psiquia- profissionais de diferentes áreas, nomeadamente tria e Saúde Mental do HDS, que integra os serviços Psiquiatria da Infância e Adolescência, Enfermagem, de Psiquiatria e de Psiquiatria da Infância e Adoles- Psicologia, Terapia Ocupacional e Serviço Social -, cência, explica que esta equipa “tem como objetivo assegurará um conjunto de intervenções, como pro- aproximar os serviços de Saúde Mental da comunida- gramas de psicoeducação, treino de competências de, com enfoque na prevenção da doença e promoção parentais e sociais, psicomotricidade, expressão plás- da saúde mental, através do melhor entendimento do tica, atividades sensoriomotoras, entre outras. contexto onde as pessoas vivem”. De acordo com Nazaré Matos, pretende desenvolver- -se um trabalho de proximidade com populações mais distantes do HDS, permitindo uma atividade assisten- cial direta em situações de psicopatologia (promoção e prevenção), capacitando crianças, adolescentes e famílias com recursos internos para fazer face a situa- ções de risco para a saúde mental. A atividade da equipa será desenvolvida em articula- ção com os Cuidados de Saúde Primários, Autarquias e outras Instituições locais. A psiquiatra explica que a equipa - constituída por Mais de 400 visitas ao domicílio num ano Foram mais de 400 as visitas domiciliárias realizadas gência e a necessidade pela equipa de Saúde Mental na Comunidade do De- de internamento hospi- partamento de Saúde Mental e Psiquiatria do HDS. Em talar. apenas um ano de atividade, e em contexto de pande- mia, esta equipa assegurou a prestação de cuidados Este primeiro ano de in- globais essenciais de saúde mental, a nível de ambu- tervenção “tem sido tra- latório e de internamento, à população da área de in- duzido em ganhos em fluência do HDS. saúde ao nível da diminui- ção de internamentos e Desde 2020 que esta equipa atua de forma a minimizar da reabilitação social, as- recaídas da doença mental grave e diminuir o impacto sim como a diminuição do da covid-19 (do confinamento e da dificuldade em li- absentismo do cuidador”, dar com as medidas restritivas de proteção), intervindo afirma um dos membros através das teleconsultas e da consulta domiciliária, da equipa, Cremilde Cos- com a finalidade diminuir o recurso ao Serviço de Ur- ta, enfermeira no HDS. CCOONNSSUULLTTOORRIIAA IILLIIMMIITTAADDAA FFOORRTTAALLEECCEEMMOOSS EEMMPPRREESSAASS AATTRRAAVVÉÉSS DDAASS NNOORRMMAASS IISSOO SaúdeMental HDS - 37 ++335511 992255 665544 887755 wwwwww..tteemmpplluumm..pptt

maeúndteal Luto Equipa Intrahospitalar de Suporte e Cuidados Paliativos Ana Ricardo, médica coordenadora; Maria João Guardado, médica; Nuno Agostinho Fernandes, médico interno de Psiquiatria; Marta Oliveira, enfermeira; Ana Marques, en- fermeira, Ana Mendes Castelo, psicóloga; Lúcia Gameiro, assistente social; Rita Baptista, assistente espiritual; Nuno Pena, capelão Elementos da Equipa Intrahospitalar de Suporte e Cuidados Paliativos perda de um animal de estimação, por término de um relacionamento amoroso, por aposentação, etc. “Às vezes a intensidade da saudade chega a doer. Nesses momentos recolho-me, permaneço longos minutos em No processo de luto há uma possibilidade de amadureci- silêncio e faço uma meditação para ter a compreensão mento que faz com que o enlutado, ao tocar no fundo da necessária para continuar o meu viver.” sua dor, possa emergir, renascido e transformado para a vida, isto é, com a perda integrada, podendo então voltar O que é o luto? a viver de modo saudável num mundo onde já não está o O luto é uma resposta característica a uma perda signi- falecido. Através de um percurso de muito sofrimento e ficativa. É a forma de reagir a uma perda de alguém/algo da sua elaboração, o enlutado pode crescer e sair mais significativo com o qual temos um laço afetivo que leva fortalecido tanto psíquica como espiritualmente. a uma mudança e transformação que envolve dimensões físicas, psicológicas, comportamentais, espirituais e so- Quando o tempo de compreensão da perda se prolonga cioculturais. diz-se que é um Luto Complexo Persistente. O luto prolongado não deve ser ignorado! Mitos sobre o processo de luto Critérios de Perturbação do Luto Prolongado - O tempo cura tudo - O luto dura de 6 meses a um ano A. Perda de uma pessoa próxima; - Deve evitar-se chorar - É menos doloroso não pensar na perda B. Resposta persistente e evasiva de luto caracterizada - Expressar a dor faz mal aos outros por anseio e saudade, preocupação com o falecido e - A culpa e a agressividade só ocorrem em dor emocional intensa: reações de luto «anormais» - Tristeza, culpa, raiva, negação ou acusação - Os medicamentos, as drogas e o álcool - Dificuldade em aceitar a morte - Sentir que perdeu uma parte de si aliviam a dor do luto - Incapacidade de experimentar humor positivo - O luto torna as famílias mais unidas - Entorpecimento ou dormência emocional - Dificuldade em envolver-se em atividades sociais Perdas e ruturas de vínculos são inerentes à vida, sendo capazes de causar intenso sofrimento e desestruturar a C. Resposta persistente por um período mínimo de 6 me- pessoa: sejam eles por morte, por perda da saúde, por ses que excede claramente as normas sociais, culturais e religiosas do contexto onde o indivíduo se insere; 38 - SaúdeMental HDS D. Significativa perturbação do funcionamento pessoal, familiar social, educacional e ocupacional.

