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Revista Sophia nº 54

Published by Editora Teosofica, 2021-04-01 16:09:58

Description: A Revista Sophia é uma publicação independente da Editora Teosófica, apresentando artigos que vertem sobre temas como filosofia, ciência e religião. Nesta edição:
• A ciência e a espiritualidade – Nilda Venegas Bernal;
• O caminhod a simplicidade – Mary Francis Coady;
• O que é o amor – Sri Prakasa;
• O retorno do Pequeno Príncipe – Regina Medina;
• A imortalidade da alma – Ricardo Lindemann;
• O poder renovador – Pedro Oliveira;
• Uma cura para o planeta – Samdhong Rinpoche;
• A mente, a ignorância e a verdade – Linda Oliveira.

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www.revistasophia.com.br ANO 13 • Nº 54 R$ 12,90

Editora Teosófica novos horizontes para viver melhor 0Pl8iag0ru0ae-6cg1o0rmá0tp2is0ra: r, www.editorateosofica.com.br

Cartas Sophia 54 Abraçada e acolhida A ciência e a espiritualidade Sou assinante de SOPHIA desde o primeiro Nilda Venegas Bernal número. Ela me ajuda a encontrar paz, ale- gria e tranquilidade nos pensamentos e emo- 5 ções, e tem me ajudado, através dos seus en- riquecedores materiais, a desenvolver e re- O caminho da simplicidade lembrar capacidades e aprendizados adorme- Mary Francis Coady cidos na essência do meu ser. Eu me sinto abraçada e acolhida por essa revista, pelos seus 8 conteúdos tão profundos, abordados de forma doce, leve e instigante. Aos seus produtores e O que é o amor colaboradores, minha eterna gratidão. Sri Prakasa Sillenes Fatima de Jesus – Goiânia (GO) 12 Fonte de alegria Como é bom poder contar com textos que O retorno do inspiram, palavras que acalmam e fortale- Pequeno Príncipe cem. Ter sempre às mãos mensagens de Regina Medina mestres a guiar o caminho com verdades eternas e de buscadores dedicados a compar- 16 tilhar experiências e descobertas que facili- tam e tornam mais ameno o percurso de A imortalidade da alma cada um. Traduzindo a milenar sabedoria do Ricardo Lindemann Oriente e divulgando descobertas recentes da ciência ocidental, semeadora da paz e da 22 fraternidade, a revista SOPHIA é uma fonte de alegria e celebração. O poder renovador Maria Teresa Guimarães – Brasília (DF) Pedro Oliveira Serviço útil 26 Sou assinante há bastante tempo e renovei por dois anos, pois todos os assuntos da SO- Uma cura para o planeta PHIA são muito interessantes. Meu tema pre- Samdhong Rinpoche dileto é astrologia. Parabenizo a revista pelo serviço útil que presta à humanidade. 32 Wilson de Oliveira Silva – Santa Maria (RS) A mente, a ignorância Verdadeira transformação e a verdade Ser assinante da SOPHIA é um privilégio. Linda Oliveira Grandes temas ao mesmo tempo eternos e atuais são abordados com liberdade, clareza 38 e profundidade. Seus artigos instigantes suscitam reflexão e desejo de aprofunda- mento. A revista é um poderoso veículo de divulgação da sabedoria divina, capaz de nos levar à superação da ignorância e dos dog- matismos limitantes e de promover o auto- conhecimento, que é a chave para nos liber- tar do círculo vicioso da ilusão e do sofri- mento, por meio da verdadeira transforma- ção consciencial. Gratidão a todos os que se empenham nesse belo projeto. Fernanda Picardi – Pouso Alegre (MG) Para adquirir edições anteriores, fale com a Editora Teosófica pelo telefone (61) 3322- 7843 ou ligue grátis para 0800-610020. FOTOS: SHUTTERSTOCK

[ AO LEITOR ] Liberdade de pensamento Olá! Você tem em mãos SOPHIA, cípio da fraternidade. Somente o res- Também nesta edição, Pedro Oli- a revista da Sociedade Teosófica no peito às crenças e convicções alheias veira, ex-secretário internacional da Brasil. Trata-se de uma instituição pode permitir o intercâmbio e o diá- Sociedade Teosófica, fala sobre O po- que, neste ano de 2015, completa 140 logo enriquecedor para todos. der renovador, apresentando uma re- anos de existência. Sua sede interna- flexão profunda relacionada ao poder cional encontra-se na Índia, e a Soci- Por outro lado, a essência dos pro- político e econômico – objeto de am- edade Teosófica está presente em blemas da humanidade no século 21 bição desenfreada em todas as partes mais de 60 países. A palavra Teosofia está relacionada à falta de fraternida- do mundo – e o único poder real, im- tem raiz etimológica grega, e signifi- de entre os homens. As características pessoal, que é vastamente benéfico ca sabedoria divina. predominantes no mundo atual são a para a regeneração da humanidade. competição, a busca do sucesso, do Não é muito difícil perceber a pre- poder e a acumulação de riquezas, en- A liberdade de pensamento, que sença de inteligência na natureza e no quanto tantos vivem em condições de- também se constitui em um dos pila- universo. Todos os esforços humanos, ploráveis e desumanas. O que se gasta res institucionais da Sociedade Teo- nos campos da ciência, da religião e hoje com a fabricação de armamentos sófica, é condição sine qua non para a da filosofia, são tentativas de compre- seria suficiente para acabar com a fome busca da verdade, para uma compre- ensão da vida, desde o microcosmo e a miséria em todo o planeta. Mas ensão cada vez mais profunda dos até o macrocosmo. A sabedoria divi- pela falta de um espírito fraterno nas mistérios da existência. Para nos abei- na, que é objeto de estudo da Socie- pessoas, nos povos e governantes, há rarmos dela, precisamos ser cautelo- dade Teosófica, nada mais é do que a tanto desequilíbrio e desigualdade, ge- sos, no sentido de não aceitar passi- inteligência que se encontra presente rando sofrimento para milhões. vamente crenças e ideias dos outros, desde o átomo até as galáxias, ope- ainda que nos pareçam razoáveis, mas rando através de leis universais que o Nesta edição de SOPHIA você vai também ousados, a fim de romper- ser humano está sempre tentando co- encontrar o artigo Uma Cura para o mos as barreiras criadas pelo precon- nhecer e compreender, de modo que Planeta, de Samdhong Rinpoche, que ceito. Para caminhar em direção à possa viver em harmonia com elas. é um membro da Sociedade Teosófi- verdade e compreender as coisas ca muito próximo ao Dalai Lama. O como são, precisamos sempre questi- A Sociedade Teosófica é uma ins- texto mostra como a sociedade mo- onar as nossas próprias certezas, de tituição estruturada sobre os princí- derna virou escrava do consumismo modo a avançar para níveis cada vez pios da fraternidade, da liberdade de e da competição, com todos os males mais profundos de compreensão. Sem pensamento, do compromisso com a deles decorrentes, colocando em ris- a liberdade de pensamento, nada dis- verdade e do serviço à humanidade. co a própria sobrevivência da vida na so é possível. Como ela não é uma religião e está Terra. Ele apresenta sugestões práti- aberta a pessoas de todas as religiões, cas para que o indivíduo possa “pular Nessa linha, o artigo de Ricardo ou mesmo às que não têm nenhuma, fora da corrente materialista”, permi- Lindemann sobre A imortalidade da não seria possível a convivência en- tindo um viver correto, não violento, alma traz importantes questionamen- tre pessoas de diferentes visões de com uma espiritualidade que não seja tos relativos à existência da consciên- mundo sem se ter como base o prin- de aparências, mas genuína. cia humana além do corpo físico, atra- vés de estudos científicos sobre a tele- FOTOS: SHUTTERSTOCK E ODAN JAEGER Ano 13, nº 54 – Mar/Abr 2015 – Publicação da Ed. Teosófica patia; sobre a Experiência de Quase Morte (EQM); sobre as viagens ou SIG Q.6, Lt. 1.235, Brasília-DF Edição: projeções astrais e as lembranças de CEP 70.610-460 Usha Velasco vidas passadas. Esses temas têm sido Fone: (61) 3322-7843 Revisão: objeto de estudos em universidades, E-mail: editorateosofica@ Zeneida Cereja da Silva de forma bastante cautelosa e criterio- editorateosofica.com.br Tr a d u ç ã o : sa, com resultados que impressionam. Site: www.editorateosofica.com.br Edvaldo Batista de Souza Vale a pena ler sem preconceitos. Projeto gráfico e arte: Editor-chefe: Usha Velasco Ainda neste exemplar você tam- Marcos Luis Borges de Resende bém vai encontrar outros textos sen- Coordenadora editorial: Impressão: sacionais. Boa leitura! Zeneida Cereja da Silva Gráfika Papel e Cores Conselho Editorial: Distribuição nacional: Marcos Luis Borges de Resende Marcos Luis Borges de Dinap Distribuidora Ltda Diretor-Presidente da Resende, Patricia Resende, Pedro Oliveira, Sergio Moraes, * As imagens utilizadas são de Sociedade Teosófica no Brasil Valéria Marques de Oliveira e responsabilidade do editor-chefe Zeneida Cereja da Silva SOPHIA • MAR-ABR/2015 4

“Para descobrir [ PSICOLOGIA ] algo novo, deve-se começar consigo A ciência e a mesmo; deve-se espiritualidade dar início a uma jornada e empre- Nilda Venegas Bernal* endê-la completa- mente despido, As técnicas de meditação direcionadas especialmente de à saúde mental, também conhecidas como conhecimento” ciências contemplativas, estão cada vez mais populares, assim como as abordagens SHUTTERSTOCK científicas contemporâneas aos valores e às práticas espirituais, o que aponta para uma tendência de integração do conheci- mento do homem e a respeito do homem, que pode permitir uma visão mais comple- ta da existência. Cada vez se tornam mais comuns estudos científicos que demons- tram as ligações entre os diferentes esta- dos de consciência e seus efeitos sobre o SOPHIA • MAR-ABR/2015 5

corpo humano e a atividade cerebral. que é” pode ser descoberto por meio SHUTTERSTOCK “O ato de prestar A crescente colaboração e inte- da nossa própria experiência. Esse atenção ao momen- tratamento deliberado, sem esforço, to presente desen- gração dos ensinamentos do Budis- livre, sem julgamento e não reativo volve os circuitos mo, das neurociências e das ciênci- permite a aceitação daquilo que é cerebrais de tal as da mente mudaram a aparência doloroso. O processo propicia aos modo que nos per- dos modelos e das técnicas para o participantes entender como e o mite estabelecer um cultivo da saúde e do bem-estar que cada um sente e pensa; assim relacionamento res- mental. Recentemente surgiu a eles se desligam dos pensamentos ponsável e harmoni- neurobiologia interpessoal, baseada que são a base do sofrimento. oso com a nossa em conhecimentos procedentes de própria mente.” várias disciplinas. No ponto em que a fusão cogni- tiva que controla os processos psi- dade da pessoa é considerada uma A integração pode ser conside- cológicos habituais pode ser obser- meta, que deve ser atingida por rada um mecanismo comum a vários vada, e desse modo progressivamen- meio do desenvolvimento psicoló- meios adotados para se chegar ao te enfraquecida, entramos num es- gico no processo terapêutico. O te- bem-estar. O modo como prestamos tado de metacognição, no qual os in- rapeuta ou analista pode acompa- atenção pode melhorar diretamen- divíduos alcançam a liberdade inte- nhar o indivíduo nas questões rela- te o funcionamento do corpo, da rior e são capazes de aumentar sua cionadas à estrutura do eu, quando mente e das relações interpessoais. capacidade de compreensão. Existe os conteúdos psicológicos estão O ato de prestar atenção ao momen- uma maneira de observar que nos abertos para integrar aspectos des- to presente desenvolve os circuitos permite ser livre aqui e agora – e conhecidos, amplificando-os como cerebrais de tal modo que nos per- esse é o único momento. Os apegos, uma parte individual da totalidade. mite estabelecer um relacionamen- que são a causa profunda do sofri- to responsável e harmonioso com a mento, são superados. A prática na- A abertura da porta do inconsci- nossa própria mente. tural dessa forma de atenção resul- ta num estado de bem-estar psico- SOPHIA • MAR-ABR/2015 Jon Kabat-Zinn, professor de lógico, paz, serenidade e felicidade, Medicina da Universidade de Mas- que pode se refletir na vida das pes- sachusetts, definiu o conceito de soas sob a forma de altruísmo, com- diligência como “prestar atenção de paixão e doação. maneira particular, com propósito, no momento presente, de maneira O modo como centramos nossa não crítica”. No campo da psicologia atenção contribui para “modelar” a – que, como disse Jung, é a ciência mente. Quando desenvolvemos da alma –, as práticas de diligência uma maneira concreta de encarar as podem ser estudadas e investigadas. experiências do aqui e agora, enxer- A psicologia profunda nos convida a gamos a verdadeira natureza da men- cuidar de nosso eu interior. No li- te; estamos, então, diante de uma vro Psychology and Alchemy, Jung forma especial de atenção e diligên- afirma: “Tua visão só se tornará cla- cia. No Oriente, coração e mente ra quando puderes investigar teu são definidos pela mesma palavra. O próprio coração. Quem olha para termo diligência inclui não só a fora sonha; que olha para dentro des- atenção, mas uma maneira afetuosa perta.” E o Mestre K. H. afirmou: e compassiva de estar presente, com “Os sofrimentos morais e espiritu- um interesse generoso e amigo. ais do mundo são mais importantes e precisam de mais ajuda e cura do A transcendência do sofrimento, que a ciência precisa de auxílio em conforme nos foi ensinado por qualquer campo.” Buda, manifesta-se na prática da medicina do corpo e da mente. Ser O indivíduo com algum proble- saudável é aceitar, compreender, ma, seja físico ou mental, pode, du- integrar e transcender. O amor e sua rante a terapia, ter contato com um gentileza implícita permitem a modo transformador e autêntico de transformação do ser humano. focar suas questões. É possível mos- trar como “o senso de atenção ao Em psicologia analítica, a totali- 6

ente permite uma integração pro- Em Psychology and Alchemy, mesmo; deve-se dar início a uma jor- gressiva que ajuda o indivíduo a Jung afirma: “Não fosse o fato de que transcender a dualidade da mente. os valores supremos residam na nada e empreendê-la completamen- O processo de individuação expres- so por Jung continua tomando for- alma, a psicologia não me interessa- te despido, especialmente de conhe- ma, e o indivíduo reconhece sua unidade interna, ou totalidade; essa ria de maneira alguma, pois então a cimento”. Assim, perguntamos a nós unidade conecta e une o indivíduo alma seria nada mais que uma fuma- a outros seres humanos, mas ele mesmos: qual é a qualidade da men- também percebe que jamais esteve ça.” Ele também escreveu, em sua separado, que sempre esteve pro- te que nos permite sempre viver o fundamente ligado a tudo. obra The Structure and Dynamics of the Psyche: “A vida tem de ser trata- que é novo? Conseguiremos dar SOPHIA • MAR-ABR/2015 da sempre como algo novo.” Krish- nome a isso? S namurti disse que “para descobrir algo novo, deve-se começar consigo * Nilda Venegas Bernal é psiquiatra e membro da Sociedade Teosófica na Espanha. 7

