2015 número 6PentagramaLectorium RosicrucianumEm busca de novas praias para a alma
Balizas para uma viagem terrestre e cósmica Os contornos do mundo da alma Para alunos e amigos – Lectorium RosicrucianumPeemrsbpaeixcotiv–a: oasmsiilmagcroemdoo écontoidiaalntoo, é Pentagrama – base da consciência da almaPentagrama
ANO 37 2015 NÚMERO 6 pentagramaLegenda: A renovação é – ou deveria ser – uma palavra-chave para o ser humanoNo horizonte, novas praias da vida se apresentam que aspira à vida espiritual. O rosa-cruz trabalha todos os dias para oou se apresentarão a cada um. poderoso e magnífico plano de aproximação entre ele e seu reino interior.Nas obras de Cindy Patrick aparece um elemento Ele o faz com o auxílio do sopro incomensurável da Eternidade que neleestranho, que expressa de maneira tocante a opera.busca por uma realidade de consciência singular, Se por acaso ele busca avaliar o resultado é para melhorar sua maneira deque, à primeria vista, poderia parecer alienante. © trabalhar. Nem o passado, nem o fato de ter uma meta bem definida noCindy Patrick Photography. futuro são determinantes. Para a consciência da alma liberta, o passadohttp://www.cindypatrick.com gnóstico é a jóia dos obreiros de hoje, e o futuro uma certeza radiante no presente. O rosa-cruz obtém a energia motriz de suas ações do batimento cardíaco do momento – o eterno presente – e dedica à Eternidade o fruto de seu trabalho. O que importa é a renovação, a vontade de utilizar a todo instante a força da origem, independentemente do que se adquire pessoal- mente – e, para isso, a inspiração é necessária. A inspiração é espiritual: ela nos eleva, muito além de nós mesmos. A inspiração é um influxo espiritual que se torna realidade no momento em que convive com uma inclinação pessoal. O novo pentagrama é o resultado desse influxo contínuo. Sua fonte é o campo de força da Escola da Rosa-cruz Áurea; a qualidade de seus alunos determina a força e o caráter de seu conteúdo. Com este 280º número da pentagrama (valor cabalístico 1 – nós começa- mos em 1979), entende-se uma dupla transição. A revista será publicada agora quatro vezes por ano. Ao mesmo tempo, a editora em Renova está trabalhando em uma versão digital, compatível com tablets, computadores e smartphones, que entrará em circulação em 2016. No Brasil, a nova versão digital já foi elaborada e disponibilizada desde a segunda edição de 2015. Esta primeira página editorial pretende ser um chamado que se renova: enviem suas contribuições, seus pensamentos inspirados, seus artigos e suas reflexões ao nosso endereço eletrônico: [email protected]. Esforcemo-nos mais que em qualquer outra época para refletir o trabalho atual de nossa Escola Espiritual no mundo, a fim de que, também através desta nova forma da revista, a possibilidade do renascimento da nova alma seja conhecida. Esperamos que a pentagrama faça ressoar a vida da Rosa-cruz Àurea pelo mundo todo. 1
Conteúdo4 A sede da alma8 J. van Rijckenborgh1416 Saúde20 O sacrifício das palavras22 Sobre o indizível2837 A ilusão38 Como o ouro, a prata e o dinheiro deturpam os44 valores essenciais e não trabalham para o homem,46 mas sim contra ele6064 A ilusão A ilusão da humanidade Dinheiro, arcontes e eons Ad Broere A ilusão Uma terra perene...será que ainda é possível? Frans Spakman Crônica A faculdade instintiva de ser bom A ilusão Limites de um processo A senda real O Grande Amigo de Deus do País do Alto Texto Sodalis, J.P. Wils O tango dos opostos Crônica Para resistir, somos obrigados a trabalhar em nós mesmos2 A ilusão
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O pensamento lúcido de Jan van Rijckenborgh e seu grande amor pela humanidade conduziram-no afundar, com Catharose de Petri, uma escola moderna de transformação da consciência: o LectoriumRosicrucianum. A ideia inicial era que, ao cobrirem as lacunas referentes aos conhecimentos situa-dos por trás da existência, seria criada uma alavanca para atenuar o sofrimento do mundo. 4 A ilusão
A sede da almaNa manhã do quarto dia, Cristão Rosacruz recebe as novasvestes áureas, bem como os ornamentos do Tosão de Ouro, comoprova de que a nova veste áurea influenciara o coração e que oesterno já manifestava nova radiação e novo funcionamento.Quando o espírito penetra as sete cavidades cerebrais, ele tambémo faz no coração, pelo fato do coração estar em contato direto coma cabeça. Assim como o santuário da cabeça se abriu mediante aforça da alma, agora a colaboração do novo pensar é que irá fazero coração trabalhar de maneira nova.PPorocrocnosnesgeugiunitnet,e,nnesessasapprrimimeeiriraa ffoorrççaa ddaa aalma se alia à força do Espírito, Desde o início até as últimas fasfeasdeadtaratrnasnfisgfiugruarçaãçoão, ,ooccoorraaççããooe aalggoo ssee aabbrree nnoo mmaaiiss íínttimo da natureza conferências proferidas por J. van a ceaabecçaabesçoafrseomfrenmítindíatidmaumduandçaan.- hhuummaana, porém é preciso que essa aber- Rijckenborgh, ele não cessou de Osçac.aOnds icdaantdoisdastosismasesiqmuiepqaudiopsa- ttura acontteeçça noo sseenttiddoo ddoo vveerrddaaddeeiirro colocar As Núpcias Alquímicas desão condudziodsossãoa cuomndaupzoidrtoasqauuemaatépeonrtãao ddiscipuuladoo ggnóósstticcoo. Christian Rosenkreutz (1459) noqCureisatãtéoeRnotãsoacCrruizstãnounRcoasahcarvuiza nvuisntcoaahbaevritaa MMeerrccúúrriioo sseemmpprreeffooiiooggrarannddeesísmímbboololo centro de nossa atenção, re-veisqtoueabdeártaacesqsoueàdeáscaacdesasoreàale:sucamda reesacla:da ddaa iinniicciiaaççããoo::ooddeesseennhhooddaaLLuuaa, ,sísmímbboololo velando numerosos níveis comouemaeesspciardalaceommetsrpeizraelnctoms etrsezsesenntotas e sceisn-- ddaa aallmmaa;; oo ddeesseennhhooddooSSool,l,ssímímbboololoddoo chaves ocultas.sceontdaeegrcainucso. Adepgorratuasd. Aesspaoretsacaddeasssaeemscpardea EEsppíírriittoo;;ooddeesseennhhooddaaCCrruuzz,,ssímímbboololodasseemapbre speaarbaroe pcanradoidcaatondciudjaotoecstuajdooesdteado mdaatméraitaé.rOia.cOamcianmhoindho ddioscdipisucliapduolaédodsersepropdoedseerseqruqauliafliicfaicdaododede“m“meercrcuuriraial”l”..É céaomcinamhoindhaovdiaa-cvriau-ccirsu,cids,odnoãon-ãeou-,euem, emÉpoprorisissosoqquueerreeccoonnhheecceemos o númeroo ddee ppeerrffeeiittaa aauuttoorrreennddiçiçããoo––ééoocacammininhhoo-d- e-MMeerrccúúrriioonnoonnúúmmereorotrterzeeznetnotsoes seesesesnsetantea --cdreu-zcrduez JdoeãJoo:ã“oN:“ãNoãeoue,um, masasooOOuutrtrooeemmceinccino,con,únmúemroerqouequeveoecvaoucma uamfoarçfaoreçuame a mmim.. Elee ddeevvee ccrreesscceerr,,ee eeuu,,ddiimmiinnuuiirr..””autmiviadadtievimdaedrceumriaelr.curial. QQuueemm ttrriillhhaa eesssseeccaammiinnhhooccoonnqquuisistataaaMMeerrccúúrriioo,, chamado com toodda razão de aalma ee,, coomm eellaa,,ooEEssppíírriittoo..““mmeennssaaggeeiirroo ddooss ddeeuusseess””,,eexxigigee,,ccoommoo QQueem,, por pouco quuee sseejjaa,,rreecceebbeeuu aallggoonneecceessssiiddaaddeevviittaall,, qquuee aa aallmma see lligguuee dda alma, também deve receber algo doààss rraaddiiaaççõõeess ddoo EEssppíírriittoo,, aa ffiim de quuee,, EEspírito.. Ele se subbmmeettee àà pprroovvaa ddoosssseetteeaammbbooss uunniddooss,, possam se manifestar no ppesos.. Os sete pesos são recolocadooss eemccoorrppoo ffísiccoo ee pporr mmeeiioo ddeellee.. Quando a sseeuuss lluuggaarreess.. As sete fontees da conns-- 5
ciência são tocadas pela Água Viva, e harmonizam-se totalmente com o estado abóbada cheia de afrescos, ondecomo não poderia ser de outro modo,aquele que trilhou o caminho tem de de nascido da natureza e cristalizam-se as sessenta virgens os esperam,beber dessa água: portanto, deve agir pormeio dela e dela viver. No mesmo instan- tanto que já nenhuma mudança pode aí todas ricamente vestidas.te se inicia o processo da transfiguração. Éo começo da fase mercurial, que tem três realizar-se, mesmo que o ser humano Provavelmente já tereis ouvidoaspectos: Espírito, alma e corpo. Melhorainda é dizer: alma, Espírito e corpo, pois vergue-se de dor, miséria e desgosto, pois ou lido que a pineal, o braçonesse processo a alma vem em primeirolugar. É a noiva que espera o noivo. o intelecto e as autoridades intelectuais não mais alto do candelabro, éQuando, pois, alma, Espírito e corpo seaproximaram um do outro e o candidato enxergam nenhum outro caminho!Assim, comparável a uma rosa ou a umse torna o símbolo vivente de Mercúrio,então também se abre a entrada para a o homem nascido da natureza, como alma lótus com sessenta pétalas.escada real em espiral, que forma umaligação direta e exclusiva entre a cabeça e nascida desta natureza, trilha seu caminho Assim, fica claro para vós o queo coração – para a qual, em determinadomomento, o chacra do coração constitui a até que o fim sobrevenha. No início do essa passagem quer dar aporta aberta.Antes de prosseguirmos, repetimos quarto dia, aparece um estado entender. É a descrição doque, no ser comum nascido da natureza, aconsciência do homem tem sua sede tanto completamente diferente. Antes, de modo primeiro encontro do can-no coração como tambémna cabeça, e que a flama da consciência, algum podia-se falar em manifestação didato com o rei e a rainha epor conseguinte, arde tanto no coraçãocomo também na cabeça. Contudo, existe mercurial, pois o santuário da cabeça do uma confrontação com todosuma cisão entre ambos os aspectos da homem nascido da natureza é um temploconsciência. Não se pode falar de uma totalmente profanado pelo coração, isto é,unidade, pois as considerações e reflexõesdo coração são, na maioria das vezes, O Tosão depelos instintos naturais. E o intelecto somentetotalmente diferentes que as da cabeça. Euma vez que o coração está ligado está voltado para a auto-afirmação e a lutatão estreitamente com o corpo astral dohomem, ele exerce, em geral, vigoroso Ouro é a provapela existência. A filosofia hermética estápredomínio sobre a cabeça, de maneiraque se pode dizer: “Não passa pela cabeça totalmente correta quando diz que oo que o coração não quer”.Uma vez que no ser nascido da natureza de que o esternohomem nascido da natureza é umo fator astral do coração, que é o fator tornou-se“homem animal”: portanto, apenas um seranímico, desempenha o papel mais im- radiante e deanimado.portante, o candelabro da consciência nacabeça, que consiste no fluido astral nas No estado de ser descrito na passagem aquisetes cavidades cerebrais, desempenha analisada, o coração saldou sua dívi-da que os novossomente o conhecido trabalho intelectual, capital para com a cabeça por meio dopelo qual as diversas células cerebrais valores, queabandono total de todo desejo instintivo. O coração se abriu sob o efeito dos sete raios do coração central do microcosmo. A alma agora habitamé renovada, nova nuvem astral espalha-se no campo de respiração, e o candelabro o coração,sétuplo do santuário da cabeça pode ser estão ativos natocado pelo Espírito. O caminho para cima foi aberto pelo sacrifício do sangue. cabeça E, vede: uma nova porta se abre. Surge equilíbrio entre o coração e a cabeça, en-tre a alma e o Espírito. O que se encontra na cabeça também está no coração. O que está no coração também se encontra no santuário mais elevado. Agora, a Alquimia possibilita aos candida-tos trilhar o caminho para cima através do fogo serpentino. Os degraus são galgados sob a condução da Virgem Alquimia. E eles chegam, finalmente, no alto, a uma 6
os aspectos e forças de sua consciência. cido a mim mesmo e comparado ao céu o chacra superior da pineal.A alma toma assento no local que lhe semelhante magnificência inefável, pois, Quando a alma nasceu e osfoi predestinado por Deus, isto é, no abstraindo o fato de o salão resplandecer candelabros estão reunidos,santuário mais elevado, ao lado do rei, de ouro puro e pedras preciosas, a veste ardendo uniformemente,o Espírito. Essa grande vitória da alma é da rainha era também tão brilhante que desenvolve-se, literalmente,de imenso significado para o candidato. não podia mirá-la”. uma ligação corporal etérico-A alma sai do coração para conceder às Para finalizar, talvez seja necessário jogar -luminosa entre o coração e airradiações do Espírito Sétuplo o acesso um pouco mais de luz sobre alguns cabeça, livre de qualquer baseàs sete cavidades cerebrais. Então, a alma pormenores do que foi falado, sobretudo anatômica. Essa ligação see o Espírito garantem o controle de toda para expressar mais concretamente essas compõe de éter refletor e dea existência, e a cisão que causava tanta coisas provavelmente tão abstratas. éter luminoso, que são éteresdor desaparece. Por isso, Cristão Rosa- Inicialmente, mais uma palavra sobre a mentais e sensoriais, e quecruz irrompe em autêntica alegria: “Não escada em espiral que leva ao salão real têm um movimento clara-fora eu admoestado tão amigavelmente nupcial: a escada em espiral designa uma mente espiralado – razão pelapela rainha no dia anterior, teria esque- ligação entre o chacra do coração e qual se fala de “uma escada em espiral”. A seguir, lancemos um olhar preliminar diretamente no salão nupcial, ou seja, a parte do cérebro que abriga a pineal e que é a sede da mais elevada manifestação do Espírito, que está unificado com a alma. Nessa parte do cérebro, que abriga a pineal, projeta-se não apenas a lípica do microcosmo, mas tam- bém a lípica do mundo da alma vivente. Uma vez que essa possibilidade nasceu da ressurreição da alma, do coração central do micro- cosmo, é compreensível que a rainha tenha causado em Cristão Rosa-Cruz impressão tão deslumbrante: “Isso tudo era ainda mais excelso do que tudo o que antes considerara belo e do que todas as outras potestades, tais como as es- trelas no céu”. De fato! E não devemos esquecer que isso tudo, em realidade, é apenas o começo! 7
