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Museu Major José Levy Sobrinho: história e cultura material

Published by Traço Design, 2020-08-05 13:53:24

Description: Esta publicação apresenta ao público parcelas do acervo do Museu “Major José Sobrinho” a partir de textos temáticos, buscando explorar o potencial dos itens museológicos para a construção e reescrita de diversos aspectos da história local, regional e nacional.

Keywords: Catálogos,Museu,História,Limeira,Acervo

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manifestação da população local. Na sessão da Câmara de 18 de maio de 1875, um apontamento no Livro de Atas observa que alguns cidadãos des- contentes com o local escolhido para a construção, solicitavam uma solução aos edis (LIMEIRA, 1875, p 144v-145). Com relação à malha urbana, como esta já se dividia em duas porções separadas pelo ribeirão, a ferrovia tornou-se um elemento adicional a ser transposto2. Esta ocorrência provocou entraves aos munícipes, ocasionando in- clusive situações de violência entre empregados da ferrovia e pessoas da cidade, como se observa em ofícios do ano de 1877, quando o Delegado de Polícia em exercício3 na urbanização, José de Campos Camargo, comuni- cou respectivamente ao Governo Provincial e à Companhia Paulista que: He lamentável as ocorrências ultimas provocadas nesta cidade pelos agentes da Companhia Paulista de Estrada de ferro em relação ao des- respeito a propriedade municipal e particular por um lado sercando as vallas nas mediações da Estação cortando o transito de algumas ruas cujo transito assim vedado é um mal a quase toda população que ficão obrigados a dar assim grande volta pra chegarem a Estação. (OFÍCIO, 1877, ordem C00959, p 85-91) Estas passagens em nível sobre a linha dificultaram e impuseram certa lentidão à transposição de uma porção a outra da cidade, em espe- cial quando do transporte ferroviário de cargas, marcado por composi- ções longas e velocidades baixas dos trens. Outro fator a ser destacado na análise da instalação da via férrea está no escoamento das águas pluviais e esgoto em direção ao ribeirão Tatu. A maior porção da cidade nos idos de 1870 ocupava a região sul da malha, onde estavam a área central e a Matriz, sendo a linha posicionada entre este tecido e o corpo d’água. Assim, as ferrovias desempenharam no panorama local e regio- nal, papel de destaque no desenvolvimento dos núcleos urbanos, pro- movendo a instalação de serviços, como as oficinas mecânicas e de reparos em máquinas e vagões, bem como a promoção de treinamento da mão-de-obra, fomentando atividades urbanas como o comércio, os serviços e, posteriormente, as indústrias. Eduardo Alberto Manfredini | 99

Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores FERROVIA E INFRAESTRUTURA URBANA Limeira, SP – Década de 1910 Papel Silveira comentou que: “Nessa época, também se disseminaria, na região do Oeste Paulista, a utilização de maquinário cuja gênese remontava às inovações empreendidas, em grande parte, na colônia Vergueiro, quando do estabelecimento de trabalhadores germânicos que, na bagagem, tinham trazido instrumentos inexistentes em nos- sas terras (SILVEIRA, 2007, p. 78). Há que se considerar ainda, que 100 | A ferrovia em Limeira no século XIX e as intervenções no panorama urbano

o café transportado pela ferrovia, Lampião contribuiria para a ampliação e querosene efetivação de fortunas locais, for- talecendo o sistema produtivo e Eduardo Alberto Manfredini | 101 trazendo inovações, posterior- mente no início do século XX como a luz elétrica e a água en- canada à infraestrutura existente (FIGURAS 8 E 9), valorizando a área urbana e impelindo as clas- ses menos favorecidas a adap- tarem-se às condições impostas pelo processo econômico. Rua Carlos Gomes Limeira, SP - Entre 1890 e 1910 Fotografia Em destaque, à esquerda, vê-se a iluminação pública com o uso de lampiões à querosene Rua Barão de Cascalho Limeira, SP – Entre 1890 e 1910 Papel Em destaque, a residência construída pelo Dr. Antônio Cândido de Camargo, no cruzamento das ruas Barão de Cascalho e Senador Vergueiro. Vê-se, na esquina, um chafariz. Chafariz Limeira, SP – ca. 1860 Metal

Nesse contexto, observa-se então que a instalação da ferrovia, a partir de 1876, a qual acabou por aproximar a cidade da Capital e do porto de Santos, veio acompanhada pela evo- lução econômica da região, apoiada na produ- ção cafeeira. Estes fatores contribuíram para a instalação do serviço telefônico, nos idos de 18914, acompanhado pela iluminação pública, em 1899. Telefone à manivela CONSIDERAÇÕES FINAIS Limeira, SP – ca. 1891 Madeira, material emborrachado e metal O fator de estruturação da condição O item corresponde ao primeiro aparelho espacial referenciado na ferrovia apoiou-se telefônico instalado em Limeira nos interesses econômicos, que ditavam o uso dos espaços na malha urbana. Esta con- dição, concentrada até a instalação da malha férrea no eixo da Rua do Comércio, pautava- -se na destinação de fluxo da produção local às demais regiões do país e, em especial da Europa, e também nas necessidades dos imigrantes e viajantes, em sua bus- ca de gêneros de consumo e acesso às fazendas, como a Ibicaba, a Cordeiro e a Morro Azul. Com o passar dos anos, entretanto, até os idos finais daquele período, um novo ramal de atividades dos setores comercial, industrial e de serviços compôs a ligação entre a ferrovia e o núcleo religioso / econômico central, passando então a reestruturar tal condição, atrelada diretamente aos des- locamentos promovidos pelas necessidades de transportes. É possível afirmar que a ferrovia substituiu o caminho terrestre entre Limeira, Campinas e Rio Claro, e a ligação da via férrea com o centro – Rua do Comércio e Matriz passou a ser feita pela Rua Barão de Cascalho (antiga Rua Augusta), em maior profusão de atividades, 102 | A ferrovia em Limeira no século XIX e as intervenções no panorama urbano

Livro de Atas da serviço telefônico de Limeira Limeira, SP – ca 1891 Papel Eduardo Alberto Manfredini | 103

como também pela Rua Barão de Campinas (antiga Rua de Frente da Matriz). Conclui-se então que a ins- talação ferroviária a partir de 1876 significou um marco no tocante a interação de Limeira com a Capital e com o porto de Santos, em espe- cial, no quesito da ampliação da velocidade deste contato e conse- quentemente com a evolução tec- nológica advinda do mesmo, como, por exemplo, a instalação do serviço telefônico, nos idos de 1891 e da ilu- minação pública, em 1899. Destaca-se ainda, que no pla- no urbano a evolução econômica apoiada na produção cafeeira, tendo como principal eixo de escoamento a ferrovia, propiciou a expansão do centro direcionando-o aos entornos da edificação ferroviária represen- tante do poder do capital. EDUARDO ALBERTO MANFREDINI (org.) e LUIZ HENRIQUE PEREIRA (desenho) Dinâmica Sócio Espacial Comercial e Religiosa em Limeira entre 1876 e o final do século XIX. (Modificado de BUSCH, 1967, p 303) 2010 Meio digital 104 | A ferrovia em Limeira no século XIX e as intervenções no panorama urbano

