Important Announcement
PubHTML5 Scheduled Server Maintenance on (GMT) Sunday, June 26th, 2:00 am - 8:00 am.
PubHTML5 site will be inoperative during the times indicated!

Home Explore ESCRITAS CRIATIVAS 2 ebook

ESCRITAS CRIATIVAS 2 ebook

Published by engenheir0, 2021-07-16 20:27:48

Description: ESCRITAS CRIATIVAS 2 ebook

Search

Read the Text Version

ESCRITAS CRIATIVAS TURMA SEMINÁRIO II – PERÍODO 2020.2 Vivian Galdino de andrade (Profa. DE/CCHSA)

Autora: DENIZE MARIA DOS SANTOS O PASSADO QUE RESSUSCITOU Essa é a história de uma menina que aprendeu desde cedo a ser forte, a superar as dificuldades, muitas dessas vezes não foi por escolha própria, a vida não dá muitas escolhas, e dia após dia, ela arrisca sair da sua zona de conforto. Essa é a história de Laura, que conquista a todos ao seu redor com seu jeito menina-mulher de ser, o tanto que tem de calma, tem de ousada, o que tem medo, tem de coragem, nos seus 24 anos coleciona muitas histórias, muitas conquistas, amadurecimento pessoal e crescimento profissional. A sua vida como a de todos é uma verdadeira montanha russa, uma hora está por cima, outra hora está pra baixo, porém nesse momento ela se sente por cima e realizada, com a escolha do curso de turismo onde estuda na UFPE, se sente adaptada a sua nova realidade na “cidade grande”, no Recife-PE, o que mais poderia querer?! mas, e se Laura pudesse voltar ao passado, será que ela mudaria algo? Será que se arrepende de alguma coisa? Ela está em paz com o seu passado e perdoou as pessoas que a magoaram? Antes Laura não queria muita coisa da vida, apenas um boa formação para garantir um bom emprego estava de bom tamanho, porém formar uma família estava na prioridade da sua lista, a vida inteira foi ela e sua mãe, por isso ela sonhava com uma família grande, a essa altura já seria mãe de um casal de filhos. Certamente muita coisa mudou na sua vida, algumas dessas coisas seriam inevitáveis, ela não seria mais a mesma menina de anos atrás, outras foram imprevisíveis, como deixar a sua vida que tanto amava no campo para a vida rural, abandonar o curso de pedagogia, e o rompimento drástico com seu ex com quem fez planos para uma vida inteira, ela com certeza não planejou chegar aonde chegou, mas saiu melhor do que imaginara. Porém, o que Laura não imaginava, é que a sua vida estava prestes a dar mais uma volta na montanha-russa, se seria para cima ou para baixo, só Laura poderia dizer que posição essa mudança tomaria na sua vida. Ela estava fazendo as malas para ir pra casa da sua mãe, em Condado no interior de Pernambuco. Uns três dias antes da viajem 2

acontecer, sua mãe disse que tinha uma surpresa pra ela, mas não iria contar pra que ela não fugisse, porém que estivesse preparada, e ela realmente não disse, nem mesmo com a sua insistência com o passar dos dias, e das horas, antes de viajar, ela estava impressionada com a força de vontade da sua mãe, e obviamente ela imaginou várias coisas que poderia ser essa surpresa, porém o que prevalecia na sua mente, seria a aparição do seu ex Rafael. Ela não o vira desde que terminara, e quando ela finalmente conseguiu supera-lo, e conhecer outras pessoas, ele começou a tentar contato, primeiro comentando suas postagens nas redes sociais, depois começou a manda mensagem pra ela, que visualizava, porém, não respondia, ela não comentou tal coisa com a sua mãe. Será que ele teria armado pra encontrá- la e convencido a sua mãe de não contar pra ela para que não fugisse? Se perguntava Laura! Ele teria ido longe demais com essa ideia maluca, mas dessa vez seria a sua chance de dizer algumas verdades bem na cara dele! Depois de uma longa viagem, ela chegou ao seu destino, ainda era de manhã, porém o sol estava escaldante, aparentemente sua surpresa ainda não estava lá, o que aumentava ainda mais sua suspeita, sua mãe estava estranhamente ansiosa, andando de um lado pra o outro, enquanto se ocupava de coisas que não fazia o mínimo sentido, como arrumar a almofada do sofá, pela milésima vez. Alguns minutos, após o almoço, alguém bate palma na frente da casa da sua mãe, o coração de Laura acelera, será que ela teria mesmo coragem de enfrentar o seu ex? Se levantou assim mesmo e foi em direção ao portão da casa, e o que ela viu em sua frente, quase fez seu coração parar, em uma coisa ela tinha razão, era uma pessoa, porem ela nunca nem nos seus piores pesadelos imaginaria, seus olhos não poderiam acreditar no que viam, mas estava ali bem diante dela, a personificação em pessoa com algumas rugas a mais, mas ainda inconfundível, seu pai estava bem diante dela! Sim, seu pai! O homem que abandonou sua família quando era apenas uma criança! - Oi minha filha – disse ele, com intimidade, como se não tivesse noção do espaço de tempo que havia de distância entre eles - Posso entrar Sônia?- disse ele a minha mãe, que consentiu, fazendo Laura se sentir encurralada 3

- Minha filha, eu voltei a morar nessa região e procurei por você e sua mãe – começou ele - ela me disse q você estuda longe e só vem de vez em quando pra casa, por isso pedi pra te ver quando você chegasse… Ela não conseguiu ouvir metade do que ele dizia, não mexeu um músculo do lugar onde estava, porém ele parecia bem a vontade, o cabelo crespo igual ao seu estavam brancos, com uma bermuda jeans, relógio dourado no pulso, a mão enterrada nos bolsos, falava com um sorriso amarelo no rosto, como se estivesse genuinamente feliz por finalmente vê-la, como se… - Mas me diga, como você está? - pergunta ele - Estou bem – ela não sabia o que dizer, estava presa as convenções sociais e não poderia simplesmente xingá-lo - O que você está fazendo da vida? Sua mãe me disse q você tem viajado muito! A conversa se seguiu, Laura mal falava e era sempre muito evasiva nas respostas, mas isso parecia não o desencorajar. Seu coração parecia querer pular da boca, sua mão suava, mas o seu pai, Antônio, não desmanchava aquele sorriso por nada, depois de longas meia hora, que parecia ter durado a eternidade, ele foi embora. Durante o resto da tarde, Sônia a mãe de Laura contou como se fosse uma surpresa feliz, como se deu início essa inusitada situação, parecia ter esquecido tudo o que ele a fizeram passar! Quando o pai de Laura deixou a sua mãe, ela era ainda muito pequena pra ter noção, ele tinha prometido a sua mãe que estaria presente na vida de Laura, e que não deixaria falta nada, mas Laura apenas se deu conta de que as coisas tinha mudado, quando começou a vê-lo cada vez menos, e sentir cada vez mais a sua falta, sua mãe dizia que ele estava ocupado, viajando, e que apenas por isso não poderia vê-la, porém sempre que saiam de casa, elas o viam em alguma esquina se divertindo com os amigos em algum bar qualquer, no começo ela ficava empolgada, tinha certeza de que quando visse seu lindo rosto de boneca, como ele se referia a ela, iria correndo em sua direção, pra matar a saudade que ele sentia dela, só bastava olhá-la, porém não foi bem assim que aconteceu, ele apenas olhava feio pra sua mãe. Laura lembra exatamente quando se deu conta de que não poderia contar com seu pai, foi nos dias dos pais, e ela não esperava mais uma ligação, nem achava que ele 4

apareceria de repente, pra sair e comer pipoca, ou sorvete, ela não tinha esperança, e ele não apareceu, essa confirmação a destruiu por dentro. Os dias seguintes a visita do seu pai, dia sim, dia não, ele aparecia em algum turno do dia, pra cumprimenta-la, levar presentes que ela não abria, contava da sua vida, da sua nova família, dos irmãos que ela tinha, e de como queria que ela os conhecesse, ele não pedia perdão, não falava do passado, em alguns momentos a olhava com olhos pesados, carregados de culpa, em alguns momento também sentia seu coração amolecer, ela se via abrindo um sorriso, e respondendo com mais empolgação, e odiava isso logo em seguida. Depois de exatos quinze dias, que foi o tempo que passaria com a sua mãe, finalmente chegou o dia de ir embora, mas antes deixou um papel embrulhado nas mãos dos seu pai quando foi vê-la para se despedi. Laura voltou para a vida que tinha construído, sem a presença e o apoio do seu pai, porém não se arrependia e não mudaria nada do seu passado, ela sabia que se não fosse os momentos em que estava pra baixo, ela nunca teria conhecido a força que tem, que não poderia perdoar, sem nunca ter se magoado, que não saberia o que é felicidade, se nunca tivesse sentido tristeza, a sua alma estava leve e orgulhosa da mulher que se tornou! Antônio Eu não sei os motivos que o levou a me procurar, porém gostaria de atualizá-lo sobre o que houve nesse espaço de tempo desde que meu pai foi embora, eu vi minha mãe chorar por noites inteiras enquanto fingia que dormia, vi ela aprender a trocar lâmpadas, a montar móveis, e começar a trabalhar. Quando eu tinha 7 anos quebrei o braço na casa da minha vó, quando tinha 10 anos minha mãe adoeceu e precisou sair do trabalho, passamos algumas necessidades, talvez esse foi o momento que o senhor mais me ensinou com sua ausência, eu queria ser independente. Aos 13 anos ganhei minha bicicleta pra ir para escola, aos 14 me apaixonei, aos 15 namorei, aos 20 passei na universidade federal, aos 22 tive uma decepção amorosa, aos 23 mudei de curso, e fui morar sozinha na capital, eu dizia pra todo mundo que sequer o conheci, que ele foi embora quando minha mãe engravidou, mas a verdade é que eu era apaixonada por ele, foi uma das minhas primeiras paixões, porém ele partiu meu coração, e ainda quando criança precisei enterra-ló dentro de 5

mim, enquanto ele ainda era vivo fisicamente, se o senhor quiser fazer parte da minha vida, seja muito bem vindo, porém a pessoa que chegou na casa da minha mãe me chamando de filha, é um desconhecido pra mim, o seu papel na minha vida será como senhor Antônio, e não como pai! Com amor Laura! 6

