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Revista Pentagrama 2012-2

Published by Pentagrama Publicações, 2016-06-13 21:06:06

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pentagrama Lectorium Rosicrucianum O jardim secreto das rosas A luz encontrou-me O outro lado da luz Meu nome é FótonSomos seres de luz ou seres fictícios? A luz dos olhos Arranje tempo: deixe entrar a luz2012 2mar/abr número

Editor responsável Revista Bimestral da EscolaA. H. v. d. Brul Internacional da Rosacruz ÁureaLinha editorialP. Huis Lectorium RosicrucianumRedatores A revista Pentagrama dirige a atenção de seus lei-C. Bode, A. Gerrits, H.P. Knevel, G.P. Olsthoorn, tores para o desenvolvimento da humanidade nestaA. Stokman-Griever, G. Uljée, I.W. van den Brul nova era que se inicia. O pentagrama tem sido, através dos tempos, oRedação símbolo do homem renascido, do novo homem.Pentagram Ele é também o símbolo do Universo e de seuMaartensdijkseweg 1 eterno devir, por meio do qual o plano de DeusNL-3723 MC Bilthoven, Países Baixos se manifesta. Entretanto, um símbolo somentee-mail: [email protected] tem valor quando se torna realidade. O homem que realiza o pentagrama em seu microcosmo, emEdição brasileira seu próprio pequeno mundo, está no caminho daPentagrama Publicações transfiguração.www.pentagrama.org.br A revista Pentagrama convida o leitor a operar essa revolução espiritual em seu próprio interior.Administração, assinaturas e vendasPentagrama PublicaçõesC.Postal 39 13.240-000 Jarinu, [email protected]@pentagrama.org.brAssinatura anual: R$ 80,00Número avulso: R$ 16,00Responsável pela Edição BrasileiraM.V. Mesquita de SousaCoordenação, tradução e revisãoJ.C. de Lima,V.L. Kreher, L.M.Tuacek, U.B. Schmid, N. Soliz,L.A. Nepomuceno, M.B. Paula Timóteo, M.M. Rocha Leite,M.D.E. de Oliveira, M.R.M. Moraes, M.L.B. da Mota, R.D.Luz, F. LuzDiagramação, capa e interiorD.B. Santos NevesTerceira capaH. RogelLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo - SPTel. & fax: (11) [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253

p e n t a g r a m a ano 34 número 2 2012Luz! sumárioÓ Mistério Magno, que tudo interpenetra, intangível e intransponível! Ó insuperável sobre a aurora e o brilho do solBeleza, o que de ti revelaste? Quanto os ou como o homem chega à luz 2homens te despojaram em suas tentativas de agarrar o Infinito! a luz encontrou-me a gnosis quíntupla 4“Salve, ó luz sagrada, primogênita dos Céus,Ou coeterno fulgor da eternidade! colaboração internacional dos Como posso pronunciar teu nome sem leitores com a redação 8blasfemar contra ti?Pois Deus é luz, e desde a eternidade o outro lado da luz 10habita em luz intacta, habita em ti,brilhante eflúvio de brilhante essência incriada.” meu nome é fóton sou mais conhecido como luz 14John Milton a edda – final lokasenna – a discórdia de loki 18 somos seres de luz ou seres fictícios? 22 a luz dos olhos 25 o um 28 a manifestação da luz 29 transpondo fronteiras alguns comentários sobre “(r)evolução 2012” 30 o livro maravilhoso 31 uma visão diferente e mais profunda qual é a verdadeira natureza da luz? 33 arranje um tempo deixe entrar a luz 34 Capa: Mark Rothko (detalhe) 11

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sobre a aurorae o brilho do solOU COMO O HOMEM CHEGA À LUZQuem sente que a Gnosis alcançou seu coração. Trata-se da luz imensurável ou a luz, grande significado em sua vida e per­ como emanação do “Isso”, do Tao, de Deus. cebe outra realidade – que tem uma O conhecimento hermético explica como oessência diferente de tudo o que é conhecido homem pode chegar ao conhecimento dessa– consegue captar o conceito “luz” de modo luz. Podemos chamar a luz de Espírito, enten­completamente novo. Afinal, podemos falar de dida como sabedoria – uma sabedoria que atuaum encontro entre a Gnosis e o ser humano, a continuamente –, como pensamento divino.Gnosis e o cosmo: e é exatamente a contraposi­ Hermes fala sobre “a sabedoria que pensa noção dessas duas condições de luz, essencialmen­ silêncio.” João é um homem que se tornoute tão diferentes entre si, que produz em nós o silencioso. No coração calado onde reina umaconhecimento. paz benfazeja, essa sabedoria pode expressar-se:Poderíamos dizer que conhecemos a velocidade ela pensa no pensamento desse homem. É comoda luz – essa luz que conseguimos visualizar e eles se encontrassem! É a partir desse encontroque é apenas uma parte do espectro eletromag­ que podemos falar da luz – da luz visível, e,nético. Mas também podemos falar de uma luz no entanto, misteriosa – e da luz interior. Dadiferente, imensurável: a luz da qual João dá luz como um fogo invisível e da origem dessetestemunho em seu Evangelho, ainda que ele fogo. Da aurora e do brilho do sol. Da centelhanão seja a luz. A luz por meio da qual a vida e do fogo. E do homem como “Pai das Luzes”.humana é possível, a luz que nos circunda, Nesta e na próxima edição da revistaaquece, ilumina é, sem dúvida, o aspecto mais Pentagrama que tratam da luz tentaremosrefinado e elevado da criação. Mas, mesmo dar testemunho dela e assim lançar uma ponteatuando sob o mesmo princípio, irradiando da rumo a 2012 µmesma fonte e refletindo o mesmo corpo – elanão é a mesma luz. João não é a luz, porém falasobre a luz, traz a luz. Ele é o homem que en­controu a Gnosis, o conhecimento sobre ela em“Utilizamos grandes formatosporque são claros e inequívocos.Utilizamos superfícies planasporque elas destroem ilusões edesvendam a realidade.”Mark Rothko, no. 8, ca. 1950 sobre a aurora e o brilho do sol 3

A GNOSIS QUÍNTUPLAa luz encontrou-meCatharose de PetriA Escola da Rosacruz Áurea está em um novo campo, em uma atmosfera inteiramente nova.A luz que acena, conclama e impele para diante realmente pairou, silenciosa, sobre a gruta danatividade e, nessa gruta, despertou algo inteiramente novo. Consequentemente, agora o grupoestá diante da tarefa de fazer crescer esse novo e cuidar dele. Não se trata de cultivar o soloonde esse novo nasceu, mas sim de transfigurá-lo, assim como tudo ao seu redor.Os alunos da Escola que observaram seu Geralmente, apresentam-se uma orientação desenvolvimento e sua marcha durante ocultista e uma manifestação ético-humanitária. longos anos sabem que esse desenvol­ Até então, as pessoas não sabem que essa fasevimento e essa marcha são caracterizados por deve acabar, isto é, chegar ao seu limite absolu­fases consideravelmente diferentes uma da outra. to. De fato: não é possível concretizar o reino deLonge de se oporem violentamente, essas dife­ Deus “sobre a terra”. Assim, uma ordem verda­renças têm entre si uma conexão lógica. É como deira, no sentido de uma comunidade do mundoocorreu no êxodo do antigo povo semítico, da alma, não pode ser estabelecida na dialética,deixando o Egito pela Terra Prometida. Essa é a nesta ordem de emergência da dialética, que éhistória de toda fraternidade gnóstica a caminho movimentada pelos opostos.de uma nova realidade. O homem ocultista engrandece a si mesmo. ÉNa primeira fase, um grupo em formação o homem egocêntrico no verdadeiro sentidotorna-se claramente consciente da opressão e da palavra. Ele até reconhece seus limites, suasdo aprisionamento em que vive. Então, res­ carências, porém quer ultrapassá-los cultivandomunga e protesta de maneira evidente. Do seu ego. Esse homem “da primeira fase” nãoponto de vista psicológico, esse fato é inteira­ percebe que isso é impossível e que é justamentemente explicável, pois do subconsciente surge dessa forma que o oposto é invocado.de modo cada vez mais forte a consciência de Foi assim que a magia branca sempre gerou auma pátria “pré-histórica”, onde era mui­ magia negra. Ou seja: cultivando uma ou outra,to diferente – sim, muito melhor, excelente o ego atinge determinado ponto culminante emmesmo. Por esse motivo, nessa primeira fase,surge o firme anseio e também a suposição A pomba, símbolo do Espírito, num campode que é possível melhorar tanto a situação azul-celeste ornamentado pela estrela de cincopessoal quanto a do grupo, assim como as pontas, representa o homem-alma perfeito quecondições exteriores de aprisionamento, e até saúda o Espírito. Gravura em seda, presenteada amesmo torná-las suportáveis. Catharose de Petri por Antonin Gadal4 pentagrama 2/2012

J. van Rijckenborgh e Catharose de Petri, fundadoresda Escola Internacional da Rosacruz Áurea,descreviam e explicavam para alunos e interessados,muitas vezes com base em textos originais daDoutrina Universal, o caminho que leva à libertaçãoda alma, do qual foram um exemplo vivo a luz encontrou-me 5

