6 Dialogando com a História Coleção História Reflexiva 2a edição Ana Carolina Krieger Daniela Sbravati Jéferson Dantas Livro Digital Florianópolis, 2023.
COLEÇÃO HISTÓRIA REFLEXIVA Copyright © 2017, by Editora Sophos Ltda. Editora Sophos Rua Cristóvão Nunes Pires, 161 / Centro www.editorasophos.com.br 88010-120 / Florianópolis / SC E-mail: [email protected] Fone: (48) 3222-8826 e 3025-2909 Catalogação na publicação por: Onélia Silva Guimarães CRB - 14/071 S276d Sbravati, Daniela Dialogando com a história / Daniela Sbravati e Jéferson Dantas. – Florianópolis : Sophos, 2009. 192p. : il. – (Coleção História Reflexiva; 6o ano) SER: Sistema de Ensino Reflexivo ISBN: 978-85-85913-71-7 Coleção História Reflexiva 1. História do Brasil. 2. História – Estudo e ensino. 3. História temática. 4. Brasil – História – Periodo colonial – 1500-1822. 5. Brasil – História – Império – 1822-1889. I. Dantas, Jéferson. II. Título. CDU: 981 FICHA TÉCNICA Supervisão Editorial Gígi Anne Horbatiuk Sedor Edição Silvio Wonsovicz Daniela Sbravati Pesquisa iconográfica Jéferson Dantas Isabel Maria Barreiros Luclktenberg Revisão Rodrigo Brasil FK Estudio Projeto gráfico e diagramação Hatsi Rio Apa Ilustração 2023 Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos ou mecânico, incluindo fotocópias e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora.
Conheça o seu livro Dialogando com a História / 6o ano MOTIVANDO A PENSAR Abre todos os capítulos da coleção Dialogando com a História e representa uma “primeira conversa” sobre um determinado tema. Serve de “aquecimento” para um debate mais amplo e qualificado. PROBLEMATIZANDO São questões propostas em torno do assunto em foco com o objetivo de levar você a pensar criticamen- te e considerar os seus diversos aspectos, atentando para os desdobramentos econômicos, políticos e so- ciais dos acontecimentos históricos e alcançando um maior domínio da complexidade que os caracteriza. COLOCANDO A MÃO NA MASSA Este é o momento culminante de cada capítulo; po- deríamos dizer que é a etapa mais empírica do processo de aprendizagem, em que professores e estudantes, li- teralmente, colocam a mão na massa. Tal proposta po- derá ser concretizada em feiras de ciências, saídas de campo (visitas orientadas a museus, sítios arqueológi- cos, arquivos históricos, comunidades indígenas e qui- lombolas etc.). Em determinadas situações, estudantes e professores poderão fazer intercâmbios com outras escolas da rede de ensino, promovendo um debate mais consistente.
Coleção História Reflexiva LINKS COM OUTRAS DISCIPLINAS Traçam relações do tema em estudo com aborda- gens do mesmo assunto sob o enfoque de outras disci- plinas; podem conter questões para pesquisa em outra área do conhecimento ou mais informações produzidas pela investigação dos profissionais de outras especiali- dades. O objetivo é que você desenvolva uma visão in- terdisciplinar do conhecimento. CONECTANDO COM O MUNDO Aqui é fundamental o exercício de intertextuali- dade, em que você, com o auxílio do(a) professor(a), buscará novas fontes de pesquisa sobre o tema es- tudado e realizará um “confronto de ideias”. As fontes de pesquisa poderão ser retiradas de sites da Inter- net, registros musicais, livros paradidáticos etc. EXERCÍCIOS NoLorem ipsum dolor sit amet, consectetuer adipis- cing elit, sed diam nonummy nibh euismod tincidunt ut laoreet dolore magna aliquam erat volutpat. Ut wisi enim ad minim veniam, quis nostrud exerci tation ullamcorper
Apresentação Dialogando com a História / 6o ano Gígi Anne Horbatiuk Sedor1 As Reflexivo – S.E.R. Coleções dos livros Didático-Reflexivos do Sistema de Ensino apresentam os conteúdos das diversas disciplinas em uma abor- dagem dinâmica, interdisciplinar, propiciando o desenvolvimento de uma vi- são crítica e ampla dos temas estudados. Objetivamos que tanto os conteúdos quanto as atividades propostas desloquem o olhar dos estudantes do ponto de vista acostumado, habitual, do senso comum, por meio do estudo ativo, investigador, movido pela curiosi- dade a respeito do mundo, estudo em que experiência vívida e embasamento teórico apresentem-se imbricados. Mais que um conjunto de respostas pron- tas, fechadas, queremos que o estudante apreenda a arte da pergunta diante do conhecimento que lhe é oferecido, que possa aprender a aprender e que tenha domínio do processo de produção de novos conhecimentos. Temos, para além do comprometimento com o desenvolvimento cogni- tivo dos estudantes, um comprometimento com a sua formação ética e polí- tica, com a preparação para o exercício da cidadania, com o aprimoramento do poder pessoal do cidadão que está, por sua vez, intrinsecamente ligado ao acesso à informação e ao preparo para julgar sua relevância e confiabilidade, ao pensar autônomo e crítico. Exercer o papel de sujeitos críticos exige a competência da compreen- são, que está vinculada ao saber escutar, observar, pensar e ao saber comu- nicar-se com o outro, dialogar. Compreender a si mesmo, ao mundo, ao outro e às interações entre esses e ser capaz de usar as diversas formas de lingua- gem são fundamentais para sermos cidadãos. Pensar, compreender e aprender autonomamente nos permite estar pre- parados para mudanças, para o imprevisto, para o novo, para a interação e a contextualização. Como veem, nosso material didático convida professores e estudantes a mudarem de perspectiva em relação ao processo de aprendizagem, passan- do de uma pedagogia da dependência para uma pedagogia da autonomia. 1. Graduada em Filosofia e Mestra em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutora em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Coordenadora Pedagógica do S.E.R., Sistema de Ensino Reflexivo.
Coleção História Reflexiva Cabem ao professor no Ensino Reflexivo as tarefas de criar, organizar e co- ordenar dinamicamente as atividades, estimulando a elaboração de conhe- cimento por parte dos alunos e o desenvolvimento da autoconfiança desses em suas competências, favorecendo seu processo de humanização, de cres- cimento pessoal e de socialização. Esse posicionamento pedagógico nos parece promissor porque estudantes envolvidos nessa proposta tendem a: diminuir a dependência da ação do professor; “demonstrar maior grau de autodeterminação e de consciência crítica; “apresentar maior capacidade de resposta perante diferentes situações; “expressar o prazer alcançado com a percepção do próprio progresso; “desenvolver o espírito científico e o gosto pela criatividade; “passar a delinear os próprios objetivos como sujeitos do pro- cesso de aprendizagem; e “organizar Comunidades de Aprendizagem Investigativa para a pesquisa de soluções para os problemas propostos. Professores, estudantes e pais reunidos em um projeto de Ensino Reflexi- vo podem modificar paradigmas do conhecimento, éticos, políticos e econô- micos, influindo no curso dos acontecimentos. Podem modificar os homens e os modos de fazer a vida. Este é o poder que provém da reflexão, da compre- ensão, da organização do pensamento e da imaginação humana. Desejamos um bom trabalho a todos! Que frutifique! Coordenação Pedagógica do S.E.R.
Dialogando com Dialogando com a História / 6o ano o(a) professor(a) Daniela Sbravati1 Jéferson Dantas2 Prezado(a) professor(a) de História, você tem em mãos um material di dático diferenciado que exigirá de sua parte muito debate, interatividade e pesquisa coletiva. Todo material didático ou, mais genericamente, o livro tem como objetivo difundir ideias, enriquecer o pensamento e, principalmente, servir de referência aos estudantes. No que tange ao conhecimento histórico escolarizado, as novas perspectivas historiográficas têm possibilitado uma diversidade teórico-metodológica que torna o(a) estudante mais ativo no pro- cesso de pesquisa. Nessa direção, espera-se que o(a) estudante domine a leitura e a interpretação de diferentes documentos e linguagens, desenvol- vendo determinadas competências cognitivas que o(a) façam se reconhecer no espaço e no tempo, além de sua importância como agente de intervenção. É nessa dimensão que a coleção Dialogando com a História do Sistema de Ensino Reflexivo (S.E.R.) se situa, ou seja, busca, sobretudo, fazer com que estudantes e professores se reconheçam como parceiros investigativos. Sa- bemos que o mundo atual tem se notabilizado pela transmissão extremamen- te ágil de informações, que parte tanto dos meios de comunicação de massa como da rede internacional de computadores (Internet). A linguagem deste livro didático está, de alguma forma, adaptada a essa realidade. Todavia, en- tendemos que os(as) professores(as) não devem, simplesmente, reproduzir o que os sites da Internet trazem como “informação histórica”, mas, sobretudo, problematizar e aprofundar todos os dados pesquisados. Afinal, a produção do conhecimento histórico na escola é uma possibilidade autêntica que exige a mediação qualificada de todos(as) os(as) professores(as) envolvidos(as). 1. Graduada em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC, 2003). Mestre em História pela Uni- versidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professora de História do Colégio de Aplicação da mesma universidade. 2 Bacharel licenciado em História (1998), Mestre em Educação (2002) e pesquisador de doutorado CNPq no Pro- grama de Pós-Graduação do Centro de Ciências da Educação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Articulador e pesquisador dos Estudos do Currículo na Comissão de Educação do Fórum do Maciço do Morro da Cruz (Florianópolis/SC). Foi professor de História nas redes estadual e municipal do estado de Santa Catarina.