Para além dos sintomas acima descritos devem ser O objetivo da terapia do luto é identificar e facilitar a re- também considerados: solução de dificuldades que emergem neste processo. O atendimento clínico oferece espaço acolhedor de cuidado - O laço afetivo da relação que se finda; e escuta para que seja possível o processo de elaboração do luto. - O significado concreto e abstrato relacionados à perda; Quando alguém se vai, o que fica é uma - O papel que a pessoa ocupava no sistema familiar; saudade infinita e uma coleção de doces lembranças que, na maioria das vezes, é - A condição mental da pessoa enlutada anterior à perda; capaz de provocar um aperto no peito. Porém, perante a tristeza e a trajetória do luto, vamos - Experiências prévias com morte e/ou perdas e recursos aprendendo a ressignificar essas emoções, psíquicos utilizados para ultrapassar este processo; transformando as dores do sofrimento em - O contexto social, cultural, ético, religioso e espiritual da saudade. pessoa enlutada; Viver a negar a existência da morte pode fazer com que - Questões não-resolvidas com a pessoa falecida; não tenhamos plena consciência do quanto é importante vivenciar a vida na sua plenitude. - Sentimento exacerbado de culpa pelas circunstâncias da morte; Normalmente, as pessoas só reconhecem que gostariam de ter feito coisas diferentes quando encaram a morte de - As perdas secundárias advindas pela perda primária. perto. Ser diagnosticado com alguma doença grave, ou perder alguém que amamos faz-nos refletir sobre a finitu- Desta forma, há uma série de condições relacionais, emo- de da vida. cionais, sociais, culturais e psíquicas que podem influen- ciar significativamente no processo de luto de cada indiví- O momento atual, por exemplo, é de esgotamento men- duo, intensificando o seu grau de impacto. tal e emocional. Essa exaustão gerada pela pandemia foi denominada pela OMS de “fadiga pandémica”. Ao Não é possível determinar com exatidão quanto tempo mesmo tempo estamos todos a vivenciar um estado de uma pessoa precisará para se reorganizar e acomodar a luto coletivo. todas essas condições. Como reagir perante o luto? O processo de luto é uma vivência imprevisível, inexpli- cável e desconexa dos demais estágios vivenciados an- Muitas vezes é difícil encontrar a palavra certa para dizer teriormente no ciclo vital, por isso, quando falamos em o quanto nos importamos e o quanto queremos ajudar a retomar ao quotidiano após uma perda significativa, é ne- diminuir a dor do outro. cessário ter muito cuidado. Não existe uma fórmula mágica, não existe tempo certo Como vivemos numa sociedade completamente despre- e por mais que se diga tudo, a pessoa só precisa que es- parada para lidar com a morte, e consequentemente com tejamos presentes. Seguem alguns exemplos do que se pouca tolerância às vivências inerentes ao luto, alguns deve evitar dizer e o que pode ajudar. processos de luto podem tornar-se extremamente doloro- sos e difíceis de resolver psíquica e emocionalmente. Por isso, caso perceba que de facto o processo de luto está a ser muito doloroso, é importante procurar ajuda de um profissional de saúde mental que saiba como diagnosticar e tratar o luto prolongado. O que não se deve dizer O que pode ajudar - Agora já não sofre; - Sinto muito o que estás a passar; - O tempo cura tudo; - Não posso imaginar o que estás a passar; - É a vida, todos temos que morrer; - Quando procuro pensar, não consigo imaginar como deve ser - Olha que há pessoas que estão pior; - És jovem, podes casar-te outra vez, ter um novo filho; terrível para si; -Tens de te distrair, retoma já ao trabalho; - Apetece-lhe falar sobre o que aconteceu? - Já é tempo de seguires em frente; - Preferes estar sozinha? Importas-te que te faça companhia? - Já estava na sua hora; - Posso avisar os nossos amigos para que te contactem? - Foi melhor agora que era bebé, que mais tarde quando já fosse -Temos pensado todos muito em ti; - Imagino que esperou este filho com muita expectativa; crescido; - É natural sentir-se abandonada por Deus num momento destes; - Foi vontade de Deus, queria-o com Ele; - Pode ter fé e sentir muita dor e tristeza; - É melhor que faças como se nada se tivesse passado; - Às vezes a dor da perda faz com que a fé trema. - Tens de tirar já tudo lá de casa para não pensares nele; SaúdeMental HDS - 39

