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Revista Pentagrama 2011-6

Published by Pentagrama Publicações, 2016-06-13 21:06:32

Description: revista-ano-33-numero-6

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  pentagrama Lectorium Rosicrucianum O que significa verdadeiramente servir? A alma olha à frente resolutamente Paulo de Tarso Vesna Krmpotic´ : Agora, somente agora Som da alma Física Quântica e espiritualidade A ciência sagrada individual A Edda: Do combate dos deuses Resenha de livro: P.D. Ouspensky A estranha vida de Ivan Osokin2011 6nov / deznúmero 

Editor responsável Revista Bimestral da EscolaA. H. v. d. Brul Internacional da Rosacruz ÁureaLinha editorialP. Huis Lectorium RosicrucianumRedatores A revista Pentagrama dirige a atenção de seus leito-C. Bode, A. Gerrits, H.P. Knevel, G.P. Olsthoorn, res para o desenvolvimento da humanidade nesta novaA. Stokman-Griever, G. Uljée, I.W. van den Brul era que se inicia. O pentagrama tem sido, através dos tempos, o símboloRedação do homem renascido, do novo homem. Ele é tambémPentagram o símbolo do universo e de seu eterno devir, porMaartensdijkseweg 1 meio do qual o plano de Deus se manifesta.NL-3723 MC Bilthoven, Países Baixos Entretanto, um símbolo somente tem valor quando see-mail: [email protected] torna realidade.O homem que realiza o pentagrama em seu microcosmo, em seu próprio pequeno mundo,Edição brasileira está no caminho da transfiguração.Pentagrama Publicações A revista Pentagrama convida o leitor a operar essawww.pentagrama.org.br revolução espiritual em seu próprio interior.Administração, assinaturas e vendasPentagrama PublicaçõesC.Postal 39 13.240-000 Jarinu, [email protected]@pentagrama.org.brAssinatura anual: R$ 80,00Número avulso: R$ 16,00Responsável pela Edição BrasileiraM.V. Mesquita de SousaCoordenação, tradução e revisãoJ.C. de Lima, A.C. Pieranton, M.M. Rocha Leite,A.S.Abdalla, A.C.Gonzales Jr., L.M.Tuacek,M.L.B. da Mota, L.A. Nepomuceno, M.D.E. de Oliveira,M.B. Paula Timóteo, A.L.D.Fróes, M.R.M. Moraes,R.D. Luz, F. LuzDiagramação, capa e interiorL.F. EscosteguyTerceira capaM. Jackson NevesLectorium RosicrucianumSede no BrasilRua Sebastião Carneiro, 215, São Paulo - SPTel. & fax: (11) [email protected] em PortugalTravessa das Pedras Negras, 1, 1º, [email protected]© Stichting Rozekruis PersProibida qualquer reprodução semautorização prévia por escritoISSN 1677-2253

pentagrama ano 33 número 6 2011É em sentido um tanto incomum que a poetisa Vesna sumárioKrmpotic´  apresenta a si mesma num dos artigos destaedição da revista Pentagrama: a sabedoria da fama fraternitatis o que significa verdadeiramente servir?“Descobrir quem eu era e quem sou: afinal, tudo gira ao j. van rijckenborgh 2redor desse ponto essencial. Como descobrir? Cantando! alocução durante a conferência dos obreirosE é isso que faço. Descobrir quem somos e entrar no do trabalho da mocidade, 2011reino dos céus: tal é a finalidade comum a todos e a única a alma olha à frente resolutamente 6verdadeira vocação digna do homem.” quando eu quero fazer o bem, o mal está ao meu ladoEste número da revista Pentagrama tentará contribuir na luz sobre damascobusca pelo si mesmo. Ao longo de vias muito divergentes, sobre paulo de tarso 8veremos os sinais de uma atividade espiritual: na história, agora, somente agora – o somna Bíblia, no presente atual, na Europa e fora da Europa e da almamesmo na Física Quântica, ainda tão pouco compreendida vesna krmpotic´ 16–18– na busca da alma, na busca do que nos mantém jovens física quântica e espiritualidade 19interiormente. a ciência sagrada individual 26 a madona negra 31“Existe outra juventude e outra idade além da que é edda: do combate dos deusesmedida em anos desde o nosso nascimento natural. homens de lança e a fonteAlguns pensamentos sempre nos encontram jovens de mimir 35e nos mantêm assim”, afirma o autor americano Ralph resenha de livro: a estranha vida deWaldo Emerson. ivan osokin repetições sem sentidoSeria isso real? Uma juventude e uma idade totalmente dife- p.d. ouspensky 40rentes, independentes do corpo, mas que o preenchessemtotalmente? Capa: cientistas reúnem dados de todas as discipli- nas científicas em grandes sistemas de computaçãoÉ possível que possamos aprofundar nossa compreensão (clusters), nos quais testam seus modelos. Essa imagem,nos artigos sobre Física Quântica e espiritualidade, e tam- feita com o auxílio da ciência da computação, tembém na profundidade de Lao Tsé, ao ler o que ele escreve relação com modelos da Física Quântica. © DCSC,no Tao Te King: Copenhague“O Tao é vazio, e suas radiações e atividades são inesgo- de ware betekenis van het dienen 1 1táveis. Oh! Quão profundo ele é. Ele é o Pai original detodas as coisas. Ignoro de quem ele possa ser Filho.Ele era antes do supremo Deus”.

A SABEDORIA DA FAMA FRATERNITATISo que significaverdadeiramente servir?J. van RijckenborghA verdadeira história original da descoberta do homem divino profundamenteiluminado, Irmão Cristão Rosa-Cruz é a seguinte:H á um aluno que tem suficiente conhe- Jesus Cristo, morre. Ele perece completamente, cimento dos mistérios para compre- ele expira na Gallia Narbonensis, ou seja, no país ender o que se espera dele. Dispondo das duras provas. E dele, da tumba da naturezade suficiente qualidade de alma, conquistada a inferior, eleva-se seu sucessor, um novo ho-serviço do amor, ele decide seguir o caminho mem, um Lázaro, o que quer dizer “o homemindicado por Proteus, o servidor de Netuno. Ele desassistido”. Poderíamos também chamar essedeixa sua casa para adquirir a verdadeira salva- homem de “homem sem nome”, pois ele já nãoção, e põe-se a caminho a serviço da bondade, quer ser um “eu”, apesar de ninguém ter per-verdade e justiça. E, imediatamente, vêm as pro- sonalidade mais forte do que ele. Ele é e nãovas, duras provas. Ele precisa aprender a perder quer ser mais do que um servidor da humani-a si mesmo inteiramente, entregar-se totalmen- dade. Esse Irmão N.N., o impessoal, o renascidote, no altar do serviço. Ele deve transmutar sua segundo o espírito, escutou a palavra de adver-natureza inferior completamente, purificando- tência de Cristo: “Aquele que não renuncia a-se inteiramente na força de Cristo, seu Senhor. tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo”.Ele deve compreender que essa purificação Eis o meio de progredir na senda: auxiliar oem Cristo não depende absolutamente de uma mundo inteiro e conduzi-lo à vida. É assim queautoridade dogmática com rosto piedoso, mas o irmão renascido chega na Ordem e, depois dede um esforço heróico, uma empreitada ter- ter terminado seu discipulado, planeja partir emrível, de intensa dor. É uma morte segundo a viagem. Quando sois assim renascidos, ressusci-vida inferior, uma morte segundo a natureza. O tados do mundo inferior, libertados do egoísmoaluno deve aprender que essa descida é apenas pela morte na Gallia Narbonensis, somente entãoaparente, uma morte aparente como diz Cristo, estais prontos para partir nessa viagem para di-quando fala de Lázaro: “Esta enfermidade não é vulgar o evangelho e curar os enfermos; entãopara a morte, mas para a glória de Deus”, a fim sois penetrados por uma nova vocação e soisde que o Deus interior, o ser verdadeiro, Netu- chamados de “arquitetos”, isto é, construtores,no, Cristão Rosa-Cruz, seja glorificado por ela, francomaçons. E todos os que se dizem fran-seja despertado para a vida.Vemos isso aconte- comaçons devem compenetrar-se bem do fatocer em nossa história. O aluno, vamos chamá- de que o verdadeiro francomaçom é aquele-lo de Irmão A., herdeiro por vocação, isto é, que morreu para a natureza inferior na Galliaherdeiro da salvação, da verdadeira salvação em Narbonensis. Somente este último pode ser útil2 pentagrama 6/2011

J. van Rijckenborgh e Catharose de Petri, fundadoresda Escola Internacional da Rosacruz Áurea, descreviame explicavam para alunos e interessados, muitas vezescom base em textos originais da Doutrina Universal, ocaminho que leva à libertação da alma, do qual foramum exemplo vivo. Faiança decorativa de rosas e pássaros, Xiraz (Fars), Irã (antiga Pérsia). Uma das mais antigas cidades do Irã, Xiraz era chamada “a cidade das rosas e dos rouxinóis” o que significa verdadeiramente servir? 3

Portanto, ai está a verdade e o relato viajar com um viático considerável, um grande prego. Ao ser extraídofiel da descoberta do homem de Deus ou uma bolsa da Fortuna, pensou – com grande força, ele trouxe consigoaltamente iluminado, Irmão C.R.C: sendo um arquiteto extremamente uma parte bastante grande da fina pa- bom – em modificar um pouco essa rede, ou revestimento, que recobria aDepois do falecimento pacífico de construção e arranjá-la de uma forma porta secreta, revelando, assim, umaA. na Gallia Narbonensis, nosso Irmão mais cômoda. passagem inesperada, a partir da qualbem-amado N.N. assumiu o seu No decorrer desse trabalho de pusemos abaixo o resto da alvenaria.lugar. Por ocasião de sua instalação renovação, ele encontrou a placa Com alegria e impaciência limpamosentre nós, como juramento solene de comemorativa, fundida em latão, que a porta, onde se encontrava escritofidelidade e segredo, ele nos relatou continha os nomes de cada membro em grandes letras, na parte superior:confidencialmente que A. lhe havia da Fraternidade e algumas outrasdado esperanças de que esta Frater- inscrições. Ele quis transferi-la para “Depois de cento e vinte anos sereinidade logo não seria tão secreta, debaixo de uma abóbada diferente e aberta”.mas seria para a pátria inteira, a mais bem adaptada, uma vez que osnação alemã, auxiliadora, necessária e antigos haviam guardado o segredo Abaixo estava a data. Rendemos graçasdigna de louvor – algo que ele, N.N., do lugar e do momento da morte do a Deus e, na mesma noite, deixamosem sua posição, não teria a menor Irmão C., assim como do país onde tudo no lugar, porque queríamos pri-razão de se envergonhar. No ano ele poderia estar enterrado; e nem meiro consultar nossa Rota.seguinte, quando estava terminando nós tínhamos conhecimento disso.seu discipulado e teve a chance de Nessa placa comemorativa sobressaía Fama Fraternitatis, 1614à humanidade, porque ele sacrificou voluntaria- Enquanto está ocupado com esse trabalho demente seu “eu”, segundo a exigência do Evan- renovação interior, ele encontra a placa come-gelho. morativa, fundida em latão, que traz os nomesAgora podereis compreender que somente um dos irmãos e muitos outros detalhes.aluno como esse, que chegou a esse ponto, pode Em sentido esotérico, o latão é o metal espiri-ir mais longe! Sem que ele tenha se submetido tual, a posse espiritual dos valores de Vênus ea esse processo natural, a iniciação não passa de Júpiter, da alma emocional e da alma consciente,uma fantasia criminosa. Por toda parte existem a partir da transmutação da natureza amorosa,milhares de “iniciados” como esses, que pas- pelo serviço amoroso à humanidade, em abne-sam por profetas ou por seres muito avançados, gação – o que exprime bem o realismo cristão.enquanto que sua vida real é diametralmente Essa transmutação, essa fusão, purifica vossaoposta à exigência da construção. Todos esses faculdade de pensamento e constitui uma placainiciados especulam interminavelmente so- comemorativa, colocando-vos em condição debre o misticismo e o dogmatismo e tagarelam compreender cada vez melhor os axiomas e asobre o amor, sobre Deus e sobre Cristo. […] Arte Real. Quando, como nosso herói, estaisQuem realmente quiser ajudar o mundo deve ocupados com a autoconstrução impessoal,ser arquiteto, francomaçom; deve passar a sê-lo, descobris de repente a placa comemorativa deseguindo o método esboçado na Fama: morrer, latão; vossa faculdade de pensamento é brusca-perecer na Gallia Narbonensis - país da provação, mente capaz de ver e assimilar as onipresentessegundo a exigência do cristianismo evangéli- abstrações divinas e vosso ser é preenchido porco. O caminho de iniciação agora está aberto um saber que ultrapassa todo conhecimentodiante do herói simbólico de nossa história. terrestre. O aluno, preenchido de uma alegriaComo autoconstrutor, como autorrealizador, ele inexprimível por essa dádiva divina, apodera-está ativamente ocupado com as transformações -se dessa sabedoria a fim de depositá-la em umde seu próprio edifício, para torná-lo cada vez lugar melhor: seu coração. Com lágrimas demais bem adaptado ao serviço que deve realizar. gratidão, erguendo em seu coração um altar,4 pentagrama 6/2011