Coleção História Reflexiva A coleção Dialogando com a História está dividida em quatro volumes, começando no 6o ano, tendo em vista a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, em obediência à Lei n. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. O primeiro volume que está aqui em suas mãos está dividido em 12 capítulos e trata, fundamentalmente, da história da colonização brasileira. Nossa preocu- pação foi estabelecer um diálogo/problema com os(as) estudantes, i.e., fazer com que eles ampliassem as perguntas aqui tratadas, sem cair num reprodu- tivismo estéril e desconectado da realidade presente. Da mesma maneira que precisamos estruturar a escrita da história (historiografia) com parcimônia, confronto de fontes e diversidade de análises interpretativas, em sala de aula os planejamentos ou projetos de ensino interdisciplinares devem estar coa- dunados com as pesquisas mais recentes no ensino de História. São, justa- mente, essas intermediações que devem se estreitar, tendo em vista que elas não se anulam, antes, porém, complementam-se e promovem novas possibi- lidades de investigação. Professor(a), o material didático apresentado aqui só será efetivamente discutido e trabalhado se houver envolvimento e compromisso de ambas as partes, ou seja, estudantes e professores têm tarefas e práticas de estudo/ investigação permanentes. Logo, toda a avaliação deverá ser dialógica e cri- teriosa, responsabilizando toda a equipe pedagógica da unidade de ensino. A coleção Dialogando com a História do S.E.R. é uma alternativa aos materiais didáticos pragmáticos, instrumentais e estruturalmente acadêmicos. Isso não significa, entretanto, que os(as) professores(as) não terão de se dedicar à pesquisa e ao exame de determinados temas. Enfim, importa-nos aqui uma prática comprometida dos(as) professo- res(as) em relação aos desafios em sala de aula. Isso significa ultrapassar os limites dos manuais didáticos ou práticas que dissimulam a aprendizagem consistente e indagadora. No limiar de uma história problematizadora, cal- cada no diálogo horizontal, teremos avançado consideravelmente, trazendo à baila perspectivas inovadoras que modifiquem, inclusive, os currículos por disciplinas nas escolas formais de maneira geral. Desejamos um bom início de caminhada e muito sucesso na construção do conhecimento! Fraterno abraço, os autores.
Dialogando com Dialogando com a História / 6o ano o(a) estudante Daniela Sbravati Jéferson Dantas Caro(a) estudante, você tem em mãos o livro didático do 6o ano do Ensino Fundamental, que vai lhe possibilitar a investigação permanente do conheci- mento histórico, sempre apoiado em pesquisas orientadas e com o auxílio de colegas e professores. Você agirá como o “grande detetive” deste processo, anotando todas as suas indagações, evidências ou indícios no Diário de Bordo. O Diário de Bordo, citado no parágrafo anterior, é mais do que um ca- derno de registro das aulas de História, representa, sobretudo, a “memória” dos encontros, as análises interdisciplinares, o desenvolvimento de ativida- des desafiadoras e as elaborações conceituais sobre a colonização europeia imposta ao Brasil. O Diário de Bordo é um companheiro de aventuras; nele estão contidas certas pistas que o ajudarão a buscar novas interpretações para as perguntas de viés histórico. Ele também é construído por você, e as informações ali contidas são socializadas em momentos específicos (feiras de ciências, gincanas culturais, projetos interdisciplinares etc.). E lembre-se de que os grandes detetives, investigadores ou cientistas sociais sempre le- vavam consigo um diário de anotações, muito semelhante ao seu Diário de Bordo. Logo, o livro que você está recebendo pretende estabelecer – de forma lúdica e participativa – as relações entre a historiografia nacional (a escrita da História) e o ensino de História. Para tanto, você e o(a) professor(a) desen- volverão atividades que sejam, efetivamente, significativas do ponto de vista da apropriação do conhecimento histórico. Um bom exemplo são as saídas de campo, sugeridas em determinados capítulos. Todas as saídas de cam- po ou atividades de pesquisa orientada vão exigir roteiros investigativos e problematizadores; em outras palavras, é fundamental que seus professores estabeleçam os objetivos que deverão ser alcançados em cada trabalho de campo ou de pesquisa. Caso contrário, corre-se o risco de termos cópias de textos de livros didáticos, paradidáticos ou até mesmo da Internet
Coleção História Reflexiva Um(a) estudante pesquisador(a) necessita “refinar” seu olhar da seguinte maneira: fazer relações coerentes entre os problemas que se apresentam no presente com o passado; “buscar as fontes necessárias para a interpretação de um deter- minado fenômeno histórico e indagar sobre o seu conteúdo num determinado contexto; “registrar no Diário de Bordo expressões ou palavras desconhe- cidas para que se aprimore o vocabulário; “entender que o conhecimento histórico deve estar dialogando com outras áreas do conhecimento (Filosofia, Geografia, Ciên- cias, Matemática, Português, Artes etc.); e “procurar diversificar a pesquisa em outras fontes históricas não muito usuais, tais como fotografias, músicas, iconografias, uten- sílios de uso doméstico etc. Nessa direção, lidar com o saber histórico exige uma compreensão agu- çada dos acontecimentos, já que a cultura da imagem ou do audiovisual, além de ressignificar os lugares de memória, também estabelece silên- cios, ditos/não ditos, além da fragmentação. Enfim, esperamos que você participe ativamente das propostas didáticas sugeridas na coleção Dialogando com a História do Sistema de Ensino Refle- xivo (S.E.R.) e que aprenda a questionar, criticamente, o mundo em que vive. Fraterno abraço, os autores. Nessa direção, lidar com o saber histórico exige uma compreensão agu- çada dos acontecimentos, já que a cultura da imagem ou do audiovisual, além de ressignificar os lugares de memória, também estabelece silêncios, ditos/ não ditos, além da fragmentação. Enfim, esperamos que você participe ativamente das propostas didáticas sugeridas na coleção Dialogando com a História do Sistema de Ensino Refle- xivo (S.E.R.) e que aprenda a questionar, criticamente, o mundo em que vive. Fraterno abraço, os autores.
Sumário Unidade 1 O estudo da história e os primeiros habitantes do Brasil Capítulo 1 - História: fonte para compreender o passado e o presente 12 Dialogando com a História / 6o ano 20 Capítulo 2 - As origens do ser humano e a Pré-História 29 Capítulo 3 - Os primeiros habitantes da América e a diversidade das nações nativas do Brasil Unidade 2 Civilizações antigas: fluviais e clássicas Capítulo 4 - Civilizações Fluviais: Mesopotâmia e Egito 42 Capítulo 5 - Civilizações Clássicas: Grécia e Roma 53 Capítulo 6 - Religiões Monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo 77 Unidade 3 Mundo Medieval e civilizações pré-colombianas Capítulo 7 - Civilizações da América: Maias, Astecas e Incas 91 Capítulo 8 - Idade Média: principais características do Mundo Feudal 105
1Unidade O estudo da história e os primeiros habitantes do Brasil
Capítulo História: fonte para compreender o 1 passado e o presente MOTIVANDO A PENSAR Dialogando com a História / 6o ano A história é a ramo do conhecimento que investiga o passado do ser huma- no em sociedade, suas transformações, lutas, derrotas e vitórias. Quando es- tudamos história procuramos compreender como chegamos até o momento presente enquanto sociedade, as lições que as gerações pretéritas deixaram para nós e como podemos construir uma sociedade mais justa e inclusiva. Através da história podemos conhecer também outras culturas, crenças e valores, compreendendo melhor o mundo em que vivemos, o que é fundamen- tal para construirmos uma cultura de respeito ao diferente e de valorização da pluralidade. Enfim, através da História podemos nos perceber como partícipes da construção de um mundo comum, e como agentes de transformação so- cial, assim como um dia foram nossos antepassados. Por isso é importante destacar que a história é feita não apenas por ho- mens e mulheres famosos, políticos, reis, rainhas, faraós, filósofos e cientistas de destaque, mas também por pessoas comuns que através de suas vidas aju- daram a construir o mundo em que vivemos, quer seja em seus aspectos bons ou ruins. Você já parou para pensar sobre a história da sua família? De onde vie- ram os seus antepassados? Se eram nativos da América (indígenas) como te- ria sido o contato com os primeiros portugueses? E como se sentiram ao ver seu território sendo colonizado? Ou se eram imigrantes, por que deixaram sua terra natal para virem ao Brasil? Seriam eles africanos que foram sequestra- dos para servirem de mão de obra escrava? O quanto não foram corajosos por enfrentar tudo o que lhes esperava! Ou teriam sido europeus que buscavam melhores oportunidades de vida? Quais sonhos trouxeram em suas bagagens ao cruzar o oceano? Não à toa que a palavra história (que vem do grego) significa investigação. Afinal, para se responder a essas perguntas é necessário procurar respostas in- vestigando o passado, exercício este que nem sempre é fácil, visto que a maioria de nossos antepassados não estão mais aqui para nos dar seu testemunho.
