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Projeto para Controle e Prevenção das Doenças

Published by cleydson, 2015-04-17 16:00:38

Description: Projeto para Controle e Prevenção das Doenças Negligenciadas nos Municípios de Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes: Do Planejamento à Ação.

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Capítulo IIIA criação de um formulário de autoimagem para a busca ativa de hanseníase em escolas Daisy Maria Silva * Milde do Rêgo Barros Alves Cavalcanti ** Embora a hanseníase não seja considerada uma doença dainfância e da adolescência por conta do seu longo período de incubação,considerado muito lento (pode variar de 2 a 7, ou até mais anos), adoença vem acometendo um número significativo de indivíduos nessafaixa etária.1,2,3,4 A detecção de casos de hanseníase em menores de 15 anos temconotação de um evento-sentinela, uma vez que esses casos estãorelacionados a focos de transmissão ativos e recentes da doença,possivelmente no próprio domicílio. Quanto à escola, também podemosconsiderá-la um espaço sentinela, configurando-se como um localmuito importante para a aquisição e a divulgação de conhecimentose, consequentemente, para a identificação de casos de hanseníase emcomunidades que apresentam alta incidência da doença.Criação do formulário de autoimagem A pele é o maior órgão do corpo humano e está exposta a grandevariedade de doenças. Considerando que o diagnóstico da hanseníaseé essencialmente clínico, através do exame físico da pele, de seusanexos e dos troncos nervosos, seguindo um roteiro para o diagnóstico* Enfermeira sanitarista da Secretaria de Saúde do Recife e ocupou a gerência de vigilância dasgrandes endemias no período entre 2005 e 2013.** Enfermeira sanitarista da Secretaria de Saúde do Recife e ocupou a coordenação de controle eeliminação da hanseníase no período de 2005 a 2013. 49

Silva DM, Cavalcanti MRBAclínico de anamnese para obter a história clínica e a epidemiológica doindivíduo, de avaliação dermatoneurológica para identificar lesões depele e de seus anexos com alteração de sensibilidade, e de avaliaçãoneurológica para identificar neurites, incapacidades e deformidades, odesafio do projeto demonstrativo era realizar o exame para hanseníaseem 100% dos escolares em curto período de tempo, com um número deprofissionais habilitados e disponíveis só para essa atividade.1-4 Diante desses elementos, algumas perguntas foram fundamen-tais para a elaboração de uma estratégia que facilitasse a busca ati-va de casos da doença em 100% das escolas eleitas para o projetodemonstrativo. Assim as perguntas nortearam a criação do formu-lário de autoimagem: 1) Como faríamos para identificar e examinar 100% dos escolaresque tinham manchas sugestivas de hanseníase? 2) Haveria tempo, recursos humanos disponíveis e recursosfinanceiros suficientes para garantir o exame de 100% dos escolares notempo limite do projeto? 3) Os agentes de saúde seriam os atores que fariam o exame detriagem? Qual seria o prazo para cumprir as metas do projeto? 4) Todos os alunos identificados como suspeitos pertenceriam aáreas cobertas pelo Programa de Saúde da Família (PSF)? 5) Quais as atividades e as ações que deveriam estar integradas aessa investigação de casos suspeitos? Estes foram os principais questionamentos feitos. Diante deles,surgiu a ideia de elaborar um instrumento que estimulasse o escolara realizar o autoexame a partir do reconhecimento das manchassemelhantes às da hanseníase. O instrumento incluiu a imagem (umafigura) do corpo humano (parte anterior e posterior do corpo) comperguntas de fácil entendimento sobre os sinais e sintomas da doença,agregado a perguntas sobre histórico familiar de casos. As respostasseriam verificadas e sinalizariam a suspeição de casos ou a necessidadede realização do exame de contato intradomiciliar (com a prescrição davacina BCG para os contatos sadios), com avaliação de cada caso e docartão de vacina. Dessa maneira, criava-se um formulário de autoimagem (Figura1). Este foi um importante instrumento idealizado para captar casossuspeitos de hanseníase em escolares, que teve aceitação dos alunos e50

Do Planejamento à Açãomostrou ser capaz de cumprir seu propósito nesse grupo populacional.Devido à aceitação entre os escolares e à identificação de muitoscasos suspeitos de hanseníase abaixo de 15 anos, esse formulário foiadotado pelo Ministério da Saúde/Secretaria de Vigilância em Saúdena Política Nacional para o Enfrentamento da Hanseníase e OutrasDoenças Negligenciadas. Outra ação que foi fundamental para o êxito do uso do formulá-rio de autoimagem foi a capacitação e a sensibilização da comunidadeescolar na identificação dos sinais e sintomas da hanseníase. Alémdisso, foi inserido o tema das doenças negligenciadas no projetopolítico-pedagógico da escola, para que fosse trabalhado em sala deaula e gerasse produções que estimulassem especialmente as criançase adolescentes a olhar seus corpos de forma diferente, buscandoidentificar modificações, manchas ou lesões sugestivas de hanseníase. Figura 1. Formulário de autoimagem para a busca ativa de hanseníase nas escolas 51

Silva DM, Cavalcanti MRBAProcesso de aplicação do formulário de autoimagem Após o tema ter sido trabalhado em sala de aula e ter geradodiferentes produtos como feira de ciências, semana da saúde, cartazes,desenhos, músicas, literatura de cordel e apresentações teatrais,foi entregue a cada aluno o formulário de autoimagem para que olevasse para casa e, com a ajuda dos familiares, marcasse na figura docorpo humano as manchas observadas em seu corpo. Havia algumasperguntas de fácil compreensão sobre sinais e sintomas da doençae sobre a existência de algum membro da família que tivesse tidohanseníase ou estivesse em tratamento. Foi dado um prazo para osformulários serem entregues de volta aos professores e/ou à equipedo projeto. Eles foram analisados pela equipe de saúde do projetocom o apoio dos técnicos da atenção básica e das coordenações doprograma municipal. Os alunos identificados como suspeitos foramexaminados por enfermeiro e médico das equipes de saúde da famíliaou pelo médico especialista em pele de uma unidade de referência. Emseguida, os casos confirmados iniciaram imediatamente o tratamentopoliquimioterápico e seus familiares foram chamados para realizaçãodo exame clínico da pele. Os alunos que indicaram ter ou ter tido algummembro da família com hanseníase, mesmo não estando com manchasno corpo, foram convocados para o exame clínico por se tratar de umcontato de caso de hanseníase. Dessa forma, foi conduzida a identificação dos casos de hanse-níase nas 42 escolas participantes do projeto. Atualmente, o formuláriode autoimagem foi inserido na política nacional para eliminação dahanseníase no Brasil. Esse é um exemplo de como a estratégia de umprojeto demonstrativo pode ser aplicada em larga escala para todo opaís.Referências Bibliográficas1. Brasil. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.52

Do Planejamento à Ação2. Opromolla DVA. Noções de hanseníase. Bauru: Centro de Estudos Dr. Reynaldo Quagliato; 2000.3. Talhari S, Neves RG, Penna GO, Oliveira MLW. Hanseníase. 6. ed. Manaus: [editor desconhecido]; 2006.4. Queiroz MS, Puntel MA. A endemia hansênica: uma perspectiva multidisciplinar. Rio de Janeiro: Fiocruz; 1977. 53

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Capítulo IVA experiência da construção de ferramentas pedagógicas integradas para motivar o ensino-aprendizagem em saúde dos escolaresDenise S. C. de Oliveira, Danielle Menor, Dorina P. Riccardi, ÉrikaAvelar de M. Jatobá, Débora dos Santos Augusto, Fabiana Maria dos Santos, Marilurdes Lobo, Shirley Valadares * Mediateam Mídias Sociais ** Dentro dos planos para o controle e a prevenção para diversasdoenças, o tema da educação em saúde sempre é um componenteinserido nos seus conteúdos pelo fato de ser um elemento essencialpara que as comunidades se tornem ativas no cuidado com sua saúde. A educação em saúde é uma prática social, cujo processocontribui para a formação da consciência crítica das pessoas arespeito de seus problemas de saúde e estimula a busca de soluções eorganização para a ação individual e coletiva. O exercício dessa açãoestimula a compreensão da situação da realidade em torno de si, umcomportamento saudável e uma consciência social da saúde, além depromover o desenvolvimento humano. A família e a escola são elementos essenciais na formação huma-na. A escola é o laboratório prático que prepara os futuros cidadãosconscientes de seus deveres e direitos, estimulando-os à conquista deautonomia e a um comportamento digno e saudável. Sendo a escolaesse campo de formação de cidadãos, torna-se também um campo fértil* Componentes do comitê executivo do projeto demonstrativo das doenças negligenciadas nasSecretarias de Saúde de Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Recife e Instituto de Medicina IntegralProf. Fernando Figueira.** Empresa comunicação de multimídia. 55