O conhecimento de que ele nada é, nada possui – e, aindaassim, está envolto pela luz – faz do homem buscador umser pleno de alegriaque é confrontado pelos pares de opostos da dia­ “tudo é nada – não pode ser nada”. Esse cami­lética, pois ele precisa manter-se e empreender a nho penoso através do deserto, tem, no entanto,luta pela existência. Desse modo, a magia branca extraordinárias consequências psicológicas. Apósconverte-se em magia negra, com todas as conse­ diversos espasmos de medo e revolta, ele provocaquências. Esse fato é bem conhecido. um aquietamento, uma dissolução do eu no nãoSe, depois de uma experiência tão dolorosa como eu, com sua consequente morte.essa, a ideia de um lar paterno perdido ainda No início, esse declínio do eu, causado pelacontinuar inabalável, o homem da primeira fase experiência no deserto, é triste de se ver. Masentrará na segunda fase: a fase da fuga, do êxodo! isso é apenas temporário, pois esse declínio doEntão ele se distancia de tudo o que é velho de eu é um nadir. No final dessa fase, o homemmodo visível e absoluto e rompe com os anti­ quase se torna semelhante à areia do deserto.gos vínculos. Depois passa para a negação. Ele Porém é nessa condição que surge uma aberturarefugia-se na ideia clara e vivente de que “meu para uma nova luz no sistema do homem. É umreino não é deste mundo”! grande milagre! Nas profundezas de seu ser, oA partir daí, segue-se o deserto! Afinal, como homem encontra a Gnosis – ou pelo menos, suaencontrar, neste mundo, o reino que não é deste força irradiante. Quem, em sua fase desértica,mundo? Como entrar em outra natureza com um encontrou essa luz, viu essa luz, entra na terceiraser que provém inteiramente desta natureza e se fase. Ele começa a viagem ao Jordão, a viagemdesenvolve segundo o nascimento natural? que o conduz ao estado de alma vivente. A luzÉ por isso que a segunda fase é a do deserto. O é a força que confere ao peregrino do deserto ohomem atravessa o deserto de areia da natureza poder de passar a uma nova atividade. É por essados opostos. Mas, para onde ele deve seguir? razão que a terceira fase já não é caracterizadaE, assim, ele vai-se perdendo nos meandros do pelo aspecto oculto das coisas, pela tentativa decaminho: tanto faz ir para o norte ou para o sul, atingir o objetivo por meio do antigo eu: agorapara o leste ou para o oeste. Por toda parte há se trata de uma vivência mística – a mística daapenas areia, que lhe escorre por entre os dedos. gratidão, da certeza e do amor! O conhecimen­O que importa, como diz o Antigo Testamento, to de que ele nada é, nada possui – e, aindalevantar cedo ou ficar acordado até tarde? Não assim, está envolto pela luz – faz desse homemcomemos sempre o pão das dores? “Nada há de um místico, um homem que reconhece, louva enovo debaixo do sol”! Tudo o que é e tudo o venera a luz. É com essa vivência que a Escolaque está por vir já existiu ao longo dos séculos e o aluno se aproximam do manancial, da fonteantes de nós. Na verdade, o Pregador era um pe­ da luz, do rio de Deus. Essa aproximação apenasregrino no deserto, um homem da segunda fase! pode ter um desfecho: o nascimento do novoNo entanto, o reconhecimento absoluto de que estado de alma.6 pentagrama 2/2012

Então, segue-se a quarta fase: a fase do caminho transfiguração, a unificação do homem-almada cruz com rosas. De fato, o grupo que entra perfeito com o Espírito, o Pai, e é também anessa quarta fase precisa “levar de volta para casa”, vivificação perfeita e absoluta da “nova Jerusa­em segurança e protegendo-o de todos os perigos, lém”, com seu radiante templo da Cabeça Áurea.o novo princípio de vida que acaba de nascer em Quem conseguir compreender esse caminhouma natureza inteiramente estranha e hostil. Em quíntuplo da Escola e do candidato aos misté­realidade, a Escola e o aluno que atravessou o rio rios gnósticos reconhecerá, então, o significadocom ela estão em uma nova terra: a verdadeira extraordinário, para todo o corpo-vivo da jovem“Terra Prometida”. A luz que acena, conclama e Gnosis, dos tempos que estão chegando.impele para diante realmente pairou, silenciosa, As primeiras cinco fases do corpo-vivo da jovemsobre a gruta da natividade e, nessa gruta, des­ Gnosis correspondem inteiramente à senda quín­pertou algo inteiramente novo. Consequentemen­ tupla que acabamos de esboçar. No novo reinote, agora o grupo está diante da tarefa de fazer gnóstico é investigado um caminho que conduz àcrescer esse novo e de cuidar dele. Não se trata de vida libertadora do novo estado de alma vivente.cultivar o solo onde esse novo nasceu, mas sim de Enquanto for possível, ainda que em certa medi­transfigurá-lo, assim como tudo ao seu redor. da, a Escola da jovem Gnosis manterá esse cami­Dessa forma, como é dito no Antigo Testamento, nho aberto para todos os que, em nossa época,a “Terra Prometida” deve ser conquistada da mão desejam seguir essa senda tão longa e complexa.do inimigo. Esse é o caminho da cruz com rosas! Para todos os que concluíram essa obra grandiosaA rosa é o novo princípio vital liberado pelo re­ e magnífica desponta a época da liberdade, danascimento da alma e deve ser estimulada a cres­ harmonia e da profunda paz da grande comuni­cer. Por isso, o verdadeiro rosacrucianismo é tão dade de almas. Agora que o edifício está pronto,incisivamente cristocêntrico – trata-se da transfi­ na Escola e na vida de discipulado dos alunos,guração gnóstica absoluta – e jamais é ocultista, todos os aspectos podem e devem entrar em per­sob nenhum aspecto. Quem é inflamado pelo feito equilíbrio para a bênção de todos.Espírito de Deus deve estar disposto a morrer emJesus e, assim, realmente ousar ser um rosa-cruz. Por haver perdido o egoEntão, é chegada a quinta fase, denominada nas areias do deserto,“renascimento pelo Espírito Santo”. Essa é a fase fui eleito em virtudedos “nascidos duas vezes”. O primeiro nascimen­ do “já não ser”.to é celebrado em Chrestos – e é o nascimento da Na desolação desta existência,alma. O segundo nascimento é o de Cristo – e fui encontrado pela luz,é a vitória sobre todos os obstáculos mediante a que agora, desta aridez,alma, a recriação da Terra Prometida mediante me chama para o rio de Deus! µ a luz encontrou-me 7

colaboração internacional dosA partir deste ano, os artigos publicados na revista passarão a ser redigidospor alunos e amigos de todos os campos do trabalho mundial. É enrique­cedor e estimulante quando os buscadores da sabedoria podem tornaramplamente conhecidos seus pensamentos, ideias e intuições. É com prazerque a revista Pentagrama se coloca à disposição como fórum para isso.C om a edição de dezembro passado, extraordinariamente interessante. Sob essa luz, a completamos o 33º ano da revista revista Pentagrama tem um papel importante no Pentagrama. Por 33 anos, os colabora­ trabalho internacional da Escola Espiritual: umadores de todos os campos de trabalho fizeram missão que cruza fronteiras, pois ela é publica­tudo para partilhar a luz que os anima com todos da com conteúdo idêntico em 42 países e em 17os leitores desta revista que estiveram abertos para idiomas! Por isso, cada vez mais, ela comprova serisso. A Escola Espiritual apresentou uma série de um excelente meio de reproduzir a pulsação dapublicações a começar com a primeira revista “A Escola Espiritual moderna.Rosa-Cruz” (em holandês: Het Rozekruis) que A partir de 2012, os artigos a serem publicadossurgiu em dezembro de 1927. Sempre houve uma na revista serão redigidos por alunos e amigos derevista – às vezes até mais – que acompanhou todos os campos de trabalho mundial. Em algunscada fase ou novos desenvolvimentos do processo países já existem grupos de escrita que se reúnemdo vir-a-ser da Escola da Rosacruz Áurea, eluci­ regularmente para discutir o que gostariam dedando, explicando e esboçando esse processo com escrever, esboçar temas específicos ou planejarfirmeza. É como uma crônica – realmente, muito artigos individuais. O fato de buscadores da sabe­mais que uma crônica! Na revista Pentagrama, doria poderem tornar amplamente conhecidos seustemos três tipos de artigos: pensamentos, ideias e intuições sempre é motivo1. Os que têm por tema a sabedoria da Gnosis; de estímulo e enriquecimento. Para tanto, a revista2. Os que tratam de como o buscador reage à Pentagrama coloca-se à disposição como fórum, e a redação estará sempre à procura de colaboradores Gnosis e dos efeitos desta sobre ele; em todos os países e regiões de nosso trabalho.3. Os que tratam do desenvolvimento do campo O aluno sempre será um buscador. Ele reage constantemente à força ativa da Gnosis, que lhe de trabalho gnóstico no mundo todo. chega por meio da Escola Espiritual. E ele tam­No passado, as publicações da Escola eram obra bém se interessa pelos acontecimentos mundiais:de um inspirado grupo holandês que explica­ afinal, ele está no mundo e, por esse motivo, tam­va o sentido e o modus operandi do Lectorium bém é corresponsável por tudo o que acontece.Rosicrucianum aos alunos do mundo todo: era a Portanto, cada novo acontecimento pode ser, aomelhor forma de apresentar o desenvolvimento mesmo tempo, uma oportunidade para trabalharde todos os campos de trabalho. Essa fase perten­ e servir de maneira ainda melhor.ce ao passado. Agora vemos, no trabalho inter­ Quem sempre está voltado para a verdade sónacional, um panorama totalmente diferente: a pode desejar ser verdadeiro. Ele tem consciên­Doutrina Universal é divulgada em sete regiões. cia em sua palavra escrita de que o mundo dosE de onde vem a inspiração? Da fonte que torna fenômenos sempre mostra apenas o lado visívelnossa obra una de fato. Diante de nós, apresenta­-se um desenvolvimento positivo, empolgante e8 pentagrama 2/2012

