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O Fígado em Revista - n.º4 - fevereiro 2023

Published by Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado, 2023-02-17 12:36:47

Description: A APEF acaba de lançar a 4.ª edição da sua publicação "O Fígado em Revista".

Nesta edição, Ângela Rodrigues, Secretária do Conselho Fiscal da APEF, deu voz à rubrica “Grande Entrevista”.

Keywords: APEF,Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado,Fígado

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O Fígado 4n.º Reemv i s t a fevereiro 2023 Revista Quadrimestral Cirrose hepática Hepatite alcoólica Fígado gordo “O crescente impacto da obesidade e da “O trabalho de comunicação e divulgação doença metabólica nas doenças hepáticas tem sido uma aprendizagem para mim” exige um esforço cada vez maior” Sabela Lens – Secretária da Direção da Asociación Española para el Estudio del Hígado Ângela Rodrigues – Secretária do Conselho Fiscal da APEF O Fígado em Revista 1

ficha técnica ÍNDICE 04 À conversa com... (Grande Entrevista) FICHA TÉCNICA “O crescente impacto da obesidade e da doença metabólica O FÍGADO EM REVISTA nas doenças hepáticas exige um esforço cada vez maior” Revista da Associação Portuguesa Ângela Rodrigues para o Estudo do Fígado (APEF) 06 Espaço Internos Caso clínico: “Nódulo necrótico solitário do fígado após CONSELHO EDITORIAL infeção por SARS-CoV-2: Um enigma diagnóstico” Luís Maia Sara Archer, Luís Maia, Manuel Teixeira Gomes, Antónia (editor-chefe) Furtado, Fernando Castro Poças, Isabel Pedroto Alexandra Rosu (editora associada) 09 Espaço Internacional Sónia Fernandes “O trabalho de comunicação e divulgação tem sido uma (editora associada) aprendizagem para mim” Sabela Lens EDIÇÃO, DESIGN E PAGINAÇÃO Miligrama Comunicação em Saúde, 11 Hepatologia em Rede Unipessoal, Lda. “O programa que coloca a investigação em primeiro plano” Morada: Rua Melvin Jones, Mariana Cardoso n.o 5, Alfragide 2610-297 AMADORA 12 A Opinião de... Site: “Menos álcool, mais saúde” https://www.miligrama.pt Cristina Fonseca E-mail: [email protected] 14 Eventos Apoiados pela APEF PROPRIEDADE Curso de Nutrição Clínica na Doença Hepática Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) 16 Joint Meeting APEF-AEEH On Alcohol Related Liver Sede Oficial: 17 Agenda de Eventos Rua Abranches Ferrão, 18 Desafio “Janeiro sem Álcool” no 10 - 14 20 Recortes de Imprensa 1600-001 Lisboa 22 Cultura e Lazer DIREÇÃO APEF (2021-2023) Relaxe, divirta-se e cultive Presidente: José Presa Vice-presidente: Arsénio Santos Secretária-geral: Susana Lopes Tesoureira: Sofia Carvalhana Vogais: Alexandra Rosu, Luís Maia, Sónia Sousa Fernandes Site: https://apef.com.pt E-mail: [email protected] 2 O Fígado em Revista

editorial “A Hepatologia vive atualmente uma fase de rápida progressão como disciplina multimodal, acompanhando a explosão de conhecimento que se tem observado nos últimos anos” Muita e nova informação, disponibilizada a cada Susana Lopes momento, originada por imposições decorrentes de Assistente Hospitalar mudanças de cenários investigacionais e clínicos, Graduada Sénior e próprias de uma década fustigada subitamente Professora Auxiliar por vários desafios à escala global. As doenças Convidada da Faculdade de hepatobiliares, que se reconhecem como fator de Medicina da Universidade grande relevo em termos de Saúde Pública e que do Porto há muito transcenderam as hepatites víricas (na sua dimensão epidemiológica e de tratamento, já se O Fígado em Revista 3 ambicionando pela sua eliminação) adquiriram uma expressão significativa, em que a investigação e a expansão do nosso conhecimento da sua patogé- nese e mecanismos de progressão para cirrose, carcinoma hepatocelular e colangiocarcinoma, moti- vam cada vez mais jovens especialistas a dedicarem as suas carreiras clínicas e académicas. O alar- gado e complexo âmbito da Hepatologia atual, obriga à adoção e integração de contributos de diversas áreas do conhecimento, sendo territórios privilegiados neste diálogo vários exemplos, como a oncologia hepatobiliar, a doença metabólica associada à esteatose, a patologia hepática auto- imune ou a hipertensão portal. Surgiram áreas de renovada e crescente atenção como os cuidados clínicos nas situações paliativas, e indiscutivelmente a endoscopia, que durante décadas se limitou ao tratamento das complicações da hipertensão portal, ganha um interesse particular com o surgimento da nova disciplina de Endohepatologia. A evolução das técnicas de intervenção endoscópica permitiu multiplicar as vias de acesso e tratamento de dife- rentes condições hepatobiliares. Acrescem à mo- tivação de quem se dedica a esta área, as novas necessidades educacionais e formativas, que obriga a tempo dedicado e metodologias próprias de treino. Com quase 200 anos de antecipação, o vulto da Medicina e Literatura Americana, Oliver Wendell Holmes, anunciou “The great thing in this world is not so much where we stand, as in what direction we are moving”. A solidez e pluralidade dos caminhos que a Hepatologia está a traçar, colocam-na como uma disciplina entusiasmante e motivadora para as novas gerações.