[ SANTA TERESA DE LISIEUX ] O caminho da simplicidade Mary Francis Coady* sua infância. Ela o fez num caderno freiras, em função da sensação cau- escolar de exercícios, o qual deu à sada por seus escritos autobiográfi- A basílica, pousada como uma irmã. O caderno foi posto de lado e cos (publicados com o título de His- coroa gigante no topo de uma coli- esquecido até alguns meses antes tória de uma Alma), mandaram im- na, é a primeira coisa que se vê à de sua morte, quando lhe pediram primir cartazes representando Te- medida que o trem se aproxima de para continuar escrevendo. resa com uma face doce. Fotografi- Lisieux, 180 quilômetros a oeste de as tiradas por sua irmã Celine, que Paris. O edifício foi uma tentativa O resultado foi um relato surpre- levou uma câmera consigo quando de imitar o esplendor barroco na dé- endente de seu próprio desenvolvi- foi para o mosteiro, foram retoca- cada de 1920; ele parece deslocado mento espiritual naquilo que ela das. As lojas da cidade refletem o nessa modesta localidade, que, de chamou de “o pequeno caminho”, tratamento “florido” dado a Teresa, outro modo, não se distinguiria de uma senda espiritual que enfatiza a com lembranças como estátuas plás- quaisquer outras cidades da Nor- simplicidade e a inocência, a aceita- ticas, rosários, etc. mandia que foram dizimadas duran- ção dos próprios fracassos e uma fé te a Segunda Guerra Mundial e de- em Deus quase despreocupada. O mosteiro Carmelita de Li- pois reconstruídas. Porém, a basíli- sieux, no entanto, está igual ao que ca de Lisieux realmente assinala Não era uma senda fácil. O mos- era na época em que Teresa lá vi- algo extraordinário. teiro, construído num pequeno ter- veu. Ainda existe uma comunidade reno, possuía uma cerca viva alta que de freiras enclausuradas, embora Lisieux tornou-se uma cidade circundava o jardim, e as freiras eram ocasionalmente uma ou duas pos- notável porque uma jovem ali cres- enclausuradas, ou seja, tornavam-se sam ser vistas fora do claustro, agora ceu, entrou para o mosteiro Carme- praticamente prisioneiras, jamais vestindo um hábito que consiste em lita e morreu em 1897, com 24 anos deixando o local e recebendo visi- vestido e véu simplificados (um de- de idade. Seu nome era Therese tantes apenas nos parlatórios, onde sapontamento para alguns visitan- Martin, mas ela ficou conhecida grades pesadamente encobertas evi- tes, que gostariam de vê-las do mes- como Irmã Teresa do Menino Jesus, tavam que fossem vistas. Teresa so- mo modo como se vestiam antiga- depois de se tornar freira. Teresa foi fria ataques de angústia com os re- mente). Dentro do mosteiro há uma canonizada 28 anos após sua morte latos sobre a crescente deterioração grande porta de ferro, que pode ser e tornou-se uma das santas mais po- mental de seu pai, que eventual- vista apenas com permissão especi- pulares da história do Catolicismo. mente era confinado em uma insti- Sua estátua representa uma jovem tuição na cidade próxima de Caen. “Sábios e guias espiritu- freira com hábito marrom e creme, E, como a própria Teresa revelou, ela ais, Teresa entre eles, carregando uma braçada de rosas. passou a maior parte de seus nove dizem-nos para abraçar Ela era chamada de “Pequena Flor”. anos no mosteiro num entorpecido a nossa impotência e A popularidade desta freira foi o re- estado de obscuridade espiritual co- entregá-la àquilo que os sultado de vários fatores: o interes- nhecido como “a noite escura da budistas chamam de ‘o se católico pelo assunto, na época; alma”, um estado que era muitas ve- terreno de nossa exis- um trabalho perspicaz das freiras zes acompanhado por dúvidas per- tência’ – ou, na lingua- após sua morte (três delas eram ir- sistentes sobre a existência de Deus. gem cristã, às mãos mãs de Teresa); e, o mais importan- amorosas de Deus” te, os escritos que ela deixou. Pouca coisa na cidade de Lisieux reflete o espírito dessa jovem deter- SOPHIA • MAR-ABR/2015 Alguns anos antes de sua morte, minada, que se aferrou à sua fé mes- uma das irmãs pediu a Teresa para mo com pouco apoio, enquanto vi- escrever um pequeno relato sobre via de uma maneira que atualmen- te muitos diriam ser sem sentido. As 8

SHUTTERSTOCK SOPHIA • MAR-ABR/2015 9

“O mosteiro Carmeli- ta de Lisieux está igual ao que era na época em que Teresa lá viveu. Ainda existe uma comunidade de freiras enclausura- das, embora ocasio- nalmente uma ou duas possam ser vis- tas fora do claustro.” 10 SOPHIA • MAR-ABR/2015

al e onde se nota a ausência de ma- recentes, no entanto, reaparece- çaneta. Segundo o ritual de costu- me, aos quinze anos a menina Te- ram edições de sua história, res- resa bateu nessa porta e buscou ad- missão na clausura. A porta foi tauradas do original, assim como aberta pelo lado de dentro e fe- chou-se atrás dela. suas longas cartas e fotografias Dentro da capela do mosteiro, mostrando uma jovem freira que uma tumba de mármore ladeada por velas acesas e enormes vasos parece às vezes travessa, às vezes de rosas contém os restos mortais de Teresa. Acima da tumba está pensativa. Análises sérias de sua uma efígie dourada que mostra uma jovem com as maçãs do rosto obra e de seu pensamento são, rosadas e uma grinalda de flores na cabeça. Num pequeno museu atualmente, publicadas com no- ao lado do mosteiro estão à mostra os longos cachos louros de Teresa, tável regularidade. Em seus es- cortados quando ela recebeu o há- bito Carmelita. critos, no rebuscado estilo fran- O cabelo das jovens que entra- cês do século XIX, descobre-se a vam para o mosteiro, cortado como sinal de renúncia à vaidade mun- essência do seu caminho espiri- dana, era muitas vezes transforma- do em perucas utilizadas em peças tual. Ela apontava a voz da sabe- de recreação. A própria Teresa foi fotografada com uma peruca, doria no Livro dos Provérbios numa peça que ela mesma escre- veu sobre Joana D’Arc. No museu como sua inspiração: “Vós que há também a vestimenta de um pa- dre feita do rico brocado do vesti- sois simples, vinde para cá!” do de noiva que ela usou na ceri- mônia em que recebeu o hábito O caminho da simplicidade faz (marcando seu primeiro estágio na vida religiosa, ao se tornar uma parte de diversas tradições espi- “noiva de Cristo”), e também um roupão de sarja grosseira e um par rituais e é almejado por muitas de tamancos de madeira, vesti- menta típicas das freiras na época. pessoas nos dias de hoje. Elas an- A escola da abadia que ela fre- seiam por uma vida simples, por quentou foi destruída por bom- bas lançadas pelos Aliados, na Se- solidão e quietude, por alívio da gunda Guerra Mundial, mas o lar de sua infância, chamado Les violenta agitação das cidades, dos Buissonnets, ainda está de pé. Muitos objetos da família foram disparates das propagandas que conservados, inclusive as bone- cas de Teresa. alimentam a compulsão pelo con- No clima do despertar teoló- sumo. Em meio às lutas de todo gico que se seguiu ao Concílio Va- ticano II, nos anos 1960, muitos dia e das ambições pessoais exis- católicos puseram um pouco de lado o culto a Teresa. Em décadas te uma busca por significado, uma ânsia de ver além de si mes- mo, um desejo de ver o mundo com compaixão, através dos olhos do coração. Por trás do nosso esforço diá- rio, apesar da crença de que pode- mos ter tudo e de que vencemos por nossos próprios esforços, está o reconhecimento de que, afinal, somos fracos e impotentes. Sábios e guias espirituais, Teresa entre eles, dizem-nos para abraçar a nos- sa impotência e entregá-la àquilo que os budistas chamam de “o ter- reno de nossa existência” – ou, na linguagem cristã, às mãos amoro- sas de Deus. Este é o caminho: sim- ples, mas não fácil. Os guias espi- rituais também advertem que a jornada por esse caminho é o es- SHUTTERSTOCK forço de toda uma vida. S SOPHIA • MAR-ABR/2015 * Mary Francis Coady é escritora, editora e instrutora de escrita criativa. 11

“A relação entre marido e esposa é a mais íntima possível, e por- tanto é usada como metáfora para expressar a ligação mais fer- vorosa de um ser por outro.” 12 SOPHIA • MAR-ABR/2015

[ REFLEXÃO ] O que é o amor SHUTTERSTOCK Sri Prakasa* razão – não existe o verdadeiro amor. O mesmo vale para a relação Se para o cientista o mundo é a entre homens e animais. Podemos corporificação da sobrevivência do encontrar milhares de exemplos da mais forte, para o homem comum mais fervorosa ligação entre eles, o ele é – e em igual extensão, senão ser que ama e o ser amado sendo atra- maior – a corporificação do princí- ídos um pelo outro irresistivelmen- pio do amor. Encontramos o amor te e por razões inexplicáveis. em toda parte: no ninho do pássaro, na toca da fera, no lar do homem. O A atração traz consigo o inevitá- amor é, na verdade, a emoção que vel desejo de estar fisicamente tão guia o coração dos seres senscien- próximos quanto possível; de, men- tes. Se a sobrevivência do mais forte talmente, não ter segredos; e de, significa a destruição do fraco, o espiritualmente, ter aspirações e amor significa criação e proteção. empenhos comuns. A separação traz tristeza, e agir sem consultar o ou- Muitos já falaram e escreveram tro parece impróprio; ter aspirações a respeito do amor. Ele foi descrito e esperanças diferentes parece um de várias formas: amor pelo superi- sacrilégio. Isso ocorre sempre que or, cuja melhor expressão é o amor existe um forte amor, seja a pessoa filial; amor pelo igual, cuja melhor amada superior, igual, ou inferior à expressão é o amor conjugal; e amor pessoa que ama. pelo inferior, cuja melhor expressão é o amor paternal. Supõe-se que a Esse princípio se aplica também natureza e a qualidade do sentimen- ao caso da criança e do animal. Que- to sejam diferentes em cada caso. remos estar juntos de uma criança muito amada, mesmo que ela ain- A divisão, sem dúvida, é natural. da não saiba se expressar; queremos No entanto, o objetivo deste artigo estar próximos de nossos animais é pôr abaixo essa ideia e mostrar que de estimação, embora não nos deem o amor, em sua natureza essencial, qualquer resposta inteligível. Um é o mesmo em todos os casos. A di- cão fiel separado de seu dono defi- ferença está na expressão externa, nha tanto quanto o amante separa- não na qualidade do próprio amor. do do ser amado. O forte amor – até onde diz respeito à emoção – nos O primeiro aspecto do amor é a impele em direção a sentimento se- atração de um ser por outro e o de- melhante. Sua expressão externa, sejo de maior proximidade – física, no entanto, é diferente em diferen- mental e espiritual. Esse fator é in- tes casos: um bebê toca seus pais; separável do amor, quer seja de uma um amigo pode dar um vigoroso criança por seus pais, de um discí- aperto de mão; o marido pode abra- pulo por seu guru, de um amigo ou çar a esposa; o dono pode dar tapi- de um cônjuge por outro. Parece nhas em seu cão. Em todos os ca- que, sem essa atração natural – para sos, vemos que o desejo de se apro- a qual não se pode atribuir qualquer SOPHIA • MAR-ABR/2015 13

ximar tanto quanto possível do ser timos por estar ao lado de quem SHUTTERSTOCK amado é um fator sempre crescen- amamos e podermos servir. A pro- te. O desejo de proximidade é in- ximidade física nos dá tal alegria “Um cão fiel separado de separável da afeição. Vemos, po- que não conseguimos descrevê-la; seu dono definha tanto quan- rém, que existe fundamentalmen- nós a sentimos sem compreender to o amante separado do ser te apenas um tipo de amor e que por que ela surge. A simples visão amado. O forte amor – até sua natureza é a mesma, qualquer daqueles a quem amamos traz fe- onde diz respeito à emoção que seja o objeto do amor. licidade – uma felicidade tal que – nos impele em direção a podemos até desejar passar por di- sentimento semelhante.” Outra característica do amor é ficuldades e sofrer por aqueles que o desejo de servir ao ser amado. O amamos. SOPHIA • MAR-ABR/2015 desejo de ser útil a quem se ama é uma força impulsora que está onde O amor não pode ser explica- quer que haja amor. Sempre que do; a alegria que ele traz somente alguém ama profundamente, ten- pode ser sentida. A profundidade, ta servir ao ser amado e agradá-lo a qualidade, a intensidade do amor com seus atos de devoção. Encon- diferem; sua natureza, no entan- tramos isso em todos os casos, e a to, é a mesma, e ela nos impele a intensidade do nosso desejo de ser- atos e desejos semelhantes. Nes- vir depende da intensidade do nos- sa poderosa expressão de amor e so amor. Um filho amoroso tenta entrega, em todos os amores, te- servir seus pais, um discípulo amo- mos o mesmo fenômeno, a mesma roso, o seu preceptor, um consorte angústia na separação, a mesma o seu consorte, um animal o seu alegria na união. dono, e vice-versa. Não podemos dividir o amor Portanto, não vejo distinção en- em diferentes tipos: ele é indivi- tre o que é chamado “diferentes ti- sível. No entanto, há uma dúvida pos de amor” de um ser humano com relação ao elemento sexual por diferentes seres. A intensida- em algumas expressões de amor. de difere, com certeza, mas a natu- Parece-me que o sexo, embora seja reza do amor não difere de um caso um fator importante na vida, não para outro. é um acompanhamento necessário do amor. O amor em si não tem O amor é uma força cega que qualquer elemento sexual, e a nos leva além de nós mesmos e que atração sexual raramente conota somos incapazes de deter. Ele não amor. No amor propriamente dito, ouve argumentos e exige apenas o fato da pessoa amada ser do sexo duas coisas: tanta proximidade do oposto raramente tem qualquer ser amado quanto seja possível; influência, como no caso do amor tantas oportunidades de servir e do pai por sua filha ou do irmão agradar quanto seja possível. Mui- por sua irmã. to frequentemente, em nossa ima- ginação, levamos nosso amor a um Mas o sexo influencia o amor de extremo cruel: concebemos nossos duas pessoas de idades semelhan- amigos em apuros e imaginamos tes e sexos opostos – o amor que poder salvá-los; em outras palavras, culmina no casamento. O amor não desejamos, embora inconsciente- tolera segredos e busca a maior mente, que eles estivessem em união possível; nessas duas afirma- apuros para que pudéssemos ter a ções temos um retrato do elemen- oportunidade de servi-los, agradá- to sexual no amor. Com as limita- los e de demonstrar nossa devoção ções que são impostas ao corpo hu- e nosso afeto. mano, a união mais próxima possí- vel nesta vida é atingida na expres- O que o amor nos dá? Alegria. são sexual; por isso ela é a mais in- Nada mais e nada menos do que tensa. E por isso, na linguagem do isso. Somente alegria é o que sen- 14

devoto, o objeto de sua constante ção de Krishna com as Gopis. É isso do e esposa é a mais íntima possí- contemplação – o próprio Senhor que dá terrível força e ternura às vel, e portanto é usada como metá- Paramesvara – é apresentado como canções de Mira Bai, e a faz pare- fora para expressar a ligação mais sendo de sexo oposto ao do devoto. cer quase irresponsável. Foi isso fervorosa de um ser por outro. S Isso poderia, para a maioria das pes- que fez os cristãos medievais con- soas, ser considerado um total sa- siderarem a Igreja como “a noiva de * Sri Prakasa (1890-1971) foi político e ministro crilégio. Foi isso que criou tanto Cristo”. Todos adotam o mesmo de Estado na Índia, onde lutou pela causa da mal-entendido a respeito da rela- simbolismo. A relação entre mari- liberdade do país. SOPHIA • MAR-ABR/2015 15