leitores com a redaçãodas coisas. Com sua cabeça e sua compreensão, realmente, para fazer ressoar tanto quanto possí­ele anseia amorosamente conhecer, abranger e vel o cântico da libertação. Procuramos sempreentender: Gnosis. Seu coração volta-se para a por novo contato através da luz, lendo com overdadeira beleza, a beleza interior da moral, coração receptivo como outros trabalham comda razão e da alma. A verdadeira beleza deriva a luz. Porque, por meio dos resultados obtidos,do Bem Único, provém diretamente de Deus. pode nascer uma nova inspiração. Rejubilamo­E, onde cabeça e coração estão preenchidos por -nos ao ler ou escrever a esse respeito. Assim,ela, procura-se dar testemunho disso com a ação, solicitamos aos alunos de todas as regiões que noscomo, por exemplo, por meio da palavra escrita. enviem as suas contribuições para que a revistaDiante de nossa consciência delineiam-se clara­ Pentagrama – ainda mais do que atualmentemente duas ordens de natureza: existe um mundo – possa divulgar o trabalho da Escola Espiritualde luz eterno em que tudo permanece. E existe moderna, no mundo inteiro e, desse modo, darum mundo em que nada é duradouro, onde tudo testemunho de uma nova alma.virá a desaparecer. Mas que alegria é saber que, A redação µapesar de tudo, este mundo sempre estará en­volvido por uma luz ideal, que se conecta à luz Sua colaboração em holandês, alemão, [email protected] no próprio homem, que possibilitaque nele desperte e floresça o ser de luz! inglês ou francês pode ser enviada para: A redação reserva-se a deci-Por isso a redação da revista Pentagrama sente­-se responsável por dar voz a essa luz, mostrá-la Redação Pentagrama, a/c Centro de são sobre eventual alteração Conferências Renova, Maartensdijkseweg 1, ou redução de artigos a serem NL-3723 MC Bilthoven, Países Baixos. impressos. colaboração internacional dos leitores com a redação 9

o outro lado da luz“As pessoas sempre têm sombra”, pensa o viajante. Por que alguém iriaquerer livrar-se dela? O que há de errado com ela? Alguém pode ficar semsombra? Então, o viajante procura o oposto da sombra: a transparência.Um trem viaja a alta velocidade. O via­ vídeo que mostra o pânico de uma menina ao jante olha pela janela do trem e segue ver a própria sombra. o jogo de luz e sombras voando ao Sua rica imaginação sugere que a menina viaja­lado do trem. Fascinante! rá para algum lugar por onde passe o Equador,É o que aparentemente uma menina está quando tiver 21 anos, a fim de verificar se apensando, porque ela diz: “Olha, papai! Uma história do pai é verdadeira. Realmente não ésombra comprida!” Para surpresa do viajante, fácil achar a posição exata por onde corre a li­o pai da menina inicia uma minuciosa e longahistória sobre luz e sombra. E ele terminacom: “se um dia você ficar bem em cima dalinha do Equador, não terá sombra nenhuma!”Que conversa mais incomum para uma viagemde trem! Durante anos o viajante carregouconsigo essa conversa. Algumas vezes, porbreves momentos, ela volta à tona – espe­cialmente a última frase. Mas ele não sabe oque fazer com essas lembranças. Até que umdia, em uma festa, alguns amigos estão vendovídeos engraçados na Internet. Lá está o vídeode uma garotinha que entra em pânico ao vera própria sombra. O pessoal repete o vídeomais uma vez para rir de novo da garotinhaassustada. O viajante não acha graça nenhumaao ver a garotinha com tanto medo, porémassiste ao vídeo assim mesmo. A cena lhe fazlembrar alguma coisa, mas a festa continua, eele fica todo envolvido com o ambiente. Noentanto, está preso em seus pensamentos. Elesente que precisa pensar sobre isso. Essas duashistórias com a sombra como tema não podemser coincidência.Durante suas viagens, ele sempre se lembra daconversa do pai com a filha, e especialmente afrase sobre o Equador. Também se lembra do10 pentagrama 2/2012

Don Relyea, Linhas vermelhas. Arte geométrica abstrata, 2005nha do Equador. Mas, supondo que ela consiga, errado com ela? Porque a garotinha entrou emem que ponto exato sua sombra se achatará? pânico quando viu a própria sombra?Ela encolhe-se o máximo que pode, mas não Então ele procurou na Internet, usou seu co­adianta. Mesmo ficando reta como uma tá­ nhecimento e montou uma lista bem feita combua, ainda continua tendo sombra. “As pessoas tudo o que encontrou sobre o tema sombra:sempre têm sombra”, pensa o viajante. Por que 1. O Mito da Caverna, de Platão: as pes­algumas gostariam de não tê-la? O que há de soas estão de costas para uma fogueira, o outro lado da luz 11

acorrentadas em uma caverna, e veem sua sombra projetada na parede. Elas acham que essa sombra é a realidade porque não conhe­ cem nenhuma outra. 2. Geralmente, as sombras são relacionadas à morte e a outras coisas ruins. 3. As crianças brincam com a própria sombra. 4. Poucos adultos divertem-se com sua som­ bra. Pelo contrário: para muita gente a própria sombra é motivo de conflito, e por isso procu­ ram ajuda em terapias. 5. O princípio da sombra inspira vários escri­ tores a criar histórias de pessoas sem sombra, ou de sombras com vida própria que dominam a vida dos outros (Hans Christian Andersen, Robert Louis Stevenson e Oscar Wilde, por exemplo). 6. Existem muitas superstições que têm a ver com sombras. Há pessoas que têm medo de ficar à sombra de outros, e às vezes algumas crianças, quando encolerizadas, pisoteiam a sombra dos pais. O viajante acha a história de Platão intrigante. É isso! A existência de outra realidade pare­ ce uma possibilidade real. Mas como foi que aquelas pessoas entraram na caverna? E de súbito percebe: ele também apenas viu som­ bras durante a vida toda! No fundo, era bem possível que tudo ao seu redor não fosse real. Então, ele sente-se profundamente triste. Por outro lado, há tantas outras coisas incrí­ veis! Às vezes, ele emocionava-se profunda- mente com uma música, uma palavra, ou uma12 pentagrama 2/2012

Fantasiando, magicamente ele formou uma imagem de pessoascom cabeça de Jano: quando o lado bonito aparecia na frente,o lado feio ficava para trás, coberto pelos cabelos – e vice-versaárvore. O que seria isso? Ou será que a histó­ dois lados, e que as outras pessoas tambémria de Platão trata somente da sombra psicoló­ têm – e isso resolve uma série de dificuldades.gica, do lado obscuro da sombra? Mas nunca podemos trazer os dois lados paraJung falou sobre isso. Ele disse que, durante a frente: afinal, eles são opostos!”vida inteira, empurramos para o inconscientea parte de nosso caráter que nos desagrada, e Como sempre, era um assunto muito compli­deixamos aparecer apenas a parte que aceita­ cado. Então, ele volta à sua primeira históriamos. Mas a sombra está sempre presente, e, sobre a sombra, sobre a menina que tentouquando menos esperamos, topamos com ela. É ficar mais plana que uma folha de papel quan­por isso que somos levados a fazer coisas que do pisou no Equador, mas descobriu que issonão gostaríamos de ter feito. Projetamos em não funcionava. A menina compreenderia que,outros os mesmos defeitos que condenamos mesmo se assimilasse a própria sombra em sineles e não conseguimos ver em nós mesmos. mesma, não ficaria branca, e sim cinzenta,Nesse sentido, o comportamento da garotinha pois ela ainda permaneceria no ser.assustada é totalmente compreensível. O viajante decide que após todo o esforço daQuanto à projeção, o viajante já descobriu menina, ela merecia uma recompensa, poismuitas coisas. Ele também é capaz de reco­ descobrira que somente a própria luz não pos­nhecer suas próprias projeções e percebê-las sui sombra. E que a única maneira de não terdentro de si mesmo. Ao fazer isso, ele dá­ nenhuma sombra é tornar-se transparente: um-se conta de que o ser humano tem todos completo “não ser”.os recursos e possibilidades nas mãos. Essa Mas seria isso possível? Seria esse homemdescoberta foi, sem dúvida, muito boa. Ainda transparente parecido com a luz? Ele olhariaassim, ele pergunta-se, psicologicamente fa­ para a terra e veria somente luz – a projeçãolando, se alguém poderia deixar de apresentar de sua própria luz! Seu olhar transparenteseu lado “sombra”. Não sabia a resposta, mas a enxergaria através de tudo, uma vez que a luzpergunta permaneceu. pode penetrar em qualquer lugar, se ele nãoAo longo do tempo, chegou à conclusão de atrapalhar, colocando-se no meio do caminho.que, fizesse o que fizesse, o ser humano sem­ Então, o porquê da existência torna-se cla­pre estaria projetando sua sombra. Fantasian­ ro para ele! Nem mesmo a coisa mais ínfimado, magicamente ele formou uma imagem de poderia ser chamada de feia. Finalmente elepessoas com cabeça de Jano: quando o lado poderia enxergar o plano, com menininhas,bonito aparecia na frente, o lado feio ficava árvores, música e sombra. E sua felicidadepara trás, coberto pelos cabelos – e vice-versa. semearia pequenas centelhas de luz sobre tudoPensou: “É então que descobrimos que temos o que seus olhos contemplassem µ o outro lado da luz 13