PHOTO CENEVINA Limeira – Vista parcial da cidade Limeira, SP – Década de 1940 Papel JOÃO CARLOS BAPTISTA LEVY (Limeira-SP, 1890-1926) Vista aérea do Largo da Matriz Limeira, SP – ca. 1922 Papel Eduardo Alberto Manfredini | 105

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACERVO FOTOGRÁFICO de Limeira: fotos do período 1890-1950. Fotografias. Documentos do Arquivo do Centro de Memória Histórica do Museu Histórico e Pedagógico \"Major José Levy Sobrinho\" de Limeira. 1850. BUSCH, Reinaldo Kuntz. História de Limeira. Limeira: Prefeitura Municipal, 1967. CANO, Wilson. Raízes da concentração industrial em São Paulo. 4. ed. Campinas: UNICAMP / IE, 1998. LIMEIRA. Câmara Municipal. Livro de atas das sessões: 1870-1875. Limeira, 1875. Documento disponível no Arquivo da Câmara Municipal. ______. Livro de atas das sessões: 1896-1899. Limeira, 1899. Documento disponível no Arquivo da Câmara Municipal. MANFREDINI, Eduardo Alberto. História material e formação urbana: dinâmica socioespacial de Limeira (SP) no século XIX. 2010. 384f. Tese (Doutorado em Engenharia Urbana). Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. MILLIET, Sérgio. Roteiro do café e outros ensaios: contribuição para o estudo da história econômica e social do Brasil. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 1982. OFÍCIO do Delegado de Polícia de Limeira ao Presidente da Diretoria da Cia. Paulista e ao Presidente da Província de São Paulo: sobre transtornos da ferrovia em limeira. Documentos Manuscritos. Documento disponível no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Ordem C00959, Documento nº 46 A, Folhas 89-91, 1877. SAES, Flavio Azevedo Marques. As ferrovias de São Paulo, 1870–1940: expansão e declínio do transporte ferroviário em São Paulo. São Paulo: Hucitec, 1981. SILVEIRA, Marcel Camargo. Imigração italiana em Limeira – SP: terra, política e instrução escolar. 2007. 193f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de Campinas - UNICAMP, Campinas. 106 | A ferrovia em Limeira no século XIX e as intervenções no panorama urbano

1 Milliet (1982) atribuiu, por exemplo, ao polígono formado por Campinas, Piracicaba, Itapetininga e outras cidades no entorno denominação de zona central de São Paulo. A Paulista, segundo a classificação do autor englobava os municípios por onde transitava a Estrada de Ferro da Cia. Paulista e seus dois ramais: o pri- meiro que tomou direção do Rio Grande na divisa com Minas Gerais (passando por cidades como: Campinas, Limeira, Araras, Leme, Pirassununga, Porto Ferreira, Santa Rita do Passa Quatro), e o outro caminho a partir de bifurcações de linhas em Cordeirópolis (logo após passar por Limeira) e Itirapina, transitando por Bauru, Marília e Tupã e seguindo até o Rio Paraná em Panorama (zona denominada de Alta Paulista). 2 Os trilhos se constituíram de imediato, barreira física de complexa passagem, se- guindo sob tal condição com o passar dos anos, em especial após a maior inserção dos veículos automotores entre as décadas de 1900 e 1920. 3 Ofício datado de 14 de junho de 1877. 4 Na Ata da sessão da Câmara Municipal de 4 de março de 1899, existe a observação que o Presidente da casa Dr. Epiphanio Prado entendeu-se ao “telephone”, com um certo Dr, Tibagy. Cf. LIMEIRA, 1899, p 152. Eduardo Alberto Manfredini | 107

Homenagem no monumento-túmulo de Alberto Pierroti Limeira, SP – 8 de julho de 1934? Papel

LIMEIRA E O MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA DE 1932 João Paulo Berto* * Doutor em História da Arte pela Uma das constantes na maioria dos museus paulistas Universidade Estadual de Campinas. são as coleções destinadas a preservar a memória do Docente do curso de Arquitetura e Movimento Constitucionalista de 1932, como é o Urbanismo das Faculdades Integradas caso do Museu “Major José Levy Sobrinho” que, inclusive, Einstein de Limeira (SP). Profissional possui uma coleção artificial destinada exclusivamente à te- de Organização de Arquivos no Centro mática. Interpretado de Revolução à Guerra Civil, o episódio de Memória-Unicamp. gerou uma farta cultura material, guardada em grande parte pelas famílias de ex-combatentes como símbolo e prova da- queles que lutaram contra o Golpe de 1930, que instituiu a ditadura imposta por Getúlio Vargas (1882-1954) e convocou a Assembleia Nacional Constituinte. Possivelmente o mais importante evento paulista no seu legado e simbologia, ainda hoje sua memória é cultuada na forma de eventos e homena- gens que buscam destacar determinada imagem da proemi- nência do povo paulista e de seus “heróis revolucionários”. João Paulo Berto | 109

É interessante perceber o quanto as instituições museológicas ajudaram a sedimentar uma visão acerca do ato, sendo praticamente impossível não encontrar um museu paulista em que não se encon- tre pelo menos um item gerado diretamente do conflito armado ou produzido posteriormente durante os atos do fazer memória sobre ele. São armamentos e munições, fardas e demais têxteis, objetos ín- timos dos combatentes, placas, troféus e medalhas, além de incontá- veis registros fotográficos e audiovisuais, recortes de periódicos, do- cumentos textuais, entre outros. Soma-se ao ato bélico em si o culto à memória dos soldados, anônimos ou não, que, alicerçado por uma grande carga simbólica e dramática, ajudam a fornecer ao movimento um sentido alegórico que se ressignifica cotidianamente dentro de um discurso endógeno paulista. Em linhas gerais, desde o final do século XIX, o estado de São Paulo despontava no contexto nacional pelo grande impulso dado pela exportação do café e pela industrialização, alicerçadas por di- versos fatores como sua densa malha ferroviária. Os demais estados brasileiros não tinham nada comparável, o que fazia as ligações entre as diferentes regiões serem difíceis e demoradas. Além da situação fa- vorável, as máquinas do Partido Republicano Paulista (PRP) ajuda- vam a manter certa preponderância que se fazia latente pela política do café-com-leite, iniciada em 1898, na qual o governo presidencial civil era ocupado ora por paulistas ora por mineiros (integrantes do Partido Republicano Mineiro) influenciados pelo setor agrário. Entretanto, esta política sofreu um abalo durante o governo do paulista Washington Luís Pereira de Souza (1869-1957) quando, em vez de indicar um mineiro para ocupar a cadeira presidencial na dis- puta de 1930, recomendou o nome do deputado paulista Júlio Prestes de Albuquerque (1882-1946) – para isso, contava com o apoio de 17 presidentes de estado. Importante frisar que o cenário nacional não era de estabilidade, em especial pela série de movimentos ocorridos na década de 1920 tendo como protagonistas os tenentes, isto é, jovens oficiais de baixa e média patentes do Exército Brasileiro descontentes 110 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