Coleção História Reflexiva Por isso é necessário pensar quase como PROBLEMATIZANDO um detetive, um investigador quando se pre- tende investigar o passado, juntando vestí- Apesar da história oficial gios e analisando pistas, exercício este que ser escrita por historiadores segue determinadas regras e procedimentos, profissionais, ela é vivida e afinal, a história é um campo do conhecimen- construída por sujeitos histó- to das Ciências Humanas, e por isso possui ricos, ou seja, pessoas como uma metodologia própria. você, seus colegas e familia- res, que possuem sonhos, lu- O CONHECIMENTO HISTÓRICO tas e desafios. Portanto cabe a nós a responsabilidade de A produção do conhecimento histórico fazermos do presente a his- se dá tendo uma pergunta como ponto de tória que queremos deixar partida: Por que os portugueses se lançaram para as futuras gerações. nas Grandes Navegações? Como surgiram as diferentes religiões do mundo de hoje? Documento de Inventário Por que as mulheres conquistaram o direito de Joaquim Caetano da ao voto apenas no último século? É a vonta- Silva, de 1862, na cidade de de de compreender eventos e características Desterro. Acervo do Arquivo do passado que faz com que os historiadores Central do Tribunal de Justi- analisem o que chamamos de fontes históri- ça de Santa Catarina. cas, ou seja, vestígios do passado como fo- tografias, jornais, monumentos e relatos que contribuam na construção destas respostas. Por ser uma análise investigativa, a his- tória não trabalha com verdades absolutas, incontestáveis e universais, mas sim com in- terpretações e visões de mundo que são in- fluenciadas pelo ponto de vista do investigador. Por isso um mesmo fato histórico pode ter muitos pontos de vista, dependendo de quem o analisa e com quais fontes históricas o faz. Isso ocorre também no nosso dia-a-dia. Se você for relatar como foram suas aulas do dia de hoje, com certeza o relato terá se- melhanças e diferenças do relato de seu co- lega. O que não significa que ambas versões não estejam corretas e que não possam ser complementares. Por isso ao estudar história, quanto mais fontes históricas recorremos para desbravarmos o passado, e quanto mais pontos de vista analisamos para entendê-lo, melhor e mais crítica será nossa visão sobre os acontecimentos. 14
VOCÊ SABIA? Dialogando com a História / 6o ano A história enquanto campo de estudo surgiu na Grécia Antiga, sendo Heródoto considerado o pai da História, por ter procurado interpretar de forma objetiva e ordenada, os acon- tecimentos do passado. Até então, os gregos contavam seu passado de forma épica, colocando na vontade dos deuses a força que movia os acontecimentos históricos. No livro digital, em Pesquisas, saiba mais sobre Heródoto. Para facilitar o estudo desta disciplina, os historiadores dividiram os acontecimentos em períodos de longa duração, que englobam características sociais e econômicas que vigoraram durante determinado espaço de tempo. Assim, para se ter uma noção cronoló- gica da história, basta analisar as diferentes idades em que ela foi dividida. Cada período é iniciado com um acontecimento marcante, sendo o início dessa linha do tempo a inven- ção da escrita, importante tecnologia para o registro de ideias. LINHA DO TEMPO DA HISTÓRIA 15
Coleção História Reflexiva Outro ponto importante nos estudos his- PROBLEMATIZANDO tóricos é a questão do tempo. Imagine estudar a história da humanidade, do Brasil, ou mesmo Apesar da história oficial da sua família, sem situar os acontecimentos ser escrita por historiadores cronologicamente. Afinal, todo evento para profissionais, ela é vivida e ser melhor compreendido, deve ser contextu- construída por sujeitos histó- alizado, ou seja, ser analisado dentro do con- ricos, ou seja, pessoas como texto cultural e econômico no qual aconteceu. você, seus colegas e familia- res, que possuem sonhos, lu- Como muitas datas, por serem distantes, tas e desafios. Portanto cabe não podem ser averiguadas com precisão, a nós a responsabilidade de como por exemplo o ano em que determinado fazermos do presente a his- objeto da Roma Antiga foi confeccionado, os tória que queremos deixar historiadores costumam situar os aconteci- para as futuras gerações. mentos dentro de uma margem de tempo de 100 anos, ao qual chamamos de século. Dessa No livro digital, em Pes- forma, mesmo que um fato, objeto ou evento quisas, saiba mais sobre: não possa ser precisado quando de sua ocor- título do tema. rência, ainda assim é possível situá-lo na linha No livro digital, em Pes- do tempo da História, não perdendo com isso quisas, aprenda a situar uma noção cronológica dos fatos. Vale res- as datas ao século aos saltar que os séculos geralmente são sempre quais pertencem. escritos em numerais romanos. Caso você queira revisar como são os nu- merais romanos, basta acessar o nosso portal SER e conferir a tabela que disponibilizamos para impressão e consulta. Também prepara- mos uma explicação muito legal sobre como transformar ano em século, que irá te ajudar a fazer essa conversão de forma rápida e cer- teira, de acordo com as regras abaixo. CÁLCULO DE SÉCULOS SÉCULO XX a.C. Logo, o século XX teve Início início no ano de 1.901 e acabou no ano 2.000. 2.000 a.C. Se o século em questão Final fosse XX a.C. faríamos o 1.901 a.C. mesmo processo para descobrir o ano de início e a de término, mas, por ser antes de Cristo, a data maior vem antes da menor. Logo, o século XX a.C. começou em 2.000 a.C, e terminou em 1.901 a.C. Estátua em homenagem ao historiador grego Heródoto 16 (século V a.C) considerado o pai da História.
COLOCANDO A MÃO NA MASSA Agora que já sabemos um montão de coisas so- Dialogando com a História / 6o ano bre a história, enquanto ciência que investiga o pas- sado para melhor compreender o presente, que tal botarmos a mão na massa para sentirmos o gostinho de como é ser um historiador/historiadora? Você sabia que uma importante fonte para o estu- do do passado e do presente é a história oral? Este tipo de pesquisa consiste em entrevistar pessoas, famílias e grupos hu- manos sobre suas experiências e lembranças, fazendo assim um registro escrito ou gra- vado para posterior análise e se necessário, complementação com fotografias dados e documentos. A história oral é muito utilizada para estudar a vida cotidiana das pessoas, assim como suas impressões sobre a vida e o impacto de determinados acontecimentos em suas re- alidades. É também uma forma muito interessante de se investigar tradições, crenças e hábitos passados de geração em geração. Tendo em vista a importância da história oral, propomos a seguinte atividade: Você irá entrevistar o membro mais antigo de sua família que você tenha contato. A entrevista pode ser feita com auxílio do celular ou computador, caso você não possa es- tar ao lado dessa pessoa no momento da conversa. Antes da entrevista você deverá organizar um questionário com as indagações que 17 pretende descobrir. Você pode investigar como era a infância dessa pessoa, o que mais mudou na sua vida ao longo dos anos. Suas principais dificuldades e vitórias. Se existe alguma história de família que ela acha importante deixar registrado. O que mais impactou em sua vida com a chegada da tecnologia. O que ela acredita que de mais valioso apren- deu com seus anos de experiência etc. Lembre-se, antes de mais nada, de explicar que esta entrevista irá gerar um relatório a ser apresentado para os seus colegas, e que por isso é importante pedir permissão para compartilhar um pouquinho da experiência de seu familiar com o grupo de alunos. Após a coleta dos dados, você deverá analisá-los organizando-os em forma de reda- ção, mapa mental, ou para serem apresentados em cartolina, canva, power point, como achar mais interessante. Você deverá complementar a entrevista com fotos da época, o que acontecia no Brasil ou no seu estado naquele período, bem como o que outros fami- liares lembram sobre os episódios relatados. Esta é uma forma não apenas de exercitar o pensar histórico, mas também de conhe- cer um pouco mais sobre suas raízes e servirá para guardar um pouquinho da vida de seu ente querido durante muitas e muitas gerações.
INVESTIGANDO E REFLETINDO A partir de tudo que aprendemos neste capítulo, vamos exercitar um pouco os principais aspectos e questões relacionadas à História. 1. Você considera importante investigar os acontecimentos sociais, políticos e culturais que estão a sua volta? Por quê? 2. Você sabia que o fato de viver no Brasil é fruto da história de seus antepassados? Quais foram as principais circunstâncias da trajetória de sua família que fizeram com que você chegasse até aqui? 3. O que são fontes históricas e por que são elas as principais ferramentas de trabalho do historiador? 4. O que é história oral? Em quais situações ela é muito utilizada? 5. Quais são os períodos em que a linha da história tradicional se divide? 6. Por que esta divisão é criticada por muitos historiadores? 7. O que é século? Como situamos o século de determinada data, como 1975? Coleção História Reflexiva APROFUNDANDO O PENSAR As palavras deste caça-palavras estão escondidas na horizontal, vertical e diagonal, com palavras ao contrário. EEAEGTA I TYTOS F F SEY SCSHA AGSNR A E V E NEH T ECNSODAS SA P E TNAY E S AGE A AOA L SWS I B AG I É I EOTDE F HHADS A TMACA V OÃÇAG I T S E VN I ODUE E V DWE I UOE I O T R D E L T A H N RHVSYAT L I CEUOT T I R F H TMDUOEGS R U F L L L T A T X DAMEOA E NDORMNNNA V A I D ÉMD E A B A R A Y S SWK I S U SOCONT EMPOR ÃNE A B ANTEPASSADOS CONTEMPORÂNEA INVESTIGAÇÃO MÉDIA ANTIGA ESCRITA MODERNA SÉCULO 18
FINALIZANDO SEM FINALIZAR Imagine que você é um indígena da América e que vai construir uma linha do tempo da História utilizando como marco para os períodos eventos importantes sob seu ponto de vista. Monte como você faria esta divisão, renomeie os períodos e faça este exercício de analisar a história sob outros pontos de vista. Dialogando com a História / 6o ano Agora que você já conheceu um pouco mais sobre o ofício do historiador e os desafios do saber histórico, que tal montar um mapa mental que resuma os principais pontos deste capítulo?! Capriche pois você poderá usar este resumo sempre que quiser retomar este conteúdo. 19
As origens do Capítulo ser humano e a pré-história 2 Coleção História Reflexiva MOTIVANDO A PENSAR Prepare-se para uma viagem pelo primeiro período da nossa linha do tempo: a Pré-História. Primeiramente é importante contextualizar que até o século XX os historiadores acreditavam que as fontes mais importantes para se analisar o passado eram as fontes escritas. Por isso, a invenção dessa forma de linguagem foi utilizada como marco para o início da História. Como consequência, tudo o que aconteceu antes da escrita ser desenvolvida, há aproximadamente 3.500 a.C (na região do Oriente Médio), é classificado como antes da História, ou seja, Pré-História. Isso não significa, no entanto, que este período seja menos importante ou que os povos ágrafos (que não desenvolveram a linguagem escrita) não tenham cultura ou sejam atrasados. Muito pelo contrário, o gênero humano viveu grande parte de sua trajetória neste período, fazendo importantes descobertas que garantiram a sobrevivência de nossa espécie, como o domínio do fogo, a agricultura e a metalurgia. Por isso é necessário pensar quase como um detetive, um investigador quando se pretende investigar o passado, juntando vestígios e analisando pistas, exercício este que segue determinadas regras e procedimentos, afinal, a história é um campo do conhecimento das Ciências Humanas, e por isso possui uma meto- dologia própria.