meu nome é fótonEu sei como você se chama. Mas será que você me conhece? Quando se fala deluz, é necessário conhecer-me – afinal, essa é a minha especialidade. Posso apre­sentar-me? Meu nome é Fóton. Às vezes também sou chamado de “partícula deluz”. Quando elétrons movem-se de uma órbita para outra em torno do átomo,fótons com energias correspondentes a essas transições são emitidos.C om as palavras acima, descrevi perfeita­ mente nosso objetivo: fazer que os elé­ trons circulem de maneira ordenada emtorno do núcleo atômico. Sim, somos nós quemantemos a ordem dentro da casa atômica. Nós,os fótons, somos, juntamente com os elétrons,as partículas elementares mais importantes douniverso.Sem fótons não haveria universo, mundo, huma­nidade, nem átomos.Quase me esqueci de mencionar meu sobreno­me: Força Eletromagnética. Mas provavelmentevocê já tinha percebido isso.Nossa família é uma das quatro famílias de for­ças que tornam a existência do mundo possível.No interior do núcleo atômico existem duas for­ças ativas: a força nuclear fraca e a força nuclearforte. Fora dele, existem a força eletromagnéticae a gravitacional.É com orgulho que posso dizer que minha Don Relyea, Paisagens urbanas com escadas e helipontos IIfamília é de longe a mais importante. No seulivro O que Darwin não era capaz de saber, Gerrit faz. Nós, fótons, andamos com uma velocidadeTeule descreve muito bem nosso trabalho. Ele de 300.000 km/s pelo universo. Levando-se emcompara a cooperação das quatro forças com a conta as distâncias enormes no universo, às ve­encenação de uma peça de teatro. As duas forças zes ficamos muito tempo viajando. O telescópionucleares formam os cenários. São um elemen- Hubble mostra galáxias cuja luz viajou muitosto importante, mas passivo. O chão do palco anos-luz. Seria como transmitir a vocês votos decorresponde à força gravitacional, que possibilita Feliz Ano Novo vindos dos faraós egípcios.a atuação. E, no palco, é a força eletromagné- Somos mais conhecidos como luz. Com “luz”tica que demonstra todo o seu talento. Você quero dizer não apenas a luz visível do ver­pode comparar-nos a carteiros que distribuem melho ao azul – que é apenas uma pequenapequenos pacotes de energia (informação) bemmais rápido do que um carteiro normalmente14 pentagrama 2/2012

SOU MAIS CONHECIDO COMO LUZArte abstrata geométrica, 2005parcela do total. A luz pode ser comparada a Quando o valor da frequência diminui, passamosuma escala musical. do azul para o vermelho, e depois para o infra­Existem sons acima e abaixo do limite da au­ vermelho (radiação de calor). As ondas de TV edição. A luz ultravioleta não é visível para as as de rádio possuem uma frequência ainda maispessoas, mas não deixa de ser luz. Nota-se pela baixa. Isso tudo é nosso trabalho. Os olhos dassua influência numa placa fotossensível. Sua fre­ pessoas são instrumentos maravilhosos. Quatroquência é mais alta do que a luz visível. Consi­ ou cinco de meus irmãos fótons que atingem osderando-se valores ainda mais elevados, pode­ olhos são suficientes para ativar o nervo óptico,mos falar de raios X e, no extremo do espectro, que envia uma mensagem ao cérebro. Se o olhode raios gama. humano fosse dez vezes mais sensível, todos po­ meu nome é fóton 15

Um fóton virtual transfere energia enquanto oscila entre o campode energia do ponto zero e o mundo material.“Como faz parte de nosso destino ter somente um tempo limitado para desenvolveruma vida criativa e com significado, eu me pergunto se essa pesquisa (por que faço isso,de onde venho e para onde vou ou quero ir) não será, talvez, uma forma de arte...”Arte em papel como paisagem surrealista, de Yoshio Ikezaki16 pentagrama 2/2012

deriam perceber a emissão luminosa de qualquer chegam a atingir o corpo das pessoas como balascor como pequenos lampejos de luz. Na nossa de metralhadora, alcançando até cem pulsos porfamília também existem fótons virtuais. Eles segundo. O sistema imunológico trabalha comooscilam entre o campo de energia do ponto zero louco. Eu não posso fazer nada. Felizmentee o mundo material. Eles colidem com as partí­ algumas pessoas previdentes estão começando aculas subatômicas elementares e são absorvidos tocar o alarme: aqui e ali, já lemos que os cam­por elas. Com isso, elas aumentam sua energia. pos eletromagnéticos são, de fato, os maioresFótons virtuais são chamados assim porque não poluidores.permanecem em nosso mundo material. Apenas No entanto, quase esqueço de mencionar osão usados para transferência de energia. principal, que é a energia eletromagnética daNão são apenas os aparelhos eletrônicos que Gnosis, a força-luz do reino original. Quandofuncionam com base na força eletromagnética: abrimos nosso ser a essa luz, ela entra no sistematodas as estruturas e os mecanismos do corpo microcósmico, e suas radiações purificam nossotambém utilizam a mesma forma de energia campo de respiração, eliminando tudo o quepara funcionar. é ímpio e desarmonioso. E o modo como essaAssim, desempenhamos com os elétrons um luz original e universal opera é semelhante aospapel crucial na cooperação entre espírito e cor­ fenômenos comuns – embora ela opere a partirpo. Para nós é estranho ver que muitos médicos de outra dimensão existencial.trabalham com instrumentos e aparelhos moder­nos baseados na força eletromagnética sem, no Essa influência espiritual da luz é uma graçaentanto, se darem conta de que o corpo humano incrível, mas continua sendo secreta, mesmofunciona com base na mesma força! para os órgãos sensoriais mais sutis do homem. Somente os resultados são observáveis. VocêContudo, nossa existência nem sempre traz pode experimentar isso por si mesmo. Foi bomapenas benefícios para o homem. A força ele­ falar com você. Abrir o coração. De fato, atétromagnética é um poder magnífico – desde o século passado, nós trabalhávamos no anoni­que não seja utilizada de maneira abusiva por mato, porque ninguém sabia da nossa existên­cientistas com finalidades puramente comer­ cia. Preciso concluir. Entreguei meu pacote deciais. Com isso estou querendo dizer: com o energia. O dever me chama. Meus irmãos já meuso exagerado da radiação por pulsos na teleco­ olham como se me repreendessem µmunicação. No caso do GSM (Sistema Globalpara Comunicações Móveis), como esse tipo de Fonte:radiação não existe normalmente na natureza,os pacotes energéticos enviados (informações) Teule, G. Wat Darwin niet kon weten (O que Darwin não era capaz de saber). Deventer (Holanda): Ankh-Hermes, 2009. meu nome é fóton 17

Inúmeros mitos nos foram transmitidos pelas diversas lokasenna –civilizações do passado. Eles dão testemunho das con­cepções da antiga humanidade sobre o surgimento domundo, a atividade das forças da natureza, os deusese sobre nosso destino após a morte. Nesta série sobre a Edda, tentamos tornar acessível para a compre­ ensão de hoje o significado dessas antiquíssimas ideias místicas. Este ponto é de grande importância, porque a Edda é uma epopeia em que são representados os mistérios do desenvolvimento do mundo de modo incomparável. Ela transmite o combate entre as forças espirituais e psicológicas, no qual a luz procura anular a escuridão da consciência humana. Também na última parte desta série, esse combate outra vez ressurge de maneira evidente. No artigo anterior de nossa série sobre a Edda, vimos que a flecha cega de Hödur matou, dentro do homem, exa­ tamente o aspecto que percebe a luz. O inte­ lecto, Loki, apenas conhece “sim” ou “não” e é cego para a atmosfera especial de Balder, que é parte da esfera de vida primordial. Na Lokasenna (a discórdia de Loki), o semi- deus Loki – às vezes amigo, às vezes inimigo dos deuses – surge para destruir a alegria da festa. Loki é uma figura misteriosa de natu­ reza dupla. Ele é um dos æsir, e com outros æsir sempre está combatendo os gigantes. Ele ordena que anões fabriquem objetos mági­ cos: o martelo Mjölnir para Thor e o anel18 pentagrama 2/2012

a discórdia de lokiDraupnir para Odin. Mas, ao mesmo tempo, espírito e natureza. Desde então, a maldade eele orgulha-se de ter assassinado Balder. Ele o materialismo conseguiram sobrepor-se emtambém é pai de seres infernais. Muitas vezes Midgard. A “era escura” começou. No Orien­também é considerado como herói da cultura, te, ela chama-se “Kali Yuga”. “Deus está mor-aparentado com o grego Prometeu. O fogo to”, assim afirmou o filósofo alemão Nietzsche.que ele doa aos homens é um presente: se por Os homens já não conseguem perceber em seuum lado promove cultura e desenvolvimento próprio interior a presença luminosa do ser(calor, luz, arte de cozinhar, tratamento meta­ divino. Como consequência disso, a Divindadelúrgico…), por outro lado, os resultados sem­ também já não é acessível para eles no mundopre mostram que, na realidade, o ser humano exterior, na natureza. Sobrou a crença numnão pode controlar essa cultura e sempre põe Deus “distante”: paternalista, exterior, con­fim a ela com armas de fogo e outras técnicas versador e tradicionalista. Quando uma ordemde destruição. mundial, ou uma civilização, perde de vista oMas, embora as teorias comuns mostrem Loki fundamento luminoso do Espírito, ela se mate­como espírito de fogo, com todo o potencial rializa cada vez mais com o passar do tempo.para o bem e para o mal ligados ao fogo, pode Então, o dragão Nidogue (sinônimo de inve­ser que essa visão seja o resultado de uma ja) consegue partir com os dentes as raízes daconfusão de ordem linguística com a palavra árvore do mundo, o freixo Iggdrasil. Iggdrasillogi, “fogo”. É que, nesse sentido, existem estremece até as alturas de Asgard – o domicíliopoucas indicações no mito, em que sobretudo dos deuses. Esse é o sinal do encontro dos pode­o papel de Loki é associado com Odin – seja res do mundo em uma área de combate espe­como seu parceiro ou como seu gênio do mal. cial – Vigrid – que fica no interior de Midgard. É nesse lugar que acontece o combate final.Ström1 identifica os dois deuses a tal ponto Então, Loki consegue libertar-se de suas cor­que chama Loki de “Hipóstase de Odin”: seria rentes. Apartado dos deuses, o intelecto alcançaoutra personificação do mesmo deus original. E seu maior desenvolvimento: ele entra no palcoRübekeil2 sugere que, no início, os dois deuses do mundo com seus rebentos, o lobo Fenris e aeram idênticos (“Loki viria do céltico Lugus ou serpente Midgard. O lobo Fenris foi gerado porLugh”). Portanto, seja nesta ou naquela teoria, Loki com uma gigante. Ele cresceu até atingira figura de Loki não seria uma criação poste­ tal poder que ninguém pôde resistir. Só mesmorior dos escaldos (poetas da corte) nórdicos. Na utilizando astúcia e uma fita mágica, os deusesverdade, ela procede de um protótipo comum conseguiram acorrentá-lo numa rocha. Mas, nosindo-europeu. dias finais, ele liberta-se. Então, o pensamentoA morte de Balder rompe o equilíbrio entre materialista alcança seu ponto culminante. lokasenna – a discórdia de loki 19