à conversa com … Grande Entrevista “O crescente impacto da obesidade e da doença metabólica nas doenças hepáticas exige um esforço cada vez maior” Ângela Rodrigues – Secretária do Conselho Ângela Rodrigues, Secretária do Conselho Fiscal da Fiscal da APEF, assistente hospitalar de APEF e assistente hospitalar de Gastroenterologia no Gastroenterologia no Hospital de Braga Hospital de Braga, propôs-se revelar mais sobre o seu trajeto profissional no ramo da Hepatologia, destacan- do objetivos e perspetivas para a carreira. Aproveitou, ainda, para se debruçar sobre o panorama português das doenças hepáticas, evidenciando o caminho que existe por percorrer na consciencialização da popula- ção e implementação de medidas preventivas. É secretária do Conselho Fiscal pude participar, em especial no sociais e a criação da Hepatolo- da APEF. Como tem sido este curso de formação em Hepato- gia em Rede para promover a in- percurso? Quais foram os maio- logia e no curso de nutrição clíni- vestigação conjunta em Portugal. res desafios? ca na doença hepática. Fora a sua função na APEF, in- O mandato da direção atual da tegra profissionalmente o Hos- Ângela Rodrigues (AR) - Tem APEF termina em 2023. Que ba- pital de Braga. Qual é a sua ocu- sido um percurso positivo, sem lanço pode fazer dos trabalhos pação nesta entidade? dificuldades significativas, muito realizados por esta equipa? AR - Desde 2017 que assumo a devido à excelente organização AR - Considero o trabalho reali- função de assistente hospitalar e transparência da direção. zado pela atual direção muito de Gastrenterologia no Hospital positivo. Destaco a qualidade de Braga. Integro a equipa de Que objetivos se propôs a rea- das reuniões, cursos e congres- Hepatologia, exercendo ativi- lizar neste âmbito? Considera sos organizados; o fortalecimen- dade específica na consulta ex- que os cumpriu? to da relação com a Sociedade terna e em períodos de endos- Espanhola de Hepatologia; a copia. Sou responsável pela AR - Quando iniciei este proje- contribuição para a conscienciali- coordenação da área do Hospi- to pretendia, além das funções zação acerca da doença hepáti- tal de dia médico dedicado ao específicas do secretariado do ca, com a presença nos órgãos acompanhamento dos doentes conselho fiscal, participar nas de comunicação social e redes hepáticos e sou gestora de atividades desenvolvidas pela APEF. Foi com muito gosto que 4 O Fígado em Revista

qualidade do serviço de Gas- As doenças hepáticas têm uma têm, na generalidade, um acom- trenterologia. expressividade e mortalidade panhamento de qualidade nos Quando é que começou a mani- consideráveis na população por- diferentes centros, mas penso festar vontade em integrar o tuguesa. Quais são as principais que há um importante caminho a ramo da saúde? Qual a sua dicas preventivas relevantes de percorrer no que diz respeito ao formação? reforçar? acompanhamento multidiscipli- AR - Essa vontade começou AR - Tendo em conta a elevada nar, nomeadamente nutricional, ainda na infância e foi o interes- prevalência da doença hepática psicológico, psiquiátrico e social, se pela visão que me fez esco- associada ao álcool, em Portu- que é fundamental na maioria lher Medicina para ser oftalmolo- gal, são essenciais medidas que destes doentes. gista. No entanto, nos primeiros limitem o acesso e o consumo, anos do curso de Medicina no nomeadamente com a aplicação Que competências considera Instituto de Ciências Biomédicas de impostos mais elevados para que os profissionais que lidam Abel Salazar, no Porto, o gosto esses produtos. Também o cres- com as doenças hepáticas de- pela doença hepática e a patolo- cente impacto da obesidade e da vem ter? gia digestiva fizeram-me seguir doença metabólica nas doenças pela Gastroenterologia. Para a hepáticas exige um esforço cada AR - Nas áreas que lidam essen- formação específica escolhi o vez maior na divulgação e imple- cialmente com doenças crónicas, Centro Hospitalar do Porto, dan- mentação de uma alimentação como a Hepatologia, é preciso do continuidade à ligação que saudável e prática regular de algo para além do óbvio conhe- criei com a instituição durante a exercício físico. cimento científico e competên- faculdade. Pensa que a consciencialização cias técnicas. A empatia e uma Como pode avaliar o acompa- sobre a gravidade das doenças boa capacidade de comunica- nhamento de doentes hepáticos hepáticas está a ter um impacto ção são fundamentais na criação no Hospital de Braga? Pensa positivo na evolução da incidên- de uma boa relação com o do- que a sua organização conse- cia destas patologias? Ou ainda ente e têm impacto positivo nos gue comportar a afluência? há mais por fazer? resultados clínicos. AR - O Hospital de Braga dis- AR - Penso que há ainda um im- põe de consulta diferenciada portante caminho a percorrer Qual a sua missão enquanto de Hepatologia, integrada na na consciencialização da popu- profissional de saúde? consulta de Gastrenterologia. lação. Em relação aos profis- Considero que os doentes he- sionais dos cuidados de saúde AR - A minha missão é a de páticos têm um bom acompa- primários considero que estão ajudar os doentes, com a cura nhamento nesta instituição, cada vez mais informados e quando possível ou tentando li- dispondo de fácil acesso aos atentos à patologia hepática, o mitar a progressão da doença e médicos assistentes e de um que é muito positivo tendo em minimizar o seu impacto na vida excelente apoio do Hospital de conta que estes são uma peça dos doentes e das suas famílias. dia, quando necessário. Nos úl- fundamental, quer para a ins- timos anos os tempos de espera tituição de medidas preventi- Que objetivos tem traçados para primeira consulta não prio- vas, quer para a identificação e para a sua carreira em 2023? ritária ficaram acima do deseja- referenciação atempada dos do- do, situação que esperamos ver entes. AR - Pretendo manter a minha resolvida com o recente reforço Como é que encara o panorama atividade assistencial com entu- da equipa médica. O tempo de da Hepatologia em Portugal? siasmo e investir numa atua- espera para a realização de al- O que acha urgente alterar em lização científica contínua. Cola- guns exames de diagnóstico tem termos dos serviços de saúde? borar na formação de pares, sido também uma preocupação. AR - A minha perceção é que nomeadamente com a partici- Apesar de o hospital não dispor a Hepatologia tem conseguido pação em cursos dirigidos a de todas as técnicas necessárias atrair novos colegas motivados internos e colegas de Medicina para a gestão destes doentes, e com entusiasmo pela área, o Geral e Familiar. Consolidar o temos tido uma boa resposta na que é importante para manter a meu desempenho na enteros- referenciação a outras institui- vitalidade dos serviços. Conside- copia espiral, técnica que iniciei ções. ro que os doentes hepáticos recentemente. No âmbito da qualidade, atualizar alguns docu- mentos institucionais, nomeada- mente na área da Hepatologia. O Fígado em Revista 5