Oliveira DSC et al.para atuação da saúde na construção de práticas saudáveis referentesao controle e eliminação de muitas doenças como problema de saúdepública. Contudo, a aprendizagem, a adoção de práticas saudáveis ea mudança de comportamento exigem ações permanentes, criativase dinâmicas, porque os contextos de aprendizagem dos escolaresvão se constituindo e se estabelecendo ao longo do tempo atravésda diversidade de experiências vividas, de valores recebidos, deimprevisibilidade, de fatores emocionais, da repetição de experiênciase de diversos conhecimentos recebidos na convivência humana. Osefeitos esperados das ações educativas nem sempre são imediatosporque demandam longo tempo de aprendizado. Se as ações foremconsolidadas e inseridas no cotidiano da vida escolar, as eficáciasdessas ações poderão ser observadas na maturidade dos indivíduos. Considerando a importância da educação em saúde a partir daescola, o trabalho realizado teve o objetivo de desenvolver ferramentaspedagógicas integradas, abordando o tema de controle e prevençãodas doenças transmissíveis para ser utilizado pelos professorese/ou profissionais de saúde, auxiliando no processo de ensino-aprendizagem dos escolares da rede municipal das cidades de Olinda,Jaboatão dos Guararapes e Recife. O trabalho corresponde a um eixode ação em educação em saúde planejado e desenvolvido pelo projetodemonstrativo integrado para doenças negligenciadas, realizado pelasSecretarias de Saúde de Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Recifejuntamente com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) eo Instituto de Medicina Integral Prof. Fernando Figueira (IMIP) entreos anos de 2012 e 2013.Descrição do processo de trabalho: Um dos critérios de abordagem do projeto demonstrativo foipromover ações integradas em diversos aspectos do planejamentoe da ação. Esse critério direcionou a intervenção simultânea em trêsmunicípios vizinhos (Olinda, Jaboatão dos Guararapes e Recife),executando a mesma metodologia de trabalho de forma conjuntae pactuada; promoveu a integração entre os setores de saúde e deeducação e motivou uma ação interprogramática entre quatro doenças56

Do Planejamento à Açãoconhecidas como negligenciadas de importância epidemiológica paraesses municípios. Houve acordo político entre os municípios para realizaçãodeste projeto patrocinado pelo BID com parceria do IMIP. Dentro docomponente educação em saúde e mobilização social, foi necessáriaa produção de material educativo para ser trabalhado de formaintegrada e homogênea nas escolas. O projeto demonstrativo possuiuum orçamento definido com tempo de execução limitado a 24 meses.Mediante isso, foi executado em escolas eleitas pelos seguintes crité-rios: instituições de ensino municipal situadas em bairros de relevânciaepidemiológica para as doenças negligenciadas eleitas; situação dosbairros de divisas entre os municípios com elevada prevalência parafilariose e hanseníase; escolas municipais com alunos entre 6 e 14anos; escolas com o Programa Saúde na Escola (PSE) em processo deimplantação ou para implantar e escolas situadas em bairros com redede atenção básica. Inicialmente, foi realizado um planejamento e cronogramaintegrado com os programas da hanseníase, filariose, esquistossomosee outros parasitas, para formação dos profissionais da educação dasrespectivas escolas e equipes de saúde da área de abrangência dasescolas eleitas. Posteriormente, a equipe técnica responsável pelaexecução do projeto iniciou o processo de concepção de um roteirotécnico pedagógico para proporcionar conhecimentos fundamentaispara compreensão dos assuntos e promover a integração dos temasna aprendizagem, buscando privilegiar uma linguagem clara, objetivae coloquial adequada às características do público escolar. Nessesentido, a seguinte pergunta: “Como podemos facilitar o aprendizado des-se conteúdo?” permeou todo o processo de concepção e eleição das fer-ramentas pedagógicas a serem utilizadas no projeto. As propostas foram apresentadas a uma empresa de comu-nicação contratada (Mediateam Mídias Sociais) que qualificou o ro-teiro técnico pedagógico preliminar para comunicar o tema dasdoenças negligenciadas ao público escolar. Como parte do processode aprendizado, os municípios, juntamente com o BID e o IMIP,promoveram um concurso de canções denominado “Cantando pelaSaúde”, com premiações para as escolas e os professores que tivessem as 57

Oliveira DSC et al.três melhores canções criadas abordando essas doenças transmissíveis,hábitos saudáveis e prevenção dessas doenças”.Principais resultados: Participaram desse projeto 42 escolas com uma população totalde 16 mil alunos. As doenças transmissíveis trabalhadas que estão re-lacionadas à pobreza e são de importância epidemiológica para os trêsmunicípios foram: hanseníase, esquistossomose, parasitoses intestinaise filariose. O roteiro inicial do conteúdo pedagógico em saúde deu origem adiversas ferramentas educacionais para facilitar o aprendizado escolar.A primeira ferramenta foi um desenho animado com o título de CaravanaPrudente, Prevenindo e Controlando Doenças (www.mediateam.com.br/prudende_video), produzido pela empresa de mídia contratada.A palavra prudente permitiu explorar a ideia do cuidado que evitaperigo, cauteloso, por ser esse significado importante na abordagemda prevenção de doenças. Os personagens principais foram criados valorizando a escolae o cotidiano das crianças em suas cidades. São eles: um professorde ciências e saúde chamado Prudente e três alunos. Uma meninachamada Linda (de Olinda), outra chamada Rê (de Recife) e ummenino chamado Jau (Jaboatão). Juntos, os personagens visitam astrês cidades em uma Kombi. Em cada cidade, eles interagem com acomunidade local conversando sobre como reconhecer essas doenças,sua transmissão, sua prevenção e o acesso ao tratamento (http://www.mediateam.com.br/mt_html5/index.html). A segunda ferramenta foia produção de um gibi http://www.mediateam.com.br/prudente_almanaque/) com o mesmo roteiro do desenho animado, onde foramagregadas ao conteúdo atividades para motivar o aprendizado dosescolares; a terceira ferramenta foi a produção de um guia pedagógicopara o professor, fornecendo conteúdos mínimos que possibilitavamos conhecimentos principais sobre as doenças e sua prevenção esugerindo atividades pedagógicas para fixar os assuntos com osescolares (http://www.mediateam.com.br/prudente_guia/). A quar-ta ferramenta foi a produção de banners, panfletos e cartazes com os58

Do Planejamento à Açãomesmos personagens do desenho animado, expondo as principaisinformações sobre essas doenças, para serem fixados na escola. Osbanners puderam ser utilizados nas aulas ou em outros espaços dasescolas, permitindo que os docentes, os pais e os funcionários tivessemacesso às informações sobre as doenças e a sua prevenção (Figura 1). Figura 1. Criação da Caravana Prudente Quanto ao concurso de canções, 11 das 42 escolas das trêscidades participaram com a produção de canções abordando o temadas doenças trabalhadas (hanseníase, filariose, parasitoses intestinais eesquistossomose), os hábitos saudáveis e a prevenção. Foram premiadastrês escolas e seus professores, respeitando os critérios estabelecidosno concurso, com prêmios entregues em um Workshop internacionalde doenças negligenciadas promovido em junho de 2013 pelo BancoInteramericano de Desenvolvimento com apoio da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e o IMIP. Foram organizadas 49 capacitações para o corpo docente das 42escolas no decorrer de 9 meses (2012 e 2013) com a participação de 829profissionais dos três municípios. O conteúdo trabalhado correspondeuao conteúdo do guia do professor, permitindo que o profissional de 59

Oliveira DSC et al.educação adquirisse os conhecimentos mínimos necessários paraauxiliar no processo de aprendizagem dos alunos. O início do projetoculminou com a implantação ou a expansão do Programa Saúde naEscola (PSE) nesses municípios. Outro resultado importante considerado no processo de cons-trução das ferramentas pedagógicas foi a gestão de recursos finan-ceiros, que reduziu o custo final da produção do material educativopor ter sido elaborado um único produto abordando várias doençase evitando assim, a produção de material abordando as doenças iso-ladamente, fato que racionalizou a produção gráfica e de vídeo. Toda a rede municipal de ensino dessas cidades foi beneficiadacom as ferramentas pedagógicas produzidas no projeto demonstrativo,apoiando assim a iniciativa do Ministério da Saúde na CampanhaNacional com escolares para hanseníase e parasitoses intestinais noano de 2013.Conclusões e Recomendações: A vivência e o processo de construção de distintas ferramentaspedagógicas para um grupo de doenças trabalhadas de formaconjunta possibilitam um espaço dinâmico, interativo e integradoentre os diferentes programas de prevenção e controle de doençastransmissíveis (hanseníase, esquistossomose, parasitoses intestinais efilariose). Os resultados dessa construção comprovam que é possívelcriar uma plataforma pedagógica de comunicação para distintas do-enças transmissíveis de forma simultânea. Isso exige um trabalhomultidisciplinar e interinstitucional, uma unidade de interesses euma equipe participativa. Esse desafio foi superado por uma equipemultidisciplinar e interinstitucional, com o mesmo objetivo e sob oefeito de recursos financeiros limitados para desenvolver e produziros insumos necessários às ações educativas em saúde nas escolas. É possível produzir ferramentas integradas, apesar de serum processo complexo desafiador e árduo. É comum os programasde controle e prevenção de doenças transmissíveis produziremum material de áudio, gráfico ou de comunicação voltados para60