O visco. O visco recebeu seu nome da palavra “mistil”, do visco ficam visíveis. Para os celtas e os druidas, o carvalhoalemão arcaico, que significa “esterco”, porque suas sementes foi tido como árvore sagrada. Era nos carvalhos que elessão levadas pelos excrementos dos pássaros até os galhos colhiam o visco sagrado.mais altos das árvores. Ele é um semiparasita, pois na verdade Um pouco dessa magia do visco se guardou até hoje: nasprecisa de um hospedeiro, embora não lhe seja prejudicial. tradições anglo-saxônicas, durante o período de Natal, asNa linguagem popular, ele é chamado de “erva mágica”. pessoas dependuram ramos de visco em cima das portas.Quando utilizado na dosagem certa, ele é uma erva Quando dois namorados se beijam em baixo dele, signifi­medicinal que fortalece o coração e combate tumores. ca que serão felizes no futuro.Galhos novos da fase florescente, secos e triturados, No mito, ninguém pensou que os jovens e delicados ramospodem ser usados para fortalecer o sistema imunológico. do visco pudessem trazer desgraça. Eles pareciam inocen-Em dosagem excessiva, ele pode até paralisar o coração. tes demais para levantar suspeitas. Mas foi exatamente umDesse modo, ele é, ao mesmo tempo, remédio e veneno. ramo dessa planta que contribuiu para a morte de Balder.Como não tem raízes próprias, o visco não sofre influência Isso pode demonstrar que nada é tão puro que não possadas estações. Por ser aéreo, vive somente de luz, ar e água, e ser usado de maneira abusiva. A facilidade e a rapidez comfoi muito venerado como planta sagrada. que o pensamento inferior pode paralisar ou mesmo matarPara nossos antepassados, ele simbolizou a vitória da vida a luz divina no coração é impressionante! As forças do ego­sobre a morte. Explica-se: no inverno, bem acima das ár- centrismo astuto (Loki) querem sempre destruir o jovemvores sem folhas, as flores e sementes sempre verdes do princípio espiritual dentro de nós.Loki também gerou, com uma gigante, a rasga-lhe a mandíbula. Assim, o lobo morre. Oserpente Midgard. Os deuses a lançaram nas deus Thor consegue matar a serpente Midgard,profundezas do mar. Lá, ela cresceu e chegou mas é vitimado pelo veneno que o verme cospea tal tamanho que está deitada no mar que fica sobre ele.ao redor de todas as terras, mordendo a pró­ Heimdall, “o iluminador do mundo”, luta compria cauda. Ela também sai das sombras para Loki, e um mata o outro. Surtur lança fogocombater os deuses, nos dias finais. Com ela, as sobre a terra e queima o mundo inteiro. O frei­marés inundam as costas. Os gigantes do gelo xo do mundo – Iggdrasil – também pega fogo,vêm de Riesenheim (terra dos gigantes). Sur­ mas não é destruído totalmente.tur, o gigante negro do fogo, atiça o incêndio Deus está morto. A presença espiritual di­do mundo com sua espada flamejante. vina apagou-se no interior do ser humano.Os æsir atravessam a cavalo Bifröst, a ponte do Mas também o pensar egocêntrico entra emarco-íris, e com os vanir e os einherjar (guerrei­ crise definitiva e é colocado no pelourinho:ros mortos em combate), fazem frente às forças No mundo inteiro, o movimento “Occupy”desencadeadas pela natureza. O lobo Fenris é um sinal marcante do novo tempo, em queescancara a boca tão amplamente que o maxilar os “poderes do mundo” (bancos, políticos,superior toca o céu, e o inferior, a terra. Quando diretores econômicos) precisam encontrar no­Odin se aproxima dele, ele o engole com capace­ vas saídas, mais humanas, para servir a toda ate, lança e armadura – todos de ouro. sociedade. Outrora os deuses formaram a natureza. DepoisVidar, um dos deuses mais fortes e filho de o homem começou a pôr em movimento as for­Odin, coloca o pé no maxilar inferior do ças gigantes e a colocar-se a seu serviço. O quelobo, agarra com a mão o maxilar superior e os deuses criaram tinha vida. O que o homem20 pentagrama 2/2012

A saudade de uma “Era de Ouro” sempre ficou guardada comosemente dentro do coração do homemevocou da natureza foi morte, e assim propa­ próprias imagens e expressões. A obstinaçãogou a morte. Depois de determinado ponto fratricida de Seth e Osíris, o desejo de Prome­crítico, essa morte que se propaga faz soar o teu pelo fogo do Olimpo e a complexa estru­fim dos tempos. tura da história da Edda – tudo isso representa o combate entre as forças espirituais e psicoló­Os versículos 57 e 58 dizem: gicas, quando a luz tenta eliminar a escuridãoO sol escurece, a terra afunda no mar. da consciência humana.As estrelas brilhantes precipitam-se do céu. Depois dos dias de Jesus, que trouxe o Cristo,Crescem o vapor e as chamas alimentadoras da vida, essa luta foi totalmente transferida para o inte­e um calor enorme sobe até o céu. rior do homem. Os novos tempos têm o deverGarm uiva alto diante dos portais de Hela: de conquistar a atmosfera de luz de BalderAs correntes se romperão, e o lobo correrá. – vida e primavera para a humanidade – porMuito sei, e longe vejo no futuro meio de autodesenvolvimento e autoentrega aO duro destino dos deuses poderosos. essas forças de consciência µA palavra “Garm” é uma expressão que aponta 1. Ström, Å.V.; Biezais, H. (Eds.): Germanische und baltische Religion (Religiãopara o lobo Fenris. germânica e báltica). Stuttgart: Kohlhammer, 1975.Vidar, “o regente ao longe”, é o deus que age 2. Rübekeil, L. Völker und Stammesnamen (Povos e nomes étnicos).em segundo plano. Ele simboliza o esplendor In: Beck, H.; Geuenich, D.; Steuer, H. (Eds.). Reallexikon der germanischendaquilo que Cristo faria para o desenvolvimen­ Altertumskunde (Enciclopédia de arqueologia germânica). 2. ed. Berlim/Novato da humanidade. Iorque: De Gruyter, 2006. v. 32.A Edda é uma epopeia que interpreta o desen­volvimento do mundo de um modo incompa­rável, numa forma que nos deixa sem palavrasainda no século 21. Nesta série sobre a Edda,tentamos tornar acessível para nossa faculdadeatual de entendimento o poder explicativo des­sas ideias de mitos antiquíssimos. A narrativamostra a verdade universal representada dediversas maneiras, de acordo com a capacida­de de imaginação dos ouvintes de outrora. Asaudade de uma “Era de Ouro” sempre ficouguardada como semente dentro do coração dohomem, e cada época se referiu a ela com suas lokasenna – a discórdia de loki 21

somos seres de luzou seres fictícios?Em tudo se manifesta o princípio vital de um organismo único. A matéria é amanifestação da vida, mas não vive por si mesma. Ela é formada por ondas deluz, átomos, que transmitem as ideias do universo e, por fim, as da Divindade,mas que não têm em si vida real: são apenas aparências, sonhos, projeções.Quem somos nós? O que somos nós? Para essas questões cada um deveencontrar a resposta dentro de si mesmo.“A verdadeira luz, a luz cósmica, imutável, é a fonte contém em si a imagem do todo. Após a des­de tudo que existe. É a realidade suprema. Essa luz coberta dessa tecnologia, formou-se tambémé invisível, imperceptível aos nossos sentidos. Ela uma analogia com nosso universo. Ou seja:apenas pode ser conhecida a partir do interior, desse nosso universo pode ser comparado a um ho-ponto central único e imutável.” (Walter Russell) lograma. Tudo se projeta dentro dele: flocos de neve eComo e de qual ponto de vista julga­ estrelas... Mas também a representação de ou­ mos o que é realidade? Não é verdade tra realidade sublime além do espaço-tempo. que tudo começa dentro de nosso ser Essa descoberta científica faz pensar que,interior, no pequeno mundo do microcosmo? na verdade, o mundo não é como o homemDentro do microcosmo se encontra nossocorpo, com seus órgãos sensoriais, sentimentose pensamentos – sempre em movimento comonuma reação em cadeia ou num turbilhão.Isso é o que nós denominamos “homem”.Quando entramos na quietude, experimenta­mos que, ao lado de tudo isso, ou em segundoplano, encontra-se alguém silencioso ou algoinvisível que percebe tudo. É algo como umachama serena que denominamos consciência, eque possibilita que tudo exista. Mesmo quetudo mude, a consciência permanece. Pode­mos comparar essa chama a uma tela ou aum pano de fundo, sobre o qual são projeta­das imagens multidimensionais, como numholograma. A característica de uma figuratridimensional ou holograma é que uma ima-gem espacial (3D) tem uma superfície plana.Embora olhemos para um lugar específico,plano, vemos uma imagem espacial criada porlaser. A luz do laser é projetada numa placasensível. A seguir, a placa é tratada como umafotografia. Quando olhamos para a fotografia,vemos o holograma. Cada parte da imagem22 pentagrama 2/2012

