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Revista Pentagrama 2010-2

Published by Pentagrama Publicações, 2016-06-13 21:20:40

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pentagrama Lectorium RosicrucianumO despertar da almaO espelho do espíritoA quarta dimensãoA luz é a vida dos homensA outra herança de Charles DarwinAlquimia hoje2010 2AbrilNÚMERO

Editor responsável Revista Bimestral da EscolaA. H. v. d. Brul Internacional da Rosacruz ÁureaRedação finalP. Huijs Lectorium RosicrucianumImagens A revista Pentagrama dirige a atenção de seus leito-I. W. v. d. Brul, G. P. Olsthoorn res para o desenvolvimento da humanidade nesta nova era que se inicia.Redação O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símboloC. Bode, A. Gerrits, H. P. Knevel, G. P. Olsthoorn, do homem renascido, do novo homem. Ele é tambémA. Stokman-Griever, G. Uljée, I. W. v. d. Brul o símbolo do Universo e de seu eterno devir, por meio do qual o plano de Deus se manifesta. Entretan-Secretaria to, um símbolo somente tem valor quando se tornaC. Bode, G. Uljée realidade.O homem que realiza o pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio pequeno mundo, está noEndereço da Redação caminho da transfiguração.Pentagram A revista Pentagrama convida o leitor a operar essaMaartensdijkseweg I, revolução espiritual em seu próprio interior.NL – 3723 MC Bilthoven, [email protected]ção BrasileiraLectorium RosicrucianumC.Postal 39 13240-000 Jarinu, [email protected]ção, assinaturas e vendasTel: (011) 4016-1817Fax: (011) [email protected]ável pela Edição BrasileiraM. D. Eddé de OliveiraRevisão finalM.V. Mesquita de SousaTradutores e revisoresA. S. Abdalla, S. P. Cachemaille, J. Jesus,A.Souto Maior, M. S. Sader, U. B. Schmid,M.V. Mesquita de Sousa, C.H.VasconcelosDiagramação, capa e interiorD. B. Santos NevesLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo, SPwww.lectoriumrosicrucianum.org.brinfo@lectoriumrosicrucianum.org.brSede em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, Lisboawww.rosacruzlectorium.orginfo.por tugal@rosacr uzaurea.org© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253

p e n t a g r a m a ano 32 número 2 2010 Existem dois tipos sumário de pensamento: o analítico e o sana- o despertar da alma 2 dor. O pensamento J. van Rijckenborgh analítico baseia-se na a quarta dimensão 10 multiplicidade infinita Catharose de Petri dos fenômenos e a outra herança de charles darwin 14sonda suas partes componentes até os menores consti- não falaremos, é claro,tuintes do átomo. Ele divide, analisa, rubrica e sujeita-se sobre o amor 22ao objeto de seu estudo. Johan SchabergO pensamento sanador reconhece como a vida a luz é a vida dos homens 25universal una se manifesta, de maneira triunfante, em o espelho do espírito. uma alocuçãomagnífica multiplicidade e com riqueza indescritível de para jovens 30formas e espécies. O que ele pesquisa alegra-se por alquimia na atualidadeisso, mostra com entusiasmo sua beleza e delicadeza e sobre heroísmo, coragem, luta pelafica livre para elevar-se a um plano superior. verdade e mudança interior 36O primeiro tipo de pensamento produz frieza e umavista geral; o segundo, calor, vida e compreensão. O pri-meiro é humano e fundamenta-se na razão; o segundoé divino e fundamenta-se no homem original.Neste número da Pentagrama, procuramos contri-buir para aumentar a compreensão dessa riqueza. Capa: Doze rosas com uma décima terceira no centro, do manuscrito Akhlaq-i Rasul Allah (1708). Na sabedoria árabe a beleza de cada flor, em especial a rosa, é símbolo do elevado Espírito divino, e cada jardim terreno, um antegozo do roseiral celeste por vir. tijd voor leven 1

o despertar da almaAs questões que surgem a respeito do versículo 72 do primeirolivro de Hermes, Pimandro, são: O que Hermes quer dizer com“lucidez da alma”? Onde fica a parte da personalidade que seretira durante o sono e o que ela faz durante a noite, ou ainda,para onde ela vai?segundo J. van Rijckenborgh lamente, que a sua consciência de sono é a cons- ciência astral. Daí pode-se verificar, sem maioresC ONSTITUIÇÃO DA CONSCIÊNCIA HUMANA averiguações, que a vida consciente noturna do O que acontece quando o homem dorme? homem nem de longe pode ser comparada com Quando entramos no estado de sono, ve- a vida consciente ordinária no lado da matéria,rifica-se uma divisão na personalidade, isto é, uma quando então os quatro agregados de consciênciaparte da personalidade separa-se do corpo. Mas o que formam um conjunto concêntrico, cooperandogeralmente escapa à atenção do pesquisador é que, reciprocamente e, assim, controlando-se reci-simultaneamente a essa divisão da personalidade, procamente. A consciência noturna do homem étambém se manifesta uma divisão da consciência. exclusivamente consciência astral. E quem sabe oA consciência dialética é fruto da cooperação or- que isso significa, quem o sabe realmente, já nãogânica de todos os átomos que, em certo momen- será vítima dos inúmeros erros que nesse ponto oto, pertencem ao nosso sistema-personalidade. homem sempre comete e sempre cometerá.Assim sendo, podemos distinguir quatro manifes-tações de consciência: duas delas pertencem mais NATUREZA DA ESFERA ASTRAL A esfera astralao lado material das coisas, aos corpos material e possui um forte poder formativo. Pensamentos,etérico, e as duas outras pertencem mais ao lado desejos, sentimentos e objetos da vontade lá sesutil, ao outro lado das coisas, ao consciente astral projetam. Devido à conduta da humanidade atual,e ao consciente mental. a esfera astral da dialética tornou-se altamenteQuando um homem entra no estado de sono e a impura e complexa; ela nada mais é do que ilusão,parte mais sutil de sua personalidade se retira, a e é totalmente inadequada para qualquer vidaconsciência também se divide. O aspecto mate- gnóstica, pois a matéria astral é extraordinaria-rial da consciência permanece no lado material, mente magnética.algumas vezes em estado de latência e inatividade, Tudo o que não se harmoniza com a natureza daalgumas vezes em estado de semiatividade. Este esfera astral é simplesmente tomado do homemúltimo caso verifica-se quando, por exemplo, noturno, portanto, subtraído da personalidadedurante o dia se excitou o corpo em demasia ou de matéria sutil que chega à esfera astral. E ose está muito nervoso, ou quando se é afligido por homem noturno então recebe, por sua vez, agrandes preocupações. O outro aspecto da consci- substância astral correspondente à natureza daência acompanha os corpos astral e mental que sa- esfera astral. Por isso lemos no evangelho gnós-íram. E como o corpo mental de todos os homens tico Pistis Sophia que a Pistis Sophia é continu-é ainda muito elementar, organizado de maneira amente roubada em sua força de luz. A esferaainda muito imperfeita, a consciência de sono, no astral da vida comum está repleta de forçasestado de sono do corpo, é governada quase in- ímpias dos éons que podem ser designadas comoteiramente pelo consciente astral. Por isso, tendoem vista os homens atuais, pode-se dizer, tranqui-2 pentagram 6/2009

“O sono do corpo tornou-se a lucidez da alma;o cerrar dos olhos tornou-se verdadeiro ver;o silêncio tornou-se-me a gestação do bem, ea anunciação do Verbo transformou-se em fecundos atos de salvação.”A Gnosis original egípcia, t. 1, Pimandro, vers. 72 “Seu ser astral habitará então o santuário do coração. Somente assim o homem conhece o mundo tal como realmente é.” O sábio Babur (Hindustão, 1530) em contemplação interior em seu jardim, próximo da atual Cabul. o despertar da alma 3

Apenas quem está em condição de elevar a consciênciaao coração vence seus instintos naturais primáriosforças naturais. O termo éon significa: decorrer Desse fato resultam consequências muito impor-do tempo, imensurável período de tempo. Com tantes para todos os alunos que são sinceros emo auxílio dessa ideia fica claro o que são éons relação ao seu discipulado, entre outras a lógicaem relação à esfera astral. Éons são forças astrais, e urgente exigência de se retirarem da esferaatividades astrais que se formaram no decorrer astral da natureza da morte.Quando um homemde períodos de tempo muito longos e se torna- verifica que, nas horas noturnas, está sujeito àsram muito poderosas. Por exemplo, projeções de influências sumamente perigosas desse campodesejos e pensamentos humanos alimentados por cada vez que lá chega, cabe então a pergunta:tanto tempo que, por fim, foram vivificados na “De que modo posso libertar-me delas? Comoesfera astral. proteger-me dessas influências?” Essa é a primeiraSuponhamos que criemos uma imagem em consequência. A segunda é que os referidos alu-nosso pensamento e a sustentemos continu- nos, uma vez que se libertaram da esfera astral daamente durante anos, de modo que a incuti- natureza da morte, durante o sono, levam a partemos em nossos filhos e em todos os que nos mais sutil de sua personalidade para outro campoacompanham, e que os artistas a desenhem, astral onde não existem as referidas impurezas epintem e reproduzam em pedra, e os poetas a perigos. Concordareis plenamente conosco quecantem. Então podemos imaginar a maneira essas são premissas muito elementares e das quaispela qual um éon é formado na esfera astral. nenhum de vós pode subtrair-se. Sem o cumpri-São projeções de contínuas correntes de desejos mento dessas exigências, qualquer discipuladoe pensamentos humanos que, por fim, ficam gnóstico nada mais é que perfeita burla.de tal modo vivificados que passam a gover- Nisso ninguém pode forçar-se, coagir-se; senar e a subjugar a humanidade. Esses éons que tentásseis fazê-lo durante um ou mais dias, não ocontinuamente crescem em força, porque são conseguiríeis. Seria uma luta com a perspectivaincessantemente alimentados pela humanidade, de uma derrota certa. Por isso, já anteriormenteespoliam em sua força de luz cada homem de afirmamos que a chave para a senda gnóstica estáorientação gnóstica que penetra a esfera astral. na possibilidade de dar outra direção à consciên-Normalmente isso acontece todas as noites com cia astral mediante o próprio ser astral consciente.o aluno logo que ele entrega o corpo ao des- Para conseguir isso é necessário, em primeirocanso do sono. lugar, elevar ao coração o princípio nuclear do4 pentagrama 2/2010