“O Pequeno Príncipe SHUTTERSTOCK é um personagem universal, fascinante pela sua inteireza, ob- servação, sinceridade e ingenuidade inteli- gente. Seu encanto e curiosidade nos reme- tem à nossa própria infância, diante de um mundo que precisa- mos compreender.” 16 SOPHIA • MAR-ABR/2015

[ EDUCAÇÃO ] O retorno do Pequeno Príncipe Regina Medina* dade, apenas porte e beleza. E o li- tabilizará tudo. As princesas de an- vro soava como algo ingênuo e meio tigamente contavam com a ajuda de Histórias mágicas de reinos, prín- genérico, uma história do tipo que príncipes; eles eram os heróis. Ago- cipes, princesas, fadas, bruxos e bru- ninguém entende. Nada mais injus- ra, as princesas também devem mos- xas embalaram a nossa infância. A to, pois, apesar de tudo, a história trar uma atuação mais expressiva, imaginação é fundamental para que ficou guardada no coração de mui- não apenas beleza e bom coração. uma criança desenvolva sua criativi- tos, mesmo que não a tenham com- Nas novas histórias infantis esses dade, sua compreensão do mundo, preendido. O mesmo acontece com papéis estão mudando, da mesma for- seu idealismo e outros conhecimen- Alice no País das Maravilhas, outro ma que muda a sociedade; porém, o tos importantes e necessários à vida. livro que exige uma análise mais encanto permanece. O príncipe da As bruxas nos preparam para encarar profunda. Agora, O Pequeno Prínci- história não manda, não age de for- os medos internos e externos. As his- pe está de volta em livros, filmes e ma injusta, não oprime; nunca vi tórias nos ajudam a desenvolver o ide- como tema de festas infantis. uma história em que se comportas- alismo, como quando uma criança se se de forma autoritária. E os reis, as- identifica com a causa de um herói, Antigamente, personagens vivi- sim, acabam derrotados por um prín- por exemplo. A história de Rapunzel am apenas nos livros e na nossa ima- cipe que surge de fora. raptada por uma bruxa e levada para ginação. Hoje se tornam mais mate- uma torre me ajudou a explicar a riais, ao fazer parte do cotidiano das A capacidade de enfrentar a ad- meu neto que ele deve estar sempre crianças. Não é incomum ver os pe- versidade vem de dentro do herói próximo de seus pais e avós quando quenos fantasiados ao saírem da es- ou heroína, príncipe ou princesa. É na rua ou em lugares públicos, pois cola, nas festas de aniversário ou na um ensinamento profundo e ajuda casos de rapto de crianças são verda- rua com os pais. Fico feliz quando os a criança a trabalhar a autoestima, deiros. Ele entendeu bem rápido e vejo: príncipes e princesas, heróis além de qualquer aparência, que se alterou um comportamento rebelde de várias histórias e de todos os ti- torna simbólica (A Bela e a Fera), para uma criança de apenas quatro pos, bruxas que não causam mais além de qualquer condição social anos, na época. medo nem tiram o sono. (Aladim), pois todos somos lindos em nossa essência. Trabalhei com Em sua maioria, essas histórias Acho maravilhoso constatar essa essas questões durante muitos anos ancestrais trazem referências ao nova forma de livre expressão da ima- de vivência em salas de leitura de mundo de uma época, mas sua uni- ginação, ver as crianças fantasiadas da escolas públicas, atendendo a crian- versalidade fez com que os irmãos forma que sonham, sentindo-se tão ças e jovens, adequando projetos e Grimm e Hans Christian Andersen próximas do personagem. Os prínci- conteúdos ao interesse e faixa etá- pesquisassem as que já faziam parte pes e as princesas estão neles mes- ria de alunos de seis a dezoito anos, do folclore popular e as registrassem. mos. Na realidade, o príncipe e a prin- o que foi sempre prazeroso e enri- Assim chegaram até nós, e mostram cesa devem possuir os talentos da co- quecedor. Guardei na memória, uma atemporalidade impressionan- ragem, da beleza, das atitudes éticas, com carinho, a lembrança de um dia te. Claro que surgem as novas, mais justas e equilibradas. É um arquéti- em que dois eletricistas tentavam adaptadas ao nosso tempo. Há tam- po perfeito para o nosso eu maior. consertar a luz da sala. Eles subiram bém as que voltam após um período em uma mesa, enquanto eu traba- de desvalorização e esquecimento. Na imaginação da criança, ela é lhava uma história com uma turma Penso que é o que acontece com O o herói ou heroína. E todo príncipe de alunos de sete anos. Os dois ho- Pequeno Príncipe. Durante os anos ou princesa parte de uma condição mens pararam de trabalhar, encan- 60 e 70, era citado como o livro das de proteção, até o ponto em que vem tados pela história que talvez não te- candidatas a misses, mocinhas de um desafio. Nada mais parecido com nham ouvido na infância, esquecen- quem não se esperava intelectuali- a vida. Quando chega esse momen- do-se do que tinham para fazer. to, eles terão que vencer uma situa- SOPHIA • MAR-ABR/2015 ção perigosa ou dolorosa, que deses- 17

A sabedoria do ser O príncipe que mais me encan- sido criado por um idealista como ARQUIVO ED. TEOSÓFICA ta é bem misterioso. Apareceu para Saint-Exupéry. Era já um excelente um piloto que sofreu uma pane em piloto comercial antes da Segunda losofa sobre a natureza, observa-a seu avião e foi obrigado a pousar no Guerra, voando através de rotas en- com carinho e busca seus segredos. Saara. Vestido como um príncipe, tre a Europa, África e América do Viaja através de outros pequenos não manda em reino nenhum, não Sul. Certa vez pousou em Florianó- planetas e observa a ignorância dos possui castelo algum, exceto um polis, como contam os guias turísti- humanos, sempre concentrados pequeno planeta distante. Na ver- cos catarinenses, mostrando o local em seus pequenos mundos, em dade, tão pequeno quanto uma de pouso em uma parte da ilha. Seus trabalhos repetitivos como o do casa. Quem o criou foi um aviador, dados biográficos contam que, alis- acendedor de lampiões, a arrogân- escritor e poeta. O tal principezi- tado na Força Aérea Francesa, parti- cia dos que vivem fascinados por nho misterioso não é compreendi- cipou de missões de reconhecimen- sua posição, como o rei que achava do completamente, é uma sábia cri- to até 1940, quando houve um ar- que mandava até nas estrelas ao ança. Curioso como qualquer pe- mistício vergonhoso entre a França redor de seu pequeno planeta, o queno, pergunta tudo e só se preo- e a Alemanha. Ele deixou a França cupa com o que suas dúvidas que- e foi para os Estados Unidos, para SOPHIA • MAR-ABR/2015 rem resolver. Demonstra a sabedo- ajudar a persuadir o governo norte- ria do ser ao invés do ter. americano a ajudar na luta contra a Alemanha nazista. O autor admira as crianças e apre- senta a forma sincera, direta e críti- Durante mais de dois anos na ca que faz parte da percepção e da América do Norte, escreveu três de expressão infantil: “As crianças de- seus melhores livros e depois se jun- vem ser muito tolerantes com as tou à Força Aérea da França Livre no pessoas grandes”. A dureza da vida norte da África, um grupo que lutava faz com que os adultos se esqueçam pela libertação da França ocupada. Já da criança interna, mas os pequenos havia passado da idade ideal para pi- nos relembram de quem fomos e por lotos e sua saúde declinava, mas não isso nos encantam: “Todas as crian- desistiu da luta. Em sua última mis- ças grandes foram um dia crianças, são de reconhecimento, seu avião mas poucas se lembram disso.” desapareceu no Mediterrâneo, pro- vavelmente no dia 31 de julho de Ele nasceu em 29 de junho de 1944, quando ele tinha 44 anos. 1900, com o nome de Antoine Ma- rie Jean-Baptiste Roger, conde de Saint-Exupéry recebeu muitos Saint-Exupéry, em Lyon, uma cida- prêmios literários e por bravura. de histórica da França. Seus livros Entre eles estão o Grand Prix du foram traduzidos em mais de 250 Roman de l’Académie Française línguas e dialetos. Ele era um aris- (1939), o U. S. National Book tocrata e talvez essa tenha sido a Award, a Medalha da Legião de sua inspiração para o protagonista Honra da França e a Cruz de Guer- da história. O Pequeno Príncipe é ra. Seu livro Terre des Hommes tor- um personagem universal, fasci- nou-se o nome de um grande grupo nante pela sua inteireza, observa- humanitário. Suas obras mais famo- ção, sinceridade e ingenuidade in- sas são Le Petit Prince (O Pequeno teligente, do tipo com que as cri- Príncipe) e Wind, Sand and Stars and anças nos defrontam no dia a dia. Night Flight (Vento, Areia, Estrelas Seu encanto e curiosidade nos re- e Voo Noturno). metem à nossa própria infância, di- ante de um mundo que precisamos Um dado importante que pode compreender. nos levar a entender a volta do pe- queno príncipe é o foco atual no Esse personagem só poderia ter meio ambiente. O principezinho fi- 18

“Acho maravilhoso constatar essa nova forma de livre ex- pressão da imagina- ção, ver as crianças fantasiadas da for- ma que sonham, sentindo-se tão pró- ximas do persona- gem. Os príncipes e as princesas estão neles mesmos.” empresário que não largava as con- como cativamos o outro e somos por amor que se restringe ao ego. É pre- tas e não admitia ser incomodado, ele cativados. Nada a ver com repres- ciso olhar, admirar e aceitar, não im- o geógrafo que escrevia muitos li- são ou submissão, e sim com carinho porta o tipo de relacionamento, se vros mas pouco sabia sobre a natu- e atenção. É preciso notar, conhe- familiar, de amizade ou de casal. A reza do seu planeta. Todos focados cer, respeitar e amar. Só depois de premissa é a mesma. Diz a sábia ra- apenas nas atividades, vivenciadas nascida a importância da interação, posa que os homens não perdem sem grande percepção ou felicida- de alguma forma, entre os seres hu- mais tempo uns com os outros, com- de, apenas obrigações. manos ou não, estabelece-se o vín- pram tudo nas lojas. Mas para con- culo, cria-se a necessidade da convi- quistar um amigo é preciso dispor O menino príncipe tem como vência e a alegria de estar juntos e de um tempo, é necessário um ritu- amigos um carneiro, uma rosa e uma compartilhar a felicidade. al de amizade e o estabelecimento raposa. É da raposa que recebe con- de uma ponte. selhos sobre a amizade. Ela explica Amar é uma ação; não existe um 19 SOPHIA • MAR-ABR/2015

SHUTTERSTOCK 20 SOPHIA • MAR-ABR/2015

O essencial é invisível O mundo está muito egoísta, habilidade que envergonha os mais prático e individualista. Os huma- velhos. Ensinam aos pais a não lar- nos se preocupam muito pouco com gar torneiras abertas, a pensar no a natureza, os outros seres e o dia meio ambiente. de amanhã no planeta. Mas já há muitos realmente interessados na A todo momento surgem novos investigação, no cuidado, na preven- admiradores que tentam decifrar ção, no estudo e na compreensão. essa história infantil simbólica e só Hoje podemos contar com a inter- aparentemente ingênua. O livro en- net, a forma mais atual e rápida de sina que “o essencial é invisível aos nos conectarmos com os amigos. Há olhos”, em uma época em que tal um espaço para discussão de temas afirmação se encaixa no campo afe- que nos inspiram e preocupam. Po- tivo, no campo mental das descober- demos prestar atenção no que as pes- tas científicas e na dimensão espiri- soas estão pensando, sentindo e agin- tual da vida. do, concordemos ou não. Tal como nos filmes de ficção ci- Amizades devem ser cultivadas entífica, no final o Pequeno Prínci- para que continuem a florescer. A pe volta ao seu planeta, avisando que rosa do príncipe era especial, dife- estará sempre lá e pedindo ao ami- rente de todas. Dela ele cuidou go aviador que lembre-se sempre com carinho, regou, abrigou e es- dele ao mirar o céu: “À noite, tu cutou. E isso tornou-o responsável olharás as estrelas. Aquela onde por ela, assim como ele se preocu- moro é muito pequena para que eu pava com a manutenção de seu pe- possa te mostrar. Minha estrela será queno asteroide. para ti qualquer uma das estrelas. Assim, gostarás de olhar todas elas... O Pequeno Príncipe ficou esque- Serão todas tuas amigas.” cido por um longo tempo. Entretan- to, não me parece estranho que te- Espero ter trazido um pouco de nha voltado ao cenário. A inteireza reflexão sobre um livro que, pouco dessa criança investigadora, de algu- compreendido no passado, mesmo ma forma parecida com as crianças assim teimava em impressionar os atuais, volta para nos encantar. Nos- leitores, sem que ninguém soubes- sas crianças dizem o que pensam e se explicar bem o porquê. Manten- são mais ouvidas. Nasceram em uma do a tradição e entrando no universo época em que crianças não são en- dos contadores de histórias, do qual caradas como pequenos adultos, mas sempre fiz parte e para onde fui tra- como indivíduos com curiosidade e zida pelas histórias de minha avó, ideias próprias. Manejam celulares, dedico este artigo aos meus neti- controles e computadores com uma nhos, pequenos príncipes que me ca- tivaram, e a todos os outros peque- “O príncipe e a princesa nos príncipes e princesas espalhados devem possuir os talen- pelo planeta. São esses pequenos se- tos da coragem, da bele- res que carregam dentro de si a se- za, das atitudes éticas, mente de um futuro mais belo, mais justas e equilibradas. É justo e fraterno para a humanidade, um arquétipo perfeito o planeta Terra e todos os seus seres. para o nosso eu maior.” Vida longa ao Pequeno Príncipe! S * Regina Medina é professora do Ensino Médio aposentada e presidente da Loja Teosófica Conde de Saint Germain, no Rio de Janeiro. SOPHIA • MAR-ABR/2015 21

[ PARAPSICOLOGIA ] A imortalidade da alma “A possibilidade da SOPHIA • MAR-ABR/2015 sobrevivência do pen- samento fora do cére- bro fica evidenciada pela telepatia, ou transmissão do pensa- mento a distância, que é muito provavelmente o fenômeno parapsi- cológico mais investi- gado e exaustivamen- te evidenciado.” 22