Don Relyea, Paisagens urbanas com escadas e helipontos IV. Arte abstrata geométrica, 2005imaginava. Não se trata de um aglomera­ organismo único. A matéria é a manifestaçãodo de coisas e fenômenos separados uns dos da vida, mas não existe por si mesma, sejaoutros, mas sim de uma projeção da luz da qual for a forma: árvore, ser humano ou sol.consciência universal. Reforçamos mais este A matéria é formada por ondas de luz quefato importante: todas as partes dessa reali­ transmitem as ideias do universo e, por fim,dade estão interligadas, e cada uma traz em da Divindade. Mas elas não têm vida real; sãosi uma representação dessa realidade, confor­ apenas aparências, sonhos, projeções. Olhandome o princípio hermético “assim como é em por esse ângulo, podemos também compre­cima, assim é embaixo”. Em outras palavras: ender por que sempre surgem teorias muitoem tudo se manifesta o princípio vital de um complicadas, embora incompletas, e muitas somos seres de luz ou seres fictícios? 23

vezes contraditórias, que tentam explicar nos- C.G. Jung, o psiquiatra suíço, falou uma vez:so mundo. É como explorar sombras. E quem “Quem olha para o exterior sonha; quem vê oexplora essas sombras? As próprias sombras? interior desperta”.Quem somos nós? O que somos nós? Para es­ O despertar leva à verdade: os dois estãosas perguntas, cada um deve encontrar a res­ interligados. Mas, para despertar, o homemposta dentro de si mesmo. Existem uma vida deve aspirar à verdade! Ele deve possuir nãoverdadeira e uma luz universal. Não a luz que somente o desejo pela iluminação de suapercorre 300.000 km/s, mas uma luz que se percepção, mas também a vontade de ofere­movimenta numa velocidade imensurável. É cer tudo a essa luz. Talvez gradualmente, masuma luz que não precisa viajar para nenhum completamente!lugar: ela é onipresente. Frequentemente cha­ O processo nasce de uma percepção instantâ­mada de “luz das luzes”, ela tem uma existên­ nea do coração. Mas prossegue, dia após dia,cia imaterial. Ela é o fundamento autêntico e momento a momento, com base na escuta dovivente do todo: tanto de nós mesmos quanto que está nas profundezas de nosso ser e vibrade todo o universo. em concordância com a alma. É assim que,O objetivo do homem é descobrir essa luz passo a passo, nos aproximamos da fonte, dana base de seu ser, pois somente então sua essência de nosso ser. Isso acontece pouco aessência poderá manifestar-se conscientemen­ pouco, graças à contemplação interior e aote dentro dele. O mundo – a realidade que caminhar incondicional para a luz primordialpercebemos – sempre depende da posição de na vereda da verdade. A flama da consciên­quem observa e da consciência do observador. cia, que brilha em nosso microcosmo, vaiOs sentidos são apenas ferramentas secundá­ ganhando força, enquanto as nossas preocu­rias. pações e nossos medos vão diminuindo atéPara obter uma imagem indiscutível e clara da finalmente desaparecer. Nossas limitações everdade, precisamos primeiro encontrar um falsas maneiras de perceber o mundo desapa­ponto de observação estável e fixo. recerão, enquanto que a concepção do grandeÉ como tirar fotos com uma câmera fotográ­ Todo surgirá em seu lugar. Certamente, issofica em movimento: as fotos saem imprecisas, não acontecerá sem sofrimento e dor. Esseembora possamos distinguir bem a imagem. processo caracteriza-se por uma contempla­Esse ponto fixo está escondido dentro de nós. ção do interior e por seguir, sem reservas,Ele é, ao mesmo tempo, nossa verdadeira es­ a senda para a luz e a verdade originais dosência e o ponto central comum a tudo o que próprio ser. Isso significa uma vida conscien­existe. Mas onde encontrar esse ponto central, te e distingue perfeitamente o ser fictício doessa essência? ser de luz µ24 pentagrama 2/2012

a luz do olhoO olho é um órgão de luz. Ele ajuda-nos a tomar conhecimento dasdimensões que se tornam visíveis por meio da luz.Afinal, o olho nãoapenas acolhe a luz: ele também irradia luz e força – uma força capazde muita coisa. Quem somos e o que somos torna-se visível por meioda radiação do olho, porque o olho é o espelho da alma.Oolho não consegue ver a si mesmo: do com frequência. O olho direito do homem ele necessita de um espelho. O espe­ é visto como o olho de Rá, o olho do sol. O lho de Deus – para ver a si mesmo – olho esquerdo é visto como o olho da lua.é o homem. “O homem é o olho do mundo, Os dois olhos juntos são os olhos de Hórus, oo mundo é o reflexo de Deus, e Deus mesmo Velho, e correspondem à faculdade espiritualé a luz do olho. O homem é o olho que olha do homem.no espelho, e, assim como o espelho reflete o O olho é um órgão de luz, isto é, um re­rosto do homem que para ele olha, do mes­ curso. Ele nos ajuda a tomar conhecimentomo modo o reflexo de seu olho olha para o das dimensões visíveis por meio da luz, e,olho. Deus, que é o olho do homem, percebe por isso, não é, por si mesmo, um órgão daa si mesmo por meio do homem. Isso é algo consciência. Olhamos enquanto acreditamosextraordinariamente sutil. Considerado sob estar vendo.determinado ponto de vista, Deus é o olho Os olhos estão em estreito intercâmbio comdo homem, e, sob outro ponto de vista, o os órgãos da consciência. O olho direito temhomem é o olho do mundo, pois o mundo e relação com a pineal e a região cerebral queo homem são um. Esse homem que é o olho corresponde a ela. O olho esquerdo corres­do mundo é denominado homem perfeito. ponde à racionalidade, que tem seu centroUma vez que o homem representa a totali­ em outra região cerebral.dade de tudo o que existe, ele é um mundo O centro da pineal é extremamente receptivoem si. A mesma conexão que há entre Deus e à “luz solar” gnóstica. O olho direito, porém,homem existe entre homem e mundo.” só percebe essa luz gnóstica quando os ins­(Xeique Mohamed Lahiji) tintos dominantes do eu passam para segundo plano. Até esse momento ele só pode servirQuando nos olhamos nos olhos, no espelho, como subalterno do olho esquerdo, que éparece que o olho está sempre voltado para estreitamente ligado à sóbria razão causal. Po­alguma coisa. Poderia surgir a pergunta: o deríamos dizer que, de acordo com sua verda­que olha para quê, e o que vê o quê? deira essência, o olho direito ainda permaneceA denominação egípcia “Rá” significa luz ou cego. Quem ainda não foi inflamado pela luzsol. Rá é o sol invisível por detrás do sol, a divina, a bem dizer, é caolho e, por isso, estáforça primordial criadora que mantém en­ direcionado unilateralmente para a existênciacerrada em si todos os princípios ou efeitos no espaço-tempo. A verdadeira visão espiritu­da criação. O sol que percebemos é o olho al começa a existir quando a pineal conseguede Rá, e não o próprio Rá. No Egito antigo receber e, então, distinguir as radiações sola-observamos que o símbolo do olho é retrata­ res de Rá – a corrente de luz gnóstica. a luz do olho 25

O “não ser” do olho é o espelho límpido noqual Deus vê a si mesmo.26 pentagrama 2/2012

“Eu sou a luz do olho, criamos, que projetamos, significa, ao mesmo O espírito que habita tempo, o limite de nossa percepção. Olhamos a profundeza insondável.” para algo até que enxerguemos o que acredi­ (Baghavad Gita) tamos ver. Com a luz de nossos olhos, vemos apenas o “O Um glorioso disse: quando amo um servidor, sou o senhor, que nós próprios somos. Portanto, a radiação seu ouvido, de modo que ele ouve por meio de mim. Sou seu de nossos olhos forma um círculo de cons­ olho para que ele me veja. Sou sua língua para que ele fale por ciência fechado em torno de nós: é o nosso mim. Sou sua mão para que ele me segure.” campo de visão. Quando uma luz mais ele­ (Dhu’l Nun, 796-856, místico sufi do Egito que divulgou a vada consegue penetrar nesse círculo fecha­ corrente secreta da Gnosis no Islã) do de consciência, produz-se no homem a inteligência para uma realidade mais eleva­Por meio de nossos olhos, atraímos éteres de da. A força-luz que dá testemunho da forçacondição vibratória que corresponde a nos- central em nosso ser-eu e só vê a si mesma ésa própria consciência. O olho não recebe inspirada por essa luz superior para retroce­apenas luz – ele também irradia luz e força, der enquanto luz central dirigente. Assim, ouma força capaz de muita coisa. Quem somos olho torna-se sereno e puro. O círculo satâ­e o que somos torna-se visível por meio da nico da fixação hipnótica no próprio estadoradiação de nossos olhos. O olho é o espe­ de consciência é rompido. O “não ser” dolho da alma. Assim, nesse espelho, pode-se olho é o espelho límpido no qual Deus vê aler nosso estado de consciência. O olho pode si mesmo. Quando essa nova luz é inflamadanutrir-nos. Mas, voltado para o exterior, ele em nós, um novo mundo desabrocha diantetambém pode estimular, inflamar e criar. dos olhos.Nesse sentido, ele é extremamente mágico. O que o olho interior vê? Quem vê com oExiste também a expressão: “invejar a luz no olho interior? É o Homem-Hórus perfeito,olho do próximo”. divino, a quem os egípcios chamavam “o fi­A luz do olho, a luz de nossa atenção, é lho”, que vê dentro de nós o próprio mundodeterminada pela luz de nossa consciência. É divino. E dele somos o testemunho silencio­dessa força de luz que nós haurimos. No en- so e iluminado. Nesse silêncio, o olho podetanto, a imagem do mundo que nós mesmos irradiar a força-luz transformada µ a luz do olho 27