ALOCUÇÃO TEMPLÁRIA – HAARLEM, HOLANDA, 19 DE ABRIL DE 2015 8 A ilusão
SaúdeQuem tem boa saúde não dá atenção a ela. Uma boa saúde, que não requer nenhum cuidado especial, nos dá liberdade de ação natural. Isso nos permite tirar proveito de tudo. Mas de tanto nos ocuparmos com um monte de coisas, acabamos nos esquecendo... da saúde.Como a situação é diferente para quem está doente! Do mesmo modo como a saúde nos dá asas e determina nossa vida, sucede o inverso quando estamos doentes. Em primeiro lu- gar, somos monopolizados por nossa indisposição, pois quando os sinais e os sintomas aparecem, somos forçados a dar atençãoa eles. E, se a doença for grave, resta pouco ou nenhum espaço para fazer-mos outra coisa, pois ela requer todas as nossas forças.Teremos de sair embusca de auxílio. Quando o doente é o próprio médico, geralmente ele setorna inteiramente impotente.Não é de surpreender que os médicos e o mundo médico façam da doençasua matéria de estudo. A cura significa, antes de tudo, o alívio, o ver-selivre da doença. Ela sempre foi celebrada como uma vitória, pois tanto osmédicos quanto os pacientes – e provavelmente também os farmacêuticos– têm sensação de ter resolvido um enigma.Ainda que muitas das questões médicas sejam resolvidas – o que eviden-temente se mostra bastante positivo –, vamos descobrir que o verdadeiromistério não é por que e como adoecemos , mas antes o que é a saúde . AOrganização Mundial da Saúde há muito tempo definiu essa palavra emtermos de “ausência de doença”. Recentemente ela revisou esse conceito efala agora de um estado de total bem-estar físico, mental e social. Contudo,ela não sustenta essa afirmação – o que é, no mínimo, algo espantoso!Assim, em nossa percepção e em nossa consciência, saúde e doença são ooposto uma da outra. Isso não nos surpreende, pois desde a Antiguidadeexistem duas escolas de Medicina. Uma concentra-se na doença, seussintomas e os meios de combatê-la. A outra foca-se nas forças regenerativasinatas do ser humano e da natureza.Na antiga Grécia, a escola que lutava contra a doença localizava-se nacidade de Knidos, em terra firme; a escola que se dedicava à auto-regene-9
ração ficava no lado oposto, na ilha de natural, possamos “nos sentir melhor”? quanto ele congela. Ela esperaKos, tendo o célebre médico Hipócrates É esse raciocínio desesperado que co- pacientemente, como a bor-como guia. Hipócrates não se considerava loca o homem no caminho do conflito. boleta em seu casulo, até queum adversário daqueles que combatiam E, quando a situação parece melhorar, seu tempo tenha chegado.a doença, mas percebia o elo que faltava quando o equilíbrio é restabelecido Mas sera que isso é realmenteentre suas respectivas abordagens. temporariamente, médico e paciente esperar... ou pelo contrário,Certamente, em alguns casos é necessário sentam-se e relaxam. Contudo, eles não uma forma de trabalhar comcombater a doença, especialmente na fase vêem – ou consideram como evidente mais diligência? Da mesmaaguda, porém esse procedimento oferece – que as armas causaram danos; que o maneira a doença pareceapenas um equilíbrio temporário. Além problema foi apenas deslocado, e não esconder-se quando a febredisso, é importante verificar que, desse foi resolvido. Às vezes, é somente mais predomina. Contudo, ela nãomodo, não damos nenhum passo em tarde que se percebe isso, e muitas vezes está ausente: está agindo emdireção à saúde. Quem aborda a doença a relação causa e efeito não é estabelecida. segredo, de forma diferente,em termos de luta vai de encontro a uma Permanece a pergunta: devemos deixar de mas não com menos vigor.série de batalhas sem fim. Um dia, ver- lutar, de combater a doença? Certamente Estamos tão acostumados a-se-á esgotado, pois a vitória é impossível. que não. Em primeiro lugar, precisamos confrontar a saúde com aHipócrates via a doença como expressão proteger o organismo dos danos per- doença, que isso acabada vida tal como a conhecemos, como manentes, protegê-lo dos excessos – do parecendo lógico. Perguntesomos obrigados a submeter-nos a ela. mesmo modo como, em nosso jardim, para qualquer pessoa que, háA doença é o outro polo da saúde, que protegemos as plantas vulneráveis de um dias, esteja fortemente gri-se apresenta como necessário, a fim de inverno rigoroso, sem por isso tratá-las pada o que ela mais deseja!corrigir o que parece óbvio, mas que como plantinhas de estufa. Portanto, Quem dedica seu tempo aimperceptivelmente se desviou. devemos combater a doença nos casos estudar a doença e a saúdeEntão, será que devemos simplesmente em que é necessário, e promover a saúde imparcialmente descobre queaceitar tudo o que nos acontece? De- sempre que possível. Assim como a pri- a doença é um instrumentovemos aguardar pacientemente uma mavera está escondida no inverno, a flor de vitalidade e de saúde. Ela éeventual cura, esperar até que, de modo delicada permanece alojada no botão, en- sempre um efeito dessa força 10 A ilusão
dinâmica e misteriosa que nos impele BURNING MAN-FESTIVAL (Festival do homem que está pegando fogo)a um equilíbrio superior, à verdadeiraharmonia. Estas são fotos de uma série de esculturas a laser de HYBYCOSO, que foram expos-tas noQuem consegue reconhecer isso em Burning Man Festival, no deserto Black Rock de Nevada (USA). HYBYCOSO (hyperspace bypasssua própria situação de vida reagirá de construction – construção de um caminho alternativo de hiperes-paço) é um projeto quemaneira diferente diante da doença. Ele opera na intersecção da ciência, da tecnologia e da cultura. Essas esculturas são inspiradasou ela compreenderá naturalmente que pelo livro Hitchhikers Guide to the Galaxy (Guia das pessoas que viajam de carona para asquem está doente não apenas sofre, mas galáxias) e traduzem a paixão de conduzir a arte de instalação a um nível superior, por meio detambém – o que é muito mais importante sua concepção, sua tecnologia e sua geometria.– está acompanhado. http://www.kickstarter.com/projects/hybycozo-the-hyperspace-bypassconstruction-zoneA arte da cura, da auto-cura, não significaentregar-se ao sofrimento, aceitá-lo passi-vamente, mas ater-se ao “deixar-se guiar”.Esse “deixa-ser guiar” manifesta-se comouma atitude consciente – portanto, ativa,tomada como um processo que conduzà verdadeira harmonia, que não pode serassociada à passividade. Estagnação signi-fica regressão, ao passo que a passividadeestá ligada à resistência. Seguir o movi-mento é sempre uma atividade, uma açãointeligente que se realiza com calma.Seguir o caminho de um processo comoesse também exige desapego, o aban-dono do que é velho e a renúncia detudo o que recebemos como bagagemgenética. Isso exige de nós a clara com- 11
“Quem cura tem razão”, diz vida. Enquanto ignorarmos eParacelso, mas também: “O recusarmos suas indicações,corpo não mente jamais” essa força fará surgirem novos avisos, novaspreensão dos processos vitais que se Em compensação, vemos as contradições experiências, novas formas deencontram por detrás dos fenômenos, a decorrentes dessa abordagem acumula- doenças, a fim deaceitação da razão de ser da doença, que rem-se cada vez mais. O atual aumento testemunhar que a Luz équer nos conduzir a algum lugar. Quem dos conhecimentos médicos é tão rápido, eterna, que o Espírito jamaisadoece atormenta-se seguidamente com a que o custo das aplicações práticas pode nos abandona.questão do por quê. Por que isso acontece se tornar inviável. Estar a par de tudo Compreenderemos tudo issocomigo? Que foi que eu fiz de errado? Eu tornou-se impossível para um clínico assim que a ideia da malea-poderia agir de modo diferente? As geral. Aí está a razão pela qual ele é cada bilidade da vida moldada arespostas a essas perguntas se perdem na vez mais obrigado a seguir diretrizes e nosso gosto é resultado domultidão de fatores provenientes de nosso protocolos estabelecidos. É o cúmulo da orgulho de umapassado. A razão da doença nos coloca ironia: por causa do acúmulo de conhe- intelectualidade corrompida.diretamente diante de uma possibilidade: Cor-rompida e envenenadaela nos abre um caminho, o caminho da cimentos, ele não pode pensar por si pelo isolamento, pela vontadevida. Nesse caminho, a paciência é um mesmo – e assim, fica preso às regras! de ser auto-suficiente, deinstrumento importante. As pessoas ativas Outro aspecto surpreendente: as doenças poder compreender tudo semconfundem seguidamente paciência com agudas, as doenças chamadas de “quen- o Espírito.passividade. Mas, para sermos verdadei- tes”, são em grande parte controladas; por O que se esconde por detrásramente pacientes, quando a vontade de sua vez, as doenças crônicas chama-das de dessa pretensão? Só pode seragir nos causar comichão, certamente “frias” estão aumentado de forma medo! Medo de perder tudo,precisaremos de mais compreensão, força acentuada. Atualmente, na Holanda e na medo de ser dependente, de jáe perseverança. Bélgica, existem mais de cinco milhões de não ter controle. É nossa faltaAssim como a verdadeira cura não pode doentes crônicos e 80% das pessoas com de conhecimento verdadeiroser associada à passividade, ela não pode mais de setenta e cinco anos sofrem pelo que nos impeleigualmente ser associada a uma simples menos de uma dessas moléstias. Por- continuamente para a dire-çãoluta. Muitas vezes dizemos que nossa tanto, não é de admirar que alguns ainda errada. A primeira e maissaúde é nossa principal preocupação, e morram naturalmente de velhice. importante etapa no caminhocom razão, mas tão logo nos confronta- Enquanto continuarmos a ver a doença é reconhecer esse estadomos com a doença, somos assaltados pelo como o oposto da saúde e agirmos em deplorável. Não sabemos nadamedo e pegamos em armas. E justamente conformidade com isso, enquanto a de nada: estamosa Medicina ocidental moderna vem con- reprimirmos pura e simplesmente e a desesperadamente extraviados,fortar esses temerosos. Em outras pala- combatermos em detrimento da saúde, as funda-mentalmente doentes.vras: ela adotou o princípio do domínio doenças crônicas, isto é, “permanentes”, Médi-cos célebres comototal da saúde. A ideia por detrás dessa aumentarão. Hipócrates e Paracelso sempreabordagem é a de que um dia tudo será É bastante diferente quando vemos a afirmaram que a verdadeiraresolvido, tudo será descoberto e que o saúde e a doença como duas expressões cura somen-te é possível sehomem, tal como um deus, decidirá de uma única e mesma força vital mais aceitarmos positivamentesobre a vida e a morte. elevada, de uma só e mesma força-luz que nossa condição de doentes. quer iluminar nosso caminho da Essa aceitação positiva parte de uma atitude ativa e inteli- gente. Trata-se de, plenos de desejo, “elevarmos os olhos para os montes”, para a re- A ilusão 12
gião onde reina o Espírito vivificante, de so diz que a Medicina da verdadeira vida ameaçante. Nunca estamosonde vem nossa salvação. está baseada em um novo nascimento. “em ordem”, pois não existeQuando o aluno se encontra nesse estado Essa Medicina liberta o homem do ciclo paz durável. Quando nãode alma, voltado para o Espírito, então o de nascimentos e mortes. A natureza ter- refletimos sobre o sen-Mestre aparece. Ele se encontra no pro- restre não se adapta a ela e jamais cons- tido profundo da saúde e dacesso de criação de sua própria maestria. tituiu seu domínio de aplicação. Assim, doença, curar não representaEis o sentido das palavras de Paracelso Paracelso conclui dizendo que a Medicina mais que um sentimento deque bem conhecemos: “Quem pode ser Celeste não tem espaço na Terra para po- alívio sempre temporário. Noseu próprio mestre nunca será escravo de der crescer e prosperar. Somente em um caso contrário, a doença é umqualquer outra pessoa”. corpo renovado é que seus remédios, seus clamor, um chamado, mesmoO lendário Hipócrates conhecia, como já meios terapêuticos, adquirem e manifes- que seu conteúdo real possadissemos, o elo que faltava na usual tam poder e eficácia. tão-somente ser pressentido.abordagem da saúde. Ele sabia que so- Em seguida, ele exorta seus ouvintes a A saúde, como vimos, é umamente o Espírito traz a verdadeira saúde. aplicar a Medicina Celeste com maior es- noção sutil, insondável, queAssim como o calor da febre, que auxilia tima e amor que a Medicina corruptível. representa, com a doença,na cura de numerosas doenças agudas, Os textos de Paracelso deixam entrever uma expressão da própriao fogo do Espírito é uma Medicina de que ele era um homem extremamente vida. Ela certamente não éprimeira ordem. A tradição relata que prático e determinado. “Quem cura tem um privilégio reservado aosHipócrates livrou uma cidade da peste razão”, era um de seus adágios favoritos; jovens. O moribundo podeorganizando fogueiras por toda parte, nas mas também este: “O corpo não mente igualmente dela participar ouquais os mortos e seus pertences eram jamais”. No que diz respeito ao último beneficiar-se desse processoqueimados. Ele havia descoberto que as adágio, muitos pensadores que vieram de cura, e “salvar” sua vidapessoas que