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Revista Sophia nº 37

Published by Editora Teosofica, 2021-03-19 18:35:55

Description: A Revista Sophia é uma publicação independente da Editora Teosófica, apresentando artigos que vertem sobre temas como filosofia, ciência e religião. Nesta edição:
• Ao leitor: Nós somos o mundo;
• Tudo está interligado – Michael Brown;
• O poder da generosidade – Dulce Magalhães;
• Misticismo como experiência prática – Pedro Oliveira;
• O universo é inteligente – Radha Burnier;
• Rumi, o mestre da poesia mística – Osvaldo Condé;
• Os perigos da ambição – N. Sri Ram;
• A filosofia perene – W. T. S. Tchackara;
• Os cavaleiros da Távola Redonda – Mary Anderson;
• Novas maneiras de pensar e de viver – Dara Tatray;
• A Era de Aquário – Ricardo Lindemann;
• Dicas de Livros.

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www.revistasophia.com.br ANO 10 • Nº 37 R$ 12,00



Sophia 37 ROB ZABROWSKI/ SHUTTERSTOCK Tudo está ROGER KIRBY interligado Ao leitor ANA RODRIGUES E DANIEL CHIACOS Michael Brown PIOTR MARCINSKI /SHUTTERSTOCK Nós somos NASA/HUBBLE 5 o mundo 4 RAVEN3K Misticismo como EASTIMAGES/SHUTTERSTOCK experiência prática O poder da ST. NICK/SHUTTERSTOCK GALYNA ANDRUSHKO/SHUTTERSTOCK generosidade Pedro Oliveira Dulce Magalhães VIBRANT IMAGE STUDIO/SHUTTERSTOCK 12 10 Rumi, o mestre da poesia mística O universo é inteligente Osvaldo Condé Radha Burnier 20 18 A filosofia perene W. T. S. Thackara Os perigos da ambição 26 N. Sri Ram Novas maneiras 24 de pensar e de viver Os cavaleiros da Dara Tatray Távola Redonda 38 Mary Anderson Dicas de livros 32 46 A Era de Aquário Ricardo Lindemann 42

Nós somos o mundo Jiddu Krishnamurti costumava afir- O sábio consegue perceber que o uni- paixão e o sentimento profundo de per- mar com frequência em suas pales- tras: “Nós somos o mundo”. A primei- verso tem um propósito, uma inten- tencimento a um todo maior. ra vez que ouvi essa frase ela me pa- receu de difícil compreensão. Afinal, ção, e tem fé na vida. Em sintonia com esta visão unitá- eu havia sido educado dentro de um sistema totalmente impregnado pela Radha Burnier, em seu artigo Um ria da vida, Dara Tratay nos propõe, visão de mundo cartesiana, pelo dua- lismo e pelo individualismo. Lendo universo inteligente, reforça essa vi- em Uma nova forma de pensar e de seus livros e assistindo suas palestras eu comecei a entender que o intelec- são, mostrando que a inteligência não viver, uma reflexão ampla sobre nos- to dualista jamais seria capaz de des- crever a realidade na sua plenitude. é um atributo de mente humana, mas sos conceitos e atitudes. Segundo Dara, Michael que cada partícula no universo está a crise profunda que assola a huma- Brown, em seu artigoTu- imbuída de inteligência. Na verdade, nidade exige de nós uma nova cons- do está inter- ligado, nos quando o homem utiliza sua mente ciência, uma consciência de reverên- lembra do ensinamento para fins egoístas, ele não está sendo cia pela vida, o reconhecimento de que que nos foi legado por realmente inteligente, mesmo que use toda a vida é sagrada. Ela lembra que Helena Bla- vatsky, de da astúcia e de outras faculdades in- o que somos é o resultado do que que consciên- cia é movi- telectuais. Ela comenta que a atual pensamos. Se observarmos a vida à mento e não existe maté- crise ecológica, o aquecimento glo- nossa volta com o coração, é fácil ria morta. A consciência, assim como a energia, não pode ser criada ou des- bal, a perda da biodiversidade, de- perceber que tudo está internamente truída. Os corpos que são habitados pela consciência estão em contínua monstram a falta de inteligência do relacionado a tudo, e que não faz sen- transformação, na medida em que a consciência se expressa através deles. ser humano que, em razão de seu tido as pessoas ignorarem as necessi- Assim como nossa consciência é una com a consciência universal, a egoísmo e ambição, está colocando dades dos outros. nossa mente, instrumento da consci- ência, é também una com a mente em risco a sobrevivência de sua pró- Ao mudarmos a nossa maneira de divina. Quando o homem se identifi- ca com seu corpo, com seus veículos, pria civilização. Ser incapaz de perce- ver e sentir o mundo, ao desenvolver- esquecendo sua natureza divina, ele sofre. O sentimento de separativida- ber a interligação de todas as coisas é mos a sabedoria do coração, passa- de e de solidão é falso, é fruto da in- CAPA: NASA/HUBBLE capacidade do homem de perceber a ignorância. Somente através da supe- mos a ser instrumentos do divino na sua real natureza. Na realidade, tudo está interligado e é interdependente. ração da ilusão da separatividade po- Terra. Podemos então afirmar com deremos nos integrar à vasta mente toda a convicção que “nós somos o da natureza. mundo”. Boa leitura. Um dos caminhos para a supera- ção da visão dualista é o caminho do Eduardo Weaver misticismo. Pedro Oliveira nos fala do Diretor-Presidente da Misticismo como experiência prática, o caminho que leva à libertação do co- Editora Teosófica nhecimento adquiri- do e à dissolução do SOPHIA - Ano 9, nº 37 - Jan/Mar de 2012 - Publicação da Ed. Teosófica eu separado. Citando T.S. Eliot, ele nos leva SGAS Q. 603, s/nº - Brasília-DF Edição: a refletir: “Onde está CEP 70.200-630 Usha Velasco a sabedoria que per- Fone: (61) 3322-7843 Revisão: demos no conheci- Fax: (61) 3226-3703 Zeneida Cereja da Silva mento?”. O místico E-mail: editorateosofica@ Tradução: percebe que a vida é editorateosofica.com.br Edvaldo Batista de Souza uma manifestação do Site: www.editorateosofica.com.br divino porque sua Tiragem: mente e seu coração Editor-chefe: 10.000 exemplares estão fundidos. Des- Eduardo Weaver Impressão: Coordenadora editorial: Gráfika Papel e Cores Zeneida Cereja da Silva Distribuição nacional: Conselho Editorial: F. C. Comercial Marcos Luis Borges de Resende, sa consciência de Eduardo Weaver, Pedro Oliveira e * As imagens utilizadas são de exclusiva unidade surge a com- Zeneida Cereja da Silva. responsabilidade do editor-chefe. 4 SOPHIA • JAN-MAR/2012

Tudo está interligado ‘‘Dois monges discutiram sobre uma bandeira esvoaçando ao vento. “A bandeira está se movendo”, disse um. “É o vento que está se movendo”, respondeu o outro. Eles levaram a questão ao mestre. “Os dois estão errados; somente a consciência ‘‘está se movendo”, disse o instrutor ALFONSO DE TOMAS - SHUTTERSTOCK Michael Brown* Qual é a conexão entre o seu sapato e um mosquito na nascente do Amazonas? Durante séculos, em nossa cultura marcada pelo cartesianismo, essa pergunta pareceria absurda, mas atualmente já não parece. Certa vez vi numa revista o retrato de um indígena Papua, da Nova Guiné, com tanga, penas no cabelo e ossos em torno do pesco- ço. Seus olhos brilhavam, e as seguintes palavras eram atribuídas a ele: “Somos uma pessoa.” Durante muito tempo essa ideia tam- bém foi considerada absurda. Hoje, não pa- rece mais. Estamos entrando numa era em que esse tipo de percepção se tornará tão natural quanto o ato de respirar. SSOOPPHHIIAA • JJAANN--MMAARR//22001122 5

Todas as coisas – visíveis e nhos, um campo infinito de tra- riência também é consciência, e invisíveis – estão interligadas. balhos criativos no qual a arte é qualquer que seja o objeto que Todas as coisas são diferentes fa- o artista, e o artista é a arte. você nomeie – uma montanha, ces da consciência. O campo, o um camundongo, um peixe ou grande espírito, a fonte, o tao, o A consciência, buscando se uma ave, uma folha de relva ou uno são nomes que apontam para autoexperimentar, imagina-nos e uma lufada de vento –, tudo é uma mesma realidade. O univer- nos traz à existência como indi- consciência. so é consciência: um oceano em víduos para que possamos inte- movimento, um rio de redemoi- ragir como se fôssemos separa- Segundo uma antiga história dos. O que criamos nessa expe- do Oriente, dois monges discu- 6 SOPHIA • JAN-MAR/2012

tiram sobre uma bandeira esvo- Novas visões de mundo açando ao vento. “A bandeira está se movendo”, disse um. “É JOHN NYBERG Tente imaginar uma corda esti- Vamos ao que realmente inte- o vento que está se movendo”, cada entre dois objetos fixos. Esti- ressa. Aqui estão mais fatos acei- respondeu o outro. Eles levaram que-a o suficiente para que ela vi- tos pela ciência tradicional. O re- a questão ao mestre. “Os dois bre ao ser tocada. Cada vez que a vestimento do seu estômago é estão errados; somente a cons- corda é tocada, um pulso é gera- substituído a cada quatro dias, sua ciência está se movendo”, disse do e se desloca ao longo da cor- pele a cada mês, seu esqueleto a o instrutor. da; ele atinge a extremidade opos- cada três meses. Pelo menos 98% ta e morre no caminho de volta. dos átomos do seu corpo são subs- “O universo é Se eu perguntar o que foi que se tituídos a cada ano. Você tem um consciência: um moveu ao longo da corda, é pro- corpo físico completamente novo oceano em mo- vável que você responda que foi pelo menos uma vez a cada dois vimento, um rio um pulso, ou uma onda. Ótimo. anos – inclusive suas células cere- de redemoinhos, Agora ponha um pregador em al- brais. À medida que a energia via- um campo infini- gum lugar da corda e toque-a no- ja em você, ela faz uso de porções to de trabalhos vamente. Que movimento faz o de terra – alimento e água – para criativos no qual pregador? Lateral, é claro. Talvez substituir a matéria que você ex- a arte é o artista, e ele apenas sofra um estremecimen- creta. Mas de onde exatamente vem o artista é a arte.” to. Agora, solte o pregador – ele a energia original? foi apenas um indicador – e per- SOPHIA • JAN-MAR/2012 gunte-se como cada partícula na Agora você está começando a corda move-se à medida que o formar o quadro. Nossos corpos pulso flui através dela. Sim, late- não são nossa essência. Somos a ralmente. Será a onda a mesma energia da consciência que faz coisa que a corda? ”Claro que não”, uso de nossos corpos como fan- você deverá responder. “A onda é toches, que são por ela manipu- energia. Ela viaja na corda e move lados. Continuamente partes ve- a corda lateralmente.” lhas do fantoche são descartadas e substituídas por partes novas, Mas de onde veio a energia? Eu até que a manipulação cesse e a a coloquei lá. Exatamente assim. energia siga adiante. A energia chega de algum outro lugar, atua sobre a corda e cria Tolice, diz a ciência tradicional. uma forma de onda. À medida que Não existe fantasma na máquina. a onda viaja, ela atua nas partes O universo é feito de coisas mor- da corda que estão na frente, subs- tas chamadas átomos e, portanto, tituindo aquelas que vão ficando nós também o somos. É como um para trás. Nada dissemos que pos- complexo brinquedo mecânico sa ofender um cientista tradicional. onde nossos caminhos são ditados pelas diminutas interações atômi- Tudo bem até aqui? Agora, em cas que compõem nossos corpos vez de um pregador numa corda, e nosso ambiente. Em outras pa- imagine um bote dentro da água. lavras, a ciência tradicional diz que Quando uma onda longa, lenta, o futuro é fixado pelo passado. O passa por ele, o bote sobe e des- David de Miguel Ângelo, a Quinta ce. A mesma coisa fazem as partí- Sinfonia de Beethoven, o Romeu culas de água. A energia original e Julieta de Shakespeare, todos su- chega como um legado do vento postamente foram criados por pro- e cria uma forma de onda. A onda cessos mecânicos cegos. atua na porção de água que está na frente e substitui aquelas que Mas essa visão rígida vem per- vão pingando atrás. Novamente, dendo força ultimamente. A ciên- não há nada que possa incomo- cia moderna, procurando os ele- dar um cientista. mentos essenciais fundamentais do universo, fez uma descoberta 7

surpreendente. O comportamento cinzel do escultor age sobre a ro- Quando estiverem plenamente e mesmo a existência de partícu- cha que contém todas as formas despertos, haverá alegria e alívio las atômicas estão de algum modo possíveis. Esculturas movem-se de em todo o mundo. presos à mente e à intenção do um lugar para outro, vêm à exis- cientista que faz o experimento. tência e dela se ausentam de acor- Eis uma pergunta: se nós, hu- Sim, você leu corretamente. Alguns do com os ritmos do pensamento. manos, adquirimos um novo cor- cientistas estão começando a que- po físico a cada dois anos, como brar fileiras e a afirmar que essa é Os cientistas dizem que a ener- é possível explicar a existência, a primeira visão científica do cam- gia não pode ser criada nem des- por exemplo, de um tumor can- po da consciência universal. truída, só pode mudar de estado. cerígeno que dura cinco anos? É No entanto, quando eles desco- que a consciência que formou o Não apenas existe um fantas- brirem a consciência universal, tumor continua substituindo ma na máquina: o fantasma é a reescreverão essa lei: a consciên- aquelas células, como uma famí- máquina. O componente básico cia não pode ser nem criada nem lia mafiosa que dura mais do que fundamental do universo não é um destruída, ela só pode mudar sua o período de vida de qualquer boson (partícula subatômica); é o forma de expressão. um de seus membros. A ciência pensamento. O pensamento – es- velha vê o DNA como a causa ori- pecialmente o pensamento focado O pensamento espiritual e a ci- ginal, mas o DNA é um código de – é o instrumento da consciência. ência moderna estão lentamente instrução, e não o instrutor. O Ele age no grande campo como o acordando e constatando que se instrutor é a consciência. O que encontram na mesma cama. “O cérebro huma- no possui mais conexões cruza- das entre os neu- rônios do que o total de grãos de areia existen- tes em todas as praias da Terra.” ROGER KIRBY 8 8 SOPHIA • JAN-MAR/2012

vem primeiro, a felicidade ou o Pense numa palavra – por lugar tem presença aqui; se não ti- sorriso? A tristeza ou as lágrimas? exemplo, machado – e pergunte- ver presença aqui, não está em lu- se o que ela significa. Sua respos- gar algum. Todas as coisas são tão Não posso afirmar que estou ta poderia ser “algo que se usa intimamente unas que aquilo que falando logicamente. A lógica é para cortar madeira”. Mas o que você faz aos outros é precisamente desapaixonada, enquanto o uni- significa usar? O que significa cor- o que é feito a você. Mesmo que verso é uma paixão gigantesca, e tar? O que é madeira? Cada pala- você pudesse viajar numa nave es- nada existe que não seja uma ex- vra é definida por todas as pala- pacial para além da galáxia mais pressão dessa paixão. A lógica é vras, cada pensamento por todos distante, não conseguiria estar des- uma linha fria e sem ramos, en- os pensamentos, cada coisa por ligado da consciência. quanto o universo é uma infini- todas as coisas. O poeta William dade de conexões cruzadas. O cé- Blake descreveu isso: “Ver o mun- Já estamos em casa. Precisa- rebro humano possui mais cone- do num grão de areia/E o céu mos apenas remover as vendas de xões cruzadas entre os neurôni- numa flor selvagem/Segurar o in- nossos olhos para vê-la. os do que o total de grãos de finito na palma da mão/E a eter- areia existentes em todas as prai- nidade em uma hora”. * Michael Brown é escritor, jornalista e PhD as da Terra. Einstein afirmou que em Física. Já trabalhou para a BBC de Lon- é destituída de realidade qual- Todas as coisas estão intima- dres e atualmente reside na Nova Zelândia. quer proposição a que se chegue mente ligadas e pertencem umas às Contato: [email protected]. Site: por meios puramente lógicos. outras. O que está em algum outro www.findingthefield.com SOPHIA • JAN-MAR/2012 9

