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Revista Pentagrama 2016-2

Published by Pentagrama Publicações, 2016-11-30 13:25:49

Description: Como uma tempestade impetuosa, o espírito impulsiona cada homem a um despertar gnóstico profundo.

Keywords: tempestade,espirito,gnosis,rosacruz,despertar

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Talvez tenhamos ainda necessidade de Jesus, Boehme, Eckhart, encontram em segundo a qual ele pode seum objeto de devoção, de um espelho nós uma ressonância e se abrem para uma mover, não para fora, mas paraexterior para nos reconhecer em nossa nova vivência de nós mesmos, para um formar um todo completoqualidade de observadores. Para C. G. autorreconhecimento totalmente novo. E em si mesmo? (...) Todas asJung, o fato de situar Deus acima e fora se antes nosso ser residia na consciência separações ‘tu – eu’,‘meu deusdela mesma é próprio de uma perso- mítica ou mágica, então, com base em – teu deus’ etc., significamnalidade que não pode experimentar o uma unidade do ponto do devir consci- fissão de energia. Há apenassentimento de existir senão mediante um ente, o eu desperta devido a sua projeção energia e fissão da energia,objeto. Mas se nossa fome espiritual é um no Tu – e esse é o caminhar indispensável quer dizer, a divisão desta empouco satisfeita e nosso desejo purificado, para chegarmos ao Ser supraconsciente: o fragmentos”.atenuado, então a Consciência por si só Eu Sou. Por identificação, a energiapode, de tempos em tempos, irromper O observador e o observado se fixa, ela se torna matéria,através dos conteúdos de nossa consciên- Krishnamurti abordava esses temas afir- forma. Eu me chamo cristão,cia. Então a “perspectiva da terceira pes- mando que esses dois termos representam muçulmano, budista, ateu.soa” da consciência objetivista cede por a mesma coisa e que a unidade e o amor No entanto, em realidade eu nãoum momento seu lugar à “perspectiva da não podem ser conhecidos objetivamente sou nada disso; de fato, eu sousegunda pessoa” que é a relação mística como objetos. Ele dizia: “Será que o es- a Consciência em si mesma,“eu – Tu”. Nesse caso, os mitos, o esote- pírito não é capaz de ter uma propriedade aquela que é sem forma e,rismo, as palavras de Buda, de Hermes, portanto, sem nome. Essen- 49

cialmente, sou um círculo de consciência Tenho consciência de queaberto e sem forma, o Centro no interior me identifico com certasdo qual se desenrola minha vida pessoal. imagens ou pessoas naPor essa razão, a citação a seguir do Isha Upa- tela e não com outrasnishad não aponta para o exterior, mas parauma consciência diferente, para uma nova Foto-eclipse. Liu Bollin desaparece quase totalmente aoinspiração: “Sabe que a totalidade deste fundo de suas obras de arte camaleônicasmundo inconsistente e agitado é englo-bada pela Consciência mesma, por Deus”.Quando a inteligência fragmentária cedelugar à razão que vê de forma unitária eesta última é de fato nossa maior “sensa-ção”, como diz Espinoza, então o queRamana Maharshi explica torna-se muitoclaro para nós: “Uma placa fotossensível 50 O centro

