corpo narcótico o corpo é ilegal o corpo é imoral o corpo é contraventor de intenções o corpo contrabandeando ilusões o corpo é político e doutrinador o tesão muda o rumo da pátria o desejo assume uma nova prática mil novecentos e cinquenta, parece que ainda estamos conscientes ou não dopados ou não nos entregamos no crime que é ser como somos. 51
a insistência que permanece pergunto-me todos os dias: nessa insanidade que é estar vivo de onde tirar forças para ir em frente? os dias passam e assim aumentam o repertório dos pesadelos a realidade, não resta dúvida, é um deles assombrosa caminhada que não desisto me surpreendo com minha força eu existo. 52
SOBRE O ARTISTA E OBRA Fel Barros, 1987 Artista visual, educador e ator. É natural da cidade de Niterói, Rio de Janeiro. Mestrando em Arte, Experiência e Linguagem pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da UERJ. Fez parte do programa fundamentação da EAV, no ano de 2019 integrou a residência e acompanhamento de artistas Imersões Poéticas da Escola sem Sítio. Sua pesquisa flutua entre as linguagens da performance, fotografia, vídeo e desenho, tendo o corpo como um campo de experimentação entre memória, gesto e atravessamentos de suas vivências, buscando dar outras narrativas para as possibilidades de encontro com o mundo. Sonhar com pedras e amolar facas, 2020 \"De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo.\" Adélia Prado Desde que entrei para meu apartamento, uma semana antes da Pandemia covid-19 ser anunciada, me deparei com a vista para uma pedra, aqui estabeleci meu diálogo com essa estrutura tão forte, tão dura, tão viva. Como ignorar a presença de uma rocha ao abrir os olhos e identificar histórias que a sua presença determina sobre minha estrutura? Vez em quando eu vejo pedra, vez em quando vejo gente, mundos inteiros e assombros. Estou vivo. Nos olhamos ao ponto de vezes me deparar com pedra e esquecer a poesia, nos olhamos porque pedra é gente, tão gente e viva quanto eu. Vejo a cor e o labirinto da forma nos meus olhos, eis aqui o momento que me perco e salto nesse abismo. Às vezes me sinto na caverna esperando a gota de luz que desce com a água que escorre me fazendo identificar o que é estar do lado de fora, vezes me vejo Sísifo e carrego a imensidão rochosa nas costas. São muitos os devaneios. A memória é viva e a poesia escapa os olhos, mas nunca escapará ao corpo. 54
AGRADECIMENTOS Este livro é uma declaração de amor à liberdade, e é dedicado a todos que consideram a arte uma das formas mais eficazes de protesto e luta por ela. A Anna Pereira dos Santos e Katia Cristina, minhas mães. A Wyldson e Clara Freitas, meu pai e minha avó (In memoriam) Ao amor incondicional de Aline Muniz e Larissa Kochem. Ao Roger Nunes e nossa parceria: nas ideias, fotografias, leituras e delírios e por sua generosidade em compartilhar tantas coisas comigo. Ao Leandro de Lima Vilela - The Freaky - que partilha comigo a devoção pela arte e pela poesia em conversas quase diárias. A minha editora Lucília Dowslley por mais essa parceria, pela paciência e pela amizade. Ao meu mestre Romulo Narducci, por suas palavras e sua existência inquieta no mundo. A Felippe Alrosa, Bobby Baq, Aline Miranda, Alexandre Guarnieri, Paulo Sérgio Kajal e Matheus Sardinha. Escritores incríveis com quem tenho a honra de dialogar. Especialmente a Fel Barros por compartilhar seu trabalho comigo e saber exatamente o atrevimento que é continuar vivo e insistir em ser artista nesse país. 55
Este livro foi impresso, em Novembro de 2020, no Rio de Janeiro, em papel Polén 80 gramas, com fonte Calibri.
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