Autora: JOYCE SILVA PONTES DE OLIVEIRA O DIA COMUM DE UMA GAROTA E SEU BICHANO Sempre ao se despertar pela manhã, Joyce alisava todo seu lençol de algodão, fofinho e cheiroso a procura de sua bolinha de pelo, seu gatinho Shyuí. O ambiente que eles mais ficavam brincando era o quarto da garota, o quarto era cor de laranja com umas bolinhas verdes assimétricas, horríveis, se assim posso dizer, caro leitor. Essas bolinhas verdes foram feitas pela garota utilizando como molde uma tampa de goiabada, aqueles círculos todos tortos combinavam com a cabecinha agitada daquela menina, o piso era lustroso, sua mãe todo dia passava um pano embebido de desinfetante com cheiro de lavanda ao mesmo tempo que ouvia músicas muito populares naquela região, a menina não aguentava ouvir aquelas bandas, em especial a Banda Desejo de Menina. Mas o local onde essa duplinha se sentia bem era a sala, o canto preferido, a menina e seu gato amavam ficar deitados naquele sofá de três espaços, a manta florida em tons avermelhados, que revestia todo o sofá, exalava o cheiro do amaciante Fofo, marca muito utilizada na época, e assistindo aquela TV de tubo da Semp Toshiba, que pegava poucos canais e ainda eram bem chuviscados. Ah, mas eles se esbaldavam-se, assistiam amanhã toda vários desenhos que passavam na TV Globinho, no Bom dia e Companhia, a menina muitas vezes se pegou imaginando ganhar do Yudi e da Priscila um Playstation 2, seu gato se deitava naquele sofá e cravava suas unhas no estofado, e ali ele passava o tempo com sua companheira. Da sala, nesse momento, era inevitável sentir o cheiro que vinha da cozinha, sua mãe preparava o almoço, aquele cheiro de alho, cebola e coentro exalava por toda a casa, o arroz estralando e o barulho do óleo fritando a carne, deixa a pequena menina e seu gato cheios de fome. Sua mãe, sempre que cozinhava, gostava de ouvir a rádio FM, e aquela cena, parecia andar em perfeita sincronia. Quando marcava exatamente 12:00 h o relógio que se localizava na cozinha fazia um pequeno barulho, parecido com o bater de sinos “tam tam” e ao ouvir o som sabia que era a hora de almoço, mas ante disso, a mãe da garota, garantia que ela já estivesse se banhado. E, leitor, em falar de banho, quando a menina entrava em 7

seu banheiro de cerâmicas de coloração branca, um tanto quanto encardida devido ao tempo, seu bichano, ficava deitado a sua espera, em um pequeno tapete felpudo de cor cinza, em frente a fina porta de madeira descascada. Caro leitor, esse era o cotidiano antes da morte do felino da pobre garota. A pequena casa marrom, que propiciou tantas risadas e brincadeiras dessa duplinha, hoje não se encontra a mesma. Aqueles programas que ambos amavam assistir, ou aquele cheirinho do almoço feito pela mãe da garota, agora remetia para a menina um sabor de melancolia e saudade, o sofá ficara com os furinhos de suas garras, como uma grande lembrança e aquele tapete felpudo sempre se encontrara vazio quando a pobre garota saia do banheiro. 8

Autora: THAINNA RHIROMMY DA COSTA IZUMI ORANGE John Green escreveu a seguinte passagem em seu livro O teorema Katherine “É possível amar muito alguém, (...); mas o tamanho do seu amor por uma pessoa nunca vai ser páreo para o tamanho da saudade que você vai sentir dela”. Essa frase não podia se encaixar melhor no contexto desse texto, quero te fazer uma pergunta, do que você sente saudade? De uma pessoa, um lugar, um momento, um sabor, um cheiro; seja o que for hoje contarei a vocês sobre o motivo da minha saudade, então mergulhe comigo nas minhas memórias azuis, cheias de melancolia. Vamos para o ano de 2016 começo do meu ensino médio, em minhas lembranças estava eu em pé na frente do meu quarto a noite enquanto olhava pelo corredor para a entrada de casa, e via meu pai ao telefone e minha mãe ao lado, quando a chamada se encerrou ele sentou-se em uma das cadeiras que ficava ali e abaixou a cabeça; na mesma hora eu entendi que se tratava de Vó Tereza, que estava em São Paulo para tratar da sua saúde, até aquele momento não se sabia ao certo do que se tratava, mas naquela noite em que o ar parecia estar gélido e a força das minhas pernas inexistentes, com meus 14 anos e sem saber como reagir eu recebi a notícia do câncer da minha avó. No ano seguinte meus pais se esforçaram para que pudéssemos viajar todos juntos para poder apoiar minha avó nesse processo; Passado um ano inteiro desde a última vez que a tinha visto pessoalmente, ver com meus próprios olhos o que a doença vinha fazendo com ela me deixou abalada, os quilos que ela havia perdidos, sua pele que tomou um tom mais amarelado, seus cabelos não caíram mas agora estavam em um corte mais curto, e a sua expressão estava como sempre amável porém transparência um esgotamento das suas energias. Ela já não tinha tantas forças como costumava, sua locomoção era limitada a ajuda de alguém, as poucas vezes que se levantava era para utilizar o banheiro, a maior parte do tempo ela permanecia deitada, o espaço não era muito grande, tendo uma cama de casal, um móvel com a tv e o armário e uma janela onde entrava um pouco de luz; sempre ficava 9

sentada em um tamborete ao lado da cama dela, fazendo companhia enquanto via tv, o cheiro do chá de pêssego tomava conta do lugar é algo que nunca vou esquecer e como durante o dia logo cedo podia se escutar o som de calopsita que cantava o hino nacional, algo que minha avó não gostava, o que é bem raro já que ela não era de reclamar. Uma semana após a nossa chegada minha avó precisou ficar internada no hospital, então nossas idas para o hospital se tornaram constantes, o caminho até lá se tornou parte da rotina, a paisagem urbana que se via pela janela do carro e os sons de uma cidade que parece não parar, se misturavam em meio a meus pensamentos emaranhados a todos os meus sentimentos ; Para chegar ao quarto onde minha avó ficava era necessário atravessar alguns corredores lotados de pacientes, que estavam alguns em macas outros em cadeiras e seus acompanhantes bem como médicos circulando apressadamente, com expressões preocupadas como se estivessem carregando o mundo inteiro em suas costas, o que me trazia a impressão de que o ar dentro do hospital fosse difícil de respirar. A cama da minha avó era a última do lado esquerdo ao lado da janela, entrava bastante sol e dava para ver os prédios ao redor, o quarto comportava seis pacientes o espaço era dividido por cortinas; eu acabava por não passar muito tempo dentro do hospital, já que só era permitido um acompanhante e no horário de visitas o número de visitantes também era limitado, então a maior parte do tempo ficava esperando com minha irmã em uma entrada lateral do hospital, ficávamos sentadas em um banco que ficava em volta de uma árvore, onde era bem arejado, e havia muitas outras pessoas, o movimento era grande de entra e sai, e o trânsito de carros também era constante, tudo que podíamos fazer enquanto esperávamos era observarem em volta, às inúmeras pessoas que passavam e suas histórias que desconhecíamos. Em nosso último dia, passamos no hospital pela manhã antes do voo, como só era permitido entrar duas pessoas por vez, então minha irmã foi com meu pai primeiro, minha avó tinha melhorado nesses últimos dias, no dia anterior até tinha conseguido ficar em pé com ajuda ,minha irmã a ajudou ela a escovar os dentes, e logo depois foi minha vez de entrar, acho que esse foi um dos momentos que mais sinto frustração e arrependimento quando lembro, não consegui ser forte o suficiente para conter minhas lágrimas nesse momento e passar um pouco de força para ela; Enquanto estava em pé ao lado de sua cama 10

sem dizer uma palavra sequer foi ela que teve que me consolar. Passamos um tempo esperando meus pais terminarem de conversar com minha avó, sem saber quando voltaríamos aqui e a veríamos de novo. Esperava a hora do embarque no aeroporto, observando pelo vidro os aviões subindo e descendo e um céu claro e azul transmitia uma paz que não combinava com um dia de despedida, estava vestindo um vestido azul e um casaco preto com minha mochila nas costas, abraçada com uma pelúcia do bidu que minha tia havia dado de presente. O clima calmo foi quebrado por uma ligação que meu pai recebeu da sua tia avisando que a situação da minha avó tinha se agravado, nesse mesmo instante tudo estava desmoronando na minha frente e eu não fazia ideia do que fazer, em algum momento meus pais decidiram que só meu pai iria ficar e era preciso correr para o portão do embarque e deixar para trás um pedaço de mim, o aeroporto era enorme e bem movimentado, foram minutos intermináveis andando pelos corredores e escadas vendo o tema xadrez do chão e os telas com orientação sobre voos, sem saber como as coisas iram se desenrolar dali para frente. Me despedir do meu pai foi difícil, o frio do ar-condicionado combinava com o medo que sentia toda vez que olhava para o assento ao meu lado e não encontrava meu pai, as incertezas invadiam meus pensamentos, tudo parecia muito confuso não como minha avó estava nem quando meu pai iria volta. Quando chegamos em casa já havia escurecido e tínhamos recebido notícias do quadro da minha avó, o que nos tranquilizou por hora, nesse dia eu e minha irmã dormimos no quarto com minha mãe, eu havia me deitado em um colchão no chão, demorei um pouco para dormir e acordo com minha mãe ao telefone naquele momento eu já sabia o que havia acontecido, então no dia trinta e um de março de dois mil dezessete eu recebi a notícia que minha avó havia deixado esse mundo levando com ela um pedaço do meu coração junto. No mesmo instante minha mente ficou em branco e as lágrimas desciam involuntariamente, junto com uma dor imensa que palavras não conseguem descrever; acho que a dor de uma perda nunca vai ser um sentimento normal e nunca estaremos preparados para dar adeus a alguém. 11

No começo do texto citei John Green e chegando no fim do mesmo modo irei fazer, mas desta vez com o livro A culpa das estrelas “Esse é o problema da dor, ela precisa ser sentida; sem a dor, não poderíamos reconhecer o prazer.” Dizem que é preciso perder algo para aprender a dar valor, bem isso é verdade só após perder alguém que me era precioso comecei a valorizar os pequenos momentos que muitas vezes parecem insignificantes, por mais fútil que parece são as pequenas coisas que me fazem feliz. E apesar de não poder vê-la novamente, agora guardo na minha memória o seu sorriso que mais parecia com o poente, uma luz gentil e afável, cheia de carinho. 12