PROBLEMATIZANDO TEORIAS SOBRE O SURGIMENTO Apesar da explicação bí- DO SER HUMANO blica para o surgimento da vida ser muito conhecida, quais ou- Antes de analisarmos a Pré-História tras teorias criacionistas expli- em si, o início de nosso estudo deve re- cam este fenômeno? Que tal cair sobre o surgimento do gênero homo você pesquisar sobre como (ao qual pertencemos). Desde os tempos outros povos e religiões expli- mais antigos a pergunta sobre “quem so- cam a origem da vida? mos nós e da onde viemos?” acompanha homens e mulheres e para respondê-la muitas teorias foram formuladas. As mais antigas trazem como expli- cação mitos que relacionam a vontade de diferentes deuses (de acordo com a cultura) com a criação da Terra e de tudo o que nela existe. São teorias baseadas princi- Dialogando com a História / 6o ano palmente na religiosidade e vêem em uma Gênesis: a Semana da Criação força sobrenatural o poder da criação. No terceiro dia No quarto dia criou Em nossa sociedade cujo cristianismo as plantas... o sol, a lua e as é a religião predominante, a teoria cria- estrelas... cionista bíblica, é a mais conhecida. Nela, No segundo criou os Deus que era o princípio de tudo e o verbo céus... No quinto, os criador, manifestou sua vontade de fazer animais... surgir a luz, dando início ao processo de criação de nosso planeta que teve como ápice o surgimento do primeiro homem, feito de barro, à imagem e semelhança do próprio Deus. O nome desse homem era No primeiro No sexto Adão e o de sua futura companheira, a pri- dia Deus dia criou o criou a luz... homem... meira mulher, Eva. Segundo o relato Bíblico, a sequência para o surgimento da vida se deu conforme E no sétimo dia Ele descansou. a imagem ao lado: Outra forma de explicar a origem do mundo é através da ciência. Neste campo a teoria que ganhou mais notariedade e que ainda hoje prevalece no campo científico é o evo- lucionismo. O principal representante desta corrente teórica é o cientista e naturalista inglês Charles Darwim (1809-1882). Sua teoria passou a ser formulada a partir da viagem marítima que participou a bordo do navio Beagle, entre os anos de 1831 a 1836. Durante esta viagem que percorreu todo o globo terrestre, Darwin coletou fósseis, plantas e registrou a imagem de animais exóticos de diferentes partes do mundo (Darwin era um ótimo de- senhista). 21
Coleção História Reflexiva De volta à Inglaterra, Darwin analisou Darwin publica o resultado de suas pesquisas todo o material confeccionado e chegou a em 1859 no livro “A origem das espécies e a uma conclusão revolucionária: ao contrário seleção natural”. das teorias criacionistas, onde as espécies foram criadas tal qual as conhecemos hoje, No seu livro digital, os animais, plantas e o próprio ser humano em animações veja Darwin são frutos de um processo de seleção natural. falando sobre sua vida e Esta seleção se dá pela sobrevivência das es- sua teoria. pécies que melhor se adaptam às condições ambientais aos quais estão inseridas. E as ca- racterísticas que possibilitaram esta sobrevi- vência são passadas de geração em geração fazendo com que as espécies evoluam, ou seja, se transformem ao longo do tempo. Isso fica muito claro com o exemplo das girafas, cuja principal característica é o pes- coço alongado. Você sabia que através de vestígios arqueológios, Charles Darwin cons- tatou que nem sempre foi assim? As girafas de milhares de anos atrás tinham o pescoço mais próximo ao que seria o de um zebra ou cavalo. Mas com as mudanças climáticas sofridas no continente africano, a vegetação passou a secar, formando as savanas. Como o bioma de savana possui menos vegetação verde em abundância, as girafas passaram a buscar alimento nos galhos das árvores e neste processo tinham vantagem as que possuíam um pescoço maior, pois al- cançavam tanto os galhos baixos quanto os altos. Com isso, elas tinham mais chances de sobreviver se adaptando a esta mudança ambiental. Como consequência, ao reprodu- zirem-se, passavam para a próxima geração a característica de pescoço alongado, tal qual as conhecemos hoje. É importante destacar que a conclusão de que as espécies evoluem passando por mudanças, fruto da seleção natural (no pro- cesso de adaptação ao meio ambiente), não é exclusiva de Darwin, mas também foi com- partilhada por outro importante cientista do século XIX, Alfred Russel Wallace (1823-1913). No princípio a teoria evolucionista foi alvo de duras críticas da comunidade científica e 22
Darwin foi ridicularizado pela imprensa, mas No livro digital, em Pes- Dialogando com a História / 6o ano hoje esta é uma das explicações científicas de quisas, saiba mais sobre maior alcance quando o assunto é a origem os Sapiens Sapiens. das espécies, inclusive a do gênero humano. A partir desses E aí, ficou curioso(a) para saber mais sobre vestígios, é possível estimar a as espécies de hominídios da figura ao lado, existência humana em cada até chegar ao homo sapiens? Você sabe o que significa a palavra sapiens que caracteriza continente. a nossa especie? É só direcionar a câmera do seu celular no QR code ao lado e você poderá 23 assistir a um video muito ilustrativo que irá tra- zer as principais características de cada uma dessas espécies de hominídios. ESCREVENDO A HISTÓRIA Uma vez que conhecemos as pricipais correntes que procuram explicar o surgimento da vida na Terra, cabe agora compreender como os historiadores pesquisam e analisam o período que compreende os surgimento dos homo sapiens (há aproximadamente 300 mil anos atrás) até a invenção da escrita há mais de 5 mil anos. Como este é um longo período sem fontes escritas, os principais vestígios utilizados para a pesquisa são os achados arqueológicos. Veja alguns exemplos de fontes que dão pistas sobre os aconteci- mentos na pré-história. Animais e plan- tas fossilizados, ossos e múmias. Restos de cerâ- mica, moedas e outros utensílios.
Coleção História Reflexiva Restos, adornos e LINK COM GEOGRAFIA instrumentos para Fósseis são restos ou caça e pesca. vestígios de animais e vege- tais preservados em rochas e Restos de foguei- dão indícios de como ocorreu ras e coprólitos a “evolução” dos seres vivos. (excrementos Como será que ocorre o pro- fossilizados), pó- cesso de fossilização? O que len, sementes ou é possível descobrir por meio outros detritos. dos fósseis? Pinturas, dese- PROBLEMATIZANDO nhos, inscrições rupestres, escul- Afinal, como pensar em turas em metal fontes em épocas em que ou argila, cons- não havia a escrita? truções etc. O período que compreende a pré- -historia foi dividido pelos historiadores de acordo com as mudanças tecnoló- gicas nos artefatos utilizados para a caça e proteção. Três características marcaram a arte da confecção destas ferramentas: o lascamento das pedras, o polimento das mesmas,e o desenvol- vimento da metalurgia como matéria prima para a confecção de artefatos mais cortantes e versáteis. Ponta de lança de pedra lascada Ponta de lança de pedra polida Ponta de lança feita de bronze 24
Dessa forma os períodos pré-históricos são: PROBLEMATIZANDO Dialogando com a História / 6o ano Paleolítico (Idade da Pedra Lascada): Teve início Nem todos os grupos com o surgimento do gênero homo há aproxima- humanos que viveram no damente 2 milhões de anos atrás, chegando à período cronológico com- nossa espécie homo sapiens. Nossos ancestrais preendido como Pré-Histó- deste período eram nômades, ou seja, não pos- ria passaram pelas mesmas suíam moradia fixa migrando de acordo com a etapas de desenvolvimento, disponibilidade de caça e alimentos para coleta. descritas nos blocos acima. O uso de instrumentos de madeira, ossos e pedra Cada povo tem a sua história lascada garantiu o fornecimento de proteína ani- e a sua trajetória particular. mal através da caça e da pesca. Nesse período Ainda hoje encontramos cul- houve o domínio do fogo, importante elemento turas muito ricas e comple- para garantir a sobrevivência humana quer seja xas, que não passaram pelo permitindo a iluminação à noite, o aquecimento no domínio da metalurgia, ou inverno e, principalmente, o cozimento da carne, que complementam a agri- possibilitando uma digestão de melhor qualida- cultura com a caça, pesca de, visto que o calor intenso mata grande parte e coleta de alimentos. Você de microorganismos presentes em animais in- saberia citar algum povo ou fectados e que podem prejudicar a saúde humana cultura que possúi uma traje- como vermes, vírus e bactérias. tória histórica diversa ao que citamos acima? Que tal pes- Neolítico (Idade da Pedra Polida): Teve início quisar e compartilhar o resul- com o fim do período Paleolítico, há aproxima- tado com seus professores e damente 12 mil anos atrás, quando homens e colegas? mulheres passaram a confeccionar objetos de pedra polida, mais bem acabados e resistentes, 25 assim como a arte da olaria (confecção de ob- jetos de barro). Neste período ocorreu uma im- portante descoberta que marcaria para sempre o estilo de vida da humanidade: a agricultura. Pela primeira vez na história, percebeu-se que a semente tem a potência da vida, e que plantan- do-a é possível obter alimento, das mais diveras espécies cultivadas. Com isso, os grupos huma- nos passaram a cultivar seu alimento e também a domesticar animais para criação e consumo, fa- zendo com que se sedentarizassem (tornassem fixos no território), pois não mais dependiam ex- clusivamente da caça e da coleta. Dessa forma, surgirão as primeiras aldeias e vilas e a troca de mercadorias excedentes (escambo). A agricul- tura, a domesticação de animais, assim como o modo de vida sedentário caracterizaram o que os historiadores denominam de Revolução Neo- lítica. O período Neolítico se extendeu até cerca de 6 mil anos atrás, com a invenção da escrita.
