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Edicao Completa 2014

Published by ismaelmoura4, 2016-06-28 06:10:58

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101PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauricio2012a, p. 18). Nesse sentido, o autor identifica nos teleoperadores o retrato mais fiel doprecariado brasileiro. Os teleoperadores resumem todas as tendências importantes do mercado de trabalho no país na última década: formalização, baixos salários, terceirização, significativo aumento do assalariamento feminino, incorporação de jovens não brancos, ampliação do emprego no setor de serviços, elevação da taxa de rotatividade do trabalho, etc. Por tudo isso, estudar a trajetória e o destino histórico dos teleoperadores no Brasil é tão importante. Eles são uma espécie de retrato do precariado pós-fordista em condições sociais periféricas (BRAGA, 2012b). Por fim, como o precariado possui uma grande amplitude histórica em Braga,ele irá identificar uma prática política do precariado que remonta “as regulações populista,autoritária, neopopulista, neoliberal e lulista” (BRAGA, 2012b). Atualmente, a política do precariado pode ser sintetizada da seguinte maneira: proximidade do proletariado precarizado com a regulação lulista e com as políticas públicas que estimularam a desconcentração de renda entre os que vivem dos rendimentos do trabalho associada à inquietação social com os baixos salários, com as péssimas condições de trabalho e o com o aumento do endividamento das famílias promovido pelo atual regime de acumulação financeirizado (BRAGA, 2012b).CONSIDERAÇÕS FINAIS Entendemos que os três autores possuem contribuições significativas para essadiscussão, mas que é preciso entender as diferenças que perpassam suas classificações.Partindo de uma perspectiva europeia, e de um arsenal teórico de cariz weberiana, Standingconcebe o precariado como uma nova classe que não se confunde com a classetrabalhadora, a classe média ou os trabalhadores informais. Podemos entender a visão doautor de que o precariado não faz parte do proletariado, pelo fato do precariado estarpermeado de caracteres pós-fordistas e pós-keynesianos, espécie de “subproduto do modode desenvolvimento fordista”, a margem da sociedade salarial e dos direitos sociais. Em síntese, o que ressalta da concepção do autor sobre o precariado, em nossaopinião, e que pode enriquecer as reflexões no campo da sociologia do trabalho é adimensão da precarização existencial (precários no trabalho e na vida), surgida devido apouca perspectiva de futuro causada pela instabilidade econômica, fracos laçoscomunitários e sem direitos sociais. Já Alves, partindo da teoria marxiana das classes sociais, irá entender o Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

102PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauricioprecariado como parte do proletariado e constituído pelos vetores geracional, educacional ede renda. É a partir desse chão epistemológico que Alves irá desenvolver sua reflexãosobre as classes em geral e, especialmente, sobre o precariado. Para ele o precariado é formado por jovens-adultos altamente qualificados quepossuem inserção precário no mundo do trabalho e na vida social, exercendo atividadesque não condizem com seu grau de instrução. Esse é um fenômeno já recorrente na Europae que ganhou contornos no Brasil a partir da bolha educacional que se formou na últimadécada. Alves enriquece a discussão sobre o precariado a partir de seu viésiminentemente sociológico, ao se deter numa constelação de fatores como indicadores dacondição de precariado. O que abre caminho para análise da dimensão existencial domundo do trabalho, se desdobrando em novas ferramentas conceituais, como sua propostade uma analítica existencial do proletariado, a partir de uma reflexão que mescla elementosda teoria da exploração e da teoria do estranhamento em Marx. Analítica existencial do proletariado como base categorial objetiva para aconstrução de uma teoria da classe social do proletariado que rompa com o viés positivistado conceito de classe e saliente a centralidade ontológica do processo de formação dosujeito histórico de classe capaz de promover a práxis emancipatória no século XXI(ALVES, 2013, p. 61). Braga, partindo do conceito de superpopulação relativa em Marx, irácaracterizar precariado como proletariado precarizado, identificando-o como a fração maismal paga e explorada do proletariado urbano e agrícola, mas excluindo a populaçãopauperizada e o lumpemproletariado. Diferente dos autores anteriores ele não irá e deter na dimensão da precarizaçãoexistencial, mas nos aspectos estruturais da precarização do trabalho. A análise de Braganos é importante por nos alertar para a permanência histórica da precarização no processode mercantilização do trabalho e não como um subproduto do modo de desenvolvimentofordista. Contudo, achamos que o autor dilui o precariado ao identificá-lo com todas asfrações super-explorados da classe trabalhadora, perdendo assim a própria necessidade deum novo conceito que apenas reafirma o que costumeiramente já chamamos de Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

103PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauricioproletariado precarizado. Desde esses debates, temos a gestação de um conceito que entra de vez para agramática da sociologia do trabalho como ferramenta de análise das modernastransformações no sistema do capital. Esperamos que nossas reflexões sirvam como umacontribuição introdutória para um complexo debate que apenas está começando. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

104PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz MauricioREFERÊNCIASALVES, Giovanni. A educação do precariado. Blog da Boitempo, 17 dez. 2012.Disponível em: <http://blogdaboitempo.com.br/2012/12/17/a-educacao-do-precariado/>.Acesso em 20 dez 2012a._______________. Dimensões da precarização do trabalho: ensaios de sociologia dotrabalho. Bauru: Canal 6, 2013.________________. O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva ecrise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo, 2005.________________. Trabalho e nova precariedade salarial no Brasil: A morfologia socialdo trabalho na década de 2000. Oficina do Centro de Estudos Sociais, Universidade deCoimbra, Março de 2012b.ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e a centralidadedo mundo do trabalho. São Paulo: Cortez; Campinas: Editora da Universidade Estadual deCampinas, 2011.BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001._________________. Vida líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009.BIHR, Alain. Da grande noite à alternativa: O movimento operário europeu em crise.São Paulo: Boitempo, 1998.BRAGA, Ruy. A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista. São Paulo:Boitempo: 2012a.____________. A política do precariado e a mercantilização do trabalho. Entrevistaespecial com Ruy Braga. Portal Unisinos, 09 dez. 2012b. Disponível em:<http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/516283-a-politica-do-precariado-e-a-mercantilizacao-do-trabalho>. Acesso: em 30 jun. 2013.CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Rio deJaneiro: Editora Vozes, 2005.DRUCK, Graça; FRANCO, Tânia (Orgs). A perda da razão social do trabalho:Terceirização e precarização. São Paulo: Boitempo, 2007.HARVEY, David. A condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudançacultural. São Paulo: Loyola, 2004.POCHMANN, Marcio. Nova classe média? O trabalho na base da pirâmide socialbrasileira. São Paulo: Boitempo, 2012. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

105PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz MauricioSENNETT, Richard. A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novocapitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2012.STANDING, Guy. O precariado: a nova classe perigosa. Belo Horizonte: AutênticaEditora, 2013.______________. Precariado, rebeldia e renda cidadã. Tradução Daniela Frabasile. OutrasPalavras, 27 jun. 2012. Disponível em: <http://outraspalavras.net/posts/precariado-rebeldia-e-renda-cidada/>. Acesso em: 10 set. 2012._______________. Quién servirá de voz al precariado que esta surgiendo. Sin Permiso, 05jun. 2011. Disponível em: <www.sinpermiso.info.textos.index.php?id=4212>. Acesso em:12 jun. 2011. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