Autor: RENAN DE SOUZA SILVA PONTO DE ENCONTRO Todos os dias antes do inicio das aulas Renan ia em direção a rodoviária próxima a escola onde estudava, para encontrar seu affair Lucas. Descia do ônibus escolar, passando por suas cadeiras de estofado preto com uma textura que imitava couro, aumentava o volume da musica no fone de ouvido para não ouvir o barulho absurdo de motor estourado, quase como pipoca estourando na panela, entrava rápido na escola caminhava pelos corredores de paredes brancas cheias de rabisco, largava sua mochila na primeira carteira vazia que encontrava entre as fileiras de carteiras azuis da sala e saía as pressas. Descia uma ladeira de pedras tomando cuidado para não pisar nas rachaduras, passava em frente ao ginásio da escola e apesar de ter a Lady Gaga cantando em volume alto no seu ouvido ainda conseguia ouvir as pessoas gritando dentro da quadra, atravessava a rua na faixa já meio apagada, caminhava por mais uns 2 minutos e enfim chegava ao ponto de encontro. Ele sempre chegava antes de Lucas e ficava observando o movimento da rodoviária, sentado nos bancos de plástico azul escuro que ele achava extremamente desconfortáveis, observava os ônibus laranjas chegando, recebendo passageiros e saindo rumo aos seus destinos. Pela manhã o movimento de pessoas era grande e o barulho era proporcional, haviam barulhos de rodinhas de malas deslizando pelo chão de concreto, barulho de pessoas gritando ao telefone, barulhos de vendedores, era um verdadeiro caos. O cheiro de gasolina disputava espaço com o cheiro de fritura que vinha da lanchonete ,ambos os cheiros ficavam ofuscados quando qualquer senhora passava com seu perfume geralmente de aroma adocicado, Renan não entendia essa preferência por perfumes doces vindo de senhoras. O tempo que Renan tinha para ficar com Lucas era pouco, por isso os imensos relógios que ficavam pendurados no teto eram de grande praticidade, ajudavam-no a não perder o horário das aulas. Quando Lucas finalmente chegava eles iam para o lado da rodoviária onde tinha um gramado a céu aberto, sentavam-se no alto de um pequeno muro que dividia o restaurante e 13

o gramado, geralmente ascendiam um cigarro mentolado e o cheiro da fumaça tomava o ambiente, o gosto que ficava em suas bocas era uma mistura de cigarro e chiclete de menta. O sol tocava a pele dos garotos com aquele calor das 6:40 da manhã, iluminava seus olhos. Observavam pouco a pouco outros alunos indo em direção a escola, todos com a mesma farda branca com detalhes azuis. Logo acabava o tempo que eles tinham junto, Renan observava Lucas entrar em um ônibus como aqueles laranjas que ele observava na rodoviária, acompanhava Lucas com o olhar sentando em uma cadeira e se despedindo com as mãos pelo vidro embaçado, indo trabalhar. Só depois que Renan perdia o ônibus de vista é que ele voltava para a escola, passava por dentro da rodoviária que nesse momento estava mais calma, atravessava a rua, subia a ladeira e o ginásio também já estava quieto e silencioso, ele entrava na escola, percorria os corredores repletos de alunos padronizados, bebia um pouco de agua no bebedouro prateado do pátio e por fim entrava na sala de aula para esperar os professores. 14

Autora: VANESSA CANUTO NUNES A busca por um espírito livre Quando mais jovem, ela acreditava no encanto do mundo. Mas ela cresceu e deu de cara com um mundo onde as pessoas julgavam. Jugavam seu jeito, suas vestes, sua fisionomia. Tudo. Julgavam tudo. Viu crescer dentro de si uma menina arredia que tinha medo. Medo do novo, do desconhecido. Sorte a dela que conseguiu encontrar amigos que, diferentes dos julgadores, a aceitavam. Aceitavam sua risada fora do contexto, seu corpo magro, sua realidade. Era tudo que ela precisava. Amor. No colégio ela se apegou a cada um deles. Acostumou-se com o jeitinho de cada um. Memorizou até os trejeitos deles. Agora, longe da vida escolar, não mais os via. Não mais se era feliz. Ela com medo do mundo sem seus irmãos de alma, considerou-se fraca, incapaz. E agora, o que ela poderia fazer? Se fechar dentro de si sofrendo com a saudade da rotina escolar era a melhor opção. E assim foi durante alguns meses. Mas, um belo dia, ao se olhar no espelho, ela viu seu reflexo abatido, quase morto. Sentiu que precisava de algo. Não sabia de quê, exatamente. Mas o universo parecia saber a solução para esse problema. Foi então que, num dia qualquer, veio a pergunta: “Filha, vamos viajar?” Era isso, exatamente isso que ela precisava. Sair um pouco do seu mundo e conhecer algo novo. Pensou um pouco. Sim, a resposta só poderia ser essa. Era uma noite de agosto quando pegou a estrada rumo ao desconhecido. Seu coração batia tão acelerado como carros numa pista de corrida. Um misto de animação e medo. Quando entrou dentro daquele avião, sentiu-se arrependida. Sua mente queria fugir daquele lugar. Sentia-se presa. Só depois entendeu que aquele sentimento não tinha a ver com a aeronave, mas sim com o receio de como aquele novo lugar a veria. Lá estava ela junto às estrelas. Olhando fixamente pela janela, ela via as pequenos pontos de luz e imaginava onde estaria naquele momento. A insegurança deu lugar a uma sensação de liberdade. Os olhos dela agora brilhavam maravilhada com aquela sensação. Depois de 3 horas, ela chegou ao seu destino. Logo ao me deparar com o Aeroporto 15

Internacional de Guarulhos, ela ficou extasiada com o seu tamanho absurdo que acabou tropeçando. Um tropeço logo no começo de uma nova aventura, para ela, não era um bom sinal. Ela estava certa, pelo menos parcialmente certa. Sua primeira semana naquela enorme metrópole foi marcada por uma forte reação devido a mudança de clima. A gripe a derrubou. Naquele momento tudo que ela queria era o aconchego de sua casa e, principalmente, o cuidado da sua mãe. Pensava que o lugar dela não era ali com pessoas e lugares tão diferentes da sua realidade. Ali entendeu ainda mais o significado da expressão “um peixe fora d’água”. Felizmente aquele ataque na sua imunidade passou. E foi aí que ela pôde olhar aquele lugar e pessoas com outros olhos. Aos pouco, claro. Ela começou então a deixar sua timidez de lado e se permitir conhecer mais daquelas figuras que carregavam o mesmo sangue que ela. Ela se permitiu apreciar a beleza daquela “selva de pedra\" e dos sujeitos que lá residiam. Foi, então, que conseguiu realizar seu sonho de conhecer o Parque Ibirapuera. Quando ela colocou os pés na grama, viajou sem sair do lugar. E, novamente, se sentiu livre. Livre para ser. Aquela tarde de domingo foi um dos momentos mais marcantes da sua curta vida. A princípio, o que seria apenas uma viagem, tornou-se o início de algo muito maior. Abriu caminho para a autonomia que ela tanto buscava. Fez com que ela entendesse seus medos e os enfrentasse de modo a crescer cada vez mais dona de si. Tal experiência a fez querer correr. Correr pelo mundo. Como se não houvesse amanhã. Ela correu e percebeu que o Brasil (talvez, até o mundo) era muito pouco para ela. Ela ansiava por mais e mais. E foi atrás de mais. Pegou o primeiro vôo no primeiro aeroporto e voou. Chegou na Europa onde deliciou-se com o sabor da verdadeira pizza na Itália, contemplou as grandiosas montanhas da saudosa Suíça e foi até Portugal cobrar nosso ouro, mergulhou nas águas mais cristalinas da Grécia e, por último, foi conhecer mais da história da tão guerreira Anne Frank onde tudo ocorrerá: na capital holandesa, Amsterdã. Dali, partiu para outra aventura. Agora na África do Sul, fez um safari conhecendo o maior número de animais possível. Maravilhada com as belezas argelianas, passou horas no Jardin d’Essai du Hamma. Mas adiante, já em Moçambique, apaixonou-se pela Ilha de Bazaruto. Daí não parou mais. Começou a estudar outras línguas o que lhe permitiu ser 16

voluntária em ONG's em diferentes lugares do globo terrestre. Se aperfeiçoou na arte da comunicação o que lhe proporcionou deixar saudades em cada lugar que passará. Conheceu pessoas, lugares, gostos, cheiros, sabores e costumes tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão magníficos que só podia olhar para o céu e agradecer. 17

Autora: MARIA JOSÉ SANTOS DA COSTA INFÂNCIA: AVENTURAS E TRAVESSURAS Minha infância foi marcada por cheiro de terra molhada e aroma de mato verde, brincadeiras, tombos e cicatrizes. Minha infância teve um tempo, chamado de tempo bom e ela também teve um nome, Taise! Ter uma irmã é sempre ter uma infância guardada com segurança em outro coração. Lembro de quando morava em um sitio, ali não tinha preocupações. Uma casinha branca, pequena e modesta, ao lado um pátio de vaquejada, curral grande e um cacimbão rodeado de pedras o qual me causava medo, medo de cair dentro dele e medo dos sapos que saíam de lá. Me recordo com saudades a bicicleta verde do meu tio, ela era grande e não tinha freio, mas minha irmã aventureira não tinha medo de dá umas voltas nela. E eu como sempre, pequena e intrometida queria passear na bicicleta também. Eu só tinha cinco anos de idade, subia no bagageiro da bicicleta e a minha irmã ia “pilotando”, saíamos de frente a casinha branca e íamos até a porteira, uma porteira grande e velha, tão velha que a pintura branca já havia largado. Na hora da curva, tinha um problema... Taise não sabia dá a curva montada na bicicleta, ela precisava descer para poder voltar, mas tinha outro problema! Eu só sabia subir no bagageiro, mas não sabia descer. Taise descia da bicicleta, me tirava do bagageiro, dava a volta, subia na bicicleta novamente e eu também. Então voltávamos para a casinha branca e iniciávamos tudo de novo. Lá no sítio tinha muitas árvores frutíferas, seriguela, caju, umbu, manga, jaca... e eu adorava ir com minha irmã a procura dessas frutas. Era impressionante como eu não sabia descer de uma bicicleta, mas sabia subir nessas árvores para degustar as frutas diretamente do galho. Um dia meu pai nos levou até o pátio de vaquejada, era uma parte do sítio que mais me deixava encantada. Ele nos levou para andar de cavalo, um cavalo marrom e mansinho e essa foi a minha primeira vez. Quando montei no cavalo, meus olhos ficaram esbugalhados de medo, era um animal grande e parecia não ter controle, quando ele começou o galope, eu 18

comecei a me tremer toda, estava com medo, mas tentava disfarçar, pois queria ser corajosa como minha irmã Taise. Com o passar do tempo, meus pais resolveram mudar do sítio para a cidade, pois facilitaria os estudos da minha irmã e o meu. Então mudamos para nossa casa própria, que moramos atualmente. Aqui as brincadeiras e traquinagens só fizeram aumentar. Hoje olho para o fundo do quintal de minha casa, o qual hoje quase não vou mais. Ali entre a gravioleira e a mangueira, tinha uma rede de nylon roxa, eu e minha irmã costumávamos deitar nela depois do almoço, tínhamos um celular LG na cor roxa, nele tinha apenas uma música de Jorge e Mateus chamada “Amo noite e dia”. No balançar da rede, ouvíamos essa única música e tirávamos muitas fotos fazendo careta. Na gravioleira também tinha um balanço, mas ele era usado para uma brincadeira bem inusitada. Eu sentava no balanço, e ao invés de minha irmã empurrar-me, ela girava as cordas até ficarem todas torcidas e então soltava fazendo o balanço destorcer as cordas. O balanço girava e girava, só não faltava parar mais. Quando enfim parava, eu estava tonta e rindo como idiota, esperava a tontura passar para fazer o mesmo com minha irmã que tinha a mesma reação que eu. Taise sempre foi minha maior cúmplice, mas as vezes eu costumava engana-la e ela até sofria umas consequências por isso. As vezes ela me levava para a escola e em uma bela tarde de sol, com uma sensação térmica de 40ºC na sombra minha mãe me aprontava para a escola. Uma calça jeans clara, blusinha estilo bata laranja, que aliás era bem tendência na época, uma sandália melissa aranha na cor rosa neon, que também era tendência e penteado Maria Chiquinha que minha mãe adorava fazer. Busquei minha mochila roxa da Moranguinho e minha irmã me levou para a escola de bicicleta, diferente da outra essa tinha freio e era uma Monark roxa. Chegando na escola, sentei-me num banquinho verde e aguardava o início das aulas que não estava afim. Pensei rápido antes de entrar para a sala de aula e falei para a minha irmã que estava com muita dor de cabeça e queria ir para casa, ela inocente acreditou em mim, falou com a professora e me trouxe para casa. Quando chegamos minha mãe brigou com ela, estava na cara que eu não estava doente e sim com preguiça de estudar! Como podemos ver, Taise sempre foi uma irmã muito presente e atenciosa, ela é muito 19