Se seguimos no exercício da generosidade, ganhamos aos poucos ‘‘ gOenpeodreor sdiadade ‘‘uma visão nova, até que todo o macrouniverso também se modifica Dulce Magalhães* mesmo que amanhã ela também não O que é preciso e o que é neces- tenha, por conta dessa partilha. sário? Essa distinção é a chave da ge- Quando penso nas qualidades es- nerosidade. Entregar o que é preciso pirituais que podemos demonstrar e Contudo, amanhã é outro dia, hoje sempre, mas perceber o que é neces- entregar à vida, a generosidade sem- é preciso atender a necessidade premen- sário prioritariamente. Quando temos pre se apresenta no topo da lista. Pen- te daquela que precisa para alimentar a um olhar aberto, atento e perceptivo so que essa qualidade engloba várias si e a seus filhos. Esse comportamento para aquilo que realmente está acima outras, como o desapego, a compai- traduz uma confiança profunda no flu- de qualquer outra necessidade, inclu- xão, o amor fraterno, a justiça, a tole- xo da vida e um senso de prioridade sive as nossas, então estamos exerci- rância, a amizade e muitas mais. sem nenhum outro critério que não seja tando a generosidade. o que é realmente necessário agora. Essa Exercitar nossa generosidade é ser é a verdadeira generosidade, que não é E para quê? Qual o propósito de capaz de ampliar nossos sensores para fruto dos excessos, mas deriva de um ser generoso? Além do benefício ime- verdadeiramente enxergar o outro e olhar atento, um coração aberto e um diato do atendimento das necessida- suas reais necessidades, pois ser ge- espírito confiante. des, da prática do bem e do progres- neroso não é dar o que nos sobra, so justo e próspero, há um elemento mas oferecer o que o outro precisa. E Quando penso no caminho da ilu- que pode fazer toda a diferença quan- isso demanda uma capacidade extra- minação, da ausência de todo medo, do exercitamos nossa generosidade: ordinária de sair das fronteiras inter- do amor incondicional, da aceitação de adentrar o campo sagrado da confi- nas, atravessar o deserto de nossas todos os processos e da entrega a to- ança pura e viver, mesmo que por ins- necessidades e entrar no território do dos os desígnios, lembro-me sempre do tantes, fora da tirania do medo. inteiramente outro. exemplo generoso dessas mulheres. Apesar da carência de coisas muito bá- Esse desabrochar interior que a É sempre bom lembrar que, onde sicas, elas mostraram um senso de tran- ausência de medo oferece é o salto há fronteira, há medo. Sendo assim, quilidade, uma confiança sem estresse quântico da realização plena, as asas ao cruzarmos esses limites que apa- e um desfrutar da felicidade que pou- da borboleta no coração de nossa rentemente nos protegem, realmente cas vezes pude constatar em indivídu- existência. É sutil, imponderável e pro- rompemos aquilo que nos isola de os com grande segurança financeira. fundamente transformador. Não so- todo o conjunto da humanidade. O mos mais os mesmos, não vivemos exercício da generosidade, portanto, Pode faltar o básico, mas tudo é mais na mesma realidade e não te- tem o poder de nos permitir sair da prosperidade quando o essencial é memos mais o que temíamos. É a mu- ilusão da separatividade e experimen- ofertado. É preciso que a essência tação da visão em uma microdimen- tar a unidade. transpareça na existência, como ensi- são. Se seguimos no exercício da ge- na Roberto Crema, reitor da Unipaz. nerosidade, ganhamos aos poucos Pude apreciar um exemplo contun- Para aqueles que têm grande volume uma visão nova, até que todo o ma- dente de generosidade quando traba- de recursos materiais, nem sempre a crouniverso também se modifica. En- lhei com mulheres de baixíssima ren- generosidade está em oferecer o que tão, não só nós poderemos ver dife- da. Quando elas têm, compartilham se tem, mas especialmente o que se é. rente, mas todos poderão viver num com suas vizinhas que necessitam Um filho pode ficar feliz com um novo lugar diferente e melhor – tudo gra- muito, mesmo que o que elas tenham brinquedo, um aparelho tecnológico, ças a generosidade. não seja um excesso, seja apenas o um carro ou uma viagem, mas é na essencial; entretanto, há absoluta cla- oferta generosa do tempo, da aten- * Dulce Magalhães é PhD em filosofia pela reza daquilo que é prioridade a cada ção, do afeto e da partilha de visões Columbia University, tecelã da Rede Unipaz instante. Então, se uma tem um quilo de mundo que ele encontrará a ver- e foi eleita uma das 100 lideranças da paz no de arroz, vai compartilhar hoje com a dadeira condição de trilhar o caminho mundo pela Geneve for Peace Foundation. vizinha que não tem arroz nenhum, de sua realização. SOPHIA • JAN-MAR/2012 10

MAKIO KUSAHARA SOPHIA • JAN-MAR/2012 “O desabrochar interior que a au- sência de medo oferece é o salto quântico da reali- zação plena, as asas da borboleta no coração de nos- sa existência.” 11

Misticismo como práticaexperiência ‘‘Nosso próprio condicionamento é muito profundo, possui muitas camadas, e a fonte da consciência está além do alcance do ‘eu’ pessoal. No caminho místico deve-se estar preparado ‘‘para se deparar com o inesperado 12 SOPHIA • JAN-MAR/2012

PETUNYIA - SHUTTERSTOCK Pedro Oliveira* SOPHIA • JAN-MAR/2012 Apesar do crescente interesse pelo misticismo em todo o mundo, a genuí- na percepção mística continua a iludir muitos dos interessados no tema. Exis- tem aqueles que parecem sempre pron- tos a acreditar em qualquer coisa que o último místico “corporativo” tenha a lhes dizer. A palavra “corporativo” é usa- da aqui propositadamente, já que o tema misticismo tornou-se agora uma indústria multimilionária. Outros ten- tam se iniciar prematuramente na vida interna só para se convencerem de que verdadeiramente tiveram uma experi- ência mística autêntica, e que tal even- to capacitou-os a ensinar a outros. Em muitos casos, o que passa por ensina- mento é basicamente um genuíno exer- cício de autopromoção e hedonismo. Um olhar na etimologia da palavra pode ajudar a compreender a profundi- dade e o rigor intrínsecos ao verdadei- ro misticismo. A palavra “místico” é de- rivada do verbo grego muein, “perto dos olhos ou dos lábios”. Os místicos genu- ínos de muitas eras e culturas atestam a veracidade dessa definição. No âmago do verdadeiro misticismo está uma ex- periência intraduzível, tão íntima e po- derosa em seu significado profundo que silencia completamente a tagarelice in- terna e externa, que constitui a aprecia- da autoimportância da mente pessoal. Em testemunhos capazes de alterar vidas, e que nos foram passados des- de tempos imemoriais, os místicos afir- mam, numa melodia de significado que é quase como uma oferenda cantada, que suas experiências vieram de fora dos confins da mente diária, de uma fonte na qual a totalidade e o significa- do são como duas chamas entretecidas e perenes. É algo que veio até eles, e não uma coisa que foi buscada por uma mente ignorante. Os ensinamentos dos grandes mís- ticos mostram também que seu misti- cismo foi sempre uma experiência prá- tica, não uma criação conceitual areja- da pela imaginação, pela ilusão ou pelo desejo. O verdadeiro misticismo é ex- 13

periência, uma percepção imedi- sam ajudar a mostrar como o mis- iluminada, percebia que estava ata, completa e irreversível de ticismo é direto e prático. perdendo contato comigo mesmo. uma vida que não tem início nem A cada passo na descida uma fim, que tudo abençoa, sem reser- “Peguei a lâmpada, e deixan- nova pessoa manifestava-se den- vas, e que é a única realidade do a zona das ocupações e relaci- tro de mim, de cujo nome eu não oculta por trás de cada aparência. onamentos diários onde tudo pa- mais tinha certeza, e que não mais Quando a mente, o coração e a recia claro penetrei no meu eu me obedecia. E quando tive que alma estão verdadeiramente aber- mais recôndito, no abismo pro- parar com a exploração, porque tos, então podem ser inundados fundo de onde sentia emanar fra- o caminho desaparecia sob meus pelo outro, o espírito incriado e camente aquele meu poder de passos, descobri um abismo in- imortal no qual pode ocorrer um ação. Mas à medida que mais me sondável aos meus pés.” The Di- novo nascimento. As passagens distanciava das minhas certezas vine Milieu, O Ambiente Divino, selecionadas a seguir talvez pos- convencionais por meio das quais de Teilhard de Chardin. a vida social é superficialmente PIOTR MARCINSKI - SHUTTERSTOCK “Num nível muito profundo, não exis- te distinção entre saber, devoção e fé. A compreensão de que cada aspecto da vida é uma mani- festação do divino causa uma verda- deira fusão entre mente e coração.” 14 SOPHIA • JAN-MAR/2012

Reverência pela vida A imagem que temos de nós mes- lha de grama era meu próprio ser, e a beneficiado desse suposto golfo in- mos é essencialmente superficial. In- árvore ao lado do homem era eu mes- clui um agregado de memórias ao qual mo. Eu quase que podia sentir e pen- transponível: pregadores, gurus e or- estamos apegados, e que, pensamos, sar como aquele homem, podia sentir nos define. Envolve também a quan- o vento passando através da árvore, e ganizações “espirituais”, assim como tidade de conhecimentos que adqui- podia sentir a pequena formiga na fo- rimos nessa vida. Quanto mais se lê, lha de grama. Os pássaros, a poeira e nosso próprio senso de eu. Enquanto maior a tendência de se acreditar in- o próprio barulho eram partes de mim. questionavelmente que tal conheci- Naquele momento um carro passou a o divino permanecer “lá distante”, mento adquirido é autossuficiente. No certa distância; eu era o motorista, o entanto, em momentos de grande per- motor e os pneus; à medida que o numa dimensão além de nossa expe- da ou de trevas internas, o conheci- carro afastava-se de mim, eu estava mento acumulado mostra-se inútil. me afastando de mim mesmo. Eu es- riência, o status quo pode ser manti- Sem autoconhecimento, toda outra tava em tudo, ou melhor, tudo estava forma de conhecimento é um impedi- em mim, animado e inanimado, a do. Nenhuma mudança verdadeira mento ao crescimento espiritual. montanha, o verme e todas as coisas que respiram.” Krishnamurti: Years pode ocorrer quando a religião ou a T. S. Eliot escreveu: “Onde está a of Wakening – Krishnamurti: Anos de vida que perdemos no viver? Onde Despertar, de Mary Lutyens. espiritualidade consiste na perpetuação está a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde está o conheci- Os místicos afirmaram que uma de fórmulas e crenças vazias. Um as- mento que perdemos na informação?” das primeiras impressões de um esta- O trecho de Chardin, citado anterior- do místico de consciência é a dissolu- pecto importante das afirmações de Sri mente, mostra também que nosso pró- ção do senso de ego separado, a pri- prio condicionamento é muito profun- são que exclui a consciência da per- Krishna, reproduzi- do, possui muitas camadas, e que a manente verdade da totalidade da fonte da consciência está além do al- existência indivisa. Liberta da ilusão das a seguir, é a cance do “eu” pessoal. No caminho da separatividade, a consciência se ex- místico deve-se estar preparado para pande para abarcar toda a manifesta- compreensão con- “O divino, a se deparar com o inesperado. ção de vida e desdobra-se em formas vincente de que o inteligência in- de compaixão, apreciação e compre- divino, a inteligên- criada, penetra Muito tem sido escrito a respeito ensão que não conhecem limites. cia incriada, penetra todos os aspec- da vida de Krishnamurti e das experi- todos os aspectos tos da vida com ências por que passou. Ele foi um caso A experiência de Krishnamurti em da vida com sua sua energia ir- genuíno de alguém que não buscou Ojai mostra que aquilo que conside- energia irresistível. resistível.” absolutamente qualquer vivência ramos como o eu de alguém é na ver- transcendental, mas que passou por dade o eu de todos. A narrativa dessa “Eu sou a obla- experiências transformadoras que o experiência mostra claramente que é ajudaram a compreender a vida num uma ilusão acreditar que apenas em ção; Eu sou o sa- nível profundo. Documentos a respeito lugares retirados ou em condições de sua biografia mostram que o que muito especiais é possível ter uma vi- crifício, Eu sou a oferenda ancestral; foi chamada de mente “desocupada” vência assim. Quando o coração está era na verdade um estado extraordi- liberto de ânsia e de toda expectati- Eu sou a erva (doadora do fogo); o nário de abertura e receptividade para va, o momento presente é o portal aquela diversidade que é a própria através do qual a experiêcia ocorre. mantra Eu sou; também a manteiga; fonte do sagrado. A seguir está seu próprio registro de uma dessas expe- Durante séculos a religião exerceu Eu sou o fogo; Eu sou a oferenda íg- riências transformadoras, que ocorreu uma terrível pressão sobre a humani- em Ojai, na Califórnia, em 1922. dade. Não se pode negar que perver- nea; Eu sou o Pai desse universo, a sões sérias se enraizaram em muitas “Havia um homem consertando a tradições religiosas, a mais séria de Mãe, o Sustentador, o Grande Senhor, rua; aquele homem era eu mesmo; a todas sendo talvez a noção de que o picareta que ele segurava era eu mes- divino habita uma dimensão totalmen- o Sagrado a ser conhecido, a Palavra mo; a própria pedra que estava que- te inacessível, separada de nossa ex- brando era parte de mim; a macia fo- periência e viver diários. Muitos se têm de Poder, e também o Rig, o Sama e o Yajur [Vedas], a senda, o marido, o se- nhor, a testemunha, a morada, o abri- go, o amante, a origem, a dissolução, a fundação, a casa do tesouro, a se- mente imperecível.” (Bhagavad-Gita, IX. 16-19) Esse célebre trecho de um dos tex- tos espirituais mais apreciados de to- dos os tempos indica que, num nível muito profundo, não existe distinção entre saber, devoção e fé. A compre- ensão de que cada aspecto da vida é uma manifestação do divino causa uma verdadeira fusão entre mente e cora- ção, resultando numa percepção que se eleva além do reino das diferenças até o terreno da realidade e da verda- de, a própria pedra angular da existên- cia. Uma das muitas expressões de tal experiência é uma reverência profun- da e permanente por toda a vida. SOPHIA • JAN-MAR/2012 15