SOPHIA • MAR-ABR/2015 Ricardo Lindemann* SHUTTERSTOCK A parapsicologia é o ramo da ciência oficial que tem investigado ou buscado evidências da existên- cia da alma e sua possibilidade de sobreviver à morte do corpo. Há pelo menos quatro fenômenos parapsi- cológicos que têm alguma relação com essa investi- gação – a telepatia, a Experiência de Quase Morte, as viagens ou projeções astrais e as lembranças de vidas passadas –, e seus resultados se apresentam mais fortes quando considerados conjuntamente, pois se multiplicam mutuamente como evidências a favor da possibilidade da imortalidade da alma. A possibilidade da sobrevivência do pensamen- to fora do cérebro fica evidenciada pela telepatia, ou transmissão do pensamento a distância, que é muito provavelmente o fenômeno parapsicológico mais investigado e exaustivamente evidenciado, inclusive pela estatística, e, portanto, negando que o pensamento pudesse ser uma mera secreção do cérebro, tal como a bile é uma secreção do fígado, conforme a limitada hipótese sustentada por Lom- broso, Vogt e outros cientistas do passado. A parapsicologia moderna, por meio da investi- gação do fenômeno da telepatia, trouxe evidências do contrário, principalmente a partir das pesquisas de J. B. Rhine, F. W. H. Myers, Karl E. Zener e J. Hammond Jr.. Além da clássica verificação estatís- tica pelo baralho Zener, foram utilizadas até Gaio- las de Faraday por Hammond para isolar eletrica- mente os participantes da transmissão do pensa- mento, e esta continuou ocorrendo. A parapsicolo- gia tem, assim, trazido evidências de que a trans- missão do pensamento a distância não é apenas uma irradiação elétrica ou um mero tipo de “efeito de rádio biológico”, pois o pensamento pode ser trans- mitido de um cérebro ao outro, portanto para fora do cérebro, sem quaisquer canais neuronais inter- mediários, mesmo em condições de isolamento elé- trico. Em outras palavras, há evidências de que o pensamento pode sobreviver fora do corpo e que a telepatia, enquanto fenômeno de Percepção Ex- trassensorial (PES), não é transmitida em frequên- cias eletromagnéticas. A parapsicologia moderna tem investigado tam- bém a Experiência de Quase Morte (EQM), em que o indivíduo frequentemente retorna de um estado de coma, ou muito próximo da morte, ou até mesmo depois de ser declarado como clinicamente morto, particularmente depois do desenvolvimento das téc- nicas de ressuscitação da medicina contemporânea. A EQM ganhou popularidade a partir de 1975, com a publicação da pesquisa feita pelo Dr. Raymond 23

SHUTTERSTOCK Moody Jr. em 150 casos de pacien- pria vida, desde o nascimento até a Há pelo menos quatro fe- tes, relatados em sua obra Vida De- morte; sentir uma enorme relutân- nômenos parapsicológicos pois da Vida (Rio de Janeiro, Nórdi- cia em regressar à vida. que têm relação com a ca, 1983), que vendeu treze milhões investigação sobre a imor- de exemplares em mais de doze lín- Pode-se ilustrar a EQM citando talidade da alma: a telepa- guas, também citada e comentada por alguns fragmentos de relatos sele- tia, a Experiência de Quase Lindemann e Oliveira em A Tradi- cionados por Moody, que também Morte, as viagens ou proje- ção-Sabedoria (Ed. Teosófica). citamos em nosso supramenciona- ções astrais e as lembran- do livro: “Depois de todo aquele ba- ças de vidas passadas. Moody concluiu que existiam rulho e de passar por aquele lugar nove experiências comuns à maioria comprido e escuro, todos os meus Passava diante de mim como uma das pessoas que passaram pela EQM, pensamentos infantis, minha vida fita de cinema numa velocidade tre- como um zumbido nos ouvidos; um inteira estava lá no fim do túnel, menda, e, no entanto, eu era capaz sentimento de paz e ausência de dor; iluminada diante de mim.” (...) de ver e compreender absoluta- uma experiência fora do corpo; sen- “Esse flashback foi na forma de mente tudo.” (...) “Depois pude ver tir-se a viajar dentro de um túnel; imagens mentais muito mais vívi- as coisas mesquinhas que fiz quan- sentir-se a subir “pelos céus”; ver das que as normais. Via só as prin- do criança, e pensei em minha mãe pessoas, principalmente familiares já cipais, mas tudo era tão rápido e em meu pai, desejando não ter falecidos; encontrar seres espirituais, como olhar todo o álbum das ima- por vezes identificados como sendo gens da minha vida e ser capaz de SOPHIA • MAR-ABR/2015 Deus; uma revisão do decurso da pró- conseguir fazer isso em segundos. 24

feito aquelas coisas, desejando po- sistentes, conforme está documen- ram num livro que merece recomen- der voltar e desfazê-las.” (p. 62) tado com testemunhos no vídeo O Momento da Morte, da National dação (A Volta: a incrível e real histó- Na verdade, é difícil separar teo- Geographic Television, disponível ricamente a EQM da projeção do na internet (www.youtube.com/ ria da reencarnação de James Hus- corpo astral, viagem astral ou des- watch?v=KGvAdGfiGUY). dobramento, pois uma frequente- ton Jr. – o vídeo também está dispo- mente resulta também na outra, Recomenda-se também a recen- como se pode notar noutros relatos te publicação da obra Um Estudo so- nível na internet). Ele se lembrava da mesma obra: “Lembro-me de ter bre a Consciência (Ed. Teosófica), sido empurrada na maca até a sala da Dra. Annie Besant, onde se agre- de detalhes como o nome do porta- de operação, e as horas seguintes gou uma palestra da mesma autora foram o período crítico. Durante intitulada Provas da Existência da aviões de onde decolou (Natoma) e esse tempo, eu ficava entrando e Alma, a partir da qual se acrescen- saindo do meu corpo físico, e podia tam a esse tema inúmeras evidênci- nomes de colegas, como Jack Lar- vê-lo bem de cima. Mas, enquanto as oriundas de experimentos hipnó- isso, eu ainda estava em um corpo – ticos e técnicas de regressão da me- sen, que puderam ser contatados, não um corpo físico, mas algo que mória, afirmando que o ser humano pode ser descrito melhor como um “possui uma consciência mais am- bem como sua irmã caçula daquela padrão de energia.” (...) “O ponto pla do que a de vigília; que sob con- mais incrível de toda a experiência dições peculiares essa consciência vida, que já alcançava então 84 anos. foi o momento em que o meu ser emerge; que ela contém o registro estava suspenso acima da parte da de eventos que a consciência de vi- A investigação científica sobre a frente da minha cabeça. Era quase gília olvidara.” (p. 255) como se ele estivesse tentando de- imortalidade da alma, obviamente, cidir se queria deixá-la ou ficar.” (p. A parapsicologia moderna apro- 62) (...) “Eu não estava em um cor- fundou tais possibilidades de memó- poderá apenas nos trazer, na melhor po como tal. Podia sentir algo, uma rias além do estado de vigília inves- espécie de... como uma cápsula, tal- tigando a chamada consciência ex- das hipóteses, evidências de segun- vez, como uma forma pura. Eu não tracerebral, que sugere inclusive podia vê-la; era como se fosse trans- casos de lembrança de encarnações da mão. A Dra. Annie Besant acon- parente...” (p. 63) anteriores. Esse é um tema que tem sido pesquisado cientificamente. selha a prática da meditação, para o A parapsicologia moderna tem Por exemplo, há mais de 2.700 ca- também investigado casos de via- sos pesquisados pelo Dr. Ian P. Ste- leitor que está disposto a investigar gens ou projeções astrais; essas tra- venson, na Universidade de Virgi- zem frequentemente corrobora- nia (EUA), a partir dos quais seleci- por si mesmo, e assim talvez corro- ções (às quais o Dr. Moody dedicou onou os de seu livro Vinte Casos Su- todo um subcapítulo e conclusões gestivos de Reencarnação. Recomen- borar a máxima teosófica clássica que no capítulo final) de fatos ocorridos da-se o vídeo Lembranças da Vida durante o tempo em que o indiví- Anterior, do Discovery Channel, dis- se encontra em O Idílio do Lotus duo estava na experiência de quase ponível na internet. morte, comprovando com testemu- Branco, de Mabel Collins (Ed. Teo- nhos que não se tratava de uma mera Um interessante caso atual foi alucinação de origem psicológica, relatado pelo menino James Lein- sófica): “A alma do homem é imor- fisiológica ou farmacológica. ninger, que lembra ter sido, em sua vida anterior, o tenente aviador Ja- tal e o seu futuro é o futuro de algo Chama a atenção, por exemplo, mes Huston Jr., falecido em 1945, o caso de EQM de Al Sullivan, que aos 21 anos de idade, na II Guerra cujo crescimento e esplendor não afirma ter estado fora do corpo du- Mundial, na batalha aérea de Iwo- rante uma cirurgia, enquanto o seu Jima. O garoto, a partir de dois anos tem limites.” (p. 111) corpo estava inconsciente pela anes- de idade, tinha pesadelos muito fre- tesia, e ainda assim descreve com quentes de cair de um avião em cha- Annie Besant, em sua supracita- perfeição os bizarros movimentos mas. Aos poucos os pais foram ano- dos braços de seu cirurgião, Dr. Hiro tando sua recordações, que pude- da obra, nos incita à prática investi- Takata, corroborado pelos seus as- ram ser verificadas e se transforma- gativa para que se obtenha conhe- SOPHIA • MAR-ABR/2015 cimento direto: “Iniciem o proces- so de meditação ao qual apressada- mente fiz alusão (...). Sem mais de- mora, saberão por si próprios que essas coisas são verdadeiras (...), te- rão a intuição confirmada pelo co- nhecimento, e sentirão a si própri- os como a alma viva, imortal.” (p. 272- 273) “Mas se o mundo ainda neces- sita de testemunhos da imortalida- de da alma (...), então os homens [deste século] devem passar pelo mesmo treinamento por que essas almas passaram em outras eras, pois somente assim é obtido conheci- mento de primeira mão, e a questão da existência da alma fica cada vez mais além da possibilidade de dúvi- da ou de objeção.” (p. 269) S * Ricardo Lindemann é engenheiro civil e as- trólogo, licenciado em Filosofia pela UFRGS, presidente dos Sindicato dos Astrólogos de Bra- sília e membro do Conselho Mundial da Soci- edade Teosófica Internacional. 25

SHUTTERSTOCK [ SOCIEDADE ] O poder renovador 26 SOPHIA • MAR-ABR/2015

“A profunda conec- Pedro Oliveira* tividade dos sistemas de informação ao re- A história exibe evidências abun- dantes de que a busca pelo poder, dor do mundo criou que tem origem no desejo pessoal e o advento da infor- na ambição, termina em fracasso. Tornou-se lugar-comum criticar os mação como poder. políticos visivelmente egoístas, mas Quem quer que pri- a doença do poder pode ser muito meiramente obtenha sutil e destrutiva. Os bolcheviques a informação neces- na Rússia, por exemplo, estavam sária coloca-se numa convencidos de que tinham inaugu- posição vantajosa.” rado uma nova era para aquele país. No entanto, em pouco mais de 80 SOPHIA • MAR-ABR/2015 anos o regime comunista entrou em colapso, pois havia criado uma clas- se de pessoas que desfrutavam dos privilégios que os trabalhadores co- muns jamais veriam em suas vidas. Também se tinham afirmado envi- ando milhares de dissidentes para os famigerados gulags, ou campos de trabalhos forçados. Thomas Jefferson, um dos fun- dadores dos Estados Unidos da Amé- rica, afirmou: “A experiência tem mostrado que mesmo sob as melho- res formas de governo, aqueles a quem é confiado o poder, com o tempo, e por meio de lentas opera- ções, transformaram-no em tira- nia.” As cruéis, despóticas e crimi- nosas ditaduras do século XX tris- temente corroboram o ponto de vista de Jefferson. Sob o governo nazista na Alemanha e o governo stalinista na União Soviética, mais de 26 milhões de pessoas foram mor- tas, e muitos milhões mais tornaram- se refugiados. As ditaduras aumen- taram rapidamente ao redor do glo- bo na segunda metade do século XX, causando sofrimento inimaginável. Abraham Lincoln afirmou que “quase todos os homens podem su- portar a adversidade, mas se se qui- ser testar o caráter de um homem, dê-lhe poder”. Essa verdade tem apli- cabilidade universal. Indivíduos obedientes à lei, amigos e coopera- dores parecem sofrer uma transfor- mação quando investidos com auto- ridade. Podem tornar-se dominado- 27

“Nós nadamos num oceano de sons, imagens, palavras e impres- sões, mas isso necessariamente não melhora nossa capacidade para ver, ouvir e refletir – e portanto para nos relacionar com os outros.” res, mesquinhos e violentos, às ve- Opiniões de segunda mão zes até mesmo brutais, no exercício pessoal do poder. Por que isso acon- O poder mais disseminado de dade individual tornou-se uma mi- tece? Uma resposta pode ser encon- nossa época é o da informação; por ragem do deserto. trada no livro O Segredo da Autorre- isso os governos investem enormes alização (Ed. Teosófica), conforme somas em espionagem e escuta clan- Outro aspecto perturbador da a tradução de I. K. Taimni: “A natu- destina de indivíduos, companhias assim chamada revolução da infor- reza essencial da escravidão no mun- e outros governos. A profunda co- mação é o nível quase patológico de do irreal da manifestação é enamo- nectividade dos sistemas de informa- absorção no espaço cibernético. Se rar-se do próprio poder individual li- ção ao redor do mundo criou o ad- você pegar um trem ou um ônibus, mitado devido à falta de percepção vento da informação como poder. ou caminhar por uma cidade, verá daquela realidade que é a fonte de Quem quer que primeiramente ob- muitas pessoas desaparecerem em todo poder.” tenha a informação necessária colo- seus aparelhos de comunicação, um ca-se numa posição vantajosa, pro- comportamento que torna o outro O significado de “enamorar-se” movendo assim seu próprio poder. praticamente inexistente. Martin no dicionário é “uma paixão ou ad- No mundo da informação, a privaci- Buber, um renomado teólogo ju- miração intensa e de curta duração deu, certa vez definiu religião como por alguém ou por alguma coisa”. Nesse caso é uma paixão pelo poder SOPHIA • MAR-ABR/2015 visto como uma extensão de si mes- mo. A intensidade do amor ao poder cria a ilusão de que um tal estado de coisas pode durar eternamente, como mostram as vidas de muitos di- tadores e déspotas. O aforismo mencionado mostra claramente que a única verdadeira fonte de poder está na realidade una, que é um estado integrado de cons- ciência e energia (Shiva e Shakti). Para a ciência moderna, a energia é um campo mensurável cujo compor- tamento pode ser estudado sob con- dições laboratoriais. Na tradição da Sabedoria Perene, a energia, ou Shakti, é considerada como a mãe do universo, nutrindo a evolução de inúmeras formas de vida. Não é di- ferente de compaixão e sabedoria. Todas as outras formas de poder exis- tentes no mundo fenomenal são apenas expressões limitadas daque- la fonte eternamente benigna. 28

