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Edicao Completa 2014

Published by ismaelmoura4, 2016-06-28 06:10:58

Description: Edicao Completa

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51AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos AnjosREFERÊNCIASARCOVERDE, S. N. S.; CORTEZ, J. W.; PITANGA JÚNIOR, C. DE O.; HIDEO DEJESUS NAGAHAMA, H. DE J. Nível de ruído emitido por conjuntos mecanizados emfunção da velocidade e da condição do solo. Revista Brasileira de Ciências Agrárias,Recife, v.6, n.3, p.514-520, jul.-set, 2011. <http://www.agraria.pro.br/sistema/index.php?journal=agraria&page=article&op=view&path[]=agraria_v6i3a1089&path[]=980>. Acesso em: 22 Nov. 2012.ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 9999: Mediçãodo nível de ruído, no posto de operação de tratores e máquinas agrícolas. Rio de Janeiro,21 p 1987.ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS-ABNT. NBR 1052 (NB 95):Níveis de ruído para conforto acústico. Rio de Janeiro, 4 p, 1987b.ALVES, A. D. da S.; COSTA, F. R. L. da; CORTEZ, J. W.; DANTAS, A. C. da S.;NAGAHAMA, H. de J.. Níveis de potência sonora emitidos por trator agrícola emcondições estáticas e dinâmicas. Pesquisa Agropecuária Tropical, Goiânia, v. 41, n. 1, p.110-119, jan./mar. 2011. Disponível em:<http://www.revistas.ufg.br/index.php/pat/article/view/9741>. Acesso em: 13 set. 2012.BAESSO, M. M.; TEIXEIRA, M. M.; RODRIGUES JUNIOR, F. A.; MAGNO JUNIOR,R. G.; FERNANDES, H. C. Avaliação do nível de ruído assistência de ar. Engenharia naAgricultura, Viçosa, v. 16, n. 4, p. 400-407,<http://www.seer.ufv.br/seer/index.php/reveng/article/viewFile/56/28> 2008.CUNHA, J. P. A. R.; DUARTE, M. A. V.; RODRIGUES, J. C. Avaliação dos níveis deVibração e ruído emitidos por um trator agrícola em preparo de solo. PesquisaAgropecuária Tropical, Goiânia, v. 39, n. 4, p. 348-355, out./dez. 2009. Disponível em:<http://www.revistas.ufg.br/index.php/pat/article/view/6927/5904>. Acesso em: 19 Fev.2012.JESUINO, P. R. Desempenho de um trator agrícola em função do desgaste das garrasdos pneus e das condições superficiais do solo. 2007. 64f. Dissertação (Mestrado emEnergia na Agricultura). Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP, Botucatu, 2007.Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp035081.pdf>.Acesso em: 21 Fev. 2012.MACHADO, A. L. T.; REIS, Â. V. Dos.; MACHADO, R. L. M. Tratores para agriculturafamiliar: Guia de referência. Ed. Universitária. UFPEL, 2010. 126 p.MIALHE, L. G. Máquinas agrícolas: ensaios & certificação. Piracicaba: FEALQ, 1996.722p. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

52AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos AnjosMORAIS, C. S. et al. Avaliação do nível de ruído de um trator de rabiça utilizandodosímetro. XVIII Congresso de Iniciação Científica, o XI Encontro de Pós-graduação e Imostra científica – Universidade Federal de Pelotas. 2009. Disponível em:<http://www.ufpel.edu.br/cic/2009/index.php>. Acesso em: 22 de maio de 2012.MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO (MTE). Segurança no trabalho emmáquinas e equipamentos: NR-12. 2011. Disponível em:<http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C812D350AC6F801357BCD39D2456A/NR-12%20(atualizada%202011)%20II.pdf>. Acesso em: 21 de ago. de 2012.MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO (MTE). Atividades e operaçõesinsalubres: NR-15. 2011. Disponível em:<http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C816A36A27C140136A8089B344C39/NR-15%20(atualizada%202011)%20II.pdf>. Acesso em: 15 de set. 2012.RINALDI, P. C. N. et al. Características de segurança e níveis de ruído em tratoresagrícolas. Engenharia na Agricultura, Viçosa, MG, v.16, n.2, p. 215-224, abr./jun. 2008.Disponível em: <http://www.seer.ufv.br/seer/index.php/reveng/article/viewFile/19/9>.Acesso em: 24 de maio de 2012.RODRIGUES, D. E.; TEIXEIRA, M. M.; FERNANDES, H. C.; MODOLO, A. J.;RODRIGUES, G. J. Desempenho de um microtrator utilizando-se motores com diferentesalternativas energéticas. Acta Science Technology, Maringá, v. 28, n. 1, p. 55-63, 2006.RUAS, R. A. A.; MACHADO, L. G.; CAIXETA, L. F.; DEZORDI, L. R.; RUAS, S. R. C.Determinação do raio de afastamento seguro de acordo com a pressão sonora produzidapor um micro-trator. Global science and technology, Rio Verde, v. 04, n. 01, p.124 – 130,2011.SALIBA, TUFFI MESSIAS. Manual de Avaliação e Controle do Ruído. 4. ed. SãoPaulo: LTr, 2008. 136p.SILVA, L. F. Estudo sobre a exposição combinada entre ruído e vibração de corpo inteiroe os efeitos na audição dos trabalhadores. Faculdade de Saúde Pública, Universidade deSão Paulo, São Paulo, 2002. 182 p. Tese Doutorado em Saúde Ambiental.SILVA, R. P.; FONTANA, G.; LOPES, A.; FURLANI, C. E. A. Avaliação do nível deruído em colhedoras combinadas. Engenharia Agrícola, Jaboticabal, v. 24, n. 2, p. 381-387, 2004.SILVEIRA, G. M. da. Os cuidados com o trator. Rio de Janeiro: Editora Globo, 1987. 245p.SILVEIRA, G. M. DA; et al. Sistema de aquisição automática de dados para ogerenciamento de operações mecanizadas. Bragantia, Campinas, v. 64, n. 2, p.305-310,2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0006-87052005000200018&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 06 Abr. 2012. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

53AVALIAÇÃO DOS NÍVEIS DE RUÍDO EMITIDOS POR UM TRATOR DERABIÇAS COM UM ARADO DE DISCO ACOPLADOKarla Lúcia Batista Araújo, Silvia Ferreira da Silva, Elivânia Maria Sousa Nascimento,Francisco Ronaldo Belem Fernades, Raul Monte dos AnjosSOUZA, L. H. de, FERNANDES, H. C., VITÓRIA, E. L. da. Avaliação do nível de ruídocausado por diferentes conjuntos mecanizados. Revista Brasileira de SaúdeOcupacional. v. 28. n. 105/106. p. 21-30. maio 2004.TELES, C. J. C. F. Avaliação do grau de conhecimento dos médicos dentistas em relação àaplicação da ergonomia na medicina dentária. Universidade Fernando Pessoa: Porto, 2009.148p. Monografia.TOSIM, R. C., Avaliação do ruído e da vibração no posto de trabalho em dois tratoresagrícolas. 2009. Tese (Doutorado em Energia na Agricultura). Faculdade de CiênciasAgronômicas da UNESP, Campus de Botucatu, 2009. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.37-53.

PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTRE PROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISE BEYOND THE DISCIPLINARY POWER: CONFLICTS BETWEEN TEACHERS AND STUDENTS IN AN EDUCATIONAL INSTITUTION IN CRISIS Cícero Robson Pereira1RESUMOEste artigo analisa a crise administrativa e a crise pedagógica de uma instituiçãoeducacional de Fortaleza, que culminaram na sua falência, a exemplo das inúmeras escolasque “fecharam as portas” recentemente. Utilizando os referenciais teóricos de MichelFoucault, Zygmunt Bauman, Peter Berger e Émile Durkheim, o trabalho relaciona ocrescimento das ocorrências disciplinares com a falência do modelo pedagógico da escola.Com base nas entrevistas feitas com alunos, professores e coordenadores da instituição,busca-se estabelecer uma interface entre os citados teóricos do pensamento sociológico eas experiências educacionais relatadas no cotidiano, relacionando os conflitos disciplinarescom a perda da sua legitimidade pedagógica. As pesquisas realizadas contrariaram asnotícias veiculadas na imprensa, que atribuíam o fechamento do colégio apenas àinadimplência causada pela chamada “lei do calote”. O modelo pedagógico arcaico,baseado no poder disciplinar, bem como o modelo administrativo, baseado noapadrinhamento e no personalismo, foram os fatores decisivos para o encerramento dasatividades educacionais.PALAVRAS-CHAVE: Sociologia da Educação; Relações Sociais; Poder Disciplinar;Ensino-Aprendizagem; Conflitos Sociais.ABSTRACTThis article examines the administrative crisis and the pedagogical crisis of an educationalinstitution in Fortaleza, which culminated in its collapse, numerous schools \"closed thedoors\" recently, for example. Using the theoretical references of Michel Foucault,Zygmunt Bauman, Peter Berger and Émile Durkheim, the research relates the growth ofdisciplinary occurrences with the insufficiency of the school pedagogical model.. Based oninterviews with students, teachers and coordinators of the institution looking up toestablish an interface between the cited theorists of sociological and educationalexperiences reported in the daily relating the disciplinary conflicts with the loss of theirpedagogical legitimacy. Research conducted contradicted the reports in the press, whoattributed the closure of the college only to delinquencies caused by the \"law of default.\"The pedagogical model archaic, based on disciplinary power, as well as the administrativemodel, based on sponsoring and individualism, were the decisive factors for the shutdownof educational activities.KEYWORDS: Sociology of Education, Social Relations, Disciplinary Power, Teaching-Learning, Social Conflicts.1 Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

55PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson PereiraINTRODUÇÃO O presente artigo se dispõe a estudar preliminarmente as relações sociais noâmbito escolar. No entanto, se “apurarmos a vista”, ficará claro que ele discorre sobre ospresumíveis conflitos envolvendo alunos e professores decorrentes de uma escola em criseterminal. Dentre as 242 escolas que fecharam suas portas no ano letivo de 20112, o Colégio“Sucesso” (nome fictício) será o campo de análise onde tais relações conflituosas seestabeleceram. A hipótese inicial fundamenta-se na ideia de que para o funcionamento de umgrupo social são necessárias regras de controle legitimadas institucionalmente, e que assituações marginais3 verificadas na escola em questão contribuíram significativamentepara o aumento das transgressões disciplinares e conflitos entre alunos e professores. As crises administrativa e pedagógica ocorridas na instituição educacionalanalisada romperam com o tênue limite entre o permitido e o não permitido, as quaisensejaram o aumento das ocorrências disciplinares. Nessa análise, utilizo do conceito deanomia de Durkheim (2003) para exemplificar a percepção dos alunos acerca da crise delegitimidade pedagógica vivenciada pela instituição. Um ponto de fundamental importância a ser abordado nesta introdução dizrespeito à “liberdade” do autor em inferir que as corriqueiras transgressões às normasdenunciam um conflito, ora latente, ora pronunciado, presente no corpo escolar (docente ediscente). Neste aspecto é utilizado o conceito de conflito retirado do dicionário desociologia para explicar as transgressões disciplinares ocorridas no âmbito escolar. A partirda abordagem sociológica, conflitos “são as manifestações de antagonismos abertos entredois atores (individuais ou coletivos) de interesses momentaneamente incompatíveisquanto à posse ou à gestão de bens raros - materiais ou simbólicos”4. Ressalta-se ainda a análise que Foucault (1999) faz sobre o poder disciplinar eseus três aspectos estruturadores: a vigilância hierárquica, a sanção normalizadora e o2 Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/economia/2011/12/17/noticiaeconomiajornal,2359442/2-662-escolas-privadas-fecharam-no-ceara.shtml>(acessoem19/12/2011)3 O termo situação marginal foi tomado de empréstimo de Peter Berger (1985), que se refere ao conflitodecorrente da perda de legitimidade de uma instituição.4 Dicionáriodesociologia,disponívelem:<http://www.4shared.com/document/NPASeoNC/DICIONARIO_DE_SOCIOLOGIA.html>(acessoem10/12/2011) Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

56PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson Pereiraexame. A partir dos relatos dos alunos e professores será mostrada a maneira que osaspectos foucaultianos foram subvertidos, negligenciados e desvirtuados, respectivamente. Por fim, é importante destaca que boa parte das conclusões e observações arespeito do cotidiano escolar carecem da devida fundamentação científica, já que váriasafirmações de professores, diretores e coordenadores não foram passíveis de registro, pelofato de terem sido colhidas de maneira informal ao longo dos nove anos de atividadeprofissional naquela instituição.CRÔNICA DE UMA MORTE ANUNCIADA Toda sociedade é um empreendimento coletivo dotado de sentido e que integraseus membros através de normas e valores partilhados cotidianamente. Segundo o autorclássico da sociologia do conhecimento, Peter Berger (1985), o mundo social é legitimadoporque existe um nomos que estrutura as ações sociais. O nomos de uma sociedade legitima-se antes de tudo pelo simples fato de existir. As instituições estruturam a atividade humana. Quando os sentidos das instituições são integrados nomicamente, as instituições são ipso facto legitimadas, até o ponto em que as ações institucionalizadas aparecem como “evidentes por si mesmas” aos que as executam. (Berger, 1985, p. 43) Significa dizer que a realidade é algo objetivo aos olhos do cidadão comum eque as instituições que o precede exercem o papel de legitimar essa ordem social e dotá-lade significado. A solidez das instituições sempre foi um fator de segurança nas relaçõeshumanas e de previsibilidade dos seus resultados. Dessa forma, a vida cotidiana eraestruturada espacial e temporalmente. A escola, instituição fundamental da sociedade contemporânea, possui o papelde reprodução das condutas humanas e das regras do jogo social. Cabe a ela, segundo alinha de raciocínio de Berger (1999) ao discorrer sobre o papel das instituições sociais namanutenção da realidade social, a função de tornar as relações habituais significantes,sujeitar seus integrantes a uma conduta que siga os princípios normativos da sociedade.“As instituições controlam a conduta humana estabelecendo padrões previamente definidosde conduta, que a canalizam em uma direção por oposição às muitas outras direções queseriam teoricamente possíveis”. (Berger, 1999, p. 80) Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

57PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson Pereira O Colégio Sucesso foi o modelo de instituição de ensino particular que serviude modelo, principalmente no final da década de 1990 e início dos anos 2000. Chegou a termais de 15 mil alunos e foi por vários anos o que mais aprovou estudantes nos vestibularesda UFC e UECE. Havia uma inscrição acima da porta da sala da supervisão do pré-vestibular que dizia: “Somos especialistas em vestibular”. Tais feitos, num curto espaço detempo, fizeram com que seu papel educacional fosse superdimensionado. Numa publicaçãointerna comemorativa dos 20 anos da instituição, o autor Juarez Leitão (1999) destaca,diante do crescimento vertiginoso do número de alunos, a sua dimensão formativa denovos cidadãos, preparados para os desafios sociais. Agora, decorridos vinte anos, é a maior escola do Ceará. Dezoito mil alunos vestem seu uniforme vermelho, a cor guerreira dos lenços maragatos. Estão por toda parte, nos ônibus, nas praças, nos carros particulares, saindo e entrando das casas de todos os bairros, circulando como sangue no organismo da cidade. O sangue pulsante de otimismo e esperança da juventude do Ceará. [...] Aqui, pensa-se, não apenas no aprendizado das informações curriculares, mas na completa formação de pessoas para a vida, com compromisso cívico e responsabilidade social. (Leitão, 1999, p. 26) No entanto, as configurações do tecido social estão sujeitas a rápidas eprofundas alterações, notadamente no meio educacional. Segundo Bauman (2001), a pós-modernidade, chamada por ele de líquida devido à sua natureza cambiante, cujos efeitos,imprevisíveis e incontroláveis, trouxeram consigo a quebra da solidez das instituições e dasegurança que carregavam consigo. Em seu livro Comunidade – a busca por segurança no mundo atual, Bauman(2001) conclui que as grandes transformações sociais, disseminadas a partir do ambienteindustrial-produtivo, trouxeram incertezas à sociedade, que paulatinamente assiste à perdade seus laços comunitários. O trabalho, eixo em torno do qual se estrutura a sociedade,sofreu consideráveis mudanças. Agora, esse eixo está irreparavelmente quebrado. Em lugar de ter ficado ‘flexível’, ele se tornou frágil e quebradiço. Nada pode (ou deveria) ser fixado a esse eixo com segurança – confiar em sua durabilidade seria ingênuo e poderia ser fatal. Até os escritórios mais veneráveis e as fábricas mais orgulhosas de seu longo e glorioso passado tendem a desaparecer da noite para o dia e sem aviso; empregos tidos como permanentes e indispensáveis se evaporaram antes que o trabalho esteja terminado... (Bauman, 2001, p. 46) Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

58PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson Pereira A insustentável leveza das mudanças no mercado educacional, ao se adaptar àsnovas demandas pedagógicas nacionais, amparadas pela nova Lei de Diretrizes e Bases daEducação (LDB), conduziu o Colégio Sucesso a um lento e agonizante desfecho. Váriosfatores contribuíram para a bancarrota. Dentre eles, o aspecto financeiro foi o primeiro aser mencionado pelo corpo diretivo, tendo como vetor a aprovação da Lei nº 9.870, de1999, conhecida como “lei do calote”, que não permite à instituição educacional privar osalunos inadimplentes das aulas e das avaliações escolares. De acordo com o seu artigo 6º: São proibidas a suspensão de provas escolares, a retenção de documentos escolares ou a aplicação de quaisquer outras penalidades pedagógicas por motivo de inadimplemento, sujeitando-se o contratante, no que couber, às sanções legais e administrativas, compatíveis com o Código de Defesa do Consumidor, e com os arts. 177 e 1.092 do Código Civil Brasileiro, caso a inadimplência perdure por mais de noventa dias.5 No entanto, o Diretor Administrativo, em entrevista a um jornal de circulaçãoestadual, enfatiza outros aspectos, ligados às mudanças de cunho social e a melhoria daqualidade do Ensino Público. As pessoas sempre querem analisar as coisas pelo resultado final. Isso é o resultado de uma nova era. O que foi o sucesso do Colégio Sucesso? Ausência da escola pública na década de 1990. Fazíamos educação classe A para a classe C. Diante dessa chance única, nos sentíamos na obrigação de pagar, tínhamos respeito. A escola pública deverá ocupar o espaço que já deveria ter ocupado6. Os primeiros sinais da crise surgiram ainda em 2004, com o fechamento deuma de suas unidades situadas no centro da cidade, a sede “BR” ( nome fictício), cujosalunos foram transferidos para a sede situada no centro da cidade. O fato acarretou osuperlotamento das salas de aula. No final daquele ano letivo, vários pedidos detransferência foram feitos. Diante da “sangria desatada” de alunos, a diretora pedagógicadeterminou que todos os pedidos de transferência teriam de passar pelo seu crivo, mesmose o aluno estudasse na mais distante sede. O objetivo era “reverter” a decisão dos pais delevar seus filhos para outra instituição.5 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9870.htm> (Acesso em 04/09/2013)6 Disponível em: <http://www.opovo.com.br/app/opovo/economia/2011/11/29/noticiaeconomiajornal,2344877/colegio-anuncia-fim-das-atividades-apos-31-anos.shtml > (Acesso em 20/12/2011) Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

59PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson Pereira Numa das reuniões pedagógicas realizadas quinzenalmente, o diretoradministrativo foi perguntado sobre a inviabilidade financeira e administrativa em manterduas sedes próximas funcionando. Ele argumentou que assumiu o colégio “BR” por apreçoao seu dono anterior, de um grupo familiar muito conhecido na cidade, com quem fizeranegócios vantajosos financeiramente. Os cargos de chefia da organização administrativa eram ocupados em suamaioria por membros da família, que invariavelmente possuíam salários bem acima damédia, se comparados aos outros funcionários. Os chamados “cargos de confiança” eramdistribuídos entre aqueles que tivessem uma relação de proximidade com a “família”. Bauman (2001) aponta o caráter anacrônico das relações de confiança e osubstrato comunitário que a mantinham. Os tempos atuais são marcados pelodesengajamento, que marcam o fim de uma sociedade caracterizada pelo poder disciplinar. O princípio essencial do panóptico é a crença dos internos de que estão sob observação contínua e de que nenhum afastamento da rotina, por minúsculo e trivial que seja, passará despercebido. Para manter essa crença, os supervisores tinham que passar a maior parte do tempo nos postos de observação, do mesmo modo que os pais não podem sair de casa por muito tempo sem temer travessuras dos filhos. (Bauman, 2001, p. 35) A hipótese levantada aqui é a de que não foram apenas as questõesadministrativas que levaram ao fechamento do Colégio Sucesso, mas a conduçãoextremamente personalista das atividades pedagógicas, a manutenção do anacrônicoprincípio pedagógico do vigiar e punir; a busca do rigor disciplinar como um instrumentode distinção entre as instituições educacionais de Fortaleza. Mantinha-se um equilíbrioinstável na relação aluno-professor, amparada pelas normas da escola, que foram abaixo noagravamento da sua crise (administrativa e pedagógica). Na parte seguinte do artigo, mostrar-se-á como a sensação generalizada deanomia no ambiente escolar desconfigurou os princípios do poder disciplinar, conceitoemprestado de Foucault (1999), aumentando substancialmente os conflitos intramuros, queculminaram com o fechamento da instituição.DISSOLUÇÃO77 O título desta seção e das seguintes fazem alusão às obras de C. J. Sansom, historiador e romancista inglês,que escreve romances históricos de cunho investigativo, ambientados na época da Reforma Protestante, sob oreinado de Henrique VIII. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

60PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson Pereira Dentre os sociólogos ditos clássicos, Émile Durkheim é talvez o autor maismencionado quando se discute a relação entre sociologia e educação. Isso porque ele via aeducação como um instrumento de disciplinamento dos instintos humanos, preparação paraa convivência relativamente harmônica em sociedade, que ele chamou de solidariedadesocial. Assim, a educação na visão durkheimiana, tem a função de estabelecer umaadequação às normas sociais. Aron destaca de forma sucinta e elucidativa que A educação consiste assim, antes de mais nada, em habituar os indivíduos a uma disciplina, a qual deve ter, e não deve deixar de ter, um caráter autoritário. Por uma ambivalência que sabemos hoje característica da própria sociedade, a disciplina a que cada indivíduo está submetido é uma disciplina desejada e de certo modo amada, porque provém do grupo. (Aron, 2002, p. 560) Durkheim era tido como um sociólogo conservador, porque boa parte da suaprodução intelectual versava sobre a preocupação com a manutenção das normas e dasinstituições sociais. Sabe-se que ele viveu em um período histórico conturbado e que asrápidas transformações sociais despertaram nele muitas incertezas e temores. A sociedade que passa por uma crise dos valores morais ou da diminuição dasolidariedade social é caracterizada por Durkheim como um corpo social doente, em estadode anomia. Os conflitos decorrentes de um grupo social em que os valores e as normas deconduta não possuem a mesma validade de outrora caracterizam uma sociedade anômica.Anomia é, portanto, um estado de perda ou diminuição do poder coercitivo das regrassociais. Perguntados sobre o objetivo das normas disciplinares de uma escola,professores e alunos reconhecem a sua importância para o bom andamento das atividadespedagógicas e também para a preparação para os desafios sociais existentes. O professor T.C. explica que “com o respeito às normas, a cidadania se constrói através dos direitos edeveres a serem cumpridos, para uma melhor vivência em sociedade”. A aluna L. M.segue a mesma linha argumentativa: “As regras são feitas para educar e conscientizar osalunos, para que no futuro saibam desenvolver suas habilidades no meio em que viverem”. No que concerne à perda de legitimidade pedagógica e disciplinar pelainstituição, grande parte dos entrevistados destaca as consequências diretas no aumento dosconflitos escolares. O professor J. E. explica que “o professor enquanto o símbolo doeducador já não tem mais a mesma força, e que a falta de critérios punitivos foifundamental para o aumento das ocorrências”. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

61PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson Pereira Há uma voz uníssona entre os entrevistados ao se referirem à faltaresponsabilidade da escola em zelar pelo bom andamento das atividades pedagógicas,gerando insatisfações e transgressões disciplinares. M. S. (aluno) expõe uma opiniãocontundente. “Faltou também da parte da direção e coordenação punição para os alunosque assim agiam (indisciplinadamente). Por isso também que os alunos não aprendiam aobedecer”.SOBERANO SEM MAJESTADE “Nosso caráter é aquilo que fazemos quando achamos que ninguém está olhando”. Antoine de Saint-Exupéry “Agora falta combinar com os russos” Garrincha Uma das experiências mais marcantes na coordenação disciplinar se deu aindanos primeiros meses, quando houve a oportunidade de conhecer o coordenador D. P.Experiente, profissional, organizado e extremamente exigente (com alunos e funcionários),ele tinha um jeito todo pessoal de conduzir seu trabalho. Era a garantia de cumprimentodas normas disciplinares. Essa era a “política” da escola, que escolhia os coordenadorespela sua capacidade de centralização, “autoridade” e autonomia. Certa vez, ele recomendou à equipe de profissionais da coordenação quesempre apagasse as luzes dos pátios e dos corredores durante as aulas, pois “facilitava onosso trabalho”, ao evitar a saída de alunos de sala nos horários indevidos. Foucault (1999) explica que através da vigilância hierárquica, o poderdisciplinar estabelece um controle pelos “olhares que devem ver sem ser vistos; uma arteobscura da luz e do visível preparou em surdina um saber novo sobre o homem, através detécnicas para sujeitá-lo e processos para utilizá-lo” (Foucault, 1999, 145) O autor francês se refere à gênese das instituições disciplinares no séculoXVIII, durante o desenvolvimento da sociedade capitalista, que necessitava de “corposdóceis”, com o objetivo de atender a uma nova configuração social, centrada noindustrialismo e na rotinização do trabalho. Entretanto, tal modelo educativo presente no Colégio Sucesso, personalista econtrolador, soa anacrônico na sociedade pós-moderna. Ele condiciona o cumprimento das Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

62PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson Pereiranormas disciplinares ao temor à “autoridade máxima” e à figura do coordenador. Eramcomuns situações de conflito envolvendo auxiliares de coordenação e alunos, que só“deviam obediência” ao professor D. P. Diante da atual autonomia dos jovens e da crise deautoridade presente nas relações hierárquicas, não demorou muito para que esse modeloruísse nos primeiros sinais. Nos últimos três anos, quando a crise financeira da instituição se agravou e foinecessário o “enxugamento” do quadro de funcionários, ficou evidente o “relaxamento” dacoordenação com as pequenas transgressões disciplinares. Saída de sala sem autorização,atrasos e incidência de alunos sem o devido fardamento aumentaram. A coordenadorapedagógica F. V. L. explica a consequência direta no seu trabalho: “A sobrecarga deatribuições foram tão intensas que nos últimos anos tivemos de abrir espaço para‘exceções’ que aos poucos se tornaram regras. É o famoso ‘vou autorizar só hoje’”. De acordo com o levantamento das ocorrências disciplinares nos últimos mesesde funcionamento do colégio, percebem-se o aumento do número de situações de conflito,quase sempre pelos mesmos motivos. De acordo com o levantamento, mais de 90% dosregistros feitos pela coordenação do Ensino Médio na sede “PB” (fictício) referem-se àsaída de sala sem autorização do professor, gazeta de aula (o aluno sai de sala na troca deprofessor e não volta) e conversas constantes durante a aula, que culminam em discussãocom o professor e exclusão de sala. É notória a ausência de uma educação participativa, em que o aluno se sintasujeito produtor de conhecimento e partícipe da construção das atividades pedagógicas. Novocabulário durkheimiano, havia pouca solidariedade social. O sistema de vigilância econtrole, outrora posto em prática, despertava em parte do corpo discente a busca pelatransgressão. Até mesmo os alunos sem registro de ocorrências disciplinares sentiam um“clima de desordem no ar”. I. A. analisa a aplicação das normas disciplinares como “nulas,já que não são cumpridas e geram nos alunos o sentimento de impunidade. Isso fazaumentar o número de alunos que as desrespeitam”. Com o tempo, a coordenação já não tinha mais como controlar as saídas dealunos de sala durante a aula e nos seus intervalos. Era muito comum alunos assistirem àsaulas em outras turmas e em séries diferentes. Muitos se ausentavam da escola mais cedosem o consentimento dos pais ou o registro pela coordenação. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

63PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson Pereira Na abordagem de Foucault acerca da sanção normalizadora, em todo sistemadisciplinar “funciona um pequeno mecanismo penal, com leis próprias e formasparticulares de sanção” (Foucault, 1999, p. 149). O colégio transitou de um extremo aoutro num intervalo de apenas cinco anos. Um antigo funcionário da coordenação tinha porpraxe “exigir” de cada professor no primeiro dia de aula “inventar” uma exclusão de sala,por qualquer motivo, para dar o ensejo de mostrar na prática aos alunos o “tratamento dechoque” dado àqueles que ousassem “fugir da linha”. Nos últimos meses, o colégiopraticamente aboliu a suspensão, mesmo nas ocorrências mais graves, como agressão,ofensas ao professor ou ao coordenador. O terceiro aspecto do poder disciplinar, o exame, merece uma análise maisdetida. Como em toda instituição educacional, o colégio possui as avaliações parciais eglobais. A média era calculada pela soma dessas provas e a atividade processual, fruto dastarefas (classe e casa) feitas ao longo da etapa. Em nome do “aprendizado continuado”, foi instituída pela direção pedagógicaa recuperação paralela, permitindo que a média da segunda e quarta etapas recuperassem asnotas baixas dos bimestres ímpares. Dessa forma, os conteúdos vistos em cada etapapoderiam se repetir nas provas dos bimestres pares. Por exemplo, se o aluno alcançassemédia oito na última etapa, já garantiria sua aprovação independentemente das notasanteriores, pois a prova semestral 2 contemplaria todos os assuntos vistos ao longo do anoletivo. A mudança que a priori teria uma fundamentação pedagógica e o objetivo defazer o aluno revisar constantemente os assuntos vistos ao longo do ano, despertou o efeitocontrário. O “senso prático” de boa parte do corpo discente concluía que só valia a pena sededicar no final do ano, já que era possível a aprovação pela recuperação paralela. Na transição entre os anos letivos de 2008 e 2009, a direção pedagógicacomunicou na semana de treinamento dos professores a redução de 14 turmas (600 alunos),fato classificado por ela de “preocupante” e que exigia providências. Tudo por conta daimensa quantidade de reprovações, pois na sua avaliação, “aluno reprovado era aluno quenão fica na escola”. Diante de tal conjuntura, a diretora recomendou os professores queadequassem suas provas à realidade dos alunos. Ou seja, provas mais fáceis e com menosrigor nos critérios avaliativos. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

64PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson Pereira Foi então que ela anunciou uma nova “ferramenta pedagógica” que iriaestimular os alunos a estudar: o paradidático multidisciplinar, um Cd que continha mais de2000 questões para serem resolvidas e, assim, complementar os estudos. A compra doparadidático digital daria oportunidade ao aluno de fazer um teste no laboratório deinformática, utilizando o Cd. A quantidade de acertos permitiria que fossem somadospontos à média em cada disciplina, até o limite de dois. A precariedade dos equipamentos do laboratório de informática, em evidenteprocesso de sucateamento, impossibilitou a realização dos exames pelos computadores daescola. A medida tomada foi a aplicação de testes pela via tradicional, em sala de aula. Ainteratividade tão prometida pela adoção da nova tecnologia ficou circunscrita apenas aoambiente doméstico. Entre o anúncio do projeto paradidático digital e a sua efetiva implementação,perdeu-se de vista o seu caráter inovador. De acordo com relatos dos alunos, os testesaplicados em sala eram apenas uma reprodução das questões do Cd. Muitos apenas“decoravam” as questões e garantiam no final de cada etapa seus dois pontos. No entendimento da coordenadora F. V. L., “quanto ao multidisciplinar, vejoapenas como pontuações gratuitas. Poderia ser cobrado de outra forma”. Já o professor T. C. discorda da coordenadora, pois a pontuação não é tãogratuita assim: “O multidisciplinar foi uma ferramenta que a escola criou para ajudar,mas não foi muito bem aceita pelos alunos, que a faziam sabendo que iriam passar, porterem pago o Cd”.REVELAÇÃO (CONCLUSÕES) As condições históricas contribuíram decisivamente para a crise financeira doColégio Sucesso, mas foram seus problemas internos relatados ao longo deste artigo quedecretaram a falência pedagógico-administrativa da instituição. As relações familiares transmitiram a imagem do apadrinhamento e daineficiência, em total desacordo com os princípios administrativos modernos. Dessamaneira, faltaram renovações nos processos administrativos e nos projetos pedagógicos.As decisões continuaram centralizadas no conselho diretivo e imobilizavam o conselhopedagógico, que não possuía caráter realmente deliberativo, apenas consultivo. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

65PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson Pereira Faltou habilidade para se adaptar às novas tendências educacionais, criando umdescompasso entre as ações pedagógicas cotidianas e as reais necessidades dos alunos. Aeducação centrada no poder disciplinar, muitas vezes marcadas pelo autoritarismo e faltade diálogo, impossibilitaram a aplicação do projeto pedagógico da escola. Sobre o controverso assunto do cumprimento da disciplina escolar, deve-sedestacar que normas também fazem parte do processo educativo. No entanto, elas devemser bem criteriosas e sua aplicação não pode depender de decisões individuais, masfundamentadas em princípios. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

66PARA ALÉM DO PODER DISCIPLINAR: OS CONFLITOS ENTREPROFESSORES E ALUNOS NUMA INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL EM CRISECícero Robson PereiraBIBLIOGRAFIAARON, Raymond. (2002). As etapas do pensamento sociológico. 6ª edição. São Paulo:Martins Fontes.BAUMAN, Zygmunt. (2001). Comunidade. A busca por segurança no mundo atual.Rio de Janeiro: Ed. Zahar.BAUMAN, Zygmunt. (2003). Amor líquido. Sobre a fragilidade dos laços humanos.Rio de Janeiro: Ed. Zahar.BERGER, Peter L. (1985). O dossel sagrado. Elementos para uma teoria sociológica dareligião. 2ª edição. São Paulo: Paulus.BERGER, Peter L.& LUCKMANN, Thomas (1999). A construção social da realidade.18ª edição. Petrópolis: Vozes.DURKHEIM, Emile. (2003) O suicídio. São Paulo: Martin Claret.FOUCAULT, Michel (1999). Vigiar e punir. 20ª edição. Petrópolis: Ed. Vozes.LEITÃO, Juarez. (1999). Uma história de ousadia. Fortaleza: Editora Evolutivo.SITES:http://www.opovo.com.br/app/opovo/economia/2011/12/17/noticiaeconomiajornal,2359442/2-662-escolas-privadas-fecharam-no-ceara.shtml (acesso em 19/12/2011)http://www.opovo.com.br/app/opovo/economia/2011/11/29/noticiaeconomiajornal,2344877/colegio-anuncia-fim-das-atividades-apos-31-anos.shtml (acesso em 19/12/2011)http://www.4shared.com/document/NPASeoNC/DICIONARIO_DE_SOCIOLOGIA.html Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.54-66.

COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR DE FOTALEZA INTERNAL COMMUNICATION: A STUDY IN AN INSTITUTION OF HIGHER EDUCATION FORTALEZA Túlio Cícero Cruz1RESUMOEste artigo tem como objetivo principal analisar a importância da comunicação internapara o processo de eficiência de uma organização. Inicialmente, discute a importância dacomunicação nas organizações e, em seguida, apresenta os conceitos de comunicaçãointerna, eficiência organizacional, clima organizacional e Análise de SWOT. A análise foifeita a partir da experiência de Estágio Supervisionado II, realizado em uma instituição deensino superior, em 2009, quando foram realizadas entrevistas e aplicações dequestionários com profissionais do setor de recursos humanos, apoio e gestão dainstituição. Os resultados indicam que os colaboradores demonstram conhecer osprincípios da empresa, como missão e visão, mas existe a necessidade de maioresesclarecimentos. Devem ser feitos esclarecimentos de forma a não deixar dúvidas sobre oque a instituição almeja em seu modelo de serviço. A comunicação interna da organizaçãoprecisa ser melhor direcionada.Palavras-chave: organização, comunicação interna; eficiência organizacional; climaorganizacional.ABSTRACTThis article aims at analyzing the importance of internal communication for the processefficiency of an organization. First, it discusses the importance of communication inorganizations and then introduces the concepts of internal communication, organizationalefficiency, organizational climate and SWOT Analysis. The analysis was based on theexperience of Supervised Internship II held in an institution of higher learning in 2009,when we conducted interviews and surveys with professional applications sector humanresources, support and management of the institution. Results indicate that employeesknow the principles demonstrate the company's mission and vision, but there is a need forfurther clarification. Clarification should be made so as to leave no doubt about what theinstitution aims in its service model. The organization's internal communication needs tobe better targeted.Keywords: organization, internal communication, organizational efficiency,organizational climate.1 Professor Faculdade Ratio Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

68COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero CruzINTRODUÇÃO O estudo da comunicação é uma das áreas de maior crescimento no campo daadministração, necessitando buscar instrumento que possa ser utilizado de forma fácil entreos funcionários, tendo em vista a excelência do processo organizacional. Neste sentido,pode trazer vantagem competitiva às organizações, mostrando visão de futuro, com planode melhoria interna entre os profissionais que atuam nas organizações. É importante reafirmar que a comunicação interna vem atravessando uma fasede grande importância funcional, da própria gestão das organizações. De acordo comBahry (2006), o sucesso de muitas empresas pode ser comprometido pela falta decomunicação interna (entre os colaboradores) e externa (entre os clientes e fornecedores).Por meio de veículos de comunicação, as empresas passam uma boa imagem daorganização, outro fator que as torna mais competitivas no mercado. Quando utilizada, de forma direta e transparente, a comunicação aumenta acredibilidade da empresa, fortalecendo as equipes, associando melhor suas habilidades detrabalho adquiridas junto às organizações, oferecendo produto e serviços de melhorqualidade. A comunicação interna diz respeito às interações, aos processos de trocas erelacionamentos dentro de uma organização. Também chamada de Endomarketing, acomunicação interna é responsável por fazer circular as informações, o conhecimento, deforma horizontal e vertical, ou seja, da direção para os níveis subordinados; ehorizontalmente, entre os empregados de mesmo nível de subordinação (DAVENPORT,1998). Hoje, apesar de termos muitas formas de obter informações e conhecimentos,nem sempre estamos nos comunicando eficazmente. Existe grande diferença entrecomunicação e informação. Numa empresa não é diferente. Muitas informações sãoproduzidas e causam impacto na vida dos funcionários, mas nem sempre geram mudançasde atitudes, ou ainda, causam confusão porque não foram divulgadas da forma adequada.Outras informações sequer chegam aos verdadeiros destinatários porque um gestor nãoidentificou a essência comunicativa de determinado fato. Daí, o valor da comunicaçãointegrada em uma organização.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

69COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruz E para entender o que é Endomarketing temos que saber o conceito demarketing das empresas. O conceito de marketing passou por várias mudanças até atingir ofoco nas necessidades do cliente, que incluiu novos processos para a sua fidelização esatisfação. O Endomarketing emergiu como resposta à globalização e à necessidade deadaptação das empresas (GRÖNROOS, 1995; KOTLER, 2000). Endomarketing é o mesmo que marketing interno. Etimologicamente, a palavra“endo” provem do grego “éndon”, que significa “dentro de”, manifestando a ação nointerior de algo. Portanto, Endomarketing significa marketing para dentro (BEKIN, 2004).Funciona como uma aliança entre todos os empregados, para a satisfação dos clientes eobtenção de resultados. Todos os empregados de todos os setores deverão estar voltadospara o resultado da organização e o relacionamento entre clientes, áreas, funcionários egestores. O Endomarketing trabalha a informação como forma de contribuir para que osobjetivos e as metas globais da empresa sejam alcançados com a participação dosfuncionários (BRUM, 1998, pág. 60). Comunicação é o equilíbrio essencial das organizações, resultado da interaçãoentre as partes que a compõem. Envolvendo sistemas eficazes de comunicação, asempresas poderão ter consistência, com uma estrutura profissional adequada, com umaação direcionada, para que todo processo seja visto de forma a trazer benefícios paraambos os lados, empresa e funcionários. Considerando as discussões, no campo acadêmico e empresarial, que tem sidofeitas acerca da comunicação, foi construído o seguinte problema de pesquisa: Qual aimportância da comunicação interna para o processo de eficiência de uma organização? Neste sentido, este trabalho tem como objetivos específicos:  Verificar os canais utilizados na comunicação interna de uma Instituição de Ensino Superior - IES.  Descrever os principais pontos fortes e fracos da comunicação interna na referida IES.  Verificar quais melhorias podem ser feitas nestes canais de comunicação.  Analisar como estas ferramentas podem contribuir para o desenvolvimento social e cultural dos colaboradores da IES.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

70COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruz1. REFERENCIAL TEÓRICO Para entender melhor a importância da comunicação interna para o processo deeficiência de uma organização, faz-se necessário elucidar alguns conceitos teóricos, taiscomo: comunicação interna, eficiência organizacional e clima organizacional.1.1 Comunicação interna Para compreender o que é comunicação interna é importante ter claro oconceito de comunicação. De acordo com Marcondes Filho (2005, p. 1), Comunicação é antes um processo, um acontecimento, um encontro feliz, o momento mágico entre duas intencionalidades, que se produz no “atrito dos corpos” (se tomarmos palavras, músicas, ideias também como corpos); ela vem da criação de um ambiente comum em que os dois lados participam e extraem de sua participação algo novo, inesperado, que não estava em nenhum deles, e que altera o estatuto anterior de ambos, apesar de as diferenças individuais se manterem. Ela não funde duas pessoas numa só, pois é impossível que o outro me veja a partir do meu interior, mas é o fato de ambos participarem de um mesmo e único mundo no qual entram e que neles também entra. (...) Comunicação não é instrumento, mas, acima de tudo, uma relação entre mim e o outro ou os demais. Por isso, ela não se reduz à linguagem, menos ainda à linguagem estruturada e codificada numa língua. Ela ultrapassa e é mais eficiente que esse formato, realizando-se no silêncio, no contato dos corpos, nos olhares, nos ambientes. Toda organização, conforme Maximiano (1992), é uma combinação deesforços individuais com a finalidade de alcançar propósitos coletivos. Independente deseu ramo de atuação (seja a organização um grande laboratório, rede de supermercados,instituição educacional, restaurante ou uma pequena oficina) ela tem, distintamente, a suahistória, a sua cultura, os seus valores e a sua missão. A organização é como o homem.Compostas essencialmente por pessoas, as organizações sofrem do mal da ausência dodiálogo, da mesma forma que, diante de problemáticas sócio-econômicas, políticas eculturais, o homem padece com a questão. Bueno (2003), referindo-se ao assunto, diz que a comunicação, enquantoinstrumento de inteligência empresarial, é imperiosa. Para o autor, as organizações que nãoagirem com esse pressuposto estarão perdendo competitividade e, por conseguinte, estarãoarriscadas a abrirem mão da liderança dos segmentos em que atuam.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

71COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruz Para Torquato (2002, p.34): a comunicação interna se desenvolve paralelamente à comunicação administrativa, e visa proporcionar meios para promover maior integração dentro da organização mediante diálogo, troca de informações e experiências e participação de todos os níveis, que inclui o sistema de informação como uma quarta forma de comunicação, na qual estão agregadas as informações armazenadas em bancos de dados. Neste sentido, a linha de comunicação e ações adequadamente aplicada cominformações de um sistema eficiente poderá dar subsidio ao funcionário para atuar na suaárea e cumprir suas tarefas com eficiência. Dando destaque à importância da comunicação interna das organizações,Torquato (1986, p. 57 e 58) enfatiza que: Toda organização depende, para seu crescimento e prosperidade, da manutenção da confiança a sua integridade e no bom senso de sua política e atuação, seja no que diz respeito aos clientes, funcionários e acionistas, e isto só se consegue com um programa de comunicação. Brum (2000) define marketing interno como dar, ao funcionário, educação,carinho e atenção, tornando-o bem preparado e bem informado para que possa tornar-setambém uma pessoa criativa e feliz, capaz de surpreender, encantar e entusiasmar o cliente. Quando o Endomarketing surgiu no Brasil, era utilizado por empresas dosegmento industrial, na ânsia de serem mais competentes que os sindicatos nacomunicação com os funcionários. Aos poucos, a relação capital - trabalho foi evoluindo eo Endomarketing pode sair de dentro da fábrica para tornar-se mais uma arma na luta pelaconquista e conservação do cliente, uma vez que o perfeito atendimento passou a serentendido como uma atitude positiva oriunda de um funcionário igualmente positivo(BRUM, 2000). Para Kotler (1994, p. 37) marketing interno é a \"tarefa de contrataçõesacertadas, treinamento e motivação de funcionários hábeis que desejam atender bem osclientes\". Ele se refere à diferença entre o marketing interno e o marketing externo. Para oautor, o marketing interno deve preceder o externo. É certo que não se pode ter um serviçoexcelente sem antes preparar os funcionários da empresa para fornecê-lo. As premissasfundamentais do Endomarketing são:Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

72COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruz Resultados com finalidade: A motivação não é o objetivo principal doEndomarketing, e sim um dos meios pelos quais se atingem melhores resultado, para queelas produzam melhor, logo, se realizem profissionalmente, ficando mais próximas de seuideal de felicidade. Construção cultural: Cada organização acaba por desenvolver uma culturaprópria, fortemente influenciada por seu posicionamento de mercado, e é nos atributosculturais sedimentados que residem os fatores de aprendizagem e desenvolvimento daempresa, encontrando na identidade o seu principal fator de integração. Ética: Para atingir os resultados esperados pela empresa os meios sãoextremamente importantes. Tendo em vista que a prática do Endomarketing e suas técnicasde comunicação interna podem suprimir conflitos, desviar atenção de questõesimportantes, minimizar o impacto negativo de pontos delicados, dentre outras situações,cabe à organização que conduz este processo grande responsabilidade por suas ações, nãoapenas com seu público interno, mas também com toda sociedade. Multidisciplinaridade e Interfuncionalidade: Os processos de gestão dasempresas são, por essência, plurais e multidisciplinares, congregando diversos grupos deespecialidade com foco em objetivos únicos. Portanto, não é possível caracterizarestratégias de Endomarketing que gerem resultados apenas a partir de uma única visãoconceitual, mas sim conciliando diferentes áreas de conhecimento como, administração,psicologia, sociologia e Ciências da Comunicação. Informação como insumo: O principal objeto de trabalho do Endomarketingnão são informações. Contudo, a comunicação interna deve garantir o fluxo eficaz deinformações e estabelecer a correlação entre elas com o objetivo de gerar conhecimento,tendo em vista que este é o subsídio principal para o processo de tomada de decisão. Interatividade: Endomarketing é uma ferramenta gerencial, logo, ao assumir aconclusão inequívoca que as empresas têm sua constituição essencial de talentos humanos,faz-se marketing interno para as pessoas. Assim sendo, não há como prescindir daRevista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

73COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruzinteração dos colaboradores com os programas de Endomarketing implementados, atéporque sua avaliação e feedback são imprescindíveis à eficácia dos mesmos. Adaptabilidade: Em uma ótica evolucionista, estabelecer um processoconsistente de gestão de Endomarketing é fundamental para garantir que a empresa adapte-se facilmente às mudanças no ambiente de negócios, garantindo permanentemente seusresultados. Investir na comunicação interna é investir no clima organizacional e emmarketing também. Por isso, o processo de comunicação interna precisa ser valorizado e oscanais que ele dispõe (jornais, boletins, internet, murais etc.) devem ser disponibilizados deforma eficaz e atrativa para que realmente cumpram sua missão de integrar todo o quadrofuncional da organização. Muitos problemas organizacionais têm origem na questão da comunicação.Relacionamento conflitante entre setores, retenção de informação por parte dedeterminados grupos, constrangimentos entre áreas, rotinas emperradas, fluxo informativosaturado pelo grande volume de mensagens, dificuldades para fazer chegar uma mensagematé o destino final, incompreensão de mensagens, incapacidade de uma mensagem subiraos níveis superiores, pouca visibilidade dos canais de comunicação, identificação defontes de comunicação e boatos são exemplos de alguns desses problemas. A falta de uma comunicação interna eficiente pode causar descontentamentodos colaboradores; falha no fluxo de informações descendentes, ascendentes, paralelas;desunião das equipes e perda da identidade da empresa, levando à morte da organização(BAHRY, 2006). Henriet e Benoit (apud LEMOS; DEL GAUDIO, 2002) acreditam que acomunicação interna tem a função de restaurar a confiança em torno da identidade daempresa de maneira clara; promover o conhecimento em todos os níveis; informar cadaempregado de maneira adaptada; desenvolver o comportamento comunicativo entre osgerentes; favorecer a expressão de todos os empregados e divulgar as iniciativas e sucessosdas equipes no trabalho. Comunicação interna, portanto, deve ser entendida como um feixe de propostasbem encadeadas, abrangentes, com maior plenitude que um simples programa decomunicação impressa. Para que a comunicação interna seja eficiente é necessárioRevista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

74COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruztrabalhar no planejamento, replanejamento e reorientação do programa da organização,deixando os gestores e profissionais em permanente integração, com as áreas que secoordenam sempre abertas às ameaças e oportunidades posteriores.1.2 Eficiência organizacional No campo da ciência do trabalho, Fayol (1994) destaca como um dosprincípios da eficiência organizacional, a divisão do trabalho, a fim de que haja maior emelhor produção, ou seja, uma produção eficiente. Para que essa divisão de trabalho nãotorne independentes e desintegrados os diversos setores da empresa, necessita haver umaboa comunicação interna. Nesse aspecto, todos os instrumentos de análise das relações entre negócio,estruturas, estratégias, políticas e pessoas, bem como as intervenções sobre processosinterpessoais que possam favorecer a flexibilidade comportamental, a comunicaçãointerna, nesse caso, ganham relevo e destaque. Deixa de ser um mero fetiche paracontribuir efetivamente para a eficiência e a eficácia organizacionais (KUNSCH, 2003,p.158). Torquato (2002) enumera os canais de comunicação internos para que ela sejautilizada de forma adequada tanto para o público interno como para a organização: jornais,revistas, boletins periódicos, programas de rádio e TV em circuito interno. A escolhacorreta do canal pelo qual a mensagem será transmitida está condicionada a fatores como:trivialidade, grau de importância e de sigilo. Esses fatores irão influenciar diretamente naeficiência e eficácia da informação a ser transmitida. Escolher o melhor canal decomunicação para a organização não é tarefa fácil, todavia é extremamente importante quea opção seja feita de maneira consciente e bem planejada, pois uma escolha mal feitapoderá acarretar em grandes prejuízos. Em qualquer uma das opções adotadas pela organização, Tomasi e Medeiros(2007) enfatizam que um planejamento de comunicação interna deve ser precedido poruma profunda análise da organização: sua história, cultura, valores, missão, ambienteinterno, produto, bem como todas as áreas que têm significado para o público alvo. Se as pessoas trabalharem em um clima positivo, a qualidade ou a eficiência noserviço serão alcançadas de forma muito mais eficaz. No entanto, para criar tal ambiente, éRevista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

75COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruzpreciso começar a desenvolver e manter uma atitude positiva. Ainda, é preciso desaprenderquase tudo que sempre foi ensinado sobre como administrar pessoas, pois a maioria de nósaprendeu a administrar pessoas visando surpreendê-las cometendo erros (RINKE, 1998, p.87). Robbins (2002) também introduz as principais barreiras para a comunicaçãoeficaz, onde destaca a filtragem, definida como sendo o manuseio da informação peloemissor a fim de que seja percebida pelo receptor de forma mais coerente com seusinteresses ou os interesses da organização ou de um grupo. Para ilustrar melhor esta ideia,verifiquemos o gráfico de Shannon Wasver:CONCEITOS TRADICIONAIS DA COMUNICAÇÃO TEORIA MATEMÁTICA DA COMUNICAÇÃO (SHANNON E WEAVER)• O modelo de comunicação de Shannon e Weaver descreve a comunicação como um processo linear e unidirecional• A incapacidade por parte dos comunicadores em dar-se conta de que a mensagem emitida e a recebida não são sempre idênticas é uma das razões habituais causadoras de falhas na comunicação.Mensagem Sinal Sinal Mensagem recebido Fonte de ruído Defleur: introdução do conceito de feedback – interdependência entre ação e reação Fonte: Revista de Administração Pública (2006) A organização precisa conhecer e acreditar no poder da comunicação interna,pois é através dela que a empresa poderá transmitir a sua imagem ao seu público externo. Para Ruggiero (2002), a qualidade de comunicação nas organizações devepressupor individualização do processo em função das naturais diferenças em outro quadrode referência, nível de experiência, amplitude de interesses, grau de motivação de pessoapara pessoas. Comunicações feitas para a média do público acabam gerando maisproblemas do que benefícios, sem falar no fato da pasteurização tornar as mensagens semRevista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

76COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruzimpacto. Para que haja eficiência na comunicação interna é de fundamental importânciaconhecer em profundidade o público interno da empresa. Neste sentido:  Priorize a informação como a principal estratégia de aproximação da empresa com seus empregados.  Avalie periodicamente a comunicação interna a partir do levantamento dos sentimentos e percepções do público interno em relação ao processo em implantação. Segundo Marques (2004), comunicação interna é uma via de mão dupla. Portanto,tão importante como comunicar é saber escutar. Para atingir uma comunicação eficaz,deve-se escolher o meio de comunicação mais adequado aos objetivos desejados daorganização. Esses meios podem ser boletim interno, jornal interno, jornal mural, revistainterna, internet, intranet. A eficiência organizacional está intimamente relacionada à existência de adequadosinstrumentos de gestão, capazes de subsidiar as decisões e ações administrativas. A boaelaboração e divulgação de objetivos, normas e rotinas de trabalho da empresa sãoindispensáveis às organizações que estão engajadas e apoiam mudanças, novas formas degestão, aceitabilidade de ideais e virtualização de processos. As organizações se tornarãocada vez mais competitivas se observarem a importância da diferenciação e adaptabilidadeàs mudanças e competitividade global. Do ponto de vista do Endomarketing, a informação é sempre unilateral e acomunicação é um processo que envolve interlocutores, ou de outro modo, é um processoque envolve troca de informação ou informações. Uma boa comunicação antecipa osrumores, os ruídos. No local onde não há comunicação, predominam o boato e ainsatisfação (BEKIN, 2004). O que caracteriza de fato um sistema de informações em uma empresa é o conjuntode veículos escolhidos para transmitir determinadas mensagens e que hoje em dia quaseforçosamente precisa incluir a intranet. Esses veículos vão desde palestra, comunicado,vídeo até revista interna da empresa. O importante é que a informação não fique inerte, nãose esgote por si mesma e possa se transformar em comunicação. É o feedback que cria o diálogo, a comunicação. O feedback é o que proporcionaum melhor resultado da empresa no mercado, daí a importância do Endomarketing comosuporte ao marketing. Nunca é demais repetir que, enquanto o marketing faz promessas,Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

77COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruzalguém tem que “por a mão na massa”, para cumpri-las. E esse alguém é o Endomarketing.Assim sendo, o feedback é vital porque agrega em si um fator multiplicador entre osfuncionários da organização. (BEKIN: 2004).1.3 Clima organizacional Uma das formas de motivar as pessoas nas organizações tem sido a melhoriado clima organizacional, ou seja, da qualidade ou propriedade do ambiente organizacionalque é percebida ou experimentada pelos membros da organização e influencia o seucomportamento (CHIAVENATO, 1981, p. 55). A expressão clima organizacional, “refere-se especificamente às propriedadesmotivacionais do ambiente organizacional, ou seja, àqueles aspectos da organização quelevam à provocação de diferentes espécies de motivação nos seus participantes”(CHIAVENATO, 1981, p. 56). O clima organizacional é favorável quando proporciona satisfação dasnecessidades pessoais dos participantes e elevação da moral. Ele é desfavorável quandoproporciona a frustração daquelas necessidades. O clima organizacional tem implicações na satisfação com o trabalho e aorganização, no desempenho, nos padrões de interação em grupos e nos comportamentosde afastamentos, como absenteísmo, rotatividade. Ele está ligado à moral e à satisfação dasnecessidades humanas dos participantes (CHIAVENATO, 1999). Para Ribeiro (2006), clima organizacional é uma ferramenta administrativa,integrante do sistema da qualidade, utilizada para medir e apurar o grau de satisfação doscolaboradores diretos da empresa perante determinadas variáveis. Pode ser utilizada eaplicada isoladamente ou de forma conjunta com as demais ferramentas do sistema dequalidade. Clima organizacional é um assunto complexo, que envolve diversas variáveisde difícil mensuração. Não havendo consenso na nomenclatura, alguns autores o abordamcomo sinônimo de cultura organizacional, de atmosfera ambiental ou de personalidade daorganização. É a atmosfera resultante das percepções que os funcionários têm dosdiferentes aspectos que influenciam em seu bem estar e na sua satisfação na rotina detrabalho (BARÇANTE e CASTRO, 1999).Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

78COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruz Segundo Brum (1998), vivemos o fim da revolução e a era da reinvenção, damudança pacífica. Isso significa que somente num clima favorável é possível de gerarnovas ideais, fomentando novas descobertas, estruturas e dimensões sociais. Os cenários demudança são muitos e, por entender que o que quebra uma empresa não é propriamente amudança, mas a incapacidade das pessoas em se adequar a ela, muitos empresários estãopreocupados em estabelecer um clima organizacional favorável, em que os funcionários osajudem a fazer o que precisa ser feito para se adaptar e sobreviver. O clima organizacional é uma ferramenta muito utilizada em grandes empresasque, por seu tamanho, não permitem à direção detectar distorções setoriais edepartamentais que possam estar afetando seu desempenho organizacional. Problemasrelacionais não são raros. Muitas empresas já vivenciaram problemas por determinadosetor ou departamento que apresenta problemas de relacionamento e satisfação individualou coletiva que afeta o resultado final da empresa. Clima organizacional também pode ser entendido como o indicador desatisfação dos membros de uma empresa em relação a diferentes aspectos da cultura ourealidade aparente da organização, tais como: empatia, integração de objetivos, espírito decorpo e identidade coorporativa. O clima organizacional é uma variável que influi diretamente na produtividade,pois o grau de motivação de uma organização depende de sua atmosfera psicológica. Estaatmosfera é fruto do conjunto de percepções das pessoas que compartilham seu dia-a-diacom a organização. Para que se tenha uma comunicação bem eficaz e forte parte-se do principioque todos os que transmitem informação devem estar convencidos de sua importância, poiscaso contrário, eles não irão convencer a ninguém. De acordo com Lesly (199, p. 47), “aeficácia da comunicação, assim, depende de condições e circunstancias”.1.4 Análise de SWOT A Análise de SWOT é uma ferramenta utilizada para fazer análise de ambiente,sendo usada como base para a gestão e o planejamento estratégico de uma corporação ouempresa, mas podendo, devido a sua simplicidade, ser utilizada para qualquer tipo deanálise de cenário, desde a criação de um blog à gestão de uma multinacional.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

79COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruz A Análise de SWOT é um sistema simples para posicionar ou verificar aposição estratégica da empresa no ambiente em questão. A técnica é creditada a AlbertHumphrey, que liderou um projeto de pesquisa na Universidade de Stanford nas décadasde 1960 e 1970, usando dados da revista Fortune das 500 maiores corporações. O termo SWOT é uma sigla oriunda do idioma inglês, e é um acrônimo deForças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (OpportunitIES) e Ameaças(Threats). As forças e fraquezas são determinadas pela posição atual da empresa e serelacionam, quase sempre, a fatores internos. Já as oportunidades e ameaças sãoantecipações do futuro e estão relacionadas a fatores externos.METODOLOGIA Para analisar a importância da comunicação interna para o processo deeficiência de uma organização, a IES privada Aprender Bem2, foram adotados os seguintesprocedimentos metodológicos: - elaboração de questionários para verificar como está o clima organizacional e ograu de satisfação dos funcionários; - realização de pesquisa na IES para verificar como funciona o sistema decomunicação interna e as ferramentas para tal; - entrevistas com os profissionais do setor de Recursos Humanos “RH” dainstituição para verificar se já existe algo no sentido de motivar a comunicação eficaz entreos funcionários; - realização da análise de SWOT sobre a comunicação interna da IES.1. RESULTADOS Como já referido, os resultados cerca da importância da comunicação internana IES Aprender Bem foram obtidos por meio, principalmente, da elaboração e aplicaçãode questionários com os funcionários do setor de serviços gerais e inspetores de alunos.2 Nome fictício. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

80COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruz3.1 Análise do Clima Organizacional O questionário de perguntas fechadas aplicado com 16 funcionários (incluindoinspetores e responsáveis pelos serviços gerais) revelou que:- quanto aos princípios organizacionais da empresa, como missão e objetivo, 07 não osconhecem; 07 os conhecem e 02 os conhecem parcialmente;- o acesso às informações passadas pela empresa se dá de forma direta por 01 pessoa;através dos colegas por 12; por meio de mural informativo, 01 pessoa e acesso parcial, 02pessoas;- na ocorrência de algum problema dentro da empresa relacionado ao trabalho que cada umdesenvolve, 03 recorrem à direção; 08 resolvem/recorrem aos colegas; e 05 dirigem-se àsupervisão;- quanto ao meio mais adequado para se manter atualizado sobre os acontecimentos naempresa, o mural informativo foi mencionado por 02 pessoas; o e-mail por 01; os cartazespor 01; e os colegas de trabalho por 12;- no que se refere a sentir-se à vontade para sugerir ou reclamar sobre assuntosrelacionados ao trabalho como: instalações, segurança no trabalho, relacionamento comcolega de trabalho/superior, benefícios, entre outros, 09 responderam “não” e 07responderam “sim”;- quanto à frequência com que cada um tem contato com os demais setores da empresa,como, por exemplo, setor de estoque e área administrativa, 06 responderam “Muito”, 08“Parcial” e 02 “Nenhuma”;- a crença de que a empresa reconhece o seu trabalho é sentida por 05 pessoas; éparcialmente sentida por 02 e não é sentida por 09;- no que se refere a sentir que suas ideias e sugestões são ouvidas pela empresa, 10 pessoasindicam sentir-se insatisfeitas; 05 satisfeitas e 01, muito satisfeita;- quanto à forma como se sente trabalhando nesta empresa, 09 revelaram insatisfeitos; 06satisfeitos e 01 muito satisfeito;- quanto à estabilidade no emprego, 10 pessoas declararam sentir-se insatisfeitas; 04 sedizem satisfeitas e 02, muito satisfeitas. O quadro 01, a seguir, indica o grau de concordância/ discordância dosrespondentes sobre aspectos relacionados à comunicação na empresa.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

81COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero CruzQUADRO 01: GRAU DE CONCORDÂNCIA/ DISCORDÂNCIA DOSRESPONDENTES SOBRE ASPECTOS RELACIONADOS À COMUNICAÇÃO NAORGANIZAÇÃO:Aspecto relacionado à Concordo Concordo Nem Discordo Discordo Em brancocomunicação na empresa plenamente parcialmente concordo, parcialmente totalmente 02 nem 00Eu sei o que está discordo 02 01 03 02 03 07 00acontecendo na empresa deuma forma em geral 04 02 04 03 03Minha área/departamentocomunica aos colaboradoreso que é importante para aempresa 03 03 05 00 03A comunicação da minhaárea/departamentoé confiável e transparente 01 02 02 01 09Existe troca de informaçõesentre as áreas/departamentos Fonte: Questionários respondidos pelos colaboradores da IES privada Aprender Bem. O Quadro 02 indica a avaliação dos respondentes sobre itens referentes aoclima organizacional da empresa pesquisada:QUADRO 02: AVALIAÇÃO DOS COLABORADORES SOBRE ALGUNS ITENSREFERENTES AO CLIMA ORGANIZACIONAL DA IES:ITEM Ótimo Bom Regular Ruim Péssimo Em BrancoInstalações 07 04 04 03 00 00Sinalização Interna 04 05 03 03 00 00 02Treinamento 02 02 02 04 04 01 00Benefícios 02 04 04 05 02 00Relacionamento com o superior 03 04 02 03 04Relacionamento com o 08 06 01 01 00companheiro de trabalho Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

82COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero CruzFonte: Questionários respondidos pelos colaboradores da IES Aprender Bem. No que se refere às estratégias de comunicação utilizadas pela IES AprenderBem, o Quadro 03 revela a seguinte avaliação feita pelos respondentes:QUADRO 03: AVALIAÇÃO DOS COLABORADORES DA IES SOBRE ASESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO UTILIZADAS PELA ORGANIZAÇÃOITEM Ótimo Bom Regular Ruim Péssimo Em BrancoMural – para informações sobre 02 02 03 03 03 02o trabalho, equipamentos desegurança e novidades.Utilização de e-mail para 02 02 03 03 03 02transmitir informações sobre ofuncionamento da empresa 01 04 02 01 05 02Reuniões – com informaçõessobre o trabalho e assuntos deinteresse geralFonte: Questionários respondidos pelos colaboradores da IES Aprender Bem. O questionário aplicado com dois funcionários do RH e o coordenador deadministração da IES Aprender Bem revelou que na opinião dos respondentes:- a entidade possui algumas ferramentas de comunicação interna;- as ferramentas de comunicação utilizadas são e-mail, reuniões e cartazes afixados emflanelógrafos;- as principais características do sistema de comunicação da empresa são: agilidade (e-mail), comunicação para públicos específicos (reuniões) e manter uma informação porlongo tempo (cartazes);- as ferramentas de comunicação interna atendem às necessidades da entidade porque“consegue atingir todos os públicos que possuímos”;- a principal vantagem do sistema utilizado é a “disseminação pelos vários setores dainstituição”; Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

83COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruz- as principais dificuldades do sistema utilizado são: nem sempre o setor responsável peladisseminação da comunicação é informado; tempo para distribuir a informação; pessoasque por algum motivo não leem a informação;- no que se refere à satisfação dos colaboradores quanto ao sistema utilizado, osrespondentes são unânimes em afirmar que “o sistema satisfaz, o problema está nautilização do sistema; a comunicação depende das pessoas, e nem sempre as pessoasconseguem seguir as regras necessárias para uma boa circulação das informações”;- em um intervalo de 1 a 5, a comunicação interna da instituição é avaliada pelosrespondentes com o nível 3;- “mais treinamento para todos os colaboradores” foi a melhoria apontada pelosrespondentes como necessária ao sistema de comunicação interna da empresa;- como comentário / sugestão, os respondentes destacam: “a boa comunicação pode sermuito eficiente com ferramentas adequadas, mas sempre dependeremos da iniciativa,organização e pró-atividade das pessoas, essas 03 qualidades podem ser mais eficientes esofisticadas que qualquer ferramenta”.3.2 Análise SWOT da IES privada Aprender Bem Como já referido, a análise de SWOT é uma ferramenta utilizada com oobjetivo de fazer uma análise de ambiente, sendo usado como base para gestão eplanejamento estratégico de uma corporação ou empresa. Devido a sua simplicidade, podetambém ser utilizada para qualquer tipo de análise de cenário, desde a criação de um blog àgestão de uma multinacional. No caso da IES Aprender Bem, localizada em área nobre da Cidade de Fortaleza, aanálise revelou os seguitntes resultados indicados no Quadro 04:Quadro 4: ANÁLISE DE SWOT DA COMUNICAÇÃO NA IES APRENDER BEM,SEGUNDO SEUS COLABORADORESRevista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

84COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero CruzForças: Fraquezas: Dinamização de atividades internas  Desorganização interna; acadêmicas;  Fracos recursos naturais;  Falta de divulgação prévia dos avisos, Corpo docente de qualidade; Reconhecimento da marca; podendo causar mau entendimento do Estruturação dos serviços em que se quer comunicar;  Comunicação mal direcionada; departamentos.  Falta de padronização.Oportunidades: Ameaças: Boa localização;  Falta de foco na comunicação; Facilidade de acesso;  A não utilização de tecnologias; Desenvolvimento dos recursos;  Desorganização de sistema; Alta tecnologia.  Falta de comando.Fonte: Questionários respondidos pelos colaboradores da IES Aprender Bem. As forças da empresa criam uma diferenciação e vantagens organizacionais emum ambiente competitivo, dinamizando as atividades internas com os colaboradores, corpodocente, gestão e estruturação dos serviços em departamentos. Pontos fracos são variáveis como desorganização interna, falta de divulgaçãoprévia dos avisos, podendo causar mau entendimento do que se quer comunicar, umacomunicação mal direcionada, sem padronização, inadequada para a organização. As oportunidades (uma boa localização, com varias linha de acesso,desenvolvimento dos recursos, alta tecnologia, com canais de distribuição e informaçõespara fortalecer um banco de dados da organização) criam possibilidades de se realizar eutilizar a sistemática da comunicação interna para a organização, como um diferencial. As ameaças estão na ausência de foco específico na comunicação, na não utilizaçãoda tecnologia disponibilizada, resultando numa desorganização do sistema, faltandoRevista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

85COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruzcomando e no uso inadequado dos canais de comunicação advindos do mercado, queproporcionam riscos para a organização.CONSIDERAÇÕES FINAIS Os colaboradores da IES privada Aprender Bem demonstram conhecer osprincípios da empresa, como missão e visão, mas existe a necessidade de maioresesclarecimentos. Devem ser feitos esclarecimentos de forma a não deixar dúvidas sobre oque a instituição almeja em seu modelo de serviço. Com relação à comunicação interna, 55% revelaram ter conhecimento dasações da empresa pelos colegas de trabalho e que as informações nem sempre chegam emtempo hábil para se tomar qualquer providência. 25% afirmaram ter o conhecimento dasações a serem executadas através de reuniões. Observa-se, aí, a necessidade de seremcriados ou melhorados outros tipos de feedback, como mural, que obteve um percentual de20% de utilização e aceitação. Deverá ser feito um estudo para verificar a frequência,duração etc. com que são feitas as reuniões. Diante dos dados coletados, proponho comoestratégias de melhoria para a comunicação na entidade: - Mural/ Quadro de avisos localizado em lugar bem visível; - neste Mural/Quadro de avisos devem conter, dentre outras informações:mensagens motivacionais; circulares de interesse de todos; relação nominal dosaniversariantes do mês; - trabalhar visando o melhoramento da comunicação informal, a fim de que aquiloque for dito não seja mal interpretado. Fica comprovado que os colaboradores encontram alguma dificuldade quandoprecisam se reportar a casos específicos, como, por exemplo, para pedir esclarecimentos ourepassar um feedback. Faz-se necessário criar um fluxograma hierárquico para definir asresponsabilidades por função. No quadro atual, constatei que a equipe reconhece na figurado supervisor a pessoa responsável por todos os processos, daí a necessidade de delegaçãodas tarefas a serem executadas. A equipe não se sente à vontade para expor suas sugestões e reclamações noque se refere às melhorias de suas rotinas, pois a aproximação com o seu gestor é avaliadacomo muito difícil.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

86COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero Cruz Sugiro que seja criada uma ferramenta bastante utilizada pelas empresas desucesso, chamada Brainstorm- “tempestade de ideias”, onde é criado um tema e as ideiassugeridas por todos são anotadas.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

87COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero CruzREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBARÇANTE, L.C., CASTRO, G.C. Ouvindo a voz do cliente: transforme seu funcionárionum parceiro. 3 ed. Rio de Janeiro: Qualitymark,1999.BEKIN, S. F. Endomarketing: como praticá-lo com sucesso. São Paulo: Prentice Hall,2004.BUENO, W.C. Comunicação empresarial: teoria e pesquisa. São Paulo: Editora Manole,2003.BRUM, A. M. Endomarketing como estratégia de gestão: encante seu cliente interno.Porto Alegre: L&M, 1998.CHIAVENATO, I. Recursos humanos nas empresas. São Paulo: Atlas, 1999._____. Introdução à Teoria Geral da Administração. São Paulo: McGraw-Hill doBrasil, 1981.DAVENPORT, T. H. Ecologia da informação: por que só a tecnologia não basta para osucesso na era da informação. São Paulo: Futura, 1998FAYOL, H. Administração industrial e geral. 10ª ed. São Paulo: Atlas, 1994.GRÖNROOS, C. Marketing: gerenciamento e serviços - a competição por serviços nahora da verdade. Rio de Janeiro: Campus, 1995.KOTLER, P. Administração de marketing: a edição do novo milênio. São Paulo:Prentice-Hall, 2000.KUNSCH, M. Planejamento de Relações Públicas na comunicação integrada. 4ª ed.São Paulo: Summus, 2003.LEMOS, C.; DEL GAUDIO, R. Publicações jornalísticas empresariais. In: Assessoria deimprensa e relacionamento com a mídia. São Paulo: Atlas, 2002.MARCONDES FILHO, C. O conceito de comunicação. Revista Espiral. Ano 6, nº. 22,jan/fev/mar/2005. Disponível em www.eca.usp.br/nucleos/njr/espiral/ciberia22.htm.Acesso em: 16 de mai. 2010.MARQUES, R. Comunicação interna. Disponível emwww.rh.com.br/Portal/Comunicacao/Artigo/3715/comunicacao-interna.html. Acesso em:05 de maio de 2010.MAXIMIANO, A.C. Introdução à Administração. São Paulo: Editora Atlas, 1992.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

88COMUNICAÇÃO INTERNA: UM ESTUDO EM UMA INSTITUIÇÃO DEENSINO SUPERIOR DE FOTALEZATúlio Cícero CruzRIBEIRO, C. E. O que é clima organizacional? Portal Brasil. 2006. Disponível em:www.portalbrasil.net/2006/colunas/administracao/outubro_16.htm. Acesso em: 10 demaio. 2010.ROBBINS, S. Comportamento Organizacional. São Paulo: 9ª Ed., Prentice Hall, 2002.RINKE, W. J. A empresa vitoriosa: seis estratégias de gerenciamento. São Paulo: Futura,1999.RUGGIERO, A. P. Qualidade da comunicação interna. Disponível em:http://www.rh.com.br. Acesso em: 05 de maio de 2010.TOMASI, C.; MEDEIROS, J. B. Comunicação Empresarial. São Paulo: Atlas, 2007.TORQUATO, G. Tratado de Comunicação Organizacional e Política. São Paulo:Pioneira Thomson Learning, 2002.Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.67-88.

PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFOR A SOCIOLOGY OF THE PRECARIAT: THE CONTRIBUTIONS OF GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGA Francisco Raphael Cruz Mauricio1RESUMOA partir de 2011, com a publicação de The precariat: the new dangerous class, oeconomista inglês Guy Standing iniciou o debate sobre o precariado. Autores brasileiroscomo Giovanni Alves em seu livro Dimensões da precarização do trabalho e Ruy Bragaem A política do precariado também iniciaram, cada um a seu modo, reflexões sobre otermo que desde então passou a ser recorrente na literatura de economia e sociologia dotrabalho. O objetivo deste artigo é mapear as conceitualizações de precariado produzidaspor Standing, Alves e Braga, problematizando, através de uma análise comparativa, asdiversas formulações sobre o conceito. Desde esses debates, temos a gestação de umconceito que entra de vez para a gramática da sociologia do trabalho como ferramenta deanálise das modernas transformações no sistema do capital.Palavras-chave: precariado, classes sociais, trabalho, precarizaçãoABSTRACTFrom 2011, with the publication of The precariat: the new dangerous class, Englisheconomist Guy Standing initiated the debate on the precariat. Brazilian authors as GiovanniAlves in his book Dimensões da precarização do trabalho and Ruy Braga's A política doprecariado also started, each in their own way, reflections on the term that has since goneto be recurrent in the literature of economics and sociology of work. The purpose of thisarticle is to map the conceptualizations of precariat produced by Standing, Alves andBraga, questioning, through a comparative analysis of the various formulations of theconcept. From these discussions, we have the gestation of a concept that comes from timeto grammar of sociology of work as an analysis tool of modern transformations in thecapital system.Key-words: precariat, social classes, work, job insecurity1 Mestrando do Programa de Pós Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Ceará Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

90PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz MauricioINTRODUÇÃO A partir de 2011, com a publicação na Inglaterra de The precariat: the newdangerous class, o economista inglês Guy Standing iniciou o debate sobre o precariado,entendido como um novo contingente da força de trabalho marcado pela instabilidadeempregatícia e insegurança existencial que emergiu através das consequências sociais eeconômicas de anos de neoliberalismo e globalização. Autores brasileiros como Giovanni Alves em seu livro Dimensões daprecarização do trabalho e Ruy Braga em A política do precariado também iniciaram,cada um a seu modo, reflexões sobre o termo que desde então passou a ser recorrente naliteratura de economia e sociologia do trabalho. O objetivo deste artigo é mapear as conceitualizações de precariado produzidaspor Standing, Alves e Braga, problematizando, através de uma análise comparativa, asdiversas formulações sobre o conceito. Ao final, executamos um balanço do debate entreos autores como forma de instigar uma reflexão crítica no campo da teoria das classessociais para apreensão dos recentes fenômenos socioeconômicos. O termo precariado é um neologismo formado a partir da combinação doadjetivo precário com o substantivo masculino proletariado. Foi usado pela primeira vez nasociologia do trabalho francesa nos anos 1980 para se referir a trabalhadores temporáriosou sazonais. Nos anos 2000, no contexto das manifestações de rua do EuroMayDay oprecariado surge enquanto agente coletivo, só posteriormente re-adentrando na discussãoacadêmica para além de seu significado inicial nos anos 1980. A escolha desses três autores para a problematização que realizaremos nesseartigo se deve a contribuição de suas formulações na apreensão do fenômeno do precariadono centro e na periferia do sistema-mundo capitalista. Standing ocupa um lugar chave pelo pioneirismo de suas formulações teóricas,dando forma inicial ao conceito e introduzindo-o na arena acadêmica. Alves, de um pontode vista crítico, irá trazer o debate de Standing para o Brasil a partir de umaproblematização marxiana centrada duplamente na teoria da exploração e na teoria doestranhamento (ALVES, 2013, p. 85). Este mesmo autor irá polemizar o conceito de precariado em Braga, que se Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

91PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauriciobaseia na teoria da superpopulação relativa em Marx (BRAGA, 2012, p. 18), iniciandouma saudável luta de classificações em torno do conceito de precariado no âmbito dasociologia do trabalho no Brasil. É nesse ínterim que realizaremos nossa análise eproblematização na busca de um balanço deste debate categorial-epistemológico.GUY STANDING: O PRECARIADO COMO NOVA CLASSE PERIGOSA As formulações teóricas de Guy Standing tem como chão histórico a EuropaCentral no contexto do desmonte do Estado de Bem Estar Social e a ascensão doneoliberalismo enquanto política hegemônica no pós-crise do petróleo dos anos 1970.Nesse sentido, o precariado é ao mesmo tempo um produto do pós-fordismo e do pós-keynesianismo. Essa polarização entre os trinta anos dourados do capitalismo (1945-1975),compreendido entre o fim da II Guerra Mundial e a crise do petróleo, e os trinta anosperversos (1980-2010), entre a ascensão do neoliberalismo e o desenrolar da criseeconômica de 2008, é um referencial histórico-político constante em Standing (2013, p. 51)e em outros autores como Alves (2013, p. 225). Ao longo das formulações e da narrativa de Standing o precariado vai seconstituindo numa nova classe perigosa (new dangerous class, no original em inglês),terminologia cunhada por ele e que serve de subtítulo a sua principal obra. É justamente aalcunha de nova classe que irá distinguir no plano das teorias das classes sociais aperspectiva de Standing de outros autores que partem de uma reflexão de cariz marxiana. Para Standing o precariado não faz parte do proletariado. Não são a classetrabalhadora, a classe média ou os informais. Podem ser definidos como aqueles quepossuem uma existência precária, pouca perspectiva de futuro devido a instabilidadeeconômica, fracos laços comunitários e sem amparo social estatal (STANDING, 2013, p.25). O precariado não fazia parte da “classe trabalhadora” ou do “proletariado”. Estes termos sugerem uma sociedade composta, em sua maioria, de trabalhadores de longo prazo, em empregos estáveis de horas fixas, com rotas de promoção estabelecidas, sujeitos a acordos de sindicalização e coletivos, com cargos que seus pais e mães teriam entendido, defrontando-se com empregadores locais com cujos os nomes e características eles estavam familiarizados (STANDING, 2013, p. 22- Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

92PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauricio 23). Se analisarmos criticamente o raciocínio de Standing, veremos que ele associao proletariado unicamente a imagem do operário fordista do período da acumulação rígida.Isso quer dizer, um tipo de proletariado delimitado num determinado contexto temporal eespacial. Aquele operariado com estabilidade empregatícia, rotinas de trabalho fixas,especializado em determinada função dentro da fábrica, em suma, o operariado existentena Europa Central e nos EUA do pós-II Guerra, onde o poder do sindicalismo emestabelecer acordos coletivos vantajosos aos trabalhadores fazia parte da paisagem políticae econômica dos países centrais do capitalismo2. Essa imagem, ou tipo ideal de proletariado, construída por Standing, que nosremete a sociedade salarial da qual nos falava Castel (2012, p. 415), contrasta com a atualsituação do mundo do trabalho no centro do capitalismo e explica sua opção pelo termonova classe. Nesse novo e precário mundo do trabalho, a lógica fordista se torna residual,avançando o espírito do toyotismo “enquanto momento predominante do complexo dereestruturação produtiva na era da mundialização do capital” (ALVES, 2005, p. 29). E aacumulação rígida vai cedendo lugar a acumulação flexível (HARVEY, 2004, p. 135). Nesse contexto se gesta uma nova morfologia do trabalho (ANTUNES, 2011,p. 47), marcada pela instabilidade empregatícia, trabalho temporário, polivalência, perdade direitos trabalhistas, desmonte do sistema previdenciário, entre outros fatores presentesna liquidez da atual etapa da modernidade, onde tudo que é sólido tende a se transmutar emflexível (BAUMAN, 2001, p. 09). Standing operacionaliza um corte econômico e político, geracional e culturalentre o operariado fordista e o precariado. O primeiro marcado pela rigidez da rotina e docontrato de trabalho e o segundo pela flexibilidade e instabilidade. O trabalhador fordistacomo permeado pela cultura do sindicalismo de fábrica e o voto nas esquerdas. Já oprecariado como tragado pelo individualismo dos tempos modernos, possuindodificuldades em transformar o sofrimento individual em causa coletiva. Não sendointeressante para esta nova classe o trabalhismo ou a Terceira Via da tradicional social-2 Para o entendimento do cenário político e econômico dos países centrais, nesse período, a partir da relaçãocapital e trabalho, consultar respectivamente BIHR, Alain. Da grande noite à alternativa: o movimentooperário europeu em crise. São Paulo: Boitempo, 1998. HARVEY, David. Condição pós-moderna: umapesquisa sobre a origem das mudança cultural. São Paulo: Loyola, 2004. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

93PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauriciodemocracia europeia (STANDING, 2013, p. 234). Para o economista inglês, o precariado é filho da globalização. Seu contingentecresceu por causa das políticas e mudanças institucionais nesse período e foi aceleradopelo caráter neoliberal do processo de globalização. Processo este que aposta naflexibilidade do mercado de trabalho, na mercantilização dos serviços públicos, e num tipode proteção social que não reconhece direitos universais, preferindo focar em grupos eprograma específicos (STANDING, 2013, p. 21). Para o autor, no Reino Unido, nenhum governo fez mais para expandir oprecariado que o governo trabalhista de 1997-2010. Mas ele não estava sozinho. Outrosgovernos na Europa foram na mesma direção, assim como os democratas nos EUA(STANDING, 2011)3. Ilustração 1: Manifestação na Espanha, 2011 Para Standing, o precariado não constitui-se numa classe para si em termosmarxistas-hegelianos, mas numa classe em formação, que ainda não possui umaidentidade, objetivos próprios e não sabe ainda o que construir (STANDING, 2013, p. 233).“É uma nova classe perigosa, mas não o que os marxistas descreveriam como classe parasi, e sim uma classe em construção, dividida entre grupos revoltados e frustrados, masunidas pela insegurança e medo” (STANDING, 2012)4. O que proporcionaria unidade ao precariado para Standing seria a insegurança3 STANDING, Guy. Quién servirá de voz al precariado que está surgiendo. Espanha, Sin Permiso, 05 jun.2011. Disponível em: <www.sinpermiso.info.textos.index.php?id=4212>. Acesso em: 12 jun. 2013.4 STANDING, Guy. Precariado, rebeldia e renda cidadã. Tradução Daniela Frabasile. São Paulo, OutrasPalavras, 27 jun. 2012. Disponível em: <http://outraspalavras.net/posts/precariado-rebeldia-e-renda-cidada/>. Acesso em: 10 set. 2012. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

94PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauricioe o medo, as consequências existenciais do capitalismo flexível5. O precariado está se aproximando de uma consciência comum de vulnerabilidade. Não apenas entre aqueles com empregos inseguros, apesar de muito serem trabalhadores temporários, de meio-período, terceirizados ou em call-centers. Mas também entre os que sentem que suas vidas são feitas de partes desarticuladas, que não podem construir uma narrativa profissional ou carreira desejáveis, nem combinar de modo sustentável formas de trabalho e lazer (STANDING, 2012). Essas modificações estruturais trouxeram uma gama de consequênciasexistenciais que compõem o repertório das trajetórias de vida do precariado como sujeitossociais precários no trabalho e na vida. O que tornaria o precariado uma nova classeperigosa está relacionado com esta insegurança e medo serem canalizadas pelo que o autorchama de neopopulismo, extrema-direita e a extrema-esquerda. Não sendo ainda umaclasse para si, mas uma classe em formação, estaria suscetível aos mais radicais apelospolíticos (STANDING, 2013, p. 19). Standing arrisca a solução de que uma forma de oferecer a segurançaeconômica necessária é fazê-lo antes de que os riscos se concretizem. Para isso baseia-sena proposta de uma renda básica universal (basic income) oferecida a todos os residenteslegais de uma determinada sociedade. Cita as experiências nas economias médias (ospaíses semi-periféricos) como o Brasil como um exemplo de renda básica através do BolsaFamília (STANDING, 2013, p. 285). Em suma, para Standing o precariado é conformado não só por um trabalhoprecário, mas por uma vida cheia de incertezas e constante mudança. O que dificulta acriação de laços comunitários e uma identidade a partir do trabalho. São indivíduos destatus rebaixado, pois possuem pouca relação com o Estado (sem previdência e demaisdireitos trabalhistas), com o capital (sem salário fixo) e com a comunidade (por fora doscircuitos de práticas de solidariedade tradicionais) (STANDING, 2013, p. 25).5 Uma análise dos aspectos existenciais do capitalismo flexível foram analisados em SENNETT, Richard. Acorrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro: Record, 2012.Também podem ser encontrados elementos para essa reflexão em BAUMAN, Zygmunt. Modernidadelíquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001. Especialmente o capítula 4, Trabalho. BAUMAN, Zygmunt, Vidalíquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. Especialmente a Introdução, capítulos 1 e 4. Na sociologia do trabalhono Brasil, temos a recente proposta de Giovanni Alves de uma analítica existencial do proletariado, que sediferenciaria de uma macroeconomia do trabalho e de uma morfologia do trabalho por realizar a dialéticaentre os aspectos estruturais e existenciais do capitalismo flexível, utilizando, por exemplo, métodos depesquisa etnográficos. Ver ALVES, Giovanni. Dimensões da precarização do trabalho: ensaios desociologia do trabalho. Bauru: Editorial Práxis, 2013. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

95PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauricio Fazendo uma interlocução com outros autores que também se detiveram naanálise do atual período histórico, podemos dizer que é a classe imersa na condição pós-moderna (HARVEY, 2004, p. 293) e no mal-estar da pós-modernidade (BAUMAN, 1998,p. 07). Pela flexibilidade dos mercados de trabalho, onde comunidades profissionais foram desconstruídas, o precariado não pode construir uma memória social, um sentimento de pertença a uma comunidade de ética, solidariedade, orgulho. Tudo é transitório. Eles percebem, ao lidar com outras pessoas, que não têm sombra de futuro; que é improvável estarem com as mesmas pessoas amanhã. A mente do precariado não tem âncoras, passa de sujeito para sujeito, no sofrimento extremo do déficit de atenção. Mas também são nômades no relacionamento com outras pessoas. Por não terem vida profissional, os menos educados estão tornando-se agressivos, como as revoltas aparentemente irracionais na Inglaterra, em agosto de 2011. Desconsideram o futuro, por que percebem que não há futuro a perder (STANDING, 2012).GIOVANNI ALVES: O PRECARIADO COMO NOVA CAMADA SOCIAL DOPROLETARIADO A partir de uma reflexão marxista de cariz lukácsiana, Alves irá conformar suapercepção do fenômeno do precariado de maneira complexa. Assim, é perceptível seudiálogo central com Standing, e de forma periférica com outros sociólogos como Sennett eBauman, na construção do conceito de precariado. Para Alves, o conceito de precariado implica determinações de ordemgeracional, educacional e salarial. Sendo o precariado distinto de outras camadas sociaisprecárias do proletariado, não podendo ser reduzido a “proletariado precarizado” (ostrabalhadores precários com pouca qualificação e acima dos 36 anos) (ALVES, 2012a)6. Acomplexidade da construção conceitual em Alves está na consideração não só do aspectoeconômico, mas de fatores de outras ordens. Isso o coloca numa posição diferenciadaperante Standing e Braga, como o próprio autor reconhece. O termo “precariado” possui significados bastante controversos. Por um lado, Ruy Braga em seu novo livro A política do precariado considera o precariado como sendo o “proletariado precarizado”. Por outro lado, Guy Standing no livro The precariat não considera o precariado como proletariado, mas sim uma nova classe social - “the new dangerous class”. Eu tenho utilizado o conceito de “precariado” com uma6 ALVES, Giovanni. A educação do precariado. Blog da Boitempo, São Paulo, 17 dez. 2012. Disponível em:<http://blogdaboitempo.com.br/2012/12/17/a-educacao-do-precariado/>. Acesso em 20 dez 2012a. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

96PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauricio significação sociológica bem específica (ALVES, 2012a). Alves irá se diferenciar dos demais autores por um lado, por entender oprecariado como parte do proletariado (uma nova camada e não uma nova classe), – o queo diferencia de Standing – e por outro, por não reduzi-lo a noção de proletariadoprecarizado – que o diferencia de Braga –, o que perderia toda a especificidade sociológicado fenômeno do precariado. O precariado é, então, parte da classe trabalhadora porque o “proletariadocomo 'classe' social amplia-se e diversifica-se, cada vez mais no plano sociológico”(ALVES, 2012a). Pois devido o desenvolvimento do modo de produção capitalista alarga-se o trabalho abstrato, que para Alves, universalizaria a condição de proletariedade. (…) a condição de proletariedade designa a condição existencial objetiva historicamente constituída pelo modo de produção do capital e no interior do qual pode (ou não) se constituir o sujeito histórico de classe. A condição de proletariedade é uma categoria social descritiva dos atributos existenciais das individualidades pessoais de “classe” subsumidas ao modo de produção capitalista (ALVES, 2013, p. 61). Na verdade, precariado diz respeito a uma nova camada da classe social do proletariado constituída especificamente por jovens-adultos altamente escolarizados imersos em relações de trabalho e emprego precário. Portanto, conceito de precariado implica o cruzamento das determinações de ordem geracional, educacional e salarial (ALVES, 2012a). Ilustração 2: Manifestação em Portugal, março de 2012 Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

97PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauricio Para o autor, essa nova camada social se vincula ao atual contexto histórico decrise estrutural do capital com hegemonia do capitalismo financeiro e se manifesta comintensidade na Europa. Essa camada ganhou visibilidade no cenário que se abriu com acrise de 2008, quando o “precariado irrompe com intensidade e amplitude na semiperiferiado núcleo orgânico do sistema mundial do capital” (ALVES, 2013, p. 197), em paísescomo Portugal, Espanha e Grécia. Para Alves, o que a crise explicita com essa fenomenologia do precariado é a“contradição radical entre desenvolvimento das forças produtivas e irrealização estruturaldas promessas civilizatórias do capital” (ALVES, 2013, p. 196), o que colocaria oprecariado como expressão social suprema do fenômeno do estranhamento. Para o filósofo húngaro (Georg Lukács), o “estranhamento” ocorre na medida em que o desenvolvimento das forças produtivas sociais do trabalho ou o desenvolvimento da capacidade humana em reduzir as barreiras naturais não propiciam o desenvolvimento da personalidade humana, mas sim, pelo contrário, seu aviltamento e dilaceração em virtude da manipulação de alta intensidade e amplitude que caracteriza o capitalismo tardio (ALVES, 2013, p. 196). No contexto europeu, essa contradição se torna latente na medida em que comos planos de austeridade que limitam os gastos nas áreas sociais, a atual geração iráexperimentar condições de trabalho e de vida piores do que a geração anterior detrabalhadores, o que em outro sentido também explicita a crise do Estado de Bem EstarSocial depois de décadas de neoliberalismo. Assim, o precariado se gesta a margem da cidadania salarial, sem acesso aosbenefícios diretos e indiretos do período fordista-keynesiano do capitalismo europeu dopós-Guerra (ALVES, 2013, p. 199). Dessa forma, a carga de expectativas geradas com aalta escolarização alcançada por essa geração não está sendo revertida em ganhos salariaise direitos sociais, mas em precarização do trabalho e da vida. As universidades públicas e privadas ocupam um lugar essencial para secompreender o fenômeno do precariado. Alves analisa que as universidades que formam, todo ano, milhares de novos trabalhadores assalariados dispostos a se inserirem no novo mercado de trabalho e nos novos locais de trabalho reestruturados, são incubadoras do precariado (ALVES, 2012a). Isso tem levado os sociólogos a analisarem mais detidamente a dimensão Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

98PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauricioexistencial da precarização, isso quer dizer, não só a precarização do trabalho enquantomercadoria, nos termos da teoria da exploração, mas também a precarização do trabalhono sentido da precarização do homem-que-trabalha, nos marcos da teoria doestranhamento (ALVES, 2012b, p. 7-8). (...) a precarização do ser genérico do homem por conta das novas condições salariais de exploração/espoliação da forma de trabalho. Nesse caso, a precarização do homem-que-trabalha ocorre no plano da subjetividade humana, reverberando-se em desequilíbrios metabólicos das individualidades pessoais de classe que conduzem, no limite, no caso de singularidades pessoais, às situações de adoecimentos. É importante salientar que a diferenciação entre “precarização salarial” e “precarização do homem-que-trabalha” é tão somente uma divisão heurística (a precarização salarial tende a ocultar a precarização do homem-que- trabalha) (ALVES, 2013, p. 178-9). Como observa Alves, a partir do fenômeno do precariado Não se trata apenas de um problema social (vínculos laborais precários, baixos salários, falta de direitos laborais), mas sim trata- se de um problema existencial que corrói a individualidade pessoal. Na verdade, a precariedade interdita a vida pessoal do sujeito de classe (“se posso ou não ter filhos” ou “se posso ou não morar com alguém”). É a alienação/estranhamento na sua dimensão radical (ALVES, 2013, p. 206). Partindo dessa constatação e observando o panorama das pesquisas na área desociologia do trabalho, especialmente no que concerne ao tópico dos estudos sobreprecarização, Alves (2012b, p. 29) afirma que a maioria das análises sobre o tema tendem asalientar tão somente a precarização social do trabalho como degradação da condiçãosalarial da força de trabalho como mercadoria e como sujeito de direitos, aspectos estesque são recorrentes nas abordagens macroeconômicas e da morfologia do trabalho7. O quenos remete ao estudo clássico de Robert Castel e o que ele denominou de corrosão dacondição salarial.8 Por sua vez, a perspectiva do metabolismo social do trabalho, reivindicada porAlves, significa expor os impactos das mutações laborais na vida cotidiana das7 Ver, por exemplo, ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaios sobre as metamorfoses e acentralidade do mundo do trabalho. São Paulo: Cortez; Campinas: Editora da Universidade Estadual deCampinas, 2011. ALVES, Giovanni. O novo (e precário) mundo do trabalho: reestruturação produtiva ecrise do sindicalismo. São Paulo: Boitempo, 2005. DRUCK, Graça; FRANCO, Tânia (Orgs). A perda darazão social do trabalho: Terceirização e precarização. São Paulo: Boitempo, 2007. POCHMANN, Marcio.Nova classe média? O trabalho na base da pirâmide social brasileira. São Paulo: Boitempo, 2012.8 CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Rio de Janeiro: EditoraVozes, 2005. Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

99PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauricioindividualidades pessoais de classe e nas relações sociais e humanas do trabalhadorassalariado, tratando, desse modo, para lembrar Richard Sennett (2012, p. 10) e o que elechamou de a corrosão do caráter, isso quer dizer, as consequências pessoais do trabalho nonovo capitalismo. Aqui percebemos que a análise do precariado instiga uma nova agenda depesquisa para o campo da sociologia do trabalho, capaz de perceber não só os aspectosmacroeconômicos ou estruturais do trabalho, mas seus desdobramentos na vida cotidianade homens e mulheres subsumidos ao modo de produção capitalista.RUY BRAGA: O PRECARIADO COMO PROLETARIADO PRECARIZADO Ruy Braga terá uma construção teórica do conceito de precariado de formadiversa dos autores que já abordamos. Existem aproximações entre Standing e Alves noque toca aos aspectos da precarização existencial como parte constitutiva do precariado equanto ao contexto histórico em que ele surge, que é o colapso do Estado de Bem EstarSocial e ascensão do neoliberalismo. Braga irá se diferenciar de ambos, tratando o precariado como sinônimo deproletariado precarizado, adaptando o conceito originado na sociologia francesa dos anos1980 às condições sociais periféricas. Em primeiro lugar, é preciso compreender o que entendo por “precariado”, conceito que tomei emprestado, resignificando-o, da sociologia francesa. Trata-se daquele amplo contingente de trabalhadores que, pelo fato de possuírem qualificações escassas, são admitidos e demitidos muito rapidamente pelas empresas, ou encontram-se no campo, na informalidade ou são ainda jovens em busca do primeiro emprego, ou estão inseridos em ocupações tão degradantes, sub remuneradas e precárias que resultam em uma reprodução anômala da força de trabalho (BRAGA, 2012b). Como podemos observar, Braga sugere uma outra dimensão histórica econceitual para o precariado. O autor fala de pouca qualificação, abrangendo trabalhadoresjovens e não jovens. Enquanto Alves (2012a) realçava os caracteres da alta qualificação dajovem geração. O que Braga tem em comum com Alves é o entendimento do precariadocomo parte da classe trabalhadora, o que os diferenciam de Standing. “Os trabalhadoresprecarizados são uma parte da classe trabalhadora em permanente trânsito entre a Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.

100PARA UMA SOCIOLOGIA DO PRECARIADO: AS CONTRIBUIÇÕES DE GUYSTANDING, GIOVANNI ALVES E RUY BRAGAFrancisco Raphael Cruz Mauriciopossibilidade da exclusão socioeconômica e o aprofundamento da exploração econômica(BRAGA, 2012a, p. 19)”. O que os três autores acabam por possuir em comum é apenas oaspecto da precarização do trabalho como elemento constitutivo do precariado. No plano histórico, Braga irá situar o precariado como presente desde ofordismo periférico (anos 1950) até a atual fase neoliberal. Isso é evidente no subtítulo desua obra, A política do precariado: do populismo à hegemonia lulista. Assim, Braga partedo contexto da sociedade e da economia brasileira, e não do continente europeu, mas nãositua o precariado como emergido do contexto do neoliberalismo. Nesse sentido, ele se distancia da contextualização realizada por Alves queidentifica a formação do precariado brasileiro a partir da última década com a expansãoprecária da educação superior e do trabalho precário (ALVES, 2012a). Braga irá sustentar sua construção teórica, também em Marx, como faz Alves.Mas partirá de outros conceitos. Braga irá entender o precariado como superpopulaçãorelativa em Marx (excluindo tanto o lumpemproletariado, quanto a população pauperizadapor considerá-la própria a reprodução do capitalismo periférico) (BRAGA, 2012a, p. 18).Discordando nominalmente de Standing, Braga irá justifica sua escolha em primeiro lugar, ela permite-nos localizar o precariado no coração do próprio modo de produção capitalista e não como um subproduto da crise do modo de desenvolvimento fordista. Em segundo lugar, ela enfatiza a dimensão histórica e relacional desse grupo como parte integrante da classe trabalhadora, e não como um amálgama intergeracional e policlassista que assumiria de maneira progressiva a aparência de uma nova classe. Em terceiro lugar, em vez de retirar arbitrariamente a insegurança da relação salarial, essa noção possibilita- nos tratar a precariedade como uma dimensão intrínseca ao processo de mercantilização do trabalho (BRAGA, 2012a, p. 18). Em Braga, precariado ganha um abrangência histórica e social muito maisampla do que em Standing e Alves. O precariado tende a ser identificado “(...) com afração mais mal paga e explorada do proletariado urbano e dos trabalhadores agrícolas,excluídos a população pauperizada e o lumpemproletariado (…).” (BRAGA, 2012a, p. 19). Se por um lado, Braga observa que Standing dilui o precariado num amálgamapolicalssista e intergeracional, por outro lado, ele tende a diluir o precariado em todas asfrações da classe trabalhadora subsumidas a condições de trabalho precário e “super-precário”, como a “fração mais subordinada e explorada da classe trabalhadora” (BRAGA, Revista Trabalho e Sociedade, Fortaleza, v.1, n.1, jul/dez, 2013, p.89-105.


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