exposta à luz do sol pode em seguida ain- Assim tornam-se realidade estas palavras partir de uma unidade supe-da fixar impressões? Pode ainda haver algo de Espinoza: “O Espírito tem o poder de rior. E Krishnamurti nos diz:que seja separado de Ti depois que eu tiver restaurar todas as impressões corporais, “Cada problema está aparen-comtemplado Tua luz?” Sob a intensa Luz todas as imagens das coisas como repre- tado a um problema total-da Consciência mesma, nenhuma imagem, sentantes de Deus”. mente diferente, e se resolveisnenhuma experiência pode subsistir. No O que vem antes da reversão um completamente, poucoeixo vertical – o centro onde todos os Depois que acontece a integração de todo importa qual, percebereis quecentros temporários desaparecem – eleva- o conteúdo da consciência por identifica- estais em condição de enfren--se o sol do Centro. Nesse centro, o círculo ção (que é um processo horizontal baseado tar e de solucionar facilmenteaparece como o sol único que derrama em uma ação vertical, que é a dinamização) todos os outros”. A noção deseus raios sobre o mundo das formas e o esse processo pode ser completado com a autorrendição mostra-se entãoretira do campo de visão do olho objeti- identificação com o Um. De acordo com o sob uma luz completamentevista. No livro Fama Fraternitatis, O Chamado conceito de individuação, trata-se, literal- nova.Visto de baixo, ela signi-da Fraternidade da Rosa-Cruz, encontramos mente, do estado de um ser indivisível. fica que o eu se rende ao Um.uma passagem crucial, na qual um prego Para a identificação total, ao dizer sim a No entanto, isso é impossívelé tirado da parede. Podemos ver o prego tudo o que se apresenta a nossa consciên- devido ao fato de que somentecomo o ponto central no qual nossa vida cia – fase de integração –, já não há des- os semelhantes podem se co-psíquica está suspensa, ou seja, nosso eu perdício de energia e nossa vida consciente nhecer. O Eu, como ponto va-ou a consciência-eu. Uma vez que esse prego torna-se mais transparente, de tal modo zio de consciência, torna vazioé retirado, levando consigo uma parte da que a própria luz da pura consciência de o conceito de autorrendição.parede, desvela-se o espaço imenso onde vacuidade pode facilmente atravessá-la. A verdadeira autorrendição éreside nossa verdadeira personalidade, o Aqui se aplica o discurso de Krishnamurti, nossa rendição ao Ser único,homem-alma-espírito. O prego, o eu, é, no qual ele afirma que a total negação é ao eixo vertical do Centro. Nãoportanto, um ponto de reversão – desnudo a mais elevada afirmação, para nos fazer é necessário nos afligirmos see esvaziado de toda identificação com os compreender que reconhecer que “somos estivermos fora do nosso eixosentimentos, as emoções, vivências e pen- todos os conteúdos de nossa consciência” e precisarmos ratificar nossasamentos. Reconheço a mim mesmo como é o prelúdio de uma reversão completa. É posição. Como seres humanos,centro unitário de consciência, como precisamente na identificação total que se como consciências humanas,reflexo do Único. encontra a possibilidade de uma negação já estamos fora do Centro, nãoEssa reversão não é a ruptura do eu, pois absoluta: eu não sou os conteúdos de apenas de vez em quando,o Eu já foi fragmentado em inúmeros eus. minha consciência. Essa negação conduz à mas permanentemente, poisNós não somos o Eu. Esvaziado e reduzido compreensão de que eu não sou seus con- esse é simplesmente nossoa um ponto de não-ser, o prego-eu abre teúdos, mas sim a própria consciência. modo de ser, de ser conscien-o acesso a dois mundos ao formar o eixo O estado de vacuidade do “eu”, que reduz tes. Agarrar-se à luz, subir ocentral que conduz ao Centro. Citemos J. a consciência a ser apenas um ponto sem eixo vertical representado pelavan Rijckenborgh: “O eu, a consciência dimensão e sem forma, é espontaneamen- escada de Jacó é o que cha-da personalidade, é a manifestação visível te aplaudido como um “estado de ser sem mamos “seguir o caminho”.da Consciência universal, assim como o eu”. No entanto, o eu jamais desaparecerá Não entendemos com issosol físico é a manifestação visível do Sol como princípio da unidade-de-consciên- que trilharemos o caminhoespiritual”. cia, como imagem do Um. Purificado em direção ao Um, mas que oO eu, por mais que esteja livre de tudo no Fogo do Um, o estado de ausência de Um vai conosco. Porque nãoa que se justapõe, é o eixo central pelo eu não significa que se esteja “sem eu”, há um caminho que conduzqual – como por um buraquinho – a Luz porém sem identificação com ele. à unidade: a unidade é odo Único entra em nós. Ele abre simul- Gustav Meyrink escreve: “Desvencilhai-vos caminho. Essa “subida para ataneamente um caminho para cima e de tudo que é vossa corporeidade, então luz” em várias etapas consisteum caminho para baixo: para a Fonte vosso eu, uma vez desnudo, começará a em uma constante e incessanteluminosa, visando a união mística, e para respirar como um espírito puro”. Esse renovação da consciência – enossa realidade, então observável como o espírito, essa autoconsciência, vê do alto, a não um expandir da cons-surgimento de uma nova Luz. ciência. Essa deve ter sido a 51