Vestígios da ponte romana de São Tibério, situada perto da Via Domitia.A Via Domitia ligava a Itália àEspanha através da Gallia Narbonensis e da atual Provença (sul da França)ele cai em adoração diante do incompreensível pontos do corpo-alma. Assim é liberada a portaamor divino que se comunica com ele e quer do sepulcro de Cristão Rosa-Cruz, o sepulcrogravar seu mistério sobre a placa comemorativa do Cristo interno; as paredes são demolidas comde latão. É nesse momento que ele encontra o júbilo e o “batei e abrir-se-vos-á” é cumprido.local maravilhoso. Quando, na Gallia Narbo- E sobre a porta está escrito em grandes letras:nensis, o renascido vai festejar sua união com o Depois de 120 anos serei aberta. Cento e vintepensamento abstrato manifestado nele, quando é o número de Proteus, o servidor de Netuno,ele o entende para efetuar a renovação de seu o número da verdadeira salvação que é obtidacoração, então esse ponto único e maravilhoso é quando seguimos os passos de Cristo. Assimarrancado como um prego, para, em seguida, ser possamos nós entrar no sepulcro de nosso Paivivificado. Esotericamente, esse ponto também é Cristão Rosa-Cruz. µchamado o sexto prego, ou a sexta corda, cordapela qual Cristão Rosa-Cruz, de acordo com Fontes:As núpcias alquímicas, é içado para fora do poço. Rijckenborgh, J. van. O chamado da FraternidadeOs outros cinco pontos devem ser identificados da Rosacruz. Jarinu: Rosacruz, 2004, p. 213–4 ecom as cinco pontas do pentagrama, os cinco p. 221–5. o que significa verdadeiramente servir? 5

a alma olha à frenteresolutamenteTodo ano, os obreiros do Trabalho da Mocidade do Lectorium Rosicru-cianum reúnem-se em diferentes lugares na Europa e no Brasil com opropósito de preparar as semanas de verão para crianças e adolescen-tes. Reproduzimos abaixo o texto da alocução realizada durante umadessas reuniões, no curso da qual os alunos tentaram dar uma dimensãoprática à noção “estar a serviço do amor”.OTrabalho da Mocidade do Lectorium dimos com esse “olhar da alma”, quando nos Rosicrucianum tem por objetivo man- unimos a ele.Vivemos esses momentos quando ter vivo em cada criança e adolescente provamos que o Amor é tudo – e liga tudo. Issoo grande anseio, uma consciência desperta e pode acontecer numa fração de segundos, talviva para o “outro”, o contato com a alma do como descreve Paulo. Ou como uma tempesta-mundo. de que nos engolfa e impulsiona até compreen-Trata-se do contato com a vida original que se dermos a vida como uma aprendizagem contí-comunica ao interior, ao coração receptivo. É a nua, cujo olhar se dirige sempre para o novo, oenergia potente e viva da Luz que, sem trégua mais claro, o mais elevado.nem repouso, permeia nosso trabalho. O autor J. van Rijckenborgh escreve em A Gnosis originalamericano Emerson afirma: egípcia: “Imaginai que uma criança nasça dotada“[…] Existe outra juventude e outra idade além de alma original. Quando essa alma se liga aoda que é medida em anos desde o nosso nas- corpo, ela encontra a maldade que é una com acimento natural? Alguns pensamentos sempre natureza dialética. Agora, trata-se de saber se aonos encontram jovens e nos mantêm assim. desenvolver-se, ao tornar-se mais velha e tiverUm deles é o amor à beleza universal e eterna. de enfrentar a vida, a criança lutará contra essaQualquer homem separa-se desse pensamento maldade, que está dentro dela, ou se a aceita-profundo sentindo que ele deve pertencer mais rá incondicionalmente e se deixará conduzir aoaos séculos que a da vida mortal. […] Diante longo das linhas de menor resistência. Estamosdas revelações da alma, tempo, espaço e nature- sujeitos, como entidades-almas, a toda a ditadu-za recuam. Na fala comum, atribuímos todas as ra do homem corpóreo; por conseguinte, a almacoisas ao tempo. […] O que agora consideramos ameaça sucumbir, morrer.” J. van Rijckenborghfixo terminará por destacar-se, como frutos ma- define Gnosis como o saber vivo, o conhecimentoduros, de nossas experiências. E ninguém sabe essencial dentro de nós, a única coisa que possuipara onde o vento os carregará. […] Mas a alma dimensão para opor-se a essa ditadura. É sobreolha sempre à frente resolutamente, criando essa base que tentamos estabelecer o Trabalho dadiante de si um mundo novo e deixando mun- Mocidade. Sobre ela, desde a mais tenra idade, asdos para trás. Não tem datas, nem ritos, nem crianças podem fundamentar sua compreensão dopessoas, nem peculiaridades, nem homens. A mundo e da vida. Feliz o menino e a menina quealma conhece apenas a alma; a teia dos eventos sonham, que podem maravilhar-se, ou que co-é o manto flutuante com o qual ela se veste.” nhecem pessoas incomuns, marcantes, divertidas e(Emerson, Ensaios) buscadoras em seu ambiente – como são frequen-Vivemos esses raros momentos quando senti- temente os obreiros do Trabalho da Mocidade!mos essa força profunda, quando nos confun- Felizes as crianças que podem participar de uma6 pentagrama 6/2011

ALOCUÇÃO DURANTE A CONFERÊNCIA DOS OBREIROS DOTRABALHO DA MOCIDADE, 2011semana da mocidade! Neste projeto específico, e amor, e que o amor é o material de construçãosob orientação consciente dos obreiros, a sensibi- de nosso universo. É verdade!lidade receptiva da criança permite-lhes entender O amor não é uma nuvem rosa de sonhos, mase refletir todo um mundo por nosso intermédio. um material de construção. É uma força comAs atividades múltiplas e diversificadas para as a qual trabalhamos. Essa força comporta doiscrianças levam em consideração sua alegria de aspectos: harmonia e responsabilidade.viver, sua curiosidade e seus mais variados inte-resses e até mesmo sua distração, na esperança de No homem, o amor nasce da compreensão; é aque, à medida que cresça, a criança passe de uma consequência da experiência de vida, do com-percepção exterior para um saber interior próprio. portamento e da verdade. Uma vez que em amor ao próximo o homem trabalha corpo eDesse modo, a criança aprende a reconhecer que: alma, a compreensão nasce com base na ver- dadeira essência. Essa constante é válida para• a todo instante, um novo desenvolvimento as semanas de verão vindouras. Quem deseja inicia-se em toda a natureza assim como nela penetrar o amor e colocá-lo em prática, não mesma; deve contentar-se com teorias. Deve ser prático, irradiar harmonia e assumir responsabilidades. E• aonde quer que ela olhe na natureza, cada tudo acontecerá, não é dif ícil. início, cada semente, contém a totalidade; Encerramos com um trecho do poema que apa-• é assim que a natureza oferece sempre novas rece no quinto dia do livro As núpcias alquímicas possibilidades. Trata-se de uma fé acompa- de Christian Rozenkreuz, de J. van Rijckenborgh: nhada de esperança; O que permite a tudo vencer?• sem esperança, ela não pode compreender O Amor, a possibilidade. Toda esperança contém uma Como se pode encontrar amor? expectativa; Pelo Amor. Como se revelam as boas obras?• o velho provérbio “a esperança faz viver” Em amor. implica também que é possível para ela, Quem pode unir os dois? mediante essa esperança, atingir os valores O Amor. essenciais da vida. Em eternidade então essa dorSaber, esperar, agarrar as possibilidades é parte com alegria se transformaráintegrante da nova vida da alma. São os funda- para milhares ainda jovens,mentos do desenvolvimento interior da criança. mesmo que isso possaSe, durante esse período importante da vida, no tempo mil anos levar µcom o Trabalho da Mocidade, chegarmos aestimular esses fundamentos, a criança expe-rimentará o amor e poderá, por sua vez, maistarde, irradiar esse amor. Dizemos que Deus é a alma olha à frente resolutamente 7

luz sobre damascoAntes de tornar-se o célebre apóstolo Paulo, Saulo de Tarso era conhecido comoum perseguidor fanático das primeiras comunidades cristãs.As distâncias não im-portavam para ele quando se tratava de eliminar algumas dessas comunidadesP ara participar de uma das perseguições, Além de suas múltiplas viagens, sabemos que ele tomou um dia o caminho para Da- Paulo escreveu numerosas epístolas de sustenta- masco, onde vivia uma dessas comuni- ção, esclarecimento e estímulo às comunidadesdades. Mas, ao aproximar-se da cidade, subita- cristãs do Oriente Próximo. No fragmento amente Saulo teve a visão de uma luz celeste seguir, extraído de sua sétima epístola, a Epístolaresplandecente que o cegou, fazendo-o perder aos Romanos, ele trata da questão do “desejar oo controle do cavalo e cair. Numa antiga versão bem, mas fazer o mal”. O que quer dizer Pauloda Bíblia (holandesa), em Atos dos Apóstolos, com as palavras: “Quando quero fazer o bem, épodemos ler: o mal que faço”?“Entretanto, Saulo, respirando ainda ameaças de “Porque bem sabemos que a lei é espiritual, masmorte contra os discípulos do Senhor, dirigiu- eu sou carnal, vendido ao pecado. Porque o quese ao sumo sacerdote e pediu-lhe cartas para as faço não o aprovo; pois o que quero, isso nãosinagogas de Damasco, a fim de, caso encontrasse faço, mas o que odeio, isso faço. E se faço o queseguidores daquela doutrina, homens ou mulhe- não quero, consinto com a lei, que é boa. Deres, levá-los presos a Jerusalém. Estando a cami- maneira que agora já não sou eu que faço isto,nho e aproximando-se de Damasco, subitamente, mas o pecado que habita em mim. De sorte queuma luz vinda do céu resplandeceu ao seu redor. acho esta lei em mim; que quando quero fazer oEle caiu por terra, e ouviu uma voz que dizia: bem, o mal está comigo. Porque, segundo o ho-‘Saulo, Saulo, por que me persegues? Duro é mem interior, tenho prazer na lei de Deus; maspara ti recalcitrar contra os aguilhões’. vejo nos meus membros outra lei, que batalhaAinda caído sobre a areia do deserto, rodeado de contra a lei do meu entendimento, e me pren-seus atônitos guerreiros e cavalos que relincha- de debaixo da lei do pecado que está nos meusvam, Saulo perguntou: ‘Quem és tu, Senhor?’ E a membros. Miserável homem que sou! Quem mevoz disse: ‘Eu sou Jesus, que tu persegues!’ Ainda livrará do corpo desta morte? Graças a Deus,trêmulo, ele falou: ‘O que queres que eu faça?’” por Jesus Cristo nosso Senhor! Assim, pois, peloSegundo os Atos dos Apóstolos, esse incidente cru- entendimento sirvo a lei de Deus, e pela carne, acial transformou o perseguidor Saulo no apóstolo lei do pecado”.Paulo, o grande defensor e inspirador do conhe- Certamente, para o homem de hoje essa lingua-cimento dos mistérios cristãos. O apóstolo Paulo gem parece antiquada, no entanto, a linguagemexpandiu, desde a Bacia do Mediterrâneo até de antigamente enriquecia a profundidade doRoma, o antigo ensinamento (egípcio) das duas conteúdo e, em alguns aspectos, era a chaveordens de natureza que Jesus Cristo havia rein- para uma melhor compreensão. Nos círculostroduzido. O que parece loucura aos olhos dos religiosos, esse texto é em geral compreendidohomens, pode ser sabedoria diante de Deus. como segue: desde que, de uma maneira ou de8 pentagrama 6/2011

QUANDO EU QUERO FAZER O BEM, O MAL ESTÁ AO MEU LADOA conversão de Paulo gravura em cobredo célebre artista Jan Luiken, que foi o pri-meiro a traduzir para o holandês A auroranascente, de Jacob Boehme,Amsterdã, Joh.Covens e Corn. Mortier, Edição de 1729.K.U. Leuven, Biblioteca Maurits Sabbe luz sobre damasco 9

“Como um burro diante Apóstolos 22:7, quando Paulo o texto original deveria con-da carroça” explica diante do Sinédrio ter um erro. Mas o autor dos o que lhe aconteceu, fala-se Atos dos Apóstolos conhecia“Saulo, Saulo, por que me apenas da voz que lhe fez a isso de que testemunhou.persegues? Duro é para ti re- mesma pergunta: Por que mecalcitrar contra os aguilhões.” persegues? Façamos nós, agora, a pergun- ta: o que eram esses agui-Outras passagens, como Então, por que, em Atos lhões, o que significavam?em Atos dos Apóstolos 9:3-4, dos Apóstolos 26:14, em seuapresentam algumas variantes segundo colóquio – diante A palavra “aguilhão” eradesse acontecimento: “uma do rei Agripa e sua esposa própria dos charreteiros,luz vinda do céu brilhou ao Berenice –, Paulo atribui à voz dos cocheiros, que tinhamredor dele. Ele caiu por terra celeste esse longo comentá- por hábito fixar na frente dae ouviu uma voz que lhe rio? Essa questão já foi abor- charrete um bastão pontudodizia: Saulo, Saulo, por que dada na Idade Média quando provido de espinhos e usadome persegues?” Em Atos dos alguns copistas acharam que para picar as patas traseirasoutra, eu quero agir bem, o mal (ou o oposto) buscavam encontrar vapor quente que pode-manifesta-se no mesmo instante. Independente ria ser convertido em energia elétrica (energiado fato de que esse trecho tenha um sentido geotérmica – energia limpa). A intenção era boa.muito diferente – o que nos propomos demons- A broca atingiu um lençol freático a 140 m detrar em seguida – é forçoso observar que fazer profundidade, e acidentalmente a água infiltrou-o bem, em sentido humano, evoca e provoca o -se em uma camada de anidrita (mineral com-efeito contrário. Hermes Trismegisto afirma que posto de sulfato de cálcio). Quando a anidritao bem deste mundo é a menor parte do mal. entra em contato com a água, reage lentamenteOs gnósticos são unânimes a esse respeito: “sob formando gesso, aumentando seu volume ema lua, o bem absoluto não existe!” Fazer o bem 50%. Assim, desde 2007, o solo de Staufen sofrepode desencadear o mal, pois trata-se de um um impulso lento, mas seguro, para cima, nabem “da árvore do conhecimento do bem e do razão de um centímetro por mês. Como conse-mal”. O bem e o mal são frutos de uma única e quência, centenas de casas e também a Câmaramesma árvore. Municipal foram danificadas e ficaram inabitá-Os habitantes da pequena cidade de Staufen, no veis. O prefeito e a população de Staufen aindasul da Alemanha, vivem um pesadelo. No mesmo não resolveram seus problemas!lugar onde, no século XV, o diabo teria domi- Contrariamente, uma desgraça pode trazer umanado Fausto (personagem da obra de Goethe), benção. Numerosos são os casos de pessoas parao solo sob a antiga cidade levanta-se lentamen- as quais um acidente ou uma doença grave fo-te, rachando ruas e casas. A causa? Durante o ram salutares porque uma abertura pôde produ-ano de 2006, com base em princípios ecológi- zir-se neles para que se tornassem conscientes decos justificáveis, perfurações de mais de 100 m, um sentido superior em sua vida. Não há dúvidaconduzidas pela Prefeitura Municipal da cidade, de que cada um pode confirmar esse propósito10 pentagrama 6/2011