A natureza prática de uma “percep- vicissitudes por que passou são mil ve- dade básica” deve ser analisada com ção espiritual desvelada” foi afirmada zes recompensadas. Para adquirir co- cuidado. Primeiramente, tal experiên- por um dos Irmãos Mais Velhos que nhecimento ulterior, ele não mais pre- cia é “obtida”; isso significa que ela inspirou a formação da Sociedade Te- cisa passar pelo processo lento e mi- não é tomada, mas oferecida a uma osofia. Sua declaração, contida numa nucioso de investigação e da compa- consciência extraordinariamente re- carta a A. P. Sinnett, mostra como o ração de vários objetos, mas obtém uma ceptiva. A visão que é mencionada é desenvolvimento da percepção das re- visão instantânea, interna, de cada ver- “instantânea” e “interna”, isto é, não alidades mais profundas é o resultado dade básica.” Cartas dos Mahatmas a é mediada pelos processos cerebrais natural do verdadeiro progresso espiri- A. P. Sinnett, nº 17, Ed. Teosófica. nem por conceitualizações, mas é di- tual: “Acredite-me, chega um momen- reta, perene, surgindo das próprias pro- to na vida de um Adepto em que as A expressão “ele obtém uma vi- fundezas da consciência. Tal visão são instantânea, interna, de cada ver- 16 SOPHIA • JAN-MAR/2012

penetra “cada verdade básica”, aque- Doação ilimitada les princípios fundamentais que jazem no âmago da manifestação. O Adep- THOMAS VAN DEN BERG Talvez o aspecto mais importante nu, e Vos vesti? Ou quando Vos vi to, para saber, não precisa acumular do misticismo prático seja a compai- doente, ou na prisão, e fui até Vós? dados nem informações, como faze- xão. A noção que temos de “minha E o Rei responde: Verdadeiramente mos. Sua percepção direta penetra a vida” pode estar baseada numa supo- vos digo, o que fizestes ao menor própria essência de qualquer tema que sição terrivelmente errada. Quando se destes meus irmãos, a mim o fizes- ele precise conhecer. Como acertada- olha cuidadosamente para a vida exis- tes.” Marcos, 25:35-40. mente diz o Chandogya Upanishade, te muitíssimo pouco que se pode cha- ele “conhece aquilo que, uma vez co- mar de “meu”. Vida é interação e rela- Qual é a natureza de uma consci- nhecido, tudo mais é conhecido”. cionamento em todos os níveis. O que ência que é una com aqueles que so- acontece quando você vê alguém com frem, que estão passando por neces- SOPHIA • JAN-MAR/2012 a tristeza estampada no rosto? Aquela sidades, que estão doentes, ou na pri- tristeza não se transforma, pelo me- são, ou que nada têm? A mesma per- nos momentaneamente, numa parte gunta poderia ser feita a respeito da- de sua vida? Você pode ignorar e di- queles que estão experimentando zer que não é problema seu. Mas a opressão, tortura, solidão, o que pode verdade da experiência é que durante incluir milhares de animais trancafia- um momento fugaz a vida de outro dos em laboratórios ao redor do mun- ser humano penetrou a sua. Provavel- do. Existe alguma diferença entre uma mente responderemos a esses momen- consciência assim e a compaixão? tos com insensibilidade ou indiferen- Pode ser fácil falar de compaixão, mas ça, e geralmente tentamos nos expli- experimentá-la verdadeiramente é car na esperança de afastar essa ver- uma realidade completamente diferen- dade. No entanto, nem todos respon- te. O ensinamento dado por Jesus a dem dessa maneira seus discípulos, mencionado acima, mostra enfaticamente a identidade “Pois eu estava faminto, e me des- fundamental entre unidade e compai- tes alimento; estava sedento, e me xão. São uma só coisa. destes o que beber; era um estra- nho, e me acolhestes; estava nu e Os ensinamentos dos místicos são me vestistes; estava doente, e me vi- essencialmente práticos e de grande sitastes: estava na prisão, e viestes a relevância para a transformação da mim. Então o justo responde-lhe, consciência humana. Talvez seu ensi- dizendo: Senhor, quando Vos vi fa- namento prático mais direto seja que minto, e Vos alimentei? Ou sedento, aquilo que consideramos ser nossa in- e Vos dei de beber? Quando Vos vi dividualidade na verdade é apenas como um estranho, e Vos acolhi? Ou uma aparência, “um convidado pas- sageiro”, uma miragem no deserto. “Os ensinamentos Eles afirmam que viver dentro dessa dos místicos são es- prisão não é vida verdadeira, e que, sencialmente práti- quando o coração e a mente estão cos. Talvez seu ensi- purgados de todo egoísmo e auto- namento mais direto importância, o terreno fica pronto seja que aquilo que para o divino ali habitar. Eles dizem consideramos nossa que sem nada buscar tudo obtiveram, individualidade é e que o divino deu de si sem reservas apenas uma aparên- na profundidade de suas experiênci- cia, ‘um convidado as místicas. Alguns deles disseram que passageiro’, uma mi- o divino é apenas doação ilimitada, e ragem no deserto.” que a vida, e cada uma de suas for- mas, é essa doação. * Pedro Oliveira é filósofo, escritor, tradutor e membro da Sociedade Teosófica desde 1978. Contato: [email protected] 17

O universo é inteligente ‘‘A consciência humana pode se fundir com a consciência total e sua mente pode se tornar una com a vasta mente da natureza. Trabalhar nessa ‘‘direção é inerente à verdadeira inteligência NASA/HUBBLE Radha Burnier* modo algum tocam a percepção holís- movem apetites egoístas e basicamente tica da qual surgem ações harmonio- irracionais. Eles negam qualquer bene- A inteligência é imparcial: essa é sas e corretas. fício que o poder de raciocínio tenha uma das mais valiosas afirmações dos conferido à humanidade. Haverá algu- aforismo de Luz no Caminho (Ed. Teo- A humanidade alcançou um progres- ma verdadeira inteligência em desenvol- sófica). O livro indica que a percepção so notável na compreensão dos proces- ver inovações, se ao mesmo tempo cria- fragmentada não evoca respostas inte- sos da natureza. O fenomenal desen- mos uma sociedade cheia de atividades ligentes. É necessária uma percepção volvimento da ciência é resultado da ob- autodestrutivas e ambientalmente inde- ampla para compreender a fonte dos servação e do raciocínio. Contudo, pa- sejáveis? Quando se faz uso da inteli- sérios problemas pessoais e sociais no radoxalmente, o mundo adquiriu pro- gência apenas para se obter conheci- mundo de hoje. blemas profundos e a humanidade co- mento do universo físico, e não para pre- locou-se numa situação caótica e peri- nunciar paz e boa vontade sobre a ter- Não é tarefa fácil definir o que é gosa, por causa da irracionalidade. O ra, talvez isso não seja inteligência de inteligência. O dicionário Oxford a de- que pode ser mais irracional do que ten- uma ordem mais elevada. fine como intelecto, compreensão, agi- tar alcançar a paz por meio da força, da lidade na compreensão, sabedoria. The produção de armamentos e da corrida Podemos aprender com o trabalho Universal English Dictionary traz, en- pelo poder com novas armas de des- dos pesquisadores que o universo é in- tre outros significados, o “poder de com- truição em massa? teligente; a inteligência é parte do te- preender, perceber, saber, raciocinar e cido da vida. As evidências nos cercam discernir”. Essas definições podem ser Os conceitos por trás do crescimen- por todos os lados, nos vegetais, nos valiosas em certos contextos, mas de to econômico, lucros cada vez mais ele- animais ou em qualquer aspecto orgâ- vados e a filosofia do consumismo pro- 1818 SOPSHOIPAHI•A J•ANJ-AMNA-MR/A2R0/122012

nico do universo. Há, por exemplo, um da criação. Textos como o Viveka Chu- bro sejam receptivos. Os ressentimen- equilíbrio surpreendente entre as for- damani (Ed. Teosófica) e o Dhamma- tos e a excitação das paixões, assim ças de gravidade e de expansão; o me- pada afirmam que nascer como ser hu- como uma atitude e um modo de vida nor distúrbio nesse belo equilíbrio fa- mano é um privilégio. Mas não porque o egocêntricos, impedem que a inteligên- ria o universo desaparecer no nada. O homem pode se tornar a criatura mais cia desabroche. modo como os pássaros voam em per- poderosa na Terra, e sim porque pode feito uníssono, ou como as abelhas descobrir as limitações de sua mente e O egoísmo é o verdadeiro proble- constroem paredes hexagonais, estão transcendê-las. Sua consciência pode se ma, com todas as suas expressões. A entre os incontáveis testemunhos da fundir com a consciência total e sua men- humanidade precisa aprender a agir de vasta mente da natureza e da inteli- te pode se tornar una com a vasta men- forma altruísta. Este é o significado de gência do universo. te da natureza. Trabalhar nessa direção quase todos os ensinamentos religio- é inerente à verdadeira inteligência. sos: as pessoas evoluídas estão livres Infelizmente os seres humanos ima- do egoísmo e, portanto, são repositó- ginam que as faculdades e os poderes A inteligência deve assegurar que rios de sabedoria. A inteligência uni- que constituem a “inteligência” exis- nosso modo de vida não crie obstrução versal opera livremente através delas. tem apenas neles mesmos. Será essa à integração da mente individual com a A jornada rumo à inteligência e à sa- visão de si próprio como o centro de universal. O corpo deve se tornar sen- bedoria tem início quando o eu come- todo o mérito a razão pela qual o ho- sível e aberto às influências superiores. ça a se dissolver. mem tem um comportamento desas- O tipo errado de alimento, a indulgên- troso e irracional? cia excessiva e todas as formas de es- * Escritora e presidente internacional tresse impedem que o corpo e o cére- da Sociedade Teosófica. A maioria dos homens se vê no topo 19 19 SOPSOHPIAHI•A J•ANJA-MNA-MR/A2R0/122012

Rumi, o mestre da poesia mística Osvaldo Condé* O mausoléu de Rumi em Rumi nasceu em Balk, no atual Konya, na Afeganistão, em torno de 1207 da Turquia, tor- nossa era. Seu corpo, como crisálida nou-se um abandonada, repousa em Konya, santuário e Turquia, pois sua psique (borbole- destino de ta/alma) voou em direção à luz peregrinações (Nur), de onde na verdade nunca se separou. Ao falar no “nosso mestre” SOPHIA • JAN-MAR/2012 (mawlana) – nosso, pois ele não tinha “proprietário”, não “pertencia” somente aos discípulos e admirado- res persas, gregos, turcos, árabes, cristãos ou muçulmanos –, a admiração não deixa de nos mover, mesmo tanto séculos depois. O poeta e escritor mais vendido nos Estados Uni- dos em 1999, cujos 800 anos de nascimento foram co- memorados pela Unesco em 2007, não escrevia em in- glês e sim em persa. Paradoxalmente, é justo a língua de um dos maiores inimigos políticos do Estados Uni- dos hoje, o Irã. Mawlana Jalal-ad-Din Muhamad Rumi (1207/1273), conhecido por Rumi, ou seja, “o romano”, por ter vivi- do a maior parte de sua vida na região da Anatólia, que fez parte do império de Bizâncio, é considerado o mai- or poeta da língua persa. Foi o fundador e inspirador da Ordem Mevlevi (os derviches rodopiantes) e um pen- sador original que, tendo atingido o ápice do conheci- mento intelectual, redescobriu a sabedoria do coração através da baraka (benção) de seu mestre maior, Sha- ms de Tabriz. Farid Attar, grande poeta persa e mestre sufi (mestre do esoterismo islâmico), que conheceu Rumi quando criança, disse: “Esse menino acenderá o fogo da exaltação divina no mundo.” Rumi peregrinou por Bagdá, Meca, Síria e Ásia me- nor, conhecendo muitos mestres de então. Aos 40 anos assumiu a liderança deixada pelo pai Baha Walade e começou a pregar publicamente. Nessa ocasião tinha mais de dez mil seguidores e discípulos, séculos antes do Twitter... 20

“O poeta e es- critor mais ven- dido nos Esta- dos Unidos em 1999 não escre- via em inglês e sim em persa. Ele nasceu em Balk, no atual Afeganistão” MEHMETCAN - SHUTTERSTOCK SOPHIA • JAN-MAR/2012 21

A obra de Rumi é vasta. A mais ouvir com a natureza humana guiada “O véu da luz é mais perigoso conhecida é o Masnavi (Ditos Espiri- pelos nafs, ou seja, com os impulsos do que o véu da escuridão, produ- tuais), impresso em seis volumes, con- imperiosos dos desejos. zido na mente pelo vício. A com- siderado o Alcorão persa, que se ini- preensão só pode chegar pelo amor, cia com o famoso poema da flauta As letras dessas músicas especi- e não pelo treinamento com méto- que chora de saudades da planta de ais falam por metáforas do conheci- onde foi arrancada para ser transfor- mento sagrado, da gnose, marifat, “Com os outros, seja mada em instrumento musical. A ney que o iniciado atinge após uma lon- generoso e ajude, como (flauta turco-árabe) simbolicamente ga peregrinação ou viagem pelo “vale um rio que tudo trans- representa a alma humana que chora da busca” que é a vida. Uma dessas porta. Na compaixão e o afastamento de Deus. canções fala da beleza de uma mu- graça seja como o sol, lher que encantava e fascinava a to- que a todos ilumina” “Escuta a flauta que lamenta e dos que sobre ela pousavam os olhos: tenta narrar a história do desterro. “David quando a viu caiu de amores, ALEXEY STIOP - SHUTTERSTOCK Desde que fui arrancada da minha Salomão ficou deslumbrado, Jesus raiz, meus lamentos têm deixado apaixonado e até o profeta Maomé homens e mulheres em profundo não lhe pôde resistir...” E assim con- desespero. Aquele que abandonou tinua até, no final, revela o nome sua origem procura por uma oportu- dessa donzela tão ardentemente de- nidade para regressar.” sejada: Sabedoria! O Masnavi foi concluído em 43 O sistema desenvolvido por Rumi, anos; sua recitação em persa, dizem, baseado em sua experiência pessoal produz fascínio e exaltação no ouvin- e no convívio com muitos dos maio- te. Os sufis, e Rumi em especial, co- res mestres de sua época, abrange os nheciam a ciência da influência do seguintes aspectos: explicação deta- som nas pessoas e animais, de manei- lhada, treinamento mental, reflexão, ra tal que Rumi codificou as formas meditação, ação e inação, trabalho, de utilização do som, da música e do música, dança e movimento corpo- movimento (dança giratória) como ral. Ele desenvolveu um método para instrumento de desenvolvimento es- colocar o discípulo em contato com piritual. “Muitos dizem que a vida en- a “corrente mística” e ser por ela trou no corpo com o auxílio da músi- transformado. ca, mas a vida é música em si” (Hafiz, sufi persa, 1325/1390). No Sufismo, a transmissão do co- nhecimento espiritual é feita através da O sama ou sema, audição de mú- silsilah (corrente de transmissão do co- sica sagrada, é uma prática tradicio- nhecimento, passada de mestre a mes- nal sufi na qual são recitadas poesias tre), onde não só as técnicas meditati- simbólicas, bem como um ou vários vas importam, mas sobretudo a trans- dos 99 nomes de Deus (Allah). São missão da benção do mestre (baraka). feitas louvações ao profeta Mohamed Para Rumi, assim como para outros (a paz esteja com ele), ao seu genro mestres, o conhecimento intelectual não Alie a outros mestres da tradição. No é tão relevante quanto o amor. Paquistão, o nome formal para uma sessão de música sagrada é Mehfil- Os sete conselhos de Rumi e-Sama, popularmente conhecida como Qawwaly, cujo maior expoen- Com os outros, seja como alguém que está morto; te atual é Nusrat Father Ali Khan e generoso e ajude, como um não produza mais violência. sua família. rio que tudo transporta. Na modéstia e humildade Na compaixão e graça seja como a terra, que aceita A audição de música sagrada tem seja como o sol, que o peso do justo e do injusto. um enorme efeito transformador, tal a todos ilumina. Na tolerância, seja como como os bhajans (cânticos devocio- Ao ocultar e relevar as o mar que tudo recebe. nais indianos) ou os mantras da tradi- falhas dos outros, seja como Seja como você é e como você ção hindu budista. Para se ouvir um a noite que tudo encobre. olha (seja você mesmo, veja a dama deve-se ter uma “condição” ade- Na raiva e na fúria seja todos como você se vê). quada: é preciso ouvir com a alma ou com o coração. Lamentavelmente a SOPHIA • JAN-MAR/2012 maior parte das pessoas só consegue 22

dos organizacionais”, afirmou Rumi. origem sagrada, como a flauta afasta- adormecimento da consciência. Mas Um de seus poemas reafirma: “No da de sua planta original, é envene- sempre cabe ao discípulo dar o pri- caminho do intelecto a criança se nado por nafs (paixões), como o ho- meiro passo na direção do mestre. torna um velho; a via do amor faz mem que adormeceu com a boca aber- do velho uma criança.” ta e engoliu uma serpente. É preciso Após seu falecimento, em 17 de que surja um cavaleiro que, do alto dezembro de 1273, o cortejo de Rumi A mecanicidade tão criticada por do cavalo, chicoteie a adormecida foi seguido por milhares de pessoas Gurdjief já era alvo das setas certei- consciência para que ela acorde e de todas as religiões, demonstrando ras do poeta e mestre Rumi: “O vomite a serpente (impulso/desejo). assim que mesmo em morte o seu homem é um feixe de condiciona- amor universal e sem distinções po- mentos, ideias fixas, preconceitos, Só o ato destemido de quem do- dia unir os contrários num mosaico respostas automáticas ocorridas atra- mina o animal em si mesmo e possui de admiração espiritual. vés de treinamento alheios.” o conhecimento recebido em uma es- cola espiritual por uma linhagem de * Osvaldo Condé Filho é escritor e membro O homem, vivendo em baixos es- mestres pode quebrar o encanto do da Sociedade Teosófica em Brasília. tados de consciência, afastado de sua SOPHIA • JAN-MAR/2012 23