trabalhavam muito perto do mais tarde reconheceram que o sinal – não segundo o corpo, masfogo nas fundições eram sempre poupa- funcional da doença é puro reflexo lógico segundo a alma imortal.das pela peste. daquilo que nos “indispõe” – falando li- Morrer está inextricavelmenteOs grandes em espírito geralmente fala- teralmente, daquilo que nos falta, não em ligado à nossa existência tem-vam a seus alunos em forma de parábolas. nosso corpo, mas em nossa consciência. poral; mas, em nossa interi-Eles conheciam a grande lei de coesão Dizemos intuitivamente: “Não estou oridade imortal, a morte nãosobre a qual tudo repousa. Desse modo, a bem”. A pessoa voltada para a natureza tem lugar, porque, na vida daalma sensível e desperta do aluno recebia terrestre procura o que lhe é natural e fa- alma-espírito abandonamoso fluido da verdade, pelo qual ele era le- miliar, busca a “restauração”... do antigo tudo, de forma natural e com-vado a explorar com maior profundidade estado. A pessoa que está voltada para o pleta, tão naturalmente comoe a buscar pela mais alta autoridade – o Espírito sabe que o sintoma vem ajudá-la hoje respiramos.poder do Espírito, que conduz tudo à ma- a encontrar uma ordem superior – a or- Para manter esse pensamentonifestação, que nutre, que reaviva e cura. dem da harmonia com o Espírito – e que em nosso coração, vejamosEssa alma desperta é chamada por Kal von deve renunciar à ordem antiga. como conclusão como MestreEckartshausen de “homem interior”, um Pouco importa se essa etapa é a primeira Eckhart exprimiu a ideia dehomem sempre jovem, nobre, o arquéti- ou a última no caminho da harmonia morte: “Em nome da verdadepo do eu e o modelo do homem exterior. divina. A saúde terrestre secundada porÉ impossível falar de modo direto sobre a sua assistente, a doença, tem um só eterna de Deus, declaro queforça do Espírito, de seu fogo salvador e objetivo: a união perfeita do corpo Deus é obrigado a verter todaunificante. Por isso vemos bibliotecas e da alma com o Espírito. Essa é a cura sua força em cada pessoa queinteiras lotadas de obras sobre a cura por definitiva, salutar. Todo o resto constitui a abandonou a si mesma até omeio das forças de nossa natureza ter- grande escola de experiências em que o último reduto de resistência”.restre, porém muito poucas sobre a cura equilíbrio interior é mantido fragilmente,pelas forças da natureza superior. Paracel- a fim de evitar uma cristalização sempre 13
O sacrifício das palavrasNo fundo das cavernas, não há “sinal”. Ainda existem alguns luga- licitada pelas preocupações dores na Terra que não são alcançados por satélites e onde o silêncio século, podemos nos retirarrealmente reina como há séculos atrás. Por toda parte o homem é nessa casa espiritual, que nãosubmetido às radiações que ele mesmo criou. Não é estranho que o é construída por nossas mãos,silêncio tenha se tornado tão raro? e repousar na harmonia que lá prevalece. Podemos fazerTudo o que se torna raro é medíocre. [...] Existe um método seguro isso muitas vezes ao dia, a cobiçado. Tanto que, aos que é o seguinte: permanecer firmes fim de restaurar a harmonia poucos, o silêncio tornou-se enquanto estivermos no turbilhão do cada vez que ela for pertur- gradualmente um objeto cada campo de batalha do mundo e esforçar-nos bada por conflitos em nosso vez mais desejado. Por toda para estar a serviço do divino em nós, e cotidiano”.1parte são oferecidos retiros espirituais, não apenas em busca de nosso próprio Esta é uma verdade atempo-onde as pessoas têm a esperança de que interesse. Afinal, é precisamente nas cir- ral, formulada há um século:as circunstâncias externas, daquele local, cunstâncias mais difíceis que nossa alma a necessidade de construir-possam contribuir para o tão desejado reúne elementos para sua construção e, ao mos, no mais profundo desilêncio da mente – ou seja, a possibili- mesmo tempo, para edificar em nosso nós mesmos, um santuáriodade de se voltarem para si mesmas, para íntimo um santuário preenchido por essa onde possamos receber algoalcançarem seu verdadeiro eu e darem música serena que ainda ressoa na alma de mais elevado. Quando po-espaço para o divino dentro delas. servidora como uma fonte de elevação e demos realmente ficar silen-Max Heindel afirma, poeticamente: “O de alegria, para além de todas as vicissitu- ciosos, temos ouro em nossassilêncio é um fator importante para o des da existência terrena”. mãos. O silêncio é a porta quecrescimento da alma. Precisamos desen- Max Heindel prossegue: “Quando possuí- leva a uma dimensão superior.volver dentro de nós a virtude do silêncio mos em nós a igreja viva, quando somos Esse é o mistério do silêncio,– e nós podemos fazer isso. Caso con- verdadeiros templos vivos, então, a cada do silêncio sagrado, do silên-trário, o crescimento de nossa alma será momento em que nossa atenção não é so- cio criativo. A Ogdóade e As Enéadas* O silêncio provém de uma or- 14 A ilusão
dem superior, e essa verdade é encontrada invocar “o inexprimível, o indizível, o Uma oferenda deno texto de Nag Hammadi, que fala da inefável, que só o silêncio pode nomear”. palavras requer oOgdóade e As Enéadas. Nesse texto, hinos O sacrifício da palavra atinge então o seu florescer da almasão cantados em silêncio, interiormente, clímax em uma oração silenciosa. No Dis- e do espírito, o es-em honra ao Único. No livreto do simpó- curso da Ogdóad e e As Enéada s, o forço direcionado desio A Sabedoria de Hermes 2, Jean-Pierre exercício se realiza diante de nossos olhos, todas as faculdadesMahé, em sua colaboração intitulada O mas não conseguimos realizá-lo espirituais.Hino Hermético: uma preparação para o diretamente: precisamos passar porsilêncio, indaga qual seria a função desses algumas tentativas mal-sucedidas antes de Notas:hinos. Ele menciona “a oferenda das sermos capazes de “cantar um hino em 1. Max Heindel, Ensinamentos de umpalavras”: silêncio”. iniciado, editora Fraternidade Rosa-“Uma oferenda de palavras requer o Além disso, Mahé diz: “equivale a chegar Cruz, São Paulo-SP, 1980florescer da alma e do espírito, o es- a um estado onde constatamos nossa 2. Livreto do simpósio A sabedoria deforço direcionado de todas as faculdades incapacidade em expressar a inexprimível Hermes, Holanda 2012espirituais que se precipitam ao encontro grandeza de Deus. Ao mesmo tempo, * Discurso da Ogdóade e As Enéadas é um dosda transcendência divina. Durante esse concordamos em nos doar, em silêncio. textos do Códex VI dos chamados Manuscritos deesforço, o espírito se mescla a tal ponto Esse silêncio não é uma mera ausência de Nag Hammadi. Esse discurso ainda eraàs palavras de prece, que sua exaltação ruído, mas uma oração silenciosa; não é desconhecido em 1945, quando foramconstitui a essência da oferenda: Nós Te um vazio ou perda de consciência, mas descobertos os outros textos (uma oração de açãoagradecemos, com nossa alma e nosso sim uma concentração do pensamento de graças e o Discurso do Perfeito)coração totalmente voltados para Ti. fundamentado em uma sensação muitoCada tentativa de louvor à transcendên- intensa do ser, uma submersão no invisí-cia divina esbarra na impossibilidade de vel\".traduzi-la em palavras. É difícil conceberuma imagem de Deus, e mesmo que Quem quer sacrificar as palavras e praticaralguém fosse capaz de fazer isso, ele não o verdadeiro silêncio tem ouro em suasseria capaz de descrevê-la.” mãos.É por isso que a palavra se sacrifica para 15
Sobre o indizível 16 A ilusão
“É impossível traçar uma imagem da realidade eterna doReino Imutável. No mundo dialético não existe forma, som,cor, sentimento ou qualquer ideia que sirva de comparação.Por isso, a verdade eterna não pode ser perfeitamente re-presentada: é impossível transmiti-la boca-a-boca, e escritaalguma é capaz de descrevê-la. É absolutamente impossível,mesmo para os mais sublimes iniciados.” 1Ao orerfeleftleirtisrosborbereisesoss,eoasbsuusnctaod,oor bduasVcaedrdoarddeasVeeridnaddaegaf:iceas- tapmroesscioonnaddeonaddiaonstea dneosalcgaulamraesmqureslatõçeãos: àesvtaemrdoasde eterna oucodnedveenmadooss,amneosmcaolarcoemnfrueslaoçsã,ocàovnetridnaudaereftaerlnanadoou daerveesmpoesit,o dimsseos?mEomdeomutarnaesirpaacloanvfruasa:,pcoanratincuoamr fpaalarntdiloharreospqeuiteo dniosso? toEcma noasutprraosfupnadlaevzraassd:epnaorasscoosmerp, aérmtilehlharoraqfiucailroemquseilên-cnioosotoucfaalnaarssporborfeunodaeszsausndtoe?nosso ser, é melhor ficar em silêncio ou falarOsobfarlearoeasosucnatloar? se relacionam de forma complexa e paradoxal. O silên-cOiofaelxarpreeossicvaolarensetrreedlaucaios npaemssodaesfdoermnoatacoummplaecxoardeopmaraúdtuooxael.nOtresielêlansc;iomexapsr,eqssuiavnodeontfraeladmu,asjápnesãsooases deennteontadeumm macaoirsd! oPaúrnadicooxeanlmtrenetlea,s,taen,taossaimlqinugeuaasgpeamlavprraosfsaenamqaunaifnetsotaams,apgarraedcaeaqpuresneãnotasme emntielnhdaerems mdeaipso. eEmmasailsí-rpiacroasddoexdalimcaednotse aaoinsdilaê,ntacniot.oIanúlimngeuraogsetmextporsofdaenaváqruiaasntoraadisçaõgersadtambémeanpraeltseecnetmamamaritlehadrescdalearpoceomams liílrhicaorsesddedeicpaadlaovsraos. silêncio e ao ato decalar-se. Do mesmo modo, nas bibliotecas de todas as tradições, inúmerosTteoxdtoasaeángaultaecdeomma aartdeednotrcoaldareeudmembuonrastqruamin,hdoadnaaaarqeuiaantidade exces-Qsivuaemdeepnacloavnrtaras,aoLquuzasnetnotesãnoecineússtiedias,ddeeirfraetsoi.sAtívlieáls,dheáfaelxacressosobrdeesupalavrasepxropfearniêansceias.aCgroamdaesntanstoobnrea ocualstsuurnataonctiogma croemserovna,aeamtuparle. gEa, ncdoontpuadloav, rnaãsoapdaessqaumaddaes,pcarliavnrdaos,ucmomgorasnedneãmo pisutédréioss.eOmuosuteixlizsatirpsaelamvrealsarse. buscadas,cTomdaoaseátgivueassdeocomnatartdoednitrerotodceomuma bpruórparqiauidnihvoindnaadaer!eSieaja como for,oEsmbguesrcaald,oqrueesmdaenVceordnatrdaeanLãuozctoenmseugmueamnedceisxsiadrade fiarrlaersiestíevseclrdeveefra.la“rOmsoebnresasgueaireoxpteenrtiêanocfiear.eCcoemr aeontma usonbdroe o oascseuanntoo icnotmeirroesdeernvatr,obudsecaunmdao gar-reamfap”r.2egCaormasepssaalasvpraslamvraais,aIdneaqyuatadKah,acnriaenxdporimume agriamnpdoescsíirbciulildoaedme dtoesrsnaomdoismsãios.téCrioom. OouAguotislitzinahpoa,laevmrassepuomsopnohsoa:s,“rMebeudsictandadso, csombroe osemtivisetsésreio daTcorinntdataoded,irSeatnotocoAmgoastpirnóhporicaadmiviinnhdaavdae.àSbeejaircao-maorfqour,aonsdbouesncacdoonrtersoudaumacVreiradnaçdaecnoãmo cuomnasecgoulehmer d(oeiuxaurmdae cfaolnarcheae)scnraesvmer.ã“oOs, mqueenslhageediriossteenqtuae de-soefjearveacetraanosfmeruirndtoodoa aocáegaunaodiontmeiraor dpeanratruomdebuumraaqugainrrhaofac”a.2vaCdoomneasasarseiadpalapvrraaisa,.InOaysaatnKthoanesepxapnrtimoue-aseimcopmosstiabmilidaandheadiammpiosssãsoibàilqiudaldoes; peeasqcuriisadnoçare,sqseuenrterevgealmou.Tsaelrqumal uAmnjpoad(oreud, aseIgruejnadRoomouatnra, vreprrseãeon,doidporpóoprriuomJaescurisanMçae:-n“Mineod),itarnetdrouscoobureaontmesisdtéeridoedsapTrairnedcaedre:,‘SIsasnotosAegrioastminahios cfaámciilnphraavamàibmeirdao-mqauresquuaatnednotateinvacodnetreoxuplourmara, acprieannaçsaccoommous mreacucroslohsedre(osuuauramzaãocohunmchaan)an, aspmroãofusn, dqeuzeaslhdeodmisisetéqriuoeddaeTsreijnadvadter’a”n.7sferir toda a água do mar 17
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lidnihtoa eqmuetusedpoaoraquume ainlídnagnuãaomfoirtdaitdoaaté exvpisríevsesias caotrmavépserdfeeiuçmãopermismpal.aSveratus.do vai às suas questões existenciaisLoínmguoamVeinvtao”e,.5pNoor menataisntqou,ee,maoapteanretanrte Elbaenmão, apsopdaelasverrastrsaentsomrnitaimdapdoenbteoscpao-ar- sufocantes e urgentes no san-mcaonnitfreasdtiáç-ãloa, a hpuemrdaenmidoasde destorduoíms os, -bmoceaio. Ndaesnqhuamis toipsosedresetsecmriptaoréacisapeaz tuário de seu próprio coração,setenmãpoocsoendseegtuoidmasoasseéxpporciams iermtupdreog,ou detrraenpsriteósreinotsá-ploa.deIsmsosée creocmonpelecttaamr àente nas profundezas interiores donaãmo ploadmeemntoessnuoaslicnagluara.gOemseprahrauambao-rdar imetpeornssiídvaedl,e,msemsmmo epdaoradoe mseaaifsuenmdairneonu- toque divino, quando a ilusãono séagurmad“oceridadefoinr id-leosdigenfoifricmaadoc”orqajuoesa e tesedoasfosgáabri.oSse. mExeistseesumeaioúsn,ihcaá oporsisciboi-de de seu eu é aniquilada.” 