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Revista Pentagrama 2010-4

Published by Pentagrama Publicações, 2016-06-13 21:19:22

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pentagrama Lectorium RosicrucianumEvangelho de Tomé:Cristianismo interior e exterior A cidade ideal: Luz com luz, fogo com fogo: o caminho para segurança, alimento, um monólogo saúde e educação Resenha de livro: Os versos áureos de Pitágoras: J. van Rijckenborgh, Sabedoria antiga para praticar hoje A Gnose em sua atual manifestação 2010 4jul/ago número

Editor responsável Revista Bimestral da EscolaA. H. v. d. Brul Internacional da Rosacruz Áurea Lectorium RosicrucianumLinha editorialP. Huis A revista Pentagrama dirige a atenção de seus leitores para o desenvolvimento da humanidade nesta novaImagens era que se inicia.I. W. v. d. Brul, G. P. Olsthoorn O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símboloRedação do homem renascido, do novo homem. Ele é tambémPentagram o símbolo do universo e de seu eterno devir, porMaartensdijkseweg 1 meio do qual o plano de Deus se manifesta.NL-3723 MC Bilthoven, Países Baixose-mail: [email protected] Entretanto, um símbolo somente tem valor quando se torna realidade.O homem que realiza o pentagramaEdição brasileira em seu microcosmo, em seu próprio pequeno mundo,Pentagrama Publicações está no caminho da transfiguração.www.pentagrama.org.br A revista Pentagrama convida o leitor a operar essaAdministração, assinaturas e vendas revolução espiritual em seu próprio interior.Pentagrama PublicaçõesC.Postal 39 13.240-000 Jarinu, [email protected]@pentagrama.org.brAssinatura anual: R$ 80,00Número avulso: R$ 16,00Responsável pela Edição BrasileiraM. D. Eddé de OliveiraRevisão finalM.V. Mesquita de SousaCoordenação, tradução e revisãoM.J.Versiani, M.M. Rocha Leite, L. M.Tuacek,M. B. Paula Timóteo A.C. Gonçalez Jr.,D.B. dos Santos, J. Jesus, A.R.R.Gomes,M.S. Sader, R.D. Luz, F. LuzDiagramação, capa e interiorM.V. Mesquita de SousaLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo - SPTel. & fax: (11) [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253

p e n t a g r a m a ano32 número4 2010“Eis que hoje te ponho por cidade forte, e por coluna de sumárioferro, e por muros de bronze, contra toda a terra, contraos reis de Judá, contra os seus príncipes, contra os seus a cidade idealsacerdotes, e contra o povo da terra.” uma vista aérea da cidade ideal 2Assim escreve o profeta Jeremias (Jeremias 1:18). Sua o caminho para segurança, alimento,cidade é Jerusalém, mas a citação tem em mente a cidade saúde e educação 9ideal, construída não por homens; uma cidade de Deus, a cidade como projeção do progressoum lugar seguro, onde qualquer pessoa que busque do homem 13iluminação possa entrar em contato, de maneira livre e o protótipo da cidade ideal 16desimpedida, com o campo do Espírito. Verificaremos,neste número de Pentagrama, os aspectos interiores e cristianismo interior e exterior –exteriores da “cidade ideal”. o evangelho de tomé 20“As palavras secretas” ditas por Jesus, e registradas por números, regras de vida e competênciasDídimo Judas Tomé, são um tesouro para seres humanos o ensino voltado para competências na escolabuscadores. Elas estão livres de dogmas e regras.Na página 20 lançamos uma luz sobre a origem e a finali- de pitágoras e perspectivas pitagóricas emdade do ser humano com base nas explicações da época 2010 24do cristianismo primitivo e do ponto de vista do Evange- sabedoria antiga para ser praticada hojelho de Tomé. os versos áureos de pitágoras 30De um tempo ainda mais antigo são Os versos áureos de luz com luz, fogo com fogoPitágoras, e no entanto eles são de extrema atualidade um monólogo 35para nós. O filósofo Pitágoras aconselha, em primeiro resenha de livrolugar, a procurar a pureza de alma. Isso acontece de a gnose em sua atual manifestação 38maneira natural se tomamos o universo como guia.Nele reina regularidade e harmonia, e tudo se desenvolve Capa: Em todas as épocas o círculo foi con-mediante crescimento natural, com velocidade e ritmo siderado a forma da cidade ideal. O mosaicopróprios. no solo pode transmitir-nos uma idéia desseEsta edição de Pentagrama termina com a resenha conceito. Ele provém dos famosos marmorari,do livro A Gnose em sua atual manifestação. Jan van artistas que trabalhavam com mármore naRijckenborgh descreve nele o desenvolvimento do campo Roma do século xiida Escola Espiritual da Rosacruz Áurea, um campo espiri-tual que oferece proteção e possibilidades de desenvolvi-mento aos seres humanos buscadores.

uma vista aéreada cidade ideal2 pentagrama 4/2010

A cIDADE IDEAlNos últimos séculos, muitas vezes as cidades eram abominadas. Sujas e insalubres, nelas aspessoas viviam mergulhadas na pobreza e na miséria. Quem tinha dinheiro morava fora delas.As primeiras cidades ficavam próximas a entroncamentos de rotas comerciais e às margensde grandes rios. Em tempos de prosperidade, atraíam todo tipo de estrangeiros, que con-tribuíam para caracterizar a cidade. Em tempos de adversidade, esses mesmos estrangeirosmuitas vezes sofriam os revezes da sorte: eram tratados como bodes expiatórios.Na antiguidade clássica há vários exemplos uma espécie de código, que lhe permitia decifrar as de qual deveria ser a aparência da cidade ações das pessoas e os acontecimentos futuros. Desse ideal. Um deles era a legendária Atlânti- modo, ele pôde reconhecer, na História, um padrão eda – que provavelmente apenas existiu no papel. um sentido.Mas Atenas e Alexandria também serviram, por um Em sua análise da Bíblia, ele via uma sequência detempo, como modelo.A palavra grega para desig- três períodos:nar cidade é polis, que significa mais do que umsimples conjunto de casas e construções públicas. 1. o período do Pai, ou da vida sob a lei;O termo polis designava também a região ao redor 2. o período do Filho, ou do evangelho, a vida sob a da cidade, com terras cultivadas que lhe forneciam graça;alimento. Muitas cidades gregas fundaram colônias 3. o período do Espírito Santo, a vida na liberdade.ao redor do Mar Mediterrâneo e do Mar Negro.Essas colônias referiam-se a sua cidade-mãe como Este último período, ainda por vir, seria, em relação“metrópole”. aos dois primeiros, como a luz do dia em compara-Os primeiros cristãos não tinham uma imagem tão ção à luz das estrelas ou à luz da aurora: como o altoconcreta da cidade ideal. De qualquer modo, para eles, verão, quando comparado ao inverno ou à primavera.ela não se localizava na terra. Eles tinham a visão da Ele seria “o sábado” para os homens. O mundo seria“Jerusalém celeste”, cuja realidade podiam sentir já na então uma grande comunidade, o reino dos santos,existência terrena por colocarem em prática qualida- que duraria mil anos.des de alma como a fé, a alegria jubilosa e o amor. A influência de Gioacchino da Fiore foi grande: a idéia desses três períodos sucessivos foi retomada porAS TRÊS ERAS Baseadas em palavras proféticas, as pes- muitos pensadores. Entre os historiadores e filósofossoas admitiam, no início da Idade Média, que Cristo que se serviram dessa ideia podemos citar, na Alema-voltaria à terra para inaugurar um reinado de mil nha, Lessing, Schelling e Fichte. Na França,Augusteanos de paz. Seria um período de paz, prosperidade Comte (1798-1857) considera que a História, logoe justiça.A doutrina do reino de mil anos é chamada que se desliga da fase teológica e da fase metafísica,“quiliasmo”. Foi Gioacchino da Fiore (1135-1202) passa à fase científica positivista. Karl Marx descrevequem deu uma nova interpretação a essa idéia do a História como evolução do comunismo primitivo,reino de mil anos. Depois de anos de estudo, ele passando pela sociedade de classes, até chegar final-concluiu que a Bíblia trazia uma mensagem oculta. mente ao comunismo autêntico.Ele utilizou esse “livro” não somente como fonte dedebates doutrinários ou morais, mas também como THOMAS MORE: UTOPIA A primeira descrição “mo-meio de compreender a História e prever a evolução derna” de uma cidade ideal deve-se a Thomas More,futura. Foi assim que ele achou que, na Bíblia, havia conselheiro do rei Henrique viii, da Inglaterra. Em uma vista aérea da cidade ideal 3

Thomas More tinha o propósito de mostrar queuma comunidade cristã verdadeira devia superaras condições de vida de Utopia1516 ele escreveu um pequeno livro de 110 páginas, ídas com base em projetos específicos. Muitas vezesintitulado Utopia, que, de acordo com o costume foram criadas para proteger locais estratégicos, oumuito corrente na época, foi escrito como um diário concebidas como acampamentos fortificados. Claro,de viagem. Relatos de viagens de descobrimentos as pessoas também começaram a pensar em uma ci-eram populares, mas ele escreveu sua história como dade ideal. No final do século 16, as visões do futurouma espécie de paródia. Utopia trazia soluções práticas começaram a surgir de modo mais concreto. Grupospara diversos problemas tanto da Inglaterra como de protestantes e católicos queriam reconciliar-se.Afinal,toda a Europa daquela época. não seria possível conviver em paz, como cristãos?More era um homem devoto e muito ligado à Igreja. Isso muitas vezes foi considerado uma utopia pelasEle opunha-se à reforma radical. Por isso, ele opõe-se pessoas dos próximos séculos.em Utopia, à eutanásia, ao casamento dos sacerdo- Na vanguarda deste pensamento estão os textos her-tes, ao divórcio fundamentado em acordo mútuo, à méticos. Esses manuscritos, escritos em grego, foramtolerância religiosa, e a outros costumes existentes descobertos depois da queda de Constantinopla, emnessa cidade, os quais More combateu durante toda a 1453, e admitia-se que eles datavam do tempo devida. Seu propósito era mostrar que uma comunidade Moisés – ou seja, mil e duzentos anos antes de Jesuscristã verdadeira devia superar as condições de vida Cristo e que teriam sido escritos por Hermes Tris-de Utopia; que Utopia não passava de uma sociedade megisto. Esses escritos abriram a possibilidade, entreideal. O controle da sociedade, por exemplo, é tão in- outras coisas, de atribuir a diversidade de todos ostenso que o leitor moderno é imediatamente levado a fenômenos perceptíveis a uma única fonte: Deus.lembrar-se do livro 1984, de George Orwell.Encontramos fontes importantes sobre descrições Um dos mais importantes escritores que foramde cidades ou nações ideais na Bíblia e na literatura influenciados pelos textos herméticos foi Giorda-clássica. O Paraíso ou os Campos Elíseos são regiões no Bruno (1548-1600). Com base neles, Giordanoideais. Podemos ver uma cidade ideal na descrição penetrou o conhecimento universal e concebeu oda “Jerusalém celeste” – uma cidade que surgiria na universo infinito, que compreendia inumeráveis mun-época do reino dos “mil anos”. Esse reino deveria dos, e foi um dos primeiros a evocar a idéia de que ocomeçar com a segunda vinda de Cristo, e as pessoas cristianismo tinha como fonte o Egito antigo, do qualachavam que essa época estava próxima. havia tomado os conceitos e símbolos. Por essa razão, ele foi queimado vivo no Campo de Fiori, em Roma.A CIDADE DE HERMES Nos séculos 11 e 12, quando Segundo fontes caldéias, Hermes teria fundado umahavia uma crescente prosperidade na Europa ociden- cidade excepcional no Egito, na região oriental. Elatal, as pessoas começaram a fazer com que as cidades tinha doze milhas de comprimento e compreendia,crescessem de modo planejado – pela primeira vez ao centro, um palácio com quatro portas. Na portadesde a antiguidade.As novas cidades eram constru- do oriente, o símbolo expressivo de uma águia velava4 pentagrama 4/2010