Coleção História Reflexiva Idade dos Metais: Inicou-se com o desenvolvimento da metalurgia há cer- ca de 8 mil anos atrás. O primeiro metal a ser utilizado foi o cobre, que era derretido em fornos e coloado para esfriar em moldes de pedra, possibili- tando a confecção de estatuetas, enfeites e utensílios domésticos. Com o tempo percebeu-se que a mistura de metais poderia originar objetos mais cortantes e resistentes. É o caso do bronze que passou a ser produzido a partir da mistura (liga metálica) entre o cobre e o estanho. Este metal pos- sibilitou a fabricação de lanças, espadas e machados com maior poder de corte. Já o ferro, importante metal para a fabricação de armas ainda mais resistentes, assim como instrumentos agrícolas, será desenvolvido apenas há 1400 anos atrás, quando os fornos alcançavam temperaturas elevadíssimas possibilitando o manuseio deste elemento. CONECTANDO COM O MUNDO Apesar de não terem deixado fontes escritas, os grupos humanos do período pré- -histórico deixaram registros artisticos que até hoje fascinam e intrigam os estudiosos. Estamos falando das inscrições e pinturas rupestres. O termo rupestre significa cons- truído em rocha. Logo, podemos concluir que estamos falando de desenhos e inscrições gravados em pedras. Estas manifestações artísticas são encontradas nas mais diversas regiões do mundo e retratam tanto animais como bisões e mamutes, formas geométricas e, um pouco mais raras, desenhos representando formas humanas. Para a pintura utilizavam-se misturas com pigmentos de plantas, terra e restos de car- vão vegetal. Já quando inscritos na pedra, o método era o de picoteamento, através da criação de depressões na rocha feitas com um objeto pontiagudo, martelado ou raspado contínuamente até gravar o formato desejado. Ainda hoje os arqueólogos e historiadores não sabem ao certo a finalidade destes desenhos e símbolos. Provavelmente vão muito além da manifestação artística, podendo ter sido utilizados em rituais mágicos para um bom período de caça, abundância de ali- mentos ou mesmo para demarcação do território. Que tal exercitar o seu olhar de historiador e analisar algumas incrições e pinturas ru- pestres, pesquisando informações sobre elas (a partir das pistas deixadas) assim como criar hipóteses para o seu signifcado? Mãos à obra para preencher suas fichas de pes- quisa de campo! Descrição da imagem: Local onde foi encontrada: Parque Nacional da Serra da Capivara. Possível significado: 26
Descrição da imagem: Inscrição rupestre feita Dialogando com a História / 6o ano sobre pedra através de picoteamente, com figuras geométricas feitas através de linhas, formando uma imagem abstrata. Local onde foi encontrada (dica: em numa praia no sul do Brasil): Possível significado: Descrição da imagem: Local onde foi encontrada: Covas de Altamira, Espanha. Possível significado: INVESTIGANDO E REFLETINDO Agora que você já conhece as principais teorias sobre o surgimento do ser humano e como os primeiros grupos viveram no longo período que antecedeu a escrita, que tal re- gistrar todo esse conhecimento respondendo em seu caderno as perguntas de revisão? 1. De que forma as teorias criacionistas explicam o surgimento da vida na Terra e o que 27 todas elas tem em comum? 2. Qual a teoria criacionista mais conhecida nos dias atuais e qual livro a fundamenta? 3. Qual a principal diferença entre o criacionismo e a teoria evolucionista? 4. O que Charles Darwin quis dizer com seleção natural? Em qual importante obra ele relata suas conclusões acerca da origem da vida? 5. Diferencie a expressão pré-história de história. 6. Quais são as principais fontes utilizadas para se analisar o período pré-histórico? 7. Monte uma linha do tempo com a divisão da Pré-História e coloque em baixo de cada período duas principais características sobre ele.
Coleção História Reflexiva 8. Conceitue: nomadismo e sedentarismo. 9. Qual foi a principal invenção do período Paleolítico? De que forma esta tecnologia contribuiu para a sobrevivência do gênero homo? 10. Explique o que foi a Revolução Neolítica e de qua forma ela impactou no modo de vida dos seres humanos. 11. Quais os principais metais utilizados para fazer instumentos no início da metalurgia (Idade dos Metais)? Ainda hoje a metalurgia está presente no nosso dia-a-dia. Cite três objetos que utilizamos e que são feitos de metal. 12. Por que não é correto afirmar que todas as culturas passaram pelos estágios des- critos na divisão tradicional da Pré-História? 13. Escreva um parágrafo sobre como seria sua vida, se você tivesse nascido há sete mil anos atrás, citando diferenças e semelhanças. Dica: como seria sua alimentação, sua moradia, seus hábitos? 14. Pesquise sobre a belíssima Cueva de las Manos, na Arrgentina, e faça um desenho sobre este achado arqueológico. E que tal fecharmos este capítulo com chave de ouro colorindo o desenho baseado nas pinturas rupestres da Cova de Altamira na Espanha? 28
Capítulo Os primeiros habitantes da América 3 e a diversidade das nações nativas do Brasil MOTIVANDO A PENSAR PROBLEMATIZANDO Dialogando com a História / 6o ano Nos dias de hoje é praticamente con- Uau! Como era o Brasil senso entre os cientistas de que os pri- na pré-história? Quais ani- meiros homo sapiens surgiram no conti- mais habitavam-no? Como nente africano há aproximadamente 200 era o relevo, a vegetação e mil anos e a partir deste continente es- o clima? palharam-se também pela Europa, Ásia e Oceania. Essa migração foi ocasionada por disputas de território, busca por cli- mas mais amenos, animais para caça, ali- mentos e outros recursos naturais. Você sabia que de todos os conti- nentes habitados, a América foi o último a receber nossa espécie? Aqui não en- contramos exemplares dos demais homi- nídios, pois quando os primeiros grupos humanos chegaram, as demais espécies de homo já haviam se extinto. Você já parou para pensar em como esses primeiros habitantes chegaram à América, se um vasto oceano nos separa dos demais continentes? E como seria a fauna e flora originárias, que eles tiveram o privilégio de entrar em contato?! É isto o que vamos descobrir neste capítulo, que terá direito à dinossauros, megafauna e muitos outros achados arqueológicos. Também conheceremos um pouco mais sobre a cultura dos povos que descendem diretamente destes primeiros habitantes.