Do Planejamento à Açãouma doença específica. Isso encarece substancialmente as despesasfinanceiras dentro de um orçamento. Usualmente, os programas nãodispõem dos mesmos recursos, sendo a ação final particularizada etrabalhada de forma isolada para uma doença. O desenvolvimento desse modelo de projeto cria um pacto en-tre os municípios, que vai desde o tipo de material educativo que sedeseja até a metodologia de implementação das ações de educação esaúde para o controle e eliminação de doenças denominadas negli-genciadas, resultando em uma gestão compartilhada e participativa. Outro fator importante foi a decisão de não utilizar as logomar-cas de gestão municipal e utilizar os brasões das autarquias envolvidas,evitando o custo com novos materiais visuais quando ocorrer a mu-dança de gestão municipal. Essa é uma prática frequente no Brasil quemuitas vezes onera a produção de material educativo. Neste País ondeo orçamento da saúde é limitado e possui uma demanda maior queos recursos disponíveis, o custo-benefício é um princípio que deve seraplicado no planejamento e na execução das ações. O público escolar em sua maioria são crianças, e o desen-volvimento e uso de ferramentas que ampliam a memória visual(desenhos animados e gibis) e auditiva (canções) é uma importanteforma de construção de conhecimento que deve ser explorada naeducação em saúde dos futuros cidadãos do nosso país, para que elesnão sejam os novos casos das doenças transmissíveis em processo deeliminação. Os efeitos desejados das ações educativas, como hábitos sau-dáveis e mudança de comportamento, não são imediatos porque sãomultidimensionais e demandam longo tempo de aprendizado. Seforem consolidadas ferramentas pedagógicas integradas para ações deeducação em saúde, priorizando o professor como um dos agentes maisimportantes na complexidade de aprendizado, as ações educativasserão consolidadas e inseridas no cotidiano da vida escolar e a eficáciadelas poderá ser observada ao longo dos próximos anos. Além dos resultados obtidos com a construção das ferramentaspedagógicas, o significado da palavra integração foi verdadeiramentevivenciado de maneira multidimensional entre três gestões municipais,cinco instituições diferentes (BID, IMIP, OPAS, Secretaria de Saúde 61

Oliveira DSC et al.de Olinda, Jaboatão dos Guararapes e de Recife), educação e saúde e,finalmente, entre educação, saúde e comunicação.62

Capítulo V Um concurso de canções Agustin Carceres * Denise S. C. de Oliveira ** Uma das coisas que lembramos claramente são as músicas denossa infância. Muitas das primeiras lembranças que guardamos emnossas memórias têm uma trilha sonora: as músicas favoritas de nossopai, nossa avó cantando na cozinha, as trilhas sonoras dos nossos filmesfavoritos e dos programas de TV. Pensamos que não haveria melhorferramenta que usar canções para transmitir mensagens de prevençãoe controle para doenças negligenciadas para mais de 16 mil criançasbeneficiadas neste projeto. Uma boa estratégia para transmitir temaspedagógicos, especialmente às crianças, seria a música. Tudo começou com uma visita de monitoramento ao projetopiloto em Recife, em uma escola municipal chamada São João Batista,representada por uma turma da tarde. Como parte da visita, a dirigenteda escola convidou os alunos para apresentarem aos visitantes diversasatividades educativas criadas durante o projeto com as doençasnegligenciadas, que eles haviam desenvolvido. Entre elas, uma músicaescrita por uma professora juntamente com os alunos, denominada“rap das doenças negligenciadas”. O leitor pode perceber a criatividadeda canção, cuja autoria é da Professora Geysa Macambira, que relata essaexperiência neste livro. Embora feita como um “rap”, enquadrava-se* Jornalista Consultor da Divisão de Proteção Social e Saúde, BID. Foi responsável pela produçãodo documentário do projeto denominado Uma pequena revolução, que está disponível no sitedo BID.** Médica Veterinária epidemiologista, atual consultora da Divisão de Proteção Social e Saúde,BID. Ocupou o cargo de Gerente de Epidemiologia na Secretaria de Saúde do Recife durante operíodo de 2005 a 2011. 63

Carceres A, Oliveira DSCtambém como típico repente nordestino. Rap das doenças negligenciadas A turminha do acelera Vem a todos explicar Doenças negligenciadas é possível eliminar As quatro doenças eleitas Vamos agora citar Hanseníase, filariose Verminoses, esquistossomose O SUS pode tratar Hanseníase vulgo lepra Vem a pele e nervos atacar O diagnóstico precoce Evita disseminar Que tristeza descobrimos Que só no Recife há Casos de filariose Mas se pode eliminar E também a verminose Ataca a população Causa diarreia crônica E ainda desnutrição Esse grupo de parasitoses Que vem e faz muito mal Compromete o desenvolvimento físico E também o intelectual E aquele caramujo64

Do Planejamento à AçãoQue traz a maldiçãoOs sintomas aparecemAnos depois da infecçãoAprendi que a esquistossomoseConhecida como barriga d’águaCompromete até o fígado de forma silenciosaEducação e saúdeJuntos para combaterEssas terríveis doençasUnidos vamos vencer.Somos crianças valentesE queremos aprenderSobre essa tal doençaPara poder combaterDoenças negligenciadasQue venham aparecerÉ preciso intervirPara a doença não avançarSomos agentes multiplicadoresE vamos divulgarContra essas doençasNossa escola vai lutarE com força de vontadeNosso bairro vai superarE turma do aceleraEm busca de soluçãoConvida todos vocêsPara entrar em açãoEnquanto cantavam, observamos as crianças expressando seu 65

Carceres A, Oliveira DSCaprendizado e suas emoções através de uma criação coletiva. Nessemomento pensamos que essa estratégia seria uma grande atividadeem saúde: através da música, esses jovens poderiam compreendera saúde e a doença, eliminar o estigma social e ter uma abordagempositiva. Eles fizeram sentir que era possível prevenir e tratar a doença.A linguagem universal da música transformou o drama das doençasem algo positivo, divertido e quase festivo. Pensamos em utilizar essaferramenta para mostrar que é possível vencer a batalha contra a han-seníase e outras doenças negligenciadas. A partir desta experiência, decidimos expandir a ideia para as 42escolas beneficiadas pelo projeto. Juntamente com os coordenadoresmunicipais e a equipe do projeto, lançamos o “Cantando Pela Saúde!”. As seguintes regras foram estabelecidas: os temas das cançõesdeveriam incluir as causas de doenças negligenciadas, seus sintomase o seu impacto sobre a saúde das crianças e as famílias. As doençasque foram incluídas nas canções foram: filariose linfática, hanseníase,parasitas intestinais e esquistossomose. O concurso foi aberto a todasas 42 escolas beneficiárias do projeto do BID. Para participarem doconcurso, as escolas enviaram as canções originais produzidas pelosalunos e seus professores pelo web site do Banco Interamericanode Desenvolvimento. Isso implicava na autorização para que o BIDpublicasse as músicas e todos os materiais submetidos em qualquerdos sites do BID e do IMIP. Os professores e as escolas das três melhores canções forampremiados com equipamentos para incentivar o trabalho pedagógiconas escolas. A premiação dada ao primeiro lugar foi um data show, telade projeção e microfone portátil, para o segundo, uma TV e microfoneportátil, e para o terceiro lugar, um mini system e microfone portátil. Osprofessores premiados receberam uma câmera digital. A criatividade e o entusiasmo dos professores e alunos dos trêsmunicípios foram rápidos e tivemos canções cheias de originalidade,mensagens positivas, informações claras e de fácil compreensão sobrecomo prevenir as doenças em casa e na escola, como identificar ossintomas e como os casos suspeitos poderiam procurar o sistema desaúde para ter o diagnóstico, o tratamento e a cura para essas doenças.O resultado deste concurso foi publicado no site do BID. O leitor66

Do Planejamento à Açãopoderá conferir o conteúdo das canções, que estão descritas nestecapítulo juntamente com a memória fotográfica das escolas premiadas. 1º lugar – Escola Municipal Maria da Glória Advíncula - Olinda 67

Carceres A, Oliveira DSCProfessora: Moema MacêdoMúsica: Frevando com a saúde Estrofe 1 A filariose é a doença do bichinho Se não tiver cuidado ela chega de mansinho Na corrente sanguínea é onde ela mora Pois é um parasita que nunca vai embora Mata muriçoca, mata sim Senhor Cuidado com a picada, pois ela é o terror (bis) Estrofe 2 Chegou o Schistosoma que sujeito perigoso Dentro do caramujo ele é bem ardiloso Só beba água tratada e nada de banho de rio Pois ele é invisível e chega devagarinho Tome o remédio, preste atenção Faça o exame pra acabar com a transmissão (bis) Estrofe 3 Cuidado com a mancha, nem sempre é micose Olhos, pernas e pés, não coça e nem dói Causada por Bacilo, deforma o nosso corpo É Dona Hanseníase, que chega de mau gosto Se tem a doença, leve sua família O posto de saúde, para ficar bem na fita (bis) Estrofe 4 Lombriga é um verme e amarelão também Os dois vivem no fígado, intestino, porém Cortando bem as unhas e lavando bem as mãos Afastamos todos eles da nossa população Eca, eca, eca, lombriga sai de mim Como dói minha barriga, a cabeça, tudo em fim (bis)68

Do Planejamento à Ação2º lugar – Escola Municipal São João Batista - RecifeProfessora: Geisa MacambiraParódia da verminoseMúsica Camaro Amarelo Antes eu era bom, bom, bom Antes eu era bom, bom, bom Antes eu era bom, bom, bom Antes eu era bom, bom, bom Antes eu era bom e fiquei amarelo Com uma diarreia que sujou o meu chinelo Agora todos dizem: você está magrelo Quando eu passo com meu corpo amarelo 69

Carceres A, Oliveira DSC Preciso de um médico Que venha me ajudar Retire esse helminto E eu pare de defecar Já não aguento mais Verminose hospedar Preciso aprender Preciso me tratar Já sei o que fazer Vou me matricular Lá no São João Batista Vou me apresentar Aí vou aprender Então vou me cuidar E essas verminoses Nunca mais vão me atacar Agora eu aprendi Vou minhas mãos lavar Andar sempre calçado E as unhas cortar Agora eu fiquei bom, bom, bom, bom Agora eu fiquei bom, bom, bom, bom70