espaço internos CCalsínoico Nódulo necrótico solitário do fígado após infeção por SARS-CoV-2: Um enigma diagnóstico Autores: Sara Archer1, Luís Maia1, Manuel Teixeira Gomes2, Antónia Furtado3, Fernando Castro Poças1, Isabel Pedroto1 1 – Centro Hospitalar Universitário do Porto, Gastroenterologia, Porto, Portugal 2 – Hospital Lusíadas Porto, Radiologia, Porto, Portugal 3 – IMP Diagnostics Molecular & Anatomic Pathology, Anatomia Patológica, Porto, Portugal Descrição do caso: A tomografia computorizada As características não sugeriam Senhor de 54 anos, sem ante- abdominal com contraste con- etiologia maligna e levantaram cedentes de patologia hepática, firmou a presença de uma úni- a possibilidade de um nódu- foi referenciado à consulta de ca lesão hipodensa de 28mm no lo necrótico solitário do fígado Hepatologia por uma lesão he- lobo hepático direito, sem alte- (NNSF). pática focal (LHF). ração de densidade após con- Foi então realizada uma biópsia Aproximadamente um mês após traste. percutânea guiada por ultrasso- infeção ligeira por SARS-CoV-2, A ressonância magnética abdo- nografia. A histologia demons- apresentava um quadro de dor minal mostrou uma lesão focal trou a presença de tecido necró- no quadrante superior direito do com contornos lobulados no tico, infiltrado linfoplasmocítico abdómen, anorexia e perda pon- segmento VI, medindo 29x24 e fibrose na interface da lesão deral significativa (perda de 16% mm. Apresentava sinal hetero- com o parênquima preservado de peso corporal em três meses). géneo nas imagens ponderadas [Figura 1 e 2]; não foram identi- O estudo complementar com em T1 e um sinal semelhante ficados sinais de malignidade ou ecografia abdominal revelou ao do parênquima em T2. No microorganismos (PAS, PAS-D, uma lesão hipoecóica de 33mm estudo ponderado em difusão, Gram, Giemsa e Ziehl-Neelsen no lobo hepático direito, inexis- evidenciava hipersinal nas se- negativos) [Figura 3 e 4]. tente em ecografia abdominal quências de b mais alto e sinal Após nove meses, realizou uma realizada quatro anos antes. elevado no mapa do coeficiente ecografia abdominal de reava- A bioquímica hepática, serologia de difusão aparente. Após con- liação que mostrava uma lesão de hepatites víricas e os mar- traste, a lesão não revelava real- persistente com características cadores de tumores apresenta- ce aparente, aspeto confirmado sobreponíveis. vam-se sem alterações. nas sequências com ubtração. 6 O Fígado em Revista

mas estes também podem ser múltiplos (9). Podem aumentar consideravelmente de tamanho ou apresentar regressão espon- tânea (10). A paucidade de sintomas as- sim como a inespecificidade dos achados nos métodos de ima- gem convencionais dificultam o seu diagnóstico preciso. Uma vez que os achados imagiológicos podem mimetizar um processo maligno (11), o diagnóstico histo- lógico é imperativo, evidencian- do um núcleo necrótico com cé- lulas inflamatórias encerrado por uma cápsula fibrótica (12,13). Apesar de apresentar um curso Figura 1. Imagem de HE, em pequena ampliação, que mostra tecido hepático (1 seta) com representação de nódulo de aspeto homogéneo clínico benigno, a intervenção ci- (duas setas). rúrgica pode ser ponderada para confirmação histológica defini- tiva. No entanto, recentemente, alguns autores têm vindo a suge- Discussão: mente na origem do NNSF, aten- rir uma abordagem conservado- A crescente disponibilidade de dendo a ausência de outros pre- ra, exceto nos casos com cresci- meios complementares de diag- cipitantes e ao nexo de tempo- mento rapidamente progressivo nóstico imagiológicos tem-se tra- ralidade dos eventos. (6,10). duzido num aumento da deteção A incidência dos NNSF é maior Este caso visa aumentar a cons- de LHF (1). Estas são frequente- nos indivíduos do sexo mascu- ciencialização sobre esta entida- mente incidentalomas (2). Neste lino, com idade compreendida de incomum como um diagnósti- âmbito, existe uma grande varie- entre os 50 e 70 anos. O diâme- co desafiante de uma LHF. dade de patologias, benignas e tro médio é de cerca de 2cm e Segundo o nosso conhecimen- malignas, a ter em consideração são mais comummente encon- to, este é o primeiro caso de um (3). Para além disso, parece não trados no lobo hepático direito NNSF no contexto de uma infe- haver consenso internacional (8). A maioria dos NNSF é único, ção por SARS-CoV-2. quanto à abordagem destas le- sões (2,4). O NNSF é uma entidade beni- gna rara, que foi reportada pela primeira vez por Shepherd et al. em 1983 (5). Até à atualidade, a sua etiologia permanece incer- ta e a sua patogénese continua por esclarecer, com várias teo- rias sobre a sua origem, nomea- damente: necrose central de um hemangioma hepático após es- clerose, formação e progressão de certas lesões benignas após trauma hepático (6,7). Para além destas, o NNSF poderá também corresponder à fase final de um processo natural causado por uma infeção (6,7). No caso clínico apresentado, a infeção pelo vírus Figura 2. Imagem de HE, em ampliação intermédia, que mostra a inter- SARS-CoV-2 estará presumivel- face entre a necrose e o processo inflamatório (1 seta) O Fígado em Revista 7

espaço internos Figura 3. Imagem de coloração de PAS, representada na área de necrose, sem evidência de microrganismos. Figura 4. Imagem de coloração de Ziehl Neelsen, representada na área 7 - Deniz K, Coban G. Solitary ne- de necrose, sem evidência de microrganismos. crotic nodule of the liver: Always benign? J Gastrointest Surg. 2010; Bibliografia: 4 - Haring MPD, Cuperus FJC, Duiker 14(3):536–40. EW, de Haas RJ, de Meijer VE. 1 - Marrero JA, Ahn J, Rajender Reddy Scoping review of clinical practice 8 - Geng L, Lin C, Huang B, Long XA, K. ACG clinical guideline: the diag- guidelines on the management of Dai BH, Cong WM, et al. Solitary nosis and management of focal benign liver tumours. BMJ Open necrotic nodule of the liver: MR fin- liver lesions. Am J Gastroenterol Gastroenterol 2021;8 dings in 33 pathologically proved 2014;109(9):1328-47; quiz 1348 lesions. Eur J Radiol. 2012;81:623– 5 - Shepherd NA, Lee G. Solitary ne- 629. 2 - Algarni AA, Alshuhri AH, Alonazi crotic nodules of the liver simula- MM, Mourad MM, Bramhall SR. Fo- ting hepatic metastases. J Clin Pa- 9 - Sundaresan M, Lyons B, Akosa cal liver lesions found incidentally. thol. 1983;36(10):1181–3. AB. ‘Solitary’ necrotic nodules of World J Hepatol 2016;8(9):446-51 the liver: an aetiology reaffirmed. 6 - Zhou YM, Li B, Xu F, et al. Clinical Gut. 1991;32:1378–1380. 3 - Rodríguez de Lope C, Reig ME, features of solitary necrotic Darnell A, Forner A. Approach nodule of the liver. Hepatobiliary 10 - Choi CS, Cho EY, Jeong JS, Im CJ, of the patient with a liver mass. Pancreat Dis Int. 2008;7(5):485–9. Yang BJ, Kim HC. Spontaneous Frontline Gastroenterol 2012;3(4): regression of a solitary necrotic 252-262. nodule of the liver. Hepatol Int. 2010;4:649–652. 11 - Hwang JY, Lee JE and Jung MJ. A challenging case of solitary necro- tic nodules of the liver mimicking hepatic metastases: CT, MRI, and PET-CT findings. J Belg Soc Radiol 2020; 104: 16 12 - Colagrande S, Politi LS, Messerini L, Mascalchi M and Villari N. Soli- tary necrotic nodule of the liver: imaging and correlation with pa- thologic features. Abdom Imaging 2003; 28: 41-44. 13 - Patti R, Cabibi D, Sparacello M, Di Vita G and Montalto G. Solitary necrotic nodule of the liver: diffe- rent pathological findings express a different histogenesis. Case Rep Gastroenterol 2008; 2: 149-154. 8 O Fígado em Revista