SHUTTERSTOCK habilidade de dirigir ou influenciar o comportamento de outros ou o pro- a suprema descoberta do outro. Ele humano. T. S. Eliot também fez uma gresso dos acontecimentos”. Isso qua- disse também que vida é relação. Em advertência sobre a era da informa- se que não se distingue de controle. vez de meios de comunicação, esses ção: “Onde está a sabedoria que per- Os partidos políticos desejam perma- aparelhos na verdade se tornam par- demos no conhecimento? Onde está necer no poder não necessariamen- ceiros de vida, quase um vício. o conhecimento que perdemos na te porque têm a melhor plataforma informação?” de políticas e ideias. No âmago de Nós nos rendemos ao poder da um desejo assim está o anelo pelos informação, nadamos num oceano O semiologista italiano Umber- benefícios trazidos pelo poder. de sons, imagens, palavras e impres- to Eco, quase fazendo eco às elo- sões, mas isso necessariamente não quentes palavras de Eliot, disse que Vaclav Havel maravilhou o mun- melhora nossa capacidade para ver, “informação demais equivale a ruí- do quando renunciou à presidência ouvir e refletir – e portanto para nos do”. Esse ruído nos faz perder nossa da Checoslováquia, quando o país foi relacionar com os outros. Essa nova própria compreensão do que é a vida. dividido em dois. Homens assim são propensão representa uma clara ten- Quando isso acontece, nossas opini- verdadeiramente raros. O fato de que dência rumo à autoabsorção. J. Krish- ões são, na melhor das hipóteses, de são admirados indica que, no fundo, namurti, em 1986, foi quase profé- segunda mão. muitas pessoas estimam o desinteres- tico quando questionou o futuro im- se na vida política, enquanto outras pacto dos computadores sobre o ser O que é o poder? Uma das defini- continuam a exercer seu voto dan- ções do dicionário é a “capacidade ou do-o a candidatos questionáveis. SOPHIA • MAR-ABR/2015 Como disse certa vez George Bernard Shaw, “ele não sabe nada e pensa que sabe tudo. Isso aponta claramente para uma carreira política.” O regime democrático tornou-se uma importante instituição, na es- teira das revoluções dos séculos XVIII e XIX. A democracia, do grego de- mokratia (de demos, povo, e kratia, governo) é aclamada como o gover- no do povo. Para aqueles que acom- panham os processos políticos de seus países, é simplesmente impos- sível ignorar a ironia de uma defini- ção assim. Eleições livres e limpas – e governos responsáveis e confiáveis – são uma realidade que ainda não chegou a muitas partes do mundo. Quando o poder é exercido para benefício próprio, não pode trazer renovação. Um amálgama de opini- ões, desejos e ambições aprisiona a mente num tipo de realidade para- lela, tornando a percepção das ne- cessidades dos outros – às vezes a necessidade de milhões de pessoas – quase que inexistente. Poucos pa- íses no mundo têm um sistema de saúde equitativo, justo e verdadei- ramente acessível. Milhões de cri- anças deixam de se alimentar todos os dias, e muitas comunidades vivem sem acesso à água potável. 29

Manifestações da vida Um dos sinais de esperança no mos, descobrimos que chamamos de LUÍSA MOLINA “Um broto novinho em folha mundo de hoje é o fato de que ques- consciência a vida voltada para den- em um arbusto ou numa árvore, tões locais e muito difíceis estão tro, e de vida a consciência voltada um gatinho, um filhote de ca- agora recebendo atenção global atra- para fora. Quando nossa atenção está chorro, as gotas de orvalho nas vés da mídia social. Isso não apenas fixa na unidade dizemos vida; quan- folhas, o rosto de um bebê: tudo cria a percepção, mas também ofe- do está fixa na multiplicidade, dize- expressa um frescor que surge rece soluções que a inércia moral e mos consciência: e esquecemos que de uma dimensão diferente.” política de governos locais tem até a multiplicidade deve-se e é a essên- aqui ignorado. cia da matéria, a superfície refleto- Teosófica para a Índia, em Adyar, por ra na qual o um torna-se os muitos.” fantasia pessoal. Eles foram instruí- Aqueles que inspiraram a forma- dos a fazê-lo por seus instrutores ção da Sociedade Teosófica insisti- Pode haver renovação na consci- espirituais, já que o antigo caráter am em que a fraternidade universal ência humana, particularmente em distintivo da Índia é de universali- deve ser – tem de ser– seu propósi- sua relação com o poder? Annie Be- dade e tolerância, sendo ambos es- to primeiro. Para eles fraternidade sant trabalhou muito para a Índia ser senciais na busca da verdade. universal não era uma ideologia, transformada pelo poder da frater- uma plataforma política ou mesmo nidade e da sabedoria. Alguns dizem Não é sem razão que as pessoas uma crença. Eles falavam da frater- que ela fracassou e que a luta pela em toda a Índia chamavam a douto- nidade como “a única fundação se- libertação deixou-a para trás. Mas o ra Besant de doutora Vasant, que gura para a moralidade universal”. simples fato de que as questões im- significa primavera. Em suas muitas Em níveis que nenhum de nós con- portantes que afetam o país atual- atividades ela deu nascimento à segue ver, a humanidade é um cor- mente são necessariamente as mes- energia da renovação espiritual, que po, um organismo vivo, um poder, mas durante os anos em que ela se uma só vida. Esse é o “poder que re- dedicou ao serviço – a educação, a nova todas as coisas”. E é também o condição das mulheres, o sistema de poder da sabedoria, como consta do representação política, a necessida- Velho Testamento, no Livro de Sa- de de uma ética baseada na espiri- bedoria de Salomão (7:27): “E sendo tualidade, a proteção dos fracos – apenas uma, ela pode fazer todas mostra que ela tocou algo profun- coisas: e permanecendo em si mes- damente verdadeiro dentro dela ma, ela renova todas as coisas.” mesma que era também profunda- mente relevante para o país. A vida, em suas manifestações mais puras, é indistinguível da no- Em seu livro India – Bond or vidade. Um broto novinho em folha Free? A World Problem (Índia – Es- em um arbusto ou numa árvore, um crava ou Livre? Um Problema Mun- gatinho, um filhote de cachorro, as dial), no capítulo sobre um governo gotas de orvalho nas folhas, o rosto para a Índia, Annie Besant afirmou o de um bebê: tudo expressa um fres- seguinte, com relação à natureza do cor que surge de uma dimensão di- país: “A Índia no passado mostrou que ferente. Esse frescor e novidade a mais elevada espiritualidade não continuam a seguir a vida em miría- impede, mas antes assegura, a gran- des de outras expressões. Para Ilya deza da realização no esplendor mul- Prigogine, um grande cientista bel- tifacetado da vida de uma nação; sob ga, o verdadeiro segredo da Segun- o pálio de sua sublime religião ela da Lei da Termodinâmica não é ape- desenvolveu uma literatura de poder nas entropia ou desordem, é tam- intelectual, filosófico e metafísico bém a renovação. sem paralelo; sua arte floresceu com extraordinária beleza; seus dramas Annie Besant afirmou: “Não ainda purificam e inspiram.” existe vida sem consciência; não existe consciência sem vida. Quan- O Coronel Olcott e Helena Bla- do vagamente as separamos em pen- vatsky não decidiram transferir a samento e analisamos o que fize- sede internacional da Sociedade 30 SOPHIA • MAR-ABR/2015

almejava a elevação dos pobres e a próprio bolso, nada devem à socie- se tornou o instrumento de pode- crescente responsabilidade daque- dade. No entanto, um mundo que les que tinham o benefício da edu- tem milhões de pessoas analfabetas res vastamente beneficentes que cação. Certa vez ela fez um discurso e muitos milhões afundados em po- para graduados de uma faculdade breza abjeta é evidência suficiente sempre trabalham para a regenera- indiana dizendo que o mundo só ve- que aqueles que sabem mais te- ria uma era de paz e fraternidade nham a responsabilidade moral de ção da humanidade. Sua vida foi to- quando aqueles que eram educados elevar seus irmãos. O conhecimen- à custa da educação de milhões re- to não pode ser divorciado da res- cada por um amor que não tem fim, embolsassem aquela educação atra- ponsabilidade moral. vés do serviço altruísta. Existem que “regozija não na iniquidade, aqueles que podem argumentar Pelo fato de Annie Besant ter que, tendo pago a educação de seu se esvaziado de ambição pessoal e mas na verdade”, como ensinou São do exercício egoísta do poder, ela SOPHIA • MAR-ABR/2015 Paulo. Somente o amor pode tra- zer a renovação. S * Pedro Oliveira é Coordenador Educacional da Sociedade Teosófica na Austrália e ex-Secre- tário Internacional da ST. 31

[ RESPONSABILIDADE ] Uma cura para o planeta “Gandhi disse que a Mãe Terra é capaz de satisfazer as ne- cessidades de to- dos, mas não conse- gue satisfazer a ga- nância de um único indivíduo. Para sal- var o planeta, deve- mos compreender as necessidades e negar a ganância.” 32 SOSOPHPHIAIA••MMAAR-RA-ABBR/R2/0210515

SHUTTERSTOCK Samdhong Rinpoche* nós, individualmente, deve cair fora da corrente da civilização moderna Segundo a tradição budista, o e compreender sua responsabilida- universo se manifesta por meio da de universal. Dessa maneira, cada força kármica coletiva e individual indivíduo pode se sintonizar com o de todos os seres sencientes. A for- universo. ça kármica favorável gera formas que estão em sintonia com o pro- Gandhi disse que nossos proble- cesso vital, e o universo vivo cria um mas são resultado direto da ganân- universo não vivo em sintonia com cia e do materialismo da civilização ele. Essa força positiva tem o poder moderna. Uma ideia semelhante foi de converter formas que não este- expressa pelo cacique norte-ameri- jam em sintonia com o universo em cado Seattle, há mais de 150 anos. formas que estejam sintonizadas. Hoje, o mundo se depara com cinco grandes desafios: Durante o surgimento, o cres- cimento e a vida madura de um pla- Aumento incontrolável da popu- neta existe coesão entre suas for- lação, particularmente nos chama- mas vivas e sua própria natureza. dos países do Terceiro Mundo. Isso é chamado de Era de Ouro, ou Disparidade econômica crescente Satya Yuga. Mas, após um período entre ricos e pobres. de tempo específico, essa força kár- Violência, guerras, terrorismo e mica positiva gradualmente retro- o medo das armas de destruição em cede e uma força kármica negativa massa. ganha força. Isso cria conflitos e Degradação ambiental, como o contradições entre os seres vivos e aquecimento global, os danos à ca- não vivos, e faz com que esses seres mada de ozônio, a destruição das e o próprio planeta fiquem fora de florestas e a escassez de água. sintonia com o universo, levando a Intolerância cultural e religiosa; uma total deterioração e aniquila- a religião, que deveria ser uma ção. Isso é chamado Kali Yuga, ou fonte de felicidade, passou a cau- Era de Decadência. sar conflitos e divisão. Hoje em dia, nosso pequeno pla- Sabemos desses problemas por- neta está sofrendo de falta de coe- que os experienciamos todos os dias. são, o que resulta em conflitos. Os Cada um deles é uma ameaça para a seres sencientes estão sujeitos a paz, a felicidade e o bem-estar dos medo e a incontáveis misérias. Isso seres vivos, e pode terminar com a se deve basicamente à força kármi- total aniquilação da Terra. Cada de- ca coletiva dos seres vivos, que não safio tem facetas diversas e interre- é fácil de ser corrigida. Porém, não lacionadas. A causa última desses podemos esperar pela transformação problemas podem ser as forças kár- dessa força coletiva para resolver mica negativas, coletivas e individu- nossos problemas. Precisamos de ais, mas a condição imediata que fa- uma abordagem individual para re- cilita seus efeitos negativos é a civi- generar a nós mesmos e ao mundo. lização moderna, ou, mais acurada- mente, a descivilização baseada na “Sair da corrente” é a única so- ciência e na tecnologia. lução possível para o mundo atual. Um nadador pode não ser capaz de A ciência e a tecnologia moder- reverter o fluxo de uma corrente nas beneficiaram uma pequena par- marítima, mas pode ter a liberdade cela da humanidade com produção e a habilidade de sair da corrente e de mercadorias supérfluas, ou seja, nadar em direção à praia. Logo que sem relação com as reais necessida- tiver feito isso, poderá ajudar a so- des das pessoas; e monopólio dessa correr muitos outros. Cada um de 33 SOPHIA • MAR-ABR/2015

produção sob a forma de capital, ou Colonização SHUTTERSTOCK do chamado know-how tecnológico. econômica “Aquilo que suposta- Esses dois fatores permitem que Se alguém acumula riqueza para mente é bom para poucos acumulem riqueza e explo- consumir o que é desnecessário, nós é determinado rem a natureza e os seres vivos de ele retira essa riqueza daquilo que pelo mercado. Assim, maneira indiscriminada e constan- pertence a outros; portanto, nada um homem pode fa- te. Gradualmente os povos se tor- mais é do que um ladrão. Mas, se cilmente ser levado a naram dependentes. A produção uma pessoa é incapaz de acumular acreditar que precisa industrializada exige consumido- riqueza segundo o modo moderno, de doze pares de sa- res, e a promoção de mercado é sua ela não pode levar uma “vida dig- patos e de dezesseis consequência lógica. Os fabricantes na”. Uma pessoa assim é classifica- ternos para transitar exploram as emoções negativas da da entre aqueles que estão abaixo na sociedade” humanidade a seu favor, emoções da linha de pobreza, que precisam como o desejo de conforto e a mira- de mais assistência, mais fundos de SOPHIA • MAR-ABR/2015 gem do lazer. desenvolvimento e mais oportuni- dades de emprego. Portanto, mais A base para a infinita multiplica- empréstimos e mais know-how são ção de apegos e desejos como esses necessários, segundo os termos são a educação e a estrutura social determinados pelo Banco Mundi- de competição, que desde a infân- al, o Fundo Monetário Internaci- cia gera ódio sob várias formas. Com- onal, a Organização Mundial de petir significa, na melhor das hipó- Comércio e os governos das cha- teses, ser um adversário de outros madas “nações desenvolvidas”. As- competidores, e, na pior, ser inimi- sim, as nações do Terceiro Mundo go de todos. Nas escolas, os estudan- estarão sempre curvadas. O siste- tes são estimulados a serem os me- ma econômico não apenas nos pri- lhores e a derrotar os restantes. E va de nossa sabedoria e discrimina- isso é chamado de “competição sau- ção; rouba-nos também nossa dig- dável”... Na verdade, competição nidade e autorrespeito. significa “a vitória do eu sobre os ou- tros”; isso é nada mais que egoísmo Hoje, todos os sistemas geopolí- e falta de consideração. Na perspec- ticos e socioculturais são governa- tiva budista, a competição é uma dos por um fator único, que é a eco- coisa imoral, um dos piores compor- nomia de mercado. Outros ideais tamentos humanos possíveis. políticos e sociais, como democra- cia, direitos humanos, diversidade A exploração do desejo, do ape- cultural e liberdade de consciência go e do ódio é muito fácil porque são meras palavras, destituídas de estamos sob a influência da ignorân- significado, usadas de maneira orna- cia. Aqueles que produzem bens de mental e metafórica e, se necessá- consumo não apenas exploram nos- rio, como simulacro de apoio. sas emoções negativas, como o de- sejo e o ódio, mas também nos pri- O colonialismo político chegou vam completamente de sabedoria e ao fim devido ao despertar dos povos de discernimento. As pessoas perde- sujeitos a essa dominação durante ram o poder de discernir quais são os últimos séculos. Atualmente essa suas reais necessidades, o que é bom prática foi substituída pela coloni- e o que é ruim. Aquilo que suposta- zação econômica, que é muito mais mente é bom para nós é determina- perigosa. A ocupação política pode do pelo mercado. Assim, um homem ser derrubada em pouco tempo, mas pode facilmente ser levado a acredi- serão necessárias várias décadas ou tar que precisa de doze pares de sa- séculos para se recuperar da domi- patos e de dezesseis ternos para tran- sitar na sociedade moderna e man- ter o status social. 34