Do Planejamento à Ação3º lugar – Escola Municipal Maria Augusta Dutra – Jaboatão dos GuararapesProfessora: Gilvanete BatistaParódia da EsquistossomoseMúsica: Brasília Amarela Schistosoma, não posso te encontrar Banho de rio deve evitar Para você não vim, parasitar em mim Com barriga d’água eu não quero ficar Pois vai me incomodar E com a esquistossomose precisamos acabar Evitar lago sujo Vamos ficar ligados e ter muito cuidado Com esse tal de caramujo Que não é nosso amigo 71

Carceres A, Oliveira DSC Ele é hospedeiro desse ovo mortal Que em água quente eclode e vira miracídio Penetrando na pele, transformando-se em esporocisto. Cercária! Que penetra na pele De quem no rio tá nadando E logo em seu sangue ficará circulando Podendo até matar Mas, se tudo der errado PSF vai estar do nosso lado Para juntos lutarmos contra esse danado E ficarmos curados Observar as crianças das escolas do projeto tocando as músicasfoi uma experiência inesquecível, temos certeza que as mensagensdessas canções também permanecerão na mente desses ecolares. A música tem um poder que outras ferramentas não têm. Ela po-de ser usada de forma contagiante para ensinar tantos temas em saúdeàs crianças e às suas comunidades. Esperamos que o concurso de canções tenha contribuído parainfluenciar mudanças de comportamentos e atitudes para controlar eeliminar essas doenças nas comunidades. Essa estratégia pode mudaras comunidades mais remotas de Pernambuco e assim, garantir umfuturo melhor para essas crianças.72

Capítulo VI O conhecimento dos escolares sobre hanseníase Andrea Arruda * Denise S. C. de Oliveira ** As doenças negligenciadas estão presentes de forma recorrentee endêmica na vasta região do Nordeste brasileiro, a macrorregiãode menor grau de desenvolvimento socioeconômico do país, queapresenta extensão de 1.561.177km2 (perto de 20% do território do país),com cerca de 56 milhões de habitantes (28% da população do país),dispondo de renda per capita inferior a 50% da renda média nacionalbrasileira (Região Nordeste do Brasil em Números – SUDENE - Recife– Ministério da Integração Nacional, 2010). Dentre as políticas públicas para o controle de doenças,principalmente as negligenciadas, a educação em saúde é apontadacomo caminho inevitável e instrumento indispensável eficaz parafortalecer os programas de “atenção primária em saúde pública”voltados a promover o estímulo e a adesão ao tratamento e cura dasdoenças, como também a prevenção. Os programas de atenção primária em saúde têm sempre comoestratégia comum básica, ações de caráter essencialmente educativo.Sabe-se que a educação em saúde é um processo complexo, que envolvemudanças culturais e sociais e que implica necessariamente pesquisas,estudo e diálogo sobre valores, costumes, atitudes e reações instintivase sociais dos indivíduos a respeito das doenças que os vitimam. Os costumes tradicionais, crendices, valores sociais, superstições,fetiches e práticas populares utilizadas para solucionar os problemasde saúde dificultam e impedem a aplicação de intervenções e me-* Graduação: Fonoaudiologia - Universidade católica de Pernambuco, Pós-Graduação: SaúdePública - Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães, Mestrado: Saúde Materno Infantil - Instituto deMedicina Integral Prof. Fernando Figueira. 73

Arruda A, Oliveira DSCdicamentos efetivamente comprovados como eficazes, estabelecidospor políticas de saúde para o controle das doenças. Reconhecer, observar e valorizar a articulação intersetorial einterdisciplinar de ações recomendadas por parte dos programasde educação em saúde é condição importante para a eficácia dasorientações e obtenção dos resultados esperados. Neste sentido, avaliar o relacionamento entre “Conhecimentos,Atitudes e Práticas – CAP”, de indivíduos, em escolares do ensinopúblico com relação às doenças negligenciadas, especialmente emrelação à hanseníase, constitui metodologia não só útil, como tambémimprescindível para o planejamento, avaliação, eficiência e eficácia daspráticas e processos de educação em saúde como política pública. O inquérito CAP é reconhecido e valorizado pela rica experiênciana avaliação de programas sociais. Preliminarmente, parte do pres-suposto de um comportamento especial dos diversos indivíduos ougrupos. Para a correta aplicação desses procedimentos, impõe-se conhe-cer e considerar os fatores culturais e sociais, procurando despertaratitude favorável à adoção das práticas científicas eficientes e corretaspara prevenção de doenças e defesa da saúde. Outros fatores podem ainda motivar ou favorecer a disponi-bilização e uso de determinadas práticas em saúde; entre estes, fato-res internos como motivação psicossocial ou ainda sintomatologiadesconfortante, como a dor física ou ameaça à vida, ou ainda fatores deordem externa, como o estímulo de campanhas públicas, informativase motivacionais veiculadas através de meios de comunicação de massa. A referida pesquisa teve por objetivo básico realizar um estudoexploratório descritivo para verificação do conhecimento e atitudesem relação à hanseníase, com escolares da rede pública municipal,procurando-se analisar as atitudes individuais mais presentes emrelação a essa doença. Figuraram no estudo, escolas integrantes da amostra do projetoda pesquisa, assim como escolas que não pertenciam ao projeto.Procurou-se analisar, em especial, as reações comportamentais faceàs características sociodemográficas de estudantes da rede do ensinopúblico dos municípios onde o projeto demonstrativo foi desenvolvido.74

Do Planejamento à Ação Ressalta-se que se tratou de pesquisa abrangendo o métodoobservacional descritivo, associado à pesquisa de inquérito do tipo“CAP – Conhecimento, Atitude e Prática”, e foi realizado no períodode maio a junho de 2013. A amostra do estudo foi constituída de alunos de 10 a 14 anos,que faziam parte de escolas da rede municipal de ensino dos trêsmunicípios (Jaboatão dos Guararapes, Recife e Olinda). O tamanho da amostra foi calculado considerando frequência,com nível de confiança de 95%, precisão de 10% e proporção esperadade 10%. Ao final, foi obtida uma amostra de 117 escolares. O instrumento do inquérito constou de formulário teóricofechado, com alternativas de respostas abordando as seguintes va-riáveis: a) Características sociodemográficas: idade; sexo; municípioonde habita; quem é responsável pelo aluno; se há alguma unidadede saúde perto da casa; se procura essa unidade quando está doente;se recebeu alguma equipe de saúde em sua casa para falar da doença. b) Variáveis sobre conhecimentos já adquiridos e disponíveis: sejá ouviu falar sobre a hanseníase; onde recebeu a informação sobre adoença; como é transmitida; quais os sintomas; ou se pode ser evitada. c) Variáveis referentes à atitude: se há interesse em ouvir naescola temas sobre a prevenção dessa e de outras doenças; se houvesseem sua casa alguém com hanseníase; o que você faria se isso ocorresse. d) Variáveis pertinentes a informações sobre práticas de trata-mento: se conhece alguém que teve hanseníase; se acha importantecuidar da doença. A escolha das escolas participantes da pesquisa foi feita atravésde sorteio aleatório, e para a escolha dos entrevistados utilizamosa lista de presença de sala de aula, fazendo um sorteio entre osnúmeros dos alunos que constavam naquela ocasião. O Termo deConsentimento e Livre Esclarecida (TCLE) foi explicado aos pais comotambém aos alunos sorteados. Foram excluídos de ambos os grupos osalunos que não tiveram o TCLE assinado pelas pessoas juridicamenteresponsáveis, como ainda alguns casos não incluídos na faixa etáriaescolhida para a pesquisa. Ao final, foram entrevistados 117 alunos entre meninos e meninas 75

Arruda A, Oliveira DSCque tiveram como critérios de inclusão: ser alunos da escola pública,ter idade entre 10 e 14 anos e ter o TCLE assinado. A coleta de dados ocorreu em duas etapas: uma para explicaraos pais e alunos e entregar o TCLE para a assinatura, e a outra, pararealizar a entrevista individual por meio da aplicação de questionáriocomposto por perguntas fechadas, divididas em quatro partes. Cadapergunta era seguida de três a cinco alternativas para respostas. Foram também feitas cuidadosas explicações sobre os objetivos,conteúdo e método da entrevista, para os alunos sorteados. Oformulário foi aplicado, preenchido individualmente e os dados foramdigitados em banco de dados construído no Programa Epi Info versão3.5.1. Participaram da pesquisa 15 escolas, sendo 40 (34,2%) de Jaboa-tão, 38 (32,5%) de Olinda e 39 (33,3%) de Recife, sendo entrevistadosentre seis e nove estudantes por escola. Quanto ao sexo dos entrevistados, 51,3% (60) eram meninas e48,7% (57) meninos. Prevaleceu a idade de 12 anos (39,3%), contudo,71% do total das crianças estavam entre 10 e 12 anos (Figura 1). Ao se perguntar “Quem é o responsável por você?”, 41% sereferiram ao pai e à mãe e 39,3% responderam que era a mãe (Figura2). Ainda sobre dados demográficos, 78,6% (92) referiram ter umaunidade de saúde próxima a sua casa (Figura 3) e, desses, 86% (79)buscam a unidade quando sentem necessidade. Também 75% (69/92)referiram ter recebido uma visita da equipe de saúde em sua casa, masao responder a pergunta se sim recebeu ou recebe alguém da unidade dasaúde em sua casa, eles já falaram sobre hanseníase? apenas 21/69 (30,4%)escolares afirmaram que ouviram falar sobre a doença por meio de umprofissional de saúde em visita na sua casa.76