espaço internacional “O trabalho de comunicação e divulgação tem sido uma aprendizagem para mim” Sabela Lens é um dos nomes associados à Hepatolo- gia espanhola. Traça já um percurso sólido na inves- tigação das hepatites virais, valorizando a presença dos jovens neste meio, sem deixar de sublinhar ques- tões como os desafios associados à estratégia co- municativa das sociedades científicas, equilíbrio de género e distribuição geográfica. Sabela Lens Secretária da Direção da Asociación Española para el Estudio del Hígado (AEEH) e antigo mem- bro da Young Investigators Task Force da EASL É hepatologista. Quando é que Existe alguém que a tenha influ- presente na sua carreira profis- se começou a interessar pela enciado nesta área de estudo? sional. Como tem sido a expe- Medicina e por esta especialida- riência enquanto secretária do de? SL - São muitas as pessoas com Conselho de Administração? Sabela Lens (SL) - Em estudan- quem aprendi sobre a especiali- SL - Embora seja um volume de te, durante o verão, após o meu dade ao longo dos anos, mas se trabalho enorme, porque a asso- quarto ano em Medicina fiz um tivesse de destacar alguém, se- ciação está cada vez mais com- estágio em Gastrenterologia e ria Xavier Forns. Com ele tenho plexa, com muitos subgrupos de realmente estive muito envolvi- aprendido todos os dias a ser trabalho, com um grande núme- da no atendimento a pacientes melhor na minha vertente clínica ro de eventos e projetos e com e até num projeto de pesquisa. e de investigação. um grande trabalho de comuni- Essas semanas, provavelmente, cação, tem sido uma experiência marcaram a minha decisão da A Associação Espanhola para o muito enriquecedora. especialidade. Foi durante o in- Estudo do Fígado (AEEH) está ternato que ficou claro para mim que me queria dedicar à Hepato- logia e, especificamente, às he- patites virais. O Fígado em Revista 9

espaço internacional Qual é o maior desafio que tem Que hot topics pretende desen- O que acha que falta melhorar enfrentado no seu cargo na volver enquanto investigadora? no panorama da Hepatologia? E AEEH? Desenvolveu algum trabalho no campo das hepatites virais e SL - O trabalho de comunica- nesta área que gostaria de des- da resposta imune? ção e divulgação tem sido uma tacar? SL - Há muitos aspetos em que aprendizagem para mim. Hoje SL - O meu trabalho de pesqui- devemos trabalhar. Para desta- temos um grande número de sa concentra-se no campo das car um, optaria pelo campo da plataformas audiovisuais, redes hepatites virais. Inicialmente, prevenção. Nos últimos anos sociais e outros canais de comu- concentrei-me nos aspetos re- temos trabalhado muito nos as- nicação de enorme relevância lacionados com o impacto das petos diagnósticos e terapêu- para chegar ao público, sejam terapias sem interferir em pa- ticos e agora, com os dados eles membros da associação, cientes com doença hepática epidemiológicos, a Hepatologia outras sociedades científicas ou avançada e em pacientes com também está a enfatizar a rele- mesmo pacientes. Tudo isso, manifestações extra-hepáticas. vância da prevenção das doen- sem perder a perspetiva do que Posteriormente, o meu interesse ças hepáticas, antes que elas se é realmente importante, o con- pela pesquisa translacional mo- desenvolvam. Relativamente ao teúdo. tivou-me a ficar uma temporada crosstalk entre os vírus da he- na University College of London patite e a resposta imunitária, Foi membro da Young Investi- com a equipa de Mala Maini para dispomos hoje de novas ferra- gatores Task Force da Europe- aprofundar o papel da resposta mentas tecnológicas que nos an Association for the Study of imune na hepatite B crónica. permitirão compreender melhor the Liver (EASL). Qual foi o seu esta interação e isso será funda- principal objetivo ao ingressar Na sua opinião, qual a impor- mental para o desenvolvimento nesta organização? tância de integrar jovens nas de novas estratégias terapêuti- SL - Fui membro da Task Force equipas de investigação em He- cas. durante quatro anos e durante patologia? este período aprendi muito so- SL - Certamente é um aspeto Tem alguma meta para a sua bre aspetos organizacionais da muito importante. Acho que, carreira em 2023? Existe algum EASL que me serviram durante por vezes, não temos consciên- projeto que tenha em mente? o meu tempo no secretariado cia do impacto que podemos ter SL - Para este 2023 tenho vários da AEEH. Um dos aspetos mais no desenvolvimento da carreira projetos em desenvolvimento marcantes para mim foi a grande científica e de investigação dos que devo terminar, mas acima importância de manter o equilí- jovens. Com o passar do tempo, de tudo espero que traga ideias brio em termos de distribuição é mais difícil conciliar o trabalho para novos e empolgantes pro- geográfica e equilíbrio de géne- clínico com o de pesquisa, pois jetos que consigam o financia- ro em todos os aspetos relacio- exige um grande esforço pes- mento necessário para os con- nados à associação. soal, por isso é bom começar a cretizar! trabalhar os dois aspetos desde o início. 10 O Fígado em Revista