a cidade; na porta do ocidente, um touro; ao sul, um livros, La Cittá del Sole. A edição original, em italiano,leão; ao norte, um cão de guarda. Ninguém podia en- apenas foi publicada após sua morte. Em 1623 surgiutrar na cidade sem autorização.Também foi plantado uma edição em latim na Alemanha. Foi somente emum pomar, onde havia, no centro, uma árvore pode- 1626 que Campanella foi colocado em liberdaderosa, carregada de toda espécie de frutos. Um farol condicional. Ele morreu na França, em 1639.coroava o palácio e brilhava, a cada dia, com uma cor Como Thomas More e outros escritores que fa-diferente, em ciclos de sete dias, iluminando a cidade. laram sobre o tema de um estado ou cidade ideal,Perto das águas que cercavam a cidade, erguiam-se Campanella viu-se confrontado com um problemaimagens cuja extrema beleza e perfeição tornavam as inevitável: tudo correria bem em um estado regidopessoas virtuosas e as protegia contra a baixeza e a in- por pessoas sábias e prudentes, mas como reconhecerfelicidade. O nome dessa cidade era Adocentyn. Esse um sábio em um mundo imperfeito? Ou então, setermo deixou marcas em muitos textos que falam de um sábio fosse encontrado, como fazer com que elenações e cidades ideais, como no livro A Cidade do reinasse? O problema parece ser insolúvel.As pessoasSol, de Tommaso Campanella. evitam responder a essa pergunta e descrevem um es- tado ideal como se ele já existisse. Mas a forma comoA CIDADE DO SOL Da mesma forma que seu amigo ele surgiu permanece obscura. O próprio CampanellaGiordano Bruno, o jovem Campanella entrou para a também apresenta sua descrição sob a forma de umaordem dos dominicanos e depois, também como ele, narrativa de viagem. Desta vez, é um almirante defoi preso, em 1592, por suas idéias heréticas. Ficou Gênova, que navegou com Cristóvão Colombo, quepor alguns anos na mesma prisão, em Roma, mas foi narra sua história ao grão-mestre da “Ordem doslibertado em 1595, escapando ao terrível destino de Hospitalares”:Bruno.Três anos mais tarde, foi preso outra vez portentar organizar uma rebelião contra os espanhóis. “A Cidade do Sol fica em uma colina no centro deUma profecia que anunciava o começo de uma nova uma vasta planície. Ela é dividida em sete partes queera, no ano de 1600, desempenhou um papel im- formam círculos com o nome dos sete planetas. Cadaportante nesta rebelião. De acordo com a tradição, parte é separada do restante por um muro. QuatroCampanella era um homem grande e vigoroso e deve ruas atravessam a cidade a partir das quatro portaster exercido grande influência em seu meio. Ele pro- externas que dão para fora, para os quatro pontos car-fetizou, também, que o Sol iria aproximar-se da Terra. deais, e se cruzam no centro da cidade. O ponto focalO levante contra os espanhóis fracassou, e, desta vez, é o topo da colina onde há um templo de formaCampanella foi entregue à Inquisição, que o mandou perfeitamente circular, não delimitado por paredes,torturar cruelmente durante muito tempo. e encabeçado por uma vasta cúpula sustentada porEm 1601, ele foi transferido para uma prisão onde fortes colunas ricamente trabalhadas.A grande cúpulapodia ler e escrever. Foi aí que redigiu, entre outros tem, no centro, uma pequena torre que se lança ainda uma vista aérea da cidade ideal 5

O famoso ma-nuscrito Voynich,cujo alfabeto édesconhecido,assim como suaorigem. EdwardKelley, Cor-nelis Drebel etambém FrancisBacon são tidoscomo autores.Outros dizemque ele seria deorigem cátara.De acordo comalguns pesquisa-dores, ele dariauma imagem daNova Atlântida deBacon.mais para o alto. Essa abertura realça mais o altar. para a estrutura política e social de sua utopia.Assim,No altar só se vê uma esfera na qual está desenhado com base na astrologia os governantes, benfeitores eo firmamento e outra esfera na qual está desenhada que pensam de modo justo, utilizam sua sabedoriaa Terra.Além disso, pendem do teto sete lâmpadas, em benefício de todos os cidadãos. Esses dirigentessempre acesas, com os nomes dos sete astros: Sol, formam uma hierarquia no ápice da qual está um sa-Mercúrio,Vênus, Lua, Marte, Júpiter, Saturno. Nos cerdote que, na sua língua, eles chamavam HOH. Namuros da cidade, tanto do lado de dentro como do nossa diríamos: Metafísico. Ele também era chamadolado de fora, encontram-se todo tipo de imagens. “Sol”. Este é o superior a todos em coisas munda-Na muralha mais exterior encontram-se, entre outros, nas e espirituais, e todos os assuntos e conflitos sãoos retratos de Moisés, Osíris, Júpiter, Mercúrio e decididos por meio de seu julgamento.Abaixo deleMaomé. Um lugar bem importante é reservado a vêm os principais magistrados:“Poder”,“Sabedoria” eCristo e a seus doze discípulos”. “Amor”, ou Pon, Sin e Mor. Pon, ou poder, é responsável pelos assuntos militaresA influência da astrologia sobre o curso dos aconte- e pela política exterior da cidade. Sin, ou sabedoria,cimentos é extremamente grande na Cidade do Sol. é responsável pela ciência, cultura e educação – eCampanella utiliza esse conhecimento como base tem por subordinados entre outros, o astrólogo, o6 pentagrama 4/2010

No livro Nova Atlântida, Francis Bacon queriatransmitir “o conhecimento dos movimentosocultos das coisas e remover as barreiras a fimde realizar tudo o que é possível”cosmógrafo, o político, o médico e o moralista. Mor, espiritual da ilha está nas mãos de um conselho deou amor, é responsável pela reprodução, educação, sábios chamado de Casa de Salomão. Seu objetivo émedicina, botânica, pelas colheitas e refeições. Para conhecer os movimentos ocultos das coisas e removerCampanella, esses são os três princípios fundamentais as barreiras que limitam as capacidades humanas, ado ser. Em contrapartida, os três princípios negativos fim de realizar tudo o que é possível. O objetivo desão: tirania, falácia, hipocrisia – e não há lugar para Bacon é o aumento do conhecimento humano – nãoeles na Cidade do Sol. como aconteceu nos séculos anteriores sobre o que é “bem” ou “mal” – mas sobre a natureza.A ciênciaCHRISTIANOPOLIS Na prática , ideais sempre se deve libertar-se da fé e das superstições e tomar comomostraram inalcançáveis. Sobretudo no século 17, em eixo a melhoria do destino dos seres humanos.que as guerras religiosas eram comuns, a ideia de umestado ideal, que tivesse gravada em sua bandeira a No final do século 17 e no século 18, surgiram maispalavra “tolerância”, somente era aceita por poucos. histórias sobre Estados utópicos, porém sob a formaO livro Christianopolis, de JohannValentin Andreæ, de crítica das sociedades existentes, narrativas maismostra o exemplo de uma cidade tolerante. Esse livro satíricas de viagem – como, por exemplo, As viagenssurgiu em 1619, um ano depois da eclosão de uma de Gulliver, de Jonathan Swift (1726), livro extrema-guerra que iria durar trinta anos. Os exércitos da mente popular, lido “desde o parlamento até o quartoFrança católica e da Suécia protestante combateram das crianças”.na Alemanha logo após sua aliança com diferentesestados alemães. Foi a mais sangrenta dentre todas SERIA O PARAÍSO DOS TRABALHADORES? Noas guerras religiosas daquela época. Cerca de um começo do século 19, diversos idealistas tentaramterço (!) da população alemã perdeu a vida. realizar mais utopias, mas com objetivos diferentes. Robert Owen (1771-1858), um industrial inglês doEm 1627, surge mais um texto utópico: Nova Atlân- ramo de algodão, tentou melhorar, por volta de 1820,tida, de Francis Bacon (1561-1626).Agora eram as condições de moradia e trabalho dos operáriosnavegantes que iam do Peru até a China e o Japão. com base em uma visão espiritual: dizia que “luz e ar”Por falta de sorte, eles acabam naufragando e chegam são indispensáveis para uma boa saúde e uma vida fe-a uma ilha desconhecida. Era Bensalém, uma nação liz, e que os trabalhadores deveriam unir-se em coo-cristã onde prevalecia a tolerância social e religiosa e perativas a fim de defender seus interesses. Ele fundouonde os judeus eram bem recebidos.Ao contrário do a primeira cooperativa, limitou o número de horasque Campanella escreve em seu livro, a família consti- de trabalho e melhorou as condições de trabalho dostui a pedra angular dessa sociedade.Aparentemente, os operários. Deixou os operários construir suas casashabitantes de Bensalém (e o próprio Bacon) iden- e colaborou com a criação de uma escola maternal.tificam a América com a antiga Atlântida.A direção Mas a realização de todos os seus planos não foi uma vista aérea da cidade ideal 7

Sem colocar o amor universal em seu centro,nenhuma utopia poderá tornar-se realidadepossível, pois ficou um tanto dispendioso. Na mesma Fontes:época, na França, o Conde de Saint-Simon (1760- Bacon, F. Nova Atlântida – A grande instauração. São Paulo: Edições 70 –1825) aderiu às mesmas idéias. Embora nobre, susten- Brasil, 2009.tou a revolução, enriquecendo mediante a especula- Campanella,T. A Cidade do Sol. São Paulo: Martin Claret, 2004.ção com bens confiscados à Igreja. Foi propagandista Cohn, N. Na senda do milênio. Lisboa: Presença, 1981.de uma espécie de fraternidade humana que defen- More,T. Utopia. São Paulo: Martin Claret, 2009.dendia o retorno dos meios de produção às mãos dos Engels, F.; Marx, K. Manifesto comunista. São Paulo: Boitempo Editorial,industriais, banqueiros, cientistas e técnicos; entretan- 1998.to, seus esforços na realização de tais idéias levaram- Rykwert, J. A sedução do lugar. São Paulo: Martins, 2004.no à bancarrota. Seus seguidores sistematizaram suas Thomas, K. Religião e declínio da magia. São Paulo: Companhia dasidéias e fundaram uma sociedade semirreligiosa. Letras, 1991. Yates, F.A. Giordano Bruno e a tradição hermética. São Paulo: Cultrix,O saint-simonismo teve excessos estranhos, como por 1995.exemplo, a fé na vinda de uma mulher como messias. Yates, F.A. O iluminismo rosa-cruz. São Paulo: Cultrix-Pensamento, 1983.Após a revolução de fevereiro de 1848, Louis Blanc(1811-1882) tentou realizar na França uma experiên-cia com “oficinas nacionais”, onde o Estado ofere-ceria trabalho aos desempregados. Logo depois dastentativas descritas anteriormente sobre a criação deum “paraíso dos trabalhadores”, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) escrevem seuManifesto comunista (1847). Nele, definem seu “so-cialismo crítico-utópico”, e é por meio deles que oconceito de “utopia” toma uma conotação negativa.Marx e Engels querem oferecer uma descrição preci-sa do caminho que leva à sua “sociedade ideal”. Paratanto, a revolução é inevitável, embora ela seja apenaso início da grande mudança.Nos mais diferentes lugares do mundo, as pessoastentaram constituir de forma drástica um estado co-munista ideal. No entanto, cada vez mais, parece queessa utopia não é realizável. Muitas dessas tentativasacabaram virando ditaduras que foram desaparecendo,uma após a outra. É evidente que é preciso buscar arealização em um nível completamente diferente µ8 pentagrama 4/2010