“A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA E OCOMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 19801“Freedom is red”: female honor and social behavior in Fortaleza in 1980´s. Janaina da Silva Rabelo2 MS. Diocleciana Paula da Silva3Resumo: A dominação masculina permeia a história das mulheres, relegadas ao poderio editames impostos pelos pais ou maridos, desqualificando-as como sujeito semhistoricidade. Esta condição apresenta-se como advinda do patriarcalismo, regime queassegura o poderio masculino sobre o corpo e a sexualidade femininos, legitima aimposição da honra como forma de conduta social à mulher, fortalecendo a suamanutenção e perpetuação. Para as mulheres que se recusam a essa condição, a agressão eviolência são formas utilizadas pelos homens para impor seu poder e dominação social.Esse artigo pretende, assim, discutir como essa dominação se apresentava na sociedadefortalezense nos anos 1980, mediante os crimes passionais publicados no jornal O Povo.Palavras-chave: Patriarcalismo, Honra, Mulher e ViolênciaAbstract: Male dominance permeates the history of women, relegated to the power anddictates imposed by parents or husbands, disqualifying them as subjects without historicity.This condition presents as stemming from the patriarchy system that secures the power ofthe male body and female sexuality, legitimizes the imposition of honor as a form of socialbehavior to women, strengthening its maintenance and perpetuation. For women whorefuse this condition, aggression and violence are forms used by men to impose theirpower and social domination. This article thus seeks to discuss how this domination ispresented in society fortalezense in the 1980s by the passion crimes published in thenewspaper O Povo.KeyWords: Patriarchy, Honor, Woman, violence.1 Artigo escrito com base em dados parciais, a serem desenvolvidos no decorrer do trabalho monográfico.2 Graduanda em História pela Universidade Estadual do Ceará.3 Orientadora, mestre Diocleciana Paula da Silva, professora da Faculdade Ratio do curso de Serviço Social. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 107COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da SilvaINTRODUÇÃO A relação de poderio e de mando masculino sobre a mulher permeia a históriado Brasil, pautada principalmente pelos costumes e tradições europeus, que impunham àsociedade brasileira uma forma de agir, falar e se portar. Essa dominação masculina decorre do patriarcalismo, que traz a idéia de honrae de mando sobre o corpo feminino como elementos essenciais e legitimadores de uma violência não apenas real, mas muitas vezes simbólica4, fruto de umanormatização cultural, relegando às mulheres ao plano secundário, como sujeitos nãodetentores de historicidade. Esse artigo faz parte de uma pesquisa monográfica de conclusão de curso queestar em desenvolvimento e tem como objetivo fazer uma analise sobre a dominaçãomasculina em Fortaleza entre os meados de 1970 e a primeira metade dos anos 1980. Nesse sentido, temos como problemática gerar uma reflexão sobre os crimespassionais e a dominação masculina e do patriarcalismo na cultura brasileira atuandodiretamente nas relações de gênero. Para esse artigo os anos 1980 foram escolhidos por serum divisor de águas na visibilidade e sensibilização dos crimes passionais, levando aoquestionamento das autoridades nacionais e internacionais sobre os altos índices deviolência domestica e motivando o país a fazer uma campanha protagonizada pela TVGlobo, intitulada “Quem Ama Não Mata”. A campanha gerou uma substancial visibilidadepara um problema já bastante antigo no Brasil. Contudo, não vamos fazer uma analise da campanha nacional, mas simperceber como esse movimento de conscientização da vida da mulher vai abrir espaçospara o questionamento de tais ações masculinas. No setor jurídico os julgamentos e aspenas que ficaram mais severas com o intuito de inibir os crimes e ainda houvemodificações do código civil relacionadas à virgindade, casamento e deveres femininosque reforçavam o machismo brasileiro. Nossa principal fonte é o jornal O Povo, periódico fundado em 1929, pelojornalista Demócrito Rocha que tem uma veia editorial sempre preocupada com a cultura ecomportamento dos cearenses. Assim, se constitui como um jornal combatente das4 BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. 16. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2012, p. 14-15. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 108COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da Silvaquestões de desigualdade e injustiças da sociedade levando o jornal a publicar e relatar oscrimes passionais como fatos bárbaros e violentos que a sociedade não pode deixaracontecer. De acordo com Pierre Bourdieu (2012 ps 14-15), existe um poder simbólicoque se define na relação entre os que exercem o poder e os que lhe são sujeitos, sendo opoder invisível exercido com a cumplicidade dos que não querem saber que lhes sãosujeitos ou que o exercem. Ele formula a realidade, estabelecendo uma ordem, um sentido,para a sociedade. O que faz o poder das palavras, poder de manter a ordem ou subvertê-la,é a crença na sua legitimidade e na daquele que as pronuncia. Assim, a violência simbólicaatua em várias esferas da sociedade, do racismo, do consumo e da relação com a mulher. A origem da hierarquia masculina sobre a feminina ainda é incerta, mas EdgarMorin5 sugere que esteja vinculada às relações sociais entre os indivíduos: “a superioridadecoincide com o nascimento da família, enquanto microestrutura social. [...] as regras deparentesco e casamento revelam assim sua significação profunda enquanto estruturas dedominação”. Assim sendo, o parentesco e o casamento teriam criado um vínculo socialapenas entre os próprios homens, um sistema de alianças, onde a mulher passa a ser objetode troca entre eles. Para Elisabeth Badinter6, “a cooperação, a solidariedade e a repartiçãoteriam criado, desde o início, uma aliança dos machos. Estes teriam aprendido a escolheruma parceira em outros grupos e a assumir um papel de dirigentes, na qualidade depatriarcas.” Corroborando com o assunto, para a cientista política Carole Pateman7 acriação desse vínculo social entre os homens e sistema de alianças, teria validado umcontrato sexual, sendo o casamento uma forma de legitimação deste. A autora afirma,ainda, que os teóricos clássicos, ao compactuarem com o contrato social (chamado deoriginal pela autora), reconhecem que:As mulheres não participam do contrato original através do qual os homenstransformam sua liberdade natural na segurança da liberdade civil. As mulheressão o objeto do contrato. O contrato sexual é o meio pelo qual os homens5 MORIN, Edgar. 1976, p. 175-176 apud OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. Elogio da diferença. 3. ed. SãoPaulo: Brasiliense, 1993, p. 31.6 BADINTER, Elisabeth. Um é o outro. 1986, p. 437 PATEMAN, Carole. O contrato sexual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993, p.16.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 109COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da Silva transformam seu direito natural sobre as mulheres na segurança do direito patriarcal civil.( PATEMAN,1993, p.16 ) Para Pateman, o pacto original garante “a dominação dos homens sobre asmulheres e o direito masculino de acesso sexual regular a elas”, posto que “o contratosocial é uma história de liberdade; o contrato sexual é uma história de sujeição.” Assim, a característica essencial do patriarcalismo reside no controle dasexualidade feminina pelo homem, assegurando a fidelidade da esposa ao marido. Comisso, cabe à mulher a prestação de serviços sexuais, dispondo o homem, a seu bel-prazer,do corpo feminino. Heleieth I. B. Saffioti8 (2004,p.106) corrobora com a hipótese, ao afirmar que“seja para induzir as mulheres a ter um grande número de filhos, seja para convencê-las acontrolar a quantidade de nascimentos e o espaço de tempo entre os filhos, o controle estásempre presente em mãos masculinas.” Esse controle é reforçado em todas as décadaspelas instituições e sociedade, no Brasil principalmente nas religiões cristãs nos discursosde sacralização da família e casamento. Angélica Monteiro e Guaraciara Barros Leal9(1998, p.33) ressaltam que “opatriarcado significa o poder do homem na família e na sociedade. Os patriarcas detinhamo poder da vida e da morte sobre seus filhos, mulheres e escravos, o privilégio do mandomasculino em todos os setores da sociedade.” Portanto, a honra10 e a fidelidade conjugalfeminina estavam vinculadas à proteção da família e aos dos costumes da sociedade. A reprodução do poderio masculino acaba sendo naturalizada e legitimada nasociedade patriarcal, introjetando nas próprias mulheres a aceitação natural e até normal dadominação. “O direito patriarcal dos homens sobre as mulheres é apresentado comoreflexo da própria ordem da natureza.”, conforme Pateman11.8 SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. Gênero, patriarcado, violência. São Paulo: Fundação PerseuAbramo, 2004, p. 106 (Coleção Brasil Urgente),9 MONTEIRO, Angélica; LEAL, Guaraciara Barros. Mulher: da luta e dos direitos. Brasília, InstitutoTeotônio Vilela, 1998, p. 33 (Coleção Brasil Urgente 3).10 A honra impõe-se como regra de conduta ou como medida de status social, atribuindo ao homem a“responsabilidade de proteger o sangue da família, e para isto lhes é concedida a autoridade sobre a mulher.”PITT-RIVERS, Julian. A doença da honra. In: CZECHOWSKY, Nicole (org). A honra: imagem de si ou odom de si – um ideal equívoco. Trad.: Cláudia Cavalcanti. Porto Alegre: L&PM, 1992, p. 24. Assim, essaautoridade se faz presente assegurando a fidelidade conjugal feminina, impondo padrões de conduta sociais,morais e sexuais, principalmente ao sexo feminino.11 PATEMAN, op. cit., p. 35. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 110COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da Silva Essa naturalização pode ser exemplificada na reportagem do jornal O Povo, de1981, intitulada “Família acusa o marido da suicida”12 onde a mulher tenta romper com asnormas estabelecidas de boa conduta para uma esposa e sai de casa sem a permissão domarido gerando conflitos com o marido levando-a ao suicídio. Vejamos o caso: após sair de casa sem permissão do marido e, por esse fato,quase ter sido brutalmente assassinada a faca pelo mesmo, ela criou coragem e foi até ele,pediu-lhe mil desculpas pelo procedimento e prometeu nunca mais agir daquela maneira.“O homem não estava disposto a aceitar a reconciliação, mas devido à insistência daesposa, propôs um acordo.”, relata a reportagem. Um acordo de doze mandamentos quedeveriam ser assim seguidos para que o marido retomasse o convívio conjugal. O fim da relação conjugal, não aceito por Maria Celizete Ribeiro Moreira, eainda um visível sentimento de culpa pela sua conduta, levou-a a tentativa de submissãoaos 12 mandamentos determinados pelo marido, Raimundo José Moreira13, que somentecontinuaria o casamento se Celizete obedecesse rigorosamente às imposições postas. Considerando as informações sobre o marido e os doze mandamentosconstatamos, que se trata de um casal de classe média, pois o mesmo trabalha em umbanco, tem compromisso de ajudar a família da mulher e etc. Esse fato nos remete areflexão que mesmo com um discurso libertário da juventude da época, em Fortaleza aherança do patriarcalismo e machismo são imperantes nas relações, pois dos muitos casosde crimes passionais que aparecem na paginas policiais do jornal O Povo a lavagem dahonra com sangue é legitima para os assassinos. Assim estava publicado no jornal O Povo de 06 de janeiro de 1981. Declaração do acordo que Maria Celizete Ribeiro Moreira promete cumprir durante a convivência com o seu legítimo marido Raimundo José Moreira: 1) Nunca lhe ofender com palavras ásperas; 2) Não realizar negócio algum sem a sua devida autorização; 3) Durante a sua ausência, por motivos de viagens a serviços do banco, não sair em passeio por qualquer motivo, tais como: praia, cinema, festas em clube ou residencial; 4) Cumprir todas as obrigações de uma dona de casa, tais como: cozinhar, providenciar roupas para que estejam sempre em condições normais de uso e manter a casa sempre arrumada, inclusive os alimentos comprados nos dias necessários; 5) Nunca mais tomar atitudes de ir embora, [...];12 Família acusa o marido da suicida. O Povo, Fortaleza, 6 jan. 1981. p. 8.13 Raimundo José Moreira era funcionário do Banco Bradesco, onde exercia as funções de gerente geral dosetor de máquinas do Ceará, Piauí e Maranhão. Fonte: O Povo.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 111COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da Silva6) Transferir todo o patrimônio que estiver em seu nome para o seu marido. Nãopodendo desta data em diante comprar nada no seu próprio nome;7) Em caso de ser empregada em qualquer atividade empresarial, o seuordenado, depois de tirado determinada quantia para compras de objetos de usopessoal com a devida autorização, o restante será entregue ao seu marido para agarantia do futuro do casal;8) Sempre reconhecer a autoridade do marido em qualquer ocasião;9) Não reclamar o horário de saída ou de chegada que não lhe seja dadoconhecimento;10) Não levar problemas de família para perturbar o sossego do casal;11) Não dar nenhuma ajuda financeira para a família afora o permitido;12) Não emprestar nada que pertença ao casal para parentes ou estranhos sem alegítima permissão, nem vender objeto algum sem autorização.Obs: Todos os itens deste documento deverão ser cumpridos rigorosamente pelareferenciada. Dentre os mandamentos, reconhecer a autoridade do marido, cumprir todas asobrigações de dona-de-casa, não sair sem autorização do esposo são exemplos de como asociedade patriarcal produz e legitima os seus preceitos, reiterados não apenas peloshomens, mas também pelas mulheres, que os reproduz, de forma cíclica, nas filhas e nosfilhos. No caso, como a esposa não conseguiu seguir fielmente as 12 determinações,pôs fim a sua vida, por não suportar a separação e a perda do marido. Segundo a notícia, ojornal toma partido em defesa da mulher: “era humanamente impossível cumprir todasaquelas exigências. Celizete não suportou tanta humilhação e para se ver livre, pediuconselhos da família ficando alguns dias na casa de sua mãe em Messejana.” ( O Povo, 6de janeiro de 1981) E continua a reportagem sobre o trágico caso da suicida: A solução era o desquite e [o marido] ordenou que a mulher dissesse perante o juiz que queria apenas um telefone, um televisor colorido e uma cama de solteiro, recusando os demais pertences, inclusive o apartamento 108 da avenida Barão de Studart, 3103. Outra exigência: não fazer questão sobre a pensão, nem perturbá-lo no emprego à procura de dinheiro para sua manutenção. Tais exigências retiram totalmente a autonomia da esposa viver em sociedade,pois as condições de perda de patrimônio e de uma pensão para sobreviver ao isolamentosocial que cabia a uma mulher separada nos anos 1980, pois nem podia contrair uma novaunião e, caso o fizesse fora da lei, sofreria as pressões, foi significativa para a decisão fatal. Ressalta-se que, na época, a separação e o divórcio, anteriormentedenominados desquite, não eram, em sua grande maioria, aceitos pelos homens da época,que não acordavam o fim da sociedade conjugal, uma vez que “antes, ‘o homem era aceitoRevista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 112COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da Silvacomo o dominante da relação e hoje nem sempre ele o é’.” Ademais, “a acentuadamudança de papéis da mulher, nos últimos anos, nem sempre é aceita pelos homens,gerando aí atos de violência.”, conforme relata o psiquiátra Roberto Lobo, na reportagem“Mudança de papéis gera conflitos homem-mulher.”14 Outro exemplo de dominação masculina, nos anos 1980, reiterando asubmissão e a passividade femininas, pode ser encontrado na notícia “Os dezmandamentos da nova mulher”15, propostos pela psicóloga paulista Liliana Prinzivalli.Dentre os mandamentos, “não demonstrar ciúme, desprezo ou curiosidade por nenhumamulher”, “jamais brigar por telefone ou em véspera de feriado” e “não agir como dona donamorado, nem procurar absorvê-lo”, exaltando as características socialmente impostas àsmulheres, ou seja, passividade, submissão, emoção e docilidade16. Afinal, “é natural que o homem tendo convivido numa família em que a mãeera dócil e obediente para com seu pai, não aceite de bom grado uma mulher que o tratacomo igual e não como um ser superior.”17 Assim, os papéis atribuídos socialmente ahomens e a mulheres estava delineado na sociedade patriarcal. A mulher, para alcançar umbom casamento, não deveria ser ciumenta, ser obediente e aceitar as decisões do marido,afinal “quando a voz da mulher não se fazia ouvir nem no interior de seu lar, ela nãorepresentava nenhuma ameaça para o homem. Ele decidia e estava decidido, não se falavamais no assunto.” Quando esses estereótipos passaram a ser questionados, principalmente com aentrada das mulheres no mercado de trabalho e o processo de industrialização, “abriu-se aperspectiva para a mulher sair do isolamento da unidade familiar e viver um papel maisparticipativo”, conforme notícia “Socióloga aborda papel da mulher na procriação”.1814 Mudança de papéis gera conflitos homem-mulher (texto de Márcia Gurgel). O Povo, Fortaleza. Mulher,ainda uma vítima da opressão masculina (I). Caderno 2. 19 ago. 1981. p. 14.15 Os dez mandamentos da nova mulher. O Povo, Fortaleza, Caderno Roda Viva de Lúcio Brasileiro, 12 dez.1982. p. 8.16 Para Mary Del Priore, esse padrão moral de conduta siginificaria, na prática, o favorecimento das“experiências sexuais masculinas enquanto procurava restringir a sexualidade feminina aos parâmetros docasamento convencional.”. PRIORE, ibidem, 2011, p. 160. Assim, “a paz conjugal deveria ser mantida aqualquer preço e as ‘aventuras’ consideradas passageiras.” (p. 161). Imprescindível, portanto, osmandamentos socialmente impositivos.17 Quando a mulher não aceita o jogo... por Lúcia Maria Lustosa da Costa Martins. O Povo, Fortaleza,Quadro Nova Mulher, Caderno 2. 29 out. 1981. p. 15.18 Socióloga aborda papel da mulher na procriação. O Povo, Fortaleza, 21 maio 1980. p. 6. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 113COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da Silva Assim sendo, a honra masculina é baseada na habilidade de manter a reputaçãoda virilidade, a coragem e a habilidade de provedor do sustento familiar. Diferentemente, ahonra feminina normalmente vem ligada à idéia de sexualidade, moral e honra da família,bem como ao comportamento esperado do grupo social onde está inserida. Para PierreBourdieu19, “a moral feminina se impõe, sobretudo, através de uma disciplina incessante,relativa a todas às partes do corpo, (...)” Para Pitt-Rivers20, na tradição européia (que embasa os pilares da sociedadebrasileira) a honra masculina também se difere da honra feminina, possuindo a primeiraum caráter positivo e a segunda, negativo. A honra masculina é positiva, exige que o homem se imponha, que reclame a precedência que lhe é devida pela hereditariedade ou por sua próprias proezas, enquanto a honra feminina é negativa e não requer o cumprimento de proezas, mas somente que se evite todo atentado a uma reputação a ser herdada pelos filhos, homens ou mulheres. É o sentimento de vergonha que garante a honra da mulher, mas ele não contribui em nada para a honra masculina. (CZECHOWSKY, 1992,p.24) Para Rachel Soihet21, é possível compreender a honra como um sistema dedominação familiar, social e cultural, que restringe o poder feminino de dispor livrementesobre o corpo e a sexualidade. A honra da mulher constitui-se em um conceito sexualmente localizado do qual o homem é legitimador, uma vez que a honra é atribuída pela ausência do homem, através da virgindade, ou pela presença masculina no casamento. Essa concepção impõe ao gênero feminino o desconhecimento do próprio corpo e abre caminhos para a repressão de sua sexualidade. Decorre daí o fato de as mulheres manterem com seu corpo uma relação matizada por sentimentos de culpa, de impureza, de diminuição, de vergonha de não ser mais virgem, de vergonha de estar menstruada etc. Esses sentimentos, por sua vez, seriam acionados e reforçados através de uma rede de informações sobre o corpo que se caracterizaria pela transmissão de informações de caráter restritivo (“não pode”) e punitivo (“se fizer isto acontece aquilo”). A identidade sexual e social da mulher através de tais informações molda-se para atender a um sistema de dominação familiar e social. O medo, a insegurança, a vergonha, por sua vez, extravasam do sexual para a atuação no social, num sistema de realimentação constante.(SOIHET,2008, p.389-390)19 BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010, p. 38.20 A honra impõe-se como regra de conduta ou como medida de status social, atribuindo ao homem a“responsabilidade de proteger o sangue da família, e para isto lhes é concedida a autoridade sobre a mulher.”PITT-RIVERS, Julian. A doença da honra. In: CZECHOWSKY, Nicole (org). A honra: imagem de si ou odom de si – um ideal equívoco. Trad.: Cláudia Cavalcanti. Porto Alegre: L&PM, 1992, p. 24. Assim, essaautoridade se faz presente assegurando a fidelidade conjugal feminina, impondo padrões de conduta sociais,morais e sexuais, principalmente ao sexo feminino.21 SOIHET, Rachel. Mulheres pobres e violência no Brasil urbano. In: História das Mulheres no Brasil.PRIORI, Mary Del (org.). 9. ed. São Paulo: Contexto, 2008, p. 389-390.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 114COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da Silva Dessa forma, honra representa tanto uma questão de consciência moral e umsentimento quanto um fator de reputação ou precedência – ligada à virtude do nascimento,poder, riqueza, santidade, prestígio, por exemplo. Contudo, a honra feminina possui umconceito mais amplo, abrangendo a moralidade da família e do marido. Outro ponto relacionado com a honra feminina era a virgindade da mulher, sobpena de anulação do casamento. Era o que previa o artigo 178, §1º do Codigo Civil de1916: “Art. 178. Prescreve: § 1º Em dez dias, contados do casamento, a ação do maridopara anular o matrimônio contraído com mulher já deflorada.” Afinal, “a virgindade eravista como um selo de garantia de honra e pureza feminina.”, conforme afirma CarlaBassanezi.22 O código Civil de 1916 afirmava, em seu artigo 240, que “a mulher, com ocasamento, assume a responsabilidade de companheira, consorte e colaboradora do maridonos encargos da família, cumprindo-lhe velar pela direção material e moral desta.” Dessaforma, a mulher casada deveria pautar-se em condutas morais, aceitas pela sociedade, ouseja, ser uma mulher honesta, sob pena de causar vergonha à família e à sociedade, bemcomo abalar a honra do marido. Sobre o conceito de mulher honesta, Maria Amélia de Almeida Teles e Mônicade Melo23 afirmam que mulher honesta é aquela que obedece a um padrão sexual deconduta predeterminado pelos homens. Corroborando, Damásio Evangelista de Jesus24entende que mulher honesta é aquela que se conduz dentro dos padrões aceitos pela sociedade onde vive. É que se mantém uma conduta regrada, honrada e decente, de acordo com os bons costumes. [...] Pautando-se a mulher pelo mínimo de decência exigido pelos nossos costumes, será considerada honesta. [...] Só deixa de ser mulher honesta a mulher francamente desregrada sexualmente. (JESUS, 1999,p.109) Ressalta-se que tal posicionamento modificou-se ao longo dos anos,principalmente diante dos avanços feministas que questionaram o poderio masculino.Ainda nos anos 1980 o tabu da virgindade foi considerado por muitos como ultrapassado epertencente “aos tempos da inquisição”, conforme demonstra a reportagem “Repercute o22 BASSANEZI, Carla. Mulheres nos anos dourados. In: História das Mulheres no Brasil. PRIORI, MaryDel (org.). 9. ed. São Paulo: Contexto, 2008, p. 614.23 TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra a mulher. São Paulo:Brasiliense, 2002. Coleção Primeiros Passos.24 JESUS, Damásio Evangelista de. Curso de Direito Penal. São Paulo, 1999, p. 109.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 115COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da Silvaprojeto que extingue o tabu da virgindade”25, que apresenta a opinião de diferentes pessoassobre a virgindade e a possibilidade de anulação do casamento quando a mulher já foradeflorada. O jornal O Povo, sai a frente dessa discussão em 1980 com a matéria“Repercute o projeto que extingue o tabu da virgindade”. Conforme a notícia, a senadoraEunice Michilis apresentou projeto de lei que revogava justamente os artigos que tratamdesse assunto, quais sejam, 178, §1º e 219, IV do Código Civil de 1916. Segundo a senadora, a justificativa do projeto reside “na conquista daigualdade de direitos para mulher, já não se admite seja o homem detentor da prerrogativaexclusiva de inquiridor dos atos praticados pela mulher antes do casamento, quando osseus próprios permanecem a salvo de qualquer verificação.” (O Povo, 23 de setembro de1980) Com isso, a reportagem demonstra que o projeto repercutiu opiniões favoráveise contrárias à proposta de revogação dos dispositivos legais, no que se atentam àvirgindade antes do casamento. Vejamos algumas opiniões publicadas no jornal: Assim, o farmacêutico Edson Pereira disse : “Nunca me preocupei com esse assunto, por considerá-lo do tempo da inquisição. Superado e vergonhoso para a sociedade que o admite.” Para a auxiliar de contabilidade Marinete Alves Romão, o conceito dehonra está acima do de virgindade, “muito embora considere que o ideal é ‘juntar asduas coisas’.” Já o motorista Antônio Fernandes Araújo: “considera um direito do homem anular o casamento ao saber que sua esposanão é virgem”, embora reconheça que “quando o marido gosta muito da mulher, não seimporta com esse aspecto .” Das três opiniões, duas masculinas e uma feminina, somente o cientista secoloca a favor, os outros dois admitem que a virgindade é importante apesar das ressalvasde ambos.25 Repercute o projeto que extingue o tabu da virgindade. O Povo, Fortaleza, 23 set. 1980. p. 7.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 116COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da Silva Outro exemplo que demonstra a importância da honra na sociedadefortalezense pode ser encontrado na reportagem do O Povo, 21 de dezembro de 1983“Hélio apresenta-se e diz que foi humilhado”26. O médico e professor Hélio Pinto, sentindo-se traído pela esposa, AureniveCosta Pinto, e por “há muito [tempo] suportando a dor moral do marido enganado”,assassinou-a, alegando legítima defesa da honra, ao afirmar que “ela não soube ser esposanem mãe. Humilhou-me. Traiu-me. Senti a maior de todas as dores que um homem podesentir: a dor da honra.” Nesse caso o médico se diz sentir a pior dor de um homem a da “honra” e porisso tinha que se vingar. O argumento se constrói enquanto médico que salva vidas e sabeo teor das dores físicas, mas não suporta o da alma traída. A honra e a fidelidade conjugal, portanto, são exemplos de padrões atribuídos àmulher pela sociedade patriarcal. Quando essa decide romper a barreira de dominação, sejaatravés do divórcio ou da separação conjugal ou quando há a quebra do dever conjugal defidelidade ou a mera suspeita, o homem, em nome de sua legítima defesa da honra, se senteno direito de “lavá-la”, por considerar como legítimo o direito de posse e detenção sobre amulher. Dos vários movimentos em prol da liberdade feminina a essa dominaçãopatriarcal analisada aqui ao longo dos anos 1980 em Fortaleza, temos uma campanhanacional “Quem ama não mata” que refletia dentre outros argumentos de defesa dosassassinos e agressores de mulheres o da “violenta paixão” e “violenta emoção” quesegundo a defesa desencadeada pela má conduta das mulheres. Essa campanha visava áredução de crimes passionais no Brasil que já era considerado demasiado pelos índicesinternacionais de direitos humanos, mostrando-se um país “incivilizado” nas relações degênero. Como foi colocado nos anos 1980 dar-se inicio a uma conscientização esensibilização mundial sobre a violência contra a mulher no sentido de acabar com oscrimes de honra, levando as sociedades mais uma vez a rever seus conceitos de civilidade.Os jornais, as revistas e opinião pública passaram a questionar a legitimidade dos crimes26 Hélio apresenta-se e diz que foi humilhado. O Povo, Fortaleza, 21 dez. 1983, p. 13. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 117COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da Silvapassionais em defesa dessa honra que só se apresentava para as mulheres deixando oshomens livres de tais julgamentos. No entanto, apesar de várias décadas e da virada de século, o discurso dadefesa da honra ainda é proferido pelos agressores e assassinos de suas companheiras,porém não mais legitimado como em outras épocas. Analisamos ainda que mesmo com acomunicação imediata proporcionada pela internet, as conquistas e melhorias dasmulheres, os problemas relacionados à dominação masculina e a ideologia dopatriarcalismo são fortes condicionantes na nossa sociedade que absorve homens emulheres nessa permanência de poderio masculino. Este artigo revela que a questão relativa à violência domestica não são novas,mas que estão sendo reavaliada e questionada desde o final do século XX, na busca da tãosonhada e cara liberdade feminina.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A LIBERDADE É VERMELHA”: A HONRA FEMININA 118COMPORTAMENTO SOCIAL NA FORTALEZA DOS ANOS 1980 EOJanaina da Silva RabeloDiocleciana Paula da SilvaREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:BADINTER, Elisabeth. Um é o outro. Companhia do Livro Ed. MG, 1986.BASSANEZI, Carla. Mulheres nos anos dourados. In: História das Mulheres no Brasil.PRIORI, Mary Del (org.). 9. ed. São Paulo: Contexto, 2008.BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. 8ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,2010.JESUS, Damásio Evangelista de. Curso de Direito Penal. São Paulo, 1999.MONTEIRO, Angélica; LEAL, Guaraciara Barros. Mulher: da luta e dos direitos.Brasília, Instituto Teotônio Vilela, 1998 (Coleção Brasil Urgente 3).PITT-RIVERS, Julian. A doença da honra. In: CZECHOWSKY, Nicole (org). A honra:imagem de si ou o dom de si – um ideal equívoco. Trad.: Cláudia Cavalcanti. Porto Alegre:L&PM, 1992.SOIHET, Rachel. Mulheres pobres e violência no Brasil urbano. In: História dasMulheres no Brasil. PRIORI, Mary Del (org.). 9. ed. São Paulo: Contexto, 2008.TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é violência contra amulher. São Paulo: Brasiliense, 2002. Coleção Primeiros Passos.FONTES:Matérias do jornal O Povo.  Socióloga aborda papel da mulher na procriação. O Povo, Fortaleza, 21 maio 1980. p. 6.  Repercute o projeto que extingue o tabu da virgindade. Fortaleza, 23 set. 1980. p. 7.  Mudança de papéis gera conflitos homem-mulher (texto de Márcia Gurgel). O Povo, Fortaleza. Mulher, ainda uma vítima da opressão masculina (I). Caderno 2. 19 ago. 1981. p. 14.  Quando a mulher não aceita o jogo... por Lúcia Maria Lustosa da Costa Martins. O Povo, Fortaleza, Quadro Nova Mulher, Caderno 2. 29 out. 1981. p. 15.  Família acusa o marida da suicida. O Povo, Fortaleza, 6 jan. 1981. p. 8.  Os dez mandamentos da nova mulher. O Povo, Fortaleza, Caderno Roda Viva de Lúcio Brasileiro, 12 dez. 1982. p. 8.  Hélio apresenta-se e diz que foi humilhado. O Povo, Fortaleza, 21 dez. 1983, p. 13.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.106-118.