Coleção História Reflexiva NOSSOS PRIMEIROS HABITANTES No livro digital, em Pes- quisas, saiba mais onde Há mais de 12 mil, antes mesmo dos encontrar fósseis de exem- primeiros humanos chegarem, o conti- plares da megafauna. nente americano foi habitanto por ani- mais de grande porte, conhecidos como megafauna. Estamos falando de pregui- ças gigantes, mamutes, mastodontes, ti- gres dentes-de-sabre entre outros. O clima com baixas temperaturas, ocosionado pelo período conhecido como Era do Gelo, há 20 mil anos atrás, foi importante para formar o habitat ide- al para estes animais, pois locais como a região amazônica deram espaço para savanas e cerrados, permitindo a loco- moção de animais de grande porte, sem que ficassem presos entre arbustos e ár- vores. Você deve estar se perguntando por que animais tão interessantes e im- ponentes entraram em extinção. A ver- dade é que ainda não temos uma res- posta definitiva para este mistério, mas pesquisas indicam que o aumento das temperaturas, com o fim da Era Gacial (há aproximadamente 11 mil anos atrás), ocassiounou mudanças na vegetação, que passou por um proceesso de for- mação de matas e florestas mudando o habitat ideal para a sobrevivência destas espécies. Com mais árvores, predadores como o próprio ser humano (que já havia migradao para a América) passaram a caçar com facilidade estes animais, oca- sionando sua gradativa extinção. Ficou curioso para saber mais so- bre este assunto? Que tal ir para o livro digital e conferir o artigo que separamos, diretamente do Museu Nacional/ UFRJ, onde encontram-se fósseis de exempla- res da megafauna? 30
Agora que você já sabe um pouco sobre a LINK COM GEOGRAFIA megafauna, vamos para mais um dado interes- sante sobre o continente em que habitamos. O Vale dos Dinossauros Muito antes das preguiças gigantes e dos ti- é um dos mais importantes gres dentes-de-sabre, outros animais de peso sítios arqueológicos existen- viveram aqui, há milhões de anos atrás. Esta- tes e onde se registra a maior mos falando dos dinossauros! É isso mesmo, incidência de pegadas de a América é repleta de fósseis destes animais. dinossauros no mundo, com A Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) rea- mais de 80 espécies diferen- lizou uma reconstituição computadorizada de tes catalogadas. O sítio com- um dinossauro, feita a partir de fósseis cole- preende uma área de mais de tados em rochas do período triássico (da for- 700 km2, abr ngendo aproxi- mação da região de Santa Maria, no município madamente 30 localidades de Agudo, no Rio Grande do Sul). Acredita-se no alto sertão da Paraíba. Em que esse “simpático” dinossauro tenha pelo quais outros locais do Brasil menos 228 milhões de anos. Ele foi batizado já foram encontrados fósseis de Dino da Ulbra! de dinossauros? Reconstituição do ‘Dino da Ulbra’ por Dialogando com a História / 6o ano computação gráfica. 31
Coleção História Reflexiva O SER HUMANO NA AMÉRICA Bom, mas nem só de animais se fez a América! Agora vamos nos ater um pouco sobre a história dos povos e das culturas que habitaram o Brasil antes da chegada dos portu- gueses. Pesquisas arqueológicas, geológicas e linguísticas indi- cam que o continente americano começou a ser povoado entre 20 mil e 35 mil anos atrás, embora alguns pesquisado- res proponham 50 mil anos. Uma hipótese tradicional parte do princípio que os grupos humanos oriundos da Mongólia e da Sibéria (Ásia) pene traram no continente americano pelo Estreito de Bering há cerca de 12 mil anos. Na ocasião, este estreito se encontrava emerso, formando uma gigantesca ponte de gelo e rocha devido à diminuição do nível das águas do mar produzida pela última glaciação, que terminou há 10 mil anos atrás. Outra hipótese estabelece que os primeiros seres humanos chegaram à América em migra- ções esporádicas, navegando pelo Pacífico, vindo por via marítima da Ásia, Polinésia ou Oceania, através de pequenas embarcações de madeira. 32
Os povos que que chegaram pelo Estrei- PARA SABER MAIS Dialogando com a História / 6o ano to de Bering e pela Oceania, foram chama- dos de préc olombianos, termo que significa Reconstituição do rosto antes da chegada do navegador europeu de Luzia a partir de seu crânio Cristóvão Colombo, na Idade Moderna. Em- Luzia é a primeira brasileira bora os incas,maias e astecas sejam os mais de que se tem conhecimento estudados ou conhecidos, por terem cons- nas pesquisas arqueológicas. truído grandes civlizações, o Brasil também Encontrada em 1975 no fundo possui povos com rica diversidades e culturas. de uma caverna de Minas Ge- rais, é o fóssil humano mais No litoral brasileiro e nas proximidades antigo das Américas, de 11 mil dos rios, há mais ou menos 12 mil anos, co- e 500 anos. munidades de coletores e caçadores cons- truíram os sambaquis, palavra de origem tupi No seu livro digital, saiba (samba − concha e ki – monte), que dá nome mais sobre a reconstituição aos grandes montes de conchas onde os in- do rosto de Luiza. dígenas desta tradição viviam e enterravam seus mortos. Zoólito em forma de tubarão. Esses depósitos de materiais orgâni- cos construídos pelo homem tinham até 30 metros de altura e nele podemos encontrar vestígios para compreendermos um pouco mais sobre o modo de vida destas popula- ções, como pesos para rede de pesca, cola- res feitos com conchas e dentes de animais, potes feitos de pedra e ossos de baleia, as- sim como os misteriosos zoólitos. Os zoólitos (zoo=animal, lito=pedra) eram imagens de animais esculpidas em pedra, que possuiam uma concavidade na região do ventre. Ainda hoje não se sabe ao certo a finalidade destes objetos, mas acre- dita-se que tenham sido usadas em rituais religiosos e para macerar (amassar) ervas. Zoólito em forma de peixe Imagem de um sepultamento encontrado dentro de um Sambaqui, em Santa Catarina. 33
Dentro os diversos povos que habitavam o PROBLEMATIZANDO Brasil, uma característica comum era o fato de serem caçadores, coletores e, quando desen- O que fazia com que es- volviam a agricultura, baseavam-se principal- sas pessoas migrassem pelo mente no cultivo da mandioca e do milho. Usa- continente americano? vam cerâmica a confecção de vasos, panelas e outros utensílios, assim como produziam ferra- O que elas procuravam? mentas e armas (arco, flecha, tacape, zarabata- na) de pedra lascada, polida, madeiras, ossos. Coleção História Reflexiva 34
VOCÊ SABIA? Essas civilizações desconheciam as Cristóvão Colombo acreditava Dialogando com a História / 6o ano classes sociais, o estado e o comércio. que era possível chegar às Índias Na divisão do trabalho por gênero, cabia pelo Ocidente, mas não esperava às mulheres plantar, cozinhar e fazer ce- encontrar um novo continente: a râmica; o homem devia derrubar a mata, América. Logo, os habitantes dessa pescar e guerrear. Os caciques (chefes região foram batizados como in- do grupo) e os conselhos de anciãos (ho- dígenas. Como sabemos que esta mens sábios) eram escolhidos de maneira nomenclatura foi equivocada, hoje consentida, por terem o reconhecimento em dia o termo correto para se re- do grupo. ferir às pessoas que pertencem aos povos originários é indígenas, e se Apesar dos primeiros habitantes do possível referenciar de qual tradição Brasil terem muitas características comuns, eles pertencem: guarani, kaingang, muitas pessoas se referem aos indígenas xokleng etc. de forma genérica, como se todos fossem OS POVOS INDÍGENAS NO BRASIL EM 1500 tupis-guaranis, falassem a mesma língua, vivessem nus na mata, morassem em ocas Tupi-Guarani Pano e cultuassem o deus Tupã (dois raios). Jê Tucano Aruaque Charrua No entanto, existem diferenças entre Caribe Outros grupos os grupos indígenas que aqui habitaram. Cariri Aliás, a expressão índio também é genérica e foi dada pela expedição de Cristóvão Colombo, durante os primeiros anos de colonização espanhola na América, no final do século XV. Por isso é importante conhecermos melhor a cultura dos nati- vos do Brasil e não nos contentarmos em chamá-los apenas de indígenas, como se pertencessem a um mesmo grupo, com uma cultura única. Um bom começo é saber que existem vários troncos-linguísticos aos quais os diversos grupos indígenas pertencem. Por exemplo, temos os idiomas deriva- dos do tronco tupi, macro-jê, aruak, karib, pano, tukano e tantas outras. Geralmente, indígenas de um tronco linguístico comum tendem a não serem inimigos ou até mesmo se aliarem na busca por territórios, en- quanto indígenas de troncos linguísticos diferentes muitas vezes entravam em dis- putas por caça, alimentos e espaço. 35
Coleção História Reflexiva A visão que os colonizadores portu- VOCÊ SABIA? gueses tiveram dos indígenas brasileiros, na primeira metade daquele século, passa- Jean-Baptiste Debret (1768- va por uma ideia de infantilização, ou seja, 1848) esteve no Brasil a convite de que o índio não tinha história e, por isso, da Coroa Portuguesa na chamada precisava ser civilizado. Muitos cronistas missão artística francesa. Seus e viajantes europeus que aportaram na registros iconográficos podem ser América naquela época deixaram como le- apreciados na obra Viagem pitoresca gado suas impressões do novíssimo con- e histórica ao Brasil. tinente por meio de cartas, mapas ou ima- gens (iconografias). Para esses viajantes, VOCÊ SABIA? a América era uma terra paradisíaca, onde os nativos conviviam pacificamente com a A expressão eurocêntrico sig- natureza ou, ainda, representavam a exten- nifica que a Europa era o centro po- são da própria natureza. lítico, cultural e econômico da época e que as demais civilizações seriam Será que o modo de vida atrasadas em relação aos seus desses povos correspondia avanços tecnológicos e sociais. O eurocentrismo continua sendo uma visão dos europeus? expressão bastante utilizada os dias atuais, principalmente, para justificar Jean-Baptiste Debret, “Botocudos, Puris Patachos e o domínio das potências econômicas Machacalis”, litografia de 1834. europeias sobre as nações mais empobrecidas do mundo. As diferenças culturais e religiosas en- tre conquistadores (europeus) e conquis- tados (povos indígenas), entretanto, foram utilizadas como justificativa para um domí- nio cultural pautado na civilização do mais “forte”, levando-se em conta que os euro- peus já tinham armas de fogo, com maior poder de letalidade. O discurso eurocên- trico dos conquistadores baseava-se, sobretudo, na ideia religiosa de que con- verter os indígenas ao cristianismo era a 36