Os perigos da ambição Quem é ambicioso jamais é feliz, porque o que ele quer ‘‘está sempre no futuro, e assim existe permanentemente ‘‘uma sensação de que algo está faltando N. Sri Ram* postas habilidades e de nosso valor compreender esse fato e identificar em no caminho espiritual. nós mesmos a busca de elogios e de A ambição é um mal primário, mas reconhecimento. em geral é considerada uma qualida- Podemos, também, desejar estar à de positiva. O homem ambicioso é frente de outros que são devotados O livro prossegue: “Mas embora admirado e seus superiores têm dele ao mesmo mestre, ou sentir que de essa primeira regra pareça tão simples um bom conceito, porque faz o es- algum modo demos um passo que eles e fácil, não a descarte muito rapida- forço necessário para obter uma pro- não deram. Mesmo que os outros não mente.” Podemos pensar que estamos moção. Porém, do ponto de vista es- saibam que demos um passo, o fato livres da ambição, mas é muito pouco piritual, a ambição é destrutiva e deve de pensarmos que demos é suficiente provável que isso seja verdadeiro. Tra- ser extirpada. Ela torna a pessoa in- para que nos sintamos superiores e balhamos para o eu em razão de nos- sensível aos sentimentos e às necessi- satisfeitos. Isso pode ser tão sutil que, sos apegos, que atuam em diferentes dades dos outros. Toda a sua atenção a não ser que estejamos muito aten- níveis – físico, astral e mental. Portan- está fixada no objetivo que deseja al- tos a nossos pensamentos, sentimen- to, podemos estar apegados a uma pes- cançar; essa concentração exclui tos e motivações, será impossível evi- soa, a nossas posses ou às nossas idei- tudo, até mesmo o sofrimento alheio. tá-lo. Podemos continuar meditando as. Qualquer que seja a natureza do Por isso Mabel Collins aconselha, no sobre a virtude da humildade que su- apego, seu centro é o eu, e trabalhar livro Luz no Caminho (Ed. Teosófi- postamente queremos possuir, e ao para o eu é gerar descontentamento, ca): “Mata a ambição.” mesmo tempo estarmos repletos des- porque ele é por natureza insaciável. se egoísmo tão profundamente enrai- Embora compreendamos a natu- zado em todos nós. O artista que ama sua arte sim- reza desse mal, não conseguimos re- plesmente gosta de praticá-la. Mas conhecê-lo em nós mesmos. Mas é O comentário da autora sobre a raramente encontramos alguém assim. verdade que as faltas que notamos ambição diz: “Seu resultado transfor- Certos artistas são autocentrados, in- nos outros provavelmente estão pre- ma-se em poeira e cinzas na boca; tolerantes e invejam outros que atin- sentes, pelo menos em germe, em como a morte e a alienação, ela final- giram notoriedade. Certamente exis- nós mesmos. mente mostra ao homem que traba- tem aqueles que pintam ou compõem lhar para o eu é trabalhar para o desa- desinteressadamente e não para a gló- O livro Luz no Caminho cita a am- pontamento.” ria do seu eu. Mas podemos nos en- bição como “a primeira maldição”, e ganar ao acreditar que estamos fazen- adverte que ela assume formas sutis Quem é ambicioso jamais é feliz, do tudo para a glória de Deus, suge- no caminho oculto. Comumente pen- porque o que ele quer está sempre no rindo que o que quer que façamos samos que destruímos a ambição em futuro, e assim existe permanentemen- tenha a Sua aprovação; ou podemos nós mesmos, mas ela pode reaparecer te uma sensação de que algo está fal- pensar que o fazemos em nome do com novas roupagens, pois podemos tando. Quando finalmente alcança sua mestre, carimbando assim nossas ambicionar muito, mesmo quando es- meta, a pessoa ambiciosa não se sa- ações com o seu nome. tamos trilhando o caminho espiritual. tisfaz; fica desapontada e frustrada. “A Podemos não nos preocupar com o distância empresta encantamento à A mente é capaz de criar muitas elogio da “massa ignara”, descartan- visão”; quando verdadeiramente che- ilusões. Devemos estar coscientes de do-o como algo sem valor, mas é bem gamos à cena, descobrimos que a gra- todas essas sutilezas e dos vários pro- provável que sejamos sutilmente pre- ma não é tão verde quanto imaginá- cessos de autodecepção, antes que sunçosos, embora pareçamos não nos vamos. A satisfação cessa e então que- possamos afirmar que somos verda- preocupar com a apreciação dos ou- remos algo mais. Finalmente, todas as deiramente sinceros. tros. Podemos ainda estar imbuídos nossas ambições azedam, pois “traba- de vaidade e orgulhosos de nossas su- lhar para o eu é trabalhar para o desa- * Filósofo, teósofo, conferencista e ex-presidente pontamento”. É muito importante internacional da Sociedade Teosófica. 24 SOPHIA • JAN-MAR/2012

RAVEN3K SOPHIA • JAN-MAR/2012 “Embora pareça- mos não nos preo- cupar com a apre- ciação dos outros, podemos estar im- buídos de vaidade e orgulhosos de nossas supostas habilidades e de nosso valor no ca- minho espiritual.” 25

pAefrileosonfiae ‘‘A palavra ‘filosofia’, cuja invenção é atribuída a Pitágoras, é a união de duas raízes gregas: philos, amor, e sophia, sabedoria. Embora geralmente traduzida como “amor pela sabedoria”, pode igualmente ‘‘denotar a sabedoria do amor ou a sabedoria amorosa W. T. S. Thackara* ponto de transportar montanhas, essa palavra é a união de duas se não tivesse o amor, eu nada raízes gregas: philos, amor, e so- Há um pensamento interes- seria” – reverência aos manda- phia, sabedoria. Embora geral- sante num dos diálogos de Pla- mentos de seu mestre, que dis- mente traduzida como “amor pela tão, o Symposium (§202-4), onde se: “Amai-vos uns aos outros sabedoria”, a filosofia pode igual- o amor é o ponto mediano entre como eu vos amei.” mente denotar a sabedoria do a ignorância e a sabedoria, o me- amor ou a sabedoria amorosa. diador entre os seres humanos e No Budismo, o ser humano os deuses; através do amor, atin- ideal, bodhisattva que está des- Entre os vários termos gregos gimos a compreensão espiritual. perto para a realidade por trás para amor, cada um diz respeito São Paulo também falou do amor das ilusões da vida, disse possuir a um aspecto diferente: philos e numa das mais belas passagens “o grande coração amante”. Ele seu cognato philia conotam ami- da Bíblia: “Ainda que eu falasse atingiu a “outra margem” da ilu- zade e afeição – como em filan- as línguas dos homens e dos an- minação, guiado e fortalecido por tropia, o amor do homem, que jos, e não tivesse o amor [carida- ter aperfeiçoado em si as duas motiva a caridade, e filadélphia, de], seria como o bronze que soa mais importantes virtudes da fi- amor fraternal. Theon de Smyr- ou como o címbalo que tine. Ain- losofia budista, karuna e prajna, na (século II d.C.) escreveu que da que eu tivesse o dom da pro- amor e discernimento, nascidos a filosofia pode ser comparada à fecia, o conhecimento de todos do altruísmo. iniciação nos Mistérios, cuja úl- os mistérios e de toda a ciência, tima parte, ou o ápice da realiza- ainda que tivesse toda a fé, a O mesmo tema está presente ção, é a amizade e comunhão na palavra “filosofia” – cuja inven- com a divindade. 26 ção é atribuída a Pitágoras –, pois SOPHIA • JAN-MAR/2012

SOPHIA • JAN-MAR/2012 27 EASTIMAGES - SHUTTERSTOCK

A sabedoria divina Podemos ver que, original- popularizou a frase latina philo- mo final do homem no conheci- sophia perennis. Ele a usou para mento do fundamento imanente mente, a principal meta da filoso- descrever o que era preciso para e transcendente de toda existên- completar seu próprio sistema, cia – algo imemorial e universal. fia grega, assim como do Budis- que deveria ser uma análise eclé- Rudimentos da filosofia perene tica da verdade e da falsidade de podem ser encontrados entre o mo e do Cristianismo, era a per- todas as filosofias, antigas e mo- saber tradicional de povos primi- dernas, por meio das quais “se tivos em todas as regiões do mun- feição do amor e da sabedoria poderia extrair o ouro das impu- do; e em suas formas plenamente rezas, o diamante da mina, a luz desenvolvidas, ela tem seu lugar como meio de se tornar uno com das sombras; e este seria na ver- em cada uma das religiões supe- dade um tipo de filosofia perene”. riores.” (A Filosofia Perene, Ed. a fonte de vida. Além disso, cada Meta semelhante, com o objetivo Pensamento) de reconciliar diferentes filosofi- uma dessas tradições sugere que as religiosas, foi buscada por Huxley assinalou que, ao com- Ammonius Saccas em Alexandria pilar seu livro, não se voltou para a busca espiritual começa verda- (século III d.C.), o inspirador de os escritos dos filósofos “profis- Plotino e do Movimento Neopla- sionais”, mas para alguns daque- deiramente com o amor e termi- tônico. les raros indivíduos na história que escolheram preencher certas na na sabedoria; que os portais Leibniz, no entanto, não afir- condições – em suas palavras, mava ter inventado a frase. Ele “tornando-se amáveis, puros de que levam ao disse que a encontrou nos escri- coração, e pobres [humildes] de tos de um teólogo do século XVI, espírito”, habilitando-se assim a coração da exis- Augustine Steuch, a quem consi- receber em primeira mão e de for- derava um dos melhores escrito- ma direta a realidade divina. Já “É extraordinário tência abrem-se res cristãos de todos os tempos. que não éramos sábios ou san- Steuch descrevia a filosofia pere- tos, achava ele, a melhor coisa que os ensina- àqueles arre- ne como a verdade absoluta ori- que poderíamos fazer era “estu- ginalmente revelada, e posta à dar as obras daqueles que o fo- mentos essenciais batados pela disposição do homem antes de ram, porque tinham modificado de toda filosofia paixão à verda- sua queda, completamente esque- seu modo de ser meramente hu- espiritual sejam de e por uma cida nesse lapso, e só gradual- mano, tornando-se capazes de semelhantes, em- profunda preo- mente recuperada sob a forma de receber um tipo e uma quantida- bora as tradições cupação para fragmentos na subsequente histó- de de conhecimento maior do que estejam separadas com o bem-es- ria do pensamento humano. o ser humano comum”. geograficamente, tar de todos. culturalmente e Viver para be- Muito mais recentemente É extraordinário que os ensi- por várias eras” neficiar a hu- (1945), Aldous Huxley compilou namentos essenciais de toda filo- manidade é o uma antologia das tradições reli- sofia espiritual sejam tão seme- giosas e místicas do mundo que lhantes, embora as tradições es- primeiro passo descreve muitas características tejam separadas geograficamente, comuns a essa “filosofia das filo- culturalmente e por várias eras. – essa é uma mensagem univer- sofias”. No prefácio de sua obra, Pois foi a mesma theosophia, ou ele a definiu da seguinte manei- sabedoria divina, que foi univer- sal e perene. Igualmente duradou- ra: “Philosophia perennis – (...) a salmente disseminada por cada metafísica que reconhece uma re- sábio e instrutor, a mesma “dou- ra tem sido a busca da humani- alidade divina substancial ao trina inesgotável, secreta, eterna” mundo das coisas, das vidas e das que, há muitas eras, Krishna ha- dade por uma sabedoria unifica- mentes; a psicologia que encon- via comunicado a Vivasvat (o Sol), tra na alma algo semelhante, ou e tem sido periodicamente trans- dora e salvadora. até mesmo idêntico, à realidade mitida de era a era (Bhagavad- divina; a ética que coloca o ter- Gita, cap. 4). A ideia de uma filosofia pere- ne, de uma verdade comum, um fator unificador mais elevado – formando a base filosófica dos muitos sistemas de pensamentos dos mundos filosófico e científi- co – remonta há milhares de anos. O estadista e filósofo roma- no Cícero, por exemplo, ao falar a respeito da existência da alma após a morte, mencionou que não apenas tem a autoridade de toda a Antiguidade a seu lado, como também os ensinamentos dos Mis- térios gregos e da natureza, e que “essas coisas são antigas, e têm, além disso, a sanção da religião universal” (Tusc. Disp. I.12-14). No entanto, foi Leibniz, filóso- fo alemão do século XVII, quem 28 SOPHIA • JAN-MAR/2012

A apresentação moder- na da theosophia perennis está nos escri- tos de Blavatsky. Ela afirmou que esses en- sinamentos não per- tencem exclusivamen- te às religiões hindu, caldeia, egípcia, nem ao Budismo, Islã, Ju- daísmo ou Cristianis- mo, mas são “a essên- cia de todas elas” GETYE SOPHIA • JAN-MAR/2012 29

Guias no caminho espiritual A mais completa apresentação necem uma base lógica para a mos determinar o que é genuina- moderna dessa theosophia peren- doutrina de Platão de que o mente do espírito e o que é o refu- nis, com provas de sua difusão em aprendizado é na verdade um pro- go? Embora seja necessário estu- todo o mundo, pode ser encontra- cesso de “reminiscência”, uma do perseverante e discriminativo, da nos escritos de H. P. Blavatsky, “lembrança” ou “redescoberta” do podemos aplicar os testes de pe- em particular em A Doutrina Se- conhecimento primordial que renidade e universalidade: o en- creta, que tem como subtítulo Uma mora na porção imortal da alma. sinamento dos grandes instrutores Síntese de Ciência, Religião e Filo- espirituais do mundo está explici- sofia. Ela própria, que aprendeu Desde aqueles tempos antigos, tamente expresso ou implícito? E, de estudantes mais avançados, têm sido regularmente tentadas o que é igualmente importante, escreveu que “os ensinamentos, restaurações da tradição-sabedo- possui ele a chancela do espírito, embora fragmentários e incomple- ria em todos os cantos do globo. seu apelo toca o lado abnegado e tos, contidos nesses volumes, não Isso vem ocorrendo por duas ra- altruísta de nossa natureza? pertencem exclusivamente à reli- zões principais: primeiro, por cau- gião hindu, zoroastriana, caldeia, sa das forças erosivas que ao lon- ROB ZABROWSKI - SHUTTERSTOCK nem à egípcia, nem ao Budismo, go do tempo desfiguram cada ex- ao Islã, ao Judaísmo nem ao Cris- posição da verdade – ou seja, os tianismo. A Doutrina Secreta é a ensinamentos originais, geralmen- essência de todas elas.” te orais, são esquecidos ou imper- feitamente lembrados, textos são Além de apresentar os ensina- perdidos, cópias e traduções são mentos fundamentais da Doutrina adulteradas, o significado de pa- Secreta e mostrar sua analogia na lavras é mudado e as pessoas ge- natureza, Blavatsky explicou como ralmente interpretam mal ou ne- a secreta “sabedoria das coisas gligenciam os pontos essenciais. divinas” tem sido revelada à hu- manidade e periodicamente reno- Em segundo lugar, a humani- vada através da história. Referin- dade está evoluindo, assim como do-se ao evento histórico retrata- evoluindo estão suas necessida- do na alegoria do Jardim do Éden, des. Quando o grito do coração no mito do fogo de Prometeu e humano coletivo é suficientemen- também na história hindu da des- te forte, surge uma resposta dos cida dos manasaputras (“filhos da quadrantes apropriados que irá mente”), ela descreve como, há suprir as necessidades do ciclo mais ou menos 18 milhões de que então se inicia. É bem sabido anos, seres divinos, seres huma- que os messias, avatares, budas e nos “perfeitos” de ciclos anterio- profetas vieram como reformado- res, nativos de esferas cósmicas de res e instrutores. Contudo, deve- vida mais elevada, invisíveis, com- se notar também que os mensagei- binaram uma porção de sua cons- ros são raramente conhecidos de ciência com a consciência da hu- seus contemporâneos, tampouco manidade nascente, inflamando-a é a importância de sua mensagem com inteligência pensante. plenamente compreendida. Toda inovação atrai oposição; dragões Nesse ato de sacrifício, afina- poderosos cercam o Graal. do com a necessidade evolutiva da humanidade, eles, de maneira Nossa própria era, como cada indelével, imprimiram sobre a uma das outras, está repleta de substância plástica da mente hu- falsos profetas cuja mistura de ver- mana as verdades fundamentais dade e erro, muitas vezes fascinan- da existência, de modo que ja- te, tem feito com que muitos se per- mais pudessem ser totalmente cam ao buscar ocupações não pro- perdidas. Esses ensinamentos for- dutivas e até mesmo perigosas. Como então, perguntamos, pode- 30 SOPHIA • JAN-MAR/2012