1diensaebjaaltárvaedlu, szeigr ueinedxoprseesmsaprroe oinddeiszeívjoelmais lidnaodsep: eardermo ohsomnoemcamenincohnot,rqaur asnodzionho Depois de todas as tentati-pporomfuenidood,eemsubaulisncagudagveemrd,acdoemiraoPaalavra asernetsrparomstoas nàsa sruoatas dqauessetnõdeas esxpiisrtietnucailaeims vas pretenciosas e vãs para pronunciá-Lo, aprendemosaldveísDsiemusa, LouVzeribnoviDsíivveinl oq.uOe sheodmivemideneãose susfiolêcnacnitoe,ssemurpgaelnatversasn,osesmanitnudáricioaddoeres progressivamente ou instanta- neamente que nossa vontadepcronpsaeggaueemfazceorredsevoiusítvreaifsoarmtravpéasrdaeteunmtar seouupbróúpssroiola.cFoarlaaçnãdoo, ndaesmparonfeuirnadqeuzase de falar precisa desaparecer e dar espaço à Sua vontadepreisvmelar. Saqeutiulodoquveaiebsteámm,aais praólaxvimraos sdeo instielerinocrieossadoutocqoume pdrivoifnuosã,oqudaenpdaolaavras, F1ddo.eenCtefnasato:hlaasrrso.oseÉdeeauíP,e–tarit,nrOaovveéirnbsoteevirvaeilonétrem, cap. 3d4ele – que a Palavra de Deus étoqruneamãpoosnetepséspearqauoes, nseorens ttaenmtop,onrãaoisé iluestãaoredme osseuseemupéreanioqfuioiladdaan.”a1vDalehpao. isE, de U2p.nrooH),.nJD.ueWvnietntcetievaer,de2na0,0Te6otmhettEonde a(Rsumaso aloín- 3g.uJa. Vsa:naRsijcdkeonbcoarglhar– Ceatdhaerofsae ldaerP,eatri,edterassnesimtóurniodso.poderem se reconectar à dequtoadlqausearsftoernmtaat,ivaassppalraevteranscsioersãaos esevmãspre A4d.ForMavtaearrtnzinidiuoasdNeeijdhdeoSfa,hAapwmlabetaenlrla,itw, ucwadpw.e.n2,blan.odrogetAerensicdaaddae, sem medo de afundar ou se papreadprarsonfuunndcaiamreontVaeisr,bboúDssiovliansoe, apren- 5f.azReainrereMariadRoilkendãizoo mfeasmzeo:r\".VeÉjoamíuitqaueafPoogramr. aSiesmesterleaist,aaqouensterjaaramloinshnaaqsueenda deinmdoicsa,daoorsesp.oNuocofsimoudadsecroenpteasn,tese,rqeumeosespepirairtauaulmema lísniglêunacimo,orsteamdapalílnavgruaas,visveame, nosessmapvroenotbadriegaddeofsaalaermppreucrirsaar daeessacpaad-a beleza em tudo aquilo que está começando\" –inmdeicsmadoorseesnoóus baúpsesrodleam, hoás oe aridsceostrdueímnooss refceeitraeddeapraelasvpraaçsocoàmVoanqtaudael bDueslcea,mqousenos Cartas a um jovem poeta, carta VIpseirmdeurlmtanoesanmoecnatemaionhqou!eFrearlamndanoifceosmtá-la queelervfaarl,aar.fiÉmaíd–e rneotoirnntaerriaooredsetandosasnoteeruio, r 6. Emily Elizabeth Dickinson (1830 -1886),peomucpasaloauvrams,unitãaos poaldaevmraos,s s–emdipferreenesteta-- atàracvréiasçeãoal–émrumdeoleao– “qSueemapPaallaavvrraa” dee“Sem autora de inúmeras obras, foi consideradaremmeonstendoofiqoudeapneanvsalohaf!ilMósaosfoelas serão Dneuosmée”p.rAosnupanlcaivardaas emcortoesdfausnadselmín-gsueapsa:ra postumamente uma das maiores poetisasseWmipttrgeenpsetderinas–funnodsacmalaernteamis,reblúaçssãolas a sdeoucnailraàr leudzobrfanlacra, ianvdiosívealz.io e da ple- americanaseàiqnudiilcoadsoobreres.oNqoufailmn,ãsoecreomnsoesguseimopsre ni“tuAdvee,radaddoefeatzeerrnae jaamdoains ãpoodfaezreár.seÉr aí 7. Henri-Irénée Marrou, em Santo Agostinho e oofbarliagr.aAdpoessaaredmepnuãroracroanseesgcaudiraefxepitraimdeir queexporedsessa-Uconmidpoefrifneaiçlmãoeenmte psealraev-rUasn.eE.laE anjo – Uma lenda medieval, Publicações da Escolaptauladvor,aos.pCeosmquieslaad,oternntãaompoosdseubseircpalaarra. O irnraãdoiapocodme seprletnraitnusdmei.tiAdfaindael,bnoãcoa-pa-obdoeca. francesa de Romaresteorrhnuamr aaonoesét,adeomatnotdeoriocarsào,Curmiaçã“ocr–i- seNr ednehouumtrotipmooddeoe. sNcraitvaeérdcaadpea,zDdeursepre-ruadmoor daoe s“iSgenmifiPcadlaov”raq”ue “dSeesemjaNtroamduez”i.r nusennctaá-slea.cIaslsao: Eélceosmemplpertaemesetnátefailmanpdoos.sí-Pealeavxrparsesesacrooreisnfduinzídveml p-oser mpaeriaosdeeusnuiar vel, mesmo para o mais eminente dos sá-àlliunzgubargaenmca, icnovmisoívaela!lvíssima Luz invisí- bios. Existe uma única possibilidade: a de“Avevl eqrudeadse detievridnea ejasme apirsoppoagdaereámsecrores o homem encontrar sozinho as respostas19
A ilusãoDuas palestras de um simpósio realizado pelaFundação Rosacruz em 2014 em Bruges, naBélgica, e Groningen, na Holanda, tinham comotítulo: Como ainda é possível uma Terra estávele “sagrada”? Os palestrantes aprofundaram-senas seguintes questões: Como podemos mudarnosso comportamento de modo consciente paravivenciar e vivificar um planeta perene, umaTerra “sagrada”? Como acontece nossa entregaao nosso ser mais profundo e a uma ordemcósmica pura?COMO O OURO, A PRATA E O DINHEIRO DETURPAM OS VALO-RES ESSENCIAIS E NÃO TRABALHAM PARA O HOMEM, MASSIM CONTRA ELE. 20 A ilusão
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A ILUSÃO DINHEIRO, ARCONTES E ÉONS 22 Não há exemplo melhor para ilustrar o profundo conhecimento dos anti- gos gnósticos sobre a interrelação entre as energias e poderes do- minantes no mundo do que o sistema de nossa administração financeira e sua essência. Em diversos simpósios da Fundação Rosa-Cruz (na Holanda) essas re- lações evidentes foram apresentadas por Ad Broere. Ad Broere A ilusão
A ilusão da humanidade OO atual sistema financeiro atua em ceita dos impostos, cobrados diretamente Xlll e XlV, essa família contro-benefício de poucos. Para a maioria das do povo. lava totalmente as finanças dapessoas ele é um enorme impedimento Europa. Da primeira geraçãopara uma existência digna. A partir daí, Elite de banqueiros de banqueiros surgiu umasurge uma questão lógica: por que existe elite até mesmo literalmente,um sistema financeiro que atua de forma No período inicial do negócio bancário porque vários entre eles foramimpeditiva sobre as pessoas, ao invés de algumas famílias conseguiram construir elevados à nobreza. A influên-favorecer a prosperidade de todos? Em fortunas fabulosas. Os detentores do poder cia dessa elite de banqueirosprimeiro lugar, a resposta a essa questão não se interessavam em saber como isso perdura até os dias de hoje,poderia estar na época da origem desse acontecia.Também não se interessavam ainda que invisível, pois ésistema financeiro que vigora ainda hoje. por saber que o dinheiro emprestado exercida por trás dos bastido-Foi nos séculos Xll e Xlll: portanto, na tinha um lastro em ouro e prata apenas res, apesar de todas as tentati-época dos reis e da nobreza. Eles toma- em parte. O estabelecimento bancário vas de reforma e nacionaliza-vam dinheiro emprestado dos bancos havia nascido e seu proeminente funda- ção dos bancos centrais.*para financiar suas guerras insaciáveis e dor, Mayer Amschel Bauer, que mudou oseus estilos de vida extravagantes. Para nome de família para Rothschild, cunhou Um jarro no Egitoesse dinheiro, quase sempre era estabele- a conhecida afirmação: “Dê-me o podercida uma taxa de juros elevada. Então, sobre o dinheiro de uma nação e me será Como é possível que, propor-o povo era instituído como fiador para indiferente quem faz as suas leis”. Como cionalmente, poucos indiví-arcar com esses compromissos, pois estes os reis e a aristocracia não estavam em duos consigam exercer tantaeram pagos com os impostos infligidos a condição de amortizar a montanha da influência sobre quase todasele. dívida que crescia cada vez mais, a carga as pessoas do mundo inteiro?Muitas vezes o banqueiro e aquele que de juros aumentava. Com isso, os sobe- Para obter uma resposta paraestabelecia impostos eram a mesma pes- ranos ficavam cada vez mais à mercê dos essa indagação é preciso retro-soa. Assim, os soberanos e seus seguido- banqueiros que, por trás dos bastidores, ceder bastante no tempo, até ores sempre dispunham de recursos vulto- obtinham influência crescente sobre o século IV. Nessa época, a igrejasos sem ter de se ocupar com dificuldades Estado. Chegavam a ter tanto poder e romana assentou definitiva-para a provisão do dinheiro. O trabalho influência que a mãe dos cinco Rothschild mente o seu poder. Pessoassujo cabia aos banqueiros; e estes eram afirmou: “Nenhuma guerra é levada a de opiniões divergentes eramrecompensados generosamente com a re- efeito se não corresponder à vontade e aos perseguidas e assassinadas; interesses dos meus filhos”. Nos séculos textos e testamentos que não 23
agradavam à igreja de Roma eram proi- estudiosos. Tratava-se de manuscritos combidos. Naquele tempo, ficou firmemente antigos textos perdidos do século I d.C.consolidado nas pessoas o dogma de que aligação entre o homem e Deus só podia conforme ficou provado. Em 1977, surgiuocorrer através da igreja romana e de seus uma tradução completa para o inglês declérigos. Se em 1945, em Nag Hammadi 52 textos. Depois,em 1988, veio uma(Egito), um lavrador, ao cavar a terra de publicação melhorada, conhecida comoum antigo cemitério, não tivesse Nag Hammadi Library (Biblioteca de Nagencontrado por acaso um enorme jarro de Hammadi), que pode ser encontrada napedra, provavelmente não saberíamos Internet.muita coisa sobre a existência dos textos Em vários desses manuscritos fala-se deque informam à humanidade que “arcontes”. A palavra “arconte” é derivadatrazemos em nós uma faculdade através da de archontoi que, em Grego, significa “oqual podemos ficar livres e independentes soberano”, “os soberanos”. Os arcontesde toda autoridade. Em 1975, o lavrador desejam manter a humanidade na escra-Muhammad contou sua história ao vidão. A esse respeito pode-se consultarprofessor Quispel que, nessa época, era o Evangelho de Filipe e o Livro Secreto de João.docente na Universi-dade de Utrecht: Ambos os manuscritos fazem parte dos textos encontrados em Nag Hammadi. Seguem-seEm dezembro de 1945 encontrei um jarro na dois fragmentos dos textos de Nag Hammadi:montanha Hamra Dun.Às 6 horas da manhã, ao Evangelho de Filipe (13-14)começar o trabalho, encontrei esse vaso. E eu tinha Os arcontes queriam enganar o homem porquea impressão de que havia algo ali dentro. Então viram que ele tinha um parentesco com oguardei-o. E como nessa manhã fazia frio, decidi Verdadeiro Bem fundado naVerdade.deixá-lo ali e buscá-lo mais tarde para verificar o E eles tomaram o nome do Bem e atribuíram aque havia dentro. O fato é que no mesmo dia ele o Não-Bem para enganar os homensvoltei e quebrei o jarro. Mas primeiro tive certo mediante nomes que eles ligaram ao Não-Bem.medo, pois talvez pudesse haver um djin, um Ora, os arcontes tentaram apanhar o homemespírito mau no jarro. Eu estava sozinho quando o livre e torná-lo seu escravo para sempre.quebrei. Bem que eu queria que meus amigos Existem forças que desencaminharam o homemestivessem comigo! Quando o quebrei, descobri dessa maneira porque não querem que ele sejaque havia livros com histórias no jarro. Decidi salvo. Somente assim eles podem conseguir queprocurar meus amigos e contar-lhes. Nós éramos ele continue escravo.sete e logo percebemos que aquilo tinha a ver comos cristãos. E concluí que não ganhávamos nada O Livro Secreto de João (27)com aquilo – para nós não tinha valor. Então, E os anjos tomaram a aparência dos esposos daslevei tudo para um dirigente espiritual e ele disse mulheres e impregnaram as filhas dos homensque, realmente, não podíamos fazer nada com com o espírito das trevas que estava imiscuídoaquilo. Para nós, eram simples trastes. Então levei com o mal. Eles levavam ouro,prataepresenteseo jarro para casa.Alguns livros foram queimados, tambémcobre,ferro e toda espécie de coisas. E assim ligaram o homem a eles e lhe trouxeramoutros eu tentei vender. grandes dificuldades ao enganá-lo e conduzi-lo por caminhos equivocados.Arcontes Desde então os homens passaram a envelhecer sem alegria e a morrer sem encontrar aVerdade eQuando começaram a ser editados aos poucos o Deus daVerdade.no mundo ocidental, os manuscritos Assim,toda a criação foi escravizada de éon a éon,causaram grande sensação entre os 24 A ilusão
Os arcontes tomaram o nome do Bem e atribuíram aele o Não-Bem 25
desde o princípio do mundo até hoje. do que realmente tem valor. Quase todos estas últimas, muitas vezes, acreditam que dinheiro é o ponto de descobrem que isso não lhesEsses exemplos mostram que os arcontes referência e não o valor dos bens criados trouxe a esperada felicidade eman- têm a humanidade aprisionada e da prestação de serviços. Poucas pessoas liberdade. Por meio desse me-porque o ho-mem é aparentado com “o se perguntam por que têm de pagar juros canismo de distribuição, noVerdadeiro Bem”. por dinheiro emprestado – afinal, a maio- decorrer do tempo, desapare-Isso aponta para o “radiante Self” oculto ria acha que o dinheiro tem papel central ce o grupo do meio e restam,no coração, que é menor do que um e é importante possuí-lo. Não é à toa que sobretudo, os dois extremos:grão de arroz ou que uma semente de as religiões universais rejeitam os juros, pobreza e riqueza. Mediantemostarda, como consta nos Upanishads. pois com eles, com o passar do tempo, a suas imensas posses algunsOs arcontes querem impedir que o homem maioria das pessoas empobrece, enquanto passaram a ostentar um poderseja acolhido nesse “Self oculto na cavidade apenas um pequeno número enriquece. igualmente grande, e assimdo coração, ele é \"Brahma”. Em outro texto Juntas, as 85 pessoas mais ricas do mun- – consciente ou inconsciente-encontrado em Nag Hammadi, A verdade sobre do são proprietárias de mais da metade mente – tornaram-se instru-os arcontes, o dirigente dos arcontes (uma en- de tudo o que existe para se possuir do mentos para a realização dotidade que se colocou entre o homem e ponto de vista material, enquanto 80% da plano dos arcontes de manterDeus), cegado pelo poder e pela ignorância, humanidade não possui praticamente a humanidade na escravidão.afirma a respeito de si mesmo: “Só eu sou nada. Ora, não se trata de pensar se as A professora alemã MargritDeus e ninguém mais”. Para garantir seu pessoas podem ou não ter riquezas, mas Kennedy estudou o mecanis-poderio, ele não pôde fazer outra coisa a questão é que muitos sofrem em estado mo de distribuição embutidosenão impedir os homens de restabelecer de carência indigno para uma existência no sistema financeiro. Ele fazseu vínculo com o Deus da Verdade. humana. A carência e preocupações ma- que, em uma conjuntura, teriais cegam o radiante Self tanto quanto recursos sejam concentradosPolarização e distribuição a extrema riqueza. Assim, o ser humano de forma crescente nas mãos envelhece sem alegria e morre sem de um pequeno grupo deEsse poder é mantido quando o homem é conhecer o Deus da Verdade. No sistema pessoas. Ela também afirmaenganado e conduzido a caminhos financeiro está oculto um mecanismo de que a distribuição continuaequivocados – portanto, permanecendo na distribuição extremamente sutil que por meio de juros. Estes, nósescravidão. contribui para uma crescente polarização pagamos não apenas peloOuro e prata – ou, dito de outra forma, na sociedade. Isso faz que, por um lado, dinheiro que tomamos em-dinheiro – são armas usadas com esse muitas pessoas se achem no atoleiro da prestado, mas também pelosobjetivo contra o ser humano. Mamon pobreza e, por outro, poucas pessoas produtos e serviços que com-(o demônio do dinheiro) deturpou acumulem imensa riqueza. No entanto, pramos. “Em média, estãocom-pletamente no homem oentendimentoDe Trouw, carta do leitor, 26 de maio de 2015:BANCOSCom quem discutimos a respeito de bancos? Em casa, com minha filhinha de cinco anos, issoficou cla o para mim! “Papai, o que é sistema financeiro?” perguntou ela. Eu precisava responderde modo compreensível. Ela já havia entendido o que é um “sistema viário”: carros vão de umlugar para outro pelas ruas. Mas o que responder à sua pergunta: “A quem pertencem as ruas?”“A nós todos.” Então me caiu a ficha... No sistema finance o o dinheiro flui de um lado paraoutro. O sistema de transporte necessário para isso não precisa estar nas mãos dos bancos. Se osistema financei o pertencesse a nós todos, poderíamos organizá-lo do modo como fazemos como sistema viário. Então todos nós pagaríamos por sua construção e manutenção.N. A. Offenbreg, da cidade de Leeuwarden, Holanda 26 A ilusão