nação econômica – presumindo-se moralidade e ética são empecilhos do moderno estilo de vida materia- que haja uma chance de reconquis- ao desevolvimento material. Muitos lista, com seu consumismo exces- tar essa liberdade. dizem abertamente que “religião é sivo e imoral, e compreendam qual veneno” em termos de progresso. é a sua responsabilidade com rela- Como as prioridades econômicas Uma pequena minoria pode não ção ao bem-estar universal. O ma- suplantaram tudo o mais, o indiví- concordar totalmente com isso, mas crouniverso é construído de mi- duo se tornou egoísta, violento e diz mansamente que não há solu- crouniversos de indivíduos; o que destituído de fundação moral e éti- ção senão se submeter. quer que o indivíduo faça tem re- ca. O moderno estilo de vida tam- levância e produz efeitos sobre o bém destruiu as inclinações espiri- Na ausência de sabedoria e co- universo. Portanto, quando um in- tuais da maioria das pessoas. A es- ragem para se opor ao mal, a per- divíduo se dissocia do mal, um mi- sência da religião tem sido ignora- gunta natural é: “O que podemos crouniverso desarmonizado pode se da; as religiões e suas instituições fazer?” Esta é uma pergunta muito sintonizar. Assim, o planeta tem têm sido usadas para fortalecer a in- importante. Seguindo o princípio mais chances de recobrar sua har- tolerância e o conflito. A maioria das de satyagraha de Gandhi, recomen- monia com o universo. pessoas pensa que espiritualidade, do aos indivíduos que “pulem fora” 35 SOPHIA • MAR-ABR/2015

Uma espiritualidade verdadeira O Nobre Caminho Óctuplo de pode cair no fosso materialista sem sim, o universo. Esta é a meta Buda traz sugestões práticas não se dar conta. última da vida humana, e não en- apenas para elevação espiritual, mas volve seguir qualquer tradição também para se viver de maneira Os passos sete e oito, a correta religiosa. correta, criando uma sociedade co- concentração e a correta ação, são esa e não violenta e promovendo, as- também essenciais para um modo Atualmente, mesmo as pessoas sim, a espiritualidade. O primeiro de vida não violento. Se o Nobre que alegam ser autoridades em tra- passo é ter uma clara percepção da Caminho Óctuplo for posto em dições religiosas tornaram-se mun- sociedade materialista e egoísta de prática, a pessoa pode se livrar de danas e vis, maculadas por emoções hoje, com todos os seus deméritos, um sistema pernicioso e levar uma negativas. A prática de uma religião e saber como se dissociar dela. vida exemplar. se tornou ritualizada e instituciona- lizada, razão por que Krishnamurti O segundo passo é a correta de- Para ter uma disposição espiritu- consistentemente rejeitava todas as terminação. A pessoa deve ter um al ou religiosa e chegar a uma verda- tradições. Ele não rejeitava a essên- modo de vida não violento, não con- deira transformação da mente, de- cia da tradição, apenas a tradição sumista e autocontrolado, aceitan- vemos pôr em prática as seguintes prevalecente. É necessário compre- do dificuldades e inconveniências, sugestões: ender o que é uma mente verdadei- inclusive a dor física que pode ocor- ramente religiosa e o que é a verda- rer no caminho. Perceber os deméritos da civiliza- deira religião, livre de dogmas e ri- ção moderna e sua violência dire- tuais, tradições e linhagens. O terceiro passo é falar a respei- ta, indireta, estrutural e explora- to disso sem medo. Os dois primei- dora. Isso é correta visão. Krishnamurti resumiu a totali- ros passos pertencem ao indivíduo. Estarmos determinados a perma- dade do ensinamento religioso da Compartilhá-los com o próximo é necer dissociados desse modo de seguinte forma: “A religião é algo comunicar sua visão e determinação vida ganancioso e egoísta, apesar que inclui tudo. Ela não é exclusi- por meio da correta linguagem. Se a das inconveniências e dificulda- va. A mente religiosa não tem na- pessoa não fala dos males da nossa des. Isso é correta determinação. cionalidade, não é provinciana, não sociedade, pode ser considerada Reduzir as necessidades ao nível pertence a um grupo particular. cúmplice dela. mínimo e evitar qualquer desper- Não é o resultado de dois mil anos dício de recursos. Gandhi disse que de propaganda, não tem dogma O quarto passo é consolidar e es- a Mãe Terra é capaz de satisfazer as nem crença. É uma mente que se tabilizar o esforço. Não se deve per- necessidades de todos, mas não move do fato para o fato. É uma mitir que a preguiça e a negligência consegue satisfazer a ganância de mente que compreende a qualida- detenham o esforço de viver corre- um único indivíduo. Para salvar o de total do pensamento, não ape- tamente. planeta, devemos compreender as nas o pensamento óbvio, superfici- necessidades e negar a ganância. al, o pensamento educado, mas O quinto passo, e o mais impor- Renunciar ao moderno paradigma também o pensamento não educa- tante, é o correto viver. Essa é a ação de abundância. Isso inclui o uso do, o profundo pensamento incons- básica de “pular fora” e implica uma dos meios de comunicação, via- ciente e seus motivos. É uma men- verdadeira compreensão individual gens, computadores e outros ma- te que investiga a totalidade de da responsabilidade universal. les menores sem os quais a pessoa algo, quando compreende o que é pode não se sentir capaz de atuar falso e o nega porque é falso. Então Atualmente é muito difícil bus- no mundo moderno. a totalidade da negação produz uma car o viver correto e sem mácula. Os Inovar na tecnologia, nos meios e nova qualidade na mente que é re- ensinamentos práticos de Gandhi nos métodos apropriados de con- ligiosa, que é revolucionária.” S sobre a autossuficiência e os princí- sumo sustentável, senão a Terra pios do autogoverno de uma aldeia pode não sobreviver. * Samdhong Rinpoche é professor, são as únicas respostas ao atual modo Promover uma mente genuina- escritor e ex-Primeiro Ministro do de vida consumista. mente espiritual, que seja capaz Governo Tibetano no Exílio. de transformar o indivíduo e, as- O sexto passo é a correta aten- SOPHIA • MAR-ABR/2015 ção. No mundo de hoje, a violên- cia e a desonestidade são a norma. Sem a correta atenção, a pessoa 36

“O Nobre Caminho Óctuplo de Buda traz sugestões práti- cas não apenas para elevação espiritual, mas também para se viver de maneira correta, criando uma sociedade coesa e não violenta.” SOPHIA • MAR-ABR/2015 37 SHUTTERSTOCK

[ ESPIRITUALIDADE ] A mente, a ignorância e a verdade 38 SOPHIA • MAR-ABR/2015

“Quando nossa cons- Linda Oliveira* ciência se move com maior propósito rumo Uma maneira convincente de se ao polo espiritual, tor- compreender a consciência huma- na-se como um navio na é o uso de símbolos. A mente que singra com ener- pode ser considerada como um cáli- gia focada e determi- ce ou um vaso, uma palavra derivada nação, partindo de do latim vascellum, “vaso pequeno águas revoltas em dire- ou recipiente”, que, curiosamente, ção a águas mais cal- também significa “navio”. Aceite- mas, rumo à praia dis- mos o convite para visualizar esses tante que na verdade é dois símbolos: primeiramente o re- um novo mundo.” cipiente, depois o navio. SHUTTERSTOCK Certamente um vaso é um reci- piente, como por exemplo um vaso SOPHIA • MAR-ABR/2015 de jardim onde uma planta pode crescer. Um navio também é um re- cipiente, mas com um movimento inerente – ele tem a capacidade de viajar de uma praia a outra. Essas duas imagens fornecem janelas bas- tante vívidas sobre a mente huma- na, sua condição atual e seu poten- cial. Viajemos durante algum tem- po nas operações da mente – por um lado, como um recipiente para a ig- norância, e por outro, como um re- cipiente para a verdade. Quando olhamos à nossa volta, notamos que hoje em dia a falta de profundidade prevalece na vida hu- mana. A mente raramente está sos- segada; ela gosta de se repetir e fre- quentemente está num estado de divisão. Nosso senso de separativi- dade origina-se neste recipiente da mente, e é reforçado diariamente. O livro A Voz do Silêncio (Ed. Te- osófica) faz menção ao estado de consciência descrito como a sala da ignorância, ou avidyâ: é a disposi- ção do indivíduo comum, que está constantemente voltado para fora, em direção ao mundo, que não tem interesse particular no significado mais profundo da vida, que vive para o momento e é puxado daqui para ali por muitas atrações diferen- tes. Essa sala é descrita com estas palavras: “Sim, a ignorância é como um vaso fechado e sem vento; a alma é um pássaro mudo no interi- or. Não trina, não consegue mexer 39

uma pena; mas o cantor, mudo e ta usando a instrumentalidade de com a base apontando para baixo, entorpecido, está pousado, e mor- kama-manas (inteligência que ope- um símbolo da mente como um vaso re de exaustão.” ra com a natureza dos sentidos), de ignorância, onde as notas da alma que pode ser muitíssimo pouco não podem ser expressadas. Podemos notar aqui a descrição confiável. Consideremos este da ignorância como um vaso, mas exemplo. Suponhamos que encon- Os grandes polos de existência com a qualificação de que está fe- tremos uma pessoa depois de al- – purusha (eu espiritual) e prakri- chado e sem ar; em outras palavras, guns anos. Ela pode parecer um ti (matéria primordial) – estão re- as notas da natureza interior não pouco mais velha e ter mudado a fletidos nas polaridades da nossa na- conseguem ser ouvidas. aparência de certa forma. Pode- tureza. Quando o mundo sensato mos ver esse fato. Mas talvez ve- não se satisfaz suficientemente, Entre os significados de avidyâ nhamos a reagir a algo que a pessoa existe um tipo de magnetismo re- está aquilo que é oposto a vidyâ: co- disse ou fez no passado. Pode ha- verso que entra em ação; isso re- nhecimento; também significa igno- ver algum preconceito residual quer reorientação de movimento rância, que procede e é produzida contra ela. Portanto, nossa percep- ativo. Aqui podemos usar o símbo- pela ilusão dos sentidos, ou vipa- ção é “colorida” e não vemos ver- lo da mente como um navio, parte ryaya. Segue-se então que ver com dadeiramente o que está diante de da derivação latina da palavra “vaso”. o olho físico proporciona uma visão nós. Podemos não perceber o fato Consciente ou inconscientemen- parcial, não a visão verdadeira. Da de que ela mudou, ou não perce- te iniciamos o processo árduo de mesma forma, nossos outros senti- ber a verdade maior de suas virtu- forjar a construção de uma ponte dos físicos fornecem um quadro in- des. Portanto, nós não apreende- em direção à natureza interior, atra- completo da realidade; na melhor mos a plena realidade da situação vés da qual torna-se possível entrar das hipóteses proporcionam percep- assim devido à ilusão sensorial. em contato com a ordem divina das ções de coisas ou situações que são coisas. Mas essa ponte precisa ser verdades parciais. Dissemos que um dos significa- construída com tenacidade, de dos de vaso é “recipiente”. Um reci- modo que nossa consciência diária O que aprendemos através dos piente tem uma base fechada. Pode- possa atravessar em direção a uma sentidos físicos requer a ação da se imaginar um recipiente acústico, consciência mais plena. mente. Normalmente interpreta- mos aspectos do mundo à nossa vol- Significados profundos Um d0s trechos mais citados no desejável. Por um lado, existe o mi- vive na própria fonte de todas as ver- livro Cartas dos Mahatmas a A. P. nucioso e cuidadoso exame do mun- dades fundamentais – a universal Sinnett (Ed. Teosófica) é o do do em que vivemos, que verdadeira- essência espiritual da natureza, Mahatma K. H.: “Está algum de mente pode provar que estamos Shiva, o criador, o destruidor e o vocês tão ansioso pelo conhecimen- num estado de ignorância. Por ou- regenerador’. to e os poderes beneficentes que tro, há uma segunda atitude, que [esta decisão] confere a ponto de consiste em examinar o mundo em Há momentos em que estamos estarem prontos para deixar o seu que queremos entrar. aquietados e nos sentimos mais pró- mundo e vir para o nosso?” Essa ximos do eu, quando podemos vis- pergunta possui tremenda impor- Isso nos faz questionar: o que lumbrar um pouco do mundo deles tância e significado. Pois, em pri- realmente é o mundo deles? Um usando nossos sentidos internos, meiro lugar, precisamos conhecer dos Mestres escreveu para A. P. em oposição aos sentidos externos o que é o nosso mundo, para saber o Sinnett a respeito da qualidade de que usamos em nossa vida diária. que estamos deixando. Esse mun- percepção dramaticamente dife- Como a mente pode nos atrair mais do é o centro da nossa experiência rente de um Adepto: “Para adqui- para o mundo deles? Ela precisa fun- imediata; no entanto, com que rir mais conhecimento, ele não tem cionar como um vaso de ordem dife- exatidão realmente o percebemos? que passar pelo minucioso e lento rente, que sintetize e descubra prin- processo de investigação e compa- cípios unificadores, em vez de ser Com relação a isso, I. K. Taimni ração de vários objetos, mas é dota- separatista, analítica e crítica. Pois sugere duas linhas de investigação do de insight instantâneo, implíci- é o aspecto universal da mente, mes- através das quais se pode compreen- to quanto à verdade fundamental.” clado com nosso coração intuitivo, der que o desabrochar interior é E adiante: “O Adepto vê, sente e que ajuda a revelar os significados 40 SOPHIA • MAR-ABR/2015

SHUTTERSTOCK SOPHIA • MAR-ABR/2015 “A ignorância é como um vaso fechado e sem vento; a alma é um pás- saro mudo no interior. Não trina, não consegue mexer uma pena; mas o cantor, mudo e entorpe- cido, está pousado, e morre de exaustão.” 41