O universo, físico e metafísico, e a sabedoria. Se temos insights quanto seus representantes terre- é uma única realidade; segundo a sobre as realidades divinas acer- nos sempre estenderam a bússo- lógica mais simples, só pode ha- ca das quais buscamos conheci- la da sabedoria amorosa como o ver uma verdade, por mais limita- mento mais amplo, ou se busca- guia mais seguro até nosso desti- das e aparentemente divergente mos apenas ser uma força ativa no. Ao seguir o curso traçado por que possam ser suas expressões para o bem, e se precisarmos de esses viajantes avançados, pode- na linguagem humana. A influên- uma filosofia para ajudar-nos a re- mos descobrir não apenas o que cia divisora das teologias dogmá- sistir às tormentas e às calmarias é verdadeiro na vida como o que ticas, na tentativa de usurpar a ver- da vida, podemos estar confiantes não o é, e estaremos nos adap- dade sob estandartes de quaisquer de que tal conhecimento existe e tando para expressar as qualida- tipos, inclusive os da ciência e da que ele satisfaz tanto ao coração des perenes do espírito. filosofia, só pode afetar negativa- quanto ao intelecto. mente o bem-estar humano. * W. T. S. Thackara é escritor e membro A humanidade não está priva- da Sociedade Teosofica em Pasadena, A maioria de nós está apenas a da da tutela compassiva dos deu- Califórnia (EUA). meio caminho entre a ignorância ses e jamais esteve. Tanto eles “A humanidade não está privada da tutela compassiva dos deuses e jamais esteve. Tanto eles quanto seus represen- tantes terrenos sempre estenderam a bússola da sabedoria amorosa como o guia mais seguro até nosso destino.” SOPHIA • JAN-MAR/2012 31

Os cavaleiros da Távola Redonda Mary Anderson* portante ao fundo. Mas uma mesa re- ST. NICK - SHUTTERSTOCK donda não tem lugares mais elevados Na Europa medieval, o cavaleiro ou inferiores a outros; assim, todos os era um guerreiro, um soldado, um cavaleiros sentavam-se à mesma dis- kshattriya. O verdadeiro cavaleiro ti- tância do centro da mesa. nha um código de conduta: apoiar a justiça, defender os fracos, derrotar os Sabemos que não somos todos opressores, os injustos e os maus. Mas iguais, todos igualmente bons, jus- isso pode ter um significado mais pro- tos, gentis e sábios; como nos co- fundo, que lembra a história de Arju- nhecemos, e aos outros, sabemos que na no Bhagavad Gita. Arjuna também ainda temos muito que aprender da teve que lutar para derrotar o opres- vida. Mas profundamente, dentro de sor e restaurar a justiça. O mais signi- cada um, somos igualmente bons, jus- ficativo na saga de Arjuna não foi tos, gentis, e sábios, embora não con- combater os inimigos que estavam do sigamos expressar isso em nossos lado do mal, mas vencer suas própri- pensamentos e em nossas vidas. Ain- as fraquezas, seus inimigos internos. da estamos na busca, talvez buscan- do o Santo Graal, nossa verdadeira Do mesmo modo, Jihad do Islã natureza divina. Algumas pessoas po- não significa lutar contra aqueles que dem ser mais sábias ou mais gentis seguem outras crenças, mas comba- do que outras, mas ninguém é, no ter as fraquezas em si próprio, o pró- final das contas, mais importante do prio egoísmo e crueldade. Existe um que qualquer outro. Compartilhamos exemplo disso na história de um dos a mesma humanidade. cavaleiros do rei Arthur. Diz-se que Galahad certa vez combateu dois ter- Uma távola redonda é circular. Se ríveis cavaleiros, um vermelho e um um círculo for reduzido de tamanho, negro, e que isso significa que ele termina como um simples ponto, que lutou contra a crueldade (o cavalei- é um símbolo da unidade. E se o pon- ro vermelho) e contra o ódio (o ca- to ou o círculo for estendido, resulta valeiro negro), sendo esses males, um círculo maior ou uma esfera, onde provavelmente, tendências que ele todos os pontos sobre a superfície es- mesmo possuía. tão igualmente próximos do centro, o um. Se o círculo for estendido infi- A Távola Redonda era a mesa em nitamente, pode abarcar a infinidade, torno da qual se sentavam os cavalei- tudo que existe. E assim tudo – uma ros do Rei Arthur. A mesa era redonda esfera infinita – reflete a unidade: um porque os cavaleiros eram todos con- simples ponto. Sendo assim, a Távola siderados iguais; nenhum era mais im- Redonda é também um símbolo da portante que os outros. Normalmen- unidade, da igualdade, da fraternida- te, a pessoa mais importante senta-se de e do afeto fraternal que devem à cabeceira da mesa e a menos im- existir em sociedade. 32 SOPHIA • JAN-MAR/2012

‘‘Os deveres de um cavaleiro contêm lições: combater a injustiça e a falta de compaixão, inclusive em nossos corações. Só quando vivemos para beneficiar a todos, podemos ‘‘sair em busca do nosso Santo Graal SOPHIA • JAN-MAR/2012 33

“Arthur viu a espada cravada na pedra em frente à catedral e facilmente a arrancou, sem compreender o que tinha feito e que isso significava que ele era o rei legítimo” 3434 SOPHIA • JAN-MAR/2012 ANDREA DANTI - SHUTTERSTOCK

A lenda do rei Arthur ram suas tendas, algumas esplên- didas, outras mais modestas. En- O rei Arthur viveu no século e o mago levou o bebê para pais tre eles estava um Ector of Bon- V e pouco se sabe a seu respeito. adotivos em um local secreto. Os maison, ou sir Egbert, que tinha Ele foi rei de uma parte da Ingla- pais adotivos foram nobres e dois filhos. O mais velho era Kay, terra e uniu seu povo contra os bons, embora, segundo algumas que já era cavaleiro; o filho mais invasores saxões, gauleses e irlan- lendas, seu irmão de criação ti- jovem era Arthur, escudeiro de deses. Durante seu governo rei- vesse ciúmes dele. Kay. Nos três dias antes do Natal nou a paz e a prosperidade. Em- os cavaleiros lutaram em batalhas bora historicamente pouco seja Aquilo que Merlin profetizou simuladas para provar quem era conhecido, muitas lendas surgi- aconteceu; Utha Pendragon mor- o mais bravo, forte e habilidoso. ram em torno de seu nome e de reu e houve caos. Nobres rivais seus cavaleiros. lutaram pelo poder, aldeias intei- Sir Kay também foi bem-suce- ras foram queimadas, muitas pes- dido em derrubar vários cavalei- Seu pai foi Utha Pendragon, soas foram mortas. Após dezoito ros, mas sua espada quebrou e um rei bom, justo e amado por anos de distúrbio, o arcebispo de ele pediu outra ao escudeiro. Ar- seu povo, pois seu reinado foi de Canterbury, chefe da Igreja, pediu thur viu a espada cravada na pe- paz e prosperidade. Pendragon para Merlin escolher um rei com dra em frente à catedral e facil- tinha como conselheiro Merlin, quem o povo pudesse viver em mente a arrancou, sem compreen- um mago misterioso. A rainha paz. O mago explicou que logo o der o que tinha feito e que isso morreu jovem e ele, com idade país teria um rei maior do que significava que ele era o rei legí- avançada, casou-se novamente. Utha Pendragon: o filho de Utha. timo. Ele entregou a espada ao Sua esposa Igraine deu-lhe um fi- Todos pensavam que o menino ti- irmão, que mentiu e afirmou que lho que se tornou o rei Arthur. vesse morrido, e o arcebispo per- ele mesmo a tinha arrancado. No guntou como as pessoas o reco- entanto, o pai de Kay suspeitou e Merlin profetizou que Utha nheceriam. Em frente à catedral, pediu-lhe que recolocasse a espa- Pendragon logo morreria e que Merlin colocou um bloco de már- da na pedra e a retirasse nova- seu pequeno filho, a esperança do more onde enfiou uma espada mente. Kay pensou que poderia reino, estaria em perigo. Prínci- com a inscrição: “Quem quer que fazê-lo com facilidade, mas foi im- pes e cavaleiros poderosos tenta- arranque a espada desta pedra é possível. Arthur pediu que o dei- riam matá-lo e conquistar o país. o legítimo rei da Bretanha.” xassem tentar. Seu pai perguntou Merlin ofereceu-se para levar o que direito ele tinha de fazer isso; bebê Arthur para um lugar onde Todos os nobres foram chama- o jovem respondeu que já havia estivesse a salvo. O rei concordou dos para um torneio; eles monta- arrancado a espada antes, e facil- mente a retirou. SOPHIA • JAN-MAR/2012 Para horror de Arthur, seu pa- drasto ajoelhou-se e explicou que ele era o filho de Utha Pendragon, e portanto o legítimo rei. Arthur chorou, disse que tinha perdido um pai, já que sir Egbert não era seu pai verdadeiro, e acrescentou: “Preferiria ter o senhor como pai a ser rei.” Merlin confirmou que Ar- thur era o rei legítimo. O arcebispo convocou todos os cavaleiros à catedral na manhã de Natal e lhes disse que aquele que arrancasse a espada da pe- dra seria coroado rei. Muitos ten- taram, inclusive doze reis, e to- dos fracassaram. Então, na pre- sença de todos, Arthur puxou a espada da pedra e foi reconheci- 35

TUPUNGATO - SHUTTERSTOCK 36 SOPHIA • JAN-MAR/2012

do como soberano máximo. A ameaçavam o reino. nantes, como, por exemplo, o im- maioria dos nobres prestou-lhe Arthur foi um verdadeiro rei perador alemão Barbarossa. Isso homenagem, mas alguns se recu- deve se referir a alguma futura en- saram, inclusive seus dois irmãos em bravura, dedicação, modéstia carnação de grandes governantes. de criação, filhos de Utha Pendra- e misericórdia. Após sua morte, di- Pode servir para nos fazer lembrar gon com sua primeira esposa. A zia-se que ele estava apenas dor- os avatares como Sri Krishna, que coroação ocorreu na Páscoa e a mindo e que algum dia iria levan- disse que, sempre que a iniquida- primeira tarefa de Arthur foi con- tar-se novamente para servir a seu de prevalecesse, ele reencarnaria quistar os nobres rebelados que povo. Existem lendas semelhantes para auxiliar o mundo. a respeito de outros grandes gover- Em busca do Santo Graal Havia uma profecia segundo a e passar a uma vida mais elevada; Per- sada do banho de sangue, retirou-se qual, “quando o Santo Graal for en- cival (também conhecido em alemão para um local solitário na floresta para contrado, então o fim da Távola Re- como Parsifal), destinado a se tornar criar o filho, ainda um bebê; ignorava donda estará próximo, mas sua fama o rei Graal, protetor do cálice; e Bors, o mundo externo e acima de tudo a jamais será esquecida até o fim do que deveria retornar ao mundo para luta e a classe dos cavaleiros. Mas Per- mundo”. Dizia-se que os cavaleiros da disseminar a mensagem do Santo Gra- cival tinha sangue kshattriya em suas Távola Redonda tinham, entre outras al. Esses três, sem qualquer ideia de veias e finalmente encontrou o cami- tarefas, a de procurar o Santo Graal, e fama ou de honra pessoal, dedicaram- nho até a corte do rei Arthur. Tendo que o Graal era um cálice que se su- se, às vezes juntos, às vezes separa- provado seu valor, foi nomeado cava- punha conter o sangue de Cristo dos, a procurar o Graal, não sabendo leiro. No entanto, ele ignorava muitos quando foi crucificado; ele possuiria onde buscá-lo ou se a busca algum fatos e cometeu muitos erros, perden- poder curativo e espiritual. Num sen- dia teria fim. Embora muitas vezes se do a primeira oportunidade que lhe foi tido mais profundo, o Graal pode sig- desviassem do caminho devido a suas dada de cumprir seu dharma [dever] e nificar um recipiente que contém o fraquezas – aquelas tentações difíceis obter o direito de se tornar o protetor divino, a vida una. de resistir –, eles finalmente foram do Santo Graal – uma oportunidade que bem-sucedidos. só voltou a ocorrer muito tempo de- Somente três dos cavaleiros foram pois, após inúmeras aventuras. escolhidos para procurar o Santo Gra- A atitude dos três cavaleiros é cla- al, aqueles que se mostraram dignos ra, segundo as seguintes citações: “Eles Muitas lições podem ser aprendi- preenchendo a primeira das virtudes não sabiam se foram escolhidos para das com as histórias do rei Arthur e de de um cavaleiro: defender os fracos e encontrar o Graal e isso não os preo- seus cavaleiros. Nenhum de nós é per- lutar contra a injustiça e a crueldade. cupava. (...) Bastava-lhes saber que re- feito. Arthur cometia erros. Percival co- Apenas eles estavam aptos à busca. ceberam a missão. Eles não se preo- meteu erros e perdeu oportunidades, Os cavaleiros escolhidos foram Ga- cupavam sobre como a busca iria ter- assim como todos nós. Mas é por meio lahad, destinado a encontrar o cálice minar.” (King Arthur and the Knights dos erros que aprendemos. Vemos tam- of the Round Table, O Rei Arthur e os bém, a partir da saga da Távola Re- “Após a morte de Cavaleiros da Távola Redonda) “[Ga- donda, como períodos de sofrimento Arthur, dizia-se que lahad para o rei Arthur:] Meu senhor, às vezes alternam-se com períodos de ele estava apenas dor- vossa corte é maravilhosa, mas não relativa paz e prosperidade. mindo e que algum dia posso permanecer, há um cavalo es- iria levantar-se nova- perando-me lá fora. Não sei aonde irá Os deveres de um cavaleiro con- mente para servir a seu me levar e não me preocupo em sa- têm lições: combater a injustiça e a povo. Isso faz lembrar ber. O dever me espera e devo cum- falta de compaixão, inclusive em nos- os avatares como prir com meu dever. Não penso nos sos corações, e defender aqueles que Sri Krishna, que disse meus próprios desejos.” “Ele [Galahad] se encontram oprimidos. Só quando que, sempre que a ini- ajudava os oprimidos e perseguidos, aprendemos essas lições e vivemos quidade prevalecesse, seguindo seu caminho antes que lhe para beneficiar a todos, podemos sair ele reencarnaria para pudessem agradecer.” em busca do nosso Graal e encontrá- auxiliar o mundo.” lo em nossos próprios corações. A história de Percival é muito inte- SOPHIA • JAN-MAR/2012 ressante e merece ser tratada num arti- * Mary Anderson foi secretária internacional go separado. Quando seu pai foi mor- da Sociedade Teosófica e é autora de artigos to, sua mãe, a rainha Herzeloide, can- sobre teosofia e religião comparada. 37

Novas REDAV - SHUTTERSTOCK maneiras de SOPHIA • JAN-MAR/2012 viverpensar e de Dara Tatray* O nascimento do movimento ambientalista é muitas vezes atribuído à publicação de Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, em 1962, um livro que vendeu um milhão de cópias. Em sua crítica bem concebida, Carson questionava: como seres “inteli- gentes” podem tentar controlar pragas agrícolas in- desejadas por meio de um método que contamina todo o ambiente e traz a ameaça de doença à sua própria espécie? A pergunta serviu para levantar dú- vidas a respeito da competência de peritos tecnoló- gicos para gerenciar recursos e salvaguardar o meio ambiente. A conclusão do livro é a seguinte: “O controle da natureza é um termo associado a uma postura arrogante que nasceu na era neander- thal da biologia e da fisiologia, quando se supunha que a natureza existia para a conveniência do ho- mem. Os conceitos e práticas da entomologia apli- cada remontam em geral à Idade da Pedra da ciên- cia. É um grande azar nosso que uma ciência tão primitiva tenha utilizado armas modernas e terríveis, e que ao voltá-las contra os insetos também as te- nha voltado contra a Terra.” Outro marco do movimento ambiental foi a pu- blicação, em 1967, do artigo As Raízes Históricas de Nossa Crise Ecológica, de Lynn White Jr., que punha grande parte da culpa pela crise ambiental aos pés da religião, em virtude de sua exortação do domínio do homem sobre a natureza. White afirmava que a crise ecológica era um subproduto do progresso tec- nológico, mas assinalava que essa tecnologia surgiu na Idade Média, numa região dominada pela Igreja, que tratava o avanço tecnológico como um aspecto da espiritualidade. White considerava o Cristianismo, em sua forma ocidental dualista, especialmente explorador. Ele ar- gumentava que a Igreja Grega, contrariamente, se- guiu uma tradição contemplativa, “intelectualista”: 38