contidos cerca de 40% de impostos em que não pertence a ninguém, sejam pessoas conseguiriam umatudo o que compramos”, afirma Margrit exigidos juros. A partir dessa percepção e existência mais digna. Po-Kennedy em seu estudo. também com o mecanismo de distri- deríamos envelhecer com a-Aqueles que têm recursos podem fazer buição, só se pode concluir que nosso legria e com uma aberturao dinheiro “trabalhar para eles”. Isso em sistema financeiro não foi desenvolvido cada vez maior para o Deusdetrimento daqueles que trabalham para em razão de um pensamento da Verdade.o dinheiro. E o grupo que pode se humanitário, mas dentro de um planopermitir isso é relativamente pequeno. destrutivo para a humanidade. Os *Ad Broere escreve mais a esse respeitoPosse e poder estão acoplados um ao arquitetos desse plano usam os bancos em Geld komt uit Niets (O dinheirooutro. Com a “invenção” do sistema fi- como instrumentos para atingir seu vem do nada), em Humane Economynanceiro inspirado por Mamon, também objetivo, que é manter toda a Publishing, 2012foi possível deturpar completamente os criação escrava de éon a éon – portanto,conceitos “dinheiro” e “valor”. Dinheiro manter a humanidade longe da reunifi-é um ponto de referência. Quando ele cação com o “Verdadeiro Bem” e tendoexiste, podemos negociar; quando não como base a Verdade.existe, instala-se uma crise. Quando, aocontrário, podemos tirar dinheiro do O homem é ponto de referêncianada, estamos com a palavra.Em consequência da evolução digital, A Verdade é bem diferente daquilo queatualmente são os bancos comerciais que nos contam. Não é o dinheiro, mas sim otransformam quase todo o dinheiro em próprio homem que é o ponto decirculação em dinheiro contabilizado – o referência. Os bens produzidos e serviçosque quer dizer simplesmente que o di- prestados são valiosos. O dinheiro nãonheiro só existe no computador. Esse tem valor em si. Se ficasse claro que te-dinheiro digital surge quando uma mos a possibilidade de colocar o homemempresa ou uma pessoa em particular no centro do intercâmbio econômico,contrai uma dívida (atenção para esse deslocando o dinheiro para o papeltermo...). Em outras palavras: quase todo o secundário que lhe cabe, os arcontes jádinheiro vem à existência através de dívidas. não conseguiriam exercer pressão sobreMas, enfim, dívidas para quem? Ora, um nós dessa forma. Então, teríamos umasegundo antes de um cliente assinar o economia livre de juros, sem o meca-contrato, esse dinheiro nem existia! Por isso, nismo de distribuição, no qual já nãoé muito estranho que, por essse dinheiro lidaríamos com o dinheiro como se ele fosse um produto. Consequentemente, as 27
A ILUSÃO 28 A ilusão
Uma terra perene...será que ainda é possível? FRANS SPAKMANEm todos os seres humanos, em cada alma, existe a inclinação para expressar-se no mundo,uma necessidade de exteriorizar seu potencial de vidaEssa tendência deixa-se condicio- Guerra mundial, o célebre historiador nar e manipular facilmente pela holandês Johan Huizinga apresentou o sociedade, que encoraja a luta conceito de Homo ludens (o homem pela existência e a competição, lúdico). Esse conceito alcançou amplitude com o objetivo de suplantar o internacional e, nestes últimos anos, eleconcorrente ou o adversário. Uma carta está de volta ao palco com a tomada dedo jogo RISK sugere claramente: “Destrua consciência de que o ser humano é umos exércitos inimigos!” player, um jogador, um ator, possuidor deFrequentemente a alma atrela o “eu” à uma criatividade que lhe é inerente. Dessesua carroça. O eu, que sempre quer se modo, o mundo, o planeta, a criação,dar mais valor, faz nascer o conflito pelo seriam caixas de brinquedo feitasdesejo de se manter por meio de con- exatamente na medida daquilo que éfrontos, para comparar-se aos outros e humano – nosso ambiente psicológico desuplantá-los. Essa tendência culmina em jogo e atuação.uma pulsão destruidora.Tudo isso vem O gato brinca com o rato até que eleacompanhado de atritos e tensões, pois morra de exaustão, mas fica desapon-somente um pode ser o melhor – e obri- tado quando o vê inanimado, sem podergatoriamente em detrimento dos outros. continuar a participar do jogo. QuandoQuando essas expressões vitais se limitam sentimos prazer em brincar de gato e ratoaos esportes, aos jogos e às artes, onde a com alguém, ultrapassamos a medida ecompetição se mantém ainda sob o signo saímos de nosso ambiente de jogo. É o que seda criatividade e da competição, podemos passa, em escala, no planeta, que sedizer que se trata de um mal menor. transformou em nosso “espaço lúdico” deMesmo quando tudo está geralmente a gato e rato, pois não levamos em con-serviço do lucro e de grandes salários, não sideração a própria natureza dos materiais quehá enumeração de vítimas, a não ser às estão em jogo. Nossa brincadeira é destrutiva.vezes, de modo indireto. Podemos até dizer que a ideia de “comunidadeA criatividade é uma qualidade eminente- da vida” transformou-se na ideia demente humana, pelo menos em potencial. “comunidade da morte”.Quanto a isso, pouco antes da Segunda A cada ano, quinhentos milhões de ani- 29
mais são abatidos – ou seja, um número mundiais de trigo. Todas essas empresas Na realidade, não estamosigual ao dos habitantes da União Euro- comerciais têm um efeito destruidor agindo somente pela neces-peia.Vamos chegar até a suprimir as flo- sobre a vida planetária – mais ainda por- sidade de sermos criativos.restas tropicais para aumentar ainda mais que, em nossa cegueira, queremos todos Além disso, mesmo quando ao rebanho. Queremos ser os açougueiros nos beneficiar de dividendos elevados, alma não atrela o “eu” diantee os leiteiros do mundo! Esgotamos os encorajando-os a manter nossa posição da carroça, mesmo quandomares e aquecemos o clima com os gases de líderes de mercado. A Terra é o único ela busca ser criativa semdo efeito estufa, que são produzidos planeta que nos mantém vivos e estamos precisar lutar, nada garanteprincipalmente pelos pecuaristas, cuja cegos com relação à nossa conduta assas- que poderemos alcançar umindústria consome a metade das reservas sina. nível de durabilidade. Como 30 A ilusão
diz Buda, isso acontece porque a vida É importante termos a menor perdahumana é dukkha. Uma característica do possível de energia e, portanto, é preciso fazer economia. Quanto mais trabalhar-romantismo é considerar a vida humana mos de modo econômico, mais agiremos duravelmente. Pensemos no conceitocomo um atrito, um sofrimento. Mas esse de lucro, de juros. O lucro é como um atrito, um engate que não é permanente:ponto de vista não traduz objetivamente no sistema econômico e financeiro, esse mecanismo é chamado de “usura” (queo termo dukkha. Essa palavra está significa desgaste) por aqueles que toma-relaci-onada à fricção, à resistência da ram consciência de seu caráter abusivo. Oroda de uma charrete. ideal seria que se produzisse somente umA resistência suscitada pela fricção movimento útil sem atrito, sem fricção,provoca sempre uma perda de energia. como acontece no perpetuum mobile (perpétuo movimento). Se não existisse desgaste, não existiria resistência nem Vida é sofrimento: essa seria a dinâmica mais movimento duradoura. e movimento Alguns acreditam que somente a imo- é atrito. bilidade perfeita, o completo repouso Esse atrito ou o silêncio entendido como ausência é a “dor da de todo e qualquer impulso poderiam humanidade” ser considerados como “perenes” pelo fato de que eles não produzem desgaste. Como é grande a necessidade de um silêncio perfeito como esse! Pensemos nas incontáveis pessoas que desejam redu- zir o movimento de seus pensamentos ao mínimo, sabendo o quanto eles são opressivos e hipnóticos, sem ignorar que uma meditação motivada por pensamen- tos pessoais não é capaz de levar ninguém ao silêncio. Em certas ordens orientais, a vontade de alcançar o estado de silêncio é levada a um tal ponto que chega-se até a suprimir toda e qualquer dinâmica física. Os mon- ges deixam-se emparedar em cavernas do Himaláia onde permanecem certo tempo em uma espécie de coma sem que sua consciência se desligue completamente. Dizem até que alguns desses monges meditadores se deixam emparedar por séculos até o dia em que serão “desperta- dos” com a finalidade de cumprir alguma missão em prol do gênero humano. 31
A sustentabilidade consiste no fato de cuidarmos paraque nada bloqueie ou impeça a ação dos ciclos, dastransições e das transformações de energiaÉ algo naturalmente interessante se con- irremediáveis. já não nos satisfazem nemsiderarmos o Nirvana como a “extinção” Para conseguir isso – ressoar em sintonia como válvula de expressãode todos os desejos, como um caminho com a tonalidade fundamental da Terra – de vida, nem como garantiade automortificação, pois essa atitude temos à nossa disposição uma grande Lei: de um equilíbrio biológico enão-dinâmica beneficia o meio ambiente a Lei do Amor que inclui tudo e todos, o energético.e a Terra. amor que envolve tudo, que tudo oferece. Sem levar em conta mini-Mas, sejamos realistas: todo o sistema Essa Lei do Amor encontra-se pratica- mamente os bens que des-solar, com seus planetas em órbita e seus mente em todas as culturas, religiões perdiçamos, os recursos que e códigos de conduta. No entanto, do esgotamos e a biodiversidadesatélites, tem uma dinâmica própria – ponto de vista da economia, essa Lei não que mutilamos, usamos ecuja programação pode durar milhões de nos permite subsistir nem colocar comida gastamos – geralmente semanos. Apesar de algumas variações, o na mesa: essa Lei não nos traz nenhuma nenhuma adequação –, todasmovimento é constante, assim como o ajuda financeira. Ninguém poderá se con- as possibilidades de satisfaçãodemonstrou o astrônomo Kepler. tentar com amor e água pura. criadas por puro interessePensemos também no fato de que cada Convenhamos que, tanto para nós quanto comercial.planeta parece possuir uma tonalidade para nossos descendentes, não é nada A paixão pelo consumo é deprópria, uma vibração específica. A vida é rentável limitar-se ao que nos é dado – a tal modo apreciada e enco-movimento, e Buda concorda com isso, tal ponto que podemos nos questionar se rajada que nos imunizoumas todo movimento que resiste, freia e essa Lei tem algo a ver com a vida mate- contra a razão e a reflexão,desgasta representa para a vida humana rial prática. Realmente: poderíamos ficar que são qualidades tipica-o que o romantismo chama de “a dor do sossegados, repousando sobre nosso dom mente humanas. As neces-gênero humano”. absoluto e tudo doar, mas então podería- sidades e desejos tornaram-seA questão que se apresenta agora é de mos fazer isso somente uma vez. motivações de base normais esaber se é possível haver uma vida hu- Em nosso mundo, as estruturas de poder conduzem nossa vida psíqui-mana sem sofrimento, se podemos viver e dinheiro são construídas de tal modo ca. Um psicólogo moderno,sem causar sofrimento a nós mesmos. Em que favorecem os ricos e fazem os pobres Steven Reiss, considera que ooutras palavras: seria conveniente nos ficarem mais pobres ainda. Esse é o re- poder, a honra, a vingança, aindagarmos se nossa própria vida não está sultado da corrupção que é causada pelo alimentação e a sexualidadefreando a grande roda cósmica. modo de vida que adotamos, de acordo são as cinco necessidadesDo ponto de vista cósmico, deveríamos com uma série de necessidades nascidas humanas fundamentais: dessepoder ressoar em sintonia com a tona- de conceitos ideológicos egocêntricos modo, ele defende implicita-lidade fundamental da Terra apenas nos considerados como norma.Tudo isso nos mente o princípio do códigoabstendo de agir com violência, sem fazer limita, nos restringe em relação à ideia de honra primitivo e perversoque o planeta e seu contexto natural que fazemos do ser que somos, dotado de que tem como princípio im-tivessem de pagar juros exorbitantes de uma força de criatividade. pulsionador a vingança.nossas necessidades ilimitadas, de nossos Por isso, não cessamos de causar cada vez Assim, vemos que ahábitos infelizes, de nossos desperdícios mais atrito e desgaste (usura) no sistema consciência e a alma humaimprudentes e dos sistemas que colo- planetário. Os esportes, os jogos e as artescamos em seu lugar, causanto desgastes nas são a causa de tudo 32 A ilusão