o caminho para a cidade idealsegurança, alimento,saúde e educaçãoO ser humano sempre teve o desejo de levar uma vida social harmoniosa e feliz. Serefletirmos sobre as sociedades e cidades do passado, veremos quantas construçõesmonumentais foram erguidas para os deuses (e para os governantes), as quais deve-riam trazer sorte e felicidade para o povo.A vida cotidiana desenvolvia-se em aglome-rações situadas ao redor desses monumentos, através dos quais todos esperavam queos deuses se manifestassem.Podemos imaginar que, ao longo dos séculos, e o capitalismo, que em grande parte determinaram refletimos sobre o conceito de “cidade ideal” a organização da sociedade moderna, nascida da e que fizemos inúmeros projetos.Às vezes, idéia de encontrar a felicidade.Verificamos que opermaneciam ao nível de conceitos abstratos, outras, resultado não foi um sucesso.chegavam a ser tentativas concretas que levavam O modelo comunista diz: ”a felicidade do grupoem conta todos os aspectos da vida. Geralmente, se refletirá em cada indivíduo, e cada indivíduoos filósofos e pensadores trabalhavam unicamente estará inteiramente subordinado à meta”; mas vimosno aspecto arquitetônico. No entanto, muitos deles que essa filosofia da comunidade e do comparti-se preocuparam, com grande devotamento, com a lhamento de todos os bens, tanto materiais quanto“organização da felicidade” – e podemos considerar imateriais, acabou provocando a morte de cente-que foi este, realmente, o princípio da cidade ideal. nas de milhares de pessoas. E o modelo capitalistaA própria expressão “cidade ideal” já revela o desejo afirma:“Conquistar o poder, as posses e os meios dede perfeição, de plenitude e de unidade a que o ser produção contribui para a felicidade individual. E,humano aspira desde sempre. Olhando à nossa volta, se o indivíduo está feliz, a sociedade também serávemos como o homem tenta realizar essa unidade, feliz”.Ainda não podemos estabelecer o equilíbrioatuando ora na realidade, ora no imaginário, em definitivo, mas em nossa época há muitos sinais queuma organização social que tem como base a justiça, indicam resultados desastrosos: imperialismo, racis-a paz, a liberdade, a sabedoria e o amor. mo, corrida armamentista, poluição, falta de respeito com as leis vitais da Terra, exploração nociva dosOS PROTÓTIPOS MODERNOS: COMUNISMO E recursos naturais, desmembramento da família, vio-CAPITALISMO De Akhenaton a Le Corbusier e de lência urbana, crise financeira… No entanto, essesPlatão a Wijdeveld (famoso arquiteto holandês), os dois sistemas foram originados do mesmo desejo: apensadores muitas vezes disseram que a cidade ideal busca de felicidade e liberdade! Mas os dois che-poderia ser concretizada com base em conceitos garam ao contrário da meta que visavam. Um, porsimples. Claro, nossa sociedade moderna é a expres- meio de um estado que impõe suas leis de maneirasão final de certo número de projetos! Em sua base ditatorial; outro, por meio de condições econômicasencontramos valores humanos elevados, que muitas que impõe suas leis por meio da criação de neces-vezes se expressam no lema de certos países, como sidades artificiais,“desumanizando” o ser humano.o da França:“Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. Por isso, um antigo presidente da República Fran-Foram as duas correntes do século 20, o comunismo cesa disse:“Estou convencido de que o liberalismo o caminho para segurança, alimento, saúde e educação 9

A cidade ideal é uma organização social que temcomo base a justiça, a paz, a liberdade, a sabedoriae o amorterá o mesmo destino desastroso do comunismo e verdadeira vida” e o mundo onde vivemos. É porlevará aos mesmos excessos.Tanto um como outro essa razão que, atualmente, todos estão de acordosão perversões do espírito humano”. quanto ao fato de que é necessária uma profundaPodemos imaginar que o inconsciente coletivo se transformação. Mas quais seriam os critérios parainsurja fortemente contra a realidade. Há pessoas isso? Seria preciso transformar as instituições, as leis,que se refugiam em “cidades virtuais”, criam “vidas a sociedade?ideais” para si mesmas mediante o uso de drogas, de Durante muito tempo, a humanidade acreditou que,redes sociais,“Second Life” ou viagens astrais. Essas com seu desejo de perfeição,“o progresso” seria opessoas têm a esperança de saciar o desejo de felici- rumo lógico que permitiria uma “vida cada vez me-dade que as corrói por dentro como uma saudade lhor”, que levaria o homem animal a transformar-seque não passa – e que elas interpretam como um no homem pensante e, finalmente, transformaria odesejo de viver feliz e sem coerção. homem pensante em homem divino. Ora, quando consideramos as tentativas das civilizações, dos filó-OS QUATRO PROBLEMAS HUMANOS FUNDA- sofos ou das religiões durante os 6.500 últimos anos,MENTAIS Tomamos consciência de que há uma teremos que admitir, forçosamente, que a fase tãogrande diferença entre a nossa aspiração à “única e esperada do surgimento do homem divino corre o10 pentagrama 4/2010

risco de se fazer esperar ainda por um longo tempo. A cidade ideal, segundo Fra Carnivale, ca. 1480.A assim chamada civilização desenvolvida mostra A ilustração mostra um modelo para escultoresum número inquietante de pessoas egoístas, incons- e arquitetos, criado por uma administração municipalcientes, esquisitas, violentas, complicadas ou irres- cuidadosa. Construída dessa maneira, a cidade mostraponsáveis. De modo quase sistemático, a humani- que traz no coração o bem-estar de seus moradores.dade parece estar sendo vítima de novos problemas © Walters Art Museum, Baltimoreque a impedem de realizar seu ideal.Tentaremosdescrever, de forma ampla, essas armadilhas aparen- Portanto, os pontos básicos eram:temente inevitáveis.Vamos começar analisando osproblemas das cidades da Antiguidade e da Idade 1. garantir a segurança;Média. Elas confrontavam-se com quatro grandes 2. administrar bem os recursos e as riquezas;dificuldades: elas precisavam assinar tratados com 3. garantir a saúde pública;outros pequenos estados, cidades e autoridades da 4. assegurar educação e formação satisfatórias.época; tinham de erguer fortalezas contra invasões;tomar medidas contra a fome, lotando os celeiros Será que em 2010 os problemas dos países emde trigo e estimulando o comércio. Elas precisavam desenvolvimento são tão diferentes? Vamos observarlevar em conta os pequenos e grandes problemas mais de perto certo número de dificuldades quede saúde e, na medida do possível, conter a peste, o os países africanos precisam enfrentar, como, porcólera e outras epidemias. Elas também tinham de exemplo, acabar com os conflitos armados entrededicar-se à educação e à formação das novas gera- etnias e povos, que causam milhares de mortos. Elesções, para que estas pudessem estar aptas a garantir, precisam ser autossuficientes no que diz respeitono futuro, a prosperidade da cidade-estado e de seus a produtos de primeira necessidade e desenvolverhabitantes. uma agricultura mais bem equipada. Existe uma luta incessante contra o virus da aids (hiv) – uma doença geralmente desmentida por boa parte das o caminho para segurança, alimento, saúde e educação 11

populações locais e pelos governos desse continente utilização de recursos, saúde e educação. Os quatroaté bem recentemente. Há melhoria da qualidade e problemas básicos permanecem sempre os mes-do acesso à água e também melhoria da infraestru- mos, não importa em que lugar, época ou sistematura dos países. Ler e escrever é muito importante, de governo. No entanto, os países desenvolvidose as crianças geralmente estão ávidas por aprender, conseguem dissimular esses problemas investindomas há grande falta de escolas: é preciso construí-las bilhões de dólares. Segurança, administração dose formar professores. recursos, saúde e educação ainda são, e sempre serão,Assim, sempre estamos sobre quatro colunas: no século 21, os quatro pontos mais importantessegurança, administração de recursos, saúde, edu- de preocupação do mundo inteiro. O esforço quecação.Agora, poderíamos facilmente ficar tentados visa a um ambiente perfeitamente feliz parece sera concluir que todos esses países estão ainda “em impossível de ser realizado, e, no entanto, as pessoasdesenvolvimento” e que os assim chamados “países empenham-se para conseguir fazer isso porque nãodesenvolvidos” não conhecem esses problemas. Se podem agir de outra maneira µisso fosse realmente exato, os países modernos nãoteriam necessidade de gastar tanta energia financeirae humana com esses aspectos.Mas a realidade é cruel: os gastos dos países desen-volvidos representam 70% das despesas militares Fontes:mundiais (a África inteira gasta apenas 2,5%).1 1 SIPRI (Stockholm International Peace Research Institute);A América do Norte e a Europa são os maiores GRIP (Groupe de Recherche et d’Information sur la Paix et laconsumidores de energia.A América do Norte securité);WMEAT (World Military Expenditures and Arms Transfers).apresenta o mesmo consumo de energia que a Ásia 2 EIA (Energy Information Administration).inteira, apesar de ter 8,6 vezes menos habitantes.2 3 OMS (Organização Mundial da Saúde).Em 2003, os gastos públicos com saúde per capita 4 Ministério Francês da Economia e Finanças, Estatísticas da Uniãoeram os seguintes, em dólares:3 Européia.Alemanha: 2506França: 2273Estados Unidos: 2548Noruega: 4167Afeganistão: 4Bangladesh: 4Burundi: 4República Democrática do Congo: 4A educação e a formação fazem parte dos principaisgastos dos países europeus. Por exemplo, na Fran-ça: 60 bilhões de euros em 2006 – o equivalentede 15% do orçamento nacional total.4 Portanto,concluímos que quanto mais desenvolvido é umpaís, mais ele tem despesas com segurança militar,12 pentagrama 4/2010

a cidade como projeção a cidade idealdo progresso do homemAlém das quatro esferas de problemas já citadas,atualmente os urbanistas se vêem frente a frentecom novos problemas como a superpopulaçãoe suas consequências em todos os pontos doplaneta. O aquecimento do clima, o estresse ea agressividade que aumentam nas metrópoles,as fontes de energia que estão se exaurindo –como o petróleo, ou, mais importante ainda,a escassez de água potável – tudo isso faz comque muitas pessoas se preocupem com o futuroda humanidade. uma vista aérea da cidade ideal 13