Do Planejamento à AçãoFigura 1. Distribuição da idade dos entrevistados. CAP projeto demonstra-tivo 2012-2013 16,2% 15,4% 12,8% 16,2% 39,3% 13a 14a 10a 11a 12aFigura 2. Distribuição dos responsáveis pelo escolar entrevistado. CAPprojeto demonstrativo 2012-2013 Tios 1% Pai e mãe 42%Responsável Pai 3% 39% Mãe Irmãos 1% Avós 15% 0% 10% 20% 30% 40% 50% 77

Arruda A, Oliveira DSC Figura 3. Respostas dos escolares entrevistados sobre a existência de unidade de saúde próximo de sua casa. CAP projeto demonstrativo 2012- 2013 Não: 18,8% Não sei: 2,6% Sim: 78,6% Não Não sei Sim Sobre o conhecimento da doença, ao ser perguntado se já tinhaouvido falar sobre hanseníase ou lepra, 67,5% (79/117) afirmaramque sim. Quando se pediu para escolher uma das alternativas sobre oconhecimento da doença, 74,6% (59/79) responderam a alternativa éuma doença que afeta pele e que pode ser transmitida a outras pessoas e 79,7%(63/79) escolheram a alternativa que referia os sintomas - mancha napele que não coça e não dói. Além disso, 58,2% (46/79) afirmaram que ahanseníase era transmitida por contado direto e íntimo com a pessoadoente não tratada. Quando perguntado onde havia recebido a informação sobre adoença, 72,1% (57/79) citaram a escola e 21,5% (17/79) com agente desaúde. Quanto ao interesse de ouvir na escola temas sobre prevenção dedoenças, ou se acha importante cuidar da saúde do seu corpo, 92,3%(108/117) disseram que sim, 98,2% (115/117) consideram importantecuidar do seu corpo, e os demais foram indiferentes. Dentre o universo de 117 escolares, 18% (21) afirmaram que co-nhecem alguém que teve ou tem a doença, sendo 8, dessas 21 crianças,com relato de caso de hanseníase em sua família.78

Do Planejamento à Ação Ao final, foi feita a pergunta o que a criança faria se aparecesse umamancha no seu corpo? A grande maioria (61,5% - 72/117) respondeu quefalaria com um adulto e pediria para levar ao posto de saúde. Diante desses resultados, a pesquisa mostrou que mais da maio-ria (67,5%) dos escolares entrevistados tinha algum conhecimento acer-ca da doença. Esse resultado remete à hipótese de que as atividadesde educação em saúde desenvolvidas com a hanseníase nas escolastiveram um efeito nas respostas obtidas. Como descrito em um dos capítulos anteriores, o CAP estavaprogramado para ser realizado no início do projeto (2012 - antes dasatividades educativas do projeto); contudo, por algumas limitações,foi realizado no segundo ano do projeto. Com a modificação nocronograma, as escolas que participaram das entrevistas receberamatividades educativas do projeto antes das entrevistas do CAP. Issopode explicar o elevado percentual das respostas. Para as escolas nãopertencentes ao projeto, o Ministério da Saúde adotou no âmbitonacional em 2013, o formulário de autoimagem elaborado pela equipedo projeto aplicado em 2012, e os municípios realizaram campanhasnas escolas para hanseníase nos meses próximos à execução do CAP.Isso também corrobora a hipótese da influência dessas atividades nasrespostas observadas. Outro elemento que reforça a hipótese dos efeitos dessas açõesna escola é a grande proporção (72,1%) de respostas que indicaram aescola como a principal fonte de informação sobre a doença. Isto severifica pelas respostas e desempenho dos alunos nas entrevistas, aexemplo das seguintes respostas: a) que já ouviram falar em hanseníase;b) que a hanseníase é uma doença que afeta a pele e os nervos; c) quejá tinham recebido informação sobre essa doença; e) que sabiam que ossintomas eram manchas na pele que não coçam e não doem. Promover o conhecimento orientado sobre a doença e sua curadesde a infância é contribuir para que esses escolares e suas famílias sedistanciem dos aspectos culturais e simbólicos negativos vigentes atéos dias hoje com a hanseníase que dificultam muitas vezes a aceitaçãoda doença e a adesão ao tratamento. Outro aspecto positivo observado no estudo refere-se à expansãoefetiva das atividades de atenção primária à saúde nesses setores so- 79

Arruda A, Oliveira DSCciais de baixa renda. Cerca de 69 (59%) dos 117 escolares disseramter recebido ou receberam visita da equipe de saúde da família naresidência, embora nas visitas às residências não foi aproveitada aoportunidade de conversar sobre a hanseníase com a família. Destaca-se que o aprendizado dessas crianças não está limitadoa um tempo e a um espaço. Isso requer investimentos em longo prazo,atividades contínuas na área de educação em saúde do público escolarpara o tema hanseníase, porque a sociedade mantém o tema ocultodevido ao preconceito e à ignorância vigentes até hoje. Para quebraro preconceito, a construção de conhecimento sobre a doença deve serpermanente, dinâmica, criativa, particularizando cada público alvo,por um grande período de anos, com o intuito de desmistificar algunsconceitos errados, incentivar o fácil diagnóstico, a quimioterapiaadequada, a adesão ao tratamento e ao aprendizado correto sobre adoença. Sabe-se que na sociedade o medo ainda é presente e o ambienteescolar favorece a desconstrução de conceitos equivocados acerca dadoença, que persistem na sociedade e dificultam a luta pela eliminaçãoda hanseníase em todos os países onde a doença persiste como umproblema de saúde pública, como ocorre ainda na região do Nordestebrasileiro.80

Capítulo VIIRelatos de histórias vividas durante o projeto demonstrativo para controle e eliminação das doenças negligenciadas Fabiana Maria dos Santos * Débora dos Santos Augusto ** Erika Avelar de M. Jatobá ***Uma história vivida no município de Olinda Em uma de nossas ações na escola no bairro de Caixa D´águaem Olinda, o dia de trabalho estava complicado porque chovia muitoe faltavam água e energia elétrica, tudo isso dificultava a avaliaçãodermatológica dos escolares. Mas, mesmo com todas as adversidades,conseguimos avaliar todos na escola. No final do primeiro turno, identificamos a aluna R. V., de 6 anosde idade com mancha característica de hanseníase. A menina moravacom a mãe, a irmã e um primo em uma casa simples dos avós. Quando a avó da criança foi buscá-la na escola, conversamos comela sobre a doença e ela nos contou que o avô da menina, seu marido, jáhavia tido hanseníase há 20 anos e havia se curado, mas, infelizmentetinha sequelas em seus membros superiores. A avó nos contou quetambém já foi acometida com a doença, que foi tratada e não tinhasequelas. Falou-nos que a sua outra neta, com apenas 4 anos de idade,também apresentava uma mancha que parecia uma impinge. Ela havia* Coordenadora do projeto demonstrativo para doenças negligenciadas na Secretaria de Saúdede Olinda - PE;** Coordenadora do projeto demonstrativo para doenças negligenciadas na Secretaria de Saúdede Jaboatão dos Guararapes - PE;*** Coordenadora do projeto demonstrativo para doenças negligenciadas na Secretaria de Saúdedo Recife - PE 81

Santos FM, Augusto DS, Jatobá EAMcolocado cremes e pomadas e não havia melhorado. Ela disse aindaque a criança não referia qualquer tipo de dor ou coceira na região damancha. Mesmo que a doença tenha afetado as pessoas da família, oque chamou nossa atenção foi a falta de conhecimento relacionadoà mesma. Era como se eles não compreendessem os males que estadoença poderia trazer e continuavam a ignorá-la. Fizemos algumasorientações e solicitamos a sua ida com as duas crianças à policlínicade referência. A avó e a escolar foram à unidade. Foi confirmado odiagnóstico hanseníase paucibacilar na escolar de 6 anos e a mesmainiciou o tratamento. Essa história familiar nos levou a realizar algumas visitas àcasa dessa criança. Deparamo-nos com a relutância da menina emfazer o tratamento devido à quantidade de comprimidos que eladeveria tomar. A família começou a sensibilizá-la para as sequelas quepoderiam ser deixadas por tal doença. A menina, percebendo a tristesituação do avô, convenceu-se a tomar a medicação e disse que iriatomá-la para não ficar igual a ele. Após todas as orientações passadasà família, a sua irmã de 4 anos não havia sido levada à policlínicaconforme solicitamos. Então, fizemos a avaliação e consideramoscomo suspeita para hanseníase. A avó nos disse que, “depois de muitopensar”, lembrou-se de que também já fez tratamento quando o únicosintoma que sentia era dormência na mão há 20 anos. Certamente elapensava que não era possível a criança de 4 anos ter a doença. Fomos até à policlínica e conversamos com a médicadermatologista e agendamos nova consulta para a família. Fizemoscontato com a avó e disponibilizamos o carro do projeto demonstrativopara levá-los até a policlínica, mas ela agradeceu e preferiu ir coma família de ônibus, pois lembrava ter sofrido muito preconceitona comunidade por causa da hanseníase. Na época em que teve adoença, seu esposo foi até proibido de comprar pão na padaria. Nodia seguinte, nós acompanhamos os familiares que foram avaliados ea irmãzinha de 4 anos teve também confirmação do diagnóstico parahanseníase paucibacilar. A família segue sendo tratada e acompanhadapelo projeto e pela Secretaria de Saúde. Esta é mais uma história diante de tantas que encontramos du-82