dos animais, quando eles ção do culto a Dionísio. Este imagem sempre associada aparassem. Assim, literalmente último aparece em pessoa e Dionísio.”aguilhoados”, eles voltavam a compara esse rei a um asnocaminhar. Bela imagem! picado por um aguilhão (As Diante do Sinédrio, onde se bacantes, 793–5). achavam reunidos os judeusComo Saulo, quem se opõe a piedosos, que nada sabiamDeus coloca literalmente em A citação de Paulo é muito sobre teatro grego, Paulo nãosi mesmo “um bastão nas ro- apropriada, sobretudo porque precisava de delongas. Masdas”. Essa imagem é também na Antiguidade muitos pensa- ao contrário, junto a Agripamuito antiga. Paulo aqui se vam que Dionísio e o Deus e Berenice, totalmente hele-refere ao poeta e dramaturgo dos judeus eram a mesma nizados e desejosos de sabergrego Eurípides. entidade. mais, Paulo apresentou sua narrativa de maneira umEm sua obra As bacantes, Lembremo-nos, que sobre pouco diferente.Eurípides coloca em cena um as moedas dos judeus estavarei que se opunha à introdu- cunhado um cacho de uvas,citando outros exemplos, mas na verdade Paulo lha senão satisfazer as leis da natureza perecível.procura fazer-nos compreender outra coisa. Sen- Assim como ele, o pesquisador consciente dessado assim, relemos novamente o trecho indicado situação somente pode suspirar: “Miserável ho-da Epístola aos Romanos. Duas leis, dois fenô- mem que sou, quem me livrará do corpo destamenos aqui se opõem. De um lado: a lei que é morte?” (vers. 24 e 25)espiritual, ou seja, a vontade de fazer o bem que Mas o momento virá quando a consciência forestá no Noûs, a lei da alma, a “lei de Deus no penetrada por essa nova energia: “Jesus Cristo,homem interior”. De outro lado: “o pecado que nosso Senhor, pelo qual agradeço a Deus”. Nohabita em mim, em minha carne” e me impele capítulo 4 do livro A Arquignosis egípcia (t. 2), J.a fazer o mal, mas que eu não quero; em outros van Rijckenborgh esclarece que, enquanto nãotermos: “há outra lei em meus membros, a lei do nascermos de novo segundo a nova alma, umapecado que me aprisiona”. Assim, quando Paulo espécie de embriaguez obscurecerá nossadiz “Se quero fazer o bem, o mal está junto a consciência. A atmosfera terrestre contém umamim”, a explicação está no versículo 16: com o substância narcotizante que Hermes denomi-Noûs (alma-espírito que pertence à natureza di- nou de “maldade da ignorância”. Ela impregnavina) eu sirvo efetivamente à lei de Deus (trata- o sangue de tudo que é mortal, sim, mesmo-se da mais profunda vontade, para cumprir esse cada átomo de nossa personalidade, com exce-verdadeiro bem), mas… com a carne, eu sirvo a ção de algumas partes da cabeça e do coração,lei do pecado (com a personalidade desta natu- que, mesmo assim, estão ameaçados. Paulo dizreza que está inclinada a responder às leis deste também, em uma de suas epístolas, que não émundo). Aqui, Paulo comprova sua impotência preciso lutar contra a carne e o sangue, mas simpara realizar o “único bem” que é de “revestir-se contra “as dominações do ar, os espíritos malé-do novo homem”, pois ele não tem outra esco- volos nos lugares celestes”: a atmosfera. Assim, luz sobre damasco 11

qualquer pessoa que procura elevar-se termina -la? Evidentemente não! Em nosso caminho,nesse impasse que Paulo descreve de maneira es- encontram-se indicadores, sob a forma de um ouclarecedora: “Segundo a Luz que me toca, tenho outro enviado, sob a forma de literatura ou deprazer nela e quero fazer o bem, mas a força acontecimentos. Assim como houve, no início daque surge nos meus membros, no meu sangue, nossa era, comunidades gnósticas que reconhe-prende-me, e, por conseguinte, faço o mal, o que ceram em Cristo sua missão interior e a cumpri-é errado”. Àqueles que se encontram nessa fase, ram – a comunidade dos cátaros – assim tambémHermes Trismegisto diz: “Parai e tornai-vos só- existem, em nossa época, comunidades espiritu-brios! Vede, de novo, pelos olhos do vosso cora- ais que possuem e trazem a mesma assinatura.ção! Expeli de vós a palavra da ignorância (essa A Rosacruz moderna, por exemplo, nos indicasubstância narcótica) com a qual vos embriagas- esse autêntico caminho como guia interior, poistes.” Entretanto, essa negação, arraigada em vosso é a este último que ela nos incumbe de buscar.tipo sanguíneo, não pode desfazer-se por simples Podemos contemplar esse guia, esse “Outro emdecisão da vontade, dizendo por exemplo: “Já nós” – temporariamente desconhecido para nósnão vou fazer isto ou aquilo!” Que fareis, então? – de maneira bem particular, fundamentados naPartir em busca de uma autoridade para segui- alma-espírito, que é a união entre a consciência do espírito e o coração purificado. Quem en- contrar esse Outro em si mesmo – que a Gnosis egípcia denomina de Pimandro – encontrará (no mesmo instante) como Paulo, o princípio de Cristo em seu interior. J. van Rijckenborgh diz: “Quando abrirdes o coração à Luz da Luzes, abrir-se-á a rosa-do- -coração. Se através de todos os obstáculos, obedecerdes a essa Luz, a seu propósito e à sua natureza, vós a introduzireis em vosso sistema, onde ela vai circular em sentido oposto à cor- rente sanguínea turbadora. Então podereis firmar o núcleo da Luz no ‘coração celeste’, no espaço aberto atrás do osso frontal. Depois, Pimandro, o Deus em nós, vos conduzirá aos portais da12 pentagrama 6/2011

Cedo ou tarde, o núcleo de luz no “coração celeste” – oespaço da consciência atrás do osso frontal – será colocadoem evidênciaGnosis, onde brilha a clara Luz, onde não há somente poderemos libertá-lo colaborando paratreva alguma, onde ninguém está embriagado, o seu despertar. Como seria isso possível? Pelamas perfeitamente lúcido”. No livro A Gnosis autorrendição, isto é, anulando-se a si mesmo.chinesa (obra que esclarece e comenta o Tao Te Isso é dramático? Não, porque com essa autor-King de Lao Tsé), J. van Rijckenborgh e C. de rendição, nosso eu dialético rende-se ao Outro,Petri escrevem: “Não podemos alcançar o Tao dissolve-se nele. É a razão pela qual Paulo jubila:pelo pensamento, assim como não podemos “Não mais eu, mas Cristo em mim”, assimatrair e dirigir o Tao por meio do poder magné- como: “Eu devo diminuir, e ele – o Cristo emtico da vontade humana. O Tao não existe para mim – deve crescer”. Ainda que ligados entre si,nós enquanto personalidades humanas, mas para os homens vivem essa rendição do eu na solidão.o Outro em nós”. É assim, porque o processo é diferente para cadaO campo vibratório do Tao – ou de Cristo, pois candidato. Isso não deve inquietar ninguém, poiseles designam a mesma realidade – eleva-se o Tao é inesgotável em sua radiação e em suaem perfeição, atividade e poder, bem além do ação. O auxílio não falta ao peregrino que perse-campo vibratório da nossa vida comum. O Tao vera: o Tao provê a cada um segundo seu estado.comunica-se com um campo astral magnético Somos verdadeiros candidatos? Eis a questão! Aabsolutamente distinto do campo astral comum. palavra “candidato” vem do latim candidus queO fato de que “modera seu brilho ofuscante e significa “branco brilhante”. O candidato é, pois,torna-se semelhante à matéria” deve ser compre- revestido de branco. A cândida pureza de nossasendido como segue: O Tao alimenta o homem motivações nos revela uma autorrendição verda-em queda com um amor infinito. Mas – como deira, autêntica? É somente então que o Tao, apessoa humana – nós não somos seres decaídos; Luz de Cristo, em sua ação plena de indulgência,somos seres-almas mortais. vem até nós. Embora essa Luz esteja sempre emEntão, por que, no mais profundo de nosso ser, nós em estado latente, ela não pode penetrar-não nos sentimos em casa aqui neste mundo? -nos enquanto não tivermos compreensão deIsso provém da reação do “Outro em nós”, que nosso estado de ser está em trevas. É comodo átomo-centelha-do-espírito, o princípio de exprime essa frase bíblica impressionante: “SeCristo. É a ele que Tao se dirige; é para ele que percorrermos uma milha em sua direção, eleTao se manifesta. Mas, para nós, seres do espaço percorre duas milhas para encontrar-nos”. Comoe tempo, o Tao é o vazio.Todavia, pelo fato de agem essas radiações do Tao, esses raios da luzo Outro, o ser divino, viver prisioneiro em nós, de Cristo? Lemos, no tomo 2 de A Arquignosis luz sobre damasco 13

Traduzir é trair... correntemente utilizadas não controvérsias entre os remons- esclarecem a autenticidade e a trantes (opostos às ideias deNo livro Confessio da Fraternida- profundidade de certas pas- uma predestinação absoluta, node da Rosacruz, os rosa-cruzes sagens do Novo Testamento, sentido calvinista) e os antirre-dizem o seguinte sobre a Bíblia: o que não facilita a justa com- monstrantes, seguidas de uma“Desde a origem do mundo, o preensão. luta por poder entre o sínodohomem não recebeu obra mais de antirremonstrantes rigoris-maravilhosa, mais grandiosa e Conforme as línguas, a situ- tas e os regentes dos Estadosmais salutar que a dos livros ação é diferente em cada país. Gerais dos Países Baixos. Foramsagrados. Bendito seja aquele Nos Países Baixos, na edição estes últimos que acabaram porque os possui, mais ainda aquele de 1926, a antiga Tradução do levá-la. Daí o nome de “Bíbliaque os lê, e, bem mais, aquele Estado (Statenvertaling), datada dos Estados Gerais”.que aprende a conhecê-los em de 1637, teve seu texto mantido,profundidade, enquanto que e podemos sentir-nos felizes por Nesse século XVII, com algumasaquele que os compreende e se possuir essa Bíblia. exceções, todos os grupos depõe a seu serviço é, de todos, o O fato de essa Bíblia do Estado reformistas holandeses sabiamque mais se assemelha a Deus”. ter surgido em 1637 não teve que seria preciso uma novaEntretanto, todas as Bíblias nada a ver com decênios de tradução da Bíblia, depois queegípcia: “Quando o sol brilha e emite luz, os Paulo confirma com estas palavras: “Morrer emraios luminosos que ontem nos tocaram não são Cristo, depois despertar e vir a ser vivente emos mesmos que os de hoje. Os raios de ontem Cristo”. A radiação da Luz gnóstica faz morreralcançaram o seu alvo, isto é, o nosso ser, e nele o velho homem e renascer o novo ser. Ape-causaram determinado efeito se, de algum modo, nas dizer é uma coisa, realizar é outra! É o queestávamos abertos a eles. Os raios de luz de on- Paulo explica, em sua epístola, quando escreve:tem desvaneceram em nós, morreram, desapare- “Quando eu quero fazer o bem, o mal está aoceram, dissolveram-se em nós. E hoje novos raios meu lado”. Em todos os tempos, em todos osde luz chegaram até nós. […] a Luz da Gnosis continentes, os homens empreenderam essa tare-morre diariamente em vós após ter alcançado o fa vital. Daí a variedade de palavras e expressõesseu objetivo, a transformação”. para designar esse “Outro em nós”: “o lótus queIsso porque é somente por Cristo e em Cristo, surgiu da lama”, “o botão de rosa” ou “a semen-pela luz da natureza divina, que o candidato po- te Jesus que irrompe”, ou ainda “a lei interior doderá alcançar a vitória. Essa Luz da Gnosis irra- Espírito de Cristo que desperta novamente emdia continuamente. Ela é a Luz do sol universal, nós”.Todas significam um só e mesmo átomoo sol atrás do sol. Assim podemos ler na Bíblia divino original, dentro de nosso sistema micro-que a morte e o sacrifício de Cristo se tornaram cósmico, que brilha e irrompe em nova vida,vida para nós. A Luz de Cristo irradia sem cessar. tendo em vista um vir-a-ser eterno. De umaEla sacrifica-se a cada dia por nós. Ela morre em minúscula bolota pode crescer um gigantesconós tendo em vista a transformação e a transfi- carvalho, assim como de um princípio de eterni-guração de nosso inteiro ser. E qualquer um que dade em nós pode surgir um ser eterno, divino ese abra a ela, com toda a pureza, tem parte nisso. onipresente, uno com tudo e todos.14 pentagrama 6/2011