com “o imobilismo, os privilégios econômicos, o desfrute das benes- ses políticas” (DONATO, 1982, p 17), sobretudo dos paulistas. Neste contexto, o estado de Minas Gerais, descontente, rompeu as relações com os paulistas e se uniu ao Rio Grande do Sul, apoiando o nome de Getúlio Vargas e João Pessoa naquela que ficou conhecida como Aliança Liberal. Além de Minas, apoiavam o movimento os te- nentes, o Partido Democrático de São Paulo e parte das classes médias urbanas. Em meio a este cenário de disputas e indícios de revolução, contudo, Júlio Prestes foi eleito em março de 1930. Apesar disso, não tomou posse. Motivados pelo assassinato do candidato à vice-presi- dência João Pessoa (que, apesar disso, não tinha motivos políticos), os insurgentes iniciaram um movimento apoiados por camadas po- pulares em outubro de 1930. Em 24 de outubro, por meio de um golpe liderado por militares no Rio de Janeiro, Júlio Prestes foi de- posto e Getúlio Vargas assumiu o poder, sendo nomeado chefe de um Governo Provisório que transformou-se em um governo de vertente ditatorial. Apesar de diversas medidas de cunho populista, os paulistas não aceitaram a presença de Vargas, bem como as limitações feitas ao in- terventor nomeado para a presidência do estado, Pedro de Toledo. Em 1932 diversos movimentos começaram a brotar em terras paulis- tas, como uma série de comícios contra a ditadura varguista e o pe- dido de uma nova constituição, dos quais destaca-se o realizado na Praça da Sé em 25 de janeiro com um público de cerca de 200 mil pessoas. Além do apelo da população, no campo político, o PRP e o Partido Democrático uniram-se contra o novo governo, criando a Frente Única Paulista (FUP) e usando todos os seus instrumentos para mobilizar o povo e se articular com os militares de oposição. Tudo estava pronto para o movimento, sendo o estopim o assassinato dos jovens Martins, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa, Antônio Américo Camargo de Andrade e Orlando de Oliveira Alvarenga, ocorrido na cidade de São Paulo em 23 de maio de 1932 por partidários da ditadura. João Paulo Berto | 111

Graças ao ocorrido, no dia seguinte foi organizado um movimen- to denominado MMDC, posteriormente conhecido como MMDCA, entidade oficializada por meio do Decreto nº 5627-A do Governo do Estado de 10 de agosto. Por meio dele e do apoio de partidos políti- cos começou a se tramar um movimento armado a fim de derrubar o governo Vargas e promulgar uma nova constituição brasileira. Apesar das iniciativas de Vargas para uma Assembleia Nacional Constituinte, no início de julho de 1932, a pressão dos tenentes era grande em São Paulo, levando a deflagração de um conflito no dia 9 de julho de 1932, apoiado por grupos militares e por civis armados paulistas. Os com- batentes, de forma estratégica, começaram tomando estradas, pontes, portos, estações ferroviárias, edifícios públicos, prédios de meios de comunicação (telefone, correios e telégrafos, jornais e emissoras de rádio). Milhares de voluntários de diversas áreas tomaram posição no confronto, sobretudo nos fronts criados em todo o estado. Inicialmente, o estado de São Paulo contava com o apoio dos es- tados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e da região sul do Mato Grosso, o que, para os combatentes, significava uma parcela capaz de depor Vargas. A população teve papel de destaque no movimento pe- gando em armas para manter as conquistas sociais e seu modo de vida, saindo às ruas para protestar e marchar para as frentes de combate ou trabalhar em atividades de apoio ao esforço de guerra. Destacam- se as organizações dos batalhões de voluntários, base das tropas que, durante os três meses seguintes, lutaram nas fronteiras de São Paulo contra forças numericamente superiores, mais bem equipadas e trei- nadas.  Em função da posição geográfica de São Paulo e das malhas ferroviária e rodoviária, o conflito se estendeu em três frentes: Vale do Paraíba, Frente Norte, na fronteira com Minas Gerais, e Frente Sul, na fronteira com o Paraná. Em Limeira, a movimentação em torno do conflito armado pode ser mapeada por meio dos boletins da Comissão de Alistamento e Assistência Pública, sediada no Grupo Escolar Coronel Flamínio Ferreira de Camargo, publicados a partir de 18 de julho e finalizados 112 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

em 29 de setembro de 1932. Esta comissão tinha liderança do Major José Levy Sobrinho e objetivava o alistamento e organização do Batalhão Limeirense, formando um corpo central com outras comis- sões responsáveis por angariar donativos, dar assistência às famílias necessitadas, fornecer informações para a linha de frente, prover os revolucionários com suas fardas, entre outros. Tais campanhas foram organizadas no estado todo para manter o movimento, sendo mais destacada a \"Ouro para o bem de São Paulo\". É interessante apontar que, dado a dificuldade da compra de equipamentos para o confli- to, os paulistas utilizaram um equipamento que imitava tiros de me- tralhadora, a matraca. O Major Levy, enquanto membro do Partido Republicano Paulista (PRP), desenhou aquela que é considerada uma das imagens chave do movimento: o mapa do estado de São Paulo com o rosto feminino, uma alusão alegórica. Certificado do Departamento da Campanha do Ouro São Paulo, SP – setembro de 1932 Papel João Paulo Berto | 113

MAJOR JOSÉ LEVY SOBRINHO (Limeira -SP, 1884-1957) Diploma do Correligionário 1932 Papel 114 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

Além da ação do Major Levy, assumindo, inclusive, cargos na comissão de direção do partido, outra personagem atuante no movi- mento em contexto limeirense foi Maria Thereza Silveira de Barros Camargo (1894-1875). Na época viúva de Trajano de Barros Camargo (1890-1930) e já dirigindo a empresa Machina São Paulo, Maria Thereza liderou uma seção Feminina do movimento constituciona- lista na cidade e a comissão para angariar donativos, responsável pela confecção das fardas e por equipar a Santa Casa de Misericórdia de Limeira com materiais médicos, roupas de cama, colchões e traves- seiros e pela organização de cursos de enfermagem para voluntários. Limeira enviou dois batalhões para a luta, em um total de aproxi- madamente 300 pessoas. Segundo registros do combatente Orlando Forster, primeiro tenente da segunda companhia do Batalhão Limeirense, o primeiro voluntário limeirense teria sido o jovem Manoel Simão de Barros Levy, filho do Major José Levy Sobrinho e de Ana Carolina de Barros Levy, partindo para São Paulo logo na ma- drugada de 10 de julho de 1932. Tal atitude foi imitada por diversos outros jovens que dirigiam-se para a capital procurando os postos de alistamento, tendo o primeiro embarque dos voluntários limeiren- ses ocorrido no dia 19 de julho, no trem que partia para Campinas, ponto de distribuição dos combatentes. No acervo do Museu “Major José Levy Sobrinho” podem ser encontradas dezenas de objetos e itens textuais utilizados ou sobre o movimento. Além disso, destacam-se os registros fotográficos que permitem vislumbrar o empenho da popu- lação nas ações armadas. João Paulo Berto | 115