“Como seres ‘inteli- gentes’ podem tentar controlar ‘pragas agrícolas indeseja- das por meio de um método que conta- mina todo o ambi- ente e traz a amea- ça de doença à sua própria espécie?” SOPHIA • JAN-MAR/2012 39

“O santo grego contempla; o santo lucionada simplesmente aplicando íram não ter solução técnica. ocidental age.” Essa distinção aponta mais ciência e mais tecnologia aos White e Hardin afirmaram que a uma dicotomia profunda entre a abor- nossos problemas.” White previu um dagem analítica da filosofia ocidental tema dominante da Ecologia Profun- abordagem técnica de problemas e a oriental, mais contemplativa. da e prognosticou a principal tese para os quais não há solução técnica do ensaio de Garrett Hardin, The resulta em piorar a situação. Nas pa- A tese de White expressava pre- Tragedy of the Commons, em 1968. lavras de White, sem levar em conta ocupação a respeito da dependên- O trabalho de Hardin começa com as raízes dos problemas, “nossas cia exclusiva do ambientalismo su- a citação de um artigo sobre o con- ações podem produzir revezes mais perficial ou reformador: “Duvido flito nuclear, que os autores conclu- sérios do que aqueles que estão des- que a crise ambiental possa ser so- tinadas a remediar”. Sem dualismo, sem reducionismo Precisemos com urgência de uma Longe de afastar um senso de comu- após o impulso inicial. Como explicou nidade inclusivo, a afirmativa de Grey D.T. Suzuki, “qualquer ato, bom ou metafísica não dualista e não reduci- enfatiza a necessidade de uma estru- mau, uma vez concebido, não desapa- tura sistêmica na qual quarks e qua- rece, mas vive, potencial ou ativamen- onista, com razões claras para se pen- sares – microcosmo e macrocosmo – te, no mundo das mentes e das ações. possam ser incluídos. Essa misteriosa energia moral, por as- sar e se comportar de forma diferente sim dizer, está corporificada em cada A postura de “reverência pela vida” ato e pensamento e deles emana; não – razões coerentes para refletir sobre de Albert Schweitzer, cientista ganha- importa que venha a ser executada ou dor do Prêmio Nobel da Paz, músico, simplesmente concebida na mente.” nossos conceitos e atitudes, e não ape- teólogo, médico e humanista, pode ser um modelo para uma nova maneira Nas palavras do Dhammapada, nas sobre o meio ambiente. Precisa- de compreender a universalidade de “tudo que somos é o resultado do que valores. Peter Singer criticou a noção pensamos. Se um homem fala ou age mos deixar de ver de Schweitzer de que tirar uma vida é com más intenções, a dor o acompa- intrinsecamente errado perguntando nha como a roda segue a pata do boi a humanidade o que é tão valioso em uma mosca, que puxa o arado.” Similarmente, “se que provavelmente não tem senso do o homem fala ou age com pensamen- “Precisamos como uma coleção valor de sua própria vida. Singer acha- to puro, a felicidade o segue, como a deixar de ver a de indivíduos lu- va difícil imaginar que, se para sombra que jamais o deixa”. humanidade tando pela sobrevi- Schweitzer a vida é sagrada, por que como uma cole- vência, uns contra passaria ele sua vida na África, salvan- Em vez de tentar compreender que ção de indiví- os outros e contra do seres humanos à custa da vida de elementos da vida devem ser consi- as forças da natu- bactérias e vírus. Isso pode soar como derados relevantes – o vírus ou o ser um sofisma, mas tristemente é a base humano –, é mais importante o estar duos lutando reza. A metafísica conceitual sobre a qual se desenvol- atento às nossas ações e pensamen- veu a ciência tradicional. tos, assegurando-nos de que são cor- pela sobrevivên- não dualista forne- retos. Os resultados podem ser deixa- cia, uns contra ce razões que As perguntas de Singer, no entan- dos aos cuidados da vida. os outros e con- põem em cheque a to, sugerem que a reverência pela vida tra as forças da sobrevivência e o só possa ser explicada num contexto Inúmeros ecologistas argumentam caminho que leva à não dualista. Não se trata de reverên- serem graves os efeitos transformado- natureza.” cia por uma coisa específica ou por res do homem sobre a natureza. Al- felicidade. O Budis- um número limitado de coisas. Reve- guns argumentm em favor do valor renciar um ser humano em lugar de intrínseco da natureza, de partes da mo também faz um vírus, ou uma pessoa em vez de natureza ou de algumas formas de outra, é pura parcialidade. A reverên- vida não humanas. Mas essas aprecia- isso, assim como a Vedanta e muitos cia é uma postura que beira o sagra- ções são ignoradas ou as soluções ofe- do, um sentimento que se expressa recidas são inadequadas. Faz-se ne- ramos da filosofia oriental. em relação à toda a existência. Pode- cessário uma total reavaliação do nosso ria ser chamada simplesmente de re- modo de pensar e viver. A diferença comportamental com verência, sem objeto. * Dara Tatray é presidente nacional uma visão de mundo abre espaço à Segundo a lei do karma, nossos da Sociedade Teosófica na Austrália. pensamentos e ações são ilimitados, Contato: [email protected] totalidade e ao interrelacionamento e pois continuam ativos muito tempo foi definida por David Bohm da se- guinte maneira: “A importância da to- talidade é que tudo está internamen- te relacionado a tudo mais; em longo prazo, não faz sentido ignorar as ne- cessidades dos outros. (...) Hoje não compreendemos que somos um todo com o planeta e que todo o nosso ser e substância daí derivam.” O bioético William Grey argumenta que “não existe senso plausível de co- munidade que inclua quarks e quasa- res”, apesar de podermos perceber or- ganização e estrutura tanto no nível microscópico quanto no cósmico. 40 SOPHIA • JAN-MAR/2012

GALYNA ANDRUSHKO - SHUTTERSTOCK “Ecologistas argu- 41 mentam serem graves os efeitos transfor- madores sobre a na- tureza. Mas essas crí- ticas são ignoradas ou as soluções ofere- cidas são inadequa- das. É necessária uma total reavalia- ção do nosso modo de pensar e viver.” SOPHIA • JAN-MAR/2012

Astrologia e mistériosAAqEuraárdieo VIBRANT IMAGE STUDIO - SHUTTERSTOCK‘‘São muitos os sinais da transição da Era de Peixes para a de Aquário: a era atômica e eletrônica, a ‘‘astronáutica, a conquista do espaço e a formação da União Europeia Ricardo Lindemann SOPHIA • JAN-MAR/2012 é engenheiro civil e astrólogo, licencia- do em Filosofia pela UFRGS, presidente dos Sindicato dos Astrólogos de Bra- sília e membro do Conselho Mundial da Sociedade Teo- sófica Internacio- nal. Lindemann escreve regularmen- te para SOPHIA. 42

Ricardo Lindemann rença dimensional das constela- propriamente na constelação side- ções no zodíaco sideral e o even- Embora sejam muitos os sinais tual vazio espacial da zona de ral de Aquário, N.T.] no final des- da transição do fim da Era de Pei- transição entre as estrelas de duas xes para o início da Era de Aquá- constelações contíguas, tornando te século [século XIX, N.T.], ou rio – como a era atômica e eletrô- difícil determinar precisamente nica, a astronáutica e a conquista em qual constelação se projeta o aproximadamente no ano de do espaço e, particularmente, a ponto equinocial vernal durante formação da União Europeia, fe- a transição. É justamente a cons- 1.900.” Essa data me parece muito nômeno sem precedentes por ter telação ocupada por esse ponto sido totalmente pacífico, como vernal, que o Sol atinge aproxi- plausível, porque em 1.897 o ci- uma expressão inicial do ideal madamente no dia 21 de março aquariano de uma nova era de fra- de cada ano, quem determina a entista J. J. Thompson demostrou ternidade universal, de paz mun- era que está em vigor. dial e de um mundo sem frontei- a divisibilidade do átomo pelo iso- ras –, existe controvérsias quanto Considera acertadamente a à data exata do início dessa Era. Enciclopédia Teosófica, quando lamento do elétron, caracterizan- menciona que uma era astrológi- Na verdade, como tenho sem- ca “é determinada pelo ponto do a maior revolução na pesquisa pre reiterado, é insuportável a [chamado vernal, N. T.] onde o Sol morte de 40 mil crianças por dia cruza o equador a cada primave- científica de partículas subatômi- “por problemas derivados da sub- ra [no hemisfério norte, N.T.]. Daí nutrição no mundo em desenvol- decorre requerer-se 2.155 anos cas, abrindo vimento”, segundo afirma a Unes- para passar por um doze avos [trin- co, enquanto no mundo se gasta ta graus, N.T.] do céu, ou a dis- as portas da um milhão de dólares por minu- tância de um signo. Porque os li- to em armas. Portanto, a cada cri- mites atuais entre os signos [na pesquisa da “A cúspide da ança que assim morre de fome verdade, entre as constelações correspondem 36.000 dólares gas- siderais, N.T.] são incertos, as eletrônica e segunda casa tos irresponsavelmente em armas, opiniões e os métodos de cálculo ou seja, em guerras e violência. divergem no que tange à data em para a assim (das posses e reali- que a Era de Aquário ocorreu ou Por outro lado, existem os cita- ocorrerá [na verdade, iniciou-se chamada era zações) em Peixes dos indícios da transformação do ou se iniciará, N.T.]. mundo numa direção mais aquari- atômica, exata- pode significar ana, pelo menos desde a Revolu- “A margem de datas [para esse mente no final compaixão pelos ção Francesa. O fato é que uma era início da Era de Aquário, N.T.] dos primeiros mais fracos e astrológica dura 2.155 anos, um varia desde 1.784, ano em que cinco milênios tendências para duodécimo do Grande Ano Platô- Urano foi descoberto [por ser ele do Kali Yuga um socialismo nico de 25.868 anos, ou seja, um o planeta regente de Aquário; mas do calendário espiritualizado” ciclo completo do movimento de há autores que preferem conside- hindu. Uma precessão dos equinócios, aquele rar o ano de 1.789, com a impor- movimento cônico do eixo da Ter- tante transformação da revolução revolução ci- ra, semelhante ao “bamboleio” cô- francesa, N.T.], até 2.375 d.C. O nico do eixo de um pião que se astrólogo sideral Cyril argumen- entífica com consequências tecno- acentua quando ele está prestes a ta em favor dessa última data com cair. Por ser um movimento de pre- base na noção de que o mais an- lógicas e históricas que talvez as cessão, segue no sentido inverso, tigo zodíaco foi medido a partir de modo que a era que precede a da estrela fixa Aldebaran, que futuras gerações considerem até de Aquário é a de Peixes. está localizada no meio da cons- telação de Touro. maiores do que a própria revolu- É muito difícil determinar o ano exato de uma mudança de “Helena Petrovna Blavatasky ção copernicana. era, devido à sua grande exten- afirma, em O Caráter Esotérico dos são de tempo, bem como às fre- Evangelhos, que o equinócio en- Conforme já mencionamos quentes discussões sobre a dife- trará no signo de Aquário [mais nesta coluna, no artigo Nostrada- SOPHIA • JAN-MAR/2012 mus e a Era de Aquário, (SOPHIA nº 27), o experimento do isola- mento do elétron foi detalhada- mente profetizado com nove anos de antecedência por H. P. Bla- vatsky, no volume segundo de sua obra A Doutrina Secreta, pu- blicada em 1888, o que traz evi- dência de que a clarividência de Blavatsky merece ser tomada em consideração em favor de seu ar- gumento para deslindar o polê- mico mistério da data inicial da Era de Aquário. O fato que o leitor melhor poderá compreender por analo- gia é que há uma imprecisão de 72 anos no início de uma Era As- trológica, quase um século, equi- vale a apenas um grau do Gran- de Ano Platônico de 25.868 anos, 43

e que, por sua vez, equivaleria a tigos nas revistas SOPHIA 26 e 36. YURI ARCURS - SHUTTERSTOCK A cúspide da décima casa (da apenas um dia no início de um A cúspide da terceira casa (dos profissão e da autoridade) em signo solar do popular zodíaco Escorpião pode significar que a anual, imprecisão aparentemente irmãos, da aprendizagem, da edu- autoridade do Estado será muito semelhante àquela a que estamos cação e do conhecimento) em poderosa sobre os indivíduos, acostumados a administrar em Áries pode significar que se bus- que tenderão a perder sua impor- todo ano bissexto... O mais pru- cará a autoafirmação pelo conhe- tância diluídos no ideal coletivis- dente é afirmar apenas o que já cimento de forma mais indepen- ta aquariano. se pode perceber pelos próprios dente, dependendo menos das fatos históricos: que a humanida- escolas, provavelmente pela ex- A cúspide da décima primeira de está realmente vivendo a tran- pansão da internet e instrumen- casa (da amizade, da fraternida- sição da antiga Era de Peixes para tos similares. de ou dos ideais) em Sagitário a nova Era de Aquário, sendo o pode significar que a fraternida- século XX um exemplo dessa cri- A cúspide da quarta casa (da de universal será uma lei funda- se de transformação, mas que re- família e dos pais) em Touro pode mental da Era de Aquário. presenta apenas um dia letivo na significar que os pais serão obe- Escola das Eras da vida infinita. dientes aos filhos, e da quinta A cúspide da décima segunda casa em Gêmeos, chamada casa casa (do isolamento, das limita- O que parece mais importante dos filhos e da criatividade, po- ções e da transcendência) em Ca- compreender é que essa crise de derá significar que os pais apren- pricórnio pode significar que será transformação nos traz uma ma- derão com os filhos, como suge- demandado um retorno à simpli- téria nova para o nosso estudo, ria minha professora Emma Cos- sendo que o signo ascendente da tet de Mascheville. “A cúspide da sexta casa nova Era será Aquário, prenunci- em Câncer pode significar que ando uma era de fraternidade A cúspide da sexta casa (da as pessoas trabalharão mais universal – ou pelo menos essa saúde e do trabalho) em Câncer em casa, provavelmente pela será a nota tônica, como se fosse pode significar que as pessoas tra- expansão da internet e dos o ideal de expressão da persona- balharão mais em casa, provavel- recursos tecnológicos.” lidade da Era, por assim dizer, re- mente pela expansão da internet fletindo os ideais aquarianos de e dos recursos tecnológicos. SOPHIA • JAN-MAR/2012 saber e liberdade, de um trata- mento igualitário e não hierárqui- A cúspide da sétima casa (do co, o ideal de que todos sejam casamento e das associações) em amigos. Como Urano, o regente Leão pode significar que o senti- de Aquário e também o regente do de calor humano e lealdade da Astrologia, considera-se que ao compromisso nos relaciona- esta terá grande expansão, sen- mentos, particularmente no casa- do a Astrologia um caminho de mento, tende a declinar e hiber- harmonização entre a ciência e o nar até ser redescoberto coletiva- misticismo durante esta nova Era. mente em sua importância, no último quarto da Era (a partir de A cúspide da segunda casa 3.500 d.C.). (das posses e realizações) em Pei- xes poderá significar que serão A cúspide da oitava casa (da realizados os ideais da Era de Pei- morte e das heranças) em Virgem xes, como a compaixão pelos pode significar que a ciência estu- mais fracos e pobres, revelando dará detalhadamente as condições tendências para um socialismo es- da morte e da vida post-mortem, piritualizado e cujos recursos para reencontrando os ciclos da natu- redistribuição de renda poderiam reza também na reencarnação. surgir de uma era de paz conse- quente de uma união planetária A cúspide da nona casa (da re- com o surgimento da Federação ligião e da filosofia) em Libra das Nações, possivelmente em pode significar que a cooperação, 2029, conforme considerei em ar- particularmente entre as diferen- tes culturas, a beleza e a harmo- 44 nia, inclusive nos relacionamen- tos, serão a religião ou filosofia dessa nova era.