A salina real de Chaux é uma pequena parte de uma cidade operária ideal anexa a uma empresa de produção de sal em Arc-et-Senans, no leste da França. A construção, assinada por Claude-Nicolas Ledoux, um arquiteto utopista, começou em 1775 e durou quatro anos. Os trabalhadores nela podiam viver em um ambiente fecha- do,“protegidos dos excessos e cobiças, que abreviam os dias dos que têm de viver entre todas essas tentações”De acordo com diversas pesquisas a respeito câncer. Chegamos a um ponto em que os próprios da primeira década do século 21, 80% da seres humanos são o problema. Precisamos concen- população ocidental são de opinião de trar toda a nossa energia, nossos recursos e rique-que o aquecimento global é o maior perigo com zas e também nossas faculdades intelectuais paraconsequências ameaçadoras para nosso planeta. O garantir a sobrevivência da humanidade. E podemosproblema da superpopulação é o segundo mais imaginar:“O problema fundamental não seria apreocupante.A humanidade levou milhões de anos própria humanidade? Será que realmente existepara atingir, em 1800, um bilhão de habitantes; para uma solução?”alcançar o segundo bilhão bastaram apenas mais130 anos – e esse número durou apenas 45 anos SERIA O INSTINTO DE CONSERVAÇÃO DO “EU”até que a humanidade atingiu, em 1975, os quatro A CAUSA DE TODOS OS PROBLEMAS? Se tomar-bilhões. Hoje, em 2010, somos seis bilhões e meio mos os quatro pontos de partida citados no artigode habitantes e, segundo a Declaração dos Direitos anterior (segurança, administração de recursos,do Homem, temos todos os mesmos direitos aos saúde e educação), vamos observar que eles têm umrecursos e riquezas. princípio comum: o medo de perder as estruturas que mantêm a situação existente. O medo de perderOra, se todos os habitantes do planeta utilizassem a vida, de perder os bens, de perder a civilização oua mesma quantidade de energia que um habitante de já não poder desenvolvê-la, e de, assim, perder ados países ocidentais, o consumo de energia, em própria condição privilegiada… Todos esses aspectosnível mundial, seria cinco vezes maior do que é chamam atenção por sua precariedade e o possívelhoje, e, em 2050, quando formos nove bilhões de desaparecimento de tudo o que foi formado nohabitantes, oito vezes mais.As Nações Unidas e as espaço e no tempo.instituições científicas internacionais vivem se ques-tionando a respeito das consequências desse cresci- E é aí que colocamos o dedo na ferida.Vamos tentarmento demográfico. imaginar um mundo que não tenha nem tempo nem espaço. Um mundo onde não exista nem “su-Os especialistas pensam que tal número haverá de bir, brilhar, descer” nem a morte; um mundo comprovocar um verdadeiro sufoco de toda a humani- recursos ilimitados de energia e vida… O problemadade: alguns reivindicam um inevitável controle de fundamental da humanidade é sua existência nonatalidade.Também não é difícil pensar que epide- espaço e tempo. Nós nos devotamos a fazer um pro-mias ou outras catástrofes irão precipitar-se sobre a jeto de construção muito humano, de acordo com ohumanidade em futuro próximo, para, desse modo, “eu” e a “personalidade de cada um”. E, de repente,colocar um freio natural a esse crescimento desme- vemos que é uma construção mortal. E nosso maiorsurado que ameaça invadir o planeta tal qual um erro – e talvez a maior traição – é achar que nossa14 pentagrama 4/2010

Utilizamos toda a nossa energia para correr atrásde uma felicidade perfeita imaginária, que semprenos escapaideia de progresso constante seja possível. Utilizamos ponde à nossa consciência, que quer expressar-se.toda a nossa energia para correr atrás de uma felici- O que trazemos dentro de nós é o que construímos:dade perfeita imaginária, que sempre nos escapa, até deixamos transparecer o que somos em nossas casas,o momento em que ousamos reconhecer que nós, construções, organizações sociais, leis, culturas, ciên-seres psicobiológicos, por mais sábios e cultos, nunca cias, artes, religiões, sistemas políticos. Uma cidade éalcançaremos a perfeição – pois ela não se aplica a como um reflexo, uma projeção de nossa consciên-nós. cia. Com base nisso podemos deduzir um axioma: “A cidade é a imagem de tudo o que somos!” EmPara nos tornarmos perfeitos, seria preciso um plano outras palavras: para encontrar a cidade ideal, é pre-perfeito como fundamento. No entanto, em nosso ciso, primeiro, encontrar o homem perfeito µplano imperfeito de construção, no projeto dohomem material, está presente desde o princípio acerteza de sua dissolução.O ESTADO DE CONSCIÊNCIA É IGUAL AO ES-TADO DA CIDADE Ao longo da História, as cidadesforam refletindo nossas reais necessidades, em cadaépoca. O ambiente onde fomos evoluindo corres- a cidade como projeção do progresso do homem 15

o protótipo da cidade idealEnquanto vivemos no tempo, procuramos resolver os problemas de segurança,recursos, saúde, alimentação e poluição. É uma exigência de nossa civilização ede nossa disposição interior. Na essência da vida, que é eterna, no domínio dahumanidade original, nós sabemos que os processos vitais não têm fim; e quea realização pessoal não consiste em outra coisa senão trabalhar a serviço dosoutros.Vimos que o ser humano e seu ambiente divino ele se desenvolve no campo do Espírito. Sua dependem muito um do outro. Não pode fonte de vida é a luz universal, e, no interior desse ser de outro modo, somos seres sociais e não campo, ele age inteiramente de acordo com a vibra-solitários. Em consequência, a interação entre todos ção dessa luz. Poder-se-ia considerar que essas sãoé essencial, é a base da sociedade. Os assentamentos, as características da cidade ideal; um campo de vidaos povoados e as cidades são, portanto, indispensáveis. que se submeteria de modo natural às leis do abso-Nesse contexto, cada um experimenta entender-secom o outro e, assim, acaba por adquirir inteligênciae consciência. De fato, nosso ambiente reflete nossaconsciência. Portanto, para a construção de uma cida-de ideal, perguntamos:- O homem perfeito existe?- Quais são suas características?- Onde podemos encontrá-lo?Nos mitos, lendas e nas sagradas escrituras que têmacompanhado a humanidade ao longo do tempo,encontramos representações do homem como serperfeito, ora como um resplandecente dragão alado,mestre de todas as dimensões, ora como um heróiou alguém igual aos deuses. No pensamento hermé-tico ele é descrito como sendo uno com Deus, qualuma esfera ilimitada cujo “centro está em toda partee cuja circunferência não está em lugar algum”.Lao Tsé representa-o como sendo uno com o Tao:“O Tao é vazio, e suas radiações e atividades sãoinesgotáveis. […] Ignoro de quem ele possa serFilho. Ele era antes do supremo Deus”.1A Rosacruz caracteriza-o como um “microcosmo”.A existência desse ser original perde-se na maislongínqua memória do homem. Na condição de ser16 pentagrama 4/2010

luto e vibraria em uníssono com a energia original. a cidade idealQualquer que seja a descrição ou a designação dessecampo: Nirvana, Jerusalém Santa, cidade de Deus ou Mas nossa natureza intrínseca, eterna, não se subme-do Espírito Santo, trata-se da mesma realidade acima te a esses problemas. Porque no mundo para alémde toda dimensão: o campo de vida divino onde do espaço-tempo, no campo de vida da humanidadereside e evolui a humanidade imortal. original, os processos vitais não têm fim, eles estão em progressão contínua. Nesse campo, a luta nãoA CIDADE IDEAL NÃO PODE SER CRIADA, ELA É é necessária nem é necessário esforço algum paraO único método para superar definitivamente os permanecer vivo; lá, tudo e todos ocupam seu lugarproblemas da humanidade seria, de fato, despertar perfeito em um infinito desenvolvimento de vida.de novo para a vida o microcosmo - no qual vive Se aprendermos a compreender as leis da vida deno presente a personalidade humana. É evidente nosso pequeno mundo, de nosso microcosmo res-que, enquanto vivemos no tempo, nos esforçamos tabelecido, e se as seguirmos, contribuiremos para apara resolver os problemas de segurança, recursos, formação da cidade ideal.saúde, educação e poluição; é uma exigência denossa civilização e de nossa disposição interior, e Como? O microcosmo possui, na condição de ema-colaboramos para isso com o coração e a alma. nação da idéia divina, todos os atributos divinos. Em seu coração pulsa a energia do sol espiritual, o que torna os meios de vida e os recursos inesgotáveis.Imagem moderna de uma cidade utópica – teremos de abdicar,no futuro, do céu livre sobre nós? o protótipo da cidade ideal 17

Na condição de um ser eterno em pleno desenvol- princípio de Cristo, a semente espiritual da regene-vimento, nada atinge sua saúde, ele já não está su- ração do microcosmo. Portanto, cada homem podejeito ao efeito do tempo e está sempre ligado a um fazer de sua vida um caminho de reconstrução ecampo de sabedoria e conhecimento inesgotáveis. encaminhar-se para a perfeição. O princípio interior de Cristo não pode fazer outra coisa senão mostrarEm nossa metáfora, esse pequeno mundo é o ar- ao ser humano a perfeição e conduzi-lo à cidadequétipo da cidade ideal, porque o ambiente onde o ideal. Cristo é o homem microcósmico por exce-homem se desenvolve adapta-se à consciência que lência. Nós poderíamos considerá-lo como a cidadequer expressar-se. E ele forma com a humanidade ideal. No Evangelho de Tomé está escrito:“O reinooriginal uma unidade perfeita no grande todo. Nós está dentro de vós e ao vosso redor”.encontramos aqui o modelo de integração perfeitaonde todos estão a serviço de todos. CHRISTIANOPOLIS Depois de tudo isto, não será difícil compreender o contexto no qual os rosa-CRISTO: UM PRINCÍPIO DE VIDA UNIVERSAL Eis o cruzes do século xvii, pela voz de Johann Valentinque traz aos homens o puro cristianismo original. Andreæ, descrevem a cidade ideal como “Chris-A Rosacruz moderna não fala do Cristo histórico, tianopolis”. Não se trata aqui de uma comunidademas de uma prática de vida nova, uma vida na e fraterna em sentido terrestre, onde os habitantes se-com a energia universal de Cristo. Uma força na riam escolhidos segundo seu padrão de vida moral,qual os ideais se tornam uma realidade interior. E o mas de uma cidade divina eterna no plano interiorque os gnósticos denominam “Cristo” é o protótipo espiritual; uma cidade, uma comunidade, uma socie-do microcosmo perfeito. Cada homem traz em si o dade onde ressoa o universo da vida eterna.Todas as18 pentagrama 4/2010

As possibilidades do novo tempo ajudam-nos aligar nossa consciência à realidade interior da vidana eternidade, a cidade idealescolas de mistérios que se sucederam ao longo do ficas encontram-se desde a China até a regiãotempo formaram semelhante campo de vida har- indo-iraniana; da Ásia menor até a Bulgária, namonioso e pleno de serenidade interior. Em seme- Grã-Bretanha e no sul da França. Cada uma dessaslhante campo se reúnem os homens e as mulheres comunidades deu um novo impulso, porque essasque seguem o processo alquímico da reconstrução forças libertadoras provocam sempre transformaçõesda vida microcósmica. É assim que eles se libertam sociais em sua esteira.do espaço e do tempo para entrar no reino originalda humanidade. A antiga civilização egípcia, a Gnosis de Mani ou a fraternidade dos albigenses são apenas al-OS TRES TIPOS DE CIDADE Está claro que se um guns exemplos do que o desenvolvimento de umagrupo de homens e mulheres põe em prática essa fraternidade gnóstica pode realizar.Apesar dessasmudança de consciência sobre a base do princípio comunidades terem sido combatidas a ferro, fogo ede Cristo, isso tem consequências em nossa socieda- sangue pelo poder vigente religioso e político, nãode. Durante certo tempo, situações e circunstâncias devemos subestimar sua influência.A consciênciairão apresentar-se aos que são sensíveis a isso e lhes do homem médio que entra em contato com essasoferecerão grandes possibilidades de descobrir e forças é cada vez mais estimulada a pensar e a agirseguir esse caminho. de modo independente, e seu desejo por uma vida livre e libertadora torna-se cada vez mais forte. EmEntretanto, é importante compreender que essas terceiro lugar, existe a cidade perfeita e onipresente,possibilidades somente se apresentarão durante certo que se encontra na eternidade, onde a humanidadetempo e que elas não têm por objetivo melhorar microcósmica tem sua morada eterna. Essa cidadeou embelezar o mundo, apesar de poderem de fato não conhece nem espaço nem tempo, mas está ematuar como um bálsamo. Porém, o objetivo é ligar eterno desenvolvimento no campo de vida da almanossa consciência à realidade interior da vida na nova, um campo de vida perfeito e onipresente, cujaeternidade, a cidade ideal. expressão é o amor absoluto µPodemos distinguir três tipos de cidade: Primeiro,a cidade do espaço-tempo, que desaparece regu- Fontes:larmente e é cada vez reconstruída sobre os quatropilares da segurança, da administração dos recursos, 1 Tsé, L.Tao Te King, cap. 4. In: Rijckenborgh, J. v.; Petri, C. de. A Gnosissaúde e educação.Trata-se de um desenvolvimentosocial que não oferece nenhuma perspectiva verda- chinesa. 2.ª ed. Jarinu: Lectorium Rosicrucianum, 2010, p. 50.deira no sentido da vida original.Além disso, há uma cidade que aparece duranteuma curta duração, quando uma escola de mistérioscomeça o trabalho alquímico da transfiguração, umaescola espiritual dirigindo a atenção da humanidadepara o restabelecimento do microcosmo por meiodas energias da vida original, o que tem como con-sequência certo efeito sobre o mundo e a sociedade.No curso dos séculos, houve uma variedade decomunidades gnósticas e libertadoras, assim comoescolas de mistérios. Suas implantações geográ- o protótipo da cidade ideal 19