A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: a reatualização do conservadorismo no Serviço Social Marisa Albuquerque Cordeiro1 Cristiane Porfírio2 Jeriel Silva Santos3RESUMOO presente estudo toma como objeto de investigação analisar, sumariamente, asincidências reatualizadas do conservadorismo no Serviço Social, a partir de suasexpressões com o advento do chamado pós-modernismo na sociedade; buscandocompreender como este se articula às novas estratégias reeditadas pelo projeto socialcapitalista à procura de seu fortalecimento em tempos de crise estrutural. É importantesinalizar que este estudo é parte do nosso Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado“Continuidade e ruptura nas apropriações da tradição marxista no Serviço Socialbrasileiro”, através do qual tivemos a oportunidade de problematizar as polêmicas queperfilam o debate teórico-metodológico do Serviço Social na contemporaneidade. Nessesentido, buscamos contribuir com as recentes problemáticas colocadas ao atual projetoético-político profissional, na tentativa de alçar subsídios que propiciem a sua defesa emtempos de intensas disputas ídeo-teóricas.Palavras-chave: Conservadorismo. Pós-modernidade. Serviço Social.ABSTRACTThe present study takes as its object of investigation examine, briefly, the effects persist ofconservatism in Social Service, from their expressions with the advent of the so-calledpost-modernism in society; trying to understand how that articulates the new strategiesreedited by capitalist social project demand for its strengthening in times of structuralcrisis. It is important signal that this study is part of our Work to Completion of Course,titled \"Continuity and rupture in appropriating the Marxist tradition in Brazilian Social\",through which we had the opportunity to problematize the polemics that traversed thetheoretical-methodological debate of Social Service in contemporaneity. In this regard, weseek help with the recent problems posed by the current project ethical-politicalprofessional, in an attempt of flamingos subsidies that promote its defense in times ofintense disputes ideo-theoretical.KEYWORDS: Conservatism. Post-modernity. Social Service.1 Graduada em Serviço Social pela Faculdade Cearense. E-mail: [email protected] Assistente social, Mestra e Doutora em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará.Pesquisadora Colaboradora do Instituto de Estudos e Pesquisas do Movimento Operário – IMO/UECE.Professora Efetiva do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do Ceará – UECE. E-mail: [email protected] Mestre em filosofia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Bacharel em Teologia pelo SeminárioTeológico de Fortaleza (FTF), Licenciado em filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE),professor da Faculdade Ratio. [email protected] Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.