os católicos espanhóis fossem falar de bênçãos maiores ainda estilísticas e linguísticas, mas,expulsos dos Países Baixos. Essa ligadas à sua compreensão e ao com melhor conhecimento doBíblia dos Estados Gerais – tra- seu uso prático. grego e do hebraico, fornecerduzida principalmente do grego uma tradução mais exata. Tudo– na qual seis pastores erudi- De um lado, isso levava, no isso levou à tradução NBGtos trabalharam durante doze plano religioso e cultural, a uma (Sociedade Bíblica Holande-anos, foi logo editada e vendida futura unificação das províncias sa) de 1951, que se tornou(centenas de milhares de exem- holandesas, e de outro, a um a versão mais divulgada nasplares), pois tornou-se, em pou- processo de individualização, famílias e escolas. Nela encon-co tempo, um livro de culto e de que deu lugar gradualmente a tramos modificações às vezesensinamento nas escolas, um li- um resplandecer da religião em incompreensíveis, como, porvro de uso familiar e privado: um múltiplas confissões. exemplo, “querer” substituídofenômeno perfeitamente novo, No início do século passado, por “desejar”, “alma” por “ra-inimaginável e antes impensado, um grupo de teólogos julgou zão”, “eu sou carnal” por “eulido e narrado por toda parte necessário proceder a uma sou carne”. Essas escorregadascom fervor. Como, indiscutivel- nova tradução da Bíblia. Esses verbais duvidosas nem sempremente, certa magia emana da homens eruditos pretendiam favorecem a boa compreensãoBíblia, sentia-se uma benção, sem não apenas fazer adaptações do texto.Todavia, se é verdade que uma lagarta traz em si ser esta prece: ‘Deus, tira-me tudo, menos estao princípio da borboleta, nem todas elas se tor- única nota!’”narão borboletas.Transformar a criatura humana– um Deus em seus princípios – em um homem Essa nota pura e única em nós “é Deus”; e elade estatura divina não se faz sozinho! não poderá, portanto, ser retirada. Todo o res-Para concluir, eis uma semelhança surpreen- to, considerado como bom ou mau, pertencedente desse tema, que nos vem da Islândia. O ao “homem miserável em seu corpo da mor-livro do escritor islandês Halldór Laxness, O te”, que somos ainda por ora, e que deve serconcerto dos peixes, apresenta um cantor is- retirado, por amor dessa única nota pura. Maslandês de renome mundial, Gardar Holm. O o Outro, essa nota pura e única, nos substitui-jovem islandês Alfgrimur pergunta ao cantor rá, se ao menos tivermos as mesmas disposi-se existe uma nota pura. Este lhe responde: ções interiores de Paulo, e se não nos desviar-“Existe uma só e única nota de todas as notas, mos, tristes, da prescrição de Jesus, o Senhor,aquela por excelência. Quem percebe essa a Luz interior, que diz: “Vende tudo quenota já nada pergunta. O fato de que eu canto possuis e segue-me”. Desde que esse impulsonada significa em si, mas, pense nisto: quando interior, essa aspiração ao eterno em nós, sejao mundo lhe deu tudo e, sobre suas costas, foi bem forte, então, esse processo vital se torna-posto o juízo implacável da fama; e quando rá realizável. Cheios de esperança, podemosimprimiu a ferro e fogo, sobre sua fronte, de ter em vista nosso futuro espiritual com todamaneira indelével, a marca dessa fama como a confiança. Então, religados a toda a criação,a um malfeitor que ultrajou a humanidade, estaremos prontos para realizar nossa missãoimagine então que não há outro recurso a não de servir ao mundo e à humanidade µ luz sobre damasco 15

agora, somente agoraTu me perguntas como tudo começou. sempre para a mesma e única questão, sempre Eu, porém, devolvo-te para o que não tem idêntica e atual: Quem sou? Quem é aquele começo, para o momento em que me perguntas que pergunta? Quem é aquele que não sabe? e te respondo. Se o questionador já não existisse, a ignorân- Mas teimas em ir além do que não tem princípio, cia deixaria de existir? Não é uma espécie de queres resposta para tudo… véu que se estende entre a matéria e o Espíri- Contudo, não sou uma coleção de respostas! to? Será por isso que é impossível ao Espírito Sou a única resposta vivente, manifestar-se livremente? na qual a pergunta que és deve dissolver-se. A iluminação não é acúmulo de conhecimento, mas eliminação da ignorância, do eu que nada Vesna Krmpotic´, Som da alma sabe. Todavia, isso é possível no agora, porque tudo o que existe, existe apenas agora.A mente está sempre fazendo perguntas. Ela O tempo – o passado e o futuro – é o mundo,está constantemente ocupada com alguma coi- a existência da natureza-eu, ele é seu refú-sa, como se a pergunta seguinte fosse a única gio. O agora é insuportável para o eu. Se nosresposta que trouxesse uma mudança essencial, orientarmos de maneira contínua para a vidauma iluminação. Existem muitas teorias sobre o no agora, o eu relaxará seu domínio. Então, amundo, a vida e seu início. Que sentido podem alma poderá falar.ter essas teorias para um buscador da verdade?O que significam para ele essas palavras, se a Biografia de Vesna Krmpotic´ (1932, Dubrovnik)verdade situa-se além das fronteiras sensoriais segundo suas próprias palavras.e mentais? Para esse homem, as palavras sãocomo balizas em um país onde nenhum ca- Credominho existe. Elas somente fazem sentido se Ao amanhecer, com os pés descalços, comecei a cantarindicam uma única direção, a que retorna para a fim de descobrir quem eu seria…quem questiona; e retornam, então, cheias de Descobrir quem eu era e quem sou: afinal, tudo girasignificado, para quem as emitiu. Toda pergun- ao redor desse ponto essencial. Como descobrir?ta feita por um buscador verdadeiro volta-se Cantando! E é isso que faço. Descobrir quem somos e entrar no reino dos céus: essa é a finalidade comum a todos e a única verdadeira vocação digna do homem. Minha vida, tu não a encontrarás somente em meu livro Faraó de diamante ou no Livro sobre Osíris. Minha vida não está somente nos livros A colina sobre as16 pentagrama 6/2011

Estrada rural com duas figuras. José Roberto Torrent PratsSe o questionador já não existisse, a ignorânciadeixaria de existir?nuvens ou Bhagavatar ou ainda O caminho história sobre o esforço para entregar-mepara a unidade. a algo que não requer nenhum esforço,Minha vida está em cada um dos meus trabalho duro, ou conhecimento.livros, em cada frase, em cada verso. “Deixa a energia do Espírito SantoNo decorrer de todos estes anos – 60 derramar-se ao longo da coluna verte-no total – esforcei-me para alcançar uma bral – eu aguardarei no alto da tua cabeçaúnica coisa: libertar-me das garras do com um fogo aceso. Começarás a falar emconhecimento, para permitir que o Espírito línguas e saberás o que os anjos pensam.Santo penetrasse em minha consciência e Mas deves deixar a força ígneanas minhas palavras. Foi a única coisa que do Espírito Santo fluir por ti:verdadeiramente “fiz”. Escrever foi apenas deves abandonar tua resistência, tuasa consequência imediata de abandonar tensõesminha descrença no impossível. Isso é tudo o que tens a fazer”.Minha biografia é essencialmente uma agora, somente agora 17

som da almaAdependência de mim é a única dependência Mas, o que é o amor? E o que é este mundo? salutar. Quem deveria trazer o amor a este mundo e Depender de mim significa depender esqueceu de fazê-lo, de sorte que aqui há pou- do amor. quíssimo amor? Sê dependente do amor, todavia não daqueles a quem amas. O mundo que vemos ao nosso redor é o nosso Deves amar a todos, a cada um. reflexo, e desempenha seu papel plenamente Concorda em perder muito, em harmonia com sua natureza. até mesmo tudo; todavia, não concordes em perder a mim. Mas, quem somos? E quem é aquele que se Ah, quem sou? Sou teu amor por mim. reflete no espelho do mundo? É o homem, Sem amor por mim o microcosmo, o filho bem amado de Deus, não há amor por ninguém. sua imagem e semelhança? O que aconteceu? Sem amor por mim, serás dependente do Como é possível que tenha esquecido seu pri- primeiro que encontrares pelo caminho. meiro amor, o amor do qual ele surgiu e que é Sê dependente do amor, sua própria essência? para seres livre de qualquer outra dependência. A expressão do amor divino infinito não é, pois, criar o mundo, o espelho, a fim de que o Vesna Krmpotic´, Som da alma homem perceba seu estado e possa lembrar-se?Cada ser humano na Terra nasce com uma Homem, lembra-te!única necessidade e missão: o amor. Contudo,muitas vezes ele se engana sobre a natureza Lembra-te de que o amor está adormecido nodo amor, vivenciando somente a necessidade, centro do teu ser e espera que o libertes.a insaciável avidez do amor. Isso, somente tu podes fazer!As pessoas o esperam das outras pessoas; as Somente tu podes dar a ti e aos outros o amorcrianças o esperam dos adultos, os maridos de que todos necessitam. Então, já não have-das esposas, e a esposas dos maridos. rá “outros” nem “tu”! Então, restará apenas o amor que se doa µE ninguém fica inteiramente satisfeito. Todosqueixam-se de que não há amor no mundo.18 pentagrama 6/2011

física quânticae espiritualidadeA Física Quântica é a ciência que explica o comportamento das partículaselementares subatômicas. Sem essa ciência não haveria em nosso cotidianocomputadores, nem as televisões modernas, nem CDs. Para a maior parte daspessoas a Física Quântica assemelha-se a uma ciência secreta. Quase ninguémentende seus aspectos enigmáticos, muitos dos quais ainda continuam misteri-osos e inexplicados.C omo que atraídos por um ímã podero- so, os cientistas não podem deixar de empreender novas pesquisas. O mundodo infinitamente pequeno é tal que foge à ca-pacidade de representação do intelecto humano,e isso acontece até mesmo com sábios comoAlbert Einstein. Cético quanto às afirmaçõesdos especialistas da Física Quântica, ele tentou,em vão, refutá-los. “Não posso acreditar queDeus jogue dados com o universo”, declarouele. No entanto, a Física e a Química bem quejogam dados, há quatrocentos anos, sem Deus!No século XVII, o filósofo René Descartes,1sem querer, contribuiu com esse jogo de modomuito significativo. Além de seu aforismo “Pen-so, logo existo”, Descartes afirma que existemduas substâncias independentes. Por um lado,o aspecto material das coisas no espaço, e, poroutro, uma substância não espacial, invisível eespiritual. Desde então, a Física se consagra aoaspecto “material”, e a teologia, que é a ciênciaespiritual e religiosa, ao aspecto espiritual. Assimque se libertou dos dogmas religiosos, a ciênciaFísica pôs-se a observar e descrever a naturezasem nenhum preconceito.Ora, se considerarmos o ponto de vista degrandes especialistas da Física Quântica, vere-mos que o “invisível e espiritual” assim comoessa ou aquela concepção de Deus voltarama ser considerados no campo da Física. Real-mente, de acordo com os novos conceitos dessaFísica, o que consideramos como “matéria” ou“substância material” não existe. Existe somenteenergia. Desse modo, desaparece sob nossos pés física quântica e espiritualidade 19

Ondas quânticas, representação óptica. © D.D. Nolte, Purdue University,West Lafayette, Indianaa base na qual essas ideias da sociedade mate- novo ponto de vista, de ver através da ilusão e,rialista ocidental estão fundamentadas. Aceitar percorrendo um caminho espiritual, possamosessa teoria implica o seguinte questionamento: descobrir o mundo real.O que isso significa para nossa existência? Queconclusões podemos tirar disso? Ou ainda: como OS EXPERIMENTOS DA FÍSICA QUÂNTICAas partículas elementares agem em nossa vida e E SUA INFLUÊNCIA SOBRE A CONSCIÊNCIAde que maneira elas a influenciam? A filosofia Nossa consciência nos permite receber e ana-quântica procura descrever a ligação que exis- lisar o que chamamos de “realidade”. Muitoste entre essas partículas e nossa existência. Ela pesquisadores na área de Física Quântica estãonos mostra que os fenômenos quânticos são convencidos de que nossa consciência exerce in-paradoxais e, por isso mesmo, incompreensíveis fluência sobre medidas realizadas em um expe-ou dificilmente explicáveis para a mente huma- rimento. No entanto, não definem com precisãona. É interessante verificar que, sob diferentes a natureza da consciência. Na Física Quânticaaspectos, esses fenômenos também se adaptam à valem as assim chamadas relações de incerte-descrição do lado espiritual e invisível da exis- za (o “princípio da incerteza” de Heisenberg):tência. Se a matéria não existe, o mundo que quanto maior for a precisão com que determi-percebemos com nossos sentidos não passa de namos a posição de uma partícula elementar,uma ilusão. Esses sentidos nos mantêm presos, menor será a precisão com que determinamossem o sabermos, a essa ilusão. Então, pode ser sua velocidade. Quando a posição da partículaque nos ocorra o pensamento, com base em um no espaço é medida, ela pode ter várias velo-20 pentagrama 6/2011