hepatologia em rede Hepatologia em Rede: O programa que coloca a investigação em primeiro plano Mariana Cardoso, membro científicos, éticos, pautando-se Entre estes encontram-se um da APEF sempre por elevado rigor e trans- questionário sobre cuidados pa- O Programa Hepatologia em parência, bem como questões de liativos em Hepatologia, que foi Rede, criado com o objetivo de índole mais prática. divulgado a todos os associados impulsionar a investigação em O Liver.pt tem-se revelado uma da APEF e já concluído, e vários Hepatologia e o desenvolvimen- excelente ferramenta de apoio ao trabalhos a decorrer atualmen- to de projetos multicêntricos a Programa Hepatologia em Rede. te, nomeadamente: predição do nível nacional, é uma das fortes Criado em 2014, com os objetivos risco de carcinoma hepatoce- apostas atuais da Associação principais de servir como Registo lular na hepatite C crónica após Portuguesa para o Estudo do Nacional de Doenças Hepáticas e resposta virológica sustentada, Fígado (APEF). Paralelamente à plataforma de apoio à consulta, o caracterização da hepatite delta sua criação, a APEF formou uma Liver.pt tinha já servido de base em Portugal, validação do Score Comissão Científica independen- para um estudo multicêntrico, SALVE em Portugal, a realidade te que, entre outras funções, ava- incluindo mais de 400 doentes nacional da colangite esclerosan- lia as propostas de trabalhos que com colangite biliar primária, que te primária, doença de Wilson são submetidas e contribui para foi publicado numa revista cientí- em Portugal e eficácia do ácido o seu desenvolvimento e execu- fica de alto impacto. Trata-se de obeticólico e fibratos nos doen- ção. Esta comissão tem reunido uma plataforma muito completa tes com colangite biliar primária. regularmente e empreendido es- e com grande potencialidade e Para participar nestes trabalhos, forços para que os trabalhos se plasticidade, fruto da colabora- basta enviar email para hepatolo- possam concretizar da melhor ção estreita com um informático [email protected] e mani- forma, sendo discutidos aspetos dedicado. O Programa Hepato- festar esse interesse. logia em Rede pretende dar um A par da divulgação dos protoco- novo impulso ao Liver.pt, tornan- los de estudo pelos elos de liga- do-o na plataforma preferencial ção de cada centro do Programa para realização de estudos mul- Hepatologia em Rede, a APEF ticêntricos. está atualmente empenhada na Desde o início deste programa, difusão destes trabalhos em di- foram submetidos e avaliados versos canais, para que possam diversos trabalhos. É com gran- chegar a mais associados. Esta de satisfação e entusiasmo que cooperação irá permitir o desen- anunciamos que foram aceites, volvimento de trabalhos cada vez até ao momento, sete estudos, mais competitivos, reforçando a que se encontram em diferen- posição científica da Hepatologia tes fases de desenvolvimento. em Portugal e no estrangeiro. O Fígado em Revista 11

a opinião de… Menos álcool, ais saúde internada por DHA e 21% por por exemplo paracetamol, me- Cristina Fonseca dependência de álcool. trotrexato e isoniazida) desen- Hepatologista e Assistente Após ser absorvido no tubo di- volvem DHA após a ingestão de Sénior de Gastrenterologia no gestivo, o álcool é metaboliza- uma dose de álcool inferior à que Hospital Garcia de Orta do principalmente no fígado é necessária para desencadear a e durante essa transformação doença nos indivíduos sem sus- Oconsumo de álcool é no- são formados produtos tóxicos, cetibilidade ao álcool. civo para o bem-estar como o acetaldeído e radicais O médico não aprova a ingestão psicológico e físico dos livres que estão na génese das de qualquer dose de álcool no indivíduos e tem uma repercus- doenças que integram a DHA: a doente com DHA, independen- são negativa na família do consu- esteatose hepática alcoólica, a temente de este ter esteatose al- midor de álcool e na sociedade. hepatite alcoólica e a cirrose al- coólica, hepatite alcoólica ou cir- As bebidas alcoólicas possuem coólica. Estas doenças não são rose alcoólica. Estes doentes têm na sua composição o álcool co- necessariamente fases distintas de permanecer abstinentes de ál- mum, cujo princípio ativo é o da evolução da DHA, podendo cool. A cessação do consumo de etanol, que é uma substância em alguns casos estar presentes álcool na esteatose alcoólica e na psicoativa que causa dependên- simultaneamente no mesmo indi- hepatite alcoólica reduz o risco cia e é tóxica. O álcool lesa vá- víduo. Cerca de 15% dos doentes de progressão dessas doenças rios órgãos sobretudo o cérebro, com cirrose alcoólica evoluem para cirrose e na fase de cirrose tubo digestivo, pâncreas, cora- para cancro hepático. reduz o risco de a cirrose passar ção e fígado, provocando mais Há uma relação direta entre o da fase compensada, em que não de 200 doenças, entre as quais o consumo prolongado e signifi- há manifestações clínicas, para a cancro da boca, faringe, laringe, cativo de álcool e o risco de de- fase de cirrose descompensada, esófago, cólon, reto, mama (na senvolver DHA. Quanto maior a que se manifesta através da as- mulher) e fígado. quantidade de álcool ingerida, cite, hemorragia digestiva por ro- A nível mundial, o álcool é das maior é o risco de provocar doen- tura de varizes esofágicas, ence- principais causas de doença he- ça do fígado. Contudo, este risco falopatia hepática e icterícia. pática. A Doença Hepática Alco- pode ser diminuído ou aumenta- A abstinência de álcool também ólica (DHA) pode ser prevenida do por características específicas é recomendada para os doentes com medidas que incentivem a do indivíduo que bebe. Cerca de com doença hepática por outras abstenção de consumo de bebi- 1/3 dos indivíduos com consumo causas que não o álcool, porque das alcoólicas. exagerado de álcool não desen- nestes doentes a ingestão de ál- Em Portugal, o álcool é a droga volve doença do fígado devi- cool, mesmo em pequena quan- de abuso mais consumida. Em do a possuírem fatores genéti- tidade, vai acelerar a progressão 2020 foram registados 4.157 in- cos, ou associados à imunidade, da sua doença de fígado para a ternamentos hospitalares cujo que os protegem da toxicidade cirrose ou para a fase de cirrose diagnóstico principal foi provo- hepática do álcool. Pelo contrá- descompensada. cado pelo consumo de álcool. rio, os indivíduos mais suscetí- Em 2022, a Organização Mundial A maioria (68%) dos doentes foi veis ao efeito do álcool, como é de Saúde (OMS) considerou que o caso das crianças e adolescen- a redução do consumo nocivo de 12 O Fígado em Revista tes com menos de 18 anos, dos álcool deveria ser uma prioridade maiores de 70 anos, das mulhe- de Saúde Pública para a Euro- res, dos obesos, dos indivíduos pa. O consumo nocivo pode ser com doença hepática de outra definido como aquele que causa etiologia (por exemplo com he- danos à saúde, quer física quer patite B, hepatite C, hemocroma- mental. Para o evitar é funda- tose, deficiência de alfa 1 antitrip- mental ensinar os indivíduos que sina e fígado gordo de etiologia ingerem bebidas alcoólicas a não não alcoólica) dos fumadores, e ultrapassar um limite de ingestão dos que tomam com regularida- de álcool considerado de baixo de certos medicamentos (como risco para a saúde.