120A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:a reatualização do conservadorismo no Serviço SocialMarisa Albuquerque CordeiroCristiane PorfírioJeriel Silva Santos1- INTRODUÇÃO A reatualização ampliada do conservadorismo, nas diversas esferas da vidasocial, irrompida a partir dos anos 1970, juntamente com as transformações estabelecidasno interior do sistema capitalista, fundamenta a relevância de se discutir as suas incidênciascontemporâneas em relação a uma das especializações profissionais inseridas na divisãosocial (e técnica) do trabalho: o Serviço Social, que tem em suas origens um traçomarcadamente conservador. O conhecimento desse pensamento é fundamental para acrítica do neoconservadorismo, na medida em que se constitui um movimento pró-empobrecimento da razão, expresso em uma configuração de tipo pós-moderna, nãoobstante a conservação de seus valores mais originários opostos à razão crítico-dialética eàs transformações sociais. Antes de iniciarmos o debate acerca do Serviço Social, é necessário quesituemos, ainda que sumariamente4, a emergência do pensamento conservador, a partir desuas bases histórico-concretas e as suas incidências na profissão. O movimentoconservador, muito mais do que um determinado modo de ver e compreender o mundo queo cerca, tem em sua essência o imperativo de justificar uma determinada ordem como“natural”, reivindicando a defesa de valores como a tradição e o costume, mesmo que arealidade apresente características ontologicamente transformadoras. E é sobre bases socio-históricas, políticas e culturais determinadas, que o conservadorismo se levantará comouma vertente ídeo-política. As revoluções científicas ocorridas entre os séculos XVI e XVII são o marcoprincipal que fez urgir o pensamento moderno, assim como o processo da revoluçãoburguesa. Durante o século XVIII, o período da Ilustração, a razão aparece como o fiocondutor pelo qual o homem teria a possibilidade de conquistar a liberdade e o progresso.O pensamento moderno engendrado por este movimento preconizava que, na medida emque as civilizações progrediam, a razão era aperfeiçoada, contribuindo para que o homem4 O debate situado nas marcos da modernidade e da pós-modernidade é bastante denso. Nossa abordagem,por limites de objeto, não toma a problemática em sua inteireza, mas nos seus aspectos mais centraisrelacionados ao nosso objetivo de estudo. Por isso, ao leitor que busca haurir as mais diversas expressões eanálises acerca da temática, indicamos principalmente as leituras de Carlos Nelson Coutinho (2010),Marshall Berman (1986), Jean-François Lyotard (1989), Fredric Jameson (1985; 1996) e David Harvey(1996). Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.