ser-eu que se encontra no sistema fígado-baço. Só A FORÇA DECISIVA QUE ACOMPANHA O DESEJOse pode realizar isso quando se está maduro paratanto; quando o caminho da vida, por fim, leva DE SALVAÇÃO Um novo anseio parte, então,a um beco sem saída na matéria, na natureza da do ser astral, um novo desejo, um suspirar pelamorte, quando se descobre que para um homem libertação verdadeira e essencial, que na Escri-que se move na linha horizontal não existe ne- tura Sagrada é denominada “anseio de salva-nhuma perspectiva de libertação. Então, o princí- ção”. Somente esse anelo abre o coração parapio nuclear do eu retira-se do sistema fígado-baço a Gnosis, para a luz do Santo Graal, e assim aonde tem sua residência, elevando-se ao coração. rosa do coração é tocada. Desse modo o alunoO homem, cujo eu está centralizado no sistema chega diante do portal de um novo estado defígado-baço, no plexo solar, é o protótipo do vida, isto é, mediante o anelo por salvação quehomem natural duro como pedra, egocêntrico, surge pela elevação do ser astral consciente aoo homem natural que se prendeu à matéria com coração.unhas e dentes e assim dela tudo espera. Porém, Milhões de pessoas encontram-se diante dessepara esse homem, após um tempo mais ou menos portal; muitos milhões de pessoas já de há muitolongo, frequentemente apenas após muitas exis- anseiam desse modo por verdadeira vida liber-tências no microcosmo, chega, seguramente, o tadora. E assim esses milhões de pessoas, ligadasmomento em que ele chega a um beco sem saída entre si, criaram juntas um éon que, nas escri-na natureza da morte e descobre que sua exis- turas gnósticas, é denominado “décimo terceirotência é um giro sem fim e sem perspectiva. Mas éon”. Entre esse décimo terceiro éon e os ane-enquanto ele ainda viver do sistema fígado-baço lantes surgiu um intercâmbio que se torna cadae, portanto, ainda demonstrar com sua vida algum vez maior e mais intenso em virtude do ardorresquício de autoa­ firmação e egocentrismo, é do anelo dessas pessoas. O sentimento e a per-totalmente inútil o discipulado de uma escola cepção do estado de ruína em que se encontramespiritual. Apenas quem está em condição de ele- acentua-se cada vez mais. Mas apenas o anseiovar a consciência ao coração vence seus instintos de salvação não é suficiente, e também o sernaturais primários. Seu ser astral buscará residên- astral estará na esfera astral da natureza da mortecia no santuário do coração. E só então ele verá o durante as horas noturnas, e na manhã seguintemundo como realmente é. regressará bastante roubado em força de luz, de modo que o dano é maior do que nunca. o despertar da alma 5

Toth, o deus egípcio com cabeça de Íbis, é Hermes, da Rosacruz Áurea acerca dessa tão necessáriao mensageiro do mundo espiritual. Na mão ele purificação do coração. Quem, além do anseio desegura um rolo de pergaminho, símbolo da palavra salvação, também faz a verdadeira purificação dedivina, que é a verdade. si mesmo entra no nascimento da alma e obtém essa santificação com todas as suas consequências.Compreendeis, assim, que além do anseio de Certamente é conhecido o estardalhaço negati-salvação também é necessária a autossantificação. vo e repulsivo de inúmeros que só clamam porQuem verdadeiramente anseia ser santificado auxílio e pedem apoio para tudo o que é necessá-tudo fará e tentará até mesmo o impossível para rio na economia da vida dialética. Mas o homemse aproximar dessa santificação. Isso é lógico. deve compreender que, para chegar à verdadeiraUma intensa atividade autônoma também deve salvação, é preciso, primeiro, empenhar a si mes-sempre demonstrar que a pessoa está sendo pu- mo e seu inteiro estado de ser. Ao lado do anseiorificada pelo anseio de salvação. Essa atividade de salvação deve, irrevogavelmente, desenvolver-sempre deverá partir do coração do homem, e se a santificação de si mesmo. E então, como foiem seguida influenciará o estado de vida em sua mencionado, a santificação se mostrará no nasci-totalidade. Por isso, sempre falamos na Escola mento da alma. Se uma vez mais revirmos o processo exposto, ficará evidente que, primeiro, ele requer do can- didato a elevação do ser astral do sistema fígado- baço ao coração, e que assim vença seu estado natural. Em segundo lugar, requer a manifestação do anseio de salvação e da descoberta da natureza da morte. Em terceiro lugar, requer a atividade autônoma, a santificação, a purificação do co- ração e da vida em sua totalidade, em completa autorrendição, cuja consequência é o nascimento da alma. O QUE É A NOVA ALMA? O nascimento da alma é, acima de tudo, o nascimento de um novo ser astral. Um ser anímico é, em primeiro lugar, um ser astral, uma entidade que, após o nascimento, logo se transmite ao sangue, ao fluido nervoso, à secreção interna e também se faz valer nos órgãos6 pentagrama 2/2010

A vibração, a orientação do ser astral ao ir dormir édeterminante para toda a vida noturna e para a vidadiurna que a ela se segueda inteligência. Logo que algo desse novo ser virá mais cedo ou mais tarde. Não, para cada umanímico penetra em vós, logo que irrompe essa de nós existe agora, no presente, um lar da liber-nova influência astral, nasce em vós uma nova dade onde podemos entrar, desde que saibamosfaculdade. Uma nova força circula por todo vosso manejar a chave requerida e queiramos assumirser e exerce sua influência sobre todas as vossas as consequências.faculdades humanas normais. A condição para isso é que possuamos uma novaAssim compreendereis o que deve ser o quar- alma e a prova disso esteja em toda a nossa vidato passo que então está inteiramente em vosso diária, portanto, no cotidiano do discipuladopoder: a transferência consequente e sistemática prático feito de maneira consequente e aplicadoda direção da vida à alma recém-nascida em vós, em prestação de serviço com o esquecimentoa essas novas possibilidades em vós. Isso signifi- de si mesmo, sustentado pelo amor inequívo-ca que, em relação ao eu, ao ser natural, passais co aos homens do verdadeiro estado de alma.totalmente para segundo plano. Já não vos com- Cada homem nascido como alma deve, após terportais segundo a vossa natureza comum, antes cumprido a sua tarefa, situar perfeitamente adeixais a alma reger toda a vossa vida. Então o sua vida na esfera das almas. Por conseguinte,novo ser astral, o novo estado de alma crescerá antes de dormir, não deve deter-se nos aspec-em vós. Manifestar-se-á um novo corpo sideral tos do mundo da dialética. Desse modo, o sonototalmente equipado, e o antigo corpo de dese- do corpo torna-se a lucidez da alma. Quandojos e a antiga vida de desejos desaparecerão por ides dormir orientados para a alma, ela se tornacompleto. Entrastes, portanto, na transfiguração, consciente, ela desperta. A vibração, a orien-e à medida que se impõe o novo desenvolvimen- tação do ser astral ao ir dormir é determinanteto, morreis para esfera astral da natureza da mor- para toda a vida noturna e para a vida diurnate. Em relação a essa esfera astral da dialética, em que a ela se segue. Os que ingressam no novocerto momento, não tendes mais nenhum acesso, campo astral com esse preparo sentem diaria-lá não encontrais lugar algum para o vosso novo mente, em força e clareza cada vez maiores,ser astral. E, então, abre-se o novo campo astral que o sono do corpo significa o despertar ou ado corpo-vivo: o estrangeiro nos acontecimentos vigília da alma, o que acarreta um verdadeiroterrestres recebe as boas-vindas em seu novo lar. ver e estabelece um novo desenvolvimento queNossas exposições anteriores tiveram por obje- é coroado por um novo estado de consciênciativo principal asseverar que semelhante novo lar denominado, na Escritura Sagrada, “a coroaexiste e se concretizou pelo esforço de muitos, imarcescível da magnificência” µespecialmente para a jovem Gnosis. Portanto,não se trata de uma especulação relativa a uma Rijckenborgh, J. van, A Gnosis original egípcia,futura salvação ou, talvez, de uma libertação que 2 ed. t.1. Jarinu: Editora Rosacruz, 2006. o despertar da alma 7

Sem sair pela porta da frente de casa,pode-se conhecer o mundo.Sem olhar para fora, pode-se conhecer o caminho para o céu.Quanto mais se viaja, menos se sabe.O sábio conhece sem viajar,vê sem olhar,e age mediante o não fazer.Lao Tsé,Tao Te King, cap. 47

Hampton Court, ca. 1690

a quarta dimensãoA “gênese da intuição” é com razão o despertar da alma, afirma Catharose de Petri.Como pode essa alma desenvolver a visão completamente nova necessária paracontemplar a esfera pura do corpo-vivo magnético? A autora compara esse contemplarcom o ingresso no que denominamos a quarta dimensão, a quarta dimensão do espaçoCatharose de Petri personalidade terrena, como aparição temporá- ria, tem por missão libertar sua alma, seu mi-Uma onda de vida, de almas, ou micro- crocosmo, do aprisionamento, a fim de que, em cosmos, foi engendrada e nasceu da auto-oferenda, por seu esforço endurístico, ela se natureza astral original oniabarcante pela perca nesse Outro que deve ser conduzido à vidaradiação do pensamento divino na natureza ori- outra vez.ginal, da mesma forma como nosso pensamento Atualmente, o microcosmo mantém-se ligado aproduz uma centelha em nosso corpo astral. O seu sistema espaço-temporal. Todavia, quando omicrocosmo assim nascido segue um processo espírito, a alma e a personalidade transfiguradade autorrealização, pois, por detrás da centelha estiverem outra vez unidos, será concedido aoastral, está o pensamento divino a impelir. Assim microcosmo entrar outra vez no estado divinosão liberados éteres no campo de manifestação da ubiquidade. Enquanto isso não acontece, eledo microcosmo, os quais se concentram ao redor permanece rompido e danificado. Por isso odo núcleo do microcosmo, ou rosa, e tomam a chamado ressoa sem cessar para todos, a fim deforma da imagem mental que está na origem da que se cumpra a grandiosa obra de salvação na ecriação. Foi assim que, da eternidade, foi criado, através da poderosa força da natureza original.um dia, o homem verdadeiro, unido ao Pai de Portanto, em primeiro lugar, a grande e santaforma natural e espontânea. força-luz da natureza original deve irradiar emMas o homem, que numa época anterior ao todo o vosso corpo. A atitude de vida agora exi-tempo, abusou de sua liberdade e deu provas gida é a que leva à iluminação. Como Simeão,de sua oposição, sabe muito bem em que se deveis tornar-vos uma alma que busca o espírito.tornou. O corpo glorioso da origem é incapaz Como consequência, deveis conduzir todo vossode se manifestar. Ele desapareceu, porque um estado de vida, toda vossa atitude de vida decorpo material etérico tem a particularidade de acordo com essas exigências. Então, no momen-se desagregar por completo se não emanar de to psicológico apropriado, a grande luz penetraráum campo-mãe astral. O fator animador origi- em vosso microcosmo e a contemplareis.nal, o microcosmo, a alma, tornou-se inativo, Para isso é necessário colocar vosso sentir, pensaresvaziou-se e já não está em condição de se e querer sob a força de irradiação do alento sa-manifestar. E o Espírito, autor dessa maravilha, grado, a fim de que a alma possa despertar para aretirou-se. Desde então, por um processo de vida no corpo vital e possa religar-se ao Espíritonascimento terreno, surge uma personalidade Sétuplo. O Cristo interior tomará a direção dounida a uma alma. Essa personalidade é, em si homem-João; e aí, onde o eu, por mais dedi-mesma, outra maravilha do amor de Deus, pois cado que seja, não consegue ter bom êxito, aé preciso considerá-la no contexto de um plano alma será capaz de suprimir todas as dificuldadesda ordem de emergência destinado a restituira vida ao homem original caído. Com efeito, a10 pentagrama 2/2010