vivência de de R.M. Rilke, pois ele escreve: pensar. o mundus imaginalis, o mundo“Vivo minha vida em círculos crescentes”. Em resumo, optamos por tudo em que divino das ideias de que falaEle não está falando de um único círculo nos reconhecemos como pessoas. Deste Platão. Essa restauração dode consciência que se expande, mas sim lado desse horizonte, estabelecemos me- homem trinitário é, desde osde uma hierarquia qualitativa em inú- tas talvez mais elevadas, mas um caminho tempos mais antigos, o alvomeras etapas de renovação. É assim que a válido a partir de baixo não existe. da autêntica espiritualidade.autoconsciência se renova até se tornar a Em sentido gnóstico, conhecer não é estar Assim lemos no Bhagavad-consciência do Ser. O transcendente Um, consciente da unidade: é ser a unidade. Gita: “Eu sou o Espírito que,o verdadeiro núcleo de nossa consciência A gnosis não é como o olho que olha o nas profundezas insondáveisde ser, torna-se cada vez mais imanente, exterior; ela é o Olho que tudo contém. da Alma, habita em todo ser.interior e real! É o círculo da consciência, do Centro que (...) De todas as forças, EuO que está acima de nós já não precisa se engloba todos os centros. Ramana Mahar- sou a Força original; de tudoconsiderado objeto de fé. shi diz: “Vós sois o Olho do olho. “Vós que é, Eu sou a fonte. PorqueNova alma sois o que não pode ser visto pelo olho,Consciência é visão consciente, simboli- mas que vê a própria visão. (...) O Ser é ozada pelo olho que “vê” o pensamento, Olho ilimitado”.o sentimento, a vontade, e observa. O Mestre Eckhart o exprime assim: “O Olhocírculo ou anel mais exterior e maior no qual vejo Deus é o mesmo no qualengloba em si todas essas funções como Deus me vê. (...) Um único olho, umaOlho universal único. Ramana Maharshi única visão, um único amor. (...) Deus eexplica: “O Um é o Olho por detrás do eu somos um no Conhecimento”. Mesmoolho do pensar e do sentir. Ele mesmo é o que compreendamos essas palavras (comespaço da Consciência no interior da qual a consciência objetivista), não significaaparece o espaço do pensamento. (...) No que entendemos seu conteúdo (comoespaço do poder do pensamento purifi- autoconsciência).Trata-se do elevadocado, o Eu irradia a luz proveniente de si nível de energia da nova consciência, omesmo”. qual a consciência objetivista não alcança,Esse Olho irradiante, essa nova animação ao qual não sem razão nos referimosproveniente do Centro é a Alma-Eu. É o como a um Fogo. Hermes diz: “Sei que ésespaço no interior do qual toda a vida imperecível, Olho eterno. O Olho do fogoda consciência se desenrola. Para poder que arde eternamente”. E Jacob Boehme:penetrar e transformar nossa existência “A Alma é um olho de fogo ardente quepessoal, o Olho cria para si um veículo: representa o primeiro princípio. Se o olhoo corpo da alma. Conforme escreve recebe a Luz, é porque a Alma nasceu noCatharose de Petri: “É somente com o Fogo”.nascimento do corpo da alma que co- O Espírito-Fogo é transcendente. Porquemeça o verdadeiro devir humano, com nele todos os opostos são eliminados, aa verdadeira manifestação do poder do consciência não pode ser uma posse pes-pensamento conforme intencionado por soal, nem mesmo uma qualidade pessoal.Deus”. É um fogo que arde no Conhecimento.Toda nossa corporeidade, desde o corpo Receber e realizarpsíquico até a consciência da forma, é Somente por meio da Alma o Fogo doapenas resistência ao novo. Por essa razão Espírito pode continuar a transformar– e por mais incrível que possa parecer uma pessoa a fim de conduzi-la à rea-– preferimos o que nos é familiar e tudo lização como Homem-Ideia único. É oque nos identifica com nosso passado: processo da transfiguração. A unidadenossas dores, nossos medos, nossos dese- Espírito, Alma e pessoa representa o Ho-jos, nosso sofrimento, nossas formas de mem trinitário apto a receber e a realizar 52 O centro

Menina síria diante de um cordão de policiais turcos em Edirne. © 2015, ANA-MPAEu sou tudo; sem mim, nada é. Em todas sentação mental. Essas ideias são forças Ideias. E podemos concluiras coisas Eu sou somente Eu-Sou”. Com criadoras renovadoras cujas radiações, com Krishnamurti: “Quandoreferência à nova pessoa, lemos no Salmo qual uma Luz única, trespassam todas as amais – o que significa:104: “Deus meu, como tu és magnifi- coisas e as unem em uma só. As Ideias são quando vos doais totalmente,cente: sobrevestido de glória e majestade, essências intemporais refletidas em uma absolutamente a qualquercoberto de luz como de um manto. consciência-fogo. A Ideia divina pensa em coisa – não há relação. EmTu estendes o céu como uma cortina”. nós e é por isso que devemos nos harmo- semelhante caso, não há umTrata-se da veste da Alma, poeticamente nizar conforme convém. No Espírito, na e o outro, há uma unidadesimbolizada pela Rosa que, desabro- Inteligência, a realidade divina reflete-se perfeita”.chada, preenche o microcosmo inteiro. como Amor, única coesão vivente. NossaO Espírito é Fogo e é a razão pela qual consciência objetivista, que opera ema consciência das ideias divinas ígneas polaridades opostas nas relações e relaci-refletindo-se no Espírito não é uma repre- onamentos, não pode penetrar até essas 53

Conferências em HarvardSeis propostas para o próximo milênio gostaríamos de comentar a primeira. Nesta, ele defen-Uma fina rede de raios de luz e a busca por uma nova de a leveza como remédiolinguagem. contra o peso da vida. Mas asComo se pode exprimir uma ideia de grande leve- demais palestras têm o mesmoza, como seria a linguagem de seu portador? Uma “peso”.linguagem inspiradora, que leva corações a cantar e Nesse trabalho, Calvino con-consegue entusiasmar cabeças? Traços dessa busca são trapõe a leveza à gravidade eencontrados em Ítalo Calvino, autor de A trilha dos ni- empreende uma tentativa denhos de aranha, Palomar, As cosmicômicas e de As cida- definir o que ele provou, comodes invisíveis, certamente sua obra mais conhecida escritor, em seus romances e contos. Em 40 anos comoÍtalo Calvino, nascido em Cuba em 1923, escreveu em 1985 Seis escritor, ele tentou, acimapropostas para o próximo milênio, uma série de palestras que de tudo, remover o peso dapretendia dar na Universidade de Harvard. Pouco antes da vi- construção da narrativa e daagem, ele faleceu em Siena – e havia concluído apenas cinco das linguagem e considera a levezaseis palestras. Sua filha, Esther Calvino, decidiu publicar posterior- um valor, não um defeito. Elemente o legado literário do pai. procura tirar peso de corposAfirma-se que Calvino costumava refugiar-se em histórias celestes, pessoas e cidades,fantásticas tentando, desse modo, escapar da realidade. Tam- mas, sobretudo, da estru-bém se atribui a ele uma linguagem muito eficiente e clara. No tura de suas histórias e suaentanto, suas histórias de forma alguma pertencem a um mundo linguagem. O século no qualvisionário. De fato, elas são como estruturas de trama muito fina ele atuou foi marcado peloque dão asas à fantasia. Suas palestras sobre literatura mostram peso no material, na revoluçãoque ele próprio tinha outra noção delas e definia sua atividade industrial, no pensamento, nacomo uma contínua remoção de peso. arte. “Quando comecei a escrever, oLeveza imperativo categórico de todoÀs vésperas do novo milênio, Calvino tenta, nessas conferências, escritor jovem era o dever dediscutir o futuro do livro e contrapõe a Literatura em si ao período representar sua própria época.industrial pós-moderno. Portanto, com a maior boaO “livro” subsistirá em sua forma atual e, em caso afirmativo, intenção, tentei compreender aquais as características e valores a que a Literatura deverá aspirar? força impiedosa que comandaNessas palestras, ele procura símbolos e imagens que possam nos o processo histórico de nossoconduzir ao novo milênio. século em seus aspectos indi-Calvino sonha com uma Literatura que seja leve, rápida, exata, viduais e coletivos. Procuravaclara e universal. São estes os títulos das cinco palestras das quais por uma sintonia entre o agitado espetáculo do mundo que se afigura alternadamente dramático e grotesco e minha54 ILnivhrousd