121A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:a reatualização do conservadorismo no Serviço SocialMarisa Albuquerque CordeiroCristiane PorfírioJeriel Silva Santosse desvinculasse dos preconceitos religiosos, sociais e morais vigentes de interpretação darealidade, elevando-se ao mundo do conhecimento e da ciência. Nesse mesmo cenário, com a emergência da Revolução Francesa em 1789 e,consequentemente, a configuração da hegemonia política da sociedade burguesa, realizam-se as primeiras manifestações reacionárias do pensamento conservador5, em contrapontoao objetivo burguês de derrocada da ordem feudal e subversão dos valores e do modo deprodução desta sociabilidade. Em um dos seus expoentes teóricos, estava Edmund Burke,crítico vigoroso da ideologia presente na Revolução Francesa, ficando conhecido como umcontrarrevolucionário na Europa, visto que não aceitava nenhum tipo de reforma violenta(SIMIONATTO, 2009). A partir de uma análise de Carlos Nelson Coutinho (2010) podemos observar,em duas etapas principais na história da filosofia burguesa, como esta se opôs,posteriormente, aos preceitos da Ilustração e da modernidade. Num primeiro momento, quevai desde o pensamento renascentista às ideias de Hegel6, o movimento da burguesia é dedefesa da razão, ainda que fosse aquela em que a ação humana é tomada abstratamente, demodo idealista (COUTINHO, 2010). O segundo momento, ocorrido por volta de 1830-1848 – engendrado por profundas manifestações revolucionárias do proletariado, e seguidode uma radical ruptura pelo pensamento burguês da razão e na sua transformação em umaclasse conservadora, quando se observa um tratamento substantivamente cético à razão,estreitando-a cada vez mais a uma acepção manipulatória da realidade – o que,posteriormente, será alicerçada à sua subjugação ao formalismo.2. O PROJETO DA MODERNIDADE E O COMBATE CAPITALISTA À RAZÃO O projeto da modernidade estava centrado no domínio da razão pelo homem e,coincidiu com a promessa do sistema recentemente descoberto, o capitalista, em satisfazer5 Sem antes esquecermos que o conservadorismo atualmente aceita, parcialmente, o capitalismo, aoreconhecer diversas vantagens desse modo de produção e com o desejo de propor a sua convivência cominstituições pré-capitalistas, como a família, a Igreja e as corporações (SANTOS, 2007).6 É importante sinalizar que esta forma de apreensão da realidade inaugurada com o pensamento hegeliano,nos embates à razão fenomênica de Kant através da razão dialética de Hegel, sinalizou uma ruptura com arazão burguesa, abstrata, através de três núcleos básicos: o humanismo, o historicismo concreto e a razãodialética. (COUTINHO, 2010). Estas formulações serão importantes contribuições para a formação teórica deMarx, Engels e toda a tradição marxista. Cf. Simionatto, 2009. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.