aventureira e sempre buscava me levar em suas aventuras. Minha primeira ida a praia foi com ela, eu estava muito ansiosa para conhecer o mar. Fomos até a praia e eu achei tudo lindo, o imenso mar, o ar do litoral era salgado e era espalhado pelas ondas, o barulho das águas me acalmavam, e era uma delícia sentir os grãos de areia nos pés. Mas pudemos ver também que quando se trata de mim juntamente com minha irmã Taise, aparece sempre uma graça e na praia não foi diferente. Ficamos afoitas diante do mar, querendo correr para a água... mas tinha um problema! Nenhuma de nós duas sabia nadar e então tivemos que nos virar como pudemos. Entramos na água uma segurando a outra, parecíamos duas senhoras de 70 anos. As ondas iam e viam e nos derrubava, mas a gente continuava levantando e caindo. Quando decidimos sair da água, eu sentia um peso em meu short e por um momento achei que era só a sensação de água batendo em minhas pernas..., mas quando me aproximei da beira mar, percebi que era areia da praia dentro do meu short, era tanta areia que parecia que havia feito o número dois na roupa e isso fez com que Taise tirasse sarro de mim por ao menos os dois próximos meses. Chegando em casa depois da praia, fui tomar banho pois a areia já estava me incomodando muito, tinha areia por toda parte do meu corpo e no meu cabelo cacheado e volumoso então... nem se fala! Quando me deitei para dormir e já estava pegando no sono, senti as ondas em minhas pernas, como se ainda estivesse dentro do mar, você já sentiu isso também? É muito parecido com a sensação de fazer uma viagem longa de ônibus e quando descer dele, sentir ainda o balançado de toda estrada. Agora nesta tarde de quinta-feira quente, em frente a essa tela de notebook sobre a escrivaninha branca um tanto bagunçada e sentada irregularmente numa cadeira desconfortável, sabendo que deveria estar prestando mais atenção na aula de Psicologia da Educação, confesso que esse texto que foi um pouco difícil de iniciar, que me preocupava e me fazia sentir com estivesse com um bloqueio de escrita. Mas agora sinto feliz por ter relembrado da minha infância e da minha ótima companhia, e reflito o quanto o tempo e as responsabilidades afastaram minha irmã de mim, algo que jamais imaginei acontecer por temos uma conexão muito forte nos anos atrás..., mas a história de como isso aconteceu, ficará para a próxima! (Se existir próxima...). 20

Autor: PAULO RICARDO DA SILVA RODRIGUES CÉU, MAR E ALGUÉM PARA AMAR Eu e minha namorada Maria, planejávamos uma viagem há dias, uma viagem em família a qual seria a primeira juntamente com ela. Na noite anterior, quase não conseguimos dormir de tão ansiosos que estávamos. Deitados em minha cama box, assistíamos filmes na minha Smart TV branca, ouvimos músicas e inventávamos brincadeiras, mas ainda assim o tempo parecia não passar e o sono parecia não vir. Enfim chegou o grande dia, acordamos por volta das 4 horas da manhã, preparei sanduíches, uma deliciosa torta de frango preparada por minha namorada, lanches que havia comprado no dia anterior, organizei as bebidas e posicionei tudo em 2 coolers de cores azuis. Pé na estrada, vamos lá! Pegamos o carro da família, um Ford Fiesta na cor prata e motor 1.0 ano 2009. Era um pouco mais das cinco da manhã, um domingo que ainda estava um pouco nublado. O sol ainda não tinha vindo nos visitar..., um sereno tão gostoso que exuberava aquele cheirinho de terra molhada. Durante o caminho foi tudo tranquilo, passamos por lugares lindos. Como eu já havia ido antes, apresentei-os para minha namorada que ainda não tinha passado por ali e fui mostrando os lugares para ela, contando as histórias que sabia sobre alguns deles. Nos encantamos com a cidade de Rio Tinto, com uma estrutura Alemã impecável, local que segundo a História, Adolf Hitler passou uma semana lá em sua vinda a Paraíba. Seguimos o caminho até a praia, quanto mais nos aproximávamos, mais a ansiedade aumentava para chegar lá. Avistamos a praia e nos alegramos muito, pois faltava pouco para chegar até lá. Chegamos e procuramos um bom lugar para ficar durante o dia. O Sol resolveu aparecer para embelezar aquele dia lindo de verão, o céu azul limpinho, a areia ainda fria e o fato de ainda ser cedinho, o mar estava calmo e de maré baixa. Podíamos sentir a paz e suave brisa em nossos rostos. Fomos até o mar, sentamos sobre rochas que mais tarde desapareça com o aumento das ondas. Sentimos a paz daquele lugar, refletimos o quão lindo e perfeito é e como era maravilhoso usufruir daquele momento juntos. 21

A minha cachorrinha Pinscher, chamada Mel também viajou conosco. Quando saímos do mar resolvemos leva-la para passear pela praia, ela se assustou um pouco com as ondas quando tocavam em suas pequenas patinhas e nós morríamos de rir. Voltamos para o lugar que deixamos nossas coisas. Lanchamos e fomos para o mar novamente, que por sinal não queríamos mais sair. Maria demostrou um grande medo do mar por não saber nadar, eu também não sei, mas mesmo assim tentei passar confiança para ela, mostrando que ela estava segura pegando em minha mão e que esse medo poderia diminuir. E assim fizemos, no início ela ainda estava insegura, mas foi se soltando e perdendo esse medo que pude perceber através de seus olhos castanhos escuros. Eu fiquei encantado com ela andando na pontinha dos pés devido a areia que já estava bem quente. As gotas do mar que escorriam pelo seu corpo moreno me deixavam sem palavras, a morena que eu sempre sonhei estava com um sorriso bobo e o motivo era eu. Já entardecia, o mar ficava mais agitado e já estávamos bem cansados. Resolvemos voltar para casa, mas antes demos uma passadinha no rio de água doce para tirar a areia do corpo e lanchar antes de voltarmos para casa, comemos a torta de frango feita por Maria e estava muito saborosa..., mas também, o que se esperar de uma comida feita por mãos de Anjo? Chegamos ao rio de água doce e lá tinha bastante gente, a água estava gelada e muito gostosa. Havia uma pequena ponta a qual o rio ficava abaixo, tinha algumas pessoas pulando dessa ponte e caindo diretamente no rio, ficamos admirados com tanta coragem. Não passamos muito tempo lá, ficamos pouco tempo na água e logo nos preparamos para seguir viagem. Durante a vinda para casa que durou cerca de 1 hora e meia, ela dormiu em meus braços e mesmo com todo o balanço do carro ela não acordava, acredito que foi um dos dias mais felizes de minha vida e mais marcante também. Enquanto ela dormia, eu lembrava de uma música que descrevia bem aquele momento a música é da banda Capital Inicial e diz: “ela dormiu no calor dos meus braços, e eu acordei sem saber se era um sonho”. Chegamos em casa por volta das 16:00 horas da tarde, estávamos muito cansados e só queríamos descansar. Tomamos um banho gelado juntos e ela reclamava que suas costas 22

estavam queimando de tanto tempo exposta ao sol e ao sal do mar. Terminamos o banho e dei uma massagem caprichosa em suas costas, ao mesmo tempo admirava o quão lindo estava o seu bronzeado. Coloquei um filme, mas não demorou muito para que pegássemos no sono. Acordamos por volta das 19:00 horas, um tanto desorientados achando que já era o outro dia. Hoje relembro desse dia maravilhoso com muita saudade, também já planejo a próxima ida à praia com ela. Só nós dois e de moto, com certeza será mais uma linda história para contar. 23

Autora: MARIANA PEREIRA RAIOS DE SOL QUE ILUMINAM A EXISTÊNCIA Nas lembranças de Mariana sempre começa com ela acordando para mais um dia, assim como o sol que nasce para iluminar mais um dia. Abrindo os olhos ao encontro do guarda-roupas monocromático que compartilha com sua irmã como um ritual, sempre acordando naquela mesma posição, para então olhar em volta do seu nirvana. O cubículo de paredes rosa bebê e borboletas roxas que ela chama de quarto, para encontrar o maldito celular e desligar o despertador barulhento que a fez acordar às 06:00 da manhã para mais um dia. Olhando para a cama ao lado da sua para descobrir que Rita já havia levantado e estava se trocando no banheiro como o de costume para ir comprar o pão na pequena padaria a apenas alguns metros da sua casa. E os raios de sol que iluminam o quarto através da fresta da janela. É fácil perceber que o café já está sendo coado pelo som dele sendo derramado na garrafa térmica, igualmente pelo cheiro tão familiar que atravessa toda a casa e vem parar em seu nariz, aquele que sua mãe sempre faz. É realmente impressionante como o café é tão bom, nem tão amargo e não muito doce, é perfeitamente equilibrado para o paladar, mas talvez seja apenas porque é ela quem faz. Levantar-se e se vestir como o de costume, a blusa branca entregue pela escola é o mais próximo de um uniforme e a calça jeans surrada que já estava na hora de ser trocada por uma nova, indo então para a cozinha da casa e encontrar seu pai sentado na cadeira do balcão de mármore lhe pedindo a bênção como era de costume todos da família fazer o pedido com todos os tios e avó, dando bom dia com um beijo na bochecha e balançando os fios grisalhos assim como em todas as manhãs. Rita já está entrando pela porta da sala e vindo com a sacola de pão para ser assado na frigideira. Mateus está lá também já vestido para sair, cortando os pães enquanto conversa com mamãe, sobre o seminário que vamos apresentar hoje, ela está de frente para a janela aberta e a brisa balançando alguns fios do cabelo curto que estão soltos, caminhando 24