existenciais da personalidade e a conduzirá à o sentido e a natureza da verdadeira visão. Ogrande vitória, isto é, ao monte Gólgota, o nascimento da intuição é, de fato, o despertar daprelúdio da ressurreição. Assim é realizada no alma e corresponde ao verdadeiro nascimento dahomem a primeira tarefa de Jesus Cristo. alma e à sua localização no espaço aberto atrásPor certo agora compreendereis o que aconte- do osso frontal.cerá quando o candidato dos mistérios gnósticos, O despertar no campo da alma-espírito, osob a pressão do chamado do Espírito, conse- ingresso na esfera astral pura do corpo-vivoguir elevar seu estado anímico ao Pai, conseguir magnético exige uma visão absolutamente nova,desligar-se dos éons da natureza. Tendo aden- ou seja, a contemplação e o ingresso no quetrado o templo de seu ser mais profundo, ele vê. denominamos a quarta dimensão. O homemEle vê o Outro, o Vivente. E na experiência da conhece três dimensões: altura, comprimento e“visão pura”, ele contempla o caminho do devir largura, através das quais ele tem a percepção dede cada filho de Deus caído que, da natureza da um espaço vital.morte, se eleva à vida libertadora. Todavia, por mais que se possa estender esseEssa nova visão está tão estreitamente ligada à espaço tridimensional ou imaginá-lo extenso,intuição que, na verdade, não pode ser conce- sempre existe uma delimitação, uma restrição,bida como algo separado. Compreendereis esse um aprisionamento. Pelo fato de nosso globofato de maneira perfeita quando descobrirdes terrestre, do ponto de vista tridimensional, ter a quarta dimensão 11

sido explorado por completo, vemos, por exem- quarta dimensão existe! É a dimensão denomi-plo, na tentativa da ciência natural de chegar a nada permeabilidade absoluta. Gostaríamos deoutros corpos celestes que, num tempo como o denominá-la de a realidade da ubiquidade. É anosso, esse aprisionamento é experimentado de dimensão em que o tempo, a distância, o pas-modo inconsciente. Sob o impulso desenfreado sado, o presente e o futuro, o agora e o depoisque a evolução exerce hoje sobre o ser humano, são abolidos por completo. Se a humanidadea humanidade sente-se muito limitada, muito possuísse essa quarta dimensão, sem dúvida nãosufocada nos limites das três dimensões. haveria necessidade de chegar à Lua, a Marte, aE a ciência reage a essa opressão de modo Vênus ou a Mercúrio, por exemplo. Porque natridimensional, tentando ampliar e estender o quarta dimensão pensar na Lua significaria estarespaço tridimensional tanto quanto possível. É na Lua. Em resumo, possuir a quarta dimensão éclaro que as dificuldades atuais desapareceriam possuir o poder da ubiquidade.de imediato caso existisse uma quarta dimensão, Para o ser humano, cuja visão é tridimensional,cuja realidade a ciência pudesse constatar. Essa é muito estranho imaginar semelhante poder. No entanto, essa quarta dimensão é apenas a porta para a quinta, a sexta e a sétima dimen- sões. Essas sete dimensões também formam o fundamento do átomo, o qual possui sete aspec- tos. Em princípio e de maneira fundamental, por ser existencialmente constituído de átomos, o ser humano é onipresente, porém ele não é consciente disso, pois sua consciência e o estado de suas capacidades atuais são tridimensionais. A consciência onipresente dá o poder de estar em toda parte quando se quiser, embora permane- cendo no mesmo lugar, portanto sem se deslo- car. A intuição é a porta para isso. A nova visão é a primeira realização da quarta dimensão. Depois desse breve esclarecimento compreende- reis por que é tão nefasto estar aberto às influ- ências astrais da natureza dialética comum. O campo de vida humano está poluído por inteiro; a atmosfera da vida humana, com suas causas e efeitos etéricos e astrais, está impregnada dessa12 pentagrama 2/2010

Pela primeira vez em sua vida, o aluno pode, de fato,pensar de maneira pura, pois agora seus órgãos mentaisestão abertos para issopoluição. E como vosso campo de vida também Em perfeita harmonia com a manifestação dosé vosso campo de respiração, sois mantidos pri- sete raios do Espírito Sétuplo, realiza-se a reno-sioneiros, e isso vale também para vossa semente, vação dos sentidos, contanto que o aluno faça oportanto, para vossa descendência. que o processo interior exige dele. Ele é entãoComo são acertadas as palavras do Antigo amparado pela Doutrina Universal libertadora.Testamento, segundo as quais Deus castiga os O quinto raio corresponde à inteligência.pecados dos pais até a terceira e a quarta gera- Quando fordes introduzidos na esfera de ativi-ções. Por que apenas até a terceira e a quarta dade do quinto sentido, descobrireis de imedia-gerações? Porque uma causa que leva ao pecado to que a inteligência é muito mais do que umse estende no máximo até a terceira ou a quarta sentido. A inteligência é o veículo do pensamen-geração. Porém, muitas vezes em seu efeito jaz to. A inteligência é o veículo do corpo mental.encerrada outra vez uma nova causa. Quando a inteligência racional desperta, sig-Quem não iniciar, aplicar e perseverar na mu- nifica que nasceu o corpo mental, o qual aindadança de sua atitude de vida com base na alma falta para muitos seres humanos na natureza dadesperta não atingirá nenhum objetivo gnóstico. morte. É apenas com base nesse nascimento queToda magia é realizada através da respiração. tem início o devir do verdadeiro homem. NaQuem não consegue proteger-se das influências antiga doutrina, o homem era indicado comoastrais nocivas torna-se, sem exceção, vítima. Adamas, designação análoga a Man ou Manas,À medida que, graças a uma vida nova e positi- que quer dizer: Pensador. A cooperação dova, a forma da personalidade tende a desapare- aluno que aplica a nova atitude de vida com ocer, modificando-se e sendo guiada pela alma, o quinto raio do Espírito Sétuplo significa nadaquinto raio do Espírito Sétuplo começa a execu- mais nada menos que o nascimento, a manifesta-tar sua tarefa. O cimo da montanha é então atin- ção real do poder do pensamento concebido porgido. Uma nova e maravilhosa luz toca o aluno Deus, o verdadeiro corpo mental. É assim que see o preenche. E essa luz age de forma puramente manifesta a inteligência racional µmental. Pela primeira vez em sua vida, o alunopode, de fato, pensar de maneira pura, pois ago- Petri, Catharose de, O Verbo Vivente.ra seus órgãos mentais estão abertos para isso. Jarinu: Editora Rosacruz, 2006. a quarta dimensão 13

a outra herançade charles darwinHá duzentos anos, em 12 de fevereiro de 1809, nascia Charles Robert Darwin.Sua obra revolucionária A origem das espécies apareceu há 150 anos. A mídiadedicou grande atenção a esse duplo jubileu. Com o presente artigo, a revistaPentagrama gostaria de apresentar um aspecto pouco abordado do pensamentodesse biólogo: a correlação entre o saber e a féDarwin acreditava que o trabalho científico deve ser executado de forma independente das representações religiosas, e que a cren-ça em uma divindade dirigente pode muito bemcaminhar junto com a doutrina da evolução, poisa fé tem uma base totalmente diferente da ciência.Mas, com certeza, sua vida deixa entrever o quantoambas estão mescladas.Durante o ano de estudo preparatório de teologia(Cambridge, 1828), Darwin se vê confrontado coma teologia da natureza. Essa disciplina sustenta queem todos os fenômenos naturais se nota a ação deum deus que ama ou pune. Buscar a prova explícitadisso é a principal motivação de sua longa viagemde cinco anos ao redor do mundo. Por essa razão,a Bíblia, como autoridade incontestável, fazia partede sua bagagem. Contudo, devido ao empenhoem adquirir numerosos conceitos surpreendentesrelativos à história da terra e do desenvolvimentodas plantas e dos animais, sua fé ingênua na Bíbliacomeça a vacilar.UMA Ideia DE DEUS DESAPARECE De voltaà Inglaterra, Charles Darwin põe-se a ava-liar suas descobertas amplas e tão diferentes.Progressivamente ele elabora então sua teoriada evolução e, pouco a pouco, compreende quesua crença em um deus que intervém de formamilagrosa nos acontecimentos mundiais torna-seinsustentável. Em sua obra principal, A origem dasespécies, ele revela seu ponto de vista: sem dúvida,Deus criou o universo e as leis naturais, mas emseguida deixou que seguissem seu curso. “A ideiade que o criador infundiu com o germe de vida14 pentagrama 2/2010

Conrad Martens, Mount Sarmiento, Tierradel Fuego (Terra do Fogo). O navio no desenhoé o HMS Beagle, o famoso navio de Darwin,durante sua segunda viagem, 1831-1836 a outra herança de charles darwin 15

Página de título da primeira edição da obra O OUTRO DARWIN A tese de Darwin “TheA origem das espécies, de Darwin, Londres, 1859 survival of the fittest”, a sobrevivência do mais apto, foi logo interpretada como “a sobrevivênciaque nos rodeia somente poucas ou apenas uma do mais forte”. Na realidade, ele queria dizer queúnica forma (vida) é algo tão sublime quanto o somente sobrevivem os organismos que prospe-fato de que, enquanto nossa terra move-se num ram em seu meio. Dessas observações ele deduziucírculo segundo as leis da gravitação, um princí- a “luta pela existência”; para ele isso não era umapio igualmente modesto gerou e continua geran- ideologia. A cooperação e a simbiose nos reinosdo um número infinito das mais belas e maravi- vegetal e animal não lhe pareciam menos impor-lhosas formas.”1 tantes: 80% das plantas vivem em simbiose comAo envelhecer, Darwin perde a fé em Deus, e um cogumelo. As concepções de Darwin, maissua longa enfermidade se deve a isso. E quando que todas as outras, tornaram-se objeto de abu-Annie, sua predileta entre os seis filhos, morre aos so político. A começar pelos sociais-darwinistas,dez anos de idade, ele já não consegue crer num que fizeram da “luta pela existência” a “lei doDeus compassivo. A partir desse instante ele passa mais forte”, apoderando-se assim da “seleçãoa qualificar-se como agnóstico; mas durante toda natural” e fazendo por assim dizer uma distinçãoa vida seu interesse volta-se, de fato, para o “como entre vida humana valiosa e vida sem valor. Mas,e o porquê” da evolução. De seu ponto de vista, segundo Charles, para o desenvolvimento futuroisso era algo que ia além do entendimento huma- do homem, a cooperação e a transcendência sãono. Ele escreve: “O segredo do começo de todas muito mais importantes do que a concorrência eas coisas é inacessível; e, no que se refere a mim, o interesse pessoal. Uma visão verdadeiramentedecidi permanecer um agnóstico”. pioneira! Ele considera que o amor, a comuni-Sua vida termina de maneira trágica; embora suas dade, a empatia, a comunicação e a criatividadeideias tenham destruído completamente sua fé e são componentes decisivos do desenvolvimentosua concepção de Deus, nada aparece para subs- humano. Ele escreve: “As aptidões morais de-tituí-los. Em 19 de abril de 1882, ele falece em vem estar em posição mais elevada na escala, emDowne, Kent, Inglaterra, plenamente convicto de relação às aptidões intelectuais. E as característicasque a morte é o fim de tudo. Ora, com sua teoria, morais se desenvolvem, direta ou indiretamente,ele não apenas aplainou o caminho para uma nova pela influência dos hábitos, da razão e da instru-e dinâmica concepção do mundo, mas também, ção, muito mais do que pela seleção natural.”2sem qualquer dúvida, lançou a base de uma con- Em sua obra A descendência do homem (1871), acepção de Deus totalmente nova. segunda em importância, não se encontra mais que duas vezes a menção sobre a “sobrevivência do mais apto” enquanto que a noção de amor é16 pentagrama 2/2010