No mundo das partículas elementares, nossa concepção do queseja matéria se desfaz completamentecidades distintas. Isso significa que a partícula podem, por efeitos quânticos, atravessar obs-está simultaneamente em diferentes estados. Isso táculos que normalmente seriam intransponí-é difícil de imaginar. Então, falamos de “pro- veis. Então, podemos imaginar que a partículababilidade” de determinado estado (a partícula “se dissolveu no ar”, que ela se tornou imate-tem a probabilidade de estar ali, mas pode, no rial, para reaparecer novamente, materialmen-momento da observação, estar em outro lugar). te, após ter atravessado um obstáculo.Probabilidade, no verdadeiro sentido da palavra,significa: parece… No entanto, o próprio pesqui- MASSA, MATÉRIA, FORÇA, ENERGIA Em quesador, pela maneira como faz a observação e por consiste a coesão do mundo? Acabamos de sersuas expectativas, faz que um dos muitos estados confrontados com a visão científica segundopossíveis seja escolhido. Em outras palavras: a a qual não há, de fato, nenhuma certeza deconsciência do observador influencia o que ele que a matéria seja a base visível e certa daobserva. Em Física Quântica, o mundo parece, existência humana tal qual ela surge na terra.aos nossos olhos, o que nosso estado de nossa Afinal, no mundo das partículas elementares,consciência, de nossa observação, determina! nossa concepção do que seja matéria se desfazEntão, a realidade seria isso? Vamos tomar completamente.como exemplo um dado: antes de jogá-lo, Na época da Grécia antiga, acreditava-se quepodem surgir seus seis números (suas seis a menor unidade de matéria existente era ofaces) – que representam possibilidades e átomo. Os objetos reais giravam em um espaçoestados. Logo que o lançamos, somente uma vazio. Foi somente no final do século XIX quedas faces fica para cima: portanto, ele passa a a indivisibilidade do átomo foi colocada emter apenas um estado. Em sentido figurado, os dúvida. As experiências com descargas elétri-instrumentos de medida utilizados pela Fí- cas em gases rarefeitos levaram à descoberta desica Quântica nos dão somente um número, partículas carregadas eletricamente bem leves:sempre, enquanto os números das outras faces os elétrons. Então, os cientistas estabelecerampermanecem ocultos para nossa consciência e um modelo atômico semelhante ao do sistemapara os instrumentos de medida científicos. É planetário: um núcleo atômico ao redor do qualpor essa razão que podemos imaginar que o os elétrons percorrem uma trajetória aparente-mundo quântico engloba uma realidade bem mente circular em uma velocidade inimaginável.mais vasta. A pesquisa vai ainda mais longe: as Que força é essa que faz que o elétron per-partículas elementares, que são essas partícu- maneça ligado ao núcleo atômico? O elétron élas subatômicas, podem não ser tão constantes atraído para esse núcleo atômico por uma forçaquanto pensamos. Uma partícula elementar elétrica, exatamente como uma maçã é atraídapode, por exemplo, desaparecer e ressurgir em para o chão pela força de gravidade da terra.outro local, inesperadamente. Essas partículas Na Física, a força gravitacional e a força eletro- física quântica e espiritualidade 21

Sofremos pela falta de liberdade, ou – como dizia Buda –nascimento é sofrimento, doença é sofrimento, velhice ésofrimento, morte é sofrimentomagnética são duas das assim chamadas forças elétrons, somos prisioneiros da superfície terres-fundamentais. No decorrer do último século, tre. Sofremos pela falta de liberdade, ou – comoforam descobertas outras partículas elementa- dizia Buda – nascimento é sofrimento, doença éres dotadas de características diferentes e duas sofrimento, velhice é sofrimento, morte é sofri-novas forças fundamentais: a força nuclear forte, mento. Somente uma luz com bastante energiaresponsável pela coesão do núcleo atômico, e a poderá desatar essas amarras que nos prendemforça nuclear fraca, responsável pela desintegra- ao mundo. Pela luz da compreensão, poderemosção nuclear. Na Física, a importância da energia sair das sombras e libertar-nos. A ligação com oe das forças, particularmente as nucleares, cresce que é terrestre pode, então, ser rompida – exata-cada vez mais, pelo fato de que a matéria está mente como o elétron que se liberta do átomo.deixando de ser considerada o componente A luz pode mudar totalmente nossa situação.fundamental de tudo. É que as partículas ele-mentares, de acordo com os critérios comuns, TUDO ESTÁ LIGADO A TUDO A Físicajá não são vistas como matéria, mas sim como Quântica nos leva à conclusão de que todasuma forma de energia concentrada. A teoria da as coisas estão interligadas e se influenciamrelatividade demonstrou que massa nada tem a mutuamente. Em poucas palavras: elas sãover com uma substância qualquer, mas que ela interdependentes. As experiências revelam queé energia. Massa e energia estão ligadas pela algumas partículas parecem obter a informa-fórmula bem conhecida: E = mc². A energia E ção instantânea do estado de outras partículas,é igual à massa m multiplicada pelo quadrado por mais distantes que estejam. Por exemplo,da velocidade da luz, c. O que chamamos de dois fótons podem ser produzidos experimen-“matéria” é, portanto, uma espécie de “energia talmente de maneira a comportar-se comocongelada” ou uma “luz sólida”. Deixemos ago- partículas gêmeas. Se então eles são separadosra a Física Quântica de lado e procuremos ex- um do outro por qualquer distância, e umplicar os possíveis mistérios que ela encerra por deles é obrigado, por meio de obstáculos, ameio de um “conhecimento interior”. Podemos “decidir” seguir um trajeto, então, observa-apontar algumas analogias relativas a isso? -se que o outro fóton toma a mesma decisão,Conhece-te a ti mesmo todas as vezes, sem exceção. Eles comportam-Tudo o que é efêmero é mera alegoria; -se como se estivessem entrelaçados de umaAqui o insuficiente se torna acontecimento; maneira invisível. A Física clássica não podeO inefável é feito; explicar esse fenômeno, pois entre essas par-O eterno-feminino para o alto nos atrai.2 tículas não há nenhuma ligação que possaCom a expressão “eterno-feminino”, Goethe ser identificada nem nenhuma energia ativa.designa um caminho que conduz para fora do Portanto, a realidade subatômica é constitu-que é transitório. Aqui, ainda, tomaremos o áto- ída por “objetos quânticos” disseminados nomo como exemplo. Os elétrons em um átomo espaço. Somente podemos descrevê-los comoestável não dispõem de energia suficiente para um todo coerente do outro lado do espaço esair de sua trajetória ao redor do núcleo atômi- do tempo. Assim, tudo está ligado a tudo. Porco. Um elétron somente poderá escapar se um analogia, o entrelaçamento que existe entre asfóton (partícula de luz) com energia suficiente coisas no mundo subatômico pode ser consi-colidir com ele, lançado-o para fora de sua traje- derado como uma metáfora da unidade divinatória. Não seria isso uma metáfora? Tal como os e da ligação de tudo com tudo.22 pentagrama 6/2011

Einstein imaginava o surgimento do universo como um movimento pendular ao redor de um ponto fixo. Issoocorreria em diversas fases (sentido anti-horário na figura, começando da esquerda): 1. Big Bang (explosãoprimordial); 2. fase do universo primordial quente e denso; 3. fase da expansão cósmica; 4. fase do universo talcomo se manifesta hoje; 5. fase da “energia escura”; 6. fase do universo plano e vazio; 7. fase em que se inicia acontração do universo; 8. fase em que se formam ondulações cósmicas que levam a um novo Big Bang. De acor-do com a Física Quântica, essas fases existem simultaneamente e por toda parte em universos paralelos.© R.J. Slagter, www.asfyon.nlAS FRONTEIRAS DA PERCEPÇÃO SENSORIAL que a matéria, tal como nós a percebemos porTudo o que sabemos sobre Física Quântica meio dos sentidos, não corresponde à realidade.está baseado na observação e em experimentos Vivemos em um mundo de enganos e ilusões.realizados por seres humanos. As descobertas da Não temos consciência disso, e isso não nosFísica Quântica vão muito além das fronteiras perturba na vida “comum”.da percepção sensorial. Mesmo os instrumentosde medição, que são verdadeiros prolongamen- AS FRONTEIRAS DO PENSAMENTO Portanto,tos da percepção sensorial, não podem mostrar, deveríamos questionar-nos: é possível deixar ode maneira objetiva, como realmente acontecem mundo das ilusões sensoriais? Isso é importanteos movimentos e os fenômenos. Com relação para nós? E, finalmente: se isso é realmente essen-a isso, qualquer ideia é passível de erros. Nesse cial para nós, como conseguiremos desligar-nossentido, podemos dizer que ninguém compreen- dessas ilusões e desses enganos? A sede de conhe-de a Física Quântica. E não poderia ser dife- cimento dos físicos quânticos leva a projetos cadarente. Afinal, ninguém pode ver uma partícula vez mais gigantescos. Em “experimentos de pen-com os próprios olhos ou com instrumentos de samento”, eles chegam ao conhecimento de quemedição, pois esses aparelhos somente podem seria necessária a massa da totalidade do universomedir efeitos. Portanto, precisamos reconhecer para explicar e compreender certas questões. Mas física quântica e espiritualidade 23

isso leva definitivamente à fronteira do que é que nos fará escapar das ilusões. No Fausto, defactível: é impossível ir mais longe! Já faz muito Goethe, Fausto aprofunda-se na verdade portempo que os pensadores chegaram a essa última meio da experiência do fracasso. No monólogofronteira. O filósofo Kant (1724–1804) chegou à da abertura da segunda parte da obra (o nascerfamosa conclusão sempre esquecida pelos físicos: do sol), é indicada uma saída: “A eles (os cumes“A razão humana conhece esse destino particular da montanha) é permitido cedo desfrutar da luzde ser importunada por questões às quais não eterna que, mais tarde, chega até nós, […] e épode escapar, pois são feitas pela própria natureza concedido novo brilho e nitidez”.da razão, mas às quais também não é capaz deresponder, porque superam qualquer faculdade da Essas palavras são o testemunho do reconheci-razão humana”. Falando de forma mais simples: a mento do aspecto divino. Mas é preciso criarinteligência não pode evitar que o homem erre. um espaço para que isso aconteça. Afinal, não é verdade que o melhor de todos os auxílios é oPoderíamos dizer metaforicamente: assim como “não saber” que Sócrates formulou como “Tudoo peixe não pode imaginar a vida fora da água, o o que sei é que nada sei”, e cujo resultado so-homem não pode elucidar, com sua inteligência, mente pode ser o não julgamento dos aconteci-questões irracionais ou metafísicas. O máximo mentos e dos seres humanos?que ele pode fazer é nadar até a superfície pararespirar ar. Observemos, no entanto, que, na natu- Muitos livros expõem a filosofia quântica.reza, certos animais se transformam – por exem- Eles são a expressão não definitiva da opiniãoplo, a rã. A rã pode deixar o elemento líquido e do momento de seus autores sobre essas teo-respirar ar para sobreviver. O girino, ao contrário, rias. Qual é a minha verdade? Qual é a minhaprecisa de água para sobreviver, pois no ar ele realidade?morrerá, tal como o peixe. Entretanto, o girinoirá transformar-se em rã. No antigo Egito, a rã É preciso ser vigilante quanto a esses posicio-era um animal sagrado – e não o girino! namentos. Afinal, a visão e o pensamento ex- perimentais, como já foi dito, são incompletos,Depois de sua Teoria da Relatividade, Eins- parciais e, portanto, em princípio, imperfeitos.tein passou os trinta últimos anos de sua vida A consequência é que não podemos confiartentando desenvolver a “teoria de tudo”, ou a nem em nós mesmos nem nos especialistas.“teoria unificada”. Ele procurava uma equa- Vale mais, de início, ficar na expectativa quan-ção única, simples, que abrangesse todas as leis to às teorias emitidas por seres humanos.da Física e descrevesse a unidade do universointeiro, desde sua criação até a formação das A Física Quântica exige de nós, por assimgaláxias e da terra. Mas não conseguiu atingir dizer, uma nova consciência, e isso também éseu objetivo. válido para o caminho espiritual evocado aci- ma. Cada um de nós deverá chegar à compre-Desse fato talvez consigamos chegar à con- ensão. Temos necessidade de uma verdadeiraclusão de que somente quando falharmos em ciência sagrada, de uma ciência interior queresponder nossas indagações vitais mais funda- seja apropriada para nós, uma ciência sagradamentais com nosso intelecto poderemos reco- capaz de “curar-nos” – ou seja, de tornar-nosnhecer o verdadeiro significado do caminho sãos, completos, inteiros µ24 pentagrama 6/2011