cidade, o respeito à vida natural 2023) está sendo um grande cata- breve. Algo muito novo aconteceu e ecológica como caminho para a lisador, com as crises (as sete qua- em 1993, que até justificaria dizer transcendência. draturas de Urano com Plutão de que a Era de Aquário já começou 2012 a 2015) que já estão apare- ou pelo menos se prenuncia, mas Essas são as tendências gerais cendo, dessa tão necessária trans- somente a Federação das Nações, da Era de Aquário, mas creio que formação no mundo atual.” que porá fim às guerras, indicará seria oportuno enfatizar nossa plenamente o início de uma nova conclusão expressa na revista SO- “Seja como for, a unificação da Era. Assim como hoje nem pode- PHIA nº 26: “A maior das transfor- Europa em 1993 foi um fato sem mos mais imaginar um retorno à mações que está por chegar é o precedentes, porque espontâneo Guerra dos Cem Anos (1337-1453) surgimento da Federação das Na- – ocorreu pela primeira vez sem o entre a Inglaterra e a França, por- ções (possivelmente em 2029), uso da força. Alexandre, o Gran- que a Europa já está basicamente que corporificaria o ideal da fra- de, Julio César, Carlos Magno e unificada, também as gerações fu- ternidade universal na tão profe- mais recentemente Napoleão, Hi- turas considerarão absurdas e bár- tizada Era de Aquário. O surgi- tler e Stalin unificaram grande par- baras essas diversas guerras que mento da União Europeia (1993), te da Europa, mas todos esses per- temos assistido em nossa história, num processo histórico sem pre- sonagens da história necessitaram somente porque ainda não existe cedentes, é um sintoma evidente usar a força das armas para pro- uma eficaz Federação das Nações dessa tendência. A presença de duzir uma unificação parcial, que neste planeta Terra.” Plutão em Capricórnio (2008- foi assim artificial e de duração SOPHIA • JAN-MAR/2012 4545

Conheça as publicações da LANÇAMENTO LANÇAMENTO Sete Grandes Religiões A Luz da Ásia – Meditação, sua A Sabedoria Antiga Annie Besant Os ensinamentos de Prática e Resultados Annie Besant Gautama Buda Clara M. Codd Essa antologia de pales- Edwin Arnold A sabedoria antiga, também tras da Dra. Annie Besant A meditação, uma prática chamada de teosofia pelos evidencia a unidade essen- A primeira edição de A imemorial, é um dos temas neoplatônicos de Alexandria, a cial contida nos ensinamen- Luz da Ásia foi publicada em mais atraentes na busca espi- partir do século III, é o corpo tos das grandes religiões – 1879. Desde então milhares ritual. Através dela podemos de verdades que forma a base Budismo, Cristianismo, de leitores de todo o mundo penetrar dimensões diferen- de todas as religiões, e não Islamismo, Hinduísmo, vêm se deleitando com a tes e desconhecidas de nós pode ser reivindicado como Siquismo, Janaísmo e Zoro- história da vida de Buda, mesmos, até alcançarmos posse exclusiva de nenhuma. astrianismo. contada de forma tocante. nossa verdadeira identidade. Ela oferece uma filosofia que torna a vida inteligível, de- Quando nos remetemos O autor utiliza uma Neste livro são apresen- monstra que a justiça e o amor às mensagens deixadas linguagem poética e inspi- tadas técnicas de meditação, guiam a evolução e coloca a pelos fundadores das gran- radora para descrever em seus resultados, os obstáculos morte em seu legítimo lugar, des religiões, transcenden- detalhes as várias faces da à sua prática e uma série de como um incidente periódico do os dogmas, os rituais, as vida de Siddharta Gautama. exercícios cuidadosamente numa vida infinita. superstições e os aspectos Os ensinamentos do Budis- selecionados entre as diver- mais temporais e superfici- mo são expressos natural- sas tradições da espiritualida- Este livro aborda temas ais dessas religiões, encon- mente como decorrência de universal. como o plano físico, astral, tramos as mesmas verdades das vivências de Buda. Com mental, a reencarnação, o car- eternas. Observamos que maestria ele faz o leitor ma, o destino e o livre-arbítrio, todos esses grandes instru- viajar inicialmente pela as possibilidades da evolução tores espirituais foram ca- atmosfera de encantamentos humana e a origem do cosmo, nais de uma mesma sabe- e prazeres dos palácios com esclarecimentos úteis para doria divina e a expressa- onde Siddharta viveu os a vida do leitor. ram em linguagem apropri- anos de sua juventude, em ada ao tempo e à cultura seguida pela vida de renún- A Criança Encantada em onde viveram. cia, austeridade e privação C. Jinarajadasa na floresta, para descobrir A unidade religiosa não depois o caminho do meio, A Criança Encantada não é deve ser buscada no âmbito atingir a iluminação e tor- apenas uma parábola inspirado de uma única religião, mas nar-se um grande instrutor. ra escrita por um dos maiores teosofistas do século XX. É uma na compreensão de que proposta social baseada na fraternidade e na vivência da dimen- todos os credos são ex- Edwin Arnold nasceu na são espiritual. C. Jinarajadasa nasceu em Sri Lanka em 1875 e pressões de uma mesma Inglaterra. Foi escritor, jor- presidente internacional da Sociedade Teosófica de 1945 até 1953. sabedoria universal, que nalista, editor e educador. Entre os livros que escreveu há vários para crianças e jovens. todos os credos têm a mes- Morou vários anos na Índia, ma origem e conduzem ao onde foi reitor de uma reno- mesmo fim. mada faculdade de sânscrito. 46 SOPHIA • JAN-MAR/2012

Editora Teosófica A Vida Interna Luz no Caminho Fundamentos da Raja Yoga – C. W. Leadbeater Mabel Collins Filosofia Esotérica Um Curso Simplificado H. P. Blavatsky de Yoga Integral Escrito com base na profunda Quando o coração está Wallace Slater vivência espiritual do autor, este pronto para aceitar a paz, a Este livro é uma compila- livro tem sido útil (e fascinante) verdade é compreendida ção dos escritos de Helena O Raja Yoga está para milhares de pessoas que com poucas palavras. É por Petrovna Blavatsky, grande direcionado ao controle buscam conhecer melhor a vida à isso que Luz no Caminho, ocultista russa que viveu no da mente. É também cha- luz da sabedoria eterna. um dos mais importantes século dezenove. Extraído de mado de o Yoga da Von- clássicos da literatura mística suas principais obras (Ísis sem tade e tem como objetivo Baseado na transcrição de de todos os tempos, parece Véu e A Doutrina Secreta), o desenvolver completa- palestras e diálogos com estudan- resumir toda a sabedoria livro apresenta as ideias cen- mente o potencial huma- tes de Teosofia durante encontros esotérica em cada uma de trais da filosofia esotérica e da no, possibilitando a ex- informais na Índia, no começo do suas frases. “Dentro de ti está sabedoria oculta. pressão plena do Eu século XX, este livro aborda te- a luz do mundo”, diz o texto; espiritual. mas como a vida após a morte, a “a única luz que pode ser Qual a natureza do verda- consciência búdica, o nosso de- projetada sobre o caminho.” deiro esoterismo? Qual o seu Este livro apresenta ver ético para com os animais e a propósito? Quais as ideias bási- um curso simplificado de relação interna dos Mestres de Este livro faz parte de cas da tradição esotérica? Essas Raja Yoga, servindo como Sabedoria com discípulos e aspi- um ensinamento imortal e outras perguntas encontram um instrutor pessoal. As rantes ao discipulado. que guia a humanidade resposta neste livro, de grande instruções são muito obje- desde tempos imemoriais. interesse para todos os que se tivas e práticas, buscando A importância duradoura do Com uma tradução cuidado- sentem atraídos pelo estudo da possibilitar um melhor seu conteúdo tornou indispensá- sa, esta é uma edição indis- antiga tradição oculta, dos mis- entendimento ao leitor. As vel a sua publicação em língua pensável para o leitor dis- térios que envolvem a origem, lições estão planejadas portuguesa, o que só ocorre posto a encontrar a sabedo- o desenvolvimento e o destino para dez meses, com a agora, mais de oitenta anos de- ria divina. do homem e do cosmos. proposta de estudo de pois de sua edição original. uma lição a cada mês. Editora Teosófica Sete maneiras fáceis de O curso é de valor comprar nossos livros: SGAS quadra 603, conj. E, s/nº inestimável ao estudante, Brasília-DF - CEP 70.200-630 uma vez que o auxiliará a 1. Ligue grátis: 0800-610020 Fone: 61-3322-7843 encontrar a calma e a 2. Peça por fax Fax: 61-3226-3703 quietude no meio do tur- 3. Peça por correspondência bilhão de ocupações da 4. Cheque nominal E-mail: [email protected] vida moderna, além de 5. Depósito bancário Home page: www.editorateosofica.com.br trazer a possibilidade de 6. Cartão Visa novos insights e a plena 7. Visite nosso site: realização como ser huma- www.editorateosofica.com.br no, visando a libertação de sua consciência. SOPHIA • JAN-MAR/2012 47

Peça pelo número! Ligue grátis: 0800-610020 1. Além do Despertar - Textos do Mestre Hakuin 34. Fotos de Fadas - Edward L. Gardner: 17,00 Malheiros: 23,00 sobre Meditação Zen: 23,00 35. Fundamentos da Filosofia Esotérica - H. P. 68. Preparação para Yoga - I. K.Taimni: 22,00 69. O Processo de Autotransformação - Vicent 2. Alvorecer da Vida Espiritual, O - Murillo Blavatsky: 15,00 Nunes de Azevedo: 25,00 36. Gayatri - O Mantra Sagrado da Índia - I. Hao Chin Jr.: 35,00 70. Princípios de Trabalho da Sociedade 3. Apolônio de Tiana - G. R. S. Mead: 23,00 K. Taimni: 26,00 4. Aprendendo a Viver a Teosofia, Radha 37. Gnose Cristã, A - C. W. Leadbeater: 34,00 Teosófica - I. K.Taimni: 14,00 38. Helena Blavatsky - Sylvia Cranston: 65,00 71. Raja Yoga - Wallace Slater: 20,00 Burnier, R$ 31,00 39. Hino de Jesus, O - G. R. S. Mead: 13,00 72. Regeneração Humana - Radha Burnier: 21,00 5. Aspectos Espirituais das Artes de Curar - Dora 40. Histórias Zen - Paul Reps (comp.): 27,00 73. Rumo a uma Mente Sábia e uma Sociedade Nobre 41. Homem: sua Origem e Evolução, O - N. Sri van Gelder Kunz: 41,00 - Radha Burnier e outros: 18,00 6. Autocultura à Luz do Ocultismo - I. K. Ram: 17,00 74. Sabedoria Antiga, A: 37,00 42. Ideais da Teosofia, Os - Annie Besant: 23,00 75. Sabedoria Antiga e Visão Moderna - Taimni: 39,00 43. Idílio do Lótus Branco, O - Mabel Collins: 7. Autoconhecimento - Marcos Resende: 18,00 Shirley Nicholson: 33,00 8. Autorrealização pelo Amor - I. K. Taimni: 20,00 76. Sabedoria Oculta na Bíblia Sagrada, A - 44. Inteligência Emocional - As Três Faces da 21,00 Geoffrey Hodson: 67,00 9. Bhagavad-Gita - Trad. Annie Besant: 12,00 Mente - Elaine de Beauport & Aura Sofia 77. Saúde e Espiritualidade - Geoffrey Hodson: 14,00 10. Caminho do Autoconhecimento, O - Radha Diaz: 49,00 78. Segredo da Autorrealização, O - I. K. Taimni: 20,00 45. Introdução à Teosofia - C.W. Leadbeater: 15,00 79. Senda Graduada para a Libertação, A - Burnier: 12,00 46. Investigando a Reencarnação - John Algeo: 11. Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett, 24,00 Geshe Rabten: 15,00 47. Leis do Caminho Espiritual, As - Annie 80. Senda para a Perfeição, A - Vol. 1 - Mahatmas K. H. e M.: 47,00 Besant: 20,00 12. Cartas dos Mahatmas para A. P. Sinnett, 48. Libertação do Sofrimento, A - Alberto Geoffrey Hodson: 15,00 Brum: 21,00 81. Sete Grandes Religiões, As - Annie Besant: R$ 35,00 Vol. 2 - Mahatmas K. H. e M.: 49,00 49. Luz da Ásia, A - Edwin Arnold: R$ 23,00 82. Suprema Realização através da Yoga, A - 13. Cartas dos Mestres de Sabedoria - C. 50. Luz e Sombra - Emma Costet de Mascheville: 17,00 Geoffrey Hodson: 29,00 Jinarajadasa: 38,00 51. Luz no Caminho - Mabel Collins: 12,00 83. Sussurros da Outra Margem - Ravi Ravindra: 23,00 14. Chamado dos Upanixades, O - Rohit Mehta: 52. Meditação - Sua Prática e Resultados - 84. Teatro da Mente, O - Clara M. Codd: 17,00 R$ 39,00 53. Meditação - Um Estudo Prático - Adelaide Henryk Skolimowski: 24,00 15. Chave para a Teosofia, A - H. P. Blavatsky: Gardner: 22,00 85. Teia de Maya, A - Atapoã Feliz: 17,00 54. Meditações: Excertos das Cartas dos 86. Teosofia como os Mestres a Vêem - 36,00 Mestres de Sabedoria - Katherine A. 16. Chegando Aonde Você Está - A Vida de Beechey (comp.) [livro de bolso] - 12,00 Clara Codd: 33,00 55. Meditação Taoísta - Thomas Cleary 87. Teosofia Simplificada - Irving Cooper: 19,00 Meditação - Steven Harrison: 31,00 (comp.): 21,00 88. Tradição-Sabedoria, A - Pedro Oliveira 17. A Ciência da Astrologia e as Escolas de 56. Mundo Oculto, O - A. P. Sinnett: 30,00 57. Natal dos Anjos, O - Dora van Gelder Kunz e Ricardo Lindemann: 21,00 Mistérios - Ricardo Lindemann: 51,00 - 12,00 89. Três Caminhos para a Paz Interior - 18. A Ciência da Meditação - Rohit Mehta: 35,00 58. Ocultismo Prático - Helena Blavatsky: 12,00 19. Ciência do Yoga - I. K. Taimni: 45,00 59. Ocultismo, Semi-ocultismo e Pseudo- Carlos Cardoso Aveline: 25,00 20. Conheça-te a Ti Mesmo - Valdir Peixoto: 15,00 ocultismo - Annie Besant: 13,00 92. Tudo Começa com a Prece - Madre Teresa de 21. Conquista da Felicidade, A - Kodo 60. Pensamentos para Aspirantes ao Caminho Espiritual - N. Sri Ram: 20,00 Calcutá: 23,00 Matsunami: 23,00 61. Pérolas de Sabedoria - Sri Ramana 91. Vegetarianismo e Ocultismo - C. W. 22. Consciência e Cosmos - Menas Kafatos & Maharshi: 25,00 62. Pés do Mestre, Aos - J. Krishnamurti: 12,00 Leadbeater - Annie Besant: 18,00 Thalia Kafatou: 34,00 63. Pistis Sophia - Trad. Raul Branco: 49,00 92. Vida de Cristo, A - Geoffrey Hodson: 43,00 23. Contos Mágicos da Índia - Marie Louise 64. Poder da Sabedoria, O - Carlos Cardoso 93. Vida e Morte de Krishnamurti - Mary Lutyens: 37,00 Aveline: 25,00 94. Vida Espiritual, A - Annie Besant: 27,00 Burke: 21,00 65. Poder da Vontade, O - Swami 95. Vida Interna, A - C. W. Leadbeater: 39,00 24. Criança Encantada, A [livro de bolso] - C. Budhananda: 13,00 96. Visão Espiritual da Relação Homem & Mulher, 66. Poder Transformador do Cristianismo Jinarajadasa: 12,00 Primitivo, O - Raul Branco: R$ 21,00 A - Scott Miners (comp.): 33,00 25. Dentro da Luz - Cherie Sutherland: 31,00 67. Potência do Nada, A - Marcelo 97. Viveka-Chudamani - A Joia Suprema da 26. Desejo e Plenitude - Hugh Shearman: 15,00 27. Despertar da Visão da Sabedoria, O - Tenzin Sabedoria - Shankara: 28,00 98. Vivência da Espiritualidade, A - Shirley Gyatso, 14º Dalai Lama: 22,00 28. Despertar de Uma Nova Consciência, O - Joy Nicholson: 13,00 99. Você Colhe o que Planta - Mills: 17,00 29. Doutrina do Coração, A - Annie Besant: Antonio Geraldo Buck: 15,00 100. Wen-tzu - A Compreensão dos Mistérios - 19,00 30. Em Busca da Sabedoria - N. Sri Ram: 26,00 Ensinamentos de Lao-tzu: 29,00 31. Escolas de Mistérios, As - Clara Codd: 35,00 101. Yoga - A Arte da Integração - Rohit Mehta: 43,00 32. Estudos Seletos em A Doutrina Secreta - 102. Yoga do Cristo - No Evangelho de São João, A - Salomon Lancri: 21,00 Ravi Ravindra: 33,00 33. Fim da Divindade Mecânica, O - John David Ebert (comp.): 33,00 RECORTE OU TIRE CÓPIA DESTE CUPOM E ENVIE PARA: EDITORA TEOSÓFICA - SGAS Q. 603, CONJ. E, S/Nº - BRASÍLIA-DF - CEP 70.200-630 [SOPHIA 37] Desejo adquirir as publicações nº por meio deste cupom ou do site www.editorateosofica.com.br, na seguinte forma de pagamento: Cartão VISA nº Validade: Titular: Cheque nominal à Editora Teosófica PEDIDOS DE LIVRO – ATÉ 3 LIVROS = R$ 15,00 Depósito bancário: Banco do Brasil, Ag. 3476-2, Conta 40355-5 ACIMA DE 3 LIVROS = R$ 18,00 Desejo assinar SOPHIA para receber 4 edições, trimestralmente, por R$ 44,00 Para receber 8 edições, trimestralmente, por R$ 85,00 Para receber 12 edições, trimestralmente, por R$ 122,00 Nome: Data de nascimento: CPF: Endereço: CEP: Fone (c4o8m.): E-mail: Cidade: Estado: SOPHIA • JAN-MAR/2012 Fone (res.):