maeúndteal CUIDADOR DO DOENTE MENTAL Catarina Afonso, Estudante de Pós Licenciatura de Especialização e Mestrado em SMP Iolanda Ferreira, Estudante de Pós Licenciatura de Especialização em SMP Joana Conceição, Enfermeira Especialista em SMP Teresa Massano, Enfermeira Especialista em SMP Cuidador informal é aquele que apoia, assiste e cuida Algumas frases de cuidadores informais de forma não remunerada um parente, parceiro, amigo ou vizinho com uma doença aguda ou crónica, que precisa \"É sentir revolta de toda esta de assistência para as suas atividades de vida diárias. A situação, é ter força por ele e por sobrecarga afeta muitos destes cuidadores. Sobrecarga mim.\" é a pressão, ansiedade e cansaço físico e mental, que se traduz na incapacidade de funcionar de forma adequada. *\"É sentir-me culpada por não ter paciência.\" *\"É estar sempre aqui para ela, porque sempre O Projeto “A DIFERENÇA DE UM OLHAR”, criado e de- senvolvido para fazer face à pandemia covid-19, vai ao me preocupei mais com ela do que ela comigo.\" encontro da humanização dos cuidados prestados ao utente e, consequentemente, vai diminuir a ansiedade dos *\"É estar em paz com a decisão de cuidar, familiares, provocada pela restrição total de visitas nas unidades hospitalares no contexto pandémico atual. Para mas ficar esgotada e triste.\" isso foi implementada a metodologia das videochamadas com os familiares dos doentes. *\"Sinto que deixei de ter vida própria.\" Os Cuidadores Familiares desempenham um papel cen- Para cuidar do outro tem de estar bem. Dedique tempo tral nos cuidados prestados aos familiares com doenças para si: mentais graves. Este é um facto importante e o resultado - Faça caminhadas é que a maioria dos cuidadores vive com a doença do seu - Faça meditação (concentre-se na sua respiração) familiar 24 horas por dia, todos os dias do ano. - Leia um livro - Faça trabalhos manuais Os Cuidadores sentem a sobrecarga de forma muito pe- - Converse com amigos e/ou vizinhos sada, experienciando sentimentos de culpa e impotência - Distraia-se com aquilo que gosta perante a doença do familiar e as várias crises que levam - Faça atividades de lazer a internamentos constantes. 95% são do sexo feminino O Programa “Curae de MIM” - Programa de Interven- ção Breve Psicoeducativa de redução da sobrecarga e Idade média é de 51 anos apoio emocional dirigido ao familiar cuidador de Pessoa com Doença Mental, aplicado no serviço de Internamento É cuidador em média há de Psiquiatria como resposta estruturada na melhoria da 5 anos gestão do stress ou risco de stress do cuidador. Dedica, em média, 5h por Caracterização da população dia ao cuidar 40 - SaúdeMental HDS

Impacto da pandemia na Saúde Mental Ana Rita Martins, Terapeuta Ocupacional Cidália Piedade, Enfermeira Especialista em SMP Joana Conceição, Enfermeira Especialista em SMP Teresa Massano, Enfermeira Especialista em SMP O ser humano tem tendência a sentir ansiedade, medo e insegurança perante a mudança e o desconhecido. Neste âmbito, e considerando o impacto da pandemia na Saúde Mental, foram selecionados alguns testemunhos de utentes do HDS. “Reinventar-se em tempo de crise” “Isolamento, teletrabalho e filhos” Parou, refletiu e decidiu como reagir:  “Transformámos “De um momento para o outro deparei-me fechada em fornecedores em clientes e voltámos ao ativo em casa, com 2 filhos e em teletrabalho. Fui obrigada a grande velocidade”, conclui um empresário da área da transformar a sala em espaço de aula para as crianças e distribuição. É importante saber reinventar-se traçando em escritório para mim. Os dias eram todos iguais, andava os primeiros passos e procurando respostas para os numa azáfama e não conseguia ter mãos para tudo! problemas mais mediatos numa situação de crise. “Tinha Eram passados a orientar as crianças para assistirem ao um negócio de distribuição de apoio à