A começar pelos sociais-darwinistas, que fizeram da“luta pela existência” a “lei do mais forte”encontrada 95 vezes, e quase o mesmo número uma unidade que compreende desde universos atéde vezes expressões como “afeição mútua, ajuda micróbios. A terra, igualmente, é um sistema aorecíproca e simpatia”.3 mesmo tempo físico, químico e biológico, no qual,Ao longo da vida, Darwin não foi o defensor em última análise, por meio da evolução, tudode uma máquina evolucionista implacável por está ligado a tudo, como num grande organismo.”efeito da seleção natural e da sobrevivência do Segundo Jörg Zink, um teólogo evangélico ale-mais forte. Sua mensagem era de que, quanto ao mão, a consciência da unidade essencial de todosdestino superior do ser humano, há esperança com tudo pode ser traduzida como compaixão. Seroculta no que há de mais elevado e melhor nele: compassivo significa colocar em segundo plano oso amor. interesses egocêntricos em benefício da vida.”4Muitos consideram que Darwin é um pensador “Na física quântica, trata-se de uma coesão geralque atacou duramente as crenças cristãs. Esse, em que, sem cessar, acontecem mudanças decontudo, jamais foi seu objetivo, pois ele sempre forma ou de aparência. Na realidade, não existerespeitou os sentimentos religiosos alheios. Mas “mudança” como tal, mas tão-somente “renova-não é nosso propósito entrar na controvérsia entre ção” (modificação), ou “elaboração”, ou “vida”. Aevolucionistas e criacionistas. bem dizer, modificação equivaleria aqui a “fluidez geral”, a nada reter. Para compreender o mun-EFEITOS TARDIOS Muito tempo após sua morte, do não devemos querer “agarrar”, antes, porém,desenvolveu-se uma nova e dinâmica visão do estender braços e mãos para “receber”. A partir domundo, da humanidade e do divino, fundamen- instante em que desejamos “compreender”, sufo-tada em sua teoria e no conhecimento das partí- camos o que desejamos capturar pela inteligência,culas elementares e da física quântica. Cientistas e tateamos no vazio. Porque a essência do mundointeressados em espiritualidade e teólogos de é intercomunicação entre todas as coisas.5vanguarda propõem para o homem moderno con-cepções aceitáveis, nas quais a visão científica do TORNAR-SE AO INVEZ DE SER “Ser humano émundo concorda com uma nova e nobre visão do tornar-se humano, manifestar progressivamentedivino, e Deus é visto como eterna possibilidade o Espírito divino no mundo e no homem.” “Aatuando em tudo o que vive, englobando tudo e criação é um processo incessante e não um acon-todos sem nada excluir. É interessante notar como tecimento no passado longínquo.” (Theodosiusessas novas concepções concordam, ainda que em Dobzhansky, biólogo evolucionista ucraniano, umparte, com a Doutrina Universal, atemporal. dos pioneiros da genética no Brasil). “Quanto mais se avança na vida, mais se muda.UNIVERSALMENTE LIGADOS “O universo é um Quanto mais se muda, mais se morre. Essa é a leiconjunto originário de uma explosão original. É do devir.”6 a outra herança de charles darwin 17

Na proclamação das bem-aventuranças, há uma rupturacom os comportamentos sócio-darwinistas correntesRELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E RELIGIÃO “Muitas contínua interação com sua criação, ele participapessoas, com lógica, remontam nossa existência do destino de sua criação.”9à atividade de um misterioso poder transcenden- “Deus não é como um animador imutável quete. Elas acreditam que nosso cosmo surgiu tendo agiria no mundo do alto ou do exterior; ele agecomo base um plano divino. Nesse caso, Deus se- do interior como verdadeira realidade dinâmicaria o criador potencial da evolução.” Com relação do processo evolutivo deste mundo. Ele tornaa isso, teólogos como H.R. Stadelmann falam de possíveis, permeia e realiza os processos do mun-um deus evolucionista que está além do bem e do do. Ele é a origem, o centro e o objetivo… emmal.7 total respeito às leis da natureza, cuja origem é ele“De fato, não há contradição entre ciência e mesmo.”10religião, contanto que a ciência se limite a “O “Porque cada um encontra na consciência gnósti-Quê, Onde, Quando, Como”, e a religião ao ca seu ser completo e todos encontram sua própria“Porquê.”8 verdade bem como a harmonia de suas diferentes“Observem que, por trás de tudo o que experi- ações naquilo que os excede e do qual são a ex-mentamos, existe algo que nosso espírito não pode pressão.” (Sri Aurobindo)apreender, cuja beleza e sublimidade nos tocamapenas de forma indireta: o sentimento religioso… O ESPÍRITO DO SERMÃO DA MONTANHA “E assimA ciência sem religião é paralisia. A religião sem a se revela uma nova interpretação de Jesus Cristo.ciência é cegueira.” (Albert Einstein) Os acontecimentos históricos passam para segundo plano. Não é somente Jesus que é o filho de Deus;SUPREMACIA DO ESPÍRITO “Espírito e matéria todos somos igualmente chamados a tornar-nos fi-não são contradições, porém agregados distintos lhos e filhas de Deus, a tornar-nos, portanto, novas(estados compostos complexos): matéria é espí- criaturas. A entrada de Jesus Cristo em cena poderito congelado; o espírito é o aspecto primevo, ser considerada como um salto quântico na evoluçãopois na época da explosão original não existia humana quando, por exemplo, na proclamação dasmatéria no sentido em que hoje a entende- bem-aventuranças, há uma ruptura com os com-mos.” “O que garante a coesão do cosmo não portamentos sócio-darwinistas correntes. Nesteé a matéria, e sim o espírito.” (P. Teilhard de sentido, Jesus pode ser visto como nosso “salvador”Chardin) por libertar-nos do peso da seleção biológica (com- portamento de competição, de autoafirmação), eDEUS NÃO AGE DO EXTERIOR “O Espírito por mostrar-nos, mediante seu exemplo, o “cami-cósmico se manifesta através da evolução; ele nho para a cruz”, que seguiu de maneira pacífica ese encarna ao longo da evolução nas estruturas consequente, e o amor a toda vida como caminhodo mundo. Uma vez que Deus se manifesta em para a cura.”1118 pentagrama 2/2010

Evolução e involução adquirem desse modo um significado totalmente Do ponto de vista das escolas espirituais, a “evolução” seria a novo. Por outro lado, é conveniente perguntar- imersão, a descida do Espírito na matéria. Entretanto, a verda- nos se aqui não se trata de uma reconciliação deira evolução é a libertação, o desenvolvimento do Espírito superficial entre as ciências naturais e a ciência do fora da matéria: o processo da transfiguração.14 espírito; ou muitas vezes de uma tendência a me- nosprezar a ideia de espírito, ou deixar tudo semO OBJETIVO DA EVOLUÇÃO Os novos conceitos explicação. É incontestável, contudo, que muitasharmonizam-se com muitas citações da Bíblia. dessas citações são similares aos ensinamentos daPor exemplo, quando Jesus diz que o reino de Doutrina Universal. Que elas possam servir deDeus começa aqui e agora; ou quando, no Novo pontes para a verdade eterna µTestamento, fala-se de Jesus em termos de um“novo homem”; ou quando Paulo afirma: “não 1 Darwin, Charles. A origem das espécies. São Paulo: Hemus, 2000.morreremos, mas seremos transformados”. Afinal, 2 Loye, David. Darwin on Love: The new story of evolution (Darwino objetivo da evolução é que Deus resida em sua sobre o amor: A nova história da evolução). Carmel: Benjamincriação, que se tornou a “nova Jerusalém”. Franklin Press, 2007.“A ressurreição de Jesus não é um prodígio que 3 Loye, David. Op. cit., p. 150.transgride as leis da natureza, porém diz respeito a 4 Zink, Jörk. Dornen können Rosen tragen (Rosas podem ter espi-uma maneira totalmente diferente de existir numa nhos). Freiburg: Kreuz, 1977.dimensão totalmente diferente, a dimensão da 5 Dürr, Hans-Peter. Auch die Wissenschaft spricht nur ineternidade.”12 Gleichnissen. Die neue Beziehung zwischen Religion undCompreendemos cada vez mais que nós, seres Naturwissenschaften (Também a ciência só fala em parábolas. A novahumanos, temos uma tarefa particular relativa à relação entre religião e ciências naturais). Freiburg: Herder, 2004,futura constituição do corpo de Deus em sua cria- p. 109 e 116; Darms, Louis e Laloup, Jean. Interstances: communiquerção, o misterioso corpo de Cristo… “Revesti-vos à contresens (Interposições: comunicar ao contrasenso). Louvain-la-com a veste-de-luz! Tornai-vos luz! Sede novas Neuve: Cabay, 1983.criaturas”!13 6 Chardin, Pierre Teilhard de. Frühe Schriften (Primeiros escritos). Freiburg: Alber, 1968, p. 297.PONTES PARA VERDADE UNIVERSAL Os pon- 7 Stadelmann, Hans-Rudolf. Im Herzen der Materie. Glaubetos essenciais da fé cristã: a criação, Jesus Cristo, im Zeitalter des Naturwissenschaften (No coração da matéria. Fé naa manifestação, a libertação e a ressurreição, época das ciências naturais). Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 2004, p. 92 e seguintes. 8 Plüss, Mathias. Wass Darwin wirklich meinte (O que Darwin de fato tinha em mente). Das Magazin, 2009/1. 9 Stadelmann, Hans-Rudolf. Op. cit., p. 69. 10 Küng, Hans. Existiert Gott? (Deus existe?) Munique: Piper, 1978, p. 709. 11 Stadelmann, Hans-Rudolf. Op. cit., p. 120 e 133. 12 Küng, Hans. Ewiges Leben? (Vida eterna?) Munique: Piper, 1982, p. 138. 13 Gyger, Pia. Hört die Stimme des Herzens. Werdet Priesterinnen und Priester der kosmischen Wandlung (Escutai a voz do coração. Tornai-vos sacerdotisas e sacerdotes da mudança cósmica). Kösel, 2006, p. 54 e 157. 14 Rijckenborgh, J. van. Filosofia Elementar da Rosacruz Moderna. Jarinu: Editora Rosacruz, 2003. 5.a ed. a outra herança de charles darwin 19