O jardim secreto das rosas, do sufi Mahmud Shabistari (1288–1340), poema do qualapresentamos alguns versos, é considerado uma das obras mais inspiradas da líricapersa. Em sua beleza e simplicidade, esses versos dão testemunho da luz.“Ó luz de Deus, ó infinidade sem sombra!”o umO nomeTodas as criaturas surgiram a partir do nome do Um. É nele que têm sua origem eé para ele que haverão de retornar, com infindáveis louvores.O hóspede amadoLança fora toda a tua existência. Ela não passa de podridão e erva daninha. Esvaziaa câmara de teu coração e prepara-a para ser a morada do bem-amado. Quandojá não estiveres lá, ele entrará e te revelará sua beleza – a ti, que te despojaste deteu ser.O sem sombraNa estreita senda da verdade, lá está ele, em pé, bem no meio. Ele não projeta uma sombra sequer à sua frente ou atrás de si, nem à sua esquerda nem à sua direita.Sua oração dirige-se tanto para o leste quanto para o oeste, derramando-se em um mar de luz divina.Salve! Ó luz de Deus, ó infinidade sem sombra!28 pentagrama 2/2012

a manifestaçãoda luzA luz A visitaA luz, uma vez manifestada, comanda todas as ale­ Um dia, ao alvorecer, a pura imagem de Deus en­grias do coração, ora como um trovador, ora como trou pela minha porta e despertou-me do indolen­quem serve vinho. te sono da ignorância.Que menestrel é esse que, ao tocar apenas um Seu semblante iluminou a câmara secreta de minhaacorde de sua doce melodia é capaz de entusias­ alma, e sua existência foi-me revelada por sua luzmar e conquistar o coração de centenas de ouvin­ verdadeira.tes devotados? Soltei um suspiro de alívio ao contemplar sua faceQue taberneiro é esse que acerta em cheio e nos pura.deixa inebriados com uma só taça? Ele me disse: “Durante toda a tua vida perseguisteQuando a noite cai, ele entra na mesquita e não fama e honra. Essa busca pelo ser, porém, é puraabandona ninguém que ali esteja de vigília. À noite, quimera e te mantém longe de mim”.quando chega ao mosteiro, transforma a narração E acrescentou: “Quando me olhas frente a frentedo sufi em história fabulosa. Se entra na sala de por apenas um momento‚ isso é mais valioso doaula disfarçado de beberrão, deixa o professor que mil anos de devoção”.confuso e em apuros. Os que o adoram tornam-se Sim, o semblante do bem-amado, esse ornamentoloucos de amor por ele e têm de abandonar o lar. do mundo e da humanidade, apareceu-me semEle deixa que um se transforme em verdadeiro fiel véus, e minha alma ensombreceu-se de vergonhae outro em incrédulo, devastando seu mundo. à lembrança de minha vida perdida e de meus diasTavernas foram glorificadas por seus lábios, e mes­ desperdiçados.quitas cintilam mediante seu semblante. Nele encon­trei tudo o que desejava: a salvação final do ser. Extraído de: O jardim secreto das rosas, de Mahmud ShabistariMeu coração nada sabia sobre ele, pois a luz estavaoculta atrás de centenas de véus de vaidade, arro­gância e ilusões dos sentidos. a manifestação da luz 29

transpondo fronteirasAlgumas observações sobre “(R)evolução 2012”As inúmeras reações à resenha do livro vina e considerasse o próximo como igual a si (R)evolução 2012 – Por que a humanidade mesmo. Fundamentados sobre essa base, tanto está diante de um salto evolutivo, Berlim: microcosmo, como cosmo e macrocosmo estãoScorpio, 2009, motivaram a redação a tecer interligados, formando um todo vivente. As­alguns comentários. sim, fica claro que o fundamento divino para oEmbora o autor do livro, Dieter Broers, dê a desenvolvimento é sempre o mesmo, tanto emimpressão de haver feito uma análise profunda cima como em baixo, tanto no interior comode acontecimentos que eventualmente ocorre­ no exterior, “tanto no céu como na terra”. Esserão no futuro, culminando – segundo ele – em fundamento chama-se vida: do protoplasma2012, recomenda-se certa cautela na leitura e aos seres celestes, do planeta à Via Láctea e dena reflexão sobre o assunto. O autor afasta­ universo a universo. É com alegria que obser­-se bastante do que está em consonância com vamos os cientistas modernos ultrapassar cadaos fatos científicos, demonstrando, assim, uma vez mais suas próprias fronteiras, penetrandofértil imaginação literária. de modo empírico em áreas que não podem ouO conteúdo do livro é especulativo, em sua mal podem ser explicáveis empiricamente.maior parte, e muitos aspectos tratados não sãofundamentados ou confirmados pela ciência A redação é de opinião que é viável um saltoem seu estágio atual, ao contrário do que diz de consciência por meio do qual a humanidadeo autor. Não obstante, certamente há impulsos poderá harmonizar-se melhor com uma revo­e radiações que interpenetram nosso planeta, lução espiritual – e, por meio dos artigos daafetam profundamente a vida humana e in­ revista Pentagrama, deseja apoiar essa mu­citam a humanidade a submeter sua concep­ dança que vem despontando faz décadas. Noção de vida e sua atitude de vida a uma séria entanto, ao mesmo tempo, será ativado o poloreorientação. E são muitos os que afirmam que oposto dessa transformação. Em nossa opinião,disso depende a subsistência do planeta e da as pessoas devem aproximar-se com discerni­humanidade. Melhor ainda seria, contudo, se o mento do conteúdo desse livro, no qual o autorser humano reencontrasse sua base de vida di­ trata dos mais diversos acontecimentos µ30 pentagrama 2/2012

O LIVRO MARAVILHOSONós, que procuramos os sinais dos segredos ocultos, ca, vamos da surpresa à admiração e do assombrosabemos que em todo o universo reinam sistema e profundo à adoração balbuciante, à humildade, àordem, que o universo se desdobra de eternidade religião. Nós, de quem disseram que consideramosem eternidade, segundo leis imperecíveis. Nós, que a razão fria como o mais elevado, sabemos querasgamos pouco a pouco os véus que nos separam nosso saber culmina em convicção profundamentedo inefável, descobrimos o plano por trás de toda religiosa.realização. Nós, que examinamos as relações entre Nós nos curvamos diante da majestade de Deus,macrocosmo e microcosmo, vemos o grandioso equi­ porque, após investigação profunda, a intervençãolíbrio universal entre todas as coisas. Nós, que es­ de Deus se comprova em todos os reinos; porquecalamos os degraus estreitos da escada de Mercúrio, experimentamos a força que impulsiona todas asa fim de elevar-nos, conscientemente, aos mundos coisas, a força sublime que impele nosso planetainvisíveis, vemos as correntes de vida dos reinos da através do espaço, a Luz do Mundo: Cristo.natureza ondular no éter.Nós, que nos aproximamos do grande silêncio, Bibliografia:ouvimos a voz do silêncio. Nós, alunos da EscolaEspiritual moderna, que entramos no templo do Rijckenborgh, J. van. O Confessio da Fraternidade da Rosa­Espírito, compreendemos a glória do pensamentoabstrato. Nós, servidores do fogo, sondamos pro­ cruz, São Paulo: Lectorium Rosicrucianum, 1987, cap. 6fundamente as fontes da capacidade humana. Nóssabemos a que o homem é chamado desde o princí­pio. Nós, colhedores de rosas no jardim de Fohat,vemos, como em um arrebatamento dos sentidos, asenda do desenvolvimento precipitar-se, de horizon­te a horizonte, como um relâmpago.Nós, que aumentamos assim nossa ciência, amplia­mos nosso horizonte, expandimos nossa consciên­cia, carregamos nossas forças com energia dinâmi­ o livro maravilhoso 31

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uma visão diferentee mais profundaQUAL É A VERDADEIRA NATUREZA DA LUZ?P ara Einstein, a luz era o milagre maior. mais profunda e trate da natureza essencial da No entanto, quando em seus cálculos luz, ao invés de observar somente como ela se usou a velocidade da luz de certa ma­ manifesta ou se expressa?neira, ele a limitou. Graças a esse cálculo, o Encontramos um exemplo disso na sabedoriaconceito “luz” foi ligado definitivamente ao hermética, que nos fala da alma e de seus po­conceito “tempo”. deres ilimitados: “Ordena à tua alma que vá àUma experiência recente, feita no acelerador de Índia, e ela já estará lá”.partículas CERN – que aparentemente dava como Mas qual é a verdadeira natureza da luz?resultado uma velocidade maior do que a da luz Em seu livro Catching the light (Capturando apara alguns neutrinos – causou repercussão tão luz), Arthur Zajonc escreve: “Com o decorrergrande que deu o que pensar a muitas pessoas: do tempo, a ciência cortou os ornamentos doafinal, se isso tivesse sido comprovado, as conse­ espírito e criou uma imagem matemática da luzquências virariam o mundo de cabeça para baixo material. Ao fazê-lo, criou, ao mesmo tempo,ao invalidar a Teoria da Relatividade de Einstein. uma nova imagem do ser humano e do cosmo.Seria como um terremoto que abalaria os fun­ Em outros tempos, luz significava ver a Deus”,damentos da Física. Bem, achar que o tempo escreve o autor. “Enquanto o olhar do deus-sole a velocidade da luz possam ser superados Rá abarcava o espaço, a luz espalhava-se de umtalvez seja um pensamento um tanto maluco. canto a outro no universo. […] Toda a criaçãoE assim teve início a competição para alcançar material, portanto, consiste em luz condensada”.e superar essa velocidade – pois quem domina O arquiteto contemporâneo Louis Kahn declarou aa luz também pode reinar sobre o tempo. Se uma jornalista da revista Time: “Pode-se dizer que,existe algo que se movimenta mais rápido do na verdade, nascemos da luz. Creio que foi a luzque a luz, então o que é? Essa é pergunta que que criou toda a matéria. Matéria é luz gasta.” µtodos fazem agora. E principalmente: O que éa luz, exatamente? Bibliografia:Além do paradigma da ciência, não existiriauma visão diferente, muito mais antiga, do Zajonc, A. Catching the Light: The Entwined History of Lightfenômeno da luz, que seja menos absoluta e and Mind (Capturando a luz: a história emaranhada da luz e da mente). Nova Iorque: Oxford University Press, 1995Mark Rothko, Orange, Tan and Purple, 1949“As pessoas que às vezes choram, de tão tocadas aoverem minhas obras, têm, dessa forma, a mesmavivência religiosa que eu mesmo tive, ao pintá-las…” uma visão diferente e mais profunda 33