COMISSÃO DE ALISTAMENTO E SAÚDE PÚBLICA E M.M.D.C Boletim n. 18 Limeira, SP – 28 de agosto de 1932 Papel 116 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

Batalhão Limeirense com o Major José Levy Sobrinho Batalhão Limeirense aguardando embarque na Estação da Limeira, SP – Entre agosto e setembro de 1932 Companhia Paulista de Estradas de Ferro Papel Limeira, SP – Entre agosto e setembro de 1932 Papel SAIDENBERG Segunda Companhia do Batalhão Limeirense Campinas, SP – entre agosto e setembro de 1932 Papel João Paulo Berto | 117

Ficha de cadastro do Major José Levy Sobrinho no Batalhão Limeirense Limeira, SP – 5 de agosto de 1932 Papel 118 | Apresentação

O Batalhão Limeirense destacou-se na luta pela organi- zação, pelo suporte que recebeu da cidade e por sua atuação. Destes, alguns nomes se destacaram, seja pela grande ativi- dade ou por terem sucumbido no combate. Entre eles, está o nome de Maria José Barroso (1885-1958). Conhecida como Maria Soldado, a limeirense participou do movimento, alis- tando-se como enfermeira na Legião Negra e foi enviada para o setor sul. A Frente Negra, também chamada de Pérolas Negras, foi formada por mais de 2 mil combatentes e teve grande atuação no movimento, tendo se organizado em qua- tro frentes: a Frente Leste (na divisa com o Rio de Janeiro); a Frente Norte (divisa com Minas Gerais); a Frente Oeste (divisa com Mato Grosso) e a Frente Sul (divisa com Paraná). Barroso, no entanto, acabou no campo de batalha, lutando nas trincheiras ao lado dos soldados nas cidades paulistas de Buri, Ligiana e Itararé. Em 1957, na ocasião do Jubileu de Prata do movimento constitucionalista, foi escolhida como mulher “símbolo de 32”. Faleceu em São Paulo, no ano de 1958, e pela sua importância e repercussão no movimento, foi sepultada no Mausoléu aos heróis de 32, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Maria Soldado: mulher símbolo de 32 Limeira, SP – 1932 Papel Apresentação | 119

Outra personagem de destaque do movimento em Limeira foi o Sargento Alberto Pierrotti, considerado como uma das mais importantes figuras limeirenses vinculadas ao Movimento Constitucionalista de 1932. Atuou como sargento junto à Primeira Companhia do Batalhão Limeirense, tendo sido morto durante o confronto na cidade paulista de Silveiras (setor norte), na primeira quinzena de setembro de 1932. Após sua morte, seu corpo foi sepul- tado e, depois, trasladado para Limeira em 1º de dezembro de 1932. Na cidade, foi recebido em sua casa e, após atos solenes na Igreja Matriz de Nossa Senhora das Dores, foi sepultado no Cemitério da Saudade. Dois anos depois, o corpo do combatente foi transladado para um monumento-túmulo, atualmente localizado junto à entrada do mesmo cemitério e inaugurado em 8 de julho de 1934 após atos religiosos e festivos, também com o objetivo de homenagear a me- mória dos demais combatentes. No acervo do museu existem diversos documentos que aludem ao fato, sobretudo documentos textuais e fotografias. Uma pintura de autoria de Tony Koegl retrata o busto de Alberto Pierrotti, traja- do como combatente e tendo em seu peito a flâmula triangular que os limeirenses levavam consigo quando de seu alistamento, composta por uma laranja e o nome da cidade, uma das formas de identificação dos dois bata- lhões limeirenses. Ao fundo, flamulando, está a bandeira de São Paulo. TONY KOEGL (Hall, 1989 – São Paulo, ca. 1978) Sargento Alberto Pierrotti Limeira, SP – Entre 1932 e 1938 Óleo sobre tela Local do sepultamento do corpo de Alberto Pierrotti Silveiras, SP – novembro? de 1932 Papel 120 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

Comitiva com o corpo de Alberto Pierrotti Monumento-túmulo de Limeira, SP – novembro de 1932 Alberto Pierrotti Papel Homenagem no monumento-túmulo de Alberto Pierroti Limeira, SP – 8 jul 1934? Limeira, SP – 8 jul 1934? Papel Papel João Paulo Berto | 121

Homenagem dos 25 anos do Movimento Com o final do apoio por parte dos estados, baseados em questões Constitucionalista de 1932 políticas, São Paulo ficou isolado no movimento. A falta de equipa- São Paulo, SP – 1957 mentos deixou as tropas ainda mais vulneráveis, o que levou a derro- Metal tas, inicialmente no setor sul. O final do conflito ocorreu em princí- pios de outubro de 1932, quando a Força Pública, atual Polícia Militar do Estado de São Paulo, antes apoiadora do movimento, depôs o go- verno revolucionário paulista, sendo que a maior parte dos membros perdeu seus direitos e foi deportada para Portugal. Apesar disso, o movimento foi visto como positivo pela grande maioria, alcançando a nomeação de um representante civil e paulista no governo, cargo ocu- pado por Armando Salles de Oliveira (1887-1945), além da eleição de 17 deputados paulistas para a Assembleia Nacional Constituinte. Soma-se a isso a manutenção dos valores de uma oligarquia cafeeira (mesmo após a crise de 1929) e da classe média conservadora. Diversos foram os eventos posteriores ao movimento, comemo- rando e fazendo memória dos “heróis constitucionalistas”. Aos com- batentes mutilados ou mortos foi proposta uma pensão vitalícia, or- ganizada desde 1934 e modificada por sucessivos dispositivos legais, e entregues diversas honrarias, destacando-se a instituição da Medalha da Constituição, com a finalidade de condecorar todos aqueles que tomaram parte no conflito (Resolução da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo nº 330, de 25 de junho de 1962). Capacete Limeira, SP – 1932 Metal e couro Pertenceu ao combatente limeirense Armando Bacellar 122 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DONATO, Hernani. A Revolução de 1932. São Paulo: Círculo do Livro S.A., 1982. OSORIO, Manoel. A guerra de S. Paulo: 1932: esboço crítico do maior movimento armado no Brasil. São Paulo: Americana, s.d. PAULA, Jeziel de. 1932: Imagens construindo a História. Campinas/ Piracicaba: Editora da Unicamp/Editora Unimep, 1998. João Paulo Berto | 123