única forma de garantir com que eles fos- VOCÊ SABIA? Dialogando com a História / 6o ano sem civilizados, usassem roupas, fossem alfabetizados e deixassem suas crenças A Igreja Católica combateu a e hábitos pagãos, garantindo assim com escravidão indígena apenas para os que fossem salvos e usufruíssem da vida indígenas considerados pacíficos, eterna após a morte. que aceitavam a catequização. Para os considerados selvagens era legíti- Essa falta de empatia e respeito frente à ma a escravidão. Foi com esse argu- cultura do outro , fez com que muitas cren- mento que surgiram as chamadas ças e tradições indígenas fossem abando- Guerras Justas ou Guerras Contra nadas e se perdessem com o tempo, num os Bárbaros, que contribuíram para processo conhecido como aculturação. o extermínio de diversos povos indí- genas. Além disso muitos indígenas foram mortos no processo de conquista, quer No seu livro digital, em seja por guerras, captura para trabalha- vídeos, veja mais sobre o rem como escravos, além do contágio processo de demarcação de doenças que os nativos não possuíam das terras indígenas. anticorpos, por serem doenças até então inexistentes na América, como a catapora, LINK COM GEOGRAFIA a varíola e a tuberculose. Atualmente, encontramos no A luta dos grupos indígenas no Brasil território brasileiro 227 povos, é bastante difícil, já que a demarcação de sendo a maior parte dessa popu- suas terras esbarra em políticas públicas lação distribuída por milhares de insuficientes, além da violência constante aldeias situadas no interior de 593 exercida por latifundiários, grileiros e mi- terra indígenas, de Norte a Sul do neradores nas terras que estão em litígio. território nacional. Para o Instituto Sociambiental (ISA), a população indígena no Brasil atual está esti- mada em 600 mil indivíduos, des- se total, cerca de 480 mil vivem em suas terras indígenas (e, em menor número, em áreas urbanas próximas a elas), enquanto outros 120 mil encontram-se residindo em diversas capitais do país. Qual é a participação, atualmente, dos indígenas na população total do Brasil? 37
Por que devemos PROBLEMATIZANDO trabalhar mais do que precisamos para sobreviver? Por que os indígenas eram Por que devo ser como você tratados como seres incapazes, infantis e sem história? quer que eu seja? Quais são as diferenças en- tre mito e história? Como vivem as crianças e os pré-adolescentes indígenas? Quais suas brincadeiras, ativida- des, responsabilidades, desejos e sonhos? É muito diferente da forma como vivemos? Coleção História Reflexiva Analise com atenção o texto de Caminha em VOCÊ SABIA? que aparecem algumas impressões desse europeu sobre os “indígenas brasileiros”. Uma história vista de baixo prioriza a visão dos “vencidos”, que, por muito tempo, foram ex- cluídos da história oficial. A feição deles é serem pardos, Então, imagine- maneira de avermelhados, de bons -se um indígena des- rostos e bons narizes, bem-feitos. crevendo os europeus que Andam nus, sem nenhuma cober- chegaram ao Brasil no século tura. Nem estimam de cobrir ou XVI. Faça isso utilizando seu de mostrar suas vergonhas; e nis- so têm tanta inocência como em fiel companheiro, mostrar o rosto. Ambos traziam os o Diário de Bordo. beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verda- deiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador. 38
Metem-nos pela parte de dentro do beiço; e a parte que Dialogando com a História / 6o ano lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez, ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber. Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa grandura e rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por bai- xo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do compri- mento de um coto, mui basta e mui cerrada, que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena e pena, com uma confeição branda como cera (mas não o era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia míngua mais lavagem para a levantar. Muitos deles ou quase a maior parte dos que an- davam ali traziam aqueles bicos de osso nos beiços. E alguns, que andavam sem eles, tinham os beiços fu- rados e nos buracos uns espelhos de pau, que pareciam espelhos de borracha; outros traziam três daqueles bicos, a saber, um no meio e os dois nos cabos. Aí andavam outros, quartejados de cores, a saber, metade deles da sua própria cor, e metade de tintura preta, a modos de azulada; e outros quartejados de escaques. Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos mui- to pretos, compridos pelas espáduas, e suas vergonhas tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que, de as muito bem olharmos, não tínhamos nenhuma vergonha. Ali por então não houve mais fala ou entendimento com eles, por a barbaria deles ser tamanha, que se não entendia nem ouvia ninguém. Trecho retirado da Carta de Pero Vaz de Caminha. Agora que já conhecemos bastante sobre a América e seus primeiros habitantes, que tal revisarmos o conteúdo respondendo às perguntas abaixo?! Lembrem-se de que na Plataforma SER você poderá conferir as respostas comentadas, assim é garantido que você irá caprichar nesta tarefa! 39
Coleção História Reflexiva 1. Explique o que foi a megafauna e dê dois exemplos de animais que pertenceram a este grupo. 2. Qual a relação entre o fim da última era glacial e o processo de extinção da mega- fauna? 3. Explique as duas principais teorias sobre a chegada dos primeiros grupos humanos ao continente americano. 4. O que significa o termo pré-colombiano? Qual a origem do termo índio, e porque ele é genérico (generalista)? 5. O que foram os Sambaquis e quais achados arqueológicos nos dão pistas sobre seu modo de vida e cultura? 6. O que são os zoólitos e por que estes objetos são considerados um enigma? 7. Cite três características que os povos nativos do Brasil tinham em comum. 8. Por que não podemos afirmar que todos os povos indígenas são iguais? 9. Qual a importância do processo de demarcação das terras indígenas? 10. De que forma grande parte da cultura dos primeiros habitantes do Brasil foi dominada e suas populações dizimadas? 11. O que você acredita que podemos aprender com os indígenas, para termos uma me- lhor qualidade de vida ? COLOCANDO A MÃO NA MASSA Pesquise a contribuição dos povos indígenas em nossa língua, culinária, música, religião e vestuário, e promova uma discussão em grande roda com os seus colegas em sala de aula. Procure entender também o significado da terra para os povos indígenas. LINK COM FILOSOFIA Pensando na diversidade cultural no Brasil... Existem pessoas que, por um lado, compartilham a vida, mas, por outro, têm visões de mundo, crenças e cos- tumes diferentes. É possível que, apesar das diferenças, possam se entender e conviver bem? Conviver bem implica que todos estejam de acordo sobre todas as questões? Quando convivemos com costumes e crenças diferentes, significa que precisamos classificá-los como certos e errados, verdadeiros e falsos, descartando aqueles que não são os nossos? 40
PENSANDO A HISTÓRIA Dialogando com a História / 6o ano Continue a história em quadrinhos a seguir! 41
2Unidade Civilizações antigas: fluviais e clássicas
Capítulo Civilizações Fluviais: Mesopotâmia e Egito 4 MOTIVANDO A PENSAR Dialogando com a História / 6o ano Uma vez que estudamos como os primeiros humanos surgiram, migraram pelos continentes e ocuparam a América, trazendo grande diversidade cultural ao nosso país, vamos analisar de que forma surgiram as primeiras civilizações, a estrutura de Estado com um governo centralizado, cobrança de impostos, organização de obras públicas, e outros elementos importantes para a cons- trução de sociedades complexas, que nos deixaram grandes legados históricos! TUDO COMEÇOU NAS MARGENS DOS RIOS Nossa viagem remonta à Pré-Histó- ria, quando vimos que o ser humano de- senvolveu a agricultura, se sedentarizou (tornou-se fixo ao território, construindo casas, que logo logo deram origem a vi- las), criaram animais, desenvolveram a metalurgia e passaram a eleger líderes que organizassem a vida cotidiana da po- pulação. Mas, em qual região do globo isso aconteceu pela primeira vez? Aqui en- tra o primeiro conceito importante deste capítulo: o Crescente Fértil. As primeiras vilas e cidades vão surgir próximas a um recurso natural muito importante para a sobrevivência dos seres humanos: os rios. Através dos rios é possível obter água para consumo, para a rega das plan-
tações e subsistência dos animais, para a higiene pessoal e limpeza das casas e roupas, além de servir como meio de transporte e obtenção de alimentos através da pesca. Por isso as civilizações mais antigas que temos conhecimento vão se desenvolver nas margens dos rios, nas proximidades do Tigre, Eufrates, Jordão e Nilo, entre o Oriente Médio e o Nordeste Africano, região esta que, se formos demarcá-la no mapa, acaba pa- recendo ter o formado de lua crescente. Daí o nome de Crescente Fértil. Foi no crescente fértil que surgiram duas importantes civilizações: a Mesopotâmia e o Antigo Egito. Coleção História Reflexiva MESOPOTÂMIA Mesopotâmia é uma palavra que vem do grego e significa: terra entre rios. Os dois rios que deram origem a esta civilização são o Tigre e o Eufrates. Foi ao redor deles que as primeiras cidades-Estado (cidades independentes, com reis e leis próprias) se desen- volveram. Aqui, pela primeira vez, foi desenvolvida a escrita, a matemática, a roda, o arado e os estudos dos astros (astronomia). A antiga Mesopotâmia se localiza no Oriente Médio, predominantemente no que é hoje o Iraque. Apesar de pertenceram a uma civilização comum, os povos que habitaram esta re- gião entre os anos de 5.000 a.C a 400 a.C não eram homogêneos, possuíam característi- cas peculiares e chegaram em diferentes ondas migratórias a este território. Que tal conhecermos um pouquinho mais sobre eles e seus legados? Sumérios Tablete Cuneiforme. Foi o primeiro povo a se sedentarizar na região, dando origem às primeiras cidades- -Estado como Ur, Uruk e Nipur. Para organizar a construção de canais de irrigação (levan- do água para as plantações), construção de mercados públicos e estradas, assim como o estabelecimento de pesos e medidas para o comércio, elegeu-se líderes, que passaram a cobrar impostos, fazer as leis e nomear fun- cionários de confiança. Dessa forma surgiu uma estrutura de Estado e os primeiros reis (que passavam o governo a seus filhos, for- mando as primeiras dinastias). Os sumérios desenvolveram também a primeira forma de escrita, a escrita cuneifor- me. Ela era utilizada, originalmente para fins de contabilidade, mas logo passou a registrar histórias, leis e o cotidiano das cidades sumé- rias. Como ainda não existia o papel vegetal, a escrita cuneiforme era feita sob tabuetas de 44