O consumo de álcool pode ser 1 unidade de bebida = padrão = 10 gramas de álcool quantificado em termos de uni- dades de bebida-padrão ou em = = termos de gramas de álcool. Uma unidade de bebida-padrão cor- Capacidade do 330 mL 100 mL 30 mL responde à mesma quantidade copo 4% 12% 40% de álcool presente em diferentes tipos de bebidas alcoólicas (bebi- % de álcool das fermentadas por microrganis- mos a partir do açúcar existente víduos com consumo moderado que concluíram que diminuía o em frutos e cereais, como o vinho de álcool um período de pelo risco de doença cardiovascular. e a cerveja, e bebidas destiladas menos dois dias por semana sem O vinho tem um antioxidante do mosto de frutos ou cereais consumo de álcool para o fígado chamado resveratrol que aumen- que têm maior percentagem de poder recuperar. ta o colesterol HDL (o colesterol álcool como o gin e o uísque). As A cirrose alcoólica ocorre após “bom”). As HDLs transportam o bebidas têm diferente graduação o consumo diário, habitualmente colesterol da parede das artérias alcoólica, mas como são servidas durante pelo menos cinco anos, que irrigam o coração de volta ao em copos com volumes diferen- de três unidades de bebida-pa- fígado para o colesterol ser elimi- tes, acabam por conter a mesma drão (30 gramas de álcool) na nado ou reciclado. quantidade de álcool. mulher e quatro unidades de Recentemente, estes estudos A unidade de bebida-padrão di- bebida-padrão (40 gramas de foram revistos e criticados, con- fere de país para país em termos álcool) no homem. No entanto, cluindo-se não haver evidência de tamanho e grau alcoólico. Em nenhuma quantidade de álcool científica que permita afirmar que Portugal, uma unidade de bebi- é segura, mesma a que é consi- o consumo moderado de álcool da-padrão corresponde a 330 derada de baixo risco, porque há tem efeito benéfico na saúde car- mL de cerveja (contém 4% de ál- casos de mulheres e homens que diovascular. Não há uma dose de cool), 100 mL de vinho (contém desenvolveram cirrose após a in- álcool que faça bem ao coração. 12% de álcool) e 30 mL de bebi- gestão diária de 12- 24 gramas de O resveratrol no vinho tinto vem da destilada-vodka, gin, uísque, álcool. da pele das uvas usadas para aguardente (contém 40% de ál- Não só a ingestão diária como fazer vinho. Ao comer uvas ou cool). Uma unidade de bebida- também a ingestão esporádi- beber suco de uva consegue ob- -padrão contém 10 gramas de ál- ca excessiva de álcool - “binge ter-se o efeito antioxidante do cool puro. Em geral, o organismo drinking“, que é a ingestão de resveratrol sem beber álcool. demora uma hora a metabolizar quatro ou mais unidades de bebi- Não obstante o álcool ser uma o álcool contido numa unidade da-padrão (40 gramas de álcool) droga legal, importa realçar que de bebida-padrão, embora pos- na mulher e cinco ou mais unida- qualquer nível de consumo é pre- sa haver variações relacionadas des de bebida-padrão (50 gra- judicial à saúde. Uma dose mo- com a idade, o sexo, o peso do mas de álcool) no homem num derada de álcool, considerada indivíduo que bebe, a ingestão período de cerca de duas horas, de baixo risco para doença do recente de comida, a ingestão de é prejudicial à saúde. fígado, é suficiente para originar medicamentos e o tipo de bebida O consumo moderado de álcool, doença gastrointestinal e cancro. consumida. principalmente de vinho tinto, foi Não beber álcool é a única ma- Os indivíduos sem doenças do promovido como benéfico para neira de evitar os seus efeitos fígado que ingerem bebidas al- a saúde com base em estudos nocivos. coólicas, para evitar desenvolver DHA, não devem exceder um Consumo de baixo risco - Limite máximo de álcool consumo moderado que é con- siderado de baixo risco para a 1 unidade de bebida-padrão/dia 2 unidades de bebida-padrão/dia saúde. Dado a mulher ter menor 10g álcool/dia 20g álcool/dia capacidade de metabolizar o ál- O Fígado em Revista 13 cool do que o homem, o limite de baixo risco é definido da seguin- te forma: na mulher não mais de uma unidade de bebida-padrão (10 gramas de álcool) por dia ou sete unidades de bebida-padrão por semana e no homem até duas unidades de bebida-padrão (20 gramas de álcool) por dia ou 14 unidades de bebida-padrão por semana. A OMS recomenda para os indi-