isso. Do mesmo modo que parece não ser despertar. Mas, como já vimos, isso podepossível existir um movimento realmente levar o homem à inatividade, não permi-perpétuo, parece que um princípio de tindo que a alma se expresse por meio dedurabilidade integral também é irrea- sua criatividade.lista. Em nosso continuum espaço-tempo Menos distante de nós no tempo, en-determinado pela matéria, um funciona- contramos a figura de Hildegarde vonmento energético sem nenhum desgaste, Bingen: “Como água corrente, assim fluisem nenhum desperdício, é uma utopia, a Luz da Vida”. Essa Luz, que se comparado mesmo modo que a grande Lei do à água por ser semelhante a ela, é aoAmor – um ideal inacessível para nossa mesmo tempo consciência e energia.consciência e para nossa alma de simples Hildegarde foi muitas vezes chamada demortais. “a mística verde” porque ela via a Terra,No entanto, não devemos nos esquecerde que a alma tem um potencial, uma o homem e o cosmo como um conjuntofaculdade de transformação que permite vivo.que tenhamos nova compreensão e, Poderá haver alguma compatibilidadeportanto, uma mudança de vida e uma entre um planeta perene e uma realidaderealidade diferente. Logo, podemos ser material prática? Paralalelamente, seriainspirados pela durabilidade da corrente possível haver harmonia entre umatransformadora que não produz atrito. As- corrente de Força-Luz sem atrito com osim, poderemos tomar consciência dessa processo de nossa realidade sensível?corrente sem nos tornarmos idealistas, Parece claramente que existe uma Terrasem nos impormos objetivos e sem nos Santa – uma Terra sem dukkha – sobretu-subtemermos a esforços sobre-humanos. do no nível da alma. Realmente: quandoConsequentemente, o caráter “durabili- nossa psique é transformada, ele se tornadade” não está ligado à fabricação de pro- apta para vivenciar aTerra Santa e vivificá-la.dutos de alta qualidade com vida longa, Afinal, nossa nova mentalidade e nossa novamas sim à atenção ao fato de evitar ou atitude de vida já podem se tornareliminar os fatores suscetíveis de bloquear autorrealizadoras, autocriadoras. Essaos circuitos de transição de energia e de afirmação está de acordo com os pontosreciclagem. Portanto, a decomposição e a de vista metafísicos de vanguarda, quedissolução começam a nos parecer como dizem que somos os criadores de nossaimportantes colunas da durabilidade – da realidade e de seu conteúdo.“sustentabilidade”. Já não será necessá- Na realidade, somos nós que, por sermosrio boicotar produtos de alta qualidade, uma síntese alquímica do verdadeiro Ser,mesmo se não forem completamente temos o poder de criar uma Terra dedegradáveis nem recicláveis. natureza perene. A alma que se tornaPara clarear nossa consciência, vejamos se autônoma e amadurecida em seu jul-a História fornece exemplos de proces- gamento – a ponto de permitir que sesos sem usura ou desgaste. Para começar, manifeste nela uma economia sem usuratemos o caminho de oito passos ensi- ou desgaste (ou seja, uma concepção denado por Buda, senda na qual o desapego gestão harmoniosa das coisas da vida) –desempenha um papel muito importante. uma alma como essa consegue ao mesmoEsse desapego pode fazer desaparecer o tempo contemplar a Terra Santa e criar esseatrito no decorrer do processo, de modo mundo perene. Como ela é observa-doraa responder a uma das condições do das relações cósmicas imaculadas, ela é co- construtora. Aí está nossa mis- 33
O conteúdo denossa almadesempenha umpapel primordialna transformaçãode nossaconsciência,que é a chavepara uma possívelTerra Santasão, que se tornou realizável pelo fato de apenas lhes oferece uma “ajuda de custo” dinheiro não faz diferençavermos, compreendermos esse surpreen- e os expulsa do jogo. Esses jovens ainda para ele. Por ser naturalmentedente modelo energético completamente podem pensar que são felizes de poderem bom e cavalheiro, conseguiudiferente do modelo da roda que em- se desafogar nos esportes, nos jogos ou elevar-se ao Conselho dosperra e desgasta. Afinal, essa é a causa de por meio da arte, mas isso não traz um Super-Chefes, os super ricostodo o sofrimento. benefício real. senhores das finanças e daBasta observar o quanto a economia A maximização do lucro em detrimento economia mundial. Foi assimde mercado é destruidora e invasiva – de tudo e de todos chegou a um ponto que ele conheceu Sabetudo,sofremos com os olhos e com o cora- crítico. Isso nos faz pensar em criar outro outro chefe que parece umção. Nossa alma sofre e a expressão de jeito de gerar nosso capital de ener-gia anão e que conhece anteci-sua função criativa se sente diminuída. vital que não se efetue em detrimento do padamente tudo o que dizMuitos jovens, atirados ao desemprego, bem comum nem de outras pessoas. Uma respeito ao universo e princi-já não conseguem ser criativos porque o historinha de Marten Toonder, palmente à natureza. Sabe-sistema da sociedade os impede jurídica considerado o “Walt Disney holandês”, tudo enviou a O.B. Bommele socialmente. Sua situação financeira e poderá ilustrar nosso propósito: um equipamento orgânicopsicológica vai se degradando porque o “O riquíssimo O.B. Bommel tem um chamado alumenergia queprincípio do lucro vigora em toda parte e lema sagrado e hipócrita que diz que o gira sem parar, sem falhar, 34 A ilusão
sem precisar violentar a natureza (sem essa – da consciência? Afinal a energia o canal de recepção deve sertriturar todo o país). É uma espécie de vital dos seres humanos não lhes é dada o centro de nosso ser, exa-movimento contínuo que se autoalimenta de uma vez por todas no nascimento? tamente onde nossa alma see gira em direção ao Nada. Mas o Super- É arriscado acreditar que poderemos conecta conosco. O centroChefe dos Super-Chefes julga esse equi- restaurar o equilíbrio inicial do planeta matemático de nossa própriapamento contrário à ordem estabelecida depois de todos os atentados perpetra-dos realidade cósmica, nosso mi-e, furioso, culpa O.B. Bommel: O que eu contra ele, sem falar dos processos crocosmo, é também o pontolucro com Nada? Jogue fora esse lixo e irremediáveis, como os da extinção das central do cosmo e de todome acompanhe! Não está vendo que esta- espécies e de organismos. Na melhor das o nosso sistema solar – con-mos sempre diante de uma crise?” hipóteses, o solo contaminado passaria sequente, também é o centroEssa é a atitude que vemos no mundo de por uma descontaminação. Quanto aos da Terra, que faz parte dessehoje.A alumenergia que fornece energia seres humanos, eles seriam colocados sistema.gratuitamente é o que poderia garantir diante da dívida colossal de precisar O conteúdo de nossa almauma Terra perene. Mas a pergunta: “O evacuar, limpar ou recuperar a gigantesca desempenha um papel pri-que nós lucramos com isso?” está quantidade de lixo e de objetos inúteis. As mordial para a transformaçãopresente em todos os níveis. gerações futuras dirão o que acontecerá de nossa consciência, que é aComo o valor dessa economia sem em matéria de sustentabilidade. chave para uma possível Terradesperdício irá se manifestar em nossas A questão principal ainda está, como Santa. Nossa mentalidade,almas? (E precisamos deixar claro que a sempre, na origem da energia que é capaz nossa atitude de vida e nossaalma representa o ser que deseja expres- de nos transformar. Os gnósticos de dois consciência, nosso posiciona-sar-se neste mundo de maneira criativa, mil anos atrás falavam do pleroma para mento diante da vida, tudocom amor, sem ferir a Terra). Aí está uma evocar a plenitude da energia-alma de isso é determinante para nossapergunta tão antiga quanto o mundo! ordem superior como se fosse uma fonte capacidade de receber aNão somente Buda, mas também o cris- no cosmo, sempre presente e potencial- energia da plenitude, a ener-tianismo com a sua especial lei do amor, mente acessível a todos. A alma pode be- gia da renovação, que poderáe também, mais recentemente, filósofos ber dessa fonte de plenitude. Ela está à sua ser distribuída para outrascomo Kant e Espinosa já responderam. disposição em toda parte e a todo tempo. pessoas. O ser humano a recebe gratuitamente e, Para encontrarmos a fonte, oPoucas pessoas sabem que os antigos em troca, pode transmiti-la, oferecê-la, pleroma, precisamos entrar nagnósticos de tradição hermética também sem se prender a ela. O que é recebido de quietude, para, desse modo,já responderam essa pergunta. No século graça, seja energia, riquezas ou amor, não descer rumo ao nosso centro,XX, o gnóstico Jan van Rijckenborgh dá espaço para cobrança de juros. No- até as profundezas de nossoresumiu o processo energético em uma blesse d'âme oblige (a nobreza assim o ser. É a partir dessas profun-fórmula lapidar: “Tudo receber, tudo dezas que a força irá se der-abandonar e assim tudo renovar”. Evi- exige!). ramar em nosso coração. Essedentemente, este é um ponto de partida Tudo isso lança nova luz sobre a questão, centro de nosso serrevolucinário, se entendermos como uma luz hermética sobre o conceito “ri- tem proporções cósmicas: porrevolução: “Tudo renovar”! queza”. A verdadeira riqueza é aquela que meio dele, ligamo-nosPodemos nos indagar se a Terra está pode ser oferecida ilimitadamente, pois é novamente com o Sol inte-esperando por isso. Os circuitos e ciclos proveniente de uma fonte inesgotável! rior. Assim, constatamos que ada natureza virgem são autossuficientes E como iremos nos aproximar dessa fonte realidade do mundo é bemem seu equilíbrio natural. É o que sugere para beber de sua energia? Natural-mente, mais ampla, inclusive do queo famoso filme de Philip Glass, Koyaanis- não iremos esperar até esgotarmos todos imaginávamos.qatsi. Não seria suficiente tentar restabele- os recursos do planeta para depois fazer De acordo com Hildegarde decer o equilíbrio? De onde virá a energia isso! O que é notável é que não é preciso Bingen, no momento em quepara uma transformação da alma como recorrer a ela de maneira ativa, mas sim a corrente de energia em uma atitude de acolhimento: 35
flui como a água, o corpo precisa fazer lenspiel (O jogo das contas de vidro).alguma coisa. Para Hildegarde, essa ener- Cinco anos antes, Johan Huizinga, em seugia ofereceu uma criatividade prolífica Homo Ludens: o jogo como elemento dana música, na literatura, na poesia e em cultura, também havia visto que amuitas outras disciplinas. Oferecer a liberdade e a criatividade do homemenergia do pleroma a outras pessoas tem estavam sendo ameaçadas pela brutalidadeum efeito transformador e revolucionário primitiva. O atual gerenciamento unila-sobre a consciência. O doador adquire teral e a completa hegemonia dos poderesuma espécie de consciência cósmica, econômicos e financeiros representam, decomo testemunham certas obras dessa vi- um jeito diferente, uma ameaça de asfixiasionária mística que falava sobre o caráter de toda e qualquer criatividade e do sim-eterno e sagrado da vida. ples prazer de jogar – e isso é ainda maisDesse modo, a Terra é percebida de um grave.jeito tão diferente que pode-se dizer que Resumindo: se soubermos preservar ajá é uma Nova Terra. A irradiação da vida medida exata daquilo que é humanodivina pode ser percebida em cada coisa. – o material, a matéria e a Terra comoO olhar parte do conjunto, da tota-lidade “espaço lúdico” – seremos imensamenteda vida,sub specie aeternitas (sob um ricos.aspecto eterno) como bem expressouEspinosa. *Noblesse oblige é uma expressão francesa que literalmente significa \"a nobreza obriga\". Ela denota oMesmo não sendo capazes de observá- conceito que a nobreza vai além de meros títulos e requer-la com nossos olhos, essa nova vida é que quem detém esse status assuma responsabilidadestambém uma realidade na Terra, desde sociais, particularmente em papéis de liderança.que reencontremos a fonte de nosso ser,que é chamada de Tao, Brahma, Deus,ou de qualquer outro nome. O segredo,o mistério, é que essa fonte divina podeestabelecer sua morada em nós e aí cum-prir sua obra, sempre por intermédio docentro situado em nosso coração. Logoque o Tao começa a traçar sua senda emnós e por nosso intermédio, Krishna, oSenhor Interior, desperta. Acontece umnascimento interior, simbolicamente re-presentado como se acontecesse em umagruta ou estábulo da vida microcósmica.A atividade desse princípio interior é pu-rificadora e perene, sem nenhuma perdade energia, sem nenhum desperdício.Mas essa criatividade não irá transbordarda área de jogo que serve para medir oque é humano?Hermann Hesse descreveu o conflito doespírito humano contra a barbárie davontade de ter poder em um romancegenial publicado em 1943: Das Glasper- 36 A ilusão