cristianismo interiore exteriorNo século iv d.C. aconteceu um drama de grandes consequências para o cristianismo primitivo.Desde a época do imperador Constantino (280-337 d.C.), desenrolou-se um jogo político paraseparar o cristianismo interior verdadeiro – que cada ser humano pode vivenciar – do cristianis-mo do Estado romano, utilizado, sobretudo, como instrumento de poder. Um capítulo importantedesse drama foi a consolidação das assim chamadas primeiras escrituras legítimas da Igreja, inicial-mente denominadas “os novos testamentos romanos”, que logo passaram a ser chamados de “ONovo Testamento”. Contudo, recentemente, em 1945, foi encontrado o Evangelho de Tomé.Assim começa o Evangelho de Tomé:“Quem cinco antigos evangelhos, em 1945, não modificou um descobrir o sentido destas palavras não pro- velho cânone de quase dois milênios, e mesmo que a vará a morte”. Ora, em vez de suscitar uma imagem de Jesus de Nazaré apresentada pela doutri-séria investigação, essas palavras foram simplesmente na da Igreja não corresponda de modo algum à dostaxadas de heréticas e não foram consideradas verda- evangelhos descobertos no último século.Alguns dessesdeiras. Como se chegou a isso? Será que o verdadei- documentos, bem anteriores à época de Irineu, apre-ro sentido dessas palavras foi descoberto? sentam ensinamentos de como os primeiros cristãos viviam e trabalhavam. É preciso dizer que, à primeiraNo início do cristianismo, os diversos agrupamen- vista, a imagem de Jesus de Nazaré que a Igreja apre-tos apresentavam diferenças nos conceitos,e isso não senta não é muito clara. Em realidade, não foi senãoconstituía um problema.Até o dia em que Irineu, um em 451 d.C., no concílio de Calcedônia, que tiverampadre da Igreja do século ii, se inquietou. Segundo ele, fim os debates sobre a seguinte questão: De que modonão poderia existir senão uma única Igreja. E somente se concilia em Jesus a natureza divina e a naturezaos membros dessa Igreja eram, no seu ponto de vista, os humana?cristãos ortodoxos, os que possuíam a fé verdadeira. Atanásio, em seu credo, formula essa questão de formaEntre os que ele não considerava como ortodoxos concisa:“Ainda que ele seja ao mesmo tempo Deusestavam os gnósticosValentino, Basilides, Montano e e homem, contudo não são dois, mas um só Cristo”.Marcion. Ao lado disto se faz necessário citar esse fragmentoPouco a pouco, as idéias de Irineu prevaleceram, de do Credo dos Apóstolos – um artigo de fé da Igrejamodo que, no final do século iv d.C., a Igreja tornara- católica:“Creio em Deus e em Jesus Cristo, seu Filho-se uma instituição sólida. Foi possível então estabelecer unigênito”. Observe-se a clássica concepção: Deus nãoum regimento severo com medidas de grande alcance: tem senão um filho, nascido na terra, tanto homem• Foram definidos em um cânone quais livros eram quanto Deus.sagrados e quais não eram, quais os escritos que, demaneira definitiva, deviam fazer parte da Bíblia. O HOMEM-DEUS Nas religiões gnósticas, como aque-• Foi colocado apenas um bispo no comando da Igreja. las dos mistérios, o homem-Deus, o homem divino, é• Tudo em que se devia crer foi incluído na doutrina uma figura bem conhecida. Essa concepção refere-se ada Igreja. Essa doutrina foi cada vez mais elaborada e um nascimento divino que pode acontecer no ser hu-definida com detalhes em sucessivos concílios. mano. Essa idéia pode ser reconhecida no cristianismo primitivo. No batismo de Jesus, o Evangelho de LucasAs consequências dessas medidas são evidentes, visto menciona:“E ouviu-se uma voz do céu, que dizia:Tuque mesmo a descoberta de aproximadamente trinta e és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Lc 3:22).20 pentagrama 4/2010

“Quem descobrir o sentido destas palavras não provará a morte” Uma página do códice de Nag Hamadi. O trecho em letras maiores é o final do evangelho apó­ crifo de João. Logo abaixo, inicia-se o trecho: “As pa- lavras secretas de Dídimo Judas Tomé”.cristianismo interior e exterior 21

querendo significar que Deus não tem senão um único filho. No entanto, o que consta literalmente é nascido de “um”, que significa: procedendo da energia única, invisível, incognoscível, e manifestando-se como luz, como revelação.“Nascido de Deus.” Estes versículos foram, sem duvida, incluídos mais tarde, pois em dois versículos anteriores (Jo 1:11-13) há referências à ques- tão do nascimento divino no ser humano:“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, […] os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.Ora, alguns padres da Igreja incluem ainda essas palavras LUCAS E MATEUS À primeira vista, os Evangelhosque encontramos em Salmos:“Tu és meu Filho, eu de Lucas e de Mateus enfatizam o nascimento físicohoje te gerei” (Sl 2:7). de Jesus. Particularmente o Evangelho de Lucas. Sua narrativa da natividade está de tal forma voltada para oNeste caso, em ambas as situações, isso significa que o aspecto material que, geralmente, apenas é interpretadanascimento divino acontece durante a vida de Jesus segundo o teor histórico. Mateus começa pela genealo-e não por ocasião do seu nascimento. Da passagem gia de Jesus, acentuando seu lado humano:“Jesus Cristo,mencionada em Salmos 2:7 se pode depreender que filho de Davi, filho de Abraão.” (Mt 1:1). Lucas fala deo nascimento divino pode ter lugar no curso da vida um “sendo (como se cuidava) filho de José” (Lc 3:23),de um ser humano, e pode ser interpretado como e ele termina sua genealogia dizendo:“[…] de Adão, econcernente unicamente a Jesus. O mesmo ocorre no Adão, de Deus” (Lc 3:38). Isso tudo faz saltar aos olhosEvangelho de João com o epíteto “Filho unigênito”, que não é somente uma questão da divindade de Jesus, mas, acima de tudo, da origem divina do homem.Ao longo de toda a história da Igreja, a isso se deu pouca atenção. O EVANGELHO DETOMÉ Os estudiosos discutem ainda com respeito à datação deste evangelho. Não obstante, existem sólidos argumentos para situar a data mais antiga em torno do ano 50 d.C., enquanto que o22 pentagrama 4/2010

“Eu sou a luz que está acima de todos eles. Eu souo universo. Fende um pedaço de madeira, e lá estarei.Levanta uma pedra, e lá me encontrarás”Evangelho de Marcos é o primeiro que vem a seguir, Essas palavras põem em evidência o caráter universal dopor volta do ano 60 d.C. Diferentemente dos quatro Evangelho de Tomé, caráter esse que não está presenteevangelhos da Bíblia, o de Tomé não nos relata uma de forma tão pronunciada nos outros evangelhos.Aquihistória.Trata-se de um conjunto de dizeres de Jesus (os encontramos um paralelo com o taoísmo. Quandoassim chamados “logia”, plural de “logion”), sem men- Chuang Tsé explica a um discípulo que o Tao é onipre-ção nenhuma a sua vida.Também não há referências ao sente, este lhe pergunta:“O senhor pode ser um poucosofrimento ou à ressurreição. Desse modo, o Evangelho mais claro?” Chuang Tsé mostra-lhe uma formiga; ode Tomé, mais livre, foi, por isso, menos sujeito a toda discípulo não compreende; em seguida, ele mostra-lhesorte de interpretações. uma erva daninha, mas o discípulo ainda não compre- ende. Por fim, ele mostra-lhe um grão de areia.JESUS NO EVANGELHO DE TOMÉ Jesus, neste Esta noção também está presente na Gnosis egípciaevangelho, não se denomina filho de Deus.Ao contrá- quando Hermes diz a Asclépio:rio, ele menciona a origem divina de seus discípulos,como no logion 50: “Quem conhece a si mesmo conhece o universo”.“Se vos disserem: De onde viestes? Respondei-lhes: A DESCOBERTA INICIAL O importante aqui é que noViemos da Luz, do lugar de onde a Luz veio a ser por Evangelho de Tomé temos a oportunidade de ir alémsi mesma. Ela estabeleceu-se e manifestou-se mediante das interpretações históricas, de poder reconhecer aa imagem deles. Se vos disserdes: Quem sois vós? Dizei: origem divina do ser humano e de passar a viver doSomos seus filhos e somos os eleitos do Pai vivo”. que é eterno em nós mesmos:“Dizei-nos, como será nosso fim?”. Disse Jesus:“Já descobristes o início paraCom base nisso os discípulos se tornam conscientes de já estardes procurando o fim? Porque ali onde está oserem, eles mesmos, filhos do Pai vivo. No logion 108, início, ali também está o fim. Bem-aventurado o que seJesus afirma: encontra no início, porque ele conhecerá o fim e não provará a morte” µ“Quem beber de minha boca tornar-se-á como eu”.E quando Jesus fala de si mesmo no logion 77, ele o fazda seguinte maneira:“Eu sou a luz que está acima de todos eles. Eu sou ouniverso. O universo provém de mim, e o universo vol-tou a mim. Fende um pedaço de madeira, e lá estarei.Levanta uma pedra, e lá me encontrarás”. cristianismo interior e exterior 23

números, regras de vidae competênciaso ensino voltado para competências na escolade pitágoras e perspectivas pitagóricas em 2010Entre os exercícios de matemática ensina- colegas, por meio das mais modernas técnicas virtu- dos pelos professores não devem faltar os de ais, informações sobre o que quer que seja, coletadas Pitágoras, para quem os números, em reali- e obtidas via internet. Contudo, a exatidão dessasdade, são “os deuses imortais” do mundo divino, informações é uma questão aberta.pois constituem as leis do universo.As aulas dematemática, que hoje parecem reduzidas a mero ESCOLAS ESPIRITUAIS Sempre houve reclama-instrumento de transmissão de informações, podem ções sobre o ensino, em todos os tempos e culturas.transformar-se, pela aplicação das idéias pitagóricas, Histórias e imagens de crianças e adultos aprenden-em um acontecimento mágico e vibrante.Todos são do são algo comum e que encontramos em todostocados pessoalmente, pois cada participante influi os cantos do globo. O que eles aprendem e a queno resultado simplesmente mediante a qualidade da contexto cultural o ensino está sujeito, no entanto,sua radiação. Como serão os anos vindouros? Positi- depende da época e da região. Como os homensvos (+) ou negativos (-)? mudam, assim também mudam as aulas, bem como o tipo de reclamação. Portanto, poderíamos dizerQuem se conscientiza da nossa atual responsabili- que não há nada de novo nisso.dade pelo futuro do planeta Terra, responsabilidadeque é decisiva, crucial, acabará achando que as emo- No entanto existe um tipo de aula que nunca secionantes provas do sétimo volume de Harry Potter modifica nem se enquadra nos métodos de ensinonão passam de brincadeira de criança num parque existentes e regulamentados oficialmente.Trata-seinfantil ensolarado. Hoje se trata de tudo ou nada, do aprendizado dos mistérios da vida. O currícu-não há como escapar dessa alternativa. lo compreende invariavelmente os mesmos temas, como, por exemplo, o homem como microcosmo,As crianças de hoje já não sabem calcular nem es- sua relação com o macrocosmo, sua origem, suacrever corretamente, afirmam os relatórios escolares. alma imortal.Aliás, seus professores e professoras também perdema prática nisso. Como causa destas falhas apontam- Esse ensinamento ocorre em escolas espirituais, quese as reformas do ensino realizadas no passado, que existiram sobre a face da terra em todos os séculos ederam ênfase à aquisição de competências. Em vez continuam existindo. São dirigidas por fraternidades,de transmitir noções básicas sobre o idioma, ma- “sacerdotes e sacerdotisas”, associações. Quando otemática e história, o tempo de aula é empregado ensino não era aberto ao público, ocorria de formapara ensinar a fazer apresentações e praticar técnicas secreta, para grupos fechados de poucos ou muitosde diálogo. Sem se importar com “banalidades” tais alunos. Mas sempre dirigido à capacidade de ima-como ortografia, gramática, datas, divisões e por- ginação de cada ser humano buscador.A escola decentagens, os jovens de hoje podem transmitir aos Pitágoras foi uma delas.24 pentagrama 4/2010