Do Planejamento à Açãorante o projeto. É um exemplo claro de como essa doença permanece nonosso meio. São muitos os desafios com a hanseníase. Há o desafio demelhorar as condições de vida, de fazer compreender as limitações quea doença pode causar a essas crianças, o desafio de vencer o preconceitopor falta de conhecimento da população e o desafio de permanecer notratamento. Seguimos trabalhando e esperando que essa seja a últimageração daquela família a adoecer por hanseníase.Uma história vivida no município em Jaboatão dos Guararapes No município do Jaboatão dos Guararapes, o projeto foidesenvolvido em 12 escolas municipais localizadas em 4 regionaisdistintas. Em setembro de 2012, demos início às atividades na primeiraescola: Escola Municipal Almirante Tamandaré na localidade deCurcurana (Regional 6), essa escola na época tinha 420 alunos divididosnos turnos da manhã e da tarde. A logística de trabalho da equipe foi realizar, na primeira semana,atividades educativas (educação em saúde) e, na segunda semana, osexames para a identificação de alunos suspeitos ou positivos para asdoenças trabalhados no projeto. Na primeira semana, foram realizadas com professores, paise escolares, atividades educativas com relação à esquistossomose.Houve muitos comentários e perguntas por parte dos escolares, jáque foram mostradas fotos do caramujo explicando o ciclo da doença,como se dava a contaminação e os danos que a doença poderia trazerà saúde. Muitos escolares afirmaram tomar banho de rio, brincar como caramujo, ter familiar pescador, e isso inquietou a equipe em geral,pois visualizamos que ali havia a possibilidade de encontrarmos casospositivos para esquistossomose. Na segunda semana, foram realizados os exames parasitológicos.Houve um total de 166 alunos que nos retornaram com os potes. Apóssair o resultado laboratorial, deparamos-nos com 34 casos de alunospositivos para a esquistossomose, com uma prevalência de 20,4%.Essa prevalência indicou a necessidade de realizar imediatamente aadministração massiva de antiparasitário na escola. Houve reuniões com toda a equipe e sentiu-se a necessidadede modificar o cronograma para fazer o tratamento coletivo para 83

Santos FM, Augusto DS, Jatobá EAMa esquistossomose na escola de forma imediata. Foram realizadasreuniões com pais explicando a situação e, por meio de autorização,realizamos o tratamento na última semana de novembro de 2012. Otratamento teve a duração de 1 semana e tivemos uma cobertura de80% dos escolares medicados. A equipe do programa de saúde dafamília de Curcurana teve uma grande participação nesse tratamentoe a presença da enfermeira e de alguns agentes comunitários de saúdefoi constante na escola. Após 6 meses, voltamos à escola para refazer os examesparasitológicos em 60 alunos e todos foram negativos para aesquistossomose. O Centro de Vigilância Ambiental do Jaboatão dos Guararapesrealiza um trabalho na área com os três PSFs que fazem cobertura emCurcurana, onde é feito o trabalho de malacologia e, em 2014, estáagendado o tratamento coletivo em toda essa região. Para todos da equipe, o projeto foi um trabalho gratificante, enessa escola tivemos a oportunidade de um envolvimento maior,pois fizemos desde a semana de saúde (educação em saúde) atéo tratamento coletivo para a esquistossomose, e depois de 6 meses,quando foram feitos os exames parasitológicos novamente, nãohouve casos positivos. Acreditamos que a participação do projeto foiefetiva e muito importante para escola Almirante Tamandaré e para acomunidade no entorno. Temos a certeza de que conseguimos plantaruma sementinha de conhecimento naqueles alunos, pais e professores.Com certeza, hoje eles, ao escutarem o nome esquistossomose, vãolembrar-se do projeto e dos ensinamentos que deixamos na escola. Chegamos à conclusão de que é necessário usar as tecnologiasdisponíveis para as doenças negligenciadas, ter dedicação e possuiruma equipe com objetivos, apoio e força de vontade e, principalmente,acreditar que podemos mudar a realidade das doenças negligenciadas,o projeto veio para nos provar isso. Conseguimos realizar umaintervenção quando detectamos os casos nos escolares, levamosconhecimento sobre a doença e formas de prevenção e tratamos deforma coletiva e, ao final, comprovamos que é possível intervir demaneira a reduzir, controlar e eliminar essa doença. Agora o municípiosegue intensificando suas ações para mudar a história dessa doença.84

Do Planejamento à AçãoUma história vivida no município de Recife Era um dia de sol de uma manhã de quarta-feira, a educadoraem saúde foi a uma escola da rede municipal na zona Noroeste dacapital pernambucana para realizar uma atividade educativa sobre asdoenças negligenciadas nas turmas de alunos entre 6 a 14 anos. Haviaum calendário com todas as atividades para as escolas incluídas noprojeto demonstrativo. Chegando à escola, a educadora de saúde dirigiu-se à direção,onde foi apresentada pela gestora à turma do 2° ano, pré-adolescentesde 10 a 12 anos de idade. Ao chegar à sala, a educadora se apresentoue iniciou uma aula e atividades com produção de cartazes para fixaro conteúdo trabalhado na aula. Ela iniciou abordando os temas deverminose, esquistossomose, filariose e, por fim, o tema de hanseníase.E foi neste último tema, abordando como a hanseníase é transmitida,seus sinais e sintomas, que uma escolar de 11 anos, que estava sentadana última cadeira no canto esquerdo da sala próximo a janela, levantoua mão e disse: “Tia, eu tenho uma mancha escura na minha coxa dolado esquerdo parecida com essa”. A educadora respondeu: “vocêprecisa ir ao posto de saúde da família mais próximo da sua residênciapara fazer o exame de pele com o médico”. Após o término da palestra, a escolar veio em direção à educadoraem saúde para mostrar a mancha que havia em sua coxa. A educadorafez algumas perguntas a aluna como: “Há quanto tempo você tem essamancha?”, “Essa mancha coça?”, “Essa mancha dói?”. Com a respostada escolar, a educadora suspeitou da doença e solicitou à direção daescola o nome da mãe, telefone e endereço de residência para contatocom a família. No dia seguinte, entramos em contato com a equipe de saúde dafamília, que cobre a área onde a escolar se localizava, para comunicar oprovável caso. Marcamos um dia para visitar esta família. Chegando lá,encontramos a mãe, dando de mamar ao filho recém-nascido, e outros5 filhos cuja faixa etária variava entre de 3 e 11 anos. Ficamos tristescom a situação da moradia em que a família vivia. Na casa só tinha umquarto e uma sala. A cozinha ficava fora da casa e não existia nenhumbanheiro. Conversamos com a mãe e marcamos a data para levar afamília para a policlínica de referência, para a médica especialista 85

Santos FM, Augusto DS, Jatobá EAMexaminar todos. Depois de uma semana, houve a consulta e ao final dela foidiagnosticada hanseníase apenas na menina de 11 anos. Essa alunaconseguiu fazer seu auto diagnóstico por meio de uma atividadeeducativa na escola. Foi essa escolar que levantou a mão na sala deaula e falou que tinha uma mancha escura na coxa. Com o diagnóstico confirmado, fomos fazer uma investigaçãodo possível local de infecção. A menina morava com o pai no interiorde Pernambuco, Paudalho, e havia se mudado para a capital háaproximadamente um ano. Tentamos o contado com o pai dela parabuscar mais informações, contudo não conseguimos. A unidade de família do bairro continuou monitorando essacriança e seu tratamento para hanseníase. Após um mês de tratamento,voltamos à casa da família e a garota estava muito feliz porque ela jáestava fazendo o tratamento, ficaria boa e não iria passar mais a doençapara os irmãos porque teve o entendimento e tinha preocupações paracom eles. Perguntamos a ela o que ela gostaria de ser quando crescesse.Ela, com um sorriso singelo no rosto, respondeu: “quero ser professorade física”. Essa menina é encantadora! Sentimos a felicidade dela ementender que seria curada com o tratamento. Essa história do auto-diagnóstico chamou atenção da equipe e está contada em documen-tário do projeto demonstrativo produzido pelo Banco Interamericanode Desenvolvimento chamado “uma pequena revolução”, que estádisponível em http://www.iadb.org/es/temas/salud/videos,6479.html#.UlLLD4aG2yo. Desejamos que essa linda menina de 11 anos supere todas asdificuldades de sua vida e que ela seja uma grande professora defísica com saúde para exercer sua futura profissão, sem a limitação daincapacidade que hanseníase poderia dar a ela se seu diagnóstico nãofosse precoce e não recebesse o tratamento para sua cura. Essa escolarpoderá exercer seu sonho livre das limitações que a hanseníase poderiaproduzir se não fosse tratada.86