Três tesouros tenho, mantenho e conservo.O primeiro é a compaixão,o segundo é a moderação,e o terceiro é não ser o melhor no mundo.A compaixão leva à coragem,a moderação leva à generosidade,e não ser o melhor no mundo permite ouvi-lo.Ser corajoso sem compaixão,ser generoso sem moderação,querer ser o mais proeminente sem humildade,essas coisas de certo levam à morte.É a compaixão que,no ataque, leva à vitóriae, na defesa, torna invencível;sempre que deseja ajudar um homem,o céu o arma com a compaixão.Tao Te King, capítulo 6720 pentagrama 2/2010



não falaremos, é claro,sobre o amorOnde há drama, a arte não pode ser mantida a distância.Em outubro de 2009, o Teatro Nacional de Londres realizou a primeiraencenação da peça “The Power of Yes” (O poder do sim). Nela, o autorDavid Hare tenta descobrir as causas da crise financeira. O jornal escre-veu: “Como palestra foi interessante e acessível, mas, como encenaçãofoi menos bem sucedida”Eu tive mais sorte uma semana atrás, mas não em Londres, em Enschede. Em turnê por essa cidade, a Ópera Nacional apresentouuma interpretação impressionante de “O ouro doReno”, de Wagner. Fui vê-la com um amigo, edepois da apresentação nos olhamos espantados.A decisão de produzir esse texto foi obviamentetomada muito antes que a crise começasse, masparecia uma revisão consciente e deliberada doque agita a economia nos últimos meses.Wotan, o deus supremo, está muito ocupado comtodos os tipos de coisas alheias à vida com Fricka,sua esposa. Preocupada com ele, ela propõe, a fimde reaproximá-lo do lar conjugal, a construçãode um palácio para os deuses: o Valhala. Umacasa que seria a expressão de seu poder e de suamagnificência, como uma espécie de segunda casaao longo do Vecht (propriedade da Rainha daHolanda), mas no Reno, e muito maior – o quelhe pareceu bom... Mesmo sendo o deus supremo,ele é, apesar de tudo, incapaz de construí-la por simesmo. Assim, como todo bom patrão, respeita-do, ele contrata trabalhadores, os gigantes Fafnere Fasolt. Sem que Fricka soubesse, promete-lhesFreia, irmã de Fricka, deusa do amor e da vida,no lugar de salários. Mas quando eles vêm reivin-dicar seus salários, Wotan, de repente, compreen-de que não deveria ter oferecido Freia, pois sema deusa do amor os próprios deuses murcham emorrem.Astuciosamente, ele propõe-se a pagar os gigan-tes com algo que não lhe pertence, o anel doelfo negro Alberich. Mas este último tampouco22 pentagrama 2/2010

do jornalista Johan Schaberg, no NRC Handelsblad de sábado, 9 de outubro de 2009 não falaremos, é claro, sobre o amor 23

Antigamente, o amor era uma das sete virtudes capitais,ao lado da coragem, da justiça, do bom senso, da modera-ção, da fé e da esperançaadquirira o anel de maneira honesta. Alberich Quem rouba o “ouro do Reno” e renuncia aoouvira falar que quem conseguisse o ouro do amor reinará sobre o mundo. Talvez reinar sobreReno e forjasse um anel teria poder absoluto so- o mundo não dependa da qualidade mágica dobre o mundo. Seu desejo foi tão forte que ele não ouro ou algo desse tipo, mas sim do caráter dahesitou em roubar o ouro, mesmo à custa de um pessoa capaz de tal ato. Nada pode resistir à faltarequisito adicional: renunciar ao amor. de amor e à cobiça. É a mistura tóxica de terra arrasada, de sociedade devastada.Que a causa fundamental da crise financeira é a Um amigo me disse recentemente: “Podemosganância, todos os cientistas estão de acordo. Mas facilmente sair da crise se aprendermos a refrearque é a falta de amor eu nunca ouvira falar. Não nossa ambição”. Esse me parece ser um projetose fala disso no mundo das finanças e dos negó- fadado ao fracasso. Estamos geneticamente pro-cios. O amor é para canções pop, para os amantes, gramados para nos apossar, agarrar, tomar. Olhepara mamães e bebês. O amor é para a vida pri- para a ganância de uma criança ao seio de suavada; empresários e banqueiros estão interessados mãe – o bebê não morre; esse é um reflexo vitalnele apenas durante seu tempo livre. Esse é um chave. Talvez uma outra possibilidade seja darerro monumental. Colocamos o amor no mesmo mais valor ao amor. Não de forma forçada, porplano que a emoção que acompanha algumas de decreto, já que essa seria uma manifestação desuas formas, tais como a suave sensação de amor poder, o caminho de Alberich, produzindo aindaou a ternura. Mas o amor é muito mais que isso. mais miséria.Antigamente, era uma das sete virtudes capitais,ao lado da coragem, da justiça, do bom senso, da O que, no entanto, podemos fazer é colocarmosmoderação, da fé e da esperança. As virtudes eram em prática, cada um de nós, a virtude do amorcomportamentos, condutas de vida. Eram coisas e criar um ambiente onde se cultive e preze essacompletamente diferentes das emoções, porque as prática. Mas, no mundo dos negócios, ainda nãoemoções são como as ondas que quebram e nos vamos falar de amor? Talvez com razão. Comodeixam desamparados. nos tabus, o que é proibido expressar muitas vezesAs virtudes são elementos conscientes, ativos, que exerce uma força de atração secreta. É prováveldão um sentido, que podemos praticar e desenvol- que parte do nosso problema seja precisamentever. Então, podemos decidir amar – ou não amar, esse silêncio. Em todos os casos, o sinal distintivoquer através da apatia ou da ignorância, ou, como comum a todos os bancos e empresas que faliramAlberich, deliberadamente. nos últimos tempos é que eles têm sido geridosPraticar a virtude do amor significa estar cons- sem amor. Nenhum diretor ou diretora disse: “euciente de estarmos ligados ao outro por todos os faço parte dele, do meu negócio, e se ele for pre-tipos de fios, e sabermos que nós mesmos sofre- judicado, eu perderei com ele”. Onde houve faltamos danos quando algo acontece com a pessoa de amor, as empresas foram abandonadas à cobiçaamada. Os antigos expressavam isso de muitas dos predadores.maneiras, do “Você é isso” dos índios, até o“Amarás ao teu próximo como a ti mesmo”, dos Então, segunda-feira, quando você estiver tra-judeus e cristãos. Mas nós rebaixamos o amor a balhando, pergunte a seu chefe, seu colega oualgo que vem do coração, do estômago e de mais colaborador: “De verdade, você ama este negócio,baixo ainda. A cabeça não está envolvida, e isso não é? E como você irá demonstrar isso?”em detrimento de nós mesmos. Ou então, pergunte primeiro a si mesmo... µ24 pentagrama 2/2010

a luz é a vida dos homensMuito já se escreveu sobre a relação entre Deus e homem, mas o conheci-mento seguro que ela lhe dá surge apenas num único lugar: o coração do serhumano. Qual é a relação entre esse conhecimento e a consciência? O que éconsciência? Uma apologia para a investigação do ser humano, de sua compo-sição, e de sua relação com os outros seres. É o estudo mais fascinante que háHá muitos escritos sobre a relação entre resposta escapa à ciência, mas podemos encon- o homem e Deus, mas definitivamente trá-la no Baghavad Gita, um texto védico escrito sabemos que o lugar é um só: no coração 3000 antes de nossa era:humano. Como comparar esse conhecimentocom o da consciência? O que é a consciência? “Eu sou o espírito que, nas profundezas da alma,Ora, o estudo do ser humano e de sua consti- habita insondável cada ser,tuição e sua comparação com outros estudos é a o princípio, o meio e o fim de todas as coisas,coisa mais apaixonante que existe. sua origem, sua vida e seu declínio.Quem já passou uma noite sob o céu estreladodo Saara e se deixou penetrar ao menos um pou- Eu sou a ação no reino das forças,co por esses milhares de galáxias, cada qual com a sabedoria dos sábios e a luz dos olhos,seus milhares de estrelas e sóis, já não é o mes- criador e sustentador do universo,mo. Assim, somos preenchidos de profundo res- sua origem e também sua morte,peito ao sentirmos o caráter infinito daquilo que e o fim de todas as coisas.a criação possui de imenso ou ínfimo. Porquea visão através de um microscópio eletrônico Eu sou o silêncio onde permanece o segredo divino,capaz de ampliar mais de um milhão de vezes e eu sou, em cada coisa, a semente,de mostrar a extraordinária vida celular inspira a força original de todas as forças,a mesma admiração. E não podemos deixar de e em todos os seres a origem do ser,concordar com Hermes Trismegisto, o pai dos pois eu sou tudo, sem mim nada existe.escritos herméticos, quando ele diz a Asclépio:“O homem é uma admirável maravilha”. Somente eu mesmo estou em todas as coisas,Desse modo, não é surpreendente que, após a no entanto o universo inteiro dimanou de mimdescoberta dos primeiros telescópios, há quatro como manifestação de mim mesmo.séculos, tenha surgido o desejo de conhecimen-tos cada vez mais avançados sobre o cosmo, a Eu sou o espírito, o princípio,Terra e o ser humano. Era o início da ciência o meio e o fim de todas as coisas,ocidental. E a ciência não cessou de progredir, a força original de todas as forçasseja na observação de grandes estruturas, como e em todos os seres a origem do ser.”cerca de 400 milhões de galáxias, seja na obser-vação das pequenas estruturas, revelando que o Além disso, no Evangelho de João está escrito:número de elétrons de apenas um corpo humano “No princípio era o Verbo […] Nele estava aé superior ao dos astros do conjunto das galáxias. vida, e a vida era a luz dos homens”. Sem luz nãoTodavia, quem ou o que dirige tudo isso? Tal existe possibilidade de vida sobre a terra. Assim, a luz é a vida dos homens 25

podemos ler num jornal: “O homem provém da Mas existe também uma luz infinita muito supe-terra, alimenta-se da terra, e, após a morte, retor- rior, a força do cosmos que cria a ordem divina ena à terra. Todo homem se alimenta graças ao que da qual o Bhavagad Gita diz: “Eu sou o Espírito;o céu faz surgir sobre a terra, então ele se alimenta em toda força, a origem da força; em todo ser, ada luz do sol através da fotossíntese dos vegetais”. origem do ser”.Graças à luz, a vida torna-se possível. Tudo o E Planck, pai da mecânica quântica, declara:que vive está envolto num campo luminoso “Não existe, em si, algo como a matéria. Aorganizado, que suscita o fenômeno da fotos- matéria visível e mutável não existe realmente,síntese. O alimento produzido graças à luz solar factualmente, mas apenas o Espírito invisível,geralmente é adequado ao corpo material e o eterno... Contudo os seres espirituais não podemmantém em bom estado de saúde. “A vida era a existir por si sós, eles devem ser criados. Porluz dos homens”, diz a Bíblia. isso eu não me envergonho de chamar ‘Deus’ aE a ciência moderna diz: “A vida é luz”. A física esse misterioso criador, como fazem as antigasquântica mostrou que a vida pode ser comparada civilizações.”à luz, ou seja, à integração eletromagnética, pois Assim, chegamos, através da física quântica mo-existe troca de fótons virtuais ou de “pacotes” derna, à fonte de todas as religiões, Deus. Muitosde energia. Portanto, existe em nosso universo, desviaram-se das religiões, percebendo clara-ao lado da força de gravidade e das forças eletro- mente que eram dominados por seus dogmas, emagnéticas, a força da transformação da energia, abraçaram as ciências: medir é saber, e o que nãoforça que determina a vida terrestre, mantém a se pode medir não existe.organização terrestre e que, em resumo, repre- O Evangelho dos Doze Santos narra o seguinte:sentamos como luz. “E alguns incrédulos vieram ter com Jesus e26 pentagrama 2/2010