livroItalo Calvinoinclinação pelo burlesco e espaço como Perseu. Com isso ciência. Estamos no ano de mundo que ele via diante de siaventureiro que me impelia a não estou falando de uma fuga 1985, computadores estão ajustava-se a uma linha que jáescrever. Logo tomei consciên- para o sonho ou o irracional. no começo e as descobertas é muito antiga na história dacia de que entre os fatos da Acredito que devo mudar meu da Física Quântica certamente poesia. Com isso, ele refere-sevida, que deviam ser minha princípio, ver o mundo com ainda não são algo de domínio ao poema didático De rerummatéria prima, e a movimen- outros olhos, outra lógica, outro público. Mesmo assim, Cal- natura (A natureza das coisas)tação rápida e precisa que eu método de conhecimento e vino via nessa evolução uma de Titus Lucrecius Carus (Lucré-desejava para minha escrita verificação. Acredito que as prova de sua sonhada leveza cio), a primeira grande obraexistia um abismo cuja supe- imagens de leveza pelas quais – principalmente na desinte- poética na qual o conhecimen-ração me exigia cada vez mais procuro não podem empali- gração das estruturas. E uma to do mundo vem a tornar-seforça. Talvez só então eu tenha decer diante da realidade do segunda revolução industrial a desagregação de sua formadescoberto a lerdeza, a inércia, presente e do futuro...” viria a distinguir-se significa- compacta e a percepção doa opacidade dos atributos do tivamente da primeira com infinitamente pequeno, móvelmundo que imediatamente Lucrécio e Ovídio seu maquinário esmagador e e leve. No ano 50 a. C. Lucré-se prendem também à escrita Quando parece que a Literatura imagens de trituração, ou seja, cio já via na linguagem umaquando não se encontra um não pode sempre protegê-lo de como fluxo de informação na metáfora para a substânciacaminho para escapar a elas.” nela perseguir apenas sonhos, forma de impulsos eletrônicos sutil do mundo, um sistema deCalvino tinha a sensação Calvino procura respostas na sem peso. A concepção de sinais que está em constantede que o mundo ao redor opetrificava e que essa “carga”parecia afetar cada aspec-to da vida. Como se nadanem ninguém escapasse doolhar petrificante da Medusa.Apenas Perseu que, com suassandálias aladas, se move noque há de mais leve: vento enuvens. Existe uma alegoriaentre o escritor e o mundo,mas aí também se abriga umperigo, de acordo com Calvino.Com os mitos não se pode terpressa. É preciso assimilá-loslentamente e já não tentar atri-buir-lhes um significado, pois alição está no âmago do mito.“Sempre que o reino dohumano me parece condena-do à gravidade, eu penso quedeveria sair voando para outro 55