eventos apoiados pela APEF Curso de Nutrição Clínica na Doença Hepática em revista O Curso de Nutrição Clínica na Doença Hepática funções hepáticas. Fábio Cardoso, nutricionista, trouxe o fígado a debate em Coimbra, entre os dias dedicou-se à hipertensão portal, esclarecendo os 11 e 12 de novembro de 2022. A iniciativa foi dina- fatores de risco, consequências, prevenção e tra- mizada pela Associação Portuguesa Para o Estudo tamento, e, em simultâneo, estabelecer uma ponte do Fígado (APEF), em parceria com a Associação com as considerações dietéticas, nutricionais e es- Portuguesa De Nutrição Entérica e Parentérica tilo de vida. Por fim, a ligação entre o eixo fígado (APNEP) e com o Núcleo de Nutrição em Gastro- e intestino foi clarificada no último tópico discutido, enterologia (NNG) da Sociedade Portuguesa de nomeadamente na apresentação sobre o papel do Gastrenterologia (SPG). microbioma. A autoria pertence à nutricionista Marta Os dois dias de evento mobilizaram a partilha e atua- Carriço, que congratulou o trabalho da APEF e subli- lização de conhecimentos entre profissionais de saú- nhou a relevância deste formato de eventos científi- de, abrindo espaço para quem objetiva aprofundar o cos. “A promoção de encontros que visam capacitar entendimento sobre o elo doença hepática e práti- os profissionais de saúde sobre a importância da cas nutricionais. “A APEF é a casa de todos aqueles alimentação na prevenção da doença hepática, mas que se interessam por hepatologia”, reforçou José também do estado nutricional do doente hepático e Presa, presidente da APEF, durante o discurso de das diferentes vertentes da intervenção nutricional, abertura do curso. é extremamente importante”. A sessão de abertura iniciou a tarde de trabalho no O segundo dia iniciou-se com a mesa-redonda “Nu- Hotel Dona Inês, sendo seguida pela primeira das trição clínica na cirrose”, moderada por José Presa e cinco mesas-redondas que constituíram o painel Ângela Rodrigues. Neste espaço foi abordada a ges- de apresentações, elaboradas por especialistas em tão da sarcopenia, obesidade e micronutrientes pela Nutrição e Gastroenterologia. “Avaliação e neces- nutricionista Sara Policarpo, que objetivou delinear sidades nutricionais” foi o nome dado à atividade, estratégias de relevância na intervenção nutricional. moderada por Jorge Fonseca e Flávio Pereira. A De seguida, o tratamento nutricional na encefalopa- primeira oradora foi a nutricionista Ana Catarina tia hepática é desmistificado através da convidada Moreira, que abordou o tema da avaliação e diag- Catarina Gouveia, gastroenterologista, que descre- nóstico do estado nutricional, aludindo para ques- veu como se deve delinear a dieta para reverter a tões como as causas de má nutrição na doença sintomatologia da deterioração cerebral, uma das hepática e a partilha de ferramentas de avaliação condições associadas à doença hepática e que afeta nutricional. Por sua vez, o nutricionista João Vasques a função neurocognitiva. A mesa número três termi- alertou para a ligação entre sarcopenia e exercício, nou com o contributo de Tiago Pina, que aprofundou clarificando o conceito de sarcopenia e os benefí- a otimização do estado nutricional antes e depois do cios das práticas desportivas neste quadro clínico. transplante hepático e cirurgia. “Aquilo que eu ten- Já Telmo Barroso, também nutricionista, completou tei fazer com a minha apresentação foi defender o a apresentação com a questão do cálculo do gasto doente. A minha prioridade é o tipo de intervenção energético em contextos específicos. nutricional que devo disponibilizar ao doente e o que Encerrou-se o dia com a mesa-redonda “Dieta, mi- posso daí garantir em termos clínicos”, destacou o crobioma e efeitos da hipertensão portal”, cuja mo- nutricionista. deração pertenceu a Luísa Glória e Carla Santos. A A ACLF (Acute-on-Chronic Liver Failure) e descom- motilidade gastrointestinal e absorção e síntese de pensação aguda foi o tema da mesa-redonda quatro, nutrientes na cirrose foi o primeiro tópico a ser de- iniciando-se com a nutricionista Ana Torres Oliveira e batido, através da voz da gastroenterologista Ana o tema dedicado à nutrição no doente com cirrose. Luísa Santos, que se muniu de uma abordagem te- O segundo aspeto frisado na mesa moderada por órica para consolidar conceitos base, tais como as Paulo Martins e Gonçalo Nunes foi a nutrição na 14 O Fígado em Revista

doença hepática alcoólica e hepatite alcoólica. Por É evidenciado ainda o risco que a MAFLD tem para a esse motivo, o nutricionista Fábio Cardoso deu um Saúde Pública e as estratégias adotadas para com- foco especial ao perigo do consumo de álcool e a batê-la, no contexto nacional, através da apresen- sua prevalência nacional e mundial, assim como os tação conduzida por Maria João Gregório, Diretora seus efeitos para a saúde. Já Luísa Trindade abor- do Programa Nacional de Promoção da Alimentação dou a imunonutrição e as dificuldades sentidas no Saudável da Direção-Geral da Saúde (DGS). De se- campo da literatura desta área. “Foi um tema extre- guida, a gastroenterologista Mariana Machado dedi- mamente difícil e desafiante, uma vez que não exis- cou-se à necessidade de uma abordagem multidis- tem estudos publicados sobre o tema e os que exis- ciplinar na MAFLD, frisando os resultados positivos tem na área da disfunção hepática, são escassos e da combinação das várias especialidades médicas de parca qualidade”, justificou a nutricionista. nesta doença sistémica. Como forma de encerramento do curso, José Presa Para finalizar, fechou-se com a inovação e atualidade aproveitou para partilhar com o público o mais re- presentes em mente, através da sessão dedicada ao cente e-book da APEF, a versão digital de um livro recente termo “MAFLD” (Metabolic-Associated Fat- de receitas adaptado aos quadros clínicos dos do- ty Liver Disease), moderada por Jorge Leitão e Luís entes hepáticos e cujo aspeto prometia um leque de Maia. Sara Policarpo interviu, novamente, desta vez sabores completo e nutritivo. Além disso, não podia para falar sobre a dieta como tratamento de primei- deixar de ser feito um balanço positivo das sessões ra linha para a MAFLD. As suas expectativas ao inte- dinamizadas e das problemáticas debatidas ao longo grar este curso foram otimistas, uma vez que consi- do evento, que deixaram uma sensação de missão derou que podia potenciar “momentos de discussão cumprida à equipa da APEF e aos seus parceiros. interessantes, principalmente em algumas áreas em que a atuação ainda não está claramente definida”. O Fígado em Revista 15

eventos apoiados pela APEF “O Joint Meeting APEF-AEEH On Alcohol Related Liver Disease ultrapassou as expectativas” No rescaldo do Joint Meeting APEF-AEEH On Alcohol Related Liver Disease, José Presa, presidente da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF), revelou que o evento superou todas as expectativas, contando com 140 participantes. Além disso, garantiu que a relação existente entre a APEF e a AEEH será para manter no futuro, uma vez que a partilha de conhecimentos e experiências é bastante enriquecedora. Qual o balanço que faz do Joint Quais os momentos que desta- Prevê a realização de um outro Meeting APEF-AEEH On Alco- ca? encontro dedicado ao tema? hol-Related Liver Disease? JP - Nenhum em particular, pois JP - Não sei se iremos fazer ou José Presa (JP) - Correu muitíssi- todo o meeting teve um nível não, mas este modelo foi sufi- mo bem, a todos os níveis: cien- muito elevado. cientemente atrativo, para po- tífico, organização e convívio dermos pensar numa outra reu- entre sociedades. Durante este O foco principal deste encon- nião deste tipo, talvez com um meeting houve sempre grande tro científico foram as doenças tema diferente. participação da audiência na dis- hepáticas alcoólicas. Em termos cussão, o que foi algo de facto de prevenção, o que é que ain- Quais as mais valias desta união muito interessante e enriquecer. da se pode fazer? entre a APEF e a AEEH? Correu de acordo com as ex- JP - Não lhe direi o que ainda JP - Creio que são mais do que pectativas? Qual o número de se pode fazer, mas antes o que óbvias. A partilha de conheci- participantes? temos de fazer. Trabalhar na li- mentos e de experiências só nos teracia da população para os pode enriquecer, pelo que esta JP - Creio que poderemos dizer malefícios do álcool, para que relação será para manter e es- que ultrapassou as expectativas, depois possam decidir em con- treitar no futuro. mesmo as mais otimistas. Con- formidade a relação que devem seguimos ter 140 participantes, ter com as bebidas alcoólicas. o que, de facto, foi notável. 16 O Fígado em Revista