Largo da Boa Morte Limeira, SP – Século XIX (?) Papel

AS ARTES DE CURAR E AS PRÁTICAS MÉDICAS E ASSISTENCIAIS EM LIMEIRA João Paulo Berto* As atividades médicas em Limeira foram iniciadas ainda na primeira metade do século XIX, no âmbito das fazendas. Um * Doutor em História da Arte dos aspectos importantes neste contexto refere-se ao conheci- pela Universidade Estadual de mento das artes de curar baseadas em plantas medicinais. Somam-se a Campinas. Docente do curso de estas outros métodos, tais como as simpatias, crenças e rezas transmi- Arquitetura e Urbanismo das tidas de pai para filho e que tinham finalidades muito específicas. Tais Faculdades Integradas Einstein práticas tinham grande fortuna, dada a quase inexistência de médicos de Limeira (SP). Profissional de pelo Brasil no período entre a colônia e o império. Estes eram na Organização de Arquivos no Centro maioria estrangeiros residentes no território ou brasileiros formados de Memória-Unicamp. no exterior. Vale ressaltar que o primeiro curso de medicina no Brasil data de 1808 como consequência da chegada da família real portugue- sa, sendo instituído na Bahia. No ambiente urbano da então Vila de Limeira, neste período, desta- caram-se a presença do Dr. Joaquim Novaes Coutinho de Araújo (talvez o primeiro médico a fixar residência na então Vila, em 1849), do Dr. Virgílio Pires de Carvalho e Albuquerque, do Dr. Joaquim H. de Andrade e Silva, do Dr. Francisco J. de Freitas Albuquerque, do Dr. João Chaves Ribeiro e do Dr. Félix Cioffi. Tais médicos tiveram intensa atuação para além da prá- tica médica na cidade, a exemplo do médico e sanitarista baiano Carvalho e Albuquerque responsável por fundar o jornal O Limeirense, iniciado João Paulo Berto | 125

Antiga residência da Familia Bonete, anteriormente em 14 de setembro de 1873, con- laboratório do Dr. Adolfo Lutz siderado o primeiro periódico da Limeira, SP – Entre 1970 e 1989 cidade. Destaca-se nesse cenário, Papel entre 1882 e 1885, a presença do Dr. Adolpho Lutz (1855-1940). 126 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932 Neste período, Lutz atuou como clínico e grande diagnosticador, realizando importantes pesquisas e tornando-se pioneiro na área da helmintologia, ramo da zoolo- gia que estudas os vermes, tendo mantido correspondência com institutos europeus e publicado diversos textos que mudaram a área da parasitologia no Brasil. Na época, Limeira não pos- suía hospitais, ambulatórios ou dispensários, apesar da popu- lação encontrar-se em intenso crescimento graças às levas mi- gratórias de diversas naciona- lidades que vinham em busca de melhores condições de vida na região. Passando pelo cam- po, após adquirir certo capital, acabavam se estabelecendo nos núcleos urbanos, trazendo con- sigo diversas doenças. Conforme registro de Manuel Eufrasio de Azevedo Marques em sua obra “Apontamentos, históricos, geo- gráficos, biográficos, estatísticos e noticiosos da Província de S.

Paulo”, publicada no Rio de Janeiro em 1879, Limeira possuía cerca de Lazareto de Isolamento 14.283 habitantes em 1874, entre livres e escravos. Limeira, SP – Entre 1900 e 1920 Os médicos se deslocavam a cavalo ou em “trollys” para atender os Papel pacientes. No contexto das epidemias de varíola, febre amarela e tifo, por exemplo, ocorridas entre 1875 e 1905, destacando-se o surto de 1892 a João Paulo Berto | 127 1895, vários espaços tiveram que ser improvisados. Um deles, apesar das escassas fontes que comprovem isso, teria sido a Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte e Assunção, cedida pela Confraria para ser Hospital de Emergência. Ainda segundo a tradição, o capelão da associação religiosa, Cônego Cypriano de Sousa Oliveira, que também atuava no cuidado dos enfermos, teria ali falecido em 1892, vítima da doença. Houve também em Limeira, ainda no século XIX, um Lazareto ou Leprosário de Isolamento, situado na região da Vila Camargo em residência que outrora fora de Valêncio Augusto de Barros, local depois ocupado pelo Grupo Escolar São Paulo. Não há dados sobre a abertura deste espaço, podendo afirmar- se, contudo, que sua construção é anterior a 1876 (MANFREDINI, 2010, p 320). De fato, as preocupações com a disseminação de doen- ças em Limeira datam ainda da primeira metade do século XIX, especialmente nos embates acer- ca da destinação de verbas para a construção de uma nova igreja matriz. Conforme apontamentos de Manfredini, enquanto alguns vereadores apontavam a impor- tância de verbas para a construção de uma Santa Casa ou uma Caixa de Socorros aos Lázaros, o edil Justino Franco defendeu e con- seguiu vencer a contenda para as

Prédio da antiga Santa Casa de Misericórdia de Limeira verbas para as obras da nova sede da Paróquia Nossa Senhora das Dores Limeira, SP – Entre 1900 e 1920 (MANFREDINI, 2010, p 322). Contudo, apesar de esparsas medidas Papel por parte do poder público, a organização de práticas mais generaliza- das acerca dos cuidados médicos ocorre apenas com a organização da Irmandade de Misericórdia de Limeira, ocorrido entre 1884 e 1888. Os relatos apontam que a fundação da irmandade estaria atrelada a uma iniciativa da Confraria da Boa Morte frente aos surtos epidêmicos na cidade. É importante frisar que tal ação teria ocorrido de maneira extrao- ficial, uma que a Confraria funcionou regularmente entre 1856 até 1891, estando extinta entre os anos de 1892 a 1897, e sendo restituída em oito de setembro de 1898 – segundo Caritá, uma possível explicação para esta es- tagnação era a transformação do templo em hospital de emergência, o que levou à Confraria a se dedicar apenas ao socorro aos flagelados (CARITÁ, 128 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