até ela desejando um bom dia com um beijo na bochecha assim como fizera com seu pai. E os raios de sol que iluminam seu rosto com um leve sorriso. Estamos todos na pequena cozinha que tem um ar de leveza, conversando e apreciando a companhia um do outro terminando de comer o que a poucos minutos foram feitos. Papai contando algo para nos fazer rir é o jeito dele de começar o dia para ficarmos alegres no começo de mais um dia exaustante. Mamãe nos dizendo para irmos escovar os dentes enquanto vai colocar os lanches na mochila perguntando se não esquecemos de nada para a escola. O caminho que fazemos diariamente para a escola é longo, atravessamos toda a cidade para chegarmos. Não costuma parecer tão longo enquanto caminhamos com nossos vizinhos e amigos que já estão nos esperando no portão da frente. Vendo de uma perspectiva diferente são quase dois quilômetros. O percurso que faríamos seria pelo centro cidade e mais a frente, mas com a companhia que tínhamos e as conversas na estrada, o tempo passava voando como os pássaros que pela manhã já saiam do ninho. As ruas ainda estão parcialmente vazias, as pessoas conhecidas que estão na pequena mercearia acenam de volta quando passamos do outro lado da rua quando dobramos a esquina para sairmos do conjunto em que todos moramos. Macibertha está empolgada, contando sobre a trama do novo livro que está lendo, uma garota ruiva que é escolhida para uma seleção para se casar com o futuro rei e acaba por se envolver nos assuntos políticos e descobre o amor. Rita está ao meu lado direito enquanto andamos e prestamos atenção ao que Maci está falando, Mateus está mais atrás enquanto conversa alto, às vezes rindo de algo dito, com seus amigos Henrique e João Pedro. Na maioria das vezes é assim, nós três a frente e os três meninos atrás enquanto caminhamos. Passando pelas casas a beira da estrada que tinham cercas de arame farpado e calçada de barro e os moradores que adentravam uma pequena padaria que faz ótimos sonhos e que a dona, uma velha que sempre nos cumprimentava com um sorriso, e o campo mais a frente com grama alta molhada pela garoa que fizera no amanhecer, e quando chegamos a rua das Laranjeiras, um nome dado pelos moradores por conta da enorme laranjeira que tem lá, o caminho já havia sido percorrido. O cheiro da relva molhada e das flores de laranjeira, os pássaros cantando deixavam 25

o ambiente com o ar de tranquilidade. As crianças passando com os pais e pegando as flores caídas no chão para colocar atrás da orelha nos dando a ideia de fazer o mesmo, os raios de sol que passam pela copa da árvore e iluminam os caracóis dos nossos cabelos. Os pequenos atos do dia a dia, as sensações que trazem são como o sol beijando a pele, os raios de sol que iluminam a existência. 26

Autora: YASMIN KATARINA MOUZINHO DE LIMA ESPAÇOS/PALCOS DOS RELACIONAMENTOS LÍQUIDOS A famosa Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Benjamim Maranhão, situada em uma cidadezinha do interior da Paraíba, na época oferecia o ensino fundamental e médio, tendo um maior número de alunos no ensino médio. Neste tempo a garota que obtinha um itinerário romântico que foram adquiridos através de leituras em livros desta escola e em sites que continham poemas, frases etc., de caráter romântico, percebeu que estava trocando olhares com alguém no imenso pátio daquela escola que tinha vários pilares de concreto no seu interior, bem como bancos do mesmo material, mesmo tendo esses empecilhos as flechadas foram possíveis. Durante as frias manhãs daquele ano que chegavam a 15°C e enquanto caminhava até à escola, sentia uma certa ansiedade, as pernas tremulas, o psicológico presumia que fosse acontecer algo e ele não estava errado, cada vez que percebia que a escola estava mais próxima os sintomas chegavam ao pico e voltava ao normal sempre que a garota conversava consigo mesmo pedindo “calma Letícia, ele é lindo e vai corresponder aos teus olhares”, assim ela entrava na escola, saudava os porteiros e seguia para minha sala de aula que estava no lado oposto à sala dele. Essas trocas de olhares, sentimentos partilhados não com ele, mas com algumas amigas foram cada vez mais aflorando e como a garota era expert em romantismo já imaginava histórias estilo “contos de fadas” para viver com ele, Heitor. Com o passar do tempo, as trocas de olhares presenciais passaram a ser trocas de mensagens, no tempo a garota não lamentou, já que não havia nada além de olhares e que através das mensagens conseguiria expressar os sentimentos que eram despertados sempre que o encontrava. Foi no site digital FACEBOOK, que os sentimentos poderam ganhar vida e por que não cores, sabores? Inicialmente eles foram trocando mensagens para conhecer o outro, das coisas mais simples como o que gosta de fazer até os principais sonhos, para expressar essas vontades foram se utilizando das ferramentas que o site disponibilizava na época, levando em consideração que na época esse site continha um número reduzido de ferramentas, no 27

entanto era possível se utilizar dele para expressar os sentimentos sentidos em tempo real, foi assim que a garota conversando com Heitor deixou claro suas intenções quanto a ele e enviando emojis ( ) com significações apaixonadas deixava cada vez mais claro para ele o quanto estava apaixonada. Ao encerrar as conversas daquele dia com felicitações para que ambos dormissem bem, fechava-se a aba da conversa sentindo um aperto no coração, no dia seguinte ela ansiosa abria a aba da conversa deles e iniciava-se a troca de mensagens, foi assim por um longo tempo, até que Letícia decidiu bloquear Heitor de suas redes sociais, alegando ter motivos para tal ação. Após passar por várias turbulências emocionais e desacreditar parcialmente que no futuro próximo poderia encontrar alguém que despertasse nela os mesmos sentimentos ou até mesmo que a surpreendesse, ela seguiu sua jornada enquanto aluna e mais precisamente leitora de romances, este itinerário a fez acreditar que o amor nunca morre e sim, perde o sentido quando é deixado de lado, quando não é prioridade para ambos. Mesmo tendo uma base fictícia a respeito do amor, dos relacionamentos ela embarcou em novos romances, tendo em mente viver algo belo, sem decepções, sem contratempos. Foi pensando nos sonhos que idealizou que Letícia abriu a porta para viver mais uma épica fase de felicitações recebidas sempre que acordava. Enfim, o próximo foi o João que a observou enquanto ela passeava pelas largas e extensas ruas de sua cidadezinha do interior, ela tímida saía apenas com sua mãe, alegando não gostar de sair sozinha. João notou que Letícia frequentava a igreja católica e por professar a mesma fé decidiu voltar a sua antiga rotina a qual era obrigatoriedade assistir à santa missa todos os domingos, foi nas noites frias e com nevoeiro no céu que eles chegavam na igreja tremendo, contudo, dispostos a viver aquele momento de fé. Eles sentavam em bancos em lados opostos e por vezes, ela estava servindo na missa, ou seja, havia curtas trocas de olhares, ao final da santa missa eles se despediam e seguiam para suas casas, ele desejoso em puxar um papo com Letícia conseguiu o contato dela com alguém e a chamou para conversar, dessa vez no WhatsApp um aplicativo digital de mensagem que possibilitava o estreitamento da relação deles, já que presencialmente não acontecia, devido a sua timidez e por que não dizer, sua bagagem de traumas. Servindo-se dessa plataforma os laços foram estreitados, sim! Ela compartilhava 28

fotos do seu cotidiano, de comidas que fazia e dos pratos montados, assim como fotos da sua família e com mais frequência da sua mãe a qual foi a primeira a saber do relacionamento deles, já ele partilhava fotos das suas labutas enquanto estudante de enfermagem e das viagens que realizava quando estava de férias, foi em uma dessas viagens que ao chegar na cidade, ele ansioso para encontrá-la e ela mais ainda, que ele não esperou que surgisse uma oportunidade para sair e foi até a casa dela deixar alguns presentinhos que comprou durante a viagem, eram terços, chaveiros etc., ela amou todos eles, mas sentiu um carinho há maior quando sentiu o odor da madeira, o terço era todo de madeira e ainda era envernizado. Ela recebeu esses presentes na calçada e ao subir a rampa para entrar na casa já foi mostrando o presente que ganhou aos pais, a mãe dela como já sabia deles ficou super feliz e pediu para que ela tivesse cuidado para não perder, já o pai questionou alegando querer saber as procedências do menino e motivos pelos quais ela recebeu aqueles presentes. A garota chamada Letícia era super atenta aos detalhes, aos questionamentos e até mesmo o simples olhar observador ou criterioso de alguém. Diante de atitudes estranhas vindas de seu pai, ela se questionou e quis entender o motivo pelo qual o pai dela não agiu de outra forma, a reação dele ocasionou um bloqueio em Letícia que sem conversar com ninguém, estando ela super magoada e destruída psicologicamente após uma longa noite de choro que ao amanhecer ainda sentia o sabor salgado de suas lágrimas, ela escreveu um lindo e repleto texto de dor por estar fazendo algo que não queria, mas se não o fizesse se sentiria pior por estar indo contra a vontade do pai que queria que Letícia apenas focasse nos estudos, ao mandar o texto João ficou sem entender, bem como a sua família, ela lamentou e agradeceu pela pessoa maravilhosa que ele foi para com ela. O amor, a paixão surgem de forma sagaz, sem escolher espaço, vestimenta e tom de batom, Letícia estava preparada teoricamente(...). 29

Autora: ANA LÍVIA FERNANDES DE MEDEIROS NADA FORA DO NORMAL Às vezes me questiono se certas coisas fazem sentido, ou se acontecem apenas por acaso, como meu nome que de trás para frente não muda nada... - Ana! – essa é minha mãe me chamando aos gritos. Era um sábado quando liguei para minha amiga Paula para nos encontrarmos no parque e tomar um sorvete, fazia uns dias que não nos víamos e aquele dia estava lindo para um passeio a tarde. A beleza daquele lugar reluzia e encantava qualquer pessoa que passasse por ali, o sol batia nas flores e as iluminavam deixando-as mais belas, eram flores de todos os tipos, podia ver a beleza das Amarílis, uma flor bastante colorida, com seus tons em vermelho, laranja, branco e vinho, sem contar nas Begônias, Calêndula, Camélia entre outras flores que não me lembro bem o nome, um amor que tenho: flores, doces e livros, então se quiser me conquistar ofereça-me um desses três. Eu e minha mãe sempre visitamos aquele lugar, como várias outras pessoas que passavam por ali em um único dia, era um ambiente que trazia paz, onde as famílias visitavam para ter um dia de descanso, tinha os banquinhos de madeira, barraquinhas com sorvete, uma linda e extensa grama bem verdinha, onde as pessoas sentavam, brincavam, saiam para conversar e fazer piqueniques, aquele lugar era perfeito, com uma estufa onde abrigava várias espécies de flores, e um lago enorme na frente. Minha mãe ia para a casa da minha avó e aproveitou para ir caminhando comigo. Chegando lá nenhum sinal de Paula, tentamos ligar algumas vezes e nada dela atender o celular. -Não acredito que Paula vai vacilar comigo – aposto que vai estar em casa jogando como sempre, só que hoje ela disse que ia tirar um tempinho. Mas é assim mesmo, vai lá ser amiga de uma doida que dá nisso... - Ana daqui a pouco ela vai estar chegando - Disse minha mãe - Sei que ela demora a aparecer, mas vai ver ela acabou perdendo o horário dessa vez, ou o trânsito não ajudou 30