argila com um instrumento pontiagudo cha- Escriba Dialogando com a História / 6o ano mado cunha. Os profissionais responsáveis Busto do rei Sargão I. pelo domínio dessa escrita eram os escribas, classe social que desfrutava de status social e boa remuneração. Aos sumérios também é atribuída o de- senvolvimento da matemática, da roda e da astronomia, assim como da primeira história da humanidade: a Epopeia de Gilgamesh! Quer saber mais sobre esta história? Aposto que você irá gostar muito do que pre- paramos para você e vai morrer de vontade de ler este livro, o mais antigo do mundo! Acádios Povo guerreiro chegou na região da Me- sopotâmia dominando as cidades sumérias, por volta do ano 2300 a.C. Fundaram o pode- roso Império Acádio com o rei Sargão I, que uniu os falantes do acadiano e do sumério sob o mesmo governo. O rei do império acádio re- cebia o título de patesí. Apesar de poderoso, o Império Acádio durou apenas dois séculos, sendo dominado pelos amoritas. Amoritas Chegaram na região por volta de 1900 a.C e fundaram uma bela capital para seu império: a Babilônia. Um de seus reis mais importantes reis foi Hamurabi (1792-1749 a.C), responsá- vel por mandar escrever um dos mais antigos códigos de lei da humanidade: o Código de Hamurabi. Dessa forma, os juízes do Império Babilônico não poderiam decidir sozinhos as penas dadas aos condenados por terem co- metido delitos, mas sim deveriam obedecer à lei escrita, evitando com isso prejudicar ou beneficiar os réus, de acordo com seus inte- resses pessoais. Um dos princípios do código era a vingança, ou seja, fazer com que o culpa- 45
Coleção História Reflexiva do pagasse na mesma moeda ao mal come- No seu livro digital, em tido. O código, com isso, era baseado numa vídeos, veja mais sobre o rigorosa reciprocidade, conhecida como o conteúdo. princípio da Lei de Talião, olho por olho, dente por dente. No seu livro digital, em vídeos, veja mais sobre o Assírios conteúdo. Por volta de 1200 a.C um povo guerreiro Recriação dos Jardins Suspensos da Babilônia. e com tradição militar chegou à Mesopotâ- mia, acabando com o reinado babilônico: os assírios. Além da Mesopotâmia, eles conquis- taram o território da Pérsia, do Egito e da Pa- lestina, formando um vasto império. Os povos dominados pelos assírios eram duramente re- primidos e obrigados a pagar altos impostos para manter o império. O rei mais famoso des- te povo foi o lendário Assurbanipal, cujo rei- nado, de 668 a.C. a 627 a.C., foi marcado pe- las suas conquistas militares e crueldade para com os inimigos. Apesar de violento, Assurba- nipal valorizava muito a cultura, investindo na construção da famosa Biblioteca de Nínive que continha uma imensidão de livros, cartas e registros em cuneiforme. Durante a constru- ção, Assurbanipal mandou seus melhores es- cribas reunirem os principais escritos de toda Mesopotâmia para a formação do acervo da biblioteca. O resultado foi mais de 20 mil tábu- as de argila. Haja espaço! Caldeus O último grande povo a estabelecer seu reinado na Mesopotâmia foram os caldeus, beneficiados pelas revoltas que a população fazia contra o governo repressor dos assírios, em 612 a.C. O principal rei caldeu foi Nabuco- donosor II, citado na Bíblica por ter conquis- tado a região de Jerusalém, na Palestina e levado muitos judeus como escravos para a Babilônia, no episódio conhecido como Cati- veiro da Babilônia. A Nabucodonosor também é atribuída a construção dos lendários Jardins Suspensos da Babilônia, considerados uma das sete maravilhas do mundo antigo. 46
Pontos em comum Agora que já conhecemos quem são os quatro principais povos da Mesopotâmia e suas peculiaridades, podemos ver os pontos em comum entre eles: Se desenvolveram nas margens dos rios Tigre e Eufrates. Era politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. Os sacerdotes eram uma importante classe social responsável pelos cultos religiosos. Tinham a agricultura como base econômica.Era politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. Possuíam escravos (quer seja prisioneiros Dialogando com a História / 6o ano de guerra, criminosos ou devedores). Eram governados pela nobreza, tendo como chefe máximo o rei. Faziam lindos monumentos em pedras. Zigurate: templo religiosos para louvar os deuses (no topo), bem como armazenar grãos em (seu interior). Utilizavam-se dos caracteres cuneiformes para a escrita. Coloque na pirâmide as classes sociais da caixa, de acordo com a descrição a qual pertencem: : pertenciam à realeza. : eram responsáveis pelos cultos religiosos. : se dedicavam à arte da escrita e/ou se dedicavam à administração do reino. : em sua maioria eram artesãos e camponeses. : geralmente prisioneiros de guerra ou devedores e criminosos. ESCRAVOS NOBREZA POVO SACERDOTES ESCRIBAS E FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS 47
Coleção História Reflexiva EGITO Outra importante civilização fluvial foi Paleta de Narmer, mostrando a unificação do Egito. o Antigo Egito, no nordeste da África. Cor- tado pelo grandioso Rio Nilo, tinha em suas cheias anuais (entre junho e setembro) im- portante momento de plantio e trabalho coletivo em prol da semeadura de gêneros alimentícios como hortaliças, centeio, frutas e vinhas, além de linho e algodão para ves- tuário. O Rio Nilo era tão importante para os antigos egípcios que o historiador grego Heródoto escreveu: “O Egito é uma dádiva do Rio Nilo”, ou seja: se não fosse pelo Nilo, seria impossível o desenvolvimento de uma civilização tão complexa, em território are- noso e desértico. Antes de ser unificado e possuir um fa- raó, o território era composto por várias co- munidades autônomas conhecidas como nomos, que com o passar do tempo foram crescendo e guerreando entre si até forma- rem dois grandes reinos: o do Alto e o do Baixo Egito, como evidenciado no mapa ao lado. E não se assuste, você não está vendo errado não, o reino do Alto Egito ficava ao Sul e o do Baixo Egito ao Norte. Isso porque esta nomenclatura se refere ao relevo e não à posição geográfica. A unificação destes dois grandes reinos se deu através de uma guerra, por volta de 3500 a.C. quando o nomarca Narmer (go- vernante do Alto Egito) derrotou o exército vizinho e conquistou todo o território, tor- nando-se o primeiro faraó. E por falar em faraó, esta palavra signi- fica casa grande e era o título que o gover- nante máximo do Egito recebia ao ser coro- ado. Vale lembrar que o faraó era visto por seus súditos como mais que um líder po- lítico, e sim como a própria encarnação do deus Hórus (deus dos céus). Ele era temido e reverenciado como aquele que representa- va a vontade dos deuses na Terra. Por isso o Antigo Egito era considerado uma teocracia. 48
Assim como a Mesopotâmia, os egíp- cios também tinham uma sociedade estra- tificada, ou seja, dividida em classes sociais bem definidas. A maior parte da população, os felás, eram camponeses, viviam de for- Faraós ma muito humilde e pagavam altos impos- tos para o faraó. Os escravos, base da pirâ- Nobres mide social, eram geralmente prisioneiros de guerra e trabalhavam na construção de Sacerdotes obras públicas como templos e pirâmides. Os escribas, era uma classe social de muito prestígio, pois dominavam a arte do hieróglifo Soldados (a escrita do Antigo Egito). Já os sacerdotes, Escribas e eram uma das classes mais importantes, pois artífices representavam as divindades egípcias e eram os responsáveis pelos rituais religiosos de pu- Camponeses rificação, mumificação e cheias do Nilo. Vale e escravos lembrar que no topo da pirâmide estava o fa- raó e a nobreza. Dialogando com a História / 6o ano No campo religioso, os egípcios eram politeístas, tendo deuses que representavam aspectos da vida e elementos da natureza. A principal divindade era o deus Rá, do sol, mas outros deuses muito queridos eram Ísis e Osíris, da magia e da vida após a morte, res- pectivamente. Um fato que chama atenção para o panteão egípcio era que muitos deuses possuíam forma antropozoomórfica, ou seja, eram representados com cabeça de animal e corpo humano. Um aspecto que mexia muito com o ima- Estátua da deusa Isis. ginário egípcio era a preparação para a vida após a morte. Eles acreditavam que para al- cançar a eternidade era preciso que o corpo fosse preservado, por isso desenvolveram a prática da mumificação. A mumificação era re- alizada pelos sacerdotes de Anúbis (deus da mumificação) e o processo poderia levar até 70 dias. Consistia na desidratação do morto, que era posto em uma banheira com sais de natrão para a absorção da água. Além disso o corpo era esvaziado, para evitar que os órgãos apodrecessem. No lugar, era colocado serragem e tecidos, para dar vo- lume corporal. O coração era o único órgão 49
mumificado e devolvido ao seu lugar. Múmia egípcia. Fígado, intestino, estômago e pulmões eram mumificados e guardados em va- sos, conhecidos como canopos. Os de- mais órgãos, incluindo o cérebro, eram descartados. É curioso pensar que ape- sar de grandes anatomistas e conhe- cedores do corpo humano, os egípcios acreditavam que as emoções e os pen- samentos provinham do coração, e por isso não davam importância ao cérebro, como o centro da razão humana. Coleção História Reflexiva Apesar da preservação do corpo ser muito importante para a vida após a morte, isso por si só não garantia a eternidade. Era necessário ter sido uma pessoa boa e correta, capaz de passar pelo rigoroso ritual da pesagem do coração. Nele, o deus Anúbis pesa- va o coração do morto (que representava as suas ações em vida) com a pena da deusa Maat (que simbolizava a justiça e a verdade). Se o coração tivesse o mesmo peso que a pena da deusa, era sinal de que a pessoa havia sido boa e honesta e por isso seria bem recebida por Osíris no Campo dos Juncos (nome do paraíso egípcio). Já, se o coração fosse mais leve ou pesado que o símbolo da justiça, o morto deveria pagar pelas suas más ações perdendo o direito de descansar na eternidade. Nesse caso um monstro egípcio conhecido como Ahmit, apareceria na sala do julgamento para devorar o coração, fazen- do com que o morto deixasse de existir. Ahmit era um animal mitológico e muito temido. Ele era uma mistura de animais que os egípcios tinham muito respeito: hipopótamo, gue- pardo, leão e crocodilo. Sacerdotes de Anúbis fazendo uma mumificação. 50
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