1. Descartes (1596–1650) manteve contato racionalismo sistemático. Mas seu interessecom os rosa-cruzes em 1619–1620. Ele era voltou-se para o mundo da natureza superiortão consciente do valor de seus ensinamentos (a metafísica), sobre a qual desejou empreen-que lhes dedicou uma de suas obras mais der a pesquisa científica, esperando chegarimportantes. Essa iniciativa rendeu-lhe abor- à prova da existência de Deus. Contudo, nãorecimentos com a Igreja, de tal sorte que se chegou a conseguir tal intento.viu constrangido a combatê-los oficialmente,mesmo continuando a defender suas ideias. 2. Goethe, J.W. von. Fausto.Ele foi o provável fundador, em 1637, do física quântica e espiritualidade 25

a ciência sagrada individualHá inúmeros livros sobre a filosofia quântica. O que é escrito por seus autores não é realmentedeterminante. É simplesmente uma interpretação sobre a teoria quântica. O que importa real-mente é o que compreendemos a respeito dela. Qual é a minha verdade? Qual é a minha realida-de? Para analisar com base em uma nova perspectiva essa conclusão do artigo precedente, umaantiga frase de Giordano Bruno (1548–1600) pode direcionar-nos para o caminho certo:“Quemnão compreende o Um não compreende nada. Do mesmo modo, quem compreende verdadeira-mente o Um compreende tudo. E quem se aproxima do conhecimento do Um aproxima-se igual-mente do conhecimento de tudo”.N esse contexto, é bom indicar algumas criativo e em constante mudança, sustentado pesquisas conduzidas pela Física sobre pelo trabalho sistemático da energia da luz”. Em espiritualidade, como, por exemplo, um de seus livros, ele formula a seguinte indaga-as realizadas pelo artista e cientista americano ção: “Em que consiste a verdade e como possoWalter Russel (1871–1963) na primeira me- experimentá-la?” Como resposta, ele nos ofere-tade do século XX. Nessa pesquisa, que seus ce a seguinte reflexão: “[…] para essa perguntaestudantes chamaram de “ciência russeliana”, feita pela humanidade – ainda sem resposta – háele investigou os “princípios fundamentais da uma resposta simples. Uma voz suave não paradinâmica da energia”, “a natureza da matéria de sussurrar a resposta, no interior de cada sere o progresso da evolução da matéria”, assim humano, em sua consciência nascente.Todoscomo “a imagem do universo como um esforço os desejos registrados no coração conduzem à26 pentagrama 6/2011

fonte, e, assim, a resposta sempre vem. Mas são o coração influencia a qualidade do sangue,poucos os que indagam, e menos ainda os que que, por sua vez, alimenta todos os órgãos, queescutam a resposta. […]” novamente influenciam o coração – e, por issoTodos os mestres de sabedoria dizem que o mesmo, também influenciam a qualidade desilêncio interior e a pureza do coração são nossos sentimentos e desejos. Exatamente comoessenciais para escutar a resposta interior. Tanto na Física Quântica, tudo está ligado a tudo.o silêncio quanto a pureza ajudam-nos a aplai-nar o caminho que nos leva para fora da ilusão, A ILUSÃO DO MUNDO E A REALIDADE DIVINAo caminho que conduz à realidade divina. A Dois mundos surgem do que foi dito até agora.purificação do coração é um trabalho pessoal: De um lado, este mundo material, que é umadiz respeito ao homem como um todo, pois ilusão: nossos sentidos nos induzem a erro, de tal maneira que pensamos que somente existe o que nossos sentidos e nossos instrumentos de medida nos mostram. Dependendo do estado do ser hu- mano em questão, essa ilusão pode ser dolorosa ou agradável. Por outro lado, ainda resplandece no horizonte o frágil reflexo de um novo mundo, a aurora da realidade divina evocada por todas as religiões do mundo. Quem deseja ter acesso a esse mundo precisa encontrar a saída que leva para fora deste mundo ilusório. O ANSEIO POR SALVAÇÃO – ESPIRITUALIDADE Como seria esse caminho? O início está no fato de reconhecer motivações e emoções sob a luz espiritual. As emoções “primárias” são o medo, a preocupação e a ansiedade. Mas o que chama- mos comumente amor também é uma emoção. Por qual espécie de emoção nos deixamos guiar? Será que ouvimos a “suave voz interior”? Quem puder escutar essa voz com todas as suas sutile- zas e, com base nisso, conseguir purificar o cora- ção verá que seus desejos, que antes o oprimiam, vão diminuindo aos poucos. Então, ele vivencia a ciência sagrada individual 27

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um novo amor: o “eterno-feminino”, a “paixão equilibramos as polaridades de nossa vida dedivina”, a “divina Vênus”, que nos atrai, como sentimentos. A partir de então, nosso coração seum ímã, em direção a outra compreensão, infini- restabelece e pode suportar uma vibração com-tamente mais pura. A mente, que geralmente era pletamente nova.dependente dos sentimentos, desejos e emoções,e exercia forte influência sobre nosso modo de A RENDIÇÃO DO EU Se, no interior de nos-agir (nossas ações e gestos), vai-se depurando so ser limitado, já não sabemos em que pontocada vez mais e, aos poucos, desliga-se de toda estamos no caminho espiritual, se esse caminhoe qualquer dependência. Ela percebe de modo já não parece oferecer nenhuma saída, entãomuito mais abstrato. é essencial que nos concentremos na vontadeNossa mente é limitada: mal conseguimos com- divina. Sobre isso, a Bíblia afirma: “Pai, não sepreender a matéria de nosso corpo. Para dizer faça a minha vontade, mas a tua”. Eis uma novaa verdade, ainda não estamos preparados para metáfora que vem da Física Quântica. O cien-compreender a nós mesmos, para ter uma visão tista quer conhecer. Pela observação, ele destróiclara de tudo o que nos liga às outras pessoas, ao as circunstâncias naturais no mundo quântico, onosso destino, aos nossos traços de caráter. qual, eventualmente, pode revelar-se, mas nãoNão conseguimos fazer isso, assim como o peixe em sua totalidade. Então, o cientista fica desespe-não pode compreender o mundo que está acima rado porque já não compreende nada.da água. Para poder captar melhor a purificação Talvez verifiquemos em nós, também, que osdo coração e esclarecer esse ponto, utilizaremos resultados de nosso querer não são os que espe-uma metáfora que vem da Física Quântica. Se- rávamos. Assim, fazemos nascer o caos e nossagundo a Física Quântica, cada partícula tem sua energia se evapora na vida. No entanto, quando“antipartícula”. Se quisermos reunir essas duas a vontade divina está ativa, essa energia pode serpartículas, a carga positiva e a carga negativa o alimento para o coração purificado.irão anular-se. Então, surgirá uma luz neutra, e o Comparemos essa vontade superior às on-que é obscuro torna-se claro. No entanto, é pre- das luminosas de energia que agem no reinociso um preparo inicial, uma orientação, a fim vegetal. Uma planta precisa ser verde parade que as duas partículas possam efetivamente poder absorver de modo otimizado essas ondasencontrar-se. Nós também, como seres humanos, luminosas. Por meio de conversão e transmuta-conhecemos uma preparação semelhante sob a ção, surgirá aquilo que finalmente irá nutrir osforma de desejar um coração puro, purificado. reinos animal e humano.É pela aceitação benevolente de nós mesmos edos outros e pela harmonia entre o positivo e o UMA NOVA ATITUDE DE VIDA Nossa compre-negativo que nosso coração se purifica e entra ensão, nossa transmutação impulsionada pela luz,na neutralidade. Nesse momento, já não have- pode agora, na vida cotidiana, ser transformadará atração nem repulsão, e conservaremos uma em ações. O novo alimento, a nova energia, trazatitude benevolente e serena em todas as situa- novo movimento à nossa vida – exatamenteções. Para alcançar esse comportamento neutro, como um fóton ao colidir com elétrons. Quan- do o elétron absorve suficientemente essa luz, A interconexão entre os entra em movimento e, por assim dizer, “flui”. principais pensadores da No melhor dos casos, um elétron pode até Física Quântica mesmo sair de sua trajetória ao redor do núcleo a ciência sagrada individual 29

atômico e tornar-se um elétron livre. Graças totalmente novo – e não poderia ser de outraà luz e a uma nova energia, poderá acontecer forma. Da harmonia, da ligação e do plano di-no interior do ser humano algo tão formidável vino nasce a compreensão. Assim, segue-se umaque a situação na qual ele se encontra se torna- nova atividade, perfeitamente coerente com essará completamente nova: coisas que antes eram compreensão. A lagarta transforma-se em bor-imóveis e fixas colocam-se em movimento. O boleta: a nova consciência descobre, por detrásser humano anima-se, abre-se: ele liberta-se. dos véus de nosso mundo, a natureza primordial, uma ordem do mundo em sua coerência origi-A NOVA CONSCIÊNCIA No Evangelho de nal: o Jardim dos Deuses.João, capítulo 10, Jesus afirma: “Em verdade,em verdade vos digo: todos vós sois deuses”. E Concluímos com um trecho do capítulo 4 doo que caracteriza os deuses? Pelo fato de que Tao Te King, de Lao Tsé:podem penetrar tudo, captar tudo, ao seu redorvibra um novo campo de respiração e de vida. “O Tao é vazio, e suas radiações e atividadesPara realizar isso, é preciso existir um novo ser, são inesgotáveis.uma nova essência. E é realmente extraordinário Oh! Quão profundo ele é. Ele é o Pai originalque isso seja possível. Assim como o girino se de todas as coisas. Ele abranda sua acuidade,torna uma rã, o homem pode transcender seu simplifica sua complexidade, modera seu brilhocampo de vida terrestre. Ele transforma-se, ao es- ofuscante e torna-se semelhante à matéria.cutar conscientemente as “suaves sugestões” – “a Oh! Quão calmo ele é. Ele é por toda a eternidade.voz silenciosa” – que ele percebe quando inspira Ignoro de quem ele possa ser Filho. Ele erao prana divino. É graças a essa transformação antes do supremo Deus.” µque ele pode entrar no campo de vida celeste.Chamamos a atenção do leitor para um fato daTeoria da Relatividade. Como está exposto nafórmula de Einstein, E=mc2, todas as partículassão, de fato, “energia congelada” ou “luz sólida”.Por meio da fusão nuclear, por exemplo, umaparcela de matéria pode transformar-se em luz.É esse o processo que acontece ininterrupta-mente no Sol: a transmutação do hidrogênio emhélio, que libera enormes quantidades de energiae de luz. Se, por meio da fusão (nuclear) coma luz divina, transformarmos a matéria em nós– a luz aprisionada – surgirá um novo e nobreelemento: um novo corpo. E tudo se tornaráclaro em nós. Muitos místicos descrevem terpassado pela experiência de uma luz poderosano momento em que a vida superior os inundou.Para poder perceber a realidade no interior dessaluz, nossos sentidos – nossos olhos – tambémse transformam. Manifesta-se uma nova reali-dade, percebida por uma consciência sutilmenteadequada a ela. Isso leva a um comportamento30 pentagrama 6/2011

a madona negraÉ impressionante como o saber antigo, que perpassa a História como uma linhamais ou menos oculta, sempre salta para o primeiro plano, apesar de todasas transformações. Isso não se deve propriamente a grupos que atuaram naobscuridade para manter vivo esse saber original ligado ao coração. Em mui-tas histórias celtas, imagens da sabedoria egípcia sobreviveram, alcançando umnovo significado. E, em nossa época, cada vez mais pessoas retomam o fio deprata que, por meio do saber antigo, nos liga à vida original.T rinta mil anos atrás, povos que viviam na to da virgem negra) Ean Begg parte da premissa Europa já reverenciavam uma deusa-mãe de que ainda existem 450 representações da negra. Ela representava o princípio de Madona Negra, das quais 227 estão na França.vida feminino, a fonte da eterna nova vida, e foi Elas estão em maior número (cerca de 50) nasuma das imagens mais antigas por meio das quais regiões de Lyon – Vichy – Clairmont-Ferrand,a humanidade reverenciou o divino. No Egito na montanha A Madalena. É principalmente nasforam Ísis-Néftis, as irmãs gêmeas. Quando, por igrejas que se encontra a maioria dessas escul-volta de 2000 a.C., os povos indo-germânicos turas, que continuam sendo um mistério, con-povoaram a Europa, essa deusa foi banida para forme testemunham pelo mundo todo as muitasoutros lugares, como Malta e Creta. Mais tarde histórias que a elas se referem.ela foi denominada Ártemis-Diana, de quem ain- É igualmente de se admirar que a igreja colo-da existem esculturas negras em Roma e Nápo- que em seus edifícios justamente a cópia de suales.Também foi reverenciada como Deméter-Me- doce Maria! No ano 431, o Concílio de Éfesolaina (nome derivado da palavra grega “melas” introduziu a adoração de Maria como “Mãe de– negro), como a Afrodite negra e como a deusa Deus”. Era uma alternativa para a adoração dalunar Cibele. Na Ásia Menor ela se chamava Madona Negra. Com isso a Igreja apropriou-seAstarte, em Israel, Chokmah – Sabedoria – e, na da herança da Magna Mater, de Ísis! A Igreja Ca-Índia, ela é Kali, a deusa negra. tólica Romana sempre tentou colocar a MadonaO saber antigo também pode ser reconhecido no Negra em segundo lugar. Ela prefere não fazersimbolismo dos contos populares, mitos e lendas. comentários a esse respeito. Ean Begg relata emNas madonas antigas encontramos a representa- seu livro: “quando, em 28 de dezembro de 1952,ção egípcia de Ísis e Hórus, a representação de em uma reunião da Associação Americana paraCibele e Atis e da deusa-mãe gaulesa. Essas ma- o Avanço da Ciência, foi feita uma apresentaçãodonas negras, que ainda existem em muitos luga- sobre a Madona Negra, todos os padres e freirasres, são muito diversas das cristãs. Elas provêm de dentre os ouvintes deixaram o auditório”.um conhecimento mais puro que ainda conti- A Madona Negra é uma imagem da criaçãonua vivo como sentimento na população dessas divina eterna, que está sempre em movimento erespectivas regiões, e foram, por isso mesmo, constantemente renova a si mesma, impelida peloincorporadas pela igreja romana, o que também impulso divino.ocorreu com os lugares sagrados celtas e outros Naturalmente a cor negra é um símbolo. Opovos. Na França existem muitas igrejas consa- homem precisa de imagens concretas não paragradas a Maria Madalena em lugares de reunião entender ou denominar, mas para tomar consci-dos celtas onde também havia fontes sagradas. ência da realidade que é, em seu todo, a “exis-Em sua obra The Cult of the Black Virgin (O cul- tência”. A Madona Negra é um intermediário a madona negra 31

para o invisível, para uma existência que somen- te podemos alcançar quando deixarmos a forma para trás e formos conscientemente ao encontro do Espírito. Em muitas tradições o preto é sinônimo de noite, escuridão, caos e morte, mas também de “não existência”. Na verdade não é uma cor, mas au- sência de cor, em oposição ao branco que obte- mos ao juntar todas as cores. A Madona Negra não é uma imagem, mas, na realidade, um conceito arcaico que foi adaptado ao cristianismo romano. Reconhecemo-la como símbolo em outras tradições religiosas e mitoló- gicas. De acordo com a tradição hindu, Brahma criou os mundos depois de ter surgido do ovo de ouro que flutua nas negras e insondáveis pro- fundezas do não ser. Em um hino a Kali é dito: “Antes do início de todas as coisas, tu existias na forma de uma escuridão que ultrapassa palavras e pensamentos. Por meio de ti, o desejo criador do sublime Brahma, é criado o universo inteiro”. Conforme Apuleio (séc. II d.C.), Ísis diz: “Eu sou tudo o que foi e tudo o que será”. Ísis simboliza, portanto, a força criadora verdadeira e pura, daí a ausência de cores. Novalis escreveu: “A virgem cósmica é refletida em cada virgem terrena, e fica evidente para nós que a procura pelo amor é um Antiga representação da Virgem Negra, a Ártemis de Éfeso – aqui uma cópia romana de um original grego do século 2 a.C.32 pentagrama 6/2011