disseram-lhe: Tu nos dizes que a nossa vida e o tendes o vosso ser; viestes da água, e à água vol-nosso ser são de Deus; nós, porém, nunca vimos tareis. Viveis na água, contudo, vós não o sabeis.a Deus, nem sabemos a respeito de algum Deus. Assim também vós viveis em Deus; entretantoPodes tu mostrar–nos aquele a quem chamas de me pedis: Mostra–nos Deus. Deus está em todasPai–Mãe, o único Deus? Nós não sabemos se as coisas, e todas as coisas estão em Deus.”Deus existe. “Sábios sois vós, os poucos que procuram”, dizJesus respondeu–lhes, dizendo: Ouvi esta pará- Jesus. Trata-se, por conseguinte, de procurar ebola dos peixes. Os peixes de um rio falavam de não contentar-se em simplesmente existir.uns com os outros: Dizem que a nossa vida e No livro intitulado A Luz perfeita, um ensaio sobreo nosso ser são da água, mas nós nunca vimos a ciência da alma, lemos: “Existem muitos textoságua, não sabemos o que é a água. Alguns, pois, sobre aquilo que une o homem a Deus, mas adentre eles, mais sábios que os demais, disseram: certeza de sua existência vem de apenas um lu-Ouvimos que habita no mar um peixe sábio e gar: do coração do homem. Ainda que haja umainstruído, que conhece todas as coisas. Vamos até procura mundial e que muitos desejem encontrarele e peçamo-lhe que nos mostre o que é a água. uma perspectiva libertadora, esta pode ser en-E assim, muito deles partiram em busca desse contrada apenas no coração”. Este conhecimentogrande e sábio peixe. Finalmente, chegaram ao tão interior, a Gnosis, vem do coração. Trata-semar onde morava o peixe sábio, e fizeram-lhe o de um conhecimento que emana de uma consci-pedido. ência nova.E, tendo-os ouvido, disse–lhes: Ó peixes tolos CONSCIÊNCIA O que é a consciência e o queque não pensais! Sábios sois vós, os poucos que é a nova consciência? J. van Rijckenborgh res-procuram. Viveis na água e nela vos moveis, e ponde em Os mistérios gnósticos da Pistis Sophia: a luz é a vida dos homens 27

“O pensamento, a vontade, os sentimentos e os eletromagnético. A Doutrina Universal, todosdesejos humanos, em sua totalidade, formam a os escritos sagrados, todos os relatos de irmãos econsciência. E essa totalidade é o princípio eletro- irmãs comprovam isso”.magnético do qual o homem vive. Esse princípio Mas como renovar este vestuário eletromagnético,eletromagnético é cabeça e coração em conjunto. como realizar o nascimento de uma alma nova?Desse princípio resulta a forma da personalidade Quando uma pessoa segue a vereda joanina dohumana. Ele domina os quatro éteres, atraindo- sacrifício do eu em seu significado absoluto, ape-os, unindo ou dividindo-os. Leva os quatro éteres la para uma grande energia, a fonte de energia daa certo estado de vibração. Portanto, mediante Gnosis. Em determinado momento, essa energiaesse princípio, a personalidade humana expressa- vai inflamar o átomo original numa reação emse de acordo com os aspectos que a formam.” Ele cadeia. Isso significa que essa reação em cadeiaprossegue: “O homem desta natureza tem uma harmonizará todos os átomos da personalidadeveste dialética tecida com base no campo eletro- com a essência do átomo primordial. Quandomagnético não divino. Com essa veste ele não uma pessoa consegue desencadear esse processopode ir ao encontro do noivo. Com esse princí- ela ata a rosa na cruz, uma florescente.” Ela sepio eletromagnético ele não pode participar da torna portadora do veículo da nova alma.vida que não é deste mundo. Por isso, é eviden- Esse caminho de perfeita auto-oferenda é ote que ele deve começar a viver prática, física e caminho joanino que o “eu” deve percorrer paraorganicamente com base em um novo princípio que “o Outro nele” tome a direção de seu ser, de28 pentagrama 2/2010

Quem é tocado pela razão que está no meio provarásomente impressões de alegria e de intensa aspiraçãoseu microcosmo. Esse caminho só é possível com hoje vós a abandonareis pela verdade mais ele-base na compreensão e na sabedoria do coração, vada de amanhã. Esforçai-vos, pois, pela perfei-ou seja: por um lado, mediante a razão superior ção. […] Deixai, pois, amorosamente, que cadae, por outro lado, mediante um profundo anseio um considere o que vê como sendo a verdade,de salvação. sabendo que onde não há amor, a verdade é letraSpinoza diz a respeito dessa razão e desse an- morta e nada aproveita. […] Assim como recebiseio: “Quem é tocado pela razão que está no a verdade, assim vo-la tenho dado. Que cadameio provará somente impressões de alegria e um a receba conforme a sua luz e capacidade dede intensa aspiração. Por que de alegria? Porque, compreensão […] Porque a verdade é o poder dedesde o começo, o caminho da perfeição revela- Deus, e no fim ela reinará sobre todos os erros...se a ele em toda a sua radiação e beleza. Por que Deus vos concede toda a verdade à semelhançauma intensa aspiração? Porque após provas e de uma escada com muitos degraus […]”sofrimentos sem nome, após a degradação do seu E devemos subir essa escada, pois como J. Vanser até as fibras, a sabedoria e a plenitude da vida Rijckenborgh e Catharose de Petri nos dizemlibertadora iluminam-se de uma tal luz e apare- em A Gnosis Chinesa: “Depois de um período decem tão vastas que um desejo imenso de alcançá- preparação, chamado involução, ele [o homem] élas faz sobressaltar o coração.” colocado perante uma tarefa designada evolução.Trata-se da razão que está no meio, a razão que Ao contrário do que muitos alegam, essa evolu-realiza a união da cabeça e do coração, a razão ção não é um processo automático. O homemque revela a verdade universal. A esse respei- não evolui passivamente, porém deve evoluir porto, lemos no capítulo 90 do Evangelho dos Doze si mesmo, pela autorrealização. Ele deve permi-Santos: “À medida que guardardes a santa lei do tir que o objetivo divino cresça nele e atravésamor que vos tenho dado, a verdade ser-vos-á dele. Sem pressões e num amor perfeitamentemais e mais revelada, e o Espírito da verdade compreensivo” µque provém do alto vos guiará através de todasas vossas peregrinações, assim como os filhos deIsrael foram guiados através do deserto pela nu-vem de fogo. Sede fiéis à luz que possuís, até queuma luz mais elevada vos seja concedida. Buscaimais luz, e tereis em abundância; não descanseisaté que tenhais encontrado.Deus vos concede toda a verdade à semelhan-ça de uma escada com muitos degraus, para asalvação e a perfeição da alma, e a verdade de a luz é a vida dos homens 29

UMA ALOCUÇÃO PARA JOVENS Um mural em volta de uma janela em Pompeia: reflexo de um mundo ideal?30 pentagrama 2/2010

o espelho do EspíritoMomentos de exame e reflexão são essenciais para melhor compreender o que existeno interior de nosso ser. Porque, além de nossos pensamentos, sentimentos e motiva-ções, descobrimos uma sabedoria universal que é condição para chegarmos ao silênciointerno. E para isso, espaço, calma e silêncio são imprescindíveis. Sem isso, é impossí-vel percebermos o que é realmente importante. Alguns jovens perguntam:O que é, realmente, esse silêncio e por que ele é tão importante?Osilêncio é algo miraculoso, algo ina- que o silêncio não é o vazio. Ou ainda que não preensível. Se refletirmos, percebemos há silêncio sem som. Também descobrimos isso. imediatamente que há diferentes tipos Nesse caso, a fórmula seria: tudo é som.de silêncio. Pelo menos, há adjetivos que o qua-lificam: silêncio ensurdecedor, silêncio mortal, O silêncio é uma forma de som. A forma su-silêncio opressivo, silêncio profundo, silêncio perior? Isso depende. Um silêncio “ansioso”sereno, silêncio sublime… Mas o silêncio não refere-se ao sentimento profundo de que, muitoé isso ou aquilo, nem mesmo nada disso. O perto de nós, há uma vida animal. “O silênciosilêncio é algo tão grande, tão imenso, que tem interno” refere-se ao silêncio do coração. Mas omuitos nomes. Geralmente definimos o silêncio que ressoa nesse silêncio não é definível.como um momento em que não há nenhumsom, em que não se ouve nada. Nossos ouvidos A luz é o que pode penetrar e preencher umnos dizem isso. Então o silêncio seria, basica- espaço. Ocorre o mesmo com o silêncio. Nele,mente, algo que poderíamos ouvir. Teríamos começa o mundo da abstração, o mundo da luznecessidade de nossos ouvidos para dar-nos da consciência, a luz do Espírito.conta dele. Isso quer dizer que o silêncio nãoé simplesmente o contrário do som, mas uma Agora mais uma pergunta: se olhamos o céuforma de som. Uma forma de som extremamen- estrelado, durante uma noite de verão, essete sutil, ao qual nossos ouvidos devem prestar azul profundo onde milhões de estrelas cinti-grande atenção. O silêncio é um mistério. “Sem lam, em que pensamos? Não nos perguntamos:silêncio, não há música,” diz-se. O silêncio o que acontece lá em cima? Entre as estrelasentre as notas cria a música. O silêncio é algo existe mesmo alguma coisa? Como se as estrelascomparável ao espaço. Sem espaço, não há cria- falassem entre si, ouvimos o som do silêncio.ção possível. No espaço, cada corpo encontra Pitágoras fala da “harmonia das esferas”…seu lugar. O silêncio é uma forma diferente deespaço. No espaço que é o silêncio percebemos O silêncio está por toda parte, mas, em geral,algo. No silêncio ouvimos os que falam. preferimos não ouvi-lo. Fazemos uma boa al- gazarra, e todos se agitam, mas frequentemente“Não há espaço vazio”, afirmavam os rosa-cruzes não nos damos conta de que toda essa barulheirado século dezessete. Eles percebiam algo dife- não é tão grande assim. O lugar que ocupamosrente, mas, hoje, a ciência moderna reconhe- no espaço é realmente pequeno, a nossa balbúr-ce que tudo é energia: a matéria é energia, o dia não repercute tão longe: ela desaparece no aruniverso inteiro provém das vibrantes energias e evapora-se rapidamente. Enquanto isso, acima,do oceano original. Poderíamos dizer, então, o silêncio reina soberano. o espelho do Espírito 31