restauração mas #EstudoEmCasa e às aulas online, a ajudá-los a fazer os veio a pandemia e tudo parou. Mas eu não consegui ficar trabalhos e enviar para as professoras, confecionar as quieto, não sou de estar em casa no sofá à espera que refeições, tratar da casa e ainda fazer o meu trabalho. Os as coisas aconteçam”, conta o empresário. Percebeu que dias tornaram-se insuportáveis! Comecei a desesperar, o material de proteção contra a covid-19 tinha procura já não tinha energia nem paciência para os miúdos, não e ia ser necessário durante algum tempo. Decidiu pôr podia ouvir barulho, ‘explodia’ facilmente, só me apetecia mãos à obra e reinventou o seu negócio e nem precisou fugir!  Isto não podia continuar assim! Fomos fazer uma de despedir ninguém. Do apoio à restauração, criou uma caminhada e conversei com meu marido. Já não sabia o plataforma informática, com que começou a distribuir as que era andar na rua e apanhar ar fresco na cara. Sentir- tão procuradas máscaras. Desde então, já diversificou a -me a respirar! Perguntei aos miúdos o que gostavam de oferta e passou a vender outros materiais de proteção. fazer na próxima semana e desenhámos um calendário SaúdeMental HDS - 41

maeúndteal com as várias ideias. Deixámos os pijamas de lado, músicas de que gosto e que raramente ouvia. Comecei a fizemos caminhadas junto ao rio, andámos de bicicleta, cozinhar, a dar azo há minha imaginação, tendo descoberto fizemos ginástica. Pintámos com tintas e decorámos que até tenho jeito para a doçaria! Passado algum tempo, o quarto. Fizemos pipocas, vimos filmes em família. nem sei explicar como tudo aconteceu, dei conta de que Fizemos panquecas, bonecos com frutas e surpresas ao sou mais forte do que pensava, dei a volta por cima, pai. Fizemos o jantar dos piratas, usando as roupas do consegui transformar as dificuldades em algo positivo e carnaval. Enfeitámos a varanda e fizemos um piquenique. prazeroso. Ultrapassando todos estes obstáculos, com Colocámos música no wc, enchemos a banheira de água e a ajuda do meu sobrinho, criei uma página no Instagram espuma e brincámos todos. No final, enquanto as crianças onde partilho as minhas experiências culinárias!” ajudavam o pai a arrumar as coisas, eu conseguia dedicar- me mais ao meu trabalho. Os dias começaram a ser mais Efeitos da pandemia leves e animados, sentia-me mais tolerante, chegando à noite com o sentimento de dever cumprido ao ver os meus Imunidade baixa Desequilíbrio filhos felizes.” Hormonal “Ansiedade, medo do desconhecido” Depressão “Sou uma pessoa calma e feliz, trabalho num lar de idosos Stress e no decorrer da pandemia comecei a sentir-me ansiosa, angustiada, triste, com crises de choro, medos e receios Ansiedade Insónia que nunca tinha experienciado, medo de simplesmente  ir passear o cão, dar de caras com o ‘bichinho invisível’, DicasConheça algumas regressar a casa infetada e ficar doente, ou infetar alguém de quem cuido. Resolvi que não podia estar assim, porque que ajudam a cuidar da sua a minha vida tinha que continuar. Foquei-me em atividades do meu interesse, comecei a ocupar o tempo livre,  a ouvir Saúde Mental no dia a dia Preserve a sua Saúde Mental - Aprenda técnicas de relaxamento - Aceite-se a si e ao outro, qualidades e limitações Aceite-se - Procure ajuda quando necessário como é - Reconheça os seus limites - Tenha consciência das suas vulnerabilidades Aprenda algo Cultive bons - Aprenda a gerir as suas emoções positivas novo relacionamentos e negativas Estimule a Alimente-se de - Pratique sexo seguro criatividade forma saudável - Evite uso de medicação sem prescrição médica Pratique atividade Tenha momentos - Esteja aberto a mudanças para descansar - Cultive sentimentos positivos em relação física a si, aos outros e à vida - Mantenha bons hábitos alimentares - Organize o seu tempo, estabelecendo prioridades - Tenha bons hábitos de sono - Aprenda a reconhecer e expressar ideias e sentimentos com assertividade - Pratique atividade física regular - Reserve tempo para a família e momentos de lazer 42 - SaúdeMental HDS

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