crônicaA faculdade instintivaem ser bomA Holanda poderia ficar feliz porque, de agora em “A ética do coração e do pensamento humano está ligadadiante, os banqueiros farão o juramento de agir com à Luz espiritual que resplandece através de sua inteligên-integridade – mas é lamentável que isso seja cia. Quando seguida com honestidade, ela é um guia, umanecessário. E dizer que eles só pensaram nisso porque lâmpada diante de seus pés. Ela jamais se engana e ofereceos cidadãos comuns acharam suas taxas muito ao coração humano uma paz infinita.” Nesse ponto, nos referimos ao poder latente da alma, a fim de que ela seEabusivas! abra para essa luz espiritual. Essa alma que assim desperta m seu livro Isto é inacreditável, o holandês Joris experimenta a alegria de uma compreensão cada vez mais Luyendijk mostra que os banqueiros estão atrás profunda das causas de todos os dilemas. das muralhas de um sistema que pode ruira qualquer momento. E, como não seremos descarta-dos O juramento (trechos)agorinha mesmo, é bom ficarmos atentos e cuidar, em Eu juro/prometo que exercerei minha função comprimeiro lugar, dos nossos interesses! Por isso, a integridade e escrupulosamente. Eu juro/prometo quesociedade, que não achava essa situação ética, avaliarei cuidadosamente todos os interesses que estão emimaginou um juramento. jogo, ou seja, o interesse dos clientes, dos acionistas/Uma enorme quantidade de áreas existenciais apresenta membros, empregadores e da comunidade no interior dadilemas éticos. Realmente: cada decisão de nosso dia tem qual a empresa opera. Eu juro/prometo que, com essaessa amplitude. Se pensarmos que somos Um com tudo o avaliação, o interesse do cliente ocupará um lugar central.que É, saberemos que toda e qualquer ação traz Eu juro/prometo que terei uma atitude de abertura, queconsequências para o Todo. Portanto, supõe-se que aceitarei ser avaliado e que conheço minha responsabilidade com relação à sociedade. Eu juro/prometoA ética do coração e do que me esforçarei para manter e promover a confiança nopensamento humano está ligada setor financeiro. É o que eu declaro e prometo. Que Deusà Luz espiritual que resplandece me ajude!através de sua inteligência. * G. de Purucker, Fundamentals of the Esoteric Philosophy (Fundamentos da Filosofia Esotérica), Plymouth, Mayflouer Press, 1932.conheçamos nossa responsabilidade com relação a ele.Mas restam sempre alguns compromissos a serem se-guidos, porque “o homem não é um produto acabado”.De fato: por seu corpo físico, ele se submete a seu instintoe à confusa mistura de bem e mal, mas, por seu ser inte-rior, ele é chamado a desenvolver suas grandes possibili-dades.A verdadeira ética reside no equilíbrio absoluto, o cami-nho do meio. Se o dicionário define a ética como “odesejo instintivo do coração humano de ser justo e defazer o bem em relação a todos porque isso lhe dásatisfação e o eleva”, ainda falta amplitude para essadefinição.No livro Elementos de filosofia esotérica*, G. de Puruckerescreve:37
A ILUSÃOLimites de um processoTanto as vidas como as culturas seguem, no espaço e no tempo, um processo que podeser resumido em três estágios: subir – brilhar – descer ou crescimento – florescimento – declínio. Passamos progressivamente de uma a outra dessas três fases e a última acaba abruptamente com a passagem da fronteira, quando o organismo se decompõe. Por mais progressivo que seja esse deslizar entre uma fase e outra, ainda podemos perceber que há fronteiras que têm sua razão de ser. N No decorrer da fase inicial, que é a da primeira infância, já se estabelecem algumas li- mitações. Na educação, por exemplo, são demarcadas algumas fronteiras. Às vezes elas são impostas, às vezes não as estabelecemos suficientemente, e, nesse contexto, a cri- ança não consegue encontrar seu rumo. Os educadores precisam ser claros e estabele- cer balizas que tenham sentido para que a criança possa chegar harmoniosamente à segunda fase, a fase da puberdade, na qual novamente deverão ser determinados alguns limites. Essa passagem pode ser violenta. Há jovens que se rebelam contra o educador, mas também pode ser que essa agressividade e teimosia sejam utilizadas, com toda a sua força, para reivindicar o novo espaço de autonomia e para consolidá-lo. Se esse desenvolvimento correr bem, serão abertos novos espaços e seu valor será consolidado pela passagem da fronteira. É assim que esses espaços são ocupados com dinamismo e vitalidade e ganham conteúdo e significado. Às vezes, a tendência de querer ultrapassar os limites não cessa. Esse jovem provocativo tenta subverter os valores estabelecidos e as normas que vêm com eles – e isso aconte- ce quando um impulso revolucionário deseja se desenvolver. No entanto, em geral, os jovens se acalmam e entram no equilíbrio de seu próprio sistema de valores e normas e, nesse contexto, conseguem se desenvolver, no auge da vida. Já a passagem do florescimento ao declínio (do “brilhar” ao “descer”), na terceira fase, é bem diferente. Na melhor das hipóteses, quando observamos a relatividade de tudo, 38 A ilusão
observamos o resultado de nossa vida com um olhar positivo. Com o tempo, a visão dascoisas vai se ampliando muito e isso pode nos oferecer mais profundidade. É como se asfronteiras começassem a desaparecer, pois se apresentam com mais transparência: a passa-gem de um espaço a outro fica mais fácil. Registramos o sentido de nossa vida em um con-texto global, baseado na perspectiva do mundo. Nessa fase, pode ser até que todos oslimites se apaguem na consciência, para que a universalidade do mundo secular e globalpossa ser vista à luz da eternidade. Essa “descida” ou “declínio” toma um ar de novamaturidade, de uma riqueza que pode ser oferecida a outras pessoas. Nossa experiência devida e tudo o que adquirimos de consciência tornam-se os motores de nossa renovação etransformação. O fim que se aproxima transforma-se em grande mistério, que se abre paraa continuidade do espírito na unidade, no universal. Mais um pouco e será forjada aconsciência hermética, na qual a morte não é uma realidade absoluta.Portanto, observamos três fases no decorrer de nossas vidas: “subir – brilhar – descer”,que correspondem a “delimitar” e depois “atravessar ou ultrapassar limites” e, finalmente“suprimir barreiras”.Essas fases também podem ser encontradas em nossa cultura principalmente nos Manifes-tos Rosa-Cruzes do século XVll. Examinemos esse período histórico. Ele se inicia com umimpulso inédito durante o primeiro quarto do século XVll: a tentativa de se implantar, naEuropa, uma cultura inédita no Ocidente, cheia de valores inovadores divulgados pelaFama Fraternitatis, o chamado da Ordem Rosa-Cruz, que fala de “uma poderosacriança” que será gerada pela Europa. 39
Doenças de infância na Europa Na área das ciências e dasTentando estabelecer-se, fixar seu quadro de valores e traçar suas fronteiras, essa artescultura passou por muitas doenças de infância. Para começar, a concepção rosa-cruz encontramosdo homem universal hermético não conseguiu se firmar. Giordano Bruno não teve sinais evidentestempo de apresentar essa magnífica concepção de ser humano no conjunto que deve- de uma novaria ter sido formado pela Religião, pela Ciência e pelas Artes, pois seu longo encar- culturaceramento foi seguido por um processo que o condenou à fogueira. A ausência dequalquer abertura para uma nova perspectiva em matéria de Ciência e Religião foi acausa de muito sofrimento e colocou em perigo o que acabava de se iniciar. Boehme,Andreæ e Comenius, todos eles passaram por um período de incompreen-são e dehostilidade, seguido de violência. No entanto, nas áreas das artes e da ciência surgiramalgumas delimitações, sinais evidentes de uma nova cultura, foram instauradas.Podemos constatar que o bom-senso e um olhar mais objetivo sobre a realidade iamganhando terreno ao eliminarem da área científica a superstição e o dogmatismoreligioso. Isso aconteceu principalmente graças aos novos instrumentos que permi-tiam uma aproximação da realidade de modo inegavelmente mais objetivo. Otelescópio, o microscópio e a Astronomia fizeram recuar a superstição ligada às adi-vinhações dos astrólogos, sempre prontos a roubar um público crédulo. A Alquimiaencontrou sua base prática na Química e na descoberta dos componentes da matéria.O sistema planetário mecânico e racional de Newton e Descartes acabou determi-nando o pensamento científico, delimitando-o. Um ditado popular nessa época diz:“medir é conhecer”. Com Espinosa, vemos abrir-se o espaço para o enunciado de umconceito superior do Divino – um conceito hermético que até hoje é cheio de vida.Também nas artes, a nova cultura chegou a se instalar. A pintura holandesa é um beloexemplo disso. A área da Música avançou, instalando uma base ilimitada para expres-sões e climas musicais, sendo que até essa época não era possível inventar músicaa não ser utilizando as modulações tidas como legítimas pela ciência dos acordeschamada “harmonia”. E como não pensar em Shakespeare, cuja expressão herméticainigualável foi um impulso inovador tanto para a cultura como para a espiritua-lidade? Poderíamos afirmar que a primeira fase de nossa história cultural recente,que durou até os meados do século XVlll, manifestou-se com precisão, clareza erealismo, que puderam concretizar-se graças à medida e ao número. Na área daMúsica, Bach é um eminente representante desse fenômeno.Ultrapassando dogmas, números e medidasNa segunda fase – a do brilhar e ultrapassar limites, surgiu uma atituderevolucionária, que foi ganhando terreno e culminou na Revolução Francesa, em1789, com a luta de classes na sociedade. A nobreza foi forçada a abandonarinúmeros privilégios.Os revolucionários não tardaram em rejeitar o rigor e a ordem da fase que ter-minava. As revoltas, as emancipações, as invenções, as experiências científicas foramabrindo caminho – e isso aconteceu acompanhado de provocações e mãos armadas.Ao ultrapassar suas limitações, a técnica deu vida à indústria e também aodesenvolvimento da fotografia.As ideologias encontraram um fundamento independente da religião e foram viven-ciadas na sociedade. A colonização fez as fronteiras dos impérios europeus avançarem40 A ilusão
e muitos países estabeleceram redes comerciais do outro lado dos oceanos. A África foifragmentada e partilhada pelas nações europeias. O Romantismo ergueu-se de tal modocontra o Racionalismo da primeira fase que, em seguida, a abstração pôde ganhar terrenona Pintura e na Música. Houve tentativas experimentais de ultrapassar a tonalidade. As Ar-tes Plásticas seguiram o mesmo impulso, do mesmo modo que a prosa e a poesia, quandoautores como Joyce, Becket e Pinter abandonaram a cronologia clássica ligada a aconteci-mentos. Antes disso, o “realismo do número e da medida” já havia irritado extremamentealguns autores como Goethe, que achava Bach entediante.Essas ultrapassagens de fronteiras, próprias da segunda fase, conseguiram perturbar aordem geral, pois houve um afastamento consequente e ilimitado de todas as relaçõeslógicas e racionais: agora, os autores tinham como finalidade única serem originais einovadores. A Arte deixou de ser sublime, pois nunca havia sido. No campo da Ciência,esse fenômeno transgressivo da segunda fase pôde ser sentido em todas as áreas,provocando revoluções tecnológicas incontroláveis, principalmente no setor militar, coma energia nuclear e a bomba atômica: era preciso encontrar oportunidades ligadas aosobjetivos econômicos de produção. Na Filosofia, os conceitos idealistas e materialistasconheceram seu apogeu e resultaram em uma espécie de instrumentalização daconsciência. A partir do século XVlV, a sabedoria e as religiões das culturasestrangeiras foram objeto de busca. As pessoas se interessavam principalmentepelo budismo, pelo taoísmo e pelo hinduísmo. Na Matemática e na Física,o ser humano ultrapassou os limites estabelecidos pela Geometria euclidiana e desenvolveua Mecânica Quântica. No mundo religioso, houve tentativas de alcançar a interioridadecom base na abordagem esotérica, que saltava o muro da realidade material observável.Essa segunda fase de passagem de nossa civilização europeia, que se iniciou na segundametade do século XVlll, seguiu até o século XX. Anteriormente, Giordano Bruno teve oimenso mérito de ser o primeiro a falar sobre o Universo infinito e de sugerir que esseUniverso estava relacionado com o microcosmo – e fez essa revelação antes da publicaçãodos Manifestos Rosa-Cruzes!O despertar para além da culturaE assim chegamos à terceira fase, a das “de-limitações”, na qual todas as barreiras sãoaplainadas. As características dessa fase são: a globalização, a supressão das alfândegas e devárias legislações, a transparência (por exemplo: a glasnost soviética), a perda geral de valo-res, a universalidade (por exemplo: os Direitos Humanos). É o crepúsculo das ideologias edos dogmatismos: as certezas, as pressuposições, os axiomas – tudo isso foi desmante-lado.Essa degenerescência, que ainda vai se manter por algum tempo, anuncia o fim da culturaeuropeia. Mas isso significa, ao mesmo tempo, um despertar que vai além da cultura: umdespertar do que está vivo espiritualmente, e de toda e qualquer fronteira – o que nospermite vivenciar a unicidade.Essa mística do Uno – do ser unificado – permite-nos vivenciar uma prática, um comporta-mento sintonizado com esse estado de consciência no qual nos sentimos ligados a tudo e atodos, em detrimento de nosso próprio eu, que pode sofrer. Essa vivência exige desapegoou “endura”. Mas, quando essa “morte do eu” (muito conhecida no budismo e notaoísmo) provoca grande resistência, o resultado é o conflito, que pode tomar proporçõesapocalípticas no âmbito coletivo.Depois desse movimento de expansão e desapego, não há como voltar desse processo, a 41