muito. - Se ela não vier, da próxima ela me aguarde - Disse Ana - Vamos sentar naquela sombra embaixo da árvore, que enquanto ela não chega vou lendo meu livro, afinal essa história está ótima. - Estava lendo Dom Quixote, mas esse livro tá rendendo... Quando sentamos uma amiga da minha mãe a chama de longe, minha mãe foi cumprimenta-la, de longe dei tchauzinho. - Eliane!! Ela se chama Laura vez ou outra vai em nossa casa, quase sempre para falar da vida de alguém. Não gostamos, mas minha mãe não quer intriga com ela por serem amigas antigas. Enquanto minha mãe foi conversar com ela sentei para esperar Paula. Enquanto sentei a beira do lago esperando por minha amiga, observando aquele lugar lembrei-me de uma história que um dia li, era um livro maravilhoso com uma história encantadora, que só entenderá quem um dia leu. O livro se chamava Frankenstein, achava que era apenas um monstro até entender o real sentido, a forma como ele olhava o mundo com uma perfeição de admirar cada detalhe. Então naquele instante reparei como devíamos ser mais agradecidos, como devíamos admirar mais o que tem a nossa volta, o movimento daquelas árvores, o vento batendo em meu cabelo, os pássaros cantando, tudo me fazia lembrar como o monstro se sentia ao observar aquilo pela primeira vez. Enquanto refletia... minha amiga me chama a uma certa distância. - Anaaaa! Anaaaa! Olhei de repente e lá estava ela e adivinha com quem? Exatamente, meu antigo namorado do ensino médio, já fazia anos que não nos víamos. Éramos apenas adolescentes na época, e seguimos caminhos diferentes desde então. - Oi Ana! Quanto tempo – Disse Felipe Paula me olha com aquela cara risonha achando graça da situação e dando sinal com os olhos para que eu fosse gentil com ele. Aí como ela me irrita quando faz isso. Não falei porque terminamos, não é? Então... como eu disse antes, éramos apenas adolescentes, estávamos saindo do ensino médio e queríamos coisas diferentes, como íamos morar em cidades diferentes decidi pôr um fim em nosso relacionamento, para mim relacionamento a 31

distância não combina, mesmo ele insistindo que isso não acontecesse. Poxa gente, eu ia para a universidade já estava com uma oportunidade de emprego em uma biblioteca, eu amo livros e para mim ia ser maravilhoso. Nos veríamos a cada quinze dias, íamos ao cinema e no final comer alguma coisa, isso era o que ele planejava. Para mim não era o suficiente naquele momento, presença, carinho, toque, cafuné, atenção, companhia deviam se fazer presentes sempre, e era isso que eu queria. Então foi aí que decidi terminar, não me arrependo, mas ele está de volta... bem mais bonito, nem parece aquele menino de antes, tá um homem forte e charmoso, e aquele sorriso? E que sorriso... Mas então... ficamos conversando por um certo tempo, até que ele precisou ir embora - Então meninas! Preciso ir, estou abrindo minha confeitaria no centro e preciso conferir os últimos detalhes, espero vocês na inauguração amanhã à noite – disse Felipe Minha mãe chega nesse instante, aquele momento eu quis enfiar minha cabeça em um buraco. Vocês não têm noção do quanto ela gostava dele, ele sempre estava na minha casa e ela sempre preparava algo para ele comer, ele educado como sempre enxia ela de elogios. - Felipe!!! Não acredito que você está aqui, está de passagem pela cidade? Como você está lindo, tá namorando? Tão bonito assim não pode está sozinho, Ana porque você não me falou? - Mãe... também não sabia que ele estava por aqui. Paula e Felipe só faziam rir, minha mãe encheu o cara de perguntas, e eu nem sabia que ele estava na cidade. Não vou negar que aquela pequena paixonite voltou por um momento, mas foi um momento bem pequeno que aposto ninguém percebeu. Felipe foi embora e Paula precisava me explicar aquela situação. - Paula que palhaçada foi essa? Você sabia que ele estava aqui? E a confeitaria do centro é dele?? Você não me falou nada! - Meninas ele tá um gatão em... olha aonde foi parar seu pé na bunda – disse minha mãe - Mãe você não entende, Paula me explica isso direito! – já estava ficando irritava com ela escondendo as coisas de mim, nós nunca guardamos segredos uma da outra. - Calma flor, eu não falei nada porque ele pediu, e sim eu sabia que a confeitaria é dele e quando ele chegou. Mas ele estava comandando a construção de fora, faz apenas três 32

dias que chegou na cidade, me ligou mais cedo e falei que ia me encontrar com você, aí sim ele pediu para vir junto porque estava aqui perto. – disse Paula com a voz mais suave que poderia existir e rindo da minha cara. - Poderia ter me adiantado né? Você viu a minha cara? - Claro! Maior cara de tacho, lesando real, e sim! Deu para perceber que ainda existe sentimento aí – disse Paula. - Aproveita que ele tá de volta e agarra esse homem, vou viver pra comer doce naquela confeitaria! KKKKk – disse minha mãe - Mãe não fala assim! - Tchauzinho meninas preciso ir, e se Ana não o quiser você pega Paula, porque a solta ele não pode ficar kkkkk – disse minha mãe. - Mãe a Paula namora. - E daí? Quanto mais opção melhor! – disse minha mãe. Minha mãe foi embora e fiquei conversando com Paula, ela me explicou a situação, tomamos sorvete, conversamos bastante e percebi o quanto me sinto bem perto dela, mesmo ela sendo doidinha, atrasando e chegando com surpresas, nesses momentos percebemos o quanto algumas amizades são essenciais em nossas vidas. Ao final da tarde íamos embora quando ela me fez prometer que iriamos na inauguração da confeitaria e que Felipe fez muitas perguntas, chegando também a comentar que gostaria de uma reaproximação. - Ana você vai nessa inauguração comigo sim, me promete – disse Paula. - Paula eu realmente não queria, mas tudo bem, vamos sim. – Revirei os olhos. - Maravilha! Até porque ele perguntou se você estava namorando...e que caso não tivesse gostaria de uma aproximação... – disse Paula. - Paula! Você tá maluca, tá criando coisa na cabeça. - Se você tá dizendo...tchauzinho flor te busco amanhã as oito da noite – disse Paula - Tchau amiga, até amanhã! Continua... 33

Autora: ALINE MARIA DA SILVA SANTOS A casa de Joana era pequena, mas aconchegante, assim como todo o bairro em que ela morava. A rua sem saída é estreita e não dá para passar um carro grande, calçada com paralelepípedos, os vizinhos quase não eram vistos, o emprego consumia o maior tempo, podendo dizer, que ao todo, é bem tranquilo de se morar lá. Joana me convidou para entrar e já foi tirando o vans que usava, o tênis é sua marca registrada, sempre que saímos ela os usava, fica bonito nela e ela sabe disso. A entrada da casa é feita por um portão de ferro antigo, que agora é pintado de cinza para combinar com a frente da casa que é feita em cerâmica branca, sempre fez um barulho estranho quando aberto, fazendo parecer que precisava urgentemente de um óleo nas dobradiças. No terraço pequeno, as paredes pintadas de amarelo sempre dão um ar de felicidade quando o sol batia na parede fazendo a pequena planta no jarro parecer mais viva. — Pode ligar a televisão enquanto eu vou preparar uma coisa para a gente comer. Ela disse enquanto caminhava para o outro cômodo da casa. A sala é o primeiro cômodo da casa, e entrando já era possível ver o quão Joana é organizada, os porta retratos nas paredes eram com fotos de pessoas que eu não conhecia, mas que tinham uma semelhança com a dona da casa que me fez pensar logo em sua família. O sofá marrom e o puf formam um conjunto adorável ao ambiente, no meio da sala fica um centro quadrado de vidro e uma planta de plástico em cima, o que dá para colocar comida para quando quiser comer assistindo a um filme de frente para a televisão, que fica em cima de um móvel com mais porta retratos. Da cozinha joana me chama perguntando se eu quero um pedaço da lasanha, respondo que sim. É claro, é minha comida favorita. Assim que passava pela sala a cozinha era vista, Joana está colocando a lasanha no micro- ondas para esquentar enquanto eu estava procurando um filme para assistirmos. Procurando Dory está passando em um canal da TV, então vai ser esse mesmo. Quando pronta, a comida está com um cheiro ótimo, o orégano por cima do queijo deixa um aroma pela cozinha. Colocamos a lasanha em pratos para cada uma e pegamos o copo de coca-cola e vamos rumo ao sofá para assistir ao filme. 34

Autora: MICHELLY FÉLIX DA SILVA ALGUNS DIAS CONHECENDO JÚLIA, SUAS AVENTURAS E SEU AMOR PARA COM OS SEUS Bom... me chamo Júlia, tenho 25 anos. Nasci em uma cidade do interior da Paraíba. Tive uma infância repleta de aventuras, era uma criança bem ativa e comunicativa. Nos fins de semana e férias passeava no sitio dos meus avos, lá é onde tenho minhas melhores lembranças. Corria, subia nas arvores, comia frutas direto do pé, junto com meus primos e irmãos. Sem contar o carinho que recebia dos meus avós. Ah! Que época maravilhosa! Mas, além de amar ir parao sítio dos meus avós, eu também amava ir para escola. Amava o contato com meus colegas e com os professores. Na minha escola tinha uma pequena biblioteca, era um dos meus lugares preferidos, pois amava ler. Os livros tem umpoder incrível, nos fazem viajar sem sair do lugar, nos fazem conhecer muitas coisas. Cresci e me formei em história. Sou professora em uma escola onde estudei. Fisicamente sou alta, magra, de cabelos escuros e cacheados, tenho olhos escuros e pequenos, sobrancelha levemente arqueada, nariz um pouco arrebitado e a boca media. Quando sorrio minhas bochechas deixam meus olhos quase fechados(risos), eu gosto dessa minha característica. Gosto muito de conversar, ter contato com várias outras pessoas, me considero simpática, amiga, resiliente, independente, protetora, não tolero injustiças e desrespeito. Meu maior medo é perder pessoas que amo, principalmente, meus pais. Eles são minha fonte de inspiração, meu porto seguro. Tenho alguns objetivos, mas o maior deles é levar e incentivar a educação, pois acredito que a educação é capaz de mudar inúmeras coisas no mundo. O pensamento crítico, a busca pelajustiça, são elementos que a educação proporciona e com esses elementos vários aspectos sociais, culturais, políticos e econômicos podem sofrer mudanças positivas. Minha família e amigos próximos são as pessoas mais importantes para mim.Não tenho inimigos. Gosto de ler, está com minha família, viajar, cozinhar, dançar, ensinar. 35