1995, p 14). De todo modo, o fundador da Irmandade de Misericórdia, Livro de Ouro da Santa Casa Livro de visitantes da Santa Coronel Antônio Mariano da Silva Gordinho, foi membro da Confraria de Misericórdia de Limeira Casa de Misericórdia de Limeira da Boa Morte, tendo ocupado diversas vezes o cargo de provedor. Limeira, SP – 1919 Limeira, SP – 1900 Papel e couro Papel e tecido O terreno destinado para o prédio da Santa Casa de Misericórdia de Limeira foi oferecido pela Confraria da Boa Morte à sua entidade- -irmã, sendo esta uma doação recebida por disposição testamentária de José Ferraz de Campos (1782-1869), o Barão de Cascalho, um dos grandes benfeitores da confraria. As obras na quadra de cerca de 7497 braças (1 braça é equivalente a cerca de 2,20m lineares) iniciaram-se com o lançamento da pedra fundamental por volta de 1888, finali- zando-se em 1895, ano em que a irmandade se mudou para seu novo espaço e organizou-se como entidade com compromisso aprovado em assembleia de 17 de fevereiro de 1895. A primeira sede localizava-se nas proximidades da atual Rua Visconde do Rio Branco, onde permaneceu até a inauguração de seu atual prédio, em 1974, na Vila Cláudia. Vários foram os médicos que atuaram no hospital, tais como o cirurgião campineiro Antônio Cândido de Camargo (1864-1947), integrante do primeiro corpo clínico da Santa Casa. Clinicou ali até 1913 quando foi convidado para ingressar no primitivo núcleo que se tornaria a Faculdade de Medicina da USP, sendo conhecido por trazer modernas técnicas médicas que atraíam pacientes e médicos de várias cidades. Junto dele, podem-se citar os nomes de médicos como Sebastião Toledo Barros, Waldemar Mercadante (1888-1975), Lauro Correa da Silva (1887-1967), Gumercindo de Godoy (1893-1950), Renato Ferraz Kehl (1889-1974), Antônio de Luna (1914-1979) e Reynaldo Kuntz Busch (1898-1974). Um nome de destaque, contu- do, é o médico baiano José Botelho Velloso (1868-1921). Formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, chegou em Limeira por volta de 1897, tendo sido conhecido pelo espírito humanitário e grande dedicação no trato com os pacientes desprovidos de recursos. Retrato do Dr. Antônio Cândido de Camargo Limeira, SP – Entre 1900 e 1910 Papel João Paulo Berto | 129

Corpo Clínico da Santa Casa de Limeira Limeira, SP – Entre 1920 e 1921 Papel Grupo de médicos na Santa Casa de Limeira (Dr. Renato Kehl, Dr. Waldemar Mercadante, Dr. José Botelho Veloso e Dr. Sebastião de Toledo Barros) Limeira, SP – Entre 1920 e 1921 Papel 130 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

FATINHA Retrato do Dr. José Botelho Velloso Limeira, SP? – 1975 Óleo sobre tela Receita do consultório do Dr. José Botelho Velloso Limeira, SP? – 20 de Agosto de 1909 Papel João Paulo Berto | 131

Prédio da antiga Farmácia Kehl Limeira, SP – década de 1940 Papel OSWALDO FAVORETTO Retrato de Renato Ferraz Kehl Limeira, SP – década de 1940 Óleo sobre tela RENATO FERRAZ KEHL (Limeira-SP, 1889-1974) Eugenia e Medicina Social: problemas da vida Rio de Janeiro, RJ – 1923 Livraria Francisco Alves Papel 132 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

Entre os médicos que desempenharam um papel de importância Placa do consultório do Dr. Antônio de Luna na cidade está o já citado Dr. Antônio de Luna, nascido na cidade Limeira, SP – década de 1940 mineira de Areado em 5 de dezembro de 1914. Formado em clínica Metal e cirurgia geral no Rio de Janeiro pela então Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, Luna estabeleceu-se em Limeira Avental do Dr. Antônio de Luna em abril de 1940, a convite do também médico Olindo de Luca Limeira, SP – década de 1940 (MADRID, 2000, p 24), onde casou-se com Maria Lemos Luna. Abriu seu consultório médico na Rua Barão de Cascalho, em imóvel Tecido de Paschoal de Luca, pai de Olindo de Luca. Pouco tempo depois, mu- dou-se para as dependências do prédio Busch, edifício em estilo art João Paulo Berto | 133 déco localizado na esquina das ruas Dr. Trajano de Barros Camargo e Senador Vergueiro. Neste local, dividia salas com os doutores José Vaz Montezuma, Orlando Ometto, Olindo de Luca e com o consul- tório odontológico de Humberto Delbem. Por conta disso, o prédio acabou sendo cunhado de “Prédio dos Médicos” (MADRID, 2000, p 25). Na Santa Casa teve também grande participação, sobretudo buscando aperfeiçoar a atuação do corpo de enfermeiros por meio do oferecimento de cursos. Além disso, foi o responsável pelas obras de ampliação deste hospital, abrindo novas alas e quartos, atuando também na construção e aparelhamento do Hospital da Beneficência Limeirense, no bairro Boa Vista, entidade fundada inicialmente em 23 de julho de 1957 dentro da Santa Casa. Luna faleceu em 15 de abril de 1979, aos 64 anos. A Santa Casa de Limeira buscou sempre dispor, dentro de seus limites orçamentários, dos melhores equipamentos para atender a po- pulação. Destes, uma parte significativa daqueles que pertenceram ao antigo prédio está no acervo do Museu “Major José Levy Sobrinho”. Constam desde objetos cirúrgicos a aparelhos utilizados nos proce- dimentos, tanto de fabricação nacional quanto internacional Além disso, o museu também preserva uma grande quantidade de fotogra- fias e publicações que retratam tanto as dependências físicas dos dois espaços onde a Santa Casa se instalou, quanto de seu corpo clínico de médicos e enfermeiros.

Corpo clínico da Santa Casa de Misericórdia de Limeira Limeira, SP – Entre 1942 e 1945 Papel 134 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

Aparelho para anestesia Alemanha – Entre 1920 e 1974 Ferro e vidro Placa da Mesa Administrativa da Estetoscópio Aparelho de oxigênio Santa Casa de Limeira Entre 1940 e 1974 Alemanha – Entre Limeira, SP – Outubro de 1940 1920 e 1974 Bronze Alumínio Ferro e vidro Esfigmomanômetro Entre 1940 e 1974 Couro, Metal e Vidro Livro de Ouro da Santa Casa de Misericórdia de Limeira Limeira, SP – 1959 Papel Cadeira para cirurgia de amígdalas Estojo de urologia Entre 1920 e 1974 Estados Unidos da América – Entre 1940 e 1974 Ferro Madeira/Metal João Paulo Berto | 135

Construção do novo prédio da Santa Casa de Misericórdia de Limeira Limeira, SP – Entre 1959 e 1974 Papel 136 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