Agenda de eventos 10a edición Máster en Hepatología Congresso Português de Hepatologia 2023 Data: 1 de setembro de 2022 a 30 de junho de Data: 13 a 15 de abril de 2023 2023 Local: Eurostars Oasis Plaza, na Figueira da Foz Local: Presencial e online Mais informações: https://apef.com.pt/congresso- Mais informações: https://apef.com.pt/events/9a- portugues-de-hepatologia-2023/ edicion-master-en-hepatologia/ O Fígado em Revista 17

desafio “Janeiro Sem Álcool” Cirrose hepática Hepatite alcoólica Fígado gordo “Janeiro Sem Álcool” é uma iniciativa que desafiou os portugueses a evitar consumir bebidas alcoólicas durante o mês de janeiro. A APEF promoveu uma ação nacional de consciencialização para a doença hepática alcoólica, uma consequência que advém do elevado consumo de álcool. A iniciativa sob o mote “31 Dias Sem Álcool” decorreu no primeiro mês do ano, nas redes sociais da associação, com o objetivo de alertar a população para os danos relacionados com o álcool. A iniciativa “Janeiro Sem Álcool” ocorre em simultâneo em vários países, desde 2013. Em Portugal foi a primeira vez que a campanha foi promovida. 18 O Fígado em Revista

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recortes de imprensa 20 O Fígado em Revista

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cultura e lazer Relaxe, divirta-se e cultive Fotografia Arquivo/Bruno Caprichoso Ciclo de colóquios – Espinho e a Globalização – 19 de novembro de 2022 a 15 de abril de 2023 Foto retirada de https://www.e-cultura.pt/evento/23285 a A globalização tem sido o foco em Espinho desde 25.10.2022 19 de novembro de 2022 e irá permanecer até 15 de abril de 2023. A iniciativa desenvolvida pela Asso- Exposição de Charme II (Museu da ciação Cívica de Espinho (ACIVE), com o apoio da Horta, Açores) – 15 de novembro de Câmara Municipal de Espinho e da Biblioteca Mu- 2022 a 27 de fevereiro de 2023 nicipal José Marmelo e Silva, contempla cinco co- A Exposição do Charme II é a recente apos- lóquios que exploram a ligação da globalização na ta do Museu da Horta, localizado na ilha do comunidade regional e o seu consequente impacto Faial, nos Açores. Até ao dia 27 de fevereiro nos setores histórico, económico, social, cultural e pode estimular o seu lado cultural ao visitar as desportivo. peças da coleção de Vergílio Schneider, cons- Para mais informações: https://cutt.ly/n3lYNHH tituída por elementos ligados ao período de expansão de Portugal, através da arte indo- TEDxPorto – Pontes - 4 de março de -portuguesa, que reforça a conexão entre as 2023 regiões ocidentais e orientais. Derrubar muros e construir pontes numa so- Para mais informações: https://cutt.ly/t3lY3iO ciedade cada vez mais polarizada e caracteri- zada por uma grande afluência de informação. É sob esta premissa que se constrói Pontes, o tema da nova edição do TEDxPorto, que se irá realizar a 4 de março de 2023. O evento cimenta-se na partilha de ideias e projetos por oradores de áreas de atuação distintas, tan- to no panorama nacional como internacional, sendo a aposta deste ano os discursos de no- mes como: Carolina Deslandes, Celmira Mace- do, Henrique Gouveia e Melo, Pedro Gaspar, Benedita Sampaio Maia, Rosário Costa, Greg Gage, Henrique Cymerman, Mariana van Zel- ler e Piers Tayloer. Para mais informações: https://tedxporto.com/ 22 O Fígado em Revista

Mega-Ameaças de Hora da leitura! Nouriel Roubini De autoria de Nouriel Roubini, economista co- nhecido mundialmente pelo nome “Dr. Catás- trofe”, “Mega-Ameaças” faz um retrato da atua- lidade, abordando 10 tendências perigosas que ameaçam o futuro da humanidade e estratégias para as combater. É através deste livro que temas emergentes, como a inflação, populismo, pandemias, crise climática, inteligência artificial, colapso económico e desglobalização da economia são colocados em cima da mesa, proporcionando ao leitor a possibilidade de uma reflexão profunda e consciente sobre o ambiente que prolifera no mundo que o rodeia. https://www.wook.pt/livro/mega-ameacas-nouriel- -roubini/28017350 Ideias Concretas “Os Anos” – sobre Vagas: Uma Annie Ernaux história da Pandemia (Prémio Nobel da – Ricardo Araújo Literatura 2022) Pereira Faz parte do con- “Quando todos pensá- junto de obras mais vamos já ter deixado a aclamadas de Annie pandemia para trás, eis Ernaux, romancista laureada com o Prémio um livro que não nos Nobel da Literatura, em 2022, e considerada deixa esquecer a chatice uma das escritoras mais importantes da litera- que foi”, é a melhor for- tura francesa do século XXI. “Os anos” conta ma de descrever a nova a história de um percurso de sessenta anos, obra de Ricardo Araújo entre 1941 e 2006, traçando assim uma au- Pereira, um dos rostos tobiografia marcada pelo cruzamento da voz mais conhecidos da comunicação social e do hu- coletiva, pessoal, transversal e intimista, que mor português. É através do jogo de palavras ca- contribui para a construção da recordação do racterístico do autor e apresentador do programa “nós”. Já foi premiado diversas vezes, acumu- “Isto É Gozar Com Quem Trabalha” que a COVID-19 lando distinções como o Prémio Man Booker ganha voz novamente, através de uma compilação Internacional de 2019 e o Prémio Strega de de textos publicados na Visão e Folha de S. Paulo, 2016. nos períodos compreendidos entre março de 2020 https://www.wook.pt/livro/os-anos-annie-er- e outubro de 2021. naux/23706033 https://tintadachina.pt/produto/ideias-concretas- -sobre-vagas/ O Fígado em Revista 23

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