Contudo, não gosto de lavar louça, passar roupa e resolver problemas burocráticos, acredito que maioria das pessoas também(risos). Tenhoum irmão e uma irmã, Alice e João. Meus pais são Joana e Pedro, namoro o Guilherme. Minha família gosta de falar alto, rir alto, somos bem comunicativos,temos nossos conflitos, mas sempre estamos dispostos a ajudar um ao outro. Sou de uma família religiosa, sou católica e praticante. Minha casa é bem pequena, mas como moro sozinha é suficiente. Na entradatenho um pequeno jardim, com algumas espécies de flores e suculentas e uma espaço com uma mesa e cadeira onde uso para ler e estudar, gosto muito desseambiente. Na sala tem o sofá, tv e uma estante com alguns livros, depois vem acozinha onde tem o fogão, geladeira, armário e pia, todos no mesmo lado. Do outro lado tem a mesa e um bebedouro. No meu quarto fica minha cama, meu guarda-roupas, minha penteadeira e escrivaninha que fica o computador. Em seguida, tem o banheiro e a lavanderia. Em uma manhã ensolarada de domingo fui visitar meus avós. Dona Ana e SeuAntônio moram em um sítio e como estava um dia lindo decidi ir pedalando até a casa deles, assim poderia aproveitar para observar a paisagem que tanto amo.No caminho até o sítio tem lugar que eu adoro, por ter uma vista linda, resolvi parar e observar. Lá dá para ver as cidades vizinhas, as montanhas, tantas árvores, a vegetação bem verde típica dessa época do ano, sem contar no aromadas vegetações, o ar puro, tenho a sensação de liberdade. Continuei a pedalar, encontrei alguns conhecidos e os cumprimentei. Desse modo, fui me aproximando daquela casa branca, com varanda, com várias roseiras, as árvores que eu tanto amava subir quando criança junto de seus irmãos e primos. Toda vez que eu ia aquele lugar parecia que era aprimeira vez era tudo tão encantador. Logo vi meus avós sentados na varandaaguardando-me, logo esbanjaram um sorriso e retribui. A alegria e carinho demeus avós era contagiante. Sentei-me ao lado deles e por alguns minutosficamos conversando. Em seguida resolvi entrar na casa. Era uma casa simples,com móveis antigos, mas que minha avó se recusava a trocar por mais “modernos’, como ela dizia. Ao chegar à cozinha exalava um cheirinho de café. Após o café resolvi passear no sítio. Observei o local, ouvindo os cantos dos pássaros, senti o sol em minha pele. Caminhei até um cajueiro e lembrei de como com gostava de subir e ficar no topo, observando aquele lugar que tanto me trazpaz. Então resolvi subir para reativar aquela 36

memória de criança. Sentei em umagalha, peguei um caju e degustei. Fui também até a mangueira, as laranjeiras e as bananeiras. Tudo me trazia lembranças de minha infância. Então, após a caminhada fui ajudar minha vozinha na cozinha, foi naquela cozinha e com minha avó que eu tomei gosto por cozinhar desde cedo. Foi no fogão a lenha que fiz meus primeiros pratos. Preparamos o almoço e conversamos. O aroma de comida caseira feita no fogão a lenha exalava naquelelugar. Chegou o restante da família para almoçar conosco. No fim da tarde me despedi de meus avós e voltei para casa. Na volta estava um entardecer lindo. Ao chegar em casa sentei em meu jardim para descansar. Fiquei por ali algumtempo descansando e refletindo o quão é bom ter meus avós, minha família, o sitio que eu tanto amo e o quanto colecionei memórias e sentimentos naquele lugar junto a pessoas que amo. Estava emocionada e o sentimento de gratidão me dominava. Foi então, que lembrei que estava aproximando-se o aniversário de 50 anos de casamento de meus avós e pensei em montar um álbum com fotos e pequenos relatos de momentos que marcaram minha vida ao lado de suafamília para presenteá-los nesse momento tão especial. Coloquei todas as ideias em uma folha, elencando o que fazer primeiro. No outro dia comecei a executar. Busquei fotos de momentos especiais e descrevi o momento em que a foto foi tirada e os sentimentos que ela me trazia.Encomendei um lindo álbum personalizado com uma foto de meus avos na capa.Cada página contém uma foto e um pequeno relato. Na última página uma foto de toda a família e uma carta de agradecimento feita pelos filhos e netos de DonaAna e Seu Antônio. Essa homenagem foi entregue durante um jantar feito pela família para comemorar os 50 anos de casados. Após a festa fui para sua casa, estava muito cansada, tomei banho e fui para meu quarto. Estava extremamente feliz por estar cumprindo meus objetivos e deestar ao lado daqueles que amo. 37

Autora: FLÁVIA HELENE USIGNOLO UMA EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL Flávia, uma mulher de 41 anos, nascida na cidade de Guarulhos-SP, gerada e criada em uma família de descendência alemã e italiana com pais exigentes e rígidos, porém amorosos e dedicados. Os almoços de domingo em família deixavam o cheiro de macarronada pela casa que recordava os dias passados no Sul da Itália, casa cheia, os adultos conversando e as crianças brincando pela casa. Mulher independente que trás com ela muitas histórias de uma vida vivida com inúmeras experiências. Experiências pessoais e profissionais de diversos tipos. Estudou e adquiriu conhecimentos em diversas áreas, como, informática, turismo, administração e pedagogia. Com essas experiências, ela conseguiu emprego na empresa Tam Linhas Aéreas e trabalhou por 5 anos. Nesses anos, viajou para diversos lugares conhecendo pessoas e culturas diferentes. Foram momentos de muito esforço e sacrifício. O trânsito, o barulho dos carros, a buzina das motos recordam a ida para o trabalho pela avenida 23 de maio. Eram 2 horas para chegar até o trabalho. Trabalhar dentro do aeroporto vendo muitas pessoas embarcando e desembarcando, viajando a turismo ou viajando a trabalho, por diversão ou obrigação, os aviões possibilitam o transporte rápido das pessoas. Sempre foi muito prazeroso trabalhar na área do turismo e colocar em prática os conhecimentos adquiridos no curso de Turismo. Mulher sonhadora e guerreira se conhece o suficiente para saber quem é e o que quer. Quando surgiu a oportunidade de morar no exterior, agarrou-a com unhas e dentes. Foi morar em São Francisco na Califórnia onde passou 5 anos, estudando e trabalhando. Aí São Francisco, no norte da Califórnia, é uma cidade com colinas situada na ponta de uma península cercada pelo Oceano Pacífico e pela Baía de São Francisco. Ela é conhecida pela névoa que dura o ano todo, pela emblemática Ponte Golden Gate, por seus bondinhos e por suas coloridas casas vitorianas. O Transamerica Pyramid no Distrito Financeiro é o arranha-céu mais conhecido da cidade. Na baía, encontra-se a Ilha de Alcatraz, onde fica a 38

famosa antiga prisão. Essa experiência possibilitou que essa mulher corajosa conseguisse fazer um pé de meia, trabalhando dobrado e encontrasse seu parceiro de vida, um paraibano. Com essa experiência de morar fora, ela descobriu que para realizar um sonho teria que abrir mão de muita coisa. Seja o almoço de domingo na casa dos pais ou Natais em família, tudo isso ficou em segundo plano. Mas valeu a pena, pois foi de grande valia para seu crescimento pessoal. Na volta para o Brasil, ela acabou indo morar em Solânea uma cidade do brejo paraibano, cidade Natal do seu parceiro. Sua adaptação no início foi muito difícil, mas com muito amor, carinho e cumplicidade do seu marido, sentiu-se integrada e familiarizada com seu novo lar. O reencontro com seus familiares foi emocionante. Depois de anos a casa estava do mesmo jeito. O cheiro do café da tarde, as plantas no quintal, e o aconchego do seu lar ainda eram o mesmo. Na busca de uma ocupação e da sua independência financeira trabalhou em uma empresa de material de construção como atendente e em um mercado como operadora de caixa. Além disso, se formou em Administração pela Universidade Federal da Paraíba e hoje cursa Pedagogia. Com a chegada da pandemia e o isolamento como medida preventiva, os fluxos de movimento pela cidade foram alterados. Desempregada, passou há ficar muito tempo dentro de casa, além das aulas remotas que também há deixava mais tempo isolada. Ainda que não se tenha soluções, alguns hábitos cotidianos ajudam a minimizar a tristeza trazida pelo isolamento. Estabelecer horários para se alimentar, se exercitar e dormir são importantes. Apesar de muito cuidado contraiu Covid-19, com sintomas leves logo no início da pandemia. Acabou passando por um período muito difícil quando viu o pai e a mãe contraírem a doença. Seu pai acabou sendo internado ficando bem debilitado. Sua mãe teve sintomas moderados, mas com a medicação correta se restabeleceu em pouco tempo. As noites frias no hospital acompanhando o pai, deitada no sofá rezando para a melhora do pai pareciam ser eternas. Os enfermeiros muito atenciosos entravam muitas 39

vezes para dar remédios e exames. Foram momentos difíceis mas que aumentaram a fé. Um dos seus maiores medos é a perda de um ente amado. Mas é muito crente em Jesus Cristo seu grande amigo que a acompanha na sua grande jornada de vida e possibilitou e possibilita a recuperação de seu pai e sua mãe. Essa mulher, forte, guerreira, sensível, delicada, romântica, carinhosa é muito grata pela família, amigos e oportunidades dadas pela vida. E com muita fé em Jesus Cristo vive sua vida com o objetivo de fazer o BEM e ser FELIZ. 40

Autora: BEATRIZ LETICIA OLIVEIRA DOS SANTOS UM DIA PARA RECORDAR Em um dia ordinário como qualquer outro, Beatriz e sua mãe encontravam-se sentadas na sala de sua casa. Estavam no sofá assistindo um programa em sua pequena TV de tubo. Uma sala pequena, com dois sofás de cor vermelha, um com 3 assentos e o outro com 2. Uma raque pequena, com alguns porta-retratos, um aparelho de DVD, um som com duas caixas, e é claro a TV na parte superior. No chão, encontrava-se o gato da família, Esnolmiau. Estava brincando sozinho lá, e logo o foco das duas que estava na TV, foi direto para o pequenino. Alguns minutos depois, algo incomum acontece... de repente, ouvia-se o barulho das palmas que viam de fora. Foi uma surpresa para as duas isso era algo raro. A mãe da Bia levanta-se rápido para olhar quem era. Ao abrir a janela da porta, sua surpresa foi maior, pois eram pessoas que ela jamais esperaria em sua casa, a prima e a tia de sua filha. Beatriz tenta espiar de longe, ao vê-las ficou feliz, pegou seu gatinho no braço e foi até elas. Ao aproximar-se, ela assusta-se ao ver a tristeza em suas faces. Por suas expressões percebia-se que o assunto a ser tratado seria difícil...pediram para a pequena Bia ir brincar em outro lugar, sem entender muito o que estava acontecendo, ela foi. Deixou os adultos conversarem sozinhos em frente à casa e foi para o quintal brincar com seu gatinho. O quintal era enorme, cheio de árvores, mangueiras, laranjeiras... e também tinha algumas plantas medicinais, como capim santo, erva doce, etc. um ótimo espaço para brincar, o cheirinho de terra molhada após regar as plantas, aquela brisa suave que passava por todo o corpo, o som do balançar das folhas, o cantar dos pássaros, esse lugar passava uma sensação de paz... A pequena Bia estava a brincar, quando inesperadamente ouviu um chamado fraco, com uma voz tremula. Saiu apressada para ver o que havia acontecido. O chamado era de sua mãe, ela olhou para sua mãe e viu que os seus olhos tinham perdido o brilho, agora restava apenas um olhar triste disfarçado. Reparou também que sua prima e tia não estavam mais no local. E logo pergunta o que aconteceu. Sua mãe a abraça e coloca sua cabeça apoiada em seu colo. Neste momento sua mãe conta-lhe que seu pai tinha falecido, um choque enorme para uma criança de 9 anos. Elas ficaram sentadas no degrau da frente 41