Pitágoras ensinando em sua escola. Em primeiro plano,Theano, uma brilhante estudante com quem ele depoisse casou.PITÁGORAS E A ESCOLA PITAGÓRICA Pitágoras namento tinha início com vários anos de silêncio.nasceu em Samos, uma ilha grega, por volta de O estudo compreendia, entre outros, a doutrina da550 a.C. Segundo sua biografia, foi muito jovem reencarnação, a numerologia ou mística dos núme-ao Egito, a fim de estudar com os sacerdotes de ros, a Gnosis, a matemática e a música.Mênfis e Tebas.A seguir, aprendeu astronomia comos caldeus, geometria com os fenícios, bem como Ensinava-se que o ser humano é de origem divinaos rituais místicos de seus magos. Consta que foi e deve regressar a essa origem. O aluno atingia oiniciado em diferentes escolas de mistérios. objetivo final dos ensinamentos quando estava em condição de pôr término ao ciclo das reencarna-Após seus estudos, voltou por pouco tempo a Sa- ções. Os discípulos eram vegetarianos e viviam demos, mas em razão de problemas políticos em sua acordo com regras estritas, estipuladas em Os versosterra natal, mudou-se para Crótona, no sul da Itália. áureos de Pitágoras (ver quadro da pág. 27). PelaFoi lá que fundou a escola que iria durar quatro primeira vez na história, as mulheres foram admi-séculos. Ela compreendia duas partes: uma escola de tidas como discípulas, entre elas Theano, esposa demistérios fechada e uma parte pública. De forma Pitágoras, e suas três filhas.correspondente, havia dois grupos de alunos: os“ouvintes” e os “discípulos”. PITÁGORAS: OS NÚMEROS SÃO A BASE As princi- pais aulas eram sobre os números, pois eles consti-Os ouvintes frequentavam a escola pública, onde tuíam a base do sistema de ensino pitagórico.“Osaprendiam teoria musical e matemática. Já os deuses imortais”, que nos são familiares por meio dediscípulos eram admitidos na escola de mistérios contos e mitos, na verdade são os números, segundoe viviam em uma comunidade fechada. Seu ensi- Pitágoras. Eles representam as leis do universo e sua números, regras de vida e competências 25

Os números são essencialmente formações     criam e determinam as condições de Foto © Calaina Goodyearcriação. Encontramos um conhecimento semelhante criação. Ele é constituído das quatro partes que Pi-na Cabala. Os números são, em sua essência, for- tágoras chamou de tetraktis (tétrada), isto é, os quatromações energéticas vivas, cujas diferentes grandezas números cuja soma é igual a dez: 1+2+3+4=10.se expressam por meio de figuras matemáticas. Os A tetraktis é um símbolo sagrado que contém onúmeros criam e determinam as condições de vida segredo da criação e de sua contínua renovação.no macrocosmo e no microcosmo. Pitágoras assim explicou os quatro níveis do símbo-Para Pitágoras, o número 10 está na base de toda a lo sagrado:26 pentagrama 4/2010

 energéticas vivas que, em figuras matemáticas, vida no macrocosmo e no microcosmo1.A mônada é o símbolo da unidade, o estado de Os versos áureos de Pitágoras, o mais importante texto daser que precede a criação. escola pitagórica, são publicados até hoje. Suas idéias princi-2.A díada é o primeiro movimento no processo pais são:criativo: a fissão da mônada em dois pólos, chama-dos no Oriente de ying e yang. 1. Prefere a força da alma à do corpo.3.A tríada simboliza a união das duas polaridades 2. Convence-te de que as coisas penosas contribuem mais àmediante uma força mediadora.4.A tétrada é o símbolo da criação manifesta, do virtude que as coisas agradáveis.universo. Ela é representada pelos quatro elementos: 3. Cada paixão da alma é a pior inimiga de sua libertação.fogo, ar, água e terra. 4. É difícil seguir muitos caminhos ao mesmo tempo. 5. Pitágoras diz que é necessário escolher uma vida virtuosa.Os conhecimentos concernentes ao símbolo sagra-do eram ensinados somente aos discípulos da escola O hábito tornará isso agradável. A riqueza é instável,de Pitágoras e sob estrito sigilo. a glória é ainda mais instável, e o corpo, o poder e as honras também o são. Porque tudo isso é mutável e semO FIM DA ESCOLA DE PITÁGORAS, MAS NÃO DE força. Mas o que nos sustém com firmeza? A prudência,SEUS ENSINAMENTOS As autoridades da época não a nobreza da alma, a força. Essas qualidades resistem aeram entusiastas das idéias pitagóricas, como, aliás, qualquer tempestade. É uma lei de Deus: a virtude éacontece em todos os tempos com idéias revolu- única, é forte, e nada mais tem valor.cionárias. Os mandatários interessados em manter ahumanidade na ignorância sempre estiveram em pé Apolônio de Tiana, por exemplo, filósofo neoplatô-de guerra com o ensino sobre a própria divindade nico do século i da era cristã, disse ao rei da Pérsiainterior e a correta formação de toda a criação por que estava ávido por conhecer “a sabedoria dos seusfiguras matemáticas eternas, vivas e vivificantes.A magos, a fim de verificar se ela é tão profunda quan-escola de Crótona foi constantemente combatida e to me disseram. Quanto a mim, propago a doutrinafinalmente incendiada, quatro séculos após sua fun- de Pitágoras de Samos”.  A obra mais significativadação. Muitos seguidores de Pitágoras foram mortos desse seguidor de Pitágoras é O Nuctemeron.ao longo dos séculos. É necessário dizer também que a música atual não existiria sem “a harmonia das esferas” de Pitágoras,Mas somente homens e edifícios podem ser des- pois foi ele quem introduziu, entre outras coisas,truídos, não o conhecimento.Assim, as idéias dePitágoras influenciaram, durante séculos, as tradiçõesneoplatônicas, herméticas, cabalísticas e gnósticas. números, regras de vida e competências 27

O número um, Por isso, o sete é ocomo origem, inclui número da santifi-em si todos os cação.outros números, O oito é o númerosem que ele mesmo da via celeste per­seja incluído em um feita, a passagem paradeles. Ele gera todos a vida libertadora. […]os números, sem ele Então no número novemesmo ser gerado por é festejada a vitória daqualquer outro número. verdadeira gênese do homemTodos os números provêm da divino. Assim estão os nove nú-unidade, da origem e raiz realizou- meros reciprocamente ligados numase o desenvolvimento de todas as coisas. via nônupla de desenvolvimento.(Corpus Hermeticum, Livro 7, vers. 27) Desse modo, colocamo-nos outra vez diante daO número um representa a unidade com o Espírito, com o Pai, necessidade do retorno à unidade original, à origem e à raizcom o absoluto, com o Logos, com o original. […] de todos os números. Se quiserdes entrar no processo da vidaQuando o homem retorna à unidade, ao uno e indivisível, ele libertadora, é preciso começar pelo princípio para regressar-é posto diante do número dois. Esse número leva o que está se à unidade, não de modo abstrato, porém concretamente,ligado à unidade a uma nova relação com a substância original, pois talvez acheis muito interessante essas coisas das quaiscom a substância-raiz cósmica; por isso na Gnosis hermética, o falamos. Reconheceis sua lógica e as achais perfeitamentenúmero dois é “a Mãe”. esclarecedoras, mas que ganhais com isso se as compreendeisO número três ensina a amorosa ligação entre o uno, o e na compreensão ficais parados? Trata-se, em primeiro lugar,absoluto, e a substância original, entre o Pai e a Mãe; portanto, de que as façais, não é verdade? Portanto, nenhum falatórioa união de ambos; ao passo que o número quatro revela a abstrato, mas ação concreta!plenitude da concepção para a revelação. Quando a entidadeque está unida ao Pai é levada a ligar-se com a substância (Rijckenborgh, J. van. A Arquignosis egípcia, v. 2. São Paulo: Lecto-original cósmica, algo surge. A plenitude da concepção é então rium Rosicrucianum, 1986, cap. xix. )levada a manifestar-se.O resultado disso é o número cinco, a nova consciência, […]O seis é o número da justificação. Com a nova força-luz daconsciência é justificado o inteiro estado de ser do candidato,ele é posto em harmonia com o Logos.28 pentagrama 4/2010

Introduzir no currículo escolar os ensinamentos dePitágoras sobre matemática: as crianças certamentese beneficiariamo ensino das distâncias dos tons: a oitava, a quinta e Fontes:a quarta, noções utilizadas na música até a época de Pitágoras. Os versosBach (1685-1750). áureos. Jarinu: Editora Rosacruz, 2007.PITÁGORAS E O ENSINO VOLTADO PARA COM-PETÊNCIAS O que outrora era ensinado somente Rijckenborgh, J. van. Oa pessoas escolhidas, sob juramento de sigilo, hoje Nuctemeron de Apolônioé acessível a todos via internet. Já não é comum de Tiana. 2.a ed. Jarinu:praticar durante anos um modo de vida correto, Editora Rosacruz, 2003.seguindo, por exemplo, as regras de Os versos áureosde Pitágoras, antes da iniciação nas leis da criação.As revelações via internet são consideradas “demo-cráticas e transparentes”. Contudo, esses conceitos,geralmente encarados como positivos, ignoram osperigos que se manifestam no aumento crescente donúmero de aprendizes de feiticeiros que não sabemo que fazem.Talvez possamos dar um impulso, fazendo umarecomendação aos ministérios da educação: Comonão se pode deter a revelação dos mistérios docosmo e suas criaturas, por que não incluir o seuensino no sistema educacional regulamentar? Jáque é preciso mudar o ensino da matemática, porque não acrescentar os ensinamentos de Pitágorasno currículo? E, consequentemente, por que nãointroduzir também as suas regras de vida? Podería-mos chamá-las, para usar a linguagem moderna, de“competências” µ números, regras de vida e competências 29

sabedoria antiga paraos versos áureos de Pitágoras Na antiguidade, Pitágoras com fre- quência é represen- tado sentado e com a mão apontando para o céu. O filósofo e mate- mático também investigou a música, que, assim como os corpos celestes, é determinada por escalas e números. Manuscrito de Salz- burgo M III 35/3630 pentagrama 4/2010