Além da Santa Casa, outros espaços foram importantes no que Retrato de João Kühl Filho se refere ao atendimento médico e de saúde à população. Entre eles, Limeira, SP – Entre 1930 e 1950 podemos citar a Sociedade Humanitária Operária (SHO), fundada em 5 de janeiro de 1936 por Adelino Vilar. Tais associações de cará- Papel ter mutualista operária foram comuns em diversas cidades no Brasil, buscando assegurar a seus sócios, por meio de contribuições mensais, João Paulo Berto | 137 diversos serviços previdenciários, como tratamento médico, auxí- lio a doentes, inválidos, velhos e viúvas (NOMELINI, 2010, p 144). Conforme Madri, em 1959 a Sociedade fundada em Limeira dispu- nha de cerca de 3500 associados que, com seus dependentes, forma- vam um universo de cerca de 14000 usuários (MADRI, 2000, p 57). A SHO inaugurou seu primeiro hospital em 9 de agosto de 1955 na área central da cidade. Em 1983, abriu um segundo prédio na região do Jardim Nova Itália, destinado apenas para as áreas de Ginecologia, Obstetrícia e Pediatria, o qual se transformou em hospital geral em meados da década de 1990 com o fechamento do primeiro. No campo do assistencialismo, destacam-se diversos trabalhos de entidades limeirenses. Ainda no século XIX, não se pode esquecer das atividades desenvolvidas pela já citada Confraria da Boa Morte, seja em seu próprio interior ou como irradiadora na criação ou fo- mento de outras associações. Uma delas foi da criação do asilo de Mendicidade de Limeira no ano de 1917 por ação de João Kühl Filho, com o objetivo de acolher os necessitados, sobretudo pessoas com de- ficiência física e mental, independente da idade (AZZOLINO, 2017, p 13). A pedra fundamental do prédio foi lançada em 16 de agos- to com a presença de autoridades civis e religiosas. Ainda durante a construção, uma nova área foi adquirida para expansão do prédio, cuja inauguração oficial ocorreu apenas em julho de 1922. Deste pe- ríodo em diante, João Kühl Filho permaneceu na direção da entida- de, deixando-a apenas com sua morte, em 1950, quando assumiu a direção seu genro, Lázaro da Costa Tank, o qual já o ajudava desde a fundação da instituição filantrópica.

Costa Tank, além dos trabalhos no asilo, foi também atuante junto ao Centro Espírita Luz e Caridade de Limeira, entidade fun- dada em 1906. Foi na sua gestão que o asilo teve sua gestão adminis- trativa transferida para a Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte e Assunção, em ato de 13 de janeiro de 1952. Em setembro do mesmo ano, Cândido José Soares assumiu a provedoria do asilo, mesmo car- go que acumulou ao longo de anos na Confraria da Boa Morte, bem como chegaram à instituição as Irmãs Missionárias Franciscanas do Coração Imaculado de Maria. Com a aprovação de seu primeiro esta- tuto registrado, em 1953, o asilo mudou de nome, em homenagem a seu fundador, João Kühl Filho, e passou a atender apenas pessoas ido- sas. Em 15 de agosto de 1961 foi lançada a pedra fundamental de uma capela para a prática religiosa dos internos, dedicada a Nossa Senhora da Boa Morte e Assunção, obra inaugurada em 16 de setembro de 1962 e localizada ao lado das dependências do prédio principal. Esta capela acabou servindo como matriz provisória de uma nova paróquia da cidade, sob o título de Santa Terezinha do Menino Jesus, entre 1962 e sua instalação oficial, em 3 de outubro de 1964. Tal construção foi, depois, cedida oficialmente à Igreja Católica, servindo como base para a nova paróquia. Fragmento do túmulo de João Kühl Filho Limeira, SP – Entre 1900 e 1950 Mármore 138 | Limeira e o movimento constitucionalista de 1932

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZZOLINO, Adriana Pessatte. Asilo João Kühl Filho: 100 anos. Limeira, SP: Unigráfica, 2017. BUSCH, Reynaldo Kuntz. História de Limeira. 3ª edição. Sociedade Pró- Memória de Limeira. Limeira, SP, 2007. CARITÁ, Wilson José. A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Limeira: primeiro centenário, 1895-1995. Limeira, 1995 (mimeo). MADRID, Nelson. Medicina Limeirense no Século XX. Cadernos de Memórias – 2. Limeira, SP: Unigráfica, 2000. MANFREDINI, Eduardo Alberto. História material e formação urbana: a dinâmica socioespacial de Limeira (SP) no século XIX. 2010. Tese (Doutorado) – Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, UFScar, São Carlos. NOMELINI, Paula Christina Bin. “Mutualismo em Campinas no início do século XX: possibilidades para o estudo dos trabalhadores”. Revista Mundos do Trabalho, vol. 2, n. 4, agosto-dezembro 2010, 143-173. João Paulo Berto | 139



DESTAQUES DO ATCEEXRTVOOS

De fatura paulista, as imagens apresentadas serviram de modelo e repertório para a correspondem à tipologia das paulistinhas. constituição de uma produção dita paulista, No Estado de São Paulo, a produção de es- fruto da união dos saberes e materiais locais culturas sacras em argila foi iniciada ainda que adaptavam e readequavam padrões im- no século XVI, destacando-se a ação das portados que chegavam via Santos ou tra- ordens religiosas, sobretudo jesuíta e bene- zidos das regiões das Minas Gerais, Bahia ditina. Em linhas gerais, desde o início da e Rio de Janeiro. Neste segmento, as pau- colonização portuguesa, o hábito do culto listinhas foram uma tipologia desenvolvida às imagens sacras foi arraigado às tradições em São Paulo entre os séculos XVIII e XIX, locais. Contudo, como a demanda era maior caracterizadas pelo tamanho, pelo uso do que a produção, no início houve uma grande barro como suporte e por serem ocas, sendo importação de peças tanto da Europa quan- marcante a base em formato cônico. Foram to de outras regiões do Brasil, sempre com muito difundidas no mundo paulista, sendo o desejo de fortalecer a devoção dos fiéis. carregadas como forma de manutenção e di- Este processo foi valioso, pois tais imagens fusão da fé católica. Cristo Ecce Homo Século XVIII/XIX Barro cozido e policromado São Gonçalo Século XVIII/XIX Barro cozido e policromado 142 | Destaques do acervo

Liteira Século XIX Madeira e couro animal Liteira em madeira recoberta com couro ani- cadeiras portáteis e foram usadas no Brasil en- mal, composta por uma caixa central com duas tre os períodos da colônia e do império como janelas e uma porta para entrada dos passagei- importante médio de transporte das classes ros (no máximo dois) em ambas as laterais. mais abastadas. Podiam ser transportadas tanto Possui teto abobadado em arco abatido e quatro por animais quanto por humanos, sobretudo varas de sessão quadrada utilizadas para fazer escravos. A liteira aqui apresentada, de tra- o transporte, presas por conjunto de ferragens ção animal, tem como procedência a Fazenda em metal, unidas na área da caixa central por Ibicaba, utilizada provavelmente ainda na ges- dois travessões dispostos perpendicularmente. tão do Senador Nicolau Pereira de Campos De origem oriental, as liteiras eram espécies de Vergueiro. Destaques do acervo | 143

Doado pela família Levy, o referido locomóvel industrialização, os locomóveis são máquinas pertenceu à Fazenda Ibicaba. A propriedade que geram pressão a partir do vapor. Podiam rural foi fundada em 1817 pelo político por- ter seu uso voltado tanto na movimentação de tuguês Nicolau Pereira de Campos Vergueiro cargas em estradas quanto na geração energia (1778-1859), sendo um dos primeiros em- para outros maquinários. Tem um uso destacá- preendimentos rurais a substituir a mão de vel na agricultura, servindo como substituição obra escrava negra pela de imigrantes europeus à propulsão de origem animal. No contexto da livres, sobretudo alemães e suíços, na década Fazenda Ibicaba, o equipamento de origem in- de 1840. Segundo tradição, o locomóvel em glesa era destinado à geração de energia, tanto questão teria sido o primeiro do tipo a su- nas oficinas como na casa de máquinas durante bir a serra de Santos. Marca do processo de o período cafeeiro. Locomóvel Inglaterra (?) - [Entre 1850 e 1890] Ferro fundido 144 | Destaques do acervo