E há duas coisas que um aluno deve aprendera conhecer bem: a alma e o campo de força.Os dois estão neste mundo, ligados a nós comoseres humanos, mas não são deste mundoMesmo se soubéssemos por que queremos estar Quem realmente entra nessa escola de misté-em silêncio não seria tão simples. No Japão, rios, e faz de seu campo de força o seu campona época anterior ao budismo zen, apareceram de vida pessoal, descobre a sua alma. A alma é oas escolas tendai sob a direção do sábio Tien- que está em nós quando nos voltamos para nóstai Chi-i (538-597), um movimento anterior à mesmos e para o campo especial da Escola. E hácorrente mais importante do budismo. Quatro duas coisas que um aluno deve aprender a co-alunos dessa escola decidiram praticar a medita- nhecer bem: a alma e o campo de força. Os doisção e observar sete dias de silêncio. No primeiro estão neste mundo, ligados a nós como seresdia, calaram-se os quatro. Sua meditação come- humanos, mas não são deste mundo.çou sem problemas, mas a noite caiu, e a luz dalâmpada a óleo enfraqueceu. Então, um dos alu- O corpo-vivo da Escola, ou campo de força, énos chamou um empregado e disse-lhe: “Cuida constituído de modo que a alma do aluno possada lâmpada.” O segundo aluno surpreendeu-se receber forças que absolutamente não pertencemporque o primeiro falou. “Mas não devíamos à natureza terrestre, ou seja, os éteres superio-falar nada!” observou. “Vocês são uns idiotas, res necessários para a vida da alma verdadeira.por que abriram a boca?”, disse o terceiro. E o Somente quem é dotado de uma consciência ex-quarto concluiu: “Só eu não falei nada”. tremamente pura pode perceber esse campo. Se olharmos para nós mesmos, veremos quão difícilO que acontece numa escola espiritual? Algo é. Porque somos ignorantes, e nossa ignorânciamuito semelhante ao silêncio. Não se trata do mantém nossa alma prisioneira. Tudo isso estáque fazemos juntos, nem das construções, nem no pequeno livro intitulado A voz do silêncio:das regras exigidas, nem das palavras, não, é o “A ignorância é como uma caixa espessa, fe-campo dessa escola, a esfera tão particular que chada e vazia; um pássaro está aprisionado ali:nos envolve que intervém no mais profundo a alma. Não pode cantar, mas pode agitar aindado nosso ser; invisível, impossível de descrever, uma asa; o cantor cala-se, não se move, silencio-apenas sentida, impossível de ser encontrada so, até morrer de esgotamento.”em qualquer outro lugar. É a própria essênciada nossa escola, seu campo de força, como o O campo de força da Escola apareceu e estrutu-denominamos e que é de uma natureza muito rou-se com grande perseverança e inteligência.especial. Algo indescritível que nos conduz a E, sobretudo, com paciência plena de amor: aum mistério; um mistério porque o centro, o paciência dos alunos que fizeram seu melhorcoração desse mistério, se encontra num campo para perseverar no comportamento elevado ne-de vida que não é desta terra, mas dos domínios cessário para tal construção. Gradualmente elesda alma. viram aparecer o brilho de outra luz, de uma32 pentagrama 2/2010

nova luz; um brilho indistin- vejamos, não podemos dizer que ela não existe.to de luz suave, como se vê E isso nos leva a procurá-la com mais cuidado amuito cedo de manhã, antes fim de vencer a dúvida. Frequentemente gosta-do raiar do sol. Há muito ríamos de ter uma sensação, como um cego quetempo esse único raio guar- aspira com todo seu ser a ver a luz ou um surdodava a fronteira entre dois a ouvir um som. Eles precisam ir ao médicomundos. Mas esse pequeno para recuperar a visão ou a audição. Conhecergrupo de pessoas que sentia a alma, contudo, é um processo que chamamossua alma saltar no coração de aprendizagem, o qual conduz ao saber, ao co-não deixou apagar-se essa nhecimento e à ação, por conseguinte à renova-luminescência quase invi- ção da vida. Esse processo demanda certa capa-sível. Ascendiam cada vez cidade de viver inteligentemente com esses doismais em direção a essa luz. aspectos diferentes, essas duas naturezas. Isso nosA esperança e a atenção que coloca frente a algo extraordinário: o fato de asesse domínio tão próximo e experiências da vida fazerem-nos descobrir emno entanto ainda tão remo- nós mesmos um reino escondido!to suscitava neles fazia-oscontinuar. E o brilho queisso transmitia à sua alma no início confundia-se com essa delicada luz e com a fronteira ondetinham visto a luz pela primeira vez, até a aber-tura da passagem.Experimentamos essa abertura quando nosreunimos em nossas conferências. É impossíveldescrevê-la, e no entanto nós a sentimos de ma-neira muito específica.É por isso que todo aluno, mesmo principiante,tem o dever de compreender esse campo e nãosomente de apreciá-lo, mas também de amá-lo.Às vezes há dúvida. Ah, o amargor dessa dúvi-da! É a dúvida da nossa alma. E ainda que não a o espelho do Espírito 33

A nova alma é excepcional. Ela é capaz de elevarnossa humanidade muito acima da naturezaNa vida, adquirimos experiência. Vocês ainda No ensinamento sufi, esse fato é exposto assim:são jovens, ainda não viveram muitas experi- “a alma tem dois lados, faz duas espécies de ex-ências, mas mesmo assim conhecem esse reino. periências: de um lado, com a psique e o corpo;Vocês não precisam ter experiência para desco- do outro, com o Espírito. A primeira é exterior,bri-lo, mas para saber como se comportar com a segunda, interior: a natureza da alma é trans-relação a ele, o que é completamente diferente. parente como uma vidraça. Se um dos lados daPor isso, não permitam nenhuma dúvida do vidraça for coberto, ela torna-se um espelho, etipo: “Nunca vou conseguir, não é para mim, a alma torna-se um espelho onde se refletem astudo isso é muito sério…” Não, tenham fé, experiências exteriores. Ora, por mais dotadostenham confiança de que a vida lhes dará essa de conhecimento exterior que sejamos, não so-possibilidade: aprender a usar a chave correta, a mos obrigatoriamente dotados de conhecimentocapacidade de agir de maneira libertadora, para interior. Para alcançar o conhecimento interiorchegar a uma vida de verdadeira colaboração é necessário cobrir o outro lado da alma, deentre vocês e sua alma. modo que a parte que reflete esteja orientada para o Espírito, não para o mundo exterior.Falemos um pouco mais sobre a alma. O ho- Logo que isso for possível, receberemos inspira-mem verdadeiro, prisioneiro de sua forma ção e revelação.natural, não é constituído de vida e de luz, masé vida e luz, como é dito: “O reino de Deus, Vemos possivelmente a concordância entre oo homem divino, está em vós!” Para Karl von estabelecimento do campo de força, ou cor-Eckhartshausen: “O ânimo é uma centelha de po-vivo da Escola, e o crescimento da alma.luz que reside em nós, uma imagem de Deus, o Cercamo-nos de um campo de força que pode-reino do céu encerrado em nós”. Esse ânimo é mos utilizar como o campo de respiração ondeo santuário interno mais profundo do homem. vive a nossa alma. É necessário igualmente terO véu e “a nuvem sobre o santuário” ocultam tempo para fazer a mudança interior: cobrir aesse espírito. A luz envolverá quem quer e pode metade do espelho da alma de modo que reflitaentrar no santuário, e ele será iluminado. o Espírito. No futuro, devemos nos esforçar para persistir e conservar essa capacidade.O véu e a nuvem sobre o santuário constituema prisão da alma, assim como a ignorância A nova alma é excepcional. Ela é capaz de ele-aprisiona o pássaro da alma. Nosso eixo é a var nossa humanidade muito acima da natureza.natureza, nossas percepções são limitadas por Se tudo vai bem ela devolve ao ser humano suaela, onde a alma é privada do direito de existir dignidade, aquilo que o distingue de todas asrealmente. coisas terrestres. A alma é dotada de elevada34 pentagrama 2/2010

vibração sutil. Por meio do coração, ela perma- a possibilidade de adquirir traços de caráternece em ligação conosco, exercendo ao mesmo superiores e nobres: a paciência, a amizade, atempo sua influência sobre o coração, e, a partir coragem, a sinceridade, a beleza… Todas essasdele, sobre o cérebro. características levam a marca da alma imor- tal. Isso também diz respeito à presença da luzNa medida de sua receptividade, o coração atrai de Cristo no coração, como é dito em Reveillenão somente os homens, mas também tudo (Desperta!): “Quem é Cristo? Cristo é amor,o que qualificamos de divino. Pensamentos e sabedoria e força. Fonte da pura atração de ondesentimentos emanam de nós sem cessar. Tudo se origina a luz interior. Lá, onde habita a luz deque fazemos e dizemos é igualmente vibração, Cristo, está a dignidade humana, que abençoa ouma linguagem, a voz do silêncio que flui de coração receptível e puro”.uma pessoa a outra, de um coração a outro. Asvibrações da alma são muito intensas e atingem Por isso, não abandonemos nunca a alma, nãomesmo o que está mais distante; como uma cor- nos desviemos dela; sigamo-la e interroguemo-rente elétrica, elas fluem de uma alma a outra. la sobre tudo que há nela. Como diz Hermes:Não subestimemos nossa alma. E nem superesti- “Conhece a luz e faz dela tua amiga”! µmemos nossas capacidades.Hermes diz da alma: “A alma é um ser perfeito Rijckenborgh, J. van e Petri,em si. No início, escolhe uma vida de acordo C. de, Reveille. Um apelo àcom o seu destino e atrai uma forma constituída juventude para a renovaçãode uma força borbulhante de vida e desejo. Essa fundamental da vida, comoforça de vida coloca a alma a serviço da maté- saída de uma existênciaria. Quando essa força de vida permanece fiel à sem esperanças. São Paulo:ideia da alma, é abastecida de coragem e já não Lectorium Rosicrucianum,se deixa dominar. O desejo também se apresenta 1983, 2.a ed.sob forma material. Contudo, quando se põe emacordo com as considerações da alma, é sóbrioe não se deixa levar pelo desejo de prazer. Aforça racional da alma habita-o de modo que eleescapa dos desejos.”Realmente poderíamos dizer que, graças àalma, há também em nós, como num reflexo, o espelho do Espírito 35

alquimia na atualidadeSobre heroísmo, coragem, luta pela verdade e mudança interiorOheroísmo está profundamente inscrito correspondem mais ou menos às cinco primei- em nosso ser. Os célebres contos antigos ras operações, que são: calcinatio, solutio, coagula- sempre são histórias de heroísmo. O ca- tio, sublimatio e mortificatio.valeiro “destemido e irrepreensível”, assim como Se considerarmos que a alquimia é uma alego-a virgem “casta e pura” ou qualquer um que, por ria do desenvolvimento da alma humana, essasafeição, se doe totalmente a outro, são todos he- denominações evocam as cinco primeiras etapasróis. E que pensar daqueles que possuem conhe- importantes do renascimento: a luz atravessa ascimentos fora do comum? Anualmente, prêmios trevas e leva-as à plenitude, as forças dos seissão conferidos aos especialistas como recompensa domínios cósmicos ligam-se às do sétimo e, porpor sua contribuição para o desenvolvimento das fim, o vertical une-se ao horizontal, lembrandociências. a cruz onde simbolicamente floresce a rosa doQuem combate pela verdade pode igualmente coração.tornar-se um herói. Ele é capaz disso e adquire A pessoa tocada no coração pelo Espírito divinoseu status de herói quando se agarra corajosamen- recebe, em primeiro lugar, uma impressão dete ao seu ideal e termina sua missão com sucesso. pureza. Ela é confrontada com a irradiação deHerói é sempre aquele que, sem qualquer interes- um campo puro e imaculado, e a ele deve reagir,se pessoal, age em favor da existência do outro, entregando-se à busca. Neste estado, calcinatio,em favor dos animais ou da natureza. Suas ações ela é tocada pelo primeiro raio da luz sétupla.emanam, em certa medida, de seu amor ao pró- Em termos alquímicos é dito: “Separa com amorximo ou de motivações religiosas, como o amor o puro do impuro, sê consciente de tua presentea Deus e a todos os seres humanos. condição, do caminho que tomas, de tua par-Suas características são: pureza, amizade, conhe- ticipação e de teu objetivo”. Quem se entregacimento, verdade, coragem. seriamente a essa primeira tarefa e consciente- mente deixa atuar em sua vida a luz que desmas-As cinco primeiras fases da alquimia Pu- cara, perceberá que, a partir desse instante, passareza, amizade, conhecimento, verdade, cora- a experimentar a vida de modo diferente. Umgem. Quem não deseja, conscientemente ou sentirá tristeza e solidão como no momento denão, possuir essas características? Não parece um adeus; outro atravessará uma fase, por vezespossível escolhê-las arbitrariamente, pois não violenta, de intensos confrontos; e em todos osse apresentam nesta ordem. Ora, em cada uma casos, amizades e afeições serão postas à prova edessas qualidades, reconhecemos uma opera- mudarão.ção alquímica. Na Alquimia, a “Grande Obra” Então parece que, sem que tivéssemos notado,divide-se em sete processos, em sete opera- demos início ao caminho. E logo nos encontra-ções principais, e as cinco famosas qualidades remos diante da segunda operação alquímica,36 pentagrama 2/2010