“Ver com o olho SHUTTERSTOCK físico proporciona uma visão parcial, não a visão verda- deira. Da mesma forma, nossos ou- tros sentidos físi- cos fornecem um quadro incomple- to da realidade.” 42 SOPHIA • MAR-ABR/2015

mais profundos da vida. Na verda- tipos de indivíduos. No devido tem- reinos em guerra e conferia igual de, isso foi descrito como o reino da po, Parsifal torna-se um ser espiri- verdade universal de Platão – o rei- tualmente desperto que resiste a to- importância a cada cavaleiro. Arthur no do bem, da verdade e da beleza. das as tentações. Da mesma forma, Uma trindade semelhante existe na ao dar atenção ao reino da sabedoria se tornou rei por acidente – ou, pelo tradução hindu de Satyam (a Verda- espiritual e descobrir a verdade, po- de), Shiva (a Regeneração) e Sun- demos regenerar a nós mesmos e ao menos, era como parecia. Uma es- daram (a Beleza). mundo. Lembremos que o mundo dos mestres é vivido dentro de Shi- pada fora magicamente enterrada O que é a verdade? N. Sri Ram va, o regenerador. fez uma descrição pungente: “Pode- numa pedra, esperando que a pes- se pensar na verdade como o signifi- Pode-se imaginar toda a lenda do cado dado pelo espírito interior a Graal como um símbolo do caminho soa certa fosse removê-la. Significa- qualquer conjunto de fatos, signifi- espiritual. O Graal tem dois aspec- cado esse que tem um apelo e um tos; como já mencionado, é uma taça tivamente, apesar de esforços deses- poder que penetram as próprias raí- da qual se pode beber profundamen- zes do ser.” Ele comentou também te para restaurar a verdadeira natu- perados e infrutíferos, ninguém foi que a verdade só pode ser experi- reza do ser. Nesse sentido, pode ser mentada no próprio ser quando a considerado como um receptáculo capaz de arrancar a espada. O jovem mente e o coração estão completa- para a vida espiritual. Por outro lado, mente abertos. é também uma joia, uma pedra pre- Arthur, porém, retirou-a com facili- ciosa com poderes miraculosos de A lenda do Graal descreve lin- cura e transformação. Podemos con- dade. No entanto – e este é o ponto damente como a mente pode se cebê-lo como a consciência univer- tornar um vaso da verdade. Consi- sal, cujo efeito transformador ajuda crítico – sua intenção era entregá- deramos um vaso como sendo um o espírito humano imortal a se ex- recipiente. O Graal é um recipien- pressar através da mente. la a uma outra pessoa. Portanto, seu te, uma taça, mas de uma natureza verdadeiramente sagrada, na qual A busca pelo Graal também é motivo para retirar a espada foi puro; o receptáculo é transformado. Não abordada nas lendas do rei Arthur. é sem razão que a simbologia do Ouçamos essas palavras de Idylls of não havia autointeresse. Ele não re- Graal é usada em rituais em todo o the King, de Tennyson, no momen- mundo. As mitologias do Oriente e to em que o Artur formava a Távola clamou o poder representado – e do Ocidente narram a busca huma- Redonda: “Então o rei, com voz bai- na por significado. Tem-se observa- xa e profunda, usando palavras sim- possuído – pela espada. do que cada um dos participantes ples e de grande autoridade, uniu- no drama da busca do Graal está pre- os a ele mesmo por votos tão estrei- Pode-se compreender o rei sente dentro de cada um de nós, tos que, quando se levantaram, no- aqui e agora. Uma versão da lenda meados cavaleiros após estarem ajo- como nossa natureza mais recôndi- do Graal, a história de Parsifal, co- elhados, alguns estavam pálidos meça com o herói vivendo numa como diante da passagem de um fan- ta, a morada da verdade. A própria floresta; o fato de que ele sequer tasma, outros estavam enrubesci- sabe seu nome é esplendidamente dos, e outros ainda olhavam, como popularidade da lenda do Graal em simbólico. A floresta representa o alguém meio cego que espera a che- estado de ignorância, governado gada de uma luz. Mas quando ele anos recentes é significativa. Ela pelos sentidos. A lenda fornece falou e alegrou sua Távola Redonda uma imagem de Parsifal cercado e com palavras divinas e confortáveis, tem sido descrita, psicologicamen- incapaz de ver com clareza. além do que consigo narrar, obser- vei de olho em olho que toda a Or- te, como o símbolo do ser humano Joy Mills sugeriu que nós somos dem reluzia uma semelhança mo- como Parsifal, começando nossa jor- mentânea como rei.” total, no qual não mais há divisão e nada humana como um simples tolo, ignorante e ingênuo. Ao longo do O rei Arthur é descrito na lenda os opostos em guerra foram inte- caminho encontramos muitas ten- como alguém que inspirava seus ca- tações que estão de algum modo dis- valeiros, e em cuja presença eles se grados em um todo. Muitos indiví- farçadas; somos ajudados por vários sentiam elevados. Ele unificou os duos claramente ressoam os arqué- SOPHIA • MAR-ABR/2015 tipos por trás dos personagens des- critos na história. A mente é verdadeiramente um vaso. É um vaso para a ignorância quando o recipiente rústico, falan- do simbolicamente, toca a terra e torna-se um local de recreação dos sentidos. Mas é um vaso para a ver- dade quando o recipiente rudimen- tar é transmutado em sua plena gló- ria, o Graal interior. Lembremos que a palavra também significa “navio”. Quando nossa consciência se move com maior propósito rumo ao polo espiritual, torna-se como um navio que singra com energia focada e de- terminação, partindo de águas revol- tas em direção a águas mais calmas, rumo à praia distante que na verda- de é um novo mundo. S * Linda Oliveira é Presidente Nacional da Sociedade Teosófica na Austrália e ex-Vice-Presidente Internacional da ST. 43

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Freire, 296, Santana (imediações Guarulhos-SP Carlos René Egg, 205, Jardim Site: www.lojadharma.org.br. metrô Santana), CEP: 02034-000. •GET Mahatma Gandhi: R. Fran- Ipê, Santa Felicidade, CEP 82410- Reuniões: 4ª, 20h (membros); Tel: (11) 3865-4922 / 99406-0183. cisco de Assis, 87, s. 1, Centro, 450. Tel: (41) 3088-8140 / 9968- sáb., 15h às 18h30 (público). Reuniões: dom., 17h30. Site: CEP 07095-020. Tel.: (11) 4485- 7625 / 9646-5853. Reuniões: 6ª, •Loja Jehoshua: Pç. Osvaldo groups.yahoo.com/ group/ 3896/9338-3400. Reuniões 4ª 19h. 20h; sáb., 10h30 e 18h. E-mail: Cruz, 15, Ed. Coliseu, s. 2108, ltsp-sampa. E-mail: ltspsampa- Joinville-SC [email protected] Centro, CEP: 90030-160. Tel.: [email protected] •Loja Shanti-OM: R. Waldema- •Loja Paraná: R. Dr. Zamenhof, (51) 8417-2533. Reuniões: 5ª, Vitória-ES ro Maia, 130, CEP 89202-260. 97, Alto da Glória, CEP: 80030- 19h30h. E-mail: inaiazluhan@ •Loja Blavatsky: Pç. Getúlio Tel: (47) 3433-3706. Reuniões: 320. Tel: (41) 3254-3062. Reuni- gmail.com Vargas, 35, Ed. Jusmar, s. 614, 4º domingo do mês, 19h. ões: 3ª, 20h. Recife-PE Centro, CEP 29010-925. Tel (27) Juiz de Fora-MG •GET Dario Vellozo: R. 13 de •Loja Estrela do Norte: R. Dio- 3227-8249. Reuniões: 3ª, 19h30. SO•PLHoIjaA E•stMreAlaR-DA’BARlv/a20: 1A5v. Barão Maio4,4538, Centro, CEP 80510- go Álvares, 155, Torre, CEP: E-mail: [email protected].

do Rio Branco, 2721, s. 1006, Cen- FRED FOKKELMAN tro. CEP: 36025-000. Tel: (32) 3061- 4293. Reuniões: 2ª, 4ª, sáb., 18h15. O que é a Londrina-PR •GET Lumen: R. Raja Gabaglia, Sociedade Teosófica 1020, Jd. Quebec. CEP: 86060-190. Tel: (43) 3027-2623 / 9121-3375 / A Sociedade Teosófica foi fundada em Nova Ior- Não há religião 9916-0099 / 9911-8142. E-mail: que em 1875 por um grupo que inclui a russa Hele- superior à [email protected] / na Blavatsky e o norte-americano Henry Olcott, seu ivguerrini@ hotmail.com. primeiro presidente. A sede internacional foi trans- verdade Reuniões: qua., 19h. ferida para Chennai, na Índia, onde se encontra hoje. Mogi das Cruzes-SP A Sociedade tem sedes em mais de 60 países e divi- Esse é o lema da •Loja Raimundo Pinto Seild: R. de-se em Seções Nacionais formadas por Lojas e Sociedade Teosófica. Bras Cubas, 251, 1º andar, s. 14, Grupos de Estudos. Mas a Sociedade não Centro, CEP 08710-410. Fones: se impõe como porta- (11) 9-9501-6061 e (11) 4723-3401. A Sociedade Teosófica estrutura-se sobre o prin- dora da verdade; o E-mail: cavalcante.manoel cípio da fraternidade universal e a livre investiga- laço que une os teoso- @gmail.com ção da verdade. Seus objetivos são formar um nú- fistas não é uma Niterói-RJ cleo da fraternidade universal da humanidade; en- crença comum, mas •Loja Himalaya: R. da Conceição corajar o estudo de religião comparada, filosofia e a investigação da ver- 99, s. 207, Centro. CEP 24020-090. ciência; investigar as leis da natureza e os poderes dade em relação às Tel: (21) 2710-3890, 2611-6949. latentes no homem. diversas religiões, à Reuniões: 2ª, 18h. filosofia ou à ciência. Piracicaba-SP Membros de diversas religiões se filiaram à So- •Loja Piracicaba: R. Sta Cruz, 467, ciedade, mantendo suas tradições. Considerando 45 Alto. CEP: 13416-763. Tel: (19) que ela não é uma religião nem uma seita, somente 3432-6540. Reuniões: 3ª e 5ª, 20h. o respeito à liberdade de pensamento torna possí- E-mail: lojapiracicaba@ vel a convivência harmônica que favorece a investi- sociedadeteosofica.org.br gação e o aprendizado. Praia Grande-SP •Get Thoth: R. Dep. Laércio Corte, A origem da palavra theosophia é grega (“sabedo- 1090, Vila Caiçara. CEP: 11700-000. ria divina”). Quem primeiro utilizou esse termo foi Tel: (13) 3474-5180. Reuniões: 3ª, Amônio Saccas, em Alexandria, no século III d.C, 19h30. E-mail: get.thoth que, juntamente com seu discípulo Plotino, fundou a @sociedadeteosofica.org.br Escola Teosófica Eclética. Esses filósofos neoplatô- Ribeirão Preto-SP nicos não buscavam a sabedoria apenas nos livros, •GET Ahimsa: R. João Penteado, mas através de correspondências da alma com o mun- 38, Jardim Sumaré, CEP 14020- do e a natureza. A Sociedade Teosófica moderna, 180. Fones: (16) 3237-5109/98138- sucessora dessa antiga escola, almeja a busca da sa- 5148/ 3916.4231. Reuniões: sáb. bedoria não pela crença, mas pela investigação da 16h. E-mail: teosofia.ahimsa verdade que se manifesta na natureza e no homem. @gmail.com ou bertha.rib@terra. com.br •G.E.T. Acordar (1): R. João Pente- ado, 38, Sumaré, CEP 14020-180. Reuniões: seg. 20h •G.E.T. Acordar (2): R. Manoel Emboaba da Costa, 456, Lagoinha, CEP 14095-150. Reuniões: sáb. 16h30. Fones: (16) 98866-1780 (Oi), 99144-1780 (Claro), 3024- 1755. E-mails: getacordar@sociedadeteosofica. org.br e luisyogadearaujo@ gmail.com São Caetano do Sul-SP •GET do Grande ABC: R. Marechal Deodoro, 904, Sta. Paula. CEP 09541-300. Tel: (11) 4229- 7846. Reunião 3ª, 20h. E-mail: getdograndeabc@ gmail.com São José dos Campos-SP •Loja Vida Una: Espaço da Cultura Indiana Nanda Kumara Das, R. Justino Cobra, 265, Vila Ema, cep 12243-700. Fone: (12) 3941-7173/99712-2349 Sobral-CE •GET Sobral: R. das Dores, 105, Centro. Tel: (88) 9483-8121/9913- 2000. E-mail: gersonhardy@ yahoo.com.br. Reuniões: seg. 19h30, dSoOmPH. 9IAh.• MAR-ABR/2015

Conheça as publicações da Editora Teosófica Chegando Aonde Teosofia Prática O Segredo da A Visão Espiritual Você Está – a Vida C. Jinarajadasa Autorrealização da Relação de Meditação I. K. Taimni Homem e Mulher Steven Harrison Este livro traz uma série Scott Miners (comp.) de reflexões sobre como O princípio que nor- Este livro investiga a aplicar os princípios da Te- teia a obra é que o homem Vários autores abor- meditação como um pro- osofia na nossa vida diária, vive envolto por um mun- dam, nesta obra, a energia cesso livre de motivações tanto no lar como na escola do de ilusões e limitações, interior que controla o ím- pessoais. Meditação é o ou universidade, nos negó- tendo perdido a consciên- peto sexual e as motivações simples reconhecimento de cios, na investigação cientí- cia de sua verdadeira na- profundas e transcendentes onde estamos. Essa é a úni- fica, nas artes e na gestão tureza divina. O livro lan- por trás da atração sexual, ca meditação que não pro- pública. Ele traça um mapa ça luz sobre a natureza da analisando características duz mais confusão na men- de caminhos alternativos mente, mostrando como a comuns de diferentes cul- te; pelo contrário, é uma que podem conduzir a uma identificação da consci- turas e religiões. prática que elimina a con- vida harmônica e feliz. ência com o mundo mate- fusão. É a meditação que nós rial aprisiona o ser huma- O livro traz, entre ou- já estamos fazendo, a “me- Segundo Jinarajadasa, no, tornando-o escravo de tros, textos de J. Krishna- ditação da realidade”, que é com o uso da plena atenção suas próprias projeções murti (Sobre o Sexo); Vi- viver. Essa é uma investiga- e de nossas faculdades intui- mentais. Os planos inferi- ktor Frankl (A Despersona- ção livre de doutrina, de tivas, podemos fazer esco- ores são vistos como um lização do Sexo); Clara crença religiosa e de técni- lhas mais acertadas, tor- mero jogo de sombras, re- Codd (Um Outro Aspecto cas orientadas. O livro nos nando-nos, assim, pessoas fletindo e exprimindo de do Sexo); Hazrat Inayat liberta de fardos dogmáti- mais integradas e realiza- maneira incompleta e im- Khan (A Paixão); Herbert cos e substitui isso pela das. Teosofia Prática enfati- perfeita, aquilo que acon- Guenther (A Polaridade exuberância de uma vida za a importância de definir- tece na mente divina em Masculino-Feminino no atentamente observada, mos nossas metas na vida, e sua forma plena, perfeita Pensamento Oriental) e uma vida bem vivida. de seguirmos a senda que e verdadeira. Renée Weber (A Escada do leva à autorrealização. Amor de Platão). www.editorateosofica.com.br 46 SOPHIA • MAR-ABR/2015