da casa, por alguns minutos. Apenas ouviam-se seu choro baixinho e viam-se as lágrimas que escorriam de seus rostos e caiam sobre o chão. A pequena sentia-se segura estando no colo de sua mãe, mas ela não poderia ficar assim pra sempre... então ela levanta-se, enxuga suas lágrimas, e vai em direção ao seu quarto. Abre a porta do guarda-roupa e retira seu famoso “kit liberdade”, é como ela chama seu lápis, borracha e caderno de desenho. Sentou- se em sua cama e começou a fazer rabiscos, sem muita habilidade nos desenhos, ela fazia apenas coisas simples, e dessa vez desenhou um rosto triste... os olhos cheios de lágrimas, uma expressão de desespero, acabou fazendo sua versão atual. Uma manhã triste... com gosto de lágrimas e um toque de solidão. Na noite daquele mesmo dia, Bia e sua mãe saem de sua casa para ir até a casa de sua avó paterna, local onde o corpo de seu pai seria velado. Era uma casa verde, espaçosa e acolhedora. ao aproximarem-se da casa percebe-se que haviam muitas pessoas por lá. Aquela rua que geralmente era vazia e silenciosa, hoje estava cheia de pessoas e carros reunidos por uma causa. A sala da casa que era sempre acolhedora, que tinha sofá, TV, centro e vários retratos na parede, naquela noite era apenas um cômodo vazio, a única coisa que estava lá era o caixão... as pessoas foram entrando na sala para ver aquele corpo sem vida que se encontrava lá, uma cena muito parecida de quando as formigas estão reunidas no formigueiro. Tinha tanta gente naquela sala pequena que a Bia só conseguia ver o chão e o teto da casa, as paredes estavam bloqueadas pelas pessoas. Para conseguir chegar até o caixão e ver seu pai, ela teve que se imprensar muito, mas por ser baixinha isso não foi tão difícil. Ela viu aquela grande caixa marrom onde estava seu pai, era grande e do formato padrão, espiou dentro, viu o belo arranjo de flores que cobria seu corpo, as velas sobre o caixão aberto... Uma visão de dor e agonia, que apenas essa caixa de madeira poderia trazer. Nesse momento suas lágrimas escorreram por seu rosto. Saiu imediatamente da casa e sentou-se na calçada. Sentiu uma fria rajada de vento e começou a limpar suas lágrimas. Olhou para o céu na esperança de ver o brilho intenso das estrelas, mas ela não viu nenhuma. A única luz que ela viu nesse momento foram as dos faróis dos carros que se encontravam em frente à casa de sua avó. Uma noite sem estrelas, sem esperanças e com uma leve sensação de solidão. 42

Autor: LUIZ CARLOS SILVA RIBEIRO DINHEIRO TRAZ FELICIDADE? Tatsumi é um cara feliz, ou costumava ser. Sorridente e cheio de esperança, nada abalava aquele garoto, e apesar de pobre, Tatsume era a prova viva de que não precisa de dinheiro para ser feliz. Nascido e criado em uma cidade pequena, Tatsume era muito conhecido pelas crianças de sua rua. Todos os dias ele saía para brincar com os amigos que juntamente organizavam as brincadeiras. Por morarem em um bairro pobre, algumas ruas não eram asfaltadas, mas isso não era um empecilho para Tatsumi. Ele arranjava inúmeras brincadeiras com base nas características da rua: brincavam de bolinha de gude com um \"burinha\" feito no chão do barro, subiam em um pé de castanholas e comiam da mesma, corriam sem medo de passarcarros Já que raramente acontecia de passar um carro ali, e inúmera outras brincadeiras, nada que envolvesse dinheiro, era uma rua de barro mas tava mais pra paraíso de barro. Era paz, alegria, inocência e calmaria, que envolvia nos corações daqueles que ali viviam. Os únicos momentos tristes eram quando tatsume adoecia, coisa que raramente acontecia porque tatsume era rico, rico de saúde e energia. Com o tempo se passando, Tatsume se tornava adolescente, e por ter apenas o apoio de sua mãe, teve que deixar as brincadeiras de lado e focar em trabalhar. Claro que ainda lhe era viável brincar, mas o dinheiro que lhe era necessário obter, lhe tirou a vontade de correr, de sentir e de viver. A brincadeira já não fazia mais sentido, as árvores que ele subia já não mais existia. Cortadas com um único fim: dinheiro. A rua que ele brincava estava asfaltada com um único fim: dinheiro. Pois mais abaixo tinha um loteamento, e para uma melhor valorização as ruas ficaram mais bonitas, tudo baseado em obter dinheiro. O dinheiro que tatsume obteve trabalhando, comprava outras coisas para alegria dele, Mas oque Tatsume e muitos outros precisam é de coisas que o dinheiro não compra. 43

Autora: JACKELINE MARCOLINO DA COSTA O ENCONTRO DOS “EUS” Há cerca de um ano atrás falar sobre ela mesma, era o mesmo que sentir cactos de vidro cortando a garganta e partes destes cactos causaram feridas profundas em sua alma. O melhor lugar para conversar com suas duas personalidades era a praia. Sentir a brisa do mar junto ao som das ondas, despertava cada vez mais suas versões, elas tinham muito o que falar. Sua personalidade negativa a fez lembrar que por tanto tempo limitou- se, permitindo que o receio tomasse conta do seu ser. Lembranças ainda tão nítidas, que em seuspensamentos ficam os questionamentos. O macio da areia, assemelhava-se ao macio de seu colchão, e sua personalidade negativa então pôs pra fora a lembrança ainda mais intensa. Lembrou-na de uma das diversas madrugadas, frias e silenciosas, em que ela lutava e relutava na tentativa de se libertar de um trauma passado, a razão pela qual limitava suas ações, e limitava também asua vontade de viver. Cada vez ficavam maiores as raízes da angústia, e fazia com que aquele quarto escuro e frio, se tornasse um fundo de poço, e cada pensamento negativo a afundava ainda mais. Sua personalidade esperançosa interrompeu a fala da negativa, e disse-a que nessa mesma madrugada, ela também tinha um brilho nos olhos, daqueles que refletem felicidade, e um sorriso cheio de esperança. E ali havia então uma luta travada, entre a menina e suas duas personalidades, todas encontravam-se perdidas em traumas ocultos. Sua personalidade negativa não a permitia quefalasse o que sentia, o que queria e o que esperava. Sua única opção era guardar o que deveria ser dito, mostrado, entregue. Já a sua personalidade positiva afirmou que a menina não fala por receio, mas deveria se abrir. Essa madrugada relembrada foi apenas uma de tantas, com tantos traumas que se formaram cicatrizes que passaram a fazer parte da rotina, e mudaram a forma de viver daquela menina. Que viagem longa dentro de seus pensamentos, o barulho dos coqueiros 44

balançando a fez lembrar de que estava na praia, então foi e sentou-se em frente ao mar, a água fria batia em suas pernas, e começou a pensar e analisar a simplicidade e beleza da natureza, ao ver a imensidão do mar, sentiu a leve brisa tocar sua pele. Essa situação permitiu que ela ouvisse sua personalidade positiva dizendo que ela podia recomeçar, e que conseguiria ir além. Essa viagem serviu para recarregar as energias, einiciar a tentativa de arrumar a sua bagunça interior, a personalidade negativa ainda quis relutar mas ela já não tinha voz. Só se ouvia o bom som de sua personalidade positiva, misturado com a calmaria que o mar transmitia, naquele cenário de fim de tarde, o pôr do sollaranja refletia nas águas. E tudo aquilo ficou guardado na memória da menina. RELATOS Madrugada fria, o silêncio toma conta do lugar, e em meio ao cenário solitário, ela ouve apenas alguns grilos a cantar. Era pra estar a dormir, após um longo dia de trabalho, mas o cansaço psicológico consegue ser extremamente pior que o cansaço físico. Ela se sentia como se fosse um pássaro preso numa gaiola, tem momentos que canta, mas torna a secalar, porque perdeu sem escolha a liberdade de voar. Teve que se adaptar a um espaço minúsculo, mesmo após ter alçado tantos voos altos que cortavam o lindo céu azul. E segue cantarolando com tristeza, pois ali pode ser o seu último estágio de vida. E ainda ali deitada, ela começou a pensar que isso é o que acontece quando as pessoas se baseiam apenas no que os outros pensam a seu respeito, quando deixam de ser elas mesmas, e abrem mão dos seus sonhos, por receio do que vão pensar ou falar. Mas o engraçado é que, se elas fizerem ou não, os outros vão falar da mesma forma, então porque não deixar o medo de lado e tomar coragem de exercer aquilo que realmente se almeja? As pessoas passam a viver de modo automático, com receio do novo, e se equilibram nos trilhos \"certos\" para não se expor e perder o bom exemplo socialmente. Mas tudo aquilo que as fazem sair de suas zonas de conforto, é de certa forma uma afronta, por exemplo: acada nova oportunidade de escrever, o sentimento de inferioridade pode sobrecarregar ospensamentos de alguém, mas se esse alguém não acreditar em si mesmo, quem vai acreditar? 45

É necessário que as pessoas parem de se auto sabotar, é normal sentir receio pelo novo, mas o receio que se deve ter, é de permanecer no mesmo lugar. No curto tempo que hána vida, pessoas se dispõem a agradar seus amados, e acabam esquecendo, que também precisam e merecem amor, devem olhar para si mesmas com atenção. A menina, ainda reflexiva, olhou para seu passado e pensou em um conselho que daria para a sua versão mais jovem, diria que ela devia acreditar em si mesma, se amar, e continuar a sonhar pois como diz o escritor Fernando Pessoa \"Nada é tão nosso quanto os nossos sonhos.\" Ela então, sozinha ali naquele quarto, conclui que ninguém deve esperar reconhecimento de ninguém, cada um vá com calma, um passo de cada vez para não perdero compasso da caminhada. Seres humanos são propensos a errar, não são máquinas programadas como a sociedade tanto exige. A cada novo erro, uma nova lição, e com isso há a oportunidade de ressignificar a jornada da vida. A menina encontrou na escrita uma maneira de aliviar os imensos fardos da vida. E percebeu que a gratidão traz leveza e a percepção de que a felicidade habita na simplicidade,e que uma das maiores conquistas da vida é estar em paz consigo mesma. Depois do alto vooem seus pensamentos, ela, em paz, fechou seus olhos e pôs-se a dormir. 46


Like this book? You can publish your book online for free in a few minutes!
Create your own flipbook