Vale um Alqueire de Café Limpo O item corresponde a uma moeda utilizada no comér- Como colonos, os Levy conseguiram guardar um saldo Entre 1923 e 1930 cio interno desenvolvido nas propriedades rurais per- capaz de pagar suas dívidas e, com isso, tornaram-se Aço tencentes à família Levy, abarcando a Fazenda Ibicaba, comerciantes e fundaram uma instituição financeira na a Fazenda Iracema, a Fazenda São Francisco e a Fazenda cidade de Limeira, a Casa Bancária J. Levy & Irmão. Ypiranga. A moeda era trocada pelo colono a cada um Em 1890, conseguiram arrematar em hasta pública a alqueire de café limpo. Fazenda Ibicaba, ampliando a propriedade e reunindo Os imigrantes Simão e seu irmão José chegaram com grande fortuna. os pais, Jacob Levy e Babette Heuman Levy, à Colônia Graças ao grande capital gerado, a família Levy pas- Senador Vergueiro no ano de 1857 para trabalhar nas sou a incorporar outras porções de terra, tais como as lavouras da Fazenda Ibicaba sob o sistema de parceria. da Fazenda Iracema, adquirida em 1923 de Theodor Concomitante ao uso de escravos, a empresa “Vergueiro Wille & Cia; as da Fazenda São Francisco, adquirida de e Companhia”, por meio do Sistema de Parceria, finan- Salvador Paolillo e outras. Nestas propriedades, o cul- ciava a vinda de imigrantes, que tinham que trabalhar tivo do café era realizado por meio do trabalho de imi- cerca de quatro anos para quitar suas dívidas. O produto grantes que recebiam na forma de uma moeda interna gerado pela venda do café era dividido entre o colono e o própria, resquício da estrutura fiscal desenvolvida pela proprietário, ideia que valia para outras vendas, como a Casa Vergueiro. de mantimentos por parte do imigrante. Placa do Jornal O Limeirense Ca. 1900 Metal Placa dourada com inscrições em preto de identi- ficação do O Limeirense, periódico fundado em Limeira no ano de 1873 pelo médico baiano Virgílio Pires de Camargo Albuquerque. Sua origem liga-se aos discursos republicanos que se difundiam por São Paulo, sobretudo por meio de reuniões no seio dos magistrados da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, os quais impulsionaram a criação de pe- riódicos em várias cidades. Em Limeira, a primeira edição data de 14 de setembro de 1873. Inicialmente semanal, tornou-se diário a partir de 1907, porém alternando sua periodicidade ao longo dos anos, en- cerrou suas atividades no ano de 1991. Destaques do acervo | 145

Berço Ca. 1884 Madeira Berço em madeira com entalhes ornamen- Fazenda Ibicaba. José Levy Sobrinho teve tais que teria pertencido ao Major José Levy sua formação no Brasil e na Alemanha, Sobrinho. Doado por sua neta, Therezinha tendo assumido a gerência da Casa Levy Rocco, foi utilizado durante seus pri- Bancária Levy & Irmãos em Limeira. Na meiros anos na propriedade de seus pais, a cidade atuou também no campo políti- Fazenda Itapema em Limeira. co, tendo sido vereador, vice-prefeito Filho dos imigrantes Simão e Ana (1908 a 1910) e prefeito (entre 1910 e Quintus Levy, José Levy Sobrinho nas- 1913). Ainda na área, esteve envolvido ceu em Limeira no dia 17 de dezembro no Movimento Constitucionalista de de 1884 e faleceu em 1957. O nome dado 1932 e foi membro atuante do Partido ao mais velho de sete filhos do casal é Republicano Paulista (PRP). uma homenagem ao tio, José (forma Sua atuação foi também importante no aportuguesada de Jacob), que também setor agrícola, sobretudo pelo desen- imigrou para o Brasil em 1857 junto volvimento da citricultura na Fazenda com o irmão Simão para trabalharem na Itapema, bem como da sericicultura. 146 | Destaques do acervo

Conjunto de loucas e taças de cristal que pertenceu à instrução pública campineira em decorrência da ao serviço de Joaquim Ferreira Penteado (1808- fundação da Escola do Povo em 1880, instituição 1884), primeiro e único barão de Itatiba. de instrução primária, gratuita e voltada para me- Filho único do capitão-mor de São Carlos, Inácio ninos pobres. Entre seus filhos destaca-se Joaquim Ferreira de Sá, e de sua segunda esposa, Delfina de Ferreira de Camargo Andrade, o Barão de Ibitinga. Camargo Penteado, Joaquim Ferreira Penteado. O conjunto de porcelanas e taças possui o brasão nasceu em São Roque. Com 22 anos mudou-se do Barão de Itatiba, vendo-se no jogo de taças em para Campinas, SP, onde se tornou grande fazen- cristal da marca francesa Baccarat e nas porcelanas deiro já no período do café. Na cidade, construiu francesas produzidas pela Maison Charles Pillivuyt em 1878 um solar que lhe serviu de residência, (conforme inscrição “Ch. Pillivuyt e Cie. Paris. uma construção formada por duas casas geminadas Exp. 1867 – Médaille D’or”), o monograma “JFP”. levantadas por ele e pelo genro, Antonio Carlos Conforme doadora, o conjunto teria sido utiliza- Pacheco e Silva, conhecido popularmente, a par- do em uma recepção oferecida ao Imperador Dom tir da década de 1930, como Palácio dos Azujelos Pedro II quando de sua passagem por Campinas, graças aos azulejos portugueses que revestem sua o que teria ocorrido, conforme datação dos itens, fachada. Recebeu o título de Barão por decreto de entre 1875 e 1886. 18 de março de 1882, graças aos serviços prestados Jogo de Taças Paris, França – Entre 1850 e 1878 Cristal Jogo de Louça Paris, França – Entre 1867 e 1878 Cerâmica esmaltada Destaques do acervo | 147

Cadeira de braços com estrutura, assento e espal- dar em madeira com elementos vazados. Assenta em quatro pernas com seção quadrangular. Assento levemente trapezoidal e apoios de braço retos com extremidade circular, unidos ao assento. Espaldar retangular vazado com travas verticais, com cacha- ço com perfil curvo na parte central. Este apresenta em sua extensão as Armas Nacionais em baixo rele- vo. O móvel teria pertencido ao fórum de Limeira, provavelmente utilizado em sua nova sede, quando da separação com a Câmara Municipal, em prédio de estilo eclético construído entre os anos de 1912 e 1918 nas proximidades da atual Praça Toledo Barros. Cadeira Entre 1912 e 1918 Madeira e metal 148 | Destaques do acervo


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