alquimia na atualidade 37

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Não há uma boa coisas. Quem chegou a este ponto já não temdisposição.Tanto uma o menor interesse pelas explicações tão bemdisposição boa quanto conhecidas das ciências e da religião natural. Eleuma ruim impedem uma tenta penetrar até o conhecimento verdadeiro,objetividade pura a Gnosis. Muitos buscadores, em quem o desejo de penetrar a Gnosis despertou, já não se dei-solutio, que pode ser caracterizada da seguinte xam deter pelos escritos conhecidos e doutrinasmaneira: “Examina tuas emoções, aceita todos os estabelecidas, eles se recusam a aguçar e orna-seres com pura amizade, não te deixes levar pela mentar sua inteligência, pois sabem muito bemsimpatia ou pela antipatia.” que semelhante abordagem já não pode ajudá-losO segundo raio da luz sétupla capacita-nos, no caminho.por meio do amor universal, a libertar-nos das O saber da Gnosis é ativo e comparável a umagrandes turbulências emocionais. Isso dá calma vibração, a uma força. O aluno alquimista – comà nossa disposição, e, como podemos aprender o auxílio dos valores eternos – volta-se para esseda Alquimia, leva ao conhecimento: “Não há saber e o recebe sob a forma de inspirações que,uma boa disposição. Tanto uma disposição boa emanando do sangue, surgem no coração. Noquanto uma ruim impedem uma objetivida- decorrer dessa operação, coagulatio, ele percebede pura”. Essa amizade por todos não tem por cada vez mais a confluência de dois conceitos:base as emoções, ela provém da serenidade e do “que o mais elevado saber é nada saber”. Porequilíbrio da nova alma, da alma vivente. E esse um lado, o aluno experimenta a vida de modoequilíbrio, essa pura objetividade, é necessário totalmente diverso; por outro lado, sua vida vaipara a etapa seguinte. aos poucos se desenrolando de maneira comple-Franz Kaf ka, célebre escritor de Praga, diz o tamente inusitada.seguinte: “Não é preciso abandonar o teu apo- Para muitos, esta terceira operação alquímicasento. Permanece sentado à tua mesa e põe-te a é uma pedra de tropeço. O perigo é que queescutar. Nem mesmo terás necessidade de escu- permaneçamos nos numerosos conhecimentostar, aguarda apenas. Nem mesmo terás necessi- que acumulamos. Exatamente como o moço ricodade de aguardar, aprende tão-somente a ficar do Novo Testamento, parece que estamos sobre-só e calmo. Então o mundo se oferecerá delibe- carregados demais para continuar no caminho.radamente a ti para ser desmascarado. Não há Nossa autossatisfação por termos a cabeça cheiaescolha: ele se dará a conhecer a ti num assomo do saber exterior faz-nos recuar, pois não con-de alegria”. seguimos renunciar à nossa “própria sabedoria”,Após tornar-nos conscientes de nosso estado e assim não podemos participar da “sabedoriae ter abandonado os turbilhões em meio aos universal”. Se renunciar ao próprio saber for algoquais atuamos, chegamos a ver quem somos, muito difícil, as sementes recebidas nas primei-em que consiste nossa vida, o que nos faz agir ras etapas não poderão fincar raízes no profundoe o que nos aprisiona. Assim, vemo-nos diante mistério do não saber.da operação alquímica seguinte, e aqui se trata Nossa Grande Obra teve início com a fé de quede um saber diferente: o conhecimento daqui- realmente é possível transmutar chumbo emlo que, em segundo plano, é a causa de todas as ouro, transmutar a vida terrestre em vida espiri- tual, fundamentados na ideia do retorno ao cam- po de vida original. A concentração assim obtida dá lugar ao amor universal a toda criatura. Então, faz-se necessária uma base firme e segura para prosseguir no caminho. Essa firmeza, essa fé, é como um fogo que arde no coração e deve tornar-se inextinguível para que possa ser rea- lizada a operação seguinte, a sublimatio. É a fase alquimia na atualidade 39

para vencer a dúvida é mim, nada podeis”.necessário um espírito Não se trata de um reconhecimento da verda-que tudo sonde, a fim de pelo “eu” nem de um combate pessoal. Éde manter-nos atentos a manifestação da fé, a imutável e indubitávele despertos e de prote- elevação na verdade: sublimatio… a última autor-ger-nos das ilusões rendição, representando a morte da personalida- de natural.da descida do Espírito. Ora, o grande obstáculoaqui é a dúvida. Quem não vence a dúvida não Eis por que a quinta operação da Grande Obra,descobrirá a verdade. A dúvida é o polo negativo mortificatio, consiste em dar ao corpo da alma ado interesse e do impulso para a investigação, prioridade sobre o corpo físico: é a vitória sobresendo o instrumento por excelência das forças o “eu” da antiga natureza. Essa fase exige cora-opositoras que se acumulam em nosso interior. gem, porém a sétima luz dá a possibilidade dePara vencer a dúvida é necessário um espírito ter coragem caso se permaneça firme no úni-que tudo sonde, a fim de manter-nos atentos e co princípio verdadeiro de que falamos acima.despertos e de proteger-nos das ilusões. Ele é o Quem segue esse princípio de maneira conse-auxílio decisivo para encontrar a verdade. quente remove todos os obstáculos. A partirA dúvida, porém, é o último obstáculo que pode desse momento, cria-se um espaço em sua vida:opor-se à primazia do poder de compreensão: espaço e tempo para fazer o que é necessárioa inteligência que, por um lado, ainda se agar- a fim de servir não somente ao próximo, masra às velhas ideias, mas que, por outro lado, já também ao mundo e à humanidade. E isso nãonão pode aceitar as convicções religiosas esta- é tudo: esse espaço é criado para que possamosbelecidas. Com efeito, a verdadeira fé mostra consagrar-nos ao princípio vital único e verda-perspectivas interiores da nova vida, distantes e deiro. Quem, no âmbito da vida comum, ilusó-insuspeitas, e estimula a inteligência a explorar ria, segue esse princípio único, descobre que osos caminhos. Podemos, assim, exprimir a quar- poderes originais do homem microcósmico, istota operação alquímica: “Contempla a verdade e é, do homem como reflexo do macrocosmo, sãoaceita-a. Que ela se aposse de teu ser. Que ela liberados. Assim, não só o caminho é liberadoconsuma todas as dúvidas”. Quem medita sobre a no candidato, pois está gravado nele, mas igual-verdade compreende que ela deve ser aceita sem mente são liberadas forças às quais outros alunosqualquer restrição. podem reagir.Por conseguinte, graças à força da sexta região A coragem é parte das grandiosas forças originaiscósmica, a verdade desce sobre nós. Nossa con- da alma-espírito. É o poder realizador do heróivicção não cessa de crescer e, literalmente, cru- que toma sobre si todas as consequências da cruz.cificamos nossa orientação no plano horizontal. Não é a força constrangedora do “eu”, mas aTrata-se então da presença de um fogo interior suave força da humildade que, sem medo, encaraque nada, absolutamente nada, pode extinguir. a morte, sabendo que a hora da libertação estáTrata-se, portanto, de abrir-se inteiramente ao próxima. Mortificatio, a hora da morte, simboliza,processo da total autorrendição, no reconheci- em realidade, a libertação da opressão do espaço-mento absoluto do verdadeiro princípio: “Sem tempo e da morte mesma, e a elevação na imor- talidade. A quinta operação da Grande Obra é, pois, decisiva. Podemos indicá-la com as seguin- tes palavras: “Aceita com alegria a tensão que se manifesta entre a natureza terrestre e a natureza divina original. Aceita a dor da cruz. Deixa a força do amor da sexta região cósmica, o amor da Gnosis, realizar seu trabalho em ti. Sobretudo não percas a coragem, mantém-te firme” µ40 pentagrama 2/2010

A Fraternidade Mundial da Rosa-Cruz Série Apocalipse vol. 2 A Fraternidade Mundial da Rosa-Cruz J. van Rijckenborgh e Catharose de Petri Neste segundo volume da obra O apocalipse da nova era, com o conteúdo integral da segunda Conferência de Renovação de Aquarius, realizada em 1964 em Calw, Alemanha, os autores esclarecem o significado profundo do nome “Cristiano Rosa-Cruz” com auxílio de uma conferência proferida pelo dr. Rudolf Steiner em 1911 sobre esse personagem. Lectorium Rosicrucianum 1ª edição março 2010 Caixa Postal 39 – 13.240-000 – Jarinu – SP – Brasil Tel. (11) 4016.1817 – fax (11) 4016.3405 56 páginas R$ 18,00 www.rosacruzaurea.org.br – [email protected] ISBN: 978-85-62923-01-2

Por causa da poluição, estamos muito preocupados com o campo de vida humano. Ela penetra nossa atmosfera de vida cada vez mais. E porque o campo de vida é ao mesmo tempo nosso campo de respiração, praticamente não existe possibilidade de evitar os efeitos. Eles nos impregnam. “Quem não iniciar, aplicar e perseverar na mudança de sua atitude de vida com base na alma desperta não atingirá nenhum objetivo gnóstico. Toda magia é realizada através da respiração. Quem não consegue proteger-se das influências astrais nocivas torna-se, sem exceção, vítima. À medida que, graças a uma vida nova e positiva, a forma da personalidade tende a desaparecer, modificando-se e sendo guiada pela alma, o quinto raio do Espírito Sétuplo começa a executar sua tarefa. O cimo da montanha é então atingido. Uma nova e maravilhosa luz toca o aluno e o preenche. E essa luz age de forma puramente mental. Pela primeira vez em sua vida, o aluno pode, de fato, pensar de maneira pura, pois agora seus órgãos mentais estão abertos para isso.” Catharose de PetriR$ 16,00


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