Capítulo VIIIRelatos das escolas municipais sobre o benefício do projeto demonstrativo Gilvanete Batista * Sônia Maria ** Sara Maria Ferreira de Oliveira *** Michelle Bezerra de Lima e Silva **** Geísa Conceição Teixeira Macambira *****Relato da Escola Municipal Maria Augusta Dutra em Jaboatão dosGuararapes Foi de suma importância receber a equipe do projeto em nossaescola para todos os nossos alunos, pois hoje eles têm maior consciênciado perigo que correm ao entrarem nos rios de nossa comunidade, quesão muito sujos e contaminados. Além deles, as pessoas da comu-nidade no entorno da escola também foram beneficiadas, as criançashoje falam sobre o que aprenderam e (pasmem!) com muita segurançae muito bem informadas sobre as doenças que fizeram parte das açõesdo projeto. Outro benefício foi eles se sentirem gratificados com a premiaçãono concurso das canções. A empolgação foi muito grande, ficarameufóricos na visita ao IMIP e se sentiram importantes ao se apresentareme serem homenageados por todos. Até hoje eles falam sobre estaexperiência e perguntam sempre quando terão outra oportunidade de* Gestora da Escola Municipal Maria Augusta Dutra em Jaboatão dos Guararapes;** Professora Comunitária do Projeto Mais Educação;*** Coordenadora Pedagógica da Escola Maria da Glória Advíncula em Olinda;**** Gestora da Escola Mun. Profª Elizabeth Sales Coutinho de Barros em Recife;***** Professora da Escola São João Batista em Recife, mestra em educação, especialista emHistória das Américas, especialista em educação. 87

Batista G, Maria S, Oliveira SMF, Silva MBL, Macambira GCTparticipar de outro projeto desta grandeza. Finalizando, este projeto só trouxe benefícios aos nossos alunos esó temos a agradecer principalmente por ter nos dado a oportunidadede participar de algo tão grandioso e parabenizar a todos que pro-porcionaram às escolas de nosso município um evento tão rico eeducativo. Esperamos que aconteçam outros projetos desta grandeza eque não parem, pois precisamos continuar lutando para a extinção ou,pelo menos, para amenizar a proliferação dessas doenças. Trabalhar com o tema da esquistossomose foi muito importantepara nossa escola porque ela fica localizada próxima ao bairro deTejipió, que recebeu este nome por causa rio que o atravessa. Nossobairro, Pacheco, é banhado pelo mesmo rio, e em todas as entradas dobairro este rio está presente, portanto, nos dias de chuvas sempre háalagamentos que deixam todos ilhados. Nossa comunidade é muito carente. Muitos de nossos alunos,familiares e pessoas da comunidade tiram areia do rio para vendera pequenos armazéns como meio de sobrevivência, e esta foi umaexcelente oportunidade de conscientizá-los sobre o perigo que corremao entrarem nesses rios e até mesmo ficarem brincando nas enchentes.O bairro não possui saneamento básico e a maioria das residênciasjoga seus dejetos e esgotos nos rios. Essa poluição é a maior causade contaminação da esquistossomose e, em nosso bairro, sempre sãodescobertos casos de pessoas portadoras desta doença. Todas as doenças que nos foram apresentadas eram muitoimportantes, mas trabalhar com a esquistossomose no concurso decanções foi importante por se tratar de uma doença cuja maior causada transmissão é através de águas contaminadas dos rios, onde osnossos alunos vivem brincando ou até tentando encontrar um meio,junto com seus familiares, de ter alguma renda para o sustento de suasfamílias pois a maioria dos pais de nossos alunos vivem de “biscates”por não terem um emprego fixo. Tentamos conscientizá-los de que estamaneira só traria doenças para todos. E, através do nosso trabalho foiplantada uma semente na cabeça de todos para que repensem sobre osperigos que correm. Quanto ao nosso trabalho, juntamos os alunos do 3º ao 5º anose começamos falando um pouco das doenças, suas causas, sintomas e88

Do Planejamento à Açãocomo contraí-las e pedimos para que eles escolhessem uma entre elasque achassem importante e, como falamos dos rios e os perigos queeles nos trazem e por termos rios em nossa comunidade, escolheram adoença que mais se contrai por este meio. Escolhida a doença esquistossomose, a popular “barrida d’água”,demos maior ênfase às suas causas, sintomas, transmissão e até ao seuciclo e solicitamos que falassem sobre o assunto e fomos escrevendo noquadro branco os melhores tópicos. Criamos uma canção e em seguidaformamos estrofes com rimas. Aos poucos foram surgindo ideias e aletra de nossa música foi fluindo espontaneamente. A Brasília Amarelafoi a música que ficou melhor. A partir daí foram muitos ensaios, elesficaram muito empolgados e ficou fácil concluir nosso trabalho.Relato da Escola Maria da Glória Advíncula em Olinda Tendo em vista a importância da escola como ambiente deinteração com o conhecimento, criando condições para que os alunosse tornem cidadãos pensantes e atuantes com responsabilidade social,o projeto de controle e eliminação de doenças negligenciadas foide grande importância para os nossos alunos e toda a comunidadeescolar, considerando-se que as doenças denominadas negligenciadas(hanseníase, esquistossomose, verminoses e filariose) interferem nodesenvolvimento físico e cognitivo do ser humano. A equipe responsável pelo projeto nas escolas de Olinda fezum excelente trabalho, através de palestras e contatos pessoais comos alunos e seus pais, esclarecendo o que são estas doenças, as viasde contágio e a importância da prevenção e o tratamento. Foramtambém realizados coletas de amostras de fezes para exames e testespara filariose. Houve a avaliação para detecção da hanseníase eforam diagnosticados alguns casos em alunos da escola, que foramencaminhados para tratamento. O que foi muito positivo. As professoras foram informadas e sensibilizadas a respeitodo projeto e dos temas relacionados à prevenção das doenças ne-gligenciadas e o abraçaram, desenvolvendo atividades criativas e di-versificadas, facilitando a apropriação da temática do projeto para ainternalização de atitudes e desenvolvimento de hábitos de higiene 89

Batista G, Maria S, Oliveira SMF, Silva MBL, Macambira GCTpessoal e preventivos, objetivando a saúde dos alunos e de seus fami-liares. A inserção de temas da saúde na escola, promovendo a integraçãocom as ações de promoção prevenção e recuperação da saúde, contribuipara o controle e eliminação das enfermidades.Relato da Escola Mun. Profª Elizabeth Sales Coutinho de Barros emRecife O projeto doenças negligenciadas teve início na escola em fe-vereiro de 2011, integrado ao Programa Saúde na Escola. O primeiroencontro entre as equipes de saúde e de educação aconteceu naescola durante a reunião do Projeto Político Pedagógico, onde foramplanejadas ações conjuntas de educação e saúde para o ano letivo. No início houve muitas indagações, dúvidas e questionamentos.Seria esse mais um projeto que não sairia do papel? Mas, no decorrer doano, todas as ações planejadas foram acontecendo: formação para osprofessores e profissionais da saúde, realização de exames de filariosee hanseníase e parasitológico de fezes. Também o Programa Saúde naEscola fez uma avaliação global dos alunos, este último realizado pelaequipe da Unidade de Saúde da Família do Vietnã. Através do exame de autoimagem, foram detectados alguns casossuspeitos de hanseníase em sete crianças, que foram encaminhadaspara tratamento. O projeto foi fundamental na vida de alguns alunos, uma vezque possibilitou o diagnóstico precoce da hanseníase, permitindo quetanto a criança como a família fossem tratadas. A comunidade doVietnã localiza-se numa área endêmica para hanseníase, situação essaconfirmada pelos resultados obtidos na escola. Ao longo desses três anos, muitas outras ações em saúde foramtambém realizadas através do Programa Saúde na Escola. Além doprojeto, houve avaliação nutricional e de saúde bucal com atividadeseducativas e tratamento de cáries realizado na escola e na unidade desaúde. No ano de 2011, os alunos na vivência do projeto estudaramexaustivamente sobre verminoses, hanseníase, filariose, nutrição, dro-90

Do Planejamento à Açãogas e cuidados com a saúde, o que culminou com a feira de conhe-cimentos que teve como tema “Educação e Saúde: juntos para melhorara vida”. Não poderia deixar de falar dos diversos atores que compõemo programa: professores, gestores, estagiários, médicos, enfermeiras,dentistas, agentes de saúde e outros profissionais, cujo compromissoe empenho resultaram em uma integração que foi fundamental para obom andamento das atividades. Podemos afirmar que a experiência do PSE e do Projeto deDoenças Negligencias na Escola Municipal Profª Elizabeth Sales foibastante exitosa, porque proporcionou conhecimento e prevenção, quesão fundamentais para a melhoria da qualidade de vida.Relato da Escola São João Batista em Recife Sinto-me lisonjeada por compartilhar uma experiência exitosa,gratificante e verdadeiramente prazerosa. No ano de 2011, recebemos a visita de vários profissionais dasaúde em nossa Escola (Escola Municipal São João Batista), comuma proposta para desenvolvermos o Programa Saúde na Escola eum projeto de doenças negligenciadas buscando articular Saúde XEducação com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das nossascrianças de forma integral e funcional, otimizando a prática pedagógica,transversalizando e permeando as diversas áreas de conhecimento.A partir daquele momento trabalhamos juntos. Confesso que nãoacreditei no desenvolvimento do mesmo, pois vi tantos outros projetosserem engavetados nos meus vários anos de magistério. Porém, paraminha surpresa, tudo começou a fluir e a tomar formas. Era o iníciode uma gestação que, como outra qualquer, merecia cuidados eacompanhamentos especiais. Com o objetivo de conscientizar nossos alunos sobre a importân-cia do cuidado com a saúde, e o bem estar físico mental e social, a saúdee a educação deram as mãos em prol da busca pela saúde para nossascrianças. Foi uma parceria perfeita da nossa escola com a Equipe deSaúde da Família do Alto do Pascoal e o Núcleo de Apoio de Saúde daFamília (NASF). 91