122A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:a reatualização do conservadorismo no Serviço SocialMarisa Albuquerque CordeiroCristiane PorfírioJeriel Silva Santosas necessidades humanas – que mais tarde foi denunciado pelo próprio movimento darealidade e pela oposição proletária. Conforme sinalizado por Coutinho (2010), quando aburguesia, ameaçada pela oposição do proletariado se torna uma força conservadora,interessada na perpetuação da sua ordem, sua vertente ídeo-política se expressa noconservadorismo, que passa a dinamizar uma reação cada vez mais incisiva sobre a razão eos princípios emancipatórios7. Essa reação trouxe como consequência o empobrecimento da razão pela suaintensiva subjugação à esfera da razão formal, ao estruturalismo e ao irracionalismo8(COUTINHO, 2010). Observe-se que estas transformações estavam profundamenteinterligadas às condições históricas e sociopolíticas que começavam a explicitar ascontradições do modo de produção burguês, em que o homem, cada vez mais, se vê sujeitoao mundo das mercadorias. Nesse sentido, a ordem burguesa necessitava de mecanismosideológicos e sistemas teórico-filosóficos capazes de sustentar sua ordem antagônica, énesse contexto que o conservadorismo se articula como uma de suas expressões. [...] vemos precisamente um rompimento com a tradição progressista; não se trata de uma real continuidade, mas antes do fato de que as filosofias da decadência \"tiram vantagem de onde podem\" (Molière), ou seja, utilizam elementos filosóficos fetichizados num sentido oposto ao originário. (Ibid., p. 24). Desse modo, surgem duas grandes matrizes teóricas da razão moderna, quecausaram intenso impacto no século XX. Correspondendo, de um lado, à perspectivarevolucionária inaugurada com a teoria social de Karl Marx, e de outro, com o sistemapositivista de August Comte. De acordo com Simionatto (2009), o positivismo comteanoemerge como “um sustentáculo da ordem burguesa”, uma vez que expostos seusantagonismos de classe, necessitava de um ideário capaz de conter as “ameaças das lutassociais e políticas que emergiam [...] [naquele] contexto”. (SIMIONATTO, 2009, p. 3). Segundo a filosofia positivista, a sociedade seria concebida como uma ordemnatural impossível de ser mudada. Desse modo, com o estudo de Simionatto, é a partir7 A marcha contrária a esse pensamento se dá com o marxismo, na elevação da razão dialética a um nívelsuperior: materialista. (COUTINHO, 2010, p. 23).8 O irracionalismo tem em sua base o pensamento de que a totalidade do real não pode ser objeto de umaapreensão por vias da razão. (COUTINHO, 2010, p. 44 et seq.). Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.

123A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:a reatualização do conservadorismo no Serviço SocialMarisa Albuquerque CordeiroCristiane PorfírioJeriel Silva Santosdessa matriz positivista, que decorrem as vertentes do funcionalismo, estruturalismo eestrutural-funcionalismo, que têm em suas bases a abordagem instrumental e manipulatóriada realidade. “Essa forma de conhecimento do real fundamenta a chamada ‘racionalidadeformal-abstrata’ ou ‘razão instrumental’, que nega a dimensão dialética, histórica e humanada práxis social”. (Ibid., p. 4).3. A EMERGÊNCIA DO PENSAMENTO PÓS-MODERNO Aqueles, anteriormente citados, foram os principais matizes do pensamentomoderno durante o século XX. No entanto, a crise do capitalismo contemporâneo e seuprocesso de reestruturação produtiva deflagrada a partir dos fins de 1960 provocaramintensas mudanças nas mais diversas esferas da vida social. Na esfera política, é perdida aideia de Estado-nação em lugar dos interesses transnacionais. Com a mundialização docapital9, são realizadas reformas econômicas de cunho neoliberal, centradas na privatizaçãoe na supremacia do mercado, que esvaziando e inferindo nas possibilidades de construçãode outras formas de sociabilidade, enfocam projetos de grupos específicos no lugar dosinteresses universais e de classe. No lugar das representações políticas como os partidos e sindicatos, evidencia-se a micropolítica, representada na fragmentação dos sujeitos políticos que, cada vez mais,se distanciam de um projeto coletivo. Nas perspectivas ídeo-teórica e cultural, as principaismudanças se dão em torno do discurso sobre o fracasso do projeto da modernidade10, naspossibilidades do conhecimento em apreender a realidade, por consequência da sua‘fragmentação’ e ‘multiplicidade’; e na ascensão da sociedade do “descarte”(SIMIONATTO, 2009), com a crescente desvalorização dos valores, relacionamentos e domodo de ser e agir, com a exaltação do efêmero e do passageiro.9 O conceito de mundialização do capital foi elaborado pelo francês François Chesnais e consiste nodesvelamento das estratégias de funcionamento das empresas multinacionais que enformam a ascensão docapital monetário, concorrendo na construção de uma mundialização da economia, através de um regime deacumulação predominantemente financeiro. Sobre o processo de mundialização do capital, conferirespecialmente a obra intitulada A mundialização do capital, publicada no Brasil em 1996 pela editora Xamã.10 Assevera Santos (2007, p. 32) que ao contrário dos que relacionam o projeto modernizador como exclusivoà sociedade burguesa, está claro que é de sumo interesse para o capitalismo se ver livre do projetocivilizatório da modernidade devido “[...] à sua incompatibilidade histórica cada vez mais evidente com osvalores centrais constitutivos desse projeto”. Não é à toa todo o combate travado contra a razão dialéticaemancipatória. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.