COMPREENSÃO, ENTENDIMENTO, CONHECIMENTOQUE PROVÊM DE UM PASSADO REMOTO – IMAGEM DACRIAÇÃO DIVINA ETERNAdevotamento à noite que ocorre no imo”. um dia na França. Mas o folclore, o rico simbo-Diz a lenda que, no primeiro século de nossa era, lismo e a tradição apontam nessa direção.Maria Madalena insuflou nova vida ao culto à Lendas frequentemente têm um núcleo verda-Madona-Ísis negra na França. Após os aconteci- deiro, o qual, com certeza, está em um planomentos na Judeia ela fugiu e, segundo a tradição, bem diverso. Assim A. Peters relata, em seu livrochegou ao continente na pequena localidade de Cabala, que essa divindade desconhecida paraSainte-Marie-de-la-Mer. Estavam a bordo com nós é designada no Zohar como: “Eu sou aqueleela José de Arimateia, Marta, irmã de Maria, que eu sou e ninguém mais é” (Ehieh Asherseu irmão Lázaro e todos os discípulos de Jesus. Ehieh). Este é um grande mistério e o funda-Dessa lenda, ainda hoje viva na França, origina-se mento da cabala.o seguinte conto: “Em uma gruta na Provença, “Eu sou”, essa existência una, divide-se em doisnão longe do mar, vivia há muito tempo uma aspectos viventes. Dessa força divina una deri-sacerdotisa de pele escura. Era Sara, a egípcia, vam duas hierarquias ou correntes de energia. Naque era ‘um raio de Sol’, muito estimada na cabala são denominadas “rosto” ou “face”. Duasregião não apenas como sacerdotisa mas também correntes misteriosas saem da divindade como ocomo terapeuta. Sara também significa ‘princesa’. polo mais externo, o polo extremo de sua essên-Da vizinhança e de longe vinham pessoas para cia. Peters escreve: “Uma delas nós denominamosaconselhar-se com ela, que lembrava Ísis, o eter- ‘Ab’, o Pai do Mundo, a outra, ‘Ama’, a Mãe dono aspecto maternal dos mistérios egípcios”. Mundo, que é representada como uma madonaDe acordo com essa lenda – e existem muitas negra. Por isso o universo ainda não pode sur-outras ainda – Maria Madalena procurou por essa gir delas. O Pai do Mundo também é designadosacerdotisa. Ao encontrá-la em sua gruta na Pro- como o aspecto da divindade que chamamosvença, ela ocupou o seu lugar e passou ali o resto ‘Chokmah’, ou seja, Sabedoria. A Mãe do Mundode sua vida, entre os anos de 44 a 70. é frequentemente chamada ‘Binah’, que significaSabiam ambas que os mistérios egípcios haviam compreensão, entendimento, conhecimento queperdido sua força ativa e renasceriam na nova provêm de um passado remoto para, com basereligião, pois esta significaria uma renovação dos nessa experiência, construir as formas de um uni-antigos mistérios, e seu símbolo seria Jesus Cristo. verso onde milhões de centelhas lançadas da forjaPor essa razão, Sara já esperava por sua chega- divina estão encapsuladas”.da havia bastante tempo. A sacerdotisa escura Esse trecho expressa de forma belíssima que aretornou ao Egito. Mas as pessoas do país francês Madona é negra porque ainda não foi instada anunca a esqueceram e continuam a adorá-la nas emitir luz de si mesma. Juntando os dois contos,muitas madonas negras. Certamente jamais se descobrimos o mistério das madonas negra epoderá comprovar realmente se ambas estiveram branca. A madona também pode ser considerada a madona negra 33

como o aspecto materno da divindade, como o na Negra. É a história das irmãs clara e escura,campo criador da matéria original, mas também Ísis e Néftis. No céu vemos Ísis, a radiante estre-como a nossa Terra. Quando, na época do evento la Sirius A. Porém Sirius B, Néftis, que gira emdo Gólgota, a energia do Cristo inflamou a Luz, torno de Sirius A em um período de 50 anos,o mundo então passou a ser iluminado por ela. E, nós não vemos. Sirius B, uma estrela anã brancacomo símbolo desse evento, a sacerdotisa então de brilho fraco, é extraordinariamente densa ese tornou branca. A deusa Ísis muitas vezes foi pesada. Essas duas estrelas ou irmãs são símbo-representada em negro. A Luz de Cristo ainda não los para as partes clara e escura da alma, pararevelada pôde manifestar-se e o homem, desse o consciente e o inconsciente. O polo superiormomento em diante, pode ligar-se à Luz direta- do homem, a centelha divina da forja, pedemente, sem intermediários. Antes isso não era pos- por libertação. Podemos ver isso, por exem-sível. No Evangelho dos doze santos, Maria Madalena plo, na respiração, no novo pensar e no anseioé chamada por Jesus de “minha noiva”. Mas, em si por libertação. O subconsciente nos prende aomesma, ela é mãe, noiva e filha, assim como Jesus, passado, anseia pelo que é terreno, pelo mate-para as pessoas que estão no caminho e são seus rial. Ninguém pode negar essa Madona Negra.discípulos, é pai, esposo e filho! É como se ela chamasse constantemente, comoEsses são aspectos que somente podemos reco- se o homem sentisse que há um segredo que onhecer no próprio homem; do contrário, eles conecta a ela.seriam incompreensíveis. É o aspecto pai-mãe daalma humana no caminho da perfeição. As duas A deusa-mãe Ísis, através dos séculos, sussurra seusacerdotisas que, segundo a lenda, trocaram de segredo a nós: “Fora de mim não há nada. A Luzlugar há dois mil anos, marcaram esse evento. está em mim”. Para os que entendem, ela diz:Há ainda outra interpretação possível da Mado- “Procura em ti mesmo, e não fora de ti” µ34 pentagrama 6/2011

Inúmeros mitos nos foramtransmitidos pelas diversascivilizações do passado. Elesdão testemunho das concepçõesda antiga humanidade sobre osurgimento do mundo, a ativi-dade das forças da natureza,os deuses e sobre nosso destinoapós a morte.DO COMBATE DOS DEUSEShomensde lança ea fonte demimir“Então, pela primeira vez,ao mundo a guerra veio:quando, com lanças, os deusestrespassaram Gullveig.No salão de Walvater a queimaram:três vezes a queimaram,e três vezes ela renasceu.” homens de lança e a fonte de mimir 35

G ullveig é uma das filhas da noite. Ela exemplo da relação magistral entre o mundo representa os antigos deuses Vanir, as do espírito e o da matéria. Aliás, a palavra energias espirituais que, em tempos “germânicos” deriva-se de “Ger-Mannen”,há muito passados, estimularam o crescimento homens de lança, em alemão. Gullveig – adesmesurado da natureza e o desenvolvimento força do ouro – é a energia solar, o grandedas entidades humanas que nela vivem. A apa- princípio espiritual comum a todos os homensrição da geração dos deuses de Odin anuncia e que os acompanha nesse formidável cami-uma nova fase no grande drama da criação: nho de desenvolvimento.Odin domina, põe ordem e dá forma às forçasde crescimento que se reproduzem. Acontece Quando as forças da natureza começam ao mesmo em relação ao homem, que estava mostrar-se em seu ser (na forma de caracte-longe de ser semelhante à personalidade de rísticas humanas tais como vontade, honra,hoje. Ele é “compelido a entrar em seu cor- grandeza, poder e posse), os novos impulsospo”, como narram as mais antigas tradições. humanos que trespassam Gullveig “humani-Porque, por mais incrível que isso possa pare- zam” o Espírito. Assim, o Espírito, até en-cer, justamente o corpo exterior, visível e que tão puro e indiferenciado, é transformado ese manifesta no mundo material, é que traz ligado à vida terrestre. Ora, como o Espírito éem si as condições de um crescimento inte- eterno, o homem, em sua forma terrestre, estárior, para que um dia, uma consciência-eu se ligado à eternidade. Assim principia a correntetorne possível. da responsabilidade, porque embora a vontadeAssim, dois tipos de forças contrárias entram humana seja livre, o homem sempre fica liga-em combate no homem: as forças espirituais do às consequências de seus atos. Ao mesmodivinas e as forças materiais instintivas. Deu- tempo, as lanças simbolizam a típica cobiçases e gigantes travam combate. Esses conflitos terrestre pelo ouro.criam limites que controlam o excesso docrescimento. Contornos aparecem e formas ONDE SE OCULTA O OLHO Voltemos pordelineiam-se. Grandes energias, assim limi- um momento nossa atenção para Odin, quetadas, “interiorizam-se” de maneira ainda bebe da misteriosa fonte de Mimir, que se en-inconsciente, de modo que os seres naturais contra na raiz de Iggdrasil. Odin bebe o hidro-adquiram progressivamente sua forma. mel da memória das fases de desenvolvimento da história do mundo e da humanidade.A CADEIA DAS RESPONSABILIDADES Isso caracteriza o impulso especial para oA imagem de Gullveig, trespassada por lan- despertar da humanidade. Quanto mais pro-ças, ilustra muito bem esse processo. Eis outro fundamente penetramos nas linhas de força e36 pentagrama 6/2011

O gigante Ymir é morto por Odin e seus irmãos. Gravura do artista dinamarquês Lorentz Fröhlich, 1833na matriz que são o fundamento do desenvol- Para poder beber, Odin é obrigado a deixarvimento humano, mais cresce nossa admiração como penhor um de seus olhos (clarividênciapor esse conceito majestoso, profundo e cheio e onisciência), que, desde então, se encontrade mistério que está por trás dele. na Fonte de Mimir. homens de lança e a fonte de mimir 37

Thot e Thor no combate com as forças das trevas. O tem quase a mesma sonoridade que oEsse mesmo conceito figura na mitologia ser divino desce no homem da natureza. nome “Thor”, a divindade germânica que,egípcia. O “século de ouro” dos egípcios Thot, a personificação da razão divina e com seu martelo, lutava contra os gigantestermina quando Hórus – filho da deusa da inteligência, mostra o caminho ao longo pela estrutura e pela justiça divinas. OÍsis e do deus Osíris, personificação do do qual o divino ressuscita no homem e ritmo do batimento de nosso coração nãoolho-vidente no homem – perde um olho pode recuperar seu olho. A palavra “Thot” evocaria os golpes do martelo de Thor?Versículo 29: animados pelas energias dos gigantes e respi-Sei que o olho de Odin rando em harmonia total com os deuses. Pelana famosa Fonte de Mimir atividade da energia de Odin, o homem des-oculto está. perta progressivamente para a ação. Ele podeDo penhor de Walvater intervir em seu próprio desenvolvimento, numbebe hidromel Mimir longo caminho em direção ao pensamentoa cada manhã. consciente e à ação responsável. Em nossa vida moderna, podemos sempreOdin sacrifica um olho a fim de tornar pos- vivenciar a Fonte de Mimir quando, cadasível o desenvolvimento da consciência e da manhã, ao despertar, retomamos o fio de umavisão nas crônicas da terra. Tal sacrifício é de existência plena de sentido. Lembramo-nosfato digno de um deus, porque, ao participar com precisão da cadeia de consequências naassim do desenvolvimento terrestre, ele aban- qual estamos aprisionados. Por essa razão, cadadona seu próprio desenvolvimento direto nos dia, podemos acrescentar uma ação significa-elevados campos do Espírito. tiva a essa existência. Diariamente bebemos da fonte de nossas experiências pessoais, àsO HOMEM – PORTADOR DO EU Mas esse quais se somam as experiências das encarna-acontecimento é também a intervenção direta ções precedentes. Uma mina de experiênciasde Deus na criatura, porque no mais profundo constitui, pois, a base de nossas ações.do ser, o divino e o homem são um. Um dos Entretanto, a possibilidade há pouco adquiridaolhos divinos se fecha quando a divindade do pensar e do agir autônomos comporta oestá ativa no homem – o conhecimento direto perigo de não se confiar senão na própria for-do mundo espiritual perdeu-se para nós. Em ça e de negligenciar a radiação da sabedoriaseu lugar apareceu uma percepção consciente divina. À medida que se torna mais autônomo,nas esferas deste mundo. Mas como o divino o homem “confronta” sua vontade com a von-nos acompanha, esse grande passo encerra ao tade divina. Ele afasta-se da consciência cós-mesmo tempo a promessa de um crescimento mica harmonizada com o princípio espirituale uma ligação sempre mais forte com ele. e, em dado momento, passa a confiar em umaPela atividade dos deuses e de Iggdrasil, a consciência orientada exclusivamente para aárvore do mundo, o homem torna-se porta- conservação da existência terrestre. É assimdor do eu. Antes, ele era uma “substância” que, em lugar da segurança que ele anseia tãoespiritual, sem forma, na qual um observador ardentemente, a escuridão o envolve.poderia distinguir alguns núcleos luminosos, A pineal é o órgão de percepção interior que guiou a jovem humanidade na noite dos tem-38 pentagrama 6/2011