Batista G, Maria S, Oliveira SMF, Silva MBL, Macambira GCT Foram realizadas capacitações com os profissionais, visando auma educação permanente e monitorando a avaliação da saúde dosestudantes, promoção da saúde e atividades de prevenção. Se a criança não está bem de saúde, ela não terá um bomrendimento na escola. Faz-se necessário garantir uma aprendizagemefetiva na formação de mudança de hábitos e atitudes saudáveis, tantona alimentação quanto nos cuidados com o físico. Escola, família esociedade são responsáveis não só pela transmissão de conhecimentos,valores, cultura, mas também pela formação da personalidade socialdos indivíduos. As dificuldades e os transtornos de aprendizagem que seapresentam na infância têm sempre forte impacto sobre a vida dacriança, de sua família e sobre o seu entorno, por causa dos prejuízosque acarretam em todas as áreas do desenvolvimento pessoal, assimcomo de sua aceitação e participação social. O termo “dificuldade de aprendizagem” começou a ser usadona década de 60 e até hoje - na maioria das vezes - é confundido porpais e professores como uma simples desatenção em sala de aula ou‘espírito bagunceiro’ das crianças. Mas a dificuldade de aprendizagemrefere-se a um distúrbio - que pode ser gerado por uma série deproblemas cognitivos ou emocionais - que pode afetar qualquer áreado desempenho escolar. E foi em busca dessa aprendizagem que o grupo se reuniu váriasvezes para planejar o melhor caminho para envolver toda a comunidadeescolar. Professores e profissionais da saúde conversaram, debateram,traçaram metas, vestiram a camisa e arregaçaram as mangas. Tudoorganizado, planejado e registrado. Agora era a vez do principal: co-locar tudo em prática. Foram feitos vários trabalhos sobre saúde como alimentação,hábitos alimentares, atividades físicas, doenças negligenciadas, fumo,álcool, prevenção de acidentes, sexualidade etc. Pois as necessidadesdos alunos são diversas e é importante trabalhar todos os temas desaúde. Como profissionais da educação, quando pensamos numa salade aula, buscamos logo as soluções que sejam mais interessantes eviáveis para que os alunos tenham interesse e participação quanto aosconteúdos abordados.92

Do Planejamento à Ação Cada professor na escola viabilizou de que forma trabalharia astemáticas com seus alunos. Pensei em trabalhar literatura de cordel,uma vez que estávamos trabalhando gêneros textuais. E, ao apresentaro texto a eles, os mesmos sugeriram que fosse transformado em um“Rap”. Acatei a sugestão, dividi a turma em grupos e eles ensaiaramcomo poderia ser, dando vida e movimento àquele texto que versavasobre doenças negligenciadas. Doenças negligenciadas são doenças quenão só prevalecem em condições de pobreza, mas também contribuempara a manutenção do quadro de desigualdade, já que representamforte entrave ao desenvolvimento dos países. São aquelas causadas poragentes infecciosos ou parasitas, além de serem consideradas endêmicasem populações de baixa renda. Elas também apresentam indicadoresinaceitáveis e investimentos reduzidos em pesquisas, produção demedicamentos e no controle. E o “rap” tornou-se um sucesso, umexcelente veículo para ensinar o que eram as doenças negligenciadas.Quando os consultores do BID e da OPAS chegaram à escola em 2012,viram as produções dos alunos e ficaram encantados. E lá estava aletra do “rap”, que logo chamou a atenção do público. Então pedirampara visitar a turma e eles, orgulhosos, apresentavam o “rap” sempreque eram solicitados. Para nossa surpresa, fomos entrevistados peloJornal do Commércio. Alguns dias depois, a coordenação do projetogravou um CD no estúdio da PCR (Prefeitura da Cidade do Recife). Omelhor de tudo foi que os alunos se tornaram agentes multiplicadorese aprenderam com o “rap”. Uma forma simples e bem humoradade repassar um conteúdo. Aquelas crianças foram impactadas pelaoportunidade que tiveram na vida de brilhar, ensinar e aprender.Agora o “rap” já não era apenas do ACELERA, pois a escola cantava,os pais cantavam a comunidade cantava, e assim aprendiam cada vezmais. O tempo passou, mas o “rap” ficou vivo na escola e trabalheicom meus alunos no ano seguinte. Com a turma do ano de 2012,além do “rap”, trabalhamos literatura de cordel, o que facilitoutambém a aprendizagem dos mesmos. Em 2013, resolvi trabalharsobre a verminose elaborando uma paródia com as crianças a pedidoda gestora da escola que me sugeriu a música. Vesti as crianças dehomens sanduíches com as informações das doenças para que, além 93

Batista G, Maria S, Oliveira SMF, Silva MBL, Macambira GCTda música, eles visualizassem informes de grande importância. Maisuma vez eles brilharam e todos cantaram a paródia das verminoses.Então, para 2013, inscrevi uma paródia no concurso: “Cantando com aSaúde” e garantimos o segundo lugar. Fomos premiados, mas o melhorprêmio mesmo foi vislumbrar a alegria de cada um em divulgar umaprodução deles, de perceber que eles aprenderam de forma lúdica, deserem as estrelas do show. A busca da saúde para os estudantes vem sendo um grande desa-fio para a escola e o projeto veio minimizar esse desafio, proporcionandomelhoria da qualidade de vida da população brasileira. A utilizaçãode projetos educacionais nas escolas tem se mostrado de fundamentalimportância porque torna o aprendizado mais significativo, uma vezque o aluno participa efetivamente da construção do conhecimentoatravés de atividades dinâmicas que o levam a refletir continuamente,durante o processo, sobre a importância do tema abordado e os reflexosdesse conhecimento sobre sua vida. Também vale ressaltar que estealuno, ao interagir com o grupo e com os professores, desenvolvevalores como respeito, solidariedade e cooperação, à medida que se vêcomo parte integrante e importante desse processo, socializando seusconhecimentos e suas experiências. Para obter resultados concretos é preciso fazer um trabalho emconjunto entre pais, escolas e professores, que deverão estar envolvidoscom um único objetivo: ajudar a criança. E foi assim como vivenciamos e conduzimos o projeto no intuitode promover, prevenir e enfrentar as vulnerabilidades a que estásusceptível a comunidade escolar e que, sem dúvida, podem vir ainterferir no crescimento e desenvolvimento da mesma. “Quando sonhamos sozinhos é só um sonho. Quando sonhamos juntos é o começo de uma nova realidade” (Dom Helder Câmara)94

Capítulo IX Desenhando com a Saúde Débora Roberta dos Santos * Geilda Cristina Alves * Pollyana Brainer * Mércia Cristina Bittencourt Coimbra * Sandra Alves de Brito * O desenho faz parte do desenvolvimento infantil. Mesmo dianteda tecnologia, as crianças continuam gostando de desenhar. O desenhocom lápis e papel estimula a parte motora, trabalha a concentração,estimula a criatividade e a liberdade de pensar. Uma ferramentasimples, de baixo custo e relaxante que pode se tornar uma importanteatividade para sistematizar conteúdos aprendidos por crianças, que nãodeve ser subestimada em função dessa era tecnológica. Se é importanteter a inserção da tecnologia nas escolas, tão mais importante é ter papele lápis de cor para que as crianças vivam a infância e desenvolvamhabilidades. Segundo Andrade e colaboradores (2007),1 o desenho é a primeirarepresentação gráfica utilizada pela criança. Desenhar é um atointeligente de representação que põe forma e sentido ao pensamento eao conteúdo que foi assimilado. Os desenhos começam a fazer parte doprocesso do desenvolvimento da criança e não devem ser entendidoscomo uma atividade complementar ou divertimento, mas como umaatividade funcional que facilita o aprendizado de matérias escolares ea compreensão não verbal e produz relaxamento. O desenho também* Educadoras em saúde do projeto demonstrativo para doenças negligenciadas na Secretaria deSaúde do Recife - PE 95

Santos DR, Alves GC, Brainer Pestimula o raciocínio criativo e intuitivo. Este capítulo do livro documenta alguns dos muitos desenhosque a equipe do projeto demonstrativo teve oportunidade de apreciarnas atividades educativas desenvolvidas. Foram muitos desenhos eseria impossível registrar todos; contudo, aqui estão alguns dos lindosdesenhos visualizados que refletem o aprendizado dessas criançassobre as doenças negligenciadas trabalhadas no projeto. Esperamos que o aprendizado vivido por essas crianças produzasementes de transformação das novas e antigas gerações. E que, nofuturo bem próximo, essas crianças estejam desenhando a história docontrole e eliminação de muitas doenças negligenciadas na cidade deOlinda, de Jaboatão dos Guararapes e de Recife, enfim, em Pernambucoe no nosso país.Referências Bibliográficas1. Andrade AF, Arsie KC, Cionek OM, Rutes VPB. Contribuição do desenho de observação no processo de ensino-aprendizagem [Internet]. Curitiba: Graphica; 2007 [citado em 2013 Ago 20]. Disponível em: http://www.degraf.ufpr.br/artigos_graphica/ ACONTRIBUICAODODESENHO.pdf96

Do Planejamento à Ação 97


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