Compre pelo cartão Visa [ LANÇAMENTO ] ou depósito bancário. Peça pelo correio ou Uma reparação e-mail: editorateosofica@ editorateosofica.com.br histórica Ligue grátis: 0800-610020 H.P. Blavatsky e a Sociedade atuou como perito em vários proces- sos judiciais sobre falsificações. Seu A Técnica da para Pesquisas Psíquicas (SPP) estudo é metódico e minucioso, exa- Vida Espiritual minando em primeiro lugar o método Clara Codd Vernon Harrison – Ed. Teosófica de trabalho e as conclusões de Hod- son sobre as alegações de fraude de Para compreender a técni- Provavelmente, o pior momento da Blavatsky, principalmente aquelas ale- ca da grande jornada da vida de Blavatsky e da Sociedade Teosó- gadas pelo casal Coulomb, aparente- vida, devemos olhar para fica foi a publicação do material conhe- mente sob a orientação dos sacerdo- o interior, entrar em sin- cido como “Relatório da Sociedade para tes cristãos na Índia. A segunda parte, tonia com nossas almas e Pesquisas Psíquicas”, em 1885. O rela- talvez a mais importante para o lega- tentar descobrir quem re- tório acusou Blavatsky de ser “um dos almente somos. Este livro mais talentosos, inven- do teosófico, foi o es- lança luz sobre as opera- tivos e interessantes tudo detalhado das ções da consciência nos impostores da história”, Cartas dos Mahatmas. planos superiores que in- que teria, entre outras terpenetram o mundo físi- façanhas, forjado as Harrison concluiu co e que dão origem aos “Cartas dos Mahat- que “enquanto Hod- pensamentos, às emoções mas”. A publicação des- son estava preparado e às sensações. O aspiran- se “Relatório”, obvia- para usar qualquer te que deseja descobrir o mente, resultou num evidência, ainda que significado da verdadeira tremendo baque emo- trivial ou questioná- vida espiritual encontrará cional para HPB, le- vel, para implicar nesta obra um método vando-a a deixar a Ín- HPB, ele ignorava simples e prático de medi- dia. Com a reputação toda evidência que po- tação, que pode ser adota- de sua fundadora ques- deria ser usada em fa- do para o início de uma tionada por esse ultra- vor dela. Seu relató- verdadeira viagem aos je, um grande número rio está eivado de de- mundos interiores. de membros abando- clarações tendencio- nou a ST. sas, conjecturas apre- Setor de Indústrias Gráficas sentadas como fatos – SIG, Quadra 6, Lote 1.235 Um século mais tarde, a Sociedade ou fatos prováveis, a afirmação não con- Brasília-DF – CEP 70.610-460 para Pesquisas Psíquicas procurou re- firmada de testemunhas não mencio- Fone: (61) 3322-7843 parar suas injustas e caluniosas acusa- nadas, seleção de evidências e até mes- ções contra Blavatsky publicando um mo falsificações”. SOPHIA • MAR-ABR/2015 estudo do relatório original, realizado Com relação à acusação de Hodson por um de seus mais bem conceituados de que Blavatsky teria falsificado a es- membros, Vernon Harrison. Essa obra, crita dos Mahatmas, Harrison declara: agora publicada pela Editora Teosófi- “Não encontrei nenhuma evidência de ca, é a antítese do “Relatório” do sécu- que as Cartas dos Mahatmas foram es- lo XIX, do qual a SPP procura se disso- critas por Madame Blavatsky, numa for- ciar, chamando-o de “Relatório de Ri- ma disfarçada de sua escrita ordinária, chard Hodson”. para propósitos fraudulentos.” Os mé- todos de análise usados para essas con- Vernon Harrison foi Gerente de clusões são apresentados de forma sis- Pesquisas da Thomas De La Rue, equi- temática e detalhada pelo autor. S valente da Casa da Moeda britânica, e 47

peça pelo número!Para comprar os livros da Editora Teosófica, L0i8g0u0e-6g1rá0t0is2:0 1. Advaita Bodha - Adi 18. Causas da Miséria e 35. Deuses no Exílio - 51. Hino de Jesus, O - Shankara Swami: 26,00 Sua Superação, As - Ulisses J. J. Van Der Leeuw: 18,00 G. R. S. Mead: 13,00 2. Além do Despertar - Riedel: 25,00 36. Doutrina do Coração, 52. Homem: sua Origem e Textos do Mestre Hakuin 19. Chamado dos A - Annie Besant: 19,00 Evolução, O - N. Sri Ram: 17,00 sobre Meditação Zen: 23,00 Upanixades, O - Rohit 37. Educação, Ciência 53. Ideais da Teosofia, Os - 3. Alvorecer da Vida Mehta: R$ 39,00 e Espiritualidade - P. Annie Besant: 23,00 Espiritual, O - Murillo Nunes 20. Chave para a Teosofia, Krishna: 35,00 54. Idílio do Lótus Branco, de Azevedo: 25,00 A - H. P. Blavatsky: 36,00 38. Em Busca da Sabedo- O - Mabel Collins: 20,00 ria - N. Sri Ram: 26,00 55. Inteligência Emocional - 4. Aos que Choram os 21. Chegando Aonde Você 39. Ensinamentos de Jesus As Três Faces da Mente - Mortos - C. Jinarajadasa Está - A Vida de Meditação - e a Tradição Esotérica Elaine de Beauport & Aura [livro de bolso]: 12,00 Steven Harrison: 31,00 Clássica, Os - Raul Branco: Sofia Diaz: 49,00 57,00 56. Introdução à Teosofia - 5. Aperfeiçoamento do Ho- 22. Clarividência - C.W. 40. Escolas de Mistérios, C.W. Leadbeater: 15,00 mem, O - Annie Besant: 25,00 Leadbeater: 33,00 As - Clara Codd: 35,00 57. Investigando a Reencar- 41. Estudos Seletos em A nação - John Algeo: 24,00 6. Apolônio de Tiana - 23. A Ciência da Astrologia Doutrina Secreta - Salomon 58. Leis do Caminho G. R. S. Mead: 23,00 e as Escolas de Mistérios - Lancri: 21,00 Espiritual, As - Annie 7. Aprendendo a Viver a Ricardo Lindemann: 51,00 42. Estudo Sobre a Besant: 20,00 Teosofia - Radha Burnier: 24. A Ciência da Meditação Consciência, Um - Uma 59. Luz da Ásia, A - Edwin 31,00 - Rohit Mehta: 35,00 introdução à psicologia - Arnold: 23,00 Annie Besant: 41,00 60. Luz e Sombra - 8. Aspectos Espirituais 25. Ciência do Yoga - 43. Eu Prometo - C. Emma Costet de das Artes de Curar - Dora I. K. Taimni: 45,00 Jinarajadasa [livro de Mascheville: 17,00 van Gelder Kunz: 41,00 26. Conheça-te a Ti Mesmo bolso]: 12,00 61. Luz no Caminho - 9. Através do Portal da - Valdir Peixoto: 15,00 44. Fim da Divindade Mabel Collins: 12,00 Morte - Geoffrey 27. Conquista da Mecânica, O - John David 62. Meditação - Sua Hodson: 23,00 Felicidade, A - Kodo Ebert (comp.): 33,00 Prática e Resultados - 10. Autocultura à Luz do Matsunami: 23,00 45. Fotos de Fadas - Clara M. Codd: 17,00 Ocultismo - I. K. Taimni: 28. Consciência e Cosmos - Edward L. Gardner: 17,00 63. Meditação - Um Estudo 39,00 Menas Kafatos & Thalia 46. Fundamentos de Prático - Adelaide Gardner: 11. Autoconhecimento - Kafatou: 34,00 Teosofia, C. Jinarajadasa: 22,00 Marcos Resende: 18,00 29. Contos Mágicos da 35,00 64. Meditações: Excertos 12. Autorrealização pelo Índia - Marie Louise 47. Fundamentos da das Cartas dos Mestres de Amor - I. K. Taimni: 21,00 Burke: 21,00 Filosofia Esotérica - H. P. Sabedoria - Katherine A. Blavatsky: 15,00 Beechey (comp.) [livro de 13. Bhagavad-Gita - Trad. 30. Criança Encantada, A - 48. Gayatri - O Mantra bolso] - 12,00 Annie Besant: 12,00 C. Jinarajadasa [livro de Sagrado da Índia - I. K. 65. Meditação Taoísta - 14. Caminho do Autoco- bolso]: 12,00 Taimni: 26,00 Thomas Cleary (comp.): nhecimento, O - Radha Bur- 31. Dentro da Luz - 49. Gnose Cristã, A - C. W. 21,00 nier [livro de bolso]: 12,00 Cherie Sutherland: 31,00 Leadbeater: 34,00 66. Mestres e suas 50. Helena Blavatsky – A Mensagens, Os - Raul 15. Cartas dos Mahatmas 32. Desejo e Plenitude - Vida e a Influência Extraordi- Branco: 22,00 para A. P. Sinnett, Vol. 1 - Hugh Shearman: 15,00 nária da Fundadora do Mo- 67. Milagre do Nascimento Mahatmas K. H. e M.: 47,00 33. Despertar da Visão vimento Teosófico Moderno - - Geoffrey Hodson: 16,00 16. Cartas dos Mahatmas da Sabedoria, O - Tenzin Sylvia Cranston: 65,00 para A. P. Sinnett, Vol. 2 - Gyatso, 14º Dalai Lama: Mahatmas K. H. e M.: 49,00 22,00 17. Cartas dos Mestres de 34. Despertar de Uma Sabedoria - C. Jinarajadasa: Nova Consciência, O - 38,00 Joy Mills: 17,00

68. Momentos de 81. Preparação para Yoga - 94. Sete Grandes Paz Interior - Carlos Cardoso Sabedoria - H. P. Blavastky I. K.Taimni: 22,00 Religiões, As - Annie Besant: Aveline: 25,0 [livro de bolso]: 14,00 82. Processo de 35,00 108. Tudo Começa com a 69. Mundo Oculto, O - Autotransformação, O - 95. Sete Temperamentos, Prece - Madre Teresa de A. P. Sinnett: 30,00 Vicent Hao Chin Jr.: 35,00 Os - Geoffrey Hodson: 20,00 Calcutá: 23,00 70. Natal dos Anjos, O - 83. Princípios de Trabalho 96. Shiva-Sutras - I.K. 109. Vegetarianismo e Dora van Gelder Kunz - da Sociedade Teosófica - Taimni: 35,00 Ocultismo - C. W. 12,00 I. K.Taimni: 14,00 97. Sonhos, Os - C.W. Leadbeater e Annie 71. Ocultismo Prático - 84. Procura o Caminho - Leadbeater: 21,00 Besant: 18,00 Helena Blavatsky: 12,00 Rohit Mehta: 25,00 98. Suprema Realização 110. Vida de Cristo, A - 72. Ocultismo, Semi- 85. Raja Yoga - Wallace através do Yoga, A - Geoffrey Hodson: 43,00 ocultismo e Pseudo- Slater: 20,00 Geoffrey Hodson: 29,00 111. Vida e Morte de ocultismo - Annie Besant: 86. Regeneração Humana - 99. Sussurros da Outra Mar- Krishnamurti - Mary 13,00 Radha Burnier: 21,00 gem - Ravi Ravindra: 23,00 Lutyens: 37,00 73. Pensamentos para 87. Sabedoria Antiga, A - 100. Teatro da Mente, O - 112. Vida Espiritual, A - Aspirantes ao Caminho Es- Annie Besant: 37,00 Henryk Skolimowski: 24,00 Annie Besant: 27,00 piritual - N. Sri Ram: 20,00 88. Sabedoria Antiga e 101. Técnica da Vida 113. Vida Interna, A - C.W. 74. Pérolas de Visão Moderna - Shirley Espiritual, A. - Clara Codd: Leadbeater: 39,00 Sabedoria - Sri Ramana Nicholson: 33,00 20,00 114. Visão Espiritual da Maharshi: 25,00 89. Sabedoria Oculta na 102. Teia de Maya, A - Relação Homem & Mulher, 75. Pés do Mestre, Aos - Bíblia Sagrada, A - Itapoã Feliz: 17,00 A - Scott Miners (comp.): J. Krishnamurti: 12,00 Geoffrey Hodson: 67,00 103. Teosofia como os 33,00 76. Pistis Sophia - Trad. 90. Saúde e Mestres a Veem - Clara 115. Viveka-Chudamani - Raul Branco: 49,00 Espiritualidade - Geoffrey Codd: 33,00 A Joia Suprema da 77. Plano Astral, O - C. W. Hodson: 14,00 104. Teosofia Prática - Sabedoria - Shankara: Leadbeater: 25,00 91. Segredo da C. Jinarajadasa: 21,00 28,00 78. Poder da Sabedoria, O - Autorrealização, O - I. K. 105. Teosofia Simplificada - 116. Vivência da Carlos Cardoso Aveline: 25,00 Taimni: 20,00 Irving Cooper: 19,00 Espiritualidade, A - 79. Poder Transformador 92. Senda Graduada para 106. Tradição-Sabedoria, A Shirley Nicholson: 13,00 do Cristianismo Primitivo, O a Libertação, A - Geshe - Pedro Oliveira e Ricardo 117. Voz do Silêncio, A - - Raul Branco: 21,00 Rabten: 15,00 Lindemann: 21,00 H.P. Blavatsky: 12,00 80. Potência do Nada, A - 93. Senda para a Perfeição, 107. Três Caminhos para a 118. Yoga - A Arte da Marcelo Malheiros: 23,00 A - Geoffrey Hodson: 15,00 Integração - Rohit Mehta: 43,00 Recorte ou tire cópia deste cupom e envie para Editora Teosófica SOPHIA 54 Setor de Indústrias Gráficas - SIG Q. 6, lote 1.235 - Brasília-DF - CEP 70.610-460 Mar/Abr 2015 Desejo adquirir as publicações nº Por meio deste cupom ou do site www.editorateosofica.com.br, na seguinte forma de pagamento: Cartão VISA nº ________________ Validade: ___________ Titular: ____________________________________________________ Cheque nominal à Editora Teosófica Depósito bancário: Banco do Brasil, Ag. 3476-2, Conta 40355-5 FRETE – ATÉ 3 LIVROS = R$ 15,00 Desejo assinar SOPHIA por um ano (6 números) por R$ 71,00 ACIMA DE 3 LIVROS = R$ 18,00 Por dois anos (12 números) por R$ 138,00 Por três anos (18 números) por R$ 197,00 Nome: _____________________________________________________ Data de nasc.: _____________ CPF: ______________________ Endereço: __________________________________________________ CEP: ___________ Cidade: __________________ Estado: ___ Fone (com.): ___________________ Fone (res.): ___________________ E-mail: _______________________________________________

Theo, o Teósofo Ailton Santoro


Revista Sophia nº 54

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