É a energia de Odin que nos impele a intervir em nosso própriodesenvolvimento durante o longo caminho para a autonomiapos. A pineal ligava-se ao espiritual-divino. Em vida como um desenvolvimento. Ele supera onossos dias, se bem que de modo rudimentar, “ver e sentir” e tudo o que a eles está ligado.ela ainda está estreitamente ligada à intuição Abandona a percepção do atemporal e torna-humana. Existe o perigo de que os novos im- -se consciente de si mesmo. A história dospulsos da época atual já não possam penetrar mundos transforma-se, para ele, em “uma sagaaté “o olho”, vestígio do divino, e que este se sobre os homens”, conforme é dito no versí-feche. Esse vestígio é visível entre os recém- culo 1 da profecia da vidente.-nascidos: o terceiro olho, a fontanela, fecha- Ao longo desse caminho, o declínio dos deu--se gradativamente. A interrupção desse cami- ses parece inevitável. Sua morte significa onho espiritual na noite dos tempos repete-se despertar da consciência-eu. Mas, em nossasem cessar em cada um. Assim, cada embrião época, um passo essencial pode seguir-se, des-humano atravessa, no seio da mãe, todas as fa- de que o homem dele participe: a ressurreiçãoses anteriores da existência. O “terceiro olho”, do divino no homem.a nova percepção interior que o buscador es- Nessa condição, a consciência-eu apresentapiritual pode adquirir, é novamente colocada uma forte resistência aos impulsos de desen-à nossa disposição após um processo de cura volvimento do Espírito. Ela é ao mesmo tem-e restabelecimento. Esse processo está anco- po a substância que deve ser formada. Por trêsrado na matriz do plano universal: a fusão do vezes ela é queimada, e a cada vez, renascehomem e do divino em uma transfiguração. das cinzas, da escuridão. Não está aí o proces-Enquanto isso não acontece, o olho do Espí- so de purificação nas retortas dos alquimistas?rito permanece protegido na fonte de Mimir. O mito de Prometeu relata o mesmo aconte-O momento eterno do Espírito transforma-se cimento: Prometeu, acorrentado aos rochedos,em passado, presente e futuro, tal como a Edda deve sacrificar o fígado – sede das paixões e dosnos indica em sua linguagem velada pelos instintos. Uma águia desce e arranca-lhe o fígadoséculos. A consciência do homem é despertada do corpo, mas durante “a noite” ele volta a crescer.pela experiência adquirida através dos éons As forças da consciência que desperta estão emde tempo. O homem aprende a conhecer sua conflito com as forças do inconsciente µ homens de lança e a fonte de mimir 39

RESENHA DE LIVRO:A ESTRANHA VIDA DE IVAN OSOKINrepetições sem sentido“Apenas conhecimento não basta para os que buscam por libertação.” O autor P.D.Ouspensky interpreta essa frase de Gurdjieff como um equilíbrio entre “saber e ser”,pois “ser” determina o “saber” que o homem pode apreender, enquanto “saber” tornapossível um novo estado de ser.N o romance A estranha vida de Ivan Zenaide é outra personagem importante do Osokin (1946), P.D. Ouspensky descre- romance. Ela é a mulher de sua vida, e a relação ve a viagem de um homem através das de Ivan com essa jovem é muito particular. Eleprovas da vida. O autor o faz girar indefinida- tem a sensação de conhecê-la. Entretanto, aindamente em um círculo associado a experiências que não viva com ela, nunca consegue explicarrepetitivas de batalhas perdidas para encontrar de modo racional por que razão isso é impossí-o sentido da existência. Em uma de suas vidas, vel no momento.descontente com a situação em que novamente Zenaide significa “aquela que pertence a Zeus”.se encontra, ele encontra um mestre, que é tam- Ela representa, portanto, o elemento espiritualbém um mago, um ser conhecedor dos mistérios do ser humano: o aspecto feminino imortal queda vida. Como Ivan ainda acredita poder encon- quer religar-se à personalidade. Embora sinta-trar a felicidade no plano horizontal, pede-lhe se atraído por ela, Osokin não tem condiçãoajuda nesse plano, na esperança de que tudo irá de responder a seu chamado. Tudo é pretextomelhorar se tiver mais uma chance. para fugir dela. Ao mesmo tempo perturbado eEmbora o mago possa ajudá-lo, não pode dar- descontente consigo mesmo, Osokin não cessalhe algo que ele ainda não deseja, do qual ainda de perdê-la. E sempre acaba procurando o magonão está consciente. Entretanto, oferece a Ivan o para uma nova tentativa.que ele lhe pede: uma chance, e outra, e outra… É evidente que nada muda de fato. E tudoembora saiba que isso é em vão. Dessa forma, as permanece como um sonho não realizado. Aexperiências de Osokin repetem-se, e os resulta- solução do problema não se encontra no planodo são sempre os mesmos. Ele tem a impressão do próprio problema. As situações são sempre ode que, prestes a alcançar a felicidade, ela sem- reflexo da realidade interior. Elas pertencem aopre lhe escapa por pouco. domínio das causas e efeitos. Até que a estru-40 pentagrama 6/2011

tura da personalidade não mude de maneira P.D. Ouspensky (1878 - 1947)essencial, a vida permanece inalterada. A luzapenas pode auxiliar ao ser humano que verda- e a sua justiça, e todas estas coisas vos serãodeiramente percebe que as tentativas feitas em acrescentadas”. Compreenderá ele que servirbases errôneas não levam a nada. Elas não levam ao princípio divino é ofertar a si mesmo? Todoa nada até que ele perceba estar preso entre as buscador é confrontado com tal decisão. Aí selimitações e o desejo de libertação; ele aprende- encontra o paradoxo dos místicos: “Quem acharrá a reconhecer esse fato em vários níveis. Mas a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida,trata-se de qual libertação? E do que queremos por amor de mim, achá-la-á”.libertar-nos? Esse é o único caminho da liberdade. Ele con-Tendo buscado o mago um número incalculável siste na compreensão dos limites do estado pre-de vezes, Osokin termina então por compre- sente, no desejo de mudança e na confiança daender, por lembrar-se, por ter um sentimento energia do outro reino em nós. Concretamente,de déjà-vu: tudo já aconteceu e acontecerá de a rendição é colocar em concordância a vidanovo se nada mudar fundamentalmente nele.Sim, nada a seu redor mudará se ele mesmo nãocomeçar a mudar.Tal mudança apenas é possível se ele render-sea essa outra energia, a essa energia não terres-tre que ele invoca em vão há tantos anos semresultado; ou que ele não soube empregar damaneira correta. É preciso, a partir de agora,fazer o sacrifício de sua vontade, renunciar asuas posições, a seus talentos, a seu eu. Somenteassim a força poderá agir por meio dele em seubenefício. Trata-se de libertar-se do eu, e não deo eu libertar-se. O mago explica a Osokin queao homem é dado apenas aquilo que ele é capazde utilizar, e ele apenas é capaz de utilizá-lo setiver sacrificado algo em troca.É esperado do ser humano um sacrifício sétu-plo, o sacrifício de tudo o que ele é como serterreno. Os anos de vida que o mago deseja queOsokin lhe consagre simbolizam esse sacrifício.Trata-se de dar a fim de estar em condição dereceber. Tudo dar para tudo receber.Osokin está diante da decisão de tentar “conser-tar” outra vez a vida com as forças terrestres econseguir ficar com Zenaide. Ou ousará ele darum novo passo, entregando-se a uma força quenão provém do padrão habitual deste mundo?É dito: “Mas, buscai primeiro o reino de Deus, repetições sem sentido 41

exterior e interior com os princípios fundamen- cimento e da morte para construir, assim, sobretais do outro reino. Esses princípios, ocultos no bases imutáveis e unir-se aos que formam umacoração, o ponto central do microcosmo, mani- unidade na eternidade.festam-se do interior para o exterior.Os desejos efêmeros da personalidade desvane- O SENTIDO DO SACRIFÍCIOcem diante do desejo original da alma, que está (fragmento)cansada de tudo que não tem sentido. A almabusca a vida da região do Espírito divino, por- “O que é preciso para fazer que as coisas comecemque esse é seu destino. Quem começa a mudar a mudar?”, indaga Ivan Osokin. Ele imagina que oresponde ao chamado para a gênese de um novo mago vá responder-lhe com uma de suas sentençashomem, o qual cessa de girar na roda do nas- habituais muito inteligentes, mas quase incompre-42 pentagrama 6/2011

O pintor espanhol José Roberto Torrent Prats (1904–1990) tenta, nessas paisagens, exprimira solidão existencial do homem. Em seus anos de juventude, ele pintava à maneira impres-sionista, mas desenvolveu a seguir um estilo expressionista próprio, no qual os sentimentoshumanos podiam ressoar de maneira precisa. Ele nasceu na ilha de Minorca, onde viveu etrabalhou durante toda a vida.ensíveis para ele, como:“Se você se torna diferen- nas pode receber o que é capaz de utilizar, e elete, todo o restante se torna diferente”. apenas é capaz de utilizá-lo se tiver sacrificadoMas o mago lhe diz algo que ele não tinha algo em troca. Essa é a lei da natureza humana.”previsto: “Você deve compreender que você “Não há outros meios?”, pergunta Osokin.nada pode mudar e que precisa procurar ajuda. “Você quer dizer meios que não necessitemE deve ser uma compreensão muito profunda, nenhum sacrifício? Não, não há! Ademais, vocêpois não basta compreender hoje para esquecer não está compreendendo o que está pergun-amanhã. É preciso viver com essa compreensão”. tando.Você não pode ter resultados sem causas.“Sim, mas que quer dizer ‘viver com essa com- Pelo seu sacrifício você cria causas. Há váriaspreensão’?”, pergunta Osokin, “E quem pode maneiras, mas diferem apenas na forma, magni-ajudar-me?” tude e finalidade do sacrifício. Na maioria dos“Eu posso ajudar você”, responde o mago, e “viver casos, é preciso abrir mão de uma vez, e nãodessa compreensão significa sacrificar algo grande esperar nada.para isso, não uma só vez, mas continuar a fazer Uma canção dervixe diz o seguinte:sacrifícios até que você consiga o que deseja”. “Por meio de quatro renúncias“Você fala em charadas! – responde Osokin. eleva-te à perfeição.Que posso sacrificar? Eu não tenho nada!” Despede-te da vida sem arrependimentos.“Todos têm algo a oferecer,” responde o mago, Não esperes nenhuma recompensa nos céus”.“exceto os que não podem ser ajudados. É [...]obvio que é impossível dizer antecipadamenteo que alguém poderá receber em troca de seu “Eis a questão: o que sacrificar e como sacri-sacrifício. […] O que digo lhe parece estranho ficar.Você diz que nada possui. Não é bemporque você nunca refletiu sobre essas coisas da assim.Você tem sua vida.Você pode, portanto,maneira correta. Além do mais, apenas pensar sacrificar sua vida. É um preço bem pequenonão ajuda. E para aprender é preciso fazer sacri- a pagar, uma vez que tinha intenção de livrar-fícios. Nada pode ser adquirido sem sacrifícios. -se dela de qualquer forma. [Osokin queriaÉ isso que você não compreende, e, enquanto cometer suicídio]não compreender, nada pode ser feito. Mesmo Dê-me então sua vida e verei o que pode serse eu quisesse dar-lhe qualquer coisa que você feito de você. Quero até deixar as coisas maisdesejasse, sem haver nenhum sacrifício de sua fáceis para você. Não lhe pedirei toda a suaparte, eu não poderia fazê-lo. Um homem ape- vida.Vinte ou apenas quinze anos dela serão repetições sem sentido 43

Os desejos efêmeros da personalidadedesvanecem diante do desejo original da almasuficientes. Mas durante esses anos, você me deve aprender a compreender que há semprepertencerá. Quero dizer que você deverá fazer e apenas uma maneira de fazer algo, que nãotudo o que eu disser, sem evasivas nem descul- pode haver duas. Mas não lhe será fácil chegarpas. Se você mantiver sua parte do acordo, eu a isso. Por muito tempo haverá grandes debatestambém manterei a minha. Tendo findado esse interiormente. Tudo isso precisa ser destruído.tempo, você poderá utilizar seu conhecimento Somente então você estará pronto para o ver-por você mesmo. É uma sorte você poder ser- dadeiro trabalho.” µ-me útil exatamente agora – não imediatamente,com certeza, mas posso aguardar, se for necessá- Capa de uma ediçãorio. Então, agora você sabe o que tem de sacri- holandesa de 1976 doficar. [...] E agora é necessário pensar em você. livro A estranha vidaQuinze anos podem parecer-lhe um tempo de Ivan Osokinlongo, porque você ainda é muito jovem, porémmais tarde verá como é curto, sobretudo quandoperceber o que pode receber por ele. Então, vápara casa e reflita.Quando tiver compreendido e colocado tudoo que lhe disse na ordem correta, venha aquidizer-me qual foi sua decisão.Posso ainda acrescentar uma coisa: como todomundo, você acredita que haja muitas manei-ras diferentes de fazer a mesma coisa.Você44 pentagrama 6/2011



“Deixa a energia do Espírito Santoderramar-se ao longo da coluna vertebral– eu aguardarei no alto da tua cabeçacom um fogo aceso.Começarás a falar em línguase saberás o que os anjos pensam.Mas deves deixar a força ígneado Espírito Santo fluir por ti,deves abandonar tua resistência,tuas tensões.Isso é tudo o que tens a fazer.” Vesna Krmpotic´ (Dubrovnik, 1932)


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