Semana as Humanidades 2018 :biblioteca/cre - Escola Aurélia de Sousa
Conceção e edição de luísa moniz - 2019
Semana das Humanidades 2018 biblioteca/cre - Escola Aurélia de Sousa
Ilustrações: fragmento de “Cena Familiar” de Aurélia de Sousa
índice
Introdução por Luísa Saraiva _______________________________________________________ Prémios do Concurso Literário da Semana das Humanidades 2018, _________________________________________________________________________________________________________ Trabalhos baseados na obra de Aurélia de Sousa: Autorretrato VEJO UMA SENHORA─ Gonçalo Nobre TREVO DE QUATRO FOLHAS ─ Ana Catarina Relvas
Cena Familiar NO CONFORTO DE UM LAR ─ Leonor Prata Balaustrada PAISAGEM — Américo Portugal BALAUSTRADA DA QUINTA DA CHINA—Jiehang Chen BALAUSTRADA—João Paco Vendedora de Castanhas VENDEDORA DE CASTANHAS— Gonçalo Saraband
O Dia da Costura O DIA DA COSTURA—Inês Leitão (sem título) ESTE QUADRO FAZ-ME LEMBRAR TANTA COISA — Carolina Santos À Sombra NUMA LINDA E AGRADÁVEL TARDE— Morgana Soares
introdução
Dando continuidade à edição de brochuras que reúnam os traba- lhos dos vencedores dos Concursos Literários que, desde a primei- ra edição da Semana das Humanidades, em 2016, passaram a fazer parte obrigatória do Programa de Atividades desta Semana, temos o gosto de reunir nesta publicação os textos em prosa e poesia premiados nos Concursos de 2018 e 2019, em que participaram alunos das cinco escolas do Agrupamento Aurélia de Sousa, distri- buídos em quatro escalões correspondentes aos quatro ciclos de aprendizagem.
O concurso de 2018, Ano Europeu do Património Cultural, possibilitou promover o conhecimento da obra da pintora Aurélia de Sousa. Para tal, o AEAS contou com a colaboração e generoso contributo da Casa- Museu Marta Ortigão Sampaio, no- meadamente pela oferta de prémios e visitas guiadas aos alunos vencedores. O concurso de 2019, integrado numa Semana que elegeu a Língua Portuguesa como tema dominante e agregador das diversas atividades, propôs uma reflexão sobre as palavras a partir do conhecido poema de Alexande O’Neil “Há palavras que nos beijam…” Aproveito para felicitar todos os alunos vencedores e agradecer a sua participa-
ção, esperando que esta brochura cumpra não só o papel de registo de memória mas proporcione também o mesmo prazer e gosto que eu própria experimentei na sua leitura. A última palavra é de agradecimento à professora Luísa Moniz, a quem se deve o esmerado arranjo gráfico desta edição. Luísa Saraiva
“Os quadros Temática também contam histórias…” _____________________________________________________________ “Os quadros também contam histórias…” foi o tema proposto para o Concurso Literário do AE Aurélia de Sousa, integrado na Semana das Humanidades 2018, tendo por referência a obra pictórica de Aurélia de Sousa. A partir de um conjunto de quadros da pintora, os concorrentes foram convi- dados a escolher um quadro e criar um texto, que poderia revestir a forma de uma curta história ou poema.. Luísa Saraiva
Autorretrato 1900 — óleo sobre tela — Museu Nacional de Soares dos Reis
Gonçalo Nobre menção honrosa - Poesia 1º Ciclo - EB Florinhas
Vejo uma Vejo uma senhora senhora com um olhar muito sério, parece ser de outrora, o seu rosto tem mistério. está vestida de vermelho, tem um grande medalhão, o rosto não é muito velho, e não parece ter paixão. o seu rosto é pálido, o seu cabelo escuro, parece que o seu destino. não lhe trouxe ternura. O quadro é bonito, Mas não alegra o coração, seria mais catito, se tivesse mais emoção
Ana Catarina Relvas ES Aurélia de Sousa Secundário—Prosa—1º prémio
Esta sou eu. É desta ma- neira que quero que os Trevo outros me vejam. No en- tanto, não é assim que eu realmente sou. É apenas um autorretrato. De rosto de quatro pálido e rude, um fundo sombrio e avassalador, de casaco vermelho e alfine- te posto. Esta é a cara com que enfrento as ad- folhas versidades do meu mundo. Estou habituada a lidar com as críticas às minhas obras, mas desta vez é diferente, são só sussur- ros. Esta é capaz de ser a minha obra mais pesso- al, a minha obra mais aguardada e aquela que mais sentimentos despertou em mim. Ca- da pincelada que dei foi como se nela de- positasse um pedaço da minha alma, alma essa que poucos conhecem ou fazem por