arranje tempo:deixe entrar a luzA vida, como a conhecemos, é impensável sem o sol, sem luz.Medimos o tempo pela posição do sol, mas não temos tem­po de nos ocupar com a luz. Arranje tempo para escapar dotempo e assim deixar a luz entrar.Desde que o mundo é mundo, o homem a vida – o período de tempo no qual podemos mede o tempo determinando a posição desfrutar nosso lugar ao sol – como um presente da terra em relação ao sol. Chamamos de gratuito. E o que é mais precioso: uma vida curta“dia” o período em que a terra está voltada para ou longa? Na prática, não parece ser muito fácilo sol e “noite” o período em que ela não está apreciar realmente o nosso lugarzinho sob o sol.voltada para ele. O percurso da terra em sua ór­ Muitas vezes, nem temos muito tempo para isso.bita em torno do sol nos traz as estações do ano e A vida se revela como uma sucessão de obriga­o passar dos anos. É a luz do sol que nos desperta ções e realização de expectativas. Não arranja­pela manhã, e sentimo-nos convidados a fechar mos tempo “para fazer coisas bonitas”: elas ficamnovamente os olhos depois que ele se põe. sempre por último. Sempre nos perguntamos seUm teste realizado com algumas pessoas procu­ vivemos somente para trabalhar, ou se tambémrou determinar quais os seus ritmos de acordar e podemos divertir-nos um pouco. Será que nãodormir quando elas não têm informação se é dia notamos nenhuma outra opção interessante? Seráou noite. Esse assim chamado “relógio biológico” que consideramos certas possibilidades impossíveisparece ter um ritmo de 24,5 a 28 horas. Como o por enquanto? Achamos que as sendas luminosassol normalmente nos mantém em um ritmo de são impraticáveis?24 horas, a luz, por assim dizer, estimula a nossanatureza. Por isso, podemos dizer com razão que PEDRA DE ALTAR Já em seu passado longínquo oo homem é um “ser sensível à luz”. Diante do homem tinha consciência de sua relação sagradapapel determinante que o sol desempenha nos com o sol. No monumento megalítico Stonehenge,processos vitais, isso naturalmente não é nenhu­ o sol nascente passa entre as chamadas “pedrasma surpresa. Sem sol, sem luz, a vida na forma do calcanhar”, no dia 21 de junho, para iluminarcomo a conhecemos é impossível. O ponteiro so­ exatamente a pedra do altar, situada no meio dolar das horas é implacável: é como se ele dissesse círculo: no hemisfério norte, nessa data, inicia-se“eu apenas conto as horas alegres”, e por isso não o verão. Ao meio-dia, o sol está em sua maioradmitisse sequer uma nuvenzinha diante do sol. distância do Equador Celeste, no grau zero do signo de Câncer – e, por isso, no ponto mais pró­SEMPRE POR ÚLTIMO A expressão “tempo é luz” ximo dos habitantes dessa região.é válida, portanto, por fazer uma associação. No A esfinge do antigo Egito dirige seu olhar paraentanto, no atual momento de agitação da huma­ o Leste - portanto, para o “Oriente”, onde onidade, esse axioma poético costuma ser substitu­ sol nasce. Assim, está “orientada” literalmenteído pelo prosaico “tempo é dinheiro”, ou por sua para o sol. Durante séculos, as igrejas tambémvariante pessoal: “meu tempo é valioso”. foram construídas com o eixo longitudinal daE o que quer dizer de fato “valioso”? Recebemos cruz na direção Leste-Oeste. Para a consciência34 pentagrama 2/2012

do gnóstico a esfinge simboliza a dualidade de tempo”. Se conseguirmos alcançar nosso obje­ser humano. O corpo de leão, descansando na tivo – e com a própria ajuda dele – o tempo jáareia do deserto, é o aspecto puramente biológi­ se terá tornado supérfluo como veículo. Nossaco do homem, que está intimamente ligada com senda através do tempo é um caminho de ex­a terra de onde saiu. A cabeça humana com o periências que pode conduzir-nos à eternidade.semblante divino indica para o homem sua liga­ Uma possibilidade que frequentemente passação com o divino. despercebida é o caminho de vida que conduz para além do tempo, em direção à eternidade!“ARRANJAR TEMPO” O sol coloca à disposição Por detrás da Esfinge está a Grande Pirâmide.de cada ser humano 24 horas por dia. E não há A Grande Pirâmide é um templo, não paranada que se possa fazer. Então, é o caso de utili­ orações e serviços a Deus, mas um lugar dezarmos o tempo que nos é concedido sem deixar tomada de consciência. Ela é um testemunhoque apareça aquela sensação de “não ter tempo em forma de pedra de que o ser humano podesuficiente”: o jeito é antecipar-nos à ameaça da trilhar uma senda que o levará a unir-se afalta de tempo. Deus. Ou para expressar tudo isso de um jeitoO que fazer então? Nem sequer começar alguma mais forte ainda: que o objetivo da vida huma­coisa? Isso com certeza não funciona, pois o ser na consiste em deixar para trás o que é bioló­humano não sabe o que é sossego. E mesmo que gico para dissolver-se no divino. A chave paraesse impulso para a ação que se agita em nós pu­ esse caminho da ressurreição nos é dada peladesse ser domado, ainda estaríamos sob a pressão Esfinge: atingiremos o objetivo ao dirigir nossoexercida por outras pessoas e muitas circunstân­ olhar para o Oriente, quando ousarmos abrir­cias da vida. Em um relógio mecânico, movido -nos à luz da vida original, que pode clarear asà corda, a rodinha que sempre se movimenta trevas de nossa existência.para cima e para baixo, causando o tique-taque, Se nos aproximarmos dessa luz, nossa orientaçãochama-se “inquietação” em alemão (Unruhe). Ve­ deve ser tal que a pedra do altar, situada no meiojam só: a inquietação é como que um regente do do círculo – isto é, o coração humano no centrotempo! É por isso que se fala, quando o assunto é do microcosmo que o rodeia – seja completamen­despedida do tempo, “entrar na quietude eterna” te iluminada por ele µou no “repouso eterno”. Às vezes, parece que alinguagem mais simples consegue abarcar commuita precisão a essência das coisas que estãomuito além do cotidiano!Recorrendo a um paradoxo, poderíamos dizerque “é preciso arranjar tempo para escapar do arranje tempo: deixe a luz entrar 35

em tudo há luz – reconheça-a em seu próximoO que um dia teve início com a luz única, que é o próprio Deus, foi semeado em todos os sereshumanos e traz calor, razão e reflexão à sua vida. Então, por que não estaria em condição deespalhar, por sobre os seres humanos, milhões de luzes, em uma cidade como Tóquio?Na obra de um artista como Don Relyea, de Dallas, no Texas (figura superior: “… eu escrevosoftware para criar arte”) – de quem mostramos várias criações nesta edição – também se podedizer que ele mostra que é justamente a luz, em cada átomo, em cada homem, que faz surgirvida e possibilita expressão, ligação e diferença. Tudo está interligado por meio da luz – por issoé muito verdadeiro dizer: ame o próximo, pois a luz que está em você também está nele…36 pentagrama 2/2012

NOVA EDIÇÃOREVISTA E CORRIGIDAGideon Jasper Ouseley E naquela hora disse Jesus aos seus discípulos: “Pregai a todo o mundo, dizendo: ‘Esforçai-vos para receber os mistérios da Luz, e para entrardes no reino da Luz, pois agora é o tempo apropriado, e hoje é o dia da salvação. Esforçai-vos, pois, por entrar enquanto soa o chamado, antes que o número de almas que se tornaram perfeitas esteja selado e completo, e a porta seja fechada’”. Quem conhece os textos bíblicos, certamente irá surpreender-seao ler as mesmas histórias sob uma luz, um sabor e uma fluência inusitados. O evangelho dos doze santos Semelhante aos gnósticos do início da era cristã, Gideon Jasper Ouseley sabia que a Verdade poderia ser revelada 2ª edição – março de 2012 ISBN 978-85-62923-13-5 interiormente e que a missão de sua vida seria materializar a mensagem que lhe fora ofertada por inspiração. 312 páginas - R$ 65,00 O evangelho dos doze santos foi publicado na formaCaixa Postal 39 – 13240-970 Jarinu – SP de folhetim no jornal The Lindsey & Licolnshire Star, na décadatel.: (11) 4016-1817 – fax: (11) 4016-3405 de 90 do século XIX e na forma de livro em 1901.http://www.pentagrama.org.br A primeira tradução brasileira foi publicada [email protected] Escola Internacional da Rosacruz Áurea em 1985.

O “não ser” do olho é o espelho límpido no qualDeus vê a si mesmo.Quando essa nova luz é inflamada em nós, um novomundo desabrocha diante de nossos olhos. O que oolho interior vê? Quem vê com o olho interior? É oHomem-Hórus perfeito, divino, a quem os egípciosantigos chamavam “o filho”, que vê dentro de nósseu próprio mundo divino. E nós podemos ser o si-lencioso e iluminado testemunho dele. Além disso,nesse silêncio – e não poderia ser de outro modo –nosso olho irradiará a força-luz transformada. “Eu sou a luz dos olhos, O Espírito que habita a profundeza insondável.” Bhagavad Gita R$ 16,00


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