não ser com muito sofrimento. Quando asÉ isso que Cristão Rosa-Cruz constata quando, ao desejar voltar do caminho que havia fronteirastomado, é impedido por um vento tempestuoso, muito mais forte do que ele. desaparecem, surgem novasA unicidade à Luz da eternidade dimensõesAfinal, o que é essa realidade que finalmente alcançamos? A Física Quântica nosoferece uma perspectiva teórica. Durante essa terceira fase (a do desaparecimento doslimites) descobrimos, de modo muito concreto, o que a matéria realmente é – percebemosque demos a ela características absolutas e que estamos muito apegados a ela.Desde a infância, os adultos nos habituaram a falar sobre os objetos e a pensar nascoisas como se elas tivessem uma realidade imutável. Agora, esse mundo antigo, deobjetos sólidos e de leis naturais deterministas está se dissolvendo e dando lugar a ummundo que sobrevive a partir de ondas e redes de conexão. Os conceitos de “partícula42 A ilusão
elementar”, “substância física”, “objeto isolado” perderam seu significado no momentoem que o Universo está diante de nós como uma rede energética, dinâmica, que não podeser rompida. Vivenciamos esse universo como um todo indivisível, que está sempre emmovimento e do qual o observador faz parte, necessariamente.Simultaneamente, o observador e seu microcosmo são o macrocosmo.Paracelso, que foi um grande precursor (no início do século XVll), já havia afirmado: “Paracompreender o verdadeiro significado da Alquimia e da Astrologia, é indispensável tomarconsciência realmente do parentesco interior e da identidade do microcosmo e do ma-crocosmo, assim como da interação entre eles. Todas as forças do Universo estão potenci-almente presentes no ser humano: o corpo e seus órgãos não passam de produtos desseUniverso e representam as forças da Natureza”. Assim, já não somos partes separadas deum conjunto – nós somos o Conjunto! Também é lógico que, nessa terceira fase, iremos aoencontro de tudo o que, na Terra, respira a partir do Uno e no Uno: aquilo que,espiritualmente, é chamado de “Espírito planetário”, “o Senhor da Nova Terra” – o Cristo,que diz, no Evangelho de Felipe: “É pre-ciso de dois fazer Um”.Logo que todo e qualquer limite deixe de existir, reencontraremos esse novo alento, quesignifica ao mesmo tempo o fim e o infinito da cultura europeia ocidental. Trata-se docristianismo e de sua completa realização. É a vivência de uma força atemporal que estásempre disponível para ser utilizada na Nova Terra. Seu fardo é tão leve quanto o jugo (doqual trata o Evangelho), pois a Velha Terra já não existe. A matéria tal como a concebía-mosantes, vivenciada por nossa consciência, agora pertence ao passado. A partir de então,conseguimos ver as “coisas” iluminadas pela Luz da eternidade. Contemplamos o mistérioatravés da Velha Terra – o que equivale a dizer, como J. van Rijckenborgh em um dos hinostemplários: \"Que haja amor ao que vida tem, amor a tudo o que Deus nos dá\". Essa é afase final de um processo que tem seus limites.Quem é o dono da Terra?Pode acontecer que outras culturas se aproximem da nossa a partir de uma base universal.Mas, para que esse encontro aconteça, precisaremos alcançar a maturidade – e ainda temosmuito o que aprender.Os ingleses colonizaram a Austrália com o uso da força e da exploração das terras do povoaborígene, cuja cultura era extremamente antiga. Algumas fronteiras foram delineadas; asterras, delimitadas com estacas e arames farpados. “Este território é nosso!”, afirmararamos novos proprietários.Os aborígenes não entenderam nada sobre esses “territórios”, essas “propriedades”e esses “proprietários”. Mais tarde, quando alguns aborígenes começaram a ter noções dalíngua inglesa, questionaram os colonizadores a respeito disso, e estes foram incapazes deultrapassar o abismo cultural. Por fim, um autóctone que havia captado a mentalidade doscolonizadores, expressou o pensamento aborígene: “Nós não possuímos a terra: é a terraque nos possui”.Assim, as fronteiras vão se apagando à medida que, à Luz da relação microcosmo-macro-cosmo, tomarmos consciência de nossa responsabilidade frente à Terra e tão logoalcancemos a condição de nos situar como observador no interior do conjunto – esseconjunto do qual fazemos parte e que – finalmente – nós somos. Afinal, todas as forças ca-pazes de ultrapassar as limitações estão presentes no centro de nosso ser! 43
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símboloA Senda RealSegundo a visão taoísta da transformação e da alquimia, o caminho é chama- do de “Senda Real”. Ele é indicado como wang (rei), no ideograma chinês representado na página ao lado. O traço horizontal superior simboliza Yang, o Céu; o traço inferior, Yin, a Terra. Juntos, eles formam o mundo da dualidade.O traço horizontal entre os dois simboliza Yong , o centro atemporal que está nocora-ção, no núcleo central de tudo o que existe. Ele é estático, e é exatamente porisso que torna possível a interação entre Yin e Yang (a esse respeito, consultar ocapítulo 11 do Tao te King : Os trinta raios de uma roda).O traço vertical éTe , símbolo da força do Tao que, a partir do Um, flui em direção aomundo da dualidade para, em seguida, inverter seu movimento.O núcleo do estado de ser humano não se situa nem no Céu (Yang), nem na Terra(Yin), mas no centro imóvel (Yong ) que reconecta o Yin e oYang .王 ----------------------------------------------------------------------------------------------Céu Yang Cabeça HomemCentro Yong Coração NeutroTerre Yin Mãos Mulher----------------------------------------------------------------------------------------------O Yong é também considerado reflexo do Único, que está contido no Tao . O Yong é oponto ondeYin eYang encontram-se em equilíbrio: é nesse ponto que a Terra incor-pora o Céu e o Céu eleva a Terra.Pela interação contínua entreYin eYang, tudo o que existe é lixado, friccionado epolido, depois de passar por um processo de transformação e uma alquimia interior.O resultado disso é que as mil e uma coisas que existem são santificadas eenobrecidas. Depois disso, tudo retorna ao Tao , ao Único.Toda a arte do processo alquímico consiste em preservar o Único exatamente no cen-tro, enquanto o Céu e a Terra –Yang eYin, o que está no alto e o que está embaixo –operam a transformação por meio de sua mútua interação. Tudo isso se torna possívelpela corrente de força vertical deTe, a energia do Tao . O Te concede às dez mil coisasa possibilidade de transubstanciação (no sentido alquímico da palavra). 45
dissertaçãoTEXTO SODALIS, J.P. WILS 46 O Grande Amigo de Deus Do País Do Alto
O Grande Amigo de Deus do País do Alto Na tradição oculta dos mistérios do Ocidente, é frequentemente mencionado o “Gottes-freund vom Oberlande (O Grande Amigo de Deus do País do Alto, eminente persona-gem da espiritualidade do século XIV. Ele surge de modo recorrente como importante fonte de inspiração de correntes mais conhecidas. Segundo a tradição, Johannes Tauler, Rulman Merschwin, Johannes Ruusbroeck, Lutero, bem como os rosa-cruzes clássicos, tinham todos uma ligação particular com esse Amigo de Deus. Para publicar novos ensinamentos sobre essepersonagem enigmático, este artigo da Pentagrama baseou-se em documentos que a Ordem dos Joanitas possuíaem Estrasburgo, descobertos há dois séculos, mas que permaneceram até os dias de hoje praticamente inéditos.Segundo os textos encontrados, partir do ponto mais baixo de obscuran- 1300 a 1361. Por seu inter- esse personagem misterioso do tismo espiritual em que o Ocidente caíra: médio, chegamos diretamente século XlV, conhecido pelo assim começou um processo de desenvol- ao enigmático Grande Amigo nome deDer Grosse Gottesfreund vimento que provocaria uma reviravolta do País do Alto. Sabemos que aus dem Oberlande, vivia retirado em grande escala, mas somente no sé- ele viveu de 1315 a 1420. culo XXl.Com relação a isso, em que pontoem um eremitério que ele mesmo havia nos encontramos? Quais são os novos desafios Se esses dados estão corretos,construído e onde morava com quatro diante dos quais nos encontramos atualmente? em 2015 fez exatamente se-irmãos, um cozinheiro e um intendente, Nesse contexto, quais são as grandes questões tecentos anos que esse Grandeque também tinha a função de men- que somos chamados a responder hoje? Amigo nasceu no coraçãosageiro. Eles permaneciam escondidos da Europa, em Lucerna. Seunum local secreto em plena floresta, Sem traços pai era um rico comercianteem algum lugar da Alsácia ou da Suíça. da burguesia abastada dosUm local somente encontrado por outros Considerando o espírito de nossa época, arredores da Basileia. Depoisinspirados Amigos de Deus. Por que ele o que significa esse impulso do século da morte de seus pais, ele sepreferiu permanecer incógnito e viver de XlV para nós? Se esses chamados “Amigos retirou dos negócios, rompeumaneira anônima por mais de cem anos? de Deus” pertencem a todas as épocas e a seu noivado e vendeu pro-Sua história lembra curiosamente esta todas as culturas, o que eles teriam para priedades e bens, a fim de seoutra figura centenária quase mitológica: nos dizer agora? consagrar à caridade em suaCristão Rosa-Cruz. Haveria uma relação Voltemos por um instante ao século XlV e cidade natal, o que durouentre os dois? Rudolf Steiner estava certo pensemos em Mestre Eckhart, que viveu cinco anos antes que ele sedisso, e, segundo seu ponto de vista, essas na Renânia de 1260 a 1328, aproxima- retirasse definitivamente.duas figuras iniciaram um novo período damente. Seu principal aluno e amigo, Depois disso, por meio dede desenvolvimento para a humanidade, a Johannes Tauler, viveu em Estrasburgo, de 47
emissários que o mensageiro mencionado Deus. Não adotamos nem rejeitamos esse Para osmais acima enviava, ele permaneceu em conceito, no entanto, tomando-o como dominicanos,contato com um monastério recém ponto de partida, ele pode ser útil e a Inquisiçãofundado em Estrasburgo, situado a instrutivo para reconstruir a mensagem também setrezentos quilômetros de seu eremitério do Amigo de Deus em vista das cartas voltava contrasecreto. Os irmãos joanitas – a exemplo endereçadas aos outros Amigos de Deus. os irmãos dedos monges-cavaleiros templários Dentre eles, um dos mais importantes sua própria– consideravam-no um tipo de mestre era Johannes Tauler, que vivia e pragava congregaçãoesclarecido e seu pai espiritual. Alguns anos em Estrasburgo. que falavamdepois de sua derradeira carta, que datava de uma féde 1380, eles partiram em sua procura, O mentor espiritual de Tauler era mestre interiormas não conseguiram encontrá-lo. Eckhart, um dominicano como ele. Co-Quinhentos anos mais tarde, no final do nhecemos o papel fundamental que essaséculo XIX, teólogos eruditos como Carl ordem tinha na luta contra os cátaros du-Schmidt, Auguste Jundt e Henry Denifle rante o século precedente, com o tristemergulharam no estudo de seus escri-tos ponto culminante em Montségur, quan-e levantaram várias hipóteses sobre do, em 1244, um grupo inteiro de bons-a identidade desse Amigo de Deus que hommes ou parfaits pereceram naa História guardou. Eles também não fogueira. Contudo, para a ordem dosconseguiram localizá-lo e tiveram de dominicanos, a Inquisição não se voltavacessar suas pesquisas. No final das contas, somente contra esses hereges, masDanifle, teólogo católico da ordem dos também contra os irmãos de suasdominicanos, afirmava que o Amigo de próprias fileiras que se arriscavam a falar de uma fé interior e a manifestar umaDeus jamais existira realmente e deveria atitude crítica perante a autoridadeser uma invenção de seu amigo Rulman hierárquica, tanto real quanto eclesi-Merswin, que fundara o monastério dos ástica. Assim, Eckhart, atacado por seusjoanitas, por volta de 1370, supostamente irmãos, teve de se justificar durante seuem estreita relação com ele. processo. Não é de estranhar quando seAssim as pesquisas referentes à identi- lê o que ele diz sobre suas própriasdade do Amigo de Deus, seu lugar de pregações: “Eu vos digo que, se nãoresidência e o que ele poderia ter signifi- estais vós mesmos convencidos do quecado para o futuro da Europa tiveram seu se trata aqui, será difícil para vós seguir-fim. Para Denifle, ele vivera somente no me ou compreender-me. A verdademundo imaginário de uns poucos, e por- sobre qualquer coisa não pode sertanto era inútil procurá-lo ou segui-lo – e conhecida senão pela verdade em nós.ninguém deveria levar seus textos a sério. Ouvir bem implica no poder da com- preensão, por exemplo da pobreza daJohannes Tauler alma já presente em nós e chamada à plena realização. Somente ao aceitar esseRudolf Steiner tinha outro ponto de vista: estado de nossa real pobreza interiorele afirmava que o personagem havia de podemos compreendê-la e ser capazes defato existido e que desempenhara mesmo abandonar nossa falsa riqueza, nossaum papel eminentemente importante nos pretensão, nossa autossa-tisfação e toda aplanos políticos e religiosos no grande nossa vontade. Quanto mais alguémcombate de emancipação do homem abandona sua teimosia, melhorocidental. Para ele, o Amigo de Deus era compreenderá a profundidade dessasnada menos que o precursor da Fraterni- palavras e apreciará a verdade”.dade da Rosa-Cruz, que teria, portanto,surgido do movimento dos Amigos de 48 A ilusão
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