124A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:a reatualização do conservadorismo no Serviço SocialMarisa Albuquerque CordeiroCristiane PorfírioJeriel Silva Santos As novas formas de organização social e expressões culturais movimentam‐se e expressam‐se, ainda, nos espaços locais e cosmopolitas, nacionais e internacionais, públicos e privados. Afirmam‐se a autonomia e as identidades locais, com o retorno da valorização de instituições como família e comunidade, permeadas por uma ideia abstrata de solidariedade. A separação entre indivíduo/classe e sua relação com grupos coletivos e a primazia do privado sobre o público contribuem, de forma incisiva, para o aumento da alienação, o esvaziamento das ações histórico‐sociais, a neutralização e a banalização do agir político. (SIMIONATTO, 2009, p. 11). Emerge, no âmbito do conhecimento, uma dita crise dos paradigmas (TONET,2004), configurada pelo discurso da perplexidade do estudo da realidade, visto que esta sedesdobrou numa estrutura complexa e ‘hiper-real’ (SANTOS, 1996), na qual se perde dopanorama o debate das classes sociais e instaura-se o fim das ideologias e das utopias –aproveitando-se da “queda” do dito socialismo real. Centralizando a problemática na relação entre objetividade e subjetividade, naqual os sistemas macroteóricos de análise estariam superados, dentre os pressupostos destacrise, o principal alvo é a tradição marxista, em que está sustentada a defesaepistemológica de sua insuficiência diante da compreensão da realidade, por suaequivocada caracterização como um modelo economicista e determinístico, incapaz deapreender as questões da subjetividade. À razão dialética, cabe, cada vez mais, umprocesso de total empobrecimento, cedendo lugar ao relativismo e, muitas vezes, aoirracionalismo. (SIMIONATTO, 2009). Eis aí o movimento que se convencionou denominar pós-moderno. É nele quegravitam as expressões neoconservadoras11, que inferem nas mais diversas dimensões eesferas da vida social. Para Jameson (1985), isso significa dizer que a pós-modernidade está bem maisarticulada à lógica do capitalismo avançado do que a substituição a uma suposta falênciado projeto da Ilustração – que mantém seus ideais como uma ameaça à ordem burguesa. Oque temos aqui, de acordo com Santos (2007), é o chão histórico de um cenário de crise docapitalismo contemporâneo, é um aspecto determinado do projeto moderno, em que se11 Por estar em momentos históricos distintos, o neoconservadorismo diferencia-se do conservadorismoanterior – de cunho restaurador e anticapitalista, especialmente porque agora está articulado ao pensamentopositivista, buscando alternativas para a construção de uma ideologia capaz de favorecer a manutenção daordem burguesa, que se encontra sob a constante ameaça do movimento operário. (SANTOS, 2007). Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.

125A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:a reatualização do conservadorismo no Serviço SocialMarisa Albuquerque CordeiroCristiane PorfírioJeriel Silva Santosinsere a modernidade burguesa, com sua tendência totalizante em abarcar as esferas davida como saídas para suas crises de acumulação. Nesse sentido, novas estratégias são reeditadas em nome da sua perpetuaçãocomo ordem vigente e o que se vê, ao contrário do que é disseminado pelo pensamentoneoconservador – que, sob as ameaças revolucionárias, convencionou-se a articular-se àburguesia; não é o atestado de morte do projeto da modernidade, mas de uma intensaofensiva aos ideais universais em detrimento de uma cultura da crise, isto é, uma tendênciapara situar à era “pós-moderna” (HARVEY, 1996) a efemeridade – isto é, a intensanegação histórica do passado, com ênfase ao aqui e o agora, em que se vive num “presenteperpétuo” (JAMESON, 1985); a fragmentação, a incerteza, a insegurança e a instabilidadecomo seus componentes principais. Desse modo, esse discurso, travestido pelo pensamentopós-moderno, será o alicerce ideocultural da sociedade burguesa contemporânea.(SANTOS, 2007). Portanto, compreendemos que a emergência do pós-modernismo não denota operecimento da modernidade. É necessário que essa possibilidade seja problematizada afim de esclarecer ao leitor as conexões internas e os antagonismos que permeiam omovimento desse pensamento. Fazemos uma alusão a Marx, quando este, no diálogo comHegel, diz que a história do mundo ocorre duas vezes, a primeira como tragédia e asegunda como farsa (MARX, 1984), para deduzirmos que o movimento pós-modernoreafirma a lógica cultural do capitalismo contemporâneo, na tentativa de maquiar seusprodutos contraditórios e advogar sua manutenção. No entanto, o seu debate é hoje umarealidade e seus rebatimentos, como representação da hegemonia ideocultural capitalista,na vida social são inegáveis.4. REATUALIZAÇÕES DO CONSERVADORISMO NO SERVIÇO SOCIAL O Serviço Social, como uma das especializações profissionais inseridas nadivisão social (e técnica) do trabalho na sociedade capitalista, não estaria alheio àstransformações anteriormente sumariadas. Para Santos (2007a) as inferências pós-modernas no Serviço Social estão articuladas, principalmente, a dois componenteshistoricamente centrais do “corpo ídeo-teórico” (p. 46) desta profissão. Primeiro umcomponente que esteve presente desde o surgimento do Serviço Social, o Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.

126A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:a reatualização do conservadorismo no Serviço SocialMarisa Albuquerque CordeiroCristiane PorfírioJeriel Silva Santosconservadorismo12, expresso tanto em sua versão restauradora, que nasce no coração daEuropa reacionária às manifestações revolucionárias até 1848, e dissemina as influênciasdo “catolicismo social” como resistência às ideias racionalizantes do capitalismoemergente, especialmente no Serviço Social francês; quanto na versão reformista,influenciado pela configuração do Serviço Social norte-americano, que teve em sua culturao legado da religião protestante, em que a profissão articula-se à burguesia reformando eadequando comportamentos a fim de responder às requisições de manutenção da ordemvigente. Apesar destas diferenças registra-se na história do desenvolvimento profissional das duas matrizes uma série de cruzamentos, principalmente a partir dos anos 1930. Desse modo, quando o Serviço Social surge no Brasil – a partir de 1936, institucionalizando-se na década de 40 –, ele possui em seu arcabouço-teórico original traços mesclados tanto do Serviço Social europeu quanto do norte- americano. (SANTOS, 2007a, p. 52). A interpolação destas duas vertentes no Brasil se dá, primeiramente, entre asdécadas de 1920 e 1930 com a iniciativa de fundar a primeira escola de Serviço Social,representada pela mobilização do laicato no projeto de recristianização da Igreja Católica ena tentativa, sob a influência conservadora, de “enfrentamento da ‘questão social’, que foraagravada com a chegada dos imigrantes anarco-sindicalistas e, ao mesmo tempo, servindode base para recuperar o espaço perdido com a laicização do Estado após a República”.(SANTOS, 2007a, p. 53). No que se refere à institucionalização do Serviço Social, a influência é decunho reformista, uma vez que esta se deu sob o “patrocínio” do Estado com vistas adinamizar o processo de desenvolvimento das forças produtivas no Brasil, o quemobilizava outros aportes para a intervenção. No entanto, a mesma autora orienta aobservação das particularidades sócio-históricas da profissão no Brasil, em que oconservadorismo não se expressa analogamente àquele proveniente da Europa. Isso porque12 O conservadorismo é um traço constitutivo da profissão não apenas em sua dimensão ídeo-teórica (isso nãoquer dizer que seja o único), mas no traço mais elementar da profissão, qual seja: a sua inserção na divisãosociotécnica do trabalho, em que as demandas para suas respostas profissionais advêm da necessidade dereprodução das relações sociais capitalistas de produção. No entanto, estas respostas, assim como a lógica dasrelações sociais, só podem existir em relação. O que pressupõe dizer que a atuação do assistente social épolarizada, de um lado pela demanda do capital e, do outro, pelas necessidades do trabalho, fortalecendo umou o outro por meio da mediação do seu oposto, mas tendendo a ser cooptada pela classe dominante.(IAMAMOTO, 1995 apud SANTOS, 2007). Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.