ser praticada hojePitágoras viveu há dois mil e quinhentos anos, numa colônia grega conhecida hoje pelonome de Sicília. Com frequência ele é citado de um só fôlego com Hermes, Zoroastro ePlatão, e é incluído entre os maiores sábios. É dele que nos vem a palavra filosofia: amor àsabedoria. Em sua opinião, o homem deve, primeiro, esforçar-se para alcançar a pureza daalma. Isso seria algo natural, se o homem respeitasse tudo o que vive, se refletisse acercado universo onde reinam a regularidade e a harmonia e onde miríades de coisas cresceme se expandem naturalmente em seu próprio ritmo. Nesse macrocosmo majestoso,o número, o valor dos números e suas relações determinam tudo o que se manifesta.De acordo com a lenda, Pitágoras podia estar pois a vida decorre justamente em ligação com em muitos lugares ao mesmo tempo. Meta- tudo o que a circunda. Homens e mulheres eram foricamente, também é possível afirmar isso membros da escola pitagórica; todos os seus bensnos dias de hoje, pois sua influência se faz sentir em eram partilhados, e todos viviam em comunidade.toda parte: na filosofia, na ética, na astronomia, namúsica e na matemática.A combinação entre músi- As descobertas nos domínios da música, da mate-ca e astronomia pode ser observada na expressão “a mática ou da astrosofia eram consideradas comomúsica das esferas”. bens comuns e atribuídas – no sentido místico – a Pitágoras, mesmo após sua morte.Nesse contexto, Shakespeare também dá sua contri-buição em O mercador de Veneza: Os pitagóricos seguiam uma ética na qual a vida contemplativa ocupava o lugar principal:“Somos“Vem aqui, Jéssica, vê como a abóbada celeste está estrangeiros neste mundo; o corpo é o túmulo daincrustada de pontos de ouro que cintilam. Cada alma. Mas não devemos fugir dele pelo suicídio,corpo celeste que vês, por pequeno que seja, segue porque somos bens e propriedade de Deus, nossosua órbita cantando como um anjo no coro dos pastor, e sem sua ordem não temos o direito desempre jovens querubins. Assim a harmonia ressoa evadir-nos. Há três espécies de homens, exatamen-nas almas tornadas imortais. Mas, enquanto estiver- te como nos jogos olímpicos. A classe inferior é amos revestidos de argila, ela permanecerá inaudível dos que vêm comprar e vender, a seguinte, a dospara nós”. competidores; e, acima de todos, os que simples- mente veem. A maior purificação é, portanto, aOs pitagóricos formavam comunidades com ciência desinteressada, e o homem que a ela maisdeterminadas regras de vida, as quais, para nós, se se dedica, o verdadeiro filósofo, é quem mais seapresentam fora de seu próprio contexto. Segun- liberta da roda dos nascimentos”.do Dicaiarcos, Pitágoras afirmava que a alma éimortal.Tudo o que ocorre reaparece no curso da A palavra “teoria”, diz o filósofo moderno Ber-rotação do tempo e de acordo com determinados trand Russel, é originalmente uma palavra “órfica”,ciclos, e, por conseguinte, em verdade, nada é novo. isto é, um conceito proveniente de um antigoTudo renasce com o que tinha antes ao seu redor, movimento religioso místico que considerava a sabedoria antiga para ser praticada hoje 31

Os pitagóricos levavam uma vida de ascetismo e abstenção. aos trabalhos úteis, e não te desavenhas com teu O respeito à vida era para eles o mais importante, e por amigo por causa de pequena falta, tanto quanto isso eram vegetarianos. Eles recusavam-se igualmente a possas, pois o poder habita junto à necessidade. sacrificar animais aos deuses. Pitágoras foi, portanto, o funda- dor do vegetarianismo na Europa. Até a segunda metade do Sabe que estas coisas, por um lado, são assim; por século 19 as pessoas que se abstinham de comer carne e de outro, habitua-te a dominá-las: sobretudo o estô- produtos animais eram chamadas de pitagóricas. Somente mago, o sono, e a sexualidade, e a ira; e nunca faças depois é que surgiram as palavras “vegetariano” e “vegetaria- algo vergonhoso, quer com outros, quer sozinho; nismo”. www.stichting-pythagoras.nl porém, acima de tudo respeita a ti mesmo.alma como um elemento divino, tendo a possibi- Depois, sê justo em palavras e ações; habitua-te alidade de libertar-se do corpo após uma série de nunca comportar-te sem refletir; porém, sabe quereencarnações. Poderíamos interpretar a palavra morrer é o destino de todos.“teoria” como: uma “contemplação simpática efervorosa”. Uma teoria pode levar a um saber Quanto às riquezas, aceita por vezes adquiri-las,científico ou a uma compreensão profunda. Assim, e por vezes perdê-las.essa palavra, passando pelos pitagóricos e chegandoaté nossos dias, tomou progressivamente seu atual E tudo o que, pelos destinos divinos, os mortaissignificado, mas para os que se deixam inspirar por recebem de dores, se disso tens tua parte fatal,Pitágoras ela conserva algo de uma manifestação suporta-a e não te indignes; porém é a cura queextática. convém, tanto quanto te seja possível; e refleteAlgumas das regras de vida dos pitagóricos foram desta maneira: que aos bons o destino não dátransmitidas mediante Os versos áureos de Pitágoras. muito desses sofrimentos.Apresentamos aqui alguns fragmentos dessa antigasabedoria.OS VERSOS ÁUREOS DE PITÁGORAS Muitas palavras vis ou virtuosas são pronunciadas diante dos homens, que elas não te turbem; e nãoPrimeiro, honra os deuses imortais, como a lei te permitas desviar-te por elas. estabelece, e venera o juramento, depois osheróis dignos de honra, e os gênios do mundo Se alguma mentira for dita, sê brando. O que teinferior, executando as prescrições da lei. digo se cumpra em qualquer circunstância:Honra também teus pais e parentes mais pró- Ninguém jamais deve levar-te, por palavras ouximos; e, entre os outros, escolhe como amigo por ações, a fazer ou a dizer algo que não seja oo melhor em virtude; cede às palavras doces e melhor para ti.32 pentagrama 4/2010

Delibera antes da ação, para não haver consequ- Elas levar-te-ão aos caminhos da virtude divina; sim,ências censuráveis: pois agir e falar sem reflexão por aquele que deu a tétrada à nossa alma, fontesão coisas de um homem fraco; mas cumpre essas da natureza eterna! Agora empreende a tarefa,coisas, a fim de que mais tarde não te entristeçam. após orar aos deuses para que a realizem.Nada faças que não entendas, porém aprendetudo o que te é necessário; e levarás assim a mais Quando tiveres dominado essas coisas, saberásagradável vida. qual é dos deuses imortais e dos homens mortais a constituição, e até que ponto se diferenciam eTambém não negligencies a saúde do corpo; onde se unem.porém, na bebida, na comida e na ginástica, sêcomedido. E conhecerás, segundo a medida da justiça, que a natureza é em tudo semelhante, de modo queChamo medida tudo o que não te entristecerá. para ti não haja nenhuma esperança do que é semHabitua-te a um modo de vida puro e sem indo- esperança, e que nada te permaneça oculto.lência; e evita fazer tudo que cause inveja. E saberás que os homens têm os males que elesNão gastes fora de medida, como o que ignora a mesmos escolheram.beleza, nem sejas avarento: a medida em todas ascoisas é excelência. Infelizes, que não vêem os bens que estão pró- ximos deles nem os escutam: raros são os queFaze o que não te prejudicará e reflete antes de sabem livrar-se do mal.agir. Essa é a sina que extravia o espírito dos mortais;Não permitas que o doce sono cerre teus olhos e, como cilindros que rolam, são jogados para lá eantes de teres examinado cada um de teus atos para cá e padecem males infinitos.Triste compa-do dia: em que errei? O que fiz? O que não fiz nheira, a discórdia inata neles, sem que percebam,que deveria ter feito? os extravia.Começando no primeiro ponto, vai até o fim e Não deves fazê-la avançar, porém cedendo a ela,em seguida: se cometeste coisas vergonhosas, dela fugir.repreende-te; mas, se agiste bem, regozija-te. Zeus pai, por certo livrarias de muitos males todosNessas coisas esforça-te e exercita-te; é preciso os homens, se lhes mostrasses de que demônioque as ames. eles se servem. sabedoria antiga para ser praticada hoje 33

Tu, porém, arma-te de coragem, pois divina é a Abstém-te, porém, dos alimentos dos quais fala-ascendência dos mortais, aos quais a natureza mos, e, tanto nas purificações como na libertaçãosagrada revela todas as coisas. da alma, decide e reflete sobre cada coisa, após ter estabelecido como condutor o juízo cheio deQuando algo dela tornar-se parte tua, dominarás excelência que vem do alto; após abandonares oo que te ordeno. corpo, se chegares ao éter livre, serás imortal: um deus que não morre, já não um mortal µE, após teres curado a alma, salvá-la-ás dessesmales.Pitágoras sentado, no célebre quadro de Raphael Fontes:Urbino A Escola de Atenas, na Stanza della Segnatura Pitágoras. Os versos áureos. Jarinu: Editora Rosacruz, 2007.(Roma, ca. 1509) Gottlieb,A. O sonho da razão: uma história da Filosofia da Grécia ao Renascimento. Algés: Difel, 2007. Schuré, E. Os grandes iniciados. 7.ª ed. São Paulo: Ibrasa, 2000.34 pentagrama 4/2010

luz com luz,fogo com fogoSe acreditarmos em Goethe, o homem nasceu de um diálogo:“O homem é o primeiro ser que deve o seu nascimento a umdiálogo entre Deus e a natureza”.* Se admitirmos que a natureza é umamanifestação do divino, como se afirma em diversos lugares, podemosdeduzir que o homem – um ser da natureza – é de origem divina.Esse status divino aparece em expressões que mais realista, podemos apoiar-nos nas descobertas e revelam que o homem é “uma gota do oceano instrumentos científicos. divino”, uma “centelha de fogo divino” e, so-bretudo, um “filho de Deus”.Tantos títulos de hon- Numa visão tradicional de Deus, isso é impossível.ra dos quais é necessário saborear por um momento Por mais verdadeiro e profundo que o termo “Se-a poesia antes de passar à realidade. Porque é muito nhor” ou “Criador” possa ser, ele evoca em nós, nesteprivilégio pensar que somos, atualmente,“a imagem mundo material, apenas imagens extremamente uni-e semelhança de Deus”. laterais como: respeito, poder, recompensa e punição. Mesmo a expressão libertadora “Deus é amor” nósSe não ficarmos cegos completamente pela vaidade reduzimos frequentemente a uma bondade burguesa.é necessário efetivamente que verifiquemos nossos No entanto, numerosas fontes de boa-fé incentivam-limites e nossa impotência em armar-nos contra os nos a orar, e mesmo “a orar incessantemente”, comoimprevistos do destino.Assim criamos uma potência Paracelso ou mestre Eckhart, por exemplo, e encon-superior, um Deus a quem podemos pedir ajuda. tramos abundantes recomendações nos numerososE, regularmente, esvaziamos o coração e em segui- escritos da sabedoria universal que visam à libertaçãoda veneramo-lo, prodigalizando-lhe toda a honra e da alma.adoração possíveis para, por fim, uma vez o terrenonivelado, despejar-lhe a lista das nossas ambições e Um acréscimo estranho, a palavra “incessantemente”.convicções. Essa é uma imagem primitiva de Deus: Com certeza não pode ser o entoar contínuo de umapor um lado, fazemo-nos humildes e submissos; e, elegia, de um cântico de louvor ou de súplica. Seriapor outro, revoltamo-nos e manifestamos as nossas uma explicação fácil para o termo “incessantemente”,amarguras quando o socorro desejado não vem ou porque quase a cada segundo de nossa vida temostoma outro rumo. desejos, expectativas e anseios. Então como pareceria nosso comportamento diário? Mesmo permanecen-Nesse contexto criamos, há séculos, uma cultura de do num retiro solitário, continuaríamos a ter umaorações onde se mantém uma imagem distorcida de série de necessidades profanas, tarefas e obrigaçõesDeus e do homem. Isso é comparável à forma como que nos desviariam da oração. Esse “incessantemente”nossa consciência percebe as estrelas: sobre uma parece uma tarefa impossível. Haveria, por conse-superfície plana e a uma distância que não têm nada a guinte, por detrás de semelhante palavra, algo alémver com a realidade, a qual sob certo ponto de vista é do que aparece à primeira vista, com um significadomesmo inatingível, mesmo sob a forma de números. mais profundo.A esse respeito não há problema, porque sabemos É bom observar que, nos escritos mencionados acima,que é uma ilusão de óptica e que, para ter uma idéia raramente se trata de pedir e dar durante a oração, luz com luz, fogo com fogo 35