A origem da pala- vra theosophia é grega e significa sabedoria divina. A Sociedade Teo- sófica moderna busca a sabedoria não pela mera crença, mas pela investigação da verdade na natu- reza e no homem. FRED FOKKELMAN O que é a Sociedade Teosófica A Sociedade Teosófica foi funda- des em mais de sessenta países. Está tendo, ao mesmo tempo, suas tradi- da em Nova Iorque, em 17 de no- dividida em Seções Nacionais, que se ções. Considerando que ela não é uma vembro de 1875, por um grupo de compõem de Lojas e Grupos de Estu- religião, muito menos uma seita, so- pessoas, entre as quais se destacaram dos. Seus objetivos são: mente o respeito à liberdade de pen- a russa Helena Petrovna Blavatsky e samento torna possível a convivên- o norte-americano Henry Steel Olcott, Formar um núcleo da Fraternida- cia harmônica que favorece a investi- que foi seu primeiro presidente. Pos- de Universal da Humanidade, sem gação e o aprendizado. teriormente, a sede internacional foi distinção de raça, credo, sexo, casta transferida para a Índia, na cidade de ou cor. Sabedoria viva Chennai, antiga Madras, onde se en- Encorajar o estudo de Religião contra atualmente localizada. Comparada, Filosofia e Ciência. A origem da palavra theosophia Investigar as leis não-explicadas da é grega e significa, etmologicamen- Com mais de um século de exis- natureza e os poderes latentes no te, sabedoria divina. Quem primei- tência, a Sociedade Teosófica espa- homem. ro utilizou esse termo foi Amônio lhou-se por todo o mundo, com se- Saccas, em Alexandria, no Egito, no A Sociedade Teosófica estrutu- século III d.C, que, juntamente com Não há religião ra-se sobre o princípio da fraterni- seu discípulo Plotino, fundou a Es- superior à dade universal. Seus objetivos apon- cola Teosófica Eclética. Esses filó- tam na direção de uma livre inves- sofos neoplatônicos não buscavam verdade tigação da verdade. a sabedoria apenas nos livros, mas através de analogias e correspon- Esse é o lema da Sociedade Teosó- Uma vez que essa investigação só dências da alma humana com o fica. Ele não significa que a Socie- pode ser realmente empreendida em mundo externo e os fenômenos da dade se imponha como portadora uma atmosfera de liberdade, a Socie- natureza. Assim, a Sociedade Teo- da verdade; quer dizer que o laço dade assegura aos membros o direito sófica moderna, sucessora dessa an- que une os teosofistas não é uma à plena liberdade de pensamento e tiga escola, almeja a busca da sabe- crença comum, mas a investigação expressão, dentro dos limites do res- doria não pela mera crença, mas da verdade em relação às diversas peito para com os demais. pela investigação da verdade que se religiões, à filosofia ou à ciência. manifesta na natureza e no homem. Membros de diversas religiões se filiaram à Sociedade Teosófica, man- www.sociedadeteosofica.org.br SOPHIA • JAN-MAR/2012 49

Endereços da Sociedade Teosófica no Brasil www.sociedadeteosofica.org.br Capitais Rio de Janeiro-RJ niões: 3ª, 20h. Loja Augusto Bracet: Av. 13 de Maio, nº 13, s. Loja Liberdade: R. Anita Garibaldi, 29, 10º Brasília-DF – SGAS Q. 603, cj. E, s/nº. CEP: 70200-630. Tel: (61) 3226-0662. 1.520, Centro, Cep 20053-901. Tel: (21) 2569-9978. andar. CEP: 01018-020. Tel: (11) 3256-9747. Reu- E-mail: [email protected]. Reuniões: 4ª, 15h. niões: 6ª, 20h. E-mail: lojaliberdade@ Loja Alvorada: Reuniões 6ª, 19h30. sociedadeteosofica.org.br e loja@teosofia Loja Brasília: Reuniões 4ª, 19h. E-mail: Lojas Conde de Saint Germain, Jinarajadasa, liberdade.org.br [email protected] Nirvana, Perseverança e Rio de Janeiro: Av. 13 Loja Fênix: Reuniões 3ª, 19h. E-mail: de Maio, nº 13, s. 1.520, Centro, Cep 20053-901. Loja Raja Yoga: R. Mituto Mizumoto 301, Li- [email protected] Tel: (21) 2220-1003. berdade. CEP: 01513-040. Tel: (11) 3271-3106. Coordenadoria das lojas de Brasília – progra- Reuniões: 6ª, 20h. E-mail: lojarajayoga@ mação pública conjunta: sáb., 14h30 a 21h30. Loja Conde de S.Germain: Reuniões 2ª, 14h. sociedadeteosofica.org.br Belém-PA Loja Himalaia: Tel (21) 2710-3890. Loja Annie Besant: R. Tiradentes, 470, Redu- Loja Jinarajadasa: Reuniões 3ª, 16h. Site: Loja São Paulo: R. Ezequiel Freire, 296, to. CEP 66053-330. Fone: (91) 3242-6978. Reu- www.lojajinarajadasa.com. Santana (imediações metrô Santana). CEP: niões: 5ª, 19h. Loja Nirvana: Reuniões 6ª, 17h30. 02034-000. Tel: (11) 5661-1383. Site: groups. Belo Horizonte-MG Loja Perseverança: Reuniões 5ª, 14h30. E-mail: yahoo.com/group/ltsp-sampa. E-mail: ltsp- Loja Bhagavad Gotama: Av. Afonso Pena, 748, [email protected] [email protected]. Reuniões: 26º andar. CEP: 30130-300. Tel: (31)3222-5934. Loja Rio de Janeiro: Reuniões sáb. 16h. dom. 17h30. E-mail: [email protected]. Salvador-BA Vitória-ES Reuniões: domingos, 16h. Loja Kut-Humi: R. das Rosas, 646, Pq. N. S. da Luz, Campo Grande-MT Pituba. CEP: 41810-070. Tel: (71) 3353-2191 / 9919- Loja Sabedoria Universal: Tel: 3340-028 (Sr. Loja Campo Grande: Rua Pernambuco, 824, 1065. E-mail: [email protected]. Alcione). E-mail: [email protected]. Reuni- São Francisco, CEP 79010-040. Tel.: (67) 3025- Site: www.sociedadeteosofica.org.br/teobahia- ões: 1ª terça do mês, 20h. 7251/9982-8106. Reuniões: sáb, 18h. E-mail: Reuniões: sáb., 16h. [email protected] São Paulo G.E.T. Blavatsky - Praça Getúlio Vargas, 35, Curitiba-PR Loja Amizade: R. Mituto Mizumoto 301, Liber- Ed.Jusmar, sala 614, Centro, CEP 29010-925. Tel Loja Libertação: R. XV de Nov., 1700, 2º dade. CEP: 01513-040. Tel: (11) 3271-3106. Reu- (27) 3227-8249. E-mail: luz_trina@yahoo. andar, s. 5. CEP: 80050-000. Tel: (41) 3037- com.br. Reuniões: 3ª, 19h30. 5586, 3363-8312. Reuniões: 4ª, 19h45 (mem- Outras cidades bros); 5ª 19h e sáb. 16h (público). E-mail: Juazeiro do Norte-CE [email protected] Águas de São Pedro-SP G.E.T. Ashrama: R. Santa Rosa, 835, Salesianos. Loja Paraná: R. Dr. Zamenhof, 97, Alto da G.E.T. Águas de São Pedro: Rua Pedro Boscari- Glória. CEP: 80030-320. Tel: (41) 3254-3062. CEP: 63010-440. Tel: (88) 3511-2905. Reuniões: do- Reuniões: 3ª, 20h. ol Sobrinho, nº 95, SP. CEP: 13525-000. Telefone: mingo, 15h. E-mail: getashrama@sociedade- G.E.T. Dario Vellozo: R. 13 de Maio, 538, (19) 3482-1009. Reuniões: 5ª, 20h. teosofica.org.br Centro, CEP 80510-030. Reuniões: 2ª e 4º do- Balneário Camboriú-SC Juiz de Fora-MG mingos, 15h30 às 17h30. Tel: (41) 3352-7175, 9979-7970, 9675-8126. E-mail: jorgebernardi G.E.T. Luz no Caminho: R. 2.700, nº 350, CEP Loja Estrela D’Alva: Av. Barão do Rio Branco, [email protected] ou [email protected] 88.300-000. Tel: (47) 3046-0069 e 8401-4412. Reu- 2721, s. 1006, Centro. CEP: 36025-000. Tel: (32) Florianópolis-SC niões: quinzenalmente, domingo às 17h30. E-mail: 3061-4293. Reuniões: 2ª, 4ª, sáb., 18h15. G.E.T. Florianópolis: R. José Francisco Dias [email protected] Jundiaí-SP Areias, 390, Trindade, CEP: 88036-120. Tel: Bragança Paulista-SP (48) 3333-2311, 3333-2311, 9960-0637 (Adol- G.E.T Jundiaí: R. Santa Lúcia, 25, Chácara Urba- fo). Reuniões: última 3ª do mês, 20h. E-mail: Loja Alaya: R. Teixeira, 505, Taboão. CEP 12900- na, CEP 13201-834. Fone: (11) 4586-5022 e 9700- [email protected] 000. Tel: 4032-5859. Reuniões: 6ª, 20h. E-mail: 2012. Reuniões: 5ª, 20h. E-mail: Luciano.Irlanda@ Fortaleza-CE [email protected] yahoo.com.br. Site: www.rosemeiredealmeida.com Loja Unidade: Endereço: R. Rocha Lima, 331, Campina Grande-PB Mogi das Cruzes-SP Centro, CEP 65000-010. Reuniões: domingo 9h e 5ª 19h20. Tel: (85) 3214-2392. Reuniões: 5ª, G.E.T. Sírius: R. Clementino Siqueira, 34, Jar- Loja Raimundo Pinto Seidl: Rua Bráz Cubas, 19h20. Site: lojateosoficaunidade.com.br. E- dim Tavares (lateral do restaurante Tábua de Car- 251, sala 14, 1º andar, Centro. CEP: 08715-060. mail: [email protected] ne). CEP: 58.402-070. Tel: (83) 3055-1770. Reuni- Tel: (11) 4799-0139. Reuniões: sábado, 15h30. Goiânia-GO ões: dom., 16h30. E-mail: get.sirius@sociedade- Niterói-RJ G.E.T. Sophia: Rua T-46, nº 110, Qda 12, Lote teosofica.org.br ou [email protected] 23, Setor Oeste, CEP 74010-160. Reuniões: Sá- Campinas-SP Loja Himalaya: R. da Conceição 99, s. 207, bados 17h. E-mail: [email protected] Centro. CEP 24020-090. Tel: (21) 2710-3890, João Pessoa-PB G.E.T Lótus Branco: Cx P. 3835, Av. João Erba- 2611-6949. Reuniões: 2ª, 19h. Lj. Esperança: Av. Argemiro de Figueiredo, lato, 48, ACF Castelo, CEP 13070-973. Reuniões: Piracicaba-SP 2957, s. 203, Ed. Empresarial, Bessa. CEP 58035- sábados, 15h, fones: (19) 3027-1224/8815-2970. E- 030. Tel: (83) 3246-1478, 9117-4488 ou 8866-5051. mail: [email protected] Loja Piracicaba: R. Sta Cruz, 467, Alto. CEP: 13416- E-mail: lojaesperanç[email protected] Cataguases-MG 763. Tel: (19) 3432-6540. Reuniões: 3ª e 5ª, 20h. E- Porto Alegre-RS mail: [email protected]. Loja Dharma: Rua Voluntários da Pátria, 595, Loja Unicidade: R. Cel João Duarte, 78, s. 204. Praia Grande-SP s. 1408. CEP: 90039-900. Tel: (51) 3225-1801. CEP: 36770-000. Tel: (32) 3421-8601/(32) 3421- Site: www.lojadharma.org.br. Reuniões: 4ª, 20h 2600/(32) 9111-8181 e (32) 9984-1164. Reuniões: Get Thoth: Rua Maurício José Cardoso, nº 1086, (membros); sábado, 17h e 19h (público). 3ª, 20h, sáb., 19h. E-mail: lojaunicidade@socie- Forte, CEP 11700-140. Tel: (13) 3474-5180. Reu- Loja Jehoshua: Praça Osvaldo Cruz, 15, Ed. dadeteosofica.org.br niões: 2ª, 20h. E-mail: get.thoth@sociedade Coliseu, s. 2108, Centro. CEP: 90030-160. Tel.: Criciúma-SC teosofica.org.br (51) 8417-2533. Reuniões: 3ª, 20h. E-mail: Ribeirão Preto-SP [email protected] G.E.T. Mabel Collins: Cx P. 263, CEP 88801-970. Recife-PE Tel: (48) 3433-0380 / 9904-2080. Reuniões: 1º sába- G.E.T Ahimsa: R. João Penteado, 38, Jardim Loja Estrela do Norte: R. Diogo Álvares, 155, do do mês, 15h. Sumaré, CEP 14020-180. Fones: (16) 3024-1755 e Torre. CEP: 54420-000. Tel: (81) 3459-1452. Reu- Franca-SP 9144-1780. Reuniões: Sáb., 16h. E-mail: getahim- niões: domingo, 16h. E-mail: lojaestreladonorte sa @sociedadeteosofica.org.br @sociedadeteosofica.org.br G.E.T. Consciência: R. Jardinópolis, 508. CEP 14405- São Caetano do Sul-SP 065. Tel: (16) 3723-5676. Reuniões: domingo, 15h. E- mail: [email protected] G.E.T. do Grande ABC: R. Marechal Deodoro, 904, Guarulhos-SP Sta. Paula. CEP 09541-300. Tel: (11) 4229-7846. Reu- nião 3ª, 20h. E-mail: [email protected] G.E.T Mahatma Gandhi: R. Francisco de Assis, São José dos Campos-SP 87, s. 1, Centro, CEP 07095-020. Reuniões: 4ª, 19h. Joinville-SC Loja Vida Una: R. General Osório, 48, Vila Ema. CEP: 12216-590. Reunião: 3ª 19h. E-mail: Loja Shanti-OM: R. Eugênio Moreira, 114, Anita [email protected] Garibaldi. CEP: 89202-100. Tel: (47) 3433-3706. Uberlândia-MG Reuniões: 4º domingo do mês, 19h. G.E.T Uniconsciência: ESP. SAMSARA, Av. Cesá- rio Alvim, 619, Centro. CEP 38400-000. Tel: (34) 3236- 8661. Reuniões: Sáb., 16h.


Revista Sophia nº 37

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