conhecer. Os meus irmãos, amo-os acima de tudo, contudo nem eles se esforçaram para me conhecer verdadeiramente, ou pior, para se descobrirem a eles próprios. Confunde-me as pessoas não se dedi- carem ao autoconhecimento, não tentarem conhecer a sua alma antes de olharem e julgarem os outros, não se dedicarem a descobrir o seu próprio rumo, não procurarem a sua felicidade. Imagino se serei a única que pensa desta forma, se sou a única a olhar para a essência das pessoas, a única a preo- cupar-me com os detalhes. Tinha apenas dezasseis anos quando fiz o meu pri- meiro retrato, completamente diferente deste, era tão inocente. Era uma adolescente, uma pré-adulta, não fazia ideia do que viria a ser a minha vida. Dezasseis anos, e uma cabeça cheia de fantasias e de sonhos, cheia de sentimentos contraditórios, cheia de desejos, cheia de objetivos, cheia de am- bição, porém livre de preocupações. Achava eu, na- quela altura, ter problemas, problemas sem solução que me faziam sentir a pessoa mais azarada do mun- do. Olho para trás, vejo a minha juventude como um
poema onde as palavras rimam, entre memórias em- parelhadas, a sentimentos que se cruzam, momen- tos soltos e inacabados, desde palavras por di- zer, a segredos escondidos. Como o tempo passa. Em cada olhar meu há uma história por contar. Em cada quadro que pinto há uma parte de mim. E uma outra parte tua. Já perdi conta às vezes que me perguntaram onde arranjava inspiração, sempre respondi que a procurava nas mais ínfimas coisas como um sorriso de um estranho ou então na natu- reza. A verdade é que és tu que invadias o meu pensamento, és tu que me davas forças para pin- tar, é em ti que me inspirava e inspiro, és tu que me fazes querer viver. O teu olhar prendeu- me, foi como se te tivesses tornado o dono do meu coração. Era eu e tu, conversa rara e boa, sonhos que me faziam não querer acordar para a vida. O teu sus- surro baixinho ao meu ouvido, o teu abraço com sabor a casa, a sorte de te ter nos meus braços, de te poder beijar, de te poder tocar, de te aca- riciar, a sorte de te poder amar. As horas pare-
ciam minutos quando estávamos juntos, quem me dera poder ter parado o tempo. Mas agora é demasiado tarde. Este céu entre nós sufoca-me. Falta parte de mim. Quando tudo parece desabar em cima de mim, tu es- tás lá, como o sol que se esconde atrás da chuva e nos faz renascer da escuridão. Peço-te que voltes para mim, eu prometo que paz e afeto não te vão faltar. Eu prometo proteger-te, e nunca mais te deixar fugir. Eu prometo que o nosso amor durará a vida toda. Apenas volta, quero recu- perar todo o tempo que não tivemos, todas as memó- rias que não tivemos tempo de criar, há muito mais para vivermos, há muito mais para viver e ser. Por favor volta, não sou capaz de te deixar de amar, muito menos acostumar-me à ideia de que te vi par- tir deste mundo sem me despedir ou ter tido a oportunidade de te dizer o quanto gostava de ti. Volta para junto de mim, meu querido pai. Para sempre tua, Aurélia de Sousa
Aurélia correu para o jardim da biblioteca, pegou numa pá e escavou. Colocou a carta e o retrato por en- o seu trevo de quatro folhas do bolso e, cuida- dosamente, pousou-o junto aos outros, como se de uma pérola se tratasse. Cobriu os objetos com terra enquanto uma pequena lágrima agridoce lhe escorria do olho. Pegou num jarro velho, sujo e partido, encheu-o na fonte mais próxima. Regou a terra. Olhou para o céu na esperança de receber um sinal de um outro mundo. Nada. Dias mais tarde, Aurélia voltou ao mesmo jar- dim, onde a terra remexida se tinha transforma- do num lindo manto verde de trevos, onde apenas desabrochou um único trevo de quatro folhas. Aurélia recolheu-o. A cada dia que se passava ela enterrava o dito trevo num sítio diferente e acontecia sempre o mesmo fenómeno. Um único trevo de quatro folhas no meio de tantos ou- tros. Era seu pai. Anos mais tarde, uma menina encontrou enterrado
na sua escola um trevo de quatro folhas juntamente com uma mensagem: “Cada um de nós é um trevo de quatro folhas – Aurélia de Sousa”. Todos os anos, na mesma escola, posteriormente batizada como Aurélia de Sousa, um trevo de quatro folhas nasce, em busca de dar sorte a outra pessoa. Talvez eu possa ter a sorte de o encontrar, ou possa eu ser o trevo de quatro folhas de alguém. Mas para já, sou apenas uma guardiã dos trevos de quatro folhas a aprender a escolher os meus amores.