127A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:a reatualização do conservadorismo no Serviço SocialMarisa Albuquerque CordeiroCristiane PorfírioJeriel Silva Santosa burguesia brasileira não surge como contraponto a uma ordem feudal. Nesse sentido, énecessário relevar que a inserção do Brasil à ordem burguesa se dá de maneira periférica esubordinada, o que também determina o “sistema de saberes produzidos” (Ibid., p. 53). É a partir desse contexto, que podemos situar, de acordo com Santos (2007a), osegundo componente do corpo ídeo-teórico do Serviço Social, o sincretismo13, expresso naincorporação acrítica e eclética de “novas” teorias para subsidiar não somente aintervenção profissional, mas também a produção teórica. Assim, em sua trajetóriahistórica, o Serviço Social incorporou diversos matizes do pensamento social conservador,dos quais podemos situar: as interações anteriormente citadas do pensamento europeu enorte-americano – situadas pelo neotomismo, a vertente psicologista em meados da décadade 1930 e 1940, e sua articulação à concepção individualizante e moralizadora sobre aquestão social, historicamente característica da concepção europeia (SANTOS, 2007a);além da incorporação do racionalismo formal-abstrato, configurado no positivismocomteano e seus desdobramentos – o funcionalismo e o estrutural-funcionalismo. Éinteressante ressalvar que a racionalidade instrumental, expoente da matriz teóricapositivista, representante do pensamento moderno da burguesia, aparece como umaexpressão do conservadorismo à medida que obscurece a realidade, manipulando-a embenefício da racionalidade formal-abstrata. A partir dos componentes citados, observa-se que o Serviço Social tem umlegado de elementos antimodernos (Ibid., p. 67) que, do campo ídeo-teórico, se expressamno conservadorismo. É a partir desta herança ídeo-teórica sincrética, despojada de crítica,que o Serviço Social tenderá a incidência das expressões pós-modernas. Especialmente nocenário atual de crise estrutural do capitalismo, em que o Serviço Social, assim como asdemais profissões, está exposto à tendente precarização das condições de trabalho. Umaprimeira característica – tensionada pela hegemonia pós-moderna, estaria nas requisiçõescada vez mais setorializadas do capitalismo contemporâneo, impostas ao Serviço Social.Estas demandas, apanhadas de maneira acrítica,13 O sincretismo científico, no entanto, tem em suas origens determinações de outras formas de sincretismo,“o sincretismo derivado da configuração do espaço sócio-ocupacional [...], expressando-se pelo menos detrês maneiras distintas: no âmago do seu universo problemático original; no horizonte do exercícioprofissional [o cotidiano] e nas modalidades específicas de intervenção”. (SANTOS, 2007, p. 64). Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.

128A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:a reatualização do conservadorismo no Serviço SocialMarisa Albuquerque CordeiroCristiane PorfírioJeriel Silva Santos tende[m] a fortalecer a busca por atualização teórico-instrumental relativa aos ‘campos de atuação’ do Serviço Social vistos isoladamente. Em tempos de pós- modernidade são abundantes os materiais que, aprisionados pela lógica do fragmento, dão suporte a esse tipo de resposta. (Ibid., p. 70, grifo nosso). Deste modo, reforçada pela “lógica do fragmento”, a possibilidade de expansãoda perspectiva “microssocial” tem sido considerada pela crítica profissional, isto porquetende a incorporar os discursos fetichizados do pensamento pós-moderno transferindo aoServiço Social posturas técnico-operativas de “microintervenção” (SANTOS, loc. cit.) que,pautadas na lógica fragmentária, reduz o trato da questão social ao discurso moralizador,retoma vestígios de uma intervenção profissional psicologizante e acabam por estreitar aanálise da realidade social a uma esfera parcial. Outro traço apontado pela autora, resultante destas demandas, seria a tendênciaa um perfil profissional tecnicista e, do ponto de vista ideológico, conservador (SANTOS,2007a), que não questiona os limites impostos pela sociedade capitalista. Ademais, outracaracterística que marca o sincretismo no Serviço Social e “tende a ser reforçado com após-modernidade: [são] as vulgarizações das teorias originais” (Ibid., p. 71). Traçoobservado na trajetória histórica da profissão, em que o debate teórico-metodológico éfeito a partir de fontes secundárias e ecléticas, isto é, incongruentes entre si, que tendem aempobrecer a pesquisa como um componente profissional do Serviço Social.5. CONCLUSÃO É interessante observar que estas características aparecem como tendênciascontemporâneas constitutivas de um movimento de intensa disputa pela hegemonia dadireção social da profissão, que atualmente está pautada na razão crítico-dialéticaapreendida pela aproximação profissional à teoria social crítica de Marx, possibilitada peloacúmulo da perspectiva de intenção de ruptura do processo de renovação profissionaliniciada em meados da década de 1970, culminando na construção do projeto ético-políticoprofissional da categoria já na década de 1990 (SIMIONATTO, 2009). Dentre as características principais do projeto ético-político do Serviço Social,podemos observar a articulação a um projeto de sociedade oposto ao capitalismo, baseadono reconhecimento da liberdade como valor ético central, na emancipação humana, no Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.

129A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:a reatualização do conservadorismo no Serviço SocialMarisa Albuquerque CordeiroCristiane PorfírioJeriel Silva Santoscompromisso com a classe trabalhadora, na adoção de uma teoria social crítica comosubsídio para a compreensão da realidade social e, consequentemente, o combate aoconservadorismo profissional. Podemos, em síntese, dizer que estas são algumas das atuaisreferências teórico-metodológicas, ético-políticas e técnico-operativas do Serviço Social. Nesse sentido, ainda como expressão do combate à razão, as reflexões tecidasneste artigo representam como a batalha das ideias, no plano das abstrações, ainda reflete aintensificação das disputas materiais de classe (burguesia e proletariado) que permeiam ahegemonia da consciência social na sociedade capitalista. Reiteramos também a exigência de profissionais que, de fato, reivindiquem adefesa das categorias centrais de nosso atual projeto ético-político, especialmente, no quetange à negação do conservadorismo profissional, tendo em vista que este não sórepresenta, mas evidencia os limites à transformação da sociedade que vislumbramos:pautada na liberdade e emancipação humanas. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.

130A HEGEMONIA PÓS-MODERNA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO:a reatualização do conservadorismo no Serviço SocialMarisa Albuquerque CordeiroCristiane PorfírioJeriel Silva Santos6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBERMAN, M. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. SãoPaulo: Companhia das Letras, 1986.CHESNAIS, F. A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996.COUTINHO, C. N. O estruturalismo e a miséria da razão. 2. ed. São Paulo: ExpressãoPopular, 2010.HARVEY, D. Condição pós-moderna. 6. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996.JAMESON, F. Pós-modernidade ou a lógica cultural do capitalismo tardio. São Paulo:Ática, 1996.______. Pós-modernidade e sociedade de consumo. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo,n. 12, p. 16-26, jun. 1985.LYOTARD, J. F. A condição pós-moderna. 7. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2002.MARX, K. O 18 de Brumário de Luis Bonaparte. 2. ed. Lisboa: Avante, 1984.SANTOS, B. de S. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. 2. ed.São Paulo: Cortez, 1996.SANTOS, J. S. Neoconservadorismo pós-moderno e serviço social brasileiro. SãoPaulo: Cortez, 2007a.SIMIONATTO, I. As expressões ideoculturais da crise capitalista na atualidade e suainfluência teórico-política. In: CFESS. Serviço Social: direitos sociais e competênciasprofissionais, Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009.TONET, I. Democracia ou liberdade? 2. ed. Maceió: Edufal, 2004. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.119-130.


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