movimento. Calvino refere-se impulsos imateriais ou mensa- isso, até o próprio significado E não vamos esquecer que essetambém às Metamorfoses gens que ele denomina spiriti parece fugidio. coche é puxado por um teamde Ovídio, escritor versado – espíritos. Em Cavalcanti, o Uma sépala, uma corola e um of litle atomies, uma “parelhana transformação de tudo o peso da matéria dissolve-se espinho de pequenos átomos” – umque é ligado à forma – mas pelo fato de que os materiais Em uma trivial manhã de detalhe determinante peloincluindo os frágeis invólucros que compõem a imagem do verão – qual o sonho da rainha Mabdas partículas indivisíveis. Ele homem podem ser muitos e Uma tacinha de orvalho – uma (uma sílfide) é colocado naadmira a linguagem empre- são cambiáveis. Em sua poesia abelhinha ou duas – situação de fundir o atomismogada por Ovídio na descrição tudo se movimenta tão rápido Uma rajada de vento – um de Lucrécio, o neoplatonismodas transformações. Tanto em que até as palavras escapam sussurro na ramagem – da Renascença e o folcloreLucrécio como em Ovídio, ele do peso. Calvino mostra-nos o E sou uma rosa! celta.percebe uma leveza baseada fato de que o mundo consisteem uma Filosofia e uma Ciên- em átomos sem peso e que Romeu e Julieta A ênfase sem peso da qual falacia: em Lucrécio é a doutrina não poderíamos apreciar a le- Assim como Dickinson, tam- Calvino volta a florescer nado filósofo grego Epicuro e, veza da linguagem sem atribuir bém Shakespeare dá leveza à época de Cervantes e Shakes-em Ovídio, é o ensinamento de valor à linguagem com peso. linguagem e faz que os even- peare. Essa época conhece asPitágoras. Para dar ainda mais tos “dancem” em uma rede de correntes de força etérica queforça à sua busca, ele refe- Shakespeare e Emily palavras destituídas de peso. ligam o macro ao microcosmore-se a Cavalcanti, chamando Dickinson Por exemplo, em Romeu e descendo do firmamento neo-nossa atenção para a seguinte Na história da Literatura, Julieta, o momento em que platônico até os espíritos dosimagem: delineiam-se duas tendên- Mercúrio surge no palco e metais que se transformam“Se tivesse de escolher uma cias: uma é a dos escritores diz: You are a lover; borrow nos cadinhos dos alquimistas.imagem auspiciosa para a que tornam a linguagem Cupid’s wings/ and soar with Nesses bastidores culturais deentrada do novo milênio, um elemento sem peso, que them above a common bound. Shakespeare surgem muitosminha opção seria esta: o salto flutua acima das coisas como (Estás apaixonado! Pede em- exemplos de fantasia dasrápido e fluido do filósofo uma nuvem, como matéria prestadas as asas de Cupido e forças naturais.poeta que se eleva acima da muito sutil – ou melhor, como sobe com elas além dos limites Assim como a melancolia é alentidão do mundo e, com campo de impulsos magnéti- comuns.). Verbos como to tristeza que se tornou leve, oisso, prova que sua seriedade cos. A outra linha tende a dance, to soar, to prick (dançar, humor é o cômico que perdeucontém o segredo da leveza transmitir justamente o peso voar, perfurar) mostram que seu peso corpóreo. O próprioenquanto aquilo que é tido por da linguagem, a densidade e Shakespeare não faz Mercúrio Calvino chega a afirmar quemuitos como a vitalidade da a firmeza das coisas, corpos e dar uma comprovação filosófi- Shakespeare descreve asépoca – barulhenta, agressiva, sentimentos. Cavalcanti busca ca, ao contrário do que conta emoções como um véu deameaçadora – pertence ao a leveza e Dante pode ser a história de um sonho: partículas diminutas de estadosreino da morte como um ce- considerado como represen- de ânimo e sentimentos, umamitério para automóveis velhos tante da segunda tendência. Seu coche é de nuvem de átomos como tudoenferrujados.” Ao lado de Cavalcanti, Calvino asas de gafanhoto, o que, enfim, constitui a multi-Com essa imagem ele des- coloca Shakespeare e Cyrano Sua rédea da plicidade das coisas.creve a poesia do trovador de Bergerac. Também se refere mais fina teia de aranha.florentino do Dolce stil novo, a Emily Dickinson para ilustrar Seus arreios de Buscadores da luz em buscaGuido Cavalcanti (1255-1300), sua busca por leveza. Dickin- transparentes raios de luar, de uma nova linguagemo poeta da leveza. Em suas son torna a linguagem tão leve De osso de grilo é Ao final da palestra, Calvinopoesias, as dramatis personae que o essencial parece mera- o cabo de seu chicote, parece estar em vias de cairsão menos figuras humanas mente acompanhá-la, como O rebenque, fios de em confusão: ele mesmo dizdo que suspiros, raios de luz, que surgindo em uma rede teias de aranha de isso. Teria ele entrelaçado fiosimagens óticas e, sobretudo, de palavras sem peso. Com fim de verão... demais em um mesmo novelo? 56 ILnivhroud

E ele se pergunta qual é o vras para aquilo que não tem espera ser libertada de todasfio que vai conduzi-lo para linguagem. E esse é o anseio, as estruturas, condicionamen-a função da Literatura que a busca que contribui para tos e firmes convicções.deve ter uma função existen- “desonerar” a linguagem.cial. E dá então uma segunda Calvino oferece-nos as pedras Já nos encontramos há algumpalestra, na qual liga as demais de construção da nova lin- tempo no novo milênio apon-entre si e também repete mais guagem, mas não são pedras tado por Calvino; a desmateri-algumas vezes o núcleo da maciças, são antes sinais muito alização já se implantou. Estaprimeira. sutis. Portanto, também não não continuará sendo a época“Percebo que esta conferên- devemos continuar falando da cristalização e da compli-cia, que se originou das de pedras de construção, não cação, que já não devem ficarcorrelações invisíveis, ramifi- temos de construir a nova aderidas a nossas palavras ecou-se em diversas direções linguagem, agora temos de re- ideias, acrescentando-lhes ume ameaça dispersar-se. Mas mover peso das palavras. Essa peso inútil. E, para fugir dotodos os temas de que tratei “nova” linguagem não pode toque e do olhar petrificantehoje e também na palestra ser tecida, ela só pode ser sobre as coisas – a petrificaçãoanterior condensam-se na composta por palavras aladas. da Medusa – podemos ser-ideia de que são regidos por vir-nos da imagem de Perseu.um deus olímpico ao qual Os pensamentos talvez se A doutrina gnóstica é semdedico especial reverência: por façam compreender mais em peso, a linguagem da Luz tam-Hermes-Mercúrio, o deus da momentos nos quais podemos bém. Somente com um saltocomunicação e da difusão que deixar a linguagem de lado, ousado poderemos empregartambém é tido como criador no silêncio ativo que compar- a linguagem de Mercúrio: umada escrita com o nome de tilhamos uns com os outros. linguagem que dança e flutua.Thoth. E ainda, como afirma Também para Calvino aquilo Palavras aladas já existem,C. G. Jung em seus estudos, que não se deixa prender em não é preciso construir “novacomo ‘espírito de Mercúrio’, linguagem é o bem supre- linguagem”. Certamenterepresenta o princípio da indi- mo para descrever alguma podemos dar-lhe mais levezaviduação.” coisa. Também é nossa missão ao prendê-las à rede da Luz. procurar por uma linguagem Assim como nós também jáParece estar claro que Ítalo que dê expressão àquilo que estamos alados, mas aindaCalvino era um buscador da a leveza “carrega” em si. Aí temos de desembaraçar-nos deLuz. Todos os seus romances está oculta a chave. E prova- todo peso. Deixemos as pala-e contos dão sinais disso, mas velmente está invertida, e por vras nos precederem tecendoem nenhum deles ele fala de isso é preciso tornar nossas uma urdidura muito fina demodo tão significativo de sua palavras tão leves, a ponto de raios luminosos aos quais sóbusca como nessas palestras. poderem ser portadas pela precisamos seguir.Na última delas ele afirma que, rede tecida de luz. Não é ver-na realidade, procura por uma dade que nossas palavras fre-obra que se produz fora do quentemente têm a tendênciacontexto do self (si-mesmo), a agarrar-se a representaçõesfora do campo de visão limi- mentais e estruturas antigas?tado de um “eu” individual. Já não se trata de ver se elasNão se trata de fazer ressoar “ainda pesam” o suficiente euma voz para os outros “eus”, se ainda são compreendidas namas de direcionar as pala- íntegra. A nova linguagem só 57

Às vezes temos a impressão de que já foram ditas palavras demais.Muitas delas são lindas, mas outras são insignificantes ou sem sentido.São palavras vazias, que não carregam nada além de um imenso vaziointerior. Então, por que não silenciamos? Por que não paramos de afirmar,sem necessidade, tantas opiniões e pontos de vista, em todas as línguas? 58 A língua esquecida

A língua esquecidaPercebemos muito bem o quan- Como aconteceu com todas as palavras, ainda vibra, como um chama- to a linguagem ficou profana essas também se distanciaram da língua do silencioso, para quem sabe e banal, reduzida a falatórios, original, da linguagem esquecida dos mi- se aquietar por um instante fofocas e discussões que, na stérios. A língua sagrada exprime muito e sente que sua alma é capaz maior parte do tempo, se ba- mais do que aquilo que somos capazes de de escutar e compreender. Elaseiam em imagens fugazes do momento, imaginar e esperar! Ela se tornou incom- sempre pode ser ouvida noassuntos que atraem apenas nossa atenção preensível para os homens atuais. Perde- plano de fundo de todos osimediata. Muitas vezes as palavras são a mos totalmente a capacidade de escutá-la. discursos.expressão instintiva de desequilíbrios Segundo a tradição evocada por H.P. Existe um nome divino queemocionais pessoais, dependendo se são Blavatsky na Doutrina Secreta, essa língua não pode ser representadopronunciadas em tom meloso ou agres- sagrada é o senzar, a língua secreta dos sa- por nenhuma linguagemsivo. Temos toda razão quando desconfia- cerdotes, por meio da qual as palavras dos humana: é o “Fiat” criadormos da violência verbal, pois ela é, acima seres divinos foram proferidas aos Filhos (“Faça-se!”), o Amém (“Quede tudo, irreal e falsa, pois o Som foi da Luz na Ásia central. E houve época em assim seja!”), proferido noprofanado e nivelado por baixo. que ela era conhecida pelos iniciados de princípio dos tempos. É aPor outro lado, empregamos a lingua- todas as nações (...), que a receberam dos fórmula sagrada que constituigem da lógica, uma linguagem sóbria e sábios e dos filhos divinos da terceira, se- a matriz de tudo o que é. Ésensata, para enumerar, descrever, clas- gunda e primeira raças. É essa linguagem o som primordial que ressoasificar, explicar, fornecer milhares de que nos reconecta diretamente à essência por todo o Universo. Quem oinformações, eliminando cuidadosamente da Criação. escuta outra vez torna-se, aotudo o que possa provocar emoções e Ela não fala de algo qualquer. Ela fala mesmo tempo, mensageiro esentimentos. É a linguagem rasa da objeti- diretamente da fonte e exerce sobre nós irradiador da Palavra reden-vidade fria, que limita tudo ao nível dos uma força capaz de gerar algo em nos- tora, esperada durante longofenômenos e acontecimentos; ela pode so interior. Uma linguagem como essa tempo por tanta gente.ser memorizada facilmente e reconsti- toca o nosso coração para muito alémtuída sem dificuldade, de forma mais ou da percepção superficial. Sentimos suamenos adequada. A aridez de seu voca- origem remota, que ultrapassa todos osbulário impede que ela toque o coração. nossos limites. No entanto, ela é universalApesar de sua aparência séria e impressi- e abrange todas as línguas existentes.onante, ela também carece fundamental- Por trás dos falatórios que remetem amente de sentido. confusão babilônica, a linguagem original 59

60 O dragão

símboloO dragãoTanto na mitologia grega como nos textos alquímicos do Oriente e do Ocidente, o dragão é um símbolo muito prestigiado. Um dos mais famosos mitos da Europa descreve o combate de São Jorge com o dragão para con- quistar a bela princesa (a alma), libertando-a das garras do animal, ou seja, da vida inferior. Na linguagem do Apocalipse, é Miguel (Micael) quemsupera a força do dragão. O dragão ou a serpente representam, ao mesmo tempo, asforças instintivas da vida e a consciência espiritual superior, conquistada com basenuma indispensável transformação. Primeiro, a lenda apresenta o Leviatã – monstromarinho mítico – e também a hidra com suas muitas cabeças como algo muito ame-açador e perigoso. O herói, chamado de Marduque, São Jorge, Siegfried ou Hércules,precisa vencer esse perigo com a espada do Espírito.Na verdade, nesse primeiro estágio, o mundo é sentido como algo ameaçador e pe-rigoso. Mas, quando acontece o combate, podemos visualizar que o dragão tem trêspares de asas: as asas do corpo, do coração (ou da alma) e as asas da cabeça (ou doEspírito). Nesse estágio, o dragão passa a simbolizar o corpo que, depois de ter al-cançado a unidade harmoniosa com a alma e o Espírito, pode se abrir e se elevar paramuito além das profundezas do mundo material.Na alquimia, o dragão representa Mercúrio – por isso é rápido e ambivalente. Logo deinício, ele se apresenta sob a forma de um réptil rastejante que precisa ser libertado,como um espírito aprisionado em uma garrafa. É a matéria prima, a substância original,a partir da qual tudo é composto e que vai ser transmutada durante o processo alquí-mico. Então, o dragão negro se transforma em dragão de ouro e é libertado de seucativeiro no espaço-tempo.Além do dragão ou réptil, há outra abordagem, proveniente do simbolismo gnósticoe hermético: ouroboros. Esse símbolo, proveniente das tradições do antigo Egito e daantiga Grécia, sempre é representado por uma serpente engolindo sua própria cauda,pois ouroboros significa “aquele que come sua cauda”. Ele evoca o círculo infinito doeterno retorno.Em suas imagens mais antigas, ele simboliza o caos sem forma que envolve o mundoorganizado: o Egito antigo era considerado, na época, o país no qual reinava a ordem,com sua civilização que tinha o objetivo de preservar o Universo – assim, como essacivilização guardava e protegia a ordem eterna, o Egito estava isento e podia emergirdo caos.Para os gnósticos, ouroboros reflete a unidade que existe entre todas as coisas, tantoespirituais como materiais. Sua essência jamais desaparece: ela morre e renasce eterna-mente sob formas sempre novas. O Evangelho da Pistis Sophia descreve “o disco solarcomo uma serpente duodécupla com a cauda na boca“. 61

62 O mestre do dragão tríplice de Bressanone

O mestre do dragão tríplicede BressanoneOque é representado nessa história punhando a lança. Essa Força é caracteri- Em uma pequena é o ser humano em seu esforço zada pela doação e partilha. O Amor, que praça ao lado da para superar seu ego natural é a fonte de vida, luta contra o egoísmo grande Catedral de tríplice. Os três dragões – ou insaciável do ego natural tríplice. Não Bressanone (na Itália),apenas um – aparecem com frequência estamos falando do amor que envolve eleva-se a estátuaem mitos e contos sob a forma de um um e rejeita o outro: esse tipo de amor de bronze, discreta emonstro guloso e ameaçador que cospe não passa de uma faceta do ego e po- delicada, de um homemfogo pela boca. demos demonstrar facilmente que ele empunhando uma lançaEm sua busca por felicidade, o ego na- é, acima de tudo, interesseiro. Ora, essa com as duas mãos,tural tríplice – pensar, querer e sentir –, luta só pode acontecer quando temos o com a qual perfura umchamado simplesmente de “ego” ou poder do amor desinteressado: ela não é dos três dragões que“eu”, é como o fogo do dragão, que nun- um combate contra os outros ou contra estão sob seus pés.ca se extingue. É uma fome insaciável que aqueles que pensam de maneira diferente, Há séculos, e de diver-o homem possui no sangue: não há nele mas, acima de tudo, é uma luta contra sas maneiras, tenta-selugar algum em que essa fome não possa nós mesmos. transmitir o significadoser encontrada, pois o sangue circula con- dessa imagemtinuamente por todo o corpo, irrigando Seria ridículo admitir, ainda hoje, que a tradicional.assim cada uma de suas células. Terra é o centro do universo, pois a ideiaEsse mecanismo é simbolizado na estátua de um sistema geocêntrico tornou-sepela água que jorra da garganta do dragão completamente obsoleta. No entanto, oe cai em um tanque, para ser reapro- pensamento egocêntrico ainda está longeveitada ininterruptamente. Esse ciclo e de ser ultrapassado, embora seja total-essa fome nunca satisfeita já causaram mente irracional, uma vez que o ego nãoimensos sofrimentos e conflitos aos seres passa de uma parte muito limitada do serhumanos. Afinal, para nutrir esse aspecto humano, o qual não deveria, com todapresente em nós mesmos, precisamos certeza, atribuir a si mesmo um papeldo alimento que criamos individual e central.coletivamente com nossas polarizações, Existe no sistema humano uma amplitudeinimizades e discórdias, acompanhado que domina o ego, ou falso eu. Essa di-do sentimento de separação relacionado a mensão de grandeza é a Alma, o homemisso tudo. Uma cultura inteira foi desen- verdadeiro, imortal, eterno. É a respeitovolvida com base nessa forma de pensar, dessa força, dessa realidade que se en-querer e sentir. contra em nosso próprio coração, que seMas existe também uma Força de Amor, diz: “Aquele que é, que foi e que virá”.representada pelo homem que está em- Esse núcleo presente no homem recebe 63

diversos nomes, como pedra filosofal, joia O mestre do dragão tríplice de Bressanonede lótus, pérola de valor inestimável, lótusbranco e átomo-centelha do Espírito. É oúltimo vestígio “Daquele que é, que foi eque virá”.Essa expressão, bem como várias outras,se refere a determinado nível de sensibi-lidade com relação à Gnosis, ao encontrocom ela. A partir desse encontro, o serhumano entrega-se a ela de maneira inte-ligente e concreta. Só então pode receberem seu sangue a força libertadora que vaise disseminando por todas as partes docorpo para expulsar os pequenos dragões.O rosto da estátua não demonstra agres-sividade nem está crispado pelo nervo-sismo, por mais que o homem estejaabatendo os dragões. Pelo contrário: eletem uma expressão doce, serena, umolhar concentrado, como se entre ele eos dragões tivesse se estabelecido certacooperação.Mas essa cooperação tem uma con-dição: exige que o ser humano faça umaescolha. A Luz precisa ser ardentementedesejada. O dragão tríplice precisa teradquirido a convicção de que sua existên-cia é miserável, ter reconhecido a Forçada Luz, do Amor, e ter aceitado de formavoluntária e consciente que sua fomeinsaciável foi finalmente apaziguada.Portanto, a Luz lhe propõe um cami-nho, um processo de libertação que trazconsequências inimagináveis: poderíamosdizer muito a respeito disso! Estas sãoapenas algumas das reflexões que nosvieram à mente, ao observar a estátua deBressanone. 64

A revista Pentagrama é publicada Diagramação Responsável pela Edição Brasileira Lectorium Rosicrucianumquatro vezes por ano em alemão, inglês, Studio Ivar Hamelink Adriana Ponte Sede no Brasilespanhol, francês, húngaro, holandês, Rua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo - SPportuguês, búlgaro, finlandês, grego, Secretaria Coordenação, tradução e revisão Tel. & fax: (11) 3208-8682italiano, polonês, russo, eslovaco, sueco e Kees Bode, Anneke Stokman - Griever Adriana Ponte, Rossana Cilento, www.rosacruzaurea.org.brtcheco. Amana da Matta, Carlos Gomes, José [email protected] Redação de Jesus, Marcia Moraes, MarianaEdição Pentagram Limoeiro, Marlene Tuacek, Mercês Sede em PortugalRozekruis Pers Maartensdijkseweg 1 Rocha, Rafael Albert, Rafaela Furlan, Praça Anónio Sardinha, 3A (Penha de França) NL-3723 MC Bilthoven, Países Baixos Ellika Trindade, Fernando Leite, Lino 1170-022 LisboaRedação Final e-mail: [email protected] Meyer, Luis Alfredo Pinheiro, Marcílio [email protected] Huijs Mendonça e Urs Schmid [email protected] Edição brasileiraRedação Pentagrama Publicações Diagramação, capa e interior © Stichting Rozekruis PersKees Bode, Wendelijn van den Brul, www.pentagrama.org.br Nina Rimat Proibida qualquer reprodução semArwen Gerrits, Hugo van Hooreweeghe, Junior Damasceno autorização prévia por escritoPeter Huijs, Frans Spakman, Anneke Publicação digitalStokman-Griever, Lex van den Brul Acesso gratuito ISSN 1677-2253

COLABORAÇÕES• A árvore e a serpente• O mestre dragão trícplice de Bressanone• A língua esquecida• O barquinho de papel• A sabedoria de Waitaha• O triângulo flamejante• Entrevista – Timothy FrekeSEÇÕES• Livro: Conferências em Harvard - Italo Calvino• Reportagem: O poder do verbo em Atenas Crônica:• Acrescentar traços luminosos• Símbolo: O dragãoENSAIO• O centro


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