Cena Familiar 1911 — óleo sobre tela — Museu Nacional de Soares dos Reis
Leonor Prata 1º Prémio - Poesia 1º Ciclo - EB Florinhas
No conforto No conforto de um lar de um lar Na calma de um serão Sabem conversar as crian- ças Em noites sem televisão. Tudo parece tranquilo Cada objeto em seu lugar Desde a menina com o seu cão Até a mãe a bordar. A luz que alumia a sala Não se sabe de onde vem Não se veem os candeeiros Mas não inquieta ninguém. Noites de tempos distantes Que só consigo imaginar Sem correr para lado algum Que não o prazer de estar.
Balaustrada Óleo sobre cartão — Casa Museu Marta Ortigão Sampaio
Américo Portugal
Paisagem Como é bela a paisagem Que eu vejo de onde estou Ela é muito tranquila E meus olhos adoçou. Vejo quatro vasos de barro Com diferentes formas, ta- manhos e cores Cada um com uma simples planta Que lhes dão vida e odores. A balustrada ajuda A embelezar a paisagem Sinto-me num templo romano Rodeado de fresca aragem. Do chão erguem-se arbustos Que enriquecem o pequeno jardim Mas ao olhar p’ró horizonte Ele deixa de ter fim.
Os montes verdejantes Dão-lhe essa imensidão Levam-me a outro mundo Sem gastar um tostão. Com os seus diferentes tamanhos Rodeiam a minha cidade Tocam no céu azul Enchem-me de tranquilidade. Vejo também o rio Na sua calma a correr Apesar de estar ao longe Não o consigo esquecer. O Douro parece um espelho A refletir a cidade Com as águas coloridas Enche-se de vaidade
Jiehang Chen
Balaustrada Esta é uma das quintas mais bonitas do mundo e chama-se “Quinta da Chi- na”, apesar de ser em da Quinta Portugal. A varanda tem vista para o rio Douro e vários va- sos com belas rosas. Eu da China gosto desta quinta por- que dá para sentir o cheiro da natureza, res- pirara ar fresco, ver o céu, o rio e o maravi- lhoso jardim cheio de plantas. Ninguém me incomoda quando lá vou. Sou só eu com o sol a brilhar, os pássaros a cantarem e voarem livres como o vento! As flores de que eu mais gosto naquele jardim são os cravos. O seu aspeto é único e as suas pétalas têm um cheiro tão
agradável que as abelhas vêm visitá-las para poderem fazer um bom mel.Ao longe eu vejo montanhas de felicidade cobertas de árvores de fruto: laranjeiras, macieiras, pereiras, cerejeiras… As casas parecem pentágonos coloridos cheios de enfeites! No rio vivem peixes de todas as cores, desde amarelo, vermelho, cinzento… E, em cima, as gaivotas voam para ver o seu reflexo encantador nas águas. As nuvens parecem desenhos pintados à mão numa cartolina azul e, quando o sol come- ça a cair, fica vermelho, laranja e um pouco de roxo. Na relva eu vejo bichinhos fofos que brincam alegremente e sobem às árvores, jogam às escondidinhas na terra e fazem corridas nas águas brilhantes. Da balaustrada da “Quinta da China” eu vejo tudo e muito mais, vejo um mundo maravilhoso e sinto-me feliz por dentro.
João Paco
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