mas sim de nos voltarmos para outro lugar, para algo “totalmente outro”. Não tanto fisicamente, mas com base na consciência, na alma ou no “noûs”: trata-se, pois, do homem “interior”. No livro O evangelho dos doze santos, os apóstolos entram “no círculo das palmeiras”, e Jesus aparece para ensiná-los. Hermes,“meditando sobre as coisas essenciais”, encontra Pimandro, o ser eterno nele. É-nos aconselhado:“Entra em tua câmara interior e fala ao Pai em ti”. Ou ainda somos convidados “a escalar a montanha”,“a elevar o coração”,“a reunir- nos no salão superior”. São expressões para indicar o essencial, o espírito da verdadeira oração. Se nos aplicarmos a isso “incessantemente”, deixaremos o contexto comum e entraremos em outra dimensão, numa espiral superior; num plano que não se encon- tra fora de nós, mas sim na nossa “câmara interior”. É lá que se encontra o ponto de contato com o nosso verdadeiro campo de vida,“o país da origem”, o mundo divino. A consciência-eu da personalidade terrestre não participa deste campo de vida, mas ela é o instrumento que possibilita a aquisição de uma consciência superior, na qual se encontra a possibili- dade de endireitar o caminho que leva ao Pai. Essa consciência superior, esse novo pensar é, para a maior parte da humanidade, ainda embrionária. Uma das suas características, no entanto, é a de elevar-se acima do interesse pessoal e da autoafirmação da razão comum, portanto, da assim chamada “alma animal”. Podemos agora verificar que as palavras de Goethe se integram perfeitamente a essa idéia. O que acontece no macrocosmo reflete-se no microcosmo.36 pentagrama24/2/2001100

Na eternidade, o Pai gera o Filho à sua imagem.“E o Verbo “incessantemente”. Ele gera-me como seu filho e como oestava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1). O Verbo é próprio Filho. E ouso dizer: Ele gera-me não somente comoda mesma natureza que o Pai. Esse nascimento deu ao Pai ta- gera seu Filho, mas gera-me como ele mesmo, de acordo commanha bem-aventurança que sua natureza inteira foi envolvida seu próprio ser, sua própria natureza. Da fonte mais profundapor ela.Tudo o que nele está leva-o a manifestá-lo: o que está eu dimano no Espírito Santo: trata-se apenas de uma únicaencerrado em seu próprio ser. Portanto, o Pai não manifesta vida, um único ser, uma única obra.Tudo o que Deus faz ésomente o Filho, mas também a nós nele. Ele quer que nos um: é por isso que ele me gera como gera o seu Filho, semtornemos igualmente o que esse Filho é. […] nenhuma distinção.Da mesma maneira que o Pai revela seu Filho na eternida- Eckhart, M. Predigten. Justus in perpetuum vivet (Sermões. Osde, ele o manifesta na alma e não diferentemente. Ele o faz justos vivem para sempre). Sabedoria de Salomão 5:15.“Assim como é em cima, assim é embaixo”. O não escolha (ou mais exatamente: essa alegre aceitação) émanifestado, o Espírito, estabelece um diálogo com o precisamente poder “orar incessantemente”.manifestado, com o homem, no sentido mais amplo e Não se trata de revigorar uma relação que se está dis-original da palavra. solvendo, continuando a identificar-nos com a nossa aparência terrestre, porque o terrestre não pode entrarNo início, o aluno o reconhece como breves lampe- em contato com a luz devido à enorme diferença dejos, como estrelas cadentes num céu negro; em se- vibração. Somente a luz pode fazê-lo, luz com luz,guida, gradualmente, como uma corda luminosa que fogo com fogo.determina e guia cada vez mais a sua vida. Sua cor é aalegria luminosa, sua linguagem é a liberdade. Somos Podemos voltar-nos para o ser celestial que está nointeiramente livres para agarrar a mão estendida, ou âmago de nosso ser. Isto significa assumir o lugar quesatisfazer-nos em meditar sobre a literatura adequada nos está destinado: cooperar na revelação da idéia divina.e participar de piedosas reuniões – e, sobretudo, em Ler e seguir a carta escrita em nosso coração abre-permanecer como somos! Mas quem pode resistir à -nos um mundo novo, ao mesmo tempo familiar;beleza e ao desejo depois de eles terem deixado suas isso indica, no entanto, uma ordem de aspectos muitomarcas na alma? diferentes.Catharose de Petri, grã-mestra da Escola Internacio- Esse mundo, que eu pensava sentir unicamente emnal da Rosacruz Áurea, assim o exprime:“Lê a carta minha câmara interior, mostra-se agora como espelhono próprio coração, e age em seguida”. Portanto: de meu ser verdadeiro: o divino inicia um diálogoOra et labora. Ora e trabalha. Um conselho duplo de com sua imagem em mim, e isso numa linguagemconsequências de longo alcance. Se mantivermos o absolutamente nova que não posso traduzir, mas quecontraste entre a conhecida “ordem do dia” e esse compreendo e que me envolve a alma com suave luz,mundo “totalmente outro”, que talvez tenhamos que, ofegante, contemplo µexperimentado apenas por um instante, o impulso deluz recebido se tornará numa carga insuportável tantofísica como psicologicamente.A sabedoria hermética diz:“Viste e experimentaste *Goethe, J.W. von.Aforismen (Aforismos). Roterdã:Ad. Donker, 1989.os dois mundos.Agora faze tua escolha”. Ora, essa luz com luz, fogo com fogo 37

a gnose em sua atualmanifestaçãoHá na história, períodos em que o mundo do seguinte, e, entretanto, essas sete fases estão presentes Espírito se aproxima fortemente do mundo ao mesmo tempo e estimulam-se mutuamente. O da humanidade.Também assim ocorre em campo de encontro possui dois polos, que corres-nossa época, e, nesse caso, forma-se um espaço espe- pondem aos dois aspectos do mundo transitório.cial onde o mundo do Espírito e o mundo transitó- Um dos polos encontra-se na parte material desterio aproximam-se um do outro e “interpenetram- mundo, e é mantido vivo pelo grupo dos buscado-se” parcialmente. Nesse espaço comum, o buscador res anelantes, presente na Escola da Rosacruz Áurea.tem a possibilidade de elevar-se conscientemente ao O outro polo está livre e encontra-se na região sutilmundo do Espírito. deste mundo. O mundo do Espírito está em ligação tanto com os seres humanos que estão na regiãoTodas as religiões no início – incluindo aí o cristia- material deste mundo como com a humanidade dasnismo original, que era totalmente gnóstico – for- almas que se encontra na região sutil.mam semelhante campo de encontro. O livro AGnose em sua atual manifestação descreve a formação, O corpo-vivo forma, por assim dizer, um campoa construção e o desenvolvimento desse campo do eletromagnético intenso, uma esfera com dois polos.encontro nos tempos atuais, tomando como modelo Um polo reúne os que se encontram no campo li-a história do desenvolvimento da Escola Espiritual vre do Espírito, o qual tem a capacidade de atrair asda Rosacruz Áurea. forças do mundo espiritual e colocá-las à disposição de todos os que querem trabalhar em si mesmos.Esse campo de encontro é um “corpo-vivo”, umsistema consciente de pensamentos afinados com O livro A Gnose em sua atual manifestação descreveo mundo do Espírito, de experiências e forças que em detalhes o desenvolvimento histórico e interiorsustentam a vida nesse campo em sua totalidade. de semelhante estrutura magnética. Sua intensida-Ele espelha a imagem das características e forças do de e sua força não estavam presentes no início, foihomem espiritual. Portanto, o campo do “corpo- preciso primeiro construí-las. Sempre existe, no-vivo” é uma estrutura de linhas de força que se início, um grupo de pessoas que recebe o chamadoharmoniza com a do homem verdadeiro. do Espírito em sua consciência e a ele responde mediante pensamentos e sentimentos. Essa respostaEm semelhante campo de encontro entre o mundo demonstra-se claramente por meio de um compor-espiritual e o mundo natural, o ser humano pode tamento “moral-racional”.descobrir e realizar em seu interior, passo a passo,as fases de desenvolvimento do homem espiritual, Se esse comportamento é mantido durante umem número de sete, em concordância com os sete tempo suficientemente longo, o primeiro raio do“raios” do Espírito. Cada fase é condição para a Espírito, o raio da força, tem a possibilidade de38 pentagrama 4/2010

resenha de livro Jan van RijckenborghNo livro A Gnose em sua atual manifestação, Jan van Rijckenborgh descreve odesenvolvimento do corpo-vivo em sete fases. No Jardim das Rosas, em Noverosa,onde começou em 1924 a obra da Escola Espiritual, encontra-se, como símbolodesse desenvolvimento, uma fonte onde rosas florescem e da qual partem sete raios. a gnose sua atual manifestação 39

As características do Espírito revelam-se, as trevasdissipam-se, faz-se luz no buscador anelantetransformar o grupo interiormente. Na segunda harmoniosamente com o poderoso desenvolvimen-fase, concomitantemente com o raio da força, o raio to do homem-alma, essa energia pode agir sem im-da luz aos poucos se torna ativo.As características pedimentos no homem mortal. E, então, ela trabalhado Espírito revelam-se, as trevas dissipam-se, faz-se no buscador e por meio dele para seu benefícioluz no buscador anelante. Dessa maneira, o cam- individual, do grupo e de toda a humanidade.po de força transforma-se em um campo de luz.O corpo-vivo, a estrutura magnética, pode ligar- O livro termina com um capítulo que descreve emse diretamente ao segundo aspecto do Espírito. E detalhes a reação geral da humanidade à aproxima-porque o segundo raio também é conhecido como ção do mundo do Espírito. Nele o autor confronta“o Filho”, Jan van Rijckenborgh o denomina de “o essa reação com a reação metódica e sistemática danascimento da luz de Cristo no homem”. assimilação das novas energias superiores no interior de uma escola espiritual. Segundo ele, a primeiraEsse nascimento da luz na vida de um ser humano energia, em semelhante escola, é a “Pistis”, o conhe-representa para ele um momento decisivo, assim cimento; e a segunda, a “Sophia”, a sabedoria µcomo também o foi no desenvolvimento da EscolaEspiritual, porque, a partir desse momento, a cabeçae o coração transformam-se progressivamente. Nointerior do corpo mortal todas as radiações do Es-pírito podem trabalhar de modo harmonioso nessaconstrução, e desenvolve-se um corpo transfigurado.E é esse corpo “glorioso” ou “glorificado” que, porfim, após o desaparecimento do corpo perecível,sobreviverá eternamente.A condição para esse nascimento da luz é, sobre-tudo, a submissão da vontade humana à “vontadede Deus”, às forças de uma nova energia criadora.Porque agora, se o coração e a cabeça se ajustam40 pentagrama 4/2010



“Delibera antes da ação, para não haver consequências censuráveis: poisagir e falar sem reflexão são coisas de um homem fraco; mas cumpre essascoisas, a fim de que mais tarde não te entristeçam.Nada faças de que não entendas, porém aprende tudo o que te é necessário;e levarás assim a mais agradável vida.Também não negligencies a saúde do corpo; porém, na bebida, na comidae na ginástica, sê comedido. Chamo medida tudo o que não te entristecerá.Evita fazer tudo que cause inveja.” Pitágoras de Samos, ca